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<p>ARTE E LITERATURA</p><p>A REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE NA PRODUÇÃO ARTÍSTICA E LITERÁRIA</p><p>O ser humano, ao exceder os domínios de si mesmo, alcançou a plenitude motivado por sua capacidade de sensibilidade, o que nos leva à transcendência e, também, à aproximação com a arte. É ela que nos possibilita exceder os limites da natureza física das coisas, fazendo-nos transcender, isto é, voltando à letra da canção, é algo que nos faz ir além de desejar apenas “comida”.</p><p>Após milhares de anos (e de movimentos de rotação e de translação da Terra), o ser humano encontrou-se em um grande momento de sua história, quando, na Grécia – o berço da humanidade –, ele começou a dar seus primeiros passos rumo ao que, hoje, representa o atual estágio de nosso desenvolvimento.</p><p>Nestes tempos em que a internet possibilita a abertura de portas nunca antes descerradas, dando-nos a visão de uma vida que, digitalmente, ocupa grande parte de nosso tempo, mas que nos leva bem mais longe do que estávamos no início, lá, quando Sócrates, Platão, Aristóteles e tantos outros antes deles, começaram a, aliados a outras mentes que buscavam escapar aos limites daqueles tempos, traçar os elementos que nomearam coisas que, até então, estavam à espera de gente como eles, capazes de sistematizar e de orientar o que era a inteligência humana até aquele momento e, dali em diante, o que seria abordado ao menos até aqui. Não é incrível que, mais de dois mil anos depois, Sócrates, Platão e Aristóteles ainda mantêm acesa a chama do pensamento deles em nós? Na base desse terreno, semeado por eles e por outros ao longo de dois milênios, está o conceito de mimese, elemento-chave para esta unidade.</p><p>Mimese</p><p>“No livro III, e sobretudo no X, da República, o filósofo [Platão] expõe suas observações acerca da matéria: partindo da ideia de que há um “modelo no céu”, ou seja, que o real é o ideal, considera os três graus da realidade, a criada por Deus, a do artífice e a do artista. E tomando o exemplo da cama, aponta a cama, “que existe na natureza das coisas e da qual podemos afirmar, penso, que Deus é o autor”, a segunda cama, que “é a do marceneiro”, “e a terceira, a do pintor”. Deus é o “criador natural deste objeto”, ao passo que o marceneiro é o artífice, e o pintor, o imitador. [...] o “imitador [seria] o autor de uma produção afastada de três graus da natureza”.</p><p>Veja que, para Platão, a perfeição, isto é, o mundo da ideias, reside fora do plano material em que nossa existência ocorre; para ele, nesse além-mundo, as ideias encontram-se em afinidade com um mundo onde Deus está no comando, dirigindo e exercendo seu domínio sobre a nossa realidade material. Ele, Deus, é o demiurgo, aquele que está na concepção do que é, fisicamente, o mundo, e essa proposta aponta para uma afirmação: este mundo em que vivemos é, portanto, uma imitação.</p><p>“O pintor, bem como o dramaturgo, procede a uma “imitação da aparência”, representada pela cama do marceneiro, não da realidade, que seria a cama que Deus criou. De onde Platão inferir que “a imitação” está, portanto, longe do verdadeiro, e se ela modela todos os objetos, é, segundo parece, porque toca apenas uma pequena parte de cada um, a qual não é, aliás, senão uma sombra. “</p><p>A poética, de Aristóteles</p><p>Embora o termo poética remeta diretamente à poesia, compreenda que Aristóteles desenvolve argumentos a respeito de dois dos três gêneros do período: enquanto a poesia lírica não é abordada por ele, há o desenvolvimento do que significavam, naqueles tempos, a imitação da poesia épica e da poesia dramática, somando, assim, três gêneros que desenvolvidos desde então, chegam-nos, hoje, na forma de um filme, de um romance, de uma peça teatral, de um roteiro cinematográfico, de uma série, por exemplo. Inclusive, “fábula”, nas palavras de Aristóteles, anteriormente, nada mais era do que o enredo: repare, no excerto anterior, que ele liga fábula à composição do poema, em busca da perfeição.</p><p>“Da mesma maneira como alguns imitam muitas coisas, expressando-se por traços e por cores (perla arte ou pela prática), assim também acontece nas citadas artes; todas realizam a imitação pelo ritmo, pela linguagem e pela melodia, de modo separado ou combinado. Da melodia e do ritmo valem-se a aulética [arte de tocar flauta] e a citarística [arte de tocar a cítara], além de outras, semelhantes, como a siríngica [arte do cantor, quando acompanhado pela cítara]; já a dança se utiliza somente do ritmo, porque os bailarinos, com seus movimentos ritmados, imitam caracteres, emoções e ações.”</p><p>Para o autor da Poética, a mimese é vista como imitação do que existe, em um sentido em que é possível a representação de algo: se, para Platão, a verdade e a realidade estão, figurativamente, em outro mundo, isto é, no mundo das ideias, para Aristóteles, elas estão no mundo concreto e, por meio das ações humanas, podem ser imitadas via realidade. Essa representação, diferente do que Platão defendia, não é uma cópia distorcida do mundo ideal, mas uma ação humana que permite o reconhecimento dessa realidade. São visões distintas. Para Platão, a falsificação e a distorção dão sentido à mimese; para Aristóteles, ela permite que ações anteriormente utilizadas venham a ser imitadas, repetindo-se em obras de arte que se encontram na pintura, na poesia, na escultura etc. Mesmo assim, para Aristóteles, ela é uma cópia distinta da realidade.</p><p>O gênero dramático encontra-se na comédia, que, para Aristóteles, era a imitação provinda de um caráter inferior e, na tragédia, que, ao contrário, respalda-se na imitação de um caráter elevado, ou seja, traz a imitação de ações de grandes pessoas. Édipo Rei, de Sófocles, é, para o filósofo, o modelo a ser imitado por outros poetas trágicos por ser um exemplo de como as peripécias e o reconhecimento enriquecem a fábula representada. Não deixe de ler, em algum momento de sua vida, caro aluno, essa peça excepcional que, até hoje, é representada em adaptações para o palco, para a TV etc.</p><p>Já o gênero épico é aquele em que o verso heroico é utilizado a fim de expandir as ações admiráveis de personagens que, em eventos episódicos, elevam a natureza humana a dimensões grandiosas, fazendo valer o significado do termo herói, ou seja, aquele capaz de agir com ações que estão acima das ações que as pessoas têm.</p><p>Conceito de imitação segundo Whinckelmann</p><p>De um período tão longínquo, anterior a Cristo, até o século XVIII, muito tempo se passou. Entretanto, entre esses dois momentos, houve a Idade Média e, nesse período, não ocorreram tantos avanços assim. Entretanto, eles existiram. O que deve nos preocupar é, justamente, o que aconteceu entre a “imitação” exercida pelos gregos e a forma como a arte passou a ser concebida no período posterior ao fim da Idade Média, quando o Renascimento dos séculos XV e XVI e o posterior Classicismo (ou Neoclassicismo) vieram evocar a representação que a arte compreende, bem como a apreciação que decorre dela. É por isso que o nome, atualmente, não tão conhecido de Whinckelmann é importante. Comment by Yurah J.: O Renascimento seguiu uma perspectiva antropocêntrica, tendo o homem como centro do Universo e medida de todas as coisas. Renascimento foi o período da história europeia em que houve a retomada de temas, ideais e técnicas utilizadas durante a Antiguidade greco-romana, nos campos da arte, da ciência e da filosofia .</p><p>O Renascimento foi um movimento cultural, econômico e político, surgido na Itália no século XIV e se estendeu até o século XVII por toda a Europa. Inspirado nos valores da Antiguidade Clássica e gerado pelas modificações econômicas, o Renascimento reformulou a vida medieval e deu início à Idade Moderna. Comment by Yurah J.: Classicismo é o nome atribuído à literatura que foi produzida no contexto de vigência do Renascimento, amplo movimento artístico, cultural e científico que ocorreu no século XVI, inspirado na cultura clássica greco-latina. Comment by Yurah J.: Na literatura, o movimento que se alinhou aos ideais neoclassicistas é chamado de Arcadismo. Esse estilo literário, também</p><p>seu refrão acompanhado aos berros por uma parte do público; a outra parte latia, guinchava, miava...”, afirma Oliveira. “Ao primeiro latido, Ronald retrucou: ‘Há um cachorro na sala, mas não está do lado de cá’” (OLIVEIRA, 2007, p. 277).</p><p>O terceiro e último dia ocorreu na sexta-feira, 17 de fevereiro de 1922.</p><p>Foi o mais pacífico de todos, talvez porque o público não comparecera integralmente, deixando metade do teatro vazio. Houve um recital de Villa-Lobos, e a plateia não o perdoou, visto que se apresentou com um sapato, em um pé, e com um chinelo, no outro. O maestro tinha um calo, o que deixou inchado seu pé. “O público não gostou de sua atitude ‘futurista’ e houve até um espectador da primeira fila que abriu um guarda-chuva preto em sinal de protesto ao figurino do regente”, afirma Oliveira (2007, p. 278).</p><p>Por fim, naquela sexta, fechando o evento, foi apresentado ao público o compromisso dos artistas com a arte moderna, interligando-a ao contexto sócio-histórico-cultural brasileiro (OLIVEIRA, 2007, p. 278):</p><p>O direito à pesquisa estética, além da atualização da arte nacional e da estabilidade da consciência artística brasileira.</p><p>A reação contra a cultura helênica, como defendida e exaltada por Coelho Neto, importante intelectual do período, mas pouco lido ultimamente.</p><p>A revolta contra o que em Rui Barbosa era tido como um purismo exacerbado, bem como o apelo contra o academicismo geral.</p><p>A substituição do “pieguismo literário”, metrificado e sentimental, pela coloquialidade da linguagem expressiva e livre, bem como pela “valorização da realidade nacional” e pela “exaltação da psique moderna”.</p><p>A INTERDISCIPLINARIDADE E O ENSINO DE ARTE E DE LITERATURA</p><p>Como notou Chklovski em seu ensaio, em arte, não podemos deixar o piloto automático ligado o tempo todo, pois uma espécie de desautomatização mostra-se necessária em horas em que estamos diante de uma obra de arte.