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<p>W</p><p>BA</p><p>12</p><p>64</p><p>_V</p><p>1.</p><p>0</p><p>POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS</p><p>EM ALIMENTAÇÃO ESCOLAR</p><p>2</p><p>Joverlany Pessoa de Albuquerque</p><p>Londrina</p><p>Editora e Distribuidora Educacional S.A.</p><p>2023</p><p>POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS EM</p><p>ALIMENTAÇÃO ESCOLAR</p><p>1ª edição</p><p>3</p><p>2023</p><p>Editora e Distribuidora Educacional S.A.</p><p>Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza</p><p>CEP: 86041-100 — Londrina — PR</p><p>Homepage: https://www.cogna.com.br/</p><p>Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM</p><p>Silvia Rodrigues Cima Bizatto</p><p>Conselho Acadêmico</p><p>Alessandra Cristina Fahl</p><p>Ana Carolina Gulelmo Staut</p><p>Camila Braga de Oliveira Higa</p><p>Camila Turchetti Bacan Gabiatti</p><p>Giani Vendramel de Oliveira</p><p>Gislaine Denisale Ferreira</p><p>Henrique Salustiano Silva</p><p>Mariana Gerardi Mello</p><p>Nirse Ruscheinsky Breternitz</p><p>Priscila Pereira Silva</p><p>Coordenador</p><p>Camila Turchetti Bacan Gabiatti</p><p>Revisor</p><p>Amanda Menon Machado</p><p>Editorial</p><p>Beatriz Meloni Montefusco</p><p>Carolina Yaly</p><p>Márcia Regina Silva</p><p>Paola Andressa Machado Leal</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________</p><p>Albuquerque, Joverlany Pessoa de</p><p>Políticas públicas e programas em alimentação escolar/</p><p>Joverlany Pessoa de Albuquerque, – Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2023.</p><p>32 p.</p><p>ISBN 978-65-5903-287-7</p><p>1. Alimentação escolar. 2. Política nacional de alimentação</p><p>escolar. 3. Políticas públicas de alimentação e nutrição. I.</p><p>Título. 3. Técnicas de speaking, listening e writing. I. Título.</p><p>CDD 372.373</p><p>____________________________________________________________________________</p><p>Raquel Torres – CRB 8/10534</p><p>A345p</p><p>© 2023 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.</p><p>Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou</p><p>transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo</p><p>fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de</p><p>informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.</p><p>4</p><p>SUMÁRIO</p><p>Apresentação da disciplina __________________________________ 05</p><p>Histórico das políticas públicas e programas em alimentação</p><p>escolar do Brasil _____________________________________________ 06</p><p>Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) _________ 17</p><p>Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) __________ 27</p><p>Educação alimentar e nutricional no ambiente escolar _______ 36</p><p>POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS EM</p><p>ALIMENTAÇÃO ESCOLAR</p><p>5</p><p>Apresentação da disciplina</p><p>A disciplina de Políticas Públicas e Programas em Alimentação Escolar</p><p>tem como objetivo fornecer aos alunos uma compreensão aprofundada</p><p>das políticas públicas e do Programa Nacional de Alimentação Escolar</p><p>(PNAE), que visam garantir o direito à alimentação adequada para todos</p><p>os estudantes.</p><p>Serão abordados temas como a história da alimentação escolar no</p><p>Brasil, a legislação que regula os programas de alimentação escolar,</p><p>o papel do nutricionista envolvido no processo, a qualidade da</p><p>alimentação fornecida nas escolas e a relação entre alimentação e</p><p>saúde.</p><p>Ao final da disciplina, os alunos estarão aptos a compreender e avaliar</p><p>criticamente o programa de alimentação escolar, bem como a propor</p><p>e implementar melhorias nele. Além disso, a disciplina visa sensibilizar</p><p>para a importância da alimentação adequada e saudável na promoção</p><p>da saúde e do bem-estar dos estudantes.</p><p>Serão utilizados diversos recursos pedagógicos, como leituras</p><p>complementares, estudos de caso, debates em grupo e atividades</p><p>práticas. A disciplina será ministrada por professores com ampla</p><p>experiência em políticas públicas e programas de alimentação escolar, o</p><p>que garantirá aos alunos uma formação completa e atualizada sobre o</p><p>tema.</p><p>Em resumo, a disciplina de Políticas Públicas e Programas em</p><p>Alimentação Escolar é fundamental para os profissionais da área</p><p>da educação que desejam compreender e atuar de forma efetiva</p><p>na promoção da alimentação adequada e saudável para todos os</p><p>estudantes.</p><p>6</p><p>Histórico das políticas públicas</p><p>e programas em alimentação</p><p>escolar do Brasil</p><p>Autoria: Joverlany Pessoa de Albuquerque</p><p>Leitura crítica: Amanda Menon Machado</p><p>Objetivos</p><p>• Conhecer o processo histórico das políticas e dos</p><p>programas de alimentação escolar do Brasil.</p><p>• Identificar os avanços ocorridos até a atual Política</p><p>Nacional de Alimentação e Nutrição.</p><p>• Reconhecer o papel das políticas e dos programas</p><p>de alimentação e nutrição.</p><p>7</p><p>1. Primeiras iniciativas de políticas de</p><p>alimentação</p><p>A situação alimentar na década de 1930 no Brasil foi marcada pela</p><p>subnutrição, com reconhecimento desse problema de saúde pública</p><p>como resultado da pobreza e das péssimas condições dos serviços de</p><p>saúde, em um momento em que a saúde não era entendida legalmente</p><p>como direito. Nessa época, o país presidido pelo primeiro mandato de</p><p>Getúlio Vargas avançava em aspectos que impactaram diretamente</p><p>a alimentação, porém, compreendeu-se que, para a correção da</p><p>desnutrição e pobreza, seriam necessárias mudanças a longo prazo e</p><p>direcionadas aos grupos mais vulneráveis (SILVA, 1995).</p><p>Concomitantemente à observação da desnutrição, o pesquisador</p><p>brasileiro Josué de Castro, relevante em torno das discussões sobre o</p><p>combate à fome no Brasil, pontuava nesses debates a influência dos</p><p>fatores socioeconômicos (CASTRO, 1930). Havia também a apreensão</p><p>quanto ao comprometimento do desenvolvimento das crianças em</p><p>situação de fome, em especial nos primeiros anos de vida (PEIXINHO,</p><p>2011).</p><p>O Ministério da Educação e Saúde Pública, criado em 1935, desenvolveu</p><p>importantes contribuições, como a Campanha Nacional pela</p><p>Alimentação da Criança (CNAC), que contou com o apoio do Instituto</p><p>de Proteção e Assistência à Infância (IPAI). Nesse sentido, algumas</p><p>orientações foram lançadas – por exemplo, o estabelecimento da</p><p>alimentação na escola como algo obrigatório e compromisso do Estado,</p><p>e não da iniciativa privada (PEIXINHO, 2011).</p><p>A política trabalhista do governo Vargas derivou duas importantes</p><p>contribuições para a área da alimentação. A primeira delas, o</p><p>salário mínimo, teve como objetivo satisfazer as necessidades dos</p><p>trabalhadores e de suas famílias; a segunda contribuição foi o Serviço</p><p>8</p><p>de Alimentação da Previdência Social (SAPS). O SAPS, criado em 1940,</p><p>propunha-se a, por meio de encargos dos trabalhadores formais, instalar</p><p>refeitórios nas grandes empresas, fornecer refeições nas pequenas</p><p>empresas, além de vender alimentos por preços justos para as famílias</p><p>mais numerosas. Além disso, o SAPS teve importante envolvimento com</p><p>a alimentação dos estudantes da rede pública de ensino, uma vez que</p><p>fornecia refeições como desjejum, sopas e leite nas escolas (SILVA, 1995;</p><p>IPEA, 2019).</p><p>A alimentação escolar começou a ganhar espaço nessa época, sendo</p><p>entendida, de acordo com o conceito de Dante Costa (1939), como uma</p><p>refeição realizada nos intervalos das aulas e que, além de alimentar,</p><p>tinha a função social de minimizar os problemas nutricionais dos</p><p>escolares (COSTA, 1939).</p><p>O plano de Conjuntura Alimentar e Problemas, de 1952, propôs</p><p>expansão da merenda escolar, auxílio alimentar para adolescentes,</p><p>regionalização dos programas alimentares, enriquecimento de alimentos</p><p>e apoio à indústria de alimentos. Entretanto, desse plano manteve-se</p><p>apenas a campanha de expansão da merenda escolar, com suporte a</p><p>partir de 1955 do Ministério da Educação. Dessa forma, estabeleceu-se a</p><p>primeira versão do programa de alimentação escolar, denominada, em</p><p>1955, de Campanha de Merenda Escolar (CME) (IPEA, 2019).