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<p>CA</p><p>PÍ</p><p>TU</p><p>LO</p><p>X</p><p>CA</p><p>PÍ</p><p>TU</p><p>LO</p><p>» Competências e</p><p>habilidades</p><p>CGEB1, CGEB2, CGEB7,</p><p>CGEB9 e CGEB10.</p><p>CECHSA1: EM13CHS102 e</p><p>EM13CHS104.</p><p>CECHSA5: EM13CHS501,</p><p>EM13CHS502 e</p><p>EM13CHS503.</p><p>CECHSA6: EM13CHS601,</p><p>EM13CHS604, EM13CHS605</p><p>e EM13CHS606.</p><p>CECNT1: EM13CNT104.</p><p>CECNT2: EM13CNT206.</p><p>CECNT3: EM13CNT309.</p><p>CELT3: EM13LGG303 e</p><p>EM13LGG304.</p><p>CELT7: EM13LGG704.</p><p>CEMT1: EM13MAT102.</p><p>CEMT4: EM13MAT406.</p><p>POVOS TRADICIONAIS:</p><p>A LUTA PERMANENTE</p><p>Até o século XIX, o território que hoje corresponde ao Brasil foi uma colônia por-</p><p>tuguesa, cujas principais atividades econômicas baseavam-se na exploração e no</p><p>tráfico de mão de obra escravizada. Como vimos anteriormente, esse processo foi</p><p>responsável por muitas estruturas que configuram nossa sociedade na atualidade.</p><p>O processo de independência do Brasil, por sua vez, esteve diretamente rela-</p><p>cionado ao processo de construção de uma identidade nacional, distinta e inde-</p><p>pendente da identidade da antiga metrópole portuguesa. Isso ocorreu em meio</p><p>a intensas transformações sociais, instabilidades políticas e fragmentações ter-</p><p>ritoriais, contribuindo para a concepção do Brasil como Estado e para a formação</p><p>das identidades brasileiras, isto é, as identidades do povo brasileiro.</p><p>Embora essa construção identitária tenha se iniciado num contexto histórico</p><p>específico, o processo de formação das identidades brasileiras continua a acon-</p><p>tecer até os dias atuais e envolve o reconhecimento de diversos aspectos cultu-</p><p>rais de diferentes povos e a valorização das comunidades que preservam ainda</p><p>hoje suas culturas tradicionais em diferentes regiões.</p><p>Além dos indígenas, os quilombolas também são considerados povos tradicionais,</p><p>e a preservação deles está relacionada, em muitos casos, com a preservação de ter-</p><p>ritórios naturais ameaçados pela exploração econômica. De acordo com o Decreto</p><p>Federal n. 6 040, de 2007, povos e comunidades tradicionais são:</p><p>6</p><p>[…] grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que pos-</p><p>suem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recur-</p><p>sos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral</p><p>e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos</p><p>pela tradição.</p><p>Brasil. Decreto Federal n. 6 040, de 7 de fevereiro de 2007. Disponível em: http://www.planalto.</p><p>gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm. Acesso em: 27 abr. 2020.</p><p>1. De acordo com o texto, quem são os povos e as comunidades tradicionais</p><p>brasileiros?</p><p>2. Quais contextos históricos de formação do Brasil podem ser relacionados à</p><p>vulnerabilidade de algumas populações tradicionais brasileiras?</p><p>3. Em sua opinião, qual é a importância de criar leis que apoiem as comunidades</p><p>e os povos tradicionais?</p><p>Pajé Hushahu, primeira mulher a se</p><p>tornar pajé do povo Yawanawá, durante</p><p>festa na aldeia Mutum, na Terra Indígena</p><p>Rio Gregório, em Tarauacá (AC), 2018.</p><p>S</p><p>im</p><p>on</p><p>P</p><p>le</p><p>st</p><p>en</p><p>ja</p><p>k/</p><p>Pu</p><p>ls</p><p>ar</p><p>Im</p><p>ag</p><p>en</p><p>s</p><p>68</p><p>Norte</p><p>Centro-Oeste</p><p>Nordeste</p><p>Sul</p><p>Sudeste</p><p>54%</p><p>19%</p><p>11%</p><p>10%</p><p>6%</p><p>Nesse momento, iniciou-se o movimento constitucional que impôs ao Estado</p><p>a obrigatoriedade da demarcação das Terras Indígenas, considerando-as espaços</p><p>necessários para a manutenção de seus modos de vida tradicionais.