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<p>Curso de Graduação a Distância</p><p>Filosofia</p><p>(02 créditos – 40 horas)</p><p>Autor:</p><p>Edson Luiz Xavier</p><p>Neimar Machado de Sousa</p><p>Conteúdo revisado pela equipe da UCDB Virtual</p><p>Universidade Católica Dom Bosco Virtual</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Missão Salesiana de Mato Grosso</p><p>2</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Universidade Católica Dom Bosco</p><p>Instituição Salesiana de Educação Superior</p><p>Chanceler: Pe. Ricardo Carlos</p><p>Reitor: Pe. José Marinoni</p><p>Pró-Reitora de Graduação e Extensão: Profa. Rubia Renata Marques</p><p>Diretor da UCDB Virtual: Prof. Jeferson Pistori</p><p>Coordenadora Pedagógica: Profa. Blanca Martín Salvago</p><p>Direitos desta edição reservados à Editora UCDB</p><p>Diretoria de Educação a Distância: (67) 3312-3335</p><p>www.virtual.ucdb.br</p><p>UCDB -Universidade Católica Dom Bosco</p><p>Av. Tamandaré, 6000 Jardim Seminário</p><p>Fone: (67) 3312-3800 Fax: (67) 3312-3302</p><p>CEP 79117-900 Campo Grande – MS</p><p>XAVIER, Edson Luiz; SOUSA, Neimar Machado de.</p><p>Filosofia / Edson Luiz Xavier; Neimar Machado de Sousa. 3. ed.</p><p>rev. e atual. Campo Grande: UCDB, 2024. 44 p.</p><p>Palavras-chave: 1. Filosofia 2. História da filosofia 3.</p><p>Introdução à filosofia</p><p>0724</p><p>3</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>APRESENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO</p><p>Este material foi elaborado pelo professor conteudista sob a orientação da equipe</p><p>multidisciplinar da UCDB Virtual, com o objetivo de lhe fornecer um subsídio didático que</p><p>norteie os conteúdos trabalhados nesta disciplina e que compõe o Projeto Pedagógico do</p><p>seu curso.</p><p>Elementos que integram o material</p><p>Critérios de avaliação: são as informações referentes aos critérios adotados para</p><p>a avaliação (formativa e somativa) e composição da média da disciplina.</p><p>Quadro de Controle de Atividades: trata-se de um quadro para você organizar a</p><p>realização e envio das atividades virtuais. Você pode fazer seu ritmo de estudo, sem ul-</p><p>trapassar o prazo máximo indicado pelo professor.</p><p>Conteúdo Desenvolvido: é o conteúdo da disciplina, com a explanação do pro-</p><p>fessor sobre os diferentes temas objeto de estudo.</p><p>Indicações de Leituras de Aprofundamento: são sugestões para que você</p><p>possa aprofundar no conteúdo. A maioria das leituras sugeridas são links da Internet para</p><p>facilitar seu acesso aos materiais.</p><p>Atividades Virtuais: atividades propostas, que marcarão um ritmo no seu estudo,</p><p>assim como as datas de envio, encontram-se no Ambiente Virtual de Aprendizagem.</p><p>Como tirar o máximo de proveito</p><p>Este material didático é mais um subsídio para seus estudos. Consulte outros</p><p>conteúdos e interaja com os outros participantes. Portanto, não se esqueça de:</p><p>· Interagir com frequência com os colegas e com o professor, usando as ferramentas</p><p>de comunicação e informação do Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA;</p><p>· Usar, além do material em mãos, os outros recursos disponíveis no AVA: aulas</p><p>audiovisuais, videoaulas, espaço interativo, etc.;</p><p>· Recorrer à equipe de tutoria sempre que precisar orientação sobre dúvidas quanto</p><p>a calendário, atividades, ferramentas do AVA, e outros;</p><p>· Ter uma rotina que lhe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas</p><p>necessidades como estudante, organize o seu tempo;</p><p>· Ter consciência de que você deve ser sujeito ativo no processo de sua aprendiza-</p><p>gem, contando com a ajuda e colaboração de todos.</p><p>4</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Objetivo Geral</p><p>Proporcionar ao educando uma formação humanística, despertando-o para uma</p><p>reflexão crítica de seu cotidiano, com a finalidade de sedimentar valores fundamentais para</p><p>seu amadurecimento enquanto homem, cidadão e futuro profissional.</p><p>CONTEÚDO PROGRAMÁTICO</p><p>UNIDADE 1 - DO QUE TRATA A FILOSOFIA ......................................................... 09</p><p>1.1 A filosofia ............................................................................................................ 09</p><p>1.2 O nascimento da filosofia ...................................................................................... 13</p><p>1.3 Filosofia e ciência ................................................................................................. 16</p><p>1.4 O que é filosofia ................................................................................................... 18</p><p>UNIDADE 2 - DO QUE NÃO TRATA A FILOSOFIA ................................................. 21</p><p>UNIDADE 3 – A NECESSIDADE DA FILOSOFIA .................................................... 28</p><p>3.1 A ética e Moral ..................................................................................................... 28</p><p>3.2 O agir ético-político .............................................................................................. 32</p><p>UNIDADE4 - PÓS-MODERNIDADE ...................................................................... 38</p><p>4.1 Pós-modernidade e seus conceitos ........................................................................ 38</p><p>REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 43</p><p>Avaliação</p><p>A UCDB Virtual acredita que avaliar é sinônimo de melhorar, isto é, a finalidade da</p><p>avaliação é propiciar oportunidades de ação-reflexão que façam com que você possa</p><p>aprofundar, refletir criticamente, relacionar ideias, etc.</p><p>A UCDB Virtual adota um sistema de avaliação continuada: além das provas no final de</p><p>cada módulo (avaliação somativa), será considerado também o desempenho do aluno ao longo</p><p>de cada disciplina (avaliação formativa), mediante a realização das atividades. Todo o processo</p><p>será avaliado, pois a aprendizagem é processual.</p><p>Para que se possa atingir o objetivo da avaliação formativa, é necessário que as</p><p>atividades sejam realizadas criteriosamente, atendendo ao que se pede e tentando sempre</p><p>exemplificar e argumentar, procurando relacionar a teoria estudada com a prática.</p><p>5</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>As atividades devem ser enviadas dentro do prazo estabelecido no calendário de</p><p>cada disciplina.</p><p>Critérios para composição da Média Semestral:</p><p>Para compor a Média Semestral da disciplina, leva-se em conta o desempenho</p><p>atingido na avaliação formativa e na avaliação somativa, isto é, as notas alcançadas nas</p><p>diferentes atividades virtuais e na prova, da seguinte forma: Somatória das notas recebidas</p><p>nas atividades virtuais, somada à nota da prova, dividido por 2.</p><p>Média Semestral: Somatória (Atividades Virtuais) + Nota da Prova / 2</p><p>Assim, se um aluno tirar 7 nas atividades e tiver 5 na prova: MS = 7 + 5 / 2 = 6</p><p>Atenção: o aluno pode conseguir um ponto adicional (Engajamento) na nota das</p><p>atividades virtuais. Para ganhar o ponto do engajamento, o estudante terá que percorrer</p><p>todo o material didático da disciplina (material textual e assistir a todos os vídeos), fazer</p><p>todos os Exercícios e enviar todas as atividades. Antes do lançamento desta nota final, será</p><p>divulgada a média de cada aluno, dando a oportunidade de que os alunos que não tenham</p><p>atingido média igual ou superior a 7,0 possam fazer a Recuperação das Atividades Virtuais.</p><p>Se a Média Semestral for igual ou superior a 4,0 e inferior a 7,0, o aluno ainda</p><p>poderá fazer o Exame Final. A média entre a nota do Exame Final e a Média Semestral</p><p>deverá ser igual ou superior a 5,0 para considerar o aluno aprovado na disciplina.</p><p>Assim, se um aluno tirar 6 na Média Semestral e tiver 5 no Exame Final: MF = 6 + 5</p><p>/ 2 = 5,5 (Aprovado).</p><p>6</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>FAÇA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES</p><p>O quadro abaixo visa ajudá-lo a se organizar na realização das atividades. Faça seu</p><p>cronograma e tenha um controle de suas atividades:</p><p>* Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada a atividade (consulte o</p><p>calendário disponível no ambiente virtual de aprendizagem).