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65 EsPCEx 2024 AULA 05 Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo Professora Luana Signorelli 2 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Sumário INTRODUÇÃO 4 1.0 CONTEXTUALIZAÇÃO 4 2.0 PARNASIANISMO 7 2.1 Autores e obras do Parnasianismo 11 3.0 SIMBOLISMO 17 3.1 Autores e obras do Simbolismo 18 4.0 PRÉ-MODERNISMO 22 4.1 Autores e obras do Pré-Modernismo 24 5.0 MOVIMENTOS DE TRANSIÇÃO EM PORTUGAL 33 6.0 MOVIMENTOS ARTÍSTICOS NO GERAL 36 6.1 Impressionismo 36 6.2 Art Nouveau 37 6.3 Vanguardas 38 7.0 CRÍTICA LITERÁRIA 39 8.0 QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS 42 8.1. Lista de fixação 64 8.2. Gabarito 80 9.0 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS 80 9.1. Lista de fixação comentada 118 10.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 149 11.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 151 3 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Professora Luana Signorelli Exército Brasileiro @profa.luana.signorelli Professora Luana Signorelli /luana.signorelli Luana Signorelli @luanasignorelli1 4 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO INTRODUÇÃO Hoje nós vamos dar continuidade ao nosso Curso Extensivo de Literatura para ESA 2024. Lembrem-se sempre do nosso lema: “O segredo do sucesso é a constância no objetivo”. Segundo o nosso cronograma de aulas, hoje estudaremos o seguinte: AULA TÓPICOS ABORDADOS AULA 05 Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo Movimentos Literários de transição (fim do século XIX e começo do século XX). Contexto geral da época. Portugal: Simbolismo e movimentos pré-modernos. Brasil: Simbolismo, Parnasianismo e Pré-modernismo. Obras e autores mais importantes. Artes: Impressionismo, Simbolismo e Art Nouveau. Hoje abordaremos quadros sinópticos de obras mais importantes. O quadro sinóptico é um material de apoio que irá poder ajudá-los pouco antes da prova, por se tratar de conteúdos grandes com muita informação. Tanto é que se quiserem ler a obra inteira, cuidado com os spoilers. Hoje em particular, vamos fazer a interpretação de texto e a análise sintática ao longo da própria aula. Então, vamos lá, não percamos tempo! 1.0 Contextualização Para quem viveu a virada do século XX para o XXI sabe que geralmente nessas ocasiões da humanidade predominam dois sentimentos contraditórios: ou um completo êxtase, uma alegria, uma emoção por estar presenciando um fato histórico ou um medo diante do desconhecido. Era mais ou menos assim que também se sentiam as pessoas na virada do século XIX para o XX. Nesse período, houve uma determinada forma de expressão no plano artístico. Em termos de estilo, segue a tradição do le fin de siècle (o fim de século) e da la décadence (a decadência), movimentos originalmente franceses que pretendiam representar a onda de pessimismo, declínio e a atmosfera sufocante dessa época. Romances que são exemplos disso são Madame Bovary (1856) do francês Gustave Flaubert e Anna Kariênina (1877) do russo Tolstói, obras que anteviram e anteciparam essa temática. E ainda Os Buddenbrooks (1901), do alemão Thomas Mann, traz temas semelhantes acerca da falência de uma família. Logo, a tendência se propagou e esses movimentos não se restringiram localmente, mas sim se generalizaram. Entre os artistas dessa geração, prevaleciam os seguintes aspectos: Pessimismo diante de tantas teorias científicas do século XIX que tanto prometiam, mas que só acabaram acentuando problemas, como a desigualdade, por exemplo; 5 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO O movimento literário do Simbolismo surgiu como uma reação ao materialismo e à racionalidade do século XIX; Havia uma parte dos jovens que adotou uma postura revolucionária e rebelde. Reivindicavam basicamente a queda de regimes monárquicos e proclamavam o republicanismo; Porém, muitos sofriam de desânimo e tédio para com a vida burguesa. Muitos desses artistas procuravam negar a própria classe e até a vida, com isso procurando saídas como fuga da realidade; uso (mais ou menos) exagerado de drogas e apelavam até mesmo para o suicídio. Na transição do século XIX para o XX ocorreram simultaneamente vários movimentos literários. Já estudamos anteriormente os movimentos prosaicos (nos quais se escreveu prosa): Realismo e Naturalismo. Na aula de hoje, vamos estudar os poéticos: Parnasianismo e Simbolismo. E também um movimento de transição do início do século XX: o Pré-Modernismo. Por isso, vamos fazer uma revisão sobre os movimentos do Realismo e do Naturalismo. REALISMO NATURALISMO Origem: França (1857) Gustave Flaubert – Madame Bovary Origem: França (1867) Émile Zola – Thérèse Raquin Representava desvios morais. Representava desvios sociais e sexuais, mazelas. Romance documental, fotografa a realidade para dar impressão de vida real, psicologismo. Retrato da alta burguesia da segunda metade do século XIX. Romance experimental, que pretende apoiar-se na experimentação científica e numa tese, no determinismo, no evolucionismo, no homem é fruto do meio. Impassibilidade. Narrador em um ângulo neutro, não há interesse em agradar ao público, mas sim em retratar a realidade tal qual ela é. Arte engajada, preocupações políticas e sociais. Seleciona os temas, tem aspirações estéticas. Detém-se nos aspectos mais torpes e degradantes. Reproduz a realidade exterior bem como a interior, por meio da análise psicológica. Centra-se nos aspectos externos: atos, gestos, ambientes, personagens e seus instintos, animalização, zoomorfismo. Volta-se para a psicologia, para o indivíduo. Nomes: Dom Casmurro, Quincas Borba, Memórias póstumas de Brás Cubas. Volta-se para o coletivo, para a biologia, a patologia, centra-se mais no social. Retrata e critica as classes dominantes, a alta burguesia. Espelha camadas inferiores: o proletariado, os marginais, o povão. É indireto na interpretação, o leitor tira as suas conclusões: sutil, sugere. É direto na interpretação, expõe conclusões, cabendo ao leitor aceitá-las ou discuti-las: grotesco, mostra. Grande preocupação com o estilo. O estilo é relegado ao segundo plano; no primeiro, há denúncia. 6 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Stéphane Mallarmé (1842-1898) foi de uma geração em que os poetas publicavam muito em revistas. Um lance de dados, uma reflexão sobre o acaso, por exemplo, surgiu primeiramente na revista Cosmopolis em 1897. Outra obra conhecida dele foi Tarde de um fauno (1876), que foi musicado por Claude Debussy. Seus temas eram obscuros, existencialistas e filosóficos. A obra Igitur (1925) já é tardia e traz no título um conectivo em latim. Consiste em prosa poética. Paul Verlaine (1844-1896) foi um poeta do simbolismo francês. Envolveu-se com outro poeta de sua geração, Arthur Rimbaud. Versos dele servem como epígrafe para o Livro de Mágoas de Florbela Espanca: “Isolados de amor assim que se bebe o negro/Nossos dois corações exalam sua ternura pacífica/Serão dois rouxinóis que cantão ao pôr do sol” (livre tradução). Principais obras: Poemas Saturnianos (1866) e Os poetas malditos (1884). Alguns deles são encontrados na versão brasileira: A voz dos botequins e outros poemas (2009). Arthur Rimbaud (1854-1891) estudou latim. Começou a traduzir os clássicos, mas depois tomou uma posição contra os parnasianos. Viveu em época turbulenta, como a Comuna de Paris (1871). Suas principais obras são e Temporada no inferno (1873) e Vogais (1883). Em português, há uma obra chamada Rimbaud livre, que é tradução dos Irmãos Campos: “A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul, vogais” (RIMBAUD, 2013, p. 37). NA FRANÇAGuillaume Apollinaire (1880-1918) é considerado o pai do movimento literário do Concretismo. Foi influenciado pela vanguarda do cubismo; Pablo Picasso foi seu colaborador direto. Sua obra-prima é Caligramas, publicados em 1918 após a Primeira Guerra Mundial, idealizado para ser justamente uma mistura de caligrafia e ideograma. Charles Baudelaire (1821-1867) foi um célebre poeta francês. Morreu aos 46 anos de idade. Teve uma vida desregrada desde criança. Foi expulso do colégio, fez uma expedição à Índia, retorna à França onde vive em completa boemia com o colega Jeanne Duval. Principais obras: Flores do mal (1857); Paraísos artificiais (1860) e O Spleen de Paris: pequenos poemas em prosa (1869). O spleen definia o estado de melancolia. Era reconhecido como um dândi pelo seu requinte. 7 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO O Parnasianismo inspira seu nome no Monte Parnaso. Segundo a Mitologia, o monte Parnaso era uma das residências de Apolo e as nove musas. Nesse local, é produzida poesia e outras artes. Os parnasianos tinham proximidade com a cultura greco-latina, além de se inspirarem na ideia de poesia enquanto arte elevada. (Deus Apolo, da Mitologia Grega. Fonte: Shutterstock). 