</p><p>Atualmente, no Brasil, há 462 Terras Indígenas regularizadas, que representam</p><p>cerca de 12,2% do território nacional. Essas terras estão presentes em todos os bio-</p><p>mas, mas a maioria está localizada na Amazônia Legal, que passa por um processo</p><p>de reconhecimento de Terras Indígenas iniciado pela Fundação Nacional do Índio</p><p>(Funai) na década de 1980 como resultado da política de integração nacional e da</p><p>consolidação da fronteira econômica do norte e do noroeste do país. Veja, no gráfi-</p><p>co a seguir, as proporções de Terras Indígenas por região.</p><p>A Constituição de 1988 estabeleceu, dessa forma, novos diálogos e relações</p><p>entre o Estado, a sociedade brasileira como um todo e os povos indígenas, reco-</p><p>nhecendo por lei a garantia de seus direitos.</p><p>Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,</p><p>crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocu-</p><p>pam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.</p><p>§ 1o São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em</p><p>caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis</p><p>à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias</p><p>à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.</p><p>Brasil. Artigo 231 da Constituição de 1988. Título VIII: da ordem social,</p><p>capítulo VIII: dos índios. Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/</p><p>const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_231_.asp. Acesso em: 20 abr. 2020.</p><p>Assembleia Constituinte: congresso,</p><p>assembleia ou comissão que tem a</p><p>missão de elaborar uma Constituição.</p><p>Fundação Nacional do Índio (Funai):</p><p>órgão indigenista oficial do Estado</p><p>brasileiro, responsável por fiscalizar</p><p>e garantir os direitos indígenas.</p><p>OS POVOS INDÍGENAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988</p><p>Na Assembleia Constituinte ocorrida entre 1987 e 1988, houve grande esfor-</p><p>ço e mobilização por parte de alguns grupos sociais para criar leis que efetiva-</p><p>mente protegessem os interesses dos povos indígenas e reconhecessem seu</p><p>modo de vida e seu direito à terra.</p><p>Assim, a Constituição Cidadã, como é chamada a Constituição de 1988, esta-</p><p>beleceu leis de proteção que romperam com a perspectiva constitucional anterior,</p><p>que entendia os indígenas como categoria social transitória, que desapareceria</p><p>em meio à forma de vida atual. Dessa forma, a nova Constituição definiu que os</p><p>direitos dos indígenas sobre suas terras passariam a ser um direito originário, ou</p><p>seja, anterior à criação do próprio Estado, reconhecendo o fato histórico de que</p><p>eles foram os primeiros povos a viver no Brasil.</p><p>Líder indígena Aílton Krenak realiza</p><p>discurso histórico sobre os direitos</p><p>dos povos indígenas no Brasil, que</p><p>reforçou as discussões que levaram</p><p>à inclusão de um capítulo sobre os</p><p>direitos indígenas na Constituição</p><p>de 1988. Brasília (DF), 1987.</p><p>Fonte de pesquisa:</p><p>Funai. Disponível em:</p><p>http://www.funai.gov.br/</p><p>index.php/nossas-acoes/</p><p>demarcacao-de-terras-</p><p>indigenas?limitstart=0#.</p><p>Acesso em: 25 abr.</p><p>2020.</p><p>DISTRIBUIÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS</p><p>REGULARIZADAS POR REGIÃO ADMINISTRATIVA</p><p>PARA EXPLORAR</p><p>» Índio cidadão? Direção: Ro-</p><p>drigo Siqueira. Brasil, 2014</p><p>(52 min).</p><p>Conheça os pontos de vista</p><p>das lideranças indígenas du-</p><p>rante a Constituinte de 1988.</p><p>O documentário completo po-</p><p>de ser visto em: https://www.