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<p>Filosofia da Educação</p><p>Unidade 1</p><p>Fundamentos da Filosofia</p><p>Diretor Executivo</p><p>DAVID LIRA STEPHEN BARROS</p><p>Gerente Editorial</p><p>CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA</p><p>Projeto Gráfico</p><p>TIAGO DA ROCHA</p><p>Autoria</p><p>CARMEM SILVIA DA FONSECA KUMMER LIBLIK</p><p>AUTORIA</p><p>Carmem Silvia da Fonseca Kummer Liblik</p><p>Sou formada em Bacharelado e em Licenciatura em História, com</p><p>Mestrado e Doutorado em História, pela UFPR. Também sou formada</p><p>em Química Ambiental pela UTFPR, com especialização em Tutoria em</p><p>EAD pela UNINTER. Tenho experiência profissional na área de ensino e</p><p>de produção de material didático há 14 anos. Passei por empresas como</p><p>Uninter, PUC-PR e UFPR. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir</p><p>minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões.</p><p>Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de</p><p>autores independentes. Estou muito feliz por poder ajudar você nesta fase</p><p>de muito estudo e de muito trabalho. Conte comigo!</p><p>ICONOGRÁFICOS</p><p>Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez</p><p>que:</p><p>OBJETIVO:</p><p>para o início do</p><p>desenvolvimento de</p><p>uma nova compe-</p><p>tência;</p><p>DEFINIÇÃO:</p><p>houver necessidade</p><p>de se apresentar um</p><p>novo conceito;</p><p>NOTA:</p><p>quando forem</p><p>necessários obser-</p><p>vações ou comple-</p><p>mentações para o</p><p>seu conhecimento;</p><p>IMPORTANTE:</p><p>as observações</p><p>escritas tiveram que</p><p>ser priorizadas para</p><p>você;</p><p>EXPLICANDO</p><p>MELHOR:</p><p>algo precisa ser</p><p>melhor explicado ou</p><p>detalhado;</p><p>VOCÊ SABIA?</p><p>curiosidades e</p><p>indagações lúdicas</p><p>sobre o tema em</p><p>estudo, se forem</p><p>necessárias;</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>textos, referências</p><p>bibliográficas e links</p><p>para aprofundamen-</p><p>to do seu conheci-</p><p>mento;</p><p>REFLITA:</p><p>se houver a neces-</p><p>sidade de chamar a</p><p>atenção sobre algo</p><p>a ser refletido ou dis-</p><p>cutido sobre;</p><p>ACESSE:</p><p>se for preciso aces-</p><p>sar um ou mais sites</p><p>para fazer download,</p><p>assistir vídeos, ler</p><p>textos, ouvir podcast;</p><p>RESUMINDO:</p><p>quando for preciso</p><p>se fazer um resumo</p><p>acumulativo das últi-</p><p>mas abordagens;</p><p>ATIVIDADES:</p><p>quando alguma</p><p>atividade de au-</p><p>toaprendizagem for</p><p>aplicada;</p><p>TESTANDO:</p><p>quando o desen-</p><p>volvimento de uma</p><p>competência for</p><p>concluído e questões</p><p>forem explicadas;</p><p>SUMÁRIO</p><p>Origens e conceito da Filosofia ............................................................. 10</p><p>Sócrates – Platão – Aristóteles e seus lugares na história da</p><p>Filosofia ........................................................................................................... 15</p><p>Conhecimento mítico e conhecimento filosófico ..........................24</p><p>A questão do saber – o conhecimento e sua tipologia ...............26</p><p>Os tipos de conhecimento .......................................................................................................27</p><p>Conhecimento empírico .........................................................................................27</p><p>Conhecimento filosófico .........................................................................................28</p><p>Conhecimento científico .........................................................................................28</p><p>Conhecimento teológico ou religioso ..........................................................29</p><p>7</p><p>UNIDADE</p><p>01</p><p>Filosofia da Educação</p><p>8</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Caro aluno, você, em algum momento, parou para refletir que</p><p>as pessoas, por viverem em grupos, têm de organizar suas formas de</p><p>pensamento, para que possam compreender-se mutuamente? Isso</p><p>está relacionado à função da Filosofia na formação da nossa sociedade,</p><p>sabia disso? Sendo assim, neste material, explicaremos as dimensões</p><p>do universo da Filosofia, verificando como surgiu e os primeiros a</p><p>influenciar o modo ocidental de pensar. Convidamos você, aluno, a</p><p>estudar Filosofia para, por um lado, fundamentar as suas premissas</p><p>educacionais, mas, ainda, por outro, para subsidiar as suas premissas</p><p>de vida. Por foi, como não poderia deixar de acontecer, daremos</p><p>atenção, ainda, a nomes famosos, como Sócrates, Platão e Aristóteles;</p><p>e aos filósofos que se dedicaram a refletir sobre educação. Entendeu?</p><p>Ao longo desta unidade letiva, você mergulhará nesse universo!</p><p>Filosofia da Educação</p><p>9</p><p>OBJETIVOS</p><p>Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar</p><p>você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o</p><p>término desta etapa de estudos:</p><p>1. Explicar o conceito da Filosofia e estabelecer relação com as suas</p><p>origens.</p><p>2. Reconhecer as bases teóricas que fundamentam a história da</p><p>Filosofia da Educação e registrar os aspectos relevantes.</p><p>3. Identificar a diferença entre conhecimento mítico e conhecimento</p><p>filosófico, destacando suas principais características.</p><p>4. Classificar a tipologia do conhecimento e descrever cada um dos</p><p>tipos.</p><p>Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao</p><p>conhecimento? Ao trabalho!</p><p>Filosofia da Educação</p><p>10</p><p>Origens e conceito da Filosofia</p><p>OBJETIVO:</p><p>Ao término deste capítulo você será capaz de explicar</p><p>o conceito da Filosofia e estabelecer a relação com as</p><p>suas origens. E então? Motivado para desenvolver esta</p><p>competência? Então vamos lá. Avante!