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<p>Filosofia da Educação</p><p>Filosofia e tendências pedagógicas</p><p>Unidade 3</p><p>Diretor Executivo</p><p>DAVID LIRA STEPHEN BARROS</p><p>Gerente Editorial</p><p>ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS</p><p>Projeto Gráfico</p><p>TIAGO DA ROCHA</p><p>Autoria</p><p>CARMEM SILVIA DA FONSECA KUMMER LIBLIK</p><p>AUTORIA</p><p>Carmem Silvia da Fonseca Kummer Liblik</p><p>Sou formada em Bacharelado e em Licenciatura em História, com</p><p>Mestrado e Doutorado em História, pela UFPR. Também sou formada</p><p>em Química Ambiental pela UTFPR, com especialização em Tutoria em</p><p>EAD pela UNINTER. Tenho experiência profissional na área de ensino e</p><p>de produção de material didático há 14 anos. Passei por empresas como</p><p>Uninter, PUC-PR e UFPR. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir</p><p>minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões.</p><p>Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de</p><p>autores independentes. Estou muito feliz por poder ajudar você nesta fase</p><p>de muito estudo e de muito trabalho. Conte comigo!</p><p>ICONOGRÁFICOS</p><p>Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez</p><p>que:</p><p>OBJETIVO:</p><p>para o início do</p><p>desenvolvimento de</p><p>uma nova compe-</p><p>tência;</p><p>DEFINIÇÃO:</p><p>houver necessidade</p><p>de se apresentar um</p><p>novo conceito;</p><p>NOTA:</p><p>quando forem</p><p>necessários obser-</p><p>vações ou comple-</p><p>mentações para o</p><p>seu conhecimento;</p><p>IMPORTANTE:</p><p>as observações</p><p>escritas tiveram que</p><p>ser priorizadas para</p><p>você;</p><p>EXPLICANDO</p><p>MELHOR:</p><p>algo precisa ser</p><p>melhor explicado ou</p><p>detalhado;</p><p>VOCÊ SABIA?</p><p>curiosidades e</p><p>indagações lúdicas</p><p>sobre o tema em</p><p>estudo, se forem</p><p>necessárias;</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>textos, referências</p><p>bibliográficas e links</p><p>para aprofundamen-</p><p>to do seu conheci-</p><p>mento;</p><p>REFLITA:</p><p>se houver a neces-</p><p>sidade de chamar a</p><p>atenção sobre algo</p><p>a ser refletido ou dis-</p><p>cutido sobre;</p><p>ACESSE:</p><p>se for preciso aces-</p><p>sar um ou mais sites</p><p>para fazer download,</p><p>assistir vídeos, ler</p><p>textos, ouvir podcast;</p><p>RESUMINDO:</p><p>quando for preciso</p><p>se fazer um resumo</p><p>acumulativo das últi-</p><p>mas abordagens;</p><p>ATIVIDADES:</p><p>quando alguma</p><p>atividade de au-</p><p>toaprendizagem for</p><p>aplicada;</p><p>TESTANDO:</p><p>quando o desen-</p><p>volvimento de uma</p><p>competência for</p><p>concluído e questões</p><p>forem explicadas;</p><p>SUMÁRIO</p><p>Filosofia e Tendências Pedagógicas ................................................... 12</p><p>Tendência Liberal ....................................................................................... 15</p><p>Abordagens pedagógicas tradicionais ............................................................................16</p><p>Pedagogia Renovada Progressista..................................................................................... 19</p><p>Pedagogia liberal renovada não diretiva .......................................................................22</p><p>Pedagogia Tecnicista ....................................................................................................................25</p><p>Tendência progressista ............................................................................28</p><p>Pedagogia Libertadora............................................................................................................... 30</p><p>Pedagogia Libertária .....................................................................................................................32</p><p>Tendência progressista crítico-social dos conteúdos ................. 35</p><p>7Filosofia da Educação</p><p>8 Filosofia da Educação</p><p>9</p><p>UNIDADE</p><p>03</p><p>Filosofia da Educação</p><p>10</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Nesta terceira unidade, veremos algumas das vertentes e alguns</p><p>dos conceitos pedagógicos que mais estiveram presentes na prática</p><p>docente durante o século XX, independentemente do nível educacional</p><p>observado, seja Educação Básica, seja Educação Superior. Nossos</p><p>objetivos, com isso, são demonstrar como os aspectos metodológicos</p><p>de e como os conteúdos de tais vertentes e foram e são influenciados</p><p>por teorias filosóficas e por aspectos contextos políticos e sociais que</p><p>as subjazem.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>11</p><p>OBJETIVOS</p><p>Olá! Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar</p><p>você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o</p><p>término desta etapa de estudos:</p><p>1. Interpretar as relações entre Filosofia e as tendências pedagógicas.</p><p>2. Identificar, compreender e diferenciar as tendências pedagógicas</p><p>da linha liberal.</p><p>3. Identificar as tendências pedagógicas da linha progressista.</p><p>4. Interpretar e diferenciar as características da tendência pedagógica</p><p>crítico-social dos conteúdos.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>12</p><p>Filosofia e Tendências Pedagógicas</p><p>OBJETIVO:</p><p>Ao término deste capítulo você será capaz de interpretar</p><p>as relações entre Filosofia e as tendências pedagógicas.</p><p>E então? Motivado para desenvolver esta competência?</p><p>Então vamos lá. Avante!</p><p>Uma das características mais importantes das práticas pedagógicas</p><p>é o fato de depende de apresentar sentidos para os educandos, de modo</p><p>que suas finalidades em relação à vida em sociedade estejam, sempre,</p><p>muito claras para todos os envolvidos nesses processos. Para isso, então,</p><p>é essencial que se conheça as funções da educação na vida em sociedade</p><p>e os diversos modos de se direcionar os educandos nesse sentido.</p><p>A Educação, enquanto área do conhecimento, sofreu muitas</p><p>mudanças durante o século XX, e isso aconteceu em todo o mundo. No</p><p>Brasil, além de Paulo Freire, teórico reconhecido como o patrono nacional</p><p>da Educação e como um dos estudiosos mais importantes da ciência</p><p>moderna, citam-se Maria Lucia de Arruda Aranha e Cipriano Carlos</p><p>Luckesi, dentre muitos outros, como indivíduos que construíram com o</p><p>desenvolvimento da área.</p><p>Na perspectiva de Cipriano Carlos Luckesi (LUCKESI, 1990), a</p><p>visão sobre a relação entre Educação e sociedade de três tendências</p><p>pedagógicas se destacam de todas as demais. Como essa perspectiva</p><p>está de acordo com nosso a nossa própria, veremos as tais três tendências</p><p>pedagógicas com mais detalhes (LUCKESI, 1990).</p><p>Educação como reprodutora, de acordo com a qual os processos</p><p>educacionais se sujeitam às utilidades e às demandas sociais, apesar de</p><p>serem analisados criticamente. De fato, é como se, fatalmente, a Educação</p><p>não pudesse se desenvencilhar de utilidades e de tais demandas;</p><p>Educação como redentora, de acordo com a qual a Educação tem</p><p>controle sobre a sociedade, devendo tratar de orientá-la politicamente e</p><p>moralmente;</p><p>Filosofia da Educação</p><p>13</p><p>Educação como transformadora, de acordo com a qual a Educação</p><p>deve encarar as contradições e os demais aspectos da sociedade e</p><p>analisá-los de uma maneira crítica, a fim de que, por intermédio dos</p><p>resultados de nossas reflexões, possamos intervir na sociedade.</p><p>Para compreender essas tendências; e, em consequência disso,</p><p>como a Educação tem o objetivo de conduzir os indivíduos a diferentes</p><p>sentidos, estudaremos diferentes correntes filosóficas e pedagógicas que</p><p>as influenciaram.</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>Você sabe por que conhecer essas relações é fundamental?</p><p>Então, a importância disso está na necessidade que qualquer</p><p>professor tem de fundamentar a sua prática docente diária.</p><p>Nesse caso, diversas concepções pedagógicas e filosóficas</p><p>precisam ser mobilizadas.</p><p>Duas orientações ou tipos de abordagens predominam no contexto</p><p>mencionado (LUCKESI, 1990; ARANHA, 1996): as pedagogias</p><p>Sobre esse assunto, Luckesi (1990) e Aranha (1996) nos direcionam,</p><p>em linhas gerais, para duas perspectivas: as tendências pedagógicas</p><p>liberais, como a de educação como prática transformadora; e as tendências</p><p>pedagógicas progressistas, como a de educação como prática redentora.</p><p>No esquema seguinte, veremos como essas tendências se dividem.