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<p>EDUCAÇÃO DE JOVENS E</p><p>ADULTOS</p><p>Olá!</p><p>Neste módulo, vamos explorar as duas principais alternativas</p><p>metodológicas. A primeira concentra-se na aplicação de abordagens</p><p>metodológicas fundamentadas em uma perspectiva interdisciplinar e intercultural</p><p>para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Isso implica na integração de diversas</p><p>disciplinas e na consideração das várias culturas presentes na sala de aula.</p><p>A segunda abordagem enfatiza a importância de adaptar as práticas</p><p>metodológicas de acordo com a realidade e as necessidades individuais dos</p><p>alunos, assegurando que a educação seja pertinente e com significado para eles.</p><p>Bons estudos!</p><p>AULA 04 –</p><p>AÇÕES E ADEQUAÇÃO</p><p>METODOLÓGICAS</p><p>4 AÇÕES METODOLÓGICAS A PARTIR DE UMA PROPOSTA</p><p>INTERDISCIPLINAR E INTERCULTURAL PARA A EJA</p><p>O planejamento educacional constitui um processo em constante evolução,</p><p>orientado por um objetivo a ser alcançado, e engloba as estratégias para sua</p><p>realização. Esse processo tem como ponto de partida a avaliação da situação</p><p>educacional presente e tem em vista alcançar uma situação futura plausível para a</p><p>educação, com o intuito de satisfazer as necessidades tanto do indivíduo quanto da</p><p>sociedade (MARTINS,1999).</p><p>Dentro desse enfoque, a educação representa um desafio contínuo para a</p><p>sociedade, demandando esforços constantes. Enfrentar o problema do insucesso</p><p>escolar exige a adoção de abordagens pedagógicas inovadoras e métodos de ensino</p><p>atualizados. Além disso, a capacitação aprofundada dos educadores e a estreita</p><p>colaboração entre a escola e a família emergem como elementos essenciais no</p><p>empreendimento de cultivar habilidades para a vida por meio da educação.</p><p>Com base nessas considerações, torna-se crucial reavaliar o currículo escolar,</p><p>uma vez que a instituição educacional desempenha um papel fundamental na</p><p>capacidade de moldar os indivíduos como agentes ativos na construção de suas</p><p>trajetórias pessoais.</p><p>Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) normatizam a organização</p><p>pedagógica da escola em torno de três princípios orientadores, a qual são a</p><p>contextualização, a interdisciplinaridade e as competências e habilidades.</p><p>A interdisciplinaridade encontra uma conexão intrínseca com o conceito de</p><p>contextualização sócio-histórica, atuando como um princípio unificador no</p><p>desenvolvimento do currículo. Juntamente com a interdisciplinaridade, a</p><p>transversalidade estrutural atua de maneira complementar, inserindo a educação no</p><p>contexto social e histórico. Isso ocorre porque ambas propõem uma integração que</p><p>vai além das fronteiras cognitivas das disciplinas escolares, sem, no entanto, cair no</p><p>relativismo epistemológico. Pelo contrário, essas abordagens fortalecem as disciplinas</p><p>ao se basearem em abordagens conceituais consistentes e nos contextos sócio-</p><p>históricos, criando as condições necessárias para a existência e formação dos objetos</p><p>de conhecimento nas diversas disciplinas.</p><p>Interdisciplinaridade é uma nova atitude diante da questão do conhecimento,</p><p>de abertura à compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos</p><p>aparentemente expressos, colocando-os em questão (FAZENDA, 2001, p.11). Isso</p><p>significa olhar para o cotidiano escolar problematizando as supostas obviedades.</p><p>A sede da busca encontra abrigo na escola, especialmente na sala de aula,</p><p>onde as interações se difundem. Nesse ambiente, surgem indivíduos que dividem e</p><p>ocupam um espaço comum, mesmo que provenientes de locais distintos, trazendo</p><p>consigo expectativas e necessidades diversas.