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Trabalho e Sociabilidade Professor Esp. Anderson de Castro Moura Professora Esp. Irení Alves de Oliveira Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Caroline da Silva Marques Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Jéssica Eugênio Azevedo Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt Carlos Firmino de Oliveira 2022 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2022 Os autores Copyright C Edição 2022 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Per- mitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP M929t Moura, Anderson de Castro Trabalho e sociabilidade / Anderson de Castro Moura, Irení Alves de Oliveira. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 183 p. : il. Color. 1. Sociologia do trabalho. 2. Trabalho – Aspectos sociais. I. Oliveira, Irení Alves de. II. Centro Universitário Unifatecie. III. Núcleo de Educação a Distância. IV. Título. CDD : 23 ed. 306.36 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho AUTORES Professor Esp. Anderson de Castro Moura ● Mestrando em Propriedade Intelectual e Transferência da Inovação Tecnológica (Universidade Estadual de Maringá - UEM) ● Graduando em Ciências Econômicas (Universidade Estadual de Maringá - UEM) ● Bacharel em Administração com Habilitação em Comércio Exterior (UniCesumar). ● Especialista em Docência do Ensino Superior (UniCesumar). ● Especialista em Tecnologias Educacionais (UniCesumar). ● Professor Conteudista EAD - UniCesumar. ● Professor Conteudista EAD - Faculdade Católica Paulista ● Tutor na Especialização de Gestão da Saúde na disciplina de Políticas Públicas para a Saúde pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). ● Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/2176464642941477 Pesquisador da Economia Política e História do Pensamento Econômico, tem publi- cações sobre o Comércio Exterior e a dependência tecnológica que o Brasil tem para com os países centrais. Estudioso da Filosofia Política e das decisões que os agentes privados têm nas suas tomadas de decisão em investimentos. Quero com o meu savoir-faire escla- recer os discentes sobre o panorama econômico e político brasileiro. Ampla experiência em EAD, já trabalhei em todos os setores, desde atendimento geral até estruturar uma IES para o credenciamento e autorização desta modalidade de ensino que muito cresce no nosso país. Professora Esp. Irení Alves de Oliveira ● Especialista em Docência no Ensino Superior - Unicesumar (2016) ● Tecnóloga em Marketing - Unicesumar (2016) ● Bacharel em Serviço Social (2015) ● Pós-Graduanda em Design Thinking e Criatividade nas Organizações - Unicesumar ● Pós-Graduanda em MBA em Coaching aplicado à Gestão de Pessoas - Unicesumar ● Professora Formadora EAD - Unicesumar ● Supervisora Acadêmica de Estágio - Unicesumar ● Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/6087805875284804 Assistente Social. Supervisora Acadêmica com programa de treinamento e acom- panhamento de equipe de supervisores acadêmicos e Professora formadora da disciplina de estágio supervisionado curricular obrigatório. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Olá, caro(a) aluno(a) é uma imensa satisfação apresentar os conteúdos contidos neste livro “Trabalho e Sociabilidade”, nesse sentido, vamos abordar informações importan- tes para agregar no seu processo formativo, acreditamos que no final das quatro unidades, você conseguirá entender as relações sociais do trabalho, trabalho na sociedade capitalista, categoria do trabalho e a crise da sociedade e do trabalho, informações que se tornaram títulos das unidades, compreendendo que se fez necessário apresentar uma ramificação de tópicos e subtópicos em relação a cada unidade, a partir disso, convidamos você a conhecer e se apropriar das teorias e fatos que estarão presentes ao longo das próximas páginas. Dessa forma, na unidade I você irá se aprofundar no trabalho como fundamento ontológico do ser social, neste tópico ressaltaremos como o trabalho surgiu e a sua importân- cia na vida do homem enquanto ser social e, para isso, será preciso conhecer a ontologia a partir das bases teóricas de Marx, bem como o ser social, pontos essenciais que destacam a importância de compreender fatores históricos e que faz todo o sentido dentro da profissão. No segundo tópico, salientaremos sobre a divisão social do trabalho, abordando a sua origem e a função, enfatizando, a partir das bases teóricas de Karl Marx e Émile Durkheim, grandes filósofos que abordam este fato de formas diferentes mesmo ter realizados as pesquisas praticamente no mesmo período, ou seja, no início do processo de industrialização mundial. No terceiro tópico, enfatizaremos sobre o capital como uma relação social do trabalho, a qual este sistema se apropria da força de trabalho para aumentar a sua riqueza. No quarto tópico, será abordado sobre o Exército de reserva, uma teoria destacada por Marx para entender os trabalho ativos e os inativos e porque são importantes para o capital. Já na unidade II, será conceitualizado como o trabalho é destacado dentro do sis- tema capitalista e, para isso, vamos iniciar apresentando a perspectiva do trabalho a partir dos estudos de Karl Marx e Émile Durkheim ,e para entendê-los, apresentaremos o ponto de vista de cada pensador, enfatizando que as informações que serão apresentadas, de certa forma, reflete na atualidade. Em seguida, apresentaremos sobre o trabalho e alienação, que para Marx é um forma do sistema capitalista para manter a força de trabalho ativa, em relação ao tempo de trabalho necessário é apresentar as teorias de Marx para compreen- der que a carga horária de trabalho não é o mesma que o tempo gasto para produzir uma determinada mercadoria. Por fim, a reestruturação produtiva que foi idealizada após a crise de produção do sistema fordista/taylorista. Na sequência, na unidade III falaremos a respeito do trabalho produtivo que gera mais valor para o capital e improdutivo que se faz necessário para manutenção desse sistema, bem como as suas diferenças, a qual fica evidente que beneficia somente a classe capitalista. Na segunda parte, apresentaremos sobre o trabalho coletivo em que de um lado é essencial para a realização do trabalho, mas do outro, só contribuiu ao sistema capitalistaque acaba separando o trabalho manual do intelectual, mas que de certa forma, se apropria de ambos, para benefício próprio. Na terceira parte, enfatizamos sobre as formas Con- temporâneas de trabalho e o que eles representam na sociedade e, por fim, as questões etnico-raciais, gênero e sexualidade no mundo do trabalho que são pontos de atenção e que são considerados relevantes dentro da categoria. Em nossa unidade IV, vamos finalizar o conteúdo deste livro com pontos importantes para entender a crise da sociedade e do trabalho que, em um primeiro momento, reflete na acumulação flexível através da urbanização, do empobrecimento e desenvolvimento da in- formalidade e da produção capitalista. Na segunda parte, destacamos sobre a mundialização do capital, como ocorreu a superacumulação, o império informal e a globalização financeira. Na terceira, apresentaremos sobre o desemprego estrutural, as causas e consequências e, por fim, na quarta parte, trataremos sobre a contra reforma neoliberal do Estado no Brasil, considerada como um ponto de atenção para entender as mudanças na sociedade. Desejamos uma excelente leitura/estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 4 Relações Sociais de Trabalho UNIDADE II ................................................................................................... 43 Trabalho na Sociedade Capitalista UNIDADE III .................................................................................................. 88 Categoria do Trabalho UNIDADE IV ................................................................................................ 132 A Crise da Sociedade e do Trabalho 4 Plano de Estudo: ● O trabalho como fundamento ontológico do ser social; ● A divisão Social do Trabalho; ● Capital - Uma Relação Social de Trabalho; ● Exército de Reserva. Objetivos da Aprendizagem: ● Contextualizar o trabalho na perspectiva de fundamento ontológico do ser social; ● Apresentar a divisão social do trabalho; ● Compreender o capital como forma de relação social do trabalho; ● Explorar o conceito do exército de reserva. UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Professor Esp. Anderson de Castro Moura Professora Esp. Irení Alves de Oliveira 5UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta primeira unidade, você irá estudar quatro pontos importan- tes em relação ao trabalho e o capital, pontos estes que são fundamentais dentro do curso de bacharelado em Serviço Social. E para entender melhor esses pontos, vamos destacar algumas informações que julgamos necessárias a serem apresentadas nesta introdução. Na primeira parte, vamos contextualizar o trabalho como fundamento ontológico do ser social, para isso, foi necessário dividir esta parte em três momentos, no primeiro, iremos focar nos fundamentos e na essência do termo trabalho, em seguida, a ontologia a partir dos estudos de Marx, um grande filósofo do qual temos as bases fundamentais da profissão, as teorias marxista e, por fim, entender o ser social. Já na segunda parte, será apresentada a divisão social do trabalho e para entender esse conceito, vamos abordá-lo em quatro momentos: no primeiro, abordaremos sobre a origem da divisão do trabalho, no segundo, a função da divisão social do trabalho e, no terceiro, a divisão social do trabalho para Durkheim e por fim no quarto momento a divisão social para Marx, é muito importante que você caro(a) aluno(a) tenha o entendimento a partir de dois pensadores influentes e que aborda esse assunto em perspectiva diferente. Na terceira parte, compreenderemos sobre o capital como uma relação social do trabalho e, para isso, vamos nos aprofundar no trabalho e no capital, esta relação de explo- ração, mão-de-obra barata e, ao mesmo tempo, a busca pela riqueza e o aumento do capital. Por fim, a quarta parte, da qual vamos explorar o conceito do exército de reserva uma teoria muito bem apresentada por Marx, a partir de uma crítica realizada, a economia política e para entender esse estudo, foi preciso dividir esta parte em quatro momentos,pe- los quais você irá estudar sobre a superpopulação a partir de uma produção progressiva, depois o capital como fonte de riqueza e, por fim, os dois últimos momentos que serão abordados sobre o desemprego e o modo de produção capitalista. 6UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 1. O TRABALHO COMO FUNDAMENTO ONTOLÓGICO DO SER SOCIAL Caro(a) aluno(a), entender sobre os fundamentos do trabalho na vida do ser hu- mano faz toda a diferença, principalmente para você - futuro assistente social, pois é por meio do trabalho que nós nos configuramos enquanto ser social. E para entender a base fundamental da ontologia será preciso estudar a natureza do homem, a sua existência, bem como a própria realidade, ou seja, a ontologia do ser social. Nesta parte da unidade, vamos nos aprofundar nos fundamentos do trabalho, a on- tologia e o ser social, entendendo esses conceitos a partir das teorias de grandes filósofos, bem como grandes autores do Serviço Social, mas é importante que os seus estudos sejam aprofundados, buscando a partir desta apostila novos conhecimentos, pois entender sobre o trabalho na vida do ser humano é muito importante na sua trajetória acadêmica e profis- sional. Afinal, nós enquanto assistentes sociais também estamos inseridos na divisão social e técnica do trabalho, mesmo que a nossa prática profissional esteja focada no trabalho e nas suas relações sociais. 7UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 1.1 O Trabalho e Seus Fundamentos Para Marx (1988, p.188) “trabalho é, antes de tudo, um processo entre o homem e a natureza, processo este em que o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a natureza”, ou seja, o homem precisa da natureza para realizar o processo de trabalho, a qual transforma o meio natural em objetivo, passando a utilizar para a sua sobrevivência, processo este que está enraizado na natureza do homem e que foi se modificando com o passar dos tempos, melhorando seus recursos e suas habilidades, mas, o fato é que “não se pode considerar o ser social como independente do ser da natureza”( LUKÁCS, 1979, p. 17). Com isso, pode se dizer que o homem dispõe da matéria natural como uma potência para o seu processo de trabalho, aprimorando-a por meio da utilização da força de trabalho das quais são operadas através dos braços, pernas, cabeça e mãos, criando produções que passa a modificar a natureza e, ao mesmo tempo, a si próprio, mantendo as forças em domínio de pequenos grupos. Partindo dessa analogia, Marx (1988, p. 189) destaca que o meio de trabalho pode ser considerado como uma coisa ou um complexo de coisas do qual o trabalhador intercala entre o objeto e a si próprio, “utilizando das propriedades mecânicas, físicas e químicas das coisas para fazê-las atuar sobre outras coisas, de acordo com o seu propósito”, com isso o trabalhador acaba se apoderando do objeto, desconsiderando os meios de subsistência encontrados na natureza, um exemplo bem simples deste conceito é a coleta de frutas, da qual os órgão corpo- rais do ser humano que já mencionamos, acaba servindo como um meio de trabalho e aqui já não é mais considerado como objeto de trabalho, mas sim o meio de trabalho. Se você rever as histórias que descreve o período das antigas cavernas, irá encontrar informações de que as ferramentas e armas dos homens eram de pedra, também tinha-se madeiras, ossos e conchas e os animais eram domesticados e tinha um papel importante em relação ao meio de trabalho. Acreditamos que você deve estar se perguntando, mas o que isto tem a ver com o processo de trabalho, e pode-se dizer que tudo, pois isso é uma característica específica do ser humano, ou seja, que desde esse período já se tinha o uso de um meio de trabalho e o homem comoo idealizado de suas próprias ferramentas, mas é claro que para os dias atuais tanto o processo de trabalho quanto o meio e as ferramentas foram aprimoradas, mas o conceito inicial do trabalho não, este foi modificado. Caro(a) aluno(a), como você pode notar, o trabalho é a base fundamental do ser humano em meio à sociedade, pois é através do trabalho que o homem consegue criar e se desenvolver, conforme destacado por Lukács (1978) é por causa do trabalho que o homem 8UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho passa de um ser natural para um ser social, tendo respostas para que o meio de trabalho aconteça, mas para que o termo trabalho de fato possa ter sentido, sendo considerado como uma base dinâmica e estruturante na vida do ser humano, é indispensável que se tenha um certo grau de desenvolvimento em relação ao processo de reprodução orgânica. Nesse sentido, o autor supracitado considera que a essência do trabalho deve ir além da obsessão dos seres humanos em relação à competição biológica dentro do seu próprio mundo ambiente, ou seja, o trabalho precisa transcender a um determinado produto produzido em massa, e isso se dá por meio da consciência, que eleva este ser humano a outro nível, algo era tido na origem do trabalho, mas que com o passar dos tempos o tra- balho que era considerado como objeto passou a ser o meio e com isso precisou-se de um processo, nesse sentido, a atividade do homem que se tornou o meio de trabalho acabou operando na transformação do objeto, tornando-o em um produto de consumo que, por sua vez, é considerado como valor de uso. Nesse sentido, o trabalho passou a incorporar o produto e, com isso, o que antes tinha-se o trabalho como objeto, agora tem se o trabalho como meio de um processo. Para simplificar o processo de trabalho, transforma o objeto a partir da produção e ao modificar o seu estado natural, para o que deseja, o homem adquire novas habilidades e conhecimentos que se externalizam, tanto no objeto quanto em si próprio. PROCESSO DE TRABALHO O fato é que as mudanças objetivas e subjetivas produzidas pelo processo de objetificação da externalização são irreversivelmente impostas ao indivíduo, principalmente aos novos comportamentos teleológicos, normalmente o homem passa a ser orientado a responder às novas situações criadas por suas ações, o que significa iniciar um novo comportamento, passando a viver em um processo com um nível social cada vez mais avançado e com novas objetivações que só podem ser a realização material de um propó- sito ideal, induzido pela nova situação de socialização. 9UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Caro(a) aluno(a), conforme destacamos aqui o trabalho inicialmente era tido com um objeto para o homem se desenvolver, mas com o passar dos tempos, o trabalho passou a ser considerado como um processo para o seu meio de sobrevivência, mudando, assim, o sentido real do trabalho, porém não podemos deixar de destacar que o trabalho - na sua essência é fundamental e sempre fez parte na vida do ser humano, mas devemos ter em mente que com a ascensão do capitalismo e os avanços tecnológicos, o trabalho passou a ter outras configurações na sociedade. Acreditamos que você pode estar refletindo e/ou se perguntando, mas, por que, eu, enquanto aluno do curso de Serviço Social, preciso estudar e entender sobre essa mudança na essência do “trabalho”. E essa é uma excelente reflexão ou pergunta, pois de acordo com Netto e Braz (2006, p. 33) a partir da “incompatibilidade da economia política clássica com os interesses da burguesia convertida em classe dominante e conservadora” é que surge a criação de valores ou o mais conhecido por muitos filósofos o “valor é o produto do trabalho”. Segundo os autores supracitados, para entender tal mudança no conceito do “trabalho”, Marx buscou na economia e na vida social a compreensão da teoria valor-trabalho, estudo este que destaca que “o valor de todas as mercadorias é determinado pela quantidade de trabalho incorporada nelas” (RICARDO.1996, p. 11). REFLITA O valor de uma mercadoria, ou a quantidade de qualquer outra pela qual pode ser tro- cada, depende da quantidade relativa de trabalho necessário para sua produção, e não da maior ou menor remuneração que é paga por esse trabalho. Fonte: Ricardo, 1996, p. 23. Neste sentido, Marx (1988) enfatiza que a teoria ricardiana do valor-trabalho só tem sentido quando a distribuição do produto social apresenta uma exploração ao trabalhador, sendo constituída dentro do eixo do sistema econômico da sociedade burguesa, conside- rando o valor como algo social na base de troca, neste caso, o valor é determinado pelo tempo no trabalho, que só se configura na base de troca-dinheiro, validando o tempo gasto na produção, mas que para o trabalhador se caracteriza por meio de salário a partir da jornada de trabalho, assunto que veremos mais a frente. 10UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Mas, o que tudo isso tem a ver com o Serviço Social, pois bem, de acordo com Iamamoto e Carvalho (2006) foi a partir das relações sociais e das lutas de classe que houve um reconhecimento do trabalho e dos trabalhadores, mesmo que tenhamos a per- sonificação das categorias econômicas. Nesse sentido, as discussões acerca da profissão e a relação com o trabalho teve uma fundamentação na crítica econômica e política a partir da teoria de Marx que buscou entender o valor do trabalho e foi a partir disso que os autores citados acima destacam que o Serviço Social passou a ser considerado como uma categoria especializada no trabalho coletivo, bem como inserida na divisão social e técnica do trabalho, participando e contribuindo com o processo de produção e reprodução social e diante desses fatos é que entender e estudar sobre o trabalho passa a ser fundamental para o curso de Serviço Social. SAIBA MAIS A reprodução social não trata de produção de objetos materiais, mas de relação social entre pessoas, entre classes sociais que personificam determinadas categorias econômicas. Fonte: Iamamoto, Carvalho, 2006, p. 30. Lukács (2013) destaca alguns pontos importantes em relação à reprodução social, primeiramente, o mundo do trabalho é considerado um processo em que o homem se de- senvolve constantemente como ser social, esta relação se distingue da própria natureza do homem. Segundo o autor supracitado, há um método dialético entre o trabalho e a reprodução social, isso porque o trabalho é considerado o fundamento ontológico da existência do ser hu- mano em meio à sociedade que, por sua vez, só se efetiva dentro do contexto da reprodução social. Por fim, o terceiro ponto destacado pelo autor é que no processo de acumulação há uma consciência singular tornando o ser humano um imediatismo na materialidade objetiva, replicando-a em suas relações sociais. O fato é que, nas relações sociais do trabalho ocorre a transformação do processo de desenvolvimento humano em alienação, retirando do traba- lhador a sua capacidade de transformar a natureza e a si próprio. 11UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Caro(a) aluno(a), um fato muito importante que se deve ter em mente é que se o trabalho não potencializar o ser humano, separando-o da sua própria identidade, este pode perder e/ou diminuir a sua capacidade física e mental, por exemplo, em um processo de produção, um trabalhador realiza a atividade repetitivamente, assim como os demais, nesse caso, cada trabalhador tem a sua produção dentro de um processo que no final se materializa a mercadoria, porém esses trabalhadores não criam e desenvolvem a mercadoria por com- pleto, realizando uma parte do processo várias vezes com várias mercadorias. Mas, se esse trabalhador passa a ser compreendido em sua totalidade, ou seja, pertencente do processo, agregando a sua identidade, logo passa a desenvolver e ter emancipação, algo que não acontece dentro do processo de reprodução do sistemacapitalista, pois é preciso manter os trabalhadores dependentes desse sistema, sendo pago pelo que produz e não se cria. Entender sobre os fundamentos do trabalho, a sua origem e a forma como se configura dentro do sistema capitalista de fato muda todo o sentido, isso porque tem-se a divisão do trabalho, a exploração de um ser humano a outro e a alienação do trabalhador que apenas executa o que está exposto e nós, enquanto assistentes sociais, precisamos entender esta realidade ontológica do ser social. 1.2 Ontologia: principios Fundamentais de Marx Caro(a) aluno(a), esperamos que você tenha entendido que diante do mundo capi- talista a essência do trabalho modificou-se, não tendo-o mais como um objeto fundamental na vida do ser humano, mas algo para manter-se em meio à sociedade, porém se você ainda ficou com dúvidas, fique tranquilo, nesta parte da unidade nós vamos nos aprofundar na ontologia, uma termo que abrange as questões gerais que normalmente estão relacio- nadas à existência do ser. O filósofo alemão Christian Wolff deu origem ao termo “ontologia” considerada como a filosofia primeira ou a ciência do ser, que ao longo dos séculos foi analisada e estudada por grandes pensadores, que passou a considerar a ontologia como ramo da filosofia, que está ligada no geral da metafísica, como, por exemplo, Karl Marx, filósofo do qual vamos nos aprofundar a partir dos estudos realizados por Lukács. Vejamos um exemplo na Figura 1: 12UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho FIGURA 1 - DA FILOSOFIA PARA A ONTOLOGIA Fonte: Os autores (2021). A ontologia é, portanto, uma ciência que estuda o ser e, como tal, não se pode traduzir de outra forma e a partir dos estudos de Lukács (2013) é que a ontologia produz ainda mais surpresas. A regra fundamental dessa ciência é buscar não apenas os princí- pios fundamentais do ser, mas também assegurar sua harmonia. Por exemplo, quando Aristóteles afirma contra Platão a eternidade do mundo, ele deve introduzir outro princípio para explicar a mudança, o que nos leva ao primeiro motor. Um primeiro princípio como a matéria também impõe a Lukács outros princípios complementares que ele não havia previsto quando se propôs a escrever uma ontologia marxista. De fato, como explicar a mudança e a gênese dos seres a partir da matéria? Em seguida, o trabalho como criação requer a reformulação da noção de consciência. Em resumo, uma ontologia como ciência pode quebrar um sistema de pensamento e impor mudanças essenciais a ele. Mas ao mesmo tempo impõe uma unidade que nos permite seguir as reflexões do autor, no nosso caso Lukács, sobre a estética e a alienação. Encontramos vestígios dessas importantes reversões ao longo de todo o trabalho de Lukács. Depois de ter a primeira parte da sua estética, ele queria escrever o esboço detalhado sobre a ética, mas logo de seus estudos percebeu que isso exigiria uma tal introdução que lançaria as bases da ontologia do ser social. Em seus estudos Lukács (2013) descobriu as formas preparatórias da transição de um tipo de ser para outro, que são as mais complexas e as mais simples, em linhas gerais são aquelas da reprodução da vida considerada como complexa e as simples de se tornar outra adaptação ativa que transforma conscientemente o ambiente, ao invés de em oposição a uma adaptação meramente passiva. 13UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Também ficou claro que a forma mais simples de ser, apesar de todas as categorias transitórias que pode produzir, está separada por um salto do verdadeiro nascimento da forma mais complexa de ser. Esta última é algo qualitativamente novo, cuja gênese nunca pode ser simplesmente “deduzida” da forma mais simples de ser. De tal salto segue-se o fortalecimento da nova forma de Ser, embora algo qualitati- vamente novo esteja nascendo constantemente, esta novidade não parece ser nada mais, em muitos casos, do que uma variação das modalidades de reação do ser fundador em novas categorias de efetividade, aquelas que são o que é propriamente novo neste novo ser constituído. REFLITA As formas de objetividade do ser social se desenvolvem, à medida que surge e se explicita a práxis social, a partir do ser natural, tornando-se cada vez mais claramente sociais. Fonte: LUKÁCS, 1979, p. 17 Pense na forma como a luz, que ainda age de forma puramente físico-química so- bre as plantas (desencadeando efeitos vitais específicos aqui, é claro), desenvolve formas específicas de reações biológicas ao meio ambiente na visão de animais superiores. Assim, o processo de reprodução em natureza orgânica assume sempre a forma correspondente ao seu verdadeiro ser, claramente se torna um ser “sui generis”, embora o ser fundado nunca possa ser desligado dos fundamentos originais do Ser. Sem poder aludir apenas a este complexo de problemas, que se note aqui que o maior desenvolvimento do processo de reprodução orgânica, que se torna no verdadeiro sentido cada vez mais puramente e explicitamente biológico, também forma uma espécie de consciência com a ajuda da percepção dos sentidos, um importante epifenômeno, bem como um superior de seu funcionamento eficaz. Um certo grau de desenvolvimento do processo de reprodução orgânica é indis- pensável para que o trabalho, como base dinâmica de estruturação, de um novo tipo de ser, possa surgir. Também aqui devemos deixar de lado os muitos contornos de trabalho existentes, que permanecem apenas neste formato e, também aqueles becos sem saída 14UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho que não só deram origem a um tipo de trabalho, mas também à necessária continuação de seu desenvolvimento, a divisão do trabalho, porque estes últimos, na medida em que são fixados como diferenciação biológica dos espécimes das espécies, não poderiam, tornar-se um princípio de continuidade do desenvolvimento em direção a um novo tipo de ser, mas permanecendo uma estabilidade sem desenvolvimento. A essência do trabalho consiste precisamente no fato de que ele vai além desse confinamento de seres vivos no confronto biológico com seu ambiente. Não é a realização dos produtos que forma o momento essencialmente separatório, mas o papel da consciên- cia, que justamente aqui deixa de ser um mero epifenômeno de reprodução biológica. Como apresentado por Lukács (2013, P.198 ) Marx destaca que o produto é um resultado que estava no início do processo, já presente na representação do trabalhador, mas que passou a ser considerado como uma forma ideal em que “as categorias econômi- cas aparecem como as categorias da produção e da reprodução da vida humana, tornando, assim, possível uma exposição ontológica do ser social sobre bases materialistas” o que nos leva a considerar que o trabalho é o meio para garantir as categorias no poder, tendo o ser humano para manter as bases materiais/produção. Pode parecer surpreendente atribuir um papel tão decisivo à consciência, precisa- mente na delimitação materialista entre o ser de natureza orgânica e o ser social. Entretanto, não devemos esquecer que os problemas mais complexos que aqui surgem (seu tipo mais elevado é o da liberdade e da necessidade) só podem receber um verdadeiro significado, que o significado ontológico - precisamente - somente através de um papel ativo de cons- ciência. Em que a consciência não se tornou um poder efetivo do ser, esta oposição não pode sequer aparecer. Por outro lado, onde quer que a consciência seja objetivamente dada tal papel, a solução deve carregar essas oposições. Podemos descrever corretamente o homem que trabalha, o animal que se tornou um homem através do trabalho, como um ser que responde. Pois, não há dúvida de que toda a atividade laboral é constituída como uma solução que responde às necessidades que a desencadearam. No entanto, não veríamos a essência da coisa se supuséssemos aqui uma relação de imediatismo. Pelo contrário, o homem torna-se um ser que respondeprecisamente generalizando suas necessidades, as possibilidades de sua satisfação - cada vez mais, em paralelo ao de- senvolvimento social - em perguntas e, em sua resposta à necessidade que a desencadeia, ele funda e enriquece sua atividade através de mediações tão frequentemente ramificadas. 15UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Assim, não é apenas a resposta, mas também a pergunta que é imediatamente um produto da consciência que guia a atividade. Mas por tudo isso, a resposta não deixa de ser complexa, para ser ontologicamente primária neste complexo móvel. A necessidade material, como força motriz do processo reprodutivo, tanto individual como social, realmen- te coloca o complexo do trabalho em primeiro lugar e todas as mediações só existem, de acordo com o ser, para satisfazê-lo. Com a mão-de-obra, portanto, é dada, ao mesmo tempo, ontologicamente, a possi- bilidade de seu desenvolvimento dos homens que a exercem um resultado de transformação passiva, que é o processo reprodutivo para o meio ambiente, por sua transformação cons- ciente e ativa, o trabalho não se torna apenas um fato, pelo qual a nova especificidade do ser social se expressa, mas o caso modelo - ontológico - de toda a nova forma de ser social. 1.3 Ser Social Caro(a) aluno(a), por considerar que as teorias de Marx foram importantes para a fundamentação metodológica e teórica da profissão e que vamos nos aprofundar nos estudos do schaff (1967) para entender o conceito do ser social na visão de Marx. De acordo com o autor supracitado, o homem é considerado um ser social que sempre estará ligado às con- dições sociais, portanto sempre será o ponto de partida em relação ao desenvolvimento em meio à sociedade e isso acontece simplesmente pelo fato de convivermos uns com os outros, mas é importante destacar que a partir das habilidades de criar ferramentas e desenvolver técnicas é que o homem passou a alterar tanto a natureza externa quanto interna. É fato que a partir das novas criações e desenvolvimentos que o homem acabou aumentando o seu nível de organização social, isso porque passaram a conviver com gru- pos de pessoas maiores, ou seja, além daquele habitacional, logo precisou dividir tarefas levando-os a sobreviver em grupo. Se você, caro(a) aluno(a), rever os contextos históricos em relação à forma de como era conduzido o trabalho, principalmente antes do surgimento das indústrias irá observar que em muitas situações o processo era realizado do início ao fim por um único indivíduo, mas a partir dessa mudança houve a necessidade de que o processo fosse realizado em massa, tendo um acordo social, o que nos leva a compreender que o homem não precisa produzir e/ou caçar o seu próprio alimento “sozinho”, pois ao estar inserido em uma socie- dade, a sua sobrevivência passa a ser em grupo, organizada por uma sociedade complexa, em que cada indivíduo tem a sua função social dentro de um processo de produção e reprodução. 16UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Nesse sentido, criamos e desenvolvemos uma identidade grupal, ou seja, as nossas características são baseadas em conceitos ideológicos já empregados em uma sociedade organizada, levando- nos a construir o nosso “eu” a partir desses ideais que estão enraizados na sociedade e, essa construção surge por meio das diversas relações sociais das quais con- vivemos diariamente em que, muitas vezes, influenciamos, mas também somos influenciados. Caro(a) aluno(a), ao analisar todos os estudos aprendidos até aqui, você poderá observar que o trabalho de certa forma está ligado às relações sociais e ambos, de certa forma, potencializa o ser humano enquanto ser social, nesse sentido, podemos considerar que o ser social torna-se um produto do trabalho, logo da sociedade. E ao refletir sobre o ser social, não podemos abordar esse conceito de forma isolada, isso porque as relações que o homem tem, tanto com a natureza (trabalho/objeto) quanto com os demais seres humanos devem ser entendidos em sua totalidade. Portanto, você, enquanto futuro assistente social deve ter em mente que o trabalho é a base fundamental na vida do homem, porém a partir das relações sociais esse conceito passou por alterações que precisam ser analisadas em sua totalidade entendendo que nós, seres humanos, estamos inseridos em uma sociedade organizada que necessita manter uma ordem, levando em consideração as bases fundamentais do ser e o que pode ser modificado/alterado para que possamos continuar vivendo em sociedade. 17UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 2. A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO Caro(a) aluno(a), a “divisão social do trabalho” está ligada às diversas formas de proces- sos de especializações do trabalho, criada pela sociedade para que possamos nos reproduzir de forma social. Em linhas gerais, a divisão social do trabalho nada mais é do que um processo produtivo com diferentes níveis de especialização, do qual o trabalhador passa a realizar tarefas mais específicas em uma determinada produção, com isso, tem-se um aumento na velocidade produtiva e uma eficiência por realizar a mesma atividade várias vezes. E para entender toda essa lógica é que vamos nos aprofundar nas teorias de gran- des pensadores que dedicaram anos de pesquisas, apresentando fundamentos e conceitos para que as diversas áreas do conhecimento pudessem estudar e entender a importância da divisão social do trabalho na sociedade. 2.1 A Origem da Divisão do Trabalho De acordo com Smith (1996, p. 73) “a divisão do trabalho, da qual derivam tan- tas vantagens, não é, em sua origem, o efeito de uma sabedoria humana qualquer, que preveria e visaria esta riqueza geral à qual dá origem”, ou seja, a divisão do trabalho não beneficia todas as classes sociais, porém todas acabam tendo o seu papel dentro desse conceito, principalmente, porque a divisão do trabalho acaba sendo uma consequência tão necessária, por mais que seja considerada um processo em evolução, pois “de uma certa tendência ou propensão existente na natureza humana que não tem em vista essa utilidade extensa, ou seja: a propensão a intercambiar, permutar ou trocar uma coisa pela outra”. 18UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Para o autor supracitado, o homem sempre necessitará de ajuda simplesmente pelo fato de estar inserido em uma sociedade e quando atingir a sua maturidade e dependência a partir do seu estado natural, acabará buscando a necessidade de ajudar outras pessoas e isso, faz parte do instinto do ser humano, mas a questão é que nem sempre a “ajuda” vem através da bondade e sim a busca por algo em troca e ao alcançar a seu favor a atenção de outras pessoas acaba tendo uma vantagem para alcançar outras “coisas” que julgar necessário, tornando-se o loop constante. O fato é que sempre necessitamos de algo e quando queremos, fazemos de tudo para alcançar, principalmente se o que “queremos” se torna um objetivo, mesmo que seja por intermédio de uma negociação e/ou “por escambo ou por compra que conseguimos uns dos outros a maior parte dos serviços recíprocos de que necessitamos, da mesma forma é essa mesma propensão ou tendência a permutar que originalmente gera a divisão do trabalho” (SMITH, 1996, p. 74). Isso porque sempre estamos produzindo e consumindo para satisfazer uma neces- sidade seja ela para a sobrevivência e/ou conforto de forma que trocar o tempo, oferecendo a força de trabalho por um salário, nos leva a dedicarmo-nos e especializármo-nos em uma determinada ocupação, buscando por um aperfeiçoamento para executar com excelência, bem como a aprovação das demais pessoas. Outro ponto importante destacado por Smith (1996) e que deve ser analisado ao compreender a origem da divisão do trabalho é a diferença de talentos entre as pessoas, pois são a partir dos talentos que as pessoas se destacam, sejam dentro da própria profis- são ou em outra, principalmente quando atinge a maturidade. Mas em algunscasos não é tanto a questão de talento e sim o efeito da divisão do trabalho. SAIBA MAIS Sem a propensão à barganha, ao escambo e à troca, cada pessoa precisa ter conse- guido para si mesma tudo o que lhe era necessário ou conveniente para a vida que desejava. Fonte: Smith, 1996, p. 75. 19UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 2.2 A Função da Divisão do Trabalho Durkheim (1999, p. 13) destaca que ao analisar o significado da palavra “função” verificou-se que pode ser empregado de duas formas, bastante diferentes. Para o autor supracitado “ora designa um sistema de movimentos vitais, fazendo-se abstração de suas consequências, ora exprime a relação que existe entre esses movimentos e algumas ne- cessidades do organismo”, comparando a primeira forma como a digestão que tem a função de “reparar as perdas a partir da incorporação no organismo das substâncias líquidas ou sólidas”, enquanto a segunda, a respiração tem a função de “introduzir tecidos necessários à manutenção da vida”. E a partir da segunda forma que se chegou a percepção da função da divisão do trabalho, pois é por meio desse conceito que se tem um aumento da força produtiva e das habilidades dos trabalhadores, nesse sentido, a divisão do trabalho passa a ser considerada como uma condição necessária do desenvolvimento intelectual e material da sociedade, ou seja, é a fonte para a civilização com um certo nível de moralidade a partir da progressão do indivíduo no coletivo. Com isso, entende-se que a falta de moral enraizada na sociedade pode excluir o indivíduo do seu meio social e, por esse motivo, é que a moral está ligada à divisão do trabalho, pois compreende que um indivíduo considerado como imoral pode não atingir o nível de progressão ao realizar uma determinada tarefa, implicando na qualidade e no processo produtivo. Nesse sentido, Durkheim (1999) destaca que se trata de uma insolúvel antinomias, ou seja, comportamentos inconvenientes que levam à imoralidade e na divisão do trabalho, este tipo de comportamento é visto como o não cumprimento do que precisa ser feito, considerado como falta de caráter moral. Acreditamos que você deve estar se perguntando, mas por que estamos estudando isso? Bom, caro(a) aluno(a), a partir dos estudos do autor supracitado podemos observar que a análise da função da divisão do trabalho estava relacionada à moralidade como meio de manter o indivíduo em um processo constante, tanto quando estava realizando as suas tarefas quando em sua vida pessoal e ambos deveriam estar ligados, isto é algo enraizado na sociedade como uma forma de manter a ordem social e não ter indivíduos que se rebelassem contra o sistema. Para Durkheim (1999) o estudo da natureza e das formas de vida social faz parte da busca por compreender a evolução da sociedade, entendo que somos diferentes uns dos outros, mesmo com as regras morais impostas na sociedade, pois cria uma relação entre indivíduos que devem ir além do ego (além de seu próprio interesse), mas com a moralidade enraizada na divisão do trabalho, acaba tecendo laços que os ligam uns aos outros como uma forma de facilitar o processo de produção e também como forma de evitar a desordem e criar coesão na sociedade. 20UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Nesse sentido, a lei e moralidade passa a ser considerado como um conjunto de laços que unem as pessoas, tendo na sociedade uma grande massa de indivíduos sendo agregado a um todo de forma coerente, o que nos leva a compreender que as regras, a lei e a moralidade acaba sendo impostas aos indivíduos para integrá-los e torná-los conformes os objetivos que vão além dos próprios indivíduos, mas que a lei e a moral são os meios pelos quais a sociedade funciona em sua totalidade, de forma organizada e coerente. O que nos leva a compreender que o “todo” e a “sociedade” são coisas que somam mais que a individualidade, permitindo aos indivíduos encontrar prazeres reais quando está inserido em um grupo, obtendo uma fonte de satisfação que não se limita ao consumo de bens, mas cria relacionamentos e tece laços. O que nos leva a compreender que a função da moralidade é como cimento da sociedade, ou seja, é essencial, considerada como uma fonte de solidariedade que regula os movimentos do indivíduo para algo além do seu “eu” considerado como um sistema de direitos e deveres que vincula os indivíduos de uma forma duradoura a partir dos fatos sociais. REFLITA O fato social é uma forma de agir, pensar e sentir, algo que está além do indivíduo, sim- plesmente pelo fato de não ser o originador das regras sociais que ele segue. Conside- rada também como uma restrição, visto que o indivíduo é obrigado a respeitar as regras, sob pena de sanções. Fonte: Elaborado pelos autores. Para Durkheim (1999) os fatos sociais podem ser estudados da mesma forma que os fenômenos naturais e julgamentos espontâneos, mas o rigor da análise reside na defi- nição precisa dos fenômenos em estudo. Nesse sentido, um fato social deve ser explicado por outro fato social, mas, nem sempre um fato social pode ser explicado por motivações individuais, muito menos pelo apelo dos fatos econômicos, biológicos ou psicológicos. Com isso o fato social não deve ser realizado a partir de uma ação individual simplesmente por existir uma força exterior compreendida como a consciência coletiva. O que nos leva a compreender que o fato social tem as suas características e as principais delas são: generalidade que acontece quando os fatos sociais passam a ser coletivos e individuais, ou seja, quando atinge a sociedade como um todo. Depois temos a exterioridade 21UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho que designa os fatos sociais que estão fora, ou seja, exterior ao indivíduo, sendo organizado após o nascimento. E, por fim, a coercitividade que está ligada ao poder ou as forças determinadas a partir dos padrões culturais determinados na sociedade. Durkheim (1999) procede a uma análise profunda da sociedade, classificando em duas categorias, que são: sociedades mais baixas ou tradicionais/primitivas e as sociedades mais elevadas ou complexas/modernas. Cada um desses dois tipos de sociedade é carac- terizado pela solidariedade social que, por sua vez, é baseada na tradição e nos costumes para que todos os indivíduos possam compartilhar das mesmas ações, garantindo, assim, a coesão (ordem) social, tendo o trabalho como o principal gerador da solidariedade que, por sua vez, é classificado como mecânica e a orgânica, assunto que vamos nos aprofundar na segunda unidade. SAIBA MAIS Existente uma solidariedade social proveniente da divisão social do trabalho. É uma verdade evidente, pois a divisão do trabalho é muito desenvolvida nela e produz a soli- dariedade. Mas é preciso determinar sobretudo em que medida a solidariedade que ela produz para contribuir a integração geral da sociedade, pois somente então saberemos até que ponto essa solidariedade é necessária, se é um fator essencial da coesão social, ou então, ao contrário, se nada mais é do que uma condição acessória e secundária. Fonte: Durkheim, 1999, p. 31. 22UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 2.3 Divisão Social do Trabalho para Durkheim Caro(a) aluno(a), Émile Durkheim nasceu em 1858 na França e faleceu em 1917, vivido a maior parte da sua vida na Alemanha foi um grande sociólogo, antropólogo, cientis- ta político, psicólogo social e filósofo, influenciado pela ideia positivista de Auguste Comte passou a estudar a sociedade e com o passar dos tempos acabou tendo as suas próprias teorias, como a divisão do trabalho social. Teoria esta que vamos apresentar para você. De acordo com as informações descritas na obra de Durkheim “da divisão do trabalho social” o principal fator que une as pessoas dentro de uma sociedade é a moral, simplesmente pelo fato de gerar um sentimento de solidariedade entre os indivíduos que realizam a mesma função, tendo na divisão socialdo trabalho uma forma de manter uma ordem entre o indivíduo e o sistema pelo qual está inserido. Para este sociólogo quanto maior e mais complexas for uma sociedade maior será a divisão social do trabalho, na verdade, o aumento populacional acaba sendo responsável por esta divisão do trabalho, simplesmente pelo fato de manter a ordem social. Enquanto Smith (1996) vê a divisão do trabalho como um meio de aumentar a produtividade e a riqueza (divisão técnica do trabalho dentro das unidades de produção), Durkheim (1999) a vê como um fenômeno social (divisão social do trabalho) baseado na partilha de funções antes comuns a todos os indivíduos e que irá gerar laços sociais. Ao envolver uma diversificação de atividades e a especialização de indivíduos, estimula o intercâmbio de habilidades e relações interdependentes, ou seja, o indivíduo se revela enquanto está ligado a outros porque não consegue sobreviver sozinho. Esta especialização, reconhecida por Durkheim, permitirá, acima de tudo, que os indivíduos vivam em harmonia porque cria uma ligação inevitável entre si. SAIBA MAIS Em economia e sociologia, o termo “divisão do trabalho” refere-se à distribuição das atividades de produção entre diferentes entidades especializadas em campos comple- mentares. Fonte: Elaborado pelos autores. 23UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Caro(a) aluno(a), é importante ter em mente que a divisão do trabalho é um dos fundamentos da organização das sociedades, sejam elas humanas ou animais. Em humanos, a divisão do trabalho tem uma origem muito distante e aparece já no período neolítico com o desenvolvimento da agricultura e da criação de animais. Em nosso tempo, o desenvolvimento da divisão do trabalho está associado ao desenvolvimento do capitalismo e do comércio, à disseminação do dinheiro e ao crescimento da população e da produção de bens e serviços e à verdadeira função da divisão do trabalho é criar um senso de soli- dariedade entre as pessoas, contribuir para a integração geral da sociedade e ser um fator essencial de coesão social. Outro ponto importante que se deve ter em mente é que a origem da divisão social do trabalho não é a busca do progresso econômico (aumentando a quantidade de riqueza na economia), mas refere-se à especialização de tarefas dentro de uma determinada sociedade, entre os mais diferentes indivíduos, ocupações ou grupos sociais. Sendo considerada como uma divisão de tarefas dentro de uma empresa em uma série de tarefas fragmentadas, con- fiadas a indivíduos ou grupos de indivíduos especializados e muitas vezes pouco qualificados. A divisão social do trabalho se manifesta de várias formas. Segundo Durkheim (1999) une indivíduos em áreas tão diversas como a economia, a família e a política, mas também se configura na divisão de tarefas, considerado como um fenômeno muito amplo que afeta o mundo inteiro. Através de numerosos exemplos, o autor supracitado apresenta as dimensões sociais da divisão do trabalho. Vejamos algumas situações. TABELA 1 - AS DIMENSÕES DA DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO Relações entre amigos Baseiam-se na complementaridade, cada um desempenhando um pa- pel que não é definido pelo outro (caráter, interesses, entre outros) e aproveitando ao máximo suas habilidades. A divisão do trabalho tem aqui um efeito moral, ela cria solidariedade entre duas ou mais pessoas. Relação familiar Neste caso, destacamos a relação de casal em que cada cônjuge as- sume uma função que permite um equilíbrio relacional dentro do casal, assim a divisão do trabalho é sexual, visa criar e fortalecer a solidarie- dade conjugal. Relação política Aqui, cada político tem uma função em seu nível de investidura que complementa os outros, por exemplo, o ministro complementa o traba- lho de um conselheiro regional. As funções políticas são assim comple- mentares umas às outras. Cada um traz sua contribuição (competência, ideias, notoriedade,) para o edifício político. Fonte: Durkheim, 1999, p. 117. 24UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Caro(a) aluno(a), entender a divisão social do trabalho a partir das teorias de Durkheim faz muito sentido, visto que houve um aprofundamento para entender a socieda- de, porém, agora vamos destacar este conceito na visão de Karl Marx. 2.4 Divisão Social do Trabalho para Marx Karl Marx, nascido em Tréveris na Alemanha em 1818 foi um grande filósofo e revo- lucionário socialista, criador da base comunista e um crítico ao sistema capitalista teve suas teorias aprofundadas pelas diversas áreas do conhecimento, principalmente no Serviço Social que tem em seus fundamento metodológicos as teorias marxista. Dentre seus estudos, Marx (1988) destaca que é gerado uma hierarquia social a partir das especialidades da qual a classe dominante (burguesia) estabelece sobre a classe dominada (proletariado), detendo os meios de produção. Essas especializações estabelecem atividades produtivas e uma sociedade complexa que para o autor passa a ser compreendida como divisão social do trabalho que por um lado utiliza-se da moral e do outro a ordem. O fato é que com a divisão social do trabalho os indivíduos acabam buscando meios de sobrevivência como forma de superar as necessidades mais básicas até identificar que precisam criar outras formas de superação. Para que esse contexto possa fazer sentido para você, vejamos um trecho do que Marx (1988, p. 101) nos apresenta em seu livro O Capital - volume 01 em que “no conjunto dos diferentes valores de uso ou corpos de mercadorias aparece um conjunto igualmente diversificado, dividido segundo o gênero, a espécie, a família e a subespécie, de diferentes trabalhos úteis – uma divisão social do trabalho”. Mas o que isso exatamente quer dizer? Ora, caro(a) aluno(a) é a partir da divisão que se tem a produção de mercadorias e após o processo de finalização chega-se ao valor de uso determinado na atividade produzi- da pelo trabalho útil, ao analisarmos a sociedade, identificamos produtores de mercadorias que tem em seu processo a execução de uma determinada atividade de forma separada, nesse caso, os trabalhadores precisam satisfazer uma determinada necessidade social, ou seja, “conservar a si mesmos como elos do trabalho total, do sistema natural-espontâneo da divisão social do trabalho” (MARX, 1988, p. 123). No entanto, ao analisar as informações acima, podemos compreender que os trabalhadores só podem satisfazer as necessidades dos proprietários (donos dos meios de produção) quando o trabalho passa a ser privado, no entanto estes trabalhadores não podem se comparar como produto de trabalho, pois seus valores ou o tipo de troca é diferente, ou seja, os trabalhadores oferecem o seu tempo por um salário e em troca da venda da força de trabalho, a qual é realizada por meio de um processo de produção. 25UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Nesse sentido, pode-se compreender que na divisão social do trabalho as tarefas tor- nam-se unilaterais e ao mesmo tempo multilaterais, ou seja, o processo de produção é único, mas a realização é diversa, considerando o trabalho como valor de troca, dentro do meio de produção que passa a ser fragmentada, mas, originalmente distintas e independentes entre si. Segundo Marx (1988) o lema do “capital” não é um clima tropical e um solo fer- til, mas a diversidade em seus produtos e isso é a base natural para a divisão social do trabalho, pois incentiva o homem a mudar as suas condições naturais em que vive, pela diversificação da sua vida. Sistema este que precisa controlar a força natural na sociedade e manter a sua relação social com o trabalho. 26UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 3. CAPITAL - UMA RELAÇÃO SOCIAL DE TRABALHO Caro(a) aluno(a), este primeiro significado da palavra capital está na origem de ex- pressões como “capitalismo ou sociedade capitalista”, que designam um sistema econômico em que os meios de produção são, em grandeparte, de propriedade de indivíduos privados. Essas pessoas, os capitalistas, contratam trabalhadores, compram matérias-primas sendo os detentores dos locais, para produzir bens com o objetivo de obter lucro, nesse sentido, o sistema capitalista é, portanto, aquele que governa, pois tem os meios para fazê-lo. Nessa perspectiva, Marx (1988) destaca que a sociedade passa a ser concebida como um conjunto de classes sociais, sendo a principal divisão entre os proprietários dos meios de produção (burgueses) e aqueles que vendem sua força de trabalho a eles (os assalariados). Entre os primeiros, pode-se fazer uma distinção entre os próprios capitalistas (que têm o poder de comprar os ingredientes da produção, incluindo a mão-de-obra) e os proprietários de terras, minas e outros recursos naturais (alugados aos capitalistas), cuja remuneração é descrita como aluguel. A visão de classe da sociedade e as relações entre eles em termos de produção desempenha um papel importante nas análises dos fundadores da economia política, como Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823), e nas de Karl Marx (1818-1883), que colocaram ênfase particular no capital como relação social. Para eles, o produto da sociedade, essencialmente fruto do trabalho, é compartilhado entre as três grandes classes sociais de trabalhadores, capitalistas e latifundiários. 27UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Essa divisão depende, de forma complexa, do equilíbrio de poder entre grupos so- ciais, do salário de subsistência dos trabalhadores e da existência de uma tendência e a divisão do trabalho parece ser um elemento essencial para compreender os mecanismos que levaram ao surgimento do capitalismo e da indústria em larga escala em nossas sociedades. Caro(a) aluno(a), a análise da indústria feita por Smith (1996) e Marx (1988) nos permite compreender melhor o trabalho e a abordagem contida no processo industrial. De um lado, temos análise de Smith, em que a harmonia social nasce do mercado e, do outro, a análise de Marx, em que há exploração e alienação do trabalhador. Esses dois autores são frequentemente apresentados como irredutivelmente opos- tos. No entanto, essa oposição é um tanto artificial na medida em que ambos nunca se encontraram, ou tiveram um diálogo e, menos ainda, nunca discutiram. E, mesmo assim, as suas análises sobre o sistema capitalista e a relação com o trabalho ainda é um tema que até hoje está sendo debatido, principalmente dentro da nossa categoria profissional. O fato é que a relação que o capital tem com o trabalho é o de exploração, pois quando se tem um aumento da força produtiva, consequentemente, há um aumento do lucro do capital. Nesse sentido, esse sistema vive quase que exclusivamente dos “meios de trabalho que podem suportar muito facilmente uma quantidade de trabalho aumentada” (MARX, 1988, p. 445). 3.1 Capital e Trabalho De acordo com Marx (1988) existem dois formatos que originam a riqueza do capital, o trabalho e a terra, sendo por meio desses, que o sistema capitalista adquire o poder de expansão, ampliando elementos cumulativos, além dos limites aparentemente determinados pela sua própria grandeza, ou seja, pela qualidade do valor e dos meios de produção. Outro fator importante destacado pelo autor supracitado, é a acumulação de capital e o grau de produtividade do trabalho social. Nesse sentido, à medida que a produtividade do trabalho aumenta, a quantidade de produtos que representam um determinado valor também aumenta, como isso, temos a ampliação da mais-valia de uma determinada quantidade. Mas, se a proporção dos pro- dutos excedentes divididos em renda e capital adicional permanecer a mesma, o consumo capitalista aumentará sem reduzir o processo de acumulação, ou seja, a escala proporcional da acumulação pode crescer a partir do consumo e do baixo custo das mercadorias, per- mitindo que o capital obtenha o mesmo ou até aumentar o seu grau e meios de satisfação através da produção em massa. 28UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Caro(a) aluno(a), é importante compreender que o aumento da produtividade do tra- balho é acompanhado por uma diminuição dos custos do trabalho, portanto, mesmo que os salários aumentem, a taxa de mais-valia também aumentará, esse aumento não acontecerá na mesma proporção que a produtividade do trabalho. Portanto, o mesmo valor do capital variável irá gerar mais trabalho, manifestando-se constantemente nos meios de produção, ou seja, mais meios de trabalho; materiais de trabalho e materiais auxiliares, proporcionando, assim, mais fabricantes de produtos e de valor e/ou absorvedores de trabalho. Marx (1988) apresenta alguns fatores imprescindíveis, o primeiro, é partindo da analogia do valor do capital adicional que mantém um ritmo constante e decrescente, ten- do uma acumulação acelerada, não ocorrendo apenas na escala de reprodução, mas na produção de mais-valia que passa a crescer rapidamente em relação ao valor do capital adicional. Com isso, o desenvolvimento do trabalho produtivo também responde ao capital original ou ao capital já descoberto, principalmente no processo de produção, nesse sen- tido, uma parte do capital passa a ser constante em operação e composta nos meios de trabalho, passando a ser consumidos em um período de tempo relativamente longo, sendo reproduzidos ou substituídos por novas cópias do mesmo tipo. O que nos leva a compreender um outro fator destacado pelo autor supracitado, do qual podemos considerar importante, é que uma parte dos meios de trabalho que pode atingir a meta final de uma função produtiva, mas o que isso exatamente nos apresenta? Ora, caro(a) aluno(a), é essa parte que se destaca na fase produtiva diária, repondo novas mercadorias do mesmo formato, agora imagina se essa mesma função produtiva for ampliada em alta escala, adquirindo mais máquinas, aparelhos e técnica, substituindo o trabalho humano de uma forma mais eficaz, considerando que o volume de um determinado rendimento passe a ser mais barato. Isso nos leva a considerar que podemos ter mais desempregos e, ao mesmo tempo, um sistema capitalista com um processo mais produtivo “abstraindo das contínuas alterações de detalhes nos meios de trabalho existentes” (MARX, 1988, p. 447). Com isso, temos um aumento na exploração da força de trabalho e, ao mesmo tem- po, uma potência de ampliação do capital, cuja potência originou-se a partir do processo de renovação, ou seja, o capital passou a se incorporar de uma forma mais rápida a partir da progressão social e do aperfeiçoamento do seu formato antigo (pré- indústria) e, ao mesmo tempo, da depreciação de alguns capitais em desenvolvimento. Na proporção que essa depreciação acontecia, a concorrência se torna menor, acelerando ainda mais o acúmulo dos grandes capitalistas, porém esse processo era mais penoso para os trabalhadores, pois, com isso, buscava-se aumentar os meios de produção aumentando, assim, a exploração. 29UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Com isso, o trabalho passou a transferir para o produto o valor real dos meios de produção, porém, esse valor e a produção em massa só podem ser considerados com uma crescente, a partir do momento que a proporção do trabalho se torna mais produtivo, ou seja, mesmo que a quantidade de trabalho passa a agregar um valor em um determinado produto ele só passa a ter lucro quando a produção é feita em massa e em um formato mais acelerado e constante. SAIBA MAIS Quando um trabalho é realizado em massa, o seu valor está na quantidade e no tempo gasto pela produção. Por exemplo, dois trabalhadores realizam a mesma função com a mesma quantidade de horas e na mesma intensidade, ambos gastam 1 dia para produ- zir uma determinada mercadoria, neste sentido os valores são considerados iguais, mas o lucro passa a ser maior. Fonte: Elaborado pelos autores. Caro(a) aluno(a), é importante compreenderque dentro do sistema capitalista a sua relação com o trabalho passa a ser considerada a partir da ampliação da eficiência do volume e dos meios de produção através da força do trabalho. Nesse sentido, o processo de acumulação do sistema capitalista permanece constante e perpétuo, em que, de um lado tem a força do trabalho da qual conserva o capital e, do outro, a venda dessa força para manter a própria sobrevivência, considerando que “todas as forças do trabalho se projetam como forças do capital, assim como todas as formas de valor se projetam como formas de dinheiro” (MARX, 1988, p. 448). Também podemos destacar a importância de compreender que, com o aumento do capital tem-se a ampliação da produção em massa e o valor de trabalho empregado, nesse sentido, acaba ficando difícil de distinguir o trabalho dos meios de produção capitalista do caráter escravista, visto que a força de trabalho é realizada em conjunto, ao mesmo tempo, e com um grande nível de produção para manter a lucratividade do capital. O que nos leva a analisar que o grau de exploração da força de trabalho e a produção em massa em relação ao mais-valor passa a ser determinado pelo número de trabalhadores sendo explorados em conjunto e cada vez que aumenta-se este número, há um aumento da 30UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho grandeza do capital e quanto mais o capital cresce através do processo de acumulação, mais tem-se a soma do valor atribuído no processo de produção, levando o sistema capitalista ao nível de controle, tanto nos meios de produção quanto no consumo adquirido. O trabalho é fundamental na vida do ser humano, o fato é que, através do capital, houve uma modificação na sua essência, tornando o homem dependente dos meios do trabalho e trocando o seu tempo e força para manter a sobrevivência por meio de valor fixo e, paralelo a isso, ampliando a lucratividade do capital por meio da produção em massa, o que nos leva a considerar que, para melhor efeito em relação ao aumento do lucro do capital, é preciso manter uma grande massa de trabalhadores a seu favor, aceitando receber qualquer coisa em troca de trabalho, se sujeitando às piores tarefas para manter a sua sobrevivência e/ou de seus familiares, com isso, o capital cria um grande exército de trabalhadores a seu favor, assunto que vamos abordar a seguir. 31UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 4. EXÉRCITO DE RESERVA Caro(a) aluno(a), na origem do capital, a sua acumulação era entendida com uma ampliação quantitativa, porém com o passar dos anos houve a busca pelo aumento da sua riqueza, necessitando de uma produção mais específica e que correspondia à força produtiva do trabalho em massa. Com isso, o capital passou de um sistema simples para um sistema complexo, ampliando, cada vez mais, o seu modo de produção e precisando de uma grande massa de trabalhadores para aumentar ainda mais a sua base de lucros. Nesse sentido, o capital busca por ampliar a sua escala de produção através do desenvolvimento da força produtiva do trabalho por meio de um volume crescente de traba- lhadores, com isso quanto maior o número de pessoas disponíveis para realizar o processo de produção, maior é a lucratividade do capitalismo, visto que, quanto maior a procura, menor as dispensas que o capital tem em relação ao valor pago pela força de trabalho, criando, assim, um exército de reserva, principalmente, se esse sistema tem ao seu favor, a superpopulação. 32UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 4.1 Superpopulação, uma Produção Progressiva Mas se uma população trabalhadora excedente é um produto necessário da acumulação ou do desenvolvimento da riqueza com base capitalista, essa superpopulação se converte, em contrapartida, em alavanca da acumulação capitalista, e até mesmo numa condição de existência do modo de produção capitalista. Ela constitui um exército industrial de reserva disponível, que per- tence ao capital de maneira tão absoluta como se ele o tivesse criado por sua própria conta (MARX, 1988, p. 462). Caro(a) aluno(a), como você pode observar se existe um grande volume de traba- lhadores que excede na sociedade acaba, se tornando algo favorável para que o capital avance com o seu acúmulo de riquezas, quanto a esse volume de trabalhadores, o autor supracitado aborda como superpopulação que, de certa forma, passa a pertencer ao capital de um jeito tão natural que passa a ser entendido como algo criado pelo próprio capital e, é a partir dos conceitos desse grande filósofo, que vamos nos aprofundar a seguir. Para Marx (1988) o sistema capitalista, de certa forma, acaba fornecendo as necessi- dade variáveis das quais valorizam a força de trabalho convertendo-a em forma de exploração e, isso, se tinha independentemente do aumento da população, o fato é que, a partir desse aumento, a lucratividade, o capital passaram a sofrer uma aceleração ainda mais rápida, pois esse sistema se beneficiou da superpopulação para aumentar a sua expansão. Nesse sentido, o autor supracitado enfatiza que a superpopulação provoca uma aceleração na expansão do capital, a partir da produção em massa, no entanto, é destaca- do que independente de ter a maior ou menor absorção em relação ao exército industrial de reserva, o capital consegue converter em um grande processo de produção e reprodução, o que nos leva a considerar que a produção capitalista não está ligada à quantidade de força de trabalho disponível através do crescimento natural da população, mas, sim, o que é feito através desta disponibilidade para que se mantenha o aumento da lucratividade. Um fato importante que se deve ter em mente, caro(a) aluno(a) é que o salário é regulamentado a partir da expansão e contração do exército industrial de reserva, nesse sentido, é preciso analisar tanto a troca constante dentro dos meios de produção quanto a busca pelo trabalho produtivo, identificando o número absoluto da população que pode trabalhar, versus o número de trabalhadores ativos e não ativos (reserva), não deixando de considerar o aumento e/ou a redução da superpopulação. A partir dessa análise, é que se chega ao valor do salário, mantendo os trabalha- dores ativos sob pressão através da produção e os não ativos como meio de garantir a lucratividade e, ao mesmo tempo, os não ativos pressionando os ativos. Nessa análise, ainda, pode-se considerar que a superpopulação relativa é um pano de fundo que acaba movendo a lei da oferta e da demanda em relação ao trabalho. “Ela reduz o campo de ação dessa lei a limites absolutamente condizentes com a avidez de exploração e a mania de dominação próprias do capital” (MARX, 1988, p. 467). 33UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 4.2 Capital, uma Fonte Regular da Produção de Riqueza Conforme destacado anteriormente e de acordo com as teorias de Marx (1988) com a superpopulação tem-se uma produção crescente, da qual o autor a vê como uma das leis da acumulação capitalista e/ou uma fonte que regula a produção de uma grande riqueza, da qual a superpopulação está ligada ao crescimento da grande indústria capitalista, sendo indispensável para esse sistema em vários estágios do ciclo de reprodução do capital, ao ponto de criar um meio de produção capitalista, a partir de um exército industrial de reserva que pertence ao ca- pital como se o tivesse levantado e disciplinado às suas próprias custas, fornecendo a matéria humana através da sua força de trabalho que passa a ser explorável e disponível. Marx (1988) aponta que a massa subempregada, sempre coexistiu com o excesso de mão-de-obra imposto à fração da classe assalariada que está em serviço ativo e au- mentou a pressão para forçar os trabalhadores a se submeterem mais obedientemente às ordens do capital. Sem a resistência dos trabalhadores, a não exploração do ocioso leva e amplifica mecanicamente a superexploração dos trabalhadores. Nesse sentido, o autor supracitado cita um folheto de 1863,o qual foi escrito por trabalhadores das fábricas têxteis de Bolton, na região de Manchester, protestando contra o desejo dos patrões locais de aumentar suas horas de trabalho de 12 para 13 horas por dia, enquanto milhares de seus camaradas ficaram sem trabalho. As vítimas do trabalho excessivo sentem a injustiça tanto quanto aqueles que estão condenados à ociosidade forçada. Se o trabalho fosse distribuído de forma justa, haveria trabalho suficiente nesse distrito para que todos tivessem uma parte. Em relação a escrita mencionada pelo autor supracitado, observou-se que os traba- lhadores estavam pedindo o direito e convidando seus mestres a encurtar o dia em geral, enquanto a situação atual durar, em vez de esgotar alguns com trabalho e forçar outros, por falta de trabalho, a viver do alívio da caridade. Finalizando a escrita, os trabalhadores enfatizaram que diante do modo de produção que realizam devem trabalhar mais que os burgueses da época, eles responderam com a demanda de bom senso para a distribuição do trabalho entre todos. Mas para Marx (1988) todos aqueles que permaneceram fiéis às perspectivas co- munistas que ele havia traçado, a única maneira de acabar com o desemprego e todos os outros flagelos ligados à exploração capitalista era abolir o trabalho assalariado. Exigências destinadas a afrouxar o estrangulamento da exploração eram objetivos de luta inseparáveis a partir dessa perspectiva. 34UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho De fato não tem como negar que o capital é uma fonte reguladora da produção de riqueza a qual traz consigo a exploração, a mão-de-obra barata e um exército ativo e não ativo, mantendo os trabalhadores a seu poder e se apropriando do processo de superpo- pulação para que a sua riqueza possa aumentar, não tendo a consciência dos problemas sociais e do desemprego gerado simplesmente para garantir o poder. 4.3 Desemprego e o Subemprego Caro(a) aluno(a), ao longo do século XX, o desemprego e todas as formas de subemprego que o acompanham têm permanecido características quase que duráveis na economia capitalista, os revolucionários ativistas comunistas eram constantemente con- frontados com esse problema. Em 1917, diante do colapso da economia capitalista e da ameaça de fome, a classe trabalhadora russa respondeu impondo seu controle através de suas organizações, comitês de fábrica e soviets, controle dos trabalhadores sobre a duração do horário de trabalho, contratações, demissões e, de modo mais geral, sobre a produção. Isso foi efetivo na maioria das grandes empresas, mesmo antes do Partido Bolchevique tomar o poder em outubro. Durante a crise dos anos 30, o desemprego em massa, afetou um terço dos tra- balhadores, tornou-se o sintoma mais concreto, mas também o mais brutal, do grau de decomposição de uma economia baseada na propriedade privada dos meios de produção e da lei do lucro. Como todas as crises de superprodução no capitalismo, esta Grande De- pressão resultou na destruição (ou interrupção) de vastas forças produtivas, bens e culturas que não podiam mais ser vendidos nos mercados. A partir desses fatos, houve o estatismo que veio em socorro da burguesia, na forma brutal do fascismo e do militarismo em vários países europeus, notadamente na Alemanha, e na forma da política do New Deal de construção em larga escala e da injeção massiva de fundos no sistema bancário nos EUA. Mas na véspera da Segunda Guerra Mundial Imperialista, o desemprego ainda afetava, segundo os números oficiais, mais de dez milhões de trabalhadores, ou quase 17% da população ativa. Somente a marcha para a guerra e a militarização da sociedade de alguma forma remediaria isso. Mas foi para mergulhar a humanidade de volta em uma barbárie mais mortal do que aquela que havia devastado o mundo um quarto de século antes. O relativo boom na produção que se seguiu à Segunda Guerra Mundial levou ao relativo desaparecimento do desemprego nas principais cidadelas do imperialismo. A bur- guesia teve mesmo que recorrer novamente a vários países, como França, Grã-Bretanha 35UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho ou Estados Unidos, onde este fluxo tinha sido interrompido no ano 1920, a uma força de trabalho imigrante, atuando como um exército de reserva. Especialmente porque o campo, que já havia sido amplamente esvaziado de sua força de trabalho, não podia mais fornecer a mão-de-obra que estava faltando. Mas desde o início dos anos 70, a crise de superprodução, com seu rastro de fa- lências e redundâncias, que muitos economistas consideravam ser uma coisa do passado, voltou a atingir. E, desde então, apesar dos curtos períodos de recuperação na produção e no comércio, principalmente ligados a uma nova fase da globalização, o desemprego em massa e o subemprego nunca deixaram de pesar sobre a condição da classe trabalhadora. Na primeira potência imperialista, os Estados Unidos, dados oficiais se escondiam atrás do chamado pleno emprego, que os economistas definem quando a taxa de desem- prego é inferior a 3% ou mesmo 5%, o crescente empobrecimento de uma grande fração dos trabalhadores. Todos os governos têm à sua disposição uma ampla gama de instrumentos para fingir “resolver” ou “reverter” o desemprego. Os trabalhadores mais velhos foram colo- cados em situação de aposentadoria antecipada ou isentos da procura de emprego, outros foram colocados em situação de invalidez, baralhados de treinamento para treinamento e retirados das estatísticas. Essa camuflagem estatística foi acompanhada de repetidos ataques aos trabalhado- res: reduções drásticas nos direitos e benefícios dos desempregados, desafios à legislação trabalhista e a muitos limites legais sobre demissões, inclusive no serviço público, horários de trabalho flexíveis, generalização do trabalho a tempo parcial imposto, congelamento de salários etc. Em todos os lugares, na ausência de uma reação maciça dos trabalhadores, a mesma tendência tem sido observada. Os países desenvolvidos em que os números oficiais do desemprego caíram são aqueles como os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a Alemanha ou a Holanda. Essa política tem sido empurrada mais longe, na maioria dos casos com a passividade ou mesmo a cumplicidade ativa das burocracias sindicais. Os símbolos desse desenvolvimento são os contratos de zero horas no Reino Unido, sob os quais o trabalhador deve permanecer à disposição do empregador sem que esse seja obrigado a garantir um tempo mínimo de trabalho, ou as reformas Harz na Alemanha no início dos anos 2000, que permitiram aos empregadores aproveitar uma força de trabalho remunerada de apenas um euro por hora, e que transformaram mais de dez milhões de empregados em trabalhadores pobres. 36UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Apesar do crescente empobrecimento e da explosão do desemprego, continuam fingindo que a redução dos salários garante a manutenção do emprego para a maioria. Centenas de milhares de trabalhadores foram colocados em uma situação de desemprego quase permanente, com trabalhadores mais velhos esperando para receber suas aposen- tadorias, mas sem serem removidos da força de trabalho. 4.4 Desemprego no Modo Capitalista de Produção Caro(a) aluno(a), se observar, no período de expansão das forças produtivas capita- listas, a manutenção de grandes contingentes de desempregados, expulsos das empresas ou deixados às suas portas, Marx e Engels falam de um exército de reserva industrial à disposição da burguesia em sua luta contra a classe trabalhadora. O termo sublinhou como as relações entre as classes eram violentas e como não havia outra saída a não ser uma luta até a morte. Também sublinhou um grande problema para o proletariado: como lidar com a competição entre trabalhadores, imposta pela bur- guesia, como evitar que os mais isolados, os menos conscientes, os mais famintos sejam alistados pelas classes possuidoras, e como ganhar esta fraçãodo proletariado para a luta comum contra o capitalismo e pelo comunismo? Os fundadores do socialismo científico demonstraram que, longe de ser um aciden- te, um fenômeno imprevisível ou marginal, o desemprego é inseparável da produção capi- talista. É uma característica do sistema salarial que eliminou todas as formas de obstáculos à liberdade dos empresários de contratar e demitir trabalhadores. Friedrich (2010) em sua obra a situação da classe trabalhadora na Inglaterra foi o primeiro a mostrar o papel desta “reserva de trabalhadores desempregados”.Por um lado, tornou possível aumentar a produção em períodos de alta atividade, fornecendo trabalha- dores prontos, ao mesmo tempo em que deixava os patrões livres para reduzir a atividade em outros momentos, jogando uma fração da força de trabalho na rua. Essa reserva, salientou o autor supracitado que a população excedente é compos- ta por pessoas que vegetam dolorosamente, mendigando e roubando, varrendo as ruas e pegando esterco, fazendo pequenos carrinhos com um carrinho de mão ou um burro, vendendo nas esquinas das ruas, ou fazendo algum trabalho ocasional estranho. Por outro lado, a existência dessa reserva permitiu à burguesia exercer pressão constante sobre os trabalhadores, ameaçando remover todos aqueles que lhe resistiram e substituí-los por trabalhadores ansiosos por encontrar um meio de subsistência, e manter os salários, o mais próximo possível do mínimo, estritamente necessário para permitir a reprodução da força de trabalho. 37UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho O movimento operário teve que travar uma longa luta para neutralizar ou vencer os grevistas, os proletários lumpen reduziram a grande aflição material, física e moral que os “reis das minas e das ferrovias” lançaram contra os trabalhadores. Esse exército de reserva também foi alimentado pelo êxodo rural que esvaziava o campo em países onde a industrialização avançava em ritmo acelerado. O fim da servidão na Rússia em 1861, sob pressão do capitalismo ocidental, e a abolição da escravidão nos Estados Unidos quatro anos depois, por sua vez, libertou mi- lhões de mãos anteriormente amarradas à terra e sujeitas ao jugo de grandes latifundiários. A chegada e o movimento contínuo de trabalhadores migrantes em países onde a indústria estava crescendo era uma fonte final desse fornecimento. 38UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim da primeira unidade e esperamos que os estu- dos apreendidos tenha auxiliado na compreensão do porquê estudar esses assuntos que dentro do Serviço Social e, até mesmo, quando estiver atuando como assistente social possa lhe fazer sentido, entender os conceitos e as teorias de grandes pensadores é fun- damental para a nossa profissão. Como forma de fazer entender e fixar os conteúdos estudados nesta unidade, vamos recapitular alguns pontos importantes apreendidos. O primeiro refere-se ao trabalho como fundamento ontológico do ser social e para entender foi preciso nos aprofundar, dividindo esse assunto em três subtópicos, o trabalho e seus fundamentos, a ontologia a partir da concepção de Marx e, por fim, o ser social, autor principal de todo esse enredo. Na segunda parte, foi aprofundada sobre a divisão social do trabalho, fator impor- tante para compreender como o capital mantém se no poder, aumentando a sua lucrativi- dade e mantendo-se no poder e, para entender essa parte, dividimos em quatro subtópicos, compreendendo a origem e a função da divisão social do trabalho, bem como esse conceito a partir da visão de Durkheim e Marx. Já na terceira parte, foi apresentado o capital e a sua relação com o trabalho e para entendê-la foi preciso entender o trabalho e o capital em um contexto de relação e, ao mesmo tempo, de exploração e aumento de lucratividade, que deve ser analisado dentro da profissão essa relação, buscando entender como ela acontece dentro da sociedade. E, por fim, apresentamos a quarta parte, a qual nos aprofundamos em um conceito de Marx sobre o exército de reserva e para isso foi preciso compreender o que a superpo- pulação tem a ver com a criação de um exército de trabalhadores ativos e não ativos, bem como o capital como uma fonte reguladora dos meios de produção, gerando o desemprego e, ao mesmo tempo, o modo de produção e um exército industrial de reserva para se manter no poder. Esperamos que este estudo tenha lhe ajudado! Um forte abraço. 39UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho LEITURA COMPLEMENTAR Trabalho e desemprego: tendências atuais Considerando que a desigualdade social advém da relação contraditória entre capital e trabalho, são necessárias algumas reflexões sobre o trabalho e o seu lugar cen- tral na constituição da vida social na sociedade capitalista para podermos compreender o desemprego como uma das muitas expressões advindas do antagonismo entre essas duas classes sociais. O trabalho compreendido em sua dimensão concreta, como elemento que possibilita ao homem tornar-se sujeito diante da natureza, se objetiva teleologicamente para atender as necessidades do ser social na sua relação com a natureza que, por sua vez, ao executar essa tarefa cria novas necessidades e novas alternativas. Dessa forma, ele é considerado a protoforma do ser social, um componente inseparável dos seres sociais (ANTUNES, 2000). Entretanto, na sociedade capitalista, é visto a partir da sua dimensão abstrata, que o coloca como elemento que cria valores de uso e troca. Aqui ele perde o seu caráter útil, a sua concretude, como intercâmbio entre o homem e a natureza na produção de coisas socialmente necessárias. O que resta, portanto, é apenas ser dispêndio da força humana produtiva, física ou intelectual, socialmente determinada. Na dimensão abstrata, o valor de uso é subsumido ao valor de troca, como elemento criador do valor das mercadorias (ANTUNES, 2000). Nesse sentido, o labor permanece como componente fundamental para a sociabili- dade humana. É por meio dele que o ser humano se constitui e realiza suas potencialidades. Entretanto, na sociabilidade do capital, a mercantilização dos bens, serviços e produtos, e a exploração da força de trabalho possibilitam novas configurações para as relações sociais, que passam a ser mediadas pela relação coisificada e alienada entre compradores e vendedores da força de trabalho, e baseadas em relações de troca. Dessa forma, o trabalho se realiza com o objetivo da produção de mais-valia e reprodução ampliada do capital (GUIRALDELLI, 2014). O trabalho, na contemporaneidade, enquanto força produtiva, configura-se pela flexibilização, na qual os trabalhadores e as trabalhadoras devem aderir integralmente ao projeto do capital, processo que amplia o trabalho alienado e precarizado. Antunes (2000) afirma que: 40UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho Criou-se, de um lado, em escala minoritária, o trabalhador “polivalente e mul- tifuncional” da era informacional, capaz de operar com máquinas com con- trole numérico e de, por vezes, exercitar com mais intensidade sua dimensão mais intelectual. E, de outro lado, há uma massa de trabalhadores precari- zados, sem qualificação, que hoje está presenciando as formas de part-time, emprego temporário, parcial, ou então vivenciando o desemprego estrutural (ANTUNES, 2001, p. 43). Compreende-se que as “[…] profundas alterações no mundo do trabalho podem ser observadas, com queda no ritmo de crescimento e acentuados níveis de desemprego e miséria da população, o que contribui para o aprofundamento e agudização da questão social.” (GUIRALDELLI, 2014, p. 101). Nesse cenário, por um lado, a reprodução do capital é marcada pelo crescimento téc- nico-científico e desenvolvimento econômico e, por outro, se aprofundam a miséria, violência, exploração, opressão e degradação do trabalho. “Ou seja, a questão social, entendida como o conjunto dos antagonismosexpressos na relação capital versus trabalho se manifesta com novos contornos, acirrando as desigualdades sociais.” (GUIRALDELLI, 2014, p. 104). Santos (2012, p. 174) analisa o desemprego como o “não trabalho” resultante da ausência do ato de compra e venda da força de trabalho, e que é um componente estrutural do capitalismo ao “resultar de uma significativa quantidade de força de trabalho à disposição do capital, mas, fundamentalmente, do aprofundamento da precariedade e instabilidade dos vínculos”. Júnior e Nascimento (2013), denominam o desemprego crônico como a tendência contraditória e particularizada do capital na atualidade, e como uma das maiores proble- máticas do capitalismo periférico e dependente, em países como o Brasil, por exemplo. Segundo os autores: “as consequências sociais deletérias da tendência contraditória do capital, de expulsar grandes contingentes humanos dos processos de trabalho, mesmo nos países capitalistas centrais, são visíveis desde há algumas décadas.” (IBID., p. 21). A disputa pelo mercado de trabalho acentua-se à medida que aumenta o número de trabalhadores qualificados que estão fora dele. Na realidade brasileira, o desemprego crescente se expressa tanto pelo número de pessoas que não conseguem se inserir no mercado quanto por aqueles que são “expulsos” dos seus postos de emprego. O quadro a seguir apresenta os índices de desemprego no Brasil de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), comparando os dados de 2012 a março de 2019 observamos o aumento do desemprego de 7,9%, no primeiro trimestre de 2012, para 12,7% em 2019. Os anos de 2017 a 2019 apresentam os maiores índices de desemprego, em relação aos anos anteriores. O índice atual corresponde a 13,4 milhões de brasileiros sem trabalho. 41UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho TAXA DE DESOCUPAÇÃO NO BRASIL DE 2012 A 2019 Fonte: COUTINHO,Dalsiza Cláudia Macedo. ALVES, Giséli Ferreira. SANTOS. Rosemeire dos. Trabalho e desemprego no capitalismo: reflexões para o Serviço Social. In: O Social em Questão - Ano XXIII - nº 47 - Maio a Ago/2020. Disponível em: http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/OSQ_47_art_6.pdf. Acesso em: 24 set.2021. http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/OSQ_47_art_6.pdf 42UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Para uma ontologia do ser social I Autor: György Lukács. Editora: Boitempo - 2ª edição 2018. Sinopse: György Lukács é um dos maiores expoentes do pen- samento humanista do século XX e Para uma ontologia do ser social é a mais complexa sistematização filosófica de seu tempo. Considerada uma das mais importantes obras do filósofo húngaro, concebida no curso dos anos 1960, a Ontologia (como se tornou conhecida) significa o salto daquela intuída à ontologia filosofica- mente fundamentada nas categorias mais essenciais que regem a vida do ser social, bem como nas estruturas da vida cotidiana dos homens. Para uma ontologia do ser social pretende precisar os pontos do debate que agitaram o pensamento marxista nos últimos decênios. A Ontologia permitiu-lhe abordar a fundo esses pontos de dissenso e fornecer esclarecimentos acerca dos problemas essenciais do marxismo e dos fundamentos da própria evolução. LIVRO 2 Título: Economia Políticas: uma introdução crítica Autor: José Paulo Netto e Marcelo Braz. Editora: Cortez - 8ª edição - 2017. Sinopse: Essa obra permite a compreensão da constituição e do desenvolvimento do modo de produção capitalista, bem como das principais categorias de análise a partir das quais Marx elaborou sua genial crítica. Mantendo-se fiéis à impostação teórico-metodo- lógica do filósofo alemão bem como incorporando às suas lições o que mais fecundo produziu a chamada tradição marxista, os autores fornecem os elementos principais para o debate sobre as condições de existência do capitalismo e, o que é mais importante. de sua superação rumo a uma organização societária onde o ser social possa realmente ver-se emancipado dos processos alienan- tes e potencialmente barbarizantes impostos pelo capital. FILME / VÍDEO Título: Oliver Twist Ano: 2005. Sinopse: Oliver Twist é um órfão entre as centenas que sofrem com a fome e o trabalho escravo na Inglaterra vitoriana. Vendido para um coveiro, ele sofre com sua crueldade e acaba fugindo para Londres. Lá, ele é recolhido das ruas e levado a Fagin, um velho que comanda um exército de prostitutas e pequenos marginais. Um dia, Oliver conhece um bondoso homem em quem finalmente enxerga um possível pai, e Fagin teme que ele denuncie seu esquema. 43 Plano de Estudo: ● Perspectivas do trabalho por Marx e Durkheim; ● Trabalho e Alienação; ● Tempo de trabalho necessário; ● Reestruturação Produtiva. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar as perspectivas do trabalho a partir das teorias de Marx e Durkheim; ● Apresentar o que é trabalho e alienação; ● Contextualizar o tempo de trabalho necessário; ● Compreender o que é reestruturação produtiva. UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Professor Esp. Anderson de Castro Moura Professora Esp. Irení Alves de Oliveira 44UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 44UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta segunda unidade, você irá estudar pontos importantes sobre o trabalho na sociedade capitalista e, para entender melhor este assunto, faz-se necessário nos aprofundarmos nas bases teóricas de Karl Marx e Émile Durkheim e, para isso, dividimos esta unidade em quatro partes. Na primeira parte iremos abordar sobre a perspectiva de Marx e Durkheim em relação ao termo trabalho a partir do estudo sobre o comportamento da classe trabalhadora e as vantagens que o sistema capitalista adquiriu ao longo dos anos. Nesta parte, iremos nos aprofundar na concepção desses dois filósofos, dos quais a visão é diferente, mas que nos mostra uma realidade a qual vivenciamos nos dias atuais. Portanto, é de suma importância entender a visão de cada autor em relação ao trabalho X capital. Na segunda parte, vamos apresentar o conceito do trabalho e alienação, assunto muito bem abordado nas teorias de Marx, as quais vê o trabalho como algo que modifica o homem, mas com o sistema capitalista,os trabalhadores passaram a ser alienados de um processo, cujo seu fundamento é aumentar o lucro a partir da venda da força de trabalho. Já na terceira parte, iremos contextualizar o tempo de trabalho necessário, sendo destacado por Marx o valor excedente e valor relativo, enfatizando que o trabalhador oferece uma boa parte do tempo para produzir algo que levaria metade desse tempo, e isso só faz com que o trabalhador seja explorado pelo sistema capitalista que exige uma quantidade de horas/dia em troca de um salário que, na visão do autor, não há como ser beneficiado no processo de produção. Com isso, chegamos à quarta parte, na qual abordaremos sobre a reestruturação produtiva, fato que aconteceu na segunda metade do século XX com o sistema fordismo/ taylorismo, o qual passou a empregar diversos mecanismos com o avanço tecnológico, trazendo o conceito de que um trabalhador pudesse exercer diversas funções dentro da sua jornada de trabalho, aumentando, assim, o desemprego. A partir dessas informações, desejamos-lhe bons estudos! 45UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 45UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista 1. PERSPECTIVA DO TRABALHO POR MARX E DURKHEIM Caro(a) aluno(a), de acordo com os estudos aprendidos na primeira unidade deste livro, a partir dos fundamentos pode-se compreender que o “trabalho é a base fundamental do ser humano em meio à sociedade, pois é através do trabalho que o homem consegue criar e se desenvolver” (trecho da primeira unidade). Pois bem, agora que temos esse entendimento, vamos nos aprofundar no termo trabalho a partir da perspectiva de dois grandes pensadores, Karl Marx e Émile Durkheim, destacando o ponto de vistade cada um, compreendendo suas teóricas das quais foram apresentadas em tempos diferentes, mas que nos trazem uma abordagem tão atual quanto na época vivida, é importante destacar que as teorias de ambos são diferentes, mas com- plementam-se, principalmente, na nossa categoria profissional. Nesse sentido, Durkheim (1999) enfatiza que o trabalho nada mais é do que um fato social que além de estar presente e enraizado na sociedade, também é algo que foi imposto de uma forma ou de outra, mesmo que não há uma certa vontade de executá-la, promovendo, assim, uma coesão social e solidariedade. Já Marx (1988) observa que o trabalho é uma atividade da qual o homem emprega a força para produzir o seu meio de sustento, porém ao se aprofundar nessa concepção identifica-se que há exploração por parte do sistema capitalista alienação dos trabalhadores (assunto que vamos ver ainda nesta unidade), provocando a luta de classes. 46UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 46UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Caro(a) aluno(a), um fato importante é que os estudos de Durkheim surgem a partir da pós- revolução industrial; no início do capitalismo e no começo da formação da socie- dade moderna, basicamente no final do século XIX. E para entender os fatos sociais que estavam acontecendo nesta época, esse sociólogo francês passou a analisar o processo de migração do campo para a cidade e a integração de uma grande massa de trabalhado- res nas fábricas para desenvolver tarefas a partir de uma linha de produção, marcado pela especialização e a divisão do trabalho, ou seja, cada trabalhador tem uma determinada função a devolver. Com isso gera-se uma verdadeira teia de relações e a dependência do trabalho do outro, acendendo uma solidariedade entre os trabalhadores e desenvolvendo um sentimento mútuo e de união, permitindo que o processo de trabalho funcione como uma engrenagem “perfeita”, fazendo com que esse pensador identifique o trabalho como algo fundamental para o bom funcionamento da sociedade. Marx, também se aprofunda nos seus estudos basicamente no mesmo período histórico que Durkheim, porém esse filósofo alemão traz uma visão oposta, ou seja, que a segmentação, divisão do trabalho e a repetição de tarefas não produz a solidariedade e sim a exploração, a partir de um trabalho massivo e assíduo no qual o trabalhador não visualiza o trabalho realizado na totalidade, simplesmente pelo fato de executar apenas uma parte da linha de produção, desconhecendo o valor da mercadoria produzida pela parcela de trabalhadores, nesse sentido, esse pensador enfatiza que esse processo pode ser transformado a partir da tomada de consciência e da luta de classes. 1.1 O Trabalho na Concepção de Durkheim Caro(a) aluno(a), antes de entender a concepção do trabalho para Durkheim é importante compreender que há um ponto central na sociologia a qual esse sociólogo fez questão de enfatizar em seus estudos que são as condições de ordem e integração num tipo de sociedade caracterizada, em que, de um lado existe um sistema de valores democráticos e, do outro lado, o crescimento da desigualdade social como resultado do progresso inevitável da divisão do trabalho. Partindo dessa lógica é que esse autor supracitado começou com os seus primei- ros estudos, sendo destacados nas obras “As Regras do Método Sociológico” e “O suicidio” ambas de 1979, nessas obras, Durkheim pensou ter encontrado uma resposta satisfatória no clichê clássico da ideologia democrática, a igualdade de oportunidades. Contudo, em vez de procurar examinar em profundidade as condições para a realização daquilo a que ele próprio chamou “igualdade absoluta nas condições externas da luta”, preferiu analisar as 47UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 47UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista condições sócio-culturais em vez das condições sócio-económicas da aceitação da ordem social pelos actores. O lugar central dado à educação e, mais amplamente, à socialização nas obras que demonstram maior maturidade do intelectual a respeito. Segundo Durkheim(1999), a transição de uma forma de solidariedade para outra está enraizada no aparecimento e desenvolvimento da divisão do trabalho. Consiste na distribuição de diferentes papéis e funções (política, econômica, religiosa, social etc.) entre os membros da sociedade. Cada pessoa é especializada numa função que a torna comple- mentar às outras. Torna-se necessário devido ao aumento da densidade material e moral da sociedade sob a pressão do crescimento populacional. Sem contestar o interesse econômico da divisão do trabalho, Durkheim(1999) considera que a sua principal função é social. Deve produzir solidariedade, laços dura- douros entre indivíduos unidos através da definição de funções complementares. A divisão do trabalho gera uma nova forma de coesão social. Ao fazê-lo, Durkheim(1999) rejeita as análises dos economistas liberais que baseiam o vínculo social na procura do interesse individual e do mercado. A divisão do trabalho no sentido do autor supracitado é diferente da dos economis- tas. Enquanto Durkheim não o vê como um meio de aumentar a produtividade e a riqueza, ele o vê como um fenômeno social, baseado na partilha de funções anteriormente comuns a todos os indivíduos. Nesse sentido, a divisão do trabalho aumenta a solidariedade e a interdependência entre os membros de uma sociedade. Levando Durkheim (1999) ao destacar as formas ‘anômicas’ da divisão do trabalho: este é o caso quando o trabalho é repetitivo, o trabalhador é separado da sua família, e todos os casos em que a tarefa confiada ao indivíduo não lhe convém. SAIBA MAIS O conceito de anomia é um dos mais importantes da teoria Durkheiminiana, a qual ca- racteriza a situação em que os indivíduos se encontram quando as regras sociais que orientam o seu comportamento e as suas aspirações perdem a sua força. Fonte: Os Autores (2021). 48UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 48UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Buscando entender o funcionamento da divisão do trabalho na sociedade após o processo de industrialização, Durkheim (1999), compreendeu que o trabalho é um fato social, existente na sociedade independente do tipo cultural e, após observá-las, tanto as que possuem mais quanto as que menos divisão do trabalho, identificou-se que, os trabalhadores realizam funções específicas, dividindo-os em diferentes grupos funcionais e comportamentos sociais. Neste sentido, para este sociólogo, quanto mais especializado for o trabalho, mais desenvolvido é a divisão do trabalho, consequentemente maior será a rede de dependência entre os indivíduos, mantendo a sociedade em total harmonia, levando a uma coesão social, simplesmente pelo fato de existir uma colaboração na produção do trabalho, mantendo o consenso a partir do valores morais enraizados em cada tipo de sociedade. Valores estes que trazem na consciência do indivíduo que o trabalho é como um sinônimo de cidadania, ou seja, quem trabalha, logo é cidadão de direitos regidos por condutas moralistas que mantém o indivíduo em sã consciência. Este movimento foi nomeado pelo socialista como solidariedade, simplesmente pelo fato dos indivíduos se sentirem pertencentes a um grupo social e realizarem tarefas especializadas e distintas causando uma interdependência entre si, a qual Durkheim enfa- tiza a partir dos dois tipos de solidariedade: a mecânica e orgânica. Para entender melhor, vamos destacar a seguir sobre a coesão social e solidariedade. 1.1.1 Coesão Social Para o pai fundador da sociologia, a questão do vínculo social é a questão fundamen- tal no âmago de seu pensamento. Cada um deles a para entender em sua obra A Divisão do Trabalho Social, Durkheim (1999) cunhou a noção de coesão social para dar conta dos vários mecanismos que permitem que o conjunto social se mantenha unido. Seu pensamento ocorreu em um contexto históricoparticular caracterizado pelo risco crescente de ruptura da ordem social. O período foi marcado por numerosas e fortes tensões sociais geradas pela rápida industrialização que ameaçou o equilíbrio social. Para Durkheim (1999, p. 178) “à medida que as sociedades vão ganhando uma com- plexidade e uma multiplicidade de relações diversas, a divisão do trabalho aponta como uma nova forma reguladora das relações sociais”. O que nos leva a considerar que as relações sociais fazem parte da divisão do trabalho que, por sua vez, acaba promovendo uma coesão mais intrínseca e, ao mesmo tempo, proporciona um processo mais específico e individuali- zação, valorizando sua autonomia aparentemente, desde que se mantenha ativo. 49UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 49UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Como republicano comprometido, Durkheim diferencia-se politicamente tanto dos conservadores que queriam restaurar a velha ordem contra todas as probabilidades quanto dos socialistas revolucionários que teorizaram ao mesmo tempo que ele. Como teórico, participando da consolidação de uma nova disciplina para a qual ele queria obter reco- nhecimento acadêmico, ele procurou se diferenciar principalmente da economia política inglesa e secundariamente da ciência social alemã. A preocupação de Durkheim quando ele cunhou o conceito de coesão social foi, portanto, tanto política quanto teórica. Ele considerou que a economia política inglesa de inspiração liberal, herdada de Adam Smith, não possuía a chave para a regulamentação social, apesar de suas reivindi- cações. Segundo ela, a harmonia social resulta do livre intercâmbio entre indivíduos que obedecem essencialmente a seus interesses privados. Durkheim percebeu os riscos dessa leitura puramente comercial da sociedade e conheceu as consequências: miséria e supe- rexploração da classe trabalhadora, acumulação insolente de riqueza. Para ele, essa situação corre o risco de alimentar o desejo ilusório de retornar à velha ordem social ou de impor a igualdade através da coerção estatal. Ele tenta demonstrar que o raciocínio sociológico que leva em conta a inscrição social do mercado e o intercâmbio econô- mico no sentido amplo é mais gratificante intelectualmente e realista. Invertendo a perspectiva da economia liberal, ele faz dos indivíduos os produtos da sociedade, não de seus criadores. Somos assim levados a reconhecer uma nova razão que torna a divisão do trabalho uma fonte de coesão social. Ela não só une os indivíduos, como já dissemos até agora, porque limita a atividade de cada um, mas também porque a aumenta. Ele aumenta a unidade do organismo pelo simples fato de aumentar sua vida; pelo menos, no estado normal, ele não produz um desses efeitos sem o outro. Portanto, temos o convite de entender que a coesão social promove a integra- ção dos indivíduos, seu apego ao grupo e sua participação na vida social. Os membros compartilham um conjunto comum de valores e regras de vida que são aceitos por todos. É importante notar, claro(a) aluno(a), que a existência de conflitos sociais não significa ne- cessariamente a ausência de coesão social. A expressão “coesão social” é frequentemente usada para enfatizar o aspecto social de uma política sem a vontade de lutar contra as desigualdades. A ação política, quando faz parte do conservadorismo ou do reformismo, leva a uma recusa de mudança social em favor da pacificação e do controle social. A esse respeito, opõe-se à concepção marxista de luta de classes. 50UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 50UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista De acordo com Durkheim (1999) a coesão social está ligada no princípio da solida- riedade, isso porque o indivíduo é composto pela consciência, enraizada na sua essência e coletividade a partir dos inter-relacionamentos vivenciados ao longo de sua existência. Para o autor supracitado a coesão se dá pela identificação ao grupo do qual faz parte. Nesse sentido, pode-se considerar que a individualidade encontra-se quase que nula, já que a sociedade coloca-se de forma autoritária na nossa consciência. Um ponto importante que sustenta a base da coesão social, fazendo com que o indivíduo se mantenha em sã consciência é o caráter religioso moral. Nesse sentido, a reli- gião passa a ter um controle sobre o indivíduo a partir da sua consciência coletiva, agindo diretamente nas ações dos indivíduos à medida que a população aumenta e as relações intersociais se ampliam, com isso o indivíduo consegue desenvolver as suas tarefas no trabalho sem questionamento, sabendo que precisa manter a solidariedade. Segundo Durkheim (1999, p, 79) tem dois tipos de consciência. “A primeira repre- senta apenas nossa personalidade individual e a constitui; a segunda representa o tipo coletivo e, por conseguinte, a sociedade sem a qual ele não existiria”, por mais que ambas sejam consideradas distintas, estão ligadas uma na outra e se constituiu em uma única coisa, com isso, essas consciências passam a ser entendidas como um conceito solidário. Dessa forma, Quintaneiro (2002, p. 70) enfatiza os dois tipos de consciência abor- dados por Durkheim da seguinte forma: “uma é comum com todo o nosso grupo e, por conseguinte, não representa a nós mesmos, mas a sociedade agindo e vivendo em nós. A outra, ao contrário, só nos representa no que temos de pessoal e distinto, nisso é que faz de nós um indivíduo.” Ou seja, no primeiro tipo de consciência o indivíduo reage a partir da ação de outras pessoas e aqui podemos considerar o conceito da “prova social”, já na segunda é o que o indivíduo oferece para a sociedade, como, por exemplo, o caráter e a conduta ética, que são algo estabelecido no próprio indivíduo, mas “na medida em que o indivíduo participa da vida social, supera-se a si mesmo” e, com isso, o trabalho passar a ser algo fundamental para manter a ordem social. Ele distingue dois tipos de coesão: por um lado, aquela que se baseia na “solidarie- dade mecânica”, característica da antiga ordem na qual todos os indivíduos heterônomos aderem às mesmas crenças, têm os mesmos valores e costumes e, por outro lado, a “solidariedade orgânica”, característica da nova ordem social. Para ele, a velha ordem e a coesão que a caracterizavam estão acabadas, condenadas pela grande indústria. 51UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 51UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista O desenvolvimento da divisão do trabalho tornou possível reconstruir a coesão social sobre novas bases. A diferenciação dos indivíduos e sua autonomia em relação aos órgãos aos quais pertencem mudou a situação. A nova solidariedade deve ser baseada na compreensão da interdependência criada pela divisão do trabalho. Mas essa adesão não pode ser automática, depende das representações que os indivíduos têm de seu papel na divisão do trabalho e de seu lugar na sociedade. Para que essas representações permitam a coesão, a divisão do trabalho deve ser suportável e aceita e o Estado deve agir como um pedagogo, ou seja, propor uma representação confiável do corpo social e seu futuro e proteger os direitos dos indivíduos. Para Durkheim, portanto, se a divisão moderna do trabalho é a base da coesão social “orgânica”, essa condição está longe de ser suficiente. A nova ordem industrial não deve negar indivíduos ou levá-los à revolta. Acreditamos que você deve estar se perguntando, mas e a coesão social hoje, como ela está? Ora, ao contrário de seu uso, para Durkheimian, a coesão social, tal como é usada hoje, não visa mais propor uma forma construtiva de sair do conflito de classes que permitiria a sua superação. De fato, não é mais o confronto entre proletariado e burguesia que parece ameaçá-lo. O declínio histórico da classe trabalhadora e a fragmentação social mudaram a situação. Entretanto, a estabilidade social não parece ser mais segura e estão aparecendo novas linhas de falha que preocupamos governos e as organizações internacionais. No uso atual da noção de coesão social, é como se sua definição não fosse ne- cessária na medida em que é evidente e não precisa ser explicada da mesma forma que noções tão comuns como liberdade ou igualdade. Implicitamente, em seu entendimento comum, a coesão social tem três componentes: igualdade, vínculo social e unidade. Descortina-se um estado social no qual as lacunas entre indivíduos e grupos sociais são reduzidas ou pelo menos aceitáveis, e no qual os indivíduos estão inseridos em laços de pertencimento que lhes dão a sensação de serem membros plenos da mesma comuni- dade pacífica. A primeira condição é definida principalmente na negativa: não é a igualdade de condições ou renda que é necessária, uma situação que se postula ser utópica, mas um grau reduzido e, portanto, aceitável de desigualdade. A segunda e terceira condições, por outro lado, são medidas positivamente pela intensidade dos laços sociais e pela força do sentimento de pertença. Uma sociedade coesa seria, portanto, uma sociedade que minimiza a desigualdade e maximiza o capital social e o sentimento de pertencer a uma comunidade. Mais do que um estado passivo de paz social ou mesmo de harmonia, requer um alto nível de relacionamento entre seus membros, objetivos comuns e uma visão compartilhada do futuro. 52UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 52UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista A natureza aporética desse ideal parece escapar a seus promotores contemporâ- neos. A questão central do conflito e seu tratamento está, de fato, escondida, a menos que postulamos uma ausência de conflito que teria como contrapartida obrigatória a atonia das relações sociais. As únicas sociedades contemporâneas que se aproximaram deste Estado ou, mais precisamente, que o postularam, são as sociedades totalitárias, e a coesão social, no sentido de que seus promotores a entendem, pressupõe a democracia. Não resulta de qualquer coerção e deve ser livremente consentida ou, pelo menos, compatível com o livre consentimento dos indivíduos. Embora a coesão social das sociedades modernas esteja ameaçada por outros fatores de conflito que não as desigualdades sociais, é esta questão que é privilegiada nos programas nacionais, dessa forma, as ações em favor da coesão social são limitadas à prevenção da exclusão e da pobreza, à redução das desigualdades sociais e à promoção da igualdade. Entretanto, embora o aumento da desigualdade e da pobreza possa minar a coesão social nas sociedades democráticas, outros fatores também contribuem, e prova- velmente mais fortemente, para o seu enfraquecimento. Existe um entendimento que a coesão social é a capacidade de uma sociedade de garantir o bem-estar de todos os seus membros, de minimizar as disparidades e de evitar a polarização. Uma sociedade coesa é uma comunidade solidária de indivíduos livres que buscam objetivos comuns através de canais democráticos. Nessa perspectiva, o esforço dos governos deve ser direcionado para evitar que essas diferenças e desigualdades dege- nerem em conflito. Uma sociedade coesa é aquela que desenvolveu maneiras apropriadas de lidar com essas tensões de maneira livre e democrática. Essa concepção mais ampla da coesão social, que não permanece apenas sobre as desigualdades, está de acordo com a abordagem original de Durkheim, mas não é a que está em uso atualmente. 1.1.2 Solidariedade Social Caro(a) aluno(a), a concepção do trabalho para Durkheim, deu-se a partir das teorias apresentadas em seu livro “Da divisão do trabalho social”, a qual esse sociólogo se aprofundou na solidariedade social para entender o funcionamento da divisão social do trabalho, para ele esse conceito é a forma mais clara de que se tem, ao analisar as relações sociais dentro de uma determinada sociedade, que são representadas pelos tipos de direitos a partir da solidariedade mecânica e orgânica. 53UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 53UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista A solidariedade social, porém, é um fenômeno totalmente moral, que, por si, não se presta à observação exata, nem sobretudo, à medida. Para proceder tanto a essa classificação quanto a essa comparação, é necessário, portanto, substituir o tato interno que nos escapa por um lado externo que o simbolize e estudar o primeiro pelo segundo, Esse símbolo visível é o direito [...|. De fato, a vida social, onde quer que exista de maneira duradoura, tende inevita- velmente a tomar uma forma definida e a se organizar, e o direito nada mais é que essa mesma organização no que ela tem de mais estável e de preciso. A vida geral tinha sociedade não pode se estender num ponto sem que a vida jurídica nele se estenda ao mesmo tempo e na mesma proporção. Portanto, podemos estar certos de encontrar refletidas no direito todas as variedades essenciais da solidariedade social. (DURKHEIM, 1999, p. 31-32). Durkheim não é claramente um sociólogo de estratificação social. Na obra Da Divisão do Trabalho Social, no entanto, o tema da desigualdade social ocupa um lugar de destaque no tratamento de uma de suas questões centrais - a da realização e manu- tenção da ordem social. As “guerras de classes” e outros conflitos sociais nas sociedades industriais não são interpretadas apenas como consequência de uma anomia crônica, mas também como um efeito do caráter “forçado” da divisão do trabalho. Isso significa que o processo de distribuição dos indivíduos na estrutura de posições sociais não respeita, ou não respeita, suficientemente, nem as capacidades dos indivíduos em questão (suas aptidões e habilidades) nem seus desejos (seus gostos e aspirações). Tal harmonia entre as naturezas individuais e as funções sociais seria de fato uma condição necessária para a satisfação que cada pessoa encontra no cumprimento de seu papel social - e, portanto, do lugar que ocupa na sociedade - para impedi-lo de desejar outro e assim questionar a ordem social estabelecida: Sem dúvida não somos predestinados desde o nascimento para um determinado trabalho social; temos, no entanto, gostos e aptidões que limitam nossa escolha. Se esses fatores não forem levados em consideração, se forem constantemente ofendidos por nossas ocupações diárias, sofremos e procuramos uma maneira de pôr fim ao nosso sofrimento. Mas não há outra maneira além de alterar a ordem estabelecida e fazer uma nova ordem. Durkheim é assim levado a se opor a uma forma “forçada” de divisão do trabalho (na verdade: o processo de distribuição dos indivíduos na estrutura social) a uma forma “espontânea” que só por si pode produzir solidariedade social e prevenir conflitos sociais. Essa espontaneidade, ele aponta, pressupõe não apenas que os indivíduos não sejam re- legados pela força a funções específicas, mas também que nenhum obstáculo de qualquer tipo os impeça de ocupar o lugar na estrutura social que é proporcional às suas faculdades. 54UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 54UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista REFLITA Assim como no campo das relações e relacionamentos sociais, a sociedade exige regu- lamentação, sem a qual está ameaçada de anomia, também o processo de distribuição social deve permanecer livre de todas as restrições. Enquanto algumas páginas anterio- res Durkheim defendia uma regulamentação suficientemente desenvolvida que determi- na as relações mútuas de funções, ele considera que a mais completa liberdade deve reger o acesso a essas funções e que nada deve prejudicar as iniciativas dos indivíduos. Fonte: Elaborado pelos autores. Caro(a) aluno(a), uma vez organizada a sociedade de acordo com regras que garantam a harmonia das relações sociais nascidas da divisão do trabalho, os destinos individuais podem - e devem - desdobrar-se livremente em um espaço social que agora é controlado. A maneira Durkheimiana de resolver a clássica antítese entre o indivíduo e a sociedadeé aqui perfeitamente equilibrada: ao primeiro é devida a liberdade de se movimentar dentro de uma estrutura social adequadamente organizada e de satisfazer suas aptidões e gostos, enquanto ao segundo é obrigada assegurar a coordenação e a complementaridade das funções sociais e determinar não quem deve ocupá-las, mas como elas devem ser cumpridas. A solução adotada está, portanto, a meio caminho entre o coletivismo e o indivi- dualismo. Ele propõe o modelo de um indivíduo livre em uma sociedade forte, para o maior benefício de ambos: isto é o que Durkheim (1999) chama de “socialismo”. Nessa condição, a harmonia entre as naturezas individuais e as funções sociais não pode deixar de ocorrer, pelo menos no caso médio. Pois, se nada atrapalhar ou favorecer indevidamente os concorrentes para as tarefas, é inevitável que somente aqueles que se adaptam melhor a cada tipo de atividade serão bem sucedidos. Dessa forma, a harmonia entre a constituição de cada indivíduo e sua condição é evidente por si mesma. Nesse sentido, compreende-se que a solidariedade social além de estar ligada com a moral também está condicionada ao direito que para o autor supracitado traz a concepção de uma sociedade organizada, isso porque a vida em meio à sociedade passa a ser repre- sentada pelo direito e o fato moral, permitindo assim a compreensão mais ampla de como funciona o processo da divisão social do trabalho que, por sua vez, é o elemento central da solidariedade social, mas que não pode ser considerada como uma consequência e sim um efeito da moralidade expandida na sociedade. 55UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 55UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista De acordo com Durkheim (1999, p. 34) a solidariedade também “é um fato social que só pode ser conhecido por intermédio de seus efeitos sociais”, mas que “depende do nosso organismo individual para que possa existir”. A questão é que a solidariedade social só é transformada quando o indivíduo se transforma, sendo que a solidariedade só existe a partir da relação do indivíduo com o conjunto de normas e regras expressa pelo direito e isto só acontece através da consciência estabelecida em cada indivíduo. A manifestação Durkheiminiana parece assim ter atingido seu objetivo. Não é a de- sigualdade social em si que é considerada responsável pela quebra da solidariedade social (e, consequentemente, pelos conflitos sociais), mas o fato de que as desigualdades sociais não são congruentes com as desigualdades “naturais”. A desigualdade está de fato inscrita, como consequência normal da divisão do trabalho, na própria natureza das sociedades poli mentais. É tratado por Durkheim como um fato não problemático. As classes sociais - mesmo as castas - são modos de organização da divisão do trabalho que são perfeitamente legítimos enquanto permanecerem “fundadas na natureza da sociedade”, ou seja, quando as regras de distribuição social apenas estruturam so- cialmente as desigualdades naturais: A coerção só começa quando os regulamentos, não mais correspondendo à verdadeira natureza das coisas e, conseqüentemente, não tendo mais base na moral, são apoiados apenas pela força, perdendo, assim, a sua essência, significado e significância. Não, a tese Durkheiminiana é que não é a desigualdade de condições que ameaça a solidariedade orgânica, mas as condições em que essa desigualdade é constituída e mantida. E a igualdade de oportunidades é o instrumento pelo qual essa adequação entre o que os homens são “naturalmente” e o que eles se tornam “socialmente” pode ser alcançada. É importante destacar que a solidariedade social não está ligada somente no conjunto de regras e normas estabelecidas pelo direito, mas também as regras e normas estabelecidas no meio religioso que traz consigo vivência em comunidade. E quem romper com as regras e normas, além de ofender a sociedade e os detentores do poder também estava cometendo um crime. Portanto, esse tipo de relação acabava colocando todos os indivíduos como forma de engrenagem perfeita em que todos viviam condicionados dentro da divisão social do trabalho para manter uma ordem social, o que leva Durkheim a considerar os tipos de solidariedade, mecânica e orgânica, assuntos que vamos tratar a seguir. 56UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 56UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista 1.1.3 Solidariedade Mecânica e Orgânica De acordo com Quintaneiro (2002, p. 72) “os laços que unem os membros entre si e ao próprio grupo constituem a solidariedade, a qual pode ser orgânica ou mecânica”, esses dois tipos de solidariedade são apresentadas por Durkheim (1999) na busca por entender a migração dos indivíduos na sociedade, para o autor supracitado, na solidariedade mecânica as funções sociais eram semelhantes ao serem realizadas pelos indivíduos, ou seja, de- senvolvido a mesma tarefa, considerada como uma sociedade simples tinha em seu modo de produção a fase pré-capitalista. Na análise do sociólogo, os indivíduos acabavam sendo independentes e semelhantes entre si e isso acontecia como forma de manter uma harmonia, por isso, nesse período, a tradição e crenças eram um ponto muito forte em meio à sociedade. Em seus estudos, Durkheim (1999) destaca que a solidariedade mecânica de certa forma liga o indivíduo na sociedade, sem precisar de um intermediário, isso porque as cren- ças e os sentimentos comuns estão constituídos em um conjunto mais ou menos organizado por todos os membros do grupo, sendo conhecido como tipo coletivo, não sendo identificado características que diferenciam um indivíduo do outro, com isso, a consciência é semelhante, não tendo diferenças entre si a partir do comportamento, mas uma similitude entre os envol- vidos, “até mesmo a propriedade de bens não pode ser individual, o que só vem a acontecer quando o indivíduo desliga-se e distingue-se da massa” (QUINTANEIRO, 2002, p. 73). Para a autora supracitada, a solidariedade mecânica tem uma responsabilidade na integração social a partir da expansão da vida e da consciência comum, através dessa concepção é estabelecido um poder absoluto sobre a existência de um líder que se encon- tra em um cargo mais elevado em comparação aos demais, adquirindo uma autoridade extraordinária em relação à consciência comum, embora já seja a primeira divisão interna do trabalho, sociedade primitiva ainda não mudou a natureza de sua unidade, porque o chefe não se trata apenas de unir os membros à imagem do grupo que ele representa, mas sim, de manter a ordem através das atitudes semelhantes produzidas por uma grande parcela da sociedade. Segundo Durkheim (1999), a solidariedade orgânica tem funções especializadas, o que acabou gerando uma certa interdependência nas tarefas e nos indivíduos, por ser considerada como uma sociedade complexa tinha em seu modo de produção o sistema capitalista. Nesse período, os homens passaram a ter comportamentos mais individuais e diferentes entre si, principalmente por se tratar de um sistema mais organizado e a divisão do trabalho social passou a ser mais forte. 57UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 57UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Nesse sentido, Quintaneiro (2002, p. 74) destaca que, “a medida que se acentua a divisão do trabalho social, a solidariedade mecânica se reduz e é gradualmente subs- tituída por uma nova: a solidariedade orgânica”, que se constituiu em um processo mais individualizado e ao mesmo tempo mais solidários por depender uns dos outros e a partir dessa solidariedade é que o trabalho passou a ser mais intenso e incorporar “um sistema de funções diferentes e especiais” na sociedade, na qual cada indivíduo passou a ter um papel diferenciado sendo reconhecido na sociedade pela função que desempenha a partir da especialidade, é importante destacar que a sociedade, por sua vez passou a ser mais organizada, mantendo a coesão social. 1.2 O Trabalhona Concepção de Marx Caro(a) aluno(a), conforme destacamos na primeira unidade deste livro, Marx (1988) enfatiza que o trabalho nada mais é do que um processo do homem com a natureza, a qual somente o homem pode regular, mediar e controlar as suas ações a partir do que lhe é oferecido pela própria natureza, confrontando a sua matéria natural - força, criação e desenvolvimento por meio do que lhe é dado pelo natureza. Mas com o passar dos anos, isso mudou como bem vimos. A partir do processo de industrialização, quando o autor supracitado inicia os seus estudos em relação ao trabalho (proletariado) e a burguesia (capital) é perceptível que a es- sência do trabalho, quando o autor enfatiza que ao modificar a natureza o homem modifica a si mesmo, sofrendo alterações que de uma certa forma vai afetar a todos, principalmente, a classe trabalhadora que passa a ser explorada e alienada a um processo de produção e reprodução. Mas para entender esta lógica, vamos nos aprofundar em uma concepção muito importante apresentada por Marx (1988, p. 188) em que “a utilização da força de trabalho é o próprio trabalho”, aqui o autor passa a se referir a partir do processo de industrialização o qual se tinha um segmento mais especializado, em que “o comprador da força de trabalho a consome fazendo com que seu vendedor trabalhe”, fazendo com que o trabalhador se torne uma potência para elevar a riqueza do capital a partir da venda da força do trabalho, incorporando-o, assim, na produção de uma mercadoria e satisfazendo a necessidade do sistema capitalista. Com isso, o autor supracitado vai dizer que o sistema capitalista de certa forma induz o trabalhador a produzir o valor de uso, cujo valor não sofre nenhuma alteração na sua natureza, simplesmente pelo fato do capital estar no controle, porém não se pode dizer o mesmo em relação à vida do trabalhador que, por sua vez, vende a sua força e trabalho em troca de sua sobrevivência, mantendo-se em um sistema organizado e especializado, o qual cada trabalhador produz uma determinada parte de um processo totalizador. 58UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 58UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Para Marx (1988, p. 188) o trabalhador é visto no mercado como “vendedor de sua própria força de trabalho, em que o trabalho humano ainda não se desvencilhou de sua forma instintiva”, ou seja, a venda da força de trabalho é entendida como algo que faz parte do instituto do homem, isso porque o homem já empregava a sua força de trabalho para o seu próprio sustento, no entanto o trabalho era entendido como algo em que o homem conseguia modificar a natureza e, ao mesmo tempo, a si próprio, simplesmente pelo fato de participar da criação e desenvolvimento de toda a etapa da produção de uma determinada mercadoria e, por esse motivo, por estar enraizado na sociedade se tornou mais forte, o instinto de vender a força de trabalho após o processo de industrialização. O fato é que o trabalho diz a respeito unicamente ao homem, mas quando a sua força de trabalho passa a ser vendida para o sistema capitalista, essa força se torna per- tencente desse sistema que, por sua vez, a explora, e a partir dessa visão de Marx ,é que vamos nos aprofundar a seguir. 1.2.1 Da Exploração Caro(a) aluno(a), a exploração pode ser empregada em várias situações, mas aqui vamos nos ater na relação de trabalho e capital, a partir dos estudos apresentados por Marx (1988) do qual podemos entender que a exploração acontece quando uma massa de tra- balhadores produz o excedente em relação às mercadorias, que, por sua vez, é controlada pelo sistema capitalista. Nesse sentido, há uma divisão de classes em que uma se mantém sobre a outra e essa relação se estabelece a partir da exploração de um determinado modo de produção, em que o trabalhador precisa vender a sua força de trabalho para o capital que, por sua vez, se apropria dessa forma para manter o seu modo de produção ativo. De acordo com Bottomore (1988, p. 235 - grifos do autor) “a exploração no modo de produção capitalista é diferente da que existe nos MODOS DE PRODUÇÃO NÃO CAPI- TALISTAS porque ocorre normalmente sem a intervenção direta da força ou de processos não econômicos”. Isso porque o processo de trabalho que faz parte do modo de produção capitalista, além de ser excedente, também tem um caráter mais específico que, por sua vez, está ligado ao processo de troca. Dessa forma, o autor supracitado destaca que a produção capitalista acaba geran- do o excedente, simplesmente pelo fato de comprar a força de trabalho da classe operária (trabalhadora) em troca de um salário comparado ao valor da força de trabalho empregada no processo de produção. Com isso, o capital passa a possuir o controle da produção, extraindo dos trabalhadores uma maior produção ao equiparar com o salário. 59UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 59UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista É importante destacar, caro(a) aluno(a) que a exploração dentro do sistema capita- lista passa a ser como algo obscuro simplesmente pela forma como é medido o excedente a partir do modo de produção. Nesse sentido, a taxa de lucro aumenta tendo, assim, o mais valor considerado com uma fração adiantada para o capital que também se apropria dos capitais individuais por meio de juros, o que nos leva a considerar que com a expansão do capital, a taxa de lucro pode cair dissimulando um crescimento simultâneo da taxa de exploração definitiva como razão do excedente em relação ao trabalho necessário, que é a taxa do mais valor (BOTTOMORE, 1988, p. 236). SAIBA MAIS Para Marx, a distinção entre trabalho e força de trabalho permite compreender que esta seja vendida pelo seu valor enquanto o primeiro cria o excedente. Assim, a exploração se produz, no modo capitalista de produção, pelas costas dos participantes, oculta pela fachada da troca livre e igual. Fonte: Bottomore (1988, p. 236). Segundo Marx (1988) quando se faz a separação entre o agente do processo de trabalho (proletariado) e o proprietário dos meios de produção (burguesia) é que se tem uma condição prévia do modo de produção capitalista, em que de um lado temos o trabalhador que vende a sua força de trabalho (subjetiva) por não ter posse (objetivas) em troca de um salário regularmente, enquanto o proprietário (detentor dos meios de produção), além de garantir a subsistência assalariada mantém a exploração da força de trabalho, como uma condição básica para acumular suas riquezas, que, por sua vez, acontece por meio das relações de produção pertencente ao capital. Caro(a) aluno(a), para entender a exploração do capital sob o trabalhador faz-se necessário apresentarmos de forma breve o conceito de mais valor, mas não vamos nos aprofundarmos nessa parte, mas sim no tempo de trabalho necessário (tópico 3 desta unidade). Pois bem, para Marx (1988, p. 2013) “o valor do capital variável é igual ao valor da força de trabalho por ele comprada, e o valor dessa força de trabalho determina a parte necessária da jornada de trabalho”, ou seja, o valor do capital aumenta a partir da compra da força de trabalho que, por sua vez, só tem valor com a jornada de trabalho necessária 60UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 60UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista para a produção de mercadorias, demonstrando que há um excedente a partir da jornada de trabalho, com isso, “concluímos que o mais-valor está para o capital variável como o mais-trabalho está para o trabalho necessário”, levando em consideração que “a taxa de mais-valor é, assim, a expressão exata do grau de exploração da força de trabalho pelo capital ou do trabalhador pelo capitalista”. Nesse sentido, vejamos um exemplo apresentado por Marx (1988, p. 215) em rela- ção à exploração. Se um “trabalhador emprega mais da metade de sua jornada de trabalho para produzir um mais-valor”, logo seu trabalho é pago nas primeirashoras da sua jornada de trabalho, garantindo, assim, o mais valor, mas se este trabalhador empregar o “mais- -trabalho tem-se grau de exploração da força de trabalho que é de 100%”. Levando-nos a entender que o salário pago a partir do que foi produzido é determinado através do número de trabalhadores que são simultaneamente explorados, número este que corresponde à grandeza do capital e à alienação da classe trabalhadora. 61UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 61UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista 2. TRABALHO E ALIENAÇÃO Caro(a) aluno(a), se fizemos um resgate de tudo que você já aprendeu até aqui e o que apresentamos na primeira unidade deste livro, podemos destacar que a história do trabalho surgiu com o homem pela busca de satisfazer as suas necessidades, dando início à produção da vida material e a partir dessa ação, o homem começou a desenvolver a relação social dos fatos que determinam as condições históricas no trabalho, na vida do homem. Faz-se necessário destacar a concepção de Marx (1988) em que o trabalho é fundamental na vida do homem, pois quando o homem modifica a natureza, ele modifica a si mesmo, o que podemos considerar que o trabalho é a base de toda a atividade humana, um processo histórico, no qual o homem acabou se transformando enquanto ser social. No entanto, ao longo de toda a história, o trabalho vem sendo relacionado ao a à economia política, fato este o qual Marx faz uma crítica através do seu livro “O capital”, des- tacando pontos importantes como, o aumento do capital (excedente econômico) por meio da atividade produtiva e a exploração do sistema capitalista, a partir da força de trabalho, adap- tando o processo de trabalho para o modo de produção e transformando a força produtiva em relações sociais do trabalho mediante especialidades dentro do processo de produção. É fato que a essência do trabalho modificou após o sistema capitalista, devido às suas relações de produção, deixando de ser uma atividade vital na vida homem e tornando- -o alienado desse sistema que, por sua vez, faz uso da força de trabalho e da capacidade dos trabalhadores em troca de um salário fixo para a sua sobrevivência. 62UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 62UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista De acordo com Lessa (2007) o trabalho passou a ser considerado como sinônimo de produção, ou seja, é através do trabalho que o homem consegue produzir mercadorias, mas é por meio da exploração da força de trabalho que o capital aumenta o seu lucro, nes- sa perspectiva, o trabalho, para o autor, não é reconhecido como uma forma de realização humana, mas um meio de sobrevivência por meio da produção e reprodução a partir do modo de trabalho, tornando o trabalhador um alienado. REFLITA Caro(a) aluno, um ponto importante que se deve ter em mente é que o trabalho é um elemento fundamental na constituição da existência do homem em meio à sociedade, simplesmente pelo fato de o homem conseguir desenvolver as suas relações sociais. Nesse sentido, o trabalho não deve ser reduzido ou esgotado no modo de produção capitalista e sim na modificação que o trabalho pode fazer na vida do homem. Fonte: Elaboração dos autores. 2.1 Trabalho Alienado Caro(a) aluno(a), a questão do trabalho tem um papel importante no pensamento de Karl Marx. Ela está muito presente em sua filosofia, bem como nas outras dimensões de seu pensamento. Trata-se de um tema transversal em seu trabalho. Poder-se-ia até dizer que é o fundamento de seu pensamento. Segundo Marx (2004), é através do trabalho que os seres humanos se afirmam e reproduzem sua existência material. Nesse caso, o trabalho é a mediação necessária entre o ser humano e a natureza. Através do trabalho, o filósofo nos diz que os seres humanos estabelecem sua existência, produzindo os elementos de sua sobrevivência. Podemos dizer que o trabalho é a essência do homem, ou seja, o que faz dele o que ele é. Nesse sentido, Marx (1988, p. 188) destaca que “o que distingue o arquiteto mais desajeitado da abelha mais hábil é que o arquiteto construiu primeiro a casa em sua cabeça”, com isso podemos considerar que o homem projeta primeiro o que pretende para depois de fato idealizar o que projetou na mente, isto é dado somente ao homem, levando-nos a considerar que em relação ao trabalho, se distingue fundamentalmente o homem dos animais, com isso o trabalho passa a ser a essência do homem. 63UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 63UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Outro ponto importante é que o homem não apenas cria objetos, inventa técnicas (enquanto o animal é programado por instinto), mas produz seu próprio mundo, e gera continuamente a si mesmo. Através do trabalho, ele molda seu corpo e sua mente, ele transforma o mundo, que, por sua vez, age sobre ele. Trabalhar é fazer o que se faz ne- cessário para ser feito. No trabalho, o homem se realiza, se humaniza; ele manifesta sua vida e a contempla no objeto produzido. Ele vê de uma forma tangível a realidade de seu pensamento, que se eleva acima da natureza (que, como resultado do trabalho humano, já não existe em seu estado puro). O sujeito, ao se separar de seu objeto de trabalho, também pode se tornar um objeto. Esse é o fenômeno da coisificação, que é o limite extremo da alienação do sujeito ou o que Lukács(1989) chama de reificação. Nessas duas situações de transformação do sujeito atra- vés do trabalho, o sujeito é privado de suas condições de existência: ele é pobre e separado de uma parte de si mesmo. Ele está, “sem objetos”, seguindo esse processo de objetivação. Para nós fixarmos melhor, o sujeito é retirado do real, sofrendo um processo de distanciamento de tudo que ele produz, o sujeito ou o vazio do sujeito não são as figuras do sujeito libertado, emancipado, mas pelo contrário, as próprias figuras do sujeito alienado por ser privado de objetividade”. Como é que um sujeito está “sem objetos” em um processo de produção (ou criação) de objetos? Ou seja, como alguém é capaz de produzir qualquer item e aquele item não lhe pertencer mais? Para Marx (1988), o trabalho é a essência do homem. Isso explica porque o homem se realiza através do trabalho. O trabalho é a relação do homem com a natureza para satisfazer necessidades, tais como alimentos, remédios, roupas etc. O trabalho também deve gerar os meios para satisfazer outras necessidades.Assim, o trabalho deve se tornar um objeto para que seja trabalho. Na privação observada e supracitada, percebemos que a mão-de-obra objetivada é “mão-de-obra acumulada, aglomerada, depositada em uma coisa, em suma, é mão-de-obra depositada e presente no espaço”. O fato de que o homem como um ser objetivo e natural se encontra em uma relação necessária com a exterioridade não é alienante: é antes o fato de se desligar de uma relação tão vital com a natureza, de acordo com Karl Marx, que é a alienação. 64UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 64UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista SAIBA MAIS A objetivação do trabalho pode sempre ser vista como uma mudança do ativo para o passivo, que não pode ser combatida pelo passivo, o que não pode contradizer sua essência. É bastante intrínseco a isto atividade. Dito isto, não há nada de anormal no processo de objetivação do trabalho. Fonte: Elaborado pelos autores. Todavia, Marx (2004), enfatiza que a objetivação não é uma alienação, como afirma Hegel(1974) em seu livro “A Fenomenologia do Espírito”. Nesse sentido, Marx (2004) argu- menta que a objetivação do trabalho é inevitável e necessária, até mesmo, positiva para o homem. Mas o autor supracitado reconhece que pode haver uma objetivação do trabalho em que o trabalhador é “sem objeção”. Esse trabalhador pode até se tornar objeto de outro assunto, o “capital intelectual” da empresa. Caro(a) aluno(a), se observar, entramos rapidamente em uma relação de trabalho/ capitalque torna o trabalho sem qualidade. O trabalho agora só cria riqueza para o capi- talista, que nada produz, tendo apenas os meios de produção, referindo-se à mercadoria como valor. Com isso podemos considerar que não é mais o poder real e ativo de um indivíduo que trabalha naturalmente, mas sim o “trabalho alienado”. Marx (2004) é o autor que traz o conceito de trabalho alienado, que vem com o sistema capitalista que quebra o significado ontológico do trabalho: o trabalho não é mais valor de uso, mas valor de troca. A ideia de que o trabalho é a realização do trabalhador é radicalmente rejeitada. O trabalhador não se constrói mais em/trabalho. Ele não se reco- nhece no trabalho, particularmente através do produto, ou mesmo do próprio trabalho. O trabalho no sistema capitalista é feito em detrimento do trabalhador enquanto ele produz riqueza. Em primeiro lugar, o trabalho é externo ao trabalhador. Não pertence ao seu ser. Em segundo lugar, o comportamento real do trabalhador na produção aparece como comportamento teórico. Em terceiro lugar, o não-trabalhador faz contra o trabalhador tudo o que o trabalhador faz contra si mesmo. O indivíduo se torna um trabalhador no sistema capitalista. A rigor, não há “traba- lhadores” antes do capitalismo. Antes do capitalismo, havia indivíduos que trabalhavam e que estavam inseparavelmente ligados aos meios de trabalho. Durante a “acumulação primitiva de capital”, testemunharemos uma separação entre os trabalhadores e os meios de trabalho. 65UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 65UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Isso resultará em assalariados que, para existir, são obrigados a vender sua força de trabalho em troca do que ficou convencionado a chamar de salário. Agora são obrigados a trabalhar para manter a sua sobrevivência, não tendo o trabalho como algo que modifica a si, mas que exige de suas habilidade para aumento do lucro do capital mantendo o verdadeiro sentido da palavra dentro do sistema capitalista, ou seja, indivíduos que se tornam trabalha- dores assalariados o que Marx retrata como alienado, ponto que vamos destacar a seguir. 2.2 Alienação Caro(a) aluno(a), entender sobre a alienação é ter em mente que o trabalho dentro do sistema capitalista perde sua essência, pois não é mais a essência garantidora que o trabalhador se reproduz e, portanto, afirme sua existência. Isso é o que Marx (2004) chama de alienação. Nesse sentido, o trabalho como um processo de objetivação aniquila o sujeito trabalhador, este último é perdido em um processo de produção de objetos, o qual o autor supracitado afirma que não é o trabalho que constitui o problema, mas a forma que se assume dentro do sistema capitalista que deve ser criticado. Em tal caso, a objetificação deve ser distinguida da alienação. Rompendo com as abordagens de Hegel e Feuerbach, Marx (2004) fez da objeti- vação a condição necessária para a alienação, especificando que nem toda objetificação é alienação, para esse filósofo, existe uma objetivação específica que produz alienação, que é a realização do trabalho, sendo separada do sujeito produtor (os trabalhadores). Esses produtos de mão-de-obra tornaram-se, até mesmo, estranhos aos seus próprios produtores: isto é alienação em mão-de-obra. Para o autor supracitado, a condição de alienação retira toda a humanidade do homem e as relações interindividuais se enfraquecem. Para suprir essas deficiências, o homem busca formas de compensar: ele encontra na religião o meio de acreditar numa vida melhor no além: a religião é o ópio do povo. Refugiando-se em suas crenças, o homem consegue assim suportar a insuportável vida cotidiana. O homem moderno é alienado por seu trabalho, e pela empresa que o explora. O capitalista, dono dos meios de produção, tem controle sobre seus trabalhadores; seus traba- lhadores têm que vender a única coisa que podem vender: sua força de trabalho. Ao vender sua força de trabalho pelo salário, eles são desumanizados, eles se observam fora de si. Assim, em vez de liberar o homem do trabalho, dispõe do homem de sua própria existência. O trabalhador cria mercadorias que não lhe pertencem, consciente de sua explora- ção, perde sua qualidade de ser humano, se tornando uma parte da engrenagem da fábrica, se distanciando da sua criação, perdendo a sua essência, esta acaba sendo esvaziada em troca de uma remuneração. Mas há uma forma de trabalho na qual o homem não se afirma, mas é alheio a si mesmo. Esse é o trabalho do trabalhador na sociedade capitalista. 66UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 66UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista O homem está despojado de seu trabalho, de sua essência. Primeiro, o proletário é explorado pelo chefe que possui as máquinas. Seu salário, que apenas assegura sua so- brevivência, não corresponde ao trabalho que ele realizou. Além disso, o trabalho se torna uma atividade mecânica-repetitiva, fragmentada e que entorpece a mente, nesse sentido, o trabalhador não se reconhece nele; ele executa um plano elaborado por outra pessoa. O trabalho mortifica seu corpo e sua mente e a vida para ele começa no final do trabalho, com isso o homem passa a estar alienado ao trabalho que, por sua vez, não é mais a satisfação de uma necessidade, mas um meio de satisfazer as necessidades fora do trabalho. Para Marx (2004), a alternativa desse operário em recuperar sua humanidade, seria unindo-se a uma causa. Ao se reunir em sua terra natal, um espaço em que se coloca a questão do ser, ele recupera sua humanidade. Os próprios proletários devem, portanto, criar uma revolução que irá beneficiar toda a humanidade. Essa forma de trabalho deve, portanto, ser abolida para que o homem possa viver de acordo com sua natureza; para isso, a propriedade privada dos meios de produção e a divisão do trabalho devem ser abolidas. Isto é comunismo. Resta desenvolver essas intuições. Na teoria marxista, portanto, a alienação é a condição do indivíduo que não possui nem sua ferramenta de trabalho, tampouco, os meios de produção. O trabalho nada mais é do que uma simples mercadoria vendida, que destrói o homem ao destruir seu tempo de vida. Um homem que não tem tempo livre, cuja vida inteira, além das simples in- terrupções puramente físicas para dormir, refeições, etc., é ocupada pelo seu trabalho para o capitalista, é menos que uma besta de carga. Ela é uma mera máquina para produzir riqueza para os outros, fisicamente esmagada e inte- lectualmente estultificada. E ainda assim toda a história moderna mostra que o capital, se deixado sem controle, trabalha sem consideração ou piedade para baixar toda a classe trabalhadora a este nível de extrema degradação (MARX, 2004, p. 98). Nesse sentido, o autor supracitado elenca as causas da alienação, a saber: traba- lho, dinheiro, o Estado (alienação através do mito de “cidadãos” iguais), religião (alienação moral). Para que a classe operária consiga superar isso, os trabalhadores devem tomar consciência de que não acreditarem mais no Estado, não acreditam mais nas instituições tipicamente burguesas, recusarem-se a usar o dinheiro como meio de troca e deixarem de ver o trabalho como uma mera mercadoria. Essa consciência deve ser acompanhada por uma mudança radical nas instituições e na organização da sociedade, pelo fim do capitalismo e início de uma sociedade socialista. Por extensão, a alienação refere-se a qualquer forma de escravidão do ser humano devido a restrições externas (econômicas, políticas, culturais, sociais) que levam à perda de suas faculdades e da sua liberdade. 67UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 67UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Para entender melhor sobre a alienação, vamos destacar, abaixo 3 aspectos a partir da concepção de Marx na visão das autoras Quintaneiro e Barbosa. TABELA 1 - OS ASPECTOS DA ALIENAÇÃO EM MARX SEGUNDO QUINTANEIRO E BARBOSA (2002) ASPECTO 01 O trabalhador relaciona-se como produto do seu trabalho como algo alheio a ele, que o domina e lhe é adverso, e relaciona-se da mesma forma com os objetos naturais do mundo externo; o trabalhador é alienado em relação às coisas ASPECTO 02 A atividade do trabalhador tampouco está sob seu domínio, ele a percebe como estranha a si próprio, assim como sua vida pessoal e sua energia física e espiritual, sentidas como atividades que não lhe pertencem; o trabalhador é alienado em relação a si mesmo. ASPECTO 03 A vida genérica ou produtiva do ser humano torna-se apenas meio de vida para o trabalhador, ou seja, seu trabalho - que é sua atividade vital consciente e que o distingue dos animais - deixa de ser livre e passa a ser unicamente meio para que sobreviva. Portanto, “do mesmo modo como o operário se vê rebaixado no espiritual e no corporal à condição de máquina, fica reduzido de homem a uma atividade abstrata e a um estômago. Fonte: Quintaneiro e Barbosa, 2002, p. 50. Mediante a esses aspectos apresentados pelas autoras, podemos considerar que a condição de alienação abordada por Marx, está interligada ao trabalho que, por sua vez, só faz aumentar a riqueza do capital por meio da exploração, com isso a alienação passa a ser associada às condições materiais da vida e, somente, por meio da ação política é que poderia ser extinguida por meio da luta de classes, visto que dentro da sociedade capitalista, somente o trabalhador poderá ser liberado das armadilhas desse sistema a partir da consciência não alienada. Para Marx (1988, p. 18) “a alienação era vista enquanto processo da vida econô- mica”, existindo um processo que objetivava os trabalhadores a serem produtos alienados convertidos ao capital, que por sua vez domina cada vez mais o modo de produção à medida que o seu lucro aumenta por meio da incessante alienação causada nos novos processos de produção cada vez mais modernos e crescentes dentro do sistema capitalista. De acordo com Mészáros (2006, p.20) existem quatro aspectos em relação à alienação identificados nos estudos de Marx, os quais também vamos apresentar em forma de tabela: 68UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 68UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista TABELA 02 - OS ASPECTOS DA ALIENAÇÃO EM MARX SEGUNDO MÉSZÁROS(2006) ASPECTO 01 O homem está ligado à natureza: expressa a rela- ção do trabalhador com o produto de seu trabalho, que é ao mesmo tempo, segundo Marx, sua relação com o mundo sensível exterior, com os objetivos da natureza ASPECTO 02 Está alinhado de si mesmo (de sua própria atividade): é a expressão da relação do trabalho com o ato de produção o interior do processo de trabalho, isto é, a relação do trabalhador com a sua própria atividade com uma atividade alheia que não lhe oferece satisfação em si e por si mesma, mas apenas pelo ato de vendê-la a outra pessoa (isso significa que não é a atividade em si que lhe proporciona satisfação, mas uma propriedade abstrata dela: a possibilidade de vendê-la em certas condições). Marx também chama à primeira característica "estranhamento da coisa”, e à segunda “auto-estranhamento”. ASPECTO 03 De seu “ser genérico” (de seu ser como mem- bro da espécie humana): está relacionada com a concepção segundo a qual o objeto do trabalho é a objetivação da vida da espécie humana, pois o homem “se duplica não apenas na consciência, intelectual (mente), mas operativa, efetivamente, contemplando-se, por isso, a si mesmo num mundo criado por ele. O trabalho alienado, porém, faz do ser genérico do homem, tanto da natureza quanto a faculdade genérica espiritual dele, um ser estranho, a ele, um meio da sua existência individual. Estranho do homem o seu próprio corpo, assim como a natu- reza fora dele, tal como a sua essência espiritual, a sua essência humana. ASPECTO 04 O homem está alienado ao homem (dos outros homens): uma consequência imediata disto, de o homem estar estranhado do produto do seu trabalho, de sua atividade vital e de seu ser genérico é o estra- nhamento do homem pelo próprio homem. Quando o homem está frente a si mesmo, defronta-se com ele o outro homem. O que é produto da relação do homem com o seu trabalho, produto de seu trabalho e consigo mesmo. Vale com relação do homem com outro homem, como o trabalho e o objeto do trabalho de outro homem. Fonte: Mészáros, 2006, p.20. Diante dos pontos destacados pelo autor supracitado nos quatro aspectos, pode-se considerar que o conceito de alienação a partir das teorias de Marx revela um um estra- nhamento do homem no que se diz respeito a sua relação com a natureza e com outros homens, em que de um lado, tem-se uma briga interna entre o homem e a sua humanidade e, do outro, o homem e a sua relação com outros homens. 69UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 69UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista 3. TEMPO DE TRABALHO NECESSÁRIO Caro(a) aluno(a), apesar de suas limitações, a análise de Marx (1988) continua fru- tífera na contabilidade do que sempre foi seu principal objeto de estudo: o capitalismo. Em particular, é proveitoso para não permanecer no nível de uma espécie de “cristianismo social” que seria satisfeito, e isso, certamente, não é tão ruim nestes tempos de negação das classes trabalhadoras com a denúncia das desigualdades, sem tentar dar uma explicação para elas. A tendência de fazer do capitalismo o resultado necessário do mercado e, ao fazê-lo, a incapacidade de pensar sobre o que poderia ser um socialismo com merca- do; a tendência de reduzir o Estado à categoria de simples muleta para o capital e, mais amplamente, a incapacidade de pensar sobre a autonomia irredutível da política, inclusive nas sociedades capitalistas, uma tendência para reduzir as relações opressivas às únicas relações de exploração salarial e uma consequente dificuldade em pensar na dinâmica de acumulação e/ou poder que não pode ser reduzida a isso e às relações opressivas que dela resultam, falha em levar em conta a importância das questões ecológicas. A lista é longa das insuficiências colocadas por Marx (1988) e, além disso, do mar- xismo. Essas deficiências são salutares se aceitarmos que não há necessidade de buscar uma “teoria global” que explique quase tudo e qualquer coisa. Com esses limites em mente, o ponto de vista que será defendido aqui é que na análise do autor supracitado continua a ser duplamente frutífera. Em primeiro lugar, a fim de responder pela exploração capitalista. Tam- bém é frutífero em termos do que o “extra” ou “diferencial” mostra em termos de mais-valia. 70UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 70UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Se aceitarmos definir exploração como trabalho não remunerado, temos que admitir que ela não é específica do capitalismo. A servidão, a escravidão, mas também as chama- das sociedades “comunistas” ex-burocráticas, são de fato formas de exploração. Diante dessas informações, acreditamos que você, caro(a) aluno(a) deve estar se perguntando no que distingue a exploração capitalista? De acordo com Marx (1988) ao se basear nas relações de mercado, o trabalhador vende sua força de trabalho (suas capacidades físicas e intelectuais) “livremente” a um capitalista. Ele certamente é socialmente obrigado a trabalhar para viver, mas não é legal- mente obrigado a trabalhar para outra pessoa. Isto é o que o distingue de um escravo ou de um servo, contribuindo para a força e a legitimidade do capitalismo. Caro(a) aluno(a), o bom senso tende a reduzir a exploração às situações mais atrasadas (“ele me explorou porque me pagou mal”), implicando que os empregadores que pagam “bem” não estão explorando. A exploração é reduzida ao roubo. O interesse da aná- lise de Marx (1988) por outro lado, é que ela nos convida a considerar que o capitalismo é um modo particular de apropriação do excedente, de mais-valia, particularmente no sentido de que não é sinônimo de roubo. Em média, por definição, o assalariado vendesua força de trabalho pelo seu valor, de modo que não há roubo. Esse valor (o salário no sentido amplo do termo, incluindo as contribuições à segu- ridade social) nada mais é do que uma média. Uma média determinada pelo equilíbrio de poder, cristalizada no direito social em particular. Em resumo, o valor da força de trabalho é uma construção social pesada, não é “objetivo” ou “natural”. A reificação do salário não está do lado de Marx, mas dos clássicos (que falam do “salário natural”) e dos neoclássicos que sugerem que cada trabalho tem uma “produtividade marginal” determinada, a priori e da qual o salário deve ser deduzido. SAIBA MAIS Uma vez adquirida a força de trabalho, o capitalista a utiliza (assim como qualquer com- prador de mercadorias tem o direito de consumir as mercadorias que compra). Usar a força de trabalho significa fazer com que ela funcione. Dessa mão de obra surge um produto de mão de obra de maior valor do que a força de trabalho. Fonte: Elaborado pelos autores. 71UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 71UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Aqui está a resolução do que Marx (1988) chama de “contradição da fórmula geral do capital”. Ao contrário da simples circulação (M - A - M), onde o dinheiro é apenas um meio (M e M têm o mesmo valor de troca), sendo o fim o valor de uso de M (julgado superior ao de M por aquele que compra M), a fórmula geral do capital é da forma A - M - A, com A superior a A (isto é mais-valia). Nesse último caso, o dinheiro é o fim e a contradição é afirmada nestes termos: como, quando o capitalista compra mercadorias pelo seu valor (A - M) e vende as merca- dorias que possui pelo seu valor, ele ainda pode realizar mais-valia? A resposta, como sabemos, está no uso de M. Na verdade, a fórmula geral do capital é da forma A - M - P - M - A. Com o ciclo M - P - M que representa o ciclo produtivo: o capitalista que comprou mercadorias (máquinas, matérias-primas e mão de obra) pelo seu valor (A - M), as utiliza na esfera da produção (M - P - M), da qual nasce uma mercadoria que será vendida, em média, pelo seu valor (M - A). Caro(a) aluno(a), em relação ao valor excedente, se retomarmos o raciocínio an- terior, nada mais é, portanto, que a diferença entre o valor criado pela força de trabalho e o valor da força de trabalho. De fato, há trabalho não remunerado. Mas como não é o trabalho, nem a fortiori o produto do trabalho, que é vendido pelo trabalhador (como ele poderia vender o que não possui, que não existe antes de ser contratado!), mas a força de trabalho, não há roubo, o que obviamente reforça a legitimidade do sistema. As informações acima podem ser visualizadas através do seguinte exemplo: Vamos assumir uma empresa X que produz relógios e que está na média de seu setor em termos de produtividade e remuneração. O salário diário que paga é de quarenta euros. Em uma jornada de oito horas de trabalho, um funcionário dessa empresa produz um relógio que é vendido no mercado por cem euros. Se foram necessários vinte euros de máquinas e matérias-primas para produzir o relógio, o valor excedente (lucro) de um dia de trabalho de um trabalhador é, portanto, de quarenta euros (100 - 40 - 20). Qualquer capitalista faz esse tipo de cálculo. O que Marx (1988) acrescenta é uma análise do processo. A partir dos dados acima, podemos deduzir que o trabalhador produziu um valor de oitenta reais por dia, ou seja, 10 euros por hora de trabalho, nesse sentido, o tempo de trabalho é, de fato, dividido em 4 horas de trabalho remunerado (40 reais = 4 x 10 reais) e 4 horas de trabalho não remunerado (40 = 4 x 10), sem que haja qualquer roubo, uma vez que a empresa pagou pela força de trabalho em seu valor (uma média de quarenta euros por dia). O tempo de trabalho em questão é um tempo de trabalho abstrato. Abstrato no sentido de que ele não pode ser compreendido a não ser através da medição do dinheiro. 72UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 72UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Abstrato no sentido de que é uma média - um tempo de trabalho socialmente ne- cessário imposto pelo mercado. Uma média que é imposta muito concretamente, desta vez pela concorrência do mercado. O Bom Samaritano ou capitalista ineficiente (ou ambos) que tem seus relógios produzidos no dobro do tempo não será capaz de vendê-los no dobro do tempo. A concorrência impõe um preço, cem euros em nosso exemplo. Mais uma vez, não há nada de “natural” nessa abstração. A média imposta pelo mercado depende de todos os tipos de regras sociais (lei social, mas também lei de concorrência etc.). Essa análise exige várias observações. Em primeiro lugar, mostra que somente a mão de obra cria valor. Máquinas e matérias-primas, que são elas mesmas o produto de trabalhos anteriores (trabalho passado, ‘morto’, nesse sentido) apenas ‘transmitem’ seu valor (vinte euros por relógio em nosso exemplo). Isso não significa que eles não tenham nenhum efeito sobre o valor. Pelo contrário, como veremos, as inovações técnicas são susceptíveis de aumentar o poder produtivo do trabalho e isso é obviamente essencial. Resta outra dimensão essencial, ao ligar valor ao trabalho dessa forma, a análise de Marx (1988) permite entender por que os capitalistas não cessam, de forma muito concreta, de “mobilizar” o trabalho, o que, ao contrário, se torna em grande parte “ilegível” nas teorias de valor que desvinculam estes dois termos. Em segundo lugar, ela nos convida a distinguir claramente três noções que a teoria dominante, e o senso comum, tende a confundir: força de trabalho (o que o empregado vende), trabalho, que nada mais é do que o valor de uso da força de trabalho (o trabalho em si é sempre concreto e, nesse sentido, não tem preço, nenhum valor) e, o produto do trabalho (o valor criado pela força de trabalho). Essa distinção é muito prática em direito, ao contrário dos autônomos, o empregado não tem direitos sobre o produto de seu trabalho. Ele não pode deixar a empresa com a porta do Twingo (ou o relógio) que ele fez durante seu dia de trabalho. O produto do trabalho (e o lucro que ele contém) pertence por direito ao capitalista, há de fato uma apropriação privada do excedente (que o capitalista poderá injetar no processo de produção) que resulta da propriedade do capital. Nesse sentido, a questão colocada por Marx (1988), não é a legitimidade em si mesma do excedente (qualquer sociedade deve produzi-lo), mas a legitimidade de sua apropriação privada. Daí duas consequências: mais do que o trabalho não remunerado em si, a exploração se refere, de fato, à apropriação privada do trabalho e, portanto, do exce- dente. E isso não se aplica às próprias sociedades capitalistas, para a parte da produção que é socializada (estamos pensando especialmente no trabalho realizado em um contexto 73UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 73UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista público ou mesmo associativo), podemos falar de exploração, mas tudo depende, sem dúvida, do julgamento feito sobre a forma como esse setor é administrado, o que abre um possível diálogo com as teorias da justiça. Um ponto importante que se deve compreender, caro(a) aluno(a) é que a conse- quência que reforça essa última possibilidade é que, seguindo o exemplo da república, que tem no coração o princípio da soberania do povo, um homem, um voto e que finalmente provou ser bastante eficaz na gestão de instituições muito mais complexas que uma empre- sa (um município, um departamento, um Estado etc.), não podemos conceber outra forma de gestão empresarial que cumpra o programa da república social, que permita conciliar justiça social e eficiência, inclusive eficiência por causa da justiça social. Como os capitalistas podem aumentar seus lucros? Marx (1988) aborda essa ques- tão através das “formas” de mais-valia, a qual apresentaremos no quadro a seguir. QUADRO 3 - AS DIFERENTES FORMASDA MAIS-VALIA A primeira forma é o valor excedente absoluto Consiste em aumentar a jornada de trabalho sem au- mentar os salários. Trata-se de um valor excedente retrógrado, o que não significa que seja inativo se pensarmos em mão-de-obra assalariada nos países menos desenvolvidos. É uma forma de mais-valia que, no entanto, tem sérios limites fisiológicos (é preciso dormir um pouco para voltar ao trabalho no dia seguinte) e, mais ainda, limites sociais (veja a luta por horários de trabalho mais curtos). Segunda forma: valor relativo excedente Consiste em baixar o valor relativo da força de traba- lho sem necessariamente baixar o padrão de vida do trabalhador, e até mesmo aumentá-lo. Este valor ex- cedente é obtido quando os ganhos de produtividade (particularmente no setor de bens de consumo) não são devolvidos ao funcionário em termos de ganhos de poder aquisitivo. Terceira forma de mais-valia: extra (ou diferencial) de mais-valia Marx diz pouco sobre este valor excedente. Entre- tanto, pode ser considerado particularmente enri- quecedor em todos os sentidos da palavra: para o capitalista e para a análise do capitalismo. O valor extra é obtido quando um capitalista consegue - através da inovação - ganhos de produtividade que lhe permitem produzir os mesmos bens em menos tempo do que seus concorrentes. Fonte: Marx (1988, p. 268 a 273). Caro(a) aluno(a), em relação ao valor excedente pegamos o nosso exemplo, se a produtividade em todas as empresas que produzem bens de consumo for duplicada e o funcionário não se beneficiar de qualquer aumento no poder de compra, seu salário aumentou para vinte euros (e o valor excedente para sessenta euros). Um cenário mais plausível - que mostra que os salários dependem do equilíbrio de poder - é que se o padrão de vida do trabalhador aumenta em 50% (“ele não vai reclamar”, poderia dizer Ernest), o salário aumenta para trinta reais (20 reais x 1,5) e o valor excedente para cinquenta euros. 74UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 74UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Já em relação ao valor relativo, se compararmos com o cenário inicial, houve tanto um aumento do poder de compra do salário quanto um aumento dos lucros, o que corres- ponde bem à situação que prevaleceu, por exemplo, durante os trinta gloriosos anos. Como depende dos ganhos de produtividade alcançados na multidão de empresas que produzem os bens e serviços que o funcionário consome, essa mais-valia relativa é, no entanto, em grande parte inacessível para o capitalista individual (cidades-fábrica conhecidas historica- mente em Manchester e Liverpool). E, em relação ao valor extra, imaginemos a empresa da Maria, que também produz relógios. Graças a uma inovação técnica ou organizacional (geralmente ambas ao mesmo tempo), os mesmos relógios são produzidos, por exemplo, na metade do tempo médio. Não é mais necessário um trabalhador um dia inteiro de trabalho (oito horas) para produzir um relógio, mas meio dia (quatro horas). O funcionário ainda trabalha oito horas. Se seu salário não muda (ele já é pago “normalmente”), e Maria decide vender seus relógios ao preço de mercado (cem reais), o valor excedente por relógio aumenta para setenta reais (o salário por relógio aumenta para vinte reais), ou cinquenta reais se o preço do capital constante aumenta de vinte reais para trinta reais por relógio. Existem dez observações feitas Marx (1988) sobre este valor extra, as quais apresentaremos a seguir. ● Primeiro, ela é acessível ao capitalista individual. Melhor ainda, cada capitalista individual conhece o lucro que pode obter das inovações e é por isso que o capita- lismo é um sistema que incentiva a constante agitação das técnicas de produção. ● Segunda, o valor extra é um aluguel tecnológico. Enquanto a inovação continuar sendo monopólio da Maria, ele se beneficia plenamente dela. Isso nos remete a uma característica fundamental do comportamento capitalista: sua preferência por monopólios (tecnológicos ou de mercado). Muitas vezes é contra os capitalistas que a concorrência deve ser exercida, como a que Smith(1983) tão bem entendeu. ● Terceira, o que interessa ao capitalista não é tanto a taxa de lucro, mas a massa de lucros que ele pode obter de sua atividade. Se Maria tivesse apenas dois funcionários, ela poderia se permitir, graças a suas inovações, baixar o preço de venda de seus relógios (para noventa euros, por exemplo), a fim de aumentar sua participação no mercado. Sua produção total pode assim ser aumentada de quatro relógios por dia para 400 (com 200 funcionários a partir de agora). Sua taxa de lucro caiu ligeiramente, mas seu lucro diário global aumentou de 200 reais para 16.000 reais (ele produz 400 relógios, cada um dos quais lhe dá um lucro de 40 reais). Não há necessidade de hesitar. 75UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 75UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista ● Quarto, segue ao anterior que é o valor (médio por definição) dos relógios no mer- cado tenderá a cair. Maria conquistou participação no mercado enquanto outros capitalistas estão obviamente inclinados a adotar suas inovações. Uma coisa leva a outra, o relógio não valerá mais 100 reais mas, inicialmente, noventa euros, depois ainda menos. No final, foi o método de produção mais eficiente de Maria que se tornou a nova “média”. O tempo médio de trabalho, e portanto ‘abstrato’ neste sen- tido, necessário para produzir o relógio não será mais dez horas como inicialmente, mas, por exemplo, sete horas, ou seja, três horas de ‘trabalho morto’ (e 30 reais) integradas nas máquinas e matérias-primas e quatro horas de trabalho vivo por relógio (já que o funcionário produz dois relógios por dia de trabalho). ● Quinta, o capitalismo não é apenas a luta de classes, é também a luta (econômica) de morte dos capitalistas entre si. Os capitalistas que não adotaram os novos métodos de produção, seja por tradição ou por descuido, estão condenados a desaparecer. O preço imposto pelo mercado agora é de 70 reais e é imposto a todos. Amanhã será ainda menor, pois inovações, uma fonte de valor extra e sua disseminação sob o impulso da concorrência são um turbilhão permanente. ● Sexta, a análise da mais-valia nos permite compreender como o capitalismo articula duas relações irredutíveis: às relações de produção e as relações de troca. A mais-valia extra é gerada na esfera da produção - é aqui que a inovação é introduzida - mas ela só existe porque (e enquanto) o valor social que domina o mercado é maior do que o “valor individual”. Sob o impulso da concorrência do mercado, por sua vez, esta inovação tenderá a se difundir na esfera da produção. De fato, há uma dialética de duas relações irredutíveis: intercâmbio e produção. Isto está longe da teoria neoclássica dominante, cujo projeto é, ao contrário, reduzir, do ponto de vista da análise, todas as relações (incluindo a produção) às relações de mercado. ● Sétima, a mais-valia extra é, por natureza, efêmera. Marianeralizados. Daí o incentivo para inovar novamente. ● Oitava, o valor excedente extra nos permite compreender a gênese do valor excedente relativo mencionado acima. O capitalista individual, como já disse- mos, não tem controle sobre o valor relativo excedente, já que este depende dos ganhos de produtividade alcançados em todas as empresas produtoras (em particular) de bens de consumo. A busca frenética por valor agregado adicional em todas as empresas ajuda a explicar a origem desses ganhos de produtivida- 76UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 76UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista de. De certa forma, é quando o valor extra excedente desaparece que o valor relativo excedente é provavelmente o mais alto: é realmente neste momento que o valor relativo da mercadoria caiu mais. ● Nono, a exposição da mais-valia extra nos permite introduzir o que Marx chama de “lei da tendência da taxa de lucro a cair”.O estudante mais astuto terá notado que a taxa de lucro é mais baixa no final do que era inicialmente. Inicialmente a taxa de lucro era de 66% (40 / (20 + 40)). No final é de 40% (40 / (60 + 40)). Esse é o efeito do aumento da “composição orgânica do capital”: máquinas mais complexas e mais caras pensam sobre a taxa de lucro. Na verdade, a taxa de lucro é igual ao valor excedente dividido pelo capital total empregado para produzir, ou seja: pl/(c+v). Essa taxa pode, portanto (dividindo o todo por v), ser escrita da seguinte forma: (pl/v)/(c/v)+1, o que enfatiza que a taxa de lucro aumenta quando a taxa de exploração (pl/v) aumenta e diminui quando a composição orgânica do capital (c/v) aumenta. ● Décima, Marx não podia de fato, nem que fosse apenas de um ponto de vista estritamente lógico, falar de uma “lei da tendência da taxa de lucro a cair”. As contra-tendências, que ele mesmo menciona, podem de fato ser tão (ou até mais) poderosas: uma queda no valor do capital constante (sob o efeito de ino- vações e ganhos de produtividade no setor de bens produtivos), um aumento no valor relativo do excedente etc. Nenhuma regra mecânica, portanto. A história da taxa de lucro também é aberta: ela depende do equilíbrio de poder entre capital e trabalho, de inovações, etc. O principal permanece: uma análise que afirma explicar como e por que a taxa de lucro varia, algo que outras teorias não permitem ou quase não permitem. E ainda assim, ele se move! Caro(a) aluno(a), como pode observar o tempo de trabalho necessário para o siste- ma capitalista não é o mesmo que para o trabalhador e Marx (1988) nos apresenta de uma forma muito clara sobre o real tempo necessário para executar uma determinada tarefa, no entanto o capital precisa manter o modo de produção ativo para que assim o seu lucro aumente, tendo a certeza que terá pessoas (trabalhadores) para executar a tarefa, mas é evidente que mediante as mudanças na sociedade e no mundo do mercado é preciso que haja uma reestruturação na produção. 77UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 77UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista 4. REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA Caro(a) aluno(a), quando um ciclo revolucionário atinge seus limites, é sobre esses limites que o ciclo seguinte próspera, seja um ciclo contra-revolucionário como o dos anos 1920-1930 após as revoluções russa e alemã, ou um ciclo de reestruturação como o que se segue às revoluções históricas dos anos 1960-1970. Em ambos os casos, ele procede transformando esses limites em sua vantagem. A crítica e o movimento de recusa de trabalho foram, assim, voltados para o benefí- cio do capital. O absenteísmo e a rotatividade dos trabalhadores tornaram-se a flexibilidade e a precariedade dos empregadores. Os trabalhadores da linha de montagem (OS) foram parcialmente substituídos por robôs e as grandes fortalezas dos trabalhadores foram des- montadas. A reestruturação tem sido baseada em uma organização em rede que combina alguns centros de produção “lean” (reengenharia) e uma teia de filiais e subcontratados. Passamos de um tecido industrial baseado em uma fábrica para a empresa em rede. A sociedade do trabalho chegou ao fim e não há necessidade de lamentar, mas a relação social capitalista não disse sua última palavra. Ela está tentando compensar toda a massa de trabalho vivo que se tornou inútil, transformando todas as atividades, inclusive aquelas que permaneceram à sua margem, em empregos úteis (desenvolvimento do traba- lho doméstico remunerado, cuidado de crianças e idosos, o setor social e cultural etc.). Não devemos confundir a falta de essencialização da força de trabalho com o fim do trabalho. 78UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 78UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista A sociedade capitalizada combina a tendência de valorização no trabalho e a manutenção do trabalho como um elemento de dominação e não como um elemento de trabalho como um elemento de dominação e não de exploração. Gerando, assim, a crise do trabalho, esta que se apresenta em duas formas, a saber: É uma crise da lei do valor, ou seja, a obsolescência da medição do valor pelo tempo de trabalho, quando o processo produtivo é tão socializado que o trabalho vivo não se torna essencial no processo geral de criação de valor. Esse é um movimento que Marx (1988, p. 239) já havia antecipado em grande parte em seu “Fragmento sobre Máquinas”. Entretanto, como essa antecipação contradiz todo seu desenvolvimento sobre o aumento “necessário” desse mesmo trabalho produtivo dentro do capital e sobre seu potencial objetivamente revolucionário, nesse sentido, o autor supracitado enterrou essa visão antecipatória, que ainda não era muito visível na época, e voltou a uma visão próxima à teoria Ricardiana do valor do trabalho. É uma crise de trabalho como valor. Ela foi expressa nos anos 1967-1973 por lutas e práticas de recusa de trabalho, em um ciclo de lutas revolucionárias relativas a todos os países ocidentais. Mas desde a inversão desse ciclo na crise que começou em meados dos anos 70, são as reestruturações industriais e suas consequências nas relações sociais que produzem uma verdadeira crítica à prática do trabalho. É acompanhado por um movimento contraditório: na tendência, o trabalho não está mais no centro da sociedade capitalizada, mas sob a forma de emprego, continua sendo o que define o status e os direitos dos indivíduos. Simulação de situações de trabalho, tratamento social do desemprego, estágios, retorno ao trabalho forçado através da supressão ou o trabalho forçado através da supres- são ou degressividade de vários benefícios são os meios utilizados para empregada para realizar esse tour de force de manutenção de uma sociedade do trabalho sem trabalhadores como Arendt (2000) já assinalou. Nesse contexto, que é tanto a desrealização do trabalho vivo concreto em empre- gos em que as atividades virtuais triunfam, quanto a ideologia do trabalho para justificar a reprodução das relações sociais como elas são, torna-se difícil continuar a falar em termos de relações de poder para significar que a luta de classes persiste. De fato, para que haja uma relação de forças, deve haver forças presentes e essas devem revelar um antagonismo historicamente irredutível entre as classes na perspectiva revolucionária ou uma oposição entre diferentes interesses, como na visão social-democrata. Por exemplo, o modo de regulação Fordista consistia em uma troca de aumentos de produtividade por aumentos em para o aumento do poder de compra no âmbito da partilha do valor agregado, uma troca intercâmbio pontuado por negociações e até confli- 79UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 79UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista tos controlados pelos sindicatos para os ajustes necessários no momento da renovação do acordo coletivo ou para a acordos coletivos ou para a escala salarial deslizante. Esse compromisso global não impediu o desenvolvimento de grandes indústrias, mas os traba- lhadores precários de hoje não são os de ontem e as lutas de ontem não são as de hoje. O contexto geral é mais favorável às empresas e é sobretudo o caráter antagônico que tem dificuldade em se expressar a partir do momento em que velhos interesses de classe parecem desvanecer-se diante dos interesses comuns em face de concorrência ou no exterior. Essa crise de trabalho é transferida primeiramente para uma parte da força de trabalho, aquela que se torna absolutamente supranumerária pela introdução de um pro- gresso técnico que destrói as antigas qualificações definidas na comunidade trabalhista por um vínculo profissional entre o trabalho vivo e o capital técnico. O que as substituem são novas habilidades determinadas pelos empregadores ou apenas pelo empregador-estado e atribuídas a indivíduos. Quanto a outra parte da força de trabalho, considerada essencial, mas por quanto tempo? Porque é melhor treinadae mais versátil, é mais ou menos assimilada ao capital como “capital humano”, como dizem os americanos, ou como “recursos humanos”. Nesse sentido, também é transferida para o capital global, cujo representante em nível nacional é o Estado, que é responsável pela gestão da economia, o Estado, que é responsável pela redistribuição da riqueza. Essa é a forma como o Estado responde à demanda de “partilha de riqueza” e arbitra entre diferentes soluções, todas as quais devem levar em conta o fato de que a renda está cada vez mais distanciada do trabalho real do trabalho efetivamente realizado. Nessa medida, o “salário mínimo” há muito tempo deixou de ser o preço da reprodução da força de trabalho. Caro(a) aluno(a), a reestruturação produtiva conhecida como capitalismo flexível teve início na segunda metade do século XX a partir do processo de flexibilização do trabalho, isso surgiu após a crise de produção do sistema fordista/taylorista. Como já destacamos nesta unidade, o modo de produção antes era realizado em um processo de repetição gerando uma interdependência entre os trabalhadores e uma solidariedade a qual Durkheim (1999) enfatiza como orgânica, com isso tinha-se uma pro- dução em massa. Com a reestruturação produtiva o mesmo trabalhador passou a executar várias funções dentro do ambiente de trabalho, obedecendo a um ritmo de produção a partir da demanda do mercado, como isso as empresas passaram a evitar um grande estoque e desperdício de mercadorias. 80UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 80UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Caro(a) aluno(a), é importante destacarmos que efetivação na reestruturação produtiva só aconteceu a partir dos avanços e inovações tecnológicas, permitindo que o processo produtivo tivesse eficiência, diminuindo, assim, os erros e acelerando o processo de produção, tornando mais dinâmico a partir da robótica e nanotecnologia levando apenas um trabalhador a realizar funções de outros trabalhadores, com isso houve uma diminuição no quadro de funcionários e aumento no lucro do capital. REFLITA A reestruturação produtiva está ligada diretamente à Terceira Revolução Industrial, co- nhecida como “Revolução Técnico-Científica Informacional” e no processo de introdu- ção de Neoliberalismos como sistema econômico. Fonte: Elaborado pelos autores. Com o formato da reestruturação produtiva as indústrias puderam contratar traba- lhadores na condição de “emprego temporário”, ou seja, quando os empregadores con- tratam trabalhadores somente na época de grande produção, a qual exige uma demanda maior, após isso, esses trabalhadores são demitidos permanecendo somente aqueles que executam várias tarefas, nesse sentido, podemos ver claramente a teoria de Marx (1988) em relação ao exército industrial de reserva a qual mantém-se algumas ativas e outras inativas para atender às demandas e necessidades do capital. Com isso temos nitidamente um processo de desregulamentação do trabalho e, ao mesmo tempo, uma instrumentalização para o sistema produtivo, levando a diversos vínculos de trabalho precários e consequentemente uma diminuição do salário devido a desemprego que só aumenta, causando uma expressão da questão social e uma demanda para a área da assistência social a partir dos problemas causados pelo formato do sistema capitalista. Caro(a) aluno(a), é importante ter em mente que o trabalho sempre foi e sempre será a base fundamental na vida do homem em meio à sociedade, mas a partir da ascensão do sistema capitalista a sua essência alterou, com isso, o homem precisou vender a sua força de trabalho, se submeter à exploração e à alienação e ao formado mecânico, orgânico e à reestruturação produtiva, causando diversos efeitos negativos na vida do trabalhador. 81UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 81UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim da segunda unidade e para que possamos fixar o conteúdo do que apresentamos nas quatros partes desta unidade, vamos fazer um breve resgate dos assuntos mais importantes, entendendo a relevância de cada ponto discutido dentro do processo formativo. Na primeira parte desta unidade, apresentamos a concepção de Durkheim em relação ao trabalho, a qual iniciou seus estudos no início do processo de industrialização buscando entender o porque os camponeses começaram a se urbanizar e buscar empre- gos nas indústria, em seus estudos esse sociólogo entendeu que a coesão social gerou a solidariedade e a interdependência entre os indivíduos facilitando o processo de produção, com isso ele entendeu que o trabalho é um fato social o qual leva consigo a moral do indivíduo. No entanto, na visão de Marx, o modo como o trabalho passou a ser empregado a partir do sistema capitalista levou os trabalhadores à exploração com a venda da forma de trabalho que só pode ser mudada a partir da luta de classes. Já na segunda parte, apresentamos sobre a alienação, que para manter os trabalha- dores ativos, foi necessário aliená-los, utilizando modos de produção que pudessem manter os indivíduos em sintonia, utilizando da sua força de trabalho para aumentar o lucro do capital. Nesse sentido, a terceira parte da unidade destaca o tempo de trabalho necessário, o qual, para Marx, o tempo não corresponde ao que o indivíduo de fato precisaria para executar o seu trabalho, ou seja, o tempo de trabalho é maior que o tempo, de fato, gasto para produzir uma determinada mercadoria, com isso há um valor de uso para manter o trabalhador e aumentar o lucro. Por fim a quarta parte, na qual abordamos sobre a reestruturação produtiva após o surgimento do fordismo/taylorismo na segunda metade do século XX que traz o conceito de que trabalhador consegue executar diversas funções dentro da sua jornada de trabalho a partir do avanço tecnológico, mantendo o trabalho ativo e inativo. Esperamos que estes conteúdos tenham ajudado e desejamos-lhe bons estudos. 82UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 82UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista LEITURA COMPLEMENTAR (...) CAPÍTULO 18 O salário por tempo O próprio salário assume, por sua vez, formas muito variadas, circunstância que não se pode reconhecer por meio de compêndios econômicos, que, com seu tosco interes- se pelo material, negligenciam toda diferença de forma. Mas uma exposição de todas essas formas pertence à teoria especial do trabalho assalariado, e não, portanto, a esta obra. Em contrapartida, aqui cabe desenvolver brevemente as duas formas básicas predominantes. Como podemos recordar, a venda da força de trabalho ocorre sempre por determi- nados períodos de tempo. A forma transformada em que se representa diretamente o valor diário, semanal etc. da força de trabalho é, portanto, a do “salário por tempo”, isto é, do salário diário etc. De início, devemos observar que as leis que regem a variação de grandeza do preço da força de trabalho e do mais-valor, leis que foram expostas no capítulo 15, transfor- mam-se, mediante uma simples mudança de forma, em leis do salário. Do mesmo modo, a distinção entre o valor de troca da força de trabalho e a massa dos meios de subsistência em que se converte esse valor reaparece agora como distinção entre o salário nominal e o salário real. Seria inútil repetir, com respeito à forma de manifestação, o que já expusemos acerca da forma essencial. Limitar-nos-emos, por isso, a indicar alguns poucos pontos que caracterizam o salário por tempo. A soma de dinheiro que o trabalhador recebe por seu trabalho diário, semanal etc. constitui a quantia de seu salário nominal, ou do seu salário estimado segundo o valor. Porém, é claro que, conforme a extensão da jornada de trabalho, quer dizer, conforme a quantidade de trabalho diariamente fornecida pelo trabalhador, o mesmo salário diário, semanal etc. pode representar um preço muito diferente do trabalho,isto é, quantias de dinheiro muito diferentes para a mesma quantidade de trabalho. Assim, ao considerarmos o salário por tempo, temos de distinguir, por sua vez, entre a quantia total do salário diário, se- manal etc. e o preço do trabalho. Mas como encontrar esse preço, isto é, o valor monetário de uma dada quantidade de trabalho? O preço médio do trabalho é obtido ao dividirmos o valor diário médio da força de trabalho pelo número de horas da jornada média de trabalho. 83UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 83UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista Se, por exemplo, o valor diário da força de trabalho for de 3 xelins, o produto de valor de 6 horas de trabalho, e a jornada de trabalho for de 12 horas, o preço de 1 hora de trabalho será = 3 xelins/12 = 3 pence. O preço da hora de trabalho, assim obtido, serve de unidade de medida para o preço do trabalho. Depreende-se daí que o salário diário, semanal etc. pode permanecer o mesmo, ainda que o preço do trabalho caía continuamente. Se, por exemplo, a jornada de trabalho usual for de 10 horas e o valor diário da força de trabalho for de 3 xelins, o preço da hora de trabalho será de 33/5 pence; ele cairá para 3 pence quando a jornada de trabalho aumentar para 12 horas, e para 22/5 pence quando for de 15 horas. Mesmo 406 assim, o salário diário ou semanal permaneceram inalterados. Por outro lado, o salário diário ou semanal pode aumentar, ainda que o preço do trabalho permaneça constante ou até mesmo caia. Se, por exemplo, a jornada de trabalho fosse de 10 horas e 3 xelins fosse o valor diário da força de trabalho, o preço de 1 hora de trabalho seria de 33/5 pence. Se, em virtude de crescente ocupação, e supondo-se que o preço de trabalho permaneça igual, o operário trabalhar 12 horas, seu salário diário aumentará para 3 xelins e 71/5 pence, sem que haja variação do preço do trabalho. O mesmo resultado poderia ser obtido aumentando a grandeza intensiva do trabalho, em vez de sua grandeza extensiva. A elevação do valor nominal do salário diário ou semanal pode, pois, ser acompanhada de um preço constante ou decrescente do trabalho. O mesmo vale para a receita da família trabalhadora, tão logo a quantidade de trabalho fornecida pelo chefe da família seja acrescida do trabalho dos membros da família. Existem, portanto, métodos para reduzir o preço do trabalho sem a necessidade de rebaixar o valor nominal do salário diário ou semanal. Conclui-se, como lei geral: estando dada a quantidade de trabalho diário, semanal etc., o salário diário ou semanal dependerá do preço do trabalho, que, por sua vez, varia com o valor da força de trabalho ou com os desvios de seu preço em relação a seu valor. Ao contrário, estando dado o preço do trabalho, o salário diário ou semanal dependerá da quantidade de trabalho diário ou semanal. A unidade de medida do salário por tempo, o preço da hora de trabalho, é o quo- ciente do valor diário da força de trabalho dividido pelo número de horas da jornada de trabalho habitual. Suponha que esta última seja de 12 horas e que o valor diário da força de trabalho seja de 3 xelins, isto é, o produto de valor de 6 horas de trabalho. Nessas circunstâncias, o preço da hora de trabalho será de 3 pence e seu produto de valor somará 6 pence. Ora, se o trabalhador estiver ocupado menos de 12 horas por dia (ou menos de 6 dias por semana), por exemplo, somente 6 ou 8 horas, ele receberá, mantendo-se 84UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 84UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista esse preço do trabalho, um salário diário de apenas 2 ou 11/2 xelins. Como, segundo o pressuposto que adotamos, ele tem de trabalhar uma média diária de 6 horas para produzir apenas um salário correspondente ao valor de sua força de trabalho, e como, segundo esse mesmo pressuposto, de cada hora ele trabalha somente meia hora para si mesmo e outra meia hora para o capitalista, é claro que não poderá obter o produto de valor de 6 horas se estiver ocupado por menos de 12 horas. Se anteriormente vimos as consequências destruidoras do sobretrabalho, aqui descobrimos as fontes dos sofrimentos que, para o trabalhador, decorrem de seu subemprego. Se o salário por hora é fixado de maneira que o capitalista não se vê obrigado a pagar um salário diário ou semanal, mas somente as horas de trabalho durante as quais ele decida ocupar o trabalhador, ele poderá ocupá-lo por um tempo inferior ao que serviu origi- nalmente de base para o cálculo do salário por hora ou para a unidade de medida do preço do trabalho. Sendo essa unidade de medida determinada pela proporção valor diário da força de trabalho/jornada de trabalho de um dado número de horas , ela perde naturalmente todo sentido assim que a jornada de trabalho deixa de contar um número determinado de horas. A conexão entre o trabalho pago e o não pago é suprimida. O capitalista pode, agora, extrair do trabalhador uma determinada quantidade de mais-trabalho, sem conceder-lhe o tempo de trabalho necessário para sua autoconservação. Pode eliminar toda regularidade da ocupação e, de acordo com sua comodidade, arbítrio e interesse momentâneo, fazer com que o sobretrabalho mais monstruoso se alterne com a desocupação relativa ou total. Pode, sob o pretexto de pagar o “preço normal do trabalho”, prolongar anormalmente a jornada de trabalho sem que haja qualquer compensação correspondente para o traba- lhador. Isso explica a rebelião (1860) absolutamente racional dos trabalhadores londrinos, empregados no setor de construção, contra a tentativa dos capitalistas de impor-lhes esse salário por hora. A limitação legal da jornada de trabalho põe fim a esse abuso, embora não, naturalmente, ao subemprego resultante da concorrência da maquinaria, da variação na qualidade dos trabalhadores empregados e das crises parciais e gerais. Com o salário diário ou semanal crescente, é possível que o preço do trabalho se mantenha nominalmente constante e, apesar disso, caia abaixo de seu nível normal. Isso ocorre sempre que, permanecendo constante o preço do trabalho ou da hora de trabalho, a jornada de trabalho é prolongada além de sua duração habitual. Se na fração valor diário da força de trabalho/jornada de trabalho aumentar o denominador, o numerador aumen- tará ainda mais rapidamente. O valor da força de trabalho aumenta de acordo com seu desgaste, isto é, com a duração de seu funcionamento e de modo proporcionalmente mais 85UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 85UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista acelerado do que o incremento da duração de seu funcionamento. Por isso, em muitos ramos industriais em que predomina o salário por tempo e inexistem limites legais para o tempo de trabalho, surgiu naturalmente o costume de só considerar normal a jornada de trabalho que se prolonga até certo ponto, por exemplo, até o término da décima hora de trabalho (“normal working day” [jornada de trabalho normal], “the day’s work” [trabalho de um dia] “the regular hours of work” [horário regular de trabalho]). Além desse limite, o tempo de trabalho constitui tempo extraordinário (overtime), e, se tomamos a hora como unidade de medida, é mais bem pago (extra pay), embora frequentemente numa proporção ridicu- lamente pequena. A jornada normal de trabalho existe aqui como fração da jornada efetiva de trabalho, e esta última frequentemente ocupa mais tempo durante o ano inteiro do que a primeira. O aumento do preço do trabalho, decorrente do prolongamento da jornada de trabalho além de certo limite normal, assume, em diversos ramos industriais britânicos, a forma de que o baixo preço do trabalho durante o assim chamado horário normal obriga o trabalhador, se quer obter um salário suficiente, a trabalhar um tempo extraordinário, mais bem remunerado. A limitação legal da jornada de trabalho põe um fim a esse divertimento. É um fato geralmente conhecido que, quanto mais longaé a jornada de trabalho num ramo da indústria, mais baixo é o salário. O inspetor de fábricas A. Redgrave ilustra esse fato mediante um resumo comparativo do período de duas décadas, entre 1839 e 1859, que mostra que o salário aumentou nas fábricas submetidas à Lei das 10 Horas, ao mesmo tempo que diminuiu nas fábricas nas quais se trabalha de 14 a 15 horas por dia. Da lei segundo a qual “estando dado o preço do trabalho, o salário diário ou semanal depende da quantidade de trabalho fornecida”, concluímos que quanto menor seja o preço do trabalho tanto maior terá de ser a quantidade de trabalho ou tanto mais longa a jornada de trabalho para que o trabalhador assegure ao menos um mísero salário médio. A exiguidade do preço do trabalho atua, aqui, como estímulo para o prolongamento do tempo de trabalho. Por outro lado, porém, o prolongamento do tempo de trabalho produz, por sua vez, uma queda no preço do trabalho e, por conseguinte, no salário diário ou semanal. A determinação do preço do trabalho segundo a fórmula valor diário da força de tra- balho/jornada de trabalho de dado número de horas demonstra que o mero prolongamento da jornada de trabalho, quando não há uma compensação, reduz o preço do trabalho. Mas as circunstâncias que permitem ao capitalista prolongar a jornada de trabalho de modo duradouro são as mesmas que, inicialmente, permitem-lhe e, por fim, obrigam no a reduzir também o preço nominal do trabalho, até que diminua o preço total do número aumentado de horas e, portanto, também o salário diário ou semanal. Basta, aqui, referir 86UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 86UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista duas circunstâncias. Se um homem executa o trabalho de 11/2 ou de 2 homens, a oferta de trabalho aumenta, ainda que permaneça constante a oferta de forças de trabalho que se acham no mercado. A concorrência que assim se produz entre os trabalhadores permite ao capitalista comprimir o preço do trabalho, enquanto, por outro lado, o preço decrescente do trabalho lhe permite aumentar ainda mais o tempo de trabalho. Rapidamente, porém, essa disposição de quantidades anormais de trabalho não pago, isto é, de quantidades que ultrapassam o nível social médio, converte-se em meio de concorrência entre os próprios capitalistas. Uma parte do preço da mercadoria é composta do preço do trabalho. No cálcu- lo do preço da mercadoria não é preciso incluir a parte não paga do preço do trabalho. Ela pode ser presenteada ao comprador da mercadoria. Esse é o primeiro passo que impele a concorrência. O segundo passo que ela obriga a tomar consiste em excluir do preço de venda da mercadoria pelo menos uma parte do mais-valor anormal produzido pelo prolon- gamento da jornada de trabalho. Desse modo, constitui-se, primeiro esporadicamente e, em seguida, paulatinamente de maneira fixa, um preço de venda anormalmente baixo para a mercadoria, preço que se torna, daí em diante, a base constante de um salário miserável e de uma desmedida jornada de trabalho, do mesmo modo como, originalmente, ele era o produto dessas circunstâncias. Limitamo-nos apenas a mencionar esse movimento, já que a análise da concorrência não tem lugar aqui. Mas deixemos, por um momento, que fale o próprio capitalista (...) Fonte: MARX, Karl. O processo de produção do capital. In: O Capital – crítica da economia política. Livro 1 – 12. ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1988. 87UNIDADE I Relações Sociais de Trabalho 87UNIDADE II Trabalho na Sociedade Capitalista MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: O capital - livro 01 Autor: Karl Marx Editora: Boitempo; 2ª edição - 2011 Sinopse: O capital é uma contribuição basilar ao pensamento anticapitalista, em especial a tradição marxista, que de certo modo se consolida com este livro. O objetivo de Marx era, por meio de uma crítica da economia política, compreender como o capitalis- mo funciona. Diante desse desafio, ele desenvolveu um aparato conceitual e metodológico para entender toda a complexidade do capitalismo, as categorias que constituem a articulação interna da sociedade burguesa e a relação direta entre acumulação de capital e exploração da força de trabalho. FILME / VÍDEO Título: Germinal Ano: 1993 Sinopse: Durante o Século XIX, os trabalhadores franceses eram explorados pela aristocracia burguesa, que dava condições miseráveis para seus empregados. Em uma cidade francesa, os mineradores de uma grande mineradora, decidem realizar uma greve e se rebelaram contra seus chefes, causando o caos. 88 Plano de Estudo: ● Trabalho produtivo e improdutivo; ● Trabalho coletivo; ● Formas Contemporâneas de trabalho; ● Questões etnico-raciais, gênero e sexualidade no mundo do trabalho. Objetivos da Aprendizagem: ● Entender o conceito de trabalho produtivo e improdutivo; ● Conceitualizar o trabalho coletivo; ● Compreender as formas contemporâneas de trabalho; ● Contextualizar as questões etcinico-raciais, gênero e sexualidade no mundo do trabalho. UNIDADE III Categoria do Trabalho Professor Esp. Anderson de Castro Moura Professora Esp. Irení Alves de Oliveira 89UNIDADE III Categoria do Trabalho INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), convidamos você a se aprofundar nas formas de trabalho que a teoria marxista contempla na sua problemática para análise da dinâmica do capitalismo na criação do valor de troca. Ao resgatarmos que a mercadoria tem o valor de uso, ou seja, da sua utilidade, e valor de troca, a que gera fetichismo e tendo a alienação no seu bojo e participando diretamente na coisificação do ser humano. Logo, os trabalhadores são incapazes de se reconhecerem nos objetos que criam e concedem à mercadoria um status quase divino. Mediante a isso, dividimos esta unidade em quatro partes para que você consiga entender a importância de estudar as carteiras de trabalho no processo formativo. Na pri- meira, vamos apresentar o conceito de trabalho produtivo e o trabalho improdutivo a partir dos estudos de Marx, bem como a diferença entre um e outro, ainda, veremos relevância de entender porque o trabalho produtivo e improdutivo, de certa forma, gera a mais valia, aumentando assim o lucro do capital. Na segunda parte, vamos destacar sobre o trabalho coletivo, entender os motivos que levaram Karl Marx a se aprofundar no significado desse conceito, visto que é necessário para o capital. Para isso, buscamos nas suas bases teóricas, bem como de outros autores, entender que o trabalho manual e intelectual faz ligação com o conceito do trabalho coletivo, principalmente dentro da nossa categoria. Já na terceira parte, apresentaremos as formas contemporâneas do trabalho, destacando sobre o trabalho subjetivo, os modos de organização, dominação do trabalho, a intensificação, fragilização, desemprego e a consequente desqualificação social, entre outros fatores que estão presentes nas formas de trabalho nos dias atuais. E, por fim, a quarta parte da unidade que aborda as questões, étnicos - raciais, gênero e sexualidade no mundo do trabalho, destacando pontos de reflexão dentro de cada ponto que é considerado relevante na atuação profissional. Esperamos que até o final, você consiga ter clareza das categorias de trabalho, bons estudos! 90UNIDADE III Categoria do Trabalho 1. TRABALHO PRODUTIVO E IMPRODUTIVO Caro(a) aluno(a), a análise de certos eventos, como crises financeiras ou de saúde, às vezes, nos leva a questionar os fundamentos econômicos, até chegarmos às raízes do funcionamento do sistema atual. A questão do tipo de trabalho que permite a criação de valor (trabalho produtivo) pode parecer abstrata e teórica à primeira vista. Entretanto, as consequências de responder a esta pergunta são, de fato, múltiplas e muito concretas. Por exemplo, em pequena escala, determinar a natureza produtiva ou improdutiva (produção ou não de valor) de uma atividade assalariada torna possível conceber o impacto de uma possível paralisaçãogeneralizada dessa atividade na economia (seja como resultado de uma greve ou de um lockout). Essa distinção, por mais teórica que seja, determinou a atitu- de das organizações políticas e sindicais em relação a uma ou outra categoria de população. Nesse sentido, os trabalhadores que se enquadram nas categorias ambíguas de “classe média” ou “colarinho branco” podem ter sido vistos como executando atividades improdutivas, negligenciando, assim, seu impacto sobre a produção, seu impacto na pro- dução. Em uma escala mais ampla, um foco detalhado em A produção de valor é essencial para entender como funciona hoje o sistema capitalista. Para saber se as atividades terciárias, de mercado ou gerenciais podem ser produ- toras de valor, mesmo que esse tipo de emprego assalariado tenha se tornado dominante dominante em países historicamente capitalistas é uma questão importante para explicar, entender e para explicar, compreender e, até mesmo, antecipar crises econômicas. 91UNIDADE III Categoria do Trabalho As respostas a essas questões econômicas podem ter sido influenciadas por opi- niões pré-concebidas que valorizam o trabalho manual ou trabalho manual ou a utilidade social de uma atividade. Mas essas considerações fazem pouco sentido se quisermos analisar o funcio- namento de um sistema econômico. Para isso, a questão é, antes de tudo, saber quais categorias econômicas são relevantes no mundo capitalista atual, mesmo que sejam so- cialmente absurdas, mesmo que se revelem um “absurdo social”. Para evitar cair nesse tipo de armadilha, parece necessário começar de baixo para cima. Ou seja, precisamos voltar às fundações utilizadas para definir essas categorias e a relevância de seu uso para compreender o funcionamento da economia capitalista. Olhando para as definições econômicas comuns entre os autores Adam Smith e Karl Marx, podemos observar que o objetivo de ambos não é entrar na exegese dos textos canônicos, a fim de convencer seus respectivos adeptos mais doutrinários que tendem a considerar as suas teorias como algo legítimo, mas que em algum momento realizam críti- cas sobre as teorias abordadas por ambos autores. Neste sentido, estes filósofos buscam por entender os fatos sociais e mostrar a realizada e o que a sociedade pode fazer para atender às suas necessidades. É mais uma questão de ver o que suas análises econô- micas em todos os seus detalhes podem contribuir para a compreensão do estado atual das coisas. Essa seção propõe a apresentação e a discussão desta parte fundamental da teoria marxiana. Quando ampliamos o foco, percebemos que alguns empregos produzem mais-valia enquanto outros não. Os primeiros são assim chamados de trabalho produtivo enquanto os segundos são chamados de trabalho improdutivo. Na linguagem cotidiana, a diferença entre trabalhadores produtivos e improdutivos é mais frequentemente colocada em termos de sua utilidade para a sociedade. Por exem- plo, pode-se estar desempregado, aposentado ou alguém que tem um emprego, mas não “faz nada”, é improdutivo, não tem atividade real. Em outros momentos, são as atividades que são consideradas, outras vezes, as atividades consideradas inúteis para a sociedade são qualificadas como improdutivas. De- pendendo dos critérios da pessoa que utiliza esse termo, serão os artistas, banqueiros ou professores que são improdutivos. Essa definição vernacular é frequentemente contrastada com a do trabalhador produtivo, visto como um trabalhador manual que faz mercadorias com suas mãos habilidosas. 92UNIDADE III Categoria do Trabalho REFLITA Existe um tipo de trabalho que acrescenta algo ao valor do objeto sobre o qual é aplica- do; e existe outro tipo, que não tem tal efeito. O primeiro, pelo fato de produzir um valor, pode ser denominado produtivo; o segundo, trabalho improdutivo. Assim, o trabalho de um manufator geralmente acrescenta algo ao valor dos materiais com que trabalha: o de sua própria manutenção e o do lucro de seu patrão. Fonte: Smith, 2003, p. 333 Marx (1980) enfatiza que o caráter produtivo do trabalho não tem absolutamente nada a ver com a atividade em si, com o trabalho concreto. O autor supracitado também nos mostra que não está de forma alguma relacionado com a natureza manual ou intelec- tual desta mão-de-obra ou com a natureza material ou imaterial da mercadoria produzida. O único fator determinante é a relação social que este trabalho tem com o capital. Nesse sentido, o filósofo alemão explica que não é apenas o trabalhador que está diretamente en- volvido no ato produtivo da mercadoria que é considerada produtiva, mas também a todos os trabalhadores intelectuais que, de certa forma, são consumidos pela produção material. SAIBA MAIS A mania de definir o trabalho produtivo e o improdutivo por seu conteúdo material origi- na-se de três fontes. A concepção fetichista, peculiar ao modo de produção capitalista, e derivada de sua essência, que considera as determinações formais econômicas, tais como ser mercado- ria, ser trabalho produtivo etc. como qualidade inerente em si mesma aos depositários materiais dessas determinações formais ou categorias. Que, se considera o processo de trabalho como tal, só é produtivo o trabalho que resulta em um produto (produto material, já que, aqui se trata unicamente de riqueza material). Que no processo real de reprodução - considerando-se seus momentos reais - relati- vamente à formação etc., de riqueza, existe grande diferença entre o trabalho que se manifesta em artigos reprodutivos e o que o faz em simples artigos suntuários. Fonte: Marx, 1980, p. 78. 93UNIDADE III Categoria do Trabalho 1.1 Trabalho Produtivo De acordo com Marx (1980, p. 71) “é produtivo o trabalhador que executa o traba- lho produtivo e é produtivo o trabalho que gera diretamente mais-valia, isto é, que valoriza o capital”. Ao ler esse trecho fica evidente que todo trabalho só é produtivo quando gera um valor de uso, ou seja, um resultado para o capital. O autor supracitado também destaca que o trabalho produtivo não é realizado de forma individual dentro do processo de produção capitalista, mas a partir de uma grande parcela de trabalhadores que exerce a sua função de uma forma combinada, convertendo em um processo de trabalho totalizador e com diversas capacidades que cooperam entre si, formando uma grande máquina produtiva a qual cada trabalhador executa uma função dife- rente e, às vezes, usando uma parte do corpo diferente formando uma única engrenagem perfeita do capital e este processo é definido pelo filósofo alemão como trabalho produtivo ao qual têm-se agentes (trabalhadores) sendo explorados pelo capital e subordinados por um processo de valorização e de produção. Caro(a) aluno(a), é importante compreender que o trabalho produtivo origina-se dos traços que caracteriza o processo de produção capitalista, simplesmente pelo fato desse sistema ser o possuidor da força de trabalho que, por sua vez, incorpora de forma direta fatores vivos do processo de produção capitalista. Nesse sentido, o trabalhador produtivo troca os seus serviços por dinheiro por meio de salário e, ao mesmo tempo, gera a produção de mais-valia como um processo de autovalorização do sistema capitalista cuja única forma de aumentar a riqueza é através do trabalho vivo. REFLITA Todo trabalhador produtivo é assalariado, mas nem todo assalariado é trabalhador produtivo. Fonte: Marx, 1980, p. 72 94UNIDADE III Categoria do Trabalho Segundo Marx (1980) o trabalho produtivo além de designar a relação integral também enfatiza o modo representativo da força de trabalho dentro do processo de pro- dução capitalista, neste sentido, para o autor supracitado, ao falar de trabalho produtivo significa falar de trabalho socialmente determinado, ou seja, trabalho que está relacionado nas relações entre o comprador (capital) e o vendedor (trabalhador), dessa forma, pode-se considerarque o trabalho produtivo nada mais é do que uma troca direta por dinheiro enquanto o capital, por sua vez é o próprio dinheiro. Smith (2003, p. 335) destaca que “toda parcela do estoque que um proprietário emprega como capital, ele sempre espera a resposta como lucro”, e para manter os tra- balhadores produtivos é constituído uma renda mensal considerada pequena em relação ao grande lucro do capital que só é pago após o serviço prestado, de acordo com o autor supracitado “é apenas a renda que lhe sobra, a qual, no caso dos trabalhadores produtivos, raramente representa muito”. Marx (1980) utiliza três exemplos reveladores para ilustrar seu pensamento em relação ao trabalho produtivo, a qual iremos destacar em forma de quadro. QUADRO 1 - EXEMPLOS DE TRABALHO PRODUTIVO SEGUNDO MARX(1980) Palhaço É consequentemente um trabalhador produtivo, desde que trabalhe a serviço de um capitalista (o empresário) a quem ele dá mais trabalho do que recebe sob a forma de salário. O trabalho é trocado por (variável) capital, criando mais-valia. Mestre de escola É contratado com outros para valorizar, mediante seu trabalho, o dinheiro do empresário da instituição que trafica com o conhecimento, é um trabalhador produtivo, se ele não apenas treina a cabeça de seus alunos, mas também se molda para enriquecer seu empregador. Cantor vende seu canto por sua própria iniciativa é um trabalhador improdutivo. Mas a mesma cantora contratada por um empresário que a faz cantar para ganhar dinheiro é um trabalhador improdutivo. Fonte: Marx, 1980, p. 80. Caro(a) aluno(a), em relação ao primeiro exemplo, Marx destaca que, para que a mão de obra seja considerada produtiva, é necessário que seja trocada por capital, ou seja, por um salário que permita a extração de mais-valia. Já no segundo exemplo, o autor 95UNIDADE III Categoria do Trabalho supracitado apresenta a indiferença do capitalista em relação à natureza da mercadoria produzida que é sublinhada e, por fim, o terceiro, que é a produção, como o capitalismo, é acima de tudo uma relação social. Nesse sentido, pode-se considerar que o trabalho pode, ou não, ser produtivo, isso porque, depende da relação social de produção e não da mercadoria que é produzida. Diante dessas informações, Marx (1980) destaca que para o trabalho produtivo na visão do trabalhador é um meio para atender às suas necessidades de subsistência, já para o sistema capitalista, o trabalho produtivo gera o valor de uso por meio do trabalho concreto, é a forma mais pura de produzir mais valia e aumentar o lucro, considerada como forma mais imediata de elevar a sua riqueza, utilizando da força de trabalho para produzir valor que são maiores que os custos dos trabalhadores. 1.2 Trabalho Improdutivo De acordo com Marx (1985) o trabalho improdutivo origina-se do processo de exploração inerente da produção capitalista e da necessidade de manter o controle em relação à exploração, dentro de um contexto marcado por oposições e contradições, tanto no trabalho manual quanto no intelectual. Para o autor supracitado esse papel de controle é transferido para um grupo de trabalhadores em que esse filósofo alemão os chamam de trabalhadores improdutivos. Caro(a) aluno(a), o trabalho produtivo não produz mais valia, no entanto, acaba determinando o processo produtivo, como um forma de controlar o trabalho manual, o qual assume diversas expressões mediante ao longo do desenvolvimento capitalista, visto que com a produção capitalista é produzido a mais-valia, nesse sentido, o trabalho produtivo passa a existir como uma determinação reflexiva do trabalho produtivo. Como já destacamos, dentro do processo de produção capitalista o que conta é a geração da mais-valia (mais valor) e, diante disso, o trabalho improdutivo precisa ter a sua função social, expandindo-se através do trabalho produtivo, processo que torna-se central dentro do modo de produção capitalista. Dessa forma, o trabalho improdutivo apresenta um papel próprio em relação à formação de valor, que é o custo de produção, com isso, acaba não adicionando nada na produção de valor assim como o trabalho produtivo. Por mais que a funcionalidade do trabalho improdutivo seja justificável dentro da reprodução capitalista só se torna possível através da mais-valia, a qual a produção acaba vindo do trabalho produtivo. Nesse sentido, o trabalho improdutivo é mantido pelo capital como meio de crescimento e expansão das atividades produtivas, sabendo que a sua maior riqueza advém do trabalho produtivo. 96UNIDADE III Categoria do Trabalho Nessa lógica, o trabalho improdutivo acaba modificando o cenário de vínculo com a empresa, ou seja, quando o trabalhador empregado passa a prestar serviço de forma temporária para uma determinada empresa, mantendo, assim, a mais-valia e, ao mesmo tempo, não tendo um vínculo efetivo com a empresa a qual prestou o serviço, com isso as empresas diminui o pagamento de impostos e contribuições, ressaltando a existência do trabalho produtivo, porém com um novo arranjo do capital para o aumento de riquezas. De acordo com Smith (2003) tanto os trabalhadores improdutivos, quanto aqueles que não trabalham de certa forma são mantidos por uma renda, a qual o autor supracitado destaca como uma parte anual de produção que são destinadas como uma renda para determinadas pessoas ou para repor um capital, bem como manter alguns trabalhadores produtivos. O fato é que o trabalhador que ultrapassar a sua manutenção acaba mantendo outros trabalhadores tanto os produtivos quanto os improdutivos. Caro(a) aluno(a), como podem observar o trabalho produtivo é importante para a crescente mais-valia como destacado por Marx, mas o trabalho improdutivo de certa forma também acaba se tornando importante, pois mais que a sua produção seja menor comparando com o trabalhador produtivo, mas o fato que você enquanto futuro assistente social deve ter em mente até aqui é que com o aumento dos trabalhadores improdutivos gera-se maior exploração em relação aos trabalhadores produtivos, mesmo que ambos tenham diferença dentro da produção do capital. 1.3 Diferença entre Trabalho Produtivo e Improdutivo De acordo com Marx (1980, p. 79) existe uma “diferença entre o trabalho produtivo e o improdutivo [sic] consiste tão-somente no fato do trabalho trocar-se por dinheiro como dinheiro ou por dinheiro como capital”. Ou seja, o trabalhador vende a sua força de trabalho e oferece uma boa parte do seu tempo em troca de um salário que o mantém ativo para os consumos e aquisição de mercadorias que são produzidas por trabalhadores e essa visão de diferença entre trabalhadores produtivos e improdutivos tem sido amplamente divulgada por grupos políticos e, até mesmo, por governos que afirmam ser marxistas e fazem a defesa da visão dos trabalhadores, mas o que precisamos ter em mente é que o trabalho produtivo e improdutivo está enraizada em nossa sociedade a partir do que o sistema capitalista determina. O autor supracitado ainda destaca que essa diferença entre o trabalho produtivo e do improdutivo está vinculado à acumulação do capital, a qual um fornece o aumento cada vez maior em relação às riquezas do capital enquanto o outro, depende de uma renda acu- 97UNIDADE III Categoria do Trabalho mulativa para que esse aumento do capital não diminua, o fato aqui, é que os trabalhadores (produtivos e improdutivos) gerem riqueza para o capital e ainda produzam o seu próprio pagamento sem que esse valor saia do bolso dos capitalistas, no entanto é importante ter em mente que o trabalho produtivo é o que mais converte a mais valia para o capital. Para entender melhor essa diferença é importante relembrar que o processo de produção acontece de forma constante e que, assim, o capital desempenha a função de explorar o trabalho produtivo, visto que este gera a mais valia, no entanto a dependência do trabalho produtivomantém o trabalho improdutivo como um meio de manter os trabalhado- res ativos e, assim, aumentando as riquezas do capital. Um ponto importante destacado por Marx (1980) é que o trabalho produtivo de certa forma é determinado pela produção do capital que detém da força de trabalho para gerar mais riquezas, já o trabalho improdutivo é um meio para manter o equilíbrio quando necessário sem que se tenha um vínculo efetivo com empresa que, por sua vez utiliza da força de trabalho por um tempo pré-estabelecido. Tanto o trabalho produtivo quanto o trabalho improdutivo tem as suas funções e ca- racterísticas que as diferenciam uma da outra, no entanto, ambas atendem aos interesses do capital, que por sua vez se apropriam da força de trabalho com a finalidade de manter os interesses do capital. E diante dessas informações, acreditamos que você deve estar pensando o quanto o sistema capitalista é cruel e este é um ponto importante dentro da nossa profissional, porque querendo, ou não, nós enquanto assistentes sociais também vendemos a nossa força de trabalho tanto de forma produtiva quanto de forma improdutiva, mas nós nos diferenciamos dos demais trabalhadores, visto que temos autonomia para criar e desenvolver projeto que atendam aos interesses da classe trabalhadora. De fato ser assistente social requer muitos estudos e entender todo o contexto histórico e social no qual estamos inseridos e saber que tanto o trabalho produtivo quanto o trabalho improdutivo faz parte do nosso cotidiano e compreender a dinâmica do sistema capitalista nos faz ver as situações de outra forma, levando-nos a busca de melhoria para o bem-estar de todos, infelizmente não conseguimos mudar a forma que o capital segue para garantir a sua riqueza, mas ao saber como funciona nós dá poder para melhorar o que precisa ser melhorado. 98UNIDADE III Categoria do Trabalho 2. TRABALHO COLETIVO Caro(a) aluno(a), o conceito do termo “trabalho coletivo” por trás dos estudos de Marx (1980) destaca dois pontos importantes, primeiro que se torna a porta de entrada das tradições políticas, tendo uma concentração maior e, segundo, que torna-se um argumento forte para entender o caráter do proletário elevando a sua proposta a um fator revolucionário para entender as condições da burguesia e o proletariado. Harvey (2013) faz um estudo aprofundado para entender os conceitos do livro “ O Capital” de Marx’ e destaca que, diante dos estudos, existe uma certa dificuldade em encontrar onde começa e termina o trabalho coletivo, isso porque não parece ter uma so- lução concreta em relação ao que está por trás do trabalho coletivo. Para esse autor, esse conceito não é preciso e um tanto quanto obscuro, parecendo com algo mais generalizado. Por outro lado, Bernardo (1977) obteve uma interpretação inversa do conceito de trabalho coletivo, o qual teria um conteúdo exato e mais preciso, destacando que existe uma fusão dentro de uma mesma classe social, enfatizando a classe trabalhadora, para esse autor essa fusão, seria entre os trabalhadores intelectuais e dos manuais, no entanto é importante destacar, caro(a) aluno(a) que esse autor se baseia em poucas frases extraídas no início do capítulo 14 do livro “O capital” da primeira edição francesa. Caro(a) aluno(a), ao realizar a leitura do livro “ O capital - volume 01” de Marx o qual, ao nosso ver, deve ser o livro de cabeceira dos assistentes sociais, você irá observar que, de fato, este filósofo não se aprofunda no conceito do trabalho coletivo, isto porque este livro está focado no sistema capitalista e as suas relações, no entanto, trabalho coletivo faz parte do processo de produção capitalista. 99UNIDADE III Categoria do Trabalho Nesse sentido, Marx (1980, p. 126) destaca que “para a consideração do traba- lho coletivo, isto é, imediatamente socializado, não precisamos remontar à sua forma natural-espontânea, que encontramos no limiar histórico de todos os povos civilizados”. Acreditamos que você deve estar se perguntando, mas o que ele quis dizer com isso? Pois bem, caro(a) aluno(a), este autor supracitado enfatiza que não precisamos ir tão longe para entender o que está por trás desse conceito, visto que está enraizado na sociedade e que desde sempre o ser humano realiza o trabalho coletivo, como um forma de interação e também para alcançar um objetivo que seja comum, mas para entender melhor vejamos um exemplo apresentado pelo autor. Um exemplo mais próximo é o da indústria rural e patriarcal de uma família camponesa que, para seu próprio sustento, produz cereais, gado, fio, linho, peças de roupa etc. Essas coisas diversas se defrontam com a família como diferentes produtos de seu trabalho familiar, mas não umas com as outras como mercadorias. Os diferentes trabalhos que criam esses produtos, a la- voura, a pecuária, a fiação, a tecelagem, a alfaiataria etc. são, em sua forma natural, funções sociais, por serem funções da família, que, do mesmo modo como a produção de mercadorias, possui sua própria divisão natural-espon- tânea do trabalho. As diferenças de sexo e idade, assim como das condições naturais do trabalho, variáveis de acordo com as estações do ano, regulam a distribuição do trabalho na família e do tempo de trabalho entre seus mem- bros individuais. Aqui, no entanto, o dispêndio das forças individuais de tra- balho, medido por sua duração, aparece desde o início como determinação social dos próprios trabalhos, uma vez que as forças de trabalho individuais atuam, desde o início, apenas como órgãos da força comum de trabalho da família (MARX, 1980, p. 126). Neste exemplo, destacado pelo autor supracitado, fica claro que, o trabalho coletivo, parte de interesses comuns, envolvendo um grupo de pessoas que trabalham pelo mesmo objetivo, aqui observamos uma situação de uma família que produz o seu próprio sustento a partir de diferentes produtos. No entanto, se levarmos esse exemplo para o modo de pro- dução no mundo capitalista e as diferentes etapas do trabalho até finalizar uma determinada mercadoria temos um interesse distinto, mas, que no fim, tem um objetivo comum tanto para o capital quanto para o trabalhador, que é a venda da força de trabalho em troca de um salário e da compra dessa força de trabalho para aumentar a riqueza do capital. Diante disso, temos uma forma natural e, ao mesmo tempo, uma função social, visto que é por meio do trabalho que o homem se relaciona com outras pessoas. É importante destacar que diante dessa informação e a partir da compreensão destacada no exemplo mencionado, podemos enfatizar que este seria um conceito simples do significado do tra- balho coletivo, em que há uma divisão própria e espontânea para atender uma determinada necessidade coletiva. 100UNIDADE III Categoria do Trabalho De acordo com Lessa (2011) o que torna o trabalho coletivo enriquecedor para o capital é a força produtiva social, porém, esse fator está atrelado ao empobrecimento do trabalhador quando as suas forças produtivas passam a ser individuais. No entanto, em relação ao “trabalho seja individual ou coletivo, que tenha lugar num quadro de relações de produção pré-capitalistas, capitalistas ou socialistas e para que ele seja produtivo é neces- sário que se transforme conscientemente a natureza para criar valores de uso” (NAGEL, 1979, p. 102). Caro(a) aluno(a), as informações acima são extraídas de um conceito muito im- portante apresentado por Marx (1980) que, quando temos um homem isolado este não consegue trabalhar por muito tempo utilizando a sua força e inteligência e mesmo que se tenha o trabalho produtivo de nada adianta sem o trabalho coletivo, pois é através deste que se tem a execução do processo de trabalho. Um fato importante que se deve ter em mente é que o trabalho realizado de forma isolada não alcança um objetivo, já o trabalho produtivo só se fideliza a partir do momento em que o trabalho coletivo acontece, porisso que Marx considera o trabalho coletivo como algo primordial quando se trata do trabalho produtivo e do modo de produção capitalista, mesmo não trazendo conceitos mais aprofundados em relação ao trabalho coletivo, visto que o modo de produção capitalista já deixa evidência do funcionamento do trabalho coletivo. SAIBA MAIS A extensão aumentada de estabelecimentos industriais constitui por toda parte o ponto de partida para uma organização mais abrangente do trabalho coletivo, para um desen- volvimento mais amplo de suas forças motrizes materiais, isto é, para a transformação progressiva de processos de produção isolados e fixados pelo costume em processos de produção socialmente combinados e cientificamente ordenados. Fonte: Marx, 1980, p. 460. Caro(a) aluno(a), acreditamos que você deve estar se perguntando, mas como o trabalho coletivo aconteceu dentro do processo do sistema capitalista e, Marx (1980) expli- ca de forma brilhante, de acordo com este autor, muitos trabalhadores realizavam tarefas iguais dentro do processo de trabalho, isto é, a forma mais simples do trabalho coletivo, no 101UNIDADE III Categoria do Trabalho entanto, quando se tem uma forma mais elaborada, ou seja, um conjunto de funções que permitem os trabalhadores a realizarem diferentes tarefas, nesse sentido, esses trabalha- dores acabam desempenhando um grande papel, a partir de um processo mais complexo, utilizando inteligência e forças manuais para executar simultaneamente as tarefas, levando a diminuir o tempo gasto para executar uma determinada função, com isso, houve um aproveitamento no tempo de trabalho, a partir do trabalho que antes era realizado de forma individual e após o processo de industrialização passou a ser realizado de forma coletiva, não deixando de utilizar a inteligência e a foça manual. 2.1 O Trabalho Manual e Intelectual Na medida em que o processo de trabalho é puramente individual, o mesmo trabalhador reúne todas as funções que mais tarde se separam. Na apro- priação individual de objetos naturais para seus fins de vida, ele controla a si mesmo. Mais tarde ele será controlado. O homem isolado não pode atuar so- bre a Natureza sem a atuação de seus próprios músculos, sob o controle de seu próprio cérebro. Como no sistema natural cabeça e mão estão interliga- dos, o processo de trabalho une o trabalho intelectual com o trabalho manual. Mais tarde separam-se até se oporem como inimigos (MARX, 1983, p. 137). Caro(a) aluno(a), conforme destacado pelo autor supracitado, quando se tem um trabalho o qual é realizado de forma individual, ele, acaba idealizando todas as etapas do processo, nesse sentido, o trabalhador acaba controlando a si próprio que utiliza suas forças e intelecto para realizar o trabalho individualmente. Com o processo de industrialização, o capital acaba se apropriando do trabalho manual e intelectual, separando-os para que possa ser operada de forma oposta, ou seja, o que antes era realizado de forma conjunta (trabalho manual e intelectual) pelo mesmo trabalhador, com o processo de industrialização e com o modo de produção capitalista passou a ser realizado de forma separadas, como abordado por Marx no trecho acima, operando como inimigos. Diante disso, o trabalho intelectual dentro do processo do trabalho coletivo passa a ser uma característica importante, mas, ao mesmo tempo, oposta do trabalho manual, com isso tem-se que o trabalho manual e o trabalho intelectual passam a fazer parte do trabalho coletivo, sendo considerado com algo presente dentro do sistema capitalista que, por sua vez se apropria dessas duas características do trabalhador por meio da alienação e da exploração da força de trabalho. Um outro fator importante destacado por Marx (1983) que também separa o traba- lho intelectual do trabalho manual é o produto, apresentado da seguinte forma: 102UNIDADE III Categoria do Trabalho O produto transforma-se, sobretudo, do produto direto do produtor indivi- dual em social, em produto comum de um trabalhador coletivo, isto é, de um pessoal combinado de trabalho, cujos membros se encontram mais perto ou mais longe da manipulação do objeto de trabalho (MARX, 1983, p. 137). Nesse sentido, o autor supracitado está comparando a função social do produto, que, em um certo momento, o produto passa a ser controlado pelo trabalhador, em outro momento, o trabalhador passa a ser controlado pelo sistema capitalista, se apropriando do seu trabalho manual, bem como do trabalho intelectual. Visto que o trabalho manual e intelectual dentro do sistema capitalista é mantido como oposição/inimigos, no entanto, se apropria de ambos para aumentar sua riqueza. Acreditamos que você, caro(a) aluno(a) deve estar se perguntando, mas como o traba- lhador passa a ser controlado dentro desse processo, pois bem, Marx (1983, p. 137) nos apresenta da seguinte forma: Com o caráter cooperativo do próprio processo de trabalho amplia-se, por- tanto, necessariamente o conceito de trabalho produtivo e de seu portador, do trabalhador produtivo. Para trabalhar produtivamente, já não é necessário, agora, pôr pessoalmente a mão na obra; basta ser órgão do trabalhador co- letivo, executando qualquer uma de suas subfunções. Ou seja, os próprios trabalhadores desenvolvem um caráter cooperativo dentro do processo de trabalho no sistema capitalista, que, por sua vez, acaba ampliando o sentido do trabalho produtivo, trazendo para o trabalho coletivo e, nesse formato, é que se tem a apropriação do trabalho manual e intelectual, visto que essa é uma forma mais precisa de manter a ordem e os trabalhadores alienados, visto que há uma cooperação dentro do própria categoria e que podemos aqui destacar o que já foi apresentado na unidade anterior, que é a moral e isso, muitas vezes, faz com que os trabalhadores se submetam a trabalhos que os desestabilizem fisicamente e mentalmente. E é esse ponto que vocês, futuros assistentes sociais precisam ter em mente, como o trabalho que é considerado fundamental, algo que modifica o homem em meio à socieda- de, pode de certa forma afetar as suas condições físicas e ou mentais, pois bem, isso pode estar atrelado ao processo, a forma e o como é realizado. Algo importante que devemos destacar aqui, isso não é uma regra, muito menos uma verdade absoluta, mas estamos abordando aqui para que possa lhe fazer refletir, porque você, enquanto futuro assistente social precisa entender como funciona o trabalho coletivo e como o trabalho intelectual e manual faz relação a diversos fatores que podem estar atrelados às vulnerabilidades do indivíduo, fazendo com este busque pelo serviço assistencial. 103UNIDADE III Categoria do Trabalho Como destacado por Iamamoto (2012, p.22) “o Serviço Social é uma especialização do trabalho, uma profissão particular inscrita na divisão social e técnica do trabalho coletivo da sociedade”, ou seja, vocês futuros assistentes sociais, de certa forma, também fazem parte desse processo, de uma forma ou de outra, mas a pergunta que deixamos para vocês é: o que você irá fazer a partir de tudo isso que estudou até aqui e que ainda irá estudar? É importante compreender esses pontos, trazendo para a luz da realidade cotidiana, por mais que você será um profissional especializado e que irá fazer parte de uma divisão social e técnica, também faz parte do trabalho coletivo e, muitas vezes, também irá apresentar o seu trabalho intelectual e/ou manual de forma separada, mas o que será feito para que você e os usuários do serviço ao qual estará inserido de fato tenham uma outra realidade? 104UNIDADE III Categoria do Trabalho 3. FORMAS CONTEMPORÂNEAS DE TRABALHO Caro(a) aluno(a), todas as características refletem nas formas contemporâneas de dominação através do trabalho, de acordo com as especificidades do capitalismo neoliberal. As transformações econômicas, sociais e políticas que levaram à novaformação capitalista foram amplamente descritas. O que importa aqui é o impacto dessas transformações, na experiência subjetiva de dominação por meio do trabalho. Há uma mudança para um modo just-in-time de gestão da produção, tanto em tempo quanto nos modos de organização sem que precise ser hierárquico, mobilizando a autonomia dos agentes e das equipes. A antiga organização tentou controlar os caprichos do mercado por meio de um sistema vertical de integração das diferentes etapas e setores de produção. A nova organização é mais aberta e fluida, em que as unidades são organizadas em torno de projetos em vez de funções de produção pré-estabelecidas. A organização está aberta ao mercado, com cada unidade de produção competindo direta ou indiretamente com as demais. As unidades de produção são transformadas em unidades de lucro e resultado. A lógica vertical e expansionista da integração é sucedida por uma lógica de reduzir a empresa a um núcleo cada vez menor. Esses métodos de produção são o resultado direto das novas restrições de avalia- ção. A tomada do poder pelos acionistas e a tomada de controle da distribuição dos frutos da produção pelas classes proprietárias da produção levam a uma lógica de valorização 105UNIDADE III Categoria do Trabalho intensiva e de muito curto prazo e valorização do capital a muito curto prazo. O universo econômico está totalmente revolucionado: a lógica industrial dá lugar à lógica financeira. O alto lucro a curto prazo torna-se a regra de ouro da produção e, como resultado, da organização das empresas. Caro(a) aluno(a), as duas revoluções mencionadas acima são acompanhadas de uma revolução no papel e no lugar da gestão e de sua própria forma de prática e conheci- mento. A antiga função de “supervisão e controle” é dada a um lugar central na nova ordem econômica e também é revolucionada. Isso envolve a aplicação de princípios de gestão a todos os atos e processos de produção, uma aplicação possibilitada pelo impressionante desenvolvimento de técnicas computacionais: quantificação generalizada, avaliação sistemática e cada vez mais refi- nada de cada etapa do processo de produção, ligada ao imperativo da qualidade, caça de custos, obsessão com resultados a curto prazo. As classes gerenciais deixam a proximidade das outras classes assalariadas e são mobilizadas pelas classes proprietárias no processo de intensificação do trabalho com o objetivo de aumentar a valorização. As formas contemporâneas de dominação através do trabalho são os produtos dire- tos dessa nova encomenda. Deve-se notar, no entanto, que diante de um cenário posto na sociedade acaba sendo desafiada a validade da categoria de “dominação”. É precisamente uma das contribuições essenciais da análise de vínculos entre a precarização através do trabalho e a dominação social e política. As novas técnicas de gestão, combinadas com novas formas de organização do trabalho, levam a uma intensificação dos esforços e a um enfraquecimento da posição de cada funcionário, o que garante o crescimento incessantemente necessário da produtividade. 106UNIDADE III Categoria do Trabalho SAIBA MAIS Definição de Uberização A empresa americana Uber nasceu nos Estados Unidos (São Francisco) em 2009. A ideia dos fundadores, que surgiu um dia em que não conseguiram encontrar um táxi, foi colocar o cliente em contato direto com um serviço de motorista particular através de um aplicativo de computador disponível em um smartphone. Nascia a UberCab (super táxi). Graças a várias rodadas de financiamento, o Uber foi capaz de se expandir para várias cidades ao redor do mundo. Seu deslumbrante sucesso o levou a ser observado e imitado, e deu seu nome a um fenômeno social: a uberização. Isso consiste em colo- car indivíduos e empresas de serviços (entrega de refeições, por exemplo) em contato direto, graças a novas tecnologias que desenvolvem aplicações para que esse contato seja quase instantâneo. Uberização do trabalho Agora existem aplicativos que colocam empregadores e candidatos a emprego em con- tato entre si, com compromissos ao vivo e respostas imediatas. É certo que é mais violento, mas pelo menos é claro e rápido. Neste mundo onde devemos ir sempre mais rápido, esta é a vantagem número um da uberização. Mais rápido é o que se pede aos funcionários, e também aos gerentes, que estão contactáveis 24 horas por dia, ou qua- se, e que têm que responder dentro de um segundo ao menor e-mail ou SMS. Uberização da sociedade O Observatório da Uberização lista os principais setores onde a Uberização se tornou uma prática comum. Além de motoristas particulares e entregas de refeições ao domi- cílio, outros setores reivindicam o uso de novas tecnologias para melhorar sua resposta aos clientes. Agora é fácil solicitar um empréstimo de seu banco a partir do trem, mas está se tornando possível pedir empréstimos a indivíduos com maior flexibilidade. A cor- respondência das necessidades e serviços prestados por indivíduos também é vista no ramo de restaurantes: ter um chef vindo à sua casa para preparar uma refeição agora é comum. Da mesma forma, pedir emprestado o alojamento de alguém por algumas noites revolucionou a indústria hoteleira com a AirBnB. Fonte: Elaborados pelos autores. 107UNIDADE III Categoria do Trabalho Caro(a) aluno(a), ao destacar sobre o trabalho subjetivo, é importante compreender que está sujeito ao mesmo regime que os vetores materiais de produção, ou seja, a gestão através do estresse. A intensificação e a fragilização ou, até mesmo, a precarização podem ser estudadas do ponto de vista clínico, como as causas de novas patologias relacionadas ao trabalho, ou da perspectiva de dominação. O fator mais poderoso de intensificação e fragilização é o medo do desemprego e a consequente desqualificação social, que provoca todo tipo de compromisso. Primei- ramente, da própria saúde física e mental, mas também dos próprios valores morais. A solidariedade com os colegas e o envolvimento na ação sindical sofrem. O interesse de tais desenvolvimentos para o controle dos funcionários é óbvio: não se conta mais o inves- timento pessoal, a capacidade coletiva de se levantar diminui. O novo espírito de gestão procura redirecionar a necessidade de solidariedade social para um investimento exclusivo a serviço da empresa. A precariedade é acentuada pela evolução do direito do trabalho, que leva a uma flexibilização dos estatutos, por uma estratégia de cercar aqueles que ainda são relativa- mente estáveis pelos mais precários, que são estabelecidos como padrões. A intensificação do trabalho é acentuada pela invasão do pensamento gerencial além da estrutura da empresa, em todas as instituições da sociedade, particularmente em hospitais e escolas. Essa exportação da mentalidade gerencial fora da esfera do mercado tem um poderoso efeito de arrastamento, deslegitimando como irracional e obsoleta qual- quer tentativa de resistir à abordagem gerencial. A mentalidade gerencial também se insinua na esfera íntima e na consciência e re- presentação da própria experiência. A empresa vem para captar os desejos e a imaginação do indivíduo. Uma das características mais frutíferas da psicologia e sociologia do trabalho francesa reside na ênfase que dão ao próprio ato de trabalho e seu impacto na identidade. Muitos diagnósticos críticos são baseados na análise de patologias e modos de dominação ligados aos ataques sofridos pelo próprio trabalhador. Do ponto de vista sociológico é, antes de tudo, a capacidade de trabalho de oferecer um vetor privilegiado de socialização que é sublinhado, em particular, a propósito, já obser- vado por Durkheim (1999), no qual o lugar na divisão técnica do trabalho tem repercussões sobre a integração na divisão do trabalho na sociedade. 