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<p>SEMANA 01/30</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>Sumário</p><p>META 1 .............................................................................................................................................................. 8</p><p>DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ............................................................................................... 8</p><p>1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL ..................................... 9</p><p>2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS ......................................................................................................... 15</p><p>2.1 Direito Penal X Criminologia X Política Criminal ..................................................................................................... 16</p><p>2.2 Seletividade - Criminalização Primária e Secundária (Zaffaroni) ............................................................................ 16</p><p>3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO .............................................................................. 17</p><p>4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI) ............................................................................................................... 18</p><p>4.1 Conceito ................................................................................................................................................................. 18</p><p>4.2. Garantias primárias e secundárias ........................................................................................................................ 18</p><p>4.3 Máximas do garantismo ......................................................................................................................................... 19</p><p>5. DIREITO PENAL DO INIMIGO ....................................................................................................................... 20</p><p>5.1 Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez) ..................................................................................... 21</p><p>6. FONTES DO DIREITO PENAL ........................................................................................................................ 22</p><p>7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ................................................................................................................... 27</p><p>7.1 Princípios Relacionados com a Missão Fundamental do Direito Penal .................................................................. 28</p><p>7.1.1 Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos ........................................................................................... 28</p><p>7.1.2 Princípio da Intervenção Mínima ..................................................................................................................... 30</p><p>7.1.3 Princípio da Insignificância ou da Bagatela ...................................................................................................... 33</p><p>7.2 Princípios Relacionados com o Fato do Agente ..................................................................................................... 52</p><p>7.2.1 Princípio da Ofensividade/Lesividade .............................................................................................................. 52</p><p>7.2.2 Princípio da Alteridade .................................................................................................................................... 53</p><p>7.2.3 Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato .................................................................................... 54</p><p>7.2.4 Princípio Da Legalidade Estrita Ou Reserva Legal ............................................................................................ 54</p><p>7.2.5 Princípio da Anterioridade ............................................................................................................................... 57</p><p>7.2.6 Princípio da Vedação ao Bis In Idem ................................................................................................................ 58</p><p>7.2.7 Princípio da Adequação Social ......................................................................................................................... 58</p><p>7.3 Princípios Relacionados com o Agente do Fato ..................................................................................................... 60</p><p>7.3.1 Princípio da Responsabilidade Pessoal / Da Pessoalidade / Da Intranscendência Da Pena ............................ 60</p><p>7.3.2 Princípio da Responsabilidade Subjetiva ......................................................................................................... 60</p><p>7.3.3 Princípio da Culpabilidade ............................................................................................................................... 61</p><p>7.3.4 Princípio da Proporcionalidade ........................................................................................................................ 61</p><p>7.3.5 Princípio da Limitação das Penas ou da Humanidade ..................................................................................... 62</p><p>7.2.6 Princípio da Confiança ..................................................................................................................................... 63</p><p>QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................... 65</p><p>META 2 ............................................................................................................................................................ 66</p><p>DIREITO PROCESSUAL PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ....................................................................... 66</p><p>1. PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL........................................................................................................... 67</p><p>2. PRETENSÃO PUNITIVA ................................................................................................................................. 69</p><p>3. SISTEMAS DO PROCESSO PENAL ................................................................................................................. 70</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL ................................................................................... 75</p><p>4.1 Princípios Constitucionais Explícitos ....................................................................................................................... 75</p><p>4.1.1 Princípio da Presunção da Inocência ............................................................................................................... 75</p><p>4.1.2 Princípio da Igualdade Processual ou Paridade de Armas ............................................................................... 81</p><p>4.1.3 Princípio da Ampla Defesa ............................................................................................................................... 81</p><p>4.1.4 Princípio da Plenitude da Defesa ..................................................................................................................... 85</p><p>4.1.5 Princípio do In Dubio Pro Reo .......................................................................................................................... 85</p><p>4.1.6 Princípio do Contraditório ou Bilateralidade da Audiência ............................................................................. 87</p><p>4.1.7 Princípio da Publicidade ................................................................................................................................... 88</p><p>4.1.8 Princípio da Vedação das Provas Ilícitas .......................................................................................................... 90</p><p>4.1.9 Princípio da Economia Processual, Celeridade Processual e Duração Razoável Do Processo ......................... 91</p><p>4.1.10 Princípio</p><p>porque, o Estado, por natureza, é</p><p>arbitrário, pois invade a esfera de liberdade do indivíduo. Então o Direito Penal é visto como instrumento de</p><p>contenção do Estado, que vai tolher o Estado ao máximo visando garantir a liberdade do sujeito, garantias</p><p>mínimas para que se possa desenvolver direitos de 1ª geração.</p><p>Por fim, vale relembrar que a maioria dos princípios está constitucionalizada, seja implícita ou</p><p>explicitamente, de modo que é possível utilizar tais princípios para efetuar controle de constitucionalidade.</p><p>💣 Além das questões de concursos que tratam diretamente dos princípios, o simples fato de entender</p><p>os valores que eles trazem nos orientam muito no raciocínio necessário para a solução de muitas outras, por</p><p>isso é um tema que não pode ser negligenciado, ok?</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>28</p><p>7.1 Princípios Relacionados com a Missão Fundamental do Direito Penal</p><p>7.1.1 Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos</p><p>O Direito Penal deve servir apenas e tão somente para proteger bens jurídicos relevantes (Roxin).</p><p>Ademais, nenhuma criminalização é legítima se não busca evitar a lesão ou o perigo de lesão a um bem</p><p>juridicamente determinado. Impede que o Estado utilize o Direito Penal para a proteção de bens ilegítimos.</p><p>Assim, não pode incriminar pensamentos ou intenções, questões morais, éticas, ideológicas,</p><p>religiosas ou finalidades políticas. Para a teoria constitucional do Direito Penal, aliás, a referida eleição de</p><p>bens jurídicos deve refletir os valores constitucionais, a exemplo do homicídio, que tutela o direito</p><p>fundamental à vida.</p><p>Dessa forma, o princípio da proteção aos bens jurídicos defende que o direito penal deve servir</p><p>apenas para proteger bens jurídicos relevantes, bens jurídicos indispensáveis ao convívio em sociedade.</p><p>Mas o que é bem jurídico?</p><p>R.: Trata-se de um tema extremamente controvertido, de modo que vamos tentar simplificá-lo para</p><p>melhor compreensão.</p><p>Para Luiz Regis Prado, bem jurídico é um ente material ou imaterial, haurido do contexto social, de</p><p>titularidade individual ou metaindividual, reputado como essencial para a coexistência e o desenvolvimento</p><p>do homem em sociedade.</p><p>Por sua vez, Luis Greco e Roxin se filiam ao mesmo conceito, mas usam expressões diferentes.</p><p>● Roxin – bem jurídico será a relação real da pessoa com um valor concreto, reconhecido pela</p><p>comunidade.</p><p>● Luis Greco – bem jurídico são dados fundamentais para a realização pessoal dos indivíduos ou para</p><p>a subsistência do sistema social nos limites da ordem constitucional</p><p>Nesse sentido, para conceituar bem jurídico, é imprescindível levar 2 pontos em consideração:</p><p>1) Fundamento do bem jurídico: o conceito de bem jurídico tem que ter como ponto central,</p><p>como fundamento, a importância do bem àquela pessoa. Tem que ser um bem de</p><p>importância vital, fundamental, de modo que a existência dessa pessoa ou seu bem-estar</p><p>estejam ameaçados com a criminalização daquela conduta.</p><p>2) Titularidade do bem jurídico: É importante saber quem é o titular desse bem jurídico. Para</p><p>quem o BJ tem essa importância fundamental?</p><p>* ATENÇÃO: A espiritualização dos bens jurídicos no Direito Penal (Roxin) revela uma evolução quanto à</p><p>proteção dos bens jurídicos dentro do Direito Penal. Em um momento inicial, apenas os crimes de dano</p><p>contra bens jurídicos individuais possuíam relevância no âmbito penal. Modernamente, o Direito Penal</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>29</p><p>antecipou a tutela, assumindo um papel preventivo, passando a punir os crimes de perigo contra bens</p><p>supraindividuais (como por exemplo, a tipificação de crimes ambientais).</p><p>- Parcela da doutrina critica essa expansão da tutela penal na proteção de bens jurídicos de caráter difuso ou</p><p>coletivo. Argumenta-se que tais bens são formulados de modo vago e impreciso, bem como, que não seria</p><p>esse o papel do direito penal, que deve ser utilizado apenas como última ratio, havendo outras searas que</p><p>poderiam solucionar tais questões, em razão dos princípios que estudaremos a seguir.</p><p>Confira a dica do professor Marcelo Veiga:</p><p>https://youtu.be/zE14JCcjH6g</p><p>Atenção! temática “bem jurídico” tem sido a “modinha” dos certames e, por isso, deve o candidato</p><p>estar atento as nuances.</p><p>De acordo com os autores João Paulo Martinelli e Leonardo Schmitt de Bem, na obra "Direito Penal</p><p>- Lições Fundamentais", da Editora D'Plácido, na página 171, “A noção de ‘bem jurídico aparente’ identifica-</p><p>se com as hipóteses nas quais, por meio do uso reificante da linguagem e da adoção de uma perspectiva</p><p>distanciada, acaba-se por ocultar a ausência de um efetivo bem jurídico tutelado pela norma.”</p><p>Explicam ainda os autores:</p><p>"... protege-se um somatório de integridades físicas individuais (...) no que tange à incolumidade</p><p>pública como um bem jurídico coletivo apenas na aparência significa dizer que a proteção desses bens</p><p>jurídicos não poderá ser realizada independentemente dos particulares, mas deverá ser instrumental ou</p><p>dirigir-se à realização dos interesses individuais de todos os membros sociais. Por outro lado, o meio</p><p>ambiente, a administração estatal da Justiça, a ordem econômica e a autenticidades das moedas são</p><p>considerados verdadeiros bens jurídicos coletivos, pois não podem ser fracionados em bens individuais</p><p>somados. Em síntese, é impossível, por exemplo, conceber o meio ambiente como a soma de vários bens</p><p>jurídicos individuais."</p><p>https://youtu.be/zE14JCcjH6g</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>30</p><p>7.1.2 Princípio da Intervenção Mínima</p><p>a) Origem histórica: Declaração dos direitos do homem e do cidadão (1789)</p><p>No art. 8º desse diploma, temos a imposição de que o direito penal deve estabelecer penas estrita e</p><p>evidentemente necessárias. Isso, de certa forma, traz a ideia originária do princípio da intervenção mínima:</p><p>pois o Direito Penal só deve intervir quando for estrita e evidentemente necessária</p><p>b) Introdução</p><p>O direito penal só deve ser aplicado quando a criminalização de um fato é estritamente necessária à</p><p>proteção de determinado bem ou interesse, não sendo suficientemente tutelado por outras searas do</p><p>direito. O direito penal é o último grau de proteção jurídica.</p><p>Em outras palavras: O direito penal em um Estado Democrático de Direito atua como ultima</p><p>ratio/ultima razão/ultima saída. Isso porque o direito penal só deve atuar quando os outros ramos do direito</p><p>já tenham fracassado na tentativa de solucionar aquele conflito. Não pode ser usado como prima ratio</p><p>Como na figura, nem tudo o que é ilícito caracteriza um ilícito penal, mas apenas uma pequena</p><p>parcela. Porém, todo ilícito penal será também ilícito perante as demais searas do direito.</p><p>Ex.: se um funcionário público pratica crime, isso sempre configurará também uma infração</p><p>administrativa. Porém, a recíproca não é verdadeira. Nem toda infração administrativa encontrará uma</p><p>correspondente tipificação penal.</p><p>Obs.: Trata-se de um princípio um implícito na CF/88, que pode ser retirado, principalmente, do</p><p>princípio da dignidade da pessoa humana. (art. 1º, III, CF/88)</p><p>c) Destinatários de finalidade: dois são os destinatários do referido princípio:</p><p>● Legislador (no plano abstrato);</p><p>● Aplicador do direito (no plano concreto).</p><p>ILÍCITOS EM GERAL</p><p>ILÍCITOS</p><p>PENAIS</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>31</p><p>Nessa linha, temos que a intervenção mínima deve ser observada tanto pelo legislador, no momento</p><p>de selecionar as condutas que passaram a ser tuteladas pelo Direito Penal, como também, deve ser</p><p>observado pelo aplicador do direito no caso em concreto.</p><p>d) Finalidade do princípio da intervenção mínima: trata-se de um reforço ao princípio da reserva legal,</p><p>posto que não é suficiente que tenha lei prevendo aquela conduta</p><p>como criminosa, é necessário</p><p>ainda que a intervenção penal cominada pela lei seja efetivamente necessária.</p><p>Rogério Sanches argumenta que “o princípio da intervenção mínima tem duas faces: orienta quando e onde</p><p>o direito penal deve intervir (neocriminalização); por outro lado, também orienta quando e onde o direito</p><p>penal deve deixar de intervir (abolitio criminis)”. A abolitio criminis é fenômeno verificado sempre que o</p><p>legislador, atento às mutações sociais (e ao princípio da intervenção mínima), resolve não mais incriminar</p><p>determinada conduta, retirando do ordenamento jurídico-penal a infração que a previa, julgando que o</p><p>Direito Penal não mais se faz necessário à proteção de determinado bem jurídico.</p><p>Do princípio da intervenção mínima decorrem dois outros princípios:</p><p>7.1.2.1 Fragmentariedade</p><p>O direito penal é fragmentário pois é visto como um sistema descontínuo de ilicitudes. Ou seja: o</p><p>direito penal não pode e nem tem como criminalizar todas a condutas existentes, mesmo que sejam ilícitos</p><p>do direito (não só ilícitos penais, mas ilícitos civis também)</p><p>Nesse contexto, a fragmentariedade prevê que somente devem ser tutelados pelo direito penal os</p><p>casos de relevante lesão ou perigo de lesão aos bens jurídicos fundamentais para a manutenção e o progresso</p><p>do ser humano e da sociedade.</p><p>O princípio da fragmentariedade deve ser utilizado no plano ABSTRATO, para o fim de permitir a</p><p>criação de tipos penais somente quando os demais ramos do Direito tiverem falhado na tarefa de proteção</p><p>de um bem jurídico. Refere-se, assim, à atividade legislativa.</p><p>Já caiu em prova essa passagem do Ferrajolli:</p><p>“A intervenção mínima tem como ponto de partida a característica da fragmentariedade do direito penal.</p><p>Este [fragmentariedade] se apresenta por meio de pequenos flashs, que são pontos de luz na escuridão do</p><p>universo. Trata-se de um gigantesco oceano de irrelevância, ponteado por ilhas de tipicidade, enquanto o</p><p>crime é um náufrago à deriva, procurando uma porção de terra na qual se possa achegar”</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>32</p><p>#SELIGA: Em que consiste a fragmentariedade às avessas? Ocorre nas situações em que o direito penal</p><p>perde o interesse em uma determinada conduta, inicialmente tida por criminosa, por entendê-la</p><p>desnecessária, com a evolução da sociedade e modificação de seus valores, ocorrendo a abolitio criminis,</p><p>sem prejuízo de sua tutela pelos demais ramos do direito. É um juízo negativo, o crime existia e deixa de</p><p>existir.</p><p>Ex.: Adultério, que era crime tipificado no art. 240 do CP e deixou de ser em 2005, quando a Lei nº 11.106</p><p>revogou o tipo penal.</p><p>7.1.2.2 Subsidiariedade</p><p>A subsidiariedade é corolário da intervenção mínima e está ligada à autonomia do Direito Penal.</p><p>Somente após se constatar que outros meios de solução social dos conflitos não são aptos a dirimi-los, é que</p><p>serão utilizados modelos coercitivos de que dispõe o Direito Penal.</p><p>Assim, a intervenção penal fica condicionada ao fracasso dos demais ramos do direito, funcionando</p><p>como um soldado de reserva.</p><p>Direciona-se ao aplicador do direito, no plano concreto, devendo ser aplicado apenas quando todos</p><p>os demais ramos se revelarem impotentes. O crime já existe, mas precisamos saber se a aplicação da lei penal</p><p>é necessária no caso concreto.</p><p>Nas palavras do professor Cleber Masson:</p><p>A atuação do Direito Penal é cabível unicamente quando os outros ramos do Direito</p><p>e os demais meios estatais de controle social tiverem se revelado impotentes para</p><p>o controle da ordem pública. Projeta-se no plano concreto – em sua atuação prática</p><p>o Direito Penal somente se legitima quando os demais meios disponíveis já tiverem</p><p>sido empregados, sem sucesso, para proteção do bem jurídico. Guarda relação com</p><p>a tarefa de aplicação da lei penal.</p><p>Conceitos atrelados à subsidiariedade:</p><p>⦁ Roxin – direito penal seria o remédio sancionador extremo. Ou seja: o direito penal só deve atuar</p><p>após os outros ramos do direito. Quando os demais ramos atuam e não resolvem o conflito, seria</p><p>legítimo ao Direito Penal atuar sobre a característica da subsidiariedade, uma das faces da</p><p>intervenção mínima.</p><p>⦁ Muñoz Conde – direito penal é aplicável unicamente quando fracassam as demais barreiras</p><p>protetoras do bem jurídico pré-dispostas por outros ramos do direito.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>33</p><p>STJ (HC 197.601/RJ) O Direito Penal deve ser encarado de acordo com a principiologia constitucional. Dentre</p><p>os princípios constitucionais implícitos figura o da subsidiariedade, por meio do qual a intervenção penal</p><p>somente é admissível quando os demais ramos do direito não conseguem bem equacionar os conflitos</p><p>sociais.</p><p>Aprofundando para uma discursiva...</p><p>Conflito aparente de normas: Segundo Rogério Greco, o conflito aparente de normas penais é aquele</p><p>que ocorre quando duas normas aparentam incidir sobre o mesmo fato. Ele é dito aparente, pois na verdade</p><p>não existe conflito algum – efetivamente, não existe um conflito ao se aplicar a norma ao caso concreto.</p><p>Existem princípios, capazes de solucionar os conflitos aparentes de normas penais:</p><p>a) Subsidiariedade - Temos uma norma subsidiária e uma norma primária, e só se aplica a norma</p><p>subsidiária caso a norma primária não possa ser aplicada, ou seja, uma norma menos grave</p><p>(subsidiária), que descreve um crime autônomo, e uma norma mais grave (primária), que descreve</p><p>uma segunda conduta e que prevalecerá sobre aquela.</p><p>b) Especialidade - Estaremos diante de dois tipos penais, um específico e um genérico, ambos</p><p>aparentemente adequados para o caso concreto. Entretanto, pela regra da especialidade,</p><p>prevalecerá o tipo penal específico!</p><p>c) Consunção - O princípio da consunção está diretamente relacionado com a absorção de um delito</p><p>por outro. Ou seja, existe uma relação de fins e meios (um delito é o meio para que se chegue ao</p><p>outro) ou mesmo de necessidade (um crime é uma fase para o outro, sendo necessária sua execução</p><p>para que se pratique o segundo tipo penal).</p><p>d) Alternatividade - Temos o chamado princípio da alternatividade, que, por sua vez, é bastante</p><p>simples. Aqui temos um tipo penal chamado de misto alternativo (cuja conduta possui várias formas,</p><p>ou seja, vários verbos). Nesses casos, mesmo que o agente pratique vários dos núcleos em um</p><p>mesmo contexto, responderá por apenas um crime!</p><p>7.1.3 Princípio da Insignificância ou da Bagatela</p><p>☠ Caiu na prova de Delegado de Polícia do Mato Grosso do Sul em 2017</p><p>a) Introdução, Origem e Conceito</p><p>Inicialmente, cumpre destacarmos que o referido princípio não encontra previsão na legislação, mas</p><p>pacificamente admitido pela Jurisprudência do STF e do STJ.</p><p>Surge no Direito Romano. “De minimus nun curat praetor”. Os juízes e os tribunais não cuidam do</p><p>que é mínimo, insignificante. Porém no direito romano só era utilizado no tocante ao direito privado. No</p><p>direito penal é incorporado apenas na década de 1970, através dos estudos de Claus Roxin. Segundo Cleber</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>34</p><p>Masson (Direito Penal Esquematizado) “Em outras palavras, o Direito Penal não deve se ocupar de assuntos</p><p>irrelevantes, incapazes de lesar o bem jurídico legalmente tutelado. Na década de 70 do século passado, foi</p><p>incorporado ao Direito Penal pelos estudos de Claus Roxin”.</p><p>Ressalta-se que o princípio da Insignificância decorre da fragmentariedade, de modo que o Direito</p><p>Penal só vai intervir nos casos de relevante lesão, quando for indispensável para a proteção de determinado</p><p>bem jurídico, e quando não houver como proteger o bem jurídico como os outros ramos do direito.</p><p>Nesse sentido, o princípio da insignificância traduz a ideia de que não há crime quando a conduta</p><p>praticada pelo agente é insignificante, não é capaz de ofender ou colocar em perigo o bem jurídico</p><p>tutelado</p><p>pela norma penal.</p><p>b) Finalidade</p><p>O STF expressamente reconhece como finalidade desse princípio a “interpretação restritiva da lei</p><p>penal” (olha que termo bonito para aparecer na sua prova), ou seja, o princípio da insignificância deve</p><p>diminuir a intervenção penal, no sentido de ignorar as condutas irrisórias que não se revelam capazes de</p><p>ofender o bem jurídico tutelado pelo tipo penal.</p><p>c) Natureza Jurídica: Causa de Exclusão da tipicidade (atipicidade) material. Ou seja: torna o fato atípico</p><p>por ausência de tipicidade material.</p><p>TRADUZINDO:</p><p>TIPICIDADE PENAL = tipicidade formal + tipicidade material.</p><p>Tipicidade formal: juízo de adequação do fato à norma (analisa se o fato praticado na vida real, se amolda,</p><p>se encaixa ao modelo de crime descrito na lei penal).</p><p>Ex.: Sujeito subtrai um iogurte de um hipermercado. Como subtraiu coisa alheia móvel, o fato se adequa ao</p><p>tipo penal de furto.</p><p>Tipicidade material: é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido.</p><p>No exemplo acima, em que pese tenha havido a tipicidade formal, o ato praticado não foi capaz de causar</p><p>lesão relevante ao bem protegido, vez que o valor de um iogurte não faria a menor diferença no patrimônio</p><p>de um hipermercado, não havendo, portanto, tipicidade material.</p><p>Mas atenção: NÃO É SÓ O VALOR que deve ser analisado para que seja reconhecida a insignificância</p><p>da conduta! Existem outros requisitos que devem ser observados, conforme jurisprudência consolidada da</p><p>Suprema Corte.</p><p>Ademais, valor insignificante e pequeno valor não são sinônimos. Por vezes, em casos de furto, por</p><p>exemplo, a questão apresenta um bem de um valor baixo, mas não irrisório/insignificante, que servirá apenas</p><p>para caracterizar a causa de diminuição de pena do furto privilegiado, mas não excluirá a tipicidade material,</p><p>seja pelo fato de o valor ser pequeno, mas não irrisório, seja por não preencher algum outro requisito. Então</p><p>fique de olho!</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>35</p><p>Sobre os valores, não há nenhuma tese fixa sobre. É necessário analisar o contexto. Porém,</p><p>analisando as decisões proferidas, o STF tem aceitado como insignificantes normalmente valores que que</p><p>giram em torno de 10% do salário-mínimo, com variações para mais e para menos (é só uma ideia). Já como</p><p>pequeno valor, para o privilégio, admite-se o valor de até 1 salário-mínimo integral (raciocínio aplicável aos</p><p>demais delitos que admitem o privilégio).</p><p>ATENÇÃO: Esse tema foi objeto de cobrança na prova de Delegado do Paraná recentemente.</p><p>2021 – NC UFPR – PC-PR – Delegado de Polícia</p><p>Se uma conduta não representa uma ofensa relevante ao bem jurídico contemplado no tipo penal, entende-</p><p>se que ela é materialmente atípica em razão do princípio da insignificância. Um exemplo de situação que</p><p>poderia ser abrangida pelo princípio seria a subtração de um pacote de batatas de um supermercado. São</p><p>requisitos estabelecidos pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal para a incidência do princípio da</p><p>insignificância, EXCETO:</p><p>a) mínima ofensividade da conduta do agente.</p><p>b) nenhuma periculosidade social da ação.</p><p>c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.</p><p>d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.</p><p>e) ausência de interesse da vítima na persecução penal.</p><p>Gabarito: Letra E</p><p>Confira a dica do professor Marcelo Veiga:</p><p>https://youtu.be/PIsJOsWA84c</p><p>Vejamos algumas casuísticas importantes em relação ao princípio da insignificância:</p><p>a) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA x AGENTE REINCIDENTE</p><p>https://youtu.be/PIsJOsWA84c</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>36</p><p>Em regra, o STF e o STJ afastam a aplicação do princípio da insignificância aos acusados reincidentes</p><p>ou de habitualidade delitiva comprovada. Vale ressaltar, no entanto, que a reincidência não impede, por si</p><p>só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto</p><p>(STF. Plenário. HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em</p><p>3/8/2015; STJ. 5ª Turma EDcl-AgRg-AREsp 1.631.639- SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 19/05/2020)</p><p>Obs.: Ao criminoso habitual, tanto o STF como o STJ, costumam negar a aplicação</p><p>Informativo 575, STJ. A reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da</p><p>insignificância nos crimes de descaminho, ressalvada a possibilidade de, no caso</p><p>concreto, as instâncias ordinárias verificarem que a medida é socialmente</p><p>recomendável. Assim, pode-se afirmar que: Em regra, não se aplica o princípio da</p><p>insignificância para o agente que praticou descaminho se ficar demonstrada a sua</p><p>reiteração criminosa (criminoso habitual). Exceção: o julgador poderá aplicar o</p><p>referido princípio se, analisando as peculiaridades do caso concreto, entender</p><p>que a medida é socialmente recomendável. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.217.514-RS, Rel.</p><p>Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 9/12/2015 (Info 575).</p><p>Assim, de acordo com o caso concreto, é possível sim aplicar a insignificância mesmo para réus</p><p>reincidentes. Veja recentes julgados em que os Tribunais Superiores aplicaram o princípio da insignificância</p><p>mesmo havendo a reincidência e maus antecedentes:</p><p>(info 722 STJ) Admite-se reconhecer a não punibilidade de um furto de coisa com</p><p>valor insignificante, ainda que presentes antecedentes penais do agente, se não</p><p>denotarem estes tratar-se de alguém que se dedica, com habitualidade, a cometer</p><p>crimes patrimoniais. AgRg no REsp 1.986.729-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,</p><p>Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 28/06/2022, DJe 30/06/2022.</p><p>Em regra, a habitualidade delitiva específica (ou seja, o fato de o réu já responder</p><p>a outra ação penal pelo mesmo delito) é um parâmetro (critério) que afasta o</p><p>princípio da insignificância mesmo em se tratando de bem de reduzido valor.</p><p>Excepcionalmente, no entanto, as peculiaridades do caso concreto podem justificar</p><p>o afastamento dessa regra e a aplicação do princípio, com base na ideia da</p><p>proporcionalidade. É o caso, por exemplo, do furto de um galo, quatro galinhas</p><p>caipiras, uma galinha garnizé e três quilos de feijão, bens avaliados em pouco mais</p><p>de cem reais. O valor dos bens é inexpressivo e não houve emprego de violência.</p><p>Enfim, é caso de mínima ofensividade, ausência de periculosidade social, reduzido</p><p>grau de reprovabilidade e inexpressividade da lesão jurídica. Mesmo que conste em</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>37</p><p>desfavor do réu outra ação penal instaurada por igual conduta, ainda em trâmite,</p><p>a hipótese é de típico crime famélico. A excepcionalidade também se justifica por</p><p>se tratar de hipossuficiente. Não é razoável que o Direito Penal e todo o aparelho</p><p>do Estado-polícia e do Estado-juiz movimente-se no sentido de atribuir relevância</p><p>a estas situações. STF. 2ª Turma. HC 141440 AgR/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado</p><p>em 14/8/2018 (Info 911).</p><p>É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias avaliadas</p><p>em R$ 29,15, mesmo que a subtração tenha ocorrido durante o período de repouso</p><p>noturno e mesmo que o agente seja reincidente. Vale ressaltar que os produtos</p><p>haviam sido furtados de um estabelecimento comercial e que logo após o agente</p><p>foi preso, ainda na porta do estabelecimento. Objetos furtados: R$ 4,15 em</p><p>moedas, uma garrafa de Coca-Cola, duas garrafas de cerveja e uma garrafa de pinga</p><p>marca 51, tudo avaliado em R$ 29,15. STF. 2ª Turma. HC 181389 AgR/SP, Rel. Min.</p><p>Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973).</p><p>É possível aplicar o princípio da insignificância para furto de bem avaliado em R$</p><p>20,00 mesmo que o agente tenha antecedentes criminais por crimes patrimoniais</p><p>É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente que praticou o</p><p>furto de um carrinho de mão avaliado em R$ 20,00 (3% do salário-mínimo),</p><p>mesmo</p><p>ele possuindo antecedentes criminais por crimes patrimoniais. STF. 1ª Turma. RHC</p><p>174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,</p><p>julgado em 11/2/2020 (Info 966).</p><p>Pergunta: e ao multirreincidente, é possível aplicação do princípio da insignificância?</p><p>Atenção ao informativo 746 (29/08/2022):</p><p>A multirreincidência específica somada ao fato de o acusado estar em prisão</p><p>domiciliar durante as reiterações criminosas são circunstâncias que inviabilizam</p><p>a aplicação do princípio da insignificância. REsp 1.957.218-M, G Rel. Min. Olindo</p><p>Menezes. Sexta Turma, por maioria, julgado em 23/08/2022.É certo que há</p><p>precedentes do Supremo Tribunal Federal em que se afasta a tipicidade material</p><p>da conduta criminosa quando o furto é praticado para subtrair objeto de valor</p><p>irrelevante, ainda que o paciente seja reincidente na prática delitiva. Entretanto, a</p><p>Corte também tem precedentes que apontam a relevância da análise da</p><p>reincidência delitiva para afastar a tipicidade da conduta, conforme se verifica no</p><p>julgamento do Habeas Corpus 123.108/MG, da Relatoria do Ministro Roberto</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/31c23973a376c90940f5f5ff2118b5d2?categoria=11&subcategoria=95</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/31c23973a376c90940f5f5ff2118b5d2?categoria=11&subcategoria=95</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/31c23973a376c90940f5f5ff2118b5d2?categoria=11&subcategoria=95</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>38</p><p>Barroso, no qual, o Plenário do STF decidiu, por maioria de votos, que a "aplicação</p><p>do princípio da insignificância envolve um juízo amplo (conglobante), que vai</p><p>além da simples aferição do resultado material da conduta, abrangendo também</p><p>a reincidência ou contumácia do agente, elementos que, embora não</p><p>determinantes, devem ser considerados". Após a análise dos precedentes desta</p><p>Corte Superior e do STF, é razoável concluir que a reincidência não impede, por si</p><p>só, que se reconheça a insignificância penal da conduta à luz dos elementos do caso</p><p>concreto, mas pode ser um dos elementos que justificam a tipicidade material da</p><p>conduta.</p><p>Em regra, NÃO. Mas há julgado do STJ permitindo excepcionalmente (19/05/22):</p><p>1. A multirreincidência específica, via de regra, afasta a aplicação do princípio</p><p>da insignificância no crime de furto. Entretanto, em casos excepcionais, nos quais</p><p>é reduzidíssimo o grau de reprovabilidade da conduta, tem esta Corte Superior</p><p>admitido a incidência do referido princípio, ainda que existentes outras</p><p>condenações.</p><p>2. O furto simples, em um supermercado, de quatro barras de chocolate, avaliadas</p><p>em R$26,92 – quantia que corresponde a 2,77% do salário-mínimo vigente à época</p><p>-, restituídas à Vítima, traz excepcionalidade que autoriza o reconhecimento da</p><p>atipicidade material da conduta.3. Agravo regimental da Defesa provido para,</p><p>conhecendo do agravo, negar provimento ao recurso especial do Ministério</p><p>Público. (AgRg no AREsp 1899839/MG, Rel. Ministro OLINDO MENEZES</p><p>(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), Rel. p/ Acórdão Ministra</p><p>LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/04/2022, DJe 19/05/2022)</p><p>Obs.: É muito importante que você saiba as justificativas dos tribunais sobre a aplicação ou não do princípio</p><p>da insignificância, pois além de sempre cair em provas objetivas, são imprescindíveis para você responder</p><p>uma questão subjetiva e oral. Vamos rumo á aprovação!</p><p>É possível a aplicação ao réu reincidente quando o crime anterior tutelava bem jurídico distinto patrimônio,</p><p>é o que o STF chamou de TEORIA DA REITERAÇÃO NÃO CUMULATIVA DE CONDUTAS DE GÊNEROS</p><p>DISTINTOS (*termo de prova).</p><p>Entendendo a fonte da expressão acima que foi utilizada no seguinte julgado do STF:</p><p>TURMA HABEAS CORPUS 114.723, MINAS GERAIS</p><p>RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>39</p><p>FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. VALOR DOS BENS</p><p>SUBTRAÍDOS. INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO. CONTUMÁCIA DE INFRAÇÕES</p><p>PENAIS CUJO BEM JURÍDICO TUTELADO NÃO É O PATRIMÔNIO.</p><p>DESCONSIDERAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Segundo a jurisprudência do Supremo</p><p>Tribunal Federal, para se caracterizar hipótese de aplicação do denominado</p><p>“princípio da insignificância” e, assim, afastar a recriminação penal, é indispensável</p><p>que a conduta do agente seja marcada por ofensividade mínima ao bem jurídico</p><p>tutelado, reduzido grau de reprovabilidade, inexpressividade da lesão e nenhuma</p><p>periculosidade social. 2. Nesse sentido, a aferição da insignificância como requisito</p><p>negativo da tipicidade envolve um juízo de tipicidade conglobante, muito mais</p><p>abrangente que a simples expressão do resultado da conduta. Importa investigar o</p><p>desvalor da ação criminosa em seu sentido amplo, de modo a impedir que, a</p><p>pretexto da insignificância apenas do resultado material, acabe desvirtuado o</p><p>objetivo a que visou o legislador quando formulou a tipificação legal. Assim, há de</p><p>se considerar que “a insignificância só pode surgir à luz da finalidade geral que dá</p><p>sentido à ordem normativa” (Zaffaroni), levando em conta também que o próprio</p><p>legislador já considerou hipóteses de irrelevância penal, por ele erigidas, não para</p><p>excluir a tipicidade, mas para mitigar a pena ou a persecução penal. 3. Trata-se de</p><p>furto de um engradado que continha vinte e três garrafas vazias de cerveja e seis</p><p>cascos de refrigerante, também vazios, bens que foram avaliados em R$ 16,00 e</p><p>restituídos à vítima. Consideradas tais circunstâncias, é inegável a presença dos</p><p>vetores que autorizam a incidência do princípio da insignificância. 4. À luz da teoria</p><p>da reiteração não cumulativa de condutas de gêneros distintos, a contumácia de</p><p>infrações penais que não têm o patrimônio como bem jurídico tutelado pela</p><p>norma penal não pode ser valorada, porque ausente a séria lesão à propriedade</p><p>alheia (socialmente considerada), como fator impeditivo do princípio da</p><p>insignificância. 5. Ordem concedida para restabelecer a sentença de primeiro grau,</p><p>na parte em que reconheceu a aplicação do princípio da insignificância e absolveu</p><p>o paciente pelo delito de furto.</p><p>Ressalta-se ainda que, em 2018 e 2019, os Tribunais Superiores tinham encontrado uma espécie de</p><p>“meio termo” entre a aplicação do princípio da insignificância e a reincidência do agente.</p><p>Isso porque, no caso concreto, o juiz via que, pelo critério objetivo, o réu faria jus à insignificância,</p><p>mas que os critérios subjetivos não estariam preenchidos, em razão da reincidência. Então, considerando a</p><p>proporcionalidade, o STF criou um “meio termo”: ao invés de absolver por atipicidade material da conduta,</p><p>aplicou outros institutos mais benéficos, como a substituição da pena privativa de liberdade por pena</p><p>restritiva de direitos. Vejamos os julgados em que os Tribunais Superiores aplicaram esse entendimento:</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>40</p><p>Possibilidade de aplicar o regime inicial aberto ao condenado por furto, mesmo</p><p>ele sendo reincidente, desde que seja insignificante o bem subtraído. A</p><p>reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância</p><p>penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto. No entanto, com base no</p><p>caso concreto, o juiz pode entender que a absolvição com base nesse princípio é</p><p>penal ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas</p><p>utiliza a circunstância de o bem furtado ser insignificante para fins de fixar o regime</p><p>inicial aberto. Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância</p><p>para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base</p><p>no princípio da proporcionalidade STF. 1ª Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco</p><p>Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938).</p><p>STF reconheceu</p><p>que o valor econômico do bem furtado era muito pequeno, mas,</p><p>como o réu era reincidente, em vez de absolvê-lo aplicando o princípio da</p><p>insignificância, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a pena</p><p>restritiva de direitos</p><p>Em regra, o reconhecimento do princípio da insignificância gera a absolvição do réu</p><p>pela atipicidade material. Em outras palavras, o agente não responde por nada. Em</p><p>um caso concreto, contudo, o STF reconheceu a insignificância do bem subtraído,</p><p>mas, como o réu era reincidente em crime patrimonial, em vez de absolvê-lo, o</p><p>Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a substituição da pena</p><p>privativa de liberdade por restritiva de direitos. Em razão da reincidência, o STF</p><p>entendeu que não era o caso de absolver o condenado, mas, em compensação,</p><p>determinou que a pena privativa de liberdade fosse substituída por restritiva de</p><p>direitos. STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min.</p><p>Alexandre de Moraes, julgado em 28/8/2018 (Info 913).</p><p>DISCURSIVA - Justificativas</p><p>A favor da aplicação da insignificância ao reincidente: se a natureza jurídica é de causa de exclusão de</p><p>tipicidade, deve ser analisado o FATO e não os atributos do agente, sob pena de se utilizar o direito penal do</p><p>autor. O fato não poderia ser típico para uma pessoa e atípico para outra. Ou é típico ou não é. O momento</p><p>de analisar as condições pessoais do agente é apenas em eventual e futura fixação de pena.</p><p>Contra a aplicação da insignificância ao reincidente: Se o agente é infrator contumaz, com personalidade</p><p>voltada a práticas delitivas, fazer uso da insignificância seria incentivá-lo ao contínuo descumprimento da</p><p>norma, fazendo do crime um meio de vida. O valor de um bem, isoladamente, até poderia ser insignificante,</p><p>mas o “todo” não seria e isso caracterizaria reprovabilidade e ofensividade. O intuito do princípio não é</p><p>legitimar esse tipo de conduta, mas afastar do campo de incidência do direito penal, desvios mínimos e</p><p>isolados.</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8a36dfc67ebfbbea9bd01cd8a4c8ad32?categoria=11&subcategoria=95</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8a36dfc67ebfbbea9bd01cd8a4c8ad32?categoria=11&subcategoria=95</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/631e9c01c190fc1515b9fe3865abbb15?categoria=11&subcategoria=95</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/631e9c01c190fc1515b9fe3865abbb15?categoria=11&subcategoria=95</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/631e9c01c190fc1515b9fe3865abbb15?categoria=11&subcategoria=95</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/631e9c01c190fc1515b9fe3865abbb15?categoria=11&subcategoria=95</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>41</p><p>b) INSIGNIFICÂNCIA x FURTO QUALIFICADO</p><p>STF/STJ: Via de regra, entendem não ser possível a aplicação do princípio da insignificância no furto</p><p>qualificado, pois falta o requisito do reduzido grau de reprovabilidade do comportamento. No entanto,</p><p>recentemente, o Plenário do STF analisou a questão e entendeu que não há como fixar tese sobre isso, que</p><p>também deve ser analisado caso a caso. (STF-HC 123108/MG).</p><p>Ressalta-se que, em um julgado recente, o STJ entendeu pela aplicação do referido princípio, à luz da</p><p>análise do caso concreto. Veja:</p><p>Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao furto qualificado, salvo</p><p>quando presentes circunstâncias excepcionais que recomendam a medida. A</p><p>despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista,</p><p>impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a análise conjunta</p><p>das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do fato imputado,</p><p>recomendando a aplicação do princípio da insignificância. STJ. 5ª Turma. HC</p><p>553872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info</p><p>665).</p><p>CASO CONCRETO JULGADO PELO STJ</p><p>(Situação hipotética) - Adriana e Janaína, em concurso de pessoas, subtraíram dois</p><p>pacotes de linguiça, um litro de vinho, uma lata de refrigerante e quatro salgados</p><p>de um supermercado. Os bens subtraídos foram avaliados em R$ 69,23. As duas</p><p>foram presas no estacionamento do supermercado e não houve prejuízo para o</p><p>estabelecimento.</p><p>Como regra, a aplicação do princípio da insignificância tem sido rechaçada nas</p><p>hipóteses de furto qualificado, tendo em vista que tal circunstância denota, em</p><p>tese, maior ofensividade e reprovabilidade da conduta. Deve-se, todavia,</p><p>considerar as circunstâncias peculiares de cada caso concreto, de maneira a</p><p>verificar se, diante do quadro completo do delito, a conduta do agente representa</p><p>maior reprovabilidade a desautorizar a aplicação do princípio da insignificância.</p><p>No caso concreto, a 5ª Turma do STJ aplicou o princípio da insignificância e absolveu</p><p>as acusadas. Afirmou-se que “muito embora a presença da qualificadora possa, à</p><p>primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a</p><p>análise conjunta das circunstâncias demonstra a ausência de lesividade do fato</p><p>imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância.”</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ab4c389364232588a6680ad92ec170c7?categoria=11&subcategoria=95&ano=2020</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ab4c389364232588a6680ad92ec170c7?categoria=11&subcategoria=95&ano=2020</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ab4c389364232588a6680ad92ec170c7?categoria=11&subcategoria=95&ano=2020</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>42</p><p>(Sim, amigo concurseiro, nem o STF se entende! Você não está sozinho nessa! Mas a você, cabe entender a</p><p>situação e analisar a melhor alternativa, a forma como cada uma está descrita, na hora de marcar. Se for</p><p>prova discursiva ou oral, exponha ambos posicionamentos.)</p><p>c) INSIGNIFICÂNCIA x BENS JURÍDICOS DIFUSOS/COLETIVOS</p><p>Em regra, se o bem jurídico é difuso ou coletivo, os tribunais superiores vêm entendendo pela NÃO</p><p>APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, pois se estaria atingindo a coletividade e, portanto, não</p><p>caberia a insignificância da lesão.</p><p>Além disso, normalmente os crimes contra bens jurídicos difusos/coletivos são crimes de perigo</p><p>abstrato, motivo pelo qual, de “perigo presumido” pelo legislador.</p><p>▪ Tráfico de drogas – não aplicação do princípio, por se tratar de crime de perigo abstrato (perigo</p><p>presumido, de acordo com a jurisprudência do STJ), sendo irrelevante a quantidade de droga</p><p>apreendida. HC 318926, STJ – 2015</p><p>▪ A apreensão de munições em quantidade não considerada insignificante, aliada a condenação</p><p>concomitante pelo delito de tráfico de entorpecentes, impõe o afastamento da aplicação do princípio</p><p>da insignificância. REsp 1.978.284-GO, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Quinta Turma, por</p><p>unanimidade, julgado em 14/06/2022, DJe 17/06/2022.</p><p>QUESTÃODEPROVA: Delta ES-2019: Foi considerada correta a seguinte afirmativa: “ainda que com pouca</p><p>quantidade de droga o princípio da insignificância não incide no crime de tráfico de drogas, não sendo</p><p>fundamento para recomendação de arquivamento do inquérito policial por atipicidade”.</p><p>▪ Porte de drogas para consumo pessoal – tema controvertido.</p><p>· Amplamente majoritário + jurisprudência do STJ – impossibilidade da insignificância em razão de se</p><p>tratar de crime de perigo abstrato. STJ, 6ª T, RHC 35920-DF (INFO 541)</p><p>· STF tem um precedente isolado admitindo a aplicação da insignificância (o que não indica posição</p><p>consolidada do STF). (STF, 1ª T, HC 110475/2012)</p><p>▪ Crime de moeda falsa: Inaplicabilidade do princípio, AINDA QUE SEJA 1 ÚNICA NOTA DE PEQUENO</p><p>VALOR, uma vez que se trata de crime contra a fé pública, havendo o interesse do Estado e da</p><p>coletividade em não ter a fé pública abalada por aquela falsificação. Considerando que se trata de</p><p>um bem jurídico</p><p>coletivo difuso “fé pública”, não se leva em consideração somente o aspecto</p><p>material/patrimonial do bem falsificado, mas sim um bem coletivo. Essa argumentação se aplica aos</p><p>outros crimes contra a fé pública.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>43</p><p>▪ Crimes ambientais: Em regra, nos crimes com bem jurídico difuso/coletivo, não se aplica o princípio</p><p>da insignificância, pois a lesividade/exposição a perigo transcende o aspecto individual. No entanto,</p><p>nos crimes ambientais, essa regra é invertida, uma vez que os tribunais superiores adotam como</p><p>regra a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância em crimes ambientais, devendo</p><p>ser analisadas as circunstâncias específicas no caso concreto para verificar a atipicidade da conduta</p><p>em exame/verificar se aquela conduta não gerou efetivamente um perigo ao meio ambiente. (Info</p><p>816).</p><p>É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais,</p><p>devendo ser analisadas as circunstâncias específicas do caso concreto para se</p><p>verificar a atipicidade da conduta em exame. STJ. 5° Turma. AgRg no AREsp</p><p>654.321/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/06/2015.</p><p>É possível aplicar o princípio da insignificância para crimes ambientais. STF. 2ª</p><p>Turma. Inq 3788/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1°/3/2016 (Info 816).</p><p>· Exceção à regra específica dos crimes ambientais: pela jurisprudência amplamente</p><p>dominante, não se pode aplicar o princípio da insignificância ao crime de pesca ilegal. – STF,</p><p>1ª TURMA, HC 122560/SC (2018) – Info 901</p><p>O princípio da bagatela não se aplica ao crime previsto no art. 34, caput c/c</p><p>parágrafo único, II, da Lei 9.605/98: Art. 34. Pescar em período no qual a pesca</p><p>seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena - detenção</p><p>de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo</p><p>único. Incorre nas mesmas penas quem: II - pesca quantidades superiores às</p><p>permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos</p><p>não permitidos; Caso concreto: realização de pesca de 7kg de camarão em período</p><p>de defeso com o uso de método não permitido. STF. 1ª Turma. HC 122560/SC, Rel.