Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

DECRETO-LEI Nº 4.657/42: LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO
DIREITO BRASILEIRO (LINDB).
INTRODUÇÃO 1
PONTOS IMPORTANTES 1
INTRODUÇÃO
Antes denominada de Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), passou, em 2010, a ser chamada de LINDB, por
força da Lei 12.376/10. A mudança deu-se em razão de a LINDB não ser dirigida apenas Direito Civil, mas a todos os
ramos do Direito.
Segundo Flávio Tartuce1, a LINDB é uma norma de SOBREDIREITO, ou seja, uma norma jurídica que visa a
regulamentar outras normas (leis sobre leis ou lex legum).
As normas jurídicas são dirigidas a todos (GENERALIDADE), mas a LINDB é dirigida ao legislador e ao aplicador
do Direito (a exemplo do juiz). Isso fica claro pela redação dos Arts. 4º e 5º.
Tem caráter universal, sendo aplicada a todos os ramos do direito (é lei de introdução às normas do Direito
brasileiro), salvo naqueles pontos em que há regulamentação específica, a exemplo do Direito material Penal, no
qual não é possível a analogia in malam partem.
Dessa forma, percebe-se que, enquanto as demais normas têm como objeto o comportamento humano, a LINDB
tem como objeto a própria norma.
PONTOS IMPORTANTES
VIGÊNCIA DAS NORMAS (EFEITOS/EFICÁCIA)
Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias (vacatio
legis) depois de oficialmente publicada.
§ 1o Nos Estados estrangeiros a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se
inicia 3 meses (não confundir com 90 dias) depois de oficialmente publicada.
§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada
a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova
publicação.
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
1 Tartuce, Flávio Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020, pag. 29.
1
http://www.a-pdf.com/?tr-demo
OBSERVAÇÕES
PROMULGAÇÃO
É o instrumento que declara a existência da lei e ordena sua execução2.
Ganha existência e validade. Revela o momento existencial da norma. Ato pelo qual a
norma é autenticada pelo Poder Executivo.
PUBLICAÇÃO
É com a publicação da lei que esta se torna obrigatória. Com a publicação, os cidadãos
são informados sobre a existência da nova norma jurídica e ninguém pode alegar
desconhecimento da lei para não cumpri-la. A publicação é o complemento da
promulgação e, normalmente, a lei entra em vigor a partir da data em que é publicada2.
VACATIO LEGIS
Correspondendo ao período entre a data da publicação de uma lei e o início de sua
vigência. Existe para que haja prazo de assimilação do conteúdo de uma nova lei e,
durante tal vacância, continua vigorando a lei antiga. A vacatio legis vem expressa em
artigo no final da lei da seguinte forma: "esta lei entra em vigor após decorridos (o
número de) dias de sua publicação oficial"2.
ATENÇÃO: Decretos e regulamentos executivos não possuem vacatio legis.
● Apenas normas de pequena repercussão social podem ter vigência imediata, na data de sua publicação.
Art. 8o LC 95: A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar
prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula
"entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão.
● Entretanto, nada impede que a própria norma declare outro prazo de vacatio legis, como o Código Civil,
que autodeclarou o prazo de 1 ano.
● Atos administrativos não seguem essa regra, apenas as leis.
● Contagem do prazo da vacatio legis:
Art. 8o, § 1o,LC 95: A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam
período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do
prazo, entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação integral.
Não confundir com a contagem dos prazos processuais.
Art. 224, CPC/15. Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados excluindo o
dia do começo e incluindo o dia do vencimento.
2 Fonte: Agência Senado
2
● NORMA CORRETIVA: Segundo Tartuce (2020, p. 34), é aquela que existe para afastar equívocos
importantes cometidos pelo texto legal, sendo certo que as correções do texto de lei já em vigor devem ser
consideradas como lei nova” - art. 1°, §3°.
● PRINCÍPIO DA VIGÊNCIA SINCRÔNICA: a obrigatoriedade da lei é simultânea, porque entra em vigor a um
só tempo em todo o país, ou seja, 45 dias após sua publicação, não havendo data estipulada para sua
entrada em vigor.3
Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue [PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE OU PERMANÊNCIA]
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja
com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior.
