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<p>UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE DIREITO</p><p>GUILHERME HENRIQUE DOS REIS BARBOSA</p><p>A LEGÍTIMA DEFESA COMO CAUSA DE EXCLUDENTE DE ILICITUDE</p><p>SÃO PAULO 2024</p><p>GUILHERME HENRIQUE DOS REIS BARBOSA</p><p>A LEGÍTIMA DEFESA COMO CAUSA DE EXCLUDENTE DE ILICITUDE</p><p>Monografia apresentada à faculdade de Direito de São Paulo como parte dos requisitos para conclusão de curso em</p><p>/ /2024</p><p>Professor Orientador: Dra. Marcos Andreucci</p><p>SÃO PAULO 2024</p><p>GUILHERME HENRIQUE DOS REIS BARBOSA</p><p>A LEGÍTIMA DEFESA COMO CAUSA DE EXCLUDENTE DE ILICITUDE</p><p>Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado a Banca Examinadora da Universidade Paulista (UNIP), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Bacharel em Direito.</p><p>São	Paulo,</p><p>de	2024.</p><p>Aprovada em:	/	/</p><p>BANCA EXAMINADORA</p><p>/	/</p><p>Dr.</p><p>(Orientador-Unip) Universidade Paulista –UNIP</p><p>/	/</p><p>Prof. Universidade Paulista – UNIP</p><p>/	/</p><p>Prof. Universidade Paulista – UNIP</p><p>RESUMO</p><p>Este Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, aborda o tema: A Legítima Defesa como causa de Excludente de ilicitude, ou seja, o motivo pelo qual legislativamente a legítima defesa é excludente de crime no ordenamento jurídico. É abordado o conceito de excludente de ilicitude e da legítima defesa conforme entendimentos de doutrinadores e jurisprudência selecionada. A Legítima Defesa é um instituto jurídico conhecido popularmente, pois é presente em filmes, séries entre outros tipos de veículos de informação, porém muitos não sabem que para haver legítima defesa é necessário cumprir todos os requisitos exigidos legislativamente.</p><p>Palavras-Chave: Legítima-Defesa. Ordenamento Jurídico. Requisitos.</p><p>ABSTRACT</p><p>This Final Course Work - TCC, addresses the topic: Self-Defense as a cause of exclusion of unlawfulness, that is, the reason why, legislatively, self-defense is an exclusion of crime in the legal system. The concept of exclusion of unlawfulness and self-defense is addressed according to the understandings of doctrinaires and selected case law. Self-Defense is a popularly known legal institute, as it is present in films, series and other types of information vehicles, however many do not know that in order to have self-defense it is necessary to fulfill all the requirements required by law.</p><p>Keywords: Self-Defense. Legal System. Requirements.</p><p>SUMÁRIO</p><p>INTRODUÇÃO.............................................................................................</p><p>1.0 ILICITUDE...........................................................................................</p><p>1.1 Conceito de ilicitude.......................................................................</p><p>2.0 LEGÍTIMA DEFESA.............................................................................</p><p>2.1 Conceito...........................................................................................</p><p>2.2 Natureza Jurídica.............................................................................</p><p>2.3 Classificação de legítima defesa.......................................................</p><p>2.4 Agressão Injusta.............................................................................</p><p>2.5 Agressão atual ou iminente..........................................................</p><p>2.6 Agressão a direito própio ou alheio..............................................</p><p>2.7 Reação com os meios necessários................................................</p><p>2.8 Uso moderado dos meios necessários.......................................</p><p>3.0 CONCLUSÃO.................................................................................</p><p>4.0 BILBIOGRAFIA...............................................................................</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Este Trabalho de Conclusão de Curso- TCC, aborda o tema: ‘ A Legítima Defesa como causa de excludente de ilicitude’ , popularmente conhecida e mal interprestada a legítima defesa é um instituto jurídico muito famoso, por ser uma excludente de ilicitude, há uma força normativa no instituto única.