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Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Unidade 1
Os tipos de conhecimentos e suas especi�cidades
Aula 1
O senso comum
O senso comum
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Dica para você
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aprendizagem ainda mais completa.
Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá um tipo de conhecimento: o senso comum e
suas especi�cidades, além de como a mitologia se tornou expressão do senso comum, sua
importância e aplicabilidade.  
Este conteúdo nos ensinará a respeitar e valorizar todos os tipos de conhecimento, por isso a
sua importância.
Vamos lá!
Ponto de Partida
Que tal fazermos um mergulho nas imensas profundezas das nossas convicções e certezas?
Que tal tentarmos conhecer melhor o que está na raiz dos nossos projetos, sonhos e
realizações? Damos as boas-vindas a quem estiver disposto a nos acompanhar nas re�exões
que esta disciplina propõe, lembrando que o intuito é ajudar você a conhecer mais o modo como
o nosso pensamento foi sendo plasmado ao longo da nossa história. Vamos lhe apresentar os
diversos tipos de conhecimento, os principais momentos da Filoso�a, algumas das principais
correntes �losó�cas que a compõem e as principais preocupações dos pensadores desde a
Grécia antiga até hoje. 
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Não devemos nos esquecer que Descartes já nos alertava que viver sem �losofar é como ter os
olhos fechados sem jamais fazer esforço para abri-los; e o prazer de ver todas as coisas que
nossa vista descobre não é comparável à satisfação que dá o conhecimento daquelas que se
encontram pela �loso�a; e seu estudo é mais necessário para regular nossos costumes e nos
conduzir na vida que o uso dos nossos olhos para guiar nossos passos (Descartes, 1997, p. 16).  
Há quem viva na superfície da vida, sem jamais descer às suas profundezas, como nos lembrou
Schopenhauer (2020, p. 17) ao a�rmar que: “quanto menos inteligente um homem é, menos
misteriosa lhe parece a existência”, ou seja, nós não a compreendemos e nem sequer
percebemos que não a compreendemos. Carl Jung, menos radical que Schopenhauer, defende
não se tratar de falta de inteligência, mas, sim, de consciência, pois, para ele: “noventa e cinco
por cento das pessoas passa noventa e cinco por cento das suas vidas de modo inconsciente”
(Jung, [s. d.] apud One, 2005, min. 38).
Agora é com você! Queremos que você analise a seguinte frase de Sócrates e se posicione
criticamente, com toda a profundidade possível: “Uma vida sem re�exão não merece ser vivida!”
(Pessanha, 1999, p. 67).
Então, vamos nos aprofundar nisso e mergulhar fundo nessa re�exão? Se estiver disposto,
prepare-se, pois essa re�exão não é para os mentalmente fracos, pois estes sucumbem. 
Vamos Começar!
Não se aprofundar no uso da racionalidade, não tentar entender a vida de modo mais profundo e
passar a vida inteira acreditando nas coisas como elas diretamente se apresentam, sem
mediações, são práticas consideradas de senso comum, que é o discernimento do qual todos
comungam, sem necessidade de estudos, de modo espontâneo e intuitivo. Os mitos foram uma
das primeiras expressões do senso comum, mas deram uma importante contribuição para o
desenvolvimento do uso da razão. O senso comum, ao contrário do que pode parecer, não é um
conhecimento de segunda categoria ou de menor importância, pois todas as modalidades de
conhecimento são importantes dentro do seu contexto e, como tal, devem ser respeitadas.
Especi�cidades do senso comum
O senso comum é a primeira modalidade de conhecimento e, talvez, tão antigo quanto a
humanidade. Trata-se da primeira forma de compreensão do mundo; nele, faz-se presente a
racionalização, utilizada para dar sentido às coisas do grupo, da cultura ou da sociedade em que
nos encontramos (Souza, 1998).
O senso comum, normalmente, é transmitido pela tradição, pela oralidade e pelos costumes, por
vezes, até de modo inconsciente. Para alguns, o senso comum é tão espontâneo que é
considerado natural; é como se não pudesse ser diferente, ou seja, como se fosse a forma de
conhecimento original, a “expressão para designar as crenças tradicionais do gênero humano,
aquilo em que todos os homens acreditam ou devem acreditar” (Abbagnano, 2007, p. 873).
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
O senso comum tem como características (Chauí, 2000):
A subjetividade, que é a maneira como cada um vê e interpreta o mundo e os eventos em
si. Trata-se das opiniões, muitas vezes, aceitas sem questionamento.
A espontaneidade, pois o senso comum não resulta de nenhuma modalidade muito
elaborada, mas surge a partir daquilo que se observa, normalmente, a partir dos sentidos.
A imediaticidade, já que no senso comum não existe nada que faça a mediação; essa
apropriação é direta, tal qual os sentidos captam.
A super�cialidade, pois ele não aprofunda ou problematiza a re�exão abordada, �cando
apenas na superfície, sem a preocupação com a sua fundamentação.
A acriticidade: a palavra crítica tem o sentido de �ltragem e puri�cação, mas o senso
comum não �ltra seus conceitos, não havendo crítica (o pre�xo “a”, no grego, é não ou
sem).
A mitologia como expressão do senso comum
A primeira manifestação do senso comum foi o mito (mytheo, em grego, é narrativa, relato), uma
narrativa fantasiosa, porém amparada em uma preocupação válida para explicar a realidade.
Segundo o Dicionário de Filoso�a, de Nicola Abbagnano, “além da acepção geral de ‘narrativa’ [...]
é possível distinguir três signi�cados do termo: 1º Mito como forma atenuada de
intelectualidade; 2º Mito como forma autônoma de pensamento ou de vida; 3º Mito como
instrumento de estudo social” (2003, p. 673).
Essa última acepção diz respeito ao período em que o mito começou a ser a questionando,
abrindo precedentes para o uso da razão, pois os mitos não surgiram se autoconcebendo como
forma atenuada de intelectualidade, mas como a melhor resposta possível para o entendimento
dos eventos da natureza naquele momento. Com o passar dos anos, aos poucos, foram
aparecendo, dentro dos mitos, elementos de racionalidade, como os questionamentos, ao se
tentar entender, por exemplo, a atitude dos deuses diante de certos acontecimentos.
Os mitos surgiram para tentar explicar a origem de tudo o que existe, desde o mundo físico até
os acontecimentos. Os antigos �cavam espantados (essa atitude é chamada de thaumazein)
diante da grandeza do universo e do modo perfeito como as coisas aconteciam, pois lhes
parecia que toda a natureza (physis, em grego) estava previamente con�gurada para seguir uma
ordem (kosmos, em grego). O mito, então, podia ser compreendido como uma mistura de religião
e razão: recorria-se aos deuses para explicar algo veri�cável e concreto.
Siga em Frente...
Importância e aplicabilidade do senso comum
Todas as modalidades de conhecimento são importantes, pois, conforme o momento da vida em
que nos encontramos, umas nos atendem melhor do que outras, semelhante aos nossos gostos
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
musicais, quando, a depender do lugar em que nos encontramos, da nossa faixa etária ou do
nosso estado emocional, um determinado tipo de música nos agrada mais.
Podemos a�rmar que aqueles que se guiam pelo senso comum tendem a acreditar que o mundo
só pode ser do modo como é apreendido por eles, mas se analisarmos friamente o caso, parece
que aqueles que se guiam pelo conhecimento religioso ou cientí�co fazem o mesmo, bem como
se consideraram, muitas vezes, superiores e em melhores condições de oferecer respostas
satisfatórias ao mundo. Porém, ainda que isso ocorra, ainda não é o su�ciente para de�nir uma
forma de pensamento como superior a outra.
Existe uma anedota que relata o caso de um barqueiro analfabeto e que pode ilustrar o que
pretendemos abordar. A anedota do barqueiro (ou da canoa, por vezes atribuída a Paulo Freire)
apresenta o casode um homem que nasceu e cresceu em um determinado lugar do interior e
acabou não tendo acesso à escola. Entre outras coisas práticas, ele aprendeu a nadar e a remar,
adquiriu um barquinho e, assim, desempenhava o seu ofício fazendo a travessia das pessoas de
uma margem a outra de um rio. Um dia, quando foi transportar um advogado e uma professora,
durante a travessia, os passageiros lhe deixaram claro que ele havia perdido grande parte de sua
vida por não ter adquirido conhecimentos acadêmicos, técnicos, pro�ssionalizantes etc.; mas
quando o barco começou a afundar, percebendo que nenhum dos passageiros sabia nadar, o
barqueiro lamentou o fato e informou a eles que não haviam perdido apenas
grande parte de suas vidas, mas a vida toda. Ou seja, naquele momento, naquela situação, os
diplomas e os títulos não ajudaram em nada, o conhecimento mais importante era oriundo do
senso comum, como saber nadar, e o barqueiro era o único que sabia. 
Vamos Exercitar?
Acreditamos que você já esteja em condições de se posicionar criticamente, isto é, com critérios,
diante da frase de Sócrates exposta anteriormente. Uma análise crítica ocorre quando você não
tira tudo da sua cabeça, mas se vale daquilo que nomes consagrados lhe outorgaram, por isso,
esperamos que você tenha percebido que pensadores como Descartes e Schopenhauer
concordaram com a frase socrática e, de certa forma, a reproduziram com suas próprias
palavras.
Além disso, extrapolar a área da Filoso�a e buscar contribuições até mesmo no campo da
Psicologia, recorrendo às contribuições do psicólogo alemão Carl Jung, mostra-nos que o
despertar da consciência é muito difícil e que poucos, apenas cinco por cento, conseguem a
façanha de estar mais de cinco por cento conscientes, e esses são aqueles que conseguem ver
coisas que as pessoas comuns não veem e, por não verem, não acreditam existir. Talvez seja por
isso que Platão (2001) dizia que educar não é mostrar o mundo, mas ensinar a ver o mundo.
Podemos concluir, então, que viver sem re�exão é viver sem compreender o sentido, o motivo de
se estar aqui e não fazer nenhum esforço nessa direção; é viver como os outros animais: o
momento, a satisfação dos instintos, das necessidades e dos desejos, sem buscar ser artí�ce da
própria existência. Se a vida perde o seu sentido ou não o enxergamos, podemos cair num vazio
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
existencial, e isso é muito perigoso, corroborando a passagem bíblica que diz: “De que adianta ao
homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma” (Mc: 8,36), ou seja, de que adianta
termos tudo se perdemos o sentido de viver? 
Saiba mais
Conheça mais as especi�cidades do senso comum lendo o artigo Senso comum e trabalho
intelectual. Trata-se de uma resenha do livro de Renato ORTIZ. Mundialização: saberes e crenças.
São Paulo, Brasiliense, 2006.
Enriqueça os seus conhecimentos sobre a mitologia como expressão do senso comum lendo o
capítulo 1 – Metodologia Grega: Preliminares, do livro Mitologia Grega. Nele, o autor mostra
como o mito se reveste de uma forma de conhecer e se posicionar no mundo a partir do senso
comum.
Aprofunde a sua compreensão acerca da importância e da aplicabilidade do senso comum lendo
o artigo Diálogo Entre os Saberes: as Relações entre o Senso Comum, Saber Popular, Cientí�co e
Escolar, de Eneida Orbage Taquary. Publicado pela Universitas Relações Internacionais. Nele, a
autora aborda a importância dos diversos tipos de conhecimento e como eles dialogam entre si
em prol de uma complementariedade cognitiva.  
 
 
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de �loso�a. Tradução: A. Bosi. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
BRANDÃO, J. S. Mitologia grega. São Paulo: Vozes, 2009. 
CHAUÍ, M. Convite à �loso�a. São Paulo: Ática, 2000.
DESCARTES, R. Princípios da �loso�a. Tradução: J. Gama. Lisboa: Edições 70, 1997.
ONE: The movie. Direção: Ward Powers. Washington. Intérpretes: Scott Carter, Mantak Chia,
Deepak Chopra et al. Roteiro: Jenna Stone. USA: Dreamland Films, 2005. 1 DVD (80 min), son.,
color., 35 mm.
PESSANHA, J. A. M. Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os Pensadores).
https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/tFZ8g4GkMZszQrBttqf93gN/?format=pdf&lang=pt
https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/tFZ8g4GkMZszQrBttqf93gN/?format=pdf&lang=pt
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/203536/epub/0?code=EDHH59QxFABfyyItLl3CuPln6wUnwS4yqiCfReNs7PQXBt8m8tLNwY2vfClg2VHfOW1KKfbFjA3cppRqW57fNg==
https://www.proquest.com/docview/1508822906/fulltextPDF/28CA509CD2384B8EPQ/11?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journals
https://www.proquest.com/docview/1508822906/fulltextPDF/28CA509CD2384B8EPQ/11?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journals
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
PLATÃO. A república. Tradução: M. H. R. Pereira. 9. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
2001.
SCHOPENHAUER, A. Aforismos para a sabedoria de vida. São Paulo: LeBooks Editora, 2020.
SOUZA, J. C. A. de. A con�guração estrutural do paradigma da racionalidade moderna. Síntese
Nova Fase, Belo Horizonte, v. 25, n. 82, p. 391-401, 1998.
Aula 2
O conhecimento religioso
O conhecimento religioso
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Dica para você
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Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá um tipo de conhecimento: o conhecimento
religioso e suas especi�cidades, bem como a relevância da presença do Divino na Religião e o
diálogo entre religião e �loso�a em torno do Divino.  
Este conteúdo nos ensinará a respeitar e valorizar todos os tipos de conhecimento, por isso a
sua importância.
Vamos lá!
Ponto de Partida
Embora possa parecer que Deus e religião sejam assuntos exclusivos da Teologia, outras áreas
também se dedicam a entender melhor essas questões, como a Psicologia, a Antropologia, a
Sociologia e a Filoso�a — cada uma sob um determinado aspecto.
A religião transmite uma forma especí�ca de conhecimento, haja vista que o conhecimento é
de�nido como uma forma de se compreender e explicar o mundo, e esse é um projeto que
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
também envolve a religião; além disso, cada modalidade de conhecimento (senso
comum/mitologia, �loso�a, religião e ciência) prevaleceu em determinada época, passando
pelas idades antiga, medieval e moderna/contemporânea.
Assim como acontece com o senso comum, o conhecimento religioso também tem as suas
especi�cidades, e é isso que apresentaremos a partir de agora, re�etindo sobre o modo como o
Divino se faz presente na religião e como se dá o diálogo entre �loso�a e religião acerca dessa
temática. Aliás, também devemos ter em mente que, como já dissemos anteriormente, nenhuma
forma de conhecimento deve ser considerada melhor, mais completa e mais importante que
outra; há quem passe por este mundo recorrendo sempre a modalidade religiosa de
conhecimento e, por vezes, com pleno êxito.
Propomos, então, que você re�ita sobre o conhecimento religioso buscando elementos que te
permitam entender adequadamente a frase de William Shakespeare (2005, p. 36): “Há mais
mistérios entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã �loso�a”.
E aí? Está pronto para mais uma viagem pelas esplêndidas estradas do conhecimento?
Esperamos que sim e que, ao �nal de mais esta aula, você possa a�rmar: “Aumentei o meu
conhecimento e a minha compreensão de mundo!”. 
Vamos Começar!
Não é raro ouvirmos falar sobre o Deus de Platão, o Deus de Aristóteles, o Deus de Spinoza e
assim por diante, e isso pode nos levar à seguinte indagação: existe mais de um Deus?
Possivelmente não. Se Deus existe, ele é um só, e vale lembrarmos que o Sol também é um só,
aliás, é esse o signi�cado do seu nome, e nos referimos a ele de diversas formas: o sol da
manhã, o sol da tarde, o sol do inverno etc.
Diante disso, podemos perceberque Deus pode – e é – tratado sob diversas perspectivas e por
diversos pensadores, ou seja, ele não é objeto exclusivo da religião. Algumas pessoas (talvez a
maioria) chegaram a Deus pela fé, mas há, também, aquelas que chegaram a ele pelo raciocínio.
Os religiosos gostam de nos lembrar que chegamos a Deus pelo amor ou pela dor, mas, segundo
alguns �lósofos, não necessariamente.
Especi�cidades do conhecimento religioso
A religião é uma atividade típica do homem e de nenhum outro animal; ela se faz presente em
todas as culturas e, praticamente, em todas as épocas, mas se trata de uma atividade
marcadamente problemática, pois “enquanto todas as outras atividades humanas (embora
sejam problemáticas) re�ram-se a objetos cuja existência está fora de discussão, a atividade
religiosa, ao contrário, dirige-se a um objeto do qual até a sua existência é colocada em questão”
(Mondin, 1980, p. 79).
O conhecimento religioso tem como especi�cidade (Chauí, 2000):
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Basear-se na fé.
Aceitar a existência de um ser Divino, superior, perfeito, onisciente, onipresente e
onipotente.
Ter como certa a existência de uma realidade imanente e outra transcendente, sendo a
primeira transitória e passageira, enquanto a segunda é eterna, imutável, perfeita e bela.
Acreditar na vida pós-morte e numa possibilidade de salvação da alma com base em
nossos próprios méritos.
Ter esperança de que os bons e justos sejam recompensados e os maus castigados.
Estabelecer uma ritualística.
Ver dicotomia entre o sagrado e o profano, entre a natureza e o divino.
Siga em Frente...
A presença do Divino na religião
Platão e Aristóteles não conheceram a Bíblia, tampouco o cristianismo, pois ele nem sequer
existia, mas foram teístas a partir do uso da razão. Contudo, depois que �loso�a e teologia se
mesclaram, a razão foi substituída pela fé e, por volta do ano 1000 da nossa época, alguns
teólogos buscaram mostrar que era possível certi�car-se da presença do Divino no mundo
também a partir da razão.
Um dos argumentos mais conhecidos é atribuído a Santo Anselmo (1033-1109) e �cou
conhecido como argumento ontológico. “Esse argumento tenta estabelecer não só a existência
do maior ser concebível, mas também os vários atributos que Deus deve possuir em virtude de
ser o maior: onipotente, onisciente, existe por si mesmo etc.” (Law, 2008, p. 261).
Resumidamente, o argumento a�rma que “por de�nição, Deus é um ser tão grande que maior não
pode ser concebido. Deus pode ser concebido como mera ideia ou como realmente existindo.
Existir é maior do que não existir. Portanto, Deus deve existir.” (Law, 2008, p. 140).
Outro argumento bastante conhecido é o de São Tomás de Aquino, conhecido como “as cinco
vias racionais da prova da existência de Deus”. São elas (Reale; Antiseri, 2003):
A via do movimento: tudo o que se move (nascer, viver e morrer), é movido por outro, logo, é
necessário que se chegue ao primeiro motor, àquele que não é movido por nenhum outro:
Deus.
A via das causas: nada do que existe causou a si próprio, então, deve existir uma causa
primeira de tudo o que existe: Deus.
A via da contingência: tudo o que existe morre e não tem em si a razão de sua existência,
por isso, deve haver um ser que tenha em si a razão de sua existência e do qual todos os
outros procederam e procedem: Deus.
A via da perfeição: se existem graus de perfeição, é porque existe algo que tem em si a
perfeição em plenitude: Deus.
A via da ordem: se o cosmo segue uma ordem e uma �nalidade, é porque existe uma
inteligência que causa essa ordem: Deus.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
O diálogo entre religião e �loso�a em torno do Divino
Segundo Blaise Pascal (1999), apostar na existência de Deus denota mais inteligência do que
apostar em sua não existência. A existência de Deus é proveitosa para a nossa felicidade neste
mundo e no outro, caso exista, pois Deus representa o bem, a verdade, o amor, a justiça etc.
Para Pascal, a razão não pode decidir se existe Deus ou não, pois entre nós e Deus há distância
in�nita; por isso, ele propõe apostarmos cara ou coroa a favor da existência de Deus: se
ganharmos, ganharemos tudo, se perdermos, nada perderemos. Seria racional apostar e correr o
risco de nos equivocarmos numa aposta em que temos todas as probabilidades de ganhar e
nenhuma de perder? E ele conclui: “Apostai, pois, que ele existe, sem hesitação” (Pascal, 1999, p.
93).
Pascal faz uma crítica aos “�lósofos que pretendem demonstrar ou descreditar as verdades da
fé por meio da razão, que nada tem a ver com ela, do mesmo modo que o espírito de geometria
nada tem a ver com o de �nura. O Deus dos �lósofos não é o Deus da fé: não é Deus” (Pascal
1999, p. 22).
Vamos Exercitar?
A forte tendência de secularização presente nas ideias iluministas reverbera até hoje em nossa
sociedade, por conta disso, temos uma forte tendência a desacreditar de tudo quanto não nos
seja compreensível, contudo, ainda temos de admitir que muitas coisas que existem precisam
ser descobertas, ou seja, nós não as conhecemos, logo, são um mistério para nós, e a existência
ou não de Deus — condição básica do conhecimento religioso — está entre elas.
Portanto, podemos relacionar essa postura diante do conhecimento com a frase de Shakespeare
— base norteadora da nossa re�exão — e encerramos corroborando tal convicção com a
contribuição de Newton, para quem aquilo que conhecemos é uma gota e o que ignoramos é um
oceano.
Saiba mais
Conheça mais as especi�cidades do conhecimento religioso lendo o tópico 1. O que é Religião,
do Caderno Pedagógico para o Ensino Religioso – Crenças Religiosas e Filoso�as de Vida: Com
Roteiros de Atividades para o Ensino Fundamental. Nele, Gilbraz de Souza Aragão apresenta um
panorama altamente explicativo sobre essa temática.
Para enriquecer a sua compreensão da presença do Divino na religião, sugerimos a leitura do
capítulo 1 – Introdução: A Questão de Deus, do livro Religião. Nele, o autor aborda
sistematicamente o tratamento dado pela Filoso�a à questão da divindade no viés religioso.
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/211724/epub/0?code=7Gw3YWsNq5532OEpajwqG17Z3TqPwo88+72FarVU5CVIM1ppLdZTk68oAfNxqHg+Bs3+S+8BIpYUWFbc4DvHBg==
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/211724/epub/0?code=7Gw3YWsNq5532OEpajwqG17Z3TqPwo88+72FarVU5CVIM1ppLdZTk68oAfNxqHg+Bs3+S+8BIpYUWFbc4DvHBg==
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/211724/epub/0?code=7Gw3YWsNq5532OEpajwqG17Z3TqPwo88+72FarVU5CVIM1ppLdZTk68oAfNxqHg+Bs3+S+8BIpYUWFbc4DvHBg==
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788565848343/pageid/0
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Por �m, você poderá aprofundar os seus conhecimentos a respeito do diálogo entre religião e
�loso�a em torno do Divino lendo o artigo Ensino Religioso: Um Campo de Aplicação da Ciência
da Religião, escrito por Elisa Rodrigues e publicado na revista Horizonte. Nesse artigo, a autora,
ao abordar as possíveis classi�cações do ensino religioso, trata da subárea de conhecimento
das Ciências da Religião. 
 
 
Referências
CHAUÍ, M. Convite à �loso�a. São Paulo: Ática, 2000.
JUNQUEIRA, S. R. A.; OLENIKI, M. L.; ORTIZ, F. P. Caderno pedagógico para o ensino religioso:
crenças religiosas e �loso�as de vida: com roteiros de atividades para o ensino fundamental.
Petrópolis: Vozes, 2023. 
LAW, S. Filoso�a: guia ilustrado Zahar. Tradução: M. L. X. A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2008.
MONDIN, B. Introdução à �loso�a: problemas, sistemas, autores, obras. Tradução: J. Renard. 10.
ed. São Paulo: Paulus, 1980.
PASCAL, B. Pensamentos. Tradução: O. Bauduh. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os
Pensadores).
REALE, G.; ANTISERI, D. História da �loso�a: patrística e escolástica. Tradução: I. Storniolo. São
Paulo: Paulus, 2003. v. 2.
SHAKESPEARE, W. Hamlet. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2005.
SWEETMAN, B. Religião. Tradução: R. C. Costa. Porto Alegre: Penso, 2013. 
Aula 3
Filoso�a
Filoso�a
https://www.proquest.com/docview/2479069611/fulltextPDF/7A7EF6D78AC249A9PQ/17?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journalshttps://www.proquest.com/docview/2479069611/fulltextPDF/7A7EF6D78AC249A9PQ/17?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journals
https://www.proquest.com/docview/2479069611/fulltextPDF/7A7EF6D78AC249A9PQ/17?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journals
https://www.proquest.com/docview/2479069611/fulltextPDF/7A7EF6D78AC249A9PQ/17?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journals
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�losó�co, suas especi�cidades, como se deu a passagem do mito ao logos e como se desperta
o olhar �losó�co.
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Ponto de Partida
O conhecimento a partir do senso comum tem sua base no mundo que captamos diretamente,
sem mediações e sem crítica; já o conhecimento religioso tem a sua base nos pressupostos da
fé; e a �loso�a tem a sua base naquilo que pode ser compreendido com segurança, de modo
claro e lógico, a partir da razão, com base nos fatos. Diante disso, agora, vamos lhe apresentar
as especi�cidades da �loso�a, como se deu a passagem do mito ao logos, permitindo o
surgimento da �loso�a, e como se desperta o olhar �losó�co.
Tomando por base que a palavra �loso�a se originou de duas palavras da língua grega, philos
(amigo) e sophia (sabedoria), desa�amos você a analisar criteriosamente a seguinte a�rmação
de Kant (2001, 672): “Entre todas as ciências racionais (a priori) só é possível, por conseguinte,
aprender a matemática, mas nunca a �loso�a (a não ser historicamente): quanto ao que respeita
à razão, apenas se pode, no máximo, aprender a �losofar”.
Diante disso, aceita subir mais um degrau em nossas re�exões? Esperamos que sim, pois já
vimos que a �loso�a é imprescindível para conduzirmos a vida. 
Vamos Começar!
A Filoso�a nasceu na magna Grécia, mais precisamente em Mileto, na região da Jônia, atual
Turquia, como uma tentativa de se compreender racionalmente a ordem (em grego, diz-se
Kosmos) presente na natureza (em grego, diz-se physis). Como para os gregos a matéria é
eterna, sem começo e sem �m, eles se empenharam em descobrir a matéria que estaria no
princípio (em grego, diz-se arché) de tudo.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Ao contrário dos mitos que a antecederam e segundo os quais a crença se dava por conta da
autoridade do seu narrador, na Filoso�a, a autoridade não é o �lósofo, mas a razão (logos, em
grego). Por conta disso, a Filoso�a consegue dialogar razoavelmente bem tanto com o
conhecimento religioso quanto com o conhecimento cientí�co, evitando contradições e não
recorrendo às fábulas e coisas incompreensíveis, mas às explicações coerentes, lógicas e
racionais. 
Especi�cidades da �loso�a
O pensamento �losó�co é descrito como crítico (com critérios), profundo (aprofunda-se ao
máximo no entendimento) e re�exivo (dobra-se sobre si mesmo, ou seja, questiona a si mesmo),
tendo como suas especi�cidades:
Tendência à racionalidade: somente a razão, com seus princípios e regras, é o critério da
explicação de alguma coisa.
Tendência à profundidade: a solução de um problema é sempre submetida à análise, à
crítica, à discussão e à demonstração, nunca sendo aceita como uma verdade sem provas
de sua veracidade.
Orientação por regras: o �lósofo é aquele que justi�ca suas ideias mostrando que segue
regras lógicas e universais do pensamento.
Recusa de explicações preestabelecidas: exigência de que, para cada problema, seja
investigada e encontrada a solução própria exigida por ele.
Tendência à generalização: mostrar que uma explicação tem validade para muitas coisas
diferentes, porque, sob a variação percebida pelos órgãos de nossos sentidos, o
pensamento descobre semelhanças e identidades.
Siga em Frente...
A passagem do mito ao logos
Os pressupostos para melhor compreendermos as bases do conhecimento grego são:
Tudo se relaciona ao arquê (primeiro princípio).
A matéria (natureza, physis) é eterna, não houve o momento da criação.
O tempo é circular e cíclico.
Desaparecem os elementos míticos.
Há uma ordem (cosmos) no mundo, regida pelo logos (razão).
A composição do cosmos é unicamente de elementos naturais.
O homem é um microcosmo também regido pelo logos.
Para Marilena Chauí (2000), alguns fatores possibilitaram que a �loso�a surgisse naquele
momento e naquele local. São eles: as viagens marítimas; a invenção do calendário; a invenção
da moeda; o surgimento das cidades; a invenção da escrita alfabética; e o surgimento da política.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
A isso se soma a convicção de que as explicações mitológicas pareciam não ser mais
su�cientes e o fato de as pessoas começarem a buscar “explicações naturais para os processos
e acontecimentos até então atribuídos a agentes e poderes sobrenaturais; a magia e o ritual
foram lentamente cedendo lugar à ciência e ao controle; e nasceu a �loso�a” (Durant, 1996, p.
31).
O conhecimento �losó�co teria sido o início do conhecimento racional e se originado no século
VI a. C., nas colônias gregas, mais especi�camente em Mileto, cidade situada no território que
pertence à Turquia, mas que, naquela época, compunha a Magna Grécia e se chamava Jônia. Os
primeiros �lósofos são chamados de pré-socráticos, e o primeiro deles é Tales de Mileto (625-
558 a.C.). A preocupação deles era descobrir qual foi o elemento natural e físico, portanto, que
originou tudo o que existe, e esse primeiro elemento ou
elemento primordial, em grego, diz-se arquê.
Na antiguidade, �loso�a era a totalidade do saber, mas a partir de certo momento, as áreas
especí�cas do conhecimento foram ganhando autonomia e se separando da �loso�a.
Despertar o olhar �losó�co
No Mito da Caverna, Platão diz que o prisioneiro que se libertou da caverna teve a sua visão
ofuscada pela claridade (a claridade é o símbolo do bem, do belo e do verdadeiro) e que só na
manhã seguinte conseguiu enxergar as coisas em si. “Em nossa sociedade, é muito difícil
despertar nas pessoas o desejo de buscar a verdade” (Chauí, 2000, p. 113), e esse despertar para
a busca da verdade é o que chamamos de educação.
E sobre isso, veja o que disse Platão:
A educação não é o que alguns apregoam que ela é. Dizem eles que introduzem a ciência numa
alma em que ela não existe, como se introduzissem a vista em olhos cegos. [...] Existe na alma
uma faculdade e um órgão pelo qual ela aprende; como um olho que não fosse possível voltar
das trevas para a luz, se não juntamente com todo o corpo, do mesmo modo esse órgão deve ser
desviado, juntamente com a alma toda, das coisas que se alteram, até ser capaz de suportar a
contemplação do Ser e da parte mais brilhante do ser. A isso chamamos bem (518c). [...] A
educação seria, por conseguinte, a arte desse desejo, a maneira mais fácil e mais e�caz de fazer
dar a volta a esse órgão, não a de o fazer obter a visão, pois já a tem, mas, uma vez que ele não
está na posição correta e não olha para onde deve, dar-lhe os meios para isso (518d). 
Despertar o olhar �losó�co é buscar ver além das aparências, alcançando o ser do modo como
ele é, se fato; é superar a aparência e chegar à essência. Para que isso aconteça, há de se evitar
passar ideias e convicções, mas ajudar o interlocutor a desenvolver as suas próprias ideias,
fazendo-o pensar por si, desenvolvendo conhecimento e não apenas assimilando.
Mais do que ensinado, o amor ao conhecimento deve ser despertado. 
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Vamos Exercitar?
O próprio Kant nos ajuda a responder à questão, uma vez que: 
[...] não se pode aprender nenhuma �loso�a; pois onde está ela? Quem a possui? Por que
caracteres se pode conhecer? Pode-se apenasaprender a �losofar, isto é, a exercer o talento da
razão na aplicação dos seus princípios gerais em certas tentativas que se apresentam, mas
sempre com a reserva do direito que a razão tem de procurar esses próprios princípios nas suas
fontes e con�rmá-los ou rejeitá-los (Kant, 2001, p. 672). 
Diante disso, podemos dizer que é possível ensinar alguém a �losofar quando lhe oferecemos as
condições necessárias para se tornar mais crítico, desde que queira e se esforce para tal, mas
não podemos ensiná-lo �loso�a, pois sendo a �loso�a uma postura de amor ao saber, o amor
não é racional, não se ensina, ele é sentimento, portanto, desenvolve-se.
A �loso�a não ensina a verdade, ensina-nos a buscar a verdade. 
Saiba mais
Conheça mais as especi�cidades da Filoso�a lendo o texto Dilthey e o Conhecimento. Nele, o
autor faz uma re�exão sobre a contribuição da �loso�a para o conhecimento.
Para entender melhor como se deu a passagem do mito ao logos, recomendamos a leitura do
tópico 1.3 Mito e Filoso�a, do livro Introdução à Filoso�a Antiga. Nele, o autor apresenta como se
deu a passagem entre esses tipos de conhecimento.
Caso queira aprofundar a sua compreensão acerca do conhecimento �losó�co, indicamos a
leitura do artigo O Ensino de Filoso�a e a Criação dos Modos de Vida, escrito pelos professores
Daniel Salésio Vandresen e Rodrigo Pelloso Gelamo. Nesse artigo, os autores buscam
desenvolver outro olhar sobre a �loso�a, a vida e o seu ensino, valendo-se da contribuição de
Foucault, quando este se propõe a pensar a �loso�a como uma atitude crítica sobre o modo
como conduzimos a nossa vida. 
 
