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DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 1 OS: 0118/2/19-Gil CONCURSO: ASSUNTO: Direito Processual Civil 1- Processo e Direito Material: em qualquer processo há pelo menos a afirmação de um direito em juízo. O processo existe para tutelar um direito. O processo deve conformar-se ao direito material. A razão de ser do processo é concretizar o direito material. O processo não tem um fim em si mesmo. A partir dessa perspectiva, fala-se em instrumentalidade do processo, visto que se prega a aproximação entre o processo e o direito material. O processo não é inferior ou subordinado ao direito material. Não há uma relação hierárquica entre processo e direito material. Um complementa o outro. A relação é de complementaridade; de simbiose, de mutualismo. (Pergunta de concurso: explique a relação circular entre processo e direito material. Resposta: o processo serve ao direito material, ao mesmo tempo em que este é servido pelo processo). Direito Processual Direito Material O mundo do direito material é o mundo da certeza. Quando se leva o direito material a juízo, o direito material muda e passa a ser um direito afirmado, alegado, processualizado. Assim, o autor não tem direito, ele diz que tem direito, já que o processo é incerteza quanto ao resultado. 2- Processo e Teoria do Direito: após a 2ª Guerra, a ciência jurídica começou a passar por um processo de transformação. A ciência jurídica foi criada pelos alemães do século XIX. Até a 2ª Guerra a ciência jurídica não conseguia resolver os problemas trazidos pela própria Grande Guerra, uma vez que as ações de Hitler estavam acobertadas legalmente. Desta forma, iniciou-se uma nova fase da ciência jurídica, chamado de neoconstitucionalismo, neopositivismo, pós-positivismo, ou positivismo reconstruído. Este é o estágio atual da fase metodológica do pensamento jurídico. O processo, por sua vez, não poderia ficar alheio a estas transformações da ciência jurídica do neoconstitucionalismo, as quais têm cinco características: 1ª reconhecimento da força normativa da CF: não há mais dúvidas de que a CF é uma norma que pode ser realizada concretamente, independentemente do legislador, não sendo mera carta de intenções, mas sim uma norma com eficácia normativa (ex: a jurisprudência manda que o Estado entregue um remédio a um necessitado que ingressa em juízo. Se a CF diz que a saúde é um dever do Estado, então deverá cumprir, não sendo mero programa); 2ª a teoria dos princípios: hoje, princípio é norma, espécie de norma. Norma é gênero, princípio é espécie de norma; 3ª transformações da hermenêutica jurídica: 3.1ª a percepção de que a atividade jurisdicional é criativa. O juiz é um partícipe importantíssimo na criação do direito. O juiz não mais declara as normas, e sim participa da construção delas. Não é possível negar o papel criativo da jurisprudência. A jurisdição de nosso tempo tem papel complementar ao do legislador. 3.2ª o princípio da proporcionalidade: foi construído para dar um conteúdo ético às decisões. Repercute em qualquer ramo do direito. 4ª consolidou-se a teoria dos direito fundamentais: um verdadeiro pilar do direito constitucional contemporâneo, foi desenvolvida nesse período histórico e é um elemento indispensável do neoconstitucionalismo. 5ª controle de constitucionalidade: a expansão, aprimoramento e desenvolvimento da jurisdição constitucional. Hoje, tem-se o controle concentrado e difuso de constitucionalidade, totalmente consagrados, podendo um juiz deixar de aplicar uma lei por entender ser ela inconstitucional. Essas características são consenso, não há discussão sobre a existência delas. Contudo, elas dão margem a abusos (ex.: juiz ultrapassar a força criativa do Judiciário). Por isso, cabe à ciência jurídica dar a elas um conteúdo mais concreto. Já se começa a falar que vivemos uma nova fase da ciência processual (4ª fase). A ciência processual começou no século XIV e a primeira fase é denominada de sincretismo ou praxismo. Nessa fase não havia distinção entre processo e direito material, ambos eram realidades indistinguíveis. Processo e direito material eram uma coisa só. À época, a preocupação eram os aspectos práticos do processo, a praxe forense. A 2ª fase é a do processualismo ou da fase cientifica. Nessa fase houve a separação absoluta entre processo e direito material. A partir dessa fase, ambos passam a ter realidades diversas e institutos próprios. Fase de afirmação da autonomia do direito processual. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 2 OS: 0118/2/19-Gil A 3ª fase é a do instrumentalismo em que há aproximação entre processo e direito material. Entende-se que os dois são coisas distintas, mas devem conviver. Os livros brasileiros costumam parar nesse momento histórico, só que essa fase não aborda as características do neoconstitucionalismo. O livro que é a marca do instrumentalismo é “instituições do direito processual civil”, de Cândido Rangel Dinamarco, escrito em 2001. A 4ª e atual fase ainda não tem um nome definido, mas há algumas propostas: neoprocessualismo (remete ao neoconstitucionalismo). Essa fase pretende a redefinição das categorias processuais a partir de outro método. Hoje, o estudo do processo tem de ser feito a partir dessas novas premissas metodológicas, ou seja, o estudo do processo tem que partir da força normativa da CF, da consolidação dos direito fundamentais etc. O neoprocessualismo é o estudo (compreensão) do processo a partir desta nova metodologia do neoconstitucionalismo. O livro síntese dessa concepção, sem, porém, adotar essa terminologia é o livro de Marinoni. Na Universidade Federal do RS, este movimento foi denominado de formalismo-valorativo1. A metodologia é a mesma, alterando apenas a denominação. Com essa definição, eles querem deixar claro o papel ético que o processo deve ter, principalmente com a propagação da boa-fé no processo. Atualmente, o art. 5o do NCPC aduz de forma expressa que: “aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.” 3- Processo e Constituição: uma das características de nosso tempo é a constitucionalização dos direitos. A constituição incorporou inúmeras regras processuais e, muitas delas, normas processuais relativas a direitos fundamentais. Qual é a relação entre o processo e os direitos fundamentais? A primeira relação está na pauta dos direitos fundamentais, onde há diversos direitos fundamentais de conteúdo processual (ex: contraditório, ampla defesa, proibição de prova ilícita etc.). Na segunda relação, os direitos fundamentais têm duas dimensões: a) dimensão subjetiva (os direitos fundamentais são direitos titularizados pelo indivíduo, como o direito a vida, a liberdade etc.); b) dimensão objetiva (é que os direitos fundamentais, além de direitos, são normas que orientam a produção de toda a legislação infraconstitucional, ou seja, toda legislação infraconstitucional deve respeitar os direitos fundamentais. Impõem uma pauta de valores mínimos que devem ser seguidos pelo legislador infraconstitucional. O legislador não pode criar uma lei que fere o contraditório, pois os direitos fundamentais são normas que orientam a produção denormas). Qual a relação entre processo e a acepção subjetiva dos direitos fundamentais? O processo tem de ser 1 Este tese tem como precursor o professor Carlos Alberto Álvaro de Oliveira. adequado à tutela, à proteção dos direitos fundamentais; o processo tem que estar preparado para proteção dos direitos fundamentais. O processo tem que ser construído para bem tutelar os direitos fundamentais. Qual a relação entre processo e a acepção objetiva? O processo tem de ser estruturado de acordo com as normas de direitos fundamentais (ex: um processo não pode impedir o contraditório, pois não estaria em consonância com os direitos fundamentais). O processo deve ser um bom instrumento para os direitos fundamentais (acepção subjetiva) e deve estar de acordo com os direitos fundamentais (acepção objetiva). PRINCÍOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO 1. Princípio do devido processo legal: Devido processo legal é a tradução brasileira da expressão due process of Law, expressão inglesa do século XIV. A idéia de devido processo legal, de limitação ao exercício do poder é do século XI, mas a expressão surgiu no século XIV e não na Magna Carta. Law significa direito e não lei. Lei em inglês é statute Law. O devido processo legal é um processo em conformidade com o direito como um todo, com a lei em sentido amplo, abrangendo a CF. Alguns autores não falam mais em devido processo legal e sim em devido processo constitucional. Esta expressão due process of law existe no direito inglês há 800 anos. Esta expressão é genérica. O que significa ser um processo devido e determinado com a lei? Esta expressão é genérica de propósito, pois para o direito norte-americano e inglês, o direito é aquilo que os tribunais dizem (precedentes judiciais). Sendo assim, ao invés de estabelecerem o que é não devido, cabe a jurisprudência definir o que é devido. Em 800 anos de história, foi a jurisprudência dos tribunais que definiu o que é devido, surgindo o contraditório, o juiz natural, a ampla defesa etc. Não há, nos EUA, uma previsão constitucional do devido processo legal. Qual a diferença entre texto e norma? Este texto é o mesmo há 800 anos. A norma que se extrai do texto não é a mesma, tendo em vista que o processo em 1.215 não é o mesmo que em 2.010. O cão guia para um cego tem natureza jurídica de um olho. Desta forma, não se pode proibir a entrada deste cão em locais proibidos para animais. O texto diz uma coisa, porém, a norma é a interpretação que se tira deste texto. Devido processo legal é um texto que os reis em 1.215 interpretavam de uma forma completamente diferente dos juízes em 2.010. O devido processo legal é uma cláusula geral, um enunciado normativo aberto, cujo conteúdo é definido pelo juiz de acordo com as circunstâncias histórico-culturais do momento da decisão. É DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 3 OS: 0118/2/19-Gil aquilo que no momento histórico se entende o que é devido. Não há como saber o que é exatamente o devido processo legal, variando conforme a interpretação dada ao texto. Há como saber o conteúdo mínimo deste texto, ou seja, aquilo que já está consolidado como garantias que decorrem do devido processo legal. Ao passar do tempo, se surgirem novas necessidades, estas novas garantias serão construídas. O juiz natural é do século XVII, após 400 anos do surgimento do texto. Devido processo legal é também uma cláusula que permite que se extraia outras garantias. É uma potência de outras garantias. Atualmente, esta se usando o processo eletrônico ou virtual (sem papel). O que é o devido processo eletrônico? O que ele deve obter para cumprir com o texto? Suas garantias são metas a serem buscadas. O conteúdo mínimo do devido processo legal serão estudadas logo abaixo. O que significa a palavra “processo” do texto do devido processo legal? Significa método ou meio de criação de normas jurídicas. Toda norma jurídica é resultado de um processo. Ou seja, o processo é um meio para criação das normas. As leis são frutos de um processo legislativo. As sentenças são frutos de um processo jurisdicional. As normas administrativas são frutos de um processo administrativo. Portanto, o processo legislativo, administrativo e jurisdicional, deve ser devido. Existe outro tipo de norma (não são legislativas, jurisdicionais etc.), que são as normas privadas, sendo normas produzidas pela autonomia privada (ex: regulamentos de clubes, regimentos de condomínio, contratos etc.). Estas normas também devem obedecer ao devido processo legal aplicado ao âmbito privado. No condomínio onde você eventualmente reside se um condômino for acusado de alguma ilicitude, terá um prazo para se defender, devendo o síndico resolver de plano. Contra sua decisão cabe recurso para a assembléia de condôminos. Segundo art. 57 do CC, a exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto (Redação dada pela Lei n. 11.127/05). Ou seja, o associado somente pode ser excluído se for oferecido o direito de contraditório. Antes da referida lei, o STF, no julgamento do RE 201.819, consolidou esta regra. Esta é a relação dos direitos fundamentais aplicada ao âmbito privado. Esta relação é denominada de eficácia horizontal (entre indivíduos) dos direitos fundamentais. Contrapõe-se à chamada eficácia vertical dos direitos fundamentais, que ocorre nas relações entre Estado e cidadão. O termo “devido” nessa expressão significou na idade média uma limitação dos direitos do rei em respeito aos direitos dos vassalos, isto é, uma limitação contra a tirania. Nesses 800 anos houve um acúmulo histórico que compõe a noção de processo devido. Hoje, o devido processo tem que ter contraditório, tem que ter decisões motivadas, não pode ter prova ilícitas, deve ter juiz imparcial, entre outros requisitos. Assim, o processo devido é um processo que se constrói historicamente, através de um acúmulo que não pode mais ser apagado, não se pode mais retroceder com o que foi conquistado. É uma cláusula aberta às necessidades de uma sociedade em determinado momento histórico, por isso sua longevidade. O devido processo legal tem duas dimensões: a) Dimensão formal ou processual: é o conjunto de garantias processuais, como o contraditório, proibição de prova ilícita etc. b) Dimensão substancial ou material ou substantiva: para o duo process of law norte-americano, tudo se extrai desta dimensão. Para que um ato de poder seja devido (lei, sentença etc.), basta que ele preencha o devido processo legal formal? Os norte-americanos entendem que não, pois não basta a observância das regras processuais, mas também que seja devida em si mesma. Ou seja, não é porque o legislador respeitou o processo legislativo que a lei é devida. É preciso que seja substancialmente devido, devendo controlar o abuso do poder, pois às vezes o poder é exercido de maneira correta, mas com conteúdo incorreto. Desse modo, o devido processo legal garante também que as decisões devem ser ponderadas e razoáveis. Processo que gera desgraça não é um processo devido, ainda que respeitados o devido processo formal. Processo devido é aquele que gera decisões devidas, não bastando a observância da dimensão formal. Tem de observar as exigências formais, bem como deve garantir decisões substancialmente devidas. Frisa-se que foram os norte-americanosque criaram a última dimensão, isto é, não basta seguir formalidades, mas sim controlar as opções do Estado. Não só controlar a forma, mas também a substância das decisões. Não é qualquer decisão que é devida. A decisão precisa ser justa, razoável e, por fim, equilibrada. Não basta que a decisão seja formalmente devida; é necessário que seja justa. O STF encampou tal ideia. Deu a tal criação americana outro sentido, a saber: passou a entender que o devido processo legal é em sua dimensão substancial o fundamento da máxima da proporcionalidade e da razoabilidade. Devido processo legal, proporcionalidade e razoabilidade se confundem. Esse entendimento é brasileiro, trata-se da construção do pensamento jurídico brasileiro (doutrina e jurisprudência). Deu um sentido diferente dos norte-americanos, um sentido peculiar, contudo isso não quer dizer que a posição brasileira esteja errada. Trata-se de uma construção brasileira bem fundamentada e muito bem compreendida. Produto da nossa cultura. Ressalta-se que há vozes contrárias a tal construção do STF, porque entendem que este tribunal entendeu mal o que os americanos quiseram estabelecer. Todavia, este argumento é pífio para negar o entendimento nacional dado ao devido processo legal substancial. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 4 OS: 0118/2/19-Gil É certo que os americanos deram ao DP substancial o seguinte sentido serve para proteger todos direitos fundamentais; trata-se cláusula de proteção pra todos os dir. fundamentais não previstos expressamente. Contudo, o Brasil não seguiu este entendimento, tendo em vista que os direitos fundamentais estão num rol não taxativo. Ademais, há outro argumento para embasar o entendimento nacional: razoabilidade e proporcionalidade são extraídos de outros instituídos (a igualdade e o Estado de Direito – “verdadeiras fontes da razoabilidade e proporcionalidade“). E, ainda, afirma que na Alemanha, onde a ideia de proporcionalidade surgiu, não se trabalha com o DPL. Não é algo com o que se opera. A proporcionalidade veio da igualdade, bem como do Estado de Direito. Enfim meus caros alunos, percebam que a jurisprudência brasileira reconstruiu o significado do devido processo legal e é certo que isso não pode ser tido como “errado”. Trata-se de um produto cultural. OBSERVAÇÃO FINAL: A doutrina da Teoria do Direito fica brigando quanto à natureza da proporcionalidade e da razoabilidade. Por quê? Porque uns afirmam que se trata de princípios (é a maioria). Outra parte entende que se trata de regras e não princípios (entendimento de Virgilio Afonso da Silva – filho de José Afonso da Silva). Por fim, destaca-se que o jurista Humberto Ávila entende que é um Postulado, ou seja, não é princípio nem regra, mas sim uma norma que determinada como outras normas devem ser aplicadas. Concurso: citar os três (princípio, regra, postulado, conforme entendimento doutrinário). Apenas opinar / se posicionar / se pedir (se perguntarem). Agora veremos outros princípios constitucionais do processo. Frisa-se que o rol que se estuda não é exaustivo. Vamos ver outros princípios ao longo do curso. Estudaremos os princípios expressos, os quais estão consagrados na CF (contraditório, ampla defesa, duração razoável do processo e publicidade), bem como os princípios constitucionais implícitos, ou seja, sem texto expresso, mas estão previstos na constituição como conteúdo do devido processo legal (são eles, o da efetividade, adequação e boa-fé processual). Observe-se, porém, que o CPC/2015, em seu capítulo 1, tratando das normas fundamentais do processo civil, estabelece que: a) O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. b) Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. (Grifos nossos) Vejamos: 1) Contraditório: processo é procedimento organizado em contraditório, ou seja, processo é um conjunto de atos tendentes a uma decisão final em que os sujeitos desses atos participam e podem influenciar nesta decisão. O contraditório tem uma dupla dimensão (formal e substancial): em 1º lugar é garantia de participação, de ser ouvido. A formal. Dimensão formal do princípio do contraditório é a que garante as partes o direito de participar do processo; é o direito de ser ouvido (de participar). Esta garantia é puramente formal, isto é, basta participar para preencher o requisito. Em suma: P. do Contraditório é = participação + poder de influência *. Já em 2º lugar * o poder de influência é a dimensão substancial, a qual garante às partes o tal “poder de influência”. A parte tem o direito intervir no conteúdo da decisão, não basta mera participação. É preciso que esta participação permita o convencimento do juiz, como por exemplo, o direito à produção de provas, de constituir um advogado etc. Algumas questões no processo são questões que podem ser conhecidas ex officio (o juiz age sem ser provocado a falar sobre o tema; significa agir em seu ofício), como por exemplo, a decadência, a inconstitucionalidade da lei (pelo controle difuso)** etc. **mesmo que ninguém suscite estas matérias o juiz pode, ao analisar o processo, reconhecê-las para proceder julgamento. Pode o juiz decidir ex officio, mas cadê a manifestação das partes? O juiz surpreenderá uma das partes que perdeu a demanda, pois a sentença irá se sustentar em matéria que não foi analisada pela parte, ficando a parte inibida de influenciar nesta decisão. Se, surpreendeu a parte com a decisão, o juiz incorrerá na violação a ampla defesa. Neste caso, deveria ouvir as partes para se manifestarem sobre o assunto e assim decidir acerca do assunto. Logo, o juiz pode atuar de ofício, mas deve intimar as partes para se manifestarem sobre a matéria. 2) Ampla defesa: aspecto substancial do princípio do contraditório, a qual traz meios para influenciar na decisão. Antes se separava a ampla defesa do contraditório, mas hoje com a mudança do entendimento, não se fala mais em contraditório e em ampla defesa. O contraditório tem dupla dimensão. 3) Duração razoável do processo: não significa dizer que é o princípio da rapidez. Processo rápido é processo tirano (autoritário). Processo demora por opção própria, pois isso garante uma melhor decisão. Existe um direito fundamental a uma demora mínima; um processo com o mínimo de atos para que a decisão seja justa. Porém, a demora deve ser razoável. Inexiste prazo certo e determinado para o processo. É o caso concreto que DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 5 OS: 0118/2/19-Gil definirá. O que é uma duração razoável? Não há como definir a priori um processo sem analisar o caso concreto. Há quatro critérios de aferição para saber sobre a razoável duração: 1º) Complexidade da causa; 2º) Estrutura do Judiciário: tem que analisar a estrutura do Judiciário para saber se há possibilidade de dar vazão aos processos;3º) Comportamento do juiz: precisa saber qual foi o papel do juiz no processo; e 4º) Comportamento das partes: é preciso saber se houve atos procrastinatórios das partes (ex: será que a oitiva da testemunha arrolada pela parte é essencial?) OBS.: tais critérios são definidos pelo tribunal europeu de direitos humanos. Eles têm uma jurisprudência definida há muitos anos sobre o tema. 4) Publicidade: a fim de controlar o exercício do poder. No Brasil, os julgamentos são públicos. Os constitucionalistas questionam se os julgamentos televisionados são positivos. A impressão do cidadão é positiva. Destaca-se que nos EUA os julgamentos são fechados. Aqui, até os procedimentos administrativos são públicos. Talvez isso seja resquício da ditadura militar e talvez esse excesso de “publicidade” tenha sido reflexo de tal período. Contudo, há restrições pontuais a tal princípio, as quais são garantidas na CF (fundamento: interesse público ou em razão da preservação da intimidade*). *proteger a intimidade é um interesse público (e não privado), pois equilibra as relações as sociais. Agora vejamos os princípios implícitos – são extraídos do DPL: 5) Efetividade: um processo para ser devido tem de ser efetivo, ou seja, tem de realizar, efetivar os direitos. Não basta um processo que reconheça os direitos, mas os realize, os efetive. Todos têm o direito fundamental de ver os seus direitos efetivados e não somente reconhecidos. Este princípio não está consagrado de forma expressa; é corolário (extraído) do devido processo legal. Nem toda doutrina aborda tal tema. Historicamente, os direitos do réu foram sendo construídos para evitar abusos por parte do autor e do Estado. Porém, não se falava em direito do credor. O direito privado brasileiro, por exemplo, é fundamentado na proteção do devedor. O discurso pró-efetividade é discurso pró-credor. Não comove as pessoas. Não é simpático. Vemos o devedor como alguém que merece proteção. Nosso direito privado sofreu influencia do dir. romano este último sofreu influencias do Cristianismo (perdão, misericórdia, piedade, clemência) daí se falar em credor com “n” deveres “morais”. Tudo isso humanizou o direito privado, mas gerou uma proteção excessiva ao devedor. No nosso direito temos o princípio do favor debitoris (em que devedor precisa ser favorecido – e é favorecido por meio do ordenamento jurídico). Fica clarividente que não se falava em direito fundamental do credor. Hoje já se fala, porém ainda não é bem aceito. Reunidos sobre a rubrica da dignidade de pessoa humana a solução de tal problema deixa de ser uma solução somente a favor do executado, mas sim uma solução mais justa. Ex1: impossibilidade de penhorar um cão-guia (natureza jurídica de olho). Não há uma regra expressa em tal sentido, mas parte do princípio da dignidade da pessoa humana. Frisa que tal cão é um bem valoroso (cerca de oito mil reais). Ex2: salário VS impenhorabilidade x penhorar parcela de um salário de um grande jogador de futebol. Ok justo. Só se pode chegar a tal conclusão se partir da premissa que existe o princípio da efetividade. Daí surgem os argumentos para penhorar tal parcela salarial. Ex3: a regra é que o bem de família é impenhorável, para a proteção da dignidade do executado. Ao tornar o bem impenhorável, o direito do credor fica mitigado. No conflito entre efetividade e dignidade (dois direitos fundamentais), é preciso ponderá-los no caso concreto. A solução cabível seria a arrematação do bem, para o pagamento do credor, e a devolução do restante para que o devedor compre um novo bem. Há 10 anos, o que importava era o adimplemento dos direitos do autor, sendo a efetividade o direito por excelência. Deve-se escolher a solução mais ponderada ao caso concreto. 6) Adequação: processo devido é processo adequado também. As regras-normas processuais têm de ser adequadas. Frisa que há três fatores de adequação: 1º critério - objetivo: o processo tem de ser adequado ao direito que por ele será tutelado, isto é, ao objeto do processo. Um processo de alimentos pode ser igual a um processo de anulação de um contrato? Peculiaridades do direito material discutido impõem regras processuais adequadas. A exigência de adequação objetiva é uma imposição da instrumentalidade do processo. 2º fator - subjetivo: o processo deve ser adequado em relação aos sujeitos que vão participar do processo. A adequação subjetiva do processo é uma imposição do princípio da igualdade. As normas processuais precisam observar as diferenças. Não se pode dar o mesmo tratamento ao incapaz e ao capaz. Deve-se dar prioridade aos processos onde litigam os idosos, por exemplo. 3º fator - teleológico: é preciso que as normas processuais sejam adequadas aos fins do processo. O processo deve ser adequado em relação aos seus fins, aos seus propósitos. Isso quer dizer, se a parte quer um processo para executar, não se pode criar um processo que tumultue a execução; não se pode permitir ampla discussão neste processo – tendo em vista que não é esta a finalidade de uma execução. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 6 OS: 0118/2/19-Gil Tradicionalmente, o princípio da adequação era estudado como se ele fosse dirigido ao legislador, ou seja, é tarefa do legislador criar normas processuais adequadas. Ocorre que, atualmente, tal princípio também é dirigido ao juiz, não é somente aquele previsto em lei, é necessário que o juiz também prossiga na adequação das regras processuais. Mas aqui com uma diferença: legislador cria regras processuais adequadas gerais, o juiz teria de criar uma regra processual adequada ao caso concreto. O direito a um processo adequado é aquele que esteja em sintonia com o caso concreto. A adequação, além de ser legislativa, também deveria ser também jurisdicional. Fala-se, então, num sub - princípio da adequação, a saber: princípio da adaptabilidade do procedimento (também chamado de princípio da elasticidade ou ainda princípio da flexibilidade do procedimento). É certo que nenhum dos três critérios prevalece, pois deve ser adequado a todos os critérios. O critério subjetivo nada mais é do que uma exigência do princípio da igualdade no processo. Ou seja, deve-se perceber a diferença entre os litigantes e aplicar regras diferentes aos mesmos, para que se tornem iguais. A adequação também é um corolário (consequência) do devido processo legal. A visão tradicional da adequação diz que este princípio é dirigido ao legislador, ou seja, cabe ao legislador criar regras processuais adequadas abstratamente. Ex1: O CPC diz que o prazo para contestação é de 15 dias. Porém, se for defensor público o prazo é de 30 dias. Suponha que o autor junte 10 mil documentos, o réu terá prazo de 15 dias. Porém, se tivesse juntado apenas 1 documento, teria o mesmo prazo. Isso quer dizer que, no primeiro caso concreto, o prazo não é adequado. Seria necessário ampliar o caso para tornar viável a defesa. Pode o juiz, diante do caso concreto, adequar a regra para tornar o processo adequado ao caso concreto? Ex2: petição de danos morais com 800 páginas. Aí o juiz manda emendar para três páginas, pois não havia necessidade. Fez uma adequação ao caso concreto, haja vista que não há lei que diga o número de folhas. Enfim, atualmente, fala-se na adequação jurisdicional do processo. Ou seja, cabe ao juiz, no caso concreto, se se deparar com uma regra inadequada a este caso, deve afastar esta regra, criando uma nova regra processualao caso concreto. Para tanto, o juiz deverá fundamentar na inadequação da norma abstrata ao caso concreto. Marinoni entende que é direito fundamental da parte um processo legal adequado para o caso concreto. Esta adequação jurisdicional do processo é chamada por alguns autores de princípio da adaptabilidade do processo. O processo deve ser adaptável às peculiaridades do caso concreto. 7) Boa- fé objetiva no processo: boa-fé objetiva é uma expressão criada pela doutrina como norma de conduta (é uma cláusula geral ou princípio). Não tem nada a ver com a acepção de boa-fé subjetiva, que significa boa intenção (elemento psicológico que nada tem a ver com a norma), se contrapondo a má-fé. A boa-fé como fato é levada em algumas situações de direito (ex: posse de boa- fé). A segunda acepção é da boa-fé objetiva o princípio em tela como norma de conduta que impõe a parte o dever de respeitar ao outro, agindo com lealdade, ética, de modo a proteger a confiança que o outro tem em suas atitudes. Deve estar presente em todos os casos, o comportamento estar em conformidade com os padrões. Pouco importa a intenção do sujeito (boa ou má). É irrelevante o que o sujeito pensa. Esta boa-fé objetiva surgiu no direito civil, onde os contratantes deveriam respeitá-la. Segundo o art. 242 do CC Alemão, os contratantes devem agir de boa-fé. Com base nela, a jurisprudência entendeu que esta se aplica a qualquer relação jurídica, mesmo nas relações jurídicas de direito público, inclusive nos processos. Vincula a todos (juiz, advogados, auxiliares da justiça etc). Houve, portanto, a expansão da boa-fé objetiva. Até mesmo a Administração Pública deve respeitar a boa-fé objetiva. Embora os livros doutrinários indiquem apenas a boa-fé subjetiva (dolo ou culpa), é necessário se atentar a boa-fé objetiva. De onde se extrai a boa-fé objetiva? Da cláusula geral do devido processo legal. Segundo Menezes Cordeiro, o dever de comportar-se conforme a boa-fé decorre do princípio da igualdade. Para os civilistas brasileiros, em regra, o fundamento constitucional do princípio da boa-fé objetiva é a dignidade da pessoa humana. Conforme decisão do STF, é possível se extrair este princípio do fundamento constitucional do devido processo legal, que previu o fair trail (processo leal), no sentido de garantir uma participação justa e leal. Segundo este julgado, o fair trail (boa-fé objetiva) não recai somente sobre o autor ou réu, mas sobre todos os sujeitos do processo como o juiz, serventuários, peritos etc. (RE 464.963). Processo devido é processo LEAL (dentre outros adjetivos que fazem um processo devido). Trata-se de mais um adjetivo que torna o processo DEVIDO. Há uma regra expressa no CPC que trata deste assunto. Segundo o art. 5º do NCPC, aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. Quais são as consequências do princípio da boa-fé processual? Ou seja, impõe o quê? Lista-se quatro regras não exaustivas. São exemplos de concretização do princípio da boa-fé: 1ª consequência do p. da boa-fé processual: é o de proibir comportamentos dolosos; 2ª consequência do p. da boa-fé processual: veda o abuso dos direitos processuais (abuso do direito é DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 7 OS: 0118/2/19-Gil exercitar um direito contrário a boa-fé). Ex: sujeito que se defende contra texto expresso de lei abusa do direito de defesa. E é certo que o abuso de direito é ato ILÍCITO, porque é uma conduta contrária ao direito. 3ª consequência do p. da boa-fé processual: a proibição “do venire contra factum proprium”. Para explicar tal princípio basta entender os exemplos abaixo: EX1: Ou seja, comportar-se contra as próprias atitudes. Ex2: Indicar bem para penhorar e depois falar que é bem de família. Do venire contra factum proprium é espécie de abuso. 4ª consequência do p. da boa-fé processual: dos deveres de cooperação. PRECLUSÃO Conceito: perda de um poder jurídico processual. Fala-se em preclusão das partes (ex: do direito de recorrer) e do juiz (ex: decidir novamente o que já foi decidido). Pra que serve a preclusão? A preclusão tem duas grandes funções no processo: 1º - a preclusão é uma técnica jurídica que visa dar segurança às partes; serve para estabilizar certas situações jurídicas. 2ª – também serve como uma técnica de aceleração do processo. Segue, impulsiona o processo para a frente. Não volta atrás. Razão pela qual não há processo sem preclusão. Frisa-se que Chiovenda identificou três espécies de preclusão, a saber: 1ª) Temporal: é a perda de um poder processual, tendo em vista a perda de um prazo processual. Ex: tenho o prazo para contestar, não contestei, perdi o prazo. 2ª) Consumativa: é a preclusão pelo seu exercício; pelo uso, pelo exercício do poder, tendo em vista que não se pode usá-lo mais de uma vez; isto é, usado o poder processual, não se tem mais este poder. Ex: o juiz pode sentenciar uma única vez. Ex2: as partes podem recorrer uma única vez. 3a) Lógica: é a perda de um poder processual em razão de um comportamento contraditório a outro comportamento anterior realizado pela mesma parte (ex1: aceitar sentença e recorrer; ex2: a parte recorre da sentença que teve pedido de acordo homologado; ex3: quem oferece um bem a penhora perde o direito de questionar a validade desta penhora). É a aplicação do processo da proibição do venire contra factum proprium. A preclusão lógica é manifestação da boa-fé, a qual proíbe o comportamento contraditório. Nota-se que tal classificação é decorrente de atos LÍCITOS. Por fim, vejamos: a preclusão e as questões que podem ser conhecidas de ofício pelo juiz. Existe a preclusão ao exame das questões de podem ser conhecidas de ofício pelo juiz? O juiz perde o poder de analisá-las? R.: é necessário ver o tema por meio de dois ângulos: 1º) Enquanto o processo estiver pendente, é possível analisar as questões de ordem pública a qualquer tempo, não havendo preclusão para examiná-las. Aplica-se o art. 485, p. 3º, do NCPC: Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: § 3o O juiz conhecerá de ofício da matéria constante dos incisos IV, V, VI e IX, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado. Em qualquer tempo ler “enquanto o processo estiver pendente”. Até o término do processo não há preclusão. 2º) Primeiro precisamos saber se há preclusão para o reexame das questões. Questão que já foi decidida anteriormente pode ser decidida novamente? Exemplificando, após a decisão que entender não ser o juiz impedido pode a parte alegar o impedimento em momento posterior? Para corrente majoritária e para a jurisprudência, não há preclusão, podendo ser reexaminada. Para corrente minoritária, uma vez decidida a questão, ocorre a preclusão, não havendo nenhum dispositivo no CPC, que habilite o entendimento supracitada (Barbosa Moreira e Fredie Didier). OBS.: é possível alegar tais questões pela primeira vez em recursos extraordinários? R.: este assunto será visto nos recursos. JURISDIÇÃO 1ª parte do conceito: é um Poder/função a jurisdição é um poder, uma função atribuída a alguém. Deve-se destacar que, o exercício da jurisdição é o exercício de um poder. O Juiz decide com força imperial, tendo em vista que exerce um poder. Atribuída a terceiro imparcial. O que significa ser terceiro? Terceiro é um estranho aoproblema a ser resolvido. Não basta ser um estranho, é preciso que seja um terceiro imparcial. A impartialidade (a condição de não ser parte) e a imparcialidade (dado subjetivo, equidistante) são marcas da jurisdição. Impartialidade ≠ Imparcialidade DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 8 OS: 0118/2/19-Gil Não confundir imparcialidade com neutralidade. A neutralidade não existe, pois ninguém é neutro diante de outra pessoa (ninguém é despido de valor em relação a outros). A jurisdição é um exemplo de heterocomposição. (hétero distinto; composição solução). Exatamente por tal motivo o mestre Chiovenda dizia que atividade jurisdicional era substitutiva*. *o juiz substitui a vontade dos litigantes pela dele. A solução não é de acordo com a vontade dos litigantes, mas sim do juiz. A substitutividade é uma característica fundamental para Chiovenda, era isso que marcava a jurisdição. Mas isso é discutível. Isso não é marca exclusiva da jurisdição, pois há outras atividades substitutivas que não são jurisdicionais. Ex: O CADE - por exemplo, é autarquia federal que decide, como terceiro, as questões relacionadas à concorrência. Tem substituição, mas não há jurisdição. Para alguns, este terceiro, órgão julgador, é sempre o Estado-juiz. Porém, esta afirmação não é correta. A jurisdição é monopólio do Estado, porém, isto não quer dizer que somente ele pode exercer a jurisdição. O Estado pode reconhecer a outros entes o poder de julgar. Ex: arbitragem - é jurisdição privada – autorizada pelo Estado. 2ª parte do conceito: mediante um processo a jurisdição é um poder exercido mediante um processo. Para que o juiz decida é preciso observar um processo devido. Não há jurisdição instantânea; deve ser sempre resultado de um processo devido que lhe preceda. O processo é o método de exercício da jurisdição. 3ª parte do conceito: a jurisdição visa Reconhecer/efetivar/proteger situações jurídicas concretamente deduzidas (expressão mais abrangente que direitos, pois tal expressão engloba direitos e deveres, afinal, o Judiciário também serve para proteger deveres). Uma marca da jurisdição é de que a jurisdição sempre atua sobre um problema concreto (juiz não é legislador que resolve problemas em abstrato). “A jurisdição atua sobre encomenda” (CARNELUTTI), em que se pede algo a ser resolvido pelo juiz (situação concreta). A atividade jurisdicional pressupõe um caso a ser resolvido. SEMPRE, não há exceção. A jurisdição atua diante de um problema concretamente deduzido para reconhecer, efetivar ou proteger direitos. Até mesmo numa ADI. Trata-se de uma atividade tópica (para resolver situações específicas). A jurisdição atua sempre sobre um problema. Este problema, SEMPRE seria uma lide (conflito entre dois sujeitos), segundo CARNELLUTI. Contudo, não é uma verdade absoluta. Normalmente o Judiciário é chamado para resolução de uma lide, mas, há processos que se instauram não para resolver uma lide, como por exemplo, para que a parte altere seu nome (não há lide). Trata-se de um problema que não é lide. Portanto, é possível haver jurisdição sem lide. O que não é possível é haver jurisdição sem um caso concreto. 