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DECRETO-LEI Nº 4.657/42: LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB). INTRODUÇÃO 1 PONTOS IMPORTANTES 1 INTRODUÇÃO Antes denominada de Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), passou, em 2010, a ser chamada de LINDB, por força da Lei 12.376/10. A mudança deu-se em razão de a LINDB não ser dirigida apenas Direito Civil, mas a todos os ramos do Direito. Segundo Flávio Tartuce1, a LINDB é uma norma de SOBREDIREITO, ou seja, uma norma jurídica que visa a regulamentar outras normas (leis sobre leis ou lex legum). As normas jurídicas são dirigidas a todos (GENERALIDADE), mas a LINDB é dirigida ao legislador e ao aplicador do Direito (a exemplo do juiz). Isso fica claro pela redação dos Arts. 4º e 5º. Tem caráter universal, sendo aplicada a todos os ramos do direito (é lei de introdução às normas do Direito brasileiro), salvo naqueles pontos em que há regulamentação específica, a exemplo do Direito material Penal, no qual não é possível a analogia in malam partem. Dessa forma, percebe-se que, enquanto as demais normas têm como objeto o comportamento humano, a LINDB tem como objeto a própria norma. PONTOS IMPORTANTES VIGÊNCIA DAS NORMAS (EFEITOS/EFICÁCIA) Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias (vacatio legis) depois de oficialmente publicada. § 1o Nos Estados estrangeiros a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 meses (não confundir com 90 dias) depois de oficialmente publicada. § 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. § 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 1 Tartuce, Flávio Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020, pag. 29. 1 http://www.a-pdf.com/?tr-demo OBSERVAÇÕES PROMULGAÇÃO É o instrumento que declara a existência da lei e ordena sua execução2. Ganha existência e validade. Revela o momento existencial da norma. Ato pelo qual a norma é autenticada pelo Poder Executivo. PUBLICAÇÃO É com a publicação da lei que esta se torna obrigatória. Com a publicação, os cidadãos são informados sobre a existência da nova norma jurídica e ninguém pode alegar desconhecimento da lei para não cumpri-la. A publicação é o complemento da promulgação e, normalmente, a lei entra em vigor a partir da data em que é publicada2. VACATIO LEGIS Correspondendo ao período entre a data da publicação de uma lei e o início de sua vigência. Existe para que haja prazo de assimilação do conteúdo de uma nova lei e, durante tal vacância, continua vigorando a lei antiga. A vacatio legis vem expressa em artigo no final da lei da seguinte forma: "esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial"2. ATENÇÃO: Decretos e regulamentos executivos não possuem vacatio legis. ● Apenas normas de pequena repercussão social podem ter vigência imediata, na data de sua publicação. Art. 8o LC 95: A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. ● Entretanto, nada impede que a própria norma declare outro prazo de vacatio legis, como o Código Civil, que autodeclarou o prazo de 1 ano. ● Atos administrativos não seguem essa regra, apenas as leis. ● Contagem do prazo da vacatio legis: Art. 8o, § 1o,LC 95: A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação integral. Não confundir com a contagem dos prazos processuais. Art. 224, CPC/15. Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento. 2 Fonte: Agência Senado 2 ● NORMA CORRETIVA: Segundo Tartuce (2020, p. 34), é aquela que existe para afastar equívocos importantes cometidos pelo texto legal, sendo certo que as correções do texto de lei já em vigor devem ser consideradas como lei nova” - art. 1°, §3°. ● PRINCÍPIO DA VIGÊNCIA SINCRÔNICA: a obrigatoriedade da lei é simultânea, porque entra em vigor a um só tempo em todo o país, ou seja, 45 dias após sua publicação, não havendo data estipulada para sua entrada em vigor.3 Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue [PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE OU PERMANÊNCIA] § 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, NÃO REVOGA NEM MODIFICA a lei anterior. § 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada NÃO SE RESTAURA por ter a lei revogadora perdido a vigência. (REPRISTINAÇÃO) OBSERVAÇÕES ● PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE OU PERMANÊNCIA: Segundo Tartuce (2020, p.34), a norma, a partir da sua entrada em vigor, tem eficácia contínua, até que outra a modifique ou revogue. ● Meio para retirar a vigência da norma: REVOGAÇÃO. QUANTO À EXTENSÃO4 REVOGAÇÃO TOTAL OU AB-ROGAÇÃO “Ocorre quando se torna sem