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<p>1</p><p>LINGUAGENS, CÓDIGOS</p><p>e suas tecnologias</p><p>Lucas Limberti, Murilo de Almeida Gonçalves e Pércio Luis Ferreira</p><p>Gramática e Literatura</p><p>L</p><p>ENTRE LETRAS</p><p>C</p><p>Gramática e Literatura</p><p>para vestibular medicina</p><p>1ª edição • São Paulo</p><p>2019</p><p>© Hexag Sistema de Ensino, 2018</p><p>Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019</p><p>Todos os direitos reservados.</p><p>Autores</p><p>Lucas Limberti</p><p>Murilo de Almeida Gonçalves</p><p>Pércio Luis Ferreira</p><p>Diretor geral</p><p>Herlan Fellini</p><p>Coordenador geral</p><p>Raphael de Souza Motta</p><p>Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica</p><p>Hexag Sistema de Ensino</p><p>Diretor editorial</p><p>Pedro Tadeu Batista</p><p>Editoração eletrônica</p><p>Arthur Tahan Miguel Torres</p><p>Claudio Guilherme da Silva</p><p>Eder Carlos Bastos de Lima</p><p>Fernando Cruz Botelho de Souza</p><p>Matheus Franco da Silveira</p><p>Raphael de Souza Motta</p><p>Raphael Campos Silva</p><p>Projeto gráfico e capa</p><p>Raphael Campos Silva</p><p>Foto da capa</p><p>pixabay (http://pixabay.com)</p><p>Impressão e acabamento</p><p>Meta Solutions</p><p>ISBN: 978-85-9542-072-4</p><p>Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o</p><p>ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição</p><p>para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre</p><p>as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.</p><p>O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qual-</p><p>quer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.</p><p>2019</p><p>Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino.</p><p>Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP</p><p>CEP: 04043-300</p><p>Telefone: (11) 3259-5005</p><p>www.hexag.com.br</p><p>contato@hexag.com.br</p><p>CARO ALUNO</p><p>O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010, são centenas de aprovações nos</p><p>principais vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e em todo Brasil. O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu conteúdo</p><p>enriquecido, inclusive com questões recentes dos relevantes vestibulares de 2019.</p><p>Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens, criação de novas seções e também na utilização de cores.</p><p>No total, são 103 livros, 24 cadernos de Estudo Orientado e 6 cadernos de aula.</p><p>O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de forma objetiva e clara o que o aluno</p><p>realmente necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares do Brasil e Enem, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar.</p><p>Todo livro é iniciado por um infográfico. Esta seção, de forma simples, resumida e dinâmica, foi desenvolvida para indicação dos assuntos mais abordados nos</p><p>principais vestibulares, voltados para o curso de medicina em todo território nacional.</p><p>O conteúdo das aulas está dividido da seguinte forma:</p><p>TEORIA</p><p>Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos, de cada coleção, tem como principal objetivo apoiar o estudante na resolução de questões propos-</p><p>tas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações</p><p>dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados, e compõem um conjunto abrangente de informações para o</p><p>estudante, que vai dedicar-se à rotina intensa de estudos.</p><p>TEORIA NA PRÁTICA (EXEMPLOS)</p><p>Desenvolvida pensando nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Nesses</p><p>compilados nos deparamos com modelos de exercícios resolvidos e comentados, aquilo que parece abstrato e de difícil compreensão torna-se mais acessível</p><p>e de bom entendimento aos olhos do estudante.</p><p>Através dessas resoluções é possível rever a qualquer momento as explicações dadas em sala de aula.</p><p>INTERATIVIDADE</p><p>Trata-se do complemento às aulas abordadas. É desenvolvida uma seção que oferece uma cuidadosa seleção de conteúdos para complementar o</p><p>repertório do estudante. É dividido em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas e livros para o aprendizado do aluno.</p><p>Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados. Há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões</p><p>de aplicativos que facilitam os estudos, sendo conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica. Tudo é selecionado com finos</p><p>critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso estudante.</p><p>INTERDISCIPLINARIDADE</p><p>Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula, a seção interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares de</p><p>hoje não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada matéria.</p><p>Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como biologia e química,</p><p>história e geografia, biologia e matemática, entre outros. Neste espaço, o estudante inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacio-</p><p>nam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o estudante consegue entender</p><p>que cada disciplina não existe de forma isolada, mas sim, fazendo parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.</p><p>APLICAÇÃO NO COTIDIANO</p><p>Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana no desenvolver do dia a dia, dificultando o</p><p>contato daqueles que tentam apreender determinados conceitos e aprofundamento dos assuntos, para além da superficial memorização ou “decorebas” de</p><p>fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios de aprendizagem com os conteúdos, foi desenvolvida a seção “Aplicação no Cotidiano”. Como o próprio nome já</p><p>aponta, há uma preocupação em levar aos nossos estudantes a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo que eles têm contato em seu</p><p>dia a dia.</p><p>CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES</p><p>Elaborada pensando no Enem, e sabendo que a prova tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, o estudante deve</p><p>conhecer as diversas habilidades e competências abordadas nas provas. Os livros da “Coleção vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas</p><p>habilidades. No compilado “Construção de Habilidades”, há o modelo de exercício que não é apenas resolvido, mas sim feito uma análise expositiva, descre-</p><p>vendo passo a passo e analisado à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurá-las na sua</p><p>prática, identificá-las na prova e resolver cada questão com tranquilidade.</p><p>ESTRUTURA CONCEITUAL</p><p>Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Geramos aos estudantes o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles</p><p>é a estrutura conceitual, para aqueles que aprendem visualmente a entender os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e</p><p>fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos</p><p>ensinados no dia, o que facilita sua organização de estudos e até a resolução dos exercícios.</p><p>A edição 2019 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e completo, um grande aliado para o seu</p><p>sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.</p><p>Herlan Fellini</p><p>SUMÁRIO</p><p>ENTRE LETRAS</p><p>GRAMÁTICA</p><p>LITERATURA</p><p>Aulas 1 e 2: Formação de palavras 7</p><p>Aulas 3 e 4: Artigos, substantivos e adjetivos 17</p><p>Aulas 5 e 6: Verbos: noções preliminares e modos indicativo e subjuntivo 29</p><p>Aulas 7 e 8: Verbos: modo imperativo e vozes</p><p>necessidades cinestésicas.</p><p>H11</p><p>Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para</p><p>diferentes indivíduos.</p><p>Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e</p><p>da própria identidade.</p><p>H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.</p><p>H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.</p><p>H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.</p><p>Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante</p><p>a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.</p><p>H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.</p><p>H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.</p><p>H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.</p><p>Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da</p><p>realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.</p><p>H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.</p><p>H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.</p><p>H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional</p><p>Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.</p><p>H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.</p><p>H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.</p><p>H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.</p><p>H24</p><p>Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,</p><p>chantagem, entre outras.</p><p>Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização</p><p>do mundo e da própria identidade.</p><p>H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.</p><p>H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.</p><p>H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.</p><p>Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida</p><p>pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,</p><p>às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.</p><p>H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem</p><p>41</p><p>Modo iMperativo</p><p>O modo imperativo manifesta ordem, conselho, súplica ou exortação do emissor, e pode ser imperativo</p><p>afirmativo ou imperativo negativo.</p><p>§ Se beber, não dirija!</p><p>§ Dorme, que já está na hora!</p><p>FORMAÇÃO DOS IMPERATIVOS</p><p>imperativo afirmativo presente do subjuntivo imperativo negativo</p><p>Não existe primeira pessoa. que eu ame Não existe primeira pessoa.</p><p>ama (tu) que tu ames não ames (tu)</p><p>ame (ele/ela/você) que ele/ela/você ame não ame (ele/ela/você)</p><p>amemos (nós) que nós amemos não amemos (nós)</p><p>amai (vós) que vós ameis não ameis (vós)</p><p>amem (eles/elas/vocês) que eles/elas/vocês amem não amem (eles/elas/vocês)</p><p>Embora a palavra “imperativo” esteja ligada à ideia de comando, ordem, não é para comandar ou ordenar</p><p>que, na maioria das vezes, servimo-nos dele. O imperativo também é empregado para designar pedido, convite,</p><p>conselho ou súplica.</p><p>§ Faça isso agora, amor! (pedido)</p><p>§ Faça-nos uma visita! (convite)</p><p>§ Meu filho, faça sempre o melhor! (conselho)</p><p>§ Senhor, faça-nos esse milagre! (súplica)</p><p>vozes</p><p>O fato expresso pelo verbo pode ser representado em três formas, em três vozes.</p><p>§ João cortou árvores.</p><p>O fato (cortou) é praticado pelo sujeito (João). Portanto, o verbo está na voz ativa.</p><p>§ Árvores foram cortadas por João.</p><p>O sujeito (árvores) é alvo, ou seja, sofre a ação de João. Portanto, o verbo está na voz passiva.</p><p>§ João cortou-se com o machado.</p><p>O sujeito (João) é alvo (cortou-se) do machado. Portanto, o verbo está na voz reflexiva.</p><p>Voz ativa</p><p>§ O fato indicado pelo verbo e exercido pelo sujeito (pessoa ou coisa) recai sobre um objeto (pessoa ou coisa).</p><p>Os coletores recolhem diariamente toneladas de lixo.</p><p>Os caminhões despejam toneladas de lixo.</p><p>§ As vozes ativa e passiva existem tão somente com verbos transitivos diretos, que necessariamente preveem</p><p>sujeito (agente da ação) e objeto (alvo da ação).</p><p>Alberto tirou boas notas.</p><p>Os pais amam seus filhos.</p><p>42</p><p>Voz passiva analítica</p><p>§ A voz passiva dos verbos é formada pelo verbo auxiliar ser, conjugado no tempo e na pessoa desejados, se-</p><p>guido do particípio do verbo principal: A árvore foi cortada pelo lenhador./ Muitas mansões foram alugadas</p><p>em Brasília./ Muita gente ainda vai ser julgada inocente.</p><p>§ A voz passiva analítica sempre é formada por tempos compostos – ser + verbo principal transitivo direto –,</p><p>bem como com pelos verbos auxiliares ter e haver.</p><p>Têm sido (foram) alugadas muitas mansões em Brasília.</p><p>Voz passiva sintética</p><p>§ Formada com o verbo principal transitivo direto na voz ativa, na terceira pessoa do singular ou do plural,</p><p>acompanhado da partícula apassivadora “se“.</p><p>Aluga-se casa.</p><p>Alugam-se casas.</p><p>Compra-se apartamento.</p><p>Compram-se apartamentos.</p><p>Persuadem-se alunos com muito empenho.</p><p>Voz reflexiva</p><p>§ Necessariamente formada pelos verbos pronominais – acompanhados de “me“, “te“, “se“, “nos“, “vos“,</p><p>“se“ –, cuja ação designada parte do sujeito e volta-se para ele mesmo.</p><p>Eu me feri. (O ato e o efeito do ferimento partem e voltam para o “eu”, que é o sujeito.)</p><p>Tu te feriste.</p><p>Ele se machucou.</p><p>Nós nos prejudicamos.</p><p>Eles se feriram com faca.</p><p>43</p><p>ANALISAR</p><p>Imagens Anúncios</p><p>O imperativo é usualmente empregado no universo publicitário. Procure identificar em qual pessoa</p><p>gramatical os verbos presentes nas imagens abaixo estão empregados.</p><p>INTERATIVIAA DADE</p><p>44</p><p>estrutura ConCeitual</p><p>MORFOLOGIA</p><p>VERBOS</p><p>VOZES</p><p>MODOS</p><p>INDICATIVO SUBJUNTIVO IMPERATIVO</p><p>NÃO ARTICULA TEMPO</p><p>Afirmativo</p><p>Negativo</p><p>- Passiva</p><p>- Reflexiva</p><p>- Ativa</p><p>Advérbios</p><p>Competências</p><p>1 e 8</p><p>Habilidades</p><p>1, 2, 3 e 27</p><p>te</p><p>rim</p><p>ak</p><p>as</p><p>ih</p><p>0/</p><p>Pi</p><p>xa</p><p>ba</p><p>y</p><p>L</p><p>ENTRE LETRAS</p><p>C</p><p>09 10</p><p>Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para</p><p>sua vida.</p><p>H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.</p><p>H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.</p><p>H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.</p><p>H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação</p><p>e informação.</p><p>Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras</p><p>culturas e grupos sociais.</p><p>H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.</p><p>H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.</p><p>H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.</p><p>H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.</p><p>Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da</p><p>identidade.</p><p>H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.</p><p>H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.</p><p>H11</p><p>Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para</p><p>diferentes indivíduos.</p><p>Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e</p><p>da própria identidade.</p><p>H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.</p><p>H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.</p><p>H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.</p><p>Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante</p><p>a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.</p><p>H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.</p><p>H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.</p><p>H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.</p><p>Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da</p><p>realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.</p><p>H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.</p><p>H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.</p><p>H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional.</p><p>Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.</p><p>H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.</p><p>H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.</p><p>H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.</p><p>H24</p><p>Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,</p><p>chantagem, entre outras.</p><p>Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização</p><p>do mundo e da própria identidade.</p><p>H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.</p><p>H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.</p><p>H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.</p><p>Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida</p><p>pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,</p><p>às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.</p><p>H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem</p><p>47</p><p>Advérbios</p><p>Advérbio é uma classe de palavras invariável que se associa a verbos, a adjetivos ou a outros advérbios,</p><p>cada qual com intenções bastante específicas.</p><p>§ Associa-se a verbos para indicar com maior precisão as circunstâncias da ação verbal.</p><p>Exemplo: Paula viajou ontem. (O advérbio “ontem” indica com maior precisão quando Paula viajou.)</p><p>§ Associa-se a adjetivos para intensificar o adjetivo já apresentado.</p><p>Exemplo: Roberto ficou bastante preocupado. (O advérbio “bastante” intensifica o adjetivo preocupado.)</p><p>§ Associa-se a advérbios para intensificar outro advérbio já apresentado.</p><p>Exemplo: O jogador do Corinthians está se recuperando muito bem. (O advérbio “muito” intensifica o</p><p>outro advérbio “bem”.)</p><p>Classificação dos advérbios</p><p>Os advérbios e as locuções adverbiais estabelecem diferentes relações semânticas, que são as seguintes:</p><p>§ de lugar: aqui; antes; dentro; ali; adiante; fora; acolá; atrás; além; lá; detrás; aquém; cá; acima; onde; perto;</p><p>aí; abaixo; aonde; longe; debaixo; algures; defronte; nenhures; adentro; afora; alhures; aquém; embaixo; ex-</p><p>ternamente; a distância; a distância de; de longe; de perto; em cima; à direita; à esquerda; ao lado; em volta.</p><p>§ de tempo: hoje; logo; primeiro; ontem; tarde; outrora; amanhã; cedo; depois; ainda; antigamente; an-</p><p>tes; doravante; nunca; então; ora; jamais; agora; sempre; já; enfim; afinal; amiúde; breve; constantemente;</p><p>imediatamente; primeiramente; provisoriamente; sucessivamente; às vezes; à tarde; à noite; de manhã; de</p><p>repente; de vez em quando; de quando em quando; a qualquer momento; de tempos em tempos; em breve;</p><p>hoje em dia.</p><p>§ de modo: bem; mal; assim; melhor; pior; depressa; debalde; devagar; às pressas; às claras; às cegas; à toa;</p><p>à vontade; às escondidas; aos poucos; desse jeito; desse modo; dessa maneira; em geral; frente a frente;</p><p>lado a lado; a pé; de cor; em vão; e a maior parte dos que terminam em ”–mente”: calmamente; triste-</p><p>mente; propositadamente; pacientemente; amorosamente; docemente; escandalosamente; bondosamente;</p><p>generosamente.</p><p>§ de afirmação: sim; certamente; realmente; decerto; efetivamente; certo; decididamente; deveras; indubi-</p><p>tavelmente.</p><p>§ de negação: não; nem; nunca; jamais; de modo algum; de forma alguma; tampouco; de jeito nenhum.</p><p>§ de dúvida: acaso; porventura; possivelmente; provavelmente; talvez; casualmente; por certo; quem sabe.</p><p>§ de intensidade: muito; demais; pouco; tão; em excesso; bastante; mais; menos; demasiado; quanto; quão;</p><p>tanto; que (quão); tudo; nada; todo; quase; de todo; de muito; por completo; extremamente; intensamente;</p><p>grandemente; bem (aplicado a propriedades graduáveis).</p><p>§ interrogativos: onde; aonde; donde; quando; como; por que; empregadas em interrogações diretas ou</p><p>indiretas – entende-se por interrogações diretas aquelas em que as palavras em destaque iniciam uma frase</p><p>interrogativa. Já as interrogações indiretas são aquelas em que os termos destacados não iniciam a frase.</p><p>Interrogação direta Interrogação indireta</p><p>Como isso aconteceu? Queria saber como isso aconteceu.</p><p>Onde ela mora? Precisava saber onde ela mora.</p><p>Por que ela não veio? Quero entender por que ela não veio.</p><p>Aonde você vai? Quero saber aonde você vai.</p><p>Donde vem esse rapaz? Necessito entender donde vem esse rapaz.</p><p>Quando que chega a carta? Quero saber quando</p><p>chega a carta.</p><p>48</p><p>Palavras denotativas que se</p><p>assemelham aos advérbios</p><p>Existem algumas palavras e locuções que se</p><p>assemelham muito a advérbios, recebendo o nome</p><p>de advérbios impróprios ou palavras com sentido</p><p>denotativo.</p><p>§ Advérbios de exclusão: apenas; exclusiva-</p><p>mente; salvo; senão; somente; simplesmente; só;</p><p>unicamente.</p><p>Exemplo: Todos se foram pela manhã; somen-</p><p>te ele quis partir mais tarde.</p><p>§ Advérbios de inclusão: ainda; até; mesmo;</p><p>inclusivamente; também.</p><p>Exemplo: Todos se foram pela manhã, até ele</p><p>que queria partir mais tarde.</p><p>§ Advérbios de ordem: depois; primeiramente;</p><p>ultimamente.</p><p>Exemplo: Primeiramente, gostaria de agra-</p><p>decer a todos os que estiveram presentes.</p><p>Locuções adverbiais</p><p>Locuções adverbiais são expressões forma-</p><p>das a partir de duas ou mais palavras que exercem</p><p>função adverbial. Geralmente, são iniciadas por uma</p><p>preposição, seguida de outra palavra como substan-</p><p>tivo, advérbio ou verbo, e que seja capaz de indicar</p><p>a circunstância.</p><p>§ de lugar: à esquerda; à direita; de longe; de</p><p>perto; para dentro; por aqui.</p><p>§ de afirmação: por certo; sem dúvida.</p><p>§ de modo: às pressas; passo a passo; de cor; em</p><p>vão; em geral; frente a frente.</p><p>§ de tempo: à noite; de dia; de vez em quando; à</p><p>tarde; hoje em dia; nunca mais.</p><p>Grau dos advérbios</p><p>Os advérbios são palavras, por definição, invari-</p><p>áveis (não sofrem alterações de gênero ou número). No</p><p>entanto, há algumas variações de grau.</p><p>Grau comparativo</p><p>Formado do mesmo modo que o comparativo do</p><p>adjetivo:</p><p>§ de igualdade:</p><p>tão + advérbio + quanto (como)</p><p>Exemplo: Sara pulou tão alto quanto Patrícia.</p><p>§ de inferioridade:</p><p>menos + advérbio + que (do que)</p><p>Exemplo: Ana fala menos alto que João.</p><p>§ de superioridade:</p><p>mais + advérbio + que (do que)</p><p>Exemplo: Ana fala mais alto que João.</p><p>Grau superlativo</p><p>Intensifica a qualidade de uma coisa ou pessoa.</p><p>§ Superlativo analítico: vem acompanhado de</p><p>outro advérbio.</p><p>Exemplo:</p><p>O rapaz falava muito alto. (”muito” é advérbio</p><p>de intensidade; ”alto”, de modo)</p><p>§ Superlativo sintético: é formado por sufixos.</p><p>Exemplo:</p><p>O rapaz falava altíssimo. (advérbio de modo</p><p>formado pelo acréscimo do sufixo)</p><p>Observação: na linguagem afetiva e popular,</p><p>certos advérbios são empregados no diminutivo,</p><p>com valor de superlativo.</p><p>Exemplos:</p><p>O homem caminhava devagarinho.</p><p>Amanhã precisarei acordar cedinho.</p><p>Ela mora pertinho daqui.</p><p>O advérbio aplicado ao texto</p><p>As principais aplicações dos advérbios ao texto e</p><p>que respondem a questões semânticas importantes são</p><p>as dos advérbios frásicos versus advérbios extrafrásicos,</p><p>além da distribuição de advérbios modais (terminados</p><p>em –mente).</p><p>§ Advérbios frásicos: são aqueles que modifi-</p><p>cam um elemento específico da frase. Não apre-</p><p>sentam marcas de deslocamento (vírgulas).</p><p>Exemplo: O veículo corre muito.</p><p>49</p><p>§ Advérbios extrafrásicos: são aqueles que são exteriores à frase, estão no âmbito da enunciação e, ge-</p><p>ralmente, deslocados por vírgula.</p><p>Exemplo: Ele, infelizmente, não jogou bem hoje.</p><p>Observação: os advérbios extrafrásicos funcionam como elementos de avaliação do enunciador acerca do</p><p>conteúdo enunciado.</p><p>§ Distribuição textual de advérbios modais (mais de um advérbio terminado em “–mente”)</p><p>Quando temos uma frase que congrega mais de um advérbio terminado em “–mente”, deve-se fazer a con-</p><p>tração dos advérbios centrais (retirar o termo “–mente”) e preservar apenas o último advérbio flexionado.</p><p>Errado: Ele saiu calmamente, sorrateiramente e rapidamente.</p><p>Certo: Ele saiu calma, sorrateira e rapidamente.</p><p>50</p><p>INTERATIVIAA DADE</p><p>LER E OUVIRREFLETIR</p><p>Poema / Poesia Poema só para Jaime Ovalle / Você Só... Mente</p><p>Procure encontrar os advérbios no poema e na canção abaixo.</p><p>Poema só para Jaime Ovalle</p><p>Quando hoje acordei, ainda fazia escuro</p><p>(Embora a manhã já estivesse avançada).</p><p>Chovia.</p><p>Chovia uma triste chuva de resignação</p><p>Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.</p><p>Então me levantei,</p><p>Bebi o café que eu mesmo preparei,</p><p>Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...</p><p>– Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.</p><p>(Manuel Bandeira)</p><p>Você Só... Mente</p><p>Não espero mais você, pois você não aparece</p><p>Creio que você se esquece das promessas que me faz</p><p>E depois vem dar desculpas, inocentes e banais</p><p>É porque você bem sabe</p><p>Que em você desculpo</p><p>Muitas coisas mais</p><p>O que sei somente</p><p>É que você é um ente</p><p>Que mente inconscientemente</p><p>Mas finalmente</p><p>Não sei por que</p><p>Eu gosto imensamente</p><p>De você</p><p>Invariavelmente, sem ter o menor motivo</p><p>Em um tom de voz altivo</p><p>Você quando fala mente</p><p>Mesmo involuntariamente, faço cara de inocente</p><p>Pois sua maior mentira, é dizer à gente que você não mente.</p><p>(Noel Rosa)</p><p>51</p><p>51</p><p>EstruturA ConCEituAl</p><p>Gramática Normativa</p><p>Formação de palavras</p><p>Classes de palavras</p><p>Advérbio Preposição</p><p>Classes</p><p>invariáveis</p><p>Classe</p><p>variável</p><p>Interjeição Numeral</p><p>FUVEST</p><p>A maior parte das questões de literatura da Fuvest refere-se às obras obrigatórias. Neste caderno,</p><p>você encontrará alguns desses exercícios de anos anteriores sobre o HUMANISMO, bem como</p><p>questões sobre as estéticas medieval, clássica e barroca.</p><p>UNESP</p><p>Como a Unesp não possui uma lista obrigatória de livros, os exercícios deste vestibular con-</p><p>templam o conhecimentos das escolas literárias, bem como de seus principais representantes.</p><p>Neste caderno, estão presentes questões sobre TROVADORISMO, HUMANISMO, CLASSICISMO</p><p>E BARROCO.</p><p>UNICAMP</p><p>A maior parte das questões de literatura da Unicamp refere-se às obras obrigatórias. Neste caderno,</p><p>você encontra alguns desses exercícios de anos anteriores sobre o HUMANISMO e o CLASSICISMO.</p><p>UNIFESP</p><p>Como a Unifesp não possui uma lista obrigatória de livros, os exercícios deste vestibular con-</p><p>templam o conhecimentos das escolas literárias, bem como de seus principais representantes.</p><p>Neste caderno, estão presentes questões sobre TROVADORISMO, HUMANISMO, CLASSICISMO</p><p>e BARROCO.</p><p>ENEM/UFMG/UFRJ</p><p>Como o ENEM não possui uma lista obrigatória de livros, os exercícios deste exame contemplam</p><p>o conhecimentos das escolas literárias, bem como de seus principais representantes.</p><p>UERJ</p><p>Neste caderno, você encontrará exercícios da UERJ apenas nas aulas 1 e 2. O Vestibular da UERJ</p><p>não exige os demais conteúdos contidos neste livro.</p><p>FA</p><p>CU</p><p>LDADE DE MEDICINA</p><p>BOTUCATU</p><p>1963</p><p>Abordagem de LITERATURA nos principais vestibulares.</p><p>A arte literária e</p><p>o estudo dos gêneros</p><p>Competência</p><p>5</p><p>Habilidades</p><p>15, 16 e 17</p><p>L</p><p>ENTRE LETRAS</p><p>C</p><p>01 02</p><p>Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para</p><p>sua vida.</p><p>H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.</p><p>H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.</p><p>H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.</p><p>H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.</p><p>Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras</p><p>culturas e grupos sociais.</p><p>H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.</p><p>H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.</p><p>H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.</p><p>H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.</p><p>Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da</p><p>identidade.</p><p>H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas</p><p>de um grupo social.</p><p>H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.</p><p>H11</p><p>Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para</p><p>diferentes indivíduos.</p><p>Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e</p><p>da própria identidade.</p><p>H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.</p><p>H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.</p><p>H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.</p><p>Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante</p><p>a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.</p><p>H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.</p><p>H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.</p><p>H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.</p><p>Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da</p><p>realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.</p><p>H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.</p><p>H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.</p><p>H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional</p><p>Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.</p><p>H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.</p><p>H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.</p><p>H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.</p><p>H24</p><p>Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,</p><p>chantagem, entre outras.</p><p>Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização</p><p>do mundo e da própria identidade.</p><p>H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.</p><p>H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.</p><p>H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.</p><p>Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida</p><p>pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,</p><p>às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.</p><p>H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem</p><p>57</p><p>O que é arte?</p><p>Esse é um conceito historicamente muito discutido. Um estudo de Literatura que se pretenda aprofundado</p><p>deve levar em consideração os sentidos da arte e notadamente a análise técnica dela. A palavra literatura é de</p><p>origem latina e significa “arte de escrever”. Portanto, conjugar essa relação entre arte e escrita é o primeiro passo</p><p>para dar corpo à maneira de divulgar os valores culturais que estruturam uma sociedade e uma civilização. Enten-</p><p>der os conhecimentos científicos, filosóficos, místicos e artísticos de um dado contexto é de fato conhecer o próprio</p><p>homem e compreender sua identidade.</p><p>O filósofo Aristóteles considerava que a arte era uma maneira de “imitar” (mimesis, do grego) a realidade</p><p>do homem, que, em seus vários suportes, cria essa possibilidade de fazê-lo pensar sua própria vida, autoconhecer-</p><p>-se, encontrar-se como ser humano, observar criticamente a realidade, divertir-se e sonhar.</p><p>Da Antiguidade Clássica às Idades Moderna e Contemporânea, a arte se manifesta em vários suportes –</p><p>música, pintura, literatura, dança, escultura e teatro. Funciona como elemento transformador da consciência huma-</p><p>na. O artista, esse criador, cria e recria realidades, expressa valores estéticos com beleza, harmonia e equilíbrio e</p><p>estrutura-se à luz de um contexto de circulação, de transformação, de um agente e de um público.</p><p>No decorrer dos tempos, esses conceitos foram se transformando sem perder sua lógica. Seja na perfeição</p><p>e harmonia das formas da Antiguidade Clássica (período greco-latino), seja no teocentrismo medieval, com suas</p><p>relações de vassalagem, seja no século XIX, com suas utopias românticas, seja nas vanguardas artísticas do século</p><p>XX. Emoções humanas, alegrias e angústias, ideologias, religião, luta social e cultura sempre perpassaram e fre-</p><p>quentaram os conceitos estéticos da arte e da literatura.</p><p>A Literatura é um mundo aberto ao mesmo tempo às múltiplas reflexões sobre a história do mundo, sobre</p><p>as ciências naturais, sobre as ciências sociológicas, sobre a antropologia cultural, sobre os princípios éticos, sobre</p><p>política, economia, ecologia (...)</p><p>MORIN, Edgar. Meus demônios. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.</p><p>O que nos leva a ir ao cinema, a um show, à biblioteca, ao museu e, principalmente, a ler um livro? A res-</p><p>posta está no reflexo da própria condição humana, no processo de identificação do homem com a arte. Essa atitude</p><p>transforma só pelo fato de estarmos refletindo, primeira condição da arte. Esse ponto de partida, independente-</p><p>mente de sua presumível qualidade, é uma forma de compreender o mundo que nos cerca.</p><p>58</p><p>É impossível não se identificar com o eu lírico, a</p><p>voz do poema, ao lermos versos como este, de Manuel</p><p>Bandeira:</p><p>O bicho (Manuel Bandeira)</p><p>Vi ontem um bicho</p><p>Na imundice do pátio</p><p>Catando comida entre os detritos.</p><p>Quando achava alguma coisa,</p><p>Não examinava nem cheirava:</p><p>Engolia com voracidade.</p><p>O bicho não era um cão,</p><p>Não era um gato,</p><p>Não era um rato.</p><p>O bicho, meu Deus, era um homem.</p><p>Comunicação e linguagem</p><p>A Literatura leva em consideração o emprego de</p><p>imagens criadas a partir das palavras.</p><p>A palavra está sempre carregada de um conteú-</p><p>do ou sentido ideológico ou vivencial.</p><p>BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem.</p><p>São Paulo: Hucitec, 1998.</p><p>Essa linguagem artística respeita alguns parâ-</p><p>metros, condicionamentos sociais e culturais, que lhe</p><p>oferecem a dimensão de suas verdades e o melhor</p><p>modo de dizê-las. À análise literária cabe construir um</p><p>processo de comunicação segundo o qual “o que” está</p><p>sendo dito tenha estreita relação com o “como” está</p><p>sendo dito. É dessa simbiose que se estabelece uma es-</p><p>tética específica, atrelada a um contexto específico, e se</p><p>nomeia uma dada escola literária específica.</p><p>Tudo o que nos rodeia e que foi criado pela mão</p><p>do homem, todo o mundo da cultura, diferentemente</p><p>do mundo da natureza, tudo isso é produto da imagina-</p><p>ção e da criação humana.</p><p>VYGOTSKY, Lev S. Pensamento e linguagem.</p><p>São Paulo: Martins Fontes, 1987.