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Teologia para todos 
 
 
TEOLOGIA 
SISTEMÁTICA I
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
1 
CRISTOLOGIA – A DOUTRINA DE CRISTO 
1. A PESSOA DE CRISTO NO ANTIGO TESTAMENTO 
1.1. O CONHECIMENTO DE CRISTO 
Na parte final de seu ministério terreno, Jesus Cristo perguntou aos seus discípulos: 
“Quem os homens dizem que o Filho do homem é?” Alguns pensavam ser ele João Batista, 
outros Elias ou Jeremias ou algum outro profeta. Mas, ele faz uma pergunta mais 
importante, uma pergunta pessoal: “E vocês, perguntou ele. Quem vocês dizem que eu 
sou?” Com esta pergunta, Jesus mostra que não está interessado nas várias ideias que já 
circulavam a respeito de quem ele era. O que ele pediu foi algo bem mais profundo, uma 
resposta de fé, que Pedro lhe oferece: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. 
Jesus é o Cristo, o Messias, o ungido há muito esperado, o mediador ordenado pelo 
Pai para ser o grande profeta, o sumo sacerdote e o eterno rei de seu povo. O humilhado 
e o exaltado. Ele é o Filho de Deus, que vive para sempre, a única fonte de vida. E esta 
resposta de Pedro é aprovada por Cristo: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto 
não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus” (Mt 16.13-
20). 
O conhecimento de quem é Cristo é atribuído por ele mesmo à revelação, não a uma 
experiência mística, ou à especulação ou à curiosidade racional. Este conhecimento é 
atribuído totalmente ao milagre da revelação. “Ninguém conhece o Filho a não ser o Pai, e 
ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 
11.27). O que antes estava oculto, agora vem à luz. Jesus é o Ungido, o Filho de Deus, o 
salvador, que morreu na cruz, derramando seu sangue “em favor de muitos, para perdão 
de pecados” (Mt 26.28), que ressuscitou dentre os mortos, ascendendo aos céus, e que 
tem autoridade sobre tudo no céu e na terra (Mt 28.18-20). 
Por isso, todos os detalhes do estudo da pessoa e obra de Cristo dependem 
integralmente da revelação que o próprio Deus faz de si mesmo nas Escrituras. Como o 
próprio Cristo afirmou: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
2 
de água viva. Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele 
cressem” (Jo 7.38-39). 
Não podemos separar o que cremos acerca de Cristo, do que afirmamos sobre a 
Escritura. Tudo o que sabemos sobre Cristo é baseado na verdade da Escritura. Sem a 
Escritura não podemos ter conhecimento seguro e salvador de quem é Cristo Jesus. E só 
poderemos ter uma vida abundante, uma vida da qual fluam os “rios de água viva” do 
Espírito Santo, se aprendermos sobre Cristo nas Escrituras. Esta revelação da Escritura é 
um milagre, um dom gracioso, e não fruto da carne e sangue. 
1.2. A PROMESSA DO REDENTOR 
“Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; 
este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar" (Gn 3.15). 
O livro de Gênesis inicia a sua narração de uma forma quase que poética e é 
interrompida por um momento dramático: a queda (Gn 3). A obra perfeita, a Criação de 
Deus, a sua obra-prima, criada do pó, à imagem e conforme a semelhança do Deus trino, 
torna-se manchada pelo pecado. Mesmo com a humanidade caída, pelo pecado de Adão, 
Deus promete a vinda do resgatador, do redentor, do messias, do descendente da mulher, 
o único ser humano que nascera sem o pecado de Adão, imaculado e santo (Gn 3.15, 
conhecido como “protoevangelho”, o primeiro anúncio da vinda de Cristo). 
Este redentor, o descendente da mulher, iria esmagar a cabeça da serpente, 
destruindo assim as suas obras, embora ele mesmo devesse sofrer em seu calcanhar. Toda 
a posterior história de Israel seria a história da preparação da nação para receber este 
ungido, o Messias. 
No Antigo Testamento, várias vezes aparece uma figura chamada de o Anjo do 
Senhor. Ele ajudou Agar no deserto, quando ela estava abandonada (Gn 16.7). Ele interveio 
quando Abraão estava pronto para sacrificar Isaque no altar (Gn 22.11). O Anjo do Senhor 
foi o protetor de Israel, na saída do Egito (Êx 14.19). E alguns textos não fazem distinção 
entre o Anjo do Senhor e o próprio Senhor. Assim, foi o Anjo do Senhor quem falou com 
Moisés na sarça ardente (Êx 3.2). Ele também apareceu diante de Gideão e o chamou para 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
3 
ser juiz (Jz 6.11-18). Em Daniel 3, Sadraque, Mesaque e Abede- Nego se recusaram a 
adorar a imagem de ouro, construída por ordem de Nabucodonosor, e foram jogados numa 
fornalha de fogo. Quando eles caíram na fornalha, o rei ficou espantado ao ver um quarto 
homem, um que era semelhante a um filho dos deuses, segundo o que o próprio rei 
declarou. Comentaristas judeus entendem que foi um anjo, mas intérpretes cristãos 
entendem que o que ocorreu foi uma teofania, ou seja, um aparecimento de Deus. É claro 
que, ao identificar em alguns textos o Anjo do Senhor como sendo Deus, podemos entender 
que aconteceram várias teofanias no Antigo Testamento. 
As teofanias, que eram também formas humanas temporárias que Deus tomou, 
podiam ser vistas e tocadas, mas elas não eram uma humanidade substancial. Eram 
apenas aparente, para que houvesse comunicação com os outros homens, objetos da 
revelação divina, e logo que a revelação terminava, aquela aparência física desaparecia 
(FERREIRA, 2007). 
A esperança do redentor que viria um dia foi ampliada pelos profetas e nos Salmos, 
Em Isaías 7.14 encontramos uma profecia que a igreja primitiva entendeu como uma 
afirmação da divindade de Jesus: “Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem 
ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel”. No seu contexto imediato, o 
texto se refere a um sinal dado, para que Acaz pudesse saber que os reis de Israel e Síria 
não teriam sucesso em sua guerra contra Judá. Uma virgem (‘almâh) teria um filho e o 
nome dele seria Emanuel (immãnü’ el). No entanto, as novas não são boas, pois o rei da 
Assíria virá para conquistar o povo de Judá e deixar a terra desolada (7.17- 8.8). Por outro 
lado, a profecia ofereceu a esperança de que a casa de Davi, apesar do desastre por vir, 
continuará. 
O significado de ‘almâh é, literalmente, uma moça, uma mulher jovem candidata ao 
casamento. Neste caso, o termo pressupõe que ela também é virgem. Assim, a Septuaginta 
traduz a palavra ‘almâh como “virgem” e Mateus a aplicou como uma profecia a respeito da 
concepção de Jesus (Mt 1.23). 
Isaías previu o nascimento daquele que teria os nomes: “Maravilhoso Conselheiro, 
Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9.6). O que interessa a respeito destes 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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adjetivos é que representam os atributos de Deus. A frase “Deus poderoso” (’êl gibbôr) 
poderia ser traduzida como “o Deus- homem forte”. Já “Pai de Eterno” obviamente é uma 
expressão que se refere a uma pessoa divina. Então, a promessa do Messias era a 
promessa da encarnação de uma pessoa divina. 
2. A PESSOA DE CRISTO NO NOVO TESTAMENTO 
2.1. A PROMESSA SE CUMPRE 
O nascimento de Jesus revela a qualidade excepcional de sua pessoa e vida. No centro da 
história de seu nascimento, está a mãe de Jesus, Maria. A respeito dela, devemos notar 
dois fatos. 
1. Ela era virgem quando engravidou. O texto afirma claramente que ela ficou grávida 
por obra do Espírito Santo, e não de seu noivo, José. A Bíblia é explícita quanto a isto. Os 
dois ainda não tinham se relacionado sexualmente, quando ela “achou-se grávida pelo 
Espírito Santo” (Mt 1.18). Quando Maria recebeu o anúncio do anjo Gabriel, ela respondeu: 
“Como acontecerá isso, se sou virgem?” (Lc 1.34). O Espírito Santo, através de uma obrasobrenatural, foi o agente da concepção de Jesus. 
2. Maria respondeu com humildade e alegria à vontade do Senhor em sua vida. Ela 
louvou ao Senhor e o chamou de “meu Salvador” (Lc 1.46-47), mostrando que ela entendeu 
a sua própria necessidade, como pecadora. Ela sabia que o Messias também seria o seu 
salvador. 
O testemunho bíblico sobre a concepção virginal se toma mais forte à luz da reação 
de José à gravidez de Maria. Primeiro, isto mostra que a doutrina não provém de um povo 
ingênuo e ignorante. José sabia muito bem que virgens não podem engravidar e, por isso, 
“não querendo expô- la à desonra pública, pretendia anular o casamento secretamente” (Mt 
1.19). É provável que ele não quisesse expor Maria ao castigo exigido pelo adultério, mas, 
de qualquer maneira, para que ele cresse que a gravidez de Maria era uma concepção 
milagrosa, foi necessário que José recebesse a visita de um mensageiro de Deus, em 
sonho: “Mas, depois de ter pensado nisso, apareceu-lhe um anjo do Senhor em sonho e 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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disse: "José, filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi 
gerado procede do Espírito Santo” (1.20). 
Nesse contexto, é interessante notar que Mateus relata que foi o anjo que veio do 
Senhor quem usou a profecia de Isaías 9.14 em conexão com o nascimento de Jesus. Isso 
não foi uma invenção de Mateus ou da igreja primitiva, mas sim, a interpretação que veio 
de Deus, dada através do anjo. 
É importante notar que, quando chegou a hora, Jesus nasceu como um bebê 
humano qualquer. Sua concepção foi sobrenatural, mas o nascimento foi normal. Ele era 
uma criança plenamente humana. Como qualquer recém-nascido, ele precisava de roupas, 
para não ficar com frio (Lc 2.12). Assim, sua mãe usou faixas, para cobri-lo. Sendo uma 
criança normal, ele cresceu física e intelectualmente (Lc 2.52). Depois, Jesus deu várias 
evidências da natureza física de sua existência humana. 
2.2. A NATUREZA HUNAMA DE JESUS 
A humanidade de Jesus é vista, por exemplo, quando ele ficou cansado e parou na 
fonte de Jacó (Jo 4.6). Jesus também pediu água, mostrando que estava com sede (Jo 
19.28). Os evangelhos sinóticos são claros, ao afirmarem que Jesus morreu de fato (Lc 
23.46-55). Ao ser perfurado pela lança, saiu sangue e água do “lado de Jesus” (Jo 19.34). 
Assim, Jesus participou em carne e sangue, como todos nós, da vida (Hb 2.14) e da morte. 
Essa participação não era apenas aparente, mas era uma participação literal na natureza 
humana. Jesus demonstrou ter emoções comuns à humanidade. Ao ver Maria chorar por 
causa da morte do seu irmão, Lázaro, ele “agitou-se (tarassõ) no espírito e comoveu-se” 
(embrimaomai) (Jo 11.33 ARA). A palavra tarassõ descreve, por exemplo, a agitação da 
multidão em Tessalônica, após as acusações dos judeus contra Paulo (At 17.8). É o estado 
de alguém que está muito estressado. Já embrimaomai comunica uma preocupação 
intensa ou um sentimento de forte indignação. 
O autor não empregou palavras que fazem referência apenas às pessoas divinas, 
mas uma linguagem que descreve a reação de qualquer ser humano. Jesus chorou com 
seus amigos (Jo 11.35). Ele sentiu a mesma agitação em seu espírito, quando pensou na 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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traição de Judas (Jo 13.21). Jesus, então, teve emoções como um ser humano verdadeiro, 
o que ele, de fato, era. 
Jesus não só chorou, mas, como homem, deve ter rido também, nos momentos 
apropriados. Ele mostrou um certo humor e carinho ao dar o nome “filhos do trovão” aos 
irmãos Tiago e João (Mc 3.17). Fica claro que essa era uma descrição que se adequava à 
personalidade daqueles dois discípulos, mas era também um qualificativo dado com a 
intenção de fazer graça. Outra emoção que Jesus demonstrou foi a ira. Ele chamou os 
fariseus de “raça de víboras” (Mt 12.34). E quando purificou o templo, ele empregou até 
mesmo força, virando as mesas e expulsando os vendedores com um chicote de cordas 
(Jo 2.15). 
Fica evidente que Jesus era plenamente homem no fato de que, quando o Filho de 
Deus assumiu a natureza humana, ele se tomou uma alma vivente, e não apenas habitou 
num corpo humano. Pode- se ver isto pela maneira como ele participava das várias 
experiências da vida humana. Ele foi “tentado (peirazõ)... como nós, passou por todo tipo 
de tentação, porém, sem pecado” (Hb 4.15). Em Hebreus 2.18, o autor usa a palavra 
peirazõ em referência a Jesus e aos cristãos, para mostrar que a tentação é igual para 
todos. A tentação de Jesus foi um apelo às suas necessidades físicas, como a fome, e o 
desejo legítimo de assumir seu reino. Hebreus 5.7-9 ensina que Jesus enfrentou uma 
tentação no Getsêmani (Lc 22.41-44), mas, apesar do horror da morte e da expiação que 
estava por vir, ele “aprendeu a obediência”. 
Jesus perseverou em meio à tentação e não pecou. Quando Jesus perguntou aos seus 
inimigos, “Qual de vocês pode me acusar de algum pecado?”, ninguém ousou responder 
(Jo 8.46). 
Segundo o testemunho do apóstolo, que andou com ele durante três anos, ele “não 
cometeu pecado algum, e nenhum engano foi encontrado em sua boca” (1Pe 2.22). Assim, 
Jesus “não tinha pecado” (2Co 5.21). Mesmo sendo plenamente humano, Jesus não teve 
uma natureza pecaminosa. Em Hebreus 7.26 encontramos uma série de palavras que 
destacam o fato de que Jesus era moralmente perfeito: “É de um sumo sacerdote como 
este que precisávamos: santo, inculpável, puro, separado dos pecadores, exaltado acima 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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dos céus.” A força dessas palavras afasta toda possibilidade de que Jesus tivesse qualquer 
pecado. 
2.3. NOMES, TÍTULOS E ATRIBUTOS DIVINOS 
Embora fosse plenamente humano, Jesus era mais do que somente humano. O 
Novo Testamento afirma a plena divindade de Jesus. Isto fica evidente ao se considerar 
alguns temas importantes aplicados a Jesus. 
Os autores do Novo Testamento citaram textos do Antigo Testamento sobre Deus, 
aplicando-os de forma consistente à pessoa de Jesus Cristo. Alguns exemplos são: 
• Seu trono é para sempre: (SI 45.6-7; 93.2 cf. Hb 1.18) 
• Ele enche o céu e a terra: (Jr 23.24 cf. Ef 4.10) 
• Ele é o criador (Gn.1.1 cf. Jo 1.1-3; Is 44.24; Cl 1.16) 
• O rei eterno (SI 145.13; Dn 7.14 cf. Lc 1.33) 
• O juiz de toda a terra (Gn 18.25; 2Co 5.10) 
• Nossa esperança (Sl. 39.7 1Tm 1.1) 
• Fonte de nossa força (Sl 119.28; Fl 4.13) 
• Único Salvador (Is 43.11; 49.26; Mt 1.21; 1Tm 1.15; At 15.11; Hb 5.9; 7.25) 
Os autores do Novo Testamento também atribuíram nomes divinos a Jesus. Ele foi 
chamado de 
• Deus (Mt 1.23; Jo 1.1; Rm9.5; Tt 1.3; 2.13) 
• Senhor (Mt 12.8; Mc 2.28; Rm 14.9) 
• “Senhor meu e Deus meu” (Jo 20.28) 
• Filho de Deus e Deus verdadeiro (1Jo 5.20) 
• Alfa e Ômega (Ap 1.8). 
 
 
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Outros títulos que Jesus assumiu também eram cheios de significado. 
Messias (Christos, o ungido) 
Este título nos remete a alguém ungido para realizar uma missão que envolve 
redenção, julgamento e representatividade do próprio Deus (Is 45.1-7), referindo-se à 
expectativa escatológica (Dn 9.25- 26), assim como à expectativa de um redentor que 
inaugurasse um reino sem fim (Is 9.1-7). Por isso, o objetivo dos evangelhos sinóticos foi 
apresentar Jesus como o Messias. O título e conceito de Messias, historicamente falando, 
se não teologicamente, é o mais importante de todos os conceitos cristológicos, porque se 
tornou o modo central para designar a compreensão cristã da pessoa de Jesus. Isto é 
provado pelo fato de que Christos, que é propriamente um título designativo de ‘ungido’, 
tornou-se logo um nome próprio. Jesus tornou-se conhecido não só como Jesus, o Cristo 
ou Messias (At 3.20), mas como Jesus Cristoou Cristo Jesus. A indicação de Jesus como 
o Cristo é uma das evidências do seu tríplice ofício como profeta, sacerdote e rei. 
Senhor (kyrios) 
Essa palavra ocorre 715 vezes no Novo Testamento. Ela foi amplamente empregada 
por Lucas, sendo que no evangelho essa palavra é utilizada 101 vezes e em Atos, 107 
vezes. Paulo a menciona 279 vezes, principalmente na epístola aos Romanos (44 vezes). 
O título kyrios é a designação mais frequente de Jesus no Novo Testamento, sendo o centro 
da mensagem de Paulo (2Co 4.5; 1Co 12.3). 
Devemos notar que o grego kyrios é a tradução dos quatro caracteres hebraicos 
usados para representar o nome de Deus, Yhwh (Javé), indicando que Jesus é o próprio 
Deus no exercício do domínio de toda a criação. O reconhecimento de que ‘Jesus é o 
Senhor’ (Rm 10.9) parece ter se tornado uma das primeiras confissões da fé cristã, servindo 
para distinguir entre os que creem e os que não creem em Jesus. 
Filho do Homem 
Jesus se intitulou Filho do Homem mais de 40 vezes e, a expressão ocorre cerca de 90 
vezes, aparecendo quase que exclusivamente nos evangelhos sinóticos. Devemos 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
9 
destacar que a expressão é atribuída por Jesus a si próprio, nunca pelos discípulos. O uso 
da expressão nos evangelhos sinóticos aplica-se a três situações na vida de Jesus: 
• O ministério terreno 
• A humilhação e morte 
• A vinda gloriosa no futuro, para inaugurar o reino de Deus. 
Os judeus aparentemente desconheciam o significado deste nome aplicado a um ser 
humano (Jo 9.35-36, 12.23, 34) pois, provavelmente, não havia conotação messiânica 
neste nome, mas, na verdade, uma alusão à própria divindade (Dn 7.13-14). Por último, o 
título Filho do Homem remete- nos à proclamação do caráter messiânico de Jesus e à plena 
identificação com a humanidade culpada. 
Filho de Deus 
Devemos notar que nos evangelhos sinóticos Jesus refere-se poucas vezes a Deus 
como Pai, cerca de aproximadamente 35 vezes, contra 106 vezes no evangelho de João. 
O propósito claro de João é tornar explícito o que os outros evangelistas deixam implícito. 
Esta afirmação aparece em João desde o início (Jo 1.14,32-34,49), ao passo que, nos 
sinóticos, os discípulos captam este conceito somente a partir da metade do ministério de 
Jesus (Mt 16.13-16). João também destaca Jesus como o único Filho de Deus (Jo 1.18; 
3.16,18), e o significado desta ênfase é distinguir a natureza do relacionamento que Jesus 
tinha com o Pai da natureza dos relacionamentos com os outros filhos de Deus (Jo 20.17). 
Uma ênfase importante do Novo Testamento é que Jesus é o eterno Filho de Deus (Lc 1.35; 
At 13.32-33; Rm 1.3-4; Hb 1.3-5; Jo 17.5; 3.16; 1Jo 4.9; Mt 3.17). 
Logos 
Uma terminologia encontrada exclusivamente na literatura joanina (Jo 1.1; 1Jo 1.1; 
Ap 19.13). Podemos resumir os diversos significados empregados para a palavra logos: 
• Em Heráclito, os logos é o princípio cósmico eterno que traz ordem ao universo. 
 
