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<p>CARTOGRAFIA</p><p>Larissa Figueiredo Daves</p><p>Conceitos de</p><p>cartografia e mapa</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Identificar tipos de comunicação cartográfica.</p><p> Sintetizar a história da cartografia e sua importância.</p><p> Descrever as teorias e os postulados da cartografia.</p><p>Introdução</p><p>A cartografia representa o conhecimento a partir das informações en-</p><p>contradas no mapa. Por meio da comunicação cartográfica, técnicas e</p><p>instrumentos são utilizados com o objetivo de mostrar a realidade de</p><p>maneira clara e exata. Assim, a cartografia é entendida como comunicação</p><p>e análise, enquanto o mapa é uma abstração da realidade.</p><p>A comunicação é um fenômeno essencial ao debate no plano</p><p>do conhecimento humano desde os primórdios da humanidade.</p><p>A comunicação cartográfica é um assunto presente em discussões</p><p>sobre cartografia e geografia, principalmente, no que diz respeito às</p><p>representações utilizadas em estudos geográficos e postulados da</p><p>cartografia.</p><p>Neste capítulo, você estudará o desenvolvimento da comunicação</p><p>cartográfica e as características elementares de um mapa a partir da</p><p>cartografia. Além disso, aprenderá sobre a história da cartografia como</p><p>ciência, sua relação com a geografia e seus postulados.</p><p>Comunicação cartográfica e sua essência</p><p>para a leitura de mapas</p><p>A comunicação é uma forma de reproduzir informações a partir de linguagens,</p><p>símbolos e representações. Já a comunicação cartográfi ca é feita por mapas,</p><p>e sua relevância encontra-se na representação de dados cartográfi cos. Desse</p><p>modo, ela antecede o mapa, utilizando cartas para determinar o conteúdo de</p><p>novas informações. A cartografi a como comunicação concentra-se mais na</p><p>carta existente: como foi feita e como pode ser lida e interpretada. Essa não é</p><p>a única forma de comunicação, mas uma forma especializada que dá ênfase</p><p>ao visual.</p><p>A cartografia como ciência vem do conhecimento de como comunicar, com</p><p>quais instrumentos e técnicas, para que a realidade representada fique bem</p><p>mais exata. É o conhecimento de quais símbolos colocar no mapa e quais itens</p><p>omitir. É o conhecimento da projeção usada no mapa e de como os mapas</p><p>são produzidos. Também, a ciência na cartografia permite o uso de técnicas</p><p>avançadas que proporcionam a produção de mapas através de computadores,</p><p>de imagens de satélites ou fotografias aéreas (ANDERSON, c1982, p. 13).</p><p>Nesse sentido, o mapa é uma abstração científica da realidade. Essa afir-</p><p>mação nos permite entender que o:</p><p>[...] mapa antecipava a realidade espacial, e não vice-versa. Em outros termos,</p><p>um mapa era um modelo para o que (e não um modelo do que) se pretendia</p><p>representar. [...] Ele havia se tornado um instrumento real para concretizar</p><p>projeções sobre a superfície terrestre (WINICHAKUL apud ANDERSON,</p><p>2008, p. 239–240 apud FONSECA; OLIVA, 2012, p. 30).</p><p>Assim, podemos definir o mapa como um instrumento de representação</p><p>dos aspetos geográficos naturais ou artificiais da Terra destinado a fins cul-</p><p>turais, políticos, ilustrativos ou científicos. Trata-se de uma representação</p><p>gráfica, na maioria das vezes, de uma superfície plana com escala específica,</p><p>que demonstra os terrenos acidentados física ou culturalmente da superfície</p><p>terrestre, podendo ser também de algum planeta ou satélite. Suas posições</p><p>devem apresentar precisão em conjunto com um sistema de coordenadas.</p><p>O mapa também deve denominar parte ou toda a superfície da esfera celeste</p><p>(OLIVEIRA, 1993).