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<p>12.3. Solos, horizontes e camadas</p><p>O solo forma como se fosse a pele do planeta Terra, é a interseção da litosfera, biosfera,</p><p>atmosfera e hidrosfera; é, de certa forma, um fenômeno de superfície e, como tal, variável a</p><p>pequenas distâncias; exige estudo detalhado para ser mais bem compreendido nas suas funções</p><p>dentro das ecorregiões e como sinalizador das propriedades e limitações dos ecossistemas.</p><p>Os solos possuem horizontes ou camadas relativamente homogêneas paralelas à superfície</p><p>(Tabela 12.F). Os horizontes são, em si mesmos, ambientes distintos; o horizonte A, além de ser</p><p>mais influenciado pela atividade biológica, sofre maiores flutuações de temperatura e de água;</p><p>apesar de ser, em geral, mais rico em nutrientes, com frequência não tem água para que esses</p><p>nutrientes sejam absorvidos efetivamente. Os primeiros centímetros do horizonte A podem ser,</p><p>em algumas circunstâncias, a parte mais inóspita do solo para as plantas. Acima do horizonte A,</p><p>algumas vezes, podem acumular-se detritos orgânicos, com diferentes graus de decomposição.</p><p>Tabela 12.F – Horizontes do perfil de solo: algumas características e implicações.</p><p>Horizontes Interpretação</p><p>O Material orgânico acumulado na superfície. Área de intensa atividade</p><p>biológica e muito instável. Tempo de residência bem menor que os outros</p><p>horizontes</p><p>H Material orgânico acumulado sob condições de drenagem deficiente.</p><p>A Mais escuro e mais rico em matéria orgânica. Tende a ser mais bem</p><p>expresso nas áreas mais elevadas, menos quentes ou em áreas com</p><p>deficiência de drenagem. É nele que o contato com a maioria das plantas e</p><p>animais se faz mais intenso. Nele há, em geral, mais raízes, mais</p><p>microrganismos, mais vida.</p><p>E Horizonte que resulta de perdas de argila, ferro, alumínio ou alguma</p><p>combinação deles; em geral diferencia-se do horizonte acima por menor</p><p>teor de matéria orgânica e cores mais claras. Difere do horizonte B</p><p>subjacente: (1) por textura mais grosseira ou (2) cores com valor maior e</p><p>croma menor.</p><p>B É, em geral, o mais argiloso e menos erodível dos horizontes. Se sua</p><p>estrutura é granular, bem expressa, como em alguns Latossolos, é muito</p><p>suscetível à erosão em sulcos. Apesar de chegar até ele um número menor</p><p>de raízes do que no horizonte A, essas poucas raízes, em algumas épocas</p><p>do ano, são as únicas a absorver água e nutrientes.</p><p>C Tende a ser o menos argiloso, mais siltoso, mais erodível e de coloração</p><p>menos homogênea dos horizontes. Dependendo da profundidade em que</p><p>ele se encontra, algumas raízes podem chegar até ele e o que foi dito para</p><p>o horizonte B, a respeito de água e nutrientes, vale aqui também.</p><p>R Rocha fresca, ainda não intemperizada. Ela é impermeável e tende a</p><p>segurar o lençol d'água; as raízes só conseguem penetrar ao longo de</p><p>fraturas. A rocha fresca possui minerais com nutrientes por liberar; essa</p><p>liberação tende a ser maior quanto mais quente for o clima, menor for o</p><p>fragmento da rocha fresca e mais próxima ela estiver da superfície.</p><p>Neste estudo mais detalhado do ambiente alguns símbolos (compostos de letras) foram criados</p><p>para facilitar a descrição e a comunicação entre as pessoas. Esses símbolos, embora possam</p><p>parecer estranhos à primeira vista, não são assim tão complicados. Há, inicialmente, os</p><p>horizontes orgânicos (O, H); horizontes minerais superficiais (A, E); transicionais entre</p><p>horizontes A e B, e A e C; transicionais entre B e A, e B e E; horizontes subsuperficiais B de</p><p>vários tipos; transicionais entre B e C; transicionais entre C e A, C e B, C e R; e a rocha fresca.</p><p>Todos os horizontes podem ser subdivididos; e, o que será visto mais detalhadamente depois,</p><p>adjetivados com sufixos e sinais. A nomenclatura desses horizontes, importantes indicadores</p><p>ambientais, tem sofrido alterações.</p><p>12.4 Horizontes diagnósticos</p><p>As várias combinações de letras maiúsculas dos horizontes com as minúsculas, sufixos e sinais,</p><p>identificam ambientes peculiares; alguns desses ambientes, na forma de camadas ou estratos</p><p>paralelos à superfície, são conhecidos como horizontes diagnósticos (Tabela 12.I).</p><p>Tabela 12.I – Características dos principais horizontes diagnósticos e dos solos onde ocorrem e</p><p>alguns processos pedogenéticos.</p><p>Horizonte Principais Características Principais Solos e Processos Pedogenéticos</p><p>A chernozêmico Essencialmente mineral, espesso, escuro, rico</p><p>em matéria orgânica, com saturação por</p><p>bases> 65 %.</p><p>Nos Chernossolos desenvolvidos em</p><p>pradarias e os originados em superfícies</p><p>geomórficas recentes sobre rochas máficas ou</p><p>calcário, em climas com prolongada estação</p><p>seca.</p><p>A proeminente e</p><p>A húmico</p><p>Semelhantes ao A chernozêmico com</p><p>exceção da saturação por bases que é</p><p>lixiviação.</p><p>Uma evidência indireta disso é a presença de alumínio, requerendo gessagem, mesmo após muitos anos de calagem</p><p>contínua nos cerrados.</p><p>Em LAdx no Espírito Santo, após 13 anos de derrubada da mata e uso com capim-colonião, com queimadas anuais, o solo</p><p>ainda retinha quantidade substancial de nutrientes. Nesse caso, houvesse ligeira inclinação do solo e as perdas de</p><p>nutrientes por erosão laminar seriam muito acentuadas.</p><p>(47) Alumínico – idem alítico, mas Tr</p><p>endurecido. É ácido.</p><p>Espodossolos. Originado pela translocação,</p><p>em solução, de matéria orgânica e/ou</p><p>sesquióxidos do horizonte A para o B.</p><p>B incipiente Estrutura variável; geralmente pouco espesso,</p><p>com minerais primários intemperizáveis,</p><p>iluviação inexpressiva.</p><p>Nos Cambissolos. Moderado</p><p>desenvolvimento do perfil sem atuação</p><p>pedogenética marcante; apenas liberação de</p><p>Fe e Al dos minerais, fragmentação de rocha</p><p>e formação de estrutura.