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<p>1</p><p>PRODUÇÃO</p><p>INTEGRADA</p><p>MÓDULO 3</p><p>CULTURA DE CITROS</p><p>DALMO LOPES SIQUEIRA E CLÁUDIO LUIZ LEONE AZEVEDO</p><p>LAÉRCIO ZAMBOLIM</p><p>Editor</p><p>2</p><p>Autores: Dalmo Lopes Siqueira, Cláudio Luiz Leone Azevedo e</p><p>Laércio Zambolim</p><p>Layout: Lucas Kato e Taiane Souza</p><p>Editoração Eletrônica: Taiane Souza</p><p>Edição de conteúdo e CopyDesk: João Batista Mota</p><p>Diretora</p><p>Silvane Guimarães Silva Gomes</p><p>Campus Universitário, 36570-000, Viçosa/MG</p><p>Telefone: (31) 3899 2858 | Fax: (31) 3899 3352</p><p>Universidade Federal de Viçosa</p><p>Reitora</p><p>Nilda de Fátima Ferreira Soares</p><p>Vice-Reitor</p><p>João Carlos Cardoso Galvão</p><p>3</p><p>Significado dos ícones da apostila</p><p>Para facilitar o seu estudo e a compreensão imediata do conteúdo apresenta-</p><p>do, ao longo de todas as apostilas, você vai encontrar essas pequenas figuras ao</p><p>lado do texto. Elas têm o objetivo de chamar a sua atenção para determinados</p><p>trechos do conteúdo, com uma função específica, como apresentamos a seguir.</p><p>Texto-destaque:  são definições, conceitos ou afirmações</p><p>importantes às quais você deve estar atento.</p><p>Glossário:  Informações pertinentes ao texto, para situá-lo melhor</p><p>sobre determinado termo, autor, entidade, fato ou época, que você</p><p>pode desconhecer.</p><p>SAIBA MAIS! Se você quiser complementar ou aprofundar o conteúdo</p><p>apresentado na apostila, tem a opção de links na internet, onde pode</p><p>obter vídeos, sites ou artigos relacionados ao tema.</p><p>Quando vir este ícone, você deve refletir sobre os aspectos apontados,</p><p>relacionando-os com a sua prática profissional e cotidiana.</p><p>Ì</p><p>a</p><p>Ñ</p><p>Õ</p><p>4</p><p>7</p><p>8</p><p>17</p><p>20</p><p>28</p><p>41</p><p>48</p><p>57</p><p>65</p><p>79</p><p>85</p><p>102</p><p>104</p><p>165</p><p>171</p><p>175</p><p>181</p><p>Sumário</p><p>origem e DiSperSão DoS CitroS</p><p>importânCia eConômiCa, SoCial e alimentar</p><p>DoS CitroS</p><p>taxonomia</p><p>morfologia</p><p>DeSenvolvimento Da planta e Do fruto</p><p>Clima e Solo</p><p>CultivareS</p><p>porta-enxertoS</p><p>propagação</p><p>melhoramento genétiCo</p><p>formação Do pomar</p><p>CultivoS interCalareS</p><p>prátiCaS CulturaiS</p><p>DiStúrbioS fiSiológiCoS DoS frutoS</p><p>téCniCaS para alimentar a fixação e tamanho</p><p>DoS frutoS e reDuzir a alternânCia De</p><p>proDução</p><p>poDa</p><p>Colheita e póS-Colheita DoS CitroS</p><p>CitriCultura6</p><p>5</p><p>SiStema De proDução</p><p>introDução</p><p>SiStema De proDução integraDa</p><p>QuaDro De áreaS temátiCaS</p><p>manejo integraDo De pragaS</p><p>eStuDo De CaSo: proDução integraDa De</p><p>CitroS na ba, mg, Sp e am</p><p>referênCiaS bibliográfiCaS</p><p>introDução normativa</p><p>193</p><p>194</p><p>197</p><p>198</p><p>201</p><p>208</p><p>209</p><p>192</p><p>6</p><p>CITRICULTURA</p><p>Dalmo Lopes Siqueira</p><p>7</p><p>01</p><p>ORIGEM E DISPERSÃO DOS</p><p>CITROS</p><p>A origem da maioria das espécies de citros não é conhecida com exatidão.</p><p>Isso porque as plantas das diferentes espécies que compõem o gênero Citrus</p><p>vêm sendo utilizadas e disseminadas pelo homem há vários séculos, sem que</p><p>houvesse nenhum tipo de registro dessa movimentação, que ocorreu principal-</p><p>mente na forma de frutos e sementes de um local para outro.</p><p>O primeiro registro escrito sobre os citros ocorreu em cerca de 2000 a.C., na</p><p>China. Nesse documento, os citros foram mencionados em uma lista de tributos</p><p>oferecidos a um imperador chinês.</p><p>A maioria das espécies de citros originou-se nas regiões tropi-</p><p>cais e subtropicais do Sudeste Asiático, abrangendo uma am-</p><p>pla faixa de terra, situada aproximadamente entre os paralelos</p><p>15o e 25o Norte. Essa região se estende desde o Himalaia até a</p><p>China Central, Filipinas, Miamar, Tailândia e Indonésia.</p><p>Existem dúvidas quanto à origem do pomeleiro, também conhecido como</p><p>grapefruit, já que plantas desse tipo de citros não foram encontradas em estado</p><p>selvagem na região de origem das demais espécies. Acredita-se que tenha ori-</p><p>gem americana (Antilhas), provavelmente resultante de hibridação natural entre</p><p>Citrus grandis (toranjeira) e Citrus reticulata (tangerineira).</p><p>Acredita-se que o sabor característico das frutas, com diferenças considerá-</p><p>veis entre espécies e cultivares, a concentração razoável de vitamina C (10-80</p><p>mg/10mL de suco), a facilidade de adaptação às condições de clima e solos va-</p><p>riados e a facilidade de processamento industrial dos frutos foram os principais</p><p>fatores responsáveis pela disseminação e importância dos citros.</p><p>A primeira espécie de citros conhecida na Europa foi a cidreira (Citrus medica),</p><p>cuja introdução ocorreu em 330 a.C. As laranjeiras doces (Citrus sinensis) e azedas</p><p>(Citrus aurantium) e os limoeiros (Citrus lim on) foram introduzidos na Europa no</p><p>século XII e as tangerineiras (C. reticulata), no século XIX.</p><p>Na América, o introdutor dos citros foi Cristóvão Colombo, em 1493, nas</p><p>Antilhas e Haiti, de onde foram levados posteriormente para o México e os Es-</p><p>tados Unidos (Flórida). No Brasil, a introdução foi feita pelos portugueses, pro-</p><p>vavelmente na Bahia, pelas expedições colonizadoras. A partir de 1530, com a</p><p>chegada de novos habitantes, foram plantadas as primeiras árvores de citros.</p><p>Iniciou-se a citricultura brasileira que, entretanto, somente alcançou importân-</p><p>cia econômica cerca de 400 anos após sua introdução no país, a partir do início</p><p>do século XX. Inicialmente, os frutos eram utilizados apenas para consumo in</p><p>natura.</p><p>A produção industrial de suco de laranjas para exportação iniciou-se a partir</p><p>da década de 1960, no estado de São Paulo.</p><p>Õ</p><p>8</p><p>IMPORTÂNCIA ECONÔMICA,</p><p>SOCIAL E ALIMENTAR DOS CITROS</p><p>1. PRODUÇÃO E IMPORTÂNCIA ECONÔMICA</p><p>Os frutos dos citros (laranjas, tangerinas, limas, limões, pomelos, cidras, cun-</p><p>quates) são os mais produzidos no mundo (Tabela 1) e cultivados em quase 150</p><p>países, localizados nas regiões tropicais e subtropicais do planeta. A ampla ca-</p><p>pacidade de adaptação climática, a facilidade de industrialização, associadas às</p><p>características sensoriais e de qualidade dos frutos, são os principais fatores res-</p><p>ponsáveis por essa posição.</p><p>Tabela 1. Principais frutas produzidas no mundo - 2013</p><p>Frutas Produção - t Porcentagem</p><p>Citros</p><p>Banana</p><p>Maçã</p><p>Uva</p><p>Outras frutas</p><p>135.761.181</p><p>106.714.205</p><p>80.822.521</p><p>77.181.122</p><p>276.191.413</p><p>20,1</p><p>15,8</p><p>11,9</p><p>11,4</p><p>40,8</p><p>Total 676.670.442 100,0</p><p>Fonte: FAOST AT, 2015</p><p>O maior produtor de citros do mundo na atualidade é a China. A área cultiva-</p><p>da dos chineses vem aumentando acentuadamente nos últimos anos, enquanto</p><p>a do Brasil está se reduzindo. Apesar disso, ainda ocupa o segundo lugar na</p><p>produção global de citros (Tabela 2).</p><p>02</p><p>9</p><p>Tabela 2. Principais países produtores de frutos dos citros no mundo - 2013</p><p>Países Produção - t Porcentagem</p><p>China</p><p>Brasil</p><p>Estados Unidos</p><p>Índia</p><p>México</p><p>Espanha</p><p>Egito</p><p>Nigéria</p><p>Turquia</p><p>Argentina</p><p>Outros</p><p>32.576.744</p><p>19.734.725</p><p>10.133.246</p><p>10.090.000</p><p>7.613.105</p><p>6.379.100</p><p>4.092.339</p><p>3.800.000</p><p>3.681.158</p><p>2.814.697</p><p>34.846.067</p><p>24,0</p><p>14,5</p><p>7,5</p><p>7,4</p><p>5,6</p><p>4,7</p><p>3,0</p><p>2,8</p><p>2,7</p><p>2,1</p><p>25,7</p><p>Total 135.761.181 100,0</p><p>Fonte: FAOSTAT, 2015</p><p>Por outro lado, considerando apenas a produção de laranjas, o Brasil ocupa a</p><p>primeira posição, com 24,6% da produção mundial, seguido pelos Estados Uni-</p><p>dos, China, Índia, México e Espanha (Tabela 3).</p><p>Tabela 3. Principais países produtores de laranjas do mundo -2013</p><p>Países Produção - t Porcentagem</p><p>Brasil</p><p>Estados Unidos</p><p>China</p><p>Índia</p><p>México</p><p>Espanha</p><p>Egito</p><p>Turquia</p><p>Itália</p><p>África do Sul</p><p>Outros</p><p>17.549.536</p><p>7.574.094</p><p>7.304.840</p><p>6.426.200</p><p>4.409.968</p><p>3.394.100</p><p>2.886.015</p><p>1.781.258</p><p>1.708.337</p><p>1.671.508</p><p>16.739.497</p><p>24,6</p><p>10,6</p><p>10,2</p><p>9,0</p><p>6,2</p><p>4,8</p><p>4,0</p><p>2,5</p><p>2,4</p><p>2,3</p><p>23,4</p><p>Total 71.445.353 100,0</p><p>Fonte: FAOSTAT, 2015</p><p>Após as laranjas, as tangerinas são os principais frutos dos citros produzidos</p><p>no mundo. A China é o principal produtor, com mais da metade da produção</p><p>mundial (52,9%), seguida pela Espanha, que é o principal país exportador de</p><p>laranjas e tangerinas para consumo de mesa do mundo. O Brasil é o quarto</p><p>maior produtor, com 3,3% da produção mundial (Tabela 4). A quantidade de tan-</p><p>gerinas produzidas no Brasil representa apenas 5,3% da produção de laranjas,</p><p>mostrando o predomínio do cultivo de laranjas no país.</p><p>10</p><p>Tabela 4. Principais países produtores de tangerinas do mundo - 2013</p><p>Países Produção - t Porcentagem</p><p>China</p><p>Espanha</p><p>Turquia</p><p>Brasil</p><p>Egito</p><p>Japão</p><p>Irã</p><p>Coreia</p><p>Marrocos</p><p>Itália</p><p>Outros</p><p>15.171.700</p><p>2.198.900</p><p>942.226</p><p>937.819</p><p>917.404</p><p>895.900</p><p>entre o dis-</p><p>co floral e ovário.</p><p>O processo de abscisão é contínuo ao longo do tempo, caindo, simultanea-</p><p>mente, botões florais, flores abertas e frutinhos (Figura 15). A etapa seguinte à</p><p>queda inicial de frutos é denominada “queda fisiológica”, conhecida como queda</p><p>Figura 14 – Setas indicam as duas zonas de absci-</p><p>são em laranjas: uma situada entre o pedúnculo</p><p>e o ramo e a outra no ponto de união do pedún-</p><p>culo com o fruto</p><p>37</p><p>de novembro no hemisfério Sul e june drop no Norte. A queda fisiológica é causa-</p><p>da pela competição entre as folhas e os frutos jovens por assimilados, entretan-</p><p>to, é também influenciada por fatores ambientais. A queda de frutos nessa etapa</p><p>é aumentada pela ocorrência de estresses ambientais. A partir desse ponto até</p><p>o amadurecimento dos frutos, a queda somente ocorre devido a danos mecâ-</p><p>nicos, fatores climáticos, desordens fisiológicas e ataque de pragas e doenças.</p><p>Figura 15 - Abscisão de frutos de limeira ‘Tahiti’. Frutos prestes a cair ficam me-</p><p>nores e amarelados</p><p>Em Viçosa (MG), a queda de botões florais da limeira ‘Tahiti’ pode prolongar-</p><p>-se até o início de novembro. Mas a maior abscisão ocorre no início do flores-</p><p>cimento, prolongando-se até meados de agosto. A queda de botões florais é</p><p>inexpressiva entre setembro e outubro.</p><p>Por outro lado, a queda de flores é maior nos meses de outubro e novembro,</p><p>encerrando-se no final de novembro, quando existem apenas frutos na planta.</p><p>Com o final da fase de floração e início da frutificação, intensifica-se a abscisão</p><p>de frutos, havendo, nesse caso, dois períodos de maior abscisão: o primeiro de</p><p>meados de outubro até início de novembro, e o segundo, de menor intensidade,</p><p>do final de novembro até meados de dezembro (Figura 16).</p><p>Figura 16 - Número médio de estruturas reprodutivas caídas (botões flo-</p><p>rais, flores e frutos) do início do florescimento até próximo à colheita de</p><p>plantas jovens de limeira ‘Tahiti’ (Viçosa – 2007)</p><p>38</p><p>5. AMADURECIMENTO DO FRUTO</p><p>Nos citros, a respiração dos frutos declina lentamente nos últimos estádios</p><p>do desenvolvimento e a evolução do etileno é muito lenta durante a maturação.</p><p>Em função dessa característica, são classificados como frutos de amadurecimen-</p><p>to “não climatérico”. Durante o amadurecimento, não ocorrem variações drásti-</p><p>cas na composição química dos frutos – as mais evidentes ocorrem nos teores</p><p>de suco, no conteúdo de sólidos solúveis (SS), na acidez e na coloração da casca.</p><p>O ponto adequado de consumo dos frutos dos citros é expresso em função</p><p>de suas características organolépticas, ou seja, pelo “índice de maturação” (IM)</p><p>ou “Ratio”, calculado dividindo-se o teor de SS do suco pelo teor de AT (Acidez</p><p>Total Titulável). A relação adequada depende do cultivar, do destino da produ-</p><p>ção (indústria ou consumo in natura), da época do ano e da preferência dos con-</p><p>sumidores. Uma relação acima de 9,5 é considerada como a mínima aceitável</p><p>para laranjas e tangerinas. Teores mais elevados de açúcares, desde que adequa-</p><p>damente equilibrados com os de ácidos, geralmente resultam em sabor mais</p><p>agradável do fruto.</p><p>O IM não é válido para limas ácidas e limões, visto que durante sua matura-</p><p>ção a concentração de ácidos continua elevada, podendo variar de 60% a 70%</p><p>dos SS. O mesmo se aplica às laranjas classificadas como de “baixa acidez” ou</p><p>“sem acidez” (laranjas ‘Lima’, ‘Piralima’, ‘Serra d’Água’, ‘Lima Tardia’). Nesses cultiva-</p><p>res, os teores de acidez dos frutos são muito baixos (cerca de 10% da acidez das</p><p>laranjas comuns), o que resulta em IM elevado, geralmente superior a 100.</p><p>O conteúdo de açúcares nos frutos depende de vários fatores,</p><p>como cultivar, copa, porta-enxerto, tratos culturais e clima. O</p><p>efeito do clima sobre essa característica é muito importante,</p><p>sendo responsável pelas variações no IM em diferentes anos e</p><p>locais. Geralmente, em locais com temperaturas mais elevadas</p><p>durante o período de amadurecimento dos frutos, os teores de</p><p>açúcares são mais elevados do que nos frutos que amadure-</p><p>cem em locais de clima mais ameno.</p><p>O ácido predominante no suco é o cítrico, que representa aproximadamente</p><p>80% a 85% da AT do fruto. Ele se acumula durante o início do desenvolvimento</p><p>do fruto, alcança um conteúdo máximo e permanece praticamente constante</p><p>até a colheita, portanto, a redução na concentração de ácidos durante a matura-</p><p>ção é devida principalmente à diluição ocasionada pelo aumento do volume de</p><p>suco, visto o conteúdo de AT é praticamente constante.</p><p>A coloração da casca e a maturação interna dos frutos dos citros parecem ser</p><p>controladas por diferentes mecanismos. Em regiões de clima tropical, é comum</p><p>o fruto estar internamente adequado para o consumo e externamente apresen-</p><p>tar a casca verde. Esse fato é evidente nos frutos dos citros cultivados na maior</p><p>parte das regiões Norte, Nordeste e mesmo no Norte de Minas Gerais. O con-</p><p>trário ocorre para alguns cultivares tardios de laranja, como ‘Natal’ e ‘Valencia’,</p><p>em locais com invernos frios, nos quais a casca dos frutos encontra-se amarela</p><p>e internamente estão inadequados ao consumo, por cuasa da elevada acidez e</p><p>baixos teores de açúcares.</p><p>A mudança de coloração da casca dos frutos é devida à degradação das clo-</p><p>rofilas e à síntese de carotenoides, que são responsáveis pela coloração amare-</p><p>Õ</p><p>39</p><p>la ou laranja dos frutos. A cor dos frutos é fortemente influenciada por fatores</p><p>ambientais, como temperatura, umidade, luminosidade, solo, porta-enxertos, e</p><p>endógenos (giberelinas, compostos nitrogenados e carboidratos). A transforma-</p><p>ção de cloroplastos em cromoplastos é reversível, ou seja, frutos que se tornam</p><p>amarelos no outono e inverno podem retornar à cor verde, com o aumento da</p><p>temperatura na primavera, por um processo denominado “reverdecimento”.</p><p>A aplicação de giberelinas nos frutos dos citros, quando eles se encontram</p><p>na fase de mudança de cor, atrasa a degradação das clorofilas e o acúmulo de</p><p>carotenoides (Figura 17).</p><p>Figura 17 - Teor de clorofila total na casca de laranjas ‘ Hamlin’, em função da</p><p>aplicação de 2,4-D (20 mg/L) e de GA3 (10 mg/L) e da mistura 2,4-D +GA3 (20</p><p>mg/L + 10 mg/L), antes da mudança de cor dos frutos</p><p>Esse fato apresenta aplicações práticas, pois frutos de lima ‘Tahiti’, tratados</p><p>com ácido giberélico, mantêm a cor verde por mais tempo após a colheita, pre-</p><p>servando, portanto, o seu valor comercial. Também as laranjas e tangerinas pul-</p><p>verizadas com ácido giberélico, antes da colheita e da mudança da cor da casca,</p><p>apresentam várias alterações que são de interesse agronômico: mantêm a casca</p><p>com a cor verde por mais tempo (Figura 18); são menos atacadas pelas moscas</p><p>das frutas (cor verde atrai menos os insetos); os frutos permanecem mais tempo</p><p>na planta após a época normal de colheita, e apresentam maior resistência da</p><p>casca, sem que ocorram alterações nas características do suco.</p><p>Figura 18 – Tangerinas ‘Poncã’ provenientes da mesma planta e colhidas na</p><p>mesma data, sem aplicação de ácido giberélico, com a casca totalmente</p><p>amarela (a) e pulverizada com ácido giberélico no início do processo de mu-</p><p>dança de cor da casca (b).</p><p>a b</p><p>40</p><p>Quando os frutos alcançam a qualidade adequada para o consumo, podem</p><p>ser colhidos imediatamente ou deixados na planta por mais tempo. A dura-</p><p>ção irá depender do cultivar e das condições climáticas. O “armazenamento” dos</p><p>frutos na planta é importante para o produtor, pois facilita o planejamento e o</p><p>escalonamento da colheita.</p><p>Frutos de alguns cultivares, como laranjas ‘Valência’ e ‘Natal’,</p><p>podem ser mantidos na planta durante meses depois de atingi-</p><p>da a maturidade fisiológica. No entanto, de acordo com o clima</p><p>e o controle de insetos - principalmente mosca das frutas e bi-</p><p>cho furão -, as tangerinas, em geral, se deterioram mais rápido.</p><p>Em locais de clima mais quentes, o tempo de permanência do</p><p>fruto na planta, após o amadurecimento, é menor, devido ao</p><p>processo de senescência ser mais rápido.</p><p>Õ</p><p>41</p><p>CLIMA E SOLO</p><p>1. CLIMA</p><p>Os citros são cultivados desde o Equador até aproximadamente 40° de</p><p>latitude (Norte e Sul), formando um cinturão em torno do planeta. Esta dispersão</p><p>em regiões de climas tão diferentes daquele de origem favoreceu a diversificação</p><p>das espécies. Devido à ampla capacidade de adaptação apresentada pelos</p><p>citros, sabe-se que uma mesma variedade ou cultivar pode ser plantado com</p><p>sucesso em regiões com características climáticas bastante diferentes entre si.</p><p>Entretanto, essas variações podem alterar significativamente as características</p><p>das plantas, como porte, aspecto das folhas, longevidade e dos frutos, como</p><p>forma, tamanho, cor da casca, cor da polpa, textura, teores de ácidos e açúcares.</p><p>Entre os fatores climáticos que exercem influência sobre os citros, destacam-</p><p>se a temperatura e a umidade.</p><p>1.1. Temperatura</p><p>Para as plantas, temperaturas menores que 13 ºC e maiores que 39 ºC fazem</p><p>com que o desenvolvimento seja praticamente interrompido. Por outro lado,</p><p>na faixa compreendida entre 13 ºC e 32 ºC, com o aumento da temperatura, há</p><p>aumento de crescimento - desde que não haja outros fatores limitantes, como</p><p>o estresse hídrico. Abaixo de 13 ºC ou acima de 35 ºC, a taxa fotossintética de</p><p>laranjeiras é cerca de 50% da fotossíntese alcançada em temperaturas ótimas, que</p><p>varia entre 25 ºC e 30 °C. Como a temperatura é variável ao longo de um mesmo</p><p>dia, as plantas ficam submetidas a temperaturas favoráveis e desfavoráveis à</p><p>fotossíntese várias vezes durante o dia.</p><p>Em regiões de clima subtropical, é fundamental a existência de</p><p>um verão quente e suficientemente longo para permitir o cres-</p><p>cimento e maturação dos frutos. Portanto, nos locais com pri-</p><p>maveras e verões curtos, é aconselhável o plantio de cultivares</p><p>precoces. Entre as tangerineiras, as mais precoces pertencem</p><p>ao grupo das satsumas.</p><p>Quando cultivados em regiões de clima tropical, sob temperaturas altas, os</p><p>frutos dos citros se desenvolvem mais rápido e alcançam maiores tamanhos.</p><p>Permanecem esverdeados, mesmo quando alcançam o ponto de consumo, de-</p><p>vido à baixa degradação da clorofila e síntese de carotenoides, resultando em</p><p>frutos pouco atrativos, principalmente laranjas e tangerinas (Figura 19). Nesse</p><p>caso, a aplicação de etileno para provocar o desverdecimento dos frutos faz com</p><p>que sejam evidenciados pigmentos de cor amarela, e não alaranjado, que é a cor</p><p>típica das laranjas e tangerinas.</p><p>06</p><p>Õ</p><p>42</p><p>Frutos produzidos em climas tropicais apresentam a casca mais macia, me-</p><p>nor período de conservação na planta e na pós-colheita e são mais suscetíveis</p><p>a manchas devido à maior fragilidade da casca, o que reduz o tempo disponível</p><p>para comercialização.</p><p>Além disso, tendem a apresentar elevados teores de sólidos solúveis e baixos</p><p>teores de ácidos.</p><p>Por outro lado, quando cultivados em locais de clima subtropical, o desen-</p><p>volvimento dos frutos é mais lento, havendo interrupção ou redução no cresci-</p><p>mento durante o inverno, dependendo da temperatura. No verão, o crescimento</p><p>dos frutos é retomado, mas o tamanho final é menor do que aqueles que se de-</p><p>senvolvem em regiões tropicais. O amadurecimento dos frutos é mais lento, ha-</p><p>vendo maior disponibilidade de tempo para a colheita e comercialização, além</p><p>de os frutos serem mais coloridos (casca e polpa).</p><p>As plantas dos citros são de clima subtropical, no qual a temperatura é o</p><p>principal fator limitante ao cultivo. Geralmente, as plantas não toleram tempera-</p><p>turas inferiores a - 3ºC. Entretanto, há diferenças entre as espécies e variedades</p><p>quanto à tolerância ao frio. Em ordem decrescente de tolerância ao frio, estão o</p><p>Poncirus trifoliata, cunquateiros, tangerineiras, laranjeiras azedas, laranjeiras do-</p><p>ces, pomeleiros e, por último, limoeiros, limeiras e cidreiras. Entre as espécies de</p><p>plantas do gênero Citrus, as tangerineiras são as mais tolerantes ao frio, princi-</p><p>palmente quando enxertadas sobre P. trifoliata.</p><p>Os citros, com exceção do Poncirus trifoliata, não toleram geadas. O efeito</p><p>das baixas temperaturas depende da sua intensidade, duração e do estádio de</p><p>desenvolvimento em que as plantas se encontram no momento da geada. Há</p><p>uma escala de tolerância entre os diversos órgãos, dentre os quais as flores são</p><p>os mais sensíveis, passando pelos brotos novos, folhas adultas, frutos, ramos até</p><p>chegar às raízes, que são os mais tolerantes.</p><p>Árvores dos citros não apresentam dormência, como ocorre com as plantas</p><p>de clima temperado, mas sim repouso invernal, no qual ocorre interrupção no</p><p>crescimento devido a baixas temperaturas. Essa interrupção provoca a indução</p><p>floral e o florescimento, que ocorre na primavera, com o início do aumento na</p><p>temperatura. O efeito das baixas temperaturas sobre o florescimento dos citros</p><p>é incrementado pelo tempo em que as plantas ficam submetidas a elas. Estudos</p><p>indicam que o máximo florescimento de laranjeiras ocorre após 1500 a 2500 ho-</p><p>ras de temperaturas abaixo de 24° C ou 800 a 1900 horas abaixo de 19° C.</p><p>Entretanto, quando os citros são cultivados em regiões tropicais, nas quais a</p><p>ocorrência de temperaturas baixas no inverno não é suficiente para a indução do</p><p>florescimento, ele irá ocorrer após a interrupção ou redução do crescimento das</p><p>plantas, ocasionado por estresse hídrico. Estresses hídricos no solo suficientes</p><p>Figura 19 – Tangerinas ‘Poncã’, no ponto de consumo, produzidas em diferentes locais. Frutos pro-</p><p>duzidos em clima tropical no Norte do Estado de Minas Gerais (a), fruto produzido no Norte de</p><p>Minas Gerais, desverdecido com etileno (b); fruto produzido no Sul de Minas Gerais (clima mais</p><p>ameno durante o amadurecimento) (c).</p><p>a b c</p><p>43</p><p>para abaixar o potencial hídrico foliar (Ψw) para valores abaixo de -0,9 MPa são</p><p>suficientes para induzir o florescimento. Após o restabelecimento da umidade</p><p>do solo, decorrente de irrigação ou chuvas, o florescimento ocorre.</p><p>Após o florescimento, as plantas necessitam de temperaturas mais elevadas</p><p>durante a primavera e verão para que ocorra o desenvolvimento dos frutos. Du-</p><p>rante esse período, a faixa ótima de temperatura está entre 23° e 32o C.</p><p>A temperatura de 13° C é considerada limite para os citros, abaixo da qual</p><p>não há crescimento vegetativo ou ele é muito lento, embora haja diferenças en-</p><p>tre espécies e cultivares. Essa temperatura é conhecida como temperatura base.</p><p>Pesquisas indicam que há alta correlação entre o acúmulo de temperaturas su-</p><p>periores à temperatura base e o período compreendido entre o florescimento</p><p>e a colheita dos frutos. O somatório desses valores de temperatura é expresso</p><p>em Graus Dia (GD), Soma Térmica (ST) ou Unidades Térmicas (UT). Em outras pa-</p><p>lavras, para um mesmo cultivar, quanto mais rapidamente houver acúmulo de</p><p>graus dia, mais curto será o período compreendido entre o florescimento e a</p><p>colheita.</p><p>O cálculo do acúmulo de Graus Dia é útil para estimar o tempo</p><p>necessário entre o florescimento e a maturação dos frutos de</p><p>diversos cultivares e espécies de citros, possibilitando um pla-</p><p>nejamento mais adequado das épocas de execução dos tratos</p><p>culturais e da colheita.</p><p>Esse cálculo é feito por meio da equação:</p><p>Em que: GD, é o total de graus-dia acumulado;</p><p>Tmax é a temperatura do ar máxima diária (°C);</p><p>Tmin é a temperatura do ar mínima diária (°C);</p><p>Tb é a temperatura-base (13° C para os citros)</p><p>i e n correspondem aos dias da floração e da colheita dos frutos.</p><p>Para a limeira ácida Tahiti, cultivada em Visconde do Rio Branco (MG), o acú-</p><p>mulo de Graus dia foi de 1494 (Figura 20). Para o cálculo foi considerado o perí-</p><p>odo entre a abertura das pétalas e o dia da colheita dos frutos, que ocorreu em</p><p>dezembro de 2000, quando estavam com diâmetro equatorial superior a cinco</p><p>centímetros, com a casca lisa e teor de suco acima de 40%. Observa-se, na Figura</p><p>20, que a inclinação da linha aumenta a partir de setembro, por causa do aumen-</p><p>to da temperatura ocasionado pelo final do inverno e início da primavera.</p><p>Õ</p><p>44</p><p>Em função da época de colheita, as variedades de citros são classificadas em</p><p>precoces, de meia estação e tardias (Tabela 9). As variedades precoces de laran-</p><p>jas acumulam,</p><p>para o período compreendido entre a antese e a data de colheita,</p><p>2500 Graus-dia, as de meia estação, 3100 Graus-dia e as tardias, 3600 Graus-dia.</p><p>Nessa classificação foi utilizado o Índice de Maturação (IM) ou relação SS/AT igual</p><p>a doze para definir a data da colheita.</p><p>Os citros são cultivados em várias regiões do mundo, com ampla variação na</p><p>precipitação pluvial, oscilando desde 250 mm (Israel) anuais até 4.000 mm</p><p>(Selva Peruana - Amazônia). O consumo anual de água pelas plantas varia de 600</p><p>a 1200 mm, dependendo dos cultivares copa e porta-enxerto, características do</p><p>solo e idade das plantas. A irrigação é essencial em áreas onde a precipitação</p><p>pluvial é abaixo de 700 mm por ano.</p><p>Na principal região produtora de citros do Brasil (Sudeste), a estação seca e</p><p>fria estende-se de maio a agosto e a estação quente e chuvosa vai de outubro</p><p>a março, coincidindo com a época de maior exigência hídrica das plantas, que</p><p>são os períodos de desenvolvimento vegetativo e crescimento dos frutos. Esse</p><p>fato torna possível o cultivo sem irrigação na maioria dos pomares localizados</p><p>na região mencionada.</p><p>Entretanto, mesmo durante a primavera e verão, as plantas estão sujeitas a</p><p>veranicos, que contribuem para redução da produtividade e da qualidade dos</p><p>frutos. Portanto, para evitar os danos causados pela falta de água nos períodos</p><p>de estiagem, muitos produtores utilizam a irrigação. Os sistemas de irrigação</p><p>localizada, como gotejamento e microaspersão são os mais utilizados atualmen-</p><p>te na citricultura. Entre as vantagens desses sistemas estão a alta eficiência de</p><p>aplicação, necessidade de menores pressões, facilidade de operação do sistema</p><p>e melhor controle da umidade e aeração do solo.</p><p>Os citros são plantas exigentes em luz para os processos de crescimento,</p><p>florescimento e frutificação, que ocorrem principalmente na parte exterior da</p><p>copa. O valor do fluxo fotossintético de fótons que correspon de ao ponto de</p><p>sat uração ocorre entre 600 e 700 μmo l de quanta m-2 s-1 em laranjeiras, ou seja,</p><p>aproximadamente 25% da radiação solar, que atinge valores ao redor de 2.000</p><p>μmol de quanta m-2 s-1 em dias ensolarados.</p><p>A capacidade de fixação de CO2 dos citros não chega a 20 μmol m-2 s-1. Esse</p><p>valor é considerado baixo quando comparado ao de outras fruteiras, como as de</p><p>clima temperado, por exemplo, mas que ele é compensado pela alta densidade</p><p>das folhas e pelo caráter perenifólio das plantas, cujo processo de fotossintético</p><p>funciona durante todo o ano, enquanto nas plantas de clima temperado a fotos-</p><p>síntese ocorre apenas na primavera e verão.</p><p>Figura 20 - Graus dia acumulados para a lima ‘Tahiti’, desde a ante-</p><p>se até o ponto de colheita. Visconde do Rio Branco – MG</p><p>45</p><p>Um dos fatores que influenciam na fixação do CO2 é o fotoperíodo. Na fai-</p><p>xa equatorial o fotoperíodo permanece em torno de 12 horas durante todos os</p><p>meses do ano, enquanto em latitude mais elevadas ocorre significativa variação</p><p>na duração do dia, dependendo da estação. O principal efeito das variações no</p><p>fotoperíodo está no desenvolvimento das plantas, tendo em vista que nas regi-</p><p>ões tropicais, devido ao maior tempo de exposição das folhas à luz solar, ocorre</p><p>maior assimilação de CO2 com consequente aumento na síntese de carboidra-</p><p>tos. Esse processo resulta em maior e mais rápido crescimento das plantas e dos</p><p>frutos quando comparados com as plantas que se desenvolvem em regiões de</p><p>clima subtropical.</p><p>Tabela 9. Época aproximada de maturação dos frutos1 de alguns cultivares de</p><p>laranjeiras, tangerineiras, tangoreira ‘Murcote’, limeiras e limoeiros nas áreas</p><p>produtoras de citros da região Sudeste brasileira, com exceção da região se-</p><p>miárida situada no Norte de Minas Gerais</p><p>VARIEDADES MESES</p><p>D J F M A M J J A S O N D J F</p><p>Laranjas</p><p>Lima, Piralima, Serra d’Água</p><p>Hamlin</p><p>Bahia, Baianinha</p><p>Barão, Westin, Rubi</p><p>Pêra Rio, Lima tardia</p><p>Natal e Valência</p><p>Folha Murcha</p><p>Tangerinas e tangor</p><p>Tangerina Cravo</p><p>Mexerica Rio</p><p>Tangor Murcote</p><p>Tangerina Poncã</p><p>Limas e limões</p><p>Lima Galego</p><p>Lima Tahiti</p><p>Limões Eureka e Siciliano</p><p>1A época de maturação dos frutos de cada cultivar pode variar, principalmente em função do clima</p><p>do local onde o pomar está situado.</p><p>Quanto à umidade do ar, o efeito mais importante desse fator relaciona-se à</p><p>ocorrência de doenças nos pomares, principalmente de doenças fúngicas, como</p><p>a mancha marrom (Alternaria alternata), verrugose (Elsinoe) e podridão floral dos</p><p>citros (Colletotrichum).</p><p>Entretanto, a umidade do ar também interfere na qualidade dos frutos. Em</p><p>regiões onde a umidade relativa do ar é alta, as laranjas tendem a serem maiores</p><p>e mais achatadas, menos firmes e com menores concentrações de carotenoides</p><p>na casca e no suco e menores teores de sólidos solúveis no suco.</p><p>O vento influi diretamente no microclima dos pomares através de seu efeito</p><p>46</p><p>no transporte de calor, vapor de água e CO2 entre as folhas das plantas e a atmos-</p><p>fera. Essa ação interfere na taxa de assimilação de CO2 e transpiração das plantas,</p><p>atuando, portanto, no seu crescimento, embora de forma mais discreta do que</p><p>os demais fatores descritos.</p><p>Por outro lado, o vento atua diretamente no transporte de patógenos e pra-</p><p>gas entre pomares, além de causar provocar danos mecânicos às plantas e aos</p><p>frutos, no caso de ventos intensos. Esses efeitos desfavoráreis do vento podem</p><p>ser contornados com o uso de quebra ventos.</p><p>2. SOLO</p><p>Os citros são cultivados em solos com grande diversidade de características</p><p>físicas e químicas. Entretanto, desenvolvem-se melhor em solos que tenham</p><p>uma proporção equilibrada de areia e argilas (textura média), para garantir boa</p><p>aeração, facilidade de drenagem, boa retenção de água e capacidade de troca</p><p>de cátions (CTC).</p><p>A profundidade efetiva recomendada do solo para o cultivo</p><p>dos citros deve ser de um metro, no mínimo, para garantir a</p><p>sustentação das plantas e maior exploração do solo pelas raí-</p><p>zes. Entretanto, há relatos de cultivo em solos rasos, com pro-</p><p>fundidade efetiva em torno de 60 cm.</p><p>Os citros não toleram solos salinos, porém sua sensibilidade aos sais depen-</p><p>de de vários fatores, como porta-enxerto, combinação porta-enxerto/copa, solo,</p><p>clima, método de irrigação, etc. De modo geral, a produtividade dos pomares re-</p><p>duz em 13% para cada 1,0 dS m-1 de aumento da condutividade elétrica do solo,</p><p>acima do valor limite de 1,4 dS m-1. Os efeitos da salinidade sobre a redução do</p><p>crescimento e produtividade das plantas são o estresse osmótico causado pela</p><p>redução da absorção de água; efeitos tóxicos dos íons Cl- e Na+ sobre as células e</p><p>desequilíbrios nutricionais causados pelos efeitos tóxicos desses íons.</p><p>Quando há redução na produtividade das plantas, causada pela salinidade,</p><p>sem haver acúmulo excessivo de Cl- e Na+ nos tecidos e sem sintomas aparentes</p><p>de toxidez nas folhas, provavelmente o efeito predominante da salinidade sobre</p><p>as plantas é o estresse osmótico. Teores de sódio maiores que 0,25 g/kg e de clo-</p><p>ro maiores que 0,5 g/kg indicam a presença de salinidade no solo, com possíveis</p><p>problemas no desenvolvimento e produção das plantas.</p><p>Quanto às diferenças entre os porta-enxertos em relação à tolerância à sali-</p><p>nidade causada por cloreto, a ordem decrescente entre os porta-enxertos usa-</p><p>dos no Brasil é: tangerina ‘Sunki’ > tangerina ‘Cleópatra’ > limão ‘Cravo’ > limão</p><p>‘Rugoso’ > Poncirus trifoliata > citrange ‘Troyer’ > citrange ‘Carrizo’. Por outro lado,</p><p>a ordem tolerância ao sódio é: tangerina ‘Cleópatra’ > limão ‘Rugoso’ > limão ‘Cra-</p><p>vo’ > citrumelo ‘Swingle’ > citrange ‘Troyer’ > tangerina ‘Sunki’ > citrange ‘Carrizo’.</p><p>Verifica-se, portanto, que a tangerineira Cleópatra e o limoeiro Cravo são os mais</p><p>tolerantes à salinidade e os trifoliolados citrumeleiro ‘Swingle’ e citranges ‘Troyer’</p><p>e ‘Carrizo’ os mais suscetíveis.</p><p>Os citros são plantas sensíveis à falta de oxigênio no solo causada por exces-</p><p>so de umidade. A exceção é o Poncirus trifoliata, cujas plantas toleram solos mais</p><p>úmidos. Devido à alta demanda por oxigênio no solo, as plantas dos pomares</p><p>implantados em solos com boa drenagem e profundos são mais desenvolvidas,</p><p>Õ</p><p>47</p><p>produtivas e longevas. Já em pomares ou parte de pomares situados em solos</p><p>superficiais e mal drenados, apresentam baixo crescimento, são pouco produti-</p><p>vas e têm menor longevidade.</p><p>O pH é uma das propriedades químicas mais importantes do solo porque</p><p>influencia a disponibilidade de nutrientes para as plantas. Os citros preferem so-</p><p>los com pH entre 6,0 e7,0, bem estruturados e bem drenados. Na maioria das</p><p>regiões produtoras de citros brasileiras, não são encontrados solos com essas</p><p>características. Por isso, na maioria das vezes, os pomares têm que ser implan-</p><p>tados em solos cujas características não são as mais adequadas para as plantas.</p><p>Para que pomares implantados nesses solos (cujas características não são as me-</p><p>lhores para os citros) possam ser produtivos, medidas criteriosas de manejo das</p><p>plantas e do solo devem ser adotadas.</p><p>48</p><p>CULTIVARES</p><p>Pelo fato de serem plantas altamente heterogêneas quanto às características</p><p>dos frutos, os citros são divididos em grupos, procurando reunir plantas cujas</p><p>características morfológicas dos frutos são semelhantes. O objetivo é facilitar</p><p>a comunicação entre as pessoas que se interessam pela citricultura, técnicos,</p><p>pesquisadores, produtores, estudantes e consumidores. Ela é denominada clas-</p><p>sificação agronômica ou hortícola e compreende oito grupos, alguns dos quais</p><p>formados por apenas uma espécie botânica, enquanto outros incluem mais de</p><p>uma espécie.</p><p>1. LARANJEIRAS DOCES [CITRUS SINENSIS (L.) OSBECK]</p><p>É o grupo mais importante economicamente, tanto no Brasil quanto na</p><p>maioria dos países do mundo, com exceção da China, onde predomina o cultivo</p><p>de tangerineiras. Devido às diferenças significativas entre as características dos</p><p>frutos produzidos pelos diferentes cultivares, as laranjas foram divididas em qua-</p><p>tro subgrupos.</p><p>1.1. Laranjas de umbigo (Figura 21a)</p><p>Caracterizam-se pela presença de um fruto rudimentar inserido no fruto</p><p>principal. Esse fruto rudimentar é formado por um segundo grupo de carpelos</p><p>inserido sobre o carpelo inicial, porém dentro do mesmo ovário. Outra caracte-</p><p>rística importante das laranjas de umbigo é a partenocarpia, resultante da falta</p><p>pólen funcional e presença de um número muito reduzido de óvulos viáveis. Por</p><p>isso os frutos quase não têm sementes.</p><p>Os frutos dos cultivares pertencentes a esse grupo são indicados para o con-</p><p>sumo de mesa, pois, além da ausência de sementes, o endocarpo apresenta tex-</p><p>tura crocante, o albedo é fácil de ser removido, os gomos são facilmente separá-</p><p>veis, têm sabor agradável e boa coloração externa.</p><p>Não são indicados para a produção de suco, devido à presença de limonina</p><p>monolactona no albedo e no endocarpo dos frutos. Após o processo de extração</p><p>do suco, em pH ácido, esse composto se transforma em limonina dilactona, que</p><p>tem sabor amargo. O sabor amargo pode levar algumas horas para se desenvol-</p><p>ver, após a extração do suco. A presença e a intensidade do sabor amargo no</p><p>suco dependem do cultivar e do estádio de maturação dos frutos: aqueles mais</p><p>maduros geralmente apresentam menor concentração de limonina monolacto-</p><p>na.</p><p>Outro inconveniente das laranjas de umbigo é o seu baixo rendimento para</p><p>produção industrial de suco (em torno de 40%), quando comparado com os fru-</p><p>tos de outros cultivares, como Pêra Rio, Natal, Valencia e Folha Murcha.</p><p>As plantas desse grupo apresentam baixa estabilidade genética, com ten-</p><p>dência a produzir mutantes, pelo processo conhecido como “mutações de gema”.</p><p>07</p><p>49</p><p>Vários desses mutantes foram selecionados, avaliados e multiplicados, gerando</p><p>diversos cultivares em todo o mundo, principalmente nos países que produzem</p><p>laranjas para consumo de mesa em maior escala.</p><p>O cultivar mais importante no Brasil é o ‘Bahia’, conhecido inter-</p><p>nacionalmente como ‘Washington Navel’, seguido pelo ‘Baiani-</p><p>nha’. Acredita-se que a laranjeira ‘Bahia’ tenha se originado no</p><p>estado da Bahia, no século XIX, como uma mutação da laran-</p><p>jeira ‘Seleta’. Além desses cultivares, há vários outros que são</p><p>importantes no mundo, como Navelina, Navelate e Lanelate.</p><p>1.2. Laranjas sanguíneas (Figura 21 b)</p><p>São pouco cultivadas no Brasil, mas apresentam valor comercial em alguns</p><p>países do Mediterrâneo, como Itália, Espanha e Marrocos. O suco dos frutos tem</p><p>cor vermelha, cuja intensidade depende do cultivar e das condições climáticas</p><p>da região de cultivo. Climas amenos e/ou com dias quentes e noites frias favore-</p><p>cem a formação de antocianinas nos frutos, resultando em coloração vermelha</p><p>mais intensa do suco. Tal coloração pode se manifestar também no albedo e fla-</p><p>vedo dos frutos. As antocianinas são conhecidas como um grupo de pigmentos</p><p>antioxidantes. Os principais cultivares desse grupo são ‘Moro’, ‘Sanguinelli’, ‘San-</p><p>guinello’ e ‘Tarocco’.</p><p>Há também as laranjas denominadas falsas sanguíneas, cuja coloração da</p><p>polpa deve-se à presença de carotenoides, principalmente de licopeno, que es-</p><p>tão presentes nas vesículas de suco. Nessas laranjas, embora a polpa seja verme-</p><p>lha, o suco não apresenta essa característica pelo fato dos pigmentos estarem</p><p>nas películas, e não no suco. Nessas variedades, as condições climáticas necessá-</p><p>rias para o desenvolvimento da pigmentação nos frutos são diferentes daquelas</p><p>exigidas pelas verdadeiras sanguíneas, sendo necessária a ocorrência de tem-</p><p>peraturas elevadas durante o desenvolvimento dos frutos. São exemplos desse</p><p>grupo a ‘Cara Cara’, que é uma variedade de Umbigo selecionada na Venezuela e</p><p>a ‘Mombuca’, selecionada em São Paulo.</p><p>1.3. Laranjas sem acidez ou de baixa acidez (Figura 21c)</p><p>Os frutos têm teores de acidez muito baixos, quando comparados aos frutos</p><p>de outros cultivares de laranjeiras, variando de 0,05% a 0,1% de ácido cítrico, en-</p><p>quanto a acidez das laranjas dos demais cultivares está em torno de 1%. A baixa</p><p>acidez permite a colheita precoce dos frutos, tão logo alcancem teores adequa-</p><p>dos de suco para o consumo (40%), mesmo estando com a casca verde.</p><p>Devido à baixa acidez, não são utilizados para a produção de suco, mas são</p><p>apreciados e recomendados para pessoas que não podem consumir frutos áci-</p><p>dos de citros. Os principais cultivares de laranjas desse grupo no Brasil são as</p><p>laranjeiras ‘Lima’; ‘Piralima’, ‘Lima tardia’ e ‘Serra d’água’.</p><p>1.4. Laranjas comuns (Figura 21d)</p><p>Fazem parte desse subgrupo, os cultivares que não se enquadram nos ante-</p><p>riores, incluindo as principais laranjeiras do Brasil. Há grande heterogeneidade</p><p>entre plantas e frutos dos cultivares pertencentes a esse grupo. Quanto às plan-</p><p>tas, as variações ocorrem no tamanho, morfologia foliar, época de produção e</p><p>produtividade.</p><p>Nos frutos, diferenças são observadas tanto nas características externas (ta-</p><p>manho, cor, formato) quanto nas internas (acidez, açúcares, quantidade e cor do</p><p>Õ</p><p>50</p><p>suco). No entanto, todos apresentam acidez média entre 0,8-1,1%, suco com cor</p><p>amarela e ausência de umbigo. Os cultivares de laranjeiras mais importantes em</p><p>área cultivada e produção no Brasil pertencem a esse subgrupo. Os principais</p><p>são as laranjeiras ‘Pêra Rio’, ‘Natal’, ‘Valência’, ‘Hamlin’, ‘Rubi’, ‘Westin’, ‘Folha Murcha’</p><p>e ‘Salustiana’. A ordem dos cultivares não está relacionada à importância de cada</p><p>um.</p><p>2. LARANJAS AZEDAS (CITRUS AURANTIUM) (Figura 21e)</p><p>Durante muitos anos, cultivares desse grupo foram usados como porta-en-</p><p>xertos nas regiões citrícolas do mundo, inclusive no Brasil. Com a disseminação</p><p>da “tristeza dos citros” (virose), porém, ela deixou de ser usada para essa finali-</p><p>dade. No Brasil, o vírus da tristeza dos citros foi introduzido em 1937. Há relatos</p><p>sobre a perda de milhões de plantas após a introdução do vírus. Esse problema</p><p>foi resolvido com a utilização de porta-enxertos tolerantes.</p><p>Inicialmente, foi classificada botanicamente como pertencente à mesma es-</p><p>pécie das laranjas doces (Citrus sinensis), mas diferenças entre as plantas e frutos</p><p>foram responsáveis pela sua separação em duas espécies. As plantas da laran-</p><p>jeira azeda são menores, com a copa mais arredondada do que a das laranjeiras</p><p>doces. As folhas são mais estreitas, menos espessas, com pecíolos mais longos e</p><p>asas mais desenvolvidas. A coloração das folhas é mais escura e com aroma mais</p><p>intenso. Os frutos apresentam pericarpo mais espesso, rugoso e o albedo tem</p><p>coloração alaranjada forte e brilhante. As glândulas de óleo estão deprimidas,</p><p>em relação ao nível da casca.</p><p>Os frutos têm sabor amargo quando maduros, devido à presença do com-</p><p>posto químico neo-hesperidina. Atualmente, são usados principalmente para a</p><p>fabricação de doces em calda, cristalizados, ou para a produção de óleos essen-</p><p>ciais a partir da casca dos frutos. A partir das flores, é destilado um óleo, conheci-</p><p>do como o “óleo essencial de neroli”, usado na perfumaria e para fins medicinais.</p><p>As plantas são usadas para fins ornamentais, em vasos e também para arboriza-</p><p>ção de ruas e praças de vários países mediterrâneos.</p><p>Embora existam muitos cultivares de laranja azeda no mundo, no Brasil eles</p><p>são pouco conhecidos. Os principais cultivares de laranja azeda são Sevilhano e</p><p>Buquê de Flores.</p><p>3. TANGERINAS</p><p>As tangerinas formam um grupo que apresenta alta variabilidade nas carac-</p><p>terísticas das plantas e dos frutos. Só perdem em importância econômica para as</p><p>laranjas. São muito importantes na Ásia, principalmente na China, que é o maior</p><p>produtor mundial de tangerinas, e também no Japão.