</p><p>Na abordagem interdisciplinar, a sala de aula se configura como um espaço de</p><p>intermediação entre os indivíduos, onde as barreiras existenciais e intelectuais são</p><p>entrelaçadas, com a atenção voltada para fomentar um diálogo contínuo e um</p><p>compartilhamento que transforme esse ambiente em um local habitável. A</p><p>interdisciplinaridade demanda uma certa organização e um rigor específico, enquanto</p><p>também reconhece tanto os alunos quanto os professores como agentes portadores</p><p>e construtores de suas próprias trajetórias históricas.</p><p>Consequentemente, abordar a interdisciplinaridade envolve lidar tanto com a</p><p>história no contexto singular quanto no plural, ou seja, com suas diversas narrativas.</p><p>Elas constituem o ponto de partida e o ponto de chegada para a compreensão e a</p><p>reconfiguração da realidade, constantemente permeada de significados. Esses</p><p>significados não podem ser ignorados em prol de abordagens predefinidas para os</p><p>perfis dos alunos.</p><p>A teoria da interdisciplinaridade sustenta-se em uma relação de reciprocidade,</p><p>onde o desvendar de novos saberes é também compartilhado pelo professor por meio</p><p>da atitude de se desafiar e de se encantar perante o novo. É necessário que o</p><p>educador aprenda a interagir com o outro e não apenas com os educandos, que</p><p>desempenhe um papel social na interação e na construção dos saberes interligados</p><p>e que suas atitudes em relação ao outro sejam estabelecidas e fundadas na busca de</p><p>sua identidade.</p><p>As responsabilidades devem ser executadas com satisfação, através da</p><p>colaboração mútua, em ambientes edificados sobre fundamentos robustos e</p><p>estruturas duradouras, avançando gradualmente. Nesse processo, é possível</p><p>reconhecer o educador como um indivíduo singular, juntamente com os alunos,</p><p>formando um conjunto que se molda com identidade e cooperação, estabelecendo</p><p>laços, compondo um pequeno universo com energia única.</p><p>Aceitar a natureza da busca implica em reconhecer tanto a própria identidade</p><p>quanto a dos outros como agentes ativos na formação da história e do saber. Esse</p><p>procedimento é caracterizado por uma colaboração recíproca, onde o educador atua</p><p>como alguém que estimula a formulação de perguntas e dúvidas, resultando assim</p><p>em uma variedade de abordagens.</p><p>Trabalhos interdisciplinares nos primeiros ciclos da Escola Fundamental, na</p><p>EJA, como no ensino para crianças, encontram um espaço muito mais receptivo do</p><p>que nos ciclos seguintes. É imprescindível abordar esse aspecto considerando sua</p><p>interligação com a capacitação dos educadores e com a própria estrutura do ambiente</p><p>educacional. Nos primeiros anos de escolaridade, observa-se uma flexibilidade</p><p>significativamente maior na distribuição de horários, espaços e pessoal para abordar</p><p>diversas disciplinas.</p><p>A abordagem interdisciplinar envolve o planejamento, a disposição para</p><p>reavaliar posturas, o respeito pelo aluno e a transformação da sala de aula em um</p><p>ambiente inovador e repleto de descobertas para a aprendizagem. Ela representa o</p><p>esforço do ensino em promover uma troca de experiências, estimulando um</p><p>enriquecimento no processo de construção do conhecimento.</p><p>Conforme afirmado por Fazenda (1994, p. 31), o educador interdisciplinar</p><p>carrega consigo um interesse particular em explorar e investigar, demonstrando um</p><p>nível de comprometimento distinto em relação aos seus alunos, e emprega métodos</p><p>e abordagens contemporâneas de ensino.