</p><p>Min. Marco Aurélio, julgado em 8/5/2018 (Info 901).</p><p>Outro caso concreto: realização de pesca com rede de oitocentos metros e</p><p>apreensão de oito quilos de pescados. STF. 2ª Turma. HC-AgR 163.907-RJ. Relª Min.</p><p>Cármen Lúcia, julgado em 17/03/2020.</p><p>Obs.: apesar de a redação utilizada no informativo original ter sido bem</p><p>incisiva (“O princípio da bagatela não se aplica ao crime previsto no art. 34,</p><p>caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98”), existem julgados tanto do STF</p><p>como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da insignificância para</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>44</p><p>o delito de pesca ilegal. Deve-se ficar atenta(o) para como isso será cobrado</p><p>no enunciado da prova.</p><p>Fonte: dizer o Direito</p><p>Veja as hipóteses em que a própria jurisprudência flexibiliza a exceção da pesca ilegal, como, por</p><p>exemplo:</p><p>● O STJ (Info 602 – 6ª Turma. RESP 1409051 – 2017) afirmou, de forma excepcional, pela aplicação do</p><p>princípio da insignificância no caso de pesca ilegal, na hipótese em que o indivíduo pescou 1 único</p><p>peixe e devolveu esse peixe vivo ao rio, não havendo um prejuízo efetivo ao meio ambiente.</p><p>● Se a pessoa é flagrada sem nenhum peixe efetivamente pescado, mas portando consigo</p><p>equipamentos de pesca, em um local onde essa atividade é proibida. Nessa hipótese</p><p>pontual/casuística, temos discussão nos tribunais superiores, pois há 2 julgados da mesma turma em</p><p>sentidos opostos:</p><p>· SIM (possibilidade de aplicação da insignificância) - STF (info 816) – STF, 2ª Turma, inq.</p><p>3788/DF (2016)</p><p>· NÃO – STF (info 845 – 2016) – não pode aplicar</p><p>Embora sejam julgados anteriores ao informativo 901, pode ser interessante abordar em uma prova</p><p>discursiva/oral.</p><p>d) INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES TRIBUTÁRIOS E DESCAMINHO</p><p>Em regra, o princípio da insignificância se aplica aos crimes tributários federais e de descaminho</p><p>[também é um crime tributário] quando o crédito tributário não ultrapassar o limite de 20.000 reais, a teor</p><p>do disposto no art. 20 da Lei 10.522/02 com as atualizações efetivadas pelas portarias nº 75 e 130 do</p><p>Ministério da Fazenda.</p><p>Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho</p><p>quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00</p><p>(vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as</p><p>atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da</p><p>Fazenda. STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado</p><p>em 28/02/2018 (recurso repetitivo).</p><p>Observações importantes:</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>45</p><p>1) O valor máximo para aplicar o princípio da insignificância é de 20 mil reais (e agora, tanto para o</p><p>STF como para o STJ).</p><p>Explicação para adotar o valor de 20 mil reais: (Fonte: Dizer o Direito)</p><p>⋅ Esse valor foi fixado pela jurisprudência tendo como base a Portaria MF nº 75, de 29/03/2012, na</p><p>qual o Ministro da Fazenda determinou, em seu art. 1º, inciso II, “o não ajuizamento de execuções</p><p>fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$</p><p>20.000,00 (vinte mil reais).”</p><p>⋅ Em outros termos, essa Portaria determina que, até o valor de 20 mil reais, os débitos inscritos como</p><p>Dívida Ativa da União não serão executados.</p><p>⋅ Com base nisso, a jurisprudência construiu o seguinte raciocínio: ora, não há sentido lógico permitir</p><p>que alguém seja processado criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo que nem sequer</p><p>será cobrado no âmbito administrativo-tributário. Se a própria “vítima” não irá cobrar o valor, não</p><p>faz sentido aplicar o direito penal contra o autor desse fato.</p><p>⋅ Vale lembrar que o direito penal é a última ratio. Se a Administração Pública entende que, em razão</p><p>do valor, não vale a pena movimentar a máquina judiciária para cobrar a quantia, com maior razão</p><p>também não se deve iniciar uma ação penal para punir o agente.</p><p>2) O valor de 20 mil reais para aplicação do princípio da insignificância será somente aos crimes</p><p>tributários FEDERAIS!!! Não se aplica o parâmetro dos tributos federais aos crimes tributários estaduais,</p><p>devendo ser observada a lei estadual vigente em razão da autonomia do ente federativo!!!</p><p>Não pode ser aplicado para fins de incidência do princípio da insignificância nos</p><p>crimes tributários estaduais o parâmetro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais),</p><p>estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, devendo ser observada a lei estadual</p><p>vigente em razão da autonomia do ente federativo. STJ. 5ª Turma. AgRg-HC</p><p>549.428-PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.</p><p>Obs.: nada impede que o ente estadual adote o valor de 20 mil reais, o que a decisão quis dizer é que não se</p><p>aplica esse parâmetro automaticamente, devendo o próprio Estado em razão da sua autonomia decidir o</p><p>valor a ser observado (ex: 20, 10 ou 5 mil reais).</p><p>3) Não se aplica o princípio da insignificância ao crime de contrabando!!! (Somente se aplica ao crime</p><p>de descaminho!!!)</p><p>Não se aplica porque o objeto sobre o qual recai a conduta proibida no crime de contrabando é</p><p>“mercadoria proibida”, e não a mera sonegação. Assim, o bem jurídico tutelado não é apenas a questão</p><p>financeira do ente estatal, mas também a saúde pública/incolumidade pública, uma vez que o estado, por</p><p>motivos de saúde pública/incolumidade pública, proíbe a importação ou exportação de determinada</p><p>mercadoria. (Crime pluriofensivo):</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>46</p><p>Em regra, é inaplicável o princípio da insignificância ao crime de contrabando, uma</p><p>vez que o bem juridicamente tutelado</p><p>vai além do mero valor pecuniário do</p><p>imposto elidido, alcançando também o interesse estatal de impedir a entrada e a</p><p>comercialização de produtos proibidos em território nacional. Trata-se, assim, de</p><p>um delito pluriofensivo.</p><p>STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1744739/RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em</p><p>02/10/2018</p><p>Exceção: No STJ, temos um precedente ISOLADO em sentido contrário, admitindo a aplicação do</p><p>princípio da insignificância ao crime de contrabando de pequena quantidade de medicamento destinada a</p><p>uso próprio. Trata-se de um caso extremamente específico em que o STJ reconheceu a mínima ofensividade</p><p>da conduta do agente, ausência periculosidade da ação, reduzido grau de reprovabilidade do</p><p>comportamento e inexpressividade da lesão jurídica provocada, autorizando excepcionalmente a aplicação</p><p>do princípio da insignificância:</p><p>A importação de pequena quantidade de medicamento destinada a uso próprio</p><p>denota a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade</p><p>social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a</p><p>inexpressividade da lesão jurídica provocada, tudo a autorizar a excepcional</p><p>aplicação do princípio da insignificância STJ. 5ª Turma. EDcl no AgRg no REsp</p><p>1708371/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 24/04/2018.</p><p>INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA</p><p>● STF - Antes não admitia, mas possui decisões recentes admitindo, como por exemplo, em caso de</p><p>peculato.</p><p>● STJ – Possui entendimento sumulado negando a aplicação (súmula 599).</p><p>Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração</p><p>pública.</p><p>Porém, STF e STJ admitem nos crimes contra a Administração Pública praticados por particulares, a</p><p>exemplo do descaminho, que, apesar de ser um crime tributário, topograficamente, estão inseridos no título</p><p>dos Crimes contra a Administração Pública, então cuidado em prova!</p><p>ATENÇÃO:</p><p>Informativo 742 (01/08/2022) - Admite-se, excepcionalmente, a aplicação do princípio da insignificância a</p><p>crime praticado em prejuízo da administração pública quando for ínfima a lesão ao bem jurídico tutelado.</p><p>RHC 153.480-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 24/05/2022, DJe</p><p>31/05/2022. Logo, em determinadas hipóteses, nas quais for ínfima a lesão ao bem jurídico tutelado - como</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>47</p><p>na espécie -, admite-se afastar a aplicação do entendimento sedimentado na Súmula n. 599/STJ, pois "a</p><p>subsidiariedade do direito penal não permite tornar o processo criminal instrumento de repressão moral,</p><p>de condutas típicas que não produzam efetivo dano".</p><p>HC 642.831 - Segundo a 5ª turma do STJ, o alto grau de reprovabilidade da conduta do cidadão que oferece</p><p>dinheiro ao agente de trânsito para evitar o exame do bafômetro é suficiente para impedir a aplicação do</p><p>princípio da insignificância e a consequente absolvição por atipicidade da conduta. Ressalta-se uma</p><p>peculiaridade do caso em tela: Depois da tentativa de suborno, o exame de alcoolemia deu resultado</p><p>negativo. No entanto, tal circunstância também não foi suficiente para aplicar o princípio da insignificância</p><p>ao caso.</p><p>#QUESTÃODEPROVA: Na prova de Delta ES – 2019, foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa:</p><p>“Segundo o STJ, nenhum dos crimes contra a administração pública admite a incidência do princípio da</p><p>insignificância”. A questão foi objeto de vários recursos e a banca não anulou justamente por ter utilizado a</p><p>palavra “nenhum” e ser aplicável ao descaminho. Além disso, tinha outra que era “mais certa” que essa. É</p><p>como já havíamos falado. Tem que pensar na mais certa! Fique de olho nas palavras-chave ou se a banca</p><p>pediu o entendimento sumulado.</p><p>PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS:</p><p>1. STF/STJ: para aplicação do princípio da insignificância, considera-se a capacidade econômica da vítima</p><p>(STJ-Resp. 1.224.795).</p><p>2. STF/STJ: admitem a aplicação a atos infracionais.</p><p>3. STF: O princípio da insignificância pode ser reconhecido mesmo após o trânsito em julgado da</p><p>sentença condenatória (STF-HC 95570).</p><p>4. “Flanelinha” e exercício da profissão sem registro competente: STF admite a aplicação (Info. 699).</p><p>5. STF/STJ NÃO admitem o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública, mais precisamente,</p><p>nos crimes de moeda falsa (STF-HC105.829).</p><p>6. STF/STJ: Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em situação de violência</p><p>doméstica (STJ-HC 33195/MS; STF-RHC 133043/MT).</p><p>7. STF/STJ: Ao Tráfico internacional de armas e munições não se aplica o princípio da insignificância (STF-</p><p>HC 97777), de igual modo é inaplicável aos crimes de posse e porte de arma de fogo (STJ-HC</p><p>338153/RS). Obs.: É atípica a conduta daquele que porta, na forma de pingente, munição</p><p>desacompanhada de arma. (STF - HC 133984/MG)</p><p>8. Crimes contra a vida, lesões corporais, crimes praticados com violência ou grave ameaça à pessoa,</p><p>crimes sexuais, tráfico de drogas – nenhum admite.</p><p>9. Porte de drogas para uso (art. 28 da LD) – Majoritariamente, o STF e o STJ não aplicam a</p><p>insignificância, nem mesmo em se tratando de quantidades ínfimas, pelo fato de ser crime de perigo</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>48</p><p>presumido e o bem tutelado ser a saúde pública. No entanto, há um antigo julgado isolado do STF</p><p>permitindo a aplicação.</p><p>10. Violação de direito autoral – não se aplica. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1380149/RS</p><p>11. Apropriação indébita previdenciária:</p><p>ANTES: havia divergência entre o STJ e o STJ.</p><p>AGORA: tanto o STF como o STJ afirmam que é inaplicável o princípio da insignificância ao crime de</p><p>apropriação indébita previdenciária.</p><p>Não se aplica o princípio da insignificância para o crime de apropriação indébita previdenciária. Não é</p><p>possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes de apropriação indébita previdenciária e de</p><p>sonegação de contribuição previdenciária, independentemente do valor do ilícito, pois esses tipos penais</p><p>protegem a própria subsistência da Previdência Social, de modo que é elevado o grau de reprovabilidade</p><p>da conduta do agente que atenta contra este bem jurídico supraindividual. O bem jurídico tutelado pelo</p><p>delito de apropriação indébita previdenciária é a subsistência financeira da Previdência Social. Logo, não</p><p>há como afirmar-se que a reprovabilidade da conduta atribuída ao paciente é de grau reduzido,</p><p>considerando que esta conduta causa prejuízo à arrecadação já deficitária da Previdência Social,</p><p>configurando nítida lesão a bem jurídico supraindividual. O reconhecimento da atipicidade material nesses</p><p>casos implicaria ignorar esse preocupante quadro. STF. 1ª Turma. HC 102550, Rel. Min. Luiz Fux, julgado</p><p>em 20/09/2011. STF. 2ª Turma. RHC 132706 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/06/2016. STJ.</p><p>3ª Seção. AgRg na RvCr 4.881/RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/05/2019</p><p>12. Crimes ambientais:</p><p>STJ: É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais, devendo ser analisadas as</p><p>circunstâncias específicas do caso concreto para se verificar a atipicidade da conduta em exame (STJ AgRg</p><p>no AREsp 654.321/SC).</p><p>STF: Já negou em situação de pesca ilegal, a um indivíduo flagrado junto a outras três pessoas, POR TRÊS</p><p>VEZES CONSECUTIVAS, em embarcação motorizada, praticando pesca em local proibido e com redes de</p><p>arrasto de fundo (HC 137652).</p><p>- Já negou em caso de realização de pesca de 7kg de camarão em período de defeso com o uso de método</p><p>não permitido (HC 122560/SC).</p><p>- A partir do caso acima, publicou a seguinte redação no Info 891: O princípio da bagatela não se aplica ao</p><p>crime previsto no art. 34, caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98 (pesca ilegal).</p><p>- No entanto, existem julgados tanto do STF como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da</p><p>insignificância</p><p>para este delito. Atente-se ao comando da questão!</p><p>13. É possível aplicar o princípio da insignificância para a conduta de manter rádio clandestina?</p><p>• No STJ: é pacífico que NÃO.</p><p>Súmula 606-STJ: não se aplica o princípio da insignificância aos casos de transmissão clandestina de</p><p>sinal de internet via radiofrequência que caracterizam o fato típico previsto no artigo 183 da lei</p><p>9.472/97.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>49</p><p>• No STF: o tema ainda é controverso.</p><p>-1ª Turma do STF: é inaplicável o princípio da insignificância no crime de transmissão clandestina de</p><p>sinal de internet, por configurar o delito previsto no art. 183 da Lei nº 9.472/97, que é crime formal, e,</p><p>como tal, prescinde de comprovação de prejuízo para sua consumação.STF. 1ª Turma. HC 124795 AgR,</p><p>Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 23/08/2019.</p><p>-2ª Turma do STF:O princípio da insignificância também se aplica ao fornecimento clandestino de</p><p>internet tipificado no art. 183 da Lei nº 9.472/97 desde que (i) a conduta seja minimamente ofensiva</p><p>do agente, (ii) não haja risco social da ação, (iii) seja reduzido grau de reprovabilidade do</p><p>comportamento e (iv) inexpressiva a lesão jurídica. A expressividade da lesão jurídica deve ser</p><p>verificada in concreto à luz do alcance do alcance dos aparelhos consignado em laudo da autoridade</p><p>regulatória.Ausente laudo que ateste a expressividade concreta da lesão e havendo indícios de sua</p><p>inexpressividade, deve incidir o princípio da insignificância, a autorizar a concessão da ordem.</p><p>STF. 2ª Turma. HC 161483 AgR, Rel. Edson Fachin, julgado em 07/12/2020. STF. 2ª Turma. HC 165577</p><p>AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Rel. p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 08/09/2021.</p><p>14. STJ – Info 672/2020: Não se admite a incidência do princípio da insignificância na prática de</p><p>estelionato qualificado por médico que, no desempenho de cargo público, registra o ponto e se retira</p><p>do hospital.</p><p>Cinge-se a controvérsia a saber acerca da possibilidade do trancamento de ação penal pelo</p><p>reconhecimento de crime bagatelar no caso de médico que, no desempenho de seu cargo público, teria</p><p>registrado seu ponto e se retirado do local, sem cumprir sua carga horária. A jurisprudência desta Corte</p><p>Superior de Justiça não tem admitido, nos casos de prática de estelionato qualificado, a incidência do</p><p>princípio da insignificância, inspirado na fragmentariedade do Direito Penal, em razão do prejuízo aos</p><p>cofres públicos, por identificar maior reprovabilidade da conduta delitiva. Destarte, incabível o pedido de</p><p>trancamento da ação penal, sob o fundamento de inexistência de prejuízo expressivo para a vítima,</p><p>porquanto, em se tratando de hospital universitário, os pagamentos aos médicos são provenientes de</p><p>verbas federais. AgRg no HC 548.869-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, por unanimidade,</p><p>julgado em 12/05/2020, DJe 25/05/2020</p><p>#ATENÇÃO: Delegado pode aplicar o princípio da insignificância?</p><p>Para o STJ NÃO! Apenas o juiz pode. HC 154.949/MG. Assim, a autoridade policial estaria obrigada a</p><p>efetuar a prisão em flagrante, submetendo a questão à análise de autoridade judiciária.</p><p>No entanto, parte da doutrina, a exemplo de Cleber Masson, posiciona-se contra tal entendimento,</p><p>pelo fato de tratar a insignificância de afastamento da tipicidade do fato. E ora, se o fato não é típico para</p><p>o juiz, também não será para delegado!</p><p>Para esta segunda corrente, principalmente na análise da legalidade da prisão em flagrante, o</p><p>delegado não só poderia, como DEVERIA analisar a presença dos elementos que traduzem a insignificância,</p><p>http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?origemPesquisa=informativo&origemPesquisa=informativo&tipo=num_pro&valor=HC548869</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>50</p><p>vez que não seria razoável ratificar a prisão de quem subtraiu um pão de queijo de uma padaria, por exemplo,</p><p>sob pena de inobservância de vários princípios, como lesividade, proporcionalidade, subsidiariedade,</p><p>intervenção mínima.</p><p>No estado de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, no Seminário Integrado de Polícia Judiciária,</p><p>foram aprovadas súmulas que orientam a atuação dos delegados nesse sentido. O estado do Paraná, embora</p><p>não possuam súmulas, utilizam as do Rio de Janeiro, de modo que os delegados de polícia lá aplicam o</p><p>princípio da insignificância!</p><p>A solução para que você, caro aluno, resolva a questão, é analisar a forma como isso está sendo</p><p>questionado. Se a pergunta for sobre o STJ, delegado não pode. Se a questão afirmar de forma mais próxima</p><p>ao entendimento doutrinário, for de um estado como o de São Paulo que já se posicionou sobre o tema ou</p><p>for silente sobre a fonte e essa opção “parecer a mais certa”, tome partido da carreira e marque a que</p><p>permite a análise pelo delegado.</p><p>Para finalizar o estudo deste princípio, precisamos ainda fazer uma última diferenciação: BAGATELA</p><p>PRÓPRIA X BAGATELA IMPRÓPRIA1, o que faremos com a ajuda do Dizer o Direito.</p><p>INFRAÇÃO BAGATELAR PRÓPRIA</p><p>= PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA</p><p>INFRAÇÃO BAGATELAR IMPRÓPRIA</p><p>= PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA PENAL DO FATO</p><p>A situação já nasce atípica.</p><p>O fato é atípico por atipicidade material.</p><p>A situação nasce penalmente relevante. O fato é</p><p>típico do ponto vista formal e material.</p><p>Em virtude de circunstâncias envolvendo o fato e o</p><p>seu autor, consta-se que a pena se tornou</p><p>desnecessária.</p><p>O agente não deveria nem mesmo ser processado</p><p>já que o fato é atípico.</p><p>O agente tem que ser processado (a ação penal</p><p>deve ser iniciada) e somente após a análise das</p><p>peculiaridades do caso concreto, o juiz poderia</p><p>reconhecer a desnecessidade da pena.</p><p>Não tem previsão legal no direito brasileiro.</p><p>Está previsto no art. 59 do CP, conforme a doutrina.</p><p>Enquanto para a infração bagatelar própria já nasce irrelevante por se tratar de conduta</p><p>materialmente atípica, “a infração bagatelar imprópria é aquela que nasce relevante para o Direito penal,</p><p>mas depois se verifica que a aplicação de qualquer pena no caso concreto apresenta-se totalmente</p><p>1 Fonte: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/01/ebook-princc3adpio-da-insignificc3a2ncia-vf.pdf</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>51</p><p>desnecessária” (GOMES, Luiz Flávio; Antonio Garcia-Pablos de Molina. Direito Penal Vol. 2, São Paulo: RT,</p><p>2009, p.305)”.</p><p>Em outras palavras, o fato é típico, tanto do ponto de vista formal como material. No entanto, em</p><p>um momento posterior à sua prática, percebe-se que não é necessária a aplicação da pena. Logo, a</p><p>reprimenda não deve ser imposta, deve ser relevada (assemelhando-se ao perdão judicial.</p><p>Porém, ao contrário do instituto mencionado, as situações em que a bagatela imprópria é aplicável</p><p>não estão expressamente previstas.</p><p>Segundo LFG, este instituto possui fundamento legal no direito brasileiro (porém, de forma implícita</p><p>e “genérica” – termos nossos). Trata-se do art. 59 do CP que prevê que o juiz deverá aplicar a pena “conforme</p><p>seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”.</p><p>Dessa forma, se a pena não for mais necessária, ela não deverá ser imposta (princípio da</p><p>desnecessidade da pena conjugado com o princípio da irrelevância penal do fato).</p><p>A bagatela imprópria foi acolhida pela 5ª Turma do STJ, confirmando decisão da 1ª e 2ª instâncias</p><p>judiciais no AgRg no AREsp 1423492 / RN (decisão publicada 29/05/2019)</p><p>PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. POSSE ILEGAL</p><p>DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. CRIME SEM</p><p>VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA. DELITO COMETIDO HÁ MAIS DE 12 ANOS.</p><p>INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA BAGATELA IMPRÓPRIA. REQUISITOS PREENCHIDOS.</p><p>DESNECESSIDADE DA PENA. REEXAME DO CONJUNTO PROBATÓRIO. APLICAÇÃO</p><p>DA SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – STJ. AGRAVO REGIMENTAL</p><p>DESPROVIDO. 1. Entendo as instâncias ordinárias</p><p>ser desnecessária a punição do</p><p>acusado, porque presentes os requisitos para a aplicação do princípio da bagatela</p><p>imprópria, para se concluir de forma diversa, seria imprescindível o reexame do</p><p>conjunto probatório dos autos, o que não é viável em recurso especial. Incidente a</p><p>Súmula n. 7/STJ. 2. Agravo regimental desprovido.</p><p>SIMPLIFICANDO:</p><p>- Princípio da insignificância ou da bagatela própria – O fato já nasce atípico, por atipicidade material.</p><p>- Natureza jurídica bagatela própria: Causa Supralegal de extinção de tipicidade material, devendo ser</p><p>analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima.</p><p>- Princípio da insignificância imprópria: pressupõe uma análise do que ocorreu após a prática do crime até</p><p>o momento do julgamento. Exemplo: o réu se casou, teve filhos, tem uma empresa com mais de 50</p><p>funcionários. Nesses casos o juiz reconhece a existência do crime, mas conclui que a pena não é necessária.</p><p>Aqui não há causa supralegal de exclusão de tipicidade, há causa supralegal de extinção de punibilidade. O</p><p>Estado reconhece o crime, mas conclui pela desnecessidade da punição, ela não é mais vantajosa para a</p><p>sociedade.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>52</p><p>A análise da pertinência da bagatela imprópria há de ser realizada, obrigatoriamente, na situação fática,</p><p>jamais no plano abstrato. Atente-se também para a necessidade de se observar que a bagatela imprópria</p><p>tem como pressuposto inafastável a não incidência do princípio da insignificância (próprio). Afinal, se o fato</p><p>não era merecedor da tutela penal em decorrência da sua atipicidade, descabe enveredar pela discussão</p><p>acerca da necessidade ou não da pena.</p><p>- Natureza jurídica bagatela imprópria: Causa supralegal de extinção de punibilidade. O estado reconhece o</p><p>crime, mas conclui pela desnecessidade da pena, a punição não é vantajosa para a sociedade.</p><p>CAIU NA PROVA PC-MS – 2021 – Delegado de Polícia! Apesar de serem conceituadas de maneira diferente,</p><p>a bagatela própria e a imprópria, sob o ponto de vista pragmático, geram a mesma consequência, que é a</p><p>exclusão da tipicidade material. (Item incorreto) Como mencionado acima, bagatela própria é causa de</p><p>exclusão de tipicidade material e bagatela imprópria causa da exclusão da punibilidade.</p><p>7.2 Princípios Relacionados com o Fato do Agente</p><p>7.2.1 Princípio da Ofensividade/Lesividade</p><p>Não pode haver crime sem que haja conteúdo ofensivo a bens jurídicos. A doutrina mais</p><p>especializada aponta uma fundamentação implícita ao princípio da lesividade na ideia de dignidade da</p><p>pessoa humana, no sentido de que não se pode instrumentalizar ou objetificar o homem. Então, quando o</p><p>Estado criminaliza condutas sem que haja ofensa ou ao menos perigo de ofensa a um bem jurídico tutelado,</p><p>está colocando o homem (que está recebendo aquela reprimenda) como instrumento para a consecução de</p><p>outra finalidade que não a proteção do próprio homem (ex.: um controle social que não é legítimo).</p><p>Nesse contexto, para que ocorra o delito, é imprescindível a efetiva lesão ou perigo de lesão ao bem</p><p>jurídico tutelado.</p><p>Crime de dano: exige efetiva lesão ao bem jurídico. (Ex.: homicídio, exige a lesão morte).</p><p>Crime de perigo: contenta-se com o risco de lesão ao bem jurídico. (Ex. abandono de incapaz/omissão de</p><p>socorro).</p><p>a. crime de perigo concreto - o risco de lesão deve ser demonstrado.</p><p>b. perigo abstrato: o risco de lesão é absolutamente presumido por lei.</p><p>Temos doutrina entendendo que o crime de perigo abstrato é inconstitucional, pois o perigo não pode ser</p><p>presumido, mas comprovado. Presumir-se prévia e abstratamente o perigo, significa, em última análise, que</p><p>o perigo não existe. Para os adeptos dessa corrente, os crimes de perigo abstrato violariam o princípio da</p><p>lesividade. Essa tese, no entanto, hoje não prevalece no STF. No HC 104.410, o Supremo decidiu que a</p><p>criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só, comportamento inconstitucional, mas</p><p>proteção eficiente do Estado.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>53</p><p>Ex.: Embriaguez ao volante – STF decidiu que o ébrio não precisa dirigir de forma anormal para configurar o</p><p>crime – bastando estar embriagado (crime de perigo abstrato).</p><p>Ex.: Arma desmuniciada – STF – jurisprudência atual – crime de perigo abstrato – demanda efetiva proteção</p><p>do Estado.</p><p>Nesse sentido, considerando que o princípio da ofensividade exige que, do fato praticado, ocorra</p><p>lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, é certo concluir que o direito penal não deve se ocupar de</p><p>questões éticas, morais, religiosas, políticas, filosóficas. Assim, em razão do princípio da lesividade, PROÍBE-</p><p>SE:</p><p>⋅ A criminalização de pensamentos e cogitações (direito à perversão)</p><p>⋅ A criminalização de condutas que não tenham caráter transcendental (vedação à autolesão)</p><p>⋅ A criminalização de meros estados existenciais (criminalização da pessoa pelo que ela é – ex:</p><p>revogação da contravenção de mendicância).</p><p>Aprofundando para prova discursiva...</p><p>O princípio da lesividade está diretamente ligado à ideia de bem jurídico, com a chamada: teoria do bem</p><p>jurídico. Na vertente do funcionalismo teleológico e racional (Roxin), a teoria do BJ ganha um destaque muito</p><p>grande em toda a sistemática penal como uma forma de limitar o poder de punir do estado, como uma forma</p><p>de limitar a incidência de tipos penais</p><p>São de 4 ordens/ funções e garantias do princípio da lesividade</p><p>1) Proibição de incriminar uma atitude interna – motivo pelo qual não se pune a cogitação (fase interna do</p><p>inter criminis)</p><p>2) Proibição de incriminar condutas que não excedam o âmbito do autor – motivo pelo qual não se pune a</p><p>autolesão.</p><p>3) Proibição de incriminar simples estados ou condições existenciais - tendo em vista que nosso ordenamento</p><p>Jurídico adota o direito penal do fato – e não direito penal do autor.</p><p>4) Proibição de incriminar condutas desviadas que não afetam qualquer bem jurídico - motivo pelo qual não</p><p>se pune o crime impossível e, em regra, os atos preparatórios.</p><p>7.2.2 Princípio da Alteridade</p><p>Subprincípio do princípio da lesividade. Dispõe que a conduta deve necessariamente atingir, ou</p><p>ameaçar atingir, bem jurídico de terceiro para ser criminalizada. Deve transcender a esfera do próprio</p><p>agente. Por isso, o direito penal não pune a autolesão.</p><p>Ex.: o artigo 28 da Lei 11.343/06 NÃO tipifica o USO de drogas porque apenas afetaria o usuário.</p><p>Tipifica o porte ou similares (guardar, ter em depósito, transportar etc.).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>54</p><p>7.2.3 Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato</p><p>O Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, fatos, atos lesivos. Ninguém pode ser</p><p>castigado por seus pensamentos, desejos ou meras cogitações ou estilo de vida. Esse princípio busca impedir</p><p>o direito penal do autor. Decorrência do princípio da lesividade.</p><p>7.2.4 Princípio Da Legalidade Estrita Ou Reserva Legal</p><p>Encontra previsão no art. 5º, XXXIX da CFRB/88 e no art. 1º do CP: “Não há crime sem lei anterior</p><p>que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Assim, a lei em sentido estrito tem o monopólio na</p><p>criação de crimes e cominação de penas – que só serão aplicados a condutas posteriores à sua vigência, não</p><p>podendo haver criação de crimes e penas por costumes ou analogias, tampouco tipificação de condutas</p><p>genéricas.</p><p>Ademais, a lei precisa ser anterior, escrita, estrita, certa (taxativa) e necessária.</p><p>A legalidade subdivide-se em:</p><p>o Legalidade formal: corresponde à obediência aos trâmites procedimentais previstos pela CF para</p><p>que determinado diploma legal possa vir a fazer parte do ordenamento jurídico.</p><p>o Legalidade material: pressupõe não apenas a observância das formas e procedimentos impostos</p><p>pela CF, mas também, e principalmente, o seu conteúdo,</p><p>respeitando-se as suas proibições e</p><p>imposições para a garantia dos direitos fundamentais por ela previstos.</p><p>A doutrina trabalha com uma dupla face do princípio da legalidade. Ora legitimando o Estado, ora</p><p>limitando esse poder de punir. Veja:</p><p>1) Funções constitutivas - em que eu garanto ao Estado a possibilidade de criminalizar condutas e</p><p>cominar penas. Aqui estou trabalhando com o plano da legalidade no sentido de legitimar o Estado</p><p>a exercer seu direito de punir através da criminalização de conduta e cominação de penas.</p><p>Quando falamos em legalidade na função constitutiva, estou abrangendo a legalidade não só na pena</p><p>cominada, mas na pena aplicada e pena executada também.</p><p>● Princípio da legalidade direcionado ao legislador – ao cominar as penas</p><p>● Princípio da legalidade direcionado ao aplicador do direito – quando o juiz veda que se aplique um</p><p>regime de cumprimento de pena mais severo do que o previsto pelo legislador, por exemplo.</p><p>● Princípio da legalidade direcionado à Administração Penitenciária - Os órgãos não podem executar</p><p>pena diversa daquela prevista em lei e aplicada pelo juiz.</p><p>Enunciado da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>55</p><p>Enunciado 13: O princípio da legalidade impõe que se observe, quando da soma</p><p>das penas, o cálculo diferenciado para fins de progressão de regime.</p><p>2) Funções de garantia (face de garantia) – busca limitar o poder de punir do estado trazendo garantias</p><p>mínimas ao cidadão perante o estado. Exclui penas ilegais, por exemplo. Nesse ponto, o princípio da</p><p>legalidade se desdobra em 4 máximas:</p><p>I. Lex scripta: A lex scripta proíbe que se utilize dos costumes como fonte incriminadora do direito</p><p>penal</p><p>II. Lex stricta: proibição do emprego da analogia in malan partem</p><p>III. Lex Praevia: Representa o princípio da anterioridade penal: veda a criminalização ex post facto</p><p>IV. Lex certa (aspecto material do princípio da legalidade): A lex certa materializa a proibição de o</p><p>legislado formular tipos penais genéricos, vazios, vagos etc. (Princípio da taxatividade)</p><p>Confira a dica do professor Marcelo Veiga sobre princípio da legalidade:</p><p>https://youtu.be/NGC5PQ7VMOA</p><p>Caiu em prova! - Dentre as proibições derivadas do princípio da legalidade, a fórmula lex scripta representa</p><p>a proibição do costume como fundamento de criminalização ou de punição de condutas, e a fórmula lex certa</p><p>representa a proibição de indeterminação, de forma a excluir a indefinição e a obscuridade de leis penais –</p><p>ASSERTIVA CORRETA!</p><p>CESPE/2019: A norma penal deve ser instituída por lei em sentido estrito, razão por que é proibida, em</p><p>caráter absoluto, a analogia no direito penal, seja para criar tipo penal incriminador, seja para fundamentar</p><p>ou alterar a pena. Item Errado.</p><p>Fundamentos do princípio da legalidade:</p><p>o Político: vinculação do executivo e do judiciário às leis, o que impede o exercício do poder punitivo</p><p>com base no livre arbítrio.</p><p>https://youtu.be/NGC5PQ7VMOA</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>56</p><p>o Democrático: o parlamento, escolhido pelo povo, que é responsável pela criação dos tipos</p><p>definidores dos crimes.</p><p>o Jurídico: a lei deve ser prévia e clara, pois produz efeito intimidativo.</p><p>Segundo Masson, o princípio da reserva legal possui dois fundamentos, quais sejam:</p><p>- Fundamento jurídico: é a taxatividade, certeza ou determinação, pois implica, por parte do legislador, a</p><p>determinação precisa, ainda que mínima, do conteúdo do tipo penal e da sanção penal a ser aplicada, bem</p><p>como da parte do juiz, na máxima vinculação ao mandamento legal. Como desdobramento lógico da</p><p>taxatividade, o Direito Penal não tolera a analogia in malam partem.</p><p>- Fundamento político: é a proteção do ser humano em face do arbítrio do Estado no exercício do seu poder</p><p>punitivo. Enquadra-se, destarte, entre os direitos fundamentais de 1° geração (ou dimensão). (MASSON,</p><p>2017, p. 25).</p><p>* ATENÇÃO: Medida provisória não pode criar crimes nem penas, mas STF admite para favorecer o réu (RE</p><p>254818/PR).</p><p>* ATENÇÃO²: os princípios da reserva legal (estrita legalidade) e o da legalidade são considerados como</p><p>sinônimos por parte da doutrina, enquanto outra corrente defende que se diferenciam nos seguintes</p><p>aspectos:</p><p>RESERVA LEGAL (estrita legalidade) LEGALIDADE</p><p>Art. 5°, XXXIX, CF, “não há crime sem lei</p><p>anterior que o defina, nem pena sem prévia</p><p>cominação legal”.</p><p>Exige lei em sentido estrito (no caso do</p><p>direito penal, lei ordinária) - a lei deve ser</p><p>criada de acordo com o processo legislativo</p><p>previsto na CF e deve tratar de matéria</p><p>constitucionalmente reservada à lei</p><p>Art. 5, II, CF, “ninguém será obrigado a fazer</p><p>ou deixar de fazer alguma coisa senão em</p><p>virtude de lei”.</p><p>Exige lei em sentido amplo (abrange qualquer</p><p>espécie normativa, ou seja, lei delegada,</p><p>medida provisória, decreto, etc.).</p><p>7.2.4.1 Mandados de Criminalização e Reserva Legal</p><p>Em que pese a criação de crimes e cominação de penas seja exclusiva da lei em sentido estrito, a</p><p>Constituição Federal estabelece mandados explícitos e implícitos de criminalização, ou seja, situações em</p><p>que é obrigatória a intervenção do legislador penal.</p><p>Conforme já afirmado pelo STF, “A Constituição de 1988 contém significativo elenco de normas que,</p><p>em princípio, não outorgam direitos, mas que, antes, determinam a criminalização de condutas (CF, art. 5º,</p><p>XLI, XLII, XLIII, XLIV; art. 7º, X; art. 227, § 4º)” (HC 102.087/MG).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>57</p><p>Podem ser de duas espécies:</p><p>MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO EXPRESSOS MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO</p><p>IMPLÍCITOS/TÁCITOS</p><p>A ordem está explícita no texto constitucional. A ordem está implícita no texto constitucional. É</p><p>retirada da do “espírito” do texto da CF, de sua</p><p>interpretação sistemática.</p><p>Ex.: Art. 5º, XLII: “a prática do racismo constitui</p><p>crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena</p><p>de reclusão, nos termos da lei”.</p><p>Ex: combate à corrupção no poder público.</p><p>Embora a CF não tenha determinado</p><p>expressamente a criminalização dessa conduta,</p><p>isso pode ser extraído dos valores que ela traz,</p><p>como por exemplo, do artigo 1º (por ser República,</p><p>que significa “coisa pública”) e do art. 37, dos</p><p>princípios da Adm. Pública (LIMPE).</p><p>Tema recente: Até 2016, o crime de terrorismo ainda não tinha sido concretizado na legislação brasileira.</p><p>Pela Lei 13.260/16, houve o cumprimento desse mandado de criminalização.</p><p>#VAICAIR: O que seria mandado de criminalização por omissão? Consiste na hipótese do art. 5º, XLIII da CF,</p><p>que determina que a omissão, nos casos de crimes hediondos e equiparados, deve ser punida.</p><p>A título de conhecimento, há ainda os “mandados internacionais de criminalização”, que também podem</p><p>ser expressos, quando essa “ordem” está presente em tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil,</p><p>e implícitos, quando advém de uma decisão/sentença de tribunal internacional.</p><p>7.2.5 Princípio da Anterioridade</p><p>Exteriorizado nos mesmos dispositivos que podemos extrair o princípio da reserva legal.</p><p>De acordo com o princípio da anterioridade, a lei penal apenas se aplica a fatos praticados após a sua</p><p>entrada em vigor.</p><p>Daí, por consequência lógica, deriva a sua irretroatividade, não se aplicando a fatos pretéritos, nem</p><p>mesmo os praticados durante a vacatio legis, SALVO se benéfica ao acusado.</p><p>Nesse sentido, temos o art. 5º XL da CF, dispondo que “a lei penal não retroagirá, salvo para</p><p>beneficiar o réu”.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>58</p><p>7.2.6 Princípio da Vedação ao Bis In Idem</p><p>Tem previsão no art. 8º, 4 do Pacto de São José da Costa Rica, incorporado ao nosso ordenamento</p><p>jurídico pelo Dec. 678/1992.</p><p>Proíbe que o agente seja punido duas vezes pelo mesmo fato, inclusive</p><p>do Devido Processo Legal ............................................................................................................... 92</p><p>4.1.11 Juiz Imparcial ou Natural ............................................................................................................................... 92</p><p>4.2 Princípios Constitucionais Implícitos ...................................................................................................................... 94</p><p>4.2.1 Princípio do Nemo Tenetur Se Detegere (Princípio De Que Ninguém Está Obrigado A Produzir Prova Contra Si</p><p>Mesmo) ..................................................................................................................................................................... 94</p><p>4.2.2 Princípio da Iniciativa das Partes ................................................................................................................... 102</p><p>4.2.3 Duplo Grau de Jurisdição ............................................................................................................................... 102</p><p>4.2.4 Princípio da Oficialidade ................................................................................................................................ 102</p><p>4.2.5 Princípio da Oficiosidade ............................................................................................................................... 103</p><p>5. OUTROS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL .............................................................................................. 103</p><p>5.1 Princípio da Oralidade .......................................................................................................................................... 103</p><p>5.2 Indivisibilidade da Ação Penal Privada ................................................................................................................. 103</p><p>5.3 Comunhão da Prova ............................................................................................................................................. 103</p><p>5.4 Impulso Oficial ...................................................................................................................................................... 104</p><p>6. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL ............................................................................................................... 104</p><p>6.1 Aplicação da Lei Processual no Tempo ................................................................................................................. 104</p><p>6.2 Aplicação da Lei Processual no Espaço: ................................................................................................................ 106</p><p>6.3 Aplicação da Lei Processual em Relação às Pessoas ............................................................................................ 107</p><p>7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL ........................................................................................... 110</p><p>8. FONTES ...................................................................................................................................................... 112</p><p>8.1 Fonte Material, Substancial ou de Produção ....................................................................................................... 112</p><p>8.2 Fonte Formal, Cognitiva ou de Cognição .............................................................................................................. 112</p><p>QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 114</p><p>META 3 .......................................................................................................................................................... 115</p><p>DIREITO CONSTITUTICIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ...................................................... 115</p><p>1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS .................................................................................................................. 116</p><p>2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS .................................................................................................. 121</p><p>2.1 Direitos x Garantias x Remédios Constitucionais ................................................................................................. 121</p><p>2.2 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos ......................................................................................................... 122</p><p>2.3 Geração dos direitos fundamentais: .................................................................................................................... 124</p><p>2.4 Características dos direitos fundamentais ........................................................................................................... 130</p><p>2.5 Dimensão dos Direitos Fundamentais .................................................................................................................. 132</p><p>2.5.1 Desdobramentos da dimensão objetiva dos Direitos Fundamentais ............................................................ 132</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>2.6 Direitos individuais implícitos e explícitos ............................................................................................................ 134</p><p>2.7 Destinatários ........................................................................................................................................................ 136</p><p>2.8 Os Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988 ................................................................................ 137</p><p>2.8.1. Não taxatividade dos direitos fundamentais e tratados de direitos humanos ............................................. 138</p><p>2.8.2. Hierarquia dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos ..................................................................... 139</p><p>2.9 Alguns direitos individuais – rol do art. 5º da CF/88 ............................................................................................ 140</p><p>3. DIREITOS SOCIAIS ...................................................................................................................................... 178</p><p>QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 188</p><p>META 4 .......................................................................................................................................................... 189</p><p>DIREITO ADMINISTRATIVO: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ........................................................................ 189</p><p>1. ORIGEM, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ................................................ 190</p><p>2. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................................................... 190</p><p>3. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO .................................................................................................. 191</p><p>4. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO: ............................................................................................................... 192</p><p>5. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................................ 194</p><p>5.1 Administração Pública Extroversa e Introversa .................................................................................................... 195</p><p>5.2 Tendências atuais do Direito Administrativo ....................................................................................................... 195</p><p>5.3 Transadministrativismo ........................................................................................................................................ 195</p><p>6. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO.....................................................................................................</p><p>sopesando a mesma situação</p><p>ou circunstância para agravar a pena em mais de um momento da dosimetria. Como exemplo, temos a</p><p>Súmula 241 do STJ que proíbe o uso de uma única reincidência como circunstância judicial desfavorável e</p><p>como agravante, pois haveria violação a este princípio.</p><p>7.2.7 Princípio da Adequação Social</p><p>Idealizado por Hans Welzel, este princípio traz a ideia de que as condutas tidas por socialmente</p><p>adequadas não poderiam constituir delitos, pois o tipo penal implica em uma seleção de comportamentos</p><p>reprováveis cuja sociedade realiza um desvalor da ação e do resultado. Dessa forma, não caberia a</p><p>criminalização de comportamentos nos quais não há esse desvalor.</p><p>Comporta duas vertentes, reduzindo a abrangência do tipo penal.</p><p>1. Se o fato está de acordo com a norma, mas não está de acordo com o interesse social, a conduta</p><p>deverá ser tida como atípica.</p><p>2. Também deve ser direcionado ao legislador. Isso porque, se a conduta está de acordo com a</p><p>sociedade, o legislador não pode criminalizar esta conduta, orientando o parlamentar a como</p><p>proceder na definição dos bens jurídicos a ser tutelados.</p><p>Há 3 correntes sobre a natureza jurídica do princípio da adequação social:</p><p>1. Excludente da tipicidade (doutrina majoritária): A adequação social exclui a tipicidade material</p><p>da conduta, não seria crime uma vez que a conduta não é socialmente reprovável/é socialmente</p><p>adequada. De acordo com Toledo, "a adequação social exclui desde logo a conduta em exame</p><p>do âmbito de incidência do tipo, situando-a entre os comportamentos normalmente permitidos,</p><p>isto é, materialmente atípicos". O autor cita o exemplo de lesões corporais causadas por um</p><p>pontapé em partidas de futebol.</p><p>Caiu em prova Delegado MG 2021!! O princípio da adequação social funciona como causa supralegal de</p><p>exclusão da tipicidade, não podendo ser considerado criminoso o comportamento humano socialmente</p><p>aceito e adequado, que, embora tipificado em lei, não afronte o sentimento social de justiça. (item correto).</p><p>2. Excludente da ilicitude - Há doutrinadores minoritários dizendo que seria uma excludente da</p><p>ilicitude (no plano da ilicitude material). O problema é que hoje não se divide mais ilicitude</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>59</p><p>material e ilicitude formal. Então a tipicidade material da conduta acaba antecipando algumas</p><p>análises que seriam feitas na ilicitude</p><p>3. Regra geral de hermenêutica/princípio geral de interpretação: A jurisprudência caminha de</p><p>forma tranquila e dominante no sentido de que a adequação social deve sofrer uma aplicação</p><p>restritiva no direito penal, comportando 2 vertentes:</p><p>● 1ª vertente – voltada ao legislador (função seletiva) – vertente meramente</p><p>orientadora, pois busca orientar o legislador para que esse não selecione condutas</p><p>socialmente adequadas para serem criminalizadas.</p><p>● 2ª vertente – voltada ao intérprete (função interpretativa limitadora) – traduz uma</p><p>regra geral de hermenêutica/ princípio geral de interpretação. Assim, em havendo várias</p><p>interpretações possíveis, pela adequação social, exclui a incidência do tipo penal das</p><p>hipóteses que são socialmente adequadas.