2.0 Parnasianismo O Parnasianismo é um movimento literário contemporâneo ao Realismo e ao Naturalismo. Se vocês estão lembrados da nossa aula de Realismo + Naturalismo, devem se recordar que não havia poesia naqueles movimentos literários. Os parnasianos eram quem produziam poesia naquele momento. Lembrem-se de que esse é um momento de valorização do pensamento científico. No Parnasianismo, porém, não há interesse em produzir uma crítica social a partir das teses científicas (como no Naturalismo) ou de utilizar a literatura ficcional como espelhamento da sociedade (como no Realismo). Ainda assim, a poesia parnasiana mantém a tendência de olhar para o mundo de maneira objetiva. Procura-se afastar da emotividade e idealização buscando referenciais no cotidiano, tanto em objetos quanto em cenas/passagens. A influência do pensamento científico na poesia parnasiana está na rigidez formal e na formalidade da linguagem. Os parnasianos valorizam aquilo que a língua tem de mais estrutural e lógico: a palavra. O cuidado com a forma da poesia é fundamental para essa escola literária. Esses escritores se filiam à ideia de arte pela arte, ou seja, o objetivo do fazer artístico é ele mesmo. A arte não tem outra função que não estética. Um poema deve ser bom e belo, não servir a objetivos didáticos, morais, sentimentais ou pedagógicos. Os poetas parnasianos comparam a si mesmo com um ourives. O ourives é o profissional que talha e lapida joias, que trabalha com ouro. Para que o ouro se torne uma joia, não basta apenas confiar na beleza do material. É preciso que haja esforço do artista, trabalho duro em cima do material, para que ele se transforme. Com a poesia, ocorre o mesmo. É preciso muito trabalho do poeta para que a obra de arte seja gerada. Para eles, na hora de criar uma obra de arte, a transpiração é mais importante que a inspiração. Teófilo Dias (1854-1889) foi um poeta, advogado e jornalista brasileiro. É membro da Academia Brasileira de Letras, mas também da Maranhense e da Paulista. Seu livro Fanfarras, de 1882, é considerado o marco inicial do Parnasianismo no Brasil, embora Olavo Bilac seja um autor mais conhecido e sua obra mais importante para o movimento. 8 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PARNASIANISMO Vejam um exemplo de poesia parnasiana com essas características: Vaso Chinês Alberto de Oliveira Estranho mimo aquele vaso! Vi-o, Casualmente, uma vez, de um perfumado Contador sobre o mármor luzidio, Entre um leque e o começo de um bordado. Fino artista chinês, enamorado, Nele pusera o coração doentio • O objetivo da obra de arte é ser boa e bela em si mesma. • A arte não deve buscar ser didática, sentimental ou pedagógica. ARTE PELA ARTE • A obra poética deve ser trabalhada para ser o mais perfeita possível no campo da forma. Logo, o perfeccionismo era uma obsessão. BUSCA PELA PERFEIÇÃO • Os temas da poesia parnasiana são próximos do cotidiano, buscando descrevê-los de maneira detalhada, analisando sob diversos ângulos, inspirando-se no método científico. CIENTIFICISMO E POSITIVISMO • Uso de rimas ricas e palavras raras, com um vocabulário rebuscado. • Preocupação com a métrica e a versificação, sendo que a métrica preferida é o verso alexandrino (de doze sílabas). • As rimas são regulares. • Soneto é a forma preferida. CULTO À FORMA E ÀS ESTRUTURAS FIXAS • Os poetas produzem obras fortemente detalhadas, muitas vezes descrevendo objetos ou situações com precisão. • Há uma busca pela descrição mais objetiva, inspirada na observação científica. DESCRIÇÃO DETALHADA • Cotidiano (tanto objetos quanto paisagens). • Cultura clássica (mitologia greco-latina). • Fatos históricos. TEMAS 9 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Em rubras flores de um sutil lavrado, Na tinta ardente, de um calor sombrio. Mas, talvez por contraste à desventura, Quem o sabe?... de um velho mandarim Também lá estava a singular figura. Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a, Sentia um não sei quê com aquele chim De olhos cortados à feição de amêndoa. Nesse poema, há a descrição de um vaso chinês. Um objeto do cotidiano, portanto, é tratado como assunto suficientemente importante para os parnasianos. O poeta trata da sua admiração ao ver o quadro que é descrito em detalhes: as cores, os desenhos, o lugar em que ele se encontrava. Percebam também que há regularidade no escrito. Além de usar a forma fixa do soneto, o poeta também mantém regularidade na rima e na métrica. Veja um exemplo de escansão do poema e perceba que todos os versos possuem 10 sílabas: Es / tra/ nho / mi/ mo a / que / le / va/ so! / Vi-o, (10 sílabas poéticas) Ca/ sual/ men/ te, u/ ma / vez, / de um / per/ fu/ ma /do (10 sílabas poéticas) Con / ta/ dor / so/ bre o / már / mor / lu/ zi / di /o, (10 sílabas poéticas) En / tre um / le/ que e o / co/ me/ ço / de um / bor/ da /do. (10 sílabas poéticas) Soneto: poema de 14 versos, organizados em quatro estrofes. As duas primeiras estrofes são quartetos (4 versos por estrofe) e as duas últimas estrofes são tercetos (três versos por estrofe). Escansão: contar as sílabas do poema até a última sílaba tônica, ou seja, a sílaba forte da última palavra do verso. Por vezes, unem dois sons em uma única sílaba, processo chamado de elisão ( ). Além do conhecimento sobre métrica e escansão, é importante para essa aula revisar figuras de linguagem. São temas que já abordamos em aulas anteriores. 10 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO TIPOS DE VERSOS MAIS COMUNS NOME DO VERSO QUANTIDADE DE SÍLABAS POÉTICAS Dissílabo Duas sílabas poéticas Trissílabo Três sílabas poéticas Tetrassílabo Quatro sílabas poéticas Pentassílabo ou redondilha menor Cinco sílabas poéticas Hexassílabo ou heroico quebrado Seis sílabas poéticas Heptassílabo ou redondilha maior Sete sílabas poéticas Octassílabo Oito sílabas poéticas Eneassílabo Nove sílabas poéticas Decassílabo ou heroico Dez sílabas poéticas Hendecassílabo Onze sílabas poéticas Dodecassílabo ou alexandrino Doze sílabas poéticas Bárbaro Treze ou mais sílabas poéticas APOIOS RÍTMICOS NOME DO VERSO NÚMEROS DAS SÍLABAS POÉTICAS DE APOIO Trissílabo 1; 1-3 Tetrassílabo 4; 1-4; 2-4 Pentassílabo ou redondilha menor 2-5; 3-5; 1-5; 1-3-5; 1-2-5 Hexassílabo ou heroico quebrado 2-4-6; 2-6; 1-3-6; 1-4-6; 1-6;3-6 Heptassílabo ou redondilha maior 2-5-7; 2-4-7; 3-7; 4-7; 1-7 Octassílabo 1-4-8; 2-4-8; 4-6-8; 3-6-8; 2-4-6-8; 1-3-5-8 Eneassílabo 1-4-6-9; 1-4-9; 1-3-6-9; 3-6-9 Decassílabo ou heroico Heroico: 6-10; Sáfico: 4-6-10; Provençal: 4-7-10. Hendecassílabo 2-5-8-11; 3-5-9-11 Dodecassílabo ou alexandrino 4-8-12; 2-4-8-12; 1-4-8-12 Número da sílaba poética que, no verso, vai ser forte. A segunda coluna indica os esquemas mais frequentes, não que sejam uma regra. 11 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Olavo Bilac (1865-1918) é o principal poeta parnasiano brasileiro. Além da literatura, possuía participação cívica efetiva. Foi autor do Hino à Bandeira. Era chamado de “príncipe dos poetas brasileiros”. Seus dois poemas mais conhecidos são Ora (direis ouvir estrelas e Língua portuguesa. Perceba uma característica forte do Parnasianismo no poema "Língua Portuguesa": a influência da literatura greco- latina. O poeta se refere à Língua Portuguesa como “a última flor do Lácio”. O Lácio é uma região da Itália onde se falava uma variante vulgar do latim. Essa variante deve ter sido a origem do Português. 2.1 Autores e obras do Parnasianismo Olavo Bilac XIII "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido E Capaz de ouvir e de entender estrelas". Língua portuguesa Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura, Tuba de alto clangor, lira singela Que tens o trom e o silvo da procela, o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”, E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! 12 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO (Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2020) Raiva o incêndio. A ruir, soltas, desconjuntadas, As muralhas de pedra, o espaço adormecido De eco em eco acordando ao medonho estampido, Como a um sopro fatal, rolam esfaceladas. E os templos, os museus, o Capitólio erguido Em mármore frígio, o Foro, as eretas arcadas Dos aquedutos, tudo as garras inflamadas Do incêndio cingem, tudo esboroa-se partido. Longe, reverberando o clarão purpurino, Arde em chamas o Tibre e acende-se o horizonte... – Impassível, porém, no alto Palatino, Nero, com o manto negro ondeando ao ombro, assoma Entre os libertos, e ébrio, engrinaldada a fronte, Lira em punho, celebra a destruição de Roma. Disponível em: https://tinyurl.com/yaxymyp5. Acesso em: 20 jul. 2020. O que se depreende a postura de Nero a partir do poema? a) Foi o último representante da República romana e foi venerado pelo povo quando faleceu. b) Conseguiu ver algo que ninguém via e teve uma atitude inusitada diante da catástrofe. c) Ao passo que Roma estava se incendiando pela primeira vez, ela apreciava a paisagem. d) Foi um imperador que incentivou a cultura do Pão e Circo, sobretudo, a cultura dos gladiadores. e) Contrasta entre a beleza criada pela arquitetura humana e a tragédia natural. Comentários: Questão de interpretação de texto; conhecimento do movimento literário e questão com interface interdisciplinar com a História. Alternativa A: incorreta. Cuidado com as informações extratextuais. Não foi representante da República (509 a. C.