</p><p>O essencial em Literatura é estabelecer uma re-</p><p>lação de sentido entre as palavras e os leitores, para</p><p>tanto,</p><p>os escritores se valem de uma série de recursos</p><p>técnicos que elevam essa linguagem ao conceito de</p><p>arte, diferindo, por exemplo, de um texto informativo ou</p><p>instrucional, o texto literário deve explorar o potencial</p><p>significativo e sonoro das palavras, bem como os aspec-</p><p>tos ora denotativos, em sua literalidade de dicionário,</p><p>ora conotativos em que as palavras adquirem novo sen-</p><p>tido a fim de produzir efeito artístico.</p><p>O poder de explorar os sentidos coloca essas</p><p>palavras em situações inusitadas, criando imagens com</p><p>as figuras de linguagem nas quais o escritor “desenha”</p><p>para o leitor comparações que concretizam as emoções.</p><p>Como no uso da metáfora, que aproxima dois elementos</p><p>num contexto específico, transferindo de um para outro</p><p>suas características. Como no exemplo a seguir, de Mário</p><p>Quintana, em que a “inspiração” é comparada, por metá-</p><p>fora, a “um pássaro que pousa no livro que lês”.</p><p>Os poemas são pássaros que chegam</p><p>não se sabe de onde e pousam</p><p>no livro que lês.</p><p>Quando fechas o livro, eles alçam voo</p><p>como de um alçapão.</p><p>Eles não têm pouso</p><p>nem porto;</p><p>alimentam-se um instante em cada</p><p>par de mãos e partem.</p><p>E olhas, então, essas tuas mãos vazias,</p><p>no maravilhado espanto de saberes</p><p>que o alimento deles já estava em ti...</p><p>Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 469.</p><p>Prosa e poesia</p><p>Prosa e poesia são dois elementos constitutivos</p><p>desse processo de comunicação literária que ganha for-</p><p>mas diferentes. A prosa é mais referencial e se vale do</p><p>uso do texto corrido organizado da esquerda para a di-</p><p>reita no papel ocidental sem preocupação com a forma,</p><p>apenas com o conteúdo e a linhas cheias.</p><p>Já o poema está primordialmente preocupado</p><p>com a forma e adquire, no decorrer da história, várias</p><p>estruturas a partir da lógica do verso, que é a linha do</p><p>poema, e de um conjunto deles, denominado estrofe. Es-</p><p>tão imersos num trabalho de ritmo e rimas que podem</p><p>ou não seguir padrões de tamanho e convenção. O termo</p><p>“poesia”, “poética” e “poeta” derivam dos termos dos</p><p>grego poíesis, poiêtikê, poiêtês, que significam criar.</p><p>59</p><p>O que é gênerO literáriO?</p><p>Gênero é o modo como se veicula a mensagem</p><p>literária, o padrão a ser utilizado na composição artís-</p><p>tica. Há grandes diferenças entre o conteúdo e a forma</p><p>dos textos. Um poema não se confunde com um conto,</p><p>e um romance segue padrões bastante próprios em re-</p><p>lação a uma peça de teatro, por exemplo.</p><p>Na Antiguidade Clássica, Aristóteles conceituou</p><p>conteúdo como elemento constitutivo da representação</p><p>das paixões, das ações e do comportamento humano. A</p><p>forma desse conteúdo, a princípio aplicada apenas à po-</p><p>esia, compreende três gêneros: épico, lírico e dramático.</p><p>Odisseu e Penélope</p><p>O gênero épico</p><p>Épico é derivado do grego épos que, entre outras</p><p>coisas, significa palavra, verso, discurso. Esse gênero,</p><p>também chamado de epopeia, nasceu com a Ilíada e a</p><p>Odisseia, de Homero. Oriundo das tradições orais, elas</p><p>contam histórias que auxiliam o homem a entender a</p><p>trajetória de seus povos. É característica das narrativas</p><p>mais antigas a simbolização dos ideais coletivos de um</p><p>povo na figura de um herói imerso numa grande aven-</p><p>tura, numa guerra ou num acontecimento histórico. O</p><p>eu lírico da epopeia relaciona-se diretamente com a so-</p><p>ciedade. A imagem do herói é constituída de uma repre-</p><p>sentação de seu povo, cujo comportamento exemplar</p><p>vai caracterizá-lo como figura predestinada a cumprir</p><p>determinada missão.</p><p>Narrados de maneira elevada e com vocabulário</p><p>grandiloquente e solene, os assuntos históricos sofrem</p><p>influência do imaginário e não se privam de recorrer à</p><p>imaginação, bem como à mitologia.</p><p>Na cena inicial da Odisseia, de Homero, é possí-</p><p>vel identificar características primordiais do texto épico,</p><p>como o pedido de inspiração do poeta às musas para</p><p>contar a história de Odisseu, que passou por terríveis</p><p>provações até desfazer as muralhas de Troia:</p><p>Musa, reconta-me os feitos do herói astucioso</p><p>que muito peregrinou, dês que esfez as muralhas sa-</p><p>gradas de Troia; muitas cidades dos homens viajou, co-</p><p>nheceu seus costumes, como no mar padeceu sofrimen-</p><p>tos inúmeros na alma,para que a vida salvasse e a de</p><p>seus companheiros a volta.</p><p>Homero. Odisseia. Tradução de: Carlos Alberto Nunes.</p><p>5. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. Coleção Universidades.</p><p>A estrutura do poema épico</p><p>É dividido em partes, chamadas cantos, que,</p><p>por sua vez, são divididos em:</p><p>§ Proposição:</p><p>O texto apresenta o tema e o herói.</p><p>§ Invocação:</p><p>O texto pede inspiração à musa (divindade</p><p>inspiradora da poesia).</p><p>§ Narração:</p><p>Narração das aventuras do herói.</p><p>§ Conclusão ou Epílogo:</p><p>Encerramento das aventuras e conclusão</p><p>dos feitos heroicos.</p><p>As epopeias são divididas em “clássicas ou pri-</p><p>márias” ou de “imitação ou secundárias”.</p><p>60</p><p>Epopeias clássicas ou primárias</p><p>A estrutura dos poemas de Homero serviu de inspi-</p><p>ração para outros poetas, como o latino Virgílio, em Eneida</p><p>(19 a.C.), e Camões, em Os Lusíadas (1572). A Odisseia e</p><p>a Ilíada, de Homero, são textos clássicos que inspiraram e</p><p>sistematizaram regras e estruturas formais para os demais.</p><p>Eneias foge em direção à península Itálica.</p><p>Nesse tipo de texto, os deuses são apresentados</p><p>como seres reais que são tomados por sentimentos hu-</p><p>manos e podem tanto prejudicar como ajudar o herói, de-</p><p>pendendo do seu estado emocional e da preponderância</p><p>do tema narrado. Outro aspecto importante é perceber a</p><p>preocupação do poeta em relacionar as ações do herói</p><p>com o povo a que pertence a fim de criar uma divulgação</p><p>da identidade pátria.</p><p>Epopeias de imitação ou secundárias</p><p>Entre os anos 30 e 19 a.C., o poeta latino Virgí-</p><p>lio escreveu a Eneida, considerada a “epopeia nacional</p><p>dos romanos”. No classicismo renascentista, o portu-</p><p>guês Luís de Camões escreveu Os Lusíadas, um dos</p><p>mais conhecidos poemas épicos de imitação. Nele, são</p><p>reveladas as aventuras e peripécias do herói Vasco da</p><p>Gama, primeiro navegante que cruzou o Cabo da Boa</p><p>Esperança, ao sul da África, e levou os portugueses às</p><p>Índias por uma nova rota comercial.</p><p>As transformações do herói</p><p>1. Na Ilíada e na Odisseia, o herói é guiado pelas</p><p>divindades.</p><p>2. Na Eneida e em Os Lusíadas, o herói é represen-</p><p>tante de um povo.</p><p>3. Em Robson Crusoé e em O conde de Monte Cris-</p><p>to, o herói é humano e individual.</p><p>O gênero lírico</p><p>Esse gênero nasceu na Grécia antiga, cujos po-</p><p>emas eram acompanhados musicalmente pela lira. É o</p><p>gênero centrado na expressão do “eu poético” ou “eu</p><p>poemático” – voz que fala no poema, não necessaria-</p><p>mente correspondente à voz do autor.</p><p>Menos grandiosos que os da epopeia, seus te-</p><p>mas dizem respeito ao mundo interior do eu lírico, aos</p><p>sentimentos, ao individualismo, às relações consigo</p><p>mesmo. Pronomes e verbos vêm normalmente na pri-</p><p>meira pessoa do singular e predominam as emoções,</p><p>rimas, ritmo, sonoridade das palavras, metáforas, repeti-</p><p>ções, entre outras figuras de linguagem, que trazem aos</p><p>versos musicalidade e suavidade.</p><p>O gênero lírico é subdividido em: soneto, elegia,</p><p>ode, madrigal, écloga etc. São formas poéticas mais</p><p>afeitas ao gênero lírico.</p><p>§ Soneto – forma lírica bastante conhecida, é</p><p>composta de catorze versos, com dois quartetos</p><p>e dois tercetos.</p><p>Soneto da fidelidade</p><p>(Vinicius de Moraes)</p><p>De tudo ao meu amor serei atento</p><p>Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto</p><p>Que mesmo em face do maior encanto</p><p>Dele se encante mais meu pensamento.</p><p>Quero vivê-lo em cada vão momento</p><p>E em seu louvor hei de espalhar meu canto</p><p>E rir meu riso e derramar meu pranto</p><p>Ao seu pesar ou seu contentamento</p><p>E assim, quando mais tarde me procure</p><p>Quem sabe a morte, angústia de quem vive</p><p>Quem sabe a solidão, fim de quem ama</p><p>Eu possa me dizer do amor (que tive):</p><p>Que não seja imortal, posto que é chama</p><p>Mas que seja infinito enquanto dure.</p><p>61</p><p>§ Elegia – poema em tom triste e fúnebre origi-</p><p>nado na Grécia antiga. Caracterizam as digres-</p><p>sões moralizantes destinadas a ajudar ouvintes</p><p>ou leitores a suportar momentos difíceis da vida,</p><p>como a morte de um ente querido</p><p>ou de uma</p><p>personalidade pública.</p><p>Elegia na sombra</p><p>Fernando Pessoa (2 jun. 1935)</p><p>Lenta, a raça esmorece, e a alegria</p><p>É como uma memória de outrem. Passa</p><p>Um vento frio na nossa nostalgia</p><p>E a nostalgia torna-se desgraça.</p><p>Pesa em nós o passado e o futuro.</p><p>Dorme em nós o presente. E a sonhar</p><p>A alma encontra sempre o mesmo muro,</p><p>E encontra o mesmo muro ao despertar.</p><p>Quem nos roubou a alma? Que bruxedo</p><p>De que magia incógnita e suprema</p><p>Nos enche as almas de dolência e medo</p><p>Nesta hora inútil, apagada e extrema?</p><p>Os heróis resplandecem a distância</p><p>Num passado impossível de se ver</p><p>Com os olhos da fé ou os da ância.</p><p>Lembramos névoa, sombras a esquecer.</p><p>Que crime outrora feito, que pecado</p><p>Nos impôs esta estéril provação</p><p>Que é indistintamente nosso fado</p><p>Como o pressente nosso coração?</p><p>(...)</p><p>Como – longínquo sopro altivo e humano! –</p><p>Essa tarde monótona e serena</p><p>Em que, ao morrer, o imperador romano</p><p>Disse: Fui tudo, nada vale a pena.</p><p>§ Ode – poema lírico de exaltação e homenagem,</p><p>também originado na Grécia antiga, destina-</p><p>do ao canto. Composto de estrofes e de versos</p><p>iguais em tom alegre, entusiástico e de louvação.</p><p>Ode do gato</p><p>(Pablo Neruda)</p><p>Os animais foram</p><p>imperfeitos,</p><p>compridos de rabo, tristes</p><p>de cabeça.</p><p>Pouco a pouco se foram</p><p>compondo,</p><p>fazendo-se paisagem,</p><p>adquirindo pintas, graça voo.</p><p>O gato,</p><p>só o gato</p><p>apareceu completo</p><p>e orgulhoso:</p><p>nasceu completamente terminado,</p><p>anda sozinho e sabe o que quer.</p><p>O homem quer ser peixe e pássaro,</p><p>a serpente quisera ter asas,</p><p>o cachorro é um leão desorientado,</p><p>o engenheiro quer ser poeta,</p><p>a mosca estuda para andorinha,</p><p>o poeta trata de imitar a mosca,</p><p>mas o gato</p><p>quer ser só gato</p><p>e todo gato é gato</p><p>do bigode ao rabo,</p><p>do pressentimento à ratazana viva,</p><p>da noite até os seus olhos de ouro.</p><p>Não há unidade</p><p>como ele,</p><p>não tem</p><p>a lua nem a flor</p><p>tal contextura:</p><p>é uma coisa</p><p>só como o sol ou o topázio,</p><p>e a elástica linha em seu contorno</p><p>firme e sutil é como</p><p>a linha da proa de uma nave.</p><p>Os seus olhos amarelos</p><p>deixaram uma só ranhura</p><p>para jogar as moedas da noite.</p><p>Oh pequeno</p><p>imperador sem orbe,</p><p>conquistador sem pátria,</p><p>mínimo tigre de salão, nupcial</p><p>sultão do céu</p><p>das telhas eróticas,</p><p>o vento do amor</p><p>na intempérie</p><p>reclamas</p><p>quando passas</p><p>e pousas</p><p>quatro pés delicados</p><p>no solo,</p><p>cheirando, desconfiando</p><p>62</p><p>de todo o terrestre,</p><p>porque tudo</p><p>é imundo</p><p>para o imaculado pé do gato.</p><p>Oh fera independente</p><p>da casa, arrogante</p><p>vestígio da noite,</p><p>preguiçoso, ginástico</p><p>e alheio,</p><p>profundíssimo gato,</p><p>polícia secreta</p><p>dos quartos,</p><p>insígnia</p><p>de um desaparecido veludo,</p><p>certamente não há</p><p>enigma na tua maneira,</p><p>talvez não sejas mistério,</p><p>todo o mundo sabe de ti e pertences</p><p>ao habitante menos misterioso</p><p>talvez todos o acreditem,</p><p>todos se acreditem donos,</p><p>proprietários, tios</p><p>de gato, companheiros,</p><p>colegas,</p><p>discípulos ou amigos do seu gato.</p><p>Eu não.</p><p>Eu não subscrevo.</p><p>Eu não conheço o gato.</p><p>Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,</p><p>o mar e a cidade incalculável,</p><p>a botânica</p><p>o gineceu com os seus extravios,</p><p>o pôr e o menos da matemática,</p><p>os funis vulcânicos do mundo,</p><p>a casca irreal do crocodilo,</p><p>a bondade ignorada do bombeiro,</p><p>o atavismo azul do sacerdote,</p><p>mas não posso decifrar um gato.</p><p>Minha razão resvalou na sua indiferença,</p><p>os seus olhos têm números de ouro.</p><p>§ Madrigal – composição poética elegante cujos</p><p>temas invocam atos heroicos e pastoris.</p><p>Madrigal melancólico</p><p>(Manuel Bandeira)</p><p>O que eu adoro em ti,</p><p>Não é a tua beleza.</p><p>A beleza, é em nós que ela existe.</p><p>A beleza é um conceito.</p><p>E a beleza é triste.</p><p>Não é triste em si,</p><p>Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.</p><p>O que eu adoro em ti,</p><p>Não é a tua inteligência.</p><p>Não é o teu espírito sutil,</p><p>Tão ágil, tão luminoso,</p><p>– Ave solta no céu matinal da montanha.</p><p>Nem é a tua ciência</p><p>Do coração dos homens e das coisas.</p><p>O que eu adoro em ti,</p><p>Não é a tua graça musical,</p><p>Sucessiva e renovada a cada momento,</p><p>Graça aérea como o teu próprio pensamento.</p><p>Graça que perturba e que satisfaz.</p><p>O que eu adoro em ti,</p><p>Não é a mãe que já perdi.</p><p>Não é a irmã que já perdi.</p><p>E meu pai.</p><p>O que eu adoro em tua natureza,</p><p>Não é o profundo instinto maternal</p><p>Em teu flanco aberto como uma ferida.</p><p>Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.</p><p>O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!</p><p>O que eu adoro em ti, é a vida.</p><p>§ Écloga – poema ambientado no campo, pastoril</p><p>e bucólico.</p><p>Écloga IV (v. 52-59)</p><p>(Virgílio)</p><p>Vê como, com os séculos por vir, tudo se alegra.</p><p>A última parte desta vida seja-me tão longa,</p><p>que para dizer os feitos não me falte alento!</p><p>O trácio Orfeu não poderá vencer-me nestes cantos,</p><p>nem Lino, ainda que a Orfeu a mãe Calíope socorra</p><p>e por seu turno a Lino dê assistência o belo Apolo.</p><p>Se competir comigo o próprio Pã, por juiz a Arcádia,</p><p>dar-se-á por vencido o próprio Pã, por juiz a Arcádia.</p><p>63</p><p>Natureza das rimas</p><p>§ Ricas – entre palavras de classes gramaticais</p><p>diferentes:</p><p>Cristina e ensina</p><p>§ Pobres – entre palavras de mesma classe</p><p>gramatical:</p><p>Precisava esconder sua afeição...</p><p>Na Idade Média, uma imortal paixão</p><p>§ Toantes – entre sons vocálicos repetidos:</p><p>hora e bola; saltava e mata</p><p>§ Aliterantes – entre sons consonantais idênti-</p><p>cos ou semelhantes:</p><p>vozes, veladas, veludosas, vozes/</p><p>vagam nos velhos vórtices velozes</p><p>§ Consoantes – entre sons e letras repetidos:</p><p>terra e serra;</p><p>amoníaco e zodíaco;</p><p>rutilância e infância</p><p>§ Esdrúxulas – entre palavras proparoxítonas:</p><p>É um flamejador, dardânico</p><p>uma explosão de rápidas ideias,</p><p>que com um mar de estranhas odisseias</p><p>saem-lhe do crânio escultural, titânico!...</p><p>(Cruz e Sousa)</p><p>§ Agudas – entre palavras oxítonas:</p><p>dó e só; fez e vez; ti e vi</p><p>§ Preciosas – entre palavras combinadas:</p><p>múmia e resume-a; réstea e veste-a;</p><p>águia e alague-a; estrela e vê-la</p><p>§ Versos brancos – verso sem rimas.</p><p>Irene no Céu</p><p>(Manuel Bandeira)</p><p>Irene preta</p><p>Irene boa</p><p>Irene sempre de bom humor.</p><p>Imagino Irene entrando no céu:</p><p>– Licença, meu branco! E São Pedro bonachão:</p><p>– Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.</p><p>Classificação das rimas</p><p>§ Monossílabos: uma sílaba.</p><p>§ Dissílabos: duas sílabas.</p><p>§ Trissílabos: três sílabas.</p><p>§ Tetrassílabos: quatro sílabas.</p><p>§ Pentassílabos: cinco sílabas ou redondilha menor.</p><p>§ Hexassílabos: seis sílabas.</p><p>§ Heptassílabos: sete sílabas ou redondilha maior.</p><p>§ Octossílabos: com oito sílabas.</p><p>§ Eneassílabos: nove sílabas.</p><p>§ Decassílabos: dez sílabas.</p><p>§ Hendecassílabos: onze sílabas.</p><p>§ Dodecassílabos: doze sílabas ou alexandrino.</p><p>§ Verso bárbaro: mais de doze sílabas.</p><p>Disposição das rimas no poema</p><p>§ Mistas – sem posição regular:</p><p>De uma, eu sei, entretanto 1,</p><p>Que cheguei a estimar 2</p><p>Por ser tão desgraçada 3!</p><p>Tive-a hospedada 3 a um canto 1</p><p>Do pequeno jardim 4;</p><p>Era toda riscada 3</p><p>De um traço cor de mar 2</p><p>E um traço carmesim 4.</p><p>(Alberto de Oliveira)</p><p>§ Emparelhadas (AABB):</p><p>No rio caudaloso que a solidão retalha A,</p><p>na funda correnteza na límpida toalha A,</p><p>deslizam mansamente as garças alvejantes B;</p><p>nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes B...</p><p>(Fagundes Varela)</p><p>§ Interpoladas ou opostas (ABBA):</p><p>Mais de mil anos-luz já separado A,</p><p>Naquela hora, do meu pensamento B.</p><p>O filme de uma vida, ínfimo momento B,</p><p>O derradeiro instante havia impregnado A.</p><p>§ Alternadas ou cruzadas (ABAB):</p><p>Amor, essência da vida A,</p><p>é uma expressão de Deus B.</p><p>Alma, não fique perdida A!</p><p>Ele luz os dias seus B.</p><p>64</p><p>Classificação dos versos</p><p>§ Monossílabos – uma única sílaba:</p><p>Ru/a</p><p>tor/ta</p><p>Lu/a</p><p>mor/ta</p><p>Tu/a</p><p>por/ta</p><p>§ Dissílabos – duas sílabas:</p><p>Tu,/ on/tem</p><p>na/ dan/ça</p><p>que/ can/sa</p><p>vo/a/vas</p><p>com as/ fa/ces</p><p>em/ ro/sas</p><p>for/mo/sas</p><p>de/ vi/vo</p><p>car/mim</p><p>(Casimiro de Abreu)</p><p>§ Trissílabos – três sílabas:</p><p>Vem/ a au/ro/ra</p><p>pre/ssu/ro/sa</p><p>cor/ de/ ro/sa</p><p>que/ se/co/ra</p><p>de/ car/mim</p><p>as/ es/tre/las</p><p>que e/ram/ be/las</p><p>têm/ des/mai/os</p><p>já/ por/ fim</p><p>(Gonçalves Dias)</p><p>§ Tetrassílabos – quatro sílabas:</p><p>O in/ver/no/ bra/da</p><p>for/çan/do as/ por/tas</p><p>Oh!/ Que/ re/voa/da</p><p>de/ fo/lhas/ mor/tas</p><p>o/ vem/to es/pa/lha</p><p>por/ so/bre o/ chão/...</p><p>(Alphonsus de Guimarães)</p><p>§ Pentassílabos ou redondilha menor – cinco</p><p>sílabas:</p><p>Meu/ can/to/ de/ mor/te,</p><p>Gue/rrei/ros/ ou/vi</p><p>Sou/ fi/lho/ das/ sel/vas</p><p>Nas/ sel/vas/</p><p>cres/ci;</p><p>Gue/rrei/ros/ des/cen/do</p><p>Da/ tri/bo/ tupi</p><p>(Gonçalves Dias)</p><p>§ Hexassílabos – seis sílabas:</p><p>E o/ ca/va/lei/ro/ pa/ssa</p><p>an/te a/ som/bria/ por/ta</p><p>da/ lú/gu/bre/ des/gra/ça</p><p>(Alphonsus de Guimarães)</p><p>§ Heptassílabos ou redondilha maior – sete</p><p>sílabas:</p><p>An/tes/ de a/mar,/ eu/ di/zi/a</p><p>pa/ra/ cor/tar/ na/ ra/iz</p><p>es/ta/ cons/tan/te a/go/ni/a</p><p>pre/ci/so a/mar/ al/gum/ di/a</p><p>a/man/do,/ se/rei/ fe/liz.</p><p>(Menotti del Picchia)</p><p>§ Octossílabos – oito sílabas:</p><p>No ar/ so/sse/ga/do, um/ si/no/ can/ta</p><p>Um/ si/no/ can/ta/ no ar/ som/bri/o</p><p>(Olavo Bilac)</p><p>§ Eneassílabos – nove sílabas:</p><p>Ó/ gue/rrei/ros/ da/ ta/ba sa/gra/da,</p><p>Ó/ gue/rrei/ros/ da/ tri/bo tu/pi</p><p>Fa/lam/ deu/ses/ nos/ can/tos/ de/ pia/ga!</p><p>Ó/ gue/rrei/ros,/ meus/ can/tos/ ou/vi!</p><p>(Gonçalves Dias)</p><p>§ Decassílabos ou Medida Nova – dez sílabas:</p><p>A/mo/-te, ó/ cruz, /no/ vér/ti/ce/ fir/ma/da</p><p>§ Hendecassílabos – onze sílabas:</p><p>Não/ te/nho/ na/da/ com i/sso/ nem/ vem/ fa/lar</p><p>Eu/ não/ con/si/go en/ten/der/ sua/ ló/gi/ca</p><p>Mi/nha/ pa/la/vra/ can/ta/da/ po/de es/pan/tar</p><p>E a/ seus/ ou/vi/dos/ pa/re/cer/ e/xó/ti/ca.</p><p>(Caetano Veloso)</p><p>§ Dodecassílabos ou Alexandrinos – doze</p><p>sílabas:</p><p>A/ ca/sa/ que/ foi/ mi/nha,/ ho/je é/ ca/sa/ de/ Deus.</p><p>Traz/ no/ topo u/ma/ cruz./ A/li/ vi/vi/ com os/ meus</p><p>(Aberto de Oliveira)</p><p>§ Bárbaros – mais de doze sílabas:</p><p>Nun/ca /co/nhe/ci /quem/ ti/ve/sse/ le/va/do/</p><p>po/rra/da.</p><p>To/dos os/ meus/ co/nhe/ci/dos/ têm/ si/do/</p><p>cam/pe/ões/ em/ tudo.</p><p>(Fernando Pessoa)</p><p>65</p><p>O gênero dramático</p><p>A característica e a finalidade primordiais do</p><p>gênero dramático (do grego drân: agir) é ser levado à</p><p>representação, à “ação”.</p><p>Compreende o gênero teatral, cuja encenação,</p><p>no entanto, escapa à alçada da literatura propriamente.</p><p>O eu poético relaciona-se com um tu/vós, segunda pes-</p><p>soa do discurso, a plateia. O texto dramático pressupõe</p><p>essa plateia, que o vivencia e tem probabilidade de fruir</p><p>emoções mediante a representação do texto.</p><p>Caracterizam o gênero dramático a ausência de</p><p>narrador, o discurso direto – estrutura dialogada – e as</p><p>rubricas – instruções que sinalizam ao diretor e aos ato-</p><p>res a postura no palco, o tom de voz etc.</p><p>Em vez do narrador, o texto dramático conta a</p><p>história pretendida mediante diálogo entre os persona-</p><p>gens, que estabelecem com o público uma relação direta,</p><p>a fim de comprometê-lo emocionalmente com a história</p><p>contada e os personagens dela. O termo teatro deriva do</p><p>grego théatron, que significa “ver”, “contemplar”.</p><p>Esse gênero subdivide-se em tragédia, comédia,</p><p>drama, auto e farsa.</p><p>§ Tragédia</p><p>Conta histórias cujos resultados são destrutivos e</p><p>irreversíveis. Em geral baseada em mitos e histó-</p><p>rias já conhecidas do público, a tragédia preten-</p><p>de causar no espectador terror, piedade, catarse,</p><p>enfim: “descarga de desordens emocionais ou</p><p>afetos desmedidos a partir da experiência estética</p><p>oferecida pelo teatro, música e poesia”. Persona-</p><p>gens lutam contra forças mais poderosas que elas,</p><p>que, em princípio, são vencidas regularmente com</p><p>a morte. Sugestão: Édipo Rei, de Sófocles.</p><p>§ Comédia</p><p>Enfatiza o comportamento ridículo do ser hu-</p><p>mano mediante exposição e crítica de costu-</p><p>mes sociais. Exemplos: O doente imaginário, de</p><p>Molière; A tempestade, de Shakespeare; e Lisís-</p><p>trata, de Aristófanes.</p><p>§ Drama</p><p>A peça funde tragédia e comédia sem, no en-</p><p>tanto, que a história caminhe para resultados</p><p>irreversíveis. Em geral, trata de fatos do coti-</p><p>diano com final feliz ou não, mas com trajetória</p><p>intrigante, de difícil solução. Exemplo: Leonor de</p><p>Mendonça, de Gonçalves Dias; e Macário, de Ál-</p><p>vares de Azevedo.</p><p>§ Auto</p><p>Peça teatral curta regularmente com temática</p><p>religiosa e moralizante e com finalidade cate-</p><p>quética, que discute conceitos abstratos e sim-</p><p>bólicos. Exemplo: O auto da barca do inferno, de</p><p>Gil Vicente.</p><p>§ Farsa</p><p>Peça teatral de crítica social que apresenta per-</p><p>sonagens e situações caricaturadas sem preocu-</p><p>pação com o questionamento de valores.</p><p>Exemplo: A farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente.</p><p>66</p><p>O gênero narrativo</p><p>Oriunda do gênero épico, a narrativa organiza</p><p>uma história levando em consideração aspectos primor-</p><p>diais de sua estrutura: apresentação, desenvolvimento,</p><p>clímax e desfecho.</p><p>Os gêneros narrativos apresentam-se como:</p><p>§ Conto</p><p>Narrativa curta centrada em um único aconteci-</p><p>mento. Apresenta uma ação que se encaminha</p><p>para uma tensão (clímax) entre personagens,</p><p>delimitados num tempo e espaço reduzidos.</p><p>Exemplos: Amor, de Clarice Lispector; O menino</p><p>do boné cinzento, de Murilo Rubião; e A causa</p><p>secreta, de Machado de Assis.</p><p>§ Novela</p><p>Narrativa situada entre a brevidade do conto e</p><p>a longevidade do romance. Exemplos: A hora e</p><p>a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa;</p><p>e Os crimes da rua Morgue, de Edgar Allan Poe.</p><p>§ Crônica</p><p>Narrativa breve baseada na vida cotidiana, deli-</p><p>mitada por tempo cronológico curto, em lingua-</p><p>gem coloquial e leve toque de humor e crítica.</p><p>Exemplos: Comédias da vida privada – 101 crô-</p><p>nicas escolhidas, de Luís Fernando Veríssimo.</p><p>§ Romance</p><p>Narrativa longa que discorre sobre um grande con-</p><p>flito central que dá origem a outros secundários, com</p><p>preendendo vários personagens em constante</p><p>conflito psicológico, envolvidos pela trama que</p><p>caminha para um clímax. Exemplos: Grande ser-</p><p>tão: veredas, de Guimarães Rosa; São Bernardo,</p><p>de Graciliano Ramos; e O senhor dos anéis, de</p><p>J.R.R. Tolkien.</p><p>§ Anedota</p><p>Relato de um acontecimento curioso ou engra-</p><p>çado. Como o provérbio, a anedota, além da</p><p>tradição oral, vem inserida em textos literários.</p><p>Exemplos: O asno de ouro, do escritor latino</p><p>Apuleio, é uma constelação de pequenas aven-</p><p>turas picantes.</p><p>§ Apólogo</p><p>Historinha entre objetos inanimados com moral</p><p>implícita ou explícita. Um apólogo, de Macha-</p><p>do de Assis, trata da conversa entre uma agulha</p><p>e uma linha que discutem sobre a importância</p><p>delas. Observe o último parágrafo em que está</p><p>implícita a moral:</p><p>“Parece que a agulha não disse nada; mas um</p><p>alfinete, de cabeça grande e não menor experi-</p><p>ência, murmurou à pobre agulha:</p><p>– Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir ca-</p><p>minho para ela e ela é que vai gozar da vida,</p><p>enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze</p><p>como eu, que não abro caminho para ninguém.</p><p>Onde me espetam, fico.</p><p>Contei esta história a um professor de melanco-</p><p>lia, que me disse, abanando a cabeça:</p><p>– Também eu tenho servido de agulha a muita</p><p>linha ordinária!”</p><p>§ Fábula</p><p>Difere do apólogo, uma vez que seus persona-</p><p>gens são animais. Esse gênero teve ilustres cul-</p><p>tores na literatura ocidental, como Esopo, Fedro</p><p>e La Fontaine, cujas fábulas estão reunidas em</p><p>doze livros.</p><p>tt Livros</p><p>O que é literatura – Marisa Lajolo</p><p>De�nir o que é, o que não é e o que pode ser literatura depende do</p><p>ponto de vista, do sentido que a palavra tem para cada um, da situa-</p><p>ção na qual se discute o que é literatura.</p><p>Literatura para quê? – Antoine Compagnon</p><p>Nesta obra, Antoine Compagnon propõe-se a responder à pergunta</p><p>que intitula sua aula inaugural no Collège de France – ‘Literatura</p><p>para quê?’. O livro pretende ser uma re�exão sobre os poderes da</p><p>literatura que colocam em relevo a convicção de que o texto literário</p><p>ainda cumpre uma função no mundo do início do século XXI.</p><p>Gêneros Literários – Angélica Soares</p><p>As manifestações poéticas mais remotas já mostram a tendência</p><p>para classi�car as obras literárias conforme a realidade que retratam,</p><p>pelo uso de mecanismos de estruturação semelhantes.</p><p>INTERATIVIAA DADE</p><p>LER</p><p>67</p><p>68</p><p>estrutura COnCeitual</p><p>Contam histórias que</p><p>auxiliam o homem a</p><p>compreender sua</p><p>trajetória</p><p>Oriundo do gênero</p><p>épico, organiza uma</p><p>história a partir de</p><p>características variadas</p><p>Conhecido como gênero</p><p>teatral, sua produção é</p><p>destinada à representação</p><p>Gênero centrado na</p><p>expressão do “eu</p><p>poético” ou “eu lírico”</p><p>(Trabalho com sonetos,</p><p>elegias, odes...)</p><p>(Trabalho com</p><p>romance, conto...)</p><p>(Trabalho com</p><p>textos teatrais)</p><p>(Trabalho com</p><p>as epopeias)</p><p>Gênero Épico Gênero DramáticoGênero Lírico Gênero Narrativo</p><p>Arte LiteráriaArte Literária</p><p>68</p><p>Di</p><p>sp</p><p>on</p><p>íve</p><p>l e</p><p>m:</p><p><h</p><p>ttp</p><p>://</p><p>ww</p><p>w.</p><p>ric</p><p>ard</p><p>oc</p><p>os</p><p>ta.</p><p>co</p><p>m/</p><p>tag</p><p>s/t</p><p>rov</p><p>ad</p><p>ori</p><p>sm</p><p>o></p><p>Trovadorismo: a literatura</p><p>da Idade Média</p><p>Competência</p><p>5</p><p>Habilidades</p><p>15, 16 e 17</p><p>L</p><p>ENTRE LETRAS</p><p>C</p><p>03 04</p><p>Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para</p><p>sua vida.</p><p>H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.</p><p>H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.</p><p>H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.</p><p>H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.</p><p>Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras</p><p>culturas e grupos sociais.</p><p>H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.</p><p>H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.</p><p>H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.</p><p>H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.</p><p>Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da</p><p>identidade.</p><p>H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.</p><p>H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.</p><p>H11</p><p>Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para</p><p>diferentes indivíduos.</p><p>Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e</p><p>da própria identidade.</p><p>H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.</p><p>H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.</p><p>H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.</p><p>Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante</p><p>a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.</p><p>H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.</p><p>H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.</p><p>H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.</p><p>Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da</p><p>realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.</p><p>H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.</p><p>H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.</p><p>H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional</p><p>Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.</p><p>H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.</p><p>H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.</p><p>H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.</p><p>H24</p><p>Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,</p><p>chantagem, entre outras.</p><p>Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização</p><p>do mundo e da própria identidade.</p><p>H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.</p><p>H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.</p><p>H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.</p><p>Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida</p><p>pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,</p><p>às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.</p><p>H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem</p><p>71</p><p>Contexto</p><p>Todo o imaginário feudal de príncipes, princesas, reis e seus reinados são elementos fundamentais para situar</p><p>o Trovadorismo na história. Os castelos e sua nobreza, os cavaleiros e seus duelos em guerras e torneios compõem o</p><p>cenário da Idade Média, quando se desenvolve essa primeira escola literária após a queda do Império Romano.</p><p>Com a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, capital do Império Romano do Oriente, tem início</p><p>a Idade Média. Morto o imperador Carlos Magno, em 814, o poder central ficara enfraquecido e a sociedade passa-</p><p>ra a se organizar em torno de grandes propriedades de terra, com o poder centralizado na figura do senhor feudal.</p><p>A Literatura portuguesa tem início, de fato, com o Trovadorismo. Antes disso, há documentos de produções</p><p>na região e na península Ibérica, mas não de fato portuguesa.</p><p>O nascimento da literatura portuguesa</p><p>Entre 1139 e 1140, Portugal se separou do reino</p><p>de Leão e Castela para se tornar um estado independen-</p><p>te. D. Afonso Henriques assumiu o reinado e lutou pela</p><p>manutenção da independência de Portugal frente aos</p><p>intentos de Castela. Essa separação política não rompeu</p><p>os profundos laços econômicos, sociais e culturais com</p><p>o resto da península Ibérica. O mais forte desses laços</p><p>era a língua: o galego-português. Em 1179, o Papa Ale-</p><p>xandre II reconhece a independência do Reino Lusitano.</p><p>A origem do Trovadorismo é essencialmente pro-</p><p>vençal, do sul da França, e galega, de Castela, em pleno</p><p>feudalismo, precisamente dos séculos XII ao XIII.</p><p>O primeiro texto literário galego-português foi</p><p>a Cantiga da Ribeirinha, também conhecida como</p><p>Cantiga da Guarvaia, de Paio Soares de Taveirós. Su-</p><p>põe-se ter sido composta em 1198 ou 1189, o mais an-</p><p>tigo texto e marca do início do Trovadorismo português.</p><p>72</p><p>Religião e cultura</p><p>A Igreja Católica cresceu, acumulou vastas extensões</p><p>de terra, enriqueceu e concentrou um significativo poder re-</p><p>ligioso e secular. Essa herança conviveu com mudanças na</p><p>ordem social que tiveram expressão também significativa na</p><p>literatura do período.</p><p>Uma importante manifestação do poder da Igreja me-</p><p>dieval foi seu controle quase absoluto da produção cultural.</p><p>Como a circulação dos textos dependia da sua repro-</p><p>dução manuscrita, quase sempre feita sob encomenda, a di-</p><p>vulgação da cultura tornava-se ainda mais difícil, uma vez que</p><p>o número de cópias em circulação era bem pequeno.</p><p>O uso do latim como língua literária, outra herança</p><p>do longo período de dominação romana na Europa, também</p><p>contribuía para dificultar o acesso aos textos. Poemas e can-</p><p>ções eram compostos em latim por monges eruditos que va-</p><p>gavam de feudo em feudo para divulgarem suas composições.</p><p>A maior parte dessa produção abordava temas religiosos.</p><p>Cantiga da Ribeirinha</p><p>No mundo non me sei parelha,</p><p>mentre me for’ como me vay,</p><p>ca já moiro por vos e ay!</p><p>mia senhor branca e vermelha,</p><p>queredes que vos retraya</p><p>quando vus eu vi em saya!</p><p>Mao dia me levantei</p><p>que vus enton non vi fea!</p><p>E, mia senhor, des aquel di’, jay!