</p><p>No caso específico da EJA, na linha da Proposta Curricular para Jovens e</p><p>Adultos, elaborada pela Ação Educativa sob a chancela do Ministério da Educação,</p><p>foram produzidos materiais didáticos bastante consistentes para o desenvolvimento</p><p>de um projeto pedagógico de escolarização de jovens e adultos. Estes materiais foram</p><p>elaborados a partir de tópicos como a identidade dos estudantes, suas jornadas de</p><p>vida, relações com o ambiente físico e social, questões relacionadas à saúde,</p><p>condições de vida, integração com o ambiente, cidadania e participação.</p><p>Esses aspectos ganham características distintas quando abordados no</p><p>contexto da EJA. Um deles se destaca por sua intensidade, especialmente quando se</p><p>torna crucial não apenas para as escolhas pedagógicas dos educadores, mas também</p><p>para a inclusão, permanência e crescimento do aluno no processo educacional.</p><p>Os temas transversais desempenham um papel significativo no contexto da</p><p>sala de aula. São explorados em diversas esferas sociais em busca de soluções e</p><p>alternativas, gerando debates que confrontam diferentes perspectivas. Essas</p><p>discussões se estendem tanto à intervenção em questões sociais abrangentes quanto</p><p>à ação individual. Eles abordam temas sociais relevantes que questionam a</p><p>experiência humana e a realidade em construção. Ao incorporar os temas</p><p>transversais, os educadores estão empregando uma ferramenta valiosa e poderosa</p><p>no desenvolvimento humano, ao abordar assuntos que fazem parte do dia a dia da</p><p>sociedade.</p><p>Os Parâmetros Curriculares Nacionais tratam essas duas dimensões</p><p>diferenciadamente, porém, na prática pedagógica, alimentam-se mutuamente,</p><p>tornando o currículo estruturado e priorizando o desenvolvimento de competências e</p><p>de habilidades. Desenvolver habilidades e competências implica em fornecer recursos</p><p>que serão ativados na estrutura cognitiva, trabalhando de maneira colaborativa para</p><p>alcançar um comportamento eficaz diante de situações complexas na vida. Assim, o</p><p>conceito de competência se refere à habilidade de reunir e integrar recursos</p><p>criativamente para resolver situações complexas.</p><p>De acordo com Ambrossetti (2002, p. 90), o que se percebe na dinâmica da</p><p>sala de aula é que o processo de aprendizagem deixou de ser uma questão individual</p><p>para se tornar um empreendimento coletivo. É fundamental que o aluno sinta</p><p>satisfação ao adquirir conhecimento, e é responsabilidade do professor abordar o</p><p>conteúdo para explorar novas abordagens visando aprimorar a experiência de</p><p>aprendizado.</p><p>A abordagem pedagógica interdisciplinar visa superar a fragmentação do</p><p>conhecimento ao articular conteúdos, metodologias e práticas pedagógicas. Nesse</p><p>contexto, o processo de ensino é conduzido com base em conceitos de interatividade,</p><p>interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade, que funcionam</p><p>como abordagens pedagógicas capazes de fomentar a conexão, integração, diálogo,</p><p>interseção, reciprocidade e abrangência das experiências entre as diferentes</p><p>disciplinas da EJA.</p><p>O processo de ensino e aprendizagem não é uniforme para todos os indivíduos,</p><p>uma vez que cada pessoa aprende de maneira única, influenciada por suas</p><p>experiências e conhecimentos prévios. Essa abordagem sustenta a necessidade de</p><p>reestruturar os conteúdos educacionais com base na compreensão individual e na</p><p>resolução de problemas.