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<p>GESTÃO</p><p>EDUCACIONAL DA</p><p>EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Pablo Rodrigo Bes</p><p>Gestão financeira e os</p><p>recursos da educação</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Identificar a origem e o destino dos recursos financeiros na educação</p><p>pública.</p><p> Definir os programas de financiamento e os vários espaços de</p><p>intervenção.</p><p> Planejar a captação de recursos e a prestação de contas.</p><p>Introdução</p><p>Para atingir os seus objetivos, a educação brasileira precisa de recursos</p><p>financeiros que impulsionem a sua organização, a sua estrutura e o seu</p><p>funcionamento. Para isso, existem políticas públicas educacionais de</p><p>financiamento e inúmeros programas e projetos que visam colocar as</p><p>escolas em plenas condições de atender os seus alunos. Esses recursos</p><p>são gerenciados pelos gestores públicos, atendendo aos preceitos da</p><p>administração pública, sobretudo os de legalidade, moralidade e publi-</p><p>cidade, o que se garante ao seguir a legislação e realizar a prestação de</p><p>contas de forma eficiente.</p><p>Neste capítulo, você vai estudar as origens do financiamento da edu-</p><p>cação brasileira. Você vai conhecer as principais políticas de financiamento</p><p>e os vários programas que disponibilizam recursos às instituições de</p><p>ensino que se esforçam por captá-los. Você também vai conhecer os es-</p><p>paços democráticos de intervenção na gestão financeira e verificar como</p><p>as escolas podem captar recursos. Por fim, você vai ver a importância da</p><p>prestação de contas para a gestão financeira.</p><p>Os recursos financeiros para a educação</p><p>A gestão de uma escola necessita de recursos fi nanceiros que viabilizem o</p><p>pleno funcionamento da instituição. Tais recursos devem garantir a manu-</p><p>tenção da estrutura e dos processos cotidianos realizados na escola, bem</p><p>como a remuneração dos profi ssionais da educação e os investimentos em</p><p>sua formação continuada, além de dar conta de tantas outras despesas. Os</p><p>recursos que fi nanciam a educação pública brasileira estão previstos em lei.</p><p>Eles devem ser distribuídos de forma equitativa entre os entes da federação</p><p>em busca da garantia do direito à educação de todo cidadão brasileiro.</p><p>Oliveira, Moraes e Dourado (2006, documento on-line) comentam que</p><p>“[...] as discussões acerca do financiamento da educação têm perpassado</p><p>os debates sobre a democratização da educação e da escola por meio do</p><p>acesso e da permanência [dos alunos nas escolas] com qualidade social, da</p><p>melhoria da qualidade do ensino e da garantia dos direitos dos cidadãos”. Ou</p><p>seja, para haver ensino de qualidade, que promova de fato a aprendizagem</p><p>significativa dos estudantes, é necessário um aporte de recursos, a fim de</p><p>que o gestor escolar coloque em prática as suas atribuições e leve a escola</p><p>a alcançar os seus objetivos.</p><p>A origem e a destinação dos recursos para o financiamento da educa-</p><p>ção pública estão previstas na Constituição Federal de 1988 e na Lei de</p><p>Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDBN), como você vai</p><p>ver a seguir. O fato é que, embora não seja “[...] fácil financiar o ensino</p><p>público e gratuito quando a demanda ultrapassa a possibilidade de oferta</p><p>pelo Estado” (FERNANDES, 2009, documento on-line), cabe ao Ministério</p><p>da Educação (MEC) encontrar os meios de assegurar a todos os brasileiros</p><p>o direito constitucional à educação.</p><p>A Constituição Federal estabelece, em seu art. 211, ao organizar o sistema</p><p>de ensino nacional, o regime de colaboração entre a União, os estados, o</p><p>Distrito Federal e os municípios. No § 1º desse mesmo artigo, existe uma</p><p>importante complementação sobre a responsabilidade da União (BRASIL,</p><p>1988). Ela, além de organizar os sistemas de ensino, “[...] financiará as</p><p>instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educa-</p><p>cional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização</p><p>de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino</p><p>mediante assistência técnica e financeira” extensiva aos entes do regime de</p><p>colaboração (BRASIL, 1988, documento on-line). A Constituição Federal</p><p>também estabelece os percentuais mínimos dos impostos que deverão ser</p><p>repassados pelos entes federativos para a educação:</p><p>Gestão financeira e os recursos da educação2</p><p> municípios — 25%;</p><p> estados e Distrito Federal — 25%;</p><p> União — 18%.