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<p>E-Book</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>2</p><p>SUMÁRIO</p><p>UNIDADE I .................................................................................................................... 3</p><p>HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA ..................................................................................... 4</p><p>1.1 ORIGEM DA CIÊNCIA DA CRIMINOLOGIA ................................................................. 4</p><p>1.2 OBJETO DA CRIMINOLOGIA E SUAS RELAÇÕES COM AS DEMAIS CIÊNCIAS</p><p>CRIMINAIS ................................................................................................................. 7</p><p>1.3 FUNÇÕES, MÉTODOS E PERSPECTIVAS DA CRIMINOLOGIA ................................... 9</p><p>1.4 CRIMINOLOGIA GERAL E CLÍNICA ........................................................................ 11</p><p>1.5 AS CARACTERÍSTICAS DA CRIMINOLOGIA ........................................................... 12</p><p>UNIDADE II .................................................................................................................. 15</p><p>A CRIMINOLOGIA COMO CIÊNCIA ............................................................................... 16</p><p>2.1 CRIMINALIDADE FEMININA .................................................................................. 16</p><p>2.2 CRIMINALIDADE RACIAL ..................................................................................... 17</p><p>2.3 A CRIMINOLOGIA E O CONTROLE SOCIAL ............................................................ 18</p><p>2.4 O PENSAMENTO CRIMINOSO .............................................................................. 21</p><p>2.5 A NOVA CRIMINOLOGIA OU TEORIA CRÍTICA ....................................................... 23</p><p>UNIDADE III ................................................................................................................ 25</p><p>AS ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS ............................................................................... 26</p><p>3.1 ORIGEM DAS ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS ........................................................... 26</p><p>3.2 ESCOLA CLÁSSICA ............................................................................................ 28</p><p>3.3 ESCOLA POSITIVISTA ........................................................................................ 30</p><p>3.4 A ESCOLA SOCIOLÓGICA, ESCOLA CLÍNICA E ESCOLA CRÍTICA .......................... 35</p><p>3.5 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADAS NO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA ................... 38</p><p>UNIDADE IV ................................................................................................................ 41</p><p>FUNDAMENTOS DA VITIMOLOGIA NO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA ............................ 42</p><p>4.1 A CRIMINOLOGIA DO HOMICÍDIO E DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO .............. 42</p><p>4.2 A VISÃO CRIMINOLÓGICA DOS TOXICÔMANOS .................................................... 45</p><p>4.3 A VITIMOLOGIA E O ESTUDO CRIMINOLÓGICO ..................................................... 48</p><p>4.4 CRIMINOLOGIA E O CRIME ORGANIZADO ............................................................. 51</p><p>4.5 A CRIMINOLOGIA E A POLÍTICA CRIMINAL .......................................................... 53</p><p>REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 57</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>3</p><p>UNIDADE I</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>4</p><p>HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA</p><p>Na presente unidade iremos tratar sobre a criminologia de forma introdutória,</p><p>tratando de sua origem científica, seu objeto de estudo, suas delimitações e abordagens de</p><p>maneira a demonstrar a interdisciplinaridade necessária para o entendimento da</p><p>criminologia. Interdisciplinaridade que atrai métodos de estudos das mais diversas searas</p><p>científicas, tais como, sociológica, filosófica, psicológica, criminal e política. Faremos uma</p><p>breve explanação sobre as funções da criminologia para o entendimento como um fato</p><p>jurídico e social.</p><p>1.1 ORIGEM DA CIÊNCIA DA CRIMINOLOGIA</p><p>Etimologicamente, criminologia vem do latim crimino (crime) e do grego logos</p><p>(estudo, tratado), significando o “estudo do crime”, a criminologia “é a ciência que estuda os</p><p>crimes e os criminosos, isto é, a criminalidade”. A criminologia pode ser conceituada</p><p>também, como uma ciência empírica (baseada em observação e experiência) e uma</p><p>abordagem interdisciplinar do objeto de análise da conduta criminosa, caráter do</p><p>perpetrador e da vítima, assim a sociedade controla o crime. A natureza interdisciplinar da</p><p>criminologia decorre de sua própria integração.</p><p>Assim, podemos dizer que criminologia é área de estudos dos atos criminosos,</p><p>investigando as causas, os autores do delito, as vítimas e as possíveis formas de combate</p><p>à criminalidade. Esse campo do conhecimento tem caráter interdisciplinar. Afinal, muito de</p><p>seu conteúdo é emprestado de diferentes ramos, como a biologia, a psicologia, a</p><p>antropologia, a sociologia, a política, entre outras ciências.</p><p>Além disso, é uma ciência tida como empírica, por basear-se na experiência da</p><p>observação, nos fatos e na prática, mais do que em opiniões e argumentos. As pessoas que</p><p>trabalham e pesquisam na área são chamadas de criminologistas. Eles são responsáveis</p><p>por examinar padrões comportamentais de criminosos, realizar investigações, desenvolver</p><p>teorias e traçar estratégias para atenuar ou coibir atividades criminosas.</p><p>A história como ciência autônoma dada a sua</p><p>influência de longo alcance por várias outras</p><p>ciências, como a sociologia, psicologia, direito,</p><p>medicina legal, etc. Ao contrário da</p><p>criminologia, o campo de estudo em</p><p>criminologia é muito amplo. A criminologia</p><p>está amplamente preocupada com o crime em</p><p>si, e as interações entre crimes infratores,</p><p>vítimas, controles sociais e como esses</p><p>fatores irão interferir nas fiscalizações do</p><p>fenômeno do crime. Percebe-se que a violação</p><p>estará relacionada ao autor e a vítima do fato,</p><p>pois o crime não é o mesmo que controle</p><p>social.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>5</p><p>Ao longo do curso, nós mesmos, em diferentes períodos, a investigação do crime, as</p><p>vítimas do crime e a pesquisa sobre as vítimas mudaram ao longo dos anos. E de que forma</p><p>foram controladas? A socialização se apresentou como uma forma de combate. Portanto,</p><p>a criminologia não possui objeto de pesquisa próprio, pois o elemento por ela pesquisado</p><p>(autores, vítimas de crimes e diversos meios de controle social), também tem sido</p><p>percorrido por outros estudos científicos, como política criminal e o próprio direito penal.</p><p>De acordo com o entendimento de Sérgio Shecaira, extraído de sua obra intitulada</p><p>Criminologia, citado por Gonzaga:</p><p>Ocupa-se a criminologia do estudo do delito, do delinquente, da vítima e do controle</p><p>social do delito e, para tanto, lança mão de um objeto empírico e interdisciplinar.</p><p>Diferentemente do direito penal, a criminologia pretende conhecer a realidade para</p><p>explicá-la, enquanto aquela ciência valora, ordena e orienta a realidade, com o</p><p>apoio de uma série de critérios axiológicos. A criminologia aproxima-se do</p><p>fenômeno delitivo sem prejuízos, sem mediações, procurando obter uma</p><p>informação direta deste fenômeno. Já o direito limita interessadamente a</p><p>realidade criminal, mediante os princípios da fragmentariedade e seletividade,</p><p>observando a realidade sempre sob o prisma do modelo típico. Se à criminologia</p><p>interessa saber como é a realidade, para explicá-la e compreender o problema</p><p>criminal, bem como transformá-la, ao direito penal só lhe preocupa o crime</p><p>enquanto fato descrito na norma legal, para descobrir sua adequação típica</p><p>(SHECAIRA, 2008, p. 38 apud GONZAGA, 2020, p. 17-18).</p><p>No entanto, a principal diferença que a criminologia traz é que o método utilizado para</p><p>explicar esses elementos difere, marcadamente, do método atestado nos ensinamentos do</p><p>direito penal. Notavelmente, a maioria dos autores define a criminologia como uma ciência.</p><p>Embora esta não seja uma visão absoluta da doutrina, a maioria dos doutrinadores</p><p>acompanham</p><p>uma pena em si, esta apenas</p><p>deve preceder a condenação na exata medida em que a necessidade o exige.</p><p>Portanto, neste breve cenário, é possível dizer que, na fase pré-científica da</p><p>criminologia, antes da publicação da famosa obra lombrosiana “O homem delinquente”, que</p><p>costuma ser citada como a certidão de nascimento da criminologia empírica científica, já</p><p>existiam inúmeras teorias sobre a criminalidade.</p><p>Nesta etapa pré-científica, podia-se delinear dois enfoques criminológicos bem</p><p>distintos: o clássico (produto do ideário do Iluminismo, dos Reformadores e do Direito Penal</p><p>Clássico) e o empírico, que realizavam diversas investigações sobre o crime por especialistas</p><p>das mais diversas procedências, de forma fragmentada (fisionomistas, antropólogos,</p><p>psiquiatras, etc.).</p><p>Para os adeptos a esta teoria, o indivíduo que comete o delito tinha a tendência de ser</p><p>mal, praticar maldade, cometer crimes, pois acreditavam que o tal cometimento era de cunho</p><p>volitivo, ou seja, consciente, racional e realizado por meio de uma escolha: fazer ou não fazer</p><p>o mal. Entendendo que, quando o indivíduo cometeria o crime, este estava conscientemente</p><p>realizando por mero prazer, sim, de todo prejuízo causado a outrem, e não entendendo seu</p><p>cometimento como algo muito grave, assim era tendencioso a continuação do mesmo delito.</p><p>Fonte: Google</p><p>Uma grande perspectiva dos adeptos à escola clássica era o entendimento de que o</p><p>indivíduo já nascia com certas tendências, e que, no seu cometimento estava em plena</p><p>consciência do mal praticado, bem como da quebra de seu contrato social através da prática</p><p>de atos contrários aos regramentos sociais. Outrossim, Nestor Filho entende que a influência</p><p>do jusnaturalismo e do contratualismo, na época, levava ao entendimento de que o ser humano</p><p>era imutável, corroborando com a ideia de que o delinquente uma vez cometido delito, para</p><p>todo sempre tinha essa predisposição para o fazer.</p><p>3.3 ESCOLA POSITIVISTA</p><p>A chamada escola positiva surgiu na Europa, no início do século XIX, influenciado pelos</p><p>princípios desenvolvidos pelos fisiocratas no campo do pensamento e o Iluminismo do século</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>31</p><p>passado. Pode-se dizer que existem três decentes etapas: Antropologia (Lombroso),</p><p>Sociologia (Ferri) e Direito (Garófalo). Ao contrário dos clássicos, que utilizam o método</p><p>dedutivo, suas pesquisas são baseadas no método empírico, ou seja, na análise, observação e</p><p>indução dos fatos.</p><p>Na Escola Positiva, o crime é um fato humano, originário de fatores individuais,</p><p>físicos e morais. Outro importante estudioso para essa escola, foi Enrico Ferri, que deu</p><p>maior importância à prevenção, por meio dos métodos substitutivos penais, que</p><p>procurava modificar as condições sociais e econômicas de efeitos criminógenos.</p><p>Enrico classificou o criminoso em cinco categorias: o nato, o louco, o habitual, o</p><p>ocasional e o passional. E em complemento, Rafael Garófalo se preocupava em</p><p>dizer que o criminoso não é um ser normal, mas portador da anomalia do sentimento</p><p>moral, que a gênese da criminalidade era ativada pelo meio social. Mas ao retratar a</p><p>repressão, Garófalo se afasta da escola ao sustentar a pena capital para a eliminação</p><p>dos criminosos, já que essa escola se caracteriza pela defesa social (MORAES,</p><p>FRANCISCO E IGLESIAS, 2017, p. 28).</p><p>A escola positiva acredita que o crime é um fato do ser humano e da sociedade. Os</p><p>principais fatores por trás do surgimento da escola positivista são a ineficácia dos métodos</p><p>clássicos na redução da criminalidade; a valorização das metodologias positivistas; a</p><p>aplicação de novos métodos observacionais em estudos humanos; pesquisas estatísticas</p><p>conduzidas pelas ciências sociais e novas ideologias políticas voltadas para desempenhar um</p><p>papel ativo em permitir que o Estado alcance objetivos sociais.</p><p>Para muitos autores a determinação de que a criminologia como ciência realmente</p><p>nasceu ali. Afinal, foi nesse momento que a criminologia começou a usar abordagens</p><p>indutivas, empíricas e multidisciplinares.</p><p>Para os positivistas, o livre arbítrio é uma ilusão. Os criminosos são escravos do</p><p>determinismo biológico ou do determinismo social. No determinismo biológico, acredita-se</p><p>que as diferenças genéticas entre os indivíduos os tornam mais propensos ao crime, é uma</p><p>doença, pois as patologias levam os indivíduos a se tornarem criminosos. No determinismo</p><p>social, eles são características do meio social que levam ao crime individual. Em ambos os</p><p>casos, não há espaço para escolha pessoal. Nesta escola, as pessoas estão interessadas em</p><p>pesquisa sobre a causa do crime.</p><p>Ou seja, através do positivismo, ele começou a tentar entender a base para o</p><p>cometimento de um crime por uma pessoa. Isso é característico do pensamento positivista,</p><p>tomar medidas de segurança para fins terapêuticos (pessoa do delinquente) e proteção social</p><p>(sociedade como elemento coletivo).</p><p>Cesare Lombroso (1835/1909)</p><p>Fonte: Google</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>32</p><p>Sobre os precursores dessa ideologia, Andrade (1995, p. 25) afirma:</p><p>A primeira e célebre resposta sobre as causas do crime foi dada pelo médico italiano</p><p>Lombroso que sustenta, inicialmente, a tese do criminoso nato: a causa do crime é</p><p>identificada no próprio criminoso. Partindo do determinismo biológico (anatômico-</p><p>fisiológico) e psíquico do crime e valendo-se do método de investigação e análise</p><p>próprios das ciências naturais (observação e experimentação) procurou comprovar</p><p>sua hipótese através da confrontação de grupos não criminosos com criminosos dos</p><p>hospitais psiquiátricos e prisões sobretudo do sul da Itália, pesquisa na qual contou</p><p>com o auxílio de FERRI, quem sugeriu, inclusive, a denominação “criminoso nato”.</p><p>Procurou desta forma individualizar nos criminosos e doentes apenados anomalias</p><p>sobretudo anatômicas e fisiológicas vistas como constantes naturalísticas que</p><p>denunciavam, a seu ver, o tipo antropológico delinquente, uma espécie à parte do</p><p>gênero humano, predestinada, por seu tipo, a cometer crimes.</p><p>Como já exposto pelo autor acima citado, o precursor da escola positivista foi Lombroso,</p><p>em 1875 por meio do livro “L’uomo delinquente”, onde defende que o delinquente teria</p><p>predisposição genética, por meio de deformações ou anomalias anatômicas, fisiológicas ou</p><p>psicológicas, fazendo com que a característica física seja considerada fator determinante,</p><p>assim sendo o apogeu da teoria de Lombroso foi o “criminoso nato”. Por meio de uma de</p><p>pesquisa em mais de 300 cadáveres, o autor entendeu que os corpos de criminosos por ele</p><p>estudados tinham características similares, sendo elas: a assimetria craniana, a fronte</p><p>fugidia, as orelhas em asa, face ampla ou larga, sem a abundância de cabelos.</p><p>Desenhos dos tipos lombrosianos (Nestor Sampaio Penteado Filho, 2014).</p><p>Lombroso recebeu inúmeras críticas em relação ao seu estudo sobre o criminoso nato,</p><p>justamente pelo fato de que milhares de pessoas sofriam de epilepsia e jamais haviam</p><p>cometido qualquer crime. Os fenótipos descritos por ele em seus experimentos estavam</p><p>relacionados diretamente com a população mais pobre, que vivia à margem da sociedade na</p><p>época, porquanto, os experimentos e pesquisas realizados em sua maioria era em manicômios</p><p>e prisões, dessa forma, Sampaio (2014, p. 49) declara:</p><p>Registre-se, por oportuno, que suas pesquisas foram feitas na maioria em manicômios</p><p>e prisões, concluindo que o criminoso é um ser atávico, um ser que regride ao</p><p>primitivismo, um verdadeiro selvagem (ser bestial), que nasce criminoso, cuja</p><p>degeneração é causada pela epilepsia, que ataca seus centros nervosos. Estavam</p><p>fixadas as premissas básicas de sua teoria: atavismo, degeneração epilética e</p><p>delinquente nato, cujas características seriam: fronte fugidia, crânio assimétrico, cara</p><p>larga e chata, grandes maçãs no rosto, lábios finos, canhotismo (na maioria dos casos),</p><p>barba rala, olhar errante ou duro, etc.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>33</p><p>Para os adeptos da</p><p>corrente positivista, a ciência penal é resultado da vida em</p><p>coletividade, já que busca compreender o motivo pelo qual o indivíduo se torna um criminoso,</p><p>considerando os fatores internos e externos que colocaram o aludido indivíduo na exata</p><p>circunstância criminosa. Abaixo, alguns dos principais precursores da Escola Positivista de</p><p>Criminologia.</p><p>Entretanto, na evolução das obras de Cesare Lombroso, estas vieram com o viés de que</p><p>o cometimento do delito derivada de diversas circunstâncias, fatores que contribuem para o</p><p>cometimento do crime, permitindo a partir deste ponto ampliar a concepção das emoções</p><p>como possível fator determinante, tais como loucura, inveja, paixão, patologias, dentre</p><p>outros.</p><p>ESCOLA POSITIVA ITALIANA ESCOLA POSITIVA FRANCESA</p><p>• O indivíduo que cometia crimes já nascia com o</p><p>status de criminoso, devido as suas características</p><p>físicas (tamanho da testa, maxilar, dedos) e gene</p><p>hereditário.</p><p>• O crime surge como uma doença, diagnosticada por</p><p>Lombroso, médico defensor dessa teoria e que,</p><p>escreveu a obra "O criminoso nato"</p><p>ITÁLIA - CRIMINOSO NATO.</p><p>• Defendia que o indivíduo sofria influências</p><p>endógenas e exógenas.</p><p>• Nascia propenso a cometer um crime, mas só</p><p>cometeria se o meio influenciasse, Émile</p><p>Durkheim foi um motor para a concepção</p><p>dessa teoria</p><p>FRANÇA – MEIO AMBIENTE.</p><p>Escola</p><p>Positiva:</p><p>Princípios e</p><p>expoentes</p><p>Crime como</p><p>fenômeno</p><p>natural e</p><p>social</p><p>Cesare</p><p>Lombroso,</p><p>Enrico Ferri e</p><p>Rafael</p><p>Garófalo</p><p>Método</p><p>indutivo-</p><p>experimental</p><p>Pena como</p><p>instrumento</p><p>de defesa</p><p>social</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>34</p><p>Considerando que o positivismo criminológico foi um avanço no estudo científico o qual</p><p>ultrapassou a escola clássica que outrora entendia a criminologia com objeto para seu estudo</p><p>o próprio delito, que era estudado de forma genérica, pois entendia que seu acometimento se</p><p>originava em um ato de livre arbítrio. Ademais, à escola científica de Lombroso, Ferri e</p><p>Garofalo, passou a entender o crime como um fato que sofria interferências internas (por</p><p>patologias, anomalias, e características físicas), e externas (ambiente inserido, questões que</p><p>ultrapassam a vontade do próprio agente).