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<p>Juliana Faria dos Santos</p><p>Prezado aluno, já estudamos a defi nição de propagação</p><p>assexuada ou vegetativa, que consiste na reprodução</p><p>ou multiplicação dos vegetais por meio de partes da</p><p>planta, como ramos, folhas e raízes que, ao serem</p><p>colocados em condições adequadas para enraizamento e</p><p>desenvolvimento, formarão indivíduos idênticos à planta-</p><p>-mãe. Vimos também que a propagação vegetativa pode</p><p>ser realizada de forma artifi cial, por meio de estaquia,</p><p>enxertia e mergulhia.</p><p>Neste capítulo, estudaremos a propagação vegetativa por</p><p>estaquia. A estaquia é um método de propagação no qual</p><p>são utilizados porções da planta-matriz, como caule, ramos,</p><p>folhas ou raízes, que dão origem a uma nova planta. Para</p><p>que seja um processo bem-sucedido, as estacas devem</p><p>formar raízes adventícias, que serão fundamentais para</p><p>a produção de mudas. No entanto, o enraizamento é um</p><p>processo defi nido pela combinação de diversos fatores,</p><p>tanto internos quanto externos à planta-matriz.</p><p>Enfi m, estudaremos a propagação vegetativa por estaquia,</p><p>suas vantagens, desvantagens, aplicações e os princípios</p><p>anatômicos e fi siológicos para o desenvolvimento de raízes.</p><p>Além disso, veremos diversos fatores que infl uenciam</p><p>nesse processo, como podemos facilitar a formação das</p><p>raízes e quais as etapas para a propagação por estaquia.</p><p>Finalizaremos este capítulo com uma breve explicação</p><p>sobre a miniestaquia.</p><p>Introdução</p><p>80 Uniube</p><p>Ao fi nal dos estudos deste capítulo, esperamos que você seja</p><p>capaz de:</p><p>• explicar o que é propagação vegetativa por estaquia e o que</p><p>são estacas;</p><p>• descrever os diferentes tipos de estacas que podemos</p><p>produzir;</p><p>• explicitar quais são os princípios anatômicos e fi siológicos do</p><p>enraizamento;</p><p>• elencar quais são os fatores internos e externos que</p><p>infl uenciam na formação de raízes;</p><p>• explicar as diferentes técnicas de condicionamento para</p><p>facilitar o processo de enraizamento;</p><p>• esquematizar as etapas para realização da propagação</p><p>vegetativa;</p><p>• demonstrar a técnica de miniestaquia.</p><p>4.1 Propagação vegetativa por estaquia</p><p>4.2 Tipos e classifi cação das estacas</p><p>4.3 Princípios do enraizamento</p><p>4.3.1 Princípios anatômicos do enraizamento</p><p>4.3.2 Princípios fi siológicos do enraizamento</p><p>4.4 Fatores que infl uenciam no processo de enraizamento de</p><p>estacas</p><p>4.4.1 Potencial genético de enraizamento</p><p>4.4.2 Idade da planta-matriz</p><p>4.4.3 Condição fi siológica e nutricional da planta-matriz</p><p>4.4.4 Tipo da estaca</p><p>Uniube 81</p><p>4.4.5 Época do ano</p><p>4.4.6 Fatores ambientais</p><p>4.5 Uso de medidas para favorecer o enraizamento</p><p>4.6 Etapas para a realização da propagação por estaquia</p><p>4.6.1 Obtenção do material propagativo</p><p>4.6.2 Preparo e manejo das estacas</p><p>4.6.3 Uso de fi torreguladores</p><p>4.6.4 Estaqueamento</p><p>4.6.5 Cuidados e manejo pós-estaqueamento</p><p>4.7 Miniestaquia</p><p>4.8 Considerações fi nais</p><p>Propagação vegetativa por estaquia</p><p>4.1</p><p>A estaquia é um método de propagação no qual são utilizados</p><p>segmentos destacados da planta-matriz (caule, ramos, folhas</p><p>ou raízes) que, quando colocados em condições adequadas ao</p><p>enraizamento e desenvolvimento, dão origem a uma nova planta</p><p>(Wendling et al., 2006).</p><p>É um dos tipos de propagação vegetativa artifi cial, ou seja, que ocorre</p><p>por ação direta do homem na planta (Senar, 2018), e é o método mais</p><p>importante para a obtenção de mudas de muitas espécies de plantas</p><p>ornamentais, frutíferas, fl orestais e outras culturas de interesse</p><p>econômico.</p><p>A regeneração de uma planta a partir de estacas depende da</p><p>formação de raízes adventícias ou de novos ramos, constituindo-</p><p>se um pré-requisito para uma estaquia bem-sucedida. Assim, a</p><p>viabilidade do uso da propagação por estacas está relacionada à</p><p>82 Uniube</p><p>facilidade de enraizamento da espécie, à qualidade do sistema radicular</p><p>formado e ao desenvolvimento da planta na área de produção (Fachinello</p><p>et al., 2005).</p><p>A indução do enraizamento ou da formação de brotos pode ser feita</p><p>por manipulação química, mecânica, ambiental ou uma combinação</p><p>desses meios (Hartmann et al., 2011). De acordo com Fachinello et al.</p><p>(2005), algumas técnicas podem ser utilizadas para favorecer a estaquia</p><p>na maioria das espécies frutíferas, como aplicação de fi torreguladores,</p><p>anelamento, dobra de ramos, estiolamento, entre outras.