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<p>PSICOLOGIA: FENÔMENOS E PROCESSOS</p><p>Apresentação</p><p>Este material, intitulado Psicologia: fenômenos e processos, apresenta, além de conceitos triviais da área, o conteúdo parcialmente descrito a seguir em suas quatro unidades.</p><p>Dando início, Processos psicológicos básicos, a primeira unidade, explica do que trata o processo psicológico. O texto indica os processos considerados básicos (atenção, emoção, percepção, sensação, memória, linguagem e pensamento), além de abordar o desenvolvimento do conceito de percepção.</p><p>A segunda unidade, Percepção, apresenta os elementos que compõem o processo de percepção, a percepção, e suas propriedades. O leitor vai aprender sobre as funções e formas da percepção, além das perspectivas teóricas que abordam a percepção.</p><p>Na sequência, a terceira unidade, Nosso cérebro e nossa mente, discute sobre concepções históricas a respeito do cérebro e da mente, as novas descobertas da neurociência, e como alguns estudiosos veem o pensamento e o raciocínio.</p><p>Concluindo o material, a quarta e última unidade, Funções psíquicas, sexualidade e saúde mental, trata, de maneira geral, de assuntos relacionados a sexualidade, funções psíquicas, linguagem, identidade, personalidade, saúde e doença mental.</p><p>Aproveite a leitura do livro e amplie os seus conhecimentos.</p><p>Boa sorte!</p><p>Introdução</p><p>Olá,</p><p>Você está na unidade Processos psicológicos básicos. Conheça aqui o que é um processo psicológico e quais são os processos considerados básicos, tais como atenção, emoção, percepção, sensação, memória, linguagem e pensamento.</p><p>Serão apresentados os conceitos dos cinco primeiros fenômenos citados e, por fim, o desenvolvimento do conceito de percepção.</p><p>Bons estudos!</p><p>Estabelecendo definições</p><p>Antes de consideramos uma definição para processo psicológico, é importante conhecermos o que significam os termos fenômeno, processo e psicológico.</p><p>Definindo termos</p><p>De acordo com o dicionário Michaellis, dentre os diversos significados que o termo fenômeno pode ter, podemos considerar os seguintes: tudo aquilo que pode ser observado na natureza (Por exemplo: “Adeus. O sol arde, as cigarras cantam, um cão late, passa um bonde. Consolemo-nos com a ideia de que um dia, de todos estes fenômenos, nem o sol existirá”); fato ou evento que pode ser objeto da ciência, que pode ser descrito e explicado do ponto de vista científico; aquilo que se manifesta à consciência de imediato pela sensibilidade, sem que haja elaboração intelectual; segundo Kant, o objeto de conhecimento em si mesmo, que resulta da síntese das intuições, com as formas a priori de espaço e tempo.</p><p>Já em relação ao termo processo, conforme o mesmo dicionário, podemos separar as seguintes definições: ação ou operação contínua e prolongada de alguma atividade; curso, decurso, seguimento; sequência contínua de fatos ou fenômenos que apresentam certa unidade ou se reproduzem com certa regularidade; andamento, desenvolvimento.</p><p>E, por fim, o referido dicionário apresenta para o termo psicológico as seguintes definições: relativo ou pertencente à psicologia; pertencente à psique (Por exemplo: O médico acha que a minha labirintite tem um fundo psicológico); diz-se de filme, livro ou qualquer obra cuja ênfase se dá no lado psicológico do comportamento (Por exemplo: Seus filmes são geralmente psicológicos); que se baseia ou se refere à esfera mental de um indivíduo.</p><p>Assim, a partir dessas definições, poderíamos dizer que um fenômeno psicológico é um fato ou evento que pode ser estudado pela psicologia. Ademais, é um objeto de conhecimento que se manifesta à consciência de imediato, sem ação intelectual, sendo que essa manifestação do objeto seria dada pela sensibilidade, isto é, pela capacidade de experimentar emoções e sentimentos. Já um processo psicológico seria a sequência de alguns fenômenos.</p><p>Processos psicológicos básicos: atenção, emoção, percepção, sensação e memória</p><p>As definições ou compreensões desses processos podem, em geral, apresentar algumas semelhanças, convergências ou divergências devido às diferentes abordagens ou teorias que embasam a psicologia. No entanto, as diferenças ficam evidentes quando consideramos os três aspectos abaixo:</p><p>ASPECTO 1 A origem desses fenômenos, isto é, onde ocorrem.</p><p>ASPECTO 2 A maneira como ocorrem, ou seja, se são aprendidos ou inatos.</p><p>ASPECTO 3 A forma de abordá-los.</p><p>A seguir, abordaremos os conceitos de emoção/sentimento, atenção e memória. Os fenômenos sensação e percepção serão abordados em seguida, de forma separada.</p><p>Emoção e sentimento</p><p>Qual a diferença entre emoção e sentimento?</p><p>Para responder a essa pergunta, apresentamos a distinção estabelecida por Damásio em Carvalho (2013):</p><p>A emoção é um programa de ações, portanto, é uma coisa que se desenrola com ações sucessivas. É uma espécie de concerto de ações. Não tem nada a ver com o que se passa na mente.</p><p>É despoletada pela mente, mas acontece com ações que acontecem dentro do corpo, nos músculos, coração, pulmões, nas reações endócrinas. Sentimentos são, por definição, a experiência mental que nós temos do que se passa no corpo. É o mundo que se segue (à emoção). Mesmo que se dê muito rapidamente, em matéria de segundos, primeiro são ações e pode-se ver sem nenhum microscópio. Você pode me ver tendo uma emoção, não vê tudo, mas vê uma parte. Pode ver o que se passa na minha cara, a pele pode mudar, os movimentos que eu faço etc. enquanto o sentimento você não pode ver.</p><p>Segundo Damásio (2013), outras pessoas só podem conhecer os sentimentos de alguém se eles forem contados. Os sentimentos podem ser escondidos, disfarçados ou mesmo mostrados diferentemente do que realmente está sendo sentido. Por exemplo, pode-se estar feliz com uma determinada notícia, mas disfarçar esse sentimento mostrando-se triste. Além disso, nem sempre conseguimos expressar em palavras o que estamos sentindo, sendo essa uma capacidade que temos que desenvolver desde que nascemos.</p><p>Uma criança vai gradativamente aprendendo a dizer que o que está sentindo, como, por exemplo, quando está com fome. Em um primeiro momento, ela chora sem entender que o desconforto que está sentindo é fome. Posteriormente, dado esse entendimento, é que ela pode vir a verbalizar. Com esse exemplo não queremos dizer que na vida adulta todos os seres humanos serão capazes de comunicar os seus sentimentos. Por várias razões, algumas pessoas terão dificuldade ou não conseguirão identificar e informar o que estão sentindo, ou ainda podem conseguir comunicar com clareza alguns sentimentos e outros não.</p><p>Em suma, para Damásio (2013), a emoção é um conjunto reações orgânicas e o sentimento é a experiência mental da emoção. Além disso, Damásio (2000), afirma que</p><p>[a]s emoções fornecem aos indivíduos comportamentos voltados para a sobrevivência e são inseparáveis de nossas ideias e sentimentos relacionados com a recompensa ou punição, prazer ou dor, aproximação ou afastamento, vantagem ou desvantagem pessoal etc. na medida em que a base neural desses eventos nos permite distinguir três etapas de processamento que fazem parte de um contínuo: "Um estado de emoção, que pode ser desencadeado e executado inconscientemente; um estado de sentimento, que pode ser representado inconscientemente, e um estado de sentimento tornado consciente, isto é, que é conhecido pelo organismo que está tendo emoção e sentimento.</p><p>Antonio Damásio, português de nascença, trabalha nos EUA como professor e pesquisador da University of Southern California. É um neurocientista com importantes colaborações nas descobertas referentes às emoções e suas bases fisiológicas. Seus livros já foram traduzidos para o português e alguns deles podem ser encontrados na versão on-line.</p><p>Roazzi et al (2011) apontam que</p><p>Damásio classifica as emoções em três categorias: emoções de fundo, primárias e sociais. As emoções de fundo são aquelas em que o sujeito tem a capacidade de decodificá-las rapidamente em diferentes contextos, sendo elas agradáveis ou desagradáveis. As emoções primárias ou universais são facilmente identificáveis entre seres de uma</p><p>você teve a oportunidade de:</p><p>· compreender o que é percepção, como se dá o processo perceptivo, identificando os elementos que o constituem;</p><p>· identificar os seus quatro aspectos básicos;</p><p>· identificar quais são as características da percepção e os fatores externos e internos que influenciam no processo perceptivo;</p><p>· compreender as diferentes teorias e como cada uma identifica e conceitua a percepção em suas diferentes maneiras;</p><p>· saber os diferentes tipos de percepção, e como elas ocorrem sendo elas a percepção visual, auditiva, gustativa, tátil, olfativa e ainda as percepções temporal, espacial e propriopercepção.</p><p>3. Nosso cérebro e nossa mente</p><p>Introdução</p><p>Olá,</p><p>Você está na unidade Nosso cérebro e nossa mente. Conheça aqui algumas concepções históricas sobre cérebro e mente até os dias atuais com as novas descobertas da neurociência. Além disso, saiba como diferentes estudiosos entendem o pensamento e o raciocínio.</p><p>Como o homem é o único ser que faz perguntas sobre si mesmo e sobre as coisas que o rodeiam, será que essa capacidade ou características vêm do cérebro ou da mente?</p><p>Bons estudos!</p><p>Para início de conversa</p><p>Desde antes de 3.000 a.C. o homem se pergunta como ele pensa, onde se localiza, como consegue se movimentar etc. Ele se pergunta o que é ser homem. Algumas dessas perguntas já foram respondidas pela ciência, mas outras, apesar de todo avanço tecnológico, ainda não tem respostas definitivas.</p><p>Em um de seus escritos, Martin Heidegger, filósofo alemão que viveu de1889 a 1976, disse: “[n]enhuma época soube tantas e tão diversas coisas do homem como a nossa. Mas em verdade, nunca se soube menos o que é o homem”.</p><p>Isso deve nos motivar a continuar nossas buscas. Afinal o que é ser humano? Quem somos nós?</p><p>Um pouco de história</p><p>Os egípcios da antiguidade acreditavam que o coração era responsável pelos nossos pensamentos e sentimentos. Segundo Castro e Fernandes (2010), “[d]e acordo com essa cultura, o coração seria capaz de armazenar todas as informações e experiências que uma pessoa teria adquirido em toda a vida”.</p><p>Por motivação religiosa, os egípcios mumificavam os mortos. Nesse processo, todos os órgãos eram retirados dos corpos. Em algumas versões, apenas o coração era mantido dentro do corpo, por ser a “sede” da alma e o centro da consciência. Quando o coração era retirado do corpo, em seu lugar era colocado um tipo de amuleto. Todos os outros órgãos eram colocados em vasos específicos dedicados aos diferentes deuses, menos o cérebro, que era descartado. A exposição dessa curiosidade é apenas para ilustrar a importância do coração para os egípcios.</p><p>Ainda segundo Castro e Fernandes (2010), para a medicina da Antiga China, “o cérebro era considerado um órgão peculiar, denominado ‘mar da medula’, e não estava associado a nenhuma função mental”. Da mesma forma que os egípcios, os chineses da antiguidade acreditavam que o órgão responsável pelas emoções e pensamento era o coração.</p><p>Quando falamos em China ou Egito antigo estamos considerando algo em torno de 5.000 anos atrás, ou seja, aproximadamente 3.000 anos antes de Cristo.</p><p>Já na Grécia antiga, até o século V a.C., tinha-se a ideia de que a mente humana estava espalhada pelo corpo todo. Depois do século V a.C., essa compreensão foi alterada e as concepções ficaram divididas. Havia um grupo que pensava que a mente ficava no coração e outro que defendia a ideia de que a mente ficava no cérebro.</p><p>A primeira corrente, que valorizava o coração, dizia que o cérebro funcionava no corpo humano como um grande refrigerador para o coração. O grande nome da segunda corrente foi Hipócrates, até hoje considerado o pai da medicina. Para ele, a mente ficava no cérebro e, segundo Tieppo (2019), “ele fez as primeiras observações sobre a lateralização cerebral”. E, na mesma época, “Platão, situou no cérebro as sensações, percepções e os pensamentos”, também conforme Tieppo (2019).</p><p>Já na Idade Média, com o domínio quase total da Igreja Católica, a medicina foi colocada de lado, uma vez que o mais importante era a alma. Sendo assim, pouco se avançou em relação às descobertas científicas sobre o corpo humano.</p><p>Com o Renascimento, aproximadamente entre meados do século XIV até o século XVI, com a volta de alguns preceitos da Antiguidade Clássica, o corpo ganhou, novamente, não só a atenção da ciência, mas das artes também, sendo Leonardo da Vinci e Michelangelo dois nomes de destaque na área artística dessa época. Entretanto, Da Vinci foi muito além das obras de arte, trabalhando e desenvolvendo projetos em muitas outras áreas, como invenções, botânica e anatomia. A história conta que ele dissecava cadáveres para entender melhor o corpo humano e expressá-lo de forma perfeita em suas escultura e pinturas.</p><p>Há museus com obras de Leonardo da Vinci que disponibilizam visitas virtuais, tais como o Virtual Uffizi Gallery e o Leonardo da Vinci Museu Virtual da Amazon.</p><p>No século XVII, René Descartes queria entender como funcionava o corpo humano. No entanto, era preciso driblar a igreja católica, seus dogmas e proibições. Sendo assim, ele defendeu a ideia de que o corpo (res extensa ) era separado da mente (res cogitans) e, se eram separados ele poderia estudar o corpo sem infringir nenhuma regra da igreja. Separar o corpo da mente foi uma estratégia tão bem-sucedida que segundo Tieppo (2019), “marcaria profundamente a cultura ocidental, de forma, que permanece até hoje”. Descartes, a partir de seu trabalho, cunhou uma frase usada até hoje, “penso, logo existo”, que denota com muita força a importância dada ao pensar e à racionalidade. No entanto, tal conclusão é, hoje, combatida por alguns neurocientistas, como, por exemplo, Antonio Damásio, que mostra em seu livro O Erro de Descartes (1994) que a emoção merece mais atenção do que o pensar e, então, cunha a frase: “sinto, logo existo”. Além de Descartes, outros pensadores de sua época defendiam a ideia de “que corpo e mente era uma coisa só e, consideravam que o cérebro humano como substância única responsável pela expressividade humana”, segundo Tieppo (2019). Ainda, segundo Tieppo (2019),</p><p>[n]o final do século XVIII, o sistema nervoso já havia sido completamente dissecado. Percebeu-se que todos os indivíduos tinham o mesmo padrão de giros e sulcos que são as protuberâncias e reentrâncias do cérebro e que o cérebro podia ser dividido em lobos (partes) e mapeado. Assim, inicia-se a longa jornada da discussão da localização das funções cerebrais em áreas específicas do cérebro.</p><p>No final do século XIX, um nome de destaque aparece na área a psicologia: Sigmund Freud, denominado o pai da psicanálise. Freud era médico neurologista e, apesar dessa formação, a psicanálise apresenta uma separação bem distinta entre mente e cérebro, considerando que a mente funcionava de forma completamente independente do cérebro. Com isso, podemos dizer que Freud era um mentalista, isto é, dava primazia à mente. Assim, o estudo da psicanálise é teórico e não empírico.</p><p>No mesmo período temos os trabalhos de Willian James que, segundo Tieppo (2019),</p><p>é considerado o pai da Psicologia e escreve os Princípios da Psicologia onde fala sobre fluxos da consciência, vontade e desenvolver uma teoria sobre emoções, misturando em sua obra fisiologia, psicologia e filosofia. Sua psicologia era muito relacionada à fisiologia, era um funcionalista e materialista, que queria explicar o fenômeno mental a partir do corpo.</p><p>Funcionalista, de uma formal geral, é um método ou linha de pesquisa que procura identificar as funções de cada parte de um sistema.</p><p>Os trabalhos de James e de outros psicólogos que adotaram a mesma linha, ou seja, a materialista, deram, mais tarde, origem ao behaviorismo e à psicologia comportamental. Curioso perceber que em um mesmo período tenhamos duas linhas ou duas teorias tão diferentes na busca da compreensão do comportamento humano.</p><p>Ainda, no mesmo período, a neurociência deu um grande passo. Por meio de uma técnica de tingimento de tecidos, foi possível conhecer as células do sistema nervoso – os neurônios.</p><p>Nessa</p><p>breve retrospectiva histórica, chegamos ao século XX. Portanto, vamos para “o hoje”, mas não sem antes parar para uma reflexão. Pudemos ver que desde sempre o homem procurou entender e explicar as emoções, os sentimentos e o comportamento humano. Algumas explicações podem parecer, hoje, engraçadas e sem sentido. Mas isso, no momento, não importa. Queremos chamar a atenção para o fato do ser humano ser o único que se pergunta quem é, como atua no mundo e qual a sua relação com o mundo. Isso nos diferencia de tudo o mais que existe.</p><p>Hoje</p><p>No início do século XX, as sinapses (comunicação entre os neurônios) foram descobertas e, a partir daí, percebeu-se que o sistema nervoso é uma única rede interligada. Essa descoberta foi extremamente importante para a compreensão desse sistema e para alavancar novas descobertas.</p><p>Também no início do século XX tivemos as pesquisas de Ivan Pavlov que estudou os reflexos condicionados. Segundo Tieppo (2019),</p><p>[a] ideia básica do condicionamento clássico de Pavlov consiste em que algumas respostas comportamentais são reflexos incondicionados inatos, enquanto outras são reflexos condicionados, aprendidos através da conexão ou emparelhamento com situações agradáveis ou aversivas que acontecem de forma simultânea ou imediatamente posterior. Através da repetição, é possível criar ou remover respostas fisiológicas e psicológicas em seres humanos e animais.</p><p>E novas descobertas vão sendo feitas. Descobre-se, por exemplo, “o circuito límbico, que hoje sabe sabemos que é o sistema emocional”, conforme Tieppo (2019).