</p><p>Conceitos de cartografia e mapa2</p><p>Highlight</p><p>Para Lacoste (1988), a geografia e o mapa sempre foram confundidos, ou</p><p>seja, fazer geografia era o mesmo que fazer mapas. Esse pensamento prevaleceu</p><p>até o final do século XIX, antes de a geografia constituir-se como ciência.</p><p>Christian Jacob (1992) relata que é de extrema relevância a desconstrução dos</p><p>mapas antigos e das representações imagéticas (paisagens), pois não descon-</p><p>sideram as concepções espaciais explícitas (ou implícitas) nas representações</p><p>do espaço (mapas e paisagens). Fonseca e Oliva (2012, p. 28), ao explanarem</p><p>sobre espaço e tempo, falam sobre “[...] ‘virtudes e características’ universais</p><p>da ‘categoria’ espaço, quando o são na verdade parte de uma percepção (uma</p><p>construção) histórica e limitada de um espaço não generalizável”. Assim, po-</p><p>demos observar a relevância dos mapas na análise histórica, cultural e política.</p><p>No que diz respeito à utilização dos mapas para auxílio na análise do</p><p>espaço geográfico, Jacques Lévy e Michel Lussalt (2003, p. 13, tradução</p><p>nossa) abordam que:</p><p>O mapa é um bom exemplo de objeto híbrido: ele é uma representação do</p><p>espaço fixo na matéria e constitui em si mesmo um espaço próprio, suporte</p><p>de usos específicos. Este se situa na microescala, mas na interespacialidade,</p><p>via mapa e linguagens com outros níveis escalares, pode nutrir outras práti-</p><p>cas de espaço e vários imaginários. Este exemplo, tomado dentre os objetos</p><p>espaciais que os geógrafos mais utilizaram e naturalizaram, mostra bem toda</p><p>a complexidade do menor fenômeno que implica uma relação com o espaço.</p><p>O mapa pode ou não ter caráter científico, além de relatar a respeito da</p><p>comunicação cartográfica três atributos imprescindíveis:</p><p> escala;</p><p> projeção;</p><p> simbolização.</p><p>Nesse sentido, as vantagens e limitações derivam do grau pelo qual os</p><p>mapas:</p><p>1. reduzem e generalizam a realidade;</p><p>2. comprimem ou expandem formas e distâncias por projeção;</p><p>3. apresentam fenômenos selecionados por meio de sinais que, sem possuir</p><p>semelhanças com a realidade, comunicam as características visíveis ou</p><p>invisíveis da paisagem.</p><p>3Conceitos de cartografia e mapa</p><p>Assim, a linguagem cartográfica utiliza-se da representação de quatro</p><p>elementos fundamentais: os três primeiros elementos têm como referência o</p><p>fundo do mapa, ou seja, a base de informações contextuais julgadas úteis para</p><p>esclarecer uma situação. O quarto elemento refere-se às informações projetadas</p><p>sobre o fundo. Os elementos que compõem o mapa estão elencados no Quadro 1.</p><p>Elementos indispensáveis</p><p>do mapa Função e posição</p><p>Escala Contexto, redução da área (fundo do mapa)</p><p>Projeção Controle de deformações (fundo do mapa)</p><p>Métrica Contexto, definição de áreas (fundo do mapa)</p><p>Simbólico Informações projetadas no fundo do mapa</p><p>Quadro 1. Linguagem cartográfica</p><p>Kolacny (1967, apud GIRARDI, 2009) apresenta o processo de transmissão</p><p>de informações por meio de mapas, permanecendo até os dias atuais como</p><p>o modelo analítico por meio da comunicação cartográfica. A comunicação</p><p>cartográfica ainda representa o foco da cartografia, principalmente, a partir</p><p>do momento em que, pelo processo de visualização, chegou-se a um resultado</p><p>a ser publicitado.</p><p>Na Figura 1, podemos observar o modelo de transmissão da informação</p><p>cartográfica. Esse modelo identifica o início e o fim do processo — a</p><p>realidade, ou seja, a intersecção das esferas chamadas de realidade do</p><p>cartógrafo e realidade do usuário do mapa. Desse modo, o mapa relaciona-</p><p>-se diretamente com a dimensão do cruzamento dessas esferas a fim de</p><p>mostrar a máxima intersecção, configurando o desejo do cartógrafo. Toda-</p><p>via, as dimensões que afetam tanto o cartógrafo como o usuário do mapa</p><p>devem ser levadas em consideração, pois, quanto mais o cartógrafo puder</p><p>conhecer sobre o perfil, as condições e as necessidades do usuário do</p><p>mapa, maiores serão as possibilidades do uso da linguagem cartográfica</p><p>adequada para esse usuário.