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<p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 1/36</p><p>OS TIPOS DE</p><p>CONHECIMENTOS E</p><p>SUAS</p><p>ESPECIFICIDADES</p><p>Aula 1</p><p>O SENSO COMUM</p><p>O senso comum</p><p>Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá um tipo de</p><p>conhecimento: o senso comum e suas especificidades, além de</p><p>como a mitologia se tornou expressão do senso comum, sua</p><p>importância e aplicabilidade.</p><p>Este conteúdo nos ensinará a respeitar e valorizar todos os tipos de</p><p>conhecimento, por isso a sua importância.</p><p>Vamos lá!</p><p>Alto Contraste A- A+ Imprimir</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 2/36</p><p>Ponto de Partida</p><p>Que tal fazermos um mergulho nas imensas profundezas das</p><p>nossas convicções e certezas? Que tal tentarmos conhecer melhor</p><p>o que está na raiz dos nossos projetos, sonhos e realizações?</p><p>Damos as boas-vindas a quem estiver disposto a nos acompanhar</p><p>nas reflexões que esta disciplina propõe, lembrando que o intuito é</p><p>ajudar você a conhecer mais o modo como o nosso pensamento foi</p><p>sendo plasmado ao longo da nossa história. Vamos lhe apresentar</p><p>os diversos tipos de conhecimento, os principais momentos da</p><p>Filosofia, algumas das principais correntes filosóficas que a</p><p>compõem e as principais preocupações dos pensadores desde a</p><p>Grécia antiga até hoje.</p><p>Não devemos nos esquecer que Descartes já nos alertava</p><p>que viver sem filosofar é como ter os olhos fechados sem</p><p>jamais fazer esforço para abri-los; e o prazer de ver todas as</p><p>coisas que nossa vista descobre não é comparável à</p><p>satisfação que dá o conhecimento daquelas que se</p><p>encontram pela filosofia; e seu estudo é mais necessário para</p><p>regular nossos costumes e nos conduzir na vida que o uso</p><p>dos nossos olhos para guiar nossos passos (Descartes, 1997,</p><p>p. 16).</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 3/36</p><p>Há quem viva na superfície da vida, sem jamais descer às suas</p><p>profundezas, como nos lembrou Schopenhauer (2020, p. 17) ao</p><p>afirmar que: “quanto menos inteligente um homem é, menos</p><p>misteriosa lhe parece a existência”, ou seja, nós não a</p><p>compreendemos e nem sequer percebemos que não a</p><p>compreendemos. Carl Jung, menos radical que Schopenhauer,</p><p>defende não se tratar de falta de inteligência, mas, sim, de</p><p>consciência, pois, para ele: “noventa e cinco por cento das pessoas</p><p>passa noventa e cinco por cento das suas vidas de modo</p><p>inconsciente” (Jung, [s. d.] apud One, 2005, min. 38).</p><p>Agora é com você! Queremos que você analise a seguinte frase de</p><p>Sócrates e se posicione criticamente, com toda a profundidade</p><p>possível: “Uma vida sem reflexão não merece ser vivida!”</p><p>(Pessanha, 1999, p. 67).</p><p>Então, vamos nos aprofundar nisso e mergulhar fundo nessa</p><p>reflexão? Se estiver disposto, prepare-se, pois essa reflexão não é</p><p>para os mentalmente fracos, pois estes sucumbem.</p><p>Vamos Começar!</p><p>Não se aprofundar no uso da racionalidade, não tentar entender a</p><p>vida de modo mais profundo e passar a vida inteira acreditando nas</p><p>coisas como elas diretamente se apresentam, sem mediações, são</p><p>práticas consideradas de senso comum, que é o discernimento do</p><p>qual todos comungam, sem necessidade de estudos, de modo</p><p>espontâneo e intuitivo. Os mitos foram uma das primeiras</p><p>expressões do senso comum, mas deram uma importante</p><p>contribuição para o desenvolvimento do uso da razão. O senso</p><p>comum, ao contrário do que pode parecer, não é um conhecimento</p><p>de segunda categoria ou de menor importância, pois todas as</p><p>modalidades de conhecimento são importantes dentro do seu</p><p>contexto e, como tal, devem ser respeitadas.</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 4/36</p><p>Especificidades do senso comum</p><p>O senso comum é a primeira modalidade de conhecimento e, talvez,</p><p>tão antigo quanto a humanidade. Trata-se da primeira forma de</p><p>compreensão do mundo; nele, faz-se presente a racionalização,</p><p>utilizada para dar sentido às coisas do grupo, da cultura ou da</p><p>sociedade em que nos encontramos (Souza, 1998).</p><p>O senso comum, normalmente, é transmitido pela tradição, pela</p><p>oralidade e pelos costumes, por vezes, até de modo inconsciente.</p><p>Para alguns, o senso comum é tão espontâneo que é considerado</p><p>natural; é como se não pudesse ser diferente, ou seja, como se</p><p>fosse a forma de conhecimento original, a “expressão para designar</p><p>as crenças tradicionais do gênero humano, aquilo em que todos os</p><p>homens acreditam ou devem acreditar” (Abbagnano, 2007, p. 873).</p><p>O senso comum tem como características (Chauí, 2000):</p><p>A subjetividade, que é a maneira como cada um vê e interpreta</p><p>o mundo e os eventos em si. Trata-se das opiniões, muitas</p><p>vezes, aceitas sem questionamento.</p><p>A espontaneidade, pois o senso comum não resulta de</p><p>nenhuma modalidade muito elaborada, mas surge a partir</p><p>daquilo que se observa, normalmente, a partir dos sentidos.</p><p>A imediaticidade, já que no senso comum não existe nada que</p><p>faça a mediação; essa apropriação é direta, tal qual os sentidos</p><p>captam.</p><p>A superficialidade, pois ele não aprofunda ou problematiza a</p><p>reflexão abordada, ficando apenas na superfície, sem a</p><p>preocupação com a sua fundamentação.</p><p>A acriticidade: a palavra crítica tem o sentido de filtragem e</p><p>purificação, mas o senso comum não filtra seus conceitos, não</p><p>havendo crítica (o prefixo “a”, no grego, é não ou sem).</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 5/36</p><p>A mitologia como expressão do senso</p><p>comum</p><p>A primeira manifestação do senso comum foi o mito (mytheo, em</p><p>grego, é narrativa, relato), uma narrativa fantasiosa, porém</p><p>amparada em uma preocupação válida para explicar a realidade.</p><p>Segundo o Dicionário de Filosofia, de Nicola Abbagnano, “além da</p><p>acepção geral de ‘narrativa’ [...] é possível distinguir três significados</p><p>do termo: 1º Mito como forma atenuada de intelectualidade; 2º Mito</p><p>como forma autônoma de pensamento ou de vida; 3º Mito como</p><p>instrumento de estudo social” (2003, p. 673).</p><p>Essa última acepção diz respeito ao período em que o mito</p><p>começou a ser a questionando, abrindo precedentes para o uso da</p><p>razão, pois os mitos não surgiram se autoconcebendo como forma</p><p>atenuada de intelectualidade, mas como a melhor resposta possível</p><p>para o entendimento dos eventos da natureza naquele momento.</p><p>Com o passar dos anos, aos poucos, foram aparecendo, dentro dos</p><p>mitos, elementos de racionalidade, como os questionamentos, ao se</p><p>tentar entender, por exemplo, a atitude dos deuses diante de certos</p><p>acontecimentos.