direito_seguro_resseguro_Caroline_Ferreira_v5 (2)

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<p>matriz de Atividade INDIVIDUAL</p><p>Estudante: Caroline Ferreira Lopes</p><p>Disciplina: Direito do Seguro e Resseguro-0524-1</p><p>Turma:04/2024</p><p>1. Introdução</p><p>O seguro garantia é regulamentado pela Circular nº 662, de 12 de abril de 2022, que revogou a Circular nº 477/2023, em que estão especificadas suas características e diversas modalidades. Essa modalidade de seguro visa garantir a execução fiel das responsabilidades assumidas pelo tomador em favor do segurado, seja em processos licitatórios, contratos particulares ou garantias judiciais.</p><p>Nessa linha, o seguro garantia adiantamento de pagamento é uma forma de proteger os contratantes que fazem adiantamentos em contratos de fornecimento de bens, obras ou serviços. Essa modalidade de seguro garantia é utilizada quando a empresa contratada precisa receber antecipadamente uma porcentagem do orçamento para realizar uma etapa específica do objeto contratado.</p><p>No presente caso, o Contratante firmou um contrato particular para a produção de silos de armazenamento de grãos, empreendimento a ser realizado mediante o cumprimento de um extenso cronograma de tarefas. Para viabilizar o início dos trabalhos, o prestador exigiu um adiantamento de valores. Como contraprestação, o Fornecedor contratou, na posição de tomador, um seguro garantia na modalidade “Setor Privado - Adiantamento de Pagamentos”. Esta modalidade assegura ao segurado (beneficiário do contrato) o reembolso dos valores adiantados que não foram amortizados conforme estipulado no contrato, em decorrência de descumprimentos das obrigações pelo tomador.</p><p>Ao longo do contrato, embora o cronograma tenha sido seguido, o Contratante identificou defeitos na fabricação dos componentes dos silos, que inviabilizariam seu uso devido à má qualidade do material utilizado. Em uma análise inicial da apólice, que especifica a cobertura e as condições da contratação, verifica-se que ela se limita a garantir os prejuízos decorrentes do inadimplemento das obrigações assumidas pelo tomador (Contratado) exclusivamente em relação aos adiantamentos de pagamentos concedidos pelo segurado (Contratante), que não tenham sido liquidados conforme previsto no contrato principal.</p><p>Além disso, dentre outros itens excluídos da cobertura, há expressa previsão no sentido de que a apólice não assegura a qualidade dos materiais e serviços, nem cobre danos materiais e/ou pessoais causados a terceiros.</p><p>A questão em pauta refere-se à possibilidade de acionamento do seguro para cobertura dos prejuízos oriundos dos defeitos que vêm sendo identificados. A análise jurídica detalhada a seguir abordará os aspectos específicos do contrato e as implicações legais decorrentes do seguro garantia contratado, considerando a legislação vigente e as particularidades do caso em questão.</p><p>2. Desenvolvimento</p><p>Conforme Gladimir Poletto, existem três abordagens possíveis para entender a cobertura do seguro-garantia de adiantamento de pagamento. A primeira é a utilização adequada do valor adiantado, investindo o montante antecipado em insumos e recursos necessários para iniciar a execução do contrato. A segunda abordagem é a realização de uma fase específica dos serviços ou da construção, onde o valor adiantado é reduzido conforme a entrega das partes da obra ou do serviço. A terceira é a amortização de acordo com o planejamento físico-financeiro estabelecido até a conclusão do contrato (POLETTO, 2020).</p><p>Em situações de sinistro, os segurados costumam reivindicar diversos tipos de prejuízos com base na apólice de adiantamento de pagamentos. Porém, mesmo que esses prejuízos sejam comprovados, a responsabilidade da seguradora de indenizar nessa modalidade é restrita à amortização do adiantamento de pagamento.