</p><p>Plíntico Cores vermelhas, características de plintita,</p><p>que está em quantidades 15% (por volume),</p><p>em camada de 15 cm de espessura ou mais. A</p><p>plintita endurecida (petroplintita), concreções</p><p>e nódulos, se concentradas, horizonte</p><p>concrecionário; impermeável, endurecida,</p><p>horizonte litoplíntico.</p><p>Nos Plintossolos e solos plínticos. Forma-se</p><p>em locais de restrição temporária à</p><p>percolação de água, devido a ciclos alter-</p><p>nados de redução e precipitação do ferro,</p><p>formando a plintita. Essa, ao endurecer, passa</p><p>a petroplintita.</p><p>Glei Cor cinzenta, com ou sem mosqueado,</p><p>encontrado em áreas permanente ou</p><p>intermitentemente encharcadas. Quando</p><p>faltam essas cores (teor ferro muito baixo ou,</p><p>ao contrário, muito alto ou de boa</p><p>cristalinidade de seus compostos), testes</p><p>químicos indicam Fe</p><p>++</p><p>Nos solos hidromórficos gleizados</p><p>(geralmente), onde houve redução de ferro.</p><p>Sulfúrico Horizonte mineral ou orgânico, apresentando</p><p>altas quantidades de enxofre ; pH 0,5 do B (150 cm); ≥ 350 g kg</p><p>-1de argila</p><p>ARGISSOLOS Bt</p><p>Nessa chave repare que Bt que identifica Argissolo (última linha) pode estar presente noutras classes</p><p>(p.e., Chernossolos, Luvissolos); esse Bt, na chave, que identifica Argissolos, é o que sobrou. Exemplo de</p><p>leitura: para ser Organossolos é preciso (1) ≥ 20 cm de hístico sobre rocha, contínua ou fragmentada,</p><p>(cascalhos etc.) ocupando ≥ 90 % do volume; ou (2) ≥ 40 cm de hístico contínuo ou cumulativo nos</p><p>primeiros 80 cm; ou (3) ≥60 cm se ≥ 75 % é de tecidos vegetais mortos (ramos finos, raízes finas, cascas</p><p>de árvores). Símbolos: ≠ = ausente; () em alguma parte; [] em todo o intervalo; / = sequência vertical, por</p><p>exemplo, A/horizonte vértico</p><p>Repare que o Gleissolo agora é definido com mais precisão. Fala-se em horizonte A sobre glei</p><p>(nos primeiros 150 cm) e na ausência de plintita nos primeiros 200 cm. Diz-se também a</p><p>respeito da espessura do horizonte hístico que é permitida.</p><p>A chave da Tabela 12.K considera o nível de ordem (nível mais elevado). Para</p><p>usar uma chave</p><p>com um nível mais detalhado (subordem), com mais precisão, há necessidade de ainda mais</p><p>detalhes nos elementos decisivos a serem usados: os critérios de identificação.</p><p>12.6 Os critérios de identificação</p><p>No nosso dia-a-dia, a primeira chave de identificação é a disposição dos solos numa paisagem e</p><p>isso pode ser examinado sob várias escalas. Pode-se, por exemplo, ver a paisagem brasileira nos</p><p>seus aspectos fisiográficos gerais, rocha de origem e classes gerais de solos (Tabela 12.L)</p><p>Tabela 12.L – Relações entre aspectos fisiográficos e ocorrência de classes de solos</p><p>Aspectos fisiográficos Classes de solos</p><p>----------------Aspectos gerais do relevo---------------</p><p>Áreas planas e elevadas (chapadas) L, RQ</p><p>Áreas planas e baixas (baixadas, depressões) RY, G,P, C, F, S, T</p><p>Depósitos aluviais (diques) RY</p><p>Depósitos aluviais (brejos) G.O</p><p>Manguezais GJ, GZ, GM, GX</p><p>Restingas RQ, E</p><p>Platôs litorâneos e amazônicos LAdx, LAd, PA, PAC, E, RQ</p><p>Áreas acidentadas com C profundo</p><p>(planaltos)</p><p>L, C</p><p>Áreas acidentadas com C pouco profundo P,C, RL, T, RR</p><p>------------------Rocha de origem---------------</p><p>Máfica (basalto, diabásio), tufitos LVdf, LVwf, LVef, NV, M, C, RR, RL,LB, NB,</p><p>PBAc</p><p>Psamíticas LV, LVA, P, RQ, E, RL</p><p>Pelíticas LE, C, RL, LV, P</p><p>Cristalinas (gnaisse, granito) LV, LVA, LE, PV, PVA, C, RL, T</p><p>Calcários LV, NV, C, MD, MT</p><p>Ferríferas LVj, CXj,RL</p><p>Solos com horizonte B latossólico: L = Latossolos, LA = Latossolos Amarelos, LV = Latossolo Vermelho, LVdf</p><p>=LV distroférrico, LVwf = LV acriférrico, LVef = LV eutroférrico, LVA = Latossolo Vermelho Amarelo, LB =</p><p>Latossolo Bruno, LVj = Latossolo Vermelho perférrico; Solos com B textural ou nítico: P = Argissolos, PA =</p><p>Argissolos Amarelos, PAC = Argissolos Acinzentados, PV = Argissolos Vermelhos, PVA = Argissolos Vermelho</p><p>Amarelos; NV = Nitossolos Vermelhos, NB = Nitossolos Brunos, NX = Nitossolos Háplicos, MT = Chernossolos</p><p>Argilúvicos, T = Luvissolos; Solos com B câmbico: C = Cambissolos, CXj = Cambissolo Háplico perférrico; Solos</p><p>com plintita: F = Plintossolos; Solos com horizonte plânico: S; Solos sem horizonte B: G = Gleissolos, MD =</p><p>Chernossolos Rêndzicos, RL = Neossolos Litólicos, RQ = Neossolos Quartzarênicos, RR = NeossolosRegolíticos;</p><p>Solos com B espódico: E = Espodossolos</p><p>Ao se examinar as informações da Tabela 12.L pode-se perceber, em princípio, dois grandes</p><p>estratos: os planaltos, suaves ou acidentados, e as áreas rebaixadas gerais, grande parte da bacia</p><p>amazônica, baixada maranhense, depressão sertaneja, pantanal mato-grossense, platôs</p><p>litorâneos, planícies litorâneas, pampas do Rio Grande do Sul.</p><p>Nesses estratos algumas leituras podem ser feitas:</p><p>1) As áreas planas e elevadas (L, RQ) têm solos profundos, mais pobres em nutrientes,</p><p>cursos d’água menos flutuantes e baixa densidade de drenagem. Não é incomum (como</p><p>nos Gerais) os cursos d’água estarem a mais de 30 km um do outro. Há forte tendência à</p><p>erosão em sulcos (voçorocas), só minimizada pela topografia plana ou suave e pela</p><p>grande infiltração d’água.</p><p>2) Os platôs litorâneos e amazônicos (LA, PA, PAC, E, RQ) são também planos, mas têm</p><p>baixa permeabilidade, ou, quando alta, por exemplo, RQ, a caixa de armazenamento é</p><p>bem menor do que costuma ser nos planaltos. Os solos não são tão profundos e</p><p>tampouco mantêm os cursos d’água com tanta eficiência. Nos mais argilosos, mesmo</p><p>com pequeno declive há intensa erosão laminar; mas tanto Latossolos quanto Argissolos</p><p>são muito resistentes à erosão em sulcos.