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<p>Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll por Juliana Mutafi AOL Poliedro Sistema de Ensino Análise de Obras</p><p>Poliedro Sistema de Ensino COLEÇÃO AOL Copyright Poliedro Sistema de Ensino Ltda., 2023. Todos os direitos de edição reservados ao Poliedro Sistema de Ensino Ltda. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal, Lei n° 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. ISBN 978-65-5613-455-0 Presidente: Nicolau Arbex Sarkis Autoria: Juliana Mutafi Gerência editorial: Fabíola Bovo Mendonça Coordenação de projeto editorial: Ana Paula Enes e Juliana Grassmann dos Santos Edição de conteúdo: Marina Ribeiro Candido e Letícia Morais Dantas de Castilho Gerência de design e produção editorial: Ricardo de Gan Braga Coordenação de revisão: Rogério Fernandes Salles Revisão: Anna Carolina Garcia, Flávia Baggio, Talita Pompeu e Barbara Benevides Produção de Textos Coordenação de arte: Leonardo Carvalho Diagramação: Typegraphic Ilustração: Pati Perez Adaptação de projeto gráfico e capa: Leonardo Carvalho Coordenação de licenciamento e iconografia: Leticia Palaria de Castro Rocha Analista de licenciamento: Izilda Canosa Planejamento editorial: Maria Paula Ramos Paes Poliedro Sistema de Ensino Ltda., pesquisou junto às fontes apropriadas a existência de eventuais detentores dos direitos de todos os textos e de todas as imagens presentes nesta obra Em caso de omissão, involuntária, de quaisquer créditos, colocamo-nos à disposição para avaliação e consequentes correção e inserção nas futuras estando, ainda, reservados os direitos referidos no art. 28 da Lei n° Poliedro Sistema de Ensino T. 12 3924-1616 sistemapoliedro.com.br</p><p>Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll por Juliana Mutafi Poliedro AOL Sistema de Ensino Análise de Obras</p><p>Alice no das Maravilhas de Lewis Carroll Alice é uma criança e, portanto, curiosa pela própria natureza. Em um dia aparentemente comum, avista um Coelho apressado e resolve segui-lo. Eis 0 início de uma narrativa que encantou e segue encantando jovens e adultos, permeada por personagens tão fantásticos quanto fascinantes. Não à toa, a obra é considerada um dos maiores clássicos da literatura, servindo de inspiração para outras obras artísticas até os dias atuais. A seguir, vamos conhecer com mais detalhes este País das Maravilhas. Os trechos da obra reproduzidos nesta análise foram extraídos do livro: CARROLL, Alice no País das Maravilhas. Tradução Vanessa 1. ed. São Paulo: Globo, 2014</p><p>5 INTRODUÇÃO Glossário "Poderia me dizer que caminho devo tomar para nonsense: desprovido de sentido, sem coerência. sair daqui?" "Isso depende bastante de onde você quer che- texto de Carroll é tomado de ares filosóficos e gar", retrucou o Gato. matemáticos, levando os estudiosos de sua obra a pro- "Não faz muita diferença...", disse Alice. por análises de que a narrativa possui uma chave de "Então não importa que caminho tome", afirmou leitura associada à fase da adolescência, o que justifi- Gato. caria as mudanças constantes de Alice ou a presença recorrente, no livro, de conceitos matemáticos, como O diálogo entre Alice e o Gato é um trecho do sex- o caso da teoria da substituição de variáveis, que con- to capítulo, intitulado "Porco e pimenta", do livro Alice siste, de forma basilar, em alterar dentro de um dado no País das Maravilhas, do autor inglês Lewis Carroll. integrado uma variável. A exemplo disso, no capítulo O excerto busca representar, de modo geral, como a nar- "Conselhos de uma Lagarta", quando a Pomba acu- rativa da obra, refletida na saga da personagem Alice sa Alice de ser uma cobra, a protagonista retruca que que chegou a um lugar desconhecido e deseja retornar não é, e a Pomba, então, questiona: "[...] Suponho para sua casa -, dialoga também com leitores adultos, que agora vai me dizer que nunca experimentou um uma vez que sua linguagem a um só tempo entretém jo- ovo!". Alice assinala que já experimentou, mas que vens e simboliza questões mais universais e metafísicas. tanto meninas como cobras comem ovo. Ao receber A epígrafe que abre esta introdução também nos leva essa resposta que é também uma variável -, a Pomba a discutir a contemporaneidade da obra de Carroll, cujas conclui que, por essa semelhança, meninas são um representações simbólica e filosófica perduram até os dias tipo de cobra. de hoje, além de suscitar o desejo de desvendar o que A seguir, damos início ao aprofundamento da acontece com a protagonista: Aonde vai a personagem? obra, conhecendo o autor, a época em que viveu, sua O que o autor pretendeu transmitir por meio da obra ao produção literária e, em especial, aspectos que fazem adotar aspectos do nonsense que permeiam a narrativa? de Alice no País das Maravilhas um clássico atemporal.</p><p>6 SOBRE 0 AUTOR Pequena biografia do autor Carroll foi um homem multiface- Lewis Carroll tado, pois, além de ser reconhecido no meio literário, realizou trabalhos Lewis Carroll é pseudônimo como desenhista, matemá- de Charles Lutwidge Dodgson. tico e reverendo de ordem protestan- O escritor nasceu em 1832 em te. Ao contrário do que esperava seu Daresbury, no Reino Unido; e pai, não seguiu uma carreira religiosa, faleceu em 1898 por conta de uma vez que, aos 19 anos, ingressou uma pneumonia, em Guildford, na Universidade de Oxford, desta- também no Reino Unido. cando-se como aluno e, ao final do curso, sendo convidado a dar aulas na mesma instituição. Como Charles Lutwidge Dodgson, publicou artigos que envol- viam seus conhecimentos matemáticos; o pseudônimo pelo qual ficou mundialmente conhecido, por outro lado, foi usado para sua produção na literatura. Foi durante os estudos universitários que Lewis se aproximou do decano Henry George Liddell, pai de três meninas: Lorina Charlotte, Edith Mary e Alice Pleasance Liddell. Ao que conta a história, foi às margens do rio Tâmisa (sul da Inglaterra), em um passeio com Lorina, Edith e Alice, que nasceu a inspiração para a história Alice no País das Maravilhas. Segundo algumas biografias, havia uma predileção de Carroll pela pequena Alice. A história teria sido contada oralmente e foi regis- trada pelo autor em uma primeira versão, denominada Alice debaixo da terra, escrita em 1864 como presente para Alice. Posteriormente, no en- tanto, Carroll decidiu ampliar a narrativa, inserindo passagens como a do Chapeleiro e do Gato. A primeira edição de Alice no País das Maravilhas foi publicada em 1865, mas logo saiu de circulação por conter alguns er- ros de impressão, retornando em edição revista no ano seguinte, quando fez um grande sucesso. Em 1872, Carroll lançou Alice através do espelho, a continuação da his- tória de Alice. Na narrativa, a protagonista também enfrenta vários obs- táculos, como peças animadas em um tabuleiro de xadrez, com o objetivo de se tornar uma rainha. Lewis Carroll ainda escreveu outros textos, com destaque para alguns poemas que também adotam o nonsense como aspecto elementar, motivo pelo qual é considerado um dos precursores da poesia de vanguarda.