</p><p>Com o aumento das cirurgias no cérebro, são identificadas novas áreas e suas funções, além de mapeamentos do próprio cérebro. Diferentes pesquisadores mapearam o cérebro de diversas maneiras. No entanto, apesar de muitas descobertas, “até hoje neurocientistas não conseguem chegar a um consenso sobre o número de áreas cerebrais e, mais difícil ainda, sobre suas funções”, conforme Tieppo (2019).</p><p>Algumas práticas, mesmo que inicialmente, têm sido consideradas bem-sucedidas e grandes avanços no tratamento de algumas doenças terminaram causando grandes polêmicas. Um exemplo é a lobotomia, que consiste em tirar um pedaço do cérebro que tem algum problema ou está causando algum problema. Esse tipo de cirurgia era utilizado para a cura da esquizofrenia e de psicoses. Porém, segundo Tieppo (2019),</p><p>[p]sicanalistas começam a dizer que cirurgiões estavam mutilando as pessoas erroneamente já que o problema não seria no cérebro e sim na mente. Esse momento marca o afastamento completo do estudo do cérebro e do estudo do comportamento e da mente humana, havendo uma cisão entre esses dois tipos de pesquisadores e especialistas.</p><p>Essa cisão ou essas discussões reforçam a visão de que mente e cérebro são duas coisas diferentes e separadas. Sendo assim, se a psicose é uma doença mental e a mente é separada do cérebro, de nada resolve tirar um pedaço do cérebro para o tratamento dessa doença.</p><p>Assim, começa a fazer parte da discussão, de como tratar algumas doenças, as drogas medicamentosas. E, novamente, os mentalistas se rebelam com a afirmação “estão medicalizando a doença mental”. Porém, é inegável que muitas doenças e doentes tiveram melhoras significativas com uso de alguns medicamentos.</p><p>Estabelece-se, então, uma cisão entre os monistas e os dualistas. Os monistas acreditavam que mente e cérebro era uma coisa só. E os dualistas diziam que eram duas coisas separadas e diferentes. Entre os monistas, temos alguns psicólogos e neurologistas. Entre os dualistas, temos nomes conhecidos da psicologia como Sigmund Freud e Karl Jung que desenvolveram estudos sobre o funcionamento da mente sem nenhuma referência ao cérebro.</p><p>Na década 70 do século XX, surge uma teoria que irrita muito os dualistas. Essa teoria diz que o cérebro humano pode ser dividido em três partes:</p><p>Primeira parte</p><p>Seria a mais simples e semelhante ao que existe nos répteis e é responsável pelos instintos mais simples de sobrevivência e emoções primárias.</p><p>Segunda parte</p><p>Seria do cérebro límbico ou emocional, semelhante à estrutura encontrada em mamíferos.</p><p>Terceira parte</p><p>É o neocórtex, que nos diferencia dos outros animais, sendo a parte racional capaz de pensar e inventar e que seria a última parte em termos de evolução da espécie.</p><p>Na época, essa teoria causou, como dissemos, enorme irritação por parte dos dualistas, uma vez que tal teoria afirmaria que a diferença entre um homem e um animal estaria no cérebro e não da mente.</p><p>Nas décadas de 80 e 90, com o desenvolvimento tecnológico que permitiu a realização de exames de imagens sofisticados, o cérebro passa a ser estudado de forma mais integral e não apenas como partes do sistema nervoso. E esse desenvolvimento tecnológico já pode comprovar que muitas das observações feitas quando comparados os cérebros de répteis, mamíferos e humanos são verdadeiras.</p><p>Ainda, em 1980, surge um medicamento que mostra que “a depressão profunda tem um componente ligado a um neurotransmissor e que é possível de ser corrigido dando a chance ao indivíduo de reagir para passar por terapia”, conforme Tieppo (2019). Isso mostra que cérebro e mente, no mínimo, estão interligados. Além disso, mostra a necessidade de um trabalho multidisciplinar em determinados tratamentos.</p><p>Para concluir essa história, apresentamos a visão da neurociência, que “nega a existência da mente como realidade imaterial independente do corpo ou do cérebro e reconhece que os processos mentais são resultantes do nosso sistema nervoso central”, segundo Tieppo (2019). Sendo assim, a neurociência é monista, não admitindo nenhuma separação entre corpo e mente ou mente e cérebro.</p><p>Começamos com a valorização do coração, com os egípcios antigos e, hoje chegamos, com a neurociência, à valorização do sistema nervoso central, passando por dualistas que defendiam e defendem a separação corpo e mente ou mente e cérebro.</p><p>Nesse sentido, Damásio (2005) declara que “[o]rganismos produzem mentes a partir da atividade de células especiais conhecidas como neurônios”. E os neurônios, como já dissemos anteriormente, são as células do nosso cérebro.</p><p>Além disso, Damásio (2005) afirma que</p><p>[a] mente surge quando a atividade de pequenos circuitos organiza-se em grandes redes de modo a compor padrões momentâneos. Os padrões representam objetos e fenômenos situados fora do cérebro, no corpo ou no mundo exterior, mas alguns padrões também representam o processamento cerebral de outros padrões. O termo "mapa" aplica-se a todos esses padrões representativos, alguns dos quais são toscos enquanto outros são refinadíssimos; uns são concretos, outros, abstratos. Em suma, o cérebro mapeia o mundo ao redor e mapeia seu próprio funcionamento. Esses mapas são vivenciados como imagens em nossa mente, e o termo "imagem" refere-se não só às imagens do tipo visual, mas também às originadas de um dos nossos sentidos, por exemplo, as auditivas, as viscerais, as táteis.</p><p>Considerando as ideias do autor, não há nenhum tipo de separação possível entre cérebro, mente e corpo. E, para entendermos o comportamento humano, é preciso reunir os esforços de neurocientistas, psicólogos e fisiologistas.</p><p>Portanto, podemos concluir que questões feitas sobre o que é mente; como é constituída; como se dão os processos mentais e psicológicos; qual o papel do ambiente sobre a mente e muitas outras são perguntas que o homem se faz desde a antiguidade até os dias atuais. E, para Heidegger, a capacidade de fazer essa reflexão sobre si mesmo é uma peculiaridade do ser humano enquanto dasein, ser-aí.</p><p>Pensamento e raciocínio</p><p>“O pensamento parece uma coisa à toa</p><p>Mas como a gente voa quando começa a pensar.”</p><p>(Lupicínio Rodrigues)</p><p>Esse é um verso da música “Felicidade”, de Lupicínio Rodrigues. O autor diz, em um primeiro momento, que o pensamento é uma coisa à toa, como se o menosprezasse o ato de pensar, pois “à toa” pode ser entendido como algo sem importância. Para logo em seguida, reconhecer o poder do pensamento que, figurativamente, nos permite voar.</p><p>Mas será que o pensamento</p><p>tudo pode? Mas, enfim, o que é o pensamento? O que é pensar?</p><p>Pensamento</p><p>Como temos visto até aqui, nos diversos assuntos que estudamos, não existe uma única resposta para o que é o pensamento, como ele se desenvolve e como se dá. Sendo assim, vamos apresentar, a seguir, algumas versões sobre esse conceito.</p><p>Segundo Feitosa e al (2007), para Descartes,</p><p>pensar é ser (cogito ergo sum) e é pelo pensamento que sou. O entendimento não é uma parte, uma faculdade da alma, mas, sim, ela por inteiro. (...) Para Descartes, o corpo não atribui significado, mas somente o intelecto; o corpo, enquanto res extensa, é passivo à ação do pensamento. Há somente dois sentidos para o termo existir sob o dualismo de Descartes: ou se existe como coisa ou como consciência; objeto é objeto até o fim e consciência é consciência até o fim.</p><p>Ainda segundo Feitosa et al (2007), para Merleau Ponty, “[o] pensamento não será interior se entendermos este conceito como algo oposto ao mundo e fechado sobre si mesmo. Ele não existe fora do mundo e/ou das palavras”. De acordo com Feitosa et al (2007),</p><p>[a] fala não é signo do pensamento, pois não é como o pensamento dado tematicamente: o sentido enraíza-se na fala que é a existência exterior do sentido. A palavra e a fala são a presença do pensamento no mundo sensível (e não sua vestimenta). Ela possui uma camada de significação existencial antes do enunciado conceitual que habita as palavras de modo que a linguagem é significação; ela não tem significação.</p><p>Para Merleau Ponty, não há distinção entre pensamento e linguagem e a virtude da linguagem está no fato de ela nos atirar ao que significa, dando-nos acesso, além das palavras, ao pensamento do outro.</p><p>Lembremos, aqui, que Merleau Ponty é considerado um dos nomes mais expressivos do existencialismo e, portanto, considera o homem como um ser-no-mundo, não sendo possível uma separação entre homem e mundo e muito menos entre mente e corpo ou mente e cérebro.</p><p>Merleau Ponty (1908-1961), entre 1940 e 1950, foi membro da chamada “geração existencialista”. Algumas de suas obras são “As aventuras da dialética”; “Humanismo e terror”; “Sentido e não-sentido”; “Sinais”; e “Fenomenologia da Percepção”. Ademais, foram publicados postumamente alguns livros que permaneceram inconclusos, tais como “O visível e o invisível (ou A origem da verdade)”; “Resumos dos cursos ministrados na Sorbonne e no Collège de France”; e “A prosa do mundo”.</p><p>Aqui, veremos a concepção de pensamento no trabalho de Lev Semyonovich Vigotsky. Como apontado por Brites e Cássia (2012),</p><p>para Vigotsky, pensamento e linguagem são processos interdependentes desde o início da vida. A aquisição da linguagem pela criança modifica as suas funções mentais superiores, dá forma definida ao pensamento, possibilita o aparecimento da imaginação, o uso da memória e o planeamento da acção. Neste sentido a linguagem sistematiza a experiência directa da criança e, por isso, adquire uma função central no seu desenvolvimento cognitivo, reorganizando os processos em desenvolvimento.</p><p>Com essa citação, podemos concluir que para Vigotsky a linguagem precede o pensamento, isto é, a linguagem vem antes do pensamento. No entanto, apesar de a linguagem preceder o pensamento, esses dois processos estão interligados. Lembrando, ainda, que, para ele, a linguagem é uma construção social.</p><p>É importante lembrar que Vigotsky era psicólogo, nasceu na Bielo-Rússia em 1896 e morreu em 1934. Para ele, não é possível separar corpo e mente. Além disso, defendeu, entre outras ideias, a de que a sociedade afeta diretamente os processos psicológicos superiores do ser humano. Com isso, ou por isso, podemos considerar que tais ideias teriam influenciado ou dado origem ao socioconstrutivismo ou sociointeracionismo. Apesar de defender a ideia de que a sociedade influencia o desenvolvimento do homem, ele reconhece, também, que o homem pode modificar a sociedade, daí o conceito de “interacionismo”. Além disso, ele pode ser considerado um representante da corrente sócio-histórica ou histórica-cultural, por não considerar que o homem “nasce pronto” para aprender, mas o que aprende e como aprende depende da sua história, do momento histórico em que vive e em qual sociedade vive. Um dos conceitos mais conhecido de Vigotsky é o da zona de desenvolvimento proximal que nada mais é do que a distância do desenvolvimento real ao desenvolvimento potencial. Isto é, a capacidade de resolver um problema individualmente e o potencial de resolver um problema com ajuda de terceiros.</p><p>Interessante lembrar que os trabalhos de Vygotsky são contemporâneos aos primeiros trabalhos de Jean Piaget. E logo você vai entender porque julgamos esse fato interessante.</p><p>Jean Piagetera biólogo, tendo nascido na Suíça em 1896 e morrido em 1960. Ele nunca escreveu um método para ensinar, mas, erroneamente, até hoje algumas pessoas insistem em falar “minha escola usa o método Piaget”. Ele nunca atuou como pedagogo, diferentemente do que fez Vigotsky. Piaget, ao observar atenta e sistematicamente crianças, descreveu o desenvolvimento do ser humano desde o seu nascimento. Para Piaget, o desenvolvimento pode ser dividido em quatro períodos ou estágios:</p><p>Período 1 Sensório-motor.</p><p>Período 2 Pré-operatório.</p><p>Período 3 Operatório concreto.</p><p>Período 4 Operatório formal.</p><p>Antes de apresentarmos uma síntese das características de cada um desses períodos ou fases, vejamos como Piaget entende o desenvolvimento humano. Segundo ele, o desenvolvimento mental do homem se dá de forma espontânea, a partir de suas potencialidades e da sua interação com o meio externo. Segundo Penna (1977), podemos entender o conceito de pensamento para Piaget como</p><p>inclusão no de inteligência. O pensamento será, assim, uma forma de inteligência, precisamente aquela que intervém por procedimentos operacionais, interiorizados e simbólicos na solução de problemas. Apóia-se nas formações semióticas e, em particular, nas formações verbais. Estas, na verdade, ganham relevo progressivo até alcançarem um nível elevado de importância no estágio das operações forma ou proposicionais. (...) No estudo genético do pensamento e, em particular, no das formações conceituais, assume Piaget uma posição bastante original qual seja a de não vinculá-las apenas às imagens das quais seriam extraídas por um processo de abstração, mas da própria ação.</p><p>Piaget defendia a ideia da integração dos processos cognitivos, afetivos e sociais. Para ele, a linguagem se desenvolve por meio da imitação.</p><p>O período sensório-motor vai do zero aos dois anos de vida. E, ao nascer, as funções mentais das crianças limitam-se ao exercício dos aparelhos de reflexos inatos, como sugar, por exemplo. Nessa fase, a criança só tem memória de reconhecimento. Aos cincos meses, a criança brinca com o que está na sua frente. Por volta, dos oito ou nove meses, ela já é capaz de procurar um brinquedo que rolou para debaixo da mesa. Entre os 18 e 24, meses começa o desenvolvimento da linguagem.</p><p>No período pré-operatório, dos dois aos sete ou oito anos, a criança já percebe que existe o “outro”, compreendido como sujeito. Temos também a ideia de grupo social e de certos aspectos afetivos não existentes no período anterior. Aqui, começa a operar a memória de evocação. As operações não são reversíveis. Nessa fase ou estágio, a criança considera as regras como algo sagrado, bem como surge o animismo, que significa atribuir a objetos e animais, características humanas.</p><p>Por volta dos sete ou oito anos, a criança entraria no período denominado operatório concreto, que se estende até mais ou menos aos 12 anos. As operações são reversíveis. Surge também a noção de conservação de quantidade. Apesar de tantas aquisições em termos de desenvolvimento, nesse período a criança ainda não consegue trabalhar em termos de hipóteses.</p><p>A partir dos 12 anos, segundo Piaget, a criança entraria no período chamado de operatório formal, que se estende até, aproximadamente, os 15 anos, quando ele supõe que o desenvolvimento das estruturas cognitivas já esteja</p><p>concluído. Nesse período, a criança/adolescente já se desvinculou do concreto e consegue pensar de forma abstrata. Já é possível pensar em termos de futuro. Surge o pensamento hipotético-dedutivo, isto é, pode-se chegar a deduções a partir de hipóteses. O adolescente é capaz de pensar sobre as próprias regras. Precisamente por essas características é que ele se revela apto a raciocinar sobre si mesmo, sobre o seu papel na vida, sobre os seus projetos e sobre a validade de suas crenças. Será, então, um ser essencialmente prospectivo. Com a lógica razoavelmente desenvolvida, a criança consegue resolver problemas matemáticos mais sofisticados.</p><p>Para a Tieppo (2019), uma neurologista, o equívoco de Jean Piaget foi ter associado as etapas ou estágios de desenvolvimento a faixa etárias.</p><p>O livro “Piaget, Wallon e Vigotsky – teorias psicogenéticas em discussão” foi escrito por professores da Universidade de São Paulo. Este livro traz um diálogo entre os três principais teóricos da psicologia que buscam compreender o funcionamento psicológico à luz de sua gênese e evolução. Os textos tratam das relações entre fatores biológicos e sociais no desenvolvimento psicológico e entre aspectos cognitivos e afetivos da psicologia humana. Permitem, assim, ao leitor realizar sua própria síntese das várias abordagens em psicologia genética, em benefício tanto do aprofundamento teórico quanto do aperfeiçoamento da prática pedagógica.</p><p>Voltemos para a provocação feita anteriormente sobre o fato de que parte dos trabalhos e estudos de Piaget aconteceram simultaneamente, isto é, no mesmo período, aos de Vigotsky. A curiosidade está em que, apesar de terem vivido, pelo menos, por um período na mesma época, puderam elaborar teorias tão diferentes. Uma das hipóteses é a influência da sociedade e do meio em que viviam. Bielo-Rússia e Suíça tinham condições históricas e sociais completamente diferentes.</p><p>Para a neurociência, as conexões neurais são as responsáveis pelo pensamento humano, assim, o pensamento é uma atividade mental, isto é, a conexão entre nossos neurônios. No entanto, quando falamos em conexão podemos dar a ideia errada que os neurônios se tocam, o que não é verdade. Os neurônios “entram em contato” por meio das sinapses, que nada mais é do que o sistema de comunicação entre os neurônios. O pensamento se dá na mente, mas como mente e cérebro estão sempre interligados, podemos dizer que os pensamentos podem mudar nosso cérebro.</p><p>Para a neurociência, da mesma forma que não se pode ver o sentimento de outra pessoa, também não se pode ver o pensamento do outro. E, por causa disso, a linguagem é algo fundamental e mantém uma ligação profunda com o pensamento. Por meio da linguagem e por causa dela, podemos conhecer o pensamento de outro alguém e comunicar nossos pensamentos.</p><p>Acho que muitos de nós já ouvimos a expressão “pela sua cara, posso até ler seus pensamentos”. É uma frase do senso comum, mas que relata com precisão que, muitas vezes, não precisamos utilizar palavras para exprimir nossos pensamentos. Nossas emoções, através do nosso corpo, podem comunicar ou “dar pistas” do que estamos pensando. Tudo isso reforça a ideia de que somos unos: mente-cérebro-corpo.