</p><p>“E eis que para devolver a sensação de vida, para sentir os objetos, para provar que pedra é pedra, existe o que se chama arte”, afirma o autor. “O objetivo da arte é dar a sensação do objeto como visão e não como reconhecimento”, complementa (CHKLOVSKI, 2021, p. 45).</p><p>A METODOLOGIA TRIANGULAR NO ENSINO DE ARTE E DE LITERATURA</p><p>Nesta segunda seção de Arte e Literatura, abordaremos, inicialmente, o trabalho de uma célebre educadora brasileira, que se tornou a primeira professora no Brasil a obter um Doutorado em Arte-educação, em 1977, e dela nos ocuparemos de sua Abordagem Triangular. (Anna Mae Barbosa)</p><p>E o que diferencia essa abordagem de outras?</p><p>A triangulação dá-se por meio de uma abordagem pós-moderna, fruto do que houve no Brasil com base no que o modernismo ofereceu às artes de um modo geral.</p><p>Mas, na contramão dessa abordagem modernista, a abordagem pós-moderna, proposta pela triangulação nascida dessa perspectiva ligada, inicialmente, à Metodologia Triangular, era a de um aprofundamento teórico e prático capaz de aprimorar o trabalho dos arte-educadores brasileiros.</p><p>Para isso, o foco recaiu sobre a leitura que podemos fazer da obra de arte, bem como de sua contextualização e de seu fazer artístico.</p><p>Assim, veja como podemos entender melhor, por exemplo, a forma expressa pela contextualização:</p><p>A contextualização proposta pode ser histórica, antropológica, psicológica, social, cultural. Não há uma limitação. Por exemplo: diante de uma obra elaborada por Leonardo da Vinci, faz-se necessário saber em que momento histórico aquela obra foi criada e quais aspectos políticos, sociais e culturais influenciaram a composição da obra; não podemos ler essa determinada obra pensando nos aspectos políticos, sociais, culturais e educacionais da nossa época apenas. É preciso contextualizar!</p><p>ASSIMILE</p><p>Você sabe o que são polivalência, integração concêntrica e integração alocêntrica? Veja o que afirmam Sidiney Peterson Ferreira de Lima e Camila Serino Lia:</p><p>No ensino de artes no Brasil, Ana Mae Barbosa identificou, em 1984, três tipos de propostas metodológicas, aqui revisitadas, pois podem ser encontradas como práticas atuais: polivalência, integração concêntrica e integração alocêntrica ou interdisciplinaridade. Polivalência: síntese das artes que, tentada há décadas no sistema educacional para todos os níveis de educação, tem se mostrado impossível, produzindo um ensino inócuo, uma educação estética descartável, um fazer artístico pouco sólido e um apreciador de arte despreparado; integração concêntrica: que em geral é confundida com a polivalência, mas nesta proposta metodológica o professor usa uma determinada linguagem artística em função de outra, esta linha de trabalho deve ser incentivada na escola, mas sem prejuízo da integração alocêntrica ou interdisciplinaridade, que é a exploração dos princípios organizadores e da gramática articuladora da obra de arte na música, na expressão corporal, nas artes visuais e no teatro, separadamente, levando, entretanto, o aluno a perceber o que há de similar e de diferente entre as linguagens artísticas (BARBOSA, 1984, p. 88). Interdisciplinaridade não é categoria de conhecimento, mas de ação (FAZENDA, 2003, p. 75). Uma atitude interdisciplinar nos permite conhecer mais e melhor. Atitude interdisciplinar é de desafio, de perplexidade, atitude de envolvimento e comprometimento, de responsabilidade de encontro e de vida. (LIMA; LIA, 2017, p. 96-97)</p><p>Sistematizada por Ana Mae Barbosa, a Proposta ou Abordagem Triangular está voltada para um ensino baseado em três eixos norteadores: a Leitura, a Contextualização e o Fazer Artístico; no qual ressalta a importância do aluno compreender e fazer essa leitura de imagens.</p><p>TDICS NO ENSINO DE ARTE E LITERATURA</p><p>Nas palmas de nossas mãos, cabem smartphones, tablets e outros apetrechos modernos que permitem a agilidade de leitura, e a informação chega sincrônica, rápida, muitas vezes, como no caso das fake news, sem veracidade, de forma desonesta, mas o fato é que, em nenhum outro momento da humanidade, tivemos acesso à leitura das mais diversas obras, nos mais diversos formatos, modos e modalidades. Somos multimídia e, diante de um cenário tão promissor, a educação, a escola, os pais, os professores, os alunos, os gestores, enfim, todos estão cada vez mais rompendo paradigmas e restrições que, há pouco tempo, eram incontestáveis. Hoje, não mais.</p><p>Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.</p><p>(BNCC, 2018, p. 9)</p><p>Essa competência é importante, porque, como você pode perceber, ela não faz das TDICs apenas um meio, um suporte, mas um fim em si mesmo, isto é, uma finalidade em que a informação e o conhecimento estejam ao alcance dos alunos “para que construam conhecimentos com e sobre o uso dessas TDICs” (BNCC, 2018, [s. p.]).</p><p>O uso das TDICs, nesses casos, amplia-se, pois elas deixam de agir menos como suporte e mais como objetivos a serem alcançados. Isso é importante, pois a escola é um ambiente que deve saber cativar o aluno para que ela possa aprender a cultivar a reflexão, a tolerância, a responsabilidade, entre outras virtudes que podem ocorrer com as TDICs.</p><p>image1.jpeg</p><p>conhecido por Setecentismo ou Neoclassicismo, seguiu os mesmos padrões estéticos da época, valorizando a simplicidade e clareza, e se opondo à linguagem rebuscada e prolixa do Barroco</p><p>Convenção realista</p><p>O realismo, nas artes e na literatura, surgiu como um movimento de reação à idealização e à subjetividade românticas. Para os artistas da segunda metade do século XIX, na Europa, uma reação contra a arte romântica fazia-se necessária e foi o que aconteceu.</p><p>O período vivido por Winckelmann representa a fase em que o ser humano viveu em eterno conflito consigo mesmo. É o barroco, período regido tanto pela arte sacra, vinculada ao papel cerceador da Igreja, como pela postura em que a forma e o conteúdo obedecerão a um critério em que riqueza de detalhes, pormenores e outros elementos existirão, contrastando com a simplicidade clássica e o equilíbrio que os gregos buscaram na Antiguidade. Porém, o período seguinte já coloca o ser humano em contato novamente com a arte clássica, de modo que o século XVIII será marcado pela ilustração, pela clareza, pela simplicidade, pela razão. Não por acaso, é o período conhecido como Século das Luzes. Nas artes, ele é conhecido como neoclassicismo ou, como ficou conhecido no Brasil, arcadismo. A simplicidade dos autores árcades é uma resposta à complexidade anterior, do período barroco. Com os árcades, a poesia, por exemplo, retorna ao clima bucólico, pastoril, voltado para a natureza. É nela que o ser humano vai encontrar o equilíbrio que o neoclassicismo oferece.</p><p>Superada essa fase, o momento seguinte é o chamado romantismo, escola que, pela primeira vez, marca uma nova postura no que diz respeito à arte. “O romantismo, como todos já ouviram dizer, foi uma revolta do indivíduo”, afirma o crítico norte-americano Edmund Wilson (1895-1972). “O ‘classicismo’, contra o qual ele representava uma reação, significava, no domínio da política e da moral, uma preocupação com a sociedade em conjunto, e, em arte, um ideal de objetividade” (WILSON, 2004, p. 28).</p><p>De forma bem simples, é possível usar os termos subjetividade (referente ao romantismo) e objetividade (referente ao classicismo ou ao neoclassicismo – ou arcadismo) em relação a esses períodos. Eles distinguem o que, em essência, revela-se fundamental nessas escolas: a forma como o mundo exterior é abordado pelo artista.</p><p>“Racine, Molière, Congreve e Swift pedem-nos que nos interessemos pelo que fizeram; Chateaubriand, Musset, Byron e Wordsworth, entretanto, pedem-nos que nos interessemos por eles próprios. E pedem que nos interessemos por eles próprios em virtude do valor intrínseco do indivíduo: defendem os direitos do indivíduo contra as pretensões da sociedade em conjunto – contra governo, moralidade, convenções, academia ou igreja. O romântico é quase sempre um rebelde.”</p><p>Após o exposto, podemos pensar em convenções realistas, porque essa reação foi de encontro à estagnação romântica, com sua “pintura idealista e imaginativa, não raro feita de memória”, como afirma Massaud Moisés (1999, p. 427). A reação começou entre 1850 e 1855 quando Gustave Courbet expôs O enterro em Ornans e As banhistas, obras realistas que se opunham à subjetividade anterior e que foram acusadas de obscenas justamente por apresentar “os costumes, as ideias, o aspecto de sua época”. Para o pintor, “o culto do realismo é a negação do ideal” (COUBERT apud MOISÉS, 1999, p. 428). Assim, já conseguimos vislumbrar o impacto que o “real” legou à arte.</p><p>[...] o vocábulo [realismo] designa toda tendência estética centrada no “real”, entendido como a soma dos objetos e seres que compõem o mundo concreto. Nesse caso, é possível entrever a existência de escritores realistas desde sempre. Trata-se, porém, de atitude literária [...] encontradiça lado a lado com tantas outras, em qualquer século ou literatura; o próprio conceito aristotélico de mimese semelha apontar para a universalidade do realismo em arte.</p><p>Repare como a mimese, após todos esses séculos, mantém-se pertinente àqueles autores. Mais próxima ou mais afastada do artista, a “imitação” da realidade fazia parte da rotina daquele período em que o objeto representado tomava feições próximas da realidade, exercendo sobre o artista o caminho pelo qual ele atuaria. Essa postura acaba por se impor definitivamente com Madame Bovary, romance de Gustave Flaubert, publicado em 1857, que faz a estética realista alastrar-se pelo continente europeu (no Brasil, o realismo só viria a acontecer em 1881, com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis).</p><p>Algo que fez o realismo emergir como estética dominante, na segunda metade do século XIX, foi o surgimento de correntes críticas que injetaram teorias científicas no que, antes, havia apenas o misticismo e o universo das lendas românticas, para as quais os autores se voltaram. Na Europa, correntes como darwinismo, evolucionismo, positivismo, marxismo e outros “ismos” mostraram que o romantismo não tinha mais razão de existir e, com isso, voltaram-se agressivamente contra ele. Foi o início de uma estética cujo mérito estava na análise objetiva do mundo, em oposição à subjetividade que o artista romântico defendia à exaustão. O sentimento é substituído pela razão da mesma forma que o “egocentrismo romântico” é abandonado em virtude do “universalismo científico e filosófico”; contra o culto do “eu”, vem a defesa do “não eu”, que ingressa em uma realidade cada vez mais concreta. Comment by Yurah J.: O darwinismo baseia-se na ideia de que os organismos mudam ao longo do tempo e que o meio, por ação da seleção natural, seleciona os organismos mais adaptados, os quais apresentam maior chance de deixar descendentes. Comment by Yurah J.: A teoria evolucionista de Darwin pode ser descrita da seguinte forma: as espécies de seres vivos se transformam ao longo dos tempos, pois sofrem seleção natural, que prioriza os seres mais adaptados ao ambiente em que vivem, devido a suas características serem adequadas ao meio onde vivem. Comment by Yurah J.: O Positivismo é uma corrente de pensamento filosófico que surgiu na Europa, mais precisamente na França, entre os séculos XIX e XX. Desenvolvida pelo pensador Auguste Comte, defendia que o conhecimento científico era a única forma de conhecimento válido. Comment by Yurah J.: O marxismo, na sua forma pura, defende que deve haver uma revolução pela qual a classe operária toma para si os meios de produção e o governo, suprimindo a burguesia e os seus meios de hegemonia e manutenção do poder, que constituem os conjuntos chamados infraestrutura e superestrutura. Comment by Yurah J.: O romantismo é um estilo de época marcado pela subjetividade. Assim, as obras românticas apresentam fortes emoções e sentimentalismo exagerado. Isso é feito por meio de adjetivação excessiva e uso intenso de exclamações. Seus autores valorizam a liberdade e expressam sentimento nacionalista.</p><p>Por fim, não podemos nos esquecer da importância que o pensamento de Hippolyte Taine também teve no período. Para ele, a arte estaria submissa a três fatores: herança, ambiente e circunstâncias, ou seja, o ser humano era submetido às “mesmas leis que” governavam “o Universo físico” (MOISÉS, 2004, p. 429). A arte desinteressada, romântica, dava lugar, assim, à arte engajada, comprometida com a ciência que é capaz de analisar a natureza humana sob a lente de um microscópio, como se a arte, naquele momento, pudesse transformar a vida em uma obra criada em um imenso laboratório em que o cientista, na verdade, nada mais era do que um artista.</p><p>A REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE NA PRODUÇÃO ARTÍSTICA E LITERÁRIA</p><p>Vamos nos voltar a artistas que buscaram novas formas de representação da realidade, contribuindo, assim, para um passo decisivo na história da arte e da literatura. Juntos, vamos seguir em busca do pensamento inovador e experimental dos artistas que forjaram novas maneiras de fazer arte.</p><p>Atento às transformações que ocorriam na sociedade europeia do século XIX, o escritor português Eça de Queirós publicou A cidade e as serras (1901). A obra</p><p>é sintomática no que concerne ao choque entre civilização e tradição, que, desde o título, oferece um contraste entre dois lugares os quais, ao longo da história da humanidade, vêm ganhando contornos diferentes entre si.</p><p>Correspondendo cada um ao espaço onde formas inusitadas de se viver ocorrerão, a “cidade” alcança um estágio que a coloca como centro da vida industrial, moderna, científica, onde experimentos vão ao encontro do que a civilização tem a oferecer de melhor a quem se interessa por ela: por que selar uma carta com os próprios lábios se uma máquina pode fazer isso? Esse é só um exemplo da comodidade vivida por Jacinto, o “Príncipe”, forma carinhosa que José Fernandes, narrador de A cidade e as serras, usa para referir-se ao entusiasta amigo, defensor de máquinas que propiciam bem-estar e praticidade:</p><p>“Então o meu Príncipe, sucumbido, arrastou os passos até ao seu gabinete, começou a percorrer todos os aparelhos completadores e facilitadores da Vida – o seu Telégrafo, o seu Telefone, o seu Fonógrafo, o seu Radiômetro, o seu Grafofone, o seu Microfone, a sua Máquina de Escrever, a sua Máquina de Contar, a sua Imprensa Elétrica, a outra Magnética, todos os seus utensílios, todos os seus tubos, todos os seus fios... Assim um Suplicante percorre altares de onde espera socorro. E toda a sua suntuosa Mecânica se conservou rígida, reluzindo frigidamente, sem que uma roda girasse nem uma lâmina vibrasse, para entreter o seu Senhor.”</p><p>(QUEIRÓS, 2007, p. 163)</p><p>É nesse contexto que surgem as experimentações e as inovações das vanguardas históricas. Se o mundo caminhava cada vez mais célere, após abandonar a primeira metade do século XIX, era o momento de se buscar, nas artes, um novo paradigma, uma nova forma de transcender a realidade, e, para isso, desafiadoras formas de representação, por meio de experiências ligadas a inusitadas maneiras de imitação, ocorreram:</p><p>“[...] pintado em 1893 pelo norueguês Edward Munch, [O grito] rompe com a noção aristotélica de arte como mímesis, ou seja, imitação da natureza. Sem preocupações realistas, o artista parece ter pintado não uma figura humana gritando, mas o próprio grito. [...] As linhas do rosto se alongam despersonalizando o homem representado, mas seus traços denunciam angústia, desespero: boca excessivamente aberta, olhar sem foco, mãos amparando a cabeça e, ao mesmo tempo, tapando os ouvidos. O som do grito parece reverberar no cenário em que a figura humana está inserida: as linhas paralelas do chão e do apoio da ponte se afunilam para um ponto de fuga fora do quadro: atrás da cabeça, o rio corre num fluxo sinuoso; o céu ondula emocionalmente vermelho como um eco.”</p><p>Assim, vejamos, pela ordem em que ocorreram, o que cada uma das vanguardas tem a dizer. Vamos começar pelo Futurismo (1909) e, depois, seguiremos pelo Expressionismo (1910), pelo Cubismo (1913), pelo Dadaísmo (1916) e, por fim, terminaremos com o Surrealismo (1924).</p><p>Futurismo Comment by Yurah J.: São características do futurismo o antitradicionalismo e o culto à guerra e à velocidade, principalmente. Esse movimento, na Europa, foi representado por artistas como os pintores Umberto Boccioni, Carlo Carrà, Giacomo Balla, Gino Severini e Luigi Russolo.</p><p>Em 1909, Filippo Tommaso Marinetti, líder dos futuristas, assinou o Manifesto futurista, um conjunto de regras e de palavras de ordem que deixou estupefata uma audiência que, até então, nunca havia se deparado com tamanha ousadia e impertinência:</p><p>1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e do destemor.</p><p>2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.</p><p>3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.</p><p>4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.</p><p>(...)</p><p>7. Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se diante do homem.</p><p>(...)</p><p>9. Nós queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo - o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.</p><p>10. Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.</p><p>11. Nós cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos as marés multicores e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas; as estações esganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as oficinas penduradas às nuvens pelos fios contorcidos de suas fumaças; as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, faiscantes ao sol com um luzir de facas; os piróscafos [barcos a vapor] aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de largo peito, que pateiam sobre os trilhos, como enormes cavalos de aço enleados de carros; e o voo rasante dos aviões, cuja hélice freme ao vento, como uma bandeira, e parece aplaudir como uma multidão entusiasta.</p><p>Percebe a provocação que o Manifesto futurista traz? É como se ele convocasse as pessoas para um presente, naquela ocasião, totalmente direcionado para o futuro. Assim, esse manifesto celebra uma mudança de atitude que é coerente com aqueles tempos, repletos de novidades e de inovações, mas é, também, uma proposta calcada em extremismos, com os quais dificilmente todos concordariam: explodir museus? Destruir bibliotecas? Acabar com o feminismo? Glorificar a guerra?</p><p>Impossível concordar com essas e outras propostas insensatas de Marinetti. O elogio à velocidade, por sua vez, além de não se pautar na falta de bom senso do Manifesto, mais de cem anos depois é uma característica marcante dessa vanguarda, constituindo sua essência menos controversa e, provavelmente, seu aspecto mais importante, uma vez que, já à época, os trens, os carros, os aviões, etc. dinamizaram as cidades e a vida, céleres, velozes, símbolos a evocar uma experiência cuja marca imprime a urgência do século que se iniciava.</p><p>Expressionismo Comment by Yurah J.: Deformação da imagem visual e cores resplandecentes, vibrantes, fundidas ou separadas. O pintor recusa o aprendizado técnico e pinta conforme as exigências de sua sensibilidade. O pincel (ou a espátula) vai e vem, fazendo e refazendo, empastando ou provocando explosões.</p><p>Assim, o universo total do artista expressionista torna-se visão. Ele não vê, mas percebe. Ele não descreve, acumula vivências. Ele não reproduz, ele estrutura (gestaltet). (...). Agora não existe mais a cadeia dos fatos: fábricas, casas, doença, prostitutas, gritaria e fome. Agora existe a visão disso. Os fatos têm significado somente até o ponto em que a mão do artista os atravessa para agarrar o que se encontra além deles.</p><p>(TELES apud HELENA, 1986, p. 26)</p><p>Essa “mão do artista”, capaz de “agarrar o que se encontra além” dos fatos (TELES apud HELENA, 1986, p. 26), faz dos expressionistas artistas com tendência a deformar, por meio do exagero, da caricatura, o que a realidade apresenta e, por isso, essa deformação surge como força capaz de gerar a interpretação que a subjetividade do artista manifesta em relação à realidade.</p><p>Cubismo Comment by Yurah J.: e se caracteriza pela utilização de formas geométricas para retratar a natureza.