</p><p>• Cesare Lombroso, autor de “O Homem Delinquente”, responsável pela corrente</p><p>antropológica do positivismo, é considerado o pai da Criminologia.</p><p>• Enrico Ferri, autor de “Sociologia Criminal”, responsável pela corrente sociológica do</p><p>positivismo, para o autor o Homem não conseguia tomar suas decisões com liberdade,</p><p>sempre sendo influenciado por fatores endógenos e exógenos à sua vontade, como</p><p>por exemplo, pelas condições econômicas e sociais que o cercavam, bem como, sua</p><p>própria condição física, psíquica e mental.</p><p>• Rafaelle Garofalo, autor de “Criminologia”, responsável pela corrente jurídica do</p><p>positivismo, para o autor a maior preocupação não era a correção (recuperação), mas</p><p>a incapacitação do delinquente (prevenção especial, sem objetivo ressocializador),</p><p>pois no decorrer dos seus estudos, Garofalo sempre enfatizou a necessidade de</p><p>eliminação do criminoso.</p><p>Lombroso estudava tipologias de criminosos reunindo as suas características. Assim,</p><p>existiriam diferentes espécies de criminosos, destacando-se:</p><p>a) Criminoso Nato: o indivíduo sofria influência biológica, possuía estigmas, instinto</p><p>criminoso. Era um ser selvagem da sociedade, o degenerado (cabeça pequena,</p><p>deformada, fronte fugidia, sobrancelhas salientes, maçãs afastadas, orelhas</p><p>malformadas, braços compridos, face enorme, tatuado, impulsivo, mentiroso e</p><p>falador de gírias, etc.).</p><p>b) Criminoso Louco: perversos, loucos morais, alienados mentais que devem</p><p>permanecer no hospício. Seriam, os criminosos loucos, indivíduos com capacidade de</p><p>compreensão prejudicada.</p><p>c) Criminoso de Ocasião: predisposto hereditariamente, são pseudo criminosos. Podem</p><p>ser traduzidos pela expressão: “a ocasião faz o ladrão”, pois assumem hábitos</p><p>criminosos influenciados pelas circunstâncias que vivem.</p><p>d) Criminoso por Paixão: sanguíneos, nervosos, irrefletidos, usam da violência para</p><p>solucionar questões passionais. São sujeitos exaltados.</p><p>Por meio do estudo científico da escola positivista é possível compreender que o</p><p>principal objeto do referido estudo é o criminoso, considerado uma pessoa doente ou</p><p>acometida por anomalias, características determinantes segundo a referida corrente</p><p>filosófica que entendia que estes estariam predispostos a cometimento de crimes. Assim,</p><p>como entende que a medida de segurança ou penalidade imposta, era entendida pela</p><p>finalidade curativa do criminoso uma vez baseado em sua periculosidade física.</p><p>Assim, igualmente a escola clássica que teve algumas vertentes de estudos, a escola</p><p>positivista também teve também a sua vertente, sendo os principais: a escola positiva de</p><p>Lombroso, que tinha como principal característica a de que o criminoso era de fato, um</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>35</p><p>criminoso nato, e noutra vertente, temos a escola positiva francesa que entende que o</p><p>indivíduo sofre questões externas, mesmo tendo nascido propenso ao cometimento do crime.</p><p>3.4 A ESCOLA SOCIOLÓGICA, ESCOLA CLÍNICA E ESCOLA CRÍTICA</p><p>A escola sociológica de criminologia, baseia seus estudos no meio ambiente a qual o</p><p>criminoso está inserido, buscando entender por que determinados fatores ambientais</p><p>acarretam maior probabilidade de um indivíduo tornar-se delinquente, exemplos destes</p><p>fatores são a pobreza, a falta de instrução, a falta de acompanhamento familiar bem como o</p><p>ambiente (sociedade comunitária) a qual convive.</p><p>Considera-se o precursor da referida escola, Émile Durkheim, o qual cunhou o termo</p><p>anomia para demonstrar que a sociedade, em determinadas circunstâncias, não funcionava</p><p>de forma homogênea. Assim, a Teoria da Anomia seria nada mais nada menos que, uma</p><p>quebra moral da coletividade do âmbito de convívio do indivíduo, colocando uma parte da</p><p>responsabilidade para o estado, uma vez que considera que a falha nas regras de conduta pode</p><p>levar uma sociedade a viver sem valores e limites ou até mesmo com estes valores e limites</p><p>mensurados de forma errônea.</p><p>A anomia é uma situação social onde falta coesão e ordem, especialmente no tocante</p><p>a normas e valores. Se as normas são definidas de forma ambígua, por exemplo, ou são</p><p>implementadas de maneira causal e arbitrária; se uma calamidade como a guerra</p><p>subverte o padrão habitual da vida social e cria uma situação em que normas aplicáveis</p><p>se tornam obscuras; ou se um sistema é organizado de tal forma que promove o</p><p>isolamento e a autonomia do indivíduo a ponto das pessoas se identificarem muito</p><p>mais com seus próprios interesses do que com os do grupo ou da comunidade como</p><p>um todo - o resultado poderá ser a anomia, ou falta de normas (BANDEIRA e</p><p>PORTUGAL, 2017, p. 62).</p><p>Cabe advertir que a presente escola Criminológica confere a importância da influência</p><p>do meio ambiente nas ações delituosas, concentrando seus estudos nas questões sociais, nas</p><p>problemáticas da sociedade e a partir daí o crime seria um produto das circunstâncias imposta</p><p>ao delinquente.</p><p>Outrossim, o crime é o desvio de condutas normais em qualquer estrutura social,</p><p>inexistindo organização isenta de tais fenômenos (o delito faz parte, enquanto</p><p>elemento funcional, da fisiologia e não da patologia da vida social, sendo negativo</p><p>apenas quando ultrapassados determinados limites. A negação da pesquisa das</p><p>causas do desvio nos fatores bioantropológicos e naturais (clima, raça), ou em</p><p>determinadas situações patológicas da estrutura social, permite o nascimento e</p><p>discursos novos, sem vinculação das concepções causal-determinista e,</p><p>consequentemente, dos seus efeitos deletérios aos sujeitos criminalizados (SILVA,</p><p>FURLAN).</p><p>Vale salientar que na teoria da anomia, temos o conflito de duas questões fundamentais</p><p>da sociedade, quais sejam: as metas culturais sociais (prosperidade financeira, de sucesso</p><p>pessoal e profissional, dentre outros), e os meios institucionalizados por onde o estado</p><p>promove como detentor</p><p>de todo um poder.</p><p>Segundo entendimento da aludida teoria, questões como a conformidade, a inovação, a</p><p>tradição, a evasão bem como a rebelião, são condutas inerente ao indivíduo acometido por um</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>36</p><p>meio ambiente corrompido, no qual aprender sua experiência pode haver sintomas de</p><p>dissociação cultural, ocasionando por meio da inconformidade um espírito de inovação de</p><p>vida, ou tomado por um sentimento de rebelião, evade das regras do sistema inserido.</p><p>Para Bandeira e Portugal (2017, p. 34):</p><p>LACASSAGNE reconhece que o homem delinquente tem mais anomalias corporais e</p><p>anímicas que o homem não delinquente, mas compreende que estas são produto do</p><p>meio social e, em todo caso, não explicam o crime em si sem que se compreenda</p><p>adequadamente o contexto. Em sua compreensão, não são estas anomalias que fazem</p><p>o delinquente, senão a relação de troca entre o sistema nervoso central do indivíduo e</p><p>o meio social que se traduz em imagens mais ou menos equilibradas do cérebro.</p><p>Por fim, cabe o entendimento que a escola sociológica utiliza da influência do meio</p><p>ambiente de convívio do indivíduo do criminoso ao cometimento do provável delito. Desta</p><p>forma um crime passa a ser compreendido como um fator de diferenciação de classes</p><p>econômicas, onde as classes mais baixas tendem a substituir normas impostas pelo estado</p><p>como forma de protesto por sua invisibilidade social.</p><p>Na contramão do anteriormente defendido, à escola clínica entende a criminologia como</p><p>uma ciência extremamente multidisciplinar tem como objetivo um mais profundo estudo dos</p><p>fatores internos e externos que levam o delinquente a cometer o ato criminoso, buscando</p><p>desta maneira criar possibilidades para a intervenção deste criminoso, à vista de lhe reabilitar</p><p>e reintegrar ao pleno convívio na sociedade.</p><p>Segundo Penteado Filho (2014, p. 64):</p><p>"Criminologia clínica é uma ciência interdisciplinar que visa analisar o comportamento</p><p>criminoso e estudar estratégias de intervenção junto ao encarcerado, às pessoas</p><p>envolvidas com ele e com a execução de sua pena. Busca conhecer o encarcerado</p><p>como pessoa, conhecer as aspirações e as verdadeiras motivações de sua conduta</p><p>criminosa".</p><p>Assim, a prevenção geral pode ser positiva ou negativa. A modalidade negativa</p><p>concentra esforços no caráter intimidatório da pena buscando desestimular a prática de</p><p>novos delitos no meio social. Ao não levar em conta a culpabilidade, mas apenas a intimidação</p><p>como norte do apenamento corre-se o risco de instituir penas severas, desproporcionais, e</p><p>lesivas à dignidade da pessoa humana.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>37</p><p>Para a criminologia clínica, a conduta criminosa tende a ser compreendida como conduta</p><p>anormal, desviada, como possível expressão de uma anomalia física ou psíquica, dentro de</p><p>uma concepção pré-determinista do comportamento, pelo que ocupa lugar de destaques o</p><p>diagnóstico de periculosidade. Importante registrar que seu objeto primordial é o exame</p><p>criminológico.</p><p>Já, quanto a Escola Crítica, é perceptível, portanto, que a presente análise sobre o</p><p>desenvolvimento dessa política insere-se no contexto do segmento da Criminologia crítica</p><p>que, tendo por base a análise do controle social exercido sobre as condutas, entende ser antes</p><p>em razão da maior probabilidade de serem etiquetados – do que propriamente por uma maior</p><p>propensão inata ao cometimento de crimes – que a classe mais pobre constituiria a maior parte</p><p>da “clientela” do sistema penal.</p><p>Para Bandeira e Portugal (2017, p. 50):</p><p>Aqui tem-se um ensaio crítico deste processo, no sentido de analisar que esta</p><p>distribuição de poder entre quem rotula e quem é rotulado irá refletir a dinâmica</p><p>econômica de um determinado grupo, se reconduzindo ao pensamento marxista que</p><p>vai diferenciar os detentores do capital do proletariado. Neste âmbito, insere-se o</p><p>conceito de seletividade penal, que acusa a ausência de neutralidade no processo de</p><p>tipificação de comportamentos (etiquetamento). Isso porque etiquetar uma</p><p>determinada conduta para que seja tratada como criminosa implica rotular e etiquetar</p><p>também indivíduos, ou seja, define-se contra quais indivíduos se exercerá o aparato</p><p>punitivo.</p><p>Também denominada como nova criminologia, a Criminologia Crítica como também</p><p>exposto na unidade 2 deste material, estuda a criminalidade como criminalização, explicada</p><p>por processos seletivos de construção social do comportamento criminoso e de sujeitos</p><p>criminalizados, como forma de garantir as desigualdades sociais entre a riqueza.</p><p>Isto posto, considera-se que o conflito social inerente a macro sociedade no que tange</p><p>à expectativa de vida e a ineficácia da promoção de oportunidades para a população mais</p><p>vulnerável por parte do Estado, leva os populares a distorcer a visão de realidade, passando a</p><p>admitir o cometimento de delitos para o alcance à sua maneira no cumprimento das</p><p>expectativas de vida imposta pela sociedade.</p><p>No momento que o indivíduo decide cometer um crime, entendemos o enfrentamento da</p><p>dicotomia citada acima (expectativa x oportunidade), mesmo em certas decisões judiciais</p><p>fundamentarem suas teses no tocante a tal dicotomia, tal alegação embora elucidativa, não</p><p>possui o condão de reconhecer ou excluir a culpa do Estado na vulnerabilidade, ou inércia da</p><p>promoção de oportunidade e segurança, exercendo o judiciário um juízo atenuante.</p><p>Nestes termos entende Penteado Filho (2014, 81), in verbis:</p><p>As teorias de consenso entendem que os objetivos da sociedade são atingidos quando</p><p>há o funcionamento perfeito de suas instituições, com os indivíduos convivendo e</p><p>compartilhando as metas sociais comuns, concordando com as regras de convívio.</p><p>Aqui os sistemas sociais dependem da voluntariedade de pessoas e instituições, que</p><p>dividem os mesmos valores. As teorias consensuais partem dos seguintes postulados:</p><p>toda sociedade é composta de elementos perenes, integrados, funcionais, estáveis,</p><p>que se baseiam no consenso entre seus integrantes.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>38</p><p>Outrossim, ao lidar com a culpa compartilhada, ele lida com a culpabilidade da</p><p>vulnerabilidade (indivíduos abandonados pelo Estado). Neste caso, o estado de abandono</p><p>responderá solidariamente pelos crimes cometidos por esses indivíduos, podendo gozar,</p><p>mitigar a pena. Aqui no Brasil existem penas atenuantes para o art. Artigo 66 do Código Penal</p><p>Brasileiro, in verbis: Art. 66. A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância</p><p>relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei.</p><p>Ou seja, a busca por entender como a má distribuição financeira econômica e reais</p><p>possibilidades afetam a quebra do sentido de pertencimento, acarretando por meio de uma</p><p>rebelião de sentimentos, a vontade de quebrar as regras impostas pelo estado. Questões por</p><p>racismo, corrupção, crimes de colarinho branco, trair a flor da pele das pessoas desprotegidas</p><p>pelo estado é uma sensação de revolta, e nessa perspectiva o crime se revela como ausência</p><p>de pertencimento de classe demonstrando esdrúxula falta de controle social efetivo,</p><p>acarretando o verdadeiro problema criminal social.</p><p>Por fim, quanto à escola crítica resta saber que seu objeto não é apenas o crime e o</p><p>criminoso, mas também todas as questões sociais e econômicas bem como fisiológicas a qual</p><p>possam caracterizar uma sociedade na qual vive o infrator.</p><p>3.5 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADAS NO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA</p><p>Métodos, técnicas, testes criminológicos e justiça são assuntos universais que afetam a</p><p>todos de alguma forma. Crime é um ato que viola uma lei ou código de conduta, e justiça é a</p><p>punição dada aos criminosos. Tanto o crime quanto a justiça têm inúmeras definições e</p><p>aspectos. A criminologia é uma ciência social que estuda o crime e a justiça de um ponto de</p><p>vista científico, usa métodos de pesquisa objetivos para analisar e explicar o comportamento</p><p>criminoso.</p><p>Nestes termos entende Penteado Filho (2014, p. 61), in verbis:</p><p>A pesquisa tende a usar não apenas técnicas qualitativas,</p><p>mas também quantitativas</p><p>ou extensivas. Porém, a visão multilateral e intensiva do objeto de pesquisa definido é</p><p>sempre dominante. A última estratégia denomina-se investigação-ação e consiste na</p><p>intervenção direta dos cientistas, que são chamados a participar em projetos de</p><p>intervenção. Os objetivos de aplicação mais direta dos conhecimentos produzidos</p><p>tornam essa lógica específica (criminólogos, estatísticos, policiais, promotores,</p><p>juízes, etc.). Nesse sentido, há uma técnica de investigação criminal, desenvolvida em</p><p>São Paulo, desde 1994, de autoria de Marco Antônio Desgualdo, denominada</p><p>“recognição visuográfica de local de crime”. Essa técnica de investigação criminal</p><p>proporciona a reconstrução da cena do crime por meio da reconstituição de seus</p><p>fragmentos e vestígios, levando o pesquisador criminal experiente (delegado de</p><p>polícia) a coletar elementos que possam construir um perfil criminológico do autor de</p><p>um delito.</p><p>Criminologia refere-se ao estudo do crime, comportamento criminoso, mentes</p><p>criminosas, organizações criminosas e questões relacionadas. É uma disciplina científica com</p><p>uma forte base de pesquisa. Os métodos utilizados no campo da criminologia incluem</p><p>investigação, observação, análise e interpretação, todos eles realizados com o objetivo de</p><p>produzir dados válidos. O crime refere-se a um ato que viola uma lei penal, viola um código</p><p>ético ou perturba uma organização ou sistema. Pode ser de natureza intencional ou não</p><p>intencional. A palavra 'crime' vem do latim 'crimen', que se refere a uma acusação ou acusação.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>39</p><p>A palavra 'criminoso' vem de 'crime', que significa 'acusação'. Portanto, um criminoso é alguém</p><p>que cometeu um crime.</p><p>Os testes prospectivos compreendem o emprego de técnica voltada a explorar, com</p><p>minúcias, as intenções presentes e futuras, retirando do paciente às suas crenças e</p><p>potencialidades lesivas ou não; os freios de contenção de boas condutas; o estilo de</p><p>vida presente e futuro; o porquê da vida criminal; os porquês da causação de</p><p>sofrimento às vítimas; o temor ou não à justiça e à pena; sua sensibilidade moral ou</p><p>insensibilidade, etc. Trata-se de teste muito mais profundo, que depende bastante da</p><p>habilidade do responsável e da sinceridade do examinando. Não é tarefa fácil</p><p>conceituar inteligência, porque no processo de conhecimento tem-se, de um lado, o</p><p>objeto a ser delimitado, externo à inteligência, e, de outro, a inteligência, o</p><p>instrumento mental que alcança o conceito desse mesmo objeto. Conceituar a</p><p>inteligência é fazê-la objeto e instrumento simultaneamente, é ter consciência do</p><p>instrumento mental que permite conhecer o mundo e que está integrado à própria</p><p>consciência. A inteligência é função psíquica complexa; talvez por isso se acredita não</p><p>haver um conceito de inteligência universalmente aceito (FILHO, 2014, p. 65).</p><p>Muitas técnicas criminológicas usadas para estudar o crime são usadas nos tribunais.</p><p>Por exemplo, o depoimento de um especialista é usado em casos legais envolvendo leis</p><p>penais, como homicídio, tentativa de homicídio e roubo. Um tribunal de justiça também usa</p><p>júris compostos por pessoas capazes de entender questões complexas para julgar crimes</p><p>cometidos por indivíduos ou organizações.</p><p>Nesse contexto, como menciona Filho (2014) que os denominados testes projetivos são</p><p>aqueles que procuram medir a personalidade através do uso de quadros, figuras, jogos,</p><p>relatos, etc., que imprimem estímulos no examinado, que provocam, consequentemente,</p><p>reações das quais resultam as respostas que servirão de base para a interpretação dos</p><p>resultados desejados. Deste modo, outras técnicas usadas nos tribunais incluem mandados</p><p>de busca, júris e indiciamentos - todos destinados a obter provas para uso em casos criminais</p><p>contra criminosos. Os investigadores trabalham em equipe ao investigar crimes; uma equipe</p><p>investiga enquanto outra prepara o caso para ser submetida às autoridades policiais.</p><p>As técnicas utilizadas para investigar e solucionar crimes são utilizadas por policiais, Por</p><p>exemplo: os policiais têm autoridade legal para realizar buscas sem mandado, se houver</p><p>suspeita razoável de que alguém cometeu um crime. Os investigadores também usam várias</p><p>técnicas forenses, como impressões digitais, análises de sangue e testes de balística para</p><p>coletar evidências para casos judiciais. Os departamentos de polícia têm unidades especiais</p><p>dedicadas ao resgate de vítimas que são agredidas sexualmente ou traficadas por criminosos.