</p><p>Conceitos de cartografia e mapa4</p><p>Fi</p><p>gu</p><p>ra</p><p>1</p><p>. M</p><p>od</p><p>el</p><p>o</p><p>de</p><p>c</p><p>om</p><p>un</p><p>ic</p><p>aç</p><p>ão</p><p>c</p><p>ar</p><p>to</p><p>gr</p><p>áf</p><p>ic</p><p>a.</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>e:</p><p>G</p><p>ira</p><p>rd</p><p>i (</p><p>20</p><p>09</p><p>, p</p><p>. 1</p><p>52</p><p>).</p><p>5Conceitos de cartografia e mapa</p><p>Nesse sentido, o modelo proposto por Kolácny, ao expor as condições do</p><p>usuário como componente do processo comunicativo, almejou uma série de</p><p>investigações a respeito de como a informação é recebida pelo usuário do</p><p>mapa, uma vez que o acesso à informação mapeada aumenta o uso de mapas</p><p>como fonte de conhecimento por parte do usuário (GIRARDI, 2009).</p><p>Segundo Nogueira (2009),</p><p>para a cartografia temática, os temas a serem</p><p>mapeados são muitos variados. Diante disso, a construção de cada mapa temá-</p><p>tico é sempre um novo desafio, que visa à confecção de um mapa eficiente para</p><p>o leitor. A informação expressa pelo mapa temático deve cumprir sua função,</p><p>ou seja, dizer o que, onde e como ocorre determinado fenômeno geográfico</p><p>a partir de símbolos gráficos para facilitar a compreensão do usuário final</p><p>sobre diferenças ou semelhanças.</p><p>As pesquisas em comunicação cartográfica passaram por muitas fases.</p><p>No início dos anos de 1950, a cartografia apresentou métodos de pesquisa</p><p>da psicofísica para examinar as relações entre estímulo-resposta e símbolos</p><p>individuais. Ao final dos anos 1960 e início dos anos 1970, os pesquisadores</p><p>produziram teorias sobre comunicação cartográfica tentando formalizar o</p><p>processo cartográfico, porém tiveram dificuldades para interpretar os resul-</p><p>tados das experimentações cognitivas com mapas, principalmente, por causa</p><p>do surgimento dos computadores.</p><p>Peterson (1994) e Wood e Keller (1996) relatam que, durante o início dos</p><p>anos de 1980, os microcomputadores desviaram o interesse pela experimenta-</p><p>ção cognitiva para o entendimento da nova tecnologia e de como desenvolvê-la</p><p>para automatizar as operações cartográficas e implementar algoritmos com essa</p><p>finalidade. Nesse período, iniciava-se o processo de adaptação às inovações</p><p>tecnológicas com novas ferramentas que deveriam ser integradas às recentes</p><p>formas de comunicação cartográfica.</p><p>Nos anos de 1990, ressurgiu o interesse pela cognição na cartografia, en-</p><p>tretanto, os computadores pessoais tornaram-se equipamentos que produziam</p><p>mapas em papel e eram um novo meio de comunicação. Diante disso, essa</p><p>flexibilidade exercida com o uso dos computadores — para dados matriciais,</p><p>vetoriais e textos que podem ser acessados e combinados — conduzia à ex-</p><p>ploração de novas alternativas de representação cartográfica sem custos, algo</p><p>inédito para a época. Nesse sentido, ocorreu o retorno à cognição, envolvendo</p><p>a dinâmica de display associada à visualização (PETERSON, 1994 apud</p><p>NOGUEIRA, 2009; WOOD; KELLER, 1996). Nesse período, a computação</p><p>gráfica proporcionou, a partir da dinâmica de display, a seguinte novidade para</p><p>a cartografia: flexibilidade na visualização de mapas, pois a visualização co-</p><p>meçou a assumir um papel preponderante ao lado da comunicação cartográfica.</p><p>Conceitos de cartografia e mapa6</p><p>Cognição cartográfica é um processo único na medida em que desenvolve o uso</p><p>do cérebro humano para reconhecer padrões e relações em seu contexto espacial</p><p>(TAYLOR, 1994).