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WILSON MIRANDA LIMA Governador do Estado do Amazonas MARIA JOSEPHA PENELLA PÊGAS CHAVES Secretária de Estado da Educação e Desporto ROSALINA MORAES LOBO Secretária Executiva Adjunta de Gestão HELLEN CRISTINA SILVA MATUTE Secretária Executiva Adjunta Pedagógica ARLETE FERREIRA MENDONÇA Secretária Executiva Adjunta da Capital ANA MARIA ARAÚJO DE FREITAS Secretária Executiva Adjunta do Interior ADRIANA MACIEL ANTONACCIO Diretora do Departamento de Políticas e Programas Educacionais KAROL REGINA SOARES BENFICA Gerente do Núcleo de Gestão Curricular SIRLEI ADRIANI DOS S. BAIMA ELISIÁRIO Gerente do Ensino Regular KEYLAH ADRIANA R. ALBUQUERQUE DOLZANES Coordenadora do Ensino Fundamental Departamento de Políticas e Programas Educacionais Adriana Maciel Antonaccio Coordenação Técnica Aline Santos de Almeida Karol Regina Soares Benfica Keylah Adriana Ramos Albuquerque Dolzanes Ronilda Rodrigues Couto da Silva Sirlei Adriani dos Santos Baima Elisiário Professores Especialistas Área de Linguagens Bjarne Lima Furtado Bruna Barbosa de Freitas Fernanda Gurgel Silva Francisca Hermógenes Pinheiro de França Francisco René Moreira Hemelly da Silva Areias Josefa Fernandes da Silva Josete da Silva Ohana Keylah Adriana Ramos Albuquerque Dolzanes Ozeli Martins Sarmento Ralcilandia Carvalho de Oliveira Simara Brasil Couto de Abrantes Viviane do Nascimento Bitar Área de Ciências da Natureza Camila Thais Maués Souza Gabriel Muca Vale Pereira Área de Ciências Humanas Franco Lindemberg Paiva dos Santos Jefferson Lima de Oliveira Josildo Severino de Oliveira Raimunda Nonata de Sousa Área de Matemática Isamara da Silva Ohana Nilo da Sena Silva Filho Valcineide dos Santos Malta Paulino Ensino Religioso Francisco Sales Bastos Palheta Nilza Goulart Suzano Colaboradores e Equipe Técnico- Pedagógica Alfredo Tadeu Oliveira Coimbra Ana Maria Pinho Cavalcante Campos Elsilene Lavareda Nogueira Hadaquel da Silva Alcântara Helândia Feitosa Milon Jaqueline de Oliveira Gonçalves Jéssica Marinho Martins Sakuta Joniferson Veira da Silva Keegan Bezerra Ponce Lucilene Cruz de Andrade Macedo Manoel Feitosa Jeffreys Paula Karoline dos Anjos Sampaio Regina Ferreira da Costa Sabrina Samantha Prado dos Santos Yamille Azevedo Coelho Revisão Pedagógica Aline Santos de Almeida Ronilda Rodrigues Couto da Silva Revisão Ortográfica Denilson Saturnino da Silva José Francisco Antonio Vieira da Silva Joyce Camila Martins Keylah Adriana Ramos Albuquerque Dolzanes Ozeli Martins Sarmento Viviane do Nascimento Bitar Diagramação Kleitson José Lima Tenório LISTA DE FIGURAS Figura 1: Organização do Ensino Fundamental Anos Iniciais - SEDUC-AM ................................. 25 Figura 2: Temas Contemporâneos Transversais.......................................................................... 31 Figura 3: Sugestão de elementos para suscitar o debate sobre as Competências Socioemocionais ..................................................................................................................................................... 35 Figura 4: Competências Socioemocionais ................................................................................... 36 Figura 5: Código alfanumérico acrescido da Sigla dos Campos de Atuação ................................ 56 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Sugestões de aplicabilidade das Competências Socioemocionais .............................. 38 Quadro 2: Princípios que subsidiam a prática interdisciplinar ....................................................... 42 Quadro 3: Áreas de conhecimento e componentes curriculares ................................................... 52 Quadro 4: Legendas dos Campos de Atuação (Anos Iniciais e Anos Finais) ............................... 56 Quadro 5: Artes Integradas por bimestre – Ensino Fundamental Anos Iniciais .......................... 274 Quadro 6: Artes Integradas por bimestre – Ensino Fundamental Anos Finais ............................ 274 Quadro 7: Processos para desenvolvimento da Atitude Historiadora ......................................... 705 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................... 8 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 9 1 O ENSINO FUNDAMENTAL ..................................................................................................... 12 1.1 O Ensino Fundamental na Educação Básica ...................................................................... 12 1.2.1 Anos Iniciais do Ensino Fundamental ........................................................................... 14 1.2.2 Anos Finais do Ensino Fundamental ............................................................................. 15 1.3 O Ensino Presencial com Mediação Tecnológica ............................................................... 16 2 CURRÍCULO E AS APRENDIZAGENS ESSENCIAIS .............................................................. 21 2.1 Diálogos Preliminares: Significados e Relações entre Currículo e Práticas Pedagógicas ..................................................................................................................................................... 21 2.2 Proposições curriculares quanto à alfabetização e aos letramentos no Ensino Fundamental ............................................................................................................................... 24 2.3 O Currículo Inclusivo ............................................................................................................ 26 2.4 Temas Contemporâneos Transversais ................................................................................ 29 2.5 Competências Gerais da Educação Básica ........................................................................ 32 2.5.2 Competências Socioemocionais ................................................................................... 34 3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ..................................................................................................... 41 3.1. Metodologias Interdisciplinares .......................................................................................... 41 3.2 Planejamento da Prática Docente ........................................................................................ 45 3.3 Avaliação do Processo de Aprendizagem .......................................................................... 48 4 ORGANIZADOR CURRICULAR ............................................................................................... 50 4.1 ÁREA DE LINGUAGENS ....................................................................................................... 53 4.1.1 LÍNGUA PORTUGUESA .............................................................................................. 55 4.1.2 ARTE .......................................................................................................................... 272 4.1.3 EDUCAÇÃO FÍSICA ................................................................................................... 404 4.1.4 LÍNGUA INGLESA ..................................................................................................... 473 4.1.5 LÍNGUA ESPANHOLA ............................................................................................... 507 4.2 ÁREA DE MATEMÁTICA ..................................................................................................... 531 4.3 ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA ................................................................................. 601 4.3.1 CIÊNCIAS ...................................................................................................................601 4.4 ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS ......................................................................................... 652 4.4.1 GEOGRAFIA .............................................................................................................. 655 4.4.2 HISTÓRIA ................................................................................................................... 704 4.5 ÁREA DE ENSINO RELIGIOSO.................................................................................... 760 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 790 ANEXO ....................................................................................................................................... 