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<p>W</p><p>BA</p><p>06</p><p>51</p><p>_V</p><p>2.</p><p>0</p><p>LEI ANTICORRUPÇÃO:</p><p>COMPARAÇÕES ENTRE A LEI</p><p>BRASILEIRA E OUTROS SISTEMAS</p><p>ANTICORRUPÇÃO</p><p>2</p><p>André Adriano do Nascimento da Silva</p><p>Londrina</p><p>Editora e Distribuidora Educacional S.A.</p><p>2023</p><p>LEI ANTICORRUPÇÃO: COMPARAÇÕES</p><p>ENTRE A LEI BRASILEIRA E OUTROS SISTEMAS</p><p>ANTICORRUPÇÃO</p><p>1ª edição</p><p>3</p><p>2023</p><p>Editora e Distribuidora Educacional S.A.</p><p>Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza</p><p>CEP: 86041-100 — Londrina — PR</p><p>Homepage: https://www.cogna.com.br/</p><p>Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM</p><p>Silvia Rodrigues Cima Bizatto</p><p>Conselho Acadêmico</p><p>Alessandra Cristina Fahl</p><p>Ana Carolina Gulelmo Staut</p><p>Camila Braga de Oliveira Higa</p><p>Camila Turchetti Bacan Gabiatti</p><p>Giani Vendramel de Oliveira</p><p>Gislaine Denisale Ferreira</p><p>Henrique Salustiano Silva</p><p>Mariana Gerardi Mello</p><p>Nirse Ruscheinsky Breternitz</p><p>Priscila Pereira Silva</p><p>Coordenador</p><p>Gislaine Denisale Ferreira</p><p>Revisor</p><p>Carlos Luiz de Lima e Naves</p><p>Editorial</p><p>Beatriz Meloni Montefusco</p><p>Carolina Yaly</p><p>Márcia Regina Silva</p><p>Paola Andressa Machado Leal</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________</p><p>Silva, André Adriano do Nascimento da</p><p>Lei Anticorrupção: comparações entre a lei brasileira</p><p>e outros sistemas anticorrupção/ André Adriano do</p><p>Nascimento da Silv., – Londrina: Editora e Distribuidora</p><p>Educacional S.A., 2023.</p><p>32 p.</p><p>ISBN 978-65-5903-512-0</p><p>1. Anticorrupção. 2. Combate da corrupção. 3. Perspectiva</p><p>europeia. I. Título.</p><p>CDD 364.1323</p><p>_____________________________________________________________________________</p><p>Raquel Torres – CRB 8/10534</p><p>S586l</p><p>© 2023 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.</p><p>Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou</p><p>transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo</p><p>fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de</p><p>informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.</p><p>https://www.cogna.com.br/</p><p>4</p><p>SUMÁRIO</p><p>Apresentação da disciplina __________________________________ 05</p><p>Os primeiros passos na construção de um modelo de Lei</p><p>Anticorrupção ________________________________________________ 07</p><p>O combate da corrupção relativa aos funcionários públicos</p><p>estrangeiros e nacionais _____________________________________ 19</p><p>A perspectiva europeia e global sobre o fenômeno da</p><p>corrupção ___________________________________________________ 32</p><p>A construção da Lei Anticorrupção brasileira _________________ 44</p><p>LEI ANTICORRUPÇÃO: COMPARAÇÕES ENTRE A LEI</p><p>BRASILEIRA E OUTROS SISTEMAS ANTICORRUPÇÃO</p><p>5</p><p>Apresentação da disciplina</p><p>Olá, estudante! A disciplina de Lei Anticorrupção desempenha um papel</p><p>fundamental na vida profissional dos estudantes, pois não apenas</p><p>amplia seu conhecimento jurídico, mas também os prepara para um</p><p>ambiente de trabalho cada vez mais complexo e globalizado.</p><p>A Lei Anticorrupção Brasileira, também conhecida como Lei 12.846/2013,</p><p>estabelece a responsabilidade objetiva das empresas por atos de</p><p>corrupção, tornando as organizações passíveis de sanções em caso de</p><p>envolvimento em práticas corruptas. Isso significa que, como futuros</p><p>profissionais, os estudantes precisam compreender a importância</p><p>de manter práticas éticas e transparentes nas empresas em que</p><p>trabalharão.</p><p>Comparativamente, outros sistemas anticorrupção, como o Foreign</p><p>Corrupt Practices Act (FCPA) dos Estados Unidos e a UK Bribery Act</p><p>do Reino Unido, têm semelhanças com a Lei Anticorrupção brasileira.</p><p>Essas leis também responsabilizam empresas por práticas corruptas,</p><p>impondo multas e medidas de compliance. Essa familiaridade com leis</p><p>anticorrupção globais é essencial para profissionais que possam atuar</p><p>em mercados internacionais.</p><p>A importância da disciplina não reside apenas na compreensão das</p><p>leis, mas também na aplicação prática dos princípios éticos e de</p><p>integridade. Os estudantes que dominam essa disciplina serão mais</p><p>capazes de identificar e prevenir a corrupção em seus ambientes</p><p>de trabalho, contribuindo para a construção de organizações mais</p><p>confiáveis e éticas.</p><p>6</p><p>Além disso, a cooperação internacional é fundamental no combate</p><p>à corrupção em casos de suborno transnacional. Portanto, o</p><p>conhecimento adquirido por meio da disciplina pode capacitar os</p><p>estudantes a colaborar em investigações internacionais e a compreender</p><p>as nuances da aplicação das leis anticorrupção em contextos globais.</p><p>A formação em leis anticorrupção é essencial para a construção de</p><p>carreiras bem-sucedidas e para a promoção de ambientes de trabalho</p><p>mais transparentes e éticos.</p><p>Bons estudos!</p><p>7</p><p>Os primeiros passos na construção</p><p>de um modelo de Lei Anticorrupção</p><p>Autoria: André Adriano do Nascimento da Silva</p><p>Leitura crítica: Carlos Luiz de Lima e Naves</p><p>Objetivos</p><p>• Estabelecer os documentos que inauguraram o atual</p><p>modelo de combate à corrupção.</p><p>• Contextualizar os motivos que levaram à criação de</p><p>novos mecanismos para uma nova corrupção.</p><p>• Mostrar que o problema da corrupção é um dado</p><p>universal.</p><p>8</p><p>1. Primeira grande legislação sobre corrupção:</p><p>o Foreign Corrupt Practices Act de 1977, dos</p><p>Estados Unidos</p><p>Antes de ingressar na análise do Foreign Corrupt Practices Act de 1977, faz-se</p><p>necessário estabelecer o contexto em que se deu sua criação. Tudo começa</p><p>com o escândalo de corrupção transnacional que envolveu a empresa</p><p>americana Lockheed Martin (The New York Times, 1976).</p><p>Tudo começou em 1975, quando um jornal japonês, o Asahi Shimbun,</p><p>publicou uma série de artigos que afirmavam que a Lockheed havia</p><p>pagado suborno a funcionários públicos japoneses para garantir um</p><p>contrato de vendas de aviões F-104 Starfighter.</p><p>As investigações subsequentes revelaram que a Lockheed teria feito</p><p>um pagamento de suborno a funcionários públicos de vários países,</p><p>incluindo Japão, Itália, Grécia, Turquia e Arábia Saudita. Os pagamentos</p><p>variavam de US$ 10 milhões a US$ 100 milhões.</p><p>O escândalo causou grande indignação nos Estados Unidos e levou o</p><p>Congresso a aprovar o Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) em 1977. O</p><p>FCPA, em síntese, proíbe empresas e indivíduos americanos de oferecer</p><p>ou pagar suborno a funcionários públicos estrangeiros.</p><p>A Lockheed, à época, foi multada em US$ 24 milhões pelo governo dos</p><p>Estados Unidos. A empresa também foi obrigada a implementar um</p><p>programa de compliance para evitar futuros casos de corrupção.</p><p>O escândalo da Lockheed teve um impacto significativo no combate à</p><p>corrupção transnacional. Ele ajudou a estabelecer um novo padrão para</p><p>a regulamentação da corrupção empresarial e levou a uma série de</p><p>investigações e processos em todo o mundo.</p><p>O Foreign Corrupt Practices Act, que em português pode ser traduzido como</p><p>Lei de Práticas Corruptas no Exterior, é uma legislação dos Estados Unidos</p><p>9</p><p>que desempenhou um papel significativo na regulamentação da conduta</p><p>de empresas norte-americanas em relação à corrupção internacional. Esta</p><p>lei foi promulgada em 1977 e foi posteriormente emendada em 1988 e</p><p>1998 para fortalecer suas disposições e torná-la mais eficaz.</p><p>Percebe-se, assim, que o Foreign Corrupt Practices Act foi uma resposta às</p><p>preocupações crescentes nos Estados Unidos e em todo o mundo sobre</p><p>a prática generalizada de suborno por empresas norte-americanas no</p><p>exterior. Antes da promulgação desta lei, o suborno era frequentemente</p><p>visto como uma parte aceitável dos negócios internacionais para muitas</p><p>empresas, e havia uma falta de regulamentação efetiva para impedir</p><p>essas práticas corruptas. Podemos dizer que o Foreign Corrupt Practices</p><p>Act divide-se em duas partes principais:</p><p>• Proibição de suborno: A primeira parte da lei proíbe empresas</p><p>e indivíduos sujeitos à jurisdição dos Estados Unidos de pagar,</p><p>oferecer ou prometer subornos a funcionários estrangeiros para</p><p>obter ou manter negócios. Isso se aplica tanto a subornos diretos</p><p>quanto a pagamentos indiretos por meio de intermediários. Além</p><p>disso, a lei proíbe</p><p>para mitigar o</p><p>risco de corrupção em suas operações. O Brasil seguiu esse exemplo,</p><p>introduzindo disposições semelhantes em sua Lei Anticorrupção, que</p><p>responsabiliza as empresas por atos de corrupção, independentemente</p><p>de sua participação direta.</p><p>Outro aspecto importante do Bribery Act que inspirou a legislação</p><p>brasileira é a aplicação extraterritorial. O Bribery Act tem jurisdição</p><p>sobre empresas estrangeiras que operam no Reino Unido, bem como</p><p>sobre empresas britânicas que operam no exterior. Da mesma forma, a</p><p>Lei Brasileira Anticorrupção se aplica a empresas estrangeiras que fazem</p><p>negócios no Brasil. Essa abordagem extraterritorial amplia o alcance das</p><p>leis anticorrupção e incentiva as empresas a adotar padrões globais de</p><p>conformidade.</p><p>Ambas as leis também estabelecem severas sanções para empresas e</p><p>indivíduos envolvidos em atos de corrupção. No Bribery Act, as penalidades</p><p>incluem multas significativas e prisão para pessoas físicas. A Lei Brasileira</p><p>Anticorrupção prevê multas substanciais e a possibilidade de suspensão ou</p><p>proibição de contratar com o governo. Essas sanções severas têm um efeito</p><p>dissuasivo importante na prevenção da corrupção.</p><p>Outro aspecto notável é a ênfase na cooperação e autorregulação.</p><p>Ambas as leis incentivam as empresas a cooperar com as autoridades na</p><p>investigação de atos de corrupção. Além disso, promovem a adoção de</p><p>programas de conformidade e medidas preventivas. No Reino Unido, a</p><p>implementação de medidas de conformidade eficazes pode ser uma defesa</p><p>contra acusações de corrupção. No Brasil, a existência de programas de</p><p>conformidade pode reduzir as penalidades impostas às empresas.</p><p>A transparência também é um componente crucial dessas leis. O Bribery</p><p>Act estabelece a obrigação de manter registros precisos e prestar contas</p><p>49</p><p>em transações financeiras. No Brasil, a Lei Anticorrupção exige que</p><p>as empresas mantenham registros contábeis precisos e impeçam a</p><p>ocultação de atos de corrupção.</p><p>Além disso, tanto o Bribery Act quanto a Lei Brasileira Anticorrupção</p><p>incentivam a denúncia de atos de corrupção. Protegem denunciantes</p><p>e testemunhas, garantindo um ambiente mais seguro para relatar</p><p>irregularidades.</p><p>Essas leis também promovem uma mudança cultural significativa. Eles</p><p>enviam uma mensagem clara de que a corrupção não será tolerada,</p><p>independentemente de quem comete o ato ou em que parte do mundo</p><p>ele ocorre. Eles incentivam a integridade, a ética nos negócios e a</p><p>conformidade, fortalecendo a confiança nos mercados e nas instituições</p><p>públicas.