</p><p>3) As áreas acidentadas com horizonte C profundo herdam das áreas elevadas e planas</p><p>(chapadas) muitas das características dos solos, exceto pelo relevo, que é acidentado, e</p><p>pela densidade de cursos d’água bem maior; os cursos d’água flutuam um pouco, entre</p><p>as estações, mas bem menos do que na Amazônia, por exemplo.</p><p>4) Nas áreas acidentadas com C pouco profundo a erosão natural é intensa, mas o</p><p>intemperismo também tende a ser intenso. Os solos (P, C, RL, T, RR) tendem a ser</p><p>eutróficos.</p><p>5) Nas partes planas e baixas (NY, G, C, F, S, T e P) quase todos os solos têm algum</p><p>impedimento de drenagem, ainda que ligeiro.Nas áreas brejosas, diques aluviais,</p><p>manguezais, restingas, estão os solos correspondentes. Mesmo os solos de restinga,</p><p>tipicamente arenosos (NQ), estão associados com lençol freático não muito profundo,</p><p>havendo inclusive a presença de alguns relacionados com lençol freático mais elevado.</p><p>Além dessa visão mais geral sobre os solos na paisagem brasileira, pode-se examiná-los num</p><p>nível mais detalhado, representados num bloco diagrama (Figura 12.B).</p><p>Os solos com B latossólico (Bw), os Gleissolos e os Neossolos Flúvicos tendem a ocupar os</p><p>extremos de condições, pontos mais altos (chapadas) e as baixadas.</p><p>Figura 12.B – Espessura do "solum (horizontes A + B) de várias classes de solos.</p><p>Fonte: Resende (1985)</p><p>Os Neossolos Litólicos têm taxa de erosão natural tão pronunciada que não dá para formar</p><p>horizonte B; os Argissolos, com gradiente textural pronunciado, ocupam a paisagem entre</p><p>Latossolos e Cambissolos.</p><p>Talvez a primeira conexão entre a paisagem e uma chave de identificação seja a presença, ou</p><p>não, de horizonte B. Neossolos Litólicos, Gleissolos e Neossolos Flúvicos não têm horizonte B.</p><p>Identificada a presença, ou não, de horizonte B, a sua expressividade ou profundidade requer</p><p>atenção. Nas chapadas ou áreas elevadas e de relevo suave, os solos tendem a ser muito</p><p>profundos; mas, se o relevo for acidentado e não houver afloramentos de rocha, o solo é também</p><p>muito profundo. Esse é o caso típico dos Latossolos acidentados dos mares de morro. Mas,</p><p>conforme já foi discutido, a paisagem de um Latossolo profundo pode, pouco a pouco, ser</p><p>rejuvenescida pelo aprofundamento da linha de drenagem, acelerando a erosão natural, em</p><p>relação ao aprofundamento por intemperismo. Pode-se chegar a um ponto em que o solo,</p><p>regolito, ainda é muito profundo, mas o solum(A + B) é raso e pode ser raso o bastante, e com</p><p>características, para ser um Cambissolo. Nesse caso, frequentemente a cor do horizonte C</p><p>(rósea) pode ser mostrada nos materiais trazidos por térmitas e formigas, sinalizando que o</p><p>horizonte C está logo ali. Numa paisagem como essa não são comuns os Neossolos Litólicos,</p><p>mas ocorrem alguns grandes afloramentos de rocha, muitas vezes na forma de pontões bizarros,</p><p>como ilhas nessa área de solos profundos. Juntos desses afloramentos, localmente, podem ser</p><p>encontrados solos rasos sobre rocha, os Neossolos Litólicos. E esses solos, por serem rasos, não</p><p>armazenam muita água e a vegetação neles é a primeira a secar no período de estiagem. É até</p><p>mesmo curioso que em algumas épocas do ano, cactáceas e bromeliáceas nesses solos pareçam</p><p>mais secas que a vegetação mesofítica dos solos mais profundos das imediações. É assim, um</p><p>ambiente xérico, em plena mata atlântica. E, segundo Raven e Axerold (1975), essas são áreas</p><p>de refúgio, importantes no fluxo genético nas flutuações climáticas. Os solos com B textural</p><p>têm marcante diferenciação de horizontes, eles tendem a estar não muito longe da rocha fresca</p><p>ou semi-intemperizada ou em locais, como sopés de elevações, favoráveis à flutuação de</p><p>umidade que favoreça expansão e contração da massa e formação da estrutura em blocos.</p><p>Nessas condições, a menor infiltração no horizonte subsuperficial e o aumento do fluxo</p><p>superficial tende a diferenciar ainda mais os horizontes. Esse maior fluxo superficial e horizonte</p><p>superficial de textura mais grosseira costuma refletir-se na cor e na microtopografia provocada</p><p>pela infiltração diferenciada criando, ao contrário dos Latossolos e Neossolos Quartzarênicos,</p><p>muitas rupturas na configuração superficial.</p><p>Embora essa paisagem idealizada seja comum, ela é apenas uma das possibilidades; há várias</p><p>outras. Assim, esse critério pode ser eficiente, mas deve ser ajustado conforme o lugar. Por</p><p>exemplo, na Chapada do Apodi,</p><p>Rio Grande do Norte, as diferenças topográficas são muito</p><p>sutis (ERNESTO SOBRINHO, 1980) para diferenciar Cambissolos, Chernossolos, Vertissolos,</p><p>mas a coloração do solo passa a ser muito importante.</p><p>Um mapa de solos (Figura 12.C) é, de certa forma, uma representação da distribuição dos solos</p><p>na paisagem.</p><p>Figura 12.C - Bloco diagrama dos mares de morros, com detalhamento (Neossolos Flúvicos, Gleissolos,</p><p>Cambissolos ou Argissolos Cambissólicos) não representável num mapa de solos mais genérico</p><p>O mapa correspondente ao bloco diagrama mostra que nem tudo está representado (Figura 12.</p><p>C). Os solos das baixadas, por exemplo, não estão representados. Isso é comum e importante.</p><p>Mesmo que haja mapas (e eles são muito úteis) quase sempre a escala não é a de que se precisa.</p><p>Ele costuma ser muito genérico. Nesses casos, as chaves de identificação local podem ajudar a</p><p>suprir essa carência. O fato de os solos de várzeas não terem sido assinalados no mapa pode ser</p><p>suprido por um reconhecimento de campo através de chaves simples, tipo, área ligeiramente</p><p>mais elevada e arenosa na beira do rio (Neossolo Flúvico), área de pior drenagem ao longo do</p><p>rio (Gleissolo), e coisas assim, conforme cada situação.