796 8 APRESENTAÇÃO Esta Proposta Curricular e Pedagógica do Ensino Fundamental representa a congregação de todos os fundamentos e pressupostos que permeiam o contexto de reforma curricular da educação brasileira a partir da homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e da aprovação do Referencial Curricular Amazonense (RCA). A ideia foi elaborar uma proposta que pudesse não só servir de ferramenta capaz de auxiliar os profissionais da educação em seus trabalhos pedagógicos diários, mas também na construção de um novo currículo capaz de dialogar com os reais desafios da escola contemporânea. Trata-se de um documento que convida a todos a repensar o Ensino Fundamental, pois induz à reflexão acerca da transformação curricular pela qual passa toda a Educação Básica, apontando caminhos para que as ações curriculares no interior das escolas sejam pautadas por meio de práticas inovadoras, que considerem as identidades de professores e estudantes e atuais demandas da educação pública. Enfim, esta proposta que chega às suas mãos é resultado de um processo de construção coletiva empreendido por professores especialistas, equipe técnico-pedagógica e colaboradores da Secretaria de Estado de Educação e Desporto. Entretanto, somos conhecedores que sempre há um currículo sendo reconstruído na prática escolar, o que significa que, nesse sentido, professores e estudantes, os sujeitos por excelência da ação educativa, são os coautores dessa construção. Caros profissionais da educação, esperamos que a leitura deste documento lhes permita a reflexão sobre o importante papel que todos cumprem na formação integral de cada estudante de rede estadual do Amazonas. Abraços fraternos, LUIS FABIAN PEREIRA BARBOSA Secretário de Estado de Educação e Desporto (em exercício) RAIMUNDO BARRADAS Secretário Executivo Adjunto Pedagógico 9 INTRODUÇÃO A Secretaria de Estado de Educação e Desporto do Amazonas (SEDUC/AM), a partir da homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e da aprovação do Referencial Curricular Amazonense (RCA), sentiu a necessidade não só de atender às novas exigências legais que permeiam a reforma curricular da Educação Básica, mas também de criar novos cenários curriculares capazes de responder aos atuais desafios da sociedade contemporânea, marcada pelo dinamismo e pelas contínuas transformações. Ao encontro dessas novas instigações, esta Proposta Curricular e Pedagógica do Ensino Fundamental apresenta a todos os profissionais do Magistério Público Estadual desta rede as principais definições que passam a nortear o conjunto de ações que integram o trabalho curricular materializado no interior das salas de aula do Ensino Fundamental. O documento está dividido em introdução e mais quatro capítulos. No capítulo um são apresentadas as fundamentações legais associadas à oferta do Ensino Fundamental e às formas de organização dessa etapa na Rede Estadual, com destaque para o Ensino Presencial com Mediação Tecnológica. O capítulo dois traz abordagens que envolvem os significados e as relações entre currículo e competências, com as definições gerais que permeiam as questões de currículo inclusivo, dos temas contemporâneos transversais, das competências gerais do RCA, das competências socioemocionais, com sugestões de suas aplicabilidades. Posteriormente, o capítulo três apresenta as temáticas essenciais ao processo de ensino e aprendizagem e ao trabalho da equipe escolar, tais como: metodologias interdisciplinares, planejamento da prática docente, avaliação do processo de aprendizagem. Finalmente, o capítulo quatro apresenta os campos do organizador curricular, as áreas de conhecimento, os componentes e reúne os organizadores curriculares, em cujos quadros são apresentados os aspectos curriculares específicos de cada componente curricular, contendo as definições das aprendizagens essenciais para cada idade/ano escolar. Ademais, os organizadores trazem sugestões de atividades organizadas em unidades temáticas/eixos/práticas de linguagem, conforme a realidade de cada componente curricular. 10 Assim, espera-se que as orientações sugeridas neste documento tragam contribuições capazes de auxiliar as escolas nos desafios associados à operacionalização do currículo escolar e, ainda, possam cooperar para a garantia de um ensino de qualidade a todos os estudantes. Para tanto, faz-se necessário o engajamento de todos os atores da Rede Estadual de Educação em sua implantação, para que as diretrizes curriculares propostas neste documento se efetivem nas salas de aula, cabendo à administração geral da rede, por intermédio de seus departamentos e unidades meio (Coordenadorias de Educação): (i) garantir às unidades escolares condições adequadas para a inclusão da Proposta Curricular e Pedagógica na elaboração ou na adequação do Projeto Político Pedagógico; (ii) planejar e executar a divulgação e o acesso, e sensibilizar acerca da importância deste documento; (iii) planejar e executar formações para os professores e os coordenadores pedagógicos das escolas; e (iv) elaborar outros documentos pedagógicos orientadores, que auxiliem as escolas nesta implementação. Por conseguinte, o planejamento é uma das principais etapas para a implantação de políticas educacionais. Segundo Lück (2009, p. 32), na falta de planejamento “[...] trabalha-se, mas sem direção clara e sem consistência entre as ações”. Ou seja, para o alcance dos objetivos propostos é imprescindível o planejamento de ações pertinentes e exequíveis. Quanto às equipes gestoras das escolas, caberá: (i) articular com o corpo docente a socialização das diretrizes propostas neste documento a toda comunidade escolar, pois investir nas famílias e estudantes também é importante para a implantação do currículo escolar; (ii) atualizar as diretrizes curriculares propostas no projeto político pedagógico da escola, como forma de garantir os direitos de aprendizagem a todos os estudantes; (iii) promover ações de formação continuada em serviço no espaço escolar; (iv) viabilizar condições adequadas para que o corpo docente possa dar continuidade às aprendizagens de cada estudante em relação aos objetivos de aprendizagem; e (v) atender às orientações da SEDUC/AM para a efetiva implementação desta Proposta Curricular e Pedagógica. E, por fim, ao professor caberá: (i) auxiliar a equipe gestora na socialização das diretrizes constantes no documento junto a toda comunidade escolar; (ii) participar dos momentos de formação pedagógica promovidos pela administração da Rede Estadual de 11 Educação, assim como dos da própria escola nos momentos de estudo na Hora de Trabalho Pedagógico (HTP); (iii) selecionar e aplicar metodologias ativas de aprendizagem e estratégias didático-pedagógicas diversificadas, bem como recorrer a ritmos diferenciados e a conteúdos complementares, se necessário, para trabalhar com as necessidades individuais ou de diferentes grupos de estudantes. Dessa forma, faz-se de suma importância ressaltar que as orientações pedagógicasapresentadas neste documento, apesar de alinhadas às novas diretrizes educacionais, não têm a pretensão de esgotar todas as ações necessárias para a implementação desta proposta curricular, bem como de tirar das unidades escolares a autonomia na elaboração e execução de suas propostas pedagógicas, conforme o disposto no Art. 12 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/1996). 12 1 O ENSINO FUNDAMENTAL A Educação Básica pública no Brasil é ofertada em regime de colaboração entre seus entes federados. Conforme o que preconiza a LDBEN/1996, cabe aos municípios a oferta prioritária do Ensino Fundamental (EF) e aos estados, do Ensino Médio (EM). Contudo, ainda são poucos os municípios do Amazonas que municipalizaram o atendimento dos Anos Iniciais aos seus estudantes. Diante dessa realidade, a Rede Estadual de Educação do Amazonas assegura o atendimento dessa fase escolar aos discentes por meio da oferta de matrículas, na capital e nos municípios do interior do estado. Mediante tal particularidade, esta Proposta Curricular e Pedagógica contempla as duas fases do Ensino Fundamental. Neste capítulo, serão apresentadas as duas fases do Ensino Fundamental, Anos Iniciais e Anos Finais, com a finalidade de melhor compreender as especificidades da etapa de ensino e de cada uma de suas fases, por meio de sua fundamentação legal, das mudanças ocorridas na etapa nas últimas décadas, público-alvo e formas de organização. Em seguida, serão apresentadas as formas de organização na Rede Estadual de Educação do Amazonas, com destaque ao Ensino Presencial com Mediação Tecnológica, experiência de vanguarda na Educação Básica pública no Brasil, como garantia ao atendimento da escolarização básica aos estudantes das comunidades mais longínquas do interior do estado. 1.1 O Ensino Fundamental na Educação Básica Considerado nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) como “pedra angular da Educação Básica” (BRASIL, 2013, p.103), o Ensino Fundamental (EF), maior etapa de ensino da Educação Básica, de acordo com o Art. 32 da LDBEN/1996, tem como objetivo: [...] a formação básica que assegure ao cidadão o exercício da cidadania, mediante: I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social (BRASIL, 1996, p. 24). 13 A partir de sua ampliação para 09 anos, seu funcionamento e organização sofreram algumas mudanças. Dentre as principais, a inclusão das crianças com seis anos de idade na etapa de ensino, que até então faziam parte da Educação Infantil. Com essa alteração, as crianças passaram a ser alfabetizadas nessa faixa etária. Quanto à sua organização, a Resolução nº 03/2005 – CNE/CEB alterou a divisão da etapa de ensino em duas fases: os Anos Iniciais para os primeiros cincos anos, e Anos Finais para os últimos quatro anos. Cada uma com características próprias e com diversas possibilidades de organização, conforme o que preconiza a LDBEN/1996 vigente. Na próxima seção, apresenta-se a organização do Ensino Fundamental na Rede Estadual de Educação do Amazonas. 