</p><p>As plantas apresentam espinhos em pequeno número ou ausentes, as folhas</p><p>são pequenas e lanceoladas com pecíolo comprido e com asas muito pequenas</p><p>ou ausentes. Entre as espécies do gênero Citrus, são as mais tolerantes às baixas</p><p>temperaturas, 52 delas adaptam-se bem em locais com temperaturas altas.</p><p>As sementes são poliembriônicas, com cotilédones verdes. As características</p><p>principais dos frutos são a casca solta, presente na maioria dos cultivares; forma-</p><p>to achatado (oblado). Normalmente, têm grande número de sementes, embora</p><p>existam cultivares aspérmicos (sem sementes).</p><p>Os problemas mais frequentes observados nas tangerinas são a produção de</p><p>frutos de pequeno tamanho, devido à excessiva fixação de frutos e competição</p><p>entre eles; a produção de grande número de sementes, como observado nas</p><p>51</p><p>tangerinas ‘Poncã’, ‘Cravo’, mexerica ‘Rio’; alternância de produção e fragilidade</p><p>da casca, causando problemas na colheita, transporte e beneficiamento. As tan-</p><p>gerinas são classificadas em seis subgrupos.</p><p>3.1. Satsumas (C. unshiu) (Figura 21f)</p><p>Originárias do Japão e cultivadas principalmente no Japão, Espanha e China,</p><p>as Satsumas não se adaptaram bem as condições de clima e solo do Brasil e, por</p><p>isso, são pouco cultivadas aqui. Há um grande número de cultivares que foi sur-</p><p>gindo, uns a partir de outros, por mutações de gema.</p><p>As plantas produzem frutos pequenos, casca fina, lisa e facilmente separá-</p><p>vel da polpa; glândulas de óleo salientes; normalmente sem sementes, devido</p><p>à presença de esterilidade masculina e feminina em suas flores. Os frutos são</p><p>usados para consumo de mesa e produção de sucos. A ausência de sementes os</p><p>torna adequados para a industrialização dos gomos, que são preparados em cal-</p><p>da adocicada e acondicionados em latas ou vidros. Os frutos são muito utilizados</p><p>também para o processamento mínimo, que consiste em lavá-los, descascá-los</p><p>e acondicioná-los em embalagens plásticas rígidas de polipropileno com tampa,</p><p>que são mantidas sob temperatura baixa até o momento do consumo.</p><p>Alguns cultivares são muito precoces, possuindo, entre os citros, a mais bai-</p><p>xa necessidade em graus dia para o amadurecimento dos frutos. De todas as</p><p>tangerinas, as satsumas são as mais tolerantes ao frio, principalmente quando</p><p>enxertadas em Poncirus trifoliata. Exemplos de cultivares: Hashimoto, Miyamoto,</p><p>Clausellina, Miho, Okitsu, Kawano, Owari, Clausellina.</p><p>3.2. King (Citrus nobilis)</p><p>A tangerineira King é pouco cultivada no Brasil e no mundo. Seus frutos são</p><p>grandes, com a casca grossa, rugosa e moderadamente aderida ao endocarpo.</p><p>Produzem grande número de sementes.</p><p>Os frutos são de colheita tardia e, por isso, é comum serem de safras diferen-</p><p>tes na mesma planta. Devido ao fato de as plantas terem folhagem esparsa, os</p><p>frutos ficam expostos ao sol e, consequentemente, estão sujeitos a queimadu-</p><p>ras. Alguns autores consideram a tangerineira King como híbrido entre laranjeira</p><p>e tangerineira, enquanto outros a consideram como híbrido entre tangerineira</p><p>e toranjeira.</p><p>3.3. Mediterrâneo (Citrus deliciosa) (Figura 21g)</p><p>Mexeriqueiras desse grupo foram as primeiras a serem introduzidas na re-</p><p>gião do Mediterrâneo, a partir da região de origem (China). Por isso, recebeu</p><p>a denominação de tangerina do Mediterrâneo. No Brasil, o principal cultivar é</p><p>conhecido como mexerica Rio.</p><p>As plantas apresentam crescimento lento, tamanho médio, com ramos pen-</p><p>dentes, quase sem espinhos. As folhas são facilmente reconhecidas, em função</p><p>de seu tamanho e largura reduzidos.</p><p>Os frutos são de tamanho médio, com casca lisa, fina, brilhante de cor amare-</p><p>lada, com grandes glândulas de óleo. Normalmente, produzem grande número</p><p>de sementes por fruto. O óleo da casca tem um cheiro característico, que distin-</p><p>gue as mexericas das tangerinas. No Rio Grande Sul são conhecidas como ber-</p><p>gamotas.</p><p>Exemplos: Mexerica Rio, Avana di Palermo, Clemendor, Montenegrina (origi-</p><p>nada por mutação da mexerica do Rio, no Rio Grande de Sul, em Montenegro).</p><p>3.4. Tangerinas comuns</p><p>52</p><p>Esse grupo dispõe de um grande número de cultivares, com características</p><p>das plantas e dos frutos bastante variáveis entre si, dificultando obter caracterís-</p><p>ticas que sejam comuns a todos. A exceção é o fato de que os frutos geralmente</p><p>apresentam a casca um pouco mais presa do que a das das tangerinas Satsuma e</p><p>do Mediterrâneo. Também têm menor tendência, com exceção da ‘Poncã’ (Citrus</p><p>reticulata), de apresentar um problema nos frutos, conhecido como inchamento</p><p>do fruto, bufado (espanhol), peel puffing ou puffiness (inglês), que se caracteriza</p><p>pela separação da casca da polpa, antes ou após a colheita, principalmente nos</p><p>frutos colhidos no final da safra.</p><p>Nesse grupo estão incluídos alguns dos mais importantes cultivares de ci-</p><p>tros do mundo, como as tangerineiras ‘Poncã’ (Figura 21h), ‘Cravo’, ‘clementinas’</p><p>(Figura 21i), ‘Dancy’ e ‘Tankan’. No Brasil, a ‘Poncã’ é a tangerineira mais cultivada,</p><p>embora existam pomares, principalmente no Rio Grande do Sul, de mexeriquei-</p><p>ras Rio e Montenegrina (Citrus deliciosa).</p><p>As clementinas são constituídas por um grupo grande de variedades, cultiva-</p><p>das em larga escala na Espanha para consumo interno e exportação dos frutos.</p><p>A classificação é baseada mais em razões comerciais do que botânicas. Os frutos</p><p>são de tamanho pequeno a médios, e os diversos cultivares foram selecionados</p><p>de plantas onde houve a ocorrência natural de mutações de gema.</p><p>Uma característica comum das clementinas é que os frutos não têm semen-</p><p>tes, devido à autoincompatibilidade, que é a incapacidade de uma planta fértil</p><p>formar sementes quando fertilizada por seu próprio pólen. Entretanto, o plantio</p><p>de pomares de outros cultivares de tangerineiras, híbridos ou mesmo de laran-</p><p>jeiras, próximos aos pomares de clementinas, resultará em polinização e fecun-</p><p>dação entre elas, propiciando a formação de sementes nos frutos, característica</p><p>essa que reduz o seu valor comercial.</p><p>Alguns cultivares de clementinas: Fina, Hernadina, Oronules, Clemenules, Ar-</p><p>rufatina, Marisol e Lorentina.</p><p>3.5. Tangerinas de frutos pequenos</p><p>Formam um grupo amplo e com várias espécies, das quais algumas varieda-</p><p>des são usadas na China para o consumo de mesa. Os dois cultivares mais co-</p><p>nhecidos no Brasil são as tangerineiras ‘Sunki’ e ‘Cleópatra’, que produzem frutos</p><p>com poucos centímetros de diâmetro, de acidez alta e indicados para uso como</p><p>porta-enxertos ou como plantas ornamentais.</p><p>4. LIMAS</p><p>Também existe grande variação morfológica entre as espécies e cultivares</p><p>de lima. As características comuns entre elas são: as folhas lanceoladas,</p><p>de ápice</p><p>arredondado; os frutos de casca fina e lisa, de forma arredondada a elípticos;</p><p>planta com várias floradas ao ano; boa adaptação a locais de clima tropical e me-</p><p>nor tolerância ao frio do que outras espécies de citros. As limeiras são as plantas</p><p>do gênero Citrus menos tolerantes ao frio e, por isso, são indicadas para cultivo</p><p>em locais de clima tropical e úmidos ou semiáridos, com irrigação.</p><p>No grupo das limas, existem cultivares que produzem frutos ácidos, com</p><p>alto valor comercial, conhecidos popularmente como “limões” e as limas doces.</p><p>As limas ácidas importantes no Brasil são ‘Tahiti’ (Citrus latifolia) (Figura 21 j) e</p><p>‘Galego’(Citrus aurantifolia) (Figura 21 l).</p><p>A lima ‘Tahiti’, ao longo dos anos, está substituindo a ‘Galego’ no mercado de</p><p>frutos ácidos, sendo atualmente a mais plantada no Brasil. As principais razões</p><p>são a ausência de sementes; frutos de maior tamanho; plantas mais tolerantes à</p><p>53</p><p>tristeza dos citros, garantindo maior longevidade e produtividade aos pomares,</p><p>e ausência de espinhos nas plantas, facilitando o manejo.</p><p>Os dois principais clones de ‘Tahiti’ usados no Brasil são o ‘Quebra Galho’ e o</p><p>‘IAC 5’ ou ‘Peruano’. Esse último apresenta copa vigorosa, frutos redondos, com</p><p>casca rugosa e maior conservação pós-colheita. Por outro lado, o clone ‘Quebra</p><p>Galho’ está infectado com o complexo de viroides da exocorte, o que induz me-</p><p>nor porte às plantas e a presença de fissuras ou rachaduras na casca do tronco e</p><p>dos ramos grossos. A copa é menos vigorosa, havendo, por isso, maior arejamen-</p><p>to e incidência de luz no seu interior. Os frutos são alongados e com casca lisa.</p><p>Muitas flores apresentam hipertrofia do cálice, ocasionando queda dos frutos.</p><p>As plantas do ‘Galego’ são menos vigorosas que as de ‘Tahiti’, com folhas me-</p><p>nores, copa arredondada e irregular, e a safra é mais concentrada no primeiro se-</p><p>mestre, com pouca produção extemporânea. Os frutos têm aroma característico,</p><p>são menores que do ‘Tahiti’, apresentam sementes e são comercializados tanto</p><p>com a casca verde quanto amarela.</p><p>As limas doces foram classificadas como Citrus limettioides por Tanaka. Em-</p><p>bora não tenham a mesma expressão comercial que as limas ácidas, têm con-</p><p>sumidores fiéis no Brasil, sendo cultivada para consumo de mesa em diversos</p><p>estados.</p><p>As plantas apresentam copa aberta, com folhas de coloração verde claro, e</p><p>ramos longos. A colheita dos frutos é de meia estação, mas as plantas têm ten-</p><p>dência de florescer várias vezes ao ano.</p><p>As limas doces, da mesma forma que as laranjas de baixa acidez, têm teor de</p><p>ácidos muito baixos e, por isso, os frutos são considerados insípidos. Têm casca</p><p>muito fina e lisa, aderidas à polpa. Há cultivares cuja casca e polpa dos frutos</p><p>são de coloração amarelo claro quando estão maduros, como a lima da ‘Pérsia’</p><p>(Figura 21m) e cultivares cujos frutos têm a casca alaranjada, semelhante à das</p><p>laranjas, como a lima ‘Dourada’. A polpa apresenta sabor levemente amargo, que</p><p>é característico das limas doces.</p><p>5. LIMÕES (CITRUS LIMON) (FIGURA 21N)</p><p>Também são pouco cultivados no Brasil, embora as condições de clima e solo</p><p>sejam adequadas ao seu cultivo. A pequena importância dos limões no Brasil</p><p>provavelmente deve-se ao desconhecimento das qualidades dos frutos e à falta</p><p>de tradição de consumo, mas há tendência de aumento na área de cultivo. No</p><p>Brasil, os limões são cultivados principalmente em São Paulo, cujos frutos são</p><p>usados preferencialmente para produção de suco e extração de óleos essenciais</p><p>da casca. O suco fresco é indicado para uso na gastronomia, como condimento</p><p>para sopas, saladas, bebidas, peixes e sobremesas. Há bebidas alcoólicas famosas</p><p>feitas a partir da casca dos limões, como o licor Limoncello, produzido na Itália.</p><p>As plantas são vigorosas, com folhas grandes de cor verde claro quando</p><p>adultas e com as brotações de cor púrpura. As flores são grandes, de cor púrpura</p><p>na parte externa das pétalas e produzidas em inflorescências. Frequentemente,</p><p>produzem flores estaminadas, ou seja, apenas com o androceu. Os limões ten-</p><p>dem a florescer durante todo o ano, da mesma forma que as limas.</p><p>Os frutos são ovais, com um “mamilo” característico na extremidade estilar e</p><p>com “pescoço” na extremidade basal (pecíolo). A casca é aderida ao endocarpo,</p><p>fina e amarela quando os frutos estão maduros. A polpa é de cor amarelo claro</p><p>ou esverdeada, com acidez titulável elevada, que varia entre 5,0% a 5,5% de áci-</p><p>do cítrico.</p><p>Exemplos de cultivares de limão: ‘Eureka’, ‘Siciliano’, ‘Lisboa’ e Feminello’.</p><p>54</p><p>6. POMELOS – GRAPEFRUIT (CITRUS PARADISI) (FIGURA 21 O)</p><p>Os pomelos têm pouca importância comercial no Brasil, devido à falta de</p><p>hábito de consumo pela população e ao sabor amargo dos frutos. Inicialmente,</p><p>sua origem foi atribuída a uma mutação de gema ocorrida em toranjeira. Poste-</p><p>riormente, surgiu a hipótese de que fosse resultante da hibridação natural entre</p><p>toranjeira e laranjeira doce. Mesmo com a possível origem híbrida, os pomelos</p><p>são classificados como Citrus paradisi.</p><p>As plantas se adaptam bem em regiões de clima tropical, mas são pouco</p><p>tolerantes ao frio, quando comparadas com as laranjeiras e tangerineiras. Os po-</p><p>meleiros adultos chegam a medir até 6 m de altura, apresentando o topo arre-</p><p>dondado e ramos espalhados. As folhas são grandes, medindo de 7,5 a 15 cm de</p><p>comprimento e 4,5 a 7,5 cm de largura, apresentando asas muito desenvolvidas</p><p>no pecíolo. As flores e os frutos também são grandes, sendo inferiores apenas</p><p>aos das toranjeiras, no gênero Citrus. Os frutos são usados para consumo in natu-</p><p>ra ou para a produção de suco e as sementes são grandes e rugosas. Em regiões</p><p>de inverno frio, os frutos apresentam sabor ácido e amargo (conferido pelo gli-</p><p>cosídeo naringina), prejudicando sua qualidade.</p><p>Os pomelos são classificados em dois grupos, em função da cor da polpa dos</p><p>frutos: pomelos comuns (polpa e casca dos frutos de cor amarelo-pálido) e po-</p><p>melos pigmentados (polpa de cor vermelha ou rosa, cuja intensidade depende</p><p>do cultivar e do clima). Atualmente, os pomelos de polpa pigmentada são pre-</p><p>feridos, devido à natureza de seu pigmento, que é o licopeno. Diferentemente</p><p>do pigmento das laranjas sanguíneas, o licopeno é um pigmento carotenoide</p><p>que alcança altas concentrações nos frutos produzidos por plantas cultivadas</p><p>em locais quentes.</p><p>Entre os cultivares de polpa amarela, os mais conhecidos são ‘Marsh seedless’</p><p>e ‘Duncan’. Os de polpa pigmentada mais conhecidos são ‘Rubi’, ‘Star Rubi’e ‘Red</p><p>Blush’.</p><p>7. TORANJAS (CITRUS MAXIMA) (FIGURA 21 P)</p><p>Praticamente não são cultivadas no Brasil, porém têm importância na Ásia</p><p>(China, Tailândia, Indonésia) e são comercializados frequentemente na Europa.</p><p>As toranjeiras são plantas pequenas, compactas, que produzem folhas muito</p><p>grandes e com asas muito desenvolvidas nos pecíolos. As nervuras das folhas e</p><p>as brotações novas apresentam pelos. As folhas, flores e os frutos são os maio-</p><p>res produzidos entre as plantas do gênero Citrus. Os frutos medem de 15 a 25</p><p>centímetros de diâmetro, pesando entre 1 e 2 kg, mas alguns podem chgar a</p><p>3 kg. A casca dos frutos é espessa, com 2-3 cm de espessura e albedo frouxo e</p><p>esponjoso.</p><p>Como no grupo dos pomelos, existem toranjas comuns e pigmentadas (cor</p><p>rósea ou vermelha dos frutos). Os frutos são usados para consumo in natura e</p><p>para a produção de doces. O sabor dos frutos é amargo, mas mais suave do que</p><p>o dos pomelos. Existe cultivares que produzem frutos com baixa acidez, como</p><p>as laranjeiras.</p><p>8. CIDRAS (CITRUS MEDICA) (FIGURA 21Q)</p><p>As cidras são pouco importantes no Brasil, porém são cultivadas em pomares</p><p>domésticos de todos os estados, para a produção de frutos que são usados para</p><p>55</p><p>a elaboração de doces, nas formas de compotas e cristalizado.</p><p>As plantas são arbustos com formato irregular de copa, com folhas grandes,</p><p>ovais, com pecíolo curto ou sem pecíolos. As flores são grandes e de cor púrpu-</p><p>ra, para os cultivares ácidos, e brancas para cultivares de polpa doce. Como os</p><p>limões, produzem</p><p>certo número de flores masculinas. São pouco tolerantes ao</p><p>frio e apresentam tendência de produção de flores durante todo o ano.</p><p>Os frutos são grandes, ovalados e irregulares, com um “mamilo” na extremi-</p><p>dade estilar. Aprsentam a casca muito firme, compacta, espessa e rugosa, com</p><p>aroma característico.</p><p>Os principais cultivares são ‘Diamante’ (polpa ácida), ‘Córsega’ (polpa doce),</p><p>‘Mão de Buda’ (ornamental), ‘Etrog’.</p><p>Laranja “Bahia” Laranja “Sanguínea”</p><p>Laranja “Sorocaba” Laranja “Valencia”</p><p>Laranja Azeda</p><p>Satuma “Okitsu”</p><p>Mexerica “Rio”</p><p>Tangerina “Poncã”</p><p>a b</p><p>c d</p><p>e f</p><p>g h</p><p>56</p><p>“Clemenules”</p><p>Lima ácida “Tahiti”</p><p>Lima ácida “Galego”</p><p>Lima da “Pérsia”</p><p>Limão “verdadeiro”</p><p>Pomelo</p><p>Toranja</p><p>Cidra</p><p>Figura 21: Classificação agronômica dos citros – Laranja de Umbigo (a); laranja Sanguínea (b); la-</p><p>ranja de baixa acidez (c); laranja comum (d); laranja azeda (e); tangerina satsuma (f ); tangerina do</p><p>Mediterrâneo (g); tangerina comum (h); tangerina clementina (i); limas ácidas (j, l); lima doce (m);</p><p>limão (n); pomelo (o); toranja (p) e cidra (q). Observação: as diferenças entre os tamanhos dos fru-</p><p>tos visualizados não condizem com a realidade, porque as fotografias não estão na mesma escala.</p><p>i j</p><p>l</p><p>o</p><p>m</p><p>n</p><p>p q</p><p>57</p><p>PORTA-ENXERTOS</p><p>A escolha do porta-enxerto é um dos principais fatores a considerar quan-</p><p>do se pretende implantar um pomar de citros, porque ele é responsável pela</p><p>sustentação da planta, absorção de água e nutrientes do solo; síntese de alguns</p><p>hormônios, pelo sistema radicular; adaptação a solos com diferentes característi-</p><p>cas, tolerância a pragas e doenças, tamanho das plantas, e a qualidade dos frutos</p><p>do cultivar copa enxertado sobre ele (Tabela 10). Em função de sua influência</p><p>sobre todas essas características tão importantes para o citricultor, fica eviden-</p><p>ciado que a escolha de um porta-enxerto inadequado às condições de clima e</p><p>solo do local onde o pomar será implantado pode resultar em fracasso do em-</p><p>preendimento.</p><p>Além disso, para os viveiristas, é importante que as plantas dos porta-enxer-</p><p>tos tenham crescimento vigoroso e facilidade de cultivo no viveiro, sejam homo-</p><p>gêneas e apresentem compatibilidade de enxertia com as principais variedades</p><p>de copa cultivadas comercialmente.</p><p>Entretanto, é importante ressaltar que nem todos os porta-en-</p><p>xertos de interesse dos citricultores atendem aos interesses dos</p><p>viveiristas. Por exemplo, o porta-enxertos ananicante trifoliata</p><p>‘Flying Dragon’, que induz baixo crescimento à planta como um</p><p>todo, apresenta crescimento lento no viveiro. Por isso, o tempo</p><p>para a produção da muda aumenta consideravelmente.</p><p>Também é importante lembrar que não existe um porta-enxerto que seja</p><p>adequado para todos os locais, variedades e condições de manejo. Isso significa</p><p>que é necessária a realização de análise criteriosa das condições de clima e solo</p><p>da área destinada à implantação do pomar, das variedades de copa a serem uti-</p><p>lizadas e dos tratos culturais a serem empregados no pomar, principalmente a</p><p>irrigação, para definição de quais porta-enxertos deverão ser utilizados. A citri-</p><p>cultura é uma atividade dinâmica, que exige mudanças frequentes com o passar</p><p>do tempo, devido a alterações nas preferências de mercado, necessidade de au-</p><p>mento da produtividade, alterações climáticas, novas pragas e doenças, plantios</p><p>em novas regiões, com características de solo e de clima diferentes daquelas das</p><p>regiões tradicionais de cultivo. Esses fatores demandam, entre outras modifica-</p><p>ções, a criação de novos cultivares copa e novos porta-enxertos, seja via intro-</p><p>dução a partir de outros países ou regiões ou via programas de melhoramento</p><p>conduzidos no Brasil. Embora existam pesquisas sendo conduzidas nessa área,</p><p>os porta-enxertos usados pelos citricultores brasileiros têm sido os mesmos nos</p><p>últimos anos, com predomínio do limoeiro Cravo. Os principais porta-enxertos</p><p>usados no Brasil estão descritos a seguir.</p><p>08</p><p>Õ</p><p>58</p><p>Tabela 10. Características influenciadas pelos principais porta-enxertos de</p><p>citros recomendados para o Brasil</p><p>Características</p><p>influenciadas</p><p>pelos</p><p>porta-enxertos</p><p>Principais porta-enxertos</p><p>Limoeiro</p><p>‘Cravo’</p><p>Limoeiro</p><p>‘Volkameriano’1</p><p>Tangerineira</p><p>‘Sunki’</p><p>Tangerineira</p><p>‘Cleópatra’</p><p>Poncirus</p><p>trifoliata2</p><p>Citrumeleiro</p><p>‘Swingle’2</p><p>Citrangeiro</p><p>‘Troyer’2</p><p>Citrangeiro</p><p>‘Carrizo’2</p><p>Laranjeira</p><p>‘Caipira’</p><p>Tristeza Grande Grande Grande</p><p>Phytophthora Média Média Média Médi a Alta Alta Alta Alta Baixa</p><p>Declínio Suscetível Suscetível Tolerante Tolerante Suscetível Tolerante Suscetível Suscetível Tolerante</p><p>Morte Súbita Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Tolerante Tolerante Tolerante Tolerante Tolerante</p><p>Nematóide</p><p>T.semipenetrans</p><p>Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Resistente Resistente Resistente Resistente Suscetível</p><p>Solo indicado Arenoargi-</p><p>loso</p><p>Arenoargiloso Argiloso Argiloso Úmido/</p><p>argiloso</p><p>Arenoso/</p><p>Argiloso</p><p>Arenoso/</p><p>Argiloso</p><p>Arenoso/</p><p>Argiloso</p><p>Argiloso</p><p>Tolerância à</p><p>seca</p><p>Grande Grande Média Média Média Média Média Média Baixa</p><p>Início da</p><p>produção</p><p>Precoce Precoce Médio Tardia Precoce Precoce Precoce Precoce Médio</p><p>Produtividade Boa Boa Boa Boa Boa Boa Boa Boa Boa</p><p>Qualidade dos</p><p>frutos</p><p>Média Média Boa Boa Alta Boa Boa Boa Boa</p><p>Vigor da copa Médio Médio Grande Grande Pequeno Grande Médio Médio Grande</p><p>1. LIMOEIRO CRAVO - CITRUS LIMONIA (L.) OSBECK</p><p>O limoeiro ‘Cravo’ (Figura 22 a) é originário da Índia. Provavelmente é um hí-</p><p>brido envolvendo uma tangerina como genitor, visto que seus frutos apresen-</p><p>tam semelhanças com as tangerinas, como o formato e cor da casca. É o porta-</p><p>-enxerto mais utilizado no Brasil e praticamente o único usado em Minas Gerais.</p><p>Cabe observar que existem várias seleções de limoeiro Cravo, com diferenças</p><p>morfológicas entre si, e provavelmente, com diferentes comportamentos, como</p><p>porta-enxertos. Portanto, é importante saber exatamente qual seleção está sen-</p><p>do usada para a produção de mudas. A existência de diferentes seleções deve-</p><p>-se à multiplicação por sementes e à sobrevivência de um número expressivo</p><p>de embriões zigóticos. Isso porque a porcentagem de poliembrionia do ‘Cravo’</p><p>varia de 40 a 50%. Outra provável explicação é a existência de plantas oriundas</p><p>de mutações. Essa observação também é válida para outros porta-enxertos.</p><p>O limoeiro Cravo, como porta-enxerto, apresenta características importantes</p><p>para a citricultura brasileira, principalmente por sua tolerância ao estresse hídri-</p><p>co, precocidade de produção a partir do plantio das mudas e indução de boa</p><p>produtividade nas variedades copa.</p><p>Peter Henry Rolfs, ex-diretor da Escola Superior de Agricultura e Veteriná-</p><p>ria (Esav), em 1927, - hoje Universidade Federal de Viçosa (UFV) - foi o primeiro</p><p>a reconhecer a importância do Cravo como porta-enxerto para os citros, fato</p><p>documentado em seu livro A muda de citros, pedra angular da indústria citrícola,</p><p>publicado em 1931.</p><p>As principais características do ‘Cravo’ com porta-enxerto são a tolerância à</p><p>tristeza, resistência à seca, alta produtividade das plantas, precocidade da pro-</p><p>dução, compatibilidade com todas os cultivares copa usados no Brasil, susceti-</p><p>bilidade à exocorte, xiloporose, declínio e moderada suscetibilidade à gomose</p><p>e verrugose, sendo que a última ocorre na fase de produção do porta-enxerto.</p><p>1 Não é indicado como porta-enxerto para a laranja ‘Pêra Rio’</p><p>2Não é indicado como porta-enxerto para laranja ‘Pêra Rio’ e tango reira ‘Murcote’</p><p>59</p><p>As copas recém-enxertadas sobre o limoeiro Cravo crescem vigorosamente</p><p>e, quando adultas, as plantas dos cultivares copa apresentam tamanho médio.</p><p>O limoeiro Cravo induz qualidade média aos frutos das copas enxertadas sobre</p><p>ele, com a produção de frutos geralmente grandes e com baixo a médio teor de</p><p>sólidos solúveis.</p><p>A maturação dos frutos do limoeiro ‘Cravo’ ocorre a partir de maio, esten-</p><p>dendo-se até julho ou agosto. O número médio de sementes por quilo é 16.555,</p><p>apresenta peso médio dos frutos de 77 g, e nove sementes por fruto, em média.</p><p>É recomendado como porta-enxerto para os principais</p><p>cultivares copa usados</p><p>no Brasil (laranjas, tangerinas, limas e limões).</p><p>2. LIMOEIRO ‘VOLKAMERIANO’ - CITRUS VOLKAMERIANA TEN & PASQ.</p><p>O limoeiro ‘Volkameriano’ (Figura 22 b) é, provavelmente, um híbrido nat ural</p><p>de limoeiro (Citrus limon) com laranjeira azeda (Citrus aurantium). Como porta-</p><p>-enxerto, induz a produção de plantas de grande porte, vigorosas e produtivas,</p><p>apresentando características similares às apresentadas pelo Cravo. Suas princi-</p><p>pais desvantagens são suscetibilidade ao declínio e a morte súbita dos citros, má</p><p>qualidade do suco, inferior à obtida sobre o limão ‘Cravo’, incompatibilidade com</p><p>a laranjeira ‘Pêra’ e moderada sensibilidade à Phytophthora spp.</p><p>A planta de ‘Volkameriano é tolerante a tristeza, xiloporose e exocorte, mas</p><p>é susceptível aos nematóides e ao declínio. Adapta-se a todos os tipos de solos,</p><p>porém, por ser suscetível à gomose, recomenda-se sua utilização em solos pro-</p><p>fundos e bem drenados. Apresenta sensibilidade ao frio.</p><p>Seus frutos amadurecem a partir de abril, apresentam 12.625 sementes por</p><p>quilo, em média, peso médio dos frutos de 152 g e número médio de sementes</p><p>por fruto igual a 23. O ‘Volkameriano’ é indicado para laranjas doces, com exce-</p><p>ção de alguns clones de laranjeira ‘Pêra’.</p><p>3. TANGERINEIRA ‘CLEÓPATRA’ - CITRUS RESHNI HORT. EX. TAN.</p><p>Nativa da Índia, a ‘Cleópatra’ (Figura 22 c) foi introduzida nos Estados Unidos</p><p>em torno de 1888 (século XIX), a partir da Jamaica. A planta, em virtude de ser</p><p>muito produtiva e apresentar frutos bastante coloridos (alaranjados), pode tam-</p><p>bém ser utilizada como ornamental.</p><p>As mudas de ‘Cleópatra’ apresentam vigor médio no viveiro. As plantas en-</p><p>xertadas sobre a tangerineira ‘Cleópatra ‘apresentam vigor moderado a alto, pro-</p><p>duzem sistema radicular amplo e denso, o que confere uma razoável tolerância</p><p>a seca, porém menor que a induzida pelo ‘Cravo’.</p><p>Um dos principais fatores limitantes ao uso da ‘Cleópatra’ é que as variedades</p><p>copa enxertadas sobre ela demoram mais tempo para iniciar as primeiras produ-</p><p>ções após o plantio das mudas, quando comparada com outros porta-enxertos.</p><p>Esse fato é evidenciado principalmente quando as copas são laranjeiras. O pro-</p><p>blema é menos pronunciado quando a copa é de tangerineiras.</p><p>A tangerineira ‘Cleópatra’ é tolerante a tristeza, xiloporose, exocorte, solos</p><p>salinos e parcialmente tolerante ao declínio dos citros, sendo indicada para áreas</p><p>ou regiões onde o problema ocorre. É susceptível ao nematóide Tylenchulus e à</p><p>gomose. Adapta-se a solos com características bastante diversificadas, desde so-</p><p>los arenosos até solos argilosos, embora as plantas enxertadas sobre a Cleópatra</p><p>apresentem maior produção em solos argilosos.</p><p>Os frutos produzidos pelas plantas enxertadas sobre Cleópatra geralmente</p><p>60</p><p>são menores que os produzidos por plantas enxertadas em outros porta-enxer-</p><p>tos. Induz boa qualidade aos frutos das variedades de tangerineiras, laranjeiras</p><p>e pomeleiros.</p><p>Seus frutos amadurecem a partir de maio, apresentando cerca de 12.152 se-</p><p>mentes por quilograma. O peso médio dos frutos é de 47 g e o número médio</p><p>de sementes por fruto é 20.</p><p>4. TANGERINEIRA ‘SUNKI’ - CITRUS SUNKI HORT. EX. TAN</p><p>Provavelmente originária do Sul da China, o comportamento da Sunki (Figu-</p><p>ra 22 d) como porta-enxerto é semelhante ao da ‘Cleópatra’. As principais diferen-</p><p>ças são a sua maior suscetibilidade à gomose e a produção inicial mais precoce.</p><p>Seu maior inconveniente está na obtenção de sementes, pois normalmente</p><p>produz de duas a três sementes viáveis por fruto. Entretanto, existem algumas</p><p>seleções que produzem maior quantidade de sementes por fruto. Em trabalho</p><p>de avaliação de 20 seleções de tangerina ‘Sunki’, a Embrapa Mandioca e Fruti-</p><p>cultura indicou a seleção ‘Sunki Tropical’ como alternativa de uso em programas</p><p>de diversificação de porta-enxertos, principalmente em função de seu elevado</p><p>número médio de sementes por fruto (18,7) e uniformidade de seedlings, decor-</p><p>rente de sua elevada porcentagem de poliembrionia, próxima a 100%.</p><p>Resultados obtidos com limoeiro ‘Siciliano’ como copa indicam que a altura</p><p>e a produção média por planta não foram diferentes dos valores obtidos com o</p><p>uso do limoeiro ‘Cravo’ como porta-enxerto. Já a circunferência do tronco e da</p><p>copa foram maiores nas plantas enxertadas sobre ‘Cravo’. A laranjeira ‘Pêra’, clone</p><p>premunizado, quando enxertada sobre a ‘Sunki’, produziu maior quantidade de</p><p>frutos e houve maior crescimento vegetativo em comparação ao ‘Cravo’.</p><p>Os frutos da ‘Sunki’ amadurecem a partir de março, estendendo-se até junho</p><p>e apresentam cerca de 14.917 sementes por quilo. O peso médio dos frutos é de</p><p>24 g e o número médio de sementes por fruto é dois.</p><p>5. LARANJEIRA AZEDA - CITRUS AURANTIUM (L.)</p><p>Originária do Nordeste da Índia, próximo à fronteira com a China e Butão,</p><p>também é conhecida como laranja amarga e laranja da terra (Figura 22 e). Pelo</p><p>fato de ser susceptível ao vírus da tristeza, suas cultivares somente podem ser</p><p>utilizados como porta-enxertos para limões. Isso porque cultivares de laranja</p><p>azeda e de limões são intolerantes ou hipersensíveis ao vírus da tristeza, haven-</p><p>do a morte das células inoculadas com o vírus, isolando-o no local de infecção</p><p>antes que ele se dissemine para outras partes da planta.</p><p>Tolerante à gomose, à seca e ao frio, adapta-se bem a solos argilosos, induz</p><p>elevada produtividade à copa, boa a excelente qualidade aos frutos, que são de</p><p>tamanho médio e com elevado teor de sólidos solúveis. Quando utilizada como</p><p>porta-enxerto para o limoeiro ‘Siciliano’, possibilita a obtenção de excelentes</p><p>produções médias por planta.</p><p>6. CITRANGES TROYER E CARRIZO - [CITRUS SINENSIS (L.) OSBECK X PONCI-</p><p>RUS TRIFOLIATA (L.) RAF ]</p><p>São resultantes da hibridação da laranja ‘Bahia’, com pólen de Poncirus</p><p>trifoliata. A motivação inicial para a produção de citranges foi a necessidade</p><p>de obter variedades copa de híbridos que fossem tolerantes ao frio da Flórida.</p><p>61</p><p>Devido à má qualidade dos frutos, que os torna impróprios para o consumo,</p><p>o programa foi mal-sucedido. No entanto, os híbridos apresentaram bom</p><p>desempenho, quando usados como porta-enxertos. O citrange ‘Carrizo’ (Figura</p><p>22 f ) é o porta-enxerto mais empregado na Espanha, porém no Brasil é pouco</p><p>utilizado, talvez por desconhecimento de produtores e viveiristas ou pela</p><p>inexistência de resultados de pesquisa que indiquem o seu uso.</p><p>Os dois citranges são irmãos e visualmente as plantas são muito semelhan-</p><p>tes. São tolerantes a tristeza, xiloporose e gomose. As copas enxertadas sobre</p><p>esses porta-enxertos apresentam elevada produtividade e tolerância ao frio.</p><p>Ambos são tolerantes ao nematóide T. semipenetrans, porém, são suscetíveis ao</p><p>declínio e à exocorte, e apresentam baixa tolerância à seca.</p><p>A qualidade dos frutos das copas sobre esses porta-enxertos é considerada</p><p>excelente. São de tamanho médio e com elevado teor de sólidos solúveis totais.</p><p>Plantas enxertadas sobre ‘Carrizo’ se adaptam a solos com diferentes caracterís-</p><p>ticas físicas e químicas, mas não toleram solos salinos e calcários. Os citranges,</p><p>como os trifoliatas, apresentam crescimento em diâmetro do tronco superior ao</p><p>da copa, na região da enxertia.</p><p>Os frutos de ‘Troyer’ amadurecem a partir de abril e contêm, em média, 14</p><p>sementes. O peso médio dos frutos é de 80 gramas e o número médio de se-</p><p>mentes por quilograma é 4.621. Os frutos de ‘Carrizo’ amadurecem a partir de</p><p>maio, apresentando cerca de 18 sementes por fruto. O peso médio dos frutos e</p><p>o número médio de sementes por quilo são, respectivamente, de 90 g e 8.110.</p><p>7. CITRUMELEIRO ‘SWINGLE’ [CITRUS PARADISI MACF. X PONCIRUS TRIFO-</p><p>LIATA (L.) RAF ]</p><p>É um híbrido de Poncirus trifoliata com o pomelo ‘Duncan’, criado em 1907,</p><p>na Flórida e introduzido no Brasil no final da década de 1940.</p><p>Plantas enxertadas sobre citrumeleiro ‘Swingle’ (Figura 22 g) são tolerantes à</p><p>tristeza, exocorte, xiloporose, declínio e morte súbita, embora existam alguns re-</p><p>latos de plantas com baixo crescimento enxertadas sobre o</p><p>‘Swingle’, indicando</p><p>a possível presença de exocorte.</p><p>As plantas se desenvolvem bem em solos arenosos e argilosos, desde que</p><p>bem estruturados, mas não se adaptam bem a solos mal drenados, e com exces-</p><p>so de cálcio. ‘Swingle’ é imune ao nematóide T. semipenetrans e apresenta alta</p><p>tolerância ao fungo causador da gomose.</p><p>Os frutos produzidos pelas plantas enxertadas sobre ‘Swingle’ apresentam</p><p>excelente qualidade, com tamanho, sólidos solúveis totais e acidez adequados.</p><p>A maturação dos frutos das variedades copa é mais tardia, quando compara-</p><p>da com outros porta-enxertos. É considerado um dos melhores porta-enxertos</p><p>para laranjeiras, com exceção da laranjeira ‘Pêra’, devido à incompatibilidade de</p><p>enxertia. Também apresenta incompatibilidade com o limoeiro ‘Eureka’ e tango-</p><p>reira ‘Murcote’.</p><p>Os frutos amadurecem a partir de maio e pesam, em média, 192 g, apresen-</p><p>tando cerca de 20 sementes. O número médio de sementes por quilograma é de</p><p>5.435.</p><p>8. TRIFOLIATA - PONCIRUS TRIFOLIATA (L.) RAF.</p><p>Nativo da região central e nordeste da China, o trifoliata apresenta cerca de</p><p>40 clones já identificados e descritos, que mostram diferenças entre si como</p><p>62</p><p>porta-enxertos.</p><p>O trifoliata (Figura 22 h) é considerado um porta-enxerto ananicante. Alguns</p><p>autores, porém, atribuem essa característica à presença do viroide da exocorte,</p><p>visto que algumas estirpes do viroide não provocam a soltura da casca do tronco</p><p>das plantas em forma de escamas, mas apenas a redução no porte da planta. É</p><p>utilizado como porta-enxerto para tangerineiras, laranjeiras e limas em diversas</p><p>partes do mundo. No Brasil, é o porta-enxerto mais importante no Rio Grande</p><p>do Sul.</p><p>Plantas de citros enxertadas sobre trifoliata apresentam menor produção</p><p>quando comparadas às plantas enxertadas sobre outros porta-enxertos. Mas,</p><p>devido ao menor tamanho, podem ser plantadas em espaçamentos menores,</p><p>resultando em maior produtividade.</p><p>Plantas enxertadas sobre trifoliata são tolerantes ao vírus da tristeza, xilo-</p><p>porose, resistentes ao nematóide T. semipenetrans e a gomose, e susceptíveis à</p><p>exocorte e ao declínio. Apesar de o crescimento das plantas ser prejudicado em</p><p>solos de baixa fertilidade, arenosos e secos, são bem adaptadas a solos pesados</p><p>e com drenagem insuficiente.</p><p>O suco dos frutos produzidos em plantas sobre trifoliata é de excelente qua-</p><p>lidade, apresentando teores de sólidos solúveis e de acidez titulável superiores</p><p>aos de outros porta-enxertos.</p><p>Pesquisas realizadas em São Paulo apontam como principais limitações do</p><p>trifoliata a menor resistência à seca e à sua pouca afinidade com as variedades</p><p>de laranja ‘Pêra’, tangor ‘Murcote’ e limoeiros ‘Siciliano’ e ‘Eureka’. Plantas desses</p><p>cultivares quando enxertadas em trifoliata apresentam, alguns anos após o plan-</p><p>tio, sintomas de deficiências nutricionais e sinais de anelamento na região de</p><p>enxertia. Com a remoção da casca, nota-se a presença de pontos de goma no le-</p><p>nho - sintoma característico de incompatibilidade. As plantas apresentam baixas</p><p>produções e são economicamente inviáveis.</p><p>Os frutos amadurecem a partir de maio, pesando, em média, 56 g e contendo</p><p>cerca de 15 sementes por fruto. O número médio de sementes por kg é 5.435.</p><p>9. TANGELEIRO ‘ORLANDO’ - [CITRUS PARADISI MACF. X CITRUS TANGERINA</p><p>HORT. EX TAN]</p><p>Híbrido do pomeleiro ‘Duncan’ com a tangerineira ‘Dancy’, o tangeleiro</p><p>‘Orlando’ (Figura 22 i) foi obtido na Flórida, em 1897, por Webber e Swingle. Em</p><p>muitos países, é utilizado para o consumo como fruta fresca ou industrialização,</p><p>mas, no Brasil, é utilizado fundamentalmente como porta-enxerto. O vigor das</p><p>mudas no viveiro é semelhante às do limoeiro ‘Cravo’.</p><p>O seu comportamento como porta-enxerto é satisfatório, muitas vezes</p><p>equivalente ao do limoeiro ‘Cravo’ e até superando-o, quando se considera</p><p>em conjunto fatores como produção, crescimento e qualidade dos frutos das</p><p>copas nele enxertadas. Apresenta-se como porta-enxerto recomendável para</p><p>as laranjeiras ‘Lima’, ‘Piralima’, ‘Barão’, ‘Natal’ e ‘Valência’, e para as tangerineiras</p><p>‘Cravo‘e ‘Poncã’, às quais proporciona boa qualidade dos frutos. É susceptível</p><p>à xiloporose, tolera o declínio e apresenta moderada resistência à gomose.</p><p>Adapta-se a solos argilosos e não tolera a seca.</p><p>10. LARANJEIRA ‘CAIPIRA’ - CITRUS SINENSIS (L.) OSBECK)</p><p>O uso da laranja ‘Caipira’ como porta-enxerto é limitado pelo fato de ser</p><p>63</p><p>sensível à seca e suscetível à gomose. Entretanto, existe uma seleção (laranja</p><p>Caipira DAC), que apresenta maior tolerância à gomose.</p><p>Excetuando esses problemas, o seu desempenho como porta-enxerto para</p><p>maioria das variedades copas é razoável, sendo considerada como boa opção</p><p>para as laranjeiras ‘Pêra’, ‘Valência’, ‘Natal’, ‘Hamlin’ e outras. Plantas enxertadas</p><p>sobre a laranjeira ‘Caipira’ são tolerantes à tristeza, declínio, exocorte e xiloporose,</p><p>mas suscetíveis ao nematoide dos citros. As mudas apresentam baixo vigor no</p><p>viveiro, resultando em aumento no período de formação da muda.</p><p>11. LIMOEIRO RUGOSO DA ‘FLÓRIDA’ – CITRUS JAMBHIRI LUSHINGTON</p><p>Provavelmente, trata-se de um híbrido natural, pois apresenta elevada</p><p>poliembrionia, que normalmente não é observada em outras espécies de limões.</p><p>O fruto apresenta casca rugosa e é utilizado exclusivamente como porta-enxerto.</p><p>Entre as principais características do limoeiro ‘Rugoso’ (Figura 22 j), está</p><p>sua excelente adaptação a solos arenosos, de baixa fertilidade. Laranjeiras,</p><p>pomeleiros, tangerineiras e limoeiros enxertados sobre esse porta-enxerto</p><p>são plantas altas, vigorosas e produtivas, principalmente em solos com as</p><p>características citadas. O sistema radicular é amplo, alcançando profundidades</p><p>que o tornam muito tolerante à seca, adaptando-se a uma ampla faixa de pH. Por</p><p>sua vez, as variedades copa enxertadas sobre o ‘Rugoso’ são muito suscetíveis</p><p>aos danos causados pelas geadas devido à presença de brotações frequentes</p><p>nas copas.</p><p>A planta é tolerante ao vírus da tristeza, aos viroides da exocorte e xiloporose</p><p>e altamente suscetível à gomose (Phytophthora) e ao nematoide Tylenchulus.</p><p>O excessivo vigor induzido às variedades copa geralmente conduzem à</p><p>baixa qualidade dos frutos produzidos, que apresentam baixos teores de sólidos</p><p>solúveis totais e acidez, fato que tem limitado seu uso no Brasil. Além disso,</p><p>muitas vezes, a casca dos frutos é mais grossa do que a dos produzidos por</p><p>plantas enxertadas em outros porta-enxertos.</p><p>Os frutos amadurecem a partir de abril e contêm, em média, 25 sementes</p><p>por fruto. O peso médio dos frutos é de 207 g e número médio de sementes por</p><p>quilograma é 15.240.</p><p>Limão</p><p>a b</p><p>64</p><p>Tangerina “Cleópatra” Tangerina “Sunki”</p><p>Laranja Azeda</p><p>Citrange “Troyer”</p><p>Citrumelo “Swingle” Trifoliata “Flying Dragon”</p><p>Limão “Rugoso”</p><p>Figura 22 – Principais porta-enxertos de citros recomendados para uso no Brasil - limão Cravo (a);</p><p>limão ‘Volkameriano’ (b); tangerina ‘Cleópatra’ (c); tangerina ‘Sunki’ (d); laranja ‘Azeda’ (e); citrange</p><p>‘Carrizo’ (f ); citrumelo ‘Swingle’ (g); Poncirus trifoliata ‘Flying Dragon’ (h); tangelo ‘Orlando’ (i), limão</p><p>rugoso da ‘Flórida’ (j)</p><p>c</p><p>d</p><p>e</p><p>f</p><p>g h</p><p>i j</p><p>65</p><p>PROPAGAÇÃO</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>Para o pomar de citros ser produtivo, com produção de frutos de boa qua-</p><p>lidade e apresentar a longevidade esperada, é necessário que o citricultor se</p><p>preocupe com a qualidade das mudas que serão usadas para o plantio. Normal-</p><p>mente, observa-se que a exigência quanto à qualidade das mudas depende do</p><p>comprador, da disponibilidade de recursos para investir e do seu acesso às infor-</p><p>mações técnicas. Empresas e grandes citricultores geralmente são mais exigen-</p><p>tes, enquanto pequenos produtores nem tanto, já que o preço das mudas é o</p><p>fator preponderante para a decisão de compra por esses produtores.</p><p>Para a aquisição de mudas de qualidade, deve-se, em primeiro lugar, fazer</p><p>uma seleção criteriosa do viveirista que vai produzir as mudas. Deve ser pessoa</p><p>idônea, que tenha instalações adequadas e dominar as técnicas de produção</p><p>para que as mudas sejam produzidas dentro</p><p>das normas e padrões previstos na</p><p>legislação pertinente.</p><p>Em segundo lugar, deve-se escolher cultivares de porta-enxertos e copas in-</p><p>dicados para a região de plantio do pomar. As mudas devem estar isentas de</p><p>patógenos e pragas, principalmente daqueles transmissíveis por enxertia.</p><p>A variabilidade genética de citros é enorme, havendo centenas</p><p>de genótipos que podem ser usados. Entretanto, se não hou-</p><p>ver um sistema organizado e regulamentado para controle e</p><p>manutenção desse material, há riscos de troca de cultivares du-</p><p>rante a produção das mudas, disseminação de mutantes com</p><p>características indesejáveis e também de doenças. Para mini-</p><p>mizar ou evitar a ocorrência desses problemas, é importante</p><p>que os viveiristas obtenham as borbulhas de produtores regis-</p><p>trados nos órgãos competentes.</p><p>Os citros são portadores de dezenas de doenças transmissíveis por enxertia</p><p>(vírus, viroides, micoplasmas, bactérias), que proliferam nos feixes vasculares</p><p>das plantas hospedeiras sensíveis. No caso de viroides, a transmissão pode ser</p><p>mecânica, por borbulhas e ferramentas. Outras enfermidades são transmitidas</p><p>por insetos vetores como a Tristeza dos citros, Clorose Variegada dos Citros e</p><p>“Huanglongbing” (ex-“Greening”), transmitidas por pulgões, cigarrinhas e</p><p>psilídeos, respectivamente. Essas doenças são sérias, pois pode haver cultivares</p><p>tolerantes que são portadores assintomáticos de doenças, sendo responsáveis</p><p>por sua disseminação para cultivares suscetíveis.</p><p>Por outro lado, a presença de doenças nas matrizes de porta-enxertos,</p><p>antes da retirada de sementes, apresenta baixo risco, porque a transmissão de</p><p>09</p><p>Õ</p><p>66</p><p>patógenos dos citros via sementes não foi comprovada. Por essa razão, as plantas</p><p>destinadas ao fornecimento de sementes para produção de porta-enxertos</p><p>podem ser mantidas a céu aberto.</p><p>A implantação de programas de certificação para produção de mudas de</p><p>citros e de outras frutíferas não é atribuição do citricultor. Trata-se de um processo</p><p>complexo e contínuo, que, para ter sucesso, necessita da participação dos vários</p><p>segmentos da cadeia produtiva dos citros (pesquisadores, extensionistas,</p><p>responsáveis técnicos, produtores, viveiristas, governo e órgãos fiscalizadores).</p><p>Além disso, é necessário o aporte contínuo de recursos.</p><p>2. TIPOS DE MUDAS</p><p>No Brasil, atualmente, as mudas de citros são produzidas usando dois siste-</p><p>mas: produção certificada em ambiente protegido e a produção tradicional a</p><p>céu aberto.</p><p>É importante destacar que as mudas, para serem certificadas, devem cum-</p><p>prir uma série de requisitos, não bastando, portanto, somente serem produzidas</p><p>em ambiente protegido. Em outras palavras: mudas produzidas em ambiente</p><p>protegido nem sempre são certificadas; mudas certificadas obrigatoriamente</p><p>devem ser produzidas em ambiente protegido.</p><p>Nos sistemas de produção de mudas a céu aberto, elas podem ser produzidas</p><p>diretamente no solo ou em recipientes. No primeiro caso, não há necessidade de</p><p>preparar e manipular substratos. Alguns tratos culturais podem ser mecaniza-</p><p>dos (redução de mão de obra) e permitem a produção de mudas mais rústicas</p><p>e baratas que as produzidas em estufas. Por outro lado, as plantas estão mais</p><p>sujeitas ao ataque de pragas e doenças, requerem maiores áreas para produção</p><p>e apresentam um ciclo de produção mais longo, sem garantias de sua sanidade.</p><p>A produção de mudas protegidas iniciou-se nos Estados Unidos, na Flórida</p><p>(1957) e Califórnia (1968). Posteriormente o sistema foi utilizado na Austrália</p><p>(1981) e África do Sul (1993). Atualmente, o sistema é usado em vários países,</p><p>(Brasil, Espanha, Tailândia, Argentina, Uruguai, Turquia, etc.).