</p><p>No recente julgamento da Apelação n° 1130991-82.2016.8.26.010, o Tribunal de Justiça de São Paulo interpretou um caso envolvendo uma apólice de seguro garantia na modalidade de adiantamento de pagamentos. O apelante (beneficiário) tentou anular a recusa de indenização securitária dada pelo apelado (seguradora) durante a regulação de sinistro. O Relator do caso, Des. Luíz Roberto Torro, determinou que, apesar do inadimplemento do objeto contratual, a execução de mais de 10% (dez por cento) da obra indica que o adiantamento de pagamento foi totalmente amortizado. Ele concluiu que os demais prejuízos decorrentes de descumprimento de obrigações estão relacionados apenas à apólice de performance.</p><p>Em resumo, o magistrado declarou que a exigência da garantia não está relacionada a qualquer tipo de inadimplemento do contrato principal, mas especificamente àqueles associados ao não uso adequado do adiantamento.</p><p>In casu, a apólice de seguro-garantia de adiantamento de pagamento é clara ao excluir a cobertura para prejuízos decorrentes da má qualidade dos materiais utilizados. Esta exclusão significa que, mesmo que os materiais fornecidos sejam de baixa qualidade, qualquer prejuízo resultante dessa condição não será coberto pelo seguro. Este é um ponto crucial, pois a seguradora não se responsabiliza por falhas ou defeitos nos materiais, focando apenas na correta aplicação do adiantamento recebido.</p><p>Além disso, há o reconhecimento do Contratante, que afirmou não ter sido identificado, até o presente momento, nenhum atraso no cumprimento do cronograma e das atividades contratadas. Esta constatação é relevante porque reforça a ideia de que o valor adiantado está sendo utilizado de acordo com o previsto no contrato. Se não há atrasos no cronograma, pode-se inferir que os serviços ou obras estão progredindo conforme planejado, o que reduz significativamente o risco de sinistro relacionado ao mau uso do adiantamento.</p><p>Essa situação afasta a possibilidade de uma interpretação extensiva da cobertura securitária. Em outras palavras, não se pode ampliar a cobertura para incluir prejuízos não previstos explicitamente na apólice, como aqueles relacionados à má qualidade dos materiais ou a outros problemas que não estejam diretamente ligados ao uso do adiantamento. A seguradora, portanto, limita sua responsabilidade ao escopo definido no contrato de seguro, protegendo-se contra reivindicações que extrapolem os termos acordados.</p><p>Em resumo, a exclusão expressa na apólice e a ausência de atrasos no cronograma reforçam que a cobertura do seguro está restrita à correta utilização do adiantamento. Qualquer prejuízo relacionado a outras causas, como a má qualidade dos materiais, não será indenizado pela seguradora.</p><p>3. Conclusão</p><p>Dado que a apólice do seguro garantia cobre exclusivamente o inadimplemento das obrigações relacionadas ao adiantamento de pagamento e não a qualidade dos materiais utilizados na fabricação, não é possível acionar a seguradora para indenização dos prejuízos causados pela má qualidade dos materiais e produtos. A apólice cobre a falha no cumprimento das obrigações de pagamento e não defeitos na execução do serviço.</p><p>Recomenda-se que o Contratante envie uma notificação extrajudicial à empresa contratada, exigindo a correção imediata dos defeitos identificados nos componentes dos silos. Caso a notificação não resulte na correção dos defeitos, o cliente deve ingressar com uma ação judicial contra a empresa contratada, buscando a reparação dos prejuízos causados pela má qualidade dos materiais.</p><p>O cliente deve revisar o contrato de prestação de serviços para identificar cláusulas de garantia de qualidade e obrigações de reparação por defeitos, exigindo seu cumprimento. Aplicar as multas e penalidades previstas no contrato em caso de falha na execução adequada dos serviços, conforme estipulado nas cláusulas contratuais.</p><p>Recomenda-se ao Contratante que considere a contratação de um seguro adicional que cubra diretamente os defeitos na execução das atividades e/ou fornecimento de equipamentos, para evitar problemas semelhantes no futuro.</p><p>*Referências bibliográficas</p><p>POLETTO, G. Cobertura securitária no seguro-garantia de adiantamento de pagamento. Revista de Direito Civil, 2020.</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO (TJSP). Apelação n° 1130991-82.2016.8.26.010. Relator:</p><p>Des. Luíz Roberto Torro, 2023.</p><p>1</p><p>2</p><p>1</p><p>image1.emf</p><p>image2.wmf</p>