</p><p>As vantagens e as desvantagens da estaquia estão muito associadas</p><p>às vantagens da propagação vegetativa, conforme relacionado a seguir</p><p>(Fronza; Hamann, 2015; Peixoto, 2017):</p><p>Vantagens:</p><p>• conservação das características genéticas e morfológicas desejáveis</p><p>da planta-mãe;</p><p>• obtenção de muitas mudas a partir de uma única planta-mãe;</p><p>• técnica simples, de rápida execução e baixo custo (em relação às</p><p>demais técnicas de propagação vegetativa);</p><p>• pode ser feita o ano todo, dependendo da espécie, pois não depende</p><p>da produção de sementes.</p><p>Desvantagens:</p><p>• disseminação de doenças e aumento da carga viral;</p><p>• probabilidade de problemas generalizados na área de produção</p><p>devido à uniformidade das plantas (não há variabilidade genética);</p><p>• não é viável para espécies com baixo potencial de enraizamento ou</p><p>que formam raízes de baixo vigor.</p><p>A estaquia pode ser uma técnica intermediária para a utilização de outras</p><p>técnicas de propagação vegetativa, como é o caso da enxertia. Muitas</p><p>plantas frutíferas são propagadas por enxertia, porém seus porta-enxertos</p><p>Uniube 83</p><p>são produzidos a partir de estacas, uma vez que estes apresentam</p><p>maior uniformidade de muda, sistema radicular mais desenvolvido e,</p><p>normalmente, não apresentam problemas de incompatibilidade entre</p><p>enxerto e porta-enxerto (Fachinello et al., 2005).</p><p>Alguns exemplos de espécies frutíferas que utilizam estaquia para propagação</p><p>são: videira (produção de porta-enxertos), amoreira, goiabeira e fi gueira</p><p>(produção direta de mudas) (Fronza; Hamann, 2015). Em plantas ornamentais,</p><p>temos ampla utilização pela difi culdade de obtenção de sementes viáveis de</p><p>algumas espécies, como arbustos e árvores, e pela necessidade de se defi nir</p><p>morfologicamente as características da planta, especialmente para fl oríferas,</p><p>como poinsétias, crisântemos e gerânios (Hartmann et al., 2011).</p><p>Tipos e classifi cação das estacas</p><p>4.2</p><p>Estaca constitui qualquer parte da planta com capacidade de formar</p><p>raízes adventícias e de originar uma nova planta. As estacas podem</p><p>ser de raiz, folha ou caule, sendo as estacas caulinares as mais</p><p>comuns.</p><p>A maioria das plantas pode ser propagada por mais de um tipo de</p><p>estaca, sendo que o tipo escolhido depende da espécie, da época</p><p>do ano, da facilidade de enraizamento e de manuseio da estaca</p><p>selecionada e da infraestrutura do viveiro (Wendling et al, 2006;</p><p>Peixoto, 2017).</p><p>A infraestrutura está relacionada com a técnica adicional necessária</p><p>para proporcionar o melhor desenvolvimento da muda, como o uso</p><p>84 Uniube</p><p>de nebulização intermitente que é essencial para a manutenção de</p><p>estacas mais sensíveis à desidratação (Fachinello et al., 2005).</p><p>As estacas de raízes são o tipo menos comum, pois, além da difi culdade</p><p>de coleta dessas estacas, esse procedimento pode ocasionar danos à</p><p>planta-mãe (Wendling et al., 2006). No entanto, algumas plantas possuem</p><p>raízes com capacidade de regenerarem folhas, como ipê, caquizeiro,</p><p>papoula, bela-emília, entre outras (Wendling et al., 2006; Grolli, 2008).</p><p>Para se utilizar estaca de raiz, esta deve ter o tamanho de,</p><p>aproximadamente, 30 centímetros e diâmetro de 10 milímetros para</p><p>facilitar o pegamento, e a coleta deve ser feita durante a fase de repouso</p><p>do vegetal (Grolli, 2008; Senar, 2018). Após esse processo, as estacas</p><p>são inseridas no substrato horizontalmente para a formação de mudas.</p><p>Algumas espécies possuem capacidade de produzirem plantas completas</p><p>a partir de estacas de folhas (Figura 1), utilizando-se folhas contendo</p><p>pecíolo (violeta-africana; suculentas), folhas fracionadas em pequenos</p><p>pedaços (espada-de-são-jorge) ou ainda lâminas foliares com boa</p><p>quantidade de nervuras (begônias-rex)</p><p>(Grolli, 2008; Senar, 2018).</p><p>Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.</p><p>Figura 1 – Propagação de jasmim utilizando estaca foliar embebida em solução com</p><p>fi torregulador</p><p>Uniube 85</p><p>As estacas caulinares são as mais utilizadas e, por isso, podem ser</p><p>classifi cadas de acordo com a posição da estaca na planta e a época de</p><p>coleta e consistência do tecido da estaca (Senar, 2018).</p><p>Com relação à posição da estaca na planta, ela pode ser apical, mediana</p><p>(intermediária) ou basal (Grolli, 2008; Senar, 2018) (Figura 2).</p><p>• Estaca apical: é aquela retirada das pontas dos ramos da planta e</p><p>é preparada com três ou quatro nós (5 a 10 cm de comprimento).</p><p>Ex.: crisântemos e azaleias;</p><p>• Estaca mediana (intermediária): retirada da porção mediana dos</p><p>ramos, demora mais para formar uma nova planta. Ex.: bougainvillea</p><p>e rosa;</p><p>• Estaca basal: mais utilizada em espécies arbóreas, é retirada da</p><p>base dos ramos e durante o repouso vegetativo. Possui tamanho de</p><p>15 a 20 centímetros, com ou sem folhas.</p><p>Fonte: Senar (2018).