</p><p>História da cartografia</p><p>Os estudos da cartografi a tiveram início em épocas remotas, quando grupos</p><p>humanos começaram a representar seu modo de vida, principalmente, em</p><p>relação à localização e ao seu uso no cotidiano. Assim, a evolução da carto-</p><p>grafi a é muito relevante até os dias atuais por sua importância no decorrer da</p><p>evolução das civilizações.</p><p>Os primeiros estágios sob a forma de mapas itinerários foram feitos por</p><p>populações nômades no período da Antiguidade. Após esse período, na Grécia</p><p>Antiga, o conhecimento geográfico e cartográfico esteve idealizado na obra</p><p>Geografia do astrónomo, geógrafo e cartógrafo grego Cláudio Ptolomeu de</p><p>Alexandria (90–168 d.C.). Em sua obra, ele apresenta os princípios da carto-</p><p>grafia matemática, das projeções e dos métodos de observação astronômica.</p><p>A contribuição da Grécia Antiga para a ciência cartográfica foi ignorada</p><p>durante toda a Idade Média, retomada apenas no século XV, quando teve</p><p>grande influência sobre o pensamento geográfico da época, em um período</p><p>denominado Renascimento de Ptolomeu (ANDERSON, c1982).</p><p>De acordo com Anderson (c1982), a evolução da cartografia foi institucionali-</p><p>zada pelas guerras, pelas descobertas científicas, pelo desenvolvimento das artes</p><p>e ciências e pelos movimentos históricos, que possibilitaram maior precisão na</p><p>representação gráfica da superfície da Terra. Na Grécia Antiga, Hiparco (160–120</p><p>a.C.) mostrou os primeiros fundamentos da ciência cartográfica utilizando</p><p>métodos astronômicos para a determinação de posições na superfície da Terra.</p><p>Além disso, sugeriu a solução para o problema relativo ao desenvolvimento da</p><p>superfície da Terra sobre um plano idealizando a projeção cônica. Nessa época,</p><p>os gregos obtiveram as concepções da esfericidade da Terra, polos, equador e</p><p>trópicos, que configuraram as primeiras medidas geométricas, a idealização do</p><p>primeiro sistema de projeção e a introdução das noções de longitude e latitude.</p><p>No século XII, o geógrafo árabe Abdullah Al Idrisi introduziu a agulha</p><p>magnética com base no campo matemático teórico para atender às exigências</p><p>náuticas motivadas pelo desenvolvimento da navegação, dando início ao aspecto</p><p>7Conceitos de cartografia e mapa</p><p>funcional da cartografia nesse período. No início do século XIV, as cartas</p><p>Portulanas obtiveram o ressurgimento e a expansão da obra de Ptolomeu,</p><p>principalmente, pelos navegadores de Gênova. Essas cartas não obedeceram</p><p>nenhum critério de projeção, pois eram reservadas aos navegantes que possuíam</p><p>o traçado das loxodromias (rumos) e o delineamento das costas dos países</p><p>mediterrâneos (MARTINELLI, 2003; ANDERSON, c1982).</p><p>A revolução da cartografia teve início no século XV, e o advento da agulha</p><p>magnética permitiu a exploração dos mares, além de intensificar o comércio</p><p>para Leste, auge dos descobrimentos portugueses. A obra de Ptolomeu foi</p><p>explanada novamente na cartografia, sofrendo modificações e adaptações de</p><p>acordo com o interesse dessa época pela navegação. Com o conhecimento da</p><p>gravação ou impressão, foi possível uma produção cartográfica abundante,</p><p>substituindo os manuscritos dispendiosos. Assim, a navegação foi estudada</p><p>a partir de métodos racionais na Escola de Sagres, e o espírito aventureiro</p><p>português a serviço dessa Escola descobriu o mundo.</p><p>No século XVI, a vasta produção cartográfica teve destaque com os tra-</p><p>balhos dos cartógrafos portugueses, espanhóis e italianos, como Fernão Vaz</p><p>Dourado, Toscaneli, Cantino e Pedro Nunes. Na Figura 2, podemos observar o</p><p>mapa-múndi do ano de 1500, confeccionado por Juan de La Cosa, o navegador</p><p>de Cristóvão Colombo, além da representação cartográfica da navegação e</p><p>sua característica rústica (ANDERSON, c1982).