§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes,
NÃO REVOGA NEM MODIFICA a lei anterior.
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada NÃO SE RESTAURA por ter a lei
revogadora perdido a vigência. (REPRISTINAÇÃO)
OBSERVAÇÕES
● PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE OU PERMANÊNCIA: Segundo Tartuce (2020, p.34), a norma, a partir da
sua entrada em vigor, tem eficácia contínua, até que outra a modifique ou revogue.
● Meio para retirar a vigência da norma: REVOGAÇÃO.
QUANTO À EXTENSÃO4
REVOGAÇÃO TOTAL OU
AB-ROGAÇÃO
“Ocorre quando se torna sem efeito uma norma de
forma integral, com a supressão total do seu texto
por uma norma emergente”
REVOGAÇÃO PARCIAL OU
DERROGAÇÃO
“Uma lei nova torna sem efeito parte de uma lei
anterior.”
QUANTO AO MODO
REVOGAÇÃO EXPRESSA
(OU POR VIA DIRETA)
“Situação em que a lei nova taxativamente declara
revogada a lei anterior ou aponta os dispositivos
que pretende retirar.”
Art. 9º, LC 95/98. A cláusula de revogação
deverá enumerar, expressamente, as leis ou
disposições legais revogadas.
REVOGAÇÃO TÁCITA (OU
POR VIA OBLÍQUA OU
INDIRETA)
“Situação em que a lei posterior é incompatível
com a anterior, não havendo previsão expressa no
texto a respeito da sua revogação”
4 Tartuce, Flávio Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020, pag.
35/36.
3 https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/165164/em-que-consiste-o-principio-da-vigencia-sincronica-denise-cristina-mantovani-cera
3
● Ordenamento brasileiro não admite o DESUETUDO (revogação pelos costumes).
● EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA NORMA:
a) NORMA TEMPORÁRIA: já nasce com data limite de vigência.
b) NORMA CIRCUNSTANCIAL: somente vige durante determinada circunstância.
● ULTRATIVIDADE OU PÓS-ATIVIDADE (PÓS-EFICÁCIA) NORMATIVA: lei produz seus efeitos mesmo depois
de revogada. Excepcionalmente a lei já revogada é aplicada.
● ADMITE-SE A REPRISTINAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO?
REPRISTINAÇÃO
É um fenômeno legislativo no qual há a entrada novamente em vigor de uma norma efetivamente revogada,
pela revogação da norma que a revogou.
A repristinação deve ser expressa dada a dicção do artigo 2º, § 3º da LICC
EFEITO REPRISTINATÓRIO / REPRISTINAÇÃO OBLÍQUA OU INDIRETA
É a reentrada em vigor de norma aparentemente revogada, ocorrendo quando uma norma que a revogou é
declarada inconstitucional.
STF: “A declaração de inconstitucionalidade em tese encerra um juízo de exclusão, que, fundado numa
competência de rejeição deferida ao STF, consiste em remover do ordenamento positivo a manifestação estatal
inválida e desconforme ao modelo plasmado na Carta Política, com todas as consequências daí decorrentes,
inclusive a plena restauração de eficácia das leis e das normas afetadas pelo ato declarado
inconstitucional.”
Segundo Tartuce (2020, p. 37), existem duas possíveis situações:
- Efeito repristinatório decorre da declaração de inconstitucionalidade da lei.
- Efeito repristinatório previsto pela própria norma jurídica.
*Informações retiradas do site www.dizerodireito.com.br
Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece
OBSERVAÇÕES
● PRINCÍPIO DA OBRIGATORIDADEDA NORMA: Segundo Tartuce (2020, p. 38/39), ninguém pode deixar de
cumprir a lei alegando não a conhecer. Pontua o autor que “o princípio da obrigatoriedade das leis não
pode ser visto como um preceito absoluto, havendo claro abrandamento no Código Civil de 2002. Isso
porque o art. 139, inc. III, da codificação material em vigor admite a existência de erro substancial
quando a falsa noção estiver relacionada com um erro de direito (error iuris), desde que este seja
única causa para a celebração de um negócio jurídico e que não haja desobediência à lei. Alerte-se, em
complemento, que a Lei de Contravenções Penais já previa o erro de direito como justificativa para o
descumprimento da norma (art. 8.º)”.
