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<p>UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ (UNESA) CURSO DE PSICOLOGIA</p><p>SERVIÇO ESCOLA DE PSICOLOGIA – SEP - CAMPUS WEST SHOPPING</p><p>NATHÁLIA ROBERTA THIENGO DE QUEIROZ PORTUGAL MATRÍCULA: 202101332075</p><p>RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO I SUPERVISIONADO POR PROFᵃ.MS. INÊS MENDONÇA DOS SANTOS DIAS</p><p>CRP: 39023/05 EQUIPE DE PSICANÁLISE</p><p>RIO DE JANEIRO</p><p>7 DE JUNHO DE 2024</p><p>1 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS:</p><p>TRIAGENS:</p><p>As triagens foram feitas, dentro do SEP com a orientação da professora Inês, olhamos todas as fichas, respeitando as datas de inscrição dos candidatos e fomos escolhendo de acordo com a demanda dos pacientes e o que nos sentíamos confortáveis para atender nessa primeira experiência. Fomos orientados a ter atenção se não conhecíamos os pacientes de algum local, e toda a parte de ética profissional aplicada a Psicologia, foi passado pela supervisora. Com isso, cheguei na paciente M, uma mulher de 39 anos. Entrei em contato com a M via Whatsapp, e no mesmo dia ela me confirmou a disponibilidade para o primeiro atendimento. Diante das observações nos atendimentos com M, tudo indica que ela está dentro do tipo clínico da neurose obsessiva, visto que ela se cobra muito internamente, é um pouco introspectiva, substituindo assim o agir pelo pensar. Durante os atendimentos, a paciente não chegou a realizar a transferência.</p><p>DESCRIÇÃO DA DINÂMICA DAS ATIVIDADES PRÁTICAS DESENVOLVIDAS: TREINAMENTO:</p><p>A orientadora, nos passou como deveria ser a postura dentro do setting terapêutico, como deveríamos nos vestir, comportamentos adequados ou que deveriam ser evitados. Também fomos orientadas a nos atentar em como ficariam as disposições dos móveis, no caso da análise psicanalítica, principalmente após ocorrer a transferência. Uma orientação muito importante, dada pela supervisora Inês, foi sobre o cuidado com as vestimentas, desenhos nas roupas ou estampas que pudessem funcionar como estímulos desencadeantes para os pacientes.</p><p>Para o grupo de estagiários que estavam iniciando, que era o meu caso, a professora orientou pegarmos somente um paciente, e foi dessa maneira que demos sequência. A paciente M teve um total de 12 sessões durante o período de estágio.</p><p>Tivemos dois encontros onde foi possível nos debruçarmos um pouco na teoria psicanalítica, e a professora relembrou pacientemente cada item fundamental para nossa prática clínica, fomos orientadas sobre leituras complementares também, que foram ocorrendo no decorrer do semestre. Tivemos um nivelamento, onde a professora nos apresentou nosso material de estudo: o inconsciente, falamos também a respeito da escuta que deve ocorrer com a atenção flutuante, a anamnese que na psicanálise não é cheia de detalhes ou muito estruturada, para essa teoria, o que é primordial vai ser trazido pelo paciente, o sintoma de seu sofrimento</p><p>vai vir à tona durante as sessões e é inevitável, pois o sintoma sempre volta. Fomos orientadas que as 10 primeiras sessões, são as sessões iniciais, tipo o ensaio prévio citado por Freud em seu texto ‘’Sobre o início do tratamento (1913)’’, outra questão abordada também foi que não deveríamos conduzir ou induzir as sessões e sim devolver demandas trazidas pelo paciente, permitindo que ele mesmo se ouça. Um fator muito importante abordado, foi sobre o divã, ficou bem claro nas aulas que pacientes psicóticos, crianças e adolescentes não devem ser convidados a deitar nele. Relembramos as estruturas clínicas, que podem ser divididas entre neurose, psicose e perversão e dentro delas existem os tipos clínicos que são :</p><p>Estrutura</p><p>clínica:</p><p>Tipo clínico:</p><p>Neurose</p><p>Histérico</p><p>Neurótico</p><p>obsessivo</p><p>X</p><p>Psicose</p><p>Esquizofrenia</p><p>Paranóia</p><p>Melancolia</p><p>Perversão</p><p>Exibicionismo</p><p>Voyer</p><p>Masoquismo</p><p>Espera-se que após as entrevistas iniciais, seja identificada a estrutura clínica e com o decorrer das sessões seja possível identificar o tipo clínico do paciente. Entendemos nas aulas com a professora Inês, alguns tópicos relevantes para a prática da psicanálise:</p><p>· O sintoma é uma das vias de acesso para o inconsciente;</p><p>· Traços não são estruturas e nem tipos clínicos;</p><p>· A angústia é algo que não consegue ser nomeado;</p><p>· O tripé da psicanálise é formado por conhecimento teórico, análise do terapeuta e supervisão.</p><p>ATENDIMENTOS:</p><p>Sessão 1 - quarta-feira, 13/03/2024 às 14h:</p><p>Após a sessão marcada, a paciente me enviou uma mensagem no próprio dia da sessão informando um falecimento na família. O primeiro atendimento foi direcionado a semana seguinte.</p><p>Sessão 2 - quarta-feira, 20/03/2024 às 14h:</p><p>Nessa sessão, conheci a paciente M que tem 39 anos. Recolhi alguns dados solicitados pela anamnese e entendi a demanda trazida por ela, que estava pautada em questões familiares com a mãe dela principalmente. Escutei bastante suas demandas, fazendo poucos apontamentos, afim de ouvi-la e permitir que ela se ouvisse também, questionei somente alguns fatos sobre sua mãe, por quem ela apontava grande rivalidade, perguntei sobre o pai, que pouco foi citado na sessão e pedi que explicasse a dinâmica familiar dela. Na casa de M moram ela, a filha, a mãe, o pai, o irmão, a irmã e uma sobrinha. M diz que a mãe é ignorante e responde de maneira reativa a todos. M está desempregada, e isso gera um incômodo nela, tem formação acadêmica mas nunca atuou na área.</p><p>Sessão 3 - quarta-feira, 27/03/2024 às 14h:</p><p>Nessa sessão, a M retomou falando da mãe, mas de uma maneira diferente, dizendo que seu comportamento seria reflexo do tratamento que a mãe sempre recebeu do pai, voltou-se negativamente para o seu pai, relembrou toda a trajetória da infância, onde a mãe trabalhava fora e ainda assim dava suporte aos filhos, já o pai que hoje é aposentado, tem pouca troca de afeto e vínculo com M e seus irmãos ou até mesmo com os netos e preocupa-se somente com o próprio bem-estar. M relatou que os pais dela são separados de corpos e sua mãe mora na casa de cima junto com M e sua filha de 18 anos.