</p><p>Figura 2. O mapa-múndi de Juan de La Cosa, utilizado por Cristóvão Co-</p><p>lombo em 1500.</p><p>Fonte: CRISTÓVÃO... ([2019], documento on-line).</p><p>Conceitos de cartografia e mapa8</p><p>Anos depois, ainda no século XVI, teve o surgimento da cartografia ho-</p><p>landesa com a representação de Mercator e Ortelius, sucedendo a cartografia</p><p>mediterrânea. Em 1569, surgiu o primeiro mapa do Mercator, nome latino</p><p>de Guerhard Kramer, cuja projeção mostra os meridianos em linhas retas e</p><p>paralelas formando ângulos retos com os paralelos, também representados</p><p>por linhas retas e paralelas (Figura 3). Assim, para manter a conformidade</p><p>das áreas, a separação entre duas paralelas aumenta em direção a cada polo</p><p>ou em proporção direta com o afastamento dos paralelos em relação à linha</p><p>do Equador (ANDERSON, c1982).</p><p>O século XVIII foi marcado pela instituição de academias científicas, dando</p><p>início à ciência cartográfica moderna. A escola francesa Grandes apresentou</p><p>inovações como, por exemplo, a proposta do astrônomo francês Cesar-François</p><p>Cassini de Thury (1714–1784), que produziu a primeira série sistemática de</p><p>mapas topográficos para a França (MARTINELLI, 2003).</p><p>Figura 3. Primeiro mapa do Mercator, confeccionado por Mercator e Ortelius em 1569.</p><p>Fonte: Le Point.fr (2015, documento on-line).</p><p>Durante o Imperialismo, ao final do século XIX, ocorreu um grande im-</p><p>pulso nos mapeamentos devido aos novos conhecimentos. Nesse período, cada</p><p>potência necessitava de um inventário cartográfico com vistas às investidas nas</p><p>áreas de dominação para sua exploração espoliativa. Ao final do século XVIII</p><p>e início do século XIX, emergiu a cartografia temática, além do surgimento</p><p>e sistematização de diferentes ramos</p><p>de estudos operados com a divisão do</p><p>trabalho científico (MARTINELLI, 2003).</p><p>9Conceitos de cartografia e mapa</p><p>Ao final do século XX e início do atual século, a cartografia tem sido vincu-</p><p>lada à área da informática. Existem as novas tecnologias que possibilitam que</p><p>geógrafos e profissionais da área confeccionem mapas atrelados a tecnologias</p><p>da informação (Sistema de Informação Geográfica [SIG], geoprocessamento</p><p>e sensoriamento remoto) com a utilização de softwares com o objetivo de</p><p>representação do espaço geográfico.</p><p>Entretanto, é possível observar como a geografia está relacionada com a</p><p>cartografia, segundo Lacoste (1988), o real, o espaço geográfico, é somente</p><p>aquilo que pode ser mapeado, colocado sobre a carta, delimitado, com precisão</p><p>sobre o terreno e definido em termos de escala cartográfica. Além disso, a</p><p>geografia, em suas premissas epistemológicas e análise do processo científico</p><p>ligado a uma história, deve ser entendida, de um lado, em suas relações ideo-</p><p>lógicas junto à ciência e, de outro, como prática ou como poder, pelo interesse</p><p>da sociedade, principalmente, ao uso da cartografia.</p><p>Leia mais a respeito da cartografia geográfica no artigo “Mapas desejantes: uma</p><p>agenda para a Cartografia Geográfica”, de Gisele Girardi. Acesse o link a seguir para</p><p>ler o trabalho na íntegra.</p><p>https://qrgo.page.link/ChS67</p><p>Arte da cartografia: teorias e postulados</p><p>da cartografia temática</p><p>A abordagem de teorias na cartografi a tem sido desenvolvida, principalmente,</p><p>sobre a cartografi a temática na segunda metade do século XIX. A cartografi a</p><p>teórica moderna, pelo domínio da geografi a, ainda teve atreladas aos seus ob-</p><p>jetivos a tecnologia de levantamentos e a topografi a, e essa tendência teve mais</p><p>destaque sobre a técnica e prática da cartografi a topográfi ca do que a teoria.</p><p>A intenção dos geógrafos era produzir mapas voltados a projeções e cores,</p><p>representação de relevo e elaboração de atlas (ARCHELA; ARCHELA, 2002).