108UNIDADE III Categoria do Trabalho REFLITA O questionamento do valor público do trabalho, particularmente na França em setorestradicionalmente caracterizados por uma ética de serviço público, tem um profundo im- pacto sobre os indivíduos. Fonte: Elaborado pelos autores. Caro(a) aluno(a), um ponto importante é que o valor crucial dos coletivos de tra- balho é sublinhado, na medida em que eles estão organizados em torno de valores profis- sionais e de uma cultura profissional. Esses estão estruturalmente minados num contexto de “terceirização” sistemática, individualização crescente e desconfiança mútua. Com o questionamento das culturas de trabalho, os principais valores do “trabalho bem feito” e do “trabalho de qualidade” estão sofrendo. Nesse sentido, as injunções da gestão da qualidade total, de fato, escondem uma deterioração bem documentada do nível de qualidade real, o resultado de um trabalho bem feito. De acordo com muitos psicólogos e sociólogos do trabalho, é o poder dos indivíduos de agir que está sob ataque, já que na análise clínica é facilmente associada à análise de uma forma de dominação. O controle do conhecimento dos trabalhadores sempre esteve no centro da domina- ção do trabalho em um sistema capitalista. Isso porque a posse exclusiva de conhecimentos técnicos pode formar uma forte base de resistência, foi essa descoberta, em particular, que inspirou os princípios de gestão científica do trabalho. A intrusão do espírito gerencial nos próprios detalhes da atividade, ao dinamizar os ofícios organizados, resulta em um enfraquecimento da capacidade de resistência enraiza- da nos segredos de fabricação. Conflitos de critérios em torno da qualidade são anestesia- dos sob o domínio da ideologia gerencial, especialistas externos ditam aos comerciantes, os melhores procedimentos a seguir e os sujeitam a ritmos ditados por considerações de produtividade e rentabilidade que não têm relação com a realidade do trabalho. A qualidade proclamada tem cada vez menos a ver com a realidade dos produtos e serviços entregues, justamente porque os coletivos de trabalho que garantem os segredos de fabricação foram desmantelados. Para muitas pessoas que são apegadas ao valor de um trabalho bem feito, essa traição ao valor de uma bandeira é muito dolorosa. Além disso, a multiplicação dos controles, destinados tanto a provar o cumprimento das normas quanto a garantir a rastreabilidade, leva a uma quantidade desmesurada de burocracia, à imposição, cada vez mais invasiva e diretiva de gestos padronizados na produção e de comportamentos “roteirizados” nos serviços e, em muitos casos, à imposição de restrições contraditórias. 109UNIDADE III Categoria do Trabalho 4. QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS, GÊNERO E SEXUALIDADE NO MUNDO DO TRABALHO Caro(a) aluno(a), ao longo do curso de Serviço Social, você teve contato quanto à formação do capitalismo, marcado por ação dos ruralistas e agentes públicos e privados que possuíam riquezas. Embebido de valores estritamente dessas pessoas, e com muita ajuda estatal, formaram as relações de produção e consumo, cujas raízes ainda insistem em se mostrar e determinar o funcionamento da estrutura e superestrutura. Para além da discussão sobre a exploração que é peculiar ao capitalismo, o nosso enfoque, nessa parte da unidade, está voltado para quanto as formas de discriminação que pessoas pertencentes à determinadas classes sociais, raciais ou com condições sexuais sofrem no seu cotidiano, indo desde o posicionamento no mercado de trabalho até a remu- neração e possibilidades de crescimento e desenvolvimento na estrutura organizacional. Ao longo da presente parte dessa unidade, teremos contato com a realidade de mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiências e os LGBTIA+, destacando como os estado e as empresas de certa forma respondem às faltas de oportunidade ou inserção no mercado de trabalho, para isso vamos apresentar de forma breve o empreendedorismo, uma área que cresce muito no Brasil e dentro da categoria profissional do serviço social. O motivo de destacar sobre o empreendedorismo é porque muitos se veem obri- gados a se reinventar devido ao proconceito que sofrem ao longo da sua vida, enfatizando, assim, que quando uma pessoa passa a empreender normalmente ela parte exatamente para aquela área de dor que tanto ela ou alguém mais próximo sofreu, entendendo como uma forma de lutar contra a discriminação que sofreram ou limitantes às possiveis promoções. 110UNIDADE III Categoria do Trabalho E o que podemos considerar a partir dessas informações é que o despeito é crime e você enquanto futuro assistente social precisa ter em mente que todos temos direitos de ir e vir, não só porque está previsto na Constituição Federal, mas que deve estar enraizado no ser humano, entendendo a trajetória de vida do próximo deve ser respeitada. Durkheim (1999) destaca que o trabalho é categorizado como um instrumento de subjugação e de dominação, em que algumas pessoas podem ter acesso a determinadas funções e cargos (veremos mais a seguir), mas o que precisamos compreender é que independe disso, o respeito deve sempre prevalecer e nunca diminuiu o próximo, seja porque é negro, mulher, deficiente ou faz parte do grupo LGBT. Acreditamos que você, enquanto estudante de Serviço Social, percebeu que o tra- balho é a base fundamental na vida do ser humano, seja para manter a sua sobrevivência ou para modificar a si mesmo, o fato é que as diversidade existem e devem ser olhadas com respeito, visto que a discriminação no local de trabalho consiste em colocar um funcio- nário, estagiário ou candidato a um emprego em desvantagem por causa de certos critérios não-objetivos. É claro que essa prática é proibida, mas qualquer decisão do empregador em relação ao empregado deve ser baseada em considerações de natureza profissional e não pessoal. 4.1 Discriminação Direta e Indireta no Trabalho Caro(a) aluno(a), existem dois tipos de discriminação no trabalho: a discriminação direta e a indireta, as quais iremos destacar a seguir. A discriminação direta no local de trabalho, significa tratar uma pessoa de forma desfavorável em relação a outra em situação semelhante, devido aos critérios mencionados acima. Na prática, o comportamento discriminatório é muito mais sutil, até mesmo oculto. Pode, até mesmo, não ser intencional e, por isso, que as novas disposições - Consolidação das Leis trabalhistas (CLT) sancionam a discriminação indireta. Neste sentido, a discriminação indireta no local de trabalho, ocorre quando uma disposição, critério ou prática aparentemente neutra é susceptível de resultar em uma des- vantagem particular em comparação com outras pessoas pelas razões mencionadas acima (ver critérios para discriminação), a menos que a disposição, critério ou prática seja objeti- vamente justificada por um objetivo legítimo, cujos meios são necessários e proporcionais. Um exemplo de discriminação indireta: exigir que um funcionário seja fluente em um idioma estrangeiro para ser transferido, mesmo que o idioma não seja útil para o trabalho em questão e não seja exigido de outros funcionários na mesma posição. O discriminador 111UNIDADE III Categoria do Trabalho Portanto, a discriminação no local de trabalho, seja direta ou indireta, nem sempre é o trabalho do empregador. O perpetrador do ato discriminatório pode, de fato, ser um funcionário que exerce uma certa autoridade sobre um ou mais de seus colegas ou que tem certos poderes próprios (gerente de linha, gerente etc.). O funcionário que cometer discri- minação pode estar sujeito a uma sanção disciplinar ou mesmo a demissão (dependendo da gravidade da infração). Mediante a isso, o trabalho, sendo como um direito, é de suma importância se rein- tegrarem de uma forma saudável no ambiente de trabalho, assim sendo, uma das formas de garantir que essas pessoas tenham êxito nos ambientes de trabalho seria justamente conscientizar o patronato a respeito de alguns limitantes, bem como contribuir para uma formação que justamente com a populaçãoque vocês atenderão possam desenvolver potenciais produtivos. E como você, futuro assistente social, poderá identificar se o indivíduo a qual passa- rá atender, quando estiver inserido em algum espaço sócio ocupacional está sofrendo uma discriminação direta ou indireta? Ora, muitas vezes, é preciso fazer um resgate histórico entendendo a rotina do trabalho, as atitudes dos colegas e do empregador para com o indivíduo atendido e identificado em qual padrão se enquadra a discrinação. Destacamos que os assistentes sociais têm um papel muito importante em relação à discrinação que é a conscientização apoiando o indivíduo, dispondo-se de qualquer julgamento, denunciando e participando de movimentos sociais que defendem essas causas, evitando o uso de achismo e, sim partindo do que está posto e concreto. 4.2 Étnico- Racial no Mundo do Trabalho Caro(a) aluno(a), infelizmente é um fato comprovado que em pleno século XXI a discriminação racial ainda está presente na sociedade, principalmente nas relações de trabalho, em que passamos uma boa parte do nosso dia convivendo com pessoas que tem crenças, culturas e ideologias diferentes da nossa. Quando analisamos o mundo do trabalho, nos deparamos com as diversidades, diferenças, vulnerabilidades e desigualdades que podem se originar por diversos motivos, até aqui tudo bem, porque, não somos iguais, mas um ponto que deve ser olhado por todos é a discriminação, nessa parte da unidade, por estarmos focando na questão étnico-racial, vamos destacar essa pauta, mas é evidente que temos outros tipos de discrinação, mas, abordaremos mais a frente. 112UNIDADE III Categoria do Trabalho A discriminação por estar presente, a partir da posição social, a especialização, o cargo que ocupa entre outros fatores que podem levar uma pessoa a realizar um tratamen- to diferenciado de forma consciente e/ou inconsciente, porém o fato é que a discrinação é crime. Não podemos deixar de relatar aqui que a desigualdade, muitas vezes, é o passe para a discriminação, mesmo sem saber o contexto histórico e o que de fato a pessoa é e faz, tendo o julgamento também através da aparencia. SAIBA MAIS A discriminação nada mais é do que um ato de tratar uma pessoa de forma diferente, baseando em preconceitos. Em relação à discriminação racial existe ofensa e/ou exclu- são devido à raça ou etnia. Fonte: Elaborado pelos autores. De acordo com uma pesquisa realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2019) em relação ao mercado de trabalho há um percentual alto de pessoas pretas e pardas que se encontram desempregadas, bem como subutilizados e os que prestam serviços informais, vejamos: Os pretos ou pardos representavam 54,9% da força de trabalho no país (57,7 milhões de pessoas) e os brancos, 43,9% (46,1 milhões). Entretanto, a população preta ou parda representava 64,2% dos desocupados e 66,1% dos subutilizados. Além disso, enquanto 34,6% da população ocupada de cor branca estava em ocupações informais, para os trabalhadores pretos ou pardos, este percentual atingiu 47,3% A taxa composta de subutilização da população preta e parda (29,0%) era maior do que a dos brancos (18,8%). A desigualdade persiste mesmo quando considerado o recorte por nível de instrução. Entre os que tinham pelo menos o nível superior, essa taxa era de 15,0% para os pretos ou pardos e de 11,5% para os brancos e entre os sem instrução ou com fundamental incompleto: 32,9% e 22,4%, respectivamente (IBGE, 2019). Além disso, também temos a questão do rendimento salarial, que, de acordo com o IBGE (2019) o rendimento das pessoas pretas e pardas são menores ao comparar com as pessoas consideradas brancas. Vejamos: O rendimento médio mensal das pessoas ocupadas brancas (R$2.796) foi 73,9% superior ao da população preta ou parda (R$1.608). Os pretos ou pardos recebem menos do que os trabalhadores de cor branca tanto nas ocupações formais, como nas informais. Enquanto o rendimento médio dos ocupados brancos atingiu R$17,0 por hora, o dos pretos ou pardos foi de R$10,1 por hora. Os ocupados pretos ou pardos receberam rendimentos por hora trabalhada inferiores aos dos brancos, independentemente do nível 113UNIDADE III Categoria do Trabalho de instrução. Os brancos com nível superior completo ganhavam por 45% a mais do que os pretos ou pardos com o mesmo nível de instrução. Quanto à razão de rendimentos, destaca-se a vantagem dos homens brancos sobre as demais combinações. A maior distância ocorre quando comparados às mu- lheres pretas ou pardas, que recebem menos da metade do que os homens brancos (44,4%) (IBGE, 2019). Em relação a cargos gerenciais que são realizados por pessoas pretas e pardas, segundo o IBGE (2019) o número também é menor, contabilizando apenas 29% em relação ao total pesquisado, vejamos: A proporção de brancos (68,6%) em cargos gerenciais era maior que a de pretos ou pardos (29,9%), em 2018. Somente no Norte (61,1%) e no Nor- deste (56,3%), a proporção de pretos ou pardos em cargos gerenciais era maior. Mas como tais percentuais são inferiores aos da proporção de pretos ou pardos na população ocupada em geral destas regiões (78,0% e 74,1%), caracteriza-se, também, a sub-representação. A divisão em cinco classes de rendimento do trabalho principal evidencia que, quanto mais alto o rendimen- to, menor é a ocorrência de pessoas pretas ou pardas ocupadas em cargos gerenciais. Na classe de renda mais elevada, somente 11,9% das pessoas ocupadas com cargos gerenciais eram pretas ou pardas e 85,9%, brancas. Por outro lado, nos cargos gerenciais de renda mais baixa, havia 45,3% de pretos ou pardos e 53,2% de brancos.(IBGE, 2019). Caro(a) aluno(a), como podemos entender, existe uma diferença gritante em relação às porcentagens apresentadas pelo IBGE, uma pesquisa considerada recente, mas que acreditamos não ter mudado muito em relação aos dias atuais, o que nos faz questionar o porque, sabendo que a cor de pele não faz a pessoa maior ou menor perante ao cargo e/ou função que realiza, o que nos leva a considerar que, por mais que temos a Lei 7.716/1989 que destaca que discriminação de raça ou de cor é crime, bem como o dia da consciência negra que é comemorada no dia 20 de novembro aqui no Brasil e movimentos sociais que abordam a questão de discriminação, infelizmente ainda nos deparamos com a diferença no tratamento, principalmente no mundo do trabalho. 114UNIDADE III Categoria do Trabalho REFLITA Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada. Pena: reclusão de dois a cinco anos. § 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica: (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência) I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores; (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vi- gência) II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício pro- fissional; (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência) III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, espe- cialmente quanto ao salário. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência) Fonte: BRASIL, 1989. Caro(a) aluno(a), se observar a Lei que define crime para aquele que comete a discriminação contra uma pessoa por conta da cor ou raça é recente, um ano após a Cons- tituição Federal de 1988. Ao realizar um resgate histórico podemos observar que antes do ano de 1888, o sistema econômico brasileiro tinha a escravidão como um dos pilares de sustentação, sem possuidor de nenhum direito fundamental as pessoas de cor preta e os indiginas sofriam vários atos desumanos, que só puderamser melhorados após a abolição da escravidão com a Lei Aurea. Com isso, muitos ex-escravos, não sabiam o que fazer, pois não tinhamestudos e conhecimento além do que eram submetidos, é claro que com o passar dos anos as situações foram melhorando e após a Lei 7.716/1989 foi instituição crime para aqueles que cometem discriminação racial, pois não é a cor de pelo que diz sobre a pessoa e não se deve julgar alguém por isso, na verdade não devemos achar que temos este poder de julgar alguém, pois não conhecemos a realidade e a história vivida por cada indivíduo. E partindo dessa lógica, caro(a) aluno(a) que precisamos entender o contexto histórico, a realidade sem fazer qualquer tipo de distinção, mesmo que seja de forma in- consciente, ou seja, sem perceber. Quando um juiz, advogado, promotor, assistente social entre outros profissionais, deixam de ouvir um lado da história pode estar realizando uma discriminação, e quando essa discrimanação acontece e não é feito nada, é viver um retro- cesso de tudo o que foi conquistado. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm#art60 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm#art65 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm#art60 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm#art65 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm#art65 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm#art60 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm#art65 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm#art60 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm#art65 115UNIDADE III Categoria do Trabalho Em relação ao mundo do trabalho, fica evidente que a discriminação esta enraizada e aconetece por vários motivos, mas uma pergunta que não podemos deixar passar. O que você enquanto futuro assistente social e cidadão poderá fazer quando se deparar com uma situação de discriminação racial no ambiente de trabalho? Deixamos isso como um ponto de reflexão, pois, independente da cor de pele, não devemos julgar ou discriminar alguém, mas sim, respeitar a opinião, o direito que cada um tem. Compreendendo que a diferença de cargo, salário no mundo do trabalho em relação a cor de pele deve mudar, pois não é isso que define alguém. Acreditamos que a partir dessas informações, você, caro(a) aluno(a) consiga ter uma dimensão do porque é importante estudar essas informações, pois, infelizmente, a discriminação racial ainda esta presente na sociedade e você enquanto futuro assistente social poderá se deparar com situações que poderá exigir uma ação diante da situação. 4.3 Gênero e Sexualidade no Mundo do Trabalho Caro(a) aluno(a), antes de entrar neste tópico sobre o gênero e a sexualidade no mundo do trabalho, pois são fatores importantes para a empregabilidade dos cidadãos e pessoas que vocês atenderão ao longo da sua vida profissional, se faz necessário uma breve conceituação a respeito do que viria a ser a sexualidade e o gênero. Mesmo em um contexto em que este tipo de assunto é abordado com desenvoltura e de uma forma mais acessível, se comparado com anos anteriores, a devida problemati- zação é sempre bem-vinda para a nossa compreensão. Assim sendo, convidamos você a acompanhar este resgate e a conceituação dos objetos supracitados 4.3.1 Sexualidade Caro(a) aluno(a), definir a sexualidade significa especificar o lugar que ela ocupa no nível coletivo e individual. Significa olhar para seu significado, seu simbolismo, seus rituais. A sexualidade é parcialmente governada pela comunidade e está intimamente ligada à so- cialização dos indivíduos. Mas é também um fato íntimo, psicoafetivo e físico do sujeito que depende do contexto social, histórico e cultural de uma sociedade, mas também contribui para sua evolução, nesse sentido, a sexualidade e a cultura parecem ser inseparáveis. 116UNIDADE III Categoria do Trabalho No senso comum, a sexualidade se refere à atividade genital. Mas, às vezes, é con- fundido com afeto, ternura, certas emoções, amor. Também pode se referir à imaginação erótica, sedução, sensualidade, prazer, entre outros. O caráter polimórfico persiste no caso de uma abordagem mais rigorosa. A definição do que seria a normalidade da sexualidade (se for assumido que ela existe para um determinado indivíduo ou comunidade) varia de acordo com a importância dos fatores socioculturais e religiosos fatores envolvidos. Do ponto de vista biológico, a sexualidade se refere às funções da diferenciação sexual e reprodução. Essa abordagem é também a da fisiologia e, em certa medida, da psicologia experimental. Ou seja, a sexualidade é considerada como uma função entre ou- tras: fome, sede ou sono. Assim reduzida a um impulso corporal que tem de ser satisfeito, a sexualidade não aparece entre as necessidades primárias e vitais de um indivíduo. REFLITA A visão funcionalista é muito redutora, pois leva em conta apenas a procriação, creditan- do toda a organização social que é construída em torno dessa atividade de procriação de sexualidade. Fonte: Elaborado pelos autores. A visão da etologia humana também tende, às vezes, a reduzir a sexualidade a com- portamentos que expressam necessidades inatas. Assim, o apego é visto principalmente como uma relação social instintiva. A outra tendência é privilegiar os elementos adquiridos durante a relação mãe-infante. O trabalho de Bowlby (1969) sobre o bebê humano sintetiza essas duas correntes e torna possível considerar o apego como a forma primária do vínculo social, levando em conta as disposições inatas da criança, que entram em jogo, em resposta à solicitação da mãe em relação a ele. As observações de Harlow (1972) sobre macacos rhesus mostram que a dimensão afetiva da fixação, seria o ciúmes a grosso modo, não é específica aos humanos. A conexão entre a noção de apego e a de impressão parecia contradizer a concepção freudiana do mecanismo de andaime e ainda mais em geral a do desenvolvimento libidinal. 117UNIDADE III Categoria do Trabalho Na verdade, a fixação também pode ser concebida como uma forma particular de acionamento de autopreservação e algumas pessoas falam de acionamento de fixação ou apego. O apego parece ser uma noção fundamental na medida em que é um dos profundos laços sociais que formam os sentimentos de afetividade entre os seres, inclusive sobre os sentimentos de atração sexual. O apego parece ser uma noção fundamental na medida em que é um dos profun- dos laços sociais que formam o núcleo das relações subsequentes que cada pessoa pode criar em sua vida. De fato, a capacidade de relacionamento de um indivíduo depende da qualidade dos laços que ele ou ela experimentou e desenvolveu por sua vez, durante a primeira infância. Podemos nos referir aos estudos sobre os efeitos da separação precoce estudados por Spitz (1949). Atualmente, a etologia, que é uma disciplina crescente, cobre um campo de estudo muito mais amplo, evidenciando que a sexualidade é uma forma de expressão de como a pessoa é de fato. 4.3.2 Gênero Caro(a) aluno(a), os termos “sexo” e “gênero” são frequentemente utilizados de forma intercambiável, embora tenham significados diferentes: O termo sexo se refere a um conjunto de atributos biológicos encontrados em humanos e animais. Está relacionado principalmente às características físicas e fisiológicas, por exemplo, cromossomos, expressão gênica, níveis hormonais e a anatomia do sistema reprodutivo. O sexo é geralmente descrito em termos binários, ‘feminino’ ou ‘masculino’, mas existem variações nos atributos biológicos que definem o sexo e na expressão desses atributos. O gênero se refere aos papéis, comportamentos, expressões e identidades que a sociedade constrói para homens, mulheres, meninas, meninos e pessoas de diferentes sexos e gêneros. O gênero afeta a forma como as pessoas se percebem e aos outros, como agem e interagem, e como o poder e os recursos são distribuídosna sociedade. A identidade de gênero não é binária (menina/mulher, menino/homem) nem estática. Ao invés disso, ela se encontra ao longo de uma continuidade e pode mudar com o tempo. Indiví- duos e grupos compreendem, experimentam e expressam o gênero de diversas maneiras, através dos papéis que adotam, das expectativas depositadas neles, das relações com os outros e das formas complexas em que o gênero é institucionalizado na sociedade. 118UNIDADE III Categoria do Trabalho SAIBA MAIS O que é identidade de gênero? A identidade de gênero é uma consciência ou sentimento interno que todos nós temos sobre ser homem, mulher, nenhum dos dois ou ambos. Enquanto as normas conven- cionais nos ensinam que existem apenas duas opções (ou seja, o binário masculino/ feminino), na realidade as pessoas experimentam e expressam seu gênero de maneiras muito mais variadas e complexas. Há muitas identidades de gênero diferentes, incluindo, mas não se limitando a: 1. Andrógino: uma pessoa cuja expressão de gênero (por exemplo, roupas, penteados, etc.) não corresponde ao gênero binário, ou cai em algum lugar entre masculino e feminino. 2. Heterossexual feminino: Termo usado para descrever uma pessoa que nasce com órgãos sexuais femininos, hormônios e/ou cromossomos. 3. Heterossexual masculino: Termo usado para descrever uma pessoa que nasce com órgãos sexuais masculinos, hormônios e/ou cromossomos. 4. Bissexual: Uma pessoa com um espírito feminino e um espírito masculino vivendo no mesmo corpo. É um termo importante em algumas culturas aborígines, e alguns aborígines o utilizam para descrever sua orientação sexual, identidade de gênero e/ ou identidade espiritual. 5. Cisgênero: uma pessoa cuja identidade e expressão de gênero correspondem ao sexo que lhe foi atribuído ao nascer. 6. Gênero fluido: uma pessoa cuja identidade e expressão de gênero não são estáti- cas e podem flutuar com o tempo e/ou circunstâncias. 7. Gênero estranho: uma pessoa que não se descreve como homem ou mulher, am- bos, ou uma mistura de homem e mulher. As pessoas que se consideram transgêne- ros podem ou não se identificar como tal. 8. Não binário: uma pessoa que rejeita uma sociedade que reconhece apenas o gêne- ro binário de homens e mulheres, e define seu gênero fora dessas normas. As pes- soas não binárias podem se identificar como não tendo gênero, como estando entre gêneros ou como tendo um gênero que nem sempre é o mesmo. As pessoas que se consideram não-binárias podem ou não se identificar como transgêneros. 9. Transgênero (trans): uma pessoa cuja identidade de gênero não corresponde ao sexo que lhe foi atribuído ao nascer. As pessoas cuja identidade de gênero não se enquadra no gênero binário podem se identificar como transgênero. Estas são apenas algumas das identidades de gênero com as quais você pode se identificar - cada pessoa é única. Fonte: ABGLT 2010, p. 11-17 119UNIDADE III Categoria do Trabalho 4.3.2.1 Teorias Sociológicas Sobre a Divisão Sexual do Trabalho Hoje, diferentes categorias de análise são utilizadas, dependendo da disciplina, para en- tender a divisão assimétrica do trabalho entre os sexos: a divisão sexual do trabalho e as relações de gênero; gênero e relações de gênero; diferenças de gênero; discriminação e desigualdade. Duas teorias sobre a divisão sexual do trabalho ou duas questões sociológicas contras- tantes coexistem como paradigmas neste campo: por um lado, a ideia de complementaridade entre os sexos ou a ideia de uma conciliação de papéis em que o aspecto da vinculação social, a integração social é proeminente. Faz parte do paradigma funcionalista da tradição Parsons, em que a divisão de papéis é ordenada e baseada na natureza masculina e feminina. Essa “conciliação” pode tomar três formas, a primeira refere-se a um modelo tra- dicional (mulheres em casa, homens no trabalho). A segunda a um modelo de conciliação (as mulheres são de fato as únicas a conciliar a vida profissional e familiar) e, por fim, a um modelo, finalmente, de delegação (mulheres delegadas a outras mulheres, o que amortece a contradição e a tensão no casal; a delegação substituiria assim o “dia duplo”. A abordagem de complementaridade é consistente com a ideia de uma divisão entre homens e mulheres do trabalho profissional e doméstico e, dentro do trabalho profissional, a divisão entre tipos de trabalho que permitem a reprodução dos papéis de gênero. A abor- dagem de “parceria” que surgiu da Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher organizada pela ONU em Pequim, em setembro de 1995, é parte desse problema neo-funcionalista de complementaridade de papéis. O “princípio da parceria” é baseado em uma lógica de reconciliação de papéis e não de conflito e considera mulheres e homens como parceiros, mais do que em termos de desigualdade ou relações de poder. A problemática da divisão sexual do trabalho, como construção social, cultural e histórica das categorias masculina e feminina, defende uma lógica de contradição e conflito em oposição à lógica neo funcionalista e neo parsoniana de complementaridade, tão pre- sente na sociologia da família brasileira contemporânea. Na teoria da divisão sexual do trabalho como um conflito, a dimensão da opressão/do- minação está fortemente presente. A divisão social e técnica do trabalho está associada a uma hierarquia clara em termos de relações de poder de gênero. Existem também, dois princípios da divisão sexual do trabalho: separação (o trabalho masculino é diferente do trabalho feminino) e hierarquia (o trabalho masculino é sempre de maior valor do que o trabalho feminino). Essa teoria sociológica da divisão sexual do trabalho renova os paradigmas da sociologia do trabalho na medida em que amplia o conceito de trabalho. O trabalho é con- siderado como trabalho profissional e doméstico, sendo o status do trabalho totalmente conferido ao trabalho doméstico; o trabalho é considerado como remunerado e não re- munerado, formal e informal, sendo este último tipo de trabalho dominante nos chamados países em desenvolvimento e crescente nos países capitalistas desenvolvidos. 120UNIDADE III Categoria do Trabalho 4.3.2.2 Relações Entre Subordinados e a Questão Sexual Caro(a) aluno(a), a divisão sexual do trabalho é uma questão fundamental nas relações de gênero, que são desiguais, hierárquicas e assimétricas, nos antípodas das teorias interacionistas do vínculo social e da complementaridade de papéis, desenvolvidas por sociólogos como Erving Goffman Em relação ao Donald Roy, (2006), este analisa o caso de relações em uma fábrica entre o chefe e os trabalhadores não em termos de opressão/dominação, mas simplesmen- te em termos de interação e “relações heterossexuais entre os chefes de equipe e seus grupos de trabalho”, em que seríamos tentados a falar, no caso específico, mencionado por D. Roy, de “assédio sexual”. Erving (1985) apresentou um dossiê que nos convida a explorar as relações de gênero dentro da força de trabalho subalterna em toda sua diversidade, em relação ao maior ou menor grau de mistura de universos de trabalho, bem como a organização do trabalho e condições de emprego. Além da situação de trabalho, também analisaremos os efeitos das relações de gênero no trabalho sobre o mundo sem trabalho e, de modo mais geral, sobre os ambientes da classe trabalhadora. O dossiê exige contribuições que relacionem o estudo das relações de gênero no trabalho com uma análise mais ampla das transformações e continuidades dentro das classes trabalhadoras, hoje caracterizadas por uma situação dominada, mas também por uma maior permeabilidade às normas das classes média e alta das quais são os efeitos das relações de gênero no trabalho, formas de poder e subordinação, sociabilidades, mobi- lidades sobre as relações de gênero fora do trabalho e em particular na esfera doméstica. Ainda sobre o dossiê, destaca-se que foi exigido contribuições empíricas (esta- tísticas, arquivísticas, etnográficas)sobre o Brasil e outros países, tornando possível contextualizar e comparar no espaço e no tempo as situações de trabalho de homens e mulheres em empregos subalternos. As contribuições baseadas em materiais originais são solicitadas, entretanto, os coordenadores também convidam os pesquisadores a apresen- tar contribuições baseadas em materiais empíricos que foram revisitados após terem sido inicialmente coletados com base em outras questões. Existe quatro ângulos mais específicos de estudo das relações entre os sexos no trabalho e os efeitos dessas relações na recomposição das classes trabalhadoras contem- porâneas serão explorados a seguir: 121UNIDADE III Categoria do Trabalho QUADRO 02 - OS ÂNGULOS SOBRE AS RELAÇÕES DE TRABALHO E A QUESTÃO SEXUAL Ângulo 01 Que formas assumem as relações hierárquicas entre homens e mulheres na força de trabalho subalterna. O objetivo é estudar tanto as formas clássicas de poder de gênero no mundo do trabalho (incluindo o assédio sexual e a sexualidade em geral) e todas as hierarquias informais que podem perturbar ou renovar a ordem de gênero, como os graus e formas de autonomia no trabalho para homens e mulheres. Ângulo 02 Apesar do alto grau de segregação profissional, existem situações de coeducação e copresença dos sexos dentro de um mesmo emprego, que tendem a aumentar em certos setores, como o comércio: quais são as formas de divisão do trabalho e as várias for- mas de relacionamento que são estabelecidas entre mulheres e homens. Ângulo 03 De modo mais geral, e mesmo nos mundos onde existem ocupações altamente sexistas lado a lado, existem formas de interação entre os sexos que não foram bem documentadas, particularmente entre trabalhadores e trabalhadoras em certos ambientes de trabalho. A questão pode ser colocada quanto à estrutura de contatos e formas de sociabilidade no trabalho entre mulheres e homens em empregos masculinos, sejam eles informais (pausas, bebidas), motivados por uma organização (sindicato, associa- ção) ou supervisionados pela empresa (festas, dias temáticos). Essas formas de sociabilidade são, em alguns casos, a base para a criação de uma pertença comum e de uma mobilização coletiva no trabalho? Ângulo 04 O estudo das relações entre os sexos no trabalho também poderia ser informado por uma abordagem dinâmica da mobilidade profissional: que circulações podem ser observadas entre empregos de colarinho branco (ligados à diretoria e cargos estratégicos) e de colarinho azul (ligados ao chão de fábrica) ? Entre ambientes de trabalho mistos e não mistos? Quais são os mecanismos que levam a uma mudança de um para o outro? Fonte: Erving, 1985, p 32-33. Caro(a) aluno, a precariedade e vulnerabilidade dos empregos e a nova divisão sexual do trabalho de cuidado é entendido com a comoditização do trabalho de cuidado, esse trabalho feminino livre e invisível torna-se visível e começa a ser considerado como trabalho (com seus corolários: treinamento profissional, salário, promoção etc.) e pode até se tornar trabalho masculino, como no Japão, em instalações residenciais para idosos. 122UNIDADE III Categoria do Trabalho Com as mudanças no mercado de trabalho após a crise econômica que atingiu o Japão a partir do início dos anos 90 e a crise financeira de 2008, a necessidade de reorientar carreiras após os despedimentos afeta homens e mulheres que anteriormente ocupavam empregos estáveis. Trabalhar no setor de serviços tem sido uma oportunidade, pois o governo tem oferecido treinamento nesse setor para facilitar a reintegração dos desempregados. O grande número de trabalhadores do cuidado masculino em estabeleci- mentos japoneses é, no entanto, muito surpreendente, dada a medida em que o cuidado é o trabalho de uma mulher na esfera doméstica. Pode-se considerar que entre não trabalho ou desemprego e o trabalho no setor de cuidados, a escolha dos homens é clara: apesar das dificuldades e estereótipos associados a essa atividade, o acesso a empregos nesse setor em expansão abre perspectivas de carreira e uma certa estabilidade que é a antítese da experiência de tentar o desemprego. Uma nova divisão sexual do trabalho no setor de cuidados é, portanto, o resultado da precariedade e da vulnerabilidade dos empregos. Entretanto, essa presença de homens está limitada às instituições e é muito rara nos cuidados domiciliares. 4.3.3 Pela Liberdade dos LGBTQIA+ Serem Eles/Elas Mesmos(As) A violência do Brasil contra pessoas LGBTQIA+ é um fenômeno histórico. No nível simbólico, a operação da violência ou recorre à ideia de um modelo de núcleo único e obrigatório, cis, heterossexual e biparental, que elimina a diversidade sexual e de gênero (MELLO, 2006), ou recorre ao LGBTQIA+ marcados como estereótipos e estigmas de comportamento desviante, poluição e degradação, apelando para o discurso moral, social, biológico, religioso e médico. No nível físico, a violência assume a forma de abandono, estupro “corretivo”, assassinato e agressão. O “Atlas da Violência em 2020” (CERQUEIRA et al., 2020) apontou claramente a urgência de produzir, sistematizar e divulgar dados e indicadores de violência contra LGBTQIA + no Brasil. Essa urgência ainda existirá em 2021, pois o censo que será realiza- do este ano não contemplará questões relacionadas à identidade de gênero e orientação sexual (FRANÇA, 2021; FIGUEIREDO, ARAÚJO, 2021a). Ao mesmo tempo, não foram identificadas medidas para melhorar a qualidade e especificidade dos dados gerados pela combinação de saúde e direitos humanos, ou para começar a gerar esses dados no con- texto da segurança pública. 123UNIDADE III Categoria do Trabalho Mesmo com o hiato metodológico, pois o “Atlas da Violência em 2020” a sua análise aqui realizada será baseada em dois conjuntos de dados: um conjunto que envolve a produção de uma linha direta de direitos humanos (disque 100) associada ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH); o outro é feito pelo Ministério da Marca do Sistema Nacional de Notificação de Informações de Saúde (Sinan). Ou seja, dependente da variável denúncia, em que as pessoas LGBTQIA+ podem se sentirem constrangidas ou coagidas a fazer qualquer denúncia. Os números têm tido uma certa volatilidade, todavia apresentam uma tendência de queda, veja no gráfico a seguir: GRÁFICO 1 - BRASIL: NÚMERO DE DENÚNCIAS DE VIOLÊNCIAS CONTRA PESSOAS LGBTQIA+ (2011 A 2019), SEGUNDO O DISQUE 100 Fonte: Ipea - https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/1375-atlasdaviolencia2021completo.pdf Acesso em: 31/10/2021 No gráfico 2 conseguimos visualizar um dado alarmante sobre a questão do bem estar e do risco à vida que muitas pessoas LGBTQIA+ sofrem, pois aqui mostra sobre as tentativas de homicídios e os homicídios consumados que esta população está sujeita por apenas serem eles/elas mesmos(as). https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/1375-atlasdaviolencia2021completo.pdf 124UNIDADE III Categoria do Trabalho GRÁFICO 2 - BRASIL: NÚMERO DE DENÚNCIAS DE HOMICÍDIOS E DE TENTATIVAS DE HOMICÍDIOS CONTRA PESSOAS LGBTQI+ (2011 A 2019), SEGUNDO O DISQUE 100 Fonte: Ipea - https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/1375-atlasdaviolencia2021completo.pdf Acesso em: 31/10/2021 Embora diferentes, a violência física e a simbólica se sobrepõem, com o objetivo de eliminar, eliminar e silenciar o comportamento sexual e a expressão de gênero dos dissiden- tes, ganhando força a partir do modelo único e heterogêneo do CIS que se impôs ao Brasil na história e que recentemente acompanhou a ascensão de um Movimento anti-LGBTQIA + moralista operado pela narrativa ganha força na suposta prioridade das crianças e famílias (KALIL, 2020). E uma dessas formas de “violência velada”, seria o mundo do trabalho. A inclusão da população LGBTQIA+ ao mundo do trabalho ainda é uma barreira muito grande a ser transposta, uma parcela significativa tem o seu sustentona prostituição, 90%, 4% possuem algum emprego formal e 6% possuem emprego informal, dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) através da pesquisa de Benevides e Nogueira(2020), em 2020. Todavia, a população LGBTQIA+ tem procurado ser mais empreendedores(as) como uma alternativa para fugir dessa forma de dependência. O mundo corporativo necessita entender que a desigualdade na força de trabalho da população LGBTQIA+ deve ser algo a ser superado, ou seja, este preconceito não con- vém para o mundo com o qual vivemos, as oportunidades de empregos deveriam ser pelos talentos, engajamento e méritos acadêmicos e profissionais, não por questões pessoais. Em 17 de maio de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu que a homossexualidade não era mais uma doença. Entretanto, esse não foi o dia de se tornar uma oportunidade para comemorar essa decisão histórica, mas, mais importante, para promover a conscientização e a ação contra a homofobia, a lesbofobia, a bifobia e a trans- fobia. Ainda nos dias de hoje percebemos este preconceito, sendo inclusive imputado como crime, acontecendo nas organizações. https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/1375-atlasdaviolencia2021completo.pdf 125UNIDADE III Categoria do Trabalho Embora as sociedades ocidentais tenham percorrido um longo caminho desde então, ainda são necessários esforços para mudar as mentalidades. De fato, um estudo apresentado no ano de 2017 pelo Ministério Público e os direitos de LGBT mostra que as desigualdades em relação à força de trabalho são generalizadas dentro das agências federais de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. O estudo também indicou que essas desigualdades afetam todas as faixas etárias, independentemente da hierarquia e da identidade de gênero. Nos contextos que sustentam o respeito para as pessoas LGBTQIA+, no local de trabalho, apresenta três apoios contextuais, ou simplesmente condições, que permitem que pessoas LGBTQIA+sejam elas mesmas no local de trabalho: políticas e práticas formais que são inclusivas, um clima de trabalho e relações de apoio e quando essas três condições são cumpridas, elas resultam em quatro de consequências para as pessoas LGBTQIA+, que são: QUADRO 03 - CONDIÇÕES PARA A BOA INTEGRAÇÃO DAS PESSOAS LGBTQIA+ NO MUNDO ORGANIZACIONAL 1 - Um aumento na probabilidade de sair como LGBTQIA+, pois os riscos associados à saída são percebidos como mínimos. 2 - Redução da tensão psicológica (ansiedade, de- pressão etc.), pois o grau de rejeição das pessoas estigmatizadas ou de desvalorização de sua identi- dade é menor. 3 - Atitudes melhoradas em relação ao empregador, já que os materiais transmitem uma visão positiva das identidades estigmatizadas. 4 - Redução da discriminação percebida, pois os apoios contextuais visam reduzir as reações negati- vas dos outros ao estigma. Fonte: Ministério Público e os direitos de LGBTQIA+, 2017, p. 53. Em relação às práticas vencedoras, o que representam exatamente os apoios contextuais em termos de gestão? Antes de mais nada, elas afetam as políticas internas, muitas vezes, implementadas pelo departamento de recursos humanos da empresa. As práticas inclusivas aumentam a igualdade e a justiça entre os funcionários, por exemplo, proibindo formalmente a discriminação baseada na orientação sexual, fornecendo cober- tura de seguro para beneficiários do mesmo sexo, convidando parceiros do mesmo sexo para eventos sociais corporativos, criando grupos de recursos de funcionários e muito mais. 126UNIDADE III Categoria do Trabalho Com o tempo, essas práticas se tornaram cada vez mais amplas e agora incluem, até mesmo, métricas de desempenho da alta administração relacionadas à diversidade e apoio filantrópico. Embora a adoção dessas políticas sinalize os comportamentos que a organização considera apropriados, os trabalhadores não se apropriam diretamente deles. As políticas estão sujeitas à interpretação e, portanto, precisam ser implementadas e res- peitadas em todos os momentos. Eles devem fazer parte do clima da empresa. Qual é a diferença entre um clima de trabalho inclusivo e políticas inclusivas? A pri- meira refere-se a ações que o pessoal tomará, enquanto a segunda refere-se a ações que o pessoal deve tomar. Um clima corporativo saudável promove a segurança psicológica, que se reflete em interações sociais positivas, cooperação e a capacidade de se expressar sem medo de repercussões. Finalmente, as relações de apoio são definidas como recursos interpessoais que podem influenciar a experiência de trabalho das pessoas LGBTQIA+. Como esses traba- lhadores experimentam situações únicas, como rejeição e isolamento, as relações de apoio podem mitigar os efeitos dessas situações, mesmo que venham de pessoas não- LGBTQIA+. Caro(a) aluno(a), existem três tipos de apoio que podem ser oferecidos para as pessoas que sofrem discriminação e que podem ser um ponto de reflexão no momento do atendimento a pessoa que sofreu a discriminação, as quais são: 1. Apoio emocional: isto envolve ouvir, empatizar e mostrar preocupação com as experiências passadas de discriminação no trabalho. 2. Apoio instrumental: esta é uma assistência tangível no caso de denúncia, por exemplo, corroborando ou confrontando os perpetradores do delito. 3. Suporte informativo: consiste em uma série de dicas e truques para navegar melhor em um ambiente de trabalho discriminatório. Em relação à contribuição histórica dos grupos de apoio dos funcionários, desta- ca-se que o crescimento sem precedentes no número de redes de funcionários LGBTQIA+ nas empresas da Fortune 1000 foi examinado pela socióloga americana Nicole Raeburn em 2004. Nesta pesquisa foi apresentado que o número de pessoas atendidas nas redes de funcionário LGBTQIA+ muito entre os anos de 1980 a 1998 No entanto este crescimento não ocorreu de forma linear, ou seja, constantes e seguindo uma mesma proporção, foi for- temente influenciado pelo clima social provocado por cada eleição presidencial americana. 127UNIDADE III Categoria do Trabalho No Canadá, a empresa de consultoria Deloitte, pela pesquisa de Sherman Garr et al. (2014) informou que quase uma em cada duas organizações canadenses não possuía um grupo de apoio dos funcionários. No entanto, são esses encontros - em todas as suas formas - que têm defendido benefícios semelhantes para parceiros ou proporcionado um espaço seguro para uma população estigmatizada dentro e fora do local de trabalho. Que abordagens esses grupos têm adotado, historicamente? Rod Githens e Steven Aragon(2009), pesquisadores americanos, distinguem 4 abordagens: 1. A abordagem radical queer: grupos com esta abordagem não desejam ser associados à empresa e travaram amplas batalhas ideológicas através de es- truturas informais de reunião e ação. Eles rejeitaram a binaridade hetero/homo e se aliaram através de coalizões externas maiores. 2. A abordagem informal reativa interna: tipicamente são grupos informais de trabalho em rede ou de desenvolvimento de carreira. Eles promovem a tutoria e outras formas de desenvolvimento pessoal e as apresentam como uma vanta- gem competitiva para a organização. 3. A abordagem informal organizada: são encontros altamente estruturados que fazem campanha como um sindicato, mas que não foram reconhecidos pela organização. Através de suas ações, eles visam provocar mudanças sociais ou organizacionais. 4. A abordagem convencional: Estes são os grupos mais comuns na gestão. Estes são os grupos de apoio para pessoas LGBTQIA+ apoiados por gerentes e às vezes até mesmo com um orçamento discricionário. Eles incentivam e facilitam o diálogo sobre a diversidade para o benefício da organização. A abordagem convencional é a mais fácil de implementar atualmente e, muitas vezes, a mais alinhada com os valores da organização. Embora a implementação e gestão de tal iniciativa possa ser objeto deum artigo completo em si, parece apropriado citar algumas práticas comuns e bem-sucedidas: 1. Ter uma missão e objetivos claros, a fim de justificar a existência do grupo e liberar o orçamento necessário para atingi-los. 2. Procure um patrocinador executivo, que atuará como uma linha direta de comu- nicação com a liderança da organização. 3. Abrir o grupo a qualquer pessoa interessada, para garantir que ele não contrarie as políticas anti discriminatórias existentes ou reforce possíveis estigmatismos. 128UNIDADE III Categoria do Trabalho Caro(a) aluno(a), como você pode observar a questão étnico-racial, gênero e se- xualidade no mundo do trabalho ainda são fatores que precisam ser entendido e uma forma de atuar frente a essa demanda é criar projeto e programas que possam conscientizar as pessoas de que todos têm o direito de ir e vir e que nós devemos respeitar cada um não porque está previsto em legislações, mas porque cada ser humano é único e merece respeito. 129UNIDADE III Categoria do Trabalho CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da terceira unidade, para que o conteúdo possa estar fixado, vamos relembrar alguns pontos importante que foram abordados ao longo dessas páginas, é importante compreender que a categoria do trabalho é um fator muito importante para os assistentes sociais, primeiro porque, por mais que sejamos uma categoria especializada, também estamos inseridos no processo de produção capitalista, seja de forma produtiva ou improdutiva. Como pode observar, esta unidade também estava dividida em quatro pontos que particularmente consideramos importantes, primeiro porque abordamos sobre o trabalho produtivo e improdutivo e ao abordar os conceitos dessas duas categorias não tem como não utilizar como base principal o livro de Marx “O capital”, pois suas bases teóricas é o que nos faz entender toda a dinâmica entre o capital e o trabalho, mas em relação ao trabalho produtivo, podemos considerar que este, nada mais é quando se tem um ou mais trabalha- dores que geram a mais valia para o capital de forma regular. Já o trabalho improdutivo é aquele que gera a mais valia, porém não se tem um vínculo efetivo. Em relação ao trabalho coletivo, além de nos basearmos nas teorias de Marx e de outros estudiosos que também se aprofundaram, pudemos observar o efeito do trabalho coletivo na sociedade a partir do processo de produção capitalista, a qual, somente, por meio do trabalho coletivo é que o capital consegue alcançar os seus objetivos em relação ao aumento do lucro, usufruindo do trabalho intelectual e manual de forma separada para manter o trabalhador alienado e sendo explorado de forma imperceptível. Já na terceira parte, destacamos sobre as formas contemporâneas do trabalho na sociedade e suas condicionalidades, causando muitos efeitos tanto positivos quanto negativos na vida do trabalhador. Por fim, a quarta parte da unidade, que consideramos um ponto muito impor- tante dentro da profissão que é a questão da discriminação racial, de gênero e sexualidade dentro do ambiente de trabalho e que deve sempre ser olhado pelos profissionais da área. 130UNIDADE III Categoria do Trabalho LEITURA COMPLEMENTAR LGBTQIA+: 5 empreendedores da comunidade que estão transformando o ecossistema de inovação Os desafios para uma maior inclusão de profissionais LGBTQIA+ no ecossistema de inovação começa pela falta de acesso às vagas e se estendem pelo pouco acolhimento nos ambientes corporativos. No entanto, as questões envolvendo diversidade e representatividade dessa comunidade em startups vão além dos processos de recrutamento, seleção e retenção. O debate também passa pelas oportunidades disponibilizadas para que pessoas, de todos os espectros de orientação sexual e gênero da sigla, possam criar e desenvolver negócios escaláveis de base tecnológica. Embora a ampliação da discussão seja algo almejado pelas startups brasileiras – de acordo com dados da Abstartups (Associação Brasileira de Startups), 75,1% das empresas nascentes de tecnologia acreditam que apoiar iniciativas desse tipo é um fator importante para seus negócios -, a representatividade da comunidade LGBTQIA+ no cargo de fun- dador é baixa. Das mais de 13 mil startups do país, apenas 3,9% possuem fundadores homossexuais. Nas outras siglas, o índice é ainda menor, chegando a 1,5% no caso dos bissexuais, 0,1% dos transgêneros e 0,2% de outra orientação sexual ou gênero. (...) Fonte: CARMEN,Gabriela Del. RIGA, Matheus. LGBTQIA+: 5 empreendedores da comunidade que estão transformando o ecossistema de inovação. 