</p><p>me foi a mi muyn mal,</p><p>e vos, filha de don Paay</p><p>Moniz, e ben vus semelha</p><p>d’aver eu por vós guarvaya</p><p>pois eu, mia senhor, d’alfaya</p><p>nunca de vos ouve nem ei</p><p>valia dua correa.</p><p>(Paio Soares de Taveiros)</p><p>Cantiga da Ribeirinha (tradução)</p><p>Não há no mundo ninguém que se compare</p><p>a mim em infelicidade, enquanto a minha vida</p><p>continuar assim, porque morro por vós e, ai,</p><p>minha senhora branca e de faces rosadas,</p><p>quereis que vos retrate quando vos vi sem manto.</p><p>Mau dia foi esse em que me levantei,</p><p>porque vos vi tão bela! [ou seja: melhor seria</p><p>se vos tivesse visto feia].</p><p>E, minha senhora, desde aquele dia, ai,</p><p>tudo para mim foi muito mal,</p><p>mas vós, filha D. Paio</p><p>Moniz, parece-vos muito bem que eu tenha</p><p>e vós uma garvaia [manto de luxo] quando</p><p>nunca recebi de vós o simples</p><p>valor de uma correia.</p><p>O poder feudal</p><p>A sociedade medieval organizou-se em torno dos</p><p>grandes proprietários de terra, os senhores feudais.</p><p>Uma pequena corte passou a se reunir com esse</p><p>senhor feudal. Dela faziam parte membros da nobreza, ca-</p><p>valeiros, camponeses livres e servos. Estavam unidos por</p><p>uma relação de dependência pessoal: a vassalagem.</p><p>O servilismo dos vassalos a seu suserano e dos fiéis</p><p>a Deus deu origem ao princípio básico da literatura medie-</p><p>val: a afirmação da total subserviência de um trovador à</p><p>sua dama, em se tratando dos temas da poesia, ou de um</p><p>cavaleiro à sua donzela, no caso das novelas de cavalaria.</p><p>73</p><p>Circulação e agentes do discurso</p><p>O objetivo da maioria das manifestações artísticas</p><p>medievais era persuadir as pessoas a temer a Deus e sub-</p><p>metê-las à soberania da Igreja. Teatro, pintura, escultura</p><p>e literatura e toda manifestação artística estava a serviço</p><p>dos ensinamentos religiosos e do comportamento cristão.</p><p>Nas cortes dos senhores feudais, centros de ati-</p><p>vidade artística da Europa medieval, exibiam-se jograis:</p><p>recitadores, cantores e músicos ambulantes eram contra-</p><p>tados pelo senhor para divertir a corte. As cantigas apre-</p><p>sentadas pelos jograis eram quase sempre compostas por</p><p>nobres, autodenominados trovadores, uma vez pratican-</p><p>tes da arte de trovar. Trovador, do francês trouver, signifi-</p><p>ca encontrar, e refere-se ao compositor da cantiga, quem</p><p>encontra a música que se encaixa no poema.</p><p>Em razão disso, enquanto nos mosteiros e nas</p><p>abadias circulavam os textos escritos em latim, nos cas-</p><p>telos e nas cortes circulava a literatura oral, produzida</p><p>em língua local, voltada para o deleite dos homens e</p><p>das mulheres da nobreza com o intuito de legitimar o</p><p>novo papel social assumido pelos cavaleiros.</p><p>O código do amor cortês</p><p>Os termos que definiam as relações feudais</p><p>foram transpostos para as cantigas, caracterizando a</p><p>linguagem do Trovadorismo: a mulher era a senhora, o</p><p>homem era o seu servidor. Eram muito prezadas a gene-</p><p>rosidade, a lealdade e, acima de tudo, a cortesia.</p><p>As cantigas de amor do Trovadorismo desenvolvem</p><p>um mesmo tema: o sofrimento provocado pelo amor não cor-</p><p>respondido – a “coita de amor”. Como o princípio do amor</p><p>cortês é a idealização da dama pelo trovador, os textos não</p><p>manifestam a expectativa de correspondência amorosa.</p><p>As cantigas satíricas passeiam por muitos temas,</p><p>sempre expressando um olhar crítico sobre a conduta</p><p>de nobres, homens e mulheres, nas esferas individual e</p><p>social. É bastante comum os trovadores ridicularizarem</p><p>um nobre que se envolve com uma serviçal ou que não</p><p>percebe a traição da esposa.</p><p>A vassalagem impressa</p><p>na linguagem</p><p>Outra característica dessa produção literária ma-</p><p>nifesta-se na obediência a regras no uso de termos que</p><p>definiam a vassalagem amorosa. Empregava-se uma sé-</p><p>rie de termos e expressões para nomear a dama: senhor,</p><p>mia senhor, senhor fremosa, em razão da posição que</p><p>ela ocupava socialmente.</p><p>Além disso, e em razão das castas imóveis e da</p><p>sociedade organizada mediante trocas, os cidadãos não</p><p>ascendiam socialmente e não desenvolviam a intelec-</p><p>tualidade. Quase a totalidade da população era anal-</p><p>fabeta, o que contribuiu muito para que a literatura se</p><p>vinculasse à tradição oral, unindo poesia e música.</p><p>74</p><p>tipos de Cantiga</p><p>As cantigas trovadorescas são divididas em dois</p><p>grupos: as líricas, que falam de sentimento e são subdi-</p><p>vididas em cantigas de amor e de amigo; e as cantigas</p><p>satíricas, intencionalmente críticas e cômicas, também</p><p>subdivididas em cantigas de escárnio e de maldizer.</p><p>Cantigas</p><p>LíricasSatíricas</p><p>Cantigas</p><p>de amor</p><p>Cantigas</p><p>de amigo</p><p>Cantigas</p><p>de escárnio</p><p>Cantigas</p><p>de maldizer</p><p>Líricas</p><p>A poesia lírica diz respeito à lira, instrumento</p><p>musical da Antiguidade clássica que acompanhava as</p><p>canções, expressando sentimentos.</p><p>Cantiga de amor</p><p>As cantigas de amor são especialmente dedicadas</p><p>à mulher amada pelo trovador, amor esse que não era</p><p>correspondido. Ela pertence a uma classe superior a sua.</p><p>Em função da imobilidade social das castas, esse amor era</p><p>proibido e dava origem à “coita”, que significa sofrimento.</p><p>Os trovadores se valem de um eu lírico mas-</p><p>culino que é pobre e declara seu amor impossível,</p><p>por isso sofrido e submisso à dama. A chamada</p><p>“vassalagem amorosa”.</p><p>Possui poucas repetições de versos e ausência de</p><p>paralelismo por se propor mais elevada e de estrutura</p><p>complexa em linguagem refinada, normalmente de ori-</p><p>gem provençal.</p><p>O eu lírico apresentado é masculino, ou</p><p>seja, o trovador expressa seus sentimentos em relação</p><p>à mulher amada que é, invariavelmente, de classe supe-</p><p>rior à do trovador.</p><p>A linguagem usada é mais refinada, evitam-</p><p>-se os refrões e as repetições, e, por serem assim mais so-</p><p>fisticadas, chamavam-se cantigas de maestria ou mestria.</p><p>Os termos usados pelo trovador para se referir</p><p>à mulher amada são sempre no masculino: mia senhor,</p><p>fremosa senhor, mia don (dona).</p><p>O trovador se queixa da indiferença da mulher</p><p>amada, coita amorosa.</p><p>O amor é sempre cortês, mesmo porque a dis-</p><p>tância social entre o amante e a amada não permitia</p><p>que houvesse atrevimentos de qualquer ordem.</p><p>Cantiga d’amor</p><p>Quantos an gran coita d’amor</p><p>eno mundo, qual hoj’ eu ei,</p><p>querrían morrer, eu o sei,</p><p>o averrian én sabor.</p><p>Mais mentr’ eu vos vir’, mia senhor,</p><p>sempre m’eu querria viver,</p><p>e atender e atender!</p><p>Pero já non posso guarir,</p><p>ca já cegan os olhos meus</p><p>por vos, e non me val i Deus</p><p>nen vos; mais por vos non mentir,</p><p>enquant’eu vos, mia senhor, vir’,</p><p>sempre m’eu querria viver,</p><p>e atender e atender!</p><p>E tenho que fazen mal-sen</p><p>quantos d’amor coitados son</p><p>de querer sa morte, se non</p><p>ouveron nunca d’amor ben</p><p>com’eu faç’. E, senhor, por én</p><p>sempre m’eu querria viver,</p><p>e atender e atender!</p><p>(Garcia de Guilhade)</p><p>75</p><p>Cantiga de amor (tradução)</p><p>Quantos o amor faz padecer</p><p>penas que tenho padecido</p><p>querem morrer e não duvido</p><p>que alegremente queiram morrer.</p><p>Porém enquanto vos puder ver,</p><p>vivendo assim eu quero estar</p><p>e esperar, e esperar!</p><p>Sei que a sofrer estou condenado</p><p>e por vós cegam os olhos meus.</p><p>Não me acudis; nem vós, nem Deus</p><p>Mas, se sabendo-me abandonado,</p><p>ver-vos, senhora, me for dado.</p><p>vivendo assim eu quero estar</p><p>e esperar, e esperar!</p><p>Esses que veem tristemente</p><p>desamparada sua paixão</p><p>querendo morrer, loucos estão.</p><p>Minha fortuna não é diferente;</p><p>porém eu digo constantemente:</p><p>vivendo assim eu quero estar</p><p>e esperar e esperar!</p><p>Cantiga de amigo</p><p>As cantigas de amigo falam de uma relação amo-</p><p>rosa concreta que aconteceu entre pessoas simples, que</p><p>vivem no campo e partem de um eu lírico feminino. O tema</p><p>central dessas cantigas é o desejo, o que leva a crer que a</p><p>relação</p><p>amorosa já aconteceu, diferentemente das de amor,</p><p>que são impossibilitadas pelas castas sociais diferentes.</p><p>De origem galega (Ibérica), ela é mais popular e</p><p>por isso mais repetitiva, possui muitos refrões e paralelis-</p><p>mo com uma estrutura simples e um amor terreno.</p><p>Esta voz feminina expressa desejo pela ausência</p><p>do amigo (namorado ou amado) e relaciona-se com ele-</p><p>mentos da natureza para clamar seu retorno. O ambien-</p><p>te campesino corrobora para construir esse sentimento</p><p>que é sempre compartilhado com a mãe, as amigas e</p><p>damas de companhia.</p><p>Além disso, em função de sua temática, elas são</p><p>também divididas em:</p><p>§ Alvas</p><p>Levantou-s’a velida (a bela)</p><p>Levantou-s’à alva;</p><p>e vai lavar camisas</p><p>e no alto (no rio)</p><p>vai-las lavar à alva (de madrugada)</p><p>(D. Dinis)</p><p>§ Bailias</p><p>E no sagrado em vigo</p><p>bailava corpo velido (uma linda moça) amor ei!</p><p>(Martim Codax)</p><p>§ Romarias</p><p>Pois nossas madres van a San Simon de Val</p><p>de Prados candeas queimar (pagar promessas)</p><p>nós, as menininhas, punhemos d’andar (vamos</p><p>[passear)</p><p>§ Barcarolas ou Marinhas</p><p>Vi eu, mia madr’, andar</p><p>as barcas e no mar,</p><p>e moiro de amor!</p><p>(Nuno Fernandes Tomeol)</p><p>§ Pastorelas</p><p>Oi (ouvi) oj’eu ua pastor andar.</p><p>du (onde) cavalgava per ua ribeira,</p><p>e o pastor estava i senlheira. (sozinha)</p><p>a ascondi-me póla escuitar...</p><p>(Airas Nunes de Santiago)</p><p>76</p><p>Cantiga de amigo</p><p>– Ai flores, ai flores do verde piño,</p><p>se sabedes novas do meu amigo?</p><p>Ai, Deus, e u é?</p><p>Ai flores, ai flores do verde ramo,</p><p>se sabedes novas do meu amado?</p><p>Ai, Deus, e u é?</p><p>Se sabedes novas do meu amigo,</p><p>aquel que mentiu do que pôs comigo?</p><p>Ai, Deus, e u é?</p><p>Se sabedes novas do meu amado,</p><p>aquel que mentiu do que mi á jurado?</p><p>Ai, Deus, e u é?</p><p>– Vós me perguntades pelo voss’ amigo?</p><p>E eu ben vos digo que é san’e vivo</p><p>Ai, Deus, e u é?</p><p>Vós me perguntades pelo voss’ amado?</p><p>E eu ben vos digo que é viv’ e sano:</p><p>Ai, Deus, e u é?</p><p>E eu ben vos digo que é san’e vivo,</p><p>e será vosc’ant’o prazo saído.</p><p>Ai, Deus, e u é?</p><p>E eu ben vos digo que é viv’e sano,</p><p>e será vosc’ant’o prazo passado.</p><p>Ai, Deus, e u é?</p><p>(Dom Dinis)</p><p>Cantiga de amigo (tradução)</p><p>– Ai, flores do verde pinheiro,</p><p>sabeis notícias do meu namorado?</p><p>Ai, Deus, onde está?</p><p>Ai flores, ai flores, do verde ramo,</p><p>Sabeis notícias do meu amado?</p><p>Ai, Deus, onde está?</p><p>Sabeis notícias do meu namorado,</p><p>Aquele que mentiu sobre o que combinou comigo?</p><p>Ai, Deus, onde está?</p><p>Sabeis notícias do meu amado,</p><p>Aquele que mentiu sobre o que jurou?</p><p>Ai, Deus, onde está?</p><p>Vós perguntais pelo vosso namorado?</p><p>E eu bem vos digo que está são e vivo:</p><p>Ai, Deus, onde está?</p><p>Vós perguntais pelo vosso amado?</p><p>E eu bem vos digo que está vivo e são.</p><p>Ai, Deus, onde está?</p><p>E eu bem vos digo que está são e vivo</p><p>e estará convosco antes do prazo combinado:</p><p>Ai, Deus, onde está?</p><p>E eu bem vos digo que está vivo e são</p><p>e estará convosco antes de terminar o prazo:</p><p>Ai, Deus, onde está?</p><p>1. O eu lírico das cantigas de amigo é sempre</p><p>feminino, canta a saudade do amado distante.</p><p>2. Há uso de repetições de palavras, de ver-</p><p>sos inteiros.</p><p>3. O homem amado é de classe superior à da</p><p>mulher que canta.</p><p>4. O amigo/amado, a que se referem as cantigas,</p><p>deve ser entendido como amante/namorado.</p><p>5. A mulher queixa-se [à natureza] de ter perdido o</p><p>amado ou se distanciado dele.</p><p>6. Geralmente tais cantigas são dialogadas.</p><p>7. A cantiga de amigo se vale de descrição.</p><p>Satíricas</p><p>As cantigas satíricas fazem críticas ao compor-</p><p>tamento das pessoas em suas ações sociais, usavam</p><p>o humor e o vocabulário chulo para denunciar alguns</p><p>nobres e damas.</p><p>Além disso, a sátira se estendia a instituições</p><p>sociais, censurava os males da sociedade ou dos indiví-</p><p>duos, quase tudo com tom sarcástico, irônico e obsceno.</p><p>Elas podem ser de escárnio ou de maldizer.</p><p>Cantigas de escárnio</p><p>A principal característica da cantiga de escárnio</p><p>é o fato de ela ser indireta, especialmente por ser de-</p><p>clamada no ambiente palaciano. O efeito satírico que</p><p>caracteriza essas cantigas é obtido por meio de ironias,</p><p>trocadilhos e jogos semânticos. De modo geral, ridicu-</p><p>larizam o comportamento de nobres ou denunciam as</p><p>mulheres que não seguem o código do amor cortês.</p><p>A sátira indireta sublima o nome da pessoa cri-</p><p>ticada e sempre explora os duplos sentidos e os tro-</p><p>cadilhos. Seus significados normalmente são implícitos,</p><p>velados e comedidos.</p><p>§ Escárnio (sirventes – moral)</p><p>(Airas Nunes, clérigo compostelano)</p><p>Por que no mundo mengou a verdade,</p><p>punhei un dia de a ir buscar;</p><p>e, u por ela fui preguntar</p><p>disseron todos: “alhur lá buscade,</p><p>ca de tal guisa se foi a perder</p><p>que non podemos en novas haver</p><p>nen já non anda na irmandade.”</p><p>77</p><p>Nos mosteiros dos frades regrados</p><p>a demandei e disseron-m’assi:</p><p>“non busquedes vós a verdad’ aqui,</p><p>ca muitos anos havemos passados</p><p>que non morou nosco, per boa fé,</p><p>nen sabemos ond’ela agora esté</p><p>e d’al havemos maiores cuidados.”</p><p>E en Cistel, u verdade soía</p><p>sempre morar, disseron-me que non</p><p>morava i, havia gran sazon,</p><p>nen frade d’i já a non conhocia,</p><p>nen o abade outro si estar</p><p>sol non queria que fôss’i pousar,</p><p>e anda já fora da abadia.</p><p>En Santiago seend’albergado,</p><p>en mia pousada chegaron romeus</p><p>preguntei-os e disseron: “par Deus,</p><p>muito levade-lo caminh’ errado,</p><p>ca, se verdade quiserdes achar,</p><p>outro caminho conven a buscar,</p><p>ca non saben aqui d’ela mandado.</p><p>Cantigas de maldizer</p><p>Nas cantigas de maldizer, o trovador utiliza um</p><p>vocabulário agressivo para fazer uma crítica direta e cla-</p><p>ra, identificando o nome das pessoas satirizadas. Essa lin-</p><p>guagem de baixo calão, palavrões e até vocabulário eró-</p><p>tico aconteciam, pois eram proferidas nas ruas, em praças</p><p>públicas e feiras livres. Os significados eram explícitos e</p><p>não poupavam nenhuma instituição social: atacavam o</p><p>clero, as freiras, os fidalgos e toda a sorte de pessoas que,</p><p>dentro de suas classes, indiquem decadência moral.</p><p>§ Maldizer</p><p>(Afonso Eanes do Coton)</p><p>Marinha, o teu folgar</p><p>tenho eu por desacertado,</p><p>e ando maravilhado</p><p>de te não ver rebentar;</p><p>pois tapo com esta minha</p><p>boca, a tua boca, Marinha;</p><p>e com este nariz meu,</p><p>tapo eu, Marinha, o teu;</p><p>com as mãos tapo as orelhas,</p><p>os olhos e as sobrancelhas,</p><p>tapo-te ao primeiro sono;</p><p>com a minha piça o teu cono;</p><p>e como o não faz nenhum,</p><p>com os colhões te tapo o cu.</p><p>E não rebentas, Marinha?</p><p>três CanCioneiros</p><p>Três cancioneiros concentram boa parte da pro-</p><p>dução conhecida dos séculos XII, XIII e XIV: Cancioneiro</p><p>da Ajuda, Cancioneiro da Biblioteca Nacional e Cancio-</p><p>neiro da Vaticana.</p><p>Os cancioneiros são manuscritos, coletâneas de</p><p>cantigas com características variadas e escritas por di-</p><p>versos autores. Os mais importantes são:</p><p>Cancioneiro da Ajuda</p><p>Coleção de poesias em galego-português do fi-</p><p>nal do século XIII, influenciadas pela lírica provençal.</p><p>Recebe o nome de “da Ajuda” por se conservar na bi-</p><p>blioteca do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa.</p><p>É o mais antigo de todos e é também o menos</p><p>completo, compreende apenas cantigas anteriores ao</p><p>reinado do “rei trovador”, D. Dinis.</p><p>Ondas do mar de Vigo,</p><p>Se vistes meu amigo?</p><p>E, ai Deus, ele virá cedo?</p><p>Ondas do mar levado,</p><p>se vistes meu amado?</p><p>E ai, Deus ele virá cedo?</p><p>Se vistes meu amigo,</p><p>aquele por quem suspiro?</p><p>E, ai Deus, ele virá cedo?</p><p>Se vistes meu amado,</p><p>por quem tenho muito cuidado?</p><p>E, ai Deus, ele virá cedo?</p><p>Cancioneiro da Biblioteca Nacional</p><p>Antes chamado de Cancioneiro Colocci-Brancuti</p><p>– foi compilado na Itália por volta de 1525-1526. Ad-</p><p>quirido pelo Estado português e depositado na Bibliote-</p><p>ca Nacional de Lisboa, em 1924.</p><p>Essa coletânea de cantigas trovadorescas é tam-</p><p>bém conhecida como Collocci-Brancuti.</p><p>Em gram coita, senhor,</p><p>que peior que mort’é,</p><p>vivo, per boa fé,</p><p>e polo voss’amor</p><p>esta coita sofr’eu</p><p>por vós, senhor, que eu</p><p>vi polo meu gran mal;</p><p>e melhor mi será</p><p>78</p><p>de morrer por vós já;</p><p>e, pois meu Deus non val,</p><p>esta coita sofr’eu</p><p>por vós, senhor, que eu</p><p>polo meu gran mal vi,</p><p>e mais mi val morrer</p><p>ca tal coita sofrer</p><p>pois por meu mal assi</p><p>esta coita sofr’eu</p><p>por vós, senhor, que eu</p><p>vi por gran mal de mi</p><p>pois tan coitad’and’eu.</p><p>Cancioneiro da Vaticana</p><p>Compilado na Itália no século XV – encontra-se</p><p>na Biblioteca</p><p>verbais 39</p><p>Aulas 9 e 10: Advérbios 45</p><p>Aulas 1 e 2: A arte literária e o estudo dos gêneros 55</p><p>Aulas 3 e 4: Trovadorismo: a literatura da Idade Média 69</p><p>Aulas 5 e 6: Humanismo e Classicismo 85</p><p>Aulas 7 e 8: Classicismo: Camões épico e lírico 101</p><p>Aulas 9 e 10: Quinhentismo e Barroco 115</p><p>FA</p><p>CU</p><p>LDADE DE MEDICINA</p><p>BOTUCATU</p><p>1963</p><p>Abordagem de GRAMÁTICA nos principais vestibulares.</p><p>FUVEST</p><p>Dentre os temas abordados neste caderno, os de maior incidência no vestibular da Fuvest são a</p><p>formação de palavras e os usos de verbos no modo imperativo. Os demais temas são de aplica-</p><p>ção esporádica, requerendo atenção o uso de tempos verbais e de advérbios.</p><p>UNESP</p><p>Dentre os temas abordados neste caderno, os de maior incidência no vestibular da Unesp são a</p><p>formação de palavras e os usos de vozes verbais. Os demais temas são de aplicação esporádica,</p><p>requerendo atenção o uso de tempos verbais.</p><p>UNICAMP</p><p>Dentre os temas abordados neste caderno, o de maior incidência no vestibular da Unicamp é a</p><p>formação de palavras. Os demais temas são de aplicação esporádica, requerendo atenção o uso</p><p>de tempos verbais.</p><p>UNIFESP</p><p>Dentre os temas abordados neste caderno, os de maior incidência no vestibular da Unifesp são a</p><p>formação de palavras e os usos de vozes verbais. Os demais temas são de aplicação esporádica,</p><p>requerendo atenção o uso de tempos verbais e a aplicação geral de classes de palavras em certos</p><p>contextos.</p><p>ENEM/UFMG/UFRJ</p><p>Dentre os temas abordados neste caderno, o de maior incidência no ENEM é o uso de tempos</p><p>verbais. Os demais temas são de aplicação bastante esporádica.</p><p>UERJ</p><p>Dentre os temas abordados neste caderno, os de maior incidência no vestibular da UERJ são a</p><p>formação de palavras e os usos de vozes verbais. Os demais temas são de aplicação esporádica,</p><p>requerendo atenção o uso de tempos verbais.</p><p>COMO EPAS</p><p>PAS S</p><p>A S SA</p><p>AMAR</p><p>GOES</p><p>ARIA</p><p>S A S S</p><p>S S I N</p><p>S S A A</p><p>A M E M</p><p>T E M O</p><p>A M O R</p><p>PARA</p><p>AR I A</p><p>REST</p><p>EINS M E N T</p><p>E A M E</p><p>e l u z</p><p>Q U E A</p><p>MEMO</p><p>R I A A</p><p>F L O R D E M A</p><p>M O R I O R I A</p><p>I M P A</p><p>S S IM</p><p>DERA</p><p>TANT OAMA</p><p>I S Q U</p><p>Formação de palavras</p><p>Competências</p><p>1 e 8</p><p>Habilidades</p><p>1, 2, 3, 4, 26 e 27</p><p>L</p><p>ENTRE LETRAS</p><p>C</p><p>01 02</p><p>Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para</p><p>sua vida.</p><p>H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.</p><p>H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.</p><p>H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.</p><p>H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.</p><p>Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras</p><p>culturas e grupos sociais.</p><p>H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.</p><p>H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.</p><p>H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.</p><p>H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.</p><p>Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da</p><p>identidade.</p><p>H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.</p><p>H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.</p><p>H11</p><p>Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para</p><p>diferentes indivíduos.</p><p>Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e</p><p>da própria identidade.</p><p>H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.</p><p>H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.</p><p>H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.</p><p>Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante</p><p>a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.</p><p>H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.</p><p>H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.</p><p>H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.</p><p>Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da</p><p>realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.</p><p>H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.</p><p>H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.</p><p>H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional</p><p>Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.</p><p>H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.</p><p>H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.</p><p>H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.</p><p>H24</p><p>Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,</p><p>chantagem, entre outras.</p><p>Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização</p><p>do mundo e da própria identidade.</p><p>H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.</p><p>H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.</p><p>H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.</p><p>Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida</p><p>pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,</p><p>às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.</p><p>H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem</p><p>9</p><p>Morfologia: forMação de palavras</p><p>Neste tópico, estudaremos os processos de estruturação e formação de palavras do português.</p><p>§ Radical (morfema lexical): é a parte da palavra que contém o significado mais geral e é comum às pa-</p><p>lavras chamadas de cognatas (também consideradas da mesma família).</p><p>Exemplos: terra; terreiro; terrestre; enterrar</p><p>§ Vogal temática: é a vogal que aparece logo após o radical, “ajudando” as palavras a receber outro signi-</p><p>ficado. Aparece nos verbos, definindo se são de 1a, 2a ou 3a conjugação.</p><p>Exemplo:</p><p>do Vaticano.</p><p>Chama-se da Vaticana porque foi encontrado na</p><p>Biblioteca do Vaticano, em Roma, onde foi preservado.</p><p>Levad’, amigo, que dormides as manhãas frias;</p><p>todalas aves do mundo d’amor dizian:</p><p>leda m’ and’ eu.</p><p>Levad’, amigo, que dormide’-las frias manhãas;</p><p>todalas aves do mundo d’amor cantavan:</p><p>leda m’ and’ eu.</p><p>Toda-las aves do mundo d’ amor diziam;</p><p>do meu amor e do voss’ en ment’ avian:</p><p>leda m’ and’ eu.</p><p>Toda-las aves do mundo d’ amor cantavan;</p><p>do meu amor e do voss’ i enmentavan:</p><p>leda m’ and’ eu.</p><p>Do meu amor e do voss’ en ment’avian;</p><p>vós lhi tolhestes os ramos en que siian:</p><p>leda m’ and’ eu.</p><p>Do meu amor e do voss’ i enmentavam;</p><p>vos lhi tolhestes os ramos en que pousavam</p><p>leda m’ and’ eu.</p><p>Vós lhi tolhestes os ramos en que siian</p><p>e lhis secastes as fontes en que bevian:</p><p>leda m’ and’ eu.</p><p>Vós lhi tolhestes os ramos en que pousavam</p><p>e lhis secastes as fontes u se banhavan:</p><p>leda m’ and’ eu.</p><p>No final do século XIII, Portugal conheceu os</p><p>“cantares” de D. Dinis (1261-1325), comumente conhe-</p><p>cido como “o rei trovador”. Seus poemas encontram-se</p><p>coletados no Cancioneiro da Vaticana e no da Biblioteca</p><p>Nacional. D. Dinis é autor de uma das mais conhecidas</p><p>cantigas medievais portuguesas: Ai flores, ai flores</p><p>do verde pinho.</p><p>Existem repetições, expedientes típicos das can-</p><p>tigas de amigo: a moça enamorada dirige-se à natureza</p><p>(pinheiros) e essa lhe responde às perguntas sobre o</p><p>namorado.</p><p>Esta é a mais famosa cantiga de d. Dinis, tendo</p><p>gerado, inclusive, a epígrafe de Fernando Pessoa.</p><p>as novelas de Cavalaria</p><p>As novelas de cavalaria são os primeiros ro-</p><p>mances, ou seja, longas narrativas em verso, surgidas</p><p>no século XII. Elas contam as aventuras vividas pelos</p><p>cavaleiros andantes e tiveram origem com o declínio do</p><p>prestígio da poesia dos trovadores.</p><p>Estão organizadas em três ciclos, de acordo</p><p>com o tema que desenvolvem e com o tipo de herói</p><p>que apresentam:</p><p>§ Ciclo clássico: novelas que narram a guerra de</p><p>Troia e as aventuras de Alexandre, o Grande. O</p><p>ciclo recebe essa denominação porque seus he-</p><p>róis vêm do mundo clássico mediterrâneo.</p><p>§ Ciclo arturiano ou bretão: histórias envolven-</p><p>do o rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda.</p><p>Nessas novelas, podem ser identificados vários</p><p>núcleos temáticos: a história de Percival, a história</p><p>de Tristão e Isolda, as aventuras dos cavaleiros da</p><p>corte do rei Arthur e a demanda do Santo Graal.</p><p>79</p><p>§ Ciclo carolíngio ou francês: histórias sobre o</p><p>rei Carlos Magno e os 12 pares de frança.</p><p>Dos três ciclos, o arturiano permanece como um</p><p>dos temas literários mais explorados, sendo objeto de</p><p>romances, poemas, filmes e óperas até hoje.</p><p>No trecho a seguir, extraído de A demanda do</p><p>Santo Graal, Galaaz chega à Távola Redonda.</p><p>Como Galaaz entrou no paço e acabou o</p><p>assento perigoso.</p><p>(A demanda do Santo Graal, manuscrito do século XIII)</p><p>Eles [...] olharam e viram que todas as portas do</p><p>paço se fecharam e todas as janelas, mas não escureceu</p><p>por isso o paço, porque entrou um tal raio de sol, que por</p><p>toda a casa se estendeu. E aconteceu então uma grande</p><p>maravilha, não houve quem no paço não perdesse a fala;</p><p>e olhavam-se uns aos outros e nada podiam dizer, e não</p><p>houve alguém tão ousado, que disso não ficasse espan-</p><p>tado; mas não houve quem saísse do assento, enquanto</p><p>isto durou. Aconteceu que entrou Galaaz arma-</p><p>do de loriga e brafoneiras e de elmo e de suas divisas de</p><p>veludo vermelho; e, após ele, chegou o ermitão, que lhe</p><p>rogara que o deixasse andar com ele, e trazia um manto</p><p>e uma gamacha de veludo vermelho em seu braço.</p><p>Mas tanto vos digo que não houve no paço</p><p>quem pudesse entender por onde Galaaz entrara, que</p><p>em sua vinda não abriram porta nem janela. Mas do</p><p>ermitão não vos digo, porque o viram entrar pela porta</p><p>grande. E Galaaz, assim que chegou ao meio do paço,</p><p>disse de modo que todos ouviram:</p><p>– A paz esteja convosco.</p><p>E o homem bom pôs as vestes que trazia sobre</p><p>um tapete, e foi ao rei Arthur e disse-lhe:</p><p>– Rei Arthur, eu trago o cavaleiro desejado,</p><p>aquele que vem da alta linhagem do rei Davi e de José</p><p>de Arimateia, pelo qual as maravilhas desta terra e das</p><p>outras terão fim.</p><p>E com isto que o homem bom disse, ficou o rei</p><p>muito alegre. E disse:</p><p>– Se isto é verdade, sede bem-vindo. E bem vin-</p><p>do seja o cavaleiro, porque este é o que há de dar cabo</p><p>às aventuras do santo Graal. Nunca foi feita nesta corte</p><p>tanta honra como lhe nós faremos; e quem quer que ele</p><p>seja, eu queria que lhe fosse muito bem, pois de tão alta</p><p>linhagem vem como dizeis.</p><p>– Senhor, disse o ermitão, cedo o vereis em bom</p><p>começo.</p><p>Então fê-lo vestir os panos que trazia e foi assen-</p><p>tá-lo no assento perigoso. E disse:</p><p>– Filho, agora vejo o que muito desejei, quando</p><p>vejo o assento perigoso ocupado.</p><p>[...]</p><p>O cavaleiro de quem Merlim e todos os profe-</p><p>tas falaram. O rei, assim que viu no assento perigoso o</p><p>cavaleiro de quem Merlim e todos os profetas falaram</p><p>na Grã-Bretanha, então bem soube que aquele era o</p><p>cavaleiro por quem seriam acabadas as aventuras do</p><p>reino de Logres, e ficou com ele tão alegre e tão feliz</p><p>que bendisse a Deus:</p><p>Deus, bendito sejas tu que te aprouve de tanto</p><p>viver eu que, em minha casa, visse aquele de quem to-</p><p>dos os profetas desta terra e das outras profetizaram,</p><p>tão longo tempo há já.</p><p>[...]</p><p>INTERATIVIAA DADE</p><p>ASSISTIR</p><p>Filme Cruzada - Direção: Ridley Scott - 2005</p><p>Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que guarda luto pela morte de</p><p>sua esposa e �lho. Ele recebe a visita de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai,</p><p>que é também um conceituado barão do rei de Jerusalém e dedica sua vida a</p><p>manter a paz na Terra Santa.</p><p>Filme O sétimo selo - Direção: Ingmar Bergman - 1959</p><p>Após dez anos, um cavaleiro (Max Von Sydow) retorna das Cruzadas e encontra o</p><p>país devastado pela peste negra. Sua fé em Deus é sensivelmente abalada e</p><p>enquanto re�ete sobre o signi�cado da vida, a Morte (Bengt Ekerot) surge a sua</p><p>frente querendo levá-lo, pois chegou sua hora.</p><p>Filme O nome da rosa - Direção: Jean-Jacques Annaud - 1986</p><p>Em 1327, William de Baskerville (Sean Connery), um monge franciscano, e Adso</p><p>von Melk (Christian Slater), um noviço, chegam a um remoto mosteiro no norte da</p><p>Itália. William de Baskerville pretende participar de um conclave para decidir se a</p><p>Igreja deve doar parte de suas riquezas, mas a atenção é desviada por vários assas-</p><p>sinatos que acontecem no mosteiro.</p><p>80</p><p>Sites</p><p>LER</p><p>cantigas.fcsh.unl.pt</p><p>ACESSAR</p><p>tt Livros</p><p>A lírica trovadoresca. Segismundo Spina</p><p>Seria preciso, segundo Segismundo Spina, retomar o mesmo</p><p>entusiasmo com que o Romantismo abraçou o mundo</p><p>encantado da poesia das catedrais e dos duelos sarracenos</p><p>da Idade Média, cujos trovadores formam, no século XII, o</p><p>primeiro capítulo da história literária da Europa moderna.</p><p>81</p><p>O sepultamento de Cristo (iluminura medieval) “Madonna e o Menino” de Duccio, pintor italiano do período gótico</p><p>(c.1255-1319)</p><p>Artes plásticas</p><p>Obras medievais</p><p>APLICAÇÃO NO COTIDIANOINTERDISCIPLINARIDADE</p><p>82</p><p>83</p><p>APLICAÇÃO NO COTIDIANOINTERDISCIPLINARIDADE</p><p>estrutura ConCeitual</p><p>Idade Média Idade Moderna</p><p>Crescimento da</p><p>cultura cristã</p><p>Arte literária ainda</p><p>vinculada à música</p><p>Regime Feudal</p><p>Humanismo Classicismo BarrocoTrovadorismoTrovadorismo</p><p>©</p><p>Pe</p><p>ter</p><p>P</p><p>au</p><p>l R</p><p>ub</p><p>en</p><p>s/W</p><p>iki</p><p>me</p><p>dia</p><p>C</p><p>om</p><p>mo</p><p>ns</p><p>Humanismo e Classicismo</p><p>Competência</p><p>5</p><p>Habilidades</p><p>15, 16 e 17</p><p>L</p><p>ENTRE LETRAS</p><p>C</p><p>05 06</p><p>Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para</p><p>sua vida.</p><p>H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.</p><p>H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.</p><p>H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.</p><p>H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos</p><p>sistemas de comunicação e informação.</p><p>Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras</p><p>culturas e grupos sociais.</p><p>H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.</p><p>H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.</p><p>H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.</p><p>H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.</p><p>Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da</p><p>identidade.</p><p>H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.</p><p>H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.</p><p>H11</p><p>Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para</p><p>diferentes indivíduos.</p><p>Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e</p><p>da própria identidade.</p><p>H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.</p><p>H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.</p><p>H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.</p><p>Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante</p><p>a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.</p><p>H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.</p><p>H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.</p><p>H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.</p><p>Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da</p><p>realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.</p><p>H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.</p><p>H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.</p><p>H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional</p><p>Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.</p><p>H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.</p><p>H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.</p><p>H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.</p><p>H24</p><p>Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,</p><p>chantagem, entre outras.</p><p>Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização</p><p>do mundo e da própria identidade.