</p><p>Os mitos surgiram para tentar explicar a origem de tudo o que</p><p>existe, desde o mundo físico até os acontecimentos. Os antigos</p><p>ficavam espantados (essa atitude é chamada de thaumazein) diante</p><p>da grandeza do universo e do modo perfeito como as coisas</p><p>aconteciam, pois lhes parecia que toda a natureza (physis, em</p><p>grego) estava previamente configurada para seguir uma ordem</p><p>(kosmos, em grego). O mito, então, podia ser compreendido como</p><p>uma mistura de religião e razão: recorria-se aos deuses para</p><p>explicar algo verificável e concreto.</p><p>Siga em Frente...</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 6/36</p><p>Importância e aplicabilidade do senso</p><p>comum</p><p>Todas as modalidades de conhecimento são importantes, pois,</p><p>conforme o momento da vida em que nos encontramos, umas nos</p><p>atendem melhor do que outras, semelhante aos nossos gostos</p><p>musicais, quando, a depender do lugar em que nos encontramos,</p><p>da nossa faixa etária ou do nosso estado emocional, um</p><p>determinado tipo de música nos agrada mais.</p><p>Podemos afirmar que aqueles que se guiam pelo senso comum</p><p>tendem a acreditar que o mundo só pode ser do modo como é</p><p>apreendido por eles, mas se analisarmos friamente o caso, parece</p><p>que aqueles que se guiam pelo conhecimento religioso ou científico</p><p>fazem o mesmo, bem como se consideraram, muitas vezes,</p><p>superiores e em melhores condições de oferecer respostas</p><p>satisfatórias ao mundo. Porém, ainda que isso ocorra, ainda não é o</p><p>suficiente para definir uma forma de pensamento como superior a</p><p>outra.</p><p>Existe uma anedota que relata o caso de um barqueiro analfabeto e</p><p>que pode ilustrar o que pretendemos abordar. A anedota do</p><p>barqueiro (ou da canoa, por vezes atribuída a Paulo Freire)</p><p>apresenta o caso de um homem que nasceu e cresceu em um</p><p>determinado lugar do interior e acabou não tendo acesso à escola.</p><p>Entre outras coisas práticas, ele aprendeu a nadar e a remar,</p><p>adquiriu um barquinho e, assim, desempenhava o seu ofício</p><p>fazendo a travessia das pessoas de uma margem a outra de um rio.</p><p>Um dia, quando foi transportar um advogado e uma professora,</p><p>durante a travessia, os passageiros lhe deixaram claro que ele havia</p><p>perdido grande parte de sua vida por não ter adquirido</p><p>conhecimentos acadêmicos, técnicos, profissionalizantes etc.; mas</p><p>quando o barco começou a afundar, percebendo que nenhum dos</p><p>passageiros sabia nadar, o barqueiro lamentou o fato e informou a</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 7/36</p><p>eles que não haviam perdido apenas</p><p>grande parte de suas vidas, mas a vida toda. Ou seja, naquele</p><p>momento, naquela situação, os diplomas e os títulos não ajudaram</p><p>em nada, o conhecimento mais importante era oriundo do senso</p><p>comum, como saber nadar, e o barqueiro era o único que sabia.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Acreditamos que você já esteja em condições de se posicionar</p><p>criticamente, isto é, com critérios, diante da frase de Sócrates</p><p>exposta anteriormente. Uma análise crítica ocorre quando você não</p><p>tira tudo da sua cabeça, mas se vale daquilo que nomes</p><p>consagrados lhe outorgaram, por isso, esperamos que você tenha</p><p>percebido que pensadores como Descartes e Schopenhauer</p><p>concordaram com a frase socrática e, de certa forma, a</p><p>reproduziram com suas próprias palavras.</p><p>Além disso, extrapolar a área da Filosofia e buscar contribuições até</p><p>mesmo no campo da Psicologia, recorrendo às contribuições do</p><p>psicólogo alemão Carl Jung, mostra-nos que o despertar da</p><p>consciência é muito difícil e que poucos, apenas cinco por cento,</p><p>conseguem a façanha de estar mais de cinco por cento conscientes,</p><p>e esses são aqueles que conseguem ver coisas que as pessoas</p><p>comuns não veem e, por não verem, não acreditam existir. Talvez</p><p>seja por isso que Platão (2001) dizia que educar não é mostrar o</p><p>mundo, mas ensinar a ver o mundo.</p><p>Podemos concluir, então, que viver sem reflexão é viver sem</p><p>compreender o sentido, o motivo de se estar aqui e não fazer</p><p>nenhum esforço nessa direção; é viver como os outros animais: o</p><p>momento, a satisfação dos instintos, das necessidades e dos</p><p>desejos, sem buscar ser artífice da própria existência. Se a vida</p><p>perde o seu sentido ou não o enxergamos, podemos cair num vazio</p><p>existencial, e isso é muito perigoso, corroborando a passagem</p><p>bíblica que diz: “De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 8/36</p><p>se vier a perder a sua alma” (Mc: 8,36), ou seja, de que adianta</p><p>termos tudo se perdemos o sentido de viver?</p><p>Saiba Mais</p><p>Conheça mais as especificidades do senso comum lendo o artigo</p><p>Senso comum e trabalho intelectual. Trata-se de uma resenha do</p><p>livro de Renato ORTIZ. Mundialização: saberes e crenças. São</p><p>Paulo, Brasiliense, 2006.</p><p>Enriqueça os seus conhecimentos sobre a mitologia como</p><p>expressão do senso comum lendo o capítulo 1 – Metodologia</p><p>Grega: Preliminares, do livro Mitologia Grega. Nele, o autor mostra</p><p>como o mito se reveste de uma forma de conhecer e se posicionar</p><p>no mundo a partir do senso comum.</p><p>Aprofunde a sua compreensão acerca da importância e da</p><p>aplicabilidade do senso comum lendo o artigo Diálogo Entre os</p><p>Saberes: as Relações entre o Senso Comum, Saber Popular,</p><p>Científico e Escolar, de Eneida Orbage Taquary. Publicado pela</p><p>Universitas Relações Internacionais. Nele, a autora aborda a</p><p>importância dos diversos tipos de conhecimento e como eles</p><p>dialogam entre si em prol de uma complementariedade cognitiva.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. Tradução: A. Bosi. 5. ed.</p><p>São Paulo: Martins Fontes, 2007.</p><p>BRANDÃO, J. S. Mitologia grega. São Paulo: Vozes, 2009.</p><p>CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.</p><p>https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/tFZ8g4GkMZszQrBttqf93gN/?format=pdf&lang=pt</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/203536/epub/0?code=EDHH59QxFABfyyItLl3CuPln6wUnwS4yqiCfReNs7PQXBt8m8tLNwY2vfClg2VHfOW1KKfbFjA3cppRqW57fNg==</p><p>https://www.proquest.com/docview/1508822906/fulltextPDF/28CA509CD2384B8EPQ/11?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journals</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 9/36</p><p>DESCARTES, R. Princípios da filosofia. Tradução: J. Gama.</p><p>Lisboa: Edições 70, 1997.</p><p>ONE: The movie. Direção: Ward Powers. Washington. Intérpretes:</p><p>Scott Carter, Mantak Chia, Deepak Chopra et al. Roteiro: Jenna</p><p>Stone. USA: Dreamland Films, 2005. 1 DVD (80 min), son., color.,</p><p>35 mm.</p><p>PESSANHA, J. A. M. Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1999.</p><p>(Coleção Os Pensadores).</p><p>PLATÃO. A república. Tradução: M. H. R. Pereira. 9. ed. Lisboa:</p><p>Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.</p><p>SCHOPENHAUER, A. Aforismos para a sabedoria de vida. São</p><p>Paulo: LeBooks Editora, 2020.</p><p>SOUZA, J. C. A. de. A configuração estrutural do paradigma da</p><p>racionalidade moderna. Síntese Nova Fase, Belo Horizonte, v. 25,</p><p>n. 82, p. 391-401, 1998.