 
Referências
BRAGA JUNIOR, A. D.; LOPES, L. F. Introdução à �loso�a antiga. 1. ed. Curitiba: Intersaberes,
2015.
http://almanaque.folha.uol.com.br/filosofiadilthey.htm
http://almanaque.folha.uol.com.br/filosofiadilthey.htm
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/31411/pdf/0?code=AsK1qhLDVqukAsrkNX8ec4jlyH+tEJxqGIKA+pnVWJM3fhH39mj28bjQtMpzRrklRO/peI1XSEOjPglJVJEgMA==
https://www.redalyc.org/journal/1051/105152132005/html/
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
CHAUÍ, M. Convite à �loso�a. São Paulo: Ática, 2000.
DURANT, W. A história da �loso�a. Tradução: L. C. N. Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
(Coleção Os Pensadores).
KANT, I. Crítica da razão pura. Tradução: M. P. Santos. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2001.
PLATÃO. A república. Tradução: M. H. R. Pereira. 9. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
2001. 
Aula 4
Conhecimento cientí�co
Conhecimento cientí�co
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Dica para você
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Olá, estudante! Nesta videoaula você conhecerá um tipo de conhecimento: o conhecimento
cientí�co, suas especi�cidades, como ocorreu a emancipação da ciência na modernidade e
como ciência e técnica acabaram se unindo.
Este conteúdo nos ensinará a respeitar e valorizar todos os tipos de conhecimento, por isso a
sua importância.
Vamos lá!
Ponto de Partida
A ciência é a �lha que cresceu mais do que a mãe; ela nasceu a partir da Filoso�a, mas, hoje, é o
conhecimento mais aceito, mais respeitado e com as maiores promessas nos círculos
acadêmicos.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
A ciência foi gestada no ventre da Filoso�a, mas só no começo da Idade Moderna se tornou
emancipada. Praticamente, todos os �lósofos pré-socráticos, desde Tales até Demócrito,
contribuíram para a ciência em algum aspecto, e para demonstrarmos que �loso�a e ciência
caminhavam juntas, lembremos que Galileu Galilei, o pai da ciência moderna, apesar de médico,
matemático e astrônomo, lutou por muito tempo para adquirir o título de �lósofo.
Ele dizia: “estudei mais anos de �loso�a do que meses de medicina e como sou considerado
médico, nada mais justo do que ser também considerado um �lósofo” (Rovighi, 1999, p. 48).
Vamos lhe apresentar as especi�cidades do conhecimento �losó�co, como se deu a
emancipação da ciência em relação à �loso�a na Idade Moderna e como acabou sendo
estabelecido um vínculo entre ciência e técnica e que, de certo modo, permanece até hoje.
Queremos que você conheça esses conteúdos a ponto de poder se posicionar criticamente
diante de duas a�rmações; são elas: “Os tolos, quando infelizes, são sábios” (Pessanha, 1996, p.
276) — frase proferida por Demócrito de Abdera, um respeitado cientista da Grécia antiga,
possível descobridor do átomo; e a frase bíblica extraída do livro do Eclesiastes (1, 18): “Muita
sabedoria, muito desgosto, quanto mais conhecimento, mais sofrimento”.
Aguente �rme e vamos juntos aprender mais sobre o conhecimento cientí�co! 
Vamos Começar!
Os mitos deram origem à �loso�a e a �loso�a deu origem à ciência. O viés cientí�co estava
presente na re�exão �losó�ca quando ela se propôs a buscar uma compreensão do mundo,
unicamente, a partir da razão. Lembremos que os gregos não faziam experiências, sua ciência
era feita a partir da observação e da re�exão, apenas, e foi só no começo da Idade Moderna, a
partir de Francis Bacon e Galileu Galilei, que a experimentação começou a fazer parte do método
de aquisição de novos conhecimentos.
Francis Bacon é o pai do método experimental e Galileu Galilei é o pai da ciência moderna. A
experimentação é acrescentada, sem excluir a observação e a re�exão, a �m de permitir maior
universalização aos conhecimentos cientí�cos.
Especi�cidades do conhecimento cientí�co
Entre as especi�cidades da ciência, estão os princípios da objetividade, universalidade e da
aplicabilidade, que buscam tornar o conhecimento neutro, universal e necessário. A
universalidade pode ser facilmente observada nas ciências naturais; por exemplo, a água entra
em ebulição quando atinge 100º celsius estando ao nível do mar, e isso signi�ca que essa
explicação pode ser identi�cada e aplicada em vários lugares e em momentos diferentes, sem
que haja uma mudança explicativa.
A objetividade tem a ver com a exatidão, com a positividade, e outro exemplo é a soma dos
ângulos internos de um triângulo ser 180º, logo, o resultado da soma não pode ser 179º e nem
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
181º. O oposto ao universal é o particular, e o aposto do necessário é o contingente (ao acaso,
acidentalmente).
A aplicabilidade é um aspecto que foi incorporado à ciência apenas na modernidade; a ciência
antiga era teorética, apenas contemplava os seres naturais, sem intervir neles ou sobre eles, mas
a moderna se constitui de um saber empírico, ligado a práticas necessárias à vida e à técnica,
desde quando Francis Bacon estabeleceu que “saber é poder” e que Descartes a�rmou que “a
ciência deve tornar-nos senhores da Natureza” (Chauí, 2000, p. 327).
Siga em Frente...
A emancipação da ciência na modernidade
Contribuíram para a emancipação da ciência as descobertas e invenções, as mudanças de
concepção de mundo (de geocêntrica para heliocêntrica, de terra plana para esférica) e a
emancipação da �loso�a em relação à teologia, pois poder pensar e escrever o que se pensa
sem precisar pedir a permissão eclesiástica representou um sobressalto no conhecimento.
Com a chegada do renascimento e as ideias de Nicolau de Cusa, Copérnico e Giordano Bruno, a
Igreja sentiu suas bases epistemológicas balançarem e entraram em cena novas maneiras de se
fazer ciência, valendo-se de experiência e demonstração. À observação, juntou-se a
experimentação e a matemática (menosprezada por Aristóteles), que passou a ser considerada a
verdadeira linguagem da natureza (Pessanha, 1978).
Diante disso, a Teologia foi deixando de ser a ciência das ciências e as diversas esferas do saber
(disciplinas) foram se emancipando, ganhando autonomia, vida própria, com objetos e métodos
próprios. O teocentrismo foi sendo suplantado por um antropocentrismo e formou-se o pano de
fundo para o que viria a ser conhecidocomo ciência moderna.
Ciência e técnica
A ciência moderna nasceu vinculada à ideia de intervir na Natureza, de conhecê-la para apropriar-
se dela, para controlá-la e dominá-la. A ciência passou a ser considerada não apenas
contemplação da verdade, mas, sobretudo, o exercício do poderio humano sobre a Natureza
(Chauí, 2000).
Nessa época, o capitalismo estava aparecendo e buscava ampliar a capacidade do trabalho
humano para modi�car e explorar a Natureza, e foi assim que a nova ciência se juntou a técnica
e dela se tornou inseparável; aliás, mais da tecnologia do que da técnica.
A técnica, aliás, é um conhecimento empírico que, graças à observação, elabora um conjunto de
receitas e práticas para agir sobre as coisas; já a tecnologia é um saber teórico que se aplica na
prática. Por exemplo, um relógio de sol é um objeto técnico que serve para marcar horas
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
seguindo o movimento solar; um cronômetro é um objeto tecnológico: sua construção pressupõe
conhecimentos teóricos sobre as leis do movimento (as leis do pêndulo) e seu uso altera a
percepção empírica e comum dos objetos, pois serve para medir aquilo que nossa percepção
não consegue perceber; já uma lente de aumento é um objeto técnico, mas o telescópio e o
microscópio são objetos tecnológicos, pois sua construção pressupõe o conhecimento das leis
cientí�cas de�nidas pela óptica.
Um objeto é tecnológico quando sua construção pressupõe um saber cientí�co e quando seu
uso interfere nos resultados das pesquisas cientí�cas. A ciência moderna se tornou inseparável
da tecnologia (Chauí, 2000). 
Vamos Exercitar?
Retomando a questão colocada sobre a frase de Demócrito (“Os tolos, quando infelizes, são
sábios”) e a de Eclesiastes (“Muita sabedoria, muito desgosto, quanto mais conhecimento, mais
sofrimento”), podemos entender que, caso a infelicidade sentida pelo tolo seja em decorrência de
estar ciente das limitações do seu conhecimento, ele, então, está demonstrando sabedoria aos
moldes socráticos, ao confessar saber que não sabe tudo, ou seja, se ele é infeliz por saber que é
tolo, já apresenta certo grau de sabedoria.
Quanto à frase de Eclesiastes, podemos perceber que a sabedoria (ou o conhecimento) nos
confere uma noção mais clara da nossa �nitude e das nossas limitações, o que pode gerar
sofrimento, corroborando a frase do Schopenhauer já citada: “Quanto menos inteligente um
homem é, menos misteriosa lhe parece a existência” (2000, p. 17).
Outra inferência que podemos extrair das frases, agora já mais ligada ao conteúdo aqui
abordado, diz respeito ao uso da ciência voltada para o seu aspecto tecnológico, pois as nossas
invenções vêm afetando o meio ambiente e as condições de vida da nossa espécie, podendo, até
mesmo, comprometer a nossa existência, ou seja, muita ciência (mal aplicada), muito
sofrimento. Em síntese, o que gera benefícios e malefícios não é o conhecimento cientí�co em si,
mas o seu uso. A lucratividade não pode estar acima da preservação das condições de vida, de
todas as espécies de vida, animal, vegetal e mineral. 
Saiba mais
Conheça mais as especi�cidades do conhecimento cientí�co lendo o tópico 2.6 – Conhecimento
verdadeiro: a polêmica �losó�ca e cientí�ca, no livro Introdução à Epistemologia: Dimensões do
Ato Epistemológico. Nele, o autor faz uma análise bastante interessante do diálogo entre a
�loso�a e a ciência.
Também aprofunde o seu conhecimento sobre ciência e técnica lendo o Quadro 4. O Humanismo
e o Renascimento, do tópico 1.1 O Desenvolvimento Histórico do Processo Epistemológico, da
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/206661/epub/0?code=zgf3qu7Qlt83y3KhDsU8MZ/cEniklWhqAukiQbwbN7xL+CgnbiZlqWqQQ8lhNVBkWmkfXJGMvGd6uT9sW/6yQg==
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/206661/epub/0?code=zgf3qu7Qlt83y3KhDsU8MZ/cEniklWhqAukiQbwbN7xL+CgnbiZlqWqQQ8lhNVBkWmkfXJGMvGd6uT9sW/6yQg==
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
obra supracitada. Nele, você vai encontrar as principais nuances acerca do vínculo tratado neste
conteúdo.
A �m de que possa enriquecer a sua compreensão acerca da emancipação da ciência, propomos
a leitura do artigo Da Construção do Conhecimento Cientí�co, de Isa Maria Freire. Nele, a autora
aborda a construção do conhecimento cientí�co na perspectiva do desenvolvimento das forças
produtivas na sociedade, em especial no capitalismo industrial.
 
 
Referências
BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1985.
CHAUÍ, M. Convite à �loso�a. São Paulo: Ática, 2000.
FARIA, J. H. Introdução à epistemologia: dimensões do ato epistemológico. Jundiaí: Paco e
Littera, 2022. E-book.
PESSANHA, J. A. M. Galileu: vida e obra. In: BRUNO, G.; GALILEI, G.; CAMPANELLA, T. Bruno,
Galileu, Campanella. 2. ed. Tradução: Helda Barraco, Nestor Deola, Aristides Lôbo. São Paulo:
Abril Cultural, 1978. (Coleção Os pensadores).
PESSANHA, J. A. M.  Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Coleção Os
pensadores).
ROVIGHI, S. V. História da �loso�a moderna: da revolução cientí�ca a Hegel. São Paulo: Loyola,
1999.
SCHOPENHAUER, A. Aforismos para a sabedoria de vida. São Paulo: LeBooks Editora, 2020. 
Aula 5
Encerramento da Unidade
Videoaula de Encerramento
https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/158/152
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
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Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá como se dá a interseção entre os diversos tipos
de conhecimento: o senso comum, o conhecimento religioso, o �losó�co e o cienti�co, bem
como as suas especi�cidades, as suas importâncias e aplicabilidade.  
Este conteúdo nos ensinará a respeitar e valorizar mais todos os tipos de conhecimento, por isso
a sua importância.
Vamos lá!
Ponto de Chegada
Estamos chegando ao �m desta primeira unidade de estudo, em que buscamos te ajudar a
compreender de forma crítica as especi�cidades dos diferentes tipos de conhecimento abstrato.
O conceito de crítica é o de puri�cação, �ltragem; trata-se da análise minuciosa, profunda,
abrangente e com critérios daquilo que é analisado, portanto, é com essa postura que devemos
nos voltar para os diversos tipos de conhecimento.
Existem cinco tipos de conhecimento, sendo quatro abstratos e um prático: a técnica. Os
abstratos foram apresentados aqui; são eles: o senso comum, a religião, a �loso�a e a ciência.
Cada um deles tem a sua especi�cidade e o seu valor, e o conhecimento é, muitas vezes,
descrito como uma visão de mundo, sendo assim, tem a ver com o olhar, com o enxergar a
realidade em que nos encontramos imersos. Um exemplo disso é a situação do prisioneiro
apresentado por Platão, no Mito da Caverna, no livro VII de sua obra A República, em que ele
aborda tais conhecimentos vinculando-os com a questão do olhar.
O primeiro conhecimento, o senso comum, foi identi�cado por Platão (2001), descrito em língua
grega como Doxa, e representa o momento em que o prisioneiro só enxerga as sombras no
fundo da caverna, como nós, quando acreditamos que o mundo é exatamente do modo como o
observamos.
O segundo momento, a crença ou pistis, em língua grega, quando o prisioneiro, já liberto,
contempla as coisas à luz da fogueira; sua visão é limitada àquilo que uma luz externa lhe
permite observar, nesse caso, a crença não se restringe às crenças religiosas, mas se estende às
nossas concepções políticas, heranças culturais etc.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
No terceiro momento, já fora da caverna e com os olhos ofuscados pela claridade, o prisioneiro
vê as coisas re�etidas na água, e esse seria, para Platão, o conhecimento cientí�co, descrito
como dianoia, e ocorre quando a visão já está ampliada em relação ao momento anterior, mas
ainda se vê apenas as formas re�etidas e não as coisasem si; além disso, trata-se de um
conhecimento fragmentado e não da realidade como um todo.
Por último, o quarto momento, o qual só ocorre depois que os seus olhos se acostumaram com a
claridade e é possível olhar os objetos em si, assim como toda a realidade que o cerca. Só nesse
momento se tem uma visão da realidade como ela é, uma visão do todo, holística, que Platão
identi�ca com a noesis. Trata-se de um conhecimento puro, imediato e intuitivo que busca
abarcar a essência das coisas para além da simples aparência.
Essas formas de conhecimento, ou seja, as maneiras de enxergar o mundo, estão presentes no
nosso dia a dia, na cabeça das pessoas, nos seus posicionamentos, em suas tomadas de
decisões; elas conduzem as pessoas ao longo das suas vidas, umas mais, outras menos, e, em
alguns momentos, recorremos mais a um tipo de conhecimento do que a outro, mas eles estão
na base das nossas ações e convicções.
O nosso intuito ao te apresentar essa re�exão sobre as formas de conhecimento, além de
aumentar as suas perspectivas cognitivas, é, como já dissemos, buscar te ajudar a desenvolver a
capacidade crítica diante da realidade, a qual, talvez, possa ser compreendida como algo
construído em nossa mente por conta de vários fatores, tanto religiosos quanto políticos,
�losó�cos, cientí�cos e culturais. 
Re�ita
1. Desde o começo da Filoso�a, uma questão intriga os pensadores: será que as coisas são
exatamente do modo como as captamos? Será que a aparência corresponde à essência
das coisas? Será que existe quem veja coisas que não conseguimos ver? Diante disso,
propomos a você que re�ita com profundidade sobre a seguinte questão: você tem
certeza que capta o mundo, com todos os seus detalhes, como ele é de fato?
2. Embora existam diferentes tipos de conhecimento, todos eles são importantes e válidos;
em determinadas situações, alguns nos valem mais do que outros, mas não há uma
hierarquia entre eles, embora o conhecimento cientí�co seja aquele que vem nos
oferecendo respostas bastante convincentes. Sendo assim, queremos que você re�ita e
busque responder ao seguinte questionamento: é possível chegarmos a uma
compreensão de mundo mesclando todas as formas de conhecimento?
3. Por vezes, somos tentados a achar que o mundo evoluiu até os nossos dias, mas que,
doravante, não há mais o que evoluir. Aplicando isso aos conhecimentos, percebemos
que eles vieram se desdobrando ao longo da história, permitindo, há 400 anos,
aproximadamente, o surgimento da ciência moderna. Mas será que essa evolução parou?
Re�ita e responda: o Mito originou a Filoso�a, que originou a Ciência, logo, seria possível
a Ciência originar um novo tipo de conhecimento? 
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
É Hora de Praticar!
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Nós devolvemos para o mundo exatamente aquilo que o mundo põe em nossa cabeça, mas não
conseguimos perceber isso muito claramente. Dizendo de outra maneira: “Você é o seu cérebro”
(Law, 2008, p. 136).
Com base na premissa apresentada, explique por que o �lme Matrix pode ser considerado uma
nova versão do Mito da Caverna, de Platão. 
O pano de fundo do Mito da Caverna e do �lme Matrix é o mesmo. A visão dualista que Platão
apresenta por meio da teoria das ideias, transmitida de modo �gurativo pelo Mito da Caverna,
tem sido tema de �lmes e �cções, sendo a trilogia Matrix uma delas. “A trilogia de �lmes de
�cção cientí�ca Matrix aproximou o experimento mental da realidade simulada para a cultura
popular” (Weeks, 2014, p. 51).
A Matrix explora a peculiaridade da dúvida �losó�ca, sugerindo que o mecanismo de
funcionamento de nosso cérebro pode ser criado virtualmente, por meio de terminais oriundos
de um computador, e que, ligados ao nosso cérebro, podem nos transmitir uma realidade virtual
a qual não temos condições de diferenciar da verdadeira realidade. “No �lme Matrix, uma
inteligência comandada por máquinas aprisiona a consciência humana num mundo inventado.
Os céticos alegam que não conseguiríamos reconhecer a farsa num caso assim” (Law, 2008, p.
51). 
Assim como os prisioneiros da caverna não conseguem perceber que existe outra realidade além
daquela diante dos seus olhos, o personagem do �lme tem o seu cérebro sendo comandado por
uma máquina criando uma realidade virtual que, para ele, é real. “Nós somos como esses
prisioneiros, ensinados desde que nascemos a acreditar que os fenômenos, as experiências do
dia a dia são tudo o que existe” (Dave; Groves, 2012, p. 24). 
Con�ra a seguir uma síntese desta unidade.
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
 
DAVE, R.; GROVES, J. Entendo �loso�a: um guia prático da história do pensamento. Tradução. M.
N. Peres. São Paulo: Leya, 2012.
LAW, S. Filoso�a: guia ilustrado Zahar. Tradução: M. L. X. A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editora, 2008.
MATRIX. Direção: Andy Wachowski; Larry Wachowski. Roteiro: Andy Wachowski; Larry
Wachowski. Produção: Joel Silver. USA: Warner Bros, 1999. (136 min.), son., color.
PLATÃO. A república. 9. ed. Tradução: M. H. R. Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
2001.
WEEKS, M. Se liga na �loso�a. Tradução: R. Longo. São Paulo: Globo, 2014.
,
Unidade 2
Momentos históricos do pensamento �losó�co
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Aula 1
Filoso�a Antiga
Filoso�a antiga
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Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá os momentos históricos da �loso�a, a começar
pela �loso�a antiga, que contou com a contribuição e genialidade de Sócrates, Platão e
Aristóteles! Além disso, você também terá condições de reconhecer a contribuição dos principais
�lósofos aos diversos campos de ação humana.
Assim sendo, este conteúdo será importante para o desenvolvimento da sua capacidade crítica
diante da realidade.
Vamos lá!
Ponto de Partida
Sócrates, Platão e Aristóteles viveram numa região e num tempo muito diferentes e distantes
dos nossos, e para melhor compreendê-los, é preciso conhecer o modo como se pensava
naquela época e quais os valores subjacentes às suas escolhas. Naquele tempo, o indivíduo
isolado tinha pouco ou nenhum valor, pois a valorização se dava por conta da contribuição à
coletividade.
Tentemos imaginar o que aconteceria se um dia o nosso planeta sofresse ameaças externas;
possivelmente, uniríamos todos para resistir em nome da coletividade, no entanto, na ausência
desse tipo de ameaça, temos, também, a ausência dessa unidade, como se não fôssemos uma
única raça, mas indivíduos isolados ou, pior, em competição. Aqui reside uma das diferenças
mais marcantes entre a mentalidade dos gregos antigos e a nossa: os direitos individuais
praticamente não existiam, o que importava era a coletividade, era a Pólis. O ser humano era
como uma peça numa engrenagem maior; fundamental ou singela, essa peça tinha um papel a
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
desempenhar, uma contribuição a dar, e, na sua falta, o motor poderia parar. O homem que
contribuía era o politikos, já o que se abstinha era o idiótes (Cortella; Ribeiro, 2010).
Propomos que a preocupação em entender mais profundamente a ideia exposta por Aristóteles,
em sua obra Metafísica, de que o todo é mais que a soma das partes (Aristóteles, 2002), norteie
a nossa re�exão e aprendizagem. Você terá contato, a partir de agora, com os maiores nomes da
história da �loso�a: Sócrates, Platão e Aristóteles. Aproveite ao máximo! 
Vamos Começar!
Como já vimos, a Filoso�a não nasceu no território central que hoje conhecemos como sendo a
Grécia, mas nas suas colônias, mais precisamente numa região que hoje pertence à Turquia, a
cidadede Mileto, na região da Jônia. Mas o esplendor da Filoso�a se deu quando ela chegou em
Atenas, o berço da democracia; ali, chegaram alguns so�stas, com os quais Sócrates acabou
estudando por um tempo, mas por discordar deles, passou a estudar com Anaxágoras de
Clazômena e, posteriormente, desenvolveu a sua própria �loso�a, com muita qualidade, o que lhe
rendeu o título de pai da Filoso�a.
Sócrates
Além de ser considerado pai da Filoso�a, Sócrates também é chamado de pai da Ética, o que, por
si só, já é uma grande façanha, mas ela se torna ainda maior se levarmos em conta que ele nada
escreveu, apenas ensinou, e seus principais ensinamentos foram na área do conhecimento e da
ética.
Entre as principais contribuições de Sócrates está o fato de superar o relativismo dos so�stas
a�rmando a existência da verdade e da essência de tudo como uma razão de ser. A essência do
homem é a sua alma (psykhé, em grego), e a alma, para ele, é a razão/consciência, bem como a
busca do bem, do belo e do verdadeiro seria a essência da alma.
Sócrates não queria a opinião, queria a essência das coisas, pois, segundo ele, a opinião muda,
mas a essência permanece. Ele dizia que sua missão era ajudar os homens a viver bem,
encontrando a sabedoria e a virtude, ou seja, a sua preocupação não era com os princípios
supremos do universo, mas com o valor do conhecimento humano (Mondin, 1982). Desse modo,
Sócrates adotou como lema a frase que se encontrava do pórtico do templo de Apolo, em
Delphos: “Homem, conhece-te a ti mesmo”. Por meio de perguntas, Sócrates procurava mostrar
como as opiniões não se sustentavam — atitude conhecida como ironia, sinalizando que
Sócrates se subestimava propositalmente (Abbagnano, 2007, p. 585) — e levava as pessoas a
re�etir por conta própria (maiêutica, em grego, é parir/dar à luz).
Além disso, ele também entendia como sua missão ajudar as pessoas a dar à luz as suas ideias
por meio da dialética (Abbagnano, 2007), uma técnica parecida com um debate, bem como
“considerava que a sua missão era expor a ignorância dos outros quanto à verdadeira natureza
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
dessas virtudes (justiça, coragem e bondade) e era conhecido por constranger os sábios da
época ao revelar a confusão implícita em seus pensamentos morais” (Law, 2008, p. 242).
No âmbito da moral, ele defendia que quem conhece o bem o pratica, logo, só age
mal quem ignora o bem. Essa tese é conhecida como “racionalismo ético”; o homem, portanto,
deve conhecer e praticar o bem, buscando a virtude, a excelência, aquilo que é melhor. Segundo
Sócrates, “não é das riquezas que nasce a virtude, mas das virtudes nasce a riqueza” (Pessanha,
1999, p. 57).
As virtudes da alma se manifestam no autodomínio, “no domínio de si mesmo nos estados de
prazer, dor e cansaço, no urgir das paixões e dos impulsos”
(Reale, 1990, p. 91). Trata-se de fazer a racionalidade prevalecer sobre a animalidade, tornar a
alma senhora do corpo. Somente quando age dessa maneira, o homem está, segundo Sócrates,
sendo verdadeiramente livre.
Siga em Frente...
Platão
Platão foi criado para ser um político, mas acabou se desiludindo com o projeto e decidindo
contribuir apenas re�exivamente. Nesse empreendimento, Platão faz uma analogia entre o
homem justo e a cidade justa por meio da tese da tripartição da alma. 
Para o �lósofo, o homem é uma unidade acidental entre corpo e alma, e é nela que reside a sua
essência (Platão, 1999, p. 110). O homem possui três almas: a racional (localizada na cabeça), a
irascível ou colérica (localizada no tórax), a concupiscível ou desejante (localizada no
abdômen). Nos trabalhadores (camponeses, artesãos e comerciantes), predominaria a terceira
alma, e, nela, há uma mistura de ferro e bronze — metais menos nobres; já nos guerreiros,
prevaleceria a segunda alma, que teria uma mistura de prata; e na alma dos magistrados ou
sábios, predominaria a alma racional, com mistura de ouro. 
Assim, para Platão, só seria justo o homem que agisse pela alma racional, bem como só seria
justa a cidade que fosse governada por magistrados. Nem os trabalhadores, tampouco os
soldados, deveriam governá-la, pois não teriam a sabedoria necessária para bem conduzir os
destinos da cidade.
No campo da ética, Platão aderiu à das virtudes, sistematizada por ele em sua obra A República.
Ele entendia as virtudes como funções da alma determinadas por sua própria natureza e pela
divisão das suas partes. “O paralelismo entre as partes do Estado e as partes da alma permite a
Platão determinar e de�nir as virtudes particulares, bem como a virtude que
compreende todas elas: a justiça como cumprimento de cada parte à sua função” (Abbagnano,
2007, p. 380). 
Segundo Platão, o homem nasce com virtudes, porém adormecidas, devendo ser despertadas. A
maior das virtudes, para ele, é a justiça, que estaria intimamente atrelada ao correto
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
funcionamento das três almas. O homem, portanto, é justo quando as três interagem
harmonicamente sob o comando da racional, e a virtude da alma racional é a prudência;
a virtude da alma irascível ou colérica é a coragem; e a virtude da alma concupiscente ou
desejante é a temperança. 
No campo da estética, atribui-se a Platão o mérito de ter iniciado a re�exão acerca do belo e da
obra de arte, abordada em sua obra Hipias Maior, contudo, entende-se que a resposta só viria
com a Teoria do Mundo das Ideias, exposta em A República, pois, nela, �ca claro que enquanto
as manifestações do belo pertencem ao mundo sensível, atingir a
compreensão do que é o belo só é possível para quem ascende ao mundo inteligível. O conceito
de belo vincula-se, dessa forma, ao conceito do bem e do verdadeiro. 
Platão também se dedicou a resolver o problema da relação entre a arte, a metafísica e a moral,
pois, para ele, a arte não é autônoma. Ele se preocupou em re�etir se a arte aproximava ou
afastava o homem da verdade e se ela o tornava melhor ou pior, e acabou concluindo que ela
escondia a verdade e corrompia o homem. 
Aristóteles
O conceito antigo de política (a arte de bem viver em sociedade ou instância que busca a vida
feliz ou a vida boa de modo coletivo) é aristotélico, pois, para ele, o homem é, em sua essência,
um animal político (Aristóteles, 1999, p. 228). Aristóteles não separava ética e política; para ele, a
ética visava ao bem viver individual, enquanto a política visava ao bem viver coletivo, o que faz da
política mais importante do que a ética, dado que o coletivo tem supremacia sobre o individual. 
Disse Aristóteles que “o estado existe para capacitar todos, famílias e aparentados, a viver bem,
ou seja, a ter uma vida plena e satisfatória. É nosso amor pelos demais que nos leva a preferir a
vida em sociedade. A vida digna é o propósito do Estado” (Aristóteles, 1999, p. 228). 
Aliás, ele a�rma também que:
O Estado é uma criação da natureza e tem prioridade sobre o indivíduo que, quando isolado, não
é autossu�ciente; no entanto, ele o é como parte relacionada com o conjunto. Mas aquele que for
incapaz de viver em sociedade, ou que não tiver necessidade disso por seu autossu�ciente, será
uma besta ou um deus, não uma parte do Estado (1999, p. 147).
Por �m, para determinar o que entendia como justiça, Aristóteles distinguiu dois tipos de bens:
os partilháveis, que se referem a algo que pode ser dividido e distribuído, como as riquezas, e os
bens que não podem ser divididos, mas dos quais é importante que se participe, ou seja, os bens
participáveis, como o poder político.
A partir daí, segundo Chaui (2000), apresentou-se dois tipos de justiça na cidade: a justiça
distributiva, que se refere à distribuição dos bens econômicos de forma a dar desigualmente aos
desiguais, para torná-los iguais; e a justiça participativa, referente ao poder político e que
consiste em respeitar o modo como cada comunidade de�niu a participação no poder do qual
todos devem participar 
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
A contribuição mais signi�cativa de Aristóteles se deu, possivelmente, no campo da ética.A sua
obra Ética a Nicômaco pode ser considerada uma referência fundamental a respeito desse
assunto. Aristóteles é um defensor da ética das virtudes, acrescidas do elemento teleológico:
alcançar a felicidade, o bem viver (eudaimonia, em grego). Diz ele que a felicidade é a melhor, a
mais nobre e a coisa mais aprazível do mundo.
Agimos virtuosamente na tentativa de alcançar a felicidade, diante disso, Aristóteles não
compartilhava da ideia platônica de que o homem nasce com virtude, ao contrário, ele dizia que a
virtude é adquirida por meio do hábito, daí a necessidade do esforço permanente em praticar
atos virtuosos. 
Com efeito, as coisas que temos de aprender antes de poder fazê-las, aprendemo-las fazendo;
por exemplo, os homens tornam-se arquitetos construindo e tocadores de lira tangendo esse
instrumento. Da mesma forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, e assim com a
temperança, a bravura etc. (Aristóteles, 1973, p. 267).
Nesse sentido, de�niu-se alguns conceitos, tais como virtude, sendo ela a força necessária para
agir corretamente, como o autocontrole e o autodomínio. Seria como pensar bem antes de agir
para não se arrepender depois, não perder a calma facilmente nas discussões, não falar nada ou
praticar algum ato passível de arrependimento depois etc. 
A excelência, por sua vez, signi�ca cumprir bem com aquilo que lhe é pertinente, ou seja, fazer
bem-feito aquilo que lhe compete fazer, mas, para Aristóteles, a virtude apresenta um elemento
bastante marcante: o mesotes (justa medida), que, segundo ele, no campo da ética, consiste em
evitar os extremos, tanto no que tange aos excessos quanto às faltas. É preciso buscar a
harmonia, isto é, o equilíbrio. 
Por �m, em relação à estética, Aristóteles discorda de Platão quanto à vigilância e à censura da
arte e defende que ela não precisa ter compromisso com a reprodução do mundo verdadeiro. O
artista, segundo Aristóteles, ocupa-se com o belo (ou com a beleza), e o belo é de�nido por ele
como um bem que agrada. Mas por que agrada? Porque proporciona prazer às nossas
faculdades cognitivas por meio da ordem, da simetria e da harmonia presentes nesse objeto ou
nessa realidade.
Aristóteles entende que a beleza está presente na ordem, na simetria e na proporcionalidade
existente entre as partes e o todo. Para ele, existem artes mecânicas, que se efetivam por meio
da produção, como o artesanato; e arte imitativa, como as belas artes, porém ao tratar da arte
imitativa, o �lósofo retira dela a conotação negativa dada por Platão, justamente por vê-la como
um elemento que promove a catarse da alma humana (Abbagnano, 2003). 
Vamos Exercitar?
Certamente, você já deve ter percebido que o intuito da re�exão proposta é aprofundar a
compreensão acerca do individual e do coletivo. Aristóteles (2002) a�rma, por exemplo, que o
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
corpo é mais do que a soma das suas partes, dos seus membros, dos seus compostos etc.
Perceba que se um dente estiver doendo, este afetará o sistema nervoso e o corpo todo sentirá;
aliás, acabará afetando até o humor e o pensamento. Para os gregos, essa analogia se estendia
também à sociedade; se um cidadão não cumprisse com a sua parte, com o seu papel, a
coletividade toda seria afetada, e foi nesse contexto que Sócrates, Platão e Aristóteles
desenvolveram os seus pensamentos e, desse modo, buscaram contribuir para a sociedade por
meio das suas racionalidades e visões de mundo. 
Saiba mais
Para saber mais sobre Sócrates, leia o tópico 4.2 – Sócrates, do livro Introdução à Filoso�a
Antiga. Nesse texto, você encontrará os principais elementos constitutivos do contexto de
desenvolvimento do pensamento de Sócrates.
Aprofunde o seu conhecimento de Platão lendo o tópico 5.3 – A Teoria Política de Platão, da obra
supracitada. Você terá acesso à concepção política platônica dentro de uma mentalidade grega
que enfatiza o espaço coletivo.
Aprofunde a sua compreensão acerca do pensamento de Aristóteles lendo o texto Aristóteles e a
Cidade. Trata-se de um texto extraído da sua obra Política e que nos mostra como se dava essa
relação entre o coletivo e o individual. 
 