</p><p>APROFUNDANDO PARA PROVA DISCURSIVA:</p><p>Crítica da doutrina: Essa aplicação restritiva (solução dada pela jurisprudência) acaba esvaziando a própria</p><p>força normativa dos princípios em geral e, sobretudo, do princípio da adequação social. E uma vez esvaziando</p><p>a força normativa do princípio da adequação social, deixa-se de utilizar um princípio (mesmo implícito na</p><p>CF/88) como parâmetro para controle de constitucionalidade.</p><p>Há forte crítica na doutrina acerca deste princípio, pelo fato de adotar um critério impreciso,</p><p>inseguro e relativo.</p><p>Importante saber que, segundo o STJ, o princípio da adequação social não afasta a</p><p>tipicidade da conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas, como se verifica do</p><p>enunciado da Súmula 502 do STJ: Súmula 502 - "Presentes a materialidade e a</p><p>autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2°, do CP, a</p><p>conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas".</p><p>CESPE/2018 - A fim de garantir o sustento de sua família, Pedro adquiriu 500 CDs e DVDs piratas para</p><p>posteriormente revendê-los. Certo dia, enquanto expunha os produtos para venda em determinada praça</p><p>pública de uma cidade brasileira, Pedro foi surpreendido por policiais, que apreenderam a mercadoria e o</p><p>conduziram coercitivamente até a delegacia. Com referência a essa situação hipotética, julgue o item</p><p>subsequente. O princípio da adequação social se aplica à conduta de Pedro, de modo que se revoga o tipo</p><p>penal incriminador em razão de se tratar de comportamento socialmente aceito. (Item incorreto)</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>60</p><p>7.3 Princípios Relacionados com o Agente do Fato</p><p>7.3.1 Princípio da Responsabilidade Pessoal / Da Pessoalidade / Da Intranscendência Da Pena</p><p>De acordo com esse princípio, a responsabilidade penal é sempre uma responsabilidade pessoal, que</p><p>não pode ultrapassar a pessoa do autor do crime, motivo pelo qual se proíbe o castigo penal pelo fato de</p><p>outrem. Somente o condenado é que terá de se submeter à sanção que lhe foi aplicada pelo Estado.</p><p>No entanto, os efeitos secundários extrapenais da sentença penal condenatória (obrigação de</p><p>reparar o dano e decretação de perdimento de bens), podem se estender aos sucessores até o limite da</p><p>herança.</p><p>Art. 5º, XLV da CF – “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a</p><p>obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos</p><p>da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do</p><p>patrimônio transferido”.</p><p>Desse princípio decorre:</p><p>● OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA ACUSAÇÃO: É proibida a denúncia genérica, vaga ou</p><p>evasiva, embora nos Crimes Societários, os Tribunais flexibilizam essa obrigatoriedade;</p><p>● OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA.</p><p>7.3.2 Princípio da Responsabilidade Subjetiva</p><p>Não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, o agente somente pode ser</p><p>responsabilizado se o fato tiver sido querido, assumido ou previsto. Não há responsabilidade penal sem dolo</p><p>ou culpa.</p><p>Questão: Polícia Civil do DF – Concurso Delegado Civil 2ª Fase – temos doutrina anunciado dois CASOS de</p><p>responsabilidade penal objetiva (autorizados por lei):</p><p>● 1ª Embriaguez voluntária - Crítica: A teoria da actio libera in causa que permite a punição do agente</p><p>completamente embriagado, não sendo a embriaguez acidental, exige não somente uma análise</p><p>pretérita da imputabilidade, mas também da consciência e vontade do agente. Exige</p><p>responsabilidade subjetiva.</p><p>● 2ª Rixa qualificada. *qualificado pela lesão grave e morte. Independentemente de quem tenha</p><p>causado a lesão ou morte, todos responderão pela rixa qualificada. Crítica: só responde pelo</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>61</p><p>resultado agravador, isto é, o crime de lesão, quem atuou com dolo, evitando-se responsabilidade</p><p>penal objetiva.</p><p>7.3.3 Princípio da Culpabilidade</p><p>Só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável (penalmente capaz), com potencial</p><p>consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito do comportamento), quando dele exigível</p><p>conduta diversa (podendo agir de outra forma).</p><p>Confira a dica do professor Marcelo Veiga:</p><p>https://youtu.be/0RP8wpUwu2M</p><p>7.3.4 Princípio da Proporcionalidade</p><p>Exige que se faça um juízo de ponderação sobre a relação existente entre o bem que é lesionado ou</p><p>posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que alguém pode ser privado (gravidade da pena). Toda vez</p><p>que, nessa relação, houver um desequilíbrio acentuado, haverá desproporção. Ou seja, a pena deve ser</p><p>proporcional à gravidade do fato.</p><p>O presente princípio apresenta uma dupla face, pois de</p><p>um lado proíbe o excesso (garantismo</p><p>negativo), enquanto de outro lado não admite a proteção insuficiente (garantismo positivo) – já estudamos</p><p>também no tópico do garantismo.</p><p>STJ (AI no HC 239.363/PR): A intervenção estatal por meio do Direito Penal deve</p><p>ser sempre guiada pelo princípio da proporcionalidade, incumbindo também ao</p><p>legislador o dever de observar esse princípio como proibição de excesso e como</p><p>proibição de proteção insuficiente.</p><p>Ressalta-se que o princípio da proporcionalidade incide no plano legislativo, judicial e no da execução</p><p>da pena. Segundo tal princípio, a sanção penal deve ser vantajosa para o corpo social, e trazer mais vantagens</p><p>https://youtu.be/0RP8wpUwu2M</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>62</p><p>do que desvantagens (proporcionalidade em sentido estrito); além disso, deve ser adequada e necessária à</p><p>finalidade do direito penal</p><p>Já caiu em prova: Delegado de Polícia Civil do Mato Grosso do Sul (2017) - Com relação aos princípios de</p><p>Direito Penal e à interpretação da lei penal, assinale a alternativa correta.</p><p>a) A interpretação autêntica contextual visa a dirimir a incerteza ou obscuridade da lei anterior.</p><p>b) Não se aplica o princípio da individualização da pena na fase da execução penal.</p><p>c) A interpretação quanto ao resultado busca o significado legal de acordo com o progresso da ciência.</p><p>d) O princípio da proporcionalidade tem apenas o judiciário como destinatário cujas penas impostas ao autor</p><p>do delito devem ser proporcionais à concreta gravidade.</p><p>e) A interpretação teleológica busca alcançar a finalidade da lei, aquilo que ela se destina a regular.</p><p>Gab. E. No tocante a assertiva D, o equívoco da questão consiste em afirmar que tem como destinatário</p><p>apenas o judiciário. Em verdade, o princípio da proporcionalidade tem como destinatário o legislativo,</p><p>judiciário e o juízo da execução da pena</p><p>7.3.5 Princípio da Limitação das Penas ou da Humanidade</p><p>Princípio da humanidade ou princípio da humanidade das penas, nada mais é do que o princípio da</p><p>dignidade da pessoa humana no Direito Constitucional. Este princípio é transportado para o Direito Penal, e</p><p>ganha uma nomenclatura diferente: humanidade.</p><p>Assim, a CF prevê, em seu art. 5º, XLVII, que não haverá penas de morte (salvo em caso de guerra</p><p>declarada), de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento ou cruéis.</p><p>A Constituição da República proíbe as penas de morte (salvo em caso de guerra declarada) e as</p><p>consideradas cruéis (art. 5º, inc. XLVII, alíneas ‘a’ e ‘e’, respectivamente), além de assegurar às pessoas</p><p>presas o respeito à integridade física e moral (art. 5º, inc. XLIX). Tais preceitos constitucionais expressam</p><p>o princípio penal da HUMANIDADE</p><p>Segundo o autor Bitencourt (2018), “o princípio de humanidade do Direito Penal é o maior entrave</p><p>para a adoção da pena capital e da prisão perpétua. Esse princípio sustenta que o poder punitivo estatal</p><p>não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico-</p><p>psíquica dos condenados”.</p><p>Caiu na Prova Delegado RR 2022 - (aplicação 25/09/22) O princípio da dignidade da pessoa humana, no</p><p>âmbito penal, implica vedação de tratamento degradante e cruel, servindo de fundamento, na jurisprudência</p><p>dos tribunais superiores, à concessão de prisão domiciliar a preso em estado terminal. (item correto)</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>63</p><p>7.2.6 Princípio da Confiança</p><p>O princípio da confiança, abordado por parte da doutrina, surgiu na Espanha, com aplicação inicial</p><p>aos crimes de trânsito. Segundo este princípio, quem atua observando as regras de trânsito, possui o direito</p><p>acreditar que as demais pessoas irão agir também de acordo com as normas. Assim, quando aquele que</p><p>continua avançando no sinal verde e acaba colidindo com outro veículo que avançou no sinal vermelho, agiu</p><p>amparado pelo princípio da confiança, não tendo culpa, já que dirigia na expectativa de que os demais</p><p>respeitariam as regras de sinalização.</p><p>Atualmente é aplicado no Brasil para os crimes em geral.</p><p>Princípio da fraternidade</p><p>O princípio da fraternidade é uma categoria jurídica e não pertence apenas às religiões ou a moral.</p><p>sua redescoberta apresenta-se como um fator de fundamental importância, tendo em vista a complexidade</p><p>dos problemas sociais, jurídicos e estruturais ainda hoje enfrentados pelas democracias. a fraternidade não</p><p>exclui o direito e vice-versa, mesmo porque a fraternidade enquanto valor vem sendo proclamada por</p><p>diversas constituições modernas, ao lado de outros historicamente consagrados como a Liberdade e a</p><p>igualdade. o princípio da fraternidade é um macroprincípio dos direitos humanos e passa a ter uma nova</p><p>leitura prática, diante do constitucionalismo fraternal prometido na Constituição federal de 88. o princípio</p><p>da fraternidade é possível de ser concretizado também no âmbito penal, através da chamada justiça</p><p>Restaurativa, do respeito aos direitos humanos e da humanização da aplicação do próprio direito penal e do</p><p>correspondente processo penal.</p><p>Com base nesse princípio, o STJ já determinou a progressão de pena (STJ HC 562.452) julgado em</p><p>23/04/2020.</p><p>Recentemente, o princípio da Fraternidade foi usado como fundamentação para decidir pelo</p><p>cômputo da pena de maneira mais benéfica ao condenado que é mantido preso em local degradante. O</p><p>ministro João Otávio de Noronha observou que o voto “consagra um princípio já agasalhado na Constituição</p><p>Federal [o Princípio da Fraternidade], em que os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem</p><p>outros decorrentes do regime e princípios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a</p><p>República Federativa do Brasil seja parte”, afirmou.</p><p>Pelo princípio da fraternidade, foi considerado computar pena em dobro para os presos que estão</p><p>em situação degradante. em maio de 2021, o ministro Reynaldo Soares da Fonseca do STJ concedeu habeas</p><p>corpus para que fosse contado em dobro todo o período em que um homem esteve preso no Instituto Penal</p><p>Plácido de Sá Carvalho, no Complexo Penitenciário de Bangu, localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro.</p><p>“Não se mostra possível que a determinação de cômputo em dobro tenha seus efeitos modulados</p><p>como se o recorrente tivesse cumprido parte da pena em condições aceitáveis até a notificação e a partir de</p><p>então tal estado de fato tivesse se modificado. Em realidade, o substrato fático que deu origem ao</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>64</p><p>reconhecimento da situação degradante já perdurara anteriormente, até para que pudesse ser objeto de</p><p>reconhecimento, devendo, por tal razão, incidir sobre todo o período de cumprimento da pena. STJ. 5ª</p><p>Turma. AgRg no RHC 136.961/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares Da Fonseca, julgado em 15/06/2021.</p><p>Esse cômputo da pena em dobro se aplica para todo e qualquer crime? NÃO. O cômputo em dobro</p><p>foi vedado para os seguintes crimes: a) crimes contra a vida; b) crimes contra a integridade física; c) crimes</p><p>sexuais. “O Estado deverá arbitrar os meios para que, no prazo de seis meses a contar da presente decisão,</p><p>se compute em dobro cada dia de privação de liberdade cumprido no IPPSC, para todas as pessoas ali</p><p>alojadas, que não sejam acusadas de crimes contra a vida ou a integridade física, ou de crimes sexuais, ou</p><p>não tenham sido por eles condenadas, nos termos dos Considerandos 115 a 130 da presente resolução”.</p><p>STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 136961-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/06/2021, DJe</p><p>21/06/2021 (Info 701)</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:</p><p>- Direito Penal – Parte Geral – Volume 1 – 13ª edição – Cleber Masson;</p><p>- Sinopse nº1 – Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Alexandre Salim e Marcelo André de Azevedo;</p><p>- Aulas do módulo do professor Delegado de Polícia Marcus Montez</p><p>- Dizer o Direito (https://www.dizerodireito.com.br/);</p><p>https://www.dizerodireito.com.br/</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>65</p><p>QUESTÕES PROPOSTAS</p><p>Caros alunos,</p><p>As questões foram disponibilizadas na plataforma.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>66</p><p>META 2</p><p>DIREITO PROCESSUAL PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS</p><p>Olá pessoal. Antes de começarmos o estudo do nosso material, é importante lembrar que vários</p><p>dispositivos da L.13964/19 estão com a eficácia suspensa. Decidimos deixar os apontamentos no material</p><p>para o caso de o STF julgar o mérito da ADI 6298.</p><p>Medidas cautelares concedidas para suspender sine die a eficácia:</p><p>(a) Da implantação do juiz das garantias e seus consectários (art. 3º-A, art. 3º-B, art. 3º-C, art. 3º-D, art.</p><p>3ª-E, art. 3º-F, do Código de Processo Penal);</p><p>(b) Da alteração do juiz sentenciante que conheceu de prova declarada inadmissível (art. 157, §5º, do</p><p>Código de Processo Penal);</p><p>(c) Da alteração do procedimento de arquivamento do inquérito policial (art. 28, caput, Código de</p><p>Processo Penal);</p><p>(d) Da liberalização da prisão pela não realização da audiência de custodia o prazo de 24 horas (art. 310,</p><p>§4°, do Código de Processo Penal).</p><p>TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA</p><p>CF/88</p><p>⦁ Art. 5º, XL</p><p>⦁ Art. 5º, LIII, LV, LVI e LVII</p><p>⦁ Art. 5º, LX e LXIII</p><p>⦁ Art. 5º, XXXVIII, “a”</p><p>⦁ Art. 5°, XXXVII</p><p>⦁ Art. 53</p><p>⦁ Art. 93, IX</p><p>⦁ Art. 129, I</p><p>CPP</p><p>⦁ Art. 1º e 2º</p><p>⦁ Art. 3º, 3ª-A e 3º-B</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>67</p><p>⦁ Art. 185, §2º</p><p>⦁ Art. 212 e 217</p><p>⦁ Art. 260 e 261</p><p>⦁ Art. 283</p><p>⦁ Art. 792</p><p>Outros Diplomas Legais</p><p>⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH</p><p>⦁ Art. 347, CP</p><p>⦁ Art. 305, CTB</p><p>ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!</p><p>⦁ Art. 5º, LIII, LV, LVI e LVII, CF/88</p><p>⦁ Art. 5º, LX e LXIII, CF/88</p><p>⦁ Art. 93, IX, CF/88</p><p>⦁ Art. 1º e 2º, CPP</p><p>⦁ Art. 3º, 3ª-A e 3º-B, CPP</p><p>1. PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL</p><p>O Processo Penal Brasileiro deve observância às normas previstas na Carta Magna. Devem as normas</p><p>processuais serem interpretadas a partir de uma filtragem constitucional. Interessante apontar a reflexão</p><p>de Daniel Sarmento e Claudio Pereira de Souza Neto sobre a constitucionalização do Direito:</p><p>A constitucionalização do Direito envolve dois fenômenos distintos, que podemos</p><p>chamar de ‘constitucionalização inclusão’ e de ‘constitucionalização releitura’. [...]</p><p>A constitucionalização releitura liga-se a impregnação de todo o ordenamento</p><p>pelos valores constitucionais. Trata-se de uma consequência de propensão dos</p><p>princípios constitucionais de projetarem uma eficácia irradiante, passando a</p><p>nortear a interpretação da totalidade da ordem jurídica. Assim, os preceitos legais,</p><p>os conceitos e institutos dos mais variados ramos do ordenamento, submetem-se</p><p>a uma filtragem constitucional: passam a ser lidos a partir da ótica constitucional,</p><p>o que muitas vezes impõe significativas mudanças na sua compreensão e aplicação</p><p>concretas. (SOUZA NETO, Cláudio Pereira; SARMENTO, Daniel. Direito</p><p>Constitucional: Teoria, História e Métodos de Trabalho. Belo Horizonte: Fórum,</p><p>2017. p. 44)</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>68</p><p>Nesse sentido, é possível falar em algumas características decorrentes da constitucionalização:</p><p>● O juiz não pode requisitar provas, depois da manifestação pelo arquivamento feita pelo MP (STF);</p><p>● O juiz não pode substituir o MP em sua função probatória, em que pese, certa liberdade de produção</p><p>conferida ao juiz pelo CPP;</p><p>● O interrogatório do réu deve perder a sua característica de prova, passando a ser exclusivamente</p><p>meio de defesa.</p><p>Se a perspectiva teórica do Código de Processo Penal era nitidamente autoritária, prevalecendo</p><p>sempre a preocupação com a segurança pública, como se o Direito Penal constituísse verdadeira política</p><p>pública, a Constituição da República de 1988 caminhou em direção diametralmente oposta.</p><p>Enquanto a legislação codificada pautava-se pelo princípio da culpabilidade e da periculosidade do</p><p>agente, o texto constitucional instituiu um sistema de amplas garantias individuais, a começar pela afirmação</p><p>da situação jurídica de quem ainda não tiver reconhecida a sua responsabilidade penal por sentença</p><p>condenatória passada em julgado:</p><p>“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal</p><p>condenatória” (art. 5º, LVII, CF).</p><p>Nesse sentido, a constituição deve passar a ser a pré-compreensão valorativa do intérprete o dever</p><p>ser normativo do mundo real, que é o ser. Nesta direção é o que o professor Rubens Casara propõe a</p><p>interpretação prospectiva do processo penal, ou seja, toda a interpretação deve ter por objetivo a</p><p>construção do projeto constitucional, deve buscar a radical e incansavelmente, a realização de valores</p><p>consagrados na constituição.</p><p>Como decorrência da interpretação prospectiva do processo penal, há uma preocupação com a</p><p>tutela de direitos fundamentais, o que dá espaço ao garantismo penal. Ressalta-se que Ferrajoli é o ícone</p><p>do garantismo. Princípios do sistema garantista:</p><p>● Jurisdicionalidade (nulla poena, nulla culpa sine iudicio): representa a exclusividade do poder</p><p>jurisdicional, direito ao juiz natural, independência da magistratura e exclusiva submissão à lei.</p><p>● Inderrogabilidade do juízo: no sentido de infungibilidade e indeclinabilidade da jurisdição.</p><p>● Separação das atividades de julgar e acusar (nullum iudicium sine accusatione);</p><p>● Presunção de inocência;</p><p>● Contraditório (nulla probatio sine defensione): é um método de confrontação da prova e</p><p>comprovação da verdade entre acusação e defesa.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>69</p><p>2. PRETENSÃO PUNITIVA</p><p>● Conceito:</p><p>No momento em que alguém pratica a conduta delituosa prevista no tipo penal, este direito de punir desce</p><p>do plano abstrato e se transforma no jus puniendi in concreto. O Estado, que até então tinha um poder</p><p>abstrato, genérico e impessoal, passa a ter a pretensão concreta de punir o suposto autor do fato delituoso.</p><p>- Surge então a pretensão punitiva: que é o poder do Estado de exigir de quem comete um delito a</p><p>submissão á sanção penal, tornando efetivo o ius puniendi.</p><p>Segundo Gustavo Badaró consiste no poder do Estado de exigir, de quem comete um delito, a</p><p>submissão à sanção penal. Através da pretensão punitiva, o Estado procura tornar efetivo o direito de punir</p><p>(ius puniendi), exigindo do autor do crime, que está obrigado a sujeitar-se à sanção penal, o cumprimento</p><p>dessa obrigação, que consiste em sofrer as consequências do crime e se concretiza no dever de abster-se de</p><p>qualquer resistência contra os órgãos estatais aos quais cumpre executar a pena. Porém, tal pretensão não</p><p>poderá ser voluntariamente resolvida sem um processo, não podendo nem o Estado impor a sanção penal,</p><p>nem o infrator submeter-se à pena.</p><p>Assim sendo, tal pretensão já nasce insatisfeita. É necessário um processo.</p><p>Ex.: art. 121, CP → pena de 6 a 20 anos (direito de punir em abstrato).</p><p>A partir do momento que alguém pratica o delito, o direito de punir deixa o plano abstrato e entra</p><p>no plano concreto, de modo que surge para o Estado o direito de punir o indivíduo. Nasce a pretensão</p><p>punitiva.</p><p>Infrações penais de menor potencial ofensivo: o fato de ser admitida transação penal, com a imediata</p><p>aplicação de penas restritivas de direito ou multas não quer dizer uma imposição direta da pena. Trata-se de</p><p>uma forma distinta da tradicional para a resolução da causa, sendo admitida a solução consensual com</p><p>supervisão jurisdicional – privilegiando a vontade das partes.</p><p>● Função do Processo Penal: É o instrumento que se vale o Estado para a imposição de sanção penal</p><p>ao possível autor do fato delituoso.</p><p>- Finalidades do Processo Penal:</p><p>⋅ Pacificação social obtida com a solução</p><p>do conflito;</p><p>⋅ Viabilizar a aplicação do direito penal;</p><p>⋅ Garantir ao acusado, presumidamente inocente, meios de defesa diante de uma acusação.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>70</p><p>3. SISTEMAS DO PROCESSO PENAL</p><p>“A estrutura do processo penal variou ao longo dos séculos, conforme o predomínio</p><p>da ideologia punitiva ou libertária. Goldschmidt afirma que a estrutura do processo</p><p>penal de um país funciona como um termômetro dos elementos democráticos ou</p><p>autoritários de sua Constituição” (LOPES, 2018, p. 27).</p><p>De modo geral, a doutrina costuma separar o sistema processual inquisitório do acusatório pela</p><p>titularidade atribuída ao órgão da acusação: inquisitorial seria o sistema em que as funções de acusação e de</p><p>julgamento estariam reunidas em uma só pessoa (ou órgão), enquanto o acusatório seria aquele em que tais</p><p>papéis estariam reservados a pessoas (ou órgãos) distintos.</p><p>a) SISTEMA INQUISITÓRIO:</p><p>As funções de acusar e julgar estão concentradas em um mesmo sujeito processual.</p><p>Nesse sistema há a perda da imparcialidade do magistrado, o qual, simultaneamente exerce todas</p><p>as funções (acusa, defende e julga). Além disso, verifica-se o risco de eventual abuso de poder (crítica).</p><p>Além disso, no sistema inquisitório a gestão da prova cabe ao juiz, podendo fazê-lo tanto na fase</p><p>inquisitorial quanto na fase do processo. Nesse sentido, verifica-se a inexistência do contraditório.</p><p>São características, ainda, o caráter escrito e sigiloso da instrução processual.</p><p>Características:</p><p>i. As funções de acusar, defender e julgar se encontram concentradas em uma única pessoa, o</p><p>chamado de juiz inquisidor;</p><p>ii. Não há que se falar em contraditório, o qual nem sequer seria concebível em virtude da falta de</p><p>contraposição entre acusação e defesa;</p><p>iii. O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa probatória, de modo que possui liberdade para</p><p>determinar, de ofício, a colheita de provas, seja no curso das investigações, seja no curso do processo</p><p>penal, independentemente de sua proposição pela acusação ou pela defesa, de modo que a gestão</p><p>das provas compete ao juiz que, a partir da prova do fato e tomando como parâmetro a lei, podia</p><p>chegar à conclusão que desejasse;</p><p>iv. Vigora o princípio da verdade real/material e, em decorrência dele, o acusado não era considerado</p><p>sujeito de direito, sendo tratado, em verdade, como mero objeto do processo, daí por que se</p><p>admitia, inclusive, a tortura como meio de se obter a verdade absoluta.</p><p>Sobre o princípio da verdade real, confira a dica do Professor Tiago Dantas:</p><p>https://youtu.be/OPy2Vj63srs</p><p>https://youtu.be/OPy2Vj63srs</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>71</p><p>Na atualidade, a concentração de poderes nas mãos do juiz e a iniciativa probatória dela decorrente</p><p>é incompatível com a garantia da imparcialidade (CADH, art. 8º §1º) e com o princípio do devido processo</p><p>legal.</p><p>Com a reforma (Lei 13.964/19), ao menos em tese, o juiz não possuirá mais a iniciativa probatória</p><p>que antes era prevista no CPP (art. 3º-A do CPP).</p><p>b) SISTEMA ACUSATÓRIO:</p><p>As funções serão exercidas por partes distintas. As funções de acusar, defender e julgar são</p><p>atribuídas a pessoas diversas. No referido sistema haverá respeito ao contraditório.</p><p>O acusado deixa de ser considerado mero objeto e passa a configurar como sujeito de direitos.</p><p>A gestão da prova cabe as partes e, em um sistema acusatório puro, o juiz não poderia produzir</p><p>prova de ofício. Porém, parte da doutrina aduz que o juiz pode produzir prova de ofício, restrito a fase</p><p>processual e de forma residual, não sendo permitida a produção, contudo, na fase investigatória.</p><p>São características, ainda, a prevalência do caráter público e oral da instrução processual.</p><p>Características:</p><p>i. Caracteriza-se pela presença de partes distintas, contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de</p><p>condições e ambas se sobrepondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Aqui, há uma</p><p>separação das funções de acusar, defender e julgar. O processo caracteriza-se, assim, como legítimo</p><p>actum trium personarum.</p><p>ii. A gestão da prova recai precipuamente sobre as partes. Na fase investigatória, o juiz só deve intervir</p><p>quando provocado.</p><p>iii. Oralidade, publicidade, aplicação do princípio da presunção de inocência, atividade probatória</p><p>pertence ás partes, separação rígida entre juiz e acusação, paridade entre acusação e defesa.</p><p>Antes do advento da Lei 13.964/19, havia divergência na doutrina:</p><p>● Geraldo Prado - afirma que, em um sistema acusatório puro, o juiz não pode produzir provas de ofício</p><p>de maneira nenhuma, independentemente de ser na fase investigatória ou na fase processual.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>72</p><p>● Eugênio Paccelli, Gustavo Badaró (posição majoritária e Jurisprudência) - juiz pode produzir prova de</p><p>ofício, mas apenas na fase processual e desde que de forma residual.</p><p>Em outras palavras: O magistrado não será o protagonista na produção de provas, sua atuação deve</p><p>ter caráter complementar e subsidiário. Nesse sentido, o art. 212 do CPP:</p><p>Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha,</p><p>não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação</p><p>com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida. Parágrafo único.</p><p>Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição.</p><p>No entanto, o Pacote Anticrime retirou do juiz a iniciativa probatória (Art.3º-A do CPP), entregando</p><p>ao juiz de garantias a competência para decidir sobre a produção de provas cautelares durante a</p><p>investigação.</p><p>CPP. Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do</p><p>juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de</p><p>acusação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)</p><p>Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da</p><p>investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha</p><p>sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe</p><p>especialmente:</p><p>[...]</p><p>VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas</p><p>urgentes e não repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em</p><p>audiência pública e oral;</p><p>Assim sendo, a doutrina vem advogando no sentido de que, com o advento do Pacote Anticrime, o</p><p>juiz não poderá mais agir de ofício em nenhuma das fases, seja na fase investigatória ou na processual, de</p><p>modo que inúmeros artigos do CPP estariam tacitamente revogados. Entretanto, é importante aguardar a</p><p>posição da jurisprudência sobre o tema.</p><p>iv. O princípio da verdade real é substituído pelo princípio da busca da verdade, devendo a prova ser</p><p>produzida com fiel observância ao contraditório e a ampla defesa;</p><p>v. A separação das funções e a iniciativa probatória residual à fase judicial preserva a equidistância que</p><p>o magistrado deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo compatível com a garantia da</p><p>imparcialidade e com o princípio do devido processo legal;</p><p>vi. O sistema acusatório é o adotado pela Constituição Federal e pelo CPP:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art20</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>73</p><p>CF - Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:</p><p>I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;</p><p>A função de acusar nas ações penais públicas é do Ministério Público, materializando assim o sistema</p><p>acusatório, haja vista que a própria CF outorgou a titularidade da persecução penal ao referido órgão, por</p><p>excelência.</p><p>SISTEMA INQUISITÓRIO SISTEMA ACUSATÓRIO</p><p>Não há separação das funções de</p><p>acusar, defender e</p><p>julgar, que estão concentradas em uma única pessoa,</p><p>que assume as vestes de um juiz inquisidor.</p><p>Separação das funções de acusar, defender e julgar. Por</p><p>consequência, caracteriza-se pela presença de partes</p><p>distintas (actum trium personarum), contrapondo-se</p><p>acusação e defesa em igualdade de condições,</p><p>sobrepondo-se a ambas um juiz, de maneira</p><p>equidistante e imparcial.</p><p>Como se admite o princípio da verdade real, o</p><p>acusado não é sujeito de direitos, sendo tratado</p><p>como mero objeto do processo, daí por que se admite</p><p>inclusive a tortura como meio de se obter a verdade</p><p>absoluta.</p><p>O princípio da verdade real é substituído pelo princípio</p><p>da busca da verdade, devendo a prova ser produzida</p><p>com fiel observância ao contraditório e à ampla defesa.</p><p>O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa</p><p>acusatória e probatória, tendo liberdade para</p><p>determinar de ofício a colheita de elementos</p><p>informativos e de provas, seja no curso das</p><p>investigações, seja no curso da instrução processual.</p><p>A gestão da prova recai precipuamente sobre as partes.</p><p>Na fase investigatória, o juiz só deve intervir quando</p><p>provocado, e desde que haja necessidade de intervenção</p><p>judicial.</p><p>Durante a instrução processual, prevalece o</p><p>entendimento de que o juiz tem certa iniciativa</p><p>probatória, podendo determinar a produção de</p><p>provas de ofício, desde que o faça de maneira</p><p>subsidiária.</p><p>A separação das funções e a iniciativa probatória residual</p><p>restrita à fase judicial preserva a equidistância que o juiz</p><p>deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo</p><p>compatível com a CF/88.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>74</p><p>CAIU EM PROVA (Delegado de PCMG 2021): Em relação às características do sistema acusatório, analise as</p><p>afirmativas:</p><p>I. Gestão da prova na mão das partes e não do juiz, clara distinção entre as atividades de acusar e julgar, juiz</p><p>como terceiro imparcial e publicidade dos atos processuais.</p><p>II. Ausência de uma tarifa probatória, igualdade de oportunidades às partes no processo e procedimento é,</p><p>em regra, oral.</p><p>III. O processo é um fim em si mesmo e o acusado é tratado como mero objeto, imparcialidade do juiz e</p><p>prevalência da confissão do réu como meio de prova.</p><p>IV. Celeridade do processo e busca da verdade real, o que faculta ao juiz determinar de ofício a produção de</p><p>prova.</p><p>Itens considerados corretos: I e II.</p><p>c) SISTEMA MISTO, ACUSATÓRIO FORMAL OU FRANCÊS:</p><p>É uma fusão dos dois modelos anteriores</p><p>Para este sistema, há duas fases distintas: uma primeira fase inquisitorial, destinada a investigação</p><p>preliminar e, em seguida, teria uma segunda fase, que se aproxima mais ao sistema acusatório.</p><p>● Investigação preliminar: polícia judiciária;</p><p>● Instrução preparatória: juiz de instrução;</p><p>● Julgamento: apenas nesta última fase há contraditório e ampla defesa.</p><p>Segundo Renato Brasileiro, é chamado de sistema misto porquanto o processo se desdobra em duas</p><p>fases distintas: a primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação e,</p><p>por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso. Na</p><p>segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz julga,</p><p>vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade.</p><p>DICA DD: Quando o CPP entrou em vigor, havia o entendimento de que ele era misto, sendo o inquérito</p><p>policial a primeira fase. Porém, com o advento da CF/88 e do Pacote Anticrime deixou de maneira expressa</p><p>o sistema acusatório, além da separação das funções de acusar, defender e julgar, assegurando o</p><p>contraditório e a ampla defesa, e o princípio da presunção de não culpabilidade, trata-se de um sistema</p><p>acusatório.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>75</p><p>4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL</p><p>4.1 Princípios Constitucionais Explícitos</p><p>4.1.1 Princípio da Presunção da Inocência</p><p>a) Previsão legal: art. 5°, LVII, CF/88 e art. 8°, §2°, CADH.</p><p>Art. 5°, LVII, CF/88 – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado</p><p>de sentença penal condenatória → presunção de não culpabilidade.</p><p>Art. 8°, §2°, CADH – Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma</p><p>sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa → presunção</p><p>de inocência.</p><p>Observações:</p><p>● CADH possui status normativo supralegal, ou seja, está abaixo da CF, mas acima da legislação</p><p>infraconstitucional;</p><p>● Sempre que se faz uma leitura da legislação infraconstitucional, deve-se sujeitá-la tanto ao controle</p><p>de constitucionalidade como ao controle de convencionalidade;</p><p>● Ao contrário da CF/88, a Convenção Americana fala em presunção de inocência, e o faz de maneira</p><p>muito semelhante aos outros tratados internacionais de direitos humanos.</p><p>Há quem utilize como sinônimos as expressões: presunção de inocência, presunção de não culpabilidade e</p><p>estado de inocência.</p><p>b) Conceito:</p><p>Segundo Renato Brasileiro, o princípio da presunção de inocência: “consiste no direito de não ser</p><p>declarado culpado, senão após o transito em julgado de sentença penal condenatória - ou, na visão do STF</p><p>(HC 126.292, ADC 44 e 43 e ARE 964.246 RG/SP): “após a prolação de acordão condenatório por Tribunal de</p><p>Segunda instância” -, ao término do devido processo legal, em que o acusado tenha se utilizado de todos os</p><p>meios de prova pertinentes para a sua defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas</p><p>apresentadas pela acusação (contraditório)”.</p><p>Segue explicando o doutrinador: “No ordenamento pátrio, até a entrada em vigor da CF 88, esse</p><p>princípio somente existia de forma implícita, como decorrência da cláusula do devido processo legal. Com a</p><p>CF 88, o princípio da presunção de não culpabilidade passou a constar expressamente do inciso LVII do art.</p><p>5º” (LIMA, 2017, p. 43).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>76</p><p>c) Dimensões:</p><p>O princípio da presunção de inocência (ou presunção de não culpabilidade) compreende duas regras</p><p>fundamentais:</p><p>1. Dimensão Interna ao processo: O princípio da presunção de inocência se manifestando dentro do</p><p>processo.</p><p>I- Regra probatória (in dubio pro reo): A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a</p><p>culpabilidade do acusado além de qualquer dúvida razoável, logo, não é o acusado que deve</p><p>comprovar sua inocência;</p><p>II- Regra de tratamento: o Poder Público está impedido de agir e de se comportar em relação</p><p>ao acusado como se ele já houvesse sido condenado.</p><p>2. Dimensão externa ao processo: O princípio da presunção de inocência se manifestando fora do</p><p>processo.</p><p>Essa dimensão é especialmente destacada no tratamento dado pela imprensa. O princípio</p><p>da presunção de inocência e as garantias constitucionais da imagem, dignidade e privacidade</p><p>demandam uma proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado,</p><p>funcionando como limites democráticos à abusiva exploração midiática em torno do fato</p><p>criminoso e do próprio processo judicial.</p><p>Caso J. vs. Peru</p><p>Esse caso foi decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Nesse caso, a Corte</p><p>responsabilizou o Peru por violação ao estado de inocência, previsto no art. 8.2 da CADH.</p><p>A Sra. J. foi presa durante o cumprimento de medida de busca e apreensão residencial. Foi</p><p>processada por terrorismo e associação ao terrorismo, em virtude de suposta vinculação com o grupo</p><p>armado Sendero Luminoso. Foi absolvida em junho de 1993. Logo após ser solta, deixou o território peruano.</p><p>Em dezembro do mesmo ano, a Corte Suprema Peruana cassou a sentença absolutória, determinou um novo</p><p>julgado e decretou sua prisão.</p><p>Para a CIDH, os distintos pronunciamentos públicos das autoridades estatais, sobre a culpabilidade</p><p>de J. violaram o estado de inocência, princípio determinante</p><p>que o Estado não condene, nem mesmo</p><p>informalmente, emitindo juízo perante a sociedade e contribuindo para formar a opinião pública, enquanto</p><p>não existir decisão judicial condenatória.</p><p>Para a Corte, a apresentação da imagem da acusada para a imprensa, escrita e televisiva, ocorreu</p><p>quando ela estava sob absoluto controle do Estado, além de as entrevistas posteriores também terem sido</p><p>levadas a cabo sob conhecimento e controle do Estado, por meio de seus funcionários. A Corte acentuou não</p><p>impedir o estado de inocência que as autoridades mantenham a sociedade informada sobre investigações</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>77</p><p>criminais, mas requer que isso seja feito com a discrição e a contextualização necessárias, de tal modo a</p><p>garantir o estado de inocência.</p><p>Assim, fazer declarações públicas, sem os devidos cuidados, sobre processos penais, gera na</p><p>sociedade a crença sobre a culpabilidade do acusado.</p><p>Consequências de tais regras:</p><p>● Ônus da prova: em regra da acusação.</p><p>● Prisões cautelares: a privação cautelar da liberdade de locomoção somete se justifica em hipóteses</p><p>estritas, ou seja, a regra é que o acusado permaneça em liberdade durante o processo, enquanto</p><p>que a imposição de medidas cautelares pessoais é a exceção.</p><p>d) Limite temporal</p><p>Até quando o sujeito é presumidamente inocente?</p><p>Em 2016, no bojo do HC 126.292, o Plenário do STF entendeu que, a partir do momento que um</p><p>acórdão condenatório fosse proferido por um Tribunal de 2ª Instância, a pena já poderia ser executada,</p><p>mesmo na pendência de REsp ou RE. Essa prisão a que o indivíduo estaria sendo submetido seria uma prisão</p><p>penal, e não prisão cautelar.</p><p>Ou seja, o STF passou a defender que a execução provisória da pena após a confirmação da sentença</p><p>em segundo grau não ofende o princípio constitucional da presunção de inocência. Isso porque a</p><p>manutenção da sentença condenatória pela segunda instância encerra a análise de fatos e provas que</p><p>assentaram a culpa do condenado, o que autoriza o início da execução da pena, até mesmo porque os</p><p>recursos extraordinários ao STF e ao STJ comportam exclusivamente discussão acerca de matéria de direito.</p><p>A decisão do STF acima foi muito criticada pela doutrina, tendo em vista que a CF é clara ao prever</p><p>“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado (...)”, não havendo margens para outra</p><p>interpretação.</p><p>Em 2019 houve overruling e o STF decidiu que o cumprimento da pena somente pode ter início com</p><p>o esgotamento de todos os recursos. Portanto, atualmente, é proibida a execução provisória da pena.</p><p>No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a</p><p>sua posição antiga e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de</p><p>todos os recursos. Assim, é proibida a execução provisória da pena.</p><p>Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento</p><p>de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial</p><p>individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a</p><p>prisão preventiva previstos no art. 312 e art. 313 do CPP.</p><p>Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente</p><p>(preventivamente), e não como execução provisória da pena.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>78</p><p>Ao julgar as ações declaratórias de constitucionalidade 43, 44 e 54, em 7/11/2019,</p><p>o Plenário do STF firmou o entendimento de que não cabe a execução provisória</p><p>da pena. A 1ª Turma do STF aplicou esse entendimento em um caso concreto no</p><p>qual o réu estava preso unicamente pelo fato de o Tribunal de Justiça ter</p><p>confirmado a sua condenação em 1ª instância, não tendo havido, contudo, ainda,</p><p>o trânsito em julgado. Logo, o STF, afastando a possibilidade de execução provisória</p><p>da pena, concedeu a liberdade ao condenado até que haja o esgotamento de todos</p><p>os recursos. STF. 1ª Turma. HC 169727/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em</p><p>26/11/2019 (Info 961).</p><p>A nova decisão do STF é vinculante? SIM. A decisão do STF foi proferida em ADC, que declarou a</p><p>constitucionalidade do art. 283 do CPP.</p><p>Para o STF, é possível o início do cumprimento da pena caso somente reste o julgamento de recurso sem</p><p>efeito suspensivo (ex: só falta julgar Resp ou RE)? É possível a execução provisória da pena?</p><p>1ª PERÍODO</p><p>ATÉ FEV/2009:</p><p>SIM</p><p>É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA</p><p>Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível</p><p>a execução provisória da pena.</p><p>Assim, se o réu estivesse condenado e interpusesse</p><p>recurso especial ou recurso extraordinário, teria que</p><p>iniciar o cumprimento provisório da pena enquanto</p><p>aguardava o julgamento.</p><p>2ª PERÍODO</p><p>DE FEV/2009 A FEV/2016:</p><p>NÃO</p><p>NÃO É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA</p><p>PENA</p><p>No dia 05/02/2009, o STF, ao julgar o HC 84078</p><p>(Rel. Min. Eros Grau), mudou de posição e passou a</p><p>entender que não era possível a execução provisória da</p><p>pena.</p><p>Obs: o condenado poderia até aguardar o julgamento</p><p>do REsp ou do RE preso, mas desde que estivessem</p><p>previstos os pressupostos necessários para a prisão</p><p>preventiva (art. 312 do CPP).</p><p>Dessa forma, ele poderia ficar preso, mas</p><p>cautelarmente (preventivamente), e não como</p><p>execução provisória da pena.</p><p>Principais argumentos:</p><p>• A prisão antes do trânsito em julgado da condenação</p><p>somente pode ser decretada a título cautelar.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>79</p><p>• A execução da sentença após o julgamento do recurso</p><p>de apelação significa restrição do direito de defesa.</p><p>• A antecipação da execução penal é incompatível com</p><p>o texto da Constituição.</p><p>Esse entendimento durou até fevereiro de 2016.</p><p>3º PERÍODO:</p><p>DE FEV/2016 A NOV/2019:</p><p>SIM</p><p>É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA</p><p>No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel.</p><p>Min. Teori Zavascki), retornou para a sua primeira</p><p>posição e voltou a dizer que era possível a execução</p><p>provisória da pena.</p><p>Principais argumentos:</p><p>• É possível o início da execução da pena condenatória</p><p>após a prolação de acórdão condenatório em 2º grau e</p><p>isso não ofende o princípio constitucional da presunção</p><p>da inocência.</p><p>• O recurso especial e o recurso extraordinário não</p><p>possuem efeito suspensivo (art. 637 do CPP). Isso</p><p>significa que, mesmo a parte tendo interposto algum</p><p>desses recursos, a decisão recorrida continua</p><p>produzindo efeitos. Logo, é possível a execução</p><p>provisória da decisão recorrida enquanto se aguarda o</p><p>julgamento do recurso.</p><p>• Até que seja prolatada a sentença penal, confirmada</p><p>em 2º grau, deve-se presumir a inocência do réu. Mas,</p><p>após esse momento, exaure-se o princípio da não</p><p>culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da</p><p>decisão de segundo grau ao STJ ou STF não se prestam</p><p>a discutir fatos e provas, mas apenas matéria de direito.</p><p>• É possível o estabelecimento de determinados limites</p><p>ao princípio da presunção de não culpabilidade. Assim,</p><p>a presunção da inocência não impede que, mesmo</p><p>antes do trânsito em julgado, o acórdão condenatório</p><p>produza efeitos contra o acusado.</p><p>• A execução da pena na pendência de recursos de</p><p>natureza extraordinária não compromete o núcleo</p><p>essencial do pressuposto da não culpabilidade, desde</p><p>que o acusado tenha sido tratado como inocente no</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>80</p><p>curso de todo o processo ordinário criminal,</p><p>observados os direitos e as garantias a ele inerentes,</p><p>bem como respeitadas as regras probatórias e o</p><p>modelo acusatório atual.</p><p>• É necessário equilibrar o princípio da presunção de</p><p>inocência com a efetividade da função jurisdicional</p><p>penal. Neste equilíbrio, deve-se atender não apenas os</p><p>interesses</p><p>dos acusados, como também da sociedade,</p><p>diante da realidade do intrincado e complexo sistema</p><p>de justiça criminal brasileiro.</p><p>• “Em país nenhum do mundo, depois de observado o</p><p>duplo grau de jurisdição, a execução de uma</p><p>condenação fica suspensa aguardando referendo da</p><p>Suprema Corte”.</p><p>4º PERÍODO:</p><p>ENTENDIMENTO ATUAL:</p><p>NÃO</p><p>NÃO É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA</p><p>PENA</p><p>No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54</p><p>(Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a sua segunda</p><p>posição e afirmou que o cumprimento da pena somente</p><p>pode ter início com o esgotamento de todos os</p><p>recursos.</p><p>Assim, é proibida a execução provisória da pena.</p><p>Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes</p><p>do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos</p><p>os recursos), no entanto, para isso, é necessário que</p><p>seja proferida uma decisão judicial individualmente</p><p>fundamentada na qual o magistrado demonstre que</p><p>estão presentes os requisitos para a prisão preventiva</p><p>previstos no art. 312 do CPP.</p><p>Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do</p><p>trânsito em julgado, mas cautelarmente</p><p>(preventivamente), e não como execução provisória da</p><p>pena.</p><p>Principais argumentos:</p><p>• O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº</p><p>12.403/2011, prevê que “ninguém poderá ser preso</p><p>senão em flagrante delito ou por ordem escrita e</p><p>fundamentada da autoridade judiciária competente,</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>81</p><p>em decorrência de sentença condenatória transitada</p><p>em julgado ou, no curso da investigação ou do</p><p>processo, em virtude de prisão temporária ou prisão</p><p>preventiva.”. Esse artigo é plenamente compatível com</p><p>a Constituição em vigor.</p><p>• O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual</p><p>“ninguém será considerado culpado até o trânsito em</p><p>julgado de sentença penal condenatória”, não deixa</p><p>margem a dúvidas ou a controvérsias de interpretação.</p><p>• É infundada a interpretação de que a defesa do</p><p>princípio da presunção de inocência pode obstruir as</p><p>atividades investigatórias e persecutórias do Estado. A</p><p>repressão a crimes não pode desrespeitar e transgredir</p><p>a ordem jurídica e os direitos e garantias fundamentais</p><p>dos investigados.</p><p>• A Constituição não pode se submeter à vontade dos</p><p>poderes constituídos nem o Poder Judiciário embasar</p><p>suas decisões no clamor público.</p><p>Tabela via @dizerodireito para facilitar a compreensão sobre evolução jurisprudencial deste tema.</p><p>4.1.2 Princípio da Igualdade Processual ou Paridade de Armas</p><p>As partes devem ter em juízo as mesmas oportunidades de atuação no processo e devem ser tratadas</p><p>de forma igualitária, na medida da sua igualdade. Segundo Norberto Avena (2017, p. 53): “As partes, em</p><p>juízo, devem contar com as mesmas oportunidades e ser tratadas de forma igualitária. Tal princípio constitui</p><p>desdobramento da garantia constitucional assegurada no art. 5.º, caput, da Constituição Federal, ao dispor</p><p>que todas as pessoas serão iguais perante a lei em direitos e obrigações. Não obstante o sistema</p><p>constitucional vigente seja proibitivo de discriminações, em determinadas hipóteses é flexibilizado o</p><p>princípio da igualdade”.</p><p>4.1.3 Princípio da Ampla Defesa</p><p>Segundo Renato Brasileiro (2017, p. 54), a ampla defesa pode ser vista como um direito sob a ótica</p><p>de que privilegia o interesse do acusado, todavia, sob o enfoque publicístico, no qual prepondera o interesse</p><p>geral de um processo justo, é vista como garantia.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>82</p><p>Art. 5º, LV, da CF: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos</p><p>acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios</p><p>e recursos a ela inerentes”.</p><p>“O direito de defesa está ligado diretamente ao princípio do contraditório. A defesa</p><p>garante o contraditório e por ele se manifesta” (LIMA, 2017, p. 54).</p><p>A ampla defesa divide-se em autodefesa e defesa técnica:</p><p>● AUTODEFESA: é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos cruciais do processo.</p><p>Compreende:</p><p>1. Direito de audiência;</p><p>2. Direito de presença;</p><p>3. Capacidade postulatória autônoma.</p><p>1. Direito de audiência: É o direito de ser ouvido no processo. Ou seja: é o momento que o acusado</p><p>tem para apresentar a sua versão dos fatos e tentar formar a convicção do magistrado quanto a sua</p><p>inocência.</p><p>Obs.: Quando estudarmos o interrogatório judicial, veremos que, hoje, na visão da doutrina, o interrogatório</p><p>judicial tem natureza jurídica de meio de defesa. Isso porque, no interrogatório, ele tem o direito de ficar em</p><p>silêncio.</p><p>2. Direito de presença: Direito de estar presente/acompanhar os atos processuais.</p><p>E se o acusado estiver preso em outra unidade da federação. Ainda assim ele tem assegurado o</p><p>direito de presença? R.: SIM! O direito de presença é universal. O direito não deixa de valer só porque o</p><p>acusado está preso em outro lugar.</p><p>Atualmente, o art. 185, §2°, CPP, permite a realização de audiência mediante videoconferência.</p><p>Assim, a videoconferência preserva o direito de presença, ao mesmo tempo que evita o deslocamento do</p><p>preso.