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<p>DIREITO CIVIL I:</p><p>TEORIA GERAL</p><p>Cinthia Louzada</p><p>Ferreira Giacomelli</p><p>Revisão técnica:</p><p>Gustavo da Silva Santanna</p><p>Bacharel em Direito</p><p>Especialista em Direito Ambiental Nacional</p><p>e Internacional e em Direito Público</p><p>Mestre em Direito</p><p>Professor em cursos de graduação</p><p>e pós-graduação em Direito</p><p>Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB -10/2147</p><p>S725d Sousa, Cássio Vinícius Steiner de.</p><p>Direito civil I: teoria geral [recurso eletrônico ] / Cássio</p><p>Vinícius Steiner de Sousa, Cinthia Louzada Ferreira</p><p>Giacomelli; [revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna]. –</p><p>Porto Alegre: SAGAH, 2018.</p><p>ISBN 978-85-9502-444-1</p><p>1. Direito civil. I. Giacomelli, Cinthia Louzada Ferreira.</p><p>II.Título.</p><p>CDU 347.1</p><p>Direito_Civil_I_Book.indb 2 06/06/2018 10:09:21</p><p>Lei de Introdução às Normas</p><p>do Direito Brasileiro</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Explicar a importância do estudo da Lei de Introdução às Normas do</p><p>Direito Brasileiro.</p><p> Analisar os artigos da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.</p><p> Identificar casos dos tribunais superiores envolvendo a Lei de Intro-</p><p>dução às Normas do Direito Brasileiro.</p><p>Introdução</p><p>As leis introdutórias direcionam a interpretação e a aplicação das demais</p><p>normas. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) é</p><p>uma lei autônoma, não integrante do Código Civil, que dispõe sobre</p><p>a vigência e obrigatoriedade das normas integrantes do ordenamento</p><p>jurídico, como devem ser compreendidas e integradas, considerando o ato</p><p>jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, além de estabelecer</p><p>diretrizes para o Direito Internacional no que se refere aos direitos que</p><p>envolvem personalidade, bens, heranças e obrigações.</p><p>Neste capítulo, você vai conhecer a importância da Lei de Introdução</p><p>às Normas do Direito Brasileiro, quais são os artigos que a compõem e</p><p>de que forma os tribunais superiores a compreendem.</p><p>A importância da Lei de Introdução às Normas</p><p>do Direito Brasileiro para o estudo do Direito</p><p>Em geral, as leis introdutórias direcionam a interpretação e a aplicação das</p><p>demais normas. É importante destacar que a LINDB é uma lei autônoma, não</p><p>integrante do Código Civil. A LINDB surgiu com o Código Civil de 1916,</p><p>como Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), tendo sido revogada pelo</p><p>Decreto-Lei nº. 4.657, de 4 de setembro de 1942 e, posteriormente, pela Lei</p><p>nº. 12.376, de 30 de dezembro de 2010, teve seu nome alterado.</p><p>De acordo com Silvio Venosa (2012, p 105), “[...] cuida-se, na verdade, de</p><p>introdução a todo o sistema legislativo brasileiro […], pode-se afirmar que a</p><p>lei de introdução é uma lei que regula as outras leis, Direito sobre Direito”.</p><p>Para Maria Helena Diniz (2014, p. 73):</p><p>[...] não está incluída no Código Civil, cuja matéria se circunscreve às relações</p><p>de ordem privada, por tal razão, em boa hora veio a lume a Lei nº. 12.376/2010.</p><p>Além disso a fixação de normas desse teor, em uma lei especial, tem a vantagem</p><p>de permitir ulteriores modificações, independentemente das transformações</p><p>que se operarem nos institutos civis.</p><p>Nesse contexto, é importante destacar que as normas jurídicas podem ter</p><p>conteúdos variáveis, seguindo as necessidades de determinados contextos his-</p><p>tóricos. É corrente o entendimento de que a norma jurídica é, em essência, uma</p><p>norma de conduta, cuja finalidade principal é regular o comportamento dos</p><p>indivíduos, indicando parâmetros de como cada um deve conduzir-se. A norma</p><p>jurídica, assim, dirige o comportamento humano e é imperativa (impõe dever).</p><p>A diferença essencial entre a norma que prescreve um modelo de conduta e</p><p>a lei física ou da natureza (lei do “ser”, ou seja, do que é) é a imperatividade.</p><p>Dessa forma, o que diferencia a norma jurídica das outras espécies de normas</p><p>éticas (como as normas morais) é o fato de serem imperativas. Esse elemento</p><p>é apontado como a essência específica na norma jurídica, a qual autoriza que</p><p>lesões em decorrência da sua violação sejam reparadas. Assim explica Maria</p><p>Helena Diniz (2014, p. 384):</p><p>A norma jurídica é imperativa porque prescreve as condutas devidas e os com-</p><p>portamentos proibidos e, por outro lado, é autorizante, uma vez que permite</p><p>ao lesado pela sua violação exigir o seu cumprimento, a reparação do dano</p><p>causado ou ainda a reposição das coisas ao estado anterior.