</p><p>Na contemporaneidade, observa-se um preconceito em relação às pessoas</p><p>que não possuem habilidades no uso da escrita. A proficiência na leitura e escrita</p><p>desempenha um papel crucial na promoção da cidadania. Como resultado, existem</p><p>políticas públicas oriundas de movimentos sociais e projetos educacionais que visam</p><p>a integrar os indivíduos não alfabetizados na sociedade. Muitas dessas iniciativas</p><p>buscam não somente alfabetizar, mas também incorporar jovens e adultos que não</p><p>frequentaram a escola nas estruturas sociais de forma mais ampla.</p><p>O domínio da leitura e escrita é uma habilidade que, por si só, tem o potencial</p><p>de conduzir à prosperidade e ao bem-estar social. No entanto, a simples aquisição de</p><p>conhecimentos e habilidades não é o único fator determinante para alcançar esse</p><p>objetivo. É necessário combinar essa aquisição com iniciativas coordenadas com</p><p>outras políticas e mudanças sociais mais amplas para efetivamente promover o</p><p>progresso e a qualidade de vida.</p><p>Dessa forma, é fundamental reconhecer a relevância desse objetivo ao</p><p>incorporar abordagens metodológicas que se traduzam em práticas no contexto da</p><p>EJA. Isso inclui avaliar o conhecimento prévio dos alunos. De acordo com Sampaio</p><p>(2009), alfabetização e educação estão interligadas em uma perspectiva abrangente</p><p>de aprendizado que se estende ao longo da vida.</p><p>Portanto, as pessoas estão constantemente envolvidas em processos</p><p>educativos. Ao invés de oferecer respostas educativas genéricas e sem conexão com</p><p>a realidade, os programas educativos, incluindo os de alfabetização, deveriam ser</p><p>projetados de modo a atender às necessidades fundamentais das populações.</p><p>Portanto, a estruturação desses programas deve ser tão variada quanto as</p><p>particularidades dos ambientes em que são implementados e os grupos que estão</p><p>sendo atendidos.</p><p>Os processos de aprendizagem deveriam concentrar-se nas práticas culturais</p><p>associadas à escrita, abrangendo uma variedade de maneiras nas quais ela é</p><p>utilizada, para além das formas tradicionalmente abordadas pela escola. Nesse</p><p>contexto, o processo de alfabetização tem o propósito de permitir que as pessoas</p><p>desenvolvam uma compreensão versátil e fluente das várias práticas sociais que</p><p>envolvem o uso da linguagem em diferentes contextos e instituições. Esse processo</p><p>desempenha um papel fundamental ao capacitar as pessoas para buscar</p><p>conhecimento e informações de forma contínua, promovendo aprendizado ao longo</p><p>de toda a vida (SAMPAIO, 2009).</p><p>Os jovens e adultos que não tiveram acesso à educação formal são detentores</p><p>e criadores de cultura. Isso demanda, por um lado, a identificação dos conhecimentos,</p><p>valores, representações, expectativas e habilidades que eles possuem. Por outro lado,</p><p>requer a investigação das situações que eles experimentam e como participam delas.</p><p>Isso inclui compreender o ambiente em que estão inseridos e as atividades nas quais</p><p>se envolvem.</p><p>A diversidade cultural deve ser abordada como tema nas práticas pedagógicas</p><p>e no ambiente das salas de aula, promovendo o respeito e a compreensão de que</p><p>essa diversidade se manifesta de variadas maneiras. Portanto, a escola desempenha</p><p>um papel significativo na criação de novas representações sociais e na educação para</p><p>uma cidadania crítica.</p><p>Os “arco-íris de culturas” em nossas escolas fazem com que o trabalho docente</p><p>seja mais complexo e desafiante. Demandam considerar como se faz viável despertar</p><p>o interesse de alunos que são tão diferentes, atender às especificidades de distintos</p><p>grupos, problematizar relações de poder que justificam situações de opressão, assim</p><p>como facilitar a aprendizagem de todos os estudantes. Ao mesmo tempo, a</p><p>multiplicidade de manifestações culturais e de identidades torna a sala de aula rica,</p><p>plural, estimulante e desafiante (STOER; CORTESÃO, 1999).