</p><p>7 0 autor e seu período substituída por maquinários projetados nesse perío- A produção de Lewis Carroll abrange o período de do, aumentando os lucros das fábricas e mecanizando 1836 a 1881, estando, portanto, associada a um con- os processos de produção. Nesse sentido, enquanto a texto de diversas transformações sociais na Inglaterra indústria se desenvolvia e ascendia tecnologicamen- e, de modo geral, na Europa. te, as diferenças de classes sociais aumentavam em Importante ressaltar que a produção literária de grande proporção. Lewis se deu durante a Era Vitoriana, período no qual Na literatura, um nome de destaque nesse período a Rainha Vitória ocupou o trono após a morte do Rei foi o de Charles Dickens, que aborda algumas das ma- Guilherme IV, em 1837. Seu reinado, que durou 63 zelas sociais aprofundadas com a Revolução Industrial anos, entre 1837 e 1901, foi marcado por grandes mu- na Inglaterra. Esse panorama pode ser visto em suas danças políticas, econômicas, sociais e culturais decor- obras Oliver Twist (1837) e Tempos difíceis (1854). rentes da Primeira Revolução Industrial (1760-1840). No caso de Lewis Carroll, sua produção não está À medida que o desenvolvimento tecnológico imune ao retrato da sociedade vitoriana. Isso porque garantia novas formas de produção, corroborando esta é representada, em Alice no País das Maravilhas, para a consolidação do sistema capitalista, as cama- a partir de elementos nonsense e de figuras carica- das mais populares passaram a sofrer com más con- tas. Na obra, aliás, é possível entrever a insatisfa- dições de vida; parte dessa população, que antes era ção do autor em relação à educação das crianças explorada como mão de obra barata, passou a ser nesse período.</p><p>8 A LITERÁRIA Aspectos gerais da produção literária do autor Obras do autor A produção literária de Carroll é marcada pela presença do humor, Entre as obras de maior de elementos do nonsense e por críticas à sociedade, em geral, de maneira destaque, estão: lúdica e dentro de uma linguagem do universo maravilhoso esses aspec- Alice no País das tos, aliás, são corroborados até mesmo nas cartas trocadas entre 1855 e Maravilhas (1865) 1896. Alice através do espelho maravilhoso, na literatura, consiste no fenômeno de acontecimen- (1871) tos que não podem ser explicados a partir de leis naturais, devendo, no Além disso, o autor pu- entanto, ser aceitos pelo leitor como possíveis dentro do universo no qual blicou outros livros voltados a narrativa é construída. No caso de Alice no País das Maravilhas e de Alice para jovens: através do espelho, os títulos de ambas as obras indicam essa possibilidade, A caça ao Snark (1876) que se confirma quando mergulhamos no enredo e na sequência de acon- Sílvia e Bruno Parte (1889) tecimentos que só poderiam ter lugar no mundo concebido por Carroll. Sílvia e Bruno Parte (1893) No primeiro título, a protagonista adentra o mundo maravilhoso ao se- Há, ainda, uma publica- guir o Coelho Branco pela toca; no segundo, a menina está sentada na sala ção feita com 53 cartas que de casa, acompanhada de sua gatinha Dinah, quando começa a brincar de Lewis trocou com 38 crian- faz de conta e imaginar que existiria um mundo por trás do espelho nesse ças entre 1855 e 1896. ponto, o espelho transforma-se em uma espessa neve prateada e a menina o atravessa. Aspectos gerais da obra analisada Alice no País das Maravilhas destaca-se por sua narrativa maravilho- sa e intrigante. O livro é um clássico não apenas da literatura inglesa, mas da literatura produzida para jovens. Um dos títulos mais conhecidos do mundo, possui centenas de edições e não raro figura nas listas de livros mais vendidos. A obra é dividida em doze capítulos: 1. Na toca do Coelho 2. A lagoa de lágrimas 3. Corrida eleitoral e a história caudalosa 4. O Coelho que envia um pobre coitado 5. Conselhos de uma Lagarta 6. Porco e pimenta 7. Um chá maluco 8. campo de croquet da Rainha 9. A história da Falsa Tartaruga 10. A quadrilha de lagostas 11. Quem roubou as tortas? 12. depoimento de Alice</p><p>No capítulo 1, "Na toca do Coelho", Alice está cansada de ficar à margem do rio com sua irmã e decide fazer uma guirlanda de flores; de repente, vê o Coelho Branco, de olhos rosados, correndo e falando. Ao contrário do que se poderia esperar, a pe- quena personagem da história não se assusta, acha a cena até normal. Então, com curiosidade aguçada, Alice segue o animal. Por um trecho, a toca de coelho seguia reto como um túnel e então descambava de repente, tão de repente que Alice não teve um segundo para pensar em frear antes de se ver caindo através do que parecia um poço bem fundo. Após entrar na toca e cair dentro de um poço, o narrador onisciente relata ao leitor as perguntas que Alice fazia durante a queda. Nesse momento, é possível per- ceber um traço comum das obras do autor - elementos matemáticos - reproduzido nos pensamentos da protago- nista, que estima a distância de sua queda em um exercício de lógica. fato de ela, durante a queda, deixar o medo de lado e conseguir organizar esse tipo de raciocínio também produz como efeito de sentido o hu- mor, muito característico em outras passagens da obra: Será que a queda não vai acabar nunca? "Quantos qui- lômetros devo ter descido até agora?", perguntou-se em alta. "Provavelmente já estou bem perto do centro da Terra. Deixe-me ver: isso seria a uns seis mil quilômetros de pro- fundidade, imagino..." (pois como se vê, Alice aprendera várias coisas desse tipo na es- cola, e, embora não fosse uma oportunidade muito boa de exibir seus conhecimentos, já que não havia ninguém para era sempre bom re- passar as lições).