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• Para os filósofos estoicos, este mesmo princípio cósmico permeia todas as coisas e 
provê o padrão de conduta para o homem racional. 
• Para Filo, é a emanação divina que intermediou a criação do universo. 
• À luz do Antigo Testamento, seria a Palavra de Deus como poder criador e 
mantenedor de todas as coisas (Gn 1.3; SI 33.6,9), assim como a Sabedoria como 
personificação do poder de Deus (Pv 8.22-31), conceito paralelo ao de logos e Palavra de 
Deus. 
Este conceito também denota que o logos é o agente criador (Jo 1.3). Não a suprema 
fonte da criação, mas o agente por meio do qual Deus, que é a origem suprema, criou o 
mundo. João afirma que o logos se fez carne (Jo 1.14) ou, literalmente, “tabernaculou”. O 
apóstolo enfatiza que o próprio Deus, na pessoa do Verbo, entrou na história humana, não 
como uma espécie de fantasma, mas como um homem real, verdadeiro. Também é 
afirmado que o logos é revelador de vida (Jo 1.4); da luz (Jo 1.4-5); da graça (Jo 1.14); da 
verdade (Jo 1.14); da glória (Jo 1.14) e até mesmo do próprio Pai (Jo 1.18). 
Além dos nomes divinos, Jesus também tinha os atributos divinos. Ele era: 
• Eterno (Mt 28.20; Hb 1.8; 13.8) 
• Autoexistente (Jo 5.26; Cl 1.17) 
• Onisciente (Jo 1.48; 16.30) 
• Onipresente (Mt 18.20) 
• Imutável (Hb 13.8) 
• Onipotente (1Co 1.24; Ef 1.22; Mt 28.18) 
• Sábio (1Co 1.24) 
• Glorioso (Hb 1.3) 
• Verdadeiro (Jo 8.45) 
• Sem pecado (Jo 6.46; 1Pe 1.19). 
 
 
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Ele também praticava obras que são atribuídas exclusivamente a Deus: 
• O criador (Jo 1.3; Cl 1.16; Hb 1.10) 
• O governador da criação (Jo 5.17; Hb 1.3) 
• O salvador que perdoa pecados (Mc 2.7; Mt 1.21) 
• Aquele que ressuscita os mortos (Jo 6.39). 
Portanto, o Novo Testamento declara que Jesus Cristo é digno de adoração. Ele 
aceitou a adoração dos discípulos (Mt 14.33), sendo digno de receber honra como se honra 
o Pai (Jo 5.23). Como Paulo afirmou, ele “é a imagem (eikõn) do Deus invisível” (Cl 1.15). 
A palavra eikõn significa imagem, retrato, algo que tem a mesma forma de outra coisa. 
Então, Paulo afirmou algo que jamais poderia ser dito de uma pessoa que não é 
verdadeiramente Deus. Em conclusão, Jesus é Deus “que se tornou carne” (Jo 1.14). 
3. ANÁLISE HISTÓRICO COMPARATIVA 
Jesus Cristo se encontra entre as figuras mais populares da história da humanidade. 
Até as pessoas que contestam à fé cristã reconhecem a Jesus como uma espécie de 
profeta, ou líder religioso ou um homem sábio e digno de respeito. Na verdade, Jesus é tão 
estimado nas esferas religiosas que é comum as religiões citarem-no em seus ensinos e 
livros. Assim, afirmam que Jesus é: 
• O avatar da Nova Era 
• Um precursor do socialismo 
• Um mestre da ética do liberalismo 
• Um grande místico, etc. 
Embora existam, não é comum encontrar críticas acerca de seu caráter. O que é 
comum é a tentativa de se reinterpretar ou negar a divindade de Jesus, para torná-lo apenas 
mais um elemento da criação. 
 
 
 
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3.1 HERESIAS ANTIGAS 
Nos primeiros cinco séculos, os pais da igreja lutaram para entender quem é Jesus Cristo, 
como revelado nas Escrituras. Ele é Deus? Ele é humano de fato? Como Jesus pode ser 
tanto humano como divino? Como essas duas naturezas se relacionam na pessoa de 
Cristo? Em vários concílios ocorridos nesta época, a igreja chegou a conclusões que se 
tornaram padrão para a fé cristã. 
As heresias antigas sobre a pessoa de Cristo podem ser agrupadas da seguinte forma: 
Negação da humanidade de Jesus Cristo: 
• Docetismo: acreditava que Jesus Cristo não foi plenamente encarnado na carne, pois a 
matéria é intrinsecamente má. 
• Apolinarianismo: defendia a divindade de Cristo, sacrificando sua real humanidade. Em 
Cristo, a alma divina tomou o lugar da alma humana. 
• Eutiquianismo: pensava que a natureza divina de Cristo absorveu a natureza humana. 
Cristo teria apenas uma natureza após a união, a divina, revestida da carne humana. 
Negação da divindade de Jesus Cristo: 
• Ebionismo: promovia a ideia de que Jesus era um profeta extraordinário, que se 
identificava com os pobres, mas não era Deus, sendo filho natural de Maria e José. 
• Adocionismo: entendia que Jesus era um homem tão submisso ao Pai, que o Pai o 
adotou com o seu Cristo e Salvador dos homens. Jesus teria se tornado Cristo e agora 
possuía uma posição exaltada e divina. 
• Arianismo: ensinava que Jesus era apenas uma criatura, não o Deus eterno. A frase que 
resume essa heresia é: “houve um tempo quando Cristo não era”. 
Negação da união pessoal de Cristo. 
 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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Nestorianismo: Negavam que Mariafosse a mãe de Jesus, firmando que Maria não deu 
à luz ao verdadeiro Deus. Antes, ela deu à luz o Jesus humano, cuja humanidade devia ser 
entendida como separada e distinta da sua natureza divina. Maria seria "Portadora de 
Cristo” ou "Portadora da Humanidade”. O corpo de Cristo teria pertencido à natureza 
humana e não à divina. 
Negação da distinção entre o Pai e o Filho 
• Sabelianismo: cria na noção de que só existe uma Pessoa divina, Deus Pai, que se 
manifesta nas três formas - Pai, Filho e Espírito. Deus é uma pessoa que se transformou 
no processo da história. 
• Modalismo: entendia que Deus apresentou-se em três modos, mas não existe 
eternamente como três pessoas. 
O gráfico a seguir ajuda a visualizar as falsas concepções sobre a pessoa de Cristo que 
acabamos de considerar. 
Extraído de H. Wayne House, Teologia cristã em quadros. 
A fim de tentar resolver os problemas levantados pelas controvérsias sobre a 
pessoas de Cristo, um grande concílio eclesiástico foi convocado para reunir na cidade de 
Calcedônia, próximo de Constantinopla (ou a moderna Istambul), de 8 de outubro a 1º de 
novembro, em 451 d.C. A afirmação resultante, chamada Definição de Calcedônia, 
posicionou-se contra o apolinarismo, o nestorianismo e o eutiquianismo. Ela é considerada 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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a definição padrão da ortodoxia do ensino bíblico sobre a pessoa de Cristo desde aquela 
época por todos os grandes ramos do cristianismo: catolicismo, o protestantismo e a 
ortodoxia oriental. 
Credo de Calcedônia: 
Fiéis aos santos pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve 
confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, 
perfeito quanto à humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, constando de alma 
racional e de corpo; consubstancial, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo 
a humanidade; em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado, gerado 
segundo a divindade antes dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade, por nós e para 
nossa salvação, gerado da virgem Maria. Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, 
que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, inseparáveis e 
indivisíveis; a distinção das naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo 
contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para 
formar uma só pessoa e subsistência; não dividido ou separado em duas pessoas. Mas um 
só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor; conforme os profetas 
outrora a seu respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos 
pais nos transmitiu (GRUDEM, 2011). 
4. ANÁLISE APOLOGÉTICA 
Entre todas as doutrinas, a mais contestada é a doutrina da divindade de Cristo. A 
razão é óbvia. Sem essa doutrina, não existe a fé cristã nem a salvação. As seitas e as 
diversas falsas religiões não podem ficar de pé, se o ensino bíblico sobre Jesus for 
afirmado. Neste bloco, trataremos os ataques mais comuns a essa doutrina essencial. 
4.1. O NASCIMENTO VIRGINAL 
A doutrina do nascimento virginal é baseada em apenas duas referências bíblicas 
explícitas — Mateus 1.18-25 e Lucas 1.26-38. Há outras passagens no Novo Testamento 
que alguns alegam sugerir ou pressupor o nascimento virginal, e existe a profecia de Isaías 
7.14 que é citada por Mateus (1.23). 
 
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Desde a época de Jesus, a doutrina do nascimento virginal foi desafiada. Alguns 
judeus responderam ao discurso de Jesus contra eles: “Nós não somos filhos ilegítimos. O 
único Pai que temos é Deus" (Jo 8.41). Dá para entender nas entrelinhas que eles estavam 
dizendo algo do tipo: “não somos bastardos (como você)!” Em outras palavras, a história 
das circunstâncias da gravidez da Maria deveria ser conhecida, com o resultado previsível. 
Eles sabiam que virgens não ficam grávidas, e presumiram que, se Jesus não era filho de 
José, então deveria ser filho de alguém com quem Maria teve relações sexuais. Com 
certeza, não era nada fácil aceitar a noção do nascimento virginal. 
O desafio contemporâneo vem principalmente da teologia liberal e dos incrédulos 
que negam a existência de milagres. Assim, a negação do nascimento virginal faz parte, 
tipicamente, da negação da divindade de Cristo. 
Uma das maneiras prediletas dos céticos atacarem a fé é acusando as crenças 
cristãs de serem uma cópia de outras religiões antigas. Este tipo de argumentação é 
encontrado em muitos sites ateístas e céticos na internet, mas nem tanto nos livros 
acadêmicos atuais, como no passado. A razão é óbvia: a maioria dos eruditos reconhece 
que a evidência não apoia tais acusações. A ideia de que os primeiros cristãos usaram as 
lendas e mitos das religiões pagãs é insustentável, porque as tradições pagãs, tipicamente, 
afirmam algum tipo de união sexual entre os deuses e as mulheres, que dão à luz os seus 
filhos, semideuses. Os supostos paralelos são poucos, quando comparados às 
contradições. 
Por exemplo, no mundo antigo o mitraísmo era uma das muitas religiões que 
competiam com a fé cristã pela devoção do povo. Os críticos contemporâneos diziam que 
a história do nascimento virginal, juntamente com outros detalhes da vida de Cristo, eram 
cópias das lendas de Mitra. Mas, os estudos acadêmicos mais recentes demonstraram que 
as semelhanças são superficiais, e que a mais provável conclusão é que foram os adeptos 
do mitraísmo que copiaram a história de Jesus — e não o contrário. Essa conclusão é a 
mais provável, já que as pesquisas mostram que o mitraísmo evoluiu durante aqueles 
séculos. Os elementos do mitraísmo que tinham semelhança com a fé cristã só aparecem 
em documentos posteriores ao primeiro século. 
 
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Mesmo que outras religiões tivessem lendas de nascimentos virginais, isso não seria 
prova de influência alguma. Seria necessário mostrar o contato entre estas religiões e 
estabelecer a probabilidade de alguma influência literária nos textos. Mas, como Erickson 
afirma, não há nenhum motivo para questionar a integridade dos textos bíblicos que 
afirmam o nascimento virginal: 
Notamos, primeiro, a integridade básica das duas passagens pertinentes. Ambas as 
referências explícitas (Mt 1.18-25 e Lc 1.26-38), e especificamente Mateus 1.20-21 e Lucas 
1.34, são parte integrante da narrativa na qual elas acontecem; elas não são inserções ou 
interpolações. Além disso, pode ser discutido que os dois relatos do nascimento de Jesus, 
embora claramente independentes um do outro, são semelhantes em tantos pontos 
(inclusive quanto à virgindade da Maria) que temos que concluir que nesses pontos ambos 
utilizam independentemente uma narrativa comum, mais antiga que qualquer um deles 
(ERICKSON,1997). 
Os textos que narram o nascimento virginal são poucos. Contudo, a evidência 
favorece uma tradição bem antiga na memória da igreja primitiva. Lucas pesquisou as 
informações de seu evangelho na comunidade da igreja primitiva, e é provável que ele 
mesmo tivesse falado com Maria. Assim, as informações vieram da fonte mais confiável 
possível. Enfim, não há motivo para negar o nascimento virginal, a não ser que haja um 
preconceito contra a possibilidade de milagres. Isto é mais uma questão filosófica. Para 
quem aceita a existência de Deus, crer no nascimento virginal se torna uma consequência 
lógica. 
4.2. A IMPECABILIDADE DE CRISTO 
Seria possível que Jesus pecasse? Sua tentação foi genuína ou somente uma farsa? 
Podemos resumir, da seguinte forma, os argumentos usados pelos defensores da 
pecabilidade de Jesus: 
1. Por ter uma verdadeira natureza humana, Jesus era capaz de pecar 
2. Por ter sido realmente tentado, como o homem é tentado, Jesus era capaz depecar 
3. A tentativa exige a predisposição ao pecado 
 
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4. Se Jesus foi realmente um segundo Adão, ele teria que ser capaz de pecar 
5. A afirmação “Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus” (Mt 19.17; Mc 10.18; Lc 
18.19) sugere que Jesus seria capaz de pecar 
6. O batismo de Jesus, feito por João, sugere que Jesus era capaz de pecar. 
7. Hebreus 5.7-8 sugere que Jesus não era sempre obediente, portanto, era capaz de 
pecar. 
 
Podemos fazer as seguintes críticas àqueles que defendem esta posição: 
1. Afirmam que Cristo é menos do que Deus. 
2. Afirmam a possibilidade de conflito entre as suas duas naturezas santas. 
3. Pregam um outro Cristo. 
4. Facilitam o aparecimento de outras heresias. 
 
Portanto, podemos concluir que não há qualquer argumento forte na Escritura que 
dê base para a crença na pecabilidade de Cristo. 
Por outro lado, as Escrituras dão testemunho da impecabilidade de Cristo. Podemos 
observar isso no testemunho dos apóstolos (Jo 6.69; Hb 4.15; 7.26; 9.14; 1Pe 2.22; 1Jo 
3.5; 2Co 5.21), no testemunho de Cristo (Jo 8.46) e no testemunho dos incrédulos (Mt 27.4, 
19; Lc 23.41). 
Por essa razão, precisamos atribuir a Cristo não somente integridade natural, mas 
também perfeição moral, isto é, impecabilidade. Isso “significa não apenas que Cristo pode 
evitar o pecado (potuit non peccare), e que de fato evitou, mas também que lhe era 
impossível pecar (non potuit peccare), devido à ligação essencial entre as naturezas 
humana e divina”. Apesar de Jesus ter-se feito pecado representativamente (2Co 5.21), 
entretanto, estava livre tanto do pecado hereditário como do pecado real. Por isso, de 
acordo com o ensino bíblico, Jesus Cristo não era passível de cometer pecado (non posit 
peccare), possuindo, portanto, a impecabilidade. 
 
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Vejamos os seguintes argumentos para a impecabilidade de Cristo: 
1. O fato de Jesus Cristo ser Deus, possuindo o atributo da santidade, torna-o 
absolutamente impecável, pois o pecado sugere o fato de que sua natureza poderia ser 
alterada, o que o colocaria na mesma posição do ser, como os seres humanos, uma criatura 
passível de mudança. Nesse caso, Deus deixaria de ser Deus. 
2. O fato de Jesus Cristo ser Deus, possuindo o atributo de onisciência, aponta também 
para a sua impecabilidade, pois a onisciência o livra de pecar. 
3. O fato de Jesus Cristo ser Deus, possuindo o atributo de onipotência, aponta para o 
fato de ser impossível que Jesus Cristo pudesse pecar. 
4. O fato de Jesus Cristo ser Deus, possuindo o atributo de onipresença, aponta para 
o fato de ele não ser passível de pecar. 
5. O fato de Jesus Cristo ser uma pessoa única que tem um desejo onipotente de fazer 
a vontade do Pai implica que ele é impecável (Jo 4.34; 5.30; 6.38;). 
6. O fato de Jesus ter sido enviado como oferta e sacrifício em lugar dos homens implica 
que ele é impecável 
7. As próprias afirmações que Jesus fez de si mesmo apontam para a sua 
impecabilidade. 
Podemos afirmar que Cristo não somente não pecou, mas que ele não poderia pecar, 
em virtude de quem ele é e do que veio fazer. Por outro lado, devemos destacar que as 
tentações de Cristo foram reais, embora fossem insuficientes para vencê-lo, pois a natureza 
divina torna a pecabilidade impossível. Mas, será que uma pessoa que não cai em tentação 
é, de fato, tentada? Podemos argumentar que a pessoa que resiste à tentação conhece 
todo o poder da tentação. 
A impecabilidade de Cristo “aponta para uma tentação muito mais intensa, não 
menos intensa”. Alguém que cede à tentação não sente todo o seu poder, pois cede 
enquanto a tentação ainda não chegou à sua força total, não chegou ao seu extremo. 
 