</p><p>youtube.com/watch?v=Ti1q9-</p><p>eWtc8. Acesso em: 25 abr.</p><p>2020.</p><p>A</p><p>ce</p><p>rv</p><p>o/</p><p>E</p><p>st</p><p>ad</p><p>ão</p><p>C</p><p>on</p><p>te</p><p>úd</p><p>o</p><p>A</p><p>di</p><p>ls</p><p>on</p><p>S</p><p>ec</p><p>co</p><p>/ID</p><p>/B</p><p>R</p><p>69Não escreva no livro.</p><p>O INTERESSE PRIVADO NAS TERRAS INDÍGENAS</p><p>Apesar do avanço após a Constituição de 1988, a demarcação de terras foi</p><p>mais robusta na Região Norte em decorrência dos trabalhos prévios da Funai.</p><p>Nas demais regiões do país, onde o processo de colonização e exploração eco-</p><p>nômica se desenvolveu de forma mais intensa e houve a instalação de grandes</p><p>latifúndios, os povos indígenas conseguiram, após a promulgação da Constitui-</p><p>ção, manter a posse de territórios mais reduzidos e esparsos entre si e, em alguns</p><p>casos, tiveram seus territórios reduzidos, como ocorreu no Mato Grosso do Sul,</p><p>por exemplo, em especial com os Guarani-Kaiowá.</p><p>Assim, nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul, além do estado do Mato Grosso, mui-</p><p>tas populações indígenas vivem em situação de confinamento territorial e restrição</p><p>de seus modos de vida, havendo ainda muitas delas com terras não demarcadas.</p><p>Esse contexto tem gerado, ao longo das últimas décadas, grande ocorrência</p><p>de conflitos fundiários e disputas pela terra, suscitando um debate sobre o cum-</p><p>primento da Constituição em relação à regularização de territórios indígenas e as</p><p>investidas econômicas sobre essas regiões. A mineração e o desmatamento</p><p>para</p><p>plantio de gêneros agrícolas destinados à exportação, a extração de madeira, en-</p><p>tre outras atividades, têm exercido forte pressão sobre os territórios indígenas.</p><p>Leia mais informações sobre esse debate no texto a seguir.</p><p>Vista de garimpo de ouro no limite da Floresta Nacional do Jamari. O garimpo invade o limite da</p><p>reserva com queimada para ampliar a área de mineração, em Itapuã do Oeste (RO), 2019.</p><p>Metade das terras indígenas homologadas da Amazônia é alvo de</p><p>mineração</p><p>Estudo revela que, das 379 áreas homologadas na Amazônia, 190 registram algum</p><p>processo de interesse para garimpo</p><p>Um estudo encomendado pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa</p><p>Mineral (ABPM) mostra que metade das terras indígenas homologadas da Amazônia</p><p>Legal é foco de interesse minerário por empresas ou pessoas físicas. O levantamen-</p><p>to mostra que, das 379 terras indígenas homologadas e localizadas na Amazônia Le-</p><p>gal, 190 são alvo de algum tipo de processo minerário. Ao todo, 4 050 processos tra-</p><p>mitam na Agência Nacional de Mineração (ANM) que incidem sobre terras indígenas</p><p>já homologadas.</p><p>A</p><p>nd</p><p>re</p><p>D</p><p>ib</p><p>/P</p><p>ul</p><p>sa</p><p>r</p><p>Im</p><p>ag</p><p>en</p><p>s</p><p>70 Não escreva no livro.</p><p>SP_CHSA1_PNLD21_U2C6_068A079_LA.indd 70 4/12/21 18:17</p><p>AM</p><p>AC</p><p>PA</p><p>MT</p><p>MA</p><p>PI</p><p>CE</p><p>RN</p><p>PB</p><p>PE</p><p>AL</p><p>SE</p><p>BA</p><p>GO</p><p>MG</p><p>SP</p><p>PR</p><p>ES</p><p>RJ</p><p>SC</p><p>RS</p><p>RR AP</p><p>RO</p><p>MS</p><p>TO</p><p>DF</p><p>OCEANO</p><p>ATLÂNTICO</p><p>40ºO60ºO</p><p>0ºEquador</p><p>Trópico de Capricórnio</p><p>20ºS</p><p>OCEANO</p><p>PACÍFICO</p><p>0 445 km</p><p>Mineração existente</p><p>e planejada</p><p>Fonte de pesquisa: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), 2017.</p><p>Disponível: https://ipam.org.br/projetos-de-lei-querem-mineracao-em-1-</p><p>renca-em-areas-protegidas-do-brasil/. Acesso em: 26 abr. 2020.