</p><p>No entanto, embora o Bribery Act do Reino Unido tenha sido uma</p><p>fonte de inspiração para a Lei Brasileira Anticorrupção, é importante</p><p>reconhecer que cada país tem suas próprias necessidades e desafios</p><p>específicos. A adaptação das melhores práticas do Bribery Act ao</p><p>contexto brasileiro foi essencial para o sucesso da legislação no país.</p><p>A Lei Brasileira Anticorrupção, assim como o Bribery Act no Reino Unido,</p><p>representa um avanço significativo na luta global contra a corrupção.</p><p>Ambas as leis demonstram o compromisso dos governos em combater</p><p>a corrupção e estabelecer padrões rigorosos de conformidade. Ao se</p><p>inspirar no Bribery Act de 2010, o Brasil deu um passo importante em</p><p>direção a um ambiente de negócios mais ético e transparente, onde a</p><p>corrupção é combatida de forma eficaz e vigorosa.</p><p>Em um mundo cada vez mais interconectado, as lições aprendidas com o</p><p>Bribery Act e a Lei Brasileira Anticorrupção têm o potencial de influenciar</p><p>e inspirar muitos outros países a fortalecerem suas próprias leis e</p><p>práticas anticorrupção. A colaboração global na luta contra a corrupção</p><p>50</p><p>é fundamental para promover a justiça, a igualdade e o desenvolvimento</p><p>econômico sustentável em todo o mundo.</p><p>2. Lei nº 12.846/13, a lei anticorrupção:</p><p>conteúdo e comparação com outros sistemas</p><p>anticorrupção</p><p>A Lei nº 12.846/13, popularmente conhecida como Lei Anticorrupção,</p><p>é um marco importante na legislação brasileira que visa combater a</p><p>corrupção, tanto no setor público quanto no setor privado. Ela trouxe</p><p>diversas inovações e medidas rigorosas para prevenir e punir atos de</p><p>corrupção, representando um avanço significativo no combate a esse</p><p>problema sistêmico no Brasil. Neste texto, exploraremos o conteúdo</p><p>da Lei Anticorrupção, bem como faremos uma comparação com outros</p><p>sistemas anticorrupção em vigor ao redor do mundo.</p><p>2.1 Conteúdo da Lei Anticorrupção</p><p>A Lei nº 12.846/13 apresenta uma série de elementos cruciais que a</p><p>tornam uma ferramenta poderosa no combate à corrupção no Brasil:</p><p>• Responsabilidade objetiva: A lei estabelece a responsabilidade</p><p>objetiva das pessoas jurídicas por atos de corrupção, o que</p><p>significa que as empresas podem ser responsabilizadas</p><p>independentemente de culpa ou envolvimento direto de seus</p><p>administradores ou funcionários.</p><p>• Sanções Significativas: As sanções para empresas condenadas</p><p>por corrupção são severas e incluem multas que podem chegar a</p><p>até 20% do faturamento bruto da empresa no ano anterior ao da</p><p>instauração do processo. Além disso, pode haver a publicação da</p><p>condenação e proibição de contratar com o governo.</p><p>51</p><p>• Programas de Integridade: A lei incentiva a adoção de programas</p><p>de integridade (compliance) pelas empresas como uma forma</p><p>de prevenir atos de corrupção. Empresas que implementam</p><p>e mantêm programas de integridade eficazes podem ter suas</p><p>penalidades reduzidas em caso de infração.</p><p>• Responsabilidade Individual: Além da responsabilidade das</p><p>empresas, a Lei Anticorrupção também prevê a responsabilização</p><p>de pessoas físicas envolvidas em atos de corrupção, como</p><p>administradores, diretores e empregados.</p><p>• Cooperação e Denúncia: A lei incentiva a cooperação das empresas</p><p>com as autoridades e oferece proteção a denunciantes que</p><p>reportem atos de corrupção.</p><p>• Aplicação Extraterritorial: Assim como o Bribery Act do Reino</p><p>Unido, a Lei Anticorrupção brasileira tem aplicação extraterritorial,</p><p>o que significa que ela se aplica a empresas estrangeiras que</p><p>fazem negócios no Brasil.</p><p>Podemos ainda apontar, por relevante, que a Lei prevê a</p><p>desconsideração da personalidade jurídica sempre que utilizada</p><p>com abuso do direito para facilitar, encobrir ou dissimular a prática</p><p>dos atos ilícitos previstos nesta Lei ou para provocar confusão</p><p>patrimonial, sendo estendidos todos os efeitos das sanções a</p><p>ela aplicadas aos seus administradores e sócios com poderes</p><p>de administração, desde que, obviamente, sejam observados o</p><p>contraditório e a ampla defesa.</p><p>No contexto administrativo, prevê a Lei a aplicabilidade das penas de</p><p>multa, no valor de 0,1% a 20% do faturamento bruto do último exercício</p><p>anterior ao da instauração do processo administrativo, excluídos</p><p>os tributos, a qual nunca será inferior à vantagem auferida, quando</p><p>for possível sua estimação; e publicação extraordinária da decisão</p><p>condenatória.</p><p>52</p><p>Ademais, é interessante registrar que poderão ser aplicadas as seguintes</p><p>sanções às pessoas jurídicas infratoras:</p><p>• Perdimento dos bens, direitos ou valores que representem</p><p>vantagem ou proveito direta ou indiretamente obtidos da infração,</p><p>ressalvado o direito de pessoa eventualmente lesada ou mesmo</p><p>de terceiro de boa-fé.</p><p>• Suspensão ou interdição parcial das atividades da pessoa jurídica.</p><p>• dissolução compulsória, desde que determinada por autoridade</p><p>judiciária, da pessoa jurídica.</p><p>• proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações</p><p>ou empréstimos de órgãos ou entidades públicas ou mesmo de</p><p>instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público,</p><p>pelo prazo variável entre 1 e 5 anos.</p><p>Esses, em resumo, são alguns dos principais pontos abordados pela Lei</p><p>Anticorrupção brasileira</p><p>2.2 Comparação com outros sistemas anticorrupção</p><p>Para compreender a importância da Lei Anticorrupção no contexto</p><p>internacional, é relevante fazer uma comparação com outros sistemas</p><p>anticorrupção. Alguns dos exemplos mais notáveis incluem:</p><p>• Bribery Act do Reino Unido: Como mencionado anteriormente,</p><p>o Bribery Act do Reino</p><p>Unido serviu como inspiração para</p><p>a Lei Anticorrupção brasileira. Ambas as leis compartilham</p><p>elementos como responsabilidade corporativa estrita, aplicação</p><p>extraterritorial e ênfase em programas de integridade.</p><p>• Lei de Práticas de Corrupção no Exterior dos EUA (FCPA): A FCPA</p><p>dos EUA é uma legislação que pune atos de suborno fora dos</p><p>53</p><p>Estados Unidos por empresas norte-americanas e estrangeiras que</p><p>têm ações listadas em bolsas de valores dos EUA. A FCPA também</p><p>tem jurisdição extraterritorial e estabelece sanções severas.</p><p>• Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (UNCAC): A</p><p>UNCAC é um tratado internacional que estabelece padrões globais</p><p>para prevenir e combater a corrupção. Ela foi adotada por diversos</p><p>países, incluindo o Brasil, e exige que os Estados-membros tomem</p><p>medidas para combater a corrupção em setores público e privado.</p><p>• Legislação Anticorrupção da União Europeia: A União Europeia</p><p>tem promovido uma série de iniciativas e diretrizes para combater</p><p>a corrupção em seus Estados-membros. Essas iniciativas incluem</p><p>ações voltadas para a prevenção de corrupção e a promoção de</p><p>integridade no setor público e privado.</p><p>A Lei Anticorrupção brasileira, embora tenha sido inspirada em várias</p><p>dessas legislações internacionais, possui suas próprias características</p><p>distintas, adaptadas ao contexto brasileiro. Ela se destaca por seu</p><p>foco na responsabilidade das empresas, sanções significativas e</p><p>ênfase na adoção de programas de integridade. No entanto, como</p><p>em qualquer sistema anticorrupção, a eficácia da lei depende de sua</p><p>aplicação consistente e da cooperação entre as autoridades, empresas e</p><p>sociedade civil.</p><p>Sobre a Lei brasileira, é importante registrar, ainda, que a</p><p>responsabilidade individual dos dirigentes ou administradores, bem</p><p>como de qualquer pessoa natural que tenha participado do ato ilícito,</p><p>não é excluída pela responsabilização da pessoa jurídica. A pessoa</p><p>jurídica será responsabilizada independentemente da responsabilização</p><p>individual das pessoas naturais mencionadas anteriormente.</p><p>Já os dirigentes ou administradores só serão responsabilizados na</p><p>medida de sua própria culpabilidade em relação aos atos ilícitos.</p><p>54</p><p>Além disso, a responsabilidade da pessoa jurídica persiste em casos</p><p>de alteração contratual, transformação, incorporação, fusão ou cisão</p><p>societária.</p><p>Nas situações de fusão e incorporação, a responsabilidade da entidade</p><p>sucessora se limita à obrigação de pagar multas e reparar integralmente</p><p>o dano causado, até o montante do patrimônio transferido. Isso exclui a</p><p>aplicação de outras penalidades previstas nesta Lei em relação a atos e</p><p>eventos ocorridos antes da data da fusão ou incorporação, a menos que</p><p>haja comprovação de simulação ou clara intenção de fraude.</p><p>Adicionalmente, as sociedades controladoras, controladas, coligadas ou</p><p>consorciadas, conforme estipulado em seus contratos, compartilham a</p><p>responsabilidade de forma solidária pela prática dos atos especificados</p><p>nesta Lei. Essa responsabilidade se restringe à obrigação de pagar</p><p>multas e reparar integralmente o dano causado.</p><p>Em resumo, a Lei nº 12.846/13 representa um avanço importante na</p><p>luta contra a corrupção no Brasil e reflete o compromisso do país em</p><p>promover a transparência, a integridade e a responsabilidade. Ao mesmo</p><p>tempo, ela se enquadra em um contexto global mais amplo de combate</p><p>à corrupção, onde as melhores práticas e lições aprendidas com outros</p><p>sistemas anticorrupção desempenham um papel significativo na evolução e</p><p>aprimoramento das legislações anticorrupção em todo o mundo.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Lei nº 12.846, de 1º de março de 2013. Dispõe sobre a responsabilização</p><p>administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a</p><p>administração pública, nacional ou estrangeira, e dá outras providências. Brasília,</p><p>2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/</p><p>L12846.htm. Acesso em: 05 out. 2023.</p><p>REINO UNIDO. Bribery Act 2010. An Act to make provision about offences</p><p>relating to bribery; and for connected purposes. Londres, 2010. Disponível</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12846.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12846.htm</p><p>55</p><p>em: https://www.legislation.gov.uk/ukpga/2010/23/pdfs/ukpga_20100023_en.pdf.</p><p>Acesso em: 05 out. 2023.</p><p>VICENTE, Greco Filho; ROSSI, João Daniel. O combate à corrupção e comentários</p><p>à Lei de Responsabilidade de Pessoas Jurídicas (Lei n. 12.846, de 1º de agosto de</p><p>2013). São Paulo: Saraiva, 2015.</p><p>https://www.legislation.gov.uk/ukpga/2010/23/pdfs/ukpga_20100023_en.pdf</p><p>56</p><p>Sumário</p><p>Apresentação da disciplina</p><p>Os primeiros passos na construção de um modelo de Lei Anticorrupção</p><p>Objetivos</p><p>1. Primeira grande legislação sobre corrupção: o Foreign Corrupt Practices Act de 1977, dos Estados</p><p>2. Convenção Interamericana contra a Corrupção, de 1996 da Organização dos Estados Americanos (OEA)</p><p>Referências</p><p>O combate da corrupção relativa aos funcionários públicos estrangeiros e nacionais</p><p>Objetivos</p><p>1. Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comer</p><p>2. Lei nº 9.613/98, a lei brasileira antilavagem de dinheiro, e dispositivos do Código Penal contra</p><p>Referências</p><p>A perspectiva europeia e global sobre o fenômeno da corrupção</p><p>Objetivos</p><p>1. Convenção Penal sobre a Corrupção do Conselho da Europa, de 1999, e seu Protocolo Adicional, de</p><p>2. Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, de 2003 da Organização das Nações Unidas (ONU),</p><p>Referências</p><p>A construção da Lei Anticorrupção brasileira</p><p>Objetivos</p><p>1. Inspiração para a lei brasileira anticorrupção: o Bribery Act, de 2010 no Reino Unido</p><p>2. Lei nº 12.846/13, a lei anticorrupção: conteúdo e comparação com outros sistemas anticorrupção</p><p>Referências</p><p>empresas de falsificar registros contábeis ou não</p><p>manter registros precisos para ocultar subornos.</p><p>• Requisitos de contabilidade: A segunda parte da lei exige que</p><p>empresas norte-americanas mantenham registros contábeis</p><p>precisos e implementem controles internos adequados para</p><p>garantir que todas as transações sejam registradas de forma</p><p>transparente e completa. Isso torna mais difícil para as empresas</p><p>ocultarem subornos em suas operações financeiras.</p><p>Desde sua promulgação, o Foreign Corrupt Practices Act tem sido uma</p><p>ferramenta importante para combater a corrupção internacional e</p><p>promover práticas comerciais éticas por parte das empresas norte-</p><p>americanas. Ele também influenciou a adoção de medidas semelhantes</p><p>em outros países e organizações internacionais, como a Convenção das</p><p>Nações Unidas contra a Corrupção.</p><p>10</p><p>O Foreign Corrupt Practices Act tem uma ampla abrangência. Ele se aplica</p><p>a todas as empresas americanas, incluindo subsidiárias e joint ventures</p><p>de empresas americanas. Também se aplica a indivíduos americanos,</p><p>incluindo cidadãos americanos e residentes permanentes.</p><p>Pode-se dizer que o Foreign Corrupt Practices Act é uma lei rigorosa</p><p>com penalidades severas. As empresas e indivíduos que violam o FCPA</p><p>podem ser multados em até US$ 2 milhões por violação e condenados a</p><p>até cinco anos de prisão.</p><p>O Foreign Corrupt Practices Act teve um impacto significativo no combate</p><p>à corrupção transnacional. Ele ajudou a reduzir o pagamento de suborno</p><p>a funcionários públicos estrangeiros e a melhorar a transparência e a</p><p>governança corporativa em todo o mundo.</p><p>No entanto, ao mesmo tempo, o Foreign Corrupt Practices Act é uma lei</p><p>complexa e desafiadora de cumprir, sendo uma ferramenta importante</p><p>para combater a corrupção transnacional e promover a integridade nos</p><p>negócios internacionais.</p><p>Sob o ponto de vista brasileiro, sua relevância como parâmetro</p><p>internacional é indubitável. Na sequência, vamos verificar o combate à</p><p>corrupção do ponto de vista americano (e não apenas estadunidense).</p><p>2. Convenção Interamericana contra a</p><p>Corrupção, de 1996 da Organização dos</p><p>Estados Americanos (OEA), promulgada pelo</p><p>Decreto nº 4.410/2002 no Brasil</p><p>Como vimos, o ponto-chave do Foreign Corrupt Practices Act foi o combate</p><p>à corrupção do ponto de vista internacional. Leis e atos normativos para</p><p>tratar do assunto internamente, representado no crime de corrupção</p><p>11</p><p>(como os arts. 317 e 333 do Código Penal brasileiro), são muito mais</p><p>antigos e podem dizer respeito aos primórdios da própria sociedade. A</p><p>preocupação com o tema é vista comumente nas páginas da histórica e</p><p>da literatura. É de todos conhecido o provérbio de que “À mulher de César</p><p>não basta ser honesta, deve parecer honesta”. Ela expressa a ideia de que</p><p>as pessoas em posições de poder ou de destaque devem não apenas ser</p><p>virtuosas, mas também manter uma aparência de virtude e honestidade.</p><p>Em outras palavras, não é suficiente que uma pessoa em uma posição</p><p>de autoridade seja verdadeiramente honesta; ela também deve evitar</p><p>qualquer aparência de má conduta ou desonestidade, a fim de manter a</p><p>confiança do público ou das partes interessadas.</p><p>A origem dessa frase remonta a um episódio histórico da Roma</p><p>Antiga. Segundo a história, a esposa de Júlio César, Pompeia, estava</p><p>hospedando uma festa em sua casa. Durante essa festa, um incidente</p><p>ocorreu no qual um homem mascarado, que mais tarde se revelou ser</p><p>um jovem político chamado Clódio, entrou na festa disfarçado de mulher</p><p>para se encontrar com Pompeia, supostamente com más intenções.</p><p>Apesar de não haver evidências de que Pompeia estava envolvida em</p><p>qualquer atividade imprópria, seu nome foi manchado pelo escândalo, e</p><p>ela e César decidiram se divorciar. Embora essa frase muitas vezes seja</p><p>utilizada mais no contexto da importância da aparência, da vida pública,</p><p>sua essência parece remeter à necessidade de que a administração</p><p>zele integralmente pelo respeito à honestidade, à probidade em suas</p><p>relações. E isso deve ser claro a ponto de afastar qualquer dúvida sobre</p><p>a correção dos atos da administração.</p><p>E o que essa passagem introduz em relação ao nosso tema principal?</p><p>Veja que essa preocupação localizada em Roma, vai ganhando espaço</p><p>com o mundo globalizado para também tornar-se um tema global. A</p><p>normativa estadunidense abriu caminho para discussões nos sistemas</p><p>internacionais acerca da importância do tema, sendo relevante, sob o</p><p>ponto de vista brasileiro, a análise da Convenção Interamericana contra</p><p>12</p><p>a Corrupção, de 1996 da Organização dos Estados Americanos (OEA),</p><p>promulgada pelo Decreto nº 4.410/02 no Brasil.</p><p>Nesse contexto, deve-se anotar que em dezembro de 1994 foi realizada</p><p>a Primeira Cúpula das Américas. Na oportunidade, reconheceu-se</p><p>a importância do combate à corrupção como forma de fortalecer a</p><p>democracia. Em 1995, nesse intento, solicitou-se ao Presidente do Grupo</p><p>de Trabalho sobre Probidade e Ética o desenvolvimento de um projeto</p><p>de convenção no âmbito interamericano sobre o assunto. Criou-se, a</p><p>partir dessa iniciativa, a Convenção Interamericana contra a Corrupção,</p><p>firmada em Caracas, Venezuela, em 29 de março de 1996, durante a</p><p>Conferência Especializada sobre o Projeto de Convenção Interamericana</p><p>contra a Corrupção.</p><p>No Brasil, essa convenção foi aprovada pelo Congresso Nacional</p><p>por meio do Decreto Legislativo 152 de 25 de junho de 2022, sendo</p><p>promulgada pelo Presidente da República por meio do Decreto 4.410, de</p><p>7 de outubro de 2022.</p><p>Pode-se dizer, em síntese, que o objetivo da Convenção é promover e</p><p>fortalecer o desenvolvimento dos mecanismos necessários para prevenir,</p><p>detectar, punir e erradicar a corrupção, além de promover, facilitar e</p><p>regular a cooperação entre os Estados Partes a fim de assegurar a eficácia</p><p>das medidas e ações adotadas para prevenir, detectar, punir e erradicar</p><p>a corrupção no exercício das funções públicas, bem como os atos de</p><p>corrupção especificamente vinculados a seu exercício.</p><p>Entre os principais pontos contidos nessa relevante Convenção,</p><p>podemos destacar:</p><p>As medidas preventivas</p><p>O ditado popular de que é melhor prevenir do que remediar, aplica-se</p><p>integralmente no campo dos atos ilícitos, pois dificilmente a punição se</p><p>13</p><p>mostrará mais eficiente do que a prevenção ao ilícito. Além de, em regra,</p><p>ser muito mais custosa. A falta de políticas claras no campo da prevenção,</p><p>contudo, torna muitas vezes vazio o campo da prevenção, dando azo a</p><p>uma série de condutas ilícitas que só depois de causar danos enormes tem</p><p>resposta estatal. A Convenção em análise traz um rol de doze medidas</p><p>preventivas destinadas aos atos de corrupção. São elas:</p><p>1. Diretrizes éticas para o exercício correto, honrado e apropriado</p><p>das funções públicas, com o propósito de prevenir conflitos de</p><p>interesse, garantir a adequada gestão dos recursos confiados</p><p>aos servidores públicos no desempenho de suas obrigações</p><p>e estabelecer mecanismos e procedimentos para que os</p><p>funcionários públicos relatem às autoridades competentes</p><p>qualquer ato de corrupção que tenham conhecimento. Essas</p><p>medidas contribuirão para preservar a confiança na integridade</p><p>dos servidores públicos e na administração pública.</p><p>2. Instrumentos para efetivar o cumprimento das normas de</p><p>conduta mencionadas.</p><p>3. Orientações destinadas aos funcionários dos órgãos públicos,</p><p>com o objetivo de garantir uma compreensão adequada de suas</p><p>responsabilidades e das normas éticas que regem suas atividades.</p><p>4. Sistemas para a prestação de declarações de renda, bens e dívidas</p><p>por parte das pessoas que ocupem cargos públicos especificados</p><p>por lei, e, quando necessário, para a divulgação dessas</p><p>declarações.</p><p>5. Mecanismos de recrutamento de servidores públicos e aquisição</p><p>de bens e serviços pelo Estado que garantam transparência,</p><p>equidade e eficiência.</p><p>6. Sistemas de arrecadação e controle das receitas do Estado que</p><p>previnam a ocorrência de corrupção.</p><p>14</p><p>7. Leis que proíbam concessões tributárias favoráveis a indivíduos</p><p>ou empresas em relação a gastos</p><p>que violem as leis dos Estados</p><p>Partes contra a corrupção.</p><p>8. Disposições para proteger tanto servidores públicos quanto</p><p>cidadãos que denunciem atos de corrupção de boa-fé, inclusive</p><p>a salvaguarda de suas identidades, desde que não contrariem a</p><p>Constituição do Estado e seus princípios fundamentais.</p><p>9. Órgãos de controle de alto nível encarregados de desenvolver</p><p>métodos modernos para prevenir, identificar, punir e erradicar</p><p>práticas corruptas.</p><p>10. Medidas que impeçam o suborno de funcionários públicos,</p><p>tanto nacionais quanto estrangeiros, como a implementação de</p><p>sistemas que assegurem que empresas e outras organizações</p><p>mantenham registros detalhados e precisos das transações</p><p>de ativos, bem como controles internos que permitam aos</p><p>funcionários identificar atos de corrupção.</p><p>11. Mecanismos para promover a participação ativa da sociedade</p><p>civil e de organizações não governamentais nos esforços para</p><p>combater à corrupção.</p><p>12. A análise de novas estratégias de prevenção, considerando a relação</p><p>entre uma remuneração justa e a probidade no serviço público.</p><p>Todas as medidas têm como elemento comum os chamados atos de</p><p>corrupção. Vamos a eles.</p><p>A aproximação de definição dos atos de corrupção</p><p>Embora a Convenção não defina propriamente o que é corrupção, sua</p><p>opção é de estabelecer as características de certos atos de maneira</p><p>a identificá-los como atos de corrupção. Textualmente, extraímos o</p><p>seguinte do art. VI da Convenção, que são atos de corrupção:</p><p>15</p><p>a. a solicitação ou a aceitação, direta ou indiretamente, por um</p><p>funcionário público ou pessoa que exerça funções públicas, de</p><p>qualquer objeto de valor pecuniário ou de outros benefícios como</p><p>dádivas, favores, promessas ou vantagens para si mesmo ou para</p><p>outra pessoa ou entidade em troca da realização ou omissão de</p><p>qualquer ato no exercício de suas funções públicas.</p><p>b. a oferta ou outorga, direta ou indiretamente, a um funcionário</p><p>público ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer</p><p>objeto de valor pecuniário ou de outros benefícios como dádivas,</p><p>favores, promessas ou vantagens a esse funcionário público ou</p><p>outra pessoa ou entidade em troca da realização ou omissão de</p><p>qualquer ato no exercício de suas funções públicas.