</p><p>** Coloque na terceira</p><p>coluna o dia em que você enviou a atividade.</p><p>AVALIAÇÃO PRAZO * DATA DE ENVIO **</p><p>Atividade 1</p><p>Ferramenta: Tarefa</p><p>Atividade 2</p><p>Ferramenta: Tarefa</p><p>Atividade 3</p><p>Ferramenta: Tarefa</p><p>7</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>BOAS VINDAS</p><p>Parabéns, prezado acadêmico, por esta louvável e ousada iniciativa de começar um</p><p>curso superior via internet. Você irá perceber ao longo do processo de formação que</p><p>existem dois grandes grupos de disciplinas. O primeiro com o enfoque na formação</p><p>humana, no qual está inserida a disciplina de filosofia e, um segundo grupo, vinculado à</p><p>formação técnica, específica da área. É nesta perspectiva que iremos trabalhar, buscando</p><p>proporcionar a você uma formação humano-filosófica, voltada para uma análise crítica de</p><p>nosso cotidiano, com a finalidade de sedimentar valores fundamentais para seu</p><p>amadurecimento enquanto homem, cidadão e futuro profissional.</p><p>Como você já deve ter percebido nestes anos de estudo na modalidade a distância,</p><p>a interação professor-aluno e aluno-aluno, é fundamental para garantir o sucesso. Espero</p><p>que caminhemos juntos e aprendamos juntos, fazendo entre todos um ambiente</p><p>colaborativo de aprendizagem. Conte comigo e com toda a equipe da EAD.</p><p>8</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Pré-teste</p><p>A finalidade deste pré-teste é fazer um diagnóstico quanto aos conhecimentos</p><p>prévios que você já tem sobre os assuntos que serão desenvolvidos nesta</p><p>disciplina. Não fique preocupado com a nota, pois não será pontuado.</p><p>1. Qual o significado da palavra filosofia?</p><p>a) Ciência das áreas humanas.</p><p>b) Amigo da sabedoria.</p><p>c) Estudo de todas as razões.</p><p>d) Reflexão sobre ética e moral.</p><p>2. Podemos resumir ética como:</p><p>a) Objeto de estudo da moral.</p><p>b) Moral aplicada a vida em sociedade.</p><p>c) Objeto de estudo da filosofia.</p><p>d) Comportamento esperado.</p><p>3. Filosofia é um estudo desenvolvido:</p><p>a) Apenas na Grécia.</p><p>b) Na Grécia e durante o Império Romano.</p><p>c) Na Europa até o fim da Idade Média quando virou ciência.</p><p>d) Em qualquer lugar do mundo.</p><p>Submeta o Pré-teste por meio da ferramenta Questionário.</p><p>9</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>UNIDADE 1</p><p>DO QUE TRATA A FILOSOFIA</p><p>OBJETIVO DA UNIDADE: Proporcionar ao acadêmico uma compreensão do conceito</p><p>de filosofia e iniciá-lo no processo de reflexão filosófica, mostrando a necessidade de</p><p>questionar, analisar, discutir, enfim compreender de maneira integrada os acontecimentos</p><p>à sua volta.</p><p>1.1 A Filosofia</p><p>https://bit.ly/2ncxnVV</p><p>A palavra filosofia é um termo de origem grega resultante da junção de duas</p><p>palavras: “philos” e “sophia”. A primeira significa amigo, o que deseja ou procura. A</p><p>segunda significa sabedoria, saber, conhecimento.</p><p>Neste sentido, a filosofia diz respeito à atividade própria daqueles que amando ou</p><p>desejando o saber, se envolvem na descoberta do conhecimento da realidade. Na Grécia</p><p>dava-se o nome de filósofos aos homens que, movidos por interesses intelectuais</p><p>desinteressados, procuravam compreender a realidade existente. O saber que iam</p><p>adquirindo, assim como a totalidade dos conhecimentos obtidos nas suas investigações</p><p>recebia a designação de filosofia.</p><p>Nas primeiras aulas de filosofia sempre se faz necessário desfazer os pré-conceitos</p><p>sobre a disciplina. Inicialmente, convido você a fazer um pequeno esforço e fazer um</p><p>https://bit.ly/2ncxnVV</p><p>10</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>levantamento de quais as palavras que vêm na sua mente quando pensa no que é a</p><p>filosofia.</p><p>Normalmente, aparecem as mais variadas respostas, mas quase sempre as</p><p>manifestações não fogem muito de uma boa compreensão do sentido do que realmente</p><p>significa a palavra filosofia: questionar, refletir, analisar, pensar, etc. Todas estas palavras</p><p>são muito familiares ao contexto da filosofia.</p><p>Existe dentro de cada um de nós uma manifestação profunda que nos impulsiona a</p><p>questionar, a buscar compreender o mundo em que vivemos a partir de nossa própria</p><p>perspectiva, um olhar que supere a alienação, a visão simplista, a ideologia. O maior</p><p>problema é que essa capacidade de se admirar ou se indignar com as coisas que nos</p><p>cercam vai morrendo gradativamente. Aos poucos, em doses homeopáticas, a curiosidade</p><p>que sentimos em relação ao mundo vai se desfazendo. Observe a curiosidade e capacidade</p><p>de assombro das crianças, como estão sedentas de saber, de descobrir o mundo que as</p><p>cerca. Tudo observam, tudo tocam, tudo escutam e, dentro de suas possibilidades, tudo</p><p>sabem.</p><p>Fonte: https://bit.ly/32vUtXc</p><p>A filosofia</p><p>É um modo de pensar, é uma postura diante do mundo. A</p><p>filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um</p><p>sistema acabado, fechado em si mesmo. Ela é, antes de mais</p><p>nada, uma prática de vida que procura pensar os</p><p>acontecimentos além da sua pura aparência (Aranha, 1994,</p><p>p.69).</p><p>11</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Mas o que nos perguntamos é como ou quando esse desejo inquietante foi se</p><p>apagando. Como a pessoa, no processo de seu “desenvolvimento”, vai perdendo a sua</p><p>curiosidade sobre o que está à sua volta. Será que educamos os nossos filhos para questionar,</p><p>para serem pessoas críticas? A sociedade valoriza a reflexão, a análise, a crítica? E a escola, a</p><p>universidade? Onde está o espírito filosófico que faz com que o homem se encante ou se</p><p>indigne com o seu mundo? E você que está lendo estas palavras ainda mantém viva a</p><p>chama da procura, da crítica, do questionamento? O grande problema de todo esse</p><p>processo de formação é que aos poucos vamos nos acomodando, nos adaptando ao nosso</p><p>cotidiano. As coisas vão perdendo sentido, se transformando numa rotina: trabalho,</p><p>casamento, filhos, sexo, etc.</p><p>Fonte: https://bit.ly/2qtooBf</p><p>Segundo Severino (2014, p. 84), “o filosofar coloca a consciência, a subjetividade</p><p>humana no ponto máximo de seu patamar de reflexão”.</p><p>Reflexão é o ato de conhecimento que se volta sobre si mesmo, tomando por objeto</p><p>seu próprio ato; ato de pensar o próprio pensamento. O pensamento, ao contrário do que</p><p>afirma o senso comum, não é algo estéril e deslocado da realidade ou do mundo</p><p>12</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>corporativo. Neste caso o pensar e o agir são duas dimensões do mesmo ato. A finalidade</p><p>desta disciplina é contribuir para o sucesso do empreendedor e da corporação.</p><p>A reflexão filosófica é radical porque é movimento de volta do pensamento sobre si</p><p>mesmo para conhecer-se, para indagar como é possível o próprio pensamento. Não somos,</p><p>porém, somente seres pensantes. Somos também seres que agem no mundo, que se</p><p>relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e</p><p>acontecimentos, e exprimimos essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio</p><p>de gestos e ações. A reflexão filosófica também se volta para essas relações que mantemos</p><p>com a realidade circundante, para o que dizemos e para as ações que realizamos nessas</p><p>relações (Chauí, 2001, p. 14).</p><p>A filosofia nada mais é do que uma reflexão, uma discussão sobre o sentido daquilo</p><p>que fazemos e vivemos. Qual é o sentido do trabalho? Qual é o sentido da minha vida? Por</p><p>que escolhi essa faculdade? Por que compro isso e não aquilo? Em todo momento de nossas</p><p>vidas estamos fazendo escolhas, o problema é que muitas vezes não pensamos</p><p>profundamente nas escolhas que fazemos. O espírito filosófico deve nos levar a amadurecer</p><p>a compreensão que temos de nossa vida e de nossa existência enquanto seres humanos.</p><p>Fonte: https://bit.ly/35LsNPZ</p><p>Nas palavras de Jostein Gaarder (1995, p. 27): “A única coisa de que precisamos</p><p>para nos tornarmos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas”.</p><p>Podemos acrescentar ainda, não perdermos a capacidade de indignação com as coisas.