</p><p>Ressalta-se que, embora a doutrina garantista entenda que a inobservância desse direito deveria</p><p>acarretar nulidade absoluta, a jurisprudência vem entendendo que se trata de nulidade relativa, devendo-se</p><p>comprovar o prejuízo.</p><p>A alegação de necessidade da presença do réu em audiências deprecadas, estando</p><p>ele preso, configura nulidade relativa, devendo-se comprovar a oportuna</p><p>requisição e também a presença de efetivo prejuízo à defesa. O pedido, no caso, foi</p><p>indeferido motivadamente pelo juiz de primeiro grau, diante das peculiaridades do</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>83</p><p>caso concreto, em especial diante da periculosidade do réu, e da ausência de</p><p>efetivo prejuízo. Ordem denegada. (STF, 1ª Turma, HC 100.382/PR, Rel. Min.</p><p>Ricardo Lewandowski, j. 08/06/2010, Dje 164 02/09/2010).</p><p>Obs.: O direito de presença tem natureza relativa. Ou seja, há situações em que o direito de presença pode</p><p>causar constrangimento à vítima ou às testemunhas. Nesse caso, se não for possível realizar a audiência</p><p>mediante videoconferência, o acusado será retirado da audiência. Se for essa a decisão do magistrado, deve</p><p>haver fundamentação, e essa fundamentação deve constar da ata da audiência para evitar futura nulidade.</p><p>Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor,</p><p>ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique</p><p>a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na</p><p>impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na</p><p>inquirição, com a presença do seu defensor. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de</p><p>2008).</p><p>Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo</p><p>deverá constar do termo, assim como os motivos que a determinaram. (Incluído</p><p>pela Lei nº 11.690, de 2008).</p><p>Revela-se lícita a retirada dos acusados da sala de audiências, se as testemunhas</p><p>de acusação demonstram temor e receio em depor na presença dos réus. Se o</p><p>patrono do paciente não apresentou nenhuma irresignação quanto aos termos da</p><p>assentada, havendo assinado e concordado com seu conteúdo, resulta preclusa a</p><p>arguição de qualquer vício a macular o ato de ouvida das testemunhas de acusação.</p><p>Ordem denegada”. (STF, 1ª Turma, HC 86.572/PE, Rel. Min. Carlos Britto, j.</p><p>06/12/2005, DJ 30/03/2008)</p><p>3. Capacidade postulatória autônoma do acusado: Devido à importância da liberdade de locomoção,</p><p>o ordenamento jurídico confere ao acusado uma capacidade postulatória autônoma para praticar</p><p>certos atos processuais, ainda que ele não seja profissional da advocacia. Ou seja: mesmo que o</p><p>acusado não seja advogado, ele pode praticar alguns atos processuais.</p><p>Ex.: o acusado pode interpor</p><p>recursos; provocar incidentes da execução (livramento condicional,</p><p>progressão de regime, etc.); impetrar habeas corpus.</p><p>● DEFESA TÉCNICA: Direito de ser representado por advogado.</p><p>Kaykison</p><p>Highlight</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>84</p><p>A defesa técnica é indisponível e irrenunciável. Mesmo que o acusado, desprovido de capacidade</p><p>postulatória, queira ser processado sem defesa técnica, e ainda que seja revel, deve o juiz providenciar a</p><p>nomeação de defensor.</p><p>Art. 261 do CPP: Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado</p><p>ou julgado sem defensor.</p><p>Súmula 523, STF: no processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta,</p><p>mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.</p><p>Súmula 707, STF: constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para</p><p>oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a</p><p>suprindo a nomeação do defensor dativo.</p><p>Súmula 708, STF: é nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos</p><p>autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para</p><p>constituir outro.</p><p>STF: A ausência de defensor, devidamente intimado, à sessão de julgamento não</p><p>implica, por si só, nulidade processual. STF. 1ª Turma. HC 165534/RJ, rel. orig. Min.</p><p>Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2019 (Info 950).</p><p>Aspectos da ampla defesa:</p><p>● Positivo: representa a efetiva utilização dos instrumentos, dos meios e modos de produção,</p><p>esclarecimento ou confrontação de elementos de prova relacionados à materialidade da infração</p><p>criminal e à autoria;</p><p>● Negativo: impede a produção de elementos probatórios de elevado risco ou com potencialidade</p><p>danosa à defesa do réu.</p><p>Consequências da ampla defesa:</p><p>● Apenas o réu tem direito à revisão criminal, nunca a sociedade;</p><p>● O juiz deve sempre fiscalizar a eficiência da defesa do réu.</p><p>Há possibilidade de o acusado exercer sua própria defesa técnica? R.: Desde que o acusado seja</p><p>profissional da advocacia, ou seja, desde que esteja regularmente inscrito nos quadros da OAB.</p><p>Nas ações penais originárias, a defesa preliminar (L. 8.038/90, art. 4º), é atividade</p><p>privativa dos advogados. Os membros do Ministério Público estão impedidos de</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>85</p><p>exercer advocacia, mesmo em causa própria. São atividades incompatíveis (L.</p><p>8.906/94, art. 28). Nulidade decretada. (STF, 2ª Turma, HC 76.671/RJ, Rel. Min.</p><p>Nelson Jobim, j. 09/06/1998, DJ 10/08/2000).</p><p>É possível o patrocínio da defesa técnica de dois ou mais acusados pelo mesmo defensor. Em outras</p><p>palavras: Um único advogado pode defender 2 ou mais acusados? R.: SIM! Mas desde que não haja</p><p>colidência de teses pessoais. Ex.: A e B estão sendo acusados do mesmo crime. Um único advogado pode</p><p>defendê-los, mas desde que as teses de defesa sejam semelhantes. Se A ou B negarem ser autor do delito,</p><p>há colidência de interesses pessoais. Obs.: Cabe ao juiz e ao MP fiscalizarem isso.</p><p>Hipótese em que o paciente e seu filho foram acusados de tráfico de drogas, sendo</p><p>que o filho imputava a responsabilidade penal a seu pai e ambos foram</p><p>patrocinados pelo mesmo advogado. O defensor apresentou alegações finais</p><p>defendendo apenas o filho e acusando o pai. Havendo teses defensivas</p><p>conflitantes, fica clara a impossibilidade de que pai e filho fossem patrocinados pelo</p><p>mesmo advogado. É evidente, assim, o conflito de interesses e a colidência de</p><p>defesa, que provocou prejuízo ao paciente, haja vista a condenação à reprimenda</p><p>de 12 (doze) anos de reclusão”. (STJ, 6ª Turma, HC 86.392/PA, Rel. Min. Maria</p><p>Thereza de Assis Moura, j. 25/05/2010)</p><p>4.1.4 Princípio da Plenitude da Defesa</p><p>Aplicado especificamente ao Tribunal do Júri.</p><p>● A atenção do juiz com a efetividade da defesa do réu deve ser ainda maior;</p><p>● É possível apresentar nova tese na tréplica;</p><p>● Ampliação do tempo de defesa nos debates sem que igual direito seja concedido ao MP.</p><p>4.1.5 Princípio do In Dubio Pro Reo</p><p>Envolve regra de tratamento que milita em favor do acusado. O juiz só pode proferir decreto</p><p>condenatório se não existirem dúvidas acerca da autoria e materialidade do delito, sendo indispensável um</p><p>juízo de certeza para a condenação.</p><p>Se houver dúvida na interpretação de determinado artigo de lei processual penal, deve ser</p><p>privilegiada a interpretação que beneficie o réu.</p><p>STJ: O princípio NÃO tem aplicação nas fases de oferecimento da denúncia e na</p><p>prolação de decisão de pronúncia do Tribunal do Júri, em que, como regra,</p><p>prevalece o princípio do in dubio pro societate.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>86</p><p>STF: Recentemente, proferiu julgado crítico ao princípio do in dubio pro societate</p><p>na decisão da fase de pronúncia.</p><p>Penal e Processual Penal. 2. Júri. 3. Pronúncia e standard probatório: a decisão de</p><p>pronúncia requer uma preponderância de provas, produzidas em juízo, que</p><p>sustentem a tese acusatória, nos termos do art. 414, CPP. 4. Inadmissibilidade in</p><p>dubio pro societate: além de não possuir amparo normativo, tal preceito ocasiona</p><p>equívocos e desfoca o critério sobre o standard probatório necessário para a</p><p>pronúncia. 5. Valoração racional da prova: embora inexistam critérios de valoração</p><p>rigidamente definidos na lei, o juízo sobre fatos deve ser orientado por critérios de</p><p>lógica e racionalidade, pois a valoração racional da prova é imposta pelo direito à</p><p>prova (art. 5º, LV, CF) e pelo dever de motivação das decisões judiciais (art. 93, IX,</p><p>CF). 6. Critérios de valoração utilizados no caso concreto: em lugar de testemunhas</p><p>presenciais que foram ouvidas em juízo, deu-se maior valor a relato obtido somente</p><p>na fase preliminar e a testemunha não presencial, que, não submetidos ao</p><p>contraditório em juízo, não podem ser considerados elementos com força</p><p>probatória suficiente para atestar a preponderância de provas incriminatórias. 7.</p><p>Dúvida e impronúncia: diante de um estado de dúvida, em que há uma</p><p>preponderância de provas no sentido da não participação dos acusados nas</p><p>agressões e alguns elementos incriminatórios de menor força probatória, impõe-se</p><p>a impronúncia dos imputados, o que não impede a reabertura do processo em caso</p><p>de provas novas (art. 414, parágrafo único, CPP). Primazia da presunção de</p><p>inocência (art. 5º, LVII, CF e art. 8.2, CADH). 8. Função da pronúncia: a primeira fase</p><p>do procedimento do Júri consolida um filtro processual, que busca impedir o envio</p><p>de casos sem um lastro probatório mínimo da acusação, de modo a se limitar o</p><p>poder punitivo estatal em respeito aos direitos fundamentais. 9. Inexistência de</p><p>violação à soberania dos veredictos: ainda que a Carta Magna preveja a existência</p><p>do Tribunal do Júri e busque assegurar a efetividade de suas decisões, por exemplo</p><p>ao limitar a sua possibilidade de alteração em recurso, a lógica do sistema bifásico</p><p>é inerente à estruturação de um procedimento de júri compatível com o respeito</p><p>aos direitos fundamentais e a um processo penal adequado às premissas do Estado</p><p>democrático de Direito. 10. Negativa de seguimento ao Agravo em Recurso</p><p>Extraordinário. Habeas corpus concedido de ofício para restabelecer a decisão de</p><p>impronúncia proferida pelo juízo de primeiro grau, nos termos do voto do relator.</p><p>(ARE 1067392, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em</p><p>26/03/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-167 DIVULG 01-07-2020 PUBLIC 02-07-</p><p>2020)</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>87</p><p>4.1.6 Princípio do Contraditório ou Bilateralidade da Audiência</p><p>É o direito de ser intimado e se manifestar sobre fatos e provas.</p><p>Art. 5º, LV, da CF: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos</p><p>acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios</p><p>e recursos a ela inerentes”.</p><p>Elementos:</p><p>● Direito à informação – parte adversa deve estar ciente da existência da demanda ou dos argumentos</p><p>da parte contrária.</p><p>● Direito de participação – possibilidade de a parte oferecer reação, manifestação ou contrariedade á</p><p>pretensão da parte contrária.</p><p>● Direito e obrigatoriedade de assistência técnica de um defensor</p><p>Nesse sentido, a parte tem direito à informação (por isso a grande importância dos atos de</p><p>comunicação, citação, intimação e notificação) e o direito à participação (a parte precisa ter o direito de</p><p>contrariar). Portanto, o contraditório seria a necessária informação às partes e a possível reação a atos</p><p>desfavoráveis.</p><p>Espécies:</p><p>● Contraditório para a prova (contraditório real): É o contraditório realizado na formação do elemento</p><p>de prova, sendo indispensável que sua produção ocorra na presença do órgão julgador e das partes.</p><p>⋅ Ex.: Prova testemunhal. A prova testemunhal é produzida em contraditório real, pois ambas</p><p>as partes estarão presente para acompanhar a produção da prova, podendo questionar as</p><p>testemunhas, não apenas quanto a sua credibilidade, mas também quanto aos fatos.</p><p>● Contraditório sobre a prova (contraditório diferido/postergado): É a atuação do contraditório após</p><p>a formação da prova.</p><p>⋅ Ex.: Interceptação telefônica. É claro que o acusado e seu advogado jamais podem tomar</p><p>ciência antecipada quanto a uma interceptação telefônica em curso. Nesse caso, o</p><p>contraditório será conferido quando concluída a interceptação. Portanto, concluída a</p><p>interceptação, a mídia será juntada aos autos, assim como eventual relatório e laudo de</p><p>gravação. É nesse momento que a defesa poderá exercer o contraditório.</p><p>Observação:</p><p>Se o promotor oferece uma denúncia e essa denúncia é rejeitada pelo juiz, é quase que intuitivo que a</p><p>acusação irá recorrer (RESE no âmbito do CPP e apelação no âmbito dos juizados especiais).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>88</p><p>O acusado precisa ser intimado quanto a esse recurso? R.: SIM! Na condição de acusado, ele tem o interesse</p><p>de que a decisão de rejeição de denuncia seja mantida pelo tribunal. Por isso dele deve ser intimado para</p><p>que constitua um defensor para apresentar contrarrazões.</p><p>Nesse sentido, entendimento sumulado do STF.</p><p>SÚMULA 707 do STF: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões</p><p>ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.</p><p>4.1.7 Princípio da Publicidade</p><p>Trata-se de um princípio claramente ligado ao caráter democrático do processo penal. Isso porque,</p><p>a partir do momento que se assegura o princípio da publicidade, a ideia é de que a publicidade vai</p><p>proporcionar o controle da sociedade sobre a atividade jurisdicional.</p><p>Alguns doutrinadores dizem que o princípio da publicidade funciona como uma garantia de segundo</p><p>grau ou garantia de garantia (Ferrajoli). Garantia de segundo grau porque, na verdade, a publicidade</p><p>proporciona o controle sobre outras garantias. Assim, a partir do momento em que se dá publicidade ao</p><p>processo, poderemos analisar se as outras garantias também foram respeitadas (ex.: juiz natural,</p><p>contraditório, ampla defesa, etc.).</p><p>● Previsão legal: art. 93, IX, CF/88, art. 5°, LX, CF/88, art. 8°, 5, CADH, art. 792, CPP.</p><p>Art. 93, IX, da CF - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão</p><p>públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei</p><p>limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados,</p><p>ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do</p><p>interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;</p><p>Art. 5º, LX, da CF - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais</p><p>quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;</p><p>A requerimento do MP, o juiz deferiu que fossem oficiadas as companhias aéreas,</p><p>telefônicas e instituições bancárias para requisição de informações sobre viagens</p><p>feitas pelo réu e sobre os locais onde foram utilizados os seus cartões de crédito e</p><p>telefones celulares. O magistrado autorizou tais medidas sem qualquer</p><p>fundamentação. O STJ reconheceu que a decisão foi nula por ausência de</p><p>motivação. Embora não sejam absolutas as restrições de acesso à privacidade e</p><p>aos dados pessoais do cidadão, é imprescindível que qualquer decisão judicial</p><p>explicite os seus motivos (art. 93, IX, da CF). As diligências invasivas de acesso a</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>89</p><p>dados (bancários, telefônicos e de empresa de transporte aéreo), para serem</p><p>deferidas, precisam ser motivadas com a menção à necessidade e</p><p>proporcionalidade das diligências. STJ. 6ª Turma. REsp 1133877-PR, Rel. Min. Nefi</p><p>Cordeiro, julgado em 19/8/2014 (Info 545).</p><p>● Regra: Publicidade ampla, permitindo a todos o acesso ao processo e não apenas às partes e aos</p><p>procuradores.</p><p>Dessa publicidade ampla se extrai 3 direitos:</p><p>1) Direito de assistência à realização dos atos processuais: o público, as partes e os advogados</p><p>podem acompanhar os atos processuais;</p><p>2) Direito de narração dos atos processuais: da mesma forma que pode assistir, pode descrever</p><p>os atos processuais;</p><p>3) Consulta dos autos: qualquer pessoa pode acessar os autos.</p><p>● Exceção: Publicidade restrita, com fundamento na própria CF/88 que prevê, em algumas situações,</p><p>a possibilidade de restrição da publicidade. Será uma publicidade restrita apenas às partes e a seus</p><p>advogados ou, apenas, a seus advogados. Pois, vez ou outra, o direito à intimidade deve prevalecer</p><p>sobre o direito à informação.</p><p>Art. 8º, item 5, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos – “O processo</p><p>penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os interesses da</p><p>justiça”;</p><p>Art. 792 do CPP - As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra,</p><p>públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos</p><p>escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora</p><p>certos, ou previamente designados.</p><p>§1° Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar</p><p>escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o</p><p>tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do</p><p>Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando</p><p>o número de pessoas que possam estar presentes.</p><p>§2o As audiências, as sessões e os atos processuais, em caso de necessidade,</p><p>poderão realizar-se na residência do juiz, ou em outra casa por ele especialmente</p><p>designada. (regra caiu em desuso).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>90</p><p>Art. 234-B do CP - Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título</p><p>[crimes sexuais] correrão em segredo de justiça.</p><p>No caso de processo penal que tramita sob segredo de justiça em razão da</p><p>qualidade da vítima (criança ou adolescente), o nome completo do acusado e a</p><p>tipificação legal do delito podem constar entre os dados básicos do processo</p><p>disponibilizados para consulta livre no sítio eletrônico do Tribunal, ainda que os</p><p>crimes apurados se relacionem com pornografia infantil. Muito embora o delito de</p><p>divulgação de pornografia infantil possa causar repulsa à sociedade, não constitui</p><p>violação ao direito de intimidade do réu a indicação, no site da Justiça, do nome de</p><p>acusado maior de idade e da tipificação do delito pelo qual responde em ação</p><p>penal, ainda que o processo tramite sob segredo de justiça. STJ. 5ª Turma. RMS</p><p>49920-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 2/8/2016 (Info 587).</p><p>ATENÇÃO: Na visão dos Tribunais Superiores o segredo de justiça está dentro da cláusula de reserva de</p><p>jurisdição (STF: MS 27.483/DF). Ou seja, quando o segredo de justiça for decretado</p><p>pelo juiz, somente o</p><p>próprio juiz ou uma autoridade jurisdicional superior poderá remover esse segredo de justiça.</p><p>Ex.: CPI dos grampos. A CPI quis ter acesso a todos os processos que tinham interceptação telefônica. O STF</p><p>não deixou, pois, se há interceptação telefônica, é uma hipótese de publicidade restrita, então somente uma</p><p>autoridade jurisdicional pode remover o segredo de justiça.</p><p>STF - MS 27.483/DF: “Comissão Parlamentar de Inquérito não tem poder jurídico</p><p>de, mediante requisição, a operadoras de telefonia, de cópias de decisão nem de</p><p>mandado judicial de interceptação telefônica, quebrar sigilo imposto a processo</p><p>sujeito a segredo de justiça. Este é oponível a Comissão Parlamentar de Inquérito,</p><p>representando expressiva limitação aos seus poderes constitucionais”. (STF,</p><p>Tribunal Pleno, MS 27.483/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 192 09/10/2008).</p><p>4.1.8 Princípio da Vedação das Provas Ilícitas</p><p>É vedado o uso de provas ilícitas no processo.</p><p>Art. 5º, LVI, da CF: São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios</p><p>ilícitos.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>91</p><p>O reconhecimento da prova ilícita ou da prova ilegítima que enseja a nulidade absoluta tem como</p><p>consequência imediata o desentranhamento dos autos e sua inutilização, para que não se possa influenciar</p><p>indevidamente o convencimento do magistrado.</p><p>Cuidado! O que deve ser desentranhado dos autos é a PROVA, e não os autos processuais que fazem</p><p>menção à prova ilícita. Assim já decidiu o STF:</p><p>As peças processuais que fazem referência à prova declarada ilícita não devem</p><p>ser desentranhadas do processo. Se determinada prova é considerada ilícita, ela</p><p>deverá ser desentranhada do processo. Por outro lado, as peças do processo que</p><p>fazem referência a essa prova (exs: denúncia, pronúncia etc.) não devem ser</p><p>desentranhadas e substituídas. A denúncia, a sentença de pronúncia e as demais</p><p>peças judiciais não são "provas" do crime e, por essa razão, estão fora da regra que</p><p>determina a exclusão das provas obtidas por meios ilícitos prevista art. 157 do CPP.</p><p>Assim, a legislação, ao tratar das provas ilícitas e derivadas, não determina a</p><p>exclusão de "peças processuais" que a elas façam referência. STF. 2ª Turma. RHC</p><p>137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/11/2016 (Info 849).</p><p>Contudo, a prova ilícita NÃO será inutilizada quando:</p><p>1) Pertencer licitamente a alguém;</p><p>2) Prova ilícita consistir no próprio corpo de delito em relação àquele que praticou um crime para obtê-</p><p>la.</p><p>Obs.: O STF começou a admitir, excepcionalmente, a utilização da prova ilícita em benefício do réu inocente</p><p>que produziu prova para a sua absolvição.</p><p>Iremos aprofundar o tema quando tratarmos de Teoria Geral das Provas.</p><p>4.1.9 Princípio da Economia Processual, Celeridade Processual e Duração Razoável Do Processo</p><p>Trata-se do princípio que ensejou a edição da EC 45/04, responsável por introduzir a razoável</p><p>duração do processo enquanto direito fundamental no art. 5, LXXVII, CF.</p><p>Assim, a duração razoável do processo corresponde à busca pelo equilíbrio: o processo não pode ser</p><p>moroso ao ponto de ensejar a impunidade, mas também não tão célere de modo a inobservar as garantias</p><p>do acusado.</p><p>Apresenta algumas consequências:</p><p>● As prisões cautelares devem persistir por tempo razoável, enquanto presentes as necessidades;</p><p>● Possibilidade de utilizar a carta precatória itinerante;</p><p>https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/91665c93b72f55b2e4f1048fc8289d04?categoria=12&subcategoria=130</p><p>https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/91665c93b72f55b2e4f1048fc8289d04?categoria=12&subcategoria=130</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>92</p><p>● A suspensão do processo, havendo questão prejudicial, só deve ser feita quando há caso de difícil</p><p>solução.</p><p>Veja a dica do professor Tiago Dantas:</p><p>https://youtu.be/W1KoG7UnrJw</p><p>4.1.10 Princípio do Devido Processo Legal</p><p>É um princípio expressamente previsto na Constituição Federal.</p><p>Art. 5, LIV, da CF - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido</p><p>processo legal.</p><p>“O devido processo legal é o estabelecido em lei, devendo traduzir-se em sinônimo</p><p>de garantia, atendendo assim aos ditames constitucionais. Com isto, consagra-se a</p><p>necessidade do processo tipificado, sem a supressão e/ou desvirtuamento de atos</p><p>essenciais” (TÁVORA, 2017, p. 68).</p><p>Subdividido em:</p><p>● Aspecto material ou substancial: Ninguém será processado, senão por crime previsto em lei;</p><p>● Aspecto processual ou procedimental: Atrelado à possibilidade de produzir provas.</p><p>4.1.11 Juiz Imparcial ou Natural</p><p>a) Previsão constitucional: art. 5°, XXXVII e LIII, CF/88</p><p>Art. 5º, XXXVII, da CF: não haverá juízo ou tribunal de exceção;</p><p>https://youtu.be/W1KoG7UnrJw</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>93</p><p>Art. 5º, LIII, da CF: ninguém será processado nem sentenciado senão pela</p><p>autoridade competente;</p><p>b) Conceito</p><p>Consiste no direito que cada cidadão possui de conhecer antecipadamente a autoridade jurisdicional</p><p>que o processará e o julgará. A ideia do juiz natural está relacionada com a imparcialidade. Isso porque, a</p><p>partir do momento em que a competência é estabelecida de maneira prévia e abstrata, de certa forma é</p><p>possível proteger a imparcialidade daquele magistrado.</p><p>c) Regras de Proteção que derivam do Juiz Natural</p><p>Do princípio do juiz natural derivam 3 regras fundamentais:</p><p>● Só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição;</p><p>● Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato;</p><p>● Entre os juízes pré-constituídos vigoram regras de competência que excluem qualquer tipo de</p><p>discricionariedade.</p><p>Obs.1: Convocação de juízes de 1º grau para substituir desembargadores não viola o princípio do juiz</p><p>natural.</p><p>Não ofende o princípio do juiz natural à convocação de juízes de primeiro grau</p><p>para, nos casos de afastamento eventual do desembargador titular, compor o</p><p>órgão julgador do respectivo Tribunal, desde que observadas as diretrizes legais</p><p>federais ou estaduais, conforme o caso. Precedentes do STF e do STJ. Na hipótese</p><p>em tela, o Tribunal de Justiça paulista procedeu a convocações de juízes de primeiro</p><p>grau para formação de Câmaras Julgadoras, valendo-se de um sistema de</p><p>voluntariado, sem a observância da regra legal instituída (Lei Complementar n.º</p><p>646/90 do Estado de São Paulo), qual seja, a de realização de concurso de remoção,</p><p>tornando nula a atuação do magistrado de primeiro grau convocado nessas</p><p>circunstâncias. Ordem concedida para anular o julgamento do recurso de apelação,</p><p>determinando a sua renovação por Turma Julgadora, com a observância da lei de</p><p>regência. (STJ, 5ª Turma, HC 111.919/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 18/11/2008, Dje</p><p>02/02/2009).</p><p>Obs.2: Julgamento por turma (ou câmara) composta, em sua maioria, por juízes convocados não viola o</p><p>princípio do juiz natural.</p><p>Esta Corte já firmou entendimento no sentido da constitucionalidade da Lei</p><p>Complementar 646/1990, do Estado de São Paulo, que disciplinou a convocação de</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>94</p><p>juízes de primeiro grau para substituição de desembargadores do TJ/SP. Da mesma</p><p>forma, não viola o postulado constitucional do juiz natural o julgamento de</p><p>apelação por órgão composto majoritariamente por juízes convocados na forma</p><p>de edital publicado na imprensa oficial. Colegiados constituídos por magistrados</p><p>togados, que os integram mediante inscrição voluntária e a quem a distribuição de</p><p>processos é feita aleatoriamente. Julgamentos realizados com estrita observância</p><p>do princípio da publicidade, bem como do direito ao devido processo legal, à ampla</p><p>defesa e ao contraditório. Ordem denegada. (STF, Pleno, HC 96.821/SP, Rel. Min.</p><p>Ricardo Lewandowski,</p><p>196</p><p>7. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ...................................................................................... 198</p><p>8. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA ....................................................................... 199</p><p>9. REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO ........................................................................................................ 199</p><p>9.1 Princípios x Regras ................................................................................................................................................ 200</p><p>9.2 Princípios Explícitos do Direito Administrativo .................................................................................................... 201</p><p>10. PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................................................. 202</p><p>10.1 Legalidade (Juridicidade) .................................................................................................................................... 202</p><p>10.2 Princípio Da Impessoalidade .............................................................................................................................. 204</p><p>10.3 Princípio da Moralidade ..................................................................................................................................... 205</p><p>10.4 Princípio da Publicidade ..................................................................................................................................... 208</p><p>10.5 Princípio da Eficiência ......................................................................................................................................... 210</p><p>11. OUTROS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS ................................................................................................ 211</p><p>11.1 Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade ................................................................................................ 211</p><p>11.2 Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o Privado (Princípio da Finalidade Pública) ..................... 212</p><p>11.3 Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade ........................................................................................................ 212</p><p>11.4 Princípio Da Continuidade Do Serviço Público ................................................................................................... 216</p><p>11.5 Princípio da Motivação ....................................................................................................................................... 221</p><p>11.6 Princípio da Ampla Defesa e Contraditório ........................................................................................................ 222</p><p>11.7 Princípio da Segurança Jurídica e Legítima Confiança ........................................................................................ 223</p><p>11.8 Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções ........................................................................................ 224</p><p>QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 228</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>META 5 .......................................................................................................................................................... 229</p><p>LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS ...................................................................... 229</p><p>1. CONTEXTO HISTÓRICO DA LEI nº 9.613/98 ............................................................................................... 229</p><p>2. CONCEITO E EXPRESSÃO “LAVAGEM DE DINHEIRO” ................................................................................ 229</p><p>3. GERAÇÕES DA LEI DE LAVAGEM E LEI Nº 12.883/2012 ............................................................................. 230</p><p>4. BEM JURÍDICO TUTELADO ......................................................................................................................... 237</p><p>5. FASES DA LAVAGEM .................................................................................................................................. 238</p><p>6. ACESSORIEDADE DA LAVAGEM DE CAPITAIS ............................................................................................ 239</p><p>7. DOS SUJEITOS DO DELITO .......................................................................................................................... 243</p><p>7.1 Sujeito ativo .......................................................................................................................................................... 243</p><p>7.2 Sujeito Passivo ...................................................................................................................................................... 245</p><p>8. DOS CRIMES DE "LAVAGEM" OU OCULTAÇÃO DE BENS, DIREITOS E VALORES ....................................... 245</p><p>9. ASPECTOS PROCESSUAIS DA LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS ..................................................................... 250</p><p>9.1 Colaboração Premiada ......................................................................................................................................... 250</p><p>9.2 Ação Controlada e Infiltração de Agentes ............................................................................................................ 252</p><p>10. EFEITOS DA CONDENAÇÃO ...................................................................................................................... 257</p><p>11. AFASTAMENTO DO SERVIDOR PÚBLICO COMO EFEITO AUTOMÁTICO DO INDICIAMENTO: ................. 258</p><p>12. COMPETÊNCIA ......................................................................................................................................... 261</p><p>13. NÃO APLICAÇÃO DO ART. 366, CPP NA LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS .................................................. 261</p><p>QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 272</p><p>META 6 – REVISÃO SEMANAL ........................................................................................................................ 273</p><p>Direito Penal: Noções Iniciais E Princípios .................................................................................................................. 273</p><p>Direito Processual Penal: Noções Iniciais E Princípios ................................................................................................ 274</p><p>Direito Constituticional: Direitos E Garantias Fundamentais ..................................................................................... 275</p><p>Direito Administrativo: Noções Iniciais E Princípios ................................................................................................... 277</p><p>Legislação Penal Especial: Lei De Lavagem De Capitais .............................................................................................. 279</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA SEMANA 01</p><p>META DIA ASSUNTO</p><p>1 SEG DIREITO PENAL: Noções Iniciais e Princípios</p><p>2 TER DIREITO PROCESSUAL PENAL: Noções Iniciais e Princípios</p><p>3 QUA DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos e Garantias Fundamentais</p><p>4 QUI DIREITO ADMINISTRATIVO: Noções Iniciais e Princípios</p><p>5 SEX LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: Lei de Lavagem de Capitais</p><p>6 SÁB/DOM [REVISÃO SEMANAL]</p><p>ATENÇÃO</p><p>Gostou do nosso material?</p><p>Lembre de postar nas suas redes sociais e marcar o @dedicacaodelta.</p><p>Conte sempre conosco.</p><p>Equipe DD</p><p>Prezado(a) aluno(a),</p><p>Caso possua alguma dúvida jurídica sobre o conteúdo disponibilizado no curso, pedimos que utilize a sua</p><p>área do aluno. Há um campo específico para enviar dúvidas.</p><p>j. 08/04/2010).</p><p>É pacífico o entendimento deste Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal</p><p>Federal no sentido de ser perfeitamente possível a convocação de juízes de</p><p>primeiro grau para substituírem desembargadores nos Tribunais, quando, em</p><p>conformidade com a legislação de regência, não há qualquer ofensa à Constituição</p><p>Federal. O caso em apreço não se amolda à hipótese acima, tendo em vista tratar-</p><p>se de ação penal originária, porquanto, em última análise, refere-se às</p><p>prerrogativas dos membros do Ministério Público que, por expressa previsão</p><p>constitucional (art. 96, inciso III), possuem foro privilegiado por prerrogativa de</p><p>função. Prevendo o Regimento Interno do Tribunal de Justiça Estadual, vigente à</p><p>época do julgamento do paciente, de que era necessária a presença de pelo menos</p><p>dois terços de seus membros na sessão de julgamento, viola o princípio do juiz</p><p>natural quando o referido quórum é completado com juízes de primeiro grau</p><p>convocados. (STJ, 6ª Turma, HC 88.739/BA, Rel. Min. Haroldo Rodrigues, j.</p><p>15/06/2010).</p><p>O tema será aprofundado quando falarmos de Competência, tendo em vista que são assuntos</p><p>diretamente ligados entre si.</p><p>4.2 Princípios Constitucionais Implícitos</p><p>4.2.1 Princípio do Nemo Tenetur Se Detegere (Princípio De Que Ninguém Está Obrigado A Produzir Prova</p><p>Contra Si Mesmo)</p><p>a) Conceito</p><p>A garantia da não autoincriminação consiste no direito de não produzir prova contra si próprio, essa</p><p>garantia vem sendo muito cobrada em prova no termo em latim “nemo tenetur se detegere” que está</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>95</p><p>positivado no artigo 8º, g, do Pacto de São José da Costa Rica, garantindo à pessoa o “direito de não ser</p><p>obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada”.</p><p>b) Previsão Normativa:</p><p>Na CF/88 (art. 5º, LXIII), através da menção ao direito ao silêncio, que é um dos desdobramentos do</p><p>princípio do nemo tenetur se detegere.</p><p>Art.5º, LXIII, CF - O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de</p><p>permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;</p><p>Na CADH (art.8º, item 2, alínea “g”):</p><p>Artigo 8º, item 2, CADH – (...) durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena</p><p>igualdade, às seguintes garantias mínimas:(...) g) direito de não ser obrigado a</p><p>depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada; e</p><p>c) Titularidade</p><p>A CF faz referência ao preso, mas como se trata de um direito fundamental, a interpretação deve ser</p><p>feita de maneira extensiva. Desta forma, o titular é o indivíduo suspeito, investigado, indiciado pela</p><p>autoridade policial bem como o acusado pelo MP, pouco importa se está preso ou solto.</p><p>● Abrange o suspeito, investigado, indiciado ou o acusado.</p><p>● A testemunha tem a obrigação de dizer a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso</p><p>testemunho. Entretanto, se das perguntas a ela formuladas puder resultar uma autoincriminação,</p><p>também poderá invocar este princípio (Info 754 STF).</p><p>● O imputado deve ser advertido acerca do direito de não produzir prova contra si mesmo, sob pena</p><p>de ilicitude das provas obtidas.</p><p>Art. 5º, LXIII, da CF - O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de</p><p>permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.</p><p>d) Desdobramentos do Princípio da Não Autoincriminação</p><p>1) Direito ao silêncio</p><p>Consiste no direito de não responder às perguntas formuladas pela autoridade, funcionando como</p><p>espécie de manifestação passiva de defesa. É uma forma de se exercer a autodefesa.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>96</p><p>2) Inexigibilidade de dizer a verdade ou direito de mentir</p><p>Cuidado! Mentiras defensivas são toleradas pelo ordenamento jurídico, porém mentiras agressivas,</p><p>incriminadoras de 3º NÃO estão sob o manto do direito de defesa.</p><p>3) Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo</p><p>Consiste no direito de não adotar comportamentos ativos que colaborem com a atividade</p><p>persecutória do Estado.</p><p>Por comportamento ativo, entende-se um “fazer” por parte do acusado, a exemplo do fornecimento</p><p>do padrão vocal para realização de exame de espectrograma; fornecimento de material escrito para exame</p><p>grafotécnico; exame de bafômetro.</p><p>Nesse sentido a jurisprudência:</p><p>(...) O privilégio contra a autoincriminação, garantia constitucional, permite ao</p><p>paciente o exercício do direito de silêncio, não estando, por essa razão, obrigado a</p><p>fornecer os padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial que entende lhe</p><p>ser desfavorável. Ordem deferida, em parte, apenas para, confirmando a medida</p><p>liminar, assegurar ao paciente o exercício do direito de silêncio, do qual deverá ser</p><p>formalmente advertido e documentado pela autoridade designada para a</p><p>realização da perícia. (STF, 2ª Turma, HC 83.096/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ</p><p>12/12/2003 p. 89).</p><p>Acerca da recusa ao teste do bafômetro, nas palavras de Renato Brasileiro de Lima:</p><p>O fato de o art. 277, § 3º, do CTB, prever a aplicação de penalidades e medidas</p><p>administrativas ao condutor que não se sujeitar a qualquer dos procedimentos</p><p>previstos no caput do referido artigo é perfeitamente constitucional. Ao contrário</p><p>do que ocorre no âmbito criminal, em que, por força do princípio da presunção de</p><p>inocência, não se admite eventual inversão do ônus da prova em virtude de recusa</p><p>do acusado em se submeter a uma prova invasiva, no âmbito administrativo, o</p><p>agente também não é obrigado a produzir prova contra si mesmo, porém, como</p><p>não se aplica a regra probatória que deriva do princípio da presunção de inocência,</p><p>a controvérsia pode ser resolvida com base na regra do ônus da prova, sendo que</p><p>a recusa do agente em se submeter ao exame pode ser interpretada em seu</p><p>prejuízo, no contexto do conjunto probatório, com a consequente imposição das</p><p>penalidades e das medidas administrativas previstas no art. 165 do CTB. (LIMA,</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>97</p><p>Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 81-</p><p>82).</p><p>Atualmente, há teste de bafômetro ativo (não é obrigado a realizar, pois pode acarretar</p><p>autoincriminação) e teste de bafômetro passivo, em que é colocado um objeto próximo ao agente, capaz de</p><p>captar, por meio da respiração, o teor alcoólico. Este último, por não demandar qualquer comportamento</p><p>do agente, pode ser realizado, mesmo contra sua vontade.</p><p>Tratando-se de comportamentos passivos, em que o agente se sujeita a prova, não há proteção do</p><p>referido princípio, a exemplo do reconhecimento de pessoas e coisas.</p><p>O STF entendeu que o direito a não autoincriminação não assegura ao acusado o direito de ocultar ou falsear</p><p>a sua identidade (1ªT, RE n2 561.704, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 64 02/04/2009).</p><p>No mesmo sentido, o STJ, possui entendimento sumulado. SUM 522: A conduta de atribuir-se falsa</p><p>identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.</p><p>4) Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva</p><p>É preciso realizar uma distinção entre a prova invasiva e a prova não invasiva, visto que apenas aquela</p><p>encontra proteção no princípio ora analisado.</p><p>● Prova invasiva - Implica na penetração do organismo humano e na extração de uma parte dele. Como</p><p>exemplo, podemos citar: coleta de sangue, soprar bafômetro.</p><p>● Prova não invasiva - É aquela em que não há penetração no organismo humano. Admite-se a coleta,</p><p>mas não deve ser retirada do corpo. Por exemplo, o fio de cabelo coletado de um pente. O mesmo</p><p>vale para a coleta de lixo, de placenta descartada (caso Glória Trevi).</p><p>Caso Glória Trevi: o STF entendeu pela a legalidade da determinação de coleta da placenta no</p><p>procedimento médico do parto da cantora chilena G. T., a fim de que fosse possível,</p><p>posteriormente, a</p><p>realização do exame de DNA, de modo a dirimir a dúvida quanto a quem era o pai da criança. Nessa situação,</p><p>a intervenção médica era necessária e não houve a coleta à força da placenta, uma vez que esta é expelida</p><p>do corpo humano como consequência natural do processo de parto.</p><p>(...) Coleta de material biológico da placenta, com propósito de se fazer exame de</p><p>DNA, para averiguação de paternidade do nascituro, embora a oposição da</p><p>extraditanda. (....) Mantida a determinação ao Diretor do Hospital Regional da Asa</p><p>Norte, quanto à realização da coleta da placenta do filho da extraditanda. (...) Bens</p><p>jurídicos constitucionais como “moralidade administrativa”, “persecução penal</p><p>pública” e “segurança pública” que se acrescem, - como bens da comunidade, na</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>98</p><p>expressão de Canotilho, - ao direito fundamental à honra (CF, art. 5°, X), bem assim</p><p>direito à honra e à imagem de policiais federais acusados de estupro da</p><p>extraditanda, nas dependências da Polícia Federal, e direito à imagem da própria</p><p>instituição, em confronto com o alegado direito da reclamante à intimidade e a</p><p>preservar a identidade do pai de seu filho. (...) Mérito do pedido do Ministério</p><p>Público Federal julgado, desde logo, e deferido, em parte, para autorizar a</p><p>realização do exame de DNA do filho da reclamante, com a utilização da placenta</p><p>recolhida, sendo, entretanto, indeferida a súplica de entrega à Polícia Federal do</p><p>“prontuário médico” da reclamante. (STF, Tribunal Pleno, Rcl-QO 2.040/DF, Rel.</p><p>Min. Néri da Silveira, DJ 27/06/2003 p. 31).</p><p>Ressalta-se que o raio-x, segundo o STJ (HC 149.146/SP), é considerado prova não invasiva. Logo,</p><p>poderá ser realizado mesmo contra a vontade do indivíduo.</p><p>Nesse sentido, Renato Brasileiro explica que no caso das chamadas “mulas”, que transportam drogas</p><p>no organismo humano, não é possível obrigar a pessoa a realizar uma cirurgia para retirada ou que ela</p><p>consuma algum tipo de remédio para expelir o conteúdo da droga. É possível, no entanto, a realização de um</p><p>raio-x, que é modalidade de prova não invasiva.</p><p>(...) A Constituição Federal, na esteira da Convenção Americana de Direitos</p><p>Humanos e do Pacto de São José da Costa Rica, consagrou, em seu art. 5º, inciso</p><p>LXIII, o princípio de que ninguém pode ser compelido a produzir prova contra si.</p><p>Não há, nos autos, qualquer comprovação de que tenha havido abuso por parte</p><p>dos policiais na obtenção da prova que ora se impugna. Ao contrário, verifica-se</p><p>que os pacientes assumiram a ingestão da droga, narrando, inclusive, detalhes da</p><p>ação que culminaria no tráfico internacional da cocaína apreendida para a Angola,</p><p>o que denota cooperação com a atividade policial, refutando qualquer alegação de</p><p>coação na colheita da prova. Ademais, é sabido que a ingestão de cápsulas de</p><p>cocaína causa risco de morte, motivo pelo qual a constatação do transporte da</p><p>droga no organismo humano, com o posterior procedimento apto a expeli-la,</p><p>traduz em verdadeira intervenção estatal em favor da integridade física e, mais</p><p>ainda, da vida, bens jurídicos estes largamente tutelados pelo ordenamento.</p><p>Mesmo não fossem realizadas as radiografias abdominais, o próprio organismo, se</p><p>o pior não ocorresse, expeliria naturalmente as cápsulas ingeridas, de forma a</p><p>permitir a comprovação da ocorrência do crime de tráfico de entorpecentes. (...)</p><p>Ordem denegada. (STJ, 6ª Turma, HC 149.146/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado</p><p>em 05/04/2011).</p><p>ATENÇÃO! Nemo tenetur se detegere e a prática de outros ilícitos.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>99</p><p>O princípio nemo tenetur se detegere não tem natureza absoluta, podendo constituir conduta</p><p>criminosa, determinados comportamentos empregados a pretexto de estarem amparados pelo referido</p><p>princípio. Assim, apesar de ninguém ser obrigado a produzir provas contra si mesmo, nenhum direito pode</p><p>ser usado como escudo protetor para a realização de atividades ilícitas. Nesse sentido, vejamos alguns</p><p>exemplos.</p><p>Ex1.: Crime de Fraude Processual (art. 347, CP).</p><p>Fraude processual Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil</p><p>ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a</p><p>erro o juiz ou o perito: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.</p><p>Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal,</p><p>ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.</p><p>Foi o que aconteceu no caso do Casal Nardoni, acusado e condenado por fraude processual. A defesa,</p><p>no caso deste crime específico (alteração da cena do crime), alegou o princípio do nemo tenetur se detegere,</p><p>afirmando que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Entretanto, tal princípio não dá</p><p>direito à pessoa de cometer outras infrações para se eximir da anterior.</p><p>O Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou no habeas corpus impetrado em</p><p>favor de A. N. e A. C. J, denunciados pelo homicídio triplamente qualificado de</p><p>Isabela Nardoni, e também por fraude processual, em decorrência da alteração do</p><p>local do crime: (...) O direito à não auto-incriminação não abrange a possibilidade</p><p>de os acusados alterarem a cena do crime, inovando o estado de lugar, de coisa ou</p><p>de pessoa, para, criando artificiosamente outra realidade, levar peritos ou o próprio</p><p>Juiz a erro de avaliação relevante (...). (STJ, 5 Turma, HC 137.206/SP, Rel. Min.</p><p>Napoleão Nunes Maia Filho, j. 01/12/2009, DJe 01/02/2010).</p><p>Ex2.: Fuga do local de ocorrência de trânsito (art. 305 do CTB).</p><p>Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à</p><p>responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída: Penas - detenção, de</p><p>seis meses a um ano, ou multa.</p><p>No caso de crimes de trânsito, o afastamento do condutor do local do acidente enseja algumas</p><p>divergências. Alguns doutrinadores consideram que tal crime seria inconstitucional. Entretanto, no fim de</p><p>2018, o STF considerou este crime constitucional, afirmando que o condutor tem o dever de permanecer no</p><p>local, mas não é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Vejamos:</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>100</p><p>(...) “A regra que prevê o crime do art. 305 do CTB é constitucional posto não</p><p>infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e as</p><p>hipóteses de exclusão de tipicidade e de antijuridicidade”. À semelhança do que já</p><p>fora decidido pelo Supremo no julgamento do RE 640.139, quando se afirmou que</p><p>o princípio constitucional da autoincriminação não alcança aquele que atribui falsa</p><p>identidade perante autoridade policial com o intuito de ocultar maus antecedentes,</p><p>prevaleceu o entendimento de que não há direitos absolutos e que, no sistema de</p><p>ponderação de valores, há de ser admitida certa mitigação, até mesmo do princípio</p><p>da não autoincriminação. Na visão da Corte, a exigência de permanência no local</p><p>do acidente e de identificação perante a autoridade de trânsito não obriga o</p><p>condutor a assumir expressamente sua responsabilidade civil ou penal e tampouco</p><p>enseja que seja aplicada contra ele qualquer penalidade caso assim não o proceda.</p><p>Na verdade, a depender do caso concreto, a sua permanência no local pode até</p><p>constituir um meio de autodefesa, na medida em que terá a oportunidade de</p><p>esclarecer, de imediato, eventuais circunstâncias do acidente que lhe sejam</p><p>favoráveis. (STF, Pleno, RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 14/11/2018).