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Somente o homem que não cede a uma tentação, “no que diz respeito àquela tentação em 
particular, é impecável, conhece aquela tentação em toda sua extensão” 
(ERICKSON,1997). 
Mas, uma pessoa que não peca é realmente humana? Como Erickson destaca, “se 
dissermos não, estamos sustentando que o pecado faz parte da essência da natureza 
humana”. Indo um pouco além, “tal concepção deve ser considerada uma heresia por 
qualquer pessoa que creia que a humanidade foi criada por Deus, já que Deus seria então 
a causa do pecado, o criador de uma natureza essencialmente má”. 
Segundo as Escrituras, o pecado não faz parte da essência da natureza humana. 
Erickson destaca que a pergunta correta é: somos tão humanos quanto Jesus? “Pois o tipo 
de natureza humana que cada um de nós possui não é a natureza humana pura. A 
verdadeira humanidade criada por Deus foi, no nosso caso, corrompida e danificada. No 
fim, só houve três seres humanos puros: Adão e Eva, antes da queda — e Jesus”. 
(ERICKSON,1997). Após a queda, os seres humanos não passam de versões corrompidas 
da humanidade. Como Ericskson conclui: “Jesus não é apenas tão humano quanto nós; ele 
é mais humano. Nossa humanidade não é um padrão pelo qual possamos medir a dele. 
Sua humanidade, verdadeira e não adulterada, é o padrão pelo qual nós seremos medidos”. 
5. A DIVINDADE DE JESUS 
Se você acha difícil acreditar em Deus, recomendo veemente que não comece sua 
busca com questões filosóficas sobre a existência e natureza de Deus, mas que inicie essa 
busca com Jesus de Nazaré. John Stott. 
Vimos que o Novo Testamento afirma as chamadas provas clássicas da divindade, 
que estudamos na aula anterior. Cristo Jesus tem os nomes divinos, assim como também 
tem os atributos divinos, realiza as obras de Deus e é digno de adoração. Jesus é o eterno 
Filho de Deus, que assumiu uma natureza humana para nossa redenção. São várias as 
questões que precisamos considerar, ao sistematizar o ensino da Bíblia a respeito de 
Jesus. 
 
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Jesus Cristo é a revelação final de Deus. Aquele que quer conhecer qualquer tema 
da espiritualidade e devoção verdadeira deve conhecer a Jesus, em quem toda a plenitude 
da divindade habita corporalmente (Cl 2.9). E a formulação clássica da pessoa de Cristo 
inclui três proposições que a exegese do Novo Testamento revela. Em Cristo, temos duas 
naturezas em uma só pessoa, ou seja: 
• Cristo é verdadeiramente Deus 
• Cristo é verdadeiramente humano 
• Cristo é uma só pessoa 
Há nele duas naturezas, divina e humana, claramente distintas e substancialmente 
diferentes, mas “inconfundíveis e imutáveis, indivisíveis e inseparáveis”. 
5.1 JESUS É DEUS 
Diante do testemunho das Escrituras, somos confrontados pelo antigo problema: ou 
Jesus é Deus ou um mentiroso ou um lunático (Aut deus aut homo malus). Uma pessoa 
que reivindique ser o Deus Criador todo-poderoso não pode ser um grande mestre de ética 
e espiritualidade. Normalmente, ao encontrarmos uma pessoa que diz ser Deus, nós a 
colocamos num hospital psiquiátrico ou a denunciamos como mentirosa e fraude. Não a 
aceitamos como uma pessoa sábia e bondosa. Não devemos tratar Jesus de forma 
diferente. Ele ou merece nossa compaixão como louco, nosso desprezo como uma fraude 
ou nossa adoração como Deus verdadeiro. 
O argumento pode ser resumido como se segue: 
• Ou Jesus ensinou falsidades, e por isto, era um mentiroso. 
• Ou Jesus ensinou falsidades nas quais acreditava, e por isto, era louco. 
• Ou Jesus ensinou a verdade, e assim era e é Deus. 
Foi Atanásio (296–373 d.C.) quem contribuiu grandemente para a doutrina da 
divindade de Cristo e sua argumentação é resumida da seguinte maneira pelo autor Alister 
McGrath: 
 
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Em primeiro lugar, somente Deus é capaz de salvar. Somente Deus pode vencer o 
poder do pecado e trazer aos pecadoresà vida eterna. Os seres humanos são pecadores 
e necessitam de redenção. Só que, por todos estarem debaixo do pecado, nenhum ser 
humano pode salvar outro ser humano. Apenas o Criador pode redimir seres humanos. 
Como Atanásio escreveu: “Uma criatura não podia unir a criatura a Deus; uma parte da 
criação não pode alcançar a salvação à criação, ela mesma tendo necessidade de 
salvação. (...) Uma criatura não teria podido criar. Uma criatura não podia de modo algum 
nos resgatar” (MCGrath, 2010). 
Tendo enfatizado que somente Deus pode salvar, Atanásio elaborou um argumento 
que não pode ser refutado pelo arianismo. O Novo Testamento confessa Jesus como 
salvador. Com Atanásio, enfatizamos que apenas Deus pode salvar. Assim, o único 
caminho possível é crer que Jesus é o Deus encarnado, que salva pecadores. McGrath 
resume a lógica do argumento de Atanásio da seguinte forma: 
1. Nenhuma criatura pode redimir uma outra criatura. 
2. De acordo com Ário, Jesus Cristo é uma criatura. 
3. Portanto, de acordo com Ário, Jesus Cristo não pode redimir a humanidade. 
McGrath apresenta um segundo argumento de Atanásio que toma por base as 
afirmações da Escritura: 
1. Somente Deus pode salvar. 
2. Jesus Cristo salva. 
3. Portanto, Jesus Cristo é Deus. 
Como conclui McGrath, a salvação, para Atanásio, envolve a intervenção divina. 
Deus assumiu a condição humana, com a finalidade de redimi-la. Como os antigos diziam, 
ele se tornou aquilo que somos, para que pudesse fazer de nós aquilo que ele é. Deus 
Filho, verdadeiro Deus com o Pai e o Espírito Santo, em graça, uniu sua natureza divina à 
natureza humana no mistério da encarnação. Somente tal humilhação por amor de nós 
poderia salvar pecadores e renová-los à imagem de Deus. 
 
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Em segundo lugar, os cristãos adoram e oram a Jesus Cristo, e estes são aspectos 
centrais dos cultos cristãos. Seguindo o resumo que McGrath faz do pensamento de 
Atanásio, aprendemos que, se Jesus Cristo fosse uma criatura, então os cristãos seriam 
culpados por adorar a criatura em vez do Criador — em outras palavras, os cultos cristãos 
seriam idolatria e blasfêmia. Os cristãos são totalmente proibidos de adorar qualquer 
pessoa ou coisa, com exceção de Deus. 
Atanásio argumentou que Ário era culpado de transformar a adoração e a oração em 
algo sem sentido. Por isso, os cristãos estão corretos ao adorar a Jesus Cristo porque, ao 
fazê-lo, eles o reconhecem por aquilo que ele é, o Deus encarnado, “filho unigênito de Deus 
e nascido do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro 
de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstanciai ao Pai, por quem foram feitas todas 
as coisas”. Então, como tantas vezes ocorreu na história da igreja, a expressão lex orandi 
lex credendi (a regra da oração determina a regra da fé) é determinante no debate sobre a 
divindade de Cristo, enfatizando a importância da adoração e da oração para a construção 
da fé cristã (FERREIRA, 2007). 
Implicações da divindade de Cristo: 
1. Podemos ter conhecimento real de Deus. Jesus disse: " Quem me vê, vê o 
Pai" (Jo 14.9). Enquanto os profetas vinham trazendo uma mensagem de Deus, Jesus era 
Deus. Se quisermos saber como é o amor de Deus, a santidade Deus, o poder de Deus, 
só precisamos olhar para Cristo. 
2. A redenção está à nossa disposição. A morte de Cristo é suficiente para todos 
os pecadores de todos os tempos, pois quem morreu não foi um mero homem finito, mas 
um Deus infinito. Ele, a Vida, o Doador e o Mantenedor da vida, que não precisava morrer, 
morreu. 
3. Deus e a humanidade foram religados. Não foi um anjo ou um homem que 
veio da parte de Deus para nós, mas o próprio Deus cruzou o abismo criado pelo pecado. 
 
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4. É correto adorar a Cristo. Ele não é apenas o mais elevado das criaturas, mas 
é Deus no mesmo sentido e no mesmo grau que o Pai. Ele merece, tanto quanto o Pai, 
nosso louvor, nossa adoração e nossa obediência. 
Um dia, todos vão reconhecer quem é Jesus. Os que acreditam na divindade de 
Cristo já reconhecem quem ele é e agem de acordo. 
5.2 A HUMANIDADE DE JESUS 
5.2.1 O VERBO SE FEZ CARNE 
Existe menos controvérsia em relação à humanidade de Jesus do que em relação à 
sua divindade, mas este tópico é igualmente importante por alguns motivos: 
• Se Jesus não tivesse assumido uma real humanidade, não poderia haver 
salvação. A validade e aplicação da obra realizada na cruz dependem da realidade de sua 
humanidade, assim como a sua eficácia depende da genuinidade da sua divindade. 
• Se Jesus não fosse um ser humano real, não poderia realizar o tipo de 
intercessão que o sacerdote deve fazer em favor daqueles que ele representa (Hb 2.17). 
• Se Jesus era humano, tendo sido tentado como os homens são, então ele 
pode compreender e ajudar os homens em suas lutas (Hb 2.18; 4.15-16). 
A Bíblia afirma que o Verbo se fez carne (Jo 1.14; 1Jo 1.1). “A encarnação do Verbo 
não foi uma teofania. Foi uma forma humana definitiva e permanente que o Verbo tomou 
para si. A encarnação lhe trouxe um corpo real que podia não somente ser visto e ouvido, 
mas também tocado, e que veio a ser passível de sofrimento, morte e ressurreição” 
(FERREIRA, 2007). 
Jesus tinha corpo humano, tendo nascido de mulher. Ele experimentou fome, dor, 
cansaço e todas as outras sensações físicas comuns ao homem (Hb 2.14) Após sua 
ressurreição, ele negou que fosse um fantasma (Lc 24.38). Jesus experimentou emoções 
tais como ira, medo, alegria, pesar. Ele foi tentado, mas não pecou (Hb 4.14-16). Sua 
 
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natureza humana foi plena e completa. Ele não apenas parecia ser humano, era humano 
de fato, mas sem pecado. 
A afirmação da real humanidade de Cristo é importante por outra razão. Assim como 
Adão deu origem a uma raça desobediente e fadada à morte, Cristo também pode ser 
considerado o iniciador de uma humanidade nova e redimida. A humanidade, que estava 
representativamente presente em Adão, recebeu a oportunidade de ter um novo início em 
Cristo, o segundo Adão (Rm 5. 12-21). Como Ireneu de Lion escreveu, no século II: 
Veio para salvar a todos mediante a sua pessoa, todos, digo, os que por sua obra, 
renascem em Deus, crianças, meninos, adolescentes, jovens e adultos. Eis porque passou 
por todas as idades, tomando-se criança com as crianças, santificando as crianças; com os 
adolescentes se fez adolescente, santificando os que tinham esta mesma idade e tomando-
se ao mesmo tempo para elas o modelo de piedade, de justiça e de submissão. Jovem com 
os jovens, tornou-se seu modelo e os santificou para o Senhor; da mesma forma se tornou 
adulto entre os adultos, para ser em tudo o mestre perfeito, não somente quanto à 
exposição da verdade, mas também quanto à idade, santificando ao mesmo tempo os 
adultos e tornando-se também modelo para eles. E chegou até a morte para ser o 
primogênito entre os mortos e ter a primazia em tudo, o iniciador da vida, anterior a todos 
e precedendo a todos (LION, citado por FERREIRA, 2007). 
Por sua desobediência, o primeiro Adão introduziu o pecado e a morte, mas, por sua 
obediência, o segundo Adão, Cristo, reintroduziu a graça e a vida eterna. 
O inimigo não teria sido vencido com justiça se não tivesse nascido de mulher o 
homem que venceu, pois fora por meio de uma mulher que ele dominara o homem, opondo-
se a ele desde o princípio. Por este motivo é que o próprio Senhor declara ser o Filho do 
homem, recapitulando em si aquele primeiro homem, a partir do qual fora modelada a 
mulher. E assim como pela derrota de um homem nossa raça desceu para a morte, pela 
vitória de outro homem subimos novamente à vida, e, como a morte tinha triunfado sobre 
nós por um homem, assimtodos nós triunfamos da morte por um homem. O Senhor não 
teria recapitulado em si a antiga e primeira inimizade contra a serpente e não teria cumprido 
a promessa do Criador e nem o seu mandamento, se tivesse vindo de outro Pai. Mas, sendo 
 
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um só e idêntico aquele que, no princípio, nos modelou e, no fim, enviou seu Filho, o Senhor 
cumpriu verdadeiramente o seu mandamento nascendo de uma mulher, aniquilando o 
nosso adversário e completando no homem a imagem e semelhança com Deus (LION, 
citado por FERREIRA, 2007). 
Jesus conquistou o que foi perdido por Adão. Em um ambiente perfeito e sem 
pecado, Adão pecou, mas em um contexto hostil, dominado pelo pecado, Jesus foi 
perfeitamente obediente. Como redentor, ele se tornou o cabeça da nova humanidade, 
assumindo o lugar desta humanidade na obra de expiação. Mas, para que isto fosse 
realizado, ele teve de ficar livre da culpa e da corrupção do pecado. Para ser redentor, ele 
tinha de ser santo e inculpável, para que, assim, pudesse arrancar pessoas da maldição 
que estava sobre elas. A plena humanidade de Jesus Cristo é necessária para a plena 
redenção do homem. 
5.2.2 A ENCARNAÇÃO 
A encarnação foi um evento milagroso que envolveu a união entre divindade e 
humanidade. Nessa união Deus provê tanto o componente humano como a encarnação. A 
encarnação aconteceu na concepção de Jesus. Ele não se tornou Cristo mais tarde. Não 
havia nenhum Jesus preexistente, em quem o Cristo tenha sido depositado após sua 
concepção. Existem poucos textos que falam do nascimento virginal, tais como Mateus 
1.18-25, Lucas 1.26-38 e a profecia de Isaías 7.14. Mas, essa doutrina foi confessada na 
igreja, desde o início, sendo mencionada nos antigos credos e, posteriormente, em todas 
as confissões de fé protestantes e católicas. A veracidade da doutrina é estabelecida nas 
seguintes considerações: 
A doutrina do nascimento virginal estabelece a importância da encarnação como um 
evento sobrenatural. Na verdade, questionar a doutrina revela é um preconceito contra o 
sobrenatural. As objeções são tipicamente baseadas no pressuposto de que milagres não 
ocorrem. 
Em última análise, esta doutrina é a segurança da doutrina da ressurreição. O 
argumento poderia ser colocado da seguinte maneira: 
 