</p><p>No Brasil, a produção de mudas em ambiente protegido foi</p><p>iniciada em São Paulo, de forma facultativa. Tornou-se obriga-</p><p>tória a partir de 01 de janeiro de 2003, quando ficaram proibi-</p><p>dos, em todo território do estado de São Paulo, o comércio e o</p><p>transporte de porta-enxertos e de mudas cítricas produzidas</p><p>em viveiros a céu aberto.</p><p>A partir 24 de setembro de 2013 a Instrução Normativa nº 48, do Ministério</p><p>da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estabeleceu Normas de Produção e</p><p>Comercialização de Material de Propagação de Citros - Citrus spp, Fortunella</p><p>spp, Poncirus spp e seus híbridos, bem como seus padrões de identidade e de</p><p>qualidade, com validade em todo o território nacional. Segundo o documento,</p><p>quatro anos a partir da publicação da Instrução Normativa, as mudas deveriam</p><p>ser produzidas em duas categorias: “Muda Certificada” e “Muda”. Além disso, seria</p><p>permitida a produção de mudas de citros somente com a utilização de substrato</p><p>que não contivesse solo.</p><p>No caso das mudas certificadas, Planta Básica, Planta Matriz, Borbulheira</p><p>e Muda deveriam ser mantidas em ambiente protegido, revestido por tela de</p><p>Õ</p><p>67</p><p>malha nas dimensões mínimas de 87 centésimos de milímetro por 30 centésimos</p><p>de milímetro, tanto na cobertura, quanto nas laterais; ter antecâmara na entrada,</p><p>com dimensão mínima de 4,0 m2, contendo pedilúvio interno e com dispositivo</p><p>para lavagem das mãos com sabão ou detergente. Na cobertura do telado,</p><p>poderia ser usado filme plástico em substituição à tela.</p><p>A produção de mudas em ambiente protegido permite a obtenção de plantas</p><p>sadias, não requer preparo do solo, remoção das mudas do solo e embalagem</p><p>delas, visto que são produzidas em recipientes. O ciclo de produção é mais curto,</p><p>devido ao melhor controle dos tratos culturais e substrato, além das mudas</p><p>poderem ir para o campo antes da formação dos ramos primários (pernadas).</p><p>3. PLANTAS MATRIZES</p><p>A primeira etapa do processo de propagação consiste na obtenção dos</p><p>cultivares ou clones, que podem ser introduzidos de outros países ou obtidos no</p><p>próprio país, vindos de seleção de mutações ou de programas de melhoramento,</p><p>usando as várias metodologias disponíveis. É importante lembrar que existe</p><p>legislação que regulamenta a introdução de sementes, frutos e propágulos</p><p>vegetativos provenientes de qualquer parte do mundo. Essa legislação visa,</p><p>principalmente, impedir a introdução de pragas provenientes de outros países</p><p>ou regiões do próprio país em locais onde elas não estão presentes.</p><p>As plantas desses cultivares, denominadas “candidatas a plantas básicas ou</p><p>candidatas a plantas matrizes”, devem ser avaliadas no campo para testar as</p><p>características agronômicas que são de interesse do produtor e dos consumidores</p><p>(produção, qualidade dos frutos, época de produção, porte da planta, adaptação</p><p>ambiental e resistência a pragas, entre outros).</p><p>Após a avaliação, devem ser multiplicadas e testadas para verificação da</p><p>presença de patógenos sistêmicos em seus tecidos (indexação). No caso da</p><p>detecção dos patógenos, plantas dos cultivares de interesse devem passar por um</p><p>processo de limpeza dos patógenos, usando técnicas como termoterapia e micro-</p><p>enxertia e mantidas em ambientes à prova de insetos. Essa etapa é fundamental</p><p>para o êxito do processo. Para as indexações e limpeza clonal, devem ser usadas</p><p>técnicas modernas e sensíveis para detecção de possíveis patógenos presentes</p><p>nas plantas. Deve ser realizada em instituições de pesquisa por necessitarem de</p><p>alto conhecimento técnico-científico e estrutura laboratorial complexa. Após a</p><p>avaliação agronômica, indexação e limpeza, no caso da presença de viroses, as</p><p>plantas recebem o nome de “plantas básicas”.</p><p>O passo seguinte consiste em formar blocos de plantas produzidas usando</p><p>borbulhas das plantas básicas selecionadas anteriormente. Esses blocos</p><p>devem, preferencialmente, estar em áreas com o mínimo risco fitossanitário e,</p><p>portanto, isoladas de pomares comerciais. São plantadas três ou mais plantas</p><p>de cada cultivar, diretamente no solo ou em recipientes (Figura 23), usando o</p><p>espaçamento normal indicado para os cultivares. Essas plantas são conhecidas</p><p>como plantas matrizes.</p><p>68</p><p>Figura 23 - Plantas matrizes de citros mantidas em ambiente protegido e culti-</p><p>vadas diretamente no solo</p><p>Recomenda-se deixar uma das plantas matrizes de cada cultivar sem retirar</p><p>borbulhas,</p><p>837.347</p><p>682.801</p><p>664.127</p><p>650.465</p><p>4.779.525</p><p>52,9</p><p>7,7</p><p>3,3</p><p>3,3</p><p>3,2</p><p>3,1</p><p>2,9</p><p>2,4</p><p>2,3</p><p>2,3</p><p>16,7</p><p>Total 28.678.214 100,0</p><p>Fonte: FAOSTAT, 2015</p><p>Quanto às limas e aos limões, os principais produtores são Índia, México e</p><p>China. Os dois primeiros produzem quantidades muito próximas entre si, cor-</p><p>respondendo a 16,6% e 14,1% da produção mundial. O Brasil ocupa a quinta</p><p>posição, com 7,7% da produção mundial (Tabela 5).</p><p>A produção mexicana, assim como a brasileira, está concentrada na espécie</p><p>Citrus latifolia, que é conhecida no Brasil como limão Tahiti. Outros nomes dela</p><p>são limón criollo, limón pérsico, Bearss lime e Persian lime. Por outro lado, na China,</p><p>Índia, Argentina, Estados Unidos e Espanha predomina o cultivo dos limões ver-</p><p>dadeiros (Citrus limon).</p><p>Tabela 5. Principais países produtores de limas e limões no mundo - 2013</p><p>Países Produção - t Porcentagem</p><p>Índia</p><p>México</p><p>China</p><p>Argentina</p><p>Brasil</p><p>Estados Unidos</p><p>Turquia</p><p>Espanha</p><p>Irã</p><p>Itália</p><p>Outros</p><p>2.523.500</p><p>2.138.737</p><p>1.914.880</p><p>1.301.902</p><p>1.169.370</p><p>827.353</p><p>726.283</p><p>715.300</p><p>584.614</p><p>336.195</p><p>2.953.349</p><p>16,6</p><p>14,1</p><p>12,6</p><p>8,6</p><p>7,7</p><p>5,4</p><p>4,8</p><p>4,7</p><p>3,8</p><p>2,2</p><p>19,4</p><p>Total 15.191.483 100,0</p><p>Fonte: FAOSTAT, 2015</p><p>No Brasil, as laranjas são produzidas em todas as regiões e estados, com</p><p>maior concentração nas regiões Sudeste (78,6%), Nordeste (10,2%) e Sul (8,4%).</p><p>Na região Sudeste destaca-se o estado de São Paulo, com 72,6% da produção na-</p><p>cional, seguido de Minas Gerais, com 5,5% (Tabela 6). Minas Gerais é o segundo</p><p>estado maior produtor de laranjas do Brasil, com a produção de frutos em todo</p><p>o estado. Porém, as regiões tradicionais de cultivo e produção de citros são o</p><p>Triângulo Mineiro, Norte e Sul de Minas. No Triângulo Mineiro, a produção está</p><p>11</p><p>concentrada nas laranjas, que são destinadas, na maioria, às indústrias produ-</p><p>toras de suco de São Paulo, proprietárias de vários pomares na região. No Sul</p><p>de Minas, concentra-se a produção de tangerinas ‘Poncã’, cujos frutos são de ex-</p><p>celente qualidade em função do clima.</p><p>No Norte de Minas, a produção de citros é toda irrigada, devido ao clima</p><p>semiárido. Nessa região, destaca-se a produção de limas ‘Tahiti’, mas o cultivo</p><p>de tangerineiras, limeiras doces e laranjeiras precoces e de meia estação está</p><p>em pleno crescimento. O diferencial da região consiste em produzir frutos mais</p><p>precoces do que os das regiões tradicionais, devido ao clima e ao manejo, prin-</p><p>cipalmente da irrigação.</p><p>No Nordeste, os maiores produtores são a Bahia e Sergipe, situando-se na se-</p><p>gunda e quarta posição na produção de laranjas, com 6,1% e 3,3% da produção</p><p>brasileira.</p><p>Embora a introdução dos citros no Brasil tenha ocorrido no sé-</p><p>culo XVI, a citricultura somente ganhou importância econômi-</p><p>ca no início do século XX, quando o Brasil exportou volumes</p><p>significativos de laranjas para consumo de mesa, principal-</p><p>mente para a Argentina. A partir dos anos de 1960, a citricultu-</p><p>ra brasileira, que até então estava concentrada em São Paulo,</p><p>mudou de foco, direcionando a produção de laranjas para a fa-</p><p>bricação de suco, situação que persiste até a atualidade.</p><p>No entanto, esse modelo, que foi responsável pelo grande crescimento da</p><p>citricultura paulista, parece estar se esgotando. Os baixos preços recebidos pe-</p><p>los produtores pela laranja nos últimos anos, associados ao aumento do custo</p><p>de produção, devido à maior incidência de problemas fitossanitários e o maior</p><p>custo de mão de obra e insumos, fez com que centenas de citricultores desistis-</p><p>sem da atividade, com a erradicação de pomares de laranjeiras, resultando na</p><p>redução significativa no número de postos de trabalho.</p><p>Segundo informações de associações de produtores, cerca de 1% dos po-</p><p>mares e 47% das laranjeiras dos pomares paulistas estão concentradas em 120</p><p>propriedades, quase todas pertencentes a apenas três indústrias processadoras</p><p>de suco. Essa concentração da produção de frutas e suco nas mãos de apenas</p><p>três empresas, caracterizada pela economia como verticalização e formação de</p><p>cartel, é apontada como a principal responsável pelos problemas da citricultura</p><p>paulista.</p><p>Do total das laranjas produzidas em São Paulo, mais de 80% é destinada ao</p><p>processamento; menos de 20% é destinado ao mercado interno e menos de 1%</p><p>é exportado para consumo de mesa. Essas informações indicam a grande de-</p><p>pendência do citricultor em relação às indústrias produtoras de suco, já que o</p><p>mercado interno e a exportação de frutos para consumo de mesa não conseg-</p><p>uem absorver a produção. É importante lembrar que laranjas produzidas em São</p><p>Paulo são comercializadas em todo o Brasil, pois a maioria dos estados não é</p><p>autossuficiente quanto à produção de laranjas.</p><p>Õ</p><p>12</p><p>Tabela 6. Produção de laranjas nas regiões e estados brasileiros – 2013</p><p>Regiões Estados Área colhida</p><p>(ha)</p><p>Produção Porcentagem Produtividade</p><p>(t/ha)</p><p>Norte AM</p><p>RR</p><p>PA</p><p>AP</p><p>MA</p><p>3.156</p><p>222</p><p>11.821</p><p>1.560</p><p>1.007</p><p>68.426</p><p>2.153</p><p>195.941</p><p>14.150</p><p>6.391</p><p>0,4</p><p>0</p><p>1,2</p><p>0,1</p><p>0</p><p>21,7</p><p>9,7</p><p>16,6</p><p>9,1</p><p>6,3</p><p>Total 17.766 287.061 1,7 -</p><p>Nordeste PI</p><p>CE</p><p>PB</p><p>PE</p><p>AL</p><p>SE</p><p>BA</p><p>353</p><p>1.965</p><p>834</p><p>606</p><p>4.504</p><p>52.221</p><p>63.202</p><p>3.235</p><p>13.556</p><p>6.002</p><p>3.166</p><p>30.075</p><p>626.440</p><p>994.841</p><p>0</p><p>0,1</p><p>0</p><p>0</p><p>0,2</p><p>3,8</p><p>6,1</p><p>9,2</p><p>6,9</p><p>7,2</p><p>5,2</p><p>6,7</p><p>12</p><p>15,7</p><p>Total 123.685 1.677.315 10,2 -</p><p>Sudeste MG</p><p>ES</p><p>RJ</p><p>SP</p><p>39.427</p><p>1.208</p><p>4.439</p><p>455.000</p><p>894.283</p><p>15.882</p><p>60.279</p><p>11.830.000</p><p>5,5</p><p>0,1</p><p>0,4</p><p>72,6</p><p>22,7</p><p>13,1</p><p>13,6</p><p>26,0</p><p>Total 500.074 12.800.444 78,6 -</p><p>Sul PR</p><p>SC</p><p>RS</p><p>28.100</p><p>3.103</p><p>27.063</p><p>927.300</p><p>46.037</p><p>390.538</p><p>5,7</p><p>0,3</p><p>2,4</p><p>33,0</p><p>14,8</p><p>14,4</p><p>Total 58.266 1.363.875 8,4 -</p><p>Centro Oeste MS</p><p>MT</p><p>GO</p><p>DF</p><p>679</p><p>493</p><p>6.577</p><p>243</p><p>15.433</p><p>4.454</p><p>130.062</p><p>5.832</p><p>0,1</p><p>0</p><p>0,8</p><p>0,04</p><p>22,7</p><p>9,0</p><p>19,8</p><p>24,0</p><p>Total 7992 155.781 0,94 -</p><p>BRASIL 707.661 16.284.476 100 23</p><p>Para amenizar a crise, é importante incentivar a citricultura de mesa, não so-</p><p>mente em São Paulo, mas em todo o país, já que a citricultura de vários estados</p><p>acompanhou a paulista, no manejo dos pomares e na escolha dos cultivares,</p><p>com predomínio das laranjeiras ‘Pêra’, ‘Valencia’ e ‘Natal’, que são as variedades</p><p>usadas para a indústria.</p><p>Nos países em desenvolvimento predomina a citricultura de mesa. São usa-</p><p>dos cultivares cujos frutos apresentam balanço adequado entre açúcares e aci-</p><p>dez, casca lisa e fina, fáceis de descascar, sem sementes, cor intensa da casca e</p><p>do suco, entre outros. Um exemplo de cultivares entre as laranjeiras, cujos frutos</p><p>preenchem as características descritas anteriormente, são os do grupo da laran-</p><p>ja Bahia (laranjas de umbigo).</p><p>A indicação aos citricultores dos melhores cultivares para produção de frutos</p><p>de mesa, entretanto, demanda tempo. Depende do trabalho de melhoristas, no</p><p>caso de criação de novos cultivares, testes de campo de cultivares já existentes</p><p>e introdução daqueles de outros países. É um trabalho longo e oneroso, mas</p><p>importante e necessário. A importância da citricultura de mesa para o Brasil já</p><p>foi percebida por vários citricultores e pesquisadores, que atualmente já estão</p><p>atuando nessa área em alguns estados.</p><p>As indústrias brasileiras produtoras de suco, além do suco, também comer-</p><p>Fonte: Agrianual 2015</p><p>13</p><p>Õ</p><p>cializam os melhores frutos dos cultivares ‘Pêra’, ‘Valencia’, ‘Natal’, Folha Murcha,</p><p>etc. nos mercados de todo o país, para consumo de mesa. Por isso, o cultivo des-</p><p>ses mesmos cultivares pelos citricultores resultará em frutos que irão competir</p><p>com os comercializados pelas indústrias, no mercado de frutos de mesa.</p><p>Devido à enorme escala de produção e logística de classificação e distribui-</p><p>ção dos frutos, as indústrias tendem a dominar o mercado de frutas de mesa</p><p>desses cultivares. Portanto, é importante que os citricultores adotem o plantio</p><p>de cultivares de citros desenvolvidos para a produção de frutos de mesa.</p><p>Cerca de 50% de toda a produção de suco de laranjas do mun-</p><p>do é brasileira. Em torno de 98% do total produzido pelo Brasil</p><p>é exportado, representando cerca de 85% do volume comer-</p><p>cializado no mercado mundial. As principais explicações para</p><p>o baixo consumo no mercado interno são a falta de adaptação</p><p>do paladar do brasileiro ao sabor do suco</p><p>visando avaliar a fidelidade genética, ou seja, verificar se têm todas</p><p>as características típicas, descritas para o cultivar em questão. Essa avaliação é</p><p>feita analisando as características das plantas e dos frutos, que são comparadas</p><p>às descritas para cada cultivar.</p><p>As plantas matrizes fornecem borbulhas para as borbulheiras (Figura 24)</p><p>que, por sua vez, têm como objetivo ampliar o número de borbulhas produzidas</p><p>pelas matrizes. Esse procedimento é feito devido à necessidade de se manter</p><p>um reduzido número de plantas matrizes nos telados para redução de custos.</p><p>Dessa forma, essa pequena quantidade de plantas matrizes por cultivar não tem</p><p>capacidade para produzir borbulhas em quantidade suficiente para atender</p><p>à necessidade dos viveiristas. Portanto, as borbulheiras tem como finalidade</p><p>multiplicar a quantidade de borbulhas provenientes das plantas matrizes</p><p>para posterior distribuição aos viveiristas, que, por sua vez, vão usá-las para a</p><p>produção de mudas de citros usadas comercialmente.</p><p>Finalmente, a última etapa do processo consiste na produção das mudas,</p><p>que podem ser certificadas ou não.</p><p>Figura 24 – Borbulheiras de</p><p>citros mantida em ambien-</p><p>te protegido e cultivadas</p><p>em vasos, mostrando as</p><p>hastes cortadas para a reti-</p><p>rada das borbulhas</p><p>69</p><p>Independentemente da muda ser certificada ou simplesmente “muda”, as</p><p>etapas do processo de produção são as mesmas. O que difere são as instalações e</p><p>os cuidados usados para a produção dos dois tipos de mudas. As principais etapas</p><p>de formação da muda consistem na semeadura dos porta-enxertos, transplante,</p><p>enxertia, forçamento da brotação e muda pronta, conforme descrição a seguir.</p><p>4. ESCOLHA DO LOCAL PARA A IMPLANTAÇÃO DE VIVEIROS E ESPAÇA-</p><p>MENTO USADO PARA A PRODUÇÃO DE MUDAS A CÉU ABERTO</p><p>O viveiro deve ser instalado em local de fácil acesso, para facilitar o transporte</p><p>das mudas, mesmo durante a estação chuvosa. A sua área deve ser calculada</p><p>em função da quantidade de mudas a ser produzida e do espaçamento a ser</p><p>utilizado. Também deve ser considerada a necessidade de área para produção</p><p>de sementes de porta-enxertos, escritório, almoxarifado, armazenamento de</p><p>adubos, agrotóxicos, ferramentas, máquinas e implementos.</p><p>Na escolha do local de instalação do viveiro devem ser considerados ainda</p><p>outros aspectos: as características químicas do solo, topografia, disponibilidade</p><p>de água, aspectos fitossanitários, drenagem, disponibilidade de mão de obra,</p><p>etc.</p><p>Os terrenos planos ou levemente inclinados são os mais indicados para a</p><p>implantação de viveiros, devido à facilidade de execução dos tratos culturais,</p><p>remoção das mudas do solo e trânsito de veículos e máquinas.</p><p>No viveiro deve haver disponibilidade de água para possibilitar irrigações e</p><p>pulverizações das plantas. Embora não exista recomendação mínima, o viveiro</p><p>deve estar distante o máximo possível de pomares de citros e de estradas para</p><p>reduzir os riscos de incidência de pragas e doenças. A área deve ser cercada</p><p>para evitar o acesso de animais e de pessoas estranhas. Em regiões onde as</p><p>doenças Clorose Variegada, Morte Súbita e Greening estão presentes, é proibida</p><p>a produção de mudas de citros a céu aberto.</p><p>Em Minas Gerais, a produção de mudas de citros a céu aberto tem sido feita</p><p>em sacolas preenchidas com solo do próprio local do viveiro, que são dispostas</p><p>em fileiras simples ou duplas e parcialmente enterradas (Figura 25).</p><p>5. ESCOLHA DO LOCAL PARA A IMPLANTAÇÃO DE VIVEIROS PARA PRODU-</p><p>ÇÃO DE MUDAS EM AMBIENTE PROTEGIDO</p><p>Como nos viveiros a céu aberto, os telados para a produção de mudas em</p><p>Figura 25 – Viveiros de produção de mudas de citros localizados em Dona Euzébia (MG): Disposi-</p><p>ção das sacolas em linhas simples (a) e duplas (b)</p><p>a b</p><p>70</p><p>ambiente protegido devem ser instalados em locais de fácil acesso, em terrenos</p><p>com boa drenagem, não sujeitos a alagamentos e distantes de pomares de citros.</p><p>A área deve ser cercada para evitar o acesso de animais e de pessoas estranhas</p><p>(Figura 26 a). Caso seja necessário, deve-se plantar também quebra-ventos ao</p><p>redor do viveiro.</p><p>Na entrada do viveiro, devem ser construídas instalações para desinfestação</p><p>de veículos, que consistem em tanque de imersão para desinfestação de pneus</p><p>e arco rodolúvio para desinfestação das demais partes dos veículos (Figura 26</p><p>b). Espumas com solução desinfestante ou fungicidas cúpricos em pó devem ser</p><p>colocadas na entrada dos telados para desinfestação de calçados.</p><p>Também é desejável que o viveiro disponha de construções de apoio,</p><p>como escritório, câmara fria para armazenamento de sementes e hastes</p><p>porta-borbulhas, armazenamento de ferramentas, fertilizantes e produtos</p><p>fitossanitários, vestiário e laboratório para avaliações dos substratos (pH,</p><p>condutividade elétrica) e sementes.</p><p>6. SUBSTRATO, OBTENÇÃO DAS SEMENTES DOS PORTA-ENXERTOS E SE-</p><p>MEADURA</p><p>Os cultivares de porta-enxertos de citros devem ser poliembriônicos, para</p><p>que não haja perda da fidelidade genética, já que a produção de porta-enxertos</p><p>de citros é realizada usando sementes. Esse método tem custo mais baixo,</p><p>quando comparado a outras técnicas de propagação; permite a produção de</p><p>porta-enxertos que desenvolvem sistema radicular vigoroso, além de ser um</p><p>método seguro para obter plantas sadias.</p><p>O substrato para o enchimento de tubetes para produção dos porta-enxertos</p><p>e, posteriormente, das sacolas de plástico onde as mudas serão produzidas,</p><p>pode ser adquirido de empresas especializadas ou misturado no próprio</p><p>viveiro. Nesse caso, o viveiro deve dispor de um local para armazenamento,</p><p>dividido em compartimentos para receber os vários componentes usados para a</p><p>mistura do substrato. Os viveiristas preferem adquirir os substratos de empresas</p><p>especializadas, em vez de prepará-los no viveiro, devido a questões de qualidade</p><p>do substrato, homogeneidade na composição, custos e outras dificuldades</p><p>técnicas e operacionais.</p><p>É importante lembrar que a Instrução Normativa nº48, de 24/09/2013, do</p><p>Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que trata das Normas de</p><p>Produção e Comercialização de Material de Propagação de Citros, estabeleceu</p><p>que não será permitida a produção de mudas de citros com a utilização de</p><p>Figura 26 – Viveiro protegido por cerca de tela e cerca viva, na lateral esquerda da fotografia (a);</p><p>entrada de viveiro de citros, com arco rodolúvio (b)</p><p>a b</p><p>71</p><p>substrato que contenha solo depois de quatro anos da publicação das normas.</p><p>Ainda é comum, em algumas regiões do Brasil, a produção dos ‘cavalinhos’ ou</p><p>porta-enxertos em sementeiras preparadas diretamente no solo ou em tubetes</p><p>mantidos a céu aberto (Figura 27).</p><p>O substrato não deve conter componentes de fácil decompo-</p><p>sição, com composição uniforme para facilitar o manejo das</p><p>plantas e apresentar custo que seja economicamente viável</p><p>para o viveirista. Outras características importantes dos subs-</p><p>tratos são isenção de sementes de plantas daninhas, nematoi-</p><p>des, Phytophtora e outros patógenos prejudiciais aos citros.</p><p>Deve ser leve para facilitar o transporte e manuseio; apresentar</p><p>boa porosidade, drenagem e capacidade de retenção de água.</p><p>As plantas matrizes, fornecedoras de sementes para produção de porta-</p><p>enxertos, podem ser cultivadas a céu aberto e plantadas em blocos homogêneos</p><p>quanto à espécie ou variedade, isolados uns dos outros por quebra-ventos,</p><p>visando reduzir a polinização cruzada. O espaçamento a ser usado depende da</p><p>espécie de porta-enxerto, tendo em vista que as plantas das espécies usadas</p><p>com essa finalidade diferem consideravelmente entre si com relação ao vigor.</p><p>Recomenda-se que a quantidade de sementes a ser usada para a produção</p><p>de mudas seja, no mínimo, duas vezes superior ao número de plantas desejado.</p><p>Quando a semeadura for feita diretamente no solo, o número de sementes deve</p><p>ser ainda maior, geralmente superior ao número de mudas desejado em três a</p><p>quatro vezes. Para o cálculo da quantidade de sementes a adquirir, deve-se</p><p>conhecer o número médio de sementes por quilograma de cada cultivar de</p><p>porta-enxerto (Tabela 11). Vale lembrar que os valores apresentados na tabela,</p><p>podem variar de acordo com os anos e locais de cultivo, devido às variações</p><p>climáticas e de solo.</p><p>Os frutos fornecedores de sementes devem ser colhidos maduros ou de vez,</p><p>evitando o uso de frutos catados do solo, pois podem estar contaminados com</p><p>Phytophthora.</p><p>Õ</p><p>Figura 27 – Sementeira de citros mantida a céu aberto, com semeadura feita diretamente no solo</p><p>(a) e em tubetes (b)</p><p>a b</p><p>72</p><p>Tabela 11. Características dos frutos de alguns porta-enxertos de citros</p><p>cultivados em Viçosa (MG) e época de início de maturação dos frutos</p><p>Porta-enxerto Peso de 1.000</p><p>sementes (g)</p><p>Sementes</p><p>por kg</p><p>Sementes</p><p>por fruto</p><p>Início da</p><p>maturação dos</p><p>frutos</p><p>Limoeiro ‘Cravo’</p><p>Limoeiro ‘Volkameriano’</p><p>Limoeiro ‘Rugoso’</p><p>Tangerineira ‘Cleópatra’</p><p>Tangerineira ‘Sunki’</p><p>Citrangeiro ‘Troyer’</p><p>Citrangeiro ‘Carrizo’</p><p>Citrumeleiro ‘Swingle’</p><p>60,4</p><p>79,2</p><p>65,6</p><p>82,3</p><p>67,0</p><p>216,4</p><p>123,3</p><p>184,0</p><p>16.556</p><p>12.625</p><p>15.240</p><p>12.152</p><p>14.917</p><p>4.621</p><p>8.110</p><p>5.435</p><p>8,8</p><p>23,5</p><p>25,3</p><p>20,5</p><p>2,4</p><p>14,2</p><p>18,4</p><p>20,0</p><p>Maio</p><p>Abril</p><p>Abril</p><p>Maio</p><p>Março</p><p>Abril</p><p>Maio</p><p>Maio</p><p>A extração das sementes pode ser manual ou mecânica. É comum o uso de</p><p>máquinas construídas pelos próprios viveiristas para a extração das sementes.</p><p>Após a extração, no sistema de produção de mudas certificadas, faz-se um tra-</p><p>tamento térmico das sementes visando à eliminação de Phytophthora, cujas</p><p>estruturas de multiplicação podem estar no seu interior. O tratamento consiste</p><p>em submeter as sementes em banho-maria na temperatura de 52oC, durante 10</p><p>minutos, e após submergi-las rapidamente em água fria.</p><p>Após o tratamento, devem ser secadas à sombra em finas camadas, que de-</p><p>vem ser revolvidas periodicamente. Após a secagem, as sementes devem rece-</p><p>ber um tratamento químico com fungicida, que tem como objetivo eliminar e</p><p>prevenir o desenvolvimento de patógenos superficiais. Depois de secas, devem</p><p>ser guardadas em sacolas plásticas, pesadas e identificadas, com nome da varie-</p><p>dade, origem, peso e data.</p><p>A semeadura pode ser realizada imediatamente após o preparo ou as se-</p><p>mentes podem ser armazenadas em temperatura entre 3º e 4oC e 60% a 90%</p><p>de umidade relativa. Nesse caso, devem ser inspecionadas mensalmente para</p><p>eliminar sementes com eventuais ataques de fungos.</p><p>Os viveiristas devem ficar atentos ao fato de que a germinação das sementes</p><p>dos diferentes cultivares de porta-enxertos difere muito após o armazenamento.</p><p>Por exemplo, sementes dos porta-enxertos limoeiro ‘Cravo’, ‘Rangpur x Swingle</p><p>1707’, ‘Citradia 1708’ e ‘Citrange Carrizo’ armazenadas durante 150 dias em câ-</p><p>mara fria (temperatura de 5-7°C e umidade relativa do ar de 70%) estavam com</p><p>cerca de 71%, 62%, 59% e 54% de emergência, respectivamente, enquanto a</p><p>das sementes dos porta-enxertos ‘Trifoliata’ e ‘Citrandarin foi de 23,7% e 34,6%,</p><p>respectivamente.</p><p>A semeadura e condução dos porta-enxertos pode ser realizada de duas for-</p><p>mas: para a produção de mudas certificadas, os porta-enxertos devem ser pro-</p><p>duzidos em ambiente protegido (telados). A semeadura normalmente é realiza-</p><p>da em tubetes de 50 cm3 de capacidade, em forma cônica, com estrias longitu-</p><p>dinais. Alguns viveiristas removem os tegumentos das sementes manualmente,</p><p>após imersão em soluções químicas, com a finalidade de melhorar a sanidade,</p><p>acelerar e uniformizar a germinação (Figura 28).</p><p>Para a remoção dos tegumentos, podem ser utilizados, para</p><p>cada litro de sementes: 500 mL de hipoclorito de sódio (12%),</p><p>uma colher de sopa de soda caústica e 3 mL de ácido m uriáti-</p><p>co, que devem ser bem misturados em dois litros de água. As</p><p>Õ</p><p>73</p><p>sementes devem permanecer durante 45 minutos na solução.</p><p>Posteriormente, são lavadas e os tegumentos retirados manu-</p><p>almente.</p><p>A semeadura deve ser feita utilizando-se de 1 a 3 sementes por tubete, de-</p><p>pendendo da disponibilidade de sementes e germinação, na profundidade de</p><p>1 a 2 cm (Figuras 29 a). Como os tubetes são perfurados no fundo e mantidos</p><p>suspensos, ocorre a morte da raiz pivotante (poda aérea), havendo emissão de</p><p>raízes secundárias.</p><p>No sistema tradicional de propagação dos citros, a semeadura é feita em</p><p>canteiros semelhantes aos usados para o cultivo de hortaliças, mantidos a céu</p><p>aberto. As sementes são semeadas em sulcos transversais (Figura 29 b) ou dis-</p><p>tribuídas a lanço e cobertas com uma camada de substrato (terra ou areia) de</p><p>aproximadamente dois centímetros de altura. Após a germinação, que ocorre de</p><p>20 a 40 dias após a semeadura, dependendo da temperatura, as plantas atípicas</p><p>e com baixo crescimento devem ser eliminadas. Alguns viveiristas fazem a seme-</p><p>adura em tubetes, mantidos a céu aberto. Nesse caso, deve-se fazer o desbaste,</p><p>quando as plantas estiverem com cerca de 5 cm, deixando apenas a muda mais</p><p>desenvolvida no tubete.</p><p>Durante a germinação e o desenvolvimento inicial dos porta-enxertos, a</p><p>irrigação deve ser realizada periodicamente, evitando excessos. Para facilitar o</p><p>manejo das mudas nos tubetes, elas devem ser separadas em lotes homogêneos</p><p>quanto ao desenvolvimento vegetativo.</p><p>Õ</p><p>Figura 28 – Remoção manual dos tegumentos de sementes de porta-enxertos de citros (a) e se-</p><p>mentes com os tegumentos removidos (b)</p><p>Figura 29 – Semeadura de sementes de porta-enxertos de citros, usando uma semente por tubete</p><p>(a); semeadura em canteiros, em sulcos transversais (b)</p><p>a b</p><p>a b</p><p>74</p><p>7. PREPARO DO SOLO E PLANTIO DE MUDAS NO VIVEIRO</p><p>No preparo do viveiro para formação das mudas diretamente no solo (Figura</p><p>30 a), são realizadas as mesmas operações recomendadas para o plantio de</p><p>qualquer cultura, como análises química e física do solo, uso de práticas de</p><p>conservação, aplicação de calcário e matéria orgânica, aração e gradagem.</p><p>Após o preparo da área, ela deve ser dividida em blocos homogêneos, nos quais</p><p>devem ser plantados separadamente cada porta-enxerto e cultivar copa, que</p><p>devem ser identificados para evitar misturas de mudas de diferentes cultivares.</p><p>A adubação de plantio poderá ser realizada distribuindo de</p><p>três a cinco quilos de esterco curtido por metro linear de sulco.</p><p>Deve-se aplicar também adubo fosfatado, cuja quantidade de-</p><p>pende do resultado da análise de solo. O sistema de produção</p><p>das mudas diretamente no solo (sementeira e viveiro) é cada</p><p>vez menos utilizado, mas ainda é permitido pela legislação vi-</p><p>gente.</p><p>8. TRANSPLANTE</p><p>O transplante das mudas da sementeira para o viveiro a céu aberto é realizado</p><p>quando estão com comprimento entre 15 a 25 cm. Aproximadamente um mês</p><p>antes da data prevista para o transplante, as irrigações devem ser reduzidas para</p><p>que haja o “endurecimento” das mudas, ou seja, para torná-las mais resistentes,</p><p>visando suportarem melhor o estresse gerado pelo transplante.</p><p>A sementeira deve ser irrigada logo antes da retirada das mudas para facilitar</p><p>o trabalho. Para arrancar as mudas dever ser feito um sulco transversal, com 20</p><p>a 30 cm de profundidade, em uma das extremidades da sementeira. Logo após,</p><p>usando uma pá ou vanga, faz-se o tombamento de cada linha de mudas para o</p><p>interior do sulco, removendo-as manualmente.</p><p>Após a remoção, devem ser levadas para um local sombreado, selecionadas,</p><p>preparadas e acondicionadas, para posterior transplante. Na seleção, devem ser</p><p>eliminadas mudas atípicas (muito pequenas ou muito grandes) e defeituosas</p><p>(raízes bifurcadas, enoveladas e tortas).</p><p>Na seleção, são classificadas em três tamanhos: as maiores são as mudas</p><p>de primeira; as intermediárias, de segunda, e as menores, de terceira. Essas</p><p>mudas devem ser plantadas em lotes separados no viveiro para obter maior</p><p>uniformidade, o que facilita o manejo.</p><p>Para reduzir a transpiração das mudas, as folhas maduras podem ser</p><p>cortadas pela metade, antes do transplante. O comprimento da raiz pivotante</p><p>também deve ser reduzido a cerca de um terço de seu tamanho original, para</p><p>evitar o enovelamento das raízes no momento do plantio no viveiro. Após essas</p><p>operações, as mudas devem ser envolvidas com pano úmido e mantidas à</p><p>sombra até o momento do transplante.</p><p>O plantio das mudas pode ser</p><p>feito em covas abertas ao longo dos</p><p>sulcos adubados ou usando uma haste de madeira, com ponta em uma das</p><p>extremidades, denominada chucho. Com ele, são abertos orifícios nos quais são</p><p>colocadas as mudas de raízes nuas.</p><p>Para as mudas produzidas em tubetes, o transplante é feito quando os porta-</p><p>enxertos estão com 10 a 15 cm de altura. Podem ser transplantados para o viveiro</p><p>Õ</p><p>75</p><p>no campo ou para recipientes definitivos, onde será completada a formação das</p><p>mudas (Figura 30 b).</p><p>No caso de produção de mudas em recipientes, eles devem apresentar</p><p>dimensões mínimas de 10 cm de largura por 30 cm de altura. Esses recipientes</p><p>podem ser de plástico rígido ou sacolas plásticas. Os vasos de plástico rígido são</p><p>comercialmente denominados de citrovasos ou citropotes. As sacolas plásticas</p><p>apresentam custo menor, não ocupam espaço quando vazias e são descartadas</p><p>após o plantio das mudas. Por isso, seu uso predomina, principalmente, em</p><p>viveiros comerciais.</p><p>O tamanho das sacolas pode ser usado como diferencial de qualidade das</p><p>mudas entre viveiros, considerando que quanto maior a sacola, maior será</p><p>o volume de raízes das mudas. Em função disso, alguns viveiros produzem</p><p>lotes em sacolas com capacidade de até sete litros, procurando obter mudas</p><p>com maior desenvolvimento das raízes e mais homogêneas, devido à menor</p><p>competição entre elas na fase de produção. Mudas com essas características</p><p>terão maior desenvolvimento da copa e maior produtividade nos primeiros anos</p><p>de produção.</p><p>9. TRATOS CULTURAIS NO VIVEIRO</p><p>Após o transplante, as mudas devem ser adubadas e irrigadas, normalmente</p><p>usando irrigação por aspersão, quando plantadas diretamente no solo (Figura 30</p><p>c), e com mangueiras, quando transplantadas para sacolas plásticas e mantidas</p><p>em viveiro protegido. Deve-se fazer o controle periódico de plantas daninhas e</p><p>eliminar as brotações laterais dos porta-enxertos para promover o desenvolvi-</p><p>mento mais rápido, visando antecipar a enxertia e, consequentemente, reduzir o</p><p>tempo de formação da muda.</p><p>O controle fitossanitário também deve ser realizado. As pragas que incidem</p><p>nos viveiros são praticamente as mesmas dos pomares adultos, embora com</p><p>graus de importância diferenciados pelo fato de as mudas não produzirem fru-</p><p>tos. No caso dos porta-enxertos Cravo e ‘Volcameriano’, é importante o controle</p><p>da verrugose, que será descrita posteriormente.</p><p>10. ENXERTIA</p><p>Para a produção de mudas certificadas, as borbulhas devem</p><p>ser obtidas de plantas matrizes ou de borbulheiras registradas,</p><p>cultivadas em ambiente protegido e inspecionadas periodica-</p><p>mente.</p><p>As borbulhas são retiradas de ramos denominados “porta-borbulhas”, que</p><p>são ramos angulares ou cilíndricos, dependendo do seu grau de maturação, com</p><p>comprimento entre 30-40 cm, cujas folhas são removidas com tesoura. Quando</p><p>o viveirista pretende fazer a enxertia nos porta-enxertos mais novos e, portanto,</p><p>mais finos, são utilizadas borbulhas provenientes de hastes angulares, por terem</p><p>a base mais estreita, o que viabiliza o seu encaixe no porta-enxerto de baixa</p><p>espessura. Os ramos porta-borbulhas podem ser armazenados em câmara fria,</p><p>entrentanto o tempo de armazenamento, depende da variedade, época de co-</p><p>lheita e maturação dos ramos.</p><p>Õ</p><p>76</p><p>Conforme o cultivar e condições de cultivo, os porta-enxertos estão aptos</p><p>para a enxertia entre 3 e 6 meses após o transplante para o campo ou para a</p><p>sacola plástica ou citropote.</p><p>A forma de realização da enxertia nos dois sistemas de produção de mudas é</p><p>semelhante, mas a realizada por borbulhia em T invertido é a mais usada.</p><p>Antes da realização da enxertia, deve-se fazer a toalete do porta-enxerto,</p><p>que consiste na remoção de folhas, espinhos e brotações presentes até a altura</p><p>de 30 cm mais ou menos, a partir do colo da muda, para facilitar a realização</p><p>da enxertia. Essa operação deve ser realizada no dia da enxertia, pois se feita</p><p>anteriormente dificulta o desprendimento da casca. A enxertia deverá ser feita</p><p>entre 10 e 20 centímetros de altura, medidos a partir do colo do porta-enxerto.</p><p>Quando se tratar dos limões verdadeiros [Citrus limon (L.) Burm. F.] ou a muda</p><p>for destinada para plantio com colheita mecanizada, a enxertia deverá ser feita</p><p>entre 20 e 40 centímetros.</p><p>11. FORMAÇÃO DAS MUDAS</p><p>Essa etapa também não apresenta diferenças significativas entre os dois sis-</p><p>temas de produção de mudas. Entre 15 e 20 dias após a enxertia, a fita plásti-</p><p>ca usada para amarrar a borbulha no porta-enxerto deve ser retirada. Em torno</p><p>de uma semana após a remoção da fita, deve-se verificar em quais plantas não</p><p>pegou a enxertia, caracterizada pela cor amarela ou escura da borbulha. Nesse</p><p>caso, faz-se uma segunda enxertia, abaixo do ponto onde foi realizada a primei-</p><p>ra.</p><p>Após a remoção da fita, é feita a indução de brotação da gema do enxer-</p><p>to, que é realizada usando a prática denominada “forçamento de brotação”. Ela</p><p>pode ser feita de várias maneiras, como a decapitação do porta-enxerto, encur-</p><p>vamento do porta-enxerto com corte parcial, encurvamento do porta-enxerto</p><p>sem corte, anelamento total e anelamento parcial.</p><p>• Decapitação: é feita geralmente de 1 a 2 cm acima do ponto de enxertia.</p><p>Deve-se deixar uma pequena parte do caule do porta-enxerto acima da enxer-</p><p>tia, para ser eliminada no momento da primeira poda de formação.</p><p>• Encurvamento do porta-enxerto com corte parcial (Figura 30 d): faz-se</p><p>um corte a aproximadamente três centímetros acima e do mesmo lado do en-</p><p>xerto, com uma profundidade um pouco inferior à metade do diâmetro do cau-</p><p>le. Logo após, o porta-enxerto é curvado para baixo, no sentido contrário ao do</p><p>enxerto.</p><p>• Anelamento total: consiste na remoção de um anel de casca do porta-</p><p>-enxerto, com cerca de 0,5 cm de largura, a 1cm acima do ponto de enxertia.</p><p>• Anelamento parcial: é feito da mesma forma, porém a casca é removida</p><p>apenas acima do local onde foi feita a enxertia.</p><p>• Forçamento da brotação por encurvamento do porta-enxerto: é o mé-</p><p>todo mais usado atualmente, pois permite um crescimento mais rápido do en-</p><p>xerto. Consiste em envergar o porta-enxerto para o lado contrário ao local onde</p><p>foi realizada a enxertia, de forma que a borbulha fique mais ou menos entre 3 e</p><p>5 cm abaixo da curvatura (Figura 30 e).</p><p>Com exceção da decapitação total, nos demais métodos de forçamento de</p><p>brotação da enxertia, o “desmame” ou eliminação do porta-enxerto normalmen-</p><p>te é realizado no momento da primeira poda de formação das mudas.</p><p>Em seguida ao forçamento da brotação, a borbulha inicia o processo de bro-</p><p>tação (Figura 30 f ). Durante o crescimento do enxerto, ele deve ser tutorado,</p><p>utilizando estaca, geralmente de arame galvanizado ou de bambu, que é intro-</p><p>77</p><p>duzida no substrato ou no solo, no lado oposto ao do enxerto. O uso do tutor</p><p>evita o tombamento e crescimento lateral do enxerto, com formação da muda</p><p>fora do padrão (Figura 30 g), e também da possível quebra do enxerto.</p><p>Durante o crescimento do enxerto, devem-se eliminar todas as brotações</p><p>que surgem na planta até a altura de 30 a 60 centímetros, medida a partir do</p><p>colo, principalmente quando se usa a decapitação total, pois nesse método há</p><p>tendência de ocorrer mais brotação no porta-enxerto.</p><p>As mudas de citros (“mudas” e “mudas certificadas”) podem ser comerciali-</p><p>zadas em haste única ou com copa formada. Em ambos os casos, procede-se a</p><p>poda de formação, que consiste na eliminação da parte apical da muda, deve ser</p><p>feita entre 30 a 60 centímetros, medidos a partir do colo da planta. A haste deve</p><p>estar madura (lignificada) no local da poda.</p><p>No caso das mudas de copa formada, após a primeira poda, todas as bro-</p><p>tações da haste devem ser removidas, com exceção de três a cinco brotos que</p><p>formarão as pernadas: ramos maduros, radialmente dispostos nos últimos 20</p><p>centímetros da parte superior da haste.</p><p>a b</p><p>c d</p><p>e f</p><p>78</p><p>12. REMOÇÃO DAS MUDAS DO SOLO E PADRÕES</p><p>As mudas de citros produzidas no solo, em sacolas, são removidas cortan-</p><p>do as raízes grossas, cujo desenvolvimento ultrapassou as dimensões</p><p>da sacola</p><p>plástica e penetraram no solo.</p><p>Para serem comercializadas, as mudas enxertadas de qualquer categoria</p><p>devem apresentar as seguintes características: constituir haste única e ereta,</p><p>tolerando-se uma pequena curvatura logo acima do ponto de enxertia de, no</p><p>máximo, 15º; apresentar, na fase de comercialização, diferença menor ou igual</p><p>a 5 milímetros entre os diâmetros medidos a 5 centímetros acima e abaixo do</p><p>ponto de enxertia, com exceção das mudas de tangerineiras, cuja diferença</p><p>entre os diâmetros do enxerto e do porta-enxerto poderá ser de, no máxi-</p><p>mo, 1 centímetro; tecido amadurecido, ramos sem danos físicos e corte do</p><p>porta-enxerto cicatrizado. As mudas de haste única devem ter idade máxima,</p><p>contada a partir da data de semeadura do porta-enxerto, de 24 meses para</p><p>mudas com interenxertia ou oriundas do porta-enxerto Poncirus trifoliata e</p><p>seus híbridos, ou 18 meses nos demais casos; diâmetro mínimo de 5 milíme-</p><p>tros, medido a 5 centímetros acima do ponto de enxertia.</p><p>As mudas com copa formada devem ter idade máxima de 24 meses, contada</p><p>a partir da data de semeadura do porta-enxerto e diâmetro mínimo de 7 milíme-</p><p>tros, medido a 5 centímetros acima do ponto de enxertia.</p><p>Na fase de pré-comercialização, as mudas de ambas as categorias (“muda”</p><p>e “muda certificada”) deverão apresentar sistema radicular bem desenvolvido,</p><p>com as radicelas ocupando todo ou quase todo o volume do substrato, com, no</p><p>máximo, 5% das mudas com raízes defeituosas.</p><p>Figura 30 – Viveiro de citros a céu aberto, com</p><p>as mudas plantadas diretamente no solo (a);</p><p>porta-enxertos recém-transplantados para</p><p>sacolas de plástico (b); viveiro de citros a céu</p><p>aberto, com as mudas em sacolas, irrigadas por</p><p>aspersão (seta) (c); método de forçamento de</p><p>brotação com encurvamento do porta-enxerto</p><p>com corte parcial (d); método de forçamento</p><p>de brotação com encurvamento do porta-en-</p><p>xerto sem corte; brotação do enxerto (e). bro-</p><p>tação do enxerto (f ); crescimento horizontal</p><p>do enxerto devido à falta de tutoramento da</p><p>muda (g))</p><p>g</p><p>79</p><p>MELHORAMENTO GENÉTICO</p><p>Os objetivos dos programas de melhoramento dos citros diferem em função</p><p>do uso da planta (copa, porta-enxerto ou ornamental), do destino dos frutos</p><p>(mesa ou indústria), e da região de cultivo, considerando que as condições de</p><p>clima, solo e problemas fitossanitários diferem de uma região para outra.</p><p>De forma geral, programas de melhoramento visando à obtenção de cultiva-</p><p>res copa, cujos frutos serão destinados a indústria de suco, têm como principais</p><p>objetivos obter plantas com alta produtividade, frutos com alto rendimento de</p><p>suco, bom equilíbrio entre açúcares e acidez, suco com coloração atrativa (ala-</p><p>ranjado), teores elevados de óleos essenciais, plantas sem alternância de produ-</p><p>ção e resistência às principais pragas e doenças. No momento, um dos principais</p><p>objetivos da citricultura brasileira, é a obtenção de cultivares resistentes ou tole-</p><p>rantes ao greening.</p><p>Em programas de melhoramento de cultivares para para consumo de mesa,</p><p>além das características mencionadas anteriormente, a qualidade dos frutos é</p><p>fundamental. A qualidade dos frutos pode ser definida como a combinação de</p><p>seus atributos que são importantes para a sua aceitação pelo consumidor. Per-</p><p>cebe-se, portanto, que o conceito de qualidade é variável, pois a sua percepção</p><p>varia de acordo com os hábitos de cada população ou consumidor. No caso dos</p><p>citros, os principais atributos levados em consideração pelos consumidores para</p><p>definir a qualidade dos frutos são tamanho, rugosidade e espessura da casca,</p><p>ausência de sementes; facilidade de descascar, cor da polpa e da casca e sabor.</p><p>Para o melhoramento de porta-enxertos, busca-se basicamen-</p><p>te obter plantas adaptadas a determinadas características de</p><p>solo (acidez, alcalinidade, umidade, teor de argila, seca), resis-</p><p>tência ou tolerância a patógenos, resistência ou tolerância ao</p><p>frio, vigor e produtividade da parte aérea, qualidade dos frutos</p><p>(tamanho, espessura da casca, teor de suco, sabor do fruto) e</p><p>compatibilidade de enxertia com os principais cultivares copa.</p><p>Na citricultura ornamental, ainda pouco explorada no Brasil, os principais</p><p>objetivos do melhoramento são obter plantas com fase juvenil curta, com fo-</p><p>lhagem atrativa, várias floradas ao ano e produção de frutos pequenos, com cor</p><p>alaranjada intensa, variegados (Figura 31 a) ou com formato exótico, como o ob-</p><p>servado na cidra Mão de Buda (Figura 31 b).</p><p>10</p><p>Õ</p><p>80</p><p>Os principais métodos de melhoramento usados na citricultura são apresen-</p><p>tados neste capítulo.</p><p>1. SELEÇÃO DE MUTAÇÕES</p><p>O melhoramento genético por hibridação de plantas lenhosas perenes,</p><p>como os citros, gerou poucos resultados até o momento, devido a várias caracte-</p><p>rísticas das plantas, que serão descritas posteriormente. Por isso, na citricultura, a</p><p>seleção de mutantes de ocorrência natural é um dos mais importantes métodos</p><p>de melhoramento na citricultura.