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DESENVOLVIMENTO CURRICULAR E INTERDISCIPLINARIEDADE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR APRESENTAÇÃO CURRÍCULO LATTES Professora Me. Aline Mendes de Lima • Mestre em Educação Física pelo Programa de Pós Graduação Associado em Educação Física Universidade Estadual de Maringá e Universidade Estadual de Londrina (PEF- UEM/UEL) na linha Fatores Psicossociais e Motores Relacionados ao Desempenho Humano. • Psicóloga (Universidade Estadual de Maringá). • Formação em Psicologia do Esporte (Consultoria, Estudo e Pesquisa em Psicologia do Esporte – CEPPE) • Graduanda em Educação Física Bacharelado (Centro Universitário Ingá). • Ex membro do Grupo de Estudos de Psicologia do Esporte e Desempenho Humano (GEPEDH - UEM) • Psicóloga clínica e do esporte, atendimentos individualizados e experiência na Associação Desportiva e Recreativa Maringá (ADRM) Basquete Maringá, Seleto Futsal Maringá, Superação Run. Experiência de atuação profissional na psicologia do esporte, com treinamento de habilidades psicológicas, atendendo atletas profissionais e amadores de modalidades como corrida de rua, tênis, futebol, futsal, basquete, bolão, ginástica rítmica. Experiência científica em temas como personalidade e lesão na corrida de rua, habilidades sociais, motivação no esporte. Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/3181621567835345 APRESENTAÇÃO DA APOSTILA Prezado (a) aluno (a) seja muito bem vindo à disciplina Desenvolvimento curricular e interdisciplinaridade na educação física escolar! Daremos início a um percurso em direção ao conhecimento quanto à atuação em educação física escolar e a interdisciplinaridade. Você já parou para pensar em como é organizado um currículo escolar? Como construir um plano de aula? Como atuar em educação física escolar de forma interdisciplinar? Ou até mesmo o que é interdisciplinaridade? Nesta disciplina tentaremos responder a esses e outros questionamentos. Na Unidade I “Currículo e a Educação Física” você vai compreender como se dá a organização do ensino básico, o que é um currículo escolar e o projeto político pedagógico. Você também terá acesso a alguns direcionamentos dados pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o professor de Educação Física. Na Unidade II “Planejamento: Foco na Educação Física Escolar” os temas estudados serão características, organização e papel do planejamento na Educação Física escolar. Você também vai estudar alguns aspectos do planejamento participativo. E também quais os conteúdos essenciais da educação física para a formação do aluno, além de como organizar um plano de aula. Na Unidade III “Interdisciplinaridade: a Educação Física para além da quadra” começaremos a entender a interdisciplinaridade. Você também verá alguns aspectos legais relacionados a interdisciplinaridade e as possibilidades da Educação Física. Na Unidade IV “Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: desafios e possibilidades” os temas serão o papel do professor de Educação Física, como construir projetos interdisciplinares na escola. Além de como fazer avaliação no contexto da interdisciplinaridade, e os desafios de uma prática interdisciplinar. Convido você a transcender os conteúdos trazidos aqui, procure se dedicar também às leituras complementares, sugestões de filmes e livros e reflexões. Ao final dessa disciplina você estará um pouco mais preparado (a) para atuar em educação física escolar e de forma interdisciplinar. Bons estudos! UNIDADE I CURRÍCULO E A EDUCAÇÃO FÍSICA Professora Mestre Aline Mendes de Lima Plano de Estudo: • Organização do Ensino Básico; • Currículo: definições e direcionamentos; • Projeto Político Pedagógico; • Base Nacional Comum Curricular e a Educação Física. Objetivos de Aprendizagem: • Contextualizar a organização do ensino básico e as competências a serem desenvolvidas; • Conceituar o currículo escolar e seus três pilares; • Compreender aspectos relacionados à elaboração e consolidação do projeto político pedagógico; • Estabelecer as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular para a Educação Física. INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), seja muito bem vindo a Unidade I da nossa apostila de Desenvolvimento curricular e interdisciplinaridade na educação física escolar. Aqui faremos uma introdução às questões ligadas à organização escolar, currículo escolar, projeto político pedagógico e orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Você já parou para pensar sobre os bastidores de uma escola? Qual o processo, caminho trilhado para que determinado conteúdo seja estudado, ou determinada aula aconteça? Quais direcionamentos são seguidos na estruturação de uma aula de educação física? Nesta unidade você compreenderá o que é educação básica, como ela é organizada, quais as dez competências a serem desenvolvidas nos alunos, os seus direitos para o aprendizado e desenvolvimento das crianças no ensino infantil, como está organizado o ensino fundamental e médio. Você também terá acesso a questões do currículo escolar, seus três pilares e aspectos da seleção de conteúdos. Conceituação do projeto político pedagógico e pressupostos a serem considerados para sua elaboração e consolidação. Por fim, são apresentadas as orientações da Base Nacional Comum Curricular e as oito dimensões do conhecimento a partir da prática corporal enquanto objetivo principal da educação física. 1 ORGANIZAÇÃO DO ENSINO BÁSICO Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/pe-teacher-smiling-wearing- leggings-while-1505260688 O Ensino Básico consiste na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Segundo a Lei das Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/1996) é dever do Estado a educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos 17 anos de idade. O principal objetivo da educação básica é desenvolver o aluno, no sentido de promover a formação básica para o exercício da cidadania, além de fornecer meios para progressão no trabalho e em estudos posteriores (BRASIL,1996). A Base Nacional Comum Curricular é o documento que explicita as aprendizagens essenciais de direito de todos os estudantes, expressando assim a igualdade educacional sobre a qual as singularidades devem ser consideradas e atendidas (BRASIL, 2018). Isso significa que os sistemas e redes de ensino e as instituições escolares precisam realizar o seu planejamento seguindo os preceitos das aprendizagens essenciais a todos, mas sem perder de vista a equidade, que pressupõe o reconhecimento de que as necessidades dos estudantes são diferentes (BRASIL, 2018). Cabe aos sistemas e redes de ensino a construção de currículos, e as escolas precisam elaborar propostas pedagógica considerando as necessidades, possibilidades e interesses dos estudantes, bem como suas identidades linguísticas, étnicas e culturais (BRASIL, 2018). São consideradas dez competências gerais que devem ser desenvolvidas no processo educacional. Competência é compreendida enquanto capacidade de mobilizar conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BRASIL, 2018). As 10 competências gerais da Educação Básica são (BRASIL, 2018, p. 09 - 10): 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade,para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo- se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. De acordo com os eixos estruturantes da Educação Infantil devem ser assegurados seus direitos para o aprendizado e desenvolvimento das crianças: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Isso com base em cinco campos de experiência: o eu, o outro e o nós; corpo, gestos e movimentos; traços, sons, cores e formas; escuta, fala, pensamento e imaginação; espaços, tempos, quantidades, relações e transformações (BRASIL, 2018). O Ensino Fundamental está organizado em cinco áreas do conhecimento com intuito de favorecer a comunicação entre conhecimentos e saberes dos diferentes componentes curriculares. Essas áreas do conhecimento são Linguagens (Língua Portuguesa, Arte, Educação Física e Língua Inglesa), Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas (Geografia e História) e Ensino Religioso. As competências específicas de cada área devem ser desenvolvidas ao longo dos nove anos (BRASIL, 2018). O Ensino Médio está organizado em quatro áreas do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias (Arte, Educação Física, Língua Inglesa e Língua Portuguesa), Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Biologia, Física e Química), Ciências Sociais e Humanas Aplicadas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia) (BRASIL, 2018). De uma forma geral, e trazendo um pouco mais para Educação Física, alguns objetivos importantes da educação física no ensino básico são primeiramente o acesso à educação. Todos os alunos devem ter o direito de participar, independentemente da cor, etnia, religião e gênero. Nesse sentido, cabe ao professor encontrar alternativas para a não exclusão destes alunos (DARIDO; RANGEL, 2005). Outro ponto é a busca pela autonomia por meio da vivência de diferentes práticas das culturas corporais. Isso significa, por exemplo, ser capaz de manter um programa de atividades físicas regular ao longo da vida (DARIDO; RANGEL, 2005). Também é importante desenvolver reflexão crítica, bem como a compreensão da saúde em suas interfaces com as condições de alimentação, renda, transporte, emprego e lazer, dentre outros, tendo em vista a realidade em qual os alunos estão inseridos (DARIDO; RANGEL, 2005). Ainda se tratando do Ensino Básico, é responsabilidade do professor de educação física diversificar as vivências corporais e também de lazer. A escola deveria ser a instituição mais incentivadora de ações educativas com o objetivo de desenvolver o lazer (DARIDO; RANGEL, 2005). 2 CURRÍCULO: DEFINIÇÕES E DIRECIONAMENTOS Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/happy-smiling-kid-glasses- going-school-1146209870 O currículo é um documento caracterizado por orientações pedagógicas sobre o conhecimento a ser desenvolvido na escola. É composto por objetivos, métodos e conteúdos (PARANÁ, 2008). A proposta para o ensino da Educação Física, ou seja, seu currículo, foi formulado com base em estudos científicos desenvolvidos por autores brasileiros e estrangeiros. O currículo escolar representa o projeto de escolarização ou percurso no processo de apreensão do conhecimento científico selecionado pela escola (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Muito mais do que um simples documento, o currículo apresenta caráter político, considerando que representa o projeto de futuro para a sociedade. É a consolidação de embates políticos que produzem um projeto pedagógico vinculado a um projeto social (PARANÁ, 2008). Nesse sentido, pode-se dizer que o currículo escolar apresenta caráter prescritivo para o trabalho docente, e ao mesmo tempo transcende essa parte técnica, já que também traz intenção política ligada ao homem e sociedade que deseja formar (PARANÁ, 2008). Segundo o Coletivo de Autores (1992) é importante destacar que a escola não desenvolve o conhecimento científico. Há uma apropriação desse conhecimento, e um tratamento metodológico na busca por facilitar a sua apreensão pelo aluno. A escola desenvolve a reflexão do aluno sobre esse conhecimento, sua capacidade intelectual. O aluno se apropria do conhecimento científico, e o confronta com o saber que já têm proveniente do seu cotidiano e de outras referências do pensamento humano (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Em outras palavras, a escola é “o espaço do confronto e diálogo entre os conhecimentos sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular. Essas são as fontes sócio-históricas do conhecimento em sua complexidade” (PARANÁ, 2008, p. 21). O currículo é guiado por um eixo norteador, que corresponde aos fundamentos sociológicos, filosóficos, antropológicos, psicológicos e biológicos. A partir dele é construído o quadro curricular, que é a lista de disciplinas ou atividades curriculares (COLETIVO DE AUTORES, 1992). As disciplinas de tradição curricular são: Arte, Biologia, Ciências, Educação Física, Ensino Religioso, Filosofia, Física, Geografia, História, Língua Estrangeira Moderna, Língua Portuguesa, Matemática, Química e Sociologia (PARANÁ, 2008). A Educação Física é uma área de conhecimento estruturada, pensada e fundamentada enquanto disciplina. Apresenta identidade própria, especificidades, e por isso, uma proposta curricular, conteúdos e objetivos a serem atingidos, em todos os níveis escolares (SOUZA; ROJAS, 2008). O currículo pode ser conservador ou técnico, quando seu eixo é a constatação, interpretação, compreensão e explicação de determinadasatividades profissionais. Nesse caso a reflexão pedagógica é delimitada pela explicação de técnicas e desenvolvimento de habilidades (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Outro tipo de currículo é o que apresenta como eixo a constatação, a interpretação, a compreensão e a explicação da realidade social complexa e contraditória aos alunos (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Nesse caso a organização curricular se baseia no questionamento do objeto de cada disciplina curricular, colocando em destaque sua função social no currículo. Isso considerando que o conhecimento matemático, geográfico, artístico, histórico, linguístico, biológico ou corporal não expressa a totalidade da realidade, mas, apenas uma determinada dimensão dela (COLETIVO DE AUTORES, 1992). A visão de totalidade do aluno se constrói a partir da síntese das diferentes contribuições das diversas ciências para a explicação da realidade. Por isso, nessa perspectiva curricular nenhuma disciplina é constituída de forma isolada. A articulação dos conhecimentos das diversas áreas é que permitirão ao aluno constatar, interpretar, compreender e explicar a realidade social (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Nessa perspectiva então, as disciplinas são apenas um componente curricular, e só apresentam sentido pedagógico quando seu objeto é articulado aos demais objetos dos outros componentes do currículo (Línguas, Geografia, Matemática, História, Educação Física, etc.) (COLETIVO DE AUTORES, 1992). As diretrizes para a rede estadual do Paraná se baseiam nessa perspectiva crítica e foram construídas com ampla participação de professores na constituição das disciplinas escolares, objetivos e relações entre as diversas áreas de conhecimento (PARANÁ, 2008). O currículo se materializa no contexto escolar por meio de uma dinâmica curricular. A dinâmica curricular se refere a um movimento próprio da escola e se constitui por três pilares, o trato com o conhecimento, a organização escolar e a normalização escolar (COLETIVO DE AUTORES, 1992). O trato com o conhecimento é a direção científica do conhecimento universal enquanto saber escolar. Corresponde a criação de condições para a assimilação e a transmissão do saber escolar, a sua organização e sistematização lógica e metodológica (COLETIVO DE AUTORES, 1992). A organização escolar é o tempo (horários, turnos, jornada, sessões, módulos) e espaço pedagógico (salas de aula, auditórios, bibliotecas, quadras) necessários para o aprendizado. A normalização escolar se refere ao sistema de normas, padrões, registros, regimentos, modelos de gestão, estrutura de poder e sistema de avaliação (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Existem alguns princípios para formulação de um currículo escolar ou em outras palavras, para a seleção dos conteúdos a serem ensinados. Dentre eles a relevância social. O conteúdo deverá ajudar a compreender a realidade social concreta (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Outro princípio é a contemporaneidade do conteúdo, ou seja, o acesso ao conhecimento mais moderno que existe, e os avanços da ciência e da técnica. Mas isso aliado aos conhecimentos clássicos, que são aqueles que são fundamentais e não perdem a contemporaneidade (COLETIVO DE AUTORES, 1992). A adequação às possibilidades sócio-cognoscitivas do aluno também é um princípio. O conteúdo deve estar adequado à capacidade cognitiva do aluno, seus conhecimentos e possibilidades (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Os princípios para seleção do conteúdo envolvem alguns princípios metodológicos e a lógica com que serão apresentados aos alunos. É importante contrapor o conteúdo científico com os saberes do senso comum, e também, em uma perspectiva dialética, a simultaneidade dos conteúdos (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Por exemplo, pensar ar, água, terra, homem e meio ambiente considerando a relação com o mundo social, e não esses conteúdos de forma seriada ou isolada (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Outro princípio curricular é a provisoriedade dos conhecimentos, ou seja, que a produção humana (intelectual, científica, ética, moral, afetiva), manifesta um determinado estágio da humanidade, que não foi necessariamente assim em outros momentos históricos (COLETIVO DE AUTORES, 1992). De uma forma geral, conforme o Coletivo de Autores (1992) quando se trata da formulação de um currículo, é importante ter uma concepção ampliada. Isso significa trocar os princípios da lógica formal (fragmentação, estaticidade, unilateralidade, terminalidade, linearidade e etapismo), pelos princípios da lógica dialética (totalidade, movimento, mudança qualitativa e contradição). Dessa forma será trabalhada a apropriação do conhecimento pelo pensamento, por construção, e não uma simples transmissão de conhecimento para formação do indivíduo isolado (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008) o currículo da Educação Básica deve oferecer ao aluno a formação necessária para o enfrentamento e transformação da realidade social, econômica e política de seu tempo. Deve ser capaz de promover formação tecnológica mas também humana. 