</p><p>Na impossibilidade prática de se fazer levantamentos detalhados de solos (mesmo tendo agora a</p><p>extraordinária ferramenta do georeferenciamento) talvez valesse a pena uma tentativa de uso de</p><p>chaves de identificação local de ambientes. Isso poderia ser uma ponte entre o especialista e o</p><p>usuário,e mais, poderia, quem sabe, servir de instrumental para sistematização das experiências</p><p>no uso de recursos.</p><p>A identificação e separação dos ambientes (por mapas ou chaves) é importante, mas também</p><p>não basta. O próprio ambiente é dinâmico e interativo. O fato de mesmo solos de drenagem</p><p>deficiente (com excesso d’água a maior parte do tempo) poderem ter plantas com estresse</p><p>hídrico, em função do pouco aprofundamento das raízes, mostra parte desse dinamismo. Veja</p><p>esse outro exemplo, agora explorando horizontes A e B, e mostrando a importância de um</p><p>atributo que pode variar conforme o contexto. Isso é ilustrado pela interpretação ecológica de</p><p>solos epiálicos, endoeutróficos, epieutróficos e endoálicos, em diferentes combinações,</p><p>conforme as condições de deficiência de água. (Tabela 12.M, Figura 12D).</p><p>Tabela 12.M – Relação entre distrófico, álico e eutrófico.</p><p>Distrófico Álico Eutrófico</p><p>Bases</p><p>(1)</p><p>50% > 50% 50%</p><p>lençol freático muito elevado (cerca de 10 cm da superfície) e arejamento bastante para se cultivar</p><p>culturas avessas à má drenagem, como mandioca e abacaxi (COUTO et al, 1985). Isso parece indicar dois aspectos</p><p>antagônicos: (1) há deficiência de oxigênio, refreando a decomposição da matéria orgânica e provocando o acúmulo dela;</p><p>(2) há oxigênio o bastante para permitir culturas sensíveis à falta dele, como mandioca, abacaxi etc. Aparentemente o oco</p><p>deixado pelas raízes do buriti (aerênquimas?) favorece o fluxo d’água mais rápido, vindo do rio, com água bem oxigenada</p><p>(a água é límpida e há muitas plantas a grandes profundidades). A difusão do oxigênio na água parada é muito baixa;</p><p>talvez suficiente para as raízes das culturas, mas não para o máximo da atividade decompositora. O abaixamento</p><p>acentuado do lençol freático, por exemplo, por drenagem pode propiciar subsidência e queima do material desses</p><p>Organossolos. Felizmente as condições hidrológicas dos Gerais (solos profundos, cursos d’água muito afastados uns dos</p><p>outros) permitem uma manutenção admirável do nível d’água ao longo do ano, apesar do longo período seco.</p><p>(2) Horizonte sulfúrico e/ou materiais sulfídricos – o enxofre, na forma de sulfeto, exposto a oxidação pode</p><p>eventualmente ser oxidado e formar ácido sulfúrico, abaixando muito o pH do solo e, eventualmente tornar-se um</p><p>verdadeiro “deserto químico”, com muito poucas plantas tolerantes, conforme foi observado em áreas de antigo delta do</p><p>Rio Doce (LANI, 1998). Isso indica um ambiente que deve ser mantido como reserva, embora em alguns países, como</p><p>Guiné-Bissau, em especial pelos Balantas (COSTA; RESENDE, 1994), e Sudeste Asiático sejam usados, especialmente na</p><p>cultura do arroz, a única cultura que permite se evite até certo ponto a secagem do solo, associada a acidificação que se quer</p><p>evitar. Com a acidificação há aumento da solubilidade e toxicidade de alumínio e possivelmente de Fe (III), manganês e íons</p><p>hidrogênio; decréscimo de fosfato, pelas interações com alumínio e ferro; deficiência de nutrientes e salinidade. Mesmo</p><p>quando não há drenagem, alguns problemas existem como toxicidade de Fe (II), de ácido sulfídrico etc.; estresse hídrico pelo</p><p>pouco crescimento de raízes; baixo poder de suporte físico; drenos bloqueados por depósitos de óxidos de ferro; baixa</p><p>atividade microbiológica não liberando nutrientes (DENT, 1986).</p><p>(3) Glei de 0 a50 cm ou mesmo entre 50 e 100 cm, se houver coloração acinzentada acima. A coloração acinzentada ou</p><p>variegada assinala redução química, Fe (III) transformou-se em Fe</p><p>2+</p><p>, e destruição de hematita e goethita. O horizonte glei</p><p>(≥ 15 cm de espessura) é identificado pela presença de Fe</p><p>2+</p><p>(confirmado por corantes ou indicado pelas cores neutras e de</p><p>baixo croma).</p><p>(4) Plintita – Veja Concrecionário e litoplíntico</p><p>(5) Vértico – Veja Esmectita (Em)</p><p>(6) A chernozêmico – Tem altos teores de bases, principalmente cálcio. Geralmente está associado a regiões com estresse</p><p>hídrico acentuado e geralmente, com rochas ricas em cálcio, como calcário, basalto etc. Representa, de certa forma, uma</p><p>otimização do processo de precipitações insuficientes para lixiviar os nutrientes intensamente, mas suficientes para</p><p>permitir considerável adição de matéria orgânica ao solo. Associado tipicamente às Pradarias e Estepes; as grandes áreas</p><p>produtoras de trigo no mundo estão associadas a esses solos (e às condições climáticas pertinentes); no Brasil ocorre sob</p><p>floresta; em particular caducifólia e subcaducifólia, mas tem sido registrado sob caatinga em solos desenvolvidos de</p><p>calcário na Chapada do Apodi.</p><p>(7) Calcário ou cálcico –Veja petrocálcico</p><p>(8) Profundidade</p><p>do Primeiro</p><p>Workshop Internacional de Argilas de Atividade Baixa (First International Workshop on Low Activity Clays) no Brasil,</p><p>em 1977, com a criação do horizonte kandic, deu-se maior importância diagnóstica à mudança textural. Houve uma</p><p>diminuição de ênfase nos argilãs e hoje o Bt, no Brasil, enfatiza (1) o gradiente textural como condição bastante e</p><p>suficiente para identificação; e caso não satisfaça, aí sim, usa-se (2) a cerosidade (conceito mais amplo que argilãs): (a)</p><p>revestimento dos grãos (textura média) ou (b) cerosidade moderada na parte inferior do B se textura média e estrutura</p><p>prismática ou (c) moderada ou mais forte em blocos ou (d) solos com B/A > 1,4 e fragipã antes de 200 cm de</p><p>profundidade.