</p><p>Iremos aprofundar um pouco mais o tema na aula de Teoria Geral da Prova.</p><p>Obs1.: O Aviso de Miranda é uma construção do direito norte-americano, segundo o qual, o policial, no</p><p>momento da prisão, deve relatar para o preso os seus direitos, sob pena de invalidação do que por ele for</p><p>dito. Conforme leciona Renato Brasileiro (2017, p. 71), os “Miranda Warnings”</p><p>têm origem no julgamento</p><p>Miranda V. Arizona, em que a Suprema Corte americana firmou o entendimento de que nenhuma validade</p><p>pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a não ser que antes tenha sido claramente</p><p>informada de:</p><p>I- Que tem o direito de não responder;</p><p>II- Que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ela;</p><p>III- Que tem o direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado.</p><p>Obs2.: O art. 2º, §6º, da Lei nº 7.960/89 (prisão temporária) prevê que, efetuada a prisão, a autoridade</p><p>policial informará o preso dos direitos previstos no art. 5º da Constituição Federal, por meio de uma nota de</p><p>ciência.</p><p>Entendimentos do STF:</p><p>1. O acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de</p><p>verificação de interlocutor (HC 83.096/RJ).</p><p>2. O acusado não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico (HC 77135/SP).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>101</p><p>3. Configura constrangimento ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da recusa</p><p>destes em participarem de reconstituição do crime (HC 99.245/RJ).</p><p>Vamos aprofundar o assunto:</p><p>Há na jurisprudência diversas manifestações acerca do dever de advertência. Como exemplo, os</p><p>casos em policiais gravaram conversa informal com o preso, sem que lhe fosse avisado acerca do seu direito</p><p>ao silêncio.</p><p>(...) Gravação clandestina de “conversa informal” do indiciado com policiais.</p><p>Ilicitude decorrente - quando não da evidência de estar o suspeito, na ocasião,</p><p>ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu assentimento à gravação</p><p>ambiental - de constituir, dita “conversa informal”, modalidade de “interrogatório”</p><p>sub-reptício, o qual - além de realizar-se sem as formalidades legais do</p><p>interrogatório no inquérito policial (CPP, art. 6º, V) -, se faz sem que o indiciado seja</p><p>advertido do seu direito ao silêncio. O privilégio contra a autoincriminação - nemo</p><p>tenetur se detegere -, erigido em garantia fundamental pela Constituição - além da</p><p>inconstitucionalidade superveniente da parte final do art. 186 CPP. - Importou</p><p>compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o interrogado do</p><p>seu direito ao silêncio: a falta da advertência - e da sua documentação formal - faz</p><p>ilícita a prova que, contra si mesmo, forneça o indiciado ou acusado no</p><p>interrogatório formal e, com mais razão, em “conversa informal” gravada,</p><p>clandestinamente ou não. (...). (STF, 1ª Turma, HC 80.949/RJ, Rel. Min. Sepúlveda</p><p>Pertence, DJ 14/12/2001).</p><p>Ilicitude de gravação ambiental sem o conhecimento do preso.</p><p>PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. INVESTIGAÇÃO</p><p>POLICIAL. EXERCÍCIO DO DIREITO DE PERMANECER CALADO MANIFESTADO</p><p>EXPRESSAMENTE PELO INDICIADO (ART. 5º, LXIII, DA CF). GRAVAÇÃO DE CONVERSA</p><p>INFORMAL REALIZADA PELOS POLICIAIS QUE EFETUARAM A PRISÃO EM</p><p>FLAGRANTE. ELEMENTO DE INFORMAÇÃO CONSIDERADO ILÍCITO. VULNERAÇÃO</p><p>DE DIREITO CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADO. INAPLICABILIDADE DO</p><p>ENTENDIMENTO NO SENTIDO DA LICITUDE DA PROVA COLETADA QUANDO UM</p><p>DOS INTERLOCUTORES TEM CIÊNCIA DA GRAVAÇÃO DO DIÁLOGO. SITUAÇÃO</p><p>DIVERSA.</p><p>DIREITO À NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO QUE DEVE PREVALECER SOBRE O DEVER-</p><p>PODER DO ESTADO DE REALIZAR A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. (HC 244.977/SC, Rel.</p><p>Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 25/09/2012, DJe</p><p>09/10/2012)</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>102</p><p>Em relação à imprensa, podemos citar duas correntes:</p><p>▪ 1ªC: Há doutrinadores que afirmam que este dever de advertência vale para todos, inclusive</p><p>para os particulares, seria a aplicação da eficácia horizontal dos direitos fundamentais.</p><p>Portanto, a imprensa teria a obrigação de advertir o agente acerca do seu direito de</p><p>permanecer calado.</p><p>▪ 2ºC: STF, no entanto, não adota tal posicionamento. Assim, o dever de advertência vale</p><p>apenas para o Estado. Nesse sentido:</p><p>(...) Alegação de ilicitude da prova, consistente em entrevista concedida pelo</p><p>paciente ao jornal “A Tribuna”, na qual narra o modus operandi de dois homicídios</p><p>perpetrados no Estado do Espírito Santo, na medida em que não teria sido</p><p>advertido do direito de permanecer calado. Entrevista concedida de forma</p><p>espontânea. Constrangimento ilegal não caracterizado. Ordem denegada. (STF, 2ª</p><p>Turma, HC 99.558/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14/12/2010).</p><p>4.2.2 Princípio da Iniciativa das Partes</p><p>É vedada a propositura de ação penal pelo magistrado, reservando-se essa iniciativa apenas à parte.</p><p>Em conformidade com o sistema acusatório, o juiz não pode iniciar um processo penal sem provocação</p><p>anterior (nemo judex actore ou ne procedat judex ex officio).</p><p>Entretanto, a doutrina aponta duas exceções ao princípio da iniciativa das partes. O juiz pode agir de</p><p>ofício:</p><p>a) Quando a situação disser respeito ao direito de liberdade do agente, o que se verifica na expedição</p><p>de habeas corpus de ofício (art. 654, § 2º, CPP); e</p><p>b) Quando se tratar do início da execução penal (art. 195, Lei 7.210/84).</p><p>4.2.3 Duplo Grau de Jurisdição</p><p>NÃO é princípio constitucional expresso, embora exista doutrina que defenda ser decorrência da</p><p>ampla defesa.</p><p>Além disso, decorre de direitos previstos em tratados de direitos humanos, como o já mencionado</p><p>Pacto de São José da Costa Rica que, em seu art. 8.2, h, dispõe que: “(...) durante o processo, toda pessoa</p><p>tem, em plena igualdade, o direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.”</p><p>4.2.4 Princípio da Oficialidade</p><p>A atividade de persecução criminal deve ocorrer por órgão oficial. Aplicável à ação penal pública.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>103</p><p>4.2.5 Princípio da Oficiosidade</p><p>As autoridades incumbidas da persecução penal devem agir de ofício, ou seja, independentemente</p><p>de provocação, salvo exceções. Ex.: crimes de ação penal condicionada ou de ação penal de iniciativa privada.</p><p>Será aprofundado no tema Ação Penal.</p><p>Cuidado! NÃO confunda os princípios da oficialidade e oficiosidade, visto que apesar da denominação</p><p>similar, possuem conceituações distintas conforme apontado acima.</p><p>5. OUTROS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL</p><p>5.1 Princípio da Oralidade</p><p>A prova oral prevalece sobre a escrita. Desse princípio decorre:</p><p>● Princípio da Concentração: Toda a colheita de prova e julgamento devem ocorrer em uma única</p><p>audiência.</p><p>● Princípio da Imediaticidade: O magistrado deve ter contato direto com a prova produzida.</p><p>● Princípio da Identidade Física do Juiz: O juiz que instrui o processo deve julgá-lo.</p><p>5.2 Indivisibilidade da Ação Penal Privada</p><p>NÃO pode o ofendido escolher contra qual agente ofertará a ação penal privada.</p><p>ATENÇÃO: Para o STF, a ação penal pública é divisível, pois o MP pode, até sentença final, incluir novos</p><p>agentes por aditamento à denúncia ou oferecer nova ação penal, caso já prolatada sentença no feito.</p><p>Todavia, para doutrina majoritária, prevalece a indivisibilidade.</p><p>Será aprofundado no tema Ação Penal.</p><p>5.3 Comunhão da Prova</p><p>Uma vez produzida, a prova não pertence mais a parte que a produziu, mas ao processo. Nesse</p><p>sentido, o magistrado pode valer-se de uma prova produzida pela parte para proferir decisão em seu</p><p>desfavor, de acordo com o seu livre convencimento motivado.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>104</p><p>5.4 Impulso Oficial</p><p>Atrelado aos princípios da obrigatoriedade e indeclinabilidade da ação penal.</p><p>Uma vez iniciado, o processo tem curso por impulso oficial, ou seja, o juiz, de ofício, dará andamento</p><p>ao processo até o seu fim, objetivando a prolação de uma decisão final. Assim, não é possível a paralisação</p><p>do procedimento pela inércia ou omissão das partes, caminhando-se para a resolução do litígio de forma</p><p>definitiva, enquanto objetivo do processo.</p><p>6. APLICAÇÃO DA</p><p>LEI PROCESSUAL</p><p>6.1 Aplicação da Lei Processual no Tempo</p><p>É o estudo do direito intertemporal, ou seja, o direito que regula a sucessão de leis no tempo.</p><p>a) Normas de Direito Penal:</p><p>Princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa, do qual deriva o princípio da ultratividade da</p><p>lei penal mais benéfica. A lei nova só vai valer para os crimes praticados a partir daquele momento.</p><p>Art. 5, XL, da CF – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;</p><p>b) Normas de Direito Processual Penal</p><p>Existem duas espécies de normas de Direito Processual Penal.</p><p>● Norma genuinamente processual;</p><p>● Norma processual material, mista ou híbrida.</p><p>Dependendo da espécie de norma processual penal os critérios de aplicação serão diferentes.</p><p>1) Norma genuinamente processual - São aquelas que cuidam de procedimentos, atos processuais,</p><p>técnicas do processo. Ou seja, não dizem respeito a pretensão punitiva. Nesse caso, o critério a ser</p><p>aplicado é o previsto no art. 2°, CPP (princípio da aplicação imediata).</p><p>Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos</p><p>atos realizados sob a vigência da lei anterior.</p><p>Pelo princípio do efeito imediato, a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da</p><p>validade dos atos praticados sob a vigência da lei anterior. Como consequência, a lei processual penal será</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>105</p><p>aplicada de imediato, seja benéfica ou maléfica (não se aplica o princípio da retroatividade da lei benéfica,</p><p>como ocorre no Direito Penal).</p><p>Portanto, do princípio da aplicação imediata derivam 2 regras fundamentais:</p><p>1ª - A lei genuinamente processual tem aplicação imediata;</p><p>2ª - A vigência dessa nova lei não invalida os atos processuais anteriores. Se o ato processual</p><p>já foi praticado e foi em consonância com a lei processual vigente, significa que o ato é válido,</p><p>não devendo ser anulado só porque houve a superveniência de uma nova lei.</p><p>Assim, o ordenamento jurídico brasileiro adota o sistema do isolamento dos atos do processo</p><p>(tempus regit actum), segundo o qual a lei será aplicada unicamente em relação ao ato processual e, uma</p><p>vez praticado este, a nova lei processual já poderá ter incidência sobre os atos futuros.</p><p>2) Norma processual material (mista ou híbrida) - São aquelas que possuem caráter dúplice, de direito</p><p>penal e de processo penal.</p><p>Norma processual material (mista) = norma de direito penal + norma de direito processual penal.</p><p>● Normas Penais - São aquelas que cuidam do crime, da pena, da medida de segurança, dos efeitos da</p><p>condenação e do direito de punir do Estado. Ex.: causas extintivas da punibilidade.</p><p>● Normas Processuais Penais - São aquelas que versam sobre o processo desde o seu início até o final</p><p>da execução ou extinção da punibilidade.</p><p>Assim, se um dispositivo legal, embora inserido em lei processual, versa sobre regra penal, de direito</p><p>material, a ele serão aplicáveis os princípios que regem a lei penal, de ultratividade e retroatividade da lei</p><p>mais benigna.</p><p>Conclusão: Quando se tratar de norma processual mista, o critério a ser aplicado é o critério do</p><p>direito penal, ou seja, irretroatividade da lei mais grave e ultratividade da lei mais benigna.</p><p>● Se o aspecto penal for benéfico: prevalece o aspecto penal, e a lei retroage por completo;</p><p>● Se o aspecto penal for maléfico: a lei NÃO retroage.</p><p>ATENÇÃO! Normas heterotópicas são aquelas em que, apesar de seu conteúdo conferir-lhe uma</p><p>determinada natureza, encontra-se prevista em diploma de natureza distinta. Ou seja, é uma norma penal</p><p>colocada no CPP, ou então norma processual penal colocada no CP.</p><p>Nas palavras de Noberto Avena: Há determinadas regras que, não obstante previstas em diplomas</p><p>processuais penais, possuem conteúdo material, devendo, pois, retroagir para beneficiar o acusado. Outras,</p><p>no entanto, inseridas em leis materiais, são dotadas de conteúdo processual, a elas sendo aplicável o critério</p><p>da aplicação imediata (tempus regit actum). É aí que surge o fenômeno denominado de heterotopia, ou seja,</p><p>situação em que, apesar de o conteúdo da norma conferir-lhe uma determinada natureza, ela se encontra</p><p>prevista em diploma de natureza distinta. Tais normas não se confundem com as normas processuais</p><p>materiais. Enquanto a heterotópica possui uma determinada natureza (material ou processual), em que pese</p><p>estar incorporada à diploma de caráter distinto, a norma processual mista ou híbrida apresenta dupla</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>106</p><p>natureza, vale dizer, material em uma determinada parte e processual em outra. Ex.: o direito ao silêncio do</p><p>acusado em interrogatório apesar de estar previsto no Código de Processo Penal possui conteúdo material.</p><p>6.2 Aplicação da Lei Processual no Espaço:</p><p>“Ao contrário do que ocorre no Direito Penal, onde se trava longa e complexa</p><p>discussão sobre a extraterritorialidade da lei penal, no processo penal a situação é</p><p>mais simples. Aqui vige o princípio da territorialidade. As normas processuais</p><p>penais brasileiras só se aplicam no território nacional, não tendo qualquer</p><p>possibilidade de eficácia extraterritorial” (LOPES, 2018. p. 72).</p><p>Pelo art. 1º, CPP, há o princípio da territorialidade absoluta, decorrência da soberania, razão pela</p><p>qual o CPP vale em todo território nacional, SALVO nas hipóteses excludentes da jurisdição criminal brasileira,</p><p>casos em que o CPP possui aplicação subsidiária.</p><p>Art. 1º - O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este</p><p>Código, ressalvados:</p><p>I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;</p><p>II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de</p><p>Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do</p><p>Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade;</p><p>III - os processos da competência da Justiça Militar;</p><p>IV - os processos da competência do tribunal especial;</p><p>V - os processos por crimes de imprensa.</p><p>Parágrafo único - Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos</p><p>nºs. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo</p><p>diverso.</p><p>APROFUNDANDO PARA PROVAS DISCURSIVAS / ORAIS:</p><p>Parte da doutrina sustenta a relativização da lex fori (aplicação da lei local) em matéria processual penal,</p><p>permitindo a aplicação da lei pátria fora do território nacional, nas hipóteses de:</p><p>1) Terra de ninguém (território nullius);</p><p>2) Estado onde será praticado o ato processual autorizar a aplicação de lei diversa (território estrangeiro);</p><p>3) Em casos de guerra (território ocupado).</p><p>Kaykison</p><p>StrikeOut</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>107</p><p>6.3 Aplicação da Lei Processual em Relação às Pessoas</p><p>Conforme art. 1º, do CPP, é possível que sejam instituídas imunidades da lei processual penal, seja</p><p>em virtude de tratados internacionais (imunidade diplomáticas e de chefes de governos estrangeiros) ou por</p><p>regras constitucionais (imunidades e regras de competência).</p><p>I. Imunidades Diplomáticas: Objetivam garantir o livre exercício dos representantes diplomáticos, e são</p><p>atribuídas em função do cargo, e não da pessoa. O Tratado de Viena assegura a imunidade de jurisdição penal</p><p>do diplomata e seus familiares, para que se sujeitem à jurisdição do Estado que representa.</p><p>Abrangência:</p><p>● Chefes de governo ou Estado estrangeiro, sua família e membros de sua comitiva;</p><p>● Embaixador e família: Imunidade absoluta;</p><p>● Funcionários das organizações internacionais (ONU) quando em serviço;</p><p>● Agentes consulares, apenas quanto aos crimes relacionados com a sua função (Cuidado!).</p><p>ATENÇÃO:</p><p>1. A imunidade não subtrai o diplomata da investigação, mas do processo e julgamento em território</p><p>brasileiro.</p><p>2. As embaixadas NÃO são extensão do território que</p><p>representam, mas são invioláveis.</p><p>3. É possível ao país renunciar à imunidade do agente diplomático, mas o agente não pode renunciar</p><p>por iniciativa pessoal, já que a imunidade se fundamenta no interesse da função.</p><p>II. Imunidades Parlamentares: É uma prerrogativa para o desempenho das funções de deputados e</p><p>senadores de legislar e fiscalizar o Poder Executivo. Podem ser absolutas ou relativas.</p><p>● Imunidade absoluta (material, substancial, real, inviolabilidade ou indenidade): Prevê o art. 53, da</p><p>CF/88, que deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas</p><p>opiniões, palavras e votos.</p><p>1. Para STF, a imunidade é causa de atipicidade.</p><p>2. A abrangência dessa imunidade deve ser analisada:</p><p>∘ Se ofensa proferida nas dependências da casa legislativa, o nexo funcional é</p><p>presumido, há imunidade2;</p><p>2 Sobre a presunção da imunidade por palavras e expressões proferidas dentro da Casa Parlamentar, o STF, no Inq</p><p>3932/DF e Pet 5243/DF, de Relatoria do Min. Luiz Fux, julgado em 21/06/2016 (INF 831), recebeu denúncia contra o</p><p>Dep. Jair Bolsonaro, pela incitação ao crime, ao pronunciar, em acalorada discussão no plenário, que a também Dep.</p><p>Federal Maria do Rosário “não merecia ser estuprada”. Para melhor compreensão de interessante julgado, sugerimos a</p><p>leitura:</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>108</p><p>∘ Se a ofensa é proferida fora das dependências da casa legislativa, o nexo funcional NÃO</p><p>é presumido, deve ter relação com o exercício do mandato e o ofendido deve</p><p>comprovar a inexistência de nexo com o mandato.</p><p>● Imunidade relativa (formal): É possível subdividi-la:</p><p>(1) Para a prisão: Relacionada à prisão dos parlamentares e ao processo. Os parlamentares passam a ter</p><p>imunidade formal para a prisão a partir do momento em que são diplomados pela Justiça Eleitoral</p><p>(antes da posse), configurando o termo inicial para a atribuição de imunidade formal para a prisão.</p><p>∘ Os parlamentares só poderão ser cautelarmente presos nas hipóteses de flagrante de crime</p><p>inafiançável (“estado de relativa incoercibilidade pessoal dos congressistas” – Celso de Melo)</p><p>→ Nesse caso, os autos deverão ser encaminhados a Casa Parlamentar respectiva, no prazo</p><p>de 24h para que, pelo voto (aberto) da maioria absoluta de seus membros, resolva sobre a</p><p>prisão.</p><p>∘ Nota-se que a aprovação pela Casa é condição necessária para a manutenção da prisão em</p><p>flagrante delito de crime inafiançável. Logo, há duas hipóteses:</p><p>1) Se a Casa decidir pela não manutenção do cárcere, a prisão deverá ser</p><p>imediatamente relaxada;</p><p>2) Se a Casa mantiver a prisão em flagrante, os autos deverão ser encaminhados, no</p><p>prazo de 24h, ao STF.</p><p>(2) Para o processo: Oferecida denúncia, o Ministro do STF poderá recebê-la sem prévia licença da Casa</p><p>Parlamentar. Após o recebimento da denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido</p><p>após a diplomação, o STF dará ciência a Casa respectiva que, por iniciativa de partido político nela</p><p>representado e pelo voto da maioria absoluta de seus membros, decidirá sustar o andamento da</p><p>ação.</p><p>O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de 45 dias do seu</p><p>recebimento pela mesa diretora, e a sustação do processo suspende a prescrição enquanto durar o</p><p>mandato.</p><p>Obs.: NÃO há mais imunidade formal para crimes praticados ANTES DA DIPLOMAÇÃO.</p><p>● Prerrogativa de foro: Desde a expedição de diploma, deputados e senadores serão julgados pelo STF</p><p>pela prática de qualquer tipo de crime. Casos:</p><p>i. Infração cometida durante o exercício da função parlamentar: A competência será do STF,</p><p>sendo desnecessário pedir autorização a Casa respectiva, bastando dar ciência ao Legislativo,</p><p>que poderá sustar o andamento da ação.</p><p>http://www.dizerodireito.com.br/2016/07/entenda-decisao-do-stf-que-recebeu.html</p><p>http://www.dizerodireito.com.br/2016/07/entenda-decisao-do-stf-que-recebeu.html</p><p>Kaykison</p><p>Highlight</p><p>Kaykison</p><p>Underline</p><p>Kaykison</p><p>Highlight</p><p>Kaykison</p><p>Highlight</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>109</p><p>Se os fatos criminosos que teriam sido supostamente cometidos pelo Deputado</p><p>Federal não se relacionam ao exercício do mandato, a competência para julgá-los</p><p>não é do STF, mas sim do juízo de 1ª instância. Isso porque o foro por prerrogativa</p><p>de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e</p><p>relacionados às funções desempenhadas (STF AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto</p><p>Barroso, julgado em 03/05/2018). STF. 1ª Turma. Inq 4619 AgR-segundo/DF, Rel.</p><p>Min. Luiz Fux, julgado em 19/2/2019 (Info 931).</p><p>ii. Infração cometida antes ou após o encerramento do mandato: NÃO há foro por prerrogativa</p><p>de função.</p><p>As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa de função</p><p>devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido praticados</p><p>durante o exercício do cargo e em razão dele.</p><p>Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado</p><p>Federal, não se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando o</p><p>cargo de parlamentar federal.</p><p>Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não</p><p>apresentar relação direta com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado.</p><p>Foi fixada, portanto, a seguinte tese:</p><p>O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante</p><p>o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. STF. Plenário. AP</p><p>937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.</p><p>ATENÇÃO! No caso de Natan Donadon, entendeu-se que a renúncia ao cargo, para que haja prescrição, seria</p><p>fraude processual inaceitável, frustrando a atuação jurisdicional do Estado, razão pela qual NÃO haveria a</p><p>problema em ser julgado pelo STF. A prorrogação do foro, nesse contexto, visa evitar a denominada Ciranda</p><p>de Processos.</p><p>O assunto será aprofundado quando estudarmos competência.</p><p>ESQUEMA SOBRE IMUNIDADES:</p><p>PARLAMENTAR IMUNIDADE JULGAMENTO</p><p>Deputados Federais e</p><p>Senadores</p><p>Imunidade absoluta e</p><p>relativa.</p><p>Julgados pelo STF, inclusive</p><p>nos crimes dolosos contra a</p><p>vida.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>110</p><p>Deputados estaduais Imunidade absoluta e</p><p>relativa.</p><p>Julgados pelo TJ, inclusive nos</p><p>crimes dolosos contra a vida.</p><p>Atenção!!! Não existe foro de prerrogativa para vereadores e vice-prefeitos:</p><p>A CF/88 não previu foro por prerrogativa de função aos Vereadores e aos Vice-</p><p>prefeitos.O foro por prerrogativa de função foi previsto apenas para os prefeitos</p><p>(art. 29, X, da CF/88). Diante disso, é inconstitucional norma de Constituição</p><p>Estadual que crie foro por prerrogativa de função para Vereadores ou Vice-</p><p>Prefeitos. A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para</p><p>as autoridades federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que</p><p>os Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de</p><p>função. STF. Plenário. ADI 558/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/04/2021.</p><p>7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL</p><p>● Previsão legal: art. 3°, CPP</p><p>Art. 3° do CPP - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação</p><p>analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.</p><p>● Considerações importantes sobre o art. 3°, CPP</p><p>(1) O que é interpretar?</p><p>R.: É buscar o sentido da lei, é descobrir o seu significado. Não interessa a vontade do legislador, mas</p><p>sim o sentido da lei.</p><p>(2) Interpretação quanto ao resultado</p><p>Quanto ao resultado, podemos trabalhar com ao menos 4 (quatro) espécies de interpretação:</p><p>a) Declaratória - O intérprete não amplia e nem restringe o significado da lei, ou seja, o significado da</p><p>lei corresponde à sua literalidade.</p><p>b) Restritiva</p><p>- Conclui-se que a lei disse mais do que pretendia dizer, por isso ela deve sofrer uma</p><p>restrição na hora de sua interpretação.</p><p>c) Extensiva - A lei disse menos do que pretendia dizer, por isso ela deve ser interpretada</p><p>extensivamente para abranger outras situações (art. 3, CPP).</p><p>Art. 3o - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação</p><p>analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>111</p><p>Ex.: hipóteses de cabimento do RESE do art. 581, CPP. Essas hipóteses, hoje, estão desatualizadas.</p><p>Então as hipóteses de cabimento do RESE devem ser interpretadas de maneira extensiva para abranger</p><p>outras situações.</p><p>d) Progressiva - Busca adaptar o texto da lei à realidade social vigente naquele determinado momento.</p><p>O art. 68, CPP prevê que o MP pode promover a ação civil ex delito em favor de vítima pobre. Quando</p><p>a CF/88 entrou em vigor, houve quem dissesse que esse artigo era inconstitucional, pois o MP não poderia</p><p>pleitear interesses individuais disponíveis.</p><p>O STF disse que esse artigo estaria sujeito a uma inconstitucionalidade progressiva. Logo, enquanto</p><p>não houver defensoria pública em todos os estados, o artigo continua válido.</p><p>(3) Analogia</p><p>A analogia está no art. 3°, CPP na expressão: “aplicação analógica”. Assim, no âmbito processual</p><p>penal a analogia é admitida. Então, quando se trata de uma norma genuinamente processual penal, a</p><p>analogia pode ser usada, independentemente de ser em bonam partem ou em malam partem (≠ direito</p><p>penal, em que só é admitida a analogia in bonam partem).</p><p>Obs.: Analogia ≠ Interpretação Extensiva.</p><p>● Analogia - É um método de integração (busca suprir lacunas);</p><p>● Interpretação extensiva - É um método de interpretação.</p><p>Na analogia, há uma lacuna na norma. Por isso, busca-se suprir tal lacuna valendo-se de um</p><p>dispositivo pensado para um caso semelhante. Enquanto na interpretação extensiva existe norma legal, que,</p><p>no entanto, será interpretada de norma extensiva.</p><p>(4) Aplicação supletiva e subsidiária do novo CPC ao processo penal.</p><p>O CPC 2015 pode ser aplicado no Processo Penal? R.: SIM.</p><p>O art. 15 do CPC diz que, na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou</p><p>administrativas, aplica-se o CPC. Porém, o CPC não fez menção à possibilidade de utilizá-lo no processo penal.</p><p>Entretanto, o art. 15 pode ser objeto de interpretação extensiva, para que possamos entender que</p><p>o NCPC pode ser aplicado supletiva e subsidiariamente aos processos criminais.</p><p>Art. 15, CPC - Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas</p><p>ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e</p><p>subsidiariamente.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>112</p><p>Obs.: Só pode aplicar o CPC no processo Penal quando houver lacuna. Pois é diante da omissão que se pode</p><p>valer da analogia com o CPC. Assim, se houver disposição legal expressa no CPP, não é possível aplicar o</p><p>CPC!</p><p>CAIU EM PROVA:</p><p>(Delegado de PCRJ 2022): Após o advento do neoconstitucionalismo e como seu consequente reflexo, os</p><p>princípios adquiriram força normativa no ordenamento jurídico brasileiro, e a eficácia objetiva dos direitos</p><p>fundamentais deu novos contornos ao direito processual penal. A respeito desse assunto, assinale a opção</p><p>correta à luz do Código de Processo Penal.</p><p>No que diz respeito à interpretação extensiva, admitida no Código de Processo Penal, existe uma norma que</p><p>regula o caso concreto, porém sua eficácia é limitada a outra hipótese, razão por que é necessário ampliar</p><p>seu alcance, e sua aplicação não viola o princípio constitucional do devido processo legal (item considerado</p><p>correto).</p><p>8. FONTES</p><p>As fontes correspondem à origem do direito processual penal, que se divide em espécies.</p><p>8.1 Fonte Material, Substancial ou de Produção</p><p>As fontes materiais dizem respeito ao órgão responsável pela criação de normas jurídicas sobre</p><p>determinada matéria. Conforme estabelecido no art. 22, I, CF compete privativamente à União legislar sobre</p><p>Processo Penal. Contudo, nos termos do art. 22, §único, CF, lei complementar federal pode autorizar Estados</p><p>e o Distrito Federal a legislar sobre questões específicas.</p><p>A União, os Estados e o Distrito Federal possuem competência concorrente para legislar sobre</p><p>procedimentos em matéria processual, conforme preconiza o art. 24, XI, CF.</p><p>8.2 Fonte Formal, Cognitiva ou de Cognição</p><p>As fontes formais dizem respeito ao instrumento de exteriorização da regulamentação de</p><p>determinada matéria. Nesse sentido, no âmbito do processo penal, podem ser:</p><p>● Imediata ou Direta: Constituição Federal, leis infraconstitucionais e os tratados, convenções e regras</p><p>de direito internacional.</p><p>● Mediata ou Indireta: analogia, costumes e princípios gerais de direitos (art. 3, CPP).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>113</p><p>Autonomia do Direito Processual Penal</p><p>ATENÇÃO: Tema cobrado na Prova Oral da PCMG 2021.</p><p>O primeiro passo para compreender a autonomia científica do direito processual penal é deixar de</p><p>denominá-lo, irregularmente, como direito adjetivo ou direito secundário, dentre outros nomes, buscando</p><p>apontar como o direito substantivo ou direito principal o corpo de normas, que dele necessita para fazer</p><p>valer a lei: o direito penal, no tocante ao processo penal; o direito civil, no tocante ao processo civil. Não há</p><p>nenhum direito adjetivo, termo de nítido conteúdo voltado a inferiorizá-lo. O processo penal é tão</p><p>substantivo quanto o direito penal, porém atua sob outros princípios e busca diversos objetivos. (NUCCI,</p><p>2020, p. 89).</p><p>CAIU EM PROVA:</p><p>(Delegado de PCBA 2022): As fontes formais imediatas ou diretas do Direito Processual Penal são as espécies</p><p>normativas: lei ordinária; lei complementar e emenda à Constituição. Aqui também se inserem os tratados e</p><p>as convenções de que o Brasil é signatário (item considerado correto).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>114</p><p>QUESTÕES PROPOSTAS</p><p>Caros alunos,</p><p>As questões foram disponibilizadas na plataforma.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>115</p><p>META 3</p><p>DIREITO CONSTITUTICIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS</p><p>TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA</p><p>CF/88</p><p>⦁ Art. 1º, III</p><p>⦁ Art. 3º</p><p>⦁ Art. 4º, 5º, 6º e 7º</p><p>⦁ Art. 8º a 11º</p><p>OUTROS DIPLOMAS LEGAIS</p><p>⦁ Lei nº 9.296/96 (Lei de interceptação telefônica)</p><p>⦁ Lei nº 9.455/97 (Lei de tortura)</p><p>⦁ Lei nº 7.716/90 (Lei de racismo)</p><p>⦁ Lei nº 12.037/2009 (Lei de Identificação criminal)</p><p>⦁ Lei nº 12.016/2009 (Lei do mandado de segurança)</p><p>⦁ Lei nº 13.300/2016 (Lei do mandado de injunção)</p><p>ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!</p><p>PRINCIPAIS INCISOS DO ART. 5º, CF/88:</p><p>⦁ Inc. I, II, IV</p><p>⦁ Inc. III e XLII (leitura conjunta com a Lei nº 7.716/90)</p><p>⦁ Inc. VIII (leitura conjunta com o art. 15, IV, CF/88)</p><p>⦁ Inc. XI (leitura conjunta com os arts. 3-B, XI; 240, §1º e 243 do CPP)</p><p>⦁ Inc. XII (leitura conjunta com a Lei nº 9.296/96)</p><p>⦁ Inc. XVI a XXI (muito cobrados em prova objetiva!)</p><p>⦁ Inc. XXXIII a XXXV</p><p>⦁ Inc. XXXVII (leitura conjunta com o inc. LIII – princípio do juiz natural)</p><p>⦁ Inc. XXXIX e XL (leitura conjunta com o art. 1º e 2º do CP)</p><p>⦁ Inc. XLIII a LV (leitura obrigatória!)</p><p>⦁ Inc. LVI (leitura conjunta com o art. 157, CPP)</p><p>⦁ Inc. LVII e LX</p><p>⦁ Inc. LVIII (leitura conjunta com o art. 3º, 4º e 5º da Lei nº 12.037/2009)</p><p>⦁ Inc. LXI a LXVII (leitura conjunta com os art. 301 a 310, CPP)</p><p>⦁ Inc. LXVIII</p><p>⦁ Inc. LXIX e LXX (leitura conjunta com a Lei nº 12.016/2009)</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>116</p><p>⦁ Inc. LXXI (leitura conjunta com a Lei nº 13.300/2016)</p><p>⦁ Inc. LXXII a LXXVIII</p><p>⦁ §§1º e 3º</p><p>SÚMULAS</p><p>RELACIONADAS AO TEMA</p><p>Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-</p><p>base.</p><p>Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem</p><p>de pessoa com fins econômicos ou comerciais.</p><p>Súmula 2-STJ: Não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra "a") se não houve recusa de informações</p><p>por parte da autoridade administrativa.</p><p>Súmula vinculante 1-STF: Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem</p><p>ponderar as circunstâncias do caso concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante do</p><p>termo de adesão instituído pela Lei Complementar nº 110/2001.</p><p>Súmula 654-STF: A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição da</p><p>República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado.</p><p>Súmula 280-STJ: O art. 35 do Decreto-Lei n° 7.661, de 1945, que estabelece a prisão administrativa, foi</p><p>revogado pelos incisos LXI e LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988.</p><p>Súmula vinculante 25-STF: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do</p><p>depósito.</p><p>Súmula 419-STJ: Descabe a prisão civil do depositário infiel.</p><p>1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS</p><p>São decididos antes da elaboração do texto, no momento de construção das normas. Têm natureza</p><p>de vetores interpretativos que imprimem coesão, harmonia e unidade ao sistema. Subdividem-se em:</p><p>a) princípios constitucionais sensíveis: aqueles expressos na Constituição, também denominados</p><p>princípios apontados/enumerados;</p><p>b) estabelecidos/organizatórios: limitam, vedam ou proíbem que o Poder Constituinte decorrente</p><p>atue de forma indiscriminada e podem ser extraídos a partir da interpretação do conjunto de normas</p><p>centrais, dispersas no texto constitucional;</p><p>c) extensíveis: de acordo com Bulos, são aqueles que integram a estrutura da federação brasileira,</p><p>relacionando-se, por exemplo, com a forma de investidura dos cargos eletivos, o processo legislativo,</p><p>orçamentos e preceitos ligados à Administração Pública.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>117</p><p>O que é o preâmbulo e qual a sua natureza jurídica?</p><p>O preâmbulo é a parte precedente da CF. Segundo o STF, é mero vetor interpretativo do que se acha</p><p>inscrito no texto constitucional. Não possui força normativa, logo, não pode ser parâmetro nem objeto de</p><p>controle de constitucionalidade.</p><p>“Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata de</p><p>norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força normativa.” (ADI 2.076, Rel.</p><p>Min. Carlos Velloso, julgamento em 15-8-2002, Plenário, DJ de 8-8-2003.)</p><p>* ATENÇÃO – PRINCÍPIOS QUE REGEM AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS (ART. 4º):</p><p>Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais</p><p>pelos seguintes princípios:</p><p>I – independência nacional;</p><p>II – prevalência dos direitos humanos;</p><p>III – autodeterminação dos povos;</p><p>IV – não-intervenção;</p><p>V – igualdade entre os Estados;</p><p>VI – defesa da paz;</p><p>VII – solução pacífica dos conflitos;</p><p>VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;</p><p>IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;</p><p>X – concessão de asilo político.</p><p>Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica,</p><p>política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma</p><p>comunidade latino-americana de nações.</p><p>OUTROS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS</p><p>Os Princípios Constitucionais estão presentes não só no art. 5º, mas em diversos dispositivos, a</p><p>exemplo dos princípios tributários, previstos no art. 150, e dos princípios expressos da Administração Pública</p><p>(art. 37, caput). Assim, atentem-se brevemente aos princípios da dignidade da pessoa humana, legalidade e</p><p>isonomia, sem prejuízo dos demais que se inserem na Carta Magna – e serão tratados nas matérias</p><p>específicas:</p><p>1) Dignidade da pessoa humana: Define Luís Roberto Barroso que o “princípio da dignidade humana</p><p>expressa um conjunto de valores civilizatórios que se pode considerar incorporado ao</p><p>patrimônio da humanidade. Dele se extrai o sentido mais nuclear dos direitos fundamentais,</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>118</p><p>para tutela do mínimo existencial e da personalidade humana, tanto na dimensão física como na</p><p>moral”. Pode-se acrescentar também que a dignidade humana possui um enfoque moral, consistente</p><p>na máxima de Kant segundo a qual o homem é um fim em si mesmo, e um enfoque material, relativo</p><p>à manutenção do mínimo existencial. Decorre do aludido princípio, por exemplo, a</p><p>impenhorabilidade do bem de família e a união estável entre pessoas do mesmo sexo. É considerado</p><p>um “super-princípio”.</p><p>Fique atento à jurisprudência (tema cobrado na prova de Delegado de Polícia do Paraná – 2021):</p><p>+</p><p>2) Legalidade: o princípio da legalidade significa que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer</p><p>algo que não esteja previamente estabelecido na própria CF/88 e nas normas jurídicas dela</p><p>derivadas. O princípio da legalidade, desta forma, se converte em princípio da constitucionalidade</p><p>(Canotilho), subordinando toda atividade estatal e privada à força da Constituição. No direito</p><p>brasileiro encontra-se previsto nos arts. 5º, II; 37; e 84, IV, da CF/88.</p><p>3) Legalidade x Reserva Legal: o princípio da reserva legal é um desdobramento da legalidade, que</p><p>impõe e vincula a regulação de determinadas matérias constantes na constituição à fonte formal do</p><p>tipo lei.</p><p>II. Acepções do princípio da legalidade:</p><p>4) Para particulares: somente a lei pode criar obrigações, de forma que a inexistência de lei proibitiva</p><p>de determinada conduta implica ser ela permitida. Vigora a autonomia da vontade.</p><p>5) Para a Administração Pública: O Estado se sujeita às leis, e deve atuar em conformidade à previsão</p><p>legal. O administrador público só poderá agir dentro daquilo que é previsto e autorizado por lei. Sob</p><p>esta acepção, o princípio da legalidade vem sofrendo uma releitura pela doutrina moderna, que</p><p>defende a necessidade de conformação da atividade do administrador ao Direito (e não apenas à</p><p>lei). Assim, fala-se atualmente em princípio da juridicidade (o assunto é aprofundado em Direito</p><p>Administrativo).</p><p>Atenção: de acordo com a doutrina, trata-se de princípio não absoluto, que pode sofrer algumas</p><p>restrições/mitigações, a exemplo das medidas provisórias, estado de defesa e estado de sítio.</p><p>c) Isonomia: Segundo bem definiu Rui Barbosa, “a regra da igualdade não consiste senão em quinhoar</p><p>desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à</p><p>desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade (...). Tratar com desigualdade a iguais, ou a</p><p>desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real”.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>119</p><p>O princípio da igualdade compreende a igualdade formal e igualdade material, a</p><p>primeira abrange a igualdade na lei, isto é, que nas normas jurídicas não pode</p><p>haver distinções que não sejam autorizadas pela Constituição e que tem por</p><p>destinatário o legislador e a igualdade perante a lei tem como destinatário os</p><p>aplicadores da lei, segundo o qual deve se aplicar igualmente a lei, ainda que crie</p><p>uma desigualdade. (JUNIOR, 2020, p.p. 620/621)</p><p>Logo, é possível extrair:</p><p>● Isonomia formal: igualdade perante a lei;</p><p>● Isonomia material: tratar os desiguais na medida de sua desigualdade.</p><p>STF – São inconstitucionais as normas que proíbem homossexuais de doar sangue.</p><p>Viola o direito à igualdade e não discriminação proibir que homossexuais doem</p><p>sangue. Com esse entendimento, o Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou</p><p>a inconstitucionalidade de normas com esse</p><p>teor. (ADI. 5.543/2020)</p><p>STF - A lei que veda o exercício da atividade de advocacia por aqueles que</p><p>desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o princípio</p><p>da isonomia. STF. Plenário. (ADI 3541/2014)</p><p>É possível estabelecer critérios diferenciadores para admissão de candidato em concursos públicos?</p><p>A jurisprudência vem admitindo algumas hipóteses de discriminação, podendo ocorrer em relação à idade,</p><p>sexo, altura, etc., desde que sejam observados dois requisitos:</p><p>1) Previsão legal anterior definindo os critérios de admissão para o cargo; e</p><p>2) Razoabilidade da exigência, decorrente da natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.</p><p>É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à época de sua</p><p>realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público. STF. Plenário. RE</p><p>1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/11/2018 (repercussão geral).</p><p>Sob o pretexto da observância do princípio constitucional da isonomia, é possível ao Poder</p><p>Judiciário estender benefício fiscal a contribuinte não alcançado pela norma concessiva?</p><p>Não. Porque sob o pretexto de concretizar a isonomia tributária, não pode o judiciário estender</p><p>benefício fiscal sem que haja previsão legal específica. Caso pudesse, o judiciário está se imiscuindo em</p><p>função típica do legislativo, isto é, estaria o judiciário atuando como legislador positivo.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>120</p><p>Ações Afirmativas</p><p>A Carta Magna busca a igualdade material. Para aplicação do princípio da isonomia, são necessárias as ações</p><p>afirmativas, também denominadas discriminações positivas, cuja finalidade é proteger certos grupos sociais</p><p>que demandam tratamento diverso. Tais ações consideram a realidade histórica de marginalização ou</p><p>hipossuficiência e, assim, funcionam como medidas de compensação com o fim de concretizar uma</p><p>igualdade de oportunidades. A exemplo, podemos citar: mercado de trabalho da mulher, cotas de vagas sem</p><p>serviços públicos, cotas em universidades (PROUNI), cotas para afrodescendentes, Lei Maria da Penha.</p><p>Atenção ao julgado: Info. 1069 do STF – RESERVA DE VAGAS PARA IRMÃOS</p><p>É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determina a reserva de</p><p>vagas, no mesmo estabelecimento de ensino, para irmãos que frequentem a</p><p>mesma etapa ou ciclo escolar, pois disciplina medida que visa consolidar políticas</p><p>públicas de acesso ao sistema educacional e do maior convívio familiar possível.</p><p>STF. Plenário. ADI 7149/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/9/2022</p><p>(Info 1069).</p><p>Atenção ao julgado: Info. 994 do STF - PRINCÍPIO DA IGUALDADE E PENSÃO POR</p><p>MORTE</p><p>É inconstitucional lei que preveja requisitos diferentes entre homens e mulheres</p><p>para que recebam pensão por morte. É inconstitucional, por transgressão ao</p><p>princípio da isonomia entre homens e mulheres (art. 5º, I, da CF/88), a exigência de</p><p>requisitos legais diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-</p><p>servidores públicos em relação a seus respectivos cônjuges ou</p><p>companheiros/companheiras (art. 201, V, da CF/88). STF. Plenário. RE 659424/RS,</p><p>Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 457)</p><p>(Info 994).</p><p>Atenção ao julgado: Info. 973 do STF - PRINCÍPIO DA IGUALDADE E SISTEMA DE</p><p>COTAS</p><p>É inconstitucional lei distrital que preveja percentual de vagas nas universidades</p><p>públicas reservadas para alunos que estudaram nas escolas públicas do Distrito</p><p>Federal, excluindo, portanto, alunos de escolas públicas de outros Estados da</p><p>Federação.</p><p>Veja que o STF não proibiu o sistema de cotas para alunos de escolas públicas, mas</p><p>sim para alunos somente do DF (determinada localidade) violando a isonomia. No</p><p>mesmo sentido: STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em</p><p>27/03/2020.</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3b220b436e5f3d917a1e649a0dc0281c?categoria=1&subcategoria=1</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3b220b436e5f3d917a1e649a0dc0281c?categoria=1&subcategoria=1</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>121</p><p>Atenção ao julgado: Info 985 do STF – ISONOMIA E BENEFÍCIO DO BOLSA FAMÍLIA</p><p>O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda, voltado a famílias</p><p>de todo o País, de modo a fazer frente a situação de pobreza e vulnerabilidade;</p><p>logo, não se pode fazer restrição em relação à região ou ao Estado do beneficiário.</p><p>Os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande</p><p>do Norte ajuizaram ação cível originária, em face da União, com pedido de tutela</p><p>provisória, questionando a redução de recursos do Programa Bolsa Família</p><p>destinados à Região Nordeste. O Min. Marco Aurélio (relator) deferiu medida</p><p>cautelar determinando que: a) a União disponibilize dados que justifiquem a</p><p>concentração de cortes de benefícios do Programa Bolsa Família na Região</p><p>Nordeste, bem assim dispense aos inscritos nos Estados autores tratamento</p><p>isonômico em relação aos beneficiários dos demais entes da Federação. b) não haja</p><p>cortes no Programa enquanto perdurar o estado de calamidade pública; c) a</p><p>liberação de recursos para novas inscrições seja uniforme considerados os Estados</p><p>da Federação. O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida. STF.</p><p>Plenário. ACO 3359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/8/2020 (Info</p><p>985).</p><p>2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS3</p><p>2.1 Direitos x Garantias x Remédios Constitucionais</p><p>● Direitos: são normas de conteúdo declaratório da existência de um interesse, de uma vantagem. Ex:</p><p>direito à vida, à propriedade;</p><p>● Garantias: normas de conteúdo assecuratório, que servem para assegurar o direito declarado. As</p><p>garantias são estabelecidas pelo texto constitucional como instrumento de proteção dos direitos</p><p>fundamentais e writs constitucionais. São também chamadas de instrumentos de tutela das</p><p>liberdades e ações constitucionais.</p><p>DIREITOS FUNDAMENTAIS GARANTIAS FUNDAMENTAIS</p><p>NORMAS QUE PROTEGEM os bens jurídicos</p><p>fundamentais de uma sociedade</p><p>INSTRUMENTOS que buscam proteger os</p><p>direitos fundamentais</p><p>3 Para aprofundamento no assunto, consultar:</p><p>http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portaltvjustica/portaltvjusticanoticia/anexo/joao_trindadade__teoria_geral_d</p><p>os_direitos_fundamentais.pdf</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d064bf1ad039ff366564f352226e7640?categoria=1&subcategoria=13&ano=2020</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d064bf1ad039ff366564f352226e7640?categoria=1&subcategoria=13&ano=2020</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d064bf1ad039ff366564f352226e7640?categoria=1&subcategoria=13&ano=2020</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>122</p><p>Tem valor intrínseco, nele mesmo Tem valor instrumental</p><p>● Remédios Constitucionais: embora todo remédio constitucional seja uma garantia, nem toda</p><p>garantia é um remédio constitucional, porque este é um instrumento processual que tem por</p><p>objetivo assegurar o exercício de um direito. Ex: Habeas Corpus, Mandado de Segurança.</p><p>ATENÇÃO: alguns dispositivos constitucionais contêm direitos e garantias no mesmo enunciado. O art. 5º, X,</p><p>estabelece a inviolabilidade do direito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, assegurando,</p><p>em seguida, o direito à indenização em caso de dano material ou moral provocado pela sua violação.</p><p>Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e</p><p>materiais decorrentes de atos de perseguição política com violação de direitos</p><p>fundamentais ocorridos durante o regime militar. STJ. 1ª Seção. Aprovada em</p><p>10/03/2021.</p><p>2.2 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos</p><p>Embora materialmente ambos objetivem a proteção e a promoção da dignidade da pessoa</p><p>humana,</p><p>não se confundem. Assim, convém destacar que a doutrina estabelece duas distinções entre os direitos</p><p>humanos e os direitos fundamentais. A primeira delas relaciona-se ao locus de previsão, de modo que os</p><p>direitos humanos – intrinsecamente ligados ao Direito Internacional Público – estão previstos em normas</p><p>internacionais. Os direitos fundamentais, por sua vez, estão reconhecidos e positivados pelo Direito interno</p><p>de um Estado determinado.</p><p>A segunda distinção apontada se relaciona com a exigibilidade. Assim, os direitos humanos nem</p><p>sempre seriam exigíveis internamente enquanto os direitos fundamentais, uma vez positivados no</p><p>ordenamento interno (matriz constitucional) podem ser cobrados judicialmente.</p><p>● Direitos Humanos: são direitos reconhecidos no âmbito internacional; nem sempre exigíveis</p><p>internamente.</p><p>● Direitos fundamentais: são direitos reconhecidos no plano interno de um determinado Estado.</p><p>Preferencialmente, positivados na CF; passíveis de cobrança judicial.</p><p>DIREITOS FUNDAMENTAIS DIREITOS HUMANOS</p><p>FORMAL</p><p>FUNDAMENTO DE</p><p>VALIDADE/JURÍDICO</p><p>Encontram previsão formal</p><p>nas constituições</p><p>Encontram fundamento</p><p>nos Tratados</p><p>Internacionais;</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>123</p><p>Exemplo: Declaração</p><p>Universal dos Direitos</p><p>Humanos da ONU</p><p>MATERIAL</p><p>LIGADA AO CONTEÚDO</p><p>FINALIDADE DE CADA UM DOS</p><p>INSTITUTOS</p><p>Estabelecem o conjunto de</p><p>bens jurídicos básicos,</p><p>essenciais de uma</p><p>sociedade, não se limitando</p><p>à proteção da pessoa física</p><p>Buscam a proteção da</p><p>pessoa humana</p><p>(exclusivamente).</p><p>Não há que se falar em</p><p>direito</p><p>Como se classificam as normas constitucionais de direitos fundamentais quanto à eficácia e aplicabilidade?