</p><p>Sessão 4 - quarta-feira, 03/04/2024 às 14h:</p><p>M relatou estar pela primeira vez despreparada para a sessão, intervi dizendo que o preparo não era necessário, M voltou a falar de questões acadêmicas, de encontrar um emprego e ter um salário. Afirmou várias vezes que sente medo de encarar uma sala de aula, medo de não saber responder as dúvidas dos seus alunos, a palavra medo foi bem presente na fala dela. Cheguei a perguntar se ela achava que era medo ou ansiedade, ela relatou que era medo mesmo, e enfatizou dizendo ‘’NÃO QUERO DAR AULA!’’, mas que ao mesmo tempo precisa de um rumo na vida, ocupar sua mente e sair do ‘’marasmo’’. Disse que se identifica muito com a Psicologia ou com a Psicopedagogia, e que acha que trabalharia muito bem na reabilitação de pessoas com alguma deficiência. Nesse momento eu a questionei se ela também não achava uma grande responsabilidade atuar nessa área, ela pensou um pouco e respondeu que achava ser mais tranquilo, mas que se fizesse alguma besteira poderia se ‘’queimar’’.</p><p>Em supervisão, ao relatar esse atendimento, a supervisora me orientou a intervir menos, pois a paciente não era transferida ainda.</p><p>Sessão 5 - segunda-feira, 08/04/2024 às 14h:</p><p>M relatou, que sempre fez de tudo pela filha e de certa forma se ‘’anulou’’ por muito tempo, pois sempre tentou tampar o buraco que a ausência do pai causou na filha, que tem as questões dela por conta disso. Perguntei como ela se sente quanto a essa dedicação para ‘’tampar’’ esse buraco, M disse que se sente sobrecarregada, mas que na infância da filha se sentia mais. Ela associou a ansiedade da filha a essa ausência do pai durante a criação. Ao mesmo tempo que se diz sobrecarregada, M se diz superprotetora, e diz que acompanha a filha em todos os ambientes que ela precisa ou solicita, ela disse que sabe que isso não é certo, mas que se sente segura dessa forma. A paciente relata se sentir culpada por não ter escolhido um bom pai para a filha dela, a questionei sobre como ela poderia saber disso antes, aí ela pensou e disse ‘’- Não tinha nada na testa dele, escrito que era um pai de bosta, ele sempre foi um cara legal.’’.</p><p>A paciente</p><p>relata se sentir estagnada, que sabe que precisa agir pra evoluir, que incentiva todos a sua volta, mas não consegue fazer isso por ela, perguntei por que ela acha que faz isso com ela mesma, M disse que não sabe. Que precisa se convencer em alguns momentos de que ela consegue.</p><p>Sessão 6 - segunda-feira, 15/04/2044 às 14h:</p><p>M contou que há alguns anos, teve um período em que se isolava dentro de casa, por conta do sobrepeso e que se sentia como se fosse em um casulo, só saia para buscar a filha na escola, ficava muito dentro de casa, acordava mais tarde e não se engajava em nenhuma atividade. Até que uma amiga a convidou para fazer atividades físicas em um projeto da prefeitura, M aceitou e para lhe ajudar a não faltar esse compromisso, se comprometeu a levar a sobrinha na escola todos os dias, para ter mais uma justificativa para levantar cedo e ir. M relatou que associando a atividade física com reeducação alimentar, emagreceu 20 kg, que vestia 56 e agora estava vestindo 48.</p><p>As palavras: vergonha, medo e timidez, sempre voltam as sessões da M. A paciente me trouxe que tem muita vergonha ‘’de tudo’’, eu a questionei de que tudo, já que tudo era muita coisa. Ela me respondeu que tem medo do que vão pensar ou falar dela. A paciente me contou que recentemente passou por uma transição capilar, que ela tinha um cabelo grande, mas que alisava frequentemente, e que essa rotina a deixava muito irritada e cansada, que sempre tinha que escovar e pranchar o cabelo, então ela resolveu cortá-lo bem curtinho, que esse fato a fez se sentir muito livre. M disse que recebeu muitas opiniões positivas sobre o novo visual, e que</p><p>ela ficou feliz com isso. Logo em seguida, ela me relatou que: ‘’As pessoas sempre vão falar de você, do seu corpo, do seu cabelo. Tô tentando melhorar nisso.’’ Após esse comentário, encerrei a sessão.</p><p>Sessão 7 - segunda-feira, 22/04/2024 às 14h:</p><p>M voltou ao fato da sua filha sempre precisar dela para fazer as coisas, disse que na infância, ela e seus irmãos iam e voltavam da escola sozinhos, que recentemente M solicitou que a Duda fosse buscar seu diploma na escola, e ela sempre inventa uma desculpa e não vai, pede que a mãe vá junto, M disse que a amiga da sua filha foi há algumas semanas buscar o diploma, e que ela comparou a filha com essa amiga, mas que nada mudou e ela não foi buscar o diploma. Depois disso, M começou a falar que a seu sobrinho sempre convida a filha pra ir em festas e ela prefere ficar em casa, não curte muito esses locais e reponde ele dizendo ‘’Tá doido, minha mãe nunca deixaria eu ir.’’, sua irmã e a sua filha estavam querendo ir ao show do Belo, M disse que talvez se animaria pra ir, mas não tem tanta certeza, pois o ingresso também estava muito caro, eu perguntei a ela, ‘’Mas você deixaria a sua filha ir?’’ ela respondeu ‘’Aí eu já não sei.’’, nesse momento encerrei a sessão, pois já havia passado um pouco do horário.</p><p>Sessão 8 - segunda-feira, 29/04/2024 às 11h:</p><p>M contou sobre um antigo relacionamento que ela teve, quando se separou do ex- marido. M relata que teve um namorado, mas que ele era muito obsessivo e ciumento, que era um relacionamento sufocante e que precisou esperar acontecer algo e aparecer uma brecha para terminar com ele, que em uma festa uma mulher se insinuou para ele, e ela viu nesse momento uma oportunidade de terminar com o rapaz e que ela terminou, que ele ficou tentando voltar com ela, mas ela não quis. M disse que ele não gostava de pagar as coisas, não tinha internet em casa, que ela precisava estudar quando ia para a casa dele, mas não conseguia, pelo fato de não ter internet. Esse foi o último relacionamento amoroso de M, ela diz que os homens estão todos malucos, matando as mulheres e esse último relacionamento a traumatizou. Por isso, hoje ela prefere ficar sozinha, sem precisar lavar as cuecas de ninguém, que só lavou as cuecas do ex-marido porque ele a sustentava. M disse que não se sentia bem em um determinado momento do namoro, que ele discutia com a filha dela, ele ficava incomodado da menina ter mais facilidade de entender algumas coisas do que ele, mas M disse que não conseguia terminar com ele, que as brigas eram frequentes, que ele não se interessava em estudar e ela dizia pra ele que</p><p>não queria carregar cascalho na cabeça como ele (que era pedreiro), por isso ela precisava estudar. Nesse momento foi necessário encerrar a sessão, por conta do horário.