-27 a. C.), e Nero governou durante 13 de outubro de 54 d. C. a 9 de junho de 68 d. C. Alternativa B: correta – gabarito. O que é inferido a partir do último terceto e já um pouco antes dela: “- Impassível, porém, no alto Palatino”. Alternativa C: incorreta. Ele tocava um instrumento musical (lira). A paisagem é descrita pelo eu lírico, que não necessariamente é o próprio Nero. O que é conhecido como Grande Incêndio de Roma aconteceu em 64 d. C. Alternativa D: incorreta. Os imperadores que mais fizeram isso foram Cômodo e Calígula. O que se infere do trecho é que a parte cultural que tocava a Nero era a música. Alternativa E: incorreta. Não se sabe qual foi a causa desse incêndio especificamente. Gabarito: B. 13 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO O poeta Alberto de Oliveira (1857-1937) era farmacêutico, porém acabou se dedicando à poesia. Suas poesias são focadas principalmente na descrição de objetos e de ambientes da natureza. O poema Vaso Grego é uma de suas obras mais conhecidas e que expõe de modo mais contundente diversas máximas do Parnasianismo: Temática greco-latina. Estrutura formal rígida, fazendo uso do soneto e dos versos de 10 sílabas poéticas. Vocabulário rebuscado, fazendo uso de palavras menos comuns, tornando a linguagem mais trabalhada. Alberto de Oliveira Alberto de Oliveira – Vaso Grego Esta de áureos relevos, trabalhada De divas mãos, brilhante copa, um dia, Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Era o poeta de Teos que a suspendia Então e, ora repleta ora, esvazada, A taça amiga aos dedos seus tinia Toda de roxas pétalas colmada. Depois... Mas o lavor da taça admira, Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas Finas hás de lhe ouvir, canora e doce, Ignota voz, qual se da antiga lira Fosse a encantada música das cordas, Qual se essa voz de Anacreonte fosse. Os 12 deuses do Olimpo: Zeus, Hera, Poseidon, Atena, Ares, Deméter, Apolo, Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes e Dionísio. Cada um desses nomes tem seu correspondente latino, cuja nomenclatura inclusive serve para nomear planetas. Sugiro revisar o quadro disponível na aula 01! É importante notar que o Parnasianismo apresenta um vocabulário requintado, ordem sintática indireta e valorização do objeto. Tanto é que vários dos poemas do movimento se propõem a escrever sobre vasos dos mais variados tipos. Nesse poema, verifica-se adjetivação, alusão ao Monte Olimpo (correspondente grego do próprio Parnaso, morada dos deuses) e a descrição do trabalho artístico. 14 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO O poeta Raimundo Correia (1859-1911) é outro dos poetas parnasianos mais populares no Brasil. Boa parte de seus poemas segue a linha temática dos outros poetas: as imagens e objetos do cotidiano e a inspiração na cultura clássica. A diferença de Raimundo para os outros dois poetas é seu forte traço pessimista, frequentemente desiludido com a vida. O poema “As Pombas” esteve no centro de uma grande polêmica: ele foi acusado de plágio, por ser uma tradução de um poema de Theóphile Gautier, poeta parnasiano europeu. Raimundo Correia Raimundo Correia – As pombas Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas Das pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada... E à tarde, quando a rígida nortada Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada... Também dos corações onde abotoam Os sonhos, um a um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais; No azul da adolescência as asas soltam, Fogem... Mas aos pombais as pombasvoltam, E eles aos corações não voltam mais... Os três poetas formam a chamada tríade parnasiana, grupo dos três poetas parnasianos mais conhecidos. Porém, também consta a produção de Francisca Júlia. Esse poema por sua vez reflete a atmosfera decadente do fim de século. Já desde a primeira estrofe, há uma atmosfera pessimista que descreve a ida das pombas. Atenção: a imagem da tarde indica ruína. O próprio Olavo Bilac tem uma obra que compõe a reunião de poemas a qual se chama “Tarde”. O poema termina com um tom de desesperança. 15 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO (Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2020) Mal secreto Se a cólera que espuma, a dor que mora N’alma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse; Se se pudesse, o espírito que chora, Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse! Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo, Como invisível chaga cancerosa! Quanta gente que ri, talvez existe, Cuja ventura única consiste Em parecer aos outros venturosa! CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995. Após a leitura do soneto parnasiano, julgue os itens subsequentes. I. O vocábulo do título do poema é construído a partir de um substantivo (“secreto”) e um advérbio de modo (“mal”). II. O Parnasianismo é um movimento literário esteticista do fim do século XIX que preza muito pela forma. Porém, neste poema, o eu lírico também contesta que o conteúdo é importante, por meio do descaso com o sentimento alheio. III. O resgate das formas clássicas é um dos aspectos parnasianos. A sequência de itens corretos é: a) I. b) II. c) III. d) I e III. e) II e III. Comentários: Item I: incorreto. Cuidado: “secreto” no título está sendo usado como adjetivo para concordar em gênero, número e grau com o substantivo ao qual se refere: “mal”. Muito embora estes termos possam assumir as funções descritas na alternativa, isto não ocorre aqui neste contexto. Item II: incorreto. Pelo contrário: o eu lírico levanta a hipótese de que se as pessoas mostrassem mais suas essências em vez de aparências nossa reação quanto aos sentimentos delas mudaria. O que prevalece no poema é o jogo entre essência e aparência. Item III: correto. Como o é caso da forma fixa do soneto. Gabarito: C. 16 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Francisca Júlia Francisca Júlia (1871-1920). Poetisa brasileira, nascida no interior de São Paulo. Começou escrevendo o Livro da Infância (1899), dedicado à educação em escolas públicas do estado. Suas principais obras são Mármores (1895) e Esfinges (1921). No poema abaixo, a figura mitológica da musa é aludida. Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero Luto jamais te afeie o cândido semblante! Diante de um Jó, conserva o mesmo orgulho; e diante De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero. Em teus olhos não quero a lágrima; não quero Em tua boca o suave e idílico descante. Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante, Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero. Dá-me o hemistíquio d'ouro, a imagem atrativa; A rima, cujo som, de uma harmonia crebra, Cante aos ouvidos d'alma; a estrofe limpa e viva; Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos, Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra, Ora o surdo rumor de mármores partidos. De musa passiva do poema, mero objeto de representação, o eu lírico feminino agora é aquele quem fala da musa, fonte de inspiração. As Musas também são criaturas mitológicas, fonte de inspiração para os poetas. Então, é como se o eu lírico estivesse invocando inspiração para si. Já na Ilíada de Homero, as Musas são aclamadas logo nos primeiros versos (o Canto I é uma invocação às musas). Porém, essa musa, em vez de inspirar, é inspirada. A questão do sofrimento feminino é retratada. Ou eu lírico exorta coragem da musa, clamando que ela nunca padeça. Há intertextualidade bíblica, pois Jó é uma figura que muito sofreu e foi testado pela divindade superior. Logo, força e coragem são sentimentos universais, não só masculinos, mas que podem ser femininos também. O eu lírico eleva a musa à condição dos homens que muito sofreram, mas superaram essa fase. Pois essa musa, para fazer jus a seu nome, deveria lembrar as representações épicas do poeta clássico Dante e justamente de Homero. De tão clássica imitaria uma forma poética grega, o hemistíquio (metade de um verso alexandrino). O poema revela-se metalinguístico e o eu lírico parece, afinal, querer mesmo pedir por inspiração. Porém, a musa deve ser forte para ser capaz de fornecer essa inspiração. O eu lírico deseja escrever versos que falem de ruptura, imagens compostas pelo calhau quebrado e o mármore partido. O foco do soneto se concentra na preocupação do eu lírico em fortalecer a musa primeiramente para que assim ela esteja em condições elevadas, capaz de tornar elevados também os versos produzidos. 17 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO 3.0 Simbolismo Na mesma época em que o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo ocorriam, surge mais um movimento literário: o Simbolismo. Ao longo do tempo, o homem viveu sob a ideia de que o progresso científico e tecnológico sempre levaria à evolução, ou seja, seríamos melhores na medida em que tivéssemos uma sociedade mais tecnológica. De fato, a tecnologia foi capaz de melhorar nossa vida e facilitar nossas ações cotidianas. A tecnologia, porém, não foi capaz de solucionar alguns problemas essenciais aos seres humanos: a igualdade não foi alcançada, não fomos capazes de eliminar a pobreza e ainda passamos por momentos de guerra e conflito intenso. Muitas vezes, a tecnologia parece estar no centro de diversos desses problemas. É dessa frustração com a racionalidade e o pensamento científico que surge o Simbolismo. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SIMBOLISMO • A religiosidade é um tema frequente para os autores simbolistas. • Outros temas espirituais e metafísicos, como a morte, por exemplo. ESPIRITUALIDADE E MISTICISMO • Uso da figura de linguagem da sinestesia (do grego, συναισθησία: syn- significa conjunto e aesthesía sensações; mistura de sensações) e da metáfora. • O tema da sexualidade aparece com frequência. INTUIÇÃO E APROXIMAÇÃO DO SENSORIAL •A linguagem trabalha com a sugestão e os símbolos, muito mais do que com a objetividade. • Uso de figuras de linguagem como a aliteração (repetição de consoantes) e a assonância (repetição de vogais). LINGUAGEM VAGA E MUSICALIDADE • Numa espécie de resgate dos valores românticos caídos em desuso, os simbolistas buscam se afastar da abordagem racional da realidade e buscam observá-la de maneira mais sensível. • Antimaterialismo. NÃO RACIONALIDADE • Os poetas simbolistas não se sentem confortáveis num mundo que valoriza a racionalidade. Assim, eles têm uma visão soturna do cotidiano. PESSIMISMO • Interesse pelas noções de inconsciente; pela psicanálise e pela investigação da mente humana, tangenciando assuntos como a loucura e o subconsciente. • O tema do sonho é muito frequente no Simbolismo, normalmente referido pela palavra onírico. SUBJETIVIDADE 18 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Dança do ventre. Fonte: Pixabay. Vejam um exemplo de poema simbolista com essas características: Dilacerações – Cruz e Sousa Ó carnes que eu amei sangrentamente, ó volúpias letais e dolorosas, essências de heliotropos e de rosas de essência morna, tropical, dolente… Carnes, virgens e tépidas do Oriente do Sonhoe das Estrelas fabulosas, carnes acerbas e maravilhosas, tentadoras do sol intensamente… Passai, dilaceradas pelos zelos, através dos profundos pesadelos que me apunhalam de mortais horrores… Passai, passai, desfeitas em tormentos, em lágrimas, em prantos, em lamentos em ais, em luto, em convulsões, em dores… Nesse poema, há traços do tema da sexualidade (“Carnes, virgens e tépidas do Oriente”), do pessimismo (“em lágrimas, em prantos, em lamentos”) e do sonho (“através dos profundos pesadelos”). Além disso, o poema é muito ligado ao sensorial (ex.: “essência morna”). Perceba também que, na forma do poema, há uma preocupação com a sonoridade. Veja como o verso “Passai, passai, desfeitas em tormentos” produz uma aliteração em “s”. O poema também faz uso de uma linguagem mais vaga, mais próxima da emoção do que da razão. 3.1 Autores e obras do Simbolismo 19 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Cruz e Sousa (1861-1898) foi o poeta simbolista brasileiro mais conhecido, tendo se tornado popular no mundo todo. É considerado um dos primeiros escritores negros brasileiros, tendo sido chamado de Cisne Negro. Ele era filho de escravos forros. Ao longo da vida, ele combateu o preconceito racial e militou pelo fim da escravidão. Assim, a condição do negro na época era um de seus temas de interesse na literatura. Outra particularidade em sua poesia é a fixação pela cor branca. Percebam no poema Braços como toda a primeira estrofe se foca em descrever – a partir de diversas sensações – braços brancos, alvos. O erotismo, característica comum do poeta também aparece aqui. Ele também produz muitas obras retratando sofrimento e dor, com uma fixação na ideia de morte. Perceba no poema Escárnio perfumado o modo sentimental com que fala sobre o sofrimento de não receber a carta da pessoa amada. Cruz e Sousa Braços Braços nervosos, brancas opulências, brumais brancuras, fúlgidas brancuras, alvuras castas, virginais alvuras, latescências das raras latescências. As fascinantes, mórbidas dormências dos teus abraços de letais flexuras, produzem sensações de agres torturas, dos desejos as mornas florescências. Braços nervosos, tentadoras serpes que prendem, tetanizam como os herpes, dos delírios na trêmula coorte ... Pompa de carnes tépidas e flóreas, braços de estranhas correções marmóreas, abertos para o Amor e para a Morte! Escárnio Perfumado Quando no enleio De receber umas notícias tuas, Vou-me ao correio, Que é lá no fim da mais cruel das ruas, Vendo tão fartas, D’uma fartura que ninguém colige, As mãos dos outros, de jornais e cartas E as minhas, nuas – isso dói, me aflige… E em tom de mofa, Julgo que tudo me escarnece, apoda, Ri, me apostrofa, Pois fico só e cabisbaixo, inerme, A noite andar-me na cabeça, em roda, Mais humilhado que um mendigo, um verme… 20 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO PROSA Missal OCASO NO MAR Num fulgor d’ouro velho o sol tranquilamente desce para o ocaso, no limite extremo do mar, d’águas calmas, serenas, dum espesso verde pesado, glauco, num tom de bronze. No céu, de um desmaiado azul, ainda claro, há uma doce suavidade astral e religiosa. Às derradeiras cintilações doiradas do nobre Astro do dia, os navios, com o maravilhoso aspecto das mastreações, na quietação das ondas, parecem estar em êxtase na tarde. Num esmalte de gravura, os mastros, com as vergas altas lembrando, na distância, esguios caracteres de música, pautam o fundo do horizonte límpido. Os navios, assim armados, com a mastreação, as vergas dispostas por essa forma, estão como a fazer-se de vela, prontos a arrancar do porto. Um ritmo indefinível, como a errante etereal expressão das forças originais e virgens, inefavelmente desce, na tarde que finda, por entre a nitidez já indecisa dos mastros… Em pouco as sombras densas envolvem gradativamente o horizonte em torno, a vastidão das vagas (...). SOUSA, Cruz e. Missal. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://coruja.page.link/qXnn. Acesso em: 12 jan. 2023. Negro CONSCIÊNCIA TRANQUILA (...) Lembro-me também de outra, bestialmente grávida, prestes a ser mãe, a quem eu, para saciar a minha sede feroz de ciúme, a minha sede de raiva, a minha sede de concupiscência suína, mandei aplicar quinhentas chicotadas, enquanto os meus dentes rangiam na volúpia do ódio saciado. Desta foi tamanha e tão atroz a dor, tão horríveis as contorções, enroscando-se como serpente dentro de chamas crepitantes, que esvaiu-se toda em sangue, abortou de repente e ali mesmo morreu logo (...) E de outra ainda lembro-me também, porque eu a mandei afogar no rio das Sete Chagas, junto à figueira-do-inferno, com o filho, que era execravelmente meu, dentro das entranhas... Mandei afogar tarde, a horas mortas, depois que certo sino cavo soluçou as doze badaladas lentas e sonolentas no amortalhado luar... E devo ter algum remorso disso? Remorso? De quê? Por quê? Por quem? SOUSA, Cruz e. Negro. Organização, introdução e notas por Zilma Gesser Nunes. 2. reimpressão. Florianópolis: Caminho do Desterro, 2020 (p. 109-110). Negro Poesia 24 poemas 13 deles são sonetos Prosa 9 textos 3 textos críticos 9 contos literários 1 conto com 8 partes (TESES) Correspondências 4 cartas 21 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Alphonsus de Guimaraens (1870- 1921) é o pseudônimo do escritor Afonso Henrique da Costa Guimarães. Ele adaptou seu nome para aproximá-lo da língua latina. Sua obra é em sua grande maioria poética e muito ligada ao misticismo e à religiosidade, principalmente católica. Perceba o poema “A Catedral”, em que o poeta imita o som das badaladas do sino de uma igreja com o ritmo do seu próprio nome (“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus! ”). A sonoridade dos poemas é muito importante para essa escola literária. As figuras femininas também são bastante espiritualizadas na obra de Alphonsus. As mulheres costumam ser representadas de maneira angelical. No poema “Ismália”, um de seus mais conhecidos, o poeta ainda aborda outro assunto importante para o movimento simbolista: a loucura. O poema conta a história de uma mulher que se joga do alto de uma torre. Alphonsus Guimaraens Ismália Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar… Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar… Queria subir ao céu, Queria descer ao mar… E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar… Estava perto do céu, Estava longe do mar… como um anjo pendeu As asas para voar… Queria a lua do céu, Queria a lua do mar… As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par… Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar… A Catedral Entre brumas, ao longe, surge a aurora, O hialino orvalho aos poucos se evapora, E Agoniza o arrebol. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu risonho Toda branca de sol. E o sino canta em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” O astro glorioso segue a eterna estrada. Uma áurea seta lhe cintila em cada Refulgente raio de luz. A catedral ebúrnea do meu sonho, Onde os meus olhos tão cansados ponho, Recebe a benção de Jesus. 