4ª parte do conceito: ademais, não se pode ignorar que as decisões são atos de poder, de império e não mero conselho. Ato IMPERATIVO, mas não é só isso. A jurisdição é uma atividade CRIATIVA, o órgão jurisdicional, ao julgar, decide inovando, ou seja, cria norma jurídica nova que irá regular aquele problema concreto a qual foi submetido. Faz interpretações. Quando a norma geral não se encaixa ao caso concreto, forma-se uma nova norma concreta, não sendo igual a geral (ex: o contrato do Zeca Pagodinho com a Brahma, gerou uma quebra de boa-fé objetiva pós- contratual com a Nova Schin). Nesse problema não há previsão normativa abstrata específica. O juiz foi obrigado a criar nova norma para resolução do caso concreto. As decisões do juiz sempre devem se pautar na legislação em sentido amplo. Quando a legislação é aberta, como a boa-fé, por exemplo, terá ele um poder criativo maior. A criação jurisdicional é uma marca do neoprocessualismo. Cita-se a título de exemplo o STF VS caso das terras indígenas. É certo que a criatividade deve ser analisada sob duas maneiras, através das quais se revelam a criatividade judicial: a. Norma específica individual (dispositivo) – norma jurídica individualizada: o juiz ao julgar cria norma jurídica específica (que é a sentença) ao caso concreto, sendo ela uma norma individualizada (entre as partes); e b. Norma geral do caso concreto (fundamentação): – norma jurídica jurídica geral que servirá como precedente para casos futuros o juiz, ao decidir o caso concreto, deverá examinar o ordenamento jurídico como um todo, para identificar qual a norma jurídica que fundamenta, que sustenta a norma que ele acabou de criar, pois não poderá criar uma norma do vazio. Ele cria norma para o caso concreto a partir do ordenamento. Toda solução concreta tem que se basear numa norma geral; sua base é uma norma geral criada pelo juiz por meio da interpretação. A norma geral que fundamenta a norma individual é uma norma que o juiz cria a partir da interpretação que ele faz do ordenamento jurídico. O que é a norma geral do caso concreto? É a norma geral criada pelo juiz na sentença, a partir da interpretação do ordenamento jurídico (para fundamentar a sua decisão). Mas, quem cria norma geral não é o legislador? O legislador cria normas gerais que ignoram particularidades, não abrangendo todas as situações que eventualmente possam ocorrer. O Juiz examina a lei, e com base nela interpreta de acordo com o caso concreto. A norma geral, muitas vezes, é quase que a mesma aplicável ao caso concreto; bastando ao juiz somente transcrever a norma. Há uma norma do CC que diz: “todos os contratantes tem que se comportar conforme a boa-fé”. No comercial da DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 9 OS: 0118/2/19-Gil Brahma, o cantor Zeca Pagodinho violou a boa-fé no contrato que tinha com a Nova Schin. O juiz, com base na interpretação feita ao ordenamento jurídico, deverá construir uma norma geral analisando a boa-fé (ex: “quem faz propaganda para uma empresa não pode 3 meses após representar a empresa concorrente”). Decidindo pela violação da boa-fé contratual, o juiz elabora uma norma individual (Zeca Pagodinho deve indenização no valor X); e uma norma geral (“Todo aquele que viola a boa-fé do contrato deverá indenizar”). A norma individual encontra-se no dispositivo da decisão. A norma geral encontra-se na fundamentação da decisão. Segundo ensina Pontes de Miranda, a lei é o ponto de partida. A decisão cria uma norma jurídica individualizada (ex: empresa BLABALBAL não paga tal tributo) e cria também uma norma jurídica geral construída a partir de um caso concreto que pode servir como precedente para resolver caso futuros (ex: empresa de ramo “X” não precisa pagar y tributo). Atenção!!! decisão jurisdicional é insuscetível de controle externo a jurisdição é insuscetível de controle externo. O poder jurisdicional é o único poder que não pode ser controlado pelos demais. Ex: um ato administrativo não pode rever tal decisão; umalei não pode rever tal decisão. Um ato administrativo ou uma lei não podem controlar um ato jurisdicional. É certo dizer que a jurisdição controla outros poderes, porém, é insuscetível de ser controlada. Ex: dizer que um ato administrativo é ilegal; uma normal é inconstitucional etc. Por isso que as decisões do CADE não são jurisdicionais, tendo em vista que o Judiciário poderá alterar esta decisão. O CADE possui todas as características da jurisdição, exceto esta. Também frisa-se que a decisão tem aptidão para a coisa julgada: a jurisdição é o único ato do Poder que pode se tornar definitivo, indiscutível, até mesmo para a própria jurisdição. Nem mesmo a jurisdição pode decidir de novo. A jurisdição controla os próprios atos (controle interno da jurisdição), entretanto, quando há coisa julgada, nem mesmo a jurisdição poderá controlá-las. Somente a aptidão jurisdicional faz coisa julgada. Síntese: a jurisdição é função atribuída a terceiro imparcial para mediante um processo reconhecer, efetivar ou proteger situações jurídicas concretamente deduzidas de modo imperativo e criativo, em decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para torna-se indiscutível. Equivalentes jurisdicionais: São os modos de solução de conflito não jurisdicionais. Traz a solução de conflito, mas não são jurisdição. Vejamos: Autotutela: a autotutela é a solução egoísta do conflito, pois um dos conflitantes impõe ao outro a solução do conflito pela força. Em princípio, a autotutela é vedada, podendo até configurar crime de exercício arbitrário das próprias razões. Porém, ainda sobrevivem hipóteses excepcionais em que a autotutela é permitida. É o que acontece com: legítima defesa; estado de necessidade; Greve; desforço incontinenti= Desforço incontinenti é a reação daquele que tem esbulhado a sua posse, podendo reagir imediatamente (art. 1.210, p. 1º do CC); Guerra; autoexecutoriedade da Administração Pública; nunciação de obra nova= Na nunciação de obra nova o proprietário pode evitar a construção vizinha irregular quanto as normas municipais (art. 934 do CC) etc. É certo que na autotutela sempre é permitido um controle jurisdicional do seu excesso. Autocomposição: é a solução negociada do conflito. O conflito é resolvido pelos próprios litigantes. A autocomposição é incentivada, estimulada, pois se entende que é a forma mais eficaz de solução dos conflitos (ex: divórcio, separação, testamento no cartório sem intervenção judicial, acordo extrajudicial homologado pelo juiz etc.). Tal instituto pode ser judicial ou extrajudicial. Ademais, é certo que qualquer acordo que a parte fizer extrajudicialmente poderá (faculdade) ser levado para homologação judicial a fim de transformar o acordo em título executivo judicial (estimulo à autocomposição). Art. 515, inc. III, NCPC: Art. 515. São títulos executivos judiciais: ... III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza; Espécies: a) transação: forma de extinção de obrigações, quando há concessões mútuas e recíprocas; e b) submissão da vontade do outro. No processo dá-se o nome de renúncia, se for o autor que abre mão do direito em que se funda a ação - não confundir desistência da ação com renúncia do direito, DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 10 OS: 0118/2/19-Gil pois naquela o autor pode ingressar com nova ação, tendo em vista que não atinge o direito. Caso seja o réu fala em reconhecimento da procedência do pedido - o réu reconhece os fatos e as consequências jurídicas; Alternative disput resolution – ADR são meios alternativos de solução de conflitos. O meio alternativo mais difundido é a autocomposição (por excelência). Mediação: consiste na intervenção de um terceiro no conflito para estimular o acordo; encaminhar os conflitantes a firmar um acordo. Na mediação, o terceiro não decide nem soluciona o conflito. Os litigantes solucionam o conflito e são estimulados pelo mediador. O desgaste da relação muitas vezes impede que as partes entrem em comum acordo. Há necessidade, portanto, de um facilitador do diálogo, ocasião em que o mediador escuta as partes. Ex1: muito aplicado em casos de família; Ex2: em conflitos internacionais, chama-se o chefe de Estado de um terceiro país para mediar as partes; Ex3: litígios societários; e Há necessidade de um mediador que possui técnicas de mediação. Ex: os caras da polícia que têm treinamento para desarmar bandidos. O mediador não deve sugerir a solução, pois isto pode gerar um comprometimento, uma desconfiança pelas partes. Também não deve usar palavras estranhas e sim um vocábulo, uma linguagem afim da parte. O ambiente deve ser claro (cores claras) para evitar a rejeição da partes. A mesa deve ser circular, porque não há lados. Todos esses fatores são observados como técnicas estudadas. Por fim, a mediação pode ser judicial ou extrajudicial. Solução de conflito por tribunais administrativos: atualmente existem vários tribunais que decidem conflitos no âmbito administrativo. Esta solução é equivalente jurisdicional; tribunais administrativos julgam conflitos por heterocomposição; é muito similar a jurisdição, porém, não há poder jurisdicional. Exemplos: as decisões do tribunal marítimo solucionam os conflitos ocorridos em navegação; as decisões dos Tribunais de Contas; AP Fiscal; e Autarquias – como o CADE. Estes julgam o conflito com a forma de jurisdição. São decisões administrativas, tendo em vista que faltam atributos de jurisdição, a saber: a imutabilidade de suas decisões e a insuscetibilidade de controle externo. Arbitragem: na arbitragem, um terceiro escolhido pelas partes é chamado para resolver o conflito. Diferentemente da mediação, na arbitragem o terceiro soluciona o conflito. A arbitragem é uma solução por heterocomposição (terceiro que soluciona o conflito). A fonte da arbitragem é um negócio jurídico denominado convenção de arbitragem. A fonte é a autonomia privada, pois as partes optam pela arbitragem. Daí o porquê da cláusula de arbitragem em contrato de adesão ser nula. Somente pessoas capazes podem optar pela arbitragem e desde que envolvam direitos disponíveis. O árbitro pode ser qualquer pessoa capaz, não sendo necessário ser bacharelado em direito. Pode também ser composto por uma comissão de árbitros (formam uma junta arbitral – composta por três árbitros). OBS.: há arbitragem no direito administrativo. É um modo de resolver conflitos no âmbito administrativo. A arbitragem VS a Administração Pública é um tema novo e que está sendo desenvolvido. Porém, somente pode sujeitar a arbitragem naquilo que a Administração Pública atua negocialmente (bens disponíveis). Fala-se na aplicação de arbitragem aos contratos de concessões, por exemplo. (nas PPP’s) Também é bom frisar que a arbitragem dos litígios trabalhistas coletivos possui previsão constitucional (art. 114, CF). Diante de sentença arbitral, o Judiciário: a) pode executar a decisão arbitral, visto que esta decisão é título executivo judicial e o árbitro não tem este poder; b) pode anular (invalidar) a sentença arbitral, em caso de vício formal; e c) não pode alterá-la ou revisá-la, não podendo decidir o conflito. Tema do momento: arbitragem VS conflitos COLETIVOS tema em aberto; há propostas legislativas para se admitir isso. Segundo a Lei 9.307/96, o árbitroé juiz de fato e de direito. O Estado reconhece ao árbitro o poder de decidir de forma definitiva para o caso certo e determinado ( não é juiz do PJ). Se ele receber propina, responderá por corrupção passiva, que é crime contra a Administração Pública. Na arbitragem, as partes podem escolher o direito que deve ser aplicado (direito estrangeiro) ou optar pela equidade. Existe uma ação própria para exigir a constituição do árbitro, caso uma das partes se negue a se sujeitar a arbitragem. Se a parte demanda diretamente em juízo, e na contestação, a outra parte não alega a cláusula compromissória, haverá revogação tácita da cláusula arbitral. O CPC/2015 ratifica isso em seu art. 337, § 6º: DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 11 OS: 0118/2/19-Gil § 6o A ausência de alegação da existência de convenção de arbitragem, na forma prevista neste Capítulo, implica aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral. O Judiciário que executa a decisão. A competência do árbitro é tão-somente para julgar. A sentença arbitral é título judicial. O Poder Judiciário não pode revisar a sentença arbitral – o mérito da decisão arbitral é insuscetível de controle pelo Poder Judiciário. Após a Lei 9.307/96, a sentença arbitral não precisa mais ser homologada judicialmente para ter validade. A arbitragem é voluntária, onde a parte “abre mão” do Poder Judiciário. Todas as garantias do devido processo legal devem estar presentes na arbitragem. A sentença arbitral pode ser anulada pelo Poder Judiciário se ela tiver algum vício formal (ex: não teve contraditório; o árbitro era corrupto). O Judiciário anulará esta decisão por meio da ação anulatória da sentença arbitral, que tem prazo de 90 dias para ser interposta, contados da data da prolação da sentença arbitral. Passados os 90 dias, a sua validade não poderá mais ser discutida, se tornando estável. OBS.: depois de anulada volta ao árbitro para ser proferido novo julgamento. Há coisa julgada arbitral? Há, pois se torna indiscutível e indestrutível em certo momento. E nesta esteira indaga-se: cabe ação rescisória? Cabe, em 90 dias por meio da ação anulatória supramencionada. É uma ação rescisória que cabe num prazo menor e num rol menor. Arbitragem é ou não jurisdição? Sim, é jurisdição, mas privada (entendimento majoritário). No Brasil é jurisdição. Contudo há outros entendimentos, com o de Luiz Guilherme Marinone, a decisão arbitral não é jurisdicional, tendo em vista que o árbitro não pode executá-la. Esta falta de executoriedade de suas decisões lhe retira o poder jurisdicional. Segundo Fred Didier, esta não é a melhor posição. Para tanto, cita a falta do poder de execução das decisões do juiz de direito criminal, que depende do juiz da vara de execuções penais. Frisa-se que não é inconstitucional (direito à liberdade). O nome do negócio jurídico que gera a arbitragem é chamado de convenção de arbitragem. Temos duas espécies de convenção de arbitragem, convenção de arbitragem é gênero e tem duas espécies, a saber: 1ª) Cláusula compromissória e 2ª) Compromisso arbitral. Convenção de arbitragem é o nome que se dá ao Negócio Jurídico que gera a arbitragem. ESPÉCIES DE CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM 1ª) Cláusula compromissória: é uma convenção de arbitragem para o futuro, prevista no contrato, se refere a conflitos futuros que possam vir a existir. É PACTUADA ANTES DA EXISTÊNCIA DO CONFLITO. Se um conflito sobrevier será resolvido por um árbitro. É abstrata, logo, não se refere a nenhum conflito específico. Tal cláusula aparece muito em grandes contratos empresariais. 2ª) Compromisso arbitral: é uma convenção de arbitragem que se refere a um conflito concreto já existente. É celebrado quando um conflito já existe. O compromisso arbitral PODE ser um instrumento de complementação de uma cláusula compromissória aberta. As partes podem celebrar o compromisso arbitral sem que tenha havido entre elas qualquer compromisso anterior. Não se permite ao juiz conhecer de ofício a convenção de arbitragem. Vejamos o NCPC: Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: X - convenção de arbitragem; § 5o Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício das matérias enumeradas neste artigo. Refere-se as matérias preliminares. PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO 1. Princípio da investidura Somente pode exercer jurisdição quem tiver sido investido (empossado) na função jurisdicional ou também aqueles nomeados (ex: quinto constitucional). A investidura não se dá só por meio de concurso público. A investidura do juízo é requisito de existência do processo. A competência e a imparcialidade são requisitos de validade do processo. 2. Princípio da indelegabilidade O órgão jurisdicional não pode delegar o exercício de sua jurisdição a ninguém ou a outro órgão. Ao falar de indelegabilidade é necessário falar dos poderes do juiz dentre eles o poder ordinatório, ou seja, poder de praticar atos para que o processo avance. Tal poder pode ser delegado aos servidores. Vejamos: CF Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: ... XIV os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório; NCPC Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos... § 4o Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessários. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 12 OS: 0118/2/19-Gil Quando se fala em indelegabilidade, se fala em indelegabilidade do poder decisório. A CF permite, nos termos do art. 102, inc. I, alínea “m”, que o STF delegue a prática de atos executivos a juízes, tendo em vista que não são decisórios. CF Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: ... m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais; Esta previsão é destinada somente ao STF, porém, é unânime que todos os tribunais podem delegar a prática de atos executivos (poder executório). Outro exemplo de delegação é a de poderes instrutórios, em que os tribunais costumam delegar aos juízes singulares o poder de produção de provas (ex: ouvir testemunhas). Quando o juiz expede uma carta precatória delega a jurisdição? Não, pois carta precatória nada mais é do que um pedido de ajuda. Não se pode delegar o que o juiz não tem, pois ele não tem jurisdição em outra comarca. 3. Princípio da inevitabilidade A decisão jurisdicional é inevitável. Se a parte pudesse escapar da jurisdição, ela nada mais seria que um conselho. 4. Princípio da territorialidade A jurisdição é exercida sempre sobre um dado território (foro). Há sempre uma limitação territorial. Jurisdição é poder. E assim deve ter um lugar para poder exercê-lo. O nomesobre o qual a jurisdição se exerce é o foro, isto é, é a delimitação territorial para o exercício da jurisdição. Ex: o foro do STF é no país todo; Ex2: o foro de um TJ de um estado é aquele estado. Ressalta-se que na Justiça Estadual costuma-se falar em comarca e distrito. Os foros são chamados de comarcas. A comarca se refere a uma cidade ou a um grupo de cidades. E a comarca por sua vez pode ser subdivida e aí surge o distrito, o qual pode ter nome de uma cidade ou ainda de um bairro. Quanto à Justiça Federal o foro recebe outra denominação, a saber, seção judiciária. Cada seção judiciária corresponde a um Estado. A seção judiciária pode ser dividida em subseções. A seção judiciária sempre tem nome de Estado. A subseção sempre tem nome de cidade. A subseção judiciária abrange uma ou mais cidades. Ponderações sobre a territorialidade: Quando duas comarcas fazem fronteira entre si, fala-se em comarcas contíguas. Existem comarcas que pertencem a uma mesma região metropolitana, não necessariamente sendo contíguas. Comarcas contíguas? São comarcas que fazem fronteira. Ex: São Paulo VS Guarulhos. Imagine o julgamento relacionado a um imóvel que se encontre em entre duas comarcas. O poder de jurisdição deste juiz abrangerá todo o imóvel; trata-se de um caso de extraterritorialidade (art. 60 do NCPC), que é o exercício da jurisdição para além do seu território. CPC Art. 60. Art. 60. Se o imóvel se achar situado em mais de um Estado, comarca, seção ou subseção judiciária, a competência territorial do juízo prevento estender-se-á sobre a totalidade do imóvel. O local em que será proferida a sentença é uma coisa. O local em que surtirá os efeitos da decisão é outra. A separação de um casal no Estado de São Paulo, por exemplo, surtirá seus efeitos em todo território nacional. 5. Princípio da inafastabilidade A lei não excluirá do Judiciário, lesão ou ameaça de direito (art. 5º, inc. XXXV, da CF: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito); Este é o princípio que garante o acesso aos tribunais. É a garantia da tutela preventiva; a parte poderá levar ao Judiciário qualquer ameaça de direito. - Princípio da inafastabilidade lei não pode excluir o Poder Judiciário - Princípio da inevitabilidade parte não pode escapar da jurisdição A jurisdição é universal (pois qualquer pessoa pode a ela ter acesso e também porque pode afirmar o que quiser em juízo). Do ponto de vista jurídico, nenhuma lesão ou ameaça de lesão pode deixar de ser levada ao Judiciário. Os atos administrativos discricionários também podem ser levados ao Judiciário pela parte. Este ato é controlado por meio da proporcionalidade e da razoabilidade, pois o administrador não pode ultrapassar os limites de liberdade estipulados em lei, consoante farta jurisprudência. Contudo, há questões que a própria CF leva para outro órgão o julgamento, como por exemplo, crime de responsabilidade VS SF. O SF exerce jurisdição (função atípica). Caso digno de observação é o das questões desportivas. Um problema desportivo somente pode ser levado ao Judiciário após o exaurimento das instâncias desportivas. Esse condicionamento tem previsão constitucional: CF Art. 217, § 1º. O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei. É o único caso que a CF determinada um condicionamento para ir ao Judiciário. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 13 OS: 0118/2/19-Gil Há inúmeras leis infraconstitucionais que condicionam o acesso ao Poder Judiciário por meio do esgotamento das instâncias administrativas, como por exemplo, a Lei do habeas data, Lei da Súmula Vinculante etc. São constitucionais tais leis? Deve-se responder que estas leis devem ser interpretadas de acordo com a CF; significa que, somente pode-se exigir o exaurimento da instância administrativa se não houver urgência (a parte puder esperar). Caso haja urgência não há que se falar em esgotamento da instancia administrativa. Ex: ADINS n. 2139 e n. 2160 x exigência de CCP na JT. O STF deu liminar para dar a interpretação conforme a CF. 6. Princípio do juiz natural Este princípio é extraído do devido processo legal e de dos incisos XXXVII e LIII, do art. 5º, da CF. XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção (imparcialidade); LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; Há dois aspectos principais do juiz natural: a) não haverá juízo ou tribunal de exceção (imparcialidade – daí falar em distribuição de processos – não posso escolher o juiz); e b) julgamento pelo juiz competente (competência – lei prévia). A competência e a imparcialidade são pressupostos processuais subjetivos de validade do processo. O juiz natural sob o prisma da imparcialidade veda a criação de um tribunal de exceção, ou seja, aquele criado extraordinariamente para julgar determinada causa (ex: tribunal de Nuremberg). O juízo da causa é aquele que já existe antes do fato a ser discutido em juízo. Foi necessário, mas os juristas já tinham noção que isso não poderia ocorrer, daí veio o Tribunal Penal Internacional para os crimes de guerra. Até hoje ocorre de presidente de tribunal designar um juiz tal para julgar determinada causa – por meio de portaria. Isso é uma violação, afinal, é garantia das partes a designação de um juízo já existente ou posto. Também não pode falar em avocação de processos. O juízo ad hoc ou designado ex post facto é aquele criado para julgar determinada matéria (na época do absolutismo, o rei escolhia o juiz da causa livremente). A garantia de imparcialidade decorre do juiz natural. Para garantir a imparcialidade do juiz é que se veda o tribunal de exceção. O juiz natural sob o prisma da competência: o princípio do juiz natural garante o juiz competente para julgar a causa, não bastando que ele seja o juiz natural. Juiz natural é o juiz competente com regras gerais de distribuição de competência previamente estabelecidas. A distribuição da ação no Fórum por sorteio, é uma forma de garantir o juiz natural. Aspecto formal do juiz natural é a competência; e Aspecto material do juiz natural é a imparcialidade (*Reclamação 417 do STF – LER). *cuida do caso abaixo: O Estado de Roraima foi criado pela CF de 1988. As ações judiciais, antes da promulgação da CF, eram remetidas ao tribunal dos territórios. Após a formação do Estado de Roraima, foi criado o Tribunal de Justiça, sendo este composto por poucos juízes. Após a transferência dos processos do Tribunal dos Territórios para o TJ de Roraima, houve a interposição de uma ação civil pública, contra o ato do Judiciário deste novo ente da Federação, em que todos os juízes deste tribunal figuraram como réus. O STF disse que não havia juiz natural naquele Estado, por falta de independência, a qual é necessária para a imparcialidade. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA (JV) É uma atividade de integração da vontade; o juiz na JV integra a vontade dos sujeitos tornando-a esta vontade apta à produção dos efeitos jurídicos desejados. A simples vontade do sujeito não é o bastante para os efeitos jurídicos que ele quer. O sujeito vai ao Poder Judiciário para tornar a vontade dele íntegra. Serve para completar / integrar a vontade dos sujeitos. É também uma atividade de fiscalização, isto é, na Justiça Voluntária o juiz iráfiscalizar se o ato praticado pela parte é um ato realizado de forma regular e, caso seja, o juiz integrará a vontade. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA JUSTIÇA VOLUNTÁRIA Necessária ou opcional Costuma-se dizer que a JV é necessária, ou seja, a parte não tem opção, se ela quer que aquele efeito jurídico se produza ela tem de ir ao Poder Judiciário. Ex: interditar um pródigo. Isso é uma regra, mas há casos excepcionais em que se admite uma JV opcional / facultativa. São casos que saem do parâmetro. Ex: divórcio consensual sem filhos. Afinal, pode se divorciar no cartório. É um caso raro, mas existe. No entanto, a regra é que a intermediação do Judiciário é necessária. É, em regra, portanto, necessária a jurisdição voluntária, pois alguns atos jurídicos somente podem produzir efeitos por meio da jurisdição voluntária (ex: alteração de nome, interdição etc.). Há exceções nos casos em que a jurisdição voluntária é opcional (permitida), como por exemplo, o divórcio, o arrolamento de bens consensuais em caso de ausência de incapazes, acordo extrajudicial (que DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 14 OS: 0118/2/19-Gil tem validade independentemente da homologação do juiz) etc. Natureza constitutiva A jurisdição voluntária, em regra, tem natureza constitutiva. Ou seja, pela jurisdição voluntária criam-se, extinguem-se ou modificam-se situações jurídicas. Contraditório Na jurisdição voluntária há contraditório; os interessados (que podem sofrer prejuízo com a decisão) tem o direito de participar; tem de ser ouvidos aqueles que podem ter interesses, no prazo de 15 dias. Existe citação em JV. Ex: Ex2: retificação de registro mobiliário tem de citar os proprietários daquele imóvel. Art. 721, NCPC. Serão citados todos os interessados, bem como intimado o Ministério Público, nos casos do art. 178, para que se manifestem, querendo, no prazo de 15 (quinze) dias. Duplo grau de jurisdição A jurisdição voluntária se encerra por sentença que é apelável. O juiz possui todos os seus atributos São iguais aos da jurisdição. Intervenção obrigatória do MP em determinados procedimentos Numa interpretação literal do art. 721 do NCPC, se entende que em todo procedimento de jurisdição voluntária, o MP deverá intervir. Ocorre que, para a intervenção do MP em jurisdição voluntária, é preciso que seja necessária a sua manifestação (ex: no acordo extrajudicial homologado, não há interesse do Estado, mas sim interesse privado). O MP só se envolve quando houver interesse indisponível. Enfim, pode haver caso de Justiça voluntária sem intervenção do MP. Costuma-se dizer na doutrina que é um processo inquisitivo O juiz é o protagonista. Ele tem muitos poderes. O contraponto do processo inquisitivo é o dispositivo (ou processo adversarial/acusatório). E isso se dá porque muitos processos de JV podem ser instaurados ex officio. Existem várias exceções de procedimentos de jurisdição voluntária que podem ser instaurados ex officio, visto que o normal é que o processo seja provocado pelas partes. Possibilidade da utilização da equidade Este dispositivo nasceu para dar uma margem de discricionariedade maior ao juiz na jurisdição voluntária, tanto na sua condução quanto na decisão da sentença. O ideal é que o magistrado não se apegue tanto a literalidade da lei, adequando a lei ao caso concreto. O parágrafo único do art. 723 do NCPC permite um juízo de equidade por parte do magistrado nos casos de jurisdição voluntária. Porém, para os demais processos, prevê julgamento na estrita legalidade. Art. 723. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias. Parágrafo único. O juiz não é obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que considerar mais conveniente ou oportuna. É certo que temos os procedimentos comum e especial, contudo há uma polêmica acerca da NATUREZA JURÍDICA DA JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. Tem-se duas correntes. 1ª) a jurisdição voluntária não é jurisdição, sendo uma atividade administrativa, natureza administrativa; atuando o juiz como administrador de interesses privados. Esta concepção é majoritária e tradicional; é a corrente mais difundida. Fundamentam tal corrente com os seguintes argumentos: não há lide (não há conflito), logo, não há jurisdição; não há ação, mas sim requerimento; não há processo, mas tão–somente procedimento; não há partes, mas somente interessados; não há coisa julgada, pois esta somente nasce da jurisdição, fala-se no máximo em preclusão. 2ª) a jurisdição voluntária tem natureza jurisdicional, mas jurisdição com outro propósito, conforme os seguintes argumentos: pode não haver lide, porém, isto não significa dizer que sempre não haverá lide; se o CPC/2015 manda citar os interessados, é porque há possibilidade de gerar uma lide; não é correto afirmar que só há jurisdição se houver lide (trata-se de uma arbitrariedade teórica); e a jurisdição atua sobre um caso concreto, mas não necessariamente sobre uma lide. Mesmo adotando a concepção de que a jurisdição voluntária tem natureza administrativa, não há como negar a existência de processo e contraditório, tendo em vista que o processo administrativo atual se exterioriza por meio de processo. Dizer que não há ação é concebível, porém, dizer que não há processo é inaceitável. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 15 OS: 0118/2/19-Gil Processo administrativo tem amparo constitucional (o qual deve observar o contraditório e a ampla defesa). Primeira corrente Segunda corrente - Não há lide - Há lide - Não há ação - Há ação - Não há processo - Há processo - Não há partes - Há partes - Não há coisa julgada - Há coisa julgada Atenção para o tema da coisa julgada na JV: Segundo art. 1.111 do CPC, a sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se ocorrerem circunstâncias supervenientes. A corrente tradicional entende não existir coisa julgada, visto que pelo dispositivo citado permite-se que a decisão seja modificada. Já a segunda corrente, com base no mesmo artigo supramencionado, entende que, em regra, a sentença é imodificável, havendo coisa julgada. Se o fato é posterior a coisa julgada, este fato não tem nenhuma relação com a sentença, sendo exigível nova decisão. Uma nova decisão não nega a coisa julgada, visto que o fato é posterior a esta. Exemplos: o casal divorciado que se casa novamente não altera a sentença de divórcio, porém, pode-se casar novamente; o filho que pede revisão da sentença alimentícia; a pessoa que pede para mudar o nome e o juiz nega porque não havia motivo no entender do juiz para tanto, mas noutra época em razão de x propaganda o nome tornou-se ridículo. Nestes casos, não se está rescindindo a coisa julgada, mas sim se exigindo novo julgamento para a nova situação. Portanto, dizer que não há coisa julgada no art. 1.111 do CPC é erro elementar. CPC Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se ocorrerem circunstâncias supervenientes. COMPETÊNCIA É a quantidade de poder atribuída a umdeterminado ente (órgão). É a medida do poder que cabe a algum ente. Logo, é uma limitação do poder. Nesse contexto, fala-se em competência legislativa, administrativa e jurisdicional. Cuidaremos da competência jurisdicional (civil). A competência, assim, é a distribuição de funções entre os diversos órgãos estatais. Assim, o órgão estatal somente pode exercê-lo nos limites de sua competência. A competência jurisdicional civil é a quantidade de poder jurisdicional atribuída a um determinado órgão. E observa os seguintes princípios: a) Princípio da tipicidade: a competência está prevista na legislação. É o legislador (sentido amplo) que determinará a competência. O fato dela ser típica não significa que ela tenha de ser expressa. Admite-se a chamada competência implícita. Ex: a Constituição Federal não diz que cabe ao STF julgar os embargos de declaração de seus julgados. Mas se ele não os julgar quem julgaria. O silêncio constitucional impõe que se descubra de quem é a competência. Não pode haver vácuo de competência. Algum órgão deve ser competente. Esta é a denominada competência implícita (IMPLIED POWER); b) Princípio da indisponibilidade: o órgão jurisdicional não pode se abster de proferir julgamento em ações de sua competência. O órgão jurisdicional não pode negar ou exigir a competência de outrem (ex: não pode escolher qual processo irá julgar). O legislador pode dar uma maior flexibilidade, permitindo que elas sejam modificadas sobre determinadas circunstâncias. Porém, quem determina esta modificação é o legislador, e não o titular do poder. REGRA DA COMPETÊNCIA DA COMPETÊNCIA (em alemão Kompetenzkompetenz): todo órgão jurisdicional tem a competência de examinar a sua própria competência. Também chamada de competência mínima (atômica). É o mínimo de competência que o órgão jurisdicional tem. TODOS JUÍZES TÊM. FORUM SHOPPING: fato da vida; que consiste na escolha do foro competente pelo autor; o autor escolhe o foro competente quando há vários foros igualmente competentes. Tem-se várias opções. Ex: lesão x honra x site x aconteceu em qualquer lugar do mundo. Logo, permite-se propor ação em qualquer lugar do mundo em que o site pode ser acessado. Pode-se demandar em qualquer lugar. As pessoas em regra buscam o país em que a jurisprudência é mais favorável aos pedidos de indenização por dano moral. O que não pode haver é o abuso deste direito de escolha. Ex: escolhe um foro que em nada lhe aproveita, mas em tudo prejudica o réu. Há um abuso, porque não traz nada de especial ao demandante e só prejudica o réu. A doutrina desenvolveu uma teoria para combater esta forma de abuso, a saber, FORUM NON CONVENIENS, a qual serve para afastar o abuso do FORUM SHOPPING, se a escolha não for conveniente é abusiva e o juiz pode recusar. Trata-se de teoria doutrinária do Direito da Escócia (civil Law). O STJ já tratou do assunto e não acatou este princípio, mas com certeza sua posição será modificada, pois a fundamentação deste argumento do STJ foi fraca, pois não levou em conta o princípio da boa-fé. DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA A distribuição de competência é tarefa do legislador. A primeira distribuição é constitucional, que criou 5 justiças: DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 16 OS: 0118/2/19-Gil Justiça Federal, Justiça Estadual, Justiça Eleitoral, Justiça Militar e Justiça do Trabalho. J. FEDERAL, J. TRABALHISTA, J. MILITAR , J. ELEITORAL e J. ESTADUAL – competência residual – será de competência desta tudo aquilo que não for das supramencionadas justiças. Existe uma questão teórica sobre tal divisão. Vejamos: Imagine um juiz federal julgando uma causa militar. Perceba que é um juiz que não tem competência nos termos da CF. Falta competência no nível constitucional. A competência da Justiça Estadual é residual. O constituinte cuidou de enumerar a competência das demais, deixando a Justiça Estadual com uma competência residual. Todas as demais justiças são bancadas pela União, salvo a justiça militar estadual. O juiz sem competência prevista na CF profere decisões nulas ou inexistentes? Imagine um juiz do trabalho julgando uma causa eleitoral. Segundo Ada Pelegrine, esta decisão é inexistente, pois é uma decisão proferida em desrespeito a regra constitucional (ele é um não-juiz). Contudo, segundo a doutrina majoritária, trata-se de caso de invalidade da decisão, ou seja, a decisão é nula, que existe, porém, é viciada. Na decisão nula, é cabível ação rescisória. Após a distribuição constitucional, há a distribuição feita pela lei infraconstitucional. As leis federais e estaduais seguem a distribuição da competência em partes menores, até chegar ao regimento interno de um tribunal. A competência é determinada pela lei, mas o tribunal pode distribuí-la internamente por meio de seu regimento interno. O regimento interno recebe a competência que foi atribuída a determinado tribunal, distribuindo internamente. Ele não pode criar uma hipótese de competência, invadir o âmbito da reserva legal. Pode distribuí-la internamente pelos órgãos do tribunal. Tal distribuição é feito em abstrato (normas gerais que se aplicam a todas as pessoas). A lei não identifica o juiz da causa. Distribui sempre no plano geral e abstrato, assim, é preciso CONCRETIZAR a competência. Após a análise de todas estas normas, haverá condição de definir qual juiz é competente para julgar a causa. Examinando somente as leis (abstratas), não há como definir o órgão julgador competente, sendo preciso concretizá-las. Daí surge um fenômeno, a saber: DETERMINAÇÃO OU FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA É preciso determinar ou fixar a competência para identificar qual órgão irá julgar determinada causa, pois apenas com a lei não é possível determiná-la. A fixação ocorre por meio do art. 43 do NCPC. Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta. Quando se dá a fixação da competência? Ocorre no momento do registro ou da distribuição da petição inicial onde se determinará o juízo competente para julgar a causa, sendo indispensável saber quando haverá o registro ou a distribuição da exordial. O momento de fixação da competência é um de dois: ou é da data da distribuição ou a data do registro nos casos em que só houver um juízo no foro. Se há uma vara, um só juiz não há o que distribuir, logo, valerá a data do registro. Se houver mais de vara uma competente, a fixação dar-se-á com a distribuição. Fixada a competência, os fatos supervenientes não terão aptidão para que o processo saia do juízo. Trata-se de uma regra de estabilidade do processo, evitando que o processo fique transitando entre juízos. É o fenômeno denominado perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdiciones). A regra da perpetuação tem duas exceções, ou seja, há dois fatos supervenientes que têm aptidão para quebrar a perpetuação da jurisdição, fazendo com que a causa saia daquele juízo e vá para outro, quais sejam: 1º) nos casos de supressão do órgão judiciário/desaparecimento do órgão (ex: extinção do tribunal de alçada; extinguiu–se a vara); e 2º) também quebra a perpetuação a alteração superveniente de competência absoluta, antes de proferida a sentença. Nos processos em que já havia sentença, o fato superveniente não incorrena quebra da perpetuação. Em caso de alteração de competência material do cível para o juízo trabalhista, a apelação será encaminhada ao TRT? Não, tendo em vista que já houve prolação de sentença pelo juiz singular cível, podendo somente ser reformada pelo TJ. Obs.: tal questão aflorou após EC45. CLASSIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA 1. Competência originária e competência derivada Competência originária é a competência para conhecer e julgar as causas em primeiro lugar. A regra é a de que os juízos singulares (de primeira instância) tenham competência originária. Entretanto, há casos excepcionais em que uma demanda deve ser proposta originariamente perante o STF, STJ, TJ ou TRE, p. ex. O tribunal tem competência originária, embora seja excepcional (ex: julgar ação rescisória). Competência derivada é a competência para julgar a causa em nível de recursos recebendo a causa em um segundo momento (derivadamente). A regra é a de que a competência derivada seja dos tribunais. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 17 OS: 0118/2/19-Gil Excepcionalmente, porém, o juiz de 1º grau pode ter competência derivada. Citemos dois casos de tal exceção: 1º Embargos de declaração. Os embargos de declaração constituem exceção a regra da competência derivada, tendo em vista que o juiz singular julgara recurso interposto contra sua decisão; e 2º Execuções fiscais de pequeno valor até 50 ORTN (aproximadamente R$ 500,00), em que o recurso contra sentença é julgado pelo próprio juiz que proferiu a sentença (art. 34 e p. 2º, da Lei 6.830/80). Art. 34 - Das sentenças de primeira instância proferidas em execuções de valor igual ou inferior a 50 (cinquenta) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, só se admitirão embargos infringentes e de declaração. § 2º - Os embargos infringentes, instruídos, ou não, com documentos novos, serão deduzidos, no prazo de 10 (dez) dias perante o mesmo Juízo, em petição fundamentada. OBS.: no JEC o recurso é de competência da turma recursal, que é composta por juízes. Este caso seria uma exceção a regra? Não, pois o órgão com competência recursal é a turma recursal, e não o juiz singular. A competência é primordialmente derivada para os recursos. Já para o mandado de segurança seria originária. 2. Competência absoluta e relativa Regras de competência absoluta: - São regras criadas para atender o interesse público, e, assim, não podem ser alteradas pela vontade das partes. E também não permite a modificação por conexão ou continência. - O desrespeito a estas regras gera a incompetência absoluta. Esta, por sua vez, pode ser conhecida ex officio ou pela provocação de qualquer das partes, por qualquer forma e enquanto estiver pendente o processo. Após o fim da ação, é cabível rescisória. - Essa alegação feita pelas partes, pode se dar por qualquer forma ou meio, não havendo forma pré-estabelecida (ex: escrita, oral etc.). Porém, apesar desta possibilidade, lembrar que o meio e o momento adequado para se alegar incompetência absoluta será em preliminar de contestação. Regras de competência relativa: - São regras criadas para atender o interesse particular, e, portanto, podem ser alteradas pela vontade das partes. - A incompetência relativa não pode ser reconhecida ex officio (Súmula 33 do STJ = A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício.); somente o réu poderá alegá- la. O réu deve alegá-la em preliminar de contestação, sob pena de preclusão, logo, o seu silêncio significará a aceitação do juízo. O juízo incompetente torna-se competente. A jurisprudência do STJ já admitia, ainda na vigência do CPC/73, a alegação de incompetência relativa nas preliminares da contestação, desde que não cause prejuízo ao autor. Todavia, atualmente, a questão já está pacificada, tendo o NCPC incorporado a jurisprudência do STJ. Veja-se: Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar de contestação. O MP pode alegar incompetência relativa, caso seja o réu incapaz. Princípio da competência sobre a competência (Kompetenzkompetenz) significa a possibilidade de todo o juiz para julgar a sua própria competência / incompetência. Na incompetência absoluta, o juiz o faz de ofício. Na incompetência relativa, o juiz deve ser provocado. A incompetência não gera a extinção do processo, mas sim a remessa dos autos para outro juízo, salvo (logo, gerará a extinção sem julgamento de mérito): matéria ser de competência dos juizados especiais; e competência internacional (ex: não há a possibilidade do juiz brasileiro remeter os autos ao juízo do México, ocorrendo a extinção do processo). Incompetência absoluta: gera a remessa dos autos ao juízo competente. Com o NCPC, não haverá mais a nulidade dos atos decisórios, pois o novel legislador processual incorporou ao texto legal o instituto da “translatio iudicii”, segundo o qual os atos decisórios terão seus efeitos conservados até serem revogados ou modificados pelo juízo competente. Art. 64, § 4o Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar- se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente. Incompetência relativa: os atos decisórios não são anulados e gera tão-somente a remessa dos autos para o juízo competente. A possibilidade de alteração da competência relativa pelas partes pode ocorrer de duas formas: a) tácita, em que o réu não se opõe e gera alteração da competência; b) expressa, que ocorre por meio do foro de eleição (também denominado foro contratual). O que é o foro de eleição? É uma cláusula contratual escrita de um negócio jurídico, na qual os negociantes/as partes escolhem o foro DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 18 OS: 0118/2/19-Gil onde causas relacionadas aquele negócio devem ser ajuizadas. Se houver foro de eleição, estas ações deverão ser interpostas no local escolhido. Não se pode escolher o juízo na cláusula de foro de eleição, apenas o território (logo, errado dizer fórum, o correto é dizer foro). Assim, as partes podem modificar a competência relativa, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações. Entretanto, a eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico. O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes. Observar, todavia, que antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. Uma vez citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão. Portanto, aos contratos de adesão, sempre que a cláusula de eleição de foro for abusiva, cabe ao réu alegar tal abusividade a fim de que o juiz repute a cláusula ineficaz. Síntese: Competência ABSOLUTA RELATIVA Critérios - Funcional - Material - Valorativo - Territorial Interesses protegidos - Interesse público. - Interesse privado. Derrogabilidade (possibilidade de abrir mão) - Não. - Sim (podem elegero foro). Conhecimento pelo juiz da violação (quando a regra for violada) - Poderá conhecer de ofício e a qualquer tempo ou grau de jurisdição. - Só pode ser conhecida mediante provocação das partes (Súmula 33 do STF). Momento e modo adequado de alegação - Na preliminar de contestação. - Na preliminar de contestação. Violação Remessa dos autos ao juízo competente Remessa dos autos ao juízo competente. CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO / DE DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA Existe uma sistematização antiga (clássica) dos critérios de competência, que se divide em três: 1) Critério objetivo; 2) Critério funcional; e 3) Critério territorial. 