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• Se Cristo não tivesse nascido da virgem, por obra do Espírito, então ele não 
seria Deus. 
• Se Cristo não fosse Deus, então seu sacrifício não poderia ser expiatório. 
• Se Cristo não fosse Deus, e seu sacrifício não fosse expiatório, ele não teria 
ressuscitado. 
Um aspecto adicional desta doutrina é que o nascimento virginal permite uma 
participação tanto da feminilidade como da masculinidade na encarnação. Jesus expressa 
masculinidade, enquanto a feminilidade de Maria foi o veículo através do qual a encarnação 
foi realizada. 
Uma vez que a impecabilidade de Jesus não depende da concepção virginal, 
precisamos perguntar: se toda a raça humana está manchada pelo pecado original, Maria 
também não teria passado uma natureza pecaminosa para Jesus? Podemos destacar o 
que o anjo disse para Maria: “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a 
cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado santo, Filho de 
Deus” (Lc 1.35). O texto aponta para o fato de que a influência do Espírito Santo foi tão 
poderosa e santificadora em seu efeito que não houve transmissão de pecado ou culpa de 
Maria para Jesus. 
Além disso, a vinda do Espírito sobre Maria também lembra o relato da criação. 
Assim como o primeiro Adão foi criado sem pecado, o segundo Adão, Jesus Cristo, também 
foi gerado pelo Espírito sem pecado, marcando assim o surgimento da nova criação. 
Podemos acrescentar que o nascimento virginal é uma prova da singularidade de Jesus, 
sendo uma evidência do poder e da soberania de Deus sobre a natureza. 
5.3.3 IMPLICAÇÕES DA HUMANIDADE DE JESUS 
A doutrina da plena humanidade de Jesus tem grande significado para a fé e a 
teologia cristã: 
1. A morte expiatória de Jesus pode de fato ter proveito para nós. Não foi alguém 
estranho à raça humana que morreu na cruz. Ele era um dos nossos e, portanto, poderia 
realmente oferecer um sacrifício em nosso favor. Assim como o sacerdote do Antigo 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
27 
Testamento, Jesus foi um homem que ofereceu um sacrifício em favor de seus 
companheiros. 
2. Jesus pode realmente ter empatia para conosco e interceder por nós. Ele 
experimentou tudo o que podemos sofrer. Quando sentimos fome, cansaço, solidão, ele 
compreende plenamente, pois ele mesmo passou por tudo isso (Hb 4.15). 
3. Jesus não só nos disse o que é a verdadeira humanidade, como também a 
manifestou. 
4. Jesus pode ser nosso exemplo. Ele não é algum superstar celestial, mas 
alguém que viveu onde vivemos. Podemos, portanto, voltar-nos para ele como a um modelo 
da vida cristã. Nele, vê-se que os padrões bíblicos de comportamento humano, que nos 
parecem tão difíceis de atingir, estão dentro da possibilidade humana. Evidentemente, é 
preciso haver plena dependência da graça de Deus. O fato de que Jesus viu necessidade 
de orar e de depender do Pai é uma indicação de que precisamos confiar igualmente nele. 
5. A natureza humana é boa. Quando tendemos para o ascetismo, considerando 
a natureza humana e, em especial, a natureza física, algo inerentemente mau ou, pelo 
menos, inferior ao espiritual e imaterial, o fato de Jesus ter assumido sobre si toda a nossa 
natureza humana é um lembrete de que ser homem não é mau, é bom. 
6. Deus não está distante da raça humana. Se pôde realmente viver entre nós 
por um tempo como uma verdadeiro humano, não é de surpreender que possa atuar e de 
fato atue no âmbito humano também hoje. 
Com João, nos alegramos porque a encarnação foi real e completa: "Aquele que é a 
Palavra tornou- se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito 
vindo do Pai, cheio de graça e de verdade" (Jo 1.14). 
6. A UNIDADE DA PESSOA DE CRISTO 
6.1 UNIÃO HIPOSTÁTICA 
 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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A união das duas naturezas, divina e humana, em Cristo é conhecida como união 
hipostática (de hypostasis). A encarnação é a união dessas duas naturezas, presentes em 
uma só pessoa, Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A Escritura faz referência a 
uma pessoa, mas a duas naturezas (Jo 1.1-18; Rm 1.3-4) numa personalidade singular e 
não dividida. Em Filipenses 2.6-11 o uso da palavra “forma” (morphê) indica que a pessoa 
única, Jesus, tinha as duas naturezas. 
A expressão “união hipostática” destaca algumas verdades importantes: 
• O Filho de Deus é uma pessoa. 
• Essa pessoa é preexistente na pessoa eterna do Filho. 
• A união de suas duas naturezas, a divina e a humana, “surge do fato de que 
elas pertencem a uma e a mesma pessoa, o Filho encarnado”. 
• Essa uma e mesma pessoa, o Filho de Deus, “é o Agente por detrás de todas 
as ações do Senhor, o Porta-voz de todas as suas Palavras e o sujeito de todas as suas 
experiências”. 
Por causa da união hipostática, à pessoa única de Jesus Cristo deve ser atribuída 
toda a sua obra, não se atribuindo nada exclusivamente a uma das suas naturezas. “A 
Pessoa é o agente, e a natureza é o meio através do qual a Pessoa age. Por isso é dito 
que os milagres são operados por Jesus Cristo e os sofrimentos são suportados por Jesus 
Cristo. O que é próprio de cada natureza é atribuído à Pessoa do Redentor que é a que 
age” (FERREIRA, 2007). 
A presença das naturezas divina e humana em Jesus é explicitamente afirmada no 
Novo Testamento (Jo 1.14; Rm 1.2-5; Fp 2.6-11; 1Tm 3.16; Hb 2.14; 1Jo 1.1-3). E após a 
ressurreição, a união hipostáticapermanece para sempre (Mt 26.64; Jo 3.13; At 7.56). A 
união das duas naturezas significa que elas não atuaram independentemente. Jesus não 
exerceu sua divindade em certas ocasiões e sua humanidade em outras. Seus atos sempre 
eram atos da divindade e da humanidade. Os atributos divinos de Jesus estavam 
funcionalmente limitados pela sua humanidade, mas não reduzidos na sua essência. Ele 
ainda tinha poder para ser onisciente, onipresente, etc. O que temos é uma limitação 
circunstancial no exercício de seu poder e de suas capacidades. A união das duas 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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naturezas significa que a natureza humana de Cristo, desde o primeiro momento de sua 
existência, foi adornada com todos os tipos de dons, como por exemplo: 
A gratia unionis cum persona tou Logou (graça de união com a pessoa do Logos), 
isto é, a graça e a glória de estar unida ao Logos divino, também chamada gratia eminentiae 
(graça da eminência), pela qual a natureza humana é elevada acima de todas as criaturas 
e até se toma objeto de adoração. A gratia habitualis (graça habitual), que consiste 
daqueles dons do espírito, em particular os do intelecto, da vontade e de poder, pelos quais 
a natureza humana de Cristo foi exaltada acima de todas as criaturas inteligentes. 
Especialmente a impecabilidade de Cristo, o non posse peccare, deve ser mencionado aqui 
(BERKOF, 2012). 
Precisamos frisar: a iniciativa da encarnação veio de Deus e não do homem. Nosso 
problema em compreender a encarnação se deve ao fato de que, na realidade, estamos 
nos perguntando como um ser humano pode se tomar Deus, quando na verdade não é 
impossível para Deus se tomar homem. Como John Owen escreveu: “A glória das duas 
naturezas de Cristo numa única pessoa é tão imensa que o mundo incrédulo não pode ver 
a luz e a beleza que irradiam dela” (QWEN, 1989). 
Ao considerar a humanidade sem pecado como presente em Cristo, precisamos 
notar que, a definição de humanidade que muitas vezes é atribuída a Jesus é feita 
erroneamente, com base no entendimento que se tem da humanidade como corrompida 
pelo pecado, a humanidade surgida após a queda. Devemos lembrar que a doutrina do 
nascimento virginal estabelece que a humanidade de Jesus existia em sua forma mais 
plena, sem pecado ou iniquidade, como existia antes da queda, e esta nova humanidade 
marca o começo da nova criação na história da redenção. 
As duas naturezas em conjunto participaram plenamente na pessoa de Cristo. Ao ler 
os evangelhos, fica evidente que não houve uma oscilação entra as duas naturezas, mas 
uma ação conjunta (communicatio idiomatum). Daí Jesus ser, ao mesmo tempo, Deus e 
homem. Em outras palavras, o que a única pessoa, Jesus Cristo, experimentou, ele 
experimentou como Deus e homem. “Podemos apenas dizer que a doutrina da 
comunicação de atributos ensina que as propriedades de ambas as naturezas podem ser 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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atribuídas a uma Pessoa” (FERREIRA, 2007). Por isso, não é correto separar as duas 
naturezas, dizendo que “a natureza humana fez isto” ou “a natureza divina fez aquilo”, 
justamente porque tudo o que pertence a uma natureza sempre deve ser atribuído à pessoa 
de Jesus Cristo. A nossa resposta a essas perguntas sempre deve ser “Cristo disse isso” 
ou “Cristo fez aquilo”. Por um lado, Jesus Cristo foi batizado, chorou, sofreu e morreu. Só 
que nenhuma destas experiências pode ser atribuída apenas à sua natureza humana, mas 
à pessoa única de Cristo. Por outro lado, Jesus Cristo revela o Pai, ressuscitou, realizou 
milagres e reina. Igualmente, nenhuma destas experiências pode ser atribuída apenas à 
sua natureza divina, mas, igualmente, à pessoa única de Cristo, na qual duas naturezas 
estão unidas. Por isso, “tudo o que pertence e é típico de uma natureza deve ser atribuído 
inquestionavelmente à pessoa total”. 
A comunicação de atributos significa que as propriedades de ambas as naturezas, a 
humana e a divina, passaram a ser propriedades da pessoa única e, portanto, são 
atribuídas a Jesus Cristo. Por isto, se pode dizer que Jesus Cristo é todo-poderoso, 
onisciente, onipresente e assim por diante, mas também se pode dizer que ele é um homem 
real, de conhecimento e poder limitados, e sujeito às necessidades, dores e limitações 
humanas. “Mas devemos ter o cuidado de não entender a expressão no sentido de que 
alguma coisa peculiar à natureza divina foi comunicada ou transmitida à natureza humana, 
e vice-versa; nem que há uma interpretação das duas naturezas, com o resultado que o 
divino é humanizado e o humano é divinizado” (BERKOF, 2012). 
As duas naturezas são necessárias para a obra de redenção: 
• Como mediador era necessário que Jesus fosse tanto de dignidade igual ao 
Pai como capaz de plena empatia com a humanidade (Fp 2.6-11; Hb 2.17-18; 1Tm 2.5). 
• Para expiar nossos pecados ele tinha que ser homem, pois era necessário 
que um homem fosse sacrificado, uma vez que os homens são pecadores culpados. Por 
outro lado, ele também precisava ser Deus, considerando que só Deus pode sofrer e 
esgotar a ira infinita de Deus. 
• Ele continua sendo homem depois da ressurreição e, portanto, um 
representante e advogado do homem. Ele é o primeiro fruto da ressurreição, porque desde 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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que a morte veio por um homem, foi necessário que a ressurreição também viesse por um 
homem. Além disso, ele foi exaltado à direita do Pai e recebeu o nome que é sobre todo 
nome, Yahweh. Daí Cristo, no céu, manter a sua divindade eterna e a sua real humanidade. 
Por isto, uma aplicação da união hipostática é o fato de que Cristo, exatamente como 
existe agora, isto é, existindo em duas naturezas, divina e humana, é o objeto da nossa 
adoração. Deve-se ter em mente que a honra da adoração (honor adorationis) não pertence 
à natureza humana como tal, mas lhe pertence somente em virtude da sua união com o 
Logos divino, que em Sua própria natureza é adorabilis (digno de ser adorado). Devemos 
distinguir entre o objeto e a base desta adoração. O objeto do nosso culto é o Deus e 
homem Cristo Jesus, mas a base sobre a qual O adoramos é a pessoa do Logos (BERKOF, 
2012). 
7. A VIDA COM CRISTO 
Jesus de Nazaré foi aprovado por Deus diante de vocês por meio de milagres, 
maravilhas e sinais, que Deus fez entre vocês por intermédio dele, como vocês mesmos 
sabem (Atos 2.22). 
7.1 O PROPÓSITO PARA A HUMANIDADE 
Embora fosse totalmente Deus, Jesus escolheu viver com as mesmas limitações que 
o homem enfrentaria assim que fosse redimido. Ele enfatizou esse ponto muitas vezes. 
Jesus se tornou o modelo para todos os que quisessem aceitar seu convite para uma vida 
de relacionamento restaurado com Deus. Ele fez milagres, maravilhas e sinais como um 
homem que tinha um relacionamento coreto com Deus, não porque era Deus. Se ele fez 
milagres porque era Deus, isso seria inatingível para nós. No entanto, se ele fez como 
homem, todo cristão tem a responsabilidade de buscar esse estilo de vida para si. 
Recuperar essa simples verdade muda tudo e torna possível a plena restauração do 
ministério de Jesus em sua Igreja. 
Quais eram a característica de sua humanidade? 
 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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• Ele não tinha nenhum pecado que o levasse a ficar separado do Pai. 
• Ele era totalmente dependente do poder do Espírito Santo, que trabalhava por 
intermédio dele. 
Quais são as características de nossa humanidade? 
• Somos pecadores limpos pelo sangue de jesus. Por meio de seu sacrifício, 
ele, de forma bem- sucedida, tratou do poder e do efeito do pecado para todos os que 
creem. Agora, nada pode nos separar do Pai. Resta apenas uma questão a ser resolvida. 
• Quanto estamos dispostosa viver na dependência do Espírito? 
A espinha dorsal da autoridade e do poder do reino encontra-se na comissão. 
Descobrir qual foi a comissão original e o propósito que Deus tinha para a humanidade 
pode ajudar a fortalecer nossa resolução de ter uma vida relevante para a transformação 
da história. Para encontrarmos essa verdade, é preciso voltar ao início. 
O homem foi criado à imagem de Deus e posto na expressão suprema de beleza e 
paz do Pai: o jardim do Éden. Fora desse jardim, a história era bem diferente. Não havia 
ordem nem benção, e era necessário um toque daquele a quem Deus delegou para fazer 
isso – Adão. 
Adão e Eva foram postos no jardim com uma missão: “Deus os abençoou, e lhes 
disse: "Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os 
peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra” 
(Gn 1.28). Revelava-se a intenção de Deus: que tivessem filhos que também vivessem sob 
o seu governo, para assim estender as fronteiras do jardim (o governo do Senhor) pela 
simplicidade da devoção a Ele. Conforme Bill Johnson destaca: “Quanto maior o número 
de pessoas com relacionamento apropriado com Deus, maior o impacto de sua liderança” 
(JOHNSON, 2010). 
 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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No entanto, no capítulo 1 de Gênesis, descobrimos que esse universo não era 
perfeito. Satanás se rebelara e fora expulso do céu; com ele, uma porção dos anjos caídos 
assumiu o domínio da terra. Fica óbvia a razão por que o restante do planeta precisava ser 
subjugado – ele estava sob a influência das trevas: “Era a terra sem forma e vazia; trevas 
cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1.2). 
Deus, com uma palavra, poderia ter o maligno e seu exército, mas, antes, escolheu derrotar 
as trevas delegando sua autoridade àqueles feitos à sua imagem que, por livre escolha, o 
amavam. 
O soberano Deus nos pôs no comando do planeta Terra: “Os mais altos céus 
pertencem ao Senhor, mas a terra ele a confiou ao homem” (Sl 115.16). A mais alta honra 
era ser escolhido, porque o amor sempre escolhe o melhor. Esse é o início de nossa 
criação. Criados à imagem de Deus para a intimidade, afim de que o domínio pudesse ser 
expresso por intermédio do amor. É com essa revelação que temos de aprender a caminhar 
como seus representantes, derrotando assim o “príncipe desse mundo”. 
7.2 O RESGATE EM CRISTO 
A autoridade dos homens para governar foi confiscada quando Adão comeu o fruto 
proibido. Paulo disse: “Não sabem que, quando vocês se oferecem a alguém para lhe 
obedecer como escravos, tornam-se escravos daquele a quem obedecem: escravos do 
pecado que leva à morte, ou da obediência que leva à justiça?” (Rm 6.16). Nesse ato único 
a humanidade se tornou escrava do Maligno. Tudo o que Adão tinha, incluindo o título de 
propriedade do planeta e sua posição de governante, agora fazia parte do espólio de 
satanás. O plano predeterminado de Deus para a redenção foi, de imediato posto em ação: 
“Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; 
este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar" (Gn 3.15). Jesus viria para resgatar 
tudo o que fora perdido. 
O plano de Deus para o governo do homem nunca deixou de existir. Cristo veio para 
receber a punição por nossos pecados e recuperar o que havia perdido. Lucas 19.10 afirma 
que Jesus veio “buscar e salvar o que havia perdido”. A humanidade não só se perdera no 
pecado, como perdera seu domínio sobre a terra. Jesus veio para resgatar ambas. 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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Satanás tentou arruinar o plano ao fim dos quarenta dias de jejum feito por Jesus. 
Ele sabia que não era digno da adoração de Jesus e que Jesus veio para resgatar a 
autoridade da qual o homem abriu mão. Então lhe disse: “Eu lhe darei toda a autoridade 
sobre eles e todo o seu esplendor, porque me foram dados e posso dá-los a quem eu 
quiser. Então, se você me adorar, tudo será seu" (Lc 4.6,7). Observe as palavras dele: 
“porque me foram dados”. Satanás não poderia roubá-los, pois lhe foram cedidos quando 
Adão abandonou o governo de Deus. Na verdade, ele ofereceu a Jesus um atalho para 
recuperar as chaves da autoridade que o homem perdeu quando pecou. Jesus rejeitou esse 
atalho e se recusou a lhe dar qualquer honra. Jesus não abriu mão de seu propósito, pois 
veio para morrer. 
O Pai queria que Satanás fosse derrotado pelo homem, o ser feito à sua imagem. 
Jesus aquele que poderia derramar seu sangue para redimir a humanidade, esvaziou-se 
de seus direitos como Deus e assumiu as limitações humanas. Satanás foi derrotado por 
um homem – o Filho do homem que tinha um relacionamento correto com Deus. Agora, à 
medida que as pessoas recebem a obra de Cristo na cruz para a salvação, tornaram-se 
completos nessa vitória. Jesus derrotou o demônio com uma vida sem pecado, derrotou-o 
em sua morte ao pagar por nossos pecados com seu sangue e, mais uma vez, na 
ressureição, ao ascender triunfante com as chaves da morte e do inferno em suas mãos. 
Jesus, ao redimir o homem, recuperou o que este havia perdido. Ele declarou: “Foi-
me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, vão [...]” (Mt 28.18,19). Em outras 
palavras: Consegui tudo de volta. Agora usem isso e reivindiquem a humanidade para mim. 
Nessa passagem, Jesus cumpre a promessa que fizera a seus discípulos quando disse: 
“Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos 
céus, e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus" (Mt 16.19). O plano 
original não fora abortado, mas realizado de uma vez por todas na ressurreição e ascensão 
de Jesus. Assim, seríamos completamente restaurados ao plano de governo de Deus como 
pessoas feias à sua imagem. E, como tal, aprenderíamos a impelir a vitória obtida no 
Calvário: “Em breve o Deus da paz esmagará Satanás debaixo dos pés de vocês. A graça 
de nosso Senhor Jesus seja com vocês” (Rm 16.20). 
 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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Nascemos para governar – sobre a criação, sobre as trevas -, para saquear o inferno 
e estabelecer o governo de Jesus onde quer que preguemos o evangelho do Reino. Reino 
quer dizer: domínio do Rei. Segundo o propósito original de Deus, o homem deveria 
governar sobre a criação. Agora que o pecado entrou no mundo. A criação foi contaminada 
pelas trevas, como: doenças, espíritos aflitos, pobreza, desastres naturais, influencia 
demoníaca etc. 
Embora nosso governo ainda seja sobre a criação, o foco agora é a exposição e a 
destruição das obras de Satanás. Temos de dar o que recebemos para alcançar esse fim: 
“Curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os 
demônios. Vocês receberam de graça; deem também de graça” (Mt 10.8). Se 
verdadeiramente recebemos poder ao ter um encontro com o Deus de poder, estamos 
preparados para compartilhar isso. A invasão de Deus em situações impossíveis acontece 
por intermédio de pessoas que receberam poder do alto e aprenderam a liberá-lo nas 
circunstâncias da vida. 
7.3 NOSSA IDENTIDADE 
“[...] porque neste mundo somos como ele” (1Jo 4.17) 
A vida cristã não se encontra na cruz. Nós a encontramos por causa da cruz. É o 
poder da ressurreição que energiza o cristão. Isso diminui o valor da cruz? De forma 
alguma. O sangue derramado do Cordeiro imaculado lavou-nos e retirou de nossa vida o 
poder do pecado. NÃO TEMOS NADA SEM A CRUZ! 
Todavia, ela não é o fim – é o início, a entrada para a vida cristã. Até mesmo para 
Jesus, ela era algo que deveria ser suportado a fim de obter a alegria que lhe fora proposta! 
(Hb 12.2). 
Jesus foi o servo sofredor que se dirigiu à cruz. No entanto, triunfalmente ressuscitou, 
ascendeuaos céus e foi glorificado. Na revelação de Jesus Cristo, João o descreve da 
seguinte forma: “Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como a lã, tão brancos quanto 
a neve, e seus olhos eram como chama de fogo. Seus pés eram como o bronze numa 
fornalha ardente e sua voz como o som de muitas águas” (Ap 1.14,15). A declaração de 
 