</p><p>A relevância fundamental da filosofia</p><p>consiste nessa constante busca de</p><p>compreender o sentido da própria existência. Somos desafiados a construir uma percepção</p><p>integrada e radical do sentido da existência humana. Neste sentido, a ação do homem sobre</p><p>13</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>o mundo deve ser na direção do aperfeiçoamento de sua prática. Transformar a experiência</p><p>vivida em experiência refletida é o seu grande desafio.</p><p>Não é sem relevância que a palavra filosofia em grego philo significa amizade, amor</p><p>fraterno, respeito entre iguais, e sophia significa sabedoria. A filosofia vista, nesta</p><p>perspectiva, significa amizade, amor e respeito pelo saber.</p><p>Assim, uma primeira resposta à pergunta ‘o que é filosofia?’ poderia ser:</p><p>A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os</p><p>fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência</p><p>cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e</p><p>compreendido (Chaui, 2000, p.12).</p><p>Fonte: https://bit.ly/2MMXf3m</p><p>1.2 O Nascimento da Filosofia</p><p>Às vezes não nos damos conta de que as coisas nem sempre foram como são no</p><p>atual momento de nossa história. A forma como a humanidade explicava e compreendia o</p><p>seu mundo antes da filosofia era caracterizada por uma visão mitológica. No transcorrer</p><p>da experiência humana, as explicações dos diferentes fenômenos eram dadas pelas</p><p>religiões e transmitidas através dos mitos.</p><p>14</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Segundo Gaarder (1995, p. 35), “um mito é a história de deuses e tem por</p><p>objetivo explicar por que a vida é assim como é.” Esta visão do professor Gaarder não</p><p>está incorreta, porém não deve ser absolutizada, pois se trata de uma análise iluminista do</p><p>mito. Dito de outro modo, os saberes populares, mitológicos encerram uma tentativa de</p><p>compreender o mundo a partir de uma outra lógica que também pode ser plausível, além</p><p>de ser ponto de partida para a filosofia. Do mesmo modo, durante muito tempo, a filosofia</p><p>iluminista considerou incompatível a relação entre mentalidade religiosa e pensamento</p><p>racional-filosófico. Hoje, consideramos que não são incompatíveis.</p><p>Embora muitos exprimam um pensamento ingênuo, fantasioso e sem validade</p><p>científica, eles trazem, em certa medida, ensinamentos e experiências culturais profundas.</p><p>Algumas narrativas mitológicas, que expressam o drama da experiência humana</p><p>permanecem muito atuais como é o caso, por exemplo, do mito de Narciso, tão bem</p><p>contextualizado na música de Caetano Veloso “Sampa”.</p><p>Mito</p><p>Entre os povos primitivos, é uma forma de se situar no mundo, isto</p><p>é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. É um</p><p>modo ingênuo e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só</p><p>explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural,</p><p>mas que dão, também, as formas da ação humana. Devemos salientar,</p><p>entretanto, que, não sendo teórica, a verdade do mito não obedece à</p><p>lógica nem da verdade empírica, nem da verdade científica. É verdade</p><p>intuída, que não necessita de provas para ser aceita (Aranha & Martins,</p><p>1992, p. 62).</p><p>15</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>No séc. VII a.C., aproximadamente por volta do ano 600 a.C., surge na Grécia uma</p><p>forma diferente de perceber os acontecimentos. Os primeiros filósofos não se contentavam</p><p>com as explicações mitológicas e começaram a observar o movimento da natureza (podiam</p><p>ser considerados como verdadeiros físicos...) e tentar explicá-la a partir de uma perspectiva</p><p>mais racional.</p><p>SAMPA</p><p>Caetano Veloso</p><p>Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruzo a</p><p>Ipiranga e a Avenida São João, é que quando eu cheguei por aqui eu</p><p>nada entendi da dura poesia concreta de tuas esquinas, da deselegância</p><p>discreta de tuas meninas.</p><p>Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa</p><p>tradução. Alguma coisa acontece no meu coração que só quando</p><p>cruzo a Ipiranga e a Avenida São João.</p><p>Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto chamei de</p><p>mau gosto o que vi de mau gosto, mau gosto é que Narciso acha feio o</p><p>que não é espelho e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho</p><p>nada do que não era antes quando não somos mutantes.</p><p>E foste um difícil começo, afasto o que não conheço e quem</p><p>vende outro sonho feliz de cidade aprende de pressa a chamar-te de</p><p>realidade porque és o avesso do avesso do avesso do avesso.</p><p>Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas da força da grana</p><p>que ergue e destrói coisas belas da feia fumaça que sobe apagando as</p><p>estrelas eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços, tuas oficinas</p><p>de florestas, teus deuses da chuva.</p><p>Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba mais possível,</p><p>novo quilombo de Zumbi e os novos baianos passeiam na tua garoa e</p><p>novos baianos te podem curtir numa boa.</p><p>16</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Fonte: https://bit.ly/35Fvz9k</p><p>Palavra que vem do latim ratio, razão, e esta é característica fundamental do saber</p><p>filosófico. Significa lógico, coerente e implica numa ordenação das ideias segundo</p><p>determinados princípios. Deste modo é perfeitamente possível e necessário conciliar a</p><p>atividade corporativa com métodos baseados na razão.</p><p>Quando a filosofia surge, entre os gregos, no século VI a.C., ela engloba</p><p>tanto a indagação filosófica propriamente dita quanto o que hoje chamamos</p><p>de conhecimento científico. O filósofo teoriza sobre todos os assuntos,</p><p>procurando responder não só ao porquê das coisas, mas, também, ao</p><p>como, ou seja, ao funcionamento. É por isso que Euclides, Tales e Pitágoras</p><p>são filósofos e dedicam-se também ao estudo da geometria. Aristóteles, por</p><p>sua vez, debruça-se sobre problemas físicos e astronômicos, na medida em</p><p>que esses problemas interessam à cultura e à sociedade de sua época</p><p>(Aranha & Martins, 1992, p. 70).</p><p>1.3 Filosofia e Ciência</p><p>No primeiro momento, a ciência estava ligada à filosofia. O conhecimento era fruto da</p><p>clareza e da evidência da argumentação. Com o desenvolvimento da ciência, na forma que</p><p>temos hoje, o conhecimento adquire uma nova perspectiva, tem como base a demonstração</p><p>através do experimento. Não basta só argumentar, tem que se demonstrar</p><p>experimentalmente que as conclusões são objetivas.</p><p>17</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Pouco a pouco se foi construindo uma maneira diferente de se conhecer um objeto,</p><p>fragmentando-o a fim de estudá-lo melhor. Este trabalho de recortar para melhor</p><p>compreender foi indispensável para a evolução da ciência moderna. Por outro lado,</p><p>fragmentou-se tanto o objeto que perdemos a percepção do todo. E neste sentido a</p><p>filosofia é fundamental para criar uma percepção sistêmica ou uma visão holística,</p><p>buscando a implicação da parte no todo e do todo nas suas respectivas partes.</p><p>Às vezes temos a impressão de que a filosofia perdeu espaço em relação à</p><p>ciência. Mas acredito que neste momento em que tudo aparece fragmentado é que ela</p><p>ressurge com todo vigor. A fragmentação não é algo necessariamente negativo, mas</p><p>existe a preocupação com o rigor científico.</p><p>Ora, a filosofia continua tratando da mesma realidade apropriada pelas</p><p>ciências. Apenas que as ciências se especializam e observam ‘recortes’ do</p><p>real, enquanto a filosofia jamais renuncia a considerar o seu objeto do</p><p>ponto de vista da totalidade. A visão da filosofia é de conjunto, ou seja, o</p><p>problema tratado nunca é examinado de modo parcial, mas sempre sob a</p><p>perspectiva de conjunto, relacionando cada aspecto com os outros</p><p>contextos em que está inserido (Aranha & Martins, 1993, p. 73).