1. Critério objetivo O critério objetivo é aquele que leva em consideração, para distribuir a competência, a demanda (problema que foi levado ao Judiciário). A parte pode demandar um despejo, uma cobrança, uma separação etc. É objetivo, pois toma por base um dado objetivo que é a demanda. A demanda, que é a provocação ao Judiciário, é composta por três elementos: a) partes; b) pedido; e c) causa de pedir. Qualquer desses elementos pode ser levado em consideração para fins de distribuição da competência (três sub-critérios de distribuição de competência). Os sub-critérios da competência são: a) em razão da pessoa (partes); b) em razão do valor da causa (pedido); e c) em razão da matéria (causa de pedir). A vara privativa da Fazenda Pública foi criada em razão da pessoa; a presença do ente público é um dado relevante para definição da competência. É o que acontece também com as demandas que envolvem um ente federal. Há uma súmula 206 do STJ que precisa se examinada: Súmula 206 do STJ. A existência de vara privativa, instituída por lei estadual, não altera a competência territorial resultante das leis de processo. Suponha o Estado-membro demandado em comarca com vara única (não possua vara da Fazenda Pública) que requer o envio dos autos para comarca que possua vara privativa. Isso não deve prosperar, e o STJ entende que a vara privativa em comarca vizinha não altera competência territorial da comarca que possui vara única. Obs.: a criação de uma vara privativa não atrairá para ela causas que estão noutra comarca. O pedido determina o valor da causa, em razão disso, criou-se outro critério de competência em razão do valor da causa. Quando se diz que o juiz fixou a competência em razão do valor, entende-se que ele utilizou o sub-critério do pedido (valor da causa). Tradicionalmente, a competência em razão do valor da causa seria uma competência relativa. Seria uma opção para a parte ir para uma vara estabelecida em razão da causa. Ademais, se o juiz extrapolasse o teto que foi estabelecido, seria absolutamente incompetente (ex: causa DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 19 OS: 0118/2/19-Gil com valor de 60 salários interposto na vara com causas até tal valor). Contudo, a lei dos juizados especiais mudou tal sistemática. Pessoa que vai para o juizado pleiteando mais que o teto fixado (40 salários mínimos), terá do juiz só o limite estabelecido na lei. Assim, o JEC não é incompetente e sim a pessoa que renuncia ao valor excedente. OBS.: a lei dos juizados federais e juizados estaduais da fazenda pública inexiste opção. Onde houver juizado instalado deve ir pra lá. Caso de competência absoluta. Enfim, se o valor da causa estiver dentro do teto, cabe ao demandante escolher o juízo competente (ex: causa de 30 salários mínimos pode ser proposta perante a vara comum ou JEC). No JEC, se a causa tiver valor acima do teto, o julgador não discutirá a competência, entendendo que o autor renunciou o excedente. O que a sentença exceder no valor do teto, será ineficaz. Se a causa esta dentro do teto de 40 salários mínimos, o demandante poderá optar pelo JEC. No JEF, as causas que estão dentro do limite de 60 salários mínimos, devem ser processadas necessariamente nos juizados federais. Não há uma opção, mas sim uma imposição, bem como no caso da lei dos juizados estaduais da fazenda pública. A competência definida pela causa de pedir (em razão da matéria) leva em consideração a natureza jurídica da relação discutida. A causa trabalhista, por exemplo, é da competência da Justiça do Trabalho. A ação de divórcio é da competência da vara da família. A competência em razão da matéria é SEMPRE absoluta. E da pessoa? Enfim, a competência objetiva (pessoa, matéria e valor) é sempre uma competência de vara (ex: vara dos juizados especiais, vara da fazenda, vara de família). 2. Critério funcional No processo há diversas funções que devem ser exercidas pelo órgão jurisdicional. Quando o legislador distribui essas funções entre vários órgãos jurisdicionais, fala-se em competência funcional (competência originária e derivada são exemplos de competência funcional, a qual é absoluta). São funções exercidas dentro da ação (competência funcional): a) receber a petição inicial; b) instruir a ação; c) julgar a sentença, recurso, reconvenção e a cautelar; d) executar; e) declarar a inconstitucionalidade de lei pelo controle difuso etc. A competência funcional pode ser visualizada em duas dimensões: a) dimensão vertical; e b) dimensão horizontal. A competência funcional em dimensão vertical é visualizada entre instâncias; em instâncias diversas. A diferença entre instâncias gera visualização de competência funcional (ex: competência originária e derivada são espécies de competência funcional em uma perspectiva vertical). Também chamada de competência em razão da hierarquia (=vertical). A competência funcional em dimensão horizontal é uma distribuição que se faz na mesma instância, no mesmo nível hierárquico, no mesmo nível se distribui a competência. Ex: no processo penal, o juiz singular pronuncia o plenário do júri condena e o juiz- presidente dosa a pena. São funções exercidas na mesma instância. 3. Competência territorial É aquele que identifica em que lugar (comarca) a causa deve ser processada. A competência territorial é, em regra, relativa e, assim, há casos em que a competência é territorial, mas é absoluta, sendo exceção a regra. Assim, ao longo do tempo, o legislador passou a criar regras de competência territorial absoluta. Por vezes, o legislador erra em confundir a competência territorial absoluta com a funcional. Exemplo clássico de tal confusão é o art. 2º da Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85), as ações serão propostas no foro do local onde ocorreram os danos, cujo juiz tiver competência funcional para processar a causa. A competência da ação coletiva no local do dano é de competência absoluta. O legislador, para não chamar de competência territorial, chamou de competência funcional ACP é competência territorial absoluta (mas fala-se em competência funcional). Após, o ECA, nos termos do art. 209, dispôs que as ações serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, cujo juiz terá competência absoluta. Neste dispositivo, o legislador não chamou de competência funcional. Aqui não se comete o erro da lei de ACP. Aqui há um aprimoramento nítido. Segundo o art. 80 do Estatuto do Idoso (10.741/2003), as ações serão propostas no foro domicílio do idoso cujo juízo terá competência absoluta. Este dispositivo, em sua literalidade, deve ser aplicada em ações coletivas. Contudo, a interpretaçãomais correta parece ser aquela em que o idoso poderá optar pela interposição da ação individual em seu domicílio. O direito, quando protege o indivíduo, oferece uma opção ao beneficiário, e não uma imposição. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 20 OS: 0118/2/19-Gil O parâmetro a ser seguido é o CDC (art. 101, inc. I - ..a ação pode ser proposta no domicílio do consumidor...). Também é o caso do alimentando. Agora vejamos as regras básicas de competência previstas no NCPC: a) domicílio do réu (art. 46 do NCPC); e b) foro da situação da coisa (art. 47 do NCPC). Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu. § 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles. § 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor. § 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro. § 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor. § 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado. Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. § 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. § 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. Aqui temos situações em que o autor não pode optar, ele tem de propor a ação na situação da coisa. Nestas sete situações acima, o foro da situação da coisa é hipótese de competência absoluta. Ações reais imobiliárias – foro da situação do imóvel – foro “rei sitae” . Foros concorrentes: lugar da coisa, domicílio do réu ou eleição. Usufruto e enfiteuse a situação da coisa será relativa. Exemplo de ações reais: Ação publiciana: ação pela qual se reivindica um bem de que se afirma proprietário, mas a pessoa não tem o título de propriedade. É ação reivindicatória sem título. CONFLITO DE COMPETÊNCIA Inicialmente, cabe lembrar e dominar cada região a fim de resolver de pronto as questões de conflito de competência na prova. TRF5ª Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco (SEDE), Alagoas. TRF4ª Rio Grande do Sul (SEDE), Santa Catarina e Paraná. TRF3ª São Paulo (SEDE) e Mato Grosso do Sul. TRF 2ª Rio de Janeiro (SEDE) e o Espírito Santo. TRF 1ª os demais 14 estados que ficaram de fora, quais sejam: Piauí, Maranhão, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, DF (SEDE), Tocantins, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá e Rondônia. Conflito de competência? É uma situação em que dois ou mais órgãos jurisdicionais discutem em torno da competência para julgar uma ou mais causas, podendo ser positivo (para julgar a causa) ou negativo (para não julgar a causa). O conflito é um incidente processual de competência originária de um tribunal (sempre será resolvido por um tribunal). O conflito é um incidente que pode ser provocado: pelas partes, pelo MP, ou pelos próprios órgãos conflitantes. Se o MP não for o proponente, deverá intervir obrigatoriamente no incidente. É um caso de intervenção obrigatória do MP. Art. 66. Há conflito de competência quando: I - 2 (dois) ou mais juízes se declaram competentes; II - 2 (dois) ou mais juízes se consideram incompetentes, atribuindo um ao outro a competência; III - entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos. Parágrafo único. O juiz que não acolher a competência declinada deverá suscitar o conflito, salvo se a atribuir a outro juízo. Não existe conflito se houver diferença hierárquica ente os conflitantes. Se um dos conflitantes revisa a decisão do outro, não há que se falar em conflito, prevalecendo a palavra do hierarquicamente superior (ex: não existe conflito entre o STF e os demais tribunais). Contudo, há conflito entre TJ (SP) e juiz do RJ do TJ de lá, por exemplo. Competência para examinar o conflito de competência. Competências do STF, STJ, TRFs/TJ. Método para decorar: STF e TRFs e TJs. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 21 OS: 0118/2/19-Gil Competência do STF : SÓ julga conflito de Tribunal superior. Competência do TRF e TJ: só julgam conflitos de JUÍZES vinculados ao mesmo tribunal. Se tiver tribunal participando do conflito, a competência é do STJ. Se for juízes de tribunais diferentes, quem julga é STJ. OBS.: pegadinha de concurso juiz estadual investido de função federal conflito entre o juiz federal VS o juiz estadual investido de jurisdição federal. Quem julga tal conflito? Depende. Se estiverem vinculados ao mesmo TRF – este julgará, caso contrário será o STJ. Por fim, citou a: Súmula 3 do STJ. Compete ao tribunal regional federal dirimir conflito de competência verificado, na respectiva região, entre juiz federal e juiz estadual investido de jurisdição federal. E também a súmula 348 e o RE 590.490: O STJ, no Informativo 406, aplicou o entendimento do STF (RE 590409) e, contrariando a sua própria Súmula de nº 348, acolheu Embargos com efeitos infringentes para se declarar incompetente para resolver conflito de competência entre Juizados Especiais Federais e Juiz Federal de 1º grau de Jurisdição da mesma Seção Judiciária. Assim, ratifica a posição do STF no mencionado RE, entendendo que o competente é o próprio Tribunal Regional Federal. Veja abaixo a ementa do julgado: PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - AGRAVO REGIMENTAL - COMPETÊNCIA DO STJ PARA PROCESSAR E JULGAR O CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - JUIZADO ESPECIAL FEDERAL E JUÍZO COMUM FEDERAL - RE 590.409 - ACLARATÓRIOS ACOLHIDOS - REMESSA DOS AUTOS AO TRF DA 4ª REGIÃO. 2. O Supremo Tribunal Federal ao julgar recurso extraordinário 590.409, pendente de publicação, reconheceu que o STJ é incompetente para dirimir os conflitos de competência entre Juizado Especial Federal e Juízo Federal Comum da mesma sessão jurisdicional, uma vez que essa competência é do respectivo Tribunal Regional Federal. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos infringentes, para reconhecer a incompetência deste Tribunal e determinar a remessa dos autos ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região para o deslinde do conflito. Destaque-se que o STJ deverá reformular, em breve, a súmula supramencionada. CONEXÃO E CONTINÊNCIA Havendo duas causas pendentes iguais, surge o fenômeno da litispendência. Existe outro sentido da palavra litispendência, significando o período de tempo que se compreende o nascimento e a morte do processo, isto é, a vida do processo (o fluir da existência do processo se chama litispendência). É correto afirmar que o recurso prolonga a litispendência, pois ele evita que o processose extingue. A junção de processos conexos ou continentes é facultativa, observando-se a conveniência e a economia processual. Entre os extremos pode surgir a seguinte relação: duas causas independentes, distintas, mas que possuem relação entre si. Existe um nexo entre elas. Conexão e continência é um vínculo que aproxima duas causas distintas entre si. Se fossem iguais seria litispendência. Se não tivesse vínculo seria irrelevante. Só pode falar de conexão se não houver litispendência. CONEXÃO Há possibilidade de haver causas não iguais, porém, que guardam alguma semelhança ou vínculo entre si. Este fato é denominado de conexão. A conexão é a relação entre processos/causas distintas que guardam entre si algum vínculo. Trata-se de um fato processual relevante. A conexão reúne causas distintas com trâmite em juízos diferentes, para que um mesmo juízo processe e julgue. Um juízo adquire competência para julgar uma causa, fazendo com que outro a perca. A causa sai de um juízo e vai para o outro. Um juízo perde a competência para julgar a causa. E outro ganha a competência para julgar a causa conexa. Tal competência nova, a que surge, é ABSOLUTA. A conexão tem o propósito de economia processual e de evitar decisões contraditórias entre juízos. A conexão é causa de modificação de competência RELATIVA. Se ambos os juízes tiverem competência absoluta, ainda que haja conexão, não haverá reunião de processos! OBS.: conexão é um fato. É a semelhança de causas pendentes. Os efeitos da conexão são outros: reunião e processamento simultâneo. A conexão propriamente dita não é a mera reunião dos processos, sendo esta os efeitos ou consequências daquela. A importância desta distinção é a de que pode haver conexão sem haver reunião de processos. Ex1: ação cível e ação de família; Ex2: competência funcional entre juiz singular e tribunal; e Ex3: se uma das causas já foi julgada. Súmula 235 do STJ. A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado. A conexão muda uma regra de competência relativa e muda a competência para um juízo em que as causas serão reunidas, daí surge uma regra de competência absoluta. Assim se faz necessário distinguir a alegação de incompetência relativa X da alegação de conexão. Enfim, são institutos diversos e não se deve confundi-los. Alegar modificação de competência relativa em razão da conexão não é a mesma coisa que alegar a incompetência relativa (dizer que o juiz não tem competência relativa). DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 22 OS: 0118/2/19-Gil Alegação de modificação de competência relativa Alegação de incompetência relativa Legitimidade Qualquer das partes pode suscitar a questão, além de o órgão jurisdicional poder conhecê-la ex officio Somente o réu pode suscitar a questão Efeito do acolhimento Remessa dos autos ao juízo prevento Remessa dos autos ao juízo relativamente competente Forma de alegação No bojo da petição inicial ou contestação, por simples petição ou até mesmo oralmente Preliminar de contestação Momento Enquanto o processo estiver pendente No primeiro momento que couber ao réu falar nos autos, sob pena de preclusão Assim, a conexão pode ser conhecida de ofício pelo juiz ou suscitada por qualquer das partes. Para evitar que haja decisões contraditórias, uma ação ficará suspensa até o julgamento da outra. A suspensão também será um efeito da conexão, nestes casos em que não há possibilidade de reunião dos processos. O autor costuma alegar a conexão por meio da petição inicial. Para haver conexão, basta que um dos elementos objetivos da ação (causa de pedir ou pedido) sejam similares. NCPC Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir. Os processos serão unificados no juízo prevento. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo. CONTINÊNCIA Trata-se de um exemplo de conexão. A conexão e a continência produzem os mesmos efeitos: 1. Modifica a competência relativa. Essa semelhança faz com que haja uma modificação da competência relativa. De que maneira? Uma causa sai de um juízo e vai para o outro juízo. Um juízo perde a competência para julgar uma causa, e outro ganha a competência. Junta-se os dois processos em um só juízo; 2. Reúne as causas em um mesmo juízo para que elas processem-se simultaneamente; e 3. Processem-se as causas simultaneamente. Pressupõe um juízo competente, mas que perde a competência porque existe uma semelhança entre as causas e a lei diz que devem ser reunidas em outro juízo para processar a causa. Na continência, as causa são quase iguais. Ambas possuem as mesmas partes e causa de pedir, mas o pedido de uma abrange o pedido de outra (ex: uma ação pede para anular cláusula do contrato e outra pede para anular integralmente o contrato). NCPC Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais. O NCPC dá a conexão e a continência o mesmo tratamento jurídico (as consequências são as mesmas). Toda continência é uma conexão? Se há continência, as causas de pedir são iguais. Porém, se há conexão, nem sempre terá as mesmas causas de pedir e a conexão mais ampla, toda continência será uma conexão. A continência, portanto, é uma espécie de conexão, que tem o mesmo tratamento de outras espécies de conexão. Só haverá continência se o pedido da primeira ação for menor que o da segunda. Se for contrário, haverá litispendência parcial, e não continência. O conceito legal de conexão trazido pelo CPC/73 era insuficiente, pois revelava hipótese MÍNIMA de conexão. Portanto, as hipóteses de conexão eram muito mais amplas do que o previsto no antigo art. 103 do CPC/73. Havia outros exemplos, como o da ação de alimentos e da investigação de paternidade. Veja: pedidos diversos e causas de pedir diversas. Mas há conexão entre elas, há um vínculo entre essas causas que justifica a reunião dos processos. Enfim, na ação de alimentos e na ação de investigação de paternidade, os pedidos e a causa de pedir são distintos, porém, não há dúvida de que há conexão. Imagine se um juiz sentencie declarando que o réu não é pai, e outro juiz condene ele ao pagamento de alimentos. Outro exemplo é o caso do despejo por falta de pagamento e a consignação em pagamento dos aluguéis, os pedidos e a causa de pedir são distintos, entretanto, trata- se de um caso de conexão. Como se faz para descobrir hipóteses de conexão fora do conceito legal? Para chegar à resposta, deve-se indagar: “A solução de uma causa interfere* de alguma maneira na solução de outra?” Se a resposta for positiva, há conexão. *interfere (ler prejudica). Trata-se da conexão por prejudicialidade. Este fenômeno da conexão diversa do art. 103 se denomina de prejudicialidade. A prejudicialidade implica na conexão, em razão desse vínculo entre causas. Frise-se que isso é pacífico. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 23 OS: 0118/2/19-Gil O NCPC, admitindo estaespécie de conexão, atualmente regulamenta expressamente esta nova modalidade em seus § § 2º e 3º do art. 55. Note-se: § 2o Aplica-se o disposto no caput: (faz menção à conexão) I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico; II - às execuções fundadas no mesmo título executivo. § 3o Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles. Porém, faz-se necessário saber que as demanda conexas e continentes serão reunidas em um único órgão jurisdicional (juízo) a fim de receber julgamento conjunto. Este único órgão é denominado juízo prevento. Assim, atualmente, o tema é regulado pelos artigos 58 e 59 do NCPC: Art. 58. A reunião das ações propostas em separado far-se-á no juízo prevento, onde serão decididas simultaneamente. Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo. Assim, tem-se duas regras de prevenção, a saber: Prevento é o juízo onde ocorreu em primeiro lugar o registro da inicial quando na comarca houver um único juízo competente; e Prevento é o juízo identificado pela primazia da distribuição quando na comarca houver mais de um juízo competente para a demanda. CAUSAS REPETITIVAS (causas homogêneas ou isomórficas) Tais ações são aquelas em que há um mesmo tipo de tese sendo discutida. Há um padrão. Ocorre quando um juiz prolata a primeira decisão, sendo que ela servirá de modelo para outras que chegarem. Ex: os expurgos inflacionários no FGTS, nas contas de poupança, empréstimos compulsórios, causas tributárias, causas de reajuste de servidor, causa previdenciárias. Problema entre a Folha de SP e a Igreja Universal: a Folha fez uma reportagem no final de 2007 sobre a Igreja Universal. A Folha foi surpreendida por 70 ações de fiéis, nos mais diferentes lugares do país, alegando que após a reportagem eles foram chamados de otários. São 70 ações com petições iguais e com o mesmo advogado. Não há dano moral contra as pessoas, mas poderia haver contra a Igreja. A Igreja bancou as demandas sempre em cidades do interior, contra a Folha e contra a repórter para prejudicar e encarecer o caso, sendo que algumas audiências foram marcadas para o mesmo dia em locais diversos. Pergunta-se: há conexão entre essas ações? Os pedidos não são iguais porque cada um pede a sua indenização. Eles são parecidos. As causas de pedir também não são iguais porque cada um alega a sua lesão. Mas as causas indiscutivelmente se parecem. Todas elas se originam da mesma reportagem. Não se aplica o conceito legal de conexão, nem o conceito ampliado. Um pode ganhar, outro pode perder, não existe relação entre essas causas. Poderia tranquilamente substituir esses exemplos pelos dos consumidores que vão a juízo para não pagar tarifa básica de telefonia. Outro exemplo análogo seria dos contribuintes de todo Brasil não quererem pagar determinado imposto alegando ser ele inconstitucional. São exemplos de causas repetitivas. São causas que se parecem, discutem uma mesma tese, tem origem no mesmo fato, mas não há entre elas vínculo, não discutem uma mesma relação jurídica, não são conexas no sentido tradicional. Era unânime de que não haveria conexão. Mas surge um novo modelo de conexão que ao invés de reunir, escolhe-se uma ou duas causas que representem bem a controvérsia, paralisa o processo de todas as outras, estas escolhidas sobem, serão decidas e a decisão delas vale para todas que foram suspensas. Faz-se um julgamento por amostragem. Uma amostra esta que consiga revelar bem a controvérsia. No entanto, esta modalidade de conexão, na sistemática do CPC/73, só era aplicável no âmbito dos recursos especial e extraordinário. Agora, no NCPC, continua a incidência no Resp. e RE repetitivos, bem como no incidente de resolução de demandas repetitivas e na assunção de competência. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL A competência da Justiça Federal está prevista em dois artigos da CF. O artigo 109 prevê a competência dos juízes federais. Já o artigo 108 prevê a competência dos TRF’s. São regras constitucionais taxativas. Existe uma figura esdrúxula chamada de juiz estadual investido de jurisdição federal (art. 109, p. 3º, da CF). É preciso que se preencham dois pressupostos de forma cumulativa: 1º) na localidade não haja sede da JF (pressuposto objetivo); e 2º) autorização legal expressa. Mas que autorização legal expressa? A Constituição previamente permite que causas previdenciárias e assistenciais contra o INSS, quando não haja vara federal no domicílio do cidadão, sejam julgadas na justiça estadual. Todavia, também é possível autorização por meio de leis infraconstitucionais. A CF permite que leis federais criem outras autorizações como: a) execução fiscal; b) usucapião especial rural; c) cumprimento de cartas precatórias federais para juízes estaduais; d) justificações perante ente federal. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 24 OS: 0118/2/19-Gil O recurso será encaminhado ao TRF. Sendo criada posteriormente uma vara federal, os processos serão remetidos para esta. É fato novo, portanto, quebra a perpetuação. OBS.: não se trata de exemplo de causa que o juiz estadual faz às vezes do federal: ação civil pública federal. Esta será sempre ajuizada perante a Justiça Federal. O mandado de segurança previdenciário tem de ser impetrado na Justiça federal; é uma ação previdenciária que escapa àquela “permissão” supramencionada, consoante (Súmula 216 do extinto TFR) ainda aplicada pelo STJ. 216. Compete à Justiça Federal processar e julgar mandado de segurança impetrado contra ato de autoridade previdenciária, ainda que localizada em comarca do interior. Súmula do STF 689. O segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o juízo federal do seu domicílio ou nas varas federais da Capital do Estado‑Membro. Deve-se observar que a nova regulamentação do CPC/2015 aduz que: Art. 45. Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações: I - de recuperação judicial, falência, insolvência civil e acidente de trabalho; II - sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho. Agora veremos as regras de competência, uma a uma. A competência da JF se divide em: a) razão da pessoa (art. 109, incisos I, II e VIII); b) em razão da matéria (art. 109, incisos III, V-A, X e XI); c) funcional (art. 109, inciso X). Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº45, de 2004) VIII - os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI - a disputa sobre direitos indígenas. Os demais incisos são de competência criminal. Obs.: são três incisos em razão da pessoa, mas não é só em razão da pessoa que cuida tal artigo. COMPETÊNCIA DA JF EM RAZÃO DA PESSOA Inciso I - As causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, acidentes de trabalho e sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. OBS.: Para a sociedade de economia mista federal a competência é da Justiça Estadual – JE. Ex: Petrobras, Banco do Brasil, Banco do Nordeste; Entidade autárquica é um gênero que inclui as espécies de autarquias (INSS, Banco Central etc.); as fundações públicas (FUNAI etc.); os conselhos de fiscalização profissional (Conselho de medicina etc.); e as agências reguladoras federais; O MP Federal não é órgão da União e nem entidade autárquica. A simples presença do MPF em juízo não faz com que a causa seja da JF, consoante entendimento majoritário na doutrina. Contudo, há decisão do STJ em sentido diverso, dizendo que a presença do MPF faz com que a causa seja da JF (Resp 440.002). Enfim, o MPF pode atuar na Justiça Estadual. Somente o juiz federal tem a competência para dizer a legitimidade destes entes federais. Um juiz estadual não tem competência para avaliar se há ou não interesse que justifique a participação. O juiz estadual, diante do pedido de um ente federal para intervir no feito, deverá remeter os autos a JF, visto que o juiz estadual não tem competência para avaliar se o ente federal pode ou não intervir. Súmula 150 do STJ. Compete a justiça federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da união, suas autarquias ou empresas públicas. Se o juiz federal, ao examinar a questão, não aceitar a intervenção do ente federal, devolverá os autos ao juiz estadual. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 25 OS: 0118/2/19-Gil Súmula 224 do STJ. Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito. O juiz estadual deverá aceitar a decisão do juiz federal, não competindo a ele a discussão. Súmula 254 do STJ. A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser reexaminada no Juízo Estadual. Há quatro exceções em que a causa não tramita na JF, mesmo que haja ente federal envolvido na causa: a) falência; b) eleitoral; c) trabalhista; d) relativas a acidente do trabalho. Causas trabalhistas sempre tramitam na Justiça do Trabalho. As empresas públicas têm regime funcional celetista. Neste caso, o servidor público terá processo tramitando perante a Justiça do Trabalho. Ex: mesmo que seja um caso de um empregado celetista de um ente federal, como no caso de celetista vs CEF. Falência é uma causa que sempre tramita perante a Justiça Estadual, ainda que haja interesse federal, abrangendo casos de insolvência civil e recuperação empresarial. Causas relativas a acidente do trabalho não podem ser processadas na JF. A ação acidentária pode decorrer de: a) acidente trabalhista (ação acidentária trabalhista); e b) acidente de outra natureza. Ocorrido o acidente de trabalho, surgem para a vítima duas pretensões/dois direitos: 1º) direito à indenização (contra o empregador – perante a JT). A ação acidentária trabalhista indenizatória é uma ação contra o empregador, devendo ser proposta perante a Justiça do Trabalho; e 2º) pretensão previdenciária (contra o INSS – aqui a causa é sempre da Justiça Estadual). Ação acidentária trabalhista previdenciária é uma ação a ser proposta contra o INSS, devendo ser proposta, por expressa previsão constitucional, perante a Justiça Estadual. Por fim, ações de revisão deste benefício decorrente do acidente também tramitam na Justiça Estadual. Pouco importa se no município tem vara federal, isso é irrelevante. Quando o acidente é de outra natureza a pretensão indenizatória será proposta na JE ou JF, a depender da natureza jurídica do responsável pelo acidente. Ex: acidente de consumo – máquina bichada – empresa privada - Brastemp. Contudo, a ação previdenciária decorrente do acidente de outra natureza contra o INSS deverá ser proposta na JUSTIÇA FEDERAL, visto que a Constituição Federal somente excepciona as ações previdenciárias decorrentes de acidente de trabalho. Inciso II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; (se fosse U, E, DF STF) O recurso ordinário constitucional – ROC irá para o STJ. Segundo o princípio da IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO, o Estado estrangeiro não se sujeitará a jurisdição de outro Estado soberano. Ocorre que, a imunidade se refere a questões relativas a soberania do Estado (ex: os EUA negam visto a brasileiros; não se podendo discutir esta questão na jurisdição brasileira). Porém, não se aplica na discussão de atos privados do Estado (ex: ação de cobrança contra o presidente da França; veículo da embaixada americana colide contra veículo de brasileiro). Se o Estado estrangeiro se recusar a adimplir a condenação proferida pelo juiz federal, nada se poderá fazer. Cabe, neste caso, a resolução por meio das vias diplomáticas. Inciso VIII - Os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuado os casos de competência dos tribunais federais. O segredo é saber o que é autoridade federal. Isso porque, há autoridades federais que não são funcionários públicos federais. Desse modo, haverá possibilidade de uma autoridade privada ter contra si um MS tramitando na JF. As autoridades das instituições privadas de ensino superior tem o MS tramitando perante a JF (ex: reitor da universidade católica). Súmula 60 do TFR. O mandado de segurança contra autoridade privada federal é da competência da Justiça Federal. COMPETÊNCIA DA JF EM RAZÃO DA MATÉRIA Inciso III - As causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional. A jurisprudência entende que somente irá para JF se a causa tiver fundamento em TRATADOS INTERNACIONAIS. Ainda que seja uma causa de família. Ex1: “sequestro” internacional de criança. Ex2: os alimentos internacionais ocorrem quando o domiciliado no estrangeiro demanda seu pai, residente no Brasil, perante a JF. Contudo, é preciso que a causa se funde exclusivamente em tratado. Se houver dir. interno que cuido do assunto aí não é mais da justiça federal; pouco importa as pessoas. Inciso V-A - Compete a JF julgar as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro –Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 26 OS: 0118/2/19-Gil CF, Art. 109, § 5º - Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o PGR, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o STJ, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. Imagine que há, em âmbito estadual, um inquérito policial ou civil que envolva um caso de grave violação de direitos humanos. O procurador-geral da República poderá requerer ao STJ o incidente de deslocamento de competência para a JF. É certo que este dispositivo partiu da premissa que a JF é mais estruturada que a JE. Ocorre que, nem sempre isso ocorre. O STJ entendeu que somente poderá haver deslocamento se provar a ineficiência ou inaptidão das autoridades estaduais. O STJ identificou um pressuposto implícito de aplicação do deslocamento de competência, que é a ineficiência ou inaptidão das autoridades estaduais (aqui falamos de duas searas, a saber: âmbito penal e âmbito civil). Inciso X - Homologação das causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização. Inciso XI - O inciso diz respeito aos direitos dos índios coletivamente considerados Ex1: demarcação de terras indígenas; Ex2: Genocídio; Ex3: Possessória ajuizada por uma tribo Problema individual justiça estadual. Súmula 140 do STJ. Compete a justiça comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vitima. COMPETÊNCIA DA JF FUNCIONAL Inciso X - Trata-se do cumprimento de carta rogatória e execução sentença estrangeira. COMPETÊNCIA DO TRF Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região; c) os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal; e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal; II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição. A competência do TRF é dividida em: 1. Originária – inciso I; 2. Derivada – inciso II. A competência do TRF é só funcional. Não tem nada a ver com matéria ou com pessoa. A competência originária do TRF se divide em 3: Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região; c) os mandados de segurança e os "habeas- data" contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal; e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal; ART. 108. COMPETE AOS TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS: I - PROCESSAR E JULGAR, ORIGINARIAMENTE: B) AS REVISÕES CRIMINAIS E AS AÇÕES RESCISÓRIAS DE JULGADOS SEUS OU DOS JUÍZES FEDERAIS DA REGIÃO; Cabe ao TRF processar e julgar ação rescisória de seus julgados ou de julgados de juízes federais. Se se quer rescindir um julgado do TRF ou a sentença de um juiz federal, a competência é do TRF. Todo tribunal julga a rescisória de seus julgados. Não tem exceção! Só que o TRF julga também a rescisória dos juízes federais. O TJ da BA julgou uma causa contra o Banco do Brasil. A União quer propor uma rescisória desse acórdão como terceira. Onde? TRF ou TJ? Vai propor no TJ. Se a causa é de tribunal se aplica o art. 108 e não o art. 109. O TRF não julga rescisória do TJ mesmo se a União for autora. Todo tribunal julga a rescisória dos seus julgados. ART. 108. COMPETE AOS TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS: I - PROCESSAR E JULGAR, ORIGINARIAMENTE: C) OS MANDADOS DE SEGURANÇA E OS "HABEAS-DATA" CONTRA ATO DO PRÓPRIO TRIBUNAL OU DE JUIZ FEDERAL; O TRF julga MS e HD dos seus atos ou dos juízes federais. Se o ato foi do TRF será o próprio TRF. MS contra ato de tribunal quem julga é o próprio tribunal. Todo tribunal julga o MS dos seus atos, sempre. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 27 OS: 0118/2/19-Gil ART. 108. COMPETE AOS TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS: I - PROCESSAR E JULGAR, ORIGINARIAMENTE: E) OS CONFLITOS DE COMPETÊNCIA ENTRE JUÍZES FEDERAIS VINCULADOS AO TRIBUNAL; O TRF julga o conflito de competência entre juízes federais. O STJ editou a súmula 3 que atribui competência ao TRF entre conflito entre juiz federal e juiz estadual investido de jurisdição federal. Súmula 3 do, STJ: Compete ao Tribunal Regional Federal dirimir conflito de competência verificado, na respectiva região, entre juiz federal e juiz estadual investido de jurisdição federal. Isso não está na CF. O STJ interpretou extensivamente alínea e. MODELOS DE PROCESSOS Antes de se falar da teoria da ação aborda-se o seguinte tema: MODELOS DE PROCESSOS, quais sejam: ACUSATÓRIO /DISPOSITIVO /ADVERSARIAL: as partes são as protagonistas do processo (iniciam o processo, identificam o que deve ser discutido). O juiz será um fiscal e decidirá; e INQUISITIVO / INQUISITORIAL: modelo que confere ao órgão jurisdicional muitos poderes (condução, conhecer de ofício). O juiz é o grande protagonista. Daí surgiram os princípios*: dispositivo (partes) e inquisitivo (juiz). *princípio não como norma, mas como uma orientação. Contudo, não há um processo puro (em alguns aspectos o processo é dispositivo e noutros inquisitivo). Assim, pode se falar que ele é preponderantemente dispositivo ou inquisitivo. Enfim, o processo não é puro. Atualmente, já se fala na existência de um terceiro modelo de PROCESSO COOPERATIVO (sem protagonismos). O processo se desenvolve de forma simétrica, fundada na boa-fé, partes e juiz agem de forma simétrica. O processo não é um diálogo só das partes. Também não é um monólogo como se pensava no modelo inquisitivo. Mas sim o diálogo em que todos devem cooperar para se chegar numa decisão mais justa. Inexiste uma assimetria entre juiz e partes na condução do processo. O juiz só se destaca no momento de decidir (este é o papel dele). A condução do processo é cooperativa. Este parece ser o modelo ideal à CF (a democracia). Tal modelo gera deveres. O juiz tem deveres a cumprir os quais decorrem do princípio da cooperação, o qual decorre do devido processo legal e da boa-fé. Impõe deveres de cooperação entre as partes (inclusive para o juiz). Esse princípio foi incorporado pelo novo CPC: art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. O princípio da cooperação é uma decorrência do da proteção da boa-fé objetiva. A boa-fé, como padrão ético de conduta, deve ser respeitada em qualquer relação. Inclusive no processo. Boa - fé, aqui, é objetiva, é uma regra de conduta. Todas as partes devem se comportar de acordo com o que todos entendem como ético e legal. Isso gera para os sujeitos o dever de comportar-se de acordo com a boa-fé, precisando, para isso, haver cooperação entre eles. Hoje o alcance desta regra é mais abrangente porque atinge também o juiz que agora também é sujeito da relação processual, devendopaltar sua conduta de acordo com a boa-fé objetiva. O processo é simétrico em sua condução. Todos devem cooperar entre si, cada qual com o seu interesse. Deve defender o seu interesse, mas com lealdade, inclusive o juiz. Todos devem cooperar para que o processo chegue a um final justo o mais breve possível. O princípio gerou para o juiz 3 deveres: 1. Dever de esclarecimento; 2. Dever de proteção ou prevenção; 3. Dever de consultar. 1. DEVER DE ESCLARECIMENTO: O juiz tem o dever de ser claro em sua exposição. Seria uma deslealdade usar uma linguagem que ninguém entende. A lealdade impõe que o juiz seja claro em sua exposição. Também tem o dever de pedir para que a parte esclareça seus requerimentos. Ele tem o dever de pedir esclarecimentos. Se a parte faz requerimento que deixe dúvida, o juiz não pode indeferir sem antes dar a parte o direito de esclarecer o que se quer. 2. DEVER DE PROTEÇÃO OU PREVENÇÃO: O juiz tem o dever de, verificada a existência de um defeito no processo, apontar esse defeito, determinar a sua correção e o modo como será corrigido. O juiz não pode, percebendo que o processo tem um defeito, ficar calado esperando que as partes se DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 28 OS: 0118/2/19-Gil manifestem. Deve mandar a parte corrigir o defeito dizendo qual é e como se corrige. O NCPC aduz que o juiz não pode indeferir a petição inicial sem que antes dê a oportunidade para a parte emendá-la. OBS: o NCPC prevê o princípio da primazia do julgamento de mérito segundo o qual o juiz deve oportunizar amplamente as partes a oportunidade de corrigir vícios e/ou irregularidades processuais a fim de se evitar a extinção do processo sem julgamento de mérito. 3. DEVER DE CONSULTAR A parte tem o direito de manifestar-se sobre todas as questões relevantes para a decisão da causa. O juiz, portanto, não pode proferir uma decisão com base em questão de fato ou de direito, mesmo aquelas conhecíveis ex officio, sem antes dar oportunidade para a parte se manifestar. O juiz tem o dever de consultar as partes sobre uma questão que ele entenda que é relevante (de fato ou de direito) e que não foi alvo de debate ainda (não houve o contraditório). O NCPC trouxe expressamente a regulamentação desta possibilidade: Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Assim, o NCPC consagra o princípio da cooperação em sua perspectiva de dever de consulta que qualifica o controle. TEORIA DA AÇÃO 1. Acepções da palavra ação: há três acepções da palavra “ação” importantes para o direito que são: acepção constitucional, acepção processual e acepção material. 