</p><p>Há, ainda, uma importante conceituação das normas jurídicas, de acordo</p><p>com a qual elas podem ser normas de conduta, cuja finalidade é disciplinar os</p><p>comportamentos e as atividades dos indivíduos, ou normas de organização (ou</p><p>instrumentais, ou de estrutura), cujo objetivo consiste em estabelecer a estrutura</p><p>e o funcionamento de órgãos, bem como disciplinar processos e procedimentos</p><p>de aplicação de outras normas jurídicas; é de caráter informativo e diretivo.</p><p>Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro2</p><p>Assim, a norma jurídica pode ser expressa por meio de disposição que</p><p>determina uma conduta ou uma forma de organização que sejam obrigatórias.</p><p>Desse modo, a norma jurídica prevê um dever–ser relativo a uma conduta ou</p><p>a uma forma de organização. Ainda cabe ressaltar que o conteúdo da norma</p><p>jurídica pode ser enunciado sob a forma escrita, oral ou com outro mecanismo</p><p>de comunicação: o semáforo vermelho, por exemplo, é uma norma que impõe</p><p>a parada de carros no tráfego de automóveis.</p><p>A norma jurídica de conduta, em regra, prevê um fato típico de forma genérica. Verifi-</p><p>cando-se um caso concreto que corresponda ao fato previsto na norma, o responsável</p><p>pelo fato deve arcar com as consequências determinadas pela norma jurídica. Já nas</p><p>normas jurídicas instrumentais, no entanto, não se verifica um fato típico, mas apenas</p><p>um dever a ser observado ou cumprido.</p><p>Para Sgarbi (2012, p. 58):</p><p>[...] é comum afirmar-se que as normas jurídicas são estruturas sintáticas de</p><p>composição condicional. Portanto, as normas são dotadas de um antecedente</p><p>e um consequente. O antecedente ou termo condicionante, que também é</p><p>conhecido como prótase, é o enunciado que estabelece o condicional “se”;</p><p>o consequente ou termo condicionado, que também é chamado de apódose,</p><p>estabelece a implicação, no que a sua configuração habitual consiste no “então”.</p><p>Assim a fórmula “se A, então B”, representa o fato e a consequência atribuída</p><p>(imputada) ao fato. Dessa forma, tem-se a qualificação de um suposto, este</p><p>correspondente ao “fato” (o sacar de uma arma de fogo para atirar em alguém),</p><p>e a consequência “imputada” ao fato: a sanção (a pena cominada para o delito).</p><p>Assim, independentemente da espécie de norma jurídica, a base normativa</p><p>desenvolve-se diante da perspectiva que prevê uma realidade e uma consequ-</p><p>ência, abrangendo qualificações normativas de conduta, como permissões e</p><p>proibições, ou normativas institucionais, como patrimônio e estado de coisas</p><p>(proprietário, condômino, locador). Contudo, Miguel Reale (2012, p. 79) atenta</p><p>para o fato de que:</p><p>3Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro</p><p>[...] na realidade, as regras que dispõem sobre a organização dos poderes do</p><p>Estado, as que estruturam órgãos e distribuem competências e atribuições,</p><p>bem como as que disciplinam a identificação, modificação e aplicação de</p><p>outras normas não se apresentam como juízos hipotéticos.</p><p>Dessa forma, a LINDB exerce importante função para a interpretação,</p><p>aplicação e adequação das normas que compõem o ordenamento jurídico,</p><p>independentemente da espécie em que se enquadram. Assim, essa lei ultra-</p><p>passa o âmbito do Direito Civil, vinculando o Direito Privado como um todo</p><p>e alcançando o Direito Público, atingindo indiretamente as relações jurídicas.</p><p>A LINDB, portanto, apresenta normas que regulam toda a ordem jurídica.</p><p>Lei de Introdução às Normas</p><p>do Direito Brasileiro</p><p>Para compreender a abrangência da LINDB, podemos considerá-la sob três</p><p>principais aspectos, os quais passamos a comentar a seguir.</p><p>Da lei e da sua obrigatoriedade</p><p>Os arts. 1º e 2º da LINDB tratam da vigência da lei, que é a possibilidade,</p><p>em</p><p>tese, de ela produzir efeitos na vida em sociedade. Em geral, após a publicação</p><p>da lei, para que a população conheça o seu conteúdo e se prepare para os seus</p><p>efeitos, é instituído o chamado período de vacância, indicado expressamente</p><p>no texto legal. O período de vacância, ou vacatio legis, é o período de tempo</p><p>entre a publicação da lei (quando ela se torna válida no ordenamento jurídico)</p><p>e o início da efetiva produção dos seus efeitos. Ressaltamos que a LINDB</p><p>estabelece no art. 1º que, salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar</p><p>em todo o Brasil 45 dias depois de ofi cialmente publicada (BRASIL, 1942).</p><p>Se a lei não especificar o seu período de vacância, tal período será de 45 dias. Da mesma</p><p>forma, o art. 2º prevê: “não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até</p><p>que outra a modifique ou revogue” (BRASIL, 1942, documento on-line), de maneira</p><p>que discorre sobre a cessação da vigência das leis.</p><p>Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro4</p><p>A revogação citada na LINDB pode ser parcial ou total, por atingir parte</p><p>ou a totalidade dos dispositivos legais. A revogação total é chamada de</p><p>ab-rogação, enquanto a revogação parcial é chamada de derrogação. A</p><p>ab-rogação, portanto, exclui por completo a eficácia da lei anterior, sendo que</p><p>a derrogação atinge apenas uma parte, permanecendo plenamente vigentes</p><p>as disposições não derrogadas. Para Caio Mário Pereira (2014, p. 105):</p><p>[...] ab-rogada uma lei, desaparece e é inteiramente substituída pela lei re-</p><p>vogadora, ou simplesmente se anula, perdendo o vigor de norma jurídica a</p><p>partir do momento em que entra em vigor a que a ab-rogou. Derrogada, a</p><p>lei não fenece, não sai de circulação jurídica, mas é amputada nas partes ou</p><p>dispositivos atingidos, apenas estes perdem a obrigatoriedade.</p><p>A ab-rogação e a derrogação podem ser expressas ou tácitas. Expressa, ou</p><p>direta, é a forma de atuação que consiste na declaração da lei nova revogando</p><p>a lei anterior, declarando-a extinta total ou parcialmente. É pouco comum,</p><p>mas oferece maior segurança jurídica para os seus efeitos, como afirma Maria</p><p>Helena Diniz (2014, p. 114): “[...] é evidente que, na formação das leis, deveria</p><p>haver cuidado em indicar nitidamente, ao menos tanto quanto possível, quais as</p><p>leis que se ab-rogam. Seria o melhor meio de evitar antinomias e obscuridades”.</p><p>Da aplicação, interpretação e integração das normas</p><p>O art. 4º da LINDB apresenta um importante aspecto para a aplicação norma-</p><p>tiva, que se refere às fontes do Direito. De acordo com esse artigo, “quando a</p><p>lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e</p><p>os princípios gerais de direito” (BRASIL, 1942, documento on-line).</p><p>Percebe-se, portanto, que as fontes são entendidas de maneira hierárquica,</p><p>sendo que o sistema jurídico deve ser integrado na medida em que uma fonte</p><p>do Direito não forneça elementos para a solução de determinada demanda.</p><p>Então caberá ao juiz socorrer-se primeiramente da lei e depois das outras</p><p>fontes, que são: analogia, costumes e princípios gerais do Direito. A lei é o</p><p>preceito jurídico documentado, emanado pelo legislador, que se impõe em</p><p>caráter geral e obrigatório na sociedade. É a principal fonte do Direito porque</p><p>prevê a maioria das situações de conflito verificadas em um grupo social,</p><p>com a intenção de solucioná-las. Já as outras fontes do Direito são utilizadas</p><p>de maneira subsidiária, de acordo com o caso concreto.</p><p>5Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro</p><p>Aqui, cumpre destacar a possibilidade de conflito entre duas normas</p><p>vigentes, chamado de antinomia. Para Flávio Tartuce (2015, p. 37), “[...]</p><p>antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de</p><p>autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação</p><p>em determinado caso concreto”. Para solucionar uma antinomia, a doutrina</p><p>majoritária considera três critérios:</p><p> critério cronológico — norma posterior prevalece sobre norma anterior;</p><p> critério da especialidade — norma especial prevalece sobre norma</p><p>geral;</p><p> critério hierárquico — norma superior prevalece sobre norma inferior.</p><p>Ato jurídico perfeito, direito adquirido e coisa julgada</p><p>A norma jurídica é criada para valer no futuro. Porém, eventualmente, uma</p><p>norma pode atingir fatos passados, situação a qual devem ser considerados</p><p>três elementos. Prevê o art. 6º: “a lei em vigor terá efeito imediato e geral,</p><p>respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”</p><p>(BRASIL, 1942, documento on-line).