</p><p>Os testes em criminologia são técnicas de investigação que, por meio de padrões ou</p><p>tipos preestabelecidos, destacam as características pessoais e da constituição do</p><p>indivíduo, mediante respostas a estímulos previamente planejados, visando traçar o</p><p>perfil psicológico e a capacitação pessoal de cometimento ou recidiva no crime. A</p><p>realização de testes e exames criminológicos e, consequentemente, de prognósticos</p><p>de futuras condutas criminosas e/ou perigosas, com certo grau de certeza ou ao</p><p>menos de confiabilidade, depende muito das circunstâncias do cometimento delitivo,</p><p>da natureza do teste e da capacitação profissional dos responsáveis pelos testes.</p><p>O crime e a justiça afetam a todos nós de muitas maneiras - desde causar medo até</p><p>danificar nossa propriedade e imagem corporal. O tema da criminologia cresce a cada dia</p><p>porque afeta diretamente a opinião pública sobre crimes que afetam os sistemas sociais. O</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>40</p><p>crime pode ser prevenido implementando novas técnicas científicas ou fortalecendo as</p><p>punições para criminosos. Qualquer um dos métodos aumentará a responsabilidade entre</p><p>aqueles que infringem as leis contra crimes.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>41</p><p>UNIDADE IV</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>42</p><p>FUNDAMENTOS DA VITIMOLOGIA NO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA</p><p>A vitimologia nada mais é do que o estudo da criminologia como objeto principal, sendo</p><p>a vítima do delito cometido, e tem como precursor Benjamin Mendelsohn, o qual cunhou o</p><p>termo em 1947. Entende-se quanto à vitimologia, uma ciência muito mais ligada à criminologia</p><p>do que ao próprio direito penal, pois, dedica-se ao compreendimento do papel do agente</p><p>passivo na circunstância criminosa. Tem o intuito de defender em seus mais variados</p><p>aspectos, quer seja financeiro, psicológico ou emocional, o trauma sofrido pela vítima e</p><p>descobrir se em algum momento este se colocou num ambiente ou em uma circunstância de</p><p>provável sofrimento de delito. No decorrer desta unidade, trataremos não somente sobre a</p><p>vitimologia, como também dos aspectos do direito penal que coexistem ao estudo da</p><p>criminologia, como por exemplo os crimes contra a vida e o patrimônio, trataremos sobre a</p><p>influência que os consumidores de tóxicos exercem no aumento da criminalidade, assim como</p><p>falaremos também sobre a própria carreira na criminologia, pois com o avançar dos anos o</p><p>cometimento criminoso se tornou carreira.</p><p>4.1 A CRIMINOLOGIA DO HOMICÍDIO E DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO</p><p>Estatísticas de crimes mostram uma forte relação entre a pobreza e criminalidade, não</p><p>que a pobreza seja um fator condicional, ou requisito dos cometimentos de crimes, mas</p><p>autores indicam que tal relação tem o intuito de apontar na vulnerabilidade da população de</p><p>menor capacidade financeira, a maior recorrência criminosa.</p><p>Todavia, em total contrapartida desta linha de pensamento temos os chamados</p><p>criminosos “trabalhadores de colarinho branco". Crimes que, geralmente, são realizados por</p><p>pessoas dos mais altos escalões da sociedade, principalmente tendo como “vítima” a</p><p>Administração Pública ou grandes empresas. Por outro lado, nos crimes contra o patrimônio</p><p>particular, segundo dados do Governo Federal, a grande maioria dos ladrões é semi-</p><p>alfabetizada, pobre e, se não miserável, moralmente vulnerável.</p><p>No mesmo contexto, em um país continental como o Brasil, que a população jovem vem</p><p>se igualando ao quantitativo da população que está envelhecendo de forma mais ativa</p><p>na</p><p>sociedade. De igual forma, observa-se a instabilidade entre a participação financeira e de</p><p>fraca promoção de políticas públicas nas zonas rurais e urbanas, assim, existindo um</p><p>desequilíbrio entre as áreas urbanas.</p><p>A migração de populações rurais para as zonas urbanas, acarreta cada vez mais um</p><p>aumento contínuo e desproporcional da população das grandes cidades. Se considerarmos os</p><p>dados de forma bruta, entendemos que o fato está intimamente relacionado à propensão a</p><p>condutas delituosas. Todavia, o que explicaria os recorrentes crimes de colarinho branco,</p><p>lavagem de dinheiro, crime ambiental, corrupção do poder público, entre outros.</p><p>Segundo Filho (2014, p. 174), in veris:</p><p>Entre 55 e 90 milhões de pessoas passaram à condição de pobreza extrema em 2009</p><p>no Brasil, devido à recessão mundial resultante da crise financeira internacional. Mais</p><p>de um bilhão sofre de fome crônica no mundo todo. Segundo pesquisas, 54 milhões de</p><p>brasileiros são pobres; isso significa que quatro em cada dez brasileiros poderão viver</p><p>em miséria absoluta. Esta retira o resquício de dignidade humana que a pobreza ainda</p><p>não subtraiu ao homem.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>43</p><p>Ao considerarmos questões ambientais no estudo da criminologia, é possível observar</p><p>que quando uma pessoa comete um homicídio, ela pode enfrentar muitas acusações,</p><p>incluindo assassinato premeditado. Também deve ter a intenção de cometer assassinato</p><p>quando comete qualquer tipo de assassinato. Dependendo de quão graves são os ferimentos</p><p>da vítima e quão, estrategicamente, ou se sequer feriu a vítima, ele pode receber punições</p><p>diferentes por seu crime, nisto percebemos que a depender da evolução do estudo que a</p><p>vitimologia avança, ganhos na proporcionalidade da pena são auferidos. Outro exemplo a</p><p>considerar é, se a vítima morre de seus ferimentos, as punições serão mais duras. Se o</p><p>perpetrador infligir ferimentos graves com uma arma mortal, mas não matar a vítima, ele pode</p><p>receber punições menos severas.</p><p>Imprescindível o entendimento de que o aumento da criminalidade está intimamente</p><p>ligada ao aumento da aplicabilidade do capitalismo no mundo globalizado (desejo e</p><p>necessidade no aumento de riquezas), crimes contra o patrimônio e contra a pessoa, no caso</p><p>de homicídio, estão cada vez mais comuns aos olhos da sociedade.</p><p>No código penal brasileiro, quanto aos crimes contra o patrimônio, estão normatizados</p><p>no título II da seção IV, onde entre os artigos 155 até o artigo 183 do Código Penal, neste rol</p><p>constam as tipificações dos mais diversos crimes contra o patrimônio particular, ou seja,</p><p>contra um outro cidadão brasileiro, ou até mesmo estrangeiro em território nacional. Consta,</p><p>ainda, dentro dos tipos penais suas majorantes e atenuantes, bem como os casos em que</p><p>mesmo acometido o delito este não vem ser penalizado, como por exemplo o artigo 181, in</p><p>verbis:</p><p>Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em</p><p>prejuízo:</p><p>I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;</p><p>II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil</p><p>ou natural.</p><p>Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste</p><p>título é cometido em prejuízo:</p><p>I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;</p><p>II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;</p><p>III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.</p><p>Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:</p><p>I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave</p><p>ameaça ou violência à pessoa;</p><p>II - ao estranho que participa do crime;</p><p>III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta)</p><p>anos.</p><p>Dentre os crimes de maior incidência nas comunidades mais vulneráveis, temos os</p><p>crimes sexuais, que mesmo aumento legislativo no amparo aos crimes contra a dignidade</p><p>sexual, é de fato o marco no estudo das leis, pois à medida em que há um aumento do cuidado</p><p>Condições</p><p>econômicas Pobreza Criminalidade</p><p>Fermentação</p><p>social da</p><p>criminalidade</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>44</p><p>do Estado por meio do seu Poder Legislativo para com a sociedade vulnerável, a maior</p><p>dignidade, segurança e entendimento de uma sociedade mais responsiva.</p><p>Desta maneira os crimes contra a dignidade sexual estão normatizados dentre os artigos</p><p>213 até os artigos 218-C do Código Penal. Desta feita, crimes que antes eram abomináveis e</p><p>por vezes abafado e jogado para debaixo do tapete, hoje se tornam mais observados, como os</p><p>crimes sexuais e os crimes relacionados ao tráfico, quer seja de drogas, quer seja de armas,</p><p>ou ainda de pessoas.</p><p>Há quem defenda a universalidade e generalidade da conciliação e mediação do conflito</p><p>criminal sem ressalvas, e aqueles que sustentam a incidência da justiça comunitária para</p><p>determinados delitos, e delinquentes primários, de modo a não se distanciar da realidade.</p><p>De igual maneira podemos tratar dos crimes contra a vida humana, tipificados entre os</p><p>artigos 121 e 128 do Código Penal Brasileiro, tais crimes visam proteger o bem mais precioso</p><p>do ordenamento jurídico, qual seja: a vida. Neste patamar, existe controvérsia relativa ao</p><p>alcance da justiça integradora quanto a natureza e gravidade dos delitos, além do perfil da</p><p>vítima e delinquente.</p><p>Homicídio</p><p>Art. 121. Matar alguém</p><p>Pena – reclusão, de seis a vinte anos.</p><p>Induzimento ao Suicídio</p><p>Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:</p><p>Pena – reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a</p><p>três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.</p><p>Intanticídio</p><p>Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou</p><p>logo após: Pena – detenção, de dois a seis anos.</p><p>Aborto</p><p>Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:1 Pena –</p><p>detenção, de um a três anos.</p><p>Art. 125. Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena – reclusão, de três</p><p>a dez anos. Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante:2 Pena –</p><p>reclusão, de um a quatro anos.</p><p>Parece-nos mais correta esta última vertente, sendo difícil conceber uma justiça</p><p>restauradora em delitos de elevada gravidade, a exemplo de infrações penais como o</p><p>homicídio, latrocínio, etc.</p><p>Colocando a temática em amostragem internacional temos, por exemplo, os Estados</p><p>Unidos, o homicídio é a terceira principal causa de morte. De acordo com os Centros de</p><p>Controle e Prevenção de Doenças, cerca de 59.000 pessoas morreram de homicídio em 2015.</p><p>Existem muitos tipos diferentes de homicídio; estes incluem assassinato em série,</p><p>assassinato em massa, terrorismo, guerra, etc. Além disso, um homicídio pode ser intencional</p><p>ou não intencional. Homicídios não intencionais podem incluir acidentes e suicídio. Quando</p><p>uma pessoa tira a própria vida, ela é conhecida como suicídio-assassinato. É quando uma</p><p>pessoa comete um homicídio ou um crime contra a propriedade e depois comete suicídio para</p><p>escapar da punição, são estas algumas das variações dos crimes contra a vida.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>45</p><p>Alguns estados dos Estados Unidos da América, por exemplo, têm estatutos de</p><p>misericórdia que reduzem as punições máximas para certos crimes, nos casos em que o</p><p>perpetrador demonstrou misericórdia ou contenção durante o ato. O assassinato de uma</p><p>pessoa leva a muitos outros crimes contra a família e amigos da vítima. Depois que alguém</p><p>mata outra pessoa, ele pode se vingar de outros membros da família da pessoa falecida, causar</p><p>danos psicológicos aos familiares, etc. Em alguns casos, ele busca vingança contra outros</p><p>membros de sua família matando os seus.</p><p>Outras pessoas que testemunham assassinatos podem se vingar da família do assassino</p><p>matando seus animais ou gado. Algumas famílias acreditam que aqueles que cometem crimes</p><p>contra a propriedade devem sofrer consequências semelhantes - para que também possam</p><p>se vingar da família do assassino,</p><p>vandalizado ou roubado.</p><p>Na leitura progressista a crítica ao padrão do estado de bem-estar foi de que seus</p><p>benefícios eram desprezíveis, seus procedimentos desgastantes, seu processo de</p><p>tomada de decisões era inflexível, e seus especialistas eram pouco confiáveis. E as</p><p>soluções para tais equívocos seriam transformar as reivindicações em direitos sociais,</p><p>tornando os benefícios universais, em vez de seletivos, reformando a burocracia,</p><p>tornando o processo menos paternalista e fortalecer os clientes e as comunidades</p><p>pobres (ROCHA JUNIOR, 2016, p. 34).</p><p>Por exemplo, de como um crime contra a vida pode puxar outros, considera-se roubar</p><p>algo da casa ou empresa de outra pessoa, ele poderá enfrentar acusações de roubo. Se ele</p><p>vandaliza a propriedade de alguém - como quebrar janelas ou roubar animais - ele pode</p><p>enfrentar acusações de crueldade contra animais. Se ele danificar as plantações ou produtos</p><p>agrícolas de alguém roubando seu gado ou destruindo suas plantações - ele pode enfrentar</p><p>acusações de danos agrícolas. Dependendo da gravidade de seus ferimentos após cometer</p><p>um crime contra a propriedade, os agentes da lei podem mostrar clemência ao puni-lo por seus</p><p>crimes.</p><p>Essencialmente, o cometimento do homicídio pode levar a muitos outros crimes contra</p><p>pessoas e propriedades, desde famílias e entes queridos de vítimas de assassinato buscam</p><p>vingança em nome de seus membros mortos. Além disso, cometer atos violentos contra a</p><p>propriedade pode levar a acusações de crueldade animal e danos agrícolas, uma vez que essas</p><p>propriedades também são consideradas pessoas em algumas culturas e sociedades.</p><p>Apesar de seus efeitos devastadores, homicídios e crimes contra a propriedade ainda</p><p>têm suas próprias leis e penalidades únicas, que podem afetar adversamente a sociedade</p><p>como um todo, quando ignoradas por policiais que estão sobrecarregados e a falta de pessoal</p><p>em muitas áreas do nosso país, hoje, devido a cortes orçamentários devido a problemas</p><p>econômicos.</p><p>4.2 A VISÃO CRIMINOLÓGICA DOS TOXICÔMANOS</p><p>Em toda história da humanidade, se tem conhecimento de que havia pessoas que, para</p><p>fugir de seus problemas, ou mesmo como forma de rebeldia, utilizavam-se de substâncias</p><p>toxicológicas. Outrossim, a origem da palavra droga no vocábulo significa “demônio ou</p><p>demoníaco”, pois considera em regra, suas causas e efeitos, de forma tão negativa quanto a</p><p>divindade satânica.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>46</p><p>Com o passar dos tempos, foram realizadas pesquisas e experimentos que começaram</p><p>a contrariar esse posicionamento previamente religioso (muito por conta dos tempos que</p><p>originou-se a denominação das substâncias como drogas). Pois, iniciaram as conclusões que</p><p>em todas estas, sempre haveria uma aplicabilidade na prevenção e manutenção da saúde.</p><p>Nestes termos, entende Filho (2017, p. 145):</p><p>As drogas estão presentes nas histórias mais antigas de quase todos os povos do</p><p>mundo, algumas das quais somente recentes escavações arqueológicas permitiram</p><p>descobrir. Por exemplo, os sumerianos, na região da antiga Mesopotâmia (Rios Tigre e</p><p>Eufrates), há mais de 5.000 anos, usavam certas drogas que, sob a forma de incensos</p><p>e beberagens, teriam o condão de curar doenças ou mesmo de elevar seus espíritos,</p><p>ou ainda de atrair a atenção dos deuses. É sabido também que no vedantismo os</p><p>deuses ingeriam a soma, e, na civilização grega, o manjar divino era conhecido por</p><p>ambrosia. As civilizações indígenas não fugiram à regra: utilizavam abertamente</p><p>certas substâncias psicotrópicas.</p><p>Notadamente, por se tratar de um tema muito amplo, este estudo não aborda e questiona</p><p>a possível descriminalização das drogas e, portanto, não será pautado por uma análise de</p><p>critérios objetivos e/ou subjetivos na distinção</p><p>O objetivo é refletir sobre como a legislação e o sistema penal podem ser utilizados para</p><p>criminalizar determinados grupos de pessoas, principalmente a população negra e menos</p><p>favorecidas financeiramente. Assim, no decorrer deste, veremos as consequências desse</p><p>processo de criminalização, analisando dados que mostram a desigualdade, a violência e suas</p><p>consequências no sistema prisional brasileiro.</p><p>Fonte: https://www.gov.br/depen/pt-br/servicos/sisdepen</p><p>2%</p><p>48%</p><p>8%</p><p>14%</p><p>4%</p><p>5%</p><p>3%</p><p>0%</p><p>3%</p><p>9%</p><p>4%</p><p>Total por categoria</p><p>Tráfico internacional de drogas</p><p>Tráfico de drogas (Art. 12...</p><p>Homicídio simples</p><p>Homicídio qualificado</p><p>Latrocínio</p><p>Estupro de vulnerável</p><p>Estupro</p><p>Extorção mediante sequestro</p><p>Tortura</p><p>Associação para tráfico</p><p>Posse ou Porte ilegal de armas</p><p>Total</p><p>322.182</p><p>Feminino</p><p>18.157</p><p>Masculino</p><p>304.025</p><p>https://www.gov.br/depen/pt-br/servicos/sisdepen</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>47</p><p>Com a observação do gráfico acima, retirado do site do Departamento Penitenciário</p><p>Nacional – DEPEN, é fácil perceber que, ao englobarem o entendimento da influência das</p><p>drogas na criminalidade brasileira, temos o total de aproximadamente 60,4% das prisões</p><p>realizadas no país. Este número assusta a primeira observação, porém, ao analisarmos que</p><p>destes, ramificam diversas condutas delituosas, a imagem se forma ainda mais tensa.</p><p>Pois, é comum assistirmos um filme e na vida real, jovens que tiveram suas vidas</p><p>tomadas pelo vício nas drogas, partirem para a vida criminosa, a fim de custear seu vício.</p><p>Assim então, incluindo nos efeitos dos toxicomaníacos na criminologia, no latrocínio, na posse</p><p>ilegal de armas e outros. Triste realidade, estatisticamente, mais comum nas áreas</p><p>marginalizadas no sentido da palavra, assim sendo, esquecidas e negligenciadas pelo poder</p><p>público.</p><p>Por meio de dados obtidos no site do IPEA dos anos de 2018 a 2019, quanto ao número de</p><p>cidadãos brasileiros mortos sendo negros e não negros tivemos a impactante informação de</p><p>que, enquanto o total de 22.946 cidadãos não negros foram mortos nos anos de 2018/2019, a</p><p>diferença entre o número de cidadãos brasileiros negros seria esdrúxula, sendo um total de</p><p>78.356 mortes.</p><p>Desta feita, é claro perceber que um cidadão negro, no Brasil, tem mais de 3x a</p><p>probabilidade de ser vítima de um homicídio, se comparado com um cidadão branco, no</p><p>mesmo país. Nisto, a teoria de Lombroso, onde o ser criminoso detém características físico-</p><p>patológicas se torna vívida em uma sociedade adoecida pelo preconceito. Trazendo à tona o</p><p>cometimento de outros crimes como racismo por exemplo.</p><p>Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social. Anuário Brasileiro de Segurança Pública</p><p>do ano de 2021. Elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública</p><p>Neste sentido, importa saber que é papel do Estado como preconiza no art. 5º da</p><p>Constituição Federativa do Brasil, a segurança de seus cidadãos, bem como a promoção de</p><p>políticas públicas que promovam uma melhor qualidade de vida para a população mais</p><p>carente. Pois, de nada adianta a inserção de textos legislativos (novas leis) no tocante a</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>48</p><p>preservação da vida e a manutenção da segurança e dignidade das minorias populacionais,</p><p>quanto aos números trabalhados já são obtidos por meio do produto desses malfeitos.