</p><p>c. a realização, por parte de um funcionário público ou pessoa que</p><p>exerça funções públicas, de qualquer ato ou omissão no exercício</p><p>de suas funções, a fim de obter ilicitamente benefícios para si</p><p>mesmo ou para um terceiro.</p><p>d. o aproveitamento doloso ou a ocultação de bens provenientes de</p><p>qualquer dos atos a que se refere este artigo.</p><p>e. a participação, como autor, coautor, instigador, cúmplice,</p><p>acobertador ou mediante qualquer outro modo na perpetração,</p><p>na tentativa de perpetração ou na associação ou confabulação</p><p>para perpetrar qualquer dos atos a que se refere este artigo.</p><p>Esta Convenção também é aplicável por acordo mútuo entre dois</p><p>ou mais Estados Partes com referência a quaisquer outros atos de</p><p>corrupção que a própria Convenção não defina.</p><p>Percebemos, assim, que a tática utilizada pela Convenção foi da</p><p>utilização de exemplos claros sobre o que considera corrupção, ao</p><p>contrário de trazer uma definição jurídica vaga e aberta a diferentes</p><p>interpretações. Buscou-se, assim, avançar no sentido da taxatividade da</p><p>16</p><p>definição jurídica, o que é uma aproximação interessante e que pode</p><p>contribuir com os sistemas nacionais.</p><p>O estabelecimento das condutas de suborno transnacional</p><p>e enriquecimento ilícito</p><p>De acordo com a Convenção, deve ser proibido e punido pelos</p><p>signatários o chamado suborno transnacional, isto é, o oferecimento ou</p><p>outorga, por parte de seus cidadãos, pessoas que tenham residência</p><p>habitual em seu território e empresas domiciliadas no mesmo, a um</p><p>funcionário público de outro Estado, direta ou indiretamente, de</p><p>qualquer objeto de valor pecuniário ou outros benefícios, como dádivas,</p><p>favores, promessas ou vantagens em troca da realização ou omissão,</p><p>por esse funcionário, de qualquer ato no exercício de suas funções</p><p>públicas relacionado com uma transação de natureza econômica ou</p><p>comercial.</p><p>Também se estabeleceu que os Estados Partes devem adotar medidas</p><p>necessárias para tipificar como delito em sua legislação o aumento do</p><p>patrimônio de um funcionário público que exceda de modo significativo</p><p>sua renda legítima durante o exercício de suas funções e que não possa</p><p>justificar razoavelmente.</p><p>A previsão de medidas de cooperação entre os países</p><p>Um dos pontos essenciais da Convenção é estabelecer que os Estados</p><p>Partes têm o dever mútuo de prestar a mais ampla assistência recíproca,</p><p>em conformidade com suas leis e com os tratados aplicáveis.</p><p>Devem nesse sentido, dar curso às solicitações emanadas de suas</p><p>autoridades que, de acordo com o seu direito interno, tenham</p><p>faculdades para investigar ou processar atos de corrupção, com vistas</p><p>à obtenção de provas e à realização de outros atos necessários para</p><p>17</p><p>facilitar os processos e as diligências ligadas à investigação ou processo</p><p>penal por atos de corrupção. Também deverão prestar igualmente a</p><p>mais ampla cooperação técnica recíproca sobre as formas e métodos</p><p>mais efetivos para prevenir, detectar, investigar e punir os atos de</p><p>corrupção. Para essa finalidade, facilitarão o intercâmbio de experiências</p><p>por meio de acordos e reuniões entre os órgãos e instituições</p><p>competentes e dispensarão atenção especial às formas e métodos de</p><p>participação civil na luta contra a corrupção. Entre as principais medidas</p><p>de cooperação, ademais, estão:</p><p>1. a inclusão dos atos de corrupção entre aqueles que devem admitir</p><p>a extradição.</p><p>2. a prestação de assistência para identificar, localizar, bloquear,</p><p>apreender e confiscar bens obtidos ou provenientes da prática</p><p>dos delitos de corrupção, ou os bens usados para essa prática, ou</p><p>o respectivo produto.</p><p>3. a impossibilidade de negativa de pedidos relativos à corrupção</p><p>sob alegação de sigilo bancário.</p><p>4. o estabelecimento de uma autoridade central para facilitação do</p><p>diálogo entre os Estados.</p><p>Esses são, portanto, os principais pontos da Convenção relevantes para</p><p>o fim do nosso estudo.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Decreto nº 4.410, de 7 de outubro de 2002. Promulga a Convenção</p><p>Interamericana contra a Corrupção, de 29 de março de 1996, com reserva para o</p><p>art. XI, parágrafo 1o, inciso “c”. Brasília, 2002. Disponível em: http://www.planalto.</p><p>gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4410.htm. Acesso em: 24 ago. 2023.</p><p>ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Código Federal dos EUA – Título 15. Comércio e</p><p>Negociação – Capítulo 2B – Bolsas de Valores. Cláusulas Anti-Suborno e sobre Livros</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4410.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4410.htm</p><p>18</p><p>e Registros Contábeis da Lei Americana Anti-Corrupção no Exterior. Washington D.</p><p>C., 1977. Disponível em: https://www.justice.gov/sites/default/files/criminal-fraud/</p><p>legacy/2012/11/14/fcpa-portuguese.pdf. Acesso em: 23 ago. 2023.</p><p>GUBERT, Paula Soares Campeão. Combate à Corrupção e Cooperação Jurídica</p><p>Global–Redes Transnacionais de Cooperação Jurídica na Persecução Criminal.</p><p>Paraná: Juruá, 2019.</p><p>THE NEW YORK TIMES. History of Lockheed Case. Ago. 27, 1976, p. 8. Disponível</p><p>em: https://www.nytimes.com/1976/08/27/archives/history-of-lockheed-case.html.</p><p>Acesso em: 20 ago. 2023.</p><p>https://www.justice.gov/sites/default/files/criminal-fraud/legacy/2012/11/14/fcpa-portuguese.pdf</p><p>https://www.justice.gov/sites/default/files/criminal-fraud/legacy/2012/11/14/fcpa-portuguese.pdf</p><p>https://www.nytimes.com/1976/08/27/archives/history-of-lockheed-case.html</p><p>19</p><p>O combate da corrupção relativa</p><p>aos funcionários públicos</p><p>estrangeiros e nacionais</p><p>Autoria: André Adriano do Nascimento da Silva</p><p>Leitura crítica: Carlos Luiz de Lima e Naves</p><p>Objetivos</p><p>• Estabelecer as premissas internacionais de combate</p><p>da corrupção de funcionários públicos estrangeiros.</p><p>• Demonstrar as bases atuais da legislação</p><p>antilavagem de dinheiro brasileira.</p><p>• Contextualizar os principais crimes voltados ao</p><p>combate à corrupção no Código</p><p>Penal Brasileiro.</p><p>20</p><p>1. Convenção sobre o Combate da Corrupção</p><p>de Funcionários Públicos Estrangeiros em</p><p>Transações Comerciais Internacionais, de 1997</p><p>da Organização para a Cooperação e</p><p>Desenvolvimento Econômico (OCDE),</p><p>promulgada pelo Decreto nº 3.678/00 no Brasil</p><p>A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)</p><p>é uma organização internacional fundada em 1961. Sua sede é em</p><p>Paris e seus 38 membros representam cerca de 80% do PIB Mundial.</p><p>Entre os objetivos da OCDE podemos citar a promoção do crescimento</p><p>econômico sustentável, o emprego, a prosperidade e o bem-estar</p><p>social. Para atingir esses objetivos, a OCDE trabalha em uma ampla</p><p>gama de áreas, incluindo economia, comércio, finanças, meio ambiente,</p><p>educação, saúde e governança1. A OCDE realiza pesquisas e análises,</p><p>fornece assistência técnica e promove a troca de informações entre</p><p>seus membros. A organização também publica uma série de relatórios</p><p>e estudos sobre questões econômicas e sociais relevantes. Há, inclusive,</p><p>pleito do governo brasileiro para compor a Organização.</p><p>No contexto dessa relevante Organização, formulou-se uma</p><p>recomendação sobre o combate à corrupção em transações comerciais</p><p>internacionais a partir da qual se editou a Convenção sobre o Combate</p><p>da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações</p><p>Comerciais Internacionais, concluída em Paris em 17 de dezembro</p><p>de 1997, tendo sido ratificada pelo Brasil em 24 de agosto de 2000,</p><p>passando a vigorar internamente em 30 de novembro de 2000, com a</p><p>edição do Decreto 3.6782.</p><p>1 Disponível em: Membros e Estrutura Organizacional da OCDE. Disponível em https://www.gov.br/econo-</p><p>mia/pt-br/assuntos/ocde/membros-e-estrutura-organizacional-da-ocde. Acesso em: 29 ago. 2023.</p><p>2 BRASIL. Decreto nº 3.678, de 30 de novembro de 2000. Promulga a Convenção sobre o Combate da Corrup-</p><p>ção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, concluída em Paris, em</p><p>17 de dezembro de 1997. Brasília, 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3678.</p><p>htm. Acesso em: 29 ago. 2023.</p><p>https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/ocde/membros-e-estrutura-organizacional-da-ocde</p><p>https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/ocde/membros-e-estrutura-organizacional-da-ocde</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3678.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3678.htm</p><p>21</p><p>A Convenção inicia determinando a obrigatoriedade para os Estados</p><p>signatários de que tomem todas as medidas para estabelecer que, de</p><p>acordo com suas leis, a tipificação como crime do ato intencional de</p><p>oferecer, prometer ou conceder qualquer vantagem financeira indevida</p><p>ou de outra natureza, seja diretamente ou por meio de intermediários,</p><p>a um funcionário público estrangeiro, com o propósito de influenciar a</p><p>ação ou omissão desse funcionário em relação ao cumprimento de suas</p><p>obrigações oficiais, visando facilitar ou dificultar transações comerciais</p><p>internacionais ou obter outras vantagens ilegais nesse contexto. É</p><p>essencial, outrossim, que cada Parte tome todas as medidas necessárias</p><p>para estabelecer que a cumplicidade, incluindo incitação, assistência</p><p>ou encorajamento, ou a autorização de atos de corrupção envolvendo</p><p>um funcionário público estrangeiro, constitui um crime. Tentativas e</p><p>conspirações para subornar um funcionário público estrangeiro deverão</p><p>igualmente ser consideradas crimes na mesma medida em que as</p><p>tentativas e conspirações relacionadas à corrupção de funcionários</p><p>públicos daquela Parte o forem.</p><p>No Brasil, houve a efetiva tipificação desses crimes a partir da edição da</p><p>Lei 10.467, de 11 de junho de 2002 que inseriu o Capítulo II-A ao Título</p><p>XI do Código Penal, denominado Dos crimes praticados por particular</p><p>contra a administração pública estrangeira, incorporando ao nosso</p><p>sistema jurídico os seguintes crimes3:</p><p>Corrupção ativa em transação comercial internacional</p><p>Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem</p><p>indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira pessoa, para</p><p>determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à</p><p>transação comercial internacional:</p><p>Pena – reclusão, de 1 a 8 anos, e multa.</p><p>3 BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: https://www.planalto.</p><p>gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 29 ago. 2023.</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm</p><p>22</p><p>Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3, se, em razão da vantagem</p><p>ou promessa, o funcionário público estrangeiro retarda ou omite o ato de</p><p>ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.</p><p>Tráfico de influência em transação comercial internacional</p><p>Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, direta</p><p>ou indiretamente, vantagem ou promessa de vantagem a pretexto de</p><p>influir em ato praticado por funcionário público estrangeiro no exercício de</p><p>suas funções, relacionado a transação comercial internacional:</p><p>Pena – reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.