</p><p>A teoria da semiologia gráfica, preconizada pelo geógrafo Jacques Bertin,</p><p>salienta a necessidade da transmissão de mensagens com significado universal</p><p>por parte dos mapas (FONSECA, 2007). Segundo Bertin (1973), a cartografia,</p><p>Conceitos de cartografia e mapa10</p><p>assim como a representação gráfica, possibilita a linguagem, constituída pelos</p><p>homens para comunicar observações essenciais à sua sobrevivência, definida</p><p>como linguagem bidimensional atemporal e destinada à vista. Apresenta</p><p>relevância sobre as demais devido à percepção do leitor ao interpretar o mapa.</p><p>Diante disso, o autor formulou o sistema semiológico monossêmico como</p><p>apoio a análise da representação cartográfica.</p><p>Haja vista que a teoria da semiologia gráfica contribuiu para a construção</p><p>de mapas ou gráficos para serem vistos e não para serem lidos, com base na</p><p>percepção imediata, a apreensão deve ser nítida e acessível. O nível monos-</p><p>sêmico de imagens é construído por um sistema semântico a partir do estudo</p><p>das regras relacionadas aos signos.</p><p>Quando se utilizam as primitivas gráficas em uma representação cartográfica,</p><p>pode-se fazer com que os pontos, as linhas ou áreas sejam mais ou menos</p><p>perceptíveis. A maneira de conseguir isto é considerar a alteração da sua</p><p>forma, tamanho, orientação, cor, valor e textura. Denominadas variáveis</p><p>visuais segundo Bertin nos anos 1960 para representação gráfica compondo</p><p>uma linguagem bidimensional e atemporal destinada a visão humana (NO-</p><p>GUEIRA, 2009, p. 128).</p><p>Bertin (1986) explana duas abordagens a respeito da representação gráfica,</p><p>explanadas a seguir.</p><p>a) Neográfica de tratamento: atenta analisar relações existentes entre dados</p><p>de uma tabela e como agrupá-las para constituir respostas satisfatórias</p><p>às questões que precisam ser formuladas.</p><p>b) Neográfica de comunicação: apresenta preocupação em fixar e transmi-</p><p>tir às pessoas o que foi descoberto nos dados, considerando as dimensões</p><p>do plano (seja na folha de papel ou tela de computador), chamando a</p><p>atenção do leitor pela variação visual de manchas. Todavia, a semiologia</p><p>gráfica é utilizada na construção de mapas temáticos (MARTINELLI,</p><p>2003; NOGUEIRA, 2009).</p><p>A teoria da informação tem influência na cartografia por meio dos sis-</p><p>temas comunicacionais embasados na teoria geral da comunicação. Utiliza</p><p>o método para controlar os ruídos de canal que apresenta com o objetivo de</p><p>transmitir, independentemente de seu conteúdo, um número maior de sinais</p><p>do que o necessário para a recepção da mensagem, o que implica na repetição</p><p>de sinais ou redundância. Devido à comunicação cartográfica, vista como</p><p>produção teórica e metodológica ligada a teoria da informação, nesse caso, a</p><p>11Conceitos de cartografia e mapa</p><p>produção de mapas é explanada com base na dimensão sintática. Essa dimensão</p><p>é um fenômeno da comunicação pelo mapa, que compreende como construir</p><p>mensagens que apresentem condições excelentes para, quando veiculadas pelo</p><p>canal, almejem de forma mais eficiente possível o receptor.</p><p>Nesse sentido, o mapa é o resultado do processo de comunicação cartográ-</p><p>fica, pois permite que o conteúdo da realidade seja observado e processado</p><p>pelo cartógrafo. Além do ato de comunicação, tem que ter significado para</p><p>que o cartógrafo apresente a realidade do fenômeno a ser mapeado para, en-</p><p>tão, produzir mapas eficientes, capazes de produzir o efeito que o cartógrafo</p><p>almeja enquanto emissor da informação. O cartógrafo deve ter em mente a</p><p>codificação correta dos fenômenos para que os objetivos da transmissão da</p><p>informação cartográfica sejam alcançados por meio da interseção do reper-</p><p>tório do cartógrafo com o repertório do usuário de mapa definido no campo</p><p>comunicacional (GOMES et al., 2013).