</p><p>Quadro 1 – Divisões das tendências pedagógicas</p><p>Tendências pedagógicas liberais Tendências pedagógicas progressistas</p><p>Pedagogia Tradicional</p><p>Pedagogia Renovada Progressista</p><p>Pedagogia Renovada não Diretiva</p><p>Pedagogia Tecnicista</p><p>Pedagogia Libertadora</p><p>Pedagogia Libertária</p><p>Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos</p><p>Fonte: Luckesi (1990) e de Aranha (1996).</p><p>Filosofia da Educação</p><p>14</p><p>Inicialmente, é muito importante que percebamos que as</p><p>características de cada uma das abordagens indicadas não são exclusivas.</p><p>Ao contrário, a razão para que sejam agrupadas em tendências é o fato</p><p>de que compartilham características. Além do mais, essas abordagens</p><p>pedagógicas podem apresentar de maneira diferente a depender do</p><p>agente que as mobiliza e da esfera de educação em que são adicionadas.</p><p>Por exemplo, escolas e universidades se apropriarão de tais abordagens</p><p>pedagógicas à sua maneira, o que pode fazer que com que as suas</p><p>práticas ou convirjam ou divirjam.</p><p>RESUMINDO:</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu</p><p>mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de</p><p>que você realmente entendeu o tema de estudo deste</p><p>capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter</p><p>compreendido como interpretar as relações entre Filosofia</p><p>e as tendências pedagógicas.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>15</p><p>Tendência Liberal</p><p>OBJETIVO:</p><p>Ao término deste capítulo você será capaz de identificar,</p><p>compreender e diferenciar as tendências pedagógicas</p><p>da linha liberal. E então? Motivado para desenvolver esta</p><p>competência? Então vamos lá. Avante!</p><p>Temos falado de tendências pedagógicas liberais, mas precisamos</p><p>definir o que o termo “liberais” significa nesse contexto. Certo? De acordo</p><p>com Luckesi (1990), podemos assumir que o termo significa o mesmo que</p><p>“democráticas”, palavra que é amplamente empregada em ambientes</p><p>em que vigorem discussões filosóficas, sociais, culturais. Para que</p><p>compreendamos, integralmente, as tendências pedagógicas, devemos</p><p>recorrer à doutrina econômica liberalista, que é descrita do seguinte</p><p>modo por Luckesi (1990):</p><p>a doutrina liberal apareceu como justificação do sistema</p><p>capitalista que, ao defender a predominância da liberdade</p><p>de escolha e dos interesses individuais, estabeleceu uma</p><p>forma de organização social baseada na propriedade</p><p>privada dos meios de produção. A pedagogia liberal,</p><p>portanto, é uma manifestação própria desse tipo de</p><p>sociedade. (LUCKESI, 1990, p. 54)</p><p>Dentre as tendências pedagógicas brasileiras, predominaram,</p><p>desde a segunda metade do século XX, as de caráter liberal, como são os</p><p>casos das mencionadas no Quadro 1 – Pedagogia Tradicional, Pedagogia</p><p>Renovada Progressista, Pedagogia Renovada não Diretiva e Pedagogia</p><p>Tecnicista. Como dissemos, essas abordagens podem ser agrupadas em</p><p>um único conjunto porque apresentam características comuns. Neste</p><p>caso, têm, em comum, os três seguintes aspectos:</p><p>1. a função social das instituições formais de educação, que seria</p><p>capacitar indivíduos para atuar em sociedade.</p><p>2. a adaptação dos indivíduos aos preceitos éticos, morais e legais</p><p>da sociedade, preocupação ligada, essencialmente, à anterior.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>16</p><p>3. a valorização das habilidades e dos interesses de cada indivíduo,</p><p>meio pelo qual se possibilitará que desempenhe alguma das</p><p>muitas funções sociais.</p><p>Retomando a citação anterior, podemos defender que as</p><p>tendências pedagógicas, assim como o liberalismo econômico, destacam</p><p>a contribuição das condutas individuais e das determinações do conceito</p><p>de liberdade para a construção de prática pedagógicas, tanto no âmbito</p><p>teórico (fundamentação das práticas) quanto no âmbito prático (execução</p><p>e elementos metodológicos das práticas). Nesse sentido, para cada</p><p>uma das diferentes abordagens pedagógicas que estudaremos a seguir,</p><p>salientaremos como incorporam a suposição de que o ser humano deve</p><p>ser notabilizado, a qual está muito presente nos pensamentos filosófico e</p><p>científico ocidentais desde, pelo menos, o movimento iluminista, ocorrido</p><p>no século XVIII.</p><p>Abordagens pedagógicas tradicionais</p><p>O rótulo “abordagens pedagógicas tradicionais” não remete a</p><p>apenas uma corrente de pensamento pedagógico. Na verdade, envolve,</p><p>de maneira muito mais abrangente, todas as correntes e todas as</p><p>abordagens pedagógicas que se desenvolveram entre os séculos XVI</p><p>e XXI. Com o século XVI, inaugura-se a Idade Moderna, época em que</p><p>a ideia de que os sistemas formais devem ser estratificados de acordo</p><p>com certos critérios, como idade. Porém, as mudanças mais importantes</p><p>nas tendências tradicionais viriam no século XVIII, visto que, a partir da</p><p>consolidação da Revolução Industrial, torna-se premente a capacitação</p><p>de mão de obra para o trabalho fabril.</p><p>O século XIX, de acordo com Gonçalves (2005), assistiu à inclusão</p><p>da oferta de sistemas educacionais nas pautas dos Estados Nacionais, que</p><p>surgiam em um ritmo acelerado, sobretudo na Europa. Em consequência</p><p>disso, os sistemas de ensino passaram a ostentar características bastante</p><p>específicas:</p><p>Filosofia da Educação</p><p>17</p><p>• Abandono das vertentes filosóficas e científicas mais humanistas.</p><p>• Promoção de instituições escolares laicas e gratuitas.</p><p>• Promoção das vertentes científicas matemáticas e biológicas.</p><p>• Separação do público-alvo em função de alguns critérios, como</p><p>classes sociais e sexo biológico.</p><p>Ao longo do século XX, as abordagens tradicionais foram muito</p><p>criticadas. No Brasil, isso foi muito presente na produção de teóricos</p><p>alinhados com a Pedagogia Renovada Progressista. Mas qual seria, então,</p><p>o foco das abordagens tradicionais?</p><p>As abordagens tradicionais primam por viabilizar métodos e</p><p>sistemas de ensino voltados às questões humanísticas – ou seja, à</p><p>formação do indivíduo como ser racional e social, formação sobre a qual</p><p>pesará bastante o seu próprio esforço. Em vista disso, a regra mais geral</p><p>é a de que os componentes curriculares não terão relação direta com</p><p>o cotidiano dos alunos, mas serão imbuídos das regras e dos costumes</p><p>sociais e dos conhecimentos julgados relevantes pelo professor e por</p><p>outras autoridades no âmbito da Educação.</p><p>Assim sendo, os componentes curriculares visam muito mais à</p><p>apresentação e ao reforço de conceitos considerados importantes para</p><p>as áreas do conhecimento, sem grandes preocupações com os recursos</p><p>didáticos por meio dos quais serão transpostos para os alunos. Não é</p><p>surpreendente, portanto, que a abstração e o acúmulo de conhecimento</p><p>são os aspectos mais marcantes das abordagens tradicionais (ARANHA,</p><p>1996). No quadro 2, adaptado de Aranha (1996), observamos os elementos</p><p>principais das abordagens tradicionais.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>18</p><p>Quadro 2 – Principais elementos das abordagens pedagógicas liberais tradicionais</p><p>Perspectiva sobre</p><p>a função da</p><p>escola</p><p>A escola deve preocupar-se com as formações intelectuais e</p><p>morais de seus alunos, focando a disseminação de conteúdos</p><p>culturais e científicos; e valorizar o esforço individual como a</p><p>única variável capaz de influenciar o desempenho intelectual dos</p><p>indivíduos, a despeito de quaisquer outros fatores, incluindo os</p><p>econômicos e os sociais.</p><p>Metodologia</p><p>Baseia-se na exposição oral de conteúdos curriculares. A ênfase</p><p>maior está na aquisição de conteúdos, mesmo que isso seja feito</p><p>somente à base de memorização.</p><p>Relação entre</p><p>realidade dos</p><p>indivíduos e</p><p>conteúdos</p><p>curriculares</p><p>A seleção de conteúdos curriculares é fita com base em sua</p><p>relevância para as áreas de conhecimento. Não é considerada a</p><p>relevância que podem ter (ou não) para o seu público-alvo.</p><p>Papel do</p><p>professor</p><p>O professor é considerado o elemento mais importante do processo</p><p>de ensino-aprendizagem, uma vez que seleciona os conteúdos</p><p>curriculares e que os aborda da forma como julgar mais adequada.</p><p>Sua autoridade não pode ser contestada pelos alunos, o que torna</p><p>sua relação desnivelada. As impressões do professor, mesmo que</p><p>sejam falsas, são assumidas como espelhos da realidade e devem</p><p>ser memorizadas pelos alunos.