</p><p>A partir de seu grau de desenvolvimento, de uma perspectiva que</p><p>considere critérios como acúmulo de riquezas e organização política,</p><p>as sociedades, de uma maneira natural, voltam-se à prática artística, à</p><p>prática educacional à prática filosófica e à prática científica. Conosco, do</p><p>Ocidente, isso teve isso na Antiguidade Clássica, na Grécia, sobretudo</p><p>desde o século VI a.C. Os primeiros passos da Filosofia estiveram</p><p>relacionados à necessidade de explicar a realidade e os fenômenos</p><p>naturais. Os filósofos de então, responsáveis por inaugura a Filosofia que</p><p>conhecemos atualmente, tornam-se conhecidos como pré-socráticos.</p><p>IMPORTANTE:</p><p>Sócrates, de quem falaremos mais adiante, teve uma</p><p>importância enorme para a Filosofia. Por essa razão, os</p><p>Filósofos anteriores a Sócrates são chamados de pré-</p><p>socráticos.</p><p>Entre as principais preocupações dos pré-socráticos, estava a</p><p>compreensão do princípio subjacente ao funcionamento de todas as</p><p>coisas, a arché, talvez o assunto mais antigo a ser debatido de que se</p><p>tem notícia. Esse tópico, há mais de dois mil anos, gera muita discussão.</p><p>Por exemplo, para Tales de Mileto (624-546), o mais antigo de todos os</p><p>pré-socráticos, apostava que o princípio subjacente ao funcionamento de</p><p>todas as coisas fosse a água.</p><p>Basicamente, Tales de Mileto e muitos de seus seguidores</p><p>acreditavam que poderiam, com base em observações, definir a matéria</p><p>de que o cosmo é feito (arché), reduzindo-a a um elemento mínimo – no</p><p>Filosofia da Educação</p><p>11</p><p>seu caso, à água. Assim, essas ideias foram transformadas em um sistema</p><p>teórico, o monismo, que consistia, justamente, em defender que o universo,</p><p>como um todo poderia ser decomposto em uma única substância.</p><p>O ponto mais importante da discussão de Tales de Mileto está no</p><p>seguinte fato: independentemente de sua grandeza e de sua hierarquia no</p><p>cosmo, todos os elementos teriam água em sua composição. Atualmente,</p><p>sabemos que nem tudo o que existe contém água, mas, por outro lado, as</p><p>teorias científicas modernas comprovaram que o pensamento de Tales de</p><p>Mileto, em essência, estava correto: de fato, pode-se reduzir os elementos</p><p>naturais em partículas mínimas. Desde o surgimento do monismo, outros</p><p>filósofos aventaram, também, a sua solução para o problema da arché:</p><p>• De acordo com Anaximandro (611-546), que foi seguidor de Tales</p><p>de Mileto, a arché seria o que chamou de ápeiron, algo de caráter</p><p>imperscrutável e infinito de que o universo derivou e ao qual</p><p>retornaria.</p><p>• Para Anaxímenes (586-525), de maneira semelhante a Tales de</p><p>Mileto, a arché seria o ar, por intermédio de processos constantes</p><p>de condensação e de desfazimento.</p><p>• De acordo com Heráclito (535-470), a arché seria o movimento</p><p>intrínseco ao universo, uma espécie de devir, conforme enunciou</p><p>em uma famosa frase: “tudo se move, nada permanece imóvel e</p><p>fixo, tudo muda”.</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>É interessante</p><p>notar uma diferença entre Heráclito e os</p><p>demais filósofos citados. Ao contrário dos demais, Heráclito</p><p>acreditava que o cosmos fosse controlado por uma</p><p>racionalidade (logos) de caráter divino, o qual definiria a</p><p>origem do que tem existência, em busca do equilíbrio do</p><p>universo. A garantia de um equilíbrio se expressaria pela</p><p>dualidade da natureza (água e fogo, noite e dia, sólido e</p><p>etéreo), processo que provocaria o constante estado de</p><p>mudança (movimento) do universo.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>12</p><p>• na sequência, Demócrito (460-370) e Leucipo (século V a.C.) foram</p><p>os primeiros a formular que o universo poderia ser decomposto</p><p>em partes mínimas (átomos) cuja principal característica seria a</p><p>indivisibilidade e a imutabilidade. O atomismo dos dois filósofos</p><p>foi muito importante para que as teorias científicas modernas</p><p>determinassem o comportamento dos elementos químicos e dos</p><p>componentes.</p><p>Como se sabe, a Grécia é notabilizada por ser o berço da democracia.</p><p>O principal evento que marca o estabelecimento da democracia grega é a</p><p>vitória de Atenas sobre os persas, que aconteceu no 479 a.C. Desde então,</p><p>a educação dos cidadãos, com a finalidade de prepará-los para atuar na</p><p>vida pública, tornou-se uma preocupação fundamental da sociedade</p><p>grega. Entre outros aspectos exigidos dos cidadãos, dois se destacavam:</p><p>as capacidades de discursar e de argumentar. Os responsáveis por</p><p>desenvolver essas habilidades dos cidadãos eram os sofistas (sábios),</p><p>que refletiam, como os filósofos, sobre diversos temas da vida humana</p><p>(religião, ética e política, por exemplo). Contudo, ao contrário dos filósofos,</p><p>não interessava aos sofistas se a argumentação de seus alunos seria</p><p>empregada para fins iníquos, desde que fossem bem remunerados por</p><p>seu serviço.</p><p>Nesse contexto em que os sofistas aparecem como figuras de</p><p>saber, os assuntos intelectuais deixaram de se limitar aos aristocratas. Na</p><p>condição de professores, os sofistas rejeitaram a ideia de que as virtudes</p><p>seriam privilégios de poucos, transmitidos, de geração a geração, entre</p><p>membros de certas famílias. Mesmo assim, muitas das posições dos</p><p>sofistas eram criticadas. Franklin e Pinheiro (2014) citam as seguintes:</p><p>1. Concepção de saber – para os sofistas, qualquer assunto poderia</p><p>ser transformado em um tópico de ensino. Por essa razão,</p><p>fizeram importantes reflexões pedagógicas e não se negavam a</p><p>compartilhar os seus conhecimentos com seus alunos.</p><p>2. Moral aristocrática – na Grécia, até a chegada dos sofistas, o</p><p>conhecimento estava limitado a membros da aristocracia. Como,</p><p>normalmente, eram estrangeiros, os sofistas vendiam seus</p><p>conhecimentos, inaugurando o que, hoje, é a função do professor.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>13</p><p>3. Vida em sociedade – de modo geral, os sofistas não se fixavam</p><p>em um território. Ao contrário, costumavam vagar pelas terras</p><p>conhecidas, o que os tornava violadores das premissas das</p><p>cidades-estado, que Platão e Aristóteles chamariam de estado</p><p>ideal. Por essa razão, os sofistas são reconhecidos, atualmente,</p><p>como, propagadores de costumes, de conhecimento e de ideias.