</p><p>Por direito adquirido entende-se o direito já incorporado ao patrimônio</p><p>de uma pessoa natural, jurídica ou ente despersonalizado. No que se refere</p><p>ao ato jurídico perfeito, tem-se aquele já consumado de acordo com a lei</p><p>vigente ao tempo em que se efetuou. Por sua vez, coisa julgada é a decisão</p><p>judicial proferida da qual não cabe mais recurso. Assim, podemos afirmar</p><p>que o direito adquirido é o mais abrangente, pois tanto no ato jurídico perfeito</p><p>quanto na coisa julgada há direitos já consolidados, sendo a coisa julgada um</p><p>ato jurídico perfeito.</p><p>Os arts. 7º ao 17 tratam de Direito Internacional Privado, dispondo sobre</p><p>direitos de personalidade, bens, obrigações e Direito sucessório nas rela-</p><p>ções entre países estrangeiros e o Brasil. Para Flávio Tartuce (2015, p. 48),</p><p>“[...] pela grande importância que exerce sobre esse ramo jurídico, a Lei de</p><p>Introdução é até denominada como Estatuto do Direito Internacional, tanto</p><p>público como privado”, de maneira que também serve de diretriz para a</p><p>solução de conflitos extraterritoriais.</p><p>Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro6</p><p>A Lei de Introdução às Normas do Direito</p><p>Brasileiro e os tribunais superiores</p><p>Tendo em vista o caráter diretivo da LINDB, não raras vezes os tribunais</p><p>superiores julgam demandas que envolvem os temas ali disciplinados, fazendo</p><p>com que surjam entendimentos que passam a ser observados nas mais diversas</p><p>áreas jurídicas, assim como são consolidadas interpretações legais.</p><p>No que se refere à vigência do Código Civil, por exemplo, o Superior</p><p>Tribunal de Justiça já julgou procedente a alegação de não prescrição (ou seja,</p><p>julgou que ainda há prazo para discussão da demanda) de tema relacionado</p><p>ao art. 2.028, que prevê: “serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos</p><p>por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido</p><p>mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada” (BRASIL, 2002,</p><p>documento on-line):</p><p>CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENI-</p><p>ZAÇÃO. DANOS MORAIS E MATERIAIS. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊN-</p><p>CIA. PRAZO. CÓDIGO CIVIL. VIGÊNCIA. TERMO INICIAL. 1. À luz do</p><p>novo Código Civil, os prazos prescricionais foram reduzidos, estabelecendo o</p><p>art. 206, § 3º, V, que prescreve em três anos a pretensão de reparação civil. Já</p><p>o art. 2.028 assenta que “serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos</p><p>por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido</p><p>mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada”. Infere-se, portanto,</p><p>que tão-somente os prazos em curso que ainda não tenham atingido a metade</p><p>do prazo da lei anterior (menos de 10 anos) estão submetidos ao regime do</p><p>Código vigente, ou seja, 3 (três) anos. Entretanto, consoante nossa melhor</p><p>doutrina, atenta aos princípios da segurança jurídica, do direito adquirido e da</p><p>irretroatividade legal, esses três anos devem ser contados a partir da vigência</p><p>do novo Código, ou seja, 11 de janeiro de 2003, e não da data da ocorrência do</p><p>fato danoso. 2. Conclui-se, assim, que, no caso em questão, a pretensão do ora</p><p>recorrente não se encontra prescrita, pois o ajuizamento da ação ocorreu em</p><p>24.06.2003, antes, portanto, do decurso do prazo prescricional de três anos</p><p>previsto na vigente legislação civil. 3. Recurso conhecido e provido, para</p><p>reconhecer a inocorrência da prescrição e determinar o retorno dos autos ao</p><p>juízo de origem (BRASIL, 2006, documento on-line).</p><p>Da mesma forma, no que se refere à interpretação das normas,</p><p>destaca-se</p><p>o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no que se refere ao</p><p>cheque, tendo por diretriz o art. 4º da LINDB, que prevê o costume como</p><p>fonte de interpretação e aplicação das normas. Nesse sentido, temos que,</p><p>7Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro</p><p>embora o cheque seja um título de crédito para pagamento à vista, conforme</p><p>disposto no art. 32 da Lei nº. 7.357, de 2 de setembro de 1985 (Lei do Cheque),</p><p>pode haver dano moral caso o cheque tenha sido emitido como pré-datado,</p><p>pois é do costume brasileiro a emissão de cheques pré-datados, e isso deve</p><p>ser respeitado. Assim indica a Súmula nº. 370 do STJ, que caracteriza dano</p><p>moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.</p><p>Quanto à coisa julgada, é de se destacar que, embora respeitada pelos</p><p>tribunais superiores também em virtude de se caracterizar como um comando</p><p>constitucional, conforme o art. 5º, inciso XXXVI: “a lei não prejudicará o</p><p>direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (BRASIL, 1988,</p><p>documento on-line), é de se considerar a possibilidade da sua relativização.