</p><p>10 Depois dessa longa queda, Alice chega com segu- Enquanto nada em sua lagoa de água salgada, rança ao fundo do poço. Depara-se com uma chave e, Alice conversa consigo mesma sobre estar chorando, após procurar, encontra a fechadura correspondente. afinal, já é bem crescida, segundo ela própria conclui. Nesse momento, Alice muda de tamanho algumas ve- Enquanto discute internamente, recolhe a luva e o zes, consumindo uma bebida que no rótulo havia o es- leque que o Coelho que passava por ali deixou cair. crito Beba-me, diminuindo de tamanho após ingeri-la; Alice, ao balançar o leque, observou que seu tama- depois, um bolo, com o escrito Coma-me, faz a menina nho mudara. Então, usa desse artifício para atingir o crescer novamente. tamanho necessário e corre até a portinhola, mas a chave havia novamente ficado fora de seu alcance e a "Coma-me" lindamente escritas com cerejas. "Bem, menina volta a chorar. disse Alice, "E, se me fizer crescer, con- É nesse momento que Alice conhece o Rato e seguirei alcançar a chave; se me encolher, posso en- troca algumas ideias não muito agradáveis com ele gatinhar por baixo da porta. Então de qualquer forma pois Alice explana que tem um gato e interroga se ele entrarei no jardim, pouco me importa como vai ser! gosta de cachorro. Após essa conversa, recebe a ajuda do animal para chegar à outra margem da lagoa, onde crescimento de Alice, por fim, faz com que a per- constata que ali há vários outros bichos e aves tentan- sonagem alcance a chave para abrir a portinhola e sair do se secar, preocupados em não ficarem doentes. dali, mas, em decorrência de seu tamanho, a menina não No capítulo 3, "Corrida eleitoral e a história caudalo- consegue atravessar o espaço da porta. Ela, então, sa", após todos os animais e Alice saírem da lagoa, o Rato, -se a chorar. E é justamente seu choro que dá nome ao que parece ter alguma autoridade sobre o grupo, propõe capítulo 2: "A lagoa de lágrimas". que todos se sentem, pois ele os ajudaria a secar-se. COMA-ME</p><p>11 Dodô, que estava junto dos outros animais quan- fim, todos foram vencedores e Alice saca dos bolsos do Alice chegou à outra margem da lagoa, propõe balinhas e um dedal para distribuir como prêmio aos uma corrida eleitoral para que todos pudessem se participantes. As balinhas foram distribuídas aos ani- secar e, em vez de explicar como ela funcionaria, mais e para a menina restou o dedal. ordenou que todos corressem livremente; ao seu si- Depois de toda essa agitação, é solicitado ao Rato nal, todos parariam. Meia hora depois de correrem que retome alguma de suas histórias ou que explique e todos secos, Dodô gritou: "Acabou a corrida!". Ao à Alice os motivos de não gostar de cães e gatos.</p><p>12 Em um poema caudaloso, como veremos a seguir, o Rato explica, por fim, a inimizade reinante entre ratos, gatos e cães: "O Fúria disse ao rato, sem muito tato: juntos ao tribunal: eu you processar você. Venha, não aceito desfeita. A justiça tem de ser feita. E agora... Tenho tempo: uma hora'. Disse o rato ao 'Um julgamento desses, senhor, sem júri nem juiz, seria mera perda de tempo', 'Eu serei o júri e também serei juiz', disse astuto e velho Fúria: julgo a causa e condeno à</p><p>13 A criatividade do autor, nesse ponto, não está apenas em inserir, dentro de uma narra- tiva em prosa, um poema, mas, também, ao trabalhar a linguagem em diálogo com a figura que se forma nesse poema: uma cauda. Alice, distraída, zangou o Rato ao não prestar atenção em sua história, e ele foi embora sem concluí-la. A menina e os animais presentes ficaram chateados; então, com a finalidade de consolá-los, Alice menciona que se Dinah estivesse lá embaixo faria o Rato voltar. Ao ser questionada sobre quem era Dinah e revelar que era sua gata, todos os animais resolveram se afastar de Alice, deixando-a sozinha. "Não devia ter mencionado a Dinah!" disse consigo mesma num tom melancólico. "Ninguém parece gostar dela aqui embaixo, e eu juro que ela é a melhor gata do mun- do! Ah, minha querida Dinah! Será que nunca mais tornarei a vê-la?" E então a pobre Alice voltou a chorar, pois se sentia muito solitária e triste. Dali a pouco, porém, ouviu de novo um ruído de passos à distância e ergueu ansiosamente os olhos, na esperança de que o Rato tivesse mudado de ideia e resolvido voltar para terminar a sua história. NO "Ei, Mary Ann, o que diabos está fazendo aqui fora? Vá para casa agora mesmo e me traga um leque e um par de luvas. Rápido!". Assim foi o reencontro de Alice com o Coelho no capítulo 4, "O Coelho que envia um pobre coitado". Ao ver Alice, o Coelho a chama de Mary Ann e lhe ordena duas tarefas. Alice sai à procura da casa do Coelho e, ao encontrá-la, entra e vai em busca dos pertences dele.</p><p>14 Curiosa que só, após encontrar o leque e as luvas que o Coelho solicitou, Alice encontra também uma garrafa que, mesmo sem o dizer "Beba-me", ousou provar, pois sabia que algo interessante aconteceria. Ato contínuo, a menina começou a crescer, crescer, crescer, crescer... até que seus braços, pernas e pescoço atravessaram para fora da casa do Coelho. Este, por sua vez, percebeu que havia acontecido alguma coisa, pois não conseguia entrar na sua casa. Bill, um lagarto, e o Coelho tentaram formas de entrar na casa e de fazer algo para resolver aquela situação. Após Bill ser chutado da chaminé pela menina, jogaram lá dentro pedras que, ao tocarem o chão, transformaram-se em bolinhos. Alice, já sabida das coisas mágicas daquele lugar, iniciou a comilança para ver o que acontecia. Ao atingir um tamanho que lhe permitiu sair correndo da casa do Coelho, Alice o fez o mais rápido que pôde, fugindo da multidão que estava no entorno da casa. No bosque, Alice começou a procurar o que comer ou beber para retomar seu ta- manho normal. Encontrou um cachorro muito grande, brincou um pouco e depois foi embora, retomando seu plano de crescer novamente, mas sem saber exatamente como faria isso. Quem melhor do que uma lagarta falante para ajudar Alice? Pois no capítulo 5, "Conselhos de uma Lagarta", a menina inicia um diálogo que pode ser corriqueiro, mas ganha ares metafísicos. Isso porque a Lagarta questiona Alice "Quem é você?" e, em vez de se apresentar, a menina hesita e diz não saber ao certo, muito por conta das diversas aventuras vividas até aquele momento, incluindo as transformações de tamanho, as interações com animais que têm temperamentos próprios etc. "Quem é você?", perguntou a Lagarta. Não era um começo de conversa muito animador. Alice respondeu, um tanto tímida: "Eu... Eu não sei direito, senhora, não no momento... Pelo menos sei quem eu era antes de acordar hoje de manhã, mas acho que devo ter mudado várias vezes desde "O que quer dizer com isso?", disse a Lagarta severamente. Receio que não possa me explicar, senhora", retrucou Alice, "porque não sou eu mesma, sabe". O diálogo entre a Lagarta e Alice continua, a menina tenta explicar para a Lagarta que quando ela passar pelo processo de crisálida entenderá o que está acontecendo com ela. Nesse ponto, sob uma perspectiva simbólica, podemos compreender algumas intencionali- dades acerca da obra de Carroll, como a de representar as muitas transformações físicas, psicológicas, emocionais pelas quais uma criança chegando à adolescência enfrenta. Em meio à conversa, Alice pontuou que gostaria de crescer mais; a Lagarta, por sua vez, desce do cogumelo sobre o qual estava e diz a Alice que um lado dele fazia crescer e o outro, encolher. Sem entender o enigma da Lagarta, Alice ainda ousou perguntar um lado do quê, ao que a Lagarta respondeu: do cogumelo.