</p><p>Segundo Archela e Archela (2002), Taylor foi o precursor da teoria da</p><p>modelização, introduzida pela tecnologia SIG, resultado da intensiva utilização</p><p>de métodos matemáticos e estatísticos com diversas variáveis e também da</p><p>evolução tecnológica e da computação com o auxílio de programas gráficos.</p><p>Desde então, é possível acessar bases cartográficas que interagem com bancos</p><p>de dados e produzir documentos cartográficos para a análise espacial. Nos</p><p>dias atuais, com a ampliação do número de usuários dos SIGs, tornou-se</p><p>inevitável a melhor capacitação de profissionais em geografia e cartografia.</p><p>A teoria cognitiva utiliza como método cartográfico o envolvimento com</p><p>operações mentais lógicas como comparação, análise, síntese, abstração, gene-</p><p>ralização e modelização cartográfica. Essa pesquisa cartográfica apresenta o</p><p>mapa como uma fonte variável de informações, dependendo das características</p><p>do usuário. Ela foi desenvolvida a partir da psicologia, contribuindo para a</p><p>cartografia tanto no processo de mapeamento quanto para o cartógrafo, pois</p><p>gerou a preocupação com as características do usuário, como no processo de</p><p>leitura do mapa. Portanto, o mapa é definido como um instrumento para a</p><p>aquisição de novos conhecimentos sobre a realidade representada. Essa teoria</p><p>teve contribuições a respeito dos mapas mentais e da alfabetização cartográfica</p><p>(ARCHELA; ARCHELA 2002).</p><p>Conceitos de cartografia e mapa12</p><p>Highlight</p><p>A teoria da visualização cartográfica permitiu para a cartografia uma</p><p>nova concepção de visualização. Sobre a cartografia contemporânea e sua</p><p>visão particular do que seria a visualização cartográfica no início da década</p><p>de 1990, Mcormick et al. comentam que:</p><p>A visualização é um método da computação em que a computação gráfica e a</p><p>tecnologia de processamento de imagens são usadas em aplicações científicas</p><p>de análise intensiva de dados, visando transformar o simbólico em geométri-</p><p>co, capacitando assim o pesquisador a observar suas simulações e cálculos</p><p>(MCORMICK et al., 1987 apud WOOD; KELLER, 1996).</p><p>Assim, a visualização possibilita que o pesquisador produza rapidamente</p><p>um número de imagens com diversas combinações das variáveis de um con-</p><p>junto de dados. Essa teoria apresenta, a partir da visualização, o potencial de</p><p>revitalizar a cartografia para além do SIG e da cartografia</p><p>digital, buscando</p><p>os atlas eletrônicos interativos e os sistemas de multimídia do SIG, entre as</p><p>inúmeras tecnologias. As definições e os conceitos desse tipo de atlas envolvem</p><p>visualização da informação, esquematização, análise comparativa, ordenação,</p><p>animação, modelagem dinâmica, projeção, navegação casual, hipertexto,</p><p>base de dados e capacidade para o processamento de interatividade. Nesse</p><p>sentido, a visualização e os sistemas de mapeamento eletrônico de multimídia</p><p>envolvem três elementos conceituais, tecnologias sofisticadas que estão na</p><p>junção dessas novas tecnologias com a cognição e a comunicação cartográfica</p><p>(ARCHELA; ARCHELA, 2002).</p><p>O desenvolvimento da cartografia teórica tem sido o tema atual para os estudos</p><p>geográficos. No artigo “Correntes da cartografia teórica e seus reflexos na pesquisa”,</p><p>Rosely Sampaio Archela e Edison Archela observam as correntes da cartografia teórica</p><p>e seus reflexos na pesquisa brasileira.</p><p>13Conceitos de cartografia e mapa</p><p>ARCHELA, R. S.; ARCHELA, E. Correntes da cartografia teórica e seus reflexos na pesquisa.</p><p>Geografia, v. 11, n. 2, p. 161–170, 2002.