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que “somos como ele” é muito mais abrangente do que poderíamos imaginar; em especial, 
à luz da descrição glorificada de Jesus em Apocalipse 1. todavia, o Espírito Santo foi 
enviado especificamente para esse propósito a fim de que “cheguemos à maturidade, 
atingindo a medida da plenitude de Cristo” (Ef 4.13). 
O Espírito Santo veio com a tarefa suprema no período perfeito. Durante o ministério 
de Jesus, afirmou-se: “Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não 
fora glorificado” (Jo 7.39). O Espírito Santo conforta-nos, dá-nos dons, lembra-nos do que 
Jesus disse e reveste-nos com poder. No entanto, faz tudo isso para nos tornar 
semelhantes a Jesus. Essa é a missão primária. Portanto, porque o Pai não o enviou até 
Jesus ser glorificado? Porque sem Jesus em seu estado glorificado não haveria modelo 
celestial do que deveríamos ser! Assim como o escultor olha um modelo e esculpe na argila, 
também o Espírito olha para o Filho glorificado e molda-nos à sua imagem. Por que nesse 
mundo somos como ele é. 
Por que isso é importante? Por que muda tudo profundamente nosso senso de 
identidade e de propósito. 
Jesus tornou-se pobre para que eu fosse rico. Ele sofreu com chicotadas para me 
libertar da aflição e tornou-se pecado para que eu pudesse ser justiça para Deus (2Co 5.21). 
Então, por que eu deveria tentar ser como ele era quando sofreu para que eu pudesse 
tornar-me como ele é? Nesse ponto, a realidade da ressureição tem de entrar em jogo em 
nossa vida – temos de descobrir o poder da ressurreição para todos que creem (Ef 1.21; 
3.20). 
8. JESUS HISTÓRICO 
8.1 A BUSCA DO JESUS HISTÓRICO 
Tanto o deísmo inglês quanto o Iluminismo alemão desenvolveram a tese de que 
havia uma séria divergência entre o Jesus real da história e a interpretação do Novo 
Testamento sobre seu significado. De acordo com essa tese, sob o perfil que o Novo 
Testamento apresentava, a saber, o de um redentor sobrenatural da humanidade, 
encontrava-se um mero ser humano, um sábio mestre iluminado. 
 
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Embora a primeira ideia fosse algo inconcebível para o racionalismo iluminista, a 
segunda não o era. Esta perspectiva, desenvolvida com especial rigor pelo filósofo alemão 
Reimarus (1694—1768), sugeria ser possível desvendar, nos relatos do Novo Testamento 
acerca de Jesus, um Jesus mais comum, mais humano e que estaria mais de acordo com 
o novo espírito iluminista. E assim, teve início a busca do “Jesus histórico”, mais real e mais 
provável. 
O Iluminismo acreditava que nessa busca se encontrava a chave para a aceitação 
de Jesus no contexto de uma religião natural racional. A autoridade moral de Jesus residia 
na qualidade de seus ensinamentos e em sua personalidade religiosa, e não na inaceitável 
tese ortodoxa de que ele era Deus encarnado. Esta é a premissa que embasa a famosa 
“busca do Jesus histórico”. 
Reimarus defendia a tese de que havia uma diferença radical entre as crenças e 
intenções de Jesus e aquelas sustentadas pela igreja apostólica. De acordo com Reimarus, 
a linguagem e as imagens que Jesus usava em relação a Deus eram as de um judeu 
visionário e apocalíptico, pois continham uma referência e uma relevância extremamente 
limitadas em termos cronológicos e políticos. 
Portanto, Jesus aceitava a expectativa messiânica dos judeus de libertação do 
domínio romano e acreditava que Deus o ajudaria nessa tarefa. De acordo com Reimarus, 
o clamor por seu abandono na cruz representava que Jesus havia finalmente percebido o 
fato de que estivera iludido e equivocado quanto a sua expectativa. 
Entretanto, Reimarus alegava que os discípulos não estavam preparados para deixar 
as coisas nesse estado. Portanto, eles haviam criado a ideia de uma “redenção espiritual”, 
em substituição à visão política e concreta de Jesus com respeito à libertação de Israel do 
domínio estrangeiro. Assim, os discípulos inventaram a tese da ressurreição de Jesus para 
disfarçar o embaraço causado por sua morte. Em consequência disso, também inventaram 
doutrinas totalmente ignoradas por Jesus, como a de sua morte como expiação por nossos 
pecados, acrescentando-as ao texto bíblico para que este se adequasse a suas crenças. 
Desse modo, afirmava que o Novo Testamento, da forma como existe hoje, está repleto de 
acréscimos e adulterações. A igreja primitiva escondeu de nós o Jesus histórico e real, 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
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substituindo-o pela figura do Cristo da fé, que redimiu a humanidade de seus pecados 
(MCGRATH, 2010). 
Embora Reimarus tenha conquistado pouquíssimos adeptos em sua época, ele 
havia levantado algumas questões que seriam de importância fundamental no futuro. 
Mostrou-se particularmente de enorme relevância sua nítida distinção entre a figura real do 
Jesus histórico e a figura fictícia do Cristo da fé. A busca resultante do “Jesus histórico” 
surgiu como resultado imediato da crescente suspeita do racionalismo de que o perfil de 
Cristo, traçado no Novo Testamento, era, na verdade, uma criação dogmática. Essa 
corrente acreditava ser possível reconstruir a figura histórica real de Jesus, livrando-o da 
roupagem dogmática com que os apóstolos o haviam revestido. 
No século XIX, o teólogo alemão Heinrich Eberhard Gottlob Paulus atacou a doutrina 
ortodoxa de Cristo. Como vários outros teólogos desta época, Paulus alegava que sua 
razão para isso era fazer uma defesa em favor do cristianismo verdadeiro. Paulus é 
conhecido por suas tentativas de explicar os milagres de Cristo sem referência ao 
sobrenatural. 
Em meados do século XIX, David Friedrich Strauss escreveu Das Leben Jesu, um 
livro que introduziu o conceito de mito na crítica dos evangelhos. Strauss propunha eliminar 
o impasse entre os conservadores, que consideravam os evangelhos como narrativas 
históricas verídicas, e os racionalistas que, apesar de afirmarem que os milagres eram algo 
como uma fraude ou engano, também aceitavam os evangelhos como documentos 
basicamente históricos. Segundo Strauss, os livros do Novo Testamento não foram escritos 
pelos apóstolos, mas por pessoas no século II, que não foram testemunhas oculares dos 
eventos presentes no Novo Testamento. Strauss disse que o alvo dos escritores não era 
contar uma história, mas, por meio da literatura mitológica, comunicar a noção do homem-
deus, o fato de que o divino é expresso na humanidade. Assim, ele afirmou que a 
encarnação é um símbolo da divindade da própria humanidade. 
Por dois séculos, estudiosos tentaram reconstruir o Jesus da história, porém, sem 
muitos resultados positivos. O Jesus reconstruído pelos filósofos e liberais parecia mais o 
fruto da obstinação dos mesmos do que de uma séria pesquisa científica. O trabalho de R. 
 
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Bultmann e K. Barth pôs um fim honroso à “busca” agonizante e declarou-a uma empreitada 
inútil. Bultmann convenceu toda uma geração de estudiosos de que o Jesus histórico estava 
tão soterrado debaixo dos mitos criados pela Igreja Primitiva que os teólogos deveriam 
abandonar as esperanças de achá-lo e dedicar-se ao Cristo da fé. 
A chamada Busca do Jesus histórico tem sua origem no século XIX e tem se 
desenvolvido desde então. 
Craig Evans, professor de Novo Testamento no Acadia Divinity College resume com 
precisão o desenvolvimento da pesquisa do Jesushistórico: 
A antiga “Busca do Jesus Histórico” (às vezes, denominada “busca do século XIX”), 
foi lançada quando acadêmicos começaram a questionar as intenções de Jesus. Os 
escritos de Hermann Samuel Reimarus, publicações póstumas (1774-1778), defendiam 
que Jesus tentara se estabelecer como rei político terrestre de Israel. A tese provocante 
levou a novas leituras críticas dos Evangelhos. As reviravoltas da antiga “Busca” foram 
comentadas e avaliadas com eloquência por Albert Schweitzer, com o que se tornou, ele 
mesmo, um clássico: The Quest for the Historical Jesus. O surgimento da crítica formal nos 
anos de 1920, cujos primeiros praticantes pensavam que grande parte do material dos 
evangelhos não fosse derivada de Jesus, mas tivesse origem na igreja, levou muitos a 
abandonar tal Busca; foi considerada historicamente impossível – e teologicamente 
ilegítima, conforme alguns teólogos. Mas uma Nova Busca, procurando encontrar a ligação 
entre o Jesus histórico e o “Cristo da fé”, foi iniciada na década de 1950; depois ainda, na 
década de 1980, veio outra fase, agora chamada de “Terceira Busca” (EVANS, 2009). 
8.2 O “SEMINÁRIO DE JESUS” 
A ideia pela busca do “Jesus histórico” não desapareceu. Um grupo de 75 estudiosos 
de diversas orientações religiosas reuniram-se nos Estados Unidos e fundaram o 
"Seminário de Jesus" (The Jesus Seminar), com o objetivo de levar adiante a "busca do 
verdadeiro Jesus." Seus pressupostos são basicamente os mesmos dos que 
empreenderam a "busca" antes deles, ou seja, que o retrato de Jesus que temos nos 
Evangelhos é uma caricatura produzida em grande parte pelo que D. F. Strauss chamou 
no século XIX de "mito." 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
40 
O "Seminário de Jesus” tem feito declarações bizarras com relação ao Novo 
Testamento, lançando dúvidas sobre 82% daquilo que os Evangelhos atribuem a Jesus. 
Um de seus membros, John Dominic Crossan, foi tão longe a ponto de negar a ressurreição, 
declarando que Jesus fora sepultado numa cova rasa, escavada por cães! Mas o assim 
chamado Seminário de Jesus não fala em favor do Jesus real. Existem, pelo menos, seis 
razões para essa conclusão. 
1. O grupo errado. O Seminário de Jesus, criado em 1985, é composto 
"estudiosos", em grande maioria, da ala radical. Alguns são ateus, e outros não são nem 
mesmo estudiosos (um deles é produtor de cinema). Robert Funk, ateu e fundador do 
grupo, reconheceu a natureza radical de sua obra quando afirmou: "Estamos pondo à prova 
aquilo que é mais sagrado para milhões e, por consequência, estaremos constantemente 
à beira da blasfêmia. 
2. A motivação errada. Como o próprio grupo admite, seu objetivo é criar um 
Jesus "fictício” o que envolve a desconstrução da antiga imagem de Jesus nos evangelhos 
e a reconstrução de uma que atenda ao homem moderno. 
Em vista disso, ninguém deveria olhar para sua obra em busca do Jesus real. Eles 
estão fazendo um Jesus à sua própria imagem. Além disso, sua obra está manchada pela 
declarada busca de publicidade. Eles admitiram: "Vamos tentar realizar nossa obra à vista 
de todos. Não apenas vamos honrar a liberdade de informação, mas também insistiremos 
na revelação pública de nossa obra”. Sendo mais claro, o Seminário de Jesus procurou 
publicidade desde o início. 
3. Os livros errados. A alternativa do Seminário de Jesus baseia-se, em parte, 
em um hipotético "Evangelho de Q" [do alemão Quelle, que significa fonte] e em um 
Evangelho de Tomé, do século II, escrito por gnósticos. Além de tudo isso, o Seminário 
apela para um não existente Marcos secreto. O resultado é que o Evangelho de Tomé, 
apócrifo e do século II, é considerado mais autêntico do que Marcos e João, mais antigos. 
 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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4. As pressuposições erradas. Suas conclusões estão baseadas em 
pressuposições radicais, uma das quais é a sua injustificada rejeição aos milagres. Se Deus 
existe, então os milagres são possíveis. Consequentemente, qualquer rejeição aos milagres 
é uma rejeição à existência de Deus. À luz de seu ateísmo implícito, não seria de 
surpreender que eles rejeitem o Jesus dos evangelhos. 
Além disso, suas conclusões estão baseadas na pressuposição infundada de que o 
cristianismo foi influenciado por religiões de mistério. Isso não seria possível, pois, os 
autores monoteístas judaicos das Escrituras não teriam usado fontes pagãs politeístas e 
não poderiam depender de fontes posteriores ao seu tempo. 
5. As datas erradas. Eles presumem datas posteriores injustificadas para os 
quatro evangelhos (provavelmente entre os anos 70 e 100 d.C.). Ao fazerem isso, acreditam 
que são capazes de criar tempo suficiente para concluir que o Novo Testamento é composto 
por mitos sobre Jesus. No entanto, isto é contrário aos fatos. O Novo Testamento é antigo 
e contém fonte de material ainda mais antiga. 
6. As conclusões erradas. Destruída a base para o Jesus real dos evangelhos, 
o Seminário de Jesus não tem um acordo real sobre quem Jesus realmente foi: um cínico, 
um sábio, um reformador judeu, um feminista, um mestre-profeta, um profeta social radical 
ou um profeta escatológico. Não há surpresa em considerar-se que alguma coisa feita pelo 
grupo errado, que faz uso do procedimento errado, baseada nos livros errados, 
fundamentada em pressuposições erradas e que emprega as datas erradas chegue à 
conclusão errada! 
A "busca do Jesus histórico" empreendida pela erudição liberal continuará. Não 
precisamos ser profetas para predizer que não o acharão. Ele já está diante dos seus olhos, 
nas páginas dos Evangelhos, mas os seus pressupostos liberais impedem-nos de vê-lo. 
9. A ESSÊNCIA DA FÉ CRISTÃ 
9.1 O SIGNIFICADO DA RESSURREIÇÃO 
 
 
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O cristianismo é a fé de que Jesus Cristo nasceu de uma virgem, morreu para expiar 
nossos pecados e ressuscitou dentre os mortos. Tal fé repousa nesses milagres que 
envolvem a vida de Jesus: “O Novo Testamento encara Cristo à luz da ressurreição, e se 
nós articulamos a nossa teologia a partir da perspectiva da fé, não podemos senão fazer o 
mesmo. Considerar a ressurreição como uma questão aberta é em si um juízo contra a fé” 
(FERREIRA, 2007). 
Assim, a ressurreição é parte central da proclamação da igreja desde o período 
apostólico. A esperança da futura ressurreição dos cristãos depende da ressurreição de 
Cristo, pois, por meio dela, Jesus venceu a morte, para que pudéssemos participar da vitória 
que, com sua própria morte, ele assegurou para todos nós (1Co 15.17, 54-55; Rm 4.25; 
1Pe 1.3, 21). 
Por sua ressurreição, podemos ter a certeza de que seremos ressuscitados em sua 
vinda. A sua ressurreição sinaliza o início da sua exaltação: “O que se tornou maldito por 
nossa causa é o que foi abençoado pelo Pai. O que foi pregado na cruz é o Filho, em quem 
o Pai se compraz. O rejeitado da terra é o coroado do céu. [...] Ele é o justo que foi pregado 
na cruz e entregue à morte. A ressurreição é a inversão divina da sentença que o mundo 
impôs a Jesus (BAVINCK, 2001). 
A ressurreição de Cristo consistiu em que, nele, a natureza humana foi restaurada 
“à sua original força e perfeição e até mesmo elevada a um nível superior.” Em 1Coríntios 
15.42-44, Paulo declara “que, no futuro, o corpo do crente será incorruptível, isto é, já não 
haverá possibilidade de ele sofrer decadência; será glorioso, o que significa que 
resplandecerá de fulgor celestial; será poderoso, isto é, cheio de energia e, talvez, de novas 
faculdades; e será espiritual, o que não significa ser imaterial, mas adaptado ao seu 
respectivo espírito; o corpo do crente será um perfeito instrumento do espírito” 
(BERKHOF,2002). Nos evangelhos, aprendemos que o corpo de Jesus passou por uma 
notável mudança, de forma que ele não podiaser reconhecido com facilidade; podia 
aparecer e desaparecer de repente (Lc 24.31, 36; Jo 20.13, 19; 21.7). Ainda assim, o corpo 
de Cristo era físico e real (Lc 24.39). Ele foi revestido de novas características, 
perfeitamente ajustadas ao seu futuro ambiente celestial. E, pela ressurreição, ele se tornou 
o espírito vivificante (1Co 15.15). 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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Devemos destacar que, diferente de outras pessoas, as quais, segundo as 
Escrituras, foram ressuscitadas dos mortos, Cristo ressurgiu por seu poder (Jo 11.25; 10.18; 
2.19-21). A ressurreição, porém, não foi realizada com a participação única de Cristo Jesus. 
Nas Escrituras, sua ressurreição é atribuída, frequentemente, ao poder de Deus (At 2.24, 
32; 3.26; 5.30; Rm 6.4; 1Co 6.14; Gl 1.1; Ef 1.20; 1Pe 1.3). E, se a ressurreição pode ser 
chamada obra de Deus, segue-se que o Espírito Santo também agiu nessa ressurreição 
(Rm 1.4; 8.11). “A Trindade é responsável pela ressurreição de Jesus Cristo; o Pai, o Filho 
e o Espírito Santo manifestam seu poder na ressurreição de Cristo; por isso, o Novo 
Testamento com mais frequência atribui a ressurreição ao poder divino, sem mencionar a 
pessoa de Deus” (FERREIRA, 2007). 
Segundo Berkhof, podemos destacar três significados da ressurreição de Cristo: 
• Ela se constituiu numa declaração do Pai de que o último inimigo [a morte] 
tinha sido vencido. 
• A ressurreição foi um símbolo do que estava destinado aos membros do corpo 
de Cristo. 
• A ressurreição relacionou-se com a justificação, a regeneração e a 
ressurreição final dos crentes. 
A ressurreição foi o passo fundamental em sua exaltação — ele foi libertado da 
maldição que recaiu sobre ele por ter arcado voluntariamente com o pecado de toda a raça 
humana (ERICKSON, 1997). 
9.2 A IMPORTÂNCIA DA RESSURREIÇÃO 
“A ressurreição de Cristo é o amém a todas as suas promessas.” John Boys 
A morte, o mais terrível inimigo do homem, não tem poder para reinar sobre o Senhor 
da vida. Essa verdade tem significado para você e para mim, aqui e agora, em pleno século 
XXI. Se você é um cristão, pode se alegrar no fato de que Cristo se levantou dos mortos 
como um conquistador, um campeão que vive para sempre, para reinar “com seus santos”. 
Isso se refere à promessa baseada em nosso batismo na morte e ressurreição em Cristo – 
é a nossa esperança e a razão e base de tudo o que cremos. 
 
