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<p>CUSTOS DE PRODUÇÃO E</p><p>ELABORAÇÃO NA ANÁLISE</p><p>DE PROJETOS</p><p>Profª Amanda Massaneira de Souza Schuntzemberger</p><p>AULA 5</p><p>2</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Caro estudante, anteriormente conhecemos os principais elementos que</p><p>compõem um projeto agropecuário. A partir desta aula, detalharemos alguns</p><p>desses elementos, começando pelo diagnóstico da propriedade rural. Na</p><p>sequência, trataremos do estudo de mercado e da análise de Swot, uma</p><p>interessante ferramenta gerencial que pode ser utilizada no planejamento</p><p>estratégico; dos aspectos básicos da engenharia do projeto; do orçamento e</p><p>formação de fluxos de caixa; e, por fim, das análises de viabilidade ambiental e</p><p>social. Bons estudos!</p><p>TEMA 1 – DIAGNÓSTICO EM PROJETOS AGROPECUÁRIOS</p><p>De modo geral, os projetos agropecuários propõem alguma alteração na</p><p>situação atual de determinada propriedade rural, sendo, portanto, um elemento</p><p>fundamental desses projetos a descrição da realidade atual da empresa rural e</p><p>do meio onde ela se encontra, de modo que as proposições do projeto sejam</p><p>coerentes com a realidade e atinjam os resultados esperados.</p><p>Para Oliveira (2010, p. 34), “fazer uma boa “fotografia” da realidade e</p><p>conhecer as expectativas das pessoas que ali vivem são premissas</p><p>fundamentais para a confecção e a implementação adequada de projetos”.</p><p>Nesse contexto, “a descrição da situação vigente, acompanhada de quadros</p><p>demonstrativos, ordenados de forma coerente, comparando dados históricos, se</p><p>constitui no diagnóstico” (Echeverria, 1981, p. 116).</p><p>Assim sendo, a realização do diagnóstico envolve investigação, coleta,</p><p>registro, ordenação e análise de dados e informações (Guimarães, 2002),</p><p>visando identificar os principais fatores limitantes e aptidões da propriedade.</p><p>Para tanto, o diagnóstico deve ser realizado por meio de entrevista com o</p><p>proprietário ou outro responsável pela propriedade e, de preferência, com visita</p><p>in loco à propriedade, quando será possível ter contato direto com a realidade</p><p>encontrada, inclusive para permitir a complementação de dados fornecidos nas</p><p>entrevistas.</p><p>Um diagnóstico adequado inclui informações sobre o proprietário rural, as</p><p>características físicas da propriedade, sua localização geográfica, o uso do solo,</p><p>sua situação ambiental, o inventário da infraestrutura existente, incluindo-se as</p><p>benfeitorias, máquinas, equipamentos, veículos, animais, pastagens, aspectos</p><p>3</p><p>organizacionais e gerenciais, mão de obra utilizada etc. Segundo Giasson et al.</p><p>(2005), o diagnóstico deve incluir também a caracterização da região; os</p><p>recursos naturais existentes na propriedade, destacando o uso atual; a</p><p>caracterização do sistema produtivo e suas potencialidades; as possibilidades</p><p>de escoamento da produção, destacando a condição das vias de acesso; e</p><p>menção dos possíveis problemas da propriedade.</p><p>1.1 Dados gerais da propriedade rural</p><p>Quanto aos dados gerais da propriedade, Guimarães (2002) sugere</p><p>incluir:</p><p>proponente e constituição social (produtor, cooperativa, empresa rural</p><p>etc.), nome da propriedade, endereço, sede e foro, capital social,</p><p>números de registros nos órgãos competentes (ex. INCRA),</p><p>organização da empresa (descriminando o tipo de sociedade e a</p><p>estrutura administrativa), breve histórico e objetivo social. Quanto a</p><p>caracterização da propriedade, deve-se incluir o tamanho do imóvel,</p><p>ou seja, a área total; a sua localização, com apontamento da sua</p><p>localização em mapas, a definição de suas coordenadas e das</p><p>diferentes vias de acesso aos principais centros de produção e</p><p>comercialização.</p><p>1.2 Caracterização das condições climáticas e dos recursos naturais</p><p>De acordo com Kichel et al. (2011), o conhecimento das condições</p><p>climáticas da região é de suma importância para a definição das culturas a serem</p><p>utilizadas nos sistemas produtivos e, dentro das culturas, as variedades e o</p><p>manejo mais apropriado. Os autores acrescentam que, em relação à produção</p><p>animal, as condições climáticas também influenciarão na escolha das raças a</p><p>serem criadas e na determinação do manejo do rebanho, das pastagens e as</p><p>estratégias de alimentação a serem empregadas. Assim, o diagnóstico deve</p><p>levar em consideração as médias históricas, as máximas e as mínimas mensais</p><p>dos principais indicadores meteorológicos (temperatura, umidade relativa do ar</p><p>e precipitação), além de registrar as anomalias climáticas, como secas e geadas,</p><p>que interferem na produção agropecuária (Kichel et al., 2011).</p><p>Além das condições climáticas, devem ser caracterizados os recursos</p><p>naturais disponíveis na propriedade rural, incluindo a topografia (detalhada em</p><p>mapa planialtimétrico); o solo, detalhando-se as classes de solo e suas</p><p>respectivas capacidades de uso, por meio de análises físico-químicas de cada</p><p>tipo de solo existente na propriedade; a vegetação de cobertura; e a hidrografia,</p><p>4</p><p>com detalhes sobre regime, volume, vazão e qualidade de água (Guimarães,</p><p>2002).</p><p>Conforme Kichel et al. (2011), a caracterização da vegetação de cobertura</p><p>deve detalhar a cobertura vegetal original e a cobertura vegetal atual, enquanto</p><p>a caracterização dos recursos hídricos deve incluir os recursos naturais (rios,</p><p>córregos, nascentes e lagoas) e artificiais (açudes de nascentes ou de captação,</p><p>água bombeada, armazenada e distribuída de queda natural, roda d’água, cata-</p><p>vento, energia elétrica e combustível).</p><p>1.3 Caracterização dos recursos físicos disponíveis</p><p>No que diz respeito à caracterização dos recursos disponíveis na</p><p>propriedade, deve-se descrever, em hectares, as áreas totais de reserva legal,</p><p>de preservação permanente, a desmatar, a reflorestar, com pastagens perenes,</p><p>com pastagens anuais, com capineiras, com lavouras de grãos anuais (safra e</p><p>safrinha) e com lavouras perenes (Kichel et al., 2011). Incluir também mapa de</p><p>capacidade de uso, descrição das potencialidades agronômicas e estimativa do</p><p>valor atual para cada talhão definido (Guimarães, 2002).</p><p>Além disso, deve-se fazer um inventário dos capitais preexistentes na</p><p>propriedade rural e que serão incorporados ao projeto, incluindo as benfeitorias</p><p>e instalações, especificando a quantidade de itens, áreas de construção, tipos</p><p>de estrutura, cobertura, pisos e revestimentos, estado de conservação, vida útil</p><p>restante e valores atuais; os veículos, máquinas, implementos e equipamentos,</p><p>indicando categoria, especificação, ano de fabricação, marca, tipo, vida útil</p><p>restante e valor atual; e o capital circulante, detalhando o estoque existente de</p><p>fertilizantes, defensivos, rações, vacinas, medicamentos etc., especificando</p><p>quantidade e valor. No tocante aos animais de trabalho e de produção, o</p><p>inventário deve detalhar, por categorias, a quantidade em cabeças e em</p><p>unidades animais, raça, idade, vida útil restante e valor atual (Guimarães, 2002).</p><p>A saber, uma unidade animal corresponde a um animal com 450 kg de peso vivo.</p><p>No que tange os recursos financeiros, conforme Franco (2012), podem</p><p>ser incluídos os demonstrativos financeiros da empresa, tais como: balanço</p><p>patrimonial, demonstração do resultado do exercício, demonstração do fluxo de</p><p>caixa, entre outros. No entanto, a autora acrescenta que, caso a empresa não</p><p>possua estas planilhas financeiras, o que não é incomum nas empresas rurais,</p><p>é necessário levantar dados sobre: disponibilidade de capital de giro atual da</p><p>5</p><p>empresa, ou seja, a soma dos recursos em caixa e em depósitos à vista;</p><p>depósitos a prazo e outras aplicações financeiras; as dívidas a pagar; os créditos</p><p>a receber, de vendas a prazo etc.; e os estoques de produtos agropecuários</p><p>acabados e de insumos usados no processo produtivo da empresa. É com base</p><p>nesta descrição dos recursos financeiros, utilizada tanto para avaliar a</p><p>disponibilidade de recursos próprios para realizar os investimentos quanto para</p><p>avaliar a capacidade de pagamento da empresa, que se mostrará a capacidade</p><p>que ela tem de mobilizar recursos junto às instituições</p><p>financeiras para a</p><p>implantação do projeto e se necessita de recursos de terceiros (Franco, 2012).</p><p>Quanto aos recursos humanos, deve-se fazer o levantamento do</p><p>contingente de trabalhadores na propriedade, detalhando a especificação (ex.:</p><p>gerente, capataz, operados de máquina, serviços gerais, entre outros), a</p><p>quantidade, a qualificação e a remuneração mensal (Kichel et al., 2011).</p><p>A saber, como pontua Echeverria (1981), as informações contidas no</p><p>diagnóstico são valiosas na continuidade do projeto e não podem apresentar</p><p>vieses que possam levar o produtor rural a uma escolha que não seja a mais</p><p>favorável. Em caso de tendenciosidade, o resultado certamente será desastroso,</p><p>devendo, portanto, as fontes de consulta ser idôneas, para que os dados</p><p>contidos no diagnóstico sejam confiáveis.</p><p>1.4 Análise de viabilidade de longo prazo da empresa rural</p><p>A análise da viabilidade de longo prazo compreende uma avaliação sobre</p><p>a rentabilidade das atividades desenvolvidas na empresa rural antes da</p><p>implantação do projeto agropecuário. Para tanto, deve-se fazer uma análise dos</p><p>custos totais de produção, contemplando custos variáveis e fixos. Estes cálculos</p><p>serão úteis na hora de estimar taxas de retorno dos investimentos propostos,</p><p>bem como a capacidade de pagamento da empresa (Guimarães, 2002).</p><p>Inicialmente, a análise de rentabilidade deve ser feita de forma</p><p>desagregada, por atividade agropecuária e, depois, avaliando a viabilidade de</p><p>longo prazo da empresa rural como um todo. A análise por atividade pode</p><p>apresentar dificuldades na divisão entre elas de alguns custos da empresa que</p><p>não são diretamente alocáveis a atividades específicas, mesmo assim precisa</p><p>ser realizada, pois algumas atividades podem estar apresentando lucros ou</p><p>outras prejuízos e só a análise individual pode identificar esses problemas.</p><p>6</p><p>TEMA 2 – NOÇÕES DE ESTUDO DE MERCADO E ANÁLISE SWOT</p><p>O estudo de mercado, no qual são analisados os mercados de fatores de</p><p>produção, o mercado consumidor e a concorrência, tem por objetivo detectar as</p><p>oportunidades existentes e a potencialidade de sucesso do empreendimento.</p><p>Em outras palavras, esta etapa busca avaliar a viabilidade mercadológica do</p><p>empreendimento proposto no projeto agropecuário (Silva, 2011). Na concepção</p><p>de Echeverria (1981), o estudo de mercado visa determinar as quantidades a</p><p>serem produzidas, as características dos produtos demandados, os volumes a</p><p>serem comercializados e as épocas de vendas.</p><p>De acordo com Franco (2012, p. 76), “se o estudo de mercado mostrar</p><p>que não há demanda suficiente para viabilizar a produção de determinado</p><p>produto ou que não há fatores de produção disponíveis para a sua produção,</p><p>não se precisa nem seguir para as próximas etapas do projeto”. Portanto, é nesta</p><p>etapa do projeto que verificamos se há ou não a possibilidade de produzir e</p><p>vender determinado produto ou serviço em determinada região, e é por meio</p><p>dela que fazemos as previsões de vendas futuras e, por sua vez, as projeções</p><p>de receitas.</p><p>2.1 Estudo do mercado de fatores de produção</p><p>O estudo do mercado de fatores de produção visa identificar a existência</p><p>de fornecedores dos fatores de produção necessários às atividades do projeto</p><p>(insumos, máquinas, equipamentos, animais etc.). Para isso, deve-se obter</p><p>informações como (Franco, 2012):</p><p>• disponibilidade dos fatores de produção no mercado;</p><p>• preços esperados e praticados no mercado para cada fator de produção;</p><p>• oferta local dos fatores de produção;</p><p>• qualidade necessária dos fatores de produção;</p><p>• linhas de crédito disponíveis, taxa de juros e seguro rural;</p><p>• estacionalidade de preços;</p><p>• canais de comercialização disponíveis; e</p><p>• tempo de entrega dos insumos.</p><p>7</p><p>2.2 Estudo do mercado consumidor</p><p>Conforme Franco (2012), no estudo do mercado consumidor devem ser</p><p>analisadas informações sobre:</p><p>• comportamento histórico do consumo do produto nos últimos anos – como</p><p>ele tem evoluído, se acaso expandiu nacionalmente e internacionalmente;</p><p>• comportamento dos preços dos produtos – padrão sazonal, tendência,</p><p>ciclos de preços;</p><p>• capacidade de produção nacional e internacional;</p><p>• tipos de leis existentes que regulam a comercialização do produto;</p><p>• caso o produto seja para exportação, os tipos de barreiras sanitárias</p><p>existentes e qual a padronização que o produto deve ter;</p><p>• perfil do consumidor – hábitos, cultura, nível de renda, sexo, faixa etária,</p><p>setor produtivo, limite geográfico;</p><p>• qualidade mínima exigida pelo mercado consumidor;</p><p>• canais de distribuição existentes para os produtos agropecuários;</p><p>• impostos incidentes sobre a comercialização do produto e existência de</p><p>incentivos fiscais; e</p><p>• séries temporais de quantidades produzidas e de preços recebidos.</p><p>Da mesma forma, informações como a localização dos compradores,</p><p>beneficiadores e processadores da produção agropecuária, a capacidade</p><p>instalada, o interesse e a possibilidade de absorverem a produção prevista no</p><p>projeto também são fundamentais no estudo do mercado consumidor.</p><p>2.3 Estudo da concorrência</p><p>No estudo da concorrência, devem ser levantadas as seguintes</p><p>informações (Franco, 2012):</p><p>• identificação das empresas líderes de mercado, com suas respectivas</p><p>localizações e capacidade de produção dos produtores;</p><p>• estrutura de mercado na qual a empresa rural objeto do projeto se insere;</p><p>• preços, prazos e formas de pagamento praticados pela concorrência;</p><p>• qualidade dos produtos oferecidos pela concorrência;</p><p>• formas de comercialização e distribuição praticadas pela concorrência; e</p><p>• mercado de produtos substitutos e complementares.</p><p>8</p><p>A saber, caro aluno(a), uma vez definido o mercado consumidor e a</p><p>disponibilidade dos fatores de produção, pode-se, então, a delimitar o tamanho</p><p>do projeto ou capacidade de produção, o qual é determinado com base em:</p><p>capacidade de absorção da produção pela economia, viabilidade tecnológica,</p><p>viabilidade empresarial e financeira e viabilidade da localidade (Franco, 2012).</p><p>Assim, conforme a autora, as projeções ou a previsão do comportamento futuro</p><p>da oferta ou produção da empresa devem basear-se na verificação da sua</p><p>capacidade futura de produção dos produtos (capacidade atual + ampliações</p><p>futuras) e, na sequência, na verificação da possibilidade de exportar.</p><p>Nesta fase, também é determinada a localização do empreendimento</p><p>proposto no projeto levando em consideração os seguintes fatores: localização</p><p>dos insumos; disponibilidade de mão de obra; terrenos disponíveis; clima; fatores</p><p>topográficos; infraestrutura regional como transportes, hospitais, escolas,</p><p>energia elétrica, saneamento básico, telefones; e estrutura tributária, leis</p><p>ambientais e incentivos fiscais (Franco, 2012).</p><p>2.4 Análise Swot</p><p>A utilização de ferramentas gerenciais dentro do contexto rural torna-se</p><p>cada dia mais necessária devido às constantes modificações em seu ambiente</p><p>estrutural. E dentre as ferramentas de gestão disponíveis, a análise Swot é um</p><p>importante instrumento utilizado para planejamento estratégico e consiste em</p><p>recolher dados importantes que caracterizam o ambiente interno e externo do</p><p>negócio, de modo simples e eficaz (Serra et al., 2002). A partir disso, o gestor</p><p>pode organizar um projeto com o intuito de diminuir riscos e aumentar as</p><p>circunstâncias de sucesso.</p><p>Swot é uma sigla em inglês dos termos Strengths (forças), Weaknesses</p><p>(fraquezas), Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças). Normalmente,</p><p>as forças e fraquezas estão dentro da própria empresa (ambiente interno),</p><p>sendo, portanto, fatores que estão sob controle do produtor rural; enquanto as</p><p>oportunidades e ameaças são situações de mercado que não dependem, em</p><p>princípio, da atuação do empresário – ambiente externo (Ferraz, 2018). De modo</p><p>geral, a Matriz Swot é representada como na figura 1.</p><p>9</p><p>Figura 1 – Modelo padrão da Matriz SWOT</p><p>Créditos: hermanthos/Shutterstock.</p><p>Na empresa rural, como forças podemos considerar as características que</p><p>favorecem o desenvolvimento da atividade rural, enquanto as fraquezas</p><p>consistem nas características que dificultam o seu desempenho. Assim sendo,</p><p>a análise do ambiente interno é fundamental para embasar a tomada de decisões</p><p>por parte do produtor rural, uma vez que permite detectar quais são os gargalos</p><p>a serem corrigidos. Já no ambiente externo, as oportunidades são as situações</p><p>que, de certa forma, podem beneficiar a atividade rural, e as ameaças, os fatores</p><p>previsíveis que podem afetar negativamente a empresa rural. É importante</p><p>destacarmos que as oportunidades e ameaças são fatores que não estão sob</p><p>controle do produtor rural.</p><p>A saber, após realização do diagnóstico, do estudo de mercado e da</p><p>construção e análise da Matriz Swot, podem ser formuladas estratégias de ação,</p><p>visando possibilitar à empresa rural a ter um melhor posicionamento perante à</p><p>concorrência, ao mercado e à otimização de sua produção, alcançando, assim,</p><p>o objetivo desejado pelo produtor rural.</p><p>TEMA 3 – ASPECTOS BÁSICOS DE ENGENHARIA DO PROJETO</p><p>A engenharia do projeto consiste na descrição da tecnologia a ser</p><p>utilizada, incluindo a descrição dos serviços a serem prestados e/ou dos bens a</p><p>serem produzidos, cronograma de execução física em função da época do ano,</p><p>10</p><p>produtividade suposta no uso dos recursos, estoques mínimos de insumos e</p><p>outros fatores necessários para a realização do projeto, seleção e descrição do</p><p>processo produtivo e da ocupação da mão de obra (Woiler; Mathias, 2008).</p><p>Segundo Guimarães (2002), a engenharia do projeto descreve, de forma</p><p>completa, a tecnologia proposta, ou sistema de produção, quantifica fisicamente</p><p>o uso dos fatores de produção, ou recursos, e a produção esperada do bem ou</p><p>serviço; e relaciona os itens a serem adquiridos ou construídos e as operações</p><p>e atividades a serem realizadas. Assim sendo, nesta etapa, o empreendedor</p><p>deve especificar as necessidades de construções, equipamentos, instalações,</p><p>insumos, mão de obra e outros fatores que devem ser quantificados e</p><p>transformados em unidades monetárias para expressar os valores de</p><p>investimentos, custos e receitas (Marques, 2014 citado por Paiva, 2016).</p><p>Ou seja, por um lado, a engenharia do projeto define o quê, como, quando</p><p>e quanto será produzido de bens e serviços, e, por outro, o quê, como, quando</p><p>e quanto de cada fator de produção será necessário para gerar tal produção.</p><p>Para tanto, nesta etapa devem ser apresentadas as características físicas e</p><p>financeiras dos seguintes itens (Franco, 2012).</p><p>• Seleção dos produtos e suas características para o mercado e</p><p>dimensionamento da produção.</p><p>• Seleção e descrição do processo produtivo a ser adotado.</p><p>• Seleção e descrição das tecnologias a serem utilizadas.</p><p>• Seleção e especificação das máquinas, equipamentos, ferramentas e</p><p>insumos necessários ao projeto, detalhando a sua capacidade de</p><p>produção e controle de qualidade.</p><p>• Projeção de uso do solo, incluindo as áreas de cultura agrícola, as áreas</p><p>de pastagens (com suas divisões, se houver), as benfeitorias e</p><p>instalações, caracterizando-se o layout do estabelecimento. Segundo</p><p>Ende e Reisdorfer (2015, p. 75), “o estudo de layout permite determinar</p><p>as áreas necessárias, levando em conta os espaços ocupados pelos</p><p>equipamentos, o espaço de trabalho, as áreas de materiais e de</p><p>circulação”.</p><p>• Distribuição funcional (layout) das máquinas, dos equipamentos, das</p><p>repartições, dos animais, dos campos etc.</p><p>11</p><p>• As construções e benfeitorias (casas residenciais da sede e de</p><p>empregados, galpões, depósitos, armazém, oficina de máquinas, currais,</p><p>garagem etc.) com suas especificações e distribuições no terreno,</p><p>incluindo projeto de construção civil e arranjo funcional da estrutura</p><p>(layout).</p><p>• Projetos complementares de infraestrutura (irrigação e drenagem,</p><p>estradas, energia, diques, pontes etc.).</p><p>• Tratamento de resíduos: qual o tipo de coleta, destinação ou tratamento</p><p>dos resíduos sólidos e líquidos gerados pelo empreendimento e qual a</p><p>eventual contribuição do empreendimento para a poluição ambiental</p><p>(queimadas, desmatamentos, eutrofização ou eutrofização da água).</p><p>• Cronograma físico das atividades: descrição das atividades a serem</p><p>desenvolvidas no projeto com a duração (meses) para cada etapa</p><p>especificada.</p><p>• Quantidade, qualidade e valor dos insumos a serem utilizados.</p><p>• Cronograma de uso de cada insumo na produção.</p><p>• Cronograma de gastos no processo produtivo (custos de produção),</p><p>incluindo orçamento de custos fixos, variáveis e totais.</p><p>• Mão de obra – uma vez determinadas as exigências de máquinas,</p><p>equipamentos, ferramentas e insumos necessários ao projeto, é</p><p>fundamental determinar a qualificação e a quantidade de mão de obra,</p><p>assim como sua disponibilidade na região de localização da empresa rural</p><p>(Ende; Reisdorfer, 2015).</p><p>• Produções esperadas, discriminadas segundo sua quantidade e valor</p><p>(rendimentos físicos e econômicos).</p><p>• Cronograma de produção.</p><p>• Estudo da flexibilidade na capacidade de produção (limitações, fatores</p><p>que afetam os resultados).</p><p>• Determinação das receitas parciais e totais e os períodos de ocorrência.</p><p>• Elaboração dos fluxos de caixa.</p><p>A saber, a descrição do processo produtivo deve permitir a compreensão</p><p>de todas as fases e operações pelas quais passam os insumos, até a obtenção</p><p>do produto final, explicando em cada operação o que acontece, qual a sua</p><p>relação com as fases anteriores e posteriores, quais os equipamentos utilizados,</p><p>12</p><p>quais os insumos utilizados e em que quantidade e qual é a mão de obra a ser</p><p>utilizada (Ende; Reisdorfer, 2015).</p><p>Por exemplo, caso o projeto esteja relacionado com agricultura, todas as</p><p>atividades a serem executadas, a partir do preparo do terreno até a colheita e a</p><p>comercialização, devem ser detalhadas em conteúdo e operacionalidade,</p><p>contendo a natureza, a tecnologia e a quantidade de área, de insumos e de mão</p><p>de obra necessários. Para tanto, deve-se determinar as áreas de cultivo, as</p><p>épocas de execução e custo das operações; definir as técnicas de preparo do</p><p>solo, correção de acidez, fertilização, conservação do solo, entre outras;</p><p>escolher as variedades a serem cultivadas; projetar as necessidades de</p><p>máquinas, implementos, ferramentas, equipamentos e veículos, incluindo as</p><p>características e os preços; projetar a necessidade de insumos básicos</p><p>(sementes, mudas, defensivos, adubos e corretivos), definindo as épocas de</p><p>compra e os respectivos preços. Da mesma forma, para cada uma das culturas</p><p>a serem exploradas no projeto incluir os detalhes sobre atividades de: limpeza</p><p>do solo; prevenção contra erosão; plantio; cultivo; controle de pragas e doenças;</p><p>colheita; beneficiamento; transporte; e armazenagem (Echeverria, 1981).</p><p>No caso de atividade pecuária bovina, deve-se dimensionar o rebanho por</p><p>categoria animal e destino a lhe ser dado, sua produtividade e respectiva</p><p>capacidade de consumo alimentar; definir as raças a serem utilizadas, a forma</p><p>de seleção, os locais de aquisição de matrizes e reprodutores; programar a</p><p>alimentação do rebanho segundo as estações do ano; projetar a necessidade (e</p><p>quantidade) de arraçoamento e definir a forma de preparação e armazenamento;</p><p>e estabelecer o plano de formação, evolução e divisão das pastagens, bem como</p><p>seu manejo. É preciso estabelecer também o calendário de controle preventivo</p><p>de doenças, segundo a idade, sexo e finalidade e descrever o processo de cria,</p><p>recria e terminação, com os programas de acasalamento, nascimentos,</p><p>desmames e acabamento segundo o destino a ser dado às categorias animais.</p><p>No caso de confinamento, programar o sistema de estabulação e definir os</p><p>períodos de preparação do animal e de engorda.</p><p>Assim sendo, combinada ao estudo de mercado, a etapa da engenharia</p><p>do projeto contempla as informações necessárias para que sejam elaborados</p><p>os</p><p>orçamentos de receitas, de investimento e de custos operacionais do projeto</p><p>(Guimarães, 2002). Esses orçamentos irão compor o fluxo de caixa do projeto,</p><p>13</p><p>tanto do lado das entradas de caixa (receitas) quanto do lado das saídas de caixa</p><p>(investimentos e custos operacionais), conforme veremos na próxima seção.</p><p>TEMA 4 – ORÇAMENTOS E FORMAÇÃO DE FLUXOS DE CAIXA</p><p>O orçamento constitui um elemento essencial dos projetos agropecuários,</p><p>uma vez que ele determina quanto vai custar a decisão que se pretende tomar e</p><p>quais serão os resultados financeiros esperados se as decisões forem</p><p>implementadas. Assim sendo, o orçamento pode ser visto com uma relação de</p><p>despesas e receitas que se espera realizar durante certo período, com a</p><p>finalidade de mostrar os montantes de recursos necessários naquele período</p><p>(Noronha, 1987).</p><p>Noronha (1987) também destaca que o orçamento é a transformação de</p><p>quantidades físicas em valores monetários. As quantidades são uma lista de tudo</p><p>o que se pretende comprar (ou fazer), medidas em unidades físicas, enquanto</p><p>os valores (despesas e receitas) são os produtos (multiplicação) destas</p><p>quantidades físicas pelos respectivos preços.</p><p>Assim sendo, segundo Guimarães (2002), os orçamentos são a base</p><p>sobre a qual são desenvolvidas as análises de viabilidade dos projetos</p><p>agropecuários, visto que são eles que formarão os fluxos de saída de caixa do</p><p>projeto, que se constituem numa sequência de orçamentos anuais consecutivos</p><p>que se estendem por todo o horizonte de planejamento do projeto. Em geral, o</p><p>horizonte de planejamento do projeto é o período entre o início e o final do</p><p>projeto, sendo determinado pelo tempo de vida útil do investimento a ser</p><p>realizado. A autora acrescenta que “o coração de um projeto está na elaboração</p><p>do fluxo de caixa que, por sua vez, é resultado direto da qualidade dos dados e</p><p>informações utilizadas para gerar os orçamentos” (Guimarães, 2002, p. 11).</p><p>De acordo com Dornelas (2001, citado por Franco, 2012), os principais</p><p>demonstrativos a serem apresentados em um projeto de investimento são:</p><p>Demonstrativo do Resultado do Exercício (DRE), que evidencia o lucro que a</p><p>empresa teve ou deverá ter, apresentando de forma resumida as receitas e</p><p>despesas inerentes ao exercício em questão; e Demonstrativo de Fluxo de Caixa</p><p>(DFC), todos projetados com um horizonte de no mínimo três anos, sendo que</p><p>no caso do fluxo de caixa é interessante que este seja detalhado mensalmente.</p><p>14</p><p>De acordo com Noronha (1987), os fluxos de caixa são os valores</p><p>monetários que refletem as entradas e saídas dos recursos e produtos por</p><p>unidade de tempo, sendo sua formação possível somente se todas as</p><p>especificações técnicas de recursos necessários, bem como de produtos a</p><p>serem produzidos, forem conhecidas. Portanto, é com base nos dados técnicos</p><p>oferecidos pela etapa de engenharia do projeto que se inicia o processo de</p><p>formação dos fluxos de caixa.</p><p>Os fluxos de entrada (receitas) são compostos pelos valores monetários</p><p>obtidos das seguintes fontes: venda de produtos agropecuários, ou seja, do</p><p>principal produto final gerado pelo investimento realizado; venda de produtos</p><p>secundários ou subprodutos associados ao produto principal, como animais de</p><p>descarte, esterco de curral, cama de granja de frango; valor residual de todos os</p><p>bens de capital cuja vida útil ultrapassa o horizonte do projeto; subsídios</p><p>governamentais, quando existem (Noronha, 1987).</p><p>Já os fluxos de saída compreendem as despesas de investimento e as</p><p>despesas operacionais. As despesas de investimento são todos os gastos com</p><p>bens de capital, incluindo as despesas cujo valor pode ser incorporado ao dos</p><p>bens de capital na fase de construção ou implantação do projeto, a exemplo da</p><p>mão de obra empregada nas construções e dos gastos com a formação de</p><p>culturas perenes. Por sua vez, as despesas operacionais são aquelas que</p><p>ocorrem quando o projeto já está implantado e em pleno funcionamento. Além</p><p>das despesas de investimento e operacionais, sempre que empréstimos</p><p>bancários forem usados como entradas, os encargos financeiros (juros,</p><p>amortização e outras taxas bancárias) decorrentes do empréstimo são também</p><p>incluídos como saídas (Noronha, 1987).</p><p>A saber, todos os valores de fatores de produção e de produtos</p><p>agropecuários que formam os fluxos de caixa devem ser calculados a preços na</p><p>propriedade rural, isto é, os custos de transporte entre a propriedade e o local de</p><p>compra dos fatores de produção e de venda dos produtos agropecuários</p><p>precisam ser considerados. Além disso, devem fazer parte dos fluxos de caixa</p><p>apenas receitas e despesas que podem ser atribuídas diretamente à decisão de</p><p>implementá-lo, sendo irrelevantes as despesas ou receitas que a empresa teria</p><p>na ausência do projeto.</p><p>Da mesma forma, conforme Dias (1992, citado Sobestiansky et al., 1998),</p><p>não devem ser lançados nos fluxos de caixa os custos indiretos, como</p><p>15</p><p>depreciação e custos de oportunidade, visto que não é necessário provisão de</p><p>caixa para pagamento desses custos. Atenção: embora a depreciação não seja</p><p>lançada no fluxo de caixa, ela é essencial para se calcular o valor residual dos</p><p>bens de capital depreciáveis do projeto.</p><p>Para exemplificar, considere um projeto agropecuário para expansão de</p><p>uma atividade de fruticultura. Nesse exemplo, o fluxo de entrada do projeto será</p><p>formado pela diferença entre o valor da produção antes e depois da expansão</p><p>da fruticultura. Por outro lado, apenas as despesas adicionais, como a formação</p><p>do novo pomar e expansão do sistema de irrigação, serão incluídas nos fluxos</p><p>de saída. Desse modo, a infraestrutura usada no projeto, constituída pelos</p><p>galpões, máquinas e equipamentos, mão de obra, administração etc., que já</p><p>estava sendo usada antes da expansão, não custará nada ao projeto, desde que</p><p>seus valores fiquem inalterados. Vejamos na tabela 1 o fluxo de caixa hipotético</p><p>desse projeto.</p><p>Tabela 1 – Fluxo de caixa hipotético de um projeto agropecuário de expansão de</p><p>atividade de fruticultura prospectado para cinco anos</p><p>ITENS</p><p>ANO</p><p>0 1 2 3 4 5</p><p>A – ENTRADAS: Receitas Adicionais $$$ $$$ $$$ $$$ $$$</p><p>Valor da produção</p><p>Valor dos subprodutos</p><p>Valor residual (ou de sucata) $$$</p><p>Subsídios recebidos</p><p>B – SAÍDAS: Custos adicionais</p><p>Investimentos $$$</p><p>• Formação do pomar</p><p>• Sistemas de irrigação</p><p>• Capital de custeio</p><p>Custos operacionais $$$ $$$ $$$ $$$ $$$</p><p>• Mão de obra (familiar e contratada)</p><p>• Insumos</p><p>- Fertilizantes e defensivos</p><p>- Sementes e mudas</p><p>- Óleo e combustíveis</p><p>C – Fluxo líquido de caixa (A – B) ($$$) $$$ $$$ $$$ $$$ $$$</p><p>Fonte: Schuntzemberger, 2021.</p><p>A diferença entre os fluxos de entrada e de saída (A – B) é chamada de</p><p>fluxo líquido. Por regra geral, os projetos de investimento apresentam saldo</p><p>negativo ao menos no ano de implantação (ANO 0), visto que as despesas de</p><p>16</p><p>investimento e operacionais superam as receitas. Se o saldo fosse positivo no</p><p>ano zero, o investimento se pagaria no mesmo período em que é feito, o que é</p><p>muito difícil de ocorrer quando se trata de investimento (Guimarães, 2002).</p><p>A partir do próximo ano (ANO 1), considera-se que a etapa de implantação</p><p>do projeto está finalizada e que, portanto, as suas atividades passam a gerar</p><p>receitas e despesas. A saber, no último ano do projeto (ANO 5) devemos</p><p>acrescentar às receitas o valor residual de todos os bens de capital do projeto</p><p>que fazem parte do investimento.</p><p>Determinados os fluxos de caixa do projeto, o passo seguinte consiste em</p><p>calcular a viabilidade econômico-financeira, a fim de ser possível tomar a decisão</p><p>de aceitação ou rejeição do investimento (Ende; Reisdorfer, 2015). Assim, em</p><p>outra ocasião, caro aluno(a), veremos que a partir dos fluxos líquidos de caixa é</p><p>possível calcular, por exemplo, o Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna</p><p>de Retorno (TIR) do projeto, sendo que os resultados destes cálculos</p><p>possibilitam realizar a avaliação e seleção entre alternativas.</p><p>TEMA 5 – ANÁLISES DE VIABILIDADE AMBIENTAL E SOCIAL</p><p>De modo geral, ao se analisar a viabilidade dos projetos agropecuários, a</p><p>dimensão mais comumente avaliada é, sem dúvidas, a econômica. Entretanto,</p><p>outros aspectos (sociais, ecológicos, culturais etc.) também podem ser</p><p>influenciados, em menor ou maior grau, quando da implantação destes projetos.</p><p>Devido às preocupações com o desenvolvimento ecológica e socialmente</p><p>sustentável, as análises de viabilidade ambiental e social estão se tornando cada</p><p>vez mais importantes nos projetos agropecuários. Tais análises buscam</p><p>identificar e prever o impacto de uma ação no meio ambiente, na saúde e no</p><p>bem-estar do homem. Para tanto, elas devem ser baseadas na compreensão</p><p>dos efeitos físicos e biológicos, bem como as implicações sociais do projeto.</p><p>5.1 Análise de viabilidade ambiental</p><p>Conforme Dufumier (2010), a adoção de tecnologias agropecuárias</p><p>propostas nos projetos agropecuários pode ter efeitos positivos ou negativos</p><p>sobre o meio ambiente ecológico e social das populações rurais e urbanas,</p><p>sendo importante evidenciá-los com clareza no projeto, indicando, sobretudo, as</p><p>17</p><p>consequências que poderiam vir a ser irreversíveis. No que se refere aos efeitos</p><p>no ambiente ecológico, podem ocorrer:</p><p>• poluição do ar e da água;</p><p>• erosão e sedimentação do solo;</p><p>• contaminação do solo e água por resíduos de herbicidas ou pesticidas;</p><p>• efeitos no funcionamento da biosfera a longo prazo, mudanças climáticas</p><p>potenciais etc.; e</p><p>• efeitos na biodiversidade.</p><p>Assim, ao se escolherem as técnicas agropecuárias, deve-se cuidar para</p><p>que sejam preservadas as potencialidades produtivas dos ecossistemas no</p><p>longo prazo, devendo-se privilegiar as técnicas mais adequadas para preservar</p><p>ou aumentar a fertilidade mineral e orgânica dos solos, garantindo a sua proteção</p><p>contra os agentes de erosão, facilitando a recomposição dos lençóis freáticos,</p><p>evitando a proliferação de numerosos parasitas, doenças e ervas invasoras etc.</p><p>(Dufumier, 2010). Nesse contexto, a análise de viabilidade ambiental deve</p><p>demonstrar que essas preocupações estão previstas e justificadas, de modo que</p><p>se possam vislumbrar os riscos e as ações pertinentes a essas temáticas</p><p>(Oliveira, 2010).</p><p>Para tanto, no estudo de viabilidade ambiental, deve-se analisar as</p><p>seguintes situações (Dufumier, 2010):</p><p>• mudanças gerais da paisagem agrária – desmatamento e</p><p>desflorestamento, aparecimento de campos abertos, ampliação ou</p><p>redução dos espaços nas pequenas matas, modificações intempestivas</p><p>do curso dos rios, construção progressiva de terraços etc.;</p><p>• provável desaparecimento de certas espécies ou variedades vegetais,</p><p>devido à sua progressiva eliminação em favor de novos cultivares;</p><p>• possível proliferação de novas ervas invasoras e de novas doenças</p><p>fitopatogênicas, devido à criação de ecossistemas simplificados, mais</p><p>favoráveis à sua disseminação;</p><p>• modificações previsíveis da fauna silvestre e doméstica – erosão genética</p><p>decorrente das novas modalidades de seleção, proliferação de parasitas,</p><p>entre outras;</p><p>• evolução da fertilidade geral dos solos, que pode resultar do emprego de</p><p>matérias orgânicas e adubos químicos, dos fenômenos de compactação</p><p>18</p><p>ou de destorroamento, da mineralização do húmus, da lixiviação e da</p><p>eventual salinização pelas águas de irrigação, da erosão eólia ou pluvial,</p><p>dos efeitos dos tratamentos químicos sobre a fauna bacteriana etc.;</p><p>• mudanças de microclimas decorrentes das modificações no revestimento</p><p>florístico – redução ou acréscimo do sombreamento e da higrometria,</p><p>aceleração ou desaceleração dos ventos de superfície, aumento ou</p><p>diminuição da evapotranspiração potencial etc.; e</p><p>• melhoramento ou deterioração do regime e da qualidade das águas de</p><p>superfície e dos lençóis freáticos – poluições eventuais, riscos de</p><p>inundação ou de hidromorfia etc.</p><p>5.2 Análise de viabilidade social</p><p>Além dos efeitos no ambiente ecológico, Dufumier (2010) considera que,</p><p>nos projetos agropecuários, deve-se também evidenciar a importância relativa</p><p>dos melhoramentos ou dos danos causados pelas modificações das atividades</p><p>agropecuárias para a qualidade de vida e o bem-estar das populações. Dessa</p><p>maneira, conforme o autor, as análises de viabilidade desses projetos devem</p><p>examinar também as implicações sociais dos investimentos propostos, sob a</p><p>ótica de que a sua implantação não deve comprometer a dinâmica sociocultural</p><p>estabelecida internamente à propriedade rural e sua relação com o entorno.</p><p>Nesse contexto, na análise de viabilidade social é importante expor os</p><p>elementos sociais que estão sendo levados em conta na proposta do projeto,</p><p>tais como: emprego da mão de obra familiar; criação (ou extinção) de</p><p>oportunidades de emprego, que está intimamente ligada, embora não seja a</p><p>mesma, com a questão da distribuição de renda; divisão do trabalho no que se</p><p>refere ao gênero; atenção às atividades associativas e comunitárias; ações de</p><p>responsabilidade social e de convivência com a vizinhança e com a comunidade;</p><p>e ações consequentes com a dimensão religiosa etc. (Oliveira, 2010).</p><p>Para Oliveira (2010), um produto que esteja associado a, por exemplo,</p><p>exploração de mão de obra, degradação ambiental, maus tratos de animais e</p><p>contaminação por agrotóxicos tem menores chances de inserção em um</p><p>mercado cada vez mais atento a essas questões. Por outro lado, um produto</p><p>pode ter valor agregado na medida em que esteja associado a preocupações</p><p>com o meio ambiente e às questões sociais.</p><p>19</p><p>Tais situações reforçam a importância das análises de viabilidade</p><p>ambiental e social dos projetos agropecuários, devendo os efeitos sobre essas</p><p>esferas serem objeto de rigorosas avaliações (Dufumier, 2010). Todavia, o autor</p><p>reconhece que essas avaliações geralmente são feitas de modo parcial, em</p><p>razão da extrema complexidade dos fenômenos que devem ser levados em</p><p>consideração para um longo período, bem como das dificuldades para o cálculo</p><p>monetário das suas consequências.</p><p>20</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios.</p><p>Rio de Janeiro: Campus, 2001.</p><p>DUFUMIER, M. Projetos de desenvolvimento agrícola: manual para</p><p>especialistas. 2. ed. Salvador: EDUFBA, 2010. 326 p.</p><p>ECHEVERRIA, B. Elaboração de projetos agropecuários. São Paulo: Veras,</p><p>1981. 211 p.</p><p>ENDE, M. V.; REISDORFER, V. K. Elaboração e análise de projetos. Santa</p><p>Maria: Universidade Federal de Santa Maria, Colégio Politécnico, Rede e-Tec</p><p>Brasil, 2015. 103 p.</p><p>FERRAZ, E. Swot: a melhor ferramenta para analisar sua empresa.</p><p>Comunidade Sebrae, 7 nov. 2018. Disponível em:</p><p><https://clubesebrae.com.br/blog/a-melhor-ferramenta-para-analisar-sua-</p><p>empresa>. Acesso em: 22 jul. 2021.</p><p>FRANCO, J. Elaboração e análise de projetos. Maringá: Cesumar, 2012. 197</p><p>p.</p><p>GUIMARÃES, V. A. Projetos de Investimento. Disciplina de Projetos</p><p>Agropecuários. Curitiba: UFPR, abr. 2002. (Apostila).</p><p>GIASSON, E. et al. Planejamento integrado de uso da terra: uma disciplina</p><p>integradora no ensino da agronomia na UFRGS. Revista Brasileira de Ciências</p><p>do Solo, Viçosa, v. 29, n. 6, p. 995-1003, 2005.</p><p>KICHEL, A. N. et al. Diagnóstico para o planejamento da propriedade. Campo</p><p>Grande: Embrapa Gado de Corte, 2011. 38 p. (Documentos / Embrapa Gado de</p><p>Corte; 182).</p><p>NORONHA, J. F. Projetos agropecuários: administração financeira, orçamento</p><p>e viabilidade econômica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1987. 269 p.</p><p>OLIVEIRA, V. L. Elaboração e avaliação de projetos para a agricultura. Porto</p><p>Alegre: Editora da UFRGS, 2010. 80 p.</p><p>PAIVA, I. V. L. Análise da viabilidade econômica e ambiental para a criação</p><p>de uma usina de reciclagem de resíduos da construção civil em uma</p><p>abordagem simbiótica:</p><p>um estudo para a região metropolitana de Natal. 2016.</p><p>21</p><p>155 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Centro de</p><p>Tecnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.</p><p>SERRA, F.; TORRES, M. C.; TORRES, A. Administração estratégica:</p><p>conceitos, roteiro prático e casos. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores,</p><p>2002.</p><p>SILVA, R. A. G. Administração rural: teoria e prática. 2. ed. Curitiba: Juruá,</p><p>2011.</p><p>SOBESTIANSKY, J. et al. Suinocultura intensiva: produção, manejo e saúde</p><p>do rebanho. Brasília: Embrapa-SPI; Concórdia: Embrapa-CNPSa, 1998. 388 p.</p><p>WOILER, S.; MATHIAS, W. F. Projetos: planejamento, elaboração, análise. 2.</p><p>ed. São Paulo: Atlas, 2008.</p>