</p><p>Sessão 9 - segunda-feira, 06/05/2024 às 13h:</p><p>A paciente chegou a sessão, dizendo que estava tudo muito normal, que não tinha nada a preocupando. Segundos depois, disse que gostaria de receber uma orientação minha, pois a filha estava fazendo atendimento aqui no SPA também, mas só de 15 em 15 dias, que ela contou que se emocionou na última sessão ao falar do pai. M então, entrou nesse tema, dizendo que a filha recebeu um áudio do pai, que a deixou muito triste, que ela percebeu que a filha não ficou legal e essa situação a abateu demais. O pai da sua filha, pediu que ela enviasse um áudio o respondendo ao invés de mensagem escrita, para que ele não esquecesse sua voz. M relatou que a filha ficou arrasada, e eu perguntei como ela – M - se sentiu ao ver sua filha desse jeito, M disse que ficou muito ‘’puta’’ com isso que ele fez, que não tinha nada a ver ele fazer isso, busquei validar seus sentimentos, ela continuou contando que o pai da sua filha nunca foi muito presente, após a separação e que ela se culpa, por dar esse tipo de pai para a filha, mas que enquanto eles estavam casados, ele foi um excelente pai, que ela não tinha como saber que ele seria assim após a separação, devolvi pra ela a mesma frase, que ela não tinha como ter essas informações, antes da separação.</p><p>M relatou que o seu ex-marido levou a filha para passar um fim de semana com ele, da última vez, quando ela tinha 10 anos. Hoje ele mora na Penha, na comunidade da Vila Cruzeiro. M relatou que das últimas vezes que ele tentou buscar a filha, ela ficou muito apreensiva por ele morar em uma comunidade, mas que a filha ficava muito empolgada, arrumava a bolsa pra ir e ficava sentada aguardando o pai, então ela permitia, mas que em mais de uma situação, ele passou a não vir , e quando ele ligava pra avisar, M justificava pra filha, que o pai estaria doente, sempre dava uma desculpa para poupar a filha, mas que muitas vezes ela inventava essas justificativas, para poupar a filha da frustração. Hoje, M diz que não consegue mais esconder da filha, o pai de bosta que ele é, que a filha tem acesso a internet, e vê o pai sendo presente na vida da irmã mais nova e sempre compara e comenta com a mãe.</p><p>Sessão 10 - segunda-feira, 13/05/2024 às 13h:</p><p>A paciente chegou bem até a sessão, e logo deu início a uma questão que geralmente a incomoda bastante. Contou duas situações, onde uma colega da ginástica da praça, a chamou de gorda. Na primeira foi quando a M estava com a filha no mercado, já a segunda, foi na frente de todos os presentes para a aula na praça. M disse que se sentiu muito mal, ficou sem graça,</p><p>chateada, mas não conseguiu reagir, perguntei por que ela não conseguiu reagir, ela disse que tem medo de magoar a tal senhora que fez esse comentário, eu perguntei a M, se ela acha que a senhora ficaria chateada com uma reação dela, ou com uma resposta, M respondeu que talvez, mas que ela não estava preocupada em chatear M, então ela merecia uma resposta também., logo após falar isso, ela disse que vai responder a mulher da próxima vez, que ela tem espelho em casa e depois disso ela riu.</p><p>M relatou que houve outra discussão em casa por conta das despesas familiares. A paciente justificou que o pai dela sempre fica mais agitado e nervoso quando alguém é dispensado do emprego, e que dessa vez o irmão dela tinha sido demitido, e a briga teria se iniciado porque M foi cobrar ao pai dela, a parte dele da conta da internet – que é dividida entre todos eles- e que o seu pai não teria gostado nada disso, e começou a jogar na cara de todos, que já paga todas as outras contas, M disse que seu pai fica muito alterado e que a mãe</p><p>dela começou a ficar muito nervosa com toda essa situação, e a preocupação da M era só que todos se acalmassem para que a mãe dela não passasse mal. M relata que o pai só pensa nele, e que essa questão das contas tem deixado ele alterado, perguntei a M o que ela acha que deveria ser feito nesse contexto, o que ela acha que seria o justo, ela me respondeu inicialmente que não sabe, mas alguns segundos depois acrescentou que todos poderiam dividir as outras contas se o pai dela conversasse de maneira educada e pacífica com os filhos, não gritando e esbravejando como ele faz, acrescentou que ele sempre fez questão de pagar todas as contas, e que só agora começou a se queixar dessas questões.</p><p>Sessão 11- segunda-feira, 20/05/2024 às 13h:</p><p>M disse que tem sentido falta de ir à missa, que pretende voltar a ir, mas que tem curiosidade de visitar um centro kardecista, porém tem receio do que verá e do que vai ouvir, apesar de ter muita curiosidade, perguntei por que ela tem medo, M disse que tem medo da avó ou qualquer pessoa que já morreu, voltar para falar com ela. Depois disso, me relatou que sua irmã gosta de ‘’tocar tambor’’ fazendo uma referência ao candomblé, nessa hora, Mariana contou uma situação que passou com um vizinho, que segundo ela estava ‘’pegando santo’’ e falando de um jeito que a assustou muito, contudo, ao me contar essa experiência, M ria muito, lembrando da situação, me pediu desculpas e disse que mesmo que fosse a minha religião, que ela respeitava, mas que tinha muito medo.</p><p>M relatou novamente que gosta muito de ficar em casa, mas que tem sentido falta de ir a missa, que sente que falta algo, que fez todos os rituais necessários no catolicismo, mas que</p><p>hoje não tem frequentado, pois o padre que realiza as missas na igreja que ela frequenta, tem o hábito de intervir nas missas e apontar para os fiéis, perguntei a ela: ‘’Como assim?’’, M apontou pra mim para exemplificar e disse, ‘’Ei, você aí de blusa verde, já faz um tempo que você não vem a missa!’’, questionei M se o padre já havia feito isso com ela, Mariana respondeu que não, mas que ela sempre senta se escondendo atrás de uma pilastra, pra não correr esse risco. Encaminhando para o final da sessão, M disse que sente muita falta de ir a missa, mas que não vai porque ás vezes sente preguiça ou sente que algo a puxa para não ir, contudo ela repetiu novamente: ‘’Eu vou voltar a ir na missa!’’, depois dessa frase, eu encerrei a sessão.</p><p>Sessão 12 - quarta-feira, 29/05/2024 ás 11h:</p><p>Avisei a M que só tínhamos mais duas sessões, a de hoje e a próxima, que depois a faculdade entraria em recesso. A paciente iniciou a sessão, relatando que estava com algumas questões de pele, me mostrou algumas lesões e manchas, falou que a enfermeira das aulas da ginástica, havia a questionado e ficado olhando estranho pra ela por conta disso, e ela conseguiu dar uma resposta adequada, pediu pra ela parar de ficar pegando nela e ficar olhando com cara de nojo, que o que ela tinha não era contagioso. M relatou que no passado, sua filha já se cortou, relatou se sentir confortada com essa dor, sentia como se fosse um alívio.