</p><p>Papel do aluno</p><p>O papel do aluno é passivo: apenas receberá os conteúdos</p><p>curriculares, sem a possibilidade de refletir e de criticar as posições</p><p>que lhe forem apresentadas pelo professor.</p><p>Processo</p><p>de ensino-</p><p>aprendizagem</p><p>Como resultado dos fatores anteriores, o processo de ensino-</p><p>aprendizagem é mecânico, resumido à memorização da experiência</p><p>do professor.</p><p>De modo geral, o caráter dos procedimentos</p><p>de avaliação é o de verificar se a memorização ocorreu com</p><p>aproveitamento.</p><p>Fonte: Aranha (1996).</p><p>Segundo Behrns (2003), as abordagens pedagógicas tradicionais</p><p>são comuns nas escolas e nas universidades brasileiras, apesar de</p><p>muitos as considerarem ultrapassadas. Nesse sentido, muitos teóricos,</p><p>durante os séculos XX e XXI, buscaram maneiras de adequar as teorias</p><p>e as estratégias pedagógicas às necessidades contemporâneas, como é</p><p>o caso da Pedagogia Renovada Progressista, que veremos na próxima</p><p>subseção.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>19</p><p>Pedagogia Renovada Progressista</p><p>A Pedagogia Renovada Progressista apareceu no fim do século</p><p>XIX e é fruto das questões e das demandas originadas pela Revolução</p><p>Industrial. Como seu nome nos revela, o ideal progressista desse</p><p>momento histórico está latente nessa abordagem pedagógica, com o</p><p>intuito de resolver problemas relacionados à interação entre indivíduo e</p><p>mundo pós-Revolução Industrial.</p><p>Ao contrário das abordagens tradicionais, a Pedagogia Renovada</p><p>Progressista adota que a cultura, não as preocupações humanísticas, são</p><p>o foco do processo de ensino-aprendizagem. Também conhecida como</p><p>Escola Nova, a Pedagogia Renovada Progressista aposta que um sistema</p><p>de ensino baseado na cultura vigente em seu contexto pode conduzir os</p><p>alunos ao desenvolvimento das suas habilidades. Sendo assim, a Educação</p><p>seria endógena em relação aos alunos: partiria de suas necessidades e de</p><p>seus interesses, negando um dos pilares das abordagens tradicionais.</p><p>No quadro 3, estão os elementos mais importantes da Pedagogia</p><p>Renovada Progressista.</p><p>Quadro 3 – Principais elementos da Pedagogia Renovada Progressista</p><p>Perspectiva sobre</p><p>a função da</p><p>escola</p><p>A escola deve retratar, nos conteúdos programáticos, as demandas</p><p>do meio social, sobretudo daquele de onde os alunos se originam.</p><p>Metodologia</p><p>Baseia-se na ideia de “aprender na prática” – ou seja, de acordo</p><p>com Montessori, conforme veremos a seguir, o autodidatismo seria</p><p>preponderante nos processos de ensino-aprendizagem, ao passo</p><p>que a habilidade de se educar é uma capacidade de todos as</p><p>crianças, provavelmente de base inata.</p><p>Relação entre</p><p>realidade dos</p><p>indivíduos e</p><p>conteúdos</p><p>curriculares</p><p>A experiência dos indivíduos e os desafios da vida cotidiana</p><p>são elementos fundamentais da composição dos conteúdos</p><p>curriculares. Nesse sentido, o processo de desenvolver o</p><p>autodidatismo seria mais importante do que o conhecimento em si:</p><p>uma vez que se “aprende a aprender”, todos os conhecimentos se</p><p>tornam acessíveis, de certa forma.</p><p>Papel do</p><p>professor</p><p>O professor deixa de concentrar uma autoridade incontestável e</p><p>assume as funções de garantidor e de facilitador dos processos</p><p>naturais de desenvolvimento dos seus alunos.</p><p>Papel do aluno</p><p>No contexto da Pedagogia Renovada Progressista, os alunos</p><p>são encarados como partícipes ativos dos processos de ensino-</p><p>aprendizagem. Por isso, têm de prezar por boas relações</p><p>interpessoais em sala de aula, tanto com seus colegas quanto com</p><p>os professores, a fim de respeitar as regras vigentes no ambiente e</p><p>de, como consequência, estabelecer os ideais de liberdade para si</p><p>e para os demais, como acontece, de fato, em sociedade.</p><p>Processo</p><p>de ensino-</p><p>aprendizagem</p><p>Com todas as transformações incluídas na Pedagogia Renovada</p><p>Progressista, o processo de ensino-aprendizagem não é mais visto</p><p>como algo mecânico. Em vez disso, trata-se de um processo de</p><p>autoconhecimento e de descoberta dos elementos do mundo natural</p><p>e da realidade social cujo protagonismo é assumido por cada um</p><p>e por todos os alunos. Nesse sentido, além do pendor natural para</p><p>o conhecimento inerente a todos os alunos, seus interesses, suas</p><p>habilidades pessoais e seu empenho serão, também, importantes</p><p>para a consolidação de novos conhecimentos.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>20</p><p>Perspectiva sobre</p><p>a função da</p><p>escola</p><p>A escola deve retratar, nos conteúdos programáticos, as demandas</p><p>do meio social, sobretudo daquele de onde os alunos se originam.</p><p>Metodologia</p><p>Baseia-se na ideia de “aprender na prática” – ou seja, de acordo</p><p>com Montessori, conforme veremos a seguir, o autodidatismo seria</p><p>preponderante nos processos de ensino-aprendizagem, ao passo</p><p>que a habilidade de se educar é uma capacidade de todos as</p><p>crianças, provavelmente de base inata.</p><p>Relação entre</p><p>realidade dos</p><p>indivíduos e</p><p>conteúdos</p><p>curriculares</p><p>A experiência dos indivíduos e os desafios da vida cotidiana</p><p>são elementos fundamentais da composição dos conteúdos</p><p>curriculares. Nesse sentido, o processo de desenvolver o</p><p>autodidatismo seria mais importante do que o conhecimento em si:</p><p>uma vez que se “aprende a aprender”, todos os conhecimentos se</p><p>tornam acessíveis, de certa forma.</p><p>Papel do</p><p>professor</p><p>O professor deixa de concentrar uma autoridade incontestável e</p><p>assume as funções de garantidor e de facilitador dos processos</p><p>naturais de desenvolvimento dos seus alunos.</p><p>Papel do aluno</p><p>No contexto da Pedagogia Renovada Progressista, os alunos</p><p>são encarados como partícipes ativos dos processos de ensino-</p><p>aprendizagem. Por isso, têm de prezar por boas relações</p><p>interpessoais em sala de aula, tanto com seus colegas quanto com</p><p>os professores, a fim de respeitar as regras vigentes no ambiente e</p><p>de, como consequência, estabelecer os ideais de liberdade para si</p><p>e para os demais, como acontece, de fato, em sociedade.</p><p>Processo</p><p>de ensino-</p><p>aprendizagem</p><p>Com todas as transformações incluídas na Pedagogia Renovada</p><p>Progressista, o processo de ensino-aprendizagem não é mais visto</p><p>como algo mecânico. Em vez disso, trata-se de um processo de</p><p>autoconhecimento e de descoberta dos elementos do mundo natural</p><p>e da realidade social cujo protagonismo é assumido por cada um</p><p>e por todos os alunos. Nesse sentido, além do pendor natural para</p><p>o conhecimento inerente a todos os alunos, seus interesses, suas</p><p>habilidades pessoais e seu empenho serão, também, importantes</p><p>para a consolidação de novos conhecimentos.</p><p>Fonte: Aranha (1996) e de Luckesi (1993).</p><p>De certa forma, a Pedagogia Renovada Progressista contrapôs</p><p>o ideário das abordagens tradicionais, por considerá-lo inadequado ao</p><p>mundo e às relações sociais que passaram a existir após a Revolução</p><p>Industrial. Como sabemos, desde então, a velocidade das transformações,</p><p>independentemente do âmbito que ocupem na vida social, intensificou-</p><p>se muito.</p><p>John Dewey, um dos expoentes da corrente pragmatista, é</p><p>reconhecido como um dos mais importantes representantes da</p><p>Pedagogia Renovada Progressista. À luz do sistema filosófico de Dewey,</p><p>pode-se compreender que o conhecimento é a principal ferramenta</p><p>para resolver os problemas surgidos das relações sociais. Por isso,</p><p>acumular conhecimento não pode ser o objetivo do processo de ensino-</p><p>aprendizagem, como acreditavam as abordagens tradicionais. Em vez</p><p>disso, o objetivo do conhecimento seria a experiência.</p><p>Além disso, o filósofo estadunidense defendia que a promoção do</p><p>bem-estar social dependeria do conhecimento, devido ao fato de que,</p><p>por essa via, são propiciados recursos tecnológicos; e são garantidas as</p><p>bases dos sistemas de governo democráticos. Portanto, de acordo com</p><p>Aranha (1996), Dewey cria que o conhecimento, na forma de ideias e de</p><p>hipóteses, é o que guia as ações humanas.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>21</p><p>Parte das premissas da Pedagogia Renovada Progressista foram</p><p>transformadas em diferentes métodos didáticos, como são os casos dos</p><p>de de Maria Montessori e do de projetos, proposto por Dewey.