1.1. Acepção constitucional (Direito de Ação) Nesta acepção, a ação é o direito de acesso a justiça. É o direito de buscar o Judiciário para satisfazer o seu direito. Está vinculado ao princípio da inafastabilidade, em que se estuda o direito de acesso a justiça (art. 5, inc. XXXV, da CF). Art. 5º. (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; Desse modo, pode-se dizer que o direito de ação é um direito: a) fundamental; b) público (porque exercido contra o Estado); c) abstrato (é o direito de levar qualquer problema a juízo, não se referindo a nenhuma situação concreta); e d) autônomo (o direito de ação não se confunde com o direito que se afirma em juízo – ex: o direito de crédito). O direito de ação está em conformidade com o devido processo legal, pois se tem o direito de ir a juízo, direito a um processo devido, adequado e célere. 1.2. Acepção em sentido processual A ação aqui é um ATO. O que se chama de demanda (ato de provocar a atividade jurisdicional). Pela demanda, a parte instaura o processo, provocando a atividade jurisdicional. A demanda é o exercício do direito de ir a juízo (na acepção constitucional), pelo qual a parte afirma ter um direito (na acepção material). A demanda une o direito de ir a juízo ao direito que se leva a juízo. Por isso, o direito de ação é sempre abstrato, mas o ato de demandar é sempre concreto (ex: levar um direito afirmando um problema concreto na petição inicial). Quando a palavra ação aparece no concurso, é no sentido de demanda (acepção processual). É o exercício do direito constitucional de ação (um direito fundamental), afirmando uma determinada situação jurídica (de ter um direito contra alguém). A partir da demanda, o processo surge com o objetivo de resolvê-la. Sempre se afirma algo no judiciário, e essa afirmação é um direito que precisa ser protegido em juízo. Todo processo, a partir da demanda, é estruturado para dar resposta aquele problema. A demanda é a apresentação de um problema ao judiciário. Só que essa demanda é um ato que concretiza um direito fundamental (ao demandar o autor está concretizando um direito fundamental). Os elementos da ação, as condições da ação e a classificação da ação são sub-temas relacionados a teoria da ação em sentido processual. 1.3. Acepção material da palavra ação Ação em sentido material é uma situação jurídica ativa material/substancial. O que se quer dizer, é que a parte tem direito contra outrem (ex: o direito de regresso contra seu representante). A expressão “ação”, prevista no art. 195 do CC, é um direito de ação no sentido puramente material, por exemplo. Pode tranquilamente substituir na frase “eu tenho direito contra João” por “eu tenho ação contra João”. CC Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 29 OS: 0118/2/19-Gil ELEMENTOS DA AÇÃO (DEMANDA) O estudo dos elementos deve partir de uma premissa: em toda demanda há ao menos a afirmação de uma relação jurídica litigiosa. Na demanda há o exercício de um direito, e, se no exercício de um direito há uma relação jurídica, é possível concluir que em toda demanda há uma relação jurídica. Conclusão: toda demanda tem uma relação jurídica afirmada pelo autor. A relação jurídica afirmada pelo demandante é denominada tecnicamente de res in iudicium deducta (coisa afirmada ou deduzida em juízo). Quando a parte vai a juízo, irá afirmar ou deduzir alguma coisa. A afirmação em juízo é mera dedução. Esta dedução deve ser provada para convencer o juiz quanto ao direito (“o processo é a certeza dos meios e a incerteza do resultado”). São elementos da relação jurídica afirmada: a) sujeitos; b) objetos; c) fatos. Relação jurídica é o vínculo entre pessoas que existe em torno de um objeto. Os elementos da relação jurídica afirmada pelo autor coincidem com os livros da Parte Geral do CC: a) Livro I (Das Pessoas); b) Livro II (Dos bens); c) Livro III (Dos fatos jurídicos). São três livros, pois a parte geral do CC cuida exatamente dos elementos do processocivil. Se em toda demanda há uma relação jurídica que possui três elementos, logo, são três os elementos da demanda (ação): a) partes; b) pedidos; c) causa de pedir. Elementos da relação jurídica Parte Geral do CC Elementos da demanda Condições da ação (que viabilizam a demanda) Sub-critérios objetivos de distribuição de competência Sujeitos Das Partes Partes Legitimidade ad causam Em razão da pessoa Objeto Dos Bens Pedido (é o bem da relação jurídica) Possibilidade jurídica do pedido Em razão do valor da causa Fato Dos Fatos Jurídicos Causa de pedir (é o fato jurídico) Interesse de agir Em razão da matéria São três os critérios objetivos de distribuição de competência, pois são três os elementos da ação. 1. Partes Parte é o sujeito parcial do processo. É aquele sujeito do contraditório que age com parcialidade. Existe a parte da demanda (ou parte principal) do processo, que são demandante e demandado. Existe parte auxiliar do processo, que é a parte coadjuvante. A parte auxiliar também é parte (ex: assistente), porém, é uma parte auxiliar, cuja função é de auxiliar as partes principais. Não confundir parte do processo VS parte para certo incidente do processo (ex: juiz VS suspeição). Também não confundir parte do processo, com a parte do litígio. Às vezes, as partes do litígio (da briga) são distintas das partes do processo (ex: ação de alimentos em favor do menor proposta pelo MP). Há uma expressão chamada de “parte complexa”, que é a parte representada em juízo (incapaz). Sempre que em juízo estiverem representante e o representado (ex: mãe e filho), perceba que o filho é o autor / a parte, mas a mãe está ali representando a parte (que é incapaz e deve estar acompanhada da representante). A essa dupla (representante e representado) é a chamada PARTE COMPLEXA. OBS.: não se deve achar que parte ilegítima não é parte. Parte ilegítima é parte, porém, é ilegítima. Tanto é parte, que ela pode alegar ao juiz a sua ilegitimidade, com o fim de ser excluída do processo. 2. Pedido O pedido é um dos elementos da ação que será analisado posteriormente (capítulo sobre petição inicial). 3. Causa de pedir 1. Fato; 2. Hipótese normativa (dispositivo legal); 3. Fato jurídico; 4. Relação jurídica: direitos e deveres (fundamento jurídico); e 5. Pedido. Se o fato da vida corresponde a uma hipótese normativa (a incidência colore o fato – PONTES DE MIRANDA), haverá um fato jurídico. O fato jurídico gera a relação jurídica, em que se encontra o direito e o dever. O pedido se baseia nos fatos ocorridos. Se o pedido equivale ao n. 5 aonde está a causa de pedir? Causa de pedir = 7 (3 + 4). Causa de pedir = fato jurídico + relação jurídica (fundamento jurídico direitos e deveres) A causa de pedir é composta do fato jurídico e do fundamento jurídico do pedido. Fundamento legal não é causa de pedir (fatos e fundamentos jurídicos). A parte não precisa demonstrar o fundamento legal, devendo apenas descrever os fatos (brocardo: “dá-me os fatos que lhe darei o direito”). Deve a parte descrever o direito que ela possui, e não o fundamento legal deste direito. - Fato jurídico = fato descrito no dispositivo previsto em lei DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 30 OS: 0118/2/19-Gil - Fundamento jurídico = relação jurídica (direitos e obrigações) que surgem a partir de um fato jurídico - Fundamento legal = dispositivo previsto na lei Exemplos: No acidente de trânsito: b) Fato jurídico (3) é o acidente de trânsito culposo que causou dano a alguém. c) Relação jurídica (4) é o direito de ser indenizado (direitos e deveres). d) Pedido (5) é o pedido de indenização (direito). Na ação de anulação contratual em razão do erro: e) Fato jurídico (3) é o contrato celebrado em erro, o qual gera o 4 (direito de anular o contrato). f) Relação jurídica (4) é o direito de anular (e não a anulação); este é o fundamento que se quer. g) Pedido (5) é o pedido de anulação. Direito de anular não se confundo com a anulação. Na ADI: h) Fato jurídico (3) é a inconstitucionalidade da lei nº tal. i) Relação jurídica (4) é o direito difuso de retirar a lei inconstitucional do sistema normativo. j) Pedido (5) é o pedido de declaração da inconstitucionalidade. Na ação de cobrança por contrato não cumprido: k) Fato jurídico (3) é o inadimplemento do contrato. l) Relação jurídica (4) é o direito ao crédito. m) Pedido (5) é a condenação/cobrança. Petição Inicial Fato jurídico Do direito (o qual afirmo ter) Pedido (peço aquilo que o direito que alego ter ... me confere) Há causas de pedir próximas ao pedido e causas de pedir remotas ao pedido. Causa de pedir próxima somada a causa de pedir remota é igual a causa de pedir (CP = CPP + CPR). A bem da verdade é a divisão da causa de pedir (remota e próxima). Remota e próxima mas qual o referente? A demanda. A causa de pedir próxima é o direito – fundamento jurídico (4). A causa de pedir remota é o fato jurídico (3). Isso porque, não há como ter um direito (fundamento jurídico) antes de um fato (fato jurídico). Causa de pedir = causa remota (fato) + causa próxima (fundamento) Posição cronológica: 1º vem o fato jurídico ocorrido (remoto) 2º vem o fundamento jurídico (próximo) para se chegar ao direito (causa de pedir) Atenção!!! Nelson Néri inverte (diz que a causa remota é o fundamento e a causa próxima é o fato!) Para que duas ações possuam a mesma causa de pedir é preciso que o fato e o fundamento jurídico de uma ação, corresponda a da outra. A doutrina de um modo geral afirma que o CPC adotou a Teoria da Substanciação da causa de pedir, a causa de pedir é o fato e o fundamento jurídico do pedido. Significa que para uma causa de pedir seja igual a uma outra causa de pedir é preciso que os fatos jurídicos sejam os mesmos e os direitos afirmados também (o nº 3 e o nº 4). Teoria da substanciação causa de pedir = fatos + fundamentos Outra teoria que se contrapõe a primeira (T. da Substanciação). Segundo a TEORIA DE INDIVIDUALIZAÇÃO DA CAUSA DE PEDIR, a causa de pedir se compõe apenas do fundamento jurídico do pedido (é apenas o direito que se afirma ter); os fatos jurídicos são irrelevantes nesta definição. Suponha a existência de uma ação anulatória de contrato por dolo e outra ação anulatória de contrato por erro: Pela teoria da substanciação, as causas de pedir são distintas, pois o fato jurídico é diverso (erro não é dolo); Para a teoria da individualização, essas causas de pedir são idênticas, pois em ambas se discutem o mesmo direito (direito de anular). Ante o exposto, fica claro que o CPC adotou a T. da Substanciação. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES 1. Classificação conforme a causa de pedir próxima (fundamento jurídico) a) Ações reais: fundada em um direito real. b) Ações pessoais: fundada em um direito pessoal. Não confundir com a ação reipersecutória, que é aquela que persegue a coisa (ex: ação com pedido de DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 31 OS: 0118/2/19-Gilentrega da coisa). Esta é reipersecutória a partir do pedido, podendo ser uma ação fundada em direito real ou pessoal. Pode-se perseguir a coisa, em virtude de um direito real que a parte tem sobre a coisa (ex: proprietário) ou em virtude de um direito pessoal (ex: locador que pede o despejo). 2. Classificação conforme o objeto (pedido) a) Ação mobiliária b) Ação imobiliária A tendência é pensar que as ações imobiliárias são reais. Porém, pode a ação imobiliária ser uma ação pessoal, fundada em um direito pessoal (ex: ação de despejo), como também uma ação mobiliária ser uma ação real. 3. Outras classificações de ações Ações necessárias: A ação necessária é aquela em cuja causa de pedir próxima há a afirmação de um direito que somente pode ser exercitar em juízo. Enfim, alguns direitos somente podem ser efetivados em juízo (ex: ações anulatórias, ação de falência, ação rescisória, ação de resolução do contrato). Obs.: Ações necessárias são SEMPRE constitutivas; 2. Ações dúplices As ações dúplices têm duas acepções, a saber: Sentido processual dúplice: é aquele que permite ao réu a formulação de um pedido contra o autor, dentro da contestação (pedido contraposto). É possível no procedimento das ações possessórias (pedido de indenização) e JEC’s. O pedido contraposto é um ataque facultativo do réu. Sentido material dúplice: a ação dúplice é aquela que a simples defesa do réu já significa um contra-ataque. Não há necessidade de fazer pedido contraposto, ou seja, ao se defender estará automaticamente atacando. Ex1: alimentos quer dar mil reais, nega o que autor quer e já afirma o que réu deseja (dois mil reais). As figuras se confundem. Já não se sabe mais quem é autor e réu. Autor e réu aqui só se diferem pelo tempo. Quem ajuizou a ação primeiro. Ex2: na ação de consignação em pagamento, o credor, ao negar a consignação, já revela um ataque. Ex3: ADC – ação declaratória de constitucionalidade. n) Toda ação meramente declaratória é dúplice. o) As ações possessórias são dúplices nos dois sentidos (material e processual), pois negar o pedido possessório já é a afirmação da posse. O réu das possessórias pode pedir indenização na própria CONTESTAÇÃO; e o pedido indenizatório que o réu pode formular no bojo da própria contestação é uma ação dúplice em sentido PROCESSUAL. 4. Ações de acordo c/o tipo de tutela jurisdicional que se pleiteia a) Ações de conhecimento certificar direitos b) Ações de execução efetivar direitos c) Ações cautelares proteger direitos Classificação clássica. Classificação das ações de conhecimento a) condenatórias; b) mandamentais; c) executivas lato sensu (sentido amplo); d) constitutivas; e e) declaratórias. Contudo, antes de tratar da divisão supramencionada. É necessário tratar da classificação teórica que divide os direitos em: * Direitos a uma pretensão ou prestação (direito subjetivo): poder de exigir de outrem o cumprimento de uma prestação. Só se efetivam com a concretização da conduta, quais sejam: fazer, não fazer, dar dinheiro ou dar coisa que não seja dinheiro. São basicamente os direitos obrigacionais. Tanto é verdade que no livro de obrigações do CC faz a mesma divisão citada. Contudo, há outros direitos de prestação que não são obrigacionais, como o caso dos direitos reais (também podem ser prestacionais). Os únicos direitos que podem ser lesados ou inadimplidos são tão-somente os dir. de prestação. Só posso falar em inadimplemento se tiver relação com uma prestação. Somente estes se sujeitam à prescrição, isto é, é um fenômeno exclusivo do dir. a uma prestação. Vejamos o art. 189 do CC: Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. Enfim, são institutos correlatos. Um pressupõe o outro. Tais direitos a uma prestação exigem uma realização material, isto é, estes direitos somente se efetivam se a conduta devida for cumprida. É preciso que a conduta devida se realize. Se a conduta devida não se realizar estes direitos não se efetivam. A conduta é sempre algo material, do mundo físico. Tal direito só se efetiva se realizado no mundo da vida. Tal direito precisa de uma realização material. O nome técnico de tal realização material é a EXECUÇÃO, que nada mais é, senão o cumprimento da prestação, a qual pode ser voluntária ou forçada. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 32 OS: 0118/2/19-Gil A execução está intimamente ligada a uma prestação. Tudo o que tem a ver com execução diz respeito a uma prestação. Executar é fazer cumprir uma prestação devida. Tanto é assim que se pegar o Livro do CPC que cuida da execução – este fenômeno se divide em fazer, não fazer, de dar dinheiro e de dar coisa que não é dinheiro. Não é por acaso que o CPC/2015 diz no art. 783 que só se pode executar se houver inadimplemento. Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar- se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. Não é por acaso também que o CPC/2015 no art. 802 também fala da prescrição na execução. Art. 802. Na execução, o despacho que ordena a citação, desde que realizada em observância ao disposto no § 2o do art. 240, interrompe a prescrição, ainda que proferido por juízo incompetente. Parágrafo único. A interrupção da prescrição retroagirá à data de propositura da ação. Por óbvio, que no Processo Civil interessa somente a execução forçada. Referida execução poderá ter como fundamento um título judicial ou título extrajudicial, assim, pode ser processada ora como fase do processo de conhecimento (como fase de um processo sincrético um processo criado para que se peça o reconhecimento e a execução), ora como processo autônomo. Em ambas as hipóteses há processo de execução: contudo, no autônomo é somente para executar, mas no que é fase executiva de um processo sincrético ele tem outro fim além da execução. Outra divisão importante é a divisão da execução em direta e indireta. A execução direta ou violenta (o Estado faz com que a prestação/obrigação seja cumprida pelo devedor, dispensado a participação deste para satisfação do direito de crédito, como por exemplo, realiza a venda de um bem em hasta pública a fim de ver a prestação cumprida). O Estado substitui o devedor. Há quem chame esta primeira divisão de execução por sub-rogação, pois o Estado age no lugar no devedor. Trata-se da execução ostensiva. Você vê o sujeito sendo executado, sofrendo a violência do Estado. Já na execução indireta (o Estado força o devedor a cumprir a prestação; exerce uma pressão psicológica em face do devedor. Ela é invisível, a princípio, pois se opera na mente, a mente fica pressionada. É uma pressão por medo/ameaça (Ex: astreintes) ou estímulo (Ex: REFIS). Evolução Histórica das Ações de Prestação 1ª Etapa: Código de Processo Civil 1973 Quando da aprovação do Código de Processo Civil, em 1973, as ações eram ações de prestação não sincréticas. O objetivo das ações era apenas o de certificar a existência de um direito à prestação. Era uma ação pura de conhecimento. E para executar o direito a uma prestação que fora reconhecido, era preciso voltar a juízo para pedir a efetivação do direito. A execução de sentença, nessa época, fazia-se em ação autônoma. As ações de prestação não sincréticas, que eram a regra, eram chamadas de ações condenatórias (açãode prestação de conhecimento que poderia me dar um título, o qual poderia ser executado noutro processo). Exceções: havia algumas ações de prestação sincréticas, ações que além de certificar efetivavam. Davam ao demandante o reconhecimento do direito e propiciavam a efetivação do direito, como era o caso das ações possessórias. OBS.: ação condenatória e ação sincrética Ambas de prestação, mas as primeiras de puro conhecimento de as segunda certificavam e efetivam o direito. E estas ações recebiam a seguinte classificação: as ações sincréticas eram chamadas ações mandamentais e ações executivas em sentido amplo. As ações mandamentais e executivas são ações sincréticas; neste ponto, se assemelham. A ação mandamental é uma ação de prestação sincrética por execução indireta (aquela em que o Estado força o devedor a cumprir a prestação). A ação executiva em sentido amplo é uma ação de prestação sincrética que se efetiva por execução direta. OBS.: uma parcela da doutrina não aceitava essa distinção. Eles entendiam que todas deveriam ser chamadas de ação condenatória, pois todas visavam a uma prestação. Classificação quinaria das ações: 1) Condenatórias; 2) Mandamentais; 3) Executivas; 4) Constitutivas; e 5) Declaratórias. Classificação era trinaria das ações: 1) Ações condenatórias; 2) Ações declaratórias; e 3) Ações constitutivas. Para quem não aceita a divisão de acordo com a característica de ser sincrética ou não, a classificação era trinaria. 2ª Etapa: Reforma de 1994 Em 1994, o legislador reescreveu o art. 461 do CPC, assim, houve uma grande reforma na legislação processual, de modo que todas as ações de prestação de fazer e de não fazer viraram sincréticas. O legislador generalizou o sincretismo às ações de fazer e não fazer. Assim, aquilo que era exceção (ação sincrética) virou regra, virou universal. 3ª Etapa: Reforma de 2002 Houve a alteração do art. 287 do CPC/73, as ações de prestação para entrega de coisa passaram a ser sincréticas. O que era excepcional virou geral. A única ação que não era sincrética era a de dar quantia (obrigação de pagar). Em 2002, cria-se o art. 461–A, o qual universalizou, generalizou o sincretismo para as obrigações de entrega de DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 33 OS: 0118/2/19-Gil coisa, ou seja, toda a ação de prestação para entrega de coisa virou ação sincrética. Mandamentais ou condenatórias em sentido amplo. 4ª Etapa em 2005 Em 2005, a alteração legislativa se consolidou, de modo que as ações de prestação pecuniária passaram também a ser sincréticas. Generalizou as ações para o pagamento de quantia. Hoje se afirma que sempre que se vai ao Judiciário buscando uma prestação, são ações sincréticas e, portanto, são chamadas de condenatórias. As ações mandamentais e executivas são espécies de ações condenatórias. Se há condenação e por sua vez a efetivação se dá por execução direta, será executiva. Se a efetivação se dá por execução indireta, será ação mandamental. Enfim, prevalece a corrente trinaria, que entende ser as ações mandamentais e executivas lato sensu espécies de ações condenatórias. No Rio Grande do Sul (UFRS), mantém-se a idéia de 5 ações, sendo três ações de prestação distintas. Não unificaram tudo em ações condenatórias. * Direitos potestativos: é o direito de interferir na situação jurídica de outrem criando, alterando ou extinguindo situações jurídicas. Se eu tenho o direito de submeter uma pessoa a uma mudança em sua esfera jurídica (ganhe, altere, perca), aí meu direito é potestativo. Aqui não se relaciona com nenhuma conduta do sujeito passivo (o sujeito passivo não deve nada). É exatamente por conta disso que no direito potestativo não há que se falar em inadimplemento, pois não há nada para adimplir. Logo, também não há que se falar em prescrição, mas sim em decadência. A decadência é o prazo de exercício de um direito potestativo. As situações jurídicas se desenvolvem no mundo jurídico, que é um mundo ideal. As relações humanas são situações de fato. Ex.: casamento é uma situação jurídica (invisível), que só existe no mundo jurídico. O relacionamento entre duas pessoas é a situação fática. O vínculo jurídico entre as pessoas não se extingue faticamente. As situações jurídicas nascem e morrem no mundo jurídico. Ex.: retirar a aliança (situação fática) não extingue o vínculo jurídico do casamento (situação jurídica). É o direito potestativo que vai criar e extinguir relações no mundo jurídico. Já o direito a uma prestação exige uma conduta. Os direitos potestativos não se relacionam a nenhuma conduta, só interferindo no mundo jurídico. Não há prestação devida, não há conduta devida. Não se pode falar em execução quanto aos direitos potestativos, porque execução só se aplica aos direitos a uma prestação. Não existe inadimplemento em relação aos direitos potestativos. Não há falar também em prescrição. Fala-se em decadência. Exemplos de direitos potestativos: 1) Direito ao divórcio; 2) Direito de rescisão; 3) Direito de interditar; 4) Direito de resolver o contrato; e 5) Direito de anular o contrato. Ao ingressar em juízo para exercer um direito potestativo, a ação será constitutiva. Ação constitutiva é a ação em que se afirma um direito potestativo, é aquela pela qual se pretende a criação, alteração ou extinção de situações jurídicas. A sentença constitutiva, que acolhe direitos potestativos, NÃO SE EXECUTA, PORQUE O DIREITO POTESTATIVO NÃO SE EXECUTA. A própria sentença já criou, alterou ou extinguiu a situação jurídica. Os prazos decadenciais são os prazos das ações constitutivas, porque a decadência se relaciona aos direitos potestativos. Do mesmo modo, a prescrição está relacionada às ações condenatórias. Exemplos de ação constitutiva: 1) Ação Rescisória; 2) Ação de Resolução de contrato; 3) Ação Anulatória; 4) Ação de Extinção do Condomínio; e 5) Ação de exclusão de herdeiro. Costuma-se dizer que as ações constitutivas não têm eficácia retroativa, só tem efeitos para frente. Contudo, o correto é dizer que a regra é a de que a ação constitutiva não produz efeitos retroativos, mas há exceções, como a ação de anulação de ato jurídico (art. 182, CC). Exemplos polêmicos de ações constitutivas: 1. AÇÃO DE NULIDADE DO ATO JURÍDICO: A ação de nulidade é diferente da ação de anulação. A ação de anulação é constitutiva e não há controvérsias. A ação de nulidade é uma ação para desfazer o negócio. Alguns livros de Direito Civil afirmam que a ação de anulação é constitutiva, mas a de nulidade seria declaratória, em razão da gravidade da nulidade. Na verdade, o juiz decreta a nulidade e desfaz o negócio. Civilistas Constitutiva anulação Declaratória nulidade Para Fredie Didier diferença mesmo consiste no prazo (a anulação tem prazo e nulidade não); entendem que em ambos os casos são constitutivas, pois desfazem algo. 2. AÇÃO DE INTERDIÇÃO: É claramente uma ação constitutiva; ação para retirar a capacidade de alguém; retira a situação jurídica da pessoa (a capacidade); Caso contrário, poderíamos falar em ação declaratória. Enfim, prova de civil declaratória – civilistas. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE– Fone: (85) 3208.2220 34 OS: 0118/2/19-Gil E prova de processo civil constitutiva - processualistas. 3. AÇÃO DE FALÊNCIA (AÇÃO DE QUEBRA): É uma ação constitutiva que visa tirar a capacidade do empresário de administração do negócio. Em alguns livros, é afirmado que a falência é a ação declaratória. Quem pede a falência pede ao juiz a retirada do sujeito da administração de seu negócio para que ocorra a arrecadação dos bens para pagamento dos credores. Juristas de dir. empresarial sentença declaratória Processualistas sentença que decreta – constitutiva. 4. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: Para os processualistas é uma ação constitutiva, para invalidar a lei, tirar a lei do sistema, mas para a maioria da doutrina, a maior parte dos constitucionalistas prega que se trata de ação declaratória. 5. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE: A mais polêmica de todas as ações citadas. Para Fredie Didier é ação constitutiva, porque é uma ação para atribuir paternidade. Tornar o sujeito pai. Mas ele já não era pai antes? O professor diz que é de suma importância diferenciar o genitor (biológico) da figura do pai (jurídico). E o professor ainda usa como argumento que no caso de recuso do DNA, o réu será presumidamente pai e ponto. 6. AÇÕES MERAMENTE DECLARATÓRIAS: Ação meramente declaratória é aquela que se pede a certificação da existência, inexistência ou modo de ser de uma relação jurídica. Não busca efetivar direito nenhum. Ação meramente declaratória pretende apenas obter certeza. Apenas quer certificar uma relação (que ela existe, se ela inexiste ou como ela existe). APENAS certifica. O art. 19 do NCPC, fala em existência, inexistência ou o modo de se de uma relação jurídica. Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica; II - da autenticidade ou da falsidade de documento. Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito. AS AÇÕES MERAMENTE DECLARATÓRIAS SÃO IMPRESCRITÍVEIS, porque elas servem apenas para certificar, não busca efetivar direito nenhum, busca apenas obter certeza. Logo, não se pode falar da existência de um prazo para obter-se certeza de uma relação jurídica. Exemplos: 1) Ação declaratória de constitucionalidade; 2) Ação de usucapião; 3) Ação de consignação em Pagamento; 4) Ação declaratória de inexistência de relação tributária; e 5) Ação declaratória de reconhecimento de união estável. 1ª corrente – até então majoritária – dizia que seria preciso entrar com outra ação condenatória, para uma vez ganhando, só assim executar. Essa solução é absurda, porque o direito já foi certificado. 2ª corrente – já tem uma sentença que reconhece, só falta apurar o quantum, liquidar. Não havia sentido propor uma ação para declarar o crédito. Frisa-se, ainda, que TEORI ZAVASCKI – hoje ministro do STF – defende a última corrente há anos. Cita-se: Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa; II - a decisão homologatória de autocomposição judicial; III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza; IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal; V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial; VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado; VII - a sentença arbitral; VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça; X - (VETADO). § 1o Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias. § 2o A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo. Outro ponto que merece destaque é o seguinte: as sentenças meramente declaratórias são imprescritíveis, mas as condenatórias são prescritíveis. Então, como fica a execução da meramente declaratória? A pessoa poderia entrar com a meramente declaratória e depois executar? Não! Porque com a ação meramente declaratória ter-se-á declaração de um direito prescrito. Enfim, não interrompe a prescrição, não revelou postura de cobrança. Se pode cobrar ou declarar e não cobra – isso não pode interromper a prescrição. É o risco que a pessoa corre ao fazer isso. Ação declaratória do parágrafo único do art. 20 do NCPC pode ser executada, mas se tiver prescrita a pretensão, impossível será a execução. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 35 OS: 0118/2/19-Gil CONDIÇÕES DA AÇÃO INTRODUÇÃO EVOLUÇÃO HISTÓRICA 1. Concretista / Concepção Concretista do Direito de Ação Para os adeptos dessa corrente, o direito de ação era considerado como o direito a uma decisão favorável. Para esses autores, não ter ação era igual a não ter o direito discutido. Para eles, as condições da ação eram as condições de uma decisão favorável, ou seja, todas as condições que deveriam ser observadas para “ganhar” a causa seriam condições da ação. Nessa época, surge a expressão “carência de ação”. Carência de ação é a falta do direito de ação. Para essa concepção doutrinária, carência de ação é sinônimo de improcedência da ação. E carência de ação é uma decisão de mérito. Quem fosse vencido na ação era carente de ação. As condições da ação são questões de mérito. Tal teoria está superada, contudo precisa ser mencionada, pois as condições de ação nasceram no contexto concretista. 2. Abstrativismo / Concepção Abstrativista do Direito de Ação Para os abstrativistas, o direito de ação é o direito a qualquer decisão (pouco importa o conteúdo da decisão). É o direito à jurisdição. O direito de ação é o direito de provocar a atividade jurisdicional. Para a corrente abstrativista, não se pode falar em condições da ação. O processo se divide em duas partes: o problema é de mérito ou o problema é processual. Tal concepção prevaleceu no mundo; o direito de ação é um direito abstrato. Concepção Eclética ou Mista A corrente eclética ou mista afirma que o direito de ação é o direito a uma decisão de mérito. Para os adeptos da concepção eclética, condições da ação são as condições para o exame do mérito da causa, para que o mérito seja examinado. Uma vez preenchidas as condições da ação permitem que o mérito seja examinado. Para os ecléticos, carência de ação não configura decisão de mérito. Julgou improcedente? Analisou o mérito. Tratava-se da teoria adotada pelo CPC/73. O CPC/73 adotou a concepção eclética do direito de ação. A teoria mista foi criada por Enrico Túlio Liebman, professor italiano do início do séc. XX, que veio ao Brasil a fim de fugir da 2ª Guerra (ele era judeu). Nessa época, excluindo o mestre Pontes de Miranda, não havia nomes de peso no direito processual. Ele teve como discípulos (alunos da USP) Frederico Marques, Moacir Amaral Santos e Alfredo Buzaid.O último (Alfredo Buzaid) foi o autor do Código de Processo Civil de 1973 e também é uma obra em homenagem a Liebman (o qual foi embora após o término da guerra). Para o nosso Código, a decisão que extingue o processo por carência de ação não é uma decisão de mérito e, portanto, não faz coisa julgada. Essa opção do CPC/73 era extremamente criticada e, do ponto de vista prático, se revela quase sempre inaplicável. Vejamos as críticas: É certo que só há dois pontos para o juiz analisar, a saber: 1. processo (pressupostos processuais); e 2. mérito. Liebman disse que tinha outro ponto a ser analisado pelo magistrado, a saber, as condições relacionadas à ação. Esta terceira categoria, contudo, é logicamente impossível. Também é muito difícil, talvez até mesmo impossível, separar as condições da ação do mérito da causa. Assim, a possibilidade jurídica do pedido é uma condição de ação; mas o pedido é o próprio mérito. Outro exemplo é o caso da legitimidade ad causam (que é condição da ação), assim, a legitimidade para propor ação possessória é do possuidor. Se, ao final da instrução o juiz verificar que o autor não é possuidor, de acordo com a concepção eclética, deveria extinguir sem exame de mérito, por reconhecer ilegitimidade. Entretanto, quando o juiz julga improcedente uma possessória, está afirmando que o autor não tem direito a uma proteção possessória. Não dá para separar a análise do mérito e da questão da legitimidade. A grande crítica à teoria eclética é que ela tenta separar coisas que não são diferentes. Ao dizer que se extingue por carência não há coisa julgada, então, sempre poderá renovar a ação. Erra-se também ao dizer que a decisão por carência não é decisão de mérito. A doutrina hoje dificilmente defende a concepção eclética dessa forma pura. Para Liebman o controle, a análise do preenchimento das condições da ação é uma análise que pode ser feita a qualquer tempo, enquanto estiver pendente o processo. Afirma-se também que é possível parar o processo para produzir prova sobre as condições da ação, o preenchimento das condições da ação é um fato que tem que ser provado, como por exemplo, perícia para saber se a parte é legítima. O CPC permite o controle das condições da ação a qualquer tempo. Contudo aflorou outra teoria para mitigar a teoria adotada pelo CPC/73, a saber: Teoria da Asserção / Teoria da Prospettazione / Teoria da verificação das condições da ação In Statu Assertionis Doutrinariamente esta teoria é a majoritária (e não na jurisprudência). Tal teoria dispõe que a análise das condições da ação deve ser feita apenas a partir do que foi afirmado pelas partes. Pega-se o que a parte disse na petição inicial e toma-se como verdade. Assim, se tudo o que a parte falou em abstrato for verdade, estão presentes as condições da DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 36 OS: 0118/2/19-Gil ação. Caso a resposta seja negativa, mesmo que tudo o que a pessoa fale seja verdade, extingue-se o processo por carência de ação. Para essa corrente, o preenchimento das condições da ação é feito pela afirmação e não pelas provas. Não se produz prova sobre as condições da ação. As condições da ação não devem ser provadas, devem ser analisadas tão- somente por meio da asserção. Ex.1: o filho de Paulo ajuíza ação pedindo alimentos, afirmando que precisa de alimentos e que seu pai pode pagar. Analisando-se essa história, conclui-se que estão presentes as condições da ação. Se, ao longo do processo, ficar provado que o autor não é filho de Paulo, o juiz não extinguirá por carência, mas decidirá pela improcedência do pedido. Ex. 2: uma pessoa amiga do gerente do banco lhe empresta dinheiro. Aquele que emprestou ajuizou ação contra o banco, afirmando que o dinheiro foi emprestado ao funcionário do banco. Nesse caso, não estão presentes as condições da ação, porque o banco é parte ilegítima (logo, carência de ação). Eis o caso de aplicação da teoria da asserção. CONDIÇÕES DA AÇÃO O CPC atual não mais menciona a categoria condição da ação. O inciso VI do art. 485 do CPC/2015 autoriza a extinção do processo sem resolução do mérito pela ausência de “legitimidade ou de interesse processual.” Há duas grandes diferenças em relação ao CPC/73. Primeiramente, não há mais menção à “possibilidade jurídica do pedido” como hipótese que leva a uma decisão de inadmissibilidade do processo. Observe que não há mais menção a ela como hipótese de inépcia da inicial; também não há menção a ela no inciso VI do art. 485 do NCPC, que apenas se refere à legitimidade e ao interesse de agir; além disso, criam-se várias hipóteses de improcedência liminar do pedido, que poderiam ser consideradas, tranquilamente, como casos de impossibilidade jurídica de o pedido ser atendido. A segunda alteração silenciosa é a mais importante. O texto normativo atual não se vale da expressão “condição da ação”. Apenas se determina que, reconhecida a ilegitimidade ou a falta de interesse, o órgão jurisdicional deve proferir decisão de inadmissibilidade. Retira-se a menção expressa à categoria “condição da ação” do único texto normativo do CPC que a previa. Também não há mais uso da expressão carência de ação. A legitimidade ad causam e o interesse de agir passarão a ser explicados com suporte no repertório teórico dos pressupostos processuais. A legitimidade e o interesse passarão, então, a constar da exposição sistemática dos pressupostos processuais de validade: o interesse, como pressuposto de validade objetivo extrínseco; a legitimidade, como pressuposto de validade subjetivo relativo às partes. Interesse de agir: tal interesse é analisado a partir de duas dimensões, quais sejam: utilidade e necessidade. Relaciona-se com a causa de pedir. Há interesse de agir quando o processo for necessário e útil ao demandante. Caracteriza-se pela necessidade e utilidade da demanda. A utilidade só pode ser alcançada por meio de uma ação (daí a necessidade). O processo deverá ainda ser necessário à obtenção do proveito almejado, o que justifica a necessidade de se comprovar a resistência do réu à pretensão do autor. Ressalta-se que nas ações necessárias, referida necessidade não se questiona, porque a necessidade é presumida (ações que veiculam direitos que somente podem ser exercitados em juízo. Atualmente, como citado, é visto como pressuposto processual. OBS.: existe uma corrente doutrinária, liderada pela cátedra da USP, que identifica uma terceira dimensão do interesse de agir, defendendo que ao lado da necessidade e utilidade, deve-se ainda exigir a adequação do provimento e do procedimento à utilidade pretendida. 3ª) Legitimidade “ad causam”: é uma aptidão ou poder conferido a alguém para conduzir validamente um processo em que se discuta determinada situação jurídica. A legitimidade SEMPRE é aferida pela relação jurídica litigiosa. Tenho de ver o que está sendo discutido para poder verificar se a parte é legítima ou não. O sujeito pode ter legitimidade para uma coisa e não legitimidade em face de outra coisa. A legitimidade é a pertinência subjetiva do processo, da ação. Classificação da legitimidade (veremos as duas mais importantes) 1ª Exclusiva e Concorrente: Há legitimidade exclusiva quando se atribui a legitimidade a apenas um sujeito, sendo essa a regra, uma vez que legitimidade é o titular do direito discutido. Por outro lado, há situações em que a legitimidade é atribuídaa mais de um sujeito, nesse caso, fala-se em legitimidade concorrente (também chamada de co- legitimação), como nos seguintes casos: ações ajuizadas por qualquer condômino para proteção do condomínio em juízo; DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 37 OS: 0118/2/19-Gil ações ajuizadas em face do devedor por qualquer credor solidário; e Saber legitimação concorrente é indispensável para compreender o estudo do litisconsórcio unitário. 2ª Ordinária e Extraordinária: Legitimação ordinária: é aquela atribuída ao sujeito da relação discutida. Na legitimação ordinária há uma coincidência entre o legitimado e o sujeito da relação jurídica discutida em juízo, ou seja, o legitimado ordinário está em juízo discutindo interesse próprio (autor coincide com credor, p.ex.); está em nome próprio defendendo a própria situação. É a regra. Legitimação extraordinária: quando não há coincidência entre o legitimado e o titular da relação jurídica discutida em juízo; a parte não coincide com o sujeito da relação discutida. Alguém está em juízo em nome próprio defendendo interesse alheio. Sempre que alguém estiver em juízo defendendo interesse de outrem em nome próprio, será um legitimado extraordinário. Exemplos de legitimação extraordinária: MP quando pleiteia alimentos ao menor; e cidadão que propõe uma ação popular é um legitimado extraordinário (defendendo interesses da coletividade). Ademais, existem casos de uma pessoa estar em juízo defendendo, simultaneamente, interesses próprios e alheios, quando isso se der, a pessoa será legitimada ordinária-extraordinária. Ex: condôminos. Características da legitimação extraordinária: Decorre da lei (art. 18, do NCPC), e não de negócio jurídico. Lei em sentido amplo; O legitimado extraordinário é a parte do processo, embora não seja parte do litígio (podendo ser condenado: pagamento de custas; litigância de má-fé; em relação a ele que se verifica a competência quanto à pessoa. Ex: OAB VS convênio justiça federal (e não estadual com argumento de que a relação é de consumo); A coisa julgada proveniente de um processo conduzido por um legitimado extraordinário atinge ou vincula o titular do direito (caso contrário, não se justificaria a legitimidade extraordinária). É um caso raro de coisa julgada ultra partes. Há exceções legalmente previstas, como no caso da coisa julgada coletiva, que não prejudica o titular do direito. É certo que para que a coisa julgada não vincule terceiro se faz necessária a previsão expressa. Ex: art. 274, CC = (O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve ); e A falta de legitimação extraordinária gera decisão que não examina o mérito da causa. Questões terminológicas: 1- Legitimação extraordinária x substituição processual: a maior parte da doutrina entende que essas expressões sejam sinônimas. Entretanto, há quem entenda que a substituição processual é apenas um exemplo, uma espécie de legitimação extraordinária. Para esta última corrente, mais rigorosa, há substituição processual apenas quando alguém age sozinho em juízo defendendo os interesses do titular do direito. Assim, não haveria o que se falar em substituição processual quando o titular do direito em litisconsórcio com o legitimado extraordinário (quando isso acontece só haveria legitimação extraordinária e não substituição processual - esta segunda corrente é adotada por Barbosa Moreira e Alexandre Freitas Câmara); 2- Substituição processual (legitimidade extraordinária) x sucessão processual: sucessão processual é a troca de sujeitos no processo, a mudança subjetiva, dessa forma, deve-se atentar para que o vernáculo “substituição” não leve a uma interpretação equivocada. 