● PRESUNÇÃO RELATIVA DE CONHECIMENTO DAS NORMAS: admite-se a arguição de desconhecimento da
norma de forma excepcional. Exemplos:
4
- artigo 8 da Lei de Contravenções Penais: no caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando
escusáveis, a pena deixa de ser aplicada;
- artigo 65, II, CP: atenuante de desconhecimento da lei;
- artigo 139, III, Código Civil: erro substancial.
CORRENTES DOUTRINÁRIAS QUE PROCURAM JUSTIFICAR O CONTEÚDO DA NORMA5
TEORIA DA FICÇÃO LEGAL
A obrigatoriedade foi instituída pelo ordenamento para a
segurança jurídica
TEORIA DA PRESUNÇÃO ABSOLUTA
Haveria uma dedução iure et de iure de que todos conhecem
as leis
TEORIA DA NECESSIDADE SOCIAL
Amparada, segundo Maria Helena Diniz, na premissa “de que
as normas devem ser conhecidas para que melhor sejam
observadas”, a gerar o princípio da vigência sincrônica da lei
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
OBSERVAÇÕES
● O art. 4° traz FORMAS DE INTEGRAÇÃO (COLMATAÇÃO) DA NORMA JURÍDICA.
CLASSIFICAÇÃO DAS LACUNAS6
LACUNA NORMATIVA ausência total de norma prevista para um determinado caso concreto.
LACUNA ONTOLÓGICA
presença de norma para o caso concreto, mas que não tenha eficácia
social.
LACUNA AXIOLÓGICA
presença de norma para o caso concreto, mas cuja aplicação seja
insatisfatória ou injusta.
LACUNA DE CONFLITO OU
ANTINOMIA
choque de duas ou mais normas válidas, pendente de solução no caso
concreto.
● A ordem prevista no art. 4° é de observância obrigatória?
6 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág.
41
5 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020
5
VISÃO CLÁSSICA
Sim, a ordem prevista no art. 4° da LINDB é de observância obrigatória
(Silvio Rodrigues).
VISÃO MODERNA
Segundo Tartuce (2020, p.41), “até pode-se afirmar que essa continua
sendo a regra (observância obrigatória da ordem), mas nem sempre o
respeito a essa ordem deverá ocorrer, diante da força normativa e
coercitiva dos princípios, notadamente daqueles de índole
constitucional”.
● ANALOGIA: “é a aplicação de uma norma próxima ou de um conjunto de normas próximas, não havendo
uma norma prevista para um determinado caso concreto.7”
CLASSIFICAÇÃO DA ANALOGIA7
ANALOGIA LEGAL OU LEGIS
a aplicação de somente uma norma próxima, como ocorre nos exemplos
citados.
ANALOGIA JURÍDICA OU IURIS
é a aplicação de um conjunto de normas próximas, extraindo elementos que
possibilitem a analogia
NÃO CONFUNDA8
ANALOGIA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
rompe-se com os limites do que está previsto na
norma, havendo integração da norma jurídica.
apenas amplia-se o seu sentido, havendo subsunção.
OBS: as normas de exceção ou normas excepcionais não admitem analogia ou interpretação extensiva
● COSTUMES/CONSUETUDO: Segundo Tartuce (2020, p. 46), SÃO “práticas e usos reiterados com conteúdo
lícito e relevância jurídica”. Requisitos para aplicação (Limongi França): continuidade; uniformidade;
diuturnidade; moralidade; obrigatoriedade.
CLASSIFICAÇÃO DOS COSTUMES8
COSTUMES SEGUNDO A LEI
(SECUNDUM LEGEM)
Incidem quando há referência expressa aos costumes no texto legal.
Na aplicação dos costumes secundum legem, não há integração, mas
subsunção, eis que a própria norma jurídica é que é aplicada.