</p><p>M relatou que sempre inclui a filha nas suas coisas, pra trazê-la mais pra perto, porém que agora aos 18 anos da filha, ela tem ensinado ela a ir para alguns lugares por perto sozinha, aos poucos.</p><p>Sessão 13 - segunda-feira, 03/06/2024 às 13h:</p><p>M iniciou a sessão, dizendo que foi em busca de um tratamento capilar com uma terapeuta capilar para a filha, alegando que ela tem entrada, que puxou isso do pai e por ela ser menina, seria bom tratar logo. A paciente alegou que fechou o orçamento da terapeuta, com muito medo de não conseguir pagar, que ela tem sentimentos e pensamentos negativos, toda vez que vai comprar algo ou se programar para um pagamento mais longo. Perguntei o porquê desses pensamentos, se ela já tinha se enrolado ou deixado de pagar alguma coisa, M me respondeu que nunca deixou de pagar e ela sabe que apesar desses pensamentos ruins, sempre consegue resolver e no final dá tudo certo, que aconteceu da mesma forma quando ela comprou o celular da filha e que agora ela está terminando de pagar. A paciente voltou a falar do medo e do receio que sente de ir a lugares novos, fazer coisas novas, sair sozinha e se perder. Perguntei a ela se já tinha se perdido, ela disse que não. Em seguida perguntei, o que poderia acontecer</p><p>caso ela se perdesse? Ela respondeu que poderia ligar para alguém, pedir um uber ou um táxi, balancei a cabeça meio que concordando.</p><p>M disse que vai economizar e controlar os gastos para conseguir pagar o tratamento da filha, falou para a sua filha não pedir nada pra ela, mas relatou que todo mês ela faz a sobrancelha, o buço, unha e que a filha gosta muito de fazer essas coisas. Perguntei a M o que ela consegue fazer para ela mesma, quais eram os gostos dela, em quais momentos ela fazia algo do gosto dela, M respondeu que só a ginástica da praça, que ela ama e cuidar da alimentação ela também gosta muito, perguntei o que mais ela gostava de fazer, M respondeu que gosta de visitar museus, mas que faz tempo que não vai a nenhum, que quer conhecer um museu que tem no Catete, que ainda não foi, mas que vai se organizar para ir nesse museu. Nesse momento encerrei a sessão, e M foi embora.</p><p>RESUMO DA PALESTRA ASSISTIDA NO PERÍODO</p><p>Restrição do farmacêutico à dispensação de medicamentos</p><p>No dia 21 de maio de 2024, participei de uma palestra convidada pela professora Inês Mendonça – minha supervisora de estágio também. A palestra aconteceu no campus da Estácio de Sá em Santa Cruz. Durante toda a semana, aconteceram palestras, em comemoração a luta antimanicomial. Na palestra assistida por mim, estavam o farmacêutico Vitor Lima e o psicólogo Douglas, ambos fazem parte da equipe que presta atendimento no CAPS II SIMÃO BACAMARTE, o título da palestra era ‘’Restrição do farmacêutico à dispensação de medicamentos’’, durante a palestra, ambos se engajaram em explicar como funciona no CAPS onde eles atuam como agentes de saúde mental, o Vitor explicou como o trabalho dele em específico, visa humanizar o paciente e dar condições a ele de ser participativo durante todo o processo do tratamento através da escuta ativa, mesmo sendo farmacêutico, Vitor mostrou-se bem atento aos pacientes e percebeu que sua atuação poderia ir além de uma dispensação de medicamentos. Como sabemos, dentro de uma relação terapêutica, com equipes de multiprofissionais, os pacientes que precisam de atendimento na saúde mental, muitas vezes se sentem á vontade para falar de determinados assuntos com outros profissionais, que nem sempre são o psiquiatra ou o psicólogo da unidade, às vezes nem há um tempo para que eles se abram o suficiente. Percebendo essa demanda nos pacientes, Vitor passou a ter mais troca de diálogos e a observar melhor o comportamento dos pacientes quando eles vinham buscar algumas medicações. Um fato curioso, que me chamou a atenção, foi como essa atitude que julgamos ‘’simples’’, impactou nas doses de medicações de depósito, que foram reduzidas drasticamente ao longo dos meses, onde o Vitor começou a ouvir mais os pacientes. Foi relatado que de 720 ampolas de aldol decanoato que eram utilizados por mês quando o Vitor começou a trabalhar nesse CAPS, o número de ampolas foi para 320. Ele nos explicou, que essa medicação é utilizada quando o paciente resiste em tomar o remédio, e que apesar de ser injetável e ter uma duração quinzenal/mensal, ela só começa a fazer efeito dentro de 5 dias, e para os períodos de crise, ela não é muito eficaz, mas ainda assim, era muito utilizada como recurso. Essa medicação acaba deixando o paciente mais dopado e tirando parte da sua subjetividade.</p><p>Mesclando com um pouco do que estudamos sobre psicoterapia, acerca da importância da fala do indivíduo, para vivenciar um pouco de alívio do seu sofrimento, Douglas trouxe uma analogia muito interessante comparando as medicações desnecessárias, com o reparo de um cano, com um adesivo ineficaz, você tampona, mas não resolve então o problema continua existindo</p><p>ali e sem a atenção adequada ele ainda pode piorar.</p><p>Vitor, nos explicou que tem uma troca muito importante com os médicos da unidade, e com as reuniões, já conseguiram juntos, pensar estratégias viáveis para pacientes, que não fosse o excesso de medicação desnecessária. As estratégias geralmente são discutidas, mas a decisão parte do médico sobre a melhor conduta para cada paciente. Depois, encaminhando para o final da palestra, o Douglas explicou que no CAPS abrem algumas vagas de estágio todo semestre, e que a presença dos estagiários sempre dá uma agitada na equipe, pois a curiosidade e as perguntas que eles trazem, não deixam os funcionários numa posição de relaxamento total, ficam todos na ativa e essa sacudida é fundamental para o trabalho deles.</p><p>Foi muito importante para a minha formação, ouvir um pouco mais sobre como funciona o atendimento nas unidades de CAPS.</p><p>PRODUÇÃO TEXTUAL REALIZADA NO PERÍODO:</p><p>Optei por produzir um resumo de cada texto lido. No caso dos livros, resumi os capítulos que eu consegui ler. Importante ressaltar que Freud era médico, e com o tempo de sua carreira profissional, foi se tornando analista. Dentre seus textos, sempre que utiliza a palavra médico, ele está se referindo ao analista. Segui a mesma linguagem que ele coloca em seus textos originais.