</p><p>H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.</p><p>H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.</p><p>H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.</p><p>Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida</p><p>pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,</p><p>às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.</p><p>H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem</p><p>87</p><p>Humanismo</p><p>DORÉ, Gustave. Demônios confrontando Dante e Virgílio. Ilustração para o livro A divina Comédia (Inferno), de Dante Alighieri,</p><p>publicado em 1885 – Biblioteca de Artes Decorativas (Paris, França). A ilustração reflete a confiança dos humanistas.</p><p>Dante e Virgílio enfrentam os demônios por meio da razão, que os ajuda a afastar as “trevas” do pensamento vinculado à Idade Média.</p><p>[...] os humanistas consideravam a Antiguida-</p><p>de afastada deles no tempo (tudo o que fosse ve-</p><p>lho tinha para eles um interesse especial), mas es-</p><p>piritualmente próxima, ao passo que a Idade Média</p><p>estava mais próxima no tempo, mas extremamente</p><p>distante em muitos aspectos [...].</p><p>DRESDEN, Sem. O Humanismo no renascimento.</p><p>Tradução de Daniel Gonçalves. Porto: Inova. p. 55.</p><p>Cronologia do Humanismo</p><p>Início: nomeação de Fernão Lopes, em 1418, como o cronista-mor da Torre do Tombo.</p><p>Fim: em 1527, com a chegada do poeta Sá de Miranda, da Itália, com a Medida Nova (verso decassílabo).</p><p>Contexto</p><p>O Humanismo foi um movimento artístico e in-</p><p>telectual que se estabeleceu como uma transição entre</p><p>o teocentrismo da Idade Média e o pensamento an-</p><p>tropocêntrico do Renascimento, que surgiu na Itália no</p><p>final da Idade Média (século XIV). A organização social</p><p>passou por uma reformulação, e nas áreas mais longín-</p><p>quas aos feudos medievais passaram a surgir pequenas</p><p>cidades que funcionavam de forma independente do</p><p>poder absoluto dos monarcas, eram os burgos e seus</p><p>habitantes, os burgueses.</p><p>A lógica dos humanistas era colocar em primei-</p><p>ro plano o próprio ser humano, o que os afastava do Monteriggioni - Burgo (Itália)</p><p>88</p><p>teocentrismo medieval. Muitos camponeses, atraídos</p><p>pelas promessas de prosperidade, transferiram-se para</p><p>os burgos, estas cidades ou vila medievais normalmente</p><p>muradas e associadas a um mosteiro ou castelo, onde</p><p>começaram a trabalhar como pequenos mercadores.</p><p>Em função da substituição da sociedade do es-</p><p>cambo e das trocas pelo surgimento do comércio e, pri-</p><p>mordialmente, da moeda, o homem se viu rompendo</p><p>com a lógica feudal das castas imóveis. Diante da possi-</p><p>bilidade de ascensão social passaram a investir mais em</p><p>si, num individualismo que colocava o próprio homem</p><p>e sua busca por poder e acúmulo em primeiro plano,</p><p>surgindo, assim, a burguesia.</p><p>Lucca – Burgo (Itália)</p><p>Essas transformações que começaram a ocorrer</p><p>na Europa do fim da Idade Média fizeram com que a</p><p>vida nas cidades fosse retomada e o comércio inten-</p><p>sificado, provocando maior interação entre pessoas de</p><p>diferentes segmentos da sociedade. A riqueza passou</p><p>a ser associada ao capital obtido pelo comércio e não</p><p>mais à terra, como ocorria na sociedade feudal.</p><p>Com o enriquecimento da burguesia, em função</p><p>do comércio, surge a necessidade de um investimento</p><p>na própria formação cultural, para que se pudesse admi-</p><p>nistrar a riqueza acumulada. A arte ganha com isso, pois</p><p>com a formação intelectual, fruto da lógica comercial,</p><p>o burguês passa a investir em cultura, aprende a ler e</p><p>a contar, algo que, até então, só era feito pela Igreja e</p><p>pelos grandes soberanos. Aos poucos, os leigos come-</p><p>çam a conquistar um papel importante na produção e,</p><p>principalmente, na circulação de cultura.</p><p>A busca por uma formação levou à redescoberta</p><p>de textos e autores</p><p>da Antiguidade Clássica, considera-</p><p>da uma fonte de saber a respeito do ser humano, resga-</p><p>tando, assim, a visão antropocêntrica, característica da</p><p>cultura greco-latina.</p><p>Projeto literário</p><p>O abandono da subordinação ao Clero e o res-</p><p>gate dos valores clássicos fazem com que ganhe força</p><p>um olhar mais racional sobre o mundo, buscando na</p><p>Ciência uma explicação para os fenômenos até então</p><p>atribuídos a Deus.</p><p>O contexto de produção é o mesmo do Trovado-</p><p>rismo, mas em função do desenvolvimento intelectual</p><p>vindo da ampliação cultural promovida pela burguesia,</p><p>os textos passam a ser escritos para ser lidos e não mais</p><p>cantados, como seguia a tradição oral das cantigas. A</p><p>partir do início da produção de livros na Europa, sobre-</p><p>tudo com a invenção da gráfica, por Johann Gutenberg,</p><p>por volta de 1450, a Literatura ganha com obras que</p><p>permitem ao escritor se valer de novos recursos técnicos</p><p>de escrita e linguagem, sem ficarem presos à oralidade</p><p>e à memória, como faziam até então. Para se ter uma</p><p>ideia, surge na Alemanha em 1455, o primeiro livro im-</p><p>presso por Gutemberg, a Bíblia.</p><p>Portugal e sua produção</p><p>Os reis e nobres da Dinastia de Avis (1385-1580)</p><p>tornaram Portugal mais poderoso e rico com o início da</p><p>expansão marítima em Portugal, que surge ao mesmo</p><p>tempo em que se funda a Torre do Tombo, em 1418,</p><p>que foi um importante centro de registro e documen-</p><p>tação da época. Destaca-se a figura de Fernão Lopes,</p><p>nomeado o cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434,</p><p>sendo responsável por escrever e catalogar as Crôni-</p><p>cas historiográficas. Surge uma poesia desvinculada da</p><p>música, chamada de Poesia Palaciana, com Garcia de</p><p>Resende e sua compilação de poetas no “Cancioneiro</p><p>Geral”, de 1516.</p><p>Destaca-se, também, a figura de Gil Vicente na</p><p>produção teatral, sendo um importante representante</p><p>da cultura e sociedade da época.</p><p>Fernão Lopes (Crônica historiográfica)</p><p>Fernão Lopes é importante pois é a partir do re-</p><p>gistro de suas crônicas historiográficas que se marca o</p><p>início do Humanismo em Portugal. Dezesseis anos após</p><p>ter sido nomeado o guarda-mor da Torre do Tombo, em</p><p>1434, ele é nomeado cronista-mor do reino. Ele foi o</p><p>primeiro grande prosador da Literatura Portuguesa e</p><p>contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da</p><p>89</p><p>Língua Portuguesa moderna ao criar uma visão de mun-</p><p>do independente das imposições do clero.</p><p>Lopes escreveu três crônicas:</p><p>§ Crônica de El-Rei D. Pedro I: compilação e</p><p>crítica dos principais acontecimentos do reino de</p><p>D. Pedro I. Nesse volume, encontra-se o relato</p><p>do episódio da morte de Inês de Castro, amante</p><p>do rei, assassinada a mando de D. Afonso IV, pai</p><p>de D. Pedro.</p><p>§ Crônica de El-Rei D. Fernando: reconstitui-</p><p>ção do período que se inicia com o casamento</p><p>de D. Fernando com Dona Leonor Teles e encer-</p><p>ra-se com a Revolução de Avis.</p><p>§ Crônica de El-Rei D. João: dividida em duas</p><p>partes; a primeira começa com a morte de D.</p><p>Fernando, em 1383, e termina com a revolução</p><p>que leva D. João ao trono português; na segunda</p><p>parte é descrito o reinado de D. João até 1411.</p><p>Fernão Lopes distinguia-se dos demais cronistas</p><p>pela importância que dava ao povo. Essa opção</p><p>do cronista exemplifica o seu espírito humanista.</p><p>Garcia de Resende (Poesia palaciana)</p><p>A grande novidade da poesia palaciana é que ela</p><p>se desvinculou da tradição oral das cantigas trovadores-</p><p>cas e foi escrita para ser lida e declamada. Ela consistia</p><p>em composições coletivas, produzidas para serem apre-</p><p>sentadas nos salões da nobreza, onde aconteciam os</p><p>Serões. Do ponto de vista temático, esses poemas ainda</p><p>idealizavam o amor e suas desilusões, mas sem o exage-</p><p>ro trovadoresco. Do ponto de vista formal, a mudança é</p><p>nítida no que diz respeito à constituição de uma Língua</p><p>Portuguesa sem tantas influências provençais e galegas,</p><p>fato esse que contribuiu para o aperfeiçoamento da lin-</p><p>guagem com técnicas como as aliterações, o jogo de</p><p>palavras, a conotação e a ambiguidade. Além disso, ex-</p><p>plorou-se o metro fixo das Redondilhas (Medida Velha).</p><p>Inês de Castro, sob o olhar de Garcia de Resende.</p><p>Por conta do desenvolvimento do contexto de circu-</p><p>lação literária, ou seja, com mais pessoas sabendo ler, mais</p><p>se consumia literatura, portanto surgiram alguns escritores</p><p>como Bernadim Ribeiro, Duarte de Brito, Nuno Pereira, po-</p><p>rém o mais importante foi Garcia de Resende, pois ficou</p><p>responsável, além de escrever, por compilar boa parte da</p><p>poesia humanista portuguesa. Esses poemas foram organi-</p><p>zados em um único volume, o Cancioneiro Geral, em 1516.</p><p>Medida Velha</p><p>§ Redondilhas maiores: versos com metrifi-</p><p>cação de 7 sílabas poéticas.</p><p>§ Redondilhas menores: versos com metrifi-</p><p>cação de 5 sílabas poéticas.</p><p>A poesia reunida por Garcia de Resende no</p><p>Cancioneiro Geral traz algumas diferenças importantes</p><p>em relação à lírica dos trovadores galego-portugueses</p><p>quanto ao uso de formas poéticas regulares, como:</p><p>§ a trova: composta de duas ou mais quadras de</p><p>versos de sete sílabas e rimas ABAB;</p><p>90</p><p>§ o vilancete: composto de um mote (motivo de</p><p>dois ou três versos) seguido de voltas ou glosas</p><p>(estrofes em que o mote é desenvolvido) de sete</p><p>versos;</p><p>§ a cantiga: composta de um mote de quatro ou</p><p>cinco versos e de uma glosa de oito ou dez ver-</p><p>sos, com repetição total ou parcial do mote no</p><p>fim da glosa;</p><p>§ a esparsa: composta de uma única estrofe de</p><p>oito, nove ou dez versos de seis sílabas métricas.</p><p>Exemplo de poema compilado no Cancioneiro</p><p>Geral:</p><p>Entre mim mesmo e mim</p><p>não sei que se ergueu</p><p>que tão meu inimigo sou.</p><p>Uns tempos com grande engano</p><p>vivi eu mesmo comigo,</p><p>agora no maior perigo</p><p>se me descobre maior dano.</p><p>Caro custa um desengano,</p><p>embora este não me tenha matado</p><p>quão caro que me custou!</p><p>De mim me sou feito outro,</p><p>entre o cuidado e cuidado</p><p>está um mal derramado,</p><p>que por mal grande me veio.</p><p>Nova dor, novo receio</p><p>foi este que me tomou,</p><p>assim me tem, assim estou.</p><p>(Bernardim Ribeiro)</p><p>O teatro de Gil Vicente</p><p>O grande nome do teatro no Humanismo é Gil</p><p>Vicente, considerado o pai do teatro em Portugal. Escrita</p><p>em 1502, sua primeira peça foi Auto da Visitação, em</p><p>homenagem à rainha D. Maria pelo nascimento de seu</p><p>filho, o futuro rei D. João III. Em seus 71 anos de vida, Gil</p><p>Vicente se manteve em cena durante 34 anos e testemu-</p><p>nhou muitas modificações ocorridas em Portugal, viu, por</p><p>exemplo, seu país sair de uma sociedade agrária e tornar-</p><p>-se uma potência naval, comercial e militar.</p><p>Acredita-se que ele tenha nascido por volta de</p><p>1495. Pouco se conhece de sua vida particular e acre-</p><p>dita-se que tenha se mantido distante de exageros e</p><p>modismos, mas sabe-se que ele legou à sociedade uma</p><p>vasta obra teatral, com forte caráter moralizante, em</p><p>que a religião aparece como padrão e referência de</p><p>comportamento, a partir da qual se julgam as virtudes e</p><p>os erros dos humanos.</p><p>Viveu a transição dos valores medievais para os re-</p><p>nascentistas, trazendo, de um lado, a crença teocêntrica na</p><p>providência divina e, de outro, a crítica de costumes, como</p><p>a audácia humanista fundindo o antigo ao moderno.</p><p>Ridendo castigat mores</p><p>A arte teatral vicentina tem caráter moralizan-</p><p>te, pois enfoca os desvios comportamentais inseridos</p><p>num contexto em que a religião católica era o padrão</p><p>de comportamento. No entanto, sua crítica sempre se</p><p>voltava para os sujeitos e não para as instituições, prin-</p><p>cipalmente as religiosas.</p><p>A evidente intenção na maioria de suas obras</p><p>é criar o riso crítico, usando a máxima latina ridendo</p><p>castigat mores, ou seja, rindo castiga-se a moral</p><p>sem fazer distinção de classe, seja rico, pobre, plebeu</p><p>ou nobre, todos eram sua matéria-prima e recebiam a</p><p>mesma força de suas críticas.</p><p>91</p><p>O teatro vicentino coloca no centro da cena erros</p><p>de ricos e pobres, nobres e plebeus. O autor denuncia os</p><p>exploradores do povo, como o fidalgo, o sapateiro e o</p><p>agiota no Auto da barca do inferno; e ridiculariza os</p><p>velhos que se interessam por mulheres mais jovens na</p><p>farsa O velho</p><p>da horta.</p><p>Um recurso muito explorado por Gil Vicente é o uso</p><p>de alegorias, ou seja, de representações por meio de perso-</p><p>nagens ou objetos, de ideias abstratas, geralmente relacio-</p><p>nadas aos vícios e às virtudes humanas. Assim, no Auto da</p><p>barca do inferno, o agiota traz consigo uma bolsa cheia de</p><p>moedas que representa, alegoricamente, a sua ganância.</p><p>Outro recurso são os tipos sociais, nos quais são</p><p>elencadas figuras que formam um quadro da socieda-</p><p>de portuguesa da época, como papas, fidalgos, juízes,</p><p>onzeneiros, alcoviteiras, prostitutas, espertalhões, tolos,</p><p>mulheres ambiciosas, clérigos, frades etc.</p><p>Afastou-se totalmente dos gêneros de grande pres-</p><p>tígio no teatro da Antiguidade Clássica, ou seja, a tragédia e</p><p>a comédia são caracterizadas por três unidades: ação, tempo</p><p>e lugar. Gil Vicente, ao contrário, caracteriza sua obra pela</p><p>amplitude temática, maior duração da ação cênica, maior</p><p>número de atores em cena e despreocupação com grande</p><p>cenário para que possa justapor espaços com mais facilida-</p><p>de. Além disso, misturava no registro de fala tanto o erudito</p><p>como o popular, o dito “elevado” com o “baixo”.</p><p>As obras de Gil Vicente costumam ser divididas</p><p>em três tipos:</p><p>§ Autos pastoris (éclogas): gênero a que per-</p><p>tencem algumas das primeiras obras do autor.</p><p>Algumas dessas peças têm caráter religioso,</p><p>como o auto pastoril português;</p><p>§ Autos de moralidade: gênero em que Gil Vi-</p><p>cente se celebrizou. Suas peças mais conhecidas</p><p>são os da trilogia das barcas (Auto da barca do</p><p>inferno, Auto da barca do purgatório e Auto da</p><p>barca da glória) e o Auto da alma.</p><p>§ Farsas: peças de caráter crítico, utilizam como</p><p>personagens tipos populares e desenvolvem-se em</p><p>torno de problemas da sociedade. As mais popu-</p><p>lares são a Farsa de Inês Pereira, história de uma</p><p>jovem que vê no casamento a sua chance de as-</p><p>censão social, e O velho da horta, que ridiculariza a</p><p>paixão de um velho casado por uma jovem virgem.</p><p>O velho da horta (1512)</p><p>A farsa gira em torno dos amores de um velho e uma</p><p>mocinha que vai até sua horta “buscar cheiros para a panela”.</p><p>O velho a corteja e apaixona-se por ela. Uma</p><p>alcoviteira, aproveitando-se da situação, põe-se a tirar a</p><p>fortuna do Velho e o deixa na miséria.</p><p>Leia um trecho:</p><p>[...]</p><p>Entra a moça na horta e diz o velho: Senhora, benza-vos</p><p>Deus!</p><p>MOÇA: Deus vos mantenha, senhor.</p><p>VELHO: Onde se criou tal flor? Eu diria que nos céus.</p><p>MOÇA: Mas no chão.</p><p>VELHO: Pois damas se acharão que não são vosso sapato!</p><p>MOÇA: Ai! Como isso é tão vão, e como as lisonjas são-</p><p>de barato!</p><p>VELHO: Que buscais vós cá, donzella, senhora, meu coração?</p><p>MOÇA: Vinha ao vosso hortelão, por cheiros para a panella.</p><p>VELHO: E a isso vinde vós, meu paraíso. Minha senhora,</p><p>e não a aí?</p><p>MOÇA: Vistes vós! Segundo isso, nenhum velho não</p><p>tem siso natural.</p><p>VELHO: Ó meus olhinhos garridos, minha rosa, meu arminho!</p><p>MOÇA: Onde he vosso ratinho? Não tem os cheiros colhidos?</p><p>VELHO: Tão depressa vinde vós, minha condensa, meu</p><p>amor, meu coração!</p><p>MOÇA: Jesus! Jesus! Que cousa he essa? E que prá-</p><p>tica tão avessa da razão! Falai, falai doutra maneira!</p><p>Mandai-me dar a hortaliça.</p><p>VELHO: Grão fogo de amor me atiça, ó minha alma ver-</p><p>dadeira!</p><p>MOÇA: E essa tosse? Amores de sobreposse serão os da</p><p>vossa idade; o tempo vos tirou a posse.</p><p>VELHO: Mais amo que se moço fosse com a metade.</p><p>MOÇA: E qual será a desastrada que atende vosso amor?</p><p>VELHO: Ó minha alma e minha dor, quem vos tivesse fur-</p><p>tada!</p><p>MOÇA: Que prazer! Quem vos isso ouvir dizer cuidará</p><p>que estais vós vivo, ou que estais para viver!</p><p>VELHO: Vivo não no quero ser, mas cativo!</p><p>[...]</p><p>92</p><p>A farsa de Inês Pereira (1523)</p><p>A farsa de Inês Pereira é considerada a mais com-</p><p>plexa peça de Gil Vicente. Ao apresentá-la, o teatrólogo</p><p>português diz:</p><p>A seguinte farsa de folgar foi re-</p><p>presentada ao muito alto e mui poderoso</p><p>rei D. João, o terceiro do nome em Por-</p><p>tugal, no seu Convento de Tomar, na era</p><p>do Senhor 1523. O seu argumento é que,</p><p>porquanto duvidavam certos homens de</p><p>bom saber, se o Autor fazia de si mesmo</p><p>estas obras, ou se as furtava de outros</p><p>autores, lhe deram este tema sobre que</p><p>fizesse: é um exemplo comum que dizem:</p><p>Mais vale asno que me leve</p><p>que cavalo que me derrube.</p><p>E sobre este motivo se fez esta farsa.</p><p>A obra pode ser dividida em cinco partes: a pri-</p><p>meira é um retrato da rotina na qual se insere a pro-</p><p>tagonista; a segunda reflete a situação da mulher na</p><p>sociedade da época, cujos registros são dados pela mãe</p><p>de Inês, pela própria Inês e por Lianor Vaz; a terceira</p><p>mostra o comércio casamenteiro, representado pelos ju-</p><p>deus comerciantes e pelo arranjo matrimonial-mercantil</p><p>de Inês com Brás da Mata; a quarta considera o ca-</p><p>samento, o despertar para a realidade, contrapondo-a</p><p>ao sonho que embalava as fantasias da protagonista</p><p>e; finalmente, a quinta parte reflete a realidade brutal</p><p>da qual Inês, experiente e vivida, procura tirar proveito</p><p>próprio. A peça apresenta uma situação concreta, com</p><p>uma personagem bem delineada psicologicamente e</p><p>um fio condutor melhor configurado que as produções</p><p>anteriores de Gil Vicente.</p><p>O enredo é simples: uma jovem sonhadora pro-</p><p>cura, por meio do casamento com um homem que sai-</p><p>ba tanger viola, fugir à rotina doméstica. Despreza a</p><p>proposta de Pero Marques, filho de um camponês rico,</p><p>homem tolo e ingênuo, e aceita se casar com Brás da</p><p>Mata, escudeiro pelintra e pobretão. No entanto, os so-</p><p>nhos da heroína são logo desfeitos, porque o marido</p><p>revela sua verdadeira personalidade, maltratando-a e</p><p>explorando-a. Brás da Mata vai para a África e lá vem</p><p>a falecer. Inês, ensinada pela dura experiência, toma</p><p>consciência da realidade e aceita se casar com Pero</p><p>Marques, seu primeiro pretendente. Depressa também</p><p>a jovem aceita a corte de um falso ermitão. A farsa ter-</p><p>mina com o marido (cantado por ela como cuco, gamo</p><p>e cervo, tradicionalmente concebidos como símbolos</p><p>do homem traído) levando-a às costas (asno que me</p><p>carregue) até a gruta em que vive o ermitão, para um</p><p>encontro nada ingênuo.</p><p>Leia um trecho:</p><p>INÊS PEREIRA: Quien con veros pena y muere</p><p>qué hará cuando no os viere? 1</p><p>FALADO: Renego deste lavrar e do primeiro que</p><p>o usou 2 ao diabo que o eu dou que tam mau é d’aturar.</p><p>Oh, Jesus! Que enfadamento, e que raiva, e que</p><p>tormento, que cegueira, e que canseira! 3 Eu hei-de bus-</p><p>car maneira d’algum outro aviamento 4.</p><p>Coitada, assi hei-de estar encerrada nesta casa</p><p>como panela sem asa que sempre está num lugar?</p><p>E assi hão-de ser logrados 5 dou dias amargura-</p><p>dos, que eu possa estar cativa 6 em poder de desfiados?</p><p>7</p><p>Antes o darei ao Diabo que lavrar mais nem pon-</p><p>tada;8 já tenho a vida cansada de jazer sempre dum</p><p>cabo. 9</p><p>Todas folgam e eu não, todas vêm e todas vão</p><p>onde querem, senão eu. Hui! E que pecado é o meu, Oh</p><p>que dor de coração!</p><p>Esta vida é mais que morta. Sou eu coruja ou</p><p>corujo, ou sou algum caramujo,10 que não sai senão à</p><p>porta? E quando me dão algum dia licença, como a bu-</p><p>gia,11 que possa estar à janela é já mais que a Madane-</p><p>la 12 quando achou a aleluia.</p><p>1. Quem, vendo-vos, sofre e morre que fará se vos não vir?</p><p>2. Amaldiçoado seja o trabalho doméstico e quem o inventou.</p><p>3. Que trabalho cansativo e sem propósito.</p><p>4. Aviamento: solução.</p><p>5. Lograr: desfrutar, aproveitar.</p><p>6. Ao afirmar que desfruta (aproveita) os dias presa em casa,</p><p>sempre bordando e costurando, Inês ironiza a vida enfadonha a</p><p>que está submetida.</p><p>7. Desfiados: tecidos para bordar e costurar.</p><p>8. Que vá tudo ao Diabo, não darei nem mais um ponto no</p><p>bordado.</p><p>9. Estou cansada de estar sempre cativa, condenada às mesmas</p><p>e repetitivas tarefas, como as panelas que estão sempre depen-</p><p>duradas em uma mesma posição.</p><p>10. Ao comparar-se à coruja e ao caramujo, Inês ressalta,</p><p>respectivamente, os seguintes lamentos: não participa da vida</p><p>social e é prisioneira da própria casa.</p><p>11. Bugia: macaca.</p><p>12. Madanela: Madalena, personagem bíblica.</p><p>93</p><p>Auto da barca do inferno (1514)</p><p>O Auto da barca do inferno</p><p>representa o juízo</p><p>final católico de forma satírica e com forte apelo moral.</p><p>O cenário é uma espécie de porto, onde se encontram</p><p>duas barcas: uma com destino para o inferno, coman-</p><p>dada pelo diabo, e a outra, com destino para o paraíso,</p><p>comandada por um anjo. Ambos os comandantes aguar-</p><p>dam os mortos, que são as almas que seguirão para o</p><p>paraíso ou para o inferno.</p><p>Os mortos começam a chegar e um fidalgo é o</p><p>primeiro. Ele representa a nobreza, e é condenado ao</p><p>inferno por seus pecados, tirania e luxúria. O diabo or-</p><p>dena ao fidalgo que embarque. Este, arrogante, julga-se</p><p>merecedor do paraíso, pois deixou muita gente rezando</p><p>por ele. Recusado pelo anjo, encaminha-se, frustrado,</p><p>para a barca do inferno; mas tenta convencer o diabo a</p><p>deixá-lo rever sua amada, pois esta “sente muito” sua</p><p>falta. O diabo destrói seu argumento, afirmando que ela</p><p>o estava enganando.</p><p>Um agiota chega a seguir e é condenado ao in-</p><p>ferno por ganância e avareza. Tenta convencer o anjo a</p><p>ir para o céu pedindo ao diabo que o deixe voltar para</p><p>pegar a riqueza que acumulou, mas é impedido e acaba</p><p>na barca do inferno.</p><p>O terceiro indivíduo a chegar é o parvo (um tolo,</p><p>ingênuo). O diabo tenta convencê-lo a entrar na barca</p><p>do inferno; quando o parvo descobre qual é o destino</p><p>dela, vai falar com o anjo. Este, agraciando-o por sua</p><p>humildade, permite-lhe entrar na barca do céu.</p><p>A alma seguinte é a de um sapateiro, com todos</p><p>os seus instrumentos de trabalho. Durante sua vida en-</p><p>ganou muitas pessoas, e tenta enganar também o dia-</p><p>bo. Como não consegue, recorre ao anjo, que o condena</p><p>como alguém que roubou do povo.</p><p>O frade é o quinto a chegar cantarolando com</p><p>sua amante. Sente-se ofendido quando o diabo o con-</p><p>vida a entrar na barca do inferno, pois, sendo represen-</p><p>tante religioso, crê que teria perdão. Foi, porém, conde-</p><p>nado ao inferno por falso moralismo religioso.</p><p>Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, é recebida</p><p>pelo diabo, que lhe diz que seu o maior bem são “seis-</p><p>centos virgos postiços”. Virgo é hímen, representa a</p><p>virgindade. Compreendemos que essa mulher prostituiu</p><p>muitas meninas virgens, e “postiço” nos faz acreditar</p><p>que enganara seiscentos homens, dizendo que tais me-</p><p>ninas eram virgens. Brísida Vaz tenta convencer o anjo</p><p>a levá-la na barca do céu inutilmente. Ela é condenada</p><p>por prostituição e feitiçaria.</p><p>A seguir, é a vez do judeu, que chega acom-</p><p>panhado por um bode. Encaminha-se direto ao diabo,</p><p>pedindo para embarcar, mas até o diabo recusa-se a</p><p>levá-lo. Ele tenta subornar o diabo, porém este, com</p><p>a desculpa de não transportar bodes, o aconselha a</p><p>procurar outra barca. O judeu fala, então, com o anjo,</p><p>porém não consegue aproximar-se dele: é impedido,</p><p>acusado de não aceitar o cristianismo. Por fim, o diabo</p><p>aceita levar o judeu e seu bode, mas não dentro de sua</p><p>barca, e, sim, rebocados.</p><p>Durante o reinado de Dom Manuel, de 1495-</p><p>1521, muitos judeus foram expulsos de Portugal, e os</p><p>que ficaram tiveram que se converter ao cristianismo,</p><p>sendo perseguidos e chamados de “cristãos novos”. Ou</p><p>seja, Gil Vicente segue, nessa obra, o espírito da época.</p><p>O corregedor e o procurador, representantes do</p><p>judiciário, chegam, a seguir, trazendo livros e processos.</p><p>Quando convidados pelo diabo a embarcarem, come-</p><p>çam a tecer suas defesas e encaminham-se ao anjo.</p><p>Na barca do céu, o anjo os impede de entrar: são con-</p><p>denados à barca do inferno por manipularem a justiça</p><p>em benefício próprio. Ambos farão companhia à Brísida</p><p>Vaz, revelando certa familiaridade com a cafetina – o</p><p>que nos faz crer ter havido trocas de serviços entre eles.</p><p>O próximo a chegar é o enforcado, que acredita</p><p>ter perdão para seus pecados, pois em vida foi julgado e</p><p>enforcado. Mas também é condenado a ir para o inferno</p><p>por corrupção.</p><p>Por fim, chegam à barca quatro cavaleiros que</p><p>lutaram e morreram defendendo o cristianismo. Estes</p><p>são recebidos pelo anjo e perdoados imediatamente.</p><p>O bem e o mal</p><p>Todos os personagens que têm como destino o</p><p>inferno chegam trazendo consigo objetos terrenos, re-</p><p>presentando seu apego à vida; por isso, tentam voltar.</p><p>Os personagens a quem se oferece o céu são cristãos e</p><p>puros. O mundo aqui ironizado é maniqueísta: o bem e</p><p>o mal, o bom e o ruim são metades de um mundo moral</p><p>simplificado. O Auto da barca do inferno faz parte de</p><p>uma trilogia (Autos da barca da glória, do inferno e do</p><p>94</p><p>purgatório). Escrito em versos de sete sílabas poéticas,</p><p>possui apenas um ato, dividido em várias cenas. A lin-</p><p>guagem entre os personagens é coloquial – e é através</p><p>das falas que podemos classificar a condição social de</p><p>cada um dos personagens.</p><p>Leia um trecho:</p><p>[Vêm Quatro Cavaleiros cantando, os quais</p><p>trazem cada um a Cruz de Cristo, pela qual Senhor e</p><p>acrescentamento de Sua santa fé católica morreram em</p><p>poder dos mouros. Absoltos a culpa e pena per privilé-</p><p>gio que os que assi morrem têm dos mistérios da Paixão</p><p>d’Aquele por Quem padecem, outorgados por todos os</p><p>Presidentes Sumos Pontífices da Madre Santa Igreja. E</p><p>a cantiga que assi cantavam, quanto a palavra dela, é</p><p>a seguinte:]</p><p>Cavaleiros: À barca, à barca segura, barca bem</p><p>guarnecida, à barca, à barca da vida! Senhores que tra-</p><p>balhais pela vida transitória, memória, por Deus, memó-</p><p>ria deste temeroso cais! À barca, à barca, mortais, Barca</p><p>bem guarnecida, à barca, à barca da vida! Vigiai-vos,</p><p>pecadores, que, depois da sepultura, neste rio está a</p><p>ventura de prazeres ou dolores! À barca, à barca, se-</p><p>nhores, barca mui nobrecida, à barca, à barca da vida!</p><p>[E passando per diante da proa do batel dos da-</p><p>nados assi cantando, com suas espadas e escudos, disse</p><p>o Arrais da perdição desta maneira:]</p><p>Diabo: Cavaleiros, vós passais e não perguntais</p><p>onde vais?</p><p>1o CAVALEIRO: Vós, Satanás, presumis? Atentai</p><p>com quem falais!</p><p>2o CAVALEIRO: Vós que nos demandais? Sequer</p><p>conhece-nos bem: morremos nas Partes d’Além, e não</p><p>queirais saber mais.</p><p>DIABO: Entrai cá! Que cousa é essa? Eu não</p><p>posso entender isto!</p><p>CAVALEIROS: Quem morre por Jesus Cristo não</p><p>vai em tal barca como essa!</p><p>[Tornaram a prosseguir, cantando, seu caminho</p><p>direito à barca da Glória, e, tanto que chegam, diz o</p><p>Anjo:]</p><p>ANJO: Ó cavaleiros de Deus, a vós estou espe-</p><p>rando, que morrestes pelejando por Cristo, Senhor dos</p><p>Céus! Sois livres de todo mal, mártires da Santa Igreja,</p><p>que quem morre em tal peleja merece paz eternal.</p><p>[E assim embarcam.]</p><p>ClassiCismo</p><p>Detalhe do quadro O Nascimento da Vênus, de Botticelli, Galeria degli</p><p>Ufizzi, Florença.</p><p>Cronologia do Classicismo</p><p>Início (1527): chegada de Sá de Miranda à</p><p>Portugal, com a Medida Nova.</p><p>Fim (1580): morte de Camões e união da pe-</p><p>nínsula Ibérica.</p><p>Contexto</p><p>Nos séculos XV e XVI, a visão teocêntrica do</p><p>mundo, que caracterizou a Idade Média, cede lugar ao</p><p>antropocentrismo, ou seja, o Homem e a Ciência vão</p><p>para o centro dos acontecimentos e do universo. O Re-</p><p>nascimento marca o apogeu dessa era, que se propõe a</p><p>iluminar com a razão as trevas da civilização medieval.</p><p>Comércio</p><p>O fascínio pela vida nos meios urbanos fez com</p><p>que a sociedade buscasse cada vez mais os prazeres</p><p>que o dinheiro podia propiciar. O comércio entre as</p><p>nações da Europa cresceu e a burguesia mercantil não</p><p>aceitava que a produção agrária estivesse voltada ape-</p><p>nas para a subsistência e desejava buscar o comércio</p><p>exterior entre as nações.</p><p>Renascimento</p><p>O Renascimento foi uma decorrência natural</p><p>do Humanismo. O seu significado nas artes é reflexo</p><p>de transformações radicais sucedidas no Oriente, ao se</p><p>95</p><p>emancipar do velho sistema feudal. A certeza de que o</p><p>ser humano é uma força racional, capaz de dominar e</p><p>de transformar o Universo, levou o europeu a uma iden-</p><p>tificação com a cultura clássica, que valorizava a vida</p><p>terrena. O mundo, as pessoas e a vida passaram a ser</p><p>vistos sob o prisma da razão.</p><p>Vista panorâmica de Florença - palco do Renascimento</p><p>O palco</p><p>A Itália foi onde essa tendência renascentista</p><p>apareceu com mais intensidade,</p><p>sendo o palco deste</p><p>retorno ao mundo da Antiguidade Clássica, ou seja, fez</p><p>renascer os ideais de valorização dos gregos e latinos,</p><p>desde meados do século XIII, dos esforços individuais,</p><p>da perfeição, da superioridade humana e da razão como</p><p>parâmetro de observação e interpretação da realidade.</p><p>Pintura, escultura e arquitetura</p><p>Na pintura, um dos principais traços do Renasci-</p><p>mento foi a noção de perspectiva e a tematização de ele-</p><p>mentos da Antiguidade Clássica, bem como a humaniza-</p><p>ção do tema sacro. A técnica era levada em conta acima de</p><p>tudo, o sombreado realçava a ideia de volume dos corpos.</p><p>Também teve início a utilização da tela e a tinta a óleo.</p><p>Na escultura, o que mais chama a atenção é a</p><p>busca pela representação ideal do homem, normalmen-</p><p>te retratado nu a fim de exaltar as formas humanas.</p><p>A arquitetura também teve influência dos traços</p><p>clássicos, retratando a figura humana e o conceito de</p><p>beleza dos templos construídos de maneira harmônica,</p><p>normalmente coberta por uma cúpula.</p><p>Entre os artistas mais importantes da arte renas-</p><p>centista estão Leonardo da Vinci (1452-1519), Miche-</p><p>langelo (1475-1564) e Rafael Sanzio (1483-1520).</p><p>Monalisa, de Leonardo da Vinci. Museu do Louvre, Paris, França.</p><p>Pietà, de Michelangelo.</p><p>Literatura</p><p>O poeta Dante Alighieri, autor da Divina comé-</p><p>dia, introduziu o verso decassílabo – chamado de “a</p><p>medida nova”, em contraponto à redondilha, conside-</p><p>rada como “medida velha”. O poeta Francesco Petrarca,</p><p>criador do soneto, influenciou vários poetas europeus,</p><p>entre o quais o inglês William Shakespeare e os portu-</p><p>gueses Luís Vaz de Camões e Sá de Miranda.</p><p>96</p><p>Leia um soneto de Francesco Petrarca:</p><p>Se a minha vida do áspero tormento</p><p>E tanto afã puder se defender,</p><p>Que por força da idade eu chegue a ver</p><p>Da luz do vosso olhar o embaciamento,</p><p>E o áureo cabelo se tornar de argento,</p><p>E os verdes véus e adornos desprender,</p><p>E o rosto, que eu adoro, empalecer,</p><p>Que em lamentar me faz medroso e lento,</p><p>E tanta audácia há de me dar o Amor,</p><p>Que vos direi dos martírios que guardo,</p><p>Dos anos, dias, horas o amargor.</p><p>Se o tempo é contra este querer em que ardo,</p><p>Que não o seja tal que à minha dor</p><p>Negue o socorro de um suspiro tardo.</p><p>Sá de Miranda</p><p>Em Portugal, considera-se como marco inicial do</p><p>Classicismo o ano de 1527, data em que o poeta Sá de</p><p>Miranda regressou da Itália, de onde trouxe as inova-</p><p>ções literárias do Renascimento italiano, introduzindo-</p><p>-as em Portugal. O encerramento desse primeiro perío-</p><p>do clássico ocorre em 1580, ano da morte de Camões e</p><p>do domínio espanhol sobre Portugal.</p><p>Além do Classicismo, há dois outros períodos</p><p>clássicos: o Barroco, momento em que Portugal é do-</p><p>minado e governado pela Espanha, e o Arcadismo,</p><p>que avança até a segunda década do século XIX.</p><p>Características do Classicismo</p><p>O Classicismo queria recuperar a “classe” dos au-</p><p>tores antigos a partir do cultivo dos valores greco-latinos,</p><p>inclusive da mitologia pagã, própria dos antigos. Isso</p><p>levou os poetas renascentistas a recorrer às entidades</p><p>mitológicas para pedir inspiração, simbolizar emoções,</p><p>exemplificar comportamentos. Pastores, deuses, deusas</p><p>e ninfas estão presentes nas obras de arte e na literatura</p><p>renascentista de forma natural, convivendo até mesmo</p><p>com tradições cristãs, herdadas da época medieval.</p><p>É hora de o ser humano se orgulhar de suas con-</p><p>quistas terrenas. O homem descobre que a Terra é redon-</p><p>da e passa ter um olhar universalista sobre a realidade.