</p><p>(14) Petrocálcico – à semelhança da sequência com plintita concrecionário litoplíntico (petroplíntico), há uma</p><p>sequência relacionada ao carbonato: com carbonato carbonático cálcico petrocálcico. Os dois últimos de cada</p><p>sequência são horizontes com dimensões mínimas. No horizonte concrecionário (≥ 30 cm e ≥ 0,5 do volume), no cálcico</p><p>(≥ 15 cm e ≥ 150 g kg</p><p>-1</p><p>de CaCO3eq. e ≥ 50 g kg</p><p>-1</p><p>do que horizonte subjacente); litoplíntico e petrocálcico são</p><p>consolidados, contínuos, impermeáveis; impedem o aprofundamento de raízes. Material carbonático, horizontes cálcico e</p><p>petrocálcico indicam ambientes de pouca precipitação, lixiviação reduzida, deficiência d'água e acumulação de CaCO3. O</p><p>horizonte petrocálcico na região de Italva, RJ (de que restam fragmentos) provavelmente foi formado sob condições ainda</p><p>mais secas do que as atuais e estariam, nesse caso, em processo de destruição. Isso parece harmônico com a presença de</p><p>espécies tipicamente de caatinga em Baixo Guandu (ES) e de caatinga bem expressiva em Cabo Frio (RJ)</p><p>(15) Duripã – horizontes com cimentação forte, excluindo litoplíntico e petrocálcico. O conceito original de duripã</p><p>referia-se a cimentação por sílica e muito associado a solos vulcânicos (SOIL TAXONOMY). No Brasil usou-se com um</p><p>sentido mais amplo, incluindo ortstein. Acredita-se que compostos de alumínio (aluminossilicatos amorfos hidratados)</p><p>sejam os principais responsáveis pela cimentação; a sílica só seria importante como cimento em solos do subárido</p><p>(ARAÚJO FILHO, 2003). Isso é consistente com a ideia de que para cimentar é preciso primeiro que haja movimentação</p><p>em solução; sílica é solúvel em pH elevado, inarmônico com os solos litorâneos ácidos; alumínio tem solubilidade maior</p><p>em pH baixo e mais alto.</p><p>(16) COLE ≥ 0,06 – é de certa forma, uma tentativa de quantificação da capacidade de expansão ou de contração. Usando</p><p>um método simplificado de estimativa de expansibilidade linear, achou-se, para Vertissolos e Chernossolos Rêndzicos da</p><p>Chapada do Apodi (ERNESTO SOBRINHO, 1980) valores da ordem de 0,1 assinalando a consistência problemática</p><p>desses solos, ricos em esmectita.</p><p>(17) Em - (altos teores de esmectita). Argila que se expande e se contrai com muita facilidade, dando ao solo grandes</p><p>fraturas quando secos, rompendo raízes e acelerando perda de água. Moléculas orgânicas alojam-se entre as camadas</p><p>expandidas, acentuando a cor escura. A expansão e contração são de tal ordem a provocar deslizamento de uma parte</p><p>contra outra no interior do solo, criando superfícies de fricção (slickensides).Podem criar também agregados (peds)</p><p>inclinados, em forma de cunha, e mesmo afetar a superfície, criando um microrrelevo característico, gilgai. Os solos ricos</p><p>em esmectita têm grandes contrastes de permeabilidade. Esmectita quando se expande destrói os poros maiores, reduz</p><p>substancialmente a infiltração. Essa mesma esmectita quando se contrai, ao secar o solo, cria fraturas; às primeiras adições</p><p>de água há grande infiltração, com pronunciado decréscimo a seguir.</p><p>(18) Ebânico - cores escuras, quase pretas, na maior parte do horizonte subsuperficial. Aplicável a Vertissolos e</p><p>Chernossolos. As argilas esmectíticas supostamente interagem com moléculas orgânicas, acentuando a cor escura; assim,</p><p>costuma haver escurecimento, mesmo com teores relativamente baixos de matéria orgânica.</p><p>(19) Espódico - Podzol ou Espodossolo – escuro à superfície (horizonte A), claro em seguida (horizonte E ou antigo A2;</p><p>a cor cinzenta, zola, em russo, que deu nome ao solo) e escuro logo abaixo (horizonte espódico ou B Podzol). São, em</p><p>geral, pobres em nutrientes. Estão associados com as Areias Quartzosas Marinhas (Neossolos Quartzarênicos, também</p><p>pobres), que não possuem essa camada escura em profundidade. Essa movimentação de compostos orgânicos,</p><p>acumulando-se, em parte, nas camadas mais profundas, dá origem à cor escura das águas das restingas. Na realidade a cor</p><p>só é escura vista à distância. A cor é alourada, dada pelos ácidos fúlvicos que atravessam o perfil, vindo alimentar o lençol</p><p>freático (veja Ácido fúlvico). Em todos os casos dessas águas escuras, há a presença de Podzóis nas imediações. Essa é a</p><p>gênese da cor escura do rio Negro da Amazônia e também dos rios do leque do Taquari, no Pantanal. Algumas vezes,</p><p>junto com a matéria orgânica podem ser depositados óxidos de ferro, dando uma coloração avermelhada e até um</p><p>endurecimento e impermeabilização, podendo manter lençol freático suspenso. O comum, no entanto, é a ausência dessa</p><p>camada endurecida.</p><p>(20) Bh e Bhm – (Horizonte espódico). Subsuperficie escura, indicando que houve movimentação de matéria orgânica e</p><p>alumínio, pouca ou nenhuma evidência de ferro. O material orgânico, em geral, não reveste os grãos, mas ocorrem como</p><p>grânulos isolados. É muito provável que a ausência de ferro seja responsável por isso: falta a ponte para manter as</p><p>moléculas orgânicas presas aos grãos. Esse horizonte pode se apresentar cimentado (ortstein).</p><p>(21) Bs e Bsm – (horizonte espódico). Idem Bh e Bhm, mas de cores vivas, croma alto, dado pela presença de ferro. Há</p><p>pouca evidência de matéria orgânica a não ser localmente. A movimentação de ferro só tende a ocorrer quando há pouco</p><p>dele; e a de matéria orgânica, talvez pela forte ligação existente entre eles, só ocorre expressivamente quando há pouco</p><p>ferro no material arenoso. Assim, talvez antes do processo de formação desses horizontes deve haver um processo de</p><p>empobrecimento de ferro para que os compostos orgânicos se movimentem. E como se sabe, nem todo composto orgânico</p><p>para no horizonte espódico: parte segue perfil abaixo e acaba colorindo as águas dos cursos com a coloração escura (vista</p><p>de longe) e cor de chá ou aloirada (fúlvica) dos ácidos fúlvicos, vista de perto. Os ortsteins, endurecidos e impermeáveis,</p><p>podem manter lençol freático elevado; impedir aprofundamento de raízes.