</p><p>Sobre o início do tratamento (1913):</p><p>Nesse texto, Freud prepara uma série de dicas para o início da análise. Nele, relata que são necessárias as entrevistas iniciais, para ver se o paciente se enquadra ou é adequado para a o método da Psicanálise, esse período curto é denominado de ensaio prévio por ele. O texto aborda também o fato de ser tão importante não ter conhecimento prévio do paciente, buscar informações antecipadas ou atender conhecidos e parentes, pois segundo ele, essa prática pode lhe custar a amizade ou prejudicar o paciente, certamente não tem como dar continuidade a ambos sem nenhum prejuízo. Informações importantes, quanto a duração do tratamento, das sessões ou os valores cobrados nelas, também são abordados nesse texto. Por fim, ele relata o quanto é importante na análise ter paciência, que ela pode durar meses ou anos para mostrar um efeito observável, e que geralmente dura mais tempo do que o paciente espera. É possível compreender também, o porquê não é adequado deitar um paciente que tenha suspeita de ser psicótico e o quanto deitar no divã pode levar pacientes nessas condições a um surto. Ainda sobre o divã, ele explica a importância de colocar-se fora do campo de visão do paciente, quando o paciente te olha fixamente, pode observar suas feições e criar conclusões próprias acerca do que ele lhe traz durante as sessões e isso tende a ser prejudicial para o tratamento. De onde se inicia o tratamento em Psicanálise? Só o paciente vai poder dizer, a demanda vai vir dele mesmo, o ponto inicial deve vir dele. O preparo prévio do paciente para as sessões – pensar ou planejar o que falar, também é desaconselhado nesse texto, pois provavelmente vem acompanhado de uma resistência ao tratamento, escondendo o que de fato precisa ser abordado, então é importante conseguir esclarecer ao paciente, que ele precisa vir sem pensar muito em seu discurso, pois isso faz com que o material mais precioso da análise, demore muito a vir á tona.</p><p>Também não é aconselhado que o paciente comente com amigos próximos sobre as suas sessões, o tratamento analítico deve ser assunto entre o paciente e o analista somente, sem interferências ou escoamento de informações. É possível entender com o texto, que o analista</p><p>vai de fato conseguir atuar de maneira mais efetiva, após ocorrer a transferência, é a partir daí que o analista consegue ter espaço para atuar de maneira mais confortável e cirúrgica no tratamento do paciente.</p><p>Recomendações ao médico que pratica Psicanálise (1912):</p><p>Nesse texto, é possível termos conhecimento de algumas regras técnicas, que Freud levou um longo tempo de sua experiência para conseguir elaborar. Dentre as técnicas, ele aponta algumas tarefas essenciais para conseguir executar com excelência a Psicanálise. A primeira técnica que Freud relata, se refere a atenção flutuante, a importância de não ficar tomando notas sobre o que o paciente lhe traz, não selecionando ou dando foco e atenção a assuntos selecionados por nós mesmos. A segunda recomendação, seria a respeito das anotações também, Freud acredita que ao anotarmos detalhes da sessão, acabamos ‘’gastando’’ parte da nossa atividade mental, selecionando materiais ao invés de nos debruçarmos no que de fato precisa ser registrado, que são sonhos, datas ou conclusões isoladas trazidas pelo próprio paciente. A terceira orientação, diz respeito a registros de casos clínicos para meios científicos ou acadêmicos, segundo Freud o estudante que acredita na análise, precisa confiar no que há de registro, mesmo que sem tanto detalhe, pois para praticar a análise, o analista precisa seguir os protocolos, faz parte da condução do tratamento e tomar notas excessivas, sairia totalmente do protocolo o que poderia prejudicar a eficácia e o analisando em questão. A quarta orientação, é sobre a importância de não trabalhar casos clínicos no meio da pesquisa, sem que ele seja encerrado antes, o êxito do tratamento seria influenciado nessas situações. A orientação seguinte, é que o analista trabalhe com seus pacientes, de maneira parecida com um cirurgião, deixando seus afetos, julgamentos e conclusões de lado, levando com seriedade a condução do tratamento de seu analisando. Outro fator de extrema importância para Freud, seria o analista fazer análise com um profissional também, para Freud era de grande relevância que todo psicanalista fizesse análise (afinal esse fato está no tripé da psicanálise), caso contrário entraria em total descrédito e entraria num risco de projetar coisas pessoais, nas situações do seu analisando, gerando uma possibilidade grande de prejudicar seus pacientes. Outro ponto importante trazido nesse texto, é que não é indicado compartilhar situações da sua vivência para o paciente, isso poderia se aproximar de tratamentos por sugestão, então não é aconselhável. A sublimação de instintos, também é citada nesse texto, Freud não aconselha que ela seja feita em todos os casos, e deve haver um cuidado para realizá-la com o paciente, Freud considera que essa prática se adequa a ambição pedagógica ou a ambição terapêutica. Freud conclui com o último tópico, desaconselhando que familiares ou os pais de analisandos, se aprofundem no</p><p>conhecimento da psicanálise, pois isso poderia inviabilizar o tratamento e criar barreiras para o tal.</p><p>A dinâmica da transferência (1912):</p><p>É possível identificar nesse texto, o sentido da transferência, que nada mais é do que a manifestação de afetos do paciente pelo terapeuta, podendo esta ser ‘’ordinariamente a mais forte alavanca do sucesso, tornar-se o mais poderoso meio de resistência.’’</p><p>Através dessa leitura, é possível compreendermos que a transferência pode ser ‘’positiva’’ quando o paciente tem sentimentos amigáveis ou de afeto, carinho ou respeito referentes a pessoa do analista ou ela pode ser ‘’negativa’’, quando o paciente sente raiva ou se comporta de maneira hostil referente ao analista, ela pode ainda ser erotizada .</p><p>A transferência é muito importante para o tratamento psicanalítico, após a transferência, o analista tem mais condições e espaço para fazer as atuações necessárias e cirúrgicas nas questões trazidas pelo paciente.