</p><p>15 Alice rapidamente pegou um pedaço do cogumelo de cada lado e começou a comer alternadamente, observando os efeitos e tentando controlar a medida para chegar ao tamanho que queria. Uma de suas mordidas a fez ficar com um pescoço muito comprido, o que assustou um que estava por perto vigiando seus e levando-o a concluir que Alice era uma cobra. A menina seguiu caminho, mordis- cando os pedaços do cogumelo de cada lado até que avistou uma casinha em meio a um lugar aberto, mas para entrar nela precisaria diminuir um pouco de tamanho, motivo que a levou a mordiscar o cogumelo novamente, até ficar com vinte e dois centímetros de altura. A</p><p>16 Se até aqui as coisas no País das Maravilhas de Alice já estavam sur- preendentes, Carroll, além de dar vozes e pensamentos aos animais, em seu capítulo 6, "Porco e pimenta", apresenta ao leitor o lacaio de libre: figura presente no século XVIII, o lacaio de libre era como os emprega- dos domésticos eram chamados. Mas em Alice, o lacaio de libre era peixe ou sapo, o Criado-Peixe e o Criado- Sapo, com cabelos encaracolados. A essa altura, espera-se que o leitor já esteja habituado com o surgimento de seres e acontecimentos maravi- lhosos na narrativa, mas não é sem surpresa que reagimos a cada novo desdobramento da história. Foi ao chegar ao casebre, no grande campo a procura do jardim, que Alice se deparou com o Criado- Peixe e o Criado-Sapo, que traziam um convite da Rainha à Duquesa: um jogo de croquet. Esse esporte, acredita-se, teve origem na Irlanda, no início do o gato de Cheshire apareceu em um galho, próximo à século XIX, sendo muito associado a momentos de Alice. Conversaram sobre o bebê ou sobre o porco, recreação de aristocratas e burgueses. Nele, bolas de bre o gato sorrir, sobre jogar croquet na casa da Rainha madeira são golpeadas com tacos e devem passar por e sobre a casa da Lebre de Março. Mas o que parecia arcos encaixados no campo. intrigar e irritar Alice era o sumir e aparecer do gato A conversa entre Alice e o Criado-Peixe sobre de Cheshire. como adentrar o casebre não foi das mais promissoras, capítulo 7, "Um chá maluco", requer muita então a menina resolveu por si só abrir a porta e entrar. atenção aos detalhes e diálogos. As sutis provocações A cena que encontrou era bem poluída: a Duquesa que levam o leitor a retomar algumas expressões e fa- espirrando com o cheiro de pimenta que pairava no las das personagens e os diálogos truncados e atraves- ar, segurando um bebê no colo que também espirra- sados parecem se alinhar ao caos indicado já no título. va e resmungava tal bebê, Alice descobriria ser, na Alice senta-se à mesa sem ser convidada; em con- verdade, o porco e o soltaria no bosque a cozinheira trapartida, a Lebre de Março oferece a ela um vinho. mexendo um caldeirão do que parecia ser uma sopa, Ao notar que vinho não lhe foi servido, Alice acen- e um gato de Cheshire, com um sorriso largo. Após tua que não é educado oferecer vinho se não existe, ao a confusão na casa da Duquesa, objetos sendo arre- que a Lebre responde que não é educado sentar-se à messados e a descoberta do bebê que era um porco, mesa sem ser convidada.</p><p>17 Em uma artimanha rítmica engraçada, o Chapeleiro Enquanto passeava pelo bosque, Alice avista uma Maluco, a Lebre de Março, os Bichos-Preguiça e Alice árvore com uma porta, e, como já havia se acostumado embarcam em uma conversa. coisas interessantes e incomuns aconteciam o tem- Se antes, com a Lagarta, o diálogo girava em torno po todo naquele lugar -, resolveu entrar. A menina foi de saber quem Alice era, nesse chá maluco há uma parar na mesma salinha de quando chegou ao fundo reflexão sobre a linguagem: falar o que se quer, sem do poço, no início da narrativa. Dessa vez, já tendo ex- impor a ordem correta na frase, não é a mesma coisa. perienciado várias situações, resolveu seguir a ordem certa de fazer as coisas: pegou a chave, abriu a portinha, "Quer dizer que acha que pode encontrar a resposta?', mordeu um pedaço do cogumelo que havia guardado e indagou Lebre de Março. conseguiu atravessar para o sonhado jardim. "Isso mesmo", respondeu Alice. jardim ao qual almejava chegar era "O campo de "Então deveria dizer o que pensa", continuou a croquet da Rainha", título do capítulo 8. Logo que se vê Lebre de Março. no campo, depara-se com uma linda roseira branca e, "Mas eu disse!" Exclamou Alice. "Pelo menos... para sua surpresa, três jardineiros que as pintavam de Pelo menos quis dizer que falei... O que é a mesma vermelho. que houve ali? Em explicação à Alice, os coisa, sabe?" jardineiros disseram que plantaram por engano a roseira "Nem um pouco!" Protestou o Chapeleiro. "Senão brancae, para que a Rainhanão mandasse cortar a cabeça tanto faria dizer: 'Vejo o que estou e 'Como deles por esse erro, estavam ajustando a coloração solici- que estou vendo'!" tada originalmente. "Senão tanto faria dizer", acrescentou a Lebre de Março, "Eu gosto do que tenho' e 'Eu tenho que Por aí o diálogo desenrolou-se entre os convidados à mesa e perpassou por outros assuntos. Em meio ao chá da tarde, Alice achou curioso relógio da Lebre mar- car o dia e não as horas, pontuando que, assim, achava o tempo gasto naquela mesa mais bem aproveitado. O assunto enveredou-se para uma discussão sobre o tem- po: o Chapeleiro afirmou que conhecia muito bem e Alice, mesmo não tendo tanta certeza assim, disse que nas aulas de Música precisa bater o tempo expressão usada para indicar a necessidade de demarcar o tempo a fim de acompanhar um ritmo -, ao que o Chapeleiro retrucou: Isso explica tudo', disse o Chapeleiro. 'Ele odeia apanhar. Agora, se você cultivar boas relações com ele, pode fazer o que quiser com o relógio. [...]'." A conversa ao redor da mesa ia de calmaria à gros- seria em segundos, ressaltando o humor característico do texto de Carroll. Alice, no entanto, cansada da- quela maluquice, resolveu levantar-se e ir embora, o que, para quem estava à mesa foi indiferente, sem que qualquer pessoa pedisse a ela que ficasse.</p><p>18 Quando a Rainha chegou ao jardim, em cortejo croquet não era dos mais tradicionais; pelo contrário, com mais dez soldados, os jardineiros deitaram-se no os buracos, arcos e outros elementos se mexiam e tro- chão e Alice ficou em pé, para ver o que aconteceria. cavam de lugar, posto que eram vivos. As regras não A Rainha, ao perguntou quem ela era e, existiam, e Alice desabafou com o Gato afirmando após um leve desencontro entre as duas, um mal jeito que, se existissem, ninguém as nas palavras desencadeou uma ordem da Rainha para capítulo 9, "A história da Falsa inicia- cortarem a cabeça de Alice. Nesse momento, o rei, -se com a Duquesa passeando com Alice pelo campo, que acompanhava a rainha, solicitou a ela que refle- se fazendo de muito amiga da menina e sendo estranha- tisse melhor sobre a ordem, pois a menina era apenas mente amável. A Duquesa concordava com tudo o que uma criança. era dito por Alice. De todo modo, assim que a Rainha A Rainha, então, convida Alice para jogar croquet. a viu, pediu que sumisse ou sua cabeça seria cortada. Fora a confusão, Alice descobriu que aquele jogo de Rapidamente, então, a Duquesa desapareceu.