2021. Disponível em: https://forbes.com.br/forbe- sesg/2021/07/lgbtqia-5-empreendedores-da-comunidade-que-estao-transformando-o-ecossistema-de-inovacao/. Acesso em: 30 out. 2021. https://forbes.com.br/forbesesg/2021/07/lgbtqia-5-empreendedores-da-comunidade-que-estao-transforman https://forbes.com.br/forbesesg/2021/07/lgbtqia-5-empreendedores-da-comunidade-que-estao-transforman 131UNIDADE III Categoria do Trabalho MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: A riqueza das nações: uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações Autor: Adam Smith. Editora: Madras. Sinopse: O clássico A Riqueza das Nações, abreviação de Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Na- ções, foi escrito por Adam Smith, muitas vezes citado como o pai da economia moderna. A obra, publicada pela primeira vez em 1776, influenciou, além de muitos escritores e economistas, gover- nos e organizações. Ela é dividida em cinco livros: Livro Um: ‘Das causas da melhoria nas forças produtivas do trabalho e da ordem de acordo com as quais sua produção é naturalmente distribuída entre as diferentes classes de pessoas’, Livro Dois: ‘Da natureza, do acúmulo e do emprego de capital’, Livro Três: ‘Do diferente progresso de opulência em diferentes nações’, Livro Quatro: ‘Dos sistemas de economia política’, Livro Cinco: ‘Darenda do soberano ou da nação’. Com essa fórmula, A Riqueza das Nações foi consi- derada a primeira obra moderna sobre economia e ditou os pilares do liberalismo, proporcionando a base intelectual da grande era do século XIX de livre-comércio e expansão econômicas. FILME / VÍDEO Título: Orgulho e Esperança Ano: 2014. Sinopse: No ano de 1984, Margaret Tatcher está no poder e os mi- neiros estão em greve. Depois do orgulho gay chegar em Londres, um grupo de ativistas gays e lésbicas decide arrecadar dinheiro para enviar às famílias dos mineiros. Mas a União Nacional dos Mineiros parece um pouco constrangida em receber esta ajuda. Os ativistas não perdem o ânimo, decidem entregar a doação pes- soalmente e partem em direção ao País de Gales. Assim começa a história improvável de dois grupos que não tinham nenhuma relação, mas se uniram em prol de uma causa. 132 Plano de Estudo: ● Acumulação Flexível; ● Mundialização do Capital; ● Desemprego estrutural; ● Contra Reforma Neoliberal do Estado no Brasil. Objetivos da Aprendizagem: ● Contextualizar sobre a acumulação flexível; ● Compreender sobre a mundialização do capital; ● Destacar sobre o desemprego estrutural; ● Conceitualizar a contra Reforma Neoliberal do Estado no Brasil. UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho Professor Esp. Anderson de Castro Moura Professora Esp. Irení Alves de Oliveira 133UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta quarta unidade do livro, iremos abordar quatro pontos im- portantes em relação à crise da sociedade e que, de certo ponto, também afeta o mundo do trabalho, para entender melhor os conceitos, vamos destacar de forma mais técnica abordando contextos históricos que faz todos o sentido, tanto na força como a sociedade e o trabalho está organizado quanto a forma de atuação profissional. Nesse sentido, vamos contextualizar na primeira parte sobre a acumulação flexível, a qual será destacado sobre o novo regime dos processos de trabalho, levandoa uma rápi- da mudança e gerando a desigualdade social. Para entender melhor, nos aprofundaremos na acumulação flexível por meio da urbanização, o empobrecimento e desenvolvimento da informalidade, a produção do capital como símbolo, a aflição urbana sobre a acumulação flexível e as respostas políticas. Na segunda parte, será compreendido sobre a mundialização do capital, a partir das teorias críticas de Karl Marx em relação à globalização capitalista contemporânea a qual teve a sua origem em meados do século XIX, como forma de entender melhor, será necessário destacar sobre a superacumulação do capital, o surgimento de um império informal, chegando à globalização financeira. Já na terceira parte, destacaremos sobre o desemprego estrutural, que surgiu a partir das dificuldades e ajustes no mercado de trabalho ocasionado por alguns fatores im- portantes para a profissão no momento de identificar o problema, tais como demográficas, sociais e econômicas. Para entender melhor, vamos apresentar a causa do desemprego estrutural e qual a diferença entre o desemprego estrutural e cíclico. E, por fim, na quarta parte vamos conceitualizar a contra reforma neoliberal do Estado no Brasil, informações que são consideradas importantes para entender a proble- mática da desigualdade social e as práticas realizadas pelos profissionais do Serviço Social na época, podemos considerar que este tópico é muito importante dentro da categoria e que assim como os demais, entendê-los faz toda a diferença. Desejamos um ótimo estudo! 134UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho 1. ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL Caro(a) aluno(a), entender que o ano de 1972 não é um período ruim para simbolizar toda sorte de outras transições na economia política do capitalismo avançado. Foi aproxima- damente a partir desse momento que o mundo capitalista, abruptamente despertado pelo tor- por sufocante da estagflação que havia levado o longo boom do pós-guerra ao fim, começou a evoluir para um regime aparentemente novo e muito diferente de acumulação de capital. Iniciado durante a severa recessão de 1973-75, e depois consolidado durante a igualmente selvagem deflação de 1981-82 (a chamada recessão Reagan), o novo regime se caracteriza por uma espantosa flexibilidade nos processos de trabalho, mercados de trabalho, produtos e padrões de consumo. (ARMSTRONG, GLYN e HARRISON, 1984; AGLIETTA, 1974; PIORE e SABEL, 1984; SCOTT e STORPER, 1986; HARVEY, 1987). Ao mesmo tempo, isso levou as rápidas mudanças nas formas de desigualdades de desenvolvimento tanto entre setores quanto entre regiões geográficas - um processo ajudado pela rápida evolução de sistemas e mercados financeiros inteiramente novos. Es- ses poderes acrescidos de flexibilidade e mobilidade permitiram ao novo regime impor-se a uma força de trabalho já enfraquecida por dois momentos selvagens de deflação, durante os quais o desemprego atingiu níveis sem precedentes desde a guerra em todos os países capitalistas avançados (exceto talvez o Japão). 135UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho As rápidas mudanças dos países capitalistas avançados para os países recém- -industrializados ou de empregos industriais qualificados para empregos de serviços não qualificados demonstraram a fraqueza do movimento trabalhista e sua incapacidade de suportar um alto desemprego de caráter duradouro, destruição rápida e reconstrução de habilidades e aumentos salariais moderados ou nulos. SAIBA MAIS As circunstâncias políticas e econômicas também diminuíram o poder do Estado de pro- teger o salário social, mesmo em países cujos governos estavam seriamente compro- metidos com a defesa do Estado social. Apesar dos diferentes graus de resistência po- lítica, a austeridade e os cortes fiscais, às vezes, acompanhados por um ressurgimento do virulento neoconservadorismo, espalharam-se pelo mundo capitalista avançado. Fonte: Elaborado pelos autores. É notável que a vida intelectual e cultural desde 1972 também foi radicalmente transformada e paralelamente essas transformações políticas e econômicas. Considere, por exemplo, as práticas altamente modernas do estilo internacional de 1972. Até então, o modernismo havia perdido qualquer aspecto da crítica social. O programa proto-político ou utópico (a transformação de toda a vida social através da transformação do espaço) havia falhado (Jameson, 1984) e o modernismo havia se tornado intimamente ligado à acumulação de capital através do projeto de racionalização fordista caracterizado pela racionalidade, funcionalidade e eficiência. Em 1972, a arquitetu- ra modernista era tão asfixiante e lânguida quanto o poder social que representava. A estagflação na prática arquitetônica acompanhou a estagflação do capitalismo (talvez não seja coincidência que Venturi, Scott Brown e Izenour tenham publicado seu Learning from Las Vegas em 1972. Certamente a crítica da modernidade estava na agenda há muito tempo (a Morte de Jane Jacobs das grandes cidades americanas foi publicada em 1961) e, em certo sentido, o movimento cultural revolucionário havia se mudado como uma resposta crítica à racionalidade, funcionalidade e eficiência em tudo. Mas foi preciso a crise de 1973 para abalar a relação entre arte e sociedade o suficiente para permitir que o pós-modernismo se tornasse tanto autorizado quanto institucionalizado. 136UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho De acordo com Eagleton (1987) o pós-modernismo é, no entanto, um termo discu- tível. Para muitos, sugere-se uma reação contra o modernismo. Mas, como o significado do termo é confuso, as reações a ele são duplamente opostas. No entanto, parece haver algum consenso de que o típico produto pós-modernista é engraçado, pluralista, irrisório e até esquizóide; e que ele reage à austera autonomia do verdadeiro modernismo abraçando sem vergonha a linguagem do comércio e do uso. Mais do que isso, sua atitude em relação à tradição cultural é de pastiche irreverente, e sua superficialidade sistemática mina todas as solenidades metafísicas, às vezes recorrendo a uma estética brutal, suja e chocante. Mas mesmo no campo da arquitetura em que o produto é claramente visível e que autores como Jameson (1984) tentaram definir o que se entende por pós-modernismo, o significado e a definição do termo ainda está aberto ao debate. Ainda na perspectiva de Jameson (1974) em alguns campos onde o pós-modernismo foi combinado com o pós-es- truturalismo, desconstrução, entre outros, para este autor supracitado ainda mais obscuro. No contexto urbano, portanto, eu caracterizaria simplesmente o pós-modernismo como a ruptura com a ideia de que o planejamento e o desenvolvimento devem ser reali- zados através de projetos em grande escala, de estilo internacional, austeros e funcionais, tecnologicamente racionais, enquanto as tradições vernáculas e a história local, bem como formas específicas que vão desde as funções íntimas até o grande espetáculo, devem ser tratadas com estilos muito mais ecléticos. Outro elemento do quadro precisa ser levado em conta. Não apenas o capitalismo e suas práticas culturais e ideológicas associadas sofreram uma enorme mudança, mas nossos “discursos” também se deslocaram. A desconstrução das interpretações estruturalistas, o abandono das teorias em- piristas na maioria das ciências sociais, a rejeição do marxismo (por razões políticas e intelectuais) e a sensação de futilidade de qualquer tentativa de representar a realidade (a impenetrabilidade do ‘outro’ e a redução de todo significado a um ‘texto’) tornaram muito difícil manter um senso de continuidade em nossa compreensão da transformação que ocorreu por volta de 1972. Estávamos falando sobre o mundo de maneira diferente, usando uma linguagem diferente da que usamos agora. Temos que levar em conta que a transformação político-e- conômica alcançada através de uma sucessão de crises econômicase derrotas da classe trabalhadora afetou os discursos, assim como as práticas culturais e ideológicas. Isto soa como um velho argumento marxista. Mas não podemos deixar de ficar impressionados com a forma como o pensamento e a prática cultural, a economia e as instituições, a política e as relações sociais começaram a desmoronar ao vermos a poeira subir das paredes desmoronadas de Pruitt-Igoe. 137UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho 1.1 Acumulação Flexível Através da Urbanização Compreender a urbanização é essencial para entender a geografia histórica do capitalismo (HARVEY, 1985a), é em parte através de transformações no processo urbano que novos sistemas de acumulação flexível têm sido implementados com tanto sucesso. Mas também como muitos historiadores da ascensão do modernismo apontaram, existe uma estreita conexão entre o movimento estético e cultural e a natureza das mudanças na experiência urbana. Segundo os autores Berman (1982); Bradbury e MacFarlane (1976); Clark (1983); Frisby (1986) parece razoável, considerar as transições no processo urbano como um elemento chave na integração do movimento político-econômico na acumulação flexível e a corrente estético-cultural no pós-modernismo. A urbanização, como tudo mais, mudou seus pontos de impacto nos EUA desde 1972. A deflação global de 1973-75 teve um impacto incrível no emprego em muitas áreas urbanas. Uma combinação de mercados em retração, desemprego, rápidas mudanças nas restrições espaciais, assim como a divisão global do trabalho, fuga de capitais, fechamento de fábricas, reorganização tecnológica e financeira, causaram essa pressão. A dispersão geográfica não envolveu apenas outras regiões e nações, mas também envolve outra fase de desconcentração urbana da população e da produção para os subúrbios e pequenas cidades, quase verificando a previsão de Marx de uma urbanização do campo. O investimento em capital fixo e infra-estrutura física em locais existentes foi assim ameaçado com uma desvalorização maciça, com o risco de minar a base tributária e a capacidade fiscal de muitos municípios em um momento de crescente necessidade social. Como a redistribuição federal também se tornou mais difícil de obter (esta foi a contribuição da declaração Nixon de 1973), o consumo social foi reduzido, forçando cada vez mais os municípios a uma política econômica de contenção e ação disciplinar contra os funcionários municipais e o salário real local. De acordo com os autores Szelenyi (1984), Clavel et al (1980), Fainstain et al, (1986) e Tabb (1982), foi neste contexto que a cidade de Nova York faliu tecnicamente em 1975, provocando uma onda de dificuldades fiscais e uma reestruturação radical para muitas cidades americanas. As alianças entre grupos governantes em áreas urbanas foram forçadas, quer gostassem ou não, e qualquer que fosse sua composição, a adotar uma postura mais competitiva. 138UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho O gerencialismo tão característico do governo urbano dos anos 60 foi substituído pelo empreendedorismo como principal motivação da ação urbana (BOUINOT, 1987). O advento da cidade empreendedora significou um aumento da concorrência em várias dimensões. Markussen (1986) essa competição assume quatro formas: competição pela posi- ção na divisão internacional do trabalho, competição pela posição nos centros de consumo, competição pelas funções de comando e controle, especialmente administrativas e financei- ras, e finalmente competição pelos fundos públicos, que nos últimos anos se concentraram fortemente nos gastos militares. Essas quatro opções não são mutuamente exclusivas e as fortunas desiguais das regiões urbanas dependem da combinação de diferentes estratégias seguidas em relação às mudanças globais. É em parte através da forte concorrência interurbana que a acumulação flexível garantiu sua aderência. O resultado, entretanto, tem sido rápidas oscilações na riqueza urbana e no padrão de desenvolvimento geográfico desigual (SMITH, 1984). Houston e Denver, duas cidades em rápido crescimento em meados da década de 1970, foram subita- mente atingidas pelo colapso dos preços do petróleo em 1981, o Vale do Silício, a maravilha da alta tecnologia de novos produtos e novos empregos na década de 1970, perdeu de repente sua vantagem competitiva, enquanto Nova York e as antigas economias da Nova Inglaterra recuperaram-se vigorosamente nos anos 1980 devido à expansão das funções de comando e controle e até mesmo à força das novas indústrias. Seguiram-se dois efeitos ainda mais gerais. Em primeiro lugar, a competição entre cidades abriu espaços dentro dos quais novos e mais flexíveis processos de trabalho poderiam mais facilmente se instalar e permitir padrões de mobilidade ainda mais flexíveis do que antes de 1973. A preocupação de criar um clima favorável para as empresas levou os municípios a todo tipo de medidas (desde disciplina salarial até investimento público) para atrair desenvolvimento econômico, mas ao fazê-lo reduziu o custo de uma mudança de local para a empresa. Grande parte da tão apregoada parceria público-privada hoje é um subsídio aos consumidores ricos, empresas e funções de liderança para permanecer na cidade em detrimento do consumo coletivo local da classe trabalhadora e dos pobres. Além disso, os municípios foram forçados a inovar e investir para tornar suas ci- dades mais atraentes como centros de consumo e cultura. Tais inovações e investimentos (centros de congressos, estádios, Disney-world ‘s, supermercados do centro da cidade) logo foram imitados em outros lugares. A competição interurbana gerou, então, um jogo de salto de sapo de inovações urbanas em estilos de vida, formas culturais, produtos e, até 139UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho mesmo, inovações políticas ou dirigidas ao consumidor, tudo isso promovendo ativamente a transição para o acúmulo flexível. E aí reside parte do segredo da transição para a pós- -modernidade na cultura urbana. Essa conexão pode ser vista na reorganização radical dos espaços internos da cidade americana contemporânea sob o impulso da competição interurbana. O desenvol- vimento da informalidade, a produção de capital simbólico e a mobilização do espetáculo. O acúmulo flexível afetou profundamente as estruturas de classe e as possibilidades políti- co-econômicas ao ponto de modificar os processos reprodutivos, ao mesmo tempo em que deu nova importância ao conteúdo de classe das práticas espaciais. 1.2 Empobrecimento e Desenvolvimento da Informalidade Caro(a) aluno(a), desde 1972, os Estados Unidos têm visto um aumento no número de pobres urbanos. A composição dessa pobre população também mudou. Os trabalhadores de- sempregados ficaram desalojados com a desindustrialização e o fluxo de pessoas deslocadas de áreas deprimidas, especialmente rurais, e países do terceiro mundo incharam o que Marx chamou de exército de reserva da classe trabalhadora deixada para trás nas grandes cidades. Em alguns casos, determinadas comunidades urbanas ligadas a um único empre- gador local dominante foram completamente empobrecidas pelo fechamento de uma única fábrica. Em outros casos, grupos particularmente vulneráveis, como as famílias chefiadas por mulheres, foram mergulhados ainda mais na pobreza, criando áreas onde a pobreza se tornou predominantemente feminina. A contenção fiscal, que o neoconservadorismo tornou uma virtude política e não uma necessidade econômica, ao mesmo tempo reduziu o fluxo dos serviços públicos e, portanto, os mecanismos de enfrentamento para a massa de desempregados e pobres. Copiar e sobreviver em um ambiente urbano quase sem renda é uma arte que leva tempo para aprender. O equilíbrio entre a concorrência, a exploração mútua e a ajuda mútua se deslocaram assim entre as populações de baixa renda. O crescimento do em- pobrecimento levou, paradoxalmente,a uma diminuição da eficácia dos mecanismos mais positivos que supostamente deveriam remediar a situação. Mas outra resposta dramática surgiu - o surgimento do que é conhecido como “setor informal” nas cidades americanas (isso se refere a práticas ilegais como o tráfico de drogas, prostituição, mas também à produção legal e ao comércio de serviços). 140UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho A maioria dos observadores Castells e Portes (1987) concorda que estas práticas se tornaram mais difundidas e diversificadas após 1972. Além disso, o mesmo fenômeno foi observado nas cidades europeias, o que aproximou o processo urbano dos países capi- talistas avançados como um todo da experiência urbana do Terceiro Mundo. Segundo Redclift e Mingione (1985) a natureza e a forma desse desenvolvimento informal varia muito, dependendo das possibilidades de encontrar mercados locais para bens e serviços, das qualidades do exército de reserva de mão de obra (suas qualificações e habilidades), das relações de gênero (já que as mulheres desempenham um papel funda- mental na organização da economia informal), da presença de habilidades empresariais de pequena escala e da disposição das autoridades (poderes reguladores ou de supervisão, como os sindicatos) de tolerar práticas frequentemente ilegais. Comunidades de pessoas de baixa renda constituem um grande grupo de mão de obra que está atualmente sob grande pressão para encontrar alguma forma de subsistência. Em que o governo é frouxo e os sindicatos são fracos, podem surgir novas formas de produção de bens e serviços, às vezes, organizadas por empresários de fora da comunidade, mas em outros lugares organizadas por empresários de dentro da própria comunidade desfavorecida. O trabalho domiciliar se desenvolveu fortemente, permitindo às mulheres, por exemplo, combinar tarefas maternas e trabalho produtivo no mesmo espaço, ao mesmo tempo em que economiza aos empresários os custos de infraestrutura (fábrica, iluminação etc.). Workshops que praticam a exploração excessiva e a prestação de serviços informais tornaram-se elementos vitais das economias de Nova Iorque e Los Angeles nos anos 70 e são agora importantes em todas as cidades americanas. Isso tem sido acompanhado por uma crescente mercantilização dos sistemas de apoio recíproco dentro das comunidades de baixa renda. Os serviços de cuidado infantil, lavanderia, limpeza, pequenos reparos e outros trabalhos estranhos, que antes eram forne- cidos gratuitamente, agora são comprados e vendidos, às vezes, no contexto das empresas. As relações sociais dentro das comunidades de baixa renda se tornaram muito mais empreendedoras, com todas as consequências em termos de exploração excessiva e frequentemente específica (especialmente das mulheres) no processo trabalhista. O fluxo de renda dentro das comunidades cresceu, mas às custas do sistema tradicional de bem-estar social e reforçando as hierarquias sociais existentes dentro das comunidades. Isso levou muitos a olharem com surpresa a dinâmica local do desenvolvimento urbano e se proporem a tolerar, aceitar e, até mesmo, incentivar o desenvolvimento do setor informal, dando, assim, credibilidade ao argumento neoconservador de que a ativi- 141UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho dade empresarial privada é sempre o caminho para o crescimento econômico e o sucesso - como se pudesse resolver os problemas dos pobres quando seleciona apenas alguns deles. Entretanto, o crescimento do setor informal - e o surgimento de espaços urbanos não regulamentados nos quais tais práticas são toleradas - é um fenômeno perfeitamente consistente com o novo regime de acúmulo flexível. 1.3 A Produção de Capital Simbólico Caro(a) aluno(a), a busca frenética do consumo pelos ricos levou a uma forte ênfase na diferenciação do produto sob o regime de acumulação flexível. Os produtores começaram a explorar os domínios de diferentes gostos e preferências estéticas de maneiras que não eram tão necessárias no regime fordista de acumulação padronizada e consumo em massa. Ao fazê-lo, colocaram de volta na sela um aspecto poderoso da acumulação ca- pitalista: a produção e o consumo do que Bourdieu (1977, p. 171-197) chama de capital simbólico. “Isto tem implicações importantes para a produção e transformação dos espaços urbanos onde vivem grupos de alta renda.” De acordo com Smith e Lefaivre (1984) a acumulação flexível responde de forma lucrativa aos movimentos culturais dos anos 60, que envolveram a rejeição da acumulação padronizada e da cultura de massa que deixou poucas oportunidades para se apropriar do capital simbólico. Na medida em que a crise política e econômica incentivou a exploração da diferenciação de produtos, o desejo reprimido pelo mercado, ou seja, pela aquisição de capital simbólico, poderia ser captado através da produção de ambientes construídos. É exatamente esse tipo de desejo que a arquitetura pós-moderna tem procurado satisfazer. Para a classe média suburbana, Venturi, Scott-Brown e Izenour (1972) observa- ram, vivendo, não em uma mansão pré-Guerra Civil, mas em uma versão menor perdida no meio de um grande espaço, a identidade deve vir do tratamento simbólico da forma da casa, seja como resultado do estilo fornecido pelo construtor, seja através da variedade de ornamentos simbólicos aplicados posteriormente pelo proprietário. Para Zukin (1982) o capital simbólico está, no entanto, sujeito à desvalorização ou aumento, dependendo das mudanças de gosto. Se o capital simbólico contém um poder oculto de dominação, então as próprias relações de poder são vulneráveis a mudanças no paladar. Como a concorrência entre produtores e as ações dos consumidores tornam o gosto instável, as lutas pela moda adquiriram um certo significado no cenário urbano. 142UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho REFLITA Tanto o poder de domínio quanto a capacidade de converter capital simbólico em capital monetário estão agora emaranhados com a dimensão cultural-política do desenvolvi- mento urbano. Mas isso implica que o domínio do espaço é ainda mais essencial para o desenvolvimento urbano no regime de acumulação flexível. Na medida em que a dominação de qualquer tipo contém a possibilidade de uma resposta violenta dos domi- nados, uma área latente de conflito foi aberta aqui e aguarda sua articulação explícita. Fonte: Elaborado pelos autores. 1.4 Aflição Urbana sob Acúmulo Flexível O acúmulo flexível teve um sério impacto em todas as economias urbanas. O crescente empreendedorismo de muitos municípios (especialmente aqueles que insistem em parcerias público-privadas) tende a reforçar o neoconservadorismo e as tendências culturais pós-modernistas que ele implicava. O uso de recursos cada vez mais escassos para captar o desenvolvimento tem significado um desdém pelo consumo social das pes- soas em situação de vulnerabilidade, a fim de proporcionar benefícios que mantêm os ricos e poderosos na cidade. Essa foi a mudança de direção assinalada pelo Presidente Nixon quando declarou que a crise urbana havia terminado em 1973. Isso, naturalmente, significou a conversão de problemas urbanos para novas formas. As adaptações dentro da cidade também desempenharam seu papel para facilitar e difundir o acúmulo flexível. Os pobres tinham que se tornar muito mais empreendedores e adotar, por exemplo, meios econômicos informais para sobreviverem. O aumento da competição pela sobrevivência em condições de maior pobreza sig- nifica a erosão dos mecanismos tradicionais de ajuda mútua em comunidades urbanas que tinham pouca capacidade de dominar o espaço e, muitas vezes, também faltavam poder em relação aos processos normais de integração política. A capacidade de controlar o espaço através da solidariedade comunitária e de padrões de apoio mútuo enfraqueceu ao mesmo tempo em que muitos espaços se tor- naram vulneráveisà invasão e ocupação por outros. Uma nova geração de trabalhadores profissionais e administrativos relativamente ricos, nascidos dos movimentos culturais contra o modernismo nos anos 60, passou a dominar áreas inteiras do espaço urbano central, buscando a diferenciação de seus produtos em ambientes construídos, qualidade 143UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho de vida e domínio sobre o capital simbólico. A recuperação da história e da comunidade se tornaram pontos de venda essenciais para os produtores de moradias, foi então que os estilos pós-modernistas se institucionalizaram. Há sérios problemas sociais e espaciais em tal situação. Em primeiro lugar, a cres- cente polarização de classes (simbolizada pelo incrível surgimento no coração de ambientes pobres de ilhas manifestas de riqueza de tirar o fôlego) é, em si mesma, perigosa; dados os processos de construção de comunidades disponíveis para os pobres, essa polarização cria as condições para o aumento das tensões raciais, étnicas, religiosas ou simplesmente interpessoais. Os mecanismos de classe que são fundamentalmente diferentes em sua de- finição de espacialidade comum entram em conflito, trazendo a guerra de guerrilha latente sobre a apropriação e o controle dos vários espaços da cidade para o espaço aberto. A ameaça de violência urbana, embora não tão maciça como nos anos 60, parece iminente. O colapso dos processos que permitem aos pobres construir diferentes tipos de comunidades de ajuda mútua também é perigoso, pois leva a um aumento da anomia individual, da alienação e de todos os antagonismos que derivam disso. Os poucos que conseguem através da atividade econômica informal não conseguem compensar o fato de que a maioria não consegue. Na outra ponta da escala social, a busca de capital simbólico introduz uma dimen- são cultural nas tensões econômicas. Esses conflitos de classes combustíveis e a pronta intervenção estatal, alienam ainda mais as populações de baixa renda (estou pensando, por exemplo, na maneira como os jovens são expulsos das ruas em bairros abastados). A mobilização pelo espetáculo tem alguns efeitos unificadores, mas é uma ferramenta unifi- cadora frágil e incerta, e na medida em que força o consumidor a se tornar um “consumidor de ilusões”, ela contém seu próprio modo de alienação. Os espetáculos e jogos oficiais são uma coisa, mas os tumultos e revoluções também podem se tornar “a festa do povo”. Mas, há outra contradição. O aumento da concorrência interurbana produz inves- timentos socialmente desnecessários que não contribuem para melhorar o problema do acúmulo excessivo que está na vanguarda da transição para o acúmulo flexível. Muito simplesmente, quantos centros de congressos, estádios, Disney-world ‘s, podem funcionar assim. O sucesso é frequentemente de curta duração ou desafiado por inovações compe- titivas ou alternativas que surgem em outros lugares. O subinvestimento em tudo, desde centros comerciais até instalação culturais, torna os valores embutidos no espaço urbano muito vulneráveis à desvalorização. 144UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho O renascimento do centro urbano baseado no emprego nascente em serviços financeiros e imobiliários, onde as pessoas fazem empréstimos e arranjos imobiliários para outros empregados nos mesmos setores todos os dias, exigem alto endividamento de indivíduos, empresas e autoridades públicas. Se isso der errado, os efeitos serão muito mais devastadores do que aqueles simbolizados pela blitz de Pruitt-Igoe. A cascata de fracassos bancários no Texas, Colorado e, até mesmo, na Califórnia (muitos atribuíveis ao sobre investimento em imóveis) sugere que houve um sério sobe investimento no desenvol- vimento urbano. Tema a ser discutido com maior detalhamento no tema da Mundialização do Capital, a ser visto mais a frente. Em resumo, a acumulação flexível está associada a um padrão extremamente frágil de investimento urbano, juntamente com uma crescente polarização social e espacial dos antagonismos de classe na cidade. 1.5 Respostas Políticas De acordo com Bourdieu (1977, p.164) “Cada ordem estabelecida tende a produzir a naturalização de sua própria arbitrariedade”, neste sentido, o mecanismo mais importan- te e mais bem concebido para isso é “a dialética das chances e aspirações objetivas do agente, da qual emerge o senso de limites, comumente chamado de senso de realidades que é a base da adesão iniludível à ordem estabelecida”. O conhecimento (percebido e imaginado) torna-se, portanto, parte integrante do poder da sociedade de se reproduzir. O “poder simbólico de impor os princípios de construção da realidade, especialmente a realidade social, é uma dimensão importante do poder político”. Esta é uma proposta chave. Isso ajuda a explicar por que mesmo o teórico mais crítico pode tão facilmente conseguir reproduzir a adesão à ordem estabelecida. De acordo com Taturi (1976) baseia-se na história da vanguarda e da modernidade da arquitetura, sobre a impossibilidade de uma transformação radical da cultura e, portanto, de uma prática arqui- tetônica radical e progressiva, à frente das transformações radicais das relações sociais. Essa proposição leva ao ceticismo em relação àqueles que recentemente calçaram as botas do pós-modernismo (ou individualismo radical ou qualquer outro aspecto da prá- tica contemporânea) como se fosse uma ruptura radical e libertadora com o passado. Há uma forte presunção de que a pós-modernidade nada mais é do que o vestuário cultural da acumulação flexível. 145UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho A destruição criativa, esse elemento central da modernidade capitalista, está no coração da vida cotidiana como sempre. A dificuldade, portanto, é encontrar uma resposta política para as verdades invariantes e imutáveis do capitalismo em geral, levando em conta as formas particulares nas quais ele é exibido sob as condições de acúmulo flexível. Gostaria, portanto, de explorar algumas propostas modestas elaboradas a partir desse ponto de vista. Em primeiro lugar, seria uma questão de explorar os interstícios dos processos atuais em busca de pontos de resistência e empoderamento. A descentralização e a devo- lução, juntamente com o interesse cultural na qualidade dos lugares e espaços, criam um clima político no qual os espaços políticos da comunidade, da cidade e da região podem ser redistribuídos de maneira diferente, em um momento em que a continuidade cultural de todas as cidades está sendo seriamente prejudicada pela acumulação flexível. É a partir desse tipo de tensão que alguns autores têm defendido uma arquitetura regional de resistência contra as forças homogeneizadoras do capitalismo global, outros Rossi (1984) buscam uma arquitetura expressiva da continuidade da tradição local e da memória coletiva. As teses culturais da pós-modernidade estão obviamente abertas a uma interpre- tação radical na direção de um maior poder para os pobres e desfavorecidos. Mas essa é uma cerveja pequena em comparação com a “destruição criativa” com a qual o acúmulo flexível tipicamente cicatriza a construção da cidade. REFLITA A acumulação flexível também abre novos caminhos para a mudança social. A disper- são espacial implica em uma maior igualdade geográfica de oportunidades para atrair novas atividades, mesmo nas menores cidades das regiões mais remotas. A posição na hierarquia urbana torna-se menos significativa e as grandes cidades perderam seu poder inerente de dominação política e econômica. Fonte: Elaborado pelos autores. As cidades menores, que conseguiram atrair novas atividades, muitas vezes melho- raram notavelmente sua posição. Mas os ventos de resfriamento da concorrência também estão soprando forte aqui. É difícil manter mesmo as atividades adquiridas recentemente. Há tantas cidades perdedoras quanto as vencedoras. 146UNIDADE IV A Crise daSociedade e do Trabalho A efervescência dos mercados de trabalho também minou os poderes dos sindi- catos tradicionais e permitiu a migração, o emprego e o auto-emprego para setores não sindicalizados da população (embora em um contexto muito mais competitivo, levando a baixos salários e piores condições de trabalho para as mulheres, novos imigrantes e minorias do gueto). A produção flexível abre a possibilidade de formas cooperativas de organização do trabalho sob o fraco controle do trabalhador. Piore e Sabel (1984) enfatizam este argu- mento é um momento decisivo na história do capitalismo caracterizado pela possibilidade de implementar novas e muito mais democráticas formas de organização industrial. Este estilo de organização também pode emergir da consolidação social das atividades do “setor informal” como empreendimentos cooperativos e controlados pelos trabalhadores. Segundo Nove (1983) as condições de acúmulo flexível, em suma, fazem com que o controle operário e comunitário apareça como uma possível alternativa ao capitalismo. A ênfase da ideologia política de esquerda se deslocou consequentemente para um “possí- vel” socialismo descentralizado, inspirando-se assim muito mais na social democracia e no anarquismo do que no marxismo tradicional. Isso corresponde ao vigoroso ataque externo e à crítica interna aos mecanismos de planejamento central nos países socialistas. As práticas políticas da ala esquerda têm caminhado na mesma direção em todos os lugares. O socialismo municipal na Grã-Bretanha, a democracia econômica e o controle comunitário nos EUA, a mobilização da comunidade pelos “Verdes” na Alemanha Ocidental ilustram a tendência. Muito pode ser feito a nível local e regional para defender os interes- ses locais e ganhar posições de poder. Organizações religiosas e comunitárias apoiam ativamente as aquisições de empresas, lutam contra o fechamento de fábricas e apóiam os mecanismos tradicionais de ajuda mútua e solidariedade em comunidades de baixa renda. As instituições também podem ser persuadidas a apoiar o impulso para uma maior participação das pessoas ao seu redor. Um aparato estatal simpático pode encontrar ma- neiras de apoiar as cooperativas (na prestação de serviços, na construção de moradias, na produção) e talvez encontrar maneiras de incentivar o treinamento de pessoas qualificadas, explorando os talentos locais. As instituições financeiras podem ser pressionadas a apoiar o reinvestimento da comunidade, empreendimentos cooperativos e empresas de desenvolvimento local. Até mesmo apresentações podem ser organizadas para fins políticos. Os planejadores podem tentar assegurar que as transformações de vizinhança preservaram, ao invés de destruir, a memória coletiva. 147UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho É muito melhor que uma fábrica deserta seja transformada em um centro comunitário onde a memória coletiva daqueles que lá viveram e trabalharam seja preservada do que em lojas e condomínios que permitem a apropriação da história de uma população por outra. Mas há sérios perigos nisso. Tanto a teoria quanto a prática tem o efeito de reforçar fragmentações e retificações. É abominável considerar lugares, comunidades, cidades, re- giões ou mesmo nações como “coisas em si mesmas” em uma época em que a flexibilidade global do capitalismo é mais forte do que nunca. Ao contrário, seguir essa linha de pensamento torna mais do que menos vulnerá- vel a agregação ao extraordinário poder centralizado da acumulação flexível. Pois é tão ingênuo e sem princípios geográficos ignorar as qualidades de um processo global quanto ignorar as qualidades distintivas do lugar e da comunidade. As práticas organizadas, ape- nas nesses termos definem uma política de adaptação e submissão, em vez de resistência ativa e transformação socialista. Entretanto, uma estratégia global de resistência e transformação deve começar com as realidades locais e da comunidade. O problema é descobrir uma política centralizada que contrabalance o poder cada vez mais centralizado da acumulação flexível, permanecendo ao mesmo tempo confiante nas raízes de base da resistência local. Os “Verdes” na Alema- nha Ocidental e a coalizão arco-íris nos EUA parecem levar tais questões em consideração. A dificuldade é fundir essas novas ideologias forjadas com uma política de oposição mais tradicional, formada em resposta ao regime de acumulação anterior (sem considerar o individualismo radical, o neoconservadorismo ou os pós-modernismos como sinais de liberta- ção). Há, aqui, amplo espaço para forças progressistas, tanto em nível local quanto regional e nacional, fazerem o difícil trabalho prático e intelectual de criar uma força oposicionista mais unida a partir do turbilhão de mudanças sociais que a acumulação flexível desencadeou. Isso equivale essencialmente, no entanto, a falar sobre a política de resistência. E quanto a uma política de transformação mais radical? Enquanto o capitalismo ainda está em uma fase pré-socialista, quase ninguém, hoje, pensa em algo como ousar a transição para o socialismo. Bourdieu (1977,p. 168) talvez dê a razão para isto: “A crítica que traz o não discutido à discussão, que formula o informal, tem como condição de possibilidade uma crise objetiva, que ao quebrar a adequação imediata entre estruturas objetivas e subjetivas, praticamente destrói o óbvio”. 148UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho Somente em condições de crise temos o poder de pensar coisas radicalmente novas, porque se torna impossível reproduzir “a naturalização de nossa própria arbitra- riedade”. Todas as grandes revoluções sociais foram forjadas em meio a um colapso da capacidade burguesa de governar. Há muitas rachaduras no edifício trêmulo do capitalismo moderno, muitas delas causadas pelas tensões inerentes à acumulação flexível. O sistema financeiro global - o poder central no atual regime de acumulação - está em tumulto e sobrecarregado com um excesso de dívida que implica em taxas tão pesadas sobre o trabalho futuro que parece difícil encontrar qualquer saída, exceto por inadimplência maciça, inflação rasteira ou de- flação repressiva. A insegurança e o poder de destruição criativa provocados pelo acúmulo flexível têm tido um enorme impacto, muitas vezes, em vários segmentos da população, gerando, assim, rivalidades geopolíticas agudas. Isso poderia facilmente ter se descontrolado (como aconteceu nos anos 30) e quebrado o Ocidente como uma unidade política e econômica coerente (as “guerras” protecionistas e financeiras já fazem parte de nossas notícias diárias há algum tempo). Apesar de sua predisposição à crise, porém, o sistema capitalista não está em crise e poucos de nós nos importamos com o que seria a vida se estivesse. De fato, o sistema é tão instável que, até mesmo, falar sobre sua instabilidade vem a ser visto como um berço de uma forma inovadora. Isso me leva ao meu segundo ponto. A crise objetiva pode ser uma condição ne- cessária, mas não é uma condição suficiente para grandes transformações sociais. Estes dependem do surgimento de uma força política capaz de intervir no vácuo de poder e fazer algo genuinamente criativo. A natureza desta força política faz uma diferença real entre uma transição para a barbárie ou para o socialismo, para usar as próprias oposições de Marx. Para que aqueles que estão atualmente impotentes tenham voz nisso, devem primeiro possuir “o meio material e simbólico de rejeitar a definição da realidade que lhes foi imposta” (BOURDIEU, 1977, p. 169). Como Willis (1977) demonstrou, os excluídos do poder constroem seus próprios meios de representação simbólica que, em muitos aspectos, representam seu mundo social com mais precisão do que o que os educadores lhes imporiam. As subculturas dos bairros excluídos e opostos, com seus idiomas específicos, estão mais difundidas e vibrantes do que nunca.Mas essa linguagem, simplesmente porque é a linguagem dos enclaves es- paciais, é mais adaptativa do que transformadora dos processos globais que desalojam a massa da população. 149UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho A teoria crítica tem um papel a desempenhar aqui. Mas somente se também for autocrítico. Para começar, toda teoria crítica emerge como a prática de um grupo de intelec- tuais orgânicos (como diz Gramsci) e suas qualidades dependem, portanto, da classe e do território de referência. Uma verdadeira tomada de poder por aqueles atualmente excluídos dela deve ser alcançada através de uma luta vinda de baixo e não concedida como uma grandeza vinda de cima. As formas de oposição de classes e grupos sociais à acumulação flexível devem, portanto, ser levadas a sério. O problema de todos os lados é encontrar práticas que defi- nem uma linguagem de classe e alianças territoriais das quais possam emergir estratégias mais globais de oposição contra a acumulação flexível. Mesmo este tipo de teoria crítica não pode conter as respostas. Ele pode ao menos fazer as perguntas e, ao fazê-lo, revelar algo das realidades materiais com as quais a transi- ção está lidando. Esta é certamente uma pequena contribuição. Mas é através da montagem de contribuições tão pequenas que transformações significativas podem ser forjadas. Uma apreciação crítica do atual regime de acumulação flexível, das práticas culturais da pós-mo- dernidade e da remodelação do espaço físico e social através da urbanização, juntamente com uma reflexão sobre as ideologias através das quais entendemos tais processos, parece ser um pequeno, mas necessário passo preparatório para a reconstituição de um movimento global de oposição a uma hegemonia capitalista profundamente doente e agitada. 150UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho 2. MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL Caro(a) aluno(a), temos aprendido que na virada do século XXI, a globalização do capital foi acompanhada por uma renovação das críticas no campo da luta - com a ascensão do movimento neoliberal em particular - assim como no campo da teoria. O renascimento das abordagens marxistas toma, então, três direções principais que a presente seção se propõe a introduzir. O primeiro passo proposto lê a globalização como uma expressão do metabolismo capitalista que está constantemente em busca de novas oportunidades de lucro para contrariar suas tendências de crise. A segunda analisa a globalização como o amadurecimento de um projeto político de longo prazo levado a cabo pelos Estados Unidos. Quanto à última, ela insiste na reestruturação das relações de produção que acompanha a intensificação do comércio e dos fluxos financeiros. 2.1 Contrabalançando a Superacumulação de Capital Caro(a) aluno(a), as teorias críticas contemporâneas da globalização capitalista têm sua origem na intuição de Karl Marx que, já em meados do século XIX, compreendeu o futuro global do capital, esta singular relação social à qual ele dedicou uma vida inteira de ciência e luta. Embora em seu tempo apenas uma pequena parte da população estivesse direta- mente envolvida nas trocas econômicas internacionais, e os sistemas globais de transporte e comunicação ainda estivessem em sua infância, Marx antecipou a globalização contem- porânea quando escreveu que “a tendência de criar o mercado mundial é imediatamente dada no conceito de capital” (MARX, 1973, p. 347). 151UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho Há duas razões complementares para isso: por um lado, em um sistema regulado pelos lucros, a busca de recursos baratos e novos pontos de venda é um poderoso incen- tivo para expandir-se além das fronteiras nacionais; por outro lado, as formas econômicas arcaicas não podem suportar de forma sustentável o imperativo competitivo de o imperativo competitivo de melhorar continuamente as técnicas de produção, a fim de produzir a um custo mais baixo. A burguesia capitalista é, portanto, uma classe revolucionária que os baixos custos dos seus produtos é a grande artilharia que rompe todas as paredes da China. Sob pena de morte, obriga todas as nações a adotar o modo burguês de produção, “obrigando-as a se introduzirem à chamada civilização, ou seja, tornar-se burguês. Em uma palavra, ela modela um mundo à sua própria imagem” (MARX, 1967, p. 9). O devir global do capitalismo refere-se ao que Harvey (1985a, p. 54) chama de “processo molecular de acumulação de capital”. Com isso ele se refere aos movimentos de produtos, capital, tecnologia e trabalhadores que entram e saem dos territórios e as mudanças acompanhantes nos preços de bens e serviços e ativos financeiros. Harvey (1985b) como geógrafo, está particularmente atento à dimensão espacial da dinâmica capitalista, o que o leva a desenvolver dois conceitos extremamente ricos para explicá-lo em seu livro “O Novo Imperialismo (2004)”. O primeiro conceito é o de reparo espacial, o autor supracitado brinca com a ambivalência do termo fixo, que em inglês significa solução/reparação/resolução, mas também se refere à ideia da dose necessária para o toxicodependente e a da materialidade para explicar a propensão do capital para se projetar e se ancorar em novos territórios. É uma questão de mostrar que as tendências da crise do capital - e, em primei- ro lugar, a tendência de sobre acumular os lucros que não encontram oportunidades de investimento suficientemente lucrativas, podem ser contrariadas pela abertura de novos espaços, novas áreas. Esta expansão geográfica representa pontos de venda para mercadorias de ex- portação, oportunidades de investimento ou insumos mais baratos, os quais proporcionam essa expansão geográfica representa oportunidades para mercadorias de exportação, oportunidades de investimento ou insumos de menor custo, tudo isso são oportunidades de lucro. Harvey (1985a) também considera a fixação temporal que, graças às inovações financeiras, oferece a possibilidade de adiar contradições no tempo. 152UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho O segundo conceito desenvolvido por Harvey (1985b) é o de acumulação por des- possessão. A preocupação central ainda é a das oportunidades de lucro, mas desta vez a ênfase está nos próprios mecanismos políticos que reduzem os custos operacionais do capital e ampliam o escopo da acumulação para ativos anteriormente inacessíveis. A privatização de empresas públicas em países ex-socialistas, a apropriação de terras que expulsa os agricultores dos países do sul, a abolição dos postos de funcionários públicos, a abertura das profissões regulamentadas à concorrência, o enfraquecimento dos sistemas de aposentadoria por repartição, a redução do imposto corporativo, o fim das restrições ao investimento estrangeiro direto ou os planos de resgate de bancos após a crise de 2008 são exemplos de operações políticas adequadas que apóiam a acumulação de capital ao custo da desapropriação direta ou indireta da população em geral ou em um setor social específico. SAIBA MAIS A globalização do final do século 20 é assim confundida com o triunfo do neoliberalismo sobre os sistemas socialistas, os estados desenvolvimentistas e os modelos social-de- mocratas: privatização, liberalização interna e externa e estabilidade financeira são o alfa e o ômega dessa agenda política, que é colocada a serviço da acumulação de ca- pital através da integração de capital, integrando em seus circuitos gigantescas massas de bens de todos os tipos e centenas de de milhões de trabalhadores. Fonte: Elaborado pelos autores. 2.2 Um Império Informal Caro(a) aluno(a), o metabolismo econômico é apoiado por um segundo pilar político da globalização conhecido como imperialismo. Segundo Callinicos (2009), de acordo com o argumento desenvolvido inicialmente pelo jornalista e ensaísta John Hobson em 1902 e mais tarde pelos líderes socialistas Lênin e Kautsky, estados participam ativamente da internacionalizaçãodo capital. Esse imperialismo pode ser confrontativo, como foi o caso no início do século XX, quando o apoio governamental aos interesses do capital nacional preparou o confronto militar generalizado de 1914. Pode também, como tem sido o caso desde o final da Se- gunda Guerra Mundial, tomar a forma de um jogo de soma positiva no qual a colaboração assimétrica entre grandes potências têm precedência sobre o confronto direto, confinando as guerras a áreas periféricas. 153UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho É esta fase que interessa ao cientista político canadense Leo Panitch (2012) e seu coautor, o sindicalista e economista Sam Gindin. Seu principal trabalho, The Making of Global Capitalism: The Political Economy of American Empire (2012), argumenta que a globalização é um fenômeno eminentemente político, que não pode de forma alguma ser reduzido à expressão de alguma lei histórica, como evidenciado pelo período de retirada nacional na sequência da Primeira Guerra Mundial e da crise de 1929. A globalização é, portanto, um projeto, o de uma nova ordem internacional promo- vida pelos Estados Unidos no período pós-guerra, que amadureceu através de sucessivos ajustes em função das oportunidades e obstáculos encontrados. Este império informal difere dos impérios anteriores porque não procura estabelecer um controle territorial legalmente formalizado; o objetivo é cooptar as classes dominantes em todo o mundo, a fim de criar uma ordem capitalista global para a qual os vários estados contribuam enquanto mantém as margens de autonomia. SAIBA MAIS Ao contrário das sociedades pré-capitalistas, as sociedades contemporâneas se carac- terizam por uma marcada diferenciação entre o campo da economia e o do Estado. As nações derivam seu poder do sucesso da acumulação em seu território, mas se dis- tanciam dos interesses imediatos dos capitais individuais para melhor assumir funções essenciais ao desenvolvimento capitalista geral, tais como a construção de infraestrutu- ras administrativas, legais e físicas indispensáveis ao funcionamento dos mercados, ou intervenções macroeconômicas destinadas a conter as crises. Fonte: Elaborado pelos autores. Como Poulantzas (1978, p. 89) percebeu nos anos 70, esses arranjos evoluíram através de “transformações internalizadas do Estado nacional, a fim de assumir a internacionalização das funções públicas em relação ao capital”, assim, o império informal consiste na criação das condições para a extensão e reprodução do capital em escala internacional. Dependendo das circunstâncias, os governos dos EUA incentivam outros países a se internacionalizarem, ou seja, a se envolverem, a fim de permitir o advento de uma ordem global cujo horizonte é a igualdade de tratamento de todas as capitais, independentemente de sua nacionalidade. 154UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho Depois que o Presidente Nixon terminou a convertibilidade do dólar em 1973, a participação dos estados capitalistas individuais na gestão coletiva da economia mundial se intensificou. Terminando uma fase de enfraquecimento da posição dos EUA, no final dos anos 70, houve um fortalecimento da hegemonia dos EUA. Caracterizou-se, por um lado, pela reafirmação da centralidade do dólar e pelo retorno das finanças após o brutal aumen- to das taxas de juros decidido pelo FED (o banco central americano) em 1979, por outro lado, pela densificação da rede de instituições internacionais responsáveis pela gestão do capitalismo global. Enquanto esta institucionalização internacional crescente parece ter sido a conse- quência da insistência das autoridades francesas em formalizar as regras Abdelal (2009), não há dúvida de que a influência dos Estados Unidos no FMI, Banco Mundial, G7, G20, Banco de Compensações Internacionais e OMC (Organização Mundial do Comércio) foi e continua sendo preponderante, quanto mais não seja por causa do lugar do dólar no sistema monetário internacional. A gestão das crises financeiras que se multiplicaram desde então, a integração da China nos circuitos do capitalismo globalizado e a ausência de uma reação nacionalista ime- diata na esteira da grande crise de 2008 são todas manifestações da vitalidade deste império informal no qual os Estados Unidos continuam a desempenhar um papel de liderança. 2.3 O Nexo da Globalização Financeira Caro (a) aluno (a), a lógica econômica molecular e a lógica do poder político estão entrelaçadas, levando a uma reestruturação das relações de produção. Como François Chesnais explica em seu livro “A mundialização do Capital” (1996), a internacionalização do capital produtivo e a globalização financeira vão andar de mãos dadas. A livre circulação de capitais permite a intensificação do investimento estrangeiro direto de investimento estran- geiro direto e, sobretudo, a interconexão dos mercados financeiros, impondo, assim sua disciplina tanto a governos, empresas e trabalhadores, governos, empresas e trabalhadores, ao mesmo tempo em que fornece às empresas multinacionais com uma gama de serviços financeiros para apoiar, para acompanhar a internacionalização de suas operações. Com o aumento das tecnologias de informação e comunicação, mas também de- vido à drástica redução dos custos de transporte, o peso do comércio internacional no PIB mundial está crescendo rapidamente e mudando em qualidade. Enquanto antes se referia, principalmente, ao comércio de matérias-primas, produtos agrícolas e produtos industriais acabados, agora inclui cada vez mais produtos intermediários que devem ser combinados 155UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho com outros, antes de serem vendidos aos usuários finais na forma de produtos acabados, alguns dos quais como: automóveis, computadores, máquinas-ferramentas, produtos ali- mentícios, software, serviços são o resultado da combinação de atividades realizadas em vários países, muitas vezes dezenas. Essa fragmentação dos processos de produção ao longo das cadeias globais (BAIR, 2009) vai de mãos dadas com uma distribuição desigual de valor, em benefício das empresas líderes que se encarregam das funções de projeto, integração e marketing. REFLITA O surgimento de cadeias de valores globais alimenta, assim, uma dissociação entre, por um lado, o controle centralizado da implementação de atividades produtivas, através da propriedade intelectual, a definição de normas e o domínio de dispositivos eletrônicos, garantindo a integração dos fornecedores mais distantes aos consumidores finais; e, por outro lado, uma divisão da propriedade de bens tangíveis (edifícios e máquinas) e de coletivos de trabalho. Fonte: Elaborado pelos autores No contexto de um excesso de mão de obra global e de capacidade de produção em indústrias chave (BRENNER, 2004; CROTTY, 2003), essa configuração é caracteriza- da por um enfraquecimento do mundo do trabalho e uma estratificação vertical do capital desigualmente lucrativo (STAROSTA, 2010). Para as populações do Sul como um todo, o empobrecimento associado à urbani- zação não foi parado, com a notável exceção da China, cuja singular trajetória é tanto uma questão de tamanho quanto de história política. Nos países do Norte, os lucros abundam sem serem investidos, o que alimenta a estagnação, o subemprego e a fuga para o capital fictício. Portanto, a globalização capitalista das últimas décadas expandiu o espaço de oportunidades de lucro e ofereceu uma vitória política global para as finanças, ou seja, para as instituições que permitem que os rentistas usufruam da propriedade do capital sem estar diretamente exposto aos riscos de produção. Apesar destes desenvolvimentos favoráveis do ponto de vista de capital, a perda do dinamismo sistêmico que começou no final dos anos 60 não foi interrompido. As Tendências de estagnação se fortaleceram até mesmo nos últimos anos, aguçando o conflito distributivo no bojo do capitalismo mundial.156UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho Nesse contexto, a economia política crítica tem uma visão ambivalente da globa- lização capitalista. Tem sido um passo inegável na direção de uma maior socialização da produção, o que aumenta as possibilidades tecnológicas e sociais da cooperação global. Mas suas fragilidades internas, como mostra o declínio relativo do comércio e dos fluxos de capital desde o início da década de 2010 e, sobretudo, as contradições sociais, econômicas e ecológicas que se acentuam dentro dos próprios países, indicam que esta- mos chegando ao fim de um ciclo, um momento de indeterminação em que o jogo nacional e internacional de alianças e conflitos entre classes e frações de classe está aberto a des- tinos coletivos opostos. 157UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho 3. DESEMPREGO ESTRUTURAL Caro(a) aluno(a), precisamos entender que o desemprego estrutural é o desem- prego devido a dificuldades estruturais e não cíclicas na economia. Estas dificuldades estruturais são dificuldades de ajuste do mercado de trabalho. Essas dificuldades podem ser devidas à mudança das estruturas demográficas, sociais e econômicas ou à existência de instituições ineficientes para ajustar a oferta e a demanda de trabalho (regulamentações do mercado de trabalho, tributação etc.). Por exemplo, a estrutura de qualificações exigidas pelos empregadores podem mudar e não corresponder mais às dos trabalhadores. Também pode ser uma questão de instituições que não estão mais adaptadas às novas características da economia, uma legislação que se tornou muito rígida (para contratação e demissão, por exemplo) diante das rápidas mudanças (nos mercados, nos empregos) que as empresas estão passando e que exigem uma certa flexibilidade. A decomposição entre o desemprego estrutural e cíclico é importante no âmbito de uma política econômica para combater o desemprego. Devemos antes agir sobre a si- tuação econômica através de uma política de estímulo ou devemos melhorar a adequação (isto é, a correspondência, como às vezes é chamada) das qualificações exigidas pelos empregadores e aquelas detidas pelos empregados, por exemplo. 158UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho Entretanto, no caso do desemprego estrutural, muitos fatores diferentes podem entrar em jogo além das qualificações, como as regras que regem o funcionamento do mercado de trabalho deve ser facilitado o despedimento de trabalhadores, por exemplo, a fim de incen- tivar a contratação (menos risco para os empregadores). Mas será que as restrições aos empregadores que querem demitir trabalhadores são realmente a causa fundamental da não contratação de empregadores. A mobilidade dos trabalhadores e das pessoas desemprega- das deve ser melhorada, em caso afirmativo, através de quais procedimentos. REFLITA A caracterização do desemprego estrutural não nos obriga a fazer outras perguntas sobre as causas do desemprego, que em última análise parecem ser muito diversas (fiscais, regulamentares etc.). Além disso, essas análises muitas vezes permanecem focadas apenas no funcionamento do mercado de trabalho e mais particularmente na adequação da oferta e da demanda de mão de obra. Outros fatores mais gerais não in- fluenciam as características da própria produção e, portanto, o crescimento econômico. Fonte: Elaborado pelos autores O desemprego estrutural é a taxa de desemprego ligada a uma não adequação du- radoura entre a oferta e a demanda no mercado de trabalho. Isso é causado pela estrutura da economia e não pela situação econômica. Se a taxa de desemprego é reduzida pelo desemprego estrutural, é porque estamos no meio do ciclo econômico, quando a economia está em seu nível de equilíbrio. Isto é chamado de desemprego de equilíbrio. Nesse sentido, as dificuldades estruturais na economia caracterizam-se por um mau equilíbrio entre os empregos disponíveis no mercado e os desempregados na força de trabalho. É possível medir esse desemprego estrutural, assumindo que não está liga- do a fatores cíclicos, devido, por exemplo, a choques negativos de demanda. Assim, o desemprego que permanece quando não existe nenhum choque em particular será uma estimativa deste desemprego estrutural. Portanto, não é um indicador que conta o número de desempregados afetados por sua contagem, mas uma avaliação geral. 159UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho 3.1 As Causas do Desemprego Estrutural Caro(a) aluno(a), o desemprego estrutural é causado por quatro fatores, o primeiro é o desemprego, se a taxa de crescimento populacional for maior do que a taxa de crescimento econômico, então existe um desequilíbrio estrutural. A economia não pode absorver o influxo de novos desempregados para a força de trabalho e a taxa de desemprego aumenta. O segundo é o social: Uma parte da população ativa não quer encontrar trabalho apesar do fato de poder encontrar um emprego. Há várias razões para isso, tais como a escolha de um estilo de vida (permanecer em casa com as mães, entre outros), o desejo de aproveitar o sistema, bem como os benefícios, isto é o que explica o desemprego voluntá- rio. Já o terceiro é o econômico que se a qualificação dos trabalhadores não for adaptada à evolução do mercado de trabalho (qualificações exigidas pelos empregadores), isso gera desemprego estrutural. É o caso, por exemplo, durante o surgimento ou o colapso de um setor de atividade. Uma parte da população é, então, inútil porque não está adaptada à estrutura do mercado de trabalho. É em grande parte composto do que é conhecido como desemprego clássico, um componente do desemprego estrutural. Por fim, o quarto, que é a política, a regulamentação do mercado de trabalho está em constante mudança. Se esses regulamentos se tornarem mais rigorosos (por exemplo, novas regras sobre as condições de demissão), a oferta de mão-de-obra torna-se menos importante. A taxa de desemprego relacionada com a estrutura da economia aumenta. O fator político também inclui mudanças nas regras de tributação ou flexibilidade trabalhista que podem ter um forte impacto sobre o emprego, principalmente o estrutural. Caro(a) aluno(a), acreditamos que você deve estar se perguntando, mas como combater o desemprego estrutural. Ora, o desemprego estrutural tem muitas causas e isto é o que dificulta o combate, uma simples política econômica para combater o desemprego não é adequada, as causas fundamentais ligadas à estrutura da economia devem ser encontradas, o objetivo é encontrar as medidas políticas mais relevantes para reduzir o descompasso entre trabalhadores e empregadores, a redução deste tipo de desemprego é muitas vezes muito complexa. Quando a causa é demográfica, o objetivo é simples. Para reduzir a taxa de desem- prego estrutural, a taxa de crescimento econômico deve aumentar. O aumento da atividade cria novos empregos para absorver alguns dos desempregados. Quando a causa é social, é muito difícil combater este tipo de desemprego. A mudança da mentalidade da população não pode ser feita por simples medidas políticas. Isso requer um debate social. 160UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho Quando a causa é econômica, isso pode ser feito, por exemplo, através de uma política de treinamento da população ativa. O Estado deve, então, investir maciçamente para melhorar as qualificações dos trabalhadores. Quando a causa está ligada à estrutura do mercado de trabalho, é necessário, então, flexibilizar a tributação ou os regulamentos para permitir que as empresas possam contratar mais facilmente. 3.2 Diferença entre Desemprego Estrutural e Cíclico Caro(a) aluno(a), quando falamos de desemprego cíclico, é quando a falta de oferta de emprego se deve a uma retração econômica temporária, e de desemprego estrutural quando as causas são mais profundas, quando há um desequilíbrio quantitativo e quali- tativo real entre a oferta ea demanda de trabalho. Diz-se que um país que não tem nem desemprego cíclico nem estrutural, tem pleno emprego. Nesse sentido, o desemprego cíclico nada mais é do que a falta de emprego devido a uma desaceleração temporária da economia. O desemprego cíclico ocorre durante as flu- tuações dos ciclos econômicos. Portanto, esta falta de emprego é temporária e diz respeito ao curto ou médio prazo. Esse tipo de desemprego ocorre mais especificamente durante as fases de desa- celeração econômica, quando o consumo cai e o crescimento desacelera. As empresas se adaptam a essa diminuição, produzindo menos. Como resultado, há menos necessidade de mão de obra, as empresas recrutam menos (ou não recrutam de todo) ou, até mesmo, dispensam trabalhadores. Muitos traba- lhadores se encontram desempregados e aumentam a taxa de desemprego, que é, então, caracterizada como cíclica, pois está ligada à diminuição da atividade econômica em um determinado momento. O desemprego cíclico afeta mais certas categorias de trabalhadores do que ou- tras, tais como os jovens que entram no mercado de trabalho ou aqueles com contratos a termo certo. Eles são os primeiros a sofrer com a desaceleração na contratação e os despedimentos menos dispendiosos devido ao seu curto tempo no mercado de trabalho. Os funcionários menos qualificados são também os mais afetados pelo desemprego cíclico. Caro(a) aluno(a), acreditamos que você deve estar se perguntando, mas como agir contra o desemprego cíclico? Pois bem, dadas às causas do desemprego cíclico (em particular a desaceleração temporária da atividade econômica), para agir sobre esse tipo de desemprego, as autoridades públicas devem assegurar que o consumo seja revitalizado e, portanto, iniciar políticas de apoio à demanda, utilizando ferramentas monetárias ou fiscais. 161UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho Essas políticas geralmente têm um impacto positivo no desemprego cíclico dentro de 1-3 anos. Mas podem ocorrer novas quedas na atividade econômica durante esse perío- do. Desemprego estrutural: mudanças profundas no contexto econômico e social, entenda que o desemprego estrutural está enraizado em causas muito mais profundas do que uma desaceleração temporária da atividade econômica. De fato, o desemprego estrutural é causado por grandes mudanças na economia e na sociedade como, por exemplo, mudanças demográficas (população em idade de traba- lhar, nível de qualificação dos trabalhadores), mudanças institucionais (leis e regulamentos sobre compensação de desemprego, salário mínimo ou taxas de contribuição, acordos fiscais, mudanças sociais (como a inadequação das qualificações dos empregados), ou mudanças tecnológicas (declínio das atividades econômicas tradicionais, por exemplo), que modificam os padrões de produção e consumo. Uma das consequências dessas profundas mudanças no sistema econômico e social é um desequilíbrio entre a oferta de produtos ou serviços e a demanda dos consumidores. Não existe uma ferramenta real para medir o desemprego estrutural, é antes uma estimativa do desemprego em relação ao que poderia ser seu nível de equilíbrio. O desemprego estrutu- ral é considerado como a taxa de desemprego quando o nível do Produto Interno Bruto (PIB) atingiu seu potencial, ou seja, a produção máxima sem gerar inflação excessiva. O desemprego estrutural também pode estar relacionado à parcela do desemprego incompressível em um determinado contexto. O indicador para estimar o nível de desem- prego estrutural é chamado de Non-Accelerating Inflation Rate of Unemployment (NAIRU) ou em português a “taxa de desemprego não-inflacionista”. Caro(a) aluno(a), em relação às alavancas de ação contra o desemprego estrutural é o resultado de uma grande variedade de fatores e diz respeito a áreas muito mais amplas do que o mercado de trabalho. É por isso que é muito mais complexo reduzir este tipo de desemprego. O combate ao desemprego estrutural requer amplas reformas institucionais relacionadas ao funcionamento do mercado de trabalho, em particular. Isso pode envolver, por exemplo, tornar o trabalho mais flexível, assegurar que a oferta de empregos corresponda à demanda daqueles que procuram trabalho, adaptar as habilidades dos empregados através de treinamento inicial ou contínuo, conceber novos tipos de contratos de trabalho, impor restrições financeiras aos que procuram emprego, incentivar a mobilidade dos trabalhadores. Essas políticas devem visar um crescimento econômico mais eficiente, mas levam vários anos para produzir resultados sobre o desemprego estrutural. 162UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho 4. CONTRARREFORMA NEOLIBERAL DO ESTADO NO BRASIL Caro estudante, ao longo de todo o presente livro contextualizamos como o capitalis- mo age em favor da burguesia industrial ou de serviços, basta lembrar da uberização que as relações trabalhistas têm passado e como novos regimes de trabalho têm sido estabelecidos. Lembremos também do quanto o sistema econômico se torna mais importante que as próprias pessoas, em que a mercadoria tem o fetichee os seres humanos estão sujeitos à coisificação. Os conteúdos apresentados até aqui e outros que você se apropriou ao longo do curso, são essenciais para a problematização que lhe apresentaremos na presente seção, uma vez que a “questão social” continua a ser ignorada e, até mesmo, refutada pelo capital, ou seja, o exercício do Serviço Social, quanto à práxis, continua a ser encarado e aceito com tons de assistencialismo e de prática para que o conservadorismo burguês se mantenha na presente dinâmica econômica. Gostaríamos de ressaltar para você, estimado estudante, que quando falamos no conservadorismo burguês não estamos nos referindo sobre valores, moral ou ética. Preci- samos entender que o conservadorismo, no seu sentido puro, estaria atrelado à questão das classes sociais, ou seja, ter uma visão conservadora é ter a perspectiva de que o modelo econômico deve se manter, enfim, não ter a possibilidade da ascensão social, tal como um sociedade de castas. 163UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho A matriz conservadora e oligárquica, e sua forma de relações sociais atraves- sadas pelo favor, pelo compadrio e pelo clientelismo, emoldura politicamente a história econômica e social do país, penetrando também na política social brasileira. Do ponto de vista político, as intervenções no campo da política social e, particularmente, na assistência social, vêm se apresentando como espaço propício à ocorrência de práticas assistencialistas e clientelistas, ser- vindo também ao fisiologismo e à formação de redutos eleitorais (YAZBEK, 2009, p. 51). Contudo, as forças que buscam subtrair os direitos da classe operária continuam operando firmemente e com intuito de se estabelecerem como uma ordem a ser seguida, pouco contestada e chegando inclusive a querer ser admirada, pois se traveste como em- preendedorismo e iniciativa onde todas as pessoas, através da meritocracia, podem alcançar um lugar de destaque e sendo os únicos responsáveis pelos próprios sucessos e fracassos. Sabemos do seu potencial enquanto estudante e futuro(a) assistente social, e já sabemos que de repente você esteja pensando na indústria cultural, ou seja, a modelagem ideológica em que a cultura do oprimido passa a ser a cultura que o opressor queira que ele tenha. Isso quer dizer que o condicionamento dos ideais dos operários passam a ser os ideais da classe dominante, os capitalistas. Todavia, apenas esse ponto não basta, é preciso manobras mais elaboradas para que os seus ideais passem a ser políticas públicas, melhor dizendo, falta de políticas públicas, quer dizer, passando pelo governos nacionais e instituições supranacionais. Convidamos você a acompanhar e refletir a respeito da reforma liberal aqui no Brasil, para posteriormente avançarmos na contrarreforma neoliberal. 4.1 A Reforma EContrarreforma Neoliberal Em Contradição Com A Política Social No Brasil Caro(a) aluno(a), vamos resgatar alguns pontos importantes da historiografia recente brasileira, tais como o processo de redemocratização e abertura abrupta da nossa economia para o mercado internacional. Com a promulgação da Constituição Brasileira de 1988, que continua vigente, o nosso país sacramentou o fim de uma era sombria da nossa civilização, pois representava o fim das formas mais absurdas de ceifar a democracia e os direitos civis. Porém, o que de certa forma significava uma conquista para o povo brasileiro no âmbito político, como a recuperação do direito ao voto e o fim das perseguições das liber- dades individuais, também significou um Estado, tomando decisões importantes pautadas principalmente na estabilização monetária e procurando trazer maior atratividade do capital internacional para a economia nacional. 164UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho Assim sendo,a preocupação inicial seria a estabilidade econômica para a vinda de investimentos estrangeiros para o Brasil, assim como acabamos de estudar sobre a financeirização do capital e da economia, vide “A mundialização do capital” onde as contas públicas passaram a ter o enfoque voltado para o mercado externo, como podemos perce- ber na citação abaixo: Essa ideologia de exaltação do mercado se expressa através de um discurso polêmico: ela assume, no mais das vezes, a forma de uma crítica agressiva à intervenção do Estado na economia. O discurso neoliberal procurava mostrar a superioridade do mercado frente à ação estatal (BOITO JR, 1999, p. 45). Porém, fique atento(a), pois essa “intervenção do Estado” é aceita apenas no que se refere à manutenção da economia para a classe dominante, apenas para que as trocas econômicas ocorram de uma forma mais fluida. Dessa forma, políticas para o dinamismo econômico com um enfoque monetarista deveriam ser desenvolvidas em nome do mercado. No nível político, as ações econômicas do estado criaram privilégios para algu- mas pessoas e criaram dependência para muitas. Os cidadãos se acostumaram ao estilo paternalista do país e não serão capazes de desenvolver sua capacidade de resolver pro- -ativamente seus próprios problemas. Já os serviços públicos não serão valorizados pelos usuários porque não pagarão por eles (BOITO JR, 1999). De acordo com Anderson (1995) esses futuros projetos de lei estão em conflito com o Estado de bem-estar social, tal como os europeus fazem. Os pensadores neoliberais acreditam que o igualitarismo (relativo) promovido por este modelo destruirá a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da competição, e disso depende a prosperidade de todos. Além disso, a desigualdade será um valor positivo porque é o que a sociedade ocidental precisa. Dessa forma, comprovamos todo livro até então, pois observa-se que os anseios dos capitalistas se sobrepujam às necessidades humanas, marcando como um processo civilizatório, tal como uma transição de uma economia “atrasada” marcada pelo famigerado “Estado pesado” para uma forma de “gerenciar” uma nação com o viés mais solto e obriga- ções mínimas, na verdade com um Estado-mínimo. Devemos nos lembrar que o Brasil começou a aplicar uma lógica internacional e conceituada nos países centrais, oriunda na crise da década de 70, intensificada com a crise do petróleo, onde a competitividade das empresas passou a ser marcada pelas inovações e por preços cada vez menores que o receituário neoliberal começou a ser aplicado. A reforma do Estado, que se tornou tema central nos anos 90 em todo o mun- do, é uma resposta ao processo de globalização em curso, que reduziu a au- tonomia dos Estados em formular e implementar políticas, e principalmente à crise do Estado, que começa a se delinear em quase todo o mundo nos anos 70, mas que só assume plena definição nos anos 80. No Brasil, a reforma do Estado começou nesse momento, no meio de uma grande crise econômica, 165UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho que chega ao auge em 1990 com um episódio hiperinflacionário. A partir de então, a reforma do Estado se torna imperiosa. Conforme vimos [...], o ajuste fiscal, a privatização e a abertura comercial, que vinham sendo ensaiados nos anos anteriores, são então atacados de frente. A reforma administrativa, entretanto, só se tornou um tema central no Brasil em 1995, após a eleição e a posse de Fernando Henrique Cardoso (PEREIRA, 1996, p. 269). E a fórmula neoliberal era dura, pois preconizava o enfraquecimento dos sindicatos e maior responsabilidade nos gastos públicos, especialmente nos gastos sociais. Essas exi- gências eram de instituições supranacionais, como o Fundo Monetário Internacional(FMI) e o Banco Mundial. Tudo isso para que os investidores internacionais tivessem as garantias que teriam os seus investimentos livres de contextos do “calote” nas contas públicas. FHC é que foi concebido para viabilizar no Brasil a coalizão de poder capaz de dar sustentação e permanência ao programa de estabilização do FMI, e viabilidade política ao que falta ser feito das reformas preconizadas pelo Ban- co Mundial. (FIORI, 1997, p. 14). Em nome de uma classificação financeira/crédito triplo A ou AAA, realizada por 3 agências privadas como Standard & Poor’s (S&P), Fitch e Moody’s, muitos países periféricos, dentre eles o Brasil, abrem mão de gastos públicos para dar maior segurança aos investidores internacionais. Olhe bem, pois aqui, temos um clássico exemplo das finanças mundializadas. Em termos de economia, as agências de classificação fazem a chuva e o sol brilha- rem e podem, assim, influenciar, através de suas opiniões, a atividade dos diversos países (uma classificação baixa pode levar à timidez de certos investidores). Assim, o Santo Graal para os vários países é obter e manter a famosa classificação de triplo A, o que demonstra sua boa saúde econômica. A classificação financeira é um elemento chave para os investidores (fundos de pensão, autoridades locais etc.), o que lhes permite estimar os riscos que um investimento acarreta em um contexto particular. Assim, um Estado bem avaliado poderá se beneficiar de condições favoráveis, em particular de seus credores (facilidades de pagamento, redução dos juros do empréstimo). A classificação do triplo a corresponde à melhor classificação aplicável. Mostra que os investimentos feitos são isentos de riscos e que a dívida tem uma grande chance de ser paga. Essas classificações são, muitas vezes, fortemente criticadas. De fato, para mui- tos observadores, um Estado não pode ser avaliado como uma empresa (outros critérios podem ser levados em conta, como o patrimônio, a história, a forma moral da população). Além disso, os atores econômicos dão demasiada importância a eles, o que pode levar alguns países a uma espiral negativa, já que uma má classificação reforça as dificuldades que eles supostamente devem descrever objetivamente. 166UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho Elas podem até ser usadas por algumas empresas para assumir o setor público de uma nação (Grécia). Aqui estão as diferentes classificações que podem ser emitidas pelas organizações acima mencionadas: - Triplo A (AAA): Qualidade superior, - AA: Alta qualidade, - A: Qualidade média superior, - Baa: Qualidade média inferior, - Ba: especulativo, - B: altamente especulativo, - Caa1: alto risco, - Caa2: ultra especulativo, - Caa3: em default com alguma esperança de recuperação, - C: Fora do padrão para investimentos especulativos Hoje o Brasil ocupa a classificação de B-, ou seja, altamente especulativo, visto o quanto o nosso país tem abdicado da sua hegemonia em nome de entregar resultados tangíveis e não para a população que carecia do atendimento e da proteção social que somente o Estado poderia dar. A Reforma do Aparelho do Estado voltada para a gestão e busca de resultados, inclusive com indicadores,metas e avaliação de desempenho, é um processo de mudanças da instrumentalidade da ação do Estado, dos meios da gover- nança, no manejo ou gerenciamento de seus recursos econômicos e sociais, na busca da eficiência (BRESSER PEREIRA apud FALEIROS, 2004, p. 51). Além disso, as “reformas” neoliberais (ao contrário do que foi anunciado) não ampliaram políticas sociais efetivas. Anteriormente, reforçava a lógica do Estado de irres- ponsabilidade no campo social, acompanhada de desprezo pelas normas constitucionais da seguridade social. Draibe (1993) destaca que, embora não tenham faltado políticas sociais desde então, é claro que o processo de formulação e / ou gestão dessas políticas é captado por uma lógica que se adapta ao novo ambiente. Isso resultou nos três tipos de política social neoliberal - privatização, focalização e descentralização. Portanto, Yazbek (2009) enfatiza que sob o argumento da crise financeira nacional, a tendência geral é a redução e restrição de direitos, e sua política social tem se transfor- mado em ações tímidas e pontuais, voltadas apenas para o manejo da extrema pobreza. 167UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho De acordo com Draibe (1993) os argumentos neoliberais, a política social pode causar distorções e inibir a livre concorrência entre os indivíduos. Portanto, a intervenção do Estado no campo social deve se limitar a programas sociais como forma de atender a re- dução da pobreza (quando necessário), para alguns é apenas uma forma de complementar a filantropia privada, para outros um meio para atender as expressões da questão social e a vulnerabilidade ocasionada pelo sistema capitalista. Caro(a) aluno(a), é muito importante entender que a reforma e contrarreforma foi um marco para o país, com isso houve uma diversidade nos campos de atuação e a partir dessa informação é que vamos nos aprofundar a seguir. 4.2 Campos De Atuação Para O Assistente Social No Estado Neoliberal Conforme destacado por Iamamoto (2014) o serviço social é uma ocupação que in- sere a divisão do trabalho social e técnico e a especialização do trabalho coletivo, ele aparece na refração do capitalismo monopolista sendo exigido pela classe dominante para intervir nas questões sociais. Portanto, conforme Netto (2009) nos primeiros dias, os assistentes sociais atuam como executores terminais das políticas sociais, porém, historicamente, essa profis- são está relacionada à política social, como objeto de intervenção, expressão de problemas sociais, sendo esta última, objeto de seu estabelecimento e defesa nessa socialidade. Como uma das exigências da agenda neoliberal, a descentralização do poder político e administrativo e a municipalização das políticas públicas também levaram ao aumento do número de trabalhadores sociais empregados. Uma constatação importante diz respeito aos trabalhos de Serra (2001) onde se verifica a longa e exaustiva jornada que os profissionais do serviço social necessitam fazer, bem ao esvaziamento do conceito da profissão de Assistente Social. [...] Sendo assim, há uma grande tendência de crescimento das funções sócio institucionais do serviço social para o plano da gerência de programas sociais, o que requer do profissional o domínio de conhecimentos e saberes, tais como de: legislações sociais correntes, numa atualização permanente; análises das relações de poder e da conjuntura; pesquisa, diagnóstico social e de indicado- res sociais, com o devido tratamento técnico dos dados e das informações ob- tidas, no sentido de estabelecer as demandas e definir as prioridades de ação; leitura dos orçamentos públicos e domínio de captação de recursos; domínio do processo de planejamento e a competência no gerenciamento e avaliação de programas e projetos sociais (ALENCAR, 2009, p. 13). Assim sendo, percebe-se que o exercício da profissão de assistente social em Estado Neoliberal é um exercício que passará por muitas lutas não apenas inerentes à questão social, mas também sobre o que é ser um profissional em Serviço Social, isso quer dizer que os profissionais podem ser vítimas de um falso entendimento ou mesmo relação ou julgamento de valores e juízos, muito próximos ao assistencialismo. 168UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho Nesse sentido, Alencar (2009) destaca que o processo da contrarreforma do Estado brasileiro transferiu os serviços sociais para o terceiro setor que hoje conhecemos como Organização da sociedade civil - OSC, surgindo, assim, um espaço sócio-ocupacional, com novas funções e competências profissionais. Se olharmos para todo o contexto histórico podemos observar que conforme surgem novas expressões da questão novos campos de atuação também surgem sendo necessário novas habilidade e competências profissionais, portanto é importante que os assistentes sociais nos dias atuais fiquem atentos às novas expressões da questão social, pois este pode ser um novo campo de atuação onde este profissional irá atuar frente às novas demandas e questões de vulnerabilidade social. Caro(a) aluno(a), entender todo o contexto histórico faz toda a diferença no mo- mento de avaliar a política pública e social a qual estará inserido, portanto é de extrema importância que entenda todos esses fatores e o que você, enquanto futuro assistente social pode fazer para mudar ou melhorar uma realidade social. 169UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim desta quarta unidade e acreditamos com os con- teúdos aqui estudados lhe servirão como base para compreender os motivos das crises da sociedade e do trabalho, a partir dos quatro tópicos apresentados fica evidente que alguns fatores históricos nos leva a refletir sobre como o mundo do trabalho está organizado e qual o papel do assistente social. Para que o conteúdo seja fixado, vamos realizar um breve resgate abordando alguns pontos importantes sobre o que foi apresentado nesta unidade. Pois bem, como pode lembrar na primeira parte desta unidade contextualizamos so- bre a acumulação flexível, se observar esta parte foi um pouco longa, devido aos fatores que consideramos importante para que pudesse entender, um deles foi a rápida mudança nos países devido ao avanço do capital, os empregos nas indústrias e a acumulação do capital. Para entender melhor, destacamos sobre a acumulação flexível por meio da urbanização, a questão do empobrecimento e o desenvolvimento em relação a informalidade, a produção do capital, a aflição urbana por conta do acúmulo do capital e a resposta do estado. Na segunda parte, conseguimos compreender sobre a mundialização do capital, para isso, apresentamos alguns pontos relevantes, como a classe capitalista considerada como um sistema revolucionário com baixos custos na produção dos produtos, mas uma grande acumulação através do consumo, nessa parte, enfatizamos sobre a superacumua- lação, o imperio informal e o nexo da globalização financeira. Já na terceira parte, destacamos sobre o desemprego estrutural, as suas causas e a diferença entre o desemprego estrutural e cíclico, é muito importante que você futuro assistente social consiga entender esse tópico e quão relevante ele é. Por fim, chegamos à quarta parte que é sobre a contra Reforma Neoliberal do Estado no Brasil e, para isso, precisamos realizar uma contextualização histórica abordando pontos relevantes para que consiga entender a organização da profissão, principalmente dentro do Brasil. 170UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho LEITURA COMPLEMENTAR Os modos de ser da informalidade: rumo a uma nova era da precarização estrutural do trabalho? (...) A título de hipótese, que estamos explorando mais recentemente em nossa pes- quisa, podemos sugerir ao menos duas formas mais gerais que desenham o que venho denominando como precarização estrutural do trabalho. A primeira, de base tayloriano/fordista, é maisacentuadamente despótica, em- bora mais regulamentada e contratualista. O trabalho é mais coisificado e reificado, maquinal, embora provido de direitos e de regulamentação social. É uma modalidade de trabalho coisificado de tipo regulamentado, tão ricamente explorada por Lukács em sua História e consciência de classe, quanto por Gramsci em seu ensaio Americanismo e Fordismo, ambos seminais. A segunda forma de degradação do trabalho advém da implantação do que denomino flexibilidade liofilizada, aparentemente mais “participativa”, mas cujos traços de estranha- mento e retificação são mais interiorizados do que aqueles vigentes no período precedente. Sem deixar de mencionar o fato de que a era da flexibilidade liofilizada é responsável pela desconstrução monumental dos direitos sociais do trabalho e pela generalização das novas modalidades da precarização. As “responsabilizações” e as “individualizações”, os “parceiros” ou “consultores”, os “envolvimentos” dos novos “colaboradores”, as “metas” e “competências” que povoam o universo discursivo do capital são, portanto, traços fenomênicos, encobridores de uma acentuada informalização e precarização do trabalho. Sem querer esboçar uma fenomenologia da subjetividade, que pudesse tornar mais inteligíveis as bases sócio-históricas do fenômeno da alienação ou do estranhamen- to na empresa capitalista contemporânea, vale ao menos remeter às inúmeras possibi- lidades analíticas existentes a partir da diferenciação sugerida por Lukács, na sua obra de maturidade, Ontologia do ser social, e recuperada por Tertulian entre as reificações “inocentes” e as reificações “alienantes”, que aqui não podemos desenvolver. (ver Tertu- lian, 1993; Lukács, 1981). Estamos, portanto, frente a uma nova fase de desconstrução do trabalho sem pre- cedentes em toda era moderna, ampliando os diversos modos de ser da informalidade e da precarização do trabalho. Avançando na formulação, no atual contexto de crise estrutural do capital, parece que estamos adentrando uma nova era de precarização estrutural do trabalho em escala global. Ou seja, no movimento pendular do trabalho, preservados os imperativos destru- tivos do capital, oscilamos crescentemente entre a perenidade de um trabalho cada vez mais reduzido, intensificado e explorado, dotado de direitos, e, de outro, uma superfluidade crescente, cada vez mais geradora de trabalho precarizado e informatizado, como via de acesso ao desemprego estrutural. 171UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho Em outras palavras, labor mais qualificado para um contingente cada vez mais reduzido e um labor cada vez mais instável e precarizado para um universo cada vez mais ampliado de trabalhadores e trabalhadoras, ora intensificando intelectual e/ou manualmen- te os trabalhos dos que se encontram no mundo da produção, ora expulsando enormes contingentes de assalariados que não têm mais possibilidade real de ser incorporados e absorvidos pelo capital e que se somam às fileiras do bolsão de desempregados. Que, en- tretanto, cumprem papel ativo no ciclo de valorização do valor, em especial pela criação de um enorme excedente de força de trabalho que subvaloriza quem se mantém no universo do trabalho assalariado. Por fim, é preciso enfatizar que a informalidade, em seus distintos modos de ser - que aqui, tão somente indicamos alguns exemplos -, supõe sempre a ruptura com os laços de contratação e regulação da força de trabalho, tal como se estruturou a relação capital e trabalho especialmente ao longo do século XX, sob a vigência taylorista-fordista, quando o trabalho regulamentado tinha prevalência sobre o desregulamentado. Se a informalidade não é sinônimo direto de precariedade, sua vigência expressa formas de trabalho desprovido de direitos e, por isso, encontra clara similitude com a pre- carização. Se a boa teoria e a cuidadosa reflexão não devem borrar conceitos e categorias que são assemelhados e similares (mas não necessariamente idênticos), apontar suas conexões, suas inter-relações e suas vinculações torna-se, entretanto, imprescindível. Assim, nesse universo categorial e analítico, poder-se-ia concluir acrescentando que a flexibilização e a informalização da força de trabalho são caminhos seguros, utiliza- dos pela engenharia do capital, para arquitetar e ampliar a intensificação, da exploração e, last but not least, a precarização estrutural do trabalho em escala global. Fonte: ANTUNES. Ricardo. Os modos de ser da informalidade: rumo a uma nova era da precariza- ção estrutural do trabalho?. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sssoc/a/3JD9n46H3Dhn7BYbZ3w- zC7t/?lang=pt. Acesso em: 31 out.2021. https://www.scielo.br/j/sssoc/a/3JD9n46H3Dhn7BYbZ3wzC7t/?lang=pt https://www.scielo.br/j/sssoc/a/3JD9n46H3Dhn7BYbZ3wzC7t/?lang=pt 172UNIDADE IV A Crise da Sociedade e do Trabalho MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: A Mundialização do Capital Autor: François Chesnais. Editora: Xamã. Sinopse: O processo denominado mundialização do capital pode ser definido como uma reestruturação do capitalismo em novas bases econômicas, como meio de recuperar as taxas de acumula- ção das décadas anteriores. O atual processo de mundialização do capital suscitou diversas correntes de opinião quanto à definição precisa desse fenômeno: constitui uma corrente ideológica ou um programa econômico? É possível desenvolver projetos autônomos de desenvolvimento, ou seja, desvinculados do mercado globali- zado? FILME / VÍDEO Título: L’outsider Ano: 2017. Sinopse: Principal nome em uma das maiores fraudes bancárias da história mundial, Jérôme Kerviel, um jovem ainda comerciante, acabou por se tornar extremamente famoso após participar do es- cândalo na instituição financeira parisiense Société Générale. As atividades fraudulentas foram responsáveis por um enorme rombo na bolsa, em 2008, quando a crise mundial ainda engatinhava. 173 REFERÊNCIAS ABDELAL, R. Capital rules: the construction of global finance, Cambridge. Harvard Univer- sity Press. 2009. ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Manual de Comunicação LGBT. Curitiba: ABGLT, 2010. AGLIETTA, M. A Theory of Regulation. London. NIB. 1974. ALENCAR, Mônica. O trabalho do assistente social nas organizações privadas não lucra- tivas. In: Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ ABEPSS, 2009, p. 449-477. ANDERSON, Perry. Balanço do Neoliberalismo In: SADER, E. e GENTILI, P. 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