</p><p>Variações genéticas em células somáticas, conhecidas como mutações de</p><p>gema, ocorrem espontaneamente nos citros e levam à formação de novos genó-</p><p>tipos. Essas mutações são a principal origem de novos cultivares na citricultura,</p><p>pois quando borbulhas provenientes de ramos originados de células mutantes</p><p>são enxertadas, o novo fenótipo é mantido indefinidamente, originando uma</p><p>nova variedade.</p><p>Geralmente, os mutantes são detectados nos pomares pelos citricultores, em</p><p>plantas cujos ramos ou frutos oriundos de mutações apresentam características</p><p>diferentes daquelas que caracterizam o fenótipo da planta que sofreu mutação.</p><p>Estas mutações podem ser responsáveis por alterações nas características ve-</p><p>getativas ou dos frutos, como época de maturação, teores de açúcares e acidez,</p><p>época de maturação frutos, dentre outros. Muitas vezes, essas mutações podem</p><p>passar despercebidas ou ser muito evidentes, como a formação de ramos varie-</p><p>gados (Figura 32).</p><p>Figura 31 – Cunquateiro ornamental, com folhas e frutos variegados (a); Cidreira Mão de Buda,</p><p>usada para fins ornamentais</p><p>a b</p><p>81</p><p>Quase todos os cultivares de citros usados atualmente no mundo foram ob-</p><p>tidos utilizando a seleção de mutantes espontâneos. Diversas laranjeiras doces,</p><p>tangerineiras, pomeleiros, limoeiros, etc. originaram-se dessa forma nas regiões</p><p>de cultivo dos citros. No Japão, a maioria dos clones comerciais de tangerineiras</p><p>satsumas são originários de mutações somáticas espontâneas. Na região Medi-</p><p>terrânea, principalmente na Espanha, são conhecidas várias mutações naturais</p><p>do grupo das tangerineiras clementinas, todos originados da ‘Clementina Fina’.</p><p>Acredita- se que a laranjeira ‘Shamouti’, laranjas sem acidez e pomelos com pol-</p><p>pa cor de rosa são exemplos de cultivares produzidos a partir de seleções de</p><p>quimeras, que é um tipo de mutação.</p><p>Um exemplo clássico de mutações de gema na citricultura é a seleção da</p><p>laranjeira ‘Bahia’, originada a partir de mutação de gema da laranjeira ‘Seleta’.</p><p>Posteriormente, novos mutantes de laranjeiras de Umbigo foram selecionados</p><p>em todo o mundo, como a ‘Baianinha’, ‘Navelina’, ‘Navelate’ e ‘Lanelate’. No Brasil,</p><p>ainda podem ser mencionados os cultivares de laranjeiras ‘Piralima’, ‘Lima Soro-</p><p>caba’ e ‘Lima tardia’ como prováveis mutantes do cultivar ‘Lima’.</p><p>A seleção de mutações apresenta uma série de vantagens em relação a ou-</p><p>tros métodos de melhoramento dos citros, como alta frequência de mutações</p><p>naturais, embora a eficiência da seleção dependa da capacidade de observação</p><p>dos produtores e pesquisadores; ausência de características juvenis nos mutan-</p><p>tes selecionados de plantas adultas no campo e a possibilidade de obter varie-</p><p>dades melhoradas sem alterar as demais características da planta.</p><p>Entretanto, o método apresenta limitações, como: a dificulda-</p><p>de de deteção das mutações no campo; várias mutações são</p><p>instáveis, como alguns tipos de quimeras e, por isso, podem</p><p>não se perpetuar ao longo dos anos; longo tempo para carac-</p><p>terização dos mutantes e risco da presença de vírus nos tecidos</p><p>dos mutantes selecionados.</p><p>Esse risco advém do fato de que</p><p>os mutantes selecionados serão multiplicados por propagação</p><p>vegetativa, visando à obtenção de mudas do novo cultivar.</p><p>Se a planta que produziu a mutação estiver infectada com vírus, logicamente</p><p>qualquer ramo dessa planta, mutante ou não, estará também infectado. Vírus e</p><p>Õ</p><p>Figura 32 – Laranjeira ‘Valencia’ com brotação de ramo mutan-</p><p>te, com folhas variegadas (seta branca)</p><p>82</p><p>bactérias sistêmicos são disseminados da planta-mãe para as mudas, quando</p><p>se adota qualquer método de propagação vegetativa (enxertia, estaquia, micro-</p><p>propagação) para a produção das mudas.</p><p>Quimeras são dois ou mais tecidos somáticos geneticamente diferentes na</p><p>mesma planta ou no mesmo ramo. Elas surgem por meio de mutações espon-</p><p>tâneas ou induzidas, em uma ou mais células do meristema, onde acontecem.</p><p>As principais etapas do processo de melhoramento dos citros por seleção</p><p>de mutações são as seguintes:</p><p>- Detecção das mutações no campo;</p><p>- Enxertia de gemas das mutações em plantas da variedade original para</p><p>facilitar comparação ou em mudas para avaliação no campo;</p><p>- Avaliação e caracterização das mutações por, pelo menos, cinco anos;</p><p>- Indexação e limpeza clonal (vírus), caso necessário;</p><p>- Avaliação do novo cultivar (mutante) em diversas condições ambientais.</p><p>2. INDUÇÃO DE MUTAÇÕES</p><p>Esse método é apropriado quando o objetivo do melhorista é tentar modi-</p><p>ficar apenas uma ou duas características do genótipo, mantendo as demais. No</p><p>caso dos citros, essa característica do método é importante devido à elevada he-</p><p>terozigose existente, que dificulta a obtenção de progênies com características</p><p>semelhantes às dos genitores quando se usa o melhoramento por hibridação.</p><p>Entretanto, as mutações ocorrem nos tecidos submetidos aos agentes mutagê-</p><p>nicos, ao acaso, não sendo possível ao melhorista escolher a característica a ser</p><p>modificada. Além disso, a maioria das mutações observadas em tecidos subme-</p><p>tidos a agentes mutagênicos produz efeitos indesejados.</p><p>Vários tipos de tecidos podem ser usados como alvo para os agentes mu-</p><p>tagênicos, como pólen (haploide), sementes, células embriogênicas, gemas e</p><p>segmentos de caule. Cada um deles tem vantagens e desvantagens. O uso de</p><p>tecidos multicelulares para indução de mutações, como borbulhas e sementes,</p><p>pode levar à formação de quimeras, o que é indesejável. Por outro lado, a exposi-</p><p>ção de células individualizadas a agentes mutagênicos não induz a formação de</p><p>quimeras. Vários agentes mutagênicos podem ser usados, como irradiação com</p><p>raios X, raios gama ou mutagênicos químicos, como metanossulfonato de etila.</p><p>Em 1959, em programa de melhoramento de citrus da Texas A&I University,</p><p>mais de 3.000 sementes de pomelo Hudson, cuja polpa é de cor rosa, foram sub-</p><p>metidas à radiação gama. Seis sementes produziram plantas com frutos com a</p><p>casca de cor laranja, com manchas vermelhas na casca e suco vermelho. Dessas</p><p>plantas, foi selecionada uma cujos frutos apresentavam menos sementes. Ela</p><p>foi lançada como novo cultivar que recebeu o nome de ‘Star Ruby’, conhecido</p><p>e cultivado em todas as regiões do mundo onde os pomeleiros são cultivados,</p><p>inclusive no Brasil.</p><p>As principais etapas do processo de melhoramento dos citros por indução</p><p>de mutações são as seguintes:</p><p>- Tratamento das gemas, sementes, células, etc. com um agente mutagênico,</p><p>físico ou químico.</p><p>- Multiplicação do material tratado por enxertia, no caso de gemas, germina-</p><p>ção no caso de sementes e cultivo in vitro no caso de células.</p><p>- Seleção.</p><p>- Caracterização dos mutantes por um período mínimo de três anos.</p><p>83</p><p>- Avaliação dos novos cultivares (mutantes) em diversas condições ambien-</p><p>tais.</p><p>3. HIBRIDAÇÃO</p><p>Os primeiros trabalhos com hibridação dos citros no mundo foram feitos por</p><p>W. T. Swingle e H. J. Webber, nos Estados Unidos (Flórida), e iniciados em 1893. O</p><p>objetivo do programa era obter plantas resistentes a doenças e tolerância ao frio,</p><p>utilizando o Poncirus trifoliata como fonte resistência. Como as plantas prove-</p><p>nientes dos cruzamentos não produziram frutos com qualidade adequada para</p><p>o consumo, os híbridos foram utilizados como porta-enxertos, sendo que alguns</p><p>deles são utilizados em todo o mundo como os citrangeiros Carrizo e Troyer (lan-</p><p>çados em 1934) e o citrumeleiro ‘Swingle’.</p><p>Posteriormente, o programa de melhoramento americano, conduzido por</p><p>Swingle, Webber e Reece e Gardner, produziu diversos cultivares copa de citros,</p><p>bastante conhecidos em todo o mundo como os tangeleiros ‘Minneola’ e ‘Orlan-</p><p>do’ (pomeleiro ‘Duncan’ x tangerineira ‘Dancy’) em 1930, ‘Robinson’, ‘Osceola’ e</p><p>‘Lee’ (tangerineira clementina x tangeleiro ‘Orlando’), em 1959, ‘Page’ (tangeri-</p><p>neiras clementinas x tangeleiro ‘Minneola’) e ‘Nova’ (tangerineira clementina x</p><p>tangeleiro ‘Orlando’) em 1964.</p><p>O melhoramento dos citros usando os métodos convencionais é limitado,</p><p>devido às características genéticas e reprodutivas das espécies da subfamília Au-</p><p>rantioidea, à qual pertencem os Citrus.</p><p>O período juvenil das plantas é longo, podendo durar vários anos para al-</p><p>gumas espécies, fato que contribui para aumentar o tempo para a obtenção de</p><p>novos cultivares. O modo de herança da maioria das características de interesse</p><p>agronômico é desconhecido, além do sistema de reprodução ser complexo. Há</p><p>vários exemplos da presença de esterilidade (masculina e feminina), autoincom-</p><p>patibilidade, interincompatibilidade, que dificultam programas de melhoramen-</p><p>to usando diversos cultivares, como as laranjeiras de umbigo, pomeleiro ‘Marsh’,</p><p>limeira ‘Tahiti’, tangerineiras satsumas e clementinas.</p><p>A poliembrionia, presente em quase todas as espécies e cultivares de citros,</p><p>dificulta a identificação das plântulas provenientes de embriões nucelares e zi-</p><p>góticos, além da menor sobrevivência dos embriões zigóticos, havendo a neces-</p><p>sidade de serem resgatados e cultivados in vitro antes de abortarem.</p><p>O tamanho relativamente grande das plantas é outro complicador, pois en-</p><p>carece o programa, em virtude da necessidade de maiores áreas para avaliação</p><p>dos híbridos.</p><p>No Brasil, os programas de melhoramento dos citros mais conhecidos são</p><p>o do Centro de Citricultura Sylvio Moreira, situado em Cordeirópolis (SP) e o do</p><p>Centro Nacional de Pesquisa com Mandioca e Fruticultura, da Embrapa, localiza-</p><p>do em Cruz das Almas (BA).</p><p>4. OBTENÇÃO DE POLIPLOIDES</p><p>São denominadas de poliploides as plantas com três ou mais conjuntos cro-</p><p>mossômicos completos. Com exceção de poucos cultivares, como a limeira ácida</p><p>Tahiti (Citrus latifolia), que é triploide (2n=3x=27), as espécies do gênero Citrus</p><p>são diploides (2n=2x=18) - embora triploides e tetraploides possam ser produ-</p><p>zidos espontaneamente. No caso dos triploides, nos citros eles são produzidos</p><p>pela fecundação de óvulos, cujo número de cromossomos durante a meiose não</p><p>84</p><p>foi reduzido, pelo gameta masculino haploide. Tetraploides espontâneos podem</p><p>ocorrer a partir de sementes poliembriônicas devido à duplicação do número de</p><p>cromossomos dos tecidos nucelares do ovário.</p><p>O principal objetivo dos programas de melhoramento de citros que traba-</p><p>lham com poliploides é a obtenção de cultivares triploides, cujo interesse se</p><p>deve à ausência de sementes nos frutos, que é uma característica muito valori-</p><p>zada pelos consumidores. A ausência de sementes aumenta o valor de mercado</p><p>dos frutos e facilita a sua comercialização.</p><p>Os triploides podem ser obtidos pelo cruzamento entre diploides e tetraploi-</p><p>des ou a partir da busca de triploides espontâneos em sementes provenientes</p><p>de hibridação entre diploides. A ocorrência espontânea de triploides a partir de</p><p>genitores diploides depende do cultivar e condições ambientais. Por isso, a fre-</p><p>quência com que os triploides são formados pode variar de 1% a 15%.</p><p>As principais etapas do processo de melhoramento dos citros por hibridação</p><p>são as seguintes:</p><p>- Emasculação das flores;</p><p>- Polinização;</p><p>- Obtenção das sementes híbridas;</p><p>- Isolamento e cultivo in vitro dos embriões zigóticos de espécies poliem bri-</p><p>ônicas;</p><p>- Desenvolvimento dos híbridos;</p><p>- Enxertia em porta-enxertos vigorosos;</p><p>- Cultivo durante vários anos até o desaparecimento das características ju-</p><p>venis;</p><p>- Seleção dos híbridos;</p><p>- Avaliação dos híbridos em diversas condições ambientais.</p><p>5. BIOTECNOLOGIA</p><p>Técnicas da biotecnologia, como multiplicação in vitro e biologia molecular,</p><p>abrem novas possibilidades para auxiliar na superação das dificuldades</p><p>encontradas nos programas tradicionais de melhoramento. Com elas é possível</p><p>a obtenção de haploides e poliploides, úteis para a produção de triploides sem</p><p>sementes; transformação genética com vários objetivos, como introdução</p><p>de genes para resistência a patógenos em cultivares comerciais suscetíveis e</p><p>microenxertia in vitro para limpeza clonal (produção de plantas livres de vírus),</p><p>entre outros.</p><p>85</p><p>FORMAÇÃO DO POMAR</p><p>1. INVESTIMENTOS NECESSÁRIOS</p><p>A citricultura, como outros cultivos de plantas lenhosas, apresenta algumas</p><p>características que a distingue das culturas anuais. Dentre elas, estão: custo ele-</p><p>vado para a formação de pomares, tempo longo para início da produção, retor-</p><p>no lento do capital investido e vida útil relativamente longa dos pomares. Por</p><p>isso, é imprescindível a realização de um estudo econômico criterioso, antes da</p><p>implantação do pomar, com o objetivo de conhecer os investimentos necessá-</p><p>rios, além de prever os gastos e as receitas anuais, ao longo da sua vida útil.</p><p>O estudo deve incluir os seguintes aspectos:</p><p>• Investimento inicial necessário: custo de preparo, correção e adubação</p><p>do solo; custo das mudas; aquisição de máquinas; instalações; plantio das</p><p>mudas, tratos culturais posteriores e custo de manutenção do pomar no</p><p>período improdutivo.</p><p>• Cálculo de receitas anuais: estimativa de produção anual e do preço de</p><p>comercialização; receita bruta anual; época de venda e evolução das receitas</p><p>durante o ano.</p><p>• Despesas anuais: aluguel ou impostos do terreno; gastos com mão de</p><p>obra, máquinas, adubos, produtos fitossanitários, irrigação, combustíveis e</p><p>outros insumos.</p><p>•Despesas indiretas: administração; contribuições e impostos;</p><p>amortizações e gastos financeiros.</p><p>Outro aspecto de caráter econômico é a necessidade de realização de obras</p><p>de infraestrutura ou de melhoria das existentes. Os casos mais comuns são cons-</p><p>trução de estradas, cercas, rede elétrica, obras de captação de água e instalação</p><p>de sistemas de irrigação.</p><p>2. ASPECTOS TÉCNICOS</p><p>Antes da implantação do pomar, além dos estudos econômicos, é necessário</p><p>conhecer vários fatores técnicos, principalmente os relacionados ao meio am-</p><p>biente e aos aspectos agronômicos do cultivo.</p><p>Os principais fatores são:</p><p>- Temperaturas mínimas, máximas e médias; ocorrência de geadas e oscila-</p><p>ções da temperatura.</p><p>- Precipitação pluvial total, distribuição e períodos de seca.</p><p>- Umidade relativa do ar durante os meses do ano.</p><p>- Insolação: riscos de queimaduras e outras injúrias para as plantas e frutos</p><p>- Ventos: direção, intensidade e ventos predominantes.</p><p>11</p><p>86</p><p>- Estrutura, profundidade, permeabilidade e reação do solo.</p><p>- Fertilidade do solo: teor de matéria orgânica, de macronutrientes e de mi-</p><p>cronutrientes.</p><p>- Problemas de salinidade ou de toxidez do alumínio.</p><p>- Capacidade de campo, ponto de murcha permanente e capacidade de ar-</p><p>mazenamento de água no solo.</p><p>- Principais pragas e doenças da cultura na região</p><p>- Situação geográfica e topografia: localização, altitude, orientação, meios de</p><p>comunicação e distância dos mercados consumidores.</p><p>- Características do terreno: área, topografia, acidentes naturais, forma e ex-</p><p>tensão.</p><p>- Mão de obra: disponibilidade, sazonalidade, custo, qualificação e experiên-</p><p>cia, transporte e alojamentos para os trabalhadores.</p><p>- Água de irrigação: disponibilidade e origem, qualidade, especialmente rela-</p><p>cionada ao teor de sais solúveis, infraestrutura para o suprimento.</p><p>- Infraestrutura existente: alojamentos e edificações, veículos e máquinas</p><p>disponíveis, instalações já existentes (energia, comunicações e irrigação).</p><p>3. ESCOLHA DE CULTIVARES</p><p>Após analisada a adaptação dos diversos cultivares de interesse ao local de</p><p>plantio, é preciso conhecer os possíveis canais de comercialização da produção.</p><p>Para isso, é desejável um estudo do mercado, avaliando-se a quantidade oferta-</p><p>da de frutos durante o ano, a variação estacional dos preços e a época de colhei-</p><p>ta de possíveis concorrentes em outros locais de produção.</p><p>Basicamente, existem quatro tipos de mercados disponíveis: local, nacional,</p><p>internacional e agroindústria.</p><p>- Mercado local: destino da produção da maioria das propriedades fami-</p><p>liares. A principal vantagem desse mercado consiste na sua proximidade e no</p><p>conhecimento que o produtor tem das preferências dos consumidores.</p><p>- Mercado nacional: é mais complexo que o anterior, pois é menos conheci-</p><p>do. É necessário que o produtor defina com antecedência onde irá comercializar</p><p>sua produção. Para facilitar as condições de comercialização, é recomendável</p><p>que participe de cooperativas.</p><p>- Mercado internacional: é de maiores riscos e mais exigente quanto à qua-</p><p>lidade dos frutos, havendo, por isso, a necessidade de adoção de programas de</p><p>certificação e escolha de cultivares que tenham boa aceitação pela população</p><p>dos países importadores. A exportação brasileira de frutos dos citros para o con-</p><p>sumo de mesa é muito pequena, comparada com a produção nacional e com o</p><p>volume exportado por outros países, como Espanha, África do Sul, Grécia, Esta-</p><p>dos Unidos e Argentina.</p><p>- Agroindústria: tem a vantagem de ser um mercado mais seguro em rela-</p><p>ção à venda da produção, porém, é preciso estar atento aos preços, pois normal-</p><p>mente são menores em comparação a outros mercados. No estado de São Paulo,</p><p>onde a maioria das laranjas colhidas é destinada à produção de suco, frequente-</p><p>mente ocorrem disputas entre produtores e indústrias, devido aos preços pagos</p><p>pelos frutos. Nos últimos anos, segundo informações de produtores, associações</p><p>e sindicatos, os valores recebidos pela venda das laranjas têm gerado endivida-</p><p>mento, desemprego, concentração de renda e desestabilização econômica dos</p><p>municípios, cuja economia depende da citricultura. A comercialização das frutas</p><p>para a indústria está limitada à sua proximidade com o pomar, pois os elevados</p><p>custos de transporte, quando realizado a grandes distâncias, podem comprome-</p><p>87</p><p>ter a lucratividade.</p><p>A escolha dos cultivares deve ser feita criteriosamente, pois, devido ao gran-</p><p>de número, pode ser inadequada e representar o fracasso econômico da planta-</p><p>ção. É possível a troca de cultivares usando a sobre-enxertia (Figura 33), porém</p><p>haverá despesas-extras e falta de produção durante um tempo. Para diminuir a</p><p>complexidade da escolha, é conveniente definir antecipadamente qual dos mer-</p><p>cados será o destino da produção.</p><p>Um plantio novo, estabelecido em uma região tradicional na produção de</p><p>citros é mais vantajoso, porque as melhores variedades já estão definidas, os tra-</p><p>balhadores rurais já possuem experiência com a cultura, há maior facilidade em</p><p>obter assistência técnica especializada e na aquisição dos insumos necessários.</p><p>Figura 33 – Sobre-enxertia em citros, para substituição de copa</p><p>Uma vez decidido o destino da produção, o número de cultivares a ser anali-</p><p>sado reduz-se consideravelmente. Os critérios para a escolha final devem englo-</p><p>bar características agronômicas e comerciais. Alguns aspectos importantes são</p><p>os seguintes:</p><p>- Adaptação ao ambiente;</p><p>- Produtividade e qualidade dos frutos;</p><p>- Época de maturação dos frutos;</p><p>- Compatibilidade com os porta-enxertos;</p><p>- Vigor: influencia na escolha do porta-enxerto a ser utilizado, na densida-</p><p>de de plantio e no sistema de formação;</p><p>- Resistência e tolerância a doenças e pragas e, em particular, o estado</p><p>fitossanitário do cultivar copa, ou seja, se ele está livre de doenças sistêmicas,</p><p>principalmente viróticas.</p><p>As características comerciais do cultivar copa são mais importantes que as</p><p>agronômicas, pois delas dependerá a conquista de mercados</p><p>para a venda dos</p><p>frutos.</p><p>Os principais aspectos a serem considerados são:</p><p>- Aspectos qualitativos: tanto a aparência externa como as característi-</p><p>cas organolépticas.</p><p>- Resistência ao transporte e ao manuseio: de grande importância, prin-</p><p>cipalmente nas frutas destinadas para o consumo in natura.</p><p>88</p><p>- Capacidade de conservação: com o objetivo de ampliar o período de</p><p>oferta e de consumo, possibilitando obter preços melhores de comercializa-</p><p>ção.</p><p>- Rendimento industrial: na produção de laranjas para suco, devem ser</p><p>escolhidos cultivares cujos frutos apresentem maior percentagem de suco</p><p>(acima de 50%), teor elevado de sólidos solúveis e relação brix/acidez entre</p><p>14-16.</p><p>O número de cultivares a ser plantado depende do período de colheita e</p><p>da demanda do mercado. A laranjeira, ao contrário das tangerineiras, apresenta</p><p>grande número de cultivares, com diferentes épocas de maturação dos frutos,</p><p>possibilitando a produção de frutas durante a maior parte do ano (Tabela 12).</p><p>Quando se deseja produzir frutos durante todo o ano, é necessário conhecer</p><p>a época de maturação e o período de colheita dos diferentes cultivares, o que</p><p>permitirá estabelecer um calendário de colheita. É recomendável que a descon-</p><p>tinuidade da colheita dos diferentes cultivares seja a menor possível, para haver</p><p>melhor emprego dos recursos disponíveis, especialmente mão de obra, além de</p><p>permitir oferta contínua do produto. Isso nem sempre é possível na citricultura,</p><p>em função da inexistência de cultivares que produzem frutos em determinadas</p><p>épocas do ano. Um exemplo clássico no Brasil é a inexistência de cultivares de</p><p>tangerineiras, cujos frutos tenham aceitação comercial, que produzam no perí-</p><p>odo de verão. A tangerineira ‘Poncã’, cujo cultivo predomina no Brasil, entre as</p><p>tangerineiras, produz de fevereiro a agosto, com pico de produção entre maio e</p><p>julho.</p><p>A área plantada com cada cultivar depende, por sua vez, da quantidade de</p><p>frutas a ser colhida diariamente, em função da demanda do mercado e da dis-</p><p>ponibilidade de mão de obra. Logicamente, a capacidade de armazenamento e</p><p>da câmara frigorífica, quantidade de máquinas agrícolas e material para embala-</p><p>gem devem ser projetados em função desses dados.</p><p>4. DENSIDADE DE PLANTIO</p><p>A distância de plantio entre uma planta e outra, o arranjo das plantas no</p><p>terreno e a consequente densidade de plantio são fatores determinantes para</p><p>o sucesso econômico do pomar. O uso de espaçamentos amplos, com reduzido</p><p>número de plantas por unidade de área, resulta em desperdício de área, subu-</p><p>tilização dos recursos e equipamentos disponíveis e diminuição da produção,</p><p>resultando em menor produtividade econômica do pomar.</p><p>Por outro lado, se a densidade de plantio for muito alta, haverá elevada com-</p><p>petição entre as plantas, tanto por luz na parte aérea, como por água e nutrientes</p><p>no sistema radicular. Essa competição é maior em plantios não irrigados, devido</p><p>à maior expansão lateral das raízes. Em pomares irrigados, devido à maior dis-</p><p>ponibilidade de água e nutrientes, é possível escolher menores espaçamentos,</p><p>cuidando para reduzir competição por luz na parte aérea.</p><p>No caso da existência de pomares já implantados, cujas condições de clima,</p><p>solo, cultivares e tratos culturais sejam semelhantes às do local de implantação</p><p>do pomar novo, os espaçamentos utilizados neles podem ser tomados como</p><p>referência. Geralmente, têm sido utilizados espaçamentos em torno de 6 a 7 m</p><p>entre linhas por 3 a 5 m na linha. Os espaçamentos maiores são recomendados</p><p>para plantas de grande porte, como limões, limeira ‘Tahiti’ e os menores para</p><p>tangerineiras, como a Poncã.</p><p>89</p><p>Até o final do século XX, os citros eram plantados em espaçamentos amplos.</p><p>A área considerada adequada para o desenvolvimento e produção era em torno</p><p>de 50 m2 por planta. Assim, espaçamentos comumente utilizados eram 7 m x 7</p><p>m, 8 m x 6 m, 7,5 m x 5,5 m, etc. Espaçamentos menores, como 7 m x 5 m, eram</p><p>recomendados para tangerineira ‘Poncã’, laranjeira ‘Pêra’ e tangoreira ‘Murcote’,</p><p>devido ao porte menor das plantas desses cultivares.</p><p>Tabela 12. Principais cultivares de citros cultivados no Brasil, destino dos fru-</p><p>tos e época de colheita principal de colheita dos frutos na região Sudeste</p><p>Cultivar Destino dos</p><p>frutos</p><p>Época de colheita Classificação</p><p>Laranjeiras</p><p>Lima, Piralima, Serra D’ água, Campista</p><p>Hamlin</p><p>Bahia, Baianinha</p><p>Westin, Rubi</p><p>Lima Tardia</p><p>Pêra</p><p>Natal, Valência</p><p>Folha Murcha</p><p>Mesa</p><p>Indústria e mesa</p><p>Mesa</p><p>Indústria e mesa</p><p>Mesa</p><p>Indústria e mesa</p><p>Indústria e mesa</p><p>Indústria e mesa</p><p>Março – junho</p><p>Abril – junho</p><p>Abril – junho</p><p>Maio – julho</p><p>Agosto – setembro</p><p>Agosto – setembro</p><p>Agosto – dezembro</p><p>Novembro - Janeiro</p><p>Precoces</p><p>Meia estação</p><p>Meia estação</p><p>Meia estação</p><p>Tardias</p><p>Tardias</p><p>Tardias</p><p>Tardia</p><p>Tangerinas e Híbrido</p><p>Cravo</p><p>Rio</p><p>Poncã</p><p>Murcote</p><p>Mesa</p><p>Mesa</p><p>Mesa</p><p>Indústria e mesa</p><p>Março – junho</p><p>Abril – junho</p><p>Maio – julho</p><p>Julho – agosto</p><p>Precoce</p><p>Meia-estação</p><p>Meia-estação</p><p>Tardia</p><p>Limeiras Ácidas e Limoeiro</p><p>Galego</p><p>Tahiti</p><p>Siciliano</p><p>Mesa</p><p>Indústria e mesa</p><p>Indústria e mesa</p><p>Dezembro – abril</p><p>Janeiro – abril</p><p>Dezembro - março</p><p>Precoce</p><p>Precoce</p><p>Precoce</p><p>Posteriormente, com a necessidade de aumentar a produtividade dos poma-</p><p>res, maior facilidade de realizar podas mecanizadas, emprego de porta-enxertos</p><p>ananicantes, a adoção de espaçamentos mais adensados, tanto na linha como</p><p>nas entrelinhas, passou a predominar.</p><p>O plantio adensado com plantas de baixo porte induzido por porta-enxertos</p><p>ananicantes pode ser uma alternativa adequada para aumentar a produtividade</p><p>do pomar e recuperar o capital investido mais rapidamente. Plantas de ‘Tahiti’</p><p>enxertadas em trifoliata ‘Flying Dragon’ apresentaram maior produção acumu-</p><p>lada quando foram usados os espaçamentos de 6 m x 1 m; 6 m x 1,5 m e 6 m x 2</p><p>m, em comparação com espaçamentos maiores. Quando enxertado em limoeiro</p><p>Cravo e Poncirus trifoliata, usando o espaçamento tradicional de 8 m x 6 m, as</p><p>produções das plantas de Tahiti foram as menores (Figura 34). Para os citros, é</p><p>uma prática comum em vários países, como Espanha, Japão, Israel e Itália, prin-</p><p>cipalmente devido à reduzida disponibilidade de áreas aptas para agricultura e</p><p>do seu elevado valor.</p><p>90</p><p>Em condições de clima tropical, limeiras ácidas ‘Tahiti’ e também outros cul-</p><p>tivares de citros crescem vigorosamente, formando copas de grande porte, al-</p><p>cançando altura e diâmetro superiores a 6 metros. Com isso, há excessivo som-</p><p>breamento, que resulta no estiolamento e consequente enfraquecimento dos</p><p>ramos produtivos, comprometimento da produção, dificuldade de execução de</p><p>tratos culturais e colheita (Figura 35). Dessa forma, para que o plantio adensado</p><p>seja utilizado com sucesso, o uso da poda ou de porta-enxertos ananicantes é</p><p>fundamental.</p><p>Além das características do clima e do solo, os principais fatores que devem</p><p>ser levados em consideração para o plantio de pomares adensados são:</p><p>- Porta enxertos: podem ser utilizados porta-enxertos que induzam a um</p><p>crescimento reduzido da variedade copa. No caso dos citros, o porta-enxerto</p><p>que permite obter plantas de porte menor é o Poncirus trifoliata, principalmente</p><p>o trifoliata Flying Dragon (P. trifoliata var. monstrosa).</p><p>- Cultivar copa: independentemente da influência do porta-enxerto, cada</p><p>cultivar tem características próprias em relação ao vigor, à altura e à conforma-</p><p>ção da copa. Por exemplo, a laranjeira ‘Hamlin’ tem altura elevada, enquanto a</p><p>‘Pêra Rio’ tem vigor e altura média e tangerineiras possuem a copa mais eretas,</p><p>com pequeno diâmetro.</p><p>- Poda: muitas vezes, o plantio adensado exige que a condução do pomar</p><p>seja feita com podas regulares laterais e no topo das plantas.</p><p>Figura 34 – Produção acumulada do segundo ao sexto ano após o plantio (toneladas por hectare)</p><p>de limeiras ácidas ‘Tahiti’ enxertadas sobre Trifoliata ‘Flying Dragon’ cultivadas em diferentes es-</p><p>paçamentos (6 x 1,0 m, 6 x 1,5m, 6 x 2,0 m, 6 x 2,5m e 6 x 3,0 m) e sobre limoeiro ‘Cravo’ e Poncirus</p><p>trifoliata cultivados no espaçamento de 8 x 5 m</p><p>91</p><p>5. DISPOSIÇÃO DAS PLANTAS</p><p>NO TERRENO</p><p>O arranjo das plantas no terreno é outro aspecto importante no planejamen-</p><p>to de um pomar. A escolha de determinado alinhamento depende de vários fa-</p><p>tores: declividade do terreno, tipo e tamanho das máquinas e dos implementos</p><p>agrícolas usados, espécie ou variedade e tipo de poda, etc.</p><p>A seguir, conheça alguns dos alinhamentos mais utilizados.</p><p>• Alinhamento em quadrado:</p><p>As plantas apresentam a mesma distância de plantio nas linhas e entre linhas,</p><p>permitindo um ótimo aproveitamento da luz solar incidente sobre a copa, devi-</p><p>do à distribuição mais uniforme da luz em todo o pomar. Além disso, possibilita</p><p>a realização do cultivo do solo nos dois sentidos, embora haja restrições sobre</p><p>o uso dessa prática, devido a problemas de compactação do solo. Sua principal</p><p>desvantagem é o menor aproveitamento da área útil.</p><p>O número de plantas por unidade de área pode ser calculado pela fórmula:</p><p>, em que:</p><p>n = número de plantas;</p><p>A = área do terreno; e</p><p>d1 = distância entre duas linhas ou plantas.</p><p>• Alinhamento em retângulo:</p><p>Possibilita melhor aproveitamento do terreno, ao permitir aproximar, ao má-</p><p>ximo, as árvores dentro de cada linha. Nesse caso, devido à tendência at ual de</p><p>adensamento de plantio na linha, não é possível controlar as plantas daninhas</p><p>entre as plantas na linha com roçadeiras acopladas a tratores, entretanto elas</p><p>podem ser controladas por outros métodos, como o uso de herbicidas ou roça-</p><p>deiras costais motorizadas, por exemplo. É um dos alinhamentos mais utilizados</p><p>pela facilidade em realizar as práticas cult urais. O número de plantas por unida-</p><p>Figura 35. Plantas de limeira ‘Tahiti’ com altura superior a seis metros e com sobreposi-</p><p>ção de copa nas linhas e entrelinhas</p><p>92</p><p>de de área pode ser calculado pela fórmula:</p><p>, em que:</p><p>n = número de plantas;</p><p>A = área do terreno; e</p><p>d1 = distância entre duas linhas ou plantas.</p><p>• Curvas de nível</p><p>O plantio em curvas de nível é recomendado para talhões com declividade</p><p>mais pronunciada e topografia irregular. Os tratos culturais, fitossanitários e a</p><p>colheita devem ser orientados no sentido das curvas de nível.</p><p>Escolhido o alinhamento, é necessário determinar qual será a orientação</p><p>das linhas de plantio. Para isso, devem ser considerados, principalmente, dois</p><p>fatores. O mais importante deles é a iluminação, que deve ser a mais uniforme</p><p>possível dentro do pomar. A escolha da direção Norte-Sul possibilita iluminação</p><p>uniforme, em ambos os lados da planta. Outro fator é a direção do vento predo-</p><p>minante, sendo recomendável que as linhas sejam perpendiculares à mesma.</p><p>Considerando o aspecto econômico, as linhas devem ser orientadas de for-</p><p>ma que coincidam com o maior comprimento do talhão, diminuindo o tráfego</p><p>desnecessário das máquinas e facilitando as práticas culturais.</p><p>6. MARCAÇÃO DE PLANTIO</p><p>Essa operação consiste em marcar a posição de cada muda no terreno e que</p><p>para isso podem ser usados vários métodos. Para terrenos planos ou com peque-</p><p>na declividade, o processo se inicia com o uso de um cordel de nylon, com o qual</p><p>marca-se uma linha reta sobre o terreno, aqui denominada “linha base”. Essa linha</p><p>pode coincidir com um carreador principal ou secundário. A seguir marcam-se</p><p>duas linhas perpendiculares à linha base, uma em cada extremidade. Os ângulos</p><p>retos são traçados utilizando três cordéis de nylon, cujos comprimentos estejam</p><p>na proporção 3:4:5 m, e dispondo-as como se indica na Figura 36 a. Ao esticar</p><p>esses cordéis forma-se um triângulo retângulo, cujos vértices localizam-se nos</p><p>pontos de encontro dos três cordéis. Também podem ser usados três bambus</p><p>com 3, 4 e 5 m de comprimento para formar um triângulo retângulo, sendo que</p><p>o ângulo reto situa-se no encontro dos bambus de 3 m e 4 m.</p><p>Após, são marcados os locais das covas na linha base e nas linhas perpendi-</p><p>culares, de acordo com o espaçamento escolhido (Figura 36 b). Para fazer a lo-</p><p>cação das demais covas, é usado um cordel cujo comprimento deve ser igual ou</p><p>maior ao da linha base, com marcas na posição de cada muda, de acordo com o</p><p>espaçamento escolhido. O cordel deve ser colocado sobre a linha base, marcan-</p><p>do o local de cada muda com estacas. Em seguida ele deve ser deslocado para as</p><p>estacas que vem a seguir nas linhas perpendiculares, marcando novamente as</p><p>posições das covas e assim sucessivamente até o final da área.</p><p>Outro processo de marcação está ilustrado na Figura 37, em que foi definido</p><p>um espaçamento de 7 m x 5 m como exemplo. Sobre os cordéis que formam a</p><p>linhas base e a linha perpendicular esquerda são definidas as posições de cada</p><p>muda que devem ser marcadas no solo com estacas de bambu, de acordo com o</p><p>espaçamento escolhido. Em seguida, as extremidades de um cordel de 12 m de</p><p>comprimento (7 m + 5 m) devem ser fixadas nas posições A e C, como mostrado</p><p>na Figura 37. Após, o cordel deve ser completamente esticado segurando-o no</p><p>local de uma marca feita a 7 m de A e a 5 m de C definindo a posição B, que é o</p><p>93</p><p>local de plantio de uma muda. Ao passar de A e C para a posição A1 e C1 (C1=B),</p><p>o cordel deve ser novamente esticado até a posição B1, definindo novamente a</p><p>posição de uma muda. Continua-se, assim, sucessivamente, até marcar a posição</p><p>de todas as mudas no terreno.</p><p>Figura 36 – Formação de ângulo reto, utilizando cordas, para traçado de</p><p>uma linha perpendicular à linha base (a); marcação das covas (b)</p><p>Figura 37 – Marcação do plantio em um alinhamento retangular, na distância de 7 x 5 m,</p><p>utilizando as linhas base e perpendicular (vide texto)</p><p>94</p><p>Para a marcação do plantio em um alinhamento em quincôncio, somente é</p><p>necessário estabelecer a linha base, na qual devem ser marcados os locais das</p><p>covas, no espaçamento escolhido. Em seguida, as extremidades de uma corda</p><p>ou cordel de nylon com comprimento igual a duas vezes a distância de plantio</p><p>devem ser fixadas nas estacas A e B. Nessa corda, deve ser feita uma marca na</p><p>metade do seu comprimento pela qual a corda deve ser completamente estica-</p><p>da, definindo o local de uma muda em C (Figura 38). O mesmo processo deve ser</p><p>seguido ao longo da linha até marcar a posição de todas as mudas correspon-</p><p>dentes.</p><p>Figura 38 – Marcação do plantio em um alinhamento em quincôncio</p><p>Nos alinhamentos em curvas de nível, a marcação do plantio é realizada com</p><p>o auxílio de uma nivelada básica, sobre a qual é feito o primeiro sulco. Os demais</p><p>sulcos, que são paralelos à nivelada básica, podem ser feitos com o emprego</p><p>de um bambu, cujo comprimento útil corresponde ao espaçamento entrelinhas.</p><p>Uma das extremidades é fixada no para-choque do trator e na outra é fixado um</p><p>pedaço de corrente ou corda, cujo comprimento deve alcançar o fundo do sulco</p><p>feito anteriormente. Dessa forma, para a abertura de cada sulco de plantio, o</p><p>trator desloca-se tendo como guia a corda ou corrente que pende sobre o cen-</p><p>tro do último sulco aberto. Esse esquema é repetido até que toda a área esteja</p><p>sulcada.</p><p>O mesmo procedimento também pode ser usado para demarcação e aber-</p><p>tura de sulcos em terrenos planos. A demarcação das demais linhas de plantio</p><p>também pode ser feita usando marcador de linhas com espuma. Trata-se de um</p><p>equipamento acoplado ao trator, que libera um rastro de espuma, permitindo ao</p><p>operador a abertura dos sulcos nos locais corretos.</p><p>Após a adubação e fechamento dos sulcos, são marcados os lo-</p><p>cais destinados a cada muda, a partir de uma linha localizada</p><p>no centro do talhão, iniciando a marcação a partir do centro</p><p>da linha para as extremidades, para que as plantas fiquem ali-</p><p>nhadas em todas as direções. Pode ser empregado corda ou</p><p>bambu, cujo comprimento deve ser igual ao do espaçamento</p><p>escolhido, nesse caso, equivalente à distância entre as plantas</p><p>na linha.</p><p>7. PREPARO DO SOLO</p><p>Atualmente, em áreas já cultivadas com culturas anuais ou pastagens, o pre-</p><p>paro em faixas para a implantação de pomares é uma boa alternativa. Isso por-</p><p>que as operações de preparo do solo são restritas às faixas, com o plantio das</p><p>Õ</p><p>95</p><p>mudas feito ao longo</p><p>dessas faixas, com a preservação da vegetação nas entre-</p><p>linhas. Ela consiste no preparo convencional do solo em faixas com 1 a 2 metros</p><p>de largura, destinadas às linhas das plantas, com a posterior abertura dos sulcos</p><p>de plantio, com profundidade em torno de 0,4 m (Figura 39 a).</p><p>Uma técnica interessante, que tem sido usada para o plantio de espécies ar-</p><p>bóreas, eucalipto e também citros, é o uso de um sulcador tríplice operação. Ele</p><p>realiza, simultaneamente, a descompactação (subsolagem), abertura do sulco e</p><p>aplicação de calcário e adubo fosfatado. Este sistema reduz significativamente a</p><p>área de preparo, minimizando os problemas de erosão e compactação do solo.</p><p>Entretanto, é importante destacar que as correções do solo, quando feitas ape-</p><p>nas na linha de plantio, deverão ser realizadas também no restante da área no</p><p>ano seguinte.</p><p>Outra possibilidade interessante é o plantio direto, cujo uso estendeu-se das</p><p>culturas anuais para as culturas perenes e tem sido utilizado por produtores de</p><p>citros da região Noroeste do Paraná em terrenos anteriormente ocupados por</p><p>pastagens (Figura 39 b). O sistema consiste basicamente na calagem superficial</p><p>de toda a área antes do plantio, dessecação da vegetação em faixas de 1 a 2</p><p>metros, destinadas às linhas das plantas, mantendo a vegetação nas entrelinhas.</p><p>Após o preparo, são abertos os sulcos, na profundidade de 0,3 a 0,4 metros, des-</p><p>tinados ao plantio.</p><p>Entretanto, na implantação de pomares de citros ainda predomina o uso do</p><p>preparo convencional, com revolvimento do solo e incorporação da cobertura</p><p>vegetal em área total, o que frequentemente provoca a ocorrência de erosão</p><p>hídrica. Em áreas não cultivadas anteriormente, árvores, arbustos, tocos e raízes</p><p>devem ser removidos, com pelo menos um ano de antecedência ao plantio dos</p><p>citros.</p><p>Dessa forma, os tratos culturais serão facilitados, além de diminuírem a po-</p><p>pulação de fungos saprófitos, como Roselinea sp. e Armillaria sp., que podem</p><p>parasitar o sistema radicular das plantas. Para diminuir essa possibilidade, é indi-</p><p>cado o cultivo de plantas de ciclo anual, como soja, feijão, milho ou outra cultura</p><p>de interesse do produtor. As leguminosas são as mais adequadas, pois fixam ni-</p><p>trogênio do ar e apresentam sistema radicular bem ramificado e profundo, me-</p><p>lhorando a estrutura do solo.</p><p>Uma prática interessante consiste no plantio de leguminosa, como a soja,</p><p>durante dois anos, com as operações normais de plantio no primeiro ano e plan-</p><p>tio direto no segundo. No terceiro ano, para o plantio do pomar, pode-se fazer o</p><p>plantio direto ou o plantio em faixas, descritos anteriormente.</p><p>Como os citros tem vida útil relativamente longa, sendo explorados por mais</p><p>de 20 anos, dependendo das condições sanitárias e de manejo do pomar, qual-</p><p>quer limitação física do solo, como a presença de camada adensada, deve ser</p><p>Figura 39 – Preparo do solo em faixas, com as operações mecanizadas restritas às faixas, com a</p><p>preservação da vegetação nas entrelinhas (a); Abertura de sulcos, em terreno não revolvido, para o</p><p>plantio de citros (b). Fotos de Fernando Alves de Azevedo - Centro APTA Citros Sylvio Moreira/ IAC</p><p>a b</p><p>96</p><p>corrigida antes do plantio.</p><p>A subsolagem tem por objetivo remover impedimentos físicos</p><p>no subsolo que podem limitar ou restringir o crescimento das</p><p>raízes. Essas camadas podem ser de origem natural ou causa-</p><p>das pela compactação do solo, resultantes do tráfego de má-</p><p>quinas. A subsolagem é uma operação que desagrega o solo,</p><p>mas não o revolve. Pode atingir de 50 a 80 cm de profundidade</p><p>e requer o emprego de tratores de grande potência.</p><p>A subsolagem pode ser feita em toda a área destinada ao plantio do pomar</p><p>ou somente em faixas nas linhas de plantio, o que é mais utilizado. A subsolagem</p><p>em área total é recomendável para o plantio de pomares com alta densidade de</p><p>plantas.</p><p>Quando a textura do solo é leve e homogênea ao longo do perfil e não existe</p><p>nenhum impedimento mecânico para o aprofundamento do sistema radicular, a</p><p>prática recomendável para o preparo convencional do solo é a aração, que pode</p><p>ser feita usando grade aradora. Ao contrário da subsolagem, a aração revolve o</p><p>solo, possibilitando a incorporação dos restos vegetais superficiais e dos corre-</p><p>tivos.</p><p>A resistência do solo depende da profundidade na qual é realizada a aração</p><p>e do teor de umidade do solo, portanto, a aração é facilitada quando o solo está</p><p>úmido, mas sem excesso, para evitar aderência excessiva ao arado. Após a ara-</p><p>ção, o terreno fica com muitos torrões e sulcos, que devem ser eliminados com</p><p>uma ou mais operações complementares, usando a grade niveladora.</p><p>8. CARREADORES</p><p>Para facilitar o tráfego de máquinas durante a realização de práticas culturais,</p><p>como adubação e aplicação de defensivos agrícolas, e permitir a saída das frutas</p><p>colhidas, é preciso haver uma rede de carreadores no pomar.</p><p>Existem três tipos de carreadores: carreadores periféricos, localizados em</p><p>torno do pomar e que devem apresentar largura aproximada de 10 metros; car-</p><p>readores secundários, que devem ser paralelos e dividir o pomar em talhões</p><p>ou quadras, com largura em torno de 8 metros; e carreador principal, que tem</p><p>como objetivo permitir o acesso ao pomar e possibilitar a saída rápida das frutas</p><p>colhidas no local. O carreador principal deve interligar a entrada do pomar aos</p><p>depósitos e galpões, e ter largura (12 metros) que permita o cruzamento de dois</p><p>veículos.</p><p>O traçado da rede de carreadores e a forma dos talhões dependem do forma-</p><p>to da área do pomar e da declividade do terreno. Talhões quadrados ou retangu-</p><p>lares são mais indicados para terrenos planos ou com declividade baixa, de até</p><p>6%. Talhões quadrados devem ter de 400 a 500 m de lado, ou números múltiplos</p><p>do espaçamento a ser adotado, resultando numa área útil de 16 a 25 ha.</p><p>Devem ser evitados carreadores muito longos, para que não funcionem</p><p>como canais de escoamento das águas de chuvas, evitando reduzir a erosão. Em</p><p>terrenos irregulares, com declividade em várias direções, não há como plane-</p><p>jar os talhões com formato regular. Entretanto, deve-se procurar obter a maior</p><p>uniformidade possível dentro de cada um dos talhões, que normalmente são</p><p>menores.</p><p>Õ</p><p>97</p><p>Para a distribuição dos cultivares nos talhões, é necessário evitar o plantio de</p><p>cultivares tardios, ou seja, aqueles cuja época de colheita coincide com o perío-</p><p>do chuvoso (setembro a fevereiro), em talhões de acesso mais difícil, para facili-</p><p>tar a chegada dos colhedores e a retirada da colheita.</p><p>9. QUEBRA-VENTOS</p><p>Os quebra-ventos são formados com árvores plantadas no sentido perpen-</p><p>dicular ao dos ventos dominantes. Sua é função diminuir a velocidade do vento,</p><p>evitando danos às plantas e reduzindo a incidência de pragas e doenças no po-</p><p>mar.</p><p>Os quebra-ventos atuam diretamente sobre o ambiente, som-</p><p>breando parcial e temporariamente a cultura, absorvendo</p><p>água e nutrientes do solo e diminuindo a velocidade do ven-</p><p>to. Como consequência, o microclima é modificado, ocorrendo</p><p>alterações nos processos fisiológicos e nas características das</p><p>plantas do pomar mais próximas aos quebra-ventos.