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Mas, e se não houve a ressurreição? E, se a ressurreição de Jesus Cristo é apenas 
um mito do primeiro século a ser ignorado ou marginalizado como uma questão 
secundária? As implicações dessa abordagem são devastadoras para o cristianismo. 
Vejamos o que Paulo escreveu em 1Co 15.16-19: “Pois, se os mortos não 
ressuscitam, nem mesmo Cristo ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, inútil é a fé que 
vocês têm, e ainda estão em seus pecados. Neste caso, também os que dormiram em 
Cristo estão perdidos. Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, dentre 
todos os homens somos os mais dignos de compaixão.” 
Sem dúvida, se Jesus ainda está no túmulo, se Ele é perpetuamente o sofredor e 
nunca, o conquistador, então estamos desesperadamente perdidos. E, embora esse não 
seja o caso, vamos focalizar no hipotético “e, se” que Paulo presume temporariamente, em 
1Co 15. “E, se a ressurreição fosse um mito? E, se Jesus Cristo ainda estivesse morto e no 
túmulo?” 
1. Se Jesus não ressuscitou dos mortos, então, o pecado ganhou a vitória sobre 
Ele e continua a ser vitorioso sobre nós também. Se Jesus permaneceu no túmulo, então, 
quando você morrer haverá de permanecer morto. Além do mais, visto que “o salário do 
pecado é a morte” (Rm 6.23), se você tivesse de permanecer morto, a morte e a punição 
eterna seriam o seu futuro. 
Uma das razões de confiarmos em Cristo é para perdão de pecados. Porque é do 
pecado que precisamos ser salvos. “Cristo morreu pelos nossos pecados” e “foi sepultado, 
e… ressuscitou ao terceiro dia” (1Co 15.3-4). Se Cristo não ressuscitou, sua morte foi em 
vão, sua fé nEle seria sem sentido, e seus pecados ainda seriam contados contra você e 
não haveria nenhuma esperança de vida espiritual. 
2. E se não há ressurreição, então, “também os que dormiram em Cristo estão 
perdidos” (v. 18). Isso significa que todo santo do Antigo Testamento, todo santo do Novo 
Testamento, e todo santo desde que Paulo escreveu estaria sofrendo em tormento neste 
exato momento. Todo e qualquer crente, em todas as eras, também estaria no inferno. Sua 
fé teria sido em vão, seus pecados não teriam sido perdoados, e seu destino seria a 
condenação. 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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3. À luz das outras consequências, a última é bem óbvia: “Se é somente para 
esta vida que temos esperança em Cristo, dentre todos os homens somos os mais dignos 
de compaixão” (v.19). Sem a ressurreição de Cristo, a salvação e as bênçãos que ela traz, 
o cristianismo seria sem sentido e lamentável. Sem a ressurreição não teríamos o Salvador, 
o perdão e o evangelho, jamais teríamos a fé significativa, nem a vida, e nunca poderíamos 
ter esperança por alguma dessas coisas. 
Se o cristão não tem um Salvador, senão Cristo; um Redentor, senão Cristo; e um 
Senhor, senão Cristo; e, se Cristo não é ressurreto, Ele não está vivo; nesse caso, a nossa 
vida cristã é sem vida. 
Nós nada teríamos para justificar nossa fé, nosso estudo bíblico, nossa pregação ou 
testemunho, nossa adoração e serviço de culto a Ele, e nada para justificar nossa 
esperança nesta vida ou na próxima. 
Mas, Deus sim ressuscitou “dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o qual foi 
entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa 
justificação” (Rm 4.24-25). Porque Cristo vive, nós também viveremos (Jo 14.19). “O Deus 
dos nossos antepassados ressuscitou Jesus, a quem os senhores mataram, suspendendo-
o num madeiro. Deus o exaltou, colocando-o à sua direita como Príncipe e Salvador, para 
dar a Israel arrependimento e perdão de pecados” (At 5.30-31). 
Paulo encerra a terrível seção “e, se”, dizendo: “Mas de fato Cristo ressuscitou dentre 
os mortos, sendo as primícias dentre aqueles que dormiram” (1Co 15.20). Como Paulo 
disse, no final de sua vida, “porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele 
é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia” (2Tm 1.12). Então, não esqueça 
a ressurreição; alegre-se nela e glorie-se nela, pois Ele ressuscitou de fato. 
9.3 A ASCENSÃO DE CRISTO 
9.3.1 A CONSUMAÇÃO DA RESSURREIÇÃO 
 
 
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A ascensão não aparece nas páginas da Escritura de maneira tão patente como se 
dá com a ressurreição. Isso porque, provavelmente, a ressurreição foi o verdadeiro ponto 
decisivo da vida de Jesus, e não a ascensão. Em certo sentido pode-se dizer que a 
ascensão foi o complemento e a consumação da ressurreição. A transição de Cristo para 
a vida na glória começou na ressurreição e foi aperfeiçoada na ascensão. Não significa que 
a ascensão é destituída de significado independente. Mas, embora as provas bíblicas da 
ascensão não sejam tão abundantes como as da ressurreição, são mais que suficientes. 
Lucas, declara que a ascensão de Jesus (At 1.9-11; Lc 24.50-53) ocorreu quarenta 
dias após a ressurreição e que os apóstolos a testemunharam. Marcos se refere a ela em 
16.19. Jesus falou muitas vezes dela, antes da Sua morte (Jo 6.62; 14.2, 12; 16.5, 10, 17, 
28; 17.5; 20.17). Paulo se refere repetidamente a ela (Ef 1.20; 4.8-10; 1 Tm 3.16) e a 
epístola aos Hebreus chama a atenção para os eu significado (1.3; 4.14; 9.24). 
Pode-se descrever a ascensão como a subida visível da pessoa do mediador da 
terra ao céu, segundo Sua natureza humana.Foi uma transição local, de um lugar para 
outro. Naturalmente, isto implica que o céu, como a terra, é um lugar. Mas a ascensão de 
Jesus não foi apenas uma transição de um lugar para outro; incluiu também mais uma 
mudança da natureza humana de Cristo. Essa natureza passou então para a plenitude da 
glória celeste e foi perfeitamente adaptada à vida do céu. 
Alguns estudiosos de tempos recentes consideram que o céu é uma condição, e não 
um lugar, e daí não concebem a ascensão em termos locais. Eles admitem que houve um 
elevar-se momentâneo de Cristo aos olhos dos doze, mas consideram isto somente como 
um símbolo da elevação da nossa humanidade a uma ordem espiritual muito superior à 
nossa vida presente. A concepção local, porém, é favorecida pelas seguintes 
considerações: 
• O céu é descrito na Escritura como um lugar de habitação de seres criados. 
Todos estes seres se relacionam de algum modo com o espaço; somente Deus está acima 
de todas as relações espaciais. 
 
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• O céu e a terra são repetidamente colocados em justaposição na Escritura. 
Deste fato se pode concluir que, se um deles é um lugar, o outro terá que ser um lugar 
também. 
• A Bíblia nos ensina a pensar no céu como um lugar. Várias passagens dirigem 
o nosso pensamento para cima, ao céu, e para baixo, ao inferno (Dt 30.12; Js 2.11; Sl 
139.8; Rm 10.6,7). Isto não teria sentido, se ambos não devessem ser considerados como 
locais, em algum sentido da palavra. 
• O ingresso do Salvador no céu é retratado como uma subida. Os discípulos 
veem Jesus ascendendo até que uma nuvem o intercepta e O oculta da vista deles. O 
mesmo evento está presente na mente do escritor de Hebreus: “Portanto, visto que temos 
um grande sumo sacerdote que adentrou os céus, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos 
com toda a firmeza à fé que professamos” (4.14). 
Qual a importância de Cristo ter não só ressuscitado dos mortos, mas também 
ascendido ao céu? 
1. O peso da vitória de Cristo 
Uma coisa é dizer que Cristo está vivo; outra, que ele é também vitorioso. O peso 
dessa vitória é demonstrado em sua ascensão. A declaração-chave nesse sentido 
encontra-se em Efésios: “Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativos muitos 
prisioneiros” (4.8). O quadro aqui é o de inimigos capturados e parece estar relacionado 
com as palavras em Colossenses 2.15: “Tendo despojado os poderes e as autoridades, fez 
deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz”. 
Os céus através do qual Cristo ascendeu são também retratados como a esfera de 
Satanás — “o príncipe do poder do ar” (Ef 2.2) — e de várias outras forças malignas — “as 
forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef 6.12). Mas Cristo ascendeu acima deles, 
levando-os cativos. Assim, 0 movimento de Cristo em direção ao céu com os cativos sob si 
encena o peso de sua vitória. Cristo obteve vitória completa sobre o pecado e a morte e 
sobre todas as forças malignas — Satanás e seus anjos. Jesus Cristo ascendeu alto! 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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2. Nossa elevação em Cristo 
A ascensão de Cristo refere-se não só à magnitude da vitória de Cristo, mas também 
ao fato de que somos elevados nele. 
Natureza humana elevada. Uma vez que Cristo não renunciou à sua natureza 
humana ao voltar para o céu, mas ascendeu num corpo glorificado, isso significa, antes de 
tudo, o fato extraordinário de que a natureza humana já foi elevada à glória do céu. A 
natureza humana nunca foi mais gloriosa; pois, num sentido muito além de tudo o que 
possa ter havido antes, Deus está agora unido à nossa humanidade, não sobre a terra, mas 
no céu. O corpo de Cristo é glorioso e Nele a natureza humana atingiu seu ápice. A máxima 
glorificação do homem é a glorificação do corpo de Jesus Cristo. 
Crentes elevados. Isso leva a outra verdade extraordinária, a saber, que aqueles que 
estão em Cristo já foram espiritualmente elevados ao céu, pois, diz Paulo: “Vocês 
morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3.3). Isso só se 
refere à nossa vida em Cristo. Sem ele, permanecemos totalmente parte da terra; com ele, 
somos elevados ao céu. 
Toda a nossa vida deve assumir um feitio diferente. Isso não significa que esta vida 
terrena não seja importante ou deva ser desprezada — aliás, ela possui muito valor —, mas 
nunca devemos permitir que ela nos domine. Aliás, da perspectiva de nossa cidadania 
celestial, podemos olhar para as coisas da terra, vê-las dentro de seu valor limitado e 
certamente não ser dominados por elas. Essa vida até pode ser chamada “a vida 
ascendida”. É uma vida vitoriosa de afirmar nossa condição celestial e viver constantemente 
de acordo com essa realidade. 
Pensamentos e sentimentos elevados. Uma vez que também somos criaturas da 
terra, o desafio de nossa condição celestial é que devemos estar elevando constantemente 
os pensamentos e sentimentos para as coisas de cima. Paulo declara: “Mantenham o 
pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas. [pois vocês morreram...]” (Cl 
3.2). É de fato irreal fixar a mente em coisas inferiores quando se está morto. A realidade 
terrena ainda permanece como tentação contínua de se desviar desse foco celestial. A 
solução clara para a pessoa em Cristo que conhece sua condição celestial é voltar-se 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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deliberadamente das coisas da terra para fixar a mente, o coração, os sentimentos nas 
coisas de cima. Assim elevando a vida em direção ao céu e fixando-a de maneira suprema 
em Cristo, em quem se esconde nossa vida, as coisas da terra que de outro modo parecem 
tão sedutoras e tentadoras só podem desaparecer. 
9.3.2 EXALTADO 
Devemos ter em mente que, hoje, Jesus está vivo e atuante. Após a sua ascensão, 
Cristo está nos céus, à direita de Deus — e este é o terceiro passo da sua exaltação. Aquele 
que se humilhou às profundezas foi agora exaltado às alturas. Cristo que ascendeu ao céu 
está agora assentado na glória. O termo teológico que iremos utilizar para designar esse 
estágio da exaltação de Cristo, será “sessão”. Ela é empregada aqui no sentido de “ato de 
assentar” ou “ato de estar assentado.” 
Assim, a sessão de Cristo é importantíssima em nossa consideração, pois diz 
respeito à localização e esfera presentes do Senhor exaltado. Embora isso seja oculto de 
nossos olhos, pela direção da Escritura e pelo discernimento de fé, podemos encontrar 
muito significado para o entendimento de nosso mundo e nossa época. 
A sessão de Cristo é com frequência mencionada em conjunção imediata com sua 
morte e ressurreição. No dia de Pentecoste, depois de falar da morte e sepultamento de 
Jesus, Pedro proclamou: “Deus ressuscitou este Jesus, e todos nós somos testemunhas 
desse fato. Exaltado à direita de Deus [...]” (At 2.32,33). Paulo declara: “Foi Cristo Jesus 
que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus [...]” (Rm 8.34). Em outra 
parte, Paulo diz que Deus exerceu seu poder, “ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o 
assentar-se à sua direita, nas regiões celestiais” (Ef 1.20). 
O livro de Hebreus, com sua ênfase no sacrifício de Cristo como Sumo Sacerdote, 
passa diretamente desse ato para a sessão: “Depois de ter realizado a purificação dos 
pecados, ele se assentou à direita da Majestade nas alturas” (Hb 1.3); “Quando este 
sacerdote acabou de oferecer, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-
se à direita de Deus” (10.12). Isso só significa que tudo desde a morte de Cristo na cruz, 
em auto-humilhação, aponta adiante, para a altura de sua exaltação: a sessão de nosso 
Senhor Jesus Cristo. 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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A realidade da sessão de Cristo é basicamente um dado derevelação bíblica. Nós a 
aceitamos acima de tudo com base no testemunho da Escritura. Além disso, diferentemente 
da ressurreição e da ascensão, não houve testemunhas oculares a quem possamos 
recorrer, pois mesmo os que viram Jesus em sua ressurreição e ascensão não o viram mais 
(At 1.9). 
É bem significativo que dois outros relatos bíblicos retratem uma visão do Espírito 
Santo, não do começo da sessão de Jesus, mas de sua continuação. 
O primeiro encontra-se no clímax extraordinário do testemunho de Estêvão logo 
antes de seu martírio: “Estevão, cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu 
a glória de Deus, e Jesus em pé, à direita de Deus, e disse: ‘Vejo os céus abertos e 0 Filho 
do homem em pé, à direita de Deus” (At 7.55,56). 
Em segundo lugar, há o relato de João que entrou no céu “no Espírito” (Ap 4.1,2) e 
viu o trono de Deus rodeado por quatro criaturas e os tronos dos anciãos (Ap 4.4-11). 
Depois disso, João viu “um Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé, no centro do 
trono, cercado pelos quatro seres viventes e pelos anciãos” (Ap 5.6). Embora nem um nem 
outro sejam relatos de uma testemunha ocular física (ou natural) — Estêvão estava “cheio 
do Espírito Santo”, e João, “no Espírito” —, eles de fato prestam um testemunho vivo da 
sessão contínua de Cristo à direita de Deus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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PNEUMATOLOGIA - A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO. 
 Desde o Dia de Pentecoste, o Espírito Santo tem exercido na terra uma 
atividade fora do comum, especialmente nos últimos dois séculos. Esta gloriosa 
verdade é para nós muito significante, porque além de testemunhar da nossa própria 
experiência, corresponde à nossa concepção à luz das profecias, de que a 
manifestação abundante do Espírito Santo é um dos sinais distintos da iminente 
volta de Jesus. 
 A obra crescente do Espírito Santo em nossos dias destaca a importância do 
estudo a respeito da Terceira Pessoa da Trindade. É uma necessidade imperiosa 
conhecermos não apenas a doutrina, mas o que o Espírito Santo pode e quer fazer 
em nós e por nós. É também pelo poder do Espírito Santo que a igreja de Cristo 
pode triunfar dos poderes satânicos. Por isso convém-nos conhece-lo na sua 
plenitude. 
1. DEUS ESPÍRITO SANTO 
O Espírito Santo é um em essência com o Pai e com o Filho, é pessoa divina. 
1) É o Espírito da verdade. 
2) Atuou na criação do mundo e inspirou os homens a escreverem as Sagradas 
Escrituras. 
3) Ele ilumina os homens e os capacita a compreenderem a verdade divina. 
4) No dia de Pentecostes, em cumprimento final da profecia e das promessas quanto 
à descida do Espírito Santo, ele se manifestou de maneira singular, quanto os 
primeiros discípulos foram batizados no Espírito, passando a fazer parte do Corpo 
de Cristo que é a Igreja. Suas outras manifestações, constantes no livro Atos dos 
Apóstolos, confirmam a evidência de universalidade do dom do Espírito Santo a 
todos os que crêem em Cristo. 
 