</p><p>Ao abordar as diferenças na sala de aula, é fundamental evitar contribuir para</p><p>a segregação de grupos, a formação de guetos ou o agravamento da fragmentação</p><p>social que se visa mitigar. O ambiente escolar tem o potencial de ser enriquecido pela</p><p>diversidade cultural, e para isso é necessário repensar suas práticas a fim de desafiar</p><p>e superar as representações sociais comuns que prevalecem na sociedade. Muitas</p><p>vezes, as escolas frequentadas pelas classes populares enfrentam desafios, sendo</p><p>vistas como espaços improvisados e carentes de significado. Essas instituições, que</p><p>muitas vezes se expandem inadequadamente para acolher crianças e jovens de</p><p>origens populares, têm o potencial de conter a pobreza e o preconceito.</p><p>Nesse cenário, os atores da instituição escolar precisam desenvolver práticas</p><p>que gerem significado e sentido para os alunos. A reorganização do currículo,</p><p>fundamentada na consideração da diversidade e na perspectiva multicultural, crítica</p><p>ou intercultural, desempenha um papel fundamental em elevar a autoestima dos</p><p>estudantes no ambiente escolar. Isso acontece quando eles enxergam sua herança</p><p>cultural sendo reconhecida e valorizada na sala de aula, e percebem a importância</p><p>atribuída à sua identidade cultural. (BRASIL, 1998; CANDAU; MOREIRA, 2008).</p><p>De acordo com Leite (1996), a escola precisa adotar abordagens baseadas em</p><p>propostas e projetos que envolvam jovens e adultos, com o intuito de integrá-los na</p><p>sociedade por meio de uma educação que tenha relevância e significado. Isso implica</p><p>transformar o ambiente escolar em um espaço dinâmico, propício</p><p>ao diálogo, à</p><p>realidade, às suas diversas facetas e às necessidades concretas dos estudantes.</p><p>Pozo (2002) destaca que muitas vezes os desejos não estão inicialmente</p><p>motivados de maneira adequada, mas a persistência em uma atividade ocorre porque,</p><p>ao longo do processo, novas motivações emergem. A aprendizagem ocorre por meio</p><p>da participação ativa, experimentando emoções, tomando decisões diante dos</p><p>eventos e escolhendo estratégias para alcançar objetivos específicos. Portanto, o</p><p>ensino e a aprendizagem não são sempre resultados das respostas fornecidas, mas</p><p>são moldados pelas experiências compartilhadas e pelos desafios enfrentados. Em</p><p>última análise, a vida é um contínuo processo de aprendizado.</p><p>Dentro dessa perspectiva, os educadores têm a constante oportunidade de</p><p>redefinir o propósito de suas práticas, considerando as diversas redes de</p><p>conhecimento e experiências nas quais estão inseridos. Nesse contexto, a concepção</p><p>de interdisciplinaridade na EJA implica em romper com a abordagem pedagógica</p><p>linear, superando os modelos tradicionais de transmissão de informações para adotar</p><p>uma abordagem mais conectada e integrada. Isso facilita a construção de significado</p><p>nas aprendizagens, promovendo uma abordagem articulada que envolve diferentes</p><p>áreas do conhecimento.</p><p>4.1 Adequação das práticas metodológicas com a realidade do aluno</p><p>O planejamento é o processo de preparação para qualquer empreendimento, e</p><p>essa definição se encaixa de maneira adequada na formulação das práticas</p><p>pedagógicas. Antes de serem implementadas em sala de aula, essas práticas</p><p>necessitam ser concebidas, desenvolvidas, pesquisadas e estruturadas</p><p>(FERREIRA,1996).</p><p>Há décadas que se buscam métodos e práticas adequadas ao aprendizado de</p><p>jovens e adultos, como define Paulo Freire (1979): “Por isso a alfabetização não pode</p><p>se fazer de cima para baixo, nem de fora para dentro, como uma doação ou uma</p><p>exposição, mas de dentro para fora pelo próprio analfabeto, somente ajustado pelo</p><p>educador.”