</p><p>O marco de seu início se dá em 1527, quando o</p><p>poeta Sá de Miranda retorna de sua incursão pela Itália</p><p>renascentista e introduz em Portugal novas formas de</p><p>composição. Ele trouxe a postura amorosa, o soneto e,</p><p>principalmente, a forma fixa do verso decassílabo cha-</p><p>mado de Medida Nova, o Dolce Stil Nuovo (o doce estilo</p><p>novo) criado pelo escritor italiano Francesco Petrarca.</p><p>Tendências fundamentais</p><p>§ Criação e imitação</p><p>Retomado do princípio aristotélico da mimese,</p><p>ou seja, da reprodução os comportamentos hu-</p><p>manos por intermédio da arte.</p><p>§ Racionalismo</p><p>O desenvolvimento de um raciocínio completo</p><p>sobre os temas abordados, inclusive o amor. Na</p><p>poesia, essa tentativa de conciliar razão e emo-</p><p>ção se apresentou por meio de uma figura de</p><p>linguagem chamada “paradoxo”.</p><p>§ Humanismo e ideal de beleza</p><p>Recriação da natureza humana por meio de um</p><p>ideal de beleza, proporção, harmonia e simetria.</p><p>§ Universalismo</p><p>A busca por novos territórios, expansão marítima.</p><p>O homem quer se colocar acima da natureza e,</p><p>automaticamente, acima de Deus. O planeta Ter-</p><p>ra passa a ser um espaço de dominação humana.</p><p>ASSISTIR</p><p>INTERATIVIAA DADE</p><p>Vídeo Documentário português sobre a obra Os lusíadas</p><p>Vídeo Documentário português sobre Camões</p><p>Fonte: Ensina RPT</p><p>Fonte: Ensina RPT</p><p>97</p><p>LER</p><p>tt Livros</p><p>Lírica – Luís de Camões – Massaud Moisés</p><p>Considerado o maior poeta lírico português de todos os tempos, sua</p><p>poesia lírica é marcada por uma dualidade: ora revela textos de nítida</p><p>herança tradicional portuguesa, ora sua poesia se enquadra na medida</p><p>nova renascentista.</p><p>Os lusíadas – Edição Comentada por Otoniel Mota</p><p>Os Lusíadas é uma obra poética do escritor Luís Vaz de Camões, conside-</p><p>rada a epopeia portuguesa por excelência.</p><p>Dicionário de Luís de Camões – Vítor Aguiar e Silva</p><p>O Dicionário de Luís de Camões, obra concebida sob a coordenação do</p><p>prof. Vítor Aguiar e Silva, constitui um vasto e rico Thesaurus da camonís-</p><p>tica contemporânea.</p><p>98</p><p>ARTES PLÁSTICAS</p><p>99</p><p>Sepultamento de Cristo de Michelangelo, 1507 Madonna, de Rafael, circa 1505-1506</p><p>Obras renascentistas</p><p>Morte de Inês ou Drama de Inês de Castro, de Columbano Bordalo Pinheiro, século XIX</p><p>Episódio - Inês de Castro</p><p>100</p><p>Estrutura ConCEitual</p><p>Idade Média Idade Moderna</p><p>Processo de enriquecimento</p><p>da burguesia</p><p>Maior contato com obras</p><p>produzidas na antiguidade</p><p>destaque:</p><p>- Gil Vicente</p><p>Trovadorismo BarrocoHumanismo Classicismo</p><p>100</p><p>©</p><p>Jo</p><p>sé</p><p>Ve</p><p>los</p><p>o S</p><p>alg</p><p>ad</p><p>o</p><p>Classicismo:</p><p>Camões épico e lírico</p><p>Competência</p><p>5</p><p>Habilidades</p><p>15, 16 e 17</p><p>L</p><p>ENTRE LETRAS</p><p>C</p><p>07 08</p><p>Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para</p><p>sua vida.</p><p>H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.</p><p>H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.</p><p>H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.</p><p>H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.</p><p>Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras</p><p>culturas e grupos sociais.</p><p>H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.</p><p>H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.</p><p>H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.</p><p>H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.</p><p>Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da</p><p>identidade.</p><p>H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.</p><p>H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.</p><p>H11</p><p>Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para</p><p>diferentes indivíduos.</p><p>Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e</p><p>da própria identidade.</p><p>H12 Reconhecer diferentes funções da arte,</p><p>do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.</p><p>H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.</p><p>H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.</p><p>Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante</p><p>a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.</p><p>H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.</p><p>H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.</p><p>H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.</p><p>Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da</p><p>realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.</p><p>H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.</p><p>H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.</p><p>H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional</p><p>Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.</p><p>H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.</p><p>H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.</p><p>H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.</p><p>H24</p><p>Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,</p><p>chantagem, entre outras.</p><p>Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização</p><p>do mundo e da própria identidade.</p><p>H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.</p><p>H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.</p><p>H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.</p><p>Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida</p><p>pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,</p><p>às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.</p><p>H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem</p><p>103</p><p>Luis Vaz de Camões</p><p>Camões teria nascido em 1524 ou 1525, provavelmente na cida-</p><p>de de Lisboa (talvez Coimbra ou Santarém), descendente de uma família</p><p>da pequena nobreza. Estudou numa das mais conceituadas instituições de</p><p>Portugal, a Universidade de Coimbra. Em sua juventude, tornou-se um leitor</p><p>voraz de Homero, Virgílio, Ovídio e Petrarca. Lutando contra os mouros em</p><p>1549, acabou por perder a o olho direito.</p><p>Sua biografia é um tanto quanto nebulosa e cheia de confusões.</p><p>Em 1552, foi preso por ter brigado com Gonçalo Jorge, que era oficial</p><p>da corte, e sai perdoado da cadeia conquanto servisse militarmente Por-</p><p>tugal na Índia. Em 1556 é nomeado “provedor-mor dos bens de defun-</p><p>tos ausentes” em Macau, então colônia de Portugal. Durante os nove</p><p>anos que passou na cadeia, começou a escrever Os Lusíadas. Acusado</p><p>de desviar bens enquanto provedor-mor, vai para Goa a fim de se defen-</p><p>der das acusações. Na viagem, seu navio naufraga na foz do Rio Mekong</p><p>(Indochina) e diz a lenda que ele se salvou e deixou sua companheira chinesa, Dinamene, morrer afogada, com a</p><p>desculpa de salvar o manuscrito de Os Lusíadas, que já estava em sua fase final. Viveu na miséria, foi preso outra</p><p>vez, agora em Moçambique, por causa de dívidas, e voltou a Lisboa no ano de 1569 com a ajuda de amigos.</p><p>Em 1572 publica Os Lusíadas, sua obra prima, e recebe uma pensão anual de 15 mil réis oferecida por Dom</p><p>Sebastião. Morre pobre em 10 de junho de 1580. Curiosamente, o herói da poesia portuguesa expira com o início</p><p>do declínio do poderio imperial de Portugal, mesmo ano da União da Península Ibérica, quando o país fica sob o</p><p>domínio da coroa espanhola.</p><p>Em 1595 é publicada a obra Rimas, com uma compilação de sua obra lírica, de versos redondilhos elabora-</p><p>dos à maneira medieval, e também seus sonetos decassílabos de influência petrarquiana.</p><p>Leia o poema que Camões escreveu por ocasião da morte de Dinamene:</p><p>Alma minha gentil, que te partiste</p><p>Tão cedo desta vida descontente,</p><p>Repousa lá no Céu eternamente,</p><p>E viva eu cá na terra sempre triste.</p><p>Se lá no assento Etéreo, onde subiste,</p><p>Memória desta vida se consente,</p><p>Não te esqueças daquele amor ardente,</p><p>Que já nos olhos meus tão puro viste.</p><p>E se vires que pode merecer-te</p><p>Alg’a cousa a dor que me ficou</p><p>Da mágoa, sem remédio, de perder-te,</p><p>Roga a Deus, que teus anos encurtou,</p><p>Que tão cedo de cá me leve a ver-te,</p><p>Quão cedo de meus olhos te levou.</p><p>CAMÕES, Luís Vaz de. In: Sonetos.</p><p>104</p><p>Camões épiCo</p><p>Engenho e arte</p><p>A obra épica Os Lusíadas, publicada no reinado</p><p>de Dom Sebastião em 1572, é a mais importante epo-</p><p>peia em língua portuguesa, teve como modelos estru-</p><p>turais as epopeias da Antiguidade: a Ilíada e a Odisseia,</p><p>do poeta grego Homero, e a Eneida, do poeta latino</p><p>Virgílio. Entretanto, Camões introduziu uma novidade,</p><p>pois, em Os Lusíadas, o herói é coletivo, ou seja, é</p><p>o povo português; ao contrário do que ocorre nas epo-</p><p>peias modelares, em que um relevante herói individual</p><p>se sobressai (a exemplo de Aquiles, Ulisses e Eneias).</p><p>Essa modalidade de escrita passou a ser chamada de</p><p>epopeia secundária.</p><p>Na narrativa épica camoniana, o herói, Vasco da</p><p>Gama, comandante da expedição que buscou o cami-</p><p>nho marítimo para as Índias, tem seu espaço compar-</p><p>tilhado com os portugueses, o povo heroico português,</p><p>como o próprio título da epopeia indica.</p><p>Camões era cristão e desejava expressar em seu</p><p>poema a expansão da fé cristã no mundo. Por isso, a</p><p>presença de Deus e a referência a milagres e santos</p><p>do cristianismo são constantes em sua obra. Contudo,</p><p>como nas epopeias que Camões tomou por modelo –</p><p>Odisseia, Ilíada e Eneida –, há nela também a presença</p><p>dos deuses do Olimpo. Eles interferem na narrativa de</p><p>Os Lusíadas procurando auxiliar ou prejudicar os por-</p><p>tugueses no cumprimento de seus objetivos. Enquanto</p><p>Vênus e Marte, por exemplo, tentam protegê-los, outros</p><p>deuses, como Netuno e Baco, procuram impedir o cum-</p><p>primento da rota planejada – o primeiro porque zela</p><p>pelo seu poderio nos mares, e o segundo, pelo seu do-</p><p>mínio no Oriente.</p><p>Os Lusíadas conseguiu conciliar, portanto, a mi-</p><p>tologia pagã (fruto do gosto renascentista pelo estudo</p><p>da cultura pagã) e a mitologia cristã (ideologia pessoal</p><p>do autor). Isso, porém, valeu a Camões problemas com</p><p>a Inquisição e tratamento com muita reserva por parte</p><p>dos críticos de sua época.</p><p>Estátua de Luís de Camões, na praça Luís de Camões, Bairro Alto, Lisboa;</p><p>ao fundo o edifício onde se localiza o Consulado do Brasil em Lisboa</p><p>Disponível em:<https://commons.wikimedia.org/wiki/</p><p>File:Camoes_2.jpg.</p><p>Acessado em: Dez.2015</p><p>Estrutura</p><p>da obra</p><p>A obra de Camões apresenta 8.816 versos de-</p><p>cassílabos, divididos em 1.102 estrofes, todas em oita-</p><p>va-rima, organizada em dez cantos. Cada canto, na epo-</p><p>peia, corresponde a um capítulo das obras em prosa.</p><p>Além disso, existem outras cinco partes:</p><p>1. Proposição (canto I, estrofes 1 a 3)</p><p>O poeta apresenta o que vai cantar, ou seja, o</p><p>tema dos feitos heroicos dos ilustres barões de</p><p>Portugal, o herói, Vasco da Gama, e o destino</p><p>da viagem.</p><p>As armas e os barões assinalados</p><p>Que, da ocidental praia lusitana,</p><p>Por mares nunca dantes navegados</p><p>Passaram ainda além da Taprobana</p><p>Em perigos e guerras esforçados,</p><p>Mais do que prometia a força humana,</p><p>E entre gente remota edificaram</p><p>Novo reina, que tanto sublimaram;</p><p>barões = homens ilustres</p><p>ocidental praia lusitana = Portugal</p><p>Taprobana = ilha de Ceilão, limite oriental do mundo conhecido</p><p>105</p><p>2. Invocação (canto I, estrofes 4 e 5)</p><p>O poeta invoca as Tágides, ninfas do rio Tejo, pedin-</p><p>do a elas para inspirá-lo na composição da obra.</p><p>E vós, Tágides minhas, pois criado</p><p>Tendes em mim um novo engenho ardente,</p><p>Dai-me agora um som alto e sublimado,</p><p>Um estilo grandíloquo e corrente,</p><p>3. Dedicatória ou oferecimento</p><p>(canto I, estrofes 6 a 18)</p><p>O poeta dedica seu poema a D. Sebastião, rei de</p><p>Portugal na época em que o poema foi publicado,</p><p>visto como a esperança de propagação da fé cris-</p><p>tã e continuação dos grandes feitos de Portugal.</p><p>Ouvi: vereis o nome engrandecido</p><p>Daqueles de quem sois senhor superno</p><p>E julgareis qual é mais excelente,</p><p>Se ser do mundo rei, se de tal gente.</p><p>superno = supremo</p><p>4. Narração (canto I, estrofe 19 até canto X,</p><p>estrofe 144)</p><p>O poeta relata a viagem propriamente dita dos por-</p><p>tugueses ao Oriente. Essa é, portanto, a parte mais</p><p>longa do relato e vários são os episódios que nela</p><p>se destacam. O desenrolar dos fatos começa In Me-</p><p>dia Res, ou seja, no meio da ação, quando Vasco da</p><p>Gama e sua esquadra se dirigem ao Cabo da Boa</p><p>Esperança. A seguir, alguns dos mais importantes re-</p><p>latos da obra.</p><p>No canto II, depois de terem passado por dificulda-</p><p>des no mar, os portugueses, com o auxílio da deusa</p><p>Vênus, aportam na África, onde são recebidos pelo</p><p>rei de Melinde, que pede a Vasco da Gama que conte</p><p>a história de Portugal. Esse é o pretexto encontrado</p><p>por Camões para pôr na fala de sua personagem as</p><p>histórias que envolvem a fundação do Estado portu-</p><p>guês: a Revolução de Avis, a morte de Inês de Castro</p><p>e a partida dos portugueses para o Oriente.</p><p>Esse relato de Vasco da Gama se estende até o canto</p><p>IV, momento em que os portugueses seguem viagem.</p><p>Nele, três episódios merecem destaque:</p><p>§ o de Inês de Castro, amante do príncipe D. Pe-</p><p>dro assassinada a mando do rei (canto III);</p><p>§ o das críticas do velho da praia do Restelo</p><p>(canto IV); e</p><p>§ do gigante Adamastor (canto V), que é uma</p><p>personificação dos perigos enfrentados pelos na-</p><p>vegantes aos transporem o Cabo das Tormentas.</p><p>Por fim, A ilha dos amores (canto IX), com o ero-</p><p>tismo de seus símbolos, conclamando os portu-</p><p>gueses a contemplarem a “Máquina do Mundo”.</p><p>5. Epílogo</p><p>É a conclusão do poema (estrofes 145 a 156 do</p><p>canto X), em que o poeta demonstra cansaço e,</p><p>em tom melancólico e pessimista, aconselha ao</p><p>rei e ao povo português que sejam fiéis à pátria</p><p>e ao cristianismo.</p><p>Episódio de “Inês de Castro”</p><p>(canto III, estrofes 118 a 135)</p><p>A morte de Inês de Castro, de Karl Briullov, século XIX.</p><p>O rei Afonso retorna a sua terra natal, depois do</p><p>intento vitorioso sobre os mouros esperando ser recebido</p><p>com honras de vitória e, principalmente, de paz, mas é</p><p>obrigado a contornar uma revolta popular com o triste e</p><p>memorável caso da desventura de dona Inês de Castro.</p><p>Este é considerado um episódio lírico interno ao</p><p>texto épico, em que uma verdadeira história de amor</p><p>portuguesa é inserida em Os Lusíadas com o claro intui-</p><p>to de registrar esta que foi uma das histórias de amor</p><p>mais bonitas e verdadeiras já contadas pela humanida-</p><p>de. Leia um trecho:</p><p>Traziam-na os horríficos algozes</p><p>Ante o Rei, já movido a piedade;</p><p>Mas o povo, com falsas e ferozes</p><p>Razões, a morte crua o persuade,</p><p>Ela, com tristes e piedosas vozes,</p><p>Saídas só da mágoa e saudade</p><p>Do seu Príncipe e filhos, que deixava</p><p>Que mais que a própria morte magoava</p><p>106</p><p>Episódio do “Velho do Restelo”</p><p>(canto IV, estrofes 90 a 104)</p><p>Torre de Belém, Lisboa, Portugal.</p><p>O episódio do Velho do Restelo representa um</p><p>conflito ideológico contra os intentos portugueses.</p><p>Como toda lógica narrativa, o desenrolar da aventura</p><p>passa por processos conflituosos e, nesse caso, ele as-</p><p>sume forma de um conflito entre a visão conservadora,</p><p>daquele que fica, no caso o velho que com seu cajado</p><p>maldiz as grandes navegações, e os ideias universalistas</p><p>dos argonautas portugueses.</p><p>O velho simboliza os ideais medievais e, com suas</p><p>palavras, diz que aqueles que quiserem fama e glória aci-</p><p>ma dos valores religiosos e, sobretudo católicos, seriam</p><p>punidos com um futuro negativo. Os portugueses enfren-</p><p>tam este posicionamento e conquistam os mares apesar</p><p>das críticas do velho. No entanto, sabe-se que o velho</p><p>tem sua razão quanto à ambição dos reis portugueses,</p><p>que colocam acima de qualquer coisa “fama” e “glória”</p><p>e que levariam Portugal a sua futura derrocada. O velho é</p><p>aquele que fica, que é terra, que conserva posição em de-</p><p>trimento da fluidez prática do lançar-se ao mar de Vasco</p><p>da Gama e sua esquadra. Leia um trecho:</p><p>Qual vai dizendo: – Ó filho, a quem eu tinha</p><p>Só pra refrigério e doce amparo</p><p>Desta cansada já velhice minha</p><p>Que em choro acabará, penosos e amaro</p><p>Por que me deixas, mísera e mesquinha?</p><p>Por que de mim te vás, o filho caro,</p><p>A fazer o funéreo enterramento</p><p>Onde sejas de peixe mantimento?</p><p>[...]</p><p>Mas um velho, de aspeito venerado,</p><p>Que ficava nas praias, entre a gente,</p><p>Postos os olhos em nós, meneando</p><p>Três vezes a cabeça, descontente,</p><p>A voz pesada um pouco alevantando,</p><p>Que nós o mar ouvimos claramente,</p><p>Co’um saber só de experiências feito,</p><p>Tais palavras tirou do experto peito:</p><p>Episódio “O gigante Adamastor”</p><p>(canto V, estrofes 37 a 60)</p><p>Nesse episódio, a esquadra de Vasco da Gama</p><p>está contornando a África quando um gigante monstru-</p><p>oso emerge do mar, proferindo ameaças e profecias de</p><p>naufrágios das naus, em decorrência do atrevimento de</p><p>Vasco da Gama e de sua tripulação ter invadido aquele</p><p>território de domínio do gigante, nunca antes navegado.</p><p>Vasco da Gama não se intimida e inicia um diá-</p><p>logo com o gigante, que se identifica como Adamastor.</p><p>Ele conta que era um Titã e que um dia se apaixonou</p><p>por Tétis, mulher do deus Peleu. Enganado por ela, caiu</p><p>em uma armadilha, após submetê-la a um “amor for-</p><p>çoso”, foi condenado por Netuno e como castigo foi</p><p>transformado em uma enorme e imóvel montanha.</p><p>Adamastor é, na verdade, uma personificação do</p><p>Cabo das Tormentas. O episódio representa a superação</p><p>do medo, dos perigos do mar e das crendices medie-</p><p>vais pelos portugueses que circulavam socialmente. É</p><p>representativo do ponto de vista do engrandecimento</p><p>do povo português que, apesar do temor e do desco-</p><p>nhecimento, enfrentou os obstáculos e os perigos do</p><p>mar, vencendo-os e triunfando.</p><p>[...]</p><p>Porém já cinco Sóis eram passados</p><p>Que dali nos partíramos, cortando</p><p>Os mares nunca de outrem navegados,</p><p>Prosperamente os ventos assoprando,</p><p>Quando uma noite, estando descuidados</p><p>Na cortadora proa vigiando,</p><p>Uma nuvem, que os ares escurece,</p><p>Sobre nossas cabeças aparece.</p><p>Tão temerosa vinha e carregada,</p><p>Que pôs nos corações um grande medo;</p><p>Bramindo, o negro mar de longe brada,</p><p>Como se desse em vão nalgum rochedo.</p><p>107</p><p>– “Ó Potestade (disse) sublimada:</p><p>Que ameaço divino ou que segredo</p><p>Este clima e este mar nos apresenta,</p><p>Que mor cousa parece que tormenta?”</p><p>[...]</p><p>Não acabava, quando uma figura</p><p>Se nos mostra no ar, robusta e válida,</p><p>De disforme e grandíssima estatura;</p><p>O rosto carregado, a barba esquálida,</p><p>Os olhos encovados, e a postura</p><p>Medonha e má, e a cor terrena e pálida;</p><p>Cheios de terra e crespos os cabelos,</p><p>A boca negra, os dentes amarelos.</p><p>Tão grande era de membros, que bem posso</p><p>Certificar-te que este era o segundo</p><p>De Rodes estranhíssimo Colosso,</p><p>Que um dos sete milagres foi do mundo.</p><p>Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,</p><p>Que pareceu sair do mar profundo.</p><p>Arrepiam-se as carnes e o cabelo,</p><p>A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!</p><p>E disse: – “Ó gente ousada, mais que quantas</p><p>No mundo cometeram grandes cousas,</p><p>Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,</p><p>E por trabalhos vãos nunca repousas,</p><p>Pois os vedados términos quebrantas</p><p>E navegar meus longos mares ousas,</p><p>Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,</p><p>Nunca arados de estranho ou próprio lenho;</p><p>[...]</p><p>– “Eu sou aquele oculto e grande Cabo</p><p>A quem chamais vós outros Tormentório,</p><p>Que nunca a Ptolomeu, Pompónio, Estrabo,</p><p>Plínio, e quantos passaram, fui notório.</p><p>Aqui toda a Africana costa acabo</p><p>Neste meu nunca visto Promontório,</p><p>Que para o Pólo Antártico se estende,</p><p>A quem vossa ousadia tanto ofende.</p><p>cinco sóis = cinco dias; esquálida = suja, desalinhada;</p><p>colosso = uma das setes maravilhas do mundo, a está-</p><p>tua do deus Apolo, em Rodes, na Grécia; Tormentório =</p><p>Cabo das Tormentas; Ptolomeu = astrônomo grego; Pom-</p><p>pónio = geógrafo romano; Estrabo = geógrafo grego.</p><p>Episódio “A Ilha dos Amores”</p><p>(canto IX, estrofes 68 a 95)</p><p>As Nereidas (Ninfas) da Ilha dos Amores</p><p>Nos cantos de VI a IX, os portugueses chegam</p><p>a Calicute, na Índia, e têm problemas com os mouros.</p><p>Preparam-se, então, para voltar para Portugal, mas, de-</p><p>vido a seus esforços e à sua coragem, são premiados</p><p>por Vênus, que lhes oferece uma passagem pela Ilha</p><p>dos Amores, onde podem livremente amar as ninfas, li-</p><p>deradas por Tétis. Além disso, a Ilha dos Amores celebra</p><p>a virilidade dos argonautas portugueses com o erotismo</p><p>de seus símbolos levando-os a refletir sobre a “Máqui-</p><p>na do Mundo”. Todo o fervor religioso em defesa dos</p><p>portugueses que tentavam impor aos infiéis mouros sua</p><p>fé cristã não impediu a utilização do erotismo no episó-</p><p>dio que foi beneficiado por uma deusa pagã, a Venus,</p><p>que durante todo o poema protege os portugueses, em</p><p>contraposição a Baco (o Dionísio dos gregos), que tinha</p><p>tudo para ser favorável a essa situação, por ser o deus</p><p>do vinho, mas que, na obra, é constituído como inimigo</p><p>dos portugueses, uma vez que seu desregramento e re-</p><p>presentação por chifres e rabo o aproximava da imagem</p><p>do diabo utilizada pela Igreja Católica.</p><p>Oh, que famintos beijos na floresta!</p><p>E que mimoso choro que soava</p><p>Que afagos tão suaves! Que ira honesta,</p><p>Que em risinhos alegres se tornava!</p><p>O que mais passam na manha e na sesta,</p><p>Que Vênus com prazeres inflamava,</p><p>Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,</p><p>Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.</p><p>A Ilha dos Amores, na visão de Jorge Golaço.</p><p>108</p><p>Camões LíriCo</p><p>“Tu, só tu, puro amor”</p><p>A obra lírica de Camões compreende poemas</p><p>feitos na medida velha e na medida nova. A medida</p><p>velha obedece à poesia de tradição popular, na forma</p><p>e no conteúdo. São exploradas as redondilhas, de cinco</p><p>ou de sete sílabas (menor ou maior, respectivamente).</p><p>Quanto à medida nova, os poemas em medida</p><p>nova são relacionados à tradição clássica: sonetos, éclo-</p><p>gas, elegias, oitavas, sextinas. Quanto ao conteúdo, a</p><p>poesia lírica clássica se relaciona com o petrarquismo.</p><p>Francesco Petrarca foi o responsável por fixar a forma</p><p>do soneto, no século XIV; o conteúdo de sua poesia</p><p>delineia um lirismo amoroso platônico, relacionado in-</p><p>dissoluvelmente a uma mulher inacessível, Laura, a que</p><p>dedicou perto de 360 sonetos, no seu Cancioneiro.</p><p>A lírica amorosa</p><p>O tema amoroso é explorado na lírica camonia-</p><p>na sob dupla perspectiva. Com frequência, aparece o</p><p>amor sensual, próprio da sensualidade renascentista,</p><p>inspirada no paganismo da cultura greco-latina. Predo-</p><p>mina, porém, o amor neoplatônico, espécie de exten-</p><p>são e aprofundamento da tradição da poesia medieval</p><p>portuguesa ou da poesia humanista italiana, em que</p><p>o amor e a mulher se configuram como idealizados e</p><p>inacessíveis.</p><p>Na poesia lírica camoniana, tal qual no modelo</p><p>legado por Petrarca, o amor é um sentimento que eleva o</p><p>homem, tornando-o capaz de atingir o Bem, a Beleza e a</p><p>Verdade, de acordo com a filosofia platônica. Para Platão,</p><p>a realidade se divide em “mundo dos sentidos” e “mundo</p><p>das ideias”. No mundo sensorial, nada é perene; no mun-</p><p>do das ideias, tudo é eterno, imutável. O amor ideal, de</p><p>acordo com Platão, é um sentido essencialmente puro e</p><p>desprovido de paixões, ao passo que estas são essencial-</p><p>mente cegas, materiais, efêmeras e falsas.</p><p>Em Camões, percebe-se o conflito entre o sen-</p><p>timento espiritual, idealizado, e o sentimento de ma-</p><p>nifestação carnal. O amor é, dessa forma, complexo,</p><p>contraditório. Esse duplo enfoque do amor é bastante</p><p>acentuado no soneto Amor é fogo que arde sem se ver.</p><p>Amor é fogo que arde sem se ver,</p><p>é ferida que dói, e não se sente;</p><p>é um contentamento descontente,</p><p>é dor que desatina sem doer.</p><p>É um não querer mais que bem querer;</p><p>é um andar solitário entre a gente;</p><p>é nunca contentar-se de contente;</p><p>é um cuidar que ganha em se perder.</p><p>É querer estar preso por vontade;</p><p>é servir a quem vence, o vencedor;</p><p>é ter com quem nos mata, lealdade.</p><p>Mas como causar pode seu favor</p><p>nos corações humanos amizade,</p><p>se tão contrário a si é o mesmo Amor?</p><p>Amor é fogo que arde sem se ver.</p><p>In: CAMÕES, Luís Vaz de. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1976.</p><p>Dessa forma, o amor que uma pessoa sente por</p><p>outra não passa de uma manifestação particular e im-</p><p>perfeita de algo superior, universal e perfeito: o Amor-</p><p>-ideal, grafado com A maiúsculo.</p><p>É dessa concepção que advém o amor neopla-</p><p>tônico dos humanistas e renascentistas: quanto mais o</p><p>amor por uma pessoa estiver desvinculado de prazeres</p><p>físico-sensoriais e se aproximar do amor-ideal, maior e</p><p>mais puro será. É o que se observa nas 1a e 2a estrofes</p><p>do soneto de Camões:</p><p>Transforma-se o amador na cousa amada,</p><p>por virtude do muito imaginar;</p><p>não tenho, logo, mais que desejar,</p><p>pois em mim tenho a parte desejada.</p><p>Se nela está minha alma transformada,</p><p>que mais deseja o corpo de alcançar?</p><p>Em si somente pode descansar,</p><p>pois consigo tal alma está ligada.</p><p>Mas esta linda e pura semideia,</p><p>que, como um acidente em seu sujeito,</p><p>assim como a alma minha se conforma,</p><p>está no pensamento como ideia:</p><p>[E] o vivo e puro amor de que sou feito,</p><p>como a matéria simples busca a forma.</p><p>(Lírica, cit., p.109)</p><p>Nessas estrofes iniciais do poema, a realização</p><p>amorosa se dá por meio de imaginação. Não é preciso</p><p>ter a pessoa amada fisicamente, basta tê-la em pen-</p><p>samento. Tendo-a, em si, na imaginação, o eu lírico se</p><p>transforma na pessoa amada, confunde-se com ela e,</p><p>dessa forma, já a tem.</p><p>109</p><p>Observe, porém, que, nas duas últimas estrofes, o</p><p>poeta abandona o neoplatonismo e, com uma compara-</p><p>ção, manifesta seu desejo físico pela mulher amada: do</p><p>mesmo modo que toda matéria busca uma forma, o seu</p><p>amor puro, amor-ideia, busca o objeto desse amor, ou</p><p>seja, a mulher real.</p><p>Esses sentimentos contraditórios, bem como certo</p><p>pessimismo existencial que marca a poesia lírica de Ca-</p><p>mões, fogem ao espírito harmonioso e racional do Renas-</p><p>cimento e prenunciam o movimento literário do século</p><p>XVII: o Barroco. Esse período de transição entre Renasci-</p><p>mento e o Barroco é chamado, nas artes plásticas, de Ma-</p><p>neirismo; por isso, alguns críticos consideram como traços</p><p>maneiristas certas características da lírica de Camões.</p><p>Um amor para sempre</p><p>O soneto Sete anos de pastor Jacó servia, é uma</p><p>amostra marcante do amor platônico, que tem duração</p><p>idealizada, independentemente de realização física.</p><p>Esse poema de Camões narra o episódio bíblico em que</p><p>Jacó trabalha para Labão, visando casar-se com sua fi-</p><p>lha Raquel, mas acaba recebendo a irmã dela, Lia.</p><p>Sete anos de pastor Jacob servia</p><p>Labão, pai de Raquel, serrana bela;</p><p>Mas não servia ao pai, servia a ela,</p><p>E a ela só por prêmio pretendia.</p><p>Os dias, na esperança de um só dia,</p><p>Passava, contentando-se com vê-la;</p><p>Porém o pai, usando de cautela,</p><p>Em lugar de Raquel lhe dava Lia.</p><p>Vendo o triste</p><p>pastor que com enganos</p><p>Lhe fora assim negada a sua pastora,</p><p>Como se a não tivera merecida;</p><p>Começa de servir outros sete anos,</p><p>Dizendo: – Mais servira, se não fora</p><p>Para tão longo amor tão curta a vida!</p><p>Sete anos de pastor Jacó servia.</p><p>In: CAMÕES, Luis Vaz de. Lírico. São Paulo: Cultrix, 1976.</p><p>No primeiro quarteto, o pastor Jacó serve a La-</p><p>bão porque deseja Raquel. O segundo quarteto mostra</p><p>o desejo frustrado de Jacó, quando Labão lhe entrega a</p><p>irmã mais velha, Lia. Humilde, por um amor ideal, pla-</p><p>tônico, o pastor se dispõe a trabalhar outros sete anos,</p><p>e assim indefinidamente para comprovar sua fidelidade</p><p>amorosa.</p><p>A mutabilidade e o mundo</p><p>desconcertante</p><p>A perfeição do mundo das ideias é contrastada por</p><p>Camões com as imperfeições do mundo terreno. Em sua obra</p><p>lírica, nota-se que a vida humana está condicionada a essas</p><p>imperfeições, enquanto o espírito busca outros horizontes.</p><p>Desse contraponto, resulta uma visão pessimista da vida, que</p><p>brota dos problemas existenciais do próprio poeta, de suas</p><p>frustrações e atribuições.</p><p>Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,</p><p>Muda-se o ser, muda-se a confiança;</p><p>Todo o Mundo é composto de mudança,</p><p>Tomando sempre novas qualidades.</p><p>Continuamente vemos novidades,</p><p>Diferentes em tudo da esperança;</p><p>Do mal ficam as mágoas na lembrança,</p><p>E do bem, se algum houve, as saudades.</p><p>O tempo cobre o chão de verde manto,</p><p>Que já coberto foi de neve fria,</p><p>E em mim converte em choro o doce canto.</p><p>E, afora este mudar-se cada dia,</p><p>Outra mudança faz de mor espanto:</p><p>Que não se muda já como soía.</p><p>CAMÕES, Luís Vaz de. 200 Sonetos. Porto Alegre: L&PM. 1998.</p><p>Vídeo</p><p>ASSISTIR</p><p>INTERATIVIAA DADE</p><p>Documentário português sobre a obra Os lusíadas</p><p>Fonte: Ensina RPT</p><p>Vídeo Documentário português sobre Camões</p><p>Fonte: Ensina RPT</p><p>110</p><p>Vídeo</p><p>ASSISTIR</p><p>INTERATIVIAA DADE</p><p>Documentário português sobre a obra Os lusíadas</p><p>Fonte: Ensina RPT</p><p>Vídeo Documentário português sobre Camões</p><p>Fonte: Ensina RPT</p><p>LER</p><p>tt Livros</p><p>Lírica – Luís de Camões – Massaud Moisés</p><p>Considerado o maior poeta lírico português de todos os tempos, sua</p><p>poesia lírica é marcada por uma dualidade: ora revela textos de nítida</p><p>herança tradicional portuguesa, ora sua poesia se enquadra na medida</p><p>nova renascentista.</p><p>Os lusíadas – Edição Comentada por Otoniel Mota</p><p>Os Lusíadas é uma obra poética do escritor Luís Vaz de Camões, conside-</p><p>rada a epopeia portuguesa por excelência.</p><p>Dicionário de Luís de Camões – Vítor Aguiar e Silva</p><p>O Dicionário de Luís de Camões, obra concebida sob a coordenação do</p><p>prof. Vítor Aguiar e Silva, constitui um vasto e rico Thesaurus da camonís-</p><p>tica contemporânea.</p><p>111</p><p>INTERDISCIPLINARIDADE</p><p>112</p><p>Os Portugueses e as Ninfas na Ilha dos Amores (ilustração do episódio do Canto IX de Os Lusíadas de Camões, de Bordalo Pinheiro, século XIX.</p><p>Nos ombros de um Tritão ... vai Dione, composição alusiva ao Canto II (est. XXI) de</p><p>Os Lusíadas de Camões, figurando Dione e um grupo de ninfas num mar revolto,</p><p>perto do casco de uma caravela de Bordalo Pinheiro, século XIX.</p><p>Artes plásticas</p><p>INTERDISCIPLINARIDADE</p><p>estrutura ConCeituaL</p><p>Idade Média Idade Moderna</p><p>Camões</p><p>Épico</p><p>Trabalho do</p><p>autor com a epopeia</p><p>Maior produção</p><p>de sonetos</p><p>Camões</p><p>Lírico</p><p>Trovadorismo Humanismo BarrocoClassicismo</p><p>113</p><p>©</p><p>W</p><p>iki</p><p>me</p><p>dia</p><p>C</p><p>om</p><p>mo</p><p>ns</p><p>Quinhentismo e Barroco</p><p>Competência</p><p>5</p><p>Habilidades</p><p>15, 16 e 17</p><p>L</p><p>ENTRE LETRAS</p><p>C</p><p>09 10</p><p>Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para</p><p>sua vida.</p><p>H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.</p><p>H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.</p><p>H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.</p><p>H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.</p><p>Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras</p><p>culturas e grupos sociais.</p><p>H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.</p><p>H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.</p><p>H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.</p><p>H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.</p><p>Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da</p><p>identidade.</p><p>H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.</p><p>H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.</p><p>H11</p><p>Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para</p><p>diferentes indivíduos.</p><p>Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e</p><p>da própria identidade.</p><p>H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.</p><p>H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.</p><p>H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.</p><p>Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante</p><p>a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.</p><p>H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.</p><p>H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.</p><p>H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.