</p><p>Figura 2 – Exemplos de estacas caulinares apicais, medianas e basais (da esquerda para a</p><p>direita)</p><p>Tanto as estacas apicais quanto as intermediárias são sensíveis à</p><p>desidratação em níveis diferentes e devem ser mantidas em estufas</p><p>86 Uniube</p><p>com nebulização intermitente ou irrigação constante para o sucesso da</p><p>propagação (Senar, 2018).</p><p>As estacas de caule também podem ser classifi cadas de acordo com a</p><p>consistência do tecido da estaca, o que pode estar associado à época</p><p>e à posição de coleta, o estádio de desenvolvimento e o tipo de planta</p><p>que estamos trabalhando. Assim, as estacas podem ser herbáceas,</p><p>semilenhosas e lenhosas (Fachinello et al., 2005; Fronza; Hamann,</p><p>2015).</p><p>• Estacas herbáceas: tipo de estaca coletada no período de</p><p>crescimento vegetativo da planta (primavera/verão) e nas pontas</p><p>dos ramos (estacas apicais), que apresentam alta atividade</p><p>meristemática, baixo grau de lignifi cação (fl exíveis) e de coloração</p><p>verde. Muito utilizadas na propagação de goiabeira e na produção</p><p>de porta-enxertos de videira e macieira.</p><p>• Estacas semilenhosas: obtidas da porção mediana dos ramos</p><p>(estacas intermediárias) e no período entre fi nal do verão e início</p><p>do outono. Apresentam certo grau de lignifi cação, porém menor do</p><p>que as estacas lenhosas, podendo apresentar coloração marrom.</p><p>Possuem bom potencial de enraizamento e são mais tolerantes à</p><p>desidratação que as estacas herbáceas.</p><p>• Estacas lenhosas: coletadas durante o período de repouso</p><p>vegetativo das plantas (inverno), normalmente após a colheita dos</p><p>frutos, e da porção madura de ramos e caules (estacas basais).</p><p>Apresentam alto teor de lignina (pouco fl exíveis) e coloração escura.</p><p>Nesse período de dormência, as estacas possuem maior taxa de</p><p>regeneração potencial e são utilizadas na propagação de amoreira,</p><p>videira e fi gueira (Figura 3).</p><p>Uniube 87</p><p>Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.</p><p>Figura 3 – Propagação de fi gueira utilizando estacas caulinares lenhosa</p><p>Dentre os tipos de estacas caulinares, as herbáceas possuem maior</p><p>capacidade de enraizamento em relação às estacas semilenhosas e,</p><p>em seguida, lenhosa. Quanto mais nova for a estaca, maior será seu</p><p>enraizamento (Wendling et al., 2006). Lembrando que estacas lenhosas</p><p>também possuem bom enraizamento e, dependendo da espécie, essa</p><p>será a estaca adequada para propagação.</p><p>Princípios do enraizamento</p><p>4.3</p><p>Conforme citado anteriormente, a propagação por estaquia é</p><p>bem-sucedida quando o material possui boa capacidade de</p><p>formar raízes adventícias. Assim, é fundamental o estudo dos</p><p>princípios anatômicos e fi siológicos que possibilitam e estimulam</p><p>o enraizamento.</p><p>88 Uniube</p><p>Princípios anatômicos do enraizamento4.3.1</p><p>Ao preparar uma estaca, esta é composta por uma ou mais gemas, que</p><p>formarão a parte aérea, e por uma porção de tecido diferenciado, aéreo</p><p>ou subterrâneo, dependendo do tipo de estaca, porém sem sistema</p><p>radicular formado (Fachinello et al., 2005).</p><p>Para que ocorra o enraizamento, temos a ação dos dois princípios</p><p>da propagação vegetativa, a totipotência e a desdiferenciação.</p><p>Resumidamente, totipotência é a capacidade que todas as células</p><p>possuem de originar um novo indivíduo completo, e desdiferenciação é</p><p>a capacidade que células de tecidos diferenciados têm de retornar sua</p><p>atividade meristemática.</p><p>O desenvolvimento das raízes se dá como</p><p>resposta à lesão dos tecidos de xilema e fl oema</p><p>presentes na estaca, promovida pelo corte</p><p>durante o preparo da estaca. Esse trauma é</p><p>seguido pela formação de um calo cicatricial</p><p>e que caracteriza o início do processo de</p><p>regeneração.</p><p>Nesse ponto da lesão, formam-se as raízes adventícias, em um processo</p><p>dividido em três fases, de acordo com Guan et al. (2019): indução,</p><p>iniciação e expressão. Na indução, há o estabelecimento de células</p><p>iniciais desdiferenciadas de tecido vascular ou parenquimático (calo)</p><p>para, em seguida, ocorrer a iniciação, que se caracteriza pela divisão</p><p>das células meristemáticas e diferenciação em camadas de células</p><p>componentes dos primórdios radiculares. O último passo é a expressão,</p><p>em que há a emergência da raiz adventícia.</p><p>Calo</p><p>Tecido superfi cial pouco</p><p>diferenciado com células</p><p>parenquimáticas que</p><p>se desenvolve a partir</p><p>do câmbio vascular</p><p>como consequência de</p><p>um ferimento, a fi m de</p><p>proteger a superfície</p><p>traumatizada.</p><p>Uniube 89</p><p>A formação do calo cicatricial pode ou não estar relacionada com o</p><p>desenvolvimento das raízes adventícias. Algumas pesquisas mostram</p><p>elevado percentual de enraizamento em estacas em que os primórdios</p><p>radiculares têm origem no tecido vascular e baixo percentual de</p><p>enraizamento em estacas que desenvolvem suas raízes a partir do calo</p><p>(Hartmann et al., 2011).