efeito uma norma de forma integral, com a supressão total do seu texto por uma norma emergente” REVOGAÇÃO PARCIAL OU DERROGAÇÃO “Uma lei nova torna sem efeito parte de uma lei anterior.” QUANTO AO MODO REVOGAÇÃO EXPRESSA (OU POR VIA DIRETA) “Situação em que a lei nova taxativamente declara revogada a lei anterior ou aponta os dispositivos que pretende retirar.” Art. 9º, LC 95/98. A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas. REVOGAÇÃO TÁCITA (OU POR VIA OBLÍQUA OU INDIRETA) “Situação em que a lei posterior é incompatível com a anterior, não havendo previsão expressa no texto a respeito da sua revogação” 4 Tartuce, Flávio Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020, pag. 35/36. 3 https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/165164/em-que-consiste-o-principio-da-vigencia-sincronica-denise-cristina-mantovani-cera 3 ● Ordenamento brasileiro não admite o DESUETUDO (revogação pelos costumes). ● EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA NORMA: a) NORMA TEMPORÁRIA: já nasce com data limite de vigência. b) NORMA CIRCUNSTANCIAL: somente vige durante determinada circunstância. ● ULTRATIVIDADE OU PÓS-ATIVIDADE (PÓS-EFICÁCIA) NORMATIVA: lei produz seus efeitos mesmo depois de revogada. Excepcionalmente a lei já revogada é aplicada. ● ADMITE-SE A REPRISTINAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO? REPRISTINAÇÃO É um fenômeno legislativo no qual há a entrada novamente em vigor de uma norma efetivamente revogada, pela revogação da norma que a revogou. A repristinação deve ser expressa dada a dicção do artigo 2º, § 3º da LICC EFEITO REPRISTINATÓRIO / REPRISTINAÇÃO OBLÍQUA OU INDIRETA É a reentrada em vigor de norma aparentemente revogada, ocorrendo quando uma norma que a revogou é declarada inconstitucional. STF: “A declaração de inconstitucionalidade em tese encerra um juízo de exclusão, que, fundado numa competência de rejeição deferida ao STF, consiste em remover do ordenamento positivo a manifestação estatal inválida e desconforme ao modelo plasmado na Carta Política, com todas as consequências daí decorrentes, inclusive a plena restauração de eficácia das leis e das normas afetadas pelo ato declarado inconstitucional.” Segundo Tartuce (2020, p. 37), existem duas possíveis situações: - Efeito repristinatório decorre da declaração de inconstitucionalidade da lei. - Efeito repristinatório previsto pela própria norma jurídica. *Informações retiradas do site www.dizerodireito.com.br Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece OBSERVAÇÕES ● PRINCÍPIO DA OBRIGATORIDADEDA NORMA: Segundo Tartuce (2020, p. 38/39), ninguém pode deixar de cumprir a lei alegando não a conhecer. Pontua o autor que “o princípio da obrigatoriedade das leis não pode ser visto como um preceito absoluto, havendo claro abrandamento no Código Civil de 2002. Isso porque o art. 139, inc. III, da codificação material em vigor admite a existência de erro substancial quando a falsa noção estiver relacionada com um erro de direito (error iuris), desde que este seja única causa para a celebração de um negócio jurídico e que não haja desobediência à lei. Alerte-se, em complemento, que a Lei de Contravenções Penais já previa o erro de direito como justificativa para o descumprimento da norma (art. 8.º)”. ● PRESUNÇÃO RELATIVA DE CONHECIMENTO DAS NORMAS: admite-se a arguição de desconhecimento da norma de forma excepcional. Exemplos: 4 - artigo 8 da Lei de Contravenções Penais: no caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusáveis, a pena deixa de ser aplicada; - artigo 65, II, CP: atenuante de desconhecimento da lei; - artigo 139, III, Código Civil: erro substancial. CORRENTES DOUTRINÁRIAS QUE PROCURAM JUSTIFICAR O CONTEÚDO DA NORMA5 TEORIA DA FICÇÃO LEGAL A obrigatoriedade foi instituída pelo ordenamento para a segurança jurídica TEORIA DA PRESUNÇÃO ABSOLUTA Haveria uma dedução iure et de iure de que todos conhecem as leis TEORIA DA NECESSIDADE SOCIAL Amparada, segundo Maria Helena Diniz, na premissa “de que as normas devem ser conhecidas para que melhor sejam observadas”, a gerar o princípio da vigência sincrônica da lei Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. OBSERVAÇÕES ● O art. 4° traz FORMAS DE INTEGRAÇÃO (COLMATAÇÃO) DA NORMA JURÍDICA. CLASSIFICAÇÃO DAS LACUNAS6 LACUNA NORMATIVA ausência total de norma prevista para um determinado caso concreto. LACUNA ONTOLÓGICA presença de norma para o caso concreto, mas que não tenha eficácia social. LACUNA AXIOLÓGICA presença de norma para o caso concreto, mas cuja aplicação seja insatisfatória ou injusta. LACUNA DE CONFLITO OU ANTINOMIA choque de duas ou mais normas válidas, pendente de solução no caso concreto. ● A ordem prevista no art. 4° é de observância obrigatória? 