</p><p>Quebra-ventos de espécies apropriadas, plantadas em espaçamento redu-</p><p>zido, protegem o pomar de danos, principalmente durante o florescimento e a</p><p>frutificação. São especialmente recomendados para áreas, nas quais a velocida-</p><p>de do vento, predominante, frequentemente, excede 65 km/h. Em áreas cons-</p><p>tantemente expostas a ventos com velocidade de 40 a 50 km/h, a instalação de</p><p>quebra-ventos também é recomendável. Eles reduzem a velocidade do vento, a</p><p>uma distância que varia de 10 a 20 vezes a sua altura.</p><p>O quebra-vento pode resultar no sombreamento das plantas de citros nas</p><p>linhas situadas próximas a ele, reduzindo o seu desenvolvimento e a produção.</p><p>Para resolver esse problema, devem ser utilizadas espécies de folhagem mais</p><p>rala para sombrear o pomar o mínimo possível ou fazer a locação de carreadores</p><p>nas áreas sombreadas. A absorção de água e de nutrientes pelas plantas dos</p><p>quebra-ventos também</p><p>compete com as do pomar. A intensidade da compe-</p><p>tição depende da planta utilizada como quebra-vento, da distância do plantio</p><p>em relação ao pomar, da espécie cultivada comercialmente, do solo e do clima.</p><p>É comum observar crescimento mais reduzido nas plantas de citros nas linhas</p><p>mais próximas aos quebra-ventos.</p><p>Em relação ao aspecto fitossanitário, os quebra-ventos podem ser benéficos</p><p>ou prejudiciais, pois suas árvores podem servir de abrigo a insetos, bactérias e</p><p>fungos que podem ser inimigos naturais ou hospedeiros das pragas e dos orga-</p><p>nismos que provocam doenças no pomar. Por exemplo, o ácaro da leprose dos</p><p>citros pode encontrar condições adequadas para a sobrevivência em algumas</p><p>espécies utilizadas como quebra-ventos.</p><p>Existem várias espécies que podem ser utilizadas como quebra-ventos, cada</p><p>uma com características próprias, que as tornam adequadas para determinada</p><p>área. Como exemplos, podem ser citadas a Arauracaria heterophylla, Casuarina</p><p>equisetifolia, Garcinia spicata, Eucaliptus, Leucaena, Grevillea robusta e Pennisetum</p><p>purpureum (capim-elefante), que pode ser utilizado como quebra-ventos</p><p>intercalar aos quebra-ventos permanentes.</p><p>Em citros, a utilização de quebra-ventos é uma prática que ajuda a diminuir</p><p>a incidência do cancro cítrico nos pomares, pois constitui uma barreira mecânica</p><p>Õ</p><p>98</p><p>para a dispersão da bactéria pelo vento, além de diminuir ferimentos provoca-</p><p>das pelo atrito nas folhas e nos frutos, que servem como porta de entrada para</p><p>a bactéria.</p><p>10. PLANTIO</p><p>• Época e abertura das covas</p><p>A época de plantio depende de vários fatores, como as condições climáticas,</p><p>possibilidade de irrigação e a disponibilidade de mudas. De modo geral, a época</p><p>adequada de plantio é o início da estação chuvosa. Se existe a possibilidade de</p><p>realizar irrigações, o plantio pode ser feito em qualquer época do ano, desde que</p><p>não existam outras limitações relacionadas ao clima, principalmente temperatu-</p><p>ras desfavoráveis para o crescimento das mudas.</p><p>As mudas podem ser plantadas em covas ou em sulcos contí-</p><p>nuos. As covas são mais utilizadas em pequenas áreas ou na-</p><p>quelas com declividade elevada. Sua abertura pode ser feita</p><p>manual ou mecanicamente. No caso da primeira, pode ser feita</p><p>com o uso de pá reta, enxadão ou cavadeira e é adequada para</p><p>áreas pequenas ou em situações onde exista algum tipo de im-</p><p>pedimento para o uso de trado mecânico ou do sulcador. Nesse</p><p>caso, a terra da camada superficial deve ser separada daquela</p><p>do fundo da cova, por ser mais fértil e misturada com adubos</p><p>e esterco. Essa mistura deve ser usada para encher a cova no-</p><p>vamente. As dimensões variam em função do tipo e das carac-</p><p>terísticas do solo. O comprimento, a largura e a profundidade</p><p>podem variar de 30 a 60 cm.</p><p>A abertura mecânica é feita com trado mecânico acoplado ao trator, que se</p><p>desloca ao longo da linha de plantio (Figura 40 a). Não é apropriada, porém, para</p><p>solos arenosos, pois a terra removida volta para o interior da cova muito rapi-</p><p>damente. Em solos muito argilosos, pode ocorrer compactação das paredes da</p><p>cova, dificultando o desenvolvimento das raízes. Portanto, é preciso romper essa</p><p>camada endurecida. Ao contrário da abertura manual, não é possível separar a</p><p>camada superficial da camada mais profunda.</p><p>Na maioria das situações, a abertura das covas deve ser realizada pelo menos</p><p>de 3 a 4 semanas antes do plantio das mudas, de forma a permitir o acomoda-</p><p>mento da terra, o início da solubilização dos adubos minerais e a complementa-</p><p>ção da fermentação dos adubos orgânicos.</p><p>• Adubação das Covas ou sulcos de plantio</p><p>Covas ou sulcos mais profundos são importantes, porque a única oportuni-</p><p>dade para que o fósforo e calcário sejam aplicados em profundidade é antes do</p><p>plantio. Por isso, é importante que covas e sulcos tenham profundidade superior</p><p>a 40 cm.</p><p>As maiores respostas dos citros ao fósforo ocorrem na fase de formação das</p><p>plantas, que vai do plantio até quatro a cinco anos de idade, dependendo do</p><p>manejo. Posteriormente, com o aumento da idade das plantas, as respostas são</p><p>menos perceptíveis. Por outro lado, o contrário ocorre com o nitrogênio e o po-</p><p>tássio, cuja demanda no plantio e nos primeiros anos de cultivo é pequena e</p><p>Õ</p><p>99</p><p>aumenta com o início e o aumento da produção de frutos pelas plantas.</p><p>Para o conhecimento da quantidade necessária de fósforo, calcário e micro-</p><p>nutrientes, principalmente zinco, a serem usados para o plantio, é preciso fazer</p><p>a análise antes do preparo do solo e, depois, seguir as recomendações, cujos</p><p>detalhes serão apresentados no item apropriado.</p><p>• Plantio das Mudas</p><p>No momento do plantio, as covas devem ser reabertas para acomodar as</p><p>mudas. Retire a embalagem e ajuste as mudas a uma profundidade que possi-</p><p>bilite que o colo fique a pelo menos três centímetros acima do nível do solo. Se</p><p>o coleto da muda ficar muito acima do nível do solo (plantio muito superficial),</p><p>ela pode tombar e seu sistema radicular ficar mais susceptível ao dessecamento</p><p>(Figura 40 b). Ao contrário, se o plantio for profundo, pode favorecer a incidência</p><p>de algumas doenças, principalmente a gomose de Phytophthora. Caso a região</p><p>da enxertia fique abaixo do nível do solo (Figura 40 c), pode haver emissão de</p><p>raízes no caule do cultivar copa, resultando no afrancamento da muda. Nesse</p><p>caso, as características da copa influenciadas pelo porta-enxerto são perdidas.</p><p>Após a remoção da sacola plástica, a muda é estabilizada com a colocação</p><p>de terra junto ao torrão. O solo em volta da muda deve ser suavemente compac-</p><p>tado.</p><p>Para que a muda fique no local exato em que se encontra a estaca usada para</p><p>marcação da cova, pode ser usada a régua de plantio, que consiste de um peda-</p><p>ço de tábua, com comprimento em torno de dois metros e largura variável. No</p><p>entanto, quanto mais estreita, mais leve. Na régua devem ser feitos três entalhes</p><p>no mesmo lado: um no centro e um em cada extremidade (Figura 40 d).</p><p>Durante a operação de plantio, a régua deve ser colocada sobre o solo, de</p><p>modo que o entalhe central coincida com a estaca que delimita a posição cen-</p><p>tral da cova. Na posição dos entalhes das extremidades, devem ser fixadas duas</p><p>estacas no solo, que servirão para definir a posição exata da régua no momento</p><p>de centralizar a muda na cova. Depois disso, tanto a régua quanto a estaca que</p><p>marca a posição central devem ser removidas e uma pequena cova, com dimen-</p><p>sões suficientes para caber o torrão da muda, deve ser aberta. No momento do</p><p>plantio, a muda é colocada na cova e a régua é colocada novamente sobre o</p><p>solo, coincidindo os entalhes de suas extremidades com as estacas que foram</p><p>previamente fixadas. O caule da muda que está sendo plantada deve coincidir</p><p>com o entalhe central da régua.</p><p>Após o plantio, dependendo da ocorrência de ventos, a muda</p><p>deve ser tutorada com uma estaca de bambu, amarrando o seu</p><p>caule a ela. A estaca deve ser colocada inclinada, de modo que</p><p>sua base fique inserida na parte do terreno que não foi revolvi-</p><p>da durante a abertura da cova.</p><p>Õ</p><p>100</p><p>11. CUIDADOS PÓS-PLANTIO</p><p>Após o plantio, as mudas devem ser irrigadas, mesmo que o solo esteja úmi-</p><p>do. A irrigação tem como objetivos aumentar o contato do solo com o sistema</p><p>radicular da muda e eliminar possíveis bolsas de ar.</p><p>Para evitar o escorrimento da água de irrigação, deve ser feita uma bacia</p><p>ao redor de cada muda, a uma distância de 30 a 40 cm do caule, utilizando-se</p><p>o solo próximo a ela. O cuidado principal na construção da bacia é não deixar a</p><p>terra entrar em contato com o caule da muda acima do ponto de enxertia, para</p><p>evitar o afrancamento. Para diminuir a evaporação da água, as bacias podem</p><p>ser cobertas com palha ou capim seco. As irrigações devem ser repetidas até as</p><p>mudas pegarem, cuja frequência depende do solo, do tipo de cobertura usado</p><p>e da ocorrência de chuvas.</p><p>Devido às doenças, ataque de pragas, condições climáticas desfavoráveis ou</p><p>mesmo problemas na própria muda, algumas podem morrer após o plantio. Por</p><p>isso, é necessário fazer o replantio,</p><p>concentrado; a falta</p><p>de oferta do suco concentrado congelado no mercado, princi-</p><p>palmente nos pequenos municípios brasileiros; e ao alto pre-</p><p>ço, devido, entre outros fatores, às altas cargas tributárias e às</p><p>margens de lucro no varejo.</p><p>Os principais importadores do suco de laranjas brasileiro são a União Euro-</p><p>peia, com 70% do volume exportado pelo Brasil, e Estados Unidos, com 18%.</p><p>Importadores menores são China e Japão. Em 2014, o Brasil exportou 1.037.178</p><p>toneladas de suco de laranjas no valor de US$ 1.897.871.698. Apesar dos nú-</p><p>meros serem surpreendentes pelos altos valores, a Associação dos Exportadores</p><p>Nacionais de Sucos Cítricos (Citrus BR) informa que o mercado internacional está</p><p>em crise, em função do baixo consumo de suco de laranja industrializado nos</p><p>Estados Unidos e Europa.</p><p>2. COMPOSIÇÃO DOS FRUTOS</p><p>Os principais componentes da laranja, em termos quantitativos, são a água</p><p>e os açúcares. A água é responsável por mais de 85% da massa das laranjas e os</p><p>açúcares redutores (glicose e frutose) e não redutores (sacarose) representam</p><p>em torno de 12% da massa do suco dos frutos, sendo divididos em aproximada-</p><p>mente 50% para cada um (Tabela 7).</p><p>Como principais componentes do suco, os açúcares solúveis são as princi-</p><p>pais fontes de calorias das laranjas e tangerinas. Entretanto, teores mais eleva-</p><p>dos de açúcares nos frutos, quando adequadamente equilibrados com os ácidos,</p><p>resultam em sabor mais agradável do suco. Os açúcares se acumulam durante</p><p>o amadurecimento dos frutos, concomitantemente com a redução da acidez,</p><p>de tal forma que o conteúdo de sólidos solúveis totais aumenta lentamente ou</p><p>permanece praticamente constante.</p><p>Aproximadamente 1% da massa do suco corresponde aos ácidos, com pre-</p><p>domínio do ácido cítrico (Tabela 7). Os ácidos são muito importantes para a qua-</p><p>lidade dos frutos, considerando que a aceitação pelo consumidor depende da</p><p>relação entre os teores de sólidos solúveis e a acidez. Em frutos verdes ou “pas-</p><p>sados”, a relação é baixa. O valor de 9,5 é considerado o mínimo aceitável para o</p><p>consumo dos frutos, entretanto, esse valor depende da variedade, da época do</p><p>ano e da preferência dos consumidores.</p><p>14</p><p>Os ácidos se acumulam durante o desenvolvimento inicial dos frutos, com</p><p>estabilização do conteúdo em seguida. A queda de concentração dos ácidos ob-</p><p>servada durante o amadurecimento dos frutos deve-se, principalmente à dilui-</p><p>ção, devido ao aumento na quantidade de água do suco dos frutos.</p><p>Entre as vitaminas, a que mais se destaca nos citros é a vitamina C ou ácido</p><p>ascórbico. Embora existam outras espécies de frutas com teores superiores de</p><p>vitamina C, os frutos dos citros são a fonte mais barata e de mais fácil acesso pela</p><p>população, além de ser consumidos em larga escala.</p><p>A distribuição da vitamina C é irregular no fruto, havendo maior concentra-</p><p>ção na casca do que no suco - nesse local, pode ser cinco ou sete vezes maior</p><p>do que no suco. A parte comestível, que é a polpa, contém somente 25% da</p><p>vitamina C total do fruto.</p><p>O máximo conteúdo de vitamina C nos frutos ocorre no início do amadure-</p><p>cimento, permanecendo relativamente constante a partir desse ponto. A con-</p><p>centração de vitamina C nos frutos dos citros depende muito da espécie e do</p><p>cultivar. Em laranjas, ela varia entre 50 e 60 mg por 100 g de suco (Tabela 7).</p><p>A composição da fração mineral do suco tem as mesmas características es-</p><p>peradas de qualquer órgão da planta que recebe nutrientes pelo floema e não</p><p>pelo xilema. Como a seiva do floema é rica em potássio, que é o cátion presente</p><p>mais abundante, os órgãos das plantas supridos preferencialmente pela seiva do</p><p>floema, como os frutos, são ricos em potássio e pobre em cálcio (Tabela 7).</p><p>As substâncias nitrogenadas representam 1% do volume de suco (Tabela 7),</p><p>podendo ser considerado um valor alto, quando comparado aos teores de áci-</p><p>dos, mas muito baixo em comparação a qualquer alimento de origem animal e</p><p>a alguns vegetais, como as leguminosas, espinafre, couve e brócolis. Os lipídios</p><p>representam apenas 0,2% e as cinzas entre 0,3 e 0,4% da massa do suco.</p><p>Na composição das frutas dos citros existem ainda centenas de substâncias</p><p>na casca dos frutos e dissolvidas no suco. Até o momento foram identificadas</p><p>mais de 400 substâncias diferentes no suco de laranjas. Entre elas, estão os flavo-</p><p>noides, carotenoides, vitaminas, minerais, etc. Entretanto, a maior parte dessas</p><p>substâncias é volátil, sendo as responsáveis pelo aroma dos frutos.</p><p>Devido à riqueza da composição química, os citros são alimen-</p><p>tos importantes para a saúde humana, havendo na literatura</p><p>internacional dezenas de artigos publicados sobre o efeito dos</p><p>citros sobre a saúde. Entre as propriedades dos citros, mere-</p><p>cem ser citadas as antioxidantes, que previnem enfermidades</p><p>degenerativas associadas à idade, como câncer e doenças car-</p><p>diovasculares, além de terem propriedades anti-inflamatórias</p><p>e antialérgicas. Entre as substâncias antioxidantes, estão a vi-</p><p>tamina C, carotenoides e flavonoides.</p><p>Õ</p><p>15</p><p>Tabela 7. Composição média do suco de laranja</p><p>Componente Quantidade/ 100g de suco</p><p>Água (g)</p><p>Proteínas (g)</p><p>Lipídios (g)</p><p>Carboidratos (g)</p><p>Calorias (kcal)</p><p>Vitamina A (U.I. )</p><p>Vitamina B1 (mg)</p><p>Vitamina B2 (mg)</p><p>Vitamina B6 (mg)</p><p>Ácido nicotínico (mg)</p><p>Ácido pantotênico (mg)</p><p>Vitamina C (mg)</p><p>Ácido cítrico (mg)</p><p>Ácido oxálico (mg)</p><p>Sódio (mg)</p><p>Potássio (mg)</p><p>Cálcio (mg)</p><p>Magnésio (mg)</p><p>Manganês (mg)</p><p>Ferro (mg)</p><p>Cobre (mg)</p><p>Fósforo (mg)</p><p>Enxofre (mg)</p><p>Cloro (mg)</p><p>87,10</p><p>1,00</p><p>0,29</p><p>12,20</p><p>49</p><p>190-400</p><p>0,1</p><p>0,03</p><p>0,03</p><p>0,2</p><p>0,2</p><p>35-56</p><p>980</p><p>24</p><p>1,7</p><p>179</p><p>11,5</p><p>11,5</p><p>0,02</p><p>0,3</p><p>0,07</p><p>21.7</p><p>4,6</p><p>1,2</p><p>3. PRODUTOS E SUBPRODUTOS DOS FRUTOS DOS CITROS</p><p>No Brasil, a principal forma de consumo dos frutos dos citros é in natura ou</p><p>na forma de suco fresco, devido à facilidade de acesso da população às frutas em</p><p>qualquer região do país. Entretanto, em muitos países que não cultivam citros</p><p>ou cuja produção não é suficiente para atender à demanda do mercado, o suco</p><p>processado é o produto mais consumido.</p><p>Existem basicamente dois tipos de suco: o concentrado congelado (Frozen</p><p>Concentrated Orange Juice - FCOJ), cuja água é removida via calor do suco natu-</p><p>ral até a concentração de 66°Brix, e o não concentrado (Not From Concentrate -</p><p>NFC), em que o suco é pasteurizado, sem a retirada de água. Em função da forma</p><p>de preparo, esse suco apresenta poucas alterações nas características naturais,</p><p>como sabor e aroma. Por isso, sua exportação está aumentando em detrimento</p><p>do FCOJ, embora o FCOJ tenha 13 vantagens, como maior facilidade e menores</p><p>custos para o transporte e armazenamento, devido a menor quantidade de água</p><p>na composição.</p><p>Todas as partes dos frutos usados para a produção de suco de laranja são</p><p>aproveitadas. Além do suco, existem outros componentes da laranja, conheci-</p><p>dos como subprodutos, que também são usados comercialmente. Os principais</p><p>subprodutos do processamento industrial de suco são o óleo essencial, o limo-</p><p>neno ou terpeno cítrico e o farelo da polpa.</p><p>Os óleos essenciais são óleos voláteis que são retirados da casca das frutas.</p><p>Eles têm maior aplicação nas indústrias alimentícia e farmacêutica. Podem ser</p><p>usados para dar sabor em bebidas, sorvetes e outros alimentos. Além disso, são</p><p>usados para a fabricação de medicamentos e cosméticos, como sabonetes e</p><p>Fonte: Naranja Y salud (1999)</p><p>16</p><p>perfumes. São utilizados ainda pelas indústrias de produtos de limpeza.</p><p>O limoneno é um líquido incolor, que resulta da destilação do líquido obtido</p><p>pela prensagem da casca, bagaço e sementes, após a extração do suco. É usado</p><p>como solvente industrial e também pelas indústrias farmacêutica e alimentícia</p><p>como componente aromático e para dar sabor a alimentos.</p><p>O farelo de casca de laranja é obtido por meio da secagem e peletização</p><p>das cascas, sementes e polpas, que equivalem a aproximadamente 50% do peso</p><p>da fruta. É usado como complemento para a ração animal, principalmente para</p><p>bovinos.</p><p>Frutos dos citros preparados usando técnicas do processamento mínimo é</p><p>outra forma</p><p>que consiste na substituição das mudas que</p><p>morreram.</p><p>Na fase de crescimento, as brotações que surgem no caule das mudas abai-</p><p>xo da copa devem ser removidas frequentemente. Quando as brotações ainda</p><p>estão tenras, sua remoção é facilmente realizada pela quebra dos brotos, que</p><p>se destacam facilmente. Por outro lado, se as brotações estiverem lignificadas</p><p>Figura 40 – Abertura de covas para o plantio de pomar de citros usando trado mecânico (a); plantio</p><p>raso de mudas de citros, com exposição das raízes superiores (b); plantio profundo de mudas de</p><p>citros, com enterramento de todo o porta-enxerto (c); régua de plantio utilizada para a marcação</p><p>do local exato de plantio da muda dentro da cova (d)</p><p>a b</p><p>c</p><p>d</p><p>101</p><p>(Figura 41 a), elas devem ser removidas com tesoura de poda, em corte rente</p><p>ao caule das mudas. A remoção, puxando os brotos com as mãos, nesse caso,</p><p>provoca o rompimento da casca da planta (Figura 41 b). Para evitar o trabalho de</p><p>remoção dos brotos e proteger o caule, podem ser utilizadas proteções feitas de</p><p>plástico ou tetrapak (Figura 41c).</p><p>Logo após o plantio, o controle de pragas e doenças deve ser rigoroso. Isso</p><p>porque, devido às baixas reservas das plantas, à pequena área foliar e ao sistema</p><p>radicular reduzido, os danos causados às folhas por larva minadora, pulgões,</p><p>cochonilhas, formigas saúvas e outros insetos atrasam o desenvolvimento das</p><p>mudas, podendo até matá-las.</p><p>Em regiões de ocorrência de clorose variegada dos citros (CVC) e de greening,</p><p>as cigarrinhas (vetores da bactéria causadora da CVC) e o psilídeo (vetor do</p><p>greening) devem ser monitorados e controlados, quando necessário. Para o</p><p>controle, têmsido utilizados inseticidas sistêmicos, aplicados às mudas ainda no</p><p>viveiro ou logo após o plantio.</p><p>Figura 41 – Brotação do citrumeleiro ‘Swingle’, cuja remoção deve ser feita com tesoura de poda</p><p>(a) e rompimento da casca da muda, na região do porta-enxerto, devido à remoção com as mãos,</p><p>de um broto já lignificado (b); proteção do caule de mudas de citros, usando “embalagem” feita de</p><p>plástico (c)</p><p>a b</p><p>c</p><p>102</p><p>CULTIVOS INTERCALARES</p><p>Por cultivo intercalar, entende-se o plantio de outras culturas nas entrelinhas</p><p>dos pomares. Esse plantio tem finalidade econômica, como é o caso de cereais e</p><p>de outras espécies frutíferas, ou melhora das características do solo - é o caso de</p><p>leguminosas, como crotalária e mucuna preta, entre outras.</p><p>Até o final do século XX, os citros eram plantados em espaçamentos amplos,</p><p>usando áreas em torno de 50 m2 por planta e com espaçamentos nas entrelinhas</p><p>nunca inferiores a 7 metros. Essa prática favorecia o plantio de culturas interca-</p><p>lares com produtividade economicamente viável e praticamente sem interferir</p><p>com a cultura principal.</p><p>Posteriormente, com a necessidade de aumentar a produtividade dos po-</p><p>mares, o uso de espaçamentos mais adensados, tanto na linha como nas en-</p><p>trelinhas, passou a predominar. Mas, devido à necessidade de mecanização e</p><p>escoamento das safras, as distâncias das entrelinhas ainda permitem o plantio</p><p>de culturas intercalares, que são importantes na geração de renda em pomares</p><p>novos e também na fixação da mão de obra.</p><p>O custo de implantação de um pomar de citros é elevado e o retorno do</p><p>capital investido pode levar de 5 a 6 anos após o plantio. Portanto, nos primeiros</p><p>anos após a instalação do pomar, quando ainda há espaço suficiente nas entreli-</p><p>nhas, é possível aproveitá-lo com a exploração de culturas intercalares. A escolha</p><p>da cultura depende da demanda comercial na região onde será produzida, da</p><p>idade das plantas de citros e do manejo que se pretende adotar na condução do</p><p>pomar. Culturas, como soja, milho, feijão, melancia, mandioca, abóbora, quiabo,</p><p>girassol, amendoim, hortaliças folhosas, batata-doce, abacaxi, mamão e maracu-</p><p>já, são recomendadas para uso em plantios intercalares com os citros (Figura 42).</p><p>A característica mais importante das espécies a serem usadas como cultura</p><p>intercalar em pomar de citros é o ciclo. Ele deve ser curto, geralmente anual ou</p><p>bianual, como é o caso do abacaxizeiro e maracujazeiro. Elas não devem ser hos-</p><p>pedeiras de doenças e pragas dos citros. Caso a opção seja por culturas de porte</p><p>12</p><p>Figura 42. Plantios intercalares em pomares jovens de citros. (a) Consórcio com quiabeiro e (b)</p><p>tomateiro</p><p>a b</p><p>103</p><p>alto, como o mamoeiro, geralmente é usada apenas uma linha de plantio na en-</p><p>trelinha do pomar. Além disso, é importante respeitar as necessidades nutricio-</p><p>nais dos citros e das culturas intercalares e, portanto, é recomendada a adoção</p><p>de manejo de adubações específicas para cada espécie cultivada na área.</p><p>A distribuição das raízes dos citros em profundidade e em distância do tron-</p><p>co varia conforme o porta-enxerto utilizado, mas depende principalmente da</p><p>textura do solo. Geralmente, quanto maior é o teor de argila no solo, menor é</p><p>o desenvolvimento das raízes. Geralmente, cerca de 50% a 90% das raízes dos</p><p>citros se concentram na profundidade de zero a 0,4 m, e 50% a 75% das delas</p><p>estão concentradas na área de projeção da copa das plantas sobre o solo.</p><p>Dessa forma, a linha de plantio da cultura intercalar deve ficar a uma distân-</p><p>cia mínima de 1,0 m da projeção da copa das plantas sobre o solo. É relativa-</p><p>mente comum pequenos produtores plantarem as culturas intercalares muito</p><p>próximos às mudas de citros, para aproveitar a água utilizada para a irrigação</p><p>localizada (Figura 43). Mas essa prática não é recomendada para evitar compe-</p><p>tição. Após certa idade, o crescimento radicular, o sombreamento e a falta de</p><p>espaço provocados pelo crescimento da copa dos citros são limitadores para o</p><p>cultivo intercalar.</p><p>Atenção especial deve ser dada ao preparo do solo para a cultura interca-</p><p>lar, adotando técnicas, como plantio direto ou cultivo mínimo, quando possível,</p><p>para evitar revolver o solo e favorecer a erosão, além de prevenir danos às raízes</p><p>das plantas dos citros.</p><p>Figura 43 – Cultivos intercalares plantados muito próximos às mudas de citros para aproveitar a</p><p>água de irrigação dos microaspersores. Couve (a); milho (b); melancia (c); pimentão (d)</p><p>a b</p><p>c d</p><p>104</p><p>PRÁTICAS CULTURAIS</p><p>1. CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS</p><p>Ao contrário das culturas anuais, em que o ciclo curto e o porte reduzido</p><p>implicam em alta sensibilidade às plantas daninhas, os citros, por serem perenes,</p><p>são relativamente tolerantes à presença de outras plantas na mesma área, após</p><p>o estabelecimento do pomar.</p><p>As plantas daninhas competem com os citros por água, nutrientes e luz, de-</p><p>pendendo da idade. Em pomares onde o manejo não é realizado na época cor-</p><p>reta ou feito de forma inadequada, as plantas daninhas que se desenvolvem na</p><p>faixa onde se distribuem os adubos competem com os citros pelos nutrientes</p><p>minerais, sendo grande parte deles imobilizada na sua massa seca. A intensida-</p><p>de dessa competição depende da espécie, da densidade das plantas daninhas e</p><p>da época do ano.</p><p>Por outro lado, em função dos espaçamentos utilizados nos pomares de ci-</p><p>tros, grandes áreas de solo podem ficar sem cobertura vegetal quando as plan-</p><p>tas daninhas são completamente eliminadas do pomar. Elas deixam o solo ex-</p><p>posto à ação direta da chuva, de ventos e do sol, levando a perdas consideráveis</p><p>de solo por erosão.</p><p>Além disso, nos solos sem cobertura vegetal, o tráfego de máquinas e o ma-</p><p>nejo contribuem para aumentar a compactação e a degradação, reduzindo a</p><p>macroporosidade e a capacidade de retenção de água. Esse ambiente restrin-</p><p>ge o desenvolvimento do sistema radicular, reduzindo direta e indiretamente</p><p>a absorção de nutrientes pelas plantas. Por isso, é uma das principais causas da</p><p>queda de produtividade e da redução da longevidade dos pomares.</p><p>• Período crítico de competição</p><p>O período logo após o plantio das mudas no campo é um dos mais críticos</p><p>de competição das plantas daninhas com os citros (Figura 44 a). Nessa fase, pode</p><p>ocorrer morte de mudas no pomar, devido à competição com as plantas dani-</p><p>nhas por água, nutrientes e luz. Isso ocorre sobretudo em período com</p><p>pouca</p><p>disponibilidade hídrica, em função do sistema radicular das mudas ainda ocu-</p><p>par pequeno volume de terra e o porte das plantas ser relativamente pequeno</p><p>(Figura 44 b). Outra interferência é o sombreamento das mudas em função do</p><p>crescimento acelerado das plantas daninhas.</p><p>À medida que as plantas de citros vão crescendo, com o passar dos anos, o</p><p>sombreamenteo provocado pela copa inibe o desenvolvimento de plantas dani-</p><p>nhas sob ela. Entretanto, as plantas daninhas devem ser roçadas nas entrelinhas</p><p>para facilitar o trânsito de máquinas e pessoas, permitindo a reciclagem de nu-</p><p>trientes.</p><p>Geralmente, em pomares não irrigados, a maior limitação é por água, princi-</p><p>palmente no período de seca. Nessas condições, o manejo mais indicado é que a</p><p>área de abrangência das plantas permaneça sem concorrência significativa das</p><p>plantas daninhas, preferencialmente dessecadas com herbicida ou roçadas, para</p><p>13</p><p>105</p><p>diminuir a competição por umidade. Ao contrário, na estação chuvosa, o mato</p><p>deve ser mantido nas entrelinhas, formando uma cobertura, para evitar a erosão.</p><p>2. MANEJO DE PLANTAS DANINHAS</p><p>• Manejo mecânico</p><p>Em pomares em que a produção é destinada a mercados mais restritivos</p><p>quanto ao uso de agrotóxicos, ou em produção orgânica, o controle das plantas</p><p>daninhas por métodos mecânicos é recomendado. Nesse caso, busca-se reduzir</p><p>a população de plantas daninhas por meio de capinas manuais e roçadas.</p><p>A capina manual é um método oneroso e com baixo rendimen-</p><p>to operacional e, por isso, é utilizada apenas em pomares em</p><p>formação ou em pequenas propriedades. É útil no primeiro</p><p>ano após o plantio, para manter o entorno das mudas com ve-</p><p>getação baixa ou livre de plantas daninhas, em um raio de 0,5</p><p>m a 1 m, em função das plantas jovens serem sensíveis a alguns</p><p>herbicidas.</p><p>Na realização da capina, deve-se ter o cuidado para não ferir o tronco das</p><p>mudas, expondo-o ao ataque de patógenos, como Phytophthora spp. Finalizada</p><p>a capina, recomenda-se que os restos vegetais permaneçam sobre o solo, para</p><p>proteção contra erosão e perda de água, além de suprimir nova infestação de</p><p>plantas daninhas na área de projeção da copa. Os melhores resultados quanto</p><p>ao controle pela capina são obtidos em clima seco, porque a falta de umidade e</p><p>calor favorece a morte das plantas daninhas cortadas pela enxada.</p><p>O controle mecanizado pode ser feito com roçadeira costal ou tracionada,</p><p>dependendo da extensão do pomar, da declividade do terreno e das espécies de</p><p>plantas daninhas presentes na área. De qualquer forma, o operador deve estar</p><p>atento para não provocar danos às plantas.</p><p>• Cobertura vegetal</p><p>A presença de plantas daninhas nos pomares de citros não deve ser vista</p><p>apenas como fator negativo à produção. Quando manejadas de forma correta e</p><p>não erradicadas totalmente do pomar, trazem benefícios, como a melhoria das</p><p>características físicas, químicas e biológicas do solo, contribuindo para o bom</p><p>Figura 44. Alta infestação de plantas daninhas em pomar jovem de citros (a); Muda de citros com</p><p>sintomas de deficiência hídrica nas folhas intensificada pela competição com capim braquiária (b)</p><p>Õ</p><p>a b</p><p>106</p><p>desenvolvimento do sistema radicular das plantas.</p><p>Quando o solo está coberto por vegetação, morta ou viva, natural ou</p><p>plantada, ele fica protegido contra erosão, evitando a desagregação das</p><p>partículas, contribuindo para melhorar a infiltração da água, mantendo a</p><p>umidade e evitando mudanças bruscas de temperatura. Quando as plantas</p><p>daninhas são roçadas e posteriormente decompostas, promovem o retorno</p><p>parcial dos nutrientes ao solo, melhorando a fertilidade.</p><p>O plantio de gramíneas e leguminosas ou o aproveitamento da própria</p><p>vegetação presente nas linhas de plantio dos citros pode ser utilizado para</p><p>a formação da cobertura vegetal. O manejo da grama Batatais (Paspalum</p><p>notatum), com roçada mecânica nas entrelinhas e com controle das plantas</p><p>daninhas nas linhas com glyphosate, assegurou maior umidade do solo e taxa de</p><p>fotossíntese na laranjeira, além de melhorar a capacidade de armazenamento de</p><p>água e a aeração do solo. A maior diversidade de espécies de plantas presentes</p><p>nas entrelinhas dos pomares de citros também contribui para o aumento da</p><p>população de inimigos naturais das pragas dos citros.</p><p>• Controle químico</p><p>O método mais utilizado para o controle de plantas daninhas consiste em</p><p>fazer o controle ao longo das linhas de plantio, em faixas situadas em ambos os</p><p>lados dos citros, deixando-as apenas nas entrelinhas, cujo controle é feito com</p><p>roçadeira (Figuras 45 a, 45 b).</p><p>O controle das plantas daninhas com herbicidas em pomares de citros é</p><p>bastante utilizado, devido à praticidade e aos bons resultados. No entanto,</p><p>como nas demais técnicas de controle, existem alguns aspectos que devem ser</p><p>considerados. O conhecimento das espécies daninhas predominantes no pomar,</p><p>a melhor época para o controle, a seletividade, o modo de ação e o método de</p><p>aplicação dos herbicidas é fundamental para que o citricultor decida sobre a</p><p>melhor opção em cada caso, garantindo maior eficiência e menor custo.</p><p>A aplicação de herbicidas deve ser realizada em condições que garantam a</p><p>eficiência do produto, previnam a intoxicação dos operadores e evitem prejuízos</p><p>com a deriva das gotas, que podem atingir brotações novas das plantas.</p><p>As plantas daninhas devem estar com o metabolismo ativo para que os her-</p><p>bicidas exerçam os seus efeitos, principalmente aqueles de ação sistêmica. A</p><p>aplicação em condições de restrição hídrica geralmente é pouco efetiva e deve</p><p>ser evitada.</p><p>A temperatura ideal para aplicação de herbicidas situa-se entre 15º e 30°C.</p><p>Figura 45. Gramíneas nas entrelinhas do pomar, mantendo-se a área de maior concentração de</p><p>raízes dos citros livre de competição. Pomar com plantas em produção (a); pomar com plantas em</p><p>fase de formação (b)</p><p>a b</p><p>107</p><p>Temperaturas mais baixas podem atrasar o efeito dos herbicidas, enquanto tem-</p><p>peraturas elevadas contribuem para a rápida evaporação da calda, fechamento</p><p>de estômatos e estimulam a produção de cera sobre as folhas, diminuindo a ab-</p><p>sorção dos herbicidas. A umidade relativa do ar deve estar acima de 55%, pois</p><p>em ambientes com umidade relativa baixa ocorre o fechamento dos estômatos</p><p>e a produção de ceras, com efeitos semelhantes aos da alta temperatura.</p><p>Ventos com velocidade entre 1,5 km h-1 e 8 km h-1 são adequados para a apli-</p><p>cação. Acima dessa velocidade, porém, pode ocasionar deriva dos herbicidas,</p><p>causando danos às plantas cítricas.</p><p>A baixa eficiência dos herbicidas e a necessidade de reaplicações devem-se,</p><p>em grande parte, ao uso de técnicas inadequadas e/ou à aplicação em plantas</p><p>em avançado estágio de crescimento. Dependendo do herbicida utilizado, quan-</p><p>to mais jovem for a planta alvo, menor a dose requerida e, possivelmente, mais</p><p>eficiente será o controle químico, principalmente de espécies de difícil controle.</p><p>O glyphosate (N-(phosphonomethyl) glycine) é o herbicida mais utilizado na</p><p>citricultura brasileira, sendo comumente aplicado três ou mais vezes ao ano. Seu</p><p>uso se deve à eficiência como dessecante da vegetação presente, possibilitando</p><p>sua utilização como cobertura morta após o uso da roçadeira, além de não ser</p><p>tóxico se atingir o tronco das plantas adultas.</p><p>Entretanto, a aplicação por vários anos consecutivos do mesmo princípio ati-</p><p>vo de herbicida pode levar à seleção de espécies de plantas daninhas, que se</p><p>tornam dominantes na área, em função da tolerância ao glyphosate. Espécies,</p><p>como Conyza spp., Cynodon dactilon (L.), Commelina virginica (L.), Ipomoea sp.,</p><p>Cyperus sp., Tridax protumbens, Spermacoce latifolia e Synedrellopsis grisebachii,</p><p>exigem constante rotação de herbicidas para controle eficiente em pomares de</p><p>citros.</p><p>A grade de herbicidas recomendados para a produção integrada de citros,</p><p>elaborada pelo Comitê de Agrotóxicos para a Produção Integrada de Citros - PIC</p><p>Brasil, encontra-se na Tabela 13.</p><p>Tabela 13. Herbicidas indicados para a produção integrada de citros - PIC</p><p>Brasil, atualizada</p><p>em 01/05/2015</p><p>Ingrediente Ativo Produto Registrado Dose Registro (mL ou g /100L) Grupo Químico</p><p>Carfentrazona-Etílica Affinity 400 EC</p><p>Aurora</p><p>Aurora 400 EC</p><p>Quicksilver 400 EC</p><p>75,0-125,0 mL/ha + 0,5% óleo</p><p>Mineral</p><p>75,0-125,0 mL/ha + 0,5% óleo</p><p>Mineral</p><p>75,0-125,0 mL/ha + óleo</p><p>75,0-125,0 mL/ha + óleo</p><p>Triazolona</p><p>Carfentrazona-Etílica +</p><p>Glifosato</p><p>Fera Ultra 1,25-150,0 L p.c./ha Triazolona + Glicina</p><p>Substituída</p><p>Dibrometo de Diquate Reglone 1,5-2,5 L/ha Bipiridílio</p><p>Dicloreto de Paraquate Gramoxone 200</p><p>Helmoxone</p><p>Paradox</p><p>1,5-2,0 L/ha</p><p>1,5-2,0 L/ha</p><p>1,5-3,0 L/ha</p><p>Bipiridílio</p><p>Diurom Cention SC</p><p>Direx 500 SC</p><p>Diurex WG</p><p>Diuron Milenia WG</p><p>Diuron Nortox</p><p>Diuron Nortox 500 SC</p><p>Herburon 500 BR</p><p>Herburon WG</p><p>Karmex</p><p>Karmex 800</p><p>3,6-6,4 L/ha</p><p>3,2-6,4 L/ha</p><p>1,8-3,5 Kg/ha</p><p>1,8-3,5 Kg/ha</p><p>2,0-4,0 L/ha</p><p>3,2-6,4 L/ha</p><p>3,2-6,4 L/ha</p><p>1,8-3,5 Kg/ha</p><p>2,0-4,0 Kg/ha</p><p>2,0-4,0 L/ha</p><p>Ureia</p><p>108</p><p>Diurom + Dicloreto de</p><p>Paraquate</p><p>Gramocil 2,0 L/ha Ureia + bipiridílio</p><p>Diurom + Glifosato Glydur</p><p>Tropuron</p><p>3,0 L/ha</p><p>5,0-7,0 L/ha</p><p>Glicina Substituída + Ureia</p><p>Glifosato, sal de</p><p>Isopropilamina</p><p>Aliado 480 SL</p><p>Credit</p><p>Crucial</p><p>Direct</p><p>Fera</p><p>Fusta WG</p><p>Gli Ouro</p><p>Gli Over</p><p>Gliato</p><p>Glifos</p><p>Glifos Plus</p><p>Glifosato Agripec 720 WG</p><p>Glifosato Atanor</p><p>Glifosato Atanor 48</p><p>Glifosato Atar</p><p>Glifosato Atar 48</p><p>Glifosato CCAB 480 SL</p><p>Glifosato Nortox</p><p>Glifosato Nortox WG</p><p>Glifosato Nortox 480 BR</p><p>Glifosato Nortox 480 SL</p><p>Glifosato Nuf</p><p>Glifosato Nufarm</p><p>Glifosato Nutritop</p><p>Glifosato Zamba</p><p>Glifosato 480 Agripec</p><p>Glifosato 480 Helm</p><p>Glifoxin</p><p>Gliphogan 480</p><p>Glister</p><p>GLI-UP 480 SL</p><p>Gliz Plus Gliz Plus</p><p>Gliz 480 SL</p><p>Glizmax Prime</p><p>Glyox</p><p>Glyphotal</p><p>Glyphotal TR</p><p>Knock Out</p><p>Mademato</p><p>Pilarsato</p><p>Pocco 480 SL</p><p>Polaris</p><p>Preciso</p><p>Pretorian</p><p>Radar</p><p>Radar WG</p><p>Rodeo</p><p>Ronat-A</p><p>Roundup Original</p><p>Roundup Original DI</p><p>Roundup Transorb</p><p>Roundup WG</p><p>Rustler</p><p>Rustler WG</p><p>Shadow 480 SL</p><p>Stinger</p><p>Stinger WG</p><p>Sumô</p><p>Trop</p><p>Tropazin</p><p>Wipe Out</p><p>Zapp QI 620</p><p>1,0-5,0 L/ha</p><p>1,0-5,0 L/ha</p><p>1,0-4,0 L/ha</p><p>0,5-3,5 g/ha</p><p>2,0-5,0 L/ha</p><p>0,5-3,5 Kg/ha</p><p>1,0-5,0 L/ha</p><p>1,0-5,0 L/ha</p><p>1,0-5,0 L/ha</p><p>2,0 L/ha</p><p>0,8 L/ha</p><p>0,5-2,5 Kg /ha</p><p>1,0-6,0 L /ha</p><p>1,0-6,0 L /ha</p><p>1,0-6,0 L /ha</p><p>1,0-6,0 L /ha</p><p>0,75-5,0 L/ha</p><p>1,0-6,0 L/ha</p><p>0,5-2,5 Kg / ha</p><p>1,0 - 5,0 L/ha</p><p>2,0-6,0 L/ha</p><p>0,5-5,0 L/ha</p><p>1,0-5,0 L/ha</p><p>1,0-5,0 L/ha</p><p>1,0-6,0 L/ha</p><p>1,0-6,0 L /ha</p><p>1,0-4,0 L/ha</p><p>1,0-4,0 L/ha</p><p>2,0-4,0 L/ha</p><p>1,0-4,0 L/ha</p><p>1,0-5,0 L/ha</p><p>1,0-6,0 L/ha</p><p>1,0-6,0 L/ha</p><p>1,0-4,5 L/ha</p><p>1,0-6,0 L/ha</p><p>0,75-5,0 L/ha</p><p>1,0-4,5 L/ha</p><p>0,75-3,5</p><p>1,0-5,0 L/ha</p><p>1,0-5,0 L/ha</p><p>0,5-6,0 L/ha</p><p>0,5-5,0 L/ha</p><p>0,5-3,5 L/ha</p><p>1,0-6,0 L/ha</p><p>0,5-5,0 L/ha</p><p>0,5-3,5 Kg/ha</p><p>1,0-4,0 L/ha</p><p>1,0-6,0 L/ha</p><p>0,5-12,0 L /ha</p><p>0,5-6,0 L /ha</p><p>0,75-4,5 L/ha</p><p>0,5-3,5 L /ha</p><p>0,5-5,0 L/ha</p><p>0,5-3,0 Kg/ha</p><p>1,0-5,0 L p.c./ha</p><p>0,5-5,0 L/ha</p><p>0,5-3,5 Kg/ha</p><p>1,0-5,0 L/ha</p><p>1,0-5,0 L/ha</p><p>5,0-7,0 L/ha</p><p>0,5-3,5 Kg/ha</p><p>0,7-4,2 L/ha</p><p>Glicina Substituída</p><p>Glufosinato-sal de</p><p>amônio</p><p>Finale</p><p>Liberty BCS</p><p>2,0 L/ha</p><p>2,0 L/ha</p><p>Homoalanina Substituída</p><p>3. ADUBAÇÕES</p><p>A vegetação que cresce naturalmente em determinada região evoluiu de</p><p>109</p><p>acordo com as condições de clima e solo locais. Portanto, estão perfeitamente</p><p>adaptadas ao ambiente em que vivem. Assim, as plantas extraem equilibrada-</p><p>mente os nutrientes que necessitam do solo e ao morrerem, são decompostas,</p><p>liberando os nutrientes para outras plantas, havendo, dessa forma, um ciclo fe-</p><p>chado, no qual a fertilidade do solo é mantida ou mesmo aumentada pelo acú-</p><p>mulo de matéria orgânica e ou fixação de N. Nesse caso, a vegetação natural</p><p>existente está perfeitamente adaptada ao sistema, ou seja, as suas necessidades</p><p>em nutrientes correspondem às características naturais de fertilidade do solo.</p><p>Com a interferência humana, esse ciclo é alterado, devido à remoção da ve-</p><p>getação natural e ao plantio de espécies cuja evolução, na maioria das vezes,</p><p>ocorreu em condições de clima e solo diferentes das existentes no local. Assim,</p><p>quando espécies exóticas, como os citros, são introduzidas em uma região qual-</p><p>quer, por melhor que se adaptem ao novo ambiente, não haverá o mesmo equi-</p><p>líbrio que havia anteriormente com a vegetação natural, na qual as diversas es-</p><p>pécies presentes convivem harmoniosamente. Além disso, os citros são espécies</p><p>melhoradas geneticamente visando potencializar a capacidade de produção de</p><p>frutos e, por isso, as exigências nutricionais também são potencializadas.</p><p>Um importante fator responsável pela redução da fertilidade dos solos é a</p><p>exportação de nutrientes pelos frutos colhidos, cuja quantidade depende da</p><p>adubação, solo, clima, porta-enxerto e copa (Tabela 14). A ordem de exportação</p><p>de macronutrientes foi N > K > Ca > P > Mg > S e de micronutrientes foi Fe > Zn</p><p>> B > Mn > Cu. Os nutrientes exportados devem ser repostos para que a produti-</p><p>vidade dos pomares seja mantida. Por isso, a procura constante por aumento de</p><p>produtividade é importante fator de esgotamento das reservas minerais do solo.</p><p>Tabela 14. Exportação de nutrientes pelos frutos de laranjeira ‘Pêra’ enxertada</p><p>em limoeiro ‘Cravo’</p><p>Macronutrientes Kg t-1 Micronutrientes G t-1</p><p>Nitrogênio (N)</p><p>Fósforo (P)</p><p>Potássio (K)</p><p>Cálcio (Ca)</p><p>Magnésio (Mg)</p><p>Enxofre (S)</p><p>2,6</p><p>0,5</p><p>2,9</p><p>0,8</p><p>0,2</p><p>0,1</p><p>Boro (B)</p><p>Cobre (Cu)</p><p>Ferro (Fe)</p><p>Manganês (Mn)</p><p>Zinco (Zn)</p><p>-</p><p>1,7</p><p>0,7</p><p>3,5</p><p>1,2</p><p>1,8</p><p>-</p><p>Em síntese, a necessidade de adubação em pomares de citros advém da bai-</p><p>xa fertilidade natural dos solos, exportação de nutrientes pelos frutos comercia-</p><p>lizados e imobilização de nutrientes (fixados nas raízes, caule e folhas).</p><p>Sempre que a quantidade de minerais fornecidos pelo solo for inferior à exi-</p><p>gida pelas plantas, ocorrem efeitos negativos que se manifestam pelo menor</p><p>crescimento, redução na produtividade e perda de qualidade dos frutos. Por-</p><p>tanto, a adubação é uma prática essencial para aumentar a produtividade dos</p><p>pomares de citros. Entretanto, o aporte excessivo de nutrientes minerais pode</p><p>provocar graves problemas ambientais, além de desequilíbrios nutricionais difí-</p><p>ceis de serem corrigidos. Dependendo das características edafoclimáticas e das</p><p>práticas de manejo do solo e da adubação, pode ocorrer a contaminação de rios,</p><p>nascentes e do lençol freático.</p><p>Para que o manejo da fertilidade do solo e do desenvolvimento das plantas</p><p>seja eficiente, é necessário conhecer as características químicas e físicas dos so-</p><p>los e químicas das folhas dos citros para racionalizar o uso de corretivos e fertili-</p><p>Fonte: BOARETTO et al., 2007</p><p>110</p><p>zantes, assegurando maior retorno econômico e redução dos impactos ambien-</p><p>tais. Para o conhecimento dessas características devem ser utilizadas ferramen-</p><p>tas de diagnóstico capazes de avaliar a disponibilidade de nutrientes no solo e as</p><p>concentrações na planta. O objetivo é caracterizar deficiências ou excessos que</p><p>prejudicam o desenvolvimento do pomar, a produtividade e a qualidade dos</p><p>frutos. As ferramentas de diagnóstico mais utilizadas são as análises de solo, de</p><p>folhas e diagnose visual.</p><p>• Análise de solo</p><p>A análise de solo, além de avaliar os teores nutrientes (com exceção do nitro-</p><p>gênio), permite avaliar a reação do solo e os problemas a ela relacionados, como</p><p>acidez, alcalinidade e salinidade, permitindo a adoção de medidas corretivas.</p><p>A primeira etapa do processo de avaliação da fertilidade do solo é realizar</p><p>uma amostragem adequada, pois com base na análise química dessa amostra</p><p>será avaliada a reserva de nutrientes disponíveis. Por isso, as amostras devem ser</p><p>representativas dos talhões de onde foram retiradas. Uma amostragem incorreta</p><p>do solo pode resultar em avaliação equivocada da fertilidade e, consequente-</p><p>mente, gerar recomendações de adubação também equivocadas.</p><p>Em locais onde serão implantados novos pomares, a área deve ser dividida</p><p>em talhões homogêneos, considerando a vegetação natural, o relevo, o uso pas-</p><p>sado e atual, e características do solo, como textura e cor. Quanto ao tamanho</p><p>das unidades amostrais, não há um tamanho definido para todas as situações.</p><p>No entanto, é importante que unidades muito grandes sejam subdivididas para</p><p>facilitar a amostragem. Em grandes propriedades, unidades amostrais com áreas</p><p>entre 10 e 20 hectares são consideradas adequadas, desde que sejam homogê-</p><p>neas. Recomenda-se a coleta de 20 a 40 amostras</p><p>simples por unidade amostral,</p><p>com os pontos de coleta distribuídos ao acaso por toda a área.