</p><p>Quando se fala em integração entre mente-corpo-cérebro, é preciso lembrar que o pensamento está intrinsecamente ligado a outros fenômenos psicológicos como emoção, sentimento, memória, atenção e etc. Cabe destacar que, para a neurociência, segundo Tieppo (2019),</p><p>não nascemos com as habilidades que nos permitem manter o foco, controlar os impulsos e fazer planos, tomar decisões, corrigir a rota. Nascemos, sim, com o potencial para desenvolvê-las. No entanto, isso só ocorre dependendo de nossas experiências desde a primeira infância até a vida adulta.</p><p>Para Tieppo (2019), o desenvolvimento pleno das funções executivas só se dá na vida adulta. E, segundo Tieppo (2019), ela define funções executivas como</p><p>as chamadas funções executivas [que] são aquelas que permitem que o indivíduo se engaje em comportamentos orientados e objetivos, em ações com um alto grau de autonomia, orientadas para metas específicas.</p><p>E, porque falar de funções executivas, quando o tema desse item é pensamento?</p><p>Fizemos essa apresentação sobre as funções executivas, porque, para nossa explanação, nesse momento, queremos destacar uma delas que é a metacognição. O que é? E porque é importante? Segundo Tieppo (2019), a metacognição é a função que nos permite compreender como dirigimos nossos pensamentos e nos dá possibilidade de analisar se a forma como estamos pensando é aquela que traz melhores resultados. Envolve ainda a habilidade de dar um passo para trás e analisar sua posição numa data situação, a habilidade de se automonitorar, autoavalair e refletir.</p><p>Em outras palavras, metacognição é ser capaz de pensar em como pensamos. É pensar porque pensamos de um jeito e não de outro, por exemplo. Infelizmente, poucas pessoas fazem isso. Muitas pessoas pensam que o que pensam é definitivo. Porém, sempre podemos mudar e, como disse um poeta espanhol, a única coisa que não muda é a possibilidade de mudança. Além disso, a metacognição é uma capacidade única que só nós, enquanto espécie, temos.</p><p>Segundo Damásio (2015), “[o] ser humano apresenta o mais complexo exemplo desse modo de operação híbrido e sinérgico quando percebe o mundo, aprende sobre ele, recorda o que aprendeu e manipula criativamente as informações”.</p><p>Então, ao recordar o que aprendeu e manipular criativamente as informações, de fato, como disse o poeta Lupicínio Rodrigues, o pensamento pode nos fazer voar.</p><p>Raciocínio</p><p>No dicionário Michaellis, a definição de raciocinar é “fazer uso da razão para estabelecer relações entre (coisas e fatos), para entender, calcular, deduzir, julgar (algo); refletir”. Outra definição poderia apresentar-se como sendo o termo raciocínio caracterizado como uma operação lógica discursiva e mental, que é necessária para organizar dados (imagens, palavras ou números) através do uso de premissas a fim de alcançar uma conclusão.</p><p>Para Damásio (2015), nossa capacidade de raciocinar depende da nossa capacidade de aprender e evocar. Além disso, a capacidade de aprendizagem e evocação nos permite imaginar, planejar para o futuro e, de modo mais geral, criar novas soluções para diferentes problemas.</p><p>Para Piaget, há diferentes tipos de raciocínio e eles são específicos para cada etapa do desenvolvimento. Por exemplo, no estágio denominado de operatório-concreta, a criança só raciocina sobre dados concretos e, portanto, presentes. Já no operatório formal, a criança/adolescente consegue raciocinar considerando hipóteses, o que representa um raciocínio mais elaborado.</p><p>Segundo a neurociência, estamos sempre raciocinando uma vez que as informações que recebemos do mundo interno e do mundo externos ativam o nosso cérebro para processá-las. Assim, podemos pensar que a neurociência ou seus profissionais discordam da definição do dicionário, uma vez que ele define que raciocinar é fazer uso da razão. Com o que conhecemos e estudamos até aqui sobre neurociência, podemos dizer que não é só o uso da razão que caracteriza o “raciocinar”, mas devemos considerar a emoção como um dos elementos do raciocínio.</p><p>Tipos de raciocínio</p><p>Podemos classificar o raciocínio em alguns tipos. Aqui, abordaremos alguns deles.</p><p>Em relação ao raciocínio lógico temos algumas divisões, podendo ele ser:</p><p>•dedutivo; •indutivo; •por abdução.</p><p>A melhor forma de explicar o que é o raciocino lógico dedutivo é por meio de um exemplo. Se todo mamífero tem pulmão e os gatos têm pulmões, logo os gatos são mamíferos. Dessa forma, partimos de uma primeira premissa (todo mamífero tem pulmão), seguimos para outra premissa (os gatos têm pulmões), e chegamos a uma conclusão, isto é, deduzimos que os gatos são mamíferos. Nesse caso, a conclusão ou dedução só é verdadeira se as premissas forem verdadeiras. Além disso, nesse tipo de raciocínio partimos de uma premissa geral para chegarmos a uma particular. No nosso exemplo, a geral “os mamíferos” e a particular</p><p>“os gatos”.</p><p>Vamos chamar a atenção para as palavras destacadas se, e, logo que nos ajudam a organizar esse tipo de raciocínio, ajudando, dessa forma que a dedução organize informações que já temos.</p><p>O raciocínio lógico indutivo é o tipo de raciocínio que determina a regra. Ou, em outras palavras, é a possibilidade de descobrir, aprender ou entender a regra a partir de exemplos. Por exemplo, vê-se um saco opaco sobre a mesa e se quer saber o que tem dentro. Para isso, pode-se usar o método indutivo: vai-se tirando o conteúdo do saco um a um. Da primeira vez, tira-se uma bolinha de gude; na vez seguinte, tira-se outra bolinha de gude e assim sucessivamente até que se tira tudo o que há no saco. Então, chega-se à conclusão ou define-se a lei ou regra de que nesse saco só há bolinhas de gude. Dessa forma, na indução parte-se das partes para o todo.</p><p>No raciocínio lógico por abdução observa-se um fenômeno e, a partir dele criamos ou elaboramos uma premissa. Caso essa premissa seja verdadeira, ela poderia explicar o fenômeno que estamos observando. Por exemplo, os carros da marca ABCD sempre provocam acidentes. Se essa premissa for verdadeira, é “natural” que se sofra um acidente com o carro que é da marca ABCD. Assim, por abdução, entende-se que, provavelmente, é verdade que os carros da marca ABCD sempre causam acidentes. Dessa forma, na abdução temos uma relação de causalidade. E temos por objetivo encontrar uma explicação para o que estamos buscando. Essa relação de causalidade ou causa-efeito pode não ser verdadeira. No nosso exemplo, o acidente poderia ter sido provocado por qualquer outro motivo e, não necessariamente, em função da marca do carro. Esse tipo de raciocínio é muito comum no senso comum. Já ouvimos algumas vezes a frase “Não te avisei que essa marca não prestava”. Além disso, as áreas de marketing usam desse tipo de raciocínio para venderem seus produtos.</p><p>Como e porque somos capazes de raciocinar dessa forma ainda não é muito conhecido. Alguns cientistas acham que existe uma lógica mental, outros acham que não. Mas, até esse momento, sabemos que essas são formas de raciocínio.</p><p>Provavelmente, você já deve ter ouvido ou mesmo falado que não gosta de matemática porque tem dificuldade de raciocinar com lógica. Você até pode não gostar de matemática, mas saiba que você usa raciocínio lógico em várias outras atividades além dos “problemas matemáticos”. Por exemplo, para falar, usamos “a lógica”; para escrever, usamos “a lógica”; para pensar em um caminho alternativo para irmos a algum lugar, usamos “a lógica” e assim é em muitas outras atividades. Então, isso não pode ser usado como desculpa.</p><p>Agora que você sabe o que é metacognição, trabalhe a sua e pense por qual razão, de fato, você não gosta de matemática ou de qualquer ou de qualquer outra coisa. E, lembre-se, sempre é possível aprender e sempre é possível mudar.</p><p>Nesta unidade, você teve a oportunidade de:</p><p>•conhecer diferentes visões e concepções sobre a mente e o cérebro;</p><p>•identificar as características do monismo e dualismo;</p><p>•identificar diferentes conceitos de pensamento;</p><p>•conhecer os nomes importantes dessa área;</p><p>•reconhecer diferentes tipos de raciocínio.</p><p>4. Funções psíquicas, sexualidade e saúde mental</p><p>Introdução</p><p>Olá,</p><p>Você está na unidade Funções psíquicas, sexualidade e saúde mental. Conheça aqui como a linguagem se desenvolve e como funciona sua relação com o pensamento e a aprendizagem e o que dizem as teorias da linguagem. Aprenda sobre fatores que irão influenciar na formação da identidade e sua relação com a personalidade, bem como sobre as suas teorias. Entenda sobre sexualidade, a diferença entre gênero e sexo, assim como sobre o que é saúde mental e doença mental e um pouco da história sobre a reforma psiquiátrica.</p><p>Bons estudos!</p><p>Funções psíquicas</p><p>As funções psíquicas são elementos que compõem o funcionamento psíquico de um indivíduo. Quando elas têm um desempenho adequado, contribuem com a qualidade psíquica e com a saúde mental do ser humano. No entanto, também podem ocorrer disfunções no seu funcionamento, que resultam em adoecimentos psíquicos, levando o indivíduo a ser acometido por uma doença mental.</p><p>Para um melhor entendimento, podemos pensar que elas fazem parte do mundo interior do indivíduo, onde têm o papel de garantir a sua adaptação no mundo.</p><p>As funções psíquicas não são exclusivas do ser humano. Há algumas funções que chamamos de elementares, que também fazem parte dos animais, e outra funções superiores, que são exclusivas do homem, como veremos a seguir</p><p>Funções elementares</p><p>As funções psíquicas elementares são comuns a homens e animais, já que se tratam de funções inatas, que nos ajudam na adaptação e na perpetuação da espécie, atuando na capacidade de memorizar, perceber o que está a volta, sentir e atentar-se. Tosta (2012, p. 59) afirma que</p><p>[a]s elementares [são] de dimensão biológica, marcadas pelo imediatismo que pressupõe uma reação direta à situação problema defrontada pelo organismo, total e diretamente determinadas pela estimulação ambiental, portanto definidas por meio da percepção.</p><p>Funções superiores</p><p>Já as funções psíquicas superiores são funções exclusivamente humanas, uma vez que alguns elementos do indivíduo não se dão de maneira inata, mas sim, se desenvolvem a medida que ocorre a interação social, apropriando-se de signos culturais, introjetando esses signos de modo a direcionar o desenvolvimento biológico e determinando a formação de sistemas e o desenvolvimento cerebral.</p><p>O homem, por ter esses elementos superiores, acaba diferenciando-se do animal, pois tornou-se capaz de dominar seu próprio comportamento, enquanto os animais não desenvolveram essa capacidade.</p><p>O principal teórico que trabalhou no reconhecimento dessas funções superiores foi Vygotsky, que afirma que são funções exclusivamente dos seres humanos por serem funções que atuam no autodomínio do comportamento, pois diante da internalização da cultura e dos seus signos somos capazes de dominar nosso comportamento. Segundo Tosta (2012, p. 59),</p><p>[c]onsiderando tanto os instrumentos materiais quanto os signos atividades mediadas, distintas pelo fato de o primeiro estar voltado para a modificação dos objetos, portanto, do mundo externo e o segundo orientado internamente para o próprio sujeito, este estudioso enfatizará a importância da cultura e do outro-social como fundamentais para a constituição das funções psicológicas superiores e da consciência.</p><p>As funções superiores, assim, desenvolvem-se por meio de resolução de tarefas e desafios, ou seja, desde que o homem se socialize, ele desenvolve suas funções. Conforme Maior e Wanderley (2016),</p><p>[s]ua Teoria chama de funções psicológicas superiores aos processos tipicamente humanos como: memória, atenção e lembrança voluntária, memorização ativa, imaginação, capacidade de planejar, estabelecer relações, ação intencional, desenvolvimento da vontade, elaboração conceitual, uso da linguagem, representação simbólica das ações propositadas, raciocínio dedutivo, pensamento abstrato.</p><p>Dessa forma, algumas dessas funções são a linguagem e o pensamento, que são elementos exclusivamente do ser humano e que se desenvolvem através da socialização.</p><p>Para saber mais sobre as funções psicológicas superiores, quais são e qual sua função, leia “Funções psicológicas superiores: origem social e natureza mediada”, de Rafaela J. B. Veronezzi, Benito P. Damasceno e Yvens B. Fernandes (2005).</p><p>Linguagem</p><p>A linguagem pode ser expressa de diferentes maneiras, sendo ela verbal e não verbal. Constitui-se por ser uma função inata e um processo de socialização.</p><p>A linguagem verbal é uma forma de linguagem particular do ser humano, sendo a atividade mental mais característica do homem e o seu principal instrumento de comunicação.</p><p>Novaes (s/d) afirma que a “[l]inguagem é instrumento de pensamento, de expressão emocional e afetiva, mas, sobretudo, de intercomunicação social”, sendo que é através da linguagem que o homem expressa seu interesse, suas ideias e suas crenças aos que estão a sua volta.</p><p>Segundo Dalgalarrondo (2000), “tem-se duas dimensões básicas da linguagem: uma individual, pessoal, a fala, e outra social, histórica e cultural, a linguagem propriamente dita”. Pode-se ainda descrever e diferenciar cinco elementos básicos que compõem a linguagem, segundo Shaffer e Kipp (2012), como será visto a seguir:</p><p>Fonologia</p><p>Refere-se à fala, aos sons, as unidades sonoras básicas, sendo que cada língua possui os seus próprios conjuntos fonológicos.</p><p>Morfologia</p><p>Refere-se à explicação da formação das palavras de acordo com os seus morfemas. Quando se é criança, por exemplo, ao aprendermos uma palavra como “casa”, sabemos que essa unidade se difere de “casas”, uma vez que a primeira significa uma só e a segunda significa mais de uma.</p><p>Sintaxe</p><p>Refere-se às regras que dizem respeito à articulação lógica das palavras, ou seja, como devem ser combinadas para que se tenha o referido significado que se deseja expressar em determinada frase.</p><p>Semântica</p><p>Refere-se ao significado das palavras e das frases expressas. Para que se entenda uma frase, é necessário que se tenha aprendido anteriormente o significado da palavra presente naquela frase para haver a compreensão do todo.</p><p>Pragmática</p><p>Refere-se ao conhecimento de uma comunicação eficaz, e é necessário para utilizar de recursos diversos da linguagem de acordo com o público para o qual o indivíduo estará passando a informação.</p><p>Assim, a linguagem desempenha inúmeras funções no nosso cotidiano, sendo um instrumento valioso exercendo funções além da comunicação e garantindo a socialização do indivíduo. Assim, atua também na afirmação do eu, sendo tida como um suporte para o pensamento, tanto lógico quanto abstrato. Também dá suporte emocional, sendo um instrumento de expressão e, por fim, apresenta a sua função artística, na qual traz a poesia, o drama e a comédia como expressão.</p><p>Relação entre linguagem e pensamento</p><p>O pensamento é simbolizado através da função da linguagem, pois é ela que nos permite decodificar o pensamento do outro, facilitando a troca de experiências.</p><p>A linguagem verbal tem sua origem através da socialização do ser humano, que é estimulado pelo meio em que vive, proporcionando a transformação e, assim, permitindo fazer associações diversificadas.</p><p>O pensamento precede a linguagem, que, por sua vez, acompanha a evolução do pensamento desde quando nascemos até a fase adulta.</p><p>Novaes (s/d, p. 32) afirma que</p><p>[a] palavra, como símbolo socializado, precisa e isola um significado, envolvendo organização de pensamento e direção dos processos mentais para um fim ou propósito determinado. Para que as palavras sirvam à elaboração do pensamento, para que possam operar como estímulos mentais e emocionais devem ter carga ideativa e conteúdo afetivo, isto é, que signifiquem e sugiram alguma coisa.</p><p>A palavra, ou seja, a linguagem verbal, poderá ser um mecanismo que irá externar o que o pensamento está processando, contribuindo também para seu o enriquecimento, fazendo parte do processo de evolução do indivíduo.</p><p>Dessa forma, a linguagem contribui consideravelmente para a estruturação final do pensamento lógico infantil, já que as imagens mentais, assim como as imagens verbais, são imitações que são internalizadas pelas crianças e esse processo contribui para o enriquecimento do pensamento. Em suma, as imagens mentais nada mais são do que cópias da realidade que são organizadas no cérebro.</p><p>De acordo com Novaes (s/d, p. 34), “[o] pensamento está diretamente ligado à linguagem e o ponto de partida dos estudos da psicologia do pensamento é a aderência do pensamento à palavra”. Por sua vez, as palavras irão ser estagnadas para que ocorra grande número de representações mentais facilitando a interlocução do pensamento.</p><p>Linguagem e aprendizagem</p><p>A partir de determinantes biológicos, sociais e psicológicos é que o indivíduo adquire a função da linguagem.</p><p>Devem-se levar em consideração alguns fatores, segundo Novaes (s/d), para que ocorra o processo de aprendizagem da linguagem, sendo esses fatores:</p><p>•experiência anterior; •maturação; •socialização; •diferenças individuais; •motivação.</p><p>Conforme Novaes (s/d, p. 36),</p><p>[h]á leis psicológicas, psico-sociológicas e psico-fisiológicas que norteiam o processo da aprendizagem da palavra. Existe um equilíbrio que provém do fato que existe um indivíduo que fala e outro que escuta; o que fala, tende a dispender o menor esfôrço possível (lei da economia) e a empregar, por isso mesmo, o mínimo de palavras diferentes possíveis, o que ouve exige o máximo de diferenciação para compreender, sem muito esfôrço também.