3- Substituição processual (legitimidade extraordinária) x representação processual: na representação processual alguém está em juízo em nome alheio defendendo direito de outrem. O representante está em juízo em nome alheio, defendendo interesse alheio, logo, o representante não é parte do processo, apenas representa o incapaz, que é a parte. Ex: alimentos x criança (parte) x mãe (representante). PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS Pressupostos de existência: É tudo aquilo que deve existir para que o processo nasça. São os pressupostos para que o processo exista. Se ele existe, nasceu. Tudo mais será um problema de validade. São três os pressupostos de existência, quais sejam: 1º) Capacidade de ser parte (também chamada de personalidade judiciária): é a aptidão de ser sujeito de um processo. Aqui se tem a capacidade ou não se tem a capacidade. Tenho aptidão de ser parte de um processo e posso ser tida como ilegítima. Quem tem a capacidade de ser parte? Todos os sujeitos de direito, ou seja, as pessoas físicas ou jurídicas, os entes despersonalizados, o nondum conceptus – o não concebido (a prole eventual), o espólio, o nascituro, o condomínio (não é pessoa jurídica nem pessoa física), a massa falida, uma tribo (não é pessoa jurídica nem pessoa física). DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 38 OS: 0118/2/19-Gil Os animais são sujeitos de direito ou são objetos de sujeitos de direito? Tradicionalmente são objetos de sujeitos de direito. 2º) Demanda: ato inaugural; e 3º) Órgão investido de jurisdição. OBS.: há autores que preveem outros pressupostos de existência, como por exemplo, a citação. Ainda tem quem mencione a capacidade postulatória como pressuposto de existência. Contudo, tais institutos não são pressupostos de existência (e será explicado o porquê em aulas futuras). Pressupostos de validade: Os pressupostos processuais se dividem em: a) Objetivos: Extrínsecos, negativos, impedimentos processuais: são os fatos exteriores (estranhos) ao processo que não podem acontecer para que o processo seja válido. Exemplos: a inexistência de litispendência, a inexistência de coisa julgada, a inexistência de perempção, a inexistência de convenção de arbitragem. Intrínsecos: para que o processo seja válido é preciso que se respeite o procedimento (petição inicial apta, citação etc.). A citação é uma condição de eficácia do processo para o réu e um requisito de validade da sentença porventura proferida contra o réu. Se há uma decisão favorável ao réu este não precisa ser ouvido previamente. E o caso clássico é o da improcedência liminar da petição inicial, em que há uma decisão favorável ao réu sem que ele seja citado. Outro ponto que merece destaque é que a sentença eventualmente proferida contra o réu não citado (revel ou citado invalidamente) seria uma sentença nula, devendo ser impugnada por uma querela nullitatis, não havendo previsão de prazo para tanto. Isto é: pode ser invalidada a qualquer tempo mesmo após o prazo da ação rescisória por meio de instrumento chamado QUERELA NULLITATIS, destinada as sentenças especialmente defeituosas, defeito tão significativo que gera invalidação mesmo após o prazo da rescisória. Por conta disso, fala-se que a falta de citação ou a invalidade de citação que acarretou na revelia do réu são espécies de vícios TRANSRESCISÓRIOS.Por fim, para os professores da PUC (Arruda Alvim, Nelson Nery, Theresa Wambier, Cássio Escarpinela) de São Paulo a citação seria um pressuposto de existência do processo, logo, a sentença nestes casos é inexistente (quais casos? De falta de citação ou da invalidade de citação que acarrete na revelia do réu). Para tais pensadores a querela nullitatis é uma ação de declaratória de existência e não uma ação de nulidade como o Professor Fredie menciona. A crítica que se faz a essa corrente, é que o processo existe antes mesmo da citação, logo, a existência do processo não depende de citação, sendo esta apenas um ato que torna um ato eficaz para o réu. Ademais, como compreender as sentenças que não citam o réu por meio de tal corrente? b) Subjetivos: Juiz são requisitos de validade relacionados à figura do juiz a competência e a imparcialidade deste. Partes os requisitos processuais de validade são: capacidade processual (capacidade de para estar em juízo). Noção geral de capacidade processual Obs.: capacidade de ser parte (personalidade judiciária). Agora vamos analisar a capacidade processual que é a aptidão para praticar os atos processuais sozinho (como atos jurídicos que são, por óbvio, exigem capacidade). A capacidade processual está relacionada à capacidade civil. A capacidade de ser parte é a aptidão para ser parte num processo. Todo mundo tem. É a personalidade judiciária, e é uma noção absoluta – ou se tem ou não se tem. A capacidade processual é completamente diferente. É a aptidão para praticar atos processuais sozinho. Note que a capacidade de ser parte se relaciona com a ideia de personalidade jurídica, e é pressuposto da capacidade processual. Capacidade para estar em juízo é sinônimo de capacidade processual. Pode aparecer no concurso a expressão “legitimatio ad processum”. Qual é a regra? Quem tem capacidade civil tem capacidade processual. Só que há exceções: as pessoas casadas são civilmente capazes, só que processualmente elas sofrem uma restrição da sua capacidade. Obs.: não tem a capacidade plena, mas tem a capacidade processual: 17 anos – eleitor VS ação popular. Veja: são capacidades autônomas, mas a regra é de que as pessoas civilmente capazes sejam processualmente capazes. Enfim, a capacidade processual ou capacidade de estar em juízo ou legitimidade ad processum é a capacidade para prática de atos processuais. Enquanto a capacidade para ser parte se relaciona com a personalidade civil, a capacidade processual se relaciona com a capacidade civil. Em regra, quem tem capacidade civil, tem capacidade processual, entretanto, essa regra comporta exceções, como no caso da necessidade de outorga uxória do cônjuge para propositura de determinadas ações, como aquelas em que se discute a propriedade (art. 73, do NCPC). Consequências da ausência da capacidade processual São consequências da ausência de capacidade processual a correção do defeito, ex officio, pelo juiz. Não corrigido o defeito, as conseqüências variam de acordo com três situações (art. 76, § 1º do NCPC): a) autor sem capacidade: extinção do processo sem exame de mérito; DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 39 OS: 0118/2/19-Gil b) réu sem capacidade: prosseguimento do feito à sua revelia; e c) terceiro sem capacidade: exclusão dos autos ou revelia, dependendo do polo em que se encontre. Capacidade processual das pessoas jurídicas As pessoas jurídicas são processualmente capazes, obviamente. Contudo, isso não é tão claro, pois muitas vezes falamos que estas pessoas agem por meio de seu representante. Todavia, isso pode levar à ideia que ela é incapaz, tendo em vista que age por intermédio de representantes. É certo que tal frase está incorreta, pois estas são “PRESENTADAS” em juízo, e não “representadas”, isto porque, possuem capacidade processual, ao contrário daquele que não possui essa capacidade, que deverá ser integrada pela assistência ou representação. Na PRESENTAÇÃO não há dois sujeitos, mas sim, um único sujeito, numa relação orgânica, em que o órgão torna presente, corporifica a pessoa jurídica, os órgãos da pessoa jurídica a tornam presente. É a relação orgânica que se estabelece entre órgão e pessoa jurídica. OBS.: por óbvio, que a pessoa jurídica pode ser representada, numa audiência por meio de um preposto, por exemplo. Contudo, isso não tem nada a ver com a capacidade processual. Assim, o proprietário da empresa não necessita de Carta de Preposição, eis que presenta a pessoa jurídica, diferente dos funcionários dessa empresa. Da mesma forma, o promotor presenta, e não representa o MP. Idem o Presidente ao falar quem fala é o Brasil. Curador especial O curador especial é o representante de um incapaz processual (tão-somente processual). Não se deve confundir com o curador que representa o interdito nos diversos atos da vida civil. O curador especial é um representante nomeado para atuar somente para determinado processo, designado por um juiz nos casos previstos no art. 72, do NCPC. Trata-se de um representante ad hoc (ou curador à lide ou curador especial). Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao: I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade; II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado. Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da lei. O curador não é a parte do processo, mas apenas um representante desta, que é o curatelado (o curatelado que é a parte do processo), assim, não poderá dispor do direito discutido. O curador especial tem a função de defender os interesses do curatelado. Ele não pode, p.ex., fazer acordo nem reconvir, contudo pode: embargar a execução (isso pode, porque isso é defesa, consoante súmula 196 do STJ: Ao executado que, citado por edital ou por hora certa, permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de embargos); pode impetrar MS contra ato judicial; e propor cautelar incidental. Enfim, trata-se de múnus público e, consoante a Constituição Federal, a curatela especial por excelência é uma atribuição atípica da Defensoria Pública, uma vez que não se relaciona com pessoas, necessariamente, carentes. Na ausência de Defensoria Pública na Comarca ou na impossibilidade de sua nomeação, poderá ser nomeado como curador qualquer pessoa capaz (na prática, o juiz procura designar um advogado). Capacidade processual das pessoas casadas Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. § 1o Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles; III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família; IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges. § 2o Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado. § 3o Aplica-se o dispostoneste artigo à união estável comprovada nos autos. Art. 74. O consentimento previsto no art. 73 pode ser suprido judicialmente quando for negado por um dos cônjuges sem justo motivo, ou quando lhe seja impossível concedê-lo. Parágrafo único. A falta de consentimento, quando necessário e não suprido pelo juiz, invalida o processo. a) Peculiaridades no pólo ativo (art. 73, caput, do NCPC): se o autor for casado, apenas poderá propor ação real imobiliária com o consentimento de seu cônjuge, salvo se o casamento for em regime de separação absoluta (art. 1.647, CC). DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 40 OS: 0118/2/19-Gil CC - Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; III - prestar fiança ou aval; IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação. Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada. A necessidade de consentimento (outorga termo datado) não impõe um litisconsórcio necessário ativo, mas tão-somente a referida anuência. Ex: filha pede para o pai o consentimento para sair com amigas (isso não significa que o pai tenha que ir junto com ela e amigas!). Eventual litisconsórcio será meramente facultativo. Prova disso, é que o cônjuge que pretende propor a ação poderá requerer ao juiz da Vara da Família (conforme o art. 74, do NCPC, bem como o art. 1.648, CC) o suprimento do consentimento, caso este não possa ser dado pelo outro cônjuge por certa impossibilidade ou ainda em caso de recusa de consentimento sem justo motivo. OBS.1: O NCPC estendeu tal regra para a união estável (art. 73, § 3º). OBS.2: o art. 1.649, do CC, prevê que o ato será anulável se praticado sem consentimento. Outrossim, poderá ser decretada a pedido do cônjuge preterido ou dos herdeiros, o que significa dizer que o juiz não poderá decretar referida nulidade ex officio. b) Peculiaridades no pólo passivo (art. 73, §1º, do NCPC): nesta situação fala-se em litisconsórcio passivo necessário, ao contrário do que se dá no pólo ativo. Os incisos I e IV se referem aos direitos reais VS ações reais imobiliárias (salvo regime casamento separação absoluta), o inciso trata de obrigações solidárias decorrentes de atos ilícitos (em que ambos são comparsas), e o inciso III das dívidas contraídas para a economia doméstica por um dos cônjuges. c) Peculiaridades nas ações possessórias (art. 73, §2º, do CPC): no caso de composse e no caso de atos por ambos praticados, exige consentimento quando aplicado ao pólo ativo e o litisconsórcio necessário no pólo passivo, respectivamente. Capacidade postulatória Alguns atos processuais (atos postulatórios) exigem da parte uma capacidade técnica para praticá-los, denominada capacidade postulatória, atribuída, normalmente, apenas aos advogados, defensores públicos e membros do MP. Há casos, porém, em que se atribui aos leigos, a capacidade postulatória, como no: a) HC; b) Revisão criminal; c) JEC’s em primeira instância e até 20 salários mínimos; d) Justiça do trabalho; e) Governadores de Estado para propositura da ADI ou ADC; f) Ação de alimentos (o alimentando pode assinar o pedido de alimentos sem advogado; no entanto, precisa de advogado para prosseguir acompanhando o processo); e g) Mulher vítima de violência doméstica ou familiar poderá pedir as medidas protetivas independente de advogado (para medidas de urgência – depois deve contratar); OBS.1: natureza do ato praticado por não advogado o ato praticado por não advogado quando exigida a presença deste, é ato nulo. Trata-se de ato praticado por incapaz, logo, ato nulo (art. 4º, do Estatuto da Ordem). OBS.2: ato praticado por advogado sem procuração o advogado é capaz para a prática do ato, mas nesta situação, isto é, sem procuração, não há falta de capacidade postulatória. Nesse caso há capacidade postulatória, mas falta a outorga de poderes, ou seja, a representatividade. Nesse caso, estaríamos diante de um ato existente e válido, que não poderá produzir efeitos (ineficaz) em relação ao suposto cliente, salvo se este ratificar o ato (art. 662, do CC). Enfim, o ato para o suposto representado é ineficaz, salvo se este o ratificar. CC Art. 662. Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar. Parágrafo único. A ratificação há de ser expressa, ou resultar de ato inequívoco, e retroagirá à data do ato. Considerações gerais: Alguns autores preferem referir a REQUISITOS PROCESSUAIS DE VALIDADE em vez de pressupostos processuais de validade. Optam por reservar pressuposto processual ao plano da existência; Muitos autores, notadamente os ligados à USP, o Marinoni e o Fredie, defendem a ideia de que o sistema das nulidades processuais se aplique à verificação dos pressupostos processuais de validade. Os pressupostos processuais de validade devem se submeter a tal teoria, tendo como consequência, a possibilidade de desconsiderar que a falta de um pressuposto processual de validade se isso não causar prejuízo. Ex: pessoa propõe ação, o juiz vê que este tem razão, mas não tem advogado. Houve a falha, mas não houve prejuízo. Não há motivo para anular tal pedido se não houve prejuízo. Anula o ato quando incide algum prejuízo à parte. Mesmo que a nulidade de decorra de um pressuposto processual de validade; É preciso aplicar o parágrafo único do art. 283 do NCPC, segundo o qual dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que não resulte prejuízo à defesa de qualquer parte. A essa aplicação do sistema de nulidades à DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 41 OS: 0118/2/19-Gil análise dos pressupostos processuais de validade deu-se o nome de INSTRUMENTALIDADE SUBSTANCIAL DO PROCESSO. LITISCONSÓRCIO Conceito: há litisconsórcio sempre que houver uma pluralidade de sujeitos em um dos pólos do processo. Classificação: a) De acordo com o pólo em que se dá o litisconsórcio: a) Ativo; b) Passivo; e c) Misto. b) De acordo com o momento de sua formação: a) Inicial: quando se forma concomitantemente à formação do processo – é o que acontece em regra; e b) Ulterior (ou superveniente): surge durante o processo (exceção). O litisconsórcio ulterior poderá ser gerado: 1. em razão da conexão, que ao gerar a reunião dos processos, poderá gerar um litisconsórcio; 2. da sucessão, quando morrendo uma parte, será sucedida por seus herdeiros; e 3. da resposta do réu, por meio de alguma das modalidades de intervenção de terceiros, como o chamamento ao processo. c) De acordo com o direito material discutido: Simples (ou comum): a decisão de mérito pode ser distinta para os litisconsortes. O simples fato da decisão de mérito poder ser diferente já torna o litisconsórcio simples. Unitário: aqui a decisão de mérito tem de ser idêntica a todos os litisconsortes, tendo emvista que há apenas uma relação jurídica, a qual é indivisível. Os litisconsortes unitários recebem tratamento uniforme. Apenas haverá litisconsórcio unitário, se houver legitimação concorrente, ou seja, se ambos os litisconsortes tenham legitimidade para a causa. Para reconhecer qual a classificação pertence o litisconsórcio questione o seguinte: 1) Os litisconsortes estão discutindo uma única relação jurídica? R.: Se forem discutidas mais de uma relação jurídica o litisconsórcio será sempre simples ou comum, caso o seja apenas uma relação, segue-se para a segunda pergunta; 2) Esta única relação jurídica discutida é indivisível? R.: Se indivisível o litisconsórcio será unitário, se divisível o litisconsórcio será simples. Exemplos: 1. Dois credores solidários cobram uma obrigação. Há apenas uma relação jurídica, entretanto, a mesma poderá ser divisível ou indivisível. Se divisível será litisconsórcio simples (ou comum) - entrega de dinheiro, mas caso seja indivisível será unitário – entrega de um camelo. OBS.: a divisibilidade ou não da obrigação solidária estabelecerá se o litisconsórcio formado será simples ou unitário. 2. MP em litisconsórcio com um menor em uma ação de alimentos. Nesse caso, há um legitimado extraordinário em litisconsórcio com um legitimado ordinário. Nesse caso, há apenas uma relação jurídica, a qual é indivisível – litisconsórcio unitário. OBS.: sempre que um legitimado ordinário estiver em litisconsórcio com o extraordinário, este será unitário. Não há exceção. Ex.3: ação popular VS MP. Caso de litisconsórcio unitário. Haverá apenas uma relação jurídica indivisível. OBS.: Sempre que dois ou mais legitimados extraordinários atuam em litisconsórcio, o litisconsórcio será unitário. Ex.4: litisconsórcio de poupadores pedindo a correção dos expurgos inflacionários/ou vários contribuintes questionando certo tributo. Cada litisconsorte discute sua relação jurídica. Se houver 10 litisconsortes, haverá 10 relações discutidas. Litisconsórcio simples. OBS.: litisconsórcio em causas repetitivas será sempre simples. Ex.5: ação pauliana (3º quer desconstituir um negocio fraudulento em face de duas pessoas que fizerem um negócio fraudulento). Assim, o terceiro ajuíza uma ação em face dos dois picaretas. Logo, temos um litisconsórcio passivo. Tem litisconsórcio e a ação é constitutiva? Chute que é litisconsórcio unitário. Não há base científica para tanto, mas a praxe, a experiência do professor não falha, em regra. OBS.: Se o caso é de ação constitutiva, e há litisconsórcio, este será unitário. Identificando-se se o litisconsórcio é simples ou unitário, saber-se-á o regime de tratamento dos litisconsortes, uma vez que se este for unitário, o tratamento e a sentença, será uniforme; caso seja simples, cada litisconsorte poderá receber um tratamento e uma sentença diferente. É certo que os atos das partes podem ser divididos em: Condutas determinantes: colocam as partes em uma condição desfavorável (ex.: confissão, revelia, não interposição de recurso, desistência, renúncia); e Condutas alternativas: é aquela que a parte pratica a fim de dar uma incrementada na sua situação; pretendem colocar as partes em condições favoráveis; tenta melhorar DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 42 OS: 0118/2/19-Gil mas não sabe se vai melhorar – diferentemente das determinantes (ex.: contestação, produzir prova, recurso, alegar etc.). Tais condutas repercutem no litisconsórcio. Vejamos: 1ª) A conduta determinante de um litisconsorte não prejudica o outro. Note-se que no litisconsórcio unitário, a conduta determinante apenas será eficaz se praticada por todos (ex.: no caso de desistência, deverá haver anuência de todos os litisconsortes para que o ato produza efeitos). No litisconsórcio simples, não vale essa regra, nada impedindo, por exemplo, a renúncia de apenas um dos litisconsortes. Aqui a conduta daquele que a prática o atinge; 2ª) No litisconsórcio unitário a conduta alternativa de um dos litisconsortes, beneficia o outro, tendo em vista se tratar de uma única relação jurídica e indivisível; e 3a) No litisconsórcio simples, a conduta alternativa de um dos litisconsortes, não beneficiará os demais. Tal regra de nº 3 sofre algumas mitigações tópicas, que ao longo do curso serão mencionadas. Nas partes da resposta do réu e da comunhão da prova. OBS.: por outro lado, em razão do PRINCÍPIO DA AQUISIÇÃO PROCESSUAL DA PROVA, uma vez produzida por um litisconsorte simples ou unitário, como passa a pertencer ao processo, poderá ser aproveitada por qualquer dos litisconsortes. Consoante: NCPC, Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas poderão os beneficiar. Na época do CPC de 39, a doutrina classificava o litisconsórcio em três espécies ou figuras, de acordo com o grau do vínculo existente entre os litisconsortes: por comunhão: de interesses. Quando discutem a mesma relação. Aqui há maior vínculo. As partes têm interesses comuns. Há apenas uma relação jurídica discutida. Ex: credores solidários; eles têm uma comunhão de interesses. Simples ou unitário. por conexão: vínculo intermediário. Aqui há interesses diversos, mas estão relacionados entre si. Não são interesses comuns. Não estão discutindo o mesmo interesse, mas ligados entre si. Há mais de uma relação jurídica discutida, sendo elas ligadas entre si. Ex: mãe e filho se atuam em litisconsórcio contra o pai; um (o filho) pedindo investigação de paternidade e a outra (a mãe) pedindo ressarcimento com as despesas do parto. Pode ser simples ou unitário. por afinidade: menor vínculo. Aqui as partes discutem interesses semelhantes, diversos, não ligados entre si, mas que se parecem. Ex: é o litisconsórcio das causas de massa, naquelas situações repetitivas, tais como, as dos segurados, dos poupadores, dos contribuintes etc. OBS.: Todo litisconsórcio por afinidade é simples (sempre, sem exceção) e se relaciona com as causas de massa e com as causas repetitivas. Aqui SÓ SIMPLES. O NCPC traz essa classificação em seu artigo 113: o inciso I trata do litisconsórcio por comunhão; o inciso II do litisconsórcio por conexão; e o inciso IIII, do litisconsórcio por afinidade. Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir; III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. Atentar para o fato que poderá eventualmente surgir um litisconsórcio com centenas de pessoas. Ora, neste caso, como o réu poderia se defender? O nome de tal fenômeno é chamado de LITISCONSÓRCIO MULTITUDINÁRIO (adjetivo que tem a ver com multidão). Fenômeno razoavelmente novo na vida forense brasileira. Vejamos o parágrafo primeiro do art. 113 do NCPC: Art. 113, § 1o O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. OBS.: o parágrafo primeiro não é expresso, mas se extrai dele o seguinte:ele cuida tão-somente do litisconsórcio por afinidade. A limitação pode ser feita pelo juiz (por meio do desmembramento). Agora o juiz pode fazer de ofício e, obviamente, também a requerimento do réu. Contudo, hoje a limitação, a recusa do litisconsórcio deve ser MOTIVADA. Apenas se justifica a limitação em dois casos: se comprometer a rápida solução do litígio, ou se prejudicar a defesa. A decisão acerca da limitação ou fragmentação é interlocutória, impugnável por AGRAVO DE INSTRUMENTO. O pedido de limitação do litisconsórcio multitudinário ativo INTERROMPE o prazo de defesa, que recomeça da intimação da decisão. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 43 OS: 0118/2/19-Gil Outra classificação, consoante a obrigatoriedade de sua formação: a) Necessário (aquele de formação obrigatória); ou b) Facultativo (opcional). NCPC - art. 114 diz que o litisconsórcio necessário quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes ou por expressa previsão legal. O Litisconsórcio necessário por força de lei é simples. Exemplos de litisconsórcio necessário por força de lei (que é simples): Ação usucapião de imóveis; e Ação de demarcação de terras. Contudo, nada impede que litisconsórcio necessário seja SIMPLES e não unitário, nos casos de expressa previsão legal. Exemplo: qualifique o litisconsórcio na oposição (terceiro propõe ação em face de autor e réu). Que tipo? Passivo, necessário e, portanto, simples. Dica: necessário por força de lei simples. Nem todo necessário é unitário, uma vez que quando o for por disposição legal, poderá ser simples. Nem todo litisconsórcio facultativo, será simples, podendo ser unitário quando em razão da natureza do pedido. Exemplos de litisconsórcio facultativo unitário: Ação popular; e Ações movidas por condôminos (repare que praticamente sempre será ativo). Mas quando será unitário e facultativo? Inexiste litisconsórcio necessário ativo. Ex: não tem sentido eu só poder ir ao Judiciário se eu tiver de ir com outra pessoa. Em suma: inexiste litisconsórcio necessário ativo tendo em vista que a recusa de um litisconsorte não pode impedir o direito fundamental de ir a juízo do outro, e ainda porque, por outro lado, ninguém é obrigado a ir a juízo. Ex: “A” demanda contra “C”; aí o juiz deve intimar “B” a fim de dar ciência do processo e se quiser tomar medida cabível, pois é caso de litisconsórcio necessário ativo, assim, será afetado, pela sentença de A vs C. Logo, B deve ser intimado, estar ciente do processo. Qual a consequência da falta de citação no litisconsórcio necessário? Depende. Se unitário e um não for citado, a sentença é nula. Se simples e um não for citado, a sentença contra aquele que foi citado é válida e contra aquele que não foi citado a sentença é ineficaz. Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será: I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o processo; II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados. INTERVENÇÃO IUSSU JUDICIS É a intervenção de terceiro no processo por determinação do juiz, para que ele passe a fazer parte do processo. No CPC de 1939, havia disposição expressa deste instituto. O juiz poderia trazer o terceiro que ele entendesse dever fazer parte do processo, de uma forma ampla. O CPC de 1973 eliminou a previsão da intervenção iussu judicis. Há quem afirme que a intervenção iussu judicis teria sido redimensionada, nos termos do parágrafo único do art. 115 do NCPC Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo. Ou seja, a intervenção iussu judicis estaria limitada ao litisconsorte necessário não citado. Ocorre que, a prática forense passou a revelar uma necessidade de autorizar o juiz a trazer outros sujeitos ao processo, além dos litisconsortes necessários não citados, como nos casos do litisconsórcio unitário. O juiz, para proteger interesses, intimará o litisconsórcio unitário da existência de ação, para que não alegue posteriormente o desconhecimento da demanda (ex: entre cônjuges). Trata-se da aplicação do princípio da adequação, um pode de administração do processo. O próprio STF já citou tal instituto (a fim de evitar celeumas). INTERVENÇÃO LITISCONSORCIAL VOLUNTÁRIA Poderá ter duas acepções: 1ª) É sinônimo de assistência litisconsorcial; e 2ª) É um litisconsórcio facultativo ulterior ativo simples. Ex: causas repetitivas VS tributo VS João - diz que não quer pagar tal tributo e juiz concorda. José que está numa situação semelhante e entra neste processo e pede a liminar. O que ele faz? Pede para ser litisconsórcio ativo, ulterior, simples (relações distintas embora afins) e facultativo. Isso é lícito? Em regra, essa segunda acepção, sempre ocorre após a concessão da liminar, razão pela qual não é lícita e não se admite, uma vez que desrespeita o princípio do juiz natural. Contudo, há quem admita essa intervenção como homenagem à economia processual e à igualdade, como é o caso de Cassio Scarpinella Bueno e Leonardo Greco. Isso é reflexo das causas repetitivas. Por fim, ressalta que a lei do MS, parágrafo 2º, art. 10 reabre a discussão em tela. Vejamos: Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada, quando não for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 44 OS: 0118/2/19-Gil algum dos requisitos legais ou quando decorrido o prazo legal para a impetração. ... § 2o O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido após o despacho da petição inicial. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS Fundamentos da Intervenção de Terceiros Economia processual e garantir o contraditório de tais terceiros. É uma técnica para garantir a economia processual e o contraditório, ao permitir que algumas pessoas, que se relacionem ao processo, participem deste, evitando o surgimento de novas demandas. Conceitos Fundamentais Parte: é aquele que participa do processo como sujeito parcial. Terceiro: é um conceito por exclusão, é aquele que não é parte. Intervenção de terceiro: é o ingresso de um terceiro em processo alheio, tornando-se parte. Pressupõe um processo já existente, caso contrário, seria o caso de litisconsórcio. Incidente (substantivo) do processo: é um procedimento novo que surge de um processo já existente para dele fazer parte e de modo não necessário. Incorpora- se. Ex.: impugnação ao valor da causa; exceção de impedimento; reconvenção; designação de um perito; e todas as intervenções de terceiro. Toda intervenção de terceiro é um incidente do processo. Caso seja processo incidente não será intervenção de terceiro. Processo incidente (adjetivo): é um novo processo que surge em razão de um processo já existente – que nele se desgarra - para nele produzir efeitos. Ex.: embargos à Execução; embargos de terceiro. Efeitos da Intervenção de terceiros noprocesso 1. Ampliação subjetiva do processo: 1.1. Gera no processo, uma nova parte, pode ampliar o rol de sujeitos do processo (ex.: chamamento); ou 1.2. Gerar uma alteração, gerar a substituição de uma das partes originárias. 2. Ampliação objetiva do processo (nem sempre ocorre). Ampliar objetivamente o processo é o acréscimo de um novo pedido. É o caso da denunciação da lide, que trazem ou agregam ao processo, um novo pedido. Controle da intervenção pelo Magistrado Toda intervenção, seja ela espontânea ou provocada, deverá passar pelo controle do magistrado, que decidirá pelo cabimento ou não da intervenção. NCPC, Art. 120. Art. 120. Não havendo impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, o pedido do assistente será deferido, salvo se for caso de rejeição liminar. Parágrafo único. Se qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse jurídico para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem suspensão do processo. OBS.: A correta interpretação do caput deste artigo, é no sentido de que não basta a ausência de impugnação acerca da intervenção, sendo indispensável a autorização do juiz, sempre e em qualquer caso. Classificação das Intervenções de Terceiros Espontânea e Provocada (coacta) Enquanto na espontânea se dá a pedido do terceiro, como no caso da assistência; a provocada (coacta) o terceiro é chamado a fazer parte do processo, é o caso da denunciação, do chamamento. Cabimento das intervenções de terceiro: a) procedimento ordinário do procedimento de conhecimento: cabe qualquer intervenção de terceiro; b) nos Juizados Especiais não cabe qualquer intervenção de terceiros; c) nas ações de controle concentrado de constitucionalidade: (ADIN, ADC, ADPF) não se admite qualquer intervenção de terceiros por expressa vedação legal. As leis n. 9.868/99 e n. 9.882/99 vedam expressamente a intervenção de terceiros nestas ações. Por outro lado, a doutrina faz duas ponderações, a saber: não há como impedir que um colegitimado possa intervir nessas ações (quem pode o mais pode o menos); e nessas ações se admite a intervenção do amicus curiae, ou “amigo da Corte”. O amicus curiae intervém para oferecer ao juízo, mais elementos ou subsídios, no sentido de alcançar uma decisão mais justa. Objetiva trazer novos aspectos que talvez não tenham passado pela cabeça do juiz (amplia sua visão). Ele é uma espécie de conselheiro (opina sobre o modo de o juiz decidir e não um perito que investiga fatos). Ele não precisa ser imparcial, ao contrário, vai apresentar o seu ponto de vista. Ex: se o amigo da corte é um religioso, dará sua opinião numa ação sobre o tema aborto, conforme sua visão religiosa. O NCPC trata esta figura como uma espécie de intervenção de terceiros (art. 138). Como intervém? Por escrito, mas a jurisprudência do STF mudou e no final de 2003, a jurisprudência do STF passou a admitir a sustentação oral do amicus curiae. Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae. O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 45 OS: 0118/2/19-Gil OBS.: frisa-se que, em junho de 2003, o STF ao julgar o HC 82424, referente ao caso Elwanger, cidadão acusado da prática de crime de racismo contra a nação judaica. Em sua defesa, a parte alegou que ser “antissemita” não seria ser racista, eis que a raça humana não se subdivide em raças. O STF, por 8 votos contra 3, decidiu que o crime de racismo é um crime contra as diferenças, contra a intolerância e não contra a raça. É preciso defender a diferença. O fundamento desses três votos não foi no sentido da defesa do acusado, de que a raça judaica não seria raça, mas sim no sentido que ele estaria apresentando suas idéias em suas obras, logo, em razão do direito de liberdade de expressão, o mesmo deveria ser absolvido. Nesse julgamento, foi admitida a intervenção do amicus curiae, embora a figura não seja prevista do CP ou no CPP. Essa observação é importante para explicar a fase atual. Vejamos: Assim, atualmente, defende-se o cabimento de amicus curiae em qualquer processo, desde que se trata de um processo relevante e que o amigo da corte tenha representatividade, principalmente em ações coletivas, o que gera um caráter mais democrático. Atualmente, o amicus curiae é admitido na Lei da Súmula vinculante, no julgamento de recursos repetitivos no âmbito do STJ e do STF. E tais recursos podem advir de qualquer processo. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS EM ESPÉCIE Vamos adotar a seguinte legenda para tal tema: A – será o autor B – será o réu C – será o terceiro 1) ASSISTÊNCIA Art. 119. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la. Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre. É uma forma de intervenção espontânea que pode ocorrer enquanto o processo estiver pendente e pode ocorrer em qualquer dos pólos do processo com a finalidade de auxiliar uma das partes naquilo que ela quer. O assistente não traz ao processo pedido novo, apenas adere ao pedido formulado pelo assistido. Para que o sujeito intervenha como assistente ele precisa demonstrar que possui interesse jurídico na causa; pressupõe que o assistente tenha com a causa interesse jurídico, e não moral, não sentimental nem econômico. O que é esse interesse jurídico que justifica a assistência? Há duas dimensões que de interesse jurídico que justifica a assistência; o interesse jurídico que justifica a assistência se divide em dois graus: 1) interesse forte/direto/imediato Art. 124. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido. No litígio entre “A” x “B”, “C” requer o ingresso como assistente, uma vez que guarda uma relação jurídica com “A”, que poderá ser prejudicada pela sentença do processo principal, ou seja, “C” tem interesse próprio que poderá ser afetado pela lide. Ex1: condômino pedindo para intervir em uma ação proposta por outro condômino. Assim, ele entra dizendo que é também é titular. Ex2: imaginem que “A” seja substituto processual de “C”, portanto, “A” defende interesse de “C” em juízo (“C”, portanto, é o substituído). É claro que o substituído poderá intervir com interesse forte. O direito em jogo é de “C” e “A” é um legitimado extraordinário. A intervenção do substituído sempre é por interesse forte. Tais exemplos são: O terceiro sempre poderá intervir quando tiver interesse forte, sendo que esse grau de interesse origina a assistência litisconsorcial, caso em que o assistente litisconsorcial se torna litisconsorte do assistido. O assistente não está subordinado ao assistido, sendo também um protagonista da lide (ele também é parte; não há diferença hierárquica entre eles). A assistência litisconsorcial gera litisconsórcio unitário, em regra, no pólo ativo. Assim, a assistência litisconsorcial é um litisconsórcio facultativo, se unitário (se vincula a coisa julgada), ou ulterior, geralmente ativo. 2) interesse fraco/indireto/mediato “C” requer seu ingresso na lide para auxiliar “B”, tendo em vista ter uma relação com este,diferente daquela discutida em juízo que, entretanto é com ela conexa. Assim, o interesse de “C” é indireto, eis que sua relação com “B” poderá sofrer efeitos reflexos com a sentença proferida na demanda de “A” x “B”. Ex.: Ação de despejo de “A” x “B”, sendo “C” sublocatário deste. Este grau de interesse (chamado de interesse REFLEXO) gera a chamada assistência simples, em que o assistente simples não será litisconsorte do assistido, mas simples auxiliar deste, estando subordinado à sua vontade. Se o assistido desistir, renunciar ou transacionar, o assistente nada poderá fazer por estar subordinado à vontade do assistido. Dessa forma, o assistente simples é um legitimado extraordinário subordinado (ele não é litisconsorte). Art. 121. O assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido. Parágrafo único. Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente será considerado seu substituto processual. Art. 122. A assistência simples não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 46 OS: 0118/2/19-Gil Se o assistido for revel, o assistente pode contestar por ele. Se o assistido desiste, manifesta sua vontade, o assistente fica vinculado; agora se ele permanece inerte o assistente pode ajudá-lo, contestando por ele. O STJ vem decidindo bastante sobre o seguinte tema: assistido não recorreu, mas o assistente recorreu. A lei permite que o assistente supra as falhas. Mas o STJ entende que este recurso do assistente não deve ser examinado, pois o assistido ao não recorrer teria aceitado a decisão. Assim, só será aceito o recurso do assistente se o assistido também recorrer. Não há súmula, mas existem vários julgados que mostram a posição do STJ. O assistente litisconsorcial se submete à coisa julgada, ao contrário do que ocorre com o assistente simples, que se submete a outra espécie de eficácia preclusiva, em um sentido mais forte do que a coisa julgada (vincula o dispositivo da decisão), e em outro sentido, mais fraca do que esta. Essa eficácia se denomina eficácia da intervenção; eficácia preclusiva da intervenção ou submissão à justiça da decisão. A eficácia da intervenção submete o assistente aos fundamentos da decisão contra o assistido (e não vincula ao dispositivo da decisão que transitou em julgado). Enquanto a coisa julgada apenas poderá ser revista por meio de ação rescisória ou anulatória, a superação da eficácia da intervenção se dá de forma mais simples, podendo o assistido propor nova demanda desde que demonstre que não pode influenciar na decisão do processo onde atuou como assistente, ou que o assistido ignorou provas que poderiam interferir na sentença. Esses casos em que o assistido se esquiva da eficácia da intervenção se denominam “exceptio male gestis processus” ou defesa de má-gestão do processo. Art. 123. Transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que: I - pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença; II - desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu. Tal artigo só se aplica a assistência SIMPLES. O STF, este ano, admitiu uma assistência simples em que o assistente, que se tratava de um Sindicato, não possuía interesse próprio ou reflexo na lide, já que estaria defendendo os interesses da categoria. Ou seja, o que se admitiu foi uma intervenção de um legitimado coletivo em uma ação individual para a formação do precedente jurisdicional, sob o fundamento de haver interesse na formação desse precedente. 2) INTERVENÇÕES ESPECIAIS DOS ENTES PÚBLICOS (9.469/97) Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas federais. Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas partes. 2.1. art. 5º, caput: é uma forma de intervenção espontânea, que pode se dar a qualquer tempo, em qualquer dos pólos, sem agregar pedido novo, exclusiva da União, e que dispensa demonstração de interesse jurídico, cabível quando o processo envolver entidade autárquica, empresa pública ou sociedade de economia mista federal. 2.2. art. 5º, parágrafo único: é uma forma de intervenção espontânea, que pode se dar a qualquer tempo, em qualquer dos pólos, sem agregar pedido novo, que poderá ser requerida por qualquer Pessoa Jurídica de Direito Público, cabível em qualquer processo, imprescindível de interesse econômico do ente Público, com objetivo de prestar informações ao Juiz. Em razão desta última característica, muitos autores defendem se tratar de uma intervenção de amicus curiae. 