3 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/business-people-arranging- sticky-notes-commenting-1668833794 Segundo o Coletivo de Autores (1992) um projeto político pedagógico é constituído por uma intenção, ação deliberada, estratégia. É político no sentido de expressar uma ação e é pedagógico à medida que envolve reflexão sobre a ação dos homens na realidade, bem como as explicações das determinações dessas ações. O projeto político-pedagógico de um educador deve ser muito bem definido. Isso porque irá orientar a sua prática na sala de aula, no que se refere à relação estabelecida com os alunos, o conteúdo a ser ensinado e os valores a serem desenvolvidos nos alunos (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Nesse sentido, é importante que o educador tenha clareza do projeto de sociedade e de homem que acredita, quais interesses defende, os valores, ética e moral que deseja consolidar em sua prática (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Além disso, deve articular suas aulas com esse projeto maior de homem e de sociedade que deseja formar. Em outras palavras, o educador precisa se preocupar em como o projeto político-pedagógico se realiza na escola, como se materializa no currículo (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Venâncio e Darido (2012) destacam que o projeto político pedagógico de uma escola, ou mais especificamente a forma como ele é concebido, evidencia a forma de pensar da escola, a educação e a própria Educação Física. Nas palavras dos autores: “O PPP pode constituir-se como um legítimo instrumento para participação e envolvimento político e pedagógico dos professores, legitimar a Educação Física enquanto área de matriz pedagógica e nortear ações coletivas no cotidiano escolar” (VENÂNCIO; DARIDO, 2012, p. 107) Os autores também trazem um desafio em relação a isso, que é quando o poder de decisão fica centralizado nas secretarias estaduais ou municipais. Uma forma de driblar essa questão é obter engajamento e envolvimento dos professores no sentido de trabalhar para encaminhar propostas próprias. Para construção do projeto político pedagógico é importante considerar (VENÂNCIO; DARIDO, 2012): - Caracterização da comunidade escolar: por meio de entrevistas, palestras, encontros, questionários. - Comunidade escolar: formada pelos pais, alunos, professores, funcionários, direção, coordenação pedagógica, etc. - Discussões e reflexões sobre a função e papel da escola na atualidade. - Definição e caracterização do perfil e necessidades específicas dos alunos da escola. - Definição e caracterização do perfil do corpo docente, coordenação e direção. - Definição da concepção de educação, visão de homem e sociedade compartilhadas pelo corpo docente, coordenaçãoe direção. - Definição das finalidades de cada componente curricular. - Estabelecimento de diretrizes norteadoras relacionadas às questões atuais como inclusão, qualidade da educação, modos de gestão escolar, etc. - Escolhas dos componentes curriculares e áreas de conhecimento que constituirão o currículo. - Tempos e espaços: organização dos componentes curriculares considerando carga horária, séries/anos, quantidades de turnos ou períodos. - Planos de ensinos interdisciplinares: objetivos, habilidades e competências a serem desenvolvidas, conteúdos mais relevantes, metodologia de trabalho, formas de avaliação. - Articulação e organização interdisciplinar entre os espaços existentes na escola: biblioteca, sala de vídeo, laboratório de informática, laboratório de ciências, anfiteatro, etc. - Elaboração de projetos interdisciplinares. - Periodicidade das reuniões pedagógicas com pais e alunos. - Fortalecimento e ampliação da formação do corpo docente. - Definição da participação das instituições democráticas como conselhos escolares, grêmio estudantil. - Definição de prioridades em relação a utilização dos recursos disponíveis (financeiros e materiais). - Participação de alunos e professores em fóruns, seminários, congressos, conferências, com financiamento da própria instituição ou órgãos competentes. - Parcerias com outras instituições como universidades, ONGs, fundações, institutos. - Calendário escolar definido pela própria escola. - Definição de formas de avaliação do PPP, elaborado pela própria comunidade escolar possibilitando autonomia e flexibilidade do projeto. Todos esses aspectos foram sugeridos por professoras de Educação Física da rede de ensino municipal que participaram de uma pesquisa dos autores Venâncio e Darido (2012). Essas sugestões refletem a importância do trabalho coletivo e interdisciplinar no que se refere a elaboração e concretização do projeto político pedagógico, com foco na qualidade de formação do aluno e do trabalho do professor, transcendendo uma mera reprodução do conhecimento (VENÂNCIO; DARIDO, 2012). 4 BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E A EDUCAÇÃO FÍSICA Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/children-playing-tug-war- park-459100483 A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) se aplica à educação escolar, conforme o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996). Como o próprio nome diz, é um documento norteador que serve como base para a estruturação do ensino no Brasil com foco em alcançar uma aprendizagem de qualidade (BRASIL, 2018). A BNCC integra a política nacional da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) e foi elaborada por especialistas de diversas áreas do conhecimento, e é composta por orientações para adequação dos currículos regionais e projetos pedagógicos das escolas brasileiras (BRASIL, 2018). Em relação aos direcionamentos específicos para a Educação Física, a BNCC traz que a Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas, enquanto produção social e histórica e entendidas como possibilidade de expressão (BRASIL, 2018). Em outras palavras, a Educação Física trabalha com o movimento humano, mas não pura e simplesmente como deslocamento espaço-temporal de um segmento corporal ou de um corpo todo, e sim o movimento com todo o seu significado e inserção na cultura (BRASIL, 2018). O papel da Educação Física na Educação Básica é permitir o acesso por parte do aluno a um vasto universo cultural: saberes corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas. Experienciar essas práticas corporais permitirão aos alunos participar, de forma autônoma, nos contextos de lazer e saúde (BRASIL, 2018). Ainda segundo a BNCC (BRASIL, 2018) existem três elementos fundamentais comuns às práticas corporais: o movimento corporal (elemento essencial), organização interna baseada em uma lógica específica, e produto cultural (vinculado ao lazer ou entretenimento e ao cuidado com o corpo e saúde). Importante ressaltar então que as práticas corporais são aquelas realizadas a parte das obrigações de trabalho, domésticas, higiênicas e religiosas, as quais já possuem propósitos específicos (BRASIL, 2018). A prática corporal deve proporcionar ao aluno o acesso a uma dimensão de conhecimentos e experiências que ele não teria de outro modo. A vivência dessa prática gera um conhecimento muito particular e insubstituível revelando a multiplicidade de sentidos e significados inerentes às diferentes manifestações da cultura corporal de movimento (BRASIL, 2018). Conforme a BNCC: “As práticas corporais são textos culturais passíveis de leitura e produção” (BRASIL, 2018, p. 214). É nesse sentido também, que a Educação Física se articula com a área das Linguagens. De uma forma mais específica, a BNCC (BRASIL, 2018) recomenda que a Educação Física seja trabalhada a partir de seis unidades temáticas: brincadeiras e jogos, esportes, ginásticas, danças, lutas e práticas corporais de aventura. Esses temas serão trabalhados mais especificamente na Unidade II desta apostila. Além disso, a BNCC (BRASIL, 2018) também considera oito dimensões do conhecimento: - Experimentação: refere-se à vivência propriamente dita das práticas corporais, o envolvimento corporal, a experimentação. É a possibilidade de apreender as manifestações culturais tematizadas pela Educação Física. Também é importante cuidar para que as sensações geradas no momento da realização dessas vivências sejam positivas. - Uso e apropriação: conhecimento que permite ao aluno a autonomia para as práticas corporais. Se diferencia do conhecimento gerado pela experimentação por promover no estudante a competência necessária para um maior envolvimento nas práticas corporais no lazer ou para a saúde. Em outras palavras consiste em viabilizar aos alunos a prática efetiva das manifestações da cultura corporal de movimento transcendendo o ambiente da sala de aula. - Fruição: está ligada à apreciação, ao desfrutar das experiências sensíveis geradas pelas vivências corporais. - Reflexão sobre a ação: conhecimentos originados da observação e análise das vivências corporais próprias e/ou realizadas pelos outros. É um ato intencional no sentido de formular e empregar estratégias de observação e análise para resolver desafios, aprender novas modalidades e adequar as práticas aos interesses e possibilidades. - Construção de valores: conhecimentos que se originam no contexto da tematização das práticas corporais. Envolve a aprendizagem de valores relativos ao respeito às diferenças, a produção e compartilhamento de atitudes e normas. - Análise: refere-se ao “saber sobre”, ou seja, conceitos necessários para compreender as características e o funcionamento das práticas corporais. Envolve conhecimentos a respeito da classificação dos esportes, sistemas táticos de uma modalidade, o efeito de determinado exercício físico no desenvolvimento de uma capacidade física, etc. - Compreensão: está associada ao conhecimento conceitual, mas se refere mais especificamente aos saberes que permitem compreender o lugar das práticas corporais no mundo. Se refere a temas que permitem aos alunos interpretar o que está por trás das manifestações da cultura corporal de movimento, como as dimensões éticas e estéticas, época em que foram construídas, motivos pelos quais e por quem foram criadas. - Protagonismo comunitário: se refere às atitudes e conhecimentos necessários para os estudantes terem uma participação ativa na democratização do acesso das pessoas às práticas corporais. Consiste na reflexão sobre as possibilidades que eles e a comunidade têm de acesso a essas uma práticas onde moram, os recursos disponíveis, agentes envolvidos.SAIBA MAIS A Base Nacional Comum Curricular está fundamentada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/1996). A LDB 9394/96 é a legislação que regulamenta o sistema educacional brasileiro, seja a nível público ou privado, da educação básica ao ensino superior. Essa é a lei mais importante no que diz respeito à educação. O objetivo principal da criação da LDB foi garantir o direito de acesso à educação gratuita e de qualidade para todas as pessoas. Fonte: Lei das Diretrizes e Bases (LDB 9394/1996). #SAIBA MAIS# REFLITA Nesta unidade você teve acesso às 10 competências básicas a serem desenvolvidas na educação básica conforme orientação da Base Nacional Comum Curricular. Como a Educação Física pode ajudar a desenvolver essas competências? Qual o papel da educação física frente a essa orientação? Fonte: a autora. A prática corporal é considerado o principal norteador dos componentes curriculares da Educação Física. O que você entende por prática corporal? Quais experiências relacionadas à prática corporal você teve na educação física escolar enquanto aluno? Fonte: a autora. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Nessa unidade você compreendeu um pouco da organização de uma escola e dos direcionamentos a serem seguidos na estruturação de uma aula de educação física do ponto de vista das diretrizes. A educação básica compreende o ensino fundamental e médio e precisa cumprir o papel de desenvolver dez competências básicas nos alunos. O currículo escolar é um dos direcionamentos seguidos no ensino e é estruturado a partir de três pilares: trato com o conhecimento (parte científica), a organização escolar (tempo e espaço pedagógico) e a normalização escolar (regras). A seleção dos conteúdos que compõem o currículo escolar ocorre a partir da relevância social, contemporaneidade e adequação às possibilidades sócio- cognoscitivas do aluno. O projeto político pedagógico irá orientar a prática no dia a dia da sala de aula, reflete o projeto de sociedade e de homem que se quer formar, mas muitas vezes é criado pelas secretarias estaduais e municipais. Nesse sentido é importante que o professor de educação física participe ativamente junto com os demais profissionais da escola, na atuação considerando as necessidades e características da escola e comunidade em que trabalham. Um documento importante e que também guia a atuação nas escolas é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Nessa unidade você compreendeu algumas orientações considerando a prática corporal enquanto principal objetivo de trabalho na educação física. LEITURA COMPLEMENTAR A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz vários direcionamentos importantes para o currículo da Educação Física. Conforme a BNCC, a Educação Física precisa garantir o desenvolvimento de 10 competências específicas nos alunos. Essas competências são retratadas a seguir. COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL (BRASIL, 2018, p. 223): 1. Compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual. 2. Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo. 3. Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais. 4. Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética corporal, analisando, criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir posturas consumistas e preconceituosas. 5. Identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos e combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e aos seus participantes. 6. Interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados atribuídos às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam. 7. Reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade cultural dos povos e grupos. 8. Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde. 9. Reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, propondo e produzindo alternativas para sua realização no contexto comunitário. 10. Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo. Fonte: Brasil (2018). LIVRO • Título: Pedagogia da cultura corporal • Autor: Marcos Garcia Neira e Mario Luiz Ferrari Nunes. • Editora: Phorte. • Sinopse: a obra propõe a ampliação de possibilidades de ensino e aprendizagem da prática da Educação Física Escolar para professores, alunos e interessados, diante das constantes mudanças das dificuldades e desafios encontrados no ambiente escolar. Dividida em 5 capítulos, a obra de Neira e Nunes traz os seguintes temas: Cultura, que fundamenta as propostas voltadas para a pedagogia da cultura corporal; Cultura Escolar/Cultura da Escola, tema que analisa a cultura vivida diariamente nas escolas; Currículo e a Educação Física, uma visão crítica para a construção de um currículo escolar “que favoreça a pedagogia da cultura corporal”; Cultura Corporal, tema que transporta a linguagem corporal para questões sociais e escolares; Método de Ensino, que apresenta propostas de experiências estudadas e vivenciadas pelos autores diante da prática pedagógica; Considerações Finais e uma vasta Bibliografia. FILME/VÍDEO • Título: O melhor professor da minha vida • Ano: 2017. • Sinopse: Aos 40 anos, o professor François Foucault (Denis Podalydès) leciona no renomado Liceu Henri IV, perto do Panthéon de Paris, escola mais tradicional e prestigiada de Paris. Devido a uma série de eventos, ele é obrigado a aceitar a transferência de um ano para uma escola no subúrbio da cidade e teme que o pior possa acontecer. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 18 mai. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 13 mai. 2021. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia de ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992. DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação Física na Escola: Implicações Para a Prática Pedagógica. Grupo Gen-Guanabara Koogan, 2. ed. 2005. PARANÁ. Diretrizes curriculares da Educação Básica Educação Física. Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2008. Disponível em: http://www.educacao.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2019- 12/dce_edf.pdf. Acesso em: 26 maio. 2021. SOUZA, R. S. E.; ROJAS, J. Educação Física e interdisciplinaridade na Educação de Infância. Motrivivência, n. 31, p. 207-222, 2008. VENÂNCIO, L.; DARIDO, S. C. A educação física escolar e o projeto político pedagógico: um processo de construção coletiva a partir da pesquisa-ação. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 26, n. 1, p. 97 - 109, 2012. UNIDADE II PLANEJAMENTO: FOCO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Professora Mestre Aline Mendes de Lima Plano de Estudo: • Planejamento: características e organização; • Papel do planejamento na Educação Física Escolar; • Como planejar? Conhecendo o planejamento participativo;• Quais os conteúdos da Educação Física são essenciais para a formação do aluno?; • Planos de Aula: o que são, sua importância e como organizá-los. Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar o planejamento escolar; • Estabelecer a importância do planejamento escolar; • Contextualizar como é realizado um planejamento; • Compreender a construção de um plano de aula. INTRODUÇÃO Olá alunos e alunas!! Sejam bem-vindos à unidade II “Planejamento: foco na Educação Física Escolar”. Nessa unidade nós aprofundaremos os conhecimentos ligados a organização e planejamento das aulas, bem como os temas ou conteúdos a serem trabalhados. Você já se questionou como organizar uma aula? Mais do que isso, porque é importante um planejamento adequado e porque é importante ter organização, não apenas conduzir uma aula de forma aleatória? Os conhecimentos apresentados nesta unidade darão base para que você aprenda a ser mais assertivo na condução de uma aula de Educação Física, considerando pontos importantes do planejamento, organização, adequação à realidade, melhorias contínuas e conteúdos a serem trabalhados. A unidade começa com uma contextualização sobre planejamento e organização. Também serão apresentadas as funções e importância do planejamento escolar, e os aspectos a serem levados em consideração para realizar um planejamento adequado. Você também terá acesso aos conteúdos considerados primordiais no ensino da Educação Física, tendo como eixo norteador as práticas culturais. Serão apresentadas as seis unidades temáticas bem como sua estruturação conforme as séries escolares. Por fim, você aprenderá a elaborar um plano de aula e seus respectivos itens constituintes. 1 PLANEJAMENTO: CARACTERÍSTICAS E ORGANIZAÇÃO Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/young-business-leader-man- entrepreneur-explaining-1357520090 O trabalho docente é uma atividade sistematizada dirigida pelo professor e tem como objetivo a aprendizagem dos alunos. Esse trabalho transcende a sala de aula estando ligado também às exigências sociais e experiências pessoais dos alunos (LIBÂNEO, 1994). O programa de Educação Física pode ser considerado o pilar da disciplina. Seus principais elementos são os conteúdos de ensino (conhecimento sistematizado e distribuído), o tempo pedagogicamente necessário para o processo de apropriação do conhecimento; e os procedimentos didático-metodológicos para transmissão desse conhecimento (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Nesse sentido, o planejamento precisa ser construído levando em consideração esses aspectos. Nas palavras de Libâneo (1994, p. 246) “O planejamento é um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social”. Portanto, o planejamento escolar abrange a organização e coordenação das atividades didáticas em relação aos objetivos propostos, e também a revisão e adequação durante o processo de ensino (LIBÂNEO, 1994). É um meio para programar as ações de ensino e ao mesmo tempo um momento de reflexão e avaliação. Envolve três tipos de planejamento: o plano da escola, o plano de ensino e o plano de aulas; e elementos como objetivos, conteúdos e métodos. (LIBÂNEO, 1994). O plano da escola é um documento geral, suas orientações representam as ligações entre escola e sistema escolar mais amplo, e entre o projeto pedagógico e os planos de ensino (LIBÂNEO, 1994). A partir da proposta pedagógica curricular, o professor elaborará seu plano de ensino ou plano de trabalho, que é um documento de sua autoria, que leva em consideração a realidade e necessidades de suas diferentes turmas de atuação (PARANÁ, 2008). No plano de ensino são explicitados os objetivos e conteúdos específicos a serem trabalhados nos bimestres, trimestres ou semestres letivos, além das especificações metodológicas que guiarão o trabalho docente e o processo de ensino aprendizagem (PARANÁ, 2008). O plano de ensino, portanto, é composto por ementa da disciplina, objetivos, conteúdo programático (pode haver divisão em unidades de ensino como forma de organização dos conteúdos a serem passados para os alunos), metodologia e cronograma (KUNZ et al., 2004). O plano de aula é mais específico é constituído pela previsão de desenvolvimento de conteúdo de uma aula (LIBÂNEO, 1994). No último tópico dessa apostila você terá informações mais detalhadas sobre o plano de aula. 2 PAPEL DO PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/office-kanban-planning- system-vector-cartoon-708573796 Planejar não é apenas preencher formulários para controle administrativo, mas sim uma possibilidade de pensar criticamente e prever futuras ações docentes, fundamentando-as nas questões sociais, econômicas, políticas e culturais em que a escola está inserida e dos atores do processo de ensino aprendizagem (pais, alunos, professores, comunidade). (LIBÂNEO, 1994). As funções do planejamento escolar são (LIBÂNEO, 1994): - Especificar princípios, diretrizes e procedimentos do trabalho docente; - Manifestar os vínculos entre posicionamento filosófico, político pedagógico e as ações do professor em sala de aula através de objetivos, conteúdos, métodos e formas de ensino; - Organizar o trabalho docente de forma que seja ofertado sempre um ensino de qualidade em contraposição a rotina e improvisação; - Considerar as exigências da realidade social e o nível de preparo e condições socioculturais dos alunos para formulação dos objetivos, conteúdos e métodos; - Garantir a coerência entre o trabalho docente no que se refere aos elementos do processo de ensino aprendizagem (objetivos, conteúdos, características dos alunos, métodos e técnicas, avaliação); - Rever e atualizar o conteúdo do plano de ensino fazendo sempre os ajustes necessários quanto a progressão no conhecimento e adequação às condições de aprendizagem dos alunos; - Facilitar a preparação das aulas à medida que o material didático e as tarefas do professor e aluno podem ser selecionadas de forma mais rápida. Um ponto importante sobre o planejamento é que ele não garante o bom andamento do processo de ensino, é construído em função da direção, organização e coordenação de ensino. Por isso é fundamental adequar à prática, às situações concretas e rever sempre que necessário (LIBÂNEO, 1994). Assim, para planejar é preciso levar em consideração os conhecimentos do processo didático, metodologias específicas das matérias, e não menos importante, a experiência prática do professor. As Diretrizes Curriculares do Paraná (2008) destacam a importância dos conteúdos disciplinares, da sua organização e seleção, bem como a importância de que o professor seja autor de seu plano de ensino. Portanto, existem diretrizes nacionais e estaduais do currículo escolar, que são documentos como, por exemplo, a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), as Diretrizes Curriculares do Paraná (2008). As escolas possuem plano político pedagógico com base nessas orientações, e o professor é guiado semestralmente ou anualmente por um plano de ensino, que também pode ser detalhado ou especificado em planos de aula. Importante destacar que alguns aspectos da organização da aula contribuem para uma melhor participação dos alunos nas aulas, como ter um bom plano de aula (objetivos, conteúdos, métodos e procedimentos bem definidos), estimular e motivar a aprendizagem, avaliação do rendimento e estabelecimento de normas e exigências (LIBÂNEO, 1994). 3 COMO PLANEJAR? CONHECENDO O PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/business-class-teacher- trainer-woman-workshop-1357516268O planejamento deve orientar a tomada de decisões da escola e corpo docente diante das situações de ensino aprendizagem, tendo como objetivo alcançar os melhores resultados possíveis (LIBÂNEO, 1994). O planejamento ajuda a direcionar o processo de ensino, os conteúdos a serem ensinados, ajuda a dar orientação e segurança aos professores em sua prática em sala de aula (GODOI; BORGES, 2019). Sendo assim, os principais requisitos para um planejamento adequado são levar em consideração os objetivos e tarefas da escola, exigências dos planos e programas oficiais, condições prévias dos alunos, princípios e condições do processo de transmissão e assimilação dos conteúdos (LIBÂNEO, 1994). É fundamental ter clareza na direção que se quer dar ao processo educativo, por exemplo, possibilitar a assimilação de conhecimentos científicos e desenvolvimento de capacidades intelectuais para participação ativa no meio social. Nesse caso, os objetivos da escola seriam formação profissional, compreensão da realidade, formação política e cultural (LIBÂNEO, 1994). O planejamento também requer seguir as diretrizes gerais dos programas oficiais. Estes trazem orientações de núcleos comuns de conhecimentos e buscam assegurar o direito à educação para todos os brasileiros. No entanto, essas diretrizes são apenas referências, cabendo às escolas elaborar seus próprios planos. Para isso são importantes os conhecimentos em Didática, Psicologia, Sociologia, e da disciplina específica sob responsabilidade do professor (LIBÂNEO, 1994). Outro ponto é o conhecimento prévio do aluno e seu nível de preparo, ou seja, suas experiências anteriores, conhecimentos, habilidades, hábitos de estudo e nível de desenvolvimento. Também cabe aqui conhecer o ambiente social em que vivem esses alunos, linguagem utilizada, condições de vida e trabalho (LIBÂNEO, 1994). Também é importante para o planejamento dominar os meios e condições de condução do processo de assimilação ativa nas aulas. Isso significa que o planejamento didático deve ser orientado pela prática na sala de aula (LIBÂNEO, 1994). Em relação ao planejamento participativo, é possível citar a questão do plano político pedagógico da escola. Deve ser produto de um trabalho coletivo e do consenso entre o corpo docente, expressando seu posicionamento (LIBÂNEO, 1994). O que se vê muitas vezes é uma preocupação maior em preparar os professores para que eles sejam bons executores do planejamento ou politicas desenvolvidas por outros profissionais que muitas vezes inclusive estão longe da sala de aula (GODOI; BORGES, 2019). O problema é que o professor tem papel fundamental em colocar em prática o projeto político pedagógico escolar, é um mediador e deveria ter participação também no planejamento e construção, não se limitando apenas ao papel de executor (SACRISTÁN, 2000 apud GODOI; BORGES, 2019). Além disso, considerando também o dia a dia de trabalho, e chegando um pouco mais na consolidação do planejamento, é possível citar a questão da participação e inclusão dos alunos nos planos da escola ou professor. Segundo Libâneo (1994) quando os objetivos ou plano de aula, ou ainda as etapas ou passos didáticos são explicitados aos alunos, a tendência é que eles participem e colaborem mais, evitando desobediências e conversas desnecessárias pois precisam cumprir os objetivos da aula juntamente com o professor e colegas. 4 QUAIS OS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA SÃO ESSENCIAIS PARA A FORMAÇÃO DO ALUNO? Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/shining-basketball-court- wooden-floor-vector-1759440986 De uma forma geral, a Educação Física pode ser definida como uma prática pedagógica que, no contexto escolar, trabalha com formas de atividades ligadas à expressão corporal, tais como jogo, esporte, dança, ginástica, que consistem na cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES, 1992). A perspectiva da Educação Física Escolar que considera o desenvolvimento da aptidão física do homem como objeto de estudo, acaba contribuindo historicamente para a defesa dos interesses da sociedade capitalista (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Isso porque trabalha para educar o homem forte, ágil, apto, obediente, que respeita normas e hierarquia, alienando-o da sua condição de sujeito histórico, que não precisa necessariamente se adaptar, mas pode transformar a realidade social (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Nessa perspectiva o objetivo é desenvolver a aptidão física, por meio do exercício de atividades corporais que levem ao rendimento máximo de sua capacidade física (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Assim, o esporte acaba sendo selecionado pois remete ao alto rendimento. Nesse sentido também são selecionadas as modalidades esportivas mais conhecidas e de maior prestígio social (por exemplo, voleibol, basquetebol etc.) (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Na perspectiva da cultura corporal, o objetivo é diferente. Desenvolver uma reflexão sobre as formas de representação do mundo que o homem produziu ao longo da história por meio da expressão corporal (jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, etc.). Essas manifestações corporais são entendidas enquanto formas de representação simbólica da realidade, criada historicamente e culturalmente (COLETIVO DE AUTORES, 1992). A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também traz orientações no sentido das práticas corporais e cultura corporal, articulando a Educação Física à área das linguagens. Também considera que as vivências ligadas à prática corporal geram conhecimento insubstituível à medida que estão aliadas aos significados sociais (BRASIL, 2018). Segundo o Coletivo de Autores (1992, p. 27): É preciso que o aluno entenda que o homem não nasceu pulando, saltando, arremessando, balançando, jogando etc. Todas essas atividades corporais foram construídas em determinadas épocas históricas, como respostas a determinados estímulos, desafios ou necessidades humanas. Transmitir ao aluno essa visão de historicidade, de que a produção humana é histórica e provisória o ajudará a assumir a postura de criar outras atividades corporais (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Isso significa que a Educação Física poderá ajudar a formar pessoas e não apenas sujeitos que se submetem à lógica capitalista. Isso pode ser alcançado substituindo o individualismo por solidariedade, competição por cooperação, instigando a criatividade, enfatizando a liberdade de expressão dos movimentos, em contraposição à dominação e submissão (COLETIVO DE AUTORES, 1992). É importante ter o cuidado de não fomentar vivências e experiências de sucesso para uma minoria e de insucesso para outros por meio da ênfase na competitividade e concorrência (KUNZ et. al., 2004). Outro ponto importante é que além de trabalhar a expressão corporal por meio dos jogos, esportes, dança, ginástica, é válido acrescentar a esses conteúdos outros temas sociais pertinentes (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Dentre esses temas estão ecologia, saúde pública, relações sociais do trabalho, preconceitos sociais, raciais, da deficiência, da velhice, distribuição do solo urbano, distribuição da renda, dentre outros (COLETIVO DE AUTORES, 1992). No que se refere aos conteúdos essenciais na perspectiva da cultura corporal, os conteúdos podem ser então didaticamente distribuídos em 6 unidades temáticas: brincadeiras