</p><p>Pela classificação de José Afonso da Silva e considerando não haver direito fundamental absoluto, as</p><p>normas podem possuir eficácia plena, podendo apresentar, conforme a hipótese, eficácia contida (ou</p><p>restringível) ou limitada. Nesse sentido, a doutrina majoritária defende que a maioria das normas seriam de</p><p>eficácia contida, enquanto que a maior parte daquelas que reconhecem os direitos sociais seriam de eficácia</p><p>limitada.</p><p>O que significa os efeitos negativo e positivo das normas constitucionais de direitos fundamentais?</p><p>O efeito positivo diz respeito ao fato de que, pelo simples fato de surgir uma nova Constituição, ela</p><p>revoga tudo do ordenamento anterior que for contrário a ela. As normas constitucionais têm, assim, efeitos</p><p>positivos, no sentido de proativo, pois revogam (não recepcionam) tudo do ordenamento anterior que for</p><p>contrário a elas. Já o efeito negativo, por sua vez, tem o sentido de vedar/negar ao legislador ordinário a</p><p>possibilidade de produzir normas infraconstitucionais contrárias a ela (norma constitucional); e, acaso o</p><p>poder legiferante fizer, o judiciário, entendendo que houve contrariedade, extirpa a norma do ordenamento</p><p>jurídico por intermédio do controle de constitucionalidade.</p><p>A Carta Magna de 1988 é um marco na história constitucional brasileira, pois a sua abertura aos</p><p>direitos foi baseada também nos tratados internacionais celebrados pelo Brasil. Dessa forma, ela introduziu</p><p>o mais extenso rol de direitos de diversas espécies, incluindo direitos civis, políticos, econômicos, sociais e</p><p>culturais, além de prever várias garantias constitucionais.</p><p>Ademais, o art. 5°, §2°, da CRFB/88 prevê o princípio da não exaustividade dos direitos</p><p>fundamentais, ou seja, que o rol desses direitos não é taxativo, ao afirmar que os direitos e garantias</p><p>expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes: i) do regime e dos princípios por ela adotados</p><p>e ii) dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.</p><p>Caiu em prova (CESPE, PCRJ) e foi considerada CORRETA a seguinte afirmativa: A fundamentalidade material</p><p>dos direitos fundamentais decorre da circunstância de serem os direitos fundamentais elemento constitutivo</p><p>da Constituição material, contendo decisões fundamentais sobre a estrutura básica do Estado e da sociedade.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>124</p><p>A fundamentalidade material dos direitos fundamentais decorre da abertura da Constituição a</p><p>outros direitos fundamentais não expressamente constitucionalizados. O aspecto material dos</p><p>direitos fundamentais nasce da essência do seu conteúdo substancial normativo. CANOTILHO, José Joaquim</p><p>Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição . 4º ed. Coimbra: Almedina.</p><p>2.3 Geração dos direitos fundamentais:</p><p>As dimensões ou gerações dos direitos humanos são cobrados com frequência nos Concursos</p><p>Públicos. O tema foi apresentado pela primeira vez por Karel Vasak, em sua forma clássica chamada de</p><p>Gerações dos Direitos Humanos, desdobrando-se em 1ª, 2ª e 3ª gerações. Em provas objetivas, a tendência</p><p>é que se cobre essas gerações, tendo em vista que não há controvérsias relevantes sobre elas.</p><p>Trata-se de classificação dos direitos fundamentais que tem como critério o contexto histórico em</p><p>que surgiram, a ordem cronológica de reconhecimento e afirmação dos direitos fundamentais.</p><p>DICA DD: Classificar os direitos em gerações sugere a ideia de superação, de que as</p><p>gerações mais novas suplantam as anteriores. Assim, e visando afastar essa</p><p>concepção substitutiva de uma geração sobre a outra bem como a impressão de</p><p>que existe uma relação de antiguidade ou posteridade dos direitos, a doutrina</p><p>moderna entende que o mais adequado é falar em dimensões, uma vez que</p><p>inexiste cronologia nesses direitos.</p><p>Direitos fundamentais são indivisíveis. Possuem relação entrei si de fortalecimento mútuo e não de</p><p>exclusão mútua. O surgimento de uma nova geração de direitos tem o viés de fortalecer a geração já</p><p>existente. Ex.: direito à educação fortalece o direito de liberdade de expressão.</p><p>Explica Dirley da Cunha:</p><p>“Falar em “gerações” ou “dimensões” de direitos corresponde a uma sucessão</p><p>temporal de afirmação e acumulação de novos direitos fundamentais. Isso leva, por</p><p>conseguinte, a uma consequência fundamental: a irreversibilidade ou</p><p>irrevogabilidade dos direitos reconhecidos, aliada ao fenômeno da sua</p><p>complementariedade. O progressivo reconhecimento de novos direitos</p><p>fundamentais consiste num processo cumulativo, de complementariedade, onde</p><p>não há alternância, substituição ou supressão temporal de direitos anteriormente</p><p>reconhecidos”.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>125</p><p>Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: Na evolução das conhecidas dimensões</p><p>dos direitos fundamentais, há, sucessivamente, substituição de direitos na medida do atingimento de novos</p><p>estágios.</p><p>1) DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO OU PRIMEIRA DIMENSÃO (individuais ou negativos):</p><p>Surgem no contexto histórico das revoluções liberais, burguesas, diante do nascimento do</p><p>constitucionalismo liberal – Séc. XIX. Grandes Marcos dos direitos de 1ª dimensão:</p><p>· Inglaterra – 1.215 – Magna Carta</p><p>· EUA – 1.776 – Declaração de Independência Americana</p><p>· EUA – 1.787 – Constituição Americana</p><p>· França – 1.789 – Revolução Francesa</p><p>· França – 1.791 – Constituição Francesa</p><p>Estão relacionados à luta pela liberdade e segurança diante do Estado. Trata-se de impor ao Estado</p><p>obrigações de não-fazer e se relacionam às pessoas, individualmente. Ex: propriedade, igualdade formal</p><p>(perante a lei), liberdade de crença, de manifestação de pensamento, direito à vida etc.</p><p>Obs.1: são chamados também de direitos negativos ou direitos de defesa.</p><p>Obs.2: o fundamento dos direitos de 1ª geração/dimensão é a IGUALDADE FORMAL.</p><p>2) DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO OU SEGUNDA DIMENSÃO (sociais, econômicos e culturais ou</p><p>direitos positivos):</p><p>Surgem no final do século XIX e início do século XX, diante do fenômeno do constitucionalismo social</p><p>(ligado ao movimento do socialismo). Grandes</p><p>Marcos:</p><p>· Constituição Mexicana de 1917</p><p>· Constituição Alemã de Weimar de 1919</p><p>· Rússia – 1.917/18 – Declaração do Povo Oprimido e Trabalhador – Revolução Russa</p><p>· Constituição Brasileira de 1934.</p><p>São os direitos de grupos sociais menos favorecidos, e que impõem ao Estado uma obrigação de</p><p>fazer, de prestar (por isso são chamados de direitos prestacionais). Buscam viabilizar, através do Estado, a</p><p>satisfação das necessidades básicas dos indivíduos como forma de lhes proporcionar uma vida digna. Ex:</p><p>saúde, educação, moradia, segurança pública.</p><p>Os direitos sociais elencados no art. 6º da CF/88 são exemplos clássicos de direitos de 2ª</p><p>geração/dimensão:</p><p>Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a</p><p>moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>126</p><p>maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta</p><p>Constituição.</p><p>DICA DD: O direito a transporte foi incluído no rol pela EC. 90/2015.</p><p>Observação: A teoria da reserva do possível é uma limitação fática e jurídica oponível à realização dos direitos</p><p>fundamentais, sobretudo os de cunho prestacional. Como é cediço, o Estado não possui recursos materiais</p><p>ilimitados, o que leva os administradores a realizarem escolhas trágicas, alocando esses recursos em ações</p><p>prioritárias. O limite da reserva do possível é o mínimo existencial, núcleo da dignidade da pessoa humana.</p><p>Nesse contexto, a reserva do possível deve ser analisada sob três aspectos:</p><p>I - Disponibilidade fática dos recursos para efetivação dos direitos fundamentais.</p><p>II - Disponibilidade jurídica dos recursos, mediante autorização orçamentária.</p><p>III - Razoabilidade e proporcionalidade da prestação, levando-se em consideração a universalização da</p><p>demanda, não apenas o indivíduo. Nesse sentido, não se pode exigir judicialmente do Estado uma prestação</p><p>que não possa ser concedida a todos os indivíduos que se encontrem em situação idêntica, sob pena de</p><p>violação do princípio da isonomia.</p><p>Obs.1: o fundamento dos direitos de 2ª dimensão é a IGUALDADE MATERIAL.</p><p>Obs.2: o efeito bipolar dos direitos de 2ª dimensão e princípio da vedação ao retrocesso:</p><p>Os direitos de 2ª dimensão (direitos sociais) não possuem apenas um viés positivo, mas também um</p><p>viés negativo.</p><p>● Viés negativo – Fruto da vedação ao retrocesso (efeito cliquet) → Uma vez implementado o direito</p><p>de 2ª dimensão por medida estatal, o próprio Estado passa a ter o dever de se abster de retornar ao</p><p>status quo de quando o direito ainda não tinha efetividade. O indivíduo também tem o direito de</p><p>exigir um não fazer estatal com o intuito de preservar o direito fundamental já efetivado. Em outras</p><p>palavras: não pode promover um retrocesso social, revogar ou enfraquecer normas que já</p><p>alcançaram o grau de densidade normativo adequado. Ex.: 13º salário.</p><p>● Viés positivo – Aqui a ideia não é só manter o status quo, mas também implementar/desenvolver</p><p>novos direitos sociais. E, enquanto não for implementado, o indivíduo possui o direito de exigir um</p><p>atuar do Estado com o intuito de realizá-lo (ideia de direitos prestacionais).</p><p>3) DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO OU TERCEIRA DIMENSÃO (difusos e coletivos):</p><p>Surgem na 2º metade do séc. XX, no pós 2ª Guerra, ligados aos movimentos de melhoria da qualidade</p><p>de vida dos cidadãos. São direitos transindividuais, isto é, direitos que são de várias pessoas, mas não</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>127</p><p>pertencem a ninguém isoladamente. Transcendem o indivíduo isoladamente considerado. Possuem caráter</p><p>indivisível e são titularizados por toda a coletividade. Ex.: direito ao meio ambiente.</p><p>São também conhecidos como:</p><p>● DIREITOS DE FRATERNIDADE</p><p>● Direitos metaindividuais (estão além do indivíduo)</p><p>● Direitos supraindividuais (estão acima do indivíduo isoladamente considerado).</p><p>Dirley da Cunha - destinam-se à proteção, não do homem em sua individualidade,</p><p>mas do homem em coletividade social, sendo, portanto, de titularidade coletiva ou</p><p>difusa.</p><p>Vamos esquematizar?</p><p>Direitos de 1ª</p><p>GERAÇÃO/DIMENSÃO</p><p>Direitos de 2ª</p><p>GERAÇÃO/DIMENSÃO</p><p>Direitos de 3ª</p><p>GERAÇÃO/DIMENSÃO</p><p>CONTEXTO</p><p>HISTÓRICO</p><p>Surgem com revoluções</p><p>liberais, burguesas, diante do</p><p>nascimento do</p><p>constitucionalismo liberal. –</p><p>Séc. XIX.</p><p>Surgem no final do século XIX e</p><p>início do século XX, diante do</p><p>fenômeno do</p><p>constitucionalismo social.</p><p>2ªmetade do séc. XX, no pós 2ª</p><p>Guerra, ligados aos</p><p>movimentos de melhoria da</p><p>qualidade de vida dos cidadãos</p><p>MARCOS Inglaterra – 1.215 – Magna</p><p>Carta</p><p>EUA – 1.776 – Declaração de</p><p>Independência Americana</p><p>EUA – 1.787 – Constituição</p><p>Americana</p><p>França – 1.789 – Revolução</p><p>Francesa</p><p>França – 1.791 – Constituição</p><p>Francesa</p><p>Constituição Mexicana de 1917</p><p>Constituição Alemã de Weimar</p><p>de 1919</p><p>Rússia – 1.917/18 – Declaração</p><p>do Povo Oprimido e</p><p>Trabalhador – Revolução Russa</p><p>Constituição Brasileira de</p><p>1934.</p><p>SINÔNIMOS direitos negativos, direitos de</p><p>abstenção.</p><p>direitos sociais, econômicos e</p><p>culturais</p><p>direitos positivos, direitos</p><p>prestacionais</p><p>difusos e coletivos</p><p>direitos metaindividuais</p><p>direitos supraindividuais</p><p>FUNDAMENTO Igualdade FORMAL Igualdade MATERIAL FRATERNIDADE</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>128</p><p>CONCEITO Buscam limitar o poder estatal,</p><p>impondo ao Estado obrigações</p><p>de não-fazer e se relacionam às</p><p>pessoas, individualmente.</p><p>São direitos que impõem ao</p><p>Estado uma obrigação de fazer,</p><p>de prestar.</p><p>Buscam viabilizar, através do</p><p>Estado, a satisfação das</p><p>necessidades básicas dos</p><p>indivíduos como forma de lhes</p><p>proporcionar uma vida digna.</p><p>São direitos transindividuais,</p><p>isto é, titularizados por toda a</p><p>coletividade, não pertencendo</p><p>a uma pessoa isoladamente.</p><p>Possuem caráter indivisível.</p><p>EXEMPLOS Propriedade, igualdade formal</p><p>(perante a lei), liberdade de</p><p>crença, de manifestação de</p><p>pensamento, direito à vida</p><p>Saúde, educação, moradia,</p><p>segurança pública.</p><p>Direito ao meio ambiente</p><p>NOVAS GERAÇÕES/DIMENSÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS:</p><p>4) DIREITOS DE QUARTA GERAÇÃO OU QUARTA DIMENSÃO</p><p>Há autores que se referem a essa categoria, mas ainda não há consenso na doutrina sobre qual o</p><p>conteúdo desse tipo de direitos.</p><p>Segundo o autor Paulo Bonavides os direitos de quarta dimensão seriam fruto do processo de</p><p>globalização dos direitos fundamentais, no sentido de uma universalização desses direitos no plano</p><p>institucional, o que corresponde à última fase da institucionalização do Estado Social, de forma a sacramentar</p><p>a evolução democrática e social alcançada até então4.</p><p>● Direito à democracia participativa – A democracia participativa ou semidireta é uma democracia</p><p>indireta, mas que conta com instrumentos de participação direta do povo no processo político. Esses</p><p>mecanismos de participação direta integrariam o rol dos direitos de quarta dimensão:</p><p>· Plebiscito</p><p>· Referendo</p><p>· Iniciativa popular de lei</p><p>· Ação popular, etc.</p><p>4 O Estado Social ou Estado do Bem-estar Social (Welfare State) surgiu como forma de reação à crise do Estado liberal,</p><p>notadamente em razão das desigualdades sociais vivenciadas à época. Os direitos sociais e econômicos passam a ser</p><p>contemplados de modo mais amplo, como corolários da igualdade material, sendo, posteriormente classificados como</p><p>direitos fundamentais de segunda geração.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>129</p><p>● Direito à informação - consequência do próprio regime democrático, conjugado com a forma</p><p>republicana de governo. Garante o direito à transparência e, consequentemente, o direito à</p><p>informação (exemplo: lei de acesso à informação; art. 5º, XXXIII, CF/88)</p><p>● Direitos ligados às questões de bioética.</p><p>● Direitos ao pluralismo</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>8</p><p>META 1</p><p>DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS</p><p>TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA</p><p>CF/88</p><p>⦁ Art. 5º, II</p><p>⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII</p><p>⦁ Art. 5º, XXXIX</p><p>⦁ Art. 5º, §3º</p><p>⦁ art. 7º, X</p><p>⦁ Art. 22, I e §único</p><p>⦁ art. 227, § 4º</p><p>CP</p><p>⦁ Art. 1º</p><p>⦁ Art. 59</p><p>⦁ Art. 71</p><p>OUTROS DIPLOMAS LEGAIS</p><p>⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH</p><p>⦁ Art. 8º, item 4 do Pacto de São José da Costa Rica</p><p>ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!</p><p>⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII, CF/88</p><p>⦁ Art. 5º, XXXIX, CF/88</p><p>⦁ Art. 22, I e §único, CF/88</p><p>⦁ Art. 1º, CP</p><p>SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA</p><p>Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>9</p><p>1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL</p><p>A) CONCEITO</p><p>Conjunto de normas que objetiva definir os crimes, proibindo ou impondo condutas, sob a ameaça</p><p>de imposição de pena ou medida de segurança, e a criar normas de aplicação geral.</p><p>Segundo Cleber Masson (2017, p. 3) é “o conjunto de princípios e regras destinados a combater o</p><p>crime e a contravenção penal, mediante a imposição de sanção penal”.</p><p>Importa salientar que “sanção penal” é gênero, do qual são espécies as penas e as medidas de</p><p>segurança.</p><p>#CAIEMPROVA: Diz-se que a pena é a 1ª via do direito penal, a medida de segurança é a 2ª e a reparação do</p><p>dano é a 3ª.</p><p>É um ramo do Direito Público, vez que suas normas são indisponíveis, impostas e dirigidas a todas as</p><p>pessoas.</p><p>Além disso, o Estado é o titular do direito de punir e por isso sempre figura como sujeito passivo das</p><p>infrações penais, ainda que de forma mediata.</p><p>Ainda sobre o conceito de direito penal:</p><p>● Aspecto Formal: o direito penal é um conjunto de normas que qualifica certos comportamentos</p><p>humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções as lhe serem aplicadas.</p><p>● Aspecto Material: o Direito Penal se refere a comportamentos considerados altamente reprováveis</p><p>ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e</p><p>progresso da sociedade.</p><p>● Aspecto Sociológico: o direito penal é mais um instrumento do controle social de comportamentos</p><p>desviados, visando a assegurar a necessária disciplina social. Em suma, sob aspecto dinâmico, o</p><p>Direito Penal é mais um instrumento de controle social visando assegurar a necessária disciplina para</p><p>a harmônica convivência dos membros da sociedade (TJ/PR).</p><p>Aprofundando o enfoque sociológico</p><p>A manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a estabelecer diretrizes</p><p>(regras).</p><p>Quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar sanções civis ou penais</p><p>(infrações).</p><p>Nessa tarefa de controle social atuam vários ramos do Direito.</p><p>Quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente tutelados, merece reação mais severa</p><p>por parte do Estado, valendo-se do Direito Penal (soldado de reserva).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>10</p><p>O que diferencia a norma penal das demais é a espécie de consequência jurídica (pena privativa de</p><p>liberdade).</p><p>B) CARACTERÍSTICAS</p><p>De acordo com Cleber Masson (2017, p. 5), o Direito Penal é uma ciência cultural, normativa,</p><p>valorativa, finalista, de natureza predominantemente sancionatória, e fragmentária.</p><p>⦁ I – Ciência: suas regras estão contidas em normas e princípios que, por sua vez, formam a dogmática</p><p>jurídico-penal;</p><p>⦁ II – Cultural: o Direito Penal é uma ciência do “dever ser”, ao contrário das ciências naturais, que</p><p>cultuam o “ser”;</p><p>⦁ III – Normativa: o objeto principal é o estudo da lei penal (Direito positivo);</p><p>⦁ IV – Valorativa: sua aplicação não está pautada em regras matemáticas de certo ou errado, mas sim</p><p>em uma escala de valores que são sopesados a partir de critérios e princípios próprios do Direito</p><p>Penal. Dessa forma, esse ramo do direito valoriza hierarquicamente as suas normas;</p><p>⦁ V – Finalista: o objetivo do direito penal é a proteção de bens jurídicos fundamentais, o que torna a</p><p>sua missão prática, e não simplesmente teórica;</p><p>⦁ VI – Sancionatória: o Direito Penal é predominantemente sancionador porque não cria bens</p><p>jurídicos, mas acrescenta proteção penal aos bens jurídicos disciplinados por outros ramos do</p><p>Direito. No entanto, é possível que ele seja também constitutivo, quando protege interesses não</p><p>regulados por outras áreas do Direito, como o uso indevido de drogas;</p><p>⦁ VII – Fragmentária: o Direito Penal não tutela todos os valores ou interesses, mas somente os mais</p><p>importantes para a manutenção e o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade.</p><p>C) OBJETO DE PROTEÇÃO DO DIREITO PENAL</p><p>Bens Jurídicos penais</p><p>“é a coisa, o valor, o atributo espiritual ou intelectual cujo usufruto e gozo são</p><p>reconhecidos como significativamente relevantes. Primeiro, para o efetivo</p><p>desenvolvimento pessoal de seu titular e, depois e em consequência, para todo o</p><p>corpo social, de que é exemplo o meio ambiente ecologicamente equilibrado”</p><p>(PACELLI, 2017, p. 61).</p><p>O legislador seleciona os bens jurídicos a serem defendidos pelo Direito Penal. No entanto, NÃO se</p><p>pode falar em discricionariedade ampla e irrestrita, pois os bens jurídicos mais importantes são tratados na</p><p>Constituição. Logo, a Constituição possui a seguinte missão:</p><p>⦁ Orienta o legislador, ao eleger valores considerados indispensáveis à manutenção da sociedade;</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>11</p><p>⦁ Impede que o legislador viole direitos fundamentais atribuídos a toda pessoa humana (Visão</p><p>Garantista Do Direito Penal).</p><p>Segundo Luiz Regis Prado, bem jurídico é um ENTE MATERIAL ou IMATERIAL haurido do contexto social,</p><p>de titularidade individual ou metaindividual reputado como ESSENCIAL PARA A COEXISTÊNCIA E O</p><p>DESENVOLVIMENTO DO HOMEM EM SOCIEDADE e, por isso, jurídico-penalmente protegido.</p><p>D) FUNÇÕES DO DIREITO PENAL</p><p>Na atualidade, a doutrina divide a missão do direito penal em duas, quais sejam:</p><p>a) Missão mediatas:</p><p>● Instrumento de Controle Social ou de preservação da paz pública (Papel intimidador);</p><p>● Limitação ao poder de punir estatal ou Função de Garantia – garantia dos cidadãos contra o arbítrio</p><p>estatal, vez que só podem ser punidos por atos previstos como infração penal e por pena também</p><p>determinada em lei.</p><p>☞ Para Franz Von Liszt “o Código Penal é a Magna Carta do delinquente”.</p><p>Obs: Se, de um lado, o Estado controla o cidadão, impondo-lhe limites para a vida em sociedade, de outro</p><p>lado, é necessário também limitar o seu próprio poder de controle, evitando a punição abusiva (evitando a</p><p>hipertrofia da punição).</p><p>b) Missão imediata:</p><p>Aqui, é necessário lembrarmos do funcionalismo penal, que trará as duas correntes de mais destaque</p><p>acerca do tema (anote esses nomes na testa):</p><p>● Funcionalismo teleológico (moderado) – Claus Roxin (Predomina)</p><p>⋅ A missão do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos mais relevantes;</p><p>⋅ Se a proteção de determinado bem jurídico não é indispensável ao indivíduo e à manutenção</p><p>da sociedade, não deve incidir o direito penal, mas outros ramos do direito;</p><p>⋅ Para Roxin, o Direito Penal não veio para trazer valores éticos, morais;</p><p>⋅ Ele entende que essa seria a função exclusiva;</p><p>⋅ É chamado teleológico porque busca a finalidade do direito penal.</p><p>● Funcionalismo sistêmico (radical) – Günter Jakobs</p><p>⋅ A missão do Direito Penal é assegurar a vigência do sistema, protegendo o império da</p><p>norma;</p><p>⋅ Ele discorda de Roxin por entender que, quando o indivíduo é punido pela infração penal</p><p>praticada, o bem jurídico já foi violado, ou seja, não está protegido, não sendo esta, portanto,</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA</p><p>(art. 1º, CF/88)</p><p>5) DIREITOS DE QUINTA GERAÇÃO OU DIMENSÃO: direito à paz.</p><p>Quadro sinóptico – Segundo Paulo Bonavides:</p><p>(Mazzuoli, 2018)</p><p>Obs.: Crítica doutrinária às “novas dimensões” de direitos fundamentais</p><p>Parcela da doutrina critica a classificação de outras dimensões de direito, pois seriam direitos já</p><p>existentes aplicados, hoje, a um novo contexto social, diante da evolução da sociedade.</p><p>Ingo Salert – “trazer novas dimensões é dar destaque ao direito, não trata o direito</p><p>como um mero desdobramento de um outro direito que já está nas 3 dimensões</p><p>anteriores, de modo a facilitar a sua efetivação e proteção. Ex.: questões de bioética</p><p>trabalham com direitos básicos como direito à integridade, ao próprio corpo e</p><p>dignidade.”</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>130</p><p>2.4 Características dos direitos fundamentais</p><p>● Historicidade: o que se entende por direitos fundamentais varia de acordo com o momento histórico,</p><p>não são conceitos herméticos e fechados, variando no tempo e no espaço. Emergem progressivamente</p><p>das lutas que o homem trava por sua própria emancipação.</p><p>● Inalienabilidade: são direitos sem conteúdo econômico patrimonial, não podem ser comercializados ou</p><p>permutados.</p><p>● Imprescritibilidade: são sempre exigíveis, ainda que não exercidos.</p><p>● Irrenunciabilidade: o indivíduo pode não exercer os seus direitos, mas não pode renunciá-los, de modo</p><p>geral. OBS: O STF admite, excepcionalmente, a renúncia temporária aos direitos que não ferem o núcleo</p><p>da dignidade da pessoa humana, como no caso de participação em reality show.</p><p>● Relatividade: não são direitos absolutos. Se houver um choque entre os direitos fundamentais, serão</p><p>resolvidos por um juízo de ponderação ou pela aplicação do princípio da proporcionalidade.</p><p>Caiu em prova (CESPE, PCRJ) e foi considerada CORRETA a seguinte afirmativa: O método de solução de</p><p>conflitos entre direitos fundamentais constitucionalmente previstos, em caso de colisão, é a ponderação</p><p>de interesses; o legislador, contudo, por força do princípio democrático, pode resolver conflitos por meio</p><p>da lei, efetuando a ponderação em abstrato.</p><p>Apesar da limitabilidade inerente à natureza dos direitos humanos, a doutrina contemporânea sustenta</p><p>que existem 2 exceções a essa regra, as quais seriam direitos considerados absolutos: a vedação à</p><p>tortura (art. 5° da DUDH) e a vedação à escravidão (art. 4° da DUDH).</p><p>De acordo com o Professor Bruno Pinheiro, parte da doutrina aponta que existem Direitos</p><p>Fundamentais Absolutos:</p><p>a) Direito a Não Tortura (apontado por Norberto Bobbio)</p><p>b) Direito a Não Escravidão</p><p>c) Direito a Não Extradição do Brasileiro Nato (art. 5º, LI, CF/88) → apontado por Carlos Ayres Britto;</p><p>TEORIA DA RESTRIÇÃO DAS RESTRIÇÕES (= LIMITAÇÃO DAS LIMITAÇÕES)</p><p>- É teoria alemã, adotada no Brasil pelo STF;</p><p>- Uma das características dos direitos fundamentais é que eles são relativos, ou seja, podem sofrer limitações.</p><p>Porém, essas restrições devem ser feitas com critérios e de forma excepcional a não esvaziar o seu núcleo</p><p>essencial. Conclusão: Pode haver restrições aos direitos fundamentais, mas essas restrições devem ser</p><p>limitadas, não atingindo seu núcleo essencial.</p><p>- Só podem ser impostas restrições se obedecerem aos seguintes requisitos:</p><p>Requisito formal: os direitos fundamentais só podem ser restringidos em caráter geral por meio de normas</p><p>elaboradas por órgãos dotados de atribuição legiferante conferido pela CF/88. A restrição deve estar</p><p>expressa ou implicitamente autorizada.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>131</p><p>Requisitos materiais: para a restrição ser válida, deve observar aos seguintes princípios:</p><p>- Não retroatividade;</p><p>- Proporcionalidade;</p><p>- Generalidade e abstração;</p><p>- Proteção do núcleo essencial.</p><p>DICA DD: Os direitos fundamentais podem ser restringidos por atos normativos infraconstitucionais, desde</p><p>que seja respeitado o seu núcleo essencial.</p><p>Acerca do núcleo essencial Inclusive já caiu em prova que que a construção do “conteúdo essencial” é uma</p><p>emanação da teoria externa dos direitos fundamentais, isto é A teoria externa dos direitos fundamentais é</p><p>aquela segundo a qual o conteúdo essencial dos direitos fundamentais não se esgota em si, espraiando-se,</p><p>de maneira irradiante, para todo o ordenamento jurídico.</p><p>● Personalidade: não se transmitem.</p><p>● Concorrência e cumulatividade: são direitos que podem ser exercidos ao mesmo tempo.</p><p>● Universalidade: são universais, destinando-se a todos os seres humanos, indiscriminadamente.</p><p>Independentemente, de as nações serem signatárias da declaração universal dos direitos humanos,</p><p>devem ser reconhecidos em todo o planeta, independentemente, da cultura, política e sociedade.</p><p>De acordo com o Professor Bruno Pinheiro, é a característica da Universalidade</p><p>que fundamenta a interpretação extensiva do art. 5º, caput da CF/88, permitindo a</p><p>aplicação dos direitos fundamentais aos apátridas, e aos estrangeiros não</p><p>residentes no país.</p><p>“Todo e qualquer ser humano é sujeito ativo desses direitos, podendo pleiteá-los</p><p>em qualquer foro nacional ou internacional (parágrafo 5° da Declaração e Programa</p><p>de Ação de Viena de 1993);”</p><p>● Proibição de retrocesso: não se pode retroceder nos avanços históricos conquistados. Os direitos</p><p>fundamentais são o resultado de um processo evolutivo, marcado por lutas e conquistas em prol da</p><p>afirmação de posições jurídicas concretizadoras da dignidade da pessoa humana e, por isso, uma vez</p><p>reconhecidos, não podem ser suprimidos, abolidos ou enfraquecidos. Destaque-se que há várias</p><p>manifestações no STF sobre esse princípio, especialmente do Min. Celso de Mello, para quem “o</p><p>princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que</p><p>sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele</p><p>vive.” (STF, ARE n.º 639.337 AgR/SP, 2.ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23.08.2011, DJe 15.09.2011.).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>132</p><p>2.5 Dimensão dos Direitos Fundamentais</p><p>a) Dimensão subjetiva: os direitos fundamentais conferem aos seus titulares o poder de exigir algo, seja</p><p>ação ou omissão.</p><p>Ex.: omissão - respeitar a autonomia da vontade, sem interferir na religião, política, etc.</p><p>Ex.: ação - exigir do Estado uma atuação comissiva, exigir ações para garantir educação, saúde, etc.</p><p>b) Dimensão objetiva: os direitos fundamentais encarnam valores que permeiam toda a ordem jurídica,</p><p>condicionam e inspiram a interpretação e aplicação de outras normas (EFICÁCIA IRRADIANTE) e criam</p><p>dever geral de proteção sobre os bens salvaguardados. Assim, a dimensão objetiva dos direitos</p><p>fundamentais consiste em atribuir a estes importância máxima dentro do ordenamento jurídico: eles</p><p>são a base, o eixo axiológico de todo o ordenamento jurídico.</p><p>2.5.1 Desdobramentos da dimensão objetiva dos Direitos Fundamentais</p><p>A dimensão objetiva atribui força aos direitos fundamentais, que passam a ser a diretriz para a</p><p>aplicação e interpretação das normas:</p><p>1) Eficácia interpretativa dos direitos fundamentais</p><p>Com a dimensão objetiva, os direitos fundamentais ganham um reforço na sua juridicidade,</p><p>ganhando força no ordenamento jurídico e, além disso, se tornam normas de eficácia irradiante, que, tendo</p><p>como base o princípio da dignidade da pessoa humana, se espalham para todo o ordenamento jurídico,</p><p>vinculando os 3 Poderes do Estado, seja para o Legislativo ao elaborar a lei, seja para a Administração</p><p>Pública ao “governar”, seja para o Judiciário ao resolver eventuais conflitos.</p><p>Valores morais incorporados nos princípios constitucionais que devem irradiar por todo o</p><p>ordenamento jurídico.</p><p>Gera o dever do intérprete de promover a filtragem constitucional</p><p>2) Eficácia horizontal dos direitos fundamentais:</p><p>Com a evolução da teoria dos direitos fundamentais, atualmente é reconhecida a incidência também</p><p>na relação entre particulares, em igualdade de armas. Logo, pode se definir a incidência e necessidade de</p><p>observância de todos os direitos fundamentais nas relações privadas (PARTICULAR X PARTICULAR). O STF já</p><p>reconheceu a aludida eficácia.</p><p>Em outras palavras: a eficácia horizontal dos direitos fundamentais consiste na possibilidade de</p><p>aplicação dos direitos fundamentais nas relações jurídicas estritamente privadas.</p><p>Em relação à eficácia horizontal dos direitos fundamentais, pode-se destacar 2 teorias:</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>133</p><p>1) Eficácia indireta ou mediata: os direitos fundamentais são aplicados de maneira reflexa, tanto em</p><p>uma dimensão proibitiva e voltada para o legislador, que não poderá editar lei que viole direitos</p><p>fundamentais, como, ainda, positiva, voltada para que o legislador implemente os direitos</p><p>fundamentais, ponderando quais devem aplicar-se às relações privadas;</p><p>2) Eficácia direta ou imediata: alguns direitos fundamentais podem ser aplicados às relações privadas</p><p>sem que haja a necessidade de “intermediação legislativa” para a sua concretização.</p><p>Precedentes em que o STF reconheceu a eficácia horizontal dos direitos fundamentais:</p><p>· RE 160.222 – Entendeu que constitui constrangimento ilegal a revista íntima em mulheres em fábrica</p><p>de lingerie.</p><p>· RE 175.161 – Contrato de consórcio que prevê devolução nominal de valor já pago em caso de</p><p>desistência viola o devido processo legal substantivo - proporcionalidade e razoabilidade.</p><p>· RE 158.215 – Violação ao princípio do devido processo legal na hipótese de exclusão de associado de</p><p>cooperativa sem direito à defesa.</p><p>· RE 639.138 – É inconstitucional, por violação ao princípio da isonomia (art. 5º, I, da Constituição da</p><p>República), cláusula de contrato de previdência complementar que, ao prever regras distintas entre</p><p>homens e mulheres para cálculo e concessão de complementação de aposentadoria, estabelece</p><p>valor inferior do benefício para as mulheres, tendo em conta o seu menor tempo de contribuição.</p><p>· ADI 2572 – Constitucionalidade da reserva de vagas para pessoas obesas – O STF entendeu que não</p><p>há inconstitucionalidade material, tendo em vista que se trata de política inclusiva que não afronta</p><p>a liberdade de iniciativa, principalmente se considerada a eficácia horizontal dos direitos</p><p>fundamentais.</p><p>A eficácia dos direitos fundamentais pode também pode ser:</p><p>● Vertical: aplica-se à tradicional ideia de limitação de poder do Estado e respeito aos direitos dos</p><p>indivíduos, conferindo direitos básicos e garantias aos indivíduos. Há um poder superior (Estado), em</p><p>face do indivíduo, em posições diferentes (ESTADO X PARTICULAR);</p><p>TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINECK</p><p>São as possíveis relações do indivíduo com o Estado:</p><p>● Passivo: o indivíduo encontra-se em posição de subordinação com relação aos poderes públicos;</p><p>● Ativo: é o poder do indivíduo de interferir na formação da vontade do Estado, sobretudo através do</p><p>voto;</p><p>● Negativo: o indivíduo pode agir livre da atuação do Estado, podendo autodeterminar-se sem</p><p>ingerência estatal (abstenção estatal);</p><p>● Positivo: é a possibilidade de o indivíduo exigir atuações positivas do Estado em seu favor.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>134</p><p>● Diagonal: teoria desenvolvida por Sérgio Gamonal, e consiste na incidência e observância dos</p><p>direitos fundamentais nas relações privadas marcadas por desigualdade de forças, ante a</p><p>vulnerabilidade de uma das partes. Na hipótese, embora as partes teoricamente estejam em posição</p><p>equivalente (PARTICULAR X PARTICULAR), na prática há império do poder econômico, por exemplo,</p><p>nas relações envolvendo crianças, pessoas com deficiência, trabalhadores, consumidores etc. O TST</p><p>já adotou a eficácia diagonal em alguns julgados, inclusive.</p><p>EFICÁCIA VERTICAL EFICÁCIA HORIZONTAL EFICÁCIA DIAGONAL</p><p>A aplicação dos direitos</p><p>fundamentais às relações entre</p><p>Estado e particulares, a relação de</p><p>subordinação que o particular tem</p><p>com o Estado.</p><p>A aplicação dos direitos</p><p>fundamentais às</p><p>relações entre os</p><p>próprios particulares.</p><p>Há hipossuficiência de uma</p><p>das partes. É uma relação</p><p>entre particulares onde não há</p><p>uma igualdade fática.</p><p>2.6 Direitos individuais implícitos e explícitos</p><p>Os direitos individuais podem ser explícitos ou implícitos.</p><p>● Explícitos: são aqueles previstos expressamente no texto da Constituição Federal. Como exemplo,</p><p>os contidos no art. 5° da CF/88 e seus incisos, em especial os previstos no caput do mencionado</p><p>artigo, como a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.</p><p>● Implícitos: o reconhecimento decorre de interpretação do texto da Lei das Leis. Isto se evidencia pela</p><p>leitura do art. 5º, § 2º, da CF/88, que reconhece a existência de outros direitos individuais</p><p>"decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais de que a</p><p>República Federativa do Brasil seja parte".</p><p>● Eventual novo direito individual criado por meio de emenda constitucional é considerado cláusula</p><p>pétrea?</p><p>NÃO. Segundo Gilmar Mendes, devemos ter em mente que as cláusulas pétreas “se fundamentam</p><p>na superioridade do poder constituinte originário sobre o de reforma”, de maneira que somente o primeiro</p><p>pode criar obstáculos à atuação do segundo. Não faz sentido, do ponto de vista lógico, permitir que o poder</p><p>reformador crie limites invencíveis a si mesmo.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>135</p><p>Assim, conclui Gilmar Mendes que “não é cabível que o poder de reforma crie cláusulas pétreas.</p><p>Apenas o poder constituinte originário pode fazê-lo”. Caso EC crie um novo direito fundamental, este não</p><p>será cláusula pétrea.</p><p>É preciso distinguir, contudo, a situação em que uma EC apenas especifica, detalha ou incrementa</p><p>um direito fundamental já criado, sem inovar no rol de direitos. Nesse caso, ainda que introduzida por EC, a</p><p>novidade é considerada cláusula pétrea. Para Gilmar Mendes “é o que se deu, por exemplo, com o direito à</p><p>prestação jurisdicional célere somado ao rol do art. 5º da Constituição pela EC 45/04. Esse direito já existia,</p><p>como elemento necessário do direito de acesso à justiça – que há de ser ágil para ser efetiva – e do princípio</p><p>do devido processo legal, ambos assentados pelo constituinte originário”.</p><p>Classificação dos direitos fundamentais explícitos:</p><p>● Direitos individuais e coletivos: direitos ligados ao conceito de pessoa humana e sua própria</p><p>personalidade, com, por exemplo, vida, dignidade da pessoa humana, honra, liberdade, etc. Estão</p><p>espalhados pela CF/88, mas uma grande parte concentra no art. 5º;</p><p>● Direitos sociais: caracterizam-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória</p><p>em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria das condições de vida aos</p><p>hipossuficientes;</p><p>(Será especificado melhor no próximo tópico)</p><p>● Direitos de nacionalidade: nacionalidade é o vínculo jurídico-político que visa ligar um indivíduo a</p><p>certo e determinado Estado fazendo deste indivíduo um componente do povo, da dimensão pessoal</p><p>deste Estado, capacitando-o a exigir sua proteção e sujeitando-o ao cumprimento de deveres</p><p>impostos;</p><p>● Direitos políticos: conjunto de regras que disciplina as formas de atuação da soberania popular. São</p><p>direitos públicos subjetivos que permitem ao indivíduo o exercício concreto da liberdade de</p><p>participação nos negócios políticos do Estado;</p><p>● Direitos relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos: a Constituição</p><p>Federal regulamentou os partidos políticos como instrumentos necessários e importantes para</p><p>preservação do Estado Democrático de Direito, assegurando-lhes autonomia e plena liberdade</p><p>de</p><p>atuação, para concretizar o sistema representativo.</p><p>CAIU NA PROVA DELEGADO – PCGO (2022):</p><p>- Os nascidos no estrangeiro são considerados brasileiros natos, desde que o pai brasileiro ou a mãe brasileira</p><p>esteja a serviço da República Federativa do Brasil.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>136</p><p>- Aos partidos políticos é garantido o acesso, de forma gratuita, ao rádio e à televisão, na forma da lei, desde</p><p>que atenda a condições estabelecidas na constituição, sendo uma delas a de que tenham eleito em seus</p><p>quadros pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da</p><p>Federação.</p><p>- Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma renda básica familiar, garantida</p><p>pelo poder público em programa permanente de transferência de renda, na forma da lei.</p><p>- Os partidos políticos, que adquirem personalidade jurídica na forma da lei civil, devem registrar seus</p><p>respectivos estatutos perante o Tribunal Superior Eleitoral.</p><p>(Todos os itens corretos)</p><p>2.7 Destinatários</p><p>Os destinatários das normas dos direitos individuais, que são os direitos fundamentais, são os seres</p><p>humanos, os indivíduos. Isso porque os direitos fundamentais surgiram com o intuito de proteção do</p><p>indivíduo em face das arbitrariedades do Estado.</p><p>Segundo dispõe o art. 5º, caput, da CF/88, os destinatários dos direitos fundamentais elencados na</p><p>Carta Maior são: os brasileiros e os estrangeiros residentes no Brasil.</p><p>CF/88 Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,</p><p>garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade</p><p>do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos</p><p>seguintes:</p><p>● E os estrangeiros não residentes no Brasil que apenas se encontram em trânsito no solo nacional?</p><p>R.: Para a doutrina, os estrangeiros não residentes no Brasil também são destinatários de direitos</p><p>fundamentais! Veja:</p><p>Dirley da Cunha - “O artigo 5º, caput deve ser interpretado a partir da unidade da</p><p>Constituição, para se entender que todas as pessoas, físicas ou jurídicas, nacionais</p><p>ou estrangeiras, com residência ou não no Brasil, são destinatárias dos direitos e</p><p>garantias fundamentais previstas na CF, salvo quando a própria Carta Maior excluir</p><p>algumas delas”.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>137</p><p>Professor Bruno Pinheiro - A característica da universalidade dos direitos</p><p>fundamentais fundamenta a interpretação extensiva do art. 5º, caput, da CF/88,</p><p>permitindo a aplicação dos direitos fundamentais aos apátridas, aos estrangeiros</p><p>não residentes no país.</p><p>Há, portanto, direitos que se asseguram a todos, independentemente da nacionalidade do</p><p>indivíduo, porquanto são considerados emanações necessárias do princípio da dignidade da pessoa</p><p>humana. Alguns direitos, porém, são dirigidos ao indivíduo enquanto cidadão, tendo em conta a situação</p><p>peculiar que o liga ao País. Assim, os direitos políticos pressupõem exatamente a nacionalidade brasileira.</p><p>Direitos sociais, como o direito ao trabalho, tendem a ser também não inclusivos dos estrangeiros sem</p><p>residência no País (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.</p><p>Curso de Direito Constitucional, 5ª ed., pg.350-351. São Paulo: Saraiva, 2010).</p><p>Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte afirmativa: Os direitos previstos no art. 5º da Carta</p><p>Federal também têm sido deferidos pelo Supremo Tribunal Federal mesmo aos estrangeiros não residentes.</p><p>● Pessoas jurídicas são titulares de direitos fundamentais?</p><p>R.: Para a maioria da doutrina e o STF, SIM! Pessoa Jurídica de Direito Privado e Pessoa Jurídica de</p><p>Direito Público podem ser titulares, bastando analisar casuisticamente quais direitos fundamentais se</p><p>compatibilizam com a condição de pessoa jurídica.</p><p>Atenção (1): existem direitos fundamentais catalogados na CF que são concebidos especificamente</p><p>para as pessoas jurídicas. – art. 5º, XIX, XXI, etc.</p><p>XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas</p><p>atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito</p><p>em julgado;</p><p>XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm</p><p>legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;</p><p>Atenção (2): pessoas jurídicas de direito público, apesar de integrarem o Estado (polo passivo dos</p><p>direitos fundamentais), gozam de direitos fundamentais, desde que compatíveis com a sua condição.</p><p>2.8 Os Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988</p><p>A CF de 88 estabeleceu um rol compromissório de direitos fundamentais que condensa diversas</p><p>ideologias consagradas em direitos de 1º, 2ª e 3ª dimensões.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>138</p><p>Nos aproximamos do denominado liberalismo igualitário, que busca se equilibrar entre a proteção</p><p>das liberdades civis e a redução das desigualdades sociais.</p><p>Obs.1: princípio da indivisibilidade - os direitos das diferentes gerações não se excluem, na verdade,</p><p>se interpenetram, sofrendo influência mútua. Ou seja, uma geração fortalece o advento da outra. Isto porque</p><p>compõem um conjunto único de direitos que se relacionam entre si de forma harmônica. De acordo com</p><p>este princípio, todos os direitos humanos devem contar com a mesma proteção jurídica.</p><p>Obs.2: não há hierarquia entre os direitos fundamentais, pois a Constituição brasileira não permite</p><p>hierarquização prévia e abstrata entre os direitos fundamentais.</p><p>Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte afirmativa. Há hierarquia entre os direitos</p><p>fundamentais, estando o grau de importância definido a partir da posição topográfica do direito na</p><p>Constituição Federal.</p><p>2.8.1. Não taxatividade dos direitos fundamentais e tratados de direitos humanos</p><p>O ordenamento jurídico brasileiro adotou um sistema aberto de direitos fundamentais, não se</p><p>podendo considerar taxativo o rol do seu artigo 5º.</p><p>Art. 5º, § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem</p><p>outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados</p><p>internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.</p><p>Ingo Sarlet faz a seguinte divisão:</p><p>a) Direitos formalmente constitucionais → os incluídos pelo Poder Constituinte originário no catálogo</p><p>de direitos fundamentais (estão presentes no art. 5º ou no título II da CF/88)</p><p>b) Direitos materialmente constitucionais → direitos que não se encontram no rol formal da CF/88,</p><p>mas possuem status de fundamentais haja vista seu conteúdo jusfundamental (não importando o</p><p>local de positivação). A baliza para saber qual conteúdo confere à norma status de direito</p><p>fundamental é a dignidade da pessoa humana. A fundamentalidade material dos direitos</p><p>fundamentais decorre da abertura da Constituição a outros direitos fundamentais não</p><p>expressamente constitucionalizados. O aspecto material dos direitos fundamentais nasce da</p><p>essência do seu conteúdo substancial normativo. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito</p><p>constitucional e teoria da constituição . 4º ed. Coimbra: Almedina.</p><p>Conforme ensina André de Carvalho Ramos, a abertura dos direitos humanos pode se dar de</p><p>forma nacional ou internacional. A abertura internacional ocorre quando são editados novos tratados ou</p><p>mesmo com os avanços na proteção internacional dos direitos humanos. Por sua vez, a abertura nacional</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>139</p><p>ocorre através da inclusão de novos direitos fundamentais em nosso ordenamento e também com a</p><p>interpretação evolutiva e ampliativa dos tribunais nacionais.</p><p>A cláusula materialmente aberta prevista no §2º do art. 5º da CF/88 decorre do reconhecimento da</p><p>dignidade da</p><p>pessoa humana como fundamento do Estado (art. 1º, III). A consequência disso é que o rol de</p><p>direitos fundamentais é meramente exemplificativo.</p><p>2.8.2. Hierarquia dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos</p><p>O art. 5º, §3º da CF/88 foi introduzido pela EC 45/2004 (conhecida como reforma do Poder</p><p>Judiciário).</p><p>Esse dispositivo prevê que os tratados internacionais sobre direitos humanos que observarem o</p><p>procedimento de incorporação análogo ao das Emendas Constitucionais terão paridade normativa, isto é:</p><p>terão status normativo de emendas constitucionais.</p><p>Que procedimento de incorporação é esse?</p><p>● Aprovação em cada Casa do Congresso Nacional;</p><p>● Em 2 turnos de votação;</p><p>● Com pelo menos 3/5 dos votos dos respectivos membros.</p><p>● E os tratados internacionais de direitos humanos que não observarem o procedimento especial do</p><p>art. 5º, §3º da CF, não sendo aprovados pelo quórum constitucional?</p><p>R.: Segundo a doutrina majoritária e o Supremo Tribunal Federal, os Tratados Internacionais de</p><p>Direitos Humanos internalizados sem a observância do procedimento estabelecido no art. 5, §3º, da CF/88</p><p>terão hierarquia normativa supralegal: acima das leis e abaixo da Constituição.</p><p>Esse status normativo de supralegalidade tem o efeito de bloquear a legislação infraconstitucional</p><p>que com eles seja incompatível, análise de compatibilidade que é chamado de controle de convencionalidade</p><p>pela doutrina especializada.</p><p>O controle de convencionalidade pode ocorrer de forma concentrada ou difusa. O controle</p><p>concentrado se restringe ao STF e somente os tratados internacionais de direitos humanos incorporados nos</p><p>moldes do art. 5º, § 3º, CF/88 funcionam como paradigma. Acrescente-se que Valério Mazzuoli sustenta a</p><p>utilização analógica das ações do controle concentrado em tais situações, de modo que é possível a</p><p>propositura de ação direta de “inconvencionalidade” ou ação declaratória de “convencionalidade”. O</p><p>controle difuso, por sua vez, pode (em verdade, deve) ser realizado por qualquer juiz ou tribunal e tem como</p><p>paradigma tanto os tratados de direitos humanos equivalentes às ECs quanto os demais tratados</p><p>internacionais de direitos humanos que sejam ratificados pelo Brasil.</p><p>Por fim, os Tratados Internacionais que não versam sobre direitos humanos terão hierarquia</p><p>infraconstitucional, com status normativo equivalente à lei ordinária.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>140</p><p>RESUMINDO:</p><p>Tratado internacional SOBRE DIREITOS</p><p>HUMANOS, aprovado pelo mesmo rito da</p><p>Emenda Constitucional (art. 5º, §3º)</p><p>Status normativo de emenda constitucional.</p><p>Tratado internacional SOBRE DIREITOS</p><p>HUMANOS, aprovado com quórum</p><p>diverso das emendas constitucionais</p><p>Status normativo de supralegalidade: superior</p><p>às leis e inferior à Constituição.</p><p>Tratados Internacionais QUE NÃO</p><p>VERSAM SOBRE DIREITOS HUMANOS</p><p>Independente do procedimento e quórum de</p><p>votação, terão status normativo de leis</p><p>ordinária.</p><p>Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte afirmativa: Os tratados e convenções internacionais</p><p>sobre direitos humanos aprovados no Congresso Nacional serão equivalentes a Lei Complementar.</p><p>2.9 Alguns direitos individuais – rol do art. 5º da CF/88</p><p>A. DIREITO À VIDA:</p><p>CF, Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,</p><p>garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade</p><p>do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos</p><p>seguintes:</p><p>Está relacionado à existência física de um ser humano. O art. 5º, caput, da CF assegura a</p><p>inviolabilidade do direito à vida em relação ao Estado e em relação aos demais indivíduos.