</p><p>ANDERSON, P. S. Princípios da cartografia básica. [S. l.: s. n.], c1982. v. 1. Disponível</p><p>em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3344668/mod_resource/content/1/</p><p>ANDERSON%2C%20P.%20Princ%C3%ADpios%20de%20Cartografia%20B%C3%A1sica.</p><p>pdf. Acesso em: 11 dez. 2019.</p><p>BERTIN, J. A neográfica e o tratamento da informação. Curitiba: UFPR, 1986.</p><p>BERTIN, J. Sémiologie graphique. Paris: Mouton, 1973.</p><p>CRISTÓVÃO Colombo. In: WIKIPÉDIA, [2019]. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/</p><p>wiki/Crist%C3%B3v%C3%A3o_Colombo. Acesso em: 11 dez. 2019.</p><p>FONSECA, F. P. O potencial analógico da cartografia. Boletim Paulista de Geografia, São</p><p>Paulo, nº 87, p. 85–110, 2007.</p><p>FONSECA, F. P.; OLIVA, J. T. Espaço e cartografia: teoria do espaço e avaliações da car-</p><p>tografia e das paisagens pictóricas. Revista Territorium Terram, v. 1, n. 1, p. 24–45, 2012.</p><p>GIRARDI, G. Mapas desejantes: uma agenda para a cartografia geográfica. Pro-Posições,</p><p>v. 20, n. 3, p.147–157, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pp/v20n3/v20n3a10.</p><p>pdf . Acesso em: 11 dez. 2019.</p><p>GOMES, C. S. N. et al. A comunicação na geografia. Revista Eletrônica de Divulgação</p><p>Científica da Faculdade Don Domênico, v. 1, p. 1–15, 2013.</p><p>INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Atlas geográfico escolar: histó-</p><p>ria da cartografia: a era dos descobrimentos (séc. XV a XVIII). c2019. Disponível em:</p><p>https://atlasescolar.ibge.gov.br/conceitos-gerais/historia-da-cartografia/a-era-dos-</p><p>-descobrimentos-sec-xv-a-xviii.html. Acesso em: 11 dez. 2019.</p><p>JACOB, C. L’empire des cartes: approche théorique de la cartographie à travers l’histoire.</p><p>Paris: Albin Michel, 1992.</p><p>LACOSTE, Y. A geografia: isso serve, em primeiro lugar para fazer a guerra. Campinas:</p><p>Papirus. 1988.</p><p>LÉVY, J.; LUSSAULT, M. Anamorphose. In: LÉVY, J.; LUSSAULT M. (org.). Dictionnaire de la</p><p>Géographie et de l’espace des sociétés. Paris: Belin, 2003.</p><p>LE POINT.FR. Gérard Mercator, l'homme qui a inventé le GPS il y a 500 ans!. 2015. Disponível</p><p>em: https://www.lepoint.fr/sciences-nature/gerard-mercator-l-homme-qui-a-invente-</p><p>-le-gps-il-y-a-500-ans-05-03-2015-1910094_1924.php. Acesso em: 11 dez. 2019.</p><p>Conceitos de cartografia e mapa14</p><p>Os links para sites da Web fornecidos neste livro foram todos testados, e seu funciona-</p><p>mento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede</p><p>é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local</p><p>e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre</p><p>qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.</p><p>MARTINELLI, M. Mapas da geografia e cartografia temática. São Paulo: Contexto, 2003.</p><p>NOGUEIRA, R. E. Cartografia: representação, comunicação e visualização de dados</p><p>espaciais. 3. ed. Florianópolis: UFSC, 2009.</p><p>OLIVEIRA, C. Dicionário cartográfico. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993.</p><p>PETERSON, M. P. Cognitive issues in cartographic visualization. In: MACEACHEREM, A.</p><p>M.; TAYLOR, D. R. F. (ed). Visualisation in modern cartography. Oxford: Elsevier Science,</p><p>1994, p. 27–43.</p><p>TAYLOR, D.; FRASE, R. Uma base conceitual para a cartografia: novas direções para a era</p><p>da informação. Caderno de Textos — Série Palestras, São Paulo, v. 1, n.1, p. 11–24, ago. 1994.</p><p>WOOD, C. H.; KELLER, C. P. Design: its place in cartography. In: WOOD, C. H.; KELLER,</p><p>C. P. (ed). Cartographic design: theoretical and practical perspectives. Chichester: John</p><p>Wiley & Sons, 1996. p.1–10.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>CASTRO, J. F. M. História da cartografia e cartografia sistemática. Belo Horizonte: PUC</p><p>Minas, 2012.</p><p>DUARTE, P. A. Fundamentos de cartografia. 3. ed. Florianópolis: UFSC, 2008.</p><p>15Conceitos de cartografia e mapa</p>