22 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Possivelmente, muito de sua poética envolve a ideia da morte da mulher amada, pois o poeta teve em sua vida uma tragédia do gênero: sua noiva faleceu aos 18 anos e ele nunca parece ter superado o ocorrido. As principais características da poesia de Alphonsus de Guimaraes, portanto, são: Descrição de ambientes, tanto paisagens quanto construções. Melancolia e sofrimento. Misticismo e religiosidade. E o sinoclama em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” Por entre lírios e lilases desce A tarde esquiva: amargurada prece Põe-se a luz a rezar. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu tristonho Toda branca de luar. E o sino chora em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” O céu e todo trevas: o vento uiva. Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem acoitar o rosto meu. A catedral ebúrnea do meu sonho Afunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu. E o sino chora em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" 4.0 Pré-Modernismo O período do Pré-Modernismo na literatura brasileira se situa entre o fim do século XIX e início do século XX. Os marcos inicial e final foram a Proclamação da República (1889) e a Semana de Arte Moderna (1922). Uma série de eventos marcaram esse momento histórico no Brasil: A Primeira República se consolida nos governos de Marechal Deodoro da Fonseca, Marechal Floriano Peixoto e Prudente de Morais – o primeiro presidente civil do Brasil. Durante esse momento, havia um esforço para solidificar a república e seus símbolos, eliminando aquilo que pudesse ameaçá-la. Revoltas como a Revolução Federalista – no Rio Grande do Sul – e a Revolta da Armada – no Rio de Janeiro – questionam o governo e suas políticas econômicas. Essas revoltas eram principalmente fruto da insatisfação das elites. A partir do governo de Prudente de Morais, ocorrem movimentos organizados pelas camadas populares. O primeiro e mais importante conflito foi a Guerra de Canudos, conflito que envolveu a comunidade liderada pelo líder messiânico Antônio Conselheiro e o exército brasileiro. A Revolta da Vacina (1904), movimento de resistência à vacinação obrigatória contra a varíola. Muitas pessoas achavam que era um modo de eliminação em massa da população pobre. A Revolta da Chibata (1910), movimento liderado pelo marinheiro João Cândido, buscando o fim dos castigos corporais na marinha e melhoria das condições de vida e soldo. O cangaço, movimento de bandos armados compostos por homens pobres que passaram a praticar assaltos em fazendas, saquear estabelecimentos comerciais e sequestrar homens ricos em troca de resgate. O bando mais conhecido é o de Lampião e Maria Bonita. 23 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO O coronelismo. A figura do “coronel” não se relaciona necessariamente com um posto militar ou policial. Na época, devido às grandes dimensões do Brasil e as distâncias das províncias em relação ao governo central, era comum que grandes proprietários de terras fossem agraciados com o título de coronel da Guarda Nacional, o que lhes garantia direitos para impor a ordem. Há muitos questionamentos acerca da legitimidade das eleições, já que o voto de cabresto, prática de obrigar subordinados a votar em seu candidato de preferência sob pena de punições, era muito comum. Instaura-se a política do café com leite, nome pelo qual ficou conhecida a alternância de poder no governo entre as oligarquias paulistas e mineiras. Há um aumento significativo da industrialização no Brasil. Os principais produtos de exportação eram o café, oriundo de São Paulo, e a borracha, vinda da região Norte. Esta última impulsionou o crescimento de Manaus, que se tornou uma cidade modernizada. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PRÉ-MODERNISMO • Obras literárias que analisam o contexto social e político do país. • Questões como a desigualdade social, pobreza e os conflitos entre o povo e o governo aparecem nas obras. ANÁLISE SOCIAL • A linguagem, ainda que utilize a norma culta, se aproxima mais do falar popular, utilizando palavras mais comuns e construções mais simples. • Coloquialidade em alguns autores. LINGUAGEM INFORMAL • Por ser um período de transição entre escolas, o pré-modernismo absorve características de outros movimentos. Os autores se apropriam de alguns valores do Naturalismo ao mesmo tempo em que produzem obras poéticas próximas ao Simbolismo. • Antecipam algumas características do Modernismo, como a maior inovação na forma da escrita. Por isso, constitui um movimento de transição. MISTURA DE REFERÊNCIAS • Presença da cultura popular brasileira. • Personagens como o caipira e o sertanejo ganham destaque. REGIONALISMO 24 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO 4.1 Autores e obras do Pré-Modernismo Euclides da Cunha Euclides da Cunha (1866-1909) nasceu no Rio de Janeiro. Formado engenheiro, atuou como jornalista e escritor. Por ter tido carreira militar e ainda possuir o título de primeiro-tenente na época em que trabalhava no jornal, Euclides da Cunha foi enviado como correspondente do Estado de São Paulo para realizar a cobertura da guerra de Canudos. Ao chegar em Canudos, Euclides se deparou com uma parte do Brasil desconhecida pelos habitantes do Rio de Janeiro. Era o choque daquilo que ele se referiu como o choque de dois brasis: o do litoral, portador de um projeto republicano e orientado pela ideia de civilização; e o do sertão, onde predominavam o misticismo, a miséria e a mestiçagem. Diante da violência empregada para a destruição de Canudos, Euclides questiona se a população do litoral era tão civilizada quanto acreditava ser. Em seu discurso, as elites diziam salvar a República e a unidade do território, mas excluíam parcelas da população de sua ideia de Brasil. Mas os habitantes dos sertões, apesar de esquecidos pelo “Brasil oficial” e castigados pela seca e miséria, sobreviviam, resistindo bravamente a todas as expedições enviadas pela capital federal. Em suas próprias palavras: "o sertanejo é, antes de tudo, um forte.” Com o término do conflito, Euclides retornou para o Rio de Janeiro, onde em 1902 publicou sua obra mais famosa: Os sertões. O livro reúne suas impressões científicas, geográficas e humanas sobre o que encontrou em Canudos. A obra foi o primeiro livro-reportagem publicado no Brasil. Os sertões é uma obra extensa, dividida em 3 partes, com muitos capítulos: A Terra Na primeira parte do livro, Euclides descreve o ambiente do sertão atingido pela seca. A análise é geográfica, abarcando fauna, flora, relevo, clima e outros. O Homem Na segunda parte do livro, há uma descrição e análise do sertanejo e seus costumes. A análise é antropológica e sociológica. Com inspiração Naturalista, entende o homem como fruto de seu meio, raça e história. Aqui é apresentada a figura de Antônio Conselheiro e da população de Canudos, com todo o funcionamento da comunidade. A Luta Na terceira e última parte, há a descrição da Guerra de Canudos. A análise é historiográfica: narra as quatro tentativas de destruição de Canudos pelo Exército do Brasil e o período após o fim da guerra. O desfecho é a trágica destruição de Canudos. 25 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Os Sertões (1902) CATEGORIA DEFINIÇÃO ESTRUTURA 630 páginas divididas em 3 partes, entre os quais, alguns capítulos se destacam: A Terra; O Homem e A Luta. TEMPO Guerra de Canudos (1896-1897). ESPAÇO Interior do Estado da Bahia. ENREDO Narra os acontecimentos da Guerra de Canudos, liderada por Antônio Conselheiro (1830-1897). O procedimento mescla ficção (Literatura) com fatos (História). Há interdisciplinaridade com Antropologia, Sociologia, Geografia e História. Criticava o ufanismo exacerbado da época, mostrando uma faceta realista do Brasil. Há determinismo social (o homem é fruto do meio), a abordagem da mestiçagem e a descrição da fauna e da flora (uso de adjetivação). DESFECHO Tragédia da destruição de Canudos. (Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2020) A força portentosa da hereditariedade, aqui, como em toda a parte e em todos os tempos, arrasta paraos meios mais adiantados – enluvados e encobertos de tênue verniz de cultura – trogloditas completos. Se o curso normal da civilização em geral os contém, e os domina, e os manieta, e os inutiliza, e a pouco e pouco os destrói, recalcando-os na penumbra de uma existência inútil, de onde os arranca, às vezes, a curiosidade dos sociólogos extravagantes ou as pesquisas da psiquiatria, sempre que um abalo profundo lhes afrouxa em torno a coesão das leis, eles surgem e invadem escandalosamente a história. São o reverso fatal dos acontecimentos, o claro-escuro indispensável aos fatos de maior vulto. CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Ateliê Editorial, 2018 (p. 501). A partir do trecho acima e de seus conhecimentos quanto ao PRÉ-MODERNISMO, julgue o item subsequente. Entre as teorias predominantes do século XIX, a que se verifica no trecho é o evolucionismo. Comentários: Questão de interpretação de texto literário/ movimento literário. O evolucionismo é um conjunto de doutrinas que sustentam a tese positivista, pois considera o desenvolvimento inevitável em direção a estados mais aperfeiçoados, o que justificaria o incessante fluxo de transformações nos meios