</p><p>Inviolabilidade difere de irrenunciabilidade: a inviolabilidade diz respeito à proteção de um direito</p><p>em face de outras pessoas, enquanto que a irrenunciabilidade diz respeito à proteção de um direito em face</p><p>do próprio titular.</p><p>O direito à vida compreende o direito ao mínimo necessário a uma existência digna, que abrange:</p><p>1. Direito à integridade física: direito à saúde, vedação de pena de morte, proibição do aborto,</p><p>etc;</p><p>2. Direito a condições materiais e espirituais mínimas necessárias a uma existência digna.</p><p>● Dupla acepção do direito à vida (NOVELINO, 2017, p. 325):</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>141</p><p>1. Acepção positiva: está associada ao direito à existência digna, que assegura o acesso a bens</p><p>e utilidades indispensáveis para isso. Ela não se limita ao mínimo existencial, pois garante</p><p>também pretensões de caráter material e jurídico, de modo que os poderes públicos devem</p><p>adotar medidas positivas de proteção da vida, de amparo material e de emissão de normas</p><p>protetivas;</p><p>2. Acepção negativa: é o direito assegurado a todo e qualquer ser humano de permanecer vivo.</p><p>É um direito de defesa e um pressuposto elementar para o exercício de todos os demais</p><p>direitos. Uma decorrência dessa acepção é a proibição da pena de morte (art. 5º, XLVII, “a”,</p><p>da CF).</p><p>Atenção! Não existe direito fundamental absoluto, todos são relativos, de modo que nenhum direito</p><p>fundamental está hierarquicamente em superioridade em relação a outro. Ora, se não existe direito</p><p>fundamental absoluto e se todos eles são relativos, não se pode admitir que o direito à vida esteja</p><p>hierarquicamente superior a qualquer outro, pelo simples fato de ser direito à vida.</p><p>A ponderação de direitos depende de uma análise no caso concreto (nunca em abstrato) que deve</p><p>sempre levar em consideração o princípio pro homine (pro persona), em que o intérprete prefira a</p><p>interpretação dos direitos humanos que seja mais favorável à pessoa e a máxima efetividade, de modo que</p><p>se alcance o maior proveito possível para o titular, com o menor sacrifício aos titulares dos demais direitos.</p><p>Contudo, considerando-se que são inevitáveis algumas colisões de direitos fundamentais, é possível</p><p>que estes sofram limitações diante de outros que sejam igualmente relevantes. Assim, de forma excepcional,</p><p>pode haver a restrição ou mesmo a derrogação de alguns direitos. Exemplo de que o direito à vida não é um</p><p>direito absoluto: existência da pena de morte no ordenamento jurídico brasileiro.</p><p>JURISPRUDÊNCIA SOBRE DIREITO À VIDA:</p><p>1) ADI 3510 – Pesquisa em Células Tronco Embrionárias</p><p>O art. 5º da Lei de Biossegurança autoriza a utilização do material biológico para fins de pesquisa,</p><p>terapia, etc., desde que sejam embriões inviáveis, ou, ainda que embriões viáveis, com mais de três anos de</p><p>armazenamento.</p><p>Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco</p><p>embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e</p><p>não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:</p><p>I - sejam embriões inviáveis; ou</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>142</p><p>II - sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta</p><p>Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem</p><p>3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.</p><p>§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.</p><p>§ 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia</p><p>com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à</p><p>apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.</p><p>§ 3o É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e</p><p>sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro</p><p>de 1997.</p><p>O art.5º foi impugnado na sua constitucionalidade porque se chegou a cogitar eventual violação da</p><p>dignidade da pessoa humana, por considerar que o ser humano estaria sendo tratado como coisa.</p><p>Decisão do STF: o STF concluiu, por votação bastante apertada,</p><p>que as pesquisas com célula-tronco</p><p>embrionária, nos termos da lei, não violam o direito à vida. A constatação de que a vida começa com a</p><p>existência do cérebro (segundo o STF e sem apresentar qualquer análise axiológica ou filosófica) estaria</p><p>estabelecida, também, no art. 3.º da Lei de Transplantes, que prevê a possibilidade de retirada de tecidos,</p><p>órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento depois da morte desde que se</p><p>constate a morte encefálica.</p><p>Conclusão: O art. 5° da Lei nº 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) é plenamente constitucional, não</p><p>havendo qualquer violação ao direito à vida. Isso porque o art. 5° toma os cuidados necessários, usa</p><p>efetivamente as pesquisas científicas para fins terapêuticos, etc., sem trazer nenhum efeito deletério ou</p><p>coisificante para a pessoa que forneceu o material biológico.</p><p>2) ADPF 54 – Aborto de Feto Anencéfalo</p><p>Desconsiderando os aspectos moral, ético ou religioso, tecnicamente, em relação à interrupção da</p><p>gravidez de feto anencéfalo, desde que se comprove, por laudos médicos, com 100% de certeza, que o feto</p><p>não tem cérebro e não há perspectiva de sobrevida.</p><p>Nessa linha de desenvolvimento, o STF, para seguir a lógica do julgamento anterior (célula-tronco),</p><p>teria de autorizar a possibilidade de antecipação terapêutica do parto. A imposição estatal da manutenção</p><p>de gravidez cujo resultado final será irremediavelmente a morte do feto vai de encontro aos princípios</p><p>basilares do sistema constitucional, mais precisamente à dignidade da pessoa humana, à liberdade, à</p><p>autodeterminação, à saúde, ao direito de privacidade, ao reconhecimento pleno dos direitos sexuais e</p><p>reprodutivos de milhares de mulheres.</p><p>O STF, então, julgou procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade de</p><p>interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta tipificada nos arts. 124,</p><p>126 e 128, I e II, todos do Código Penal.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>143</p><p>Em outras palavras: o STF excluiu qualquer interpretação no sentido de que a interrupção da</p><p>gestação de feto anencéfalo pudesse ser catalogada como aborto. Justamente por isso fala-se que não se</p><p>trata de aborto, mas sim de uma interrupção da gestação em razão da inexistência de uma vida possível.</p><p>A discussão aqui não é sobre a descriminalização do aborto, mas sim sobre um mínimo existencial</p><p>(acepção positiva do direito à vida), que envolve a autodeterminação da mulher em face de uma eventual</p><p>tortura.</p><p>3) HC 124.306 - Interrupção voluntária da gestação no primeiro trimestre</p><p>O STF conferiu interpretação conforme à Constituição aos arts. 124 a 126 do Código Penal para excluir</p><p>do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. Os</p><p>Ministros entenderam que a criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher,</p><p>bem como o princípio da proporcionalidade, nos temos do voto do Min. Barroso (HC 124.306, j. 29.11.2016,</p><p>DJE de 17.03.2017).</p><p>4) Distanásia, eutanásia, suicídio assistido e ortotanásia</p><p>Distanásia: também chamada de obstinação terapêutica ou medical futility, trata-se de conduta onde</p><p>não se prolonga a vida propriamente dita, mas o processo de morrer. No Brasil, a exposição de motivos da</p><p>Resolução nº 1.805/2006 do Conselho Federal de Medicina permite ao médico limitar ou suspender</p><p>procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal, de enfermidade grave e</p><p>incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal. De acordo com Jean Robert Debray,</p><p>são procedimentos terapêuticos cujos efeitos são mais nocivos do que o próprio mal a ser curado e acabam</p><p>por negar a dignidade da vida humana.</p><p>Eutanásia: conhecida como “morte serena”, “morte doce” ou “boa morte”, tem o fim de abreviar a</p><p>vida do doente terminal. É uma ação médica intencional com exclusiva finalidade benevolente de pessoa que</p><p>se encontre em situação irreversível e incurável, padecendo de intensos sofrimentos físicos e psíquicos. De</p><p>acordo com Lenza:</p><p>“Atualmente, não tendo ainda o STF apreciado a matéria, a eutanásia enseja a</p><p>prática do crime previsto no art. 121, § 1.º, CP, qual seja, homicídio privilegiado, já</p><p>que praticado por motivo de relevante valor moral e, por esse motivo, a prescrição</p><p>normativa da causa de diminuição de pena. Alguns autores o denominam</p><p>‘homicídio por piedade’.”</p><p>Acrescente-se que a eutanásia ativa não se confunde com a eutanásia passiva. Esta última consiste</p><p>na omissão de um tratamento que poderia garantir a continuidade da vida ao passo que a primeira é a ação</p><p>deliberada de matar (seja ministrando medicamento ou suprimindo tratamento já iniciado).</p><p>Suicídio assistido: em algumas situações, a pessoa doente em estágio terminal quer pôr fim ao seu</p><p>sofrimento, contudo, em virtude das suas debilidades, não tem condições de o fazer sem auxílio.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>144</p><p>Ortotanásia: é uma prática sensível ao processo de humanização da morte, consistindo em uma</p><p>aceitação desta, permitindo que ela siga seu curso. Visa aliviar as dores sem incorrer em prolongamentos</p><p>abusivos que imponham sofrimentos adicionais. Para a doutrina, seria uma forma de eutanásia ativa indireta</p><p>em que os mecanismos de sustentação artificial da vida são retirados ou de eutanásia passiva, onde não se</p><p>inicia uma ação médica. De acordo com Ingo Sarlet: “A ideia de bom senso, prudência e razoabilidade deve</p><p>ser considerada, deixando claro não haver, ao menos explicitamente, qualquer vedação constitucional ao</p><p>dito ‘direito de morrer com dignidade’ (...).”</p><p>B. DIREITO À IGUALDADE:</p><p>Está previsto no art. 5º, caput e inciso I, da CF/88:</p><p>Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se</p><p>aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à</p><p>vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...).</p><p>I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta</p><p>Constituição;</p><p>a) Concepções da igualdade:</p><p>● Concepção formal: é a igualdade perante a lei e perante o Estado. Por essa concepção, a igualdade</p><p>impede que os indivíduos sejam tratados pelos poderes públicos de maneira diversa. Trata-se de</p><p>uma concepção estática e negativa, insuficiente para solucionar as desigualdades sociais;</p><p>● Concepção material: representa o tratamento igual dos iguais e o tratamento desigual daqueles em</p><p>situações desiguais. Por essa concepção, a igualdade deve adotar critérios distintivos justos e</p><p>razoáveis, de modo que os poderes públicos devem adotar medidas concretas para reduzir ou</p><p>compensar desigualdades.</p><p>IGUALDADE FORMAL IGUALDADE MATERIAL</p><p>É a igualdade perante a lei e perante o</p><p>Estado, impedindo que os indivíduos sejam</p><p>tratados pelos poderes públicos de maneira</p><p>diversa</p><p>É o tratamento igual dos iguais e o</p><p>tratamento desigual aos desiguais na medida</p><p>em que se desigualam.</p><p>Deve adotar critérios distintivos justos e</p><p>razoáveis, de modo que os poderes públicos</p><p>devem adotar medidas concretas para</p><p>reduzir ou compensar desigualdades</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>145</p><p>Confira a dica da Professora Thaianne:</p><p>https://youtu.be/f6uK8WsoSnM</p><p>b) Dimensões da igualdade (NOVELINO, 2017, p. 340):</p><p>● Dimensão objetiva: é a igualdade compreendida como princípio material estruturante do Estado</p><p>brasileiro que impõe o tratamento igual para os iguais e desigual para os desiguais, bem como ações</p><p>voltadas à redução das desigualdades sociais e regionais;</p><p>● Dimensão subjetiva: confere a indivíduos e grupos posições jurídicas de caráter negativo (proteção</p><p>contra diferenciações ou igualizações arbitrárias) e de caráter positivo (direito a exigir determinadas</p><p>prestações materiais e jurídicas destinadas à redução</p><p>de desigualdades).</p><p>Certo é que, no atual Estado Democrático de Direito, deve-se buscar, não somente a igualdade formal</p><p>(consagrada no liberalismo clássico), mas, principalmente, a igualdade material. Isso porque, no Estado social</p><p>ativo, efetivador dos direitos humanos, imagina-se uma igualdade mais real perante os bens da vida, diversa</p><p>daquela apenas formalizada em face da lei.</p><p>Vejamos alguns exemplos de ações afirmativas reconhecidas pelo STF:</p><p>◘ Cotas raciais:</p><p>O STF, na ADPF 186, considerou constitucional a política de cotas étnico-raciais para seleção de</p><p>estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Além disso, o STF declarou o reconhecimento da</p><p>proclamação na Constituição da igualdade material, sendo que, para assegurá-la, “o Estado poderia lançar</p><p>mão de políticas de cunho universalista — a abranger número indeterminado de indivíduos — mediante</p><p>ações de natureza estrutural; ou de ações afirmativas — a atingir grupos sociais determinados — por meio</p><p>da atribuição de certas vantagens, por tempo limitado, para permitir a suplantação de desigualdades</p><p>ocasionadas por situações históricas particulares.</p><p>Ainda, o STF declarou que “é constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos</p><p>públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública direta</p><p>https://youtu.be/f6uK8WsoSnM</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>146</p><p>e indireta. É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação,</p><p>desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa”. STF.</p><p>Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/6/2017 (Info 868).</p><p>◘ PROUNI – Programa Universidade para Todos:</p><p>O STF julgou constitucional o PROUNI, como importante fator de inserção social e cumprimento do</p><p>art. 205 da CF/88, que estatui ser a educação direito de todos e dever do Estado e da família. Ainda, o</p><p>programa encontra-se em sintonia com diversos dispositivos da Constituição que estabelecem a redução de</p><p>desigualdades sociais.</p><p>◘ Lei Maria da Penha:</p><p>O STF julgou procedente a ADC 19, para declarar a constitucionalidade dos arts. 1.º, 33 e 41 da Lei n.</p><p>11.340/2006 (Lei Maria da Penha), tendo por fundamento o princípio da igualdade, bem como o combate ao</p><p>desprezo às famílias, sendo considerada a mulher a sua célula básica.</p><p>Na mesma assentada, por maioria e nos termos do voto do Relator, o STF julgou procedente a ADI</p><p>4.424, para, dando interpretação conforme os arts. 12, I, e 16, ambos da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da</p><p>Penha), declarar a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão, pouco importando a</p><p>extensão desta, praticado contra a mulher no ambiente doméstico.</p><p>C. DIREITO À DIGNIDADE HUMANA:</p><p>É um valor, um princípio, servindo como parâmetro para a definição dos direitos formal e</p><p>materialmente fundamentais.</p><p>ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL5</p><p>- Inspiração: Corte Constitucional Colombiana.</p><p>- Definição: Quadro insuportável de violação massiva de direitos fundamentais, agravado pela inércia</p><p>continuada das autoridades.</p><p>- Pressupostos:</p><p>● Violação generalizada e sistemática de direitos fundamentais;</p><p>● Inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a</p><p>conjuntura;</p><p>● Situação que exige a atuação de uma pluralidade de autoridades públicas.</p><p>Caiu em prova (CESPE, PCRJ) e foi considerada CORRETA a seguinte afirmativa: A respeito da figura</p><p>denominada Estado de coisas inconstitucional, é correto afirmar que: encontra fundamento nos casos de</p><p>inadimplemento reiterado de direitos fundamentais pelos poderes do Estado, sem que haja possibilidade</p><p>5 Para aprofundamento do julgado: http://www.dizerodireito.com.br/2015/09/entenda-decisao-do-stf-sobre-</p><p>o-sistema.html</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>147</p><p>de remédio para vias tradicionais, ocasião em que o tribunal assume o papel de coordenador de políticas</p><p>públicas por meio da denominada tutela estruturante.</p><p>Análise pelo STF em ADPF (PSOL X União e Estados) – Concessão parcial de liminar para:</p><p>● Obrigar a União a liberar o saldo acumulado no FUNPEN;</p><p>● Implementação pelos juízes e Tribunais da audiência de custódia, no máximo em 90 (noventa) dias;</p><p>●</p><p>● Responsabilidade dos três poderes e de todos os entes Federativos.</p><p>● No julgado, entendeu-se que incumbiria ao STF retirar os demais poderes da inércia, coordenando ações</p><p>para resolver os problemas e monitorar resultados. Porém, NÃO cabe ao Judiciário definir o conteúdo</p><p>dessas políticas públicas (ex: medidas judiciais para abater o tempo de prisão).</p><p>IMPORTANTE: Transexuais e travestis com identificação com gênero feminino poderão optar por cumprir</p><p>pena em presídio feminino ou masculino.</p><p>Em 19.03.2021, o ministro Luís Roberto Barroso ajustou os termos de medida cautelar deferida em junho de</p><p>2019, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 527, de modo a determinar que</p><p>presas transexuais e travestis com identidade de gênero feminino podem optar por cumprir penas em</p><p>estabelecimento prisional feminino ou masculino. Nesse último caso, elas devem ser mantidas em área</p><p>reservada, como garantia de segurança.</p><p>De acordo com Barroso, e mencionando os Princípios de Yogyakarta (número 9), no Brasil, o direito das</p><p>transexuais femininas e travestis ao cumprimento de pena em condições compatíveis com a sua identidade</p><p>de gênero decorre, em especial, dos princípios constitucionais do direito à dignidade humana, à</p><p>autonomia, à liberdade, à igualdade, à saúde, e da vedação à tortura e ao tratamento degradante e</p><p>desumano. Decorre também da jurisprudência consolidada no STF no sentido de reconhecer o direito desses</p><p>grupos a viver de acordo com a sua identidade de gênero e a obter tratamento social compatível com ela.</p><p>Fonte: Site do STF</p><p>D. DIREITO À SAÚDE</p><p>A saúde é direito de todos e dever do Estado (art. 196 da CF/88), sendo assegurada por meio de</p><p>políticas sociais e econômicas que busquem:</p><p>● A redução do risco de doença e de outros agravos; e</p><p>● O acesso universal e igualitário às ações e serviços voltados à sua promoção, proteção e</p><p>recuperação.</p><p>Quando se fala na dimensão objetiva do direito à saúde, isso significa que, independentemente de</p><p>um caso concreto, existe um dever jurídico geral do Poder Público de concretizar medidas para garantir as</p><p>políticas públicas de saúde.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>148</p><p>De acordo com Lenza, assim como os demais direitos sociais, tal direito possui duas vertentes. Uma</p><p>positiva, onde se fomenta um Estado prestacionista para implementar o direito social; e outra negativa, onde</p><p>o Estado ou particular devem se abster da prática de atos que sejam prejudiciais a terceiros.</p><p>Cuidar da saúde da população é uma competência COMUM que deve ser exercida por todos os entes</p><p>federados.</p><p>Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos</p><p>Municípios:</p><p>II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas</p><p>portadoras de deficiência;</p><p>Quando se fala em “cuidar da saúde” isso abrange, obviamente, adotar medidas para salvar vidas e</p><p>garantir a higidez física das pessoas ameaçadas ou acometidas pelo novo coronavírus (Covid-19). Vale</p><p>relembrar que, no plano administrativo, esse dever é materializado por meio do Sistema Único de Saúde –</p><p>SUS, previsto no art. 198, da CF/88:</p><p>Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e</p><p>hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as</p><p>seguintes diretrizes:</p><p>I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;</p><p>II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem</p><p>prejuízo dos serviços assistenciais;</p><p>III - participação</p><p>da comunidade.</p><p>O SUS é compatível com o federalismo cooperativo, adotado pelo Brasil, segundo o qual existe um</p><p>entrelaçamento de competências e atribuições dos diferentes níveis governamentais. Veja a explicação do</p><p>Professor Márcio Cavalcante:</p><p>A União tem o papel de coordenar as atividades do setor: A União exerce aquilo que a doutrina</p><p>denomina de “competência de cooperação” e que consiste na obrigação constitucional de “planejar e</p><p>promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações”</p><p>(art. 21, XVIII, CF/88). Assim, compete à União assumir a coordenação das atividades do setor, incumbindo-</p><p>lhe, em especial, “executar ações de vigilância epidemiológica e sanitária em circunstâncias especiais, como</p><p>na ocorrência de agravos inusitados à saúde, que possam escapar do controle da direção estadual do SUS ou</p><p>que representem risco de disseminação nacional”, conforme estabelece o disposto no art. 16, III, “a”, e</p><p>parágrafo único, da Lei nº 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde).</p><p>União é responsável pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI): Dentro desse papel de</p><p>coordenar as atividades, a União tem a competência de elaborar, por intermédio do Ministério da Saúde, o</p><p>Programa Nacional de Imunizações (art. 3º da Lei nº 6.259/75). O Ministério da Saúde coordenará e apoiará,</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>149</p><p>técnica, material e financeiramente, a execução do programa, em âmbito nacional e regional (art. 4º, caput).</p><p>As Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, por sua vez, irão executar as ações do programa nos seus</p><p>respectivos territórios. Vale ressaltar que o Governo Federal divulgou, em 16/12/2020, o Plano Nacional de</p><p>Imunizações contra a covid-19.</p><p>Estados-membros, DF e Municípios também podem atuar para suprir lacunas ou omissões: Não</p><p>obstante constitua incumbência do Ministério da Saúde coordenar o PNI, tal atribuição não exclui a</p><p>competência dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios de também atuarem porque se trata,</p><p>conforme já explicado, de competência comum (art. 23, II, da CF/88). O ideal é que todas as vacinas seguras</p><p>e eficazes sejam incluídas no PNI e que a União coordene nacionalmente o programa, de maneira a imunizar</p><p>uniforme e tempestivamente toda a população. No entanto, o STF entende que é possível a atuação conjunta</p><p>das autoridades estaduais e locais para o enfrentamento da covid, especialmente para suprir lacunas ou</p><p>omissões do governo federal.</p><p>Nesse sentido, considerando a imensa relevância sobre o tema, é importantíssimo ficar atento às</p><p>jurisprudências pertinentes:</p><p>◘ São atípicas as condutas de submeter-se à vacinação contra covid-19 em local diverso do</p><p>agendado e/ou com aplicação de imunizante diverso do reservado e/ou de submeter-se à</p><p>vacinação sem a realização de agendamento.</p><p>(Caso Wesley Safadão)</p><p>No caso, o Tribunal de origem considerou que as condutas de submeter-se à</p><p>vacinação contra covid-19 em local diverso do agendado, com aplicação de</p><p>imunizante diverso do reservado e sem a realização de agendamento subsumir-se-</p><p>iam, em tese, aos tipos penais previstos nos arts. 312 (peculato) e 317, § 2º</p><p>(corrupção passiva), do Código Penal.</p><p>Essas condutas não se amoldam aos tipos em questão, em especial porque</p><p>ausentes os elementos objetivos (verbos nucleares) contidos no art. 312 do Código</p><p>Penal. Não houve apropriação, tampouco desvio de doses de vacina contra a covid-</p><p>19, já que destinadas à população em geral, grupo em que se enquadram os</p><p>pacientes, uma vez que tinham o direito de ser vacinados (embora em local ou</p><p>momento diverso). A saúde é um direito de todos, direito social que é assegurado</p><p>pelo art. 6º da Carta Constitucional.</p><p>De igual forma, é atípica a conduta de corrupção passiva na forma do § 2º</p><p>(modalidade privilegiada) do art. 317 do Código Penal, porquanto, na modalidade</p><p>privilegiada do tipo em questão, criminaliza-se, de maneira mais branda, a conduta</p><p>do agente que pratica ato de ofício, com violação de dever funcional a pedido de</p><p>alguém que exerce algum tipo de influência sobre sua atuação, sem solicitação ou</p><p>recebimento de vantagem ilícita.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>150</p><p>STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 160.947-CE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado</p><p>em 27/09/2022 (Info 752)</p><p>◘ Em ação que pretende o fornecimento de medicamento registrado na ANVISA, ainda que não</p><p>incorporado em atos normativos do SUS, é prescindível a inclusão da União no polo passivo da</p><p>demanda.</p><p>O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o Tema 793 da Repercussão Geral, fixou</p><p>tese no sentido de que "os entes da federação, em decorrência da competência</p><p>comum, são solidariamente responsáveis nas demandas prestacionais na área da</p><p>saúde, e diante dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização,</p><p>compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de</p><p>repartição de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus</p><p>financeiro" (STF, EDcl no RE 855.178/SE, Rel. p/ acórdão Ministro Edson Fachin,</p><p>Pleno, DJe 16/04/2020).</p><p>STJ. RMS 68.602-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, Segunda Turma, por</p><p>unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe 29/04/2022.(Info 734)</p><p>◘ Não se pode utilizar verbas do Fundeb para combater à pandemia da Covid-19.</p><p>Ainda que se reconheça a gravidade da pandemia da Covid-19 e os seus impactos</p><p>na economia e nas finanças públicas, nada justifica o emprego de verba</p><p>constitucionalmente vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino básico</p><p>para fins diversos da que ela se destina.</p><p>STF. Plenário. ADI 6490/PI, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2022 (Info</p><p>1044).</p><p>◘ Estados, Distrito Federal e Municípios podem importar vacinas?</p><p>Nas exatas palavras do STF: os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no caso</p><p>de descumprimento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra</p><p>a Covid-19 ou na hipótese de cobertura imunológica intempestiva e insuficiente,</p><p>poderão dispensar às respectivas populações: a) vacinas das quais disponham,</p><p>previamente aprovadas pela Anvisa; e b) no caso não expedição da autorização</p><p>competente, no prazo de 72 horas, vacinas registradas por pelo menos uma das</p><p>autoridades sanitárias estrangeiras e liberadas para distribuição comercial nos</p><p>respectivos países, bem como quaisquer outras que vierem a ser aprovadas, em</p><p>caráter emergencial. STF. Plenário. ADPF 770 MC-Ref/DF e ACO 3451 MC-Ref/MA,</p><p>Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/2/2021 (Info 1006).</p><p>https://processo.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=%28%28ROMS.clas.+ou+RMS.clap.%29+e+%40num%3D%2268602%22%29+ou+%28%28ROMS+ou+RMS%29+adj+%2268602%22%29.suce.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>151</p><p>◘ STF estendeu a vigência das medidas de combate à covid-19 elencadas na Lei nº 13.979/2020 e que</p><p>estavam previstas para terminar em 31/12/2020</p><p>A prudência — amparada nos princípios da prevenção e da precaução — aconselha</p><p>que continuem em vigor as medidas excepcionais previstas nos arts. 3º ao 3º-J da</p><p>Lei nº 13.979/2020, dada a continuidade da situação de emergência na área da</p><p>saúde pública. STF. Plenário. ADI 6625 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,</p><p>julgado em 6/3/2021 (Info 1008).</p><p>◘ Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de</p><p>vacinação forçada)</p><p>A tese fixada foi a seguinte: (A) A vacinação compulsória não significa vacinação</p><p>forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário, podendo, contudo, ser</p><p>implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre</p><p>outras, a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de</p><p>determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes, e (i) tenham</p><p>como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, (ii) venham</p><p>acompanhadas</p><p>de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações</p><p>dos imunizantes, (iii) respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das</p><p>pessoas; (iv) atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, e (v)</p><p>sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente; e (B) tais medidas, com as</p><p>limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos</p><p>Estados, Distrito Federal e Municípios, respeitadas as respectivas esferas de</p><p>competência. STF. Plenário. ADI 6586, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em</p><p>17/12/2020.</p><p>◘ É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção filosófica</p><p>É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que,</p><p>registrada em órgão de vigilância sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa</p><p>Nacional de Imunizações ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória determinada em lei</p><p>ou (iii) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito Federal ou município,</p><p>com base em consenso médico-científico. Em tais casos, não se caracteriza violação</p><p>à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou responsáveis, nem</p><p>tampouco ao poder familiar. STF. Plenário. ARE 1267879/SP, Rel. Min. Roberto</p><p>Barroso, julgado em 16 e 17/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 1103) (Info 1003).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>152</p><p>◘ União não pode requisitar seringas e agulhas que já foram contratadas pelo Estado-membro para o</p><p>plano estadual de imunização e que ainda estão na indústria, apesar de já terem sido empenhados</p><p>É incabível a requisição administrativa, pela União, de bens insumos contratados</p><p>por unidade federativa e destinados à execução do plano local de imunização, cujos</p><p>pagamentos já foram empenhados. A requisição administrativa não pode se voltar</p><p>contra bem ou serviço de outro ente federativo. Isso para que não haja indevida</p><p>interferência na autonomia de um sobre outro. STF. Plenário. ACO 3463 MC-Ref/SP,</p><p>Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 8/3/2021 (Info 1008).</p><p>◘ STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos grupos</p><p>prioritários (quem deveria ser vacinado primeiro dentro do grupo prioritário)</p><p>A pretensão de que sejam editados e publicados critérios e subcritérios de</p><p>vacinação por classes e subclasses no Plano de Vacinação, assim como a ordem de</p><p>preferência dentro de cada classe e subclasse, encontra arrimo: • nos princípios da</p><p>publicidade e da eficiência que regem a Administração Pública (art. 37, da CF/88);</p><p>• no direito à informação que assiste aos cidadãos em geral (art. 5º, XXXIII, e art.</p><p>37, § 2º, II); • na obrigação da União de “planejar e promover a defesa permanente</p><p>contra as calamidades públicas” (art. 21, XVII); • no dever incontornável cometido</p><p>ao Estado de assegurar a inviolabilidade do direito à vida (art. 5º, caput), traduzida</p><p>por uma “existência digna” (art. 170); e • no direito à saúde (art. 6º e art. 196). STF.</p><p>Plenário. ADPF 754 TPI-segunda-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado</p><p>em 27/2/2021 (Info 1007).</p><p>◘ É dever do Poder Público elaborar e implementar plano para o enfrentamento da pandemia COVID-</p><p>19 nas comunidades quilombolas</p><p>O STF determinou que a União elaborasse plano de combate à Covid-19 para</p><p>população quilombola, com a participação de representantes da Coordenação</p><p>Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – Conaq.</p><p>Além disso, o STF deferiu pedido para suspender os processos judiciais,</p><p>notadamente ações possessórias, reivindicatórias de propriedade, imissões na</p><p>posse, anulatórias de processos administrativos de titulação, bem como os recursos</p><p>vinculados a essas ações, sem prejuízo dos direitos territoriais das comunidades</p><p>quilombolas até o término da pandemia. STF. Plenário. ADPF 742/DF, Rel. Min.</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/0da54aa0b1ee702d0c45af548b1a54c7?categoria=1&subcategoria=1&assunto=14</p><p>https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/0da54aa0b1ee702d0c45af548b1a54c7?categoria=1&subcategoria=1&assunto=14</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>153</p><p>Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 24/2/2021 (Info</p><p>1006).</p><p>◘ STF determina que governo federal adote medidas para conter o avanço da Covid-19 entre indígenas</p><p>O Min. Roberto Barroso (relator) deferiu parcialmente a medida cautelar para que</p><p>a União implemente, em resumo, as seguintes providências: Quanto aos povos</p><p>indígenas em isolamento ou povos indígenas de recente contato: 1. Criação de</p><p>barreiras sanitárias, que impeçam o ingresso de terceiros em seus territórios; 2.</p><p>Criação de Sala de Situação, para gestão de ações de combate à pandemia quanto</p><p>aos Povos Indígenas em Isolamento e de Contato Recente. Quanto aos povos</p><p>indígenas em geral: 1. Inclusão de medida emergencial de contenção e isolamento</p><p>dos invasores em relação às comunidades indígenas ou providência alternativa,</p><p>apta a evitar o contato. 2. Imediata extensão dos serviços do Subsistema Indígena</p><p>de Saúde. 3. Elaboração e monitoramento de um Plano de Enfrentamento da</p><p>COVID-19 para os Povos Indígenas Brasileiros pela União. O Plenário do STF</p><p>referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel.</p><p>Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e 5/8/2020 (Info 985).</p><p>E. DIREITO À INTEGRIDADE</p><p>A Carta Magna proíbe a prática lesões, psíquica e moral (provocação de dor interna e sofrimento).</p><p>Ademais, veda a prática da tortura, bem como qualquer tipo de comercialização de órgãos, tecidos e</p><p>substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento (art. 199, §4º).</p><p>F. PROIBIÇÃO DA TORTURA</p><p>Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante</p><p>(art. 5º, III, da CF/88).</p><p>● Não esquecer que parcela da doutrina defende que o direito de não ser torturado (inciso III do art. 5º</p><p>da CF/88) é um exemplo de direito fundamental absoluto, sendo uma exceção à característica da</p><p>relatividade dos direitos fundamentais.</p><p>● Uso de algemas e a Súmula Vinculante 11: “o uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo de</p><p>natureza excepcional, a ser adotado nos casos e com as finalidades de impedir, prevenir ou dificultar a</p><p>fuga ou reação indevida do preso, desde que haja fundada suspeita ou justificado receio de que tanto</p><p>venha a ocorrer, e para evitar agressão do preso contra os próprios policiais, contra terceiros ou contra</p><p>si mesmo. O emprego dessa medida tem como balizamento jurídico necessário os princípios da</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>154</p><p>proporcionalidade e da razoabilidade” (HC 89.429, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 22.08.2006, DJ de</p><p>02.02.2007).</p><p>Súmula Vinculante nº 11: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de</p><p>fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte</p><p>do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de</p><p>responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade</p><p>da prisão ou do ato processo a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil</p><p>do Estado.</p><p>G. DIREITO À PRIVACIDADE – DIMENSÕES</p><p>X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,</p><p>assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua</p><p>violação;</p><p>● Intimidade: é o direito de estar só (right to be alone) e o direito de ser deixado em paz;</p><p>● Vida privada: é o direito do indivíduo de ser do modo que quiser, sem a intervenção de outrem.</p><p>● Honra: ligada à honra objetiva (visão da sociedade) e honra subjetiva (visão da própria pessoa).</p><p>● Imagem: é a representação da pessoa, por meio de desenhos, fotografias.</p><p>É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim</p><p>entendido como</p><p>o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação</p><p>de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios de</p><p>comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no</p><p>exercício da liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a</p><p>caso, a partir dos parâmetros constitucionais – especialmente os relativos à</p><p>proteção da honra, da imagem, da privacidade e da personalidade em geral – e as</p><p>expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e cível.</p><p>STF. Plenário. RE 1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021</p><p>(Repercussão Geral – Tema 786) (Info 1005).</p><p>O direito à retratação e ao esclarecimento da verdade possui previsão na</p><p>Constituição da República e na Lei Civil, não tendo sido afastado pelo Supremo</p><p>Tribunal Federal no julgamento da ADPF 130/DF. O princípio da reparação integral</p><p>(arts. 927 e 944 do CC) possibilita o pagamento da indenização em pecúnia e in</p><p>natura, a fim de se dar efetividade ao instituto da responsabilidade civil. Dessa</p><p>forma, é possível que o magistrado condene o autor da ofensa a divulgar a sentença</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>155</p><p>condenatória nos mesmos veículos de comunicação em que foi cometida a ofensa</p><p>à honra, desde que fundamentada em dispositivos legais diversos da Lei de</p><p>Imprensa. STJ. 3ª Turma. REsp 1771866-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,</p><p>julgado em 12/02/2019 (Info 642).</p><p>Fonte: Dizer o Direito</p><p>É legítimo, desde que observados alguns parâmetros, o compartilhamento de</p><p>dados pessoais entre órgãos e entidades da Administração Pública federal, sem</p><p>qualquer prejuízo da irrestrita observância dos princípios gerais e mecanismos de</p><p>proteção elencados na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei nº</p><p>13.709/2018) e dos direitos constitucionais à privacidade e proteção de dados.</p><p>STF. Plenário. ADI 6649/DF e ADPF 695/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em</p><p>15/9/2022 (Info 1068).</p><p>● Privacidade e sigilo bancário e fiscal: o STF admite a quebra do sigilo pelo Judiciário ou por CPI (federal</p><p>ou estadual, mas não municipal), mas resiste a que o MP possa requisitá-la diretamente, por falta de</p><p>autorização legal específica, salvo a hipótese de existir procedimento administrativo investigando</p><p>utilização indevida de patrimônio público.</p><p>LC 105/2001 E QUEBRA DE SIGILO PELA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA6</p><p>- A Lei Complementar n.º 105/2001 atribui a agentes tributários, no exercício do poder de fiscalização, o</p><p>poder de requisitar informações referentes a operação e serviços das instituições financeiras,</p><p>independente de autorização judicial. Inicialmente, nos autos do RE 389808, o STF entendeu NÃO ser</p><p>possível o afastamento do sigilo.</p><p>- O STF entendeu possível o repasse das informações dos bancos para o Fisco, pelos seguintes argumentos,</p><p>pois as informações são remetidas ao Fisco em caráter sigiloso e permanecem de forma sigilosa na</p><p>Administração Tributária, inacessível a terceiros, não pode ser considerado violação do sigilo.</p><p>É constitucional a requisição, sem prévia autorização judicial, de dados bancários</p><p>e fiscais considerados imprescindíveis pelo Corregedor Nacional de Justiça para</p><p>apurar infração de sujeito determinado, desde que em processo regularmente</p><p>instaurado mediante decisão fundamentada e baseada em indícios concretos da</p><p>6 Para aprofundamento, sugerimos leitura do julgado comentado pelo Dizer o Direito:</p><p>http://www.dizerodireito.com.br/2016/02/a-receita-pode-requisitar-das.html</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>156</p><p>prática do ato. STF. Plenário. ADI 4709/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em</p><p>27/5/2022 (Info 1056).</p><p>Dados obtidos com a quebra de sigilo bancário não podem ser divulgados</p><p>abertamente em site oficial.</p><p>Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal devem</p><p>ser mantidos sob reserva.</p><p>Assim, a página do Senado Federal na internet não pode divulgar os dados obtidos</p><p>por meio da quebra de sigilo determinada por comissão parlamentar de inquérito</p><p>(CPI). STF. Plenário. MS 25940, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/4/2018 (Info</p><p>899).</p><p>Fonte: Dizer o direito.</p><p>● Privacidade, produção de relatórios de inteligência e vinculação ao interesse público – ADPF</p><p>722/DF:</p><p>Os órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência, conquanto necessários para a</p><p>segurança pública, segurança nacional e garantia de cumprimento eficiente dos</p><p>deveres do Estado, devem operar com estrita vinculação ao interesse público,</p><p>observância aos valores democráticos e respeito aos direitos e garantias</p><p>fundamentais. Nesse contexto, caracterizam desvio de finalidade e abuso de poder</p><p>a colheita, a produção e o compartilhamento de dados, informações e</p><p>conhecimentos específicos para satisfazer interesse privado de órgão ou de agente</p><p>público (1). Na hipótese, a utilização da máquina estatal para a colheita de</p><p>informações de servidores com postura política contrária ao governo caracteriza</p><p>desvio de finalidade e afronta aos direitos fundamentais da livre manifestação do</p><p>pensamento, da privacidade, reunião e associação, aos quais deve ser conferida</p><p>máxima efetividade, pois essenciais ao regime democrático. Ademais, os órgãos de</p><p>inteligência de qualquer nível hierárquico de qualquer dos Poderes do Estado,</p><p>embora sujeitos ao controle externo realizado pelo Poder Legislativo (2),</p><p>submetem-se também ao crivo do Poder Judiciário, em respeito ao princípio da</p><p>inafastabilidade da jurisdição (3). Com base nesses entendimentos, o Plenário, por</p><p>maioria, julgou procedente o pedido para confirmar a medida cautelar e declarar</p><p>inconstitucionais atos do Ministério da Justiça e Segurança Pública de produção ou</p><p>compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e</p><p>políticas, e as práticas cívicas de cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e</p><p>municipais identificados como integrantes de movimento político, professores</p><p>universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da legalidade, exerçam</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>157</p><p>seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se. STF, ADPF 722,</p><p>Plenário, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento 13.5.2022.</p><p>H. INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO:</p><p>XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem</p><p>consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para</p><p>prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial</p><p>● A casa é asilo inviolável. Qual é o conceito de casa?</p><p>R.: Segundo o STF e doutrina, casa abrange não só o domicílio como também todo lugar privativo,</p><p>ocupado por alguém, com direito próprio e de maneira exclusiva, mesmo sem caráter definitivo ou habitual.</p><p>STF - “Para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5.º, XI, da Constituição</p><p>da República, o conceito normativo de ‘casa’ revela-se abrangente e, por estender-</p><p>se a qualquer aposento de habitação coletiva, desde que ocupado (CP, art. 150, §</p><p>4.º, II), compreende, observada essa específica limitação espacial, os quartos de</p><p>hotel (...)” (RHC 90.376)</p><p>A abrangência do conceito alcança:</p><p>▪ O escritório de trabalho</p><p>▪ O estabelecimento industrial</p><p>▪ Clube recreativo</p><p>▪ Quarto de hotel</p><p>É lícita a entrada de policiais, sem autorização judicial e sem o consentimento do</p><p>hóspede, em quarto de hotel, desde que presentes fundadas razões da ocorrência</p><p>de flagrante delito.</p><p>O STJ afirmou que, embora o quarto de hotel regularmente ocupado seja,</p><p>juridicamente, qualificado como “casa” para fins de tutela constitucional da</p><p>inviolabilidade domiciliar (art. 5º, XI), a exigência, em termos de standard</p><p>probatório, para que policiais ingressem em um quarto de hotel sem mandado</p><p>judicial não pode ser igual às fundadas razões exigidas para o ingresso em uma</p><p>residência propriamente</p><p>dita, a não ser que se trate (o quarto de hotel) de um local</p><p>de moradia permanente do suspeito. STJ. 6ª Turma. HC 659.527-SP, Rel. Min.</p><p>Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/10/2021 (Info 715).</p><p>▪ Quarto de motel</p><p>▪ Automóveis quando usados para fins de moradia</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>158</p><p>▪ Barcos quando usados para fins de moradia.</p><p>Atenção:</p><p>O STJ possui jurisprudência recentíssima entendendo que a habitação em prédio</p><p>abandonado de escola municipal pode caracterizar o conceito de domicílio em que</p><p>incide a proteção disposta no art. 5º, inciso XI da Constituição Federal (AgRg no HC</p><p>712.529-SE).</p><p>STJ: A abordagem policial em estabelecimento comercial, ainda que a diligência</p><p>tenha ocorrido quando não havia mais clientes, é hipótese de local aberto ao</p><p>público, que não recebe a proteção constitucional da inviolabilidade do domicílio.</p><p>Consoante decidido no RE 603.616/RO, pelo Supremo Tribunal Federal, "a entrada</p><p>forçada em domicílio sem mandado judicial é lícita, mesmo em período noturno,</p><p>quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que</p><p>indiquem que, dentro da casa, ocorre situação de flagrante delito, sob pena de</p><p>responsabilidade disciplinar, civil, e penal do agente ou da autoridade e de nulidade</p><p>dos atos praticados". Todavia, no caso, verifica-se que os policiais afirmaram que</p><p>"havia uma investigação em andamento relativa a um roubo de carga, tendo sido</p><p>veiculada denúncia anônima dando conta de que parte do carregamento subtraído</p><p>estava nas dependências da borracharia pertencente ao réu, diante do que</p><p>procederam à diligência local".Desse modo, como se trata de estabelecimento</p><p>comercial - em funcionamento e aberto ao público - não pode receber a proteção</p><p>que a Constituição Federal confere à casa. Assim, não há violação à garantia</p><p>constitucional da inviolabilidade do domicílio, a caracterizar a ocorrência de</p><p>constrangimento ilegal (HC 754.789-RS, Rel. Ministro Olindo Menezes</p><p>(Desembargador convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, por unanimidade,</p><p>julgado em 6/12/2022).</p><p>▪ Bens públicos de uso especial não abertos ao público como gabinetes de prefeitos, gabinete do</p><p>delegado de polícia</p><p>Inf. 549 do STJ (2014):Afirmou que o gabinete do delegado de polícia encontra-se</p><p>inserido no conceito de “casa” previsto no inciso III do §4º do art. 150 do CP. Logo,</p><p>invasão ao seu gabinete constitui crime de violação de domicílio.</p><p>CP, Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a</p><p>vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas</p><p>dependências:</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>159</p><p>§ 4º - A expressão "casa" compreende:</p><p>I - qualquer compartimento habitado;</p><p>II - aposento ocupado de habitação coletiva;</p><p>III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou</p><p>atividade</p><p>* ATENÇÃO - Exceções ao direito à inviolabilidade do domicílio:</p><p>(1) Em caso de flagrante delito, a qualquer momento;</p><p>(2) Em caso de desastre ou para prestar socorro;</p><p>(3) Através de autorização judicial, durante o dia.</p><p>Fique atento à jurisprudência:</p><p>O ingresso regular da polícia no domicílio, sem autorização judicial, em caso de</p><p>flagrante delito, para que seja válido, necessita que haja fundadas razões (justa</p><p>causa) que sinalizem a ocorrência de crime no interior da residência. A mera</p><p>intuição acerca de eventual traficância praticada pelo agente, embora pudesse</p><p>autorizar abordagem policial, em via pública, para averiguação, não configura, por</p><p>si só, justa causa a autorizar o ingresso em seu domicílio, sem o seu consentimento</p><p>e sem determinação judicial. STJ. 6ª Turma. REsp 1574681-RS, Rel. Min. Rogério</p><p>Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 606).</p><p>Fonte: Dizer o Direito</p><p>C) Direito às Liberdades</p><p>Abrange as liberdades física, de pensamento, de locomoção.</p><p>I. LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO – Art. 5º, IV e V</p><p>IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;</p><p>V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização</p><p>por dano material, moral ou à imagem;</p><p>A Constituição assegurou a liberdade de manifestação do pensamento, vedando o anonimato. Se</p><p>durante a manifestação do pensamento se cause dano material, moral ou à imagem, assegura-se o direito</p><p>de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização.</p><p>Conforma salienta Pedro Lenza, o inciso IV estabelece uma espécie de “cláusula geral” que, em</p><p>conjunto com outros dispositivos, asseguram a liberdade de expressão nas suas diversas manifestações:</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>160</p><p>a) liberdade de manifestação do pensamento (incluindo a liberdade de opinião);</p><p>b) liberdade de expressão artística;</p><p>c) liberdade de ensino e pesquisa;</p><p>d) liberdade de comunicação e de informação (liberdade de “imprensa”);</p><p>e) liberdade de expressão religiosa.</p><p>● Marcha da Maconha (ADPF 187) – as marchas da maconha vinham sendo reprimidas pela polícia, sob a</p><p>ótica de que elas geravam apologia ao crime, vez que o uso de maconha é criminalizado. Este</p><p>entendimento viola a liberdade de expressão, porque não se confunde a apologia a droga e o seu uso</p><p>com a defesa da descriminalização ou ainda da inconstitucionalidade da criminalização. Em um Estado</p><p>Democrático de Direito se entender que o povo não possa se manifestar pela descriminalização de</p><p>uma conduta, evidentemente é se viver em um Estado que não pode ser chamado de Democrático de</p><p>Direito. Em um regime que presa pela liberdade de expressão tem que dar a opção da população se</p><p>manifestar pela descriminalização de determinada conduta.</p><p>● Delação anônima (Inq. 1957) – o STF já decidiu não ser possível a utilização da denúncia anônima, pura</p><p>e simples, para a instauração de procedimento investigatório, por violar a vedação ao anonimato,</p><p>prevista no art. 5.