</p><p>4. Liberdade – para os sofistas, os homens eram livres e não deviam,</p><p>necessariamente, seguir as normas sociais. Sua crença era a de</p><p>nós somos capazes de compreender quaisquer tópicos, o que nos</p><p>faz, de certa forma, independentes.</p><p>Etimologicamente, “filosofia” é uma palavra composta pelos termos</p><p>gregos phílos, que significa “amor”; e “sophía”, que significa “sabedoria”.</p><p>Nesse sentido, filosofia é, literalmente, o “amor à sabedoria”, entendido</p><p>como a busca pelo conhecimento.</p><p>Se pensarmos nessa origem etimológica, perceberemos que a</p><p>filosofia é uma atividade que, todos os dias, praticamos todos os dias,</p><p>quando refletimos sobre angústias, sobre planos futuros e sobre problemas</p><p>que temos de resolver, por exemplo. Logo, a atividade filosófica, ao</p><p>contrário do se pensa, não está restrita aos ambientes acadêmicos.</p><p>Engana-se quem imagina que a preocupação da filosofia está</p><p>em responder às perguntas que são propostas. Na verdade, o maior</p><p>interesse dos filósofos está no processo de reflexão, independentemente</p><p>de ser conclusivo. Isso deve ser entendido como um estímulo ao uso da</p><p>racionalidade em quaisquer contextos, evitando que os conhecimentos</p><p>sejam aceitos com base em argumentos de autoridade.</p><p>De acordo com Nagel (2001), a filosofia é uma área do conhecimento</p><p>com características diferentes das da matemática e das ciências. Da</p><p>matemática, a filosofia se distancia por não apresentar um método formal</p><p>de verificação; e, das ciências, afasta-se porque não se atém apenas a</p><p>conhecimentos que possam ser verificados empiricamente. Portanto, a</p><p>filosofia consiste na reflexão pura e simples, na prospecção de hipóteses</p><p>e de argumentos.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>14</p><p>Ao longo da História, a filosofia recebeu muitas definições</p><p>diferentes. Adotaremos, aqui, a de Luckesi (1993), de acordo qual é um</p><p>sistema de conhecimentos coerente com origem na necessidade do</p><p>homem de compreender o mundo que o rodeia, tornando-o inteligível.</p><p>Nesse sentido, filosofar nos concede a capacidade de analisar questões</p><p>de tipos muito variados, estendendo-se desde as relações interpessoais</p><p>até a consistência da matéria do universo.</p><p>Para Luckesi (1993), não pode rotular a filosofia como uma atividade</p><p>abstrata e desligada do mundo real. Ao contrário, segundo o autor, uma</p><p>de suas funções é definir uma cosmovisão (um modo de enxergar e de</p><p>interagir com a realidade) e nos conduzir à ação. Considerando essa</p><p>perspectiva, as ações humanas, que são de muitos tipos, são o que</p><p>conferem sentido à existência.</p><p>O pensamento ocidental se sustenta, desde a Grécia antiga,</p><p>em dualismos (bem e mal, certo e errado, virtude e vício). Isso é o que</p><p>mencionamos, acima, como cosmovisão: é o modo como tendemos</p><p>pensar e avaliar as coisas e os fenômenos. Dessa preocupação grega,</p><p>surgem muitas das questões contemporâneas de que os filósofos tratam,</p><p>como são os casos da relação entre mente e corpo e entre liberdade</p><p>e autoritarismo. Mais macroscopicamente, o dualismo se reflete nas</p><p>investigações sobre o cosmos, apontando-nos questões como monismo</p><p>e dualismo do cosmos e caos e ordem na concepção do universo.</p><p>RESUMINDO:</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo</p><p>tudinho? Agora, só para termos certeza de que você</p><p>realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,</p><p>vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter aprendido</p><p>a explicar o conceito da Filosofia e estabelecer a relação</p><p>com as suas origens.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>15</p><p>Sócrates – Platão – Aristóteles e seus</p><p>lugares na história da Filosofia</p><p>OBJETIVO:</p><p>Ao término deste capítulo você será capaz de reconhecer</p><p>as bases teóricas que fundamentam a história da Filosofia</p><p>da Educação e registrar os aspectos relevantes. E então?</p><p>Motivado para desenvolver esta competência? Então</p><p>vamos lá. Avante!</p><p>Anteriormente, mencionamos Atenas como o berço da democracia.</p><p>Os filósofos mais importantes da Antiguidade foram, também, atenienses.</p><p>Falamos de Sócrates, de Platão e de Aristóteles. Embora esse último</p><p>tenha nascido em outro território, estudou e ensinou em Atenas.</p><p>Sócrates (469-399 a.C.), que, como dissemos, representou um</p><p>marco para a filosofia, testemunhou a vitória sobre os persas; e, ainda,</p><p>a consolidação e o declínio da democracia. No período posterior à</p><p>vitória, a influência de Atenas se espalhou por todo o território helênico,</p><p>influenciando-o com seus hábitos, com suas crenças religiosas e com</p><p>seus preceitos éticos e morais.</p><p>O apogeu de Atenas acirrou sua rivalidade com outra cidade-estado,</p><p>Esparta. Ao passo que Atenas se fez conhecida por sua tradição artística</p><p>e filosófica, Esparta se tornou famosa pela qualidade de seus guerreiros.</p><p>Em 431 a.C., estabeleceu-se, entre as duas potências, a chamada Guerra</p><p>do Peloponeso, que durou várias décadas.</p><p>Perto do fim da vida de Sócrates, em 404 a.C., Atenas, enfim, foi</p><p>derrotada,</p><p>e o seu regime democrático se esfaleceu. Isso se deveu, em</p><p>grande parte, a conspirações e a problemas com corrupção. O próprio</p><p>Sócrates foi condenado à morte por razões semelhantes, tendo sido</p><p>acusado de corromper os jovens cidadão e de não acreditar nos deuses</p><p>cultuados em Atenas.</p><p>No sistema filosófico socrático, está o embrião de outras escolas</p><p>de pensamento, como estoica e a cínica. De Sócrates, os estoicos</p><p>Filosofia da Educação</p><p>16</p><p>adotaram a virtude como a característica humana mais importante, ao</p><p>passo que os cínicos lhe tomaram a ideia de que os bens terrenos são</p><p>desprovidos de valor.