1.2 A organização do Ensino Fundamental na Rede Estadual de Educação do Amazonas A Secretaria de Estado de Educação e Desporto do Amazonas, em consonância com o que compete aos Estados, implantou o Ensino Fundamental de 09 anos nas escolas da rede de ensino, seguindo as orientações do Conselho Nacional de Educação (CNE) e dos Planos Nacionais de Educação (PNE). Ressalta-se que os sistemas de ensino possuem autonomia para definir as formas de organização dos níveis, etapas e modalidades de ensino da Educação Básica, conforme o disposto no Art. 23 da LDBEN nº 9.394/1996: A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar (BRASIL, 1996, p. 18). Nesse tópico serão apresentadas as diferentes formas de organização do Ensino Fundamental – Anos Iniciais e Anos Finais – na rede de ensino, com as respectivas justificativas, assim como do Ensino Presencial com Mediação Tecnológica, viabilizado pelo Centro de Mídias de Educação do Amazonas (CEMEAM), como forma de atendimento aos estudantes das escolas localizadas em comunidades do interior do estado. 14 1.2.1 Anos Iniciais do Ensino Fundamental Na Rede Estadual de Educação do Amazonas, os Anos Iniciais do Ensino Fundamental estão organizados em dois ciclos, com progressão contínua até o último ano de cada ciclo. O I Ciclo formado pelos três primeiros anos (1º, 2º e 3º anos), e o II Ciclo formado pelos dois últimos anos (4º e 5º anos). A priori, essa organização segue as orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos (BRASIL, 2010). De acordo com o documento, mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no uso de sua autonomia, fizerem opção pelo regime seriado, é necessário considerar os três anos iniciais do Ensino Fundamental como um bloco pedagógico ou ciclo sequencial não passível de interrupção, voltado para ampliar a todos os alunos as oportunidades de sistematização e aprofundamento das aprendizagens básicas, imprescindíveis para o prosseguimento dos estudos (BRASIL, 2010, p. 122). Nesse sentido, a Rede Estadual de Educação do Amazonas, além de seguir a orientação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (DCN), também considerou, dentre outros aspectos, a complexidade da alfabetização na língua portuguesa, os diferentes tempos de aprendizagem de cada estudante, e o prejuízo emocional que as reprovações causavam às crianças, muitas vezes no primeiro contato com a escola, no ensino com progressão seriada. Este último aspecto é considerado influência nos altos índices de abandono escolar, daí a importância em oportunizar um tempo maior para a consolidação das aprendizagens, principalmente os referentes à alfabetização. Por fim, é importante ressaltar que a continuidade desta organização adotada pela rede, com o ciclo da alfabetização (I Ciclo) compreendendo os três primeiros anos, não contradiz a orientação apresentada no documento da BNCC do Ensino Fundamental em que as habilidades referentes à aquisição do código escrito ou do Sistema de Escrita Alfabética (SEA) sejam consolidadas até a conclusão do 2º ano do Ensino Fundamental. Nesse sentido, a presente proposta alinha-se à BNCC e ao RCA do Ensino Fundamental, sem, contudo, reter a continuidade de estudo das crianças, que, por algum 15 motivo, no 2º ano do EF ainda não consolidaram plenamente essas habilidades e conhecimentos. Quanto à transição entre a Educação Infantil e os Anos Iniciais, e deste último para os Anos Finais, os documentos da BNCC e do RCA contemplam na sua fundamentação e organização, a integração, a continuidade e a progressão das habilidades e objetos de conhecimento como alternativas para a superação dos problemas decorrentes da fragmentação curricular entre as etapas e as fases de ensino. 1.2.2 Anos Finais do Ensino Fundamental Última etapa do Ensino Fundamental, os Anos Finais compreendem a continuidade e a progressão das habilidades e dos conhecimentos apreendidos ao longo dos Anos Iniciais. Embora tais etapas concretizem-se para públicos-alvo diferentes,é certo que, quanto às aprendizagens, devem manter um percurso contínuo (BRASIL, 2013, p.136) e ter como objetivo propor um currículo que contribua para o aprofundamento dos saberes adquiridos ao longo dos Anos Iniciais, respeitando a progressão dos objetos de conhecimento estudados e a complexidade inerente a eles. Na etapa dos Anos Finais, o estudante inicia sua caminhada ainda criança, porém a finaliza já adolescente, evidenciando o processo de transição que está intrínseco ao se cumprir esse percurso, o que justifica um olhar atento para a formação cidadã desse estudante enquanto protagonista de sua história. É compreendendo esse processo que a BNCC (BRASIL, 2017), assim pondera: Ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais, os estudantes se deparam com desafios de maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de se apropriarem das diferentes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados às áreas. Tendo em vista essa maior especialização, é importante, nos vários componentes curriculares, retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental – Anos Iniciais no contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios dos estudantes. Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses adolescentes, oferecendo- lhes condições e ferramentas para acessar e interagir criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação. (BRASIL, 2017, p. 58). É do conhecimento de todos que ao avançar para essa fase, os estudantes se deparam com um cenário totalmente diferente de outrora; antes uma sala de aula basicamente regida por um professor de formação generalista, agora o espaço se torna 16 compartilhado com um grupo de professores especialistas, cada um desenvolvendo a proposta pedagógica da escola em ritmos, horários e métodos diversos. Esses fatores contribuem para que o estudante dessa etapa desenvolva um comportamento mais autônomo e organizado, assumindo uma maior responsabilidade sobre o ato de aprender, corroborando com o que preconizam as DCN “o acesso ao conhecimento escolar tem, portanto, dupla função: desenvolver habilidades intelectuais e criar atitudes e comportamentos necessários para a vida em sociedade” (BRASIL, 2013, p. 112). Quanto à segunda fase do Ensino Fundamental, esta é organizada por meio do ensino seriado. Sua matriz curricular contempla os componentes da base nacional, com exceção de algumas escolas localizadas em municípios que fazem fronteira com países falantes da língua espanhola que, por conta deste contexto, trabalham além do componente Língua Inglesa, o componente Língua Espanhola. Daí a inclusão do componente nesta proposta, como parte do currículo diversificado para essas escolas. 1.3 O Ensino Presencial com Mediação Tecnológica Uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) é a universalização da Educação Básica. Sendo o estado do Amazonas o maior em extensão geográfica e tendo como principal meio de locomoção o transporte fluvial, a dificuldade de acesso à escola convencional tornou-se comum aos estudantes das comunidades mais distantes do interior do estado. O Ensino Presencial com Mediação Tecnológica atende estudantes desta Rede Estadual de Educação nos 62 municípios do estado, assegurando acesso e inclusão educacional aos estudantes das localidades mais remotas do Amazonas. A partir desse contexto, a Secretaria de Estado da Educação e Desporto vem continuamente desenvolvendo como política de acesso à educação, aos estudantes do Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e dos Anos Finais do Ensino Fundamental das comunidades mais remotas do estado, o Ensino Presencial com Mediação Tecnológica, por meio do Centro de Mídias de Educação do Amazonas (CEMEAM). Implantado em 2007, o CEMEAM é uma central de produção educativa, estruturada com uma plataforma tecnológica-digital, que objetiva garantir o atendimento 17 educacional da população das comunidades mais distantes do interior do estado. A tecnologia utilizada para a transmissão das aulas faz uso de um sistema via satélite de videoconferência, com interação de áudio e vídeo, sendo que cada sala de aula conta com um Kit Tecnológico1. O planejamento das aulas é realizado por professores especialistas assessorados por uma equipe pedagógica. As aulas são roteirizadas em uma central de produção educativa para TV, com o uso de diversos recursos midiáticos e ferramentas de comunicação transmitidas ao vivo, diariamente e simultaneamente, para todas as salas de aula dos diferentes níveis de ensino, em horário regular. A mediação presencial das aulas é realizada por um professor generalista, que recebe o plano de aula e as orientações didático-pedagógicas para conduzir o processo de aprendizagem do aluno. São utilizados diferentes recursos de interatividade em tempo real e mídias estrategicamente planejadas para o desenvolvimento das aulas síncronas e assíncronas2. A presencialidade às aulas pressupõe a participação e a interação efetiva dos integrantes no processo educativo: professores ministrantes (especialistas), professores presenciais (generalistas) e educandos, resultando no desenvolvimento de inteligências coletivas no ambiente de aprendizagem. Nesse modelo educativo é o professor especialista ministrante de cada componente curricular que, embora expondo os conteúdos curriculares e mediando os conhecimentos de um estúdio localizado em ponto remoto, faz-se presente em cada sala de aula, por meio dos recursos da tecnologia. Dessa forma, a interlocução colaborativa entre o professor ministrante, estudante e o professor presencial é fundamental para que a apreensão do conhecimento seja construída significativamente. A sequência didática das aulas segue uma organização bem estruturada, a fim de possibilitar aos alunos entendimento efetivo dos conteúdos ministrados, através de blocos de apresentação sendo dividida em: Exposição de conteúdo (revisão, desafio e conteúdo), Dinâmica Local Interativa (DLI)3 e Interatividade, realizados em tempo real. 1 Kit de hardwares disponibilizado nas salas de aula composto de uma antena digital, uma TV, uma CPU/IP. TV box, uma webcam, um microfone, um teclado, um mouse, um estabilizador e uma impressora. 