</p><p>Ciência pode ser caracterizada como investigação rigorosa e seu método foi</p><p>desenvolvido na modernidade por Galileu e Descartes:</p><p>1. Observação</p><p>2. Hipótese</p><p>3. Experimentação</p><p>4. Lei</p><p>Nesta perspectiva, o trabalho da filosofia é</p><p>fundamental para se estabelecer uma</p><p>visão de conjunto, sem negar a especificidade de cada saber. Precisamos aprender a</p><p>interpretar as diferentes possibilidades que a ciência nos apresenta à luz da filosofia. A</p><p>clonagem, por exemplo, é uma possibilidade que a ciência nos oferece, mas devemos</p><p>A partir do século XVII, a revolução metodológica iniciada por</p><p>Galileu promove a autonomia da ciência e seu desligamento da filosofia.</p><p>Pouco a pouco, desse período até o século XX, aparecem as chamadas</p><p>ciências particulares – física, astronomia, química, biologia, psicologia,</p><p>sociologia etc.-, delimitando um campo específico de pesquisa. (Aranha</p><p>& Martins, 1993, p. 73).</p><p>18</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>considerá-la a partir da perspectiva filosófica, ou seja, qual o sentido dessa experiência para</p><p>a humanidade.</p><p>1.4 O que é filosofia</p><p>“Sou humano, e nada do que é humano me é estranho”</p><p>(Terêncio)</p><p>Diante do que vimos até agora, definir filosofia não é tarefa fácil e nem deve ser.</p><p>Isto ocorre porque o saber filosófico é um saber do tipo inacabado. Assim, a filosofia</p><p>continua, desde seu nascimento na Grécia antiga, a definir-se enquanto prática e a</p><p>redefinir-se devido ao caráter histórico da própria filosofia enquanto conhecimento,</p><p>resultado da análise dos problemas humanos que mudam de acordo com a época. Se os</p><p>problemas humanos mudam de acordo com o tempo, com a filosofia não haveria de ser</p><p>diferente.</p><p>Fonte: https://bit.ly/2Br3AfW</p><p>19</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>A título de exemplo, umas das maiores preocupações de nosso tempo está</p><p>relacionada à ecologia, ou seja, precisamos conciliar o desenvolvimento econômico com a</p><p>conservação da natureza e da própria humanidade sob o risco de inviabilizarmos a</p><p>sobrevivência das próximas gerações. Como resposta a estas inquietações, surgiu uma</p><p>nova especialidade, a filosofia ecológica.</p><p>Fonte: https://bit.ly/2pxSxig</p><p>Ecologia</p><p>Estudo das relações que todos os seres vivos e inertes mantêm entre si e</p><p>com o meio ambiente. É o estudo (logos) da casa comum (oikos) para que seja</p><p>preservada: nosso planeta Terra. Existe a ecologia ambiental, a social, a mental</p><p>e a integral (que engloba todas as outras e as relações com o universo e com</p><p>Deus). (Boff, 1997, p. 191).</p><p>20</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Nesta primeira unidade busquei com a introdução e com os textos de apoio</p><p>iniciá-lo em um processo de reflexão filosófica. Insisto na palavra “processo” porque a</p><p>filosofia é um trabalho contínuo de elaboração. Faz-se filosofia na medida em que você</p><p>começa a pensar nas coisas que estão à sua volta, iniciando uma reflexão que faz com</p><p>que você compreenda as coisas em um sentido mais profundo e amplo. É prazeroso</p><p>quando descobrimos que somos capazes de enxergar as coisas com maior profundidade.</p><p>Continuando nesta linha iremos pensar no próximo capítulo sobre um assunto que</p><p>interfere na maneira de olharmos e interpretarmos os acontecimentos: A ideologia.</p><p>Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 1 e a</p><p>Atividade 1.</p><p>Dica de aprofundamento</p><p>Consulte o livro disponível na Biblioteca Virtual do seu curso para aprofundar nos</p><p>assuntos abordados nesta primeira unidade:</p><p>- MATTAR, João. Filosofia. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012.</p><p>21</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>UNIDADE 2</p><p>DO QUE NÃO TRATA A FILOSOFIA</p><p>OBJETIVO DA UNIDADE: Possibilitar ao acadêmico uma leitura dos acontecimentos</p><p>em maior profundidade, buscando desmascarar o caráter ideológico dos diferentes</p><p>processos individuais e coletivos que o envolve.</p><p>Fonte: Paixão Gazeta do Povo-PR (25/11)</p><p>Nestes tempos de revolução tecnológica já perdemos, muitas vezes, a noção de</p><p>tempo e de espaço. Muito bem, o assunto que vamos tratar neste capítulo é muito</p><p>interessante, pois faz um profundo questionamento sobre a nossa compreensão sobre o</p><p>mundo que nos cerca.</p><p>Ideologia é o conjunto de representações e ideias, bem como de normas de conduta</p><p>por meio das quais o homem é levado a pensar, sentir e agir de maneira que convém à</p><p>classe dominante. Essa consciência da realidade é uma falsa consciência, por que camufla a</p><p>divisão existente dentro da sociedade, apresentando-a como harmônica, como se todos</p><p>partilhassem dos mesmos objetivos e ideais (Aranha, 1992, p. 58).</p><p>Ideologia significa uma operação pela qual a mente tem presente em si mesma uma</p><p>imagem mental, uma ideia ou um conceito correspondendo a um objeto externo. Tornar</p><p>presente à consciência a realidade externa, tornando-a objeto da consciência,</p><p>22</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>estabelecendo assim a relação entre a consciência e o real. Saiba mais em Dicionário Básico</p><p>de Filosofia de Hilton Japiassú. Zahar: Rio de Janeiro, 1996.</p><p>É igualmente um conjunto de representações, ideias, conceitos e valores, mediante os</p><p>quais as pessoas ou grupos acreditam estar conhecendo e avaliando todos os aspectos da</p><p>realidade. O caráter ideológico dessas representações vem do fato de que elas atuam</p><p>mascarando, no plano subjetivo, o real objetivo desses aspectos, e isso em função de</p><p>interesses de pessoas ou grupos particulares, que pretendem impor algum tipo de</p><p>dominação. Nesse sentido, a ideologia é um falseamento da consciência, camuflando a</p><p>objetividade das situações reais. Como toda produção da consciência, também a</p><p>cosmovisão envolve elementos ideológicos, funcionando ideologicamente (Severino, 2014).</p><p>Arriscaria dizer que boa parte da percepção que fomos construindo durante as</p><p>nossas vidas carece de coerência, pois a ideologia oculta e mascara o real, objetivando</p><p>favorecer a dominação de determinados grupos sociais. Ideologia é uma falsa explicação</p><p>que parece verdadeira, é a filosofia dos incapazes de ter filosofia. Um conceito de ideologia</p><p>pode ser assim definido:</p><p>É igualmente um conjunto de representações, ideias, conceitos e valores,</p><p>mediante os quais as pessoas ou grupos acreditam estar conhecendo e</p><p>avaliando todos os aspectos da realidade. O caráter ideológico dessas</p><p>representações vem do fato de que elas atuam mascarando, no plano</p><p>subjetivo, o real objetivo desses aspectos, e isso em função de interesses de</p><p>pessoas ou grupos particulares, que pretendem impor algum tipo de</p><p>dominação. Nesse sentido, a ideologia é um falseamento da consciência,</p><p>camuflando a objetividade das situações reais. Como toda produção da</p><p>consciência, também a cosmovisão envolve elementos ideológicos,</p><p>funcionando ideologicamente (Severino, 2014, p. 79).</p><p>Quando lemos um jornal ou escutamos uma notícia muitas vezes observamos a</p><p>falta de vinculação com a realidade. Muitas vezes, aquilo que estamos vendo ou ouvindo</p><p>está ocultando, mascarando uma determinada situação. Por exemplo, vamos tocar em um</p><p>assunto de fácil compreensão: a pobreza. Muitas pessoas, até bem informadas, atribuem a</p><p>pobreza à falta de vontade de trabalhar: fulano é pobre porque não trabalha! Você está</p><p>vendo? Por isso é que esse país não vai para frente. O povo é preguiçoso! Ao invés de</p><p>tomar cachaça, deveria estar trabalhando!</p><p>23</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Fonte: https://bit.ly/1Nq7F38</p><p>Ou ainda, quando se discute sobre reforma agrária: esse povo só quer terra para</p><p>vender! Eu conheço uma pessoa que ganhou um pedaço de terra e trocou por um carro</p><p>velho, etc. Será que o problema da pobreza no Brasil pode ser atribuído à preguiça do</p><p>povo brasileiro? Será que o fato de um ou mais trabalhadores rurais trocarem seus lotes</p><p>por um carro ou algo que o equivalha é o suficiente para inviabilizar uma discussão sobre</p><p>a reforma agrária? E por que se fala tanto de Reforma Agrária? Não será para que ela</p><p>nunca aconteça?