</p><p>Existem registros, como os de Xenofonte, os de Platão e seus</p><p>discípulos, de que teria ensinado em locais públicos e de que teria sido</p><p>um orador leigo. Nos registros de Platão, Sócrates aparece, normalmente,</p><p>como uma figura que busca definir conceitos éticos, como os de justiça,</p><p>de sabedoria, de amizade e de moderação. Devemos notar, contudo, que,</p><p>ao mesmo tempo em que busca definir tais conceitos, Sócrates nunca</p><p>tenta fornecer conclusões imutáveis, demonstrando a importância do</p><p>processo de reflexão.</p><p>Maiêutica é o nome dado ao método de ensino criado por</p><p>Sócrates. Essa palavra significa, de um modo literal, “parir conhecimento”.</p><p>Basicamente, a maiêutica, consistia em conduzir alguém, por intermédio</p><p>de raciocínios dedutivos, a algum tipo de conhecimento. Para Sócrates,</p><p>todos teríamos conhecimentos gravados em nossas almas (psyché), os</p><p>quais teriam apenas de ser revelados. Essa seria a função da maiêutica.</p><p>A maiêutica é o principal elemento do sistema de pensamento de</p><p>Sócrates. Apesar de sua frase mais famosa afirmar que nada se sabe, o</p><p>filósofo nunca defendeu que o conhecimento não fosse possível para os</p><p>seres humanos. Na verdade, a frase, que se tornou sua marca, antepõe a</p><p>busca ao conhecimento, destacando que os erros humanos derivam da</p><p>falta de conhecimento.</p><p>Na filosofia grega, bem e conhecimento estão interligados</p><p>estreitamente: ser bom era sinônimo de ter conhecimento. De modo geral,</p><p>a tradição cristã mudaria esse pensamento, considerando que um sujeito</p><p>bom e tolo vale mais do que um mau e douto (RUSSEL, 2013).</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>Segundo Sócrates, problemas éticos poderiam ser</p><p>solucionados por meio de diálogos, método conhecido</p><p>como dialética.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>17</p><p>Com Sócrates, experimenta-se uma mudança em relação aos</p><p>problemas de cunho moral, que deixam de ser relegados aos costumes e</p><p>passam a ser encarados como questões que dependam de racionalidade.</p><p>Nesse sentido, conhecimento e virtude são tratados como sinônimos,</p><p>fazendo com o que o campo da ética emerja desse contexto. Isso acontece</p><p>porque racionalizar problemas de cunho moral implica racionalizar e</p><p>destacar tudo o que se apresenta como virtude sem o ser, razão pela qual</p><p>Sócrates seria julgado por e condenado por impiedade.</p><p>Os propósitos de Sócrates foram os de questionar e de aprender,</p><p>não os de ensinar e de doutrinar. Mas, à medida que seu sistema de</p><p>pensamento abalava as certezas frágeis dos cidadãos atenienses,</p><p>mostrava-lhes, também, que o pensamento deve ser coerente. Para</p><p>isso, é necessário que adotemos algum método de investigação que</p><p>nos permita acessar a essência do conhecimento. Em sua perspectiva,</p><p>isso aconteceria se nos fizéssemos as perguntas certas a respeito de</p><p>desejássemos conhecer.</p><p>Figura 1 - Busto de Platão</p><p>Fonte: Pixabay</p><p>Platão é, talvez, o mais conhecido filósofo da Antiguidade. Na</p><p>juventude, com o intuito de se voltar à política, adotou a filosofia como</p><p>caminho e teve, como mestres, Crátilo, Heráclito e Sócrates. Até hoje, não</p><p>é um incomum que um sistema filosófico seja comparado ao de Platão,</p><p>tamanha foi a sua influência sobre os mais de dois mil anos de produção</p><p>de conhecimento que existiu desde então.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>18</p><p>Pode-se afirmar que Platão foi responsável pela primeira</p><p>formalização agregada à filosofia, embora nunca escrito um livro</p><p>prototípico, visto que todas as suas obras que resistiram ao tempo têm</p><p>forma de diálogo; e embora nunca tenha aceitado que a filosofia pudesse</p><p>ser algo como um sistema.</p><p>As principais obras de Platão estão listadas a seguir, em função da</p><p>época em que foram produzidas.</p><p>• 399-387 a.C. (primeiros diálogos): Apologia, Críton, Górgias, Hípias</p><p>maior, Mênon, Protágoras;</p><p>• 380-360 a.C. (diálogos intermediários): Fédon, Fedro, A República,</p><p>O banquete; e</p><p>• 360-355 a.C. (diálogos finais): Parmênides, Sofista, Teeteto.</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>Durante a Idade Média, por intermédio de Santo Agostinho,</p><p>o cristianismo adotou a cultura grega, baseada no</p><p>pensamento platônico. Santo Agostinho alcançou essa</p><p>influência por feito uma tradução de A República tida como</p><p>cristã, a chamada Cidade de Deus.</p><p>Com a condenação de Sócrates à morte, Platão preencheu a</p><p>lacuna deixada pelo mestre, registrando, na forma de diálogos, os</p><p>seus ensinamentos. A primeira vez em que Sócrates aparece em um</p><p>diálogo platônico é, como se apontou acima, na Apologia, que consiste</p><p>na descrição da defesa apresentada por Sócrates aos seus detratores.</p><p>Como se tornará uma constante nos diálogos, é complexo, na Apologia,</p><p>distinguir o que é pensamento socrático do que é pensamento platônico.</p><p>É possível que a obra mais conhecida de Platão seja A República,</p><p>em que é apresentada a sua concepção de Estado ideal. Parte do trabalho</p><p>consiste em uma reflexão a respeito de valores morais, como justiça e</p><p>virtude, que apareçam, antes, na obra de Sócrates. A discussão é uma</p><p>maneira de rejeitar a ideia sofista de que justiça e injustiça são conceitos</p><p>definidos por convenção.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>19</p><p>Sócrates havia discordado da concepção sofista, assumindo</p><p>que justiça e injustiça se confundem porque os seres humanos não</p><p>conhecem a sua essência, acessando apenas o que veem no mundo dos</p><p>sentidos, empírico, ilusório e variável. Platão explica, em A República, que</p><p>haverá justiça se todos os cidadãos forem responsáveis pelas próprias</p><p>obrigações, sem se meter nos assuntos alheios, vinculando a justiça à</p><p>ideia de harmonia entre as partes que compõem o Estado.