</p><p>Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou</p><p>insinua que a vantagem é também destinada a funcionário estrangeiro.</p><p>Funcionário público estrangeiro</p><p>Art. 337-D. Considera-se funcionário público estrangeiro, para os</p><p>efeitos penais, quem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração,</p><p>exerce cargo, emprego ou função pública em entidades estatais ou em</p><p>representações diplomáticas de país estrangeiro.</p><p>Parágrafo único. Equipara-se a funcionário público estrangeiro quem</p><p>exerce cargo, emprego ou função em empresas controladas, diretamente</p><p>ou indiretamente, pelo Poder Público de país estrangeiro ou em</p><p>organizações públicas internacionais.</p><p>Como se observa dos tipos penais criados, basicamente se adaptaram</p><p>os crimes de corrupção ativa e de tráfico de influência ao contexto das</p><p>transações comerciais, seguidos de uma definição de funcionário público</p><p>estrangeiro.</p><p>Curioso notar que a sanção da corrupção é sensivelmente menor se</p><p>comparada ao crime de corrupção ativa “comum” (que tem pena de</p><p>reclusão de 2 a 12 anos). Nesse ponto, parece haver um descompasso</p><p>entre a legislação brasileira e a Convenção, haja vista que esta prevê</p><p>expressamente que “a corrupção de um funcionário público estrangeiro</p><p>deverá ser punível com penas criminais efetivas, proporcionais e</p><p>23</p><p>dissuasivas” (art. 3.1), sendo que a quantidade da pena deve(ria) ser</p><p>comparável àquela aplicada à corrupção do funcionário do Estado parte,</p><p>sendo que a privação da liberdade deveria perdurar por período suficiente</p><p>a permitir a efetiva assistência jurídica recíproca e a extradição.</p><p>Ademais, prevê a Convenção, em hipóteses como o sistema brasileiro,</p><p>em que não há responsabilidade penal da pessoa jurídica nesse tipo de</p><p>ilícito, deve ser assegurada a aplicação de sanções não criminais efetivas,</p><p>proporcionais e dissuasivas contra a corrupção de funcionário público</p><p>estrangeiro, inclusive sanções financeiras.</p><p>Outro ponto relevante que o Decreto nº 3.678/2000 acaba por</p><p>incorporar ao ordenamento jurídico, é a possibilidade de aplicação</p><p>extraterritorial da lei penal brasileira, na forma prevista no art. 7º, II, a,</p><p>do Código Penal. Afinal, tendo o Brasil se obrigado a reprimir esse tipo</p><p>de ilícito, passa também a ser possível a aplicação da lei penal brasileira</p><p>a fatos cometidos fora do território nacional, desde que presentes as</p><p>condições previstas no parágrafo 2º do mesmo artigo.</p><p>Importante registrar, ainda que o art. 7º da Convenção prevê que o país</p><p>signatário que tornou o delito de corrupção de seu próprio funcionário</p><p>público um delito no qual seja aplicável a lei de lavagem de dinheiro</p><p>deverá fazer o mesmo, nos mesmos termos, em relação à corrupção</p><p>de um funcionário público estrangeiro, sem considerar o local de</p><p>ocorrência da corrupção. Tal procedimento foi realizado pela norma</p><p>interna brasileira, quando ainda era necessário o estabelecimento de</p><p>rol</p><p>prévio de crimes para a caracterização do delito de lavagem de dinheiro.</p><p>Por fim, ponto relevante a ser observado pelos Estados parte está no</p><p>momento antecedente à prática delitiva, ou seja, no combate à própria</p><p>existência da corrupção. Prevê o art. 8º da Convenção que deverá o</p><p>Estado parte:</p><p>[...] tomar todas as medidas necessárias, no âmbito de suas leis e</p><p>regulamentos sobre manutenção de livros e registros contábeis, divulgação de</p><p>24</p><p>declarações financeiras, e sistemas de contabilidade e auditoria, para proibir o</p><p>estabelecimento de contas de caixa “dois”, a realização de operações de caixa</p><p>“dois” ou operações inadequadamente explicitadas, o registro de despesas</p><p>inexistentes, o lançamento de obrigações com explicitação inadequada de</p><p>seu objeto, bem como o uso de documentos falsos por companhias sujeitas</p><p>àquelas leis e regulamentos com o propósito de corromper funcionários</p><p>públicos estrangeiros ou ocultar tal corrupção4.</p><p>Nota-se, no ponto, relevante preocupação da Convenção com a</p><p>chamada “contabilidade paralela”, especialmente conhecida como</p><p>caixa “dois”, prática que gera grande dificuldade na auditoria das</p><p>cotas prestadas, caracterizando mecanismo conhecido para evitar-</p><p>se a atuação da investigação e da punição das condutas ilícitas,</p><p>especialmente aquelas que envolvem delitos de corrupção.</p><p>Como se percebe, o ponto central da Convenção sobre o Combate</p><p>da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações</p><p>Comerciais Internacionais é incorporar aos ordenamentos jurídicos</p><p>nacionais a mesma postura de combate à corrupção interna que se</p><p>tem em relação aos atos que envolvem outros países. Busca-se a</p><p>manutenção de um equilíbrio nas relações comerciais subsidiariamente,</p><p>haja vista que podem ser potencialmente afetadas pelo comportamento</p><p>lesivo de seus servidores.</p><p>2. Lei nº 9.613/98, a lei brasileira antilavagem</p><p>de dinheiro, e dispositivos do Código Penal</p><p>contra a corrupção</p><p>Como vimos, um dos elementos mencionados como forma de combate</p><p>à corrupção é a criminalização da lavagem de dinheiro. Embora a</p><p>4 BRASIL. Decreto nº 3.678, de 30 de novembro de 2000. Promulga a Convenção sobre o Combate da Corrup-</p><p>ção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, concluída em Paris, em</p><p>17 de dezembro de 1997. Brasília, 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3678.</p><p>htm. Acesso em: 29 ago. 2023.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3678.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3678.htm</p><p>25</p><p>lavagem de dinheiro seja um ato ilícito extremamente antigo na história</p><p>conhecida, sua concepção moderna é estabelecida a partir das práticas</p><p>realizadas durante a Lei Seca nos Estados Unidos da América, quando</p><p>muitos traficantes de álcool se utilizavam de atividades aparentemente</p><p>legais para encobrir a origem ilícita de seu patrimônio. Nesse intento,</p><p>uma das empresas de fachada utilizada era justamente uma lavandaria.</p><p>Na essência, contudo, a prática era empregada em qualquer ramo da</p><p>atividade comercial em que fosse fácil dissimular a origem dos valores</p><p>recebidos. A prestação de serviços, como o caso de uma lavanderia,</p><p>assim, era o local ideal para a empreitada. Vale lembrar, no ponto, que</p><p>um dos criminosos -reais- mais famosos da história estadunidense é</p><p>justamente o chefe da máfia Al Capone, que apesar do envolvimento em</p><p>diversos crimes violentos, acabou preso pela prática de sonegação de</p><p>impostos, pela qual foi condenado a 11 anos de prisão.</p><p>Podemos dizer que há uma certa evolução do crime de lavagem de</p><p>dinheiro, que pode ser dividida em três fases principais:</p><p>• Fase inicial (1920-1970): nesta fase, o crime de lavagem de dinheiro</p><p>era relativamente simples, envolvendo principalmente o uso de</p><p>empresas de fachada e o investimento em atividades lícitas para</p><p>ocultar a origem ilícita do dinheiro.</p><p>• Fase intermediária (1970-1990): nesta fase, o crime de lavagem de</p><p>dinheiro se tornou mais sofisticado, envolvendo o uso de técnicas</p><p>como o comércio de arte, o jogo ilegal e as transações financeiras</p><p>internacionais.</p><p>• Fase atual (1990-presente): nesta fase, o crime de lavagem de</p><p>dinheiro se tornou extremamente sofisticado, envolvendo o uso de</p><p>técnicas como a lavagem de dinheiro virtual (inclusive com o uso</p><p>de criptoativos) e o uso de paraísos fiscais.</p><p>No Brasil, o combate ao delito de lavagem de dinheiro tem início em</p><p>1991. Explica-se: com a edição do Decreto 154 de 26 de junho de 1991,</p><p>26</p><p>o Brasil deu vigência interna à Convenção Contra o Tráfico Ilícito de</p><p>Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, concluída em Viena, em</p><p>20 de dezembro de 1988. Essa Convenção tem como objeto principal</p><p>o crime de tráfico de drogas, mas um dos seus focos é, justamente, o</p><p>combate à conversão ou a transferência de bens, com conhecimento de</p><p>que tais bens são procedentes de algum ou alguns dos delitos de tráfico,</p><p>com o objetivo de ocultar ou encobrir a origem ilícita dos bens, ou de</p><p>ajudar a qualquer pessoa que participe na prática do delito ou delitos</p><p>em questão, para fugir das consequências jurídicas de seus atos (art. 3.1,</p><p>alínea b.i, da Convenção).</p><p>Esse primeiro passo foi relevante na edição futura da Lei 9.613, de 3</p><p>de março de 1998, conhecida como Lei de Lavagem de Dinheiro ou Lei</p><p>Antilavagem5. Inicialmente, a Lei 9.613/1998 realizava tipificação do</p><p>crime de lavagem vinculada a certos crimes antecedentes, isto é, para</p><p>a caracterização do delito de lavagem de dinheiro, seria necessário que</p><p>houvesse a indicação de um crime antecedente dentre aqueles previstos</p><p>no rol taxativo do art. 1º da Lei. Essa estrutura rígida acabou por ser</p><p>superada com a edição da Lei 12.683, de 9 de julho de 2012, que passou</p><p>a definir o crime de lavagem de dinheiro com a seguinte redação:</p><p>Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,</p><p>movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,</p><p>direta ou indiretamente, de infração penal.</p><p>Pena: reclusão, de 3 a 10 anos, e multa.</p><p>A partir dessa perspectiva, como se percebe pela redação, há uma</p><p>maior clareza conceitual e facilitação na subsunção da conduta à</p><p>hipótese prevista na norma. A modificação legislativa, ademais, deixou</p><p>consignado no art. 2º, II, da Lei que o processo e julgamento do delito</p><p>de lavagem não depende do processo e julgamento da infração</p><p>5 BRASIL. Lei 9.613, de 3 de março de 1998. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9613.htm. Acesso</p><p>em: 29 ago. 2023</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9613.htm</p><p>27</p><p>antecedente, mesmo que praticada em outro país. O crime de lavagem</p><p>também prevê condutas equiparadas com a seguinte redação6:</p><p>§ 1º. Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização</p><p>de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal:</p><p>I. os converte em ativos lícitos;</p><p>II. os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda,</p><p>tem em depósito, movimenta ou transfere;</p><p>III. importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos</p><p>verdadeiros.</p><p>§ 2º. Incorre, ainda, na mesma pena quem:</p><p>I. utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores</p><p>provenientes de infração penal;</p><p>II. participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento</p><p>de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de</p><p>crimes previstos nesta Lei.</p><p>A tipificação do crime de lavagem, como se vê, é, em essência, bastante</p><p>simples. A própria ideia de lavagem não deixa de ser um procedimento</p><p>simples, mas ao mesmo tempo astuto que visa dar aparência lícita ao</p><p>valor proveniente do mundo ilícito. Costuma-se designar que o processo</p><p>de lavagem de dinheiro passa por três fases:</p><p>1. Colocação: Nessa fase, o dinheiro de origem ilícita é inserido no</p><p>sistema financeiro. Isso pode ser feito por meio de depósitos em</p><p>contas bancárias, investimentos, compra de bens ou serviços etc. O</p><p>objetivo dessa fase é tornar o dinheiro difícil de rastrear.