e jogos, esporte, lutas, ginástica, dança e práticas corporais de aventura (BRASIL, 2018). A seguir serão apresentadas definições desses conteúdos bem como sugestões de atividades a serem incorporadas na prática escolar. O jogo corresponde a um processo criativo de modificação da realidade de forma imaginária. É um fator de desenvolvimento à medida que estimula o pensamento criativo e a ação para além do que se vê (COLETIVO DE AUTORES,1992). São atividades que ocorrem com limitação de tempo, em espaço determinado, possuem regras que são seguidas de forma coletiva. Além disso, são marcadas pela apreciação do ato de brincar em si, ou seja, são atividades prazerosas (BRASIL, 2018). Seguem algumas sugestões de temas de jogos para serem trabalhados na Educação Infantil (Pré-Escolar) e 1ª a 3ª séries do Ensino Fundamental, com base no Coletivo de Autores (1992, p. 46): - Reconhecimento de si mesmo e das próprias possibilidades de ação. - Reconhecimento das propriedades externas de materiais ou objetos para jogar, sejam eles do ambiente natural ou construídos pelo homem. - Identificação das possibilidades de ação com esses materiais/objetos e das relações destes com a natureza. - Pensamento, imagem e a conceituação verbal dessa imagem. - Interrelações com as outras matérias de ensino. - Relações sociais: criança-família, criança-crianças, criança-professor, criança-adultos. - Vida de trabalho do homem, da própria comunidade, das diversas regiões do país, de outros países. - Convivência com o coletivo, das suas regras e dos valores que estas envolvem. - Auto-organização, a auto avaliação e a avaliação coletiva das próprias atividades. - Elaboração de brinquedos. Sugestões de temas a serem trabalhados com a 4ª a 6ª séries do Ensino Fundamental (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.47): - Jogar tecnicamente e empregar o pensamento tático. - Desenvolvimento da capacidade de organizar os próprios jogos e decidir suas regras. Sugestões de jogos para 7ª a 8ª séries do Ensino Fundamental (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.48): - Organização técnico-tática e o julgamento de valores na arbitragem. - Necessidade de treinamento e avaliação individual e coletiva para jogar bem tanto técnica quanto taticamente. - Decisão de níveis de sucesso. Sugestões de temas de jogos para 1ª a 3ª séries do Ensino Médio (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.48): - Conhecimento sistematizado e aprofundado de técnicas e táticas, e da arbitragem. - Conhecimento sistematizado e aprofundado sobre o desenvolvimento/treinamento da capacidade geral e específica de jogar. - Prática organizada conjuntamente entre escola/comunidade. O esporte é uma das práticas mais conhecidas da contemporaneidade. É marcado pela comparação de desempenho entre adversários, possui um conjunto de regras formais, institucionalizadas por organizações (associações, federações e confederações esportivas). (BRASIL, 2018). Pode-se dizer ainda que o esporte é uma prática social e um fenômeno complexo que envolve códigos, sentidos e significados da sociedade que o cria e o pratica. Nesse sentido, o esporte está subordinado aos princípios da sociedade capitalista (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Suas características marcantes, como a exigência de um rendimento máximo, comparação de rendimento, regras rígidas e racionalização dos meios e técnicas, revelam a reprodução das desigualdades sociais (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Para trabalhar o esporte na escola, visto que ele também faz parte da cultura corporal, é importante focar nos valores que privilegiam o coletivo sobre o individual, a solidariedade e respeito humano (COLETIVO DE AUTORES, 1992). A BNCC traz sete categorias de esporte: marca (comparar os resultados registrados em segundos, metros ou quilos, exemplo: atletismo, remo, ciclismo, levantamento de peso); precisão (acertar um alvo, exemplo: bocha, curling, golfe, tiro com arco, tiro esportivo); técnico combinatório (resultado é comparado a padrões, exemplo: ginástica artística e rítmica, nado sincronizado, saltos ornamentais); rede/ quadra dividida (arremessar, lançar ou rebater a bola, exemplo: vôlei de quadra ou praia, tênis); campo e taco (rebater a bola lançada pelo adversário o mais longe possível, exemplo: beisebol, críquete); invasão ou territorial (introduzir ou levar uma bola ou outro objeto a uma meta ou setor da quadra/campo defendido pelos adversários, exemplo: basquete, futebol, futsal, handebol, rúgbi); combate (disputas, exemplo: judô, boxe, esgrima, taekwondo) (BRASIL, 2018). Serão explicitadas sugestões de trabalho contemplando o futebol, atletismo, voleibol e basquetebol. O futebol pode ser contemplado enquanto jogo (com normas, regras, exigências físicas, técnicas, táticas); trabalho; espetáculo esportivo; fenômeno cultural (COLETIVO DE AUTORES, 1992). O atletismo é composto por práticas criadas pelo homem como correr, saltar e arremessar. Assim, é importante trabalhar a prática desses movimentos bem como as provas: corridas de resistência, velocidade (com e sem obstáculos), campo (cross- country), com aclives-declives (de rua ou pedestrianismo) revezamento, saltos (no sentido horizontal: extensão e triplo, no sentido vertical: altura e com vara), arremesso de peso, lançamentos (dardo, disco, martelo) (COLETIVO DE AUTORES, 1992). O voleibol consiste em um jogo em que os jogadores buscam evitar que a bola caia no próprio campo de jogo, fazendo-a cair no campo do adversário por cima de uma rede. Podem ser trabalhados os fundamentos que servirão como base para outros jogos e brincadeiras também. (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Os fundamentos do voleibol são saque (início da jogada), recepção (receber o saque do adversário), levantamento (preparação para o ataque), ataque (passar a bola para o campo adversário tentando dificultar a defesa), bloqueio (interceptação do ataque do adversário), defesa (evitar que a bola caia no próprio campo) (COLETIVO DE AUTORES, 1992). No basquete é disputada uma bola, utilizando apenas as mãos, o objetivo é atingir um alvo, que é defendido pelo adversário. Os fundamentos do basquete também servem de base para outros movimentos e jogos. Em relação a atacar, os fundamentos são jogar a bola para o companheiro, driblar (progredir com a bola quicando-a) e arremessar (jogar a bola em direção à cesta). A defesa é marcada por dificultar os passes, dribles e arremessos do adversário (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Sobre as lutas, são disputas corporais marcadas por técnicas, táticas e estratégias com objetivo de imobilizar, desequilibrar, atingir ou excluir o adversário de um determinado espaço. Marcada por ações de ataque e defesa. É possível trabalhar lutas brasileiras e de diversos países do mundo (por exemplo, judô, aikido, jiu-jítsu, muay thai, boxe, esgrima, etc.) (BRASIL, 2018). A respeito das lutas brasileiras, destaque para a capoeira que marca a luta de emancipação dos negros no Brasil. A capoeira é uma manifestação cultural e é importante que seja trabalhada especialmente a nível de historicidade (COLETIVO DE AUTORES, 1992). A ginástica envolve atividades como corridas, saltos, lançamentos e lutas. É uma forma particular de exercitação que com ou sem uso de aparelhos pode permitir importantes experiências corporais. Os fundamentos são saltar (se desprender da ação da gravidade chegando no ar), equilibrar (vencer a ação da gravidade), Rolar/girar (dar voltas sobre os eixos do próprio corpo), trepar (subir em suspensão pelos braços, com ou sem ajuda das pernas, em superfícies verticais ou inclinadas), balançar (pegar impulso e se movimentar em "vaivém") (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Algumas sugestões conforme as idades, são, para alunos da educação infantil e da 1ª a 3ª série do ensino fundamental (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 55): - Atividades que trabalhem os próprios fundamentos (saltar, equilibrar, balançar e girar) apresentando ao mesmo tempo o ambiente natural (declives, buracos, árvores, colinas), a própria construção da escola, praça, rua, quadra onde acontece a aula. - Formas ginásticas organizadas para promover vivências de identificação de sensações afetivas e/ou cinestésicas (prazer, medo, tensão, desagrado, enrijecimento, relaxamento). Para alunos da 4ª a 6ª série seria interessante trabalhar formas técnicasdas diversas ginásticas (artística, rítmica, aeróbica, etc). Além de desenvolver projetos individuais ou em grupo de prática com apresentações na escola e para a comunidade (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Na 7ª e 8ª série também programas de formas ginásticas, mas com técnicas mais aprimoradas e considerando os interesses dos próprios alunos, com apresentações dentro e fora da escola, que envolvam a comunidade (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Para o ensino médio é possível aprofundar um pouco mais as formas ginásticas, trazendo maior conhecimento técnico da ginástica artística e rítmica, por exemplo. Além de formas ginásticas que impliquem conhecimento científico/técnico aprofundado da ginástica em geral, permitindo a vivência do treinamento sem perder de vista a perspectiva crítica do seu significado social (COLETIVO DE AUTORES, 1992). A dança representa diversos aspectos da vida do homem, é uma linguagem que permite transmitir sentimentos, emoções (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Pode ser definida como um conjunto de práticas corporais marcadas por movimentos rítmicos e coreografias (BRASIL, 2018). Um ponto importante quando se trata do ensino da dança é o confronto que existe entre as formalidades técnicas e o aspecto expressivo. Mas é importante desenvolver no aluno as habilidades técnicas sem deixar de lado a liberdade de expressividade (COLETIVO DE AUTORES, 1992). De uma forma geral, em relação ao desenvolvimento técnico, é possível abordar os fundamentos ritmo (cadência), espaço (formas, trajetos, direções), energia (tensão, relaxamento, explosão). Para o conteúdo expressivo, alguns possíveis temas são ações da vida diária, estados afetivos, sensações corporais, mundo do trabalho e escola, problemas sócio-políticos atuais (COLETIVO DE AUTORES, 1992). As práticas de aventura se referem à experimentação corporal ligadas a situações de imprevisibilidade e ambiente desafiador. Podem ser de natureza ou urbanas. Exemplos de práticas de aventura na natureza: corrida orientada, corrida de aventura, corridas de mountain bike, rapel, tirolesa, arborismo, etc. Já as práticas de aventura urbanas são a prática de parkour, skate, patins, bicicleta etc. (BRASIL, 2018). As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008) apresentam elementos estruturantes a serem trabalhados na disciplina de Educação Física. São conteúdos considerados articuladores, que podem integrar, agregar aos eixos principais/ seis unidades temáticas. A proposta é articular cultura corporal a outros temas como corpo, ludicidade, saúde, mundo do trabalho, desportivização, técnica e tática, lazer, diversidade e mídia (PARANÁ, 2008). Esses temas também podem ser chamados de temas transversais, que são assuntos que podem ser abordados em qualquer disciplina com foco em formar cidadãos críticos, de bom convívio social (TEIXEIRA, 2020). 5 PLANOS DE AULA: O QUE SÃO, SUA IMPORTÂNCIA E COMO ORGANIZÁ-LOS Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/people-hand-using-stickers- on-board-1299450124 A aula é um espaço organizado de forma intencional para possibilitar a apreensão, por parte do aluno, do conhecimento específico da Educação Física e sua relação com a realidade social (COLETIVO DE AUTORES, 1992). O plano de aula estabelece as diretrizes e meios de realização do trabalho do professor. Em outras palavras, deve ser um instrumento para ação, no sentido de funcionar como um guia de orientação prática, e devem ser constituídos por ordem sequencial, objetividade, coerência e flexibilidade (LIBÂNEO, 1994). Deve ter ordem sequencial progressiva, seguindo o fato de que os objetivos são alcançados progressivamente, passo a passo. A objetividade seria a equivalência entre o plano e a realidade, ou seja, as possibilidades dos alunos e professores e possibilidades materiais da escola (LIBÂNEO, 1994). A coerência deve existir entre os objetivos gerais, específicos, métodos e avaliação. Precisa ser flexível e passível de alterações. Não pode ser um documento rígido considerando que o processo de ensino remete a movimento e precisa ser modificado diante das condições específicas do dia a dia em sala de aula (LIBÂNEO, 1994). A importância de planejar uma aula se reflete no fato de que é na aula que são criadas as condições e meios necessários para assimilação ativa dos conteúdos, habilidades e desenvolvimento de capacidades (LIBÂNEO, 1994). O plano de aula é um detalhamento do plano de ensino, ou seja, é a especificação em pequenas unidades para a situação didática real. Precisa ser documentado para melhor orientar a ação do professor além de servir para revisões para os anos subsequentes (LIBÂNEO, 1994). A preparação de aulas ou construção do plano de aula, portanto, é uma tarefa fundamental e regular que faz parte do dia a dia de trabalho dos professores. Alguns fatores a serem levados em consideração são a duração da aula, espaço ou local de realização e materiais disponíveis (GODOI; BORGES, 2019). Para elaboração é importante considerar também que nem sempre será possível concluir um assunto ou tópico em uma única aula. Segundo Libâneo (1994, p. 267): O processo de ensino aprendizagem se compõe de uma sequência articulada de fases: preparação e apresentação de objetivos, conteúdos e tarefas; desenvolvimento da matéria nova; consolidação (fixação, exercícios, recapitulação, sistematização); aplicação; avaliação. Isso significa que precisamos planejar não uma aula, mas um conjunto de aulas. Nesse sentido, o professor deve partir do tópico a ser trabalhado e desdobrá-lo em uma sequência lógica (conceitos, problemas, ideias), proporcionando compreensão clara do assunto. O plano de aula deve ter como base objetivos, que são os resultados esperados em relação aos conhecimentos adquiridos e habilidades desenvolvidas. Alguns itens que devem compor um plano de aula são: preparação e introdução do assunto, desenvolvimento e estudo ativo do assunto, sistematização e aplicação, tarefas de casa (LIBÂNEO, 1994). Para cada item deve ser indicado método, procedimentos e materiais didáticos, em outras palavras, o caminho a trilhar para alcançar os objetivos. O professor também precisa prever formas de verificar o rendimento dos alunos por meio de avaliações iniciais (verificação do que o aluno já sabe), durante o processo e ao final. Podem ser informais, para análise do progresso dos alunos, ou formais, para atribuição de notas (LIBÂNEO, 1994). O tempo deve ser pensado apenas enquanto previsão, deve ser flexível e adaptado à realidade da aula. É importante considerar as características dos alunos para determinar se será necessário gastar mais ou menos tempo em cada item, por exemplo, na introdução ao assunto, sistematização e aplicação, etc. (LIBÂNEO, 1994). Alguns exemplos de métodos são aulas de exposição oral da matéria, discussão ou trabalho em grupo, estudo dirigido individual, demonstração prática, aula de exercícios, recapitulação, aula de verificação para avaliação (LIBÂNEO, 1994). Importante destacar que o planejamento é um norte, uma orientação, mas não se pode perder de vista as adaptações necessárias diante de imprevistos, como fatores climáticos por exemplo (chuva, frio) e até mesmo da receptividade dos alunos ao conteúdo, por exemplo, maior interesse ou resistência, dificuldade de aprendizagem (GODOI; BORGES, 2019). O plano de aula é fundamental, portanto, para organização do tempo, planejamento de atividades e também para motivação e participação dos alunos, quando explicitado de forma clara. Isso porque pode estimular a participação dos alunos no cumprimento daquele determinado conteúdo, à medida em que eles são incluídos e se sentem parte dos objetivos a serem alcançados (LIBÂNEO, 1994). SAIBA MAIS A Educação FísicaAdaptada é uma modalidade da Educação Física que surgiu para atender as especificidades da pessoa com deficiência. É um programa diversificado de atividades que considera as capacidades e limitações individuais (COSTA; SOUSA, 2004). A Declaração de Salamanca (1994) se configura como um marco na educação especial e estabelece a questão da escola para todos, no sentido de capacitar as escolas para atender todas as crianças conforme suas necessidades. Para saber mais conteúdos a serem