</p><p>As raízes adventícias podem se formar na base da estaca, nos nós ou em</p><p>nós e entrenós, sendo variável de acordo com a espécie em propagação.</p><p>Princípios fi siológicos do enraizamento4.3.2</p><p>O enraizamento também está associado a uma série de fatores</p><p>fi siológicos, como presença de carboidratos, substâncias nitrogenadas,</p><p>aminoácidos e fi tormônios, especialmente auxinas (Dias; Gastl Filho,</p><p>2020). Essas substâncias devem-se acumular no local de regeneração</p><p>e na concentração adequada para que haja a emissão das raízes</p><p>adventícias.</p><p>Os carboidratos são responsáveis por fornecerem energia e carbono</p><p>para o processo, enquanto as substâncias nitrogenadas e aminoácidos</p><p>auxiliam na biossíntese de proteínas, também fundamentais para</p><p>a formação das raízes adventícias. Além disso, cada estádio de</p><p>desenvolvimento das raízes possui diferentes requerimentos com relação</p><p>aos fi tormônios (Hartmann et al., 2011; Dias; Gastl Filho, 2020).</p><p>Dentre os fi tormônios, as auxinas são as principais substâncias e que</p><p>possuem o maior efeito na formação de raízes em estacas, pois atuam</p><p>nas diferentes fases do desenvolvimento, como ativação das células do</p><p>câmbio e formação dos primórdios radiculares, além de promoverem o</p><p>crescimento das plantas (Fachinello et al., 2005). É bastante comum a</p><p>90 Uniube</p><p>utilização de auxinas sintéticas, como o ácido indolbutírico (AIB) e o ácido</p><p>naftalenacético (ANA), para promover o enraizamento de estacas.</p><p>O estudo dos aspectos fi siológicos do enraizamento pode auxiliar</p><p>na caracterização de uma espécie como sendo de fácil ou de difícil</p><p>enraizamento e, no caso de espécies de difícil enraizamento, pode ser</p><p>necessária a aplicação exógena de fi torreguladores para facilitar e/ou</p><p>promover a formação das raízes (Fachinello et al., 2005).</p><p>Fatores que infl uenciam no processo de enraizamento</p><p>de estacas</p><p>4.4</p><p>O processo de formação de raízes é infl uenciado por fatores internos</p><p>da planta-matriz, como genótipo, idade, condições fi siológicas</p><p>e nutricionais; por condições do propágulo, como tipo de estaca</p><p>e época do ano para coleta; além de fatores externos, como</p><p>temperatura, umidade, luminosidade e substrato.</p><p>Potencial genético de enraizamento4.4.1</p><p>Cada espécie</p><p>possui um potencial para a formação de raízes,</p><p>podendo ser classifi cada como de fácil, médio ou difícil enraizamento.</p><p>No entanto, é importante lembrar que apenas o genótipo não é</p><p>determinante do enraizamento, pois é resultante da interação de</p><p>inúmeros fatores.</p><p>Idade da planta-matriz4.4.2</p><p>De modo geral, estacas obtidas de plantas jovens possuem mais</p><p>facilidade de enraizamento do que estacas de plantas adultas.</p><p>Possivelmente, isso ocorre devido ao acúmulo de inibidores e</p><p>Uniube 91</p><p>redução de cofatores que auxiliam no enraizamento que se dá ao longo</p><p>da vida da planta (Fachinello et al., 2005). Esse fato é ainda mais visível</p><p>em espécies consideradas de difícil enraizamento.</p><p>Assim, para realizar a coleta de estacas a partir de plantas adultas,</p><p>é recomendável que se faça uma poda para obtenção de brotações</p><p>jovens, promovendo um rejuvenescimento de algumas de suas partes e</p><p>favorecendo o enraizamento (Franzon et al., 2010).</p><p>Condição fi siológica e nutricional da planta-matriz4.4.3</p><p>A condição fi siológica e nutricional da planta-mãe no momento da coleta</p><p>das estacas é de extrema importância para defi nir a qualidade da estaca</p><p>e seu potencial de enraizamento.</p><p>O conteúdo de água, a quantidade de reservas e nutrientes e o</p><p>balanço hormonal constituem a condição fi siológica da planta. Estacas</p><p>provenientes de uma planta-matriz em défi cit hídrico têm menor</p><p>probabilidade de enraizar em relação àquelas obtidas a partir de plantas</p><p>com adequado suprimento de água (Fachinello et al., 2005).</p><p>O mesmo comportamento é observado com relação à condição</p><p>nutricional da planta-matriz. Estacas retiradas de plantas bem nutridas,</p><p>com conteúdo equilibrado de fósforo, potássio, cálcio e magnésio,</p><p>possuem maior enraizamento do que estacas coletadas de plantas com</p><p>defi ciência nutricional (Franzon et al., 2010). O nitrogênio é importante</p><p>para a síntese de proteínas e ácidos nucleicos, no entanto, seu teor em</p><p>excesso reduz o enraizamento (Fachinello et al., 2005).</p><p>As reservas presentes na estaca, especialmente o conteúdo de</p><p>carboidratos, são essenciais para o enraizamento, uma vez que estes</p><p>constituem fonte de energia e de carbono para a biossíntese de proteínas</p><p>92 Uniube</p><p>e ácidos nucleicos. Reservas mais abundantes resultam em maior</p><p>porcentagem de enraizamento e sobrevivência de estacas (Fachinello</p><p>et al., 2005).