3) ALIENAÇÃO DA COISA OU DO DIREITO LITIGIOSO Vamos adotar a seguinte legenda para tal tema: A – será o adversário dos dois abaixo B – será o alienante ou cedente (dou exemplo aqui do réu como alienante, mas qualquer parte pode ser, isto é, o autor também poderia sê-lo). C – será o adquirente ou cessionário É possível a alienação de coisa ou direito litigioso, já que se assim não fosse, as empresas em dificuldade não poderiam se recuperar, por exemplo. No caso dessa alienação, aquele que adquire o bem ou direito, será o adquirente ou cessionário; aquele que aliena o bem será o alienante ou cedente; já a outro demandante será o adversário comum daqueles dois. O alienante não perde a legitimidade ad causam, ou seja, continua sendo parte legítima para figurar no processo. O adquirente, por sua vez, poderá interferir no processo, já que a coisa julgada lhe atingirá diretamente, podendo requerer seu ingresso na lide no lugar do alienante (sucessão). Para tanto, a anuência do adversário comum será imprescindível. Se o adversário comum concorda com a sucessão, o alienante poderá deixar o feito, ou nele permanecer a DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 47 OS: 0118/2/19-Gil título de assistência simples para auxiliar o adquirente a obter uma sentença favorável, o que, reflexamente, afasta a evicção. Se o adversário comum não concordar com a troca, o adquirente pode intervir como assistente litisconsorcial do alienante, já que intervirá para defender direito próprio, nesse caso ocorre um fenômeno interessante: o alienante permanece no processo defendendo interesse do adquirente, logo, permanece no feito atuando como um legitimado extraordinário superveniente. Art. 109. A alienação da coisa ou do direitolitigioso por ato entre vivos, a título particular, não altera a legitimidade das partes. § 1o O adquirente ou cessionário não poderá ingressar em juízo, sucedendo o alienante ou cedente, sem que o consinta a parte contrária. § 2o O adquirente ou cessionário poderá intervir no processo como assistente litisconsorcial do alienante ou cedente. § 3o Estendem-se os efeitos da sentença proferida entre as partes originárias ao adquirente ou cessionário. Quanto ao terceiro de boa-fé, sendo a coisa litigiosa um imóvel, caberá ao autor da ação averbar na matrícula a pendência da ação. 4) OPOSIÇÃO O Novo CPC reformulou a Intervenção de terceiros, não prevendo mais como uma de suas modalidades a Oposição e a Nomeação a Autoria, que , porém, continuam existindo, mas com outra natureza jurídica. Por outro lado, o novo Código manteve a Assistência, a Denunciação a Lide, o Chamamento ao Processo e acrescentou o Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica e o Amicus Curiae, que estão disciplinadas do art. 119 ao art. 138. Neste post trataremos da Oposição, que, no que pese não ser mais considerada uma modalidade de Intervenção de Terceiros, assim o era classificada no CPC/73, que tratava da matéria do art. 56 ao art. 61. Já no Novo CPC, vem prevista no Título III, Capítulo VIII, art. 682 ao 686, como procedimento especial. Procedimento: A Oposição será cabível quando alguém pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu, até ser proferida a sentença, devendo ser as ação dirigida a ambas as partes, e terá como seus requisitos os exigidos para a respectiva demanda. Como é distribuída por dependência, serão os opostos citados, na pessoa de seus respectivos advogados, para contestar o pedido no prazo comum de 15 (quinze) dias, não havendo que se falar em prazo dobrado, pela existência de advogados distintos. Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o opoente. Caso a oposição seja admitida, ela será apensada aos autos e tramitará simultaneamente à ação originária, sendo ambas julgadas pela mesma sentença. Porém, se a oposição for proposta após o início da audiência de instrução, o juiz suspenderá o curso do processo ao fim da produção das provas, salvo se concluir que a unidade da instrução atende melhor ao princípio da duração razoável do processo. Como cabe ao juiz decidir simultaneamente a ação originária e a oposição, deverá conhecer desta em primeiro lugar, tendo em vista que a sua solução interfere diretamente no resultado que terá a primeira ação. INTERVENÇÕES PROVOCADAS 5) CHAMAMENTO AO PROCESSO - É uma forma de intervenção provocada sempre feita pelo réu; - É sempre facultativa; - Típico de ações de conhecimento (não cabe em execução. Aliás, pergunta clássica de concurso); - Nos casos em que o chamado é devedor solidário do chamante (o réu demandando chama ao processo outrem que responde solidariamente com ele). O chamamento ao processo pressupõe solidariedade entre chamante e chamado. O chamante e o chamado são devedores solidários em face do autor. Assim: Esquema gráfico: A B C Logo, B VS C tem também uma relação com A. Traz ao processo também alguém que deve ao autor. Art. 130, NCPC. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu: I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu; II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles; III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum. 1ª O fiador (chamante) pode chamar o devedor (chamado), mas o devedor demandado não pode chamar o fiador; CUIDADO ÀS VEZES – INVERTEM. Só vale esta ordem: F e D OBS.: O devedor demandado não poderá chamar à lide o fiador, já que não tem ação de regresso contra este, salvo se o fiador seja com ele solidário por ter renunciado ao benefício de ordem. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 48 OS: 0118/2/19-Gil 2ª O fiador (chamante) pode chamar o co-fiador (chamado); e 3ª O devedor (chamante) pode chamar o outro devedor (chamado). Obs.: o art. 101, II, CDC prevê uma quarta hipótese de chamamento ao processo, a saber: o fornecedor (chamante) demandado pelo consumidor pode chamar a seguradora (chamada). É sui generis, pois ambos respondem solidariamente em face do consumidor. Temos em mente que o seguro paga somente a vítima. O CDC inova ao colocar a segurada do fornecedor como responsável solidaria, tanto que permite o chamamento ao processo. O chamamento ao processo revela certa incompatibilidade entre o direito material e o direito material, pois faculta ao credor escolher o demandado consoante o direito material. Já no direito processual permite-se ao escolhido trazer os demais devedores solidários à demanda. Por outro lado, há um lado positivo em face do chamamento, a sentença valerá contra todos os devedores que participaram do processo, podendo o autor executar qualquer deles, sendo que aquele que vier a pagar (chamante ou chamado) poderá, imediatamente, executar a sentença para cobrar do outro o seu respectivo quinhão (não precisa ajuizar uma ação regressiva). Art. 132, NCPC. A sentença de procedência valerá como título executivo em favor do réu que satisfizer a dívida, a fim de que possa exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua quota, na proporção que lhes tocar. O chamamento só será cabível em processo de conhecimento, transformando o terceiro em litisconsorte passivo, facultativo e ulterior do chamante. Será simples quando o bem seja divisível e unitário se este for indivisível. 6) CORREÇÃO DA LEGITIMAÇÃO PASSIVA Veio substituir a antiga nomeação à autoria. Agora, Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação. O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no prazo de 15 (quinze) dias, à alteração da petição inicial para a substituição do réu, também reembolsando as despesas e pagando os honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa. Todavia, no prazo de 15 (quinze) dias, o autor pode optar por alterar a petição inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o sujeito indicado pelo réu. 7) DENUNCIAÇÃO DA LIDE 7.1) Características: É uma intervenção que pode ser provocada por qualquer das partes, sendo que quando provocada pelo autor, será feita na inicial, e quando pelo réu, na contestação. Pode-se dizer que a denunciação feita pelo autor não é, propriamente, uma intervenção de terceiro, uma vez que a lide já nasce com o terceiro. A denunciação da lide é uma demanda, isto é, o terceiro vem ao processo na condição de réu, sendo demandado pelo denunciante. Com a denunciação, o processo passa a ter uma nova demanda, o que significa dizerque a denunciação amplia objetivamente o processo. Essa nova demanda será regressiva, já que o denunciante demanda contra o terceiro em busca de ressarcimento dos prejuízos decorrentes do processo. Esse regresso ou reembolso, é a marca da denunciação da lide. Deve-se observar que a denunciação da lide gera pedido novo, e não processo novo, já que, como intervenção de terceiro, é apenas um incidente do processo. A denunciação da lide é uma demanda regressiva eventual, uma vez que a ação é proposta à hipótese de um denunciante vir a perder a ação principal, assim, a denunciação da lide somente será examinada se o denunciante perder a ação processual. O exame da denunciação da lide pressupõe que o denunciante tenha perdido na ação principal (sendo, rigorosamente, uma demanda sob condição). Prova – sentença: Demanda original – 1ª a ser julgada; Demanda derivada – só será analisada se a primeira restar frustrada. A primeira demanda a ser julgada é a original, uma vez que no caso de êxito do denunciante em face do autor, o juiz sequer examinará a demanda regressiva, que restará prejudicada. Art. 129, NCPC. Se o denunciante for vencido na ação principal, o juiz passará ao julgamento da denunciação da lide. Parágrafo único. Se o denunciante for vencedor, a ação de denunciação não terá o seu pedido examinado, sem prejuízo da condenação do denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do denunciado. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 49 OS: 0118/2/19-Gil Esquema gráfico: A B C Aqui o “C” não tem relação com o “A”. Ex: da denunciação da lide feita pelo réu. Pois se feita pelo autor “C” não tem relação com “B”. Por quê? Porque o denunciado não tem relação com o adversário do denunciante. Pergunta de prova: se o autor perde a ação a denunciação da lide nem será apreciada aí o autor recorre ao TJ que julga a denunciação da lide procedente. Quem vai apreciar a denunciação? Será o próprio TJ. Não irá para o primeiro grau. Qual é a posição do denunciado? Para responder corretamente se faz necessário lembrar que com a denunciação da lide temos duas demandas, quais sejam: 1ª A B 2ª B C Na demanda 2 o “C” é o réu de “B”. Na demanda 1 o “C” é o quê? Depende. Na derivada é réu, mas na original a posição dele é polêmica. Legitimado extraordinário (o denunciado é legitimado extraordinário na demanda derivada). O NCPC diz que o denunciado e o denunciante na ação principal são litisconsortes. Assim: Inimigos na demanda n. 2. Litisconsortes na demanda n.1. Na denunciação da lide, o denunciado não guarda relação com o adversário do denunciante, mas apenas com este. Assim, feita denunciação da lide, o processo passa a estruturar-se da seguinte forma: Originariamente: A x B Após a denunciação: A x B e C (demanda 01) / B x C (demanda 02) OBS.: a situação processual do denunciado é de réu na demanda regressiva; já quanto à demanda originária, o NCPC tentando acabar com a divergência verificada anteriormente, expressamente aduz que: Art. 128. Feita a denunciação pelo réu: I - se o denunciado contestar o pedido formulado pelo autor, o processo prosseguirá tendo, na ação principal, em litisconsórcio, denunciante e denunciado; II - se o denunciado for revel, o denunciante pode deixar de prosseguir com sua defesa, eventualmente oferecida, e abster- se de recorrer, restringindo sua atuação à ação regressiva; III - se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor na ação principal, o denunciante poderá prosseguir com sua defesa ou, aderindo a tal reconhecimento, pedir apenas a procedência da ação de regresso. CONDENAÇÃO DIRETA DO DENUNCIADO Cabe condenação direta do denunciado em favor do adversário do denunciante? A deve pagar B B deve paga C Pode o juiz mandar o “A” pagar diretamente o “C”? Do ponto de vista do direito material, não seria possível, eis que o denunciado não guarda relação com o adversário do denunciante, sendo esse ainda, o entendimento da doutrina. C deve p/ B; B deve p/ A. Logo, C não deve nada para A, contudo o STJ passou a admitir a condenação direta da seguradora. Pense no: Autor – vítima; Réu – segurado; Terceiro – seguradora Ocorre que na prática (entendimento jurisprudencial), quando o denunciante (réu) não tinha condições financeiras de arcar com a condenação, a vítima (autor) amargava o prejuízo. Em razão disso, o STJ, no caso específico de contrato de seguro, partindo do pressuposto de que a seguradora (terceiro) era litisconsorte do segurado, condenava aquela diretamente a indenizar o prejuízo sofrido pelo adversário deste. O CDC, antecipando, a jurisprudência, já adotou tal pensamento (no art. 101). Ademais, a partir do novo CC, o art. 788 trouxe/prevê expressamente um caso em que a seguradora responde diretamente à vítima (também dentro desse contexto). Tal dispositivo estabeleceu uma solidariedade da seguradora perante a vítima nos casos de seguro de responsabilidade obrigatório (como o DPVAT). Art. 788. Nos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios, a indenização por sinistro será paga pelo segurador diretamente ao terceiro prejudicado. Parágrafo único. Demandado em ação direta pela vítima do dano, o segurador não poderá opor a exceção de contrato não DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 50 OS: 0118/2/19-Gil cumprido pelo segurado, sem promover a citação deste para integrar o contraditório. O STJ generalizou. “Obrigatoriedade” da denunciação da lide (a denunciação é imprescindível ao exercício do direito de regresso?) Mais adequado do que o termo obrigatoriedade seria o uso do termo “ônus”. A denunciação da lide era obrigatória na sistemática do CPC/73. Se não, vejamos: Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória: I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que esta possa exercer o direito que da evicção Ihe resulta; II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força de obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse direta da coisa demandada; III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda. A denunciação da lide era obrigatória, em regra, no caso clássico da evicção. Com o passar do tempo, percebe-se que até mesmo nos casos de evicção a denunciação da lide poderia não ser obrigatória em duas situações, a saber: 1ª Quando a denunciação da lide for vedada: se a denunciação é proibida, não pode resultar na perda do direito de regresso. A denunciação da lide é proibida nos JECs e ações de procedimento sumário; e 2ª Quando a denunciação da lide for impossível: não é caso de proibição, mas sim de impossibilidade. Ela é inconcebível no caso de evicção em razão de um ato administrativo; caso de perda de direito decorrente de processo administrativo (só é possível a denunciação da lide em processo judicial). Em taiscasos, admite-se ação autônoma de evicção. Por esta razão, o NCPC alterou tal sistemática a fim de considerar a denunciação da lide uma faculdade, podendo se demandar o direito de regresso quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida. Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes: I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam; II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo. § 1o O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida. PETIÇÃO INICIAL A petição inicial é o instrumento da demanda (composta pelos três elementos da demanda: partes, causa de pedir e pedido), é a forma como a demanda se apresenta, assim como a procuração é um instrumento da representação voluntária. Requisitos (art. 319,NCPC): Art. 319. A petição inicial indicará: I - o juízo a que é dirigida; II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - o pedido com as suas especificações; V - o valor da causa; VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. 1º. Forma: em regra, a petição inicial tem a forma escrita. Há, no entanto, possibilidade de demandas orais, como nos casos: dos JEC’s; da Justiça do Trabalho; da demanda da mulher que se afirma vítima de violência doméstica (previsão na LMP) pode pleitear medidas protetivas oralmente perante um delegado de polícia (óbvio que em seguida a demanda será reduzida a termo). Há, ainda, a postulação eletrônica, como por exemplo, nos Juizados Virtuais, onde eles existem. 2º. Assinatura: de quem tenha capacidade postulatória (normalmente: advogado, MP e DP; excepcionalmente, o leigo, como nos casos do JEC’s e HC). 3º. Endereçamento Momento em que se aplicam as regras de competência: Tribunal: Egrégio; Colendo; Excelso (este apenas para o STF); Juiz Estadual: Juiz de Direito da Comarca de (xxxx); DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 51 OS: 0118/2/19-Gil Juiz Federal: Juiz Federal da seção judiciária de (estado- membro) – subseção de (cidade). 4º Qualificação das partes: Autor: pessoa física. Deve-se informar todos os dados do indivíduo, tais como: nome completo, endereço, profissão, estado civil, CPF, existência de união estável, endereço eletrônico, domicílio e residência. Já a pessoa jurídica deve ser qualificada pelo tipo de pessoa jurídica: sociedade empresária; sociedade simples; pessoa de direito público; autarquia federal; fundação; associação civil etc., bem como a sede e o CNPJ. Quanto ao nascituro: deve-se qualificá-lo como “nascituro de (nome da mãe)” e aí se qualifica tal mãe. Réu: Caso não disponha das informações previstas acima, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção. O juiz possui poderes de requisitar tais informações de órgãos públicos como, por exemplo, a receita federal. Se, entretanto, faltar tais informações, mas for possível a citação do réu, a petição inicial não será indeferida. Também a petição inicial não será indeferida pelo se a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça. 5º. Causa de Pedir: fatos e fundamentos jurídicos do pedido (adiante). 6º. Pedido (adiante). 7º. Atribuição de valor à causa: o valor deve ser expresso em reais. Pode ser legal, previsto no art. 292, do NCPC; ou por arbitramento do autor, nos casos do art. 291, do NCPC (nos casos que não se encaixam no art. 292, CPC). Vejamos: O valor da causa é extremamente relevante, tendo em vista possuir várias finalidades, como a determinação da competência; do rito; a base de cálculo para multas processuais; a base do valor das custas; de base para o depósito na ação rescisória etc. Assim, jamais deve se colocar “para fins meramente fiscais” nem indeterminar o autor ao estabelecer o valor da causa, como p.ex.: “dá-se à causa”, mas sim: “dá à causa”, “dão à causa”, “atribui à causa”, “atribuem à causa”. O valor da causa pode ser controlado quando desrespeitar as regras do art. 292, NCPC ou quando for abusivo (desproporcional) nos casos em que cabe ao autor arbitrar o valor da causa. O juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da causa quando verificar que não corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo autor, caso em que se procederá ao recolhimento das custas correspondentes. Art. 293, NCPC. O réu poderá impugnar, em preliminar da contestação, o valor atribuído à causa pelo autor, sob pena de preclusão, e o juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso, a complementação das custas. 8º. Requerimento de produção de provas que pretende utilizar. OBS.: no Mandado de Segurança (MS) só cabe prova documental, logo, não cometer o erro de numa petição de MS pedir todo tipo de “produção de prova”; 9º. Toda petição deve conter todos os documentos indispensáveis à propositura da ação. Temos dois tipos de documentos indispensáveis à propositura da ação: 1º tipo: documento indispensável por força de lei, como p.ex.: a procuração, o título executivo na execução, a prova escrita na ação monitória; e 2º tipo: documento que se torna indispensável porque o autor faz referência a ele na inicial (caso o documento não esteja sob a posse do autor, deverá requerer, na própria inicial, sua exibição). Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação. 10º. A opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. Possíveis manifestações do juiz: 1ª) “Cite-se” – Determinação de citação do réu Estando a petição em termos (estando presentes todos os requisitos legais dos arts. 319 e 320), o juiz determinará a citação do réu. 2ª) Emenda da inicial: É a correção da demanda inicial em razão de um vício sanável, o que se dá por determinação do juiz à luz do art. 321, com fundamento do princípio da cooperação. O prazo para emenda é de 15 dias, sendo que a desobediência à determinação judicial poderá acarretar a extinção do processo sem resolução de mérito. É direito do autor. Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado (grifo nosso). Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. Alteração: é a alteração ou troca de algum dos elementos da inicial. Poderá ser: Subjetiva (troca do réu, possível até a citação); ou Objetiva (alteração do pedido ou da causa de pedir). Alteração possível emtrês fases, a saber: DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 52 OS: 0118/2/19-Gil - possível até o saneamento, ocasião em que ocorre a estabilização da demanda; - até a citação a alteração independe de anuência do réu; e por fim, - da citação ao saneamento é possível a alteração, dependendo, entretanto, da concordância do réu, conforme prevê o art. 329, II do CPC. Aditamento: é a ampliação (acréscimo) do pedido, previsto no art. 294 do CPC. Apenas será possível até a citação. Esse regramento também é bastante criticado. Art. 329. O autor poderá: I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de consentimento do réu; II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar. Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo à reconvenção e à respectiva causa de pedir. Redução: é a redução do objeto, não havendo no CPC, um artigo que regule o tema; pode ocorrer de várias formas (pode haver p.ex. uma renúncia parcial, uma desistência parcial, um acordo parcial). 3ª) Indeferimento da inicial É uma decisão proferida antes de se ouvir o réu pela qual o juiz rejeita a petição inicial; um juízo negativo sobre a petição inicial, em razão de algum vício formal insanável que, por isso, impede seu prosseguimento regular. Vícios insanáveis: Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I - for inepta; II - a parte for manifestamente ilegítima; III - o autor carecer de interesse processual; IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321. § 1o Considera-se inepta a petição inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir; II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; IV - contiver pedidos incompatíveis entre si. a) Inépcia da Inicial (art. 330, I): é um defeito da inicial relacionado ao pedido ou à causa de pedir. Inépcia é sinônimo de inaptidão, sendo casos desse defeito os previstos no art. 330, parágrafo primeiro do NCPC: Falta de pedido ou de causa de pedir (também quando esses forem obscuros). Pedido juridicamente impossível; Incoerência da inicial (da narração dos fatos não decorre logicamente a inicial); Pedidos incompatíveis entre si (ex: nulidade do contrato e sua revisão. “Petição suicida” – não confundir com sentença suicida do proc. penal); OBS.: há um quinto caso especial de inépcia previsto na legislação extravagante (art. 50, da Lei 10.931/04). Esse artigo prevê que em uma ação onde se discute o valor de um contrato de financiamento imobiliário, o devedor, autor da ação, deve indicar quanto entende ser o valor devido. Ausente o valor que entende devido, a inicial será inepta. Art. 50. Nas ações judiciais que tenham por objeto obrigação decorrente de empréstimo, financiamento ou alienação imobiliários, o autor deverá discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, quantificando o valor incontroverso, sob pena de inépcia... b) falta de interesse processual; c) ilegitimidade ad causam; d) não atendimento da determinação de emenda. O indeferimento da inicial será sempre uma decisão proferida antes da citação do réu. Já tendo ocorrido citação, não se tratará mais de indeferimento da inicial, mas sim, de sentença extintiva sem resolução de mérito. Tal distinção é relevante, já que no caso de indeferimento liminar, não haverá fixação de honorários advocatícios; e da sentença caberá apelação com as peculiaridades do art. 331, NCPC (juízo de retratação, no prazo de 5 dias). Art. 331. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se. § 1o Se não houver retratação, o juiz mandará citar o réu para responder ao recurso. § 2o Sendo a sentença reformada pelo tribunal, o prazo para a contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos, observado o disposto no art. 334. § 3o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença. O indeferimento da inicial poderá ser total ou parcial, sendo que neste último caso, o processo mantém seu curso normal em relação à parte válida, razão pela qual, contra a decisão de indeferimento parcial caberá recurso de Agravo de Instrumento (todo agravo permite retratação; na apelação é diferente). Se a causa for de competência originária de Tribunal, como uma ação rescisória, o indeferimento parcial poderá se dar por acórdão ou por decisão monocrática proferida por relator, sendo que neste último caso caberá Agravo Interno ou Regimental. Se a decisão decorrer de DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 53 OS: 0118/2/19-Gil acórdão, caberá RO ou RE conforme o caso (menos apelação). O indeferimento ensejará extinção do processo sem resolução de mérito. 4ª) Improcedência liminar do pedido São hipótese que levam a extinção do processo com julgamento de mérito antes da citação do réu. a) em razão do reconhecimento da prescrição ou decadência legal do direito do autor (recordando que a decadência convencional não se opera de ofício, o juiz não pode reconhecer de ofício): Historicamente, a prescrição era matéria alegada pelo réu, não podendo ser conhecida de ofício. O CCB/02, por sua vez, previu que a prescrição poderia ser conhecida de ofício se favorecesse a absolutamente incapaz. Em 2006, a Lei 11.280, revogou o art. 194 do CCB que trata do assunto, e passou a prever que o juiz poderia conhecer de ofício qualquer prescrição. Em uma interpretação literal, atualmente, cabe improcedência prima facie por qualquer prescrição. Essa novidade apresentada pelo CPC tem sido bastante criticada, não se aplicando, por exemplo, na Justiça do Trabalho, já que a decisão seria desfavorável ou trabalhador. Alexandre Câmara chega a dizer que a regra é inconstitucional por violar a autonomia privada, já que em sendo o direito disponível, o réu poderia renunciar à prescrição e pagar seu débito. Para Fredie Didier, caberia essa prescrição de ofício apenas em relação a direitos indisponíveis. Analisando o artigo pelo ponto de vista processual, de acordo com o texto literal da lei, sempre caberá improcedência prima facie em razão de qualquer prescrição. OBS.: lembrar que prescrição e decadência são matérias meritórias e, assim, reconhecidas pelo juiz, acarretarão a extinção do processo com julgamento de mérito. b) Improcedência em causas que dispensem a fase instrutória (art. 332, NCPC): quando se tratar de causas que se dispense dilação probatória e que o pedido contradiga precedentes dos tribunais. Não há motivo para citar o réu. Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II - acórdão proferido pelo SupremoTribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. § 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição. § 2o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos termos do art. 241. § 3o Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias. § 4o Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias. A apelação nos casos do art. 332, também permite retratação que se dará, também, no prazo de 05 dias. A apelação subirá ao Tribunal COM as contrarrazões do réu caso o juiz não se retrate. Não há qualquer inconstitucionalidade no artigo, tendo em vista que a decisão é favorável ao réu. Pedido Estabelece o objeto do processo, sendo que a doutrina o divide em pedido imediato (que corresponde ao pedido de decisão, de julgamento, de providência jurisdicional, de conteúdo puramente processual) e pedido mediato (é o que se busca alcançar com o processo, o bem da vida que se pretende). 1. Requisitos: a) Certo/expresso: ser expressamente deduzido na inicial, em razão do Princípio da Congruência. A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé. (art. 322, § 2º do NCPC). Contudo, há casos excepcionais em que se admite pedido implícito, ou seja, se admite como formulado um pedido que não foi formulado. Admite-se considerar como deduzido um pedido implícito. É raro, mas se admite, tais como: Condenação a honorários advocatícios Aplicação de juros legais e correção monetária Pedido relativo à obrigação de prestações periódicas – as parcelas vincendas se reputam incluídas no pedido (art. 323) Condenação ao pagamento das verbas de sucumbências Pedido de alimentos provisórios na ação de alimentos DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 54 OS: 0118/2/19-Gil Art. 322. O pedido deve ser certo. § 1o Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios. § 2o A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé. Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá- las ou de consigná-las. b) Claro: se feito de maneira obscura, poderá gerar a inépcia; c) Determinado: é aquele delimitado em relação ao quanto (quanto quer) e ao que se quer (dizer o que quer), enfim, é o pedido líquido. Todavia, há casos em que se admite pedido genérico/ilíquido (art. 324, do CPC). Art. 324. O pedido deve ser determinado. § 1o É lícito, porém, formular pedido genérico: I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados; As ações universais são aquelas que têm por objeto uma universalidade (um rebanho, uma biblioteca, um patrimônio). Não dá para individuar. II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato; Nas ações indenizatórias, o pedido poderá ser ilíquido quando não se puder dimensionar, desde logo, as consequências do ilícito. Só cabe para pedido de indenização por dano moral se este for do tipo “prolongado” (ao longo da demanda irá aumentar, tão- somente nestes casos). III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu. Quando o valor do pedido depender de um comportamento do réu, admite-se pedido ilíquido, como ocorre nas ações de prestação de contas. d) Coerência /concludente: deve ser resultado da causa de pedir, caso contrário, haverá inépcia. OBS.: a sentença deverá atender aos mesmos atributos ou requisitos do pedido. Cumulação de pedidos Há cumulação de pedidos sempre que houver mais de um pedido formulado no mesmo processo. Se o processo contém mais de um pedido, há cumulação de pedidos. Diz-se que o processo tem objeto COMPOSTO. Poderá ser homogênea (quando a mesma parte formula mais de um pedido) ou heterogênea (quando for resultado de pedidos de vários sujeitos do processo/partes distintas. Ex.: reconvenção – caso de cumulação heterogênea). A cumulação de pedidos poderá ser inicial ou ulterior. Será inicial quando o processo já nasceu em cumulação; já a ulterior (ou superveniente) se dá quando o pedido surgir ao longo do processo. Ex: aditamento da petição inicial, denunciação da lide feita pelo réu, oposição, reconvenção, a conexão de causas pode gerar uma cumulação superveniente de pedidos. A cumulação poderá ainda ser própria ou imprópria. - Própria é a cumulação em que os pedidos formulados possam ser examinados e acolhidos simultaneamente. A cumulação própria, por sua vez, se divide em: Cumulação simples: os pedidos cumulados não guardam relação de dependência entre si (ex.: dano moral e dano material); Sucessiva: o segundo pedido depende, ou está atrelado à procedência do primeiro (ex.: declaração de paternidade e alimentos). - Imprópria é a cumulação em que há vários pedidos, mas apenas um poderá ser acolhido, em razão de incompatibilidade entre eles. É regida pela conjunção “ou”. Poderá ser: Subsidiária ou eventual: a parte formula dois pedidos alternativos, demonstrando a preferência ou prioridade pelo acolhimento de um deles – ex.: anulação do casamento ou divórcio. Nessa espécie de cumulação, o pedido subsidiário apenas será analisado se o pedido principal for rejeitado. Se o autor ganha apenas o pedido subsidiário poderá recorrer da decisão por ter sucumbido em relação ao pedido principal ou preferencial. A cumulação eventual é figura simétrica e oposta à cumulação sucessiva. Está prevista no art. 326, do NCPC. Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior. Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz acolha um deles. Alternativa: não há hierarquia ou prioridade entre os pedidos (ex.: consignação em pagamento em razão da dúvida quanto ao credor). Com o NCPC passou a ter previsão expressa na lei. Se o autor ganha o 2º pedido; não poderá recorrer; pois aqui é possível ao juiz deferir um ou outro. Não se deve confundir cumulação alternativa com pedido alternativo, uma vez que este é o pedido de DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 55 OS: 0118/2/19-Gil cumprimento de uma obrigação alternativa, previsto no art. 325, do NCPC; é apenas um pedido de cumprimento de prestação alternativa, que por sua vez, possui mais de maneira de ser adimplida (ex.: pagar com arroz ou feijão).Art. 325. O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo. Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o juiz lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda que o autor não tenha formulado pedido alternativo. Na cumulação alternativa haverá mais de um pedido, e apenas um será acolhido. OBS.: essas espécies de cumulação poderão gerar: a) litisconsórcio sucessivo (mãe e filho em litisconsórcio contra o pai, onde o filho pretende a investigação de paternidade, e a mãe, o ressarcimento pelas despesas do parto); b) litisconsórcio eventual (ex.: o autor requer a condenação prioritária de “A”, sendo o pedido rejeitado, que seja condenado “B” – ocorre nos casos de denunciação da lide pelo autor); e c) litisconsórcio alternativo (ex.: consignação em pagamento contra dois possíveis credores). A cumulação de pedidos deve preencher três requisitos: a) competência do juiz para todos os pedidos cumulados; b) identidade de procedimento (os pedidos devem poder tramitar sob o mesmo procedimento; pedidos relativos a procedimentos diversos apenas poderão ser cumulados caso se opte pelo procedimento ordinário); e c) compatibilidade dos pedidos, apenas em caso de cumulação própria. § 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que: I - os pedidos sejam compatíveis entre si; II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo; III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento. RESPOSTA DO RÉU Considerações iniciais A resposta do réu no processo civil é muito mais que a contestação. Vejamos: reconhecimento da procedência do pedido do autor; impugnação ao valor da causa; réplica, chamamento de terceiros; revelia; reconvenção; pedido de cancelamento de justiça gratuita do autor. Enfim, são alguns exemplos de defesa. A contestação está para a defesa assim como a inicial está para a demanda. A contestação é um instrumento da defesa. Todas as defesas são exercitadas na contestação, podendo ser cumuladas. Exceção substancial: Trata-se de um assunto de direito material (direito civil). Contudo, os civilistas em regra não aprofundam tal matéria. Daí o porquê de estudarmos a matéria aqui em direito processual civil. Vejamos: A exceção substancial é um direito. É um direito exercitado contra o exercício de um outro direito. É um direito que neutraliza outro direito. É um contradireito. Não nega o direito da outra parte (quem se utiliza da exceção substancial). Exemplos de tal instituto: direito de retenção; Exceção do contrato não cumprido; Prescrição; e Benefício de ordem do fiador. E a compensação? Pontes de Miranda entende que não é, mas para Moreira Alves é exceção substancial. Assim, evitar tal exemplo em prova. E a decadência? Não, pois é FATO. Consequência disso: toda exceção substancial em âmbito judicial se torna uma defesa. CLASSIFICAÇÃO DAS DEFESAS a) Defesas de admissibilidade e defesas de mérito: Defesas de admissibilidade: são aquelas que têm por objetivo o questionamento da possibilidade de o juiz examinar o pedido do autor; o réu questiona a validade do processo. O réu pretende impedir o exame do pedido. (ex.: alegação de falta de competência, alegação de falta de pressuposto processual; de conexão; etc.). Defesas de mérito: é toda aquela que tem por objetivo impedir o acolhimento do pedido. O réu tem o objetivo de impedir não o exame, mas sim o de impedir o acolhimento do pedido (ex.: alegação do pagamento; todas as exceções substanciais; decadência). b) Defesas diretas e indiretas: Defesa direta: é aquela que não traz ao processo, fato novo, o réu se defende sem trazer fato novo ao processo. Só existem duas espécies de defesa direta, quais sejam: 1.o réu nega os fatos do autor; e 2.o réu reconhece os fatos do autor, mas nega suas consequências jurídicas (a esta espécie de defesa, denomina-se confissão qualificada). Tendo em vista que não se alega fato novo, o ônus da prova será exclusivo do autor, e não haverá réplica (manifestação do autor acerca da contestação). Toda defesa direta é de mérito, entretanto, nem toda defesa de mérito é DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 56 OS: 0118/2/19-Gil direta, como no caso das exceções substanciais, que são de mérito e indireta. Defesa indireta: o réu agrega fato novo, assumindo o ônus de demonstrá-los. Toda exceção substancial é uma defesa indireta, assim como toda defesa de admissibilidade também o é. No caso de existência de defesa indireta, o autor será intimado para replicar, será um direito do autor. Ocorre o que se denomina de confissão complexa quando o réu aceita os fatos do autor, mas traz fatos novos modificativos, impeditivos ou extintivos do direito do autor. A confissão complexa é DIVISÍVEL, ou seja, o juiz poderá aceitar apenas parte da confissão, negando outra, podendo, por exemplo, aceitar a confissão, mas negar a alegação. Em regra, a confissão é indivisível, sendo a confissão complexa uma exceção. É a única confissão cindível, consoante art. 395, do NCPC. Art. 395. A confissão é, em regra, indivisível, não podendo a parte que a quiser invocar como prova aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for desfavorável, porém cindir- se-á quando o confitente a ela aduzir fatos novos, capazes de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção. (grifo nosso) c) Objeções e Exceções (em sentido estrito): Objeções: são as defesas que o juiz pode conhecer de ofício (ex.: decadência legal; incompetência absoluta; pagamento). Exceções em sentido estrito: são as defesas que o juiz não pode conhecer de ofício (ex.: decadência convencional; incompetência relativa; compromisso arbitral; as exceções substanciais, ressalvada a prescrição). OBS.: a exceção de pré-executividade (defesa na execução) é efetivamente uma exceção no sentido processual e não uma objeção, já que abrange qualquer defesa que não exija dilação probatória. d) Defesas dilatórias e peremptórias: Defesa dilatória: tem por objetivo retardar a eficácia do que o autor pretende (o exame ou o acolhimento do pedido). Ex.: incompetência; conexão; exceção de contrato não cumprido – assim, existe defesa dilatória de mérito, como no caso ainda, do direito de retenção. Defesa peremptória: tem por objetivo extinguir ou perimir a demanda do autor (ex.: pagamento; prescrição). OBS.: elas podem ser tanto de mérito como de admissibilidade. Contestação A contestação é o instrumento da defesa. O prazo é de 15 dias; o prazo para a Fazenda Pública é dobrado, ou seja, 30 dias – mesmo que em litisconsórcio – afinal, as regras não se somam; litisconsórcio passivo com advogados diferentes de escritórios de advocacia diversos o prazo é de 30 dias; réu patrocinado por defensor público também terá o prazo em dobro (30 dias). A contestação se submete a duas regras básicas ou pilares normativos, quais sejam: 1ª regra CONCENTRAÇÃO DA DEFESA OU DA EVENTUALIDADE: toda a defesa do réu deve ser deduzida na contestação. O réu tem de formular todas as defesas para a eventualidade do que passar pela mente do juiz. Ex: não conheço o cara nem a dívida; caso entende que devo a dívida, esta está prescrita. Este princípio/regra sofre duas mitigações. A primeira é a seguinte: existem defesas que por expressaprevisão legal devem ser feitas fora da contestação, como no caso do impedimento e da suspeição. Já a segunda mitigação está relacionada à defesa que pode ser deduzida depois da contestação, previstas no art. 342, do NCPC. Trata-se do artigo que permite o “aditamento” da contestação. Art. 342. Depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas alegações quando: I - relativas a direito ou a fato superveniente; (ex: pagamento) II - competir ao juiz conhecer delas de ofício; (ex: objeções) III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer tempo e grau de jurisdição. (ex: decadência convencional) 2ª regra ÔNUS DA IMPUGNAÇÃO ESPECIFICADA: o réu, em sua defesa, deve impugnar, especificadamente, cada um dos fatos afirmados pelo autor, não podendo se limitar a uma contestação genérica, já que o fato não impugnado especificadamente será entendido como verdadeiro, considerando-se ter havido admissão, que é justamente a não impugnação de um fato. Este pilar também se submete a duas mitigações previstas no art. 341, do NCPC, sendo: A primeira o fato de que alguns sujeitos são dispensados do ônus da impugnação especificada (curador especial, advogado dativo, e defensor público); e A segunda no sentido de que existem fatos cuja ausência de impugnação não poderá gerar presunção de veracidade, quais sejam: I - não for admissível, a seu respeito, a confissão; II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato; III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 57 OS: 0118/2/19-Gil RECONVENÇÃO Conceito: A reconvenção é uma ação do réu contra o autor no mesmo processo em que esteja sendo demandado. É um contra-ataque, é demanda, e não uma defesa, assim, na demanda reconvencional, o réu se torna autor, recebendo o nome de réu-reconvinte, ao passo em que autor da demanda originária se torna o autor- reconvindo. A reconvenção e a ação principal são autônomas. Assim, a desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o exame de seu mérito não obsta ao prosseguimento do processo quanto à reconvenção. Contudo, se ambas houverem de ser julgadas haverão de sê-lo na mesma sentença. Apresentada a reconvenção o autor será intimado por meio da pessoa do seu advogado. Este terá 15 dias para apresentar defesa, isto é, contestar a reconvenção. Efeitos: A reconvenção não gera processo novo, mas sim uma demanda nova num processo velho. A reconvenção amplia, objetivamente, o processo, sendo um incidente seu, tanto que caso o juiz indefira sua inicial, referida decisão será impugnável por agravo de instrumento. Cumulação de pedidos: a reconvenção é uma hipótese de cumulação ulterior de pedidos. Daí a necessidade de observar dois requisitos, quais sejam: o réu só poderá reconvir se o juiz também for competente para a reconvenção; e a identidade do procedimento. A reconvenção deve processar-se pelo mesmo procedimento da ação. A ação principal e a reconvenção tramitam juntas. Cabe reconvenção em procedimento especial? Cabe desde que o procedimento se torne ordinário a partir da defesa. Há procedimentos especiais que se transformam em ordinários a partir da defesa. É por isso, por exemplo, que cabe reconvenção em ação monitória, consoante a súmula n. 292 do STJ: “A reconvenção é cabível na ação monitória, após a conversão do procedimento em ordinário”. O autor que vai contestar a reconvenção pode reconvir? Cabe reconvenção da reconvenção? Pode, porque o autor vai apresentar a sua resposta (que inclui contestação e também a reconvenção); Frisa-se que o autor poderá ser revel, mas a revelia será atípica, tendo em vista que é um revel que já está nos autos. Ademais, como já está nos autos ele terá direito de ser intimado; E mais: tal sujeito já se manifestou nos autos (por meio da petição inicial), razão pela qual só gera confissão ficta naquilo que não for contraditório com o que já foi aclarado na petição inicial. Prazo: é o mesmo da contestação (15 dias), devendo, segundo o NCPC, ser apresentada na contestação, sob pena de preclusão consumativa. Formalidade: a reconvenção pressupõe conexão com a ação principal ou com os fundamentos de defesa do réu. OBS.: tal conexão não tem nada a ver com a conexão abordada em competência. A conexão aqui é qualquer espécie de vínculo, liame, é singela. Assim, a reconvenção será admitida quando houver algum vínculo. Terceiros e a reconvenção: a reconvenção pode ampliar subjetivamente o processo? Ou seja, na reconvenção, é possível trazer sujeito novo ao processo, em que o reconvinte reconvém contra terceiro? O NCPC aduz que sim. O art. 343, § 3o prevê que “a reconvenção pode ser proposta contra o autor e terceiro” e o seu § 4o que “a reconvenção pode ser proposta pelo réu em litisconsórcio com terceiro.” Sendo o autor substituto processual, isto é, legitimado extraordinário, caberá a reconvenção desde que o reconvinte afirme ser titular de direito em face do substituído, e a reconvenção seja proposta em face do autor, também na qualidade de substituto processual. Não cabimento da reconvenção: não cabe nos JEC’s (proibição expressa). Embora não se admita reconvenção nos JEC’s admite-se pedido contraposto. Interesse de agir: Como se examina o interesse de agir na reconvenção? A resposta deve levar em conta a premissa: “Não se admite reconvenção pela qual se peça algo que poderia ser obtido com a contestação”. Exemplos: 1º Suponha que o autor ingresse com ação declaratória positiva, para obter a declaração da existência de uma relação jurídica. Nesta situação hipotética, não caberá reconvenção para pedir a declaração de inexistência da relação jurídica, que poderá ser obtida com a simples contestação, tendo em vista se tratar de ação dúplice. Destaca-se que, cabe reconvenção em ação declaratória, salvo quando para pedir a declaração contrária (Súmula 258 do STF = É admissível reconvenção em ação declaratória). Nesta ação declaratória, o réu poderá reconvir para pedir uma condenação, por exemplo. 