</p><p>A abordagem tradicional, que se baseia principalmente na memorização de</p><p>conhecimentos e utiliza predominantemente a metodologia expositiva em sala de aula,</p><p>já não é mais aceitável. A partir de uma perspectiva mais instrumental da educação,</p><p>o foco central está em capacitar o aluno para dominar os conhecimentos</p><p>convencionais do currículo escolar.</p><p>Na perspectiva dialógica, o foco está no desenvolvimento da consciência</p><p>política por meio da colaboração coletiva e da valorização das práticas sociais dos</p><p>participantes do processo educativo. O cerne dessa abordagem é permitir que o aluno</p><p>possa se engajar com os conhecimentos que tenham relevância sociocultural para</p><p>ele.</p><p>Nesse sentido, a alfabetização de jovens e adultos ocorre ao longo de um</p><p>processo que não apenas capacita os aprendizes a ler, produzir e compreender</p><p>diversos tipos de texto, mas também os guias para uma leitura crítica da realidade.</p><p>Isso implica ajudá-los a perceber, conscientizar-se e nutrir um desejo de</p><p>transformação quando a situação o requerer. A prática pedagógica deve proporcionar</p><p>aos alunos ferramentas para poderem tomar decisões em relação ao seu próprio</p><p>futuro na sociedade.</p><p>Valorizar a prática pedagógica e a produção de pensamento, mas tendo</p><p>também clareza de que os conhecimentos socialmente construídos são necessários</p><p>para servirem de base para elaborar outros conhecimentos é fundamental, pois é</p><p>dessa forma que o professor poderá organizar o que os alunos descobrem, criam e</p><p>formulam em sala de aula.</p><p>No contexto das metodologias e técnicas de ensino, os professores empregam</p><p>abordagens didático-pedagógicas e atitudinais nas diversas disciplinas. Ao longo de</p><p>todo o período da EJA, a relação entre teoria e prática é enfatizada. Além disso, as</p><p>atividades curriculares buscam conectar dados da realidade com o conhecimento</p><p>construído, visando tanto à geração de novos conhecimentos como à sua aplicação</p><p>prática.</p><p>Compreende-se que a metodologia deve aderir a parâmetros claramente</p><p>definidos, permitindo que ela seja:</p><p> Problematizadora: à medida que apresenta as contradições básicas de uma</p><p>situação existencial concreta com problemas que desafiam as pessoas nela</p><p>envolvidas;</p><p> Interdisciplinar: à medida que várias disciplinas ou vários ramos do saber</p><p>abordam determinado tema sob prismas diversos;</p><p> Integradora: à medida que possibilita às pessoas captarem o desafio como um</p><p>problema que tem conexões com outros problemas;</p><p> Crítica: à medida que oportuniza a busca das causas sociais, políticas,</p><p>econômicas e históricas de sua situação existencial;</p><p> Impulsionadora da ação: à medida que, ao responderem os desafios, as</p><p>pessoas se sintam comprometidas e cada vez mais engajadas no processo de</p><p>transformação de sua realidade;</p><p> Dialogante: à medida que os alunos são chamados a conhecer e a elaborar o</p><p>seu conhecimento, quando se encontram em autêntica comunicação com</p><p>outras pessoas;</p><p> Criativa: à medida que oferece às pessoas a possibilidade de construir seu</p><p>saber, partilhando suas experiências, inventando e reinventando seu mundo,</p><p>criando sua cultura e forjando seu destino como seres históricos;</p><p> Permanente: à medida que, considerando os alunos como seres inacabados,</p><p>inseridos em uma realidade igualmente inacabada, chance de refazerem, na</p><p>ação-reflexão, constantemente, sua realidade existencial, tendo em vista sua</p><p>plena libertação.