</p><p>2. Ocultação: Na ocultação, o dinheiro ilícito é escondido da origem</p><p>criminosa.</p><p>Isso pode ser feito por meio de uma série de transações</p><p>complexas, como transferências bancárias internacionais,</p><p>6 BRASIL. Lei 9.613, de 3 de março de 1998. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9613.htm. Acesso</p><p>em: 29 ago. 2023</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9613.htm</p><p>28</p><p>investimentos em ativos offshore, compra de criptoativos etc. O</p><p>objetivo dessa fase é dificultar a identificação da fonte do dinheiro.</p><p>3. Integração: Na fase de integração, o dinheiro ilícito é incorporado à</p><p>economia formal. Isso pode ser feito por meio de investimentos em</p><p>empresas, compra de imóveis etc. O objetivo dessa fase é dar ao</p><p>dinheiro uma aparência de legalidade.</p><p>Para contextualizar, ademais, podemos utilizar como exemplos de</p><p>técnicas de lavagem de dinheiro:</p><p>Mescla: misturar o dinheiro ilícito com dinheiro lícito para dificultar o</p><p>rastreamento.</p><p>Estruturação: dividir o dinheiro ilícito em pequenas quantidades para evitar</p><p>levantar suspeitas.</p><p>Uso de empresas de fachada: usar empresas de fachada para esconder a</p><p>origem do dinheiro.</p><p>Uso de paraísos fiscais: investir o dinheiro ilícito em paraísos fiscais, onde</p><p>as leis de sigilo bancário são mais lenientes.</p><p>Uso de criptomoedas: usar criptomoedas, que são difíceis de rastrear, para</p><p>lavar dinheiro.</p><p>As possibilidades, como se vê, são inúmeras.</p><p>Observando o nosso Código Penal, embora sendo a parte especial</p><p>considerada antiga, com redação original de 1940, já podemos observar</p><p>a existência de diversas condutas que tipificam diversos aspectos</p><p>relacionados à corrupção.</p><p>O delito de corrupção, propriamente dito, é, sem dúvida, uma das</p><p>pedras angulares da própria estruturação dos crimes contra a</p><p>administração pública prevista no Código Penal. Com efeito, urge</p><p>mencionar que a tipificação da corrupção não é inovadora, mas</p><p>29</p><p>simplesmente um reflexo do conhecimento acumulado pela sociedade</p><p>ao passar dos anos.</p><p>Como é cediço, a tendência natural e normal do poder é a expansão. E</p><p>infelizmente, essa expansão acaba também tomando espaço na ilicitude,</p><p>na malversação da coisa pública e outras decorrentes deturpadoras dos</p><p>objetivos pensados para o Estado. Nesse intento, nosso Código Penal</p><p>pune tanto os ataques diretamente realizados contra a administração,</p><p>como no caso do crime de Peculato, que abre o Título XI. O peculato é,</p><p>sem dúvida, o principal símbolo de um ataque direto ao erário público,</p><p>por aquele que detém a condição de funcionário público.</p><p>Os delitos mais lembrados, contudo, são aqueles em que o agente se</p><p>aproveita da estrutura da administração para auferir vantagem indevida</p><p>diretamente ao particular, atacando o patrimônio deste, mas sobretudo</p><p>o patrimônio e a confiança na própria administração pública. Nesse</p><p>ponto, devem ser citados tanto o crime de concussão quando o de</p><p>corrupção passiva, abaixo transcritos7:</p><p>Concussão</p><p>Art. 316–Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda</p><p>que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem</p><p>indevida:</p><p>Pena–reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.</p><p>Corrupção passiva</p><p>Art. 317–Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou</p><p>indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em</p><p>razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:</p><p>Pena – reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.</p><p>7 BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/cci-</p><p>vil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 29 ago. 2023.</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm</p><p>30</p><p>No mesmo capítulo, pode-se mencionar ainda, os crimes de facilitação</p><p>de contrabando ou descaminho (art. 318, CP) ou mesmo de prevaricação</p><p>(art. 319, CP). De outro lado, há no Código Penal crimes em que não</p><p>há, necessariamente, envolvimento do funcionário público, mas sim</p><p>diretamente são efetuados pelo particular. O principal símbolo dessa</p><p>espécie de corrupção não poderia ser outro senão o crime de corrupção</p><p>ativa, que tem a seguinte redação8:</p><p>art. 333 – Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público,</p><p>para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: pena –</p><p>reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.</p><p>Perceba que por política criminal, a conduta do particular que</p><p>simplesmente anui, isto é, concorda com a solicitação inicial do</p><p>funcionário não pratica crime.</p><p>Também podemos citar, entre as hipóteses caracterizadoras do</p><p>gênero corrupção, os crimes de tráfico de influência (art. 332 do</p><p>Código Penal) e de exploração de prestígio (art. 357 do Código Penal).</p><p>Embora a ideia central dos dois crimes seja semelhante, observando</p><p>a redação dos tipos, nota-se que a diferença central entre o art. 332</p><p>e o 357 reside no funcionário público que se supõe “comprado”: se</p><p>contido na estrutura da Justiça, aplica-se o art. 357, se qualquer outro</p><p>servidor o art. 332. A pena mínima maior do último é justificada por</p><p>reforma efetivada no Código Penal em 1995, enquanto o primeiro</p><p>mantém a pena originária de 1940.</p><p>Como vimos, portanto, há farta legislação buscando combater os atos</p><p>de corrupção no Brasil, seja envolvendo diretamente a administração</p><p>pública nacional ou mesmo a administração pública estrangeira.</p><p>8 BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/cci-</p><p>vil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 29 ago. 2023.</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm</p><p>31</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Decreto nº 3.678, de 30 de novembro de 2000. Promulga a Convenção</p><p>sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em</p><p>Transações Comerciais Internacionais, concluída em Paris, em 17 de dezembro de</p><p>1997. Brasília, 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/</p><p>d3678.htm. Acesso em: 29 ago. 2023.</p><p>BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível</p><p>em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm.</p><p>Acesso em: 29 ago. 2023.</p><p>BRASIL. Lei 9.613, de 3 de março de 1998. Disponível em: https://www.planalto.</p><p>gov.br/ccivil_03/leis/l9613.htm. Acesso em: 29 ago. 2023.</p><p>BRASIL. Ministério da Economia. Membros e Estrutura Organizacional da OCDE.</p><p>Disponível em https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/ocde/membros-e-</p><p>estrutura-organizacional-da-ocde. Acesso em: 29 ago. 2023.</p><p>BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lavagem de dinheiro: aspectos</p><p>penais e processuais penais: comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei</p><p>12.683/2012. 4ª ed. rel. atual. E ampl. São Paulo: RT, 2019.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3678.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3678.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9613.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9613.htm</p><p>https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/ocde/membros-e-estrutura-organizacional-da-ocde</p><p>https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/ocde/membros-e-estrutura-organizacional-da-ocde</p><p>32</p><p>A perspectiva europeia e global</p><p>sobre o fenômeno da corrupção</p><p>Autoria: André Adriano do Nascimento da Silva</p><p>Leitura crítica: Carlos Luiz de Lima e Naves</p><p>Objetivos</p><p>• Estabelecer os principais pontos observados pela</p><p>União Europeia sobre a temática da corrupção.</p><p>• Contextualizar os esforços globais no enfrentamento</p><p>dos atos de corrupção.</p><p>• Mostrar as aproximações do modelo global ao</p><p>modelo europeu de atuação anticorrupção.</p><p>33</p><p>1. Convenção Penal sobre a Corrupção do</p><p>Conselho da Europa, de 1999, e seu Protocolo</p><p>Adicional, de 2003, e Convenção Civil sobre a</p><p>Corrupção do Conselho da Europa, de 1999</p><p>As Convenções do Conselho da Europa contra a corrupção representam</p><p>um conjunto de tratados abrangentes e importantes para a luta contra</p><p>a corrupção na Europa e em outras partes do mundo. Elas</p><p>incluem</p><p>a Convenção Penal sobre a Corrupção (CPC) de 1999, seu Protocolo</p><p>Adicional de 2003 e a Convenção Civil sobre a Corrupção (CCC) de 1999.</p><p>Esses tratados desempenham um papel fundamental na promoção</p><p>da ética, na prevenção da corrupção e na punição dos responsáveis,</p><p>tanto no âmbito penal quanto civil. Neste texto, exploraremos em</p><p>profundidade os principais aspectos e implicações dessas convenções.</p><p>1.1 Convenção Penal sobre a Corrupção (CPC) de 1999 e</p><p>seu Protocolo Adicional de 2003</p><p>Definição abrangente de corrupção</p><p>A Convenção Penal sobre a Corrupção de 1999, adotada pelo Conselho da</p><p>Europa, fornece uma definição abrangente de corrupção que aborda todas</p><p>as suas formas e manifestações. Ela reconhece que a corrupção não se</p><p>limita apenas a subornos de funcionários públicos, mas também inclui atos</p><p>corruptos envolvendo representantes de empresas privadas e qualquer</p><p>pessoa que desempenhe uma função pública. Isso garante que todos os</p><p>setores da sociedade estejam abrangidos pelas disposições da convenção.</p><p>Suborno ativo e passivo</p><p>A Convenção Penal sobre a Corrupção proíbe tanto o suborno ativo</p><p>quanto o suborno passivo. O suborno ativo refere-se ao ato de dar</p><p>34</p><p>ou oferecer vantagens indevidas a outra pessoa, enquanto o suborno</p><p>passivo envolve a aceitação dessas vantagens indevidas. Essas</p><p>proibições são aplicáveis em todos os setores da sociedade, incluindo o</p><p>setor público e o setor privado.</p><p>Responsabilidade de Pessoas Jurídicas</p><p>Um dos avanços significativos da CPC é a introdução da</p><p>responsabilidade penal das pessoas jurídicas (empresas) por atos de</p><p>corrupção. Isso significa que empresas podem ser responsabilizadas</p><p>criminalmente por práticas corruptas em suas operações. Essa</p><p>disposição tem como objetivo desencorajar a corrupção em empresas e</p><p>fortalecer as medidas de conformidade ética.</p><p>Medidas preventivas</p><p>Além de abordar a repressão da corrupção, a CPC também promove</p><p>medidas preventivas. Os Estados-partes são incentivados a criar regras</p><p>de conduta para funcionários públicos, promover padrões éticos no</p><p>setor privado e implementar sistemas eficazes de controle interno para</p><p>prevenir a corrupção. Essas medidas visam criar um ambiente hostil à</p><p>corrupção em todos os níveis da sociedade.</p><p>Cooperação Internacional</p><p>O Protocolo Adicional de 2003 complementa a CPC, fortalecendo a</p><p>cooperação internacional na prevenção e repressão da corrupção. Ele</p><p>facilita a extradição de pessoas acusadas de corrupção e a recuperação</p><p>de ativos desviados em um contexto transnacional. Isso é fundamental,</p><p>uma vez que a corrupção muitas vezes envolve redes internacionais,</p><p>e a cooperação global é essencial para combater eficazmente esse</p><p>fenômeno.</p><p>35</p><p>1.2 Convenção Civil sobre a Corrupção (CCC) de 1999</p><p>Recuperação de Ativos</p><p>A Convenção Civil sobre a Corrupção de 1999 concentra-se na</p><p>recuperação de ativos desviados devido a atos de corrupção. Ela</p><p>estabelece procedimentos e mecanismos para identificar, congelar e</p><p>repatriar bens adquiridos ilegalmente por meio de práticas corruptas.