 
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de �loso�a. Tradução: Alfredo Bosi. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2007. Disponível em: https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-
abbagnano-dicionario-de-�loso�a.pdf. Acesso em: 26 abr. 2024.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução: Edson Bini. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Coleção
Os Pensadores).
ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002.
ARISTÓTELES. Vida e obra. In: Os pensadores: Aristóteles. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
(Coleção Os Pensadores).
BRAGA JUNIOR, A. D.; LOPES, L. F. Introdução à �loso�a antiga. Curitiba: Intersaberes, 2015. 
CHAUÍ, M. Convite à �loso�a. São Paulo: Ática, 2000.
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/31411/pdf/0?code=zx8IS1EIaqsbMpC1PAKf3HVh3d0jtihjUCi31TlzHInOViaiAy4hsuXFS5TkEPKQ5pJfd2VARsfj4dSQJWdw0g==
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/31411/pdf/0?code=zx8IS1EIaqsbMpC1PAKf3HVh3d0jtihjUCi31TlzHInOViaiAy4hsuXFS5TkEPKQ5pJfd2VARsfj4dSQJWdw0g==
http://almanaque.folha.uol.com.br/filosofiaaristoteles.htm
http://almanaque.folha.uol.com.br/filosofiaaristoteles.htm
https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-abbagnano-dicionario-de-filosofia.pdf
https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-abbagnano-dicionario-de-filosofia.pdf
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
CORTELLA, M. S.; RIBEIRO, R. J. Política para não ser idiota. São Paulo: Papirus, 2010.
LAW, S. Filoso�a: guia ilustrado Zahar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
MONDIN, B. Curso de �loso�a: os �lósofos do ocidente. 6. ed. São Paulo: Paulus, 1982. v. 2.
PESSANHA, J. A. M. (org.). Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os Pensadores).
PLATÃO. Vida e obra. In: Os pensadores: Platão. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os
Pensadores).
REALE, G.; ANTISERI, D. História da �loso�a: antiguidade e idade média. 5. ed. São Paulo: Paulus,
1990.
Aula 2
Filoso�a Medieval
Filoso�a medieval
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Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá mais um dos momentos históricos da Filoso�a:
a Filoso�a Medieval! Você também verá o que foi a patrística e qual foi a sua contribuição, assim
como a escolástica e a �loso�a renascentista.
Este conteúdo é importante porque ajudará você a desenvolver uma visão mais abrangente do
mundo e um posicionamento mais consciente diante da realidade.
Vamos lá!
Ponto de Partida
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Há uma discussão na Filoso�a acerca do progresso da humanidade; alguns pensadores alegam
que ele é sempre contínuo e retilíneo, outros que ele acaba retrocedendo de tempos em tempos;
outros, ainda, que ele dá saltos; e há, também, quem alegue que ele é cíclico e ascendente.
Propomos que você participe da aula buscando elementos que lhe permitam um posicionamento
crítico acerca desse movimento da história, tendo em mente, sobretudo, o Período Medieval: o
conhecimento progrediu na Idade Média ou ela, realmente, pode ser considerada “Idade das
Trevas”?
Vamos lhe apresentar, agora, um período de mil anos, aproximadamente, em que o progresso
pareceu ter �cado estagnado, começando a se movimentar ao voltar aos antigos. Estamos nos
referindo ao Período Medieval e a sua recorrência ao pensamento antigo, dito, renascimento.
Além disso, você vai conhecer mais a Patrística, uma corrente �losó�ca mesclada com a visão
bíblica; a Escolástica, o momento em que o ensino saiu dos conventos e foi até o palácio do rei,
tornando-se acessível a um número maior de pessoas e criando as condições para o surgimento
das universidades;e, por �m, o renascimento, quando as obras de Aristóteles chegaram até a
Universidade de Paris e se deu um retorno e a valorização da cultura grega.
Será que até o �m da aula você vai iluminar essa suposta idade das trevas? Fazemos votos que
sim. 
Vamos Começar!
Assim que o Império Romano favoreceu o encontro da �loso�a com o cristianismo, algumas
questões tiveram de ser resolvidas, pois havia muita divergência entre as duas formas de
conceber e explicar o mundo. A partir desse confronto, a �loso�a, um “erro vazio” (Carta aos
Colossenses: 2,8), adquiriu roupagens cristãs e �cou por mil anos subordinada à teologia. Dizia-
se que a �loso�a era serva da teologia (philosophia ancilla theologiæ, em latim), mas antes de
adquirir essa roupagem, muitas heresias, ideias contrárias àquelas do cristianismo, tiveram de
ser vencidas.
Patrística
Diante das heresias, surgiram aqueles que defendiam a fé cristã, e esses �caram conhecidos
como padres apologetas ou apologistas. Entre os apologistas gregos, os principais foram
Clemente (acreditava que a revelação era a continuidade do pensamento grego e que era preciso
extrair a gnose cristã da revelação para que o cristianismo não fosse religião apenas dos
ignorantes) e Orígenes (mestre de Plotino, discípulo de Clemente e Amônio Saccas, para ele, o
mundo é coeterno com Deus. Deus criou a vontade e a inteligência, a matéria veio do pecado;
nenhuma alma está condenada, porque não existe mal absoluto).
Já entre os latinos, os principais foram Tertuliano (autor mais antigo a utilizar o termo "Trindade"
e dar a mais antiga exposição formal ainda existente sobre a teologia trinitária) e Gregório
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
(defendia a doutrina da Santíssima Trindade; o Espírito veio do Pai não por geração, mas por
processão. Ele proclamou a eternidade do Espírito Santo, dizendo que suas ações estavam como
que escondidas no Antigo Testamento e que apareceram mais claramente com a ascensão de
Jesus ao Céu e a sua descida na festa de Pentecostes. Cristo, para ele, não deixou de ser Deus
quando se tornou homem), contudo, o maior nome dessa época foi Aurélio Agostinho de Hipona
ou Santo Agostinho, falecido em 430 d.C.
Os principais problemas giravam acerca da ressurreição, da questão da Trindade, da encarnação
— pois era loucura o Verbo de Deus encarnar-se em um indivíduo —, da relação entre liberdade e
graça e sobre fé e razão. Para a �loso�a, é um absurdo Deus morrer na cruz, pois Ele é
pensamento, e o valor do homem está no pensamento; além disso, seria inconcebível Deus amar
o ser humano. Aliás, as principais heresias foram: gnosticismo, donatismo, maniqueísmo,
arianismo, nestorianismo, pelagianismo, adopcionismo, apolinarismo, docetismo e
mono�sismo. 
Escolástica
Os professores das artes liberais começaram a ser chamados de escolásticos, título que se
estendeu também aos docentes de �loso�a e teologia, por isso, compreende-se por escolástica
a �loso�a e a teologia que eram ensinadas nas escolas medievais cristãs, não se esquecendo,
todavia, de que à teologia cristã se outorgava o título de ciência das ciências e, à �loso�a, apenas
o de serva da teologia. O problema fundamental nessa época era o entendimento e a
transmissão da verdade revelada dissipando a incredulidade e as heresias, portanto, a �loso�a
escolástica não teve a autonomia da �loso�a grega, pois se limitava ao ensino religioso do
dogma (verdade de fé inquestionável).
Normalmente, distingue-se três períodos na �loso�a escolástica: a alta, que vai do século IX ao
XII; o �orescimento, nos séculos XIII e XIV; e a sua dissolução, do século XIV ao Renascimento.
No primeiro, concebia-se fé e razão como tendo harmonia intrínseca e substancial; no segundo, a
harmonia é considerada parcial e não se descarta a possibilidade de oposição entre elas; e, no
terceiro, prevalece a oposição entre ambas (Abbagnano, 2003).
As obras mais utilizadas nessa época foram: o Organon, de Aristóteles; o Timeu, de Platão; o
Isagoge, de Porfírio; e A Consolação da Filoso�a, de Boécio. O neoplatonismo também foi muito
difundido, particularmente por João Escoto Eriúgena, o qual, em sua obra Divisão da Natureza,
esforça-se por conciliá-lo com o cristianismo. Visando à difusão do cristianismo, a Igreja se
empenhou em propagar o sistema escolar e, no século XIII, a escola adquiriu a con�guração de
universidade, produto típico da Idade Média.
Inicialmente, o termo universidade indicava um centro de estudos, uma associação corporativa,
um modelo mais próximo dos atuais sindicatos do que das atuais universidades. As
universidades de Bolonha e de Paris estão entre as primeiras que surgiram e acabaram se
tornando uma espécie de modelo para as demais. A universidade de Paris surgiu a partir de uma
ampliação da escola da catedral de Nôtre-Dame, e uma das �guras mais importantes do início
dessa universidade foi Pedro Abelardo.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Como dissemos, a �loso�a carregou por mil anos, aproximadamente, o título de serva da
teologia, porém chegou um momento em que passou, novamente, a ser reconhecida como um
saber autônomo e, aos poucos, foi se desvinculando desse título. Encontramos, já em Tomás de
Aquino, a ideia de que fé (teologia) e razão (�loso�a) são modos diferentes de conhecimento; a
razão aceita a verdade com base em evidências e a fé a aceita por causa da relevante autoridade
de Deus, mas mesmo diferentes, elas não podem se contradizer, porque Deus é o autor de
ambas. A razão pode conhecer as verdades naturais, mas é incapaz, por si só, de penetrar nos
mistérios de Deus, que é o seu bem último.
Mas um grande impulso rumo à reaquisição da autonomia �losó�ca foi dado por Guilherme de
Ockham, que mostrou que a verdade revelada, muito mais que a realidade das coisas do mundo
sensível, é absolutamente inacessível à razão. Para ele, não há harmonia entre razão e fé e não
se pode conhecer as verdades sobrenaturais, sendo apenas objetos de uma fé cega (Mondin,
1981). Dessa forma, Ockham colaborou para a separação das duas; a �loso�a acabou se
libertando da condição de serva da teologia, bem como a teologia deixou de ser considerada a
ciência das ciências
Guilherme de Ockham contribui, ainda, para a questão dos universais, mostrando-se contra a
concepção realista e defendendo o nominalismo para quem os universais são apenas
abstrações. O seu princípio metodológico �cou conhecido como “navalha de Ockham” e ensinava
que “entidades não devem ser multiplicadas além do necessário”, ou seja, devemos recorrer ao
menor número possível de fatores ao explicar algo (Law, 2008, p. 269).
Além dos pensadores aqui elencados, muitos outros contribuíram substancialmente para a
�loso�a medieval, e, talvez, Nicolau de Cusa, falecido em 1464, possa ser considerado o último
pensador dessa época, que se antecipou a Copérnico e sugeriu que a Terra é esférica e orbita em
torno do Sol. Desse modo, começou-se a preparar o terreno para o renascimento, que estava
prestes a surgir.
Siga em Frente...
Filoso�a renascentista
A partir do século XIII, cresceu na Europa a consciência de que ainda havia muito para se
aprender com a antiguidade, e foi justamente a tentativa de resgatar o conhecimento antigo que
�cou conhecida como Renascimento, um movimento de “renovação moral, intelectual e política
decorrente do retorno aos valores da civilização em que, supostamente, o homem teria obtidos
suas melhores realizações: a greco-romana” (Abbagnano, 2003, p. 852). Portanto, esse
movimento não ocorreu apenas na �loso�a, mas também na literatura e nas artes, tendo o seu
início na Itália, mas logo se espalhou por toda a Europa.
O mundo se encontrava em um clima de inovações e descobertas; muitas verdades começaram
a ser contestadas e pairava no ar um clima de descontentamento por toda verdade imposta e por
toda autoridade sem fundamentação legítima. A teologia estava deixando de ser a ciência das
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
ciências, como já a�rmamos, e o teocentrismo cedeu lugar ao antropocentrismo; a física
começou a ganharespaço ao conseguir demonstrar e provar cada vez mais as suas teses;
também a astronomia, com a invenção das lentes (pelas contribuições de Grosseteste, Roger
Bacon e Galileu Galilei), pôde observar melhor o movimento dos astros e conhecer um pouco
mais a posição da Terra, e tudo isso fez com que a visão de mundo fosse mudando
radicalmente.
Conforme o Dicionário de Filoso�a, de Abbagnano (2003), podem ser consideradas
características fundamentais do Renascimento:
O humanismo: crença de que foi na antiguidade que a humanidade melhor se realizou.
A renovação religiosa: tentativa, sobretudo da reforma protestante, de retornar às fontes
originais do cristianismo.
A renovação política: reconhecimento da origem humana ou natural das sociedades e dos
Estados ou a tentativa de voltar às formas originárias das instituições sociais
(jusnaturalismo).
O naturalismo: interesse pela investigação direta da natureza.
O Renascimento é um período de mudanças importantes feitas por muitas pessoas, entre elas,
podemos lembrar nomes como dos astrônomos Nicolau Copérnico e Johannes Kepler; dos
�lósofos humanistas Erasmo de Rotterdam e Thomas Morus, pois foi com eles que o
humanismo se solidi�cou; além disso, tivemos uma efervescência cultural nas obras de arte com
Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael e Botticelli, entre outros; na literatura, houve uma grande
contribuição de Dante Alighieri, Petrarca e Boccaccio; e na esfera religiosa, não podemos
esquecer as �guras de Girolamo Savonarola e Martinho Lutero.
No entanto, talvez, as maiores mudanças tenham ocorrido nas esferas política, com Maquiavel, e
cientí�ca, com Galileu Galilei, pois, depois desses dois, elas nunca mais foram as mesmas. 
Vamos Exercitar?
Como sempre lembramos, a análise acerca das questões propostas deve ser feita com
criticidade, o que signi�ca que se deve superar o senso comum e, se possível, valer-se de nomes
consagrados que nos ajudem a tratá-las. No caso em questão, queremos saber se o
conhecimento progrediu na Idade Média ou ela, realmente, pode ser considerada “Idade das
Trevas”.
Segundo Abrão (1999, p. 129, grifo nosso): “[...] o Renascimento não é apenas a retomada da
marcha triunfal da razão e do espírito cientí�co após a ‘longa noite medieval’, como muitas vezes
foi caracterizada, de modo simplista, a Idade Média”. E um pouco mais adiante, a autora nos
lembra (p. 130) que “o que se denomina ‘ciência’ no Renascimento, embora prepare os
fundamentos para a arrancada cientí�ca do século XVII, guarda sinais do pensamento medieval,
ao qual se somam elementos do misticismo oriental e judaico” (grifo nosso). 
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Saiba mais
Conheça mais a Patrística lendo o artigo Re�exões sobre a Natureza Humana e a Visio Dei em
Agostinho de Hipona, escrito por Gustavo Augusto da Silva e publicado na revisa Interações.
Nele, o autor investiga a concepção de natureza humana na obra de Agostinho de Hipona (354-
430 d.C.), bem como a possibilidade do conhecimento de Deus por meio do mundo material.
Para enriquecer a sua compreensão acerca dos temas dominantes na Filoso�a Escolástica,
propomos que você leia o texto São Tomás de Aquino e a Sabedoria, em que o autor aborda as
referidas questões.
Aprofunde os seus conhecimentos a respeito da �loso�a renascentista lendo o tópico 5.1
Filoso�a da Renascença (século XIV-XVI), do livro Introdução à Filoso�a. Nele, o autor resgata o
panorama que marcou essa época da Filoso�a, apresentando os principais pensadores e suas
contribuições. 
 
 
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de �loso�a. 4. ed. Tradução: Alfredo Bosi. São Paulo: Martins Fontes,
2003. Disponível em: https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-
abbagnano-dicionario-de-�loso�a.pdf. Acesso em: 26 abr. 2024.
ABRÃO, B. S. História da �loso�a. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os Pensadores).
LAW, S. Filoso�a: guia ilustrado Zahar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
MATTAR NETO, J. A. Introdução à �loso�a. São Paulo: Pearson, 2010. 
MONDIN, B. Introdução à �loso�a: problemas, sistemas, autores, obras. 10. ed. São Paulo:
Paulus, 1981. 
Aula 3
Filoso�a Moderna
Filoso�a moderna
https://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/27503/20845
https://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/27503/20845
http://almanaque.folha.uol.com.br/filosofiatomasdeaquino.htm
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/1794/pdf/0?code=k4TjsHOLhcyXjDT+4NWraI6ReVVqfci20UomW+zQxYFGTJY5Ak0zQI7dT4aiIekpVAnqRCGyIUaxOwMl2mnVow==
https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-abbagnano-dicionario-de-filosofia.pdf
https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-abbagnano-dicionario-de-filosofia.pdf
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
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Dica para você
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Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá mais um dos momentos históricos da Filoso�a:
a Filoso�a Moderna! Você verá, também, como se desenvolveram algumas importantes
correntes de pensamento sobre a ciência (o racionalismo e o empirismo) e a política (o
contratualismo).
Este conteúdo é importante porque o auxiliará no desenvolvimento da sua capacidade crítica
diante da realidade.
Vamos lá!
Ponto de Partida
Chegamos na Idade Moderna e falaremos, aqui, sobre a Filoso�a Moderna, mas ale ressaltarmos
que, embora as nomenclaturas carreguem os mesmos predicados, as datas não correspondem,
necessariamente, pois a Filoso�a não se enquadra em datas especí�cas, e perceberemos que o
mundo mudou totalmente. Entre as principais mudanças, está a valorização do ser humano e de
sua capacidade de compreender e explicar o mundo, bem como de fazer um mundo melhor. A
primeira atividade está no âmbito da teoria do conhecimento e da ciência, já a segunda está no
âmbito da ética e da política, por isso, essas esferas serão as primeiras a ser remodeladas.
Sendo assim, você verá que racionalismo e empirismo disputaram a fundamentação do
conhecimento cientí�co, desembocando, posteriormente, no Iluminismo, e que foi criada uma
teoria explicativa para a origem do poder político: o contratualismo. Diante disso, propomos que
você participe deste momento buscando elementos que lhe possibilite analisar profundamente
se podemos con�ar plenamente em nossos sentidos para conhecer o mundo e se o mundo se
resume, de fato, àquilo que os nossos sentidos captam.
Mais uma vez, sugerimos que você mergulhe fundo! Leia, pesquise, aprofunde-se e aumente os
seus conhecimentos! 
Vamos Começar!
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Estamos iniciando a �loso�a moderna e, nos seus primórdios, muitos fatores con�uíram para
que ela tivesse a con�guração que teve; entre tais fatores, além dos supracitados, está a
invenção da imprensa, a reforma protestante, as grandes navegações, a intensi�cação do
comércio, o surgimento da burguesia e o descobrimento do novo mundo.
Este mundo, agora tão plural, precisava ser novamente uni�cado, e tal tarefa foi con�ada à razão.
Se, na Grécia Antiga, a razão podia abarcar a totalidade da realidade, no mundo moderno, mesmo
sem a hegemonia da polis, do Império ou da Igreja, não caberia a nenhuma outra instância, se
não à razão, a tarefa de reuni�cá-lo, reproduzi-lo e representá-lo (Abrão, 1999).
A razão e a ciência venceram o dogma religioso sintetizando o pensamento do século XVII.
Alguns pensadores, como Francis Bacon e Thomas Hobbes, buscaram integrar a racionalidade
cientí�ca com a �losó�ca, e foi assim que se iniciou a Idade da Razão ou a Filoso�a Moderna.
Grandes �lósofos modernos tentaram estabelecer conexão entre �loso�a e ciência,
principalmente por meio da matemática, e com esse intento, tivemos Descartes e Pascal, na
França, e Leibniz, na Alemanha, entre outros (Buckingham,2011).
Percebeu-se, então, que, para se chegar à verdade, era necessário encontrar um caminho
(método, em grego) certo, um caminho seguro, que permitisse superar o labirinto das incertezas
por meio da descoberta de verdades permanentes; era preciso achar, portanto, um método para a
ciência, e, nesse sentido, acabaram surgindo duas grandes correntes: de um lado, os empiristas,
e de outro lado, os racionalistas (Pessanha, 1999).
Racionalistas
Os racionalistas acreditam ser possível tomar a matemática como modelo de aquisição de
certeza e dirigir a razão com procedimentos precisos, como se faz na demonstração de um
teorema. Para os racionalistas, (1) a origem do conhecimento é a razão; (2) existem ideias que
nos são inatas; (3) recorrem ao método dedutivo; e (4) consideram a matemática como sendo a
ciência por excelência.
Entendem os racionalistas que:
A insistência no problema do método é crucial, porque o mundo exterior não mais fornece a
garantia da certeza do conhecimento. Por isso, de nada adianta buscar, como �zeram os
renascentistas, as relações de semelhança e de simpatia que unem secretamente as partes do
mundo entre si e com o todo. A razão, e só ela, pode servir a si própria como guia, critério e
condição da certeza do conhecimento. A razão não tem mais em que se apoiar a não ser nela
mesma, e por isso precisa criar um método seguro (Abrão, 1999, p. 187). 
A ciência se faz sobre conhecimentos objetivos, universais e necessários, mas estes devem ser
válidos para todas as pessoas (objetivo, contrapondo-se ao subjetivo), em todas as épocas e em
todos os lugares (universais, contrapondo-se aos particulares) e chegando sempre aos mesmos
resultados (necessários, contrapondo-se aos conhecimentos contingentes).
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Os racionalistas entendem que a matemática permite esse tipo de conhecimento e que ela não
exige, necessariamente, experiências; o conhecimento se faz por um processo racional, ou seja,
ele tem início e movimento unicamente na razão. O método de que ela se vale é o dedutivo,
sustentando que uma a�rmação geral ou universal pode ser aplicada em qualquer caso
particular ou individual, tendo-se a ideia efetivada na prática, por meio das fórmulas, pois elas
são sempre as mesmas, mudando apenas os números relativos a um determinado problema
especí�co, ou seja, os casos particulares se encaixam em fórmulas de abrangência geral.
Por não recorrerem às experiências, os juízos da matemática são denominados por eles de
analíticos, indicando que é possível perceber se a a�rmação é verdadeira ou não com base numa
análise do que está sendo enunciado, pois o predicado já está contido no sujeito ou no objeto.
Contudo, embora esses juízos sejam consistentes e alinhados ao que se espera de juízos
cientí�cos, eles não garantem novas descobertas cientí�cas e, por esse motivo, podem impedir
que a ciência evolua, pois essas descobertas, geralmente, são provenientes de experiências.
Siga em Frente...
Empiristas
A palavra empeiría, em grego, signi�ca experiência, portanto, o empirismo a�rma que a origem, a
base e a condição de fundamentação dos conhecimentos cientí�cos é a experiência. Para os
empiristas, (1) o conhecimento se origina da experiência e chega à razão pelos sentidos, sendo
assim, não existem ideias inatas; (2) nascemos tábula rasa (expressão que, em latim — a língua
acadêmica da época — signi�ca quadro em branco); (3) recorrem ao método indutivo; e (4)
consideram a física como sendo a ciência por excelência.
Para os empiristas, toda a matéria do nosso conhecimento da realidade e do mundo depende da
experiência; segundo essa corrente de pensamento, conseguimos conhecer por meio da
observação e do raciocínio indutivo, dessa forma, a fundamentação do nosso conhecimento, no
tocante àquilo que é externo à mente, está no que experimentamos aqui e agora ou naquilo que
lembramos de experiências passadas. “Experiências deixam impressões em nossas mentes,
como um carimbo em cera derretida, permitindo-nos acumular conhecimento. Para os
empiristas, o conhecimento sem experiência é difícil ou impossível” (Law, 2008, p. 70, grifo
nosso).
O empirismo tem como característica a: 
[...] negação do caráter absoluto da verdade ou, ao menos, da verdade acessível ao homem; e
reconhecimento de que toda verdade pode e deve ser posta à prova, logo eventualmente
modi�cada, corrigida ou abandonada. Portanto, o empirismo não se opõe à razão ou não a nega,
a não ser quando a razão pretende estabelecer verdades necessárias, que valham em absoluto,
de tal forma que seria inútil ou contraditório submetê-las a controle. [...] O racionalismo defende
a tese da necessidade da razão como “concatenação das verdades”, e não como faculdade, no
sentido de que ela não pode ser diferente do que é e, portanto, não pode sofrer desmentidos e
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
não exige con�rmações. A tese do empirismo é de que essa necessidade não existe
(Abbagnano, 2003, p. 326-327). 
Para os empiristas, antes de chegar à razão, as ideias passam pelos sentidos, portanto, a origem
do conhecimento são os sentidos. A partir da experiência, organizamos as nossas ideias por
meio da observação, do levantamento de hipóteses e de experimentações que deverão
corroborar ou descartar as hipóteses, as quais, sendo descartadas, serão substituídas por outras
até serem con�rmadas, a �m de termos acesso ao conhecimento verdadeiro.
Contratualistas
Outro problema �losó�co que ganhou destaque na �loso�a moderna foi a questão política. Com
o advento da modernidade racionalista, a política se emancipando da Igreja, a negação do direito
divino dos reis e as contribuições de Maquiavel, o absolutismo começou a ter problemas; a
preocupação passou a ser como encontrar fundamentos racionais e legítimos para o poder do
Estado, e tivemos, então, alguns �lósofos se debruçando sobre essa temática e elaborando a
teoria contratualista.
Os contratualistas defendiam que houve um tempo em que os homens viviam em estado de
natureza, unindo-se, posteriormente, por contrato (tácito e não necessariamente expresso),
criando a sociedade civil. Para eles, é o pacto feito pelos homens que torna legítimo o Estado, a
sociedade civil.
Segundo os contratualistas, a sociedade civil nasceu, portanto, a partir do momento que os
homens compreenderam que a vida seria mais segura e tranquila se concordassem em viver
juntos e protegendo-se coletivamente, e isso não signi�ca, necessariamente, que tais homens
elaboraram e assinaram um contrato, mas que houve um acordo tácito a esse respeito.
Entende-se, então, que:
O contrato não é só contrato de governo que rege as relações entre o governante e seu povo,
mas é também contrato social no sentido mais amplo, como acordo tácito que fundamenta toda
comunidade e que leva os indivíduos a conviver, isto é, a participar dos bens, dos serviços e das
leis vigentes na comunidade (Abbagnano, 2003, p. 206). 
Disso decorre que, para os contratualistas, sobretudo Hobbes, Locke e Rousseau, o Estado é
uma criação arti�cial, ideia mais próxima dos so�stas do que de Platão e Aristóteles, para quem
o homem é, por natureza, um animal político. 
Vamos Exercitar?
A proposta que lhe apresentamos acerca da con�ança ou não nos sentidos no processo do
conhecimento, como você pode perceber, é o pano de fundo da discussão entre racionalistas e
empiristas. Para o empiristas, podemos e devemos con�ar em nossos sentidos, pois são eles
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
que captam o mundo e permitem que chegue até à razão aquilo que é captado; enquanto para os
racionalistas, a única certeza que temos acerca das impressões dos sentidos é que, para nós,
somente para nós, cada um de nós, as impressões são como acreditamos que são, portanto, não
há objetividade, e não havendo objetividade, não há ciência (nas impressões dos sentidos), pois
a ciência é um conhecimento objetivo (universal e necessário).
Além disso, poderíamos argumentar que os animais também têm sentidos e, muitas vezes,
melhores do que os nossos, masnem por isso elaboram conhecimentos sistemáticos e
re�exivos sobre o mundo que os cerca. Desse modo, segundo os racionalistas, a origem do
conhecimento é a razão humana, pois é ela que processa aquilo que é captado pelos sentidos. 
Saiba mais
Saiba mais sobre o racionalismo lendo o item 9, Descartes, do livro História da Filoso�a
Ocidental: Livro 3: A Filoso�a Moderna, em que o autor apresenta as principais contribuições de
Descartes ao racionalismo, sendo considerado o pai do racionalismo dessa corrente de
pensamento.
Aprofunde os seus conhecimentos sobre os empiristas lendo o tópico 5.3 Empirismo, do livro
Introdução à Filoso�a, em que o autor apresenta as principais ideias relacionadas a essa
corrente epistemológica de pensamento.
Enriqueça a sua compreensão acerca do contratualismo lendo o artigo Hobbes como um
Contratualista Moderno: Uma Proposição Falaciosa, de António Horta Fernandes. No artigo, o
autor analisa com bastante profundidade as principais contribuições de Thomas Hobbes à teoria
contratualista. 
 