</p><p>(22) Plânico – tipo especial de B textural, com transição abrúptica para o horizonte suprajacente (A ou E) mais arenoso. Tende a</p><p>ter cores acinzentadas ou escurecidas, às vezes com cores de redução. É pouco permeável e dificulta sobremaneira a penetração</p><p>de raízes. Esses são solos potencialmente salinizáveis, se colocados sob irrigação; por outro lado, as variedades com horizonte</p><p>superiores arenosos (arênico e espessarênico) mais pronunciados podem melhorar sobremaneira o ambiente para as plantas.</p><p>(23) Sódico - (saturação por sódio > 15 %), O sódio dispersa as argilas, dando uma estrutura compacta, dificultando em grau</p><p>extremo a penetração de água e raízes. O pH muito elevado, pH > 8,4, dificulta também a absorção de vários nutrientes.</p><p>(24) Sálico – quanto à concentração de sais pode ser salino (≥ 4 a</p><p>e hístico,</p><p>em geral) e riqueza em bases (A chernozêmico). Isso, de certa forma, lembra o papel dos fatores locais na gênese desses</p><p>solos. Eles têm em comum as condições de deficiência de drenagem, mas com grande variação noutros aspectos.</p><p>(26) Bw - (Horizonte B latossólico). Profundos, em geral porosos, mesmo quando muito argilosos, pobres em nutrientes;</p><p>muito espaço para penetração de raízes e água. A presença de gibbsita (indicada por valores baixos de Ki, quando Ki =</p><p>0,75, % gibbsita = % caulinita), mesmo em pequenas quantidades, favorece essa estrutura esponjosa (pó-de-café); aqueles</p><p>com pouca gibbsita, como os Latossolos Amarelos (Área Costeira e Amazônica: Ki > 1,5 e % Fe2O3 1,5 e % Fe2O3 variável, indo até > 25 %), têm estrutura mais compacta</p><p>quando secos.</p><p>(27) Subtropical de altitude - Os solos desses ambientes no Brasil tendem a ser ácidos, álicos, com teores substanciais de</p><p>vermiculita cloritizada (vermiculita com hidróxido de alumínio entre camadas); os solos fraturam-se quando secos, têm</p><p>permeabilidade restringida, mesmo quando classificados como Latossolos. Essa mineralogia peculiar, associada ao teor de</p><p>argila, imprime ao solo como que características antagônicas: quimicamente como solos de argila de baixa atividade,</p><p>fisicamente como de argilas mais ativas.</p><p>(28) Bruno – matizes ≥ 4YR, valor ≤ 4 e croma 7,5YR) – indica goethita na fração argila, com praticamente ausência de hematita; a</p><p>xantização (amarelecimento do solo) não é ilimitada. Altos teores de ferro, arranjo da hematita em volta dos grãos de areia</p><p>e cristalinidade da hematita podem resistir a esse processo. Assim, solos dessa cor indicam condições favoráveis à</p><p>xantização: não necessariamente todas elas. Os solos dos platôs litorâneos e amazônicos, relacionados com o Grupo</p><p>Barreiras, tendem a ter essas cores, no entanto, esses mesmos solos logo se avermelham com profundidade. As condições</p><p>pedobioclimáticas (áreas pluviosas), solos planos de drenagem não tão acentuada (como muitos outros Latossolos), e</p><p>sobretudo os baixos teores de ferro devem favorecer a xantização. A presença de horizontes avermelhados próximos à</p><p>superfície ou mesmo a presença de Latossolos Vermelhos em alguns locais dos tabuleiros (ACHÁ PANOSO et al., 1978;</p><p>FABRIS et al, 1985) sugerem que a hematita desses sistemas, embora em pequena quantidade, resista bastante ao processo</p><p>de xantização. Os sedimentos originais do que seria depois o Grupo Barreiras provavelmente deveriam ser amarelos,</p><p>goethíticos. A hematita formou-se depois, por diagênese. Essa hematita gerada por diagênese (em oposição à pedogênica)</p><p>tem melhor cristalinidade, maior tamanho e costuma estar justaposta à superfície de silicatos (quartzo, geralmente); isso</p><p>lhe dá uma proteção especial, é como se reduzisse a exposição à metade; e, assim, os solos originados de rochas com essa</p><p>hematita permanecem vermelhos por mais tempo a resistir à xantização.</p><p>(30) Vermelho (≤ 2,5YR) - essa cor dada pela presença de hematita indica altos teores de ferro se o clima for muito</p><p>úmido; teores altos ou intermediários de ferro, se o pedoclima for seco ou parcialmente seco, por alguns meses; até solos</p><p>com baixos teores de ferro podem ter essa cor, se houver hematita herdada da rocha original (arenitos e pelitos vermelhos),</p><p>mais resistente.</p><p>(31) Entre 2,5YR e 7,5YR, isto é, > 2,5YR e ≤ 7,5YR – solos dessa cor indicam presença simultânea de goethita e</p><p>hematita. A coexistência desses minerais é muito comum. Nos sistemas pedológicos parece mesmo que a hematita inexiste</p><p>sozinha, sempre está acompanhada ainda que em quantidade diminuta, de alguma goethita; a reciproca é que não é</p><p>verdadeira: há solos só com goethita. Nesses solos aparece mais claramente a influência da matéria orgânica na xantização:</p><p>o solo tende a ser mais vermelho em profundidade.</p><p>(32) Ta - (argila de atividade alta). Material do solo tem expansão-contração acentuada, porém menor do que esmectita; as</p><p>raízes podem ser amassadas e têm dificuldade de penetrar no interior dos blocos (torrões naturais, em destaque quando o</p><p>solo seca). A infiltração de água é reduzida no solo umedecido (expandido), mas pode ser muito alta pelas fraturas nas</p><p>primeiras chuvas. Essa água que se infiltra arrasta partículas da superfície (matéria orgânica, nutrientes, sementes); as</p><p>raízes, que crescem nessas fraturas onde há mais troca gasosa, mesmo depois do solo úmido, ficam num microssítio</p><p>enriquecido, principalmente em fósforo, um elemento privilegiado biologicamente na absorção e, por isso, muito ligado à</p><p>parte orgânica. Atividade de argila 27 cmolc kg</p><p>-1</p><p>de argila define Ta.</p><p>(33) Va -- (saturação por bases alta). Lixiviação reduzida; intemperização acentuadamente maior do que a lixiviação. Nos solos</p><p>com baixa capacidade de troca e ausência de minerais ricos em nutrientes, a absorção e ciclagem de nutrientes das camadas não</p><p>muito profundas suplantam a lixiviação.