8 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág.
45
7 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág.
43/44
6
COSTUMES NA FALTA DA LEI
(PRAETER LEGEM)
Aplicados quando a lei for omissa, sendo denominado costume
integrativo, eis que ocorre a utilização propriamente dita dessa
ferramenta de correção do sistema.
COSTUMES CONTRA A LEI
(CONTRA LEGEM)
Incidem quando a aplicação dos costumes contraria o que dispõe a lei.
Não há que se falar em integração
● COSTUME JUDICIÁRIO OU JURISPRUDENCIAL: segundo Tartuce (2020, p. 47), a jurisprudência consolidada
pode constituir elemento integrador do costume, a exemplo dos entendimentos sumulados.
● PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO: para Nelson Nery Jr “são regras de conduta que norteiam o juiz na
interpretação da norma, do ato ou negócio jurídico. Os princípios gerais de direito não se encontram
positivados no sistema normativo. São regras estáticas que carecem de concreção”.9
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CC/029
PRINCÍPIO DA
ETICIDADE
valorização da ética e da boa-fé, principalmente daquela que existe no plano da conduta
de lealdade das partes (boa-fé objetiva).
FUNÇÕES DA BOA-FÉ OBJETIVA:
- INTERPRETATIVA: tem função de interpretação dos negócios jurídicos em geral
(art. 113 do CC).
- CONTROLE: serve ainda como controle das condutas humanas, eis que a sua
violação pode gerar o abuso de direito, nova modalidade de ilícito (art. 187).
- INTEGRATIVA: tem a função de integrar todas as fases pelas quais passa o
contrato (art. 422 do CC).
PRINCÍPIO DA
SOCIALIDADE
Impõe prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, respeitando os direitos
fundamentais da pessoa humana. Ex: princípio da função social do contrato, da
propriedade.
PRINCÍPIO DA
OPERABILIDADE
Impõe soluções viáveis, operáveis e sem grandes dificuldades na aplicação do
direito. A regra tem que ser aplicada de modo simples. Exemplo: princípio da
concretude pelo qual deve-se pensar em solucionar o caso concreto de maneira mais
efetiva.
● EQUIDADE: “uso do bom senso, a justiça do caso particular, mediante a adaptação razoável da lei ao caso
concreto”.
VISÃO CLÁSSICA
Segundo Tartuce (2020, p. 54), “era tratada não como um meio de suprir a
lacuna da lei, mas sim como um mero meio de auxiliar nessa missão.”
9 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020,pág.
50
7
VISÃO MODERNA A equidade deve ser considerada fonte informal ou indireta do direito.
CLASSIFICAÇÃO DA EQUIDADE10
LEGAL Aquela cuja aplicação está prevista no próprio texto legal.
JUDICIAL
Presente quando a lei determina que o magistrado deve decidir por
equidade o caso concreto.
Art. 140, Parágrafo único, CPC/15. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
JULGAR POR EQUIDADE10
“significaria desconsiderar as regras e normas jurídicas, decidindo-se com
outras regras. A título de exemplo, o julgador decide com base em
máximas econômicas, como a teoria dos jogos”
JULGAR COM EQUIDADE “tem o sentido de decidir-se de acordo com a justiça do caso concreto.”
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
§ 1º Reputa-se ATO JURÍDICO PERFEITO o já consumado segundo a lei vigente ao
tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se ADQUIRIDOS assim os direitos que o seu titular, ou alguém por
ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou
condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama-se COISA JULGADA ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba
recurso.
OBSERVAÇÕES
● APLICAÇÃO DA LEI NOTEMPO OU DIREITO INTERTEMPORAL: A lei, em regra, é irretroativa. Para
retroagir, tem que ter previsão legal, mas esta retroação não pode alcançar o fato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
● A PROTEÇÃO DO DIREITO ADQUIRIDO, DO ATO JURÍDICO PERFEITO E DA COISA JULGADA É ABSOLUTA? Não,
diante da forte tendência de relativizar princípios e regras em sede de Direito (Tartuce, 2020, p. 58). Ex:
relativização da coisa julgada nas ações de investigação de paternidade julgadas improcedentes por
ausência de provas em momento em que não existia o exame de DNA.