</p><p>A profundidade de amostragem depende da camada do ter-</p><p>reno que será preparada para o plantio. Para culturas perenes,</p><p>como os citros, a profundidade poderá ir até 40 ou 60 cm, com</p><p>a amostragem feita por camadas de 0 a 20 cm; 20 a 40 cm e 40</p><p>a 60 cm. A mistura das amostras simples de cada profundidade</p><p>constituirá as amostras compostas, que serão enviadas ao la-</p><p>boratório para análise.</p><p>As amostragens devem ser realizadas alguns meses antes do plantio das mu-</p><p>das, visando possibilitar que ocorra a reação do calcário aplicado no solo e, se</p><p>necessário, o cultivo de adubos verdes para a melhoria das propriedades físicas</p><p>do solo.</p><p>Em pomares já implantados, a divisão dos talhões, com o objetivo de coletar</p><p>amostras do solo para análises químicas e físicas, deve considerar ainda a idade</p><p>das plantas, variedades copa, porta-enxertos e manejo do pomar. Alterações em</p><p>qualquer um desses fatores indicam a necessidade de coleta separada de amos-</p><p>tras.</p><p>A amostragem deve ser feita, pelo menos, 60 dias após a data em que foi</p><p>realizada a última adubação, para evitar resultados superestimados da análise</p><p>de solo, devido a possíveis resíduos de adubos na amostra.</p><p>Quanto ao local, as amostras devem ser retiradas onde existe maior con-</p><p>centração de raízes absorventes, que é também o local em que os adubos são</p><p>aplicados, geralmente em faixas, nos dois lados das plantas, voltados para as</p><p>Õ</p><p>111</p><p>entrelinhas. Dessa forma, recomenda-se que as amostras sejam retiradas a 0,50</p><p>m para dentro e outra a 0,50 m para fora da linha de projeção da copa no solo.</p><p>As amostras devem ser secadas, destorroadas e peneiradas, embaladas em sacos</p><p>plásticos limpos e identificadas, antes do envio ao laboratório. Bastam 300 g de</p><p>amostra.</p><p>• Análise foliar</p><p>As folhas são os órgãos que melhor expressam o estado nutricional das plan-</p><p>tas, considerando que existe correlação entre o desenvolvimento e a produção</p><p>dos citros com os teores foliares de nutrientes. A análise foliar é uma técnica</p><p>complementar à análise de solo e tem como principais objetivos confirmar sin-</p><p>tomas visuais de deficiência nutricional, diagnóstico de deficiências incipientes,</p><p>ou seja, ainda sem sintomas visíveis nas folhas; identificar interações ou antago-</p><p>nismos; verificar a absorção de nutrientes aplicados no solo e avaliar o estado</p><p>nutricional das plantas.</p><p>A primeira iniciativa a ser tomada para a obtenção dos teores de nutrientes</p><p>minerais nas folhas de citros é colher amostras de folhas do pomar para enviar</p><p>ao laboratório. Para garantir que a amostragem seja representativa, devem ser</p><p>coletadas folhas com a mesma idade, nos quatro quadrantes de plantas cultiva-</p><p>das, em talhões homogêneos, considerando cultivar copa e porta-enxerto, idade</p><p>das plantas, tratos culturais e características do solo. As folhas devem estar com</p><p>aproximadamente seis meses de idade, cuja contagem deve ser iniciada a partir</p><p>da brotação da primavera.</p><p>Recomenda-se amostrar no mínimo 25 plantas por unidade amostral, nas</p><p>quais devem ser coletadas quatro folhas por planta a 1,5 m de altura do solo, ou</p><p>em altura mediana da copa. Após pulverização das plantas, respeitar o mínimo</p><p>de 30 dias antes de coletar folhas para análise.</p><p>A amostragem é feita em ramos com presença de frutos situados na posição</p><p>terminal, coleta-se a terceira ou quarta folha com seis meses de idade, conforme</p><p>mencionado anteriormente. A contagem se faz dos frutos em direção à base dos</p><p>ramos (Figura 46). É importante lembrar que o indicativo para a coleta das amos-</p><p>tras de folhas é a idade, e não o tamanho dos frutos, que varia muito em função</p><p>do cultivar e do manejo.</p><p>As amostras devem ser acondicionadas em sacos de papel e conservadas à</p><p>temperatura aproximada de 5°C, até o envio para o laboratório.</p><p>Figura 46. Setas indicam folhas que devem ser coletadas na</p><p>amostragem destinada à análise foliar de citros (terceira ou</p><p>quarta folha madura após o fruto terminal)</p><p>112</p><p>Para a interpretação dos resultados da análise foliar, os teores de macro e</p><p>micronutrientes nas folhas, analisados pelo laboratório, devem ser comparados</p><p>com os respectivos teores apresentados na Tabela 15. Embora haja influência</p><p>de porta-enxertos e de cultivares copa sobre os teores foliares de nutrientes, os</p><p>dados mostrados na Tabela 15 não levam em consideração esses fatores. Asssim,</p><p>ela pode ser usada para interpretar análises feitas em folhas de citros, indepen-</p><p>dentemente do cultivar copa e do porta-enxerto.</p><p>Quando aparecem sintomas de deficiências nutricionais nos pomares, sus-</p><p>peita de desequilíbrios nutricionais, sintomas de toxidez causada por adubos,</p><p>podem ser necessárias análises foliares em épocas do ano diferentes daquelas</p><p>indicadas para a realização da amostragem. Nessa situação, deve-se ter cuidado</p><p>ao comparar os resultados das análises com os teores constantes na Tabela 15,</p><p>pois as condições de amostragem serão diferentes das indicadas anteriormente.</p><p>Para maior precisão, os teores de nutrientes das folhas com sintomas podem ser</p><p>comparados com os de outras plantas que não tenham os sintomas e que sejam</p><p>do mesmo cultivar, idade, mesmo porta-enxerto, utilizando a mesma meto-</p><p>dologia de amostragem.</p><p>Tabela 15 - Teores de macronutrientes e micronutrientes minerais nas folhas</p><p>de citros, considerados baixos, adequados e altos</p><p>Nutrientes Teores baixos Teores adequados Teores altos</p><p>g kg-1 de massa seca</p><p>Nitrogênio (N)</p><p>Fósforo (P)</p><p>Potássio (K)</p><p>Cálcio (Ca)</p><p>Magnésio (Mg)</p><p>Enxofre (S)</p><p>30</p><p>>2,0</p><p>>20</p><p>>60</p><p>>6,0</p><p>>5,0</p><p>mg kg-1 de massa seca</p><p>Boro (B)</p><p>Cobre (Cu)</p><p>Ferro (Fe)</p><p>Manganês (Mn)</p><p>Zinco (Zn)</p><p>Molibdênio (Mo)</p><p>200</p><p>>20,0</p><p>>200</p><p>>100</p><p>>100</p><p>>2,00</p><p>• Diagnose visual</p><p>Apesar de ser útil para identificar desequilíbrios nutricionais nas plantas,</p><p>deve ser usada como uma medida complementar a outras ferramentas de diag-</p><p>nose. Isso porque as plantas somente apresentam sintomas característicos de</p><p>deficiência ou de excesso de determinado nutriente quando a desordem nu-</p><p>tricional já está avançada, resultando em prejuízos para o desenvolvimento e</p><p>para a produção. Por isso, é importante não deixar que ocorram esses sintomas.</p><p>Mas, se ocorrerem, medidas de correção devem ser adotadas o mais rapidamen-</p><p>te possível. Outra limitação da diagnose visual é que ela não permite quantificar</p><p>o nível de deficiência ou de excesso dos nutrientes, cujos sintomas já estejam</p><p>presentes.</p><p>A diagnose visual é feita analisando a aparência das plantas, características</p><p>dos frutos e das folhas e principalmente a coloração das folhas. Em geral, a iden-</p><p>tificação de sintomas de deficiência ou toxidez de nutrientes requer experiência</p><p>com a cultura, pois podem ser mascarados por sintomas de doenças, pragas ou</p><p>Fonte: Adaptado de Boaretto (2015) e Quaggio (2015)</p><p>113</p><p>condições climáticas.</p><p>Para auxiliar no diagnóstico é importante lembrar que os sintomas de de-</p><p>ficiências ou mesmo de toxidez ocorrem de forma homogênea no talhão, afe-</p><p>tando todas as plantas que estão naquelas mesmas condições de clima e solo</p><p>e que receberam os mesmos tratos culturais. Também é importante observar se</p><p>os sintomas ocorrem nas folhas velhas ou novas, pois o local de ocorrência está</p><p>relacionado com maior ou menor mobilidade dos nutrientes na planta. Quanto</p><p>à mobilidade no floema, N, P, K, Mg, Mo e Cl são considerados móveis. Portanto,</p><p>sintomas de deficiência desses nutrientes na planta aparecem inicialmente em</p><p>folhas maduras, mais velhas. Por outro lado, S, Cu, Fe, Mn e Zn são pouco móveis;</p><p>Ca e B são considerados imóveis na planta. Por isso, os sintomas de deficiência</p><p>desses elementos são observados nas folhas novas, nos ápices dos ramos, pelo</p><p>fato de não serem translocados das folhas velhas para as novas.</p><p>Nos citros, os nutrientes cujos sintomas de deficiência e toxidez são mais</p><p>comuns e fáceis de ser identificados</p><p>no campo são N, Mg e Zn e toxidez de B</p><p>(Figura 47).</p><p>• Correção da acidez do solo – Calagem</p><p>A acidez do solo é um dos principais fatores responsáveis pela baixa produ-</p><p>tividade das culturas, manifestados pela toxicidade do alumínio (Al) trocável, pe-</p><p>los baixos teores de Ca Mg no solo e pela redução da disponibilidade de outros</p><p>nutrientes, como o P. Por isso, a correção feita mediante calagem é a primeira</p><p>Figura 47 – Sintomas de deficiência e toxidez de nutrientes em citros – Nitrogênio – amareleci-</p><p>mento geral da folhagem das plantas, incluindo as nervuras (a); Magnésio - clorose das folhas mais</p><p>velhas com um “V” invertido de cor verde (b); Zinco - folhas novas pequenas, lanceoladas, com</p><p>clorose internerval e internódios curtos nos ramos (c); Boro – sintomas de toxidez em pomar de</p><p>‘Tahiti’ com dois anos de idade, que recebeu aplicação de 10 gramas de bórax por planta no solo,</p><p>com amarelecimento das extremidades das folhas, que se estende para as margens (d).</p><p>a b</p><p>c</p><p>d</p><p>114</p><p>prática a ser adotada pelos citricultores para garantir ou aumentar a produtivi-</p><p>dade dos pomares em solos ácidos. Além disso, a calagem reduz a lixiviação de</p><p>nutrientes, devido ao aumento da capacidade de troca de cátions (CTC); aumen-</p><p>ta a disponibilidade de vários nutrientes; diminui a toxidez de Al3+; fornece Ca e</p><p>Mg, além de estimular a atividade microbiana no solo.</p><p>Dessa forma, a necessidade de calagem pode ser definida como a dose de</p><p>corretivo necessária para se atingir a máxima eficiência econômica da cultura, o</p><p>que significa ter quantidade suficiente de Ca e Mg disponíveis no solo e condi-</p><p>ções adequadas de pH para boa disponibilidade dos nutrientes em geral.</p><p>Entretanto, além da dose e da escolha do calcário adequado, deve-se</p><p>atentar para outros fatores, como:</p><p>- uniformidade de distribuição,</p><p>- profundidade de incorporação,</p><p>- época e local de aplicação.</p><p>Quanto à escolha do calcário, é importante que ele seja dolomítico, pois</p><p>o magnésio é um dos macronutrientes cujos sintomas de deficiência são os</p><p>mais observados em pomares de citros.</p><p>Outro fator a ser considerado é que os benefícios da calagem em pomares</p><p>de citros parecem depender do porta-enxerto utilizado, sendo bem conheci-</p><p>da a adaptação do limoeiro ‘Cravo’ a solos ácidos. A incorporação de calcário a</p><p>0,20 m de profundidade antes do plantio e reaplicação superficial do calcário,</p><p>aos quatro anos após o plantio de pomar de laranjeira ‘Valência’ enxertada so-</p><p>bre limoeiro ‘Cravo’, tangerineira ‘Cleópatra’ e Poncirus trifoliata em solo ácido,</p><p>mostrou que o limoeiro ‘Cravo’ se adaptou melhor à acidez, à presença de Al3+</p><p>e a menores teores de Ca e Mg no solo. Mas não respondeu ao tratamento com</p><p>calagem, aos 14 anos após o plantio. No entanto, quando o porta-enxerto foi</p><p>o P. trifoliata, a calagem aumentou a quantidade de raízes em 126% e a produ-</p><p>ção de frutos em 26,4% em relação aos outros porta-enxertos. Considerando</p><p>exclusivamente a tolerância ao alumínio, experimentos realizados em casa de</p><p>vegetação, em hidroponia, mostraram que o limoeiro Cravo é mais suscetível</p><p>a teores mais altos de alumínio na solução nutritiva que a tangerineira ‘Cleó-</p><p>patra e o tangeleiro ‘Orlando’.</p><p>Apesar da importância da calagem para os citros, fartamente encontrada</p><p>na literatura, em algumas pesquisas não foram constatadas respostas. A ava-</p><p>liação, durante três anos, de cinco formas de aplicação de calcário em pomar</p><p>de laranjeira ‘Natal’ (C. sinensis L. Osbeck), enxertada sobre limoeiro ‘Cravo’,</p><p>com seis anos de idade, mostrou que não houve efeito significativo dos trata-</p><p>mentos na produção, sólidos solúveis e acidez titulável dos frutos. As formas</p><p>de aplicação foram: sem calcário; quantidade total de calcário recomendada</p><p>pela análise de solo (NC), incorporada; NC sem incorporação; 1/2 da NC no pri-</p><p>meiro ano + 1/2 NC no segundo ano sem incorporação; e 1/3 NC no primeiro</p><p>ano + 1/3 NC no segundo ano + 1/3 NC no terceiro ano, sem incorporação.</p><p>A necessidade de calcário pode ser calculada para elevar a saturação por</p><p>bases a 70% na camada de 0 a 0,2 m de profundidade. O cálculo da calagem,</p><p>de acordo com esse método, é feito com a seguinte fórmula:</p><p>NC = CT C (V2 - V1) /10 PRNT</p><p>Onde:</p><p>115</p><p>NC = necessidade de calagem, em t ha-1;</p><p>CTC = capacidade de troca de cátions, em mmolc dm-3;</p><p>V1 = saturação por bases atual do solo, da camada arável de 0 a 0,2 m, %;</p><p>V2 = saturação por bases recomendada para os citros, cujo valor é 70%, e</p><p>PRNT = poder relativo de neutralização total do calcário, que representa a</p><p>capacidade neutralizante do corretivo.</p><p>Antes da implantação do pomar, o calcário deve ser aplicado em área total</p><p>e incorporado ao solo, no caso do preparo tradicional. Para pomares implan-</p><p>tados, a época indicada para aplicação é no período que antecede o início</p><p>das chuvas, entre abril e junho, para que no início do período chuvoso, que</p><p>é a época em que a adubação é iniciada, o solo já esteja corrigido. Nesse últi-</p><p>mo caso, a incorporação pode trazer alguns problemas em função do uso da</p><p>grade, como o ferimento das raízes e consequente risco de infecções, além</p><p>da disseminação de doenças e plantas daninhas perenes no pomar. Assim, a</p><p>calagem superficial é a melhor alternativa.</p><p>Pesquisas realizadas no Paraná mostraram que os efeitos da</p><p>aplicação superficial de calcário no solo podem atingir até a</p><p>camada de 0,2 m a 0,4 m e a máxima reação do calcário ocor-</p><p>reu entre 12 e 18 meses após a aplicação. Também é possível</p><p>fazer a aplicação do calcário em faixas, posicionando-o na faixa</p><p>adubada, por ser esta a área mais acidificada em pomares im-</p><p>plantados.</p><p>• Adubação de plantio</p><p>As quantidades necessárias de nutrientes para os citros são dependentes do</p><p>estádio de desenvolvimento da planta, da combinação copa e porta-enxerto,</p><p>da expectativa de produção, do estado nutricional do pomar e da fertilidade do</p><p>solo.</p><p>No plantio do pomar recomenda-se a aplicação de fósforo, em doses que</p><p>variam de 40 a 120 g de P2 O5 por metro de sulco, em função da análise de solo.</p><p>Atualmente, existe a recomendação de aplicar 90 gramas de P2O5 por metro de</p><p>sulco, independentemente do teor de fósforo no solo, usando preferencialmen-</p><p>te fontes de fósforo que contenham zinco.</p><p>No sulco ou nas covas de plantio também pode ser adicionado calcário, que</p><p>tem como objetivo contribuir para o crescimento das raízes em profundidade.</p><p>Essa aplicação é opcional e não substitui a calagem em área total. Deve ser feita</p><p>com cuidado porque quantidades elevadas de calcário causam elevação signifi-</p><p>cativa no pH do solo dentro da cova, trazendo como consequência, reações que</p><p>tornam insolúveis vários elementos, principalmente micronutrientes.</p><p>No caso do plantio em covas, a determinação do volume é importante, pois</p><p>quanto menor for a cova, menor deve ser a quantidade a ser usada. O volume da</p><p>cova é calculado multiplicando o comprimento (C) pela largura (L) e pela profun-</p><p>didade (P). Portanto, uma cova com dimensões de 0,50 m (A) x 0,50 (L) m x 0,50</p><p>m (P) tem volume de 0,125 m3 ou 125 dm3.</p><p>Para calcular a quantidade de calcário a ser aplicada na cova com essas di-</p><p>mensões, é preciso ter em mão a recomendação da calagem para área total do</p><p>pomar. Por exemplo, se o cálculo para a calagem em área total recomendou a</p><p>aplicação de três toneladas de calcário por hectare, significa que serão aplicadas</p><p>1,5 grama de calcário por dm3 de solo (3000.000 g / 2000.000 dm3), consideran-</p><p>Õ</p><p>116</p><p>do uma profundidade de 20 cm de incorporação no solo. No caso do plantio ser</p><p>feito na cova de 0,50 m x 0,50 m x 0,5 m, a quantidade de calcário por cova será</p><p>de 187,5 gramas de calcário (1,5 gramas x 125 dm3).</p><p>Quando o plantio é feito em sulcos, o risco de supercalagem é reduzido e,</p><p>portanto, pode ser usado cerca de 400 g de calcário por metro de sulco. A aduba-</p><p>ção fosfatada recomendada para o sulco pode ser usada na mesma quantidade</p><p>para covas com dimensões acima de 125 dm3.</p><p>A demanda por P na fase de formação da muda é proporcionalmente maior</p><p>do que na fase de produção de frutos, pois nos primeiros</p><p>anos após o plantio</p><p>dos citros, a taxa de crescimento da planta é maior do que a das adultas. Como a</p><p>movimentação do P no solo ocorre por difusão, a absorção é menor em plantas</p><p>jovens do que em adultas, pelo fato de o sistema radicular de plantas jovens</p><p>explorar menor volume de solo. A difusão do fósforo no solo é influenciada por</p><p>vários fatores: conteúdo de água no solo, a interação fósforo: coloides do solo, a</p><p>distância a percorrer até as raízes, o teor do elemento e a temperatura do solo.</p><p>O transporte do fósforo no solo é muito baixo, devido à forte interação com os</p><p>coloides do solo, principalmente em solos tropicais muito intemperizados, como</p><p>os brasileiros.</p><p>Depois do plantio, a adubação de cobertura deve ser iniciada após o segun-</p><p>do fluxo de brotação das mudas. Isso porue, nessa ocasião, o sistema radicular</p><p>já se encontra em desenvolvimento e com melhores condições de absorver os</p><p>nutrientes aplicados. Para a definição das doses de N, P2O5 e K2 O, considera-se</p><p>a idade do pomar e os resultados da análise de solo para fósforo e potássio. O</p><p>potássio é pouco demandado para o crescimento de plantas jovens de citros,</p><p>mas necessário em maiores quantidades apenas para plantas em produção. En-</p><p>tretanto, a falta de adubação potássica reduz o crescimento de plantas jovens.</p><p>É importante recordar que a resposta à adubação com NPK</p><p>pode variar em função do porta-enxerto utilizado. Em plantas</p><p>enxertadas sobre citrumeleiro Swingle, a produção de frutos é</p><p>maior com o aumento das doses de N e K, comparativamente</p><p>com a de plantas enxertadas sobre limoeiro ‘Cravo’ e tangeri-</p><p>neira ‘Cleópatra’.</p><p>• Adubação de formação e de produção</p><p>O manejo nutricional de produção visa obter a máxima produtividade e qua-</p><p>lidade dos frutos, buscando atender às necessidades das plantas, sem ocorrer</p><p>excesso ou falta. As análises de solo e foliar, bem como a produtividade espe-</p><p>rada, devem ser consideradas na definição das doses de fertilizantes a serem</p><p>adicionadas ao pomar.</p><p>A maioria dos estados brasileiros dispõe de suas próprias tabelas de adu-</p><p>bação para as principais espécies agrícolas cultivadas. Elas refletem o trabalho</p><p>dos pesquisadores de cada um dos estados. Devido à importância da citricultura</p><p>para o estado, as pesquisas sobre adubação e nutrição dos citros estão concen-</p><p>tradas em São Paulo.</p><p>As recomendações para a adubação dos citros para Minas Gerais estão na</p><p>Tabela 16. Independentemente da tabela que for usada para a recomendação</p><p>das adubações, é importante que as respostas às adubações sejam monitoradas</p><p>por meio de desenvolvimento das plantas, produtividade dos pomares, análises</p><p>de solo e foliares, com o objetivo de usar essas informações para auxíliar na defi-</p><p>nição de adubações futuras.</p><p>Õ</p><p>117</p><p>Tabela 16 – Recomendação de adubação de cobertura para os citros, a partir</p><p>do primeiro ano pós-plantio em Minas Gerais*</p><p>Anos (Pós-plantio) Dose de N2 Disponibilidade de P1 Disponibilidade de K1</p><p>Baixa Média Alta Baixa Média Alta</p><p>Dose de P2O5 Dose de K2O</p><p>1 70 30 20 10 30 20 10</p><p>2 130 90 60 30 60 40 20</p><p>3 160 90 60 30 90 60 30</p><p>4 240 150 100 50 180 120 60</p><p>5 340 210 140 70 240 160 80</p><p>6 380 150 100 50 300 200 100</p><p>Suplementar 13 80 30 20 10 90 60 30</p><p>Suplementar 24 60 30 20 10 60 40 20</p><p>• Micronutrientes</p><p>Os micronutrientes, cujos sintomas de deficiência são mais comumente ob-</p><p>servados na citricultura brasileira, são boro, zinco e manganês. As condições que</p><p>favorecem a deficiência desses elementos são solos arenosos ou pobres em ma-</p><p>téria orgânica, uso excessivo de calcário e de adubação fosfatada, excesso de</p><p>água no solo e períodos longos de seca.</p><p>As plantas de citros com deficiência de Zn apresentam poucas brotações, são</p><p>pouco vigorosas, com desenvolvimento da copa e produção reduzidas. Os sin-</p><p>tomas foliares característicos da deficiência de zinco já foram descritos na Figura</p><p>47. Plantas enxertadas sobre porta-enxertos, como as tangerineiras ‘Cleópatra’ e</p><p>‘Sunki’, são mais exigentes em Zn do que quando enxertadas em outros porta-</p><p>-enxertos. Quanto aos cultivares copa, sintomas de deficiência de zinco são mais</p><p>comuns em laranjeiras ‘Pêra’.</p><p>Quando ocorre a deficiência de B, as plantas não desenvolvem de forma sa-</p><p>tisfatória, há excesso de brotações das gemas axilares, que originam ramos cur-</p><p>tos com folhas pequenas, devido à quebra da dominância apical. A deficiência</p><p>de Mn também pode ser vista em pomares de citros, porém em menor intensi-</p><p>dade que a Zn e B e somente causa redução na produtividade das plantas se for</p><p>severa.</p><p>Fonte: Adaptado de “Recomendações para uso de corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais – 5a</p><p>aproximação”.</p><p>*Os valores constantes na tabela est ão expressos em quantidade de nutrientes por planta, em</p><p>gramas , e representam a quantidade total a ser aplicada a partir do florescimento das plantas at</p><p>é o estádio de frutos de vez, portanto, deverão ser divididos de acordo com o número de parcela-</p><p>mentos a ser usado - normalmente 3 a 4 parcelamentos durante a estação chuvosa – setembro a</p><p>março, que coincide com os estádios fenológicos descritos antes.</p><p>1 Usar critérios de interpretação dos resultados de análises de solo (Recomendações Para Uso de</p><p>Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais – 5a aproximação).</p><p>2 As doses de N são calculadas pelo resultado da análise foliar. Para t eores entre 2,4 a 2,7 dag/kg</p><p>de N nas folhas, aplica-se o total da dose constante no quadro. Para cada décimo acima de 2,7 dag/</p><p>kg de N nas folhas, subtrair 60 g de N do valor recomendado e para cada décimo abaixo, aument</p><p>ar 30 gramas.</p><p>3 Indicada para l aranjeiras, pomeleiros, limeiras e limoeiros.</p><p>4 Indicada para tangerineiras.</p><p>3, 4 As adubações suplementares devem ser aplicadas em adição à adubação do ano 6 e posterio-</p><p>res. Adicionar as quantidades estipuladas nas adubações supl ementares 1 e 2, para cada caixa de</p><p>40,8 kg de frutos que ultrapassar o valor de 03 caixas, pois as doses constantes na tabela foram est</p><p>abelecidas baseando-se na expectativa de produção de três caixas de 40,8 kg de frutos por planta.</p><p>118</p><p>A forma mais empregada para a aplicação de micronutrientes nos citros é fo-</p><p>liar, em função da pequena quantidade requerida pelas plantas e também para</p><p>evitar a adsorção dos elementos aos coloides orgânicos e inorgânicos do solo. A</p><p>baixa mobilidade no floema limita a redistribuição da maioria dos micronutrien-</p><p>tes na planta. Por isso, as aplicações devem ser realizadas durante o desenvolvi-</p><p>mento dos principais fluxos de vegetação, quando as folhas ainda estão jovens</p><p>e a cutícula pouco desenvolvida. Para seguir essa recomendação, a época mais</p><p>adequada para fazer a adubação foliar é a partir da primavera até o final do ve-</p><p>rão, que é o período em ocorrem os fluxos de crescimento das plantas. As con-</p><p>centrações recomendadas dos sais dos principais nutrientes são: sulfato de zinco</p><p>a 0,30%; sulfato de manganês a 0,15%; ácido bórico a 0,1%, e sulfato de cobre a</p><p>0,15%. Não é recomendável adicionar óleos à mistura e nem que a concentração</p><p>salina da solução ultrapasse 15 g de sais por litro.</p><p>Quanto ao B, há indicações de que sua aplicação no solo na forma de ácido</p><p>bórico também é eficiente. O ácido bórico é compatível com defensivos agríco-</p><p>las, podendo ser dissolvido na calda de herbicidas, sendo uma forma prática e</p><p>eficiente para aplicar o elemento no solo. Recomenda-se que o boro seja aplica-</p><p>do no solo na dose de 3 kg ha-1.</p><p>É importante lembrar que a adubação com boro em pomares</p><p>de citros deve ser feita com muito cuidado, pois há um estreito</p><p>intervalo entre deficiência e toxidez desse elemento. É relati-</p><p>vamente comum a ocorrência de sintomas de toxidez ao boro</p><p>em pomares de citros (Figura 47), devido à aplicação de doses</p><p>excessivas.</p><p>3. CONTROLE FITOSSANITÁRIO</p><p>Os citros são atacados por numerosas pragas e doenças, incluindo os inse-</p><p>tos, ácaros, vírus, bactérias, fungos e nematoides. Devido à modernização, ao</p><p>barateamento dos meios de transporte e à disponibilidade de transporte aéreo</p><p>para praticamente todas as regiões e países do mundo, tornou-se relativamente</p><p>comum a introdução de pragas e doenças de um país para o outro, normalmen-</p><p>te via sementes ou propágulos vegetativos, como borbulhas, no caso dos citros.</p><p>Como exemplos da introdução de pragas e doenças na citricultura brasileira, po-</p><p>dem ser citados o vírus da tristeza, cancro cítrico, lagarta minadora dos citros e a</p><p>bactéria causadora da doença conhecida por Huanglongbing (greening).</p><p>A implantação de grandes pomares, em sistema de monocultura, implica na</p><p>redução da biodiversidade, fato que têm favorecido ataques intensos de deter-</p><p>minadas pragas e doenças. É o caso do greening, que está inviabilizando o cul-</p><p>tivo dos citros em São Paulo para pequenos e médios produtores, devido aos</p><p>prejuízos que causa, às dificuldades e ao alto custo de controle.</p><p>Essa situação é menos séria em ambientes onde convivem um maior número</p><p>de espécies vegetais e animais, juntamente com os citros. As preferências do</p><p>consumidor também influenciam no controle de doenças e pragas. Port exem-</p><p>plo, à medida que os consumidores se tornam mais exigentes em relação à au-</p><p>sência de manchas ou outros danos na casca dos frutos, os citricultores são obri-</p><p>gados a intensificar as medidas de controle, o que muitas vezes significa maior</p><p>uso de agrotóxicos.</p><p>Portanto, devido ao predomínio da monocultura e à elevada exigência dos</p><p>consumidores quanto à aparência dos frutos, tornou-se praticamente impossível</p><p>Õ</p><p>119</p><p>a produção de frutos dos citros em escala econômica, sem o uso de agrotóxicos.</p><p>Entretanto, o uso indiscriminado dos produtos em pulverizações desnecessárias,</p><p>doses e aplicações inadequadas, repetição continuada de princípios ativos, en-</p><p>tre outros, aliado aos altos custos de aquisição e aplicação dos produtos, tem</p><p>causado muitos problemas. Entre eles, a contaminação do ambiente e dos ani-</p><p>mais, a indução de resistência de pragas e doenças a vários princípios ativos, a</p><p>baixa eficiência de controle, os prejuízos nas exportações de frutos in natura e</p><p>suco pela presença de resíduos, além da descapitalização dos produtores.</p><p>Embora a importância do controle químico das pragas dos citros seja ine-</p><p>gável, outras medidas de controle devem ser desenvolvidas e estimuladas. Uso</p><p>de cultivares copa e porta-enxertos resistentes a pragas e doenças e práticas</p><p>culturais como podas, antecipação da época de colheita, uso de armadilhas para</p><p>captura de insetos, manejo de água, solo e adubação, uso de inimigos naturais</p><p>são importantes como práticas complementares para o controle de pragas e do-</p><p>enças.</p><p>Com relação à adubação, deve ser observado o efeito, tanto das quantidades</p><p>aplicadas quanto do número de parcelamentos, sobre o número de fluxos de</p><p>brotações das plantas durante o ano, considerando que os brotos são as partes</p><p>preferidas pela maioria dos patógenos e pragas. Aplicação de adubos foliares</p><p>nitrogenados após a emissão dos brotos também pode ser uma alternativa inte-</p><p>ressante, visando acelerar o desenvolvimento e o amadurecimento dos ramos.</p><p>Métodos biológicos também são importantes no controle de pragas na citricul-</p><p>tura, embora ainda pouco utilizados pela maioria dos citricultores.</p><p>Conforme já mencionado, as brotações, flores e frutos são os principais alvos</p><p>da maioria das pragas e doenças. Portanto, o controle químico é mais importan-</p><p>te a partir da primavera, ocasião em que ocorrem brotações vegetativas e repro-</p><p>dutivas, cuja emissão prolonga-se até o final do verão, quando as plantas param</p><p>de brotar e as brotações existentes amadurecem.</p><p>Para que o manejo das pragas e doenças dos citros seja feito de forma efi-</p><p>ciente, é importante conhecê-las, bem como os métodos de controle indicados.</p><p>As principais doenças e pragas dos citros estão descritas a seguir.</p><p>a) Doenças causadas por fungos</p><p>• Gomose (Phythophthora nicotiane, P. citrophthora)</p><p>Embora as células do gênero Phythophthora se assemelhem ao micélio dos</p><p>fungos, eles não são considerados fungos verdadeiros pelo fato de apresenta-</p><p>rem diferenças na composição química da parede celular e no sistema reprodu-</p><p>tivo. Pertencem ao reino Straminipila, filo Oomycota, no qual são classificados</p><p>oomicetos que têm flagelos em seus esporos assexuados.</p><p>Phytophthora nicotianae predomina nas regiões tropicais e subtropicais,</p><p>como no Brasil, enquanto Phytophthora citrophthora é comum nas regiões tem-</p><p>peradas, embora também possa ocorrer também no Brasil, com menor frequên-</p><p>cia.</p><p>O nome gomose deve-se à frequente exsudação de goma de cor amarelo-</p><p>-dourada, semelhante ao mel, nas lesões situadas no tronco das plantas doentes,</p><p>(Figura 48 a). É uma doença disseminada em todos os países citrícolas do mundo</p><p>e ataca plantas de qualquer idade, desde m udas no viveiro até plantas adultas.</p><p>Espécies do gênero Phytophthora estão presentes na maioria dos pomares</p><p>de citros e podem sobreviver a condições adversas, na forma de oósporos, que</p><p>são esporos sexuais, ou como clamidósporos, que são estruturas vegetativas</p><p>de resistência, capazes de sobreviver no solo por anos. Em condições ambien-</p><p>tais favoráveis, como alta umidade e temperaturas na faixa de 24ºC a 32ºC, os</p><p>120</p><p>clamidósporos germinam rapidamente, formando esporângios. A infecção das</p><p>plantas é feita pelos zoósporos liberados pelos esporângios em condições de</p><p>alta umidade. Zoósporos são esporos de grande mobilidade, que podem nadar</p><p>na solução do solo, atraídos por exsudados liberados pelas raízes. Os zoósporos</p><p>podem ser disseminados pela água da chuva ou de irrigação.</p><p>Os sintomas da gomose podem surgir na base do tronco, abaixo da região da</p><p>enxertia e também acima, dependendo da altura da enxertia e do cultivar copa</p><p>utilizado. Em limoeiros verdadeiros, é frequente a ocorrência de gomose acima</p><p>do ponto de enxertia (Figura 48 b), devido à alta suscetibilidade desse cultivar à</p><p>doença.</p><p>A casca da região atacada morre e se rompe em vários pontos, podendo ha-</p><p>ver desprendimento do lenho, originando uma “descamação”. Devido à morte</p><p>da casca, a seiva do floema não chega até o sistema radicular, provocando morte</p><p>de raízes e, consequentemente, com o passar do tempo, da parte aérea (Figura</p><p>48 c). O tamanho das lesões depende do cultivar, do tempo em que o patógeno</p><p>está presente na planta e do clima.</p><p>Os sintomas observados na copa da planta são a presença de frutos peque-</p><p>nos e folhas cloróticas, semelhantes àquelas com sintomas de deficiência de</p><p>nitrogênio, e com tamanho menor do que as folhas normais. Dependendo do</p><p>tamanho e do local das lesões nas raízes e tronco das plantas, os sintomas da</p><p>gomose podem aparecer em apenas um ramo ou lado da copa das plantas (Fi-</p><p>gura 48 d). Esses sintomas não devem ser confundidos com os do greening ou de</p><p>deficiência de nitrogênio</p><p>A gomose pode ocorrer apenas no sistema radicular e, portanto, os sintomas</p><p>característicos observados no tronco não podem ser vistos. A morte da radicelas</p><p>implica em redução na absorção de água e nutrientes, levando a planta à morte.</p><p>Nesse caso, o diagnóstico do problema é mais difícil, havendo necessidade de</p><p>coletar amostras do solo e de raízes para avaliação da presença do patógeno em</p><p>laboratório ou a remoção do solo que cobre as raízes, para examiná-las.</p><p>Há diferenças entre os cultivares copa quanto à tolerância à gomose: limoei-</p><p>ros, limeiras ácidas e doces são mais suscetíveis que as laranjeiras, que, por sua</p><p>vez, são estão mais sujeitas que tangerineiras e híbridos.</p><p>Quanto aos porta-enxertos, o Poncirus trifoliata e citrumeleiro Swingle são</p><p>resistentes; os citrangeiros, Troyer e Carrizo apresentam tolerância, e o limoeiro</p><p>Cravo é suscetível, principalmente em solos argilosos. Isso porque esses solos</p><p>tendem a reter mais umidade e apresentar menor capacidade de drenar a água</p><p>das chuvas e da irrigação. Portanto, o uso de porta-enxertos resistentes e tole-</p><p>rantes à gomose é uma importante estratégia para o controle da doença.</p><p>Outras importantes medidas de controle da gomose são: evitar plantio em</p><p>solos úmidos; pincelar o tronco das plantas uma vez por ano com pasta bordale-</p><p>sa; evitar o plantio profundo de mudas; evitar ferimentos</p><p>no tronco e nas raízes;</p><p>evitar molhar o tronco das plantas com a água de irrigação e evitar acúmulo</p><p>de terra, matéria orgânica e outros materiais junto ao tronco das plantas. Como</p><p>medida curativa, recomenda-se retirar a parte danificada com faca e pincelar o</p><p>local do ferimento com pasta cúprica ou fungicida sistêmico registrado para essa</p><p>finalidade (Tabela 17).</p><p>121</p><p>• Verrugose (Elsinoe fawcettii e Elsione australis)</p><p>A verrugose dos citros é uma doença fúngica comum nas regiões úmidas.</p><p>Em locais com clima semiárido, portanto, como o Nordeste do Brasil e Norte de</p><p>Minas, a doença raramente ocorre devido às condições climáticas desfavoráveis.</p><p>Duas espécies do fungo causam problemas nos pomares: verrugose dos citros,</p><p>também conhecida por verrugose da laranja azeda, causada por Elsinoe fawcettii,</p><p>e verrugose da laranja doce, causada por Elsinoe australis. Elsinoe fawcettii tem</p><p>muitos patótipos, que são patógenos da mesma espécie, com morfologia similar</p><p>ou idêntica, mas com diferentes níveis de virulência. Os hospedeiros são vários</p><p>na citricultura, podendo atacar frutos e folhas de tangerineiras e seus híbridos,</p><p>pomeleiros e limoeiros, mas não afetam laranjeiras. O fungo Elsinoe fawcettii</p><p>encontra-se disseminado em todos os países produtores de citros do mundo,</p><p>enquanto Elsinoe australis está restrito à América do Sul.</p><p>O fungo causador da verrugose da laranja doce não ataca as folhas das plan-</p><p>tas. os sintomas estão presentes apenas nos frutos de laranjeiras doces e de al-</p><p>gumas tangerineiras e híbridos Os esporos do fungo Elsinoe são disseminados na</p><p>primavera, pela chuva, orvalho, vento ou insetos e colonizam somente tecidos</p><p>imaturos. Os frutos permanecem suscetíveis ao fungo por aproximadamente</p><p>três meses após a queda das pétalas das flores.</p><p>A importância da doença varia de ano para ano, em função do clima. Isso</p><p>porque a presença de umidade nas plantas, ocasionada por chuvas, neblinas,</p><p>orvalho, durante os períodos de brotação e frutificação, favorece o aparecimen-</p><p>a b</p><p>c d</p><p>Figura 48 – Tronco de planta de citros com sintomas de gomose (exsudação de goma) apenas no</p><p>porta-enxerto (a); tronco de limoeiro (Citrus limon), altamente suscetível à gomose, com sintomas</p><p>no porta-enxerto e na copa (b); laranjeira com as folhas da copa totalmente amarelas, morrendo</p><p>em função do ataque de gomose (c); sintomas de gomose em apenas um ramo da planta, resul-</p><p>tante da morte dos tecidos da casca do tronco da planta apenas no lado em que o sintoma está</p><p>presente (d)</p><p>122</p><p>to da doença. Os esporos necessitam de, no mínimo, 2,5 horas de umidade para</p><p>germinarem e causarem infecção.</p><p>É uma doença que ocorre em viveiros e em pomares. Em viveiros, o limoeiro</p><p>Cravo, que é principal porta-enxerto utilizado no Brasil, pode ser severamente</p><p>atacado pela verrugose, prejudicando o crescimento das plantas. O fungo ataca</p><p>os tecidos jovens, sendo as lesões salientes e ásperas. As folhas e ramos novos</p><p>ficam retorcidos (Figura 49). Devido aos danos no meristema apical e nas folhas,</p><p>o crescimento dos porta-enxertos é prejudicado, havendo excessiva brotação</p><p>lateral das plantas, quando o controle do fungo não é feito. Nas folhas, as lesões</p><p>podem aparecer isoladas ou agrupadas e normalmente são vistas na epiderme</p><p>inferior.</p><p>Na maioria das variedades, as lesões aparecem na forma de verrugas sa-</p><p>lientes, mas, no limoiero Cravo, são ainda mais salientes do que nas laranjas.</p><p>Somente tecidos jovens são sensíveis ao ataque da verrugose. Mas, quando os</p><p>tecidos estão infectados pelo fungo, as verrugas crescem à medida que eles vão</p><p>amadurecendo.</p><p>Nos frutos, os sintomas são semelhantes aos das folhas. As verrugas são su-</p><p>perficiais, não afetam a qualidade do suco dos frutos, nem favorecem a penetra-</p><p>ção de outros patógenos, embora haja vários relatos de que as lesões são impor-</p><p>tantes para o abrigo do ácaro da leprose (Brevipalpus phoenicis).</p><p>A verrugose não deve ser confundida com a melanose, pois as lesões cau-</p><p>sadas por ambas são salientes. Entretanto, no caso da verrugose, as lesões são</p><p>maiores e de coloração menos intensa.</p><p>Nas regiões onde ocorre a doença fúngica, conhecida como pinta preta, cau-</p><p>sada por Guignardia citricarpa, o controle da verrugose e da melanose é feito</p><p>simultaneamente ao dessa doença, porque há época em que os frutos estão sus-</p><p>cetíveis aos fungos e os produtos usados podem ser os mesmos para as três do-</p><p>enças. Esse período se estende desde a queda das pétalas das flores, geralmente</p><p>em setembro ou outubro, até a 17ª semana após essa fase. São usados fungicidas</p><p>protetores (cúpricos) e sistêmicos (Tabela 17) em quatro a cinco pulverizações,</p><p>dependendo do histórico da doença na área. O controle da verrugose é essencial</p><p>em viveiros, quando o limoeiro Cravo é usado como porta-enxerto.</p><p>a</p><p>123</p><p>• Melanose (Diaporthe citri)</p><p>Embora não afete as características do suco, nem cause a queda dos frutos, a</p><p>melanose é uma das principais doenças da citricultura de mesa, devido às man-</p><p>chas que aparecem na casca dos frutos, desvalorizando-os para o mercado. É</p><p>uma doença que ataca quase todos os cultivares de citros de interesse comercial,</p><p>ocorrendo em laranjas, tangerinas e limões.</p><p>A melanose é mais importante nas plantas em que há abundância de inócu-</p><p>lo, como ramos secos e em regiões onde há presença de umidade durante o pe-</p><p>ríodo de desenvolvimento dos ramos e dos frutos. Esse ambiente úmido ocorre</p><p>nas principais regiões produtoras de citros do Sudeste brasileiro, com exceção</p><p>das regiões semiáridas do Norte de Minas, nas quais o clima seco não favorece o</p><p>desenvolvimento da doença. O fungo coloniza os tecidos jovens das plantas, in-</p><p>cluindo folhas, ramos e frutos jovens de citros. Após a deposição dos esporos so-</p><p>bre o órgão, é necessário um período de molhamento de 10 a 12 horas para que</p><p>ocorra a infecção, a 25°C, enquanto que a 15°C esse período é de 18 a 24 horas.</p><p>Nos locais atacados pela melanose, são formadas pequenas manchas escu-</p><p>ras, deprimidas e com halos cloróticos. Os sintomas evoluem rapidamente, com</p><p>as manchas ficando necróticas, salientes e de cor marrom escuro, e bem peque-</p><p>nas, medindo até 1 mm de diâmetro (Figura 50 a). Nas folhas, os sintomas ocor-</p><p>rem em ambas as superfícies, que perdem a cor verde, podendo ficar retorcidas</p><p>e cair prematuramente.</p><p>Nos frutos, as manchas podem se agregar, formando grandes áreas, de cor</p><p>marrom escuro, que podem ser distinguidas dos danos causados pelo ácaro da</p><p>ferrugem por serem ásperas ao tato. As manchas nos frutos aparecem em di-</p><p>versas formas, podendo estar dispersas na casca ou ter formato alongado, no</p><p>sentido longitudinal dos frutos, devido ao transporte dos propágulos do fungo</p><p>por gotas de água. Essas manchas são conhecidas como “manchas de lágrima”</p><p>(Figura 50 b). Podem aparecer agrupadas em determinada parte dos frutos, com</p><p>pequenas fissuras na casca. Nesse caso, são conhecidas como “bolo de lama”.</p><p>Em frutos maduros, o fungo pode causar a “podridão peduncular”, que nor-</p><p>malmente se origina a partir do ponto de inserção do pedúnculo no fruto (Fi-</p><p>gura 50 c). A partir do ponto de inserção do pedúnculo, a casca dos frutos vai</p><p>lentamente ficando com coloração marrom escura. A podridão peduncular ge-</p><p>ralmente aparece durante o período de armazenamento dos frutos, mas, ocasio-</p><p>nalmente é observada no campo, podendo causar queda dos frutos.</p><p>Como o fungo Diaporthe sobrevive nos pomares em galhos secos, mortos</p><p>por diversas causas, a doença é mais séria em pomares abandonados. Portanto,</p><p>uma medida importante de controle da melanose é a poda de todos os ramos</p><p>cb</p><p>Figura 49 – Sintomas da verrugose (Sphaceloma fawcetii) em frutinhos (a) e folhas de limoeiro Cra-</p><p>vo (b) e da verrugose (Sphaceloma australis) em laranja doce (c)</p><p>124</p><p>secos presente na planta. Conforme já mencionado, o controle químico da mela-</p><p>nose é o mesmo feito para a verrugose, que deve ser iniciado ao final da queda</p><p>das pétalas.</p><p>• Rubelose (Corticium salmonicolor)</p><p>Além dos citros, a rubelose é uma doença de várias espécies de plantas anu-</p><p>ais e perenes, como o eucalipto, cacau e seringueira. Todas as variedades de ci-</p><p>tros são suscetíveis, principalmente as tangerineiras.</p><p>É uma típica de regiões tropicais e subtropicais úmidas e, geralmente, os sin-</p><p>tomas somente são visíveis quando a doença já se encontra em estádio avança-</p><p>do, devido à dificuldade de visualizá-los no interior da copa, principalmente em</p><p>plantas com a copa muito fechada. Ataca os ramos, especialmente na região das</p><p>axilas ou na base dos ramos principais, e é detectada pela presença de ramos</p><p>secos na planta (Figura 51 a). A morte dos ramos ocorre devido à formação de</p><p>colônias do fungo nos vasos do xilema, causando interrupção do fluxo de água,</p><p>com consequente amarelecimento, seca e abscisão de todos os órgãos presen-</p><p>tes nesses ramos (folhas, flores e frutos).</p><p>Inicialmente, ocorre produção de goma e crescimento de micélio de cor</p><p>branca no local atacado, com posterior presença de frutificações de cor rosa ou</p><p>salmão. Com a evolução da doença, a casca fica seca e dura, com rachaduras</p><p>longit udinais. O fungo também ataca o lenho das plantas, ocasionado a morte</p><p>dos tecidos, que ficam escuros (Figura 51 b).</p><p>Figura 50 – Sintomas da melanose em laranja (a), lesões com com formato “escorrido”, de-</p><p>nominado mancha de lágrima (b); sintoma da podridão peduncular, causada por Diaporthe</p><p>citri em tangerina ‘Poncã’ (c)</p><p>a b</p><p>c</p><p>125</p><p>O fungo Corticium é disseminado pelas chuvas ou pelo vento e ataca tanto</p><p>plantas novas quanto adultas. Nas plantas adultas, há maior incidência da doen-</p><p>ça, devido ao maior sombreamento e consequente maior umidade no interior</p><p>da copa, favorecida pela baixa incidência solar. A faixa de temperatura conside-</p><p>rada como ótima para o fungo é de 23º C a 26º C e o tempo necessário para o</p><p>estabelecimento da doença (a partir do contato do fungo com a planta) é de 30</p><p>a 40 dias.</p><p>Como medidas de controle, são recomendados: a realização de podas de</p><p>inverno, eliminando ramos secos, velhos, improdutivos e mal localizados, para</p><p>melhorar o arejamento da planta; poda dos ramos atacados para tentar impedir</p><p>que o fungo atinja outros ramos ou o tronco. Essa poda deve ser feita cerca de</p><p>30 cm abaixo das lesões. A região podada deve ser protegida com tinta ou pasta</p><p>com produtos à base de cobre (1 kg de fungicida à base de cobre em 5 litros de</p><p>água). É importante lembrar que nem sempre a poda é efetiva para o controle da</p><p>rubelose, pois outros ramos já podem estar contaminados pelo fungo e os sin-</p><p>tomas ainda não estarem visíveis, ou o fungo estar presente nos tecidos abaixo</p><p>do corte efetuado.