trabalhados na Educação Física conforme as respectivas séries consulte a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2018) ou as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008). Fonte: Brasil (2018) e Paraná (2008). #SAIBA MAIS# REFLITA A qualidade de uma aula depende de vários fatores, como, por exemplo, fatores sociais, psicológicos, dinâmica da escola, dentre outros. Mas, é importante que você, enquanto professor, sempre faça algumas perguntas: os objetivos e conteúdos foram adequados à turma? A duração da aula foi adequada? Os métodos e técnicas foram adequados para atender às diferentes características dos alunos? Os alunos realmente tiveram um aprendizado consolidado sendo possível seguir com os conteúdos? Fonte: Questões baseadas em Libâneo (1994). Nesta unidade você aprendeu sobre planejamento, plano de aula. Se imagine enquanto professor de educação física do ensino fundamental de uma escola, iniciando uma turma nova. O que você levaria em consideração para preparar um plano de aula sem ter contato prévio com essa turma? Fonte: a autora #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado (a) aluno (a), nesta unidade você aprendeu alguns princípios e questões associados a uma boa organização e planejamento de aula de Educação Física. Você viu que existem três tipos de planejamento: o plano da escola, o plano de ensino e o plano de aulas, além dos elementos como objetivos, conteúdos e métodos. O planejamento permite a possibilidade de pensar criticamente e prever futuras ações docentes, além de realizar avaliações contínuas para adequar os objetivos e ações à realidade do contexto escolar em que esse planejamento será aplicado. Também foram apresentados os requisitos para um planejamento adequado, como levar em consideração os objetivos e tarefas da escola, exigências dos planos e programas oficiais, condições prévias dos alunos, princípios e condições do processo de transmissão e assimilação dos conteúdos. Você também teve acesso a sugestões de estruturação de conteúdos das seis unidades temáticas da Educação Física: brincadeiras e jogos, esporte, lutas, ginástica, dança e práticas corporais de aventura. Ao final foram apontados direcionamentos ligados a construção de um plano de aula que consiste em um guia de orientação prática que precisa ter ordem sequencial, objetividade, coerência e flexibilidade. LEITURA COMPLEMENTAR No texto a seguir você terá um exemplo de aula sobre “rebater” que é uma técnica presente em diferentes esportes. Essas sugestões poderão ser utilizadas por você para trabalhar uma técnica de forma a proporcionar reflexões e participação ativa dos alunos. Aula sobre “rebater” (COLETIVO DE AUTORES, 1992): O professor pode incentivar a criação de jogos pelos próprios alunos. Propor como tema da aula "Rebater”. Colocar à disposição dos alunos materiais como: bolas de diversos tamanhos, materiais para rebater as bolas (por exemplo, raquetes de madeira ou plástico, pequenas tábuas estreitas e compridas que podem servir como raquetes, cabos de vassoura curtos ou compridos, etc.). Em um primeiro momento, questionar os alunos sobre as formas que poderiam ser encontradas para bater na bola de maneira a lançá-la para o colega, que por sua vez irá rebatê-la. Depois, propor que os alunos encontrem formas coletivas de jogos de rebater. Finalmente, convidar os alunos a expressar seu pensamento sobre: quais os jogos mais fáceis? Quais os mais difíceis? Quais os mais prazerosos? Quais os que podem ser feitos com os amigos na rua? Fonte: Coletivo de Autores (1992). LIVRO • Título: Preparando-se para ser professor. Passo a Passo: manual de didática • Autor: Adriana Salete Loss. • Editora: Appris. • Sinopse: Esta obra apresenta as contribuições da Professora Adriana Salete Loss, na área da Didática Geral, a partir das experiências empreendidas na docência no Ensino Médio e no Ensino Superior. A autora oferece ao leitor um Manual de Didática Geral. Perpassa o histórico da didática, a docência, o planejamento, os objetivos e conteúdos, a metodologia e a avaliação. A autora padronizou uma metodologia interessante, que facilita a compreensão do leitor: a problematização, o desenvolvimento da temática e o fechamento. Este Manual de Didática Geral poderá contribuir com a formação inicial e continuada de professores, tendo em vista que apresenta um material prático com abordagens inerentes à Didática Geral. FILME/VÍDEO • Título: Billy Elliot. • Ano: 2001. • Sinopse: Billy Elliot (Jamie Bell) um garoto de 11 anos que vive numa pequena cidade da Inglaterra, onde o principal meio de sustento são as minas da cidade. Obrigado pelo pai a treinar boxe, Billy fica fascinado com a magia do balé, ao qual tem contato através de aulas de dança clássica que são realizadas na mesma academia onde pratica boxe. Incentivado pela professora de balé (Julie Walters), que vê em Billy um talento nato para a dança, ele resolve então pendurar as luvas de boxe e se dedicar de corpo e alma à dança, mesmo tendo que enfrentar a contrariedade de seu irmão e seu pai sua nova atividade. REFERÊNCIAS BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia de ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992. COSTA, A. M.; SOUSA, S. B. Educação física e esporte adaptado: história, avanços e retrocessos em relação aos princípios da integração/inclusão e perspectivas para o século XXI. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 25, n. 3, 2004. GODOI, M. R.; BORGES, C. M. F. O trabalho curricular dos professores de educação física em tempos de reformas. Curitiba: CRV, 2019. KUNZ, E; PIRES, G. L.; MATIELLO JUNIOR, E.; NEVES, A.; SANTOS, A. S. B. Didática da educação física. Ijuí: Editora Unijuí, 2004. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. PARANÁ. Diretrizes curriculares da Educação Básica Educação Física. Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2008. Disponível em: http://www.educacao.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2019- 12/dce_edf.pdf. Acesso em: 26 maio. 2021. TEIXEIRA, E. D. Educação Física: planejamento e propostas de aulas para o Ensino Fundamental baseadas nos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Revista Educação Pública, v. 20, nº 8, 2020. UNIDADE III INTERDISCIPLINARIDADE: A EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ALÉM DA QUADRA Professora Mestre Aline Mendes de Lima Plano de Estudo: • Entendendo a interdisciplinaridade; • Aspectos legais relacionados a interdisciplinaridade; • A Educação Física e possibilidades: foco na interdisciplinaridade. Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar e contextualizar a interdisciplinaridade; • Compreender os direcionamentos legais; • Estabelecer as possibilidades da Educação Física na interdisciplinaridade. INTRODUÇÃO Olá prezado (a) aluno (a)! Seja bem vindo (a) a Unidade III. O assunto agora é interdisciplinaridade. Você já refletiu sobre a importância de ter acesso a diferentes disciplinas e áreas do conhecimento? Será que esses diferentes olhares e conhecimentos apresentamrelação entre si? Qual a importância da interdisciplinaridade? Como estabelecer uma atuação interdisciplinar? Nesta unidade você poderá compreender o que é considerado uma atuação interdisciplinar, as quatro competências ligadas a uma atuação interdisciplinar, e desafios. Você verá também alguns aspectos legais a partir da Lei das Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/1996) e as Diretrizes Curriculares do estado do Paraná (2008). Por fim, considerando que a educação física é componente curricular integrado ao projeto político pedagógico da escola, segundo a Lei das Diretrizes e Bases, serão trazidas contribuições práticas dessa área do conhecimento e como é possível consolidar a atuação em Educação Física de forma interdisciplinar. É importante que você, futuro profissional da Educação Física, se prepare para levar contribuições dessa área do conhecimento para o desenvolvimento como um todo dos alunos, bem como trabalhar de forma relacional com outras áreas. Em outras palavras, a prática interdisciplinar fará parte do seu dia a dia de trabalho e nessa unidade você terá acesso a conhecimentos e reflexões para essa prática. 1 ENTENDENDO A INTERDISCIPLINARIDADE Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/portrait-focused-diligent- schoolchildren-face-masks-1903053772 A educação ou a escola possuem a função de transcender a transmissão de conhecimentos, contribuindo também para formação, autonomia e cidadania. Em outras palavras, é importante que a escola ajude a desenvolver competências sociais, linguísticas, criativas, visão crítica (KUNZ et al., 2004). Professores preocupados com essa formação geralmente buscam formas de introduzir elementos de ensino que levam a autonomia, reflexão, desenvolvimento humano como um todo (KUNZ et al., 2004). O processo educativo é por condição interdisciplinar. Isso porque reflete a prática social, que é complexa e requer múltiplos enfoques, no caso o olhar de diferentes disciplinas. Em outras palavras, o conhecimento transmitido precisa ter relação com a prática humana, nisso reside o caráter interdisciplinar (FAZENDA, 1998). Em relação à prática educativa e sua ligação com a prática humana, segundo Libâneo (1994) a educação é um fenômeno social à medida que prepara as pessoas para a vida em sociedade. Consiste em um processo de prover os indivíduos de conhecimento e experiências culturais tornando-os aptos a atuar e efetuar transformações no meio social (LIBÂNEO, 1994). Os conteúdos da prática educativa são experiências, valores, crenças, modos de agir, técnicas e costumes acumulados por várias gerações e transmitidos de forma a serem assimilados e recriados pelas gerações subsequentes (LIBÂNEO, 1994). Portanto, diante da multiplicidade de conteúdos e questões que abrangem o processo educativo, é possível entender a interdisciplinaridade inerente a ele. Sobre o caráter interdisciplinar da prática educativa, Fazenda (1998) pontua que: - Há sempre articulação do todo com as partes e dos meios com os fins. - Deve ser sempre em função da prática, do agir, não só teoria. - Precisa ter uma intencionalidade partilhada, uma razão de ser. Segundo Fazenda (1998, p. 43): “não se trata apenas de uma justaposição de múltiplos saberes: é preciso chegar à unidade na qual o todo se reconstitui como uma síntese que, nessa unidade, é maior do que a soma das partes”. Uma atuação interdisciplinar se constrói desde a formação e é possível citar quatro competências ligadas a essa atuação: intuitiva (buscar sempre novas alternativas, romper os planos rígidos e comuns), intelectiva (capacidade de refletir, analisar, organizar ideias), prática (organização espaço temporal), emocional (autoconhecimento, afeto) (FAZENDA, 1998). Mas, quando falamos em interdisciplinaridade é importante se atentar a alguns pontos, como a fragmentação ou isolamento dos conteúdos e da prática profissional em detrimento da integração. Além do distanciamento entre o que é estudado e a realidade ou cotidiano dos alunos. Fazenda (1998) chama atenção para a fragmentação dos componentes curriculares escolares. Na prática é como se os alunos recebessem conteúdos das disciplinas como se fossem isolados entre si. A autora destaca o quanto é importante que haja integração entre as diferentes áreas de conhecimento e as atividades didáticas. Além desse fragmento dos conteúdos das disciplinas, acaba acontecendo nas escolas também uma divisão das atividades docentes, técnicas e administrativas, quando na verdade deveria acontecer integração e um caminhar no mesmo objetivo (FAZENDA, 1998). Outra questão fundamental quando se fala em interdisciplinaridade é também alinhar os conteúdos com a vida cotidiana fora da escola. Isso dará sentido ao que é aprendido e promoverá muito mais desenvolvimento (FAZENDA, 1998). Em relação à Educação Física, o que acontece na prática muitas vezes são profissionais que realizam seu trabalho de forma isolada e nem participam das reuniões pedagógicas da escola, ou ainda a utilização da Educação Física para atingir objetivos de outras áreas, por exemplo, a alfabetização ou até mesmo problemas de disciplina (FERRAZ; MACEDO, 2001). A prática interdisciplinar realmente é complexa e desafiadora e precisa romper alguns obstáculos, como a própria tendência a fragmentar o conhecimento e a dificuldade em trabalhar especificidades mas de forma articulada (SOUZA; ROJAS, 2008). Segundo Fazenda (1998) a interdisciplinaridade só será efetiva na prática se o projeto educacional tiver bem claro e bem estabelecido os objetivos que deseja alcançar e se todos os envolvidos estiverem trabalhando na mesma direção. A interdisciplinaridade precisa ser construída na prática: “rompidas as fronteiras entre as disciplinas, mediações do saber, na teoria e na pesquisa, impõe-se considerar que a interdisciplinaridade é condição também da prática social” (FAZENDA, 1998, p. 41). A educação é um fenômeno social, um meio de transmissão de conhecimentos e habilidades, desenvolvimento de capacidades intelectuais, pensamento crítico e criativo para que o indivíduo atue na transformação social (LIBÂNEO, 1994). O professor é o responsável por conduzir o processo de ensino, ocupando dessa forma papel fundamental na sociedade e também grande responsabilidade social (LIBÂNEO, 1994). Os conteúdos devem ser abordados na escola de forma contextualizada e sob relações interdisciplinares. É necessário ensinar o aluno a sempre colocar a prova o que lhe é ensinado, rompendo a rigidez e atemporalidade que muitas vezes são dados aos conhecimentos (PARANÁ, 2008). Seguindo essa perspectiva, os conhecimentos apresentados aos alunos devem contribuir para a crítica às contradições sociais, políticas e econômicas presentes na sociedade (PARANÁ, 2008). Os conhecimentos transmitidos aos alunos também devem proporcionar entendimento do que há de melhor naquilo que foi produzido cientificamente, a reflexão filosófica, a criação artística, nos contextos em que esses saberes se constituem (PARANÁ, 2008). Para que isso ocorra a escola deve promover a prática pedagógica caracterizada por diferentes metodologias, concepções de ensino, formas diferenciadas de aprendizagem e avaliações, conscientizando professores e alunos da necessidade de uma transformação emancipadora (PARANÁ, 2008). Portanto, como o foco do processo de ensino é formar o indivíduo como um todo, fica mais fácil compreender a importância da interdisciplinaridade e de que o professor seja especialista na sua área mas converse e se integre com as demais. 2 ASPECTOS LEGAIS RELACIONADOS A INTERDISCIPLINARIDADE Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/law-concept-open-book- wooden-judges-616259696 Segundo o artigo 2º da Resolução de 03/1998, “as propostaspedagógicas das escolas deverão assegurar tratamento interdisciplinar e contextualizado para Educação Física e Arte como componentes curriculares obrigatórios”. A Lei das Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/1996) traz que a integralização curricular pode incluir projetos e pesquisas que envolvam temas transversais, como exibição de filmes de produção nacional, direitos humanos e prevenção de violência contra crianças e adolescentes, educação alimentar e nutricional. Conforme a Resolução de 03/1998 Art. 6º “Os princípios pedagógicos da Identidade, Diversidade e Autonomia, da Interdisciplinaridade e da Contextualização, serão adotados como estruturadores dos currículos do ensino médio”. Nesse sentido, uma das contribuições da Educação Física pode ser aliar as práticas ligadas a cultura corporal ou atividades que envolvam movimento mas que tenham como tema norteador alguns temas transversais ou os princípios estruturadores, como os mencionados na Lei das Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996) e na Resolução de 03/1998. Em relação a interdisciplinaridade, algumas considerações são (BRASIL, 1998): - O princípio é de diálogo entre todos os conhecimentos, no sentido de questionamento, negação, complementação, ampliação, esclarecimentos. - O ensino não deve ficar apenas na descrição, mas sim promover nos alunos a capacidade de analisar, explicar, prever e intervir. Essas habilidades serão mais facilmente desenvolvidas justamente por meio da integração das diferentes disciplinas ou áreas de conhecimento. Cada área do conhecimento deve ter sua contribuição para o estudo comum de problemas concretos, ou desenvolvimento de projetos de investigação e/ou ação. - As disciplinas são recortes das áreas de conhecimentos que representam e não são suficientes para explicar isoladamente a realidade dos fatos físicos e sociais. Por isso mesmo é importante buscar interações que permitam uma compreensão mais ampla da realidade. - O objetivo comum é a aprendizagem dos alunos, para isso as disciplinas devem ser didáticas e estimular competências comuns ao mesmo tempo em que contribuem para o desenvolvimento de diferentes capacidades. A complementaridade entre as disciplinas é indispensável para um desenvolvimento intelectual, social e afetivo mais completo e integrado. - A escola apresenta ampla responsabilidade de contribuir para a constituição de identidades que integram conhecimentos, competências e valores que permitam o exercício pleno da cidadania e a inserção no mundo do trabalho. Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008) as relações interdisciplinares se estabelecem quando: - Conceitos, teorias ou práticas de uma disciplina auxiliam a compreensão de um recorte de conteúdo qualquer de outra disciplina; - Ao tratar do objeto de estudo de uma disciplina, buscam-se conceitos, referenciais teóricos e conhecimentos de outras disciplinas que possibilitem uma abordagem mais abrangente desse objeto. As diretrizes curriculares do Estado do Paraná (2008) trazem os aspectos interdisciplinares até mesmo como base do currículo escolar. Durante a elaboração das diretrizes foram considerados para constituição das disciplinas a sua relevância e relação com as ciências de referência, Isso significa que apesar das diferenças na abordagem, em outras palavras, apesar das especificidades de cada disciplina, todas devem se estruturar a partir dos mesmos princípios epistemológicos e cognitivos, e trazer contribuições e aplicações práticas no dia a dia e realidade dos alunos (PARANÁ, 2008). No entanto, as especificidades apresentam seu valor. O aprofundamento dos conhecimentos organizados nas diferentes disciplinas escolares são requisito básico para o estabelecimento e consolidação efetiva das relações interdisciplinares. É preciso um bom conhecimento específico para a compreensão da totalidade (PARANÁ, 2008). Um ponto importante é que incluir no projeto político da escola e trabalhar a interdisciplinaridade também requer clareza e atuação sobre a concepção de formação que se deseja aderir, seja conservadora ou crítica (PARANÁ, 2008). Dependendo da forma como é trabalhada, a interdisciplinaridade pode apresentar papel fundamental no desenvolvimento da visão crítica nos alunos. Segundo as diretrizes curriculares do Estado do Paraná (2008, p. 20): Tal perspectiva (perspectiva interdisciplinar) se constitui, também, como concepção crítica de educação e, portanto, está necessariamente condicionada ao formato disciplinar, ou seja, à forma como o conhecimento é produzido, selecionado, difundido e apropriado em áreas que dialogam mas que constituem- se em suas especificidades. A efetividade da prática interdisciplinar se dará pela adequada articulação das disciplinas cujos conceitos, teorias e práticas enriquecem a compreensão dos conteúdos umas das outras (PARANÁ, 2008). Importante destacar que a interdisciplinaridade no ensino dos conteúdos escolares evidencia as limitações das disciplinas em uma abordagem isolada, mas também mostra as especificidades de cada disciplina para uma possível compreensão de um objeto qualquer (PARANÁ, 2008). 3 A EDUCAÇÃO FÍSICA E POSSIBILIDADES: FOCO NA INTERDISCIPLINARIDADE Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cheerful-children-jogning- ball-on-playground-1855215358 A educação física é componente curricular integrado ao projeto político pedagógico da escola segundo a Lei das Diretrizes e Bases (n.9.394/1996) consolidando a perspectiva de que o homem é um ser em movimento, que se relaciona com o mundo por meio do movimento. Nesse sentido, podemos falar em cultura do movimento, que é (KUNZ et al., 2004, p. 62): conjunto integrado de ações e significados relacionados ao movimento, compartilhado por determinado grupo ou comunidade num determinado espaço e tempo, e que o caracteriza, funcionando como mecanismo identitário, formativo e regulador dessa esfera da vida social. Portanto, a Educação Física é uma área do conhecimento com foco nas práticas corporais de movimento e apresenta especificidades pedagógicas. No entanto, o professor de educação física pode e deve se apoiar nessas especificidades para construir trabalhos interdisciplinares, dialogando e contribuindo para outras áreas (SOUZA; ROJAS, 2008). Fala-se muito sobre uma educação para formação cultural, humana, pautada no aprender a aprender e nos valores humanos. A Educação Física traz importante contribuição nesse sentido já que o diálogo primário com o mundo desde o nascimento ocorre por meio de movimentos (KUNZ et al., 2004). É pelo movimento que entendemos o mundo e as pessoas ao nosso redor. Logo, se movimentar livremente é uma das formas de tirar as amarras das referências externas que nos são impostas o tempo todo (KUNZ et al., 2004). Em relação aos valores humanos, a Educação Física apresenta muito potencial para trazer contribuições para o desenvolvimento da cidadania dos alunos, abordando temas como ética, saúde, pluralidade cultural, meio ambiente, sexualidade (TEIXEIRA, 2020). A partir das práticas corporais a Educação Física pode trazer diversas contribuições a nível interdisciplinar. Como ajudar a melhorar as interações sociais, o agir, gesticular, se movimentar, que são ações fundamentais para a aprendizagem de um modo geral (SOUZA; ROJAS, 2008). Segundo Souza e Rojas (2008, p. 209) “o fazer motor é envolver-se, concentrar- se, estar atento, realizar operações mentais com os conceitos expostos e necessários de todos os tipos”. Em se tratando da educação infantil, por exemplo, o movimento corporal, os gestos, motricidade, interação com brinquedos e brincadeiras são bases para o desenvolvimento de uma forma geral, o que implica na interdisciplinaridade (SOUZA; ROJAS, 2008). A motricidade também vem carregada de significado e possibilidades,considerando que é uma forma de experimentar e interagir, possibilitando descobertas e conhecimentos sobre si, sobre o outro e o mundo. O controle motor contribui para o desenvolvimento pleno e para a autonomia (SOUZA; ROJAS, 2008). Em relação ao desenvolvimento da autonomia por meio da educação física, Kunz et al. (2004) chamam atenção para a forma que o mundo atual está organizado e o quanto as crianças estão sendo submetidas a diversas atividades além de receber informações na velocidade do mundo eletrônico. Antes mesmo das crianças descobrirem o mundo, lhe são impostas as referências do mundo dos adultos, como, por exemplo, uma agenda lotada desde cedo. As crianças precisam receber o acesso às mais modernas tecnologias e conhecimentos, no entanto, há que se ter um cuidado para que isso não escravize nem tira a sensibilidade emocional afetiva, nem aliene totalmente as crianças (KUNZ et al., 2004). A recreação e os jogos, no ensino infantil, são uma oportunidade de experimentar, descobrir, inventar, exercitar e conhecer as próprias habilidades. Há estímulo da curiosidade, iniciativa e autoconfiança. Habilidades que ajudarão a melhorar a aprendizagem, o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da atenção (SOUZA; ROJAS, 2008). Segundo Souza e Rojas (2008, p. 217): A Educação Física, ao desenvolver ludicamente as habilidades básicas tais como correr, saltar, pular, balançar, equilibrar, escorregar, rastejar, cair, puxar, empurrar, sentar, explorar, observar, esconder, ordenar, manipular, e muitas outras, estará contribuindo para o crescimento intelectual, social, e motor da criança. O movimento permite expressão de pensamentos, sentimentos e emoções. Integra emoções e relações sociais. Muitas vezes é visto como algo que impede a concentração e prejudica a aprendizagem. Mas, na verdade, é um caminho possível integrar conhecimentos das diversas disciplinas com atividades caracterizadas por movimento e ludicidade (SOUZA; ROJAS, 2008). Há uma estreita relação entre o movimentar-se e a capacidade de planejar e antecipar ações, construção do pensamento, apropriação da cultura. O movimento é muito mais que simplesmente se deslocar no espaço (FERRAZ; MACEDO, 2001). Nesse sentido, o lúdico e o movimento são fundamentais para o aprendizado e desenvolvimento das pessoas. E deve fazer parte não apenas das aulas de Educação Física, mas também nas atividades de outras disciplinas e áreas do conhecimento (SOUZA; ROJAS, 2008). É consenso que a prática de atividade física por meio de jogos e brincadeiras na infância é muito saudável e favorável ao desenvolvimento. E também é importante para um autoconhecimento (KUNZ et al., 2004). A educação física também apresenta papel fundamental no que se refere ao autoconhecimento no sentido de proporcionar experiências de movimentos que permitem entrar em contato com as próprias capacidades e limitações corporais (KUNZ et al., 2004). Segundo Kunz et al. (2004, p.24 - 25): “A linguagem e o movimentar-se humano (como diálogo com o mundo) são as poucas possibilidades que ainda nos restam para uma melhor compreensão de quem somos e ter, a partir deles, uma melhor consciência do mundo em que vivemos”. Um tema que diz respeito a diversas áreas do conhecimento mas que são facilmente trabalhados nas aulas de Educação Física são os valores. Atividades que envolvam respeito, tolerância, dignidade, confiança, perseverança (FERRAZ; MACEDO, 2001). É possível e necessário superar a fragmentação do conhecimento e construir uma Educação Física focada na articulação de todas as capacidades do aluno. É importante um diálogo com as diversas áreas do conhecimento revendo conteúdos, métodos, processos de aprendizado e desenvolvimento pautados também nas práticas corporais (SOUZA; ROJAS, 2008). Não é o caso de inventar novos conteúdos da educação física, mas ressignificar os conteúdos tradicionalmente inseridos nos currículos escolares (esportes, danças, ginásticas, lutas, jogos e brincadeiras) (KUNZ et. al., 2004) e articular as contribuições com outras áreas do conhecimento. SAIBA MAIS Lúdico é uma forma de expressão humana, ou seja, é uma linguagem humana. É caracterizado pela expressão de alegria, diversão e prazer. Pode se manifestar por meio de brincadeiras, jogos ou em aulas de uma forma geral. Fonte: Gomes (2004). #SAIBA MAIS# REFLITA Nesta unidade você teve acesso a conteúdos ligados à importância de articular a Educação Física com outras áreas do conhecimento. Pensando nisso, como você, enquanto professor de Educação Física, poderia trabalhar o raciocínio lógico e matemático aliado a coordenação motora? Pense em possíveis atividades e brincadeiras que podem ser trabalhadas na aula de Educação Física. Fonte: a autora. O desenvolvimento da moral e boa convivência social são pontos a serem desenvolvidos no ser humano de uma forma geral. A escola apresenta papel fundamental nesse sentido. Mas qual o papel e quais são as possíveis contribuições da Educação Física? Fonte: a autora. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Sabemos que a educação prepara as pessoas para a vida em sociedade e transformação social. O processo educativo é fundamentalmente interdisciplinar já que reflete a prática social e requer diferentes olhares, envolvendo então diversas disciplinas ou áreas do conhecimento. Uma atuação interdisciplinar está ligada a quatro competências: intuitiva, intelectiva, prática e emocional. Alguns desafios são a fragmentação ou isolamento dos conteúdos e o distanciamento entre o que é estudado e a realidade dos alunos. Nesta unidade você aprendeu algumas definições e direcionamentos legais quanto à prática interdisciplinar a partir da Lei das Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/1996) e as Diretrizes Curriculares do estado do Paraná (2008). Falar em interdisciplinaridade é considerar que embora existam diferentes disciplinas, todas devem se estruturar a partir dos mesmos princípios, estabelecer relações entre si e trazer contribuições e aplicações práticas no dia a dia e realidade dos alunos. Em relação a Educação Física, você viu que é possível e necessário construir práticas interdisciplinares a partir das práticas corporais, do movimento, contribuindo para a formação social, descobrir a si mesmo e o mundo, aprendizagem e desenvolvimento como um todo. LEITURA COMPLEMENTAR Nesta unidade você viu a importância de usar a criatividade para trabalhar conteúdos da Educação Física de forma interdisciplinar. O texto a seguir apresenta uma sugestão de trabalho que contempla questões da Educação Física aliadas a alguns outros temas sociais e transversais. Exercício físico aliado a conteúdos que são trabalhados em outras disciplinas, como, por exemplo, da área das Ciências, ou mais especificamente, Geografia, História, Matemática e Biologia. Como trabalhar temas sociais e transversais aliados à prática de exercício físico? Transpondo os muros da escola e dentro das possibilidades, você pode se juntar a professores de outras disciplinas e construir um evento a ser realizado em contato com a natureza mas que possa trabalhar diversos temas, atividades e reflexões interdisciplinares. Por exemplo, propor aos alunos uma atividade de acampamento na natureza. Nesse caso é possível oferecer aos alunos diversas atividades, desde o planejamento de quais materiais levar, o trabalho em equipe para montagem das barracas, além da possibilidade de praticar caminhadas recreativas, natação em rios, lagos ou mar, montanhismo e outros. Também é possível explorar a fauna e flora. Alguns temas que podem ser trabalhados enquanto se explora o ambiente são a questão da devastação ou preservação do meio ambiente, a contradição de ser o homem ao mesmo tempo construtor epredador, questões ligadas a geografia, ciências da natureza, biologia, curiosidades sobre animais, plantas, história do local. São diversas as possibilidades contemplando Educação Física, Matemática, História, Geografia e Biologia. É uma possibilidade bastante desafiadora e complexa, mas vem mostrar que é possível construir ações interdisciplinares. É possível realizar atividades ou eventos que contemplem especialidades ou questões mais próximas da Educação Física (como nadar, caminhar, correr, escalar, dentre outros movimentos ou práticas corporais) ao mesmo tempo em que são aliadas e integradas a outros temas ou assuntos de outras áreas do saber. Com um pouco de criatividade e trabalho em equipe, a interdisciplinaridade vai se tornando possível e ajudando a construir e desenvolver indivíduos com visão crítica, autonomia, conhecimentos gerais e integrados, e aptos a transformar seu ambiente social. E a Educação Física certamente pode trazer grandes contribuições nesse desenvolvimento e formação de pessoas. Fonte: a autora com base em Coletivo de Autores (1992). LIVRO • Título: Educação Física: interdisciplinaridade, aprendizagem e inclusão • Autor: Vanja Ferreira. • Editora: Sprint. • Sinopse: Muito se tem falado sobre a contribuição da interdisciplinaridade na ciência e na educação. Esse livro, encontra subsídios que estabelecem a inter-relação da disciplina Educação Física com as demais disciplinas do currículo escolar, explicitando sua importância na formação integral do educando, mostrando sua contribuição no processo de construção do conhecimento e ainda demonstrando de que maneira a Educação Física pode contribuir para o processo de inclusão escolar. FILME/VÍDEO • Título: Vem dançar • Ano: 2005 • Sinopse: Pierre Dulaine (Antonio Banderas) é um dançarino de salão profissional, que se torna voluntário para dar aulas de dança em uma escola pública de Nova York. Pierre tenta apresentar seus métodos clássicos, mas, logo enfrenta resistência dos alunos, mais interessados em hip hop. É quando deste confronto nasce um novo estilo de dança, mesclando os dois lados e tendo Pierre como mentor. O filme retrata a mudança de comportamento dos alunos que eram considerados rebeldes. Pierre dá aula para alunos que ficavam na sala de retenção devido a mau comportamento. Conforme o professor de dança confia neles e busca os entender para além desse mau comportamento, os ajuda a descobrirem seu potencial e habilidades. FILME/VÍDEO 02 • Título: Duelo de Titãs • Ano: 2001 • Sinopse: Em 1971, a diretora de uma escola de ensino médio em Alexandria, no estado da Virgínia, é forçada a integrar adolescentes negros a um colégio só de brancos. Então, ela contrata Herman Boone, um técnico negro, para comandar o time de futebol americano da instituição. O entusiasmo com o famoso e venerado esporte é colocado à prova pela tensão racial, enquanto Boone sofre preconceitos raciais por parte dos demais técnicos e até mesmo de jogadores do seu time. Mas, aos poucos ele conquista o respeito de todos e torna-se um grande exemplo para o time e também para a pequena cidade em que vive. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de dezembro de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 18 mai. 2021. BRASIL. Resolução CEB nº3, 26 de junho de 1998. Institui as diretrizes curriculares nacionais para o ensino médio. Diário Oficial da União, Brasília, 26 de junho de 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rceb03_98.pdf. Acesso em: 24 mai. 2021. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia de ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992. FAZENDA, I. C. A. Didática e interdisciplinaridade. Campinas, SP: Papirus, 1998. FERRAZ, O. L.; MACEDO, L. Educação física na educação infantil do município de São Paulo: diagnóstico e representação curricular em professores. Revista Paulista Educação Física, v. 15, n. 1, p. 63-82, 2001. GOMES, C. L. Dicionário Crítico do Lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. KUNZ, E; PIRES, G. L.; MATIELLO JUNIOR, E.; NEVES, A.; SANTOS, A. S. B. Didática da educação física. Ijuí: Editora Unijuí, 2004. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. PARANÁ. Diretrizes curriculares da Educação Básica Educação Física. Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2008. Disponível em: http://www.educacao.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2019- 12/dce_edf.pdf. Acesso em: 26 maio. 2021. PESSOA, V. I. F. Currículo e interdisciplinaridade na formação de professores. Rio Branco: Edufac, 2016. SOUZA, R. S. E.; ROJAS, J. Educação Física e interdisciplinaridade na Educação de Infância. Motrivivência, n. 31, p. 207 - 222, 2008. TEIXEIRA, E. D. Educação Física: planejamento e propostas de aulas para o Ensino Fundamental baseadas nos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Revista Educação Pública, v. 20, nº 8, 2020. UNIDADE IV PROFESSOR E OS PROJETOS INTERDISCIPLINARES NA ESCOLA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES Professora Mestre Aline Mendes de Lima Plano de Estudo: • Papel do Professor de Educação Física; • Criando e executando projetos interdisciplinares na escola; • Avaliação no contexto da interdisciplinaridade; • Desafios: alunos e comunidade escolar. Objetivos de Aprendizagem: • Contextualizar o papel do professor de Educação Física; • Estabelecer a construção e atuação em projetos interdisciplinares; • Compreender a avaliação em Educação Física Escolar; • Expor alguns desafios da atuação interdisciplinar em Educação Física. INTRODUÇÃO Seja muito bem vindo (a) a Unidade IV “Professor e os Projetos Interdisciplinares na escola: desafios e possibilidades”. Nessa unidade daremos continuidade ao tema interdisciplinaridade que teve início na unidade anterior. Você vai poder compreender um pouco mais a fundo o papel do professor de Educação Física diante da interdisciplinaridade. Além disso, serão apresentadas algumas questões ligadas à construção de um projeto interdisciplinar, os benefícios de uma atuação interdisciplinar. Também serão apresentados alguns pressupostos para que um projeto interdisciplinar ocorra, e algumas possibilidades e ferramentas para consolidação de uma prática interdisciplinar por parte do professor de Educação Física. Outro assunto dessa unidade é a avaliação. Será feita uma contextualização de como geralmente ocorrem as avaliações, bem como sugestões de como organizá-la e estruturá-la, pensando também na Educação Física enquanto saber interdisciplinar. Por fim, o último tópico desta unidade consiste em uma reflexão sobre os desafios de uma prática interdisciplinar e o papel dos professores, alunos e comunidade escolar em geral. 1 PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/young-man-reading- interesting-book-magnifying-1806525607 Quando se fala em interdisciplinaridade, a Educação Física tem suas implicações no fazer coletivo, no planejamento e tomada de decisão em grupo, desenvolvendo trabalhos que aproximem a Educação Física dos ideais institucionais e curriculares (COLETIVO DE AUTORES, 1992). O papel do professor de Educação Física é articular a prática de ensino ao projeto histórico. Em outras palavras, alinhar a prática ao projeto político pedagógico da escola e ao ser humano que se deseja formar, trabalhando na mesma direção com as demais disciplinas (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Os conteúdos e práticas, metodologias do ensino, a transmissão e avaliação de conteúdosdevem ser constantemente analisados e referenciados nos interesses coletivos, no projeto pedagógico e no projeto histórico (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Além disso, o processo ensino-aprendizagem da Educação Física envolve aspectos de conhecimento, habilidades e atitudes, e também as condutas sociais dos alunos nas suas mais diversas manifestações, tendo a expressão corporal como linguagem (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Quando se fala de formação global do aluno, são importantes algumas considerações quanto à Educação Física. Tradicionalmente a Educação Física se resume aos exercícios físicos e ginástica ou aos esportes e jogos (KUNZ et. al., 2004). É importante ter o cuidado de não fomentar vivências e experiências de sucesso para uma minoria e de insucesso para outros por meio da ênfase na competitividade e concorrência (KUNZ et al., 2004). Além disso, outro cuidado é não cair em situações em que durante uma aula, por exemplo, dar atenção aos considerados "mais capazes" em detrimento dos demais. Atenção em não ficar classificando os alunos entre os "mais" e "menos" capazes para a realização das atividades (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Importante destacar a questão do esporte, que também é muito tradicional e abrangente no campo da Educação Física especialmente como componente curricular do ensino fundamental e médio. Algumas críticas a essa tradição são a tendência à exclusão, competitividade exagerada, especialização precoce (KUNZ et al., 2004). No entanto, a Educação Física não pode abandonar o esporte. Nesse sentido é importante buscar uma construção de um esporte escolar, mantendo o acesso aos fundamentos técnicos e táticos necessários para o aprendizado de uma modalidade, mas usando-o principalmente como ferramenta de desenvolvimento humano (KUNZ et al., 2004). O professor de Educação Física pode adotar uma postura de permitir erros, em vez de punir. Contribuir para a construção de uma perspectiva na qual o erro faz parte do processo ensino aprendizagem (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Outro ponto importante em relação ao papel do professor de Educação Física é a avaliação. Ela geralmente é usada predominantemente pelos professores e alunos para atender as normas da escola e legislação vigente, seleção de alunos para competições ou apresentações (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Além disso, geralmente é feita pela consideração da “presença” em aula como critério de aprovação ou, são feitas medidas biométricas (peso, altura etc.) e de técnicas (execução de gestos técnicos, destreza motora, qualidades físicas) (COLETIVO DE AUTORES, 1992). O problema é que essa forma de avaliação e de ensino pode transformar a educação física escolar numa atividade desestimulante e segregadora, especialmente para os alunos que não apresentam habilidades excepcionais ou que não tenham gosto ou interesse pelo rendimento esportivo (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Portanto, é importante que o professor de Educação Física construa uma prática em conformidade com o projeto escolar e os demais professores, bem como com o modelo de homem que deseja ajudar a formar. Uma atuação que priorize cooperação e evolução pessoal em detrimento a comparações. 2 CRIANDO E EXECUTANDO PROJETOS INTERDISCIPLINARES NA ESCOLA Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/man-woman-hold-book-their- hands-1647822502 A interdisciplinaridade por definição requer a existência de pelo menos duas disciplinas bases distintas e uma relação ou interação entre elas (GERMAIN, 1991 apud FAZENDA, 1998). Considerando que a prática interdisciplinar requer integração de conhecimentos, algumas questões norteadoras a serem feitas são: por que integrar? (Favorecer a integração das aprendizagens e dos saberes? Favorecer a gestão de classe? Promover um trabalho temático?), o que integrar? (Objetos de estudo? Estratégias de ensino? Técnicas?), quem integra? (Professores? Alunos? Idealizadores de programas?), como integrar? (Quais são os métodos? Procedimentos? Situações didáticas?) (FAZENDA, 1998). Alguns benefícios da atuação interdisciplinar são alunos mais motivados, com melhores condições de lidar com questões e problemas complexos, maior criatividade e atenção, melhor assimilação por conta das múltiplas conexões, desenvolvimento acadêmico, cognitivo e afetivo. Outros benefícios são conhecimento em campos específicos e conhecimento geral, pensamento crítico, preparação para graduação ou profissionalização (FAZENDA, 1998). A ação interdisciplinar requer parceria a medida que envolve integração de saberes diferentes daquele em que se é especialista. Isso faz com que os professores precisem dialogar uns com os outros e trabalhar em parceria. Isso é positivo do ponto de vista de que gera também conhecimentos mais elaborados (PESSOA, 2016). O problema é que é muito comum acontecer de uma equipe de professores lecionarem em conjunto no início de um curso, programa ou até mesmo ano letivo, depois, conforme vão ficando mais seguros com as perspectivas de outras disciplinas, partem para um trabalho individual (FAZENDA, 1998). Nesse sentido, vale ressaltar a importância de reuniões periódicas entre os docentes como ferramenta importante para o trabalho interdisciplinar. Não só no início do ano ou do trabalho, mas de forma regular. Isso porque as reuniões favorecem um espaço de troca, de ouvir outros saberes, compartilhar experiências e estratégias e se manter trabalhando em equipe (PESSOA, 2016). Algumas maneiras de trabalhar a interdisciplinaridade são por meio de seminários de encerramento do último semestre, projetos finais, alinhamento de disciplinas trabalhando de forma paralela, agrupamento de disciplinas em torno de seminários integradores comuns, experiências externas como trabalhos de campo (FAZENDA, 1998). Uma ferramenta interessante também para a prática interdisciplinar é a memória registro. Consiste no registro por parte dos alunos da sua história enquanto estudante: resultados de trabalhos, dificuldades e pontos positivos do processo de ensino aprendizagem em geral (PESSOA, 2016). 3 AVALIAÇÃO NO CONTEXTO DA INTERDISCIPLINARIDADE Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/people-reading-books-study- hand-drawn-1602169003 A avaliação do ponto de vista tradicional foi criada pensando na preparação para o vestibular. Mas, após reformas educacionais entende-se que novas formas de conceber o ensino e novas formas de avaliação devem ser pensadas, com foco no desenvolvimento máximo das capacidades dos alunos, para além do conseguir o máximo número de alunos na universidade (DARIDO, 2017). Em outras palavras, “a avaliação do processo ensino-aprendizagem é muito mais do que simplesmente aplicar testes, levantar medidas, selecionar e classificar alunos” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 68). No que se refere a Educação Física, existe a perspectiva tradicional ou esportivista na qual ocorrem avaliações com foco na medição (medidas antropométricas) e desempenho das habilidades físicas e motoras. É marcada por um modelo ideal, uma norma ou padrão correspondente ao desempenho esperado (DARIDO, 2017). Por exemplo, teste de suficiência física, aplicado no início do ano e eficiência física no fim do ano. Exercícios de verificação da força (abdominal, membros superiores – flexão no solo, barra, e banco) e de coordenação geral (burpee). A partir das repetições os alunos são classificados em fraco, regular, bom e excelente (DARIDO, 2017). As limitações dessa perspectiva são a aplicação mecânica, descontextualizada e aleatória: não se explicam os objetivos nem há vinculação desses exercícios com o conteúdo trabalhado no decorrer do ano. A avaliação tem caráter punitivo, classificatório ou de seleção (DARIDO, 2017). Esse modelotradicional de Educação Física escolar, bem como a forma de avaliação, passou a ser alvo de críticas. O argumento é de que a avaliação deveria ser mais do que uma tabela de pontos (DARIDO, 2017). A preocupação então se volta para aspectos internos do indivíduo, principalmente as dimensões psicológicas (considera-se que cada aluno chega com determinado nível de conhecimento, experiências anteriores e características pessoais) (DARIDO, 2017). A autoavaliação passa a ser valorizada considerando que apenas o indivíduo conhece sua própria experiência, podendo definir o que é significativo da aprendizagem das tarefas (DARIDO, 2017). Nesse sentido, surgiu a Abordagem Crítica/ Proposta Crítico Superadora com foco expandido para o como se adquire conhecimento, valorizando a contextualização dos fatos e o resgate histórico. Nessa perspectiva a avaliação é uma referência para analisar a aproximação ou distanciamento em relação ao eixo circular que norteia o projeto pedagógico da escola (DARIDO, 2017). Aos poucos o paradigma de quantificação e aplicação de testes foi sendo abandonado e dando espaço para um modelo mais qualitativo, seguindo critérios de observação e frequência. O objeto de avaliação não é mais o resultado obtido pelo aluno e sim o processo de ensino-aprendizagem. O objeto de avaliação não é mais só o aluno e sim toda a equipe que integra o processo (DARIDO, 2017). Na prática, muitos professores usam critérios ligados à participação, interesse e frequência do que resultados em testes físicos. Mas, poucos informam aos alunos sobre esses critérios. Parece que falta ao professor tratar a avaliação como um processo do interesse geral. Também há pouca diversificação dos critérios, o critério quase que exclusivo é a participação (DARIDO, 2017). No entanto, não podemos ignorar a complexidade do objeto da Educação Física que é o movimento. Há uma infinidade de fatores envolvidos (força muscular, resistência, agilidade, equilíbrio, ritmo, sentimentos, cognição, afetividade, experiências anteriores, conhecimento, etc.) o que dificulta também o estabelecimento de critérios de avaliação (DARIDO, 2017). Nesse sentido, alguns pontos a serem considerados são: por que avaliar? Quem avalia? Como avaliar? O que avaliar? Quando avaliar? (DARIDO, 2017). A avaliação deve dar ao professor elementos para uma reflexão contínua sobre sua prática (escolha de competências, objetivos, conteúdos e estratégias), quais aspectos devem ser revistos ou ajustados para o processo de ensino aprendizagem (DARIDO, 2017). Para o estudante a avaliação é tomada de consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades. Para a escola é uma forma de ajudar a reconhecer prioridades e ações educacionais que demandam maior apoio (DARIDO, 2017). Portanto, a avaliação contribui para o autoconhecimento e análise das etapas já vencidas, para alcançar objetivos previamente traçados. É um processo contínuo de diagnóstico da situação com a participação de professores, alunos e equipe pedagógica e que deve ser informada desde o início do ano letivo sobre a forma de avaliação (DARIDO, 2017). A avaliação deve cumprir a função de expor as condições gerais dos alunos, fornecer dados reais e concretos para dar base para as decisões didático-metodológicas em relação aos ciclos de aprendizagem (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Em relação a quem avalia, os alunos devem participar da definição de critérios. Professores devem expor as necessidades. A autoavaliação do aluno é uma boa forma de desenvolvimento de autonomia. Também é indicada avaliação dos professores e processo de ensino (DARIDO, 2017). É importante que os envolvidos no processo de avaliação participem ativamente da construção da avaliação. Ao aluno deve ser dada a oportunidade de expressar seus objetivos e participar da avaliação (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Possíveis formas de avaliar são por meio de registros sistemáticos em fichários cumulativos, reservando um período em algumas aulas para que os alunos façam autoavaliação e avaliação da equipe pedagógica. Analisar o conhecimento sobre um assunto antes e depois de estudá-lo é outra opção (DARIDO, 2017). Os alunos também podem ser avaliados de forma sistemática (observações das situações de vivência, perguntas e respostas formuladas durante as aulas) ou de forma específica (provas, pesquisas, relatórios, apresentações). É importante adotar formas de verificação do conhecimento mais diversificadas possível (DARIDO, 2017). A respeito dos conteúdos da avaliação, algumas