</p><p>Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da</p><p>realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.</p><p>H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.</p><p>H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.</p><p>H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional</p><p>Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.</p><p>H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.</p><p>H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.</p><p>H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.</p><p>H24</p><p>Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,</p><p>chantagem, entre outras.</p><p>Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização</p><p>do mundo e da própria identidade.</p><p>H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.</p><p>H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.</p><p>H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.</p><p>amar = am + a + r, onde “am” é o radical, “a” é a vogal temática de 1a conjugação e “r” é a</p><p>desinência de infinitivo.</p><p>§ Tema: é a junção do radical + vogal temática ou desinência nominal.</p><p>§ Desinências: indicam gênero e número, para desinência nominal, e indicam tempo e pessoa, para desinên-</p><p>cia verbal. As desinências nominais caracterizam as variações de substantivos, adjetivos e certos pronomes</p><p>quanto ao gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural). As desinências verbais indicam as va-</p><p>riações dos verbos em pessoa (1a, 2a ou 3a), número (singular e plural) e tempo (presente, passado e futuro).</p><p>§ Afixos: são elementos que se juntam ao radical para formar novas palavras. Podem aparecer antes do</p><p>radical (prefixos) ou depois do radical (sufixos).</p><p>§ Palavras primitivas: são aquelas que não derivam de outras.</p><p>Exemplos: pedra; noite</p><p>§ Palavras derivadas: são aquelas que derivam de outras.</p><p>Exemplos: pedreiro; anoitecer</p><p>§ Palavras simples: são aquelas que possuem apenas um radical.</p><p>Exemplos: couve; flor</p><p>§ Palavras compostas: são aquelas que possuem mais de um radical.</p><p>Exemplo: couve-flor</p><p>Processos de formação</p><p>Basicamente, as palavras da língua portuguesa são formadas pelos processos de derivação e composi-</p><p>ção, mas também por outros como onomatopeia, neologismo e hibridismo.</p><p>Formação por derivação</p><p>No processo de formação por derivação, a palavra primitiva (primeiro radical) sofre acréscimo de afixos. São</p><p>seis os tipos de formação por derivação.</p><p>§ Derivação prefixal: acréscimo de prefixo à palavra primitiva.</p><p>Exemplo: in-capaz</p><p>§ Derivação sufixal: acréscimo de sufixo à palavra primitiva.</p><p>Exemplo: papel-aria</p><p>10</p><p>§ Derivação prefixal + sufixal: acrescenta-se</p><p>um prefixo e um sufixo a um mesmo radical de</p><p>modo sequencial, ou seja, os afixos não são en-</p><p>caixados ao mesmo tempo. Percebe-se facilmen-</p><p>te, ao remover um dos afixos, a presença de uma</p><p>palavra com sentido completo.</p><p>Exemplo: in-feliz-mente</p><p>§ Derivação parassintética: acréscimo simultâ-</p><p>neo de um prefixo e de um sufixo a um mesmo</p><p>radical ou à palavra primitiva. Em geral, as for-</p><p>mações parassintéticas originam-se de substan-</p><p>tivos ou adjetivos para formarem verbos.</p><p>Exemplo: en-triste-cer</p><p>§ Derivação regressiva: ocorre redução da pa-</p><p>lavra primitiva. Nesse processo, formam-se subs-</p><p>tantivos abstratos por derivação regressiva de</p><p>formas verbais.</p><p>Exemplo: ajuda (substantivo abstrato da deri-</p><p>vação regressiva do verbo ajudar)</p><p>§ Derivação imprópria: ocorre a alteração da</p><p>classe gramatical da palavra primitiva.</p><p>Exemplos: (o) jantar – de verbo para subs-</p><p>tantivo; (um) Judas – de substantivo próprio</p><p>para comum</p><p>Formação por composição</p><p>Nos processos de formação de palavras por</p><p>composição, ocorre a junção de dois ou mais radicais.</p><p>Palavras com significados distintos formam uma nova</p><p>palavra com um novo significado.</p><p>Exemplo: guarda (flexão do verbo guardar;</p><p>sentinela) + roupa (vestuário) = guarda-roupa</p><p>(mobiliário)</p><p>São dois os processos de formação por compo-</p><p>sição:</p><p>§ Composição por justaposição: quando não</p><p>ocorre a alteração fonética das palavras. A jus-</p><p>taposição também pode ocorrer por hifenização.</p><p>Exemplos: girassol (gira + sol); guarda-chuva</p><p>(guarda + chuva)</p><p>§ Composição por aglutinação: quando ocor-</p><p>re alteração fonética, em decorrência da perda</p><p>de elementos das palavras.</p><p>Exemplos: aguardente (água + ardente); em-</p><p>bora (em + boa + hora)</p><p>Outros processos</p><p>Hibridismo</p><p>No processo de formação por hibridismo, as</p><p>palavras compostas ou derivadas são constituídas por</p><p>elementos originários de línguas diferentes:</p><p>§ grego + latim: automóvel e monóculo</p><p>§ latim + grego: sociologia, bicicleta</p><p>§ árabe + grego: alcaloide, alcoômetro</p><p>§ tupi + grego: caiporismo</p><p>§ africano + latim: bananal</p><p>§ africano + grego: sambódromo</p><p>§ francês + grego: burocracia</p><p>Neologismo</p><p>Neologismo é o nome dado ao processo de</p><p>criação de novas palavras ou palavras da própria lín-</p><p>gua portuguesa que adquirem um novo significado.</p><p>Exemplos:</p><p>§ Originalmente, a palavra bonde significava</p><p>certo veículo utilizado como meio de transpor-</p><p>te. Hoje, na variedade linguística utilizada por</p><p>falantes inseridos no estilo do funk carioca, foi</p><p>dado um novo significado para a palavra bonde:</p><p>turma, galera.</p><p>§ É comum formar verbos a partir de palavras do</p><p>meio da informática, como googlar (procurar</p><p>no Google), twittar (escrever no Twitter) ou re-</p><p>setar (de reset).</p><p>11</p><p>APLICAÇÃO NO COTIDIANO</p><p>A tabela abaixo traz os significados de alguns prefixos e radicais, alguns frequentemente usados no</p><p>dia a dia.</p><p>Prefixos latinos Significados Exemplos</p><p>a–, ab–, abs– afastamento, separação abstenção, abdicar</p><p>a–, ad–, ar–, as– aproximação, direção adjunto, advogado, arribar, assentir</p><p>ambi– ambiguidade, duplicidade ambivalente, ambíguo</p><p>ante– anterioridade anteontem, antepassado</p><p>aquém– do lado de cá aquém-mar</p><p>bene–, bem– excelência, bem beneficente, benfeitor</p><p>bis–, bi– dois, duas vezes, repetição bípede, binário, bienal</p><p>com– (con–), co– (cor–) companhia, contiguidade compor, conter, cooperar</p><p>contra– oposição controvérsia, contraveneno</p><p>cis– posição, aquém de cisandino, cisalpino</p><p>de–, des–</p><p>separação, privação, negação,</p><p>movimento de cima para baixo</p><p>deportar, demente, descrer, decair, decrescer, demolir</p><p>dis– separação, negação dissidência, disforme</p><p>Prefixos gregos Significados Exemplos</p><p>acro– alto acrobata, acrópole</p><p>aero– casa aerodinâmica</p><p>agro– campo agrônomo, agricultura</p><p>antropo– homem antropofagia, filantropo</p><p>homo– igual homônimo, homógrafo</p><p>idio– próprio idioma, idioblasto</p><p>macro–, megalo– grande, longo macronúcleo, megalópole</p><p>metra– mãe, útero endométrio, metrópole</p><p>meso– meio mesóclise, mesoderma</p><p>micro– pequeno micróbio, microscópio</p><p>mono– um monarquia, monarca</p><p>necro– morto necrópole, necrofilia, necropsia</p><p>nefro– rim nefrite, nefrologia</p><p>odonto– dente odontalgia, odontologia</p><p>oftalmo– olho oftalmologia, oftalmoscópio</p><p>onto– ser, indivíduo ontologia</p><p>orto– correto ortópteros, ortodoxo, ortodontia</p><p>pneumo– pulmão pneumonia, dispneia</p><p>12</p><p>Prefixos latinos Significados Exemplos</p><p>e– ,em– ,em– introdução, superposição engarrafar, empilhar</p><p>e–, es–, ex– movimento para fora, privação emergir, expelir, escorrer, extrair, exportar, esvaziar, esconder, explodir</p><p>extra– posição exterior, excesso extraconjugal, extravagância</p><p>intra–, posição interior intrapulmonar, intravenoso</p><p>i–, im–, in– negação, mudança ilegal, imberbe, incinerar</p><p>infra– abaixo, na parte inferior infravermelho, infraestrutura,</p><p>intra–, intro– movimento para dentro imersão, impressão, inalar, intrapulmonar, introduzir</p><p>justa– posição ao lado justalinear, justapor</p><p>o–, ob– posição em frente, oposição obstáculo, obsceno, opor, ocorrer</p><p>per– movimento através de perpassar, pernoite</p><p>pos– ação posterior, em seguida pós-datar, póstumo</p><p>pre– anterioridade, superioridade pré-natal, predomínio</p><p>pro– antes, em frente, intensidade projetar, progresso, prolongar</p><p>preter–, pro– além de, mais para frente prosseguir</p><p>re– repetição, para trás recomeço, regredir</p><p>retro– movimento mais para trás retrospectivo</p><p>Radicais gregos Significados Exemplos</p><p>–agogo o que conduz demagogo, pedagogo</p><p>–alg, –algia sofrimento, dor analgésico, cefalalgia, lombalgia</p><p>–arca o que comanda monarca, heresiarca</p><p>–arquia comando, governo anarquia, autarquia, monarquia</p><p>–cracia autoridade, poder aristocracia, plutocracia, gerontocracia</p><p>–doxo que opina paradoxo, heterodoxo</p><p>–dromo corrida, pista hipódromo</p><p>–fagia ato de comer antropofagia, necrofagia</p><p>–fago que come antropófago, necrófago</p><p>–filo, –filia amigo, amizade bibliófilo, xenófilo, lusofilia</p><p>–fobia inimizade, ódio, temor xenofobia</p><p>–fobo aquele que odeia xenófobo, hidrófobo</p><p>–gamia casamento monogamia, poligamia</p><p>–gene que gera, origem heterogêneo, alienígena</p><p>–gênese geração esquizogênese, metagênese</p><p>–gine mulher andrógino, ginecóforo</p><p>–grafia descrição, escrita caligrafia, geografia</p><p>–gono ângulo pentágono, eneágono</p><p>–latria que cultiva idolatria</p><p>–log, –logia que trata, estudo psicólogo, andrologia</p><p>Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida</p><p>pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,</p><p>às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.</p><p>H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem</p><p>117</p><p>Observe, na tabela abaixo, os períodos literários do Brasil Colônia.</p><p>Quinhentismo (1500-1601) Barroco (1601-1768) Neoclassicismo (1768-1836)</p><p>O primeiro documento escrito foi a Carta de</p><p>Pero Vaz de Caminha, destinada a Dom Ma-</p><p>nuel, rei de Portugal.</p><p>Publicação do poema épico Prosopopeia, de</p><p>Bento Teixeira.</p><p>Publicação de Obras Poéticas, de Cláudio</p><p>Manuel da Costa.</p><p>Florescimento da chamada literatura de</p><p>informação, cujo objetivo era descrever</p><p>para a Corte portuguesa a terra descoberta.</p><p>Poesias lírica, religiosa e satírica, de</p><p>Gregório de Matos, em Salvador, Bahia.</p><p>Atuação do Grupo Mineiro em Vila Rica,</p><p>Minas Gerais.</p><p>Desenvolvimento da literatura de ca-</p><p>tequese, com a finalidade de doutrinar</p><p>os indígenas.</p><p>Oratória doutrinária do padre Antônio</p><p>Vieira, em Salvador, Maranhão, e outras</p><p>áreas do Nordeste brasileiro.</p><p>Poesia árcade de Cláudio Manuel da Cos-</p><p>ta (sonetos).</p><p>Textos de teatro com teor catequético. Sermões, do padre Antônio Vieira</p><p>Tomás Antônio Gonzaga escreve Marília de</p><p>Dirceu.</p><p>Produção de poesia religiosa. Conceptismo e cultismo.</p><p>Poesia épica indianista: O Uraguai, de</p><p>Basílio da Gama, e Caramuru, de Santa</p><p>Rita Durão.</p><p>José de Anchieta é o principal expoente da</p><p>literatura catequética.</p><p>Contexto de reformas religiosas. A natureza é a base temática.</p><p>Quinhentismo ou Literatura coLoniaL</p><p>A literatura brasileira</p><p>floresceu em duas fases</p><p>O período é didaticamente chamado de Qui-</p><p>nhentismo brasileiro e os documentos produzidos</p><p>durante esse tempo não podem ser considerados litera-</p><p>tura artística, mas manifestações literárias, uma vez</p><p>que não são criações de caráter artístico, e sim produtos</p><p>de observações ora objetivas, ora subjetivas.</p><p>Esse primeiro período da história da nossa lite-</p><p>ratura, chamado Quinhentismo, começou em 1500, ano</p><p>em que Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de</p><p>Pedro Álvarez Cabral, enviou a Dom Manuel I a famosa</p><p>Carta. Ela comunica ao soberano o “achamento” (esse</p><p>era o termo usado na época) das terras brasileiras. No</p><p>século XVI, os textos produzidos no Brasil ligam-se a</p><p>duas necessidades práticas principais da empresa colo-</p><p>nizadora portuguesa: fornecer informação sobre a nova</p><p>terra e converter os indígenas ao cristianismo. Nessa literatura de valor principalmente documental, encontram-se</p><p>elementos importantes para a compreensão das origens históricas e literárias do Brasil.</p><p>A primeira fase corresponde ao período do Brasil colonial, durante os séculos XVII e XVIII. Naquela época,</p><p>uma da primeiras vozes da literatura brasileira foi a do poeta Gregório de Matos e Guerra, instalado em Salva-</p><p>dor, no século XVII. Durante o século XVIII, Minas Gerais acompanhou a produção de poetas sediados em Vila Rica</p><p>(atual Ouro Preto), Mariana, São João Del-Rei, cidades vinculadas ao ciclo do ouro e pedras preciosas.</p><p>A segunda fase da literatura brasileira nasceu na época do Brasil independente, a partir de 1822.</p><p>Descobrimento, de Cândido Portinari (1956).</p><p>118</p><p>Não se pode falar em uma literatura “do Brasil”,</p><p>como característica do país naquele período, mas em</p><p>literatura “no Brasil”, uma literatura ligada ao Brasil,</p><p>que denota as ambições e as intenções do homem eu-</p><p>ropeu. Divide-se em literatura informativa e litera-</p><p>tura jesuítica. O Quinhentismo serviu de inspiração</p><p>literária para alguns poetas e escritores do Romantismo</p><p>– Gonçalves Dias, José de Alencar – e do Modernismo –</p><p>Oswald de Andrade, Murilo Mendes.</p><p>Literatura de informação</p><p>A expansão ultramarina europeia levou inúme-</p><p>ros viajantes às terras recém-descobertas ou exploradas</p><p>da Ásia, África e América com a missão de produzir re-</p><p>latórios informativos sobre essas terras e aspectos exó-</p><p>ticos e pitorescos de seus habitantes. Esses relatórios,</p><p>denominados “crônicas de viagem”, têm caráter mais</p><p>histórico do que literário, e a linguagem é predominan-</p><p>temente referencial ou denotativa.</p><p>A Carta, de Pero Vaz de Caminha, considerada o</p><p>primeiro documento da literatura no Brasil, inaugurou a</p><p>chamada literatura informativa: manifestações literárias</p><p>de considerável valor histórico e profundo caráter docu-</p><p>mental sobre o Brasil, escritas por cronistas e viajantes</p><p>estrangeiros. Descrevem e informam sobre a nova co-</p><p>lônia portuguesa, salientando a conquista material e a</p><p>exaltação da terra nova. Estes relatos visavam a satisfa-</p><p>zer a curiosidade e a imaginação dos europeus.</p><p>Índio tapuia. Eckhout, A. (1610-1666)</p><p>©</p><p>Al</p><p>be</p><p>rt</p><p>Ec</p><p>kh</p><p>ou</p><p>t/W</p><p>iki</p><p>me</p><p>dia</p><p>C</p><p>om</p><p>mo</p><p>ns</p><p>Na literatura informativa encontram-se docu-</p><p>mentos, cartas e relatórios de navegantes, administrado-</p><p>res, missionários e autoridades eclesiásticas. Descrevem</p><p>e exaltam a flora, a fauna e os índios do Brasil, bem</p><p>como o exotismo e a exuberância de um mundo tropical.</p><p>Também predomina o registro referencial da linguagem</p><p>que reflete tal louvor à terra com o emprego exagerado</p><p>de adjetivos no superlativo, bem como modelos clássi-</p><p>cos e renascentistas que tendem à erudição.</p><p>Os textos informativos formam um painel da</p><p>vida dos anos iniciais do Brasil Colônia, dando notícias</p><p>dos primeiros contatos entre os europeus e a realidade</p><p>da nova terra. A opulência da flora e da fauna impres-</p><p>sionou vivamente o colonizador, enquanto o modo de</p><p>vida dos indígenas foi motivo de muita curiosidade e de</p><p>incompreensão – os colonizadores nunca abandonaram</p><p>sua concepção de que eram donos de uma cultura supe-</p><p>rior no interior do próprio sistema colonial. Esses textos</p><p>cumpriam, acima de tudo, uma finalidade prática.</p><p>§ Carta, de Pero Vaz da Caminha, escrita em 1500;</p><p>§ Diário de navegação, de Pero Lopes de Souza,</p><p>escrito entre 1530 e 1532, durante a expedição</p><p>de Martim Afonso de Sousa;</p><p>§ História da Província de Santa Cruz e Tratado da</p><p>Terra do Brasil, de Pero de Magalhães Gandavo,</p><p>ou Gândavo, publicados, respectivamente, em</p><p>1576 e 1826;</p><p>§ Tratado descritivo do Brasil em 1587 ou Notícias</p><p>do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa, publicado</p><p>em 1851.</p><p>§ Diálogos das grandezas do Brasil (1618), atribu-</p><p>ídos a Ambrósio Fernandes Brandão, e a História</p><p>do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador, pu-</p><p>blicados no século XVII.</p><p>Para a história da literatura brasileira, a literatura</p><p>informativa adquire importância principalmente como</p><p>fonte de temas e formas para momentos literários pos-</p><p>teriores: o Romantismo e o Modernismo.</p><p>Pero Vaz de Caminha</p><p>Escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, Cami-</p><p>nha escreveu a Dom Manuel, rei de Portugal, no dia 1o</p><p>de maio de 1500, a Carta – de inestimável valor histó-</p><p>rico e de razoável valor literário –, em que comunica o</p><p>"descobrimento" do Brasil.</p><p>119</p><p>Lendo a Carta</p><p>A Carta enviada ao rei Dom Manuel é uma es-</p><p>pécie de “certidão de nascimento” do Brasil, pois foi o</p><p>primeiro documento escrito nestas terras. É o texto que</p><p>marca o princípio da literatura brasileira.</p><p>A Carta de Caminha, embora escrita nos primór-</p><p>dios da colonização (1500), só veio a ser impressa em</p><p>1817, na Corografia Brasílica, pela imprensa Régia do</p><p>Rio de Janeiro.</p><p>Primeiro trecho</p><p>Senhor, posto que o Capitão-mor desta vossa</p><p>frota, e assim os outros Capitães escrevam a Vossa Al-</p><p>teza a notícia do achamento desta vossa terra nova,</p><p>que nesta navegação agora se achou, não deixarei de</p><p>também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim</p><p>como eu melhor puder, ainda que – para o bem contar</p><p>e falar – o saiba pior que todos faze! [...] Tome Vossa</p><p>Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e</p><p>creia bem por certo que, para aformosear nem afear,</p><p>não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu.</p><p>[...]</p><p>Então seguimos nosso caminho por este mar de</p><p>longo até terça-feira de Oitavas de Páscoa, que foram</p><p>21 dias de abril, quando topamos alguns sinais de</p><p>terra [...] a saber: Em primeiro lugar um monte gran-</p><p>de, muito alto e redondo e outras serras mais baixas</p><p>ao sul dele; e terra rasa, com grandes arvoredos. Ao</p><p>mesmo monte alto pôs o Capitão o nome de Monte</p><p>Pascoal; e à terra – Terra de Vera Cruz.</p><p>©</p><p>To</p><p>ny</p><p>jef</p><p>f/W</p><p>iki</p><p>me</p><p>dia</p><p>C</p><p>om</p><p>mo</p><p>ns</p><p>Carta original de Pero Vaz de Caminha.</p><p>Segundo trecho</p><p>Dali avistamos homens que andavam pela praia,</p><p>obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pe-</p><p>quenos, por chegarem primeiro. Então lançamos fora</p><p>os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães</p><p>das naus a esta nau do Capitão-mor, onde falaram</p><p>entre si. E o Capitão-mor mandou em terra no batel</p><p>a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele</p><p>começou de ir para lá, acudiram pela praia homens,</p><p>quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao</p><p>chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vin-</p><p>te homens. Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma</p><p>que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam</p><p>arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o ba-</p><p>tel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os</p><p>arcos. E eles os pousaram.</p><p>Ali não pôde deles haver fala, nem entendimen-</p><p>to de proveito, por o mar quebrar na costa. Somente</p><p>deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de li-</p><p>nho que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um</p><p>deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, com-</p><p>pridas, com uma copazinha de penas vermelhas e</p><p>pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal</p><p>grande de continhas brancas, miúdas, que querem</p><p>parecer de aljaveira, as quais peças creio que o Ca-</p><p>pitão manda a Vossa Alteza, e com isto se volveu às</p><p>naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala,</p><p>por causa do mar. [...]</p><p>Terceiro trecho</p><p>A feição deles é serem pardos, maneira de</p><p>avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem</p><p>feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem</p><p>estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e</p><p>nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.</p><p>Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos</p><p>neles seus ossos brancos e verdadeiros, de compri-</p><p>mento duma mão travessa, da grossura dum fuso de</p><p>algodão, agudos na ponta como um furador. Metem-</p><p>nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes</p><p>fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de</p><p>xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os moles-</p><p>ta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber.</p><p>Os cabelos seus são corredios. E andavam tos-</p><p>quiados, de tosquia alta, mais que de sobrepente, de</p><p>boa grandura e rapados até por cima das orelhas. E</p><p>um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte</p><p>120</p><p>para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de</p><p>ave amarelas, que seria do comprimento de um coto,</p><p>mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e as</p><p>orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena e pena,</p><p>com uma confeição branda como cera (mas não o</p><p>era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda</p><p>e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais</p><p>lavagem para a levantar.</p><p>O Capitão, quando eles vieram, estava sentado</p><p>em uma cadeira, bem vestido, com um colar de ouro</p><p>mui grande ao pescoço, e aos pés uma alcatifa por</p><p>estrado. Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nico-</p><p>lau Coelho, Aires Correia, e nós outros que aqui na</p><p>nau com ele vamos, sentados no chão, pela alcatifa.</p><p>Acenderam-se tochas. Entraram. Mas não fizeram si-</p><p>nal de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a nin-</p><p>guém. Porém um deles pôs olho no colar do Capitão,</p><p>e começou de acenar com a mão para a terra e de-</p><p>pois para o colar, como que nos dizendo que ali havia</p><p>ouro. Também olhou para um castiçal de prata e as-</p><p>sim mesmo acenava para a terra e novamente para o</p><p>castiçal como se lá também houvesse prata.</p><p>CAMINHA, Pero Vaz de. Carta ao rei D. Manuel.</p><p>In: VOGT, Carlos; LEMOS, J.A. Guimarães de. Ironistas e viajantes.</p><p>São Paulo: Abril Educação, s.d. (Coleção Literatura Comentada.)</p><p>Pero de Magalhães Gândavo</p><p>Autor de O Tratado da Terra do Brasil e da His-</p><p>tória da Província de Santa Cruz, compostas em louvor</p><p>ao clima, à terra e à paisagem, e que estimulam a imi-</p><p>gração do leitor.</p><p>Uma planta se dá também nesta Província, que</p><p>da ilha de São Tomé, com a fruita da qual se ajudam</p><p>muitas pessoas a sustentar a terra. Esta planta é mui</p><p>tenra e não muito alta, não tem ramos senão umas fo-</p><p>lhas que serão seis ou sete palmos de comprido. A fruita</p><p>dela se chama banana. Parecem-se na feição com pepi-</p><p>nos, criam-se em cachos. Esta fruita é mui saborosa, e</p><p>das boas, que há na terra: tem uma pele como de figo</p><p>(ainda que mais dura) a qual lhe lançam fora quando a</p><p>querem comer: mas faz dano à saúde e causa febre a</p><p>quem se desmanda nela.</p><p>GÂNDAVO, Pero de Magalhães.</p><p>História da Província de Santa Cruz.</p><p>Leia também este trecho da História da Província</p><p>Santa Cruz, e observe que Gândavo traz aqui uma inver-</p><p>tida noção sobre a língua dos indígenas, além de fazer</p><p>uma descrição minuciosa sobre o tipo físico do silvícola.</p><p>História da Província</p><p>Estes índios são de cor baça, e cabelo corredio; têm</p><p>o rosto amassado, e algumas feições dele à maneira de</p><p>chinês. Pela maior parte são bem dispostos, rijos e de</p><p>boa estatura; gente mui esforçada, e que estima pouco</p><p>morrer, temerária na guerra, e de muito pouca conside-</p><p>ração: são desagradecidos em grande maneira, e mui</p><p>desumanos e cruéis, inclinados a pelejar, e vingativos</p><p>por extremo.</p><p>Vivem todos mui descansados sem terem outros</p><p>pensamentos senão comer, beber, e matar gente, e por</p><p>isso engordam muito, mas com qualquer desgosto pelo</p><p>conseguinte tornam a emagrecer, e muitas vezes pode</p><p>deles tanto a imaginação que se algum deseja a morte,</p><p>ou alguém lhe mete em cabeça que há de morrer tal dia</p><p>ou tal noite não passa daquele termo que não morra.</p><p>São mui inconstantes e mudáveis: creem de ligei-</p><p>ro tudo aquilo que lhes persuadem por dificultoso e im-</p><p>possível que seja, e com qualquer dissuasão facilmente</p><p>o tornam logo a negar. São mui desonestos e dados à</p><p>sensualidade, e assim se entregam aos vícios como se</p><p>neles não houvera razão de homens: ainda que todavia</p><p>em seu ajuntamento os machos e fêmeas têm o devido</p><p>resguardo, e nisto mostram ter alguma vergonha.</p><p>Ilustração que retrata Pero Magalhães de Gândavo</p><p>descrevendo animais novos.</p><p>121</p><p>A língua de que usam, toda pela costa, é uma: ain-</p><p>da que em certos vocábulos difere n’algumas partes;</p><p>mas não de maneira que se deixem uns aos outros de</p><p>entender: e isto até a altura de vinte e sete graus, que</p><p>daí por diante há outra gentilidade, de que nós não te-</p><p>mos tanta notícia, que falam já outra língua diferente.</p><p>Esta de que trato, que é geral pela costa, é mui branda,</p><p>e a qualquer nação fácil de tomar. Alguns vocábulos há</p><p>nela de que não usam senão as fêmeas, e outros que</p><p>não servem senão para os machos: carece de três le-</p><p>tras, convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R,</p><p>coisa digna de espanto porque assim não tem Fé, nem</p><p>Lei, nem Rei e desta maneira vivem desordenadamen-</p><p>te sem terem além disto conta nem peso, nem medida.</p><p>GÂNDAVO, Pero de Magalhães.</p><p>In: VOGT, Carlos; LEMOS. J. A. Guimarães de, Op. Cit.</p><p>Literatura de formação ou jesuítica</p><p>Ao lado da prosa informativa, ocorreram mani-</p><p>festações em poesia e teatro escritas por jesuítas, com</p><p>a finalidade de catequizar os índios. A essa produção</p><p>chamamos de literatura de formação, em decorrência</p><p>do aspecto didático que apresenta.</p><p>Padre José de Anchieta (1534-1597)</p><p>©</p><p>B</p><p>en</p><p>ed</p><p>ito</p><p>C</p><p>ali</p><p>xto</p><p>/W</p><p>iki</p><p>me</p><p>dia</p><p>C</p><p>om</p><p>mo</p><p>ns</p><p>Padre José de Anchieta</p><p>Nessa categoria, merece destaque o padre je-</p><p>suíta que veio ao Brasil para desenvolver o trabalho</p><p>missionário de converter os índios ao Cristianismo. Em</p><p>1554, fundou a cidade de São Paulo.</p><p>Escreveu poemas,</p><p>crônicas, sermões e textos teatrais, ora didáticos, ora</p><p>lírico-religiosos.</p><p>Anchieta dominava bem latim, espanhol, portu-</p><p>guês e tupi. Sua linguagem era simples e direta. Escre-</p><p>veu a primeira gramática tupi-guarani: Arte de gramáti-</p><p>ca da língua mais usada na costa brasileira.</p><p>Dentre suas obras, sobressaem os autos Quando no</p><p>Espírito Santo, se recebeu uma relíquia das onze mil Virgens;</p><p>Na Vila de Vitória; Auto de São Lourenço; e o poema De</p><p>Beata Virgine Dei Madre Maria (À beata Virgem Maria</p><p>Mãe de Deus).</p><p>Veio ao Brasil com a segunda leva de jesuítas</p><p>na esquadra de Duarte da Costa, segundo Governador-</p><p>-Geral do Brasil. Em 1554, participou da fundação do</p><p>colégio, onde também foi professor, na Vila de São Pau-</p><p>lo de Piratininga, núcleo da futura cidade que receberia</p><p>o nome de São Paulo. Exerceu o cargo de provincial dos</p><p>jesuítas, entre os anos de 1577 e 1587. Escreveu cartas,</p><p>sermões, poesias, a gramática da língua mais falada na</p><p>costa brasileira (o tupi) e peças de teatro, tornando-se</p><p>representante do Teatro Jesuítico no Brasil.</p><p>Sua obra é considerada a primeira manifesta-</p><p>ção literária em terras brasileiras. A coleção das obras</p><p>completas do padre José de Anchieta é dividida em</p><p>três gêneros: poesia, prosa e obras sobre Anchieta,</p><p>que somam um total de dezessete volumes.</p><p>Leia abaixo A Santa Inês, um dos poemas</p><p>mais conhecidos de José de Anchieta.</p><p>Cordeirinha linda,</p><p>como folga o povo</p><p>porque vossa vinda</p><p>lhe dá lume novo!</p><p>Cordeirinha santa,</p><p>de Iesu querida,</p><p>Vossa santa vinda</p><p>o diabo espanta</p><p>Por isso vos canta,</p><p>com prazer, o povo,</p><p>porque vossa vinda</p><p>lhe dá lume novo.</p><p>Nossa culpa escura</p><p>fugirá depressa,</p><p>pois vossa cabeça</p><p>vem com luz tão pura.</p><p>Vossa formosura</p><p>honra é do povo,</p><p>porque vossa vinda</p><p>lhe dá lume novo.</p><p>Virginal cabeça</p><p>pola fé cortada</p><p>com vossa chegada,</p><p>já ninguém pereça.</p><p>122</p><p>Vinde mui depressa</p><p>ajudar o povo,</p><p>pois com vossa vinda</p><p>lhe dais lume novo.</p><p>Vós sois, cordeirinha,</p><p>de Iesu formoso,</p><p>mas o vosso esposo</p><p>já vos fez rainha,</p><p>Também padeirinha</p><p>sois de nosso povo,</p><p>pois, com vossa vinda,</p><p>lhe dais lume novo.</p><p>PORTELA, Eduardo (Org.).</p><p>José de Anchieta: poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1959.</p><p>Bosques</p><p>Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque</p><p>e não se vê em todo o ano árvores nem erva seca. Os</p><p>arvoredos se vão às nuvens de admirável altura e gros-</p><p>sura e variedade de espécies. Muitos dão bons frutos e</p><p>o que lhes dá graça é que há neles muitos passarinhos</p><p>de grande formosura e variedade e em seu canto não</p><p>dão vantagem aos rouxinóis, pintassilgos, colorinos, e</p><p>canários de Portugal e fazem uma harmonia quando</p><p>um homem vai por este caminho, que é para louvar</p><p>ao Senhor, e os bosques são tão frescos que os lindos</p><p>e artificiais de Portugal ficam muito abaixo. Há mui-</p><p>tas árvores de cedro, áquila, sândalos e outros paus de</p><p>bom olor e várias cores e tantas diferenças de folhas e</p><p>flores que para a vista é grande recreação e pela muita</p><p>variedade não se cansa de ver</p><p>José de Anchieta. Cartas, informações, fragmentos históricos e</p><p>sermões. Informação da Província do Brasil para nosso padre –</p><p>1585. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933, p. 430-431.</p><p>Di</p><p>sp</p><p>on</p><p>íve</p><p>l e</p><p>m</p><p><h</p><p>ttp</p><p>://</p><p>wa</p><p>rb</p><p>ur</p><p>g.c</p><p>ha</p><p>a-</p><p>un</p><p>ica</p><p>mp</p><p>.co</p><p>m.</p><p>br</p><p>>.</p><p>Padre Anchieta, óleo sobre tela, de Cândido Portinari (1954).</p><p>O texto revela uma visão exuberante da natureza</p><p>do Brasil, semelhante à manifestada na Carta, de Pero</p><p>Vaz de Caminha. Os aspectos enfatizados contemplam</p><p>a flora e a fauna, a grandeza e a variedade do arvo-</p><p>redo e o encantamento pelos pássaros. A riqueza e a</p><p>vitalidade do Brasil contrastam com as paisagens de</p><p>Portugal. Entre as riquezas do Brasil arroladas no tex-</p><p>to, apenas o sândalo, originário da Índia, provavelmen-</p><p>te não existia aqui. O deslumbramento pela natureza</p><p>do Novo Mundo marcou época tanto no período Brasil</p><p>Colônia até o período pós-Independência.</p><p>O poema manifesta o confronto entre o bem e</p><p>o mal com bastante simplicidade. A chegada de Santa</p><p>Inês espanta o diabo e, graças a ela, o povo revigora sua</p><p>fé. Os versos de cinco sílabas (redondilha menor) dão</p><p>ritmo ligeiro ao texto, retomando a métrica das cantigas</p><p>medievais. A linguagem é clara, as ideias são facilmente</p><p>compreensíveis e o ritmo traz musicalidade ao poema, o</p><p>que contribui para envolver o leitor/ouvinte, bem como</p><p>sensibilizá-lo para a mensagem religiosa.</p><p>Padre Manuel de Nóbrega</p><p>A pedido de Dom João III, integrou a escala de</p><p>Tomé de Sousa, primeiro Governador Geral do Brasil, o</p><p>padre Manuel da Nóbrega, que chefiou o primeiro gru-</p><p>po de jesuítas vindos ao Brasil, em 1549.</p><p>Ferrenho defensor da liberdade dos índios, fa-</p><p>voreceu os aldeamentos, cultivou a música como auxi-</p><p>liar da evangelização, promoveu o ensino primário nas</p><p>escolas de ler e escrever e fundou, pessoalmente, os</p><p>colégios de Salvador, Pernambuco e São Paulo, origem</p><p>da futura cidade, e do Rio de Janeiro, onde exerceu o</p><p>cargo de reitor. Depois de colaborar com a expulsão dos</p><p>estrangeiros da baía de Guanabara, contribuiu para a</p><p>valorização do poder central e para a unificação política</p><p>do território nacional.</p><p>Seus pensamentos estão expressos nas Cartas,</p><p>nos Apontamentos e, sobretudo, no Diálogo sobre a</p><p>conversão do Gentio, de sua autoria.</p><p>123</p><p>Barroco ou seiscentismo</p><p>©</p><p>M</p><p>ich</p><p>ela</p><p>ng</p><p>elo</p><p>M</p><p>er</p><p>isi</p><p>da</p><p>C</p><p>ar</p><p>av</p><p>ag</p><p>gio</p><p>/W</p><p>iki</p><p>me</p><p>dia</p><p>C</p><p>om</p><p>mo</p><p>ns</p><p>A dúvida de São Tomé, de Caravaggio.</p><p>Contexto</p><p>Os embates religiosos</p><p>O movimento denominado Barroco ou Seis-</p><p>centismo aconteceu no segundo período clássico e de-</p><p>signou genericamente todas as manifestações artísticas</p><p>produzidas no século XVII até meados do século XVIII.</p><p>O estilo barroco sucede o movimento religioso conheci-</p><p>do como Reforma Protestante, liderado pelo teólogo</p><p>alemão Martinho Lutero (1483-1546).