</p><p>Isso é crucial para garantir que os recursos roubados sejam devolvidos</p><p>aos legítimos proprietários ou ao erário público.</p><p>Ação Civil</p><p>Além da repressão penal, a CCC permite que vítimas de corrupção</p><p>busquem compensação por danos em ações civis contra os autores dos</p><p>atos corruptos. Isso significa que pessoas ou entidades prejudicadas</p><p>pela corrupção têm meios legais para buscar reparação pelos danos</p><p>sofridos. Isso também atua como um elemento dissuasor adicional</p><p>contra a corrupção.</p><p>Medidas Preventivas na Área Civil</p><p>A CCC também promove medidas preventivas no âmbito civil. Ela</p><p>incentiva a transparência e a responsabilidade nas operações comerciais</p><p>e financeiras. Isso significa que as empresas são incentivadas a adotar</p><p>práticas comerciais éticas, promovendo uma cultura de integridade e</p><p>responsabilidade no setor privado.</p><p>Implementação das Convenções</p><p>As convenções do Conselho da Europa contra a corrupção estabelecem</p><p>padrões rigorosos para os países signatários. Para implementá-las</p><p>efetivamente, os Estados-membros devem tomar várias medidas:</p><p>36</p><p>• Adaptações Legislativas: Os países devem adotar ou revisar suas</p><p>leis nacionais para garantir que elas estejam em conformidade</p><p>com as disposições das convenções. Isso inclui a definição de</p><p>crimes de corrupção, a determinação de penalidades apropriadas</p><p>e a criação de mecanismos de responsabilização.</p><p>• Fortalecimento das Instituições: A implementação bem-sucedida</p><p>das convenções requer o fortalecimento das instituições</p><p>encarregadas de combater a corrupção, como agências</p><p>anticorrupção, órgãos judiciais e autoridades de aplicação da lei.</p><p>• Promoção da Conformidade Empresarial: No caso da CPC, as</p><p>empresas também devem promover práticas de conformidade</p><p>ética, incluindo a criação de códigos de conduta, treinamento</p><p>de funcionários e sistemas internos de controle para evitar a</p><p>corrupção.</p><p>Importância das Convenções do Conselho da Europa Contra</p><p>a Corrupção</p><p>Essas convenções do Conselho da Europa desempenham um papel crucial</p><p>na promoção da integridade, na prevenção da corrupção e na punição</p><p>dos responsáveis. Eles estabelecem um padrão rigoroso para os países</p><p>signatários e incentivam a cooperação internacional na luta contra a</p><p>corrupção. Ao abordar tanto o aspecto penal quanto o civil da corrupção,</p><p>esses tratados visam criar um ambiente ético em que a corrupção</p><p>seja inaceitável e seus autores sejam responsabilizados por seus atos.</p><p>Dessa forma, contribuem para a construção de sociedades mais justas,</p><p>transparentes e prósperas em toda a Europa e em outros lugares.</p><p>As convenções do Conselho da Europa contra a corrupção representam</p><p>um avanço significativo na luta global contra esse problema complexo.</p><p>Ao fornecer definições abrangentes, proibições rigorosas e mecanismos</p><p>de responsabilização, esses tratados promovem a ética e a integridade</p><p>37</p><p>em todos os setores da sociedade. No entanto, a implementação eficaz</p><p>dessas convenções requer um compromisso firme por parte dos Estados-</p><p>membros, superando desafios como falta de vontade política, capacidade</p><p>institucional limitada e a cultura de impunidade. A cooperação internacional</p><p>também desempenha um papel vital na abordagem eficaz da corrupção</p><p>em escala global. Ao fazer isso, essas convenções ajudam a construir um</p><p>mundo mais justo, transparente e ético, onde a corrupção seja cada vez</p><p>mais inaceitável e punida de forma eficaz.</p><p>2. Convenção das Nações Unidas contra a</p><p>Corrupção, de 2003 da Organização das Nações</p><p>Unidas (ONU), promulgada pelo Decreto nº</p><p>5.687/06 no Brasil</p><p>Conforme manifestação da própria UNODOC (United Nations Office on</p><p>Drugss and Crime)1 a partir de 1996, a questão da corrupção começou a</p><p>chamar a atenção de várias nações, levando a iniciativas regionais para</p><p>estabelecer acordos conjuntos contra esse fenômeno. No entanto, esses</p><p>primeiros acordos eram limitados geograficamente, abrangendo apenas</p><p>algumas regiões do mundo e negligenciando muitos países da Ásia e</p><p>do Oriente Médio. Além disso, alguns desses acordos se concentravam</p><p>em aspectos específicos, como o suborno. Consequentemente, a</p><p>comunidade internacional expressou a necessidade de criar um acordo</p><p>abrangente e verdadeiramente global que pudesse prevenir e combater</p><p>a corrupção em todas as suas manifestações. Foi assim que nasceu</p><p>a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (United Nations</p><p>Convention against Corruption ou UNCAC).</p><p>Esta convenção é composta por 71 artigos, organizados em oito</p><p>capítulos distintos. Os quatro capítulos mais significativos abordam</p><p>temas cruciais, a saber: prevenção, sanções, recuperação de ativos</p><p>1 Disponível em: https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/corrupcao/convencao.html. Acesso em 28. Set. 2023.</p><p>https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/corrupcao/convencao.html</p><p>38</p><p>e cooperação internacional. Esses capítulos demandam adaptações</p><p>legislativas e ações simultâneas para a implementação efetiva da</p><p>Convenção em cada país. A Convenção das Nações Unidas contra a</p><p>Corrupção é, assim,</p><p>um marco significativo na história da luta contra</p><p>a corrupção em escala global. Adotada pela Assembleia-Geral das</p><p>Nações Unidas em 31 de outubro de 2003. A Convenção das Nações</p><p>Unidas contra a Corrupção é um tratado internacional que visa</p><p>combater a corrupção em todas as suas formas e manifestações.</p><p>No Brasil a Convenção foi promulgada pelo Decreto 5.687 de 31 de</p><p>janeiro de 2006.</p><p>Conforme dispõe a própria Convenção2 em seu art. 1º, sua finalidade</p><p>é de a) Promover e fortalecer as medidas para prevenir e combater</p><p>mais eficaz e eficientemente a corrupção; b) Promover, facilitar e apoiar</p><p>a cooperação internacional e a assistência técnica na prevenção e na</p><p>luta contra a corrupção, incluída a recuperação de ativos; c) Promover</p><p>a integridade, a obrigação de render contas e a devida gestão dos</p><p>assuntos e dos bens públicos.</p><p>O surgimento da Convenção das Nações Unidas contra a</p><p>Corrupção</p><p>A corrupção é um problema que transcende fronteiras nacionais e</p><p>afeta todas as camadas da sociedade. Conscientes da necessidade de</p><p>uma ação global coordenada, os Estados-membros das Nações Unidas</p><p>começaram a discutir a criação de uma convenção internacional contra</p><p>a corrupção na década de 1990. Essas discussões culminaram na adoção</p><p>da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção em 2003.</p><p>2 BRASIL. Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006. Promulga a Convenção das Nações Unidas contra a</p><p>Corrupção, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 31 de outubro de 2003 e assinada pelo</p><p>Brasil em 9 de dezembro de 2003. Brasília, 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cciViL_03/_</p><p>Ato2004-2006/2006/Decreto/D5687.htm. Acesso em: 21 set. 2023.</p><p>http://www.planalto.gov.br/cciViL_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5687.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/cciViL_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5687.htm</p><p>39</p><p>Principais Disposições da Convenção das Nações Unidas</p><p>contra a Corrupção</p><p>• Prevenção: Reconhece a importância da prevenção da</p><p>corrupção. Os Estados-partes são incentivados a adotar medidas</p><p>eficazes, como a promoção da transparência, educação pública</p><p>e a implementação de códigos de conduta para funcionários</p><p>públicos.</p><p>• Punição e Aplicação da Lei: A convenção exige que os Estados-</p><p>membros estabeleçam leis e sistemas judiciais eficazes para</p><p>combater a corrupção. Isso inclui a criminalização de atos de</p><p>corrupção, a cooperação internacional na extradição de corruptos</p><p>e o confisco de bens obtidos ilegalmente.</p><p>• Cooperação Internacional: A Convenção das Nações Unidas</p><p>contra a Corrupção promove a cooperação entre os Estados</p><p>para combater a corrupção. Isso inclui a troca de informações,</p><p>assistência técnica e jurídica mútua em investigações e processos</p><p>judiciais relacionados à corrupção.</p><p>• Monitoramento: Um mecanismo de revisão periódica auxilia na</p><p>avaliação do progresso dos Estados-membros na implementação</p><p>da Convenção. Isso ajuda a identificar áreas que precisam de</p><p>melhorias e incentiva a responsabilização.</p><p>Importância da Convenção das Nações Unidas contra a</p><p>Corrupção</p><p>A Convenção é fundamental por várias razões:</p><p>• Promoção da Integridade: A corrupção mina a confiança nas</p><p>instituições e prejudica o desenvolvimento econômico e social. A</p><p>Convenção promove a integridade e a confiança nas instituições</p><p>governamentais e no setor privado.</p><p>40</p><p>• Cooperação Internacional: A corrupção muitas vezes envolve</p><p>redes internacionais. A Convenção das Nações Unidas contra a</p><p>Corrupção facilita a cooperação entre os países para lidar com</p><p>casos transnacionais de corrupção.</p><p>• Desenvolvimento Sustentável: A corrupção desvia recursos</p><p>que poderiam ser utilizados para melhorar a qualidade de</p><p>vida das pessoas. A Convenção contribui para a promoção do</p><p>desenvolvimento sustentável.</p><p>Desafios na Implementação</p><p>Embora a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção seja um</p><p>instrumento crucial na luta contra a corrupção, sua implementação</p><p>enfrenta desafios. Alguns dos principais desafios incluem:</p><p>• Falta de Vontade Política: Alguns governos podem não estar</p><p>dispostos a tomar medidas rigorosas contra a corrupção,</p><p>especialmente quando ela está enraizada em estruturas de poder.</p><p>• Capacidade Institucional: Muitos países enfrentam desafios na</p><p>construção de instituições eficazes para combater a corrupção.</p><p>• Cooperação Internacional Limitada: Alguns países podem</p><p>resistir à cooperação internacional devido às preocupações com a</p><p>soberania.</p><p>A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção é, assim, um</p><p>instrumento fundamental na luta contra a corrupção global. Embora</p><p>enfrente desafios na implementação, seu papel na promoção da</p><p>integridade, cooperação internacional e desenvolvimento sustentável é</p><p>inegável. O compromisso contínuo dos Estados-membros das Nações</p><p>Unidas com a Convenção é essencial para alcançar um mundo mais</p><p>justo e transparente, livre da corrupção.</p><p>41</p><p>No campo do direito penal especificamente, pode-se mencionar que</p><p>a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção adota como</p><p>principais temas:</p><p>• Criminalização da Corrupção: a Convenção exige que os Estados-</p><p>partes criminalizem uma série de atos de corrupção, incluindo</p><p>suborno, desvio de fundos públicos, tráfico de influência e</p><p>enriquecimento ilícito. Cada Estado-membro deve adotar leis que</p><p>definam esses crimes, estabelecendo punições apropriadas.</p><p>• Suborno: a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção</p><p>aborda o suborno tanto no setor público quanto no privado.