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<p>Prólogo</p><p>A revolução das revoluções?</p><p>O progresso cultural da humanidade ocorre em ciclos, com mudanças</p><p>nos eixos de poder e de conhecimento. A história da tipografia</p><p>reflete esses movimentos e quase sempre esteve condicionada</p><p>por fatores de mercado. Os copistas da Idade Média eram</p><p>vinculados ao clero, e a produção de livros manuscritos era determinada</p><p>por seus membros. Com a ascensão da burguesia, novos</p><p>valores foram buscados e o interesse pela informação fez aparecer</p><p>um crescente mercado produtor e consumidor.</p><p>A forma dos caracteres do alfabeto latino evoluiu e mudou</p><p>através dos séculos e esses modelos serviram de base para a criação</p><p>dos futuros tipos que foram utilizados para a produção de livros.</p><p>A trajetória da tipografia na Europa revestiu a tipografia com</p><p>os traços característicos da cultura de cada país e do momento</p><p>histórico em que ela ocorreu. Esse é o patrimônio que herdamos</p><p>e voltar os olhos para o passado ajuda imensamente na produção</p><p>e uso de fontes tipográficas.</p><p>Em Mainz surgiu a primeira fonte tipográfica do alfabeto</p><p>latino. Criada por Gutenberg (1394-1468) para a composição</p><p>da Bíblia de 42 linhas foi baseada na escrita gótica, em inglês,</p><p>blackletter, e seus caracteres procuravam reproduzir fielmente o</p><p>estilo textura, muito utilizado em manuscritos bíblicos, litúrgicos</p><p>e escolares da época. Gutenberg utilizou 300 letras diferentes,</p><p>aproximando a sua fonte dos textos produzidos pelos escribas,</p><p>em que as letras variavam sutil e sistematicamente, de acordo</p><p>7</p><p>8 A aventura do livro: do leitor ao navegador Prólogo: A revolução das revoluções? 9</p><p>com a sua posição na palavra ou na linha. Ele também contou</p><p>com a assistência de um escriba habilidoso para o desenvolvimento</p><p>das matrizes de metal e o resultado desse longo e paciente</p><p>processo traduziu com sucesso as formas orgânicas da caligrafia</p><p>alemã de seu tempo.</p><p>A tipografia chegou ao norte da Itália trazida por impressores</p><p>alemães, ainda no final do século XV. Os tipos produzidos</p><p>para a impressão de livros foram baseados nas capitulares romanas</p><p>e nas minúsculas carolíngeas. Eram, ainda, um tanto condensadas</p><p>e o espaçamento entre as letras era pequeno, o que dava à</p><p>página uma aparência escura. Esses tipos reproduziam os traços</p><p>feitos com bico de pena e tinham, no inicio, forte influência da</p><p>caligrafia gótica.</p><p>A mais fina versão dos tipos romanos dessa época foi fundida</p><p>por um francês, Nicolas Jenson (1420-80), em Veneza, no</p><p>ano de 1470. Suas letras tinham um contraste suave entre os traços</p><p>finos e grossos e as serifas eram curtas. Serviu de modelo para</p><p>várias fontes nos séculos seguintes, como por exemplo: Centaur,</p><p>desenhada por Bruce Rogers, em 1915 e Adobe Jenson, criada</p><p>por R. Slimbach em 1990.</p><p>Mais uma vez, a escrita manual viria a definir um novo</p><p>padrão para fontes tipográficas: ainda em Veneza, Aldus Manutius</p><p>(1450-1515) surgiu como o primeiro editor comercial</p><p>da história. Com o objetivo de reduzir os custos de produção,</p><p>Manutius reduziu o formato dos livros e, em decorrência, foi</p><p>necessário otimizar o espaço ocupado pelo texto na página. Em</p><p>parceria com o habilidoso gravador Francesco Griffo, de Bolonha,</p><p>desenvolveu, já no início do século XVI, um novo tipo</p><p>baseado na escrita itálica, com caracteres mais condensados. As</p><p>letras minúsculas eram inclinadas, mas para as maiúsculas eles</p><p>mantiveram o padrão das capitulares romanas. A fonte Bembo</p><p>Italic foi baseada nos caracteres de Franceso Griffo.</p><p>Os livros produzidos nesse período caracterizaram os anos</p><p>dourados da tipografia francesa. As páginas eram claras e luminosas,</p><p>com ilustrações delicadas e sofisticadas. Os tipos romanos</p><p>utilizados durante esses anos foram produzidos por Claude Garamon</p><p>(1500-61), baseados nos desenhos de Griffo e do calígrafo</p><p>italiano Ludovico degli Arrighi (? -1527). O sucesso de seus tipos</p><p>se deve à sua excelência técnica somada à nobreza do design.</p><p>Hoje em dia há inúmeras versões da fonte Garamond. Cada</p><p>desenho tem maior ou menor grau de semelhança com o original.</p><p>A versão da Monotype foi considerada por Tom Carnase e</p><p>Baruch Gorkin, na edição do livro Type, da Graphis, a que mais</p><p>se aproximava do desenho original do século XVI.</p><p>O tipo criado por Garamond obteve enorme sucesso comercial</p><p>e suas matrizes foram exportadas para vários países da Europa.</p><p>O holandês Cristofell van Dijck (1601-1669) desenvolveu</p><p>um tipo romano baseado na Garamond, acrescentando mais peso</p><p>às letras e mais corpo às caixas baixas. No final do século XVII, os</p><p>tipos holandeses já eram usados em toda Europa.</p><p>Este século trouxe para os fabricantes de tipos o desafio</p><p>de encontrar uma nova expressão tipográfica para a sociedade industrial.</p><p>Como resposta vieram as fontes fat faces, as fontes slab</p><p>serifs (com serifas quadradas, também conhecidas como square</p><p>serif ou egyptian) e as fontes sem serifa. Eram tipos em tamanhos</p><p>grandes, para uso em posters e outros trabalhos comerciais e</p><p>que buscavam causar muito mais impacto do que as fontes bold</p><p>existentes até então. As letras deixaram de ser simples condutores</p><p>de conteúdo, com maior ou menor elegância ou legibilidade e</p><p>passaram a ter força e expressividade. Esses tipos representam o</p><p>início de um novo mercado, voltado para a produção de fontes</p><p>para a publicidade.</p><p>Os tipos fat face derivam da Bodoni e da Didot e se caracterizavam</p><p>pelas hastes verticais bastante grossas. Não eram feitos</p><p>para leitura em tamanhos pequenos e sim para uso em anúncios</p><p>comerciais.</p>