</p><p>(34) Bi - (Horizonte B incipiente). Espessura ≥ 10 cm (não tem limite máximo). Sem cerosidade e sem gradiente textural</p><p>significativo, isto é, o teor de argila não é muito maior do que aquele do horizonte suprajacente; nisso difere do Bt, pode</p><p>parecer com o Bw, do qual difere por uma das 4 razões seguintes: i) ter minerais ricos em nutrientes; ii) ter argila com maior</p><p>atividade; iii) apresentar maior evidência de rocha e/ou estrutura da rocha; iv) relação silte/argila ≥ 0,7, se textura média; e ≥</p><p>0,6, para texturas mais argilosas. Os pseudomorfos cauliníticos do tamanho de silte e areia dos horizontes C do "mar de</p><p>morros" quebram-se no horizonte B, diminuem de tamanho num ajuste às condições físicas de expansão e contração. Isso se</p><p>reflete na relação silte/argila. Nesse caso, comumente o Bi está conjugado com profundo manto de intemperismo, relíquia do</p><p>que sobrou de áreas mais suaves (chapadões?). Atualmente, nas áreas de maior erosão natural há redução da espessura do Bw</p><p>e o horizonte C (Cr na parte mais profunda), cada vez mais próximo da superfície, expõe os pseudomorfos à quebra</p><p>incompleta, permanecendo um horizonte Bi estreito sobre um horizonte C muito profundo. Essa á uma área de extrema</p><p>instabilidade.</p><p>(35) Horizonte C – O horizonte C tem recebido menos atenção do que os outros horizontes, em parte, talvez, porque não</p><p>tem ainda as modificações de estrutura e cor que caracterizam os horizontes; pode estar a grandes profundidades, um</p><p>pouco escondido das observações e da atividade biológica mais intensa. Em muitos solos sem horizonte B, no entanto, o</p><p>horizonte C assume um papel mais importante. É nele às vezes que as plantas têm água, após alguns meses sem muita</p><p>chuva. Mas talvez, a importância desse horizonte possa ser mais bem entendida como fazendo parte de um contínuo. Uma</p><p>partícula de solo tem um tempo de residência muito maior no horizonte C do que como B ou ainda mais do que horizonte</p><p>A. Isto é, a partir da intemperização</p><p>da rocha, a partícula liberada passa por um longo tempo mergulhada no horizonte C,</p><p>aproximando-se pouco a pouco da superfície, à medida que a erosão vai retirando partículas pela superfície.</p><p>Nas camadas profundas as modificações são lentas e fazem-se num tempo muito longo, mas em direção à superfície há um</p><p>aceleramento normal. Assim, nos solos muito profundos, como os das chapadas do Planalto Central, a taxa de erosão por</p><p>menor que seja, tende a ser maior do que a de intemperização da rocha que está muito afastada da superfície. Com isso o</p><p>solo tende a se rejuvenescer, o regolito a se estreitar.</p><p>Com o estreitamento do regolito, os minerais ainda não intemperizados, ficam mais próximos da superfície e têm sua</p><p>intemperização acelerada; pode chegar ao ponto em que mesmo a erosão sendo acelerada, a intemperização também é.</p><p>Não há alteração na espessura do solo.</p><p>Além de o horizonte C fazer parte desse contínuo da rocha ao solo, ele é, em muitas condições, o principal reservatório de</p><p>água. E, dependendo da espessura, impermeabilidade de camadas, isso vai influenciar na infiltração e, consequentemente,</p><p>no fluxo superficial.</p><p>No que se refere à evolução pedogeomorfológica, a espessura do horizonte C indica o material disponível para a erosão</p><p>natural. E isso pode afetar também o modelo de evolução erosiva. Assim, no profundo manto de intemperismo dos mares</p><p>de morros, esse profundo C propicia a evolução através de um sistema de ravinamentos, produzindo configurações</p><p>anfiteátricas e com a ausência de afloramentos de rocha. Os anfiteatros assim formados, esculpidos no profundo regolito,</p><p>vêm da ampliação de ravinas menores e, com o tempo, transformam-se em verdadeiras grotas; nesse processo outras</p><p>ravinas se instalam no mesmo sistema, ampliando-o a dimensões consideráveis. Nesse processo forma-se um fundo de</p><p>grota quase plano-inclinado, envolto, exceto nas partes mais baixas, por encostas íngremes. É nesse segmento íngreme que</p><p>o processo erosivo é mais ativo. Nessas condições o antigo horizonte B vai se estreitando mais e mais, e o contraste da cor</p><p>do sólum (vermelho-amarelo ou amarelado) com o material róseo do horizonte C permite que térmitas e até mesmo</p><p>formigas tragam material de cor rósea expondo-o à superfície e dando indicação de quão estreito o sólum é. Assim, essas</p><p>áreas de horizonte B estreito e forte erosão podem ser facilmente identificáveis em nível de campo: são áreas muito</p><p>instáveis e que devem ser conservadas.</p><p>O intemperismo é tão mais intenso quanto menor a profundidade e no horizonte C profundo, os fornecedores de nutrientes</p><p>estão por intemperizar muito longe da superfície: onde a taxa de alteração é menor e fora do alcance das raízes. Nos</p><p>horizontes C menos espessos, o oposto acontece. Acredita-se que no subárido brasileiro, por exemplo, nos Luvissolos</p><p>Crômicos (NC) a erosão natural é muito intensa, mas o solo ainda está presente. Isso conduz à conclusão de que a taxa de</p><p>intemperização deve também ser muito intensa para compensar a alta taxa de erosão. Caso contrário o solo seria destruído.</p><p>Já que o tempo de residência de uma partícula vai ser tanto maior quanto mais profundo ela estiver no perfil, as condições</p><p>que influem no horizonte C raso podem, e geralmente são, muito diferentes das referentes a um C profundo.</p><p>No profundo manto de intemperismo dos mares de morros, o horizonte B que hoje se forma está herdando características</p><p>adquiridas sob condições provavelmente bem diferentes das atuais. É como se o próprio solo atual fosse um paleossolo e,</p><p>curiosamente, em termos de material (partícula solta) mais antigo próximo à superfície.