Deve ser relativizada a coisa julgada estabelecida em ações de investigação de
paternidade em que não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo
genético a unir as partes, em decorrência da não realização do exame de DNA, meio de
10 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2020,pág. 55
8
prova que pode fornecer segurança quase absoluta quanto à existência de tal vínculo.
STF. Plenário. RE 363889, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 02/06/2011 (repercussão
geral)11
Segundo Tartuce (2020, p. 60), “quanto à relativização de proteção do direito adquirido e do ato jurídico
perfeito, o Código Civil em vigor, contrariando a regra de proteção apontada, traz, nas suas disposições
finais transitórias, dispositivo polêmico, pelo qual os preceitos relacionados com a função social dos
contratos e da propriedade podem ser aplicados às convenções e negócios celebrados na vigência do
Código Civil anterior, mas cujos efeitos têm incidência na vigência da nova codificação material.”
Art. 2.035, CC. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar os preceitos de ordem
pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da
propriedade e dos contratos.
“O dispositivo consagra o PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE MOTIVADA OU JUSTIFICADA, pelo qual as
normas de ordem pública relativas à função social da propriedade e dos contratos podem retroagir” (2020,
p. 60).
ANTINOMIAS OU LACUNAS DE CONFLITO, segundo Tartuce (2020, p. 78), “a antinomia é a presença de duas
normas conflitantes, válidas e emanadas de autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas
merecerá aplicação em determinado caso concreto (lacunas de colisão)”.
ANTINOMIA APARENTE situação que pode ser resolvida de acordo com os metacritérios.
ANTINOMIA REAL situação que não pode ser resolvida de acordo com os metacritérios.
METACRITÉRIOS CLÁSSICOS DE BOBBIO12
CRITÉRIO CRONOLÓGICO norma posterior prevalece sobre norma anterior;
CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE norma especial prevalece sobre norma geral;
CRITÉRIO HIERÁRQUICO norma superior prevalece sobre norma inferior.
CLASSIFICAÇÃO DAS ANTINOMIAS QUANTO AOS METACRITÉRIOS ENVOLVIDOS12
ANTINOMIA DE 1.º GRAU Conflito de normas que envolve apenas um dos critérios
12 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2020,pág. 78
11 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em regra, é possível a relativização da coisa julgada formada em ação de investigação de paternidade
julgada sem DNA. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f1ababf130ee6a25f12da7478af8f1ac>.
9
anteriormente expostos.
- Norma posterior x norma anterior: norma posterior prevalece
(critério cronológico);
- Norma especial x norma geral: prevalece a especial (critério da
especialidade);
- Norma superior x norma inferior: prevalece a norma superior
(critério hierárquico).
ANTINOMIA DE 2.º GRAU
Choque de normas válidas que envolve dois dos critérios analisados.
- Norma especial anterior x norma geral posterior: prevalece o
critério da especialidade;
- Norma superior anterior x norma inferior posterior: prevalece
o critério hierárquico;
- Norma geral superior x norma especial e inferior: antinomia
real. Segundo Maria Helena Diniz, não será possível
estabelecer uma metarregra geral, não existindo prevalência
entre os critérios. Soluções possíveis:
- Solução do Poder Legislativo: edição de uma terceira
norma, prevendo qual das normas em conflito deverá
ser aplicada;
- Solução do Poder Judiciário: adoção do princípio
máximo de justiça, cabendo ao magistrado, com
amparo no art. 4°e 5° da LINDB c/c art. 8° do CPC/15,
adotar uma das normas, para solucionar o problema
em questão.
Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei
estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer
remissão por ela feita a outra lei.
● TEORIA DO REENVIO/ DO RETORNO/ DA DEVOLUÇÃO13: é uma forma de interpretação de normas do
Direito Internacional Privado, de forma que haja substituição da lei nacional pela lei estrangeira, de
modo pelo qual seja desprezado o elemento de conexão da ordenação nacional, dando preferência ao
apontado pelo ordenamento jurídico alienígena.