</p><p>Para Rocha e Júnior (2016, p. 35),</p><p>Neste contexto social, os problemas decorrentes aumentaram, como violência,</p><p>crimes de rua e abuso de drogas, especialmente naquelas áreas em que se</p><p>concentravam as carências econômicas e sociais. A solução para esses problemas</p><p>passou a ser visto como o efetivo controle do crime, como uma questão de imposição</p><p>de mais controle, a criação de desincentivos, inclusive com a possibilidade de</p><p>segregação dos setores considerados mais perigosos da população, a chamada teoria</p><p>dos controles. A explicação mais plausível para esse crescimento de crimes foi o de</p><p>natureza social estrutural, que apontou para os parâmetros comuns de</p><p>desenvolvimento social, como o grande responsável.</p><p>Desse modo, para que esse ciclo seja interrompido é necessário ação dos três poderes,</p><p>visando um planejamento eficiente ao combate do aumento da criminalidade. Melhorando a</p><p>fiscalização das nossas fronteiras, restringindo</p><p>ao máximo o poder do tráfico, pois se as armas</p><p>e drogas não chegarem aos grandes centros, o tráfico não conseguirá vencer essa guerra.</p><p>4.3 A VITIMOLOGIA E O ESTUDO CRIMINOLÓGICO</p><p>No direito penal, o conceito de vitimologia criminal refere-se à compreensão do impacto</p><p>de um crime na vítima e à tomada de medidas para ajudá-la. Ao tentar entender a condição</p><p>psicológica ou física de uma vítima, médicos e psiquiatras usam o termo vitimologia.</p><p>Compreender a vitimologia criminal é útil para compreender como os criminosos afetam a vida</p><p>de pessoas inocentes.</p><p>O termo vitimologia refere-se ao estudo, investigação e compreensão de como um crime</p><p>afeta a vítima. As principais áreas da vitimologia criminal incluem o exame médico, a</p><p>psicologia e a reconstrução da história.</p><p>FASES DO</p><p>ESTUDO DA</p><p>VÍTIMA</p><p>Idade de ouro</p><p>da vítima</p><p>Priomórdios da civilizacio até fim da</p><p>Alta Idade Média</p><p>Possibilidade de composição e</p><p>autotutela</p><p>Lei detalido olho por olho, dente por</p><p>dente</p><p>Processo penal acusatório</p><p>Funções de acusar, jugar e</p><p>defender estavam em mãos</p><p>distintas</p><p>Neutralização</p><p>do poder da</p><p>vítima</p><p>Baixa Idade Media (sec XI) até sec. XVI</p><p>Processo penal inquitivo</p><p>Concentra as funções de</p><p>acusar jugar nas mãos do juiz</p><p>e dificulta a imparcialidade do</p><p>magistrado</p><p>Revalorização</p><p>do poder da</p><p>vítima</p><p>Séc. XVllI até dias atuais</p><p>Percebe-se que a vitima havia sido</p><p>esquecida pelo processo criminal e</p><p>que é necessário recuperar curta</p><p>parcela de seu protagonismo</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>49</p><p>Os investigadores criminais realizam exames médicos para determinar se as vítimas</p><p>foram fisicamente prejudicadas durante um crime. Psiquiatras ajudam a investigar e tratar</p><p>vítimas que foram, psicologicamente, feridas por um crime. Finalmente, a reconstrução</p><p>histórica ajuda a investigar e explicar as circunstâncias que levaram a um incidente. Além</p><p>disso, ajuda a registrar eventos para uso em processos judiciais e indenização para vítimas.</p><p>Com o transcorrer dos anos, a vitimologia encontrou acolhida na maioria dos países e</p><p>nas instituições supranacionais. Basta recordar a Convenção Européia sobre a</p><p>assistência às vítimas de delitos violentos, do Conselho da Europa, dentro do Comitê</p><p>Europeu para os problemas criminais (Estrasburgo, 1983), a Declaração sobre justiça e</p><p>assistência para as vítimas, que se elaborou no encontro inter-regional de</p><p>especialistas das Nações Unidas, em Otawa (Canadá) no ano de 1984, a Recomendação</p><p>n9 R (85) 11, do Comitê de Ministros aos Estados-membros, sobre a posição da vítima</p><p>no campo do direito penal e processual penal (adotada pelo Comitê de Ministros no dia</p><p>28 de junho de 1985, a Reunião de número 387 dos Delegados dos Ministros), a</p><p>Declaração sobre os princípios fundamentais de justiça para as vítimas de delitos e do</p><p>abuso de poder, aprovada na Assembléia-Geral das Nações Unidas (Resolução 4U/34)</p><p>110 dia 29 de novembro de 1985, o Documento do Comitê II do Oitavo Congresso das</p><p>Nações Unidas, em Havana, sobre “Proteção dos direitos humanos das vítimas da</p><p>delinquência e do abuso de poder”, no que o Congresso das Nações Unidas</p><p>(BERISTAIN, 2000, p. 82)</p><p>Normalmente, as vítimas podem ser feridas física ou mentalmente, mas não</p><p>necessariamente uma ou outra. Lesões físicas referem-se a cicatrizes, defeitos congênitos,</p><p>queimaduras, fraturas e muito mais. Lesões mentais incluem trauma, choque, desorientação</p><p>e muito mais.</p><p>No entanto, nem todas as vítimas apresentam lesões físicas ou mentais; elas podem</p><p>apenas estar traumatizadas. Independentemente de como foram afetadas, os médicos usam</p><p>vários termos para descrever as condições das vítimas depois de investigar um crime. Por</p><p>exemplo, eles podem se referir à condição da vítima como pós-trauma ou transtorno de</p><p>estresse traumático.</p><p>A VÍTIMA É CULPADA NOMENCLATURA</p><p>NÃO Ideal</p><p>- Ignorância</p><p>= Voluntária</p><p>+ Provocadora</p><p>EXCLUSIVAMENTE Pseudo</p><p>A doutrina majoritária ainda classifica a vítima e sua participação no momento do delito</p><p>como: a vitimização primária, a vítima está realmente sofrendo o crime mais tarde, se o</p><p>processo de vitimização contínua, não para com a dor do crime em si, portanto, pode-se dizer</p><p>que a vitimização secundária (vitimização excessiva), que é observada quando as vítimas</p><p>buscam apoio de órgãos oficiais de controle, mas não são encontradas apoio (por exemplo:</p><p>atenção cuidadosa por parte dos departamentos de polícia, vítimas de negligência do estado</p><p>procedimentos criminais).</p><p>Essa situação vem sendo melhorada nas delegacias especializadas, principalmente nos</p><p>casos de violência doméstica. Há ainda uma terceira vitimização, que é uma extensão do</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>50</p><p>processo de vitimização, vítima confrontada perante a sociedade a que pertence, passa a</p><p>julgar seu comportamento (ex: vítima de estupro questionada por usar determinada roupa).</p><p>A vitimologia é filha da criminologia, muito mais que do direito penal. Desta afirmação</p><p>se deduzem consequências muito esclarecedoras, já que a ciência e a práxis jurídico-</p><p>penal diferem notavelmente da ciência e da práxis criminológica. Diferem nos</p><p>princípios básicos, nas propostas dos problemas e na exagerada (ainda que</p><p>necessária) divisão do trabalho científico para evitar a superficialidade. Dentro do</p><p>círculo da política criminológica, que é consequência de outro círculo concêntrico</p><p>maior de política social geral, a vitimologia deve proclamar-se uma ciência para a</p><p>liberdade e a liberação moral e material de todo tipo de vitimados (delinquentes</p><p>marginalizados e submergidos sociais), que engloba também atingidos pelos</p><p>acidentes de trabalho, sem esquecer da sociedade, ou grande parte dela, quando se</p><p>trata do abusivo poder governamental, econômico, religioso, acadêmico, jornalístico,</p><p>etc. (BERISTAIN, 2000, p. 89).</p><p>Ao investigar crimes, as autoridades concentram-se em resolver com o agressor que</p><p>cometeu o crime contra a vítima. Existem cinco tipos básicos de crimes contra as vítimas:</p><p>crimes diretos, crimes indiretos, crimes contra a propriedade, crimes de violência e crimes</p><p>sexuais – ou crimes envolvendo violência sexual contra crianças. Crimes contra pessoas - como</p><p>assassinato - normalmente são resolvidos por um sistema judicial com punições como prisão</p><p>ou sentenças de morte.</p><p>Crimes contra a propriedade - como roubo - geralmente são resolvidos compensando a</p><p>vítima/proprietário da propriedade por sua perda com recompensas monetárias. Crimes sem</p><p>perpetradores diretos - como incêndios - geralmente são resolvidos por meio de esforços das</p><p>autoridades para determinar os responsáveis e impor punições a eles.</p><p>Ninguém duvida de que, mediante as estratégias do delinquente - vítima, mediação,</p><p>reconciliação - se conseguem, com certa frequência, maiores satisfações imediatas</p><p>que por meio dos sistemas do direito penal tradicional; mas essa constatação não</p><p>basta para justificar o desenvolvimento sem limites das práticas da mediação e da</p><p>compensação e, também, da reconciliação. Por esse caminho, pode-se chegar ao</p><p>funesto sistema punitivo germânico medieval de deixar total e unicamente em mãos</p><p>das vítimas e seus familiares a sanção ilimitada contra os delinquentes, sem</p><p>participação alguma racional e moderadora da sociedade e da autoridade (BERISTAIN,</p><p>2000, p. 91).</p><p>Crianças abusadas, geralmente, tornam-se perpetradores mais tarde na vida, quando</p><p>têm poder suficiente sobre suas vítimas. Isso ocorre porque a maioria dos perpetradores</p><p>começam como vítimas - daí sua impotência sobre seus algozes. Eles geralmente encontram</p><p>alguém para abusar para que possam se sentir poderosos novamente. No entanto, tornar-se</p><p>um perpetrador não significa ser sempre abusivo; requer certos traços pessoais, como</p><p>experimentar baixa auto-estima e raiva. Perpetrar atos de violência é uma tentativa dos</p><p>perpetradores de aliviar sua própria dor interna; é isso que os torna abusivos em relação aos</p><p>outros.</p><p>De tais apontamentos, é lícito defender que o conhecimento de vitimologia criminal pode</p><p>ajudar os investigadores a entender</p><p>como os crimes afetam a vida das vítimas, enquanto</p><p>buscam justiça para os criminosos - particularmente quando os próprios perpetradores são</p><p>abusados.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>51</p><p>Mais estudos em vitimologia criminal nos ajudam a entender como os crimes afetam o</p><p>estado físico e mental das pessoas, para que as leis possam mudar para dar às pessoas</p><p>abusadas direitos iguais perante a lei. Qualquer um pode se tornar um perpetrador em</p><p>qualquer idade, se for submetido a dor suficiente quando criança.</p><p>Por fim, o resultado da inércia do Estado quanto a efetiva atua pela inclusão das minorias</p><p>e da população mais vulnerável, que somente fomenta um processo discriminatório, nos faz</p><p>perceber que o combate ao tráfico de drogas não é a única preocupação que os governantes</p><p>precisam ter, mas também o tratamento destes dependentes, que estejam sob custódia ou</p><p>não do Estado (cárcere).</p><p>4.4 CRIMINOLOGIA E O CRIME ORGANIZADO</p><p>Na história do tempo presente, a sequência de silenciamento destas discussões de</p><p>maneira progressiva e crítica compactua, mesmo que indiretamente, por fazer com que os</p><p>assassinatos de dezenas de pessoas em uma favela possam ser vinculados simplesmente nos</p><p>veículos de comunicação como uma operação. Isto porque a estratégia de justificação vem</p><p>sendo criminalizar as vítimas, aproximando tais pessoas do crime organizado – como se ser</p><p>membro de alguma organização ou já ter respondido algum processo penal fosse uma aptidão</p><p>à morte.</p><p>Atualmente o crime organizado conta com três leis extravagantes (especiais) para sua</p><p>tipificação, sendo elas: a Lei nº 9.034/95 e a Lei nº 10.217/2001, bem como Lei nº 12.850/2013,</p><p>dispondo sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações</p><p>praticadas por organizações criminosas, e sobre a utilização de meios operacionais para a</p><p>prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas, respectivamente.</p><p>Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal,</p><p>os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal</p><p>a ser aplicado.</p><p>§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas</p><p>estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que</p><p>informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer</p><p>natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam</p><p>superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional (Lei nº</p><p>12.850/2013).</p><p>Na sequência, o art. 2º da aludida lei, dispõe ainda que” promover, constituir, financiar ou</p><p>integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa. Nesse contexto,</p><p>portanto, adota-se no País o conceito extraído da Convenção de Palermo, da ONU, contra o</p><p>crime transnacional, a saber, entende-se por crime organizado um “grupo estruturado de três</p><p>ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando com o propósito de cometer uma ou mais</p><p>infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou</p><p>indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material”.</p><p>Neste ambiente, destacam-se os crimes contra a ordem tributária, contra as relações</p><p>de consumo, contra a economia popular, contra o mercado de ações, os crimes</p><p>falimentares etc., de modo que seus autores, em regra, são pessoas ou grupos de</p><p>pessoas de amplo prestígio social e político, com fácil trânsito em todas as áreas</p><p>governamentais. As propinas, o tráfico de influência e favorecimento são, de igual raiz,</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>52</p><p>atividades correlacionadas àqueles ilícitos, que contam com o apoio de agentes</p><p>públicos ímprobos e desonestos. Os crimes do colarinho branco, à vista de sua</p><p>pretensa impunidade, acabam propiciando a ocorrência da chamada cifra dourada de</p><p>criminalidade (FILHO, 2014, p. 128).</p><p>No estudo da vitimização, far-se-á questionamentos às pessoas de um grupo social, se</p><p>elas foram vítimas de algum delito em certo marco temporal. Desta maneira, são importantes</p><p>porque as taxas de subnotificação criminal são muito significativas em uma série de delitos,</p><p>como é o caso dos crimes sexuais e dos crimes de corrupção policial.</p><p>• Cifra negra: diferença entre a criminalidade real – isto é, a totalidade de delitos</p><p>praticados – e a criminalidade conhecida ou revelada.</p><p>• Cifra dourada: criminalidade do colarinho branco que não chega ao conhecimento das</p><p>instâncias de controle social formal.</p><p>• Cifra cinza: crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, mas que não</p><p>chegam a virar um processo penal.</p><p>• Cifra amarela: casos em que as vítimas sofrem algum tipo de violência praticada por</p><p>servidor público e deixam, por temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes</p><p>pela apuração.</p><p>O mais, comumente, conhecido pela mídia e doutrina, é o crime do Colarinho Branco,</p><p>onde Sutherland cunhou a expressão (white collar crime) em 1939, e neste caso o crime anda</p><p>na contramão da justificativa da criminalidade por falta de oportunidade e descaso estatal aos</p><p>menos favorecidos. Mas sim, o criminoso neste sentido, é uma pessoa renomada, abastada e</p><p>reconhecida no meio social, e se utiliza deste seu status para cometer roubos milionários e</p><p>gozar desta imunidade velada.</p><p>Por serem crimes difíceis de se detectar ou sancionar, em virtude da “imunidade do</p><p>negócio”. Crimes com efeitos significativos, porém difusos. É um tipo de criminalidade</p><p>organizada praticada pelos homens de negócio.</p><p>Diante da quase impossível façanha, o principal meio de obtenção de informações e</p><p>provas durante as investigações de casos envolvendo criminosos influentes é a Colaboração</p><p>Premiada, que popularmente conhecida como Delação Premiada.</p><p>Onde segundo consta no art. 3º ‘A’, ‘B’ e ‘C’ da Lei 12.850/2013 que diz que “O acordo de</p><p>colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio de obtenção de prova, que</p><p>pressupõe utilidade e interesse públicos”, e que “o recebimento da proposta para formalização</p><p>de acordo de colaboração demarca o início das negociações e constitui também marco de</p><p>confidencialidade, configurando violação de sigilo e quebra da confiança e da boa-fé a</p><p>divulgação de tais tratativas iniciais ou de documento que as formalize, até o levantamento de</p><p>sigilo por decisão judicial. Assim,</p><p>Art. 8º Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa</p><p>relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que</p><p>mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no</p><p>momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.</p><p>§ 1º O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente</p><p>comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e</p><p>comunicará ao Ministério Público.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>53</p><p>§ 2º A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter informações</p><p>que possam indicar a operação a ser efetuada.</p><p>§ 3º Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao</p><p>Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das</p><p>investigações.</p><p>§ 4º Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação</p><p>controlada.</p><p>Art. 9º Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da</p><p>intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das</p><p>autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do</p><p>investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto,</p><p>instrumento ou proveito do crime (Lei nº 12.850/2013).</p><p>Por fim, apesar de um legislador brasileiro ainda não ter normatizado um conceito para o</p><p>crime organizado, a doutrina entende juntamente com o conceito sugerido pela ONU, quem</p><p>entende o crime organizado como um grupo de 3 ou mais pessoas que atuem ao mesmo tempo</p><p>com propósito de cometer ilícitos. É onde está sabido também que, a criminologia estuda</p><p>crime organizado</p><p>com 2 percepções diferentes sendo uma do tipo mafiosa (comumente</p><p>visualizada em filmes, com o aparecimento das máfias italianas, colombianas e japonesas),</p><p>onde as quais se utilizam de violência como uma estrutura hierárquica bem distribuída, tendo</p><p>como finalidade de cometer ilícitos impondo a lei do silêncio e o controle social encontra</p><p>problemas justamente na corrupção governamental.</p><p>Por outro lado, temos a organização criminal do tipo empresarial, que tem como única</p><p>finalidade obtenção do lucro econômico para os sócios, não se utiliza de violência nem</p><p>intimidação, porém usa de seu status, facilidades e influências para conseguir suas</p><p>facilidades empresariais.</p><p>O Estado deve ampliar ações sociais capazes de prover às necessidades da população</p><p>(saúde, educação, trabalho, segurança etc.), pois a criminalidade organizada ocupa espaços e</p><p>comporta os indivíduos abandonados por ele, mediante um projeto de médio prazo, alterando</p><p>a legislação criminal, fortalecendo o sistema de persecução penal, dentre outras medidas.</p><p>4.5 A CRIMINOLOGIA E A POLÍTICA CRIMINAL</p><p>Importa dizer que, quanto ao estudo científico da criminologia e suas vertentes, no</p><p>decorrer do tempo, é possível entender a criminologia como sendo um fenômeno social, e</p><p>como fenômeno social, busca respostas sociais, econômicas, políticas e culturais. Conceitua-</p><p>se política criminal como a ciência que estuda o que deve ser tutelado jurídico penalmente, e</p><p>trilhar as veredas efetivas para tal tutela, tem como objetivo um estudo dos sistemas penais</p><p>como um todo adaptando ordenamento jurídico penal, a fim de aumentar a sua eficácia no</p><p>tratamento do controle social.</p><p>Outrossim é correto dizer, que enquanto a criminologia tem como objeto de estudo o</p><p>autor do delito, a vítima que sofreu o prejuízo, o crime em si bem como o controle social</p><p>inerente ao caso concreto, a política criminal se preocupa com o entendimento e a realização</p><p>de políticas públicas com a finalidade justamente de exercitar o objeto da criminologia, qual</p><p>seja o controle social.</p><p>De modo semelhante, o operador da política criminal deve observar e cumprir os</p><p>princípios político-jurídicos que foram se formando ao longo da evolução jurídico-</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>54</p><p>penal como necessários e irrenunciáveis, e não pode prescindir de valorizar os dados</p><p>empíricos, se traia de ser convincente. Tanto a política criminal como a filosofia</p><p>política, ao programar seu futuro imediato, devem resolver os gravíssimos problemas</p><p>que cria a violência que exercem membros do poder político e — também por</p><p>mimetismo — minorias étnicas em facções terroristas em todos os continentes. Basta</p><p>ler os relatórios anuais da Anistia Internacional para constatar que na maioria dos</p><p>países o poder comete atrozes abusos, e que, por desgraça, grande parte deles fica</p><p>impune (BERISTAIN, 2000, p. 75).</p><p>Por meios de políticas preventivas, como por exemplo, aumento de alunos na escola,</p><p>inserção dos jovens em cursos técnicos, programas assistenciais, como também por meio de</p><p>políticas públicas repressivas a delinquência, como a detenção, maior celeridade processual,</p><p>medidas de segurança necessárias quanto ao autor do delito possuir necessidades</p><p>patológicas especiais, o programa de ressocialização interna no cárcere para que, o autor do</p><p>fato criminoso, uma vez que tenha pago sua dívida para com a sociedade e sua</p><p>responsabilidade penal, consiga sair do cárcere ressocializado, garantindo a este cidadão, o</p><p>pleno gozo da dignidade da pessoa humana ordenada pela carta magna que o estado forneça</p><p>a seus concidadãos.</p><p>CIÊNCIAS PENAIS</p><p>Direito Penal Criminologia Política criminal</p><p>Finalidade</p><p>Analisando fatos humanos</p><p>indesejados, define quais devem ser</p><p>rotulados como infrações penais,</p><p>anunciando as respectivas sanções.</p><p>Ciência empírica que estuda o</p><p>crime, a pessoa do criminoso, da</p><p>vítima e o comportamento da</p><p>sociedade.</p><p>Trabalha as estratégias</p><p>e meios de controle</p><p>social da criminalidade.</p><p>Objeto crime enquanto norma O crime enquanto fato O crime enquanto valor</p><p>Atualmente, no Estado democrático é imperiosa a busca pelo conhecimento</p><p>criminológico e suas políticas, pois são a linha de base para uma orientação de cunho prevenir</p><p>e evitar que o delito aconteça, ou até mesmo que volte se repetir, sem necessidade da</p><p>reclusão, dá a penalidade, consequência de um mal feito.</p><p>A teoria da associação diferencial parte da ideia segundo a qual o crime não pode ser</p><p>definido simplesmente como disfunção ou inadaptação das pessoas de classes menos</p><p>favorecidas, não sendo ele exclusividade destas. Em certo sentido, ainda que</p><p>influenciado pelo pensamento da desorganização social de William Thomas,</p><p>Sutherland supera o conceito acima para falar de uma organização diferencial e da</p><p>aprendizagem dos valores criminais. A vantagem dessa teoria é que, ao contrário do</p><p>positivismo, que estava centrado no perfil biológico do criminoso, tal pensamento</p><p>traduz uma grande discussão dentro da perspectiva social. O homem aprende a</p><p>conduta desviada e associa-se com referência nela (BANDEIRA, PORTUGAL, 2017,</p><p>p.60).</p><p>Pois, a verdadeira política criminal, efetiva e assertiva, leva em consideração programas</p><p>de prevenção e cuidado posterior à reclusão, outrora, o criminoso era tratado como ser</p><p>desprezível, não digno de cuidado, imutável e com características físico patológicas</p><p>evidenciadas. Entretanto, com o avançar da humanidade foi possível perceber, comparando</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>55</p><p>sociedades bem instruídas e sociedades negligenciadas, que esta última sofre consequências</p><p>negativas da sua má gestão pública.</p><p>Consideram-na alguns como o estudo dos meios de combater o crime depois de</p><p>praticado; outros, entretanto, aplicam-lhe o conteúdo, para a conceituar como crítica e</p><p>reforma das leis vigentes. A maioria nega-lhe caráter científico, reduzindo-a antes à arte de</p><p>legislar em determinado momento, segundo as necessidades do povo e de acordo com os</p><p>princípios científicos imperantes.</p><p>Uma vez que em países de primeiro mundo como por exemplo Dinamarca, Suíça, Bélgica,</p><p>onde o índice educacional é altíssimo e a própria população é ensinada e estimulada a ter</p><p>pensamento crítico e possibilidade de melhoria de vida, nessas sociedades o índice de</p><p>criminalidade é extremamente baixo.</p><p>Todos os seres humanos possuem vaidade, todos têm desejos, todos querem evoluir,</p><p>e quando as ferramentas disponibilizadas para eles são para a confecção do crime o</p><p>resultado é o aumento dessa praga social. Desta feita, a criança que cresce nas</p><p>periferias vivenciando só desgraças, problemas e o crime, passa a acalentar o sonho</p><p>de ser como os criminosos, endinheirados e admirados. Diante desse sonho admite</p><p>todas as consequências, como a vida curta e riscos diversos, pois para eles viver</p><p>pouco, mas com luxo vale mais que viver a vida inteira de pobreza. Assim, uma grande</p><p>parcela de nossa juventude, não tendo nada a perder, entram no crime, com ódio e</p><p>armamento pesado financiado pelo tráfico, pronta para matar e morrer. Como</p><p>consequência, a polícia passa a duelar contra os criminosos, expondo os cidadãos de</p><p>bem e suas famílias. Assim a simples rotina de voltar para casa no final do expediente,</p><p>passa a ser uma grande aventura, onde não se sabe se isso irá acontecer (ROCHA e</p><p>JÚNIOR, 2016, 76).</p><p>A maioria nega seu caráter científico, reduzindo-o à arte, em um determinado momento,</p><p>de acordo com as necessidades das pessoas e de acordo com princípios científicos populares.</p><p>Sua estreita relação com o dogma do direito penal é compreensível, pois pertence a crítica</p><p>objetiva da legislação existente que deve basear-se em novos conceitos e até para criar novos</p><p>direitos.</p><p>Esta introdução é para demonstrar a importância de a pesquisa estatística desenvolver</p><p>políticas públicas de apoio às vítimas de crimes. O direito penal moderno sofre um golpe em</p><p>seus parâmetros de observação da vítima de forma neutra, com tendências na criminologia</p><p>moderna a partir do final do século XX como resultado da mobilização</p><p>seus próprios métodos criminológicos, objetos e funções.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>BIOLOGIA</p><p>CRIMINAL</p><p>SOCIOLOGIA</p><p>CRIMINAL</p><p>PSICOLOGIA</p><p>CRIMINAL</p><p>MEDICINA</p><p>LEGAL</p><p>DIREITO</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>6</p><p>A palavra “criminologia” foi pela primeira vez usada em 1883 por Paul Topinard e</p><p>aplicada, internacionalmente, por Raffaele Garófalo, em seu livro Criminologia, no ano de</p><p>1885. Assim, na perspectiva etiológica, pressupõe um conceito ontológico do crime,</p><p>entendido como dado pré-formado conforme definido em lei, e, assim, para respostas</p><p>institucionais ou não institucionais, essas definições comecem. Portanto, estão excluídos</p><p>do objeto de reflexão criminológica, normas legais e sociais e, ações de instituições</p><p>oficiais.</p><p>Segundo Beristain (2000, p. 54), diante ao estudo inicial da criminologia, faz-se</p><p>necessário a elucidação de forma didática de 3 (três) considerações fundamentais, que</p><p>apresentaremos a seguir:</p><p>a. Diante da criminalidade e da marginalidade, temos de responder com critérios</p><p>de integração cósmica. Temos de evitar as respostas unidimensionais vindicativas,</p><p>tanto as totalmente permissivas ou simplesmente mecânicas, técnicas, amorais,</p><p>sem sentido humano, como as utopias exclusivas de tratamento. b. A faceta</p><p>criadora de todo ser humano deve gerar algo novo no sistema penal (especialmente</p><p>na sentencing) de finais do século XX. Concretamente, deve criar (e/ou</p><p>desenvolver) o direito ao - maior ou menor - perdão a toda pessoa, também ao</p><p>delinquente. c. Os até hoje desconhecidos horizontes que vai alcançando a</p><p>consciência da pessoa pós-moderna exigem ler e formular o Talião como uma</p><p>original epistemologia metarracional. d. Ainda mais, com uma epistemologia</p><p>espiritual, mística, não dogmática; com o único freio do razoável (não do racional-</p><p>lógico) e do real “de seu”, além do fenomenológico.</p><p>Deste modo, podemos entender que, no geral, os mecanismos institucionais e sociais</p><p>passam por esses mecanismos e constitui a definição de certos indivíduos como</p><p>"infratores", e respectivas respostas sociais. A teoria do crime que o modelo visa explorar</p><p>tem a construção baseada na observação de alguns de seus fenômenos relevantes,</p><p>precisamente das peças selecionadas por este mecanismo. Para hipóteses etiológicas,</p><p>deve ser indiferente aos seus objetivos de investigação.</p><p>As medidas indiretas atuam sobre a causa do crime e, uma vez cessadas, seu efeito</p><p>desaparece. A ofensiva não é alcançada diretamente, mas pelo contrário, ela é a causa do</p><p>resultado. Estas medidas visam o indivíduo e o ambiente em que vive. Para o indivíduo, a</p><p>personalidade, o caráter e o temperamento devem ser examinados para motivar seu</p><p>comportamento. É preciso estudar o ambiente social o mais amplo possível para incorporar</p><p>medidas sociais, políticas econômicas para melhorar a qualidade de vida das pessoas e</p><p>outros.</p><p>Segundo Filho (2014, p. 101):</p><p>A prevenção primária consiste nos programas de prevenção destinados a criar os</p><p>pressupostos aptos a neutralizar as causas do delito, como a educação, e a</p><p>socialização (enfoque etiológico). Incide assim sobre as causas do problema, quer</p><p>dizer, na concretização de direitos fundamentais da população como do acesso à</p><p>saúde, educação, moradia, trabalho, segurança, enfim, da qualidade de vida. Trata-</p><p>se de instrumentos preventivos de médio a longo prazo. A prevenção secundária</p><p>atua em momento posterior ao crime ou na sua eminência. Desta maneira conduz</p><p>sua atenção para o momento e local em que fenômeno da criminalidade se revela,</p><p>orientando-se pelos grupos que apresentam o maior risco de sofrer ou praticar o</p><p>delito. Portanto, tem como foco setores da sociedade que podem sofrer com a</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>7</p><p>criminalidade, e não o indivíduo, estando relacionado com a ação policial,</p><p>programas de apoio, controle das comunicações, dentre outros instrumentos</p><p>seletivos de curto a médio prazo. Por fim, a terceira fase de prevenção, atua após a</p><p>prática do crime revelando caráter punitivo e ressocializante cuja finalidade é</p><p>evitar a reiteração do comportamento delituoso. Afirma que a prevenção terciária</p><p>é insuficiente e parcial por não agir sobre as causas do delito.</p><p>Assim, é possível o entendimento de que o saber criminológico orienta-se no</p><p>interesse de evitar o delito não somente na visão da consequência da punição. Questões</p><p>acerca deste estudo vão além do fato consumado, buscam entendimento de efeitos</p><p>indiretos, tais como a causa da conduta, o efeito que se originou do cometimento de tal</p><p>conduta delituosa, bem como, busca saber sobre a personalidade, caráter e costumes do</p><p>agente ativo da conduta delituosa.</p><p>Por fim, é possível concluir que nos países democráticos e legais, o conhecimento</p><p>criminológico tem orientação de precaução do norte, à medida que os interesses voltam-</p><p>se para evitar pecar, não o punir. Existem programas de prevenção primária, secundária e</p><p>terciária, e sua compatibilidade os torna complementares. A investigação sobre os</p><p>inibidores e estimuladores dos fenômenos de criminalidade será decisiva para o</p><p>desenvolvimento de programas de prevenção.</p><p>1.2 OBJETO DA CRIMINOLOGIA E SUAS RELAÇÕES COM AS DEMAIS</p><p>CIÊNCIAS CRIMINAIS</p><p>Inicialmente, ao tratarmos sobre criminologia no tocante ao conteúdo limite, objeto</p><p>desta ciência, é lícito perceber que diferentemente do direito penal, a criminologia observa,</p><p>como já dito, anteriormente, a conduta criminosa de um aspecto muito mais plural, ou seja,</p><p>leva em consideração para o estudo do delito, a conduta do criminoso, bem como da vítima,</p><p>a forma, os efeitos, as interferências, como se todo este emaranhado fossem partes de um</p><p>corpo que é o estudo da criminologia.</p><p>Segundo Filho (2014), a criminologia não tem como ter apenas um objeto de estudo,</p><p>pois são, demasiadamente, diversificados os elementos a serem estudados sob cada caso</p><p>concreto. A principal diferença da criminologia para com o estudo do direito penal pode-se</p><p>dizer que é o método de entendimento para cada elemento da conduta.</p><p>Para a criminologia, no entanto, o crime deve ser encarado como um fenômeno</p><p>comunitário e como um problema social, tal conceituação é insuficiente. Ademais, que</p><p>fatores levam os homens, vivendo em sociedade, a “promover” um fato humano corriqueiro</p><p>a condição de crime? (SHECAIRA, 2012).</p><p>Muito embora o objeto principal do estudo das searas criminológicas acima citadas</p><p>sejam o crime de fato, estes são estudados com enfoques completamente diferentes. De</p><p>forma demasiadamente simplificada o estudo da criminologia vê a conduta delituosa como</p><p>problema social, em contrapartida do estudo penal/criminal, que observa a conduta</p><p>delituosa como uma conduta disforme para a qual é necessária uma punição adequada</p><p>como consequência de seu cometimento, ou ainda, como método de coerção na</p><p>prevenção.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>8</p><p>Desde o início do estudo da criminologia, está-se traçando novos começos e</p><p>entendimentos, na medida em que ocorre a evolução sociocultural da humanidade. Neste</p><p>ínterim, nos dias de hoje, o objeto de estudo da ciência da criminologia conforme a figura</p><p>acima, está dividida entre a conduta delituosa, a vítima, o autor e o meio de controle social.</p><p>• Vítima: Tem-se fundamental papel da vítima no estudo da criminologia, uma vez</p><p>que, é o principal personagem da ciência, por meio dos aspectos morais,</p><p>psicológicos, jurídicos e sociais emocionais acarretados pelo prejuízo causado pelo</p><p>agente agressor.</p><p>• Crime/Conduta delituosa: Segundo a criminologia consta como um fenômeno</p><p>social comunitário, que tem como objetivo indicar um problema social a ser</p><p>resolvido/tratado por meio de políticas sociais. Assim, para a criminologia, sendo</p><p>um problema social e tendo como referência aos atos humanos anteriores ao</p><p>cometimento está a conduta delituosa.</p><p>• Autor/delinquente: principal agente do estudo da criminologia, uma vez que sem a</p><p>ação deste não há crime. Foi tão somente depois do período do positivismo penal</p><p>que a figura do criminoso passou a ter importância no estudo sociológico.</p><p>Ademais,</p><p>até o surgimento da escola positivista o foco do estudo da ciência da criminologia</p><p>era o crime, após o surgimento da referida escola se iniciou a inserção de uma nova</p><p>realidade, com o aprofundamento, o foco do estudo da criminologia é na dicotomia</p><p>crime/criminoso.</p><p>• Controle social: Métodos de prevenção e coerção que buscam controlar a</p><p>convivência na sociedade. No estudo da criminologia, temos o controle social</p><p>informal realizado pela família, religião, dentre outros, bem como controle social</p><p>formal o qual é imposto por instituições do Estado.</p><p>Por meio do estudo do direito penal brasileiro, sabemos que o crime é um fato típico,</p><p>antijurídico e culpável, tornando assim, na ciência penal, a conduta delituosa boa para seu</p><p>VÍTIMA</p><p>MEIO DE</p><p>CONTROLE</p><p>AUTOR</p><p>CONDUTA</p><p>DELITUOSA OBJETO DA</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>9</p><p>entendimento taxativo não levando em consideração as mais diversas interferências</p><p>causadas e sofridas pelo ambiente a qual o agente e a vítima estão inseridos.</p><p>Socialmente, entende-se que o crime, o delito, um fato criminoso ou também</p><p>chamado conduta delituosa, é um fenômeno social causado pela extrema diferença no</p><p>poder aquisitivo do indivíduo, bem como um problema comunitário, tendo como cerne,</p><p>aproximar do pesquisador da criminologia a vontade do agente ativo da conduta, para que</p><p>assim o cientista possa entender suas diversas facetas.</p><p>Nesse sentido BECCARIA afirma que:</p><p>“Os homens, no estado de escravidão, são sempre mais debochados, mais</p><p>covardes, mais cruéis do que os homens em estado de liberdade. Estes investigam</p><p>as ciências; ocupam-se com os interesses do país; veem os objetos sob um ponto</p><p>de vista mais alto, e fazem grandes coisas. Contudo, os escravos, contentes com</p><p>os prazeres do momento, buscam no ruído do deboche uma distração para o</p><p>aniquilamento em que estão imersos. Toda sua existência está rodeada de dúvidas</p><p>e, como para eles os crimes não estão determinados, não conhecem as suas</p><p>consequências: e isso dá nova força à paixão que os leva a praticá-los. [...] Em um</p><p>povo, onde o clima faz com que ele seja indolente, a incerteza das leis entretém e</p><p>faz crescer a preguiça e a estupidez. [...] Em um povo forte e valoroso, a incerteza</p><p>das leis é constrangida finalmente a substituir-se por uma legislação exata; isso,</p><p>contudo, apenas acontece após revoluções continuadas, que levaram esse povo,</p><p>alternativamente, da liberdade à escravidão e desta à liberdade” (1995, p.93).</p><p>Destarte, a criminologia tende a ser estudada no tocante aos acontecimentos de cada</p><p>época, assim como o ambiente nela inserido, pois todos estes aspectos influenciam tanto</p><p>no entendimento e pesquisa do crime quanto no fator social, SHECAIRA (2012). A</p><p>criminologia é uma ciência que busca elucidar sobre o crime, levando em consideração</p><p>aspectos mais variados do estudo político-social, criminal, psicológico e até costumeiro.</p><p>Assim, tendo esta ciência um objeto de estudo amplo onde cada um deles tem a sua própria</p><p>finalidade, a depender do campo de conhecimento nele inserido.</p><p>Por outro lado, alguns autores entendem que o cientista criminológico, nada mais é</p><p>do que alguém com estudo generalista, esta corrente minoritária entende ainda que essa</p><p>ciência tem como função não apenas organizar, didaticamente, as informações comuns ao</p><p>estudo do crime.</p><p>É possível o entendimento de que, atualmente, os saberes criminológicos têm como</p><p>objetivo a prevenção de um futuro cometimento criminoso, por meio do estudo dos fatores</p><p>inerentes ao cometimento destes, na busca de sanar as carências de dificuldades e</p><p>inacessibilidades do agente criminoso. Tornando desta feita, a criminologia o método, uma</p><p>ciência, um programa de prevenção da conduta delituosa por meio da melhoria da qualidade</p><p>de vida das pessoas.</p><p>1.3 FUNÇÕES, MÉTODOS E PERSPECTIVAS DA CRIMINOLOGIA</p><p>As relações de força que se dão entre esses elementos condicionam-se mutuamente</p><p>e contribuem para a estratégia do conhecimento. Assim, tal conhecimento é uma forma de</p><p>vida, uma concepção do mundo, o que aponta para uma práxis. Não obstante reconhecer</p><p>tal parcela de subjetividade nesse conhecimento, não se deve, só por isso, descurar a visão</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>10</p><p>segundo a qual a possibilidade de se atingir uma “verdade científica” só será possível com</p><p>alguns procedimentos e cuidados nessa investigação.