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5) O recebimento do Espírito Santo, sempre ocorre quando os pecadores se 
convertem a Jesus Cristo, que os integra, regenerados pelo Espírito, à igreja. 
6) Ele dá testemunho de Jesus Cristo e o glorifica. 
7) Convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo. 
8) Opera a regeneração do pecador perdido. 
9) Sela o crente para o dia da redenção final. 
10) Habita no crente. 
11) Guia-o em toda a verdade. 
12) Capacita-o para obedecer à vontade de Deus. 
13) Distribui dons aos filhos de Deus para a edificação do Corpo de Cristo e para o 
ministério da Igreja no mundo. 
14) Sua plenitude e seu fruto na vida do crente constituem condições para uma vida 
cristã vitoriosa e testemunhante. 
2. A DIVINDADE DO ESPÍRITO SANTO 
Se, porventura, a personalidade e a divindade do Espírito Santo parecem 
vagas para um crente, isso não é devido a qualquer falha do Texto Sagrado, para 
representar a Terceira Pessoa como tal. 
No que diz respeito à Escritura, o Espírito Santo é apresentado em conexão 
com todas as ações e características que pertencem às pessoas divinas. 
Numa análise PRÉ – PENTECOSTAL – reconhecemos que o Espírito Santo 
preexistia como a terceira pessoa da divindade, e nessa qualidade esteve sempre 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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ativo, mas o período que antecedeu ao dia de Pentecoste não foi a época de sua 
atividade especial. O período do Antigo Testamento foi de preparação e espera. 
Encontramos uma notável diferença existente em Suas ministrações no Antigo 
e no Novo testamentos. Ele é referido por 88 vezes no Antigo Testamento, e mais 
de metade desse número de vezes somente no livro de Atos, enquanto que em todo 
o N.T. ele é mencionado mais de 03 vezes para cada referência que lhe é feita no 
Antigo. 
Durante esse período pré-Pentecostal, o Espírito descia sobre os homens 
apenas temporariamente, afim de inspirá-los para algum serviço especial, e deixava-
os quando essa tarefa ficava terminada. 
No período PÓS – PENTECOSTAL – que se estende do dia de Pentecoste 
até os nossos dias, pode ser chamado legitimamente de dispensação do Espírito. 
Após o dia de Pentecoste, por meio do Espírito Santo, Deus veio para habitar nos 
homens. Ele vem para permanecer. O dia de Pentecoste marcou o raiar de um novo 
dia nas relações entre o Espírito Santo e a humanidade. Ele veio para habitar na 
Igreja. A Igreja, o verdadeiro corpo de Cristo, habitado pelo Espírito Santo de Deus, 
é tão indestrutível como o Trono de Deus. 
O Espírito Santo é uma Pessoa Divina e nunca deve ser visto como um espírito 
criado (o que negaria a sua divindade) ou, como a mera presença ou poder de Deus 
(o que negaria a sua personalidade). Ele é chamado Espírito Santo porque a Sua 
natureza é eterna e essencialmente santa, e Ele é o autor de toda a santidade no 
homem. O Espírito Santo é Deus e é também uma Pessoa. Ele não é uma energia 
impessoal, uma mente fria, sem personalidade, sem coração. Ele é uma pessoa 
porque é capaz de sentir conosco as agonias da nossa existência e porque Ele tem 
uma mente que pensa, e pensa de maneira livre! 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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Há, inúmeros títulos atribuídos ao Espírito Santo na Bíblia e cada um deles 
nos revela um aspecto da Sua pessoa ou obra. Há títulos que revelam o Seu 
relacionamento com o Pai (Espírito de Deus - Mateus 3.16), Seu relacionamento 
com o Filho (Espírito de Cristo - Romanos 8.9), Seus atributos (Hebreus 9.14; 
Romanos 1.4) e Sua obra (João 14.17; Romanos 8.2,15; Hebreus 10.29). 
3. ETIMOLOGIA 
Pneumatologia. Do grego (pneumatos = Espírito) + (Lógos = revelação;palavra; 
discurso; doutrina; raciocínio). O termo significa, então, “doutrina do Espírito 
(Santo)”. 
3.1 - Importância da Pneumatologia. 
O estudo do Espírito Santo de Deus é importante devido a Quem Ele é (sua pessoa), 
o que Ele fez e ainda fará (sua obra): 
a) Sua Pessoa - O Espírito Santo é Deus e aquilo que se conhece verdadeiramente 
de Deus é o alicerce da fé cristã. 
b) Sua Obra - Enquanto o mundo parece somente associar o Espírito Santo ao 
fanatismo religioso, Ele se mantém ativo em todas as áreas da vida. Ele é o Criador, 
também trabalha na providência, na natureza, na política, nos talentos humanos, na 
salvação e no crescimento espiritual. Ele inspirou a Bíblia e agora ilumina nossas 
mentes para que possamos entendê-la. 
Sua vinda ao mundo era tão necessária para a nossa salvação quanto a vinda de 
Cristo. Sem o Espírito nossa crença é vazia e não temos prova de nossa salvação 
(Romanos 8.9). O Espírito Santo nos dá vida física, espiritual e ressurreta (Jó 33.4; 
João 3.5; Romanos 8.11) O Espírito Santo é o autor de tudo que é bom e agradávelem nossa existência (Gálatas 5.19-22). 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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Quando atentamos para a pneumatologia devemos submeter-nos às 
Escrituras como a nossa única regra de fé e prática. Especialmente no estudo da 
obra do Espírito Santo onde muitos têm feito de sua própria experiência a autoridade 
final. Outros afirmam, em nome do Espírito Santo de Deus, terem recebido 
revelações extra-Bíblicas e passam a ensinar heresias destruidoras. Em oposição a 
esse tipo de atitude o apóstolo Paulo foi enfático: “Mas, ainda que nós mesmos ou 
um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja 
anátema.”. (Gálatas 1.8) 
4. DIFICULDADES NA COMPREENSÃO DO ESPÍRITO SANTO 
Embora o estudo do Espírito Santo seja especialmente importante, nossa 
compreensão é em geral mais incompleta e confusa nesse ponto que na maioria das 
outras doutrinas. Um dos motivos para isso é que temos na Bíblia menos revelações 
explicitas acerca do Espírito Santo do que encontramos acerca do Pai e do Filho. 
Em parte, talvez isso se deva ao fato de que uma grande fatia do ministério do 
Espírito Santo consiste em proclamar e glorificar o Filho (João 16.14). Em contraste 
com outras doutrinas, não há discussões sistemáticas acerca do Espírito Santo. Na 
prática, a única discussão ampla é o discurso de Jesus em João 14-16. Na maior 
parte das ocasiões em que o Espírito Santo é mencionado, ele está relacionado a 
outro assunto. Outro problema é a falta de um quadro concreto de figuras. Deus Pai 
é compreendido de forma bem razoável, por causa da figura do pai que é familiar a 
todos. O Filho não é de difícil conceituação porque realmente apareceu em forma 
humana, foi observado e teve sua historia registrada. Mas o Espírito é intangível e 
difícil de visualizar. Para complicar, há uma terminologia infeliz da King James 
(tradução da Bíblia para o inglês) que se refere ao Espírito Santo como o “Holy 
Ghost” (Fantasma Santo). Muitas pessoas que cresceram usando essas versões da 
Bíblia entendem o Espírito Santo como alguma coisa por baixo de um lençol branco. 
Na segunda metade do século XX, surgiram controvérsias consideráveis 
acerca da atividade do Espírito Santo. Por conseguinte, existe alguma relutância em 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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discutir sobre o Espirito Santo, por medo de que tal discussão possa criar 
dissensões. Uma vez que os pentecostais dão tanta importância ao Espírito Santo, 
certos não-pentecostais, receosos de serem identificados com os pentecostais, 
evitam totalmente tocar no assunto. Aliás, enquanto em certos círculos “cristão 
carismático” é um rótulo de prestígio, em outros é um estigma. 
5. O ESPÍRITO SANTO COMO UM SELO 
Um selo é usado para afirmar propriedade. A presença do Espírito em um 
indivíduo é à prova de que o mesmo pertence a Deus. O selo também confirma algo 
como sendo genuíno ou autêntico. Nós encontramos um exemplo disso no ministério 
terrestre de nosso Senhor (João 6.27, Isaías 42.1-4). O crente genuíno é 
reconhecido pelo fato de ser habitado pelo Espírito. (1João 3.24). O principal 
conceito do selo é a segurança. Veja isso nos seguintes textos: 2Timóteo 2.19, 
Mateus 27.66, Apocalipse 20.3. Compare Apocalipse 7.4; 14.1. 
Os filhos de Deus estarão selados até o dia da redenção (Efésios 4.30). Paulo 
poderia apresentar algo além da preservação dos crentes até o retorno do seu 
Senhor, e em qual momento eles receberiam a glorificação? Note que este selo está 
tão seguro que em vez de ameaçar os Efésios falando da perda da segurança, Paulo 
incita-os à santidade devido a própria segurança. 
5.1. O selo 
Em Efésios 1.13, entendemos que o próprio Espírito Santo é o selo. Esse é um fato 
importante porque alguns tentam ensinar que nós estamos selados pelo trabalho do 
Espírito, ao invés da presença da sua pessoa. 
5.2. A natureza do selo 
Aqueles que ensinam que o crente está selado por um trabalho especial do Espírito 
fazem com que Ele seja um selo experimental (capaz de ser experimentado). Eles 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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confundem o "selar com o Espírito Santo" com o Seu trabalho na santificação e na 
segurança do crente. A Bíblia por outro lado nunca 
descreve o selo como uma experiência. O Espírito pode produzir experiências 
Cristãs, mas a sua presença é o selo. O ser selado com o Espírito não deve visto 
como uma experiência pessoal. 
5.3. O objetivo do selo 
Se nós confundirmos o selo com a segurança então devemos acreditar que os 
crentes fracos ainda não foram selados. A Bíblia assume o selo de todo o crente 
(2Coríntios 1.22, Efésios 1.13 e 4.30). Isso é confirmado pelo fato de que ninguém 
é instruído a buscar o selo. Isso ainda é visto como um fato para todos os crentes 
regozijarem. 
5.4. O propósito do selo 
São selados os cristãos para que sejam seguros. O selar é a base, não o 
conhecimento da segurança. O Espírito Santo é um selo maravilhoso por Seu poder 
(1João 4.4), e por Seu trabalho na salvação assegurando-nos que nunca nos deixará 
(Filipenses 1.6; João 7.38-39; 4.14; 14.16). 
5.5. O tempo de ser selado 
Os crentes são selados quando eles recebem o Espírito. Isto acontece quando eles 
confiam em Cristo (Gálatas 3.14, João 7.38- 39; Efésios 1.14). 
6. O ESPÍRITO SANTO COMO UM PENHOR 
Provando a nossa segurança o Espírito Santo não é visto somente como um selo 
mas também como o penhor (garantia) da nossa herança (Efésios 1.13-14, 
2Coríntios 1.22 e 5.5). Um penhor é um pagamento que nos dá fundamento e 
confiança nas intenções do fornecedor. 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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Um penhor é parte do todo. Nosso Salvador morreu para conquistar para nós 
todas as bênçãos espirituais (Efésios 1.3). 
Pela fé nós recebemos o Espírito Santo como um presente cortês que vem a 
nós pelo trabalho de Cristo (Atos 2.32-33; João 7.39). 
Um penhor é uma promessa da existência de um futuro. O penhor é uma 
promessa de que será efetuado o restante da compra ou será pago o seu preço ou 
o preço. Nosso Salvador comprou uma herança maravilhosa para nós (1Pedro 1.3-
4). Isto inclui um corpo glorificado e uma casa no céu. Nós podemos estar 
assegurados de que por nós temos o Espírito o restante da nossa herança está 
segura até que venha a nós (Efésios 1.13-14, Romanos 8.23). Uma vez determinado 
o penhor o doador não pode voltar atrás. Chamando o Espírito de “penhor” Deus 
oferece-nos a garantia da Sua intenção, que é glorificar o Seu povo. 
7. O RELACIONAMENTO COM O ESPÍRITO SANTO 
Nenhuma experiência pessoal de profundidade com o Espírito Santo pode ser 
dogmatizada. Nenhum conhecimento ou experiência com o Espírito de Deus dever 
bloquear o exercício do amor, provocando distanciamento entre cristãos e cristãos. 
Ninguém é mais do que alguém neste assunto, já que somente o Espírito Santo é 
pessoa capaz de interpretar-se a si mesmo. Nenhum ensino sobre o Espírito Santo 
que contrarie a Bíblia tem qualquer validade. Nenhuma realidade na vida humana 
do salvo, tais como intelectualidade, curso de seminário teológico, lideranças 
eclesiásticas, experiência ministerial, anos de conversão - nada disso contribui 
autoridade infalível sobre o assunto Espírito Santo (1Coríntios 1.17,19; 2.4-5). 
Ninguém dá a última palavra sobre o Espírito Santo, a não ser Ele próprio (1Coríntios 
2.10-12). Aquele que julga os irmãos em Cristo e deles se afasta por divergências 
da opinião a respeito do Espírito Santo, revela sua própria ignorância e limitação 
espiritual (João 1.6-7; 2.9-11; Romanos 13.8; 14.3,10,13; Efésios 4.2-6). 
 
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Só se pode aprofundar no relacionamento com o Espírito Santo: 
a) Quemjá teve genuína experiência de conversão; 
b) Deseja continuamente algo mais de Deus em sua vida (interesse perseverante); 
c) Conhece experimentalmente a morte diária na cruz (esvaziamento total); 
d) Busca tomar posse do poder da ressurreição (autoridade na vida interior), 
e) Tem por único objetivo a glória de Deus (revelação interior); 
f) Não conhece em sua vivência diária outro Senhor a não ser o Senhor Jesus 
(libertação interior); 
g) Penetra praticamente na consciência da vida corporativa de Cristo Jesus 
(realidade de participação). 
O relacionamento profundo com o Espírito Santo não é obra exterior - para ser 
reconhecido no corpo físico - com sensações, não é para destaque pessoal - ser 
visto por todos como uma pessoa espiritual, não é para vitórias humanas: posição, 
elogios, prosperidade e não é para conhecimento teórico 
Sensações, agitações, trabalho na Igreja nem sempre significam experiências 
profundas com Deus (1Coríntios 4.20; 2Coríntios 4.18). Experiências profundas com 
o Espírito de Deus nem sempre produzem contentamento pessoal e apoio geral. O 
contrário, muitas vezes, é realidade (Romanos 8.23; 2Coríntios 4.6-10,17; 5.2-5; 
2Timóteo 3.12). Relacionamento profundo com o Espírito Santo nunca visa: 
destaque, elogios, prosperidade - mas despojamento, pois, relacionamento profundo 
com o Espírito Santo sem afastamento do pecado é ilusão (Romanos 6.2,6,11-12; 
Gálatas 5.16). 
Portanto, relacionamento profundo com o Espírito Santo é experimentar vitória 
interior sobre o pecado e sobre o ego, gozar tranquila e segura intimidade com Deus 
no Espírito sem objetivos externos, cooperar com o Espírito Santo em submissão 
total e voluntária e encontrar-se em Deus totalmente. 
 
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8. OPERAÇÕES HISTÓRICAS DO ESPÍRITO SANTO ENTRE OS HOMENS 
1. A operação do Espírito Santo, nos tempos do Antigo Testamento, era equivalente 
ao que sucede no período do Novo Testamento, pelo menos em termos gerais, 
excetuando o fato de que ele então não habitava permanentemente no crente, 
conforme sucede aos crentes do Novo Testamento. 
No Antigo Testamento apenas homens profundamente espirituais como reis (ou 
juízes), profetas e sacerdotes demonstravam possuir o dom do Espírito Santo por 
tempos mais dilatados que o comum. 
2. Durante a vida terrena do Senhor Jesus, a operação do Espírito Santo era uma 
marca registrada de seu ministério para com os homens: “Então voltou Jesus para 
a Galiléia no poder do Espírito; e 
a sua fama correu por toda a circunvizinhança. ” (Lucas 4.14; cf. Atos 10.38). 
3. Quando do encerramento de seu ministério terreno, Jesus prometeu que Ele 
mesmo rogaria ao Pai, a fim de que o dom do Espírito Santo fosse também 
concedido aos seus seguidores (João 14.16-17). 
4. No dia de Pentecoste, o Espírito Santo desceu sobre todos os que estavam 
reunidos no cenáculo, em um total de cerca de 120 pessoas (Atos 1.15). Não há de 
se duvidar que essa dádiva do Espírito Santo envolveu mais que os apóstolos, 
segundo fica subentendido no trecho de Atos 2.14-17 e Joel 2.28-32. 
5. O restante da história diz respeito a como esse dom se expandiu a ponto de 
abarcar todos os povos; tanto aos judeus (evidentemente através da imposição de 
mãos, como método principal – ver Atos 8.17 e 9.17) como aos gentios (sem 
imposição de mãos, mas assim que exerceram fé – ver Atos 10.44 e 11.15-18). 
9. A NATUREZA DO ESPÍRITO SANTO 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
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61 
O Espírito Santo não é uma força impessoal. A Bíblia deixa claro de várias maneiras 
que o Espírito Santo é uma pessoa distinta do Pai e do Filho e não uma mera 
influência ou operação divina, e, portanto, dotado de intelecto, emoção, 
autoconsciência e autodeterminação. 
O Espírito Santo é um ser vivo, dotado de personalidade própria, não sendo 
meramente uma influência ou emanação de Deus. Antes, é uma pessoa, claramente 
divina, que faz parte da trindade da divindade (Ver João 14.16-17,26; 16.7-15 e 
Mateus 28.19). 
O pronomes pessoais aplicados ao Espírito Santo são masculinos (João 15.26; 
16.7,8,13,14), muito embora o vocábulo grego (pneuma) seja substantivo neutro. 
O termo masculino (parákletos) é aplicado ao Espírito Santo (João 14.16-17) como 
sendo outro Consolador igual a Cristo. 
O Espírito Santo possui características pessoais como inteligência (1Coríntios 2.10-
11; Romanos 8.27), vontade (1Coríntios 12.11), amor (Romanos 15.30), bondade 
(Neemias 9.20) e tristeza (Efésios 4.30; Isaías.63.10). Além de características 
pessoais o Espírito Santo 
também possui atos pessoais: Ele investiga minuciosamente (1Coríntios 2.10), Ele 
fala (Apocalipse 2.7; Gálatas 4.6; João 15.26), Ele intercede (Romanos 8.26), Ele 
ensina (João 14.26), Ele guia (João 16.12-14; Neemias 9.20), Ele chama (Atos 13.2; 
20.28). 
10. IMPLICAÇÕES DA DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO 
1) O Espírito Santo é uma pessoa, não uma força vaga. Portanto, ele é alguém com 
quem podemos ter um relacionamento pessoal, alguém a quem podemos e 
devemos orar. 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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2) O Espírito Santo, sendo plenamente divino, deve receber a mesma honra e 
respeito que dispensamos ao Pai e ao Filho. É apropriado adorá-lo como adoramos 
a eles. Não se deve pensar que ele seja em algum sentido inferior a eles em 
essência. 
3) O Espírito Santo é um com o Pai e o Filho. Sua obra é a expressão e a execução 
do que os três planejaram juntos. Não há tensão entre as três pessoas ou suas 
atividades. 
4) Deus não está distante. No Espírito Santo, o Deus Triúno chega perto de nós, tão 
perto que, de fato, entra em cada pessoa que crê. Deus é até mais íntimo de nós 
agora que na encarnação. Por meio da operação do Espírito, ele de fato torna-se o 
Emanuel, “Deus conosco”. 
5) O Espírito Santo é livre para agir da maneira que quiser. Mas Ele nunca fará nada 
que contrarie Sua Palavra. Nenhum ato do Espírito Santo poderá ser contrário à Sua 
natureza e aos Seus atributos divinos “porque Deus não é Deus de confusão, mas 
sim de paz.” (1Coríntios 14.33). 
11. OS NOMES DO ESPÍRITO SANTO 
No Antigo Testamento o Espírito Santo era mais conhecido como sendo o “Espírito 
de Deus”. Já nas páginas do Novo Testamento o Espírito Santo é chamado de: 
a) Espírito de Deus Romanos 8.14 b) Espírito de Cristo Romanos 8.9 
c) Espírito do Pai Mateus 10.20 
d) Espírito do Senhor 2Coríntios 3.17 
e) Espírito Santo Atos 2 
f) Espírito de sabedoria e revelação Efésios 1.17 
g) Espírito de poder, de amor e bom senso 2Timóteo 1.7 
h) Espírito de adoção ou de oração Romanos 8.15 
 