º, IV. Nada impede, contudo, que o Poder Público provocado por delação anônima</p><p>adote medidas informais destinadas a apurar, previamente, em averiguação sumária, com prudência e</p><p>discrição, a possível ocorrência de eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com o objetivo</p><p>de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, em ordem a promover, então, em caso</p><p>positivo, a formal instauração da persecutio criminis, mantendo-se, assim, completa desvinculação desse</p><p>procedimento estatal em relação às peças apócrifas”.</p><p>● Tatuagem e o concurso público – “as pigmentações de caráter permanente inseridas voluntariamente</p><p>em partes dos corpos dos cidadãos configuram instrumentos de exteriorização da liberdade de</p><p>manifestação do pensamento e de expressão, valores amplamente tutelados pelo ordenamento jurídico</p><p>brasileiro (CRFB/88, art. 5.°, IV e IX)”. Assim, “o Estado não pode desempenhar o papel de adversário da</p><p>liberdade de expressão, incumbindo-lhe, ao revés, assegurar que minorias possam se manifestar</p><p>livremente”</p><p>Tema 838 da repercussão geral, fixou as seguintes teses: “(i) os requisitos do edital</p><p>para o ingresso em cargo, emprego ou função pública devem ter por fundamento</p><p>lei em sentido formal e material; (ii) os editais de concurso público não podem</p><p>estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais em</p><p>razão de conteúdo que viole valores constitucionais” (RE 898.450, Plenário, Rel.</p><p>Min. Luiz Fux, j. 17.08.2016, DJE de 31.05.2017).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>161</p><p>● Liberdade de expressão e imunidade parlamentar – Já estudamos que os direitos fundamentais não</p><p>possuem caráter absoluto. Em julgado recentíssimo, a Segunda Turma do STF reafirmou esse</p><p>entendimento ao entender que a liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos,</p><p>com intuito manifestamente difamatório ou injurioso:</p><p>A liberdade de expressão não alcança</p><p>01/30</p><p>12</p><p>a função do direito penal. Sua função seria demonstrar que a norma continua vigorando e</p><p>deve ser obedecida;</p><p>⋅ Assim, “o bem não deve ser representado como um objeto físico ou algo do gênero, e sim,</p><p>como norma, como expectativa garantida”. (Direito Penal e Funcionalismo, 2005, p.33-34);</p><p>⋅ E ainda, entende ele que quem deliberada e reiteradamente viola a lei penal, de forma grave</p><p>e duradoura, deve ser tratado como “não-cidadão”, como inimigo da sociedade, por não</p><p>cumprir sua função no corpo social, não fazendo jus às garantias previstas pela norma a qual</p><p>tal sujeito infringe;</p><p>⋅ Ao delinquente-cidadão, seria aplicado o direito penal do cidadão, ao passo que ao</p><p>delinquente inimigo, seria aplicado o Direito Penal do Inimigo (tópico específico mais à</p><p>frente).</p><p>APROFUNDANDO: vamos a uma tabelinha com mais características das duas vertentes do</p><p>funcionalismo para fixarmos as diferenças?</p><p>FUNCIONALISMO PENAL</p><p>FUNCIONALISMO</p><p>TELEOLÓGICO</p><p>(Características: Moderado,</p><p>dualista, de política criminal</p><p>ou racional teleológico)</p><p>ROXIN</p><p>● Finalidade do Direito Penal: proteção de bens</p><p>jurídicos indispensáveis. Não veio para trazer</p><p>valores éticos, morais;</p><p>● Moderado: o direito penal tem limites impostos</p><p>pelo próprio direito penal e demais ramos do</p><p>direito;</p><p>● Dualista: convive em harmonia com os demais</p><p>ramos do Direito. Reconhece o sistema jurídico em</p><p>geral;</p><p>● De política criminal: aplica a lei de acordo com os</p><p>anseios da sociedade. Se adapta à sociedade em que</p><p>ele se insere;</p><p>● Racional teleológico: movido pela razão e em busca</p><p>de sua finalidade.</p><p>FUNCIONALISMO SISTÊMICO</p><p>(Características:</p><p>Radical, monista e sistêmico)</p><p>JAKOBS</p><p>Direito Penal do Inimigo</p><p>● Finalidade do Direito Penal: é a proteção das</p><p>normas penais, assegurar o império da norma. É</p><p>punir. Aplicar a lei;</p><p>● A sociedade que deve se ajustar ao Direito Penal;</p><p>● Para ele, o Direito Penal é:</p><p>- Radical: só reconhece os limites impostos por ele</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>13</p><p>mesmo;</p><p>- Monista: é um sistema próprio de regras e de</p><p>valores que independe dos demais;</p><p>- Sistêmico: é autônomo (independe dos demais</p><p>ramos), autorreferente (todas as referências e</p><p>conceitos que precisa buscar do próprio direito</p><p>penal) e se autoproduz;</p><p>● Quem viola reiterada e deliberadamente a norma =</p><p>não-cidadão / inimigo = não tem direitos.</p><p>Outras funções do Direito Penal (Masson):</p><p>● Função criadora ou modificadora de costumes. Disseminação ético-social de valores. Efeito</p><p>“moralizador”. Visa garantir o mínimo ético que deve existir em toda coletividade:</p><p>⋅ É uma função educativa, que visa estimular os cidadãos a se conscientizarem e protegerem</p><p>bens que ainda não foram tidos pela sociedade como fundamentais (ex: crimes contra o meio</p><p>ambiente).</p><p>⋅ Esta função é bastante discutida, pelo fato de a doutrina divergir se o estado deveria ou não</p><p>se utilizar do direito penal como meio de educação. Há quem entenda que tal objetivo deve</p><p>ser alcançado pela interação social e não por coação.</p><p>● Simbólica – não produz efeitos externos, mas somente na mente dos cidadãos e governantes, sendo</p><p>uma função inerente a todas as leis, não apenas ao Direito Penal;</p><p>⋅ Enquanto os governados pensam que a contenção da criminalidade e as medidas necessárias</p><p>para tanto estão sob o controle das autoridades, os governantes ficam com a sensação de</p><p>terem feito algo e adiam a efetiva resolução do problema, retirando, ao longo do tempo, a</p><p>credibilidade do direito penal.</p><p>⋅ Geralmente é manifestada pelo “direito penal do terror”, que se apresenta de duas formas:</p><p>* Inflação legislativa (direito penal de emergência) – em que são criados tipos penais</p><p>desnecessários para dar resposta a qualquer tipo de problema;</p><p>* Hipertrofia do Direito Penal – aumentando desproporcional e injustificadamente as</p><p>penas em casos pontuais, como se isso, por si só, fosse impedir a prática do crime.</p><p>● Motivadora de comportamento conforme a norma – a ameaça de imposição de sanções motiva os</p><p>indivíduos a se comportarem de acordo com a lei, para que não sofram suas penalidades;</p><p>● Redução da violência estatal – pois, embora legítima e necessária, a pena não deixa de ser uma</p><p>agressão ao indivíduo, devendo, portanto, restringir-se aos casos necessários e legais.</p><p>● Promocional de transformação social – auxiliando em mudanças que garantirão a evolução da</p><p>comunidade.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>14</p><p>B) CLASSIFICAÇÕES DO DIREITO PENAL</p><p>1. Direito Penal Fundamental (Primário): é o conjunto de normas e princípios do Direito Penal</p><p>aplicáveis genericamente, inclusive às leis penais especiais. É composto pelas normas da Parte Geral</p><p>do Código Penal e, excepcionalmente, algumas normas de amplo conteúdo previstas na Parte</p><p>Especial, como os conceitos de domicílio (art. 150, §§4º e 5º) e funcionário público (art. 327);</p><p>2. Direito Penal Complementar (Secundário): corresponde à legislação penal extravagante;</p><p>3. Direito Penal Comum: é o conjunto de normas penais aplicável indistintamente a todas as pessoas,</p><p>como o Código Penal;</p><p>4. Direito Penal Especial: é o conjunto de normas penais aplicável apenas a pessoas determinadas que</p><p>preencham certas condições legais. São exemplos o Código Penal Militar e o Decreto-lei nº 201/1967</p><p>(crimes de responsabilidade dos prefeitos);</p><p>5. Direito Penal Geral: é o conjunto de normas penais aplicáveis em todo o território nacional. Essas</p><p>normas são produzidas privativamente pela União (art. 22, I, da CF);</p><p>6. Direito Penal Local: é o conjunto de normas penais aplicáveis somente a determinada parte do</p><p>território nacional. A existência dessas normas somente é possível se houver autorização da União</p><p>por lei complementar para que os Estados legislem sobre questões específicas de Direito Penal (art.</p><p>22, parágrafo único, da CF);</p><p>7. Direito Penal Objetivo: é o conjunto de leis penais em vigor;</p><p>8. Direito Penal Subjetivo: é o direito de punir (ius puniendi), que pertence exclusivamente ao Estado</p><p>e nasce quando uma lei penal é violada;</p><p>9. Direito Penal Substantivo: é o direito penal material, propriamente dito. É o que consta no Código</p><p>Penal;</p><p>10. Direito Penal Adjetivo: também chamado de “formal” (grave as nomenclaturas), é o direito</p><p>processual penal.</p><p>#SELIGA: Direito Penal de Intervenção</p><p>Abordado por Hassemer. Segundo ele, o direito penal deve se preocupar apenas com os bens jurídicos</p><p>individuais, tais como a vida, patrimônio, propriedade etc., bem como de infrações penais que causem perigo</p><p>concreto. Por outro lado, se o intuito da previsão da infração é proteger apenas bem jurídico difuso, coletivo</p><p>ou de natureza abstrata, não deveria ser considerada uma infração penal. Deveria ser regulada por um</p><p>sistema jurídico diverso, com sanções mais brandas que as do direito penal, sem risco de privação da</p><p>liberdade do infrator, mas aplicadas também por uma autoridade judiciária, de forma mais célere e ampla,</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>15</p><p>podendo ser até mais efetiva, para não tornar o direito penal inócuo e simbólico. Exemplo no BR: Lei 8429/92.</p><p>Este seria o direito de intervenção.</p><p>O direito de intervenção estaria acima do direito administrativo, mas abaixo do direito penal.</p><p>Para o autor, de um lado, o Direito Penal, dada sua gravidade, não pode ser utilizado para a tutela de bens</p><p>jurídicos difusos, coletivos, transindividuais etc. Por outro lado, sabe-se que as autoridades administrativas</p><p>não possuem a independência necessária para a aplicação das penalidades. Por isso, propõe o Direito de</p><p>Intervenção.</p><p>Há críticas acerca de tal posicionamento na doutrina, pela dúvida de como seria a legitimidade e como atuaria</p><p>o direito de intervenção, bem como se tais sanções seriam suficientes para tutelar bens importantes que se</p><p>caracterizam como coletivos,</p><p>a prática de discursos dolosos, com intuito</p><p>manifestamente difamatório, de juízos depreciativos de mero valor, de injúrias</p><p>em razão da forma ou de críticas aviltantes. É possível vislumbrar restrições à livre</p><p>manifestação de ideias, inclusive mediante a aplicação da lei penal, em atos,</p><p>discursos ou ações que envolvam, por exemplo, a pedofilia, nos casos de discursos</p><p>que incitem a violência ou quando se tratar de discurso com intuito</p><p>manifestamente difamatório. A garantia da imunidade parlamentar não alcança</p><p>os atos praticados sem claro nexo de vinculação recíproca entre o discurso e o</p><p>desempenho das funções parlamentares. Isso porque as garantias dos membros</p><p>do Parlamento são vislumbradas sob uma perspectiva funcional, ou seja, de</p><p>proteção apenas das funções consideradas essenciais aos integrantes do Poder</p><p>Legislativo, independentemente de onde elas sejam exercidas. No caso, os</p><p>discursos proferidos pelo querelado teriam sido proferidos com nítido caráter</p><p>injurioso e difamatório, de forma manifestamente dolosa, sem qualquer hipótese</p><p>de prévia provocação ou retorsão imediata capaz de excluir a tipificação, em tese,</p><p>dos atos descritos nas queixas-crimes. Com base nesses entendimentos, a Segunda</p><p>Turma, por maioria, ao dar provimento a agravos regimentais, recebeu queixas-</p><p>crimes pelos delitos dos arts. 139 e 140 do Código Penal. Pet 8242 AgR/DF, Pet 8259</p><p>AgR/DF, Pet 8262 AgR/DF, Pet 8263 AgR/DF, Pet 8267 AgR/DF e Pet 8366 AgR/DF,</p><p>relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgamento</p><p>em 3.5.2022.</p><p>● A liberdade de expressão existe para a manifestação de opiniões contrárias, jocosas,</p><p>satíricas e até mesmo errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso de ódio ou</p><p>atentados contra o Estado Democrático de Direito e a democracia. STF. AP 1044/DF, relator</p><p>Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 20.4.2022 (Info 1051).</p><p>II. LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E CULTO – ART 5º, VI a VIII)</p><p>VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre</p><p>exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de</p><p>culto e a suas liturgias;</p><p>https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5719092</p><p>https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5727683</p><p>https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5727683</p><p>https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5727770</p><p>https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5727772</p><p>https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5730939</p><p>https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5765224</p><p>https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5719092</p><p>https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5719092</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>162</p><p>VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas</p><p>entidades civis e militares de internação coletiva;</p><p>VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de</p><p>convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal</p><p>a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;</p><p>Assegura-se a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, sendo garantido o livre</p><p>exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.</p><p>▪ Liberdade de crença: é a liberdade de pensamento de foro íntimo em questões de natureza</p><p>religiosa, incluindo o direito de professar ou não uma religião, de acreditar ou não na existência</p><p>de um, em nenhum ou em vários deuses (art. 5º, VI); e</p><p>▪ Liberdade de consciência em sentido estrito: é a liberdade de pensamento de foro íntimo em</p><p>questões não religiosas.</p><p>Obs.: o art. 5º, VII, da CF/88 também assegura, nos termos da lei, a prestação de assistência</p><p>religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.</p><p>É constitucional a instituição, por lei municipal, de feriado local para a</p><p>comemoração do Dia da Consciência Negra, a ser celebrado em 20 de novembro,</p><p>em especial porque a data representa um símbolo de resistência cultural e</p><p>configura ação afirmativa contra o preconceito racial. ADPF 634/SP, relatora</p><p>Ministra Cármen Lúcia, julgamento finalizado em 30.11.2022</p><p>É inconstitucional norma que proíbe proselitismo em rádios comunitárias</p><p>É inconstitucional o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.612/98. Esse dispositivo proíbe, no</p><p>âmbito da programação das emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de</p><p>proselitismo, ou seja, a transmissão de conteúdo tendente a converter pessoas a</p><p>uma doutrina, sistema, religião, seita ou ideologia.</p><p>O STF entendeu que essa proibição afronta os arts. 5º, IV, VI e IX, e 220, da</p><p>Constituição Federal. A liberdade de pensamento inclui o discurso persuasivo, o uso</p><p>de argumentos críticos, o consenso e o debate público informado e pressupõe a</p><p>livre troca de ideias e não apenas a divulgação de informações.</p><p>STF. Plenário. ADI 2566/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min.</p><p>Edson Fachin, julgado em 16/5/2018 (Info 902).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>163</p><p>A incitação de ódio público feita por líder religioso contra outras religiões pode</p><p>configurar o crime de racismo</p><p>A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus</p><p>seguidores não está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade</p><p>de expressão.</p><p>STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli,</p><p>julgado em 6/3/2018 (Info 893).</p><p>É inconstitucional lei estadual que obriga que as escolas e bibliotecas públicas</p><p>tenham um exemplar da Bíblia. No Amazonas, foi editada lei estadual obrigando</p><p>as escolas e bibliotecas públicas a terem pelo menos uma Bíblia disponível para</p><p>consulta. Esta lei é inconstitucional. Isso porque o art. 19, I, da CF/88 prevê a</p><p>laicidade estatal. STF. Plenário. ADI 5258/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em</p><p>12/4/2021. (Info 1012)</p><p>DICA DD: Não confundir- o STF entendeu que a CF/88 não proíbe que sejam</p><p>oferecidas aulas de uma religião específica, que ensine os dogmas ou valores</p><p>daquela religião. Não há qualquer problema nisso, desde que se garanta</p><p>oportunidade a todas as doutrinas religiosas. STF. Plenário. ADI 4439/DF, rel. orig.</p><p>Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em</p><p>27/9/2017 (Info 879).</p><p>É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade</p><p>religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz</p><p>africana. RE 494601/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson</p><p>Fachin, julgado em 28/3/2019. (Info 935)</p><p>III. LIBERDADE DE ATIVIDADE INTELECTUAL, ARTÍSTICA, CIENTÍFICA OU DE COMUNICAÇÃO – ART. 5º, IX,</p><p>CF/88</p><p>IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,</p><p>independentemente de censura ou licença;</p><p>É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,</p><p>independentemente de censura ou licença.</p><p>Veda-se a censura de natureza política, ideológica e artística (art. 220, § 2.º), porém, apesar da</p><p>liberdade de expressão acima garantida, lei federal deverá regular as diversões e os espetáculos públicos,</p><p>cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais</p><p>e horários em que sua apresentação se mostre inadequada.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>164</p><p>Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,</p><p>sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,</p><p>observado o disposto nesta Constituição.</p><p>§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.</p><p>§ 3º Compete à lei federal:</p><p>I - regular as diversões</p><p>difusos ou de natureza abstrata.</p><p>2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS</p><p>O estudo do crime, do criminoso e da sanção penal é o objeto de várias ciências, tendo sido chamadas</p><p>por José Cerezo Mir de “enciclopédia de ciências penais”.</p><p>A doutrina não é uníssona acerca de quantas ou quais exatamente seriam elas, mas, para o nosso</p><p>estudo, as mais importantes são a dogmática, a criminologia e a política criminal.</p><p>I – DOGMÁTICA PENAL: tem por objetivo interpretar de forma sistemática o direito penal, entendendo o</p><p>sentido das normas e aplicando-o de forma lógico-racional (não emocional).</p><p>Obs.: Dogmática ≠ Dogmatismo: Dogmatismo é a aceitação cega de verdades tidas como absolutas e</p><p>imutáveis (deve ser desprezado). Se opõe à ideia de ciência, que admite flexibilização, na qual estaria</p><p>enquadrada a dogmática.</p><p>II – CRIMINOLOGIA: A criminologia, de acordo com Luiz Flávio Gomes e Antônio Molina, é uma ciência</p><p>empírica (estuda o que “é”, ao contrário do direito penal, que estuda o que “deve ser” – caracterizando-se</p><p>como uma ciência valorativa e normativa) e interdisciplinar (observa diversos fatores: econômicos, políticos,</p><p>sociais, religiosos etc.), a qual estuda o crime, a vítima, o criminoso e o controle social. Suas constatações se</p><p>dão a partir da observação daquilo que acontece na realidade social, na experiência.</p><p>Ps.: Gravando as palavras-chave sobre as características da criminologia, que são diversas das do</p><p>direito penal, vocês já matam várias questões!</p><p>III – POLÍTICA CRIMINAL: trabalha com estratégias e mecanismos de controle social da criminalidade, para</p><p>que os bens jurídicos relevantes sejam protegidos. Possui a característica de vanguarda, pois orienta a criação</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>16</p><p>e a reforma das leis, a partir de uma análise crítica acerca destas estarem ou não cumprindo os fins a que se</p><p>propõem, considerando dados obtidos por outros ramos (como a criminologia).</p><p>Funciona como “filtro” entre a letra fria da lei e a realidade social. Revela as leis que “pegam” e as que não.</p><p>2.1 Direito Penal X Criminologia X Política Criminal</p><p>O ponto mais cobrado desse tópico é, sem dúvidas, a diferença entre direito penal, criminologia e</p><p>política criminal.</p><p>DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA POLÍTICA CRIMINAL</p><p>Ciência normativa e valorativa, que</p><p>analisa os fatos humanos</p><p>indesejados e define quais devem</p><p>ser tipificados como crime ou</p><p>contravenção.</p><p>Ciência empírica e</p><p>interdisciplinar, que estuda o</p><p>crime, o criminoso, a vítima e o</p><p>controle social.</p><p>Trabalha as estratégias e meios</p><p>de controle social da</p><p>criminalidade.</p><p>Ocupa-se do crime enquanto</p><p>norma.</p><p>Ocupa-se do crime enquanto</p><p>fato.</p><p>Ocupa-se do crime enquanto</p><p>valor.</p><p>Ex: Define o crime de roubo.</p><p>Ex: Quais fatores contribuem</p><p>para o crime de roubo.</p><p>Ex: Estuda como diminuir os</p><p>casos de roubo.</p><p>VAMOS LEMBRAR:</p><p>Vitimologia: é o estudo da vítima em seus diversos planos. Inicialmente, a análise era quanto às formas de</p><p>contribuição da vítima para a prática dos crimes. Modernamente, tal estudo preocupa-se também com a</p><p>proteção destas no momento posterior à prática do crime, como por exemplo com a sua reinserção na</p><p>sociedade. No direito brasileiro, temos o exemplo da composição dos danos civis (art. 74, parágrafo único,</p><p>Lei 9.099/95) - TERCEIRAVIA</p><p>Ademais, uma das circunstâncias judiciais que deve ser considerada na fixação da pena base é o</p><p>comportamento da vítima (art. 59, CP).</p><p>2.2 Seletividade - Criminalização Primária e Secundária (Zaffaroni)</p><p>Sobre a seletividade, define Zaffaroni:</p><p>“Ao menos em boa medida, o sistema penal seleciona pessoas ou ações, como</p><p>também criminaliza certas pessoas segundo sua classe e posição social. [...] Há</p><p>uma clara demonstração de que não somos todos igualmente ‘vulneráveis’ ao</p><p>sistema penal, que costuma orientar-se por ‘estereótipos’ que recolhem os</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>17</p><p>caracteres dos setores marginalizados e humildes, que a criminalização gera</p><p>fenômeno de rejeição do etiquetado como também daquele que se solidariza ou</p><p>contata com ele, de forma que a segregação se mantém na sociedade livre. A</p><p>posterior perseguição por parte das autoridades com rol de suspeitos</p><p>permanentes, incrementa a estigmatização social do criminalizado (ZAFFARONI;</p><p>PIERANGELI, 2011, p. 73).” (Guarda relação com o movimento do labeling approach</p><p>/ teoria da reação social / da rotulação social / do etiquetamento social – tema que</p><p>deve ser estudado de modo mais aprofundado na matéria de criminologia.)</p><p>Nesse contexto, o processo de criminalização pode ser dividido em dois:</p><p>a) Criminalização primária: É a elaboração e sanção das leis penais, introduzindo formalmente no</p><p>ordenamento jurídico a tipificação de determinadas condutas.</p><p>b) Criminalização secundária: É a ação punitiva que recai sobre pessoas concretas. Quando recai sobre</p><p>o indivíduo a persecução penal após ser a ele atribuída a prática de um ato primariamente</p><p>criminalizado. É praticada pela Polícia e Poder Judiciário.</p><p>* ATENÇÃO: Além do momento da elaboração e aplicação da norma, a seletividade também vai se mostrar</p><p>presente no momento da execução da pena.</p><p>- SELIGA: Você sabe o que é Direito Penal Subterrâneo e Direito Penal Paralelo? Referem-se aos sistemas</p><p>penais paralelos e subterrâneos.</p><p>De acordo com Zaffaroni, “sistema penal é o conjunto das agências que operam a criminalização primária e</p><p>a criminalização secundária ou que convergem na sua produção”.</p><p>Direito Penal Paralelo: Como o sistema penal formal do Estado não obtêm êxito em grande parte da</p><p>aplicação e exercício do poder punitivo, outras agências apropriam-se desse espaço e o exercem de modo</p><p>paralelo ao estado (criando sistemas penais paralelos). Ex.:médico que aprisiona doentes mentais;</p><p>institucionalização pelas autoridades assistenciais dos morados de rua etc.).</p><p>Direito Penal Subterrâneo: ocorre quando as instituições oficiais atuam com poder punitivo ilegal,</p><p>acarretando abuso de poder. Ex.: institucionalização de pena de morte (execução sem processo),</p><p>desaparecimentos, torturas, extradições mediante sequestro, grupos especiais de inteligência que atuam</p><p>fora da lei etc.</p><p>3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO</p><p>Direito Penal do Fato – Adotado pelo Ordenamento Penal Brasileiro – consiste que o direito penal</p><p>deve punir condutas, ou seja, fatos, praticados pelos indivíduos que sejam lesivas a bens jurídicos de</p><p>terceiros. Pune-se o fato. A base para esse princípio está no Estado de Direito.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>18</p><p>Importante frisar que se considera circunstâncias relacionadas ao autor, especificamente quando da</p><p>análise da pena. Ex: art. 59 do CP; Reincidência.</p><p>Está atrelado ao Princípio da exteriorização ou materialização do fato, pelo qual o Estado só pode</p><p>incriminar condutas humanas voluntárias (fatos). Assim, ninguém pode ser castigado por seus pensamentos,</p><p>desejos ou meras cogitações ou estilo de vida.</p><p>O princípio da exteriorização serviu para o legislador acabar com as infrações penais que</p><p>desconsideravam esse mandamento. Ex: Mendicância (art. 60 L.C.P. – abolido), tal crime adotava o direito</p><p>penal do autor.</p><p>Por sua vez, o direito Penal do autor consiste na punição do indivíduo baseada em seus</p><p>pensamentos, desejos e estilo de vida, condições pessoais, do modo de ser, grau de culpabilidade</p><p>(reprovabilidade), antecedentes do autor, está interligado ao Direito Penal do Inimigo. Aqui teríamos uma</p><p>inobservância do princípio da exteriorização do fato.</p><p>Obs: Coculpabilidade e coculpabilidade às avessas (Zaffaroni)</p><p>Coculpabilidade é corresponsabilidade do Estado no cometimento de determinados delitos, praticados por</p><p>cidadãos que possuem menor âmbito de autodeterminação diante das circunstâncias do caso concreto,</p><p>principalmente no que se refere</p><p>a condições sociais e econômicas do agente, o que enseja menor reprovação</p><p>social, segundo o princípio da coculpabilidade, o Estado-juiz haveria de considerar como atenuante as</p><p>condições socioeconômicas do réu no momento na aplicação da pena. Veja que o artigo 66 do Código Penal</p><p>autoriza ao Juiz esse postulado, através da, chamada pela doutrina, atenuante inominada. A outra face da</p><p>teoria da coculpabilidade pode ser identificada como a coculpabilidade às avessas, por meio da qual defende-</p><p>se a possibilidade de reprovação penal mais severa no tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de</p><p>elevado poder econômico, e que abusam desta vantagem para a execução de delitos, em regra</p><p>prevalecendo-se das facilidades proporcionadas pelo livre trânsito nos centros de controle político e</p><p>econômico.</p><p>4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI)</p><p>4.1 Conceito</p><p>Para Ferrajoli, “o garantismo é entendido no sentido do ESTADO CONSTITUCIONAL DE DIREITO, isto</p><p>é, aquele conjunto de vínculos e de regras racionais impostos a todos os poderes na tutela dos direitos de</p><p>todos, representa o único remédio para os poderes selvagens”.</p><p>4.2. Garantias primárias e secundárias</p><p>O autor distingue as garantias em duas grandes classes: as garantias primárias e as garantias</p><p>secundárias:</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>19</p><p>● Garantias primárias – limites e vínculos normativos: Consistem nas proibições e obrigações, formais</p><p>e substanciais, impostos na tutela dos direitos, ao exercício de qualquer poder;</p><p>● Garantias secundárias – diversas formas de reparação: Subsequentes às violações das garantias</p><p>primárias, diz respeito à anulabilidade dos atos inválidos e a responsabilidade pelos atos ilícitos.</p><p>- Ex: a CF prevê como garantia primária que não haverá pena de banimento. O legislador não a</p><p>observa e comina tal pena a determinado crime. Neste caso, será utilizado o controle de</p><p>constitucionalidade, previsto na própria constituição como garantia secundária, julgando o ato nulo.</p><p>* ATENÇÃO: Para o garantismo de Ferrajoli, o juiz não é um mero aplicador da lei, um mero executor da</p><p>vontade do legislador ordinário. Ele é, antes de tudo, o guardião de direitos fundamentais.</p><p>4.3 Máximas do garantismo</p><p>☠ Questão cobrada na 2ª fase do concurso para o cargo de Delegado do Estado do</p><p>Mato Grosso do Sul em 2017</p><p>● Nulla poena sine crimine: somente será possível a aplicação de pena quando houver, efetivamente, a</p><p>prática de determinada infração penal;</p><p>● Nullum crimen sine lege: a infração penal deverá sempre estar expressamente prevista na lei penal;</p><p>● Nulla lex (poenalis) sine necessitate: a lei penal somente poderá proibir ou impor determinados</p><p>comportamentos, sob a ameaça de sanção, se houver absoluta necessidade de proteger determinados</p><p>bens, tidos como fundamentais ao nosso convívio em sociedade, (direito penal mínimo);</p><p>● Nulla necessitas sine injuria: as condutas tipificadas na lei penal devem, obrigatoriamente, ultrapassar</p><p>a sua pessoa, isto é, não poderão se restringir à sua esfera pessoa, à sua intimidade, ou ao seu</p><p>particular modo de ser, somente havendo possibilidade de proibição de comportamentos quando</p><p>estes vierem a atingir bens de terceiros;</p><p>● Nulla injuria sine actione: as condutas tipificadas só podem ser exteriorizadas mediante a ação do</p><p>agente, ou omissão, quando previsto em lei;</p><p>● Nulla actio sine culpa: somente as ações culpáveis podem ser reprovadas;</p><p>● Nulla culpa sine judicio: é necessário adoção de um sistema nitidamente acusatório, com a presença</p><p>de um juiz imparcial e competente para o julgamento da causa;</p><p>● Nullum judicium sine accusatione: o juiz que julga não pode ser responsável pela acusação;</p><p>● Nulla accusatio sine probatione: fica a cargo do acusador todo o ônus probatório, que não poderá ser</p><p>transferido para o acusado da prática de determinada infração penal;</p><p>● Nulla accusatio sine defensione: deve ser assegurada ao acusado a ampla defesa, com todos os</p><p>recursos a ela inerentes.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>20</p><p>#ATENÇÃO! Em que consiste o garantismo penal integral?</p><p>O Direito penal deve se prestar a garantir não somente os direitos e garantias dos acusados, mas todos os</p><p>direitos e deveres previstos na Constituição. Em que pese não se possa tolerar violações arbitrárias e</p><p>desproporcionais aos direitos daquele sob o qual recai o jus puniendi estatal, não se pode também deixar de</p><p>proteger outros bens que também são juridicamente relevantes para a sociedade.</p><p>Tudo isso deve passar pelo crivo da proporcionalidade.</p><p>Desse modo, o garantismo divide-se em:</p><p>a) Garantismo negativo: visa limitar a função punitiva do Estado, que deve ser aplicada estritamente aos</p><p>casos necessários e em medida adequada, consistindo na proibição de excesso.</p><p>b) Garantismo positivo: busca evitar a impunidade e garantir que os bens jurídicos relevantes à sociedade</p><p>sejam efetivamente protegidos, caracterizando-se pela proibição da proteção insuficiente.</p><p>Quando apenas o garantismo negativo é observado, surge o chamado “garantismo hiperbólico monocular”</p><p>(grave este nome). Hiperbólico: por ser aplicado de modo desproporcional e exagerado. Monocular: por</p><p>enxergar apenas um lado, opondo-se ao garantismo integral.</p><p>5. DIREITO PENAL DO INIMIGO</p><p>a) Conceito: Aquele que viola o sistema deve ser considerado e tratado como inimigo. O delinquente,</p><p>autor de determinados crimes, não é ou não deve ser considerado como cidadão, mas como um “cancro</p><p>societário”, que deve ser extirpado (Munhoz Conde).</p><p>Jakobs fomenta o Direito Penal do inimigo para o terrorista, traficante de drogas, de armas e de</p><p>seres humanos e para os membros de organizações criminosas transnacionais (vide lei 12.850/2013).</p><p>Destaque-se que nem todo criminoso é inimigo, apenas uma parcela reduzida de criminosos é que</p><p>entra neste rol.</p><p>b) Características do direito penal do inimigo:</p><p>● Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios: O legislador é impaciente, não</p><p>aguarda o início da execução para punir o agente);</p><p>● É um direito penal prospectivo e não retrospectivo, na medida em que se pune o inimigo pelo que</p><p>ele poderá fazer, em razão do perigo que representa;</p><p>● O inimigo não é visto como um sujeito de direitos, pois perdeu seu status de cidadão;</p><p>● Pune-se o inimigo pela sua periculosidade e não pela sua culpabilidade, como é no direito penal</p><p>comum;</p><p>● Criação de tipos de mera conduta;</p><p>● Previsão de crimes de perigo abstrato: normalmente, pode haver crimes de perigo abstrato, mas</p><p>sem abusos, flexibilização o princípio da lesividade;</p><p>● As garantias processuais aplicadas ao inimigo são relativizadas ou até mesmo suprimidas.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>21</p><p>● Flexibilização do Princípio da Legalidade: é a descrição vaga dos crimes e das penas. A descrição</p><p>genérica de um crime permite a punição de mais condutas/comportamentos;</p><p>● Inobservância dos Princípios da Ofensividade: relação com a criação de crimes de perigo abstrato)</p><p>e da Exteriorização do Fato (relação com o direito penal do autor);</p><p>● Preponderância do Direito Penal do autor: Flexibilização do princípio da exteriorização do fato;</p><p>● Desproporcionalidade das penas;</p><p>● Surgimento das chamadas “leis de luta ou de combate”: Exemplo - Lei 8.072/90 e Lei 12.850/2013.</p><p>Alguns doutrinadores sustentam que tais leis têm predicados de direito penal do inimigo;</p><p>● Endurecimento da Execução Penal: O regime disciplinar diferenciado é um resquício do direito penal</p><p>do inimigo;</p><p>*ATENÇÃO: O Direito Penal do inimigo também é conhecido como a “terceira velocidade do Direito Penal”.</p><p>Isto porque se aplica a pena de prisão e também por ser extremamente célere, já que suprime direitos e</p><p>garantias.</p><p>5.1 Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez)</p><p>Segundo, Cleber Masson (2017, p. 111) a teoria das velocidades</p><p>do direito penal “parte do</p><p>pressuposto de que o Direito Penal, no interior de sua unidade substancial, contém dois grandes blocos,</p><p>distintos, de ilícitos: o primeiro das infrações penais às quais são cominadas penas de prisão (direito penal</p><p>nuclear), e o segundo, daqueles que se vinculam aos gêneros diversos de sanções penais (direito penal</p><p>periférico)”.</p><p>● Primeira velocidade: Direito Penal “da prisão”, aplicando-se penas privativas de liberdade como</p><p>resposta aos crimes praticados, com a rígida observância das garantias constitucionais e processuais.</p><p>Aplicada a delitos graves.</p><p>● Segunda velocidade: Direito penal reparador. São aplicadas aqui penas alternativas à prisão, como</p><p>restritivas de direitos ou pecuniárias, de forma mais rápida, sendo admissível, para tanto, uma</p><p>flexibilização proporcional dos princípios e regras processuais. Aplicável a delitos de menor</p><p>gravidade.</p><p>☠ Foi tema da prova discursiva do concurso de Delegado do Espírito Santo em 2019!</p><p>● Terceira velocidade: Novamente temos aqui a prisão por excelência. Contudo, difere-se da primeira</p><p>por permitir a flexibilização e até a supressão de determinadas garantias. Aplicada aos delitos de</p><p>maior gravidade.</p><p>Remete ao direto penal do inimigo, já explicado acima.</p><p>Também poderiam constituir exemplos a Lei de Crimes Hediondos e a Lei de Organizações Criminosas</p><p>na legislação pátria.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>22</p><p>● Quarta velocidade: Neopunitivismo. Ligada ao direito internacional. É o processamento e</p><p>julgamento pelo TPI de chefes de Estado que violarem tratados e convenções internacionais de tutela</p><p>de Direitos Humanos e praticarem crimes de lesa-humanidade, de modo que, por esta razão, se</p><p>tornarão réus perante o referido tribunal e terão, dentro do contexto, suas garantias penais e</p><p>processuais penais diminuídas.</p><p>● Quinta velocidade: hodiernamente, já se fala em Direito Penal de 5ª (quinta) velocidade, que trata</p><p>de uma sociedade com maior assiduidade do controle policial, o Estado com a presença maciça de</p><p>policiais na rua, no cenário onde o Direito Penal tem o escopo de responsabilizar os autores, diante</p><p>da agressividade presente em nossa sociedade de relações complexas e, muitas vezes,</p><p>(in)compreensíveis. #PERTINÊNCIATEMÁTICA</p><p>6. FONTES DO DIREITO PENAL</p><p>☠ Foi tema de prova oral do concurso de Delegado de Polícia de Minas Gerais em</p><p>2018</p><p>São as formas pelas quais o direito penal é criado e, posteriormente, manifestado.</p><p>a) Fonte Material: Diz respeito à criação do Direito Penal. Via de regra, é a União, art.22, I, da CF/88, pois</p><p>“compete privativamente à União legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,</p><p>marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”.</p><p>*Atenção: O artigo 22, parágrafo único, CF/88, prevê que “Lei Complementar poderá autorizar os Estados a</p><p>legislar sobre questões específicas relacionadas neste artigo”, o que permite entender que abarca, inclusive,</p><p>o Direito Penal. Então podemos ter uma lei complementar autorizando o estado a legislar sobre questões</p><p>específicas de direito penal. É chamada DELEGAÇÃO EM PRETO – pois essa lei complementar não pode</p><p>delegar genericamente. Têm que ser pontos específicos/questões específicas.</p><p>Obs.: Medida provisória pode versar sobre direito penal?</p><p>R.: A EC 32/01 inseriu dispositivo expresso na CF/88 vedando a edição de medida provisória versando</p><p>sobre direito penal. Até 2001 não existia regra expressa na CF/88 vedando a edição de medida provisória</p><p>sobre matéria penal. Tanto que o próprio STF, antes dessa EC 32, apreciou o RE 254.818/PR – 2000,</p><p>especificando que MP não poderia versar sobre direito penal, exceto se favorável ao réu.</p><p>Esse julgado (2000), anterior à EC 32/2001, que estabeleceu ser possível a edição de medida</p><p>provisória quando favorável ao réu, subsistiria após a EC 32/01, considerando que, com essa EC, passou-se a</p><p>vedar, de forma abstrata, a edição de medida provisória sobre matéria penal?</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>23</p><p>R.: A doutrina e a jurisprudência são pacíficas no sentido de que é possível a edição de medida</p><p>provisória versando sobre direito penal quando favorável ao réu, de modo que o entendimento exarado no</p><p>bojo do RE 254.818 subsistiria após a edição da EC 32/01.</p><p>Segundo explica o autor Cleber Masson, "É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria</p><p>relativa a Direito Penal (CF, art. 62, § 1.º, I, alínea b), seja ela prejudicial ou mesmo favorável ao réu. Nada</p><p>obstante, o Supremo Tribunal Federal historicamente firmou jurisprudência no sentido de que as medidas</p><p>provisórias podem ser utilizadas na esfera penal, desde que benéficas ao agente". (MASSON, Cleber.</p><p>Direito Penal. Parte Geral. Volume 1. 13ª edição. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2019, p. 97).</p><p>STF no RE 254818/PR:</p><p>I. Medida provisória: sua inadmissibilidade em matéria penal - extraída pela doutrina consensual -</p><p>da interpretação sistemática da Constituição -, não compreende a de normas penais benéficas, assim, as</p><p>que abolirem crimes ou lhes restringem o alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de</p><p>isenção de pena ou de extinção de punibilidade. II. Medida provisória: conversão em lei após sucessivas</p><p>reedições, com cláusula de "convalidação" dos efeitos produzidos anteriormente: alcance por esta de</p><p>normas não reproduzidas a partir de uma das sucessivas reedições. III. MPr 1571-6/97, art. 7º, § 7º,</p><p>reiterado na reedição subsequente (MPr 1571-7, art. 7º, § 6º), mas não reproduzido a partir da reedição</p><p>seguinte (MPr 1571-8 /97): sua aplicação aos fatos ocorridos na vigência das edições que o continham, por</p><p>força da cláusula de "convalidação" inserida na lei de conversão, com eficácia de decreto-legislativo.(STF -</p><p>RE: 254818 PR, Relator: SEPÚLVEDA PERTENCE, Data de Julgamento: 08/11/2000, Tribunal Pleno, Data de</p><p>Publicação: DJ 19-12-2002 PP-00081 EMENT VOL-02096-07 PP-01480 RTJ VOL-00184-01 PP-00301).</p><p>b) Fonte Formal: Diz respeito à aplicação do Direito Penal. Esse ponto varia um pouco de doutrinador para</p><p>doutrinador.</p><p>DOUTRINA CLÁSSICA DOUTRINA MODERNA</p><p>Imediata:</p><p>● Lei (Desdobramento do princípio da</p><p>reserva legal, que prevê a criação de</p><p>crime e cominação de penas como</p><p>um monopólio da lei. Aqui, estamos</p><p>falando em lei ordinária).</p><p>Imediata:</p><p>● Lei</p><p>● Constituição Federal</p><p>● Tratados Internacionais de Direitos Humanos</p><p>● Jurisprudência</p><p>● Princípios</p><p>● Atos administrativos (complementos de normas</p><p>penais em branco).</p><p>*Porém, até mesmo aqui, a única fonte formal que pode</p><p>criar tipos penais e culminar penas é a lei (reserva legal).</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>24</p><p>O restante é fonte não-incriminadora.</p><p>Mediatas:</p><p>● Costumes</p><p>● Princípios gerais do Direito</p><p>● *Alguns colocam atos</p><p>administrativos.</p><p>Mediatas:</p><p>● Doutrina</p><p>Fonte informal:</p><p>● Costumes</p><p>i. Lei - É o único instrumento normativo capaz de criar infração penal e cominar sanção penal (única</p><p>fonte formal imediata incriminadora).</p><p>ii. Constituição Federal – Não cria infração penal e não comina sanção penal (nem pena, nem medida</p><p>de segurança).</p><p>☞ Pergunta (fase oral MP/SP) – Se a lei pode criar crimes e cominar penas, por que a CF, que é uma norma</p><p>superior à lei, não pode fazer isso (afinal, quem pode o mais pode o menos)? Em razão de seu processo</p><p>moroso de alteração. Ademais, a CF não pode criar crime e nem alterar pena, pois o seu processo de</p><p>alteração é super rígido e incompatível com as necessidades do direito penal.</p><p>☞ CUIDADO! A Constituição Federal, porém, fixa alguns patamares abaixo dos quais a intervenção penal</p><p>não se pode reduzir. São os chamados “mandados constitucionais de criminalização” (patamares</p><p>mínimos). Exemplos de mandados constitucionais de criminalização:</p><p>Art.5º, XLI, CF – a lei punirá qualquer discriminação</p><p>atentatória dos direitos e</p><p>liberdades fundamentais.</p><p>Art. 5º, XLII, CF – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,</p><p>sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. (Observe que o constituinte disse que</p><p>quem vai criar o crime de racismo é a lei, mas quando esse crime for criado, a lei</p><p>deve puni-lo com, no mínimo, reclusão, qualquer que seja a pena).</p><p>Art.5º, XLIII, CF – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou</p><p>anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o</p><p>terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os</p><p>mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;</p><p>☞ Pergunta de Concurso: Existe mandado constitucional de criminalização implícito ou tácito?</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>25</p><p>R: De acordo com a maioria, existem mandados constitucionais de criminalização implícitos, com a</p><p>finalidade de evitar a intervenção insuficiente do Estado (imperativo de tutela). No mais, sustenta a maioria</p><p>que sim, decorrente do nosso sistema jurídico de proteção dos direitos humanos. Por exemplo, a nossa</p><p>Constituição, ao garantir o direito à vida, está, implicitamente, determinando a criminalização do homicídio</p><p>(se todos têm direito à vida, não se pode permitir que o homicídio não seja crime).</p><p>iii. Tratados Internacionais de Direitos Humanos (TIDH)</p><p>Como é sabido, os TIDH entram no ordenamento interno podendo ostentar 02 status:</p><p>⦁ Se recepcionados com quórum de emenda constitucional, têm status de emenda;</p><p>⦁ Se o TIDH for recepcionado com quórum comum, terá status infraconstitucional, porém supralegal.</p><p>ATENÇÃO: Os tratados internacionais podem ser classificados como fonte do direito penal apenas quando</p><p>incorporados ao direito interno. Se versar sobre direitos humanos e for aprovado seguindo o rito de</p><p>emendas constitucionais, terá força normativa de emendas constitucionais (art. 5º, §3°, CF). Caso não siga</p><p>tal rito, terá força de norma supralegal.</p><p>iv. Jurisprudência</p><p>Não cria crime; não comina pena. Mas, na prática, às vezes, a jurisprudência cria o direito penal.</p><p>Ademais, revela Direito Penal podendo inclusive ter caráter vinculante. Um exemplo disso é o caso do crime</p><p>continuado, em que a jurisprudência define o que são condições de tempo e lugar para fim de definição da</p><p>continuidade delitiva. A condição de tempo é de 30 dias de intervalo entre as infrações; a condição de lugar</p><p>também é definida pela jurisprudência.</p><p>Art. 71, CP – Quando o agente, mediante mais de uma ação e omissão, pratica 2 ou</p><p>mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de</p><p>execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como</p><p>continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou</p><p>a mais grave, se diversas, aumentada em qualquer caso, de 1/6 a 2/3.</p><p>Obs: Súmulas vinculantes – Elas também são fontes do direito penal.</p><p>a. Princípios - Não criam crime nem cominam pena. Mas vários são os julgados absolvendo ou</p><p>reduzindo pena com base em princípios. Ex: Princípio da Insignificância – causa de atipicidade</p><p>material.</p><p>Iremos aprofundar o estudo sobre os princípios mais adiante.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>26</p><p>b. Atos administrativos - Fonte formal imediata quando complementam norma penal em branco. Ex:</p><p>Lei de drogas é complementada por uma Portaria da ANVISA.</p><p>c. Doutrina: Para alguns autores, a doutrina não é fonte do direito penal por não ter força cogente, ou</p><p>seja, não ser revestida de obrigatoriedade.</p><p>d. Costumes</p><p>● Costume é a repetição de um comportamento (elemento objetivo) em face da crença na sua</p><p>obrigatoriedade (elemento subjetivo).</p><p>≠ de hábito, que consiste na mera repetição de comportamento (elemento objetivo), mas sem</p><p>a crença na sua obrigatoriedade.</p><p>● Costume não cria crime, não comina pena, só a Lei pode criar crimes e cominar penas, em razão do</p><p>princípio da legalidade (veda-se o costume incriminador).</p><p>Princípio da Legalidade x Costumes:</p><p>A lex scripta, uma das funções de garantia do princípio da legalidade – como veremos adiante - proíbe que</p><p>se utilize dos costumes como fonte incriminadora do direito penal (impossibilidade de utilizar costumes</p><p>para incriminar condutas ou cominar penas). Portanto, os costumes não têm o condão de criminalizar</p><p>condutas e nem cominar penas.</p><p>Qual a função dos costumes no direito penal?</p><p>De acordo com Nilo Batista e Zaffaroni, os costumes têm uma função integrativa ou integradora. Isso quer</p><p>dizer que os costumes desempenham a função de integrar a atribuição de sentidos de determinadas</p><p>expressões do tipo penal, em especial os elementos normativos do tipo. Trata-se de uma função</p><p>interpretativa/hermenêutica. Por exemplo: Art. 233, CPP – crime de ato obsceno. Quem vai determinar o</p><p>sentido de ato obsceno? Vai ser determinado pelo sentido compartilhado pela sociedade, de forma reiterada.</p><p>É um conceito normativo porque exige um juízo de valor, e esse juízo de valor é um juízo temperado e</p><p>contextualizado de acordo com a prática social da comunidade. Portanto, a função integrativa dos costumes</p><p>atua de forma muito mais efetiva nos elementos normativos do tipo (que exigem valoração).</p><p>● Espécies de costumes:</p><p>i. Costume secundum legem (costume interpretativo): possui a função de auxiliar o intérprete</p><p>a entender o conteúdo da lei. Por exemplo, ato obsceno (art. 233 do CP). Vai depender do</p><p>ambiente em que o ato foi praticado e dos costumes locais para que ele seja assim</p><p>considerado ou não.</p><p>ii. Costume contra legem (costume negativo): é chamado de DESUETUDO. É aquele que</p><p>contraria uma lei, mas não a revoga.Ex.: Venda de CDs piratas.</p><p>PREPARAÇÃO EXTENSIVA</p><p>DELEGADO DE POLÍCIA</p><p>SEMANA 01/30</p><p>27</p><p>iii. Costume praeter legem (costume integrativo): é aquele usado para suprir as lacunas da lei.</p><p>É válido, mas só pode ser usado no campo das normas penais não incriminadoras e apenas</p><p>para favorecer o agente. Ex.: a circuncisão em meninos de determinadas religiões não é</p><p>considerada crime.</p><p>#SELIGA: Existe costume abolicionista?</p><p>▪ 1ª Corrente: Admite-se o costume abolicionista, aplicado nos casos em que a infração penal não mais</p><p>contraria o interesse social. Defende a função derrogatória dos costumes. Ex. Para esta corrente, o</p><p>jogo do bicho não é mais contravenção penal.</p><p>▪ 2ª Corrente: Diz que não existe costume abolicionista. Quando o fato já não é mais indesejado pela</p><p>sociedade, o juiz não deve aplicar a lei. Ex: Para esta corrente, o jogo do bicho permanece</p><p>formalmente típico, porém não aplicável, sem eficácia social (não tem tipicidade material).</p><p>▪ 3ª Corrente (PREVALECE): Entende que não existe costume abolicionista. Enquanto não revogada</p><p>por outra lei, a norma tem plena eficácia. É a que prevalece e está de acordo com a lei de introdução</p><p>às normas do direito brasileiro. Ex: Jogo do bicho continua tipificado como contravenção penal,</p><p>sendo aplicável no caso concreto.</p><p>* ATENÇÃO: Para aqueles que não adotam a tese do costume abolicionista, é possível o uso do costume</p><p>segundo a lei (costume interpretativo), que vai servir para aclarar o significado de uma palavra, de um texto.</p><p>7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL</p><p>Princípios são os valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do sistema jurídico.</p><p>No caso dos princípios penais, eles vão orientar a atuação do legislador na elaboração da legislação penal e</p><p>do operador do direito em sua aplicação.</p><p>De acordo com o Professor Delegado Marcus Montez, esses princípios têm a chamada “força</p><p>normativa, força de impor ao legislador, intérprete, partes, particular. Nesse sentido, princípio não é apenas</p><p>aquele “princípio geral de direito”, pelo contrário, ele tem força cogente e impositiva”.</p><p>A função dos princípios é limitar o poder de punir do Estado. Isso</p>