</p><p>No Capítulo 1, trata-se do conceito de ilicitude, conforme o entendimento de diversos doutrinadores.</p><p>No Capítulo 2, refere-se</p><p>1.0 ILICITUDE</p><p>Neste capítulo será abordado o conceito de ílicito penal conforme entendimento de Guilherme de Souza Nucci, Cleber Mason, Miguel Reale Junior entre outros doutrinadores.</p><p>1.1 Conceito de ilicitude</p><p>Guilherme de Souza Nuci leciona: O conceito de antijuridicidade ou ilicitude é um dos que, na teoria do crime, se aproxima a quase todas as tendências, as tendências causalistas e as funcionalistas. Somente a teoria dos elementos negativos do tipo a inclui no tipo-total de injusto, unindo tipo e ilicitude em um só, resultando o crime como um fato típico (abrangente da ilicitude) e culpávelx.</p><p>Para existir um crime conforme a teoria tripartida, é necessário que a conduta seja típica, antijurídica(ilícita) e culpável. Essa teoria é majoritariamente adotada no Brasil. Para a Teoria Tripartida todos os elementos são necessariamente cumulativos para a configuração do delito, ou seja, qualquer elemento excluído, será descaracterizado o crime.</p><p>Conforme Cleber Masson: ‘A teoria final ou finalista Foi criada por Hans Welzel, jusfilósofo e penalista alemão, no início da década de 30 do século passado. Posteriormente, teve grande acolhida no Brasil, compartilhando de seus ideais ilustres penalistas, como Heleno Cláudio Fragoso, René Ariel Dotti, Damásio E. de Jesus, Julio Fabbrini Mirabete e Miguel Reale Júnior’x.</p><p>Para a teoria finalista, a conduta é o comportamento humano, consciente e voluntário, dirigido a um fim.O seu nome finalista, leva em conta a finalidade do agente. Não desprezou os requisitos da teoria clássica. Ao contrário, preservou-os, a eles acrescentando a nota da finalidade.</p><p>Uma conduta pode ser contrária ou conforme ao Direito, dependendo do elemento subjetivo do agente. Exceto, dolo e culpa, que na teoria clássica residiam na culpabilidade, foram deslocados para o interior da conduta, e, portanto, para o fato típico. Formou-se, assim, uma culpabilidade vazia, desprovida do dolo e da culpa.</p><p>No sistema finalista existe crime quando tem, fato típico, Ilícito e culpável. Vejamos abaixo os elementos presentes em cada item: Fato Típico: deve ser conduta, sendo essa conduta dolosa ou culposa, da conduta vai ter o resultado naturalístico, este resultado deve ter o nexo de causalidade, que é um condão que liga ao crime, e por último a tipicidade.</p><p>X NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal. Vol.1. Parte Geral arts.10 a 120 do Código Penal. Ed 8. Editora Forense. São Paulo. 2024.</p><p>X MASSON, Cleber. Direito Penal, Parte geral Arts.10 A 120. Ed 18. Editora Método. São Paulo. 2024.</p><p>No próximo elemento a ilicitude, é abordada as excludentes de ilicitude: Estado de necessidade, Legítima Defesa, Estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do direito.</p><p>E no último item culpabilidade/fato culpável: imputabilidade, potencial consciência de ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.</p><p>Cleber Masson leciona: Desta forma, o partidário do finalismo penal pode adotar um conceito analítico de crime tripartido ou bipartido, conforme repute a culpabilidade como elemento do crime ou pressuposto de aplicação da penax.</p><p>O art. 386, inc. VI, do Código de Processo Penal, com a redação conferida pela Lei 11.690/2008:</p><p>“Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: (…)</p><p>VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1.º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência”.</p><p>A parte final do dispositivo legal,</p><p>“ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência” é nítida a sintonia com a teoria da tipicidade como indício da ilicitude. A tipicidade do fato funciona como presunção da ilicitude, uma vez que a absolvição reclama “fundada dúvida” acerca da causa excludente da ilicitude.</p><p>Cuida-se, na verdade, de manifestação do princípio in dubio pro reo (a dúvida favorece o réu, pois o ônus da prova da imputação é da acusação), há muito consagrado nos ordenamentos jurídicos dos povos civilizados.