</p><p>O equilíbrio hormonal também exerce infl uência no enraizamento, como</p><p>falamos anteriormente. Deve haver um balanço entre auxinas, citocininas</p><p>e giberelinas, que são os hormônios mais atuantes nesse processo,</p><p>especialmente as auxinas. Uma das formas mais usuais de promover</p><p>esse balanço hormonal consiste na aplicação exógena de auxina, como</p><p>AIB e ANA (Fachinello et al., 2005).</p><p>Tipo da estaca4.4.4</p><p>O tipo de estaca utilizada para a propagação varia de acordo com a</p><p>espécie, sendo que quanto maior a difi culdade de enraizamento, maior</p><p>a necessidade da escolha correta da estaca. Isso porque a composição</p><p>química se altera ao longo da planta e, consequentemente, isso infl uencia</p><p>na composição da estaca.</p><p>Estacas lenhosas possuem maior acúmulo de reservas em sua porção</p><p>basal, o que favorece o enraizamento, diferentemente de estacas</p><p>semilenhosas, nas quais a porção apical proporciona melhores resultados</p><p>devido à concentração de promotores de enraizamento nessa região</p><p>(Hartmann et al., 2011).</p><p>Estacas com grau elevado de lignifi cação geralmente possuem mais</p><p>difi culdade na formação de raízes adventícias do que estacas herbáceas</p><p>ou semilenhosas. No entanto, estacas menos lignifi cadas estão mais</p><p>propensas à desidratação e à morte, exigindo um manejo adequado com</p><p>relação ao ambiente.</p><p>Uniube 93</p><p>Estacas com gemas fl oríferas podem ter menor enraizamento, uma vez</p><p>que as fl ores mobilizam as reservas da estaca, sendo antagônicas à</p><p>formação de raízes (Fachinello et al., 2005).</p><p>Época do ano4.4.5</p><p>Em algumas espécies, a época do ano em que se realiza a retirada</p><p>de estacas é de grande importância para a formação de raízes. Para</p><p>as espécies de fácil enraizamento, as estacas podem ser colhidas em</p><p>qualquer época, enquanto que, para espécies de difícil enraizamento, o</p><p>ideal é coletar as estacas no período de repouso vegetativo (inverno),</p><p>pois é o período de menor atividade metabólica da planta (Wendling et</p><p>al., 2006), quando ela possui maior quantidade de reservas.</p><p>A quantidade de reservas e o teor de carboidratos nas plantas também</p><p>varia conforme a época do ano, sendo menor em ramos de crescimento</p><p>ativo (primavera/verão). Ramos maduros e lignifi cados, em repouso</p><p>vegetativo (outono/inverno) tendem a apresentar mais carboidratos e</p><p>podem facilitar o enraizamento nesse tipo de estaca (Fachinello et al.,</p><p>2005).</p><p>Há também uma relação entre a época de coleta e a consistência da</p><p>estaca. Estacas coletadas em um período de crescimento vegetativo</p><p>intenso (primavera/verão) apresentam-se mais herbáceas, enquanto</p><p>estacas coletadas no inverno são mais lignifi cadas (Franzon et al., 2010).</p><p>Fatores ambientais4.4.6</p><p>Além dos fatores relacionados à planta-mãe e às estacas, condições</p><p>do ambiente em que estas serão acondicionadas para desenvolvimento</p><p>também afetam o enraizamento, conforme descritos a seguir (Fachinello</p><p>et al., 2005; Fronza; Hamann, 2015):</p><p>94 Uniube</p><p>• Temperatura: temperaturas elevadas favorecem a divisão celular,</p><p>mas em estacas herbáceas e semilenhosas podem causar</p><p>desidratação pelo aumento da taxa de transpiração. Também podem</p><p>ocasionar a brotação das gemas antes da formação das raízes.</p><p>Temperaturas muito baixas difi cultam diversos processos internos</p><p>da estaca devido à diminuição da atividade celular. A temperatura</p><p>ideal para estimular o enraizamento encontra-se na faixa de 18 a</p><p>25 °C, sendo que, dependendo do local, deve haver controle dessa</p><p>temperatura em casa de vegetação.</p><p>• Umidade: a água é fundamental para que haja a formação de raízes,</p><p>uma vez que as células devem estar hidratadas (túrgidas) para que</p><p>ocorra a divisão celular. Naturalmente, ocorre a perda de água nas</p><p>estacas, por meio das folhas ou das brotações em desenvolvimento.</p><p>Assim, o ideal é que a coleta das estacas seja realizada no início</p><p>da manhã, quando a temperatura é amena e os tecidos estão mais</p><p>hidratados. Após a coleta, essas estacas devem ser mantidas em um</p><p>recipiente com água e ao serem transferidas para o substrato, este</p><p>também deve estar úmido. É recomendado o uso de nebulização</p><p>intermitente para a manutenção da umidade no ambiente, tomando-</p><p>se o cuidado de não ter umidade em excesso para não favorecer o</p><p>desenvolvimento de patógenos.</p><p>• Substrato: o substrato deve ser poroso para permitir a aeração e</p><p>o desenvolvimento ideal das raízes em formação; deve reter água</p><p>na quantidade adequada e promover um ambiente escuro para</p><p>estimular a raiz.</p><p>• Luminosidade: a luz está associada à fotossíntese e ao</p><p>fornecimento de energia e carboidratos para o desenvolvimento</p><p>da estaca em uma muda para propagação, sendo importante</p><p>a exposição da estaca à intensidade luminosa adequada. No</p><p>entanto, a parte basal da estaca não deve receber luz para facilitar</p><p>o geotropismo.