</p><p>Na criminologia, ao contrário do que acontece com o direito, ter-se-ão a</p><p>interdisciplinaridade e a visão intuitiva da realidade. A análise, a observação e a indução</p><p>substituíram a especulação e o silogismo, distanciando-se, pois, no método abstrato,</p><p>formal e dedutivo dos pensadores iluministas, chamados de clássicos.</p><p>Nisso exposto, sabemos que segundo Dicionário Michaelis de Língua Portuguesa</p><p>significa “o emprego de procedimentos ou meios para a realização de algo, seguindo um</p><p>planejamento, diz ainda ser um processo lógico e ordenado de conhecimento, ou ainda um</p><p>conjunto ordenado de regras e procedimentos a serem seguidos na investigação científica</p><p>para se chegar ao conhecimento e a verdade”.</p><p>De igual forma no estudo da criminologia, o método é o meio pelo qual a ciência estuda</p><p>o raciocínio humano, procurando por meio deste desvendar a natureza, o porquê do fato</p><p>criminoso, busca desvendar, ainda, os sujeitos relativos à ciência aludida e a sociedade</p><p>neles inserida. Por meio de experiências, suposições e dados estatísticos, a visão do buscar</p><p>de forma empírica a realidade dos atores do delito. Desta forma,</p><p>A criminologia se utiliza dos métodos biológico e sociológico. Como ciência</p><p>empírica e experimental que é, a criminologia utiliza-se da metodologia</p><p>experimental, naturalística e indutiva para estudar o delinquente, não sendo</p><p>suficiente, no entanto, para delimitar as causas da criminalidade. Por</p><p>consequência disso, busca auxílio dos métodos estatísticos, históricos e</p><p>sociológicos, além do biológico. Observando em minúcias o delito, a criminologia</p><p>usa, portanto, métodos científicos em seus estudos (FILHO, 2014, p. 26).</p><p>A justiça criminal corresponde a três domínios autônomos, os quais, em certa medida,</p><p>são o método para o estudo do crime. No entanto, apesar do domínio autônomo e do</p><p>conhecimento mantém-se uma unidade funcional teleológica entre eles. A política criminal,</p><p>por sua vez, se concentra em formas de combater a violência. Neste ínterim, é importante</p><p>o uso dos métodos da criminologia para manutenção e erradicação dos riscos da</p><p>criminalidade na sociedade. Assim, pensa Dieter (2013, p. 20):</p><p>O processo de mensuração do risco de um criminoso tem por núcleo a atribuição</p><p>de um valor numérico às suas diferentes características individuais e sociais para</p><p>depois comparar essa informação com os dados de diferentes sujeitos já</p><p>criminalizados, com o objetivo de ordená-los dentro desse padrão e decidir o que</p><p>fazer com ele em função de sua posição relativa.</p><p>A criminologia, por outro lado, embora seu campo de estudo seja muito amplo, pode-</p><p>se concluir que o estudo da origem do crime a investigação é uma de suas principais causas.</p><p>A criminologia estuda como o contexto ambiental e social da vida leva um indivíduo a</p><p>praticar roubo duplo e quais são as áreas com as maiores taxas de arrombamento? Na</p><p>prática do roubo, saber qual o perfil social e antropológico da pessoa que realizou a ação e</p><p>avaliar possíveis soluções que podem ser extraídas.</p><p>Outra linha de pensamento afirma que a criminologia utiliza dois principais métodos</p><p>de estudos: o método biológico e sociológico. Estendendo a pesquisa científica sobre o</p><p>agente delituoso, suas questões fisiológicas bem como um ambiente socialmente inserido,</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>11</p><p>visão de forma indutiva que estuda a mente deste agente delituoso, tendo como</p><p>auxiliadores dados e metodologias estatísticas históricas, sociológicas e biológicas.</p><p>Portanto, a necessidade de interdisciplinaridade, na qual eles estão alojados nos</p><p>mesmos estudos referentes à ciência de diversos profissionais, que</p><p>são: psiquiatras,</p><p>psicólogos, assistentes sociais, estatísticos, juristas que esperam, em seu próprio caminho</p><p>para investigar a ciência financiada pela criminologia inter-relacionada, independente,</p><p>integrando e complementando entre si, é neste rico contexto que a criminologia se inspira</p><p>para a sua conclusão.</p><p>Malgrado, o acesso a materiais de pesquisa pode ser difícil, pois existem muitas</p><p>disciplinas, também é muito complicado lidar com as questões que envolvem crimes</p><p>porque há um medo e estigmatização de criminosos; pessoas envolvidas em conduta</p><p>criminosa relutam em ser entrevistadas por pesquisadores, afinal são pessoas que não se</p><p>conhece; muitos pais ou professores têm dificuldades em responder a perguntas de</p><p>crianças ou alunos sobre crimes. Assim sendo, as autoridades policiais e as administrações</p><p>penitenciárias muitas vezes não disponibilizam informações como o acontecido, sob a</p><p>alegação de que é considerado "confidencial".</p><p>Outro mecanismo metodológico comumente utilizado é a tecnologia de grupo de</p><p>controle, refere-se a uma série de variáveis. Especificamente o que se quer aprender e,</p><p>finalmente, existem métodos de análise que é continuar ou desistir do que os tribunais e a</p><p>polícia têm. Por fim, entre os métodos empíricos estabelecidos, um é o sentido de</p><p>reprodução que dá a possibilidade de organizar o trabalho. Existem duas formas básicas:</p><p>estudos diacrônicos e estudos sincrônicos. A primeira, refere-se ao projeto que tende a</p><p>investigar a extensão de tal pesquisa em seu escopo, elementos, técnicas e conclusões que</p><p>estão relacionados a seus antecessores. Por outro lado, tampouco se deve ficar sem</p><p>pesquisa simultânea, para que os resultados sejam comparados com estudos</p><p>transculturais, coletados em outros países ou outras partes do mesmo país.</p><p>1.4 CRIMINOLOGIA GERAL E CLÍNICA</p><p>Ao falarmos de classificação da ciência da criminologia, estamos tratando da</p><p>organização cronológica (etapas), para melhor compreensão do fenômeno delituoso. Pelo</p><p>motivo da criminologia tratar o fato de virtuoso com a internet às suas margens diversas,</p><p>quer sejam fatores físicos, sociais ou psicológicos, ou ainda fatores externos que inspiram</p><p>o delinquente.</p><p>Neste diapasão, a grande maioria dos doutrinadores (corrente majoritária), entende</p><p>que a criminologia se divide em dois principais ramos, sendo estes a criminologia geral e</p><p>clínica. Tratando a criminologia geral, no tocante a observação sistemática, e, comparativa</p><p>Biológico Sociológico Método</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>12</p><p>acerca dos objetos dá-lo da ciência, assim também se entende como criminologia clínica,</p><p>o tratamento das informações do fato delituoso aplicando-se os conhecimentos científicos</p><p>nos fatos. Por derradeiro,</p><p>ensina-se que a criminologia pode ser dividida em: criminologia científica</p><p>(conceitos e métodos sobre a criminalidade, o crime e o criminoso, além da vítima</p><p>e da justiça penal); criminologia aplicada (abrange a porção científica e a prática</p><p>dos operadores do direito); criminologia acadêmica (sistematização de princípios</p><p>para fins pedagógicos); criminologia analítica (verificação do cumprimento do</p><p>papel das ciências criminais e da política criminal) e criminologia crítica ou radical</p><p>(negação do capitalismo e apresentação do delinquente como vítima da sociedade,</p><p>tem no marxismo suas bases).</p><p>Para De Sá (2007), a criminologia clínica em sua gênese busca fazer o</p><p>acompanhamento médico-psicológico, de forma estritamente científica, por meio de um</p><p>estudo complexo e interdisciplinar. Assim, independente da abordagem a ser utilizada na</p><p>tratativa por fato criminoso, o autor entende a importância do estudo da conduta, forma</p><p>punitiva e ressocialização ao convívio social, entendido de forma interdisciplinar,</p><p>necessariamente, tendo como cerne o retorno do agente agressor à sociedade.</p><p>1.5 AS CARACTERÍSTICAS DA CRIMINOLOGIA</p><p>Para Justino (2016), é a finalidade da criminologia que o estudo abrangente dos mais</p><p>variados fatores relevantes ao cometimento do fato delituoso, com o intuito de prevenção</p><p>aos riscos para uma sociedade. Podendo, por meio do estudo da mente, do ambiente e das</p><p>circunstâncias fatídicas, a possibilidade, por meio de uma investigação criminológica, de</p><p>demonstrar transparentemente para a sociedade formas de manutenção e prevenção de</p><p>tais perigos.</p><p>Outrossim, sabendo ainda que o estudo da criminologia é entendido como</p><p>demasiadamente complexo, no qual defende o crime como uma conduta biopsicossocial</p><p>(biológica, psicológica e social), como por exemplo, questões relacionadas ao desvio de</p><p>condutas, neuroses, desvios psicológicos e socioeconômicos também são fatores super-</p><p>relevantes no estudo da conduta delituosa e de seus agentes.</p><p>Segundo Justino (2016), a grande característica do estudo da criminologia é a</p><p>interdisciplinaridade da ciência da Criminologia, desta forma temos:</p><p>DIREITO PENAL</p><p>O principal ponto de contato da criminologia com o Direito</p><p>Penal está no fato de que este delimita o campo de estudo</p><p>da criminologia, na medida em que tipifica e define</p><p>juridicamente a conduta delituosa; O direito penal é</p><p>sancional por excelência; ele caracteriza os delitos e,</p><p>através de normas rígidas, prescreve penas que objetivam</p><p>levar os indivíduos a evitar essas condutas.</p><p>DIREITO PROCESSUAL</p><p>PENAL</p><p>A Criminologia fornece os elementos necessários para que</p><p>se estipule o adequado tratamento do réu no âmbito</p><p>jurisdicional. Indica também qual a personalidade e o</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>13</p><p>contexto social do acusado e do crime, auxiliando os juristas</p><p>para que a sentença seja mais justa. A criminologia oferece</p><p>os critérios valorativos da conduta criminosa. Ela pesquisa</p><p>a eficácia das normas do Direito Penal, bem como estuda e</p><p>desenvolve métodos de prevenção e ressocialização do</p><p>criminoso.</p><p>DIREITO PENITENCIÁRIO</p><p>Os dados criminológicos são importantes no Direito</p><p>Penitenciário para permitir o correto e eficaz tratamento e</p><p>ressocialização do apenado. A criminologia ajuda a tornar a</p><p>pena mais humana, buscando o objetivo de punir sem</p><p>castigar.</p><p>PSICOLOGIA/PSIQUIATRIA</p><p>CRIMINAL</p><p>É a ciência que demonstra a dimensão individual do ato</p><p>criminoso; estuda a personalidade do criminoso, orientando</p><p>a Criminologia. Ramo do saber que identifica as diversas</p><p>patologias que afetam o criminoso e envolve o estudo da</p><p>sanidade mental.</p><p>ANTROPOLOGIA/</p><p>SOCIOLOGIA CRIMINAL</p><p>Abrange o fenômeno criminológico em sua dimensão</p><p>holística, ou seja, biopsicossocial. É o estudo do homem na</p><p>sua história, em sua totalidade (homem como fator presente</p><p>no todo); e mostra que a personalidade criminosa é</p><p>resultante de influências psicológicas e do meio social.</p><p>CIÊNCIAS BIOLÓGICAS</p><p>Fornecem os elementos naturais e orgânicos que</p><p>influenciam ou determinam a conduta do criminoso.</p><p>VITIMOLOGIA</p><p>Estuda a vítima e sua relação com o crime e o criminoso</p><p>(estuda a proteção e tratamento da vítima, bem como sua</p><p>possível influência para a ocorrência do crime).</p><p>CRIMINALÍSTICA</p><p>É o ramo do conhecimento que cuida da dinâmica de um</p><p>crime. Estuda os fatores técnicos de como o crime</p><p>aconteceu. Há um setor especializado da polícia destinado</p><p>a essa área.</p><p>CIÊNCIAS ECONÔMICAS</p><p>Estuda o crime a partir do instrumental analítico</p><p>racionalista. O crime é visto como um mercado e sua oferta</p><p>é determinada por fatores como o ganho esperado da</p><p>atividade criminosa, probabilidade de sucesso e</p><p>intensidade da punição em caso de falha.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>14</p><p>Caracteriza-se, ainda, por ser uma ciência que analisa o porquê da conduta delitiva,</p><p>sob um olhar mais neutro do delito como fato humano, social e político, observando o</p><p>agente criminoso com mais humanidade. Podendo ser considerada ainda uma ciência</p><p>utópica, o domínio da consciência do fato ocorrido, na justificativa dele oferecer ao agente</p><p>agressor a possibilidade real de uma ressocialização.</p><p>Entretanto, essa característica de um olhar mais humano e cuidadoso para o</p><p>delinquente, a característica de ajudante da ciência penal, faz da</p><p>ciência da criminalidade</p><p>um meio pelo qual o Direito Penal dispõe o conhecimento normatizador das normas</p><p>criminais.</p><p>Outrossim, a interdisciplinaridade vasta é uma característica que beneficia as</p><p>investigações penais, pois auxilia de forma direta em certos momentos onde o rol taxativo</p><p>de atos e procedimentos, não permitem que os agentes incumbidos de tal investigação a</p><p>possam concluir, pois o estudo interdisciplinar observando as mais diversas possibilidades</p><p>e vertentes de um mesmo fato dispõem ao agente de investigação criminal subsídios</p><p>importantes.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>15</p><p>UNIDADE II</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>16</p><p>A CRIMINOLOGIA COMO CIÊNCIA</p><p>Podemos entender a criminologia como a seara do direito que estuda as causas, o</p><p>contexto, a origem e os fatores do cometimento do delito, bem como, de todo seus efeitos e</p><p>consequências. É interessante ressaltar que o estudo da criminologia como ciência é de suma</p><p>importância para a determinação de investigações mais neutras e claras quanto aos fatos</p><p>determinantes para o início cometido. Tendo como ponto de partida a busca no entendimento</p><p>das relações interpessoais, estudo político financeiro da sociedade inserida no contexto do</p><p>fato ocorrido, e, questões clínicas médicas ou psicológicas, que possam ter afetado hoje</p><p>atores do fato delituoso.</p><p>2.1 CRIMINALIDADE FEMININA</p><p>Nos últimos tempos, o campo de estudo da criminalidade feminina teve um grande</p><p>avanço, por meio da evolução social que pese no mundo, solicitando desta feita um</p><p>tratamento igualitário entre homens e mulheres, outras, ganhou mais notoriedade nos</p><p>estudos criminológicos, através de adaptações de questões atuais que revelam na mulher</p><p>características inovadoras, fazendo com que o pesquisador busque mais informações para</p><p>desvendar a cada dia mais as disfunções de cunho antropológicas, psicológicas e sociais,</p><p>ocasionadas pela violência, tema genérico que abrange todos os objetos de estudos da</p><p>criminologia.</p><p>Diante de tais fatos é lícito observar, que o movimento feminista trouxe ao estudo da</p><p>criminologia uma representação de uma corrente sexista, até então inexistente no estudo da</p><p>criminologia. Pois, tal ciência desde muito tempo tinha seus vestígios de surgimento, porém,</p><p>com a imagem patriarcal onde a mulher era submissa e completamente dependente de seu</p><p>marido, provedor, sequer ela estava sendo lembrada pelos cientistas sociais.</p><p>Ainda considerando a figura da mulher na época medieval, como um ser de</p><p>subserviência, ela era considerada uma classe perigosa que deveria ser reprimida a todo o</p><p>custo. No mesmo momento, havia movimentos que idealizavam a mulher como sinônimo de</p><p>vitimização, num momento posterior (à época da inquisição). É possível perceber o caminhar</p><p>da compreensão do poder punitivo que a consideraria como um ser passível de erros e</p><p>cometimento de crimes, assim comenta Mendes (2017).</p><p>Weigert e Carvalho (2020, p. 1787) afirmam que:</p><p>No que diz respeito especificamente às mulheres envolvidas em situações de</p><p>violência, na qualidade de autoras ou de vítimas de crimes, a criminologia ortodoxa não</p><p>procedeu de forma distinta, pois o conhecimento produzido sempre restou limitado à</p><p>interpretação dos conflitos como resultado de uma dinâmica estritamente individual</p><p>e privada (microcriminológica). Assim, no marco do positivismo criminológico, as</p><p>violências que envolvem as mulheres foram inseridas em um horizonte de investigação</p><p>cuja base interpretativa era (e em grande medida continua sendo) causalista.</p><p>A figura feminina, num passar da evolução da humanidade, teve a oportunidade de a</p><p>partir de um forte apontamento associativo entre a mulher e a realeza, mulher e deusas,</p><p>conceber a associação noutro momento da mulher, como um ser inferior passível de</p><p>subserviência, sem direitos, e com o dever de ser a cuidadora, auxiliadora de seu mantenedor</p><p>e a sua família.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>17</p><p>Pereira (2021), entende, por fim, que diante do paradigma masculino massivo que rege as</p><p>ciências sociais, estas reduzem as mulheres há uma negativa de seus direitos humanos.</p><p>Questões como caráter, habilidades, costumes e questões psicoemocionais são passíveis a</p><p>ambos os gêneros, tornando assim, os impactos do avanço do feminismo e o reconhecimento</p><p>da humanidade das mulheres um fator principal, para que no estudo da criminologia, estas</p><p>venham a ser reconhecidas como agente do caos, não somente como uma figura relacionada</p><p>ao vitimismo.</p><p>2.2 CRIMINALIDADE RACIAL</p><p>A busca pela compreensão da sociedade brasileira nos faz perceber inúmeros</p><p>movimentos sociais, uma vez que o nosso país é um dos mais miscigenados do mundo. E com</p><p>essa miscigenação, diversas raças e etnias se fazem presentes na população, bem como suas</p><p>características físicas e especificidades religiosas.</p><p>Com uma das maiores populações negras do mundo, o Brasil, ainda nos dias de hoje,</p><p>herda dos tempos escravagistas, preconceitos velados e racismo perpetuado de forma</p><p>estrutural, que faz uma dicotomia com a importância social do negro na cultura do Brasil. A</p><p>isonomia de tratamento e a assimetria de oportunidades diante de uma democracia racial não</p><p>exercida em nosso país, nos propõem severas reflexões.</p><p>Para explicar o termo racismo, a literatura busca questionar as origens desse</p><p>comportamento, que historicamente tem sido visto como oriundo da natureza humana, em</p><p>especial do conjunto de crenças e valores de um indivíduo, e, por causa de suas crenças, por</p><p>exemplo, por ser um agressor extremamente violento e, portanto, fora do governante</p><p>mediano, esta é uma comunidade que vive pelas regras da boa convivência. O nascimento da</p><p>criminologia positivista brasileira é uma peça decisiva que pode nos ajudar a compreender a</p><p>prática de nosso sistema penal e os conceitos sobre o ser humano que a ciência brasileira</p><p>defende.</p><p>Utilizando assim a raça como fator criminoso, considerado uma das principais causas da</p><p>criminalidade e do deslocamento social, concluiu-se que o processo de abolição foi orientado</p><p>pela necessidade da elite branca, e, impediram a possibilidade de ascensão social negra nos</p><p>níveis local e regional, assim,</p><p>A criminologia enquanto ciência no Brasil torna-se um mecanismo que vai além da</p><p>preocupação do estereótipo do criminoso, empenhando-se assim, na manutenção do</p><p>controle social e na criminalização das raças inferiores. Por isso, torna-se</p><p>imprescindível às ações de reduzir, diminuir, objetificar e desqualificar os</p><p>criminalizados e criminalizados, tudo em nome da anutenção da ordem social desigual.