2 Aulas Síncronas, cuja interação ocorre em tempo real durante a transmissão das aulas e aulas assíncronas são aulas que ocorrem remotamente, fora do horário de transmissão ao vivo das aulas. 3 Atividade realizada pelos estudantes presencialmente em sala de aula e mediadas pelo professor presencial 18 Vale ressaltar a importância do momento da Dinâmica Local Interativa (DLI), pois esta requer o olhar atento de todos os sujeitos (ministrantes presenciais e assessoria pedagógica), tornando-se um dos indicadores qualitativos para o feedback entre os condutores/mediadores da ação pedagógica em sala de aula. O acompanhamento pedagógico é realizado por uma equipe de pedagogos, que atende os professores ministrantes em todo o processo de planejamento, produção e transmissão das aulas. Os professores presenciais são acompanhados diariamente por meio de e-mail, comunicação telefônica e, de forma síncrona, via chat, ferramenta disponível na plataforma digital. O assessoramento aos professores ministrantes e presenciais é realizado pela equipe pedagógica durante o processo de elaboração das aulas (planejamento e produção), período de transmissão ao vivo e pós-término de apresentação de cada conteúdo. São utilizados diariamente canais de comunicação (correio eletrônico, contato telefônico, chat ao vivo) para atendimento das demandas dos professores presenciais. Assim, tendo como base o teor do Art. 27 da LDBEN 9.394/1996, pode-se afirmar que neste modelo didático-pedagógico, com uso da metodologia b-learning4 do ensino presencial com mediação tecnológica, realizam-se os processos de aprendizagens docurrículo convencional, com uma organização de tempos e espaços escolares específicos. A presente proposta, alinhada ao Referencial Curricular Amazonense (RCA), apresenta competências e habilidades referentes ao uso das tecnologias digitais no currículo formal do Ensino Fundamental. Seu uso na educação deve valorizar a relação sujeito-objeto do conhecimento, no contexto de aprendizagem com interface tecnológica e digital. Deste modo, considera a escola como o lugar geográfico da construção do conhecimento e do diálogo crítico, e as tecnologias de comunicação e informação como o diferencial metodológico que gera a inserção digital e social dos estudantes promovendo a aprendizagem em rede. Nesse sentido, o projeto pedagógico do Ensino Presencial com Mediação Tecnológica baseia-se no conceito de ciberespaço, que segundo Lévy (1999) é 4 B-learning é a sigla para “blended learning”, que pode ser traduzido livremente como aprendizado híbrido ou misto. Trata-se de uma combinação das abordagens pedagógicas colaborativas e tradicionais, ou seja, utilizam-se ferramentas tanto do ensino presencial quanto do ensino à distância (PONTES, 2013). 19 [...] uma forma ousada de se construir o conhecimento em dimensão coletiva da inteligência em ciberespaços, que antes se restringia a um espaço de comunicação aberto pela comunicação mundial dos computadores e memórias de computadores para tornar-se um estágio avançado de auto-organização social ainda em desenvolvimento (LÉVY, 1999, p. 92). Ou seja, o ciberespaço não é determinado apenas pelo uso de tecnologias digitais, mas pela superação da técnica para um estágio mais avançado, valorizando a informação construída coletivamente. Em relação à fundamentação legal do Ensino Fundamental Presencial com Mediação Tecnológica, este se respalda nas diretrizes presentes na Constituição Federal de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/1996), bem como nos demais documentos legais que regulamentam e orientam a educação nacional, como o Plano Nacional de Educação (PNE) e as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para Educação Básica (DCN). Dentre as normativas estaduais, a Resolução nº 65/2009 – CEE/AM autorizou seu funcionamento para os Anos Finais do Ensino Fundamental, com seu reconhecimento posterior pela Resolução nº 173/2013 – CEE/AM. Organizado também de forma seriada, os Anos Finais do Ensino Fundamental Presencial com Mediação Tecnológica têm a mesma duração e carga horária do Ensino Regular Presencial (de tempo parcial). Contudo, os componentes curriculares são modulares e contínuos até o cumprimento total da carga horária/ano letivo estabelecida na Matriz Curricular. Os tempos de aprendizagem, nos quais professores ministrantes, professores presenciais e estudantes atuam conjuntamente, ocorrem durante os 200 dias letivos, em horários pré-definidos (diurno), com 4 horas diárias de efetivo trabalho escolar, em cumprimento a um cronograma sequenciado de oferta dos componentes curriculares, com carga horária integral, sendo considerado concluído o ano escolar quando o estudante cumpre a carga horária total prevista para o curso. Essa organização visa possibilitar aos estudantes o cumprimento de componentes sem perdas das aprendizagens, quando ocorrer a descontinuidade dos estudos durante o percurso escolar. Quanto à progressão parcial, segue a mesma regra dos Anos Finais do Ensino Fundamental Regular Presencial, definida no Regimento Geral das Escolas Públicas Estaduais. 20 Sendo o Ensino Presencial com Mediação Tecnológica um modelo de ensino não convencional, com características de Ensino a Distância (EaD), faz-se necessária a oferta de ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs, aplicativos para smartphones, sites, portais, canais on-line, entre outros), buscando a ampliação das possibilidades de aprendizagens dos estudantes por meio da revisão de conteúdos curriculares, favorecendo espaços que conduzam ao fortalecimento dos conteúdos trabalhados nas aulas de todas as etapas e modalidades de ensino. Deste modo, o CEMEAM administra multiplataformas que apoiam o acesso ao repositório digital produzido. 21 2 CURRÍCULO E AS APRENDIZAGENS ESSENCIAIS Este capítulo apresenta, em linhas gerais, as discussões atinentes às questões curriculares e sua relação com as práticas pedagógicas, de modo a auxiliar na aprendizagem dos estudantes, tendo como linha condutora o compromisso com a formação e com o desenvolvimento do ser humano em todas as suas dimensões. Nesse sentido, a princípio aborda-se o conceito de currículo no qual está ancorada a Proposta Pedagógica e Curricular do Ensino Fundamental, bem como a inter-relação entre o currículo e a prática pedagógica de modo a garantir os direitos de aprendizagem dos estudantes, conforme preconiza a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Referencial Curricular Amazonense (RCA). 2.1 Diálogos Preliminares: Significados e Relações entre Currículo e Práticas Pedagógicas O processo formativo preconizado pela legislação nacional – Constituição Federal e Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – estabelece um conjunto de princípios e valores (éticos, políticos, estéticos) que visam a uma formação integral dos estudantes, garantindo-se, assim, o direito subjetivo à educação de todos os cidadãos brasileiros (BRASIL, 1988). Partindo do pressuposto de que a educação integral é uma “ação educacional que envolve diversas e abrangentes dimensões da formação de indivíduos”, é essencial implementar um currículo significativo capaz de desenvolver os estudantes em sua plenitude (CAVALIERE, 2010, s/p.). De igual modo, Moll (2011, p. 11) afirma que a educação integral visa à promoção do desenvolvimento dos estudantes em múltiplas dimensões, na tentativa de “construção de um cidadão pleno, autônomo, crítico e participativo” (idem). Em comprometimento com essa formação plena, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Referencial Curricular Amazonense (RCA) reafirmam que essa formação integral independe da duração da jornada, pois o foco é promover aprendizagens condizentes “com as necessidades, os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea” (BRASIL, 2017, p. 14). Assim, fica nítido que o conceito de Educação Integral, por ser o compromisso da 22 BNCC e do RCA, é um dos alicerces da Proposta Curricular e Pedagógica da Rede Estadual de Educação do Amazonas. Por essa razão, há necessidade de um currículo capaz de garantir as aprendizagens essenciais com o propósito maior de desenvolver integralmente todos os estudantes, para isso, adota-se nesta proposta a abordagem de currículo ancorada nas teorias pós-críticas que relacionam o currículo à “identidade, alteridade, diferença, subjetividade, significação e discurso, saber-poder, representação, cultura, gênero, raça, etnia, sexualidade e multiculturalismo” (PADILHA, 2012, p.192). Dessa forma, um currículo pós-crítico leva em consideração a identidade da escola, as questões que circundam a sociedade contemporânea, bem como àquelas relacionadas à vida social e ao cotidiano das crianças, adolescentes e jovens. Destaca-se ainda que as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN), em seu artigo 13, preconizam que o currículo “configura-se como o conjunto de valores e práticas que proporcionam a produção, a socialização de significados no espaço social e contribuem intensamente para a construção de identidades socioculturais” (BRASIL, 2013, p. 66). Fica evidente que a proposição de currículo adotada no Sistema de Ensino Brasileiro está em consonância com as proposições das teorias curriculares pós-críticas. Ainda na esteira dessa proposição curricular, faz-se necessário destacar que, em consonância com as DCN, esta Proposta Curriculare Pedagógica da Rede Estadual de Educação do Amazonas fundamenta-se no entendimento de que o currículo é constituído [...] pelas experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e saberes dos estudantes com os conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo para construir as identidades dos educandos (BRASIL, 2013, p. 66). Partindo desse entendimento, frisa-se a questão da complexidade curricular e sua inter-relação com os contextos dos estudantes de modo a sempre garantir aprendizagens tendo como ponto de partida o conhecimento historicamente construído e, também, os contextos sociais dos estudantes. Nessa perspectiva, Antonio Flávio Moreira e Vera Candau (2008, p. 22) consideram o currículo como um dispositivo no qual “se concentram as relações entre a escola e sociedade, entre os saberes e as práticas socialmente construídos e os conhecimentos da escola”. Esses autores apontam o currículo como sendo o “coração da escola”, pois é por meio dele que as “coisas” acontecem no espaço 23 escolar (MOREIRA e CANDAU, 2008, p. 19). Diante de tal afirmação, é oportuno destacar que o currículo não deve se resumir unicamente às proposições e práticas enquanto documentos escritos e sim deve-se incluir nesse processo os planejamentos reais, ou seja, os resultantes das vivências e das reconstruções exigidas pelos múltiplos espaços e contextos sociais. Assim, a proposição de uma educação que se quer cidadã voltada à formação plena dos estudantes exige um currículo integrado que proporciona o processo de interação entre os sujeitos. Para isso, é necessário que todo o corpo escolar, a comunidade educativa, as crianças, adolescentes e jovens tenham seu lugar no currículo de modo a incorporar não só as indagações dos professores, mas que também sejam incorporados aos currículos e às propostas pedagógicas “as indagações que as crianças e jovens carregam para as salas de aula” (ARROYO, 2013, p. 223). Nesse sentido, a Proposta Curricular e Pedagógica da Rede Estadual de Educação do Amazonas, em consonância com a BNCC e com o RCA, orienta que a prática pedagógica deve alinhar-se à implementação de um currículo cuja intenção educativa tenha significado para a comunidade escolar, aproximando-se das relações sociais e culturais nas quais os sujeitos estão inseridos, de maneira a garantir as aprendizagens essenciais ao longo do Ensino Fundamental. Além disso, a Proposta Curricular e Pedagógica ora apresentada organiza-se a partir de competências e habilidades que refletem os direitos de aprendizagem de todos os estudantes brasileiros, inclusive, dos amazonenses. De acordo com o artigo 3º da Resolução nº 02/2017 – CNE/CP, define-se nesta proposta competência como “mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores, para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BRASIL, 2017, p. 4). Esse conceito de competência aqui adotado remete às definições do que essencialmente os estudantes devem saber e saber-fazer, considerando-se as aprendizagens essenciais, a partir de um currículo integrado na perspectiva interdisciplinar, perpassando pelos Temas Contemporâneos Transversais5, a fim de que o 5 Proposta de integração curricular transversal, visando cumprir a legislação brasileira (BRASIL, 2019, p. 6). Sugere-se conferir adiante abordagem mais detalhada dessa temática. 24 estudante mobilize esses conhecimentos para que possa se posicionar no mundo, tomar decisões frente às situações e problemas sociais, enfim, exerça de fato a cidadania. 2.2 Proposições curriculares quanto à alfabetização e aos letramentos no Ensino Fundamental Propor um currículo significativo direcionado às crianças exige que haja uma integração a partir da valorização da ludicidade articulada às vivências e às experiências trazidas por elas desde a educação infantil e, também, dos seus contextos culturais e sociais. É importante destacar que o maior compromisso com a educação das crianças no Ensino Fundamental é o seu desenvolvimento global, tendo como prioridade, a ampliação de sua autonomia a partir da relação com as diversas linguagens, incluindo-se ainda os usos sociais da escrita e da matemática (BRASIL, 2018). A esse respeito a LDBEN 9.394/1996, no Artigo 32, inciso I, define que a formação do cidadão dar-se-á mediante o “desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo” (BRASIL,1996, p. 24, grifo nosso). Nesse excerto fica nítida a necessidade de os estudantes desenvolverem, ao longo do Ensino Fundamental, as habilidades de leitura e seus usos na sociedade. Nesse sentido, a BNCC e o RCA orientam que o foco da prática pedagógica nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental deve ser a alfabetização. Faz-se mister, contudo, destacar que o domínio pleno das habilidades de leitura e escrita perpassam não só pela alfabetização, mas também pelo letramento, conceitos que devem estar inter- relacionados e inseridos nas atividades previstas para os primeiros anos do Ensino Fundamental. Em consonância com essa proposição, é pertinente afirmar que esses conceitos, no contexto nacional, por vezes, se mesclam e se sobrepõem. Entretanto, para melhor condução de um currículo significativo, é importante compreender o processo de alfabetização e letramento, inserindo tais proposições na rotina pedagógica para que, além do domínio da tecnologia da leitura e da escrita, os estudantes utilizem socialmente essas habilidades nos diversos eventos de letramento. Na perspectiva de Magda Soares (2020, p. 27), a alfabetização trata-se do processo de aquisição da “tecnologia da escrita”, ou seja, o estudante nessa fase deve 25 apropriar-se das “técnicas, procedimentos, habilidades necessárias para a prática da leitura e da escrita”. Para isso, é necessário que o trabalho pedagógico seja proposto a partir de atividades sistêmicas cujo objetivo seja a apropriação do Sistema de Escrita Alfabética (SEA), considerando a faceta linguística na qual o foco está no domínio do sistema alfabético-ortográfico e das convenções da escrita (SOARES, 2018). Por sua vez, o letramento remete à “capacidade de uso da escrita para inserir-se nas práticas sociais e pessoais que envolvem a língua escrita” (SOARES, 2020). Ser um estudante letrado implica o desenvolvimento de inúmeras habilidades de uso dessa tecnologia, tanto na escrita quanto na leitura. Quanto a isso, as Diretrizes Curriculares Nacionais orientam que, no ciclo da alfabetização, é essencial considerar os domínios do código linguístico relacionando essa técnica aos usos sociais da escrita. Logo, fica nítida a inter-relação e a indissociabilidade da alfabetização e do letramento, sendo que um não é pré-requisito para o outro, ou seja, são “processos cognitivos e linguísticos distintos”, todavia, “simultâneos e interdependentes” (SOARES, 2020, p. 27). Dessa forma, no currículo ora proposto, a alfabetização e o letramento devem articular-se em favor da aprendizagem dos estudantes da Rede Estadual de Educação. Para isso, os professores devem não só compreender os conceitos como também adotar uma prática metodológica capaz de inserir os estudantes em eventos de letramento de modo a introduzir, ampliar e consolidar as habilidades de leitura e escrita. É importante ainda destacar que o Ensino Fundamental Anos Iniciais na rede estadual é organizado em ciclos, conforme a figura a seguir: Figura 1: Organização do Ensino Fundamental Anos Iniciais - SEDUC-AM Fonte: SEDUC, 2020. 26 Diante dessa organização e da necessidade de o estudante compreender a organização do SEA até o segundo ano do Ensino Fundamental, frisa-seque a organização em ciclos será mantida. Entretanto, os professores da rede devem primar em primeira instância pela consolidação da alfabetização dos estudantes até o 2º ano e, até o 3º ano dos Anos Iniciais, esse processo deve ser ampliado e consolidado de maneira a garantir os direitos de aprendizagem dos estudantes. 