2º Não cabe reconvenção para exercer exceção substancial (defesa indireta de mérito), devendo o réu se utilizar da contestação, tendo em vista que se trata de matéria de defesa. Ex: não caberá reconvenção para retenção, para exceção do contrato não cumprido. 3º Não cabe reconvenção para pedir compensação, pois a compensação é um contradireito (exceção substancial), sendo alegado em defesa. Porém, se a compensação gerar um crédito em favor do réu, poderá ser requerida por meio da reconvenção. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 58 OS: 0118/2/19-Gil Arguição de impedimento e suspeição Introdução: o NCPC, ao tratar do tema, extinguiu a exceção de competência e prevê, atualmente, duas espécies de exceções instrumentais: arguição de impedimento e arguição de suspeição. Podem ser suscitadas tanto pelo réu como pelo autor, e ainda, reconhecidas, de ofício, pelo juiz. Por essa razão é que não são rigorosamente, exceções, mas sim, mais adequadamente, “arguições”. Daí o NCPC ter modificado a denominação. Contra o juiz, o MP,o escrivão e o auxiliar da justiça de um modo geral (e não a outra parte). Se o juiz nega a condição de suspeito ou impedido, o julgamento se dará pelo Tribunal; Se o MP ou escrivão negam a condição de suspeitos ou impedidos, o julgamento se dará pelo próprio juiz da causa. Em face do juiz, a natureza da decisão será de acórdão, impugnável por RE ou Resp. Em face de perito, escrivão, MP, a decisão será interlocutória, impugnável por Agravo de Instrumento. No caso de acolhimento de impedimento e suspeição, os autos serão remetidos ao órgão substituto. * Considerações gerais: As hipóteses de impedimento estão previstas no art. 144 do NCPC e as de suspeição no art. 145 do NCPC. Importante – Memorizar!!! Procedimento No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato, a parte alegará o impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual indicará o fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a alegação e com rol de testemunhas. Se reconhecer o impedimento ou a suspeição ao receber a petição, o juiz ordenará imediatamente a remessa dos autos a seu substituto legal, caso contrário, determinará a autuação em apartado da petição e, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentará suas razões, acompanhadas de documentos e de rol de testemunhas, se houver, ordenando a remessa do incidente ao tribunal. No tribunal, distribuído o incidente, o relator deverá declarar se recebe a arguição com ou sem efeito suspensivo. Se recebida sem efeito suspensivo, o processo voltará a correr; Caso contrário, com efeito suspensivo, o processo permanecerá suspenso até o julgamento do incidente. Enquanto não for declarado o efeito em que é recebido o incidente ou quando este for recebido com efeito suspensivo, a tutela de urgência será requerida ao substituto legal. Verificando que a alegação de impedimento ou de suspeição é improcedente, o tribunal rejeitá-la-á. Acolhida a alegação, tratando-se de impedimento ou de manifesta suspeição, o tribunal condenará o juiz nas custas e remeterá os autos ao seu substituto legal, podendo o juiz recorrer da decisão. Reconhecido o impedimento ou a suspeição, o tribunal fixará o momento a partir do qual o juiz não poderia ter atuado. Alegado exceção contra promotor, perito ou auxiliar da justiça, o próprio juiz da causa é quem a julgará. Contra esta decisão interlocutória, caberá o agravo de instrumento. Na arguição de suspeição ou impedimento contra o juiz, será a competência do Tribunal de Justiça. Contra este acórdão, será cabível RE e REsp. Consequências do acolhimento da arguição: 1ª Remessa dos autos ao juiz substituto; 2ª Anulação dos atos decisórios já praticados, se praticados quando já presente o motivo de impedimento ou de suspeição; e 3ª Condenação do juiz as custas (despesas processuais), consoante art. 146, § 5º do NCPC*. Se o órgão acusado de suspeição se opõe à arguição, e posteriormente esta é reconhecida, ele será condenado a arcar com as custas, podendo mesmo recorrer dessa decisão. Quando se pretende arguir a suspeição ou impedimento da totalidade ou da maioria absoluta do Tribunal, o julgamento se dará pelo STF, o qual a própria Suprema Corte julgará a causa. O advogado pode arguir a suspeição do juiz sem poder especial? Pode, pois a arguição de suspeição demanda tão-somente poder geral (não precisa da autorização do cliente). Discute-se na jurisprudência, se a exceção de suspeição poderia ser argüida independentemente de poderes especiais para tanto. No âmbito do processo civil prevalece o entendimento de inexistir essa exigência, ao contrário do que ocorre no processo penal. A decisão de suspeição ou impedimento se projeta para fora do processo (ou seja, a decisão se aplica a outros processos envolvendo a mesma parte e o mesmo suspeito)? A decisão de suspeição ou impedimento faz coisa julgada, assim, sempre que envolver a mesma parte e o mesmo juiz, não mais necessitará ser arguida. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 59 OS: 0118/2/19-Gil Revelia Conceito: a revelia é a ausência de apresentação tempestiva da contestação, é um fato que não se confunde com seus efeitos. Atualmente, há um sistema que protege o réu dos efeitos da revelia. A revelia é um ato-fato processual. É um fato jurídico em sentido amplo que produz efeitos. A revelia não se confunde com os efeitos da revelia. Ademais, pode haver revelia sem os efeitos da revelia. Efeitos: a) Presunção de veracidade das afirmações de fato feitas pelo autor (confissão ficta). É o denominado efeito material da revelia. O mais drástico efeito da revelia. Revelia é causa que gera consequência; b) Prosseguimento do processo sem a intimação do réu revel; c) Preclusão do direito de alegar algumas defesas; d) Efeito mediato da revelia, isto é, havendo confissão ficta, a revelia autoriza o julgamento antecipado do mérito (art. 355, II, do NCPC). Técnicas de proteção do réu revel: 1) Art. 345, NCPC. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se: I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; Contestar é uma conduta alternativa, dessa forma, se um dos litisconsortes unitários contestar, a defesa aproveita aos demais litisconsortes. Por outro lado, em se tratando de litisconsórcio simples, o inciso I do art. 345 apenas se aplica aos fatos comuns. 2) Revelia não significa procedência do pedido, sendo que o máximo efeito por ela produzido é a consideração dos fatos como verdadeiros, podendo acontecer de apesar dos fatos serem tidos como verdadeiros não resultar em direito ao autor. Não há confissão ficta se o contrário resultar da prova dos autos. 3) Art. 345, NCPC. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se: ... II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis; - Não se aplica a confissão ficta sobre fatos relacionados a direitos indisponíveis. 4) Art. 345, NCPC. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se: ... III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato; - Se o fato apenas se prova por instrumento, e este não foi juntado, a revelia não supre a prova do instrumento. 5) Art. 345, NCPC. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se: ... IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos. A confissão ficta não é efeito necessário da revelia (pode haver revelia sem confissão ficta, como no caso do fato alegado na inicial ser inverossímil). Revelia gera a confissão ficta se o contrário não resultar da prova dos autos. A lei 9.099/95 prevê expressamente esse preceito. 6) O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar e a partir do momento em que ele intervier, deverá ser intimado dos atos e prazos processuais. O réu revel, não tendo se dado a preclusão, poderá produzir provas. 7) Se o réu for revel, mas representado por advogado no autos, terá o direito a ser intimado. 8) A querela nullitatis é também uma forma de proteção do réu revel que não tenha sido citado, ou o tenha sido invalidamente, podendo anular a sentença a qualquer tempo, mesmo após o prazo da ação rescisória. 9) A existência de matérias que podem ser alegadas após a contestação também mitiga a revelia. 10) Réu revel citado por edital ou com hora certa, temdireito a curador especial. O que significa dizer que a revelia nesses casos não produz qualquer efeito. 11) O assistente simples pode fazer a defesa do revel assistido, pois é seu substituto processual (art. 121, parágrafo único). PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E DO SABEAMENTO PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES: após a resposta do réu dá-se inicio a uma nova fase do processo chamada fase de saneamento ou fase de ordenamento do processo. Fase que começa a partir da resposta do réu. Qual o motivo de tal nome? A partir da resposta do réu caberá ao juiz tomar uma séria de providências que tornem o processo apto para que nele seja proferida uma decisão. O processo será corrigido em suas imperfeições. Observa-se que o saneamento pode ser feito em todo momento do processo, desde o início do processo. Agora, a partir dessa fase, a atividade de saneamento fica concentrada. As providências que o juiz toma a partir da resposta do réu são as chamadas providências preliminares. São inúmeras providências que o juiz poderá adotar, tais como: - se o juiz recebe a resposta do réu com uma reconvenção terá de intimar o autor; - réu traz uma defesa indireta juiz deverá intimar o autor para apresentar a réplica; - se o réu for revel será necessário verificar se houve a produção dos efeitos da revelia; - se o réu alega um defeito no processo o juiz terá que determinar a correção deste; - designação de curador especial; e - o réu denunciou a lide o juiz deverá mandar citar o denunciado. Enfim, são inúmeras as providências que poderão ser adotas. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 60 OS: 0118/2/19-Gil Considerações iniciais 1. DASPROVIDÊNCIAS PRELIMINARES Findo o prazo para a contestação, o juiz tomará, conforme o caso, as providências preliminares descritas abaixo. Se o réu não contestar a ação, o juiz, verificando a inocorrência do efeito material da revelia, ordenará que o autor especifique as provas que pretenda produzir, se ainda não as tiver indicado. Se o réu alegar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este será ouvido no prazo de 15 (quinze) dias em uma peça chamada réplica, permitindo- lhe o juiz a produção de prova. Se o réu alegar qualquer das matérias preliminares enumeradas no art. 337, o juiz determinará a oitiva do autor no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-lhe a produção de prova. Verificando a existência de irregularidades ou de vícios sanáveis, o juiz determinará sua correção em prazo nunca superior a 30 (trinta) dias. Cumpridas as providências preliminares ou não havendo necessidade delas, o juiz proferirá julgamento conforme o estado do processo. JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO: ultrapassada as providências preliminares, o magistrado deverá tomar uma decisão, que é o julgamento conforme o estado do processo. Existem sete variações de julgamento conforme o estado do processo. 1ª variação: extinção do processo sem resolução do mérito ou com resolução de mérito sem análise do pedido. Após ultrapassar as providências preliminares poderá o juiz entender se tratar de julgamento sem exame do mérito. Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I - indeferir a petição inicial; II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência; VIII - homologar a desistência da ação; IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e X - nos demais casos prescritos neste Código. A extinção do processo sem resolução do mérito pode ser divida em três grupos: 1) inadmissibilidade (I, IV, V, VI e VII) 2) por morte do autor e intransmissibilidade do direito (inc. IX); e 3) revogação (incisos II, III e VIII). 1º bloco: I – indeferimento da petição inicial – já estudado; IV – falta de pressuposto processual – já estudado; V – não estudamos; VI – carência de ação – já estudado; VII – convenção de arbitragem – já estudado. Vejamos o inciso V, do art. 485, NCPC: V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; O que é a perempção? Três abandonos sucessivos de um mesmo processo geram a perempção de demandar pela quarta vez. Não atinge o direito do autor, mas este não poderá mais cobrá-lo, consoante parágrafo único, do art. 486, § 3º do NCPC. 486, § 3o Se o autor der causa, por 3 (três) vezes, a sentença fundada em abandono da causa, não poderá propor nova ação contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu direito. 2º bloco: não é apenas a morte do autor que gera a extinção. O que gera a extinção é a morte do autor e a intransmissibilidade do direito (ex: ação com pedido de reintegração ao emprego). 3º bloco: a revogação ocorre por meio do abandono ou da desistência (II). Obs.: Abandono pode se dá por meio do autor (III) ou ainda de ambas as partes (VIII). O NCPC diz que a extinção do processo sem exame do mérito não impede a repropositura da demanda, pois se o mérito não foi julgado, nada impede a repropositura da ação para que ele seja julgado. O NCPC, no entanto, ressalva que nas hipóteses de litispendência, indeferimento da inicial; verificação da ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; verificação da ausência de legitimidade ou de interesse processual; acolhimento da alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência, a propositura da ação depende da correção do vício. Art. 486. O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a que a parte proponha de novo a ação. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 61 OS: 0118/2/19-Gil § 1o No caso de extinção em razão de litispendência e nos casos dos incisos I, IV, VI e VII do art. 485, a propositura da nova ação depende da correção do vício que levou à sentença sem resolução do mérito. § 2o A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado. No mais, repita-se, as ações decorrentes de perempção e coisa julgada, não poderão ser propostas novamente em nenhum caso. Fala-se que o inc. V é uma das hipóteses de extinção por inadmissibilidade (certo que a extinção pode se dá por inadmissibilidade, morte e revogação. Tanto é verdade que, pela morte do autor, não poderá ser reproposta a ação. Ainda, se o juiz extingue a demanda por falta de pressuposto processual, não poderá ser reproposta a ação, salvo se corrigir o defeito que gerou a extinção do processo (poderá voltar a juízo, mas terá de corrigir o defeito; repropositura não haverá; haverá uma propositurade ação com o defeito sanado). Somente se extinto por revogação é que a ação pode ser reproposta. HIPÓTESES DE EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO POR REVOGAÇÃO Desistência da ação pelo autor Desistir da ação é desistir do processo, e não do direito material (renúncia ao direito). Portanto, não se pode confundir desistência do processo com renúncia ao direito. Na desistência o autor desiste do exame do pedido; desiste do processo (gera decisão que não é de mérito). A desistência nada tem a ver com a renúncia do direito discutido. É certo que a renúncia do direito (gera decisão de mérito). OBSERVAÇÕES: Exige-se poder especial para o advogado; este tem que possuir poderes especiais para desistir; não pode ser uma procuração genérica; tem que ser uma procuração específica com o poder de desistir (tem que constar expressamente o poder de desistir). Só produzirá efeitos após homologação judicial. Se o réu já apresentou contestação, a desistência precisa do seu consentimento para que seja homologa (art. 485, p. 4°, do NCPC). NCPC, art. 485, § 4o Oferecida a contestação, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação. Caso tenha decorrido o prazo sem a apresentação da resposta não há motivo para exigir o consentimento do réu. Possível até o proferimento da sentença. O autor não “pede a desistência”, mas sim “desiste”. Solicita ao juiz a homologação de desistência. A Lei 9.469/97, nos termos do art. 3º, diz que quando o ente público federal for réu, só poderá consentir com a desistência do autor; caso o autor, além de desistir, também renunciar o seu direito. Nos processos de controle concentrado de constitucionalidade não se admite desistência. Na ação popular e na ação civil pública a desistência não gera extinção do processo, mas sim sucessão processual. Abandono das partes NCPC, art. 485, II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; O juiz pode ex officio extinguir por abandono das partes, desde que as intime pessoalmente para que, no prazo de 5 dias, coloquem o processo em andamento. A extinção por abandono somente se justifica se o prosseguimento do processo depender de ambas as partes. Abandono pelo autor III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; Também se exige a prévia intimação pessoal do autor para suprir a falta no prazo de 5 (cinco) dias. Quando ocorrer este abandono de causa por três vezes, ocorrerá a perempção. Antes da citação, o juiz poderá extinguir a ação de ofício. Após a citação e com a apresentação de resposta a extinção somente poderá ocorrer a pedido do réu, consoante a Súmula 240 do STJ: STJ, Súmula: 240 A extinção do processo, por abandono da causa pelo autor, depende de requerimento do réu. O STJ aplicou por analogia a regra da desistência. Agora, o NCPC regulamenta tal jurisprudência: § 6o Oferecida a contestação, a extinção do processo por abandono da causa pelo autor depende de requerimento do réu. Só haverá abandono se o autor deixar de praticar um ato que seja tido como indispensável ao prosseguimento do processo (ex: não pagar custas). Assim, caso o autor, por exemplo, não pague os honorários do perito, não poderá a ação ser extinta, devendo o processo seguir sem a perícia. Nas ações coletivas, o abandono do autor coletivo não gera a extinção do processo, mas gera tão-somente a sucessão processual. 2ª . Extinção do processo pela prescrição ou decadência Trata-se de uma extinção COM exame do mérito. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 62 OS: 0118/2/19-Gil 3ª. Extinção do processo em razão da autocomposição Trata-se de uma extinção COM exame do mérito. OBS.: a autocomposição é gênero que engloba: a transação; a renúncia pelo autor; o reconhecimento da procedência do pedido que é feito pelo réu; São três negócios jurídicos que sendo homologados pelo juiz extingue o processo COM exame do mérito. A extinção por autocomposição pode ocorrer em qualquer momento do processo, inexiste restrição temporal. Frisa-se que o advogado deve ter poder especial para praticar tais atos. No plano material, esses negócios jurídicos produzem efeitos jurídicos imediatamente, contudo para extinguirem o processo terão de ser homologados. Contudo, a partir do momento que o acordo for feito, ele já está valendo. Destaca-se que a autocomposição pode abranger matéria que não está sendo discutida no processo. Ex: as partes podem incluir outra dívida que não aquela que está sendo objeto do processo. Não há nenhum problema, na inclusão de questão não discutida em juízo. Contudo, não é todo direito que admite a autocomposição. *** ***Obs.: há direitos que podem ser transigidos, mas não podem ser renunciados, a exemplo dos alimentos, os quais são insuscetíveis de renúncia, mas admitem transação. Também temos como exemplo os direitos coletivos, os quais são insuscetíveis de renúncia, mas admitem transação. Na investigação de paternidade, cabe reconhecimento da procedência de pedido, nada impede que o pai demando assuma que é o pai. Após as providências preliminares, o juiz pode concluir que não há motivo para extinguir o processo e terá de julgar a causa, daí dois caminhos se abrem: poderá julgar a causa imediatamente; ou terá de julgar a causa, mas posteriormente. No caso de julgamento imediato, o juiz julgará o processo com base em provas exclusivamente documentais, porque até então só houve petição inicial e resposta do réu. Caso ele entenda que seja caso de julgamento imediato, a prova é bastante para tanto. Quando isso acontece surge o chamado JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. 4ª hipótese de julgamento conforme o estado do processo – JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO Trata-se de uma técnica para abreviar o procedimento a fim de evitar atos desnecessários, tendo em vista que já há provas suficientes. Tal julgamento é cabível em duas hipóteses (art. 355 do NCPC): quando as questões fáticas possam ser comprovadas por documento; a causa discute fatos que se comprovam. Quando não há necessidade de produção de prova oral; quando a revelia produz confissão ficta, assim, não há mais nada a provar, logo cabe julgamento antecipado do mérito (pedido). Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando: I - não houver necessidade de produção de outras provas; II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349. O julgamento antecipado do pedido pode ser pela procedência ou improcedência, havendo resolução do mérito. Contudo, o juiz não poderá julgar antecipadamente o mérito, concluindo pela improcedência por falta de provas. Pois se faltam provas, por óbvio, não era caso de julgamento antecipado do pedido, deveria ter marcado instrução. O julgamento antecipado sempre trará consigo o risco do cerceamento de defesa, pois o juiz está dispensando provas; deve-se, portanto, fundamentar bem o julgamento antecipado do mérito. 5ª hipótese de julgamento conforme o estado do processo – DO JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: mostrar-se incontroverso ou estiver em condições de imediato julgamento, pois se enquadranas hipótese de julgamento antecipado do pedido. A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida. No caso de decisão ilíquida, a parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa interposto. Se houver trânsito em julgado da decisão, a execução será definitiva. A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 63 OS: 0118/2/19-Gil 6ª hipótese de julgamento conforme o estado do processo – Do Saneamento e da Organização do Processo Não ocorrendo nenhuma das hipóteses anteriores, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo: I - resolver as questões processuais pendentes, se houver; II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos; III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373; IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito; V - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento. Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna estável. As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, delimitação consensual das questões de fato e de direito, a qual, se homologada, vincula as partes e o juiz. Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações. Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum não superior a 15 (quinze) dias para que as partes apresentem rol de testemunhas. As partes devem levar, para a audiência prevista, o respectivo rol de testemunhas. O número de testemunhas arroladas não pode ser superior a 10 (dez), sendo 3 (três), no máximo, para a prova de cada fato. Porém, o juiz poderá limitar o número de testemunhas levando em conta a complexidade da causa e dos fatos individualmente considerados. As pautas deverão ser preparadas com intervalo mínimo de 1 (uma) hora entre as audiências. TEORIA GERAL DA PROVA Conceito de prova O conceito de prova pode ser analisado por três acepções: 1ª. Fonte de prova: tudo aquilo que posso extrair provas. Há três fontes de provas: 1.1. Pessoas. Ex: testemunha. 1.2. Coisas. Ex: documentos. 1.3. Fenômenos. Ex: cheiro. 2ª. Prova é meio de prova: é o modo pelo qual se tira a prova de uma fonte e se coloca no processo. Como se extrai uma prova de uma fonte e se introduz no processo? Por intermédio do meio de prova. É a técnica que permite isso. Nesse sentido, são meios de prova: a perícia, a inspeção, o depoimento, a juntada de documento. FONTE MEIO A testemunha é uma fonte de prova. O testemunho é um meio de prova. No Brasil, consoante o art. 369 do NCPC, vigora o princípio da liberdade dos meios de provas. NCPC, Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz. As provas podem ser produzidas por qualquer meio, mesmo que este não seja típico (não expressamente regulado), os meios de prova podem ser atípicos. Limite das provas: as provas hão de ser lícitas. Os meios de prova devem ser lícitos, pois existe regra constitucional que veda prova ilícita no processo (direito fundamental). Enfim, tal regra limita a liberdade da prova. O que é prova ilícita? É ilícita quando viola um direito. A proibição de prova ilícita compõe o devido processo legal. E este conteúdo do devido processo legal, o qual foi construído no âmbito do processo penal, se estendeu ao processo civil (adapta-se o seguinte: mitiga-se a proibição de prova ilícita em favor do réu; no processo civil: tal mitigação pode ocorrer em favor do réu ou do autor, ocorre sempre a proibição de prova ilícita). 3ª. Prova como convencimento do juiz: a prova aqui é em sentido subjetivo; é a convicção do órgão julgador de que o fato afirmado existiu. Quando se fala que se provou algo, é dizer que convenceu o juiz de que aquilo que foi falado é verdade. É a prova como resultado do convencimento do juiz. FONTE MEIO RESULTADO PROVA E CONTRADITÓRIO O direito à prova é o conteúdo do direito fundamental ao contraditório, tanto que o fundamento legal do direito à prova é a garantia do contraditório. Não há texto expresso quanto ao direito de prova, mas ele decorre do contraditório, ou seja, é conteúdo essencial do direito fundamental ao contraditório. Enfim, decorre do contraditório, mas qual o conteúdo de tal direito fundamental? Esse direito fundamental tem o seguinte conteúdo: o direito de produção de provas; o direito de participação da produção da prova (fiscalizar se a está sendo produzida regularmente; não pode ser sigilosa), o artigo abaixo ratifica isso: DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 64 OS: 0118/2/19-Gil Art. 474. As partes terão ciência da data e do local designados pelo juiz ou indicados pelo perito para ter início a produção da prova. o direito de manifestar-se sobre a prova produzida; o direito de exigir do juiz que se manifeste sobre a prova produzida. O JUIZ E A PROVA Poder instrutório do juiz No processo civil brasileiro, o juiz possui poder instrutório, podendo inclusive determinar a produção de provas ex officio. Esse poder não é complementar ou subsidiário, mas sim, poder paralelo ao das partes (art. 370, do NCPC). Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito. Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias. É irrelevante ao poder instrutório do juiz se o direito é disponível ou não. ATENÇÃO: no processo penal a discussão tem outros fundamentos (lá se discute muito se o juiz pode ou não produzir prova de ofício), contudo, no processo civil deve-se ignorar tal discussão. Prova e verdade Um dos grandes temas do direito probatório é saber se a colheita de provas é um instrumento para que o juiz alcance a verdade. Assim, quando o juiz determina a produção de prova é para que aflore a verdade? Deve-se entender que o processo não é instrumento de revelação da verdade, mas sim um instrumento que permite se alcançar uma decisão justa fundamentada em uma verdade possível, coerente com o desempenho das partes em demonstrar a verdade dos fatos por elas alegados, através do gozo das garantias fundamentais como o contraditório, a ampla defesa e o devido processo legal. Ao longo da história, dividiram a verdade em real e a formal. A formal seria a verdade das partes. Os mais antigos diziam que bastava averdade que as partes construíram (a verdade formal), contudo isso hoje não faz mais sentido, pois o sistema que confere poder instrutório ao juiz é incompatível com a verdade formal. A verdade formal ou processual é tida como aquela produzida pelas partes no processo; já a verdade real, é considerada como a correspondência precisa entre o ocorrido e aquilo que consta nos autos. A verdade real é a correspondência precisa entre aquilo que se diz e o que aconteceu. O processo civil se pauta em qual verdade? A verdade real também não é uma meta no processo, porque a verdade real inexiste. A verdade real é uma ideia; é inalcançável; é impossível saber se a verdade é real ou não, porque o fato está no passado e o passado só nos chega por intermédio de alguém, sempre é preciso que haja alguém que nos fale sobre o passado, assim, a pessoa relata os fatos de acordo com as suas circunstâncias, de acordo com o que elas são. A verdade real não existe, é impossível a reconstrução precisa e exata do passado. “O segredo da Verdade consiste em saber que não existem fatos, mas apenas histórias”. Anônima (alguns dizem que é de Voltaire). Tal frase foi extraída da epígrafe do livro “Viva o povo brasileiro” de João Paulo Ribeiro. Assim, o processo não busca a verdade real, mas sim, A VERDADE POSSÍVEL DE SER PRODUZIDA, a verdade que baste para a produção de uma decisão justa. Sistemas de apreciação da prova Como se controlar o poder de convencimento do juiz a fim de que não se dê margem a arbitrariedades ou abusos do juiz? Para tanto foram desenvolvidos três sistemas de valoração das provas pelo juiz: 1º) Sistema do livre convencimento: avaliação das provas livremente e intimamente, de acordo com o convencimento de cada juiz, sem qualquer tipo de limitação ou fundamentação (sobrevive no tribunal do júri – no processo civil foi abolida a convicção íntima). 2º) Sistema da prova legal: não cabe ao juiz, mas sim ao legislador, valorar a prova previamente (ex.:três testemunhos a favor do autor enseja a procedência do pedido; no caso de testemunhos contraditórios entre um homem e uma mulher, prevalece o do homem; impossibilidade de condenação com base em um único testemunho – “quem tem apenas uma testemunha, não tem testemunha nenhuma”). 3º) Sistema do livre convencimento motivado ou sistema da persuasão racional (art. 371, NCPC): o juiz se submete a limites na valoração da prova. NCPC, Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento. Vejamos quatro limitações: O devido processo legal, pois o juiz deve motivar a decisão; a decisão deve ser de acordo com aquilo que foi construído processualmente nos autos; respeitar o contraditório; e proibição de prova ilícita. Regras de prova legal que ainda sobrevivem no sistema; o sistema ainda possui regras de prova legal que funcionam como forma de limite à valoração pelo juiz, como o contrato por valor acima de 10 salários mínimos não poderá ser provado apenas por prova testemunhal (art. 227, do CC): DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 65 OS: 0118/2/19-Gil CC, Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito. É a racionalidade. O juiz deve se limitar aos argumentos racionais, não podendo se decidir por critérios/fundamentos de fé, crença religiosa (ex.: cartas psicografadas); de algo que não se possa ser objeto do contraditório. Assim, prova de fé é ilícita, porque insuscetível de contraditório. Por essa razão o sistema também é conhecido como sistema da persuasão racional. Exemplos: Juiz que consulta Nossa Senhora; Provas espíritas (carta psicografada); e Juiz que consultava duendes é afastado nas Filipinas Um juiz filipino que dizia tomar decisões com a ajuda de duendes foi definitivamente afastado da magistratura pela Suprema Corte do país, informou o jornal Philippine Daily Inquirer. "Terminou sem final feliz o conto do juiz e os três duendes", brincou o jornal. Florentino Floro, 53 anos, havia sido afastado em março depois de revelar ter feito um pacto com três duendes - Armand, Luis e Angel - para ver o futuro. Ele acrescentou que escrevia em transe e que havia sido visto por várias pessoas em dois lugares distintos ao mesmo tempo. Matérias na imprensa filipina afirmaram que toda sexta- feira o juiz trocava a beca azul por negra, para "recarregar os poderes psíquicos". Mas os argumentos não comoveram a Suprema Corte, para quem tais poderes "não têm lugar" no Judiciário. "Fenômenos psíquicos, mesmo assumindo que existam, não têm lugar na determinação do Judiciário de aplicar apenas a lei positivista e, na sua ausência, regras e princípios igualitários para resolver controvérsias", diz a sentença. As regras da experiência ou máxima da experiência: a argumentação racional é limitada pela regra da experiência. O juiz não pode, ao valorar as provas, contrariar as regras da experiência. Ele não pode dizer que não aceita as leis da gravidade, por exemplo. Além de limitar o livre convencimento motivado do juiz, há mais três funções das regras da experiência: 1. Auxiliar o juiz na valoração das provas; 2. Ajudar o juiz a aplicar conceitos indeterminados. Ex.: preço vil; e 3. Serve também como premissa maior para as presunções judiciais. Por que o juiz quando vê a testemunha gaguejando, suando e se contradizendo não valora positivamente o que ela diz? A gagueira, a contradição etc., podem indicar que a testemunha está mentindo. As regras da experiência auxiliam o juiz a presumir, a fazer presunções. Presunção significa ter por ocorrido um determinado fato. Essa conclusão de que o fato ocorreu é uma decisão que se toma a partir de duas premissas: 1. Premissa maior que é a regra da experiência; e 2. Premissa menor que são os indícios. A presunção é o resultado desse raciocínio. O que é um indício? Indício é um fato que, uma vez provado, leva a presunção da ocorrência de outro fato com ele relacionado. O indício indica, ele aponta o outro fato. Não existe decisão judicial em que não haja presunção. Sempre haverá presunção. O juiz vai examinar as provas e vê um testemunho de alguém que é ligado a pessoa – ele presume que ela é parcial. A presunção não é um meio de prova. A presunção é a conclusão de um raciocínio, é o próprio convencimento do juiz. É equivocado dizer: tal fato se prova por presunção. Meio de prova é o indício que leva a prova do outro fato. A presunção não é meio de prova. A prova por indício é indireta ou indiciária. Indireta exatamente por isso. Não se produz a prova do fato que se quer provar. Ex: quer provar o sono, e faz prova do bocejo. O indício é um meio de prova, mas é também objeto de prova. Isso porque ele é um fato e como fato que é, precisa ser provado. O juiz só pode fazer uma presunção judicial se houver prova do indício. O indício é um fato conhecido (bocejo) que leva a prova de um fato desconhecido que não conseguiu obter prova dele (sono). A presunção judicial que é a que o juiz faz ao julgar, decorre do exame que o magistrado faz das provas. OBJETO DA PROVA O que é que se busca provar em juízo? A prova recai sobre o quê? A prova recai sobre fatos; os fatos afirmados pelas partes. São as afirmações que as partes fazem sobre os fatos. O objeto da prova não são apenas os fatos jurídicos. Prova-se: o fato jurídico e fato simples. Ex: de fato simples = o tipo de náilon da rede de proteção; a cor da camisa. Para um fato ser objeto de prova ele tem que ter três características: 1. Tem que ser um fato controvertido. Se for incontroverso não pode ser objeto de prova; 2. Tem que ser um fato relevante para a causa. Não pode parar o processo para discutir um fato que não tem nenhuma relevância para a causa; e DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 66 OS: 0118/2/19-Gil 3. Tem que ser determinado. Ou seja, delimitado no tempo e no espaço. Essas são as características do fato probandum. É possível ser objeto de prova o fato negativo? Fato negativo é o não fato, é a não ocorrência. Claro. Tanto fato negativo é objeto de prova que certidão negativa é meio de prova. Mas tem que se provar um fato determinado. Tem como provar que não deu aula no domingo, mas não tem como provar que nunca deu aula aos domingos. Não tem como provar que nunca foi à Holanda, mas tem como provar que não estava lá na semana passada. Pode acontecer de a prova do fato ser impossível ou muito onerosa. Quando a prova do fato é impossível de ser produzida ou muito onerosa fala-se que há PROVA DIABÓLICA. Ex: a CF diz que é possível haver usucapião especial em alguns casos. Só que nesses casos o sujeito só pode usucapir se não tiver outro imóvel. Como se prova que não tem outro imóvel no planeta? É nitidamente uma prova impossível, diabólica. Pode provar que não tem imóvel num estado, mas não no mundo todo. Tem que se provar a existência do Direito, a existência de uma lei? O Direito objeto de prova é o Direito municipal, estadual, estrangeiro e costumeiro (ou consuetudinário). Se o direito é federal não precisa provar. Se o direito não for federal o juiz pode mandar que se prove o teor e a vigência desse direito. NCPC, Art. 376. A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar. Os fatos que dispensam prova estão no art. 374 do NCPC: Art. 374. Não dependem de prova os fatos: I - notórios; II - afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária; III - admitidos no processo como incontroversos; IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade. Fato notório não pode ser objeto de prova. Não tem sentido a produção dessa prova. O problema é que fato notório é relativo territorialmente e temporalmente. É notório no tempo e no espaço. Há uma relatividade do fato notório historicamente. Há uma tendência grande em se confundir fato notório com regra ou máxima da experiência. Regra da experiência é um juízo abstrato que se faz a partir da observação daquilo que normalmente acontece de onde se extrai uma regra da experiência. Imagine que se deixe um pincel cair no chão. Todos poderão imaginar isso antes que se largue o pincel. Isso porque se sabe que toda massa menor que a Terra é atraído por seu centro. Não tem fato nenhum aqui. A gravidade é regra da experiência e não fato notório. Água parada serve para o mosquito procriar. Essa observação adveio da experiência. Não confundir regra da experiência com fato notório!!! As regras da experiência, obviamente, não podem ser objeto de prova. Qual é a diferença do inciso II e III (confissão e admissão)? Admissão é a não contestação. Quando não se impugna. Quem cala, admite. A confissão é expressa; a admissão é tácita. A confissão exige poder especial do advogado; a admissão, não. A confissão é ato jurídico em sentido estrito; a admissão é ato fato. A confissão pode ser apenas judicial; a admissão pode ser extrajudicial. O ponto em comum é que fato confessado e o fato admitido dispensam prova. Admissão Confissão Tácita Expressa Não exige poder especial do advogado Exige poder especial do advogado Ato fato Ato jurídico em sentido estrito Pode ser extrajudicial e judicial Pode ser apenas judicial Ambas dispensam prova Não dependem de prova, ainda: IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade. O que é presunção legal? Não confundir presunção judicial com presunção legal. Presunção legal é outra coisa. Presunção legal é uma regra jurídica que torna determinado fato como fato existente/ocorrido. É uma lei que determina que aquele fato se repute como existente. A lei toma o fato por ocorrido e se isso acontece, cabe ao juiz aplicar a lei. Quando o juiz aplica uma presunção legal, ele está aplicando a lei. Não é fruto de valoração das provas. A presunção legal se divide em: 1. Absoluta ou iure et de iure; e 2. Relativa ou iuris tantum. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 67 OS: 0118/2/19-Gil Na presunção legal absoluta, a lei torna irrelevante a discussão sobre a existência daquele fato presumido. O legislador considera irrelevante discutir se o fato presumido ocorreu ou não. É aquele que não admite prova em sentido contrário. Ex.: cônjuge autoriza o outro para contrair dívidas para fazer face às economias domésticas. A lei presume isso. Se for para as economias domésticas é presumida a autorização. Responde solidariamente sem discussão – art. 1.643 do CC. Casou porque quis. Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro: I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica; II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir. Ex.: aquele sujeito que compra imóvel em cuja matrícula está averbada uma penhora presume-se conhecedor da penhora. Ele não pode dizer que não sabia que o bem estava penhorado. É presunção absoluta de que ele sabe - art. 844 do NCPC. NCPC, Art. 844. Para presunção absoluta de conhecimento por terceiros, cabe ao exequente providenciar a averbação do arresto ou da penhora no registro competente, mediante apresentação de cópia do auto ou do termo, independentemente de mandado judicial. Na presunção relativa o legislador toma o fato por ocorrido, mas admite prova em sentido contrário. Por isso que é uma presunção relativa. Se a outra parte quiser provar que o fato não aconteceu isso é possível. Ex1.: a recusa ao exame de DNA gera presunção relativa de paternidade. Ex2.: presunção relativa de veracidade da declaração de pobreza. Quem se declara pobre e, portanto, não pode pagar as custas do processo, há uma declaração relativa dessa declaração. Ex3.: presunção que decorre do registro imobiliário é relativa. O nome do sujeito que está no registro é o proprietário do imóvel, até que se prove o contrário. Essa divisão em absoluta e relativa é própria das presunções legais. Não das presunções judiciais. Qual diferença entre presunção e ficção legal? Na ficção legal o legislador cria um fato como ocorrido, sabendo que ele não ocorreu. Na presunção, o fato pode ou não ter ocorrido. ÔNUS DA PROVA O que é ônus daprova? As regras sobre ônus da prova estabelecem a responsabilidade pela falta de prova de determinado fato, ou seja, quem tem o ônus da prova arcará com as consequências se a prova não for produzida. O ônus da prova não vai dizer quem vai produzir a prova. Qualquer um pode produzir a prova, até o juiz. As regras vão dizer quem vai arcar, se as provas não são produzidas. O autor pode não fazer nada, mas se surge a prova do que ele afirma, ele se desonera. As regras sobre ônus da prova são regras de julgamento. O que significa isso? São regras que só serão aplicadas no momento em que o juiz sentenciar. Não são regras de processo. São regras de julgamento, que auxiliam o magistrado a decidir. As regras sobre ônus da prova são regras de aplicação subsidiária. O que significa isso? Só devem ser aplicadas pelo juiz na falta de prova e se não for possível produzir novas provas. O juiz vai julgar e percebe que não houve prova dos fatos. Se ele percebe que se for possível produzir provas, ele manda instruir. Se ele percebe que não tem prova e não há mais como produzir a prova, então ele terá que julgar pelo ônus da prova. Só não sendo possível produzir provas que o juiz irá julgar com as regras do ônus da prova. Como compatibilizar um sistema que dá poder instrutório ao juiz e permite julgamento pelo ônus da prova? Isso parece um pouco incompatível. Regra de ônus da prova dá ao juiz uma tranquilidade de saber que se não existem provas ele pode julgar utilizando tais regras. Mas o poder instrutório dá poderes para ele produzir provas. Só pode julgar pelo ônus da prova se não for possível produzir provas. Se há como produzir provas, essas devem ser produzidas com base no poder instrutório. Para que haja convenção sobre ônus da prova não pode versar sobre direitos indisponíveis, nem se tornar excessivamente oneroso a uma das partes. Qual é a regra de ônus da prova do nosso código? Art. 373. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. § 1o Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. § 2o A decisão prevista no § 1o deste artigo não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil. § 3o A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por convenção das partes, salvo quando: I - recair sobre direito indisponível da parte; II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito. § 4o A convenção de que trata o § 3o pode ser celebrada antes ou durante o processo. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 68 OS: 0118/2/19-Gil Regra: quem alega o fato tem o ônus da prova desse fato. Essa regra é fixa e definida a priori. O legislador a priori diz que quem tem o ônus da prova é quem alega. Ela é uma regra também inflexível e estática. A doutrina desenvolveu a teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova ou carga probatória dinâmica. De acordo com essa teoria, o ônus da prova deve recair sobre quem possa no caso concreto se desincumbir dele. Ou seja, o ônus da prova tem que ser distribuído a posteriori, caso a caso, de acordo com as peculiaridades do caso concreto. É uma distribuição dinâmica, flexível, atenta ao caso concreto. Essa teoria, que tem origem argentina, repercutiu muito no Brasil. É um dos assuntos da moda. Existem diversas decisões no STJ aplicando essa teoria. É a teoria atualmente adotada no NCPC. Como se aplica a distribuição dinâmica do ônus da prova? Entende-se que essa teoria é a concretização de dois direitos fundamentais: 1. Direito fundamental a igualdade; e 2. Direito fundamental a adequação – o processo adequado as peculiaridades do caso. Na distribuição dinâmica, se o juiz redistribui, ele dá a outra parte o ônus de provar que o fato não aconteceu. Ele não produz prova contra ele, mas a favor dele. Essa teoria inspirou o CDC, mas ele não a adotou. O art. 6º, VIII do CDC permite que o juiz redistribua o ônus da prova nas causas de consumo, caso a caso. Art. 6º São direitos básicos do consumidor: ... VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; Mas isso sempre a favor do consumidor, se ele for hipossuficiente ou se for verossímil as suas alegações. O juiz está autorizado a redistribuir quando perceber que o ônus está pesado para o consumidor. O que se permite é uma redistribuição a favor do consumidor que será sempre no caso concreto. Apenas no caso a caso é que o juiz redistribuirá o ônus. A inversão do ônus pode se dar ex officio. Não se pode inverter em outros casos. É aplicação da distribuição dinâmica? Não. Na distribuição dinâmica prova quem puder provar, e não apenas a favor do consumidor. Qual é o momento para redistribuir o ônus da prova? Deve ser feita sempre antes da sentença. As regras sobre ônus da prova se aplicam no momento da decisão. O juiz ao decidir aplica as regras. Não confundir com o momento de aplicação das regras de inversão. A inversão do ônus tem que se dar durante o processo e não na hora da decisão. Ocorre durante o processo para permitir que a parte que agora recebeu um ônus que não tinha, possa se desvencilhar dele. Há quem entenda que o juiz pode inverter o ônus da prova na sentença. O art. 38 do CDC diz que há uma inversão legal do ônus da prova, enquanto a do art. 6º seria uma inversão judicial do ônus da prova e a do art. 38 seria uma inversão legal. Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina. Se o consumidor alega que a publicidade é enganosa, cabe ao fornecedor provar que ela não é enganosa. Não há inversão aí. Há apenas uma presunção legal relativa de veracidade do que o consumidor disser. Presume-se que a afirmação é verdadeira. Outra regra estática do ônus. TEORIA DA DECISÃO JUDICIAL CONCEITO DE SENTENÇA: sentença é uma palavra que tem uma acepção ampla. Ou seja, sentença pode ser utilizada como sinônimo de decisão judicial num sentido amplo. Neste sentido ela é gênero. Ex.: na CF a palavra sentença só aparece em sentido amplo – ao tratar das decisões do STF fala em sentença quando, na verdade, seriam acórdãos. Sentença no programa de um concurso é em sentido amplo. O que é sentença? 1ª C – decisão de um juiz que encerra uma fase do procedimento (Fredie Didier). Para esta corrente decisão que o juiz toma e que não encerra uma fase do processo é decisão interlocutória. Esta corrente é a majoritária. 2ª C – para esta corrente, sentença é a decisão do juiz que tenha qualquer dos conteúdos do art. 485 ou 487, NCPC. Se o juiz decide com base em um destes artigos é sentença. É irrelevante se encerra ou não o procedimento para ser caracterizada como sentença. O relevante é saber o conteúdo dela, mesmo que não encerre. Ex.: decisão do juiz queexclui um litisconsorte do processo: para a 1ª C, decisão interlocutória; para a 2ª, sentença, porque decide com base no art. 485. Outro exemplo: as decisões parciais de mérito são decisões interlocutórias para a corrente adotada pelo professor Fredie Didier e sentença para a 2ª corrente. O NCPC parece ter adotado uma corrente mista, unindo as duas correntes acima. Se não, vejamos: 1o Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. Existe uma acepção restrita de sentença que é a sentença como norma. É a mais preocupante! DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 69 OS: 0118/2/19-Gil Em toda sentença o juiz analisa questões incidentes na fundamentação e a questão principal, (que é o pedido) no dispositivo. Quando o juiz decide uma questão principal (no pedido), o juiz estabelece a norma jurídica individualizada, ou seja, a norma no caso concreto. Ex.: João deve a José. A norma jurídica individualizada se submete a coisa julgada que é a indiscutibilidade da norma jurídica individualizada. Na fundamentação estão as questões incidentes, o juiz terá que identificar a norma jurídica geral do caso concreto. A norma geral é: aquele que toma dinheiro emprestado de outrem tem que devolver. Norma individual: João deve a José. Em toda decisão judicial tem que encontrar no mínimo duas normas: 1º) a norma individual do caso concreto; e 2º) a norma geral do caso concreto. A norma geral do caso concreto, exatamente por ser geral, pode ser aplicada em outras situações semelhantes. A norma jurídica geral do caso concreto (ratio decidendi) que está na fundamentação e da qual se extrai a solução do caso concreto possui a denominação de PRECEDENTE. Ele sempre está na fundamentação do julgado. Quando você cita uma decisão do STJ você terá que demonstrar que a fundamentação da decisão do STJ se aplica ao seu caso concreto. Características do precedente: 1. Norma criada pela jurisdição; 2. Norma criada a partir de um caso concreto; 3. É uma norma geral. Assim, pode ser aplicada em casos futuros. O precedente não fica indiscutível pela coisa julgada, ou seja, a coisa julgada não recai sobre um precedente. Sobre o precedente recaem outros efeitos: Efeito persuasivo, ou seja, serve para argumentar, é um argumento a favor de quem menciona. Todo precedente serve como argumento e será mais forte ou mais fraco a depender da origem do precedente. Vara longínqua x STF. Este é o efeito mínimo do precedente; Se um precedente for reiteradamente aplicado pelo Tribunal transforma-se em jurisprudência (que é a reiteração na aplicação de um precedente). Quando a jurisprudência é dominante, ou seja, prevalece no tribunal, ela pode gerar uma súmula. Súmula é o texto da norma jurídica geral construída a partir de um caso concreto e que vem sendo reiteradamente aplicada. Qual é a relação entre precedente e súmula? A súmula é o texto normativo do precedente e para o precedente virar súmula tem que formar uma jurisprudência dominante. Súmula é norma geral a partir de uma interpretação de um caso concreto entre João e José. O precedente pode ter efeito impeditivo de recurso. Há precedente que se forem seguidos, impedem recurso da decisão. Ex.: súmula de Tribunal Superior, se seguida, ela impede recurso para discutir o tema debatido. Há precedente que tem que ser seguido. O efeito dele é vincular as pessoas que tem que observá-lo. É o caso da Súmula Vinculante. Tem que ser necessariamente observada. É o efeito maior que o precedente pode ter. O efeito do precedente é extensível para todos! Um processo do qual eu não fiz parte pode repercutir na minha vida. Coisa julgada pode-se desfazer por meio da rescisória. Agora como o precedente pode ser superado/revisto? Nenhum sistema é inflexível aos precedentes. Eles podem ser superados. Os mecanismos de superação dos precedentes são rigorosos. Se existe um precedente que vincula, as pessoas confiam nisso e passam a agir de acordo com o precedente. Para justificar uma mudança é preciso de uma carga de motivação, de argumentação grande. Esse mecanismo de superação do precedente chama-se overruling. O overruling se divide em duas espécies: 1. Overruling prospectivo; 2. Overruling retrospectivo. O prospectivo é a superação do precedente dali para frente. As novas situações serão regidas de acordo com o novo precedente. Não atinge as situações anteriores, como forma de proteger a confiança. Essa é a regra. Se o precedente é recente, ainda não esta consolidado, é possível falar em overruling retrospectivo, ou seja, uma superação que produzem efeitos retroativos. Ele só se justifica se o precedente a ser superado for recente. Mudança de jurisprudência e segurança jurídica: como equacionar a possibilidade de mudança de jurisprudência com a segurança jurídica? A forma é o overruling prospectivo, ou seja, superação do precedente dali pra frente, sendo que o novo precedente não atinge situações anteriores. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 70 OS: 0118/2/19-Gil Signaling: às vezes os Tribunais não fazem o overruling, mas apontam signaling, ou seja, dá sinais de que a jurisprudência será alterada ou seguirá uma determinada orientação. É uma dica de que os tribunais mudaram seu entendimento. Ex.: propuseram uma ADI para discutir casamento homoafetivo. Celso de Melo indeferiu essa ADI, mas disse que achava que cabia ADPF. No outro dia entraram com a ADPF. Continuação da teoria da decisão: DISTINGUISHING: é um método de comparação ou confronto entre o caso e o precedente. A aplicação do precedente é imprescindível para o distinguishing, ainda que o mesmo seja vinculante. Esse cotejo, essa comparação, que gerou o precedente é fazer o distinguishing. Verificar se há ou não peculiaridade que impede ou permite a aplicação do precedente. O distinguishing é absolutamente indispensável na aplicação dos precedentes. Não há como aplicar o precedente sem fazer o distinguishing. O que demonstra que a interpretação de um precedente é indispensável. A aplicação do precedente não é automática é necessário interpretá-la. RATIO DECIDENDI: é a norma geral, o caso concreto que sustenta a decisão judicial. Essa é a razão de decidir. Na fundamentação o Magistrado fixará a norma jurídica geral do caso concreto, denominada de “ratio decidendi” (norma geral encontrada na fundamentação que sustenta a decisão, o dispositivo da sentença). A aplicação reiterada da ratio decidendi forma jurisprudência, podendo mesmo ser sumulada quando a incidência da questão for frequente. Dessa forma, a ratio decidente é o precedente judicial. Sempre que se fala em jurisprudência dominante, súmula, precedente, refere-se à ratio decidendi da decisão, ou seja, àquilo que sustenta a norma individualizada. Sobre o precedente não recai coisa julgada, tendo em vista tratar- se de norma geral, recai sim outro tipo de força denominada força normativa do precedente. OBTER DICTUM (DICTA no plural): tudo o que estiver na fundamentação e que dela puderser retirado sem inviabilizar o dispositivo. São os comentários ou apreciações laterais que aparecem na fundamentação cuja ausência não acarreta qualquer prejuízo à decisão. É tudo aquilo que está na fundamentação e que não é ratio decidendi. O obter dictum não é precedente. Embora, não sirva para aquele caso pode apontar para uma decisão futura do tribunal. O obter dictum pode ajudar na elaboração de um recurso. Exemplo de obter dictum é o voto vencido (o qual não sustenta a decisão, mas obviamente tem a sua utilidade). O obter dictum não é o precedente. Nenhum dos efeitos do precedente se aplica. Não pode haver súmula advinda de obter dictum, por exemplo. O obter dictum é algo dito de passagem. Como se contava o prazo do art. 475-J do CPC/73? Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação. Em 2007, o STJ deu uma sentença dizendo que o prazo contava-se do trânsito em julgado. Ademais, disse que a não cientificação do prazo à parte seria caso de multa a cargo do advogado (isso é um obter dictum; o mérito era acerca da contagem do prazo). OBS.: O STJ JÁ MUDOU SEU POSICIONAMENTO ACERCA DA CONTAGEM DO PRAZO E O NCPC ADOTOU OUTRA CORRENTE. ELEMENTOS DA SENTENÇA Regulamentação legal atual: Art. 489. São elementos essenciais da sentença: I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem. 1. RELATÓRIO: o relatório é a parte descritiva da sentença; nele há a história relevante do processo; a suma dos pedidos; a suma dos incidentes processuais. É a descrição daquilo que de importante ocorreu no processo, isto é, o resumo do pedido, da defesa, a notícia dos principais incidentes do processo. No Juizado Especial, o relatório é dispensável, sendo que nos demais procedimentos, apesar de sua imprescindibilidade ser prevista no NCPC, sua ausência não tem gerado a invalidação da sentença. 2. FUNDAMENTAÇÃO: seu objeto são as questões incidentes, devendo constar na fundamentação todas as questões relevantes para a solução do litígio. É uma imposição constitucional (art. 93, IX, CF). É uma consequência da publicidade, bem como do contraditório. Contudo, mesmo que se não houvesse texto expresso, a fundamentação seria consequência da publicidade e do contraditório. Sem fundamentação? Decisão NULA. No direito italiano, decisão sem fundamentação é decisão inexistente, porém não é a tese que vinga no Brasil. No Brasil é decisão que existe, mas é viciada. Na fundamentação é que está a racio decidente; é o precedente que produz uma séria de efeitos (já DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 71 OS: 0118/2/19-Gil examinados). OBS.: a coisa julgada não recai sobre a fundamentação. Há duas funções a motivação, a saber: 1. Endoprocessual: serve para que as partes possam elaborar seus recursos e para que o tribunal possa manter ou reformar a decisão; e 2. Extraprocessual: serve para dar publicidade ao exercício da função jurisdicional e para permitir o controle político das decisões. O CPC/2015 regulamenta o quê se deve entender por uma decisão não fundamentada: § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. 3. DISPOSITIVO: é a conclusão da decisão; é a norma jurídica individualizada; que pode torna-se indiscutível pela coisa julgada material. Caso não haja dispositivo? Aí sim podemos falar que inexiste decisão. Contudo, pode acontecer de o dispositivo de uma sentença conter várias decisões; quando isso acontece temos o seguinte: embora formalmente seja única a sentença é constituída por várias decisões (substancialmente). Formalmente vejo uma decisão, mas na verdade há mais de uma decisão, há mais de uma sentença. E quando isso ocorre, fala-se que ela é um sentença OBJETIVAMENTE COMPLEXA. Embora uma só, contém várias decisões. Cada uma dessas decisões contidas em uma sentença se chama CAPÍTULO DE SENTENÇA, configurando, assim, o que se denomina unidade decisória da sentença. Em suma, para cada pedido deve-se abrir um parágrafo na sentença. É mais técnico e mais seguro. Diante disso, conclui-se que deve fazer uma fundamentação para cada capítulo. Muitas vezes o fundamento de um capítulo é comum ao de outro; aí não é necessário reproduzir. Assim, sugere-se que a fundamentação seja dividida em capítulos. Embora, ninguém faça isso na prática, deveria haver, por exemplo, uma fundamentação para a fixação dos honorários. Quando a fundamentação for idêntica dizer “remeto a fundamentação do pedido x, y, z”. REQUISITOS OU ATRIBUTOS DA SENTENÇA Os requisitos são atributos que uma sentença deve ter para ser válida. Todos os requisitos da sentença se resumem em uma palavra, que é a congruência (perfeição da sentença). A congruência da sentença pode ser interna ou externa. CONGRUÊNCIA EXTERNA DA SENTENÇA: sentença congruente é aquela que se encontra em conformidade com o que foi pedido pelas partes. São vícios de congruência externa da sentença: a) citra petita (esquecer); b) ultra petita (exagerar); e c) extra petita (inventar). Sentença ultra petita: a sentença ultra petita é aquela em que o juiz ultrapassa o que se pede (ex: parte pede R$ 110 e ele dá R$ 150). Neste caso, a sentença só é nula em relação ao excesso (ex: nula em relação aos RS 40). Sentença extra petita: a sentença extra petita é aquele em que o juiz dá o que não se pediu, inventando um pedido (ex: parte pede a anulação do contrato e o juiz dá uma resolução ao contrato). Sentença citra petita: a sentença pode se omitir em relação: a) a fundamentação; b) ao dispositivo. Enfim, pode ser de dois tipos, vejamos: Em relação à FUNDAMENTAÇÃO RELEVANTE da decisão, o juiz deixa de examinar uma questão incidente relevante, que poderia levá-lo a outra decisão. Neste caso a sentença é nula por vício de motivação. O juiz não é obrigado a analisar todos os fundamentos da parte, salvo se for negar o pedido (violação ao contraditório). Em relação ao DISPOSITIVO da decisão, o juiz deixa de examinar um pedido (questão principal). Em relação aeste pedido não examinado, a sentença é inexistente (não havendo decisão). Não existindo decisão, não há que se falar em coisa julgada, podendo ser repetido o pedido em outro processo. Porém, se foi examinado com motivação nula, haverá uma sentença ou decisão nula. Aqui decisão não há, logo, não há que se falar em coisa julgada. Como falar em coisa de julgada de coisa que não foi julgada? Então, o que fazer? Renova-se o pedido. O processo acabou? Não. Renova-se o pedido. O ideal é que em embargos de declaração o juiz já se manifeste e resolva o problema. Caso contrário, renova-se o pedido. Não há preclusão. Não confundir a omissão em relação a uma decisão com a omissão em relação a um pedido, tendo em vista que os efeitos são muito distintos. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 72 OS: 0118/2/19-Gil CONGRUÊNCIA INTERNA DA SENTENÇA: a congruência interna significa que a sentença deve ser: certa, clara, coerente e líquida. Certa: significa que a sentença não pode trazer dúvidas (ex: somente poderá se condenar alguém se houver prova do dano. Pode não saber o tamanho do dano, porém, deverá saber se houve ou não o dano). Clara/inteligível/clareza: significa dizer que a sentença deve ser inteligível, bem escrita (compreendida); não basta ter uma linguagem escorreita. É preciso, por exemplo, que a sentença não esteja borrada, amassada. Caso seja uma sentença manuscrita que seja com letra legível. Outro caso: caso cite língua estrangeira traduza também. Enfim, para o homem comum entender. A clareza é inclusive uma imposição do Princípio da Cooperação. Coerência/Coerente: significa não haver contradições ou proposições contraditórias, cabendo embargos de declaração contra sentença incoerente. Líquida: é aquele que define de forma completa os elementos da norma jurídica individualizada. A sentença é líquida se ela responde a cinco perguntas, quais sejam: 1. A dívida existe? 2. Quem deve? 3. A quem se deve? 4. O que se deve? 5. Quanto se deve? Portanto, nem toda iliquidez se resume ao quantum da sentença. Há situações em que se permite uma decisão ilíquida, quando o pedido do autor é ilíquido. Exemplo: no caso de um pedido genérico (art. 324, § 1º do NCPC) admite-se sentença ilíquida. Tal iliquidez é em relação ao quantum. Transfere- se a definição do quantum para outro momento. Liquidar a sentença? Completar a norma individualizada. Isso é a liquidação da sentença. Essa iliquidez mencionada é a iliquidez básica. Há, porém casos de iliquidez maior (mais ampla). Exemplo: sentença em ação coletiva. A sentença em ação coletiva condena o réu a ressarcir “as vítimas”. Quem são as vítimas? Quem são os credores? Você não sabe. A liquidação dessa sentença coletiva haverá necessidade de abranger não só o quantum se deve, mas também a quem se deve. OBS1.: se o pedido for líquido a sentença tem de ser líquida. O autor e somente ele poderá impugnar no caso de o juiz ter proferido uma sentença ilíquida. Pois isso é algo que só interesse a ele (ele fez pedido líquido só cabe ele pedir sentença liquida), consoante a súmula abaixo: Súmula 318 do STJ. Formulado pedido certo e determinado, somente o autor tem interesse recursal em arguir o vício da sentença ilíquida. OBS2.: nos juizados especiais, a sentença sempre tem de ser líquida, sem qualquer exceção. Por fim, ressalta- se que mesmo que o legislador venha estabelecer outros casos que sentença ilíquida, deve-se sempre responder a questão “a dívida existe?”, caso contrário seria uma sentença incerta. DECISÃO VS FATOS SUPERVENIENTES Ao julgar a demanda, poderá o juiz levar em consideração os fatos ocorridos após sua propositura, ou deverá julgar de acordo com a realidade da época da propositura? O juiz deve proferir uma sentença justa, no dia em que decidir, conforme o contexto do dia em que for proferida, isto é, todos os fatos que acontecerem após a propositura da ação e que tenham relevância para o julgamento da causa devem ser levados em consideração. Assim, a sentença deve ser justa quando proferida, logo, levará em conta os fatos supervenientes. Todo fato superveniente à propositura da demanda, relevante para o julgamento da causa deve ser levado em consideração pelo juiz até mesmo ex officio (art. 493, do NCPC). Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão. Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir. Exemplo: se foi paga a dívida discutida. OBS.: é possível tanto que o interesse de agir passe a existir quanto a inexistir no curso do processo. SENTENÇA DETERMINATIVA Aparece na doutrina basicamente em dois sentidos, sendo certo que o mais apropriado é o que entende como sentenças em que há maior discricionariedade judicial (o poder criativo do juiz se revela mais amplamente, como no caso das sentenças em que o juiz aplica o princípio da boa-fé, pois a lei não determina os requisitos da boa-fé, por exemplo). Enfim, sentença em que o juiz exerce um poder criativo. Existe certa discricionariedade. Cria uma solução não predeterminada pelo legislador. Exemplo: sentenças que aplicam uma cláusula geral. Em outro sentido, defende ser sentença determinativa aquela em que o juiz decide relações continuativas, que se prolongam no tempo (ex.: sentença em ações de alimentos ou guarda de filhos menores). DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 73 OS: 0118/2/19-Gil EFEITOS DA SENTENÇA Há quatro efeitos advindos das sentenças. 1. Efeitos principais: são aqueles que decorrem diretamente do conteúdo da sentença para atingir a relação jurídica controvertida. O efeito principal decorre da norma individualizada criada pelo juiz. Portanto, decorre da vontade do juiz. É aquilo que o juiz determinou. Este é o efeito principal da sentença. Mas não basta isso, é preciso que atinja a relação discutida. Isso sim é o efeito principal. Sentenças Condenatória Constitutiva Declaratória Efeito principal Permitir a execução da prestação devida. A criação da situação jurídica nova tendo em vista a efetivação de um direito potestativo. Ou ainda a mudança de uma situação jurídica ou a extinção de uma situação jurídica. A certeza acerca da existência ou não da relação jurídica. 2. Efeitos reflexos: são aqueles que decorrem do conteúdo da sentença para atingir relação jurídica conexa àquela discutida. É a possibilidade de efeito reflexo que autoriza a assistência simples, isto é, admite-se a assistência simples, quando a sentença puder ter esse efeito reflexo. Assim, se o efeito principal atinge terceiro, autoriza-se a assistência litisconsorcial. Ex1: o despejo do locatário atinge reflexamente o sublocatário. A repercussão do despejo no sublocatário é um efeito reflexo da sentença. 3. Efeitos anexos: são efeitos do fato-sentença. Aqui a sentença é vista como um fato, e não como um ato. São os efeitos automáticos da sentença, decorrendoda lei, independentemente do conteúdo da decisão; independem de manifestação judicial. O juiz não decide acerca dos efeitos anexos, que tampouco são requeridos pelas partes (independe do pedido da parte). A lei nesse caso trata a sentença como um FATO e não como um ATO. Ex1: a terceira sentença por abandono gera por efeito anexo a perempção. Ex2: a sentença que condena o réu a pagar quantia ou entregar coisa é apta a servir como título de uma hipoteca imóvel do réu. É uma hipoteca judiciária e não contratual, cujo título é uma sentença. O juiz não tem que autorizar uma hipoteca judiciária. Nem a parte tem que pedir tal hipoteca. É um efeito anexo tal hipoteca. Independe de pedido (não precisa ter perigo etc.). Cita-se o artigo abaixo: Art. 495. A decisão que condenar o réu ao pagamento de prestação consistente em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação de fazer, de não fazer ou de dar coisa em prestação pecuniária valerão como título constitutivo de hipoteca judiciária. § 1o A decisão produz a hipoteca judiciária: I - embora a condenação seja genérica; II - ainda que o credor possa promover o cumprimento provisório da sentença ou esteja pendente arresto sobre bem do devedor; III - mesmo que impugnada por recurso dotado de efeito suspensivo. 4. Efeitos probatórios: a sentença é um documento público, logo, prova fatos, como por exemplo, sua própria existência ou a ocorrência de fatos nela descritos. Ex: a sentença faz prova dela própria. Ex2: a sentença prova tudo aquilo que o juiz diz que presenciou (ex: se o juiz falar que colheu o testemunho do João no dia 10 de março a sentença é prova de que João foi testemunha naquele dia, naquela hora). OBS.: a sentença não prova o fato que o juiz reputou provado. Isto é, em outro processo, outro juiz poderá ter outra impressão daquele fato. Então, a sentença prova o quê? A sentença prova que o juiz reputou que aquele fato aconteceu. COISA JULGADA Conceito: É a indiscutibilidade do conteúdo de determinadas decisões judiciais, é a estabilidade adquirida pela norma jurídica individualizada contida na sentença. Essa indiscutibilidade se opera tanto dentro quanto fora do processo em que a norma foi criada. Alguns autores se referem a este instituto como “coisa julgada material”, que se contrapõe à chamada “coisa julgada formal”. Esta última, para a maioria da doutrina, é a preclusão da decisão, isto é, a decisão se torna indiscutível dentro do processo em que foi proferida. OBS.: para Luís Eduardo Mourão a coisa julgada material é a coisa julgada das decisões de mérito. Já a coisa julgada formal é a coisa julgada das questões processuais; aquelas com base no art. 485 do NCPC. A preclusão para ele seria puramente endoprocessual. Frisa-se que esta não é a visão majoritária. Trata-se de tese interessantíssima, mas não é majoritária. Pressupostos da coisa julgada: são três. Vejamos: ◊ que se trate de decisão de mérito; DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 74 OS: 0118/2/19-Gil ◊ que se trate de decisão de cognição exauriente, exaustiva, que não sejam decisões provisórias como, por exemplo, as liminares, Não podem ser decisões fundadas em cognição sumária ou verossimilhança; ◊ que haja coisa julgada formal, ou seja, para que a decisão se torne indiscutível em qualquer lugar é preciso primeiro que ela se torne indiscutível no processo. COISA JULGADA Efeitos da coisa julgada a) Efeito negativo: impede nova decisão sobre aquilo que já haja sido decidido. b) Efeito positivo: ocorre quando a propositura de uma demanda for baseada, fundamentada na coisa julgada, que será utilizada como causa de pedir de outra demanda. O juiz da segunda demanda deverá levar em conta a coisa julgada. Ex.: ação de alimentos fundamentada na coisa julgada produzida em ação investigatória de paternidade. c) Efeito preclusivo ou eficácia preclusiva: a coisa julgada torna preclusa a possibilidade de se alegar qualquer matéria que poderia ter sido alegada para o acolhimento ou rejeição do pedido, mas não o foi (“o que era possível deduzir e não foi deduzido considera-se deduzido e repelido”). NCPC, Art. 508. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido. Frisa-se que se o autor tiver por fundamento outra causa de pedir ele poderá voltar a juízo, pois se trata de nova demanda. A eficácia preclusiva da coisa julgada não abrange outras causas de pedir. Este é o pensamento majoritário. OBS.: no caso de incompetência absoluta, pode-se alegar a matéria a qualquer tempo, desde que até o trânsito em julgado. Ademais, a eficácia preclusiva abrange tudo aquilo que a parte poderia ter suscitado. Assim, a eficácia preclusiva NÃO abarca fatos posteriores à coisa julgada. Qualquer coisa julgada pode ser afetada por fatos que lhe são posteriores. Coisa julgada e relações jurídicas continuativas São relações jurídicas continuativas aquelas que se prolongam no tempo, como as relações de família, locatícias, tributárias e previdenciárias. A sentença que envolva esse tipo de relação faz coisa julgada normalmente, sendo erro crasso defender o contrário com o fundamento de que a decisão poderá ser revista em caso de mudança dos fatos. Com a alteração dos fatos, é gerada uma nova situação, se impondo uma nova decisão que por sua vez produzirá nova coisa julgada. Tanto há coisa julgada que, não se demonstrado a nova situação, a sentença não será revista. A coisa julgada nestas relações recebe a denominação de “coisa julgada rebus sic stantibus”. Ex.: ação de alimentos, ação de guarda. Em tal sentido temos a súmula 239 do STF: “Decisão que declara indevida a cobrança do imposto em determinado exercício não faz coisa julgada em relação aos posteriores”. Limites objetivos da coisa julgada É o que se torna indiscutível pela coisa julgada. É o dispositivo, o comando jurídico, o conteúdo da norma jurídica individualizada. Assim, aquilo que foi decidido na fundamentação não fica acobertado pela coisa julgada. Logo, não faz coisa julgada: a) a análise das provas; b) questão prejudicial que decida incidentalmente; c) a “ratio decidendi” que também está na fundamentação. Limite subjetivo da coisa julgada São os sujeitos que se submetem a coisa julgada. Há três modelos de limitação subjetiva da coisa julgada. A coisa julgada vai se operar por uma entre três maneiras. Vejamos: 1. Inter partes (regra do nosso sistema - art. 506, do NCPC), ou seja, apenas vincula aqueles que participaram do processo, não prejudicando terceiros. Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. 2. Ultra partes, quando excepcionalmente vincular ou atingir terceiros. Exemplos: 1. Aquela oriunda de um processo conduzido por substituto processual, caso em que atingirá o substituído; 2. Atinge o adquirente de coisa litigiosa; 3. Coisa julgada coletiva em ACP que versa sobre direitos coletivos – art. 103, II, CDC. 3. Erga omnes, sendo aquela que vincula a todos. Exemplos: 1. ADI; 2. ADC; 3. ADPF; 4. ACP para direitos DIFUSOS. Modo de produção (quando haverá coisa julgada) Pode ocorrer de três formas, a saber: Pro et contra, ou seja, poderá acontecer qualquer que seja o resultado da causa (favorável ou desfavorávelao autor). Trata-se da regra adotada no nosso sistema; DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 75 OS: 0118/2/19-Gil Secundum eventum litis, depende do julgamento, ao contrário da anterior. Só ocorre segundo um determinado resultado. Vai depender do resultado. No processo civil praticamente inexiste (a doutrina não fornece exemplos, mas sim no processo penal, como, no caso da coisa julgada penal condenatória, que poderá ser revista a qualquer tempo). Obs.: no caso do art. 103, CDC – só se estende se for procedente, porém não se trata de exemplo de produção da coisa julgada secundum eventum litis. A coisa julgada aqui existe, mas só poderá ser utiliza se for procedente. O segundo eventum litis não se refere à coisa julgada, mas sim a extensão da coisa coletiva ao plano individual; e Secundum eventum probationis, isto é, se a decisão for de improcedência por falta de provas não haverá coisa julgada, ou seja, apenas haverá coisa julgada se houver exaurimento da prova. Este último regime é hoje muito prestigiado, como se verifica nas ações coletivas (Ação Popular) e na lei do Mandado de Segurança (se o juiz concluir que não foi provado o alegado será possível interposição da ação ordinária). Indaga-se: pode haver coisa julgada na improcedência do MS? Sim, desde que o pedido seja julgado improcedente em razão da inexistência do direito. Outro exemplo é o da coisa julgada na ação coletiva que verse sobre direitos difusos e coletivos. Instrumentos de revisão da coisa julgada a) Ação rescisória (art. 966, do NCPC): se caracteriza por se tratar de uma ação que permite a revisão da coisa julgada num prazo de 02 anos por razões formais e substanciais (de justiça). Assim, apesar do exíguo prazo para sua propositura, seu conteúdo é bastante amplo. b) Querela Nullitatis: se caracteriza por não se sujeitar a prazo e por apenas poder ser proposta por questões formais (em geral vícios na citação – ex: sentença proferida em face de pessoa não citada). c) Correção de erro material (art. 494,I do NCPC): pode se dar a qualquer tempo, e até mesmo ex officio (erro de cálculo, erro gráfico, erro ortográfico etc.). d) Revisão de decisão fundada em lei, ato normativo ou interpretação tida pelo STF como inconstitucionais: esta hipótese é uma forma de revisão da coisa julgada na execução prevista no CPC, nos arts. 525, §12. Trata-se de espécie de defesa do executado. Relativização da coisa julgada Teoria que prega a insuficiência dos meios supracitados para rever a coisa, para tal teoria é necessário relativizar ainda mais a coisa julgada. Frisa-se que a denominação correta seria Teoria da relativização atípica (pois a coisa julgada já é relativizada por meios típicos). O movimento doutrinário de relativização da coisa julgada pretende a revisão atípica da coisa julgada, ou seja, que ela seja revista por outros instrumentos além daqueles acima estudados, tendo em vista que a injustiça manifesta não pode prevalecer, devendo ser passível de revisão a qualquer tempo, bem como nos casos de manifesta inconstitucionalidade, manifesta falta de razoabilidade etc. São adeptos desta concepção: Cândido Dinamarco e Humberto Theodoro Junior. Esse posicionamento tem justificado, por exemplo, a renovação da discussão acerca da paternidade; a diminuição de valores astronômicos fixados em desapropriações etc. Esta teoria tende a aniquilar a coisa julgada, além de não garantir que a segunda decisão proferida também seja injusta. São expoentes de um contra movimento: Nelson Nery, Olvídio Baptista, Marinone, Barbosa Moreira. Assim, na doutrina prevalece o entendimento de que a coisa julgada apenas poderia ser revista por meios típicos, entretanto, o STJ possui inúmeras decisões relativizando atipicamente a coisa julgada (como nos casos da ação de paternidade – quando exame de DNA demonstrar o contrário do que o juiz dissera). RECURSOS – TEORIA GERAL Conceito É um meio de impugnação voluntário (depende de provocação - não há recurso de ofício, recordando que a remessa necessária não é recurso – exatamente pelo motivo da voluntariedade), previsto em lei federal (não há recurso por costume ou norma estadual) para, no mesmo processo em que foi proferida, impugnar a decisão (recurso prolonga a vida de um processo – por isso a ação rescisória não é recurso -), a fim de reformá-la, invalidá-la, esclarecê- la ou integrá-la. O recurso é um ato postulatório (não se confunde com petição – o recurso é uma outra demanda), e como tal, apresenta um pedido, ao qual antecede uma causa de pedir: Pedido (mérito recursal) Causa de pedir Reforma (pretende a correção da mesma decisão) – Não se discute a forma da decisão, mas sim seu conteúdo. Error in judicando – é a má aplicação ou interpretação da lei ou sua não aplicação; ou má valoração das provas. Invalidação (pretende uma nova decisão) – Não se discute o conteúdo da decisão, mas sim seus aspectos formais, sua validade. Pretende desfazer a sentença em razão de um defeito; quando a decisão é Error in procedendo – é erro que gera a nulidade da sentença por não possuir um de seus elementos (relatório, fundamentação ou dispositivo); por ser ultra, extra ou citra petita; ou pelo processo não ter transcorrido de acordo com DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 76 OS: 0118/2/19-Gil defeituosa. as regras de procedimento. Esclarecimento Sentença obscura ou contraditória Integração Sentença omissa OBS.: É possível o pedido cumulativo e mesmo subsidiário no recurso. Lembre-se que há a cumulação própria (quer todos os pedidos) e a cumulação imprópria (apenas um dos pedidos). Estas duas são cabíveis no âmbito recursal. Sistema dos meios de impugnação das decisões judiciais a) Recursos; b) Ações autônomas de impugnação de decisão judicial (Ex.: ação rescisória; “querela nullitatis”; mandado de segurança contra ato judicial; embargos de terceiro; reclamação); c) Sucedâneos recursais, são todas as formas de impugnação que não forem recurso nem ação autônoma. É tudo aquilo que serve para impugnar uma decisão judicial. (Ex.: reexame necessário, correição parcial e pedido de suspensão da segurança). OBS.: alguns autores dividem só em recursos e sucedâneos. Optam por uma divisão binária, colocando as ações autônomas como exemplos de sucedâneos recursais. O professor Fredie Didier opta pela divisão trinaria, pois entende que é conveniente destacá-las como outro tipo de meio de impugnação. Atos sujeitos a recurso: apenas as decisões são sujeitas a recurso (os despachos não admitem recurso). 1. Decisões de juiz singular Interlocutórias que precluem (x cabe Agravo de instrumento do art. 1015 do NCPC). Sentenças (x cabe Apelação – art. 1009, NCPC). 2. Decisões em Tribunal Monocráticas: aquelas proferidas por um membro, quais sejam: do relator; e do Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal. Acórdãos: decisões colegiadas. OBS.: esse quadro é o básico, deve-se atentar para as observações abaixo: Das decisões de juiz singular 1ª Decisões parciais que são agraváveis 2ª Existem sentenças agraváveis. Ex: sentença que