Esse instituto é utilizado sempre que ocorrer problemas nas interpretações de ordem internacional,
servindo como meio importante de resolução de conflitos, e sempre que for necessário que o juiz
aplique direito estrangeiro.
O reenvio é uma interpretação que desconsidera a norma material da regra de conexão e aplica o direito
internacional privado estrangeiro para chegar à nova norma material, geralmente de âmbito nacional.
O reenvio pode ser dividido em 3 graus:
13http://sabendoodireito.blogspot.com/2013/12/reenvio-artigo-16.html?m=1
10
1° grau: consiste em dois países, onde o primeiro remete uma legislação ao segundo país, que por sua vez
reenvia ao primeiro;
2° grau: compõe-se por três países, onde o primeiro envia sua legislação ao segundo que a reenvia ao
terceiro;
3° grau: formado por quatro países, no qual o primeiro remete a legislação ao segundo, que por sua vez
encaminha ao terceiro e finalmente reenvia ao quarto.
Nesse sentido, o artigo 16 da LINDB proíbe o juiz nacional de aplicar o reenvio, cabendo apenas a
aplicação do Direito Internacional Privado brasileiro para determinar o direito material cabível, ficando a
cargo de estrangeiro, se houver, a aplicação do reenvio.
LEI 13655/18 - REPERCUSSÕES PARA O DIREITO PÚBLICO
As novas alterações operadas na LINDB foram feitas com a preocupação de mitigar alguns efeitos decorrentes da
nova forma de enxergar a aplicação dos princípios (NORMATIVIDADE DOS PRINCÍPIOS). Uma das decorrências do
Neoconstitucionalismo foi a aplicação desenfreada dos princípios em oposição às regras. Parcela da doutrina
constitucionalista confronta veementemente essa postura dos aplicadores do Direito, sustentando que não podem
os princípios serem aplicados afastando as regras vigentes quando estas são de clara aplicação ao caso concreto.
Assim, as novas alterações na LINDB vieram para amenizar estes efeitos no âmbito do poder público trazendo
como pilares da mudança a NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO E MOTIVAÇÃO e o CONSEQUENCIALISMO
JURÍDICO.
● BUSCA DA SEGURANÇA HERMENÊUTICA: “consagra o dever de motivação concreta e a responsabilidade
decisória dos gestores dos interesses públicos ao julgarem sobre questões que lhe são levadas a análise”14.
● CONSEQUENCIALISMO: “O consequencialismo foi introduzido no ordenamento brasileiro com a edição da
Lei nº 13.655/18, que alterou a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) para trazer
‘segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito público’”15. Dever de observar as
consequências prática da decisão.
● PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE DA REGULARIZAÇÃO: A decisão não poderá impor aos sujeitos
atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos (art.
21, parágrafo único).
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base
em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas
da decisão.
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida
impostaou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa,
inclusive em face das possíveis alternativas.
15
https://www.conjur.com.br/2020-ago-05/rocha-lima-consequencialismo-artigo-20-lindb#:~:text=O%20consequencialismo%20foi%20introduzido
%20no,na%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20p%C3%BAblico%22.
14 Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2020,pág. 83.
11
Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar
a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar
de modo expresso suas consequências jurídicas e administrativas.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o
caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e
equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos
atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam anormais
ou excessivos.
● INVALIDADE REFERENCIAL: Segundo Tartuce (2020, p. 86), “expressão referencial é utilizada pela
necessidade de verificar as normas vigentes à época do reconhecimento da invalidade, na
contramão do que está previsto no art. 2.035, caput, do Código Civil de 2002: ‘a validade dos negócios e
demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis
anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos
preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução’.”
Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à
validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já
se houver completado levará em conta as orientações gerais da época, sendo
vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se declarem
inválidas situações plenamente constituídas.
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações
contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou
administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática administrativa reiterada e de
amplo conhecimento público.
● INFRAÇÃO HERMENÊUTICA: responsabilização do agente público por infração às normas de
interpretação.
Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões
técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro.
12

Mais conteúdos dessa disciplina