</p><p>19 jogo de croquet não ia muito bem, muitos elementos dele já haviam sido reti- rados, ficando em campo apenas o Rei, a Rainha e Alice. A Rainha, ao abandonar o jogo, chamou o Grifo e pediu a ele que apresentasse a Falsa Tartaruga à Alice. Ao se aproximar, Alice percebeu que a Falsa Tartaruga era muito triste e o Grifo explicou que a tristeza era falsa também. Os três começaram a conversar e a tartaruga resolveu contar uma história de quando frequentava a escola no fundo do mar. Lá, ela contou que teve aulas de: lentura e escrita, de aritmética dividida em maldição, distração, murchificação, dispersão, além de aula de histeria antiga e mo- derna. Contou sobre o sistema de ensino e quantas horas ficava na escola. O Grifo, cansado dessa conversa, pediu que contasse à Alice algo sobre as brincadeiras. DAS No capítulo 10, "A quadrilha de lagostas", o Grifo e a Falsa Tartaruga contam ani- mados para Alice como é a quadrilha e quais são os passos. Decidiram dançar ao redor da menina e, depois, o Grifo pediu a Alice que contasse suas aventuras. Em meio ao relato da protagonista, a Falsa Tartaruga e o Grifo cobram de Alice que as coisas que ela diz tenham sentido. É como se uma dualidade entre o mágico e o real insistisse em se impor à narrativa. Vejamos um trecho no qual os versos que Alice recita para remontar às aventuras que viveu são criticados pela Falsa Tartaruga: [...] Embora soubesse que ia sair tudo errado, prosseguiu com VOZ Passei pelo jardim dele e notei, atrás da porta Que a coruja e a pantera dividiam uma torta... "Qual ponto de recitar tudo isso", interrompeu a Falsa Tartaruga, "se você não vai explicando verso a verso? É de longe a coisa mais confusa que já ouvi!" Para não entrarem em mais uma discussão, o Grifo e a Falsa Tartaruga decidiram voltar para a quadrilha de lagostas, porém, antes de concluírem, um julgamento para descobrir quem roubou as tortas é anunciado. O Grifo e Alice saíram correndo para Esse julgamento tem vez no capítulo 11, "Quem roubou as tortas?", tendo sido presidido pelo Coelho Branco. O assunto foi lido da seguinte maneira: A Rainha de Copas fez umas tortas Num dia muito quente: O Valete de Copas roubou essas tortas Meio assim, de repente! Durante o julgamento, o Chapeleiro Maluco e a cozinheira foram interrogados, mas de nada adiantou o depoimento dos dois. Quando o Chapeleiro pediu para se retirar com a finalidade de terminar o chá, a Rainha mandou que lhe cortassem a cabeça, mas ele já havia sumido da vista dos guardas. A cozinheira, que também fora interrogada, aproveitou a confusão e foi embora. Acontece, então, o próximo e último depoimento. A testemunha? Alice.</p><p>20 "O depoimento de Alice", capítulo 12, iniciou-se um culpado. Alice a enfrentou, pois, seguindo a lógi- com uma grande confusão. Alice voltara a crescer e, destrambelhada com seu tamanho, derrubou os jura- ca, se não havia sumiço de torta, não havia culpado. A dos e o banco onde eles estavam sentados. Rainha mandou que cortassem a cabeça da pequena Alice, que já não tinha medo, pois estava retomando Quando interrogada, a menina disse não saber ao seu tamanho real. Quando os baralhos vão em sua nada sobre o caso do sumiço das tortas, mas é outro direção para cumprir a ordem da Rainha, então, temos detalhe que chama a atenção do Rei naquele momen- o desfecho da narrativa: to: Alice estava com quase dois metros de altura e, segundo uma regra antiga do júri, pessoas com mais de [...] Ela deu um gritinho, um pouco de medo e um 1,60 m não podiam permanecer no tribunal. pouco de raiva, tentou afugentá-los e se viu deitada à Em meio à discussão, um bilhete chega ao júri e é beira do rio, com a cabeça no colo da irmã, que afasta- lido pelo Coelho Branco. Rei fica tentando decifrar va gentilmente de seu rosto algumas folhas secas que a mensagem, que não tem muito sentido, visando in- das árvores. criminar o Valete. Nesse ínterim, até as tortas volta- "Acorde, Alice querida!", disse a irmã. ram a aparecer. De todo modo, a Rainha ainda queria "Mas que soneca comprida você tirou!"</p><p>21 Foco narrativo foco narrativo está em terceira pessoa, trazendo com detalhamento to- das as situações vivenciadas por Alice no País das Maravilhas. Para compreen- der melhor como narrador se constitui na obra, vejamos o seguinte trecho. Dessa vez achou uma garrafinha ("que certamente não estava aqui antes", disse Alice) e, envolto no gargalo, um rótulo de papel com a inscri- ção: "BEBA-ME" lindamente expressa em letras garrafais. Era muito fácil dizer "Beba-me", porém a pequena e esperta Alice não iria fazê-lo imediatamente. DAS narrador, como podemos notar, é onisciente, pois conduz a narrativa informando detalhes do que a protagonista e os outros personagens dizem, pensam e sentem. Não obstante, é também um narrador intruso, o que podemos identificar, no trecho anterior, a partir do emprego do advérbio "lindamente", que caracteriza o papel que acompanha a garrafa com a be- bida encontrada por Alice no início da história. Em seguida, ainda define a protagonista como "esperta", outra confirmação de quanto inclui suas impressões ao que narra. Essa atitude faz aproximar ainda mais o narrador do leitor, como se aquele confiasse a este não apenas a ordem dos aconteci- mentos, mas detalhes e características que escolhe dizer para transparecer sua visão de mundo. 0(s) tempo(s) Algo muito marcado em Alice, retomado diversas vezes pelos capítu- los, é a relação da narrativa com o tempo. A história começa com o Coelho correndo pelo campo, enquanto diz: "Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! Vou chegar atrasado!" Adiante, no chá com o Chapeleiro Maluco e a Lebre de Março, os personagens discorrem longamente sobre a questão do tempo, pon- tuando que o horário do chá é sempre o mesmo, pois haviam se de- sentendido anteriormente com o tempo e, portanto, precisavam saber como lidar com ele. A condenação da Duquesa, por sua vez, é outro acontecimento que se relaciona ao tempo. Ela desagradou a Rainha por chegar atrasada ao jogo de croquet. Nesse sentido, há que se atentar para duas dimensões que permeiam a narrativa no que se refere ao tempo. A primeira, factual, re- mete aos desdobramentos que, de alguma forma, estão relacionados ao tempo, conforme elencamos anteriormente. rigor e a disciplina com que</p><p>22 as personagens encaram a pontualidade, por exemplo, são elementos que dizem muito sobre a Era Vitoriana, contexto no qual a obra foi produzida. No entanto, há uma segunda dimensão, mais abstrata, que se relaciona com a ordem dos elementos mágicos que embasam todo o enredo. tempo, no País das Maravilhas, parece outro que não aquele com o qual estamos habi- tuados. Isso porque a protagonista se envolve em uma sequência de aventuras, com diversas personagens, e as ações são pouco ou nada previsíveis a nós, leito- res. Há que se lembrar, aqui, sobre os estudos que afirmam ser o texto de Carroll uma história que trata, em certa medida, da fase em que os jovens se aproxi- mam da adolescência, o que traz inúmeras transformações, sendo uma delas a mudança na perspectiva temporal crescer é, sobretudo, confrontar-se com a passagem do tempo, superar o passado e seguir em busca de desvendar o futuro. 