</p><p>MINERAÇÃO: PROJETOS EM EXECUÇÃO (2017)</p><p>A reportagem e o mapa apresentados ilustram a complexa relação entre</p><p>a demarcação das Terras Indígenas no Brasil e o avanço econômico por meio</p><p>da exploração de recursos naturais, panorama que gera inúmeros conflitos</p><p>entre indígenas, latifundiários e donos de grandes empresas.</p><p>1. Relacione a reportagem com os conflitos ocorridos em territórios indígenas.</p><p>2. Retome o mapa Terras Indígenas (2015), na página 20, e compare-o com</p><p>o mapa desta página para responder à pergunta: O que o avanço do des-</p><p>matamento e das atividades de mineração pode representar para as co-</p><p>munidades indígenas?</p><p>3. Em sua opinião, quais fatores poderiam amenizar a tensão entre indíge-</p><p>nas e latifundiários nas terras demarcadas e nas terras passíveis de</p><p>demarcação?</p><p>IN</p><p>TE</p><p>RA</p><p>ÇÃ</p><p>O</p><p>[…]</p><p>O levantamento feito pela ABPM cruzou dados da Funai, ANM e IBGE. O resulta-</p><p>do é apontado pelo estudo como uma espécie de bússola que indica as áreas de mais</p><p>interesse de empresas que visam a exploração mineral na região amazônica.</p><p>Desde 1988, a legislação proíbe que órgãos do governo concedam autorizações</p><p>para pesquisa ou exploração mineral em terras indígenas. A Constituição Federal pre-</p><p>viu a atividade mineral em áreas indígenas desde que ela fosse regulamentada por</p><p>lei, o que não aconteceu ainda.</p><p>Prazeres, Leandro. Metade das terras indígenas homologadas da Amazônia é alvo de mineração.</p><p>O Globo, 17 fev. 2020. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/metade-das-terras-</p><p>indigenas-homologadas-da-amazonia-alvo-de-mineracao-24252961. Acesso em: 26 abr. 2020.</p><p>Jo</p><p>ão</p><p>M</p><p>ig</p><p>ue</p><p>l A</p><p>. M</p><p>or</p><p>ei</p><p>ra</p><p>/ID</p><p>/B</p><p>R</p><p>71Não escreva no livro.</p><p>COMUNIDADES DE REMANESCENTES QUILOMBOLAS</p><p>São considerados comunidades quilombolas ou remanescentes de quilombo-</p><p>las os grupos étnicos rurais e urbanos predominantemente constituídos de ne-</p><p>gros descendentes de africanos escravizados e seus descendentes, que se auto-</p><p>definem quilombolas por estabelecerem relações específicas com o território em</p><p>que vivem, relações de parentesco com os demais membros da comunidade e</p><p>apresentarem práticas culturais próprias, relacionadas à ancestralidade e às tra-</p><p>dições culturais africanas.</p><p>O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) é o órgão estatal</p><p>responsável pela titulação dos territórios quilombolas e estima que haja atual-</p><p>mente mais de 3 mil comunidades quilombolas no Brasil. A demarcação das Ter-</p><p>ras Quilombolas também foi definida pela Constituição de 1988.</p><p>Art. 68: Aos remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupan-</p><p>do suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes</p><p>os títulos respectivos.</p><p>Brasil. Artigo 68 da Constituição de 1988. Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/</p><p>const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_68_.asp. Acesso em: 20 abr. 2020.</p><p>As terras em que vivem essas comunidades, assim como os territórios indíge-</p><p>nas, são protegidas por lei, com o intuito de garantir aos quilombolas sua repro-</p><p>dução física, social, econômica e cultural.</p><p>A demarcação desses territórios é entendida como parte de uma reparação</p><p>histórica pelos danos causados pelo passado escravista brasileiro e tem o intuito</p><p>de reconhecer e tornar possível a dignidade e a continuidade do modo de vida</p><p>desses grupos étnicos. No entanto, assim como no caso de outros povos tradicio-</p><p>nais, há ainda impasses na oficialização e no apoio à manutenção de muitas Ter-</p><p>ras Quilombolas no Brasil. Veja, no mapa abaixo, os territórios quilombolas de-</p><p>marcados no Brasil até 2016.