</p><p>• Podridão Floral dos Citros ou Estrelinha (Colletotrichum acutatum)</p><p>A Podridão Floral dos Citros é observada em quase todas as espécies e cul-</p><p>tivares de citros e, até o momento, não são conhecidas fontes de resistência à</p><p>doença. Entretanto, cultivares que tendem a florescer mais de uma vez por ano,</p><p>como a limeira ‘Tahiti’, geralmente são mais atacadas pelo fungo. Esse fato ocorre</p><p>porque a sobrevivência do fungo nas plantas desses cultivares é maior devido à</p><p>presença de flores nas plantas por mais tempo durante o ano. Em regiões sub-</p><p>tropicais, onde há somente uma florada por ano, a doença é menos severa do</p><p>que em regiões tropicais, nas quais há tendência de mais de um florescimento</p><p>por ano.</p><p>Os principais sintomas da podridão floral são lesões de cor alaranjada ou</p><p>marrom claro nas pétalas das flores (Figura 52 a) que são mais suscetíveis após</p><p>a antese. Com a progressão dos sintomas, as pétalas secam, os ovários amarele-</p><p>a b</p><p>Figura 51 – Sintomas da rubelose em laranjeira – Presença de ramo seco na</p><p>planta (a); base do ramo com os tecidos mortos, mostrando escurecimento</p><p>do lenho, com cor marrom (seta) (b)</p><p>126</p><p>cem e entram em processo de abscisão.</p><p>Geralmente, quando a abscisão dos frutos é natural, o cálice e o disco floral</p><p>também caem, juntamente com o ovário. Entretanto, no caso da podridão floral,</p><p>eles persistem na planta e são conhecidos como “estrelinhas” (Figura 52 b), sin-</p><p>toma considerado como típico da doença. É importante lembrar que, em tange-</p><p>rineiras e seus híbridos, a abscisão ocorre geralmente no pedúnculo e, portanto,</p><p>poucas “estrelinhas” são formadas.</p><p>A ocorrência da doença e a gravidade dos sintomas dependem da presença</p><p>de chuvas, orvalho ou água de irrigação durante o período do florescimento.</p><p>A temperatura ótima para o crescimento do fungo está na faixa de 24º a 27º</p><p>C, embora também possa se desenvolver em temperaturas na faixa de 15º C. Bai-</p><p>xas temperaturas podem aumentar a incidência da podridão floral pelo fato de</p><p>a duração do período de florescimento ser maior nessas condições. Por isso, se</p><p>as condições climáticas forem favoráveis ao fungo Colletotrichum, quanto mais</p><p>longo for o período de florescimento, maior será a incidência da podridão floral.</p><p>Os prejuízos da podridão floral sobre a produção de frutos são difíceis de</p><p>avaliar com precisão na citricultura, porque a percentagem de fixação de frutos</p><p>é muito baixa - geralmente entre 0,5% e 2% do número de flores produzidas. A</p><p>queda natural de flores coincide com a época em que a doença ocorre, tornando</p><p>impossível saber se uma flor com os seus sintomas iria cair naturalmente, caso</p><p>não estivesse doente. Outro fator a considerar é que em casos de ataques leves,</p><p>as plantas tendem a compensar a perda das flores atacadas pela doença, promo-</p><p>vendo maior fixação dos frutos remanescentes ou produzindo frutos de maior</p><p>tamanho, sem redução significativa da produção.</p><p>Consequentemente, pulverizações preventivas aumentam o custo de pro-</p><p>dução e podem não aumentar a produtividade do pomar, se a incidência da do-</p><p>ença for pequena. Ao contrário, no caso de atraso nas pulverizações, pode haver</p><p>desenvolvimento excessivo do inóculo, dificultando o controle posterior.</p><p>Devido às dificuldades, o citricultor deve se orientar pelo histórico de ocor-</p><p>rência da doença no pomar e pelas previsões climáticas sobre a ocorrência de</p><p>chuvas, que a favorecem.</p><p>O controle deve ser iniciado a partir da emissão das flores, com os botões</p><p>florais verdes, até as pétalas abertas, usando fungicidas sistêmicos (triazóis, es-</p><p>trobilurinas) (Tabela 17).</p><p>Figura 52 – Sintomas de Podridão Floral (Colletotrichum acutatum) em ‘Tahiti’. Lesões de cor mar-</p><p>rom nas pétalas das flores (a); Frutos jovens amarelos ou em abscisão e Cálices ou estrelinhas per-</p><p>sistentes, após a queda dos frutos (b)</p><p>a b</p><p>127</p><p>• Pinta Preta (Guignardia citricarpa)</p><p>A pinta preta está presente em vários estados do Brasil, como Rio de Janeiro,</p><p>Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito</p><p>Santo, Santa Catarina, Amazonas e Paraná. Sua distribuição, porém, não é unifor-</p><p>me em todas as áreas produtoras de citros. Na Zona de Mata Mineira, por exem-</p><p>plo, a doença ainda não foi relatada e, portanto, medidas preventivas são muito</p><p>importantes.</p><p>Quando o ataque da pinta preta é severo, podem ocorrer prejuízos conside-</p><p>ráveis devido à queda prematura dos frutos e ao comprometimento da aparên-</p><p>cia: os danos presentes na casca dificultam a comercialização e desvalorizam os</p><p>frutos para o mercado de frutas de mesa (Figura 53 a).</p><p>Embora a exportação de frutos dos citros para consumo de mesa pelo Brasil</p><p>seja insignificante (menos de 1%), quando comparada à quantidade produzida,</p><p>a pinta preta é considerada quarentenária A1 na União Europeia. Isso significa</p><p>que a doença não está presente na Europa, porém, tem potencial para causar</p><p>importantes danos econômicos, caso seja introduzida. Assim, a tolerância para a</p><p>presença do fungo causador da pinta preta nesses países é zero.</p><p>A doença não prejudica a qualidade interna dos frutos, caso eles caiam pre-</p><p>maturamente, porque os sintomas ocorrem apenas no epicarpo (flavedo). Por</p><p>isso, podem ser usados para a produção de suco ou para o consumo de mesa,</p><p>em mercados pouco exigentes. Entretanto, é importante lembrar que esses fru-</p><p>tos não devem ser comercializados em locais onde a doença não esteja presente.</p><p>Praticamente todas as variedades comerciais de citros</p><p>são suscetíveis ao</p><p>fungo da pinta preta. Entre as laranjeiras, a doença ocorre com maior intensidade</p><p>nos cultivares ‘Pêra’ ‘Valência’, ‘Natal’ e ‘Folha Murcha’. Limoeiros verdadeiros</p><p>(Citrus limon), tangor ‘Murcote’, mexeriqueiras ‘Rio’ e ‘Montenegrina’ também são</p><p>suscetíveis, porém, sintomas de pinta preta não foram encontrados em ‘Tahiti’.</p><p>Os frutos são suscetíveis desde a fase de queda das pétalas das flores até</p><p>quando estiverem com o tamanho aproximado de uma bola de pingue-pongue.</p><p>Para as variedades tardias, esse período é variável em função do clima, mas pode</p><p>se estender por até cinco meses.</p><p>O patógeno produz esporos sexuais (ascósporos) e assexuais (picnidióspo-</p><p>ros). Os ascósporos se desenvolvem nas folhas em decomposição no solo, en-</p><p>quanto que os picnidiósporos nas lesões localizadas principalmente nos frutos.</p><p>Quando os esporos entram em contato com os frutos ou folhas de variedades</p><p>suscetíveis, em condições ambientais favoráveis, germinam, originando um</p><p>apressório e, em seguida, uma hifa, que penetra na cutícula formando uma mas-</p><p>sa de micélio, que permanece em estado latente.</p><p>O período de incubação - compreendido entre a infecção e a manifestação</p><p>dos sintomas - depende do clima, do cultivar e da época da infecção. Em de-</p><p>terminadas condições, pode ultrapassar sete meses. O aparecimento dos sinto-</p><p>mas é favorecido pela radiação solar associada a altas temperaturas e, por isso,</p><p>são mais evidentes em frutos mais expostos ao sol. Os sintomas também variam</p><p>de acordo com o clima, o cultivar e a época da infecção. Existem seis diferentes</p><p>sintomas associados à doença: mancha dura, falsa melanose, mancha sardenta,</p><p>mancha virulenta, mancha rendilhada e mancha trincada.</p><p>O sintoma típico da pinta preta é a mancha dura, que aparece durante o</p><p>amadurecimento dos frutos. É caracterizado pela presença de um halo verde</p><p>ou esverdeado ao redor das lesões, cujas bordas são salientes e de cor marrom-</p><p>-escura. O centro das lesões é deprimido, formado por tecidos necróticos de cor</p><p>marrom claro ou cinza escuro, apresentando pequenas pontuações negras, que</p><p>são os picnídios (Figura 53 b).</p><p>Outro sintoma relativamente comum da doença é a falsa melanose, que re-</p><p>128</p><p>cebe esse nome pelo fato de os sintomas serem semelhantes aos da melanose.</p><p>As lesões são pequenas, escuras e numerosas, diferindo-se das lesões da mela-</p><p>nose por serem lisas.</p><p>Para o manejo da pinta preta devem ser empregadas diversas medidas pre-</p><p>ventivas. Entre elas estão o plantio de mudas sadias, principalmente em locais</p><p>livres da doença; remoção de frutos temporões com sintomas; antecipação da</p><p>colheita e poda de ramos secos antes do florescimento, para reduzir as fontes de</p><p>inóculo; manejo das plantas daninhas com roçadeira ecológica, direcionado a</p><p>vegetação cortada das entrelinhas para debaixo da copa das plantas dos citros.</p><p>O objetivo dessa prática é formar cobertura morta sobre as folhas de citros caí-</p><p>das ao solo para reduzir a produção e a dispersão de esporos do fungo.</p><p>Mesmo com a adoção dessas medidas, o controle químico é necessário e a</p><p>principal estratégia para o controle da pinta preta. O número de pulverizações</p><p>deve variar em função do histórico da doença no pomar, das condições climáti-</p><p>cas durante o desenvolvimento dos frutos, da suscetibilidade do cultivar e do ní-</p><p>vel de controle requerido, podendo chegar a seis pulverizações por ano. O nível</p><p>de controle depende do mercado dos frutos. Quando os frutos forem utilizados</p><p>para consumo de mesa, o controle deve ser mais rígido, em função do aspecto.</p><p>Por outro lado, para pomares cujos frutos serão destinados à produção de suco,</p><p>é possível usar um número menor de pulverizações, pois o aspecto externo dos</p><p>frutos não interfere na qualidade do suco.</p><p>Devem ser pulverizados todos os pomares ou talhões que tenham plantas</p><p>com sintomas, não importando a intensidade da doença. O controle químico</p><p>deve ser iniciado na fase de queda das pétalas. Geralmente, são usados produtos</p><p>à base de cobre em mistura com óleo mineral ou vegetal a 0,25% nas primeiras</p><p>duas pulverizações, com intervalo mensal. Nas demais pulverizações, recomen-</p><p>da-se utilizar benzimidazóis ou estrobilurinas (Tabela 17), misturadas com óleo</p><p>emulsionável, com aplicações a cada 35-40 dias.</p><p>Pulverizações efetuadas para o controle da pinta preta contro-</p><p>lam também a verrugose e melanose.</p><p>• Mancha marrom (Alternaria alternata pv. citri)</p><p>É considerada a principal doença fúngica das tangerineiras e está presente</p><p>Õ</p><p>Figura 53 – Laranjas com sintomas de pinta preta causada por Guignardia citricarpa, com</p><p>aparência inadequada para o mercado de frutas frescas (a); sintoma típico da pinta preta</p><p>(mancha dura), com a presença de um halo esverdeado ao redor da lesão, cujas bordas são</p><p>salientes de cor marrom-escura. O centro da lesão é deprimido, apresentando pequenas</p><p>pontuações negras, que são os picnídios do fungo (b) (Cortesia do Fundecitrus)</p><p>a b</p><p>129</p><p>nas principais regiões produtoras do Brasil, inclusive no Nordeste, havendo re-</p><p>lato de sua presença na Paraíba. Os principais cultivares de tangerineiras, mexe-</p><p>riqueiras e híbridos cultivados no Brasil (‘Poncã’, ‘Dancy’, ‘Cravo’, ‘Rio’ e ‘Murcote’)</p><p>são suscetíveis ao fungo. Nas regiões produtoras onde as condições climáticas</p><p>são favoráveis à mancha marrom, ela é a principal responsável pela redução da</p><p>área de plantio e da produção da tangoreira Murcote e a tangerineira Poncã. Por</p><p>sua vez, as laranjeiras doces e a limeira ácida ‘Tahiti’ são resistentes à doença.</p><p>Condições favoráveis à mancha de alternaria são alta umidade e temperatu-</p><p>ra entre 20 ºC a 27 ºC - por isso, o problema é mais sério durante a primavera e</p><p>o verão. Em condições de molhamento foliar contínuo por um período de 10 a</p><p>12 horas, os sintomas aparecem rapidamente, entre dois e três dias. O controle</p><p>é mais difícil em pomares com problemas de aeração e insolação, em plantas</p><p>com brotações abundantes, devido ao excesso de adubação nitrogenada e em</p><p>pomares podados em época inadequada, com brotações em período favorável</p><p>à ocorrência da mancha marrom.</p><p>Um dos primeiros sintomas é a presença de lesões de cor marrom nos ramos</p><p>e nas folhas. As folhas atacadas apresentam uma leve curvatura lateral, com áre-</p><p>as necrosadas de cor marrom (Figura 54 a), que geralmente crescem seguindo as</p><p>nervuras. As folhas ficam amareladas e os ramos necrosados (Figura 54 b) e, em</p><p>seguida, ocorre a desfolha acentuada das plantas durante a brotação da prima-</p><p>vera, porque as folhas e os ramos atacados secam e caem.</p><p>Os sintomas ocorrem também nos frutinhos, onde aparecem pequenas le-</p><p>sões escuras sobre a casca, que aumentam de tamanho, causando a queda. Le-</p><p>sões maiores geralmente são deprimidas, de cor marrom, com um halo amarelo</p><p>em volta (Figura 54 c).</p><p>Uma importante medida de controle cultural da mancha marrom é a reali-</p><p>zação de podas de inverno, com o objetivo de eliminar ramos secos situados na</p><p>parte interna e externa da planta, pois é comum a sobrevivência do fungo nes-</p><p>ses ramos. Essa poda deve ser feita antes da floração e o material podado deve</p><p>ser removido do pomar e queimado.</p><p>As variedades de tangerineiras ‘Thomas’, ‘Fremont’, ‘Nules’ (clementina), tan-</p><p>goreira ‘Ortanique’ e satsumas são apontadas como tolerantes à mancha marrom</p><p>de alternaria. Contudo, a aceitação pelos produtores e pelo mercado depende</p><p>de avaliações nas regiões produtores e mercados consumidores.</p><p>O controle químico da mancha marrom deve ser feito usando estrobirulinas,</p><p>triazóis e cúpricos (Tabela 17).</p><p>a b</p><p>130</p><p>• Bolores verde e azul (Penicillium digitatum, Penicillium italicum)</p><p>Os dois tipos de bolor são semelhantes em vários aspectos. Ambos estão</p><p>presentes em todas as regiões produtoras de citros do mundo e são suscetíveis</p><p>a todos os cultivares de citros, incluindo laranjas, tangerinas, limas e limões e po-</p><p>melos. O mofo verde é a doença pós-colheita mais comum dos citros, enquanto</p><p>o mofo azul é de ocorrência mais esporádica.</p><p>Os sintomas iniciais são semelhantes. Inicialmente, aparecem manchas</p><p>interessante de consumo e muito pouco explorada no Brasil. Além</p><p>de agregar valor ao produto, o processamento mínimo é importante por ofere-</p><p>cer produtos frescos e adequados à sociedade moderna, que busca alimentos</p><p>saudáveis e fáceis de consumir. Além do consumo familiar ou individual, laranjas</p><p>ou tangerinas minimamente processadas são adequadas para consumo em es-</p><p>colas, hospitais, restaurantes e lojas de fast food.</p><p>Geralmente, não há perda de qualidade dos frutos minimamente processa-</p><p>dos em relação aos frutos frescos, desde que o processamento seja feito de for-</p><p>ma correta, entretanto. É importante destacar que o processamento mínimo não</p><p>é uma atividade simples, já que o produto, além de manter a qualidade, tem que</p><p>ser produzido de forma higiênica.</p><p>Os principais fatores responsáveis pela qualidade dos frutos minimamente</p><p>processados são a temperatura e a atmosfera no interior da embalagem, porque</p><p>são eles que determinam a velocidade de degradação dos frutos.</p><p>O processamento mínimo de frutos dos citros consiste basicamente em des-</p><p>cascar os frutos, removendo flavedo e albedo para obtenção da polpa, que pode</p><p>ser dividida em fatias ou em gomos. Em seguida, a polpa dividida é lavada com</p><p>água contendo produtos microbicidas. O objetivo é sanitizar o produto e eli-</p><p>minar o suco acumulado nos locais de corte, que por estar exposto, favorece a</p><p>degradação do produto. Após serem lavados, os gomos ou as fatias devem ser</p><p>rigorosamente secos para evitar o desenvolvimento de microrganismos. Por últi-</p><p>mo, o produto deve ser colocado na embalagem, geralmente bandejas, e depois</p><p>selados com plástico transparente.</p><p>17</p><p>TAXONOMIA</p><p>No grupo de plantas denominado citros (termo coletivo, estão incluídas al-</p><p>gumas espécies que não pertencem ao gênero Citrus, como Fortunella, Poncirus</p><p>trifoliata e híbridos. Todos pertencem à família Rutaceae, subfamília Aurantio-</p><p>ideae, cujas características principais são: ovário apoiado sobre o disco floral</p><p>(nectário), presença de pontos translúcidos (transparentes) nas folhas, que cor-</p><p>respondem às glândulas de óleo e frutos com placentação axial, que se caracte-</p><p>riza pela disposição dos óvulos ao longo do eixo do ovário multilocular.</p><p>Os frutos são classificados como hesperídios, que são considerados um tipo</p><p>especial de baga, cujo epicarpo é coriáceo, com numerosas glândulas de óleo. O</p><p>endocarpo é membranáceo, dividido em gomos e revestido internamente por</p><p>numerosos pelos suculentos que constituem a parte comestível.</p><p>No Brasil, o cultivo e o estudo das plantas dos citros recebem o nome de</p><p>citricultura. Na Tabela 8 podem ser consultados os nomes dados aos citros e à</p><p>citricult ura em cinco diferentes idiomas.</p><p>Tabela 8. Nomes atribuídos às plantas e ao cultivo dos citros em vários</p><p>idiomas</p><p>Idioma Plantas Cultivo</p><p>Português</p><p>Inglês</p><p>Espanhol</p><p>Italiano</p><p>Francês</p><p>Citros</p><p>Citrus</p><p>Agrios, cítricos</p><p>Agrumi</p><p>Agrumes</p><p>Citricultura</p><p>Citrus industry</p><p>Citricultura</p><p>Agrumiccoltura</p><p>Agrumiculture</p><p>As plantas do gênero Fortunella produzem frutos que são conhecidos como</p><p>cunquates, kinkans ou ainda laranjinha da China. Os cunquateiros são usados</p><p>como plantas ornamentais, para consumo in natura dos frutos, cuja forma de</p><p>consumo difere dos demais citros: a parte comestível é a casca, e a polpa é des-</p><p>cartada, devido à acidez excessiva, exceto do cultivar ‘Meiwa’, cujos frutos po-</p><p>dem ser consumidos totalmente. São usados principalmente para a fabricação</p><p>de doces e geleias.</p><p>Existem duas espécies principais de cunquates que são utilizadas comercial-</p><p>mente: a Fortunella margarita (cunquate oval ou Nagami) e Fortunella japônica</p><p>(cunquate redondo ou Marumi).</p><p>O cunquateiro Nagami é uma planta arbustiva, com altura variando em tor-</p><p>no de 2,5 a 4,5 metros, bastante ramificada, com ramos finos de cor verde clara.</p><p>As folhas são de cor verde escuro e formato lanceolado. A planta produz flores</p><p>brancas, que podem estar isoladas ou agrupadas em cachos. Os frutos são ovais,</p><p>medindo até 4,5 cm de comprimento por 3 cm de diâmetro, com peso varian-</p><p>03</p><p>18</p><p>do de 5 a 20 gramas. Apresentam casca lisa, brilhante, de coloração alaranjada,</p><p>quando maduros, glândulas de óleo grandes e bem evidentes. O sabor do fruto</p><p>é mais pronunciado do que o das demais espécies de cunquateiros. Os frutos</p><p>têm 4-5 segmentos (gomos), com 2-5 sementes por fruto e o sabor do suco é</p><p>ácido.</p><p>O cunquateiro Marumi é semelhante ao Nagami, porém, com folhas meno-</p><p>res. Os frutos são redondos ou levemente ovais, mas de menor tamanho, pesan-</p><p>do em torno de 10-12 gramas. A casca do fruto é lisa, de coloração alaranjada,</p><p>porém, mais fina e mais doce. Os frutos têm 6-7 segmentos e 3-6 sementes por</p><p>fruto (números superiores aos apresentados pelo Nagami).</p><p>Existe outro cunquateiro, pouco conhecido fora do Oriente, cujo nome é</p><p>‘Meiwa’ (Fortunella crassifolia Swingle), que é muito apreciado para o consumo</p><p>in natura, devido aos frutos serem mais doces do que os dos outros cultivares.</p><p>Os frutos são levemente ovais a redondos, com comprimento em torno de três</p><p>cm e diâmetro de 2,5 cm. Apresenta casca lisa, albedo espesso e praticamente</p><p>não tem suco.</p><p>O gênero Poncirus tem apenas uma espécie (P. trifoliata). Entretanto, há vá-</p><p>rios clones, que diferem entre si quanto ao hábito de crescimento, à morfologia</p><p>e aos efeitos sobre a variedade copa, quando são usados como porta-enxertos.</p><p>Os principais clones são ‘Barnes’, ‘Benecke’, Pomeroy, ‘Limeira’, ‘Rubidoux’, ‘Flying</p><p>Dragon’ (P. trifoliata var monstrosa)</p><p>As plantas de Poncirus são caducifólias e tolerantes ao frio. Por isso, são utili-</p><p>zadas como porta-enxertos em países situados em maiores latitudes, com inver-</p><p>nos mais rigorosos, como o Japão. Lá, ele normalmente é enxertado com copa</p><p>de tangerineiras Satsumas, que estão entre as plantas do gênero Citrus mais to-</p><p>lerantes ao frio. No Brasil, são utilizados principalmente no Rio Grande do Sul.</p><p>Plantas do gênero Poncirus produzem frutos impróprios para o consumo.</p><p>Além do uso como porta-enxertos, também podem ser usadas como cerca viva,</p><p>devido aos espinhos longos e resistentes.</p><p>A taxonomia dos citros é complexa e controvertida, principalmente das es-</p><p>pécies que constituem o gênero Citrus, devido à grande diversidade observada</p><p>entre as plantas. Essa diversidade surgiu ao longo dos séculos de cultivo, ori-</p><p>ginada de mutações e de cruzamentos intervarietais, interespecíficos e inter-</p><p>genéricos, pois as espécies do gênero Citrus e afins se cruzam com facilidade.</p><p>Geralmente, os novos indivíduos produzidos são perpetuados pela embrionia</p><p>nucelar, que permite a produção de plantas geneticamente iguais à planta mãe,</p><p>por via seminífera.</p><p>Devido a esse fato, vários sistemas de taxonomia para o gênero Citrus foram</p><p>e têm sido propostos. Esses sistemas diferem entre si principalmente quanto ao</p><p>número de espécies que compõem os vários gêneros. Hoocker (1875) classifi-</p><p>cou o gênero Citrus em somente quatro espécies; Engler (1931) propôs 11 es-</p><p>pécies; Swingle (1943), 16 espécies, e Tanaka (1961) 159 espécies. Os sistemas</p><p>basearam-se nas características morfológicas e no suposto local de origem das</p><p>espécies para sua classificação.</p><p>As diferenças com relação ao número de espécies existentes entre os siste-</p><p>mas de Swingle e Tanaka são explicadas pelo fato de que Swingle considerou</p><p>vários grupos de plantas do gênero Citrus como híbridos, enquanto Tanaka os</p><p>considerou como espécies verdadeiras. Por exemplo, Swingle classificou todas</p><p>as tangerineiras como pertencentes à espécie Citrus reticulata, enquanto Tanaka</p><p>as classificou em 35 espécies diferentes.</p><p>Embora os sistemas de Swingle e Tanaka sejam mais usados atualmente,</p><p>pesquisas mais recentes realizadas, baseadas em estudos químicos, bioquími-</p><p>cos, morfológicos e moleculares indicam números de espécies para os Citrus,</p><p>diferentes dos descritos anteriormente. Esses estudos sugerem a existência de</p><p>19</p><p>apenas três espécies válidas ou verdadeiras. Elas são Citrus medica (cidras), Citrus</p><p>reticulata (tangerinas) e Citrus maxima (toranjas).</p><p>Segundo a classificação de Swingle,</p><p>com</p><p>tecido aquoso, havendo perda da pigmentação no local, que fica descolorido em</p><p>relação às partes não atacadas. Em seguida, a podridão aumenta de tamanho,</p><p>com formação de micélio branco em sua superfície (Figura 55 a), afetando a cas-</p><p>ca e as vesículas de suco.</p><p>Com o desenvolvimento das lesões, são produzidos esporos de cor verde ou</p><p>azul (Figura 55 b), dependendo da espécie do fungo, permanecendo uma estrei-</p><p>ta faixa de micélio branco nas bordas da lesão.</p><p>Se a umidade relativa é baixa, os frutos secam e mumificam na própria planta</p><p>(Figura 55 c). Por outro lado, no caso de umidade relativa alta, outros fungos e</p><p>bactérias podem atacar os frutos, que amolecem e caem ao solo.</p><p>Devido ao grande número de esporos do fungo presentes na superfície dos</p><p>frutos doentes, eles são disseminados facilmente pelo vento a grandes distân-</p><p>cias, penetrando na casca dos frutos através de lesões resultantes de ataque de</p><p>pragas, atritos ocasionados pelo vento, chuvas de granizo, entre outros fatores.</p><p>Após a colheita, danos causados à casca devido ao manuseio inadequado dos</p><p>frutos, chilling e oleocelose, também favorecem a infecção pelo Penicillium.</p><p>A temperatura adequada para o desenvolvimento do bolor verde está em</p><p>torno de 24°C. Acima de 30°C e abaixo de 10°C o desenvolvimento é muito lento,</p><p>chegando a ser praticamente nulo a 1°C. Ao contrário, o mofo azul consegue se</p><p>desenvolver abaixo de 10°C e, portanto, pode predominar sobre o bolor verde</p><p>em frutos armazenados sob tais temperaturas.</p><p>O controle de ambos os fungos é o mesmo, iniciando com cuidados na co-</p><p>lheita e no manuseio dos frutos pós-colheita, evitando causar ferimentos na cas-</p><p>ca e colhendo frutos com sintomas de Penicillium, devido à grande quantidade</p><p>de esporos presentes.</p><p>No packing house deve ser feita a sanitização das caixas de colheita, das má-</p><p>quinas de classificação, dos locais de embalagem e armazenamento dos frutos</p><p>c</p><p>Figura 54 – Sintomas da mancha marrom de alternaria - Lesões</p><p>em folhas e ramo mostrando áreas necrosadas de cor marrom</p><p>(a); folhas e ramos necrosados devido ao ataque da mancha</p><p>marrom (b); fruto de ‘Poncã’ com sintomas de mancha marrom</p><p>(c)</p><p>131</p><p>para eliminar esporos dos fungos. Devem ser utilizados ainda fungicidas regis-</p><p>trados para a pós-colheita de citros (Tabela 17). O rápido resfriamento dos frutos</p><p>após a embalagem é outra medida de controle importante dos bolores.</p><p>4. DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS</p><p>• Cancro cítrico (Xanthomonas citri subsp. citri)</p><p>O cancro cítrico, juntamente com a clorose variegada dos citros e o greening,</p><p>são três doenças dos citros causadas por bactérias, que podem ser apontadas</p><p>como os principais problemas fitossanitários da citricultura brasileira.</p><p>Na América do Sul, está presente no Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e</p><p>Bolívia. No Brasil, foi observado pela primeira vez em 1957, no município de Pre-</p><p>sidente Prudente (SP), embora a época da introdução no país seja desconhecida.</p><p>Atualmente, está presente nos estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Ca-</p><p>tarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Em Minas Gerais, esporadicamente apa-</p><p>recem focos da doença, principalmente em municípios citrícolas limítrofes ao</p><p>estado de São Paulo. A última ocorrência de cancro registrada em Minas Gerais</p><p>foi em 2013, nos municípios de Planura e Frutal, quando foi feita a erradicação de</p><p>acordo com as normas adotadas pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).</p><p>Por isso, o estado é considerado sem a ocorrência da “praga”.</p><p>Além dos prejuízos diretos causados pelo cancro cítrico às plantas, manifes-</p><p>tados pela desfolha e depauperamento das plantas, queda prematura e depre-</p><p>ciação dos frutos devido à presença de lesões na casca, há também prejuízos</p><p>relacionados à comercialização dos frutos. Como se trata de uma doença qua-</p><p>rentenária, a ocorrência de cancro cítrico em determinada região implica em</p><p>restrições na comercialização nacional e internacional de frutos para consumo</p><p>a b</p><p>c</p><p>Figura 55 - Formação de micélio branco na casca de frutos atacados pelo Peni-</p><p>cillium (a); mofo azul em fruto, com parte dos esporos de coloração verde oliva,</p><p>devido à maior idade em relação aos demais (b); frutos mumificados na planta,</p><p>com sintomas de ataque de Penicillium (c)</p><p>132</p><p>in natura para regiões livres do patógeno.</p><p>O cancro cítrico ocorre em ramos, folhas e frutos (Figuras 56 a, 56 b; 56 c),</p><p>cujos sintomas podem variar em função do tipo e idade do órgão afetado. Ini-</p><p>cialmente, surgem lesões levemente salientes, de cor creme ou parda, que vão</p><p>se tornando esponjosas, algumas vezes rodeadas por halo amarelo. Nas folhas,</p><p>as lesões são salientes nas duas faces. Lesões velhas apresentam a parte central</p><p>corticosa, dura e lignificada, podendo apresentar rugas dispostas concentrica-</p><p>mente. O tamanho das lesões nas folhas depende da suscetibilidade do cultivar,</p><p>podendo atingir até 10 mm de diâmetro. Nos frutos, geralmente as lesões são</p><p>maiores do que nas folhas.</p><p>O ciclo da doença, que não é sistêmica, normalmente inicia-se a partir da</p><p>presença de bactérias Xanthomonas nos estômatos e, principalmente, em lesões</p><p>nas folhas, ramos ou frutos causadas por pragas, ventos ou granizos. Entre as</p><p>pragas, a larva minadora se destaca porque os ferimentos provocados pelas lar-</p><p>vas nas folhas, ou mesmo nos frutos, facilitam a entrada da bactéria causadora</p><p>do cancro cítrico nas plantas.</p><p>As bactérias do cancro são disseminadas pela água da chuva para outras</p><p>partes da planta ou para plantas mais próximas. A disseminação é maior quan-</p><p>do as chuvas são acompanhadas por ventos, pois a bactéria é disseminada para</p><p>locais mais distantes. Por isso, é importante a instalação de quebra-ventos onde</p><p>o cancro cítrico está presente. Outros fatores responsáveis pela mobilidade da</p><p>bactéria para longas distâncias são o transporte de frutos, mudas, folhas e bor-</p><p>bulhas oriundos de plantas infectadas, ferramentas, caixas de colheita e veículos</p><p>infestados.</p><p>As condições favoráveis para o desenvolvimento da doença são temperatu-</p><p>ras entre 20ºC e 35 ºC, elevado teor de umidade e presença de folhas, ramos e</p><p>frutos jovens nas plantas. Nas condições climáticas da maioria das regiões pro-</p><p>dutoras no Sudeste brasileiro, o período de maior suscetibilidade das plantas ini-</p><p>cia-se a partir da brotação da primavera, prolongando-se até o início do outono.</p><p>Quanto ao controle do cancro cítrico, não existem medidas de controle quí-</p><p>mico que sejam efetivas e viáveis economicamente, nem cultivares resistentes à</p><p>doença. Portanto, outras medidas devem ser adotadas. Em São Paulo, o controle</p><p>do cancro cítrico baseia-se em medidas de exclusão e erradicação.</p><p>A erradicação consiste na eliminação do hospedeiro doente (planta de ci-</p><p>tros) ou que tenha sido exposto ao patógeno, em áreas em que ele não tenha</p><p>ainda se estabelecido permanentemente. A erradicação é uma medida drástica</p><p>de controle, que pode resultar na eliminação de milhares de plantas em pomares</p><p>e viveiros, implicando, muitas vezes, em altos custos financeiros e sociais.</p><p>A partir de setembro de 1999, a legislação passou a determinar que: “a elimi-</p><p>nação de todas as plantas dos talhões infestados é obrigatória quando a incidên-</p><p>cia de plantas doentes é superior a 0,5%”. “Para incidências iguais ou menores</p><p>que 0,5%, as plantas doentes e as demais contidas num raio de trinta metros</p><p>devem ser eliminadas”. A partir de junho de 2009, houve mudança na legislação,</p><p>tornando menos rígida a metodologia de erradicação dos focos da doença.</p><p>Na sequência, a partir de 31 de outubro de 2013, a Resolução da Secretaria</p><p>da Agricultura de São Paulo (SAA) nº 147 estabeleceu novos procedimentos vi-</p><p>sando à supressão/erradicação do Cancro Cítrico no estado. Assim, adotou o mé-</p><p>todo de eliminação apenas da planta contaminada e a pulverização das demais</p><p>com fungicidas cúpricos abrangidas pelo raio de 30 metros. Segundo renoma-</p><p>dos fitopatologistas de São Paulo, abrandar a metodologia de erradicação signi-</p><p>fica comprometer o elevado nível de sanidade dos pomares e a competitividade</p><p>da citricultura</p><p>do estado, com reflexos negativos financeiros e ambientais.</p><p>133</p><p>Medidas de exclusão são aquelas executadas com o objetivo de evitar a en-</p><p>trada do patógeno na área. As principais são: restrição de acesso e controle da</p><p>circulação de pessoas, veículos e implementos nos pomares; pulverização de</p><p>veículos, implementos e equipamentos de colheita com bactericida, antes da</p><p>entrada nos pomares; construção de silos na entrada da propriedade para a es-</p><p>tocagem provisória de frutos colhidos e aquisição de mudas sadias.</p><p>Nos estados do Sul do Brasil, como o Paraná, são usadas medidas alternati-</p><p>vas no controle do cancro cítrico, aplicadas de forma integrada para prevenir e</p><p>controlar a doença.</p><p>As principais medidas, além de práticas de erradicação e quarentena, são:</p><p>- uso de cultivares resistentes,</p><p>- desfolha química de plantas suspeitas,</p><p>- poda de órgãos de plantas sintomáticas;</p><p>- escolha de áreas adequadas para estabelecimento de novos pomares;</p><p>- produção e uso de material propagativo sadio;</p><p>- controle da lagarta minadora dos citros,</p><p>- uso de quebra ventos,</p><p>- controle químico e cultural da doença.</p><p>O controle químico de cancro cítrico é praticado principalmente pelo uso de</p><p>produtos cúpricos durante a estação de crescimento das plantas, visando prote-</p><p>ger as brotações novas. É importante lembrar que o uso isolado de bactericidas</p><p>cúpricos não tem 100% de eficiência de proteção das plantas. Portanto, o cancro</p><p>cítrico pode aparecer e se desenvolver nos pomares. Os principais produtos cú-</p><p>pricos recomendados são à base de oxicloreto de cobre e hidróxido de cobre.</p><p>a b</p><p>c</p><p>Figura 56 – Lesões de cancro cítrico (Xanthomonas citri subsp. citri) em folhas (a); ramos (b) e frutos</p><p>(c) de laranjeiras (Cortesia Fundecitrus)</p><p>134</p><p>• Clorose Variegada dos citros, amarelinho ou CVC (Xylella fastidiosa)</p><p>A bactéria causadora da CVC é sistêmica, colonizando apenas o xilema das</p><p>plantas. É disseminada de uma planta para outra por cigarrinhas, que se alimen-</p><p>tam das brotações novas das plantas, e por mudas e borbulhas contaminadas</p><p>com a bactéria.</p><p>Existem várias espécies de cigarrinhas que são vetores da CVC. Como não</p><p>causam danos diretos aos pomares de citros, geralmente não são percebidas</p><p>no campo, embora estejam amplamente distribuídas nos pomares do Brasil. Em</p><p>Viçosa (MG), das 12 espécies de cigarrinhas com potencial de transmissão da</p><p>bactéria Xylella fastidiosa, nove foram encontradas: B. xanthophis; D. costalimai; A.</p><p>citrina; O. facialis (Figura 57 a); M. leucomelas; H.ignorata; P. corniculata; P. gratiosa</p><p>e F. trivittata. As três espécies de cigarrinhas mais expressivas, em número de</p><p>insetos, foram Bucephalogonia xanthophis, Dilobopterus costalimai e Acrogonia</p><p>citrina. O período de maior incidência dos insetos se estendeu de setembro a</p><p>janeiro, com pico em novembro. Esse período coincide com a época de brotação</p><p>das plantas, que é quando as cigarrinhas devem ser controladas.</p><p>Até o momento, não ficou comprovada a transmissão da bactéria Xyllela</p><p>fastidiosa por ferramentas, nem por propagação sexuada. Por isso, matrizes for-</p><p>necedoras de sementes para a produção de porta-enxertos não precisam ser</p><p>mantidas em ambiente protegido.</p><p>No início do desenvolvimento da doença, os sintomas são observados em</p><p>poucos ramos, mas com tempo podem aparecer em toda a planta. Os sintomas</p><p>se caracterizam pela presença de manchas cloróticas de formato irregular, espa-</p><p>lhadas ao acaso na superfície adaxial (superior) das folhas (Figura 57 b). Na face</p><p>abaxial das folhas (inferior), no local correspondente a cada mancha clorótica</p><p>existente na superfície adaxial, observam-se manchas de coloração amarronza-</p><p>da (Figuras 57 c, 57 d).</p><p>Com o passar do tempo após a inoculação da Xylella nas plantas, ocorre per-</p><p>da de vigor, desfolha e morte dos ramos ponteiros, expondo os frutos à luz solar</p><p>direta, causando queimadura da casca (Figura 57 d). Os sintomas nos frutos sur-</p><p>gem após o aparecimento dos sintomas foliares. São caracterizados pelo tama-</p><p>nho reduzido, geralmente inferior a 50% do tamanho de frutos normais (Figura</p><p>57 e), além de ficarem muito resistentes à compressão. A qualidade dos frutos</p><p>também é afetada, havendo aumento nos teores de sólidos solúveis totais e na</p><p>acidez do suco. Há relatos de redução de até 80% na produtividade em pomares</p><p>doentes.</p><p>Considerando os aspectos nutricionais das plantas, a CVC altera a absorção</p><p>e a translocação de elementos minerais, principalmente de zinco e o potássio,</p><p>havendo redução significativa nos teores desses nutrientes em plantas doentes.</p><p>Entretanto, os sintomas de deficiência de zinco não devem ser confundidos com</p><p>os da CVC, que estão distribuídos ao acaso nas folhas, enquanto os sintomas de</p><p>deficiência de zinco têm distribuição padronizada em ambos os lados das folhas,</p><p>considerando a nervura central como divisora da folha em duas partes iguais. Os</p><p>sintomas de clorose observados nas folhas e o tamanho reduzido dos frutos po-</p><p>dem estar relacionados aos baixos teores de zinco e potássio, respectivamente.</p><p>Para o controle da CVC não há medidas efetivas, principalmente se forem</p><p>utilizadas práticas isoladas. É recomendado, portanto, o uso de várias medidas,</p><p>iniciando-se pelo plantio de mudas sadias, produzidas em ambiente protegido.</p><p>Outra medida é a poda: quando os sintomas aparecem em plantas com idade</p><p>acima de quatro anos, recomenda-se podar esses ramos, a uma distância míni-</p><p>ma de 50 centímetros abaixo da última folha com sintomas. Acredita-se que a</p><p>poda, quando feita nos estágios iniciais da doença é eficiente, porque a Xylella</p><p>fastidiosa, por ser uma bactéria restrita ao xilema, movimenta-se lentamente no</p><p>135</p><p>sentido basípeto da planta, pelo fato de estar contra o fluxo predominante da</p><p>seiva no xilema, que é acrópeto.</p><p>Entretanto, a poda não é eficiente quando o pomar foi formado com mudas</p><p>que foram infectadas ainda no viveiro. Essa situação ocorre com maior probabi-</p><p>lidade nas mudas produzidas a céu aberto. A causa provável da ineficiência da</p><p>poda nessas plantas é a distribuição da bactéria em toda a planta, e não apenas</p><p>em alguns ramos. Nesse caso, as plantas devem ser erradicadas.</p><p>Outras medidas de controle da CVC são o controle das cigarrinhas e o uso</p><p>de cultivares resistentes. Entre os cultivares de laranjeiras doces (Citrus sinensis),</p><p>não há nenhum que seja resistente à Xyllela fastidiosa, mas a limeira ácida ‘Tahiti’</p><p>e a tangerineira Poncã são dois importantes cultivares comerciais de citros, re-</p><p>sistentes à CVC.</p><p>Na edição de 13 de julho de 2000 da revista Nature, uma das mais impor-</p><p>tantes publicações científicas do mundo, um grupo de pesquisadores brasileiros</p><p>publicou artigo sobre o sequenciamento do genoma da bactéria Xylella fasti-</p><p>diosa. Antevia-se que esse sequenciamento seria um importante passo para a</p><p>obtenção de cultivares de laranjeiras resistentes ao patógeno. As pesquisas con-</p><p>tinuam, mas até o momento ainda não existem cultivares de laranjeiras resisten-</p><p>tes à CVC.</p><p>a b</p><p>c</p><p>d</p><p>136</p><p>• Greening ou Huanglongbing/HLB (Candidatus Liberibacter asiaticus e</p><p>Candidatus Liberibacter americanus)</p><p>Embora a doença seja conhecida como greening, o seu nome oficial é</p><p>huanglongbing (HLB), que significa “amarelecimento dos ramos”. As bactérias</p><p>causadoras colonizam o floema das plantas, sendo, portanto, uma doença</p><p>sistêmica.</p><p>O greening está presente em vários países da Ásia, África e América. Foi cons-</p><p>tatado oficialmente no Brasil, em 2004, na cidade de Araraquara (SP). Desde en-</p><p>tão, a doença se expandiu para toda a região citrícola paulista e para estados</p><p>limítrofes, como Paraná e Minas Gerais. Em todas as regiões citrícolas do mundo</p><p>onde o greening está presente, houve perda de milhões de plantas de citros e</p><p>mudança radical no processo de produção, prejudicando o manejo integrado de</p><p>pragas, aumentando o custo de produção e excluindo pequenos produtores da</p><p>atividade.</p><p>Em Minas Gerais, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) incluiu os muni-</p><p>cípios em duas áreas de risco: na área de risco 1 estão os municípios nos</p><p>quais foi</p><p>confirmada a presença de greening e na área de risco 2 estão os municípios que</p><p>limitam com outros classificados na área de risco 1 ou que limitam com estados</p><p>declarados pelo Ministério da Agricult ura como de ocorrência do greening (Fi-</p><p>gura 58). Inicialmente a doença estava restrita a municípios do Triângulo Mineiro</p><p>e Sul de Minas, mas já está presente em outras regiões do estado, como Campos</p><p>das Vertentes. Nesses municípios, estão proibidos a produção, o comércio e o</p><p>trânsito de material propagativo de citros e de plantas de murta (Murraya pani-</p><p>culata).</p><p>Figura 57 – Cigarrinha Oncometopia facialis transmissora da clorose variegada dos citros (a); Sinto-</p><p>mas de clorose variegada dos citros (Xylella fastidiosa) em folhas de laranjeiras, caracterizados pela</p><p>presença de manchas cloróticas de formato irregular, espalhadas ao acaso na epiderme adaxial</p><p>das folhas (b); manchas de coloração amarronzada na face abaxial das folhas, no local correspon-</p><p>dente a cada mancha clorótica da epiderme adaxial, (c); queimadura da casca dos frutos devido à</p><p>sua exposição à luz solar direta (d); laranjas de tamanho reduzido (setas) devido à clorose variega-</p><p>da dos citros (e)</p><p>e</p><p>137</p><p>Os sintomas iniciais do greening são amarelecimento das nervuras das folhas</p><p>e presença de manchas cloróticas distribuidas de forma assimétrica nas folhas,</p><p>tornando-as mosqueadas. Algumas folhas podem ficar quase totalmente amare-</p><p>las, com apenas algumas manchas de cor verde. Essa caracterísica diferencia os</p><p>sintomas do greening dos sintomas de deficiências nutricionais. Nessas últimas,</p><p>as manchas cloróticas têm um padrão simétrico de distribuição nas folhas: ou</p><p>seja, o padrão da clorose presente em um lado da folha, separado pela nervura</p><p>central, é igual ao do outro lado da folha, enquanto no greening, a distribuição é</p><p>assimétrica (Figura 59 a).</p><p>Os primeiros sintomas de amarelecimento podem aparecer em folhas de</p><p>apenas um ramo, espalhando-se por toda a planta ao longo do tempo, princi-</p><p>palmente em plantas jovens. Também pode haver a emissão de folhas em ramos</p><p>doentes, que ficam com tamanho inferior ao seu tamanho normal. Geralmente,</p><p>o sistema radicular de plantas doentes é pouco desenvolvido e há pouca emis-</p><p>são de novas raízes.</p><p>Frequentemente, as plantas produzem poucos frutos, que são pequenos e</p><p>deformados, havendo tortuosidades, inclusive no eixo central, também deno-</p><p>minado columela (Figura 59 b). Há desenvolvimento normal dos gomos de um</p><p>lado do fruto, enquanto os demais ficam atrofiados. Essa característica pode ser</p><p>visualizada fazendo um corte transversal nos frutos, na sua região equatorial,</p><p>separando as duas partes. Também podem ser visualizadas as sementes, que ge-</p><p>ralmente são abortadas, ficando pequenas e de cor marrom escuro.</p><p>Nas plantas doentes, há tendência de atraso na mudança de cor da casca</p><p>dos frutos, que ficam verdes com manchas amarelas. O nome greening foi dado</p><p>à doença devido a esse sintoma. Os feixes vasculares oriundos do pedúnculo</p><p>do fruto, que passa pelo albedo, progredindo pela columela, também adquirem</p><p>coloração amarelada, o que não ocorre em frutos de plantas sadias (Figura 59 c).</p><p>Além da transmissão, via borbulhas, de plantas doentes para porta-enxertos</p><p>sadios, o greening também é transmitido pelo psilídeo Diaphorina citri, que ataca</p><p>exclusivamente as brotações novas, sugando a seiva de folhas e ramos. Os sinto-</p><p>mas diretos do ataque dessa praga são a presença de folhas enroladas e ramos</p><p>Figura 58 - Municípios de Minas Gerais nos quais o greening foi constatado</p><p>oficialmente (área de risco 1) e municípios limítrofes, onde estão proibidos</p><p>a produção, o comércio e o trânsito de material propagativo de citros e de</p><p>plantas de murta (Murraya paniculata).</p><p>138</p><p>retorcidos, porém, os danos diretos não chegam a causar prejuízos significativos</p><p>aos citros.</p><p>Os ovos da Diaphorina citri têm formato oval, são amarelos, medem cerca de</p><p>0,30 mm de comprimento e podem ser encontrados no ápice dos ramos novos.</p><p>As ninfas medem entre 0,25 a 1,7 mm de comprimento, dependendo da idade</p><p>e têm formato achatado, cor verde-amarelado, com asas laterais e olhos verme-</p><p>lhos (Figuras 59 d, e).</p><p>O psilídeo adulto é muito pequeno, medindo em torno de 2 mm de compri-</p><p>mento. Quando está se alimentando nos ramos, permanece com as asas para</p><p>cima, com o corpo formando um ângulo de aproximadamente 45° em relação à</p><p>superfície da planta onde ele está pousado (Figura 59 f ).</p><p>Em função da inexistência de controle químico e de variedades resistentes,</p><p>as alternativas encontradas para o controle da doença são: o uso de mudas</p><p>sadias, produzidas em ambiente protegido; controle químico do inseto vetor</p><p>(Diaphorina citri) e a eliminação das plantas doentes assim que sejam observados</p><p>os primeiros sintomas, para reduzir fonte de inóculo.