</p><p>A partir da ideia de que os seres humanos não conheciam a essência</p><p>da justiça e da injustiça, Platão desenvolveu o que chamou de mundo das</p><p>ideias ou formas, que, separado do mundo empírico, seria uma espécie</p><p>de realidade ideal, da qual a nossa seria um distorcido reflexo. Mais do que</p><p>isso, Platão defendeu que o mundo das ideias ou formas seria, de fato, a</p><p>realidade, ilustrando a sua concepção com o famoso mito da caverna.</p><p>Nesse mito, contado em A República, Platão descreve uma caverna</p><p>escura em que seres humanos estão presos desde quando nasceram.</p><p>Estão amarrados, de modo a ficar de costas para a entrada do local e de</p><p>frente para o seu fundo. É impossível que possam olhar para os lados.</p><p>Como há uma fogueira atrás dos homens; e, também, uma espécie de</p><p>plataforma entre a fogueira e os homens, sombras se formam na parede</p><p>para a qual olham sempre que pessoas, desconhecidas dos homens</p><p>presos na caverna, andam ali e exibem objetos. Se um dia chegassem a ser</p><p>libertos, os homens da caverna, provavelmente, se sentiriam fascinados</p><p>e temerosos em relação ao mundo exterior e, de acordo com Platão,</p><p>retornariam à caverna, à única realidade em que se sentem seguros.</p><p>Do mesmo modo que as sombras são tudo o que os prisioneiros</p><p>veem do mundo fora da caverna, o mundo empírico seria tudo o que</p><p>conseguimos ter acesso do mundo real, o mundo das ideias. Nesse</p><p>sentido, nossas experiências, obtidas por meio de nossos sentidos, seriam</p><p>nossas sombras. Isso resultará em uma teoria de acordo com a qual</p><p>podemos empregar nossos sentidos para tentar apreender a realidade</p><p>de sombras. Assim, via racionalidade, temos a capacidade obter os</p><p>verdadeiros conhecimentos, radicados no mundo das ideias ou formas.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>20</p><p>A postulação de dois mundos permitiu que Platão resolve o dilema</p><p>de como apontar certezas</p><p>em mundo inconstante: como o nosso mundo</p><p>é feito somente de aparências, pode ser transformado, mas o mundo das</p><p>ideias ou formas, não, e, por isso, obter o verdadeiro conhecimento seria</p><p>possível.</p><p>Figura 2 - Stanza della Segnatura, de Rafael Sanzio.</p><p>Em relação às figuras centrais, Platão está à esquerda, e Aristóteles, à direita</p><p>Fonte: Pixabay</p><p>Aristóteles nasceu em 384 a.C., em Estagira, no território macedônio</p><p>e se tornou, entre os anos 343 a.C. e 340 a.C., tutor do jovem Alexandre, o</p><p>Grande. Com 17 anos, foi estudar em Atenas, na Academia, escola fundada</p><p>por Platão, que, na época, tendo por volta de sessenta anos de idade,</p><p>havia divulgado suas teorias. Apesar dos diferentes temperamentos,</p><p>a relação de ambos era de muito respeito, e Aristóteles se manteve na</p><p>Academia até a morte de Platão, em 404 a.C.</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>Como Platão, Aristóteles influenciou o pensamento cristão.</p><p>Isso aconteceu por volta do fim da Idade Média, quando seu</p><p>pensamento, adaptado aos preceitos cristãos, transforma-</p><p>se, por assim dizer, na doutrina da Igreja Católica.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>21</p><p>Posteriormente, o pensamento científico, que nascerá na Idade</p><p>Moderna, combaterá, fortemente, o aristotelismo católico. Mas a</p><p>influência de Aristóteles vai mais além: até hoje, as suas questões lógicas</p><p>são tematizas e discutidas por investigadores de vários campos.</p><p>Ao contrário de Platão, Aristóteles escreveu livro-texto, os quais</p><p>denotaram preocupação com a escrita literária e foram compostos em</p><p>forma de diálogo. No entanto, sabemos disso de maneira indireta, por</p><p>autores como Cícero e Diógenes, visto que a parte da obra de Aristóteles</p><p>que sobreviveu ao tempo consiste, em sua maior parte, em notas escritas</p><p>para suas aulas. A seguir, indicamos algumas das suas obras conhecidas</p><p>mais importantes:</p><p>• Órganon.</p><p>• Retórica das Paixões.</p><p>• A poética clássica.</p><p>• De anima (Da alma).</p><p>• O homem de gênio e a melancolia.</p><p>• Ética a Eudemo.</p><p>• Física.</p><p>• Política.</p><p>• Sobre o Céu.</p><p>• Metafísica.</p><p>• Ética a Nicômano.</p><p>Ao contrário de Platão, Aristóteles não minimizou a observação</p><p>empírica. Isso, em grande, deveu-se ao seu interesse pela natureza</p><p>e pelos seres humanos. Por isso, tentou agregar o mundo que Platão</p><p>chamava de mundo sensível à filosofia. Mas é importante apontar que</p><p>Aristóteles adotou o conhecimento empírico como um ponto de partida</p><p>para o conhecimento, não como o conhecimento em si.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>22</p><p>Desde antes de Aristóteles, os filósofos gregos se preocupavam</p><p>com a transformação do mundo. Por sua vez, o estagirita desenvolveu as</p><p>noções de ato (energeia) e de potência (dynamis): enquanto o ato seria o</p><p>estado de um ser (ingredientes de um bolo, materiais de construção), a</p><p>potência implica tudo o que pode vir a ser (bolo, casa). Nesse sentido, o</p><p>movimento do mundo consistiria nas transformações de potência em ato.</p><p>De acordo com essa teoria, Aristóteles rejeitou que o fundamento</p><p>do mundo sensível fosse um mundo ideal eterno e imutável: o mundo</p><p>sensível não seria cópia de formas perfeitas, mas conteria formas cujas</p><p>essência lhes seria inerente. Por exemplo, não existiria nada como</p><p>como um homem ideal do qual os homens do mundo sensível seriam</p><p>cópias, mas, na verdade, a essência humana estaria presente em cada</p><p>um e em todos os homens. Por essa razão, quando estudamos coisas</p><p>particulares (o homem X) podemos obter conhecimentos universais</p><p>(a categoria ser humano).</p><p>Aristóteles também se dedicou ao problema ético. Sua obra mais</p><p>importante sobre o assunto é Ética a Nicômaco. Para entender como o</p><p>problema ético é tratado em seu sistema de pensamento, é necessário</p><p>compreender que filosofar sobre o assunto tem funções diferentes: em</p><p>um sentido teórico, teria, como finalidade, a busca pela verdade, mas, em</p><p>um sentido prático, teria, como finalidade, o agir. Nesse sistema ético, a</p><p>virtude é encarada como o equilíbrio entre ações justas, de um lado, e</p><p>impulsos, de outro. O instrumento que nos ajudará a praticar ações justas</p><p>e a evitar os impulsos é a razão, processo conhecido como justo-meio.</p><p>Em Ética a Nicômaco, Aristóteles aborda a conduta humana e como</p><p>se relaciona à busca pela felicidade. Na sua perspectiva, as condutas</p><p>humanas prospectam o que entendemos, comumente, como felicidade,</p><p>mas essa não é a sua verdadeira natureza. Para Aristóteles, a natureza da</p><p>felicidade está relacionada às regras do bem agir. Nesse sentido, praticar</p><p>a honra, a razão e o prazer na medida correta é o modo de viver com</p><p>felicidade.</p><p>A razão, para Aristóteles, é, certamente, um dos aspectos da</p><p>natureza humana, mas existem outras. Por exemplo, a alma humana pode</p><p>ser afetada pelos impulsos e pelos desejos, não podendo ser racional</p><p>Filosofia da Educação</p><p>23</p><p>por completo. A ética surge, como virtude, nesse contexto, como um</p><p>controle da parte da alma humana que não é racional, estabelecendo</p><p>com a repetição de certas ações, até que se tornem hábitos (FRANKLIN;</p><p>PINHEIRO, 2014).</p><p>IMPORTANTE:</p><p>No pensamento de Platão, a dialética se constitui como</p><p>um debate entre indivíduos preocupados com a busca</p><p>pela verdade, de modo que o homem pode alcançar o</p><p>mundo das ideias ou formas e chegar a um conhecimento</p><p>irrefutável. Por sua vez, no pensamento de Aristóteles,</p><p>a dialética depende do raciocínio lógico, que, por se</p><p>basear em ideias prováveis, sempre carrega consigo a</p><p>possibilidade de ser refutado.</p><p>Igual a Platão, Aristóteles desenvolveu uma teoria sobre o Estado</p><p>ideal, na qual a felicidade (eudaimonia) é adotado como o centro das</p><p>virtudes humanas, foco de seu agir. Pode-se concluir, portanto, que o</p><p>desejo de felicidade é a origem de todas as condutas humanas.</p><p>Concluindo esta seção, pode-se afirmar que as concepções</p><p>Aristóteles e de Platão convergem na forma de preocupações com o</p><p>ser humano e com as suas condutas, influenciando, cada qual à própria</p><p>maneira, o pensamento ocidental. Suas considerações sobre cidadania,</p><p>sobre virtude e sobre conhecimento, assim como as de Sócrates, foram</p><p>fundamentais para a construção da relação entre filosofia e educação</p><p>(FRANKLIN; PINHEIRO, 2014).</p><p>RESUMINDO:</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu</p><p>mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de</p><p>que você realmente entendeu o tema de estudo deste</p><p>capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter</p><p>compreendido como reconhecer as bases teóricas que</p><p>fundamentam a história da Filosofia da Educação e registrar</p><p>os aspectos relevantes.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>24</p><p>Conhecimento mítico e conhecimento</p><p>filosófico</p><p>OBJETIVO:</p><p>Ao término deste capítulo você será capaz de identificar</p><p>a diferença entre conhecimento mítico e conhecimento</p><p>filosófico, destacando suas principais características. E</p><p>então? Motivado para desenvolver esta competência?</p><p>Então vamos lá. Avante!</p><p>O que é o mito? De maneira geral, pode-se afirmar não passam de</p><p>uma construção com fantasias oriundas de nosso consciente. Trata-se de</p><p>história criadas pelos seres humanos, ao longo dos séculos, para explicar</p><p>o funcionamento do mundo e o sentido da existência, apresentando uma</p><p>relação clara com crença e com fé. Nas sociedades grega e latina, os</p><p>mitos tinham valor de dogma e eram considerados explicações reais dos</p><p>fenômenos da natureza. Por essa razão, foram utilizados como justificativa</p><p>para a fundação de instituições sociais de muito respeito e inspiraram as</p><p>obras de muitos artistas, por exemplo.</p><p>Na Antiguidade, as narrativas míticas substituíam a ciência como</p><p>método de explicação do mundo. Tudo o que pudesse provocar espanto</p><p>e temor, fosse bom, fosse ruim, era considerado produto de ações divinas.</p><p>De acordo com</p><p>Compreender o conceito de mitologia, de certa forma, é conhecer</p><p>uma concepção muito diferente da nossa, permeada de superstições e</p><p>de explicações fabulosas para os fenômenos naturais. Como Commelin</p><p>(2011), assumimos que a imaginação e a fantasia têm um importante papel</p><p>nas crenças mitológicas. Cada nova geração aumentou</p><p>o número de seus</p><p>deuses, de heróis e de narrativas fantásticas.</p><p>Os mitos gregos, como a Teogonia, registrada por Hesíodo, explicam</p><p>como o mundo resultado do caos e como foi divido em partes, até</p><p>apresentar a forma conhecida naquela época. Para isso, adotou-se uma</p><p>genealogia de criaturas divinas, “no ritmo dos sucessivos nascimentos,</p><p>Filosofia da Educação</p><p>25</p><p>dos casamentos, das intrigas, misturando e opondo os seres divinos de</p><p>gerações diferentes” (VERNANT, 1990, p. 478).</p><p>O pensamento de base racional aparece, no universo grego, no</p><p>século VI a.C, em cidades da Ásia menor. Com isso, nasceria o embrião</p><p>de um pensamento científico, contestando, pela primeira vez, que as</p><p>explicações poderiam não estar adequadas à realidade. Essa não foi</p><p>apenas uma mudança de atitude intelectual, com a troca do mito pelo</p><p>pensamento racional, mas consistiu, na verdade, em uma mudança</p><p>completa de cosmovisão. As principais diferenças entre mito e pensamento</p><p>filosófico-racional estão no Quadro 1.</p><p>Quadro 1 – Mito e pensamento filosófico racional</p><p>Mito Pensamento filosófico-racional</p><p>Explica como o mundo se formou e,</p><p>para isso, adota a interação entre seres</p><p>sobrenaturais.</p><p>Ao contar o passado, emprega causas</p><p>que possam ser tomadas como causas de</p><p>todos os acontecimentos que o afastam</p><p>do presente.</p><p>Não evita contradições. O incompreensível</p><p>é tomado como mistério divino.</p><p>Explica como o mundo se formou com</p><p>base em elementos do mundo natural.</p><p>Além de investigar as causas de</p><p>acontecimentos do passo, prevê e explica</p><p>acontecimentos do presente e do futuro.</p><p>Fundamenta-se na razão e adota</p><p>explicações coerentes.</p><p>Fonte: Elaborado pelo autor (2021).</p><p>RESUMINDO:</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo</p><p>tudinho? Agora, só para termos certeza de que você</p><p>realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos</p><p>resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido</p><p>como identificar a diferença entre conhecimento mítico</p><p>e conhecimento filosófico, destacando suas principais</p><p>características.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>26</p><p>A questão do saber – o conhecimento e</p><p>sua tipologia</p><p>OBJETIVO:</p><p>Ao término deste capítulo você será capaz de classificar a</p><p>tipologia do conhecimento e descrever cada um dos tipos.</p><p>E então? Motivado para desenvolver esta competência?</p><p>Então vamos lá. Avante!</p><p>Durante o exercício da docência, é comum que os profissionais</p><p>não se questionem sobre o conceito de conhecimento. Com o intuito de</p><p>ensinar adequadamente, é importante que assumamos uma teoria do</p><p>conhecimento, “um entendimento do que vem a ser o conhecimento, seu</p><p>processo, seu modo de ser” (LUCKESI, 1993, p. 121).</p><p>De acordo com Cyrino e Penha (1992), conhecer é um modo de</p><p>construir uma concepção de realidade. Por isso, seriam necessários três</p><p>elementos para a produção de conhecimento:</p><p>• Um sujeito cognoscente.</p><p>• Algo a ser conhecido.</p><p>• Uma opinião sobre o algo a ser conhecido criada, mentalmente,</p><p>pelo sujeito cognoscente.</p><p>Na medida em que o homem é racional e dotado da capacidade</p><p>de comunicar-se por linguagem simbólica, pode transmitir seus</p><p>conhecimentos a seus semelhantes, ao contrário de todas as outras</p><p>espécies animais. Assim, da relação entre sujeitos e objetos a serem</p><p>conhecidos, surgem conhecimentos, que nos ajudam a atribuir sentido a</p><p>tudo o que nos rodeiam, incluindo a nossa própria existência.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>27</p><p>REFLITA:</p><p>De uma forma geral, podemos definir conhecimento</p><p>como os elementos que encontramos em diversas fontes</p><p>(livros, internet, rádio, televisão) capaz de ampliar a nossa</p><p>concepção de realidade. Porém, o simples acesso a</p><p>informações, como a capacidade de possuir uma enorme</p><p>coleção de livros, por si só, não caracteriza conhecimento.</p><p>É necessário que as informações sejam aplicadas à</p><p>compreensão do mundo, por meio de procedimentos</p><p>racionais, para que se tornem conhecimentos. Portanto,</p><p>decorar e reunir informações é muito diferente de ter</p><p>conhecimento.</p><p>Os tipos de conhecimento</p><p>De acordo com Carvalho (1997), existem quatro tipos de</p><p>conhecimento: (1) conhecimento empírico, (2) conhecimento filosófico, (3)</p><p>conhecimento teológico e (4) conhecimento científico. A seguir, veremos</p><p>como esses tipos de conhecimento são caracterizados.</p><p>Conhecimento empírico</p><p>Também chamado de conhecimento vulgar ou de senso</p><p>comum, apresenta, como aspecto mais marca, o valor de ser valorativo.</p><p>Fundamenta-se em elementos como emoções, experiências e estados</p><p>de ânimo, tendendo a não ser sistemático. É um tipo de conhecimento</p><p>verificável, uma vez que surge do que é empírico, das experiências</p><p>cotidianas.</p><p>De uma forma simples, pode ser entendido como produto das</p><p>necessidades humanas de sobreviver às demandas diários. Isso explica,</p><p>por um lado, o porquê de, normalmente, o sujeito colocar-se como</p><p>espectador da realidade; e, por outro lado, o porquê do conhecimento</p><p>empírico ser tratado como espontâneo.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>28</p><p>Conhecimento filosófico</p><p>No bojo da filosofia, conhecimento é um conjunto de concepções</p><p>sobre a realidade que sejam coerentes entre si. É necessário porque</p><p>os seres humanos vivem direcionados a questões específicas, como</p><p>trabalho e relacionamento, mas isso não significa que serão, sempre,</p><p>conhecimentos verificáveis.</p><p>De acordo com Ferrari (1974, p. 12), “as hipóteses filosóficas baseiam-</p><p>se na experiência e não da experimentação”. Essa definição retrata que as</p><p>hipóteses filosóficas não podem nem ser confirmados nem ser refutadas,</p><p>ao contrário das hipóteses de cunho científico,</p><p>Apesar de ser um conhecimento infalível, porque não pode ser</p><p>submetido a experimentos, é racional, devido ao encadeamento lógico</p><p>de seu conteúdo, agregando-lhe coerência e sistematicidade. Nesse</p><p>sentido, tenta ser um retrato adequado da realidade.</p><p>Conhecimento científico</p><p>Ferrari define o conhecimento científico como real, porque deriva de</p><p>fatos, estando relacionado a toda “forma de existência que se manifesta</p><p>de algum modo” (FERRARI, 1982, p. 14). Sendo assim, pode ser classificado</p><p>como um contingencial: a validade de suas hipóteses, ao contrário das do</p><p>conhecimento filosófico, não pode ser determinada somente por meio da</p><p>razão, mas dependerá, em grande parte, da experimentação. Por outro</p><p>lado, também adotará o encadeamento lógico de seu conteúdo, a fim de</p><p>formar uma teoria (conjunto de conteúdos encadeados logicamente) e,</p><p>por conseguinte um sistema de pensamentos ou ideias.</p><p>Como todos os conhecimentos que não foram sujeitos à verificação</p><p>são descartados, o conhecimento científico é verificável. Ademais,</p><p>retomando a discussão da seção anterior, hipóteses que não possam ser</p><p>testadas são recusadas, o que faz desse conhecimento falível.</p><p>Gaston Bachelard (1884-1962) foi um filósofo francês que se dedicou</p><p>à filosofia da ciência. De acordo com o autor, o conhecimento humano</p><p>deve ser estudado historicamente, de forma que essa análise desvele</p><p>Filosofia da Educação</p><p>29</p><p>como foi construído. Assim, haveria três momentos no desenvolvimento</p><p>da ciência ocidental:</p><p>• O que demarca a Antiguidade, estendendo-se até a época do</p><p>Renascimento, chamado de pré-científico (BACHELARD, 2005).