</p><p>Fonte de pesquisa: Comissão Pró-índio</p><p>de São Paulo, 2016. Disponível em: http://</p><p>cpisp.org.br/publicacao/mapa-terras-</p><p>quilombolas-tituladas-e-em-processo-</p><p>no-incra-2016/. Acesso em: 25 abr. 2020.</p><p>TERRAS QUILOMBOLAS: TITULADAS E EM PROCESSO (2016)</p><p>Quilombolas durante apresentação de</p><p>jongo no Quilombo Boa Esperança, em</p><p>Presidente Kennedy (ES). Foto de 2019.</p><p>PARA EXPLORAR</p><p>» Saravá jongueiro novo. Dire-</p><p>ção: Luciano Santos Dayrell.</p><p>Brasil, 2012 (20 min).</p><p>Conheça mais aspectos da co-</p><p>munidade de remanescentes</p><p>quilombolas São José da Ser-</p><p>ra, em Valença (RJ), por meio</p><p>do documentário disponível</p><p>em: https://curtadoc.tv/curta/</p><p>comportamento/sarava-</p><p>jongueiro-novo/. Acesso em:</p><p>21 abr. 2020.</p><p>C</p><p>hi</p><p>co</p><p>F</p><p>er</p><p>re</p><p>ira</p><p>/P</p><p>ul</p><p>sa</p><p>r</p><p>Im</p><p>ag</p><p>en</p><p>s</p><p>AM</p><p>AC</p><p>PA</p><p>MT</p><p>MA</p><p>PI</p><p>CE RN</p><p>PB</p><p>PE</p><p>AL</p><p>SE</p><p>BA</p><p>GO</p><p>MG</p><p>SP</p><p>PR</p><p>ES</p><p>RJ</p><p>SC</p><p>RS</p><p>RR</p><p>AP</p><p>RO</p><p>MS</p><p>TO</p><p>DF</p><p>3</p><p>2 4</p><p>73</p><p>66 63</p><p>3</p><p>31</p><p>57</p><p>399</p><p>5 61</p><p>32</p><p>2</p><p>2</p><p>1</p><p>4</p><p>20</p><p>29</p><p>90</p><p>17</p><p>3020 293</p><p>228</p><p>27</p><p>1</p><p>3</p><p>18</p><p>6 50</p><p>18</p><p>24</p><p>3</p><p>1</p><p>1</p><p>4</p><p>38</p><p>17</p><p>94</p><p>33</p><p>OCEANO</p><p>ATLÂNTICO</p><p>40ºO60ºO</p><p>0ºEquador</p><p>Trópico de Capricórnio</p><p>20ºS</p><p>OCEANO</p><p>PACÍFICO</p><p>0 465 km</p><p>Terras Quilombolas em processo</p><p>Terras Quilombolas tituladas</p><p>Terras</p><p>Quilombolas</p><p>em processo</p><p>1 692 Terras</p><p>Quilombolas</p><p>tituladas</p><p>181</p><p>Jo</p><p>ão</p><p>M</p><p>ig</p><p>ue</p><p>l A</p><p>. M</p><p>or</p><p>ei</p><p>ra</p><p>/ID</p><p>/B</p><p>R</p><p>73Não escreva no livro.</p><p>Reconhecimento e acesso à cidadania</p><p>O pressuposto constitucional que trata das comunidades tradicionais ba-</p><p>seia-se na ideia de que esses grupos sociais se autointitulam e devem ser va-</p><p>lorizados e reconhecidos pela importância de suas culturas tradicionais para</p><p>a formação cultural do Brasil. Esse fundamento foi definido após décadas de</p><p>debates entre pesquisadores de diversas áreas do saber, como o direito, a his-</p><p>tória e a antropologia, e as próprias populações tradicionais, com o intuito de</p><p>legalizar o reconhecimento desses povos e garantir a aplicação concreta das</p><p>leis de acesso à terra.</p><p>O reconhecimento do direito das populações tradicionais à terra relaciona-se</p><p>com o entendimento de toda a população a respeito da importância da preserva-</p><p>ção de suas culturas. A garantia do acesso à terra, desde a promulgação da Cons-</p><p>tituição, até hoje, está ligada a um forte processo de autorreconhecimento iden-</p><p>titário, bem como de preservação e de luta dos povos tradicionais do Brasil. Veja</p><p>um exemplo a seguir.</p><p>Quando um povo se reconhece como tradicional?</p><p>Existentes há séculos, os povos tradicio-</p><p>nais do país são frutos da antiga miscige-</p><p>nação de indígenas, negros e europeus que</p><p>formam o povo brasileiro. A formação de</p><p>cada um deles se desenhou de acordo com</p><p>o contexto histórico e geográfico em que</p><p>viviam.