</p><p>Aula 2</p><p>O CONHECIMENTO</p><p>RELIGIOSO</p><p>O conhecimento religioso</p><p>Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá um tipo de</p><p>conhecimento: o conhecimento religioso e suas especificidades,</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 10/36</p><p>bem como a relevância da presença do Divino na Religião e o</p><p>diálogo entre religião e filosofia em torno do Divino.</p><p>Este conteúdo nos ensinará a respeitar e valorizar todos os tipos de</p><p>conhecimento, por isso a sua importância.</p><p>Vamos lá!</p><p>Ponto de Partida</p><p>Embora possa parecer que Deus e religião sejam assuntos</p><p>exclusivos da Teologia, outras áreas também se dedicam a entender</p><p>melhor essas questões, como a Psicologia, a Antropologia, a</p><p>Sociologia e a Filosofia — cada uma sob um determinado aspecto.</p><p>A religião transmite uma forma específica de conhecimento, haja</p><p>vista que o conhecimento é definido como uma forma de se</p><p>compreender e explicar o mundo, e esse é um projeto que também</p><p>envolve a religião; além disso, cada modalidade de conhecimento</p><p>(senso comum/mitologia, filosofia, religião e ciência) prevaleceu em</p><p>determinada época, passando pelas idades antiga, medieval e</p><p>moderna/contemporânea.</p><p>Assim como acontece com o senso comum, o conhecimento</p><p>religioso também tem as suas especificidades, e é isso que</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 11/36</p><p>apresentaremos a partir de agora, refletindo sobre o modo como o</p><p>Divino se faz presente na religião e como se dá o diálogo entre</p><p>filosofia e religião acerca dessa temática. Aliás, também devemos</p><p>ter em mente que, como já dissemos anteriormente, nenhuma forma</p><p>de conhecimento deve ser considerada melhor, mais completa e</p><p>mais importante que</p><p>outra; há quem passe por este mundo</p><p>recorrendo sempre a modalidade religiosa de conhecimento e, por</p><p>vezes, com pleno êxito.</p><p>Propomos, então, que você reflita sobre o conhecimento religioso</p><p>buscando elementos que te permitam entender adequadamente a</p><p>frase de William Shakespeare (2005, p. 36): “Há mais mistérios</p><p>entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia”.</p><p>E aí? Está pronto para mais uma viagem pelas esplêndidas estradas</p><p>do conhecimento? Esperamos que sim e que, ao final de mais esta</p><p>aula, você possa afirmar: “Aumentei o meu conhecimento e a minha</p><p>compreensão de mundo!”.</p><p>Vamos Começar!</p><p>Não é raro ouvirmos falar sobre o Deus de Platão, o Deus de</p><p>Aristóteles, o Deus de Spinoza e assim por diante, e isso pode nos</p><p>levar à seguinte indagação: existe mais de um Deus? Possivelmente</p><p>não. Se Deus existe, ele é um só, e vale lembrarmos que o Sol</p><p>também é um só, aliás, é esse o significado do seu nome, e nos</p><p>referimos a ele de diversas formas: o sol da manhã, o sol da tarde, o</p><p>sol do inverno etc.</p><p>Diante disso, podemos perceber que Deus pode – e é – tratado sob</p><p>diversas perspectivas e por diversos pensadores, ou seja, ele não é</p><p>objeto exclusivo da religião. Algumas pessoas (talvez a maioria)</p><p>chegaram a Deus pela fé, mas há, também, aquelas que chegaram</p><p>a ele pelo raciocínio. Os religiosos gostam de nos lembrar que</p><p>chegamos a Deus pelo amor ou pela dor, mas, segundo alguns</p><p>filósofos, não necessariamente.</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 12/36</p><p>Especificidades do conhecimento religioso</p><p>A religião é uma atividade típica do homem e de nenhum outro</p><p>animal; ela se faz presente em todas as culturas e, praticamente,</p><p>em todas as épocas, mas se trata de uma atividade marcadamente</p><p>problemática, pois “enquanto todas as outras atividades humanas</p><p>(embora sejam problemáticas) refiram-se a objetos cuja existência</p><p>está fora de discussão, a atividade religiosa, ao contrário, dirige-se a</p><p>um objeto do qual até a sua existência é colocada em questão”</p><p>(Mondin, 1980, p. 79).</p><p>O conhecimento religioso tem como especificidade (Chauí, 2000):</p><p>Basear-se na fé.</p><p>Aceitar a existência de um ser Divino, superior, perfeito,</p><p>onisciente, onipresente e onipotente.</p><p>Ter como certa a existência de uma realidade imanente e outra</p><p>transcendente, sendo a primeira transitória e passageira,</p><p>enquanto a segunda é eterna, imutável, perfeita e bela.</p><p>Acreditar na vida pós-morte e numa possibilidade de salvação</p><p>da alma com base em nossos próprios méritos.</p><p>Ter esperança de que os bons e justos sejam recompensados</p><p>e os maus castigados.</p><p>Estabelecer uma ritualística.</p><p>Ver dicotomia entre o sagrado e o profano, entre a natureza e o</p><p>divino.</p><p>Siga em Frente...</p><p>A presença do Divino na religião</p><p>Platão e Aristóteles não conheceram a Bíblia, tampouco o</p><p>cristianismo, pois ele nem sequer existia, mas foram teístas a partir</p><p>do uso da razão. Contudo, depois que filosofia e teologia se</p><p>mesclaram, a razão foi substituída pela fé e, por volta do ano 1000</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 13/36</p><p>da nossa época, alguns teólogos buscaram mostrar que era</p><p>possível certificar-se da presença do Divino no mundo também a</p><p>partir da razão.</p><p>Um dos argumentos mais conhecidos é atribuído a Santo Anselmo</p><p>(1033-1109) e ficou conhecido como argumento ontológico. “Esse</p><p>argumento tenta estabelecer não só a existência do maior ser</p><p>concebível, mas também os vários atributos que Deus deve possuir</p><p>em virtude de ser o maior: onipotente, onisciente, existe por si</p><p>mesmo etc.” (Law, 2008, p. 261). Resumidamente, o argumento</p><p>afirma que “por definição, Deus é um ser tão grande que maior não</p><p>pode ser concebido. Deus pode ser concebido como mera ideia ou</p><p>como realmente existindo. Existir é maior do que não existir.</p><p>Portanto, Deus deve existir.” (Law, 2008, p. 140).</p><p>Outro argumento bastante conhecido é o de São Tomás de Aquino,</p><p>conhecido como “as cinco vias racionais da prova da existência de</p><p>Deus”. São elas (Reale; Antiseri, 2003):</p><p>A via do movimento: tudo o que se move (nascer, viver e</p><p>morrer), é movido por outro, logo, é necessário que se chegue</p><p>ao primeiro motor, àquele que não é movido por nenhum outro:</p><p>Deus.</p><p>A via das causas: nada do que existe causou a si próprio,</p><p>então, deve existir uma causa primeira de tudo o que existe:</p><p>Deus.</p><p>A via da contingência: tudo o que existe morre e não tem em si</p><p>a razão de sua existência, por isso, deve haver um ser que</p><p>tenha em si a razão de sua existência e do qual todos os</p><p>outros procederam e procedem: Deus.</p><p>A via da perfeição: se existem graus de perfeição, é porque</p><p>existe algo que tem em si a perfeição em plenitude: Deus.</p><p>A via da ordem: se o cosmo segue uma ordem e uma</p><p>finalidade, é porque existe uma inteligência que causa essa</p><p>ordem: Deus.</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 14/36</p><p>O diálogo entre religião e filosofia em torno</p><p>do Divino</p><p>Segundo Blaise Pascal (1999), apostar na existência de Deus</p><p>denota mais inteligência do que apostar em sua não existência. A</p><p>existência de Deus é proveitosa para a nossa felicidade neste</p><p>mundo e no outro, caso exista, pois Deus representa o bem, a</p><p>verdade, o amor, a justiça etc.