</p><p>Os registros históricos apontam que Maria Montessori, nascida em</p><p>1870, foi a primeira médica italiana certificada com diploma de graduação.</p><p>Porém, em vez de ter sido a Medicina, foi a Pedagogia que a tornou famosa</p><p>em todo o mundo. Montessori defendia, dentre outras, a ideia de que o</p><p>autodidatismo é preponderante nos processos de ensino-aprendizagem;</p><p>e ideia de que a habilidade de se educar é uma capacidade de todos as</p><p>crianças, provavelmente</p><p>de base inata.</p><p>Nesse sentido, de acordo com Montessori, o contexto social, não</p><p>o esforço individual, seria relevante para que os alunos adquiram novos</p><p>conhecimentos, visto que a capacidade de aprender não variara em função</p><p>de cada criança. Portanto, pode-se concluir que os diferentes ritmos de</p><p>aprendizagem seriam muito mais condicionados pelo contexto social em</p><p>que os indivíduos vivem do que por sua capacidade de aprender.</p><p>O sistema de Maria Montessori se pauta, então, nas premissas</p><p>de que a liberdade e as ações dos alunos são fundamentais para a</p><p>consolidação de novos conhecimentos, na medida em que os avalia</p><p>como, ao mesmo tempo, sujeito ativo e sujeito passivo dos processos</p><p>de ensino-aprendizagem – ou seja, como desencadeadores e como</p><p>receptores de tais processos.</p><p>IMPORTANTE:</p><p>Um dos nomes mais conhecidos da Pedagogia Renovada</p><p>Progressista e da Pedagogia como um todo, Jean Piaget,</p><p>psicólogo nascido na Suíça, demonstrou, em sua obra, que</p><p>a aquisição de conhecimentos por uma criança apresenta</p><p>diferentes etapas. Por exemplo, a primeira seria a chamada</p><p>sensório-motora, em que os indivíduos dão mais atenção a</p><p>estímulos que necessitem de uma resposta muscular ativa.</p><p>Além de via trabalho de Piaget, a Psicologia influenciou</p><p>a Pedagogia por outros caminhos, tornando-se muito</p><p>importante para a fundamentação das teorias pedagógicas</p><p>como um todo.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>22</p><p>Em nosso país, como Azevedo, Teixeira e Lourenço Filho (1932)</p><p>nos contam, a Pedagogia Renovada Progressista aparece nos anos 1920,</p><p>principalmente nas escolas públicas. Nessa obra, chamada Manifesto</p><p>dos pioneiros da educação, em conformidade com o espírito da época,</p><p>os autores analisam que o cenário industrial brasileiro enfrentava</p><p>dificuldades, visto que não havia mão de obra qualificada para assumir</p><p>os pontos de trabalho disponíveis. Isso era provocado pelo fato de a</p><p>educação, sobretudo a oferecida pelo Estado, não ser adequada às</p><p>demandas industriais.</p><p>Outro espaço em que a influência da Pedagogia Renovada</p><p>Progressista é sentida, mesmo atualmente, é o dos cursos de licenciatura.</p><p>É muito comum que nossa atenção seja chamada para a importância</p><p>de despertar olhares críticos dos alunos para o contexto social em que</p><p>vivem; e para a necessidade de relacionar, sempre, os conhecimentos</p><p>teóricos com a dinâmica da prática docente. Essas duas características</p><p>se tornaram uma espécie de premissa básica dos cursos de licenciatura,</p><p>mas descendem das premissas da Pedagogia Renovada Progressista.</p><p>Pedagogia liberal renovada não diretiva</p><p>Anteriormente, mencionamos a importância tanto de Piaget,</p><p>psicólogo suíço, quanto da Psicologia para as teorias pedagógicas. Com</p><p>a Pedagogia Liberal Renovada Não Diretiva, veremos, mais uma vez, o</p><p>quanto as duas áreas de conhecimento dialogam e contribuem com as</p><p>reflexões sobre os processos de ensino-aprendizagem.</p><p>Como Piaget, o estadunidense Carl Rogers transferiu sua experiência</p><p>como psicólogo para o campo pedagógico, em busca, também, de</p><p>alternativas às abordagens pedagógicas de cunho tradicional. Embora se</p><p>possa pensar isto, a Pedagogia Liberal Renovada Não Diretiva se opôs,</p><p>sim, a premissas das abordagens pedagógicas de cunho tradicional, mas</p><p>não é adversária da Pedagogia Renovada Progressista. Antes, trata-se de</p><p>outra via para superar concepções consideradas ultrapassadas a respeito</p><p>dos processos de ensino-aprendizagem.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>23</p><p>As principais finalidades que Rogers incutiu na Pedagogia Liberal</p><p>Renovada Não Diretiva são uma preocupação com o desenvolvimento</p><p>pessoal dos alunos, alcançado, em grande parte, por procedimentos</p><p>de autorrealização; e uma orientação à boa disposição das relações</p><p>interpessoais. Portanto, até este momento, não encontramos nenhuma</p><p>diferença substancial quanto à Pedagogia Renovada Progressista.</p><p>Contemporaneamente a Rogers, a Psicologia era dominada por</p><p>duas vertentes teóricas, a Psicanálise, cujo expoente era Sigmund Freud;</p><p>e o Comportamentalismo, cuja figura mais proeminente era Burrhus</p><p>Frederic Skinner. Ao mesmo tempo em que combateu as abordagens</p><p>pedagógicas de cunho tradicional, Rogers, em seu sistema teórico,</p><p>aventou soluções diferentes das dessas vertentes teóricas para uma série</p><p>de questões psicológicas.</p><p>IMPORTANTE:</p><p>Basicamente, a Psicanálise é uma abordagem da psiquê</p><p>humana que se volta à explicação dos comportamentos</p><p>com base em traços da personalidade dos indivíduos e</p><p>em operações internas ao aparato cognitivo. Os conceitos</p><p>de pulsão, de inconsciente e de instinto têm destaque na</p><p>vertente freudiana.Por sua vez, o Comportamentalismo, a</p><p>reboque do Positivismo comtiano que vigia nas abordagens</p><p>científicas, pretendia evitar que a Psicologia contivesse</p><p>remissões a elementos abstratos, indo às últimas</p><p>consequências para explicar o comportamento humano</p><p>por meio de processos de estímulo e de reforço.</p><p>Em contrapartida às vertentes de Freud e de Skinner, a de Rogers</p><p>tinha um caráter humanista muito patente, o que significa que apostava,</p><p>otimistamente, em um papel positivo e ativo dos alunos nos processos de</p><p>ensino-aprendizagem. Nesse sentido, pode-se afirmar que a Pedagogia</p><p>Liberal Renovada Não Diretiva. Mas o que isso significa? Significa,</p><p>sobretudo, que o professor deve mobilizar as habilidades cognitivas e as</p><p>características afetivas de seu aluno apenas de modo indireto.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>24</p><p>Para que isso fique bem claro para todos nós, é importante</p><p>compreender que, na perspectiva de Rogers, a função do professor seria</p><p>a de apresentar suas experiências aos seus alunos, de modo que, com</p><p>base em tais experiências, os alunos sejam capazes de projetar e de dirigir</p><p>as próprias. Para isso, a relação entre professor e alunos deveria imbuir-se</p><p>de três principais elementos: afetividade, motivação e sensibilização.</p><p>Como aconteceu, também, na Pedagogia Renovada Progressista, a</p><p>Pedagogia Liberal Renovada Não Diretiva assumia que os processos de</p><p>ensino-aprendizagem tinham de ser significativos para os alunos, com a</p><p>justificativa de que, se assim for, a consolidação de novos conhecimentos</p><p>é facilitada. No quadro 4, a seguir, sistematizamos os principais elementos</p><p>da Pedagogia Liberal Renovada Não Diretiva.</p><p>Quadro 4 – Principais elementos da Pedagogia Liberal Renovada Não Diretiva</p><p>Perspectiva sobre</p><p>a função da</p><p>escola</p><p>Face às transformações pelas quais os indivíduos passam,</p><p>sobretudo nas fases da vida em que frequentam a Educação Básica,</p><p>a função da escola seria a de priorizar os aspectos psicológicos</p><p>dos processos de ensino-aprendizagem, em detrimento de</p><p>questões pedagógicas. Desse modo, criar-se-iam as condições</p><p>necessárias para a autorrealização e para a consolidação de novos</p><p>conhecimentos.</p><p>Metodologia</p><p>Assume-se que as relações interpessoais e que as habilidades</p><p>de comunicação são mais fundamentais do que a transmissão</p><p>de conhecimento, tendo em vista que direcionem os alunos à</p><p>percepção de que os responsáveis pela construção do próprio</p><p>repertório de conhecimentos.</p><p>Relação entre</p><p>realidade dos</p><p>indivíduos e</p><p>conteúdos</p><p>curriculares</p><p>Como se afirmou, Rogers presumia que os processos de ensino-</p><p>aprendizagem tivessem de ser significativos para os alunos, com</p><p>o intuito de que fossem facilitados. Por isso, a relação entre a</p><p>realidade dos alunos e os conteúdos curriculares deve ser direta.</p><p>Papel do</p><p>professor</p><p>Na condição de garantidor e de facilitador dos processos de</p><p>ensino-aprendizagem, o professor deve prezar pela afetividade,</p><p>pela motivação e pela sensibilização no contato com seus alunos,</p><p>estimulando o autoconhecimento e a autorrealização.