</p><p>O importante é começarmos a refletir sobre a percepção que construímos a</p><p>respeito dos diferentes</p><p>acontecimentos de nosso dia-a-dia. Nas sociedades tradicionais do</p><p>século passado, a Igreja tinha uma grande influência na formação da visão de mundo das</p><p>pessoas. Nas sociedades ocidentais</p><p>contemporâneas, marcadas por um processo de</p><p>profunda secularização, a influência da Igreja</p><p>cedeu espaço para a influência do mercado. Por</p><p>outro lado, a modernidade e seu filho primogênito,</p><p>o capitalismo, não se mostrou menos mística que a</p><p>fase medieval anterior.</p><p>Observe que os objetos de consumo e desejo foram revestidos de verdadeira aura</p><p>publicitária, um poder espiritual e invisível cujo resultado primeiro é o preço, pois valem</p><p>muito mais do que de fato custaram para serem produzidos. Não perceber tal mistificação</p><p>da mercadoria é o resultado da alienação. No atual momento de nossa história, a indústria</p><p>não produz tão somente bens de consumo, mas uma visão de mundo, de homem, de</p><p>Secularização: Ato de tornar</p><p>secular (isto é, do século, do</p><p>mundo); deixar de ser religioso</p><p>ou sagrado. Diz-se também</p><p>laicização (Aranha, 1993, p.</p><p>381).</p><p>24</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>sociedade e de cultura. Pode-se comentar aqui sobre o corpo, a visão de corpo consumido,</p><p>etc.</p><p>Segundo Aranha (1993, p. 377), a alienação surge na vida econômica quando o</p><p>operário, ao vender sua força de trabalho, perde o que ele próprio produziu. A consequência</p><p>dessa perda é a fragmentação de sua consciência, que também deixa de lhe pertencer; a</p><p>pessoa não é mais o centro de si mesma e passa a ser “comandada” de fora; perda da</p><p>individualidade; perda da consciência crítica.</p><p>Alienação também pode ser definida como o estado do indivíduo que não mais se</p><p>pertence, que não mais detém o controle de si mesmo ou que se vê privado dos seus direitos</p><p>fundamentais, passando a ser considerado uma coisa; processo pelo qual um ser se torna</p><p>outro, distinto de si mesmo, ficando estranho a si mesmo, perdendo-se ao projetar sua</p><p>identidade em outro, fora de si; processo ou estado de despossessão de si, vivida pelo sujeito</p><p>humano, perda de sua própria essência que é projetada em outro sujeito (Severino, 2014).</p><p>Fonte: https://bit.ly/35MCKgc</p><p>25</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>O mercado tem uma influência fundamental na compreensão que as pessoas têm</p><p>de si mesmas, da coletividade e da natureza. Isso só foi possível graças ao controle da</p><p>televisão, da publicidade e da informação. Em geral, boa parte da visão que temos das</p><p>coisas é construída pela televisão, seja por telejornais ou por telenovelas. Por isso é</p><p>importante formularmos o seguinte questionamento: aquilo que vejo na televisão é digno</p><p>de confiabilidade? A resposta quase sempre é a mesma: NÃO. Então se desconfiamos da</p><p>televisão enquanto geradora e produtora de informação, devemos desconfiar das nossas</p><p>percepções, haja vista que boa parte da informação que temos tem origem na televisão.</p><p>O problema da ideologia é que ela oculta, mascara uma determinada ideia. Olhamos</p><p>para algo e achamos que estamos compreendendo, posteriormente descobrimos que</p><p>aquilo que estamos pensando não é coerente com o que está acontecendo. Às vezes nos</p><p>impressionamos com alguém e quando nos aproximamos descobrimos que a pessoa não</p><p>era aquilo que estávamos pensando. Vislumbramos situações como essa cotidianamente em</p><p>casa, no trabalho, na escola, enfim, em todas as situações de nossa vida.</p><p>É incrível como a publicidade consegue vender cigarro, algo danoso à nossa saúde,</p><p>associando conceitos como saúde, virilidade, liberdade, aventura e assim age a maior parte</p><p>do mercado publicitário. Ou ainda, como somos enganados com as falsas imagens de</p><p>políticos projetadas pelos seus marqueteiros.</p><p>Fonte: https://bit.ly/35NduWX</p><p>26</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>O fato é que vivemos e agimos em um contexto marcado por ideologias,</p><p>dificultando ao indivíduo construir uma percepção mais próxima daquilo que está</p><p>acontecendo, dos diferentes interesses presentes em determinado acontecimento.</p><p>Neste sentido podemos concluir com o conceito de ideologia de Marilena Chauí:</p><p>Prezado acadêmico, espero que nesta unidade você tenha compreendido o sentido</p><p>do conceito de ideologia e mais do que isso, que o entendimento possa levá-lo a uma</p><p>leitura com maior profundidade, tanto dos acontecimentos pessoais como coletivos,</p><p>desmascarando alguns discursos que objetivam em nome do bem comum, da democracia,</p><p>dos direitos iguais, da liberdade, da segurança, impor a dominação e exploração de um</p><p>povo sobre o outro, prática comum da política atual. O próximo capítulo será interessante</p><p>porque nos mostrará o quanto a ideologia dificulta o agir ético.</p><p>A Ideologia</p><p>É um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações</p><p>(ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e</p><p>prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como</p><p>devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que</p><p>devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem</p><p>fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático</p><p>(normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador,</p><p>cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes</p><p>uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais,</p><p>sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes, a</p><p>partir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função da</p><p>ideologia é a de apagar as diferenças, como as de classes, e de fornecer</p><p>aos membros da sociedade o sentimento da identidade social,</p><p>encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos,</p><p>como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Nação,</p><p>ou o Estado (Chauí, 1980, p. 113).</p><p>27</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 2 e a</p><p>Atividade 2.</p><p>28</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>UNIDADE 3</p><p>A NECESSIDADE DA FILOSOFIA</p><p>OBJETIVO DA UNIDADE: Levar o acadêmico a compreender que as ações coletivas e</p><p>individuais se dão em um universo comum e podem resultar em consequências</p><p>construtivas ou não para a vida no planeta, objetivando a desconstrução de uma visão</p><p>fragmentada e individualista de mundo e consequentemente gerando uma ação refletida,</p><p>responsável e solidária com a vida na terra.</p><p>Fonte: Angeli/Folha de SP. (29/10/03)</p><p>3.1 Ética e Moral</p><p>Ética vem do grego: ethos, que em grego significa a toca do animal ou a casa</p><p>humana; conjunto de princípios que regem, transculturalmente, o comportamento humano</p><p>para que seja realmente humano no sentido de ser consciente, livre e responsável; o ethos</p><p>constrói pessoal e socialmente o habitat humano (Boff, 1999, p.195).</p><p>Ética é a área da filosofia que investiga os problemas colocados pelo agir humano</p><p>enquanto relacionado com valores morais. Busca assim discutir e fundamentar os juízos de</p><p>29</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>valor a que se referem as ações quando neles fundam seus objetivos, critérios e fins</p><p>(Severino, 2014).</p><p>Fonte: https://bit.ly/2BpVe8k</p><p>Todos nós, homens e mulheres, pertencemos a uma grande família, somos por</p><p>natureza dependentes uns dos outros e dos demais organismos vivos do planeta. Portanto</p><p>não podemos entender a vida se não for a partir da relação com tudo que nos cerca. E é</p><p>nesse contexto que o ser humano se descobre e se manifesta como ser ético e moral.</p><p>Moral são as formas concretas pelas quais o ethos se historiza; as morais são</p><p>diferentes por causa das culturas e dos tempos históricos diferentes. Mas todas as morais</p><p>remetem ao ethos do humano fundamental que é um só (Boff, 1999, p. 197).</p><p>Conjunto de prescrições vigentes numa determinada sociedade e consideradas</p><p>como critérios válidos para a orientação do agir de todos os membros dessa sociedade</p><p>(Severino,</p><p>2014).</p><p>Segundo Sung & Silva (1999, p. 15), “o ser humano deve, portanto, construir ou</p><p>conquistar o seu ser. Ele não nasce pronto, se faz ser humano, se torna pessoa. O grande</p><p>desafio de nossas vidas é este processo de construção do nosso ser”.