</p><p>9</p><p>Figura 1. Algumas das atribuições da CME</p><p>Fonte: Brasil (1955).</p><p>No ano posterior, o então presidente Juscelino Kubitscheck, através do</p><p>Decreto nº 39.007, de 1956, alterou o nome da CME para Campanha</p><p>Nacional de Merenda Escolar (CNME). Essa mudança ocorreu com foco</p><p>em centralizar as compras e a distribuição dos alimentos. O mesmo</p><p>decreto ainda determinou a criação de um fundo especial, de forma que</p><p>os recursos</p><p>se originavam da União, dos estados, dos municípios, de</p><p>doações e de outras fontes (ARRETCHE, 2000; IPEA, 2019).</p><p>Em 1965, o Decreto n° 56.886 alterou novamente a Campanha Nacional</p><p>de Merenda Escolar (CNME), que passou a ser chamada de Campanha</p><p>Nacional de Alimentação Escolar (CNAE), retirando o termo “merenda”.</p><p>Além de modificar o nome do programa, o decreto adicionou a educação</p><p>alimentar como elemento importante da alimentação escolar brasileira.</p><p>1.1 Segunda fase: Programa Nacional de Alimentação e</p><p>Nutrição</p><p>Em 1972, foi aprovado o Programa Nacional de Alimentação e</p><p>Nutrição (PRONAN), resultado da deliberação do Instituto Nacional de</p><p>10</p><p>Alimentação e Nutrição (INAN) e vinculado ao Ministério da Saúde, o</p><p>qual teve como foco crianças com até 7 anos, escolares de 7 a 14 anos,</p><p>gestantes, nutrizes e indivíduos de baixa renda (HAACK et al., 2018).</p><p>O primeiro PRONAN (1973-1974) teve dificuldade de ser executado,</p><p>acarretando a sua extinção. Com a assistência do Instituto de Pesquisa</p><p>Econômica e Aplicada (IPEA), o segundo PRONAN, que vigorou de</p><p>1976 a 1979, estabeleceu importantes programas para os setores de</p><p>alimentação e nutrição, que se mantêm até os dias atuais (HAACK et al.,</p><p>2018, p. 129).</p><p>Tabela 1 - Programas relevantes do PRONAN II</p><p>a) Programas de Prevenção e Combate a Carências Nutricionais Específicas</p><p>b) Programa de Suplementação Alimentar (PSA)</p><p>c) Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (PNIAM)</p><p>d) Programa Nacional do Leite para Crianças Carentes (PNLCC)</p><p>e) Programa de Nutrição em Saúde (PNS)</p><p>f) Programa de Complementação Alimentar (PCA)</p><p>g) Programa de Abastecimento de Alimentos Básicos em Áreas de Baixa</p><p>Renda (PROAB)</p><p>h) Programa de Racionalização da Produção de Alimentos Básicos (PROCAB)</p><p>i) Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT)</p><p>Fonte: HAACK et al. (2018, p. 129).</p><p>Além dos programas citados anteriormente, outro importante destaque</p><p>do PRONAN II foi a inclusão de produtos in natura nas compras para</p><p>a alimentação escolar, assim como a possibilidade de oferecer apoio</p><p>ao “pequeno produtor”, com vistas a uma regionalização das compras</p><p>públicas (BRASIL, 1976, inciso II).</p><p>11</p><p>A nomenclatura Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)</p><p>passou a ser utilizada após a vigência do PRONAN II, em 1979, em que o</p><p>governo federal previa o fornecimento de uma refeição diária durante o</p><p>período letivo para todos os alunos matriculados na rede pública e/ou</p><p>em escolas filantrópicas de ensino fundamental (NOGUEIRA, 2016).</p><p>Até o final do PRONAN II, observou-se, mesmo após inúmeras</p><p>dificuldades de institucionalização, o crescimento do número de</p><p>atendidos pela alimentação escolar, em termos de cobertura no</p><p>território nacional brasileiro (HAACK et al., 2018).</p><p>Tabela 2–Cobertura do atendimento da</p><p>alimentação escolar: 1954-1979</p><p>Ano Municípios Escolas Escolares Merendas servidas</p><p>1954 137 340 85.000 -</p><p>1955 285 1.896 236.948 13.961.738</p><p>1956 849 7.559 724.991 80.833.272</p><p>1957 1.150 9.345 908.118 93.755.427</p><p>1958 1.492 11.330 1.487.632 60.329.469</p><p>1959 1.601 - 1.901.442 60.295.334</p><p>1960 1.661 19.891 2.572.4260 53.589.184</p><p>1965 2.097 52.483 5.680.257 308.736.424</p><p>1970 3.385 93.273 10.416.347 1.187.358.240</p><p>1979 3.549 110.297 14.003.762 112.813.100</p><p>Fonte: IPEA (2019 apud COSTA, 2013).</p><p>Com a crise econômica da década de 1980, o programa se fragilizou,</p><p>sobretudo diante da transição política do país, de um governo militar</p><p>para a experiência democrática. Tal contexto foi prejudicial à produção</p><p>de dados sobre a cobertura da alimentação escolar no Brasil, resultando</p><p>em poucos estudos científicos a respeito do tema na época (IPEA, 2019).</p><p>Em contrapartida, alguns avanços se deram no ano de 1983, com a</p><p>Fundação Nacional de Material Escolar (FENAME) e a Fundação de</p><p>Assistência ao Estudante (FAE). Entre os objetivos da FAE, estabelecidos</p><p>na Lei n° 7.091, de 1983, estavam a melhoria na qualidade alimentar, o</p><p>12</p><p>refinamento da coordenação da política de assistência educacional e o</p><p>apoio administrativo aos sistemas de ensino (BRASIL, 1983).</p><p>1.2 Terceira fase: período de redemocratização até os</p><p>dias atuais</p><p>A Constituição Federal Brasileira, de 1988, marcou o período de</p><p>redemocratização. No inciso VII do art. 208, ela estabelece como dever</p><p>do Estado atender os estudantes em todas as etapas da educação</p><p>básica, incluindo os programas suplementares de alimentação (BRASIL,</p><p>1988). Ainda, a Constituição Federal Brasileira também possibilitou um</p><p>maior compartilhamento de responsabilidades (descentralização) entre</p><p>União, estados e municípios.</p><p>Com a criação do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional</p><p>(SISVAN), em 1990, foi possível identificar, analisar e descrever os</p><p>problemas alimentares e nutricionais do Brasil na época. Contudo, o</p><p>PNAE passou por um período de enfraquecimento devido às decisões</p><p>políticas do governo Collor (1990-1992), que priorizava a indústria</p><p>de alimentos. Houve, então, a interrupção da municipalização/</p><p>descentralização do PNAE e a extinção do Programa Nacional de Leite</p><p>para Crianças Carentes (PNLCC) (COSTA, 2013).</p><p>Após o impeachment de Collor e a nova nomeação para o Poder</p><p>Executivo, Itamar Franco assumiu o governo e retomou-se a discussão</p><p>do princípio de descentralização. A Lei n° 8.913, de 1994, sinaliza o</p><p>processo de descentralização federativa do PNAE (LOTTA; GONÇALVES;</p><p>BITELMAN, 2014).</p><p>A descentralização referida pela Lei n° 8.913, de 1994, significou</p><p>a concessão de todas as etapas do PNAE (que eram antes</p><p>responsabilidade do governo federal) para as Entidades Executoras (EE).</p><p>Dessa forma, as EE passaram a responder por:</p><p>13</p><p>Figura 2. Responsabilidades das Entidades Executoras</p><p>Fonte: Brasil (1994).</p><p>O PNAE se constituiu como relevante ferramenta de combate à</p><p>desnutrição infantil (compreende-se que a fome provoca essa</p><p>desnutrição). Nesse sentido, a saúde pública avançou no entendimento</p><p>de que os fatores sociais influenciam a saúde. Portanto, a “compreensão</p><p>de que a saúde é determinada por diferentes fatores” referidos</p><p>pela teoria dos Determinantes Sociais da Saúde (DSS)1 (DAHLGREN;</p><p>WHITEHEAD, 1991) impacta as políticas e os programas de alimentação e</p><p>nutrição, trazendo à tona um olhar interdisciplinar e intersetorial (HAACK</p><p>et al., 2018).</p><p>O ano de 1998 foi caracterizado pela municipalização do PNAE. A</p><p>Lei n° 8.913, de 1994, ainda inseriu a obrigatoriedade do Conselho</p><p>de Alimentação Escolar (CAE) como elemento imprescindível para</p><p>o recebimento de recursos. Esse Conselho caracterizava-se pela</p><p>1 Compreende-se que a alimentação é um dos determinantes e condicionantes da saúde. A teoria de deter-</p><p>minantes sociais reforça que a alimentação é um direito de todas as pessoas.</p><p>14</p><p>participação da sociedade civil no PNAE. O governo de Fernando</p><p>Henrique Cardoso, em 1997, extinguiu a FAE, e suas funções passaram</p><p>a ser executadas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação</p><p>(FNDE), que, até o momento, cumpre a função administrativa e</p><p>normativa do PNAE (IPEA, 2019).</p><p>Em 1999, foi aprovada a Política Nacional de Alimentação e Nutrição</p><p>(PNAN), constituindo uma enorme contribuição às políticas intersetoriais</p><p>da área de alimentação e denotando o comprometimento do Ministério</p><p>da Saúde com as demandas alimentares do país, sobretudo por auxiliar</p><p>posteriormente programas e políticas de fortalecimento do PNAE.</p><p>O PNAN comprometeu-se, em especial, com o combate à desnutrição</p><p>infantil e materna e com o sobrepeso e a obesidade na população adulta</p><p>(LEMOS; MOREIRA, 2014). Nos anos 2000, o enfoque foi a promoção</p><p>de políticas de transferência de renda aos vulneráveis, destacando-</p><p>se o Programa Bolsa Escola e o Programa Bolsa Alimentação, para</p><p>atendimento de crianças menores de seis anos, gestantes e nutrizes de</p><p>baixa renda.</p><p>Além das políticas com enfoque específico na alimentação escolar,</p><p>ganhou destaque em 2001 o Projeto Fome Zero, que se propunha como</p><p>uma via para a garantia da segurança alimentar e nutricional (MALUF;</p><p>MENEZES; VALENTE, 1996).</p><p>Os anos 2000 assinalaram a reformulação do</p><p>PNAE por meio da Lei nº</p><p>11.947, publicada em 2009. As principais reformulações englobam a</p><p>inclusão dos alunos do ensino médio e da Educação de Jovens e Adultos</p><p>(EJA), os reajustes nos repasses de verba e a obrigatoriedade de que</p><p>pelo menos 30% das compras realizadas com recurso do FNDE sejam</p><p>da agricultura familiar. Posteriormente, foram estabelecidas como</p><p>prioridade aquisições de insumos alimentares da reforma agrária, de</p><p>quilombolas e de indígenas (BRASIL, 2009).</p><p>15</p><p>Inúmeros avanços ocorreram até a atualidade e serão posteriormente</p><p>abordados no bloco de discussão do PNAE. Portanto, o PNAE consolida-</p><p>se atualmente como “um caso de sucesso de Programa de Alimentação</p><p>Escolar Sustentável” (FNDE, 2023, [s.n.]). Os contratos firmados com a</p><p>Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)</p><p>visam garantir os princípios da segurança alimentar e nutricional e o</p><p>direito humano à alimentação adequada (FNDE, 2023).</p><p>Referências</p><p>ARRETCHE, M. Estado federativo e políticas públicas: determinantes da</p><p>descentralização. Rio de Janeiro: Revan, 2000.</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília:</p><p>Congresso Nacional, 1988.</p><p>BRASIL. Decreto nº 37.106, de 31 de março de 1955. Diário Oficial da União,</p><p>Brasília, DF, 01 abr. 1955. Seção 1, p. 1234.</p><p>BRASIL. Decreto nº 77.116, de 6 de fevereiro de 1976. Estabelece diretrizes para</p><p>a ação do governo na área de alimentação e nutrição, aprova o Programa Nacional</p><p>de Alimentação e Nutrição (Pronan) e dá outras providências. Brasília: Congresso</p><p>Nacional, 1996. Disponível em: https://bit.ly/2M3F6PX. Acesso em: 15 maio 2023.</p><p>BRASIL. Decreto nº 7.272, de 25 de agosto de 2010. Regulamenta a Lei no 11.346,</p><p>de 15 de setembro de 2006, que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar</p><p>e Nutricional–SISAN com vistas a assegurar o direito humano à alimentação</p><p>adequada, institui a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional–PNSAN,</p><p>estabelece os parâmetros para a elaboração do Plano Nacional de Segurança</p><p>Alimentar e Nutricional, e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União,</p><p>2010.</p><p>BRASIL. Lei n° 7.091, de 18 de abril de 1983. Altera a denominação da Fundação</p><p>Nacional de Material Escolar, a que se refere a Lei n° 5.327, de 2 de outubro</p><p>de 1967, amplia suas finalidades e dá outras providências. Brasília: Congresso</p><p>Nacional, 1983. Disponível em: https://bit. ly/2AYCLPI. Acesso em: 15 maio 2023.</p><p>BRASIL. Lei n° 8.913, de 12 de julho de 1994. Dispõe sobre a municipalização da</p><p>merenda escolar. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 jul. 1994. Seção 1, p. 13.</p><p>BRASIL. Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009. Dispõe sobre o atendimento</p><p>da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da</p><p>educação básica; altera as Leis nos 10.880, de 9 de junho de 2004, 11.273, de 6 de</p><p>fevereiro de 2006, 11.507, de 20 de julho de 2007; revoga dispositivos da Medida</p><p>16</p><p>Provisória no 2.178-36, de 24 de agosto de 2001, e a Lei no 8.913, de 12 de julho de</p><p>1994; e dá outras providências. Brasília: Congresso Nacional, 2009. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11947.htm. Acesso</p><p>em: 15 maio 2023.</p><p>CASTRO, J. Geografia da fome: o dilema brasileiro – pão ou aço. Rio de Janeiro:</p><p>Edições Antares, 1930.</p><p>COSTA, D. Merendas escolares: vinte e cinco sugestões de merendas para crianças</p><p>escolares brasileiras. Rio de Janeiro: MEC, 1939.</p><p>COSTA, J. M. N. Política de alimentação escolar: tem caroço nesse angu? 2013.</p><p>Dissertação (Mestrado Profissional em Educação) – Universidade de Brasília,</p><p>Brasília, 2013.</p><p>DAHLGREN, G.; WHITEHEAD, M. Policies and Strategies to Promote Social Equity</p><p>in Health Stockholm. Institute for Future Studies, 1991.</p><p>FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento para Educação). Programa Nacional</p><p>de Alimentação Escolar: Histórico. 2023. Disponível em: https://www.fnde.gov.br/</p><p>programas/pnae/pnae-sobre-o-programa/pnae-historico. Acesso em: 15 maio 2023.</p><p>HAACK, A. et al. Políticas e programas de nutrição no Brasil da década de 30 até</p><p>2018: uma revisão da literatura. Comunicação em Ciência e Saúde, v. 29, n. 2, p.</p><p>126-138, 2018.</p><p>IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Trajetória e padrões de mudança</p><p>institucional no programa nacional de alimentação escolar. Brasília, 2019.</p><p>LEMOS, J. O. M.; MOREIRA, P. V. L. Políticas e programas de alimentação e nutrição:</p><p>um passeio pela história. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, v. 17, n. 4, p.</p><p>377-386, 2014.</p><p>LOTTA, G.; GONÇALVES, R.; BITELMAN, M. A coordenação federativa de políticas</p><p>públicas: uma análise das políticas brasileiras nas últimas décadas. Cadernos</p><p>Gestão Pública e Cidadania, v. 19, n. 64, p. 2-18, 2014.</p><p>MALUF, R. S.; MENEZES, F.; VALENTE, F. L. Contribuição ao Tema da Segurança</p><p>Alimentar no Brasil. Cadernos de Debate, v. 4, p. 66-88, 1996.</p><p>NOGUEIRA, R. M. O Programa Nacional de Alimentação Escolar como uma</p><p>Política Pública: o caso de Campinas/SP. 2005. Dissertação (Mestrado) –</p><p>Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, 2005.</p><p>PEIXINHO, A. M. Um resgate histórico do Programa Nacional de Alimentação</p><p>Escolar. 2011. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo, São</p><p>Paulo, 2011.</p><p>SILVA, A. C. da. De Vargas a Itamar: políticas e programas de alimentação e</p><p>nutrição. Estud av [Internet], 1995. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-</p><p>40141995000100007. Acesso em: 15 maio 2023.</p><p>17</p><p>Política Nacional de Alimentação</p><p>e Nutrição (PNAN)</p><p>Autoria: Joverlany Pessoa de Albuquerque</p><p>Leitura crítica: Amanda Menon Machado</p><p>Objetivos</p><p>• Compreender a Política Nacional de Alimentação e</p><p>Nutrição (PNAN) do Brasil.</p><p>• Identificar os princípios da Política Nacional de</p><p>Alimentação e Nutrição (PNAN).</p><p>• Identificar as diretrizes da Política Nacional de</p><p>Alimentação e Nutrição (PNAN).</p><p>18</p><p>1. Introdução à Política Nacional de</p><p>Alimentação e Nutrição (PNAN)</p><p>A alimentação situa-se como determinante e condicionante do processo</p><p>saúde-doença. Antes de tratar do Programa Nacional de Alimentação</p><p>Escolar (PNAE), é necessário compreender a Política Nacional de</p><p>Alimentação e Nutrição (PNAN), pois o PNAE trata-se de um programa</p><p>público intersetorial orientado por princípios e diretrizes da PNAN</p><p>(BRASIL, 2013).</p><p>O primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, que foi de 1995</p><p>até 1998, foi alicerce para a formulação da PNAN. A discussão sobre a</p><p>PNAN ocorreu a partir da Coordenação-Geral da Política de Alimentação</p><p>e Nutrição (CGPAN), vinculada à Secretaria de Políticas de Saúde do</p><p>Ministério da Saúde (ARRUDA, 2007; SALLUM; GOULART, 2016).</p><p>A PNAN foi aprovada no ano de 1999 e trata-se de uma importante</p><p>política pública. Alguns eixos orientaram a PNAN na época de sua</p><p>aprovação, como o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), a</p><p>Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e as práticas e estilos de vida</p><p>saudáveis (SANTOS et al., 2021).</p><p>A noção de DHAA compreende que, sem a garantia da alimentação,</p><p>outros direitos não são assegurados, como o direito à vida (VALENTE,</p><p>2001). “Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar</p><p>a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário,</p><p>habitação [...]” (art. 25, § 1°, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948).</p><p>A PNAN está inserida no Sistema Nacional de Segurança Alimentar</p><p>e Nutricional (SISAN), que visa garantir o DHAA. Por isso, a PNAN</p><p>estabelece princípios e diretrizes para o alcance dessas metas (SANTOS</p><p>et al., 2021).</p><p>19</p><p>A Portaria n° 2.715, de 17 de novembro de 2011, atualizou a PNAN de</p><p>1999 e compreende que, diante da mudança do cenário epidemiológico</p><p>e demográfico, as necessidades de saúde, alimentação e nutrição</p><p>também se modificaram. A PNAN de 2013 orienta a atenção em</p><p>alimentação e nutrição, conforme estabelecido em seus princípios e</p><p>diretrizes (BRASIL, 2013).</p><p>1.1 Princípios da Política Nacional de Alimentação e</p><p>Nutrição (PNAN)</p><p>A PNAN se orienta pelos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS)</p><p>(BRASIL, 1990).</p><p>Figura 1– Princípios doutrinários</p><p>Fonte:</p><p>Ministério da Saúde (2023, [s. p.]).</p><p>20</p><p>Figura 2 – Princípios organizativos</p><p>Fonte: Ministério da Saúde (2023, [s. p.]).</p><p>Além desses princípios, a PNAN (BRASIL, 2013) adiciona outros, descritos</p><p>no documento da política como:</p><p>Tabela 1 – Princípios da PNAN específicos do campo</p><p>da alimentação e nutrição</p><p>Princípio Descritivo</p><p>“Alimentação como elemento de</p><p>humanização das práticas de</p><p>saúde”</p><p>(BRASIL, 2013, p. 22).</p><p>A sociabilidade, os valores e a vida das</p><p>pessoas são expressos na alimentação, no</p><p>campo coletivo ou individual. Além disso,</p><p>a alimentação é um determinante direto</p><p>da saúde e qualidade de vida. A relação</p><p>estabelecida com a alimentação e nutrição</p><p>fornece possibilidades de cuidados e</p><p>autocuidado em saúde.</p><p>21</p><p>“O respeito à diversidade e à</p><p>cultura alimentar” (BRASIL, 2013, p.</p><p>22).</p><p>A formação da alimentação brasileira se deu</p><p>via inúmeras trocas ocorridas ao longo da</p><p>história cultural. Nossa culinária é fruto das</p><p>matrizes indígena, portuguesa e africana;</p><p>além de tais fontes, a imigração influenciou</p><p>essa formação. Respeitar e preservar nossa</p><p>pluralidade cultural significa desenvolver</p><p>práticas e ações educativas que considerem</p><p>nossa cultura, a qual se expressa por meio da</p><p>alimentação.</p><p>“O fortalecimento da autonomia</p><p>dos indivíduos” (BRASIL, 2013, p.</p><p>23).</p><p>Para fortalecer a autonomia das pessoas, é</p><p>necessário conhecimento sobre si e sobre os</p><p>determinantes sociais. A autonomia implica</p><p>a ampliação da crítica e interpretação sobre</p><p>si e sobre a realidade social que se vive. Essa</p><p>ampliação possibilita a ação de se conhecer</p><p>e, em consequência, se guiar em práticas</p><p>promotoras de saúde. Não significa que todas</p><p>as pessoas que acessam conhecimento são</p><p>autônomas, como se existisse uma relação</p><p>de causa e efeito, mas conhecer amplia a</p><p>capacidade de autonomia e decisão dos</p><p>indivíduos.</p><p>“A determinação social e a</p><p>natureza interdisciplinar e</p><p>intersetorial da alimentação e</p><p>nutrição” (BRASIL, 2013, p. 23-24).</p><p>Conhecer a alimentação e a nutrição por meio</p><p>das realidades sociais, econômicas e culturais</p><p>dos indivíduos e das coletividades possibilita</p><p>alternativas de acesso à alimentação adequada</p><p>e saudável. A integralidade nas ações de</p><p>alimentação e nutrição implica construir um</p><p>diálogo com diversos setores. Desse modo,</p><p>a intersetorialidade desfragmenta o cuidado</p><p>alimentar e nutricional, pois não estabelece</p><p>que um único setor, área ou disciplina pode</p><p>responder aos problemas de alimentação e</p><p>nutrição dos brasileiros.</p><p>22</p><p>“A segurança alimentar e</p><p>nutricional com soberania” (BRASIL,</p><p>2013, p. 24).</p><p>Um indivíduo ou coletivo estar em SAN</p><p>significa que tem “acesso regular e</p><p>permanente a alimentos de qualidade, em</p><p>quantidade suficiente, sem comprometer o</p><p>acesso a outras necessidades essenciais, tendo</p><p>como base práticas alimentares promotoras</p><p>de saúde que respeitem a diversidade cultural</p><p>e que sejam ambiental, cultural, econômica</p><p>e socialmente sustentáveis” (art. 3°) (LOSAN,</p><p>2006).</p><p>A soberania alimentar trata-se do direito dos</p><p>indivíduos de decidir quais alimentos produzir.</p><p>O enfoque está nos sistemas alimentares</p><p>sustentáveis e em não se guiar pelas</p><p>exigências do mercado.</p><p>Fonte: Brasil (2013, p. 22-24).</p><p>1.2 Diretrizes da PNAN</p><p>As diretrizes são guias para as ações de alimentação e nutrição nos</p><p>territórios. São organizadas em nove categorias (BRASIL, 2013):</p><p>1. Organização da atenção nutricional: diante das demandas</p><p>geradas pelo cenário epidemiológico alimentar e nutricional</p><p>brasileiro, organizar os diferentes níveis de atenção e atuar desde</p><p>a promoção, a prevenção e o tratamento é de suma importância.</p><p>Dessa forma, objetiva-se o cuidado integral dos indivíduos e</p><p>coletivos (BRASIL, 2013).</p><p>2. Promoção da alimentação adequada e saudável: adequar as</p><p>ações e orientações, tendo como critérios a realidade de cada</p><p>indivíduo e as fases da vida (criança, adolescente, adulto, idoso</p><p>e gestante, por exemplo). Portanto, promoção de alimentação</p><p>saudável significa estabelecer “[...] estratégias que proporcionem</p><p>aos indivíduos e coletividades a realização de práticas alimentares</p><p>23</p><p>apropriadas aos seus aspectos biológicos e socioculturais, bem</p><p>como ao uso sustentável do meio ambiente” (BRASIL, 2013, p. 31-</p><p>32).</p><p>3. Vigilância alimentar e nutricional: acompanhar e descrever</p><p>constantemente a situação alimentar e suas reverberações na</p><p>população (BRASIL, 2013). Na atenção à saúde, é necessário que os</p><p>profissionais de saúde conheçam e atuem diante das demandas</p><p>e dos problemas de saúde da população (BRASIL, 2015). Portanto,</p><p>a vigilância alimentar e nutricional trata-se de uma enorme</p><p>ferramenta para o cuidado em saúde.</p><p>4. Gestão das ações de alimentação e nutrição: a gestão das ações</p><p>ocorre, assim como no SUS, nas três esferas: municipal, estadual</p><p>e federal. A proposta é que essa política seja implementada</p><p>em todos os âmbitos, com o objetivo de articulação das ações</p><p>de maneira integral e fortalecimento dos planos de saúde –</p><p>elaborados pelas gestões do SUS nos territórios – e da SAN</p><p>(BRASIL, 2013).</p><p>5. Participação e controle social: acompanhamento da sociedade</p><p>civil organizada nas ações da gestão do poder público sobre o</p><p>tema alimentação e nutrição. Trata-se de uma proposta efetiva</p><p>para melhorias da política pública. Os espaços instituídos são os</p><p>conselhos de alimentação (exemplos: conselho de alimentação</p><p>escolar, conselho de segurança alimentar e nutricional, entre</p><p>outros) (BRASIL, 2013).</p><p>6. Qualificação da força de trabalho: diante da conjuntura alimentar</p><p>e nutricional da população, os profissionais de saúde devem ser</p><p>constantemente atualizados e treinados para prestar atendimento</p><p>qualificado e oferecer escuta ativa das demandas alimentares</p><p>(BRASIL, 2013). A constante do processo formativo torna-se</p><p>imprescindível para a qualificação das “práticas de cuidado, gestão</p><p>e participação popular” (BRASIL, 2013, p. 45).</p><p>7. Controle e regulação dos alimentos: a segurança dos alimentos, ou</p><p>seja, os controles higiênico e sanitário, incluindo o oferecimento</p><p>24</p><p>de informações claras ao consumidor de alimentos (exemplo:</p><p>rotulagem de produtos), são estratégias para escolhas alimentares</p><p>saudáveis. Nesse sentido, a regulação se dá a partir de leis e</p><p>regulamentos orientativos que visem à defesa do consumidor de</p><p>alimentos (BRASIL, 2013).</p><p>8. Pesquisa, inovação e conhecimento em alimentação e nutrição:</p><p>o fomento à pesquisa, inovação e tecnologia é pilar para o</p><p>desenvolvimento de evidências científicas e a avaliação de políticas</p><p>públicas que apoiam o cuidado nutricional (BRASIL, 2013).</p><p>9. Cooperação e articulação para a segurança alimentar e nutricional:</p><p>assim como o direito à saúde, o direito à alimentação compreende</p><p>a articulação das três esferas de governo, bem como destas</p><p>com a sociedade civil, redes filantrópicas e todos os que se</p><p>disponibilizem à prestação de apoio às demandas para garantia</p><p>desse direito (BRASIL, 2013).</p><p>Além das diretrizes, a PNAN (BRASIL, 2013) conta com orientações sobre</p><p>as responsabilidades das instituições, conforme organizado na Tabela 2.</p><p>Tabela 2- Responsabilidades institucionais, conforme a Política</p><p>Nacional de Alimentação e Nutrição</p><p>Instituição Responsabilidades</p><p>Ministério da Saúde • Desenvolvimento de plano de ação para auxiliar</p><p>nas questões alimentares de maior relevância e em</p><p>diálogo contínuo com o SUS.</p><p>• Os programas e as ações de alimentação e nutrição</p><p>devem ser pactuados nas comissões intergestores</p><p>tripartite (comissões formadas por representantes</p><p>da gestão municipal, estadual e federal).</p><p>• Monitoramento e avaliação das metas nacionais de</p><p>alimentação no setor da saúde.</p><p>• Assessorar tecnicamente a rede de atenção à saúde</p><p>quanto às demandas de alimentação e nutrição.</p><p>25</p><p>Secretarias Estaduais</p><p>de Saúde e do Distrito</p><p>Federal</p><p>• Implementação da PNAN nos estados.</p><p>• Investimento estadual no financiamento tripartite,</p><p>voltado para as atividades de alimentação e</p><p>nutrição.</p><p>• Assessorar tecnicamente os municípios e as regiões</p><p>de saúde quanto à gestão.</p><p>• Firmar convênios,</p><p>diante de necessidade, com</p><p>instituições internacionais, Organizações Não</p><p>Governamentais (ONGs) e setor privado.</p><p>Secretarias Municipais</p><p>de Saúde e do Distrito</p><p>Federal</p><p>• Implementação da PNAN em todo o território</p><p>nacional, mediante o perfil demográfico e</p><p>epidemiológico da população.</p><p>• Gestão da PNAN a partir do plano de ação e</p><p>planejamento da saúde, respeitando as prioridades.</p><p>• Compor o financiamento tripartite, destinando</p><p>financiamento aos municípios.</p><p>• Acompanhar indicadores de saúde, alimentação e</p><p>nutrição da população brasileira.</p><p>Fonte: Brasil (2013).</p><p>Portanto, a PNAN foca em caminhar em direção ao DHAA e, sobretudo,</p><p>garantir melhorias na alimentação da população brasileira, por meio de</p><p>ações de promoção e prevenção à saúde.</p><p>Referências</p><p>ARRUDA, B. K. G.; ARRUDA, I. K. G. Marcos referenciais da trajetória das políticas de</p><p>alimentação e nutrição no Brasil. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., v. 7, n. 3, p. 319-</p><p>326, 2007.</p><p>26</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Congresso</p><p>Nacional, 1988.</p><p>BRASIL. Lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a</p><p>promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos</p><p>serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União,</p><p>1990.</p><p>BRASIL. Lei nº 8142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da</p><p>comunidade no SUS. Brasília: Diário Oficial da União, 1990.</p><p>BRASIL. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Lei Orgânica de Segurança</p><p>Alimentar e Nutricional. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e</p><p>Nutricional – SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação</p><p>adequada e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, 2006.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de</p><p>Atenção Básica. Marco de referência da vigilância alimentar e nutricional na</p><p>atenção básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de</p><p>Atenção Básica. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Brasília: Ministério</p><p>da Saúde, 2013.</p><p>MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistema Único de Saúde. 2023. Disponível</p><p>em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/</p><p>sus#:~:text=Princ%C3%ADpios%20do%20Sistema%20%C3%9Anico%20</p><p>de,outras%20caracter%C3%ADsticas%20sociais%20ou%20pessoais. Acesso em: 5</p><p>mar. 2023.</p><p>ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas: Declaração</p><p>Universal dos Direitos Humanos. São Francisco, 1948.</p><p>ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Comentário geral n. 12: o direito</p><p>humano à alimentação adequada (art. 11). 1999. Disponível em: http://pfdc.pgr.</p><p>mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-deapoio/publicacoes/alimentacao-adequada/</p><p>Comentario%20Geral%20No%2012.pdf/view. Acesso em: 3 mar. 2023.</p><p>SALLUM JR., B.; GOULART, J. O. O Estado brasileiro contemporâneo: liberalização</p><p>econômica, política e sociedade nos governos FHC e Lula. Revista de Sociologia e</p><p>Política, n. 24, p. 115-35, 2016.</p><p>SANTOS S. M. C. et al. Avanços e desafios nos 20 anos da Política Nacional de</p><p>Alimentação e Nutrição. Cad. Saúde Pública [Internet], n. 37, 2021.</p><p>VALENTE, F. L. S. O combate à fome e a desnutrição e a promoção da</p><p>alimentação adequada no contexto do direito humano à alimentação: um</p><p>eixo estratégico do desenvolvimento humano sustentável. São Paulo: Instituto da</p><p>Cidadania, 2001.</p><p>27</p><p>Programa Nacional de</p><p>Alimentação Escolar (PNAE)</p><p>Autoria: Joverlany Pessoa de Albuquerque</p><p>Leitura crítica: Amanda Menon Machado</p><p>Objetivos</p><p>• Identificar os princípios e as diretrizes do Programa</p><p>Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).</p><p>• Compreender a importância da atuação do</p><p>profissional de nutrição no Programa Nacional de</p><p>Alimentação Escolar (PNAE).</p><p>• Conhecer as atividades técnicas do profissional de</p><p>nutrição no Programa Nacional de Alimentação</p><p>Escolar (PNAE).</p><p>28</p><p>1. Introdução ao Programa Nacional de</p><p>Alimentação Escolar (PNAE)</p><p>O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é considerado uma</p><p>das maiores políticas públicas da área de alimentação do Brasil. Desde</p><p>o final dos anos 1970 – os anos 1930 também marcaram a trajetória,</p><p>sendo o início da organização do programa –, ele se consolidou com</p><p>o objetivo de garantir as necessidades nutricionais dos estudantes</p><p>atendidos na rede pública de ensino. Veja a seguir uma breve linha</p><p>histórica do programa no Brasil:</p><p>Figura 1 - Linha histórica do PNAE no Brasil</p><p>Fonte: Coimbra, Meira e Starling (1982) e Vasconcelos (1999).</p><p>Além de contribuir para os desenvolvimentos físico, social e psicológico</p><p>dos estudantes da rede pública, o PNAE possibilita a melhoria na</p><p>aprendizagem e no rendimento escolar e, ainda, atua na formação</p><p>de hábitos alimentares saudáveis, através da Educação Alimentar e</p><p>Nutricional nas escolas.</p><p>29</p><p>O PNAE é ligado ao Ministério da Educação, e o órgão responsável por</p><p>sua administração é o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação</p><p>(FNDE). O FNDE atua na organização dos recursos financeiros dos</p><p>municípios, estados e distrito federal. O objetivo do recurso financeiro</p><p>disponibilizado é garantir aos estudantes matriculados nas escolas</p><p>públicas, filantrópicas e comunitárias as necessidades nutricionais</p><p>(BRASIL, 2014).</p><p>1.1 Princípios e diretrizes do Programa Nacional de</p><p>Alimentação Escolar (PNAE)</p><p>O programa ganhou legalidade através da Lei n° 11.947, de 16 de junho</p><p>de 2009, que “dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do</p><p>Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica”</p><p>(BRASIL, 2009). Sua normatização se deu com a Resolução n° 38, de 2009,</p><p>que propôs os princípios (Figura 2) e as diretrizes do PNAE (Figura 3).</p><p>Figura 2 - Princípios do PNAE – art. 2º</p><p>Fonte: Brasil (2009).</p><p>30</p><p>É preciso compreender que o princípio do DHAA se fundamenta pela</p><p>garantia da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), disposta na Lei</p><p>Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN), de 2006,</p><p>bem como o princípio de sustentabilidade. Além disso, a alimentação</p><p>disponibilizada nas escolas públicas, filantrópicas e comunitárias não</p><p>deve ter custos aos alunos, ou seja, não pode ser cobrada (BRASIL,</p><p>2009).</p><p>Cabe salientar que o princípio de participação social do PNAE possui</p><p>espaços institucionalizados chamados de Conselhos de Alimentação</p><p>Escolar (CAE), que se constituem por diversas representações, tais</p><p>como: um representante do poder executivo, dois representantes</p><p>das entidades de trabalhadores da educação e discentes, dois</p><p>representantes de pais de alunos e dois representantes da sociedade</p><p>civil organizada. Cada mandato do CAE dura quatro anos e trata-se de</p><p>um serviço público não remunerado (BRASIL, 2017).</p><p>Figura 3 - Diretrizes do Programa Nacional de</p><p>Alimentação Escolar – art. 3º</p><p>Fonte: Brasil (2009).</p><p>31</p><p>Ao incluir o “emprego de alimentação saudável e adequada”, o PNAE</p><p>atenta em oferecer e atender às necessidades alimentares de acordo</p><p>com a idade, o sexo, a atividade física e o estado de saúde, e incluir</p><p>aqueles que possuem alguma necessidade alimentar específica, em</p><p>decorrência de saúde, por exemplo (art. 3°) (BRASIL, 2009).</p><p>A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) recebe também uma</p><p>proposta de inclusão ao currículo escolar, visando garantir não apenas</p><p>as necessidades nutricionais, mas o aprendizado sobre hábitos</p><p>alimentares saudáveis. Quando mencionado nas diretrizes o “apoio ao</p><p>desenvolvimento sustentável”, o foco é incluir a aquisição de alimentos</p><p>diversos, produzidos localmente, dando preferência à agricultura</p><p>familiar e às “comunidades tradicionais indígenas e de remanescentes</p><p>de quilombos” (art. 3°) (BRASIL, 2009). Para a garantia desse apoio,</p><p>orienta-se que no mínimo 30% dos recursos financeiros disponibilizados</p><p>pelo FNDE sejam usados na compra de alimentos advindos de</p><p>comunidades tradicionais e quilombolas, reforma agrária e agricultura</p><p>familiar (BRASIL, 2009).</p><p>1.2 Atividades técnicas do profissional de nutrição</p><p>O profissional de nutrição deve pautar sua conduta pela alimentação</p><p>escolar, conforme</p><p>os princípios e as diretrizes do PNAE, sendo</p><p>considerado um agente efetivo para as demandas da alimentação</p><p>escolar. O Quadro 1 descreve as atividades técnicas que foram</p><p>estabelecidas para o profissional que atua nessa área.</p><p>Quadro 1–Atribuições do nutricionista no PNAE–Cap. 1</p><p>Avaliar o estado nutricional dos estudantes atendidos pelo PNAE.</p><p>Identificar os estudantes com alguma necessidade alimentar e nutricional</p><p>específica.</p><p>32</p><p>Realizar atividades de educação alimentar e nutricional voltadas para a</p><p>comunidade escolar, articuladas com a coordenação pedagógica da escola.</p><p>Planejar e coordenar teste de aceitação alimentar.</p><p>Elaborar e implantar o Manual de Boas Práticas, conforme a realidade da</p><p>unidade escolar.</p><p>Interagir com os agricultores familiares e empreendedores familiares rurais de</p><p>forma a conhecer a produção local, inserindo seus produtos na alimentação</p><p>escolar.</p><p>Planejar e acompanhar os cardápios das escolas públicas, filantrópicas e</p><p>comunitárias do PNAE.</p><p>Fonte: Conselho Federal de Nutricionistas (2010).</p><p>A elaboração dos cardápios deve estar pautada pela normatização e</p><p>por notas técnicas do Ministério da Educação e Ministério da Saúde,</p><p>como a Lei nº 11.947, de 2009, a Resolução CD/FNDE nº 06, de 2020, e</p><p>as orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL,</p><p>2014b) e Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos de</p><p>Idade (BRASIL, 2019).</p><p>As recomendações para o cálculo das necessidades nutricionais dos</p><p>estudantes devem seguir o número de refeições e o período e tipo de</p><p>instituição escolar, conforme apontado na Tabela 1 (BRASIL, 2013):</p><p>Tabela 1–Necessidades nutricionais dos estudantes</p><p>atendidos pelo PNAE</p><p>Necessidade</p><p>nutricional mínima</p><p>(%)</p><p>N° mínimo de</p><p>refeições</p><p>Período de</p><p>permanência do</p><p>estudante</p><p>Instituição</p><p>30% 2 Parcial Creches</p><p>33</p><p>70% 3 Integral</p><p>Creches, comunidades</p><p>indígenas ou</p><p>comunidades</p><p>quilombolas</p><p>30% Por refeição</p><p>ofertada -</p><p>Escolas, comunidades</p><p>indígenas ou</p><p>comunidades</p><p>quilombolas</p><p>20% 1 Parcial Educação básica</p><p>30% 2 ou mais Parcial</p><p>Educação básica</p><p>(exceto creche de</p><p>período parcial)</p><p>70% 3 -</p><p>Programa Mais</p><p>Educação</p><p>Escolas de tempo</p><p>integral</p><p>Fonte: Brasil (2020).</p><p>Além disso, recomenda-se cuidado com a elaboração do cardápio e</p><p>o fornecimento de refeições para estudantes com mais de 3 anos de</p><p>idade. Seguindo as orientações da Resolução CD/FNDE nº 06, de 2020, e</p><p>conforme as Figuras 4 e 5, devem ser respeitados alguns parâmetros de</p><p>fornecimento de sódio, açúcar simples e gorduras saturada e totais.</p><p>34</p><p>Figura 4 – Oferta de açúcar simples e gorduras nas refeições</p><p>para maiores de 3 anos</p><p>Fonte: Brasil (2020).</p><p>Figura 5 – Oferta de sódio nas refeições para maiores de 3 anos</p><p>Fonte: Brasil (2020).</p><p>Portanto, visando garantir o DHAA e ir ao encontro das necessidades</p><p>dos estudantes atendidos pelo PNAE, há uma constante revisão do</p><p>programa. Ressalta-se ainda a importância da frequente atualização do</p><p>profissional que atua nessa área, pois é o responsável pela execução</p><p>35</p><p>dessa política pública que tem como objetivos garantir o acesso à</p><p>alimentação nas escolas e atuar na formação de hábitos alimentares</p><p>saudáveis através das estratégias de educação alimentar e nutricional.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Congresso</p><p>Nacional, 1988.</p><p>BRASIL. Guia alimentar para a população brasileira. Brasília: Ministério da Saúde,</p><p>2014b.</p><p>BRASIL. Guia alimentar para as crianças brasileiras menores de 2 anos.</p><p>Brasília: Ministério da Saúde, 2019.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.</p><p>Cartilha Nacional da Alimentação Escolar. Brasília: Ministério da Educação, 2014.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.</p><p>Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Brasília: FNDE, 2017.</p><p>Disponível em: www.fnde.gov.br/programas/pnae?view=default. Acesso em: 15</p><p>maio 2023.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.</p><p>Resolução nº 26, de 17 de junho de 2013. Dispõe sobre o atendimento da</p><p>alimentação escolar aos alunos da educação básica no âmbito do Programa</p><p>Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Brasília: FNDE, 2013. Disponível em: www.</p><p>fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAction.php. Acesso em: 15 maio 2023.</p><p>BRASIL. Resolução CD/FNDE nº 6, de 08 de maio de 2020. Dispõe sobre o</p><p>atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no âmbito do</p><p>Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE. Brasília: Ministério da Educação,</p><p>2020.</p><p>COIMBRA, M. A.; MEIRA, J. F. P.; STARLING, M. B. L. Comer e aprender: uma história</p><p>da alimentação escolar no Brasil. Belo Horizonte: INAE, 1982.</p><p>CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Resolução/CFN nº 465, de 23 de agosto</p><p>de 2010. Dispõe sobre as atribuições do nutricionista, estabelece parâmetros</p><p>numéricos mínimos de referência no âmbito do Programa de Alimentação Escolar</p><p>(PAE) e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, 2010.</p><p>CUNHA, D. T.; STEDEFELDT, E. Programas em alimentação coletiva. In: ROSSI, L.;</p><p>POLTRONIERI, F. (org.). Tratado de Nutrição e Dietoterapia. Rio de Janeiro:</p><p>Guanabara Koogan, 2019.</p><p>VASCONCELOS, F. A. G. Os Arquivos Brasileiros de Nutrição: uma revisão sobre</p><p>produção científica em nutrição no Brasil (1944 a 1968). Cad Saúde Pública, v. 15,</p><p>n. 2, p. 303-316, 1999.</p><p>http://www.fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAction.php</p><p>http://www.fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAction.php</p><p>36</p><p>Educação alimentar e nutricional</p><p>no ambiente escolar</p><p>Autoria: Joverlany Pessoa de Albuquerque</p><p>Leitura crítica: Amanda Menon Machado</p><p>Objetivos</p><p>• Conhecer o conceito de educação alimentar e</p><p>nutricional no Brasil.</p><p>• Identificar a importância da educação alimentar e</p><p>nutricional no PNAE.</p><p>• Compreender o planejamento de atividades e ações</p><p>educativas no ambiente escolar.</p><p>37</p><p>1. Histórico da Educação Alimentar e</p><p>Nutricional (EAN)</p><p>A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no Brasil iniciou seu processo</p><p>na década de 1930, com a criação do Serviço de Alimentação da</p><p>Previdência Social, que visava garantir uma alimentação adequada aos</p><p>trabalhadores urbanos (PINHEIRO; MOURA, 2011). Na década de 1940,</p><p>com a criação do Serviço de Alimentação Escolar, a EAN passou a ser</p><p>abordada também no âmbito escolar, com o objetivo de assegurar uma</p><p>alimentação adequada a crianças e jovens (BRASIL, 2013).</p><p>Nos anos 1980, com a crise econômica, a EAN ganhou mais destaque,</p><p>pois se tornou necessário desenvolver ações que garantissem a</p><p>segurança alimentar e nutricional da população mais vulnerável</p><p>(SANTOS; MORAIS, 2012). Em 1999, foi criada a Política Nacional de</p><p>Alimentação e Nutrição (PNAN), que estabeleceu a EAN como uma das</p><p>estratégias para promover a saúde e a qualidade de vida da população</p><p>(BRASIL, 1999).</p><p>Em 1999, foi criado o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE),</p><p>que prevê a oferta de alimentação saudável e adequada nas escolas</p><p>públicas. Segundo Cervato-Mancuso (2011, p. 77), o PNAE “é uma das</p><p>políticas públicas mais importantes na promoção da alimentação</p><p>saudável e na prevenção da obesidade infantil no Brasil”.</p><p>Atualmente, a EAN no Brasil é regulamentada pela Política Nacional de</p><p>Alimentação e Nutrição (PNAN), criada em 1999, e pela Política Nacional</p><p>de Promoção da Saúde (PNPS), criada em 2006. De acordo com Cervato-</p><p>Mancuso (2011, p. 78), “a PNAN e a PNPS reafirmam o compromisso</p><p>do Estado brasileiro em promover a alimentação adequada e saudável</p><p>como um direito humano fundamental”.</p><p>O conceito da EAN orienta-se pelo Marco de Referência em Educação</p><p>Alimentar e Nutricional (2012), o qual explica que:</p><p>38</p><p>Educação Alimentar e Nutricional, no contexto da realização do Direito</p><p>Humano à Alimentação Adequada e da garantia da Segurança Alimentar</p><p>e Nutricional, é um campo de conhecimento e de prática contínua e</p><p>permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa</p><p>promover a prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares</p><p>saudáveis. A prática da EAN</p><p>deve fazer uso de abordagens e recursos</p><p>educacionais problematizadores e ativos que favoreçam o diálogo junto a</p><p>indivíduos e grupos populacionais, considerando todas as fases do curso</p><p>da vida, etapas do sistema alimentar e as interações e significados que</p><p>compõem o comportamento alimentar. (BRASIL, 2012, p. 23)</p><p>Nos últimos anos, a EAN tem sido ampliada e fortalecida no Brasil,</p><p>com a criação, por exemplo, do Programa Nacional de Alimentação</p><p>Escolar (PNAE), que tem como objetivo garantir o acesso à alimentação</p><p>adequada e saudável aos estudantes das escolas públicas, e do</p><p>Programa Bolsa Família, que busca combater a pobreza e a desigualdade</p><p>social, assegurando a famílias em situação de vulnerabilidade o acesso</p><p>à alimentação adequada e saudável (BRASIL, 2018). Para o profissional</p><p>que atua com o PNAE, é relevante o reconhecimento da EAN e,</p><p>sobretudo, saber como planejar ações de EAN.</p><p>1.1 Planejamento educativo em alimentação e nutrição:</p><p>diagnóstico e objetivos</p><p>O planejamento educativo em alimentação e nutrição é uma importante</p><p>estratégia para promover a saúde e prevenir doenças relacionadas</p><p>à alimentação inadequada. Nesse sentido, é fundamental que sejam</p><p>realizados diagnósticos precisos das necessidades da população-</p><p>alvo para o estabelecimento de objetivos claros e adequados às suas</p><p>demandas.</p><p>O processo de avaliação diagnóstica é fundamental para compreender</p><p>uma situação ou problema. De acordo com Luckesi (2000, p. 43), a</p><p>avaliação “deve ser entendida como um processo de investigação</p><p>39</p><p>sobre uma realidade ainda não conhecida ou compreendida, visando à</p><p>tomada de decisões com a finalidade de transformá-la”. Nesse sentido,</p><p>a avaliação diagnóstica permite identificar as principais questões e</p><p>necessidades envolvidas em determinada situação.</p><p>Através do diagnóstico participativo, ou seja, envolvendo as pessoas</p><p>afetadas pela situação ou pelo problema em questão, é possível</p><p>estabelecer objetivos viáveis e alinhados com as expectativas e</p><p>realidades dos envolvidos. Segundo Fagundes (2010, p. 33), o</p><p>diagnóstico participativo “permite que as pessoas sejam sujeitos ativos</p><p>do processo de avaliação, pois têm a possibilidade de expressar suas</p><p>opiniões e vivências”.</p><p>Algumas questões devem ser feitas antes de iniciar uma atividade de</p><p>EAN, conforme expõe a Figura 1.</p><p>Figura 1 - Questões para o planejamento em EAN</p><p>Fonte: Linden (2005).</p><p>40</p><p>O planejamento da EAN também deve levar em consideração aspectos</p><p>culturais e socioeconômicos da população-alvo. De acordo com a</p><p>Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS):</p><p>[...] as estratégias de EAN devem ser adaptadas às características</p><p>culturais e socioeconômicas dos indivíduos e das comunidades, levando</p><p>em consideração aspectos como a disponibilidade e acessibilidade dos</p><p>alimentos, bem como as tradições e hábitos alimentares. (OPAS, 2021, p. 6)</p><p>Além disso, antes da definição dos objetivos para a ação educativa, o</p><p>educador deve considerar diferentes componentes do público-alvo,</p><p>como os componentes afetivo, cognitivo e situacional, conforme ilustra a</p><p>Figura 2.</p><p>Figura 2 - Componentes afetivo, cognitivo e situacional</p><p>Fonte: Diez-Garcia, Cervato-Mancuso (2017).</p><p>41</p><p>Para promover a educação alimentar e nutricional de forma eficaz,</p><p>é importante levar em consideração esses três componentes e</p><p>desenvolver estratégias que abordem cada um deles de modo</p><p>integrado. Isso pode incluir atividades educacionais que visem aumentar</p><p>o conhecimento sobre a alimentação e nutrição, bem como mudanças</p><p>no ambiente alimentar que facilitem a escolha de opções saudáveis.