0(s) Assim como podemos depreender duas dimensões de tempo, o espaço na narrativa também é dividido. Há aquele, do início, pertencente à reali- dade. E há outro, que aparece após Alice cair no poço, que chamaremos, aqui, de espaço do mágico. Entre o real e o mágico, espaço e tempo se dilatam em momentos de- finidos da história. No início, quando Alice está no jardim com sua irmã, temos marcadamente o espaço do real; esse lugar é habitado com frequên- cia pela menina, faz parte do seu cotidiano, e ela está na companhia de sua irmã, também presente em sua vida tal como a conhecemos. Nesse sentido, a aparição do Coelho é o primeiro indício do mágico, e é ao segui-lo que a menina acaba por se transportar para o outro espaço - que na verdade são vários, tendo em comum o fato de serem bastante diferentes dos espaços reais, com personagens peculiares, acontecimentos surpreen- dentes e as caracterizações que marcam o tom nonsense da obra. Ao final da narrativa, já no último capítulo, a protagonista retorna ao espaço real, quando sua irmã lhe acorda. Havia sido tudo um sonho? Linguagem De escrita aparentemente simples, Carroll escreveu Alice no País das Maravilhas com um rico jogo de palavras, diversas analogias e alguns enig- mas pelo meio do texto. Os capítulos apresentam início, meio e fim, por vezes deixando ganchos para fisgar a atenção do leitor e incentivá-lo a seguir para o capítulo seguinte. Além disso, a natureza absurda dos aconte- cimentos, não raro, faz com que retomemos alguns trechos para mais bem compreender a ação que está sendo narrada. autor, como já vimos, propõe passagens quase lúdicas a partir de racio- cínios matemáticos e, nessa mesma toada, parece trabalhar com a linguagem</p><p>23 de modo a desafiar o leitor, seja na compreensão do que 'isso' significa quando eu é que acho alguma coisa". se narra ou mesmo em níveis de leitura possíveis que es- Essa fala denota não um problema relacionado à fal- condem outros significados e reflexões acerca dos acon- ta de conhecimento gramatical, mas outro de ordem tecimentos. Por vezes, ainda, a linguagem deixa de ser mais abstrata, quiçá que revela mais sobre instrumento e se torna, também, forma. Vejamos um a personalidade do Pato e sua resistência a diferentes trecho em que isso fica evidente: pontos de vista do que sobre sua capacidade de se municar propriamente dita. "Pensei que tivesse dito", disse o Rato. "Vou Ademais, a linguagem trabalhada por Lewis continuar. Edwin e Morcar, condes de Mercia e Carroll na obra está referenciada no nonsense, ou seja: Northumbria, declararam seu apoio, e mesmo usada, sobretudo, para descrever situações absurdas, Stingad, patriótico arcebispo de Canterbury, fora da realidade tal qual o leitor comum a concebe ou achando isso apropriado..." ainda sem significação. Sendo non, de negação, e sense, "Achando o quê?", indagou o Pato. de sentido, essas ações desafiam e propõem contextos "Achando isso", respondeu o Rato um tanto que não se encaixam na lógica tradicional. quanto rispidamente, "e claro que você sabe o que 'isso' significa." Alice estava olhando por cima do ombro da Lebre "Eu sei o que 'isso' significa quando eu é que acho de Março com certa curiosidade. alguma coisa" disse o Pato, "e é geralmente um sapo "Que relógio engraçado!", comentou. "Ele infor- ou uma minhoca. A questão é: o que foi que o arce- ma o dia do mês, mas não diz que horas são!" bispo achou?" "E por que deveria?", murmurou o Chapeleiro. "O seu relógio diz em que ano estamos?" No diálogo, o pronome demonstrativo desen- "Claro que não", respondeu Alice prontamente, cadeia uma falha na comunicação entre o Rato e o "mas é porque ficamos no mesmo ano um tempão." Pato. Mais do que uma aparente confusão quanto ao "O que é o mesmo caso do meu relógio", disse o cha- termo que o pronome pretende retomar, no entanto, peleiro. Alice ficou terrivelmente perplexa. comentá- a resposta do Pato traz outra questão: "Eu sei o que rio do Chapeleiro parecia não fazer o menor sentido. Jan</p><p>24 Personagens Para além das personagens com características humanas, é válido ressaltarmos o trabalho desenvolvido por Carroll com o conceito de antropomorfismo, ou seja, da atribuição de aspectos humanos nos per- sonagens animais - a importância que eles têm na narrativa pode ser notada, por exemplo, a partir da forma que aparecem no texto, sempre referenciados com letra maiúscula, como substantivos próprios: Pato, Rato, Coelho Branco. Além disso, diferentemente do que acontece nas fábulas, que pos- suem pela própria estrutura do gênero um texto enxuto, aqui os ani- mais recebem diversas características humanas que contribuem para que suas construções sejam aprofundadas, de modo que é possível en- trar em contato com traços de suas personalidades não apenas por meio de suas ações, mas da forma que pensam e se comunicam. A seguir, vamos retomar brevemente os principais personagens da obra. Alice: Personagem principal, protagonista de todas as aventuras no País das Maravilhas, desbrava com curiosidade e muito interesse as diferenças e novidades desse universo desconhecido e encantador. Coelho Branco: Responsável por levar Alice até o País das Maravilhas, trabalha para a Rainha de Copas e está sempre preocupado com o tempo. Rainha de Copas: Personagem brava e mandona, e com uma frase sempre na ponta da língua quando algo não é feito como gostaria: "Cortem-lhe a cabeça". Rei de Copas: É o companheiro da Rainha. Ele que solicitou à Rainha que repensasse a condenação de Alice à morte. Rato: Primeiro personagem com a qual Alice tem diálogo no episódio da lagoa de lágrimas. Tenta explicar por que a relação entre ratos, gatos e cachorros não é amigável. Dodô: Aparece em alguns diálogos com outros animais. É responsá- vel por premiar Alice após a corrida eleitoral.</p><p>25 Pato: Aparece também na reunião com outros animais, é questiona- dor e pergunta muito ao Rato. Lagarto: Personagem auxiliador na história. Tenta ajudar o Coelho Branco a tirar Alice da casa dele. Bill, o Lagarto, também é respon- sável por jogar as pedras para Alice quando ela está presa na casa do Coelho. Lagarta: Do topo do cogumelo, a Lagarta, de falas breves e reflexi- vas, auxilia Alice a encontrar o elemento que a fará crescer ou enco- lher de tamanho. Duquesa: Personagem atrapalhada, mas que se afeiçoa à Alice, tra- tando-a de modo gentil. Na narrativa, é condenada à morte pela Rainha de Copas. Gato de Cheshire: Gato misterioso, que pode desaparecer misterio- A samente. Chama a atenção o sorriso enigmático do personagem em suas aparições. Chapeleiro Maluco: Como brigou com o tempo, está preso na mesma hora todo dia, tomando o chá em companhia da Lebre de Março. Lebre de Março: Grande amiga do Chapeleiro Maluco e parceira do chá das seis. Grifo: Responsável por levar Alice para conhecer a Falsa Tartaruga. Falsa Tartaruga: Conta para Alice, na presença do Grifo, sobre como já foi uma Tartaruga de Verdade, a escola que frequentava e as disci- plinas que estudava. Bicho-Preguiça: Aparece no chá do Chapeleiro Maluco e no julga- mento, sempre dormindo ou meio acordado, não tem muitas falas ao longo da história. Peixe-Lacaio e Sapo-Lacaio: Correspondentes entre a Duquesa e a Rainha.