</p><p>As abordagens pedagógicas empregadas pelo professor no processo de</p><p>ensino-aprendizagem, em concordância com a metodologia proposta, podem incluir:</p><p> Exposição pelo professor, na forma de aulas expositivas participativas,</p><p>dialogais e interativas;</p><p> Estudos de texto; de casos reais e/ou simulados;</p><p> Estudos dirigidos e/ou orientados;</p><p> Mesa redonda; círculo de estudos; painéis; e similares;</p><p> Trabalho e apresentação em grupo;</p><p> Utilização da informática como técnica de apoio didático pedagógico;</p><p> Pesquisas orientadas de campo;</p><p> Encenações teatrais e técnicas de oratória, etc.</p><p>Continuamos em busca de um método que possa servir como ferramenta tanto</p><p>para o aprendiz quanto para o educador. Um método que integre o conteúdo da</p><p>aprendizagem com o próprio processo de aprender. É por isso que não temos</p><p>confiança nas abordagens simplistas que tentam impor uma estrutura gráfica como se</p><p>fosse um presente, reduzindo assim o analfabeto à posição de objeto a ser</p><p>alfabetizado, em vez de reconhecê-lo como sujeito ativo desse processo (FREIRE,</p><p>1979).</p><p>Podemos constatar que desde a década de 1970, e até mesmo antes desse</p><p>período, a utilização inadequada de cartilhas e métodos na educação de jovens e</p><p>adultos era uma preocupação entre os educadores da época. Infelizmente, essa</p><p>questão persiste atualmente. A educação voltada para jovens e adultos precisa ser</p><p>intrinsecamente significativa, proporcionando ao aluno a sensação de</p><p>empoderamento para influenciar seu próprio percurso histórico e modificar sua</p><p>trajetória. Isso implica que o aluno deve acreditar em sua capacidade de aprender,</p><p>explorar, conceber soluções, enfrentar desafios, propor novas ideias, fazer escolhas</p><p>e aceitar as consequências de suas decisões.</p><p>É imperativo alterar a abordagem dos educadores que ainda recorrem a</p><p>desenhos pré-concebidos para colorir, textos pré-fabricados para serem meramente</p><p>copiados, trilhas pontilhadas a seguir e narrativas que alienam os estudantes.</p><p>Métodos desse tipo negligenciam completamente a lógica daqueles que estão</p><p>aprendendo (FUCK, 1994).</p><p>A alfabetização não deve ser simplificada como um processo técnico-linguístico</p><p>isolado, tratado como algo já concluído e neutro, ou meramente como uma conquista</p><p>individual de natureza intelectual. A alfabetização abrange dimensões lógico-</p><p>intelectuais, emocionais, socioculturais, políticas e técnicas (FREIRE,1996). O</p><p>professor, ao planejar suas aulas, deve se lembrar de desenvolver estratégias de</p><p>ensino “adequadas para</p><p>que seus alunos tenham acesso a uma cultura de letramento</p><p>diversificada”.</p><p>Adotar a abordagem de alfabetizar letrando ou letrar alfabetizando é</p><p>indiscutivelmente a estratégia mais eficaz para abordar os desafios do insucesso</p><p>observado em muitas instituições escolares e, consequentemente, transformar as</p><p>estatísticas educacionais.</p><p>De acordo com Soares (2001), acredita-se que os programas de preparação</p><p>de educadores, independentemente da disciplina, deveriam direcionar seus esforços</p><p>para cultivar habilidades sólidas de leitura e produção textual específicas daquela área</p><p>de estudo. A responsabilidade do professor vai além da simples instrução dos alunos;</p><p>ela abrange também o seu contínuo aprimoramento como profissional da educação.</p><p>O educador deve ser capaz de atuar de maneira impactante na realidade, o que</p><p>naturalmente o levará a adquirir novos conhecimentos. Essa busca por conhecimento</p><p>vai além da mera adaptação às circunstâncias presentes e se configura como uma</p><p>conquista significativa.