</p><p>A próxima vanguarda, a qual nasce, primeiramente, na pintura, é o Cubismo. O primeiro a referir-se à arte “cubista” foi Henri Matisse após guiar-se pelas linhas geométricas de casas, de árvores e de pessoas de um</p><p>quadro de Georges Braque. Mas é Les demoiselles d’Avignon (1907), de Pablo Picasso, que vai desenvolver mais a fundo o significado dessa vanguarda. “Por volta de 1909, já existe uma vanguarda pictórica conhecida pelo nome de Cubismo”, afirma Helena (1986, p. 29). Quem acabará por redigir o manifesto cubista será Guillaume Apollinaire, que, em 1913, define suas linhas mestras. “O que principalmente chamará atenção neste manifesto”, afirma Helena, “comparado ao das vanguardas futuristas italiana e russa, é o esforço de conjugar o intento de destruição a um outro, de construção” (HELENA, 1986, p. 29).</p><p>Dadaísmo Comment by Yurah J.: A proposta dadaísta relaciona-se ao fim da estética, ou seja, à desvinculação da produção artística com aquilo que até então se entendia como arte. A proposta era a negação de todas as regras e de todas as tradições.</p><p>A próxima vanguarda, a qual nasce, primeiramente, na pintura, é o Cubismo. O primeiro a referir-se à arte “cubista” foi Henri Matisse após guiar-se pelas linhas geométricas de casas, de árvores e de pessoas de um quadro de Georges Braque. Mas é Les demoiselles d’Avignon (1907), de Pablo Picasso, que vai desenvolver mais a fundo o significado dessa vanguarda. “Por volta de 1909, já existe uma vanguarda pictórica conhecida pelo nome de Cubismo”, afirma Helena (1986, p. 29). Quem acabará por redigir o manifesto cubista será Guillaume Apollinaire, que, em 1913, define suas linhas mestras. “O que principalmente chamará atenção neste manifesto”, afirma Helena, “comparado ao das vanguardas futuristas italiana e russa, é o esforço de conjugar o intento de destruição a um outro, de construção” (HELENA, 1986, p. 29).</p><p>Surrealismo Comment by Yurah J.: Ele é caracterizado, principalmente, pela construção de imagens oníricas.</p><p>Após divergências com Tzara, André Breton, que pertencia ao grupo dadaísta, tornou-se o líder dos surrealistas, vanguarda que surgiu entre os anos de 1922 e 1923 e que apresentava, em 1924, seu manifesto:</p><p>SURREALISMO, n. m. Automatismo psíquico puro pelo qual se pretende exprimir, verbalmente ou por escrito, ou de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento. Ditado pelo pensamento, na ausência de qualquer vigilância exercida pela razão, para além de qualquer preocupação estética ou moral.</p><p>(SENA apud HELENA, 1986, p. 35)</p><p>Longe dos sentidos que a razão domina, os surrealistas apegaram-se com afinco ao que pudesse oferecer resistência contra o positivismo e o racionalismo. Defendiam Freud, o sonho, a liberdade, o experimentalismo, bem como a polêmica tão ao gosto dos futuristas</p><p>O “CAMPO EXPANDIDO”: RUPTURA DAS FRONTEIRAS ENTRE A ARTE E A LITERATURA</p><p>Até o fim do século XIX e nos primeiros anos do século XX, a arte operava em um mercado consolidado a respeito de sua produção, de sua veiculação e de sua recepção: o artista concebia um quadro, esperando que ele pudesse ser exposto em uma galeria de arte, a fim de ser apreciado por um público ávido por interpretá-lo, de acordo com a capacidade que um artista tinha de, por meio de seu estilo, representar a realidade e, além disso, contando com a cumplicidade do público na interpretação do que ele, o artista, concebeu em seu estúdio ou em seu ateliê.</p><p>Na literatura, a tríade autor, obra e público também já estava estabelecida há muito tempo. Vieram as vanguardas e uma nova concepção sobre a arte fez com que todos notassem que algo havia mudado: se antes a obra ocupava seu lugar em uma galeria ou em um museu, a partir de então um quadro, uma escultura, etc. passaram a ser apreciados em lugares onde, antes, não ocupavam espaço para essa finalidade.</p><p>Considerar o campo expandido é tratar de um tema relativo às áreas ligadas à escultura, à paisagem, à arquitetura, etc. Em cada uma delas, o pós-modernismo injeta suas marcas em obras que respondem ao que o termo apresenta. Mas, à época, ela aponta para algo que notou em primeira mão: a escultura perdia seu pedestal, isto é, seu suporte de mármore, de pedra, de ferro, etc., aspecto capaz de elevá-la como objeto figurativo ou abstrato, destacando-a ao alcance dos olhos.</p><p>A perda desse objeto comum, o pedestal, resulta na perda da referencialidade, que sempre acompanhou o objeto escultórico, ou seja, seu lugar, seu espaço tradicional: diante de prédios, em lugares públicos, na praça ou no interior de museus e de galerias, como ressaltamos anteriormente. Em outras palavras, sem o pedestal, a escultura não mais, necessariamente, está presa a um desses lugares, pois está liberta de seu marco ou de sua base, podendo ser, por si só, autorreferente.</p><p>Isso é o que gostaríamos que você levasse em consideração sobre o campo expandido, porque, compreendido como um pensamento lógico, opera-se uma expansão possível, isto é: uma “não arquitetura” é só uma outra forma de conceituar o que seria a paisagem, enquanto o que observamos como “não paisagem” pode ser visto como arquitetura, ou seja, como obra.</p><p>Em “intermidialidade”, o prefixo latino “inter”, etimologicamente, entre, isto é, “entre uma coisa e outra”, ou “ao mesmo tempo que”, “inter-relação (relação mútua)” (INTER, 2021, [s. p.]), amplia o alcance do campo semântico de “mídia”.</p><p>E o que seria mídia?</p><p>Segundo o Dicionário Online de Português (MÍDIA, 2021, [s. p.]), mídia é: o “meio através do qual as informações são divulgadas”; “os meios de comunicação”; “reunião dos veículos e meios utilizados numa campanha publicitária”; “seção da agência publicitária que faz a seleção dos meios de comunicação (rádio, televisão etc.) e aconselha a melhor programação para divulgar uma mensagem, para alcançar o público-alvo”; ou ainda “reunião do que se relaciona com comunicação”. Vale lembrar também que “comunicação” e “imprensa” são sinônimos de “mídia”.</p><p>Diariamente, empregamos esses termos para nos referirmos a mídias impressas ou digitais. Clüver, descrevendo intermidialidade, chama a atenção para os aspectos que, nesse termo, envolvem “meios físicos e/ou técnicos”, vistos como “substâncias” ou “instrumentos” ou “aparelhos utilizados na produção de um signo em qualquer mídia”: o “corpo humano”, “tinta”, “mármore”, “madeira”, “máquina fotográfica”, “computador”, “papel”, “tecidos”, “palco”, “luz”, entre outros (CLÜVER, 2007, p. 9).</p><p>Exemplificando</p><p>Conheça mais sobre o conceito de ready-made, termo que nomeia o que Marcel Duchamp concebeu no período das vanguardas. O artista se apropria de algo já existente, sem relação com o universo artístico, e, a partir desse momento, transforma-o em um objeto de arte. Conheça outros exemplos de ready-made criados por Duchamp, como a célebre Roda de bicicleta, o Porta-chapéus, Por que não espirrar, Rose Sélavy, Desmisfério rotativo, Frigo Duchamp, Wolf-table, entre outros (READY-MADE..., [s. d.]).</p><p>O ROMANTISMO: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FORMAIS</p><p>O romantismo é um movimento artístico e cultural que privilegia as emoções, a subjetividade e o individualismo.</p><p>Contrário ao objetivismo e as tradições clássicas de perfeição, ele apresenta uma visão de mundo centrada no ser humano, com destaque para as sensações humanas e a liberdade de pensamento.</p><p>O romantismo surgiu na Europa no século XVIII no contexto da revolução industrial e do iluminismo, movimento intelectual e filosófico baseado na razão. Ele durou até meados do século XIX, quando começa o realismo.</p><p>Rapidamente, esse estilo chegou a outros países, inspirando diversos campos da arte: literatura, pintura, escultura, arquitetura e música.</p><p>No Brasil, o movimento romântico começa em meados do século XIX, anos depois da independência do país (1822) com a publicação da obra Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, em 1836.</p><p>Contexto histórico</p><p>Como escola literária, as bases do sentimentalismo romântico e do escapismo pelo suicídio foram estabelecidas pelo romance "Os sofrimentos do jovem Werther", de Goethe, publicado na Alemanha em 1774.</p><p>Primeira edição da obra Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774), livro que deu início ao movimento romântico</p><p>Na Inglaterra, o Romantismo se manifesta nos primeiros anos do século XIX, com</p><p>destaque para a poesia ultrarromântica de Lord Byron e para o romance histórico Ivanhoé, de Walter Scott.</p><p>Também figuram entre as primeiras obras do início da revolução romântica na Europa os livros Manon Lescut, do árabe Prévost (1731), e a História de Tom Joses, de Henry Fielding (1749).</p><p>O romance, contudo, já era utilizado no Império Romano, cuja palavra romano era aplicada para designar as línguas usadas pelos povos sob o seu domínio. Tais idiomas eram, na verdade, uma forma popular do latim.</p><p>As composições de cunho popular e folclórico, escritas em latim vulgar, em prosa ou em verso e que relatavam fantasias e aventuras, também eram chamadas de romance.</p><p>E foi no século XVIII, que tomou o sentido atual, após passar pelas formas de "romance de cavalaria, romance sentimental, romance pastoral", na Europa. O romance pode ser considerado o sucessor da epopeia.</p><p>Principais características</p><p>Na literatura, as principais características do romantismo são:</p><p>Oposição ao modelo clássico;</p><p>Estrutura do texto em prosa, longo;</p><p>Desenvolvimento de um núcleo central;</p><p>Narrativa ampla refletindo uma sequência de tempo;</p><p>O indivíduo passa a ser o centro das atenções;</p><p>Surgimento de um público consumidor (folhetim);</p><p>Uso de versos livres e versos brancos;</p><p>Exaltação do nacionalismo, da natureza e da pátria;</p><p>Idealização da sociedade, do amor e da mulher;</p><p>Criação de um herói nacional;</p><p>Sentimentalismo e supervalorização das emoções pessoais;</p><p>Subjetivismo e egocentrismo;</p><p>Saudades da infância;</p><p>Fuga da realidade.</p><p>Oposição ao Clássico</p><p>No início, todos os movimentos em oposição ao clássico eram considerados românticos. Dessa maneira, os modelos da Antiguidade Clássica foram substituídos pelos da Idade Média, quando surgiu a burguesia.