 
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de �loso�a. 4. ed. Tradução: Alfredo Bosi. São Paulo: Martins Fontes,
2003. Disponível em: https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-
abbagnano-dicionario-de-�loso�a.pdf. Acesso em: 26 abr. 2024.
ABRÃO, B. S. (org.). História da �loso�a. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os
Pensadores).
BUCKINGHAM, W. et al. O livro da �loso�a. Tradução: R. Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.
LAW, S. Filoso�a: guia ilustrado Zahar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/209721/epub/0?code=Db4xVgGBu5h/Py0gfeObUDlnU3GKnbu8gtD4NBUy05kbeB6zHhNa6SriaW8n9GmL+C7B4N8jeq1ssN+30YLUwg==
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/209721/epub/0?code=Db4xVgGBu5h/Py0gfeObUDlnU3GKnbu8gtD4NBUy05kbeB6zHhNa6SriaW8n9GmL+C7B4N8jeq1ssN+30YLUwg==
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/1794/pdf/0?code=k4TjsHOLhcyXjDT+4NWraI6ReVVqfci20UomW+zQxYFGTJY5Ak0zQI7dT4aiIekpVAnqRCGyIUaxOwMl2mnVow==
https://revistas.unav.edu/index.php/anuario-filosofico/article/view/9711/8378
https://revistas.unav.edu/index.php/anuario-filosofico/article/view/9711/8378
https://revistas.unav.edu/index.php/anuario-filosofico/article/view/9711/8378
https://revistas.unav.edu/index.php/anuario-filosofico/article/view/9711/8378
https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-abbagnano-dicionario-de-filosofia.pdf
https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-abbagnano-dicionario-de-filosofia.pdf
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
MATTAR NETO, J. A. Introdução à �loso�a. São Paulo: Pearson, 2010. 
PESSANHA, J. A. M. (org.). Descartes: vida e obra. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os
Pensadores).
RUSSELL, B. A. W. História da �loso�a ocidental: livro 3: a �loso�a moderna. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2015.  
Aula 4
Filoso�a Contemporânea
Filoso�a contemporânea
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Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá mais um dos momentos históricos da Filoso�a:
a Filoso�a Contemporânea! Você verá, também, como razão e ciência foram parar na berlinda, o
que é razão comunicativa e o que é pós-verdade.
Este conteúdo é importante para o desenvolvimento da sua capacidade crítica diante da
realidade.
Vamos lá!
Ponto de Partida
Chegamos à �loso�a contemporânea, ou seja, chegamos aos nossos dias. Vamos lhe apresentar
a consideração que os contemporâneos têm acerca da razão iluminista, daquela forte convicção
de que o homem, por meio do uso correto da razão, conseguiria, com pleno êxito, decifrar todos
os enigmas da natureza, além de estabelecer as premissas básicas para a realização de um
mundo melhor, mais justo, igualitário, humano e sem sofrimento.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Aqui, veremos que a razão, após ser colocada na berlinda, não será descartada, mas lapidada,
melhorada em alguns dos seus aspectos, por meio da abertura ao outro, concretizada numa
razão comunicativa. Veremos, ainda, que, atualmente, a verdade se encontra revestida de um uso
pragmático, atendendo às questões políticas e econômicas na sua forma de pós-verdade.
Diante disso, propomos que você participe deste momento buscando colher elementos que, ao
�nal, lhe possibilitem posicionar-se criticamente acerca da seguinte questão: a razão, por si só,
dá conta de construir um mundo mais civilizado, humano e justo?
Você nos acompanha? Esperamos que sim, pois queremos muito te ajudar a despertar, cada vez
mais, a sua criticidade! Vamos juntos! 
Vamos Começar!
Os �lósofos modernos, especialmente os iluministas, �zeram uma crítica aos medievais,
sustentando que a fé não conseguira alcançar os seus objetivos, tanto no tocante à verdade
acerca do mundo e da realidade que nos cerca quanto na edi�cação de um mundo melhor, mais
justo, solidário, fraterno e harmonioso — competências das esferas ética e política (Reale;
Antiseri, 2004) —, e se propuseram a realizar esse projeto, mas em outras esferas que não
fossem a razão, mas, sim, assentados no que entendiam como uso correto da razão.
Contudo, os �lósofos contemporâneos, especialmente os frankfurtianos, passaram a a�rmar que
o moderno projeto iluminista também não teria conseguido explicar corretamente o mundo e o
seu funcionamento, sobretudo estabelecer um mundo melhor, como se percebe a partir da
eclosão das duas grandes guerras mundiais, principalmente, e da existência de um mundo
desequilibrado, sem harmonia social, individualista e marcado por uma forte exploração humana
(Aranha; Martins, 2005).
Razão e ciência na berlinda
Se, a partir da Idade Moderna, o homem passou a con�ar nos poderes da razão e viu neles a
possibilidade de estabelecer um mundo melhor, o que se percebeu na prática foi a exploração do
trabalho humano, sobretudo das pessoas mais simples, humildes e indefesas. E pior! Logo no
início do século XX, quando se esperava que os ideais do iluminismo cumprissem o que haviam
prometido, como o �m da miséria e do sofrimento humanos, eclodiu uma das maiores
monstruosidades da história do gênero humano: a Primeira Guerra Mundial, e isso parecia
acenar para o fracasso da razão, e foi nesse ambiente que surgiu a re�exão crítica acerca do
alcance da racionalidade; surgiu a Escola de Frankfurt e sua teoria crítica da sociedade.
Os autores dessa época criticavam a noção de progresso, assim como toda racionalidade que
recusasse a noção de contradição em nome do princípio de identidade. Pairava a ideia de que a
história deveria pautar-se no racional, o qual possibilitaria o controle do tempo histórico, mas
percebeu-se que:
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
[...] toda �loso�a que acredita no progresso e que confunde ‘progresso cientí�co e técnico’ com o
progresso da humanidade enquanto tal, sem considerar a “regressão da sociedade” e as
recaídas periódicas na barbárie, não passa de uma racionalização do sofrimento, pois passa por
sobre a dor do homem singular histórico, sujeito a um só tempo empírico, psicológico, histórico e
transcendental (Abrão, 1999, p. 463). 
Entendiam os frankfurtianos que, em nome da racionalização, os processos sociais são
dominados pela ótica da ciência aliada à técnica, traduzida como racionalidade de dominação da
natureza para �ns lucrativos. Eles criticam a dominação dos indivíduos nos Estados capitalista e
fascista e denunciam o positivismo como estratégia de manutenção e reprodução do status quo,
bem como defendem que só a atividade re�exiva poderá reorganizar, de modo racional, a
sociedade.
Por �m, as teses postuladas pelos frankfurtianos enfatizam o papel central que a ideologia
desempenha nas sociedades urbanas modernas e apontam a mídia como agente da barbárie
cultural,veículos propagadores da ideologia das classes dominantes, imposta às classes
subalternas pela persuasão ou manipulação, por meio da reprodução de modelos e valores
sociais.
Siga em Frente...
A razão comunicativa
A razão comunicativa é uma proposta que foi elaborada por Jürgen Habermas, que concordava
que o projeto iluminista não havia conseguido melhorar o mundo, mas não via isso como um
motivo para se descartar a razão, ao contrário, para ele, deve-se puri�car a razão de suas
possíveis lacunas e aproveitá-la naquilo que tem de melhor.
Segundo Habermas (1997), a razão iluminista apresenta limitações por permitir que o seu uso se
restrinja ao sujeito, ou seja, ela tolera que o sujeito, fechado em si, use a razão de forma
monológica. Lembremos, por exemplo, que o imperativo categórico de Kant, em nenhum
momento, pressupõe o outro: é sempre o sujeito que decide, sozinho, como deverá agir.
Habermas entende que a razão, mesmo sendo boa, pode �car melhor quando há interação,
diálogo e comunicação, logo, isso o levou a propor a troca da razão monológica pela razão
dialógica. Segundo o �lósofo, na razão iluminista, predomina a razão instrumental (fazer do outro
um meio para os teus �ns), mas Habermas (1997), ao propor a razão comunicativa (o acordo, o
consenso, o entendimento com o outro), busca superar as limitações da razão iluminista.
Com base nessas ideias de uma razão não fechada em si, monológica, mas aberta ao diálogo, e
na teoria da verdade consensual — não subjetiva, mas intersubjetiva —, aquela que pretende fazer
com que o diálogo pautado na busca da verdade leve em conta o consenso ou o comum acordo
entre as partes concernidas (Chauí, 2000), Habermas (1997) elaborou, então, a sua Teoria da
Ação Comunicativa, que teve seu re�exo na ética e na política.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
No campo ético, ele defende a ética do discurso, em que a tolerância, o respeito e o diálogo
ganham destaque para uma boa convivência no mundo plural em que nos encontramos, uma vez
que a globalização e a diversidade de culturas exigem que, para vivermos bem na sociedade
atual, respeitemos e dialoguemos com o diferente.
No campo político, Habermas (1997) argumenta que, até a época moderna, existiam duas
esferas: a privada (família e amigos) e a política (o poder estatal). O Estado era absolutista e
totalitário, impondo-se sobre a população; aos poucos, as pessoas foram dialogando, re�etindo e
se organizando de modo a fazer frente aos poderes do Estado. Para o autor, a esfera pública nos
confere melhores condições de reconhecer os interesses
comuns, sobretudo aqueles que o Estado não reconhece e, consequentemente, não atende, bem
como se constitui em um modo e�caz de questionamento das ações do Estado, permitindo uma
envergadura não alcançável pelos interesses isolados.
Os meios de comunicação, possibilitando e transmitindo a condensação da opinião pública, além
de viabilizar maior envergadura aos interesses comuns, podem promover diálogos ponderados
entre os indivíduos, no entanto, para que isso ocorra, de acordo com Habermas (1997), é
imprescindível que a imprensa não seja controlada pelo Estado e nem por grandes corporações,
sob o risco de tramitar interesses próprios ou de grupos. Muitas vezes, o que se vê são os meios
de comunicação se tornando veículos de entretenimento, apenas, não favorecendo a formação
de agentes críticos e racionais, mas consumidores irracionais (Habermas, 1997).
A política pretendida por Habermas (1997), portanto, é a democracia deliberativa, factível,
segundo ele, por intermédio do fortalecimento da esfera pública, em que as opiniões se
condensariam, tomariam corpo, realizariam mudanças e teriam condições de estabelecer de
modo mais participativo os rumos da política, de acordo com as deliberações, o diálogo, o
respeito, a tolerância e o consenso entre as partes envolvidas.
Segundo Habermas:
A esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicação de conteúdos,
tomadas de posição e opiniões; nela os �uxos comunicacionais são �ltrados e sintetizados, a
ponto de se condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas especí�cos. Do mesmo
modo que o mundo da vida tomado globalmente, a esfera pública se reproduz através do agir
comunicativo, implicando apenas o domínio de uma linguagem natural; ela está em sintonia com
a compreensibilidade geral da prática comunicativa cotidiana. [...] Todavia, a esfera pública não
se especializa em nenhuma destas direções; por isso quando abrange questões politicamente
relevantes, ela deixa ao cargo do sistema político a elaboração especializada” (Habermas, 1997,
p. 92, grifo do autor).
A pós-verdade
Um dos projetos mais engajadores da produção de conhecimento na Idade Moderna assentava-
se sobre a questão da verdade e sua fundamentação. Os modernos acreditavam ter superado a
fé pela razão, o que exigiu a formulação de novos métodos que outorgassem o acesso à verdade,
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
prescindindo das tradições e das crenças. Porém, na época atual, considerada pós-modernidade
por muitos, há uma evidente crítica àquilo que os modernos tanto valorizavam: o acesso à
verdade indubitável e inabalável, entre outros.
Resulta dessa mentalidade o fato de a incerteza se fazer mais presente tanto na Ciência quanto
na Filoso�a. “Se havia uma verdade moderna, deve haver verdade pós-moderna ou, nos termos
em que tem sido discutido nas mídias atuais, uma ‘pós-verdade’" (Martins, 2017, p. 200). O
dramaturgo Steve Tesich utilizou a palavra pós-verdade (post-truth) pela primeira vez em 1992,
contudo, se a sua origem é, relativamente, recente, há que se notar que, em 2016, foi considerada
a palavra do ano pelo Oxford Dictionaries. Mas qual seria o conceito desse termo?
O termo indica situações em que o fato é menos importante que o relato, ou seja, o que conta é o
modo como a informação é veiculada e como impacta a formação da opinião de quem se depara
com ela. Mas como ela faz isso? A pós-verdade recorre à emoção, levando o interlocutor a
acreditar em algo que não corresponde à realidade e onde tal correspondência não é parte
essencial do processo. Possivelmente, você já percebeu que, na prática, ela se materializa
naquilo que convencionamos denominar fake news.
Podemos dizer que existem vários exemplos de pós-verdades em nossos dias, sobretudo no
ambiente econômico e político, haja vista que “no jogo de poder, boatos ganham status de
verdade e orientam as pessoas. A eleição de Trump nos EUA, em 2016, é sempre lembrada ao
falarmos em pós-verdade, pois ela se revela naquele contexto” (Martins, 2017, p. 200). 
Vamos Exercitar?
Quando dizemos “razão por si só”, estamos nos referindo a tudo aquilo que esse conceito enseja:
estudos, pesquisas, descobrimentos, invenções, tecnologia, progresso, ciência etc. Os modernos
eram muito otimistas quanto ao poder da razão, mas, hoje, esse otimismo é questionado,
sobretudo quando presenciamos guerras, mortes e sofrimentos em nome de interesses
econômicos revestidos de interesses políticos. A guerra causa dor, sofrimento, mortes
injusti�cáveis; pessoas boas e inocentes pagam pelo egoísmo de líderes desumanos e
irresponsáveis, que buscam justi�cativas em relatos e não em fatos (leia-se pós-verdade).
Contudo, a razão também traz vida, saúde, conforto e inúmeras benesses; o que nos leva à
conclusão de que não é a razão em si a causadora de malefícios, mas o modo como nos
apossamos dela, principalmente quando ela se torna refém da economia, do lucro e da
exploração humana respaldada por políticos subservientes ao mercado, tidos como lacaios dos
exploradores do povo. 
Saiba mais
Para saber mais sobre razão e ciência na berlinda, leia o artigo Educação em valores: um
possível caminho para a superação da razão instrumental rumo à formação do cidadão, de
https://www.proquest.com/docview/2436911341/8C1108F7178F4E47PQ/17?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journals
https://www.proquest.com/docview/2436911341/8C1108F7178F4E47PQ/17?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20JournalsDisciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Natalia Branco Lopes Krawczun, publicado pela Revista Ibero-Americana de Estudos em
Educação; Araraquara, vol. 8, ed. 2, 2013. A autora mostra brilhantemente que a razão Iluminista,
instrumental, precisa de adequações para proporcionar uma formação integral ao ser humano.
Aprofunde os seus conhecimentos acerca da razão comunicativa lendo o artigo Estratégia como
Prática Social e Teoria da Ação Comunicativa: Possíveis Aproximações Teóricas, de Elisa Zwick,
Isabel Cristina da Silva e Mozar José de Brito. Nesse artigo, os autores abordam as principais
ideias da ação comunicativa, segundo as contribuições de Jürgen Habermas.
Enriqueça a sua compreensão da pós-verdade lendo o artigo Fake News sobre Drogas: Pós-
Verdade e Desinformação, de Heitor, Pasquim, Marcos Oliveira e Cássia Baldini Soares. O artigo
mostra na prática o conceito de pós-verdade sendo executado em nossa sociedade. 
 
 
Referências
ABRÃO, B. S. História da �loso�a. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os Pensadores).
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Temas de �loso�a. São Paulo: Moderna, 2005.
CHAUÍ, M. Convite à �loso�a. São Paulo: Ática, 2000.
HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1997. v. 2.
MARTINS, M. F. Fundamentos �losó�cos. Londrina: Educacional, 2017.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da �loso�a: do humanismo a Descartes. São Paulo: Paulus,
2004. v. 3. 
Aula 5
Encerramento da Unidade
Videoaula de Encerramento
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Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
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Dica para você
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Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá como a Filoso�a se desenvolveu em suas
diferentes etapas, antiga, medieval, moderna e contemporânea, a �m de que possa desenvolver a
capacidade crítica diante da realidade enquanto constructo mental e cultural por meio da
herança e contribuição da re�exão �losó�ca concernentes à compreensão e estruturação do
mundo da vida.
Este conteúdo é importante pois ajudará você a se apropriar do legado �losó�co para a
compreensão e estruturação do mundo da vida.
Vamos lá!
Ponto de Chegada
Você está encerrando mais uma unidade de ensino e esperamos que tenha conseguido aprender
como ocorreu e se desenvolveu a trajetória da Filoso�a no decorrer da história ocidental, pois foi
com essa intenção que lhe apresentamos os �lósofos clássicos da Grécia antiga: Sócrates,
Platão e Aristóteles, que constituem uma base imprescindível para a Filoso�a. Além disso,
passamos pela �loso�a medieval e vimos que esta �cou submissa à Teologia por uns mil anos,
aproximadamente; pela �loso�a moderna, quando ocorreu a cisão entre Filoso�a, Teologia (ou
Religião) e Ciência, com grande ênfase no uso da razão; e chegamos na contemporaneidade,
quando a razão iluminista passou por alguns ajustes.
Como você deve estar percebendo, os períodos da Filoso�a têm as mesmas nomenclaturas dos
períodos da História (antiga, medieval, moderna e contemporânea), mas as datas não são as
mesmas, aliás, a Filoso�a não estabelece datas, pois a mudança de nomenclatura ocorre quando
ocorre a mudança de mentalidade e não necessariamente algum evento marcante, como é o
caso da História, como a queda do Império Romano, a Revolução Francesa etc.
Quando a mentalidade muda, dizemos que o paradigma da racionalidade muda, e o paradigma é
a referência, o pano de fundo. Na �loso�a antiga, foi a physis (natureza, em grego); na �loso�a
medieval, foi a fé; na moderna, foi a razão; e na contemporânea, é a linguagem (no sentido de
diálogo, entendimento, consenso).
O nosso intuito é que você perceba, de maneira crítica-re�exiva, que a compreensão que nós
temos do mundo, as ideias que nos movem e nos orientam na vida, a realidade que nos cerca,
tudo isso se circunscreve numa construção mental e cultural elaborada por meio de heranças e
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
contribuições da re�exão �losó�ca concernentes à compreensão e estruturação do mundo da
vida. 
Re�ita
1. Como os antigos recorriam à natureza para compreender o mundo e, segundo eles, tudo
na natureza tem um papel a cumprir, concluíram que o homem também tem um papel e
que o seu valor está atrelado a esse posicionamento. Embora seja um pensamento da
�loso�a antiga, alguns �lósofos (os comunitaristas), hoje, retomam essa pauta. A partir
do que foi exposto responda: um mundo melhor é um projeto mais viável individual ou
coletivamente?
2. Muitos animais têm sentidos bem mais apurados do que os nossos, mas nem por isso
conseguem re�etir acerca do mundo a sua volta; por outro lado, um ser humano
totalmente privado dos seus sentidos também não consegue apreender a realidade que o
cerca e, desse modo, elaborar alguma forma de conhecimento re�exivo. Com base no
texto e nos seus conhecimentos, elabore um texto crítico-re�exivo acerca da origem do
conhecimento abordando a questão sensorial e racional.
3. Uma máxima bastante presente entre os advogados apregoa que contra fatos não há
argumentos, contudo, nos últimos tempos, vimos surgir um conceito que alega
justamente o contrário: que os relatos são mais importantes que os fatos, e isso indica
que os fatos podem ser relatados de inúmeras maneiras, conforme aquilo que se
pretende alcançar com a narrativa, situação, por vezes descrita como guerra de
narrativas. Diante disso, a pós-verdade pode ser uma onda passageira ou veio para �car?
É Hora de Praticar!
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Por mais que pareça uma a�rmação contraditória, precisamos admitir que quanto mais
conhecemos o mundo, mais consciência adquirimos do desconhecido, mais nos convencemos
da profundidade do mistério que nos envolve, e essa ideia é trabalhada pelo físico Marcelo
Gleiser, em seu livro A Ilha do Conhecimento. Segundo Gleiser (2014), se considerássemos tudo
o que conhecemos como sendo uma ilha, então, tudo o que desconhecemos estaria ao seu redor
e, desse modo, quanto mais a ilha viesse a crescer, mais cresceriam os seus limites com o
desconhecido, ou seja, a consciência de que ainda há muito por conhecer.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Essa é a perspectiva da Filoso�a: mais do que uma convicção de sua posse, uma atitude de
busca de conhecimento. Do ponto de vista da Filoso�a, as a�rmações categóricas, carregadas
de certezas e convicções, não deixando espaço para questionamentos, são postas em xeque
desde a época de Sócrates, o que nos ajuda a entender o porquê de muitos dos seus diálogos
serem aporéticos (sem conclusão).
Agora, queremos que você pense com profundidade e busque responder ao seguinte
questionamento: a ilha do conhecimento existe?
O objeto da nossa proposta acerca da existência ou não da ilha do conhecimento é, antes de
tudo, mostrar que o conhecimento ainda está num processo de desenvolvimento; que a nossa
ciência ainda se depara (e, talvez, sempre se deparará) com muitas dúvidas; e que aquilo que é
vanguarda na ciência atual poderá ser obsoleto muito em breve e, quiçá, nos levar à consciência
da possibilidade de a raça humana ser extinta sem jamais encontrar todas as respostas que
procura.
Quanto mais as pessoas conhecem o mundo, mais elas se convencem de que conhecem pouco,
conforme já encontramos em Sócrates, que, considerado o homem mais sábio do mundo,
a�rmava não saber nada, o que denota a consciência do limite da sua ignorância,con�gurando a
postura de quem sabe que não sabe tudo. Também Isaac Newton nos ajuda a entender melhor
essa questão quando sentencia: “o que conhecemos é uma gosta, o que ignoramos é um
oceano” (Brewster, 1855, p. 413).
Uma das teorias mais aceitas hoje em dia, a do Big Bang, tem pouco mais de cem anos, e,
aparentemente, não há nada que garanta que ela não possa ser descartada daqui a alguns anos
ou, então, que seja totalmente con�rmada. Diante disso, o que nos importa é não nos arvorarmos
em profundos conhecedores do mundo, pois, assim, �camos dispostos a continuar
questionando, procurando melhores respostas e contribuindo para que a Filoso�a continue
acontecendo.
Con�ra a seguir uma síntese desta unidade.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
BREWSTER, D. Memoirs of the Life, writings, and discoveries of sir Isaac Newton. Edinburgh:
Edmonston and Douglas, 1855. v. 2.
GLEISER, M. A ilha do conhecimento: os limites da ciência e a busca por sentido. Rio de Janeiro:
Record, 2014.
,
Unidade 3
Áreas de estudos da Filoso�a
Aula 1
Epistemologia
Epistemologia
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
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Dica para você
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Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá as áreas de estudos da Filoso�a, a começar
pela epistemologia e seu desdobramento, na Idade Moderna, em ceticismo, dogmatismo e
criticismo. O nosso intuído é que você compreenda a problemática abordada pelas mais
relevantes áreas de atuação da Filoso�a e analise o legado �losó�co para a compreensão e
estruturação do mundo da vida.
Este conteúdo é importante para o desenvolvimento da sua capacidade crítica diante da
realidade.
Vamos lá!
Ponto de Partida
Queremos te convidar para conhecer os percalços que tiveram de ser vencidos na Idade
Moderna para se alcançar a solidi�cação da Ciência que acabara de nascer. Quando a antiga
Ciência ruiu, o mundo �cou sem nenhum apoio epistemológico e reinou uma atmosfera de
descon�ança quanto à possibilidade de se estabelecer conhecimentos verdadeiros e inabaláveis.
Contrapondo-se a essa postura de ceticismo, havia quem con�asse piamente que o mundo era
tal qual o apreendemos, corroborando uma postura dogmática diante do conhecimento.  
Dizendo de outra maneira, era como se houvesse aqueles que se colocavam no extremo da
descon�ança e outros no extremo da con�ança, por isso, queremos que você conheça esse
momento da Filoso�a de modo a assimilar elementos que lhe permitam conjugar,
epistemologicamente, a recomendação evangélica: “Sede espertos como as serpentes e simples
como as pombas” (Mt, 10:16).
E aí, você topa aumentar um pouco mais o seu cabedal de conhecimentos? Então, vamos lá! 
Vamos Começar!
Durante a Idade Moderna, quando as pessoas perceberam que tudo aquilo em que acreditaram
durante milênios (por exemplo, que a Terra era plana e o centro do universo) era um equívoco e
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
que seria preciso elaborar novas teorias partindo, praticamente, do zero, deu-se um período de
profundo ceticismo, ou seja, uma suspeita de que jamais conseguiríamos desenvolver
pensamentos sólidos, seguros e indubitáveis. Pairava, então, nos centros acadêmicos, a dúvida
cética como sinal de prudência e sabedoria.
O ceticismo
O ceticismo sustenta que não podemos atingir qualquer verdade no âmbito da ciência ou da
�loso�a, ou seja, não temos acesso à verdade objetiva, válida em todos os tempos e lugares;
atingimos apenas verdades subjetivas, as quais não podem ser consideradas propriamente
verdades, pois são simples impressões e não nos garantem a certeza. Além disso, o ceticismo
sustenta que não podemos conhecer a essência das coisas, somente suas aparências, por isso,
o homem sábio deve se abster de emitir juízos. 
O probabilismo é a versão mais conhecida do ceticismo e, nele, incentiva-se a permanente
descon�ança em relação à verdade, permanecendo aberto à hipótese da probabilidade, apenas.
O cético observa, descon�a e espera o desenrolar dos fatos para, então, pronunciar-se.
Para o cético:
Nada existe. Mesmo se existisse alguma coisa, não poderíamos conhecê-la; concedido que algo
existe e que o podemos conhecer, não o podemos comunicar aos outros”. Essas três
proposições, atribuídas a Górgias (séc. IV a.C.), um dos representantes da sofística,
exempli�cam a postura conhecida como ceticismo (Aranha; Martins, 1999, p. 25). 
O termo cético se origina do vocábulo grego skeptikós e indica “aquele que investiga”,
considerando que o conhecimento do real é impossível à razão humana, restando apenas
suspender o juízo sobre as coisas e submeter toda a�rmação a uma dúvida constante (Japiassú;
Marcondes, 2001), opondo-se, desse modo, ao dogmatismo.
Siga em Frente...
O dogmatismo
Esse termo se contrapõe ao ceticismo pelo fato dos seus adeptos de�nirem uma verdade
absoluta. É considerado dogmatismo, também, o raciocinar e opinar sobre coisas as quais não
se compreende nada e as quais, possivelmente, nunca ninguém no mundo entenderá
(Abbagnano, 2007).
O termo dogma, em língua grega, signi�ca opinião decretada, estabelecida e ensinada como uma
doutrina que não permite discordâncias e nem contestações. Como doutrina inquestionada, o
dogma pretende ser aceito como uma verdade indiscutível, que não pode ser criticada; aliás, o
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
dogmatismo denota atitude autoritária e submissa ao não admitir ser questionado e colocado
sob dúvida e questionamentos. 
As re�exões críticas, profundas e questionadoras são atitudes que se contrapõem ao
dogmatismo e sinalizam para uma característica inerente à própria racionalidade, enfatizando a
real e fundamental importância da liberdade de pensamento enquanto elementos constitutivos
essenciais da Filoso�a.
De acordo com Japiassú e Marcondes (2001), o dogma é a doutrina ou ideia �losó�ca
transmitida impositiva e incontestavelmente por uma escola ou corrente de pensamento e que
requer adesão incondicional. Em sentido religioso, funda-se em uma verdade revelada que exige
acatamento e aceitação incondicionais por parte dos seus adeptos; dentro dessa perspectiva,
pode-se dizer, então, que a pessoa dogmática é aquela que a�rma uma opinião ou emite um
ponto de vista de modo doutoral e categórico, sem admitir contestação ou crítica.
O criticismo
O criticismo é uma �loso�a desenvolvida por Kant; a partir dele, o dogmatismo passou a adquirir
novos signi�cados. Entende ele que o criticismo só se de�ne ao se opor aos dois perigos
inversos: o ceticismo e o dogmatismo, e o dogmatismo se caracteriza pela crença na razão
enquanto possibilidade da edi�cação de sistemas sólidos, mas uma crença que antecede uma
necessária depuração permitida pela crítica (Japiassú; Marcondes, 2001).
O criticismo kantiano, por sua vez, analisa pormenorizadamente as condições de validade e
limites do uso da nossa razão, fazendo da crítica ao conhecimento uma condição, a priori, da
indagação �losó�ca. Kant se empenha em livrar os seus pensamentos tanto do dogmatismo,
que conta com um excesso de con�ança na razão, não percebendo o risco que as ilusões podem
acarretar, quanto do empirismo, que, receando os erros dogmáticos, acaba reduzindo
tudo à experiência.
Disse ele: “Tive, pois, de suprimir o saber para encontrar lugar para a crença, e o dogmatismo da
metafísica, ou seja, o preconceito de nela se progredir, sem crítica da razão pura, é a verdadeira
fonte de toda a incredulidade, que está em con�ito com a moralidade e é sempre muito
dogmática” (Kant, 2001, p. 49).
O criticismo kantiano se contrapõe não só ao perigo do dogmatismo, que con�a demasiado na
razão, sem descon�ar bastante das ilusões especulativas, mas também ao perigo do empirismo,
que, para evitar os erros dogmáticos, tende a reduzir tudo à experiência, e isso só é possível,
segundoKant, por meio do uso correto da razão, ao empenhar-se
em uma análise profunda daquilo que lhe é possível e daquilo que lhe escapa.
Ao propor buscar o fundamento do conhecimento, conclui que, no conhecimento, o sujeito não
apreende as coisas tais como são, mas as submete às suas condições, ou seja, às formas, a
priori, da sensibilidade (espaço e tempo) e às categorias de seu entendimento, e o que nos é
possível conhecer é apenas o fenômeno e não o númeno (coisa em si).
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Desse modo, Kant buscou estabelecer o uso correto da razão fazendo uma �ltragem do que era
possível, indagando sobre "o que é conhecer?", e, a partir da resposta alcançada, defendeu que
não conhecemos as coisas como elas são, "em si", apenas as submetemos às leis do
conhecimento, ou seja, às formas, a priori, da sensibilidade (espaço e tempo) e às categorias do
entendimento. 
Vamos Exercitar?
Você já deve ter ouvido aquela expressão do senso comum “con�ar descon�ando”, certo? É um
pouco isso que a nossa proposta lhe apresenta quando pede que você re�ita de modo
epistemológico acerca da recomendação evangélica; é acreditar que a Ciência tem boas
respostas, mas também que ela não tem todas as respostas; que a Ciência de ontem é obsoleta
hoje e que a Ciência de hoje será obsoleta amanhã.
E parece ser justamente essa a postura do criticismo: antes de con�ar ou descon�ar da
capacidade humana de alcançar conhecimentos indubitáveis, há que se fazer um exame apurado
da nossa estrutura cognitiva e da maneira como apreendemos o mundo. A nossa mente está
“presa” em duas categorias e não pode pensar fora delas, e estamos nos referindo às categorias
espaço e tempo, portanto, pode ser que a essência do mundo não nos seja acessível. 
Saiba mais
Para saber mais sobre o ceticismo, leia O ceticismo em Teoria do Ser e da Verdade, de Rui
Bertrand Romão. O autor lhe proporcionará uma boa re�exão sobre o panorama do ceticismo no
início da era moderna.
Aprofunde os seus conhecimentos acerca do dogmatismo lendo o tópico Da Extensão do Uso
Teorético-Dogmático da Razão Pura, do livro Os Progressos da Metafísica. Nesse texto, Kant
delineia com minucias a sua compreensão acerca da questão do dogmatismo.
Enriqueça a sua compreensão em relação ao criticismo lendo o tópico C. Teoria Kantiana do
Espaço e Tempo, do livro História da �loso�a ocidental — Livro 3: A Filoso�a Moderna. Trata-se
de uma brilhante explanação acerca do modo como Kant de�ne a estrutura do conhecimento à
base do criticismo. 
 