</p><p>Em razão da sua compreensão como direito natural, a legítima defesa sempre foi aceita por praticamente todos os sistemas jurídicos, ainda que muitas vezes não prevista expressamente em lei, constituindo-se, dentre todas, na causa de exclusão da ilicitude mais remota ao longo da história das civilizações.</p><p>De fato, o Estado avocou para si a função jurisdicional, proibindo as pessoas de exercerem a autotutela, impedindo-as de fazerem justiça pelas próprias mãos. Seus agentes não podem, contudo, estar presentes simultaneamente em todos os lugares, razão pela qual o Estado autoriza os indivíduos a defenderem direitos em sua ausência, pois não seria correto deles exigir a instantânea submissão a um ato injusto para, somente depois, buscar a reparação do dano perante o Poder Judiciário.</p><p>X MASSON, Cleber. Direito Penal, Parte geral Arts.10 A 120. Ed 18. Editora Método. São Paulo. 2024.</p><p>2.0 LEGÍTIMA DEFESA</p><p>Neste capítulo será abordado o conceito de excludente de ilicitude,</p><p>2.1 Conceito</p><p>Miguel Reale JR, Et al, leciona: Há uma situação de legítima defesa se presentes, na realidade, os seguintes dados: agressão injusta atual ou iminente, a direito do agente ou de outrem, repelida com o uso moderado dos meios necessáriosx.</p><p>A legítima defesa apresenta dois lados, um objetivo e outro subjetivo: a licitude de uma ação cometida em legítima defesa decorrerá da presença objetiva dos requisitos indispensáveis exigidos em lei, para que se conclua, sob o aspecto subjetivo, que o agente não atuou com menosprezo ao valor ínsito ao bem jurídico atingido, mas em proteção a outro valor igualmente tutelado.</p><p>Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.</p><p>Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.</p><p>Para a caracterização da legítima defesa descrita acima, há os julgados abaixo:</p><p>Porte de arma de uso permitido. Absolvição. Admissibilidade. Provas que demonstram ter o réu agido em resposta à injusta agressão a sua sobrinha. Legítima defesa caracterizada. Apelo provido para absolver o acusado, nos termos do art. 386, VI, do CPP. Do voto do Relator: “José admitiu, quando inquirido, que portava a arma, apesar de não possuir permissão para tanto (fls. 98). Tal afirmativa é confirmada pelo depoimento da testemunha Gerciane (fls. 96), sua sobrinha, que afirmou que um homem alcoolizado, apenas de cueca e portando um pau invadiu sua casa. Ela clamou por socorro e seu irmão conseguiu imobilizar o invasor, tendo eles então chamado pelo apelante que surgiu portando a arma. É dizer, encerrada a instrução, restou cabalmente demonstrado que a sobrinha do apelante estava na iminência de sofrer agressão injusta, em razão do que o apelante se armou, sem contudo efetuar disparos, com a intenção de auxiliar na imobilização do agressor. Portanto, dúvidas não há, no caso dos autos, sobre a incidência da excludente de ilicitude, respeitados doutos entendimentos em sentido diverso, sendo que o réu valeu-se dos meios necessários e com moderação para repelir a injusta agressão”x.</p><p>No caso supracitado acima houve absolvição do réu por configurar a legítima defesa, conforme o art. 386, VI, do CPP, conforme mencioado abaixo, in verbis:</p><p>Art. 386.  O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:</p><p>VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena, ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência;</p><p>X JUNIOR, Miguel Reale, et al. Código Penal Comentado. Ed 2. Saraiva Jur. São Paulo. 2023.</p><p>X TJSP, Ap. n. 990.09.276305-9, 16ª Câm. de Dir. Crim., rel. Des. Otávio de Almeida Toledo, j. 22.01.2013</p><p>Cleber Masson leciona: ‘O instituto da legítima defesa é inerente à condição humana. Acompanha o homem desde o seu nascimento, subsistindo durante toda a sua vida, por lhe ser natural o comportamento de defesa quando injustamente agredido por outra pessoa’x.