</p><p>A arte, que antes era de caráter nobre e erudita, passa a valorizar o folclórico e o nacional. Ela extrapola as barreiras impostas pela Corte e começa a ganhar a atenção do povo.</p><p>A arte romântica, ao romper as muralhas da Corte e ganhar as ruas, liberta-se das exigências dos nobres que pagavam sua produção e passa a ter um público anônimo. É o surgimento do público consumidor, impulsionado no Brasil pelo folhetim, uma literatura mais acessível.</p><p>Na prosa, o aspecto formal do Classicismo é deixado de lado. O mesmo ocorre com a poesia, com os versos livres, sem métrica e sem estrofação. A poesia também é caracterizada pelo verso branco, sem rima.</p><p>Confira na tabela abaixo as diferenças entre o Classicismo e o Romantismo:</p><p>Nacionalismo</p><p>Os românticos pregam o nacionalismo, incentivam a exaltação da natureza pátria, o retorno ao passado histórico e na criação do herói nacional.</p><p>Na literatura europeia, os heróis nacionais são belos e valentes cavaleiros medievais. Na brasileira são os índios, igualmente belos, valentes e civilizados.</p><p>A natureza também é exaltada no Romantismo. Está é vista como uma extensão da pátria ou refúgio à vida agitada dos centros urbanos do século XIX. A exaltação à natureza ganha contornos de prolongamento do escritor e de seu estado emocional.</p><p>Sentimentalismo Romântico</p><p>Entre as marcas principais do Romantismo estão o sentimentalismo, a supervalorização das emoções pessoais, o subjetivismo e egocentrismo. É dessa maneira que os poetas se colocavam como o centro do universo.</p><p>Dentro de um universo particular, o poeta sente a derrota do ego, produz frustração e tédio. São características do movimento romântico: as fugas da realidade por meio do abuso de álcool e ópio, a idealização da mulher, da sociedade e do amor, bem como a saudade da infância e a busca constante por casas de prostituição.</p><p>Romantismo em Portugal</p><p>Os primeiros anos do Romantismo português coincidem com as lutas civis entre liberais e conservadores. A renúncia de Dom Pedro ao trono brasileiro e sua luta pelo trono de Portugal ao lado dos liberais, veio intensificar esses conflitos.</p><p>O romantismo literário em Portugal tem como marco inicial a publicação, em 1825, do poema Camões, escrito por Almeida Garrett. A obra foi produzida durante seu exílio em Paris.</p><p>Em Portugal, o movimento romântico esteve dividido em 2 fases:</p><p>Primeira geração romântica: fase nacionalista</p><p>Segunda geração romântica: fase de maturidade</p><p>Autores e obras do romantismo em Portugal</p><p>Almeida Garret (1799-1854). Obras: Camões (1825), Viagens na minha terra (1846) e Folhas Caídas (1853).</p><p>Alexandre Herculano (1810-1877). Obras: A Harpa do Crente (1838), Eurico, o Presbítero (1844) e Poesias (1850).</p><p>Antônio Feliciano de Castilho (1800-1875). Obras: Amor e melancolia (1828), A noite do Castelo (1836) e Escavações poéticas (1844).</p><p>Camilo Castelo Branco (1825-1890). Obras: Amor de perdição (1862), Coração, Cabeça e Estômago (1862) e Amor de Salvação (1864).</p><p>Júlio Dinis (1839-1871). Obras: As Pupilas do Senhor Reitor (1866), Uma Família Inglesa (1868) e A Morgadinha dos Canaviais (1868).</p><p>Soares de Passos (1826-1860). Única obra publicada: Poesias (1856).</p><p>João de Deus (1830-1896). Obras: Ramo de Flores (1869) e Despedidas de Verão (1880).</p><p>Veja também: Romantismo em Portugal</p><p>Romantismo no Brasil</p><p>No Brasil, duas publicações são consideradas o marco inicial do Romantismo literário. Ambas foram lançadas em Paris, por Gonçalves de Magalhães, no ano de 1836: a "Revista Niterói" e o livro de poesias "Suspiros poéticos e saudades".</p><p>No país, o movimento foi dividido em três fases, ou gerações:</p><p>Primeira geração romântica (1836 a 1852): geração nacionalista-indianista.</p><p>Segunda geração romântica (1853 a 1869): geração ultrarromântica.</p><p>Terceira geração romântica (1870 a 1880): geração condoreira.</p><p>Autores e obras da primeira fase do romantismo no Brasil</p><p>Gonçalves de Magalhães (1811-1882) - Obras: Suspiros poéticos e saudades (1836), A Confederação de Tamoios (1857) e Os Indígenas do Brasil perante a História (1860).</p><p>Gonçalves Dias (1823-1864) - Obras: Canção do exílio (1843), I-Juca- Pirama (1851) e Os Timbiras (1857).</p><p>José de Alencar (1829-1877) - Obras: O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874).</p><p>Álvares de Azevedo (1831-1852) - Obras: Lira dos Vinte anos (1853), Noite na taverna (1855) e Macário (1855).</p><p>Casimiro de Abreu (1839-1860) - Obra: publicou somente um livro de poesias, As primaveras (1859).</p><p>Fagundes Varela (1841-1875) - Obras: Noturnas (1861), Cântico do Calvário (1863) e Cantos e fantasias (1865).</p><p>Castro Alves (1847-1871) - Obras: O Navio Negreiro (1869) e Espumas flutuantes (1870).</p><p>Tobias Barreto (1839-1889) - Obras: Amar (1866), A Escravidão (1868) e Dias e noites (1893).</p><p>Sousândrade (1833-1902) - Obras: Harpas Selvagens (1857) e O Guesa (1858 e 1888).</p><p>O SIMBOLISMO: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FORMAIS</p><p>O simbolismo é um movimento artístico que surgiu no século XIX e teve como principais características o subjetivismo, o espiritualismo, a religiosidade e o misticismo.</p><p>Na época em que se desenvolveu, o capitalismo e a industrialização estavam se consolidando na cena mundial, e diversas descobertas científicas transmitiam a ideia de evolução da civilização.</p><p>No entanto, isso acabou gerando muitos problemas sociais, como o aumento das desigualdades, o que levou os artistas a negarem a ideia de progresso.</p><p>Essa corrente artística, que se manifestou na literatura e na pintura, se aproximou dos ideais românticos de subjetivismo, idealismo e individualismo. Assim, a objetividade foi posta de lado para dar lugar a uma nova abordagem mais subjetiva, individual, pessimista e ilógica.</p><p>Se por um lado ele apresentou uma ligação com o romantismo, por outro, o simbolismo rejeitou as ideias dos movimentos anteriores do realismo, do parnasianismo e do naturalismo.</p><p>Ele se afastou do rigor estético e do equilíbrio formal do movimento parnasiano, buscando se distanciar do materialismo extremo e da razão. Dessa forma, explorou temas mais espirituais representando a realidade de uma forma diferente e mais idealizada.</p><p>Houve grande interesse pelas zonas mais profundas da mente humana, como o universo inconsciente e subconsciente, mostrando uma arte mais pessoal, emocional e misteriosa.</p><p>Contexto histórico do simbolismo</p><p>O movimento simbolista surge nas últimas décadas do século XIX</p><p>na França, num momento em que o continente Europeu assistia à ascensão da burguesia industrial. O capitalismo se fortalecia com a II Revolução Industrial, permitindo a industrialização de diversos países.</p><p>Esse processo industrial foi alavancado pela unificação da Alemanha, em 1870, e da Itália, no ano seguinte. Por outro lado, esse progresso capitalista gerou uma grande desigualdade social, levando a insatisfação dos trabalhadores mais pobres.</p><p>Nessa fase, inovações científicas levaram à ideia de progresso, como, por exemplo, o uso da energia elétrica, de produtos químicos e do petróleo para a produção de combustível.</p><p>Há, assim, a disputa das grandes potências (como Inglaterra, Alemanha e Rússia) pela diversificação de mercados, de consumidores e matéria-prima.</p><p>É também o momento do neocolonialismo que fragmenta a África e a Ásia, devido ao imperialismo de alguns países europeus industrializados, considerados as grandes potências mundiais.</p><p>Por fim, todos esses fatores irão desencadear a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) no início do século XX:</p><p>o progresso do capitalismo;</p><p>o aumento das desigualdades sociais;</p><p>a disputa dos interesses econômicos e políticos de algumas potências europeias;</p><p>o imperialismo e o neocolonialismo alavancados pela industrialização.</p><p>Diante desse panorama, o movimento simbolista surge para desafiar esse cenário opondo-se às correntes materialistas, cientificistas e racionalistas que vigoravam, negando a realidade objetiva.</p><p>Além disso, ele vem apoiar a camada da sociedade que está à margem do processo de avanço tecnológico e científico, promovido pelo capitalismo.</p><p>Características do simbolismo</p><p>Oposição à realidade objetiva</p><p>Transcendência, misticismo e espiritualidade</p><p>Presença de religiosidade</p><p>Valorização do “eu” e da psiquê humana</p><p>Linguagem vaga, imprecisa e sugestiva</p><p>Uso excessivo de figuras de linguagem</p><p>Preferência pelos sonetos</p><p>Retomada de elementos românticos</p><p>Valorização da simbologia, em oposição ao cientificismo</p><p>Oposição ao mecanicismo e a aproximação do universo do sonho</p><p>1. Oposição à realidade objetiva</p><p>Os temas abordados como a morte, a dor de existir, a loucura e o pessimismo são subjetivos, se afastando da realidade objetiva e de assuntos relacionados com a esfera social.</p><p>A projeção é de frustração, medo e desilusão, e o simbolismo surge como uma forma de negar a realidade objetiva. Renascem, assim, os ideais espiritualistas.</p><p>2. Transcendência, misticismo e espiritualidade</p><p>A arte simbolista busca transcender a realidade por meio do misticismo e da espiritualidade, ao mesmo tempo que tenta encontrar nas zonas mais profundas da alma respostas para as angústias e dores.</p><p>Esses fatores se relacionam diretamente com o contexto histórico em que está inserida essa corrente artística, pois esse momento é marcado por uma crise espiritual. Isso leva os artistas a sentirem e analisarem o mundo, as coisas e os seres de maneira diferente.</p><p>3. Presença de religiosidade</p><p>Embora diversos temas da arte simbolista estejam relacionados com um universo mais sombrio e misterioso, é possível identificar em algumas obras uma visão cristã aliada ao desejo da fuga da realidade.</p><p>Marcado pela busca do homem pelo sacro e de um sentimento de totalidade, a literatura simbolista faz da poesia uma espécie de religião. Dessa forma, muitos escritores simbolistas utilizam palavras do vocabulário litúrgico que reforçam essa característica, tais como: altar, arcanjo, catedral, incenso, salmo, cântico.