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i) Espírito de santificação Romanos 1.4 
j) Espírito de vida Romanos 8.10 
k) Espírito de mansidão 1Coríntios 4.21 
l) Espírito de consolo Atos 9.31 
m) Espírito da glória 1Pedro 4.14 
n) Espírito de selagem, garantia da vida eterna Efésios 1.13-14 
o) Espírito de todas as bênçãos carismáticas cristãs 1Coríntios 12.4 p) Espírito da 
verdade João 14.27; 15.27; 16.13 
q) (Parákletos = Consolador) João 14.16 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
64 
APÊNDICE 
PARA CARISMÁTICOS E PENTECOSTAIS 
1. DIFERENÇA ENTRE TALENTOS E DONS 
Talentos são habilidades naturais herdadas ou adquiridas. É algo inato. A 
palavra “talento”, do latim talentum, denota “inclinação, desejo de fazer, de realizar”. 
O termo serve como sinônimo para a “capacidade de criar, produzir com arte”, bem 
como para a “habilidade para realizar determinada atividade”. Os talentos nascem 
com o indivíduo e podem ser desenvolvidos com estudo, dedicação e persistência. 
Porém, quando o talento não é conhecido, não é possível desenvolvê-lo,ou seja, 
ele se transforma em um recurso inutilizado ou subutilizado. Não devemos confundir 
a palavra “talento” com o termo “talento” registrado na parábola de mesmo nome (a 
‘parábola dos talentos’, cf. Mateus 25.15-30). No texto bíblico, a palavra “talento” 
vem do grego (tálanton) e significa “balança”, “peso arredondado”, “soma de 
dinheiro” em ouro, prata, bronze ou ferro. No Antigo Testamento cada talento, do 
hebraico (kikkar), era equivalente a 20,4kg de um desses metais. Depois passou a 
ser uma unidade monetária que equivalia a 6.000 denários (um denário era a diária 
de um trabalhador rural). Ou seja, o talento era uma unidade de medida. O talento 
judaico era equivalente a 34 quilos de alguma coisa – normalmente prata. Sendo 
assim, no contexto específico do texto bíblico citado acima, talento nada tem a ver 
com as habilidades ou qualidades pertencentes a alguém. Os talentos diferem dos 
dons, que são ofertados. O termo “dom”, do hebraico (mattath), significa “dádiva, 
oferta, presente”. 
No Novo Testamento o vocábulo “dom”, do grego (charísma), significa “efeito, 
resultado, fruto” [da Graça de Deus]. O vocábulo “graça” por sua vez, vem do grego 
(charís), e denota “favor que alguém recebe sem qualquer mérito próprio”. 
 
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
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No caso dos dons espirituais, eles são virtudes que distinguem certos cristãos e os 
capacitam a servir a Igreja de Cristo. 
O dom não pode ser comprado ou adquirido por méritos próprios. É tão 
somente fruto da Graça. Os talentos e dons espirituais diferem entre si em para 
quem são dados e quando. Uma pessoa – independentemente de sua crença em 
Deus – recebe talento natural como resultado de uma combinação da genética 
(alguns têm a habilidade natural para música, arte ou matemática) e ambiente 
(crescendo em uma família musical vai ajudar o desenvolvimento do talento em 
música), ou simplesmente porque Deus quis favorecer certas pessoas com certos 
talentos (por exemplo, Bezalel em Êxodo 31.1-6). Mesmo que exista algum 
componente genético, qualquer talento depende de três atitudes para atingir sua 
plenitude: treinamento, disciplina e perseverança. Os dons espirituais são dados aos 
cristãos pelo Espírito Santo (cf. Romanos 12.3, 6) no mesmo tempo em que colocam 
sua fé em Cristo para obter perdão de seus pecados. Naquele momento, o Espírito 
Santo dá ao novo crente os dons espirituais que deseja que aquele crente tenha (cf. 
1Coríntios 12.11). Para resumir as diferenças entre dons espirituais e talentos, 
podemos afirmar que talento é resultado de genética e/ou treinamento, enquanto 
que o dom espiritual é resultado do poder do Espírito Santo. Talvez essa afirmação 
produza certa confusão na mente de algumas pessoas pelo fato delas, na maioria 
das vezes, erroneamente substituírem o termo “talento” pela expressão “dom 
natural” – sendo que a proposição correta é “habilidade natural”. Qualquer pessoa, 
cristã ou não, pode possuir certo talento enquanto que apenas os cristãos possuem 
dons espirituais. 
Embora ambos, talentos e dons espirituais, devam ser usados para a glória 
de Deus e para ministrar uns aos outros, os dons espirituais se focalizam nesses 
serviços apenas, enquanto que os talentos podem ser usados para objetivos 
completamente não espirituais. No inconsciente coletivo das pessoas que se dizem 
evangélicas, comumente se opera a ideia de que nós precisamos buscar o Espírito 
 
 Curso Básico de Teologia 
 
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15 
 
 
66 
Santo o tempo inteiro. Da mesma forma é difundida a ideia de que nós precisamos 
entrar constantemente na presença de Deus – uma contradição pois, só entra na 
presença de Deus, quem está fora dela. Isso porque não dá para entrar já estando 
dentro. Como podemos buscar o Espírito Santo se Ele já habita em nós (cf. Romanos 
8.9, 11; 1Coríntios 3.16; 6.19)? 
Além disso, precisamos aprender que não se entra e sai da presença de Deus, 
mas se anda e se vive na presença dEle. Não se busca o Espírito Santo, mas se 
tem, porque Ele está habitando em nós. 
No dom espiritual sentimos a ação do Espírito Santo operando em nós, por 
nós e através de nós. Sentimos, ao realizar aquilo que é dom, que as forças não são 
nossas e por isso não nos enfadamos ou desanimamos; percebemos que é Deus 
quem está agindo e que nada poderíamos fazer sem Ele. Os dons e a vocação de 
Deus são irrevogáveis (cf. Romanos 11.29). Porém, quando o crente está em 
pecado, em rebeldia, ele não conseguirá desenvolver plenamente o seu dom. Ele 
pode continuar fazendo tudo na obra, menos usar com eficácia o poder de Deus. O 
dom sem unção se torna apenas em uma habilidade que não produz vida. 
2. OS DONS DO ESPÍRITO SANTO. 
O Espírito Santo concede certos dons especiais aos crentes dentro do corpo 
de Cristo. Nos escritos de Paulo, há três listas distintas de tais dons; existe também 
uma lista breve em 1Pedro. Alguns desses dons referem-se à algumas funções 
básicas exercidas na igreja. Outros dons referem-se à habilidades especiais. Não 
fica claro, porém, se esses dons são dados desde o nascimento ou se são 
capacitações recebidas em algum momento posterior ou ainda uma combinação de 
ambos. Além disso, alguns dons, tais como fé e serviço, são qualidades ou 
atividades que se esperam de todos os cristãos. 
 
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Um ponto muito importante a se considerar é já que nenhuma das listas inclui 
todos os dons encontrados nas outras listas, pode-se entender que, em conjunto, 
não esgotem todos os dons espirituais possíveis. Essas listas, portanto, em 
separado ou em conjunto, são ilustrações dos vários dons que Deus tem concedido 
à igreja. Logo abaixo vemos as listas com os dons do Espírito Santo: 
Romanos 12.6-8 - Profecia, ministério, ensino, exortação, contribuição, liderança, 
misericórdia. 
1Cor 12.4-11 - Sabedoria, conhecimento, fé, cura, operação de milagres, profecia, 
discernimento de espíritos, variedades de línguas, interpretação de línguas 
Efésios 4.11 - Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres 
1Pedro 4.11 - Falar, servir. 
É vedado o acréscimo de outros “dons”, bem como suas respectivas 
nomenclaturas, se esses “dons” não forem ratificados e referendados explicitamente 
por alguma passagem bíblica doutrinária. Não podemos nos esquecer da instrução 
deixada pelo apóstolo Paulo, de que não devemos “ir além do que está escrito” (cf. 
1Coríntios 4.6). Por exemplo: ao contrário do que é amplamente difundido por aí, 
não existe “dom de orar”, uma vez que, segundo as Sagradas Escrituras, o ato de 
orar não é dom, mas mandamento dirigido a todo cristão (cf. 1Tessalonicenses 5.17) 
e cuja prática pode – e deve – ser aprendida (cf. Lucas 11.1-4). É muito importante 
que notemos algumas observações feitas pelo apóstolo Paulo, tanto sobre a 
natureza dos dons como sobre a maneira pela qual eles são exercidos. Essas 
observações aparecem em 1Coríntios 12 e 14. 
Vejamos: 
1) Os dons espirituais são concedidos para o corpo (a igreja). Eles são para 
edificação de todo o corpo, não meramente para o prazer ou o enriquecimento dos 
 
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indivíduos que os possuem. Os dons do Espírito Santo são sempre usados para 
edificação e benefício de outra pessoa – com exceção do “dom de línguas” que 
recebe atenção especial do apóstolo Paulo no momento em que ele escreve à Igreja 
em Corinto (cf. 1Coríntios 12.7; 14.5,12). 
2) Nenhuma pessoa, sozinha, possui todos os dons espirituais (cf. 1Coríntios12.14-
21), nem acontece de um dos dons ser concedido a todas as pessoas (cf. 
1Coríntios12.28-30). Por conseguinte, os membros da igreja precisam uns dos 
outros, sendo mutuamente edificados. 
3) Todos os dons espirituais são importantespara a edificação do Corpo de Cristo 
(cf. 1Coríntios12.22-26). 
4) O Espírito Santo distribui os vários dons a quem lhe apraz (cf. 1Coríntios 12.11). 
5) Ser cheio do Espírito não é tanto uma questão de obter mais do Espírito Santo, 
mas de Ele possuir controle absoluto sobre a nossa vida. 
3. O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO E O REVESTIMENTO DE PODER 
Em primeiro lugar, vamos tratar da expressão correta do termo, pois muitas 
pessoas questionam sobre qual seria a expressão correta: “batismo com o Espírito 
Santo” ou “batismo no Espírito Santo”. A regência correta é com a preposição “com”: 
batismo com Espírito Santo. Do mesmo modo: batismo com água, batismo com fogo 
etc. 
Exemplos da Bíblia: 
“E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que 
vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; 
ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo.” (Mateus 3.11) 
 
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“E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me 
disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que 
batiza com o Espírito Santo.” (João 1.33) 
“Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados 
com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.” (Atos 1.5) 
Emprega-se a preposição “em” quando se quer determinar o lugar onde alguém é 
batizado. Por exemplo: batismo nas águas, batismo no rio, batismo na igreja etc. 
Exemplo: 
“E eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados.” (Mateus 
3.6). 
O batismo com o Espírito Santo conforme o Novo Testamento é 
teologicamente sinônima de regeneração e novo nascimento, sendo equivalente à 
obra da conversão. São terminologias sinônimas para definir o mesmo 
acontecimento. 
Você pode chamar a mesma experiência de novo nascimento, regeneração, 
conversão ou batismo com o Espírito Santo. São termos diferentes para descrever 
o mesmo acontecimento íntimo. 
A segunda experiência que, pode ou não ser acompanhada pelo ato de falar 
em outras línguas, tratamos como sendo um “revestimento de poder”, do grego 
(dýnamis), que permite ao homem testemunhar de Cristo com maior ousadia e 
autoridade: 
“E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade 
de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lucas 24.49) 
 
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“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas 
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos 
confins da terra.” (Atos 1.8) 
O revestimento de poder é algo marcante e inconfundível na vida do cristão. 
O episódio que ocorreu em Atos foi um evento único e serviu para que a Igreja se 
espalhasse pelo mundo (temos como exemplo disso os cretenses e os romanos). 
Há um só batismo (em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo): “Pois todos 
nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, 
quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito.” (1Coríntios 12.13). 
Esse versículo define biblicamente o batismo com o Espírito Santo. É a obra 
do Espírito pela qual Ele une todos os cristãos no corpo vivo de Cristo. 
A palavra “todos” aqui é fundamental, pois, se não se é crente quem não seja 
batizado dessa forma, essa obra do Espírito Santo deve acontecer na conversão. 
Os discípulos citados em Atos 19, não eram cristãos, mas sim, discípulos de 
João: 
“E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas 
as regiões superiores, chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos, disse-lhes: 
Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem 
ainda ouvimos que haja Espírito Santo. Perguntou-lhes, então: Em que sois 
batizados, então? E eles disseram: No batismo de João. Mas Paulo disse: 
Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que 
cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram 
batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre 
eles o Espírito Santo; e falavam línguas e profetizavam.” (Atos 19.1- 6) 
 
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Quando o texto fala de receber o Espírito Santo, refere-se ao recebimento do Seu 
poder: 
“Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a 
palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João, os quais, tendo descido, oraram 
por eles para que recebessem o Espírito Santo. (Porque sobre nenhum deles tinha 
ainda descido, mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus.) Então, 
lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo.” (Atos 8.14- 17). 
É preciso estudar a Bíblia tendo em mente uma visão panorâmica, pois não existem 
“Palavras” de Deus. A Bíblia é a Palavra do Espírito Santo. E o Espírito Santo não 
pode contradizer Ele mesmo. 
A evidência de falar em línguas não pode ser imposta como regra (o Senhor 
Jesus andava sempre no poder do Espírito Santo e nunca falou em línguas): “Ora, 
vós sois o corpo de Cristo e seus membros em particular. E a uns pôs Deus na igreja, 
primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores, 
depois, milagres, depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. 
Porventura, são todos apóstolos? São todos profetas? São todos doutores? São 
todos operadores de milagres? Têm todos o dom de curar? Falam todos diversas 
línguas? Interpretam todos?” (1Coríntios 12.27-30) 
A Igreja em Corinto dava muito valor aos dons espirituais (principalmente 
línguas e profecia) e desconsideravam o cultivo do amor, visto que havia dissensões 
entre eles: “Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um 
caminho ainda mais excelente. Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos 
anjos... E ainda que tivesse o dom de profecia, ...” (1Coríntios 12.31 / 1Coríntios 
13.1-2) 
Os exemplos bíblicos só têm autoridade quando amparados por uma ordem 
(mandamento) da própria Palavra. Existe uma regra hermenêutica que não pode ser 
 
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quebrada: “intérprete a experiência pessoal à luz da Escritura, e não a Escritura à 
luz da experiência pessoal”. 
Deve haver certo julgamento por parte do cristão em relação ao falar em 
línguas: “Mas, se todos profetizarem, e algum indouto ou infiel entrar, de todos é 
convencido, de todos é julgado. (...) E falem dois ou três profetas, e os outros 
julguem.” (1Coríntios 14.24,29). 
4. IMPLICAÇÕES DA OBRA DO ESPÍRITO SANTO 
1) Os dons que possuímos nos são concedidos pelo Espírito Santo. Devemos 
reconhecer que não são nossas próprias realizações. O propósito deles é que sejam 
usados no cumprimento de seu plano. 
2) O Espírito Santo fortalece os crentes na vida e no serviço cristão. As 
incapacidades pessoais não devem nos deter nem desencorajar. 
3) O Espírito Santo é sábio e soberano ao dispensar seus dons a igreja. A posse ou 
a ausência de determinado dom não é motivo de orgulho ou pesar. Seus dons não 
são prêmios para os que os buscam ou se qualificam para eles. 
4) Nenhum dos dons é para todos e nenhuma pessoa possui todos os dons. A 
comunhão do corpo é necessária para o pleno desenvolvimento espiritual de cada 
cristão. 
5) Podemos crer que o Espírito Santo nos dará entendimento da Palavra de Deus e 
nos guiará ao conhecimento da sua vontade para nós. 
6) É correto dirigir orações ao Espírito Santo, assim como ao Pai e ao Filho, bem 
como ao Deus Triúno. Em tais orações devemos agradecer-Lhe pela obra singular 
que realiza em nós e, em especial, devemos pedir-lhe que continue a realizá-la.

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