</p><p>Sobre a base de um humanismo integral, o homem se compreende como um ser</p><p>multidimensional. A multiplicidade de dimensões ou expressões humanas, que se</p><p>30</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>caracterizam por possuir autonomia e universalidade, podem aperfeiçoar-se mediante</p><p>uma educação integral evitando distorções na valoração destas.</p><p>Fonte: http://esi.lfc.org.br/</p><p>O ser humano é essencialmente pessoal e comunitário ao mesmo tempo. Desde</p><p>esta perspectiva, satisfaz sua natureza quando estabelece relações de sentido com seus</p><p>semelhantes em um marco comunicacional; pois pertence à sua essência o ser-com-</p><p>outro, o ser-por-outro e o ser-para-outro. Desta forma, partilhar, receber e dar constitui</p><p>uma exigência ética que o realiza.</p><p>Como outros mamíferos, estamos em um mundo que é anterior ao nosso</p><p>aparecimento. Mas, diferentemente deles, este mundo que nos precede não é</p><p>simplesmente dado, colocado à nossa disposição para um relacionamento imediato. O ser</p><p>humano precisa ‘organizar’ o mundo para superar o ‘caos’, necessita construir um mundo</p><p>para si, um mundo que tenha um sentido humano, e, nesse processo, construir a si</p><p>mesmo (Sung & Silva, 1999, p. 26).</p><p>Mas antes de prosseguirmos, faz-se necessário tornar um pouco mais claro a</p><p>distinção entre ética e moral. Muitas vezes percebemos que ambas as palavras são</p><p>tomadas com o mesmo sentido, negando a especificidade de cada uma.</p><p>A palavra ética deriva do grego (êthos) e, primitivamente, significava lugar onde se</p><p>mora. Posteriormente, Aristóteles deu outro significado e, a partir dele, significou maneira</p><p>http://esi.lfc.org.br/</p><p>31</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>de ser, caráter. Portanto, a ética era como uma espécie de segunda casa ou uma segunda</p><p>natureza adquirida, não herdada como a natureza biológica. Daí se deriva, então, que a</p><p>pessoa humana pode moldar seu êthos, sua maneira de ser. E isto acontece mediante a</p><p>criação de hábitos, que se alcançam pela repetição de atos. É uma espécie de círculo: a</p><p>repetição de atos leva aos hábitos e, uma vez adquiridos, estes nos levam a realizar atos,</p><p>que provêm da nossa maneira de ser adquirida.</p><p>Segundo Severino (2014), ética é a área da filosofia que investiga os problemas</p><p>colocados pelo agir humano enquanto relacionado com valores morais. Busca assim discutir</p><p>e fundamentar os juízos de valor a que se referem as ações quando neles fundam seus</p><p>objetivos, critérios e fins.</p><p>Já a palavra moral traduz a expressão latina moralis, que deriva de mos (no plural</p><p>mores) e que significava costume. Com este termo, os romanos se referiam ao sentido</p><p>grego de êthos: os costumes também se alcançam através da repetição de atos. Apesar</p><p>deste parentesco dos dois termos, a palavra moralis passou a aplicar-se às normas</p><p>concretas que devem reger as ações.</p><p>Fonte: https://bit.ly/31umxsC</p><p>Moral é o conjunto de prescrições vigentes numa determinada sociedade e consideradas</p><p>como critérios válidos para a orientação do agir de todos os membros dessa sociedade. A ação</p><p>humana, do ponto de vista da moral, é fundada em valores, ou seja, princípios expressos</p><p>mediante juízos apreciativos que são vivenciados por uma sensibilidade da consciência</p><p>subjetiva dos indivíduos e que são concretizadas objetivamente em normas práticas de ação</p><p>e em costumes culturais no seio das sociedades (Severino, 2014).</p><p>32</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>3.2 O agir ético-político</p><p>Política é a atividade que diz respeito à vida pública. Etimologicamente, polis, em</p><p>grego, significa “cidade”. A política é, portanto, a arte de governar, de gerir os destinos da</p><p>cidade. O homem político é aquele que atua na vida pública e é investido de poder para</p><p>imprimir determinado rumo à sociedade, tendo em vista o interesse comum (Aranha, 1992,</p><p>p.138).</p><p>Fonte: https://bit.ly/33GLIto</p><p>Política vem de pólis, palavra grega que significa cidade. Política é o governo da</p><p>cidade. Do ponto de vista ético ou dos valores, a política é o conjunto de ações pelas quais</p><p>os homens e as mulheres buscam uma forma de convivência entre os indivíduos, grupos,</p><p>nações, que ofereça condições para a realização do bem comum. Foi definida pelo grande</p><p>estudioso francês, Padre Lebret, como sendo: “a ciência, a arte e a virtude do bem comum”.</p><p>Do ponto de vista dos meios ou da organização, a política é o exercício do poder e a luta</p><p>para conquistá-lo.</p><p>Em sentido amplo e não menos exigente, qualquer ato dos cidadãos deve ter</p><p>sentido político, ou seja, orientar-se conscientemente para a construção da sociedade e</p><p>para a correção dos desvios que nela existam, bem como para a resposta mais adequada</p><p>aos seus problemas. Omitir a participação dos cidadãos, ou dificultá-la até a tornar</p><p>impossível, é empobrecer diariamente a sociedade.</p><p>33</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Fonte: https://bit.ly/32up1bM</p><p>Às vezes, pergunto-me se as pessoas não se dão conta de que vivemos em um</p><p>espaço que é comum a todos. Observe por exemplo o trânsito, a poluição, a violência, as</p><p>desigualdades sociais e tantas outras coisas. Tudo isso me leva a crer que a maioria das</p><p>pessoas não tem consciência de que vivemos em um lugar comum, em que tudo o que</p><p>fazemos traz consequências negativas ou positivas, em maior ou menor grau, para a vida</p><p>no planeta, seja trabalhando, conduzindo ou educando, criando, etc.</p><p>Fonte: https://bit.ly/2VUMzns</p><p>34</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Podemos até mesmo dizer que, se o problema fundamental da filosofia</p><p>clássica foi o problema do ser e o da filosofia moderna, o do conhecer, o</p><p>problema fundamental da filosofia contemporânea é, sem dúvida, o</p><p>problema do agir. Embora estejamos ainda preocupados em saber</p><p>melhor quem é o homem e como é que podemos conhecer, o que mais</p><p>nos angustia hoje é saber quais são os critérios de nossa ação, é saber</p><p>como devemos agir, qual a melhor maneira de agir enquanto homens</p><p>(Severino, 2014, p. 264).</p><p>É um grande equívoco pensar que nada se colhe de nossas ações. Como já</p><p>afirmamos anteriormente, em maior ou menor grau, as nossas ações se dão em um</p><p>universo coletivo e é a partir deste contexto que devem ser avaliadas. Essa compreensão</p><p>é um problema para o mundo capitalista, pois um de seus fundamentos é o</p><p>individualismo, ou melhor, a pseudoliberdade camuflada na ideia de que: “ninguém tem</p><p>nada a ver com o que eu faço!”, favorecendo uma visão fragmentada de mundo.</p><p>Por exemplo, poder-se-ia pensar assim: que tenho a ver eu, que não sou</p><p>fumante, com quem fuma? Deixe-o fumar, a saúde é dele, não é? Vocês já pensaram nos</p><p>gastos da saúde pública com doenças ocasionadas, direta ou indiretamente, pelo tabaco?</p><p>Fonte: https://bit.ly/2MIAiBy</p><p>Ou então, podemos citar o exemplo do alcoólatra que diz: eu bebo, mas a saúde</p><p>é minha. O que pensariam as famílias que perderam seus filhos porque alguém</p><p>embriagado os atropelou? O que temos a ver com a sexualidade dos outros? Que o diga o</p><p>Ministério da Saúde que não sabe mais o que fazer com tantas adolescentes grávidas. O</p><p>fato é que as nossas práticas cotidianas trazem, cedo ou tarde, consequências sobre a</p><p>35</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>vida dos outros. Mas a tônica dominante é acreditar que as ações são desconectadas ou</p><p>pouco integradas.</p><p>Assim, não podemos falar de ética e política sem falar de uma ação coletiva ou</p><p>da reflexão sobre as ações dos indivíduos e instituições. A ação do sujeito possui uma</p><p>dimensão política porque se processa em um universo coletivo e é ética quando tem a</p><p>possibilidade de trazer consequências positivas para a vida em coletividade.</p><p>Neste sentido, podemos afirmar que toda ação</p><p>tem uma dimensão política e será</p><p>ética quando contribuir para o aumento da justiça e da igualdade entre as pessoas. O que</p><p>faço contribui para preservar e, mais do que isso, contribui para o crescimento do bem</p><p>comum? Isto é, todo o comportamento que vier a favorecer a justiça, a igualdade e o</p><p>bem comum será avaliado como uma postura ética.