</p><p>Por muito tempo, o reconhecimento da</p><p>identidade como comunidade tradicional</p><p>não foi uma questão para esses povos. Se-</p><p>gundo a antropóloga Katia Favilla,</p><p>com o</p><p>avanço das fronteiras agrícolas, criação de</p><p>hidrelétricas, rodovias ou projetos de mine-</p><p>ração, passou a existir no país uma corrida</p><p>por reconhecimento. A lógica era a da mais</p><p>pura sobrevivência.</p><p>“A partir do momento em que eles se sen-</p><p>tem ameaçados na sua forma de existência,</p><p>eles falam para o mundo, ‘olha, a gente está</p><p>aqui, a gente existe’”, explica ela […].</p><p>O precursor dessa busca por reconhecimento foi o seringueiro e ambientalista</p><p>Chico Mendes, morto a tiros em 1988, no Acre. A partir dele, o Estado começa a per-</p><p>ceber que povos tradicionais não são apenas indígenas e quilombolas, mas também</p><p>diversas comunidades que dependem diretamente da preservação do meio ambien-</p><p>te para sobreviverem.</p><p>As reivindicações dos seringueiros resultaram na criação das Reservas Extrati-</p><p>vistas e influenciaram a formação do Sistema Nacional de Unidades de Conserva-</p><p>ção, que, além de prever as áreas de Proteção Integral (sem presença de humanos),</p><p>criou também as de Uso Sustentável. “O Estado reconheceu que existe a possibili-</p><p>dade de uma Unidade de Conservação com pessoas morando dentro e preservando,</p><p>porque eles sempre conservaram”, disse Favilla.</p><p>650 mil famílias se declaram “povos tradicionais” no Brasil; conheça os kalungas,</p><p>do maior quilombo do país. O Globo, 29 out. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/</p><p>natureza/desafio-natureza/noticia/2019/10/29/650-mil-familias-se-declaram-povos-</p><p>tradicionais-no-brasil-conheca-os-kalungas-do-maior-quilombo-do-pais.ghtml.</p><p>Acesso em: 22 abr. 2020.</p><p>Os Kalunga são um dos povos que</p><p>se autointitulam quilombolas. Eles</p><p>vivem no estado de Goiás há cerca de</p><p>300 anos, criando gado, produzindo</p><p>arroz, feijão, milho, mandioca, farinha</p><p>e extraindo produtos da</p><p>biodiversidade. Apesar de viverem há</p><p>muitos anos no mesmo local, imagens</p><p>de satélite da região mostram a</p><p>integridade da natureza, apontando</p><p>para o baixo impacto de suas</p><p>atividades e para a importância dessa</p><p>comunidade para a preservação</p><p>ambiental. Na foto, quilombola</p><p>produzindo farinha no tipiti na</p><p>comunidade kalunga de Sucuri, em</p><p>Monte Alegre de Goiás (GO), 2018.</p><p>A</p><p>nd</p><p>re</p><p>D</p><p>ib</p><p>/P</p><p>ul</p><p>sa</p><p>r</p><p>Im</p><p>ag</p><p>en</p><p>s</p><p>74 Não escreva no livro.</p><p>ATIVIDADES</p><p>a) Você já ouviu falar de situações parecidas à men-</p><p>cionada no texto vivenciadas por outras popula-</p><p>ções tradicionais? Se sim, cite-as.</p><p>b) Explique a relação entre as dificuldades na de-</p><p>marcação de terras protegidas e a apropriação</p><p>desses territórios pelas empreiteiras.</p><p>c) Considerando os temas estudados nos capítulos</p><p>anteriores, responda: Qual é a relação entre o</p><p>racismo estrutural e o ataque às comunidades</p><p>quilombolas?</p><p>5 (Enem)</p><p>1 Retome os gráficos sobre as populações tradicionais</p><p>no Brasil, nas páginas 69 e 73, para responder às</p><p>questões.</p><p>a) Qual região do Brasil apresenta mais terras tra-</p><p>dicionais demarcadas por lei?</p><p>b) Explique os fatores relacionados à diferença en-</p><p>tre o número de comunidades demarcadas em</p><p>cada região.</p><p>2 Retome as informações dos mapas da página 71 para</p><p>relacionar o avanço de atividades econômicas nas</p><p>regiões destacadas com os conflitos que envolvem</p><p>os povos tradicionais, em especial os indígenas.</p><p>3 Pesquise se há comunidades quilombolas na região</p><p>em que você vive. Caso exista, descubra a situação</p><p>dessas comunidades atualmente. Em uma data</p><p>combinada, apresente os resultados da sua pesqui-</p><p>sa para a turma.