2.3 O Currículo Inclusivo A Educação Especial no Brasil tem passado por inúmeras transformações, as quais perpassam pelas concepções a respeito da temática ao longo dos anos. Se outrora os indivíduos públicos da Educação Especial eram submetidos à exclusão e segregação, no atual contexto passaram a ter a oportunidade de assumir seu papel como cidadãos por meio de marcos legais que legitimam seus direitos. Inicialmente é relevante retomar o documento da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, o qual define o público-alvo da Educação Especial como sendo os estudantes com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, que durante o processo educacional apresentam necessidades educacionais especiais. Ou seja, todas as crianças e jovens cujas necessidades educacionais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. Pesquisas e estudos apontam um consenso emergente de que crianças e jovens com necessidades educacionais devam ser incluídos em arranjos educacionais feitos para a maioria das crianças. Isto levou ao conceito de escola inclusiva ou inclusão escolar. No Brasil, a inclusão escolar se deu a partir da Política Nacional de Educação Especial (1994) a qual passava orientação aos sistemas de ensino acerca do processo de “integração instrucional” que garantiu o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que “[...] possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os estudantes ditos normais” (BRASIL, 1994, p.19). Vale ressaltar que não existe homogeneidade na escola, pois todas as turmas são heterogêneas e as diferenças são importantes para a integração das pessoas. Contudo, é 27 importante esclarecer que incluir é muito mais que integrar. Segundo Sassaki (2006), a integração propõe apenas a inserção parcial do sujeito. A inclusão é sua inserção total. O conceito de inclusão escolar adotado nesta proposta alinha-se aos documentos que normatizam a modalidade da Educação Especial no país, e fundamenta-se na proposição de Carvalho (2002, p.120) quando afirma que uma escola é inclusiva quando “inclui a todos, que reconhece a diversidade e não tem preconceito contra as diferenças, que atende às necessidades de cada um e que promove a aprendizagem.” A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no artigo 59, inciso I, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos estudantes “currículo, métodos, técnicas recursos e organização específicos para atender às suas necessidades” (BRASIL, 1996. p. 41), além de assegurar a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do Ensino Fundamental, em virtude de suas deficiências, e a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. Percebe-se no artigo supracitado, o princípio da equidade ao destacar a necessidade de provimento dos meios e recursos educacionais específicos para os estudantes da Educação Especial, incluídos nas turmas do ensino regular ou em escolas específicas. No que diz respeito ao Estado do Amazonas, o Conselho Estadual de Educação estabelece normas regulamentares para a oferta da Educação Especial nos Sistemas de Ensino por meio da Resolução nº 138/2012. – CEE/AM. Desta maneira, os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação devem ser contemplados com uma formação geral comum. Os avanços no campo das normativas voltadas para a Educação Especial são significativos. O Plano Nacional de Educação (PNE/2014), por exemplo, prevê a universalização do acesso à Educação Básica e ao Atendimento Educacional Específico (AEE) para o público-alvo da Educação Especial até 2024. Contudo, além das normativas, da adaptação arquitetônica das escolas e da implantação do AEE, por meio das salas de recursos multifuncionais, comprovam o quão é imprescindível que a oferta dos serviços voltados à inclusão seja de qualidade. No tocante ao contexto curricular, a LDBEN/1996 orienta flexibilização e adaptações curriculares, considerando o currículo como concretização das intenções 28 educativas da escola, que se materializam por meio do Projeto Político Pedagógico de cada unidade escolar. Essa proposta foi ratificada pela Resolução nº 2/2001 – CNE/CEB, em seu Art. 8º, no qual define que as escolas da rede regular de ensino devem prever e prover “III - flexibilizações e adaptações curriculares que considerem o significado prático e instrumental dos conteúdos básicos [...]” (BRASIL, 2001, s/p.). Assim sendo, apresentaremos um conjunto de modificações nos elementos físicos e materiais de ensino disponibilizado pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação (SEESP/MEC), que pode ser utilizado para que os estudantes, público da Educação Especial, tenham acesso ao currículo. Essas modificações são definidas como adequações ou recursos que irão facilitar o desenvolvimento dos alunos ao currículo escolar. Dentre elas: [..] criar condições físicas, ambientais e materiais para o aluno na sua unidade escolar de atendimento; propiciar os melhores níveis de comunicação e interação com as pessoas com as quais convive na comunidade escolar; favorecer a participação nas atividades escolares; propiciar o mobiliário específico necessário; fornecer ou atuar para a aquisição dos equipamentos e recursos materiais específicos necessários; adaptar materiais de uso comum em sala de aula; adotar sistemas de comunicação alternativos para os alunos impedidos de comunicação oral (no processo de aprendizagem e na avaliação). Sugestões que favorecem o acesso ao currículo: agrupar os alunos de uma maneira que facilite a realização de atividades em grupo e incentive a comunicação e as relações interpessoais; propiciar ambientes com adequada luminosidade, sonoridade e movimentação; encorajar, estimular e reforçar a comunicação, a participação, o sucesso, a iniciativa e o desempenho do aluno; adaptar materiais escritos de uso comum: destacar alguns aspectos que necessitam ser apreendidos com cores, desenhos, traços; cobrir partes que podem desviar a atenção do aluno; incluir desenhos, gráficos que ajudem na compreensão; destacar imagens; modificar conteúdos de material escrito de modo a torná-lo mais acessível à compreensão etc.; providenciar adaptação de instrumentos de avaliação e de ensino e aprendizagem; favorecer o processo comunicativo entre aluno-professor, aluno- aluno; alunos-adultos; providenciar softwares educativos específicos; despertar a motivação, a atenção e o interesse do aluno; apoiar o uso dos materiais de ensino e aprendizagem de uso comum; atuar para eliminar sentimentos de inferioridade, menos valia e fracasso (BRASIL, 2003, p. 71). Para a garantia do atendimento eficaz dos alunos público-alvo da Educação Especial é necessário que todos os atores envolvidos no processo de ensino destes estudantes promovam não apenas a adaptação curricular, mas também sua flexibilização com foco na mudança das práticas. Desta maneira, as metodologias aplicadas em sala devem ser compatíveis às necessidades dos estudantes. É necessário ratificar que essa adequação não se trata do estigma em relação ao processo de ensino e aprendizagem dos alunos especiais. Mas sim, da articulação do 29 currículo e de todos os atores envolvidos na construção do saber para que a garantia dos direitos destes estudantes seja efetivada, partindo da construção do Plano de DesenvolvimentoIndividual e Escolar elaborado pela escola, família e profissionais do serviço de Atendimento Educacional Especializado, além dos serviços disponíveis na Educação Especial, tais como: Atendimento Educacional Especializado (AEE), Auxiliar da Vida Escolar, Tradutor/Intérprete de Libras, Atendimento Domiciliar e Classe Hospitalar, Guia-Intérprete, entre outros. Ainda sobre o currículo inclusivo, os alunos surdos, a partir do Decreto nº 5.626/2005, passam a ter em seu currículo escolar o ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras e o ensino da língua portuguesa como segunda língua, com a organização da educação bilíngue no ensino regular, escolas ou classes bilíngues. Outra garantia foi a formação e a certificação de instrutor e tradutor/intérprete de Libras. Em relação ao processo avaliativo, na perspectiva inclusiva, este deve estar diretamente ligado a esta diversificação, atendendo às diferentes características e necessidades educativas de cada estudante. Desta forma, uma avaliação inclusiva é aquela que tenha significado para o educando. E é por isso que alguns questionamentos perpassam o processo avaliativo, tais como: O que o aluno sabe? Como avaliar? Quais estratégias usar? para que esta avaliação seja para além do estabelecimento de nota e foque no desenvolvimento integral do aluno. Nessa conjuntura, é imprescindível o contínuo investimento na formação de todos os professores, ofertando, sistematicamente, cursos de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), do Sistema Braille e das demais especificidades da Educação Especial. Portanto, esta Proposta Curricular e Pedagógica, por meio destas reflexões, visa orientar todos os professores acerca da concepção e da importância do currículo inclusivo para o processo de ensino e de aprendizagem dos estudantes da Educação Especial desta rede de ensino. 2.4 Temas Contemporâneos Transversais Embora a nomenclatura tenha sido atualizada, a preocupação em inserir temáticas que abordem questões sociais nos currículos é antiga. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) ao serem publicados em 1997 propunham, já naquele momento, a 30 incorporação de Temas Transversais que perpassassem todas as áreas e/ou componentes curriculares de forma transversal em todo o currículo escolar. Ao orientar as redes e escolas para essa prática, o documento visava à construção da cidadania por meio de “[...] uma prática educacional voltada para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e ambiental.” (BRASIL,1997, p.15). Ou seja, para que essa prática educacional se concretize em cada sala de aula, é preciso que o professor trabalhe, de forma integrada, temáticas contemporâneas que evocam reflexões acerca de princípios, valores e posturas em discussão ou ameaçados na sociedade. Entende-se que tais reflexões são necessárias para a construção de um pensar e um agir que atendam os princípios que regem a educação básica pública do país. A BNCC, ao propor a incorporação de temas contemporâneos nos currículos e propostas pedagógicas, aponta a responsabilidade que deve ser assumida pelas redes de ensino e escolas, “preferencialmente de forma transversal e integradora” (BRASIL, 2017, p.19). Assumindo este desafio, a Rede Estadual de Educação do Amazonas integra, à proposta aqui presente, sugestões quanto ao trabalho com temas que atendam às demandas da sociedade contemporânea, não se limitando a um olhar do/sobre o local, mas, a partir dele, ampliando-se ao global por entender que são temas “[...] que afetam a vida humana em escala global, regional e local, bem como na esfera individual [...].” (BRASIL, 2010, p. 05) Afinal, é papel da escola propor a seus estudantes práticas pedagógicas vinculadas ao contexto no qual estão inseridos com intuito de que estes sejam transformadores da sociedade em que vivem, respeitando, claro, suas possibilidades, potencialidades e fragilidades. Entende-se o conceito de transversalidade conforme publicado no material Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) na BNCC - Propostas de Práticas de Implementação “[...] a transversalidade é um princípio que desencadeia metodologias modificadoras da prática pedagógica, integrando diversos conhecimentos e ultrapassando uma concepção fragmentada, em direção a uma visão sistêmica.” (BRASIL, 2019, p. 4) Esta Proposta Curricular e Pedagógica apresenta os TCTs em todos os componentes curriculares, como sugestões que visam demonstrar as possibilidades de 31 uso dos temas de forma integrada aos objetos de conhecimento e habilidades presentes nos Organizadores Curriculares. Dessa forma, a autonomia de professores e escolas é respeitada, cabendo-lhes a tarefa de traçar essa transversalidade de forma sistêmica para mostrá-la, na prática, aos estudantes, o que exige estar atento ao contexto. Na figura abaixo, as macroáreas e seus respectivos Temas Contemporâneos Transversais preconizados pela BNCC: Figura 2: Temas Contemporâneos Transversais Fonte: BRASIL, 2019. Os planejamentos deverão levar em conta as questões sociais que reverberam em contexto local, regional, nacional e mundial; ação a ser seguida da transposição didática que culminará com as discussões em sala de aula, possibilitando aos estudantes compreenderem o que precisa ser feito enquanto cidadãos para além do contexto escolar. Ou seja, almejar uma sociedade cujos cidadãos saibam efetiva, proativa, respeitosa e eticamente atuar, entendendo e respeitando aqueles que são diferentes e quais são seus direitos e deveres, visando ao bem e ao progresso comum, é tarefa que, certamente, cabe à escola. Somente essa afirmação já justifica a inserção de tais temas neste documento. 32 2.5 Competências Gerais da Educação Básica Ancorada nos documentos mandatórios, esta proposta apresenta as aprendizagens essenciais a serem desenvolvidas nas escolas da Secretaria de Estado de Educação e Desporto do Amazonas. Estas devem garantir o desenvolvimento de competências fundamentais ao processo de formação dos estudantes da Educação Básica. Relembramos que competência é “mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.” (BRASIL, 2017, p.09). São 10 as Competências Gerais definidas no documento supracitado, as quais perpassam o currículo escolar da Educação Infantil até o Ensino Médio. São elas: 01. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 02. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 03. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico- cultural. 04. Utilizar diferentes linguagens – (oral ou visual-motora, como Libras e escrita), corporal, visual, sonora e digital, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 05. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar,acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 06. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 07. Argumentar, como base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 33 08. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 09. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceito de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. (BRASIL, 2017, p. 9). Em linhas gerais, elas tratam sobre: Conhecimento; Pensamento Científico, Crítico e Criativo; Repertório Cultural; Comunicação; Cultura Digital; Trabalho e Projeto de Vida; Argumentação; Autoconhecimento e Autocuidado; Empatia e Cooperação; e Responsabilidade e Cidadania. A seguir apresentaremos um resumo sobre os aspectos abordados nas competências gerais nessa proposta, conforme o RCA (AMAZONAS, 2019): • Conhecimento: trata sobre o entender para explicar a realidade da sociedade e a partir disso colaborar para que esta se torne mais justa, democrática e inclusiva; • Pensamento Científico, Crítico e Criativo: exercitar a curiosidade intelectual do estudante para que tenha condições de investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular, resolver problemas; • Repertório Cultural: ser capaz de valorizar as diversas manifestações culturais e artísticas existentes para usufruir das mesmas; • Comunicação: fazer uso das linguagens verbal, corporal, visual, sonora, digital, matemática e científica para se expressar e partilhar sentimentos, informações, ideias e experiências; • Cultura Digital: ser capaz de se comunicar, acessar, produzir tecnologias digitais, exercitando seu protagonismo de autoria; • Trabalho e Projeto de Vida: na Educação Básica, os estudantes desenvolverão a capacidade de compreender o mundo do trabalho para fazer suas escolhas; • Argumentação: formular e defender ideias a partir de fundamentos embasados em dados, fatos e informações; 34 • Autoconhecimento e Autocuidado: cuidado com a saúde física e emocional, compreendendo e sabendo lidar com as emoções no cotidiano; • Empatia e Cooperação: ser capaz de respeitar e promover o respeito; • Responsabilidade e Cidadania: o estudante da Educação Básica deverá ser capaz de tomar decisões alinhadas aos princípios éticos, democráticos, inclusivos e sustentáveis. Na prática, a partir da implementação desta proposta, a qual está alinhada às prerrogativas supracitadas, o que se pretende é contribuir para que nossos estudantes saibam aplicar os saberes adquiridos em sala de aula cumprindo de maneira significativa suas atitudes cotidianas pautando-se, dentre outros, por princípios como: ética, justiça social, direitos humanos e sustentabilidade ambiental, ou seja, para além do intelectual, ser um ser humano com desenvolvimento cultural, social, físico e emocional. 2.5.2 Competências Socioemocionais A educação em perspectiva integral, transformadora e significativa aos atores que nela constroem o exercício cotidiano dos processos de ensino e aprendizagem é desafiadora. Nesses caminhos, é necessário construir práticas educacionais na defesa da integralidade do ser humano, formadoras de cidadãos que possam enfrentar os desafios do século XXI. Delors et al. (1996), em Relatório para Unesco, apontam que a educação precisa estar alicerçada em 4 pilares: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver juntos (ou conviver) e aprender a ser. Segundo os autores, [...] aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes (DELORS et al., 1996, p. 90). Ou seja, é necessário preparar os estudantes nessa perspectiva que reconhece suas dimensões humanas enquanto protagonistas de suas histórias e da construção de uma sociedade mais equânime e humanizada. Nesse contexto, precisa-se considerar elementos importantes como os apresentados na figura 3. 35 Figura 3: Sugestão de elementos para suscitar o debate sobre as Competências Socioemocionais Fonte: SEDUC/AM, 2020. Esse debate ainda é ancorado nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Brasil, 2013), que ratifica: [...] na Educação Básica, o respeito aos estudantes e a seus tempos mentais, socioemocionais, culturais, identitários, é um princípio orientador de toda a ação educativa. É responsabilidade dos sistemas educativos responderem pela criação de condições para que crianças, adolescentes, jovens e adultos, com sua diversidade (diferentes condições físicas, sensoriais e socioemocionais, origens, etnias, gênero, crenças, classes sociais, contexto sociocultural), tenham a oportunidade de receber a formação que corresponda à idade própria do percurso escolar, da Educação Infantil, ao Ensino Fundamental e ao Médio (BRASIL, 2013, p. 35). À luz do referencial teórico apontado, analisa-se que é importante considerar o debate sobre as Competências Socioemocionais, para de fato propor práticas educacionais que atendam às necessidades dos estudantes, a fim de que estes recebam uma formação integral. Tanto a BNCC quanto o RCA apontam por meio de dez competências gerais (1- Conhecimento; 2- Pensamento Científico, Crítico e Criativo; 3- Repertório Cultural; 4- Comunicação; 5- Cultura Digital; 6- Trabalho e Projeto de Vida; 7- Argumentação; 8- Autoconhecimento e Autocuidado, 9- Empatia e Cooperação e 10- Autonomia, Responsabilidade e Cidadania) sua relação com as Competências Socioemocionais para a pauta de uma educação integral no cotidiano escolar. 