</p><p>Papel do aluno</p><p>Como aconteceu com a Pedagogia Renovada Progressista, a</p><p>Pedagogia Liberal Renovada Não Diretiva entende o aluno como o</p><p>elemento mais importante dos processos de ensino-aprendizagem.</p><p>Por essa razão, em sua prática diária, o professor deve apresentar</p><p>aos alunos experiências que sejam significativas e que lhes</p><p>permitam desenvolver</p><p>as suas habilidades; e deve, ainda, focar</p><p>aspectos psicológicos dos alunos e dos processos de ensino-</p><p>aprendizagem.</p><p>Processo</p><p>de ensino-</p><p>aprendizagem</p><p>Na perspectiva da Pedagogia Liberal Renovada Não Diretiva,</p><p>motivar os alunos seria, talvez, o elemento mais importante dos</p><p>processos de ensino-aprendizagem. Isso ocorre porque a motivação</p><p>é proporcional à vontade dos alunos de agir em prol de sua</p><p>autorrealização. Na medida em que o professor consegue motivar</p><p>seus alunos e é capaz de fazê-los perceber a importância de suas</p><p>condutas para a consecução de objetivos e para a consolidação de</p><p>novos conhecimentos, as avaliações de caráter arguidor perdem a</p><p>necessidade de existir e cedem lugar a autoavaliações.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>25</p><p>Perspectiva sobre</p><p>a função da</p><p>escola</p><p>Face às transformações pelas quais os indivíduos passam,</p><p>sobretudo nas fases da vida em que frequentam a Educação Básica,</p><p>a função da escola seria a de priorizar os aspectos psicológicos</p><p>dos processos de ensino-aprendizagem, em detrimento de</p><p>questões pedagógicas. Desse modo, criar-se-iam as condições</p><p>necessárias para a autorrealização e para a consolidação de novos</p><p>conhecimentos.</p><p>Metodologia</p><p>Assume-se que as relações interpessoais e que as habilidades</p><p>de comunicação são mais fundamentais do que a transmissão</p><p>de conhecimento, tendo em vista que direcionem os alunos à</p><p>percepção de que os responsáveis pela construção do próprio</p><p>repertório de conhecimentos.</p><p>Relação entre</p><p>realidade dos</p><p>indivíduos e</p><p>conteúdos</p><p>curriculares</p><p>Como se afirmou, Rogers presumia que os processos de ensino-</p><p>aprendizagem tivessem de ser significativos para os alunos, com</p><p>o intuito de que fossem facilitados. Por isso, a relação entre a</p><p>realidade dos alunos e os conteúdos curriculares deve ser direta.</p><p>Papel do</p><p>professor</p><p>Na condição de garantidor e de facilitador dos processos de</p><p>ensino-aprendizagem, o professor deve prezar pela afetividade,</p><p>pela motivação e pela sensibilização no contato com seus alunos,</p><p>estimulando o autoconhecimento e a autorrealização.</p><p>Papel do aluno</p><p>Como aconteceu com a Pedagogia Renovada Progressista, a</p><p>Pedagogia Liberal Renovada Não Diretiva entende o aluno como o</p><p>elemento mais importante dos processos de ensino-aprendizagem.</p><p>Por essa razão, em sua prática diária, o professor deve apresentar</p><p>aos alunos experiências que sejam significativas e que lhes</p><p>permitam desenvolver as suas habilidades; e deve, ainda, focar</p><p>aspectos psicológicos dos alunos e dos processos de ensino-</p><p>aprendizagem.</p><p>Processo</p><p>de ensino-</p><p>aprendizagem</p><p>Na perspectiva da Pedagogia Liberal Renovada Não Diretiva,</p><p>motivar os alunos seria, talvez, o elemento mais importante dos</p><p>processos de ensino-aprendizagem. Isso ocorre porque a motivação</p><p>é proporcional à vontade dos alunos de agir em prol de sua</p><p>autorrealização. Na medida em que o professor consegue motivar</p><p>seus alunos e é capaz de fazê-los perceber a importância de suas</p><p>condutas para a consecução de objetivos e para a consolidação de</p><p>novos conhecimentos, as avaliações de caráter arguidor perdem a</p><p>necessidade de existir e cedem lugar a autoavaliações.</p><p>Fonte: Luckesi (1993).</p><p>Pedagogia Tecnicista</p><p>Conforme as críticas às abordagens pedagógicas de cunho</p><p>tradicional sobrevieram durante o século XX, alternativas teóricas</p><p>surgiram, como estudamos até aqui. Na década de 1950, foi a vez da</p><p>Pedagogia Tecnicista, cuja premissa mais básica era a de a Educação</p><p>Básica alcançaria sua finalidade se aceitasse a função de preparar mão</p><p>de obra para o sistema de produção capitalista. De acordo com Aranha</p><p>(1996), a Pedagogia Tecnicista teve, como berço, os Estados Unidos, a</p><p>maior potência capitalista do planeta. Posteriormente, espalhou-se para os</p><p>países da América Latina, o quais iniciavam, mais ou menos timidamente,</p><p>seus processos de industrialização, como foi o caso do Brasil.</p><p>A Pedagogia Tecnicista foca a preparação de mão de obra para</p><p>o sistema de produção capitalista por um motivo óbvio: qualificando</p><p>mão de obra para ocupar postos de trabalho, os sistemas educacionais</p><p>respondiam às demandas do desenvolvimento econômico de seus</p><p>países e às do sistema capitalista como um todo. Portanto, de certa forma,</p><p>existe um retorno à concepção das abordagens pedagógicas de cunho</p><p>tradicional de que a relevância dos processos de ensino-aprendizagem</p><p>para os alunos não é (ou é menos) importante do que a consolidação de</p><p>novos conhecimentos.</p><p>A Pedagogia Tecnicista chegou ao Brasil nos anos finais da década</p><p>de 1950. O grande responsável por isso foi o chamado Programa Brasileiro-</p><p>Americano de Auxílio ao Ensino Elementar (PABAEE). Contudo, a década</p><p>seguinte assistiu a como, com grande vigor, a Pedagogia Tecnicista</p><p>substituiu a Pedagogia Renovada Progressista na função de fundamentar</p><p>os objetivos e as funções da Educação brasileiro.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>26</p><p>Mas que isso aconteceu na década de 1960? O motivo é muito</p><p>simples: como golpe militar de 1964, apoiado pelos Estados Unidos,</p><p>a racionalização e o direcionamento da Educação às demandas do</p><p>desenvolvimento econômico e do sistema capitalista foram considerados</p><p>parte da agenda do Estado brasileiro.</p><p>Na época, o Ministério da Educação, em parceria com o Programa</p><p>Brasileiro-Americano de Auxílio ao Ensino Elementar, elaborou as</p><p>diretrizes tecnicistas de nosso sistema de educacional, promulgando a lei</p><p>5.540/68, cujo foco era o Educação Superior; e a lei 5.692/71, cujo foco</p><p>era a Educação Básica.</p><p>O principal advento causado pela lei 5.692/71 foi a obrigatoriedade</p><p>de oferta de cursos profissionalizantes em concomitância com os</p><p>componentes curriculares tradicionais. Contraditoriamente a essa</p><p>obrigatoriamente, grande parte das escolas públicas não continha</p><p>a infraestrutura necessária para o oferecimento regular de cursos</p><p>profissionalizantes. No quadro 5, a seguir, sistematizamos os principais</p><p>elementos da Pedagogia Tecnicista.</p><p>Quadro 5 – Principais elementos da Pedagogia Tecnicista</p><p>Perspectiva sobre</p><p>a função da</p><p>escola</p><p>Como forma de qualificar mão de obra para o desenvolvimento</p><p>econômico dos países, as escolas deveriam focar tecnologias</p><p>e resultados científicos relevantes, formando sujeitos com as</p><p>competências exigidas pelo mercado de trabalho. Para isso,</p><p>assumia premissas do Comportamentalismo, como a ideia de</p><p>que estímulos e reforços são as variáveis mais importantes da</p><p>consolidação de novos conhecimentos.</p><p>Metodologia</p><p>Os processos de ensino-aprendizagem seriam conduzidos em três</p><p>etapas, que deveriam ser seguidas à risca: definição dos objetivos</p><p>educacionais; equenciamento das etapas educacionais; execução</p><p>das etapas educacionais.</p><p>Relação entre</p><p>realidade dos</p><p>indivíduos e</p><p>conteúdos</p><p>curriculares</p><p>Novamente, o professor é considerado o protagonista dos</p><p>processos de ensino-aprendizagem, selecionando, a priori, os</p><p>conteúdos curriculares. Por sua vez, os conteúdos curriculares</p><p>focam as tecnologias e os resultados científicos, reduzindo-se,</p><p>como desejava o Comportamentalismo, a elementos observáveis.</p><p>Semelhantemente ao que acontece nas abordagens pedagógicas</p><p>de cunho tradicional, a seleção de conteúdos curriculares não é</p><p>feita com base em sua relevância para os alunos. Em vez disso, é</p><p>realizada em prol da sua relevância para as demandas econômicas.</p><p>Papel do</p><p>professor</p><p>A função do professor é a de transmitir da matéria os conteúdos</p><p>curriculares de modo eficiente.