 
Referências
https://ojs.letras.up.pt/index.php/filosofia/article/view/639/597
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9789724422305/pageid/0
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/209721/epub/0?code=C0lhgGDcm+RToRFvWBLENU44haVav6B+6voUyPIKdbzjEZIadC+MClChZNhzQUDjZTJocEfg9s6NzbIUXo8d0g==
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
ABBAGNANO, N. Dicionário de �loso�a. Tradução: Alfredo Bosi. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2007. Disponível em: https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-
abbagnano-dicionario-de-�loso�a.pdf. Acesso em: 26 abr. 2024.
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à �loso�a. 2. ed. São Paulo:
Moderna, 1999.
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de �loso�a. 3. ed. Rio de Janeiro:
Zahar, 2001.
KANT, I. Crítica da razão pura. Tradução: Manuela Pinto dos Santos; Alexandre Fradique Morujão.
5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. Disponível em:
https://joaocamillopenna.wordpress.com/wp-content/uploads/2013/09/kant-critica-da-razao-
pura.pdf. Acesso em: 29 abr. 2024.
KANT. Os progressos da metafísica. Tradução: A. Mourão. Lisboa: Edições 70, 2017. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9789724422305/. Acesso em: 29 dez.
2023.
RUSSELL, B. A. W. História da �loso�a ocidental: a �loso�a moderna. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2015. (Livro 3).  
Aula 2
Ética
Ética
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Olá, estudante! Nesta videoaula, você vai saber mais sobre a ética, passando pela ética das
virtudes, a distinção moderna entre ética e moral e o embate contemporâneo entre universalistas
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https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-abbagnano-dicionario-de-filosofia.pdf
https://joaocamillopenna.wordpress.com/wp-content/uploads/2013/09/kant-critica-da-razao-pura.pdf
https://joaocamillopenna.wordpress.com/wp-content/uploads/2013/09/kant-critica-da-razao-pura.pdf
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9789724422305/
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
e comunitaristas. O nosso intuído é que você compreenda a problemática abordada pelas mais
relevantes áreas de atuação da Filoso�a e analise o legado �losó�co para a compreensão e
estruturação do mundo da vida.
Este conteúdo é importante para o desenvolvimento da sua capacidade crítica diante da
realidade.
Vamos lá!
Ponto de Partida
Talvez você já tenha ouvido algum professor de Filoso�a a�rmar que ela é inútil, e pode até
parecer estranho, mas o sentido dessa a�rmação é que o valor da Filoso�a não está em sua
utilidade, pois ela tem valor em si. A Filoso�a não se preocupa com a sua aplicabilidade, por isso,
muitas áreas �losó�cas se dedicam a contribuir para a re�exão e a criticidade, apenas.
Porém, essa área que vamos conhecer agora é bastante aplicável; vamos conhecer a ética das
virtudes, a distinção feita pelos modernos entre ética e moral e como andam as re�exões éticas
nos nossos dias.
Para nortear a re�exão, propomos que você se posicione diante da seguinte indagação: devemos
dar maior reconhecimento às pessoas que nascem boas ou àquelas que se tornam boas?
Prepare-se e vamos juntos mais uma vez! 
Vamos Começar!
Quando a palavra ética surgiu, ela fazia referência ao ambiente em que os animais �cavam para
se proteger (curral, chiqueiro, galinheiro etc.); ao passar a noite nesse espaço, ou seja, na ética,
eles se protegiam dos predadores. Aos poucos, a palavra acabou ganhando o sentido de
proteção, em seguida, estendeu-se às ações humana também, indicando que quem fazia o que
era correto estava protegido (de penalizações). De habitação, passou a signi�car hábito/costume
e, aos poucos, a associar-se à ideia de temperamento, caráter (Chauí, 2000); posteriormente, foi a
ética foi traduzida para o latim como mor, mores, que signi�ca moradia, costume, originando a
palavra moral, em língua portuguesa.
Ética das virtudes
Existem diversos tipos de ética, sendo a ética das virtudes uma das mais conhecidas.
Curiosamente, a ética das virtudes começou nos mitos, mas não de modo elaborada, re�exiva,
apenas como uma forma de transmitir modelos de comportamentos a serem seguidos, pois os
heróis eram virtuosos e o heroísmo foi um ideal de vida perseguido por muitos séculos. Mesmo
os mitos não tendo tratado re�exivamente das questões éticas, acabaram fornecendo o
substrato para que a re�exão se efetivasse por meio da contribuição, primeiro dos so�stas, e, na
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
sequência, por meio do pensamento dos �lósofos clássicos, principalmente de Aristóteles, que é
um dos maiores nomes da ética das virtudes.
As epopeias homéricas legaram à cultura grega modelos de virtudes concretizadas nas
personagens dos grandes heróis, tanto gregos quanto troianos, e enfatizaram a relevância da
pólis enquanto espaço apropriado para a realização das virtudes, por isso, a principal virtude,
para os gregos, era a justiça, no sentido de se ajustar corretamente ao papel que lhe é devido na
pólis.
O rol de virtudes era extenso, mas as mais importantes, depois da justiça, eram a prudência, a
coragem e a temperança. A prudênciaé ter bom senso, não fazer loucuras, pensar bem antes de
agir; a coragem tem o sentido de perseverança, determinação, não desistir dos seus ideais; e a
temperança é o equilíbrio na satisfação das necessidades básicas, dos desejos e prazeres.
Os gregos prezavam muito pelo equilíbrio, tanto que Aristóteles de�ne a virtude como justa
medida entre os excessos. O termo virtude vem do latim virtus, que signi�ca força, no sentido de
autodomínio, autocontrole, por isso, a virtude não é uma característica ou uma qualidade, pois
ela só existe quando lutamos contra nós mesmos e agimos com base na razão; é quando a
razão prevalece sobre as emoções, instintos e desejos.
O Cristianismo adere à ética das virtudes e faz alguns acréscimos, juntando às quatro principais
as três virtudes evangélicas: fé, esperança e caridade. E se, para os gregos, a justiça é a maior
virtude, para os cristãos, esta passa a ser a caridade, além disso, o Cristianismo também
mantém uma ética normativa, transcrita na forma de mandamentos.
A distinção moderna entre ética e moral
Os modernos — sobretudo no século XVII, a partir de Espinosa — entendiam que apenas cumprir
mandamentos, determinações ou obrigações impostos por alguém era agir de modo heterônomo
(quando o outro diz o que é correto fazer) e que isso não garantia, necessariamente, que o
agente fosse ético. Para uma pessoa ser considerada ética, ela tinha de querer, por si, praticar
ações boas e corretas ou, então, ter consciência de que é o seu dever praticar tais ações.
Marilena Chauí (1983, p. 13) nos lembra que:
Para o senso comum, Ética e Moral são uma só e mesma coisa: doutrina dos deveres do homem.
A primeira coisa que espanta o leitor de Espinosa é que este separe Ética e Moral, colocando
esta última junto à Religião e de�nindo ambas, Moral e Religião, como sistemas que impõem
certos deveres ao homem. A Ética nada tem a ver com os deveres: aliás, para Espinosa, quem
age por dever não é autônomo, não é livre, age por mandamento. [...] No livro IV da Ética o
�lósofo dirá: aqueles que não conseguirem alcançar a verdadeira liberdade devem pelo menos
aceitar as imposições da Moral e da Religião para poderem viver juntos e sobreviver. Fica claro,
portanto, que, para Espinosa, a Ética nada tem a ver com a moralidade. 
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
A questão central para entender a ética dos modernos é levar em conta a autonomia e a
heteronomia; só o autônomo é livre e age por convicção. O heterônomo pode agir por medo ou
por interesses, e, ainda que a sua ação seja boa e considerada moral (por exemplo, fazer
caridade com a intenção de ganhar o céu), ela não é ética; só o ético é livre, o moral é obrigado
ou age por interesses; só o ético age por convicção, independentemente de estar sendo
observado ou não, de ser reconhecido ou não, porque aquilo que ele faz é o que deve ser feito,
segundo a sua consciência. O problema apresentado aqui é denominado de questão entre
liberdade e determinismo.
Para tentar resolver essa questão, entraram em cena dois grandes �lósofos modernos, Rousseau
e Kant. Rousseau dizia que o choque entre liberdade e determinismo é aparente, pois as leis
(determinismo) têm bons propósitos e o homem nasce bom; caso não existissem as leis,
chegaria um momento em que pediríamos para que fossem feitas, visto que elas buscam nos
ajudar a viver melhor coletivamente. Para Rousseau, Deus colocou um pouco da sua bondade em
nossos corações — ideia conhecida como moral do coração.
Kant dizia que o homem não nasce bom, nasce egoísta, e a única maneira de conjugar os
egoísmos é cada um cumprindo com o seu dever, mas esse dever não deve ser estabelecido de
fora, nós mesmos, pelo uso da razão, chegamos à consciência do nosso dever, por isso, não é
um mandamento, mas um imperativo (uma imposição interna), e ele deve ser claro e objetivo, ou
seja, categórico.
Kant apresentou o imperativo categórico de três formas: 1. “Age só segundo máxima tal que
possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” (2005, p. 51); 2. “Age como se a
máxima da tua ação devesse se tornar, pela tua vontade, lei universal da natureza” (2005, p. 52);
e 3. “Age de tal maneira que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de
qualquer outro, sempre e simultaneamente como �m e nunca simplesmente como meio” (2005,
p. 59). Somente cumprindo com o imperativo categórico o homem é livre, autônomo e ético.
Siga em Frente...
Universalistas versus comunitaristas
Os universalistas defendem que as bases da ética devem valer para todas as pessoas e em
todas as épocas, como Kant a�rmou. A esse grupo de �lósofos, opuseram-se aqueles que
defendiam que essas bases deveriam ser estabelecidas comunitariamente, chamados
comunitaristas, e esse embate entre universalistas e comunitaristas surgiu por volta da década
de 1970.
Os comunitaristas acentuam os valores oriundos de uma comunidade, dando relevância ao
grupo e ao contexto, na sua relação com a totalidade dos seres humanos. A comunidade,
portanto, seria o lugar adequado para a realização ética, segundo valores consensualmente
estabelecidos dentro de uma tradição, mas o problema é que os modernos recusam tudo o que
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
represente tradição (sem perceber que o pensamento moral moderno também se converteu em
uma tradição).
Alasdair MacIntyre, um dos maiores nomes do comunitarismo, valoriza a tradição enquanto
herança moral e a�rma que o con�ito entre tradições pode ter algo a nos ensinar ao mostrar que
a moralidade adquire novos contornos por meio do confronto e da possível superação de uma
tradição em relação à outra. Segundo MacIntyre, a tradição aristotélica ainda não esgotou todas
as suas possibilidades, tendo, portanto, contribuições relevantes para o pensamento moral de
nossos dias, por isso, ele fez um resgate do modo como se constitui tal tradição, desde a
contribuição advinda do mito e, principalmente, do seu grande mestre Platão (MacIntyre, 1991).
Em Aristóteles, a questão das virtudes, destacando-se entre elas a justiça, tem um vínculo
indissociável com a compreensão dos papéis sociais do homem grego junto à sua polis, ou seja,
as virtudes requerem um contexto especí�co. Está claro que MacIntyre faz uma releitura da
tradição aristotélica, e isso signi�ca dizer que as ideias do Estagirita receberam roupagens novas
em um viés propriamente macintyreano, buscando mostrar qual é o lugar que as virtudes
ocupam, hoje, em nossa sociedade, bem como o modo como elas ainda podem se vincular ao
contexto social (MacIntyre, 2001).
A principal tese sustentada por MacIntyre é que, na busca pela fundamentação da moralidade, a
ética das virtudes está mais bem fundamentada e é mais recomendável que a ética normativa,
oriunda, principalmente, do Iluminismo. Aliás, trata-se de algo característico da ética das virtudes
a necessidade de um lugar, pois ela se realiza de forma mais natural quando há um espaço
apropriado para isso, e que é apresentado como sendo a comunidade (MacIntyre, 2001). Isso,
necessariamente, faz com que a ética das virtudes não ocorra de maneira universal, em todas as
épocas e em todos os lugares do mesmo modo, mas requeira um contexto apropriado, uma
tradição oriunda de determinado tipo de racionalidade.
A ética moderna prescinde das condições temporais e locais e defende a possibilidade de
padrões de moralidade aceitos universalmente, por meio do estabelecimento de um
denominador comum, o qual seria possível pelo uso correto da razão. A crítica a esses
universalistas reside justamente no estabelecimento desse denominador comum, que
possibilitaria que os mais diversos costumes tivessem a liberdade de conviver no contexto
plural das sociedades contemporâneas.
Para MacIntyre, os valores adotados em uma determinada comunidade não podem, jamais, ser
impostos externamente, mas devem ser fruto de um processo de maturação racional e moral,
pois não se impõe uma tradição, ela se consolida com o decorrer do tempo. Os costumes
genuínos e autênticos se formam ao longo dos anos e nãodevem ser frutos de imposições, pois,
nesse caso, seriam construídos externa e arti�cialmente e não pertenceriam,
intrinsecamente, à comunidade, logo, não se poderia construir normas e procedimentos morais a
partir de culturas impostas e nem da junção de fragmentos das mais variadas concepções
éticas, mas somente como resultado de um processo contínuo de amadurecimento (MacIntyre,
2001). 
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Vamos Exercitar?
O propósito da indagação apresentada é trazer para o âmbito da re�exão a relevância da questão
das virtudes, do domínio sobre nós mesmos e do autocontrole frente às emoções e aos desejos,
o que era uma atitude fundamental para a convivência em coletividade na concepção grega
antiga, sobretudo em Aristóteles.
Para os gregos, o homem tinha de ser artí�ce de si mesmo, transformando-se numa melhor
versão de si mesmo, como aponta o conceito de Paideia. Nesse sentido, as virtudes
desempenhavam papel fundamental para que o homem alcançasse, por meio da virtude
dianoética, a clareza do seu lugar na pólis e, por meio da virtude ética, tivesse a �rmeza
necessária para desempenhá-lo da melhor maneira possível, contribuindo para a autoedi�cação,
bem como para a edi�cação da coletividade. 
Saiba mais
Para conhecer mais a ética das virtudes, leia o tópico Virtude como Substância Ética, do livro
Ética Pro�ssional. Nele, são tratadas as principais temáticas relacionadas à ética das virtudes.
Aprofunde a sua compreensão acerca da distinção entre ética e moral feita pelos modernos
lendo o tópico Ética versus moral, do livro Ética. Por meio desse tópico, você poderá se inteirar
mais acerca dos elementos que envolvem essa distinção, bem como da contribuição de
Rousseau, Kant, entre outros.
Enriqueça os seus conhecimentos a respeito do embate entre universalistas e comunitaristas
com o tópico Ética, Discurso e Comunicação, do livro Curso de Ética Geral e Pro�ssional. Nele, o
autor apresenta as considerações de Habermas sobre a fundamentação da moralidade. 
 
 
Referências
BITTAR, E. C. B. Curso de ética geral e pro�ssional. São Paulo: Saraiva, 2019. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553608058/. Acesso em: 30 dez. 2023.
CHAUÍ, M. Vida e obras. In: Espinosa. Tradução: M. Chauí. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
(Coleção Os Pensadores).
CRISOSTOMO, A. L. et al. Ética. Porto Alegre: Sagah, 2018. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595024557/. Acesso em: 30 dez. 2023. 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788597021653/epubcfi/6/2[%3Bvnd.vst.idref%3Dhtml0]!/4/2/2%4051:38
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595024557/pageid/0
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786555599602/epubcfi/6/2[%3Bvnd.vst.idref%3Dcover]!/4/2/2%4050:77
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553608058/
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595024557/
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução: L. Holzbach. São Paulo: Martin
Claret, 2005. (Coleção A Obra-prima de Cada Autor).
MACINTYRE, A. Justiça de quem? Qual racionalidade? Tradução: Marcelo Pimenta Marques. São
Paulo: Loyola, 1991.
MACINTYRE, A . Depois da virtude. Tradução: Jussara Simões. Bauru: Edusc, 2001. (Coleção
Filoso�a e Política).
SÁ, A. L. Ética Pro�ssional. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2019. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597021653/. Acesso em: 30 dez. 2023. 
Aula 3
Política
Política
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Dica para você
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Olá, estudante! Nesta videoaula, você vai conhecer mais sobre a política, passando pelo
surgimento do quarto estado, a formação e as disputas entre direita e esquerda e o modo como
a política acabou �cando refém do mercado �nanceiro. O nosso intuito é que você compreenda a
problemática abordada pelas mais relevantes áreas de atuação da Filoso�a e analise o legado
�losó�co para a compreensão e estruturação do mundo da vida.
Este conteúdo é importante para o desenvolvimento da tua capacidade crítica diante da
realidade.
Vamos lá!
Ponto de Partida
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Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Que bom estarmos juntos para mais uma etapa de aprendizado. O assunto de agora é política —
um assunto polêmico que divide opiniões e que, quando não é bem conduzido, pode resultar em
atrocidades. A política é a responsável pela condução da sociedade e é, ou deveria ser, a maneira
mais e�caz de se fazer um mundo melhor, pois estamos todos sujeitos às leis e decisões
oriundas do âmbito político.
Veremos, nesta seção, como surgiu, na Idade Moderna, o quarto estado e como ele se apossou
do poder derrubando reis, príncipes e imperadores, consolidando-se como classe dominante,
bem como trataremos do surgimento da direita e da esquerda e, por �m, como a política vem,
cada vez mais, tornando-se refém do mercado e do capital.
Queremos conduzir a nossa re�exão resgatando uma mentalidade que existia na Grécia antiga;
os gregos entendiam que ética e política eram indissociáveis, pois ambas tinham o bem como
objeto. Será que hoje ainda é possível defender essa visão?
Bons estudos! 
Vamos Começar!
Na Idade Média, era muito forte a in�uência da Igreja Católica, com isso, a política era associada
à vontade divina. Dessa forma, entendia-se que a chegada de alguém ao poder era a vontade de
Deus se concretizando, sendo assim, os súditos tinham de respeitar o governante e obedecer a
ele, considerado o porta-voz da divindade e o portador do direito divino de governar. Portanto, o
poder tinha origem em Deus, logo, era teocrático (em grego, Theós é Deus e Kratós é poder).
Uma nova concepção de política se deu com Maquiavel, o qual não separava política e moral,
mas colocava na base da política uma moral própria. Ele negava fundamentos racionais e
religiosos do Estado e dizia que o Estado se utilizava deles; não aceitava como legítimo o poder
hereditário, somente o conquistado; e defendia que a política não é a moral nem a sua negação,
mas uma força positiva, uma vontade e uma virtude que fundam e mantêm o Estado.
O surgimento do quarto estado
Próximo do século XV, uma nova classe social surgia: a burguesia, que se ressentia de não poder
participar diretamente nas decisões políticas e conduzir a sociedade de acordo com os seus
interesses. O poder era transmitido hereditariamente, e, para mudar isso, seria necessária uma
teoria que fundamentasse a participação de quem não pertencesse à casta nobre. Essa teoria foi
formulada por John Locke, que defendia a ideia de que o papel do Estado era garantir as
liberdades individuais e a posse das propriedades legitimamente adquiridas por meio do esforço
pessoal.
Aproveitando o momento da Revolução Gloriosa Inglesa, Locke ajudou a traçar as metas do
governo de Maria II e Guilherme de Orange, limitando o poder do monarca ao defender a
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
deposição de governos despóticos e enfatizando o valor da tolerância religiosa e política. Desse
modo, Locke estabeleceu as bases para o estado liberal burguês.
O Estado liberal-burguês nasce da desagregação política, econômica e sociocultural do ancien
régime – que tem seu início com a Magna Carta de João Sem Terra em 1215 e que desemboca
na Revolução Gloriosa na Inglaterra, Revolução Americana em 1776 e Revolução Francesa em
1789 (Silva, 2011, p. 124). 
Todos esses eventos históricos conspiraram para o surgimento de uma nova classe com amplo
poder econômico: a burguesia, que precisava de um Estado que defendesse seus interesses. O
auge desse processo foi a Revolução Francesa, que implicou o fortalecimento da burguesia
como classe capazde defender seus interesses especí�cos, especialmente a propriedade
privada, uma das bases fundamentais do liberalismo.
O liberalismo, aliás, foi o rompimento absoluto com a percepção dos gregos, com a ideia da
política como o espaço de realização comunitária para a percepção da política como a dimensão
de concretização da liberdade individual por meio de direitos que protegessem a vida privada e
impedissem, inclusive, que o Estado interferisse na vida dos indivíduos, sobretudo na
propriedade (Ramos, 2011).
Ao determinar que o Estado não pode interferir na propriedade privada, o liberalismo político
acabou por criar a normatividade necessária para o sistema econômico capitalista, atendendo às
necessidades do capital, que se assenta na ideia de que há uma classe detentora da propriedade
privada e, portanto, da riqueza. Além disso, criou, também, uma estrutura social baseada na
competitividade individual e na meritocracia, que também é fundamental para a sustentação do
sistema liberal capitalista.
Siga em Frente...
Direita e esquerda
O choque de interesses entre a burguesia e os trabalhadores acabou recebendo a nomenclatura
de direita e esquerda a partir da Revolução Francesa, desde então, vemos, cada vez mais, a
ampliação da in�uência do poder econômico sobre o poder político.
Por ocasião da Revolução Francesa, os jacobinos, um grupo radical da época, sustentava que a
convenção estabelecida seria soberana por ter sido aprovada pelo povo e que o povo era
soberano mesmo ao delegar o governo aos seus representantes (Abrão, 1999). O que se buscava
evitar era o surgimento de um poder independente do povo, que passasse a agir por conta
própria, mesmo que esse poder tivesse a melhor das intenções, pois, estando separado do povo,
poderia tender a realizar seus interesses particulares, pondo em risco a vontade geral e a
liberdade popular. Na assembleia, esse grupo se sentava à esquerda, eram radicais e queriam a
morte do rei.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
À direita, sentava-se um grupo mais moderado, os girondinos, que desejavam a monarquia
constitucional e não a morte do rei. Em uma das fases da Revolução, os jacobinos chegaram a
vencer, o rei foi guilhotinado, mas o desfecho da Revolução acabou sendo a consolidação da
sociedade burguesa e o desenvolvimento da economia capitalista (Abrão, 1999).
O pensamento político dos autores modernos estabeleceu os princípios da Revolução Francesa e
modi�cou radicalmente a sociedade europeia, e esses princípios foram: liberdade, igualdade e
fraternidade. As noções de liberdade e de igualdade, bases da Revolução, tinham, também, um
signi�cado burguês, sinalizando a livre concorrência em igualdade de condições e outras
interpretações que corresponderam às mais variadas práticas políticas, contudo, diferentemente
da forma como o princípio da igualdade foi pensado pelos modernos, a burguesia alterou esse
conceito defendendo a perspectiva da igualdade formal: a igualdade de oportunidades e a
igualdade de todos perante a lei. Ou seja, o conceito de igualdade foi distorcido para melhor
atender aos interesses das classes dominantes.
A política refém do mercado
Com a Revolução Francesa, tivemos a consolidação do vínculo entre política e economia, e as
decisões políticas passaram a ser tomadas preservando-se os interesses da classe burguesa, ou
seja, os burgueses tomaram o poder e estabeleceram uma aparente democracia. José Saramago
a�rmava que a nossa democracia está sequestrada, condicionada e amputada pelo mercado
econômico, e o motivo disso está no fato de as grandes decisões serem tomadas, segundo ele,
numa outra esfera — na esfera das grandes organizações �nanceiras internacionais (FMI, OMC,
Banco Mundial, OCDE) — e, nessas esferas, não haver democracia, uma vez que o povo não tem
voz, não interfere, não vota e não elege os seus dirigentes, sendo esses os que, efetivamente,
governam o mundo.
Perceba que muitas decisões governamentais têm de passar pelo crivo do mercado; se o
mercado as reprova, o dólar sobe, a bolsa cai e o governo recua. Estamos sempre ouvindo os
telejornais anunciarem que o mercado não reagiu bem (ou reagiu bem) às medidas de algum
governo, independentemente de ser de direita ou de esquerda.
No documentário The story of stuff (A história das coisas) encontramos a a�rmação de que as
corporações (econômicas) se tornaram maiores que os governos e, hoje, estes se põem a
serviço delas. Os governos se preocupam mais com o bem-estar das corporações do que com o
bem-estar do povo, por quem foram eleitos. Talvez, um bom exemplo disso possa ser que,
durante a pandemia da COVID-19, alguns governos deram ajuda emergencial à população
alegando que precisavam salvar a economia, ou seja, o compromisso maior deles era com a
economia e não com as pessoas.
Michael Sandel (2012, p. 11) nos lembra que:
[...] os mercados passaram a governar nossa vida como nunca. [...] Os valores de mercado
passaram a desempenhar um papel cada vez maior na vida social. A economia se tornou um
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
domínio imperial. Hoje, a lógica da compra e venda não se aplica mais apenas a bens materiais:
governa crescentemente a vida como um todo. 
Ainda, segundo Sandel (2012, p. 13), “a chegada do mercado e do pensamento centrado nele a
aspectos da vida tradicionalmente governados por outras normas é um dos acontecimentos
mais signi�cativos da nossa época”, e conclui: “o desa�o moral e político que hoje enfrentamos é
mais capilarizado e mais prosaico: repensar o papel e o alcance do mercado em nossas práticas
sociais, nas relações humanas e na vida cotidiana” (p. 20). 
Vamos Exercitar?
Como você pôde perceber, tratamos de política a partir da Idade Moderna, e para responder à
questão proposta sobre o vínculo ou não entre ética e política, é preciso levar em conta que o
panorama político dessa época se distanciou muito daquele vivenciado na Grécia, principalmente
por conta das contribuições de Maquiavel, que defendeu que o governante deveria seguir uma
ética especí�ca para a esfera política e não a ética cristã. Não se tratava mais de uma ética
fundada no amor ao próximo, na humildade e na justiça, mas na astúcia, nas artimanhas, na
força e na imposição.
Mas mais do que perceber que houve um distanciamento entre a ética cristã ou mesmo grega e
a política, é fundamental que você perceba que, à medida que a política se aproxima do capital (e
passa a servi-lo), ela se afasta das preocupações éticas relacionadas à construção de um mundo
melhor para o maior número possível de pessoas. E se na Grécia antiga a política era feita
visando-se ao bem comum, hoje, ela está propensa a visar ao bem de determinados grupos,
sobretudo da classe materialmente dominante. 
Saiba mais
Para saber mais sobre o surgimento do quarto Estado, leia a seção 2.2 – A formação do Estado
Moderno — do livro Ciência Política. Nele, os autores apresentam um panorama dos elementos
que favoreceram a formação do quarto Estado.
Enriqueça os seus conhecimentos acerca da direita e esquerda lendo o tópico 3.1 — Girondinos e
Jacobinos —, do livro Ciência Política. Nele, os autores apresentam, de modo sucinto e objetivo, o
contexto do surgimento das ideologias de direita e esquerda.
Para aprofundar a sua compreensão da questão da política refém do mercado, leia o artigo
Capital Monopolista, Aparelhos Privados de Hegemonia e Dominação Burguesa no Brasil: O Caso
do Grupo Odebrecht , escrito por João Roberto Lopes Pinto e Pedro Henrique Pedreira Campos.
Nele, os autores fazem uma re�exão teórica e analítica acerca das formas especí�cas
assumidas pelo capital monopolista e pela dominação burguesa nas sociedades capitalistas
contemporâneas.
https://biblioteca-virtual-cms-serverless-prd.s3.us-east-1.amazonaws.com/ebook/711-ciencia-politica.pdf
https://biblioteca-virtual-cms-serverless-prd.s3.us-east-1.amazonaws.com/ebook/859-ciencia-politica-unopar.pdf
https://www.proquest.com/docview/2889837085/fulltextPDF/AD94CA60A76A431APQ/1?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journals
https://www.proquest.com/docview/2889837085/fulltextPDF/AD94CA60A76A431APQ/1?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20JournalsDisciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
 