</p><p>Figura 59 - Sintomas do greening em folhas de citros, com amarelecimento das nervuras e presença</p><p>de manchas cloróticas distribuidas de forma assimétrica (a); sintoma típico do greening em laranja,</p><p>mostrando aspecto deformado, com o eixo central “torto” (b); detalhe dos feixes vasculares na re-</p><p>gião do pedúnculo da laranja, com coloração amarela, que não está presente nos frutos de plantas</p><p>sadias (c); ninfas de Diaphorina citri em brotações de citros (d, e); Diaphorina citri adulta em folha</p><p>de citros (f )</p><p>a b</p><p>c d</p><p>e f</p><p>139</p><p>Tabela 17 - Fungicidas indicados para a produção integrada de citros, - PIC</p><p>Brasil, atualizada em 01/05/2015</p><p>Ingrediente Ativo Produto Registrado Classe Dose Registro</p><p>(mL ou g /100L)</p><p>Anos (Pós-plantio)</p><p>Azoxistrobina Amistar WG</p><p>Vantigo</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>8,0-16,0</p><p>8,0-16,0</p><p>Estrobilurina</p><p>Estrobilurina</p><p>Azoxistrobina +</p><p>Difenoconazol</p><p>Amistar Top</p><p>Priori Top</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>20,0</p><p>20,0</p><p>Estrobilurina + Triazol</p><p>Estrobilurina + Triazol</p><p>Difenoconazol Score Fungicida 20,0 Triazol</p><p>Fosetil Aliette Fungicida 250,0 Fosfonato</p><p>Hidróxido de</p><p>Cobre</p><p>Auge</p><p>Contact</p><p>Ellect</p><p>Garant</p><p>Garant BR</p><p>Garra 450 WP</p><p>Kentan 40 WG</p><p>Kocide WDG</p><p>Bioactive</p><p>Supera</p><p>Tutor</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Bactericida/Fungicida</p><p>Bactericida/Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Bactericida/ Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>2,0-3,0 L/ha</p><p>0,85-1,7 Kg / ha ou 200,0</p><p>2,0-3,0 Kg/ha</p><p>0,85-1,7 Kg / ha ou 200,0</p><p>0,85-1,7 Kg / ha ou 200,0</p><p>100,0-150,0</p><p>75,0-100,0</p><p>75,0-125,0</p><p>2,0-3,0 L/ha</p><p>175,0-225,0</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Imazalil* Magnate 500 EC Fungicida 200,0 Imidazol</p><p>Oxicloreto de</p><p>Cobre</p><p>Agrinose</p><p>Cobox</p><p>Cobox DF</p><p>Cobre Fersol</p><p>Copsuper</p><p>Cup001</p><p>Cupravit Azul BR</p><p>Cupravit Verde</p><p>Cuprogarb 350</p><p>Cuprogarb 500</p><p>Cupuran 500 PM</p><p>Difere</p><p>Fanavid 85</p><p>Fanavid Flowable</p><p>Funguran Verde</p><p>Fungitol Azul</p><p>Fungitol Verde</p><p>Neoram 37.5 WG</p><p>Ramexane 850 PM</p><p>Reconil</p><p>Recop</p><p>Status</p><p>Fungicida/Bactericida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida/Bactericida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida/Bactericida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida/Bactericida</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>400,0</p><p>250,0</p><p>250,0</p><p>300,0</p><p>150-200,0 ou 2-2,5 L/ha</p><p>250,0</p><p>300,0</p><p>180,0</p><p>200,0-300,0</p><p>150,0-200,0</p><p>3 kg/ha</p><p>3,0-4,0 L/ha</p><p>300,0-450,0</p><p>300,0-450,0</p><p>100,0</p><p>275,0</p><p>150,0</p><p>300,0</p><p>250,0</p><p>200,0</p><p>250,0</p><p>150,0-200,0 ou 2-2,5 L/ha</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Óxido Cuproso Cobre Atar BR</p><p>Cobre Atar MZ</p><p>Redshield 750</p><p>Fungicida/Bactericida</p><p>Fungicida/Bactericida</p><p>Fungicida</p><p>150,0</p><p>150,0</p><p>100,0</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Pirimetanil Mythos Fungicida 1,0-1,5 L/ha Anilinopirimidina</p><p>Piraclostrobina Comet Fungicida 10,0-15,0 Estrobilurina</p><p>140</p><p>Tebuconazol Egan</p><p>Produtorbr</p><p>Fungicida</p><p>Fungicida</p><p>75,0</p><p>75,0</p><p>Triazol</p><p>Triazol</p><p>Tiabendazol* Tecto SC Fungicida 103,0-1030,0 Benzimidazol</p><p>Trifloxistrobina Flint 500 WG F Fungicida 10,0 Estrobilurina</p><p>Trifloxistrobina +</p><p>Tebuconazol</p><p>Nativo Fungicida 0,6-0,8 L/ha Estrobilurina + Triazol</p><p>5. DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS</p><p>Os citros são acometidos por várias doenças causadas por vírus e viroides,</p><p>entre elas a tristeza dos citros, sorose, exocorte e xiloporose, entretanto o em-</p><p>prego da premunização e a adoção de programas de produção certificada de</p><p>mudas tem evitado que essas doenças causem maiores problemas aos pomares.</p><p>A premunização, que consiste na inoculação de estirpes fracas do vírus da</p><p>tristeza nos cultivares mais suscetíveis à doença, como é o caso da laranjeira ‘Pêra’</p><p>impede que estirpes fortes do vírus, que são transmitidas por pulgões, causem</p><p>danos às plantas. Por lado, sorose, exocorte e xiloporose, que são transmitidas</p><p>apenas por borbulhas retiradas de plantas infectadas e usadas para a produção</p><p>de mudas e por ferramentas de enxertia, são controladas pelo uso de borbulhas</p><p>sadias, provenientes de plantas matrizes obtidas em programas de certificação</p><p>de mudas</p><p>6. PRAGAS</p><p>• Ácaros</p><p>Os principais ácaros que atacam os citros pertencem às famílias Eriophyidae,</p><p>Tenuipalpidae, Tarsonemidae e Tetranychidae.</p><p>A principal espécie da família Eriophyidae é o ácaro da falsa ferrrugem</p><p>[Phyllocoptruta oleivora (Ashmead)], cujos únicos hospedeiros conhecidos são</p><p>os citros. Os adultos são de coloração amarela, com o corpo em forma de cunha</p><p>e tamanho variando entre 0,135 a 0,165 mm de comprimento (Figura 60 a). São</p><p>os de menor tamanho entre os ácaros pragas dos citros.</p><p>Têm dois pares de patas verdadeiras e um par de falsas patas na extremidade</p><p>posterior, que utilizam em movimentos circulares e fixação na planta. A dissemi-</p><p>nação ocorre principalmente pelo vento. Tem preferência pelas partes dos frutos</p><p>que não recebem insolação direta, razão pela qual os sintomas são visualizados</p><p>nessas partes (Figura 60 b). Em função dessa característica, a inspeção, que é</p><p>feita com lupa com aumento de 10 vezes, deve ser feita nas laterais dos frutos e</p><p>não nas partes ensolaradas.</p><p>O ácaro da ferrugem pode ocorrer durante todo o ano, podendo ser obser-</p><p>vado nos frutinhos, logo no início do seu desenvolvimento (Figura 60 c). Nessa</p><p>fase, devido à baixa incidência de chuvas, a população do ácaro pode ser muito</p><p>alta. Se não for controlado nessa época, a aparência dos frutos ficará compro-</p><p>metida, quando amadurecerem. Também podem ser encontrados nas folhas,</p><p>porém com incidência menor que nos frutos. A ocorrência na superfície superior</p><p>das folhas e também nos frutos é menor nos períodos chuvosos, por serem mais</p><p>facilmente lavados pelas águas das chuvas.</p><p>Atacam folhas e ramos, porém, os danos mais evidentes e os prejuízos</p><p>econômicos ocorrem nos frutos. Em laranjas e tangerinas, surgem manchas</p><p>semelhantes à ferrugem, que variam de intensidade, de acordo com o nível de</p><p>*Uso em tratamento pós-colheita</p><p>141</p><p>infestação e com o cultivar (Figuras 60 d, 60 e), enquanto em limões, limas e</p><p>pomelos, as manchas são de cor prateada. Altas densidades populacionais (50 a</p><p>200 ácaros cm-2) provocam aumento significativo na emissão de etileno pelos</p><p>frutos, simultaneamente ao processo de bronzeamento da casca, acelerando o</p><p>processo de maturação. Em plantas altamente atacadas de mexeriqueira ‘Rio’</p><p>(Citrus deliciosa), há queda acentuada de frutos e os remanescentes ficam com</p><p>tamanho pequeno, além de manchados (Figura 60 f ).</p><p>Nas folhas, as manchas são de coloração negra, formato irregular, lisas ao</p><p>tato e ocorrem na epiderme inferior. Esses sintomas são denominados de “man-</p><p>cha graxa” (Figura 60 b).</p><p>O controle do ácaro da ferrugem é baseado no nível de dano econômico,</p><p>que é avaliado mediante inspeções frequentes feitas no pomar, usando lente</p><p>com aumento de no mínimo 10 vezes. As inspeções devem ser feitas em talhões</p><p>de no máximo 2.000 plantas, semanal ou quinzenalmente, dependendo princi-</p><p>palmente do histórico da praga no pomar e das condições climáticas. Em épocas</p><p>chuvosas, a população do ácaro é menor. Deve ser examinado 1% das plantas do</p><p>talhão, escolhendo-as aleatoriamente, caminhando em toda a área do talhão. Em</p><p>talhões menores ou em pequenos pomares, recomenda-se amostrar 10 plantas.</p><p>A avaliação deve ser iniciada após o vingamento dos frutos, sendo feita em</p><p>três frutos por planta, escolhendo-os ao acaso, na periferia da copa. Devem ser</p><p>examinados os locais dos frutos onde não há incidência direta do sol, como as</p><p>laterais, evitando também os locais totamente sombreados. Os ácaros não são</p><p>encontrados nas partes dos frutos que recebem insolação direta (Figura 60 b).</p><p>O controle químico é recomendado quando 10% dos frutos ou folhas inspe-</p><p>cionadas apresentarem 20 ácaros por cm2, para os frutos de mesa ou 30 ácaros</p><p>por cm2 para os frutos destinados à produção de suco industrial. Os acaricidas</p><p>registrados para o controle do ácaro da ferrugem estão listados na Tabela 18.</p><p>a b</p><p>c d</p><p>142</p><p>Os ácaros da família Tenuipalpidae são encontrados em regiões de clima</p><p>tropical e subtropical. A maioria das espécies apresenta o corpo achatado, ge-</p><p>ralmente de cor avermelhada, cuja tonalidade varia com a espécie, idade e ali-</p><p>mentação (Figura 61 a). Não tecem teias e movimentam-se lentamente, sendo</p><p>essa uma importante característica para identificação do ácaro da leprose nas</p><p>inspeções.</p><p>A principal espécie dessa família para os citros é o ácaro da leprose [Brevipalpus</p><p>phoenicis (Geijskes)], com o corpo achatado, cor vermelho-alaranjada e presença</p><p>de manchas escuras no dorso em formato de H, nas fêmeas. Medem, em média,</p><p>0,30 mm de comprimento por 0,15 mm de largura.</p><p>É o ácaro praga mais importante dos citros, pelo fato de ser transmissor de</p><p>um vírus que causa a doença conhecida como leprose dos citros. As folhas ata-</p><p>cadas pela leprose apresentam manchas amareladas (Figura 61 b) e caem preco-</p><p>cemente. Nos ramos observam-se manchas marrons na casca, que com o tempo,</p><p>secam e se destacam do lenho na forma de escamas, havendo a morte dos ra-</p><p>mos (Figura 61 c). Nos frutos, as manchas são deprimidas, corticosas, de colora-</p><p>ção que varia de marrom a preta e podem se coalescer (Figura 61 d).</p><p>A presença da leprose nas laranjas geralmente causa queda, provocando re-</p><p>dução significativa na produtividade. Por isso, é considerado praga chave das</p><p>laranjeiras, visto que os sintomas aparecem somente nos frutos dessa espécie.</p><p>Embora infeste folhas, frutos e ramos, a maior concentração da população ocor-</p><p>re nos frutos.</p><p>Uma vez portador do vírus, o ácaro se torna transmissor da leprose durante</p><p>toda sua vida. Como os ácaros jovens não nascem contaminados, é necessário</p><p>que se alimentem em tecido infectado pelo vírus para se tornarem transmisso-</p><p>res. Os adultos são mais importantes na transmissão da leprose devido à maior</p><p>mobilidade e longevidade. Sintomas causados pela alimentação do ácaro da le-</p><p>prose, não portadores do vírus, em frutos, folhas e ramos são praticamente im-</p><p>perceptíveis, em virtude da população nas plantas ser baixa, quando comparada</p><p>com a de outros ácaros que atacam os citros.</p><p>Como medida preventiva à leprose, deve-se utilizar mudas sadias e livres de</p><p>ácaros para o plantio dos pomares, principalmente em regiões onde a leprose</p><p>não está presente. Um importante método cultural de controle consiste em fa-</p><p>zer podas de limpeza, eliminando todas as partes das plantas com sintomas de</p><p>leprose, pulverizando-as depois com acaricidas.</p><p>Não existem produtos químicos para o controle do vírus da leprose. A forma</p><p>e f</p><p>Figura 60 - Adultos, ninfas e ovos do ácaro da falsa ferrugem (Phyllocoptruta oleivora,</p><p>Ashmead) (a); fruto com ausência de sintomas da falsa ferrugem na área que recebeu</p><p>insolação direta e folha com sintomas da mancha graxa na face abaxial (seta) (b); Frutinho</p><p>com sintomas da falsa ferrugem (c); manchas características do ataque do ácaro da falsa</p><p>ferrugem em laranjas (d, e); frutos de mexerica ‘Rio’ caídos ao solo devido ao ataque do</p><p>ácaro da ferrugem (f )</p><p>143</p><p>de controlar a doença é controlando o ácaro vetor, cuja</p><p>tomada de decisão para</p><p>o controle é baseada no levantamento populacional do ácaro, usando lupas com</p><p>aumento mínimo de 10 vezes. Considerando que são muito pequenos e que a</p><p>sua população no pomar apresenta baixa densidade, quando comparada com a</p><p>do ácaro da ferrugem, por exemplo, a definição de um método de amostragem</p><p>confiável é difícil.</p><p>A recomendação geral para inspeção do ácaro da leprose em pomares de</p><p>citros é que ela seja feita a cada 7 ou 15 dias, em pelo menos 1% das plantas</p><p>de cada talhão, desde que o número de plantas seja inferior a 2000. Devem ser</p><p>examinados frutos velhos e com sintomas de verrugose, pois são os preferidos</p><p>pelo ácaro da leprose. Na ausência de frutos, examinam-se os ramos. O uso de</p><p>acaricidas (Tabela 18) é indicado quando de 5% a 10% dos frutos ou ramos exa-</p><p>minados apresentarem um ou mais ácaros.</p><p>Deve se evitar o uso de um mesmo princípio ativo de acaricidas, para pre-</p><p>venir a seleção de ácaros resistentes ao produto. Em talhões menores ou em</p><p>pequenos pomares, recomenda-se amostrar 10 plantas.</p><p>a b</p><p>c</p><p>d</p><p>Figura 61 - Ácaro da leprose adulto [Brevipalpus phoenicis (Geijskes)], com o corpo achatado, cor</p><p>vermelho-alaranjada e manchas escuras no dorso em formato de H, características das fêmeas (a);</p><p>sintomas de leprose nas folhas de laranjeira, mostrando lesões arredondadas, marrom-averme-</p><p>lhadas, rodeadas por halo clorótico (b); sintomas da leprose em ramo de laranjeira, caracterizado</p><p>por manchas marrons na casca que secam e se destacam na forma de escamas (c); lesões rasas e</p><p>necróticas em laranjas, com halos amarelos em torno das lesões (d)</p><p>144</p><p>A principal espécie da família Tarsonemidae é o ácaro Polyphagotarsonemus</p><p>latus (Banks), conhecido como ácaro branco. Está disseminado em vários conti-</p><p>nentes, sendo encontrado na Austrália, Ásia, África, Europa, América do Norte,</p><p>América do Sul e Ilhas do Pacífico. É uma espécie polífaga, hospedando-se em</p><p>plantas de várias espécies, entre elas, várias plantas frutíferas, como citros, ma-</p><p>moeiro, videira, abacateiro, mangueira, macieira, goiabeira e maracujazeiro.</p><p>Infesta, preferencialmente, a face abaxial das folhas das brotações das plan-</p><p>tas, cujos sintomas são bastante característicos. Podem ser confundidos com vi-</p><p>roses ou deficiência de boro, devido às deformações causadas nas folhas. A dis-</p><p>seminação ocorre principalmente pelo vento, por mudas e estruturas vegetais</p><p>infestadas, como frutos, borbulhas e pelo contato entre a folhagem das plantas.</p><p>Por atacarem brotações, são pragas importantes em viveiros, porque as mudas</p><p>estão em crescimento constante. Causam deformações nas folhas, que ficam</p><p>lanceoladas, com as bordas ligeiramente arqueadas para baixo (Figura 62 a).</p><p>Os ácaros brancos também não são visíveis a olho nu. As fêmeas medem</p><p>0,17mm de comprimento por 0,11mm de largura e machos medem 0,14mm de</p><p>comprimento por 0,08mm de largura. Como indicado pelo nome, os ácaros são</p><p>brancos a amarelados, brilhantes, em todas as fases do desenvolvimento. Podem</p><p>ocorrer em qualquer época do ano, porém a maior incidência é no período de</p><p>maior umidade, entre outubro e março.</p><p>O ácaro branco infesta frutos com até 2,5 cm de diâmetro, os quais adquirem</p><p>coloração cinza-prateada que pode ocupar toda a superfície dos frutos, depre-</p><p>ciando-os para o mercado (Figura 62 b). A raspagem das manchas causadas pelo</p><p>ácaro branco pode removê-las expondo a pigmentação normal da casca do fru-</p><p>to (Figura 62 c), mas há rompimento das glândulas de óleo.</p><p>O ácaro branco é uma importante praga da limeira ácida ‘Tahiti’, provavel-</p><p>mente devido a uma característica das plantas desse cultivar: a de emitir várias</p><p>brotações, floradas e consequentemente produção de frutos durante todo o ano.</p><p>A decisão sobre o momento de realizar as pulverizações para o controle de</p><p>várias pragas dos citros no Brasil, entre elas, o ácaro branco, é variável, de acor-</p><p>do com diferentes autores. A recomendação usual é inspecionar três frutos por</p><p>planta em 1% das plantas de cada talhão, desde que o número seja inferior a</p><p>2000. As inspeções devem ser iniciadas desde a fase de chumbinho, que é carac-</p><p>terizada pela queda das pétalas até o diâmetro aproximado de 40 mm. O exame</p><p>deve ser feito na região próxima ao pedúnculo dos frutos ou na epiderme aba-</p><p>xial das folhas de plantas novas ou mudas. Recomenda-se o controle do ácaro</p><p>branco quando forem constatados acima de 10% dos frutos com cinco ou mais</p><p>ácaros.</p><p>Figura 62 – Sintomas do ataque do ácaro branco [Polyphagotarsonemus latus (Banks) em folhas no-</p><p>vas de mudas de citros, que ficam deformadas e com formato lanceolado (a); frutos com manchas</p><p>de coloração cinza-prateada, típicas do ataque do ácaro branco (b); fruto raspado, com remoção</p><p>da película prateada, e exposição da casca (c)</p><p>a</p><p>b</p><p>c</p><p>145</p><p>Na família Tetranychidae, os ácaros que atacam os citros são o purpúreo (Pa-</p><p>nonychus citri McGregor), o texano (Eutetranychus banksi McGregor) e o mexi-</p><p>cano (Tetranychus mexicanus McGregor). Muitas espécies dessa família, como o</p><p>ácaro mexicano, tecem teias onde ovos, larvas, ninfas e adultos ficam abrigados.</p><p>Os ácaros tetraniquídeos são considerados pragas menos importantes que as</p><p>três espécies descritas anteriormente. Entre eles, o mais importante é o ácaro</p><p>purpúreo, que será descrito.</p><p>As fêmeas do ácaro purpúreo (Panonychus citri McGregor) medem 0,5 mm</p><p>em média, são de cor vermelho-intensa, purpúrea, com longas setas branco-ro-</p><p>sadas, projetando-se de tubérculos dorsais presentes no tegumento. Os machos</p><p>são menores (0,3 mm) afilados posteriormente, também de coloração averme-</p><p>lhada. Devido ao tamanho e cor, são facilmente reconhecidos e podem ser vistos</p><p>a olho nu.</p><p>A época mais comum de ocorrência desse ácaro é nos meses secos do ano</p><p>(maio a setembro na região Sudeste), quando atacam folhas completamente</p><p>desenvolvidas e frutos. As folhas são mais infestadas que os frutos, havendo o</p><p>aparecimento de inúmeros pontos amarelados (mosqueamento), que podem</p><p>ocasionar sua queda em ataques severos.</p><p>Tabela 18 – Inseticidas e acaricidas indicados para a produção integrada de</p><p>citros, - PIC Brasil, atualizada em 01/05/2015</p><p>Ingrediente Ativo Produto Registrado Classe Dose Registro</p><p>(mL ou g /100L)</p><p>Grupo Químico</p><p>Abamectina Abamectin DVA 18</p><p>EC</p><p>Abamectin Nortox</p><p>Abamectin Prentiss</p><p>Abamex</p><p>Abamex BR 18</p><p>Abamit</p><p>Acaramik</p><p>Batent</p><p>Grimectin</p><p>Kraft 36 EC</p><p>Pausato</p><p>Potenza Sinon</p><p>Rotamik</p><p>SPITZ</p><p>Vertimec 18 EC</p><p>Inseticida/Acaricida/Nematicida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida/Nematicida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Acaricida/Inseticida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida/Nematicida</p><p>15,0 -30,0</p><p>15,0 -30,0</p><p>20,0 -30,0</p><p>20,0</p><p>20,0</p><p>22,5 -30,0</p><p>15,0 -30,0</p><p>15,0 -30,0</p><p>15,0 -30,0</p><p>7,5-15,0</p><p>20,0 -30,0</p><p>20,0 -30,0</p><p>15,0 -30,0</p><p>7,5 -15,0</p><p>10,0 -30,0</p><p>Avermectina</p><p>Acetamiprido Convence Inseticida 1,5-5,0 mL/planta Neonicotinóide</p><p>Azadiractina AzaMax Inseticida 100,0-250,0 Tetranortriterpenóides</p><p>Bacillus</p><p>thuringiensis</p><p>Able</p><p>Agree</p><p>Bac-Control WP</p><p>Dipel</p><p>Dipel WG</p><p>Dipel WP</p><p>Inseticida Biológico</p><p>Inseticida Biológico</p><p>Inseticida Biológico</p><p>Inseticida Biológico</p><p>Inseticida Biológico</p><p>Inseticida Biológico</p><p>50,0</p><p>50,0</p><p>50,0</p><p>1-1,5 L/2000L</p><p>água</p><p>25,0 -37,5</p><p>50,0</p><p>Biológico</p><p>Biológico</p><p>Biológico</p><p>Biológico</p><p>Biológico</p><p>Biológico</p><p>146</p><p>Beta-ciflutrina Ducat</p><p>Full</p><p>Turbo</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>12,5-25,0</p><p>12,5-25,0</p><p>12,5-25,0</p><p>Piretróide</p><p>Piretróide</p><p>Piretróide</p><p>Beta-ciflutrina Ducat</p><p>Full</p><p>Turbo</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>12,5 -25,0</p><p>12,5 -25,0</p><p>12,5 -25,0</p><p>Piretróide</p><p>Piretróide</p><p>Piretróide</p><p>Bifentrina Bistar 100 EC</p><p>Brigade 100 EC</p><p>Capture 100 EC</p><p>SEIZER 100 EC</p><p>Talstar 100 CE</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>7,5-20,0</p><p>7,5-20,0</p><p>7,5-20,0</p><p>7,5-20,0</p><p>7,5-20,0</p><p>Piretróide</p><p>Piretróide</p><p>Piretróide</p><p>Piretróide</p><p>Piretróide</p><p>Buprofezina</p><p>Applaud 250 Inseticida/Reg. de Crescimento 100,0 -200,0 Tiadiazinona</p><p>Clorantraniliprole +Tia</p><p>metoxam</p><p>Durivo Inseticida 1,0-2,0 mL/metro</p><p>alt. Planta</p><p>Antranilamida+Neonico</p><p>tinóide</p><p>Clorpirifós Astro</p><p>CapatazBR</p><p>Catcher 480 EC</p><p>Clorpirifós 480 EC</p><p>Milenia</p><p>Korplan 480 EC</p><p>Lorsban 480 BR</p><p>Nufos 480 EC</p><p>Pitcher 480 EC</p><p>Pyrinex 480 EC</p><p>Record 480 EC</p><p>Sabre</p><p>Vexter</p><p>Inseticida</p><p>Acaricida/Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>100,0 -150,0</p><p>100,0-150,0</p><p>mL/100L água</p><p>100,0 -150,0</p><p>200,0</p><p>100,0 -200,0</p><p>100,0 -200,0</p><p>100,0 -150,0</p><p>100,0 -150,0</p><p>200,0</p><p>100,0 -150,0</p><p>100,0 -150,0</p><p>100,0 -200,0</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Cipermetrina Obny</p><p>Okay</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>25,0 -40,0</p><p>mL/100L água</p><p>25,0 -40,0</p><p>mL/100L água</p><p>Benzoilacetonitrila</p><p>Benzoilacetonitrila</p><p>Cloridrato de</p><p>Formetanato</p><p>Dicarzol 500 SP Inseticida/Acaricida 20, 0-25,0 Metilcarbamato de</p><p>Fenila</p><p>Diflubenzuron Diflubenzuron 240 SC</p><p>Helm</p><p>Difluchem 240 SC</p><p>Dimilin</p><p>Du Din</p><p>Login</p><p>Micromite 240 SC</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>25,0</p><p>25,0</p><p>500,0 g/ha</p><p>25,0</p><p>500,0 g/ha</p><p>15,0 -50,0</p><p>Benzoiluréia</p><p>Benzoiluréia</p><p>Benzoiluréia</p><p>Benzoiluréia</p><p>Benzoiluréia</p><p>Benzoiluréia</p><p>Dimetoato Agritoato 400</p><p>Dimetoato 500 EC</p><p>Nortox</p><p>Dimetoato CE</p><p>Dimexion</p><p>Perfekthion</p><p>Tiomet 400 CE</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>150,0</p><p>80,0-300,0</p><p>190,0</p><p>100,0 -500,0</p><p>100,0 -200,0</p><p>100,0 -500,0</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>147</p><p>Enxofre Cover DF</p><p>Defend WDG</p><p>Enxofre Fersol 520 SC</p><p>Highcrop 680 SC</p><p>Kumulus DF</p><p>Kumulus DF-AG</p><p>Microthiol Dispers</p><p>WG</p><p>Rapid</p><p>Sulficamp</p><p>Sulflow SC</p><p>Sulfur 800</p><p>Sulfure 750</p><p>Thiovit Jet</p><p>Acaricida/Fungicida</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida/Inseticida</p><p>Acaricida/Fungicida</p><p>Acaricida/Fungicida</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida/Fungicida</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>300,0 -500,0</p><p>4,0 Kg/ha</p><p>240,0</p><p>250,0 -300,0</p><p>300,0 -500,0</p><p>300,0 -500,0</p><p>500,0</p><p>300,0</p><p>600,0</p><p>250,0 -300,0</p><p>300,0</p><p>125,0 -250,0</p><p>200,0 -300,0</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Inorgânico</p><p>Espinetoram Delegate Inseticida 5,0- 10,0 g</p><p>p.c./100 L</p><p>Espinosinas</p><p>Espinosade Success*0.02 CB</p><p>Tracer</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>1,0-1,6 L/ha</p><p>10,0 -15,0</p><p>Espinosinas</p><p>Espinosinas</p><p>Espirodiclofeno Envidor Acaricida 20,0 -25,0 Cetoenol</p><p>Etofenproxi Safety</p><p>Trebon 100 SC</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>30,0 -60,0</p><p>0,01-0,025</p><p>L/100L</p><p>Éter Difenilico</p><p>Éter Difenilico</p><p>Fenpiroximato Fujimite 50 SC</p><p>Ortus 50 SC</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>100,0</p><p>100,0</p><p>Pirazol</p><p>Pirazol</p><p>Fenpropatrina Danimen 300 EC</p><p>Meothrin 300</p><p>Sumirody 300</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>Inseticida/Acaricida</p><p>20,0 -50,0</p><p>20,0 -50,0</p><p>20,0 -50,2</p><p>Piretróide</p><p>Piretróide</p><p>Piretróide</p><p>Flufenoxurom Cascade 100 Inseticida/Acaricida 30,0 -50,0 Benzoiluréia</p><p>Fosmete Imidan 500 WP Inseticida 25,0-150,0 Organofosforado</p><p>Hexitiazoxi Gallery</p><p>Savey WP</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>3,0</p><p>3,0</p><p>Tiazolidinacarboxidamida</p><p>Tiazolidinacarboxidamida</p><p>Imidacloprido Bamako 700 WG</p><p>Cigaral</p><p>Evidence 700 WG</p><p>Galeão</p><p>Granary</p><p>Imaxi 700 WG</p><p>Imidacloprid 350 SC</p><p>Imidacloprid Nortox</p><p>Imidagold 700 WG</p><p>Imidacloprid 700 WG</p><p>HELM</p><p>Kohinor 200 SC</p><p>Provado 200 SC</p><p>Rotaprid 350 SC</p><p>Timon</p><p>Warrant 700 WG</p><p>Winner</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>5,0 g/100L água</p><p>ou 0,5- 1 g/muda</p><p>5,0</p><p>0,5-10,0</p><p>5,0-10,0</p><p>5,0-10,0</p><p>5,0 g/100L água</p><p>ou 0,5-1 g/planta</p><p>9,0-11,0 mL/100</p><p>L água</p><p>10,0-300,0</p><p>5,0-10,0</p><p>5,0-10,0</p><p>15,0 -50,0</p><p>15,0 -50,0</p><p>9,0 -11,0</p><p>15,0 -50,0</p><p>5,0</p><p>2,5-5,0 ml / planta</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>148</p><p>Malationa Malathion 1000 EC</p><p>Cheminova</p><p>Malathion 440 EW</p><p>Malathion 500 EC</p><p>Cheminova</p><p>Malathion Prentiss</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>150,0-200,0</p><p>350,0-450,0</p><p>350,0</p><p>300,0-400,0</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Óleo Mineral Agefix</p><p>Argenfrut RV</p><p>Assist</p><p>Dytrol</p><p>Iharol</p><p>Miner Oil</p><p>Óleo Mineral Fersol</p><p>OPPA BR EC</p><p>Purespray 15E</p><p>Adjuvante</p><p>Inseticida/Fungicida</p><p>Inseticida/Fungicida./Adjuvante</p><p>Inseticida/Adjuvante</p><p>Inseticida/Acaricida/Adjuvante</p><p>Inseticida/Adjuvante</p><p>Inseticida/Adjuvante</p><p>Inseticida/Adjuvante</p><p>Acaricida</p><p>1,0-1,5 L/ha</p><p>1000,0</p><p>1.000,0-2.000,0</p><p>1.000,0-2.000,0</p><p>1.000,0-2.000,0</p><p>1.000,0-1.500,0</p><p>1.000,0-1.500,0</p><p>1.000,0-1.500,0</p><p>1000,0</p><p>Hidrocarbonetos</p><p>Alifáticos</p><p>Hidrocarbonetos</p><p>Alifáticos</p><p>Hidrocarbonetos</p><p>Alifáticos</p><p>Hidrocarbonetos</p><p>Alifáticos</p><p>Hidrocarbonetos</p><p>Alifáticos</p><p>Hidrocarbonetos</p><p>Alifáticos</p><p>Hidrocarbonetos</p><p>Alifáticos</p><p>Hidrocarbonetos</p><p>Alifáticos</p><p>Hidrocarbonetos</p><p>Alifáticos</p><p>Óleo Mineral Spinner</p><p>Spraytex S</p><p>Triona</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida/Adjuvante</p><p>Espalhante/Adjuvante</p><p>1.000,0-1.500,0</p><p>1.000,0-2.000,0</p><p>1.000,0-1.500,0</p><p>Hidrocarbonetos</p><p>Alifáticos</p><p>Hidrocarbonetos</p><p>Alifáticos</p><p>Hidrocarbonetos</p><p>Alifáticos</p><p>Óleo Vegetal Agro Oil</p><p>Vision</p><p>Fersoil</p><p>Graxol</p><p>Natur’l Óleo</p><p>Óleo Vegetal Nortox</p><p>Óleo Vegetal Samaritá</p><p>Quimióleo</p><p>Veget Oil</p><p>Inseticida/Adjuvante</p><p>Inseticida/Adjuvante</p><p>Inseticida/Adjuvante</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida/Adjuvante</p><p>Inseticida/Adjuvante</p><p>Inseticida/Adjuvante</p><p>Inseticida/Adjuvante</p><p>Inseticida</p><p>2.000,0-3.000,0</p><p>500-1000,00</p><p>500-1000,00</p><p>2.000,0</p><p>1.000,0-3.000,0</p><p>2.000,0</p><p>2.000,0-3.000,0</p><p>1.000,0-2.000,0</p><p>1.000</p><p>Ésteres de Ác. Graxos</p><p>Ésteres de Ác. Graxos</p><p>Ésteres de Ác. Graxos</p><p>Ésteres de Ác. Graxos</p><p>Ésteres de Ác. Graxos</p><p>Ésteres de Ác. Graxos</p><p>Ésteres de Ác. Graxos</p><p>Ésteres de Ác. Graxos</p><p>Ésteres de Ác. Graxos</p><p>Piridabem Sanmite Acaricida 50,0 -75,0 Piridazinona</p><p>Piriproxifem Cordial 100</p><p>Epingle 100</p><p>Tiger 100 EC</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>6,25-75,0</p><p>6,25-100,0</p><p>6,25-100,0</p><p>Éter Piridiloxipropílico</p><p>Éter Piridiloxipropílico</p><p>Éter Piridiloxipropílico</p><p>Propargito Acarit</p><p>Acarit EC</p><p>Omite 300 WP</p><p>Omite 720 EC</p><p>Propargite Fersol 720</p><p>EC</p><p>Veromite</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>Acaricida</p><p>100,0</p><p>100,0</p><p>250,0-300,0</p><p>100,0</p><p>72,0</p><p>100,0</p><p>Sulfito de Alquila</p><p>Sulfito de Alquila</p><p>Sulfito de Alquila</p><p>Sulfito de Alquila</p><p>Sulfito de Alquila</p><p>Sulfito de Alquila</p><p>Tebufenozida Mimic 240 SC Inseticida 40,0 -50,0 Diacilhidrazina</p><p>Tiametoxam Actara 10 GR</p><p>Actara 250 WG</p><p>Inseticida</p><p>Inseticida</p><p>75,0 g/planta</p><p>20,0 ou 3,0</p><p>g/planta</p><p>Neonicotinóide</p><p>Neonicotinóide</p><p>149</p><p>• Cochonilhas</p><p>O dano principal causado pelas cochonilhas nas plantas é o depauperamento</p><p>generalizado causado pela sucção de seiva e inoculação de toxinas. Além disso, a</p><p>maioria das espécies secreta uma substância adocicada, denominada honeydew,</p><p>responsável pelo aparecimento de inúmeras colônias de formigas (Figura 63 a).</p><p>O honeydew também é substrato para o desenvolvimento da fumagina, que</p><p>é causada por fungos do gênero Capnodium, que colonizam superficialmente</p><p>folhas, frutos e ramos. A fumagina caracteriza-se pela presença de uma crosta</p><p>negra que cobre, total ou parcialmente, folhas frutos e ramos, prejudicando a</p><p>fotossíntese, respiração e transpiração dos órgãos atacados (Figura 63 b).</p><p>As cochonilhas estão presentes em todos os órgãos das plantas, como</p><p>folhas, troncos, ramos, raízes e frutos. Caracterizam-se por serem altamente</p><p>prolíficas, apresentando várias gerações por ano, dependendo da espécie e do</p><p>ambiente. Outra característica frequente é a capacidade de secretar substâncias</p><p>que as protegem de insetos predadores. Em algumas espécies, denominadas</p><p>cochonilhas sem carapaça, esta proteção é formada por uma massa de cera,</p><p>enquanto em outras, as cochonilhas de carapaça, a proteção é feita por camadas</p><p>de quitina, formadas pela superposição de exúvias, resultantes da ecdise ou da</p><p>troca da cutícula quando as cochonilhas mudam de um estágio para outro.</p><p>Sob os escudos e em ovisacos, as fêmeas põem grande número de ovos, dos</p><p>quais saem as larvas, que se movem durante algum tempo em busca de um local</p><p>para fixação. É nesse estágio que ocorre a disseminação das cochonilhas dentro</p><p>e entre pomares. Como as formas jovens são pequenas e leves, são facilmente</p><p>transportadas pelo vento. As fêmeas adultas das cochonilhas de carapaça não</p><p>têm patas, são, portanto, sésseis, enquanto os machos adultos apresentam patas</p><p>e são alados. Por outro lado, cochonilhas de algumas espécies sem carapaça,</p><p>como Orthezia praelonga, têm patas e mobilidade durante toda a sua vida,</p><p>enquanto outras, também sem carapaça, como a cochonilha verde (Coccus</p><p>viridis) são sésseis após a fase larval.</p><p>Várias espécies de cochonilhas de carapaça atacam os citros no Brasil, como a</p><p>cabeça de prego [Chrysomphalus ficus (Ashmead)]; escama vírgula [Lepidosaphis</p><p>beckii (Newman)]; escama farinha das folhas e frutos [Pinnaspis aspidistrae</p><p>(Signoret) ]; escama farinha de tronco [Unaspis citri (Comstock)]; parlatória do</p><p>tronco [Parlatoria cinerea Doane & Hadden]; cochonilha preta ou parlatória</p><p>Figura 63 – Formigas em colônia de cochonilha verde (Coccus viridis) (a); fumagina em folhas e</p><p>frutos de laranjeiras (b)</p><p>a b</p><p>150</p><p>preta [Parlatoria ziziphus (Lucas)] e pardinha [Selenaspidus articulatus (Morgan)].</p><p>Entretanto, as mais importantes atualmente são a escama farinha do tronco</p><p>(Figura 64 a), parlatória do tronco e pardinha (Figura 64 b).</p><p>Quanto às cochonilhas sem carapaça, destacam-se a cochonilha ortézia</p><p>ou cochonilha de placas (Orthezia praelonga) (Figura 65 a); cochonilha verde</p><p>(Coccus viridis) (Figura 65 b); cochonilha do café (Saissetia coffeae) (Figura 65</p><p>c); cochonilha branca (Planococcus citri) (Figura 65 d) e cochonilha australiana</p><p>(Icerya purchasi) (Figura 65 e). A ortézia é uma das pragas mais importantes</p><p>da citricultura brasileira, devido a fatores, como: existência de várias plantas</p><p>hospedeiras, o que dificulta o controle; aos danos graves causados às plantas; ao</p><p>alto custo de controle e à facilidade de surgimento de resistência aos inseticidas.</p><p>Figura 64 - Cochonilhas de carapaça – Tronco de limeira ‘Tahiti’ com coloração branca e fissuras</p><p>longitudinais na casca devido à presença de alta população da cochonilha escama farinha (Unaspis</p><p>citri). Os machos jovens da cochonilha são os responsáveis pela cor branca observada (a); Cocho-</p><p>nilhas “pardinha” (Selenaspidus articulatus) em folhas de limeira ‘Tahiti’ (b)</p><p>a b</p><p>a b</p><p>c d</p><p>151</p><p>Considerando que as cochonilhas geralmente ocorrem em reboleiras nos</p><p>pomares (sua presença não está em todo o pomar), recomenda-se que o controle</p><p>seja feito nas plantas atacadas e nas vizinhas. É recomendável adicionar óleo</p><p>mineral aos inseticidas (Tabela 18).</p><p>Para o controle das cochonilhas, dependendo do inseticida utilizado, é</p><p>importante que as pulverizações atinjam o alvo, o que algumas vezes é dificultado</p><p>pelo comportamento dos insetos. Algumas ficam alojadas no interior da copa,</p><p>em troncos e ramos como a escama farinha e outras ficam na face inferior das</p><p>folhas, como a ortézia.</p><p>No caso da ortézia, a presença do ovissaco, que é uma câmara onde os ovos</p><p>são depositados, dificulta o controle porque os ovos não são alcançados pelos</p><p>inseticidas e nem pelos insetos predadores. Essa característica faz com que</p><p>ocorram novas infestações após o controle, havendo, portanto, necessidade de</p><p>novas pulverizações.</p><p>A cochonilha ortézia ocorre em reboleiras e cai em grande quantidade ao</p><p>solo, colonizando outras plantas e retornando às árvores dos citros, portanto as</p><p>plantas daninhas na região das plantas atacadas devem ser controladas, além</p><p>de ser recomendado que as pulverizações sejam dirigidas ao solo também. Para</p><p>que o controle seja eficiente, além das plantas atacadas, as medidas de controle</p><p>também devem ser aplicadas às plantas vizinhas.</p><p>• Pulgões (Toxoptera citricidus, Aphis spiraecola)</p><p>Os pulgões são pragas de brotações, incluindo folhas, ramos e flores.</p><p>Portanto, a população nos pomares é maior na primavera e verão, que é o período</p><p>de floração e brotação das plantas. O dano causado pelos pulgões resulta da</p><p>sucção da seiva, o que causa debilitamento das plantas, principalmente de</p><p>mudas e plantas jovens. O ataque do pulgão verde (Aphis spiraecola) causa</p><p>encarquilhamento das folhas, que permanece mesmo quando elas estão</p><p>maduras (Figura 66 a).</p><p>O pulgão preto (Toxoptera citricidus) (Figura 66 b) é transmisor do virus da</p><p>tristeza dos citrus (CT V – Citrus Tristeza Virus), porém, essa não deve ser uma</p><p>razão para o controle do inseto, já que no Brasil é obrigatório o uso de porta-</p><p>enxertos tolerantes à tristeza.</p><p>O controle químico dos pulgões geralmente não é necessário em plantas</p><p>adultas, mas deve ser feito em pomares recém-plantados, para não atrasar o</p><p>Figura 65 – Cochonilhas sem carapaça, pragas dos citros – Formas jovens e fêmeas adultas da</p><p>cochonilha ortézia (Orthezia praelonga) na face abaxial de folhas de citros (a); cochonilha verde</p><p>(Coccus viridis) localizadas ao longo das nervuras na face abaxial de folha de citros (b); cochonilha do</p><p>café (Saissetia coffeae) e formigas em ramo de citros (c); colônia de cochonilha branca (Planococcus</p><p>citri) em fruto de citros (d); cochonilha australiana (Icerya purchasi) e escama farinha das folhas</p><p>(Pinnaspis aspiditrae) em ramo e folha de citros (e)</p><p>e</p><p>152</p><p>desenvolvimento das plantas, tendo em vista que o ataque debilita as brotações.</p><p>• Bicho furão (Ecdytolopha aurantiana)</p><p>O nome bicho furão advém do fato de as largartas dessas mariposas</p><p>perfurarem a casca dos frutos para penetrarem na polpa. As mariposas colocam</p><p>os ovos, que são achatados e transparentes, na superfície dos frutos. O período de</p><p>incubação é de três a cinco dias e, após a eclosão dos ovos, as lagartas penetram</p><p>na casca dentro de 24 horas. Assim, ficam pouco tempo expostas, o que dificulta</p><p>o controle. Quando as lagartas estão no interior dos frutos, o controle não é mais</p><p>possível.</p><p>As mariposas do bicho furão apresentam em torno de 1,7 cm de envergadura</p><p>2 cm de comprimento e são de coloração acinzentada (Figura 67 a). Como tem</p><p>hábito noturno, a sua visualização nos pomares é muito difícil.</p><p>As perdas econômicas causadas pelo bicho furão podem superar 50% dos</p><p>frutos produzidos. Os frutos atacados caem ao solo e não podem ser consumidos,</p><p>devido ao apodrecimento e sabor desagradável do suco. Antes da abscissão dos</p><p>frutos, que é favorecida pela produção de etileno provocada pelo ataque da</p><p>praga, mudam a cor da casca, tornando-se alaranjados, aparentemente maduros.</p><p>Como no caso da mosca das frutas, o orifício presente na casca dos frutos serve</p><p>de entrada para fungos, bactérias e insetos, que intensificam os danos.</p><p>Quando alcançam o máximo desenvolvimento no interior os frutos, as</p><p>lagartas chegam a atingir o comprimento de 1,8 cm (Figura 67 b). Geralmente</p><p>completam seu ciclo no solo, permanecendo na forma de pupa por um período</p><p>em torno de 15 dias, após o qual saem como adultos.</p><p>Os sintomas externos do ataque da lagarta nos frutos podem ser confundidos</p><p>com o das moscas das frutas. Mas, além de as lagartas e as larvas da mosca serem</p><p>bem distintas umas das outras, há diferenças na parte externa da casca do fruto</p><p>que permitem a distinção dos sintomas. A lagarta do bicho furão elimina os</p><p>excrementos pelo orifício de penetração, que ficam aderidas na casca próximo</p><p>(Figura 67 c). No caso do bicho furão, a casca ao redor do orifício também fica</p><p>necrosada e dura, enquanto nos sintomas da mosca das frutas, ocorre podridão</p><p>do fruto ao redor do orifício, com amolecimento dos tecidos da casca.</p><p>Assim como as</p><p>moscas das frutas, o bicho furão não pode ser controlado</p><p>após a penetração nos frutos. Portanto, a contenção deve ser feita controlando</p><p>os insetos adultos ou as lagartas, após a eclosão dos ovos e antes da penetração</p><p>nos frutos.</p><p>a b</p><p>Figura 66 – Colônia de pulgões verde (Aphis spiraecola) na face abaxial de folhas de citros, provo-</p><p>cando o enrolamento das folhas (a); pulgão preto (Toxoptera citricida) em brotação de citros. Os</p><p>adultos são pretos e as ninfas marrons (b)</p><p>153</p><p>Para definir o momento de iniciar o controle, o pomar deve ser inspecionado</p><p>a partir do momento em que os frutos já estão desenvolvidos, mas antes de</p><p>iniciar o amadurecimento. Como a localização dos ovos no campo é muito difícil,</p><p>a melhor forma de fazer a amostragem da praga é avaliando as mariposas. Como</p><p>são difíceis de ser visualizadas, porém, não há como fazer a inspeção baseada</p><p>na avaliação do número delas na área, o que faz com que a avaliação visual se</p><p>restrinja aos frutos atacados. Assim que forem detectados os primeiros sintomas</p><p>nos frutos, o controle deve ser iniciado.</p><p>Para o levantamento populacional dos machos adultos do bicho furão, pode</p><p>ser usado o feromônio sexual (Tabela 19), instalando uma armadilha para cada</p><p>10 ha ou uma para cada 3000-3500 plantas. O controle é recomendado a partir</p><p>da constatação de seis ou mais machos por armadilha. Esse é o método mais</p><p>recomendado, porque o controle pode ser iniciado a partir do aumento de</p><p>insetos capturados, sem depender da presença de frutos atacados.</p><p>Tabela 19 – Formicidas e feromônios indicados para a produção integrada de</p><p>citros, - PIC Brasil, atualizada em 01/05/2015</p><p>Ingrediente Ativo Produto Registrado Classe Dose Registro</p><p>(mL ou g /100L)</p><p>Grupo Químico</p><p>(E)-8-Dodecenol +</p><p>Acetato de (E)-8-</p><p>dodecenila</p><p>Ferocitrus Furão Feromônio 1 armadilha/10 ha</p><p>ou 1 armadilha/</p><p>3000-3500 Plantas</p><p>álcool insaturado +</p><p>acetato insaturado</p><p>Bifentrina Bistar</p><p>Bistar UBV</p><p>Formicida</p><p>Formicida</p><p>0,38 mL/m2</p><p>5,0 mL/m2</p><p>Piretroide</p><p>Piretroide</p><p>Trimedlure Bioceratitis</p><p>Bio Trimedlure</p><p>Iscalure TML Plug</p><p>Feromônio</p><p>Feromônio</p><p>Feromônio</p><p>1 armadilha/3 ha</p><p>1 armadilha/ha</p><p>(em áreas</p><p>irregulares)</p><p>1 armadilha/ha</p><p>1 armadilha/ha</p><p>Ésteres Saturados</p><p>Ésteres Saturados</p><p>Ésteres Saturados</p><p>Fosfeto de Alumínio Gastoxin Pasta Inseticida Fumigante 3,0-5,0 g/orificio Inorgânico precursor de</p><p>fosfina</p><p>Fipronil Blitz Formicida 5,0-10,0 g/ m2 Pirazol</p><p>Clorpirifós Landrin Pó</p><p>Lakree Fogging</p><p>Inseticida</p><p>Formicida</p><p>5,0-30,0 g/m2</p><p>4,0 mL/m2</p><p>Organofosforado</p><p>Organofosforado</p><p>Sulfluramida Fortmex-S</p><p>Fluramim</p><p>Formicida Gran.</p><p>Dinagro-S</p><p>Formicida Gran.</p><p>Pikapau-S</p><p>Grão Verde AG</p><p>Isca Formicida Atta</p><p>Mex-S</p><p>Isca Formicida Exatta</p><p>Isca Tamanduá</p><p>Bandeira-S</p><p>Mirex-S Plus</p><p>Mirex-S Max</p><p>Mirex-S</p><p>Formicida</p><p>Formicida</p><p>Formicida</p><p>Formicida/Inseticida</p><p>Formicida</p><p>Formicida</p><p>Formicida</p><p>Formicida/Inseticida</p><p>Formicida</p><p>Formicida</p><p>Formicida</p><p>6,0-8,0 g/m2</p><p>6,0-30,0 g/m2</p><p>6,0-10,0 g/m2</p><p>6,0-10,0 g/m2</p><p>6,0-10,0 g/m2</p><p>6,0-10,0 g/m2</p><p>6,0-10,0 g/m2</p><p>6,0-10,0 g/m2</p><p>6,0-10,0 g/m2</p><p>6,0-10,0 g/m2</p><p>6,0-20,0 g/m2</p><p>Sulfonamida</p><p>Fluoroalifática</p><p>Sulfonamida</p><p>Fluoroalifática</p><p>Sulfonamida</p><p>Fluoroalifática</p><p>Sulfonamida</p><p>Fluoroalifática</p><p>Sulfonamida</p><p>Fluoroalifática</p><p>Sulfonamida</p><p>Fluoroalifática</p><p>Sulfonamida</p><p>Fluoroalifática</p><p>Sulfonamida</p><p>Fluoroalifática</p><p>Sulfonamida</p><p>Fluoroalifática</p><p>Sulfonamida</p><p>Fluoroalifática</p><p>Sulfonamida</p><p>Fluoroalifática</p><p>154</p><p>O melhor horário para as pulverizações é no final da tarde, quando as</p><p>mariposas iniciam as atividades no pomar. Podem ser usados inseticidas</p><p>biológicos, à base de Bacillus thuringiensis, organofosforados e piretroides</p><p>(Tabela 18).</p><p>Recomenda-se também o controle cultural, que consiste em recolher todos</p><p>os frutos com sintomas, no chão e nas plantas, e a sua posteriror destruição,</p><p>enterrando-os, com o objetivo de interromper o ciclo de vida do inseto.</p><p>• Coleobrocas (Cratosomus spp, Diploschema rotundicolle, e</p><p>Macropophora accentifer)</p><p>As brocas pertencentes às famílias Cerambycidae e Curculionidae, da</p><p>Ordem Coleoptera, são as que mais causam prejuízos à citricultura. Na</p><p>família Curculionidae, as espécies que mais causam prejuízos são Cratosomus</p><p>flavofasciatus, Cratosomus fasciatus e Cratosomus reidii, que atacam o tronco das</p><p>plantas. Na família Cerambycidae as espécies mais prejudiciais são Diploschema</p><p>rotundicolle (broca-dos-ponteiros) e Macropophora accentifer (broca-do-tronco).</p><p>O aumento da ocorrência do ataque de brocas nos citros, observado</p><p>recentemente, é atribuído ao avanço da monocultura e ao desmatamento, pois</p><p>as florestas são o habitat natural dessas coleobrocas. Outro fator apontado é o</p><p>uso indiscriminado de agrotóxicos, que provoca desequilíbrios na população de</p><p>insetos e microrganismos presentes nos pomares.</p><p>a b</p><p>c</p><p>Figura 67 – Mariposa (Ecdytolopha aurantiana) da praga conhecida como bicho furão (a); fruto ata-</p><p>cado pelo bicho furão, com destaque para a lagarta da praga (b); aspecto externo do fruto atacado</p><p>pelo bicho furão, com a presença de excrementos próximo ao orifício de penetração e necrose da</p><p>casca em torno do orifício, com endurecimento dos tecidos (c)</p><p>155</p><p>Os prejuízos causados pelas larvas da broca dos ponteiros são a seca de</p><p>ramos e queda de frutos presentes nos ramos secos, depauperamento e morte</p><p>da planta com o passar do tempo. O adulto da broca dos ponteiros é um besouro</p><p>de cerca de 40 mm de comprimento por 8 mm de largura. Os élitros são de cor</p><p>amarelo-castanho com as margens circundadas por uma linha de cor castanho</p><p>escura.</p><p>A oviposição da broca dos ponteiros é realizada em ramos finos, com</p><p>diâmetro médio de 4 mm, distantes de 15 a 30 cm do ápice dos ramos. Após</p><p>a eclosão, a larva abre uma galeria subcortical, se movimenta em espiral no</p><p>sentido do ápice do ramo, havendo murchamento das folhas e morte do ramo</p><p>devido à interrupção do fluxo de seiva - essa característica é um indicativo da</p><p>presença da broca. Em seguida, as larvas abrem galerias no lenho, no sentido</p><p>basípeto, na região central do ramo (Figura 68 a). O lenho é o alimento das larvas</p><p>(Figura 68 b) e o produto da mastigação é eliminado na forma de um pó fino</p><p>(serragem), por orifícios ou “janelas” construídas pelas larvas ao longo dos ramos</p><p>(Figuras 68 a, 68 c).</p><p>Após o término da fase larval, a larva se transforma em pupa, em câmara</p><p>formada na própria galeria. Depