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<p>1</p><p>31</p><p>O</p><p>2</p><p>31</p><p>Olá, futuros advogados e futuras advogadas estrategistas que estão se preparando para a OAB!</p><p>No presente "Livrão" vamos resumir os mais importantes temas de Direito Internacional para a sua prova!</p><p>Fizemos esse material especialmente para seus estudos pontuais e de reta final, assim você já conhece a</p><p>nossa metodologia e os nossos materiais que estão aqui para fazer você conquistar a tão esperada</p><p>carteirinha vermelha!</p><p>Temos o material mais completo possível para a sua preparação. Além de livros digitais completos,</p><p>videoaulas, questões anteriores da FGV comentadas, trilhas de estudos com planos de estudo, resumos,</p><p>mapas mentais, maratonas de questões, de apostas e de temas atuais, tudo com foco no que costuma cair</p><p>na prova, com os assuntos preferidos da FGV!</p><p>Fico à disposição se tiver alguma dúvida e estou desde já torcendo pela sua aprovação!</p><p>Profa. Vanessa Brito Arns</p><p>@vanessa.arns</p><p>3</p><p>31</p><p>DIREITO INTERNACIONAL</p><p>Introdução</p><p>Desde o início das navegações, na chamada era das descobertas, a humanidade tem um histórico de</p><p>contínuo movimento e mudança. A possibilidade de vários agrupamentos humanos por diferentes regiões e</p><p>comunidade, bem como a possibilidade de viajar e estabelecer relações comerciais com diferentes povos</p><p>através dos tempos estabeleceu uma coexistência entre diferentes povos.</p><p>Com isso, o Direito vai deixando de regular questões exclusivamente internas para também disciplinar</p><p>atividades que transcendem os limites físicos dos Estados, criando um conjunto de normas próprias para</p><p>lidar com diferentes comunidades ao redor do globo.</p><p>Segundo Mazzuoli,</p><p>Esse sistema de normas jurídicas (dinâmico por excelência) que visa disciplinar e</p><p>regulamentar as atividades exteriores da sociedade dos Estados (e também, atualmente,</p><p>das organizações interestatais e dos próprios indivíduos) é o que se chama de Direito</p><p>Internacional Público ou Direito das Gentes.</p><p>Para o autor, o Direito Internacional Público</p><p>(...) disciplina e rege prioritariamente a sociedade internacional, formada por Estados e</p><p>organizações internacionais interestatais, com reflexos voltados também para a atuação</p><p>dos indivíduos no plano internacional.</p><p>É importante relembrar a obra do grande mestre do Direito Internacional Público, Professor Fernando</p><p>Rezel, que nos lembra que “no plano interno, a autoridade superior e o braço forte do Estado</p><p>garantem a vigência da ordem jurídica, subordinando compulsoriamente as proposições minoritárias</p><p>à vontade da maioria, e fazendo valer, para todos, tanto o acervo legislativo quanto as situações e</p><p>atos jurídicos que, mesmo no âmbito privado, se produzem na sua conformidade. No plano</p><p>internacional não existe autoridade superior nem milícia permanente. “</p><p>“Os Estados se organizam horizontalmente, e dispõem-se a proceder de acordo com</p><p>normas jurídicas na exata medida em que estas tenham constituído objeto de seu</p><p>consentimento. A criação das normas é, assim, obra direta de seus destinatários.”</p><p>Enquanto no direito interno temos normas hierarquizadas como uma pirâmide (de Kelsen, no caso do</p><p>direito interacional público, partimos da não intervenção nos assuntos domésticos de outro Estado.</p><p>Encontramos, no Direito Interno, uma lógica de subordinação entre o Estado e os indivíduos,</p><p>enquanto no Direito Internacional a palavra de ordem é a coordenação entre soberanias.</p><p>Vamos listar as principais características do Direito Internacional?</p><p>4</p><p>31</p><p>1. Sujeitos e Atores de Direito Internacional Público</p><p>Segundo a teoria clássica (positivista e restritiva), baseado na chamada corrente estatal, somente os Estados</p><p>podem ser sujeitos do Direito Internacional, de modo que apenas eles são capazes de contrair direitos e</p><p>obrigações estabelecidos pela ordem jurídica internacional.</p><p>Hoje em dia, no entanto, temos a noção de que os sujeitos de direito internacional são os Estados e as</p><p>Organizações Internacionais. Para Varella,</p><p>Sujeitos de direito são aqueles capazes de ser titulares de direitos e obrigações. No direito</p><p>internacional, ainda centrado no Estado, apenas os Estados e Organizações Internacionais</p><p>(formadas por Estados) têm essa capacidade. (Grifos Nossos)</p><p>No entanto, é perceptível a atribuição de alguns direitos a indivíduos, como a capacidade postulatória em</p><p>tribunais internacionais para a proteção de direitos humanos; a empresas, em órgãos internacionais de</p><p>solução de controvérsias sobre investimentos; ou a organizações não governamentais, em diferentes</p><p>instâncias. A teoria diverge sobre a natureza jurídica dessa participação. Alguns autores defendem que se</p><p>trata de um direito atribuído pelos Estados e que, portanto, haveria novos titulares de direito. Outros</p><p>consideram que se trata de um direito do Estado, exercido na prática por terceiros e, portanto, o Estado</p><p>continuaria sendo o único titular.</p><p>C</p><p>ar</p><p>ac</p><p>te</p><p>rí</p><p>st</p><p>ic</p><p>as</p><p>d</p><p>e</p><p>D</p><p>ir</p><p>ei</p><p>to</p><p>In</p><p>te</p><p>rn</p><p>ac</p><p>io</p><p>n</p><p>al</p><p>P</p><p>ú</p><p>b</p><p>lic</p><p>o</p><p>a) Cooperação - inexistência de subordinação</p><p>b) Horizontalidade - normas sem hierarquia entre si, sem norma</p><p>fundamental.</p><p>c) Voluntariedade - inexistência de atos jurídicos unilaterais obrigatórios,</p><p>conservando-se a soberania.</p><p>5</p><p>31</p><p>É importante destacar que apesar da possível postulação em tribunais internacionais por indivíduos, APENAS</p><p>ESTADOS E ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS PODEM ASSINAR TRATADOS INTERNACIONAIS.</p><p>2. Teorias de Direito Internacional Público</p><p>De acordo com Rezel, para os autores dualistas — dentre os quais se destacaram no século passado Carl</p><p>Heinrich Triepel, na Alemanha, e Dionisio Anzilotti, na Itália —, o direito internacional e o direito interno de</p><p>cada Estado são sistemas rigorosamente independentes e distintos, de tal modo que a validade jurídica</p><p>de uma norma interna não se condiciona à sua sintonia com a ordem internacional.</p><p>Para os adeptos da corrente dualista, o Direito interno de cada Estado e o Direito Internacional são dois</p><p>sistemas independentes e distintos, ou seja, constituem círculos que não se interceptam (meramente</p><p>contíguos), embora sejam igualmente válidos.</p><p>De acordo com Mazzuoli,</p><p>As fontes e normas do Direito Internacional (notadamente os tratados) não têm, para os</p><p>dualistas, qualquer influência sobre questões relativas ao âmbito do Direito interno e vice-</p><p>versa, de sorte que entre ambos os ordenamentos jamais poderia haver conflitos. Segundo</p><p>essa construção, sendo o Direito Internacional e o Direito interno dois sistemas de normas</p><p>diferentes, independentes um do outro, que não se tocam por nenhum meio, impossível</p><p>seria a existência de qualquer antinomia entre eles.</p><p>Isso significa que os dualistas acreditam que quando um Estado assume um compromisso exterior, o está</p><p>aceitando tão somente como fonte do Direito Internacional, sem qualquer impacto ou repercussão no seu</p><p>cenário normativo interno. Para que isto ocorra, ou seja, para que um compromisso internacionalmente</p><p>assumido passe a ter valor jurídico no âmbito do Direito interno, é necessário que o Direito Internacional</p><p>seja “transformado” em norma interna, o que se dá pelo processo conhecido como adoção ou</p><p>transformação. Assim, o primado normativo, para os dualistas, é da lei interna de cada Estado, e, não, do</p><p>Direito Internacional.</p><p>Os autores monistas, para Rezek, dividiram-se em duas correntes:</p><p>1. Uma sustenta a unicidade da ordem jurídica sob o primado do direito internacional, a que</p><p>se ajustariam todas as ordens internas.</p><p>2. Outra apregoa o primado do direito nacional de cada Estado soberano, sob cuja ótica a</p><p>adoção dos preceitos do direito internacional aparece como uma faculdade discricionária.</p><p>O monismo internacionalista teve em Hans Kelsen seu expoente maior, enquanto a vertente nacionalista</p><p>encontrou adeptos avulsos na França e na Alemanha, além de haver transparecido com bastante nitidez,</p><p>entre os anos vinte e os anos oitenta, na obra dos autores soviéticos.</p><p>6</p><p>31</p><p>Fontes</p><p>De acordo com o art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça (CIJ), de 1920, são fontes do Direito</p><p>Internacional: as convenções internacionais, os costumes internacionais e os princípios gerais do Direito.</p><p>Temos que a doutrina e a jurisprudência são meios auxiliares, não constituindo fontes em sentido técnico.</p><p>Vejamos o art. 38 do Estatuto da CIJ:</p><p>"1. A Corte, cuja função seja decidir conforme o direito internacional as controvérsias que</p><p>sejam submetidas, deverão aplicar:</p><p>2. As convenções internacionais, sejam gerais ou particulares, que estabeleçam regras</p><p>expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;</p><p>3. O costume internacional como prova de uma prática geralmente aceita como direito;</p><p>4. Os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas;</p><p>5. As decisões judiciais e as doutrinas dos publicitários de maior competência das</p><p>diversas nações, como meio auxiliar (…)</p><p>6. A presente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um litígio ex</p><p>aequo et bono, se convier às partes".</p><p>Trata-se de um rol exemplificativo. Além disso, não há hierarquia entre as fontes, ou seja, o art. 38 não traz</p><p>uma ordem sucessória ou hierárquica. Dessa forma, um costume internacional pode derrogar tratado,</p><p>bem como tratado pode derrogar um costume.</p><p>Temos, ainda, as chamadas "novas fontes do Direito Internacional Público", como inovações no âmbito do</p><p>direito das gentes:</p><p>Analogia e equidade: Analogia é a aplicação a determinada situação de fato de uma norma jurídica feita</p><p>para ser aplicada a um caso semelhante; já a equidade é utilizada em casos em que a norma não existe.</p><p>Segundo o art. 38, § 2º, do Estatuto da CIJ – a aplicação da equidade (ex aequo et bono) pela CIJ depende</p><p>de anuência expressa dos Estados envolvidos em um litígio.</p><p>Atos unilaterais dos Estados: consistem em manifestação de vontade unilateral e inequívoca, formulada</p><p>com a intenção de produzir efeitos jurídicos, para conhecimento dos demais integrantes da sociedade</p><p>internacional.</p><p>Decisões das organizações internacionais (OI): atos emanados por organizações de acordo com a condição</p><p>de sujeitos de direito internacional.</p><p>Princípios</p><p>Os princípios gerais mais importantes de direito internacional que dão organicidade e lógica ao sistema</p><p>jurídico são, de acordo com Varella:</p><p>a) igualdade soberana;</p><p>7</p><p>31</p><p>b) autonomia, não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados;</p><p>c) interdição do recurso à força e solução pacífica de controvérsias;</p><p>d) respeito aos direitos humanos;</p><p>e) cooperação internacional.</p><p>O princípio da igualdade soberana (ou soberania) significa que todos os Estados são iguais perante o direito</p><p>internacional. Um exemplo dessa igualdade acontece na Assembleia Geral da ONU, em que cada um dos</p><p>países membros têm direito a voto, independente do número de habitantes, de seu território ou mesmo de</p><p>sua riqueza interna. O mesmo acontece com os tratados internacionais: cada país normalmente têm direito</p><p>a uma assinatura ou um voto por questão discutida.</p><p>O princípio da autonomia significa que o Estado pode determinar e regular seus assuntos internos como</p><p>bem entender. Está ligado ao princípio da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados, que</p><p>determina a não interferência nos demais Estados. Enquanto o primeiro princípio tem como referencial o</p><p>próprio Estado, o segundo tem como referencial os outros Estados. Segundo Varella,</p><p>“a não ingerência não significa ausência de influência política e econômica, pois os Estados</p><p>são interdependentes em diferentes níveis: econômico, cultural, político, social, uma</p><p>característica que apenas se aprofunda com o processo de globalização. Esses princípios</p><p>garantem ao Estado a liberdade de escolha de seu próprio destino.”</p><p>Os princípios da interdição do recurso à força e da solução pacífica de controvérsias, intimamente</p><p>relacionados, significam que os sujeitos de direito internacional devem procurar resolver suas diferenças</p><p>pelos instrumentos pacíficos existentes, como a própria diplomacia.</p><p>O uso da força apenas pode ser empregado licitamente em casos de legítima defesa ou de</p><p>segurança coletiva, conforme previsto na própria Carta da Organização das Nações Unidas</p><p>(ONU).</p><p>O princípio do respeito aos direitos humanos significa que todos os Estados devem buscar a proteção dos</p><p>direitos humanos, bem como observar as chamadas normas jus cogens da Declaração Universal de Direitos</p><p>Humanos.</p><p>Os art.º 53º e 64º da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados definem que as normas jus cogens</p><p>são as normas imperativas de Direito Internacional geral, consideradas como tais pela comunidade</p><p>internacional dos Estados em seu conjunto, e às quais nenhuma derrogação é possível:</p><p>8</p><p>31</p><p>A norma do jus cogens é aquela norma imperativa de Direito Internacional geral, aceita e</p><p>reconhecida pela sociedade internacional em sua totalidade, como uma norma cuja</p><p>derrogação é proibida e só pode sofrer modificação por meio de outra norma da mesma</p><p>natureza.</p><p>Um exemplo reconhecido de "jus cogens" é a Declaração Universal dos Direitos Humanos</p><p>da ONU de 1948, que apesar de não ser uma norma formalmente cogente, já que não é</p><p>um tratado, possui obrigatoriedade material, uma vez que foi votada na assembleia geral</p><p>das nações unidas.</p><p>O princípio da cooperação internacional significa que os Estados devem cooperar entre si, buscando</p><p>objetivos comuns. Justifica a ação em harmonia de forma a evitar conflitos e a buscar soluções</p><p>compartilhadas.</p><p>9</p><p>31</p><p>Tratados Internacionais</p><p>Internacional Público. Eles trazem segurança e estabilidade às relações internacionais e representam a</p><p>vontade livre e conjugada dos Estados e das organizações internacionais, sem a qual não subsistiriam.</p><p>Conforme Mazzuoli,</p><p>"além de serem elaborados com a participação direta dos Estados, de forma democrática,</p><p>os tratados internacionais trazem consigo a especial força normativa de regularem</p><p>matérias das mais variadas e das mais importantes. Além disso, os tratados internacionais</p><p>dão maior segurança aos Estados no que respeita à existência e interpretação da norma</p><p>• Significa que todos os Estados são iguais perante o direito internacional (ex. um voto</p><p>por estado na Assembleia Geral da ONU, Estados são iguais entre si na assinatura de</p><p>um tratado, independente de tamanho do território, população, etc.)</p><p>Igualdade Soberana</p><p>• O princípio da autonomia significa que o Estado pode determinar e regular seus</p><p>assuntos internos como bem entender. Está ligado ao princípio da não ingerência nos</p><p>assuntos internos dos outros Estados, que determina a não interferência nos demais</p><p>Estados.</p><p>Autonomia, não ingerência em assuntos internos</p><p>• Os princípios da interdição do recurso à força e da solução pacífica de controvérsias,</p><p>intimamente relacionados, significam que os sujeitos de direito internacional devem</p><p>procurar resolver suas diferenças pelos instrumentos pacíficos existentes, como a</p><p>própria diplomacia.</p><p>Solução Pacífica de Controvérsias</p><p>• Significa que todos os Estados devem buscar a proteção dos direitos humanos, bem</p><p>como observar as chamadas normas jus cogens da Declaração Universal de Direitos</p><p>Humanos.</p><p>Respeito aos Direitos Humanos</p><p>• O princípio da cooperação internacional significa que os Estados devem cooperar</p><p>entre si, buscando objetivos comuns. Justifica a ação em harmonia de forma a evitar</p><p>conflitos e a buscar soluções compartilhadas .</p><p>Cooperação Internacional</p><p>10</p><p>31</p><p>jurídica internacional; ou seja, são a fonte do Direito Internacional mais direta, clara e fácil</p><p>de comprovar.</p><p>Como fontes do Direito Internacional geral merecem destaque os tratados multilaterais, concluídos por</p><p>grande número de Estados para</p><p>1. Declarar o seu entendimento sobre determinado Direito vigente,</p><p>2. Regulamentar para o futuro e de maneira nova sua conduta, ou ainda</p><p>3. Criar uma organização internacional.</p><p>Os tratados internacionais são superiores às leis internas:</p><p>eles revogam as normas</p><p>domésticas anteriores que lhes sejam contrárias e devem ser observados pelas que lhes</p><p>sobrevenham. Todas as leis posteriores – diz claramente Accioly – não devem estar em</p><p>contradição com as regras ou princípios estabelecidos pelos tratados; e, finalmente,</p><p>qualquer lei interna que com eles se relacionem deve ser interpretada, tanto quanto</p><p>possível, de acordo com o direito convencional anterior.</p><p>Ao estudo da teoria dos tratados dá-se o nome de Direito dos Tratados,</p><p>que regula:</p><p>a) a forma como negociam os Estados ou as organizações internacionais;</p><p>b) quais os órgãos encarregados de tal negociação;</p><p>c) como se adota o texto convencional;</p><p>d) qual a forma de assegurar a autenticidade do texto;</p><p>e) como os contratantes expressam seu consentimento em obrigar-se pelo acordo; f) como se dá a</p><p>entrada em vigor (ou aplicação provisória) de um tratado;</p><p>g) como se incorpora ao direito local o tratado;</p><p>h) quais os vícios capazes de anular o consentimento ou nulificar um tratado;</p><p>i) quais os efeitos que o compromisso produz sobre as partes ou sobre terceiros; e</p><p>j) como se extinguem os atos internacionais.</p><p>A Convenção de Viena sobre direito dos tratados, assinada em 1969, internacionalmente em vigor desde</p><p>1980, é uma das mais importantes normas do direito internacional em que as regras costumeiras sobre</p><p>tratados foram reunidas em um tratado.</p><p>De acordo com Accioly, essa é uma evidência adicional da primazia do costume como fonte do direito</p><p>internacional: as codificações bem-sucedidas normalmente o são, por refletirem adequadamente o que já</p><p>era aceito como expressão da juridicidade, no plano internacional. A codificação exprimiria o que</p><p>consuetudinariamente já era considerado legalmente válido.</p><p>11</p><p>31</p><p>Segundo as definições da Convenção de Viena de 1969:</p><p>1. Para os fins da presente Convenção:</p><p>a)“tratado” significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e</p><p>regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou</p><p>mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica;</p><p>b)“ratificação”, “aceitação”, “aprovação” e “adesão” significam, conforme o</p><p>caso, o ato internacional assim denominado pelo qual um Estado estabelece no plano</p><p>internacional o seu consentimento em obrigar-se por um tratado;</p><p>c)“plenos poderes” significa um documento expedido pela autoridade competente de</p><p>um Estado e pelo qual são designadas uma ou várias pessoas para representar o Estado na</p><p>negociação, adoção ou autenticação do texto de um tratado, para manifestar o</p><p>consentimento do Estado em obrigar-se por um tratado ou para praticar qualquer outro</p><p>ato relativo a um tratado;</p><p>d)“reserva” significa uma declaração unilateral, qualquer que seja a sua redação ou</p><p>denominação, feita por um Estado ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou</p><p>a ele aderir, com o objetivo de excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições</p><p>do tratado em sua aplicação a esse Estado;</p><p>e)“Estado negociador” significa um Estado que participou na elaboração e na adoção do</p><p>texto do tratado;</p><p>f)“Estado contratante” significa um Estado que consentiu em se obrigar pelo tratado,</p><p>tenha ou não o tratado entrado em vigor;</p><p>g)“parte” significa um Estado que consentiu em se obrigar pelo tratado e em relação ao</p><p>qual este esteja em vigor;</p><p>h)“terceiro Estado” significa um Estado que não é parte no tratado;</p><p>i)“organização internacional” significa uma organização intergovernamental.</p><p>2. As disposições do parágrafo 1 relativas às expressões empregadas na presente</p><p>Convenção não prejudicam o emprego dessas expressões, nem os significados que lhes</p><p>possam ser dados na legislação interna de qualquer Estado.</p><p>É importante destacar que a Convenções de Viena sobre direito dos tratados de 1986 estipulou claramente</p><p>que os tratados não precisam ser somente entre Estados, mas podem ser também entre Estados e</p><p>Organizações Internacionais.</p><p>Condição de Validade de um Tratado.</p><p>Para que um tratado seja considerado válido, é necessário que as partes (estados ou organizações</p><p>internacionais):</p><p>a) Tenham capacidade para tal</p><p>12</p><p>31</p><p>b) que os agentes estejam habilitados</p><p>c) que haja consentimento mútuo</p><p>d) e que o objeto do tratado seja lícito e possível</p><p>Conforme destacamos sobre a Convenção de Viena sobre direito dos tratados que está em destaque na</p><p>sessão "Jurisprudência" da aula de hoje, veremos que ela, em seu artigo 26, prevê que “todo tratado em</p><p>vigor obriga as partes e deve ser cumprido de boa-fé”.</p><p>O artigo 27, aduz que “uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno, para justificar o</p><p>inadimplemento de um tratado”, sem prejuízo do disposto no artigo 46.</p><p>A primazia do direito internacional, punha-se como construção jurisprudencial (em 1928), se estipula</p><p>como direito internacional positivo, na Convenção de Viena sobre direito dos tratados (1969). Nesta se</p><p>exclui a possibilidade de qualquer estado se eximir de cumprir obrigação internacional, alegando disposições</p><p>de seu direito interno.</p><p>Os tratados internacionais são considerados pela doutrina como a mais importante fonte do direito</p><p>internacional. Ao contrário dos costumes, eles conferem maior segurança jurídica e estabilidade às relações</p><p>internacionais. Quando dois ou mais Estados se comprometem definitivamente a cumprir um tratado, fica</p><p>bem fácil concluir que a ele estarão juridicamente vinculados.</p><p>Segundo a Convenção de Viena de 1969, tratado é um “acordo internacional concluído</p><p>por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um</p><p>instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua</p><p>denominação específica”</p><p>Com base essa definição, poderíamos ser levados a crer que apenas os Estados podem celebrar tratados</p><p>internacionais. No entanto, atualmente, já é possível também que as organizações internacionais celebrem</p><p>tratados internacionais.</p><p>Tr</p><p>at</p><p>ad</p><p>o</p><p>s</p><p>In</p><p>te</p><p>rn</p><p>ac</p><p>io</p><p>n</p><p>ai</p><p>s</p><p>Acordo celebrado por escrito</p><p>Capacidade contratante dos Estados e das organizações internacionais</p><p>Acordo regido pelo direito internacional</p><p>Concluído em instrumento único ou em dois ou mais instrumentos</p><p>específicos</p><p>Inexistência de denominação específica</p><p>13</p><p>31</p><p>1. Conceitos Relacionados aos Direitos dos Tratados</p><p>Ratificação</p><p>A ratificação é o ato unilateral de um Estado por meio do qual ele se compromete definitivamente, no plano</p><p>internacional a vincular-se ao texto de um tratado.</p><p>Aceitação ou Adesão</p><p>A adesão e a aceitação são sinônimos e se referem aos atos internacionais por meio dos quais um Estado</p><p>que não participou das negociações, tampouco assinou o tratado, se vincula definitivamente a este.</p><p>Aprovação</p><p>Aprovação é um termo que, na prática jurídica brasileira, se refere ao ato por meio do qual o Congresso</p><p>Nacional autoriza que o Presidente da República proceda à ratificação de um tratado. Quanto a esse ponto,</p><p>destaque-se que, no Brasil, os tratados somente poderão ser ratificados após a aprovação do Congresso</p><p>Nacional.</p><p>Reservas</p><p>Nas palavras de Rezek, as reservas são um qualificativo do consentimento. Consistem em declaração</p><p>unilateral por meio da qual um Estado visa excluir ou modificar os efeitos jurídicos de certas disposições</p><p>do tratado em sua aplicação a esse Estado.</p><p>Denúncia</p><p>Denúncia é um ato unilateral por meio do qual um Estado manifesta sua vontade em desvincular-se de um</p><p>tratado internacional.</p><p>2. A Processualística Dos Tratados Internacionais</p><p>As fases de aprovação de um tratado internacional no Brasil são as seguintes:</p><p>Conceitos</p><p>Ratificação</p><p>Aceitação</p><p>Adesão</p><p>Aprovação</p><p>Reservas</p><p>Denúncia</p><p>14</p><p>31</p><p>Imunidade de Jurisdição</p><p>A Imunidade de Jurisdição é a impossibilidade de certos atores internacionais (países, seus órgãos e</p><p>autoridades, bem como as organizações internacionais) serem submetidos a julgamento por outros Estados.</p><p>Esta imunidade</p><p>também impede que seus bens sejam de alguma forma penhorados ou submetidos a</p><p>quaisquer outras medidas por parte de autoridades dos Estados onde se encontram ou onde atuam.</p><p>A Imunidade de jurisdição garante a proteção das pessoas naturais e jurídicas que atuam nas relações</p><p>internacionais e que precisam exercer suas funções sem constrangimentos ou submissão, além de ser uma</p><p>limitação direta da soberania. Esse tema é normalmente regulado por NORMAS COSTUMEIRAS.</p><p>As Convenções de Viena sobre relações diplomáticas (1961) e consulares (1963), promulgadas no Brasil pelos</p><p>Decretos 56.435/1965 e 61.078/1967, estabelecem prerrogativas e imunidades às pessoas e bens indicados</p><p>nas convenções.</p><p>1. Visões sobre Imunidade de Jurisdição</p><p>Visão Clássica</p><p>O Prinípio Par in parem non habet judicium/imperium, que diz que “iguais não podem julgar iguais” ou "</p><p>"equals have no sovereignty over each other")”, imperava na visão clássica sobre Imunidade de Jurisdição,</p><p>em que o Estado estrangeiro gozava de imunidade absoluta de jurisdição.</p><p>Nesse caso, o Estado estrangeiro só poderia ser julgado por outro Estado se renunciasse a própria imunidade</p><p>e aceitasse a jurisdição. O Judiciário, se encontrasse algum caso envolvendo Estado estrangeiro, deveria se</p><p>declarar incompetente.</p><p>Visão Moderna</p><p>Hoje em dia, tem-se que nos casos do ato de império, no exercício de sua soberania, os Estados Estrangeiros</p><p>ainda gozam de imunidade estatal. Já nos chamados atos de gestão, o Estado estrangeiro não goza mais de</p><p>imunidade, conforme a jurisprudência atual.</p><p>Negociações Adoção do Texto Assinatura</p><p>Autorização pelo</p><p>Congresso</p><p>Nacional</p><p>Ratificação PublicaçãoPromulgação</p><p>15</p><p>31</p><p>São os atos que o Estado pratica como se fosse um particular. Não têm relação direta com sua soberania.</p><p>Ex.: aquisição de bens, atos de natureza comercial, civil ou trabalhista, que envolvam responsabilidade civil.</p><p>2. Imunidade das Organizações Internacionais</p><p>Diferente dos Estados, as Organizações Internacionais possuem Imunidade de Jurisdição Absoluta, em todos</p><p>os aspectos, incluindo aí a imunidade de jurisdição em matéria de direito do trabalho, segundo o próprio</p><p>Tribunal Superior do Trabalho, por meio da Orientação Jurisprudencial n. 4161: estabelece que as</p><p>organizações internacionais sejam dotadas de imunidade absoluta de jurisdição.</p><p>3. Imunidade de Jurisdição e a Justiça do Trabalho</p><p>O artigo 114 da Constituição estabelece que a competência da Justiça do Trabalho também abrange os entes</p><p>de Direito Público externo, isto é, os entes de Direito Internacional Público.</p><p>Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:</p><p>I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da</p><p>administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;</p><p>Logo, se a demanda é oriunda da relação de trabalho, mesmo figurando ente de Direito Público externo na</p><p>relação processual, compete à Justiça do Trabalho a solução do conflito. É importante destacar que esta é</p><p>uma regra de competência, não disciplinando a imunidade de jurisdição.</p><p>A imunidade de jurisdição surge como questão posterior à definição da competência.</p><p>"Portanto, se o conflito decorre da relação de trabalho mantida com o ente de Direito Internacional Público,</p><p>a ação deve ser ajuizada perante a Justiça do Trabalho, competindo, na solução da controvérsia, decidir,</p><p>entre outras matérias, a respeito da imunidade de jurisdição."1</p><p>A jurisprudência, inclusive do Supremo Tribunal Federal, tem entendido que a imunidade de jurisdição não</p><p>se aplica em questões trabalhistas, ao menos no processo (ou fase) de conhecimento, acompanhando a</p><p>evolução da legislação estrangeira e da doutrina.</p><p>4. Jurisprudência</p><p>Info. 538 do STJ: ESTADOS ESTRANGEIROS GOZAM DE IMUNIDADE TRIBUTÁRIA E DE</p><p>INVIOLABILIDADE FÍSICA DO IMÓVEL QUE ABRIGA A MISSÃO CONSULAR. ESTADO</p><p>ESTRANGEIRO ESTÁ ISENTO DO PAGAMENTO DE IPTU INCIDENTE SOBRE O IMÓVEL QUE</p><p>ABRIGA MISSÃO CONSULAR NO BRASIL. CONTUDO, ESSA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA NÃO</p><p>ALCANÇA AS TAXAS REFERENTES A SERVIÇOS ESPECÍFICOS PRESTADOS PELO PODER</p><p>PÚBLICO LOCAL. ASSIM, POR EXEMPLO, O MUNICÍPIO NÃO PODE COBRAR IPTU DE ESTADO</p><p>ESTRANGEIRO, MAS PODE COBRAR TAXA DE COLETA DOMICILIAR DE LIXO.</p><p>1 Disponível em https://www.conjur.com.br/2014-jun-14/gustavo-garcia-imunidade-jurisdicao-decorre-norma-costumeira</p><p>https://www.conjur.com.br/2014-jun-14/gustavo-garcia-imunidade-jurisdicao-decorre-norma-costumeira</p><p>16</p><p>31</p><p>Atenção: TRIBUTOS INDIRETOS TAMBÉM NÃO GOZAM DE IMUNIDADE TRIBUTÁRIA.</p><p>Organizações Internacionais</p><p>1. Introdução</p><p>Uma das grandes tendências evolutivas do Direito Internacional do pós-Segunda Guerra Mundial é a</p><p>institucionalização, que se caracteriza pelo fato de que deixa de regular apenas as relações interestatais,</p><p>tornando-se mais presente nas organizações internacionais.2</p><p>A complexidade das relações internacionais advinda da globalização gerou nos Estados a percepção de que</p><p>há problemas comuns da humanidade, os quais não podem ser resolvidos por nenhum deles</p><p>isoladamente. Segundo Accioly, as organizações internacionais multiplicam-se à medida que aumenta a</p><p>conscientização a respeito dos problemas especificamente internacionais. Tais problemas, por não poderem</p><p>ser enfrentados por um só Estado, exigem a cooperação internacional</p><p>Embora as primeiras organizações internacionais tenham surgido no século XIX, foi somente a partir da</p><p>segunda metade do século XX que estas começaram a proliferar. Atualmente, as Organizações Internacionais</p><p>são consideradas importantes sujeitos de direito internacional público e sua relevância no cenário</p><p>internacional cresce cada vez mais, fruto do aumento das relações internacionais e da cooperação entre os</p><p>Estados.</p><p>2. Conceito de Organização Internacional</p><p>A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 estabelece que as organizações internacionais</p><p>são organizações intergovernamentais.</p><p>Um conceito mais completo é apresentado por Valerio Mazzuoli, segundo o qual:</p><p>Organização internacional é uma “associação voluntária de Estados, criada por um</p><p>convênio constitutivo e com finalidades pré-determinadas, regida pelas normas do direito</p><p>internacional, dotada de personalidade jurídica distinta da dos seus membros, que se</p><p>realiza em organismo próprio, dotada de autonomia e especificidade, possuindo</p><p>ordenamento jurídico interno e órgãos auxiliares, por meio dos quais realiza os propósitos</p><p>comuns dos seus membros, mediante os poderes próprios que lhes são atribuídos por</p><p>estes.“</p><p>2 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010</p><p>17</p><p>31</p><p>3. Classificação das Organizações Internacionais</p><p>Segundo Francisco Rezek3, as organizações internacionais podem ser classificadas quanto ao seu alcance e</p><p>quanto ao seu domínio temático.</p><p>Quanto ao alcance, elas podem ser organizações internacionais de alcance universal ou organizações</p><p>internacionais de alcance regional.</p><p>Quanto ao domínio temático, podemos classificar as organizações internacionais em organizações de</p><p>vocação política ou organizações de vocação específica</p><p>4. Privilégio das Organizações Internacionais</p><p>As organizações internacionais possuem privilégios tanto no seu lugar de sede quanto no território de</p><p>outros Estados, sejam estes Estados-membros ou não.</p><p>Os representantes das organizações internacionais gozam de privilégios semelhantes àqueles concedidos</p><p>aos integrantes do corpo diplomático de um Estado.</p><p>Da mesma forma, as instalações e os bens móveis das organizações internacionais possuem a garantia de</p><p>inviolabilidade.</p><p>3 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008</p><p>O</p><p>rg</p><p>an</p><p>iz</p><p>aç</p><p>õ</p><p>es</p><p>In</p><p>te</p><p>rn</p><p>ac</p><p>io</p><p>n</p><p>ai</p><p>s</p><p>Associações Voluntárias dos Estados</p><p>Criadas por Convênio Constitutivo</p><p>Possuem personalidade jurídica distinta</p><p>da dos</p><p>seus membros</p><p>São Instituições Permanentes</p><p>18</p><p>31</p><p>Nacionalidade</p><p>1. Introdução</p><p>A nacionalidade é o vínculo jurídico-político entre o Estado soberano e o indivíduo, que torna este um</p><p>membro integrante da comunidade que constitui o Estado. Compete a cada Estado legislar sobre sua própria</p><p>nacionalidade, respeitando, é claro, os compromissos gerais e particulares aos quais tenha se obrigado.</p><p>A nacionalidade é um direito fundamental da pessoa humana, o que faz com que o direito internacional</p><p>dispense ao tema considerável atenção. Um dos princípios fundamentais em matéria de nacionalidade está</p><p>insculpido no art.15 da Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU1948).</p><p>Segundo o referido dispositivo, o Estado não pode arbitrariamente privar o indivíduo de sua nacionalidade,</p><p>nem do direito de mudar de nacionalidade. E ainda, o mais importante: todo indivíduo tem direito a uma</p><p>nacionalidade.</p><p>2. Atribuição de Nacionalidade</p><p>A atribuição de nacionalidade poderá ocorrer de forma originária ou de forma derivada. De maneira geral,</p><p>a nacionalidade originária resulta da consideração do lugar do nascimento (“jus soli”) e da nacionalidade dos</p><p>pais (“jus sanguinis”).</p><p>É possível, em alguns casos, que a manifestação de vontade seja elemento para a aquisição de nacionalidade,</p><p>mas mesmo esta se deve apoiar em fatos sociais que liguem o indivíduo ao Estado.</p><p>Quando há um conflito positivo entre os princípios do “jus soli” e “jus sanguinis”, ocorre o fenômeno da</p><p>polipatria. Em contrapartida, quando há um conflito negativo entre “jus soli” e “jus sanguinis”, ocorre a</p><p>ausência de nacionalidade – apatria. Vejamos um exemplo de cada uma dessas situações:</p><p>1) Polipatria: quando dois ou mais Estados reconhecem uma pessoa como seu nacional. Imagine que</p><p>um Estado X adota o critério jus sanguinis e outro Estado Y adota o critério jus soli. Aí nasce uma</p><p>criança no Estado Y, mas filha de nacionais do Estado X. O que acontece com essa criança? Torna-se</p><p>nacional dos dois Estados!</p><p>2) Apatria: quando uma pessoa não adquire a nacionalidade de nenhum Estado. Imagine que um</p><p>Estado X adote o critério jus sanguinis e outro Estado o critério jus soli. Aí nasce uma criança no</p><p>Estado X, mas filha de nacionais do Estado Y. Novamente, o que acontece com essa criança? Fica sem</p><p>nacionalidade alguma, tornando-se um apátrida, também chamado de heimatlos.</p><p>Segundo Portela, a apatria, apesar de ferir o direito humano à nacionalidade, ainda ocorre em vários casos,</p><p>seja em razão da perda arbitrária da nacionalidade (o que ocorre por motivos políticos) ou pela não-</p><p>incidência de nenhum critério de atribuição de nacionalidade.4</p><p>4 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2019</p><p>19</p><p>31</p><p>A nacionalidade derivada, por sua vez, é obtida mediante naturalização, que normalmente exige requisitos</p><p>como alguns anos de residência no país, domínio do idioma e outros mais, ou ainda em virtude de casamento</p><p>e a nacionalização em virtude de formação de novo Estado ou do desmembramento de outro Estado.</p><p>Condição Jurídica do Estrangeiro</p><p>1. Conceitos Gerais</p><p>É importante que tenhamos em mente que nenhum Estado é obrigado a admitir que estrangeiros entrem</p><p>em seu território, seja a título definitivo ou temporário. Isso é uma decisão discricionária, reconhecida como</p><p>tal pelo direito internacional.</p><p>Ocorre que, uma vez que um Estado permita que um estrangeiro ingresse em seu território, ele assume</p><p>deveres para com esse indivíduo, os quais variam segundo a natureza do ingresso.</p><p>Segundo Accioly5, os direitos que devem ser reconhecidos aos estrangeiros são:</p><p>1) Os direitos do homem ou individuais, isto é, a liberdade individual e a inviolabilidade da pessoa humana.</p><p>2) Os direitos civis e de família.</p><p>O reconhecimento dos direitos individuais aos estrangeiros está muito bem explicitado na Constituição</p><p>Federal de 1998, que no caput de seu art. 5º estabelece que todos são iguais perante a lei, garantindo-se ao</p><p>brasileiro e ao estrangeiro residente no Brasil os direitos fundamentais da pessoa humana.</p><p>Em virtude da universalidade dos direitos humanos, aos estrangeiros que estejam a título temporário no</p><p>Brasil também serão aplicáveis os direitos fundamentais.</p><p>Reforçando o entendimento de que os estrangeiros (residentes e não-residentes) são titulares de direitos</p><p>fundamentais, o art. 4º, da Lei da Migração, relacionou os direitos fundamentais concedidos aos imigrantes.</p><p>Art. 4o Ao migrante é garantida no território nacional, em condição de igualdade com os</p><p>nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à</p><p>propriedade, bem como são assegurados:</p><p>I - direitos e liberdades civis, sociais, culturais e econômicos;</p><p>II - direito à liberdade de circulação em território nacional;</p><p>III - direito à reunião familiar do migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus filhos,</p><p>familiares e dependentes;</p><p>5 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público, 17ª Ed. São</p><p>Paulo: Saraiva, 2009</p><p>20</p><p>31</p><p>IV - medidas de proteção a vítimas e testemunhas de crimes e de violações de direitos;</p><p>V - direito de transferir recursos decorrentes de sua renda e economias pessoais a outro</p><p>país, observada a legislação aplicável;</p><p>VI - direito de reunião para fins pacíficos;</p><p>VII - direito de associação, inclusive sindical, para fins lícitos;</p><p>VIII - acesso a serviços públicos de saúde e de assistência social e à previdência social, nos</p><p>termos da lei, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória;</p><p>IX - amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que comprovarem</p><p>insuficiência de recursos;</p><p>X - direito à educação pública, vedada a discriminação em razão da nacionalidade e da</p><p>condição migratória;</p><p>XI - garantia de cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e de aplicação</p><p>das normas de proteção ao trabalhador, sem discriminação em razão da nacionalidade e</p><p>da condição migratória;</p><p>XII - isenção das taxas de que trata esta Lei, mediante declaração de hipossuficiência</p><p>econômica, na forma de regulamento;</p><p>XIII - direito de acesso à informação e garantia de confidencialidade quanto aos dados</p><p>pessoais do migrante, nos termos da Lei no 12.527, de 18 de novembro de 2011; XIV -</p><p>direito a abertura de conta bancária;</p><p>XV - direito de sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo</p><p>enquanto pendente pedido de autorização de residência, de prorrogação de estada ou de</p><p>transformação de visto em autorização de residência; e</p><p>XVI - direito do imigrante de ser informado sobre as garantias que lhe são asseguradas para</p><p>fins de regularização migratória.</p><p>§ 1o Os direitos e as garantias previstos nesta Lei serão exercidos em observância ao</p><p>disposto na Constituição Federal, independentemente da situação migratória, observado</p><p>o disposto no § 4o deste artigo, e não excluem outros decorrentes de tratado de que o</p><p>Brasil seja parte.</p><p>A Lei da Migração concedeu aos migrantes, além dos direitos individuais, amplo rol de direitos sociais, como</p><p>a educação pública, acesso a serviços públicos de saúde e de assistência social, a previdência social e direitos</p><p>trabalhistas.</p><p>No RE 587.970/SP, o STF reconheceu que “os estrangeiros residentes no País são beneficiários da assistência</p><p>social prevista no art. 203, V, da Constituição Federal (CF), uma vez atendidos os requisitos constitucionais e</p><p>21</p><p>31</p><p>legais”.6 Nesse sentido, o benefício de prestação continuada (BFC) deverá ser concedido aos estrangeiros</p><p>residentes no País.</p><p>Competência Internacional</p><p>1. Aspectos Gerais</p><p>A competência internacional da autoridade judiciária brasileira é regulada pelos arts. 21 a 25, do Novo</p><p>Código de Processo Civil.</p><p>Nos arts. 21 e 22, do Novo CPC, são relacionados os casos de competência concorrente,</p><p>os quais destacam</p><p>situações que poderão ser apreciadas pela autoridade judiciária brasileira sem que seja afastada também</p><p>a competência da autoridade judiciária estrangeira.</p><p>Apenas nos casos de competência concorrente é que se poderá, após a devida homologação pelo STJ,</p><p>atribuir-se eficácia à sentença estrangeira.</p><p>Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que:</p><p>I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;</p><p>II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;</p><p>III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o</p><p>fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira</p><p>que nele tiver agência, filial ou sucursal.</p><p>O art. 21, inciso I dispõe que a autoridade judiciária brasileira será competente para apreciar uma lide</p><p>quando o réu, qualquer que seja sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil.</p><p>A nacionalidade do réu (brasileira ou estrangeira) é irrelevante; se o réu estiver domiciliado no Brasil, a</p><p>autoridade judiciária brasileira poderá apreciar a controvérsia sem, é claro, afastar a competência da</p><p>autoridade judiciária estrangeira. Destaque-se que reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica</p><p>estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal.</p><p>O art. 21, inciso II, por sua vez, dispõe que a autoridade judiciária brasileira será competente para apreciar</p><p>uma lide quando a obrigação tiver de ser cumprida no Brasil.</p><p>Assim, as obrigações exequíveis no Brasil, contratuais ou extracontratuais, poderão ser julgadas pela</p><p>autoridade judiciária nacional, sem prejuízo da submissão da lide à autoridade judiciária estrangeira.</p><p>O art. 21, inciso III trata da possibilidade de apreciação, pela autoridade judiciária brasileira, de ações que</p><p>tenham como fundamento fatos ocorridos ou de atos praticados no Brasil.</p><p>Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações:</p><p>22</p><p>31</p><p>I - de alimentos, quando:</p><p>o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;</p><p>o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento</p><p>de renda ou obtenção de benefícios econômicos;</p><p>II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou</p><p>residência no Brasil;</p><p>III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional</p><p>O art. 22, inciso I, nos mostra que a autoridade judiciária brasileira tem ampla competência nas ações de</p><p>alimentos.</p><p>Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento</p><p>da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato</p><p>internacional, arguida pelo réu na contestação.</p><p>É importante destacar que partes capazes podem escolher onde será resolvido o seu litígio, de acordo com</p><p>o art. 25.</p><p>Por último, e não menos importante, trazemos ao resumo o art. 25 do novo CPC, que você deve destacar</p><p>nos seus estudos sobre competência:</p><p>Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:</p><p>I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;</p><p>II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular</p><p>e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja</p><p>de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;</p><p>III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de</p><p>bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha</p><p>domicílio fora do território nacional.</p><p>Elementos de Conexão</p><p>1. Aspectos Gerais</p><p>Para que se possa determinar qual a norma (estrangeira ou nacional) aplicável a um caso concreto, é</p><p>fundamental entender a estrutura das normas de Direito Internacional Privado, que se apoiam em duas</p><p>partes: o objeto de conexão e o elemento de conexão.</p><p>23</p><p>31</p><p>O objeto de conexão diz respeito à matéria sobre a qual versa a norma (personalidade, direito de família,</p><p>obrigações). O elemento de conexão, por sua vez, é o fator que determina a sede jurídica de uma</p><p>determinada relação privada que transcende as fronteiras de um Estado (domicílio, nacionalidade, local de</p><p>celebração, local de execução). Vamos no presente resumo identificar quais os principais Elementos de</p><p>Conexão presentes na legislação brasileira.</p><p>1. Lex Domicilli</p><p>Um dos principais elementos de conexão previstos no ordenamento jurídico brasileiro é o domicílio. A lei do</p><p>domicílio (lex domicilli) é utilizada, fundamentalmente, como critério de solução de conflitos de leis no</p><p>espaço envolvendo o estatuto pessoal.</p><p>O art. 7º da LINDB é explícito nesse sentido, ao dispor que “a lei do país em que domiciliada a pessoa</p><p>determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de</p><p>família”.</p><p>A aplicação da lex domicilli na solução de conflitos de leis no espaço também fica evidenciada nas regras a</p><p>respeito do casamento.</p><p>Segundo o art. 7º, § 1º, “realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos</p><p>impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.”</p><p>No ordenamento jurídico brasileiro, não se admite, por exemplo, o casamento de uma pessoa que já é casada</p><p>(art. 1521, inciso VI, CC); se o casamento se realizar no Brasil, essa regra deverá ser observada, mesmo que</p><p>o casamento seja de estrangeiro cujo país de origem admite a bigamia ou poligamia.</p><p>Destaque-se que é plenamente possível que, no Brasil, ocorra casamento entre estrangeiros, que poderá</p><p>celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.</p><p>Também poderá ocorrer casamento de brasileiros no exterior, na forma do art. 18, da LINDB. A competência</p><p>para celebração do casamento será das autoridades consulares brasileiras; é o que se tem chamado de</p><p>“casamento diplomático” ou “casamento consular”.</p><p>Essa regra está prevista no art. 18, da LINDB, segundo o qual “tratando-se de brasileiros, são competentes</p><p>as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de Registro Civil e de</p><p>tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no</p><p>país da sede do Consulado”.</p><p>O regime de bens (legal ou convencional) e os casos de invalidade do matrimônio obedecerão à lei do país</p><p>em que os nubentes tiverem domicílio. Caso o domicílio dos nubentes seja diverso, será aplicável a lei do</p><p>primeiro domicílio conjugal.</p><p>Também se aplica a lex domicilli à sucessão por morte e à capacidade para suceder.</p><p>Segundo o art. 10, da LINDB, “a sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que</p><p>domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens”. A</p><p>capacidade para suceder é regulada pela lei do domicílio do herdeiro ou do legatário.</p><p>24</p><p>31</p><p>2. Lex rei sitae</p><p>O critério “lei rei sitae” leva em consideração a lei do local em que uma determinada coisa está situada.</p><p>Segundo o art. 8º, da LINDB, “para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se</p><p>à lei do país em que estiverem situados”. O estatuto dos bens é, dessa maneira, objeto da solução de</p><p>conflitos por meio da aplicação da lex rei sitae.</p><p>A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do</p><p>cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei</p><p>pessoal do de cujus. O conflito de leis, nesse caso, resolver-se-á pela aplicação da lei mais benéfica ao</p><p>cônjuge ou filhos brasileiros.</p><p>3. Lex loci comtractus/ Locus regit actum</p><p>No Brasil, o critério lex loci contractus é empregado para solucionar conflitos de leis no espaço que envolvam</p><p>contratos e obrigações em geral (contratuais e extracontratuais). Com base nesse critério, aplica-se</p><p>a norma</p><p>do local em que a obrigação tiver sido constituída.</p><p>A LINDB prevê, em seu art. 9º, que “para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que</p><p>se constituírem”. A obrigação reputa-se constituída, destaque-se, no lugar em que residir o proponente.</p><p>4. Contratos de trabalho</p><p>A atual jurisprudência do TST considera que aos contratos de trabalho executados no exterior será aplicada</p><p>a norma mais favorável ao trabalhador.</p><p>Esse é um entendimento recente, que resultou no cancelamento da Súmula TST nº 207, que estabelecia o</p><p>seguinte: “A relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no país da prestação de serviço e não por</p><p>aquelas do local da contratação”.</p><p>Aplicação do Direito Estrangeiro</p><p>1. Interpretação e Prova do Conteúdo do Direito Estrangeiro:</p><p>Em geral, o direito aplicável às relações jurídicas é o direito interno de cada Estado. No entanto, em</p><p>determinadas relações jurídicas com conexão internacional, é possível que as regras de Direito Internacional</p><p>Privado conduzam à aplicação do direito estrangeiro.</p><p>Quando um juiz aplica o direito interno, ele o faz de ofício, havendo presunção de que tem pleno</p><p>conhecimento do ordenamento jurídico pátrio. Todavia, quando se trata de aplicar o direito estrangeiro,</p><p>essa presunção não existe: o juiz pode não conhecer o direito estrangeiro.</p><p>Caso o juiz conheça a lei estrangeira, ele poderá aplicá-la de ofício. Se, por outro lado, não a conhecer, o juiz</p><p>poderá exigir a prova da existência e do conteúdo da norma estrangeira.</p><p>25</p><p>31</p><p>É exatamente isso o que prevê o art. 14, da LINDB, que dispõe que “não conhecendo a lei estrangeira, poderá</p><p>o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência”. Se o juiz assim o determinar, caberá à parte que</p><p>alega direito estrangeiro provar-lhe o teor e a vigência (art. 376, Novo CPC). Cabe destacar que, mesmo que</p><p>o juiz não o exija, a parte poderá trazer os seguintes elementos aos autos:</p><p>Ordem Pública:</p><p>As normas de Direito Internacional Privado permitem que, em algumas situações, seja</p><p>aplicado o direito estrangeiro em outro Estado. Entretanto, a aplicação do direito</p><p>estrangeiro poderá sofrer limitações.</p><p>No Brasil, o art. 17, da LINDB, estabelece que “as leis, atos e sentenças de outro país, bem</p><p>como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem</p><p>a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes”. Também não deverá ser</p><p>aplicado o direito estrangeiro quando houver fraude à lei.</p><p>Segundo Jacob Dolinger, a ordem pública representa a moral básica de uma nação. É claro</p><p>que esse é um conceito um tanto quanto vago, cabendo ao aplicador da lei definir, no caso</p><p>concreto, se algo fere ou não a ordem pública. Observe que o conceito de “ordem pública”</p><p>não é estanque; ao contrário, ele é dinâmico, variando no tempo e no lugar.</p><p>A ordem pública tem 3 (três) níveis de aplicação.</p><p>1. O primeiro nível se refere ao funcionamento da ordem pública no plano interno, impedindo que a</p><p>vontade das partes derrogue certas regras jurídicas. Como exemplo, no ordenamento jurídico</p><p>brasileiro, há regra que estabelece que será nula a cláusula do contrato de locação que impede a sua</p><p>renovação. Veja que a ordem pública limita a autonomia da vontade das partes nesse tipo de</p><p>contrato.</p><p>2. O segundo nível diz respeito à vedação de que sejam aplicadas leis estrangeiras no território do outro</p><p>Estado. Por exemplo, no Brasil não se admite a poligamia. Em consequência, alguém que já seja</p><p>casado não poderá contrair novo matrimônio aqui no Brasil. Isso seria incompatível com a ordem</p><p>pública. Anote-se que, segundo a doutrina, para que a norma estrangeira seja afastada, ela deverá</p><p>ser manifestamente incompatível com a ordem pública.</p><p>3. Por último, o terceiro nível de aplicação da ordem pública versa sobre o reconhecimento de direitos</p><p>adquiridos no exterior.</p><p>Fraude à Lei:</p><p>A fraude à lei é outra hipótese em que se restringe a aplicação do direito estrangeiro no</p><p>Brasil. Ela fica caracterizada “quando o agente, artificiosamente, altera o elemento de</p><p>conexão que indicaria a lei aplicável. 2 O objetivo é fugir à aplicação da norma de um</p><p>Estado, por entender que a norma do outro Estado lhe é mais favorável, o que configura</p><p>verdadeiro abuso de direito.</p><p>Reenvio:</p><p>26</p><p>31</p><p>As regras de Direito Internacional Privado determinam qual o direito (nacional ou estrangeiro) que será</p><p>aplicado a uma determinada relação jurídica. Nesse processo de determinação do direito aplicável, podem</p><p>ocorrer algumas situações inusitadas.</p><p>Suponha que uma empresa do Estado A celebre um contrato com uma empresa do Estado</p><p>B. As regras de direito internacional privado do Estado A determinam que àquele contrato</p><p>será aplicada a lei do Estado B. Porém, a lei do Estado B determina que ao contrato será</p><p>aplicada a lei do Estado</p><p>Esse é o fenômeno do reenvio, que consiste em verdadeiro conflito negativo entre sistemas de solução de</p><p>conflitos.</p><p>Há vários graus de reenvio. No exemplo apresentado acima, falamos de um reenvio de 1º grau, que envolve</p><p>2 (dois) Estados. As regras de Direito Internacional Privado do Estado A determinaram a aplicação do direito</p><p>do Estado B e este, por sua vez, impôs a aplicação do direito do Estado A.</p><p>O reenvio de 2º grau envolve a participação de 3 (três) Estados. Nele, as regras de Direito Internacional</p><p>Privado do Estado A determinam a aplicação do direito do Estado B que, por sua vez, impõem a aplicação do</p><p>ordenamento jurídico do Estado C.</p><p>No Brasil, não se admite o reenvio. É o que se conclui a partir da leitura do art. 16, da LINDB,</p><p>segundo a qual, “quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei</p><p>estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por</p><p>ela feita a outra lei”. Em outras palavras, quando a lei brasileira manda aplicar o direito</p><p>estrangeiro, é este mesmo que deverá ser aplicado; não será considerada qualquer</p><p>remissão que o direito estrangeiro faça a outra lei.</p><p>Prova de Fatos Ocorridos no Exterior:</p><p>Nas relações jurídicas com conexão internacional submetidas à apreciação do Poder Judiciário, há uma série</p><p>de fatos ocorridos no exterior que devem ser provados em um processo. Segundo o art. 13, da LINDB, “a</p><p>prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios</p><p>de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça”.</p><p>Com base nesse dispositivo, é possível verificar que:</p><p>a) O ônus da prova e os meios de produzir as provas de fatos ocorridos no exterior são regidos pela lei</p><p>do país estrangeiro.</p><p>b) Não são admitidas pelos tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça. Por exemplo,</p><p>uma gravação telefônica submetida a cláusula de sigilo é considerada ilícita e não será aceita pelo Poder</p><p>Judiciário brasileiro.</p><p>A pergunta que se faz, nesse momento, é a seguinte: é possível que uma sentença emanada de um tribunal</p><p>estrangeiro seja executada no Brasil?</p><p>27</p><p>31</p><p>Sim, é plenamente possível. Para que possa ser executada, a sentença estrangeira precisará, no entanto,</p><p>ser homologada pelo STJ, na forma do art. 105, inciso I, da CF/88 que dispõe o seguinte:</p><p>Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:</p><p>I - processar e julgar, originariamente:</p><p>...</p><p>i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas</p><p>rogatórias.</p><p>Na homologação de sentença estrangeira, o STJ não aprecia o mérito da decisão, mas apenas aspectos</p><p>formais. É o que se chama de juízo de delibação do STJ. O art. 15, da LINDB, relaciona os requisitos a serem</p><p>observados na homologação de sentença estrangeira:</p><p>Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os</p><p>seguintes requisitos:</p><p>a) haver sido proferida por juiz competente;</p><p>b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;</p><p>c) ter passado em julgado</p><p>e estar revestida das formalidades necessárias para a execução</p><p>no lugar em que foi proferida;</p><p>d) estar traduzida por intérprete autorizado;</p><p>e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.</p><p>A competência do STJ para homologar sentença estrangeira não se limita às sentenças do Poder Judiciário.</p><p>O STJ também homologa sentenças arbitrais estrangeiras, assim consideradas aquelas proferidas fora do</p><p>território nacional. A atribuição de competência a um único órgão para realizar o juízo de delibação</p><p>caracteriza o modelo de delibação concentrada, adotado pelo Brasil.</p><p>Não se adota, em nosso país, o modelo de delibação difusa, que seria aquele em que os diversos órgãos do</p><p>Poder Judiciário teriam competência para realizar o juízo de delibação. Isso fica claro a partir do exame do</p><p>art. 961, do Novo CPC, que prevê que a decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a</p><p>homologação da sentença ou a concessão de exequatur às cartas rogatórias.</p><p>É importante ressaltar que as leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de</p><p>vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons</p><p>costumes. Nesses casos, não será realizada homologação pelo STJ</p><p>As cartas rogatórias são instrumentos de cooperação judiciária internacional, na medida</p><p>em que, por meio delas, o Poder Judiciário de um Estado solicita apoio ao Poder Judiciário</p><p>de outro ente estatal. Por meio de uma carta rogatória, busca-se auxílio para a produção</p><p>de provas, intimações e outros atos processuais.</p><p>A concessão de exequatur às cartas rogatórias é competência do Superior Tribunal de Justiça, nos termos do</p><p>art. 105, inciso I, alínea “i”, da CF/88.</p><p>28</p><p>31</p><p>Há dois tipos de cartas rogatórias:</p><p>i) rogatórias ativas (enviadas pela autoridade judiciária brasileira) e;</p><p>ii) rogatórias passivas (recebidas pela autoridade judiciária brasileira).</p><p>No Brasil, o exame da rogatória é feito mediante juízo de delibação, o que significa que o</p><p>STJ não analisa o mérito da diligência pretendida pela Justiça estrangeira, salvo para se</p><p>verificar o respeito à ordem pública, aos bons costumes e à soberania nacional.</p><p>Não será concedido o exequatur às cartas rogatórias que ofenderem a ordem pública, os bons costumes</p><p>e a soberania nacional. Um exemplo de carta rogatória que viola a soberania e a ordem pública é aquela</p><p>referente a processo de competência exclusiva dos tribunais brasileiros. Somente podem ser concedidas</p><p>cartas rogatórias quando a competência do Poder Judiciário for relativa ou concorrente.</p><p>Fala-se em juízo de delibação sumário diante da possibilidade de que a medida de carta rogatória seja</p><p>realizada sem ouvir a parte interessada, o que acontecerá quando a sua intimação puder resultar na</p><p>ineficácia da cooperação internacional. Também fica caracterizado o juízo de delibação sumário quando é</p><p>concedida tutela de urgência em procedimento de homologação de sentença estrangeira.</p><p>Arbitragem</p><p>A arbitragem é um meio extrajudicial de solução de controvérsias, bastante utilizado no âmbito do</p><p>comércio internacional. No Brasil, é regida pela Lei nº 9.307/96, que dispõe que as pessoas capazes de</p><p>contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.</p><p>Assim, a arbitragem pode ser utilizada tanto por pessoas físicas quanto por pessoas jurídicas; basta que a</p><p>pessoa tenha capacidade para contratar e os conflitos que a envolvam poderão ser objeto de solução por</p><p>meio da arbitragem.</p><p>A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes. Quando se fala em arbitragem de</p><p>direito, a referência que se faz é à aplicação de normas jurídicas pelo árbitro a um caso concreto com o</p><p>objetivo de decidir o litígio instaurado. Por outro lado, quando se trata de emprego da equidade, o objetivo</p><p>é a aplicação de considerações de justiça a um caso concreto; nesse caso, não se levará em conta regras</p><p>jurídicas pré-estabelecidas.</p><p>As partes poderão escolher livremente as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que</p><p>não haja violação aos bons costumes e à ordem pública. Trata-se de manifestação do princípio da autonomia</p><p>da vontade, segundo o qual as partes têm ampla liberdade para convencionar qual o direito material e</p><p>processual aplicável aos litígios que porventura surjam entre elas. Destaque-se que as partes também</p><p>poderão decidir que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes</p><p>e nas regras internacionais de comércio.</p><p>A instauração de um procedimento arbitral para solucionar um litígio poderá decorrer de uma “cláusula</p><p>compromissória” ou de um “compromisso arbitral”. A Lei nº 9.307/96, ao tratar do tema, denominou esses</p><p>dois institutos, genericamente, como convenção de arbitragem.</p><p>29</p><p>31</p><p>Quando uma determinada controvérsia é submetida à arbitragem, fica afastada a</p><p>competência do Poder Judiciário para apreciar a questão. Segundo o art. 485, do Novo</p><p>CPC, o juiz não resolverá o mérito quando acolher a alegação da existência de convenção</p><p>de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência. Assim, se um juiz</p><p>se deparar com cláusula compromissória ou com compromisso arbitral, ele deverá</p><p>simplesmente proferir sentença terminativa, sem resolução de mérito.</p><p>Competência</p><p>A competência internacional da autoridade judiciária brasileira é regulada pelos arts. 21 a 25, do Novo</p><p>Código de Processo Civil.</p><p>Nos arts. 21 e 22, do Novo CPC, são relacionados os casos de competência concorrente, os quais destacam</p><p>situações que poderão ser apreciadas pela autoridade judiciária brasileira sem que seja afastada também</p><p>a competência da autoridade judiciária estrangeira. Apenas nos casos decompetência concorrente é</p><p>que se poderá, após a devida homologação pelo STJ, atribuir-se eficácia à sentença estrangeira.</p><p>Vejamos quais são os casos de competência concorrente previstos pelo Novo CPC. Comecemos, primeiro,</p><p>com o art. 21, do Novo CPC:</p><p>Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que:</p><p>I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil</p><p>tiver de ser cumprida a obrigação;</p><p>III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.</p><p>Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a</p><p>pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal.</p><p>O art. 21, inciso I dispõe que a autoridade judiciária brasileira será competente para apreciar uma lide</p><p>quando o réu, qualquer que seja sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil. A nacionalidade do réu</p><p>(brasileira ou estrangeira) é irrelevante; se o réu estiver domiciliado no Brasil, a autoridade judiciária brasileira</p><p>poderá apreciar a controvérsia sem, é claro, afastar a competência da autoridade judiciária estrangeira.</p><p>Destaque-se que reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial</p><p>ou sucursal.</p><p>O art. 21, inciso II, por sua vez, dispõe que a autoridade judiciária brasileira será competente para apreciar</p><p>uma lide quando a obrigação tiver de ser cumprida no Brasil. Assim, as obrigações exequíveis no</p><p>Brasil, contratuais ou extracontratuais, poderão ser julgadas pela autoridade judiciária nacional, sem prejuízo</p><p>da submissão da lide à autoridade judiciária estrangeira.</p><p>Suponha, por exemplo, que seja celebrado um contrato entre uma empresa alemã e uma empresa brasileira</p><p>para que seja realizada uma obra de construção civil em território nacional. Considerando- se que a obrigação</p><p>(obra de construção civil) será concretizada no Brasil, a autoridade judiciária brasileira terá competência</p><p>para apreciar a questão, sem excluir a possibilidade de apreciação pela autoridade judiciária estrangeira.</p><p>30</p><p>31</p><p>O art. 21, inciso III trata da possibilidade de apreciação, pela autoridade judiciária brasileira, deações que</p><p>tenham</p><p>como fundamento fatos ocorridos ou de atos praticados no Brasil.</p><p>Um exemplo seria um acidente de automóvel ocorrido no Brasil envolvendo um alemão e um francês.</p><p>Qualquer um deles poderá acionar o outro perante a justiça brasileira para promover a reparação de</p><p>danos, uma vez que a ação terá derivado de fatos ocorridos no território brasileiro.</p><p>Agora, vejamos o art. 22, que também trata de matérias da competência concorrente.</p><p>Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações:</p><p>- de alimentos, quando:</p><p>o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;</p><p>o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento</p><p>de renda ou obtenção de benefícios econômicos;</p><p>- decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência</p><p>no Brasil;</p><p>- em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional.</p><p>O art. 22, inciso II, trata da competência da autoridade judiciária brasileira para julgar as ações</p><p>decorrentes de relações de consumo, desde que o consumidor tenha domicílio ou residência no Brasil.</p><p>Suponha, por exemplo, que um brasileiro faça compras pela Internet em uma loja de e- commerce</p><p>norte-americana. É possível que o Poder Judiciário brasileiro seja acionado em ação decorrente dessa</p><p>relação de consumo.</p><p>O art. 22, inciso III, ilustra a aplicação do princípio da autonomia da vontade. É possível que as partes</p><p>decidam se submeter à jurisdição brasileira. É o que se chama de foro de eleição.</p><p>Aqui, cabe uma observação importante.</p><p>Conforme exemplo do Professor Ricardo Vale:Suponha que uma empresa brasileira e uma empresa alemã</p><p>celebrem um contrato internacional. Nesse contrato, ambas concordam que qualquer controvérsia</p><p>envolvendo aquele contrato será submetida à Justiça alemã. Tem-se aí uma cláusula de eleição de foro</p><p>exclusivo estrangeiro. Essa cláusula afastará qualquer competência da autoridade judiciária brasileira para</p><p>apreciar lides em torno daquele contrato. É o que se depreende da leitura do art. 25, do Novo CPC.</p><p>Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento</p><p>da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato</p><p>internacional, arguida pelo réu na contestação.</p><p>Vamos falar, agora, sobre os casos de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira.</p><p>No art. 23, do Novo CPC, estão relacionados os casos de competência exclusiva. São situações em que fica</p><p>afastada por completo a competência da autoridade judiciária estrangeira; apenas a autoridade</p><p>judiciária brasileira poderá apreciar lides que envolvam as hipóteses relacionadas nesse dispositivo. Não há</p><p>31</p><p>31</p><p>que se falar em eficácia de sentença estrangeira que disponha sobre as questões afetas à competência</p><p>exclusiva da autoridade judiciária brasileira.</p><p>Vejamos quais são os casos de competência exclusiva, previstos no art. 23, do CPC:</p><p>Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:</p><p>- conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;</p><p>- em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e</p><p>ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança</p><p>seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;</p><p>- em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens</p><p>situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio</p><p>fora do território nacional.</p><p>O inciso I dispõe que a autoridade judiciária brasileira tem competência exclusiva para conhecer de ações</p><p>relativas a imóveis situados no Brasil. Suponha, por exemplo, que um alemão seja proprietário de um</p><p>imóvel situado aqui no Brasil e que isso seja questionado por um francês. O francês deverá entrar com</p><p>ação junto à autoridade judiciária brasileira, que tem competência exclusiva para apreciá-la. Caso o</p><p>francês ingresse com uma ação perante tribunal estrangeiro e este emita sua sentença, esta não será</p><p>homologada pelo STJ, por tratar-se a questão de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira.</p><p>O inciso II, por sua vez, prevê que a autoridade judiciária brasileira tem competência exclusiva para, em</p><p>matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e</p><p>à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou</p><p>tenha domicílio fora do território nacional.</p><p>O inciso III estabelece que a autoridade judiciária brasileira tem competência exclusiva para, em divórcio,</p><p>separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que</p><p>o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. É relevante</p><p>destacar, para que não se faça confusão, que o art. 23, inciso III, está definindo o foro ao qual a questão será</p><p>submetido; ele não está definindo qual direito material (nacional ou estrangeiro) será aplicável.</p>