</p><p>O STJ e o Supremo Tribunal Federal (STF) já se manifestaram no sentido de</p><p>reconhecer a possibilidade de novo julgamento em caso de reconhecimento de</p><p>paternidade tendo em vista que, à época, não existia exame de DNA: trata-se</p><p>de uma relativização da cosia julgada em prol de um valor jurídico maior, que</p><p>é o indivíduo conhecer sua ascendência.</p><p>De acordo com o STJ:</p><p>[...] a coisa julgada existe como criação necessária à segurança prática das</p><p>relações jurídicas e as dificuldades que se opõem à sua ruptura se explicam</p><p>pela mesmíssima razão. Não se pode olvidar, todavia, que numa sociedade de</p><p>homens livres, a Justiça tem de estar acima da segurança, porque sem Justiça</p><p>não há liberdade (BRASIL, 2001, documento on-line).</p><p>Nesse sentido, o STF também admite a relativização da coisa julgada:</p><p>Paternidade. DNA. Nova ação. A paternidade do investigado não foi expres-</p><p>samente afastada na primeva ação de investigação julgada improcedente por</p><p>insuficiência de provas, anotado que a análise do DNA àquele tempo não</p><p>se fazia disponível ou seque havia notoriedade a seu respeito. Assim, nesse</p><p>contexto, é plenamente admissível novo ajuizamento da ação investigatória</p><p>(BRASIL, 2008, documento on-line).</p><p>Assim, a relativização da coisa julgada se refere a casos específicos, que</p><p>se relacionam com a dignidade da pessoa e cuja aplicação esteja relacionada</p><p>com o ideal de justiça. Do contrário, a coisa julgada é um valor inafastável.</p><p>Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro8</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 5 de</p><p>outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/</p><p>constituição.htm>. Acesso em: 21 maio 2018.</p><p>BRASIL. Decreto-Lei nº. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às normas</p><p>do Direito Brasileiro. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 9 set.</p><p>1942. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657com-</p><p>pilado.htm>. Acesso em: 21 maio 2018.</p><p>BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial</p><p>[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://</p><p>www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 21 maio 2018.</p><p>BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº. 226436/PR. Rel. Ministro Sálvio</p><p>de Figueiredo Teixeira, 4ª Turma. Julgado em: 28 jun. 2001. Disponível em: <http://</p><p>www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?id=414113>. Acesso em: 21 maio 2018.</p><p>BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº. 698195 DF 2004/0152073-0,</p><p>Rel. Ministro Jorge Scartezzini, 4ª Turma. Julgado em: 4 maio 2006. Disponível em: <ht-</p><p>tps://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200401520730&dt_</p><p>publicacao=11/09/2006>. Acesso em: 21 maio 2018.</p><p>BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº. 826.698-MS, Rel. Ministra</p><p>Nancy Andrighi, 3ª Turma. Julgado em: 6 maio 2008. Disponível em: <http://www.stj.</p><p>jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?id=837534>. Acesso em: 21 maio 2018.</p><p>DINIZ, M. H. Compêndio de introdução à ciência do Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.</p><p>PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. v. I.</p><p>REALE, M. Lições preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.</p><p>SGARBI, A. Introdução à teoria do Direito. São Paulo: Marcial Pons, 2013.</p><p>TARTUCE, F. Direito Civil: lei de introdução e parte geral. 11. ed. São Paulo: Método,</p><p>2015. v. 1.</p><p>VENOSA, S. S. Direito Civil: parte geral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2012.</p><p>VENOSA, S. S. Introdução ao estudo do Direito: primeiras linhas. São Paulo: Atlas, 2004.</p><p>9Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657com-</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm</p><p>http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?id=414113</p><p>tps://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200401520730&dt_</p><p>http://www.stj/</p><p>http://jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?id=837534</p><p>Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para</p><p>esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual</p><p>da Instituição, você encontra a obra na íntegra.</p>