</p><p>Para Pascal, a razão não pode decidir se existe Deus ou não, pois</p><p>entre nós e Deus há distância infinita; por isso, ele propõe</p><p>apostarmos cara ou coroa a favor da existência de Deus: se</p><p>ganharmos, ganharemos tudo, se perdermos, nada perderemos.</p><p>Seria racional apostar e correr o risco de nos equivocarmos numa</p><p>aposta em que temos todas as probabilidades de ganhar e</p><p>nenhuma de perder? E ele conclui: “Apostai, pois, que ele existe,</p><p>sem hesitação” (Pascal, 1999, p. 93).</p><p>Pascal faz uma crítica aos “filósofos que pretendem demonstrar ou</p><p>descreditar as verdades da fé por meio da razão, que nada tem a</p><p>ver com ela, do mesmo modo que o espírito de geometria nada tem</p><p>a ver com o de finura. O Deus dos filósofos não é o Deus da fé: não</p><p>é Deus” (Pascal 1999, p. 22).</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>A forte tendência de secularização presente nas ideias iluministas</p><p>reverbera até hoje em nossa sociedade, por conta disso, temos uma</p><p>forte tendência a desacreditar de tudo quanto não nos seja</p><p>compreensível, contudo, ainda temos de admitir que muitas coisas</p><p>que existem precisam ser descobertas, ou seja, nós não as</p><p>conhecemos, logo, são um mistério para nós, e a existência ou não</p><p>de Deus — condição básica do conhecimento religioso — está entre</p><p>elas.</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 15/36</p><p>Portanto, podemos relacionar essa postura diante do conhecimento</p><p>com a frase de Shakespeare — base norteadora da nossa reflexão</p><p>— e encerramos corroborando tal convicção com a contribuição de</p><p>Newton, para quem aquilo que conhecemos é uma gota e o que</p><p>ignoramos é um oceano.</p><p>Saiba Mais</p><p>Conheça mais as especificidades do conhecimento religioso lendo o</p><p>tópico 1. O que é Religião, do Caderno Pedagógico para o Ensino</p><p>Religioso – Crenças Religiosas e Filosofias de Vida: Com Roteiros</p><p>de Atividades para o Ensino Fundamental. Nele, Gilbraz de Souza</p><p>Aragão apresenta um panorama altamente explicativo sobre essa</p><p>temática.</p><p>Para enriquecer a sua compreensão da presença do Divino na</p><p>religião, sugerimos a leitura do capítulo 1 – Introdução: A Questão</p><p>de Deus, do livro Religião. Nele, o autor aborda sistematicamente o</p><p>tratamento dado pela Filosofia à questão da divindade no viés</p><p>religioso.</p><p>Por fim, você poderá aprofundar os seus conhecimentos a respeito</p><p>do diálogo entre religião e filosofia em torno do Divino lendo o artigo</p><p>Ensino Religioso: Um Campo de Aplicação da</p><p>Ciência da Religião,</p><p>escrito por Elisa Rodrigues e publicado na revista Horizonte. Nesse</p><p>artigo, a autora, ao abordar as possíveis classificações do</p><p>ensino religioso, trata da subárea de conhecimento das Ciências da</p><p>Religião.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/211724/epub/0?code=7Gw3YWsNq5532OEpajwqG17Z3TqPwo88+72FarVU5CVIM1ppLdZTk68oAfNxqHg+Bs3+S+8BIpYUWFbc4DvHBg==</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788565848343/pageid/0</p><p>https://www.proquest.com/docview/2479069611/fulltextPDF/7A7EF6D78AC249A9PQ/17?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journals</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 16/36</p><p>JUNQUEIRA, S. R. A.; OLENIKI, M. L.; ORTIZ, F. P. Caderno</p><p>pedagógico para o ensino religioso: crenças religiosas e filosofias</p><p>de vida: com roteiros de atividades para o ensino fundamental.</p><p>Petrópolis: Vozes, 2023.</p><p>LAW, S. Filosofia: guia ilustrado Zahar. Tradução: M. L. X. A.</p><p>Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.</p><p>MONDIN, B. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores,</p><p>obras. Tradução: J. Renard. 10. ed. São Paulo: Paulus, 1980.</p><p>PASCAL, B. Pensamentos. Tradução: O. Bauduh. São Paulo: Nova</p><p>Cultural, 1999. (Coleção Os Pensadores).</p><p>REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia: patrística e</p><p>escolástica. Tradução: I. Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003. v. 2.</p><p>SHAKESPEARE, W. Hamlet. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2005.</p><p>SWEETMAN, B. Religião. Tradução: R. C. Costa. Porto Alegre:</p><p>Penso, 2013.</p><p>Aula 3</p><p>FILOSOFIA</p><p>Filosofia</p><p>Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá um tipo de</p><p>conhecimento: o conhecimento filosófico, suas especificidades,</p><p>como se deu a passagem do mito ao logos e como se desperta o</p><p>olhar filosófico.</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 17/36</p><p>Este conteúdo nos ensinará a respeitar e valorizar todos os tipos de</p><p>conhecimento, por isso a sua importância.</p><p>Vamos lá!</p><p>Ponto de Partida</p><p>O conhecimento a partir do senso comum tem sua base no mundo</p><p>que captamos diretamente, sem mediações e sem crítica; já o</p><p>conhecimento religioso tem a sua base nos pressupostos da fé; e a</p><p>filosofia tem a sua base naquilo que pode ser compreendido com</p><p>segurança, de modo claro e lógico, a partir da razão, com base nos</p><p>fatos. Diante disso, agora, vamos lhe apresentar as especificidades</p><p>da filosofia, como se deu a passagem do mito ao logos, permitindo o</p><p>surgimento da filosofia, e como se desperta o olhar filosófico.</p><p>Tomando por base que a palavra filosofia se originou de duas</p><p>palavras da língua grega, philos (amigo) e sophia (sabedoria),</p><p>desafiamos você a analisar criteriosamente a seguinte afirmação de</p><p>Kant (2001, 672): “Entre todas as ciências racionais (a priori) só é</p><p>possível, por conseguinte, aprender a matemática, mas nunca a</p><p>filosofia (a não ser historicamente): quanto ao que respeita à razão,</p><p>apenas se pode, no máximo, aprender a filosofar”.</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 18/36</p><p>Diante disso, aceita subir mais um degrau em nossas reflexões?</p><p>Esperamos que sim, pois já vimos que a filosofia é imprescindível</p><p>para conduzirmos a vida.</p><p>Vamos Começar!</p><p>A Filosofia nasceu na magna Grécia, mais precisamente em Mileto,</p><p>na região da Jônia, atual Turquia, como uma tentativa de se</p><p>compreender racionalmente a ordem (em grego, diz-se Kosmos)</p><p>presente na natureza (em grego, diz-se physis). Como para os</p><p>gregos a matéria é eterna, sem começo e sem fim, eles se</p><p>empenharam em descobrir a matéria que estaria no princípio (em</p><p>grego, diz-se arché) de tudo.</p><p>Ao contrário dos mitos que a antecederam e segundo os quais a</p><p>crença se dava por conta da autoridade do seu narrador, na</p><p>Filosofia, a autoridade não é o filósofo, mas a razão (logos, em</p><p>grego). Por conta disso, a Filosofia consegue dialogar</p><p>razoavelmente bem tanto com o conhecimento religioso quanto com</p><p>o conhecimento científico, evitando contradições e não recorrendo</p><p>às fábulas e coisas incompreensíveis, mas às explicações</p><p>coerentes, lógicas e racionais.</p><p>Especificidades da filosofia</p><p>O pensamento filosófico é descrito como crítico (com critérios),</p><p>profundo (aprofunda-se ao máximo no entendimento) e reflexivo</p><p>(dobra-se sobre si mesmo, ou seja, questiona a si mesmo), tendo</p><p>como suas especificidades:</p><p>Tendência à racionalidade: somente a razão, com seus</p><p>princípios e regras, é o critério da explicação de alguma coisa.</p><p>Tendência à profundidade: a solução de um problema é</p><p>sempre submetida à análise, à crítica, à discussão e à</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 19/36</p><p>demonstração, nunca sendo aceita como uma verdade sem</p><p>provas de sua veracidade.</p><p>Orientação por regras: o filósofo é aquele que justifica suas</p><p>ideias mostrando que segue regras lógicas e universais do</p><p>pensamento.</p><p>Recusa de explicações preestabelecidas: exigência de que,</p><p>para cada problema, seja investigada e encontrada a solução</p><p>própria exigida por ele.</p><p>Tendência à generalização: mostrar que uma explicação tem</p><p>validade para muitas coisas diferentes, porque, sob a variação</p><p>percebida pelos órgãos de nossos sentidos, o pensamento</p><p>descobre semelhanças e identidades.</p><p>Siga em Frente...</p><p>A passagem do mito ao logos</p><p>Os pressupostos para melhor compreendermos as bases do</p><p>conhecimento grego são:</p><p>Tudo se relaciona ao arquê (primeiro princípio).</p><p>A matéria (natureza, physis) é eterna, não houve o momento</p><p>da criação.</p><p>O tempo é circular e cíclico.</p><p>Desaparecem os elementos míticos.</p><p>Há uma ordem (cosmos) no mundo, regida pelo logos (razão).</p><p>A composição do cosmos é unicamente de elementos naturais.</p><p>O homem é um microcosmo também regido pelo logos.</p><p>Para Marilena Chauí (2000), alguns fatores possibilitaram que a</p><p>filosofia surgisse naquele momento e naquele local. São eles: as</p><p>viagens marítimas; a invenção do calendário; a invenção da moeda;</p><p>o surgimento das cidades; a invenção da escrita alfabética; e o</p><p>surgimento da política. A isso se soma a convicção de que as</p><p>explicações mitológicas pareciam não ser mais suficientes e o fato</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 20/36</p><p>de as pessoas começarem a buscar “explicações naturais para os</p><p>processos e acontecimentos até então atribuídos a agentes e</p><p>poderes sobrenaturais; a magia e o ritual foram lentamente cedendo</p><p>lugar à ciência e ao controle; e nasceu a filosofia” (Durant, 1996, p.</p><p>31).</p><p>O conhecimento filosófico teria sido o início do conhecimento</p><p>racional e se originado no século VI a. C., nas colônias gregas, mais</p><p>especificamente em Mileto, cidade situada no território que pertence</p><p>à Turquia, mas que, naquela época, compunha a Magna Grécia e se</p><p>chamava Jônia. Os primeiros filósofos são chamados de pré-</p><p>socráticos, e o primeiro deles é Tales de Mileto (625-558 a.C.). A</p><p>preocupação deles era descobrir qual foi o elemento natural e físico,</p><p>portanto, que originou tudo o que existe, e esse primeiro elemento</p><p>ou</p><p>elemento primordial, em grego, diz-se arquê.</p><p>Na antiguidade, filosofia era a totalidade do saber, mas a partir de</p><p>certo momento, as áreas específicas do conhecimento foram</p><p>ganhando autonomia e se separando da filosofia.</p><p>Despertar o olhar filosófico</p><p>No Mito da Caverna, Platão diz que o prisioneiro que se libertou da</p><p>caverna teve a sua visão ofuscada pela claridade (a claridade é o</p><p>símbolo do bem, do belo e do verdadeiro) e que só na manhã</p><p>seguinte conseguiu enxergar as coisas em si. “Em nossa sociedade,</p><p>é muito difícil despertar nas pessoas o desejo de buscar a verdade”</p><p>(Chauí, 2000, p. 113), e esse despertar para a busca da verdade é o</p><p>que chamamos de educação.</p><p>E sobre isso, veja o que disse Platão:</p><p>A educação não é o que alguns apregoam que ela é. Dizem</p><p>eles que introduzem a ciência numa alma em que ela não</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 21/36</p><p>existe, como se introduzissem a vista em olhos cegos. [...]</p><p>Existe na alma uma faculdade e um órgão pelo qual ela</p><p>aprende; como um olho que não fosse possível voltar das</p><p>trevas para a luz, se não juntamente com todo o corpo, do</p><p>mesmo modo esse órgão deve ser desviado, juntamente com</p><p>a alma toda, das coisas que se alteram, até ser capaz de</p><p>suportar a contemplação do Ser e da parte mais brilhante do</p><p>ser. A isso chamamos bem (518c). [...] A educação seria, por</p><p>conseguinte, a arte desse desejo, a maneira mais fácil e mais</p><p>eficaz de fazer dar a volta a esse órgão, não a de o fazer</p><p>obter a visão, pois já a tem, mas, uma vez que ele não está</p><p>na posição correta e não olha para onde deve, dar-lhe os</p><p>meios para isso (518d).</p><p>Despertar o olhar filosófico é buscar ver além das aparências,</p><p>alcançando o ser do modo como ele é, se fato; é superar a</p><p>aparência e chegar à essência. Para que isso aconteça, há de se</p><p>evitar passar ideias e convicções, mas ajudar o interlocutor a</p><p>desenvolver as suas próprias ideias, fazendo-o pensar por si,</p><p>desenvolvendo conhecimento e não apenas assimilando.</p><p>Mais do que ensinado, o amor ao conhecimento deve ser</p><p>despertado.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>O próprio Kant nos ajuda a responder à questão, uma vez que:</p><p>[...] não se pode aprender nenhuma filosofia; pois onde está</p><p>ela? Quem a possui? Por que caracteres se pode conhecer?</p><p>Pode-se apenas aprender a filosofar, isto é, a exercer o</p><p>talento da razão na aplicação dos seus princípios gerais em</p><p>certas tentativas que se apresentam, mas sempre com a</p><p>reserva do direito que a razão tem de procurar esses próprios</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 22/36</p><p>princípios nas suas fontes e confirmá-los ou rejeitá-los (Kant,</p><p>2001, p. 672).</p><p>Diante disso, podemos dizer que é possível ensinar alguém a</p><p>filosofar quando lhe oferecemos as condições necessárias para se</p><p>tornar mais crítico, desde que queira e se esforce para tal, mas não</p><p>podemos ensiná-lo filosofia, pois sendo a filosofia uma postura de</p><p>amor ao saber, o amor não é racional, não se ensina, ele é</p><p>sentimento, portanto, desenvolve-se.</p><p>A filosofia não ensina a verdade, ensina-nos a buscar a verdade.</p><p>Saiba Mais</p><p>Conheça mais as especificidades da Filosofia lendo o texto Dilthey e</p><p>o Conhecimento. Nele, o autor faz uma reflexão sobre a</p><p>contribuição da filosofia para o conhecimento.</p><p>Para entender melhor como se deu a passagem do mito ao logos,</p><p>recomendamos a leitura do tópico 1.3 Mito e Filosofia, do livro</p><p>Introdução à Filosofia Antiga. Nele, o autor apresenta como se deu a</p><p>passagem entre esses tipos de conhecimento.</p><p>Caso queira aprofundar a sua compreensão acerca do</p><p>conhecimento filosófico, indicamos a leitura do artigo O Ensino de</p><p>Filosofia e a Criação dos Modos de Vida, escrito pelos professores</p><p>Daniel Salésio Vandresen e Rodrigo Pelloso Gelamo. Nesse artigo,</p><p>os autores buscam desenvolver outro olhar sobre a filosofia, a vida e</p><p>o seu ensino, valendo-se da contribuição de Foucault, quando este</p><p>se propõe a pensar a filosofia como uma atitude crítica sobre o</p><p>modo como conduzimos a nossa vida.</p><p>http://almanaque.folha.uol.com.br/filosofiadilthey.htm</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/31411/pdf/0?code=AsK1qhLDVqukAsrkNX8ec4jlyH+tEJxqGIKA+pnVWJM3fhH39mj28bjQtMpzRrklRO/peI1XSEOjPglJVJEgMA==</p><p>https://www.redalyc.org/journal/1051/105152132005/html/</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 23/36</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>BRAGA JUNIOR, A. D.; LOPES, L. F. Introdução à filosofia antiga.</p><p>1. ed. Curitiba: Intersaberes, 2015.</p><p>CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.</p><p>DURANT, W. A história da filosofia. Tradução: L. C. N. Silva. São</p><p>Paulo: Nova Cultural, 1996. (Coleção Os Pensadores).</p><p>KANT, I. Crítica da razão pura. Tradução: M. P. Santos. 5. ed.</p><p>Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.</p><p>PLATÃO. A república. Tradução: M. H. R. Pereira. 9. ed. Lisboa:</p><p>Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.</p><p>Aula 4</p><p>CONHECIMENTO</p><p>CIENTÍFICO</p><p>Conhecimento científico</p><p>Olá, estudante! Nesta videoaula você conhecerá um tipo de</p><p>conhecimento: o conhecimento científico, suas especificidades,</p><p>como ocorreu a emancipação da ciência na modernidade e como</p><p>ciência e técnica acabaram se unindo.</p><p>Este conteúdo nos ensinará a respeitar e valorizar todos os tipos de</p><p>conhecimento, por isso a sua importância.</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 24/36</p><p>Vamos lá!</p><p>Ponto de Partida</p><p>A ciência é a filha que cresceu mais do que a mãe; ela nasceu a</p><p>partir da Filosofia, mas, hoje, é o conhecimento mais aceito, mais</p><p>respeitado e com as maiores promessas nos círculos acadêmicos.</p><p>A ciência foi gestada no ventre da Filosofia, mas só no começo da</p><p>Idade Moderna se tornou emancipada. Praticamente, todos os</p><p>filósofos pré-socráticos, desde Tales até Demócrito, contribuíram</p><p>para a ciência em algum aspecto, e para demonstrarmos que</p><p>filosofia e ciência caminhavam juntas, lembremos que Galileu</p><p>Galilei, o pai da ciência moderna, apesar de médico, matemático e</p><p>astrônomo, lutou por muito tempo para adquirir o título de filósofo.</p><p>Ele dizia: “estudei mais anos de filosofia do que meses de medicina</p><p>e como sou considerado médico, nada mais justo do que ser</p><p>também considerado um filósofo” (Rovighi, 1999, p. 48).</p><p>Vamos lhe apresentar as especificidades do conhecimento filosófico,</p><p>como se deu a emancipação da ciência em relação à filosofia na</p><p>Idade Moderna e como acabou sendo estabelecido um vínculo entre</p><p>ciência e técnica e que, de certo modo, permanece até hoje.</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 25/36</p><p>Queremos que você conheça esses conteúdos a ponto de poder se</p><p>posicionar criticamente diante de duas afirmações; são elas: “Os</p><p>tolos, quando infelizes, são sábios” (Pessanha, 1996, p. 276) —</p><p>frase proferida por Demócrito de Abdera, um respeitado cientista da</p><p>Grécia antiga, possível descobridor do átomo; e a frase bíblica</p><p>extraída do livro do Eclesiastes (1, 18): “Muita sabedoria, muito</p><p>desgosto, quanto mais conhecimento, mais sofrimento”.</p><p>Aguente firme e vamos juntos aprender mais sobre o conhecimento</p><p>científico!</p><p>Vamos Começar!</p><p>Os mitos deram origem à filosofia e a filosofia deu origem à ciência.</p><p>O viés científico estava presente na reflexão filosófica quando ela se</p><p>propôs a buscar uma compreensão do mundo, unicamente, a partir</p><p>da razão. Lembremos que os gregos não faziam experiências, sua</p><p>ciência era feita a partir da observação e da reflexão, apenas, e foi</p><p>só no começo da Idade Moderna, a partir de Francis Bacon e</p><p>Galileu Galilei, que a experimentação começou a fazer parte do</p><p>método de aquisição de novos conhecimentos.</p><p>Francis Bacon é o pai do método experimental e Galileu Galilei é o</p><p>pai da ciência moderna. A experimentação é acrescentada, sem</p><p>excluir a observação e a reflexão, a fim de permitir maior</p><p>universalização aos conhecimentos científicos.</p><p>Especificidades do conhecimento científico</p><p>Entre as especificidades da ciência, estão os princípios da</p><p>objetividade, universalidade e da aplicabilidade, que buscam tornar</p><p>o conhecimento neutro, universal</p><p>e necessário. A universalidade</p><p>pode ser facilmente observada nas ciências naturais; por exemplo, a</p><p>água entra em ebulição quando atinge 100º celsius estando ao nível</p><p>do mar, e isso significa que essa</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 26/36</p><p>explicação pode ser identificada e aplicada em vários lugares e em</p><p>momentos diferentes, sem que haja uma mudança explicativa.</p><p>A objetividade tem a ver com a exatidão, com a positividade, e outro</p><p>exemplo é a soma dos ângulos internos de um triângulo ser 180º,</p><p>logo, o resultado da soma não pode ser 179º e nem 181º. O oposto</p><p>ao universal é o particular, e o aposto do necessário é o contingente</p><p>(ao acaso, acidentalmente).</p><p>A aplicabilidade é um aspecto que foi incorporado à ciência apenas</p><p>na modernidade; a ciência antiga era teorética, apenas contemplava</p><p>os seres naturais, sem intervir neles ou sobre eles, mas a moderna</p><p>se constitui de um saber empírico, ligado a práticas necessárias à</p><p>vida e à técnica, desde quando Francis Bacon estabeleceu que</p><p>“saber é poder” e que Descartes afirmou que “a ciência deve tornar-</p><p>nos senhores da Natureza” (Chauí, 2000, p. 327).</p><p>Siga em Frente...</p><p>A emancipação da ciência na modernidade</p><p>Contribuíram para a emancipação da ciência as descobertas e</p><p>invenções, as mudanças de concepção de mundo (de geocêntrica</p><p>para heliocêntrica, de terra plana para esférica) e a emancipação da</p><p>filosofia em relação à teologia, pois poder pensar e escrever o que</p><p>se pensa sem precisar pedir a permissão eclesiástica representou</p><p>um sobressalto no conhecimento.</p><p>Com a chegada do renascimento e as ideias de Nicolau de Cusa,</p><p>Copérnico e Giordano Bruno, a Igreja sentiu suas bases</p><p>epistemológicas balançarem e entraram em cena novas maneiras</p><p>de se fazer ciência, valendo-se de experiência e demonstração. À</p><p>observação, juntou-se a experimentação e a matemática</p><p>(menosprezada por Aristóteles), que passou a ser considerada a</p><p>verdadeira linguagem da natureza (Pessanha, 1978).</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 27/36</p><p>Diante disso, a Teologia foi deixando de ser a ciência das ciências e</p><p>as diversas esferas do saber (disciplinas) foram se emancipando,</p><p>ganhando autonomia, vida própria, com objetos e métodos próprios.</p><p>O teocentrismo foi sendo suplantado por um antropocentrismo e</p><p>formou-se o pano de fundo para o que viria a ser conhecido como</p><p>ciência moderna.</p><p>Ciência e técnica</p><p>A ciência moderna nasceu vinculada à ideia de intervir na Natureza,</p><p>de conhecê-la para apropriar-se dela, para controlá-la e dominá-la.