</p><p>Como argumenta Galdino Siqueira: Tão visceralmente ligada à pessoa se manifesta a defesa, isto é, a faculdade de repelir pela força o ataque no momento em que se produz, que CÍCERO, na sua oração – Pro Milone, a reputa como um direito natural, derivado da necessidade – non scripta sed nata lex, proposição verdadeira, se considerarmos o substratum fisiológico e psicológico da defesa, como reação do instinto de conservação que brota e se desenvolve independente de qualquer regulamentaçãox.</p><p>2.2 Natureza Jurídica</p><p>Como se extrai do art. 23, II, do Código Penal, a legítima defesa é causa de exclusão da ilicitude. Destarte, o fato típico praticado em legítima defesa é lícito. Não configura crime.</p><p>2.2 Classificação da Legítima Defesa</p><p>Para a Caracterização da Legítima Defesa própia, conforme jurisprudeñcia abaixo:</p><p>Homicídio. Legítima defesa própria. Reconhecimento. Absolvição sumária. Excesso na repulsa. Inocorrência. 1. Age em legítima defesa aquele que, usando moderadamente dos meios que dispunha, afasta agressão injusta, atual e eminente, em defesa da própria vida. 2. Na agressão injusta, atual e eminente não provocada, não há que se falar em excesso na repulsa, pois a moderação defensiva deve ser analisada levando em consideração a situação fática e condição psicológica daquele que se viu injustamente agredido. 3. Recurso não provido. Do voto do Relator: “Dos depoimentos prestados, percebe-se claramente que a conduta do apelado Lourival de Jesus Pereira foi a de preservar a sua integridade física, pois a vítima, tida como valentão temido por muitos nas redondezas, tentou agredi-lo com golpes de foice. Com relação às alegações de que houve excesso na conduta do recorrido, entendo que as mesmas não merecem prosperar. Ora, ainda que não se saiba a quantidade certa de golpes efetuados pelo acusado contra a vítima, a meu ver, o mesmo fez uso dos meios necessários para repelir a injusta agressão, atuando até o ponto de se cessarem as agressões contra sua pessoa, preenchendo, portanto, os requisitos da legítima defesa. Ademais, na agressão injusta, atual e eminente, não provocada não há que se falar em excesso na repulsa, pois a moderação defensiva deve ser analisada levando em consideração a situação fática e condição psicológica daquele que se viu injustamente agredido. Não bastasse isso, acrescente-se, que de acordo com as testemunhas ouvidas, a vítima possuía comportamento violento, se envolvia constantemente em brigas, era temido pelos moradores do bairro, sendo que, quando fazia uso de bebidas alcoólicas, sempre fazia ameaças às pessoas dizendo que era ex-presidiário e que já havia matado várias pessoas, o que causava certo temor naquelas. [...] Dessa forma, pode-se concluir pela razoabilidade do ato praticado pelo acusado, pautado na legítima defesa, posto que se utilizou do único meio de defesa disponível no momento das agressões”.</p><p>X MASSON, Cleber. Direito Penal, Parte geral Arts.10 A 120. Ed 18. Editora Método. São Paulo. 2024.</p><p>X SIQUEIRA, Galdino. Tratado de direito penal. Parte geral. Rio de Janeiro: José Konfino, 1947. t. I, p. 314.</p><p>X TJMG, Rec. em Sentido Estrito n. 1.0231.99.001946-6/001, 3ª Câm. Crim., rel. Des. Antônio Armando dos Anjos, j. 25.01.2011.</p><p>Recurso em sentido estrito. Homicídio simples. Pronúncia. Pretendida absolvição sumária. Excludente de ilicitude da legítima defesa própria e de terceiro. Acolhimento. Recurso</p><p>provido para absolver a acusada, com fundamento no art. 386, VI, do CPP. 1. Extrai-se dos autos, indene de dúvidas, a existência de todos os requisitos ensejadores da legítima defesa, concatenada no art. 25, do CP, daí, porque, impõe-se a absolvição sumária. Do voto do Relator: “A versão de que a acusada viu que a vítima estava tentando violentar sua afilhada Gabriela, pois estava com as calças abaixadas e a segurava por trás, levou-a a cessar a iminente violência sexual, pulando na vítima, tendo esta passado a lhe agredir e jogando-a contra o sofá. A acusada, por sua vez, com o intuito de se defender das investidas da vítima, utilizou-se do meio que dispunha no momento, que era um revólver e que estava sobre o sofá, efetuando disparos contra a vítima até cessar a agressão. O CP Brasileiro, em seu art. 23, cuidou de exemplificar as causas passíveis de exclusão de ilicitude [...]