</p><p>É importante destacar, como já mencionamos em várias ocasiões neste</p><p>módulo, que o letramento é um fenômeno intrinsecamente social. Assim, essa</p><p>mediação crucial pode ser efetuada por meio dele. Para o educador evoluir para um</p><p>“professor letrador”, é essencial que ele possua um sólido entendimento e esteja bem</p><p>informado sobre o assunto, compreendendo suas várias dimensões e, principalmente,</p><p>sua aplicação prática.</p><p>Segundo Soares (2001), “[...] alfabetizar letrando significa orientar a criança</p><p>para que aprenda a ler e a escrever levando-a conviver com práticas reais de leitura</p><p>e de escrita.” Para elucidar esse processo de aquisição da língua escrita, buscamos</p><p>evidenciar as práticas e intervenções realizadas pelo professor alfabetizador na</p><p>formação do sujeito letrado.</p><p>Até os dias atuais, o modelo educacional tradicional perdura e se mantém</p><p>estável, com poucas mudanças ou variações em sua abordagem, apesar das diversas</p><p>tentativas de romper com ele. É evidente a persistência desse enfoque pedagógico</p><p>nas escolas contemporâneas.</p><p>Os métodos clássicos de tortura escolar como a palmatória e a vara já foram</p><p>abolidos. Mas poderá haver sofrimento maior para uma criança ou um adolescente</p><p>que seja forçado a mover-se em uma “floresta de informações” que ele não consegue</p><p>compreender, e que nenhuma relação parece ter com sua vida? (ALVES, 2007, p. 18).</p><p>A alfabetização na EJA deve acontecer partindo de algo concreto, que pertença</p><p>ao meio em que o aluno está inserido e não de cartilhas com visão fictícia, sem ligação</p><p>com a realidade.</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência. São Paulo. Loyola, 2007.</p><p>AMBROSETTI, N.B.O “eu” e o “nós”: trabalhando com a diversidade em sala de aula:</p><p>In: ANDRÉ, M. Pedagogia das diferenças na sala de aula. 4. ed. Campinas: Papirus,</p><p>2002.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Plano nacional de educação. Brasília,</p><p>1998.</p><p>CANDAU, V.M.; MOREIRA, A.F.B. Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas</p><p>pedagógicas.Petrópolis: Vozes, 2008.</p><p>FAZENDA, I.C.A. (Org.). Dicionário em construção. São Paulo: Cortez, 2001.</p><p>FAZENDA, I.C.A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas:</p><p>Papirus, 1994.</p><p>FERREIRA, A.B.H. Dicionário da língua portuguesa Aurélio. Rio de Janeiro: Nova</p><p>Fronteira, 1996.</p><p>FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.</p><p>FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa. São</p><p>Paulo: Paz e Terra, 1996.</p><p>FUCK, I.T. Alfabetização de adultos: relato de uma experiência construtivista. 2. ed.</p><p>Petrópolis: Vozes, 1994.</p><p>LEITE, L.H.A. Pedagogia de Projetos: Intervenção no Presente. Revista Presença</p><p>Pedagógica, Belo Horizonte: Dimensão , v. 2, n. 8, p. 25 - 33,1996.</p><p>MARTINS, A. O que é computador. São Paulo: Brasiliense, 1999.</p><p>POZO, J.I. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre:</p><p>Artes Médicas, 2002.</p><p>SAMPAIO, M.N. Práticas de educação de jovens e adultos: complexidades,</p><p>desafios e propostas. Belo Horizonte. Autêntica, 2009.</p><p>SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,</p><p>2001.</p><p>STOER, S.R.; CORTESÃO, L. Levantando a pedra: da pedagogia inter/multicultural</p><p>às políticas educativas numa época de transnacionalização. Porto: Afrontamento,</p><p>1999.</p><p>4 AÇÕES METODOLÓGICAS A PARTIR DE UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR E INTERCULTURAL PARA A EJA</p><p>4.1 Adequação das práticas metodológicas com a realidade do aluno</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p>