 
Referências
ABRÃO, B. S. História da �loso�a. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os Pensadores).
ALBIAZZETI, G. et al. Ciência política. Londrina: Educacional, 2014.
ALMEIDA, R. E.; CHICARINO, T. S.; DIÉGUEZ, C. R. M. A. Ciência política. Londrina: Educacional,
2017.
PINTO, J. R. L.; CAMPOS, P. H. P. Capital Monopolista, Aparelhos Privados de Hegemonia e
Dominação Burguesa no Brasil: O Caso do Grupo Odebrecht. Caderno CRH, Salvador, v. 36, p. 1-
22, 2023. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/crh/article/view/43486. Acesso
em: 26 abr. 2024.
RAMOS, C. A. O modelo liberal e republicano de liberdade: uma escolha disjuntiva?
Trans/Form/Ação, Marília, v. 34, n. 1, p. 43-66, 2011. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/trans/a/KhR7QFrPrgF4DgMS65VwjzM/?format=pdf. Acesso em: 26 abr.
2024.
SANDEL, M. O que o dinheiro não compra: os limites morais do mercado. Tradução: C. Marques.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
SARAMAGO, J. Falsa democracia. 2008. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=m1nePkQAM4w&ab_channel=NataCari0ca. Acesso em: 26 abr. 2024.
SILVA, M. L. Os fundamentos do liberalismo clássico: a relação entre estado, direito e
democracia. Revista Aurora, [S. l.], ano 5, n. 9, p. 121-147, dez. 2011. Disponível em:
https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/aurora/article/view/1710/1445. Acesso em: 26 abr.
2024.
TIDES FOUNDATION. The story of stuff. 2012. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=7qFiGMSnNjw&ab_channel=MichelCunha. Acesso em: 26 abr. 2024. 
Aula 4
Estética
https://periodicos.ufba.br/index.php/crh/article/view/43486
https://www.scielo.br/j/trans/a/KhR7QFrPrgF4DgMS65VwjzM/?format=pdf
https://www.youtube.com/watch?v=m1nePkQAM4w&ab_channel=NataCari0ca
https://www.youtube.com/watch?v=m1nePkQAM4w&ab_channel=NataCari0ca
https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/aurora/article/view/1710/1445
https://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw&ab_channel=MichelCunha
https://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw&ab_channel=MichelCunha
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Estética
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Olá, estudante!
Nesta videoaula, você vai conhecer mais sobre a estética, passando pela questão da beleza, o
juízo de gosto e como a arte acabou �cando a serviço da política e da economia. O nosso intuito
é que você compreenda a problemática abordada pelas mais relevantes áreas de atuação da
Filoso�a e analise o legado �losó�co para a compreensão e estruturação do mundo da vida.
Esse conteúdo é importante para o desenvolvimento da sua capacidade crítica diante da
realidade.
Vamos lá!
Ponto de Partida
Agora, vamos lhe apresentar mais uma re�exão �losó�ca sobre as suas grandes áreas de
estudos. A área que abordaremos é a estética e as suas indagações acerca da beleza, do juízo
de gosto e do impacto das obras de artes em nossas vidas.
Para entender melhor a preocupação �losó�ca com a estética, tente imaginar um mundo sem
arte, sem música, sem cinema, sem literatura, sem poesia, sem pintura, sem escultura etc.
Possivelmente, seria um mundo monótono e sem brilho; agora, note, por exemplo, como a
música faz parte dos nossos momentos, trazendo-nos recordações e mexendo com os nossos
sentimentos. Mas não é só a música, praticamente, todas as formas de arte têm impacto sobre a
nossa vida.
Dessa forma, veremos como se dá a relação entre a beleza e o juízo de gosto (o que nos faz
achar algumas coisas belas e outras não?), como a política se vale da arte para viabilizar os seus
interesses e como a arte acabou sendo encampada pela economia e �cando a serviço dela,
basta imaginarmos, por exemplo, quanto dinheiro as empresas cinematográ�cas movimentam.
Aliás, queremos que o seguinte questionamento norteie a nossa re�exão: é possível que, um dia,
a arte seja autônoma, valorizada por si só, sem estar a serviço de mais nada além da satisfação
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
que nos proporciona?
Bons estudos! 
Vamos Começar!
Em nossa linguagem do cotidiano, a palavra estética parece referir-se aos cuidados que
devemos ter com a beleza ou com o nosso próprio corpo: questão de higiene, aparência,
apresentação pessoal etc.; já na linguagem �losó�ca, estética signi�ca conhecimento por meio
da sensibilidade e trata, sobretudo, da questão do conhecimento por meio das obras de arte ou
mais especi�camente como a obra de arte serve para transmitir noções sobre a realidade e
como outras esferas, como política, religião etc., valem-se ou não da obra de arte para
conscientizar ou alienar a sociedade.
O Dicionário de Filoso�a de Nicola Abbagnano (2007, p. 367) diz que, com o termo estética
[...] designa-se a ciência (�losó�ca) da arte e do belo. O substantivo foi introduzido por
Baumgarten, em 1750, em um livro (Aesthetica) em que defendia a tese de que são objeto da
arte as representações confusas, mas claras, isto é, sensíveis, mas “perfeitas”, enquanto são
objeto do conhecimento racional as representações distintas (os conceitos). Esse substantivo
signi�ca propriamente “doutrina do conhecimento sensível”. [...] Hoje, esse substantivo designa
qualquer análise, investigação ou especulação que tenha por objeto a arte e o belo,
independentemente de doutrinas ou escolas.
Uma das questões abordadas pela estética é se a beleza tem alguma ligação com o gosto (e se
tem, de que forma isso ocorre) ou se pode existir objetividade em nossas considerações sobre o
belo.
A beleza e o juízo de gosto
Para Kant (1999), os juízos estéticos ou juízos de gosto são juízos re�exionantes (um tipo de
juízo em que só se tem o particular e, a partir dele, é preciso criar o universal), o que implica dizer
que o conceito de belo não existe universalmente e que, a cada experiência estética, construímos
o universal. Desse modo, pode-se inferir que a estética não está nas coisas, mas no prazer ou
desprazer que sentimos ao apreciar as coisas mais belas ou menos belas. O conceito de belo é
criado, então, a partir do particular, a partir de cada novo contato que temos com as coisas que
exigem nossos juízos de gosto, mas o problema é: como universalizar juízos subjetivos?
Por vezes, pode acontecer de acharmos belas as coisas que nem sequer conhecemos
profundamente, tais como a composição de uma música ou a estrutura de uma pintura, e isso
cria em nós a tendência de acreditarmos que os nossos juízos estéticos valem para todos, mas,
em vez disso, eles são apenas subjetivos, embora os queiramos objetivos. No conhecimento
objetivo, predomina o entendimento, já na arte, predomina a imaginação; o artista deve dar asas
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
ao voo da imaginação, apesar de o entendimento limitar esse voo ao estabelecer vínculo entre
imaginação e entendimento.
Não devemos vincular juízos estéticos a outros tipos de juízos, pois, entre suas características,
devem estar a indiferença e o desinteresse diante das qualidades do objeto. Quando
construímos um juízo estético, não nos deve interessar as suas características externas, como
acontece quando ouvimos e gostamos de determinada música sem saber o que a letra nos diz
ou quem é o seu autor ou o seu intérprete (Kant, 1999).
Siga em Frente...
A arte a serviço da política
Kant, em seu texto Aufklärung, ao conclamar os indivíduos a sair da minoridade, distingue o uso
privado da razão (cumprir com as normas às quais nos comprometemos) do uso público (direito
de expressar seu ponto de vista), enfatizando o uso público e a necessidade de se fazer uso da
razão, pois só assim a menoridade seria superada e o homem alcançaria o esclarecimento
(aufklärung) ou o iluminismo. A superação da menoridade visa colocar o homem na condição de
senhor de si.
Mas segundo Adorno e Horkheimer, a sociedadeindustrial não realizou as promessas desse
iluminismo humanista, pois o desenvolvimento da técnica e da ciência não trouxe acréscimos
para a felicidade e a liberdade humanas, ao contrário, ao invés de libertar o homem, o progresso
da técnica acabou por escravizá-lo ainda mais na medida em que o mantém alienado, haja vista
que só o homem consciente é livre. Segundo esses pensadores, os produtos da indústria cultural
têm três funções: ser comercializados, promover a deturpação e a degradação do gosto popular
e, por último, obter uma atitude passiva dos consumidores diante das imposições dos sistemas
políticos e econômicos. Desse modo, a indústria cultural padroniza o gosto e não deixa o
indivíduo decidir ou escolher por si, mas leva-o a aderir, de maneira acrítica, aos valores
impostos.
A arte foi reduzida a entretenimento e transformada em mercadoria, visando à utilidade com
preço acessível. Para Adorno (1999), existe uma indústria da arte em que o capitalista incentiva a
arte com a intenção de obter retorno �nanceiro, e a indústria cultural funciona como um grande
sistema em que o sucesso é fabricado a partir da injeção de muito dinheiro, gerando fetichismo
(fetiche é o poder que o produto exerce sobre as pessoas). Portanto, a fetichização da música
implica sucessos fabricados, construídos arti�cialmente, visando-se à obtenção de lucro ou à
alienação política ou ambos.
A capacidade crítica-re�exiva acerca da arte requer uma avaliação integral da obra, mas a
indústria cultural, ao plasmar a cultura de massa, aquela feita para agradar e vender, isola os
elementos e avalia parcialmente. No caso da música, em determinadas canções, só se avaliam
os arranjos, já em outras, a interpretação ou a voz, em outros, os elementos periféricos, como
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
show de luzes etc., mas di�cilmente se avalia a totalidade da obra de arte e o seu valor em si. O
fetichismo isola as partes e avalia algumas delas de modo exagerado (Adorno, 1999).
A arte a serviço da economia
Como mercadoria, a arte adquire valor de troca, mas esse valor não pode aparecer
escancaradamente, então, são maquiados, encobertos com pseudo qualidades estéticas. Os
meios de comunicação se encarregam de incutir a ideia de necessidade por meio da repetição
ou vinculando a arte, sobretudo a música, com determinadas realidades vivenciadas pelas
pessoas, originando os chamados temas musicais. O resultado disso tudo é a arte e a cultura
sendo transformadas em negócio, em mercadoria e negociadas por meio dos empresários do
ramo artístico; a cultura, por sua vez, transforma-se em entretenimento, com o propósito de
alienar e impedir a formação do senso crítico, ou seja, uma roupagem nova para a velha política
romana do pão e circo (Adorno, 1999).
A indústria que se propõe a vender cultura produz cultura de péssima qualidade, pois o seu
interesse, além do ganho �nanceiro, é manter a população sob o jugo dos interesses das classes
dominantes. Por isso, pode-se dizer que ela é um subsistema da sociedade capitalista e reproduz
a sua ideologia e estrutura. A sua estratégia é veicular produtos por meio dos meios de
comunicação de massa, da propaganda, criando necessidades e vendendo produtos.
Percebe-se que Adorno e Horkheimer são pessimistas em relação às obras de arte e sustentam,
por exemplo, que o cinema deixa as pessoas alienadas. Nesse aspecto, Walter Benjamin
discorda deles a atribui ao cinema a capacidade de democratizar a arte, podendo, aliás, servir de
instrumento de politização. Benjamin tem in�uência de Adorno, da cabala judaica e do marxismo,
porém chama a atenção para o fato de a militância política incorrer na ameaça de esvaziar a arte
de conteúdo, transformando-a em mero pan�eto ou veículo de transmissão de sua ideologia.
Benjamin (1985) re�ete sobre a transformação que a obra de arte está passando por ocasião das
técnicas de reprodução e lembra que, ao longo da história, as obras de arte sempre foram
copiadas, por diversos motivos (para proteger o original, pelo fato de os discípulos buscarem
aproximar-se da técnica do seu mestre ou mesmo por falsi�cadores), mas essas cópias em nada
alteravam a autenticidade, a identidade, as características e a história do original, chamadas por
ele de “aura”. Porém, com o advento da fotogra�a (a “mãe do cinema”), essa aura foi
desaparecendo.
A fotogra�a desfez uma das características da obra: o interesse pelo original. Quando surgiu,
aliás, houve controvérsias entre fotógrafos e pintores acerca de se considerar ou não a fotogra�a
como obra de arte. As obras tinham unicidade, mas com a fotogra�a isso desapareceu; segundo
Benjamin, o mais importante não é avaliar se a fotogra�a é ou não arte, mas quais são as
consequências estéticas e políticas do seu surgimento. Uma delas é que, antes, havia o culto à
obra de arte, agora, esse culto foi substituído pela exposição da obra. 
Vamos Exercitar?
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Certamente, o senso comum responderia que é possível, sim, que a arte um dia seja valorizada
em si, pois, praticamente, tudo neste mundo é possível. Contudo, queremos uma resposta
�losó�ca e não de senso comum, pois, a�nal, é para isso que estamos estudando. Sendo assim,
diríamos que, se, por acaso, a arte não pudesse se desvincular da política e da economia,
certamente, Adorno e Horkheimer nem sequer perderiam tempo formulando as suas críticas.
Além disso, a arte já foi valorizada em si e por si, por Alexander Gottlieb Baumgarten, �lósofo
moderno, conforme vimos: hoje, esse substantivo designa qualquer análise, investigação ou
especulação que tenha por objeto a arte e o belo, independentemente de doutrinas ou escolas.
Além disso, também vimos em Kant que não devemos vincular juízos estéticos a outros tipos de
juízos, pois, entre suas características, devem estar a indiferença e o desinteresse diante das
qualidades do objeto. 
Saiba mais
Para saber mais sobre a beleza e o juízo de gosto, leia o artigo Da Comunicabilidade do Juízo
Estético, de Ana Godinho Gil. Nele, a autora faz um resgate do modo como Kant entendia ser
possível universalizar o gosto acerca da questão do belo.
Aprofunde os seus conhecimentos acerca da questão da arte a serviço da política lendo o artigo
Indústria Cultural e Ideologia, de Humberto Alves Silva Júnior. Nele, o autor aborda o modo como
a produção industrial das manifestações culturais no capitalismo são tratadas como
mercadorias e suas consequências sobre o público, atuando, principalmente, como instrumento
de manipulação ideológica.
Conheça mais o modo como a arte está a serviço da economia lendo o artigo A Cultura como
Mercadoria: Re�exões sobre o Processo de Mercantilização Cultural no Modo de Produção
Capitalista, de Luciana Silvestre Girelli. Nele, a autora propõe uma re�exão sobre o papel da
cultura na reprodução do sistema capitalista, bem como sobre o processo de mercantilização
cultural a partir da revisão bibliográ�ca de um importante expoente dos estudos culturais,
Raymond Williams, e de pensadores da Escola de Frankfurt, entre eles: Theodor Adorno e Max
Horkheimer. 
 
 
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de �loso�a. Tradução: Alfredo Bosi. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2007. Disponível em: https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-
abbagnano-dicionario-de-�loso�a.pdf. Acesso em: 26 abr. 2024.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/8638938/7082
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/8638938/7082
https://www.scielo.br/j/ccrh/a/fvQJ8CRpyVb4jfQMGjWW4CD/abstract/?lang=pt
https://www.researchgate.net/publication/338519771_A_cultura_como_mercadoria_reflexoes_sobre_o_processo_de_mercantilizacao_cultural_no_modo_de_producao_capitalista
https://www.researchgate.net/publication/338519771_A_cultura_como_mercadoria_reflexoes_sobre_o_processo_de_mercantilizacao_cultural_no_modo_de_producao_capitalista
https://www.researchgate.net/publication/338519771_A_cultura_como_mercadoria_reflexoes_sobre_o_processo_de_mercantilizacao_cultural_no_modo_de_producao_capitalistahttps://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-abbagnano-dicionario-de-filosofia.pdf
https://marcosfabionuva.com/wp-content/uploads/2012/04/nicola-abbagnano-dicionario-de-filosofia.pdf
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da audição. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
(Coleção Os Pensadores).
BENJAMIN, W. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: BENJAMIN, W. Magia e
técnica, arte e política. Tradução: Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985. v. 1. (Obras
Escolhidas). Disponível em: https://psicanalisepolitica.wordpress.com/wp-
content/uploads/2014/10/obras-escolhidas-vol-1-magia-e-tc3a9cnica-arte-e-polc3adtica.pdf.
Acesso em: 29 abr. 2024.
GIRELLI, L. S. A Cultura como mercadoria: re�exões sobre o processo de mercantilização cultural
no modo de produção capitalista. Mediações, Londrina, v. 24, n. 3, set./dez. 2019. Disponível em:
https://www.proquest.com/docview/2351594141/858CB98BF9824AF6PQ/9?
accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journals Acesso em: 9 jan. 2024.
KANT, I. Crítica da razão pura. Tradução: V. Rohden, U. B. Moosburger. São Paulo: Nova Cultural,
1999. (Coleção Os Pensadores).
SILVA JUNIOR, J. A. Indústria Cultural e Ideologia. Caderno CRH, Salvador, v. 32, n. 87, p. 505-515,
2019. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/crh/article/view/32099. Acesso em:
29 abr. 2024. 
Aula 5
Encerramento da Unidade
Videoaula de Encerramento
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Dica para você
Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua
aprendizagem ainda mais completa.
Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá como a Filoso�a re�ete sobre algumas áreas,
como epistemologia, ética, política e estética; com isso, pretendemos que você consiga inteirar-
se da possibilidade de vínculo entre epistemologia, ética, política e estética, desenvolvendo a
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https://www.proquest.com/docview/2351594141/858CB98BF9824AF6PQ/9?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journals
https://www.proquest.com/docview/2351594141/858CB98BF9824AF6PQ/9?accountid=134629&sourcetype=Scholarly%20Journals
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Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
capacidade crítica referente às áreas de conhecimentos da re�exão �losó�ca, vinculando-as com
a estruturação do mundo da vida.
Este conteúdo é importante para que você se aproprie do legado �losó�co para a compreensão e
estruturação do mundo da vida.
Vamos lá!
Ponto de Chegada
Ao �nal desta jornada re�exiva acerca da epistemologia, da ética, da política e da estética, você
estará em condições de melhor compreender a problemática abordada por essas que constam
entre as mais relevantes áreas de atuação da Filoso�a.
Contrariando os so�stas, que a�rmavam que tudo era relativo, Sócrates a�rmava que tudo tem
uma essência (razão de ser, motivo de algo ser como ele é), e a essência do homem seria a sua
alma, o seu pensamento; já a essência da alma seria a busca do bem, do belo e do verdadeiro,
sintetizados, por Platão, na imagem do sol contemplado pelo prisioneiro liberto da caverna. Essa
busca pelo bem, pelo belo e pelo verdadeiro constituía o grande projeto de vida dos gregos
antigos.
O verdadeiro é objeto da epistemologia (ciência); já o bem se desdobra em individual – sendo
este o objeto da ética – e coletivo – sendo este o objeto da política; e o belo é o objeto da
estética. Essas áreas, por sua vez, serviram de base para a nossa re�exão nesta unidade.
Aliás, podemos perceber que a Filoso�a, ao contrário da compreensão que o senso comum tem
sobre ela, não é uma viagem abstrata e sem cabimento, uma simples e pura divagação, mas uma
tentativa de se compreender de modo profundo, crítico, re�exivo e radical (no sentido de raiz,
origem, começo) a estruturação da constelação das várias áreas que integram a nossa vida,
como bem sinalizou Descartes (1997, p. 16), quando a�rmou que “viver sem �losofar é como ter
os olhos fechados sem jamais fazer esforço para abri-los”; e na esteira do que havia dito
Sócrates: “uma vida sem re�exão não merece ser vivida” (Pessanha, 1999, p. 67).
Diante disso, podemos dizer que não devemos estudar Filoso�a apenas por interesse de
aquisição de uma mera e simples erudição, mas para tentar entender mais profundamente o
mundo e a vida, a realidade que nos cerca, de modo a conseguirmos nos posicionar melhor
diante dos fatos, tomando decisões de modo livre e autônomo, uma vez que isso nos permitirá
viver a vida de modo mais autêntico e profundo, pois a Filoso�a, quando bem estudada, ajuda-
nos a ter em mente, de forma bem clara, o que realmente importa nesta vida. 
Re�ita
1. Sabemos que muitas teorias já foram criadas tentando-se compreender e explicar o mundo;
além disso, algumas delas, hoje, beiram o ridículo. Heráclito, por exemplo, chegou a a�rmar que
o Sol tinha a largura de um pé humano (Pessanha, 1996, p. 96). Diante disso, apresente um
argumento �losó�co para sustentar que as atuais teorias cientí�cas podem ser con�áveis.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
2. As ideologias de direita e esquerda são marcadas por suas ênfases na liberdade e na
igualdade, respectivamente.
A Reuters divulgou, em 18 de janeiro de 2016, a seguinte matéria: 62 mais ricos do
mundo têm mesma riqueza que metade da população mundial, diz Oxfam.
As 62 pessoas mais ricas do mundo têm agora o mesmo dinheiro que a soma de
metade da população mundial, o equivalente a cerca de 3,5 bilhões de pessoas, à
medida que os super ricos têm �cado cada vez mais ricos e os pobres mais pobres
[...]. A riqueza dos 62 mais ricos aumentou 44 por cento desde 2010, enquanto a
riqueza dos 3,5 bilhões mais pobres caiu 41 por cento, a�rmou a Oxfam em um
relatório divulgado antes da reunião anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos,
na Suíça (Oxfam apud Cizoto; Cartoni, 2016, p. 257-258). 
Assim sendo, apresente ao menos dois pontos positivos e dois negativos tanto da direita
quanto da esquerda.
3. “Beleza é questão de gosto, e gosto não se discute”, e isso é tudo o que se ouve do senso
comum. Porém, a Filoso�a indaga o óbvio, o natural, e alguns �lósofos buscaram entender o
que está por trás dos nossos juízos de gosto e, assim, universalizar aquilo que se mostra
subjetivo. Diante disso, explique como seria possível universalizar o juízo de gosto referente ao
conceito de beleza.
É Hora de Praticar!
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Há ensinamentos socráticos de que a essência da nossa alma, ou seja, o motivo de sermos
dotados de racionalidade é buscar o bem, o belo e o verdadeiro, bem como a compreensão
platônica de que eles estão intrinsicamente unidos, ou seja, tudo o que é bom é belo e
verdadeiro, tudo o que é belo é bom e verdadeiro, e tudo o que é verdadeiro é belo e é bom.
A partir do exposto, queremos que você re�ita se o imbricar das três áreas citadas (bem, belo e
verdadeiro) ainda pode ser considerado como algo intrínseco.
A compreensão que os gregos tinham do bem, do belo e do verdadeiro era diferente da nossa,
aliás, se tentarmos responder à questão proposta sem conhecer esses conceitos, poderemos
cair no senso comum, logo, precisamos ter em mente os seguintes pontos:
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
A busca da verdade, hoje viabilizada por meio do investimento em pesquisas cientí�cas,
reclama, no mínimo, o retorno do investimento.
As descobertas e invenções são marcadaspelo viés da lucratividade.
O bem individual passou a ser bastante valorizado frente ao bem coletivo, com o advento
da ideia de sujeitos portadores de direitos.
A política, a qual visa ao bem comum ou deveria visar, �cou refém do mercado �nanceiro.
O belo subjacente às obras de arte foi abocanhado pela política, enquanto possibilidade de
alienação.
Pela economia como possibilidade da geração e/ou aumento da lucratividade.
Então, podemos concluir que a ligação entre as três áreas já não é mais intrínseca, podendo até
ser gerada, ser forjada ou arranjada, mas não necessariamente, haja vista que outros interesses
permeiam esse imbricamento. 
Con�ra a seguir uma síntese desta unidade.
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
 
CIZOTO, S. A.; CARTONI, D. M. Ética, política e sociedade. Londrina: Educacional, 2016.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
DESCARTES, R. Princípios da �loso�a. Tradução: J. Gama. Lisboa: Edições 70, 1997.
OXFAM. 62 pessoas possuem o equivalente a metade do mundo. 2016. Disponível em:
https://www.oxfam.org.br/publicacao/62-pessoas-possuem-o-equivalente-a-metade-do-mundo/
Acesso em: 29 abr. 2024.
PESSANHA, J. A. M. (org.). Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Coleção Os
Pensadores).
PESSANHA, J. A. M. Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os Pensadores).
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Unidade 4
Correntes do pensamento �losó�co
Aula 1
O Helenismo
O helenismo
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Dica para você
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Olá, estudante!
Nesta videoaula, você vai saber mais sobre o Epicurismo e sobre Sêneca e Epicteto, que falaram
acerca da felicidade, da resignação, da apatia e da imperturbabilidade, bem como ver qual foi a
contribuição do Helenismo à Cultura Ocidental. O nosso intuído é que você conheça as diferentes
interpretações de mundo conforme à visão dessas que estão entre as principais correntes de
pensamento.
Este conteúdo é importante para o desenvolvimento da sua capacidade crítica diante da
realidade.
Vamos lá!
https://www.oxfam.org.br/publicacao/62-pessoas-possuem-o-equivalente-a-metade-do-mundo/
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Ponto de Partida
Boas-vindas a mais uma re�exão �losó�ca, desta vez, acerca do período helenístico, em que a
maior preocupação era com a questão da felicidade, uma vez que estava difícil de ser alcançada.
Com essa re�exão, queremos que conheça as diferentes interpretações de mundo conforme a
visão de algumas das principais correntes de pensamento, a ponto de conseguir identi�car as
diferentes interpretações de mundo e da contribuição de algumas correntes de pensamento, indo
desde o Epicurismo, passando pelo Estoicismo, sobretudo por meio da contribuição de Sêneca e
Epicteto. Aliás, esperamos que �que mais claro como a cultura ocidental foi impactada por essas
correntes �losó�cas.
Para nortear a re�exão, queremos que você estude com o objetivo de, ao �nal, conseguir ter mais
clareza acerca do motivo de algumas pessoas se mostrarem mais lutadoras e outras desistirem
com facilidade, bem como que você tenha argumentos para explicar qual delas pode ser
considerada a mais feliz.
Pronto para enriquecer mais um pouco os seus conhecimentos? Então, vamos lá!
Vamos Começar!
Neste momento, vamos lhe apresentar a mentalidade predominante no período helenístico,
quando, de certo modo, o homem se viu sozinho, sem poder contar com a contribuição da pólis e
vivendo sem a perspectiva de participar ativamente nas decisões políticas.
Helenismo foi o período em que a �loso�a grega, o modo de viver dos gregos, extrapolou os
limites geográ�cos da Grécia e passou a in�uenciar boa parte do mundo antigo, sobretudo
Roma. Esse processo teve início com as conquistas de Alexandre Magno, pois ele foi um
divulgador do modo de vida dos gregos.
Derrotadas pelos macedônios, as pólis gregas perderam a independência, a autonomia e
deixaram de ser o plano de fundo indispensável à felicidade humana. Os assuntos de interesse
público não foram mais debatidos por todos, mas impostos pelos dominadores, e como ser feliz
vivendo assim, sendo conduzido por outros? As escolas helenísticas têm uma visão intimista e
individualista acerca dessa questão e exaltam o equilíbrio como forma para o homem ser senhor
de si.
Qual é nossa postura diante das di�culdades às quais somos expostos? Qual é a relação dessa
postura com a nossa ideia do que é felicidade? Essa era a preocupação dos �lósofos que
sucederam a Aristóteles: como ser feliz imerso em um mundo conturbado, tumultuado, sem
perspectivas de melhoras, sem a possibilidade de decidir sobre os rumos da própria vida? Como
ser feliz em uma pólis sem autonomia, sem liberdade e sem poder de decisão? Como ser feliz
obedecendo ordens e desenvolvendo atividades que contrariam a nossa própria natureza? Os
�lósofos do período helenístico apresentaram cinco caminhos diferentes para se alcançar a
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
felicidade, chamadas de correntes de pensamento; são elas: ceticismo, ecletismo, cinismo,
epicurismo e estoicismo.
Cabe lembrarmos que, embora a Filoso�a não se paute no utilitarismo, naquele momento, ela
acabou servindo a esse propósito, pois era preciso fornecer hermenêuticas sólidas e concretas
que pudessem aplacar a amargura de uma vida rasa e insossa, bem como nortear o agir humano
rumo ao seu maior bem: o desfrute da felicidade. Mas como ser feliz nesse emaranhado de
mudanças? É isso que as correntes do período helenístico tentaram responder. 
O epicurismo
O nome dessa escola se deve ao seu fundador, Epicuro de Samos (341-270 a.C.), para quem o
papel da Filoso�a é curar os males da alma, assim como a medicina busca curar os males do
corpo. Do ponto de vista ético, os epicuristas entendem que a felicidade consiste no prazer
(hedoné), mas, ainda que todos os prazeres sejam bons por natureza, nem todos devem ser
buscados, pois há prazeres corrompidos — os excessos, por exemplo —, logo, a apatia ou
ausência de dor e sofrimento tornou-se o grande objetivo epicurista.
“O autêntico prazer é inseparável da tranquilidade da alma e da realização plena da
autossu�ciência” (Abrão, 1999, p. 72). Talvez, a amizade seja a mais importante fonte de
satisfação e compensações. “Epicuro julgava que os maiores prazeres eram os intelectuais,
sendo o maior de todos �losofar com os amigos. Segundo ele, buscar prazer sem pensar no dia
seguinte não nos permitiria maximizar nosso bem a longo prazo” (Law, 2008, p. 251).
Do ponto de vista do conhecimento, o epicurismo segue a teoria atomista de Demócrito, em que
tudo o que existe são as coisas físicas, corpóreas, os átomos e o vazio. Até mesmo os deuses
estavam sujeitos a essa lei e não desempenhavam nenhum papel na formação e no governo do
mundo (Abbagnano, 2003). Diante disso, conhecer é acumular sensações, e a sensação é o
critério da verdade e do bem.
Pode-se dizer que a base do epicurismo é o propósito de libertação, assim resumido (Abrão,
1999): não há que temer aos deuses; morte signi�ca ausência de sensações; é fácil procurar o
bem; e é fácil suportar o mal.
A morte é apenas a desagregação dos átomos, e o homem nada sente. Quem compreender que
não há nada de terrível no fato de estar morto, não temerá a vida, o que o libertará do destino e
dos deuses, tornando-se livre para seguir o próprio objetivo: a felicidade (Abrão, 1999). Os
epicuristas também �caram conhecidos como Filósofos do Jardim, pois Epicuro comprou uma
casa com um belo jardim em Atenas, e era em seu jardim que ele lecionava.
Existem prazeres naturais e necessários que devem ser sempre satisfeitos, como comer, beber,
descansar etc., pois a não satisfação compromete a nossa saúde e a nossa vida. Também há
prazeres naturais não necessários que podem ser satisfeitos às vezes, como comer bem, tomar
bebidas re�nadas etc., alémdos prazeres não naturais não necessários, que jamais devem ser
satisfeitos, como as drogas, por exemplo, que comprometem a nossa saúde, a nossa vida e
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
podem gerar dependência (Epicuro, 2002). Para alcançar a felicidade, o homem não deve
depender de nada e nem de ninguém além de si.
Para os epicuristas, devemos procurar viver sem dor física, psíquica e emocional, e um dos
acontecimentos que mais nos causam dor é a morte, porém eles entendem que não sofremos
com a morte em si, pois quando ela chega, já não estamos mais conscientes, portanto,
sofremos, com a ideia de morte. Curiosamente, tanto os epicuristas quanto Aristóteles, embora
acreditassem na existência dos deuses, não acreditavam em vida pós-morte e, ainda que
entendessem a morte como um marco do �m de tudo, não a temiam.
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Sêneca, Epicteto e a felicidade estoica
O estoicismo é a escola que melhor caracteriza o espírito cosmopolita da época, chegando até
Roma e in�uenciando pessoas importantes, como Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) e Epicteto (50-138 d.
C.), além do imperador romano Marco Aurélio (121-180 d.C.), tornando-se parte da cultura e do
pensamento romanos (Abrão, 1999). Aliás, o estoicismo pode ser
considerado o pensamento mais original e o que teve a maior duração entre as escolas
helenistas, e “muitos dos fundamentos enunciados ainda integram doutrinas modernas e
contemporâneas” (Abbagnano, 2003, p. 376).
O seu nome deriva de stoá (pórtico, em grego), pois foi no pórtico da praça do mercado, em
Atenas, que o seu primeiro representante, Zenão de Cicio (333-262 a.C.), começou a ensinar
publicamente. Zenão não se apegava aos re�namentos sociais e levou uma vida ascética,
coerente com o seu pensamento. “Diz-se que, tendo caído e quebrado um dedo do pé, viu nisso
um chamado de morte e se estrangulou” (Law, 2008, p. 252).
Segundo a teoria do conhecimento estoica, o mundo é o logos e suas partes se unem entre si
pela simpatia, pela correspondência entre os vários aspectos da realidade. Tanto a relação do
homem com o mundo quanto a do conhecimento ou da ideia com as coisas também só são
possíveis porque há simpatia entre as partes. O mundo, por sua vez, é um corpo vivo animado
pelo sopro vital (pneuma), e o pneuma é o logos, e para conhecê-lo, é necessário conhecer a
relação entre a natureza corpórea das coisas e a razão.
Como as demais escolas da época, o estoicismo também primou pela questão moral, assim, a
felicidade, para essa escola, consistia em viver de acordo com a ordem universal, desviando-se
das paixões, pois a liberdade consistia nisso, e isso faria com que o homem se tornasse livre até
mesmo diante da escravidão. A ausência de perturbações, ataraxia, era o ideal ético do
estoicismo (Abrão, 1999), e era isso que constituía a prática da virtude e a superação de si; só
superando a si mesmo é que o homem se uniria ao Logos (Mondin, 1982).
Sêneca, um dos maiores representantes do estoicismo, era assessor de Nero (37-68 d.C.), porém
esse imperador descon�ou que Sêneca tramava a sua queda e o sentenciou à morte, obrigando-
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
o a cometer suicídio e lhe dando a oportunidade de escolher como morrer. Sêneca escolheu
deitar-se numa banheira de água morna e cortar os pulsos, uma morte lenta para poder relatar
aos seus discípulos o que se sente diante da morte, tendo sido coerente com sua fala “quem não
souber morrer bem terá vivido mal” (Sêneca, 1985, p. 407). Percebe-se que ele foi �el ao ideal de
imperturbabilidade defendido durante toda a vida e não caiu em contradição mesmo diante de
infame sina. Os estoicos defendiam o amor fati, expressão latina que signi�ca amor pelo destino,
não importando qual viesse a ser esse destino.
Não se sabe ao certo quando Epicteto nasceu, possivelmente, foi entre 50 e 60 d.C., mas já no
ano 70 d.C. tornou-se escravo, e mesmo nessa condição, começou a ter aulas de Filoso�a e
percebeu que tinha vocação para isso. Entre 88 e 93 d.C., foi expulso de Roma com outros
�lósofos e retirou-se para a cidade de Nicópolis, no Épiro, onde fundou uma escola que alcançou
grande sucesso, atraindo ouvintes de todas as partes. Não se sabe com certeza a data de sua
morte, mas 138 d.C. é uma das mais consideradas (Reale; Antiseri, 2003).
O grande princípio da �loso�a de Epicteto consiste na divisão (diáiresis) das coisas em duas
classes:
Aquelas que estão em nosso poder: opiniões, desejos, impulsos e repulsões.
Aquelas que não estão em nosso poder: todas as coisas que não são atividades nossas,
como corpo, parentes, haveres, reputação etc. 
O bem e o mal residem exclusivamente na classe das coisas que estão em nosso poder,
precisamente porque estas dependem de nossa vontade, e não na outra classe, porque as coisas
que não estão em nosso poder não dependem de nossa vontade.
Em grego, a palavra diáiresis signi�ca divisão, já a palavra proáiresis signi�ca opcional, logo,
Epicteto colocou a proáiresis como fundamento moral. “A proáiresis (pré-escolha, pré-decisão) é
a decisão e a escolha de fundo, que o homem faz de urna vez para sempre e com a qual,
determina o diapasão do seu ser moral, e disso dependera tudo o que fará e como o fará” (Reale;
Antiseri, 2003, p. 329-330).
A contribuição do helenismo à cultura ocidental
Uma vez que o objetivo da ética era levar o homem a encontrar a felicidade por meio da ataraxia,
da imperturbabilidade, pode-se dizer que anacoretas, eremitas e monges ilustram essa visão
estoica à medida em que buscam o êxtase místico ou nirvana como um ideal de controle sobre
si, como defendido pelo estoicismo.
Os estoicos valorizavam a resignação, isto é, o conformismo, a aceitação, o contrário da
indignação, dando origem à expressão “paciência estoica”, o que implica aceitar pacientemente
tudo o que acontece, pois faz parte do plano divino, desprezando toda forma de prazer e sendo
insensível aos bens do mundo — atitude realçada pelo cristianismo.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
No �nal da Idade Antiga, conhecida como antiguidade tardia, ocorreu o encontro entre a �loso�a
e o cristianismo, e ambas se in�uenciaram reciprocamente. Alguns historiadores do pensamento
entendem que esse período já faz parte da �loso�a medieval, mas cronologicamente ele
pertence ao período antigo, embora suas maiores in�uências tenham ocorrido posteriormente. A
�loso�a segue as mesmas divisões da história somente na nomenclatura e não nas datas. Trata-
se de um período, do século I ao século III de nossa era, em que surgiram tendências
obscurantistas, muitas seitas religiosas, sistemas �losó�cos, magia e alquimia, contudo, ainda
havia quem buscasse interpretar a realidade à luz da tradição �losó�ca (Helferich, 2006, p. 65),
entre os quais, encontra-se Plotino (205-270 d.C.).
Plotino foi o fundador do neoplatonismo, discípulo de Amônio Saccas (175-242 d.C.) e mestre de
Porfírio (234-305 d.C.). Ele não apenas retomou o platonismo, mas acrescentou mudanças:
evitou o dualismo platônico, retomou a exigência de buscar um princípio único e superou a
ênfase moralizante das �loso�as da época e o ceticismo sem cair no ecletismo. Plotino resumiu,
renovou e ultrapassou a tradição (Abrão, 1999, p. 89); a sua versão do platonismo determinou o
desenvolvimento da metafísica cristã na Idade Média.
Foi Plotino quem transpôs a lacuna entre a teoria das ideias de Platão e a teologia cristã. Os
teólogos tomaram de Plotino a ideia de que a alma importa mais que o corpo e que, por meio da
formação dela, consegue-se alcançar Deus, o uno (Law, 2008, p. 29), que é um mistério, pois é
indizível e sobre ele só se pode falar por aproximações; ele não é acessível aos sentidos e ao
intelecto, mas transcendente e absoluto. O bem é a ideia pela qual nos aproximamos dele, e o
objetivo �nal da �loso�a é contemplá-lo; cabe ao homem cultivar aquilo que, na alma, o aproxima
do uno: a unidade da virtude (Abrão, 1999). 
Vamos Exercitar?
Por que algumas pessoas se dedicam mais do que outras? Por que algumas pessoas têm mais
foco, mais persistência, mais gana?Precisamos entender com mais profundidade essas
questões.
Se levarmos em conta o que as escolas helenísticas nos apontam, percebemos que é preciso
saber para onde vamos, fazer escolhas acertadas e ter clareza sobre o que é fundamental na
vida e o que é supér�uo. Além disso, precisamos deixar de nos incomodar com aquilo que foge
ao nosso controle; algumas coisas são escolhas nossas e, portanto, são nossas
responsabilidades, mas outras não, conforme nos mostra Epicteto, principalmente.  
Desgastar-se com aquilo que não está ao nosso alcance serve apenas para sugar a nossa
energia e nos fazer desistir dos nossos objetivos ou, ao menos, nos distanciar deles. Para quem
não sabe em que porto quer chegar, nenhum vento lhe é favorável, e esse era um dos lemas dos
estoicos. 
Saiba mais
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Para saber mais sobre o Epicurismo, leia o tópico 25.4. Epicurismo: Ética, Prazer E Sensação, do
livro Curso de Ética Geral e Pro�ssional. Nele, o autor trata dos pontos mais relevantes da
contribuição do epicurismo à moralidade.
Para aprofundar os seus conhecimentos de Sêneca, Epicteto e da felicidade estoica, leia o tópico
25.5. Sêneca: O Estoicismo Romano e a Ética da Resignação, do livro Curso de Ética Geral e
Pro�ssional. Nele, o autor trata dos pontos mais relevantes da contribuição do estoicismo à
moralidade.
Saiba mais sobre a contribuição do helenismo à cultura ocidental lendo o artigo Diálogos e
Tensões no Judaísmo no Período Helenista, de Solange Maria Carmo e Aíla L. Pinheiro de
Andrade. Nele, as autoras abordam o conceito, o surgimento e os tipos de diásporas judaicas
com enfoque especial no período helenista (de 312 a.C. a 31 a.C.), bem como mostram como a
in�uência helenista foi recebida de forma diferente pelos judeus. 
 