</p><p>Quando esses percentuais de recursos provenientes dos impostos não</p><p>são suficientes para que a educação dos entes seja plenamente financiada,</p><p>cabe à União, ao exercer a sua função redistributiva e supletiva, distribuir</p><p>melhor os recursos entre os estados e/ou ainda complementar as carências.</p><p>Da mesma forma, no § 3º do art. 212 da Constituição Federal, fica ex-</p><p>plícita a prioridade da distribuição dos recursos públicos para assegurar o</p><p>“[...] atendimento das necessidades do ensino obrigatório, no que se refere</p><p>a universalização, garantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos</p><p>do plano nacional de educação” (BRASIL, 1988, documento on-line).</p><p>Como você deve lembrar, o ensino obrigatório no Brasil compreende o</p><p>período de 4 a 17 anos de idade, abrangendo a educação infantil, o ensino</p><p>fundamental e o ensino médio. O Plano Nacional de Educação 2014–2024</p><p>(PNE) também traz entre as suas metas a busca pela melhoria da qualidade</p><p>do ensino, pela universalização do acesso, pela maior equidade e pela erra-</p><p>dicação do analfabetismo (BRASIL, 2015). Para garantir que essa política</p><p>pública educacional de caráter estratégico seja bem-sucedida, é necessária</p><p>uma distribuição de recursos muito bem estruturada.</p><p>O art. 213 da Constituição Federal define que os recursos públicos serão</p><p>destinados às escolas públicas, podendo também ser transferidos para outros</p><p>três tipos de escola (BRASIL, 1988). A seguir, veja quais são essas escolas.</p><p> Comunitárias: o princípio básico da escola comunitária é que ela deve</p><p>estar comprometida com a realidade social e a busca de resultados</p><p>para atender à comunidade em que se insere.</p><p> Confessionais: são as escolas vinculadas a religiões; logo, não são</p><p>laicas. Desenvolvem-se historicamente no Brasil apoiando as ações</p><p>do Estado em busca da universalização da educação.</p><p> Filantrópicas: são instituições de educação que prestam serviços</p><p>à população em geral, em caráter complementar às atividades do</p><p>Estado, sem finalidade lucrativa.</p><p>As escolas comunitárias, confessionais e filantrópicas não devem pos-</p><p>suir finalidade lucrativa, devendo repassar os seus excedentes de recursos</p><p>para as instituições de ensino de suas mantenedoras, conservando o foco</p><p>educacional.</p><p>3Gestão financeira e os recursos da educação</p><p>A LDBN, por sua vez, reafirma os princípios constitucionais do regime</p><p>de colaboração entre os entes da federação para o financiamento da educação</p><p>escolar e acrescenta o seguinte:</p><p>Art. 68 Serão recursos públicos destinados à educação os originários de:</p><p>I — receita de impostos próprios da União, dos Estados, do Distrito Federal</p><p>e dos Municípios;</p><p>II — receita de transferências constitucionais e outras transferências;</p><p>III — receita do salário-educação e de outras contribuições sociais;</p><p>IV — receita de incentivos fiscais;</p><p>V — outros recursos previstos em lei (BRASIL, 1996, documento on-line).</p><p>O salário-educação, também previsto no art. 212 da Constituição Fe-</p><p>deral, é uma contribuição social e refere-se a um percentual de 2,5%</p><p>sobre a folha de pagamento das empresas brasileiras. Tal percentual é</p><p>revertido para a educação e representa hoje em torno de 20% dos recur-</p><p>sos de financiamento da educação escolar. A LDBN deixa em aberto, ao</p><p>comentar sobre outras contribuições sociais, incentivos fiscais e outros</p><p>recursos previstos em lei, a possibilidade da ampliação das verbas para o</p><p>financiamento da educação.