</p><p>A ciência passou a ser considerada não apenas contemplação da</p><p>verdade, mas, sobretudo, o exercício do poderio humano sobre a</p><p>Natureza (Chauí, 2000).</p><p>Nessa época, o capitalismo estava aparecendo e buscava ampliar a</p><p>capacidade do trabalho humano para modificar e explorar a</p><p>Natureza, e foi assim que a nova ciência se juntou a técnica e dela</p><p>se tornou inseparável; aliás, mais da tecnologia do que da técnica.</p><p>A técnica, aliás, é um conhecimento empírico que, graças à</p><p>observação, elabora um conjunto de receitas e práticas para agir</p><p>sobre as coisas; já a tecnologia é um saber teórico que se aplica na</p><p>prática. Por exemplo, um relógio de sol é um objeto técnico que</p><p>serve para marcar horas seguindo o movimento solar; um</p><p>cronômetro é um objeto tecnológico: sua construção pressupõe</p><p>conhecimentos teóricos sobre as leis do movimento (as leis do</p><p>pêndulo) e seu uso altera a percepção empírica e comum dos</p><p>objetos, pois serve para medir aquilo que nossa percepção não</p><p>consegue perceber; já uma lente de aumento é um objeto técnico,</p><p>mas o telescópio e o microscópio são objetos tecnológicos, pois sua</p><p>construção pressupõe o conhecimento das leis científicas definidas</p><p>pela óptica.</p><p>Um objeto é tecnológico quando sua construção pressupõe um</p><p>saber científico e quando seu uso interfere nos resultados das</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 28/36</p><p>pesquisas científicas. A ciência moderna se tornou inseparável da</p><p>tecnologia (Chauí, 2000).</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Retomando a questão colocada sobre a frase de Demócrito (“Os</p><p>tolos, quando infelizes, são sábios”) e a de Eclesiastes (“Muita</p><p>sabedoria, muito desgosto, quanto mais conhecimento, mais</p><p>sofrimento”), podemos entender que, caso a infelicidade sentida</p><p>pelo tolo seja em decorrência de estar ciente das limitações do seu</p><p>conhecimento, ele, então, está demonstrando sabedoria aos moldes</p><p>socráticos, ao confessar saber que não sabe tudo, ou seja, se ele é</p><p>infeliz por saber que é tolo, já apresenta certo grau de sabedoria.</p><p>Quanto à frase de Eclesiastes, podemos perceber que a sabedoria</p><p>(ou o conhecimento) nos confere uma noção mais clara da nossa</p><p>finitude e das nossas limitações, o que pode gerar sofrimento,</p><p>corroborando a frase do Schopenhauer já citada: “Quanto menos</p><p>inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência”</p><p>(2000, p. 17).</p><p>Outra inferência que podemos extrair das frases, agora já mais</p><p>ligada ao conteúdo aqui abordado, diz respeito ao uso da ciência</p><p>voltada para o seu aspecto tecnológico, pois as nossas invenções</p><p>vêm afetando o meio ambiente e as condições de vida da nossa</p><p>espécie, podendo, até mesmo, comprometer a nossa existência, ou</p><p>seja, muita ciência (mal aplicada), muito sofrimento. Em síntese, o</p><p>que gera benefícios e malefícios não é o conhecimento científico em</p><p>si, mas o seu uso. A lucratividade não pode estar acima da</p><p>preservação das condições de vida, de todas as espécies de vida,</p><p>animal, vegetal e mineral.</p><p>Saiba Mais</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 29/36</p><p>Conheça mais as especificidades do conhecimento científico lendo</p><p>o tópico 2.6 – Conhecimento verdadeiro: a polêmica filosófica e</p><p>científica, no livro Introdução à Epistemologia: Dimensões do Ato</p><p>Epistemológico. Nele, o autor faz uma análise bastante interessante</p><p>do diálogo entre a filosofia e a ciência.</p><p>Também aprofunde o seu conhecimento sobre ciência e técnica</p><p>lendo o Quadro 4. O Humanismo e o Renascimento, do tópico 1.1 O</p><p>Desenvolvimento Histórico do Processo Epistemológico, da obra</p><p>supracitada. Nele, você vai encontrar as principais nuances acerca</p><p>do vínculo tratado neste conteúdo.</p><p>A fim de que possa enriquecer a sua compreensão acerca da</p><p>emancipação da ciência, propomos a leitura do artigo Da</p><p>Construção do Conhecimento Científico, de Isa Maria Freire. Nele, a</p><p>autora aborda a construção do conhecimento científico na</p><p>perspectiva do desenvolvimento das forças produtivas na</p><p>sociedade, em especial no capitalismo industrial.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1985.</p><p>CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.</p><p>FARIA, J. H. Introdução à epistemologia: dimensões do ato</p><p>epistemológico. Jundiaí: Paco e Littera, 2022. E-book.</p><p>PESSANHA, J. A. M. Galileu: vida e obra. In: BRUNO, G.; GALILEI,</p><p>G.; CAMPANELLA, T. Bruno, Galileu, Campanella. 2. ed.</p><p>Tradução: Helda Barraco, Nestor Deola, Aristides Lôbo. São Paulo:</p><p>Abril Cultural, 1978. (Coleção Os pensadores).</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/206661/epub/0?code=zgf3qu7Qlt83y3KhDsU8MZ/cEniklWhqAukiQbwbN7xL+CgnbiZlqWqQQ8lhNVBkWmkfXJGMvGd6uT9sW/6yQg==</p><p>https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/158/152</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 30/36</p><p>PESSANHA, J. A. M. Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural,</p><p>1996. (Coleção Os pensadores).</p><p>ROVIGHI, S. V. História da filosofia moderna: da revolução</p><p>científica a Hegel. São Paulo: Loyola, 1999.</p><p>SCHOPENHAUER, A. Aforismos para a sabedoria de vida. São</p><p>Paulo: LeBooks Editora, 2020.</p><p>Encerramento da Unidade</p><p>OS TIPOS DE</p><p>CONHECIMENTOS E SUAS</p><p>ESPECIFICIDADES</p><p>Videoaula de Encerramento</p><p>Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá como se dá a</p><p>interseção entre os diversos tipos de conhecimento: o senso</p><p>comum, o conhecimento religioso, o filosófico e o cientifico, bem</p><p>como as suas especificidades, as suas importâncias e</p><p>aplicabilidade.</p><p>Este conteúdo nos ensinará a respeitar e valorizar mais todos os</p><p>tipos de conhecimento, por isso a sua importância.</p><p>Vamos lá!</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 31/36</p><p>Ponto de Chegada</p><p>Estamos chegando ao fim desta primeira unidade de estudo, em</p><p>que buscamos te ajudar a compreender de forma crítica as</p><p>especificidades dos diferentes tipos de conhecimento abstrato. O</p><p>conceito de crítica é o de purificação, filtragem; trata-se da análise</p><p>minuciosa, profunda, abrangente e com critérios daquilo que é</p><p>analisado, portanto, é com essa postura que devemos nos voltar</p><p>para os diversos tipos de conhecimento.</p><p>Existem cinco tipos de conhecimento, sendo quatro abstratos e um</p><p>prático: a técnica. Os abstratos foram apresentados aqui; são eles: o</p><p>senso comum, a religião, a filosofia e a ciência. Cada um deles tem</p><p>a sua especificidade e o seu valor, e o conhecimento é, muitas</p><p>vezes, descrito como uma visão de mundo, sendo assim, tem a ver</p><p>com o olhar, com o enxergar a realidade em que nos encontramos</p><p>imersos. Um exemplo disso é a situação do prisioneiro apresentado</p><p>por Platão, no Mito da Caverna, no livro VII de sua obra A</p><p>República, em que ele aborda tais conhecimentos vinculando-os</p><p>com a questão do olhar.