</p><p>26 QUESTÕES 1. Releia a seguir a história contada pelo Rato à De acordo com a observação de Alice, podemos supor Alice, como uma forma de explicar à menina o moti- que: VO de não gostar de cachorros. O personagem informa A Pensando nas curvas de um rio que é caudaloso ela que se trata de uma história triste e caudalosa e Alice entendeu o porquê da história do Rato ser triste; ressalta: bem caudalosa, sem dúvida', enquanto B Ao observar a cauda do Rato, Alice projetou a observa com assombro para a cauda do Rato". narrativa para um poema em forma de cauda. O Fúria disse C A corrida do cão Fúria atrás do Rato foi em uma ao rato, sem tortuosa rua até o Júri, o que deu origem ao poema muito tato: D Alice e o Rato caminhavam enquanto a história ia juntos ao acontecendo, por isso o poema está exposto dessa tribunal: eu maneira no livro. you processar E você. Venha, Não há relação entre o que Alice observou quanto não aceito a cauda do Rato e o poema, foi apenas uma esco- desfeita. A justiça lha do autor em escrever desta maneira. tem de ser feita. E agora... Tenho 2. Existem, na narrativa de Lewis, alguns momen- tempo: tos de interação entre o leitor, seja pelo narrador ou uma hora'. Disse o pela de Alice, o que se justifica pelo fato de a pro- rato ao tagonista ser bastante esperta e curiosa, divagando cão: 'Um bre várias questões. Após a leitura do excerto, assinale julgamento a alternativa que corresponde ao recurso linguístico desses, senhor, sem júri presente nele. nem juiz, seria mera Quando lia contos de fadas, achava aquelas coi- perda de tempo', sas impossíveis de acontecer, e agora cá estou no meio 'Eu serei de uma delas! Alguém devia escrever um livro sobre júri e também mim, devia sim! E quando eu crescer, escrever serei juiz', disse um... mas já estou bem crescida", acrescentou, num astuto tom de pesar, "pelo menos aqui não há mais espaço e velho Fúria: para crescer?". 'Eu CARROLL, Alice no País das Tradução julgo a 1. ed. São Paulo: Globo, 2014. causa e A Metáfora B Assíndeto condeno à C Metonímia morte'. D Metalinguagem CARROLL, Alice no País das E Antítese Tradução Vanessa São Paulo: Globo, 2014.</p><p>27 3. Multivix-ES 2019 Na introdução às Aventuras de "Não pretende fazer nada do tipo", disse o Rato, Alice no País das Maravilhas, em versão traduzida por pondo-se de pé e afastando-se. "Você me ofende com Sebastião Uchoa Leite, Lewis Carroll escreve um poe- tantos disparates!" ma, que finaliza da seguinte forma: "Não tive a intenção!", rogou a pobre Alice. "Mas, sabe, você se ofende por tão pouco!" Alice! Recebe essa estória O Rato apenas grunhiu em resposta. DAS E com mãos gentis deposita Lewis. As aventuras de Alice no país das maravilhas. São Paulo: Editora 34, 2016. Lá longe, onde os sonhos da infância Se confundem com lembranças idas, No diálogo entre o Rato e Alice, podemos observar Tal guirlanda de flores murchas uma dissonância entre as personagens. É correto afir- Em distante terra colhidas. mar que: CARROLL, As aventuras de Alice no país das São Paulo: Editora 34, 2016. I. O Rato, ao tentar ajudar Alice e os outros animais a se secar, se perde na contagem das voltas, o que Em relação a essa última estrofe, assinale a alternativa gera confusão. incorreta: II. Alice, por estar distraída pensando na quantidade A A estrofe mostra o eu lírico endereçando uma estória de voltas percorridas, não presta atenção na histó- a Alice, personagem que irá vivê-la dali para frente, ria do Rato, o que o deixa extremamente zangado. logo que recebê-la das mãos do seu próprio criador. III. Alice, ao confundir o pronome por substantivo na B O uso do pronome "se" no início do verso 4 é frase do Rato, acaba por ofendê-lo. permitido por se tratar de um texto literário, de IV. O disparate de Alice foi dar um nó no rabo do criação livre. Rato, o que o fez deixar de contar a história. C A expressão "lá longe" mostra que a personagem da Assinale abaixo a alternativa que coaduna com a afir- estória terá de sair de sua terra natal para conhecer mação correta: geograficamente o mundo de terras distantes. A Apenas as afirmações I e a II estão corretas. D é endereçada a uma pessoa cuja identificação rea- B Apenas as afirmações II e a III estão corretas. lizada pelo leitor aproxima-o da personagem. C E O uso do demonstrativo "essa", no primeiro verso, Todas as afirmações estão corretas. D mostra que emissor e interlocutor não estão frente Apenas as afirmações II, III e IV estão corretas. E a frente um do outro. Apenas a afirmação III está correta. 4. 5. Leia o trecho a seguir. Leia o trecho a seguir para responder à questão. "Você não está prestando atenção!" Disse Rato "Levante-se e recite 'Esta é a voz indolente", disse severamente. "Está pensando em quê?" Grifo. "Oh! Me desculpe", respondeu Alice com humil- "Mas como essas criaturas são mandonas, fazen- dade. "Nós paramos lá pela quinta volta, não?" do a gente repetir pensou Alice. "Até parece "Nós, não!", gritou o Rato de forma ríspida e que estou numa escola." Contudo, levantou-se e zangada. meçou a recitar poemas mas tinha a cabeça cheia "Nós! Onde?", disse Alice, sempre pronta a ser da Quadrilha de Lagostas que mal sabia que estava útil, olhando em volta ansiosamente. "Oh, deixe-me dizendo, por isso as palavras saíram bem esquisitas: ajudar a desatá-los!" Esta é a voz da lagosta, eu a ouvi declamar:</p><p>28 "Você me torrou no forno e não cheguei a caramelar." Como um pato com cílios, assim faz com o narigão, Enfeita o cinto e os botões, vira pra fora o dedão. "É meio diferente do que eu costumava recitar na escola", disse o Grifo. "Bem, eu nunca tinha ouvido antes", confessou a falsa tartaruga, "mas me parece ser de um nonsense incomparável." CARROLL, Lewis. As aventuras de Alice no país das maravilhas. São Paulo: Editora 34, 2016. Na passagem do capítulo "A quadrilha das lagostas", o Grifo pede a Alice que recite um poema. A Falsa Tartaruga, ao avaliá-lo, diz que é "de um nonsense incomparável". Ela quer dizer com isso que: A O modo como Alice recita o poema ganha tamanha profundidade e sen- tido que o torna único, sendo incapaz de compará-lo com qualquer outro poema já ouvido. B Por ser a primeira vez que a Falsa Tartaruga ouve o poema de Alice, con- segue compreender o sentido por completo, já que ela o compara com um estilo nonsense. C Nonsense, como característica literária, refere-se a um produto que não tem sentido ou beira o absurdo e, para a Falsa Tartaruga, o poema de Alice não faz sentido. D O Grifo, ao pedir a Alice que reproduza o poema "Esta é a indolente", conduz a menina para contar um poema que exprime toda a inocência do período escolar, ou seja, o nonsense. E A Falsa Tartaruga, assim como o Rato, apenas soltou palavras aleatórias para impressionar Alice, já que o poema era conhecido por todos. 