</p><p>Na organização da educação nacional, existe ainda “[...] o Fundo Nacional</p><p>de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia federal criada pela</p><p>Lei nº. 5.537, de 21 de novembro de 1968, e alterada pelo Decreto–Lei</p><p>nº. 872, de 15 de setembro de 1969, [que] é responsável pela execução</p><p>de políticas educacionais do Ministério</p><p>da Educação” (BRASIL, 2019,</p><p>documento on-line). Ao administrar as políticas de financiamento da educa-</p><p>ção, o FNDE possui atualmente três políticas principais de financiamento:</p><p>o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o Fundo de Manutenção e</p><p>Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da</p><p>Educação (Fundeb) e o salário-educação. É por meio dessas políticas de</p><p>financiamento da educação e dos vários programas mantidos pelo FNDE</p><p>que os recursos financeiros necessários chegam até as escolas do sistema de</p><p>ensino brasileiro. Tais recursos proporcionam que as instituições persigam</p><p>as suas metas em busca de uma educação de qualidade para todos os seus</p><p>estudantes.</p><p>Gestão financeira e os recursos da educação4</p><p>Ao fazer a gestão financeira por meio das políticas de financiamento e de suplemen-</p><p>tação dos recursos necessários para as instituições de ensino, os dirigentes dos órgãos</p><p>centrais da educação, bem como os gestores escolares, devem atentar aos princípios</p><p>constitucionais da administração pública. São eles: legalidade, impessoalidade, mo-</p><p>ralidade, publicidade e eficiência.</p><p>Programas de financiamento e espaços de</p><p>intervenção</p><p>O FNDE é a autarquia federal responsável por operacionalizar as políticas</p><p>públicas educacionais. Assim, cabe a ele o repasse de recursos fi nanceiros, o</p><p>que é feito a partir de seus programas e políticas de fi nanciamento, que você vai</p><p>conhecer a partir de agora. Existem três principais políticas de fi nanciamento</p><p>administradas pelo FNDE na atualidade:</p><p> Fies;</p><p> Fundeb;</p><p> salário-educação.</p><p>O Fies se destina “[...] a financiar a graduação de estudantes matriculados</p><p>em cursos presenciais não gratuitos e com avaliação positiva nos processos</p><p>de avaliação conduzidos pelo Ministério da Educação” (BRASIL, 2017a,</p><p>documento on-line). Dessa forma, o Fies funciona como instituição finan-</p><p>ceira que empresta aos estudantes o valor de até 100% de suas mensalidades,</p><p>que deverão ser pagas ao final do curso. Para conseguir o Fies, segundo o</p><p>portal do FNDE (BRASIL, 2017b), o estudante deve atender aos seguintes</p><p>requisitos: ter participado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com</p><p>a média aritmética das notas nas provas igual ou superior a 450 pontos e nota</p><p>na redação superior a zero; e ter sido selecionado no processo seletivo do Fies</p><p>conduzido pela Secretaria de Educação Superior do MEC, disponível no portal</p><p>eletrônico do programa.</p><p>5Gestão financeira e os recursos da educação</p><p>O salário-educação é uma contribuição social “[...] destinada ao finan-</p><p>ciamento de programas, projetos e ações voltados para a educação básica</p><p>pública, conforme previsto no § 5º do art. 212 da Constituição Federal de</p><p>1988” (BRASIL, 2017b, documento on-line). Essa contribuição social re-</p><p>presenta, ao lado do Fundeb, uma importante ação de financiamento para</p><p>a educação básica brasileira. Consiste, conforme o Decreto nº. 6.003, de 28</p><p>de dezembro de 2006 — que regulamenta o art. 212, § 5º, da Constituição</p><p>Federal e as Leis nº. 9.424, de 24 de dezembro de 1996, e nº. 9.766, de 18</p><p>de dezembro de 1998 —, em uma “[...] alíquota de dois inteiros e cinco</p><p>décimos por cento, incidente sobre o total da remuneração paga ou credi-</p><p>tada, a qualquer título, aos segurados empregados, ressalvadas as exceções</p><p>legais, e será arrecadada, fiscalizada e cobrada pela Secretaria da Receita</p><p>Previdenciária” (BRASIL, 2006, documento on-line). Ou seja, todas as</p><p>empresas em geral e as entidades públicas e privadas vinculadas ao Regime</p><p>Geral da Previdência Social deverão recolher esses 2,5% referentes à folha</p><p>de pagamento de seus funcionários.</p><p>O repasse dos recursos arrecadados pelo salário-educação é dividido da</p><p>seguinte maneira: 1% do montante total fica com a Secretaria da Receita</p><p>Previdenciária; do restante, 90% dos valores são divididos em quota-parte</p><p>federal (1/3) e quota-parte estadual e municipal (2/3); os outros 10% ficam</p><p>com o FNDE para manter os demais programas, projetos e ações que se voltam</p><p>à universalização da educação básica. Veja como se dá essa distribuição:</p><p> quota estadual e municipal — 60%;</p><p> quota federal — 30%;</p><p> FNDE — 10%.</p><p>É importante você notar que os valores do salário-educação são repas-</p><p>sados, no caso da quota federal, para o FNDE; as quotas estaduais e muni-</p><p>cipais, por sua vez, são repassadas para as referidas Secretarias Estaduais</p><p>de Educação e Secretarias Municipais de Educação. Os recursos têm como</p><p>principal finalidade o “[...] financiamento de programas, projetos e ações</p><p>voltadas para a educação básica” (BRASIL, 2006, documento on-line). Outro</p><p>aspecto importante é que esse valor é redistribuído nos estados e municípios</p><p>de acordo com o número de alunos matriculados em suas redes de ensino,</p><p>apurado pelo Censo Escolar do ano anterior.</p><p>Atualmente, o Fundeb é a principal política pública de funcionamento da</p><p>educação básica nacional, estando em execução desde o ano de 2007. Ele é</p><p>Gestão financeira e os recursos da educação6</p><p>[...] um fundo especial, de natureza contábil e de âmbito estadual (um fundo</p><p>por estados e Distrito Federal, num total de vinte e sete fundos), formado,</p><p>na quase totalidade, por recursos provenientes dos impostos e transferências</p><p>dos estados, Distrito Federal e municípios, vinculados à educação por força</p><p>do disposto no art. 212 da Constituição Federal (BRASIL, 2017C, documento</p><p>on-line).</p><p>O art. 212 da Constituição Federal é aquele que cita os percentuais míni-</p><p>mos a serem aplicados pelos entes da federação na área da educação, como</p><p>você viu anteriormente (BRASIL, 1988). Dos recursos disponibilizados pelo</p><p>Fundeb, 60% são destinados à remuneração do magistério; os 40% restantes</p><p>são destinados à cobertura das demais despesas de “[...] manutenção e desen-</p><p>volvimento do ensino”, conforme o art. 70 da LDBN:</p><p>Art. 70 Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as</p><p>despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das insti-</p><p>tuições educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a:</p><p>I — remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissio-</p><p>nais da educação;</p><p>II — aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e</p><p>equipamentos necessários ao ensino;</p><p>III — uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino;</p><p>IV — levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente</p><p>ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino;</p><p>V — realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento dos sis-</p><p>temas de ensino;</p><p>VI — concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e privadas;</p><p>VII — amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender ao</p><p>disposto nos incisos deste artigo;</p><p>VIII — aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas</p><p>de transporte escolar (BRASIL, 1996, documento on-line).</p><p>O Fundeb busca aumentar a qualidade do ensino da educação básica, uma</p><p>vez que estipula o repasse para essa área de 20% das receitas arrecadadas pelos</p><p>estados e pelo Distrito Federal em inúmeros impostos. Aliás, o Fundeb tem como</p><p>prazo final de sua existência o ano de 2020, mas existem discussões sobre a</p><p>possibilidade de ele se tornar permanente. Ao referir-se a esse ponto específico</p><p>da história do financiamento educacional brasileiro, Cury (2018, documento</p><p>on-line) menciona a Proposta de Emenda Constitucional nº. 15, de 7 de abril de</p><p>2015, que torna o Fundeb permanente, salientando que ela “[...] é coerente com</p><p>o direito à educação. Se este direito é um direito essencial para a realização da</p><p>cidadania e dos direitos humanos, é imperativo que sua sustentação seja também</p><p>7Gestão financeira e os recursos da educação</p><p>permanente”. Ou seja, o Fundeb deveria ser permanente para que a cada 10</p><p>anos não fosse necessário discutir a forma como o financiamento da educação</p><p>vai ser realizado, o que prejudica, por exemplo, o alcance das metas do PNE.</p><p>Além dos recursos estipulados pelas políticas de financiamento que você viu</p><p>até aqui, existem inúmeros outros programas que são coordenados</p><p>pelo FNDE</p><p>e que podem repassar recursos para as escolas públicas. Conforme o portal do</p><p>FNDE (BRASIL, 2017c), esses programas são distribuídos da seguinte forma:</p><p> bolsas e auxílios;</p><p> Brasil Carinhoso;</p><p> Caminho da Escola;</p><p> Formação pela Escola;</p><p> Plano de Ações Articuladas (PAR);</p><p> Programa Banda Larga nas Escolas (PBLE);</p><p> Programa Dinheiro Direto nas Escolas (PDDE);</p><p> Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE);</p><p> Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE);</p><p> Programas do Livro;</p><p> Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos</p><p>para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância);</p><p> Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo);</p><p> programas suplementares.</p><p>A fim de atender aos princípios da administração pública, esses programas</p><p>existem para que o repasse dos recursos públicos seja feito de forma legal,</p><p>visando a atender aos diversos objetivos propostos. Da mesma forma, a ges-</p><p>tão democrática da educação pública é realizada a partir da construção de</p><p>espaços de intervenção em que a sociedade civil pode atuar, acompanhando,</p><p>monitorando e fiscalizando o repasse de tais recursos.</p><p>Você pode considerar como exemplos desses espaços de participação: o</p><p>Conselho de Alimentação Escolar, que atua tendo como enfoque o PNAE; o</p><p>Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb, que tem como foco</p><p>a fiscalização dos recursos do Fundeb; e as comissões internas das instituições</p><p>de ensino, que se encarregam da fiscalização, da seleção e da distribuição</p><p>de bolsas e auxílios referentes aos programas de formação continuada de</p><p>professores. Ou seja: cabe a cada programa de financiamento educacional</p><p>permitir a atuação dos membros da sociedade civil, legitimando assim a</p><p>gestão democrática prevista na Constituição Federal e reforçada da LDBN.</p><p>Gestão financeira e os recursos da educação8</p><p>Aqui, você está vendo como ocorre o financiamento da educação nos estados e mu-</p><p>nicípios brasileiros. Dentro das instituições de ensino, os gestores também têm acesso</p><p>a programas públicos geridos pelo FNDE e que trazem recursos para a administração</p><p>escolar. É o caso do PDDE, acessível a todas as escolas públicas e sem fins lucrativos</p><p>ou ainda a escolas privadas de educação especial que possuam mais de 50 alunos</p><p>matriculados. O PDDE tem o objetivo de promover melhorias na infraestrutura física e</p><p>pedagógica das escolas. Por meio desse programa, as escolas recebem um valor fixo</p><p>(diferente para escolas rurais e urbanas) e um valor monetário por aluno matriculado.</p><p>Captação de recursos e prestação de contas</p><p>Uma das áreas que mais exigem esforços do gestor escolar é a fi nanceira. O</p><p>gestor deve ser hábil para conseguir captar os recursos necessários para o</p><p>funcionamento da escola ao longo do ano letivo. É importante você notar que,</p><p>com a exceção das políticas de fi nanciamento da educação básica (salário-</p><p>-educação e Fundeb), todos os demais programas não realizam repasses de</p><p>verbas de forma automática, mas exigem alguns passos específi cos. A seguir,</p><p>veja algumas ações de gestão necessárias para que a captação de recursos seja</p><p>realizada de forma efi ciente:</p><p> realizar o Censo Escolar;</p><p> projetar;</p><p> conhecer;</p><p> aderir;</p><p> acompanhar;</p><p> prestar contas.</p><p>O primeiro ponto é o Censo Escolar. Na atualidade, além de fornecer dados</p><p>estatísticos para o controle e o monitoramento dos índices educacionais, o</p><p>Censo Escolar também é muito importante para o recebimento de recursos.</p><p>Ele serve de base para muitos dos programas que se destinam a financiar</p><p>as escolas. Afinal, os valores são repassados a partir do número de alunos</p><p>matriculados, que deve ser devidamente informado a partir do sistema Edu-</p><p>cacenso, disponível no portal eletrônico do Instituto Nacional de Pesquisas</p><p>Educacionais Anísio Teixeira (INEP).</p><p>9Gestão financeira e os recursos da educação</p><p>Outra questão importante e que se constitui como uma atribuição básica</p><p>do gestor escolar é o conhecimento das políticas públicas educacionais. Entre</p><p>os princípios que regem a administração pública, está o da legalidade, que diz</p><p>que as ações dos gestores devem estar pautadas nas legislações existentes.</p><p>Dessa forma, se você é um secretário de educação municipal e precisa captar</p><p>recursos para a educação infantil do seu sistema de ensino, deve, obrigatoria-</p><p>mente, conhecer as políticas educacionais existentes. Você deve esmiuçá-las</p><p>para descobrir como captar valores, a partir de quais programas e de quais</p><p>procedimentos.</p><p>A secretária municipal de educação de Brasilândia de Minas, Vanda Tavares, comparti-</p><p>lhou a sua experiência relacionada à captação de recursos para a educação infantil por</p><p>meio do Proinfância. Segundo ela, foi em uma visita à Capital Federal, no ano de 2017,</p><p>que ficou sabendo que poderia receber recursos para o atendimento da educação</p><p>infantil no município do Noroeste de Minas Gerais. O Proinfância é um programa de</p><p>assistência financeira ao Distrito Federal e aos municípios para a construção, a reforma</p><p>e a aquisição de equipamentos e mobiliário para creches e pré-escolas públicas da</p><p>educação infantil (CLARA, 2018).</p><p>Vanda disse que aderiu ao programa por meio do Sistema Integrado de Monitora-</p><p>mento, Execução e Controle (Simec), usando a senha do prefeito. Disse também que</p><p>foi preciso inserir todos os alunos matriculados na educação infantil, de 0 até 4 anos.</p><p>Ela informou que a adesão, normalmente, é feita no início do ano, entre fevereiro e</p><p>março, e que em julho de 2017 recebeu R$ 449 mil de recursos do Proinfância.</p><p>Como você pode perceber no relato dessa dirigente municipal de educação, os</p><p>recursos do Proinfância somente chegaram até o seu sistema de ensino municipal</p><p>a partir do momento em que ela conheceu o programa e aderiu a ele por meio do</p><p>Simec. Caso contrário, não teria recebido o montante para investir na etapa inicial da</p><p>educação básica.</p><p>Uma habilidade necessária e pertinente para a captação de recursos é a</p><p>elaboração de projetos, que muitas vezes são exigidos para os repasses de</p><p>alguns programas de financiamento. Esses projetos devem deixar claros os</p><p>objetivos a serem atingidos, o montante de recursos necessário, o modo como</p><p>o valor será aplicado pela escola e o cronograma de aplicação.</p><p>Gestão financeira e os recursos da educação10</p><p>Da mesma forma, cabe aos gestores educacionais, sejam dirigentes de</p><p>órgãos centrais da educação ou mesmo gestores das escolas, acompanhar o</p><p>devido uso desses aportes financeiros ou materiais diversos recebidos pelos</p><p>programas. É necessário verificar se os aportes estão sendo utilizados com</p><p>ética e, assim, atendendo ao princípio da publicidade da gestão pública, bem</p><p>como prestar as devidas contas de tais repasses aos órgãos responsáveis.</p><p>A Constituição Federal prevê, no art. 70, parágrafo único, que deverá prestar</p><p>contas “[...] qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize,</p><p>arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos</p><p>ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações</p><p>de natureza pecuniária” (BRASIL, 1988, documento on-line). Ou seja, todos</p><p>os dirigentes e gestores públicos que atuam na educação estão aí implicados.</p><p>Ao referir-se à prestação de contas relativas ao PDDE, por exemplo, o</p><p>FNDE (BRASIL, 2017d, documento on-line) esclarece o seguinte:</p><p>[...] trata-se de apresentar à comunidade escolar e aos órgãos competentes os</p><p>valores recebidos pela entidade num dado ano, as despesas realizadas nesse</p><p>período e eventuais saldos a serem reprogramados para uso no ano seguinte,</p><p>para demonstrar se os recursos foram corretamente empregados e se os ob-</p><p>jetivos do programa e de suas ações foram alcançados.</p><p>Essa prestação de contas normalmente envolve as seguintes entidades ges-</p><p>toras: as Unidades Executoras Próprias (UEx), que são as associações de pais e</p><p>mestres, os conselhos escolares e os caixas escolares; as Entidades Executoras</p><p>(EEx), que são as prefeituras, secretarias estaduais e distritais de educação; e as</p><p>Entidades</p><p>Mantenedoras (EM), que envolvem as organizações do terceiro setor</p><p>que atuam na esfera educacional, como as Associações dos Pais e Amigos dos</p><p>Excepcionais (APAEs), as Associações Pestalozzi, entre outras. Normalmente,</p><p>as UEx prestam contas à Prefeitura Municipal e/ou à Secretaria de Educação</p><p>Municipal de forma física, por meio de relatórios de demonstração de resultados.</p><p>Já as EEx e EM se reportam ao FNDE de forma eletrônica.</p><p>Ao analisar as políticas públicas educacionais no âmbito das nações ibero-</p><p>-americanas, tendo como foco as práticas de prestação de contas realizadas,</p><p>Afonso (2009) sugere que deveriam ser adotadas políticas de accountability,</p><p>o que amplia o conceito. Assim, passa-se a envolver o somatório de ações de</p><p>prestação de contas, avaliação e responsabilização dos gestores encarregados</p><p>da direção. Nesse sentido, entender o viés da responsividade dos gestores</p><p>11Gestão financeira e os recursos da educação</p><p>públicos ao manusearem os recursos públicos sob a lógica da accountability</p><p>poderia garantir um comprometimento ainda mais ético com essa atribuição.</p><p>Outra modalidade mais recente de captação de recursos para a educação</p><p>foi prevista pela Lei nº. 13.800, de 4 de janeiro de 2019, que autoriza a admi-</p><p>nistração pública a realizar parcerias com organizações gestoras de fundos</p><p>patrimoniais para investir em projetos de interesse público. Veja:</p><p>Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a constituição de fundos patrimoniais com o</p><p>objetivo de arrecadar, gerir e destinar doações de pessoas físicas e jurídicas</p><p>privadas para programas, projetos e demais finalidades de interesse público.</p><p>Parágrafo único. Os fundos patrimoniais constituídos nos termos desta Lei</p><p>poderão apoiar instituições relacionadas à educação, à ciência, à tecnologia,</p><p>à pesquisa e à inovação, à cultura, à saúde, ao meio ambiente, à assistência</p><p>social, ao desporto, à segurança pública, aos direitos humanos e a demais fina-</p><p>lidades de interesse público (BRASIL, 2019, documento on-line, grifo nosso).</p><p>Com essa lei, fica constituída legalmente a possibilidade de uma organização</p><p>da sociedade civil que atue sem finalidade lucrativa instituir como entidade</p><p>apoiada, por exemplo, uma escola ou ainda uma rede de ensino de um município.</p><p>A ideia é que tal organização destine os seus fundos para apoiar projetos educa-</p><p>cionais. A Lei nº. 13.800/2019 abre novos espaços e possibilita maior facilidade</p><p>na captação de recursos para a educação quando estão em jogo associações e</p><p>fundações privadas que já têm essa área como foco de sua ação social.</p><p>Os recursos também podem ser buscados externamente, desde que sigam</p><p>os devidos procedimentos propostos pela gestão pública nacional. Segundo</p><p>o portal e-Gestão Pública (LARDIZABAL, 2019, documento on-line), a cap-</p><p>tação de recursos externos deve seguir algumas etapas por parte dos gestores</p><p>públicos, que envolvem “[...] planejamento prévio para a organização de um</p><p>projeto bem estruturado; identificação do organismo ideal para o pleito de</p><p>financiamento; e acompanhamento minucioso e eficiente na demonstração</p><p>dos resultados e contrapartidas”. Entre os organismos de financiamento mais</p><p>utilizados na captação de recursos, você pode considerar o Banco Interameri-</p><p>cano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Internacional para Reconstrução</p><p>e Desenvolvimento (BIRD), entre muitos outros organismos multilaterais.</p><p>Como você viu, a captação de recursos que podem fazer a educação pública</p><p>funcionar de forma mais eficiente muitas vezes está nas mãos dos gestores</p><p>públicos. Eles são diretamente responsáveis por conhecer como funciona esse</p><p>processo. Além disso, devem identificar os caminhos que podem ser utilizados</p><p>para que os montantes cheguem até as escolas e garantam o direito a uma</p><p>educação de qualidade aos seus alunos.</p><p>Gestão financeira e os recursos da educação12</p><p>Para conhecer melhor os programas coordenados pelo FNDE, acesse o link a seguir.</p><p>https://qrgo.page.link/1tRqY</p><p>AFONSO, A. J. Políticas avaliativas e accountability em educação: subsídios para um</p><p>debate iberoamericano. Sísifo, n. 9, p. 57-70, 2009. Disponível em: http://sisifo.ie.ulisboa.</p><p>pt/index.php/sisifo/article/viewFile/148/251. Acesso em: 24 jul. 2019.</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União,</p><p>5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/consti-</p><p>tuicao.htm. Acesso em: 1 jul. 2019.</p><p>BRASIL. Decreto nº. 6.003, de 28 de dezembro de 2006. Regulamenta a arrecadação, a</p><p>fiscalização e a cobrança da contribuição social do salário-educação, a que se referem</p><p>o art. 212, § 5º, da Constituição, e as Leis nos. 9.424, de 24 de dezembro de 1996, e 9.766,</p><p>de 18 de dezembro de 1998, e dá outras providências. Diário Oficial da União, 29 dez.</p><p>2006. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2006/decreto-6003-</p><p>-28-dezembro-2006-548904-norma-pe.html. Acesso em: 24 jul. 2019.</p><p>BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Plano</p><p>nacional de educação PNE 2014-2024: linha de base. Brasília: Inep, 2015. Disponível em:</p><p>http://pne.mec.gov.br/publicacoes/item/download/13_7101e1a36cda79f6c97341757</p><p>dcc4d04. Acesso em: 24 jul. 2019.</p><p>BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da</p><p>educação nacional. Diário Oficial da União, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.</p><p>planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm. Acesso em: 24 jul. 2019.</p><p>BRASIL. Lei nº. 13.800, de 4 de janeiro de 2019. Autoriza a administração pública a firmar</p><p>instrumentos de parceria e termos de execução de programas, projetos e demais</p><p>finalidades de interesse público com organizações gestoras de fundos patrimoniais;</p><p>altera as Leis nos. 9.249 e 9.250, de 26 de dezembro de 1995, 9.532, de 10 de dezembro</p><p>de 1997, e 12.114 de 9 de dezembro de 2009; e dá outras providências. Diário Oficial</p><p>da União, 7 jan. 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-</p><p>2022/2019/Lei/L13800.htm. Acesso em: 24 jul. 2019.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.</p><p>O que é? 2017a. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb/area-</p><p>-para-gestores/dados-estatisticos/item/4751-o-que-%C3%A9. Acesso em 24 jul. 2019.</p><p>13Gestão financeira e os recursos da educação</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.</p><p>Sobre prestação de contas, 2017d. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/programas/</p><p>pdde/perguntas-frequentes/item/10736-pf-sobre-presta%EF%BF%BD%EF%BF%BDo-</p><p>-de-contas. Acesso em: 24 jul. 2019.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.</p><p>Sobre o Fundeb, 2017c. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb.</p><p>Acesso em: 24 jul. 2019.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.</p><p>Sobre o salário-educação, 2017b. Disponível em: https://www.fnde.gov.br/index.php/</p><p>financiamento/salario-educacao/sobre-o-plano-ou-programa/sobre-o-salario-edu-</p><p>cacao. Acesso em: 24 jul. 2019.</p><p>CLARA, A. Secretária de educação compartilha experiência na captação de recursos.</p><p>Escola de Contas e Capacitação Professor Pedro Aleixo, 2018. Disponível em: https://</p><p>escoladecontas.tce.mg.gov.br/secretaria-de-educacao-compartilha-experiencia-na-</p><p>-captacao-de-recursos/. Acesso em: 24 jul. 2019.</p><p>CURY, C. R. J. Financiamento da educação brasileira: do subsídio literário ao Fundeb.</p><p>Educação & Realidade, v. 43, n. 4, p. 1.217-1.252, 2018. Disponível em: https://seer.ufrgs.</p><p>br/educacaoerealidade/article/view/84862. Acesso em: 1 jul. 2019.</p><p>FERNANDES, F. C. O Fundeb como política pública de financiamento da educação.</p><p>Retratos da Escola, v. 3, n. 4, p. 23-38, 2009. Disponível em: http://retratosdaescola.</p><p>emnuvens.com.br/rde/article/download/99/288. Acesso em: 1 jul. 2019.</p><p>LARDIZABAL, G. S. Captação de recursos externos: onde buscar verbas. e-Gestão Pública,</p><p>2018. Disponível em: https://www.e-gestaopublica.com.br/captacao-de-recursos-</p><p>-externos/. Acesso em: 24 jul. 2019.</p><p>OLIVEIRA, J. F.; MORAES</p><p>K. N.; DOURADO, L. F. O financiamento da educação básica:</p><p>limites e possibilidades. In: DOURADO, L. F. et al. Conselho escolar e o financiamento da</p><p>educação no Brasil. Brasília: Ministério da Educação, 2006. Disponível em: http://portal.</p><p>mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/cad%207.pdf. Acesso em: 24 jul. 2019.</p><p>Gestão financeira e os recursos da educação14</p>