</p><p>O primeiro conhecimento, o senso comum, foi identificado por</p><p>Platão (2001), descrito em língua grega como Doxa, e representa o</p><p>momento em que o prisioneiro só enxerga as sombras no fundo da</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 32/36</p><p>caverna, como nós, quando acreditamos que o mundo é</p><p>exatamente do modo como o observamos.</p><p>O segundo momento, a crença ou pistis, em língua grega, quando o</p><p>prisioneiro, já liberto, contempla as coisas à luz da fogueira; sua</p><p>visão é limitada àquilo que uma luz externa lhe permite observar,</p><p>nesse caso, a crença não se restringe às crenças religiosas, mas se</p><p>estende às nossas concepções políticas, heranças culturais etc.</p><p>No terceiro momento, já fora da caverna e com os olhos ofuscados</p><p>pela claridade, o prisioneiro vê as coisas refletidas na água, e esse</p><p>seria, para Platão, o conhecimento científico, descrito como dianoia,</p><p>e ocorre quando a visão já está ampliada em relação ao momento</p><p>anterior, mas ainda se vê apenas as formas refletidas e não as</p><p>coisas em si; além disso, trata-se de um conhecimento fragmentado</p><p>e não da realidade como um todo.</p><p>Por último, o quarto momento, o qual só ocorre depois que os seus</p><p>olhos se acostumaram com a claridade e é possível olhar os objetos</p><p>em si, assim como toda a realidade que o cerca. Só nesse momento</p><p>se tem uma visão da realidade como ela é, uma visão do todo,</p><p>holística, que Platão identifica com a noesis. Trata-se de um</p><p>conhecimento puro, imediato e intuitivo que busca abarcar a</p><p>essência das coisas para além da simples aparência.</p><p>Essas formas de conhecimento, ou seja, as maneiras de enxergar o</p><p>mundo, estão presentes no nosso dia a dia, na cabeça das pessoas,</p><p>nos seus posicionamentos, em suas tomadas de decisões; elas</p><p>conduzem as pessoas ao longo das suas vidas, umas mais, outras</p><p>menos, e, em alguns momentos, recorremos mais a um tipo de</p><p>conhecimento do que a outro, mas eles estão na base das nossas</p><p>ações e convicções.</p><p>O nosso intuito ao te apresentar essa reflexão sobre as formas de</p><p>conhecimento, além de aumentar as suas perspectivas cognitivas,</p><p>é, como já dissemos, buscar te ajudar a desenvolver a capacidade</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 33/36</p><p>crítica diante da realidade, a qual, talvez, possa ser compreendida</p><p>como algo construído em nossa mente por conta de vários fatores,</p><p>tanto religiosos quanto políticos, filosóficos, científicos e culturais.</p><p>Reflita</p><p>1. Desde o começo da Filosofia, uma questão intriga os</p><p>pensadores: será que as coisas são exatamente do modo</p><p>como as captamos? Será que a aparência corresponde à</p><p>essência das coisas? Será que existe quem veja coisas que</p><p>não conseguimos ver? Diante disso, propomos a você que</p><p>reflita com profundidade sobre a seguinte questão: você tem</p><p>certeza que capta o mundo, com todos os seus detalhes,</p><p>como ele é de fato?</p><p>2. Embora existam diferentes tipos de conhecimento, todos eles</p><p>são importantes e válidos; em determinadas situações, alguns</p><p>nos valem mais do que outros, mas não há uma hierarquia</p><p>entre eles, embora o conhecimento científico seja aquele que</p><p>vem nos oferecendo respostas bastante convincentes. Sendo</p><p>assim, queremos que você reflita e busque responder ao</p><p>seguinte questionamento: é possível chegarmos a uma</p><p>compreensão de mundo mesclando todas as formas de</p><p>conhecimento?</p><p>3. Por vezes, somos tentados a achar que o mundo evoluiu até</p><p>os nossos dias, mas que, doravante, não há mais o que</p><p>evoluir. Aplicando isso aos conhecimentos, percebemos que</p><p>eles vieram se desdobrando ao longo da história, permitindo,</p><p>há 400 anos, aproximadamente, o surgimento da ciência</p><p>moderna. Mas será que essa evolução parou? Reflita e</p><p>responda: o Mito originou a Filosofia, que originou a Ciência,</p><p>logo, seria possível a Ciência originar um novo tipo de</p><p>conhecimento?</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 34/36</p><p>É Hora de Praticar!</p><p>Nós devolvemos para o mundo exatamente aquilo que o mundo põe</p><p>em nossa cabeça, mas não conseguimos perceber isso muito</p><p>claramente. Dizendo de outra maneira: “Você é o seu cérebro” (Law,</p><p>2008, p. 136).</p><p>Reflita</p><p>Com base na premissa apresentada, explique por que o filme Matrix</p><p>pode ser considerado uma nova versão do Mito da Caverna, de</p><p>Platão.</p><p>Resolução do estudo de caso</p><p>O pano de fundo do Mito da Caverna e do filme Matrix é o mesmo. A</p><p>visão dualista que Platão apresenta por meio da teoria das ideias,</p><p>transmitida de modo figurativo pelo Mito da Caverna, tem sido tema</p><p>de filmes e ficções, sendo a trilogia Matrix uma delas. “A trilogia de</p><p>filmes de ficção científica Matrix aproximou o experimento mental da</p><p>realidade simulada para a cultura popular” (Weeks, 2014, p. 51).</p><p>A Matrix explora a peculiaridade da dúvida filosófica, sugerindo que</p><p>o mecanismo de funcionamento de nosso cérebro pode ser criado</p><p>virtualmente, por meio de terminais oriundos de um computador, e</p><p>que, ligados ao nosso cérebro, podem nos transmitir uma realidade</p><p>virtual a qual não temos condições de diferenciar da verdadeira</p><p>realidade. “No filme Matrix, uma inteligência comandada por</p><p>máquinas aprisiona a consciência humana num mundo inventado.</p><p>Os céticos alegam que não conseguiríamos reconhecer a farsa num</p><p>caso assim” (Law, 2008, p. 51).</p><p>Assim como os prisioneiros da caverna não conseguem perceber</p><p>que existe outra realidade além daquela diante dos seus olhos, o</p><p>personagem do filme tem o seu cérebro sendo comandado por uma</p><p>máquina criando uma realidade virtual que, para ele, é real. “Nós</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 35/36</p><p>somos como esses prisioneiros, ensinados desde que nascemos a</p><p>acreditar que os fenômenos, as experiências do dia a dia são tudo o</p><p>que existe” (Dave; Groves, 2012, p.</p><p>24).</p><p>Dê o play!</p><p>Assimile</p><p>Confira a seguir uma síntese desta unidade.</p><p>15/08/2024 16:04 Os tipos de conhecimentos e suas especificidades</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/3425a81e-8711-4740-a79f-f82f817a8325/v1/index.html 36/36</p><p>Referências</p><p>DAVE, R.; GROVES, J. Entendo filosofia: um guia prático da</p><p>história do pensamento. Tradução. M. N. Peres. São Paulo: Leya,</p><p>2012.</p><p>LAW, S. Filosofia: guia ilustrado Zahar. Tradução: M. L. X. A.</p><p>Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2008.</p><p>MATRIX. Direção: Andy Wachowski; Larry Wachowski. Roteiro: Andy</p><p>Wachowski; Larry Wachowski. Produção: Joel Silver. USA: Warner</p><p>Bros, 1999. (136 min.), son., color.</p><p>PLATÃO. A república. 9. ed. Tradução: M. H. R. Pereira. Lisboa:</p><p>Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.</p><p>WEEKS, M. Se liga na filosofia. Tradução: R. Longo. São Paulo:</p><p>Globo, 2014.</p>