6. Com base na leitura do livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, classifique as afirmativas a seguir indicando se são verdadeiras ou falsas. autor explora o sistema da época e a ascensão da rainha Vitória. Há uma crítica indireta ao crescimento global (social, político e industrial) por falar diversas vezes no livro sobre a importância de saber para onde ir e os problemas de seguir caminhos aleatórios. Carroll utiliza o nonsense como forma de questionar o real e o imaginário por meio da literatura. Alice é a representação do contemporâneo, uma vez que expressa questio- namentos, angústias e decepções acerca de permanecer no mesmo lugar ou sair dele. É uma narrativa infantil com elementos animalescos e divertidos, mas que tem, em seu íntimo, críticas, pensamentos filosóficos e o desenvolvimento de uma lógica matemática permeando a história.</p><p>29 7. Leia o trecho para responder à questão. "Quem é você?", perguntou a Lagarta. Não era um começo de conversa muito animador. Alice respondeu, um tanto tímida: "Eu... Eu não sei direito senhora, não no momento... Pelo menos sei quem eu era antes de acordar hoje de manhã, mas acho que DAS devo ter mudado várias vezes desde então". "O que quer dizer com isso?", disse a Lagarta severamente. "Explique-se!' NO "Receio que não possa me explicar, senhora", retrucou Alice, "porque não sou eu mesma, sabe." "Não, não sei", observou a Lagarta. "Não acho que consigo ser mais clara", respondeu Alice de forma mui- to educada, "pois eu mesma não consigo entender, para começo de con- versa. E depois, possuir tantos tamanhos diferentes num só dia é bastante confuso." "Não, não é", disse a Lagarta. A "Bem, talvez ainda não saiba como é", ponderou Alice, "mas quando tiver de se transformar em crisálida... Vai acontecer um dia, sabe... E de- pois disso em borboleta, suponho que vá se sentir muito estranha, não?" CARROLL, Lewis. As aventuras de Alice no país das maravilhas. São Paulo: Editora 34, 2016. Alice, ao fazer um comparativo para a Lagarta sobre suas mudanças, busca exprimir que: I. Ela é como uma lagarta, passando por fases de transformação para se tornar uma outra pessoa. II. As mudanças no seu corpo, de crescer e encolher, são o que a aproxi- ma, no modo comparativo, ao da metamorfose de uma borboleta. III. Gostaria de ser uma borboleta, por isso está se arriscando a comer coi- sas diferentes. IV. Explicar à Lagarta que, quando ela passar pela fase de crisálida e se transformar em borboleta, entenderá o que acontece com ela nesse momento. São verdadeiras as alternativas: A I e II. D II e III. B II e IV. E I, II, III e IV. C I e IV. 8. Uma das características adotadas por Lewis Carroll em sua obra Alice no País das Maravilhas é o antropomorfismo. Explique o termo e de que forma isso é apresentado na obra.</p><p>30 GABARITO que a história contada pela menina não faz sentido O poema em forma de cauda representa justamente a algum. cauda do Rato que despertou a atenção de Alice en- 6. V-V-V-V-V quanto ele contava sua narrativa a respeito da inimiza- Todas as afirmativas são verdadeiras. Lewis Carroll es- de entre gatos e ratos. creveu Alice no País das Maravilhas em um contexto de grandes transformações sociais na Inglaterra decor- No excerto exposto, é possível notar a presença da rentes da Revolução Industrial. Em sua obra, é metalinguagem, uma vez que Alice, a personagem do vel constatar traços do retrato da sociedade vitoriana, livro, afirma que alguém deveria escrever um livro so- críticas ao desenvolvimento tecnológico, o questiona- bre ela. Verifica se recurso da metalinguagem quando mento entre o real e o imaginário vivido pela perso- há utilização da linguagem para falar dela mesma, uma nagem Alice e a presença de elementos animalescos e de nonsense. personagem de um livro menciona o processo de es- 7. B crita, um pintor retrata em sua pintura o processo de Afirmativa I: incorreta. Alice não se sente como uma pintar, entre outros. lagarta que passa por uma metamorfose para se trans- 3. C formar tampouco deseja ser outra pessoa. Na verdade, a A expressão "Lá longe" não faz referência a um local menina está confusa com sua própria identidade e com geográfico tampouco relaciona a saída da personagem as transformações que estão acontecendo com ela no de sua terra natal para um lugar distante; mas sim às País das Maravilhas. memórias, aos sonhos de infância, às lembranças. Afirmativa III: incorreta. Alice não gostaria de ser uma 4. B borboleta. fato de estar comendo coisas diversas para Afirmativa I: incorreta. Na verdade, a confusão foi ge- crescer ou diminuir de tamanho está relacionado a sua rada pela falta de atenção de Alice à história que estava curiosidade, no início, e, depois, à necessidade de se ver sendo contada pelo Rato. livre das enrascadas nas quais se envolve. Afirmativa IV: incorreta. Alice não deu um nó no rabo 8. antropomorfismo consiste em atribuir características do Rato. O que o fez deixar de contar a história foi a consideradas humanas aos personagens animais. Isso se percepção de que Alice havia se distraído e não estava faz presente em toda a obra de Carroll, uma vez que prestando atenção no que ele falava. muitos dos personagens do País das Maravilhas são ani- mais e se expressam por meio da fala, como Rato, o Ao dizer que o poema de Alice é "de um nonsense in- Coelho Branco, a Falsa Tartaruga, o Gato de Cheshire comparável", a Falsa Tartaruga transparece a ideia de e a Lebre de Março.</p><p>31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Tradução Vanessa Bárbara. São Paulo: Globo, 2014. REIS, Carlos. Dicionário de estudos narrativos. 1. ed. Coimbra: Editora Almedina, 2018.</p><p>AOL Análise de Obras Literárias 0 estudo das obras promove a compreensão e o aprofundamento do texto, revela as intenções de cada autor e elucida as características da escola literária da qual a obra faz parte. Ler é condi- ção fundamental para compreender o mundo, os seres, os fenômenos e os acontecimentos. Entender e desvendar uma obra é compreender o prazer da leitura e da busca de novos saberes. É encontrar a beleza da essência de cada autor. sistemapoliedro.com.br São José dos Campos-SP Telefone: editora@sistemapoliedro.com.br Poliedro QUE Sistema de Ensino 2023-A+P AMBIENTE 10015130</p>

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