</p><p>• O que demarca o período entre os séculos XVIII e XIX, chamado</p><p>de Estado científico (BACHELARD, 2005).</p><p>• O que se iniciou no século XIX e vige até o presente, chamado de</p><p>novo espírito científico (BACHELARD, 2005).</p><p>Cada momento do desenvolvimento da ciência ocidental, na</p><p>concepção de Bachelard (2005), é fruto de uma análise do passado, tal</p><p>como a que propõe, evitando os caminhos que foram tomados até então.</p><p>Portanto, a ciência apresenta uma descontinuidade quanto à realidade,</p><p>quanto às experiências imediatas e, de certa, com o seu próprio processo</p><p>de construção.</p><p>Isso parece contraditório, mas há uma lógica muito interessante:</p><p>caso a produção científica fosse somente linear, não seria possível</p><p>produzir conhecimentos novos. Então, todos os procedimentos partiriam</p><p>do mesmo raciocínio e chegariam aos</p><p>mesmos resultados. Por isso,</p><p>para que a ciência, enquanto corpo de conhecimentos, possa avançar,</p><p>Bachelard (2005) defende que sua história seja estudada, recusando</p><p>soluções aventadas anteriormente.</p><p>Conhecimento teológico ou religioso</p><p>O conhecimento religioso é composto por doutrinas sagradas,</p><p>o que torna valorativa e, por ensinamentos divinos, o que o transforma</p><p>em inspiracionais. Logo, trata-se de um conhecimento que vale como</p><p>verdadeiro, sendo infalível e incontestável.</p><p>Uma vez que envolve a ação de entidades sobrenaturais, partilhar</p><p>dos conhecimentos religiosos depende de fé. Mas, apesar de as suas</p><p>concepções não serem verificáveis, tem um caráter sistemático e</p><p>apresenta respostas para a origem do universo e para o sentido da vida.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>30</p><p>REFLITA:</p><p>A reação de teólogos à teoria da evolução das espécies,</p><p>de Charlie Darwin, demonstra como os conhecimentos</p><p>científicos são diferentes. De modo geral, baseando-se</p><p>nos textos sagrados, teólogos rejeitaram que, do processo</p><p>de seleção natural, possa ter resultado o ser humano,</p><p>aceitando, por ato de fé, a doutrina como verdadeira.</p><p>Enquanto isso, os cientistas, como é o caso de Darwin,</p><p>adotam fatos para comprovar e para refutar suas hipóteses</p><p>sobre a realidade.</p><p>É importante, ainda, destacar que, em seu processo particular de</p><p>apreensão da realidade, o sujeito pode adotar uma, duas e, até mesmo,</p><p>todas as segmentações de conhecimento estudadas. Adotando o</p><p>ser humano como exemplo, pode-se estudá-lo de uma perspectiva</p><p>empírica, observando as suas condutas em sociedade e comparando-as</p><p>com nossas opiniões; de uma perspectiva filosófica, analisando seus</p><p>estados internos e prospectando sua origem e seu destino; de um uma</p><p>perspectiva científica, investigando a sua fisiologia e as suas estruturas</p><p>biológicas; e de uma perspectiva religiosa, adotando, como verdadeiras,</p><p>as doutrinas de uma religião.</p><p>Antes de finalizar, confira-se o Quadro 2, em que são sistematizas</p><p>as características dos quatro tipos de conhecimento (CARVALHO, 1997).</p><p>Quadro 2 – Características dos quatro tipos de conhecimento (CARVALHO, 1997)</p><p>Empírico Filosófico Científico Religioso</p><p>valorativo valorativo real valorativo</p><p>reflexivo racional contingente inspiracional</p><p>assistemático sistemático sistemático sistemático</p><p>verificável não verificável verificável não verificável</p><p>falível infalível falível infalível</p><p>inexato exato</p><p>aproximadamente</p><p>exato</p><p>exato</p><p>Fonte: Elaborado pelo autor (2021).</p><p>Filosofia da Educação</p><p>31</p><p>RESUMINDO:</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo</p><p>tudinho? Agora, só para termos certeza de que você</p><p>realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,</p><p>vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter aprendido</p><p>a classificar a tipologia do conhecimento e descrever cada</p><p>um dos tipos.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>32</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ABRÃO, B. S. História da filosofia. São Paulo: Editora Nova Cultural,</p><p>1999.</p><p>ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Atlas, 2009.</p><p>BACHELARD, G. O novo espírito científico. Rio de Janeiro: Tempo</p><p>Brasileiro, 1995.</p><p>CARVALHO, A.M.P. de. Construção do conhecimento e ensino de</p><p>ciências. Educação e Cultura, Recife, v.1, p. 8-14, 1997.</p><p>CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria.</p><p>Porto Alegre: Artmed, 2000.</p><p>COMMELIN, P. Mitologia grega e romana. São Paulo: Martins</p><p>Fontes, 2011.</p><p>CYRINO, H.; PENHA, C. Filosofia hoje. Campinas: Papirus, 1992.</p><p>FRANKLIN, K. & PINHEIRO, C. de M. Filosofia da Educação. Curitiba:</p><p>Universidade Federal do Paraná. Pró-Reitoria de Graduação. Coordenação</p><p>de Integração de Políticas de Educação à Distância. Setor de Educação.</p><p>Curso de Pedagogia. Magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do</p><p>Ensino Fundamental, 2014.</p><p>LUCKESI, C. C. Filosofia da Educação. São Paulo: Editora Cortez,</p><p>1993.</p><p>NAGEL, T. Uma breve introdução à filosofia. São Paulo: Martins</p><p>Fontes, 2001.</p><p>PLATÃO. A República (ou da justiça). Bauru, SP: EDIPRO, 2006.</p><p>RUSSEL, B. História do pensamento Ocidental: a aventura dos</p><p>pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.</p><p>RUTHVEN, K. K. O mito. São Paulo: Editora Perspectiva. 1997.</p><p>TRUJILLO FERRARI. A. Metodologia da pesquisa científica. São</p><p>Paulo: McGraw-Hill do Brasil. 1982</p><p>VERNANT, J. P. Mito e pensamento entre os gregos: estudos de</p><p>psicologia histórica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>Origens e conceito da Filosofia</p><p>Sócrates – Platão – Aristóteles e seus lugares na história da Filosofia</p><p>Conhecimento mítico e conhecimento filosófico</p><p>A questão do saber – o conhecimento e sua tipologia</p><p>Os tipos de conhecimento</p><p>Conhecimento empírico</p><p>Conhecimento filosófico</p><p>Conhecimento científico</p><p>Conhecimento teológico ou religioso</p>

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