sugestões são (DARIDO, 2017): - Aquisição de competências, habilidades, conhecimentos e atitudes dos alunos - Dimensões cognitivas (competências e conhecimentos), motora (habilidades motoras e capacidades físicas) e atitudinais (valores). Devem estar integradas no processo de aprendizagem, mas na avaliação pode-se priorizar uma delas. - Provas teóricas, trabalhos, seminários, gravações, observações sistemáticas, testes de capacidades físicas. Sobre “quando avaliar” é importante que seja feita uma avaliação inicial. Algumas questões a serem feitas são (DARIDO, 2017): - O que os alunos sabem em relação ao que eu quero ensinar? - Quais experiências anteriores eles tiveram em relação ao conteúdo? - Quais os seus interesses? - Quais os estilos de aprendizagem? Essa é uma avaliação diagnóstica, que ajudará o professor a conhecer melhor seus alunos. Outros tipos de avaliação são a avaliação formativa, que corresponde ao processo e ocorre no decorrer das aulas (pode ser feita ao final de cada aula ou em qualquer situação para melhorar o processo de ensino aprendizagem). E a avaliação informativa, que ocorre ao final do processo (DARIDO, 2017). Para avaliação é importante considerar três dimensões: conceitual, atitudinal e procedimental. A avaliação na dimensão conceitual é caracterizada por (DARIDO, 2017): - Saber se os alunos aprenderam o conteúdo, adquiriram conhecimento - Provas teóricas - Observar o uso dos conceitos em diferentes situações/ aplicabilidade dos conteúdos - Uma forma de avaliar é observar o uso dos conceitos em trabalhos de equipe, debates, exposições, conversas entre os alunos. A prova escrita resolve o problema da dificuldade do professor em observar tudo isso em todos os alunos. Mas é importante ter o cuidado então de na prova não cobrar só definição de conceito e sim resolução de problemas, interpretação dos conceitos. Sobre a avaliação na dimensão atitudinal (DARIDO, 2017): - A tradição escolar não avaliou sistematicamente essa dimensão por considerá-la subjetiva ou sem importância. - Geralmente se avalia apenas a participação, mas a formação dos alunos enquanto cidadãos também faz parte das aulas de Educação Física e também precisa ser avaliada. - Como avaliar? Trabalhando as situações de conflito (adaptação a novos movimentos, uso de espaço e materiais, regras, expressões de sentimentos, inibições e dificuldades...). Propor debate e diálogo. - Observar nos alunos sua capacidade de aprender a reconhecer na convivência e práticas pacíficas, maneiras eficazes de crescimento coletivo, dialogando, refletindo e adotando uma postura democrática sobre diferentes pontos de vista. - A melhor fonte de informação é a observação sistemática de opiniões e atuações nas atividades grupais, debates, manifestações dentro e fora da aula, distribuição das tarefas, durante o recreio e atividades esportivas. - Utilizar fichas de observação das atitudes dos alunos. A avaliação na dimensão procedimental se refere a (DARIDO, 2017): - Saber fazer/ aplicação dos conteúdos. - Até que ponto os alunos sabem dançar, jogar, fazer pesquisa, utilizar um instrumento, orientar-se no espaço. - Como avaliar? Avaliar o progresso nos testes físicos, comparando o aluno consigo próprio. - Ir além das habilidades motoras e capacidades físicas:avaliar a capacidade de coletar notícias, confecção de livros, produção de textos. A nota não deve ter a função de punir o aluno, mas dar um feedback sobre o processo de ensino aprendizagem. A questão de atribuir ou não notas nas aulas de Educação Física gera bastante debates, mas segundo Darido (2017) deve ser discutida e decidida democraticamente por todos os interessados (escola, aluno, pais). Ainda mais em se tratando da prática interdisciplinar, na qual diversas áreas do conhecimento estarão relacionadas. A avaliação está relacionada ao projeto pedagógico da escola, e deve ser aplicada exclusivamente para “informar e orientar para a melhoria do processo ensino- aprendizagem” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 75). Um dos papéis do professor de Educação Física também é fazer com que a avaliação do processo ensino-aprendizagem seja referência para a análise da aproximação ou distanciamento do eixo curricular que norteia o projeto pedagógico da escola (COLETIVO DE AUTORES, 1992). 4 DESAFIOS: ALUNOS E COMUNIDADE ESCOLAR Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-school-children- different-races-colorful-1760500883 A integração das diversas áreas do saber não garante a interdisciplinaridade. Ela transcende a simples integração dos elementos do conhecimento. É necessário buscar combinações e aprofundamento de informações (FAZENDA, 2013). Uma atuação interdisciplinar requer antes de mais nada uma postura de debruçar- se sobre o conhecimento, de buscar sempre mais conhecimento e se atualizar (FAZENDA, 2013). Um desafio importante a ser citado é a preparação dos professores para uma atuação interdisciplinar e a qualidade dessa preparação (FAZENDA, 1998). Muitas vezes a prática interdisciplinar é confundida com uma justaposição de disciplinas diversas. Além disso, uma preocupação dos professores costuma ser como dominar conhecimentos específicos dessa diversidade de disciplinas (FAZENDA, 2013). É difícil pensar em interdisciplinaridade diante da tradição tecnicista de ensino e educação compartimentalizada. Segundo Fazenda (2013, p.76): Quase sempre a não efetividade dessa prática decorre da ausência de conhecimento do seu significado, falta alguém que tome para si o compromisso de levá-la adiante ou, ainda, as normas educacionais apresentam-se como obstáculos naturais à construção da interdisciplinaridade de conhecimento. Com efeito, não será procurando quem facilite o processo que a interdisciplinaridade se realizará. Nesse sentido, um desafio para os educadores é uma mudança de atitude no sentido de superar o parcelamento do saber em direção a uma compreensão global. Além de entender que o conhecimento interdisciplinar transcende os limites do saber escolar e ganha força à medida que inclui as questões da vida social (FAZENDA, 2013). A interdisciplinaridade é desafiadora e complexa visto que instiga a competência do educador para uma reorganização do saber e produção de um novo em uma sociedade, pode-se dizer, acostumada com o saber fragmentado (FAZENDA, 2013). A prática interdisciplinar é uma atitude que requer coragem e muita dedicação (FAZENDA, 2013). E embora a atitude inicial do professor faça toda diferença, existe o papel dos alunos e comunidade escolar que também precisam adotar uma postura de se abrir para o novo. É uma prática, portanto, que envolve professores, alunos e comunidade escolar efetuando esforço conjunto para romper com as visões fragmentadas do conhecimento; aliar teoria e prática, ou seja, conhecimentos que tenham aplicação e estejam ligados ao dia a dia de vida das pessoas (FAZENDA, 2013). Além disso, é uma prática marcada pela formação integral, pela totalidade, embora possa formar especialistas. Também envolve construção de conhecimento para além do apenas ensinar e aprender (FAZENDA, 2013). SAIBA MAIS A palavra “interdisciplinar” segundo o dicionário Michaelis significa “aquilo que é comum a duas ou mais disciplinas”, “que envolve duas ou mais áreas de conhecimento ou de estudo”. Fonte: Michaelis Online (2021) #SAIBA MAIS# REFLITA Qual o papel do professor de Educação Física em relação à prática interdisciplinar na Educação Física Escolar? Quais aspectos são importantes levar em consideração? Fonte: a autora Nesta unidade trabalhamos o tema interdisciplinaridade na Educação Física Escolar. Mas sabemos que a postura interdisciplinar de um profissional vai se desenvolvendo desde a graduação. Qual ou quais relações você vê entre os conteúdos estudados nessa unidade e as demais disciplinas que você está estudando na graduação? Fonte: a autora #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos à última unidade. Aqui os temas se resumiram ao papel do professor de Educação Física, atuação em projeto interdisciplinar, avaliação e desafios para a comunidade escolar. O papel do professor de Educação Física é desenvolver trabalhos que aproximem a Educação Física dos ideais institucionais e curriculares, aliar a prática, metodologias do ensino, a transmissão de conteúdo e avaliação aos interesses coletivos. Trabalhar questões ligadas a conhecimento, habilidades e atitudes de uma forma geral a partir da expressão corporal, além de priorizar a cooperação e o desenvolvimento pessoal. No que se refere a uma prática interdisciplinar ou construção de um projeto interdisciplinar você viu nesta unidade que existem algumas questões norteadoras importantes: Por que integrar? O que integrar? Quem integra? Como integrar? A prática interdisciplinar pode ser consolidada ou facilitada por meio de reuniões periódicas, eventos ou propostas que envolvam a escola e comunidade escolar como um todo, e uma ferramenta sugerida foi a memória registro. A avaliação precisa ser organizada a partir de algumas questões norteadoras como: por que avaliar? Quem avalia? Como avaliar? O que avaliar? Quando avaliar? Deve ser estruturada de tal forma que contribua para o autoconhecimento, sirva de parâmetro para análise das etapas já vencidas em relação ao conhecimento, seja base para as decisões didático-metodológicas e para as ações em direção ao alcance dos objetivos do projeto político pedagógico como um todo. Portanto, a interdisciplinaridade requer coragem, atitude, mudança de paradigmas e parceria entre professores, alunos e comunidade escolar, mas traz diversas contribuições para a formação integral dos alunos. LEITURA COMPLEMENTAR Nesta unidade você compreendeu alguns aspectos de atuações interdisciplinares e também como realizar avaliação nas aulas de Educação Física. A seguir você terá acesso a um modelo ou exemplo de organização de uma aula e como pode ser realizada a avaliação. Exemplo de uma aula de ginástica (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.80 - 81) Tema da aula Cultura corporal- afro brasileira (capoeira, xangô, maculelê, frevo, batuque, lundu). Quadros com os significados dos temas e elementos da ginástica (saltos, giros, equilíbrios etc.) presentes nesses temas. Organização da aula Parte 1: Fundamentação Teórica - quadros, cartazes, sínteses, textos simples sobre o tema, tabelas explicativas sobre atividade cárdio-respiratória e métodos de treinamento. Parte 2: Desenvolvimento da aula - procedimentos de introdução ao tema, explicações, exercitações, experimentações, descobertas, elaboração de séries, elaboração de uma comunicação escrita e apreciações sobre o evento aula. Avaliações Momento avaliativo na primeira parte da aula: após exposições teóricas dos conteúdos os alunos precisam responder às seguintes questões: "Por que treinar e como configurar séries de treinamento aeróbico?". No momento seguinte, dados da realidade são explicitados a partir do conhecimento dos alunos, os quais deverão serampliados durante a aula, na busca de novas sínteses. Essas sínteses são constantemente buscadas, como, por exemplo, na exercitação dos elementos que constituem os temas selecionados (cultura brasileira, controle cardiorrespiratório, as alterações do organismo sob exercitações e treinamento). A construção do saber é elaborada em ações comunicativas, interativas. Destaca-se aí o esforço coletivo na ampliação da sistematização do conhecimento. Também são ensinados encadeamento de saltos, giros, molejos, balanceios etc. e a avaliação desse momento através da apresentação de séries compostas pelos grupos, onde ficam evidentes as novas sínteses. Momento avaliativo na segunda parte da aula: a professora e os alunos discutem a elaboração de novas sínteses sobre o conteúdo tratado, agora por escrito, e fazem apreciações pessoais sobre a aula. Portanto, a avaliação não se reduz a partes, no início, meio e fim de um planejamento, ou a períodos predeterminados. Não se reduz a medir, comparar, classificar e selecionar alunos. Muito menos se reduz a análise de condutas esportivo- motoras, a gestos técnicos ou táticas. O que se destaca é que a avaliação apresenta, em sua variedade de eventos avaliativos, em cada momento avaliativo, o que a constitui como uma totalidade que tem uma finalidade, um sentido, um conteúdo e uma forma. O sentido que se busca é a concretização de um projeto político-pedagógico articulado com um projeto histórico que tem como eixo curricular a apreensão e interferência crítica e autonomia na realidade. Fonte: Coletivo de Autores (1992, p.80 - 81) LIVRO • Título: Ensino híbrido: personalização e tecnologia da educação • Autor: Lilian Bacich, Adolfo Tanzi Neto, Fernando de Mello Trevisani • Editora: Penso • Sinopse: é um livro feito por professores para professores. Resultado das reflexões dos participantes do Grupo de Experimentações em Ensino Híbrido desenvolvido pelo Instituto Península e pela Fundação Lemann, este livro apresenta aos educadores possibilidades de integração das tecnologias digitais ao currículo escolar, de forma a alcançar uma série de benefícios no dia a dia da sala de aula, como maior engajamento dos alunos no aprendizado e melhor aproveitamento do tempo do professor para momentos de personalização do ensino por meio de intervenções efetivas. FILME/VÍDEO • Título: Além da Sala de Aula • Ano: 2011 • Sinopse: O filme é de origem norte-americana e conta a história, baseada em fatos reais, de Stacey Bess que desde muito pequena demonstrou desejo de se tornar professora. Ainda recém formada, foi convidada para lecionar em uma escola-abrigo para pessoas sem teto e no primeiro dia de aula se deparou um a situação de dar aula em uma sala onde não havia livros, cheia de sucatas, crianças em diferentes idades, má alimentação, poucos recursos e ainda teve que lidar com os furtos do que ainda lhe restara. Stacey pensou em desistir, mas ao conhecer um pouco mais das crianças, resolveu buscar recursos para a escola. Então, a professora fez uma reforma na sala, e passou a distribuir comida para as crianças se alimentarem e conseguirem prestar atenção na aula. REFERÊNCIAS COLETIVO DE AUTORES. Metodologia de ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992. DARIDO, S. C.. Avaliação em Educação Física na escola. In: DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Grupo Gen-Guanabara Koogan, 2. ed. 2017. FAZENDA, I. C. A. Didática e interdisciplinaridade. Campinas, SP: Papirus, 1998. FAZENDA, I. C. A. Práticas interdisciplinares na escola. São Paulo: Cortez, 2013. KUNZ, E; PIRES, G. L.; MATIELLO JUNIOR, E.; NEVES, A.; SANTOS, A. S. B. Didática da educação física. Ijuí: Editora Unijuí, 2004. MICHAELIS ONLINE. Dicionário de língua portuguesa. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues- brasileiro/interdisciplinar/. Acesso em 04 jun 2021. PESSOA, V. I. F. Currículo e interdisciplinaridade na formação de professores. Rio Branco: Edufac, 2016. CONCLUSÃO GERAL Prezado (a) aluno (a) chegamos ao final da disciplina Desenvolvimento Curricular e Interdisciplinaridade na Educação Física Escolar. Agora podemos dizer que você conhece um pouco mais dos bastidores de uma escola, desde questões de leis e documentos, como planejar uma aula, até o complexo fenômeno da interdisciplinaridade. Nessa disciplina você aprendeu o que é educação básica, como ela é organizada, o que é um currículo escolar, projeto político pedagógico, e teve acesso a orientações da Base Nacional Comum Curricular. Você também compreendeu questões de planejamento e organização, como por exemplo, funções e importância do planejamento escolar, como realizar um planejamento adequado, considerações sobre planejamento participativo. Um ponto muito importante foram os conteúdos essenciais no ensino da Educação Física, tendo como eixo norteador as práticas culturais. Por fim entramos no tema interdisciplinaridade. Foi feita uma conceituação desse tema, esclarecimentos sobre aspectos legais, e como consolidar a atuação em Educação Física de forma interdisciplinar. Também foi apresentada a importância do professor de Educação Física diante da interdisciplinaridade, aspectos relacionados à construção de um projeto interdisciplinar, como realizar avaliações e possibilidades e desafios para a comunidade escolar que deseja consolidar uma prática interdisciplinar. Consideramos que ao final dessa disciplina você esteja mais preparado para atuar como professor de Educação Física, conhecendo um pouco mais dos bastidores de um ambiente escolar, questões burocráticas, de organização, planejamento. Além de ter sido introduzido a interdisciplinaridade, podendo ser um agente dessa prática tão importante para formação de pessoas no ambiente escolar. Muito obrigada e até a próxima!!