</p><p>4. Valorização do “eu” e da psiquê humana</p><p>Contrário ao objetivismo, no movimento simbolista o “eu” é valorizado e a verdade é encontrada através da consciência humana.</p><p>Dessa maneira, há um grande interesse pelas zonas mais profundas da mente, como o inconsciente e o subconsciente.</p><p>5. Linguagem vaga, imprecisa e sugestiva</p><p>O simbolismo apresenta uma linguagem muito particular, envolta em mistério e com grande expressividade e musicalidade. Esses atributos proporcionam às obras os ideais imateriais e psíquicos característicos do movimento.</p><p>Assim, a linguagem simbolista é sugestiva, pois sugere algo em vez de nomear, ou explicar objetivamente.</p><p>6. Uso excessivo de figuras de linguagem</p><p>Nas obras simbolistas, há forte presença das figuras de linguagem, pois mais importante do que o significado real das palavras, estão os sentidos poéticos, as sonoridades e as sensações.</p><p>As figuras mais utilizadas são:</p><p>metáforas e comparações: que focam no sentido poético.</p><p>aliterações, assonâncias e onomatopeias: que promovem a sonoridade.</p><p>sinestesias: que sugerem a mistura de campos sensoriais distintos.</p><p>7. Preferência pelos sonetos</p><p>Embora tenha se manifestado na prosa, foi na poesia que o simbolismo atingiu grande reconhecimento.</p><p>De caráter subjetivo e lírico, os escritores simbolistas preferiram expressar seus dramas existenciais através de sonetos, forma fixa poética composta por dois quartetos e dois tercetos.</p><p>8. Retomada de elementos românticos</p><p>O simbolismo retoma alguns elementos românticos almejando ir além do aspecto palpável das coisas. Podemos citar o subjetivismo, a irracionalidade, o gosto pelo mistério e por ambientes noturnos.</p><p>Dessa forma, os temas explorados por ambos movimentos se aproximam como a dor de viver, a angústia do ser humano, os dramas existenciais, a tristeza profunda e a insatisfação.</p><p>9. Valorização da simbologia, em oposição ao cientificismo</p><p>A arte simbolista opõe-se ao cientificismo, levantando a questão sobre a validade da ciência para explicar os fenômenos da natureza.</p><p>Os artistas simbolistas acreditam que a ciência é limitante, colocando em dúvida sua capacidade absoluta. Dessa maneira, as ideias são apresentadas de maneira simbólica, na qual se acredita estar o verdadeiro sentido de tudo.</p><p>10. Oposição ao mecanicismo e a aproximação do universo do sonho</p><p>O movimento simbolista passa a ser a rejeição ao mecanicismo, por meio do sonho, da tendência cósmica e do absoluto.</p><p>Os artistas buscavam explicações através de sonhos, onde o universo onírico (relativo aos sonhos) fazia parte da realidade subjetiva e dos estados contemplativos.</p><p>Simbolismo no Brasil</p><p>O simbolismo no Brasil começou em 1893 com a publicação das obras de Cruz e Sousa: Missal (prosa) e Broquéis (poesia). Esse movimento permanece até o ano de 1910, quando se inicia o Pré-Modernismo.</p><p>O momento é de agitação política, pois, com a Proclamação da República em 1889, o país estava passando por um momento de transição. Há, assim, uma transformação na cena política, com a passagem do regime monárquico para o regime republicano.</p><p>Com a instauração da República da Espada em 1889, alguns conflitos despontaram por conta da crise política e de disputa de poder.</p><p>Houve, assim, a Revolução Federalista (1893-1895), que aconteceu nos estados do sul do país, e a Revolta da Armada (1891-1894), ocorrida no Rio de Janeiro.</p><p>Assim, em meio a esse contexto de insegurança e insatisfação, surge o movimento simbolista.</p><p>Principais poetas simbolistas brasileiros e suas obras</p><p>Além do precursor do movimento, Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens e Pedro Kilkerry merecem destaque na poesia simbolista brasileira.</p><p>João da Cruz e Sousa (1861-1898), nascido em Florianópolis, Santa Catarina, foi o mais importante poeta simbolista. Filho de escravos, teve uma vida confortável entre uma família aristocrata que o ajudou nos estudos.</p><p>Apesar de ter escrito diversos textos poéticos, publicou somente duas obras em vida: Broquéis (1893) e Missal (1893). Missal é uma obra em que constam poemas escritos em prosa, enquanto Broquéis apresenta 54 poemas, dentre os quais 47 são sonetos.</p><p>Postumamente foram publicados outros de seus escritos: Evocações (1898), Faróis (1900) e Últimos Sonetos (1905).</p><p>Vítima de preconceito racial, o escritor lutou a favor da causa negra. Sua obra é bem diversa e reúne temas como: obsessão pela cor branca, a dor, a morte e o pessimismo.</p><p>Veja abaixo um de seus poemas, publicado em sua obra poética Broquéis (1893).</p><p>Acrobata da Dor</p><p>Gargalha, ri, num riso de tormenta,</p><p>como um palhaço, que desengonçado,</p><p>nervoso, ri, num riso absurdo, inflado</p><p>de uma ironia e de uma</p><p>dor violenta.</p><p>Da gargalhada atroz, sanguinolenta,</p><p>agita os guizos, e convulsionado</p><p>salta, gavroche, salta clown, varado</p><p>pelo estertor dessa agonia lenta ...</p><p>Pedem-se bis e um bis não se despreza!</p><p>Vamos! retesa os músculos, retesa</p><p>nessas macabras piruetas d'aço...</p><p>E embora caias sobre o chão, fremente,</p><p>afogado em teu sangue estuoso e quente,</p><p>ri! Coração, tristíssimo palhaço.</p><p>Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), nascido em Ouro Preto, Minas Gerais, foi um dos grandes poetas do movimento simbolista, apresentando uma obra religiosa, de caráter místico, espiritual e sentimental.</p><p>Os temas mais presentes em sua obra poética são: a dor do amor, a saudade da amada e a morte. Isso porque o grande amor de sua vida, sua prima Constança, morreu muito jovem.</p><p>De sua obra, destacam-se: Septenário das Dores de Nossa Senhora (1899), Dona Mística (1899), Kyriale (1902), Pauvre Lyre (1921) e Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte (1923).</p><p>Confira abaixo um de seus poemas mais emblemáticos, publicado no livro Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte, em 1923.</p><p>Ismália</p><p>Quando Ismália enlouqueceu,</p><p>Pôs-se na torre a sonhar…</p><p>Viu uma lua no céu,</p><p>Viu outra lua no mar.</p><p>No sonho em que se perdeu,</p><p>Banhou-se toda em luar…</p><p>Queria subir ao céu,</p><p>Queria descer ao mar...</p><p>E, no desvario seu,</p><p>Na torre pôs-se a cantar…</p><p>Estava perto do céu,</p><p>Estava longe do mar...</p><p>E como um anjo pendeu</p><p>As asas para voar…</p><p>Queria a lua do céu,</p><p>Queria a lua do mar...</p><p>As asas que Deus lhe deu</p><p>Ruflaram de par em par…</p><p>Sua alma subiu ao céu,</p><p>Seu corpo desceu ao mar...</p><p>Pedro Kilkerry (1885-1917) foi jornalista e além de publicar diversas crônicas e artigos nos jornais, se dedicou à poesia simbolista. Foi considerado um dos grandes poetas do movimento, descoberto recentemente pela crítica.</p><p>Durante sua vida, Kilkerry não publicou nenhuma obra, no entanto, seus escritos foram reunidos postumamente. Com uma poesia diversa, ele explora diversos temas relacionados com a religiosidade, o misticismo, os sonhos e o amor.</p><p>Confira abaixo um de seus poemas, escrito em 1907 e publicado na obra Revisão de Kilkerry, de Augusto de Campos.</p><p>Sob os ramos</p><p>É no Estio. A alma, aqui, vai-me sonora,</p><p>No meu cavalo — sob a loira poeira</p><p>Que chove o sol — e vai-me a vida inteira</p><p>No meu cavalo, pela estrada afora.</p><p>Ai! desta em que te escrevo alta mangueira</p><p>Sob a copada verde a gente mora.</p><p>E em vindo a noite, acende-se a fogueira</p><p>Que se fez cinza de fogueira agora.</p><p>Passa-me a vida pelo campo... E a vida</p><p>Levo-a cantando, pássaros no seio,</p><p>Qual se os levasse a minha mocidade...</p><p>Cada ilusão floresce renascida;</p><p>Flora, renasces ao primeiro anseio</p><p>Do teu amor... nas asas da Saudade!</p><p>Simbolismo em Portugal</p><p>O simbolismo em Portugal compreendeu o período entre 1890 e 1915, quando teve início o modernismo.</p><p>No país, esse movimento surgiu em meio à crise da monarquia e foi inaugurado em 1890 com a publicação da obra Oaristos, do escritor Eugênio de Castro.</p><p>Oaristos é uma coletânea de poemas que foi escrita após o regresso do seu autor da França, onde teve contacto com poetas simbolistas, cujo movimento já influenciava a literatura portuguesa.</p><p>Principais poetas simbolistas portugueses e suas obras</p><p>Além de Eugênio de Castro, destacam-se os poetas simbolistas portugueses: Antônio Nobre e Camilo Pessanha.</p><p>Eugênio de Castro (1869-1944), nascido em Coimbra, Portugal, se formou em Letras, sendo precursor do movimento simbolista em Portugal.</p><p>Sua obra está dividida em duas fases: simbolista e neoclassicista. Na primeira fase, os seus escritos revelam a aproximação com os temas e a musicalidade do simbolismo. Já na segunda fase, suas obras retomam aspectos da literatura clássica.</p><p>De sua obra poética, destacam os livros: Oaristos (1890), Horas (1891), Interlúnio (1894), Salomé e Outros Poemas (1896) e Saudades do Céu (1899).</p><p>Um sonho (trecho do poema)</p><p>Na messe , que enlourece, estremece a quermesse…</p><p>O sol, celestial girasol, esmorece…</p><p>E as cantilenas de serenos sons amenos</p><p>Fogem fluidas, fluindo a fina flor dos fenos...</p><p>As estrelas em seus halos</p><p>Brilham com brilhos sinistros…</p><p>Cornamusas e crotalos,</p><p>Cítolas, cítaras, sistros,</p><p>Soam suaves, sonolentos,</p><p>Sonolentos e suaves,</p><p>Em Suaves,</p><p>Suaves, lentos lamentos</p><p>De acentos</p><p>Graves</p><p>Suaves...</p><p>Flor! enquanto na messe estremece a quermesse</p><p>E o sol,o celestial girasol,esmorece,</p><p>Deixemos estes sons tão serenos e amenos,</p><p>Fujamos, Flor!à flor destes floridos fenos...</p><p>António Nobre (1867-1900), nascido no Porto, Portugal, foi um poeta simbolista que se formou em Direito na cidade de Paris. Ali, ele publica, em 1892, sua obra mais notável do movimento simbolista: Só. Esse livro, reúne diversos poemas que exploram temas como a saudade e a tristeza profunda.