natural, biológico e natural. No caso, há evolucionismo na concepção de “força portentosa da hereditariedade”. Muito embora o narrador considere a possibilidade de “trogloditas completos” poderem chegar a estados “mais adiantados”, considera igualmente que esse processo seria o “reverso fatal dos acontecimentos”. O evolucionismo representaria o “curso normal da civilização”. Gabarito: C. 26 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Lima Barreto Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) foi escritor e jornalista. Assim como muitas pessoas da época, a história de Lima Barreto se mistura com a da escravidão no Brasil. Seus avós haviam sido escravos e sua mãe era agregada de uma família abonada. Por isso, a mãe havia sido educada e trabalhava como professora. Lima Barreto, por intermédio da família à qual sua mãe era ligada, foi apresentado ao visconde de Ouro Preto, que se tornou seu padrinho e responsável por sua educação. Duas questões, portanto, foram fundamentais para a constituição de seu senso crítico enquanto jornalista e escritor: A condição do negro na sociedade, tanto antes da abolição quanto após. A lembrança distante – talvez incentivada pela família e padrinho – do tempo do Império, e seu contraste com o regime republicano. Apesar de ter iniciado a graduação na Escola Politécnica, ele acabou trabalhando como Secretário do Ministério da Guerra, para ajudar a família, além de atuar em jornais e revistas. Ele era um homem de saúde mental frágil. Além do alcoolismo, ele também sofria de uma depressão profunda, chegando a ser internado por isso. Sua obra mais famosa é Triste fim de Policarpo Quaresma. A obra conta a história de Policarpo, um homem comum, funcionário público, que tem um grande projeto: valorizar a cultura genuinamente brasileira. Vamos aos quadros sinópticos de suas principais obras. Triste fim de Policarpo Quaresma (1911) CATEGORIA DEFINIÇÃO ESTRUTURA Romance em 5 capítulos. TEMPO Policarpo Quaresma, Ricardo Coração dos Outros, Olga, Ismênia, General Albernaz, Adelaide. ESPAÇO Primeiros anos da República, governo de Floriano Peixoto (1891-1894). ENREDO Policarpo lia muito e era bastante nacionalista. Aprendia violão com Ricardo Coração dos Outros. Escreveu um ofício em tupi para o ministro, pelo que foi internado. Compra um sítio, mas políticos locais querem prejudicá-lo. Policarpo quer uma mudança de governo. DESFECHO Floriano convida Policarpo para ingressar na revolta. Policarpo aceita e é listado como Major. A revolta termina e Policarpo é preso. Mesmo muito patriota, questiona-se o porquê de ter aquele fim. 27 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Durante os lazeres burocráticos, estudou, mas estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política. Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais, que o Brasil continha; sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas, as guerras holandesas, as batalhas do Paraguai, as nascentes e o curso de todos os rios. Defendia com azedume e paixão a proeminência do Amazonas sobre todos os demais rios do mundo. Para isso ia até ao crime de amputar alguns quilômetros ao Nilo e era com este rival do "seu" rio que ele mais implicava. Ai de quem o citasse na sua frente! Em geral, calmo e delicado, o major ficava agitado e malcriado, quando se discutia a extensão do Amazonas em face da do Nilo. BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. Rio de Janeiro: Garnier, 1990. Comentários A leitura atenta do trecho apresentado, permite que se entenda a obra de Lima Barreto como uma obra de crítica irônica à exaltação cega das características do Brasil, aos moldes românticos. Se no Romantismo fauna e flora brasileiras eram idealizadas, no Pré-Modernismo eles seriam estudados, tornar-se-iam objetos de estudos. Porém, embora isso pressupusesse cientificismo, objetividade, Policarpo acabava por falar de tudo de uma maneira apaixonado que lembrava de novo os românticos. Logo, há ironia. Clara dos Anjos (1948) CATEGORIA DEFINIÇÃO ESTRUTURA 10 capítulos. PERSONAGENS Clara, Joaquim, Engrácia, Cassi Jones de Azevedo. TEMPO Início dos anos 1920. ESPAÇO Subúrbio do Rio de Janeiro. ENREDO Clara tem 17 anos e é uma mulata, filho de Joaquim que, além de carteiro, é flautista, casado com Engrácia. Moram num lugar muito humilde. Ingênua que é, Clara cai no papo de Cassi, jovem de 20 anos e branco, de uma condição social melhor que a dela. Ironia: por causa do nome dela. DESFECHO Clara engravida e Cassi foge. Quer abortar, mas segue o conselho da mãe e vai atrás dele. No entanto, é maltratada pela mãe dele, pela sua raça. Trata-se de uma crítica da democracia racial brasileira. Monteiro Lobato Monteiro Lobato (1882-1948) é um dos escritores brasileiros mais populares, principalmente entre o público infantil por conta do universo do Sítio do Pica-pau Amarelo, criado por ele. Todas as histórias se passam nesse sítio, em que vivem Dona Benta, a dona do lugar, seus netos Narizinho e Pedrinho, e a empregada Tia Nastácia. Narizinho tem uma boneca que fala chamada Emília. Ele também criou a personagem Jeca Tatu, um caipira preguiçoso que simbolizava o atraso do campo e do interior do Brasil. Muito desse universo tem inspiração em sua própria vida. Ele próprio fora criado num sítio e tivera contato com muitas pessoas que acabaram inspirando suas personagens. 28 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Comentários Há, sim, ironia no trecho, mas justamente por causa do desacordo entre o que se diz e o que se quer dizer, pois é esta a definição exata do termo. D. Inácia só é boa na aparência; pois sua índole guarda traços de pessoa gananciosa e torturadora, uma vez que mantém por perto a menina negra de propósito para que continuasse aliviando seu ímpeto de agredir em alguém, mesmo depois que isso se tornasse ilegal, após a Abolição da Escravidão em 1888. Cuidado: não é porque um escritor denuncia os atos que ele defende os ato. Além de escritor, Monteiro Lobato também foi tradutor, tendo trabalhado em obras importantes, incluindo muitas coletâneas de contos de fadas. Ele também se envolveu com negócios de petróleo, o que lhe rendeu muitas inimizades, principalmente entre poderosos que tinham interesse em ocultar a existência de petróleo no Brasil, para favorecer os interesses do capital estrangeiro. Era inimigo declarado do Estado Novo, de Getúlio Vargas e produziu uma série de críticas a esse regime,denunciando arbitrariedades. “Negrinha” – Monteiro Lobato Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças. Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo. Ótima, a Dona Inácia. (...) A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos — e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo — essa indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia! “Qualquer coisinha”: uma mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho porque disse: “Como é ruim, a sinhá!”... O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo: — Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!... MORICONI, Ítalo. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p.78. 29 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Augusto dos Anjos Augusto dos Anjos (1884-1914) é o principal representante da poesia no Pré-Modernismo. Ele nasceu numa cidade do interior da Paraíba e começou a esboçar seus primeiros poemas já aos 7 anos de idade. Era muito culto e atuou como professor além de escritor. Era muito ligado ao Naturalismo e às tendências de encarar o mundo de maneira direta e científica. Sua obra produz, inclusive, algumas ironias à religião, principalmente a católica. Como os outros escritores do Pré-Modernismo, bebe de diversas fontes. Ao mesmo tempo que se aproxima da forma fixa dos simbolistas, também se alinha tematicamente com os naturalistas. Sua poesia na época chocava muito as pessoas – e os poetas do parnasianismo. As principais características de sua obra são: Desânimo e pessimismo. Figuras de linguagem, como a metáfora e a comparação. Questão da morte. Rigor formal e estrutural. Vocabulário ligado às ciências exatas e biológicas. Apesar de ter publicado em alguns periódicos, ele produziu apenas uma obra: o livro “Eu” (1912). Veja dois de seus poemas mais conhecidos presentes nesse livro: Versos Íntimos Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de sua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! *Epigênese: processo de geração em que o embrião é constituído por uma série de formações novas ou diferenciações sucessivas do ovo ou espermatozoide, sem a preexistência de elementos ou indícios da futura organização do indivíduo (dicionário Aulete). 