</p><p>Recordar, repetir, elaborar (1914):</p><p>Inicialmente, o texto fala sobre algumas mudanças a adaptações que foram acontecendo na psicanálise com o decorrer do tempo. Primeiro, o método utilizado para detectar os sintomas do paciente era a hipnose, depois, Freud começou a ficar mais atento aos pensamentos espontâneos que os pacientes traziam durante a associação livre, onde ele acreditava que através de algumas falas do paciente, o inconsciente deixaria escapar o que estivesse latente (sintoma). Freud sempre perguntava aos pacientes quando começaram os sintomas e a partir daí, ele começava</p><p>a traçar meio que uma linha de raciocínio, para entender a condição do paciente.</p><p>Nesse manuscrito, Freud nos põe a refletir a respeito das repetições de fala que o paciente pode trazer durante as sessões, o quanto elas podem significar resistência para dificultar a chegada ao sintoma genuíno. Também é possível notar, o quanto o ‘’esquecimento’’ de alguns comportamentos do paciente, podem estar evidenciados na conduta deles para com o analista. ‘’Por exemplo: o analisando não diz que se lembra de haver sido teimoso e rebelde ante a autoridade dos pais, mas se comporta de tal maneira diante do médico. Não se lembra de que sua investigação sexual infantil não o levou a nada, deixando-o perplexo e desamparado, mas apresenta uma quantidade de sonhos e pensamentos confusos, lamenta que nada dá certo pra ele, e vê como seu destino jamais concluir um empreendimento. Não se</p><p>lembra de ter se envergonhado bastante de certas atividades sexuais e ter sentido medo de que fossem descobertas, mas mostra vergonha do tratamento a que se submete agora e procura escondê-lo de todos etc.’’</p><p>Ainda nesse texto, Freud fala sobre a possível piora da doença no paciente, durante o período de tratamento, que isso pode fazê-lo ficar mais resistente ao tratamento, mas que é necessário deixá-lo ciente de que para tratar o sintoma, é preciso conhece-lo, ás vezes vivenciá- lo novamente ou pelo menos saber de sua existência, para que o mesmo seja enfrentado e liquidado. O processo da terapia, exige muito do paciente, e dentro desse texto, é recomendado que durante a terapia o paciente não faça escolhas vitais, tão importantes como escolher uma profissão ou um objeto amoroso.</p><p>Por fim, Freud conclui o texto, explicando como deve ocorrer a superação a resistência, que o médico precisa deixar o paciente ciente de suas resistências, porém deve fazer isso no momento certo, senão você acaba fortalecendo mais ainda a resistência e deixando sua visão diante do tratamento mais turva ainda. É necessário dar tempo ao paciente, pode ser um período penoso ao paciente e uma prova de paciência para o analista, mas o caminho é esse, conduzir o tratamento distinguindo a psicanálise de toda influência por sugestão.</p><p>Observações sobre o amor de transferência (1915):</p><p>Nesse texto, acerca da transferência, é possível ver novamente esse conceito de maneira aplicada a análise, é citada novamente a contratransferência, como deve ser a condução do médico quando o paciente tem transferências de afeto por ele, que é necessário ter cautela e dar prioridade ao tratamento do paciente, o psicanalista deverá dar suporte e conduzir o paciente a superar a parte animal do Eu, para dar continuidade ao trabalho da análise, isso não significa sublimar esse instinto ou renunciá-lo e sim manejá-lo de forma adequada. Freud aconselha, que devemos colocar a transferência amorosa num campo irreal, como algo a ser atravessado durante o processo de terapia, e não ignorá-la ou transformá-la em ato. Motivos éticos e técnicos se juntam para impedir que o médico dê amor ao paciente. Paciente e analista juntos, devem aprender a superar o princípio do prazer e renunciar uma satisfação próxima, porém inaceitável socialmente.</p><p>Ele encerra, nos mostrando com uma analogia, que assim como o químico lida com materiais perigosos e explosivos, o analista também lida com sentimentos fortes e energias explosivas, e por isso é necessário ter sempre a cautela e a escrupulosidade de um químico.</p><p>Freud e o inconsciente – de Luiz Alfredo Garcia-Roza:</p><p>Durante a leitura desse livro, é possível perceber logo no início a pré-história da psicanálise, o livro explica sobre a proximidade de Freud com os estudos de Charcot em Paris, e o conhecimento compartilhado por ele nas aulas, sobre a histeria. Nesse momento, Freud entende e concorda que a histeria seria uma doença não só feminina, também acometendo os homens e seus sintomas seriam bem definidos e claros. O livro traz também a experiência abrupta de Freud com a hipnose e relata sua união nos estudos com Breuer, que tinha a hipnose como prática com seus pacientes.</p><p>Após esse capítulo o livro entra em um projeto de 1895, ao qual não foi lançado na época, esses estudos de Freud ficaram guardados por muito tempo, esse projeto tinha o intuito de tornar a psicanálise mais palpável, um objeto de estudo e exemplificar coisas antes muito subjetivas, mas ele não era um trabalho descritivo e baseado em observações e experimentos, mas um trabalho teórico de natureza fundamentalmente hipotética.</p><p>No capítulo III fala-se sobre a interpretação dos sonhos e como ele foi mal recebida pelos psiquiatras e o público médico da época. Mas esse foi um dos livros mais importantes de Freud e concomitantemente ao lançamento do livro, ele descobriu o complexo de Édipo. Freud trouxe a ideia de que os sonhos nos remeterem a conteúdos importantes do inconsciente, disfarçados pela censura. O que seria interpretado nas sessões, não se tratava do conteúdo em si, mas a maneira com que ele era trazido pelo paciente. Freud separou os sonhos em mecanismos também, como: condensação, deslocamento, figuração e elaboração secundária. Nesse capítulo se fala ainda da superinterpretação e a sobredeterminação, simbolismo nos sonhos, regressão e muitos outros conceitos.</p><p>O capítulo IV é dedicado a explicar os três ensaios sobre a sexualidade, nele é possível entendermos as pulsões sexuais, zonas erógenas e pulsões parciais, além das fases de organização da libido. Essa teoria também trouxe muitas críticas para Freud, pois ele iniciou as apresentações em congressos médicos, esclarecendo a respeito da sexualidade infantil e isso chocou muito a sociedade da época, que não conseguia perceber que a sexualidade trazida por Freud estava sendo muito mais direcionada a questões do prazer de cada indivíduo, em todos os aspectos de sua vida, porém no caso das crianças, sem conotações sexuais.</p><p>Eu não consegui ler o livro inteiro ainda, pois me dividi entre outras leituras durante o semestre, contudo pretendo concluí-lo para sincronizar meu raciocínio acerca dos conceitos importantes e fundamentais da psicanálise.</p><p>Que corpo é esse que anda sempre comigo?</p><p>Esse livro, é uma junção de diversos textos, que falam da história do sofrimento psíquico relacionado a questões corporais, embasados pela psicanálise, foi solicitada a leitura dele, pela professora Inês, pois a paciente M me apresentou durante as sessões, muitas questões de sofrimento referentes ao seu próprio corpo, então a ideia era contextualizar o caso da paciente com uma leitura dentro da área da psicanálise.</p><p>Dentro do livro, haviam diversos textos de diferentes autores e logo no primeiro capítulo, traz uma explicação de como os traumas impactam fisicamente as pessoas, mesmo sendo fatos que ocorrem de maneira externa aos corpos, ainda assim os traumas podem trazer alterações aos nossos organismos, e dentro dessa explicação trazida pelo primeiro capítulo do livro, também conseguimos fazer uma conexão com as teorias desenvolvidas por Freud, nos tempos em que descobria a histeria, podemos notar que realmente as informações se complementam e fazem completo sentido. Hermann Oppenheim utilizou o termo ‘’neurose traumática’’ para se referir aos sintomas pós-traumáticos que resultavam em reações físicas, mas anos seguintes, Charcot começou a utilizar a nomenclatura de ‘’histeria traumática’’ para esses efeitos, e trouxe a discussão de que a histeria não seria apenas atribuída as mulheres, pois ele enxergava sintomas histéricos em pacientes dele do sexo masculino. Nesse mesmo capítulo, é colocado um embate teórico, entre trauma e fantasia do desejo, pois para Freud a fantasia do desejo também é uma tentativa de embelezar o real naquilo que ele tem de traumático.</p><p>No capítulo 2 do livro, enfatiza-se a potência do belo, o quanto a padronização da beleza e essa imposição de um ideal ou de um modelo moral e normativo, que ainda é condicionada por práticas sociais, coloca-se como uma questão de que a beleza está a frente de tudo, como se ela fosse o foco principal e</p><p>o necessário para o indivíduo obter prestígio e respeito. Para contextualizar com a leitura, busquei entrevistas da colaboradora do livro, Joana Novaes, observei o quanto ela é especializada em pesquisas nesse tema. Joana coordena o Núcleo de doenças da beleza na Puc do Rio, e tem vários projetos de pesquisas voltados para essa temática. Em um dos vídeos, onde fala do seu livro, Joana Novaes usa uma frase interessante, diz que na contemporaneidade, o corpo é colocado como capital, mostrando que nele há uma classe, o que eu aparento é basicamente o que eu mereço receber de respeito da sociedade, e logicamente que dependendo do padrão social, nem todos vão ter a oportunidade, recursos financeiros e tempo hábil, para investir e cuidar da saúde de seus corpos, e assim cria-se uma massa de excluídos, o corpo se torna um objeto ostentatório, visto que estamos inseridos em uma sociedade lipofóbica e ageista, que prioriza a magreza e não sabe lidar ou aceitar o envelhecimento, processos esses</p><p>que são demonizados. Outra questão importante, trazida pela estudiosa, é uma análise referente a palavra ‘’sarado’’, que diz respeito a uma pessoa em boas condições físicas, com músculos, esse termo nos remete a pensar que sarado é alguém que não está doente, não tem problemas e em contrapartida, coloca todo mundo que não está nessa condição de sarado, num lugar de pessoas sem saúde, doentes ou com algum problema.</p><p>Por conta do tempo de leitura, e a data da entrega dos relatórios, não consegui ler o livro todo, então priorizei os capítulos que tinham a ver com a temática da minha paciente M, então direcionei a minha leitura para o capítulo 12- Corpo, beleza e angústia, logo no início do capítulo, as autoras já chegam desmistificando questões afirmadas pelo senso comum sobre a Psicanálise, de que ela não trata do corpo e nem dá a devida relevância a ele, contudo ela citou duas frases muito interessantes, que me chamaram a atenção: ‘’ No entanto, o sujeito do inconsciente só existe porque tem seu suporte no corpo.’’ e acrescenta com outra frase ‘’ O corpo traduz a vida psíquica do sujeito.’’. ‘’Freud descobre com as histéricas que o corpo fala, por meio de dores, paralisias e cegueiras, úlceras, tremores, sobre o que o sujeito padece: o desejo e o gozo.‘’ (NOVAES, 2016, p.180)</p><p>Esse capítulo também traz a história de sofrimento psíquico das mulheres com questões referentes ao corpo, são apontadas questões como suicídio, autocobrança, necessidade de se sentir aceita por grupos. Todas essas questões são muito comuns no público feminino e tem dados históricos que corroboram para cada uma dessas questões. No final do capítulo, é colocada a angústia feminina, ao tentar alcançar uma beleza e perfeição que são inalcançáveis, a necessidade de ver a satisfação do outro com a sua própria aparência e imagem.</p><p>Já no capítulo 14 – A construção do corpo na anorexia das meninas, é direcionado para os distúrbios alimentares, nele a autora fala o quanto a magreza é cultuada, sobretudo entre as mulheres, essa questão se acentuou significativamente nessas últimas décadas e tem dominado todas as classes sociais. Dentro desse capítulo, obtive a informação e dados de que na época em que fora escrito, 53% da população feminina fazia regime, o quanto a utilização de remédios para emagrecer só faz aumentar e o ranking de cirurgias plásticas mundial, que o Brasil praticamente lidera, ficando atrás somente dos Estados Unidos. A autora nos atenta também, para a fetichização do corpo, o apego ao ideal e o quanto a política social favorece e sustenta certos modos de funcionamento psíquico. A leitura desse livro, me auxiliou e me deu suporte para entender mais um pouco, como a psicanálise enxerga essa questão do sofrimento psíquico, ligada ao corpo, como essas cobranças e questionamentos impactam a vida das pessoas com distúrbios referentes a beleza e estética corporal e o quanto algumas questões precisam ser</p><p>desmistificadas, ressignificadas principalmente com o público jovem e o público feminino, que em geral, são os mais impactados com essas questões de saúde. Mais uma vez citando a entrevista da Joana Novaes, em um dado momento lhe é perguntado o que é beleza para ela, e a resposta dada por ela é que: ‘’ A beleza sobretudo, é a vivacidade de pensar criticamente, para repensarmos quais são os parâmetros de beleza.’’</p><p>‘’É justamente nesse sentido que se pode assinalar fecunda potencialidade que tem a clínica psicanalítica para funcionar como espelho da cultura, refletindo o que emerge na atualidade à procura de uma formulação, por meio da qual o mal – estar possa, enfim, habitar a linguagem a ser partilhado.’’ (NOVAES,2016, p. 220 )</p><p>RESENHA DE FILME DIDÁTICO INDICADO :</p><p>FILME: ‘’FREUD ALÉM DA ALMA’’</p><p>O filme traz a trajetória de Freud durante a sua descoberta profissional, no início do filme, Freud atuava como médico, em um hospital de Vienna e era supervisionado pelo professor Meynert. Freud já acreditava no conceito da histeria, e por vezes admitia pacientes com esses sintomas no hospital, mas essa condição era descredibilizada no meio médico, então ele não tinha espaço e nem aprovação dos seus superiores, para desenvolver estudos e testes voltados pro inconsciente em Vienna. Com o incentivo de sua mãe, Freud decide ir estudar em Paris, onde a ideia de histeria era explorada com mais liberdade e credibilidade, lá ele teve aulas com o médico Charcot, o qual ele seguiu os passos para inicialmente aprender sobre a hipnose.</p><p>Após seu retorno de Paris, Freud apresenta a academia de médicos, os conhecimentos que obteve por lá, mas novamente é taxado como charlatão e descredibilizado, e em um evento desses, ao final um médico se aproxima dele e mostra certo apreço pela teoria, e assim Freud conhece o também médico Breuer. Breuer o procura para falar a respeito de uma paciente, e a partir do caso da paciente Cecily, Freud começa a criar muitos dos conceitos fundamentais da psicanálise, e nas cenas do filme, podemos presenciar vários deles, como a transferência, o recalque, neurose, psicose e o complexo de Édipo são alguns dos muitos termos explicados e exemplificados no filme.</p><p>Um paciente que deixou Freud nitidamente perturbado, foi o Carl, que era filho de um general e diante dos relatos de Carl, Freud ficou assustado e foi embora. Tempos depois, quando retornou a casa dele, descobriu que ele já havia falecido e que havia ficado internado em m manicômio. Esse paciente era psicótico.</p><p>Nesse filme também foi possível identificar, como Freud fazia a interpretação de fatos trazidos pelos pacientes e dos sonhos dos mesmos, Freud e Breuer também não estavam de acordo referente a interpretação dos sonhos. Durante maior parte do filme, Freud e Breuer tem uma troca muito boa, mas em um determinado momento, eles começam a divergir sobre as teorias, principalmente quando Freud cria a teoria da sexualidade infantil. Para a época era absurdo falar sobre sexualidade infantil. Quando Freud apresenta sua teoria da sexualidade infantil na academia médica, novamente ele é hostilizado e descredibilizado, inclusive por Breuer, que era seu amigo.</p><p>II- AVALIAÇÃO:</p><p>A psicanálise na minha opinião, é uma abordagem fascinante, porém uma das mais difíceis de se aplicar no setting terapêutico. Esse foi o meu primeiro estágio no Serviço Escola de Psicologia (SEP) e eu escolhi essa abordagem pois ler sobre ela sempre me interessou, conhecer os termos e seus significados, me intrigava e despertava curiosidade, acredito que começar pelo mais difícil pode tornar os próximos semestres mais suaves e tranquilos. Eu gostei muito de me aprofundar nos estudos da Psicanálise, já tinha feito a disciplina de Clínica Psicanalítica no ano passado, então foi um complemento pra minha formação muito importante. Esse estágio contribuiu muito com a minha formação acadêmica, não posso afirmar que serei uma psicanalista, pois ainda quero conhecer outras abordagens e acredito que o melhor momento para fazer isso, é durante a faculdade, mas certamente a Psicanálise tem um espacinho no meu coração.</p><p>III-</p><p>AUTOAVALIAÇÃO:</p><p>Me dediquei em aplicar as técnicas ensinadas pela supervisora, possivelmente cometi alguns deslizes, que como estudante acredito ser comum, mas fico muito feliz de conseguir ver e acompanhar a paciente M até o final do processo, e pude perceber que ela está conseguindo se ouvir e ficar atenta as questões que não lhe fazem bem, impondo os limites necessários quando se sente invadida, então do meu ponto de vista, a Psicanálise conseguiu ajuda-la no autoconhecimento e no gerenciamento de sua própria vida, mesmo em apenas 13 sessões. Estar em análise e ter o momento de supervisão com a Inês, também foi muito importante, pois a supervisora sempre nos ouvia atentamente e com muita gentileza, fazendo apontamentos necessários e com uma escuta muito atenta. Durante todo o semestre considero que fui bem participativa nas aulas e só faltei um dia, pois estava em um congresso de Psicologia em outra universidade. Acredito que esse estágio contribuirá muito para a minha prática na clínica.</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:</p><p>CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional dos Psicólogos, resolução nº 10/05, 2005.</p><p>FREUD, Sigmund. A Dinâmica da Transferência. In: FREUD, Sigmund. Obras completas, v. 10: observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia (“O caso Schereber”), artigos sobre técnica e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. pp. 100-110.</p><p>FREUD, Sigmund. Recomendações aos médicos que praticam a psicanálise. In: FREUD, Sigmund. Obras completas, v. 10: observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia (“O caso Schereber”), artigos sobre técnica e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. pp. 111-122.</p><p>FREUD, Sigmund. Observações sobre o Amor de transferência. In: FREUD, Sigmund. Obras completas, v. 10: observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia (“O caso Schereber”), artigos sobre técnica e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. pp. 159-172.</p><p>FREUD, Sigmund. O início do tratamento. In: FREUD, Sigmund. Obras completas, v. 10: observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia (“O caso Schereber”), artigos sobre técnica e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. pp. 123-145.</p><p>FREUD, Sigmund. Recordar, repetir e elaborar. In: FREUD, Sigmund. Obras completas, v. 10: observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia (“O caso Schereber”), artigos sobre técnica e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. pp. 146-158.</p><p>GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. 24. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.</p><p>LAPLANCHE, Jean. Vocabulário da psicanálise. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.</p><p>PARECER DO SUPERVISOR SOBRE O RELATÓRIO:</p><p>Assinatura da Supervisora: Inês Mendonça Dos Santos Dias</p><p>CRP: 39023/05</p><p>image1.jpeg</p><p>image2.jpeg</p>