 
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de �loso�a. 4. ed. Tradução: Alfredo Bosi. São Paulo: Martins Fontes,
2003. 
ABRÃO, B. S. (org.). História da �loso�a. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os
Pensadores).
BITTAR, E. C. B. Curso de ética geral e pro�ssional. São Paulo: Saraiva, 2023. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555599602/. Acesso em: 16 jan. 2024.
CARMO, S. M.; ANDRADE, A. L. P. Diálogos e tensões no judaísmo no período helenista.
Horizonte, Belo Horizonte, v. 17, n. 52, jan./abr. 2019. Disponível em
https://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-
5841.2019v17n52p249/14606. Acesso em: 29 abr. 2024.
EPICURO. Carta sobre a felicidade [a Meneceu]. Tradução: Álvaro Lorencini, Enzo del Carratore.
São Paulo: Unesp, 2002.
HELFERICH, C. História da �loso�a. Tradução: L. S. Repa, M. E H. Cavalheiro, R. Nascimento. São
Paulo: Martins Fontes, 2006.
LAW, S. Filoso�a: guia ilustrado Zahar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555599602/
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555599602/
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555599602/
https://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2019v17n52p249/14606
https://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2019v17n52p249/14606
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555599602/
https://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2019v17n52p249/14606
https://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2019v17n52p249/14606
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
MONDIN, B.  Curso de Filoso�a: os �lósofos do ocidente. 8. ed. Tradução: B. Lemos. São Paulo:
Paulus, 1982. v. 1.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da �loso�a: �loso�a pagã antiga. Tradução: I. Storniolo. São
Paulo: Paulus, 2003. v. 1.
SÊNECA, L. A. Da tranquilidade da alma. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1985. (Coleção Os
Pensadores). 
Aula 2
A questão dos Universais
A questão dos universais
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para assistir mesmo sem conexão à internet.
Dica para você
Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua
aprendizagem ainda mais completa.
Olá, estudante! Nesta videoaula, você vai conhecer mais a querela dos universais entre realistas e
nominalistas e como se deu o surgimento das universidades; aqui, também falaremos sobre
generalização, abstração, correspondência entre ideia ou conceito e objeto ou fato. O nosso
intuito é que você conheça as diferentes interpretações de mundo conforme a visão dessas que
estão entre as principais correntes de pensamento.
Este conteúdo é importante para o desenvolvimento da sua capacidade crítica diante da
realidade.
Vamos lá!
Ponto de Partida
É muito bom ter você conosco para mais uma re�exão �losó�ca acerca de uma querela da baixa
Idade Média ocorrida por ocasião do momento que antecedeu o surgimento das universidades.
Estamos nos referindo à questão dos universais: se os conceitos universais (gerais) existem, de
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
fato, ou são apenas vocábulos da linguagem. O homem (enquanto gênero) não existe! A pedra
(enquanto gênero) não existe! Existe “esse” homem, “essa” pedra, mas se os universais não
existem, como é que chegamos a formulá-los e a compreendê-los?
Nesse momento, surgiram duas interpretações diferentes (e antagônicas) sobre a questão dos
universais: os realistas (esses termos existem, de fato) e os nominalistas (só existem os seus
nomes), e como dissemos, em meio a esse debate, acabaram surgindo as universidades.
Para nortear a aprendizagem, queremos que você se proponha a re�etir sobre a seguinte
questão: o limite da linguagem (e do pensamento) é a realidade ou conseguimos pensar e falar
sobre coisas inexistentes?
Embarque em mais essa re�exão e boa aprendizagem! 
Vamos Começar!
Na baixa Idade Média, a disciplina por excelência, além da teologia, era a lógica, pois era muito
importante saber construir argumentos claros e convincentes e encontrar a verdade bíblica,
distinguindo o que é linguagem literal e o que é linguagem �gurativa ou simbólica.
Preocupados com a questão da linguagem e valendo-se da lógica e da dialética, surgiram,
inicialmente, debates acerca de questões relacionadas à alma, e isso acabou desembocando na
querela acerca da natureza dos universais (generalizações).
Basicamente, a preocupação era perceber a relação que existe entre as palavras e as coisas,
entre os conceitos e a realidade. Rosa, por exemplo, é um nome que sobrevive à morte da própria
�or, o que indica que a palavra pode se referir até às coisas inexistentes, logo, será que os
conceitos existem por si mesmos, separados dos objetos sensíveis? Para responder a essa
questão, surgiram, originalmente, duas correntes: os realistas e os nominalistas, que acabaram
se rami�cando.
Bloco 1
Qual é o estatuto dos universais?
Posição Realismo exagerado Realismo moderado Conceitualismo
Proponente Guilherme de
Champeaux São Tomás de Aquino Pedro Abelardo
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Ideia central
Os universais existem
e possuem
independência e
prioridade ontológica
sobre os particulares
(ante rem).
Os universais existem,
mas não são
independentes dos
particulares, pois
estão nos particulares
(in re).
Os universais existem
na nossa mente (post
rem).
Bloco 2
Qual é o estatuto dos universais?
Nominalismo
Guilherme de Ockham
Os universais não existem. São apenas nomes que possuem relações estritamente lógicas.
* Ante rem, antes das coisas; in re, nas coisas; post rem, após as coisas.
Figura 1 | A querela dos universais na escolástica. Fonte: Souza (2018, p. 89).
Realistas
O realismo defende que os universais têm existência efetiva, uma existência anterior e separada
das coisas, como ensinava Platão (a posição de Platão é conhecida como realismo exagerado),
ou da forma (ideia, conceito) das coisas, como ensinava Aristóteles (a posição de Aristóteles é
conhecida como realismo moderado). Para os realistas, os universaisexistem, realmente;
algumas vezes, o realismo tem sido chamado de realismo platônico, por ter sido o primeiro a
adotar essa postura.
Por ser moderado, o realismo de Aristóteles, às vezes, é chamado de conceitualismo; “o
universal, embora não sendo um arquétipo ideal, é um conceito signi�cativo obtido por
abstração” (Abbagnano, 2003, p. 169), postura que será, posteriormente, adotada por São Tomás
de Aquino, um dos maiores nomes da baixa Idade Média ao lado de Santo Agostinho, um dos
maiores nomes da alta Idade Média. Santo Agostinho se aproxima bastante da concepção
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
platônica, a ponto de constituir o que �cou conhecido como realismo platónico-agostiniano cuja
característica principal “consiste em situar, por assim dizer, os universais ou ideias, na mente
divina em vez de os considerar como existindo no mundo supra celeste ou inteligível” (Mora,
1978, p. 244).
Na idade média, houve atitudes muito diferentes face a este problema: Desde o realismo
extremo, segundo o qual os universais não existem por si fora dos indivíduos nem fora da mente
divina, antes existindo nos próprios indivíduos, fora de qualquer consideração mental deles, até
um realismo moderado que admite que, pelo menos no seu aspecto lógico, o universal está só na
mente ou, para o enunciar mais rigorosamente, não pode existir realmente fora da mente. Mas,
em verdade, este existir na mente do universal veri�ca-se quando este é visto sob o aspecto da
concepção da mente; como coisa concebida, em contrapartida, o universal existe realmente fora
da mente e ainda nos próprios indivíduos, como já sustentava Aristóteles. Pode dizer-se,
portanto, que o universal tem pelo menos fundamento na coisa sem o que não seria universal,
nem haveria ciência possível, mas mera posição de algo ou simples imaginação (Mora, 1978, p.
244). 
O realismo exagerado a�rma que os termos universais são, de fato, coisas ou entidades
meta�sicas subsistentes, havendo perfeita correspondência entre elas e a realidade, conforme
havia sido ensinado por Escoto Eríugena (810-877 d.C.). Naquele momento, essa concepção
estabeleceu estreita correspondência entre o pensamento e a realidade, sendo o estudo da
linguagem, em última instância, o estudo da realidade, e, “sendo esta uma teofania, era o estudo
da própria manifestação de Deus, daquele Deus sobre cujas ideias universais e eternas as coisas
eram modeladas” (Reale; Antiseri, 2003, p. 168).
Desse modo, o realismo exagerado era concebido como “posição platônica levada as extremas
consequências. Os universais seriam entes reais, subsistentes em si, ideias eternas e
transcendentes que têm função de arquétipo e paradigma em relação aos indivíduos concretos”
(Reale; Antiseri, 2003, p. 168).
 
 
Siga em Frente...
Nominalistas
Para os nominalistas, os universais (termos que designam ideias gerais, como homem, pedra e
árvore) são meras palavras, meros nomes, sem existência real; são abstrações feitas a partir da
percepção de objetos individuais (esse homem, essa pedra, essa árvore) (Abrão, 1999).
O nominalismo defendia que os universais (espécies e gêneros) não são realidades exteriores às
coisas, como pretendiam os realistas, nem realidades nas coisas, como a�rmava o
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
conceitualismo, “mas são apenas nomes, termos ou vocábulos, por meio dos quais se designam
coleções de indivíduos” (Mora, 1978, p. 199).
Para os nominalistas, só existem entidades individuais; os universais são apenas nomes, termos
da linguagem, e a�rmar que os universais existem na mente de Deus é limitar a onipotência
divina, segundo Guilherme de Ockham (1285-1347). “Admitir universais nas coisas era supor que
as coisas têm ou podem ter ideias ou modelos próprios, limitando-se também assim a
onipotência divina” (Mora, 1978, p. 199).
E é nesse ambiente de discussão entre realistas e nominalistas que surgiram as primeiras
universidades, sobretudo em Paris; ou seja, esse foi um dos primeiros assuntos aprofundados
nos bancos universitários daquela época. Perceba, aliás, a correlação que há entre os termos: a
questão dos universais e o surgimento das universidades.
O surgimento das universidades
O império romano caiu no ocidente em 476 d.C. e em 527 d. C. Justiniano, que era um imperador
culto que queria resgatar no oriente o brilho que o império tivera em Roma, subiu ao trono, mas,
in�uenciado por sua esposa Teodora, agiu arbitrariamente, sufocando rebeliões e fechando
todas as escolas pagãs. Em 529 d. C., fechou o�cialmente a Academia platônica e o Liceu
aristotélico, di�cultando ainda mais a transmissão do conhecimento e da cultura.
Contudo, essa transmissão não se extinguiu totalmente, pois a Igreja mantinha escolas
monacais (dos monges) e episcopais (dos bispos), além disso, no mundo islâmico, que passou a
incluir a Índia e a Andaluzia, na Espanha, o estudo não cessou. Bagdá foi um grande centro de
estudos �losó�cos e cientí�cos com a famosa “Casa da Sabedoria”, e esse período �cou
conhecido entre os islâmicos como Idade de Ouro da erudição, o qual durou até a época das
cruzadas, por volta do século XIII.
No ocidente, porém, muitos anos após as invasões bárbaras, Carlos Magno (742-814 d.C.) se
tornou rei dos francos (de 768 a 800 d. C.) e, mesmo não sabendo ler e escrever, percebeu a
necessidade de restaurar o sistema educacional em seu império. Contando com a ajuda do
monge inglês Alcuíno de York (730-804 d.C.), criou, em 781 d.C., as escolas palatinas, que
receberam esse nome por funcionar dentro dos palácios.
A grade curricular elaborada por Alcuíno tinha por base as sete artes liberais, que compreendiam
o trívio (gramática, retórica e lógica ou dialética) e o quadrívio ou quatrívio (astronomia,
geometria, música e aritmética), subordinadas, porém, à teologia. No Natal do ano 800 d. C.,
Carlos Magno foi coroado imperador do Sacro Império Romano Germânico pelo Papa Leão III, o
qual ele havia protegido diante das conspirações por parte da nobreza romana, e, aos poucos,
estendeu o seu sistema educacional por quase toda a Europa, desse modo, estava preparado o
terreno para o germinar da escolástica e, posteriormente, das universidades.
Os professores das artes liberais começaram a ser chamados de escolásticos, título que se
estendeu também aos docentes de �loso�a e teologia. Por isso, compreende-se por escolástica
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
a �loso�a e a teologia que eram ensinadas nas escolas medievais cristãs, não esquecendo,
todavia, que à teologia cristã se outorgava o título de ciência das ciências e, à �loso�a, apenas o
de serva da teologia.
O problema fundamental nessa época era o entendimento e a transmissão da verdade revelada
dissipando a incredulidade e as heresias, portanto, a �loso�a escolástica não teve a autonomia
da �loso�a grega, pois se limitava ao ensino religioso do dogma (verdade de fé inquestionável).
Normalmente, distingue-se três períodos na �loso�a escolástica: a alta, que vai do século IX ao
XII; o �orescimento, nos séculos XIII e XIV; e a sua dissolução, do século XIV ao Renascimento.
No primeiro, concebia-se fé e razão como tendo harmonia intrínseca e substancial; no segundo, a
harmonia era considerada parcial e não se descartava a possibilidade de oposição entre elas; e
no terceiro, prevalecia a oposição entre ambas (Abbagnano, 2003).
As obras mais utilizadas nessa época foram: o Organon, de Aristóteles; o Timeu, de Platão; o
Isagoge, de Porfírio; e A Consolação da Filoso�a, de Boécio. O neoplatonismo também foi muito
difundido, particularmente por Escoto Eriúgena, o qual, em sua obra Divisão da Natureza,
esforça-se por conciliá-lo com o cristianismo.
Visando à difusão do cristianismo, a Igreja se empenhou em propagar o sistema escolar e, no
século XIII, a escola adquiriu a con�guração de universidade, produto típico da Idade Média.
Inicialmente, o termo universidade indicava um centro de estudos, uma associação corporativa,
um modelo mais próximo dos atuais sindicatos do que das atuais universidades.
As universidades de Bolonhae de Paris estão entre as primeiras que surgiram e acabaram se
tornando uma espécie de modelo para as demais. A universidade de Paris surgiu a partir de uma
ampliação da escola da catedral de Nôtre-Dame, e uma das �guras mais importantes do início
dessa universidade foi Pedro Abelardo (1079-1142 d.C.).
Envolvido com a questão dos universais, Pedro Abelardo defendia uma solução intermediária:
“os universais só existem no intelecto, mas ao mesmo tempo, mantém relação com as coisas
particulares na medida em que lhes dão signi�cado. Desse modo, é como signi�cado que os
universais subsistem às coisas” (Abrão, 1999, p. 108). 
Vamos Exercitar?
Após saber mais sobre os realistas e os nominalistas, certamente, você está em melhores
condições de abordar, �loso�camente, se o limite do pensamento e da linguagem é a realidade
ou se conseguimos pensar algo que não existe.
Normalmente, quando tentamos criar algo inexistente, misturamos ideias existentes e
conhecidas por nós separadamente (o unicórnio, por exemplo, só existe em nossa mente, pois
misturamos, numa só, duas ideias existentes separadas, cavalo e chifre) e, unindo-as, formamos
uma terceira.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Criação ex nihil (a partir do nada) é muito difícil, embora não impossível e, geralmente, os artistas
são considerados artí�ces dessa façanha, mas entraríamos numa discussão mais profunda, que
fugiria um pouco do nosso escopo, que é nos conscientizarmos de que o nosso pensamento se
circunscreve dentro de determinados limites e que essa foi a temática abordada por realistas e
nominalistas na ocasião do germinar das universidades. 
Saiba mais
Para saber mais sobre os realistas, leia o tópico A Querela os Universais, do livro Filoso�a Geral e
Jurídica. Nele, o autor trata das questões relacionadas ao realismo e suas rami�cações.
Para enriquecer a sua compreensão acerca dos nominalistas, leia o tópico Fé, Razão e
Nominalismo, do livro Introdução à Filoso�a. Nele, o autor apresenta as principais contribuições
do nominalismo à Questão do Universais.
Aprofunde os seus conhecimentos em relação ao surgimento das universidades assistindo ao
�lme Em Nome de Deus (atenção: existem dois �lmes com esse mesmo nome; veja se se trata
da história de Abelardo e Heloísa. Abelardo é considerado o primeiro professor universitário do
mundo). Esse �lme está disponível em vários sites de pesquisa e é baseado no livro Minhas
Calamidades, escrito por Pedro Abelardo, mostrando, com detalhes, o surgimento da primeira
universidade: a Universidade de Paris. 
 
 
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de �loso�a. Tradução: Alfredo Bosi. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
ABRÃO, B. S. História da �loso�a. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os Pensadores).
GUIRALDELLI Jr., P. Introdução à �loso�a. Barueri: Manole, 2003.  Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520448168/. Acesso em: 18 jan. 2024.
MORA, J. F. Dicionário de �loso�a. Tradução: Antônio José Massano, Manuel Palmeirim. Lisboa:
Dom Quixote, 1978.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da �loso�a: patrística e escolástica. Tradução: Ivo Storniolo. São
Paulo: Paulus, 2003. v. 2.
SOUZA, C. V. S. Filoso�a geral e jurídica. Porto Alegre: Sagah, 2018. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595023079/. Acesso em: 18 jan. 2024. 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595023079/pages/recent
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595023079/pages/recent
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520448168/
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Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Aula 3
A Fenomenologia
A fenomenologia
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Dica para você
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Olá, estudante!
Nesta videoaula, você vai conhecer mais o fenômeno enquanto limite do conhecimento; a
questão da consciência e da epoché (esvaziamento de ideias concebidas antecipadamente); e a
preponderância da intencionalidade. O nosso intuito é que você conheça as diferentes
interpretações de mundo conforme a visão dessas que estão entre as principais correntes de
pensamento.
Este conteúdo é importante para o desenvolvimento da sua capacidade crítica diante da
realidade.
Vamos lá!
Ponto de Partida
Queremos lhe apresentar mais um desdobramento ocorrido na Filoso�a entre �ns do século XIX
e começo do século XX; estamos falando da Fenomenologia — uma corrente �losó�ca que teve
grande impacto nas mudanças ocorridas recentemente em nossa sociedade.
Para os fenomenólogos, o fenômeno (aquilo que aparece, que se manifesta) é o limite do
conhecimento, e a consciência que adquirimos do objeto ou da realidade exige a epoché (o
esvaziamento, a redução eidética). No processo do conhecimento, há que se reconhecer a
preponderância da intencionalidade, pois ela sempre antecede a nossa visão de mundo.
Para nortear o estudo, queremos que você se proponha à seguinte re�exão: há plena
correspondência entre a imagem que você tem de você e a imagem que os outros têm de você?
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Você é aquilo que se mostra, aquilo que aparece? E o mundo é tal qual o concebemos em nossa
mente?
Embarque conosco e vamos buscar aumentar o nosso senso crítico-re�exivo! 
Vamos Começar!
O problema do conhecimento foi um dos mais pertinentes na Idade Moderna, desde Galileu até
Kant, passando por Descartes, Locke, Hume, entre outros. Locke buscou conhecer os limites do
nosso conhecimento e concluiu que ele se limitava ao fenômeno, não nos sendo possível
conhecer nada além do fenômeno (Locke, 1999); Hume, por sua vez, compartilhou da mesma
ideia de Locke e, também, defendeu que o nosso conhecimento se limitava ao fenômeno (Hume,
1984); por �m, Kant também sustentou que não nos era possível conhecer o númeno, (a essência
do mundo), mas apenas o fenômeno (o modo como o mundo se manifesta) (Kant, 2001).
O fenômeno é o limite do conhecimento
O termo fenômeno em língua grega signi�ca aquilo que aparece, ou seja, a aparência. “Para
muitos �lósofos gregos, o fenómeno é o que parece ser, tal como realmente se manifesta, mas
que em rigor, pode ser qualquer coisa diferente e até oposta” (Mora, 1978, p. 106). O fenômeno
pode ser entendido como algo que se contrapõe ao ser verdadeiro e que, por vezes, até o
encobre. Por exemplo: você não é mais o bebê recém-nascido daquela foto guardada, você não é
o corpo que você tem, pois ele está em constante mudança (tente imaginar qual será a imagem
que você deixará de você para o mundo), mas pode ser que te vejam e te identi�quem pelo corpo,
e, nesse caso, a tua essência, o teu verdadeiro eu não
aparece às pessoas, o que aparece é o teu corpo, que acaba por encobrir o teu ser.
Percebe-se que o conceito de fenômeno é extremamente equívoco, podendo ser a verdade,
quando transparente e evidente, ou aquilo que encobre a verdade, ou seja, o falso ser. Não se
descarta, ainda, a possibilidade de um fenômeno ser um caminho para a verdade se manifestar.
Há três concepções diferentes de fenomenologia, que tanto podem se apresentar confusamente
quanto entrelaçadas na história da �loso�a. Até àqueles pensadores para quem a oposição entre
fenômeno e ser verdadeiro equivale à oposição entre o aparente e o real, o fenômeno não
signi�ca somente o ilusório (Mora, 1978).
Assim, não se pode dizer que o fenômeno seja uma realidade ilusória, mas uma realidade
subordinada e dependente, tal qual se pode dizer de uma sombra projetada por uma luz, que não
é a luz, mas sem a qual, não nos seria acessível (Mora, 1978). Então, pode-se dizer que o
fenômeno não é o ser em si, mas também não é mera aparência; ele é objeto de experiência
possível diante doque é simples aparência ilusória e frente ao que se encontra para além da
experiência. Segundo Husserl, é o objeto intuído, aparente, tal qual nos aparece aqui e agora
(Husserl, 2012). Ou seja, o fenômeno é aquilo que nos é possível apreender, aquilo que
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
conseguimos experienciar, mas não se limita ao experienciável, pois experienciamos a partir da
nossa visão, e é interpretado a partir das nossas idiossincrasias.
Edmundo Husserl é um dos maiores nomes da fenomenologia; ele é matemático e se interessou
por �loso�a por in�uência de Franz Brentano (1838-1917), com quem aprendeu que os estados
mentais são sempre dirigidos para além de si mesmos; por exemplo: a nossa mente não
apreende a casa, apreende a ideia de casa. Husserl queria encontrar as bases psicológicas da
matemática e da lógica, e, por perceber que a experiência sempre está antes de todo
pensamento formal, estudou os empiristas ingleses e acabou chegando ao seu método de
análise fenomenológico, ou seja, a descrição do modo como o mundo aparece para a
consciência (Reale, 2006).
Husserl discordou de Kant ao não aceitar a diferenciação entre númeno e fenômeno e a�rmou
que era possível conhecer o númeno. Ele se aproximou, em parte, da teoria de Hegel, que
a�rmava que a essência do mundo era cognoscível, porém enquanto para Hegel esse
conhecimento era possível a partir de uma análise de mundo tomado como totalidade histórica,
percebido como espírito da história — o que, no fundo, seria a consciência humana —, Husserl,
discordando dessa visão de totalidade, sustentava que consciência não é o fenômeno, não é o
real, mas é aquilo que lhe dá sentido.
A essência do mundo pode ser conhecida por meio de dois processos distintos, a noema e a
noesis. O noema é aquilo de que a consciência está consciente, não é o objeto, mas a percepção
do objeto, o aspecto objetivo da vivência, ou seja, o objeto considerado pela re�exão em seus
diversos modos; já a a noesis é a tomada de consciência do mundo vivido, é o aspecto subjetivo
da vivência: apreensão, compreensão, percepção, lembrança, imaginação etc. (Abbagnano,
2007), ela se encontra no movimento de captura do mundo, no intuir, de forma imediata, aquilo
com o qual nos deparamos no mundo (Martins, 2017), implicando certa passividade por parte do
sujeito para deixar o “objeto lhe falar”, sem especular sobre ele, procurando reduzir a
interferência da própria subjetividade nesse processo (Martins, 2017).
Trata-se de uma atitude parecida, mas não idêntica à atitude do empirista, pois permite avançar,
visto que Husserl não se limita a conhecer o “objeto” empiricamente, descrevendo suas
aparências, uma vez que busca o conhecimento da sua essência. Por isso, quando o “objeto fala”
ao sujeito, confere a ele os predicados que expressam o que ele é em si, em sua essência, ou
seja, fornece a noema. “Assim, a noesis é o ato mesmo de pensar e a noema é o objeto desse
pensamento. Na operação do pensamento não há noesis sem noema. Portanto ninguém pensa
sobre o nada” (Japiassú; Marcondes, 2001, p. 137).
 
Siga em Frente...
Consciência e epoché
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
De acordo com Husserl, a fenomenologia trata da questão das essências, da eidética, e não de
dados, de fato. A redução eidética é a transformação dos fenômenos em essências, também
descrita como redução fenomenológica ou epoché, indicando a transformação dos fenômenos
em representações da realidade.
Husserl entende o caráter intencional da consciência como um movimento que transcende o
objeto, captando-o em sua totalidade, de modo evidente à intuição em função da presença
efetiva desse objeto. Essa noção de objeto não se limita ao aspecto físico, mas estende-se às
formas de categorias, às essências e aos objetos ideais (Abbagnano, 2007), e isso permite ao
sujeito uma consciência das suas próprias experiências por meio da percepção perfeita entre ser
e parecer, embora a intuição permaneça para lá das aparências do objeto externo.
Epoché, em língua grega, signi�ca suspensão do juízo, estado de repouso mental pelo qual nem
a�rmamos nem negamos nada; foi empregado na Grécia antiga pelos céticos para expressar a
sua atitude perante o problema do conhecimento, uma vez que acreditavam que a epoché
proporcionaria o estado de imperturbabilidade e a possibilidade de aprenderem de imediato a
realidade do objeto. Para esses �lósofos céticos da antiguidade, a epoché não tinha apenas um
sentido teórico, mas também prático, pois além de referir-se ao conhecimento do objeto, referia-
se, também, ao conhecimento do bem, especialmente do bem supremo (Mora, 1978).
Esse vocábulo foi retomado por Husserl com os seguintes sentidos: primeiro, signi�ca
suspendermos o juízo perante o conteúdo doutrinal de qualquer dada �loso�a e realizarmos
todas as nossas comprovações dentro dos limites dessa suspensão; segundo, num sentido mais
preciso, signi�ca a mudança radical de uma possível tese natural. De acordo com a tese natural,
a consciência capta o mundo como ele foi, é e sempre será (Mora, 1978).
Alterando essa tese, temos a suspensão do juízo ou a sua colocação entre parênteses, não só
das doutrinas sobre a realidade como também da própria realidade, portanto, o mundo natural
não �ca negado nem se duvida da sua existência, apenas a sua compreensão está suspensa.
Está aí o motivo da epoché fenomenológica não se comparar com a dúvida cartesiana nem com
a suspensão cética do juízo ou a negação sofística da realidade; só assim é possível, segundo
Husserl, constituir a consciência pura ou transcendental como resíduo fenomenológico (Mora,
1978).
O método fenomenológico se compõe de dois momentos: a epoché — quando se isola o objeto
de tudo aquilo que lhe é próprio para conhecê-lo de modo puro (chamado de momento negativo)
— e o momento em que o olhar da inteligência se dirige à própria coisa, nela imerge e a deixa se
manifestar (Mondin, 1981, p. 226).
A preponderância da intencionalidade
Segundo Husserl, a nossa consciência é sempre consciência de algo, de alguma coisa, e traz
consigo uma intencionalidade, e foi justamente essa intencionalidade que se tornou o eixo da
sua metodologia fenomenológica, envolvendo uma descrição pura dos conteúdos da experiência
consciente. Mas isso só é possível se suspendermos a crença no mundo natural e todas as
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
suposições que ela produz para a experiência, pois, desse modo, poderíamos examinar o
conteúdo essencial da experiência e sua estrutura intencional, bem como descrever a intuição
pela mente das essências dos objetos de experiência (Law, 2008).
A fenomenologia é a análise de como se forma, para nós, o campo da nossa experiência, como
sintetizamos em nossa mente tudo aquilo que captamos do mundo externo e, assim, chegamos
à ideia de um objeto uno e idêntico, transcendendo esse mesmo objeto; ela busca mostrar que a
abstração, o juízo e a inferência, entre outros atos mentais, não são empíricos, mas de natureza
intencional, que têm as suas correlações em termos puros da consciência intencional, que, por
sua vez, não apreende os objetos, apreende seus signi�cados e exige uma atitude de suspensão
do mundo natural, colocando “entre parênteses” a crença na realidade do mundo natural e as
proposições a que essa crença dá lugar (Mora, 1978).
Isso não signi�ca negar a realidade do mundo natural como os adeptos do ceticismo, mas
apenas procurar ver a atitude natural sob outro ângulo. Por isso se diz que o método
fenomenológico consiste em examinar todos os conteúdos de consciência, mas não para se
certi�car se são reais ou não, mas o quantos são dados puros da consciência. Daí a necessidade
da suspensão, pois só assim a consciência fenomenológica pode ater-se ao dado enquanto tal e
descrevê-lo na sua pureza.
O dado, na fenomenologia
de Husserl, não é um material que se organiza mediante formas de intuição e categorias, como
na �loso�a transcendental, e nem os dados dos sentidos organizados empiricamente, mas a
correlação da consciência intencional em quenão há conteúdos, somente fenômenos (Mora,
1978).
A consciência carrega sempre consigo uma intenção, sendo por essência determinada pela
intencionalidade, entendida como ato de visar as coisas, atribuindo-lhes signi�cado. O mundo, a
realidade em que estamos imersos, é o correlato intencional da consciência, e a percepção é o
ato intencional da consciência, é a unidade interna e necessária entre o ato e o correlato, entre o
perceber e o percebido, em que o percebido é a sua correspondência intencional. É por isso que,
conhecendo a estrutura intencional ou a essência da consciência, é possível chegar à essência
da percepção ou da imaginação, da memória, da re�exão etc. (Chaui, 2000). 
Vamos Exercitar?
Para revolver a questão proposta, queremos que você perceba e se conscientiza de que, entre as
pessoas dotadas de visão, você é a única no mundo que jamais terá a oportunidade de ver o teu
próprio rosto de modo direto. Você sempre se vê, e verá, re�etido num espelho, numa foto ou
�lmagem, mas nunca se vê, e nem verá, como as outras pessoas te veem, também nunca ouvirá
a tua voz como os outros te ouvem.
Por outro lado, você é a única pessoa que tem acesso direto aos teus pensamentos, sentimentos
e emoções, ou seja, ao teu verdadeiro eu, e essa é uma analogia para mostrar que temos acesso
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
apenas àquilo que aparece, que se mostra, que se manifesta, ou seja, ao fenômeno. Talvez, o
mundo seja bem diferente do modo que o concebemos.
Agora, tentemos estender essa concepção à vida humana em nosso planeta, às nossas
descobertas cientí�cas, às nossas teorias, e, talvez, �que mais claro que o modo como
compreendemos e explicamos o mundo depende muito daquilo que nos é disponibilizado em
nossa mente, e é isso que a fenomenologia busca nos mostrar. 
Saiba mais
Para saber mais sobre o fenômeno enquanto limite do conhecimento, propomos que você leia o
artigo O que é a fenomenologia? Parte I: A Fenomenologia de Husserl, escrito por Pierre
Thévenaz, traduzido por José Olinda Braga e publicado pela Revista da Abordagem Gestáltica.
 Nele, o autor faz uma análise ensaística primorosa acerca das principais ideais da corrente
fenomenológica, de acordo com o pensamento de Edmund Husserl.
Aprofunde os seus conhecimentos de Consciência e epoché lendo o capítulo 3, Fenomenologia,
do livro Tópicos Especiais em Filoso�a Contemporânea. Nele, a autora apresenta, suscintamente,
os pontos mais pertinentes sobre esse assunto.
Para compreender mais a preponderância da intencionalidade, leia o Dossiê 4 do livro
Compreender Husserl. Nele, de�ne-se a intencionalidade como o conjunto de atos perceptivos
que visam e tocam os objetos do mundo de acordo com critério introspectivo da interioridade.
 