</p><p>Uniube 95</p><p>Uso de medidas para favorecer o enraizamento</p><p>4.5</p><p>No Capítulo 1, exploramos as condições ideais de um substrato para</p><p>a propagação de plantas, como: boa capacidade de retenção de água,</p><p>composição química e física uniforme e equilibrada para bom desenvolvimento</p><p>radicular, elevada capacidade de troca catiônica (CTC) e isento de pragas,</p><p>doenças e plantas invasoras. É importante rever esta e demais informações</p><p>presentes no primeiro capítulo, uma vez que as plantas utilizam o substrato</p><p>como base para seu desenvolvimento.</p><p>Algumas espécies são de difícil enraizamento e, por isso, podemos</p><p>utilizar alguns tratamentos para favorecer esse processo e aumentar</p><p>os índices de enraizamento, tanto antes da coleta da estaca quanto</p><p>depois.</p><p>Como vimos anteriormente, a escolha da época adequada para</p><p>a coleta da</p><p>estaca favorece o enraizamento de espécies com</p><p>difi culdade nesse processo. Para espécies fl orestais, que são</p><p>lenhosas, os maiores índices de enraizamento ocorrem logo após</p><p>o inverno e antes do lançamento de novas brotações, o que seria o</p><p>repouso vegetativo (Wendling et al., 2006).</p><p>Algumas técnicas de condicionamento também podem ser</p><p>utilizadas e são fundamentais para a obtenção de um enraizamento</p><p>satisfatório. Dentre essas técnicas, temos lesões na base da estaca,</p><p>estiolamento de ramos, anelamento, rejuvenescimento, dobras de</p><p>96 Uniube</p><p>ramos, tratamento com fi torreguladores, entre outras. Falaremos um</p><p>pouco delas a seguir.</p><p>Em estacas lenhosas e semilenhosas provenientes de plantas adultas,</p><p>além do próprio corte para a coleta da estaca, algumas lesões superfi ciais,</p><p>de 2,5 a 5,0 centímetros para a remoção da casca, podem ser feitas em</p><p>sua base, para estimular o processo de indução para formação de raízes</p><p>adventícias. Essa técnica é utilizada em estacas de fi gueira e goiabeira</p><p>(Fachinello et al., 2005).</p><p>O estiolamento dos ramos ainda ligados à planta-matriz é uma prática</p><p>que facilita o enraizamento, uma vez que em tecidos estiolados são</p><p>encontrados baixos teores de lignina e altos teores de auxinas, e é uma</p><p>prática recomendada, especialmente no caso de espécies de difícil</p><p>enraizamento. Para realizar essa técnica, cobrem-se os ramos a partir</p><p>dos quais as estacas serão coletadas com material que isole totalmente</p><p>a luz por um período de 30 dias (Franzon et al., 2010).</p><p>O anelamento consiste na retirada de um pedaço da região do córtex</p><p>do ramo de onde será coletada a estaca, impedindo a translocação</p><p>descendente de substâncias (carboidratos, fi tormônios e cofatores)</p><p>facilitadoras do enraizamento, fazendo com que estas se acumulem</p><p>acima do corte, na região que será a base da futura estaca (Fachinello</p><p>et al., 2005).</p><p>Estacas provenientes de ramos jovens possuem mais chances de</p><p>enraizar em relação a estacas de plantas adultas. Por isso, uma das</p><p>técnicas de condicionamento utilizada é o rejuvenescimento de ramos,</p><p>que consiste na realização de uma poda drástica na planta-mãe,</p><p>estimulando a emissão de novos brotos com maior capacidade de</p><p>enraizamento (Franzon et al., 2010).</p><p>Uniube 97</p><p>Em pessegueiro, uma das técnicas adotadas para condicionamento é</p><p>a dobra de ramos. Nesse caso, os ramos são dobrados manualmente</p><p>e permanecem ligados à planta-matriz até o momento de utilização da</p><p>estaca lenhosa (inverno). No local da lesão provocada pela dobra, há</p><p>um estímulo à regeneração, aumentando o índice de enraizamento</p><p>(Fachinello et al., 2005).</p><p>Conforme estudamos anteriormente neste capítulo, uma das principais</p><p>técnicas utilizadas para favorecer o enraizamento é o tratamento com</p><p>fi torreguladores. Os hormônios sintéticos têm como objetivo, além</p><p>de aumentar o enraizamento, aumentar também a velocidade, a</p><p>uniformidade e a qualidade das raízes formadas. Essa técnica é usada</p><p>para todas as espécies e não apenas para aquelas que possuem difícil</p><p>enraizamento, justamente para garantir a produção de mudas por</p><p>estaquia.</p><p>As estacas podem ser tratadas com auxinas, giberelinas ou citocinidas,</p><p>e a substância escolhida, assim como as concentrações e métodos de</p><p>utilização apropriados variam com a espécie e com o tipo de estaca</p><p>(Dias; Gastl Filho, 2020).</p><p>Se os resultados de enraizamento ainda forem insatisfatórios após a</p><p>utilização desses tratamentos, deve-se pensar em outros métodos de</p><p>propagação, tais como: enxertia, mergulhia e micropropagação (Wendling</p><p>et al., 2006).</p><p>Etapas para a realização da propagação por estaquia</p><p>4.6</p><p>Até aqui estudamos diversos fatores que vão contribuir para que</p><p>tenhamos uma propagação vegetativa por estaquia de sucesso.</p><p>Neste tópico, faremos um breve resumo de quais são as etapas a</p><p>98 Uniube</p><p>serem realizadas para a obtenção de um bom resultado propagativo. A</p><p>Figura 4 ilustra os materiais que são utilizados nesse procedimento.</p><p>Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.</p><p>Figura 4 – Propagação vegetativa por estaquia de plantas de oliveira: estacas caulinares apicais,</p><p>vasos com substrato, tesoura de poda e fi torregulador</p><p>Obtenção do material propagativo4.6.1</p><p>Assim como nas demais técnicas de propagação, devemos obter o</p><p>material propagativo a partir de uma planta-matriz com características</p><p>desejáveis, sem danos aparentes, com excelente estado fi tossanitário,</p><p>vigorosa, e com bom estado nutricional. Para produção de mudas com</p><p>fi nalidade comercial, a matriz deve ser identifi cada.</p><p>Após a seleção da planta-matriz, é feita a coleta dos ramos a partir dos</p><p>quais serão produzidas as estacas, sendo que a época da coleta e o tipo</p><p>do ramo variam de acordo com a espécie que se deseja propagar.</p><p>Preparo e manejo das estacas4.6.2</p><p>Após a coleta, os ramos são encaminhados para um local onde serão</p><p>preparadas as estacas. Esse local pode ser um galpão limpo. Todos os</p><p>Uniube 99</p><p>equipamentos utilizados para esse propósito devem ser higienizados,</p><p>como tesoura de poda, serra, entre outros.</p><p>O tamanho das estacas varia de acordo com o tipo de estaca a ser</p><p>produzido. Estacas lenhosas apresentam comprimento e diâmetro</p><p>maiores em relação a estacas semilenhosas e herbáceas, que são ainda</p><p>menores. Estacas lenhosas possuem mais gemas e, por isso, variam</p><p>entre 20 a 30 cm de comprimento e 0,6 a 2,5 cm de diâmetro, enquanto</p><p>estacas semilenhosas variam entre 7,5 e 15,0 cm (Fachinello et al.,</p><p>2005).</p><p>Uma vez preparadas, as estacas devem ser separadas em grupos de</p><p>acordo com o tamanho a fi m de produzir mudas uniformes e facilitar o</p><p>manejo posterior, e serem mantidas hidratadas, em água, até o momento</p><p>do estaqueamento.</p><p>Durante o preparo de algumas estacas, como é o caso dos tipos</p><p>semilenhosas e herbáceas, um ou dois pares de folhas podem ser</p><p>mantidos na parte superior da estaca, pois estas podem favorecer o</p><p>enraizamento. Ao mesmo tempo, as folhas contribuem para a perda</p><p>de água da estaca por sua superfície de contato, requerendo o uso de</p><p>nebulização intermitente e também o corte das folhas ao meio, para</p><p>minimizar esse problema (Fachinello et al., 2005).</p><p>Uso de fi torreguladores4.6.3</p><p>Logo após o preparo das estacas, usualmente, realiza-se o tratamento</p><p>destas com fi torreguladores para então colocá-las em recipientes ou</p><p>canteiros para enraizamento, viabilizando o uso de estacas para</p><p>propagação, especialmente de espécies de difícil enraizamento. Como</p><p>já vimos, os fi torreguladores aumentam a velocidade e a uniformidade</p><p>100 Uniube</p><p>de enraizamento e também o número e a qualidade das raízes formadas</p><p>(Wendling et al., 2006).</p><p>Os fi torreguladores mais comumente utilizados no processo de</p><p>enraizamento de estacas são do grupo das auxinas, como o ácido</p><p>indolbutírico (AIB). As concentrações utilizadas variam de acordo com a</p><p>espécie e eles podem ser aplicados na forma de pó ou em solução diluída</p><p>ou concentrada (Dias; Gastl Filho, 2020).</p><p>Para a aplicação do hormônio, a base da estaca deve ser inserida no</p><p>pó ou na solução cerca de 2,5 cm para aderência ou penetração da</p><p>substância indutora do enraizamento, sendo que o período de contato</p><p>varia com o tipo de estaca, de poucos segundos (estacas herbáceas) a</p><p>poucos minutos (estacas lenhosas) (Wendling et al., 2006).</p><p>Estaqueamento4.6.4</p><p>A transferência das estacas para o recipiente contendo substrato ou para</p><p>canteiros é conhecido como estaqueamento. Estacas semilenhosas ou</p><p>herbáceas, que são mais sensíveis à perda de água, normalmente são</p><p>estaqueadas em recipientes em casa de vegetação, pois precisam de</p><p>controle de umidade o tempo todo.</p><p>Estacas lenhosas são mais rústicas e podem ser estaqueadas em</p><p>canteiros, pois o fornecimento de água esporádico, seja por irrigação ou</p><p>por água da chuva, já satisfaz a necessidade de umidade desse tipo de</p><p>estaca (Fachinello et al., 2005).</p><p>A profundidade de inserção da estaca no substrato depende do tipo de</p><p>estaca que estamos trabalhando,</p><p>sendo recomendada a inserção de</p><p>dois terços de estacas caulinares no interior do substrato para melhor</p><p>enraizamento e pegamento da muda.</p><p>Uniube 101</p><p>Cuidados e manejo pós-estaqueamento4.6.5</p><p>Assim como os cuidados necessários com as mudas propagadas por</p><p>sementes, devemos ter uma atenção especial com as estacas logo após</p><p>o estaqueamento, para que elas possam enraizar e se desenvolverem</p><p>em mudas vigorosas.</p><p>Dentre esses cuidados, temos a manutenção da alta umidade relativa</p><p>do ar para evitar a desidratação e murchamento das estacas, que é</p><p>realizada com o uso da nebulização intermitente, ou seja, aplicação de</p><p>água na forma de névoa e em intervalos constantes.