30 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Atenção para análise dos gêneros literários associando-os aos movimentos literários. O Simbolismo e o Parnasianismo foram predominantemente poéticos; porém, Cruz e Sousa escreveu prosa poética em Missal (1893) e Olavo Bilac escreveu alguns textos críticos em prosa. Já no Pré-Modernismo, houve prosa e poesia, mas com características diferentes. Confiram o esquema abaixo para maiores esclarecimentos. PRÉ-MODERNISMO Júlia de Almeida Júlia Lopes de Almeida nasceu em 1862 e faleceu em 1934. F oi uma das principais escritoras de sua geração e uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras. Foi casada com o poeta português Filinto de Almeida. Começou sua carreira aos 19 anos, na Gazeta de Campinas, em uma época em que a participação da mulher na vida intelectual era muito rara. Por mais de trinta anos, colaborou com o jornal carioca O País. Apoiava o Abolicionismo e a República. Ao longo de sua carreira, produziu contos, peças, romances, crônicas e livros infanto-juvenis. Seus romances de destaque foram: A viúva Simões (1897); Memórias de Marta (1899); A falência (1901); A intrusa (1908) e A Silverinha (1915). PROSA Mistura de estilos Nacionalismo e crítica a ele Representação de desigualdades sociais Linguagem coloquial e cultura popular Autores: Lima Barreto, Euclides da Cunha e Júlia de Almeida. POESIA Presença do cientificismo do fim do século XIX. Vocabulário técnico: biologia, química etc. Frialdade orgânica Pessimismo Autores: Augusto dos Anjos e Euclides da Cunha 31 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO TRECHO DE “A FALÊNCIA” “A negrinha tinha-se refugiado a um canto, perto do fogão, e exagerava as dores, torcendo-se toda, amparada pela compaixão da Ruth. D. Itelvina avançou os dedos magros, e, agarrando-a por um braço, puxou-a para si; a sobrinha então abraçou-se à negrinha, unindo a sua carne alva, quase nua, ao corpo preto e abjecto da Sancha. – Bata agora! tia Itelvina, bata agora! gritava ela, em um desafio nervoso, sacudindo a cabeleira sobre os ombros estreitos” (ALMEIDA, 2018, p. 125). Comentários A cena mostra uma cena familiar que revela a humanidade da personagem Ruth, uma pré- adolescente sensível que está hospedada na casa de duas tias muito religiosas. Ruth tem dignidade e impede a tia de bater na serva Sancha interpondo-se na situação. No dia seguinte, ao acordar de madrugada e acompanhar a tia Joana à igreja, ela não se conforma com aquela violência tampouco com aquela injustiça. Ela tem uma alma mais complicada, contestadora e cisma com a tia. Não vê mais sentido naquele falso moralismo, naquela hipocrisia de rezar de madrugada, ao passo que é incapaz de se compadecer de um ser humano. 32 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Graça Aranha José Pereira da Graça Aranha nasceu em São Luís do Maranhão, a 21 de junho de 1868. Foi nomeado, em 1890, Juiz Municipal em Cachoeiro de Santa Leopoldina, no Espírito Santo, onde recolheu material para a sua obra de maior interesse, que publicaria doze anos depois, Canaã. De acordo com a Bíblia, Canaã era a terra prometida por Deus a Abraão e descendentes. Por extensão, Canaã, na obra literária, poderia ser considerado um lugar paradisíaco na terra. Nesse romance ideológico, Graça Aranha expõe uma crítica à fase em que o poder político e o social brasileiros sofrem influências de ricos cafeicultores no Sudeste do Brasil e do fluxo de imigrantes alemães, que, então, substituíam a mão de obra escrava dos recém-libertados, marginalizados e injustiçados, em regiões do Espírito Santo. Canaã (1902) CATEGORIA DEFINIÇÃO ESTRUTURA Romance em XII capítulos. PERSONAGENS Milkau, Lentz, Maria etc. ESPAÇO Espírito Santo, Porto do Cachoeiro. ENREDO Dois amigos alemães vêm imigrados para o Brasil. Milkau representa a visão de mundo idealista, sendo que o Novo Mundo é a terra prometida, ao passo que Lentz – radicalmente oposto – acredita que a Alemanha um dia invadirá aquela terra emguerra. Embora diferentes, trabalham juntos na terra e prosperam. CONFLITO Maria é filha de imigrantes pobres. Depois que seu protetor morre, seu amante a abandona e ela se prostitui, vagando pela cidade, negada até na igreja. O único a acolhê-la é Milkau. CLÍMAX O filho de Maria é morto por porcos, mas ela é acusada de infanticídio. DESFECHO Milkau é o único que continua a visitá-la na prisão. INFLUÊNCIA DO NATURALISMO 33 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO 5.0 Movimentos de Transição em Portugal SIMBOLISMO Florbela Espanca Florbela Espanca (1894-1930), poetisa portuguesa, produziu uma poesia caracterizada pelo sofrimento, feminilidade e erotismo. Seus livros mais conhecidos são o Livro de Mágoas (1919) e o Livro de Sóror Saudade (1923). Ela morreu por uma overdose de barbitúricos aos 36 anos. Florbela Espanca – Eu Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada... a dolorida... Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!... Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber por quê... Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver, E que nunca na vida me encontrou! Comentários PRIMEIRA ESTROFE. O poema lida com o duplo sentido da palavra “perdição”, que pode significar vagar pelo mundo sem direção ou estar moralmente condenada. Com isso, coloca-se também o papel da mulher no mundo, questionando-se sobre o real sentido de sua existência. A mulher que não tem norte também é a inominada, a não determinada, a vaga, o que nos remete ao plano do Simbolismo. O plano onírico se revela presente e igualmente o da irmandade, um tema importante para a poetisa. O termo “irmã” também é ambíguo, pois pode se remeter a qualquer outra mulher, no nível da 34 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO sororidade, ou pode adquirir sentido religioso e casto, logo, outro juízo de valor atribuído à imagem da mulher, esta que é religiosamente sacrificada. SEGUNDA ESTROFE. Em “Sombra de névoa tênue e esvaecida, /E que o destino amargo, triste e forte”, há coordenação por adição. O advérbio de modo “brutalmente” indica uma hipérbole (exagero). Depreende-se do soneto que esta alma está sempre incompreendida e levará essa incompreensão até o túmulo. O apego à morte é ultrarromântico, lembrando que há interface entre o Simbolismo e a segunda geração romântica nesse sentido. TERCEIRA ESTROFE. Não só o papel da mulher como também a condição de invisibilidade social da mulher são abordados: “Sou aquela que passa e ninguém vê...”. O julgamento social é constante: mais comentam sobre a vida dela do que a ajudam. Chamam-na de triste, mas ninguém a ajuda. Daí advém o sentimentalismo exacerbado, característica que também lembra o Romantismo. QUARTA ESTROFE. Chama-se atenção para o termo “Alguém”, um pronome indefinido com letra maiúscula, ou seja, alçado à condição de substantivo próprio. É como se ela criasse uma nova categoria: o pronome indefinido definido. Não é como se ele fosse de todo indeterminado, pois tem um propósito no mundo: a preposição “para” + infinitivo transmite ideia semântica de finalidade. Por fim, prevalece o apelo constante à morte como única redenção. Camilo Pessanha Camilo Pessanha (1867-1926), poeta português, é o escritor simbolista de maior reconhecimento em Portugal. Seu livro mais conhecido, Clepsidra (1920), apresenta traços típicos do movimento, como o pessimismo e o antimaterialismo. Morreu em virtude de uma overdose de ópio. FONÓGRAFO Vai declamando um cômico defunto. Uma plateia ri, perdidamente, Do bom jarreta... E há um odor no ambiente A cripta e a pó, – do anacrônico assunto. Muda o registo, eis uma barcarola: Lírios, lírios, águas do rio, a lua... Ante o Seu corpo o sonho meu flutua Sobre um paul, – extática corola. Muda outra vez: gorjeios, estribilhos Dum clarim de oiro – o cheiro de junquilhos, Vívido e agro! – tocando a alvorada... 35 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO Cessou. E, amorosa, a alma das cornetas Quebrou-se agora orvalhada e velada. Primavera. Manhã. Que eflúvio de violetas! Camilo Pessanha – Clepsidra. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/vgdzopv. Acesso em: 12 out. 2020. Comentários O fonógrafo é um instrumento antigo para se tocar discos. Mudar o registro é literalmente como trocar o disco. Então, a relação do título com o poema em si é percebida na mudança do foco temático. O movimento literário do Simbolismo emprega frequentemente a sinestesia, figura de linguagem que materializa a união de sentidos, como no verso “Dum clarim de oiro o cheiro de junquilhos”. Por fim, prestem MUITA ATENÇÃO nesta dica: é muito frequente no Simbolismo o uso da pontuação das reticências, justamente para indicar ideia vaga, pensamentos interrompidos e raciocínios não completos. Assim, a pontuação contribui não só com o sentido do texto como também com o que o movimento literário pretende representar. Eugênio de Castro nasceu em 1869 e faleceu em 1944. Sua produção consta de 2 fases: uma simbolista e outra chamada de neoclassicista. Sua poesia no geral é marcada por: rimas e métricas inovadoras, uso de figuras de linguagens como aliteração e os temas são paixão, pessimismo e necrofilia. Obras principais: Oaristos (1890); Horas (1891); Interlúnio (1894); Salomé e Outros Poemas (1896); Saudades do Céu (1899). EPÍGRAFE Murmúrio de água na clepsidra gotejante, Lentas gotas de som no relógio da torre, Fio de areia na ampulheta vigilante, Leve sombra azulando a pedra do quadrante, Assim se escoa a hora, assim se vive e morre… Homem que fazes tu? Para quê tanta lida, Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça? Procuremos somente a Beleza, que a vida É um punhado infantil de areia ressequida, Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa. Fonte: https://tinyurl.com/y6kadqk9. Acesso em: 12 out. 2020. Antônio Nobre Nasceu em 1867 e faleceu em 1900. Sua obra foi marcada por pessimismo, subjetivismo e egocentrismo. Obras principais [post mortem]: Despedidas (1902); Primeiros versos (1921). 