. A excludente de ilicitude, com respaldo na legítima defesa, encontra guarida na absolvição sumária prevista no art. 415, IV, do CPP”x.</p><p>2.4 Agressão Injusta</p><p>Agressão é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, que lesa ou expõe a perigo de lesão um bem ou interesse consagrado pelo ordenamento jurídico.</p><p>Trata-se de atividade exclusiva do ser humano. Não pode ser efetuada por um animal, ou por uma coisa, por faltar-lhes a consciência e a voluntariedade ínsitas ao ato de agredir.</p><p>Portanto, animais que atacam e coisas que oferecem riscos às pessoas podem ser sacrificados ou danificados com fundamento no estado de necessidade, e não na legítima defesa, reservada a agressões emanadas do homem.</p><p>Nada impede, entretanto, a utilização de animais como instrumentos do crime, como nos casos em que são ordenados, por alguém, ao ataque de determinada pessoa. Funcionam como verdadeiras armas, autorizando a legítima defesa. Exemplo: “A” determina ao seu cão bravio o ataque contra “B”. Esse último poderá matar o animal, acobertado pela legítima defesa.</p><p>A agressão pode emanar de um inimputável. O inimputável pratica conduta consciente e voluntária, apta a configurar a agressão. O fato previsto em uma lei incriminadora por ele cometido é típico e ilícito. Falta-lhe apenas a culpabilidade. A agressão é tomada em sentido meramente objetivo, não guardando vínculo nenhum com o subjetivismo da culpabilidade.</p><p>Há posições em sentido contrário. É o caso de Nélson Hungria, que equiparava os inimputáveis aos seres irracionais. A defesa contra o ataque deles originado, consequentemente, não caracterizava legítima defesa, mas estado de necessidade.</p><p>X TJPR, Rec. em Sentido Estrito n. 852863-6, 1ª Câm. Crim., rel. Des. Campos Marques, rel. p/ o acórdão Des. Macedo Pacheco, j. 03.05.2012.</p><p>X JALIL, Mauricio Schaun. Filho Vicente Greco. Código Penal Comentado Doutrina e Jurisprudência. Ed 6. Editora Manole. São Paulo.2023.</p><p>2.5 Agressão atual ou iminente</p><p>A agressão injusta deve ser atual ou iminente.</p><p>Ao contrário do estado de necessidade, em que o legislador previu expressamente somente o perigo atual, na legítima defesa admite-se seja a agressão atual ou iminente.</p><p>Não pode o homem de bem ser obrigado a ceder ao injusto. Seria equivocado exigir fosse ele agredido efetivamente para, somente depois, defender-se. Exemplificativamente, não está ele obrigado a ser atingido por um disparo de arma de fogo para, após, defender-se matando o seu agressor. Ao contrário, com a iminência da agressão é permitida a reação imediata contra o agressor, desde que presente o justo receio quanto ao ataque a ser contra ele perpetrado.</p><p>Atual é a agressão presente, isto é, já se iniciou e ainda não se encerrou a lesão ao bem jurídico. Exemplo: a vítima é atacada com golpes de faca.</p><p>Iminente é a agressão prestes a acontecer, ou seja, aquela que se torna atual em um futuro imediato. Exemplo: o agressor anuncia à vítima a intenção de matá-la, vindo à sua direção com uma faca em uma das mãos.</p><p>A agressão futura (ou remota) e a agressão passada (ou pretérita) não abrem espaço para a legítima defesa. O medo e a vingança não autorizam a reação, mas apenas a necessidade de defesa urgente e efetiva do interesse ameaçado. Com efeito, admitir-se a legítima defesa contra agressão futura seria um verdadeiro convite para o duelo, desestimulando a pessoa de recorrer à autoridade pública para a tutela de seus direitos. E a agressão pretérita caracterizaria nítida vingança.</p><p>2.6 Agressão a direito própio ou alheio</p><p>A agressão injusta, atual ou iminente, deve ameaçar bem jurídico próprio ou de terceiro.</p><p>Qualquer bem jurídico pode ser protegido pela legítima defesa, pertencente àquele que se defende ou a terceira pessoa. Em compasso com o auxílio mútuo que deve reinar entre os indivíduos, o Código Penal admite expressamente a legítima defesa de bens jurídicos alheios, com amparo no princípio da solidariedade humana.</p><p>E na legítima defesa de terceiro, a reação pode atingir inclusive o titular do bem jurídico protegido. O terceiro funciona como agredido e defendido, simultaneamente. Exemplo: “A”, percebendo que “B” se droga compulsivamente e não aceita conselhos para parar, decide agredi-lo para que desmaie, e, assim, deixe de ingerir mais cocaína, que o levaria à morte.