</p><p>Portanto, o desenvolvimento das teorias da Criminologia Positivista no Brasil, tinham</p><p>por função manter a hierarquia social da época, mas também legitimar a construção</p><p>de uma hierarquização racial. Nesse sentido, a Criminologia Positivista serviu como</p><p>base científica para as teorias raciais que se desenvolveram no processo pós-abolição</p><p>da escravatura, construindo a figura dos ex-escravizados como perigosos e</p><p>criminosos (MARQUEZ, PERTUZATTI e BORBA, 2022, p.25).</p><p>No mesmo sentido, eles se fundem em questões múltiplas, mas marginalizadas, ao</p><p>analisar o contexto brasileiro, é preciso mostrar esse processo histórico em diferentes formas</p><p>de colonização, processos de esterilização, eurocentrismo e principalmente o racismo.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>18</p><p>O racismo não deve ser entendido como a única consequência da maldade humana, pois</p><p>essa definição torna o debate muito superficial. Assim, intencionalmente, ajuda a estender</p><p>essa visão simplista da questão para além da escrita acadêmica para temas atuais, como o</p><p>racismo estrutural e institucional problemático e a situação privilegiada da branquitude como</p><p>eles vivenciam na tradução da sociedade. No cerne da questão do racismo está a forma como</p><p>os cidadãos brancos, baseados na opressão dos negros, o utilizam como ferramenta para</p><p>perpetuar essa posição privilegiada.</p><p>Quando se trata do genocídio da população negra, o estado (na verdade anti-negro)</p><p>está</p><p>do lado. A produção do conhecimento, a obliteração constante dos estudos e pesquisadores</p><p>negros é um projeto, construído para criar tais modos de operação. Desta forma, o humanismo</p><p>radical, objetivo e subjetivo, esvaziado por um discurso que reduz o sofrimento de quem se</p><p>encontra em estado de total vulnerabilidade.</p><p>Por sua vez, paredes levantadas tentam devorar o pensamento crítico, lógica de</p><p>produção que começa a transformar subjetivamente as pessoas em uma máquina que</p><p>coopera ativamente, para que a legislação justifique a barbárie e isole a igualdade. Portanto,</p><p>mulheres, negros, trabalhadores, presos e os pobres constituem a exclusão histórica e, em</p><p>solo brasileiro, a sociabilidade da sociedade brutal.</p><p>A teoria do “criminoso nato” de Lombroso partirá da premissa de que o agente</p><p>criminoso é um indivíduo que apresenta características físicas e mentais primitivas do</p><p>homem e que, por sua hereditariedade, está propenso ao crime. Lombroso chegou a</p><p>sofisticar a sua teoria do atavismo, incluindo outras características, tais como</p><p>doenças e degenerações congênitas para embasá-las como a origem do</p><p>comportamento criminoso, contudo sempre se pautou na ideia principal dos fatores</p><p>biológicos do crime, a partir dos estigmas carregados pelo indivíduo. Com isso, ele</p><p>simplifica o crime a um fenômeno ontológico e natural, e o criminoso a uma aberração</p><p>patológica e primitiva (MARCELINO, MARTINS, 2019, p. 60).</p><p>Na busca de uma nova identidade social, aqueles que não puderam fazer parte da</p><p>imagem social brasileira, por meio da política de saúde, do controle penal e do saber médico,</p><p>permaneceram no isolamento colonial, promovendo assim a política nacional de</p><p>branqueamento, não apenas no que diz respeito à conscientização de saberes vinculados à</p><p>política como também a governabilidade guiada por aspectos biológicos do controle</p><p>populacional. Com base no racismo estrutural, a morte de negros marginalizados ou o</p><p>encarceramento em massa do grupo não seria chocante nem de interesse da elite brasileira.</p><p>Além disso, o que normaliza socialmente é a ausência de indivíduos negros nos espaços</p><p>de poder, mas o que assusta e ostraciza são as medidas mitigadoras, como as ações</p><p>afirmativas, como forma de compensação histórica e garantias de equidade para esses grupos</p><p>historicamente marginalizados.</p><p>2.3 A CRIMINOLOGIA E O CONTROLE SOCIAL</p><p>Ao tratar sobre o controle social, no tocante ao estudo da criminalidade, tem-se o</p><p>conceito de que seja um conjunto de mecanismos e sanções com intuito de promover um</p><p>cidadão aos modelos e normas utilizados na sociedade inserida. Assim, tornando o controle</p><p>social uma forma de promover comportamentos tidos como aceitáveis, e prevenir</p><p>comportamentos entendidos como reprováveis ou perigosos.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>19</p><p>Para Rocha e Júnior (2016), essa seara da criminologia tem como objetivo a consciência</p><p>dos meios possíveis de manutenção da criminalidade, sendo um conjunto de mecanismos que</p><p>tem visão de submeter o cidadão à convivência coletiva. Os autores apontam a existência de</p><p>dois principais sistemas de controles: o controle informal, realizado de forma costumeira no</p><p>convívio em sociedade, e o controle formal exercido pelas instituições públicas, na imposição</p><p>de regras e penalidades no não cumprimento destas.</p><p>Um perfeito exemplo de controle formal no Código Penal Brasileiro, é o art. 121, quando</p><p>impõem reprovável a conduta de matar alguém, normatizando na mesma oportunidade a</p><p>consequência jurídica, na pena de reclusão de 6 meses a 20 anos.</p><p>Outro exemplo, neste caso de controle informal, é a dogmática religiosa no tocante a</p><p>indicação de pecado quanto à conduta de matar alguém, causar prejuízo, ser desonesto, agir</p><p>de forma premeditada com a finalidade de se apropriar de algo que não lhe convém, bem como</p><p>na orientação de condutas aceitáveis a fim de controlar de forma sugestiva e informal, a</p><p>sociedade que aduz os preceitos religiosos.</p><p>As mudanças sociais ocorridas em larga escala, na segunda metade do século XX,</p><p>marcaram a chegada da pós-modernidade de uma forma de organização social e de</p><p>consciência bem distintas da simples modernidade. As grandes forças de mudança</p><p>histórica transformaram a textura do mundo desenvolvido nesse período, modificaram</p><p>as economias de mercado globais, os sistemas de Estado-nação, e as vidas diárias e</p><p>psicológicas das famílias e dos indivíduos. A mais poderosa e determinante destas</p><p>forças históricas, foi a dinâmica da produção e das trocas capitalistas. Nesse</p><p>processo, ocorreram a acumulação de capital, a promoção de busca incessante por</p><p>novos mercados consumidores, de maximização dos lucros e de vantagens</p><p>econômicas comparativas (ROCHA e JÚNIOR, 2016, p. 32).</p><p>A conduta do indivíduo delinquente segue uma lógica imposta por uma reação atual, e</p><p>também com um comportamento alimentado pelo ambiente externo ao qual ele convive. A</p><p>normalização de determinados comportamentos age no consciente e subconsciente do</p><p>agente delinquente como balizador de suas condutas, assim a criminologia consegue por meio</p><p>do estudo da mente dos atores do fato criminoso, entender um ambiente neles inserido e suas</p><p>justificativas, como fator de desvio social, ou ainda um desvio de caráter/comportamento</p><p>humano.</p><p>Neste sentido Bandeira e Portugal (p. 52) entendem que:</p><p>Um indivíduo tendo praticado o comportamento criminoso, será tido como sujeito</p><p>incapaz de seguir as normas de um corpo social, estando, portanto, de fora e fora do</p><p>corpo social, é um “outsider”. O conceito de “outsiders” é um conceito relativo, visto</p><p>que se pode ter dentro de um subgrupo delinquente a compreensão de que o “outsider”</p><p>é aquele que dita as normas. Contudo, dentro da lógica de distribuição de poder, o</p><p>“outsider” que será efetivamente atingido pelo sistema repressor penal é justamente</p><p>aquele que não age de acordo com as normas etiquetadas pelas instâncias oficiais de</p><p>controle (Estado e meios formais de categorização de condutas como criminosas ou</p><p>não).</p><p>Segundo Rogério Greco (2018), grupos de indivíduos de convívio frequente acabam por</p><p>criar um regramento social interno, muitas vezes a aplicação deste regulamento promove um</p><p>processo de desvio social, fazendo com que a prática dessas regras seja imposta, porém essa</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>20</p><p>coletividade em específico passa a ser muitas vezes a mola fundamental para o desvio social</p><p>de uma determinada localidade.</p><p>Ainda segundo o autor acima citado, estes desvios podem ocorrer de forma primária e</p><p>secundária. Sendo o desvio primário aquele que tem como objetivo resolver alguma</p><p>pendência, produzindo efeitos de forma a contrariar o regramento coletivo da qual faz parte,</p><p>ou seja, exerce a conduta delitiva na finalidade de reprimir certa situação, desviando-se do</p><p>controle formal e decaindo as expectativas do subgrupo cultural, qual os seus regramentos</p><p>informais impostos a uma pequena coletividade ali associada (marginalizada), que as</p><p>promove.</p><p>Para Nestor Sampaio Penteado Filho, a prevenção do delito desrespeitou nada mais nada</p><p>menos do que um emaranhado de ações com o objetivo de evitar a fatídica prática da conduta</p><p>delituosa. Assim, por meio de ações, práticas e programas governamentais, sociais e</p><p>religiosos, atuam sobre as causas que antecedem o início do ciclo delituoso.</p><p>O autor defende ainda que, para a realização de medidas de controle e prevenção do</p><p>delito/crime na sociedade, estas sejam feitas em dois momentos, sendo: as medidas de</p><p>prevenção e controle indiretas, que atuam sobre as causas do delito, fazendo com que as</p><p>causas do delito não venham sequer ser realizadas. E no segundo momento, realizado de</p><p>forma direta quanto à imposição de suas consequências, também entendido como efeito</p><p>obtido pela conduta criminosa praticada, mais precisamente, na imposição da penalidade ao</p><p>agente que neste momento já praticado a conduta reprimida, e tendo como sua contrapartida</p><p>uma determinada imposição estatal.</p><p>Lima Júnior (p. 60) classifica ainda quanto à prevenção</p><p>das condutas delituosas, como:</p><p>• PREVENÇÃO PRIMÁRIA: quanto aos programas tem o objetivo de criar e neutralizar as</p><p>causas do delito, bem como programas de educação e socialização. Incidindo este,</p><p>sobre o problema base das causas de desvios sociais, proporcionando uma maior</p><p>conscientização de seus direitos como população (saúde, moradia, saneamento</p><p>básico, de segurança, educação entre outros, visando uma qualidade de vida</p><p>responsiva no tocante a dignidade da pessoa humana prevista na nossa Constituição),</p><p>objetivando resultados a longo prazo com a mudança cultural da sociedade.</p><p>• PREVENÇÃO SECUNDÁRIA: a corrida em um momento do crime, pode ser no ato ou</p><p>em sua iminência, levando em consideração o ambiente ao qual o agente ativo exerce</p><p>a conduta tida como reprovável. Assim, o momento de fato que o fenômeno da</p><p>criminalidade se revela, observando desta feita além do aspecto comunitário em volta</p><p>da cena fatídica, como também no cuidado da vítima, relacionando nesta</p><p>oportunidade as ações de controle policial continuado, programa de apoio e</p><p>comunicações coletivas (canais de denúncias), com o intuito de apresentar resultados</p><p>a médio prazo.</p><p>• PREVENÇÃO TERCIÁRIA: aquela que incide na reprimenda da continuidade dos</p><p>mesmos atos por parte do agente criminoso, ocorrendo por meio da realização de</p><p>medidas alternativas da penalidade imposta por seus atos, quer seja serviços de</p><p>comunitários, liberdade assistida, prestação de alimentos e outros. Tendo</p><p>considerado que o objetivo da sanção penal é a coerção da conduta delitiva bem como</p><p>a ressocialização deste, para que seja novamente inserido em sociedade após esta</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>21</p><p>passagem traumática, da necessidade de ser imposto a ele por meio do caráter</p><p>punitivo do estado a perda de alguns de seus direitos.</p><p>A pena de fato é um dos principais instrumentos de controle social e prevenção da</p><p>criminalidade, muito embora não seja o mais indicado tão pouco único, mas é de suma</p><p>importância do direito na medida em que a intervenção do estado se faz necessária, quando</p><p>atrelada a práticas de ressocialização do agente que comete a conduta delituosa.</p><p>2.4 O PENSAMENTO CRIMINOSO</p><p>É certo que a determinação das medidas de repressão a condutas delitivas, agem em</p><p>primeiro momento como instrumento de prevenção à criminalidade, entretanto, pode-se</p><p>considerar que tal medida também vinha a corroborar para coibir as condutas de reincidência</p><p>em atos criminosos. Uma vez que, a continuidade delitiva causa aumento da penalidade</p><p>imposta para a mesma conduta, tornando assim mais uma forma de constranger o agente</p><p>ativo das condutas delitivas em seu cometimento.</p><p>Segundo Beristain (2020), foi no ano de 1884 que marca o início da ciência do pensamento</p><p>criminológico no Brasil, sabendo-se que o conhecimento da mente criminosa já tivera no hall</p><p>dos estudos dos penalistas brasileiros, foi a partir daí que o momento tornou-se difuso o fato</p><p>do estudo da mente criminosa.</p><p>Este estudo teve como principal expoente a evolução da ciência penal, e, social no</p><p>tocante a consciência de que a mente criminosa por vezes advém de características</p><p>genéticas-psicológicas (como exemplo as sociopatias e psicopatias), de características</p><p>ambientais (quando o agente ativo da conduta criminosa constrói seu caráter em primeira</p><p>infância inserido em uma sociedade, que antes já normatizou determinadas condutas,</p><p>moldando o caráter deste agente a título de ignorar a regra social imposta, de bons costumes),</p><p>bem como situações de desvio de valores sociais, tão bem entendido como a esdrúxula</p><p>separação de classes sociais, tornando pessoas pertencentes a estas extremidades,</p><p>indivíduos escravizados a sua realidade.</p><p>De Sá (2007, 46) explica que:</p><p>Os técnicos que fazem o exame criminológico não conhecem a “pessoa total” de seu</p><p>examinando e não “pensam” sobre ela, o promotor e o juiz não conhecem a “pessoa</p><p>total” de seu denunciado e seu condenado e não “pensam” sobre ela, o legislador das</p><p>reformas pontuais não conhece a fundo as consequências e os desdobramentos das</p><p>reformas introduzidas e não pensa sobre elas. Pensar sobre os próprios atos é</p><p>representá-los psiquicamente, e este pensamento será tanto mais amplo quanto</p><p>maior for a amplitude e abrangência com que o ato é representado. Na medida em que</p><p>o profissional não pensa sobre o que está fazendo, ele não sabe exatamente o que está</p><p>fazendo.</p><p>Uma vez conhecidos os objetos de estudo da criminologia, tai sejam: delito, delinquente,</p><p>vítima e o controle social, bem como os métodos utilizados para assim ser interdisciplinar da</p><p>criminologia e possa nortear o conhecimento e prevenção de condutas delituosas, surgem na</p><p>ciência aludida a construção de um pensamento criminológico, pensamento este que permite</p><p>os estudiosos a ter a capacidade de por meio da antropologia criminal identificar a</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>22</p><p>delinquência como uma anormalidade que prejudica a sociedade como um todo (SHECAIRA,</p><p>2020).</p><p>Levando em consideração os momentos do estudo da criminalização, Mendes (2017)</p><p>entende que:</p><p>O processo seletivo de criminalização opera em duas etapas: primária e secundária. A</p><p>etapa da criminalização primária é o momento e o resultado do ato de sancionar uma</p><p>lei penal que incrimina ou sanciona certas condutas. Nesta, autuam as agências</p><p>políticas (parlamento, executivo) responsáveis pela formulação do que deve ser</p><p>apenado. A criminalização secundária é a ação punitiva exercida sobre pessoas</p><p>concretas, que acontece quando as agências do Estado detectam pessoas que se</p><p>supõe terem praticado certo ato criminalizado primariamente e as submetem ao</p><p>processo de criminalização, tais como a investigação, a prisão e a condenação. Nesta</p><p>etapa atuam agências diferentes das que formularam o programa: policiais, membros</p><p>do Ministério Público, magistrados/as, agentes penitenciários. (Grifos nossos)</p><p>O estudo do pensamento criminológico busca racionalizar o poder punitivo das ações</p><p>estatais que visa garantir a proteção da sociedade por meio de intervenção coercitiva. Como</p><p>também tem como cerne a preocupação política para o desenvolvimento de uma abordagem</p><p>que tenha o intuito de garantir não somente a proteção das vítimas, como também a inserção</p><p>de políticas públicas com a finalidade de retirar o agente ativo deste ambiente virtuoso</p><p>proporcionando a ele, um novo estilo de vida por meio da ressocialização.</p><p>Para Justino (2016), o pensamento criminológico dos dias de hoje é fortemente</p><p>influenciado por duas questões principais; sejam elas a teoria do consenso que entende os</p><p>objetivos da sociedade em perfeito funcionamento, e a teoria do conflito de cunho mais</p><p>argumentativo que determinam que a sociedade são sujeitos às mudanças contínuas de modo</p><p>que todo elemento coopera para a dissolução de comportamentos anteriores, assim,</p><p>tornando continua a necessária luta de classes e ideologias minoritárias, com o objetivo de se</p><p>inserir na sociedade moderna.</p><p>Entende-se, ainda, quanto ao estudo do pensamento criminológico no tocante às suas</p><p>teorias, que apesar de a teoria do consenso entender que o objetivo da sociedade é o</p><p>funcionamento perfeito das instituições, no compartilhamento e cumprimento dos</p><p>regramentos coletivos de convívio. Noutra extremidade temos uma sociedade sujeita a</p><p>Elementos Sociais</p><p>Teoria do Consenso</p><p>perenidade</p><p>integralidade</p><p>funcionalidade</p><p>estabilidade</p><p>Teoria do Conflito</p><p>mudança contínua</p><p>cooperação para</p><p>dissolução</p><p>luta de classes</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>23</p><p>mudanças contínuas, e as margens deste evoluem, tornando necessária a sua maneira, a luta</p><p>de classes e ideologias próprias.</p><p>2.5 A NOVA CRIMINOLOGIA OU TEORIA CRÍTICA</p><p>Essa teoria surgiu em simultaneidade nos Estados Unidos e Inglaterra depois dissipando</p><p>para outros países da Europa, a teoria crítica também conhecida como nova criminologia, tem</p><p>como base de pensamento a crítica às posturas tradicionais incapazes no compreender da</p><p>premissa do pensamento humano. Sabemos, hoje, que a mão de ferro</p><p>da comunidade chinesa</p><p>chega a utilizar a pena de morte com o máximo rigor de seu controle, e, a associação deste</p><p>rigor ao aumento da produtividade capitalista, não falemos do medo que fazia outrora.</p><p>Apesar de ser possível o entendimento macrossociológico que permite sugerir que a</p><p>falha no controle social se origine no demasiado aumento da produtividade e capacidade</p><p>consumerista. Pois assim, considera o problema criminal insolúvel numa sociedade</p><p>capitalista; depois, e, sobretudo, porque a aceitação das tarefas tradicionais é em absoluto</p><p>incompatível com as metas da criminologia (BANDEIRA, PORTUGAL, 2017).</p><p>A Criminologia Crítica constitui-se como uma nova criminologia,</p><p>que além de contrapor os dizeres da burguesia e do liberalismo, desconstrói</p><p>referencialmente e, sobretudo na práxis, uma criminologia pautada no</p><p>conservadorismo — esta que, em um contexto de hegemonia do pensamento</p><p>eurocêntrico, foi uma das ferramentas responsáveis pela segregação social dos</p><p>“indesejáveis”. (...) O que caracteriza os dizeres dessa nova maneira de questionar o</p><p>fenômeno criminal é justamente a confrontação aos princípios conservadores. Na</p><p>realidade brasileira, o sistema de justiça penal, para além de manter um contingente</p><p>de pessoas marginalizadas, foi importante ferramenta para acumulação primitiva de</p><p>capital, pois mantém acirrada a luta no mercado de trabalho, causando diversos</p><p>efeitos nefastos, como a baixa nos salários, apresentada por pensadores da economia</p><p>política da pena que pensaram tal questão em solos brasileiros (CHERSONI, CHAGAS e</p><p>MUNIZ, 2022, p. 276)</p><p>É possível perceber, atualmente, que a criminalidade está atrelada aos mais diversos</p><p>meios sociais, quer sejam informáticos, eletrônicos, ambientais, econômicos e sociais. A nova</p><p>criminalidade impõe uma diminuição das garantias, mas a não aplicação das penas</p><p>institucionais, ou seja, entende que o problema não seria o enumerado de garantias, e</p><p>imposições penais, mas sim, o cuidado humano anterior e efetivo para que o fato criminoso</p><p>sequer tenha de ser acontecido. Neste sentido, as principais características da corrente</p><p>crítica são:</p><p>a) A concepção conflitual da sociedade e do direito (o direito penal ocupa-se de</p><p>proteger os interesses do grupo social dominante);</p><p>b) Reclama compreensão e até apreço pelo criminoso;</p><p>c) Critica severamente a criminologia tradicional;</p><p>d) O capitalismo é a base da criminalidade;</p><p>e) Propõe reformas estruturais na sociedade para redução das desigualdades e</p><p>consequentemente da criminalidade.</p><p>É uma luta entre interesses fundamentais, em suas políticas para exercer mais talento</p><p>profissional e controle funcional do crime, e querendo definir o objeto da própria criminologia.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>24</p><p>A base para esse pensamento está incorporada em uma crítica às posições consensuais</p><p>criminológicas tradicionais, a incapacidade de compreender a totalidade do fenômeno</p><p>criminoso.</p><p>A premissa do pensamento está indubitavelmente ancorada no pensamento Marxista,</p><p>porque acredita que o crime é um fenômeno que depende do modo de produção capitalista.</p><p>De qualquer forma, é quando o foco da macrossociologia se desloca do desvio para seus</p><p>mecanismos de controle social e, principalmente, para o processo de Criminalização, o</p><p>momento crítico atinge a maturidade na criminologia, que tende a transformar-se de uma</p><p>teoria do crime para uma teoria crítica e sociológica do sistema penal.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>25</p><p>UNIDADE III</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>26</p><p>AS ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS</p><p>A presente unidade tratará sobre a evolução das escolas criminológicas no decorrer dos</p><p>tempos, à qual é entendida, na corrente majoritária, com a divisão em três principais, sendo</p><p>estas: a escola clássica, a escola positiva e a escola sociológica, respectivamente. É sabido</p><p>que o estudo do crime sob a ótica multidisciplinar da criminologia foi possível por conta da</p><p>evolução do pensamento filosófico acerca do que seria sociedade e o pensamento humano,</p><p>bem como a percepção social do fato criminoso. Malgrado aborda as duas principais escolas</p><p>criminológicas e o entendimento completamente distintos. Esta unidade trará conceitos,</p><p>características, importâncias e as fatídicas diferenças entre as três principais teorias bem</p><p>como conceitos e características de escolas reconhecidas por uma corrente minoritária,</p><p>porém com pouca força científica.</p><p>3.1 ORIGEM DAS ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS</p><p>Sabemos que o estudo da criminologia como ciência, no geral, vem no sentido de dar</p><p>resposta às quatro demandas sociais, sendo estas: crime, criminoso, vítima e controle social</p><p>do delito. Na antiguidade clássica de Aristóteles, Platão e São Tomás de Aquino, não se poderia</p><p>falar em criminologia, pelo menos não enquanto ciência, hoje em dia a criminologia é</p><p>entendida como uma ciência, dessa forma, a primeira escola após o iluminismo, foi a Escola</p><p>Clássica. Assim, foi considerada como um limite das penas porque ela impunha que as penas</p><p>fossem mais humanizadas e mais moderadas, e que também fossem ao encontro do limite do</p><p>cometimento daquele crime, o garantismo penal de Ferrajoli, por exemplo, pois ele bebe um</p><p>pouquinho nessa fonte clássica, pondera entre o crime e o que foi cometido e a pena que a</p><p>pessoa vai receber.</p><p>Dessa feita, podemos falar que a principal ponderação quanto à escola clássica é o</p><p>controle moral, pois segundo o principal doutrinador da teoria clássica, Beccaria, entende que</p><p>o indivíduo deve ser responsabilizado, já que ele tem livre arbítrio, consciência, vontade certa</p><p>do que fazer, e por esse motivo esta corrente entende que o indivíduo tenha que ser</p><p>responsabilizado como forma de consequência do malfeito.</p><p>Por outro lado, temos a escola positivista que é preconizada por Lombroso, essa escola</p><p>vai na contramão da observação dedutiva do crime utilizado na teoria clássica, pois o</p><p>cometimento do delito é por meio da observação fática. Como por exemplo, sinais físicos,</p><p>biológicos, psicológicos entre outros, tendo a pena pelo delito cometido o objetivo de curar o</p><p>delinquente bem como resguardar a sociedade.</p><p>Logo após a crescente força do iluminismo, que veio à tona por meio da revolução</p><p>francesa com pensamento mais humanista, Penteado Filho (2012), considera que teve um</p><p>início do estudo científico da criminologia, aduzindo a necessidade da individualização da pena</p><p>e a redução das penas desumanas, cruéis, utilizando o critério de proporcionalidade da</p><p>penalidade sofrida para com o delito executado.</p><p>O autor entende ainda que, a primeira vertente científica da criminologia, a escola</p><p>clássica, comumente conhecida por ter como precursor Cesare Beccaria, dentre as mais</p><p>diversas correntes de pensamento criminológicos que se convencionaram a ser chamadas de</p><p>escolas penais, dessa forma foi possível entender estas escolas como um corpo de</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>27</p><p>concepções, de onde se tem seus membros como os objetos que diz tudo das referidas</p><p>correntes.</p><p>Com senso comum, a teoria clássica da criminologia defendia o criminoso como alguém</p><p>que, com o livre arbítrio de sua vontade, cometia delitos sem ter influência alguma externa ou</p><p>interna. Já, a corrente positivista, no estudo da criminologia, defende que o criminoso tende</p><p>a ser compreendido não somente levando em consideração a sua vontade, seu livre arbítrio,</p><p>seu dolo, mas também, deve-se levar em consideração toda e qualquer influência interna e</p><p>externa que acarreta ou acarretaria o cometimento do delito pelo autor.</p><p>FATO OBSERVADO ESCOLA CLÁSSICA ESCOLA POSITIVISTA</p><p>DELINQUENTE Ente jurídico abstrato, considerando o crime</p><p>como um fato genérico. Ente real, considerando o fato concreto.</p><p>DELITO Livre arbítrio, vontade. Elementos internos e externos.</p><p>CAUSA Indeterminada. Determinada.</p><p>PENALIDADE Finalidade de reprovação de conduta. Finalidade de prevenção à sociedade.</p><p>MÉTODO Dedutivo. Indutivo.</p><p>OBJETO DE ESTUDO Estuda o delito e a pena a ele imposta. Estuda o delinquente e as circunstâncias</p><p>que o levaram ao cometimento</p><p>do crime.</p><p>Ainda nos dias de hoje, consumimos vestígios da teoria positivista, situação do exame</p><p>criminológico, ao entender questões genético e patológicas referente ao autor do delito,</p><p>temos também na ocasião das medidas de segurança quando analisam a periculosidade do</p><p>delinquente, uma vez que a depender da situação de saúde, ou da situação patológica do</p><p>delinquente este tem a sua pena substituída por tratamento com a finalidade de tratar o ser</p><p>humano (autor do crime), e por meio da sua internação em instituições de saúde, resguardar a</p><p>sociedade da periculosidade que este indivíduo oferece a sociedade enquanto não tratado.</p><p>“[...] somente ele poderá dar um remate e o acabamento natural aos processos de</p><p>indução iniciados por outras e quaisquer disciplinas em relação ao crime, porque esse</p><p>é um fenômeno da ordem sociológica e da espécie jurídica, muito embora suas raízes</p><p>se prolonguem e penetrem nos domínios distantes da psicologia e da biologia, muito</p><p>embora outras disciplinas reclamem a competência para o esclarecimento de suas</p><p>condições primárias” (BEVILÁQUA, 1896, p. 11).</p><p>Ultrapassado por meio da evolução da humanidade, os entendimentos e conceitos</p><p>relacionados às teorias clássicas e positivistas, Montesquieu e Rousseau fizeram muitas</p><p>críticas à legislação penal que predominou na Europa em meados do século XVIII, aumentando,</p><p>assim, a individualização da pena, mitigação da pena, proporcionalidade, etc.</p><p>Na fase pré-científica, existem duas abordagens muito claras: por um lado, Cânones</p><p>influenciados pelo Iluminismo e seus métodos de forma dedutiva e lógica, por outro lado,</p><p>empíricos, estudam a origem do crime por meio de técnicas fracionárias, como as utilizadas</p><p>pelos fisionomistas, antropólogos, biólogos, etc. Assim, o substituíram por lógica formal,</p><p>dedução e indução experimental (empirismo). Esta dicotomia existente é tradicionalmente</p><p>referida como clássica e Positivista, seja com caráter pré-científico ou científico, dando</p><p>origem à chamada “luta escolar”.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>28</p><p>Considerando que a sociedade está em constante evolução, foram surgindo várias</p><p>metodologias de pensamento criminológicos, como por exemplo: escolas sociológicas,</p><p>escolas ecléticas, escolas críticas e as mais diversas vertentes de pensamento para justificar</p><p>o momento.</p><p>De uma perspectiva mais moderna, a criminologia ao longo dos anos definiu apenas que</p><p>os criminosos devem ser estudados, isoladamente, mas todos aspectos ao seu redor podem</p><p>afetar de alguma forma o comportamento pessoal, como fatores sociais, culturais e políticos.</p><p>Atualmente, as discussões criminológicas perduram sobre as condições</p><p>biopsicossociais dos criminosos, incluindo um pouco de positivismo, classicismo, sociologia</p><p>e escolas críticas, dessa forma, há barreiras à pesquisa criminológica sobre violência urbana,</p><p>e as dificuldades sociais e econômicas do ambiente em que o indivíduo se desenvolve e luta.</p><p>A criminologia passou a ver o crime como um problema social, o fenômeno comunitário</p><p>consiste em quatro fundamentos: população, taxas de fatos angustiantes, persistência</p><p>espaço-temporal dos fatos criminal, consenso claro sobre sua etiologia e técnicas de</p><p>intervenção eficazes.</p><p>3.2 ESCOLA CLÁSSICA</p><p>As escolas pré-científicas, também conhecidas como escola clássica, se originaram sob</p><p>os ideais iluministas por volta do século XVIII, onde defende que o crime é um ente jurídico, o</p><p>objeto do direito. Assim, essa escola foi tomando forma norteada por princípios iluministas</p><p>quais sejam; que o direito penal age como lei moral jurídica, que a tutela jurídica é o</p><p>fundamento legítimo para a coerção do ato delituoso, assim como a proporcionalidade da pena</p><p>deve ser respeitada quanto ao dano causado.</p><p>BECCARIA, precursor da Filosofia das Luzes, criticava a irracionalidade, a</p><p>arbitrariedade e a crueldade das leis penais e processuais no século XVIII (SHECAIRA,</p><p>2008), apontando-as como resíduo anacrônico de preceitos históricos obsoletos. Para</p><p>ele, a origem da sociedade civil, da autoridade e do próprio direito de castigar estavam</p><p>na teoria do contrato social. A sua obra também inclui críticas à desigualdade dos</p><p>cidadãos perante a lei, a pena de morte, ao confisco, ao emprego da tortura, etc (...).</p><p>Para Barão de Montesquieu, a prevenção do delito deve ocupar o primeiro lugar em</p><p>toda política criminal, o bom legislador há de se esforçar mais em prevenir o delito do</p><p>que castigá-lo. Outro destacado expoente era VOLTAIRE que, como BECCARIA, se</p><p>manifestou partidário ao princípio da legalidade e, portanto, pela redução do arbítrio</p><p>judicial, afirmava que os juízes “devem ser escravos das leis, não de seus arbítrios”</p><p>(BANDEIRA e PORTUGAL, 2017, p. 29).</p><p>O precursor da escola clássica é Cesare Beccaria. Em suas obras defendia que a conduta</p><p>delituosa tinha como fundamento o livre arbítrio do indivíduo, entendendo desta feita que o</p><p>indivíduo era puramente racional e que a análise do crime deveria ser feita de forma genérica,</p><p>uma vez que o estudo da criminologia na época, baseava-se na análise comparativa de</p><p>benefícios e malefícios ocasionados pela conduta criminosa.</p><p>Na opinião de Beccaria, o crime mostrará a estrutura precária do contrato social e o caos</p><p>do Estado. A escola clássica não está interessada em entender o porquê de alguém decidir</p><p>cometer um crime. Mas o primeiro foco na escola clássica é racionalizar, demarcar e legalizar</p><p>penalidades. A escola clássica substituiu o sistema penal caótico e desumano do antigo</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>29</p><p>sistema, proporcionando racionalmente, mostrando que a punição pode e deve ser útil, justa</p><p>e proporcional.</p><p>Cesare Beccaria (1738-1794)</p><p>De acordo com Penteado Filho (2014, p. 44), in verbis:</p><p>Os Clássicos partiram de duas teorias distintas: o jusnaturalismo (direito natural, de</p><p>Grócio), que decorria da natureza eterna e imutável do ser humano, e o contratualismo</p><p>(contrato social ou utilitarismo, de Rousseau), em que o Estado surge a partir de um</p><p>grande pacto entre os homens, no qual estes cedem a parcela de sua liberdade e</p><p>direitos em prol da segurança coletiva.</p><p>Logo, é oportuno dizer que quanto ao entendimento da escola clássica, que seguindo o</p><p>contratualismo de Rousseau, “sustentava que o indivíduo que comete crime rompe com o</p><p>pacto social”, e com isso passou a defender os direitos de primeira geração individuais e a</p><p>intervenção mínima do Estado.</p><p>Na segunda parte da Escola Clássica, destaca-se Francesco Carrara, que</p><p>escreveu várias obras, como: Programma del corso didirittocriminale,</p><p>Opuscoli, Reminiscenzedicáttedra e foro. Em suas obras, defende a</p><p>concepção do delito como um ente jurídico, constituído por duas forças: a</p><p>física e a moral. Carrara afirmava que os homens deveriam ser responsáveis</p><p>diante da moral, porém o índice da criminalidade aumentava gradativamente,</p><p>bem como as reincidências. Desta forma, houve a necessidade de mudar o</p><p>foco que era o sistema legal para se voltar ao delinquente e as causas do crime,</p><p>tendo a pena como instrumento de reparação do dano causado (MORAES,</p><p>FRANCISCO E IGLESIAS, 2017, p. 27).</p><p>Voltaire também se opôs abertamente à pena de morte porque acreditava que era inútil.</p><p>Do lado processual, ele criticou a tortura e não gostou da natureza secreta do procedimento.</p><p>Rousseau acreditava que o crime surge do contrato social. As raízes do acordo humano para a</p><p>transição de um estado de natureza para a coexistência organizada na forma de um Estado.</p><p>Em sua obra ele apresentou a tese que o homem nasceu bom e a sociedade o deturpou.</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>30</p><p>Ademais, Beccaria ensejou na colaboração de criação de vários princípios fundamentais</p><p>do direito, como por exemplo: o princípio da legalidade, sustentando que apenas as leis podem</p><p>indicar as penas de cada delito; o princípio da igualdade sustentando que as vantagens da</p><p>sociedade devem ser distribuídas equitativamente entre todos os seus membros; o princípio</p><p>da proporcionalidade sustentava que sendo a perda da liberdade</p>social das vítimas. A neutralização da vítima é cada vez mais afetada, a ansiedade social a empurra para papéis mais relevantes e procedimentos criminais. Alguns autores entendem que o ciclo vicioso de corrupção, negligência e imprudência, na gestão pública, resulta em uma sociedade carente, onde a criminalidade no Brasil tem taxas acima da média mundial no que se refere a crimes violentos. Resta a evidente consulta, ainda no site do IPEA, considerando dados do Governo Federal, no tocante ao Mapa da Violência, perfeitamente plausível na percepção de um território unificado. Um sistema de justiça criminal é um grupo de instituições e processos legais que se destinam a fornecer justiça àqueles que sofreram violações da lei. Inclui os aspectos civis e criminais, assim, o governo utiliza a justiça criminal para proteger os cidadãos e promover a ordem e a segurança pública em geral. É uma instituição poderosa que afeta todos os aspectos da sociedade. CRIMINOLOGIA 56 O objetivo principal da justiça criminal é punir criminosos, proteger vítimas e prevenir futuros crimes e violência. Com isso, o governo cria um sistema de justiça criminal para punir os perpetradores e ajudar as vítimas. Também procura deter crimes futuros, proporcionando aos tribunais a capacidade de conceder longas penas de prisão a criminosos graves. Além disso, as autoridades civis usam a justiça criminal como uma ferramenta para investigar casos e processar os perpetradores de crimes. A justiça criminal tem muitas formas, incluindo investigação, acusação e julgamento. A investigação envolve a coleta de evidências de várias fontes, como impressões digitais ou registros telefônicos. A acusação é o ato de reunir todas as provas, em um caso, contra um único suspeito e apresentá-lo a um tribunal para julgamento. Por último, mas não menos importante, a adjudicação é quando o tribunal profere seu julgamento sobre o caso e determina a punição apropriada para o perpetrador. Além disso, os jornais informam sobre os processos judiciais, para que seus leitores possam manter-se informados sobre os assuntos jurídicos atuais em suas áreas. A mídia também tem um papel vital em informar o público sobre os processos criminais, pois todos têm o direito de serem informados sobre novas prisões e processos, para que eles possam tomar decisões ao escolher em quais fontes de notícias confiar as informações apresentadas à sociedade. A política criminal é um sistema intrincado que protege os cidadãos, enquanto oferece reparação às vítimas de crimes cometidos contra pessoas ou bens. Tomando o Brasil como exemplo, seus estados possuem índice de criminalidade, qualidade de vida, educação/alfabetização bem como índices de confiabilidade governamental distintos, um grande exemplo disso, é a esdrúxula diferença entre taxa de homicídios registrada no ano de 2018, uma vez que segundo dados do aludido site, enquanto no DF ocorreram apenas 480 homicídios, no estado do Rio de Janeiro este número subiu para 3552 homicídios no ano de 2018. CRIMINOLOGIA 57 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Brasília, DF, 05 out. 1988. Disponível em:<www.planalto.gov.br/civil03/constituicao/constituicaocompilado>Acesso em: 6 de ago.2022. BANDEIRA, Thais et al. Criminologia. Salvador. Universidade Federal da Bahia. 2017. BERISTAIN, Antonio. Nova criminologia à luz do direito penal e da vitimologia. Editora Universidade de Brasília, 2000. 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