</p><p>Portanto, para que uma ação seja eticamente boa, é preciso que ela seja</p><p>também politicamente boa, ou seja, que ela contribua para o aumento da</p><p>justiça, entendida esta como a condição de distribuição equitativa dos bens</p><p>materiais, culturais e ‘espirituais’ (âmbito da dignidade humana). A</p><p>gravidade de uma ação praticada contra as pessoas é diretamente</p><p>proporcional às consequências que lhes acarreta na sua situação no</p><p>contexto social, prejudicando-as no exercício de sua cidadania, degradando seu</p><p>ser quer na esfera do trabalho, quer na esfera da convivência social, quer</p><p>ainda na esfera da sua identidade subjetiva (Severino, 2014, p. 268).</p><p>Gradativamente estamos tomando consciência de que nossa ação, por menor que</p><p>seja (jogar papel no chão, desperdiçar água com um banho, etc.), é parte de um complexo de</p><p>relações que pode favorecer ou não a vida em nosso</p><p>planeta. Como diz Leonardo Boff (1999, p. 27):</p><p>“uma nova ética, a partir de uma nova ótica”. Ou</p><p>ainda, uma nova ética a partir de uma nova práxis</p><p>histórica, a partir de uma relação sincera,</p><p>responsável e transparente com tudo o que nos</p><p>cerca.</p><p>Na construção de um mundo mais ético encontramos um grande obstáculo: a</p><p>ideologia. Vivemos em uma situação em que a ideologia favorece uma visão de mundo em</p><p>que o certo se transforma em errado e vice-versa, em que o fundamental passou a ser</p><p>secundário e o secundário, fundamental. Veja só: não raramente, a pessoa honesta é</p><p>qualificada como boba, enquanto a desonesta é qualificada de esperta. Observem: não</p><p>poucas vezes fazemos coisas que, se avaliadas, serão consideradas como absurdas, mas</p><p>Práxis: Ela designa a prática</p><p>humana enquanto é atravessada por</p><p>uma forma de intenção reflexiva;</p><p>distingue-se assim de uma prática</p><p>puramente mecânica (Severino,</p><p>2014).</p><p>36</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>quase sempre as tomamos como normais. Por exemplo, quantas coisas compramos que não</p><p>necessitamos, ou quanto tempo perdemos com atividades irrelevantes?</p><p>Pensando bem, no nosso dia a dia, ficamos envolvidos com muitos problemas e</p><p>preocupações que, mesmo sendo importantes, não deixam de ser secundários, se</p><p>comparadas às questões que realmente podem trazer felicidade duradoura para o indivíduo,</p><p>tais como: família, amizade, as pessoas que amamos, a saúde, a espiritualidade, a natureza,</p><p>etc.</p><p>Muitas vezes vivemos alienados de nós mesmos, de nossos semelhantes e da</p><p>natureza que nos cerca e, inclusive, pensamos que não existe mais beleza e sim, cartão de</p><p>crédito. Transferimos aos objetos o sentido de nossa existência, necessito de algo para ser</p><p>reconhecido: aquele celular, aquele carro, aquela roupa. E o pior de tudo isso é que com o</p><p>tempo o absurdo se naturaliza e passamos a conviver com ele como se fosse a normalidade,</p><p>como se tudo fosse natural. Por isso temos dificuldades de estabelecer um agir ético.</p><p>É em decorrência disto que temos a necessidade de desenvolver uma ação crítico-</p><p>reflexiva. Não podemos tomar uma iniciativa sem buscar compreender melhor o cenário e</p><p>as motivações, tanto do agir pessoal como do agir coletivo.</p><p>A criticidade é a qualidade da reflexão que supera a condição da</p><p>consciência ingênua e da consciência dogmática, capaz de desvelar o</p><p>enviesamento ideológico de todas as formas de discursos, teóricos e</p><p>práticos, que constituem a cultura humana. Ela permite entender o</p><p>próprio processo do conhecimento como situado sempre num contexto</p><p>mais amplo e envolvente do que a relação direta sujeito/objeto. Ela situa</p><p>as atividades da consciência, tanto da consciência cognoscitiva como da</p><p>consciência valorativa, num contexto geral complexo, no âmbito da totalidade</p><p>do existir humano (Severino, 2014, p. 269).</p><p>Acredito que tornará nossa reflexão final mais abrangente transcrever as palavras</p><p>de Leonardo Boff (2002, p. 97) sobre os preceitos ético-ecológicos urgentes dos dias de</p><p>hoje:</p><p>Age de tal maneira que tuas ações não sejam destrutivas da Casa Comum, a Terra,</p><p>e de tudo o que nela vive e coexiste conosco. Ou: Age de tal maneira que tua ação seja</p><p>benfazeja a todos os seres, especialmente aos vivos. Ou: Age de tal maneira que permita</p><p>que todas as coisas possam continuar a ser, a se reproduzir e a continuar a evoluir conosco.</p><p>Ou então: Usa e consome o que precisas com responsabilidade para que as coisas possam</p><p>continuar a existir, atender às nossas necessidades e as das gerações futuras, de todos os</p><p>demais seres vivos, que também, junto conosco, têm o direito de consumir e de viver. Ou:</p><p>Cuida de tudo, porque o cuidado faz tudo durar muito mais tempo, protege e dá segurança</p><p>(Boff, 2002, p. 97).</p><p>37</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Estou convencido de que um dos maiores desafios de nossos dias é gestar uma</p><p>consciência coletiva. A consciência de pertencer à Terra, de que somos parte desse grande</p><p>organismo vivo e não seus dominadores, contrariando uma cosmovisão mecanicista do</p><p>universo. Na atualidade não é possível pensar em administração sem desenvolver uma</p><p>visão holística daquilo que chamamos de progresso, o que algumas pessoas chamam de</p><p>pós-modernidade.</p><p>Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 3 e a</p><p>Atividade 3.</p><p>Dica de aprofundamento</p><p>Para aprofundar na questão da ética, sugiro a leitura do texto a seguir:</p><p>Jung Mo Sung. Novas formas de legitimação da economia: desafios para</p><p>ética e teologia. Disponível em: <www.pucsp.br/rever/rv3_2001/t_sung.htm>.</p><p>Acesso em: 17 maio 2024.</p><p>http://www.pucsp.br/rever/rv3_2001/t_sung.htm%3e.</p><p>http://www.pucsp.br/rever/rv3_2001/t_sung.htm%3e.</p><p>38</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>UNIDADE 4</p><p>PÓS-MODERNIDADE</p><p>OBJETIVO DA UNIDADE: Interpretar os acontecimentos atuais, buscando compreendê-</p><p>los a partir de uma visão holística ou de uma compreensão ecológica profunda.</p><p>Fonte: https://bit.ly/2P0n2Id</p><p>4.1 Pós-Modernidade e seus conceitos</p><p>Prezado acadêmico, essa temática que abordamos agora é ao mesmo tempo</p><p>sedutora e conflitante. Sedutora porque é importante refletir sobre as mudanças que</p><p>estão acontecendo em todos os níveis de nossa sociedade: na economia, nas relações de</p><p>trabalho, na arte (música, pintura, escultura, etc.), na política e nas relações familiares. E</p><p>conflitante, se assim pudermos simplificar a questão, pelo emprego dessa pequena</p><p>palavra de três letras “pós”. A pós-modernidade representa uma ruptura, uma superação</p><p>da modernidade?</p><p>Segundo o cientista social A. Giddens, a pós-modernidade vai além da</p><p>modernidade, é uma ordem pós-capitalista sem poder totalitário, sem guerras de grande</p><p>escala, sem colapsos econômicos ou desastres ecológicos de grandes proporções para</p><p>39</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>humanidade. Talvez seja essa uma nova utopia em vias de construção para a humanidade,</p><p>distante ainda de nossas práticas no planeta.</p><p>Na perspectiva de F. Jameson, a pós-modernidade representa a terceira fase do</p><p>capitalismo, permeada pelas contradições do mundo da produção: riqueza e exclusão.</p><p>Diante de ambas as perspectivas, optamos por olhar a pós-modernidade como um processo</p><p>histórico permeado por aspectos positivos e negativos, por superações e contradições.</p><p>O que aparece com muita clareza nos dias de hoje é que as fórmulas com as quais</p><p>resolvíamos os problemas já não são mais suficientes para responder às necessidades de</p><p>uma sociedade cada dia mais complexa e plural. De certa forma, para muitos, isto pode</p><p>significar o caos, mas por outro lado, pode significar uma nova possibilidade de</p><p>reconstruirmos</p><p>o nosso mundo.</p><p>Segundo Shintman (1994, p. 17), “esse tempo também pode ser entendido como o</p><p>tempo da criatividade, da generalidade, da restauração dos elementos singulares, do local,</p><p>dos dilemas, da abertura de novas potencialidades”.