</p><p>Não mais existem as limitações antigas que autorizavam a legítima defesa apenas em relação à vida ou ao corpo. Vige atualmente a mais larga amplitude de defesa dos bens jurídicos, pois o Direito não pode distingui-los em mais ou menos valiosos, amparando os primeiros e relegando os últimos ao abandono.</p><p>É possível o emprego da excludente para a tutela de bens pertencentes às pessoas jurídicas, inclusive do Estado, pois atuam por meio de seus representantes e não podem defender-se sozinhas. Veja-se o exemplo da pessoa que, percebendo uma empresa ser furtada, luta com o ladrão e o imobiliza até a chegada da força policial.</p><p>Admite-se, também, a legítima defesa do feto. Deveras, o art. 2.º do Código Civil resguarda os direitos do nascituro, que podem ser defendidos por terceiros. É o caso do agente que, percebendo estar a gestante na iminência de praticar um autoaborto, a impede, internando-a posteriormente em um hospital para que o parto transcorra normalmente.</p><p>2.7 Reação com os meios necessários</p><p>Meios necessários são aqueles que o agente tem à sua disposição para repelir a agressão injusta, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem, no momento em que é praticada.</p><p>A legítima defesa não é desforço desnecessário, mas medida que se destina à proteção de bens jurídicos. Não tem por fim punir, razão pela qual deve ser concretizada da forma menos lesiva possível.</p><p>O meio necessário, desde que seja o único disponível ao agente para repelir a agressão, pode ser desproporcional em relação a ela, se empregado moderadamente. Imagine-se um agente que, ao ser atacado com uma barra de ferro por um desconhecido, utiliza uma arma de fogo, meio de defesa que estava ao seu alcance. Estará caracterizada a excludente.</p><p>Se o meio empregado for desnecessário, estará configurado o excesso, doloso, culposo ou exculpante (sem dolo ou culpa), dependendo das condições em que ocorrer.</p><p>Ao contrário do que ocorre no estado de necessidade, a possibilidade de fuga ou o socorro pela autoridade pública não impedem a legítima defesa. Não se impõe o commodus discessus, isto é, o agredido não está obrigado a procurar a saída mais cômoda e menos lesiva para escapar do ataque injusto.</p><p>O Direito não pode se curvar a uma situação ilícita. Ademais, lhe é vedado obrigar que alguém seja pusilânime ou covarde, fugindo de um ataque injusto quando pode legitimamente se defender.</p><p>2.8 Uso moderado dos meios necessários</p><p>Caracteriza-se pelo emprego dos meios necessários na medida suficiente para afastar a agressão injusta.</p><p>Utiliza-se o perfil do homem médio, ou seja, para aferir a moderação dos meios necessários o magistrado compara o comportamento do agredido com aquele que, em situação semelhante, seria adotado por um ser humano de inteligência e prudência comuns à maioria da sociedade.</p><p>Essa análise não é rígida, baseada em critérios matemáticos ou científicos. Comporta</p><p>ponderação, a ser aferida no caso concreto, levando em conta a natureza e a gravidade da agressão, a relevância do bem ameaçado, o perfil de cada um dos envolvidos e as características dos meios empreendidos para a defesa.</p><p>CONCLUSÃO</p><p>BIBLIOGRAFIA</p><p>NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal. Vol.1. Parte Geral arts.10 a 120 do Código Penal. Ed 8. Editora Forense. São Paulo. 2024.</p><p>JUNIOR, Miguel Reale, et al. Código Penal Comentado. Ed 2. Saraiva Jur. São Paulo. 2023.</p><p>TJSP, Ap. n. 990.09.276305-9, 16ª Câm. de Dir. Crim., rel. Des. Otávio de Almeida Toledo, j. 22.01.2013.</p><p>JALIL, Mauricio Schaun. Filho Vicente Greco. Código Penal Comentado Doutrina e Jurisprudência. Ed 6. Editora Manole. São Paulo.2023.</p><p>MASSON, Cleber. Direito Penal, Parte geral Arts.10 A 120. Ed 18. Editora Método. São Paulo. 2024.</p><p>X SIQUEIRA, Galdino. Tratado de direito penal. Parte geral. Rio de Janeiro: José Konfino, 1947. t. I, p. 314.</p>

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