</p><p>O indivíduo, quando não está simplesmente repetindo frases automaticamente, mas entendendo e criando conscientemente as frases é que começa a dominar a linguagem, apresentando momentos de maior e menor aprendizado durante seu desenvolvimento.</p><p>Novaes (s/d) ainda destaca que</p><p>[d]entre as leis que regem o processo da aprendizagem da linguagem podemos destacar: A) Lei da frequência, atribuída à repetição; B) Lei do efeito, as respostas que 'satisfazem as necessidades do indivíduo tendem a ser repetidas (Munn); C) Lei da estabilidade da percepção, que depende da convergência da atitude e do estímulo; D) Lei da criação de novas relações, que enriquecem a aprendizagem da linguagem.</p><p>Há também, no processo de aprender palavras, dois fatores que influenciam o aprendizado infantil que são:</p><p>Fatores biológicos</p><p>Fatores orgânicos com processos perceptivos, acuidade visual, auditiva.</p><p>Fatores psicológicos</p><p>Entendimento da palavra, a percepção do seu significado, entre outros. Havendo, ainda, uma grande influência de fatores emocionais no aprendizado da linguagem.</p><p>Teorias do desenvolvimento da linguagem</p><p>Muitas pesquisas foram e ainda têm sido realizadas sobre as habilidades e o desenvolvimento da linguagem humana. Porém, três teorias destacam-se em relação ao desenvolvimento da linguagem:</p><p>•teoria nativista; •teoria da aprendizagem; •teoria interacionista.</p><p>A teoria nativista tem como seu idealizador o linguista Noam Chomsky e teve uma grande repercussão sobre o desenvolvimento da linguagem entre as décadas de 60 e 70.</p><p>Essa teoria, que também pode ser chamada de inata, afirma que as crianças nascem com habilidades para aprender idiomas. Para ele, os seres humanos possuem um dispositivo de aquisição da linguagem (DAL) que, segundo Shaffer e Kipp (2012, p. 436) “é um processador linguístico inato que é ativado por meio de informações verbais”. Esse dispositivo não estaria necessariamente em uma parte especifica do cérebro, mas seria uma habilidade existente.</p><p>Chomsky pensou que todas as línguas compartilham os mesmos elementos básicos, assim sendo, todas as línguas teriam substantivos e verbos, por exemplo, então, o dispositivo de aquisição de linguagem permitiria a criança a entender e adquirir as palavras e organizá-las em uma frase em qualquer língua que fosse. Segundo essa teoria, há dois períodos de aprendizagem para as crianças:</p><p>Período crítico</p><p>Ocorre de zero anos até por volta dos nove anos de idade, em que a criança teria mais facilidade de aprender uma língua.</p><p>Período sensível</p><p>Ocorre após essa idade, em que não é impossível de se aprender uma língua, mas passa-se por um processo mais complicado.</p><p>A teoria da aprendizagem, tem Skinner como um dos seus principais teóricos e afirma que as crianças não têm nada de inato, adquirindo a linguagem através de reforço. Segundo essa teoria, o aprendizado ocorre por meio dos processos de imitação e reforço, conforme Shaffer e Kiff (2012). Ou seja, a criança aprende a falar alguma palavra porque vê um adulto falando e quer imitar, e ela somente começa a falar as palavras corretamente porque são utilizados reforços, que são os adultos moldando suas palavras.</p><p>Por fim, a teoria interacionista, que tem como um dos seus principais teóricos Vygotsky, concorda em parte com a teoria nativista e em parte com a teoria da aprendizagem, pois acredita que a linguagem é parte biológica e parte social e que esses fatores interagem com as crianças para que elas aprendam uma língua.</p><p>Conforme essa teoria, é afirmado que as crianças de qualquer parte do mundo têm o desejo de se comunicar com os outros e esse desejo as motiva a aprender a se comunicar de maneira verbal.</p><p>Identidade e personalidade</p><p>Aqui, vamos trazer os conceitos de identidade e personalidade e como cada um desses traços se desenvolvem, bem como quais são as suas características no desenvolvimento humano.</p><p>A identidade é algo psicossocial, sendo a competência de conhecer o próprio eu de maneira contínua e unitária. Ela permite que o indivíduo se sinta à vontade de se inserir no seu meio social de forma coerente. Ekicson (1985) afirma que a sensação de fazer parte de algo se refere ao sentimento de identidade, permitindo que o indivíduo se oriente em relação a outras pessoas ao seu meio ambiente, estabelecendo e delineando os limites do eu corporal e mental.</p><p>A formação da identidade ocorre a partir de uma diversidade de conjuntos de identificações, podendo ser estes conscientes ou não, que faz com que a criança, durante seu desenvolvimento, introjete diferentes aspectos dos adultos que a rodeiam.</p><p>Já a personalidade, segundo Dalgalarrondo (2000), é um conjunto integrado de traços psíquicos, consistindo nas características individuais com sua relação diante do meio. Assim, há a interação de diversos fatores, como físicos, psíquicos, socioculturais, juntamente com as tendências inatas e experiências adquiridas no curso do seu desenvolvimento. Ressalta-se, ainda, que a personalidade do indivíduo é relativamente estável, podendo ser mutável, dependendo das mudanças e experiências durante a existência do indivíduo ou, até mesmo, se ocorrerem alterações neuronais.</p><p>Fatores que influenciam na identidade</p><p>Há vários fatores que influenciam na formação de identidade no indivíduo, partindo do pressuposto de que a as primeiras fases da infância servirão de base para que essa formação se estabilize na adolescência, segundo Erickson (1985).</p><p>De acordo com a sua teria do desenvolvimento, que é divida em oito fases, é dada uma maior ênfase à etapa da adolescência, que ele nomeia de identidade x confusão de papéis, uma vez que essa fase é tomada como de extrema importância para as demais fases do desenvolvimento.</p><p>Com isso, Shaffer e Kipp (2012), afirmam que existem quatro fatores que irão influenciar o adolescente na conquista dessa identidade:</p><p>INFLUÊNCIAS COGNITIVAS</p><p>Os adolescentes que desenvolveram satisfatoriamente o pensamento formal têm maior capacidade intelectual de imaginar identidades futuras.</p><p>INFLUÊNCIA DOS PAIS</p><p>O relacionamento harmonioso, no qual há afeto e atenção, assim como há respeito mútuo na relação do adolescente com seus pais, é visto como algo que irá auxiliar nessa formação de identidade.</p><p>INFLUÊNCIAS ACADÊMICAS</p><p>Estar em um ambiente acadêmico não irá necessariamente fazer com que esse adolescente encontre sua identidade, pois dentro da universidade, muitas vezes, o jovem tende a se questionar em relação à quem ele é e isso faz com que regrida, mas, por outro lado, muitas vezes, no ambiente acadêmico pensa-se mais na vida profissional e nos objetivos que deseja alcançar.</p><p>INFLUÊNCIAS SOCIOCULTURAIS</p><p>A cultura em que o adolescente está inserido fará parte na formação da sua identidade. Atualmente, com a tecnologia, há muitas possibilidades a seguir e é possível pensar em um futuro em qualquer lugar do mundo, o que, anos atrás, não era possível. Assim, muitas vezes, seguia-se a profissão do pai ou da mãe por ser o que era visto como futuro.</p><p>Crise de identidade</p><p>Crise de identidade foi um termo utilizado por Erickson (1985) para as incertezas e desconfortos vividos pelos adolescentes em relação ao questionamento de “quem sou eu”.</p><p>Para saber mais sobre Erikson e a crise de identidade, leia o artigo “Erik Erickson a construção da identidade”, na edição 239 da Revista Educação, disponível online.</p><p>Segundo Shaffer e Kipp (2012), James Marcia desenvolveu uma pesquisa por meio da qual possibilitou os pesquisadores a classificar o adolescente em um dos quatro estágios possíveis:</p><p>1. Estágio de difusão da identidade</p><p>No qual os indivíduos ainda não pensaram a respeito do que são ou do que querem ser.</p><p>2. Estágio de exclusão da identidade</p><p>No qual os indivíduos escolheram sua identidade sem passar por questionamentos, muitas vezes, simplesmente decidindo por algo, pois os pais gostam daquilo e ele também gostará.</p><p>3. Estágio de moratória da identidade</p><p>No qual o indivíduo se questiona sobre vários costumes e comportamentos que faz, procurando indagar-se se aquilo realmente é o que ele quer, se isso o fará bem e se não está simplesmente seguindo os passos de outras pessoas.</p><p>4. Estágio de conquista da identidade</p><p>No qual o indivíduo já resolveu essa questão e estabelece comprometimentos pessoais, focalizando em seus objetivos.</p><p>Lembrando que, para Erikson (1985), essa crise ocorre prioritariamente na adolescência, porém, hoje em dia, já se sabe que os questionamentos sobre quem se é podem aparecer em qualquer momento da vida.</p><p>Teorias da personalidade</p><p>Os estudos da personalidade iniciaram-se por volta de 1930 e, desde então, diversas teorias científicas vêm aprimorando esses estudos e desencadeando novos caminhos para o entendimento da personalidade. Embora haja uma variedade de definições para esse construto, a avaliação da personalidade irá depender da teoria adotada pelo pesquisador, conforme Nakano e Silva (2011, p. 51).</p><p>Veremos algumas dessas teorias e o que cada uma diz sobre a personalidade:</p><p>Behaviorismo</p><p>Essa teoria apresenta uma visão mecanicista do comportamento humano, tomando a personalidade como o acúmulo de respostas aprendidas ou até mesmo dos hábitos adquiridos. Aqui, não há espaço para questões do consciente ou inconsciente, já que a personalidade se desenvolve filogenicamente, ontogenicamente e culturalmente.</p><p>Psicanálise</p><p>Foi desenvolvida por Freud e, para explicar a personalidade, ele aborda alguns conceitos, tais como instintos, que são elementos básicos da personalidade, sendo as forças motivadoras que impulsionam o comportamento e determinam em qual caminho seguir; e as estruturas psíquicas, que são o id, o ego e o super ego. O id é onde estão as estruturas primitivas do indivíduo, ou seja, é o impulso primário que busca a satisfação instintiva. O ego significa o “eu” que é o responsável por manter o indivíduo em contato com o meio, aceitando as regras e equilibrando o convívio com os demais indivíduos, isto é, é aquilo que mostramos ser para outras pessoas. E o super ego é a estrutura da personalidade que está introjetada de regras, por moralidade.</p><p>Teoria analítica de Jung</p><p>Falar em personalidade ou psique para Jung é a mesma coisa, já que o teórico afirma que a personalidade é composta por várias estruturas que atuam em conjunto entre si, estando divida em três partes: (i) ego consciente, que é o aspecto consciente da personalidade desenvolvido aos quatro anos de idade e nele é incorporada a percepção de “você mesmo”; (ii) inconsciente pessoal, que é onde estão guardados os pensamentos, impulsos, desejos, podendo ser acessados a qualquer momento, mas que não estão na consciência porque não são necessários ao ego naquele momento; (iii) inconsciente coletivo, que contém o que Jung chamou de arquétipos bem no profundo do consciente, sendo os arquétipos imagens e símbolos comuns a todos - animus, persona, sombra e self são os mais importantes.</p><p>Teoria dos cinco fatores (big five)</p><p>O modelo vem sido utilizado para explicar a personalidade de forma simples e psicométrica. Os cinco traços apresentados podem ser utilizados para resumir, explicar e, até mesmo, prever a conduta do indivíduo. Os traços de personalidade seriam características psicológicas que representam tendências relativamente estáveis na forma de pensar, sentir e atuar com as pessoas, conforme Sisto e Oliveira (2007), podendo haver pequenas mudanças de acordo com o meio social em que o indivíduo está inserido. Os cinco fatores desse modelo são: neuroticismo, extroversão, agradabilidade, conscienciosidade e abertura a experiências.</p><p>Sexualidade</p><p>A sexualidade em nada tem a ver com sexo propriamente, já que definir sexualidade é algo muito mais complicado, pois ela permeia todo o desenvolvimento humano. A sexualidade não pode ser definida, assim, segundo a um único ponto de vista ou de uma só ciência.</p><p>Segundo a OMS,</p><p>[a] sexualidade é ‘uma energia que nos motiva a procurar Amor, contacto, ternura, intimidade, que se integra no modo como nos sentimos, movemos tocamos e somos tocados; É ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações, e por isso influência também a nossa Saúde física e mental.</p><p>Historicamente, a sexualidade é marcada por tabus e preconceitos, existindo até os dias atuais tais dificuldades. Geralmente, estão muito presentes valores de cunho religioso, colocando a sexualidade como algo pecaminoso, e isso ocorre por motivos culturais e morais que englobam a questão.</p><p>Pode-se perceber o quanto ela perpassa todas as esferas do ser humano, estando essas esferas interligadas umas as outras. Assim, é possível afirmar que a sexualidade existe em três dimensões, sendo elas a dimensão psicológica, biológica e sociocultural.</p><p>Dimensões da sexualidade</p><p>A sexualidade, como já foi visto, envolve vários aspectos e cada um desses aspectos ou dimensões irá influenciar de várias formas a sexualidade de cada indivíduo. Assim, tem-se:</p><p>Dimensão biológica</p><p>Engloba todo o corpo humano, cada célula e cada órgão, pois o homem é um ser sexuado. Nessa dimensão, o sexo propriamente dito está presente, bem como os hormônios, a idade, a anatomia corporal, ou seja, nosso estado físico no geral e as alterações fisiológicas.</p><p>Dimensão psicológica</p><p>Abarca as fantasias sexuais, desejos e sentimentos que irão se consolidar na puberdade, permanecendo durante toda a vida do ser humano. Pode-se observar que as crianças, desde muito pequenas, já manifestam interesses sexuais em suas perguntas, exploração do próprio corpo e até mesmo imaginando como ocorre a reprodução.</p><p>Dimensão sociocultural</p><p>Pode-se perceber que algumas culturas são restritivas quanto a esse tema, pois são culturas que veem a sexualidade como um tabu. Entretanto, é notado que, desde quando nascem, os indivíduos são direcionados para um papel sexual identificado pelo seu órgão genital, interiorizando, assim, a função sexual que a sociedade compreende que compete a cada um a sua representação. Cada cultura irá tratar a sexualidade de acordo com a suas normas introjetadas, através da moral, leis e ética. Os comportamentos sexuais serão, assim, transpassados pelos comportamentos sociais, pois não se trata somente daquele indivíduo, mas também implicam em outros seres.</p><p>Gênero e sexualidade</p><p>Severo (2013, p.75) afirma que, “tradicionalmente, entendem-se que existem dois gêneros na espécie humana, o feminino e o masculino; tais características são nessa perspectiva determinadas pelo sexo que a pessoa nasce”. Ou seja, há nas diferentes culturas a ideia de que seu órgão sexual é que definirá se você é homem ou mulher, trazendo uma ideia binária sobre o gênero.</p><p>É importante que se saiba diferenciar de gênero de sexo, pois o gênero (homem e mulher) é algo construído culturalmente, ou seja, é um conjunto de representações sociais que são construídas através das diferenças biológicas existentes. Já o sexo (macho e fêmea) tem seu caráter biológico sendo ligado ao sexo anatômico, isto é, aos órgãos genitais.</p><p>Logo que nascemos nos é colocado culturalmente um papel de gênero, tendo influências do meio familiar, assim como do meio social para que essa formação aconteça de maneira não fluida. Porém, muitas vezes, o indivíduo não se identifica com o papel que lhe foi passado culturalmente, trazendo sofrimento, psicólogo e físico para essa pessoa.</p><p>Saúde e doença mental</p><p>Para começar a falar sobre saúde mental e doença mental, é necessário diferenciar cada uma, visto que andam em uma linha limítrofe uma da outra.</p><p>Pode-se dizer que não existe uma definição exata para saúde mental, sendo que vários fatores, tanto físicos quanto culturais, influenciam na saúde da nossa mente e no modo como ela se apresenta. De acordo com a ONU (2016),</p><p>[s]aúde mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional. A saúde Mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica. Admite-se, entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo que a ausência de transtornos mentais.</p><p>Segundo a ONU (2016), diversos fatores podem colocar em risco a saúde mental dos indivíduos, entre eles:</p><p>• rápidas mudanças sociais; • condições de trabalho estressantes; • discriminação de gênero;</p><p>• estilo de vida não saudável; • violência; • violação dos direitos humanos.</p><p>A saúde mental nada mais é do que um estado de bem-estar, em que o indivíduo consegue lidar com múltiplas questões que permeiam o seu meio, sendo ela parte integrante da saúde física.</p><p>Já a doença mental refere-se a transtornos mentais que podem ser diagnosticados e que envolvem mudanças significativa nas emoções, no pensamento e, até mesmo, no comportamento do indivíduo, podendo trazer prejuízos nas suas relações sociais, familiares e até consigo mesmo. A doença mental afeta qualquer pessoa, sem distinção de idade, classe social ou etnia. Pode ser leve, sendo aquelas que dificultam algumas relações, mas que, muitas vezes, o indivíduo consegue manter uma rotina, ou grave, quando o indivíduo irá necessitar, algumas vezes, de cuidados hospitalares.</p><p>Determinantes da saúde e doença mental</p><p>Múltiplos fatores irão determinar o nível de saúde mental das pessoas, podendo ser fatores psicológicos, fatores sociais e, até mesmo, fatores biológicos. Assim, a saúde mental pode ser trabalhada desde a primeira infância, fazendo com que o indivíduo se desenvolva de forma saudável, não só fisicamente, mas também mentalmente. A OMS afirma que até mesmo mudanças químicas no cérebro podem trazer prejuízos à saúde mental.</p><p>Por isso, há a necessidade de se criar trabalhos voltados não somente para saúde física da população, mas também como meios pelos quais a saúde mental seja trabalhada de forma que seja mais fácil de se tratar quando a pessoa seja acometida por uma doença mental.