6 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág. 41 5 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020 5 VISÃO CLÁSSICA Sim, a ordem prevista no art. 4° da LINDB é de observância obrigatória (Silvio Rodrigues). VISÃO MODERNA Segundo Tartuce (2020, p.41), “até pode-se afirmar que essa continua sendo a regra (observância obrigatória da ordem), mas nem sempre o respeito a essa ordem deverá ocorrer, diante da força normativa e coercitiva dos princípios, notadamente daqueles de índole constitucional”. ● ANALOGIA: “é a aplicação de uma norma próxima ou de um conjunto de normas próximas, não havendo uma norma prevista para um determinado caso concreto.7” CLASSIFICAÇÃO DA ANALOGIA7 ANALOGIA LEGAL OU LEGIS a aplicação de somente uma norma próxima, como ocorre nos exemplos citados. ANALOGIA JURÍDICA OU IURIS é a aplicação de um conjunto de normas próximas, extraindo elementos que possibilitem a analogia NÃO CONFUNDA8 ANALOGIA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA rompe-se com os limites do que está previsto na norma, havendo integração da norma jurídica. apenas amplia-se o seu sentido, havendo subsunção. OBS: as normas de exceção ou normas excepcionais não admitem analogia ou interpretação extensiva ● COSTUMES/CONSUETUDO: Segundo Tartuce (2020, p. 46), SÃO “práticas e usos reiterados com conteúdo lícito e relevância jurídica”. Requisitos para aplicação (Limongi França): continuidade; uniformidade; diuturnidade; moralidade; obrigatoriedade. CLASSIFICAÇÃO DOS COSTUMES8 COSTUMES SEGUNDO A LEI (SECUNDUM LEGEM) Incidem quando há referência expressa aos costumes no texto legal. Na aplicação dos costumes secundum legem, não há integração, mas subsunção, eis que a própria norma jurídica é que é aplicada. 8 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág. 45 7 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág. 43/44 6 COSTUMES NA FALTA DA LEI (PRAETER LEGEM) Aplicados quando a lei for omissa, sendo denominado costume integrativo, eis que ocorre a utilização propriamente dita dessa ferramenta de correção do sistema. COSTUMES CONTRA A LEI (CONTRA LEGEM) Incidem quando a aplicação dos costumes contraria o que dispõe a lei. Não há que se falar em integração ● COSTUME JUDICIÁRIO OU JURISPRUDENCIAL: segundo Tartuce (2020, p. 47), a jurisprudência consolidada pode constituir elemento integrador do costume, a exemplo dos entendimentos sumulados. ● PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO: para Nelson Nery Jr “são regras de conduta que norteiam o juiz na interpretação da norma, do ato ou negócio jurídico. Os princípios gerais de direito não se encontram positivados no sistema normativo. São regras estáticas que carecem de concreção”.9 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CC/029 PRINCÍPIO DA ETICIDADE valorização da ética e da boa-fé, principalmente daquela que existe no plano da conduta de lealdade das partes (boa-fé objetiva). FUNÇÕES DA BOA-FÉ OBJETIVA: - INTERPRETATIVA: tem função de interpretação dos negócios jurídicos em geral (art. 113 do CC). - CONTROLE: serve ainda como controle das condutas humanas, eis que a sua violação pode gerar o abuso de direito, nova modalidade de ilícito (art. 187). - INTEGRATIVA: tem a função de integrar todas as fases pelas quais passa o contrato (art. 422 do CC). PRINCÍPIO DA SOCIALIDADE Impõe prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, respeitando os direitos fundamentais da pessoa humana. Ex: princípio da função social do contrato, da propriedade. PRINCÍPIO DA OPERABILIDADE Impõe soluções viáveis, operáveis e sem grandes dificuldades na aplicação do direito. A regra tem que ser aplicada de modo simples. Exemplo: princípio da concretude pelo qual deve-se pensar em solucionar o caso concreto de maneira mais efetiva. ● EQUIDADE: “uso do bom senso, a justiça do caso particular, mediante a adaptação razoável da lei ao caso concreto”. VISÃO CLÁSSICA Segundo Tartuce (2020, p. 54), “era tratada não como um meio de suprir a lacuna da lei, mas sim como um mero meio de auxiliar nessa missão.” 9 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág. 50 7 VISÃO MODERNA A equidade deve ser considerada fonte informal ou indireta do direito. CLASSIFICAÇÃO DA EQUIDADE10 LEGAL Aquela cuja aplicação está prevista no próprio texto legal. JUDICIAL Presente quando a lei determina que o magistrado deve decidir por equidade o caso concreto. Art. 140, Parágrafo único, CPC/15. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei. JULGAR POR EQUIDADE10 “significaria desconsiderar as regras e normas jurídicas, decidindo-se com outras regras. A título de exemplo, o julgador decide com base em máximas econômicas, como a teoria dos jogos” JULGAR COM EQUIDADE “tem o sentido de decidir-se de acordo com a justiça do caso concreto.” Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ATO JURÍDICO PERFEITO o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se ADQUIRIDOS assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Chama-se COISA JULGADA ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. OBSERVAÇÕES ● APLICAÇÃO DA LEI NOTEMPO OU DIREITO INTERTEMPORAL: A lei, em regra, é irretroativa. Para retroagir, tem que ter previsão legal, mas esta retroação não pode alcançar o fato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. ● A PROTEÇÃO DO DIREITO ADQUIRIDO, DO ATO JURÍDICO PERFEITO E DA COISA JULGADA É ABSOLUTA? Não, diante da forte tendência de relativizar princípios e regras em sede de Direito (Tartuce, 2020, p. 58). Ex: relativização da coisa julgada nas ações de investigação de paternidade julgadas improcedentes por ausência de provas em momento em que não existia o exame de DNA. Deve ser relativizada a coisa julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade em que não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes, em decorrência da não realização do exame de DNA, meio de 10 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág. 55 8 prova que pode fornecer segurança quase absoluta quanto à existência de tal vínculo. STF. Plenário. RE 363889, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 02/06/2011 (repercussão geral)11 Segundo Tartuce (2020, p. 60), “quanto à relativização de proteção do direito adquirido e do ato jurídico perfeito, o Código Civil em vigor, contrariando a regra de proteção apontada, traz, nas suas disposições finais transitórias, dispositivo polêmico, pelo qual os preceitos relacionados com a função social dos contratos e da propriedade podem ser aplicados às convenções e negócios celebrados na vigência do Código Civil anterior, mas cujos efeitos têm incidência na vigência da nova codificação material.” Art. 2.035, CC. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar os preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. “O dispositivo consagra o PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE MOTIVADA OU JUSTIFICADA, pelo qual as normas de ordem pública relativas à função social da propriedade e dos contratos podem retroagir” (2020, p. 60). ANTINOMIAS OU LACUNAS DE CONFLITO, segundo Tartuce (2020, p. 78), “a antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em determinado caso concreto (lacunas de colisão)”. ANTINOMIA APARENTE situação que pode ser resolvida de acordo com os metacritérios. ANTINOMIA REAL situação que não pode ser resolvida de acordo com os metacritérios. METACRITÉRIOS CLÁSSICOS DE BOBBIO12 CRITÉRIO CRONOLÓGICO norma posterior prevalece sobre norma anterior; CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE norma especial prevalece sobre norma geral; CRITÉRIO HIERÁRQUICO norma superior prevalece sobre norma inferior. CLASSIFICAÇÃO DAS ANTINOMIAS QUANTO AOS METACRITÉRIOS ENVOLVIDOS12 ANTINOMIA DE 1.º GRAU Conflito de normas que envolve apenas um dos critérios 12 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág. 78 11 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em regra, é possível a relativização da coisa julgada formada em ação de investigação de paternidade julgada sem DNA. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f1ababf130ee6a25f12da7478af8f1ac>. 9 anteriormente expostos. - Norma posterior x norma anterior: norma posterior prevalece (critério cronológico); - Norma especial x norma geral: prevalece a especial (critério da especialidade); - Norma superior x norma inferior: prevalece a norma superior (critério hierárquico). ANTINOMIA DE 2.º GRAU Choque de normas válidas que envolve dois dos critérios analisados. - Norma especial anterior x norma geral posterior: prevalece o critério da especialidade; - Norma superior anterior x norma inferior posterior: prevalece o critério hierárquico; - Norma geral superior x norma especial e inferior: antinomia real. Segundo Maria Helena Diniz, não será possível estabelecer uma metarregra geral, não existindo prevalência entre os critérios. Soluções possíveis: - Solução do Poder Legislativo: edição de uma terceira norma, prevendo qual das normas em conflito deverá ser aplicada; - Solução do Poder Judiciário: adoção do princípio máximo de justiça, cabendo ao magistrado, com amparo no art. 4°e 5° da LINDB c/c art. 8° do CPC/15, adotar uma das normas, para solucionar o problema em questão. Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei. ● TEORIA DO REENVIO/ DO RETORNO/ DA DEVOLUÇÃO13: é uma forma de interpretação de normas do Direito Internacional Privado, de forma que haja substituição da lei nacional pela lei estrangeira, de modo pelo qual seja desprezado o elemento de conexão da ordenação nacional, dando preferência ao apontado pelo ordenamento jurídico alienígena. Esse instituto é utilizado sempre que ocorrer problemas nas interpretações de ordem internacional, servindo como meio importante de resolução de conflitos, e sempre que for necessário que o juiz aplique direito estrangeiro. O reenvio é uma interpretação que desconsidera a norma material da regra de conexão e aplica o direito internacional privado estrangeiro para chegar à nova norma material, geralmente de âmbito nacional. O reenvio pode ser dividido em 3 graus: 13http://sabendoodireito.blogspot.com/2013/12/reenvio-artigo-16.html?m=1 10 1° grau: consiste em dois países, onde o primeiro remete uma legislação ao segundo país, que por sua vez reenvia ao primeiro; 2° grau: compõe-se por três países, onde o primeiro envia sua legislação ao segundo que a reenvia ao terceiro; 3° grau: formado por quatro países, no qual o primeiro remete a legislação ao segundo, que por sua vez encaminha ao terceiro e finalmente reenvia ao quarto. Nesse sentido, o artigo 16 da LINDB proíbe o juiz nacional de aplicar o reenvio, cabendo apenas a aplicação do Direito Internacional Privado brasileiro para determinar o direito material cabível, ficando a cargo de estrangeiro, se houver, a aplicação do reenvio. LEI 13655/18 - REPERCUSSÕES PARA O DIREITO PÚBLICO As novas alterações operadas na LINDB foram feitas com a preocupação de mitigar alguns efeitos decorrentes da nova forma de enxergar a aplicação dos princípios (NORMATIVIDADE DOS PRINCÍPIOS). Uma das decorrências do Neoconstitucionalismo foi a aplicação desenfreada dos princípios em oposição às regras. Parcela da doutrina constitucionalista confronta veementemente essa postura dos aplicadores do Direito, sustentando que não podem os princípios serem aplicados afastando as regras vigentes quando estas são de clara aplicação ao caso concreto. Assim, as novas alterações na LINDB vieram para amenizar estes efeitos no âmbito do poder público trazendo como pilares da mudança a NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO E MOTIVAÇÃO e o CONSEQUENCIALISMO JURÍDICO. ● BUSCA DA SEGURANÇA HERMENÊUTICA: “consagra o dever de motivação concreta e a responsabilidade decisória dos gestores dos interesses públicos ao julgarem sobre questões que lhe são levadas a análise”14. ● CONSEQUENCIALISMO: “O consequencialismo foi introduzido no ordenamento brasileiro com a edição da Lei nº 13.655/18, que alterou a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) para trazer ‘segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito público’”15. Dever de observar as consequências prática da decisão. ● PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE DA REGULARIZAÇÃO: A decisão não poderá impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos (art. 21, parágrafo único). Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão. Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida impostaou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas. 15 https://www.conjur.com.br/2020-ago-05/rocha-lima-consequencialismo-artigo-20-lindb#:~:text=O%20consequencialismo%20foi%20introduzido %20no,na%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20p%C3%BAblico%22. 14 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág. 83. 11 Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e administrativas. Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos. ● INVALIDADE REFERENCIAL: Segundo Tartuce (2020, p. 86), “expressão referencial é utilizada pela necessidade de verificar as normas vigentes à época do reconhecimento da invalidade, na contramão do que está previsto no art. 2.035, caput, do Código Civil de 2002: ‘a validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução’.” Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas. Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público. ● INFRAÇÃO HERMENÊUTICA: responsabilização do agente público por infração às normas de interpretação. Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro. 12