</p><p>Essa névoa é depositada sobre as folhas e as estacas, formando uma</p><p>película de água, reduzindo as taxas de transpiração e respiração, e pode</p><p>ser aplicada em maior frequência durante o dia, quando as temperaturas</p><p>são mais altas, enquanto à noite a nebulização pode ser interrompida</p><p>(Fronza; Hamann, 2015).</p><p>O ambiente constantemente úmido favorece o aparecimento de doenças</p><p>e, por isso, é aconselhável a proteção com fungicidas, pois as estacas</p><p>são muito vulneráveis ao ataque de microrganismos.</p><p>O fornecimento de nutrientes minerais de maneira equilibrada também</p><p>contribui para a formação de raízes adventícias. Inclusive, é usual a</p><p>aplicação desses nutrientes por meio do sistema de nebulização ou</p><p>irrigação, proporcionando melhorias na qualidade das raízes em formação</p><p>e no crescimento das estacas já enraizadas (Fachinello et al., 2005).</p><p>102 Uniube</p><p>Miniestaquia</p><p>4.7</p><p>A miniestaquia é uma técnica derivada da estaquia convencional,</p><p>que consiste na utilização de brotações provenientes de mudas</p><p>propagadas pela estaquia convencional como fonte de propágulos,</p><p>ou seja, a partir dessas brotações são retiradas miniestacas para</p><p>propagação (Wendling et al., 2006).</p><p>É uma alternativa usada para obtenção de materiais propagativos</p><p>rejuvenescidos, isto é, com maior capacidade de enraizamento em</p><p>relação a estacas provenientes de matrizes adultas já amadurecidas</p><p>(Ferriani et al., 2010).</p><p>Nessa técnica de propagação, realiza-se a poda do ápice da brotação</p><p>de uma estaca já enraizada (muda propagada), estimulando a</p><p>emissão de novas brotações, que ocorrerão em tempos distintos de</p><p>acordo com a espécie, época do ano e condições climáticas, entre</p><p>outros aspectos.</p><p>Essas novas brotações são coletadas e a partir delas são preparadas</p><p>as miniestacas, com 3 a 6 cm de comprimento e um a três pares de</p><p>folhas cortadas ao meio. Após o preparo, estas são transferidas para</p><p>os recipientes de propagação, sem que seja necessária a aplicação</p><p>de fi torreguladores, pois os tecidos já são rejuvenescidos (Ferriani</p><p>et al., 2010).</p><p>Considerações fi nais</p><p>4.8</p><p>Neste capítulo, estudamos com detalhes a propagação vegetativa</p><p>por estaquia e como a anatomia e a fi siologia das plantas infl uenciam</p><p>Uniube 103</p><p>na formação de raízes adventícias nas estacas, que são fundamentais</p><p>para uma propagação de sucesso. Conhecemos os tipos de estaca que</p><p>podemos produzir a partir de plantas-matrizes e quais fatores infl uenciam</p><p>no processo de enraizamento, tanto relacionados à planta quanto</p><p>relacionados ao ambiente. Elencamos também os diferentes tratamentos</p><p>de condicionamento das estacas para facilitar a formação das raízes</p><p>e fi zemos o passo a passo da propagação por estaquia. Fechamos o</p><p>capítulo com um resumo sobre a técnica de miniestaquia.</p><p>DIAS, João Paulo Tadeu; GASTL FILHO, Josef. Reguladores vegetais na</p><p>propagação de plantas. In: DIAS, João Paulo Tadeu (Org.). Usos e aplicações de</p><p>reguladores vegetais. Belo Horizonte: EdUEMG, 2020. p. 53-73.</p><p>FACHINELLO, J. C. et al. Propagação vegetativa por estaquia. In: FACHINELLO,</p><p>J. C. et al. Propagação de plantas frutíferas. Brasília: Embrapa Informações</p><p>Tecnológicas, 2005. p. 38-59.</p><p>FERRIANI, A. P. et al. Miniestaquia aplicada a espécies fl orestais. Revista Agro@</p><p>mbiente [On-line]. v. 4, n. 2, p. 102-109, 2010.</p><p>FRANZON, R. C. et al. Produção de mudas: principais técnicas utilizadas na</p><p>propagação de fruteiras. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2010. 56 p.</p><p>FRONZA, Diniz; HAMANN, Jonas Janner. Viveiros e propagações de mudas.</p><p>Santa Maria: UFSM, Colégio Politécnico: Rede e-Tec Brasil, 2015. 142p.</p><p>GETTY IMAGES. Disponível em: https://www.gettyimages.com.br/. Acesso em:</p><p>ago. 2023.</p><p>GROLLI, Paulo Roberto. Propagação de plantas ornamentais. In: PETRY, C. et</p><p>al. (Org.). Plantas ornamentais - aspectos para a produção. 2. ed. Passo Fundo:</p><p>104 Uniube</p><p>Universidade de Passo Fundo, 2008. p. 59-69.</p><p>GUAN, L. et al. Auxin regulates adventitious root formation in tomato cuttings. BMC</p><p>Plant Biology, v. 19, n. 435, p. 1-16, 2019.</p><p>HARTMANN, H. T. et al. Plant propagation: principles and practices. 8. ed. New Jersey:</p><p>Prentice Hall, 2011. 915p.</p><p>PEIXOTO, Paulo Henrique Pereira. Propagação de Plantas – Princípios e Práticas.</p><p>Juiz de Fora: Unversidade Federal de Juiz de Fora, 2017. 107p.</p><p>SENAR. Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Plantas ornamentais: propagação</p><p>e produção de mudas. 2. ed. Brasília: Senar, 2018. 68p.</p><p>WENDLING, I. et al. Produção de mudas de espécies lenhosas. Colombo: Embrapa</p><p>Florestas, 2006. 55 p.</p>