36 Esse debate suscita indagações: Quais são as principais Competências Socioemocionais? Por que falar dessas competências? Considerando ainda uma diversidade de atores na educação, é possível desenvolver as Competências Socioemocionais no cotidiano escolar? As Competências Socioemocionais, segundo o Instituto Ayrton Senna (IAS, 2020), “são capacidades individuais que se manifestam nos modos de pensar, sentir e nos comportamentos ou atitudes para se relacionar consigo mesmo e com os outros, estabelecer objetivos, tomar decisões e enfrentar situações adversas ou novas.” Santos e Primi (2014, p.16), em documento intitulado Desenvolvimento socioemocional e aprendizado escolar: uma proposta de mensuração para apoiar políticas públicas, apontam que há um debate sobre os cinco grandes fatores (Big Five), no estudo das competências socioemocionais: 1. Abertura a Novas Experiências; 2. Extroversão; 3. Amabilidade; 4. Conscienciosidade; e 5. Estabilidade Emocional. Nesse contexto, o IAS (2020) apontaas cinco macrocompetências e seus desdobramentos conforme a figura 4. Figura 4: Competências Socioemocionais Fonte: Adaptada de IAS, 2020. É necessário considerar as especificidades e demandas de cada escola no sentido de melhor organizar as estratégias para o exercício efetivo dessas competências no 37 contexto escolar. É interessante que essas competências fortaleçam a luta por mais humanização e equidade no campo educacional, contribuindo para a construção de uma sociedade mais equânime, sensível ao outro e que contemple a diversidade e o direito à educação. Nesse sentido, Abed (2016) pondera que [...] a preocupação em não sobrecarregar as escolas e os professores na tarefa de educar as próximas gerações é justa. Defender que o desenvolvimento das habilidades socioemocionais seja promovido no ambiente escolar não implica em isentar a família, a sociedade, as políticas públicas. É preciso fortalecer toda a sociedade para que cada elo possa cumprir o seu papel e colaborar com os demais em suas funções (ABED, 2016, p.17). Assim, no que se refere a sugestões pedagógicas de trabalho com as Competências Socioemocionais, a Secretaria de Estado de Educação e Desporto do Amazonas, por meio da nota de recomendação intitulada Orientações sobre as Competências Socioemocionais (AMAZONAS, 2020), apresenta alguns apontamentos quanto ao Ensino Fundamental, ressaltando que esses devem ser analisados em conformidade com as necessidades da escola pela sua equipe pedagógica. Sugere-se, em conformidade à nota supracitada, as seguintes aplicabilidades: 38 Quadro 1: Sugestões de aplicabilidade das Competências Socioemocionais Sugestões de aplicabilidade das Competências Socioemocionais Exemplos Principais Competências Socioemocionais trabalhadas Componentes Curriculares: 1. Criar um ambiente harmônico, que permita ao estudante expressar suas emoções e o social (através da interação com os outros), 2. Refletir sobre sua participação e responsabilidade nas aulas. Explanar a aula, sugere-se que o professor apresente o planejamento e também a responsabilidade de todos para sua exequibilidade, permitindo a expressão e escuta de opiniões com empatia. • Conscienciosidade (Organização e Responsabilidade); • Amabilidade; • (Respeito e Confiança); • Abertura ao Novo (Curiosidade para aprender). Aplicada a todos os componentes. 2. Desenvolver trabalhos individuais e coletivos em sala de aula. Propor à turma que interpretem uma poesia ou um poema, uma música, danças e outras expressões artísticas. • Abertura ao novo (curiosidade para aprender, imaginação criativa e interesse artístico); • Amabilidade (respeito e empatia); • Estabilidade Emocional (tolerância e flexibilidade); • Extroversão (assertividade e interação social). Língua Portuguesa; Língua Inglesa, Língua Espanhola, Arte, Educação Física. 3. Contação de histórias, através de fantoches e/ou peças teatrais. Propor à turma a contação de lendas e narrativas sobre culturas nos diversos territórios; folclore e fatos históricos e diversidade de religiões, por meio de fantoches e/ou peças teatrais. • Abertura ao Novo (curiosidade para aprender, imaginação criativa e interesse artístico); • Amabilidade (respeito e empatia); • Extroversão (assertividade e interação social). História, Geografia, Ensino Religioso e Arte. 4. Práticas esportivas, artísticas e culturais com participação da família, incluindo oficinas, cursos, festivais de dança e/ou de música. Propor à turma oficinas, cursos, festivais de dança e/ou de música, entre outras metodologias como gincanas, jogos estudantis, fanfarras e feiras de ciências para agregar a comunidade escolar no estudo de diversas temáticas. • Abertura ao Novo (curiosidade para aprender, imaginação criativa e interesse artístico); • Extroversão (assertividade e interação social). Educação Física, Arte e Ciências. 5. Desenvolver atividades e dinâmicas, por meio de jogos de tabuleiro e digitais entre outros, que exercitem o conhecimento sobre si mesmo Propor olimpíadas que desenvolvam o estímulo ao raciocínio lógico-matemático e resolução colaborativa de problemas, dentre outras formas de estímulos para o processo de ensino-aprendizagem. • Abertura ao Novo (curiosidade para aprender e imaginação criativa); • Extroversão (assertividade e interação social), Amabilidade (Empatia) e Estabilidade Emocional Matemática. 39 e sobre resoluções de problemas no lugar onde vive. (Autoconfiança e Resiliência). 6. Desenvolver uma temática através da Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL - sigla em inglês), na qual o estudante é responsável pela sua aprendizagem. Propor aos estudantes uma temática para ambiental: Esclarecer frases e conceitos na formulação do problema; Descrever os fenômenos que devem ser explicados e entendidos; Fazer a chuva de ideias (Brainstorming), a partir dos conhecimentos prévios dos estudantes; Propor temas para a aprendizagem autodirigida; Estimular o estudo individual para complementação da pesquisa realizada também em grupos; Compartilhar os resultados com o grupo. • Conscienciosidade (responsabilidade, organização e foco); • Amabilidade (respeito e empatia); • Extroversão (assertividade e interação social, imaginação criativa); • Estabilidade Emocional (autoconfiança e resiliência). Ciências e Geografia. 7.Desenvolver atividades de atenção plena (mindfulness), como exercícios de respiração, meditação e/ou prática de yoga. Propor aos estudantes que se sentem no chão e em círculo, de olhos fechados e postura ereta; Tocar um som que identifique o início da meditação; Pedir que eles coloquem a mão no peito ou no estômago para sentirem a própria respiração; Pedir que inspirem e expirem os ajudam também a não ficarem dispersos. Tocar um som que identifique o término da prática. Utilizar o horário após o intervalo (para criar uma rotina) de meditação, o tempo inicial é de 3 minutos e podem prolongar a prática de acordo com a adaptação da turma e a idade dos estudantes. Ao final, abrir espaço para os estudantes expressarem o que sentiram durante a prática. • Conscienciosidade (responsabilidade, foco, persistência e confiança); • Estabilidade Emocional (autoconfiança, resiliência e tolerância ao estresse); e • Amabilidade (respeito, empatia e confiança). Ciências e Educação Física. 8. Valorizar e utilizar conhecimentos historicamente construídos sobre equidade, democracia, inclusão, diferentes culturas e tradições religiosas. Trabalhar, por meio de um laboratório da memória, gincanas, roda de conversa e outras metodologias, podem debater sobre o tempo histórico e a construção de processos democráticos, de cidadania e das diferentes tradições religiosas, expressando o estudo da comunidade e de seus registros históricos. • Abertura ao Novo (curiosidade para aprender, imaginação criativa e interesse artístico); • Conscienciosidade (responsabilidade); • Extroversão (assertividade e interação social); • Amabilidade (respeito e empatia). História, Ensino Religioso e Arte. Porém, conforme a temática e a abordagem, pode ser aplicada a todos os componentes. Fonte: SEDUC/AM, 2020 (adaptado). 40 Destaca-se que as Competências Socioemocionais podem fortalecer mudanças, no sentido de propor uma educação humanizada, equânime e transformadora. Para isso, faz-se necessário que a escola realize o mapeamento dos recursos disponíveis, o estudo diagnóstico das necessidades do seu território, a gestão e a cogestão com estudos permanentes da temática, atendendo assim o fomento de uma discussão coletiva e participativa com os atores que nela constroem o cotidiano e as vivências. 41 3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Entende-se neste capítulo por práticas pedagógicas
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