</p><p>Outros de seus escritos foram publicados postumamente, tais como: Despedidas (1902), Primeiros versos (1921) e Alicerces (1983)</p><p>A vida (trecho do poema publicado na obra Só)</p><p>O grandes olhos outonais! místicas luzes!</p><p>Mais tristes do que o Amor, solenes como as cruzes!</p><p>Ó olhos pretos! olhos pretos! olhos cor</p><p>Da capa de Hamlet, das gangrenas do Senhor!</p><p>Õ olhos negros como noites, como poços!</p><p>Ó fontes de luar, num corpo todo ossos!</p><p>Ó puros como o Céu! ó tristes como levas</p><p>De degredados!</p><p>Ó Quarta-Feira de Trevas!</p><p>Vossa luz é maior, que a de três Luas-Cheias</p><p>Sois vós que alumiais os Presos, nas cadeias,</p><p>Ó velas do Perdão! candeias da Desgraça!</p><p>Õ grandes olhos outonais, cheios de Graça!</p><p>Olhos acesos como altares de novena!</p><p>Olhos de génio, aonde o Bardo molha a pena!</p><p>Ó carvões que acendeis o lume das velhinhas,</p><p>Lume dos que no Mar andam botando as linhas …</p><p>Õ farolim da barra a guiar os Navegantes!</p><p>Ó pirilampos a alumiar os caminhantes,</p><p>Mais os que vão na diligência pela serra!</p><p>Ó Extrema-Unção final dos que se vão da Terra!</p><p>Camilo Pessanha (1867-1926), nascido em Coimbra, Portugal, foi o autor que melhor correspondeu as características do movimento simbolista, e atualmente é considerado a principal expressão do movimento.</p><p>Em sua obra, ele utiliza diversas figuras de linguagem características do movimento, além de apresentar uma poesia repleta de simbologias e com forte musicalidade. Os temas mais explorados estão relacionados com o pessimismo, a dor, a tristeza e a morte.</p><p>Clepsidra é seu único livro de poemas que foi publicado em 1920. O resto de seus escritos foram publicados postumamente.</p><p>Caminho (poema publicado na obra Clepsidra)</p><p>Tenho sonhos cruéis; n'alma doente</p><p>Sinto um vago receio prematuro.</p><p>Vou a medo na aresta do futuro,</p><p>Embebido em saudades do presente...</p><p>Saudades desta dor que em vão procuro</p><p>Do peito afugentar bem rudemente,</p><p>Devendo, ao desmaiar sobre o poente,</p><p>Cobrir-me o coração dum véu escuro!...</p><p>Porque a dor, esta falta d'harmonia,</p><p>Toda a luz desgrenhada que alumia</p><p>As almas doidamente, o céu d'agora,</p><p>Sem ela o coração é quase nada:</p><p>Um sol onde expirasse a madrugada,</p><p>Porque é só madrugada quando chora.</p><p>Simbolismo na Europa</p><p>O movimento simbolista teve sua origem na França em meados do século XIX, e na literatura ele começou em 1857 com a publicação da obra As flores do mal, do poeta francês Charles Baudelaire.</p><p>Na época, esse livro foi censurado por conter poesias com temas eróticos, sensuais e sombrios. Veja abaixo um soneto de Charles Baudelaire em seu livro Flores do Mal:</p><p>Correspondências</p><p>A Natureza é um templo vivo em que os pilares</p><p>Deixam filtrar não raro insólitos enredos;</p><p>O homem o cruza em meio a um bosque de segredos</p><p>Que ali o espreitam com seus olhos familiares.</p><p>Como ecos longos que à distância se matizam</p><p>Numa vertiginosa e lúgubre unidade,</p><p>Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,</p><p>Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam.</p><p>Há aromas frescos como a carne dos infantes,</p><p>Doces como o oboé, verdes como a campina,</p><p>E outros, já dissolutos, ricos e triunfantes,</p><p>Com a fluidez daquilo que jamais termina,</p><p>Como o almíscar, o incenso e as resinas do Oriente,</p><p>Que a glória exaltam dos sentidos e da mente.</p><p>Entretanto, foi somente em 1886 que o termo “simbolismo” foi utilizado pela primeira vez pelo poeta grego Jean Moréas (1856-1910). Ele escreveu o Manifesto Simbolista expondo os princípios de uma arte mais preocupada com</p><p>a espiritualidade e as sensações.</p><p>Na ocasião, Moréas identificou os três grandes artistas da literatura francesa simbolista: Charles Baudelaire (1821-1867), Stéphane Mallarmé (1842-1898) e Paul Verlaine (1844-1896).</p><p>Além da França, outros países europeus tiveram destaque no movimento simbolista como a Espanha, a Itália, a Inglaterra, a Alemanha e a Rússia.</p><p>Assim, além dos poetas franceses simbolistas mais notáveis (Charles Baudelaire, Stéphane Mallarmé, Paul Verlaine e Arthur Rimbaud), podemos citar os poetas russos Viatcheslav Ivánov (1866-1949), Andreï Biély (1880-1934) e Aleksandr Blok (1880-1921).</p><p>Simbolismo nas artes plásticas</p><p>Embora o simbolismo tenha começado como um movimento literário, ele também floresceu nas artes plásticas, sobretudo na pintura.</p><p>A pintura simbolista foi diretamente influenciada pelas poesias dos poetas franceses Stéphane Mallarmé, Paul Verlaine e Arthur Rimbaud, sendo também uma arte de oposição ao realismo.</p><p>Dessa maneira, os pintores abordavam em suas obras temas sombrios, oníricos e espirituais, utilizando cores mais frias e escuras.</p><p>Alguns pintores franceses que tiveram grande destaque foram: Gustave Moreau (1826-1898) e Odilon Redon (1840-1916). Além deles, merece citar as obras do alemão Carlos Schwabe (1866-1926). Confira abaixo algumas de suas telas:</p><p>O Simbolismo é um estilo de época surgido em 1857, na França, quando foi publicado o livro As flores do mal, de Charles Baudelaire. A poesia simbolista apresenta teor metafísico, musicalidade, alienação social, rigor formal e caráter sinestésico. A pintura utiliza cores vivas e temática onírica. Já a escultura simbolista é marcada por mistério e erotismo.</p><p>Principais características do Simbolismo</p><p>Antirrealismo.</p><p>Subjetividade.</p><p>Culto ao mistério.</p><p>Enaltecimento do irracional e do inconsciente.</p><p>Caráter metafísico ou espiritual.</p><p>Crença em um mundo ideal (ou plano das essências).</p><p>Valorização da intuição.</p><p>Sondagem do eu.</p><p>Musicalidade.</p><p>Alienação social.</p><p>Rigor formal (metrificação e rimas).</p><p>Destaque para o abstrato.</p><p>Poder de sugestão.</p><p>Uso de reticências.</p><p>Maiúscula alegorizante.</p><p>Sinestesia.</p><p>VANGUARDAS EUROPEIAS: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FORMAIS</p><p>As Vanguardas Europeias representam um conjunto de movimentos artístico-culturais que ocorreram em diversos locais da Europa a partir do início do século XX.</p><p>As vanguardas artísticas europeias que se destacaram foram: Expressionismo, Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo.</p><p>Juntos, esses movimentos influenciaram a arte moderna mundial desde pintura, escultura, arquitetura, literatura, cinema, teatro música, etc.</p><p>As vanguardas artísticas ultrapassaram o limite até então encontrado nas artes, propondo assim, novas formas de atuação estética ao questionar os padrões impostos.</p><p>No Brasil, elas influenciaram diretamente o movimento modernista, que teve início com a Semana de Arte Moderna de 1922.</p><p>A palavra vanguarda, do francês “avant-garde” significa a “guarda avançada”, o que pressupõe, nesse contexto, um movimento pioneiro das artes.</p><p>Contexto Histórico das Vanguardas Europeias</p><p>Com o advento da Revolução Industrial no século XIX e da Primeira Guerra Mundial no início do século XX, a sociedade passava por diversas transformações.</p><p>Destacam-se os avanços tecnológicos, progressos industriais, descobertas científicas, dentre outros.</p><p>Nesse sentido, a arte demostrou a necessidade de propor novas formas estéticas e de fruição artística, pautadas na realidade vigente.</p><p>Dessa forma, os movimentos artísticos europeus surgidos no fervor dos ideais da época foram diretamente contra os ideais da guerra.</p><p>Os artistas utilizavam da ironia e da capacidade de “chocar” o público, a fim de despertar outras maneiras de apreciar e refletir sobre a vida.</p><p>Por outro lado, um deles exaltou os avanços tecnológicos e o progresso, no caso o futurismo italiano.</p><p>Vanguardas Artísticas Europeias: Resumo</p><p>Confira abaixo cada uma das vanguardas artísticas europeias, suas principais características, artistas e obras:</p><p>Expressionismo</p><p>O Grito (1893) de Edvard Munch</p><p>Surgido em Dresden, na Alemanha, em 1905, o expressionismo foi um movimento artístico que teve origem com o grupo Die Brücke - que em português significa "A ponte".</p><p>Ernst Kirchner, Erich Heckel e Karl Schidt-Rottluff foram os artistas que se uniram para criar esse coletivo calcado na expressão dos sentimentos e emoções.</p><p>Possuía um caráter deveras subjetivo, irracional, pessimista e trágico, justamente por enfatizar as mazelas e os problemas do ser humano.</p><p>Esse estilo de arte vem como uma oposição a outro movimento anterior, o impressionismo.</p><p>O artista norueguês Edvard Munch pode ser considerado a grande inspiração do Die Brücke e precursor do expressionismo. Sua obra mais importante é O Grito (1893), uma das mais emblemáticas do pintor.</p><p>Além dele, merece destaque o artista Van Gogh, que também influenciou profundamente o movimento.</p><p>Fauvismo</p><p>A dança (1910), de Matisse</p><p>O fauvismo foi um estilo de pintura baseado na intensidade cromática, simplificação das formas e utilização de cores puras, além de usá-las arbitrariamente, sem compromisso com as cores reais.</p><p>Por conta dessas características, durante o Salão de Outono, alguns pintores desse movimento foram chamados pelos críticos de fauves ("os feras" em português), como uma rejeição ao novo modo de pintar.</p><p>Alguns nomes importante do fauvismo são: André Derain, Maurice de Vlaminck, Othon Friesz e Henri Matisse, o mais conhecido.</p><p>Leia mais sobre o Fauvismo.</p><p>Cubismo</p><p>Nova York, EUA - 25 de maio de 2018: Multidão de pessoas perto da pintura de Pablo Picasso "Les Demoiselles D'Avignon" no Museu de Arte Moderna de Nova York.Bumble Dee/Shutterstock.com</p><p>O cubismo foi um movimento artístico pautado na geometrização das formas.</p><p>Foi iniciado em 1907 pelo pintor espanhol Pablo Picasso, com a tela "Les Demoiselles d'Avignon" (As damas d'Avignon).</p><p>Outros representantes do movimento foram: Georges Braque, Juan Gris e Fernand Léger.</p><p>Essa corrente artística teve como inspiração o trabalho do artista Cézanne e ramificou-se em duas vertentes: o cubismo analítico e cubismo sintético.</p><p>Na primeira, a analítica, as formas e figuras foram tão desconstruídas e fragmentadas que tornaram-se irreconhecíveis. No cubismo sintético, os artistas voltaram à representação figurativa, mas não a uma abordagem realista dos temas.</p><p>No Brasil, o movimento cubista influenciou alguns artistas, como Tarsila do Amaral e Vicente do Rego Monteiro.</p><p>Veja também: 8 obras importantes do cubismo</p><p>Futurismo</p><p>Velocidade do Automóvel (1913) de Giacomo Balla</p><p>O movimento futurista foi encabeçado pelo poeta italiano Filippo Marinetti, que lançou um manifesto publicado em um jornal francês (Le Figaro) no dia 20 de fevereiro de 1909. No ano seguinte, diversos artistas lançam um Manifesto Futurista relacionado diretamente com a pintura.</p><p>Suas principais características eram a exaltação da tecnologia, das máquinas, da velocidade e do progresso. Um dos expoentes da pintura futurista foi o artista italiano Giacomo Balla. Outros representantes são: Umberto Boccioni, Carlo Carrà, Luigi Russolo e Gino Severini.</p><p>No Brasil, os ideais da Semana de Arte Moderna, que inauguraram o movimento modernista no país, sofreram influência do futurismo. Isso porque a rejeição ao passado, bem como o culto do futuro, propulsionaram as ideias modernistas.</p><p>Veja também: Arte Moderna</p><p>Dadaísmo</p><p>A Fonte (1917), de Marcel Duchamp</p><p>O dadaísmo foi um movimento ilógico encabeçado por Tristan Tzara em 1916, que mais tarde ficou conhecido como o propulsor dos ideais surrealistas.</p><p>Além dele, outros líderes do movimento foram: o poeta alemão Hugo Ball e o pintor, escultor e poeta franco-alemão Hans Arp.</p><p>As principais características do dadaísmo são a espontaneidade da arte pautada na liberdade de expressão, no absurdo e irracionalidade.</p><p>Sem dúvida, o pintor e escultor francês Marcel Duchamp foi uma das figuras mais emblemáticas do movimento dadaísta com seus objetos prontos (ready-made) que se afastam de sua função original. A Fonte é uma das obras mais representativas desse momento.</p><p>Surrealismo</p><p>"A persistência</p><p>da memória" (1931), de Salvador Dalí. Pintura a óleo. kumachenkova/Shutterstock.com</p><p>O surrealismo, liderado pelo artista André Breton, despontou em Paris em 1924.</p><p>Pautado no subconsciente, esse movimento era caracterizado por uma arte impulsiva, fantástica e onírica.</p><p>Alguns artistas que merecem destaque são Giorgio de Chirico, Max Ernst, Joan Miró, René Magritte e Salvador Dalí.</p><p>A literatura e as artes plásticas brasileiras sofreram grande influência dessa vanguarda. Merecem destaque: o escritor Oswald de Andrade e os artistas plásticos Tarsila do Amaral, Ismael Nery e Cícero Dias.</p><p>A ESTÉTICA BARROCA EM GREGÓRIO DE MATOS E ALEIJADINHO</p><p>Erramos e aprendemos com o erro, mas nada impede que o mesmo erro venha a ser cometido, mais tarde novamente. Pensamos de uma forma hoje, mas nada impede – e é bem provável que isso ocorra – que amanhã não pensemos de outra maneira. Fazemos algo agora, mas nada impede que, momentos depois, já estejamos arrependidos com o que acabamos de fazer.</p><p>Por que agimos assim?</p><p>Faz parte de nossa natureza essa contradição; ela nos humaniza e nos possibilita observar e pensar de forma diferente, de acordo com o que aprendemos, vivenciamos, sentimos etc., rumo a um entendimento cada vez maior, não apenas de nós mesmos, mas dos outros também.</p><p>E o que isso tem a ver com o barroco? Tudo.</p><p>Na base do barroco reside essa mesma contradição a que Candido alude. Contradição, conflito, contraste, todos esses termos dão uma ideia do tipo de ser humano que, no período barroco, existiu; isto é, alguém em conflito consigo mesmo, vivendo em uma época em que certezas conviviam lado a lado com imprecisões que mais limitavam do que ampliavam nossa natureza.</p><p>O barroco evidencia-se por esse caminho, e é ele que devemos percorrer ao opor termos como Fé x Razão, Céu x Terra, Deus x Diabo, Espírito x Matéria etc.</p><p>Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, é uma figura controversa; até mesmo os dados sobre sua vida são conflituosos: ele nasceu em 1730 e morreu em 1814, período em que o barroco já havia sido suplantado pelo arcadismo.</p><p>Entretanto, a despeito da veracidade ou não do que sabemos a respeito da vida do escultor, resta a sagração de sua obra, especialmente, a estatuária, como podemos notar em obras cujo estilo barroco, ou mesmo rococó, é evidente.</p><p>Estamos nos referindo a obras como Cristo carregando a cruz, Jesus escarnecido pelos soldados romanos, ambas em Congonhas, MG, e, mais precisamente, aos Doze Profetas esculpidos por Aleijadinho, que, juntos, são um conjunto tido como Patrimônio da Humanidade, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e reconhecido pela UNESCO.</p><p>Esses profetas encontram-se na célebre igreja de Congonhas, onde, na parte externa, os doze profetas estão expostos até hoje.</p><p>A alcunha de Aleijadinho, pela qual responde o mais famoso artista da arte barroca mineira, é por causa de uma doença que, a partir de 1777, deformou o corpo do escultor, prejudicando seu trabalho, bem como causando-lhe uma infinidade de sofrimentos. Mesmo assim, o artista continuou com seu ofício, talhando obras que, hoje, são a mais expressiva manifestação da arte sacra brasileira.</p><p>Mas imaginamos que você tenha notado outros elementos que têm a ver com a dificuldade de se chegar a uma interpretação imediata da poesia barroca, a julgar pelo poema anterior, não é? Esse tipo de dificuldade existe na poesia do período, e o porquê disso é devido a duas coordenadas que direcionam a expressão e o conteúdo dos textos do período. Estamos referindo-nos ao cultismo e ao conceptismo.</p><p>E o que seriam esses elementos?</p><p>“Certamente é quase impossível a perfeita distinção entre cultismo e conceptismo”, afirma Antonio Candido (1988, p. 13-14), que, sobre o cultismo, diz: “O primeiro repousa sobretudo no som e na forma, tendendo para uma verdadeira exaltação sensorial, enquanto favorece a fantasia na busca de imagens e sensações que ultrapassam as sugestões da realidade” (CANDIDO, 1988, p. 13-14). Isso significa que a forma, no cultismo, também chamado de gongorismo, ganha relevância por meio de um jogo de palavras que se manifesta com figuras de linguagem, como comparação, metáfora, hipérbole etc.</p><p>E o conceptismo? Segundo Candido (1988, p. 13-14):</p><p>O segundo [o conceptismo] apoia-se no significado da palavra, tendendo para o abusivo jogo de vocábulos e de raciocínio, para as agudezas ou sutilezas de pensamento, com transições bruscas ou associações inesperadas, além de seu misticismo ideológico. Ambos têm ascendência renascentista.</p><p>Já no conceptismo, ou quevedismo, a valorização percorre não mais o jogo de palavras, mas outra espécie de jogo: o jogo de ideias.</p><p>ASSIMILE</p><p>No cultismo, ou gongorismo, há jogo de palavras: o uso de palavras formais, rebuscadas, de difícil compreensão.</p><p>No conceptismo, ou quevedismo, há jogo de ideias, por causa da lógica no raciocínio.</p><p>A ESTÉTICA REALISTA EM BAUDELAIRE E COURBET</p><p>Como Massaud Moisés já havia mencionado anteriormente, foi por apresentar “os costumes, as ideias, o aspecto de sua época” que o quadro foi condenado da forma como, de fato, ocorreu (MOISÉS, 1999, p. 428).</p><p>Para o pintor, “o culto do realismo é a negação do ideal” (COURBET apud MOISÉS, 1999, p. 428). O idealismo, de acordo com a leitura que o romantismo legou a esse aspecto, destoa da arte realista, pois ele não se encaixa no realismo, uma vez que privilegia a emoção, a subjetividade, o sentimentalismo, características que a arte realista evitou. Mas há pessoas tristes, chorando, na representação pictórica desse enterro, você poderia pensar. Entretanto, não se trata de uma emoção enfática, capaz de suplantar outros elementos contidos, literalmente, no quadro.</p><p>Os realistas representavam a arte a partir de temas relacionados com a realidade social e cotidiana. Assim, eles buscavam retratar de maneira mais fidedigna os aspectos da realidade, seja pelo cotidiano massacrante ou pelas infiéis relações amorosas e sociais.</p><p>A ESTÉTICA VANGUARDISTA EM OSWALD DE ANDRADE E TARSILA DO AMARAL</p><p>A abertura ocorreu às 20 horas do dia 13 de fevereiro de 1922, com a conferência de Graça Aranha “A emoção estética na arte moderna”, em que o consagrado autor de Canaã, membro da Academia Brasileira de Letras, ABL, aos 54 anos, foi vaiado pelo público, por ter criticado o academicismo reinante naquele período.</p><p>Enquanto isso, pinturas de Anita Malfatti (a mesma autora que havia sido massacrada pelo artigo de Lobato, cinco anos antes), Di Cavalcanti, dentre outros; esculturas de Victor Brecheret; e projetos arquitetônicos de Antônio Moya e Georg Przirembel ganhavam destaque diante do desprezo e da estupefação do público, que “fazia chacota das obras” (OLIVEIRA, 2007, p. 276).</p><p>Ronald de Carvalho falou sobre “A pintura e a escultura moderna no Brasil”.</p><p>Ainda houve Ernani Braga ao piano, apresentando Erik Satie; declamações de poemas feitas por um trêmulo Oswald de Andrade, além de Carvalho e Guilherme de Almeida. Mário de Andrade também foi vaiado: sua palestra sobre Estética foi proferida no saguão do teatro: “Não sei como pude fazer uma conferência sobre artes plásticas nas escadarias do teatro, cercado de anônimos que me caçoavam e ofendiam a valer” (ANDRADE apud OLIVERIA, 2007, p. 277).</p><p>O segundo dia do evento ocorreu na quarta-feira, 15 de fevereiro de 1922.</p><p>A consagrada pianista, Guiomar Novaes, foi muito aplaudida, mas porque ela, na contramão dos outros participantes, evocou composições clássicas e aprovadas pelo público, que, por isso, não a vaiou, mas a aplaudiu de forma esfuziante.</p><p>Menotti del Picchia fez sua conferência também, e houve nova seleção de leituras de poemas e trechos de prosa feitas por Oswald, Mário, Graça Aranha, Sérgio Milliet, Plínio Salgado, e outros. Tanto a conferência quanto as leituras “foram acompanhadas por relinchos e miados do público pagante” (OLIVEIRA, 2007, p. 277).</p><p>Mas nada se compara à leitura feita por Ronald de Carvalho do sarcástico ataque aos parnasianos evocado pelo poema Os sapos, de Manuel Bandeira, que não pôde comparecer ao evento. “O poema (...) teve</p>