</p><p>Segundo First (2017),</p><p>[a] pesquisa tem demonstrado que fatores hereditários desempenham um papel em muitos transtornos de saúde mental. Frequentemente, um transtorno de saúde mental ocorre em uma pessoa cuja composição genética a torna vulnerável a esses transtornos. Essa vulnerabilidade, juntamente com os estresses da vida, por exemplo, problemas com a família ou trabalho, podem dar origem ao desenvolvimento de um transtorno mental.</p><p>O que se percebe é que na doença mental também são múltiplos fatores que favorecem o adoecimento, sendo eles ambientais, psicológicos, físicos e, até mesmo, hereditários, vendo que este tem um grande peso no adoecimento.</p><p>Definição em várias áreas da saúde mental</p><p>Segundo Dalgalarrondo (2000), o tema da saúde e doença mental tem diferentes desdobramentos em diversas áreas da saúde mental, como veremos a seguir:</p><p>Psiquiatria forense</p><p>O acometimento do transtorno mental pode ter um impacto legal, podendo definir o destino de um indivíduo, sendo esse destino, social, institucional e até mesmo legal.</p><p>Epidemiologia psiquiátrica</p><p>A epidemiologia pode contribuir com a discussão de normalidade e anormalidade dentro da saúde, sendo a doença mental um objeto do seu trabalho.</p><p>Psiquiatria cultural</p><p>O conceito de saúde e doença é visto como algo cultural, levando a inúmeros debates, pois, para se dizer que é doença mental ou não, é necessário fazer um estudo antropológico daquela cultura para se levantar essa questão.</p><p>Planejamento em saúde mental e políticas públicas</p><p>É necessário levantar debates para estabelecer critérios, para que o tratamento necessário seja disponibilizado em maior ou menor grau para população.</p><p>Orientação profissional</p><p>Estabelece-se na</p><p>orientação profissional, observando qual profissão se encaixa melhor para o indivíduo, por isso é necessário levantar dados específicos sobre sua saúde mental para verificar em qual área se adequa melhor, observando-se qual o limite de cada indivíduo.</p><p>Prática clínica</p><p>É necessário que o profissional que atue na clínica com doenças mentais saiba diagnosticar e intervir quando for necessário, reconhecendo os critérios para que uma intervenção seja necessária ou não.</p><p>Perspectiva histórica da doença mental</p><p>No final do século XVII, a medicina interessou-se em descobrir o que é a loucura, e como ela acometia os indivíduos. Philipe Pinel, médico francês, no final do século XVIII, interessou-se pela loucura, sendo considerado o pai da psiquiatria.</p><p>Pinel chama a loucura de alienação mental e diz que a alienação é causada por três causas:</p><p>Causa 1 Causa física.</p><p>Causa 2 Hereditariedade.</p><p>Causa 3 Causas morais.</p><p>Segundo Teixeira (2019),</p><p>Pinel reorganizou o espaço institucional de Bicêtre e aplicou suas ideias acerca da abordagem dos alienados e do tratamento moral. Além disso, implantou medidas de cunho humanitário. No transcorrer deste processo, o manicômio surgiu do hospital geral reformado.</p><p>No Brasil, o primeiro hospital psiquiátrico foi criado em 1852 no Rio de Janeiro. Em 1912, foi decretada a primeira lei no Brasil que concedeu à psiquiatria o status de especialidade médica, dando abertura para que mais hospitais psiquiátricos fossem abertos e dando mais espaços de clausuras aos doentes mentais.</p><p>Em 1978, chega o psiquiatra italiano Franco Basiglia no Brasil. Sendo o fundador do Movimento da Psiquiatria Democrática na Itália, Basiglia ainda foi líder de diversas experiências de superação como modelo psiquiátrico, sendo o primeiro a colocar em prática a extinção dos manicômios, criando redes estratégicas de serviços para lidar com os doentes mentais.</p><p>Em Minas Gerais, havia sido inaugurado o Hospital da Colônia de Barbacena em 1903, e Basiglia, quando veio ao Brasil em 1978, decidiu fazer uma visita ao local, evento que o deixou perplexo por causa das condições em que os doentes mentais vivam. Ele ficou tão horrorizado com as condições desumanas em que viviam os internos, que comparou o hospital ao campo de concentração nazista.</p><p>A partir de então, iniciou-se uma corrente para pensar na Reforma Psiquiátrica Brasileira que tinha como lema “Por uma sociedade sem manicômios”. Assim, começaram a tramitar pedidos por uma reforma de desinstitucionalização dos doentes mentais, defendendo centros de atenção em que o doente mental e sua família poderiam ser tratados sem necessidade de internação, oferecendo um serviço mais humanizado.</p><p>De acordo com Brasil (2018),</p><p>[o] Movimento da Luta Antimanicomial se caracteriza pela luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental. Dentro desta luta está o combate à idéia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de pretensos tratamentos, idéia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doença mental. O Movimento da Luta antimanicomial faz lembrar que como todo cidadão estas pessoas têm o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direto a receber cuidado e tratamento sem que para isto tenham que abrir mão de seu lugar de cidadãos.</p><p>Somente em 2001, depois de muita luta, é que foi aprovada a lei da Reforma antimanicomial, que é a Lei 10.216/2001, nomeada Lei Paulo Delgado, que trata de um redirecionamento do tratamento do paciente com doença mental, estabelecendo o fechamento de hospitais psiquiátricos e aberturas dos chamados Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).</p><p>Ainda no ano de 2020, existem hospitais psiquiátricos abertos no Brasil, muitos passando por uma reformulação para se enquadrarem na referida lei. Porém, ainda há muito a caminhar em relação à saúde e doença mental no Brasil.</p><p>Nesta unidade, você teve a oportunidade de:</p><p>•conhecer um pouco sobre o que são funções psíquicas elementares e funções superiores;</p><p>•saber mais como a linguagem se desenvolve, quais seus elementos básicos, assim como a forma que ela influencia no pensamento e na aprendizagem, e sobre o que algumas teorias falam sobre a linguagem;</p><p>•aprender sobre o que é identidade e personalidade, como se desenvolvem e quais as teorias abordam sobre o assunto;</p><p>•conhecer a sexualidade e suas dimensões e também sobre o que é gênero;</p><p>•entender sobre a saúde e doença mental, quais fatores influenciam a manter nossa saúde mental e também quais fatores influenciam ao adoecimento, e conhecer sobre a história da saúde mental, principalmente no Brasil.</p><p>2</p><p>image1.png</p><p>image2.png</p><p>mesma espécie, como, por exemplo, raiva, tristeza, medo, zanga, nojo, surpresa, felicidade. E finalmente, as emoções sociais ou secundárias que, de acordo com Damásio, são influenciadas pela sociedade e cultura, como a vergonha, o ciúme, a culpa, compaixão, embaraço, simpatia, orgulho.</p><p>Apesar de Damásio (2000) identificar as emoções secundárias como aquelas que são influenciadas pela sociedade e cultura, não podemos esquecer que a sociedade e a cultura estão presentes e com forte influência na forma que demonstramos e lidamos com todas as nossas emoções, seja qual for sua classe – de fundo, primárias ou secundárias. Porém, cabe lembrar, ainda, que a cultura influencia o homem, no entanto, ela não é determinante, uma vez que o homem também interfere e influencia a cultura, podendo até mesmo alterá-la. Ainda, segundo Damásio (2000, p. 109),</p><p>[a] maquinaria dos impulsos, motivações e emoções é voltada para o bem-estar do indivíduo em cujo organismo as respostas são inerentes. Mas a maioria deles também é inerentemente social, em pequena e grande escala, com um campo de ação que se estende muito além do indivíduo. Desejo e voluptuosidade, solicitude e sustento, apego e amor operam em um contexto social. O mesmo se aplica à maioria dos exemplos de tristeza e alegria, medo e pânico, raiva; ou de compaixão, admiração e reverência, inveja, ciúme e desprezo. A poderosa sociabilidade, que foi um alicerce essencial do intelecto do Homo sapiens e tão crucial no surgimento das culturas, provavelmente originou-se da maquinaria dos impulsos, motivações e emoções, onde evoluiu a partir de processos neurais mais simples de seres mais simples.</p><p>Ou, como afirma Boss (1957), ao apresentar a sua análise existencial, “[a] tarefa intrínseca do homem é cuidar de si, das coisas e de seus semelhantes, para que tudo quanto é possa realmente ser, possa alcançar um pleno desenvolvimento”.</p><p>Assim, podemos concluir que, em suma, características humanas como cuidar de si e dos outros, a sociabilidade e busca do pelo desenvolvimento foram sendo construídas ao longo de milhares de anos nos quais se deu a evolução da nossa espécie.</p><p>Dessa forma, cultura, segundo a Antropologia, pode ser entendida como o conjunto de saberes, hábitos, valores, costumes, crenças, religiões, padrões de comportamento compartilhados e transmitidos por um grupo social.</p><p>Para conhecer mais sobre a evolução histórica do conceito de cultura, você pode ler um dos trabalhos publicados pela filósofa Marilena Chauí, em 2008, chamado “Cultura e democracia”.</p><p>Importante salientar que, para os neurocientistas, os chamados fenômenos psicológicos acontecem no cérebro, principalmente, no sistema límbico e no neocórtex, tendo isso passado a ocorrer depois de milhões de anos de evolução da espécie. Em tempos passados, a ciência acreditava que cada região do cérebro era responsável por uma “ação”, como, por exemplo, a crença de que haveria uma região responsável, exclusivamente, pela fala. Hoje, já sabemos que isso não corresponde à realidade. Com o desenvolvimento tecnológico e a possibilidade de inúmeros e diferenciados exames de imagem, podemos ver que o cérebro humano trabalha por incessantes e infinitas conexões. Além disso, ele é dotado de uma plasticidade (capacidade de adaptação) que faz como que haja uma “reorganização” cerebral, caso uma região sofra algum tipo de dano, para compensar essa lesão e manter suas funcionalidades. Segundo Oliveira (2012),</p><p>[a] plasticidade não se manifesta apenas em comportamentos de aprendizagem e memória que indicam a base biológica da individualidade. Essas mudanças dinâmicas são visíveis no processamento do sistema nervoso e podem ser estudadas de forma mais consistente no principal local que envolve a troca de informações no cérebro: a sinapse.</p><p>Sendo que se entende por sinapse o tipo de comunicação que acontece entre os neurônios que permite a troca de informações na forma de sinais elétricos, químicos ou eletroquímicos.</p><p>Atenção</p><p>Somos, frequentemente, bombardeados por uma série de informações, no entanto, muitas delas são “ descartadas” por nosso cérebro e dedicamos nossos esforços a apenas um ou outro estímulo, ignorando os outros. Assim, é como aplicássemos um filtro para selecionar o que mais nos interessa. Ao reconhecer que filtros são aplicados, identificamos que nossa capacidade de atenção é limitada, uma vez que não podemos prestar atenção ou estarmos atentos a todos os estímulos ao mesmo tempo, sendo essa característica identificada, inclusive, pelo senso comum quando, por exemplo, se fala: “estou com uma dor de cabeça tão forte, que não consigo pensar em mais nada”.</p><p>A maioria de nós já deve ter experienciado uma situação como a que descreveremos a seguir. Dois amigos andando por uma rua, em um passeio, caminham conhecendo um novo lugar. Ao final do passeio, eles sentam e começam a conversar. Aí perceberemos que um deles notou ou prestou atenção em como as pessoas se vestem e qual a idade média das pessoas que estavam na rua, por exemplo, enquanto o outro prestou atenção na arquitetura, no número de árvores e na cor do céu.</p><p>Por que isso acontece, se os dois estavam no mesmo ambiente e expostos aos mesmos estímulos?</p><p>A resposta a essa pergunta é que “prestamos atenção” aos estímulos que nos são significativos. Isso não quer dizer que a pessoa que “prestou atenção” na arquitetura não tenha visto as pessoas que andavam pelas ruas, entretanto, o seu “foco” estava direcionado às construções e, por isso, seu cérebro processou especificamente esses estímulos. No entanto, isso não quer dizer que outros aspectos não serão ou não poderão ser notados em um novo passeio, pelo mesmo lugar, pelas mesmas pessoas.</p><p>Os franceses usam com muita precisão os verbos olhar e ver. Segundo o seu uso, podemos olhar várias coisas ao mesmo tempo, mas estaremos vendo (ou prestando atenção) àquilo que mais nos interessa ou que tenha um conteúdo mais significativo para nós.</p><p>Em um primeiro momento, poderia parecer estranho o diálogo entre duas pessoas em que a primeira pergunte “você olhou aquele vestido de que falei?” e a segunda responda “olhei, mas não vi”, querendo dizer que direcionou o seu olhar para o referido vestido, mas não “prestou atenção”.</p><p>No entanto, os estímulos chegam ao nosso sistema pelos órgãos do sentido, sendo que, para que possamos acessar nossa capacidade atencional, precisamos estar em estado de vigília, isto é, acordados.</p><p>Nesse viés, a literatura afirma que podemos ter dois tipos de atenção que podem receber nomes diferentes.</p><p>Aqui usaremos os termos voluntária e involuntária.</p><p>A atenção voluntária é aquela que é intencional e está ligada a interesses pessoais. Já a atenção involuntária é aquela que acontece independentemente da nossa vontade ou interesse. Por exemplo, se estamos montando um quebra-cabeça com toda atenção e, repentinamente, ouvimos o som de um trovão, temos nossa atenção direcionada para esse evento.</p><p>Assim, ao reconhecer a atenção voluntária, podemos dizer que a nossa atenção pode ser controlada ou direcionada deliberadamente. Segundo Forghieri (1984),</p><p>[o] homem não é algo pronto, e sim um conjunto de possibilidades que vai se atualizando no decorrer de sua existência. Ele é livre para escolher entre as muitas possibilidades, mas a sua escolha é vivenciada com inquietação, pois a materialidade de seu existir não lhe permite escolher tudo – cada escolha implica a renúncia de muitas possibilidades.</p><p>Essa possibilidade de escolha, característica da atenção, faz-se presente também na memória, como veremos a seguir.</p><p>Memória</p><p>Uma vez que os fenômenos psicológicos são interligados e se relacionam, não é possível dizer qual seria o mais importante ou o que surge primeiro. Podemos dizer, dessa forma, que o corpo, os sentimentos, a inteligência, a atenção, a memória etc. atuam de forma absolutamente integrada, sendo quase impossível distingui-los.</p><p>No entanto, a memória, como fenômeno psicológico, exige uma atenção diferenciada, pois sem ela não saberíamos nem quem somos. Segundo Faria e Mourão (2015),</p><p>[o]</p><p>que se sabe, atualmente, é que as informações que chegam ao nosso cérebro formam um circuito neural, ou seja, a informação recebida ativa uma rede de neurônios, que, caso seja reforçada, resultará na retenção dessa informação (por informação, entendemos qualquer evento passível de ser processado pelo sistema nervoso: um fato, um objeto, uma experiência pessoal, um sentimento ou uma emoção). Por isso considera-se que a repetição seja uma estratégia necessária para a memória. Não nos esquecemos, por exemplo, o número do telefone de nossa casa porque, ao longo de nossa vida, repetimos essa informação inúmeras vezes. Esse processo interfere na memorização do número exatamente porque toda vez que repetimos os estímulos, ativamos o mesmo circuito neural. A ativação contínua reforça esse circuito e torna mais fácil a posterior evocação da informação armazenada.</p><p>Com a definição acima, descartamos algumas bobagens educacionais, que foram fruto de interpretações errôneas de algumas teorias, que defendiam a exclusão de exercícios ou a exercitação. Ora, a realização de exercícios nada mais é do que um instrumento para a criação de memórias, sejam essas memórias cognitivas ou físicas. Por exemplo, um jogador de vôlei exercita (treina – repete e repete) um determinado fundamento dessa modalidade até “memorizá-lo”. O mesmo acontece quando estamos aprendendo a dirigir. No início, temos que “pensar” para executar todas as ações – “engatar marcha”, acelerar e etc. –, mas depois de certo tempo fazemos isso “tão automaticamente” que não paramos para decidir qual será o próximo passo. Tudo isso é fruto da memorização.</p><p>Além da necessidade de repetição para que possamos memorizar algo, os neurocientistas afirmam que o sono é fundamental para que a memória seja consolidada, sendo que um novo aprendizado pode gerar uma nova memória ou modificar uma já existente.</p><p>Há ainda a possibilidade de haver uma “memória” que não necessite de repetição ou exercitação. Ela acontece em função da importância afetiva do fenômeno ou fato, como, por exemplo, a doença de uma pessoa querida ou o (a) primeiro(a) namorado(a).</p><p>É conhecido também dos pesquisadores que a formação de memórias é um processo inter-relacionado com outros fenômenos psicológicos, como atenção e sentimentos. Quando dizemos “inter-relacionado” queremos dizer que há uma relação de dependência entre tais fenômenos, pois, como já dissemos anteriormente, todos os fenômenos atuam de forma integrada.</p><p>Há diferentes formas de classificar a memória. Há uma categorização que divide as memórias entre as de curto prazo e as de longo prazo. Como os próprios nomes dizem, as memórias de curto prazo são aquelas que ficam armazenadas ou são guardadas por pouco tempo. Em contrapartida, as memórias de longo prazo podem permanecer guardadas por longos períodos.