</p><p>Ou com as palavras de Isabela Lara (1969):</p><p>Um tempo que se abre para uma consciência crescente da descontinuidade, da</p><p>não-linearidade, da diferença, da necessidade do diálogo, da polifonia, da</p><p>complexidade, do acaso, do desvio. Onde há uma avaliação ampla do papel</p><p>construtivo da desordem, da auto-organização e uma resignificação</p><p>profunda das ideias de crise e caos, compreendidas mais como informações</p><p>complexas, do que como simples ausência de ordem (Lara, 1969, p.15).</p><p>Estamos vivendo momentos de crises e rupturas que acenam para uma nova</p><p>maneira de organizar a vida coletiva. Um dos desafios é a flexibilidade. Hoje os empresários</p><p>promovem um discurso a favor da flexibilização das relações de trabalho; os pais,</p><p>professores e educadores, de uma maneira geral, têm que ser mais flexíveis na educação</p><p>de seus filhos, o mesmo ocorre em relação à política econômica, à política entre os povos, e</p><p>assim tantos outros aspectos de nosso cotidiano precisam contemplar o princípio da</p><p>flexibilidade.</p><p>Os estados nacionais perdem espaço para o capital transnacional. A cada dia que</p><p>passa os governos diminuem sua capacidade de intervir na economia e acabam</p><p>dependentes do capital especulativo. Vivemos tempos de uma economia globalizada, volátil,</p><p>com um sistema produtivo de alta tecnologia, veloz tanto na produção de bens materiais e</p><p>culturais, como no seu consumo e desterritorializada. Recentemente os trabalhadores da</p><p>Siemens na Alemanha, aceitaram aumentar a jornada de trabalho para 40 horas semanais</p><p>40</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>para não perderem o emprego com a transferência da fábrica para outro país em que a</p><p>mão-de-obra é mais barata.</p><p>Na política, observa-se o esgotamento dos sistemas tradicionais de representação</p><p>dos diferentes grupos sociais. Os partidos políticos já não conseguem compreender, se um</p><p>dia compreenderam, as necessidades de uma sociedade cada dia mais plural e complexa.</p><p>Diante disso, emerge em meio à coletividade diferentes movimentos reivindicatórios das</p><p>mais diferentes ordens, como o movimento das mulheres, dos homossexuais, dos grupos</p><p>étnicos marginalizados e tantos outros. Por um lado, presenciamos a indiferença da</p><p>sociedade em relação aos sistemas tradicionais de representação, por outro lado, assistimos</p><p>ao crescimento de pequenas iniciativas coletivas e individuais com a finalidade de resolver</p><p>um problema específico da comunidade e da coletividade em geral.</p><p>É muito curioso observar em nossa sociedade a emergência de uma consciência</p><p>mais integrada em relação ao planeta em que vivemos. Alguns teóricos chamam isso de</p><p>emergência de uma consciência holística. Considero esse fenômeno como algo</p><p>eminentemente pós-moderno. A modernidade foi caracterizada por um modelo de</p><p>desenvolvimento predatório e que levou a um consumo predatório. Essa característica</p><p>ainda está fortemente arraigada em nossa maneira de ser e de viver, em todos os níveis e</p><p>nas diferentes esferas.</p><p>O homem, neste sentido, se assemelha mais a uma sanguessuga. Porém está</p><p>começando a emergir uma consciência ecológica profunda, você se lembra do texto</p><p>anterior? Começamos a nos preocupar e questionar sobre: a água, o petróleo, o lixo, a</p><p>poluição e, refletindo de maneira mais complexa, sobre os fumantes, as drogas, as mães</p><p>solteiras, só para mencionar algumas coisas. Pois bem, estamos percebendo que esses</p><p>problemas são de todos e temos que administrá-los.</p><p>Pois bem, é com esse espírito que proponho a você uma pequena reflexão sobre</p><p>as características e as mudanças que a pós-modernidade tem provocado em nossas vidas.</p><p>41</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Caro(a) aluno(a), você acabou de concluir uma disciplina. Mas o desafio começa</p><p>agora, no empenho de cada um, no seu dia-a-dia, em compreender e atuar sempre no</p><p>sentido de transformar o nosso planeta em uma casa para todos (um outro mundo é</p><p>possível: pesquise a biblioteca de alternativas disponível em:</p><p>www.forumsocialmundial.org.br). A filosofia, guardadas as devidas proporções, foi e será</p><p>sempre uma tentativa da humanidade compreender a sua experiência, adequando-a às</p><p>exigências mais profundas da vida.</p><p>Dicas de aprofundamento</p><p>As dicas indicadas no final das unidades objetivam levá-lo a entender melhor</p><p>algumas questões mencionadas no material acima, como também a</p><p>aprofundar questões que foram abordadas de forma insuficiente. Estudar</p><p>filosofia é mais uma atitude que uma profissão, disciplina ou um tipo de saber</p><p>específico, para os filósofos franceses do iluminismo.</p><p>Realizar uma síntese (elegendo o que é importante!) da história da filosofia é</p><p>uma tarefa que, dependendo da perspectiva em que você se encontra, pode</p><p>ser considerada hercúlea ou tola. Assim sendo, este texto é apenas um</p><p>auxílio, no sentido de facilitar a discussão para além da sala de aula.</p><p>Sempre vale lembrar que a filosofia não tem (ou não deve ter) uma</p><p>“utilidade”, pois assim correria o risco de tornar-se uma anti-filosofia, porém</p><p>sempre é válido lembrar que para Epicuro, citado por De Botton (2001, p.</p><p>81), “qualquer argumentação filosófica que não tenha como preocupação</p><p>abordar terapeuticamente o sofrimento humano é inútil; assim como a</p><p>medicina não traz benefícios se não liberta dos males do corpo, o mesmo</p><p>sucede com a filosofia, se não liberta das paixões da alma”.</p><p>42</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>Antes de continuar seu estudo, realize o Exercício 4.</p><p>43</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALVES, Rubem. Ensinar o que não se sabe. Correio Popular, Campinas. 02 de abr. 1992,</p><p>Caderno 2.</p><p>ALVES, Rubem. A máquina da felicidade. Correio Popular. 24 de mar. 1992, Caderno 2.</p><p>ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de filosofia. São</p><p>Paulo: Moderna, 1992.</p><p>ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à</p><p>filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993.</p><p>BOFF, Leonardo. A águia e a galinha. Uma metáfora da condição humana. Petrópolis:</p><p>Vozes, 1997.</p><p>BOFF, Leonardo. Do iceberg à Arca de Noé. O nascimento de uma ética planetária. Rio</p><p>de Janeiro: Garamond, 2002.</p><p>BOFF, Leonardo. Saber cuidar: Ética – compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 1999.</p><p>CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2001.</p><p>CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980. (Col. Primeiros Passos)</p><p>CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Justiça e paz se abraçarão. 1996.</p><p>CONNOR, Steven. Cultura pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1993.</p><p>GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. 9. ed. São Paulo: Cia das Letras, 1995.</p><p>GUIMARÃES, Carlos Antônio Fragoso. Ecologia Profunda, Ecologia Social e Eco-Ética.</p><p>1997. Disponível em: <www.geocities.com/Vienna/2809/ecologia.html>. Acesso em 19 set.</p><p>2018.</p><p>HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1994.</p><p>HARVEY, David. Ideologia. Disponível em: www.odialetico.kit.net/index9.html>. Acesso</p><p>em: 24 set. 2019. (Do livro: Filosofia. São Paulo: Ática, 2000, p. 216-219).</p><p>LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. 5. ed. Rio de Janeiro: José Olympio,</p><p>1998.</p><p>SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mão de Alice. O social e o político na pós-</p><p>modernidade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995.</p><p>SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia no Ensino Médio. [livro eletrônico] São Paulo:</p><p>Cortez, 2014.</p><p>SUNG, Jung Mo; SILVA, Josué Cândido da. Conversando sobre ética e sociedade. 6. ed.</p><p>Petrópolis: Vozes, 1999.</p><p>VATTIMO, Gianni. O fim da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 1996.</p><p>44</p><p>www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335</p><p>WARBURTON, Nigel.</p><p>O que é a filosofia? 1998. Disponível em: <www.filosofianet.org>.</p><p>Acesso em: 03 out. 2019.</p>