</p><p>1.2 Planejamento educativo em alimentação e nutrição:</p><p>conteúdo programático, estratégias e recursos</p><p>O conteúdo programático deve abranger informações sobre</p><p>alimentação, nutrientes, grupos alimentares, escolhas saudáveis,</p><p>preparação dos alimentos e efeitos da alimentação na saúde, entre</p><p>outros temas relevantes. As estratégias educativas podem incluir, por</p><p>exemplo, palestras, oficinas de culinária, dinâmicas de grupo e avaliação</p><p>nutricional individual. Cabe ressaltar que o Marco de Referência em</p><p>Educação Alimentar e Nutricional (2012) orienta que os recursos devem</p><p>ser ativos e problematizadores. Veja na Figura 3 algumas opções de</p><p>conteúdos.</p><p>Figura 3 – Conteúdos sobre alimentação e nutrição</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>42</p><p>As estratégias pedagógicas podem se desdobrar de acordo com as</p><p>demandas e sugestões do público-alvo. Liden (2005) aponta algumas</p><p>opções:</p><p>Tabela 1. Estratégias pedagógicas para ações educativas em</p><p>alimentação e nutrição</p><p>VERBAIS VISUAIS ATIVOS</p><p>Exposição Demonstração Teatros</p><p>Explicação Audiovisuais Estudos de caso</p><p>Diálogo Textos escritos Psicodramas</p><p>Debate Vídeos Hortas</p><p>Infográficos Jogos</p><p>Portifólio</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>Portanto, todo processo de planejamento educativo em alimentação e</p><p>nutrição deve considerar os seguintes tópicos:</p><p>• Público-alvo: é importante conhecer suas características,</p><p>como idade, sexo, nível de escolaridade, hábitos alimentares e</p><p>preferências. Essas informações ajudarão a adequar o conteúdo</p><p>programático e as estratégias de ensino.</p><p>• Objetivos educacionais: devem ser claros e específicos. Precisam</p><p>indicar o que se espera que os participantes aprendam ou sejam</p><p>capazes de fazer após a conclusão do programa.</p><p>• Conteúdo programático: deve abranger informações sobre a</p><p>importância de uma alimentação saudável, grupos de alimentos,</p><p>nutrientes, escolha de alimentos saudáveis, planejamento de</p><p>refeições, interpretação de rótulos de alimentos, entre outros</p><p>temas relevantes.</p><p>43</p><p>• Estratégias de ensino: podem incluir aulas expositivas, dinâmicas</p><p>de grupo, atividades práticas, jogos educativos, entre outras. É</p><p>importante utilizar estratégias que favoreçam a participação ativa</p><p>dos alunos e estimulem o aprendizado.</p><p>• Recursos: podem incluir materiais didáticos como cartilhas,</p><p>folhetos, vídeos, slides, entre outros. É importante utilizar</p><p>recursos que sejam adequados ao público-alvo e que facilitem a</p><p>compreensão do conteúdo (CERVATO-MANCUSO, 2011; LINDEN,</p><p>2005).</p><p>Assim, a fim de tornar o planejamento educativo mais eficiente, é</p><p>imprescindível utilizar estratégias que promovam a interação entre os</p><p>educadores e os educandos. Além disso, os recursos utilizados devem</p><p>focar em estimular a participação e o interesse dos envolvidos.</p><p>O ensino como prática investigativa é uma abordagem pedagógica que</p><p>coloca o estudante no papel de protagonista do próprio processo de</p><p>aprendizagem, incentivando-o a explorar o mundo ao seu redor, fazer</p><p>perguntas, investigar e descobrir respostas. Essa abordagem parte do</p><p>pressuposto de que o conhecimento não é algo dado e acabado, mas</p><p>sim construído a partir da interação entre sujeito e objeto (BARROS et al.,</p><p>2020).</p><p>Do ponto de vista teórico, o ensino como prática investigativa está</p><p>baseado em diversas correntes pedagógicas, como o construtivismo, o</p><p>socioconstrutivismo e a pedagogia crítica. Essas teorias defendem que o</p><p>aprendizado é um processo ativo e que o estudante deve ser estimulado</p><p>a participar ativamente do processo de construção do conhecimento</p><p>(BARROS et al., 2020).</p><p>Nesse sentido, a prática investigativa no ensino busca incentivar a</p><p>curiosidade, a criatividade, a autonomia e a capacidade de análise</p><p>e reflexão crítica dos alunos, por meio de atividades que envolvam</p><p>44</p><p>pesquisa, experimentação, análise de dados, resolução de problemas e</p><p>discussão em grupo (BARROS et al., 2020).</p><p>Para que o ensino como prática investigativa seja efetivo, é necessário</p><p>que o professor esteja preparado e capacitado para conduzir esse tipo</p><p>de abordagem, utilizando metodologias ativas e recursos pedagógicos</p><p>adequados, como projetos interdisciplinares, jogos educativos,</p><p>simulações, entre outros (BARROS et al., 2020).</p><p>Além disso, é importante que os alunos sejam estimulados a participar</p><p>ativamente do processo, por meio de atividades que levem em</p><p>conta suas experiências, seus interesses e suas necessidades e que</p><p>ofereçam oportunidades para que eles possam</p><p>construir seu próprio</p><p>conhecimento e desenvolver suas habilidades e competências (BARROS</p><p>et al., 2020).</p><p>Em resumo, o ensino como prática investigativa é uma abordagem</p><p>que valoriza a participação ativa dos alunos no processo de ensino-</p><p>aprendizagem, incentivando a construção coletiva de conhecimento e o</p><p>desenvolvimento de habilidades e competências importantes para a vida</p><p>pessoal e profissional.</p><p>Referências</p><p>BARROS, E. M. D. de et al. Ensino como prática investigativa: reflexões teóricas,</p><p>metodológicas e didáticas. Vol. 1. Cornélio Procópio: UENP, 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Cidadania. Programa Bolsa Família. Brasília: Ministério da</p><p>Cidadania, 2018.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional de Alimentação Escolar.</p><p>Brasília: Ministério da Educação, 2013.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Alimentação e Nutrição.</p><p>Brasília: Ministério da Saúde, 1999.</p><p>45</p><p>BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Marco de</p><p>Referência em Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas.</p><p>Brasília: MDS, 2012.</p><p>CERVATO-MANCUSO, A. M. Elaboração de programas de educação nutricional.</p><p>Mudanças alimentares e educação nutricional. Tradução. Rio de Janeiro: Guanabara</p><p>Koogan, 201.</p><p>DIEZ-GARCIA, Rosa W.; CERVATO-MANCUSO, Ana M. Mudanças Alimentares e</p><p>Educação Alimentar e Nutricional, 2ª edição. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2017.</p><p>E-book. ISBN 9788527732512. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.</p><p>com.br/#/books/9788527732512/. Acesso em: 24 mai. 2023.</p><p>FAGUNDES, J. S. S. Diagnóstico Participativo: um olhar sobre a metodologia. Revista</p><p>Diálogos Possíveis, v. 9, n. 1, p. 31-44, 2010.</p><p>LINDEN, S. Educação nutricional: algumas ferramentas de ensino. São Paulo:</p><p>Livraria Varela, 2005.</p><p>OPAS. Estratégias de Educação Alimentar e Nutricional: guia para profissionais</p><p>de saúde. Brasília, 2021. Disponível em: https://iris.paho.org/bitstream/</p><p>handle/10665. Acesso em: 15 maio 2023.</p><p>PINHEIRO, A. R.; MOURA, E. C. Educação alimentar e nutricional no Brasil: avanços e</p><p>desafios. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 81-90, 2011.</p><p>SANTOS, L. M. P.; MORAIS, M. B. Educação nutricional: passado, presente, futuro.</p><p>Revista de Nutrição, Campinas, v. 25, n. 5, p. 633-642, 2012.</p><p>https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665</p><p>https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665</p><p>46</p><p>BONS ESTUDOS!</p><p>Sumário</p><p>Apresentação da disciplina</p><p>Histórico das políticas públicas e programas em alimentação escolar do Brasil</p><p>Objetivos</p><p>1. Primeiras iniciativas de políticas de alimentação</p><p>Referências</p><p>Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN)</p><p>Objetivos</p><p>1. Introdução à Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN)</p><p>Referências</p><p>Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)</p><p>Objetivos</p><p>1. Introdução ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)</p><p>Referências</p><p>Educação alimentar e nutricional no ambiente escolar</p><p>Objetivos</p><p>1. Histórico da Educação Alimentar e Nutricional (EAN)</p><p>Referências</p>