</p><p>Chauí (2000), entretanto, apresenta outros seis tipos de memória. São elas:</p><p>•A memória perceptiva ou de reconhecimento, que nos permite reconhecer coisas, pessoas, lugares, etc. e que é indispensável para nossa vida cotidiana;</p><p>•A memória-hábito, que adquirimos por atenção deliberada ou voluntária e pela repetição de gestos ou palavras, até gravá-los e poderem ser repetidos sem que neles tenhamos que pensar;</p><p>•A memória social ou histórica, que é fixada por uma sociedade através de mitos fundadores e de relatos, registros, documentos, monumentos, datas e nomes de pessoas, fatos e lugares que possuem significado para a vida coletiva. Excetuando-se os mitos, que são fabulações, essa memória é objetiva, pois existe em objetos (textos, monumentos, instrumentos, ornamentos, etc.) e fora de nós;</p><p>•A memória biológica da espécie, gravada no código genético das diferentes espécies de vida e que permitem a repetição da espécie;</p><p>•A memória artificial das máquinas, baseada na estrutura simplificada do cérebro humano.</p><p>A título de curiosidade, algumas doenças, lesões ou traumas psicológicos podem alterar um dos tipos de memória.</p><p>Como humanos, temos ainda uma capacidade limitada de armazenamento de memórias. Sendo assim, preservamos as memórias com maior significado ou aquelas que nos são mais úteis, inclusive para a preservação de nossa existência, e descartamos outras. Além disso, da mesma forma que filtramos as informações para dedicar a nossa atenção, podemos “filtrar” o que será memorizado, sendo que as pessoas têm diferentes capacidades de memorização: umas têm mais facilidade para memorizar a letra de uma música; outras, a melodia; e ainda há aquelas que memorizam letra e melodia.</p><p>Sensação e percepção</p><p>A sensação e a percepção podem, muitas vezes, ser confundidas. Porém, apesar de serem interdependentes, elas são diferentes.</p><p>A sensação é o que nos permite entrar em contato com o mundo que nos cerca e está vinculada aos cinco órgãos do sentido. Podemos ter a sensação de calor pela pele em dias muito quentes ou pelo sentido do paladar ao ingerirmos um alimento quente. Assim, podemos distinguir sabores, cores e sons. Isto é, a sensação é nossa capacidade de identificar diferentes estímulos, sejam eles físicos ou químicos que, ao serem captados pelos cinco sentidos, são comunicados aos nossos neurônios.</p><p>A percepção permite que tenhamos uma “imagem” de tudo que nos rodeia e que conhecemos pela sensação. É como se a percepção interpretasse o que nossos sentidos captaram como informação (sensação) e, por meio de outros fenômenos psicológicos como a memória, por exemplo, criasse “imagens” dessas sensações. As imagens criadas relacionam-se com informações já existentes e podem orientar nossas reações ou comportamentos. Por exemplo, se uma pessoa tem medo de cachorro e, por qualquer motivo, ouve o latido de um cão indo na sua direção, pode, por exemplo, se esconder ou mudar a direção do seu trajeto.</p><p>A palavra “imagem” não se refere apenas a objetos. De acordo com Damásio (2000), ela pode ser definida como</p><p>um padrão mental em qualquer modalidade sensorial, como, por exemplo, uma imagem sonora, uma imagem tátil, a imagem de um bem-estar. Essas imagens comunicam aspectos das características físicas do objeto e podem comunicar também a reação de gostar ou não gostar que podemos ter em relação ao um objeto, os planos referentes a ele que podemos ter ou a rede de relações desse objeto em meio a outros objetos.</p><p>Assim, Damásio (2000) deixa claro que toma o conceito de “imagem” como sinônimo de “representação”, afirmando que esta, longe de reproduzir o objeto percebido pelos sentidos, é uma construção cognitiva. Conforme Damásio (2000), “seja qual for o grau de fidelidade (ao objeto percebido), os padrões neurais e as imagens mentais correspondentes são criações do cérebro tanto quanto produtos da realidade externa que levou à sua criação”.</p><p>Na criação de representações, podemos intuir que a percepção é um dos componentes fundamentais para a criação de conceitos. Sendo assim, a percepção é o fenômeno que nos permite o autoconhecimento, o conhecimento do outro e do mundo. Outra característica da percepção é sua individualidade, isto é, um mesmo objeto, ao ser representado por diferentes pessoas, pode ter diferentes significados e valores.</p><p>A percepção, da mesma forma que a atenção e a memória, filtra informações. No entanto, nesse caso, as “escolhas” são feitas pelos fenômenos da atenção, emoção e sentimentos, além do contexto, experiências anteriores e valores. É por isso que duas pessoas podem ter percepções diferentes de um mesmo fato ou, ainda, a mesma pessoa pode ter percepções diferentes do mesmo episódio em momentos diferentes.</p><p>A sensação também é influenciada pelos mesmos fatores que participam da elaboração das percepções, ou seja, atenção, emoção e sentimentos, além do contexto, experiências anteriores e valores. Um exemplo claro disso é a maneira como as pessoas reagem ao frio, uma vez que, sob a mesma temperatura, uma pessoa pode sentir muito mais frio do que outra.</p><p>Aqui reiteramos a ideia de que os fenômenos psicológicos atuam de forma interligada. Ou, em outras palavras, existimos de forma integrada. Considerando que a percepção está</p><p>ligada aos cinco sentidos é normal que a classifiquemos de acordo com cada um dos sentidos. Ou seja, temos:</p><p>•a percepção visual; •a percepção auditiva; •a percepção olfativa; •a percepção tátil; •a percepção gustativa.</p><p>Além das percepções que estão ligadas original e diretamente aos órgãos do sentido, existem outros tipos de percepção. A seguir, destacaremos duas:</p><p>Percepção do tempo (percepção temporal)</p><p>É nossa capacidade de nos localizarmos num tempo físico. Uma vez que não nascemos com essa habilidade, ela é desenvolvida com o passar da idade. Um exemplo bastante claro é quando a criança fala “ontem nós vamos”. Esse “erro” não está relacionado com a conjugação do verbo, mas com a dificuldade que ela tem em se localizar nesse “tempo”. Ou ainda quando ela pergunta se falta muito para chegar à data do seu aniversário e um adulto responde que faltam dois meses. Logo em seguida, provavelmente, ela perguntará se isso é pouco ou muito. A percepção temporal não está diretamente ligada a nenhum dos órgãos do sentido e algumas doenças associadas à senilidade podem comprometê-la.</p><p>Percepção do espaço (percepção espacial)</p><p>Combina as percepções visual, auditiva e temporal. A percepção espacial nos permite ter noções de distância e do tamanho relativo dos objetos. Por exemplo, se ouvimos um som e vemos um avião, é essa percepção que permite que identifiquemos se o som é do avião ou não, quão próximo ele está de nós e se está vindo em direção ao nosso ponto de referência ou irá para outro ponto.</p><p>Desenvolvimento histórico do estudo da percepção</p><p>Há diversas concepções sobre a percepção e elas foram sendo construídas ao longo da história. No entanto, é muito difícil estabelecer uma linearidade para esta questão, porque muitas concepções se sobrepõem num mesmo período. Sendo assim, apresentaremos algumas delas e, sempre que possível, indicaremos em que período foram elaboradas.</p><p>Se a percepção é um dos fenômenos que nos permite o autoconhecimento, o conhecimento do mundo e do outro, a pergunta de fundo é sobre como o homem conhece. Esse questionamento está presente nas obras de antigos filósofos, não nascendo a origem das concepções de percepção na psicologia, mas sim na filosofia. Na Grécia antiga, os sofistas defendiam a ideia, segundo Aggio (2009), de que</p><p>se conhecimento é sensação, então (i) tudo o que conheço é o que me aparece é verdadeiro para mim e (ii) o conhecimento depende da disposição do percipiente, i.e., se muda a disposição, muda-se o conhecimento. Ou seja, se o conhecimento é sensação, então o que conheço, o que é verdadeiro para mim é aquilo que aparece aos meus sentidos, e, como a sensação depende da disposição do percipiente, então também o conhecimento depende da disposição do percipiente. Portanto, se o saudável pensa que o vinho é doce, mas o doente que é amargo, então é verdadeiro que o vinho seja doce e amargo ao mesmo tempo, visto que o modo pelo qual conhecem depende da disposição de cada um.</p><p>Sendo assim, podemos dizer que para os sofistas a percepção é a fonte do conhecimento ou, em outras palavras, há a primazia da percepção, não existindo uma verdade absoluta, uma vez que a verdade depende de quem a conhece ou de quem a percebe. Então, para os sofistas, perceber e conhecer são praticamente a mesma coisa, já que o conhecimento se dá pela percepção.</p><p>Ainda, segundo Aggio (2009),</p><p>[e]m linhas gerais temos que, enquanto Protágoras defende a primazia da percepção para o conhecimento, sendo a capacidade cognitiva e a percepção equivalente, em Platão, temos a primazia do intelecto, sendo a percepção absolutamente distinta da capacidade cognitiva. Já para Aristóteles não há equivalência nem distinção absoluta entre as capacidades cognitiva e perceptiva, sendo o pensamento e a percepção duas faculdades cognitivas distintas que operam conjuntamente para a aquisição do conhecimento.</p><p>Sócrates e Platão, em oposição aos sofistas, acreditavam que as percepções sensoriais ou a imagem que fazemos delas podem ser falsas e, por meio delas, o homem nunca chegará à verdade plena, o que seria possível apenas pelo intelecto ou razão.</p><p>Essas divergências de ideias vistas nos gregos da antiguidade (muitos anos antes de Cristo) permaneceram durante muito tempo e, talvez, até hoje não tenham sido definitivamente resolvidas por uma simples questão: trata-se do homem pensando sobre si mesmo, e esse pensar não pode estar descolado do seu viver e do seu existir, apesar de alguns teóricos acreditarem na objetividade pura e real.</p><p>Leia “O Mito da Caverna” ou “Alegoria da Caverna”, do filósofo grego Platão. Nessa obra, ela fala de diferentes tipos de conhecimento, inclusive daqueles relacionados com as sensações. Esse texto está o livro A República, do mesmo autor.</p><p>No período medieval (do século VIII ao século XIV), segundo Chauí (2000), há uma predominância da igreja católica e a questões filosóficas tiveram seu foco direcionado para Deus e para a fé. Portanto, nesse período não se tratava de falar de razão x emoção, mas de razão x fé. Já no renascimento (do século XIV ao século XVI), a razão ganha destaque, colocando-se como fonte de todo conhecimento. Por fim, para a filosofia moderna (do século XVII até meados do século XVIII) o que importa também é a razão. Segundo Chauí (2000),</p><p>[p]ara os modernos, as coisas exteriores (a Natureza, a vida social e política) podem ser conhecidas desde que sejam consideradas representações, ou seja, ideias ou conceitos formulados pelo sujeito do conhecimento.</p><p>Isso significa, por um lado, que tudo o que pode ser conhecido deve poder ser transformado num conceito ou numa ideia clara e distinta, demonstrável e necessária, formulada pelo intelecto; e, por outro lado, que a Natureza e a sociedade ou política podem ser inteiramente conhecidas pelo sujeito, porque elas são inteligíveis em si mesmas, isto é, são racionais em si mesmas e propensas a serem representadas pelas ideias do sujeito do conhecimento.</p><p>Então, o conhecimento não se dá pela percepção, mas sim pela razão, sendo dos nomes de destaque desse período René Descartes, que cunhou a frase “penso, logo existo”. Isso é contestado, atualmente, por Damásio (1994) – como o próprio nome do seu livro diz “O erro de Descartes” –, pois, para o autor, o sentir antecede o pensar e, então, a frase correta seria “sinto, logo existo”.</p><p>Descartes não admite que haja alguma semelhança entre uma percepção e o objeto percebido, pois ele assume que, nas percepções, os órgãos do sentido podem nos enganar.</p><p>No entanto, no século XVII, Pascal diz que nem tudo pode ser compreendido pela razão, reconhecendo a importância dos sentimentos e emoções. Além disso, ele sustenta que nem sempre a razão pode compreender os sentimentos e as emoções.</p><p>Já entre o século XVIII até o começo do século XIX, surge a corrente filosófica do Iluminismo, que, por sua vez, também valoriza a razão e o conhecimento científico acima de tudo.</p><p>A partir de meados do século XIX até hoje, chegamos ao período da filosofia contemporânea. Segundo Chauí (2000), o século XIX é, na filosofia, o grande século da descoberta da História ou da historicidade do homem, da sociedade, das ciências e das artes. E é, particularmente, com o filósofo alemão Hegel que se afirma que a História é o modo de ser da razão e da verdade, o modo de ser dos seres humanos e que, portanto, somos seres históricos, conforme Chauí (2000). Assim, esse é um período de valorização do saber científico.</p><p>No entanto, essa posição foi criticada e questionada ao defender a ideia de que não existe uma História Universal, tendo cada sociedade sua própria História e vivendo momentos diferentes.</p><p>Além disso, esse foi um período de grande apreço pela ciência. Era tão grande a confiança na ciência, nesse período, que em relação à psicologia, por exemplo, pensava-se que ela poderia, por meio de métodos científicos, resolver todos os problemas e angústias humanas, sendo a primazia do positivismo – a ciência seguiria um caminho contínuo de progresso e a humanidade também.</p><p>No entanto, no século XX inicia-se</p><p>uma desconfiança sobre o poder da ciência e da razão. Segundo Chauí (2000), no final do século XIX e no início do século XX, tivemos dois personagens que puseram em xeque o poder do pensamento racional.</p><p>MARX</p><p>Com a apresentação do conceito de ideologia, que, de uma forma ou de outra, conduz nossa forma de pensar.</p><p>FREUD</p><p>Com a apresentação do conceito de inconsciente.</p><p>Para Marx, a percepção humana também é condicionada à ideologia. Nos escritos de Freud, segundo Rafaelli (1994), há duas concepções de percepção:</p><p>[a] primeira teoria da percepção aparece no ‘Projeto Para Uma Psicologia Científica’ de 1895, e advoga a igualdade entre percepção e consciência; a segunda teoria da percepção tem sua origem na Carta 52 a Fliess e admite a existência de uma percepção inconsciente.</p><p>Entre os anos 30 e 50 do século XX, surge outra forma de pensar na filosofia: o existencialismo. Também no século XX, surge a Fenomenologia e a Gestalt, que se debruçam sobre o sujeito do conhecimento. Segundo Oliveira e Mourão (2013),</p><p>Fenomelogia e Gestalt, no entanto, mostram que não há diferença entre sensação e percepção porque não se tem sensações parciais, pontuais ou elementares, isto é, sensações separadas de cada qualidade, que depois o espírito juntaria e organizaria como percepção de um único objeto. Sentem-se e percebem-se formas, isto é, totalidades estruturadas dotadas de sentido ou de significação.</p><p>A sensação e percepção de um objeto é sentir e perceber sua cor, suas partes, suas qualidades distintas, seus movimentos. O objeto percebido não é como para os empiristas, um feixe de qualidade isoladas que enviam estímulos aos órgãos dos sentidos; nem tampouco, como diriam os intelectualistas, um objeto indeterminado esperando que o pensamento diga às sensações o que é aquele objeto. O objeto-percebido não é um mosaico de estímulos exteriores (empirismo) nem uma ideia (intelectualismo), mas é, exatamente, um objeto-percebido.</p><p>Para Boss (1976), “o existir humano vive o tempo que lhe é dado situando-se de alguma maneira em relação ao que aparece e, correspondendo-lhe seja no modo da percepção, do pensamento ou da ação”.</p><p>A Fenomenologia não separa sujeito e objeto, mas os entende na correlação. Portanto, perceber um objeto é estar aberto para o mundo e “intencionar” esse objeto.</p><p>Segundo Nóbrega (2008), “[n]a concepção fenomenológica da percepção, a apreensão do sentido ou dos sentidos se faz pelo corpo, tratando-se de uma expressão criadora, a partir dos diferentes olhares sobre o mundo”.</p><p>Assim, existencialismo e Fenomenologia convergem quando estabelecem o foco na existência e o homem como ser-no-mundo, compartilhando a ideia de que não há separação entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido. No entanto, o existencialismo é uma vertente filosófica e a fenomenologia é um método para que possamos compreender as coisas e o mundo.</p><p>Hoje, com as pesquisas e informações que nos trazem a neurociência, Oliveira e Mourão (2013) afirmam que</p><p>[p]ara as neurociências, sensação e percepção são dois fenômenos distintos. A percepção está intrinsecamente relacionada à sensação, sendo sua primeira etapa realizada pelos sistemas sensoriais, responsáveis por sua fase analítica. Entretanto, percebem-se objetos integrados, como um todo, e não características fracionadas, o que faz supor que existam outros mecanismos, além daqueles de natureza analítica, que colaboram para a formulação da percepção sintética.</p><p>Ao concluir essa breve linha histórica, podemos perceber que, na maioria das vezes, há uma dualidade entre razão e emoção/percepção. E a razão como oposto da emoção está presente, inclusive, no nosso cotidiano quando, por exemplo, ouvimos que “Fulano pensa com o coração”, no sentido que ele se deixa levar pelas emoções e não pela razão.</p><p>A partir desse breve histórico da filosofia, podemos perceber o dualismo entre razão e percepção e, entre o inatismo e empirismo, além de algumas teorias como a de Kant, o existencialismo e a Fenomenologia, que objetivaram superar esses dualismos. No entanto, como afirma Chauí (200), mesmo com reformulações, argumentos e contra-argumentos, quem é inatista continua sendo, ocorrendo o mesmo para as outras linhas de pensamento.</p><p>Poderíamos resumir da seguinte forma:</p><p>Para os inatistas</p><p>O homem nasce com um aparato de conhecimento, sendo os princípios da razão inatos, portanto universais e há a primazia da razão.</p><p>Para os empiristas</p><p>O homem nasce como uma tábua rasa, na qual tudo será impresso pela experiência. Segundo os empiristas, nosso conhecimento começa pela sensação e percepção, que são os nossos primeiros instrumentos de conhecimento.</p><p>Para os racionalistas</p><p>O conhecimento dá-se por meio da razão, sem nenhuma participação da percepção.</p><p>Para os existencialistas</p><p>A percepção é uma experiência vivida que envolve corpo e cérebro, não sendo apenas um pensar ou interpretar o que os sentidos captam, mas envolve todo o corpo e as condições em que a correlação sujeito/objeto acontece.