 
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de �loso�a. Tradução: Alfredo Bosi. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
CHAUI, M. Convite à �loso�a. São Paulo: Ática, 2000.
DEPRAZ, N. Compreender Husserl. 3. ed. Tradução: Fábio Creder.  São Paulo: Vozes, 2011. 
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
(Coleção Os pensadores).
HUSSERL, E. Investigações lógicas. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672017000200012
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/182445/pdf/0?code=tVioJMSfBxDzla+LIFsxjMMxqC2pJw6SGQfnHiplL/356mi0A+HtPBqtsioAPciGZNh8QVBvu9Uw0VFTOVATYw==
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/203902/epub/0?code=cZRFC8Iz9UAdH9/tIGoeWJifb8S8zLHmGnMIRsWv/MNjQjKc0T8+6V6Z3lM6gM6O63fyBRqfchZXog0LsrTsBQ==
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
KANT, I. Crítica da razão pura. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
LAW, S. Filoso�a: guia ilustrado Zahar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
LOCKE, J. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Nova Cultura, 1999. (Coleção
Os Pensadores).
MONDIN, B. Introdução à �loso�a: problemas, sistemas, autores, obras. 10. ed. São Paulo:
Paulus, 1981.
MORA, J. F. Dicionário de �loso�a. Lisboa: Dom Quixote, 1978.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da �loso�a: de Nietzsche à escola de Frankfurt. São Paulo:
Paulus, 2006. v. 6.
SILVA, S. M. Tópicos especiais em �loso�a contemporânea. São Paulo: Contentus, 2020. E-book.
Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br. Acesso em: 07 fev. 2024.
THÉVENAZ, P. O que é a fenomenologia? Parte I, a fenomenologia de Husserl. Tradução: José
Olinda Braga.  Revista da Abordagem Gestáltica, Goiânia, v. 23, n. 2, p. 246-256, ago. 2017.
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
68672017000200012. Acesso em: 29 abr. 2024. 
Aula 4
O Existencialismo
O existencialismo
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Olá, estudante! Nesta videoaula, você vai saber mais sobre os principais �lósofos ligados à
corrente existencialista, quais sejam: Schopenhauer, Kierkegaard, Nietzsche, Heidegger e Sartre.
O nosso intuito é que você conheça as diferentes interpretações de mundo conforme a visão
dessas que estão entre as principais correntes de pensamento.
Este conteúdo é importante para o desenvolvimento da tua capacidade crítica diante da
realidade.
Vamos lá!
Ponto de Partida
Estamos chegando ao �nal das nossas re�exões �losó�cas e queremos que você conheça mais
uma importante corrente �losó�ca do século XX, o Existencialismo. Você vai conhecer as ideias
de alguns dos principais �lósofos existencialistas, como Arthur Schopenhauer (1788-1860),
Søren Kierkegaard (1813-1855), Friedrich Nietzsche (1844-1900), Martin Heidegger (1889-1976) e
Jean-Paul Sartre (1905-1980).
Propomos que conheçamos essa corrente �losó�ca buscando elementos que nos permitam
entender melhor a seguinte situação: em seu livro Como Vejo o Mundo, Albert Einstein diz “Ainda
jovem, �quei impressionado pela máxima de Schopenhauer: ‘O homem pode, é certo, fazer o que
quer, mas não pode querer o que quer’; e hoje, diante do espetáculo aterrador das injustiças
humanas, esta moral me tranquiliza e me educa. Aprendo a tolerar aquilo que me faz sofrer”
(Einstein, 1981, p. 10).
Que essa re�exão �losó�ca seja mais uma a contribuir com o teu senso crítico e agregue
elementos que lhe permitam compreender melhor o mundo em que vivemos! 
Vamos Começar!
Os gregos acreditavam em destino, que vínhamos ao mundo com a nossa vida já prede�nida e
que até os deuses estavam sujeitos a isso; já o cristianismo sustenta a crença de que nascemos
com uma essência, somos �lhos de Deus e, portanto, a essência precede a existência. Mas uma
corrente �losó�ca contemporânea, o existencialismo, a�rma o contrário: a existência precede a
essência, ou seja, nascemos e, a partir disso, escolhemos o que seremos.
Schopenhauer e Kierkegaard
Há quem não considere Arthur Schopenhauer um existencialista, mas, certamente, é um dos
�lósofos que lançou as bases para que o existencialismo se tornasse possível. Ele re�etiu sobre
a vida concreta, contrapondo-se a Hegel, que privilegiava o espírito.
Schopenhauer tinha grande consideração por Kant e aceitou a divisão da realidade em númeno e
fenômeno, mas discordou de Kant ao postular que é possível o conhecimento do númeno, o qual
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
seria, para ele, a vontade. Segundo ele, seria possível termos acesso ao númeno a partir de
dentro, por meio da vontade, uma força, uma energia que tudo controla. Trata-se da única força
subjacente à totalidade do mundo fenomênico, logo, o universo é um grande impulso cósmico
para a existência manifestadaem seres conscientes particulares (Law, 2008).
Para Schopenhauer, é a vontade que cria em nós desejos insaciáveis, diante dos quais nos
mostramos sempre insatisfeitos e sem o domínio sobre as nossas próprias vidas. Segundo ele,
haveria duas saídas para as nossas insatisfações: (1) fugir deste mundo caótico pela arte, a qual
nos permite uma experiência transformadora e um alívio do sofrimento, e a música, por sua vez,
é vista como um exercício de metafísica, em que a alma não percebe que está �losofando
(Schopenhauer, 2005), ou (2) fugir deste mundo pela ascese, um recurso para se suplantar,
superar os desejos por meio da abnegação, do desprendimento. “Tudo no mundo é vontade,
desejo daquilo que não se possui; logo, a humanidade está entregue a uma dor permanente
nascida da insatisfação dos desejos” (Mondin, 1981, p. 236). E a melhor imagem do pessimismo
de Schopenhauer talvez seja a de�nição de WELT (mundo, em alemão) cujo acrônimo é: weh
(desgosto), elend (desgraça), leid (sofrimento) e tod (morte) (Law, 2008).
Outro �lósofo na base do existencialismo foi Kierkegaard, para o qual não somos responsáveis
por nossas vidas, mas, sim, meros joguetes nas mãos do destino. A única maneira de driblar o
destino é buscando uma vida de modo profundo e sincero, o que nos conduz para a vida ética,
em que a principal tarefa é fazer a opção (Strathern, 1999). A melhor maneira de se fazer isso,
segundo Kierkegaard, encontra-se no cristianismo.
Em 1848, Kierkegaard teve uma experiência religiosa e concluiu que só Deus poderia protegê-lo
de uma preocupação excessiva consigo mesmo, e, em sua opinião, toda a existência humana
opõe-se a Deus (Kierkegaard, 1979); ele a�rmou ser impossível entender a existência de forma
intelectual e que o homem se desespera quando se identi�ca com algo exterior a ele, �cando à
mercê do destino. Por não alcançar o seu eu ambicioso, nasce um vazio interior acompanhado
de uma vontade inconsciente de morrer, e só se escapa desse desespero caso se opte pelo seu
próprio eu.
Kierkegaard foi o primeiro pensador a colocar o problema da angústia na pauta dos problemas
que mereciam ser tratados como sendo de grande importância, além de ter sido o responsável
pela reviravolta que a �loso�a contemporânea deu retornando à questão antropológica,
sobretudo existencial. As suas ideias foram desenvolvidas por Husserl e Heidegger, originando o
existencialismo, que atingiu seu ponto alto com Sartre. O termo existencialismo não foi muito
bem aceito entre os �lósofos, e foi Sartre, no começo de 1940, desprovido de escrúpulo — pois,
naquela época, era pejorativo ser rotulado de existencialista, uma vez que eram considerados
super�ciais —, o primeiro a aceitar ser chamado de existencialista.
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Nietzsche
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Nietzsche discorda de Schopenhauer e a�rma que não se deve buscar o aniquilamento da
vontade, mas, sim, a a�rmação de si mesmo contra qualquer obstáculo, bem como fazer a nossa
vontade prevalecer, ser forte e vivermos as nossas potencialidades intensamente.
O pensamento de Nietzsche assenta seus fundamentos na compreensão de que a realidade é
composta de uma explosão de forças desordenadas. Diante dessa explosão de potência, que
não pode ser refreada por nenhuma lei da razão, pode-se assumir uma dupla atitude: a de
fraqueza, como os rebanhos, ou a atitude de força e poder, como um übermensch (homem
superior). Os rebanhos, diante da potência desregrada da natureza, inventaram a religião. A ética
do homem superior é o triunfo da própria personalidade, além do bem e do mal, desde que se
a�rme sobre os outros (Mondin, 1981).
As a�rmações “Deus está morto!” (Gott ist tot, em alemão) e “Quem o matou fomos nós!”
(Nietzsche, 2012, p. 129), usadas por Nietzsche, não se referem, obviamente, à morte de Jesus,
tampouco, ao ateísmo nietzschiano, mas querem, sobretudo, indicar que Nietzsche constatou
que, na sociedade e na cultura em que ele se encontrava, o fundamento da realidade ou o sentido
da vida já não estava mais sendo dado ou não devia mais ser buscado em algo transcendente e,
sim, na a�rmação de si, na con�ança em suas capacidades e potencialidades, superando a si
mesmo; por isso a ideia de übermensch é a ideia de superação.
Talvez o grande mérito de Nietzsche tenha sido o de questionar, como ninguém, as estruturas da
sociedade e o modo de vida de seus contemporâneos, sobretudo a ética do comodismo e da
resignação. Segundo ele, é preciso �losofar com o martelo, ou seja, ir quebrando, estilhaçando
conceitos mal formulados ou formulados de antemão, o que ele chamava de preconceito ou pré-
juízo. E isso ele fez com um estilo literário único, algo meio próximo de tons proféticos,
denunciando o modo de vida vigente. Para ele, tanto Sócrates quanto Platão e o cristianismo nos
�zeram muito mal ao nos ensinar que é preciso sofrer com paciência; ele defendia o contrário,
que é preciso viver intensamente, vibrar com a vida e desfrutar tudo o que ela tem a nos oferecer,
dando vazão à vontade de potência.
De acordo com Nietzsche, o homem não deve temer nada e deve amar tudo o que lhe ocorre,
atitude descrita por amor fati, uma expressão latina usada como fórmula para a grandeza do
homem e que signi�ca: não querer nada de diferente do que se é, nem no futuro,
nem no passado, nem por toda a eternidade. Não só suportar o que é necessário, mas amá-lo:
essa fórmula exprime a atitude própria do homem superior e a natureza do espírito dionisíaco
enquanto aceitação integral e entusiástica da vida em todos os seus aspectos, mesmo nos
mais desconcertantes, tristes e cruéis (Abbagnano, 2007).
Heidegger e Sartre
Martin Heidegger é considerado por muitos o fundador do existencialismo, embora se negasse
ser um existencialista. Ele foi encaminhado, por sua família, para ser um sacerdote, mas acabou
optando pela Filoso�a, ao que parece, por in�uência de Husserl, de quem foi aluno. Tem-se a
impressão de que compreendemos melhor a �loso�a heideggeriana se levarmos em conta o
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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
contexto em que ela se desenvolveu, em uma Alemanha envolta em guerra, morte e medo, logo, a
questão era: como compreender o ser diante de tanta estupidez e brutalidade?
O conceito de ser é universal e, talvez, em função disso, é, também, vazio de sentido e muito
difícil de ser de�nido; ele está presente em tudo e, ao mesmo tempo, esconde-se, assim, a única
maneira de abordá-lo é recorrendo ao ser de algum ente particular. Desse modo, Heidegger
desenvolveu uma �loso�a voltada para os problemas concretos da vida e para a angústia
humana diante da existência, ou seja, ele buscou aplicar o método fenomenológico ao estudo do
ser; à medida que o seu estudo “parte do homem de fato, deixa que ele se manifeste tal qual é e
procura compreender a sua manifestação” (Mondin, 1983, p. 188).
Entre os seres existentes, o homem tem primazia, pois é o único com possibilidades de
compreender o ser e o único capaz de determinação, haja vista que não está totalmente preso
em sua situação, mas é capaz de se tornar algo novo, algo diferente por meio dos seus ideais,
planos e possibilidades. O homem tem a possibilidade de ser ou não ser ele mesmo e, assim, a
essência do homem consiste na sua existência. Além disto, o homem é único ser que pode
projetar o futuro, tendo consciência do seu passado e vivendo o presente, portanto, o elemento
temporalidade é a essência com a existência humana.
Sendo o homem um ser-no-mundo com possibilidades de se projetar (existência), abre-se diante
dele a opção de levar uma vida autêntica ou inautêntica, banal. Na vida autêntica, o homem
assume a própria vida e a conduz por si; na vida inautêntica, o homem se deixa levar pela
situação e é conduzido pela massa; não é senhor de si. Quem leva vida autêntica e se projeta no
futuro sabe que a última possibilidade será a morte, a qual também deverá ser levada em
consideração, pois representa o término desta existência. A morte é presença constante para o
ser humano e se faz presente desde que se inicia a existência,mas ao adquirir consciência da
morte, o homem cai na angústia.
Por �m, um dos maiores nomes do existencialismo foi Jean-Paul Sartre, que estabeleceu uma
radical distinção entre matéria física e consciência, sendo esta caracterizada por sua liberdade.
Dizia ele que, seja qual for a nossa situação, somos livres
para negá-la, para imaginar as coisas de outro modo e nos empenhar para mudá-las (Law, 2008).
Para os �lósofos antigos, tudo no mundo tem uma �nalidade, um propósito, ou seja, tudo tem
uma essência, uma razão de ser, pois a natureza não faz nada em vão, e isso signi�ca que o
homem também tem uma essência e que ela já existe mesmo antes de o homem existir.
Sartre, porém, não concordava com essa ideia e dizia que o homem é totalmente livre e deve
assumir a responsabilidade pelo que faz e pelo que se torna; desse modo, segundo ele, no caso
do homem, a existência precede a essência; temos de criar um propósito, estabelecer uma
essência para nós mesmos. Dizia ele que o homem primeiro surge no mundo, existe, descobre-se
ou se percebe e só depois de�ne o que vai ser, não importando tanto o que os homens são, mas
o que eles podem se tornar.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Ao abordar a questão do ser, o qual Sartre denominou de ser-em-si, para distingui-lo da
consciência (ser-para-si), ele a�rmou que sua característica particular é o absurdo: no absurdo
está a chave da existência de cada coisa, e o homem se diferencia dos outros seres porque tem
a consciência de que é o oposto do ser. Para viver, a consciência necessita nuli�car o ser na
medida em que, por sua natureza, é o não-ser, o vazio, o nada. O dado constitutivo essencial dos
seres humanos não é a consciência, mas a liberdade sem limites e não vinculada a nenhuma lei
moral (Mondin, 1981). Não há nada, portanto, que de�na a existência humana; estando o homem
condenado a ser livre, e com base nessa liberdade, necessita construir a si mesmo. 
Vamos Exercitar?
Após conhecermos a corrente �losó�ca existencialista, devemos ter elementos su�cientes para
entender melhor e explicar a frase de Schopenhauer citada por Einstein (“O homem pode fazer o
que quer, mas não pode querer o que quer”).
Possivelmente, num primeiro momento, pode parecer que a frase seja contraditória, sobretudo o
seu �nal “não pode querer o que quer”, pois, se alguém quer, como pode não querer o que quer?
Essa proposta tem a ver com a questão da liberdade, ou seja, o homem tem liberdade de ação
(pode fazer o que quer, pois fazer é ação), mas não tem liberdade da vontade (não pode querer o
que quer, querer é vontade).
Há pressupostos que antecedem as nossas escolhas, tais como o contexto em que nascemos e
somos educados, a época em que vivemos, a língua que falamos (a qual limita o nosso léxico
verbal), a presença ou não de religiosidade ou espiritualidade em nossas vidas, a nossa situação
material/�nanceira... en�m, somos plasmados por forças externas que independem de nós, mas
nos impactam signi�cativamente.
Poderíamos aprofundar essa questão perguntando-nos se Sartre concordaria que não temos
liberdade da vontade. Lembremos que, para Sartre, o homem está condenado a ser livre, e se
está condenado, não tem liberdade para escolher não ser livre — o que parece um paradoxo, pois,
ao mesmo tempo, isso o torna livre e não livre, ou seja, com outras palavras, Sartre pode ter dito
o mesmo que disse Schopenhauer, mas também pode ter dito o seu contrário. Fica a re�exão! 
Saiba mais
Para saber mais sobre Schopenhauer, leia Schopenhauer: o saber do corpo (a partir da página
177), do livro A Aventura da Filoso�a: de Parmênides a Nietzsche. Nele, o autor apresenta os
principais pontos do pensamento de Schopenhauer. Já para saber mais sobre Kierkegaard, leia A
nona lição: existência, do livro 10 Lições sobre Kierkegaard. Nele, é apresentada a concepção de
Kierkegaard acerca da existência.
Aprofunde os seus conhecimentos de Nietzsche lendo o artigo Notas sobre a dinâmica dos
impulsos em Nietzsche, escrito por Bruno Martins Machado. Nele, são apresentadas as
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788520443408/pageid/0
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/204144/epub/0?code=GgaMxjki44r89ZwUIL0f0P3hU6QC1N9QGpacZUsni75qrSG41Z7cFYG33ThDSOq92Q8POAhpHnKiFBSsM4mYJg==
https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/14543
https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/14543
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
principais ideias de Nietzsche sobre o embate entre impulso e razão.
Conheça melhor o pensamento de Heidegger lendo Oitava Lição: A Angústia e a Descoberta de
Si-Próprio, do livro 10 Lições sobre Heidegger. A partir dele, você poderá entender melhor o
conceito de ser para Heidegger. Já para conhecer melhor o pensamento de Sartre, leia, no tópico
III, Os meios de agir: agir para existir livremente, o subtítulo Saborear a alegria da autenticidade,
do livro Ser Livre com Sartre. Nessa leitura, você conhecerá a concepção que Sartre tinha de uma
vida livre e autêntica. 
 
 
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de �loso�a. Tradução: Alfredo. Bosi. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
ALLOUCHE, F. Ser livre com Sartre. São Paulo: Vozes, 2019. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/202016. Acesso em: 7 fev. 2024.
EINSTEIN, A. Como vejo o mundo. 23. ed. Tradução: H. P. Andrade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1981.
GHIRALDELLI JR., P. A aventura da �loso�a: de parmênides a Nietzsche. Barueri: Manole, 2010.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520443408/. Acesso em:
7 fev. 2024.
KIERKEGAARD, S. A. Temor e tremor. Tradução: Carlos Grifo; Maria José J. Marinho; Adolfo
Casais Monteiro. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Coleção Os Pensadores).
LAW, S. Filoso�a: guia ilustrado Zahar. Tradução: M. L. X. A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2008.
MERTENS, R. S. K. 10 lições sobre Heidegger. São Paulo: Vozes, 2015. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/49025.  Acesso em: 7 fev. 2024.
MONDIN, B. Curso de �loso�a: os �lósofos do ocidente. 8. ed. Tradução: Benoni Lemos. São
Paulo: Paulus, 1983. v. 3.
MONDIN, B. Introdução à �loso�a: problemas, sistemas, autores, obras. 10. ed. Tradução: J.
Renard. São Paulo: Paulus, 1981.
NIETZSCHE, F. W. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/49025/pdf/0?code=kh166PKMMVTpclHX/MzmgsGDBhfeQmWsX9u6dXOVaD/BRwNgP5dLOv3k3tqwIsqOheDTxkHrZl2VuLgjbtFlAg==
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/202016/epub/0?code=iN46esYqp/Co8JNvLiWUNnf7IxqRYaunqRqfdCHQVSCP2RqVaLHAICAnj7hg/itq2nAamZhtj1fFmS3ZnRIv2g==
https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/202016
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520443408/
https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/49025
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e representação. São Paulo: Editora Unesp, 2005.
STRATHERN, P. Kierkegaard (1813-1855) em 90 minutos. Tradução: Marcus Penchel. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1999. 
Aula 5
Encerramento da Unidade
Videoaula de Encerramento
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Dica para você
Aproveite o acesso para baixar os slides do vídeo, isso pode deixar sua
aprendizagem ainda mais completa.
Olá, estudante! Nesta videoaula, você conhecerá algumas das preocupações e contribuições da
Filoso�a em diferentes épocas, indo do helenismo, passando pela questão dos universais e
chegando à fenomenologia e ao existencialismo. Desse modo, você terá contato com diferentes
interpretações de mundo conforme a visão das principais correntes de pensamento.
Este conteúdo é importante para que você se aproprie do legado �losó�co para a compreensão e
estruturação do mundo da vida.
Vamos lá!
Ponto de Chegada
Agora você deve estar em melhores condiçõesde identi�car as diferentes interpretações de
mundo e as contribuições de algumas correntes de pensamento, pois conhece como foram se
desenvolvendo tais interpretações à luz das correntes aqui abordadas: o helenismo, na Idade
Antiga; a Questão dos Universais, na Idade Média; a fenomenologia e o existencialismo, na
contemporaneidade.
Vamos, então, consolidar o nosso conhecimento tomando para a nossa base de compreensão a
seguinte frase de Albert Einstein: “Aquele que considera a sua vida e a dos outros sem qualquer
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
sentido é fundamentalmente infeliz, pois não tem motivo algum para viver” (Einstein, 1981, p. 13),
e guarde essa frase, pois a ela vamos contrapor outra de um importante �lósofo contemporâneo.
Comecemos lembrando que as questões sobre a felicidade e o sentido da vida, às quais Einstein
se refere, ocupam o cenário re�exivo do Helenismo, fazendo com que tanto a corrente epicurista
quanto a estoica apresentem as suas contribuições acerca do modo como podemos alcançá-las;
além disso, por se tratar de conceitos abstratos e genéricos, essas questões cabem, também, na
querela dos Universais, assim como acabam se fazendo bastante presentes tanto na re�exão
fenomenológica (sobretudo na questão da busca da essência e da necessidade de epoché, por
uma ausência de sentido previamente atribuído à vida) quanto na existencialista (no tocante à
questão de escolha livre daquilo que devemos nos tornar), dando-nos, assim, condições
su�cientes para nos posicionarmos criticamente (leia-se: com critérios) sobre elas.
Re�ita
Leia o texto a seguir
A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas
estão sob nosso controle e outras não. Só depois de aceitar essa regra fundamental e aprender
a distinguir entre o que podemos e o que não podemos controlar é que a tranquilidade interior e
a e�cácia tornam-se possíveis. Mantenha sua atenção inteiramente concentrada no que de fato
lhe compete e tenha sempre em mente que aquilo que pertence aos outros é problema deles,
não seu. Se agir assim, estará imune a coações e ninguém o poderá reprimir; será
verdadeiramente livre e e�ciente em suas ações, pois seus esforços serão canalizados para
boas atividades e não desperdiçados em críticas ou confronto com outras pessoas (Epicteto,
2018).
Epicteto (55 d.C. – 135 d.C.), pensador grego, nasceu e viveu parte da sua vida como escravo,
tornou-se professor e �cou conhecido na história da �loso�a pelas lições de como viver bem e
como desenvolver qualidades morais. Diante disso, com base no texto e nos conhecimentos
sobre esse �lósofo, discorra sobre como o estoicismo de Epicteto fundamenta a vida
virtuosamente plena e feliz. 
Leia o texto a seguir
O �lósofo, repito, não fabrica os instrumentos necessários às necessidades correntes, logo, por
que atribuir-lhe uma atividade tão subalterna quando ele, na realidade, é um “artista da vida”?
As outras artes, aliás, também estão sob o seu domínio, e se é a �loso�a que governa a nossa
vida, deve também ela governar os acessórios da nossa vida; o seu �m supremo, porém, é
determinar em que consiste a felicidade e em guiar-nos pela via que conduz a esse �m. A sua
tarefa é distinguir os males reais dos males aparentes; é libertar os espíritos de vãs ilusões; é
instilar neles uma grandeza efetiva e reprimir as exageradas aparências derivadas de juízos
fúteis; é evitar toda e qualquer confusão entre grandeza real e presunção; é, em suma, facultar-
nos o conhecimento da natureza, inclusive da natureza da própria �loso�a (Sêneca, 2004).
Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) foi um intelectual e político do Império Romano, notável pelos seus
escritos sobre a vida, a morte e a felicidade. Diante disso, com base no texto e nos
conhecimentos sobre Sêneca, discorra sobre o propósito estoico de sua �loso�a. 
Leia os excertos a seguir
I. “O levante dos escravos na moral começa quando o ressentimento se torna criador e gera
valores. [...] a moral de escravos precisa sempre de um mundo oposto e exterior [...] – sua ação
é por reação. [...] o homem do ressentimento não é franco nem ingênuo, nem mesmo honesto e
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
direto consigo mesmo. Sua alma se enviesa: [...] tudo o que é escondido lhe apraz como seu
mundo, sua segurança, seu refrigério; ele entende de calar, de não esquecer, de esperar, de
provisoriamente apequenar-se, humilhar-se.”
II. “O inverso é o caso da maneira nobre de valoração: ela age e cresce espontânea, procura por
seu oposto somente para, ainda com mais gratidão, ainda com mais júbilo dizer sim a si
própria. [...] como homens plenos, sobrecarregados de força e, em consequência,
necessariamente ativos, não sabiam separar da felicidade o agir – o estar em atividade é por
eles incluído e computado, com necessidade, na felicidade” (Nietzsche, 1997, p. 265-266).
De acordo com os excertos e os seus conhecimentos, explique qual espécie de moral, segundo
a concepção nietzschiana, está expressa em cada um dos excertos e quais são as suas
características.
É Hora de Praticar!
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Queremos que você contraponha à frase de Einstein (“Aquele que considera a sua vida e a dos
outros sem qualquer sentido é fundamentalmente infeliz, pois não tem motivo algum para viver”)
a seguinte frase de Nietzsche: “no fato de o ideal ascético haver signi�cado tanto para o homem,
se expressa o dado fundamental da vontade humana, [...]: ele precisa de um objetivo e preferirá
ainda querer o nada a nada querer” (Nietzsche, 2007, p 96, grifo do autor).
Tendo por base as correntes �losó�cas com as principais contribuições que você agora conhece,
tome as duas frases e encontre nelas pontos convergentes e divergentes. 
As duas frases se mostram bem alinhadas ao pensamento helenístico à medida que denotam a
necessidade do estabelecimento �rme de um ideal a ser alcançado, pois é preciso ter clareza
sobre o que se quer para saber onde chegar.
A frase de Einstein parece indicar que a vida, não só individualmente (“a sua e a dos outros”), tem
um sentido e que cabe ao homem descobrir qual é; já na frase de Nietzsche, o homem precisa
atribuir um sentido (“ele precisa de um objetivo”). Enquanto Einstein estaria valorizando o
sentido, Nietzsche estaria valorizando a atribuição de sentido. Nietzsche se alinha mais à
Fenomenologia, a qual leva em conta a intencionalidade, e ao existencialismo, em que a
liberdade reclama que a existência preceda a essência.
Einstein se afasta do existencialismo quando propõe: “o espírito cientí�co, fortemente armado
com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica. Ela se distingue da crença das
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
multidões ingênuas que consideram Deus um Ser de quem esperam benignidade e do qual
temem o castigo” (1981, p. 23).
Nietzsche, por sua vez, responde com o seguinte texto: 
Esse homem do futuro, que nos salvará não só do ideal vigente, como daquilo que
dele forçosamente nasceria, do grande nojo, da vontade de nada, do niilismo, esse
toque de sino do meio-dia e da grande decisão, que torna novamente livre a vontade,
que devolve à terra sua �nalidade e ao homem sua esperança, esse anticristão e
antiniilista, esse vencedor de Deus e do nada - ele tem que vir um dia...” (Nietzsche,
2007, p. 92, grifo do autor). 
Ou seja, o homem deve enfrentar a realidade, tendo ela sentido ou não, desde que traça um
objetivo.
Lembremos que querer o nada (aqui há um querer) é diferente de nada querer ou não querer
nada (aqui não há um querer), bem como é diferente de não querer mais nada (aqui não há a
necessidade de um querer). Vontade de nada tem o sentido, para Nietzsche, de não querer nada
daquilo que foi, previamente, estabelecido de um modo que você, livremente, não estabeleceria. 
Con�ra a seguir uma síntese de um dos assuntos desta unidade.
Disciplina
INTRODUÇÃOÀ FILOSOFIA
EINSTEIN, A. Como vejo o mundo. 23. ed. Tradução: H. P. Andrade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1981.
Disciplina
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
EPICTETO. A arte de viver: uma nova interpretação de Sharon Lebell. Tradução: Maria Luiza
Newlands da Silveira. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.
NIETZSCHE, F. A genealogia da moral. 2. ed. Tradução: Antonio Carlos Braga. São Paulo: Escala,
2007. (Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal – 20).
NIETZSCHE, F. Genealogia da moral, primeira dissertação. In: OS FILÓSOFOS através dos textos:
de Platão a Sartre. Tradução: Constança Terezinha M. César. São Paulo: Paulus, 1997.
SÊNECA. Cartas a Lucílio. Tradução: J. A. Segurado Campos. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2004.

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