</p><p>Papel do aluno</p><p>Semelhantemente, também, ao que acontece nas abordagens</p><p>pedagógicas de cunho tradicional, o alune cumpre o papel de</p><p>receptor dos conteúdos curriculares transmitidos pelo professor.</p><p>Nesse sentido, reflexões sobre questões sociais e aspectos afetivos</p><p>dos alunos são desencorajados.</p><p>Processo</p><p>de ensino-</p><p>aprendizagem</p><p>Baseando-se no Comportamentalismo, a Pedagogia Tecnicista</p><p>entende que os processos de ensino-aprendizagem são</p><p>viabilizados pela manipulação de estímulos e de reforços. Por</p><p>essa razão, os processos de ensino-aprendizagem da Pedagogia</p><p>Tecnicista</p><p>são avaliados como diretivos – ou seja, são avaliados</p><p>como processos que controlam as reações dos alunos.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>27</p><p>Perspectiva sobre</p><p>a função da</p><p>escola</p><p>Como forma de qualificar mão de obra para o desenvolvimento</p><p>econômico dos países, as escolas deveriam focar tecnologias</p><p>e resultados científicos relevantes, formando sujeitos com as</p><p>competências exigidas pelo mercado de trabalho. Para isso,</p><p>assumia premissas do Comportamentalismo, como a ideia de</p><p>que estímulos e reforços são as variáveis mais importantes da</p><p>consolidação de novos conhecimentos.</p><p>Metodologia</p><p>Os processos de ensino-aprendizagem seriam conduzidos em três</p><p>etapas, que deveriam ser seguidas à risca: definição dos objetivos</p><p>educacionais; equenciamento das etapas educacionais; execução</p><p>das etapas educacionais.</p><p>Relação entre</p><p>realidade dos</p><p>indivíduos e</p><p>conteúdos</p><p>curriculares</p><p>Novamente, o professor é considerado o protagonista dos</p><p>processos de ensino-aprendizagem, selecionando, a priori, os</p><p>conteúdos curriculares. Por sua vez, os conteúdos curriculares</p><p>focam as tecnologias e os resultados científicos, reduzindo-se,</p><p>como desejava o Comportamentalismo, a elementos observáveis.</p><p>Semelhantemente ao que acontece nas abordagens pedagógicas</p><p>de cunho tradicional, a seleção de conteúdos curriculares não é</p><p>feita com base em sua relevância para os alunos. Em vez disso, é</p><p>realizada em prol da sua relevância para as demandas econômicas.</p><p>Papel do</p><p>professor</p><p>A função do professor é a de transmitir da matéria os conteúdos</p><p>curriculares de modo eficiente.</p><p>Papel do aluno</p><p>Semelhantemente, também, ao que acontece nas abordagens</p><p>pedagógicas de cunho tradicional, o alune cumpre o papel de</p><p>receptor dos conteúdos curriculares transmitidos pelo professor.</p><p>Nesse sentido, reflexões sobre questões sociais e aspectos afetivos</p><p>dos alunos são desencorajados.</p><p>Processo</p><p>de ensino-</p><p>aprendizagem</p><p>Baseando-se no Comportamentalismo, a Pedagogia Tecnicista</p><p>entende que os processos de ensino-aprendizagem são</p><p>viabilizados pela manipulação de estímulos e de reforços. Por</p><p>essa razão, os processos de ensino-aprendizagem da Pedagogia</p><p>Tecnicista são avaliados como diretivos – ou seja, são avaliados</p><p>como processos que controlam as reações dos alunos.</p><p>Fonte: Luckesi (1993).</p><p>RESUMINDO:</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu</p><p>mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de</p><p>que você realmente entendeu o tema de estudo deste</p><p>capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter</p><p>compreendido como identificar, compreender e diferenciar</p><p>as tendências pedagógicas da linha liberal.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>28</p><p>Tendência progressista</p><p>OBJETIVO:</p><p>Ao término deste capítulo você será capaz de identificar</p><p>as tendências pedagógicas da linha progressista. E então?</p><p>Motivado para desenvolver esta competência? Então</p><p>vamos lá. Avante!</p><p>As tendências pedagógicas progressistas também surgiram</p><p>como um movimento contrário às abordagens pedagógicas de cunho</p><p>tradicional, principalmente devido ao seu ideal autoritarista. Assim sendo,</p><p>os teóricos das tendências pedagógicas progressistas propuseram que</p><p>os processos de ensino-aprendizagem devem pautar-se em liberdade</p><p>e em democracia, para que, assim, sejam formados alunos com ideais</p><p>libertários e democráticos.</p><p>Uma das marcas registradas das tendências pedagógicas progressistas</p><p>é o interesse pelas camadas menos privilegiadas da sociedade, às quais,</p><p>de modo geral, são impostos obstáculos quanto ao acesso à educação.</p><p>Por essa razão, a preocupação dos processos de ensino-aprendizagem</p><p>deve ser a oferta de uma formação baseada no trabalho e voltada para o</p><p>trabalho, entendendo que a seleção dos conteúdos curriculares deve ser</p><p>relevante para as práticas sociais dos alunos.</p><p>De acordo com Aranha (1996), delimitar como as tendências</p><p>pedagógicas progressistas surgiram não é algo fácil. Porém, sabe-se que</p><p>se consolidam, de uma maneira mais expressiva, na década de 1970. A</p><p>própria expressão “tendências pedagógicas progressistas” não é aceita</p><p>por todos os teóricos adeptos dessa vertente.</p><p>O francês Georges Snyders, um dos principais expoentes das</p><p>tendências pedagógicas progressistas, defendeu a superação das</p><p>premissas das abordagens pedagógicas de cunho tradicional e das</p><p>da Pedagogia Renovada Progressista. Em obras como Pedagogia</p><p>Progressista e Para onde vão as Pedagogias Não Diretivas, que são</p><p>famosas e reconhecidas em todo o mundo, o autor defendeu a alternativa</p><p>às premissas mencionadas estaria na revisão do estatuto dos conteúdos</p><p>Filosofia da Educação</p><p>29</p><p>curriculares, que deveriam transformar-se na fonte (ponto de partida) dos</p><p>processos de ensino-aprendizagem.</p><p>Além do mais, Snyders defendia que a função do professor seria a</p><p>de propor, com base nos conteúdos curriculares, discussões, divergências</p><p>e diálogos capazes de conduzir os alunos à reflexão e à crítica, até</p><p>que se apropriem de tais conteúdos e desenvolvam as habilidades de</p><p>manipulá-los e de reelaborá-los. Nesse sentido, os processos de ensino-</p><p>aprendizagem consistiriam na permuta experiências e de conhecimentos</p><p>entre professor e alunos, caracterizando-se por uma atitude mediadora,</p><p>por parte do professor; e por atitudes ativas e espontâneas, por parte dos</p><p>alunos.</p><p>Em nosso país, o mais importante representante das tendências</p><p>pedagógicas progressistas é Paulo Freire, cujo trabalho pioneiro o</p><p>transformou em um dos pensadores mais famosos dos séculos XX e</p><p>XXI. A contribuição mais conhecida de Paulo Freire é o seu método de</p><p>alfabetização de adultos.</p><p>Outros teóricos brasileiros relevantes são Moacir Gadotti, Wagner</p><p>Gonçalves Rossi e Carlos Rodrigues Brandão. A respeito de Moacir Gadotti,</p><p>vale mencionar o desenvolvimento da Pedagogia do Conflito, que adota</p><p>uma concepção de Educação e de processos de ensino-aprendizagem</p><p>baseada, fortemente, no poder do diálogo.</p><p>Como fizemos com as tendências pedagógicas liberais, cujas</p><p>características comuns identificamos, encontramos a convergência das</p><p>tendências pedagógicas progressistas no modo como concebem a relação</p><p>entre Educação, processos de ensino-aprendizagem e transformação das</p><p>relações sociais. Isso significa que, para todas as tendências pedagógicas</p><p>progressistas, o ambiente escolar deve democratizar o acesso aos</p><p>conhecimentos, garantindo que estejam ao alcance das camadas menos</p><p>privilegiadas da sociedade.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>30</p><p>IMPORTANTE:</p><p>Sabemos, porém, que a realidade das escolas brasileiras</p><p>é muito diferente desse ideal democrático. Comumente,</p><p>os índices de reprovação e de evasão são muitos altos em</p><p>território nacional. Uma explicação plausível para isso é o</p><p>fato de que as tendências pedagógicas progressistas são</p><p>incompatíveis com as premissas capitalistas, exigindo que</p><p>a sociedade se engaje, como um todo, para combater esse</p><p>problema.</p><p>No conjunto das tendências pedagógicas progressistas, existem</p><p>vertentes que restringem sua fundamentação a aspectos psicológicos dos</p><p>processos de ensino-aprendizagem, ao passo que outras adotam, como</p><p>base, aspectos filosóficos, sociais e políticos. Nesta seção, falaremos</p><p>sobre três representantes das tendências pedagógicas progressistas:</p><p>• A Pedagogia Libertadora.</p><p>• A Pedagogia Libertária.</p><p>• A Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos.</p><p>Pedagogia Libertadora</p><p>Intitulada Pedagogia Libertadora, a abordagem de Paulo Freire</p><p>presume que o elemento mais importante da vida humana é a Educação,</p><p>embora, sozinha, sem relação com aspectos sociais, não tenha a</p><p>capacidade de transformar a sociedade.</p><p>Para o teórico brasileiro, um indivíduo torna a sua existência</p><p>significante a partir do sentido que atribui à existência dos seus</p><p>semelhantes. Por isso, uma Educação alicerçada em demandas sociais</p><p>funcionaria como lente por meio da qual poderíamos enxergar o contexto</p><p>em que nos inserimos e modificá-lo positivamente.</p><p>De acordo com Lima (2014), a função social da Educação, na</p><p>perspectiva de Paulo Freire, é a de fazer os indivíduos</p><p>conscientes de</p><p>si, conscientes do mundo que o rodeia e conscientes de seu papel em</p><p>relação a esse mundo. Nesse sentido, a Pedagogia Libertadora visa ao</p><p>Filosofia da Educação</p><p>31</p><p>crescimento dos indivíduos no que tange aos seus aspectos formativo</p><p>(preceitos éticos e morais que guiam os comportamentos cidadãos) e</p><p>informativo (conteúdos curriculares que sejam relevantes para as suas</p><p>relações sociais.</p><p>A Pedagogia Libertadora também é conhecida pela alcunha</p><p>Pedagogia do Oprimido, tendo em vista que vise a tornar os indivíduos</p><p>conscientes da posição que ocupam no tecido social. Assim, por intermédio</p><p>de processos de ensino-aprendizagem libertadores, camadas oprimidas</p><p>da sociedade têm o potencial de superar a sua condição desfavorável e</p><p>de, ainda, melhor a de seus semelhantes.</p><p>Segundo a Pedagogia Libertadora, os indivíduos devem receber o</p><p>que for necessário para desempenhar o papel de senhores da própria</p><p>história. Dessa forma, serão capazes de eliminar visões reducionistas</p><p>sobre si, sobre seus semelhantes e sobre outros grupos sociais. O</p><p>caráter libertador do conhecimento estaria, então, na apropriação que os</p><p>indivíduos fazem de suas condições sociais, transformando em sujeitos</p><p>críticos e em agentes de mudança da sociedade.</p><p>Consequentemente, a concepção libertadora acredita que os</p><p>processos de ensino-aprendizagem, de um modo geral, não podem</p><p>prescindir de que os professores acolham e propaguem posições</p><p>políticas. Isso acontece, para Lima (2014), porque a prática reflexiva crítica</p><p>deve começar com os professores, que terão uma função interventiva não</p><p>apenas no que tange à aquisição de conhecimentos, mas, também, ao</p><p>desenvolvimento social.</p><p>Seguindo essa perspectiva, a função do professor não e limitaria</p><p>às de ensinar conteúdos curriculares e de ensinar os alunos a aprender</p><p>conteúdos curriculares. Para muito além disso, o processo deve aprender</p><p>o processo de ensinar em conjunto com seus alunos, construindo suas</p><p>práticas a partir das experiências vividas em sala de aula. Portanto, a</p><p>democratização dos conhecimentos – entre professor e alunos, entre</p><p>alunos e alunos, entre professores e professores, entre os cidadãos como</p><p>Filosofia da Educação</p><p>32</p><p>um todo – deve estar no cerne das relações cotidianas. No quadro 6, a</p><p>seguir, sistematizamos os principais elementos da Pedagogia Libertadora.</p><p>Quadro 6 – Principais elementos da Pedagogia Libertadora</p><p>Perspectiva sobre</p><p>a função da</p><p>escola</p><p>A escola deve buscar a conscientização dos alunos a respeito do</p><p>contexto social em que se inserem, desencadeando o processo</p><p>que levará, no futuro, a transformações sociais. Além do mais,</p><p>deve prezar, sempre, pelo questionamento aspectos sociais</p><p>estabelecidos, como maneira de desconstruir a ideia de que</p><p>transformações sociais são impossíveis.</p><p>Metodologia</p><p>Assume que o diálogo é a ferramenta mais importante da relação</p><p>entre professor e alunos. Por seu intermédio, todos se mobilizaram</p><p>para a busca de conhecimentos e para as reflexões sobre a</p><p>sociedade. De modo geral, o professor deve permitir que os alunos</p><p>conduzam, em grupos de discussão, seus processos de ensino-</p><p>aprendizagem, intervindo somente quando isso se fizer necessário.</p><p>É responsável por selecionar os conteúdos curriculares de cada</p><p>atividade, adequando-os à realidade dos alunos.</p><p>Relação entre</p><p>realidade dos</p><p>indivíduos e</p><p>conteúdos</p><p>curriculares</p><p>Os conteúdos curriculares são abstraídos das práticas sociais dos</p><p>alunos, sendo, portanto, muito relevantes para a sua vida fora do</p><p>ambiente escolar.</p><p>Papel do</p><p>professor</p><p>O professor funciona como mediador e como direcionador dos</p><p>processos de ensino-aprendizagem, realizando as intervenções</p><p>necessárias nas atividades dos alunos.</p><p>Papel do aluno</p><p>É ativo durante os processos de ensino-aprendizagem, fazendo</p><p>suas próprias escolhas e desenvolvendo consciência dos</p><p>conhecimentos e das funções sociais dos conhecimentos.</p><p>Processo</p><p>de ensino-</p><p>aprendizagem</p><p>Enfatiza a problematização dos conteúdos curriculares. Em geral,</p><p>parte-se de problema, solicitando que os alunos o analisem e</p><p>tentem solucioná-lo. Dessa forma, os conhecimentos não são</p><p>adquiridos por memorização de experiências do professor, mas,</p><p>sim, por procedimentos de reflexão, de compreensão e de crítica</p><p>dos problemas apresntados.</p><p>Fonte: Luckesi (1993).</p><p>Pedagogia Libertária</p><p>A chamada Pedagogia Libertária inclui muitas abordagens</p><p>pedagógicas antiautoritárias. Um dos teóricos mais famosos da Pedagogia</p><p>Libertária é Maurício Tragtenberg, embora seu foco tenha sido não a</p><p>Educação, mas, em vez disso, a ideia de um processo de autogestão das</p><p>instituições escolares.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>33</p><p>Para Tragtenberg, autogestão é tanto um conteúdo curricular</p><p>quanto um método pedagógico; e tem objetivos pedagógicos e políticos.</p><p>De modo geral, a Pedagogia Libertária prega que a escolas devem</p><p>priorizar, sempre, o desenvolvimento dos alunos nos âmbitos “libertário”</p><p>e “autogestionário”. Assim, a interpretação a respeito do papel dos alunos</p><p>contém uma nuance política, considerando, ao mesmo tempo, que</p><p>são um produto do seu contexto social e que se constroem em meio à</p><p>coletividade.</p><p>Outro rótulo associado à Pedagogia Libertária é Pedagogia</p><p>Institucional, visto que uma de suas metas é combater a burocracia</p><p>que assola a Educação e os processos de ensino-aprendizagem. Como</p><p>exemplos, dentre outros fatores, podemos citar intervenções do Estado</p><p>sobre a dinâmica escolar, posições controladoras de professores e</p><p>imposições curriculares. No quadro 7, a seguir, sistematizamos os</p><p>principais elementos da Pedagogia Liberal Renovada Não Diretiva.</p><p>Quadro 7 – Principais elementos da Pedagogia Libertária</p><p>Perspectiva sobre</p><p>a função da</p><p>escola</p><p>A escola deve ser organizada por procedimentos de autogestão.</p><p>Metodologia</p><p>São priorizados, além da autogestão, os seguintes elementos:</p><p>trabalho em equipe, autonomia, debate e iniciativa.</p><p>Relação entre</p><p>realidade dos</p><p>indivíduos e</p><p>conteúdos</p><p>curriculares</p><p>A coletividade definirá quais serão os conteúdos curriculares e,</p><p>para isso, basear-se-á nos aspectos da vida em sociedade. Nesse</p><p>sentido, nada é tomado como obrigatório, mas, sim, assume-se que</p><p>os conteúdos curriculares estão disponíveis para serem aprendidos.</p><p>Papel do</p><p>professor</p><p>Apresenta um estatuto diferente do atribuído ao aluno, mas não é</p><p>o protagonista dos Pedagogia Tecnicista e não funciona como uma</p><p>autoridade. Ao contrário, auxilia o grupo de alunos com as suas</p><p>necessidades e orienta as suas novidades. Não é considerado um</p><p>modelo a ser seguido.</p><p>Papel do aluno</p><p>Ao ajustar-se à coletividade, é visto como um sujeito capaz de</p><p>participar da construção de conhecimentos e de combater as</p><p>diversas formas de repressão. Tem, como meta, apoiando-se</p><p>nos processos de ensino-aprendizagem, transformar-se em um</p><p>indivíduo mais livre das amarras sociais.</p><p>Fonte: Luckesi (1993).</p><p>Filosofia da Educação</p><p>34</p><p>RESUMINDO:</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu</p><p>mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de</p><p>que você realmente entendeu o tema de estudo deste</p><p>capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter</p><p>compreendido como identificar as tendências pedagógicas</p><p>da linha progressista.