</p><p>Para os neurocientistas</p><p>Embora sensação e percepção sejam diferentes, elas são integradas.</p><p>Porque apresentamos de uma forma bastante simples essa revisão filosófica?</p><p>Optamos por essa estratégia, porque conhecer as diversas formas do pensar filosófico nos ajuda a identificar quais princípios sustentam as diversas correntes ou linhas psicológicas, pois todas tem um fundamento ancorado na filosofia, uma vez que se trata de como concebemos o homem, o mundo e a relação entre eles.</p><p>Nesta unidade, você teve a oportunidade de:</p><p>•conceituar fenômeno psicológico;</p><p>•identificar quais são os fenômenos psicológicos básicos como atenção, memória, emoção/sentimento e quais são as suas características;</p><p>•reconhecer a diferença entre sensação e percepção e identificar os principais tipos de percepção;</p><p>•identificar o pensamento de algumas linhas filosóficas e relacionar com diferentes teorias psicológicas sobre a visão de homem e a forma como ele conhece;</p><p>•conhecer qual o papel da percepção.</p><p>2. Percepção</p><p>Introdução</p><p>Olá,</p><p>Você está na unidade Percepção. Conheça aqui os elementos que constituem o processo de percepção, bem como suas propriedades. Aprenda também sobre as funções e formas da percepção e entenda sobre as perspectivas teóricas que a abordam.</p><p>Bons estudos!</p><p>Elementos constitutivos do processo perceptivo</p><p>As relações entre os indivíduos e o mundo dá-se através de mecanismos perceptivos, sendo todo o conhecimento adquirido através da percepção. Para começarmos a falar de percepção, é necessário entender o que ela é e como ela atua no indivíduo.</p><p>Em um primeiro momento, não se pode negar que a percepção tem uma ligação direta com a sensação, pois é esta que irá, no primeiro instante, captar os estímulos internos ou externos para que o indivíduo comece a perceber, categorizar e distinguir os estímulos de outros. A percepção é o processo pelo qual concebemos a realidade, sendo que ela trabalha como base do comportamento humano, agindo de maneira consciente sobre a comunicação, sobre os pensamentos e sentimentos. Segundo Dalgalarrondo (2000, p. 81) a percepção é “a tomada de consciência, pelo indivíduo, do estímulo sensorial [...]. Diz respeito à dimensão propriamente neuropsicológica e psicológica do processo”. Assim, transforma os estímulos sensoriais em processos perceptivos conscientes.</p><p>O processo perceptivo ocorre no instante da captação, por meio dos sentidos, de um estímulo que logo em seguida é enviado ao cérebro. Ela não fornece uma imagem exata do que é real, sendo o significado que damos às experiências vividas, que serão experienciadas dependendo das expectativas e motivações do que foi aprendido durante o desenvolvimento social e também da atenção de cada indivíduo. Gerring e Zimbardo (2005, p. 151) afirmam que a percepção é</p><p>[o] conjunto de processos que organiza a informação na imagem sensorial e interpreta na forma de algo produzido por objetos ou eventos no mundo exterior [...] como tendo sido produzidas pelas propriedades dos objetos ou eventos no mundo exterior, tridimensional.</p><p>Processo perceptivo e seus</p><p>elementos</p><p>Há diversos tipos de elementos do processo perceptivo, podendo este ser classificado por finalidade, tempo, abstração, associação, visual, personalização, entre outros. Esse processo é complexo e abrange todos os sentidos, ou seja, é obtido através dos cinco sentidos – visão, audição tato, paladar e olfato – e implica na pessoa em sua totalidade, trazendo a construção de significados.</p><p>Independentemente de o indivíduo perceber as coisas que o cercam, ele vive em um mundo complexo, não de informações distintas e separadas, estando em contato a todo momento não com sensações separadas, mas com imagens inteiras. Luria (2000) ainda afirma que o reflexo das imagens que estão a nossa volta ultrapassa os limites das sensações de forma isolada, mas irá se basear em um trabalho conjunto dos órgãos dos sentidos, sendo uma síntese de sensações isoladas atuando nos complexos sistemas conjuntos.</p><p>A síntese pode alcançar tanto somente uma modalidade, quanto várias modalidades. Ou seja, ao analisar uma foto, é possível reunir impressões visuais isoladas em uma imagem integral, ou, ao vermos uma maçã unem-se as impressões visuais, táteis e gustativas e ainda é possível acrescentar os conhecimentos a respeito da fruta. Segundo Luria (1999, p. 39), “[s]omente como resultado dessa unificação é que transformamos sensações isoladas numa percepção integral, passamos do reflexo de indícios isolados ao reflexo de objetos ou situações inteiros”.</p><p>É errôneo dizer, então, que o processo de percepção se dá a partir de uma transição das sensações simples para sensações complexas somente pela soma das mudanças, já que esse processo passa por etapas muito mais complexas.</p><p>O processo perceptivo, dessa forma, irá requerer que haja discriminação do conjunto de indicativos atuantes (cor, peso, propriedades táteis, sabor, entre outros), juntamente com os indicativos básicos determinantes e com a abstração concomitante de indicativos inexistentes. Assim, demanda a unificação dos principais indicativos do grupo e busca semelhança de um conjunto de indicativos percebidos e despercebidos com o conhecimento que já se tem anteriormente daquele objeto. Havendo, no processo dessa comparação, a hipótese de que o objeto que foi proposto se encaixe com a informação que chega ao cérebro, acontecerá a identificação do objeto e o processo perceptivo estará concluído. Por outro lado, se o resultado dessa comparação não acontecer, isto é, a coincidência de hipótese com a informação real que chega ao indivíduo, a busca de uma solução correspondente irá continuar enquanto o indivíduo não identificar o objeto ou incluir esse objeto em uma determinada categoria.</p><p>Segundo Luria (1999, p. 39-40),</p><p>[n]a percepção de objetos conhecidos (um copo, uma garrafa, uma mesa), esse processo de identificação do objeto ocorre com muita rapidez, bastando ao homem unir dois-três indícios perceptíveis para chegar à solução adequada. Na percepção de objetos novos ou desconhecidos, o processo de sua identificação é bem mais complexo e assume formas bem mais desenvolvidas.</p><p>Imaginemos que o homem examina um dispositivo histológico desconhecido para a obtenção de delicadíssimos cortes de tecidos: o micrótomo. Inicialmente ele percebe uma complexa construção instalada numa pesada base de ferro fundido, em seguida distingue partes metálicas isoladas e pode ter a súbita impressão de tratar-se de uma balança. No entanto ele não vê os pratos indispensáveis à balança ou as escalas que representam o peso. Ele continua a examinar esse objeto desconhecido até que seus olhos distinguem a superfície plana do aparelho e uma lâmina muito afiada. Então ele pode lembrar-se de que viu algo semelhante numa mercearia e que esse aparelho era empregado para cortar presunto ou salame em fatias finas. Somente depois disto a lâmina aguda, contígua à superfície metálica, torna-se indício determinante e o sujeito começa a formar a idéia de que o objeto percebido tem relação com os instrumentos de corte cujas hélices micrométricas parecem assegurar uma regulação precisa da espessura dos cortes.</p><p>Assim, como visto no exemplo dado pelo autor, a percepção plena do objeto irá aparecer como uma implicação complexa de um trabalho de análise e síntese, trazendo apenas indicativos essenciais e inibindo os indicativos secundários, combinando nesse todo apreendido os detalhes perceptivos.</p><p>Estão incluídos no processo perceptivo muito além da simples excitação dos órgãos quando chega o estímulo no córtex cerebral, já que componentes motores também atuam nesse processo em forma de apalpação do objeto, assim como o movimento dos olhos, que distinguem o que chama mais atenção.</p><p>Estando a atividade receptora muito próxima aos processos de pensamento direto, essa semelhança ocorrerá quanto mais novo e mais complexo for o objeto que está sendo compreendido.</p><p>eculiaridades do processo perceptivo</p><p>Luria (1991) afirma que existem quatro aspectos básicos no processo de percepção do indivíduo:</p><p>Caráter ativo e imediato</p><p>Como já foi colocado anteriormente, a percepção do indivíduo ocorrerá pelos seus conhecimentos anteriores e experiências já vividas, o que fará com que seja possível imaginar objetos que não estão presentes naquele momento e planejar ações futuras, sendo responsável pela captação e discriminação dos estímulos.</p><p>Caráter material e genérico</p><p>É responsável pela categorização e significação das diferentes percepções, ou seja, o indivíduo irá atribui-las, num primeiro momento, a determinadas categorias gerais e, à medida que vai se evoluindo e tendo uma maior vivência, consegue aprimorar a percepção daquele estímulo.</p><p>Constância e correção</p><p>Tem-se informações sobre determinado objeto por experiências anteriores e também pelas suas propriedades. A percepção fará a correção da impressão desse estímulo imediatamente, sendo capaz de corrigir os traços perceptivos mesmo que o estímulo mude de lugar ou de cor, por exemplo. Ainda que o objeto esteja em movimento, o indivíduo consegue manter a percepção sobre ele. É entre os dois e os quatorze anos que há evolução sobre tamanho, constância e cor.</p><p>Móvel e dirigível</p><p>É a possibilidade dessa função psicológica, que é a percepção, ser dirigida voluntariamente para outra função psicológica, que é a atenção. Ou seja, a nossa percepção é capaz de ser dirigível, sendo possível deslocar a percepção para onde o indivíduo quiser.</p><p>Propriedades da percepção</p><p>Uma das teorias que mais se concentraram em explicar a percepção foi a teoria da Gestalt. Ela afirma que a percepção tem como um dos princípios organizadores o fato de que os objetos são percebidos de maneira unificada, ou seja, a percepção não se trata de sensações individuais que aglomeramos em nossa mente, mas ocorre de maneira organizada e espontânea sempre que olhamos a nossa volta, combinando partes do campo perceptivo como se apresenta, de acordo com Schultz e Schultz (1992).</p><p>As percepções são consideradas normais se o que o indivíduo percebe é, de fato, o que está a sua volta, ou seja, o que realmente se ouve, se vê e se sente. Alterações da percepção podem ocorrer, sendo por ilusões e alucinações, que podem ser criadas pelo homem e até mesmo pelos animais, como, por exemplo, a camuflagem, que é usada por homens na guerra assim como por animais para sua sobrevivência. Por outro lado, a percepção pode ser diferenciada de acordo com algumas propriedades que ela apresenta como veremos a seguir.</p><p>Percepção seletiva e sensitiva</p><p>Já ouviu falar que quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você consiga o que deseja? O que está por traz disso é a percepção seletiva.</p><p>No mundo, há muita informação, mas não conseguimos perceber tudo o que está ao nosso redor, assim, a percepção seletiva é esse filtro natural, podendo ser consciente ou inconsciente, em que o que se enxerga são os estímulos que prendem a atenção do indivíduo. Dessa forma, sendo definido um foco, o que está ao redor que não é de grande importância para o indivíduo é ignorado.</p><p>Já a percepção sensitiva ocorre quando se passa muito</p><p>tempo com um estímulo muito próximo e ocorre a adaptação sensitiva, consistindo em perder a capacidade ou a sensibilidade ao estímulo com o qual se está tendo um grande contato.</p><p>Diferentes fatores que influenciam na percepção</p><p>A percepção ocorre principalmente através da atenção, que é a responsável por iniciar o processo de percepção seletiva, fazendo com que o indivíduo perceba alguns fatores ao seu redor e ignore outros como já foi exemplificado anteriormente.</p><p>FATORES EXTERNOS</p><p>Há algumas características dos estímulos que irão determinar nossa atenção com frequência, tais como a intensidade, contraste, movimento e a incongruência.</p><p>FATORES INTERNOS</p><p>Influenciam a nossa atenção, tais como a motivação, experiências anteriores e fenômenos sociais.</p><p>Vejamos no quadro a seguir as características de cada um deles.</p><p>Perspectivas teóricas do estudo da percepção</p><p>Aqui iremos abordar o conceito de percepção dentro de diversas perspectivas teóricas e, de acordo com suas particularidades, apresentar o que é esse fenômeno e como ele ocorre.</p><p>A percepção tem diferentes significados dependendo da abordagem teórica em que ela é trabalhada, mas o que podemos dizer, e que todos concordam, é que a percepção é uma interpretação da realidade, não se tratando da realidade em si. No senso comum, por exemplo, acredita-se que algo é real através da experiência individual de cada ser humano, e essa experiência apresenta, muitas vezes, resultados diferentes de acordo com cada indivíduo, pois cada um interpreta a realidade a sua volta de forma diferente e a partir dos seus pressupostos vividos.</p><p>Cavalcanti (2008) afirma que</p><p>[n]a perspectiva do senso comum, o conceito de percepção tem os seus usos relacionados com os sentidos, principalmente com a visão, de modo que a percepção passa a ser tratada como um sinônimo de capacidade e apreensão sensorial. Quando um indivíduo enxerga, ele está percebendo objetos no seu campo visual ou quando este escuta, ele está percebendo sons no ambiente.</p><p>Na psicologia, o conceito de percepção toma que o indivíduo faz uma organização e interpretação dos estímulos que foram recebidos pelos órgãos dos sentidos, e, com isso, existe a possibilidade de identificar objetos e acontecimentos a sua volta. Assim, a percepção apresenta duas etapas, sensorial e intelectual, sendo as duas complementares, pois não proporcionam uma visão realista do que está a sua volta, havendo necessidade da interferência do intelecto.</p><p>Já segundo a filosofia, a percepção irá descrever uma situação que o espírito irá captar utilizando a intuição e os estímulos exteriores, sendo que cada filósofo apresenta o conceito de percepção de forma distinta, de acordo com sua base teórica. Conforme, Gomes (2005 apud Descartes, s.p) “[p]ercepções [...] derivam dos objetos, mas diferiam das simples sensações por envolverem julgamentos mentais ativos. ‘Eu compreendo somente pela faculdade do julgamento, a qual está na mente; o que eu acredito eu vi com meus olhos”.</p><p>Teoria da Gestalt</p><p>A Psicologia da Gestalt surge no princípio do século XX, por volta de 1912, e incorpora em sua teoria um elemento que foi ignorado no estruturalismo, que é a relação entre os estímulos.</p><p>Assim, a Gestalt trabalha com a ideia de um processo para dar contorno ao que está exposto ao olhar, configurando o que é colocado diante dos olhos do indivíduo. Ela traz a conceito de conhecer o objeto pelo seu todo e não pelas suas partes, tendo suas próprias leis que coordenam seus elementos. É uma teoria que traz duas propriedades relacionadas à qualidade das formas:</p><p>SENSÍVEIS Próprias do objeto.</p><p>FORMAIS Próprias da nossa concepção.</p><p>É uma teoria que trabalha em relação à teoria da forma, ou seja, sugere que o cérebro humano tem a tendência de, automaticamente, desmembrar a imagem em partes distintas, organizá-las de acordo com que o cérebro concebe como forma, tamanho, cor e textura semelhantes, que posteriormente serão reagrupadas novamente em um conjunto representativo que possibilita a compreensão do significado revelado. Sendo assim, o princípio básico da teoria da Gestalt é que o todo é interpretado diferentemente da soma das suas partes. Esta alegação leva à descoberta de diferentes fatos que acontecem durante o processo perceptivo.</p><p>Para a Gestalt, durante o processo perceptivo, há fatores que são objetivos e subjetivos, que apresentam uma variação em relação à sua importância relativa. O indivíduo tende a isolar as “boas formas”, representando essa relação entre o organismo e o meio, ocorrendo o mesmo entre as relações de figura-fundo, no qual a percepção é organizada de maneira que todo campo perceptivo irá se diferenciar em um fundo e em uma forma. Dessa forma, os elementos, figura e fundo estão intimamente ligados e não existem independentemente, representando o principal foco de estudo da teoria da Gestalt.</p><p>Para a Gestalt, a percepção irá variar significativamente de uma pessoa para outra, pois a ela depende de inúmeras variáveis, tais como experiências culturais e pessoais, estado motivacional, entre outros.</p><p>Para saber um pouco mais sobre figura-fundo e percepção, leia o artigo “A psicologia da Gestalt e a ciência empírica contemporânea”, de Arno Engelmann (2002).</p><p>Além do princípio figura e fundo, a teoria da Gestalt também determina vários outros princípios ou leis da percepção, como veremos a seguir:</p><p>Lei da Proximidade</p><p>Os elementos são dispostos de acordo com a distância a que se encontram uns dos outros. Quanto mais perto uns dos outros, mais são percebidos como um grupo. Quanto mais longe, menos são percebidos como um mesmo grupo.</p><p>Lei da Semelhança</p><p>Os objetos semelhantes tendem a se agrupar. Essa semelhança pode ocorrer na cor dos objetos, na textura e na sensação de peso e volume dos elementos. Estas características podem ser percebidas quando se cria relações ou agrupamentos de elementos na formação de uma figura. Por outro lado, quando não se usa de maneira adequada, pode haver uma maior dificuldade na percepção visual, como, por exemplo, quando se usa uma textura semelhante no plano de fundo e nos elementos do primeiro plano, em que fica mais difícil de identificar a figura desejada no primeiro plano.</p><p>Lei da Continuidade</p><p>Mantendo-se homogênea a proximidade, a percepção é disposta de acordo com a similaridade dos estímulos. Se vários elementos de um desenho apontam para o mesmo lado, por exemplo, o resultado final será mais facilmente detectado, facilitando a compreensão. Os elementos dispostos de maneira harmônica irão proporcionar um conjunto mais harmônico.