36 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO PARNASIANISMO Antônio Feijó Nasceu em 1859 e faleceu em 1917. Poeta parnasiano, era também diplomata e chegou a desempenhar cargos no Brasil. Formou em Direito pela Universidade de Coimbra e dirigiu a Revista Científica e Literária. Obras principais: Transfigurações (1862); Líricas e Bucólicas (1884); Ilha dos Amores (1897). Cesário Verde Nasceu em 1855 e faleceu em 1886. Natural de Lisboa, suas tendências eram variavam na realidade entre parnasianas, realistas e modernistas. Morreu muito jovem, aos 31 anos de tuberculose. Obra principal: Nós (1894). 6.0 Movimentos Artísticos no Geral Iremos estudar hoje algumas principais vanguardas do fim do século XIX e início do século XX, no campo das Artes Visuais, mais especificamente na pintura. 6.1 Impressionismo Rompia com o passado, representavam a ponte entre o realismo e o modernismo. Argan elenca as seguintes características principais: a aversão à arte acadêmica; 2) a orientação ainda realista; 3) o total desinteresse pelo objeto e a preferência pela paisagem e pela natureza-morta; 4) o trabalho ao ar livre, bem como o estudo das sombras coloridas e da relação entre cores complementares. 37 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO,SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO MONET, Claude. Ponte sobre uma lagoa de nenúfares (1899). Fonte: Metropolitan Museum of Art. Disponível em: https://tinyurl.com/y5j4ncas. Acesso em: 12 out. 2020. 6.2 Art Nouveau Fenômeno novo, a principal característica é o gosto pelo estilo. Segundo Argan: “O Art Nouveau tem certas características constantes: a temática naturalista (flores e animais); 2) a utilização de motivos icônicos e estilísticos, e até tipológicos, derivados da arte japonesa; 3) a morfologia: arabescos lineares e cromáticos; preferência pelos ritmos baseados na curva e suas variantes (espiral, voluta etc.), e, na cor, pelos tons frios, pálidos, transparentes, assonantes, formados por zonas planas ou eivadas, irisadas, esfumadas; 4) a recusa da proporção e do equilíbrio simétrico, e busca de ritmos ‘musicais’, com acentuadas desenvolvimentos na altura e na largura e andamentos geralmente ondulados e sinuosos, 5) o propósito evidente e constante de comunicar por empatia um sentido de agilidade, elasticidade, leveza, juventude e otimismo. A difusão dos traços estilísticos essenciais do Art Nouveau se dá por meio de revistas de arte e moda, do comércio e seu aparato publicitário, das exposições mundiais e espetáculos”. MUCHA, Alfons Maria. As séries (1896). Fonte: Fundação Mucha. Disponível em: https://tinyurl.com/y3qloy2o. Acesso em: 12 out. 2020. 38 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO 6.3 Vanguardas CUBISMO Na pintura, o cubismo usava a decomposição das imagens geométricas, volumes e formas diferentes e cores fechadas. Começa a partir de 1908 na França, quando alguns artistas irão subverter a concepção de pintura, revelando a realidade em decomposições e novas facetas. Um marco é Les Demoiselles d’Avignon (1907), de Pablo Picasso. Suas imagens estão protegidas por direitos autorais, mas segue o pintor na caricatura ao lado. CONSTRUTIVISMO Segundo o dicionário Houaiss: movimento artístico que preconiza a integração entre as técnicas artesanais e a produção industrial, o uso de formas geométricas e sua adequação às necessidades do novo mundo socialista, após a Revolução Russa de 1917. SURREALISMO Segundo Christian Demilly: “no início dos anos 1920, na França, um grupo de artistas revoltados contra uma sociedade asfixiante decide devolver à arte sua espontaneidade, seu mistério, sua loucura. Com eles, a poesia entra na vida cotidiana para chegar a outra forma de realidade, nem real, nem irreal, surreal”. Esta obra é Composição (1921), do russo Piet Mondrian. Fonte: Common Wikipedia (disponível em: https://tinyurl.com/5ce5r7nt, acesso em 1º abril 2021). Esse artista é representativo do Neoplasticismo, próximo ao Construtivismo, movimento que queria romper com o clássico, e tinha como principais características a arte geométrica, também, mas agora abstrata e bidimensional. 39 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO DALÍ, Salvador. Os dois balcões (1929). Fonte: Ficheiro da Wikipédia. Disponível em: https://tinyurl.com/5fuex26d. Acesso em: 1o abril 2021. DADAÍSMO Segundo o dicionário Houaiss, o movimento dadaísta surgiu do conceito de Dadá: movimento artístico de cunho niilista, nascido durante a Primeira Guerra Mundial e que durou de 1916 a 1922, que utilizava a mistificação, o riso, a incongruência e a provocação para negar todas as formas de arte e denunciar o absurdo e o arbitrarismo reinantes no mundo. Disponível na prova do Vestibular da UNESP, 1ª fase, 2011. 7.0 Crítica Literária Pois bem, alunos. O ideal é que a Crítica Literária dialogue com os termos abordados em cada aula. Nesse sentido, selecionei dois textos para trabalharmos hoje: Alfredo Bosi – Pré-Modernismo. Massaud Moisés – Graça Aranha. A escolha predominante foi pelo movimento literário do Pré-Modernismo, para podermos estabelecer a ponte com a próxima aula. 40 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO TEXTO I PRÉ-MODERNISMO Creio que se pode chamar de pré-modernista (no sentido forte de premonição dos temas vivos em 22) tudo o que, nas primeiras décadas do século, problematiza a nossa realidade social e cultural. O grosso da literatura anterior à “Semana” foi, como é sabido, pouco inovador. As obras, pontilhadas pela crítica de “neos” – neoparnasianas, – neossimbolistas, neorromânticas – traíam o marcar passo da cultura brasileira em pleno século da revolução industrial. Essa literatura já foi vista, em suas várias direções, nas páginas dedicadas aos epígonos do Realismo e do Simbolismo. No caso dos melhores prosadores regionais, como Simões Lopes e Valdomiro Silveira, poder-se-ia acusar um interesse pela terra diferente do revelado pelos naturalista típicos, isto é, mais atento ao registro dos costumes e à verdade da fala rural; mas, em última análise, tratava-se de uma experiência limitada, incapaz de desvencilhar-se daquele conceito mimético da arte herdado ao Realismo naturalista. Caberia ao romance de Lima Barreto e de Graça Aranha, ao largo ensaísmo social de Euclides, Alberto Torres, Oliveira Viana e Manuel Bonfim, e à vivência brasileira de Monteiro Lobato o papel histórico de mover as águas estagnadas da belle époque, revelando, antes dos modernistas, as tensões que sofria a vida nacional. Parece justo deslocar a posição desses escritores: do período realista, em que nasceram e se formaram, para o momento anterior ao Modernismo. Este, visto apenas como estouro futurista e surrealista, nada lhes deve (nem sequer a Graça Aranha, a crer nos testemunhos dos homens da “Semana”); mas, considerado na sua totalidade, enquanto critica ao Brasil arcaico, negação de todo academismo e ruptura com a República Velha, desenvolve a problemática daqueles, como o fará, ainda mais exemplarmente, a literatura dos anos de 30. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura. 50. ed. São Paulo: Cultrix, 2015 (p. 327, grifo meu). Alfredo Bosi nasceu em 1936 e ainda está vivo (tem 83 anos de idade). Ganhou o Prêmio Jabuti 2 vezes (em 1993 e 2000). Ocupa a cadeira 12 da Academia Brasileira de Letras. Foi professor e participou de cátedras. Uma de suas principais obras: História Concisa da Literatura Brasileira. O termo “conciso” permite uma visão geral sobre tudo; a obra não tem prefácio, já parte direto ao assunto. Ao início de cada seção, o crítico resumo o movimento literário a ser estudado, como é o caso do trecho acima. 41 Profa. Luana Signorelli AULA 05 – PARNASIANISMO, SIMBOLISMO E PRÉ-MODERNISMO TEXTO II GRAÇA ARANHA José Pereira de Graça Aranha nasceu em S. Luís do Maranhã, a 21 de junho de 1868. Estudos de Direito no Recife. Formado (1886), ingressa na magistratura, indo servir no Estado natal, de onde se transfere para o Rio de Janeiro e de lá para o Espírito Santo. Demitindo-se em 1891, passando três nãos é nomeado Procurador Seccional da República, de que se exonera pouco depois, para abraçar a carreira diplomática, a partir de 1899. Em 1902 publica Canaã (...). Regressa ao Brasil em 1921, participa dos acontecimentos em torno da Semana de Arte Moderna (1922) e rompe com a Academia Brasileira de Letras (1924). (...) Como um meteoro que cruzasse os ares vertiginosamente, indo perder-se nos abismos do firmamento, Graça Aranha, consumiu-se ao inaugurar a belle époque com Canaã: produzida a obra máxima do seu engenho, parece ter intuído que nada mais lhe restava senão entregar-se à vida diplomática. (...) Sinal de passagem, anúncio de um período fronteiriço, Canaã é a própria corporificação do paradoxo. Gravitando ao redor de imigrantes alemães