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>35</p><p>Tendência progressista crítico-social dos</p><p>conteúdos</p><p>OBJETIVO:</p><p>Ao término deste capítulo você será capaz de interpretar</p><p>e diferenciar as características da tendência pedagógica</p><p>crítico-social dos conteúdos. E então? Motivado para</p><p>desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!</p><p>À medida que, na Europa, a partir da segunda metade do século</p><p>XX, teóricos de tendências pedagógicas progressistas se dedicavam</p><p>mais aos índices de evasão e de repetência escolares do que a outros</p><p>assuntos, aqui, no Brasil, desenvolveu-se a corrente conhecida como</p><p>Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos, conhecida, também, como</p><p>Pedagogia Dialética, como Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos e</p><p>como Pedagogia Histórico-Crítica.</p><p>A abordagem foi proposta</p><p>por Demerval Saviani, que, para isso,</p><p>apropriou-se de conceitos teóricos de várias áreas de conhecimento,</p><p>dentre os quais se destacam ideias de Marx, de Snyders, de Gramsci e do</p><p>brasileiro Álvaro Vieira Pinto. Todo os conceitos tomados foram adaptados,</p><p>por Saviani, aos contextos social e educacional nacionais, tratando-se,</p><p>portanto, de uma abordagem focada em nossas demandas.</p><p>De acordo com Saviani, até 1973, não se atestava a existência de um</p><p>sistema educacional brasileiro robusto. A posição do autor é sustentada em</p><p>Educação Brasileira - estrutura e sistema, obra publicada no referido ano, em</p><p>que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional vigente foi analisada.</p><p>Datada de 1948, época de seu anteprojeto, e promulgada em 1961, a Lei de</p><p>Diretrizes e Bases da Educação Nacional não continha, na perspectiva de</p><p>Saviani (1973), nem uma noção de planejamento da prática docente nem a</p><p>incorporação de teorias pedagógicas no fazer diário dos professores. Em</p><p>consequência disso, em grande parte das escolas brasileiras, os processos</p><p>de ensino-aprendizagem eram guiados pelas experiências dos professores</p><p>e se dissociavam, com facilidade, de suas funções sociais.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>36</p><p>Dentre os temas abordados por Saviani (1973), estão os seguintes, que</p><p>se relacionam ao cenário apontado anteriormente: Inoperância da Lei de</p><p>Diretrizes e Bases da Educação Nacional, visto que, quando era transposta</p><p>à realidade do país, não favorecia a transformação dos aspectos sociai;</p><p>Ausência de intencionalidade nas ações promovidas pelas instituições de</p><p>ensino, principalmente porque a Lei de Diretrizes e Bases da Educação</p><p>Nacional não assumia nenhum tipo de planejamento pedagógico como</p><p>norteador de tais ações; Costumeira interrupção de programas públicos</p><p>voltados à Educação; Incoerências da Lei de Diretrizes e Bases da Educação</p><p>Nacional em relação aos aspectos sociais de nosso país.</p><p>Com base no que dialogamos até aqui, podemos afirmar que</p><p>a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos adotada, como objetivo</p><p>principal, elaborar propostas pedagógicas condizentes com a realidades</p><p>histórica e social de nosso país, intenção de que surge um de seus nomes,</p><p>Pedagogia Histórico-Crítica. Com uma abordagem adequada ao contexto</p><p>nacional, seria possível, então, que a Educação desempenhasse a função</p><p>de mediar os processos em direção a transformações nas realidades</p><p>histórica e social do Brasil.</p><p>Sob esse viés, o que significa afirmar que a Educação é uma</p><p>prática mediadora? Significa que consiste em uma atividade complexa</p><p>que deve ser exercida tanto no âmbito de nossa sociedade quanto com</p><p>foco na comunidade global. Para isso, os alunos, mediante participação</p><p>ativa e autônoma e mediante ações de intervenção de seu professor,</p><p>desenvolvem uma visão mais crítica, mais adequada e mais organizada</p><p>da realidade. No âmbito da Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos,</p><p>Educação e sociedade são elementos indissociáveis, uma vez que o</p><p>conhecimento obtido por meio dos conteúdos curriculares não se encerra</p><p>em si mesmo, viando, ao contrário, à preparação dos alunos para a função</p><p>de agentes de transformação social.</p><p>A Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos abraça preceitos</p><p>políticos como algo positivo para os processos de ensino-aprendizagem.</p><p>Nesse sentido, defende-se que não existe Educação neutra: por detrás de</p><p>todas as tentativas de esvaziar a Educação de preceitos políticos, há uma</p><p>política de educação, a qual, em geral, costuma ter objetivos escusos. Por</p><p>Filosofia da Educação</p><p>37</p><p>outro lado, deve-se cuidar para que o teor político das ações pedagógicas</p><p>não distorça as práticas docentes. Por exemplo, não se pode politizar a</p><p>Educação ao preço de sacrificar o trabalho pedagógico com os alunos. A</p><p>Educação tem, sim, relação estreita com aspectos políticos, mas não se</p><p>subordina a esses.</p><p>REFLITA:</p><p>Quais são as relações possíveis entre Educação e política?</p><p>Quais são os riscos de uma abordagem política da</p><p>Educação?</p><p>No quadro 8, observamos os elementos principais da Pedagogia</p><p>Crítico-Social dos Conteúdos.</p><p>Quadro 8 – Principais elementos da Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos</p><p>Perspectiva sobre</p><p>a função da</p><p>escola</p><p>A escola deve funcionar em favor dos alunos, facilitando a sua</p><p>aquisição de conhecimentos. O intuito por detrás disso é tornar a</p><p>escola um instrumento de combate às desigualdades e a outros</p><p>problemas sociais, fazendo com se seja democrática.</p><p>Metodologia</p><p>Assume-se que os conteúdos curriculares devem estar associados</p><p>ao contexto social dos alunos, valorizando as suas experiências e</p><p>rejeitando estereótipos.</p><p>Relação entre</p><p>realidade dos</p><p>indivíduos e</p><p>conteúdos</p><p>curriculares</p><p>Em busca de processos de ensino-aprendizagem que sejam</p><p>significativos para os alunos, os conteúdos curriculares incluem o</p><p>contexto social e as práticas culturas. Nesse sentido, busca-se uma</p><p>aproximação entre a cultura popular e os conhecimentos formais.</p><p>Papel do</p><p>professor</p><p>Tem a função de mediar a relação dos alunos com os conteúdos</p><p>curriculares. Espera-se que oriente os alunos quanto às</p><p>possibilidades que os conteúdos curriculares podem fazer surgir,</p><p>disciplinando as atividades e estimulando a participação dos alunos.</p><p>Papel do aluno</p><p>Deve transferir as experiências obtidas em seu contexto social</p><p>para os processos de ensino-aprendizagem. Mediante orientação</p><p>do professor, fará relações entre os conteúdos curriculares e o</p><p>contexto social e perceberá como a sua participação – seja na</p><p>escola, seja na sociedade – pode ser ativa.</p><p>Processo</p><p>de ensino-</p><p>aprendizagem</p><p>Entende que o contexto social é fundamental para a aquisição</p><p>de conteúdos curriculares e valoriza as experiências dos</p><p>Fonte: Luckesi (1993).</p><p>Filosofia da Educação</p><p>38</p><p>RESUMINDO:</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu</p><p>mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de</p><p>que você realmente entendeu o tema de estudo deste</p><p>capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve</p><p>ter compreendido como interpretar e diferenciar as</p><p>características da tendência pedagógica crítico-social dos</p><p>conteúdos.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>39</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARANHA, M. L. Filosofia da Educação. São Paulo: Editora Moderna,</p><p>1996.</p><p>BEHERENS, M. A. O paradigma emergente e a prática pedagógica.</p><p>Curitiba: Champagnat, 2003.</p><p>GONÇALVES, N. G. Fundamentos históricos e filosóficos da</p><p>Educação Brasileira. Curitiba: IBPEX, 2005.</p><p>LIMA, P. G. Saberes pedagógicos da educação contemporânea.</p><p>Engenheiro Coelho, UNASP, 2013</p><p>LIMA, P. G. Uma leitura sobre Paulo Freire em três eixos articulados:</p><p>o homem, a educação e uma janela para o mundo. Pro-Posições, Dez</p><p>2014, vol. 25, no. 3, p. 63-81.</p><p>LUCKESI, C. C. Filosofia da Educação. São Paulo: Editora Cortez,</p><p>1993.</p><p>Filosofia da Educação</p><p>Filosofia e Tendências Pedagógicas</p><p>Tendência Liberal</p><p>Abordagens pedagógicas tradicionais</p><p>Pedagogia Renovada Progressista</p><p>Pedagogia liberal renovada não diretiva</p><p>Pedagogia Tecnicista</p><p>Tendência progressista</p><p>Pedagogia Libertadora</p><p>Pedagogia Libertária</p><p>Tendência progressista crítico-social dos conteúdos</p>

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