</p><p>A Reforma Protestante foi um movimento</p><p>reformista cristão iniciado em 1517 por Martinho</p><p>Lutero. Ele apresentou 95 teses, mediante as quais</p><p>protestava contra a Igreja Católica. À luz delas, pro-</p><p>pôs uma reforma baseada em cinco princípios:</p><p>1. somente a fé;</p><p>2. somente a Escritura;</p><p>3. somente Cristo;</p><p>4. somente a graça; e</p><p>5. somente a glória de Deus.</p><p>Lutero denunciou os abusos e equívocos do</p><p>catolicismo da época, entre eles atos de corrupção,</p><p>como venda de indulgências a troco do perdão dos</p><p>pecados e da salvação eterna. O protestantismo nas-</p><p>ceu em decorrência da resistência à Igreja Católica</p><p>A proposta de reformar ensinos teológicos e</p><p>comportamentos morais da Igreja, baseados exclusiva-</p><p>mente no ensino bíblico, provocou a reação da Igreja</p><p>católica, àquelas alturas já sem muito espaço e poder. A</p><p>Reforma dividiu os cristãos. Na tentativa de evitar a per-</p><p>da de fiéis, a Igreja fortaleceu o Tribunal da Inquisição,</p><p>que passou a investigar crimes contra a fé católica e deu</p><p>início à Contrarreforma, com a fundação da Compa-</p><p>nhia de Jesus pelo espanhol Inácio de Loyola.</p><p>Nas artes, em reação ao primeiro período clás-</p><p>sico que revolucionou o teocentrismo medieval, à luz</p><p>e sob inspiração dos valores terrenos e humanistas da</p><p>Antiguidade greco-romana, triunfou o Barroco, que se</p><p>opôs ao Humanismo Renascentista em busca do elo</p><p>perdido da tradição cristã.</p><p>O contexto português:</p><p>a união da península Ibérica</p><p>Em 1580, Portugal foi anexado à Espanha,</p><p>em razão do desaparecimento do rei português</p><p>Dom Sebastião – que não deixou descendentes di-</p><p>retos –, na batalha de Alcácer-Quibir, na África, em</p><p>1578. O rei espanhol Felipe II, um dos parentes mais</p><p>próximos de Dom Sebastião, foi proclamado mo-</p><p>narca dos lusitanos e deu início à dinastia Filipina</p><p>em Portugal, que se estendeu até 1640.</p><p>Sucessivamente, três reis espanhóis adotaram</p><p>o nome Felipe (I, II e III). Foi em dezembro de 1640,</p><p>que Portugal retomou sua independência, quando</p><p>o duque de Bragança foi coroado rei, com o nome</p><p>de Dom João IV, e cujo reinado durou até 1656.</p><p>Na Europa seiscentista, Portugal e Espanha confi-</p><p>guraram o modelo de absolutismo católico, que patroci-</p><p>nou a Contrarreforma, recrudesceu a perseguição aos in-</p><p>fiéis pela Inquisição</p><p>e exigiu obediência ao Index Librorum</p><p>Prohibitorum, uma relação de livros proibidos publicada</p><p>pela Igreja Católica.</p><p>Sob dominação filipina, o Barroco português foi</p><p>significativamente influenciado pelo espanhol, principal</p><p>foco irradiador dessa estética que expressa a espirituali-</p><p>dade e o teocentrismo medievais misturados ao raciona-</p><p>lismo e ao antropocentrismo herdados do Renascimento.</p><p>124</p><p>A arte barroca</p><p>©</p><p>M</p><p>ich</p><p>ela</p><p>ng</p><p>elo</p><p>M</p><p>er</p><p>isi</p><p>da</p><p>C</p><p>ar</p><p>av</p><p>ag</p><p>gio</p><p>/W</p><p>iki</p><p>me</p><p>dia</p><p>C</p><p>om</p><p>mo</p><p>ns</p><p>A ceia em Emaús, de Caravaggio.</p><p>O barroco português ocorre em uma Europa im-</p><p>pactada pelas grandes navegações dos anos 1500, pelas</p><p>grandes conquistas, pela explosão da Reforma Protes-</p><p>tante e pelo poder monárquico absolutista. Ele traduz o</p><p>drama do homem “entre o céu e a Terra”, atormentado</p><p>pela fé, pela existência após a morte, pelo julgamento de</p><p>atos praticados durante o “trânsito terreno”.</p><p>No final dos anos quinhentos e início dos anos</p><p>seiscentos, conviem dois modos de ver o mundo: o</p><p>paganismo renascentista em decadência e a religiosi-</p><p>dade barroca emergente. A expressão plástica barroca</p><p>caracteriza-se pela exacerbação dos tons mais altos e</p><p>mais coloridos e das texturas mais ricas: mais decora-</p><p>ção, mais luz e sombra em busca deliberada de efeitos.</p><p>Duas tendências de estilo, no entanto, mani-</p><p>festam-se no Barroco: o cultismo e o conceptismo.</p><p>Aquele, mais próprio da poesia, e este, da prosa, sem,</p><p>no entanto, excluírem-se no conjunto da criação lite-</p><p>rária. Uma mesma obra tanto pode pender para uma</p><p>delas quanto apresentar traços de ambas as tendências.</p><p>Cultismo</p><p>É a preferência pelo rebuscamento formal da lin-</p><p>guagem em jogos de palavras, figuras de linguagem,</p><p>vernáculo preciosista, efeitos sensoriais – cor, som,</p><p>forma, volume, sonoridade, imagens eloquentes e fan-</p><p>tasiosas. Conhecer é descrever mediante sensações</p><p>nada econômicas. Metáforas, antíteses, sinestesias,</p><p>trocadilhos, dicotomias e hipérbatos povoam os textos</p><p>barrocos. A realidade é retratada de forma indireta, cen-</p><p>trada na habilidade verbal do escritor.</p><p>A tendência do Barroco cultista também recebeu</p><p>o nome de gongorismo, cujo escritor mais eloquente</p><p>foi o poeta espanhol Luis de Gôngora.</p><p>O todo sem a parte não é todo,</p><p>A parte sem o todo não é parte,</p><p>Mas se a parte o faz todo, sendo parte,</p><p>Não se diga que é parte sendo todo.</p><p>Em todo sacramento está Deus todo,</p><p>E todo assiste inteiro em qualquer parte,</p><p>E feito em partes todo em toda a parte,</p><p>Em qualquer parte sempre fica o todo.</p><p>O braço de Jesus não seja parte,</p><p>Pois que feito Jesus em parte todo,</p><p>Assiste cada parte em sua parte.</p><p>Não se sabendo parte deste todo,</p><p>Um braço, que lhe acharam, sendo parte,</p><p>Nos disse as partes todas deste todo.</p><p>Conceptismo (do espanhol concepto, ideia)</p><p>Linguagem pautada no raciocínio e no pensa-</p><p>mento lógico, em analogias, histórias ilustrativas etc.</p><p>Argumentos centrados na inteligência e na razão em</p><p>busca da concisão e da coesão, sempre disciplinados</p><p>pela lógica e seus mecanismos oferecidos pelos silogis-</p><p>mos e sofismas. Tal tendência também recebeu o nome</p><p>de quevedismo, graças ao estilo marcante do poeta</p><p>espanhol Francisco Gómez de Quevedo.</p><p>[...]</p><p>Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda</p><p>que passe dos setes anos [...] nunca chega à idade</p><p>de uso da razão. Usar de razão e amar são duas</p><p>coisas que não se juntam. A alma de um menino</p><p>que vem a ser? Uma vontade com afetos e um</p><p>entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo</p><p>conquista o amor, quando conquista uma alma; po-</p><p>rém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém</p><p>teve a vontade, febricitante, que não tivesse o en-</p><p>tendimento frenético. O amor deixara de variar, se</p><p>for firme, mas não deixara de tresvariar, se é amor.</p><p>Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não</p><p>cegasse o entendimento. Nunca houve enfermida-</p><p>de no coração, que não houvesse fraqueza no juízo.</p><p>Padre Antonio Vieira. Sermão do Mandato</p><p>125</p><p>Características do Barroco literário</p><p>O Barroco se traduz como uma arte tensa que</p><p>oscila entre opostos, marcada pela crise de valores,</p><p>contradições entre o espírito cristão, antiterreno e te-</p><p>ocêntrico, e o espírito renascentista, antropocêntrico,</p><p>racionalista e mundano.</p><p>Conflitos e descontentamentos existenciais</p><p>A indefinição entre o divino e o terreno traduz-se</p><p>em conflito e descontentamento existencial humano.</p><p>São comuns os temas pessimistas, as advertências so-</p><p>bre a brevidade da vida, a ênfase na dor e na vergonha</p><p>de permanecer em pecado. A relação com a vida terrena</p><p>é pessimista, só minorada com a crença na vida celeste.</p><p>O tema da penitência é constantemente enfatizado pelo</p><p>martírio da dor.</p><p>Ideias em confronto</p><p>No Barroco predomina o gosto pela aproxima-</p><p>ção de realidades em oposição; a submissão e a vida</p><p>recatada propostas pela Igreja contrarreformista em</p><p>contraposição aos desejos humanos e materiais, à pos-</p><p>sibilidade de ascensão social, propiciada pelo momento</p><p>histórico, contrapõe-se a impossibilidade da estrutura</p><p>social fechada. Temas constantemente contraditórios,</p><p>oscilantes entre matéria e amor, carne e espírito, amor</p><p>ideal e amor humano.</p><p>©</p><p>D</p><p>ivu</p><p>lg</p><p>aç</p><p>ão</p><p>Cristo bailarino. Madeira com vestígios de policromia.</p><p>Aleijadinho (1781-1790).</p><p>Tendência ao dualismo e ao</p><p>culto do contraste</p><p>No intuito de aproximar opostos, a visão do uni-</p><p>verso dualista é, ao mesmo tempo, mística e sensual,</p><p>religiosa e erótica, espiritual e humana. O homem vive</p><p>em conflito com o mundo. Para traduzi-lo, abundam an-</p><p>títeses, metáforas, sinestesias e hipérboles.</p><p>Di</p><p>sp</p><p>on</p><p>íve</p><p>l e</p><p>m</p><p><h</p><p>ttp</p><p>://</p><p>int</p><p>era</p><p>ta</p><p>.sq</p><p>ua</p><p>res</p><p>pa</p><p>ce</p><p>.co</p><p>m></p><p>Detalhe preciosista de igreja barroca.</p><p>O estilo barroco europeu do século XVII recebeu</p><p>denominações particulares em cada país:</p><p>§ Espanha – gongorismo, originado do nome do</p><p>poeta Luis de Gôngora (1561-1627).</p><p>§ Inglaterra – eufuísmo, derivado do nome da</p><p>obra Euphues, or the anatomy of wit, do escritor</p><p>John Lyly (1554-1606).</p><p>§ Itália – marinismo, derivado do nome de Gian-</p><p>battista Marino (1569-1625).</p><p>§ França – preciosismo, em razão do exagero</p><p>da forma preciosista, afetada e extremamente</p><p>rebuscada na corte do rei Luis XIV.</p><p>§ Alemanha – silesianismo, estilo característico</p><p>dos escritores da região da Silésia.</p><p>O Barroco em Portugal</p><p>O Barroco português conviveu com um país que</p><p>vivia uma crise de identidade, uma vez que estava sob o</p><p>domínio político da Espanha. Dois aspectos ressaltam a</p><p>produção literária desse período: o esforço dos portugue-</p><p>ses de preservar sua cultura e língua e a Contrarreforma,</p><p>que deu à produção literária amplo caráter religioso, por</p><p>exemplo as obras do padre Antônio Vieira, principal escri-</p><p>tor português do século XVII.</p><p>Em 1580, dois fatos significativos marcaram a vida</p><p>cultural e política de Portugal: a morte de Camões e a pas-</p><p>sagem do país para o domínio espanhol (1580-1640).</p><p>126</p><p>A literatura e as artes portuguesas foram in-</p><p>fluenciadas pelas manifestações culturais espanholas,</p><p>que conheceram nesse período o “século de ouro” –</p><p>Cervantes, Gôngora, Quevedo, Lope de Vega e Calderón</p><p>de La Barca são importantes escritores desse período. O</p><p>florescimento do Barroco em Portugal não se deu com</p><p>a mesma intensidade que na Espanha. Como forma de</p><p>resistência política ao domínio espanhol, os escritores</p><p>portugueses procuraram preservar a língua e a cultu-</p><p>ra lusitanas. Assumiram uma postura saudosista, valo-</p><p>rizando personagens e escritores do passado heroico</p><p>recente: Vasco da Gama, Dom Sebastião, Camões.</p><p>Influenciado pela Contrarreforma, o Barroco</p><p>português também ganhou fortes matizes religiosos,</p><p>bem como em todos os países ibéricos. A atuação da</p><p>Companhia de Jesus e do Tribunal da Inquisição, ins-</p><p>taurado em Portugal em meados do século XVI, com-</p><p>pletaram o quadro cultural lusitano daquele período</p><p>religioso e austero.</p><p>O Barroco no Brasil</p><p>O marco inicial do Barroco brasileiro data de</p><p>1601, quando Bento Teixeira publicou o poema épico</p><p>Prosopopeia, com estrofes em oitava rima e versos de-</p><p>cassílabos, tal qual Os</p><p>Lusíadas, de Camões, cujo mode-</p><p>lo ele seguiu de perto.</p><p>Embora naquela época não houvesse um público</p><p>leitor significativo no Brasil, a poesia barroca ganhou</p><p>impulso com a fundação de várias academias literárias</p><p>entre os anos de 1720 e 1750. Vicejaram por todo o sé-</p><p>culo XVII e início do século XVIII, mas foram sufocadas</p><p>pela fundação da academia chamada Arcádia Ultra-</p><p>marina, em 1768, e pela ascensão da poesia árcade.</p><p>Peculiaridades do Barroco brasileiro</p><p>Embora o Barroco brasileiro esteja ligado aos</p><p>modelos lusitano e espanhol, peculiaridades diferen-</p><p>ciam-no destes.</p><p>Durante todo o século XVII, sob o domínio es-</p><p>panhol, continuavam a chegar ao Brasil imigrantes</p><p>atraídos pela riqueza, portugueses e demais euro-</p><p>peus, e interessados na exploração da terra. Foi o caso</p><p>dos franceses, que tentaram dominar o Maranhão no</p><p>começo do século XVII.</p><p>A presença estrangeira mais marcante, no entan-</p><p>to, foi a dos holandeses. Enviado pela Companhia das</p><p>Índias Ocidentais com o fim de controlar o comércio do</p><p>açúcar nordestino, o general de origem alemã Johann</p><p>Maurits, conhecido como conde Maurício de Nassau,</p><p>desembarcou no Brasil, em Recife, em 1637, quando já</p><p>se estabilizara o domínio holandês nas colônias portu-</p><p>guesas, iniciado em 1624.</p><p>Nassau trouxe consigo uma equipe cultural com</p><p>pintores, arquitetos, escritores, naturistas, médicos, as-</p><p>trólogos etc., com o objetivo de documentar as terras</p><p>ocupadas pela Holanda e angariar investimentos euro-</p><p>peus para a produção açucareira.</p><p>Com Nassau, Recife sofreu uma verdadeira re-</p><p>formulação urbana: jardins, lagos, palácio para sua aco-</p><p>modação na ilha de Antônio Vaz, uma cidade inteira foi</p><p>modelada a seu gosto. A cidade Maurícia, ao lado de</p><p>Recife, entre a foz do rio Capibaribe e Beberibe, emergiu</p><p>sob sua administração.</p><p>As marcas desse tempo ficaram registradas em</p><p>pinturas e desenhos de Frans Post, encarregado das pai-</p><p>sagens e feitos do Governador-Geral, e Albert Eckout,</p><p>responsável pelo registro dos tipos humanos, da fauna</p><p>e flora da “Nova Holanda”, nome de Pernambuco na-</p><p>quela época.</p><p>Frans Post tinha apenas 24 anos quando che-</p><p>gou ao Brasil. Morador de Recife entre 1637 e 1644,</p><p>acompanhou a movimentada campanha do governador,</p><p>documentando a paisagem e registrando portos e forti-</p><p>ficações do Maranhão à Bahia.</p><p>©</p><p>D</p><p>ivu</p><p>lg</p><p>aç</p><p>ão</p><p>Aleijadinho</p><p>127</p><p>Um Barroco miscigenado</p><p>O mundo colonial brasileiro do século XVII não foi influenciado apenas pelo Barroco português, mas, sobre-</p><p>tudo, foi pressionado economicamente, graças à imensa exploração de riquezas naturais, de ouro, principalmente.</p><p>Em razão disso, o Barroco brasileiro tornou-se uma manifestação miscigenada das culturas europeia, negra e</p><p>nativa. Os espaços do Brasil colonial que lhe serviram de cenário foram principalmente o Nordeste e o estado de</p><p>Minas Gerais.</p><p>Ligado ao ciclo da cana-de-açúcar, o Barroco nordestino aproximou-se da aristocracia rural, exuberante e</p><p>pomposa, e refletiu-se na riqueza das construções eclesiásticas e nas amplas acomodações das casas-grandes.</p><p>A cidade de Salvador, na Bahia, ainda conta com cerca de 80 igrejas e vários solares e casarões inspirados</p><p>no Barroco.</p><p>No século XVIII, o Barroco mineiro sobrepujou o da metrópole portuguesa, notadamente nas cidades au-</p><p>ríferas de Minas Gerais. Naquela região, sobressaíram as notáveis obras do escultor e arquiteto Antonio Francisco</p><p>Lisboa (1730-1814), o Aleijadinho, cujo trabalho pautou-se pela experiência com materiais locais – pedra-sabão e</p><p>madeira. O pintor Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) deixou mostras de seu talento em pinturas e afrescos nos</p><p>tetos e laterais de igrejas mineiras.</p><p>Filme</p><p>ASSISTIR</p><p>INTERATIVIAA DADE</p><p>O Brasil de Pero Vaz caminha – Direção: Bruno Laet - 2011</p><p>Filme Caravaggio – Direção: Derek Jarman - 1986</p><p>Vencedor do Prêmio SESC Rio de Fomento à Cultura, em</p><p>2010 – na categoria Novos Talentos, Cinema Documen-</p><p>tário –, O Brasil de Pero Vaz caminha se baseia naquele</p><p>que é considerado o primeiro documento histórico e</p><p>literário do Brasil: a carta de Pero Vaz de Caminha.</p><p>Filme 1492 - A CONQUISTA DO PARAÍSO</p><p>Vinte anos da vida de Colombo, desde quando se convenceu de que o</p><p>mundo era redondo, passando pelo empenho em conseguir apoio �nancei-</p><p>ro da Coroa espanhola para sua expedição, o descobrimento em si da Amé-</p><p>rica, o desastroso comportamento que os europeus tiveram com os habi-</p><p>tantes do Novo Mundo e a luta de Colombo para colonizar um continente</p><p>que ele descobriu por acaso, além de sua decadência na velhice.</p><p>A curta vida do pintor italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio (Nigel</p><p>Terry) desde a infância e decepções do início da carreira até os últimos</p><p>sucessos, a amizade com um cardeal e a relação destrutiva com um</p><p>lutador (Sean Bean) e sua namorada (Tilda Swinton).</p><p>128</p><p>LER</p><p>tt Livros</p><p>Dialética da colonização – Alfredo Bosi</p><p>Em capítulos que vão de Anchieta à indústria cultural, Alfredo Bosi, o</p><p>conceituado autor da clássica História concisa da Literatura Brasileira,</p><p>persegue com sensibilidade as formas históricas que enlaçaram coloniza-</p><p>ção, culto e cultura. Dialética da colonização é o resultado deste percurso</p><p>sui generis na história do pensamento brasileiro.</p><p>O barroco – Victor Lucien Tapié</p><p>Dividido em duas seções, "Concepções Barrocas" e "Experiências Barro-</p><p>cas", o volume examina esse fenômeno de arte notadamente nos séculos</p><p>XVII e XVIII, sem esconder do leitor observações realmente novas e suges-</p><p>tivas concernentes ao estilo, que muitos reputam ser de glória, outros</p><p>digno dos períodos de decadência, mas que, todavia, emprestou às</p><p>cidades históricas de Minas o seu fausto e o ar sempiterno que ressumam.</p><p>Filme</p><p>ASSISTIR</p><p>INTERATIVIAA DADE</p><p>O Brasil de Pero Vaz caminha – Direção: Bruno Laet - 2011</p><p>Filme Caravaggio – Direção: Derek Jarman - 1986</p><p>Vencedor do Prêmio SESC Rio de Fomento à Cultura, em</p><p>2010 – na categoria Novos Talentos, Cinema Documen-</p><p>tário –, O Brasil de Pero Vaz caminha se baseia naquele</p><p>que é considerado o primeiro documento histórico e</p><p>literário do Brasil: a carta de Pero Vaz de Caminha.</p><p>Filme 1492 - A CONQUISTA DO PARAÍSO</p><p>Vinte anos da vida de Colombo, desde quando se convenceu de que o</p><p>mundo era redondo, passando pelo empenho em conseguir apoio �nancei-</p><p>ro da Coroa espanhola para sua expedição, o descobrimento em si da Amé-</p><p>rica, o desastroso comportamento que os europeus tiveram com os habi-</p><p>tantes do Novo Mundo e a luta de Colombo para colonizar um continente</p><p>que ele descobriu por acaso, além de sua decadência na velhice.</p><p>A curta vida do pintor italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio (Nigel</p><p>Terry) desde a infância e decepções do início da carreira até os últimos</p><p>sucessos, a amizade com um cardeal e a relação destrutiva com um</p><p>lutador (Sean Bean) e sua namorada (Tilda Swinton).</p><p>LER</p><p>tt Livros</p><p>Dialética da colonização – Alfredo Bosi</p><p>Em capítulos que vão de Anchieta à indústria cultural, Alfredo Bosi, o</p><p>conceituado autor da clássica História concisa da Literatura Brasileira,</p><p>persegue com sensibilidade as formas históricas que enlaçaram coloniza-</p><p>ção, culto e cultura. Dialética da colonização é o resultado deste percurso</p><p>sui generis na história do pensamento brasileiro.</p><p>O barroco – Victor Lucien Tapié</p><p>Dividido em duas seções, "Concepções Barrocas" e "Experiências Barro-</p><p>cas", o volume examina esse fenômeno de arte notadamente nos séculos</p><p>XVII e XVIII, sem esconder do leitor observações realmente novas e suges-</p><p>tivas concernentes ao estilo, que muitos reputam ser de glória, outros</p><p>digno dos períodos de decadência, mas que, todavia, emprestou às</p><p>cidades históricas de Minas o seu fausto e o ar sempiterno que ressumam.</p><p>129</p><p>ARTES PLÁSTICAS</p><p>130</p><p>Retábulo da capela-mor da Igreja de São Francisco, em São João del-Rei (Aleijadinho)</p><p>Projeto para a fachada da Igreja de São Francisco, em São João del-Rei (Aleijadinho)</p><p>ARTES PLÁSTICAS</p><p>estrutura conceituaL</p><p>Idade Média Idade Moderna</p><p>Trovadorismo Humanismo Classicismo</p><p>Barroco</p><p>Quinhentismo</p><p>Cultismo e conceptismo</p><p>Movimento</p><p>vinculado a</p><p>conflitos de cunho religioso</p><p>Pero Vaz de Caminha e</p><p>José de Anchieta</p><p>Literatura de informação</p><p>e literatura jesuítica</p><p>Uso de antíteses</p><p>e paradoxos</p><p>131</p><p>–mancia adivinhação cartomante, quiromancia</p><p>–mani loucura, tendência megalomaníaco</p><p>–mania loucura, tendência cleptomania</p><p>–metro que mede barômetro, termômetro</p><p>13</p><p>Radicais latinos Significados Exemplos</p><p>aristo– melhor aristocracia</p><p>arqueo– antigo arqueologia, arqueólogo</p><p>anthos– flor antologia, crisântemo, perianto</p><p>atmo– ar atmosfera</p><p>auto– mesmo, próprio autoajuda, autômato</p><p>baro– peso, pressão barômetro, barítono</p><p>biblio– livro bibliófilo, biblioteca</p><p>bio– vida biologia, anfíbio</p><p>caco– mau cacofonia, cacoete</p><p>cali– belo caligrafia, calígrafo</p><p>carpo– fruto pericarpo</p><p>céfalo– cabeça cefalópodes, cefaleia, acéfalo</p><p>cito– célula citoplasma, citologia</p><p>copro– fezes coprologia, coprófagas</p><p>cosmo– mundo microcosmo, cosmonauta</p><p>crono– tempo cronômetro, diacrônico</p><p>dico– em duas partes dicotomia, dicogamia</p><p>eno– vinho enologia, enólogo</p><p>entero– intestino enterite, disenteria</p><p>etno– povo étnico, etnia, etnografia</p><p>filo–, filia– amigo, amizade filósofo, filantropia</p><p>fono– som, voz fonética, disfônica</p><p>gastro– estômago gastrite, gastronomia</p><p>hemo– sangue hemorragia, hemodiálise</p><p>hidro– água hidravião, hidratação</p><p>Radicais gregos Significados Exemplos</p><p>–morfo forma, que tem a forma amorfa, zoomórfico</p><p>–onimo nome sinônimo, topônimo</p><p>–polis, –pole cidade metrópole</p><p>–potamo rio mesopotâmia, hipopótamo</p><p>–ptero asa helicóptero</p><p>–scopia o que faz ver endoscopia, telescópio</p><p>–sofia sabedoria, saber filosofia, teosofia</p><p>–soma corpo cromossomo</p><p>–stico verso monóstico, dístico</p><p>–teca lugar, coleção biblioteca, hemeroteca</p><p>–terapia cura, tratamento hidroterapia</p><p>–tomia corte, divisão vasectomia, anatomia</p><p>–topo lugar topografia, topônimo</p><p>–tono tom barítono, monótono</p><p>14 14</p><p>Radicais latinos Significados Exemplos</p><p>higro– úmido higrófito, higrômetro</p><p>hipo– cavalo hipódromo, hipopótamo</p><p>–ambulo que anda noctâmbulo, sonâmbulo</p><p>–cida que mata fraticida, inseticida</p><p>–cola que habita arborícola, silvícola</p><p>–cultura que cultiva triticultura, vinicultura</p><p>–evo idade longeva, longevidade</p><p>–fero que contém ou produz mamífero, aurífero</p><p>–fico que faz ou produz benéfico, maléfico</p><p>–forme que tem a forma cordiforme, uniforme</p><p>–fugo que foge vermífugo, centrífugo</p><p>–grado grau, passo centígrado</p><p>–luquo que fala ventríloquo</p><p>–paro que produz ovíparo</p><p>–pede pé velocípede, bípede</p><p>–sono que soa uníssono</p><p>–vago que vaga noctívago</p><p>–voro que come carnívoro, herbívoro, onívoro</p><p>15</p><p>Diversonagens suspersas (Paulo Leminski)</p><p>Neste poema, o autor joga com os diferentes sentidos produzidos por morfemas iguais ou semelhantes.</p><p>Meu verso, temo, vem do berço.</p><p>Não versejo porque eu quero,</p><p>versejo quando converso</p><p>e converso por conversar.</p><p>Pra que sirvo senão pra isto,</p><p>pra ser vinte e pra ser visto,</p><p>pra ser versa e pra ser vice,</p><p>pra ser a super-superfície</p><p>onde o verbo vem ser mais?</p><p>Não sirvo pra observar.</p><p>Verso, persevero e conservo</p><p>um susto de quem se perde</p><p>no exato lugar onde está.</p><p>Onde estará meu verso?</p><p>Em algum lugar de um lugar,</p><p>onde o avesso do inverso</p><p>começa a ver e ficar.</p><p>Por mais prosas que eu perverta,</p><p>não permita Deus que eu perca</p><p>meu jeito de versejar.</p><p>(Paulo Leminski, in: Toda Poesia)</p><p>POEMA</p><p>ESTRUTURA CONCEITUAL</p><p>GRAMÁTICA</p><p>NORMATIVA</p><p>ESTUDO DOS PROCESSOS DE</p><p>FORMAÇÃO DE PALAVRAS CLASSES DE</p><p>PALAVRAS</p><p>ARTIGO</p><p>SUBSTANTIVO</p><p>ADJETIVO</p><p>VERBO</p><p>ADVÉRBIO</p><p>PRONOME</p><p>NUMERAL</p><p>PREPOSIÇÃO</p><p>CONJUNÇÃO</p><p>INTERJEIÇÃO</p><p>FORMAÇÃO DE PALAVRASFORMAÇÃO DE PALAVRAS</p><p>FORMAÇÃO DE</p><p>PALAVRAS</p><p>A PARTIR DE</p><p>UM ÚNICO RADICAL</p><p>SUFIXAL</p><p>PREFIXAL</p><p>IMPRÓPRIA</p><p>REGRESSIVA</p><p>PARASSINTÉTICA</p><p>JUSTAPOSIÇÃO</p><p>AGLUTINAÇÃO</p><p>FORMAÇÃO DE</p><p>PALAVRAS</p><p>COM MAIS</p><p>DE UM RADICAL</p><p>MORFOLOGIA</p><p>DERIVAÇÃO COMPOSIÇÃO</p><p>16</p><p>Artigos, substantivos</p><p>e adjetivos</p><p>Competências</p><p>1 e 8</p><p>Habilidades</p><p>1, 2, 3, 4, 26 e 27</p><p>Ge</p><p>ra</p><p>lt/</p><p>Pi</p><p>xa</p><p>ba</p><p>y</p><p>L</p><p>ENTRE LETRAS</p><p>C</p><p>03 04</p><p>Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para</p><p>sua vida.</p><p>H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.</p><p>H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.</p><p>H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.</p><p>H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.</p><p>Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras</p><p>culturas e grupos sociais.</p><p>H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.</p><p>H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.</p><p>H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.</p><p>H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.</p><p>Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da</p><p>identidade.</p><p>H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.</p><p>H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.</p><p>H11</p><p>Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para</p><p>diferentes indivíduos.</p><p>Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e</p><p>da própria identidade.</p><p>H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.</p><p>H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.</p><p>H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.</p><p>Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante</p><p>a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.</p><p>H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.</p><p>H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.</p><p>H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.</p><p>Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da</p><p>realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.</p><p>H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.</p><p>H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.</p><p>H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional</p><p>Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.</p><p>H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.</p><p>H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.</p><p>H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.</p><p>H24</p><p>Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,</p><p>chantagem, entre outras.</p><p>Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização</p><p>do mundo</p><p>e da própria identidade.</p><p>H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.</p><p>H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.</p><p>H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.</p><p>Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida</p><p>pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,</p><p>às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.</p><p>H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem</p><p>19</p><p>Artigos</p><p>O artigo é a palavra que se antepõe a um substantivo (é um marcador pré-nominal), com a função inicial de</p><p>determiná-lo, ou indeterminá-lo. São classificados em dois grupos: definidos e indefinidos.</p><p>§ Artigos definidos: determinam o substantivo de maneira precisa. São eles: o(s), a(s).</p><p>Exemplo: Preciso que você me traga a cadeira branca.</p><p>(O artigo definido marca a necessidade de se pegar uma cadeira determinada.)</p><p>§ Artigos indefinidos: determinam o substantivo de maneira vaga/imprecisa. São eles: um(uns), uma(s).</p><p>Exemplo: Preciso que você me traga uma cadeira branca.</p><p>(O artigo indefinido marca a necessidade de se pegar uma cadeira qualquer, indeterminada.)</p><p>Artigo combinado com preposições</p><p>A contração de artigos com preposições é um movimento essencial para demarcação de sentido em cons-</p><p>truções textuais. Muitas vezes, fazer ou não fazer a contração do artigo com a preposição pode alterar significativa-</p><p>mente o entendimento que se tem de um texto. Esses eventos textuais serão discutidos no próximo tópico (o artigo</p><p>aplicado ao texto). Ficaremos aqui com as possibilidades de contração do artigo com a preposição.</p><p>Preposições</p><p>Artigos</p><p>o, os à, às * um, uns uma, umas</p><p>a ao, aos à, às * — —</p><p>de do, dos da, das dum, duns duma, dumas</p><p>em no, nos na, nas num, nuns numa, numas</p><p>por pelo, pelos pela, pelas — —</p><p>* A junção de “a” preposição + “a” artigo é o que dá origem ao fenômeno da crase, que será discutido em momento oportuno.</p><p>Artigo aplicado ao texto</p><p>O artigo talvez seja uma das classes gramaticais mais subestimadas da língua portuguesa, e isso ocorre,</p><p>principalmente, pelo fato de, em âmbito escolar, ser apresentado apenas em suas características estruturais mais</p><p>básicas, sem o devido aprofundamento semântico ou textual que os vestibulares costumam abordar. Por esse mo-</p><p>tivo, apresentaremos a seguir as aplicações textuais do artigo.</p><p>Artigo como marcador de quantidade</p><p>A presença ou ausência do artigo pode servir como quantificador de elementos.</p><p>Exemplos:</p><p>§ Ele trocou o dinheiro em casa de câmbio da Rua do Ouvidor.</p><p>(A ausência de artigo indica que há mais de uma casa de câmbio na rua).</p><p>§ Ele trocou o dinheiro na casa de câmbio da Rua do Ouvidor.</p><p>(A presença de artigo indica que há apenas uma casa de câmbio na rua).</p><p>20</p><p>Artigo como marcador</p><p>de convívio/intimidade</p><p>A presença ou ausência do artigo pode servir como</p><p>algo que marca certos afetos em relação aos indivíduos.</p><p>Exemplos:</p><p>§ A gerência será assumida por Gerson Soares, do</p><p>almoxarifado.</p><p>(A ausência de artigo indica distanciamento de</p><p>Gerson, marcando o fato de que, possivelmente,</p><p>nem todos o conhecem.)</p><p>§ A gerência será assumida pelo Gerson Soares,</p><p>do almoxarifado.</p><p>(A presença de artigo indica intimidade com Ger-</p><p>son, podendo marcar uma conversa entre pesso-</p><p>as que conhecem o Gerson.)</p><p>Artigo marcando conhecimento ou</p><p>desconhecimento de substantivos</p><p>Os artigos definido e indefinido podem marcar o</p><p>conhecimento ou o desconhecimento de certos assun-</p><p>tos conduzidos por substantivos.</p><p>Exemplos:</p><p>§ Foi localizado ontem o jovem serial-killer que</p><p>havia fugido da cadeia.</p><p>(O artigo definido nos transmite a ideia de que</p><p>a notícia da fuga do jovem era de conhecimento</p><p>dos leitores; ou seja, o substantivo era conhecido.)</p><p>§ Foi localizado ontem um jovem serial-killer que</p><p>havia fugido da cadeia.</p><p>(O artigo indefinido nos transmite a ideia de que</p><p>a fuga do jovem era novidade para os leitores;</p><p>ou seja, o substantivo era desconhecido.)</p><p>Artigo como particularizador</p><p>ou generalizador</p><p>Exemplos:</p><p>§ Garfield é um gato.</p><p>(O artigo indefinido marca a ideia de que</p><p>Garfield é mais um entre os vários gatos no</p><p>mundo; ou seja, generaliza o substantivo.)</p><p>§ Garfield é o gato.</p><p>(O artigo definido marca a ideia de que Garfield</p><p>é um gato especial em relação a outros gatos; ou</p><p>seja, particulariza e destaca o substantivo.)</p><p>Artigo como marcador de coerência textual</p><p>Para marcarmos coerência textual, muitas vezes</p><p>nos valemos das capacidades de determinação e inde-</p><p>terminação dos artigos.</p><p>Exemplo:</p><p>§ Um rapaz magrinho apareceu em casa ontem</p><p>vendendo umas bíblias. O rapaz era bem simpá-</p><p>tico, estava bem vestido, mas me irritou quando...</p><p>No exemplo apresentado, constatamos que</p><p>quando precisamos introduzir uma informação que</p><p>nosso interlocutor desconhece, nos valemos primeiro</p><p>de um artigo indefinido, e depois de apresentado o</p><p>substantivo (no caso, o rapaz) começamos a demarcá-</p><p>-lo a partir do artigo definido. Há também outra possi-</p><p>bilidade de organização:</p><p>Exemplos:</p><p>— Então, como é o sítio?</p><p>— Bem, é um sítio antigo, retiramos a água do</p><p>poço, mas é bastante tranquilo...</p><p>Nesse segundo exemplo, a coerência textual é</p><p>definida quando é apresentado um substantivo defini-</p><p>do que nosso interlocutor conhece. Para satisfazer a de-</p><p>manda de explicação, o interlocutor abre sua explicação</p><p>marcando o substantivo com artigo indefinido.</p><p>substAntivos</p><p>É a classe de palavras variável que dá nome aos</p><p>seres, objetos e coisas em geral.</p><p>Classificação</p><p>§ Próprios: nomeiam a totalidade dos seres de</p><p>uma espécie (designação genérica) ou o indivíduo</p><p>único de determinada designação específica.</p><p>Exemplos: Paulo; Pedro; Roma; Folha de S.Paulo.</p><p>§ Comuns: nomeiam, sem distinção, todo e</p><p>qualquer ser de uma espécie.</p><p>Exemplos: cadeira; porta; sala.</p><p>§ Concretos: nomeiam os seres de existência</p><p>concreta, real, palpável (a pedra ou a porta, por</p><p>exemplo) e também seres dos quais já se cons-</p><p>tituiu uma imagem histórica (a bruxa ou a fada,</p><p>por exemplo).</p><p>§ Abstratos: nomeiam sentimentos/sensações,</p><p>elementos não palpáveis.</p><p>Exemplos: maldade; compaixão; beijo.</p><p>21</p><p>Flexões de substantivos</p><p>Número</p><p>Os substantivos podem se flexionar por núme-</p><p>ro, indicando quantidades de certos termos/elementos.</p><p>Existe, a princípio, uma regra geral, e também algumas</p><p>variantes que são apresentadas a seguir:</p><p>§ Regra geral: o plural dos substantivos termina-</p><p>dos em vogal ou ditongo exige o acréscimo do</p><p>sufixo marcador de plural “–s”.</p><p>Exemplos: cadeira > cadeiras;</p><p>mãe > mães; perna > pernas.</p><p>§ Substantivos terminados em ”–ão”</p><p>1. Fazem o plural em “–ãos”.</p><p>Exemplos: cidadão > cidadãos;</p><p>irmão > irmãos; órgão > órgãos.</p><p>2. Fazem o plural em “–ães”.</p><p>Exemplos: escrivão > escrivães;</p><p>cão > cães; alemão > alemães.</p><p>3. Fazem o plural em “–ões”.</p><p>Exemplos: canção > canções;</p><p>gavião > gaviões; botão > botões.</p><p>§ Substantivos terminados em consoantes</p><p>1. “r“, “z“ e “n“ fazem o plural em “–es“.</p><p>Exemplos: mar > mares; rapaz > rapazes.</p><p>2. Substantivos oxítonos terminados em “–s“ e</p><p>“–z“ fazem o plural em “–es“.</p><p>Exemplos: país > países; raiz > raízes.</p><p>3. Substantivos paroxítonos terminados em “–s“</p><p>são invariáveis.</p><p>Exemplos: atlas > atlas; lápis > lápis.</p><p>4. Substantivos terminados em “–al“, “–el“, “–</p><p>ol“ e “–ul“ substituem no plural o “–l“ por</p><p>“–is“.</p><p>Exemplo: animal > animais.</p><p>5. Substantivos oxítonos terminados em “–il“</p><p>fazem o plural em “–s“.</p><p>Exemplos: ardil > ardis; funil > funis.</p><p>6. Substantivos paroxítonos terminados em “–</p><p>il“ fazem o plural em “–eis“.</p><p>Exemplos: fóssil > fósseis.</p><p>Gênero</p><p>Os substantivos podem se flexionar também</p><p>por gênero, indicando quantidades de certos termos/</p><p>elementos. Também existe uma regra geral e algumas</p><p>variantes a serem observadas:</p><p>§ Regra geral: o feminino dos substantivos é</p><p>formado pela substituição da desinência “-o”</p><p>(masculino) pela desinência “–a” (feminino).</p><p>São conhecidos como substantivos biformes,</p><p>pois possuem duas formas diferentes para de-</p><p>signação de gênero.</p><p>Exemplos: menino > menina; garoto > garota.</p><p>Há também substantivos biformes formados por</p><p>radicais diferentes.</p><p>Exemplos: homem > mulher; cavalheiro > dama.</p><p>§ Substantivos uniformes: são aqueles que</p><p>apresentam uma única forma para marcação de</p><p>gênero:</p><p>1. Epicenos: usados para nomes de animais de</p><p>um gênero só que designam ambos os sexo.</p><p>Exemplos: a águia; a mosca; o condor;</p><p>o gavião.</p><p>Observação</p><p>Caso haja necessidade de especificar</p><p>o sexo do animal, juntam-se aos substanti-</p><p>vos os adjetivos macho ou fêmea:</p><p>Exemplos:</p><p>gavião macho > gavião fêmea;</p><p>tatu macho > tatu fêmea.</p><p>2. Comum de dois: a marcação de gênero é</p><p>feita exclusivamente pelos artigos. O substan-</p><p>tivo se mantém.</p><p>Exemplos: o agente > a agente;</p><p>o gerente > a gerente.</p><p>3. Sobrecomuns: designam ambos os sexos</p><p>com forma masculina ou feminina.</p><p>Exemplos: a criança; a testemunha; a vítima.</p><p>4. Flexão de grau: os substantivos se flexio-</p><p>nam por grau, e marcam aumento ou dimi-</p><p>nuição:</p><p>Grau normal: homem; boca.</p><p>Grau aumentativo: homenzarrão; bocarra.</p><p>Grau diminutivo: homenzinho; boquinha.</p><p>22</p><p>Grau diminutivo / aumentativo sintéti-</p><p>co: chapeuzinho, chapelão; homúnculo, ho-</p><p>menzarrão; boquinha, bocarra.</p><p>Grau diminutivo / aumentativo analí-</p><p>tico (junta-lhe um adjetivo que indique au-</p><p>mento ou diminuição): boca grande; homem</p><p>pequeno.</p><p>Adjetivos</p><p>É a palavra que acompanha e modifica o subs-</p><p>tantivo, podendo caracterizá-lo ou qualificá-lo.</p><p>Nomes substantivos e</p><p>nomes adjetivos</p><p>No contexto de uma frase, é possível identificar</p><p>palavras de outras classes, entre elas os adjetivos, que</p><p>se transformam em nomes (substantivos) desde que</p><p>precedidas de um artigo. Exemplos: o jovem desem-</p><p>pregado; um desempregado jovem.</p><p>§ Adjetivos pátrios e gentílicos</p><p>Derivados de substantivos, os adjetivos que in-</p><p>dicam a nacionalidade de pessoas e coisas são</p><p>chamados pátrios. Exemplos: brasileiro; minei-</p><p>ro; paranaense; paulista; português.</p><p>Os que indicam etnias e povos são os adjetivos</p><p>gentílicos. Exemplos: israelita; semita; gaúcho;</p><p>carioca; potiguar; europeu; africano.</p><p>§ Adjetivos pátrios compostos</p><p>Exemplos: luso-brasileiro; euro-asiático; teuto-</p><p>-brasileiro; afro-americano; franco-suíço; hispa-</p><p>no-americano; austro-húngaro; indo-europeu,</p><p>anglo-americano.</p><p>Flexão do adjetivo</p><p>§ Número: o adjetivo toma a forma singular ou</p><p>plural do substantivo que ele determina.</p><p>Exemplos: aluno estudioso > alunos estudiosos;</p><p>aluna aplicada > alunas aplicadas;</p><p>perfume francês > perfumes franceses.</p><p>§ Plural dos adjetivos compostos: apenas o</p><p>último elemento vai para o plural.</p><p>Exemplos: clínicas médico-dentárias; institutos</p><p>ítalo-brasileiros.</p><p>Observação 1</p><p>Há uma exceção: surdo-mudo > surdos-mudos.</p><p>Observação 2</p><p>São invariáveis os adjetivos referentes a cores,</p><p>se o último elemento ou ambos forem substanti-</p><p>vos: blusas vermelho-sangue; vestidos cor de rosa;</p><p>blusas verde-limão.</p><p>Grau dos adjetivos</p><p>§ Comparativo: indica determinada qualidade</p><p>em grau igual, superior ou inferior a outra.</p><p>Exemplos:</p><p>Pedro é tão estudioso como (ou quanto) Rodrigo.</p><p>Pedro é mais estudioso que Rodrigo.</p><p>Pedro é menos estudioso que Rodrigo.</p><p>§ Superlativo: pode indicar determinada quali-</p><p>dade em grau elevado (superlativo absoluto).</p><p>Exemplos:</p><p>Pedro é inteligentíssimo.</p><p>Rodrigo é muito inteligente.</p><p>Pode indicar determinada qualidade em grau</p><p>mais ou menos elevado em comparação à totali-</p><p>dade dos seres (superlativo relativo).</p><p>Exemplos:</p><p>João é o aluno mais estudioso da classe. (su-</p><p>perlativo relativo de superioridade)</p><p>João é o aluno menos estudioso da classe.</p><p>(superlativo relativo de inferioridade)</p><p>substAntivos e Adjetivos</p><p>AplicAdos Ao texto</p><p>Tanto os substantivos quanto os adjetivos têm im-</p><p>portantíssimas aplicações textuais, que serão exploradas</p><p>em gêneros textuais variados. Vejamos como funcionam...</p><p>Substantivo e texto</p><p>A construção de um texto depende essencial-</p><p>mente dos substantivos, pois é deles que parte o pro-</p><p>cesso de referencialidade. Entende-se por referencia-</p><p>lidade a capacidade que os substantivos têm de apontar</p><p>23</p><p>para os elementos do mundo que compõem sentido, e</p><p>também de fazer com que esses sentidos sejam cons-</p><p>truídos à medida que novos substantivos apareçam no</p><p>texto. O movimento de referencialidade parte de três</p><p>pressupostos importantes:</p><p>§ Introdução/construção: apresenta um subs-</p><p>tantivo no texto, não apenas o introduz, como</p><p>constitui uma ideia. É a partir desse substantivo</p><p>que o texto se constrói.</p><p>§ Retomada/manutenção: usam-se outros subs-</p><p>tantivos muito similares ao primeiro, que permi-</p><p>tem retomar a ideia inicialmente apresentada (o</p><p>que contribui para a manutenção de sentido)</p><p>§ Desfocalização: é o momento do texto em que</p><p>entram em cena novos substantivos que tomam</p><p>o foco para si e ampliam os sentidos do texto.</p><p>Adjetivo e texto</p><p>Os adjetivos exercem o importante papel de con-</p><p>duzir os processos descritivos de um texto. Em termos</p><p>mais claros, os adjetivos são responsáveis por compor</p><p>sentenças que, por exemplo, caracterizem os persona-</p><p>gens de uma narrativa (suas roupas, atitudes) ou que</p><p>apresentem detalhes a respeito de uma localização</p><p>(detalhes de uma cidade, ou ambiente florestal), entre</p><p>outras caracterizações. Em textos literários brasileiros</p><p>do período romântico, por exemplo, havia a necessida-</p><p>de de se evidenciar características que valorizassem a</p><p>nação, por esse motivo encontramos obras em que há</p><p>grandes processos de adjetivação, caracterizando o am-</p><p>biente brasileiro (o livro Iracema, de José de Alencar, é</p><p>um grande exemplo).</p><p>INTERDISCIPLINARIDADE</p><p>Canção: Esse cara (Caetano Veloso)</p><p>A canção, em seu refrão, recorre às propriedades semânti-</p><p>cas do emprego dos artigos: “Ele é o homem</p><p>Eu sou apenas uma mulher”.</p><p>ESSE CARA</p><p>Ah! Que esse cara tem me consumido</p><p>A mim e a tudo que eu quis</p><p>Com seus olhinhos infantis</p><p>Como os olhos de um bandido</p><p>Ele está na minha vida porque quer</p><p>Eu estou pra o que der e vier</p><p>Ele chega ao anoitecer</p><p>Quando vem a madrugada ele some</p><p>Ele é quem quer</p><p>Ele é o homem</p><p>Eu sou apenas uma mulher</p><p>Canção: O nome das coisas (Karnak)</p><p>A canção é composta por substantivos de diferentes naturezas.</p><p>Nomes se dão às coisas</p><p>Nomes se dão</p><p>Nomes se dão às pessoas</p><p>Nomes se dão</p><p>Nomes se dão aos deuses na imensidão do céu</p><p>Nomes se dão aos barquinhos na imensidão do mar</p><p>Nomes se dão às doenças na imensidão da dor</p><p>Nomes se dão às crianças na imensidão do amor</p><p>You and me</p><p>Salame</p><p>Batata</p><p>Barata</p><p>Bigorna</p><p>Casa</p><p>Comida</p><p>Bicho</p><p>Paçoca</p><p>Tampinha de caneta</p><p>Bolinha de sabão</p><p>Rabo de galo</p><p>Circo</p><p>Pão</p><p>Conchinha de galinha</p><p>Coxinha do mar</p><p>Linha</p><p>Palito</p><p>Terra</p><p>Água</p><p>Ar</p><p>Seriema</p><p>Tatu</p><p>Merthiolate</p><p>Saci</p><p>Rocambole de laranja</p><p>Revista</p><p>Gibi</p><p>Pipoca</p><p>Margarina</p><p>INTERATIVIAA DADE</p><p>LER</p><p>No primeiro, o autor trabalha com os sentidos das palavras “autor” e</p><p>“defunto” em diferentes classes gramaticais.</p><p>Capítulo I - ÓBITO DO AUTOR</p><p>Algum tempo hesitei se devia estas memórias pelo princípio ou pelo �m, isto</p><p>é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto</p><p>o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me leveram</p><p>a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um</p><p>autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a</p><p>segunda é que o escrito �caria assim mais galante e mais novo. Moisés, que</p><p>também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença</p><p>radical este livro e o Pentateuco.</p><p>2424</p><p>INTERDISCIPLINARIDADE</p><p>Canção: Esse</p><p>cara (Caetano Veloso)</p><p>A canção, em seu refrão, recorre às propriedades semânti-</p><p>cas do emprego dos artigos: “Ele é o homem</p><p>Eu sou apenas uma mulher”.</p><p>ESSE CARA</p><p>Ah! Que esse cara tem me consumido</p><p>A mim e a tudo que eu quis</p><p>Com seus olhinhos infantis</p><p>Como os olhos de um bandido</p><p>Ele está na minha vida porque quer</p><p>Eu estou pra o que der e vier</p><p>Ele chega ao anoitecer</p><p>Quando vem a madrugada ele some</p><p>Ele é quem quer</p><p>Ele é o homem</p><p>Eu sou apenas uma mulher</p><p>Canção: O nome das coisas (Karnak)</p><p>A canção é composta por substantivos de diferentes naturezas.</p><p>Nomes se dão às coisas</p><p>Nomes se dão</p><p>Nomes se dão às pessoas</p><p>Nomes se dão</p><p>Nomes se dão aos deuses na imensidão do céu</p><p>Nomes se dão aos barquinhos na imensidão do mar</p><p>Nomes se dão às doenças na imensidão da dor</p><p>Nomes se dão às crianças na imensidão do amor</p><p>You and me</p><p>Salame</p><p>Batata</p><p>Barata</p><p>Bigorna</p><p>Casa</p><p>Comida</p><p>Bicho</p><p>Paçoca</p><p>Tampinha de caneta</p><p>Bolinha de sabão</p><p>Rabo de galo</p><p>Circo</p><p>Pão</p><p>Conchinha de galinha</p><p>Coxinha do mar</p><p>Linha</p><p>Palito</p><p>Terra</p><p>Água</p><p>Ar</p><p>Seriema</p><p>Tatu</p><p>Merthiolate</p><p>Saci</p><p>Rocambole de laranja</p><p>Revista</p><p>Gibi</p><p>Pipoca</p><p>Margarina</p><p>25</p><p>INTERATIVIAA DADE</p><p>LER</p><p>No primeiro, o autor trabalha com os sentidos das palavras “autor” e</p><p>“defunto” em diferentes classes gramaticais.</p><p>Capítulo I - ÓBITO DO AUTOR</p><p>Algum tempo hesitei se devia estas memórias pelo princípio ou pelo �m, isto</p><p>é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto</p><p>o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me leveram</p><p>a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um</p><p>autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a</p><p>segunda é que o escrito �caria assim mais galante e mais novo. Moisés, que</p><p>também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença</p><p>radical este livro e o Pentateuco.</p><p>ESTRUTURA CONCEITUAL</p><p>GRAMÁTICA</p><p>NORMATIVA</p><p>MORFOLOGIA</p><p>CLASSE DAS</p><p>PALAVRAS</p><p>ESTUDO DOS PROCESSOS DE</p><p>FORMAÇÃO DE PALAVRAS</p><p>ARTIGO</p><p>PALAVRA VARIÁVEL</p><p>QUE SE ANTEPÕE</p><p>AO SUBSTANTIVO,</p><p>DETERMINANDO-O</p><p>ADJETIVO</p><p>PALAVRA VARIÁVEL</p><p>QUE ESPECIFICA</p><p>O SUBSTANTIVO,</p><p>CARACTERIZANDO-O</p><p>SUBSTANTIVO</p><p>PALAVRA VARIÁVEL QUE</p><p>DÁ NOME A SERES REAIS,</p><p>IMAGINÁRIOS OU IDEIAS</p><p>Lentilha</p><p>Leitão</p><p>Carrinho de feira</p><p>Terremoto</p><p>Furacão</p><p>Centopeia</p><p>Isqueiro</p><p>Cefaleia</p><p>Blefarite</p><p>Cimento</p><p>Colar</p><p>Risole</p><p>Rinite</p><p>Armário</p><p>Geladeira</p><p>Furadeira</p><p>Cobertor</p><p>Ladeira</p><p>Pedreira</p><p>Fogueira</p><p>Extintor</p><p>Jeton</p><p>Bazuca</p><p>Suporte</p><p>Argamassa</p><p>Fio de nylon</p><p>Lamparina</p><p>Chocolate</p><p>Queratina</p><p>Juliana</p><p>Cadarço</p><p>Picareta</p><p>Beija-�or</p><p>Convidados</p><p>Es�ha</p><p>Chupeta</p><p>Fruta-cor</p><p>Trompete</p><p>Arame</p><p>Hepatite</p><p>Fax-símile</p><p>Chocalho</p><p>Geleia</p><p>Biga</p><p>Mocreia</p><p>Apolo</p><p>Nostradamus</p><p>Filarmônica</p><p>Marisa</p><p>Biriba</p><p>Pelé</p><p>Afrodite</p><p>José</p><p>Filho</p><p>Veleiro</p><p>Alá</p><p>Deus</p><p>Salomão</p><p>Peixe</p><p>Pão</p><p>26</p><p>ESTRUTURA CONCEITUAL</p><p>GRAMÁTICA</p><p>NORMATIVA</p><p>MORFOLOGIA</p><p>CLASSE DAS</p><p>PALAVRAS</p><p>ESTUDO DOS PROCESSOS DE</p><p>FORMAÇÃO DE PALAVRAS</p><p>ARTIGO</p><p>PALAVRA VARIÁVEL</p><p>QUE SE ANTEPÕE</p><p>AO SUBSTANTIVO,</p><p>DETERMINANDO-O</p><p>ADJETIVO</p><p>PALAVRA VARIÁVEL</p><p>QUE ESPECIFICA</p><p>O SUBSTANTIVO,</p><p>CARACTERIZANDO-O</p><p>SUBSTANTIVO</p><p>PALAVRA VARIÁVEL QUE</p><p>DÁ NOME A SERES REAIS,</p><p>IMAGINÁRIOS OU IDEIAS</p><p>27</p><p>Lentilha</p><p>Leitão</p><p>Carrinho de feira</p><p>Terremoto</p><p>Furacão</p><p>Centopeia</p><p>Isqueiro</p><p>Cefaleia</p><p>Blefarite</p><p>Cimento</p><p>Colar</p><p>Risole</p><p>Rinite</p><p>Armário</p><p>Geladeira</p><p>Furadeira</p><p>Cobertor</p><p>Ladeira</p><p>Pedreira</p><p>Fogueira</p><p>Extintor</p><p>Jeton</p><p>Bazuca</p><p>Suporte</p><p>Argamassa</p><p>Fio de nylon</p><p>Lamparina</p><p>Chocolate</p><p>Queratina</p><p>Juliana</p><p>Cadarço</p><p>Picareta</p><p>Beija-�or</p><p>Convidados</p><p>Es�ha</p><p>Chupeta</p><p>Fruta-cor</p><p>Trompete</p><p>Arame</p><p>Hepatite</p><p>Fax-símile</p><p>Chocalho</p><p>Geleia</p><p>Biga</p><p>Mocreia</p><p>Apolo</p><p>Nostradamus</p><p>Filarmônica</p><p>Marisa</p><p>Biriba</p><p>Pelé</p><p>Afrodite</p><p>José</p><p>Filho</p><p>Veleiro</p><p>Alá</p><p>Deus</p><p>Salomão</p><p>Peixe</p><p>Pão</p><p>Verbos: noções preliminares e</p><p>modos indicativo e subjuntivo</p><p>Competências</p><p>1 e 8</p><p>Habilidades</p><p>1, 2, 3, 4, 26 e 27</p><p>Ry</p><p>an</p><p>M</p><p>cG</p><p>ui</p><p>re</p><p>/P</p><p>ixa</p><p>ba</p><p>y</p><p>L</p><p>ENTRE LETRAS</p><p>C</p><p>05 06</p><p>Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para</p><p>sua vida.</p><p>H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.</p><p>H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.</p><p>H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.</p><p>H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.</p><p>Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras</p><p>culturas e grupos sociais.</p><p>H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.</p><p>H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.</p><p>H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.</p><p>H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.</p><p>Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da</p><p>identidade.</p><p>H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.</p><p>H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.</p><p>H11</p><p>Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para</p><p>diferentes indivíduos.</p><p>Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e</p><p>da própria identidade.</p><p>H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.</p><p>H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.</p><p>H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.</p><p>Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante</p><p>a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.</p><p>H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.</p><p>H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.</p><p>H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.</p><p>Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da</p><p>realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.</p><p>H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.</p><p>H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.</p><p>H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional</p><p>Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.</p><p>H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.</p><p>H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.</p><p>H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.</p><p>H24</p><p>Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,</p><p>chantagem, entre outras.</p><p>Competência</p><p>8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização</p><p>do mundo e da própria identidade.</p><p>H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.</p><p>H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.</p><p>H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.</p><p>Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida</p><p>pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,</p><p>às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.</p><p>H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.</p><p>H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem</p><p>31</p><p>Verbos</p><p>Verbo é a classe de palavras que, do ponto de vista semântico (morfológico), contém as noções de ação,</p><p>processo, estado, mudança de estado e manifestação de fenômenos da natureza. É variável e suas flexões marcam:</p><p>§ pessoa: indica o emissor, o destinatário ou o ser do qual se fala. Os pronomes pessoais do caso reto indi-</p><p>cam as pessoas do verbo – eu, tu, ele(a), nós, vós, eles(as);</p><p>§ número: indica se o sujeito gramatical está no singular ou no plural;</p><p>§ tempo: localiza a ação, o processo ou o estado em relação ao momento do enunciado. Os tempos verbais</p><p>são seis – pretérito mais-que-perfeito, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, futuro do pretérito, presente</p><p>e futuro (do presente);</p><p>§ modo: indica a atitude do emissor quanto ao fato por ele enunciado, que pode ser de certeza, dúvida,</p><p>temor, desejo, ordem etc. Os modos verbais são: indicativo, subjuntivo e imperativo (afirmativo e negativo);</p><p>§ voz: indica se o sujeito gramatical é agente, paciente ou, ao mesmo tempo, agente e paciente da ação.</p><p>Conjugações verbais</p><p>Conjugar um verbo compreende adicionar ao seu radical a vogal temática da conjugação ou classe a que</p><p>pertence mais os sufixos modo-temporal e número-pessoal que lhe são permitidos. Existem três conjugações ver-</p><p>bais na língua portuguesa:</p><p>§ 1a conjugação: indicada pela vogal temática –a– (amar, brincar, falar);</p><p>§ 2a conjugação: indicada pela vogal temática –e– (nascer, crescer, morrer);</p><p>§ 3a conjugação: indicada pela vogal temática –i– (dormir, sorrir, partir).</p><p>O verbo pôr e seus derivados são considerados de 2ª conjugação por conta de um processo fonológico que</p><p>suprimiu a vogal temática –e–. Em um estágio anterior da língua portuguesa, a sua forma era poer.</p><p>Classificação dos verbos</p><p>Verbos regulares</p><p>Os verbos regulares não sofrem alteração do radical e das desinências nos diferentes tempos, modos e</p><p>pessoas. O radical do verbo é obtido pela supressão das terminações do infinitivo (–r):</p><p>§ mand(ar), vend(er), part(ir);</p><p>§ mand(o), vend(o), part(o).</p><p>Verbos irregulares</p><p>Os verbos irregulares sofrem alteração do radical e das desinências nos diferentes tempos, modos e pessoas.</p><p>§ fazer: faço, faria, fazia;</p><p>§ estar: estou, estive, estarei;</p><p>§ saber: sei, soubera, saiba.</p><p>Verbos anômalos</p><p>Os verbos anômalos possuem diferentes radicais:</p><p>§ ser: sou, é, fomos;</p><p>§ ir: vou, fui, ia.</p><p>32</p><p>Verbos defectivos</p><p>Os verbos defectivos não possuem todas as formas:</p><p>§ reaver (composto de haver, tem apenas as for-</p><p>mas em “v“): reavemos, reavia, reaverá;</p><p>§ precaver: precavenho, precavenha, precavinha;</p><p>§ latir: lates, late, latimos;</p><p>§ colorir: colores, colore, colorimos, coloris.</p><p>Observação</p><p>Entre os verbos defectivos estão incluídos os</p><p>chamados verbos impessoais, usados apenas na</p><p>terceira pessoa do singular: chover, trovejar, ventar,</p><p>haver (existir), fazer (refere-se ao clima: faz frio; ao</p><p>tempo: faz dez anos).</p><p>Verbos auxiliares</p><p>Os verbos auxiliares formam os tempos compos-</p><p>tos ou locuções verbais com os verbos principais:</p><p>§ ser (pago);</p><p>§ estar (curado);</p><p>§ ter (estudado);</p><p>§ haver (prometido).</p><p>Verbos abundantes</p><p>Os verbos abundantes apresentam mais de uma</p><p>forma, especificamente de particípio:</p><p>§ cozido e cozinhado;</p><p>§ morto e morrido;</p><p>§ imprimido e impresso.</p><p>Os particípios abundantes são classificados</p><p>em regulares e irregulares.</p><p>a) As formas regulares terminadas em –ado e</p><p>–ido, não contraídas, acompanham os ver-</p><p>bos auxiliares ter e haver.</p><p>Ele já havia pagado a dívida.</p><p>Tínhamos aceitado o convite.</p><p>b) As formas irregulares, contraídas, acompa-</p><p>nham os verbos auxiliares ser e estar.</p><p>O feijão foi cozido na panela de pressão.</p><p>A lâmpada foi acesa.</p><p>Formas nominais do verbo</p><p>O infinitivo, o particípio (regular e irregular) e o ge-</p><p>rúndio são chamados formas nominais do verbo porque</p><p>podem funcionar como nomes – substantivo, adjetivo.</p><p>§ Infinitivo</p><p>O comer demais faz mal. (substantivo)</p><p>O viver é bom. (substantivo)</p><p>§ Gerúndio</p><p>Ela bebeu chá fervendo. (advérbio)</p><p>Fervendo, desligue. (advérbio)</p><p>§ Particípio</p><p>Problema resolvido. (adjetivo)</p><p>A feira foi inaugurada. (adjetivo)</p><p>O parque foi inaugurado. (adjetivo)</p><p>Locução verbal</p><p>A locução verbal é a expressão constituída por</p><p>verbo (ou verbos auxiliares) seguido do verbo principal.</p><p>§ A Europa vem sendo desgastada pela crise.</p><p>O verbo auxiliar “vem” designa a pessoa e o nú-</p><p>mero do sujeito “Europa”, bem como o tempo verbal</p><p>designado pelo verbo principal “desgastada” – presen-</p><p>te do indicativo. O verbo principal está na voz passiva</p><p>(ser desgastada).</p><p>§ Hei de fazer algo mais legal.</p><p>Trata-se de uma locução verbal constituída pelo</p><p>auxiliar “hei” e o infinitivo impessoal “fazer”, antecedi-</p><p>do da preposição “de”.</p><p>§ Andam falando que tudo aquilo foi falso.</p><p>O gerúndio “falando” ou o infinitivo impessoal,</p><p>precedido da preposição “a” confere à locução ideia de</p><p>continuidade, de frequência, reiteração de ação.</p><p>Modos verbais</p><p>Quando lemos, falamos ou escrevemos, posicio-</p><p>namo-nos em um determinado tempo. No momento do</p><p>enunciado, os verbos ocorrem (presente), ocorreram (pas-</p><p>sados) ou ocorrerão (futuro), dependendo no modo verbal.</p><p>Tempos do modo indicativo</p><p>1. Presente</p><p>§ Indica processo no momento da fala.</p><p>Faço minhas escolhas. (atualmente, agora)</p><p>33</p><p>§ Indica processo habitual, constante, fato real,</p><p>verdade.</p><p>Ela cumpre seus acordos. (ação habitual)</p><p>§ Indica processo ocorrido até o momento da</p><p>declaração.</p><p>Moro com meus colegas.</p><p>§ Em narrativas históricas (presente histórico),</p><p>em lugar do pretérito perfeito.</p><p>Colombo chega à América e, em 1492, con-</p><p>quista o Novo Mundo.</p><p>§ Em acontecimento próximo no lugar do futuro.</p><p>Não posso almoçar contigo amanhã.</p><p>§ Em expressões condicionais (se...), em lugar</p><p>do subjuntivo.</p><p>Se tudo corre bem, podemos viajar.</p><p>2. Pretérito perfeito</p><p>§ Indica um processo, algo já realizado, concluí-</p><p>do, terminado, sem necessidade de referência</p><p>à outra ação anterior nem contemporânea.</p><p>João saiu ontem.</p><p>Fiz as compras.</p><p>Cheguei.</p><p>§ Indica processo ocorrido antes da declaração</p><p>expressa pelo verbo.</p><p>Em 1939, Hitler invadiu a Polônia.</p><p>§ É frequente o emprego do pretérito perfeito</p><p>composto – presente do indicativo do verbo</p><p>auxiliar “ter“ ou “haver“ e particípio do ver-</p><p>bo principal.</p><p>Pode indicar ato habitual:</p><p>Eu tenho lido bastante.</p><p>Os alunos têm estudado muito.</p><p>Também pode indicar fato ocorrido até o mo-</p><p>mento da declaração:</p><p>Tenho comprado muitos carros iguais a este.</p><p>3. Pretérito imperfeito</p><p>§ Indica um processo ocorrido anteriormente</p><p>ao momento da declaração, mas contempo-</p><p>râneo a outro fato passado.</p><p>Eu ouvia samba, quando se deu o estouro.</p><p>Ele comia, quando da sua chegada.</p><p>§ É empregado para indicar processo em desen-</p><p>volvimento.</p><p>Eu dançava, quando ele entrou.</p><p>§ Indica processo em continuidade, habitual,</p><p>constante, frequente.</p><p>Eu residia nesta casa.</p><p>§ Indica processo idealizado, não</p><p>realizado.</p><p>Pretendíamos ir à Bahia, mas o frio repenti-</p><p>no não permitiu.</p><p>§ Como manifestação de cortesia, de polidez,</p><p>em lugar do presente do indicativo ou do im-</p><p>perativo.</p><p>Queria só um abraço.</p><p>§ Em lugar do futuro do pretérito do indicativo.</p><p>Se ele pagasse, já estávamos (em vez de</p><p>“estaríamos“) na França.</p><p>4. Pretérito mais-que-perfeito</p><p>§ Indica uma ação passada, um fato concluído</p><p>que aconteceu antes de outro fato (ambos</p><p>no passado).</p><p>O trem partira quando ele enfim chegou.</p><p>Ela estivera presente à toda reunião.</p><p>Ele dançara muito.</p><p>§ Em construções exclamativas.</p><p>Quem lhe dera tê-la nos braços naquela tarde!</p><p>§ Em lugar do pretérito imperfeito do subjuntivo.</p><p>Nadou como se estivera (estivesse) à beira</p><p>da morte.</p><p>§ É bastante frequente o emprego do mais-</p><p>-que-perfeito composto – imperfeito do ver-</p><p>bo auxiliar “ter“ ou “haver“ e particípio do</p><p>verbo principal.</p><p>Eu tinha falado bastante.</p><p>Já havia ocorrido o pior.</p><p>5. Futuro do pretérito</p><p>§ Exprime ação futura em relação ao passado,</p><p>ação que teria ocorrido em relação a um fato</p><p>já ocorrido no passado.</p><p>Eu iria, se você chegasse a tempo.</p><p>§ Designa ações posteriores à época em que</p><p>se fala.</p><p>Ainda ficaria. Esperaria a noite. (Marques</p><p>Rabelo)</p><p>§ Designa incerteza, probabilidade, dúvida, su-</p><p>posição sobre fatos passados.</p><p>Seriam mais ou menos dez horas quando</p><p>chegaram. (Lobato)</p><p>34</p><p>§ Forma polida de presente para denotar um</p><p>desejo.</p><p>Eu precisaria namorar aquela moça.</p><p>§ O futuro do pretérito composto expresso –</p><p>verbo auxiliar “ter“ ou “haver“ no futuro do</p><p>pretérito e particípio do verbo principal.</p><p>Eu teria dito (diria) umas verdades a você.</p><p>§ Indica fato que teria acontecido no passado</p><p>mediante certa condição.</p><p>Teria sido diferente, se eu a amasse. (Ciro</p><p>dos Anjos)</p><p>§ Indica possibilidade de um fato passado.</p><p>Teria sido melhor não escrever nada. (Ruben</p><p>Braga)</p><p>§ Indica incerteza sobre fatos passados em cer-</p><p>tas frases interrogativas.</p><p>Ele só teria falado ou também...?</p><p>6. Futuro (do presente)</p><p>§ Indica a ação ainda não ocorrida, mas já de-</p><p>clarada pelo verbo.</p><p>Ora (direis) ouvir estrelas!/ (...) E eu vos di-</p><p>rei: amai para entendê-las! (Olavo Bilac)</p><p>§ Empregado para indicar um fato aproximado</p><p>ou para enfatizar uma expressão.</p><p>Na África, quantos não estarão mortos de</p><p>fome!</p><p>§ Indica incerteza, probabilidade, dúvida, supo-</p><p>sição.</p><p>Há uma várzea em meu sonho, mas não sei</p><p>onde será. (Augusto Meyer)</p><p>§ Indica fatos de realização provável.</p><p>Vem, dizia ele na última carta; se não vieres</p><p>depressa, acharás tua mãe morta. (Machado</p><p>de Assis)</p><p>§ Como forma polida, em vez do presente.</p><p>Mas como foi que aconteceram? E eu lhe di-</p><p>rei: sei lá, aconteceram: eis tudo. (Drummond)</p><p>§ É frequente o emprego do futuro do presente</p><p>composto – futuro do presente do verbo au-</p><p>xiliar “ter“ ou “haver“ e particípio do verbo</p><p>principal.</p><p>Quando você chegar, eu já terei ido.</p><p>§ Indica ação futura a ser consumada antes de</p><p>outra.</p><p>Quando o guarda chegar, já teremos fugido.</p><p>§ Indica possibilidade de um fato passado.</p><p>Terá passado o furacão dentro de oito dias?</p><p>§ Indica certeza de uma ação futura.</p><p>Se não voltarmos em algumas horas, tere-</p><p>mos perdido a oportunidade.</p><p>Tempos do modo subjuntivo</p><p>1. Presente</p><p>§ Expressa hipótese, desejo, suposição, dúvida.</p><p>Tomara que você tenha boas festas!</p><p>Bons ventos o levem!</p><p>2. Pretérito imperfeito</p><p>§ É empregado nas orações subordinadas da</p><p>oração principal, em que o verbo esteja no</p><p>pretérito imperfeito do indicativo.</p><p>Ela desejava que todos morressem.</p><p>Esperei que eles fizessem os trabalhos di-</p><p>reito.</p><p>Apreciaria que você me beijasse.</p><p>3. Pretérito mais-que-perfeito (composto)</p><p>§ Verbo auxiliar “ter“ ou “haver“ no pretérito</p><p>imperfeito do subjuntivo seguido do particí-</p><p>pio do verbo principal.</p><p>Imaginei que ele tivesse trazido a grana.</p><p>(Indica fato anterior a outro, ambos no pas-</p><p>sado.)</p><p>4. Futuro simples</p><p>§ Designa fato provável, eventualidade futura.</p><p>Quando ela vier, encontrará uma bagunça.</p><p>5. Futuro composto</p><p>§ Verbo auxiliar “ter“ ou “haver“ no futuro</p><p>do subjuntivo seguido do particípio do verbo</p><p>principal. Designa fato futuro como encerra-</p><p>do em relação a outro também no futuro.</p><p>Só deixarei esta casa, quando ele tiver tra-</p><p>zido todos os meus pertences.</p><p>Quando eu tiver encontrado o vestido, avi-</p><p>sarei a você.</p><p>35</p><p>ASSISTIR</p><p>INTERATIVIAA DADE</p><p>Vídeo Jornalista - Veja o uso do futuro do pretérito.</p><p>Fonte: Youtube</p><p>36</p><p>Letra e Música Por Você (Barão vermelho)</p><p>Por Você (Barão vermelho)</p><p>Por você</p><p>Eu dançaria tango no teto</p><p>Eu limparia</p><p>Os trilhos do metrô</p><p>Eu iria a pé</p><p>Do Rio a Salvador</p><p>Eu aceitaria</p><p>A vida como ela é</p><p>Viajaria a prazo</p><p>Pro inferno</p><p>Eu tomaria banho gelado</p><p>No inverno</p><p>Por você</p><p>Eu deixaria de beber</p><p>Por você</p><p>Eu ficaria rico num mês</p><p>Eu dormiria de meia</p><p>Pra virar burguês</p><p>Eu mudaria</p><p>Até o meu nome</p><p>Eu viveria</p><p>Em greve de fome</p><p>Desejaria todo o dia</p><p>A mesma mulher</p><p>Por você! Por você!</p><p>Por você! Por você!</p><p>Por você</p><p>Conseguiria até ficar alegre</p><p>Pintaria todo o céu</p><p>De vermelho</p><p>Eu teria mais herdeiros</p><p>Que um coelho</p><p>Eu aceitaria</p><p>A vida como ela é</p><p>Viajaria a prazo</p><p>Pro inferno</p><p>Eu tomaria banho gelado</p><p>No inverno</p><p>Eu mudaria</p><p>Até o meu nome</p><p>Eu viveria</p><p>Em greve de fome</p><p>Desejaria todo o dia</p><p>A mesma mulher</p><p>Por você! Por você!</p><p>Por você! Por você!</p><p>Eu mudaria</p><p>Até o meu nome</p><p>Eu viveria</p><p>Em greve de fome</p><p>Desejaria todo o dia</p><p>A mesma mulher</p><p>LER E OUVIR</p><p>37</p><p>REFLETIR</p><p>Poema / Poesia Epígrafe</p><p>Epígrafe</p><p>Sou bem nascido. Menino,</p><p>Fui, como os demais, feliz.</p><p>Depois, veio o mau destino</p><p>E fez de mim o que quis.</p><p>Veio o mau gênio da vida,</p><p>Rompeu em meu coração,</p><p>Levou tudo de vencida,</p><p>Rugiu como um furacão,</p><p>Turbou, partiu, abateu,</p><p>Queimou sem razão nem dó –</p><p>Ah, que dor!</p><p>Magoado e só,</p><p>– Só! – meu coração ardeu:</p><p>Ardeu em gritos dementes</p><p>Na sua paixão sombria...</p><p>E dessas horas ardentes</p><p>Ficou esta cinza fria.</p><p>– Esta pouca cinza fria...</p><p>(Manuel Bandeira, In: A cinza das horas, 1917)</p><p>Reflita sobre o emprego dos tempos verbais no poema de Manuel Bandeira. Qual relação semântica eles</p><p>estabelecem?</p><p>38</p><p>estrutura ConCeitual</p><p>MORFOLOGIA</p><p>VERBOS</p><p>VOZES</p><p>MODOS</p><p>INDICATIVO</p><p>TEMPOS</p><p>Pretérito</p><p>Futuro</p><p>Perfeito</p><p>Do presente</p><p>Do pretérito</p><p>Imperfeito</p><p>Mais-que-perfeito</p><p>SUBJUNTIVO IMPERATIVO</p><p>Presente</p><p>TEMPOS</p><p>Pretérito imperfeito</p><p>Futuro</p><p>Presente</p><p>Verbos: modo imperativo</p><p>e vozes verbais</p><p>Competências</p><p>1 e 8</p><p>Habilidades</p><p>1, 2, 3 e 27</p><p>te</p><p>rim</p><p>ak</p><p>as</p><p>ih</p><p>0/</p><p>Pi</p><p>xa</p><p>ba</p><p>y</p><p>L</p><p>ENTRE LETRAS</p><p>C</p><p>07 08</p><p>Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para</p><p>sua vida.</p><p>H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.</p><p>H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.</p><p>H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.</p><p>H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.</p><p>Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras</p><p>culturas e grupos sociais.</p><p>H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.</p><p>H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.</p><p>H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.</p><p>H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.</p><p>Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da</p><p>identidade.</p><p>H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.</p><p>H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das</p>