</p><p>Os Estados-membros devem proibir e sancionar o suborno de</p><p>funcionários públicos e de pessoas do setor privado. Além disso,</p><p>a Convenção incentiva a cooperação entre os setores público e</p><p>privado na prevenção e combate ao suborno.</p><p>• Enriquecimento Ilícito: a Convenção reconhece a importância</p><p>de combater o enriquecimento ilícito de funcionários públicos.</p><p>Isso significa que os Estados-membros devem adotar medidas</p><p>para detectar, confiscar e recuperar ativos adquiridos por meio de</p><p>corrupção.</p><p>• Extensão Jurisdicional: a Convenção das Nações Unidas contra</p><p>a Corrupção estabelece que os Estados-partes devem exercer</p><p>jurisdição sobre os crimes de corrupção, mesmo que eles tenham</p><p>sido cometidos no exterior ou envolvam cidadãos estrangeiros.</p><p>Isso permite a persecução de indivíduos que tenham se envolvido</p><p>em corrupção em qualquer parte do mundo.</p><p>• Responsabilização de Pessoas Jurídicas: o diploma internacional</p><p>também incentiva os Estados a adotarem medidas para</p><p>responsabilizar as pessoas jurídicas por atos de corrupção</p><p>cometidos em seu nome. Isso pode incluir sanções financeiras e</p><p>outras penalidades corporativas. No Brasil, como sabemos, a única</p><p>previsão legal que autoriza a punição de pessoas jurídicas pela</p><p>42</p><p>prática de crime decorre da legislação ambiental, autorizada, por</p><p>sua vez, por disposição constitucional expressa.</p><p>• Cooperação Internacional: a Convenção enfatiza a importância</p><p>da cooperação internacional em investigações e processos</p><p>judiciais relacionados à corrupção. Os Estados-membros devem</p><p>cooperar na extradição de indivíduos acusados de corrupção e na</p><p>recuperação de ativos roubados.</p><p>• Proteção de Testemunhas e Denunciantes: a Convenção das</p><p>Nações Unidas contra a Corrupção reconhece a necessidade de</p><p>proteger testemunhas e denunciantes de atos de corrupção. Os</p><p>Estados-membros são incentivados a adotar medidas para garantir</p><p>a segurança daqueles que denunciam a corrupção e cooperam</p><p>com as autoridades.</p><p>• Prescrição: a convenção estabelece que os crimes de corrupção</p><p>não devem ser sujeitos a prescrição por um período considerável.</p><p>Isso significa que os indivíduos envolvidos em atos de corrupção</p><p>podem ser processados mesmo após muitos anos, se as provas</p><p>estiverem disponíveis.</p><p>Esses são alguns dos principais aspectos relacionados ao direito penal</p><p>abordados pela Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. A</p><p>convenção visa estabelecer padrões globais rigorosos para combater</p><p>a corrupção, incentivando os Estados-membros a fortalecerem suas</p><p>leis e sistemas judiciais para lidar eficazmente com esse problema.</p><p>A implementação eficaz dessas</p><p>disposições pode contribuir</p><p>significativamente para a redução da corrupção em escala global.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006. Promulga a Convenção das</p><p>Nações Unidas contra a Corrupção, adotada pela Assembleia Geral das Nações</p><p>43</p><p>Unidas em 31 de outubro de 2003 e assinada pelo Brasil em 9 de dezembro de</p><p>2003. Brasília, 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cciViL_03/_Ato2004-</p><p>2006/2006/Decreto/D5687.htm. Acesso em: 21 set. 2023.</p><p>CONSELHO DA EUROPA. Civil Law Convention on Corruption. Estrasburgo, 1999.</p><p>Disponível em: https://rm.coe.int/168007f3f6. Acesso em: 21 set. 2023.</p><p>PORTUGAL. Convenção Penal sobre a Corrupção, do Conselho da Europa.</p><p>https://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/documentos/instrumentos/</p><p>convencao_penal_sobre_corrucao.pdf. Acesso em: 21 set. 2023.</p><p>PORTUGAL. Protocolo Adicional à Convenção Penal sobre a</p><p>Corrupção do Conselho da Europa. https://files.diariodarepublica.</p><p>pt/1s/2015/01/00100/0000200006.pdf. Acesso em: 21 set. 2023.</p><p>Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. Disponível em: https://www.</p><p>unodc.org/lpo-brazil/pt/corrupcao/convencao.html. Acesso em: 28. set. 2023.</p><p>http://www.planalto.gov.br/cciViL_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5687.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/cciViL_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5687.htm</p><p>https://rm.coe.int/168007f3f6</p><p>https://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/documentos/instrumentos/convencao_penal_sobre_</p><p>https://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/documentos/instrumentos/convencao_penal_sobre_</p><p>https://files.diariodarepublica.pt/1s/2015/01/00100/0000200006.pdf</p><p>https://files.diariodarepublica.pt/1s/2015/01/00100/0000200006.pdf</p><p>https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/corrupcao/convencao.html</p><p>https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/corrupcao/convencao.html</p><p>44</p><p>A construção da Lei Anticorrupção</p><p>brasileira</p><p>Autoria: André Adriano do Nascimento da Silva</p><p>Leitura crítica: Carlos Luiz de Lima e Naves</p><p>Objetivos</p><p>• Estabelecer os parâmetros internacionais que</p><p>forjaram a lei brasileira anticorrupção.</p><p>• Demonstrar quais os principais pontos de avanço da</p><p>legislação internacional de referência.</p><p>• Mostrar os elementos centrais da Lei Anticorrupção</p><p>brasileira.</p><p>45</p><p>1. Inspiração para a lei brasileira anticorrupção:</p><p>o Bribery Act, de 2010 no Reino Unido</p><p>O Bribery Act de 2010 é uma lei britânica que visa combater a corrupção</p><p>e o suborno tanto no setor público quanto no setor privado. Essa</p><p>legislação é amplamente reconhecida como uma das mais rigorosas</p><p>e abrangentes do mundo no que diz respeito à prevenção e combate</p><p>à corrupção. Vamos explorar os principais aspectos e disposições do</p><p>Bribery Act:</p><p>• Tipos de Corrupção e Suborno: O Bribery Act lida com vários</p><p>tipos de corrupção, incluindo o suborno, tanto ativo quanto</p><p>passivo, suborno privado e suborno público. Ele abrange suborno</p><p>doméstico e estrangeiro, tornando-o aplicável a casos com</p><p>conexões internacionais.</p><p>• Responsabilidade Corporativa: Uma característica notável do</p><p>Bribery Act é a responsabilidade objetiva das empresas. Isso</p><p>significa que as empresas podem ser responsabilizadas por atos</p><p>de suborno cometidos por seus funcionários, agentes ou terceiros</p><p>em seu benefício, mesmo que a alta administração não tenha</p><p>conhecimento ou envolvimento direto no ato de suborno.</p><p>• Jurisdição Extraterritorial: O Bribery Act tem jurisdição</p><p>extraterritorial, o que significa que ele se aplica a empresas</p><p>estrangeiras que fazem negócios no Reino Unido e a empresas</p><p>britânicas que operam no exterior. Isso amplia o alcance da lei e</p><p>incentiva empresas a adotarem padrões globais de conformidade.</p><p>• Sanções Severas: O Bribery Act estabelece penas severas para</p><p>empresas e indivíduos condenados por suborno. As penalidades</p><p>incluem multas substanciais e prisão para pessoas físicas.</p><p>As empresas também podem enfrentar a desqualificação de</p><p>concorrer a contratos públicos.</p><p>46</p><p>• Programas de Conformidade e Defesa Baseada em Adequação: O</p><p>Bribery Act incentiva as empresas a implementar programas de</p><p>conformidade eficazes. A existência de tais programas pode servir</p><p>como uma defesa contra acusações de corrupção, desde que as</p><p>empresas possam demonstrar que adotaram medidas razoáveis</p><p>para prevenir o suborno.</p><p>• Transparência e Prestação de Contas: A legislação enfatiza a</p><p>importância da transparência nas transações financeiras e exige</p><p>que as empresas mantenham registros precisos. Também torna</p><p>um crime encobrir ou falsificar registros para ocultar atos de</p><p>suborno.</p><p>• Cooperação e Denúncia: O Bribery Act incentiva a cooperação</p><p>das empresas com as autoridades na investigação de atos de</p><p>corrupção. Além disso, protege denunciantes e testemunhas,</p><p>promovendo um ambiente seguro para relatar irregularidades.</p><p>• Cultura de Integridade: A lei promove uma mudança cultural</p><p>importante, enviando uma mensagem clara de que a corrupção</p><p>não será tolerada, independentemente de quem a comete. Ela</p><p>incentiva a integridade, a ética nos negócios e a conformidade,</p><p>fortalecendo a confiança nos mercados e nas instituições públicas.</p><p>• Revisão e Atualização: O Bribery Act é uma legislação dinâmica e</p><p>está sujeito a revisões periódicas para garantir que permaneça</p><p>eficaz no combate à corrupção.</p><p>A luta contra a corrupção é uma preocupação global que transcende</p><p>fronteiras e desafia sistemas legais em todo o mundo. Em um cenário</p><p>global em que os casos de corrupção ganham cada vez mais destaque</p><p>e as consequências econômicas e sociais se tornam mais evidentes,</p><p>muitos países buscam inspiração em leis estrangeiras bem-sucedidas</p><p>para fortalecer suas próprias legislações anticorrupção. No caso do</p><p>Brasil, a Lei Anticorrupção foi influenciada pelo Bribery Act de 2010 no</p><p>47</p><p>Reino Unido, uma legislação pioneira que estabeleceu padrões rigorosos</p><p>no combate à corrupção. O Bribery Act propõe, inicialmente, um</p><p>conceito amplo de corrupção, com a seguinte redação:</p><p>Crimes de subornar outra pessoa: Uma pessoa é culpada de um delito</p><p>se qualquer um dos seguintes casos se aplicar. Caso 1: a pessoa oferece,</p><p>promete ou dá uma vantagem financeira ou outra vantagem a outra pessoa,</p><p>e busca a vantagem para induzir uma pessoa a desempenhar indevidamente</p><p>uma função ou atividade relevante, ou recompensar uma pessoa pelo</p><p>desempenho indevido de tal função ou atividade. Caso 2: a pessoa oferece,</p><p>promete ou dá uma vantagem financeira ou outra vantagem a outra pessoa,</p><p>e sabe ou acredita que a aceitação da vantagem constituiria por si só o</p><p>desempenho impróprio de uma função ou atividade relevante. Registre-se</p><p>que no caso 1, não importa se a pessoa a quem a vantagem é oferecida,</p><p>prometida ou concedida é a mesma pessoa que irá desempenhar, ou</p><p>desempenhou, a função ou atividade em causa, e nos casos 1 e 2, não importa</p><p>se a vantagem é oferecida, prometida ou concedida pela pessoa diretamente</p><p>ou através de um terceiro. (Reino Unido, 2010)</p><p>O Bribery Act de 2010, também conhecido como “Lei do Suborno”</p><p>no Reino Unido, foi uma legislação revolucionária que reformulou as</p><p>abordagens anticorrupção do país. A sua influência e inspiração na</p><p>criação da Lei Brasileira Anticorrupção de 2013 são notáveis, pois o</p><p>Brasil estava à procura de um modelo eficaz para enfrentar o problema</p><p>sistêmico da corrupção em suas empresas e governo.</p><p>Uma das principais semelhanças entre as duas leis é a abordagem</p><p>da responsabilidade objetiva corporativa. Ambas as leis estabelecem</p><p>a responsabilidade das empresas por atos de corrupção cometidos</p><p>por seus funcionários e terceiros em seu benefício. Essa abordagem</p><p>representa uma mudança significativa na cultura de conformidade</p><p>corporativa, forçando as empresas a adotarem medidas rigorosas para</p><p>prevenir e detectar a corrupção.</p><p>O Bribery Act do Reino Unido introduziu o conceito de “responsabilidade</p><p>objetiva” das empresas, o que significa que uma empresa pode ser</p><p>48</p><p>responsabilizada mesmo se não tiver conhecimento ou envolvimento</p><p>direto em um ato de corrupção. Isso incentivou as empresas a</p><p>implementar programas de conformidade eficazes</p>