</p><p>4 Leia o texto a seguir, que aborda uma ameaça às</p><p>terras e às lideranças quilombolas em diversas regiões</p><p>do Brasil. Depois, responda às questões propostas.</p><p>Comunidades quilombolas tentam</p><p>resistir ao avanço de grandes</p><p>empreiteiras</p><p>Descendentes de escravos têm direitos limitados</p><p>por empresas que compraram as terras anteriormen-</p><p>te. Alguns casos parecem irregulares.</p><p>As palavras “quilombo” e “quilombola” hoje estão</p><p>associadas a um povo que teria desaparecido com o</p><p>fim da escravidão. O que hoje se chama de “comuni-</p><p>dade remanescente de quilombo” são agrupamentos</p><p>que herdaram as principais características desses es-</p><p>paços, formados por netos e bisnetos de escravos. E,</p><p>se no tempo de colônia os quilombolas enfrentavam</p><p>senhores de engenho, escravocratas e seus caçadores</p><p>de aluguel, hoje os inimigos são as grandes corpora-</p><p>ções da construção civil, que esbarram em proteção</p><p>legal ao tentar construir condomínios e resorts em</p><p>áreas tituladas – e, portanto, protegidas pelo Decreto</p><p>4 887/2003.</p><p>A relação conturbada das lideranças quilombolas</p><p>com os interesses imobiliários já rendeu episódios que</p><p>extrapolaram a disputa judicial, escalando para amea-</p><p>ças, agressões e até homicídios. […]</p><p>O ano de 2017 foi o mais violento da última déca-</p><p>da, com 113 ocorrências. Foram 29 casos de ameaça</p><p>ou perseguição, seguidos por 22 ocorrências de perda</p><p>ou possibilidade de perda de território por invasão e,</p><p>finalmente, 18 assassinatos consumados. Num corte</p><p>de dez anos, o número assusta ainda mais: entre o</p><p>início de 2008 e o fim 2017, 32 homens e seis mulhe-</p><p>res foram assassinados. A Região Nordeste foi a mais</p><p>recorrente, com 49% dos casos. Bahia e Pará foram os</p><p>estados mais violentos, seguidos por Minas Gerais,</p><p>Rio de Janeiro e Piauí. […]</p><p>Comunidades quilombolas tentam resistir ao avanço de</p><p>grandes empreiteiras. Época, 21 abr. 2019. Disponível em:</p><p>https://epoca.globo.com/comunidades-quilombolas-</p><p>tentam-resistir-ao-avanco-de-grandes-</p><p>empreiteiras-23613697. Acesso em: 25 abr. 2020.</p><p>Coube aos Xavante e aos Timbira, povos indígenas</p><p>do Cerrado, um recente e marcante gesto simbólico:</p><p>a realização de sua tradicional corrida de toras (de</p><p>buriti) em plena Avenida Paulista (SP), para denunciar</p><p>o cerco de suas terras e a degradação de seus entor-</p><p>nos pelo avanço do agronegócio.</p><p>ricardo, B.; ricardo, F. Povos indígenas do Brasil:</p><p>2001-2005. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2006</p><p>(adaptado).</p><p>A questão indígena contemporânea no Brasil eviden-</p><p>cia a relação dos usos socioculturais da terra com os</p><p>atuais problemas socioambientais, caracterizados</p><p>pelas tensões entre:</p><p>a) a expansão territorial do agronegócio, em especial</p><p>nas regiões Centro-Oeste e Norte, e as leis de</p><p>proteção indígena e ambiental.</p><p>b) os grileiros articuladores do agronegócio e os</p><p>povos indígenas pouco organizados no Cerrado.</p><p>c) as leis mais brandas sobre o uso tradicional do</p><p>meio ambiente e as severas leis sobre o uso ca-</p><p>pitalista do meio ambiente.</p><p>d) os povos indígenas do Cerrado e os polos eco-</p><p>nômicos representados pelas elites industriais</p><p>paulistas.</p><p>e) o campo e a cidade no Cerrado, que faz com que</p><p>as terras indígenas dali sejam alvo de invasões</p><p>urbanas.</p><p>75Não escreva no livro.</p><p>.</p>