</p><p>Lei da Simplicidade</p><p>Esta lei de maior influência da Gestalt-terapia, apresenta uma grande relevância, pois declara que todas as formas tendem a ser entendidas em seu caráter mais simples. Isto é, quanto mais simples, mais facilmente é entendida. Desta maneira, a parte mais facilmente compreendida em um desenho é a mais regular, que irá requerer uma percepção mais simplificada.</p><p>Lei do Fechamento</p><p>Elementos são agrupados de maneira que se pareçam completar um ao outro. Na mente do indivíduo, é visto um objeto completo mesmo quando não há um. O conceito de encerramento está relacionado ao fechamento visual, como se completássemos visualmente um objeto inacabado.</p><p>Behaviorismo radical</p><p>Skinner traz a explicação de percepção através do conceito de comportamento perceptivo, que são muitos comportamentos inter-relacionados a um comportamento complexo.</p><p>Trazendo a explicação da percepção, segundo Lopes e Abbid (2002), em termos de comportamento perceptual, considera-se a influência de variáveis ambientais nesta resposta, evidenciando que a questão deve ser tratada em termos de controle de estímulos e não como uma tarefa cognitiva. De acordo com Cavalcanti (2008),</p><p>Skinner (1974/2006) afirma que o ambiente afeta o organismo antes e depois que este se comporta, pois o contexto em que a resposta ocorre, o comportamento em si, assim como suas conseqüências no ambiente se relacionam para formar o histórico de reforço do indivíduo. Portanto, se o comportamento é reforçado ou não em um determinado</p><p>contexto, este contexto, ou estímulo antecedente, passa a exercer controle sobre este comportamento. Assim sendo, o comportamento perceptual tem relação tanto com estímulos discriminativos e estímulos delta quanto com a presença ou não de reforçadores no ambiente (Silva, 2000). A teoria da percepção na análise do comportamento, referida de forma mais econômica como comportamento perceptual, abrange diversos comportamentos e todos estes comportamentos possuem uma relação com os princípios de controle de estímulos.</p><p>O estudo da percepção de Skinner pode ser desmembrado em dois momentos:</p><p>Momento 1 O estudo do comportamento perceptivo como precorrente.</p><p>Momento 2 O estudo dos precorrentes do comportamento perceptivo.</p><p>O estudo do comportamento perceptivo como precorrente dá-se de maneira que a investigação passa pelo comportamento perceptivo e desempenha um papel fundamental de modificação do ambiente, passando pelo processo de resolução de problemas e permitindo a emissão de um comportamento discriminativo que leve à solução das questões.</p><p>Conforme Simonassi e Cameschi (2003),</p><p>[c]omportamentos precorrentes são ações operantes que geram estímulos discriminativos que afetam a probabilidade de ocorrência de respostas subseqüentes (Skinner, 1969/1980; Baum, 1994 /1999). As categorias de ação precorrentes ocorrem tipicamente em situações de resolução de problemas, onde uma resposta subseqüente pode ser ou não a resposta-solução.</p><p>Na segunda etapa, a investigação já trabalha com uma série de outros elementos e comportamentos, como a atenção e consciência, que irão modificar a probabilidade de emissão de comportamento perceptivo. Realizando a análise das relações dos demais comportamentos com o comportamento perceptivo, atinge-se o ponto mais alto da linearidade da teoria da percepção no behaviorismo radical, o que Skinner considera mais convincente do que as explicações chamadas de mentalistas, como a Gestalt, a femonenologia, entre outras teorias que fazem o uso da teoria das cópias, como é nomeado por Skinner. Loppes e Abbid (2002) afirmam que, quando a percepção é explicada através dos conceitos de comportamento perceptivo, não há necessidade de nenhuma outra mediação mental, considerando que a percepção é mais uma questão de controle de estímulos do que de cópia mental, se houver a identificação das variáveis que controlam o seu comportamento.</p><p>Outras teorias da percepção</p><p>Entre a psicologia e a filosofia, são diferentes as teorias que abordam e conceituam a percepção, pois a ela é central no entendimento da psique do homem. Assim, veremos, a seguir, mais algumas teorias que complementam o entendimento sobre a percepção.</p><p>O associassonismo tem como principal representante Wundt, considerado o pai da psicologia, que criou o primeiro laboratório de psicologia experimental no final do século XIX. Segundo essa teoria, a percepção é formada por átomos de sensações isoladamente, ou seja, as sensações são captadas isoladamente pelo cérebro e, em seguida, são associadas entre si, construindo a percepção global do objeto. O indivíduo, nessa teoria, atua como receptor passivo dos estímulos.</p><p>Já a teoria da percepção direta, formulada por Gibson (1904-1980), afirma que as informações que chegam aos receptores são satisfatórias para esclarecer sobre os processos perceptivos. Segundo ela, a cognição não é relevante para percepção. Conforme Sillman,</p><p>[a] percepção direta é possível pela disponibilidade de informação significativa que, segundo Gibson (1986), consiste em padrões invariantes que especificam a estrutura do ambiente para um animal capaz de captá-la, sem que essa estrutura necessite ser reconstruída internamente partindo de fragmentos (dados) do mundo obtidos pelos órgãos dos sentidos.</p><p>Para saber mais sobre as teorias da percepção e como cada uma se coloca sobre as distorções que ocorrem no processo perceptivo, leia o artigo “Ilusões: o olho mágico da percepção”, de Marcus Vinicius C. Baldo e Hamilton Haddad (2003).</p><p>Há também as teorias ascendentes, chamadas também de bottom-up, e as teorias descendentes da percepção, chamadas de top-down. Essas teorias consideram praticamente todos os processos cognitivos, porém a primeira considera percepções acionadas por estímulos, enquanto na segunda são consideradas as experiências acumuladas, conhecimentos trazidos de vivências anteriores. As teorias ascendentes abarcam:</p><p>Teoria do padrão</p><p>Afirma que o indivíduo traz consigo padrões armazenados na memória. Assim, a percepção ocorrerá quando o indivíduo visualiza um estímulo e o compara com outro que foi guardado em sua memória.</p><p>Teoria dos protótipos</p><p>Defende que o indivíduo tem um modelo representativo com traços e características de objetos, não existindo uma correspondência exata, mas generalizada.</p><p>Teoria das características</p><p>Declara que não se percebe o modelo por inteiro, mas sim por suas características.</p><p>Já as teorias descendentes, que são aquelas que o ser humano traz consigo análises mais elevadas, enfatizando os conhecimentos prévios, experiências e a interpretação que o indivíduo já possui, levando também em conta as expectativas relacionadas a percepção, abarcam três outras teorias:</p><p>Efeitos das necessidades</p><p>As necessidades influenciam na percepção do indivíduo, ou seja, se você tem necessidade de algo a sua percepção o levará a criar imagens que pertençam ao que você necessita.</p><p>Efeitos dos contextos</p><p>O contexto poderá influenciar nos objetos que são adquiridos.</p><p>Efeitos das motivações</p><p>A influência que a motivação tem sobre a nossa percepção.</p><p>Formas e função da percepção</p><p>A percepção é extremamente importante para o reconhecimento do indivíduo no mundo. É possível observar diferentes tipos de percepção adequadas aos estímulos que são recebidos, permitindo a organização de informações que estão sendo emitidas tanto pelo mundo externo, quanto interno do indivíduo. Segundo Barreto (2009),</p><p>[o]s sentidos têm a função de nos fazer conhecer o percebido. Dá-nos uma concepção dos objetos e uma confiança em sua existência, uma sensação que acompanha a percepção. Ao cheirar uma rosa o seu odor está inscrito na flor que é a base para a percepção, neste caso, é a qualidade da rosa que percebo pelo olfato.</p><p>Há diversas formas de perceber as coisas que estão ao nosso redor, uma vez que a percepção tem estreita ligação com os cinco sentidos: visão, audição, tato, paladar e olfato.</p><p>Percepção visual</p><p>Para muitos teóricos, a percepção visual é a percepção que mais se destaca, Skinner afirma isso, colocando não necessariamente que a visão seja o sentido mais importante que temos, mas que a visão é o sentido mais complexo e desenvolvido.</p><p>A percepção visual será, então, caracterizada pela captação de formas, cores, movimentos, luminosidade e relações espaciais.</p><p>Para uma melhor compreensão de como ocorre a captação desses estímulos pela visão, é necessário compreender a estrutura do sistema visual, no qual o olho, que é uma área periférica desse sistema, irá representar um complexo aparelho que irá se dividir em vários componentes. Os olhos, assim, agem como uma porta de entrada para o sistema visual, no qual, em seguida, o córtex cerebral faz o papel de transportar e organizar a informação visual, sendo, então, na parte do córtex cerebral onde se constrói a percepção. Conforme Luria (1991),</p><p>[n]o aparelho do olho podemos distinguir a parte sensível à luz (retina) e vários dispositivos auxiliares de caráter motor; dentre estes um (a íris e o cristalino) assegura a afluência dos raios luminosos que chegam à retina, a focalização da imagem e a proteção do aparelho contra influências estranhas (a córnea) e permite realizar o movimento do dispositivo complexo (os músculos do olho).</p><p>Vamos, aqui, analisar um pouco mais detalhadamente cada parte do olho citada.</p><p>A retina pode ser considerada a estrutura mais fundamental, já que é a camada mais interna e consegue captar luz através de células receptoras fotossensíveis, processando os impulsos luminosos através de uma rede de neurônios.</p><p>Existem dois tipos de células receptoras</p><p>fotossensíveis que são responsáveis por traduzir as imagens recebidas em uma representação organizada: bastonetes e cones.</p><p>Stolfi (2008) afirma, sobre essas duas células, que</p><p>[n]a retina temos duas classes de células sensíveis à luz:</p><p>Cones: Células sensíveis à intensidade e à cor (compreendem três sub-tipos: L, M e S, sensíveis respectivamente ao amarelo, verde e azul); são responsáveis pela Visão Fotópica, ou visão de luz intensa. Dos cerca de 7.000.000 de cones existentes na retina, metade situam-se na Fóvea. Muitos cones são ligados individualmente a terminações nervosas; seu diâmetro varia de 1 a 5 µm.</p><p>Bastonetes: Células sensíveis apenas à intensidade, responsáveis pela Visão Escotópica, ou visão em condições de pouca luz. Há cerca de 75 a 150 milhões de bastonetes na retina, mas são praticamente inexistentes na Fóvea. Por serem ligados em grupos às terminações nervosas, formam conjuntos mais sensíveis à luz do que os Cones, porém com menor capacidade de resolução de detalhes. A visão escotópica não proporciona sensação de cor.</p><p>Essas duas células trabalham conjuntamente, sendo que os cones proporcionam uma visão colorida e detalhada, enquanto os bastonetes trabalham com a baixa luminosidade, promovendo contraste e detecção de movimento.</p><p>Há fatores ambientais ou individuais que podem influenciar a percepção visual, interferindo no resultado final da nossa percepção. O quadro a seguir mostra alguns desses fatores:</p><p>Tendo o conhecimento da estrutura visual, é possível perceber melhor como vemos e como ocorre a percepção no nosso sistema visual.</p><p>Percepção auditiva</p><p>Essa é a percepção que temos dos sons através do ouvido, estando ligada ao volume e intensidade do som e ritmo. Assim como a percepção visual, é considerada como uma das percepções que mais se destacam.</p><p>A percepção auditiva interpreta os sentidos que estão em torno e essa interpretação é um processo ativo que irá depender dos nossos conhecimentos prévios e processos cognitivos. Luria (1991) afirma que “[o] nosso ouvido percebe tons e ruídos. Os tons são oscilações rítmicas regulares do ar; e a freqüência dessas oscilações determina a altura do tom, enquanto a amplitude dessas oscilações determina a intensidade do som”. As oscilações que ocorrem irão variar de acordo com a frequência e altura do som, ou seja, quanto maior a frequência, maior a altura.</p><p>O aparelho periférico é formado por um dispositivo bem complexo, como aponta Luria (1991):</p><p>Os tons que atuam sobre o homem e os ruídos passam pela entrada do ouvido e chegam ao tímpano, uma película elástica dotada da capacidade de oscilar-se em ritmo com o som. Através do sistema de ossículos situados no ouvido médio (bigorna, martelo, estribo), essas oscilações são transmitidas através da janela oval ao aparelho do ouvido interno, onde está situado o aparelho da recepção auditiva — a cóclea, cheia de líquido (endolinfa). As oscilações, transmitidas pelo referido aparelho do ouvido médio, põem em movimento o líquido da cóclea e provocam oscilações correspondentes nesse sistema fechado. Na membrana básica da cóclea, está situado um dispositivo especial que transforma as oscilações do líquido em excitações nervosas — o órgão de Kortiv —, dispositivo extraordinário dotado da propriedade de transformar oscilações sucessivas em excitação de células nervosas isoladas espacialmente distribuídas.</p><p>O que se percebe, assim, é que a cada som que chega ao aparelho do receptor auditivo, uma ou várias séries de cordas sofrem uma oscilação, provocando excitações dos nervos através das células capilares correspondentes. Ocorrendo oscilações nas cordas mais curtas quando no caso de sons altos e oscilações das cordas mais longas quando há sons mais baixos.</p><p>Percepção tátil</p><p>A percepção tátil não se dá de maneira uniforme, sendo sentida em algumas partes do corpo, como as mãos, língua e lábios, de maneira mais sensibilizada. Entretanto, pode ser percebida em todo o corpo, permitindo reconhecer, em contato com o corpo, a presença dos objetos, assim como sua forma, tamanho e temperatura. Tendo grande importância na afetividade e também no sexo.</p><p>A capacidade de diferenciar os objetos de pequenos tamanhos, a percepção da dor e do calor são fatores presentes na percepção tátil. Algumas partes do corpo têm uma sensibilidade maior ao calor, por exemplo. Silva (2015) afirma que</p><p>[...] a percepção tátil ocorre nas sensações em resposta a estímulos externos e alteração do ambiente. Estas se caracterizam como exteroceptivas (fornecem informação a respeito do ambiente externo) e interoceptivas ou viscerais (transmitem informações a respeito das funções internas).</p><p>Silva (2015) ainda expõe que existem quatro tipos de sensações exteroceptivas, sendo elas:</p><p>•dor; •temperatura; •proporção; •pressão.</p><p>O sistema nervoso central do indivíduo sofre influências indiretas aos sinais que são expressos na pele. Assim, os principais receptores sensoriais presentes são:</p><p>Meissner	 Receptor de contato.</p><p>Pacini	 Receptor que dá a noção de pressão.</p><p>Ruffini Receptor que dá a percepção de calor.</p><p>Krause Receptor que dá a sensibilidade ao frio.</p><p>Terminações nervosas livres Transmitem ao cérebro a percepção da dor.</p><p>Percepção gustativa</p><p>É a percepção importante para a alimentação, pois o paladar é o que dá sentido aos sabores pela língua. Esse é o sentindo menos desenvolvido pelos humanos, associado, muitas vezes, com o prazer, sendo o seu principal fator a diferenciação de sabores.</p><p>E esses sabores são o doce, o amargo, o azedo e o salgado, sendo que cada parte da nossa língua atua na recepção de cada sabor. O paladar é captado por receptores gustativos presentes nas papilas gustativas. Esses receptores estão presentes sobretudo na língua, mas também podemos detecta-los na faringe, no palato, epiglote e laringe.</p><p>Percepção olfativa</p><p>O nariz é o principal órgão do sentido do olfato, sendo que a percepção olfativa é muito mais aguçada em alguns animais, como os cachorros, do que nos seres humanos, mas ela é muito importante para a alimentação, assim como ela é de grande importância em relação à memória afetiva.</p><p>O olfato é colocado como fator de suma importância na cultura e nas memórias do indivíduo, pois ela capta odores que nos fazem reviver ou diferenciar culturas. Segundo Classen et al (1996, p. 13),</p><p>[a] natureza íntima, emocionalmente saturada da experiência olfativa, assegura que tais odores codificados em valores são interiorizados pelos membros da sociedade de um modo profundamente pessoal. O estudo da história cultural dos odores é, portanto, numa acepção muito correta, uma investigação sobre a essência da cultura humana.</p><p>O alcance olfativo, assim como estudos que diferenciam um odor do outro, bem como suas combinações, são alguns fatores que englobam a percepção olfativa.</p><p>Outras formas de percepção</p><p>Além das cinco formas já exploradas, ainda existem mais três tipos de percepção que derivam principalmente da percepção visual e auditiva, pois são formas de percepção que não têm sentidos específicos para serem utilizados, mas sim um conjunto deles. Assim, temos:</p><p>PERCEPÇÃO ESPACIAL</p><p>Utiliza a percepção visual e auditiva, trazendo o envolvimento dos tamanhos e distanciamento dos objetos. É a percepção que nos auxilia saber de onde está vindo um determinado som ou até mesmo em qual direção o objeto está indo. A parte do cérebro que tem papel de suma importância nesse tipo de percepção é o lobo parietal.</p><p>PERCEPÇÃO TEMPORAL</p><p>É uma percepção voltada para a duração e para situar o indivíduo no tempo, tendo estreita ligação com as experiências vividas, bem como saber distinguir os dias da semana, horas, ou até mesmo o distanciamento de uma atividade para outra.</p><p>PROPRIOPERCEPÇÃO</p><p>É a capacidade de situar seu próprio corpo espacialmente. Esta percepção está ligada ao sistema vestibular do ouvido, que permite termos equilíbrio.</p><p>Nesta unidade,</p>

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