</p><p>O fato de o horizonte C ser um reservatório de nutrientes, e pelas considerações anteriores tanto mais rico quanto mais</p><p>estreito em condições comparáveis, pode servir de indicador de campo. É comum nos mares de morros, uma diferenciação</p><p>do horizonte C profundo, abaixo do Cr róseo e profundo, ocorrer uma camada algo acinzentada (variegada) em grande</p><p>parte com, por exemplo, biotita, do biotita-gnaisse em decomposição. No horizonte C róseo já não há minerais primários</p><p>facilmente intemperizáveis; assim, a proximidade do horizonte C acinzentado, próximo da superfície, relaciona-se com</p><p>maior disponibilidade de nutrientes nessas circunstâncias.</p><p>Com o estreitamento do regolito, os minerais da rocha vão ficar mais próximos da superfície e têm sua intemperização</p><p>acelerada e pode chegar a um ponto em que, mesmo a erosão sendo acelerada, o intemperismo também é.</p><p>A palavra alteração tem sido usada neste trabalho como sinônimo de intemperização, a transformação da rocha em solo, ou</p><p>em horizonte C. Não nos parece consistente a ideia de se reduzir pedogênese à formação de horizontes A e B; nesse sentido a</p><p>classificação de Leptossolos, Arenossolos etc. da FAO/UNESCO-WRB (1988), ou de Neossolos, não estaria lidando com</p><p>solo. Embora esse não seja o uso comum, a pedogênese tem sentido mais amplo que intemperismo ou alteração; esses são</p><p>apenas uma fase da pedogênese. A alteração de um mineral é controlada por duas restrições: termodinâmica e cinética; a</p><p>disponibilidade de energia e a velocidade; o poder legislativo que diz se pode, o executivo, quando acontece. Há</p><p>transformações rápidas, a cinética não é limitante; há outras lentas bastante para dependerem da evolução da paisagem. O</p><p>solo, em si mesmo, é metastável, a meio caminho entre o surgimento e o ocaso, ou entre o nascimento e morte ou, mais</p><p>apropriadamente, numa renovação contínua entre os extremos de solo raso e solo profundo.</p><p>(36) A húmico – horizonte mineral espesso rico em matéria orgânica. Ele tende a ocorrer com mais frequência nas regiões</p><p>de temperaturas não muito altas, mas não é só isso: há presença desse horizonte em regiões atualmente de temperaturas</p><p>mais altas.Acredita-se que pelo menos em parte,parece ser herdado de condições de temperaturas menores no passado e</p><p>por associar condições de pouca erosão (ou até mesmo acúmulo, como sopé de elevações ou longas encostas tendendo a</p><p>linear por grandes extensões, plano-inclinado ou encosta linear-linear, LL, Figura 2.1) e pela pobreza em nutrientes que</p><p>reduz a atividade decompositora (RIBEIRO et al., 1972).</p><p>(37) Flúvico - material com estratificações aluviais e/ou distribuição irregular de carbono com profundidade. As camadas</p><p>estratificadas refletem a variação da velocidade da água na deposição; a distribuição irregular de carbono assinala os</p><p>momentos de relativa estabilidade entre as deposições, a propiciar a colonização vegetal e acúmulo de matéria orgânica</p><p>(formação de horizonte A).</p><p>(38) Concrecionário e litoplíntico – plintitaconcreçõesconcrecionáriolitoplíntico seguem uma sequência. Na</p><p>plintita, de cores variegadas ou com mosqueados vermelhos, houve redução e oxidação do Fe; os mosqueados podem</p><p>endurecer-se, formar nódulos ou concreções (petroplintita); se essas concreções ocupam mais da metade do volume e</p><p>compõem mais de 30 cm de espessura, tem-se o horizonte concrecionário. As raízes ainda podem penetrar, e nisso também</p><p>difere do horizonte litoplíntico consolidado, impenetrável às raízes e contínuo. As concreções tendem a ocorrer acima do</p><p>horizonte plíntico e os horizontes concrecionários e litoplínticos, em grande parte, estão atualmente em áreas mais</p><p>elevadas e de melhor drenagem (mas não tanto) do que as que determinaram a plintita que lhes deu origem, pelo menos em</p><p>parte, por concentração residual. Nestas pode haver concentração de elementos-traços, principalmente quando ricas</p><p>também em manganês e fósforo. É nos nódulos plínticos onde se tem encontrado as maiores concentrações de hematita</p><p>em solos. Talvez o único com hematita exclusiva (FONTES, RESENDE; RIBEIRO, 1985). É um fato curioso que a</p><p>hematita, sem a presença de goethita, possa ser encontrada num ambiente com deficiência de oxigênio: talvez as mudanças</p><p>do ambiente (oxidação-redução e umidade e seca) sejam mais importantes que as condições médias ou</p><p>mesmo extremas.</p><p>(39) Pálido ou cores pálidas (acinzentadas, pálidas ou amarelo-claras) - cores 5Y ou 7,5YR, 10YR ou 2,5Y com croma</p><p> 4.Indicam solos muito pobres em ferro e, em geral, em muitos outros nutrientes. Indicam áreas que estão ou estiveram</p><p>sob influência de lençol freático elevado. Quase sempre indica processo de remoção do ferro; em geral associada com</p><p>baixo teor de Fe no material original e de hematita, não muito cristalizada ou fortemente associada, por exemplo, com os</p><p>grãos de areia. Quando o material é de natureza muito argilosa, esses solos de cores pálidas apresentam-se muito coesos,</p><p>causando dificuldade de penetração do sistema radicular e manifestando muita resistência à perfuração com enxadão ou</p><p>trado.</p><p>(40) Argilúvico – solos com gradiente B/A ≥ 1,4 ou iluviação de argila (cerosidade moderada ou forte) ou E/horizonte não</p><p>espódico.</p><p>(41) Crômico (≤ 5YR ≥ 3/≥ 4) – a tonalidade mais avermelhada indica presença de alguma hematita, melhor drenagem</p><p>num solo (Luvissolo, antigo Bruno-Não-Cálcico) em geral pouco profundo.</p><p>(42) (B nítico)– presente nos Nitossolos (Terras Roxas Estruturadas, Terras Brunas Estruturadas e alguns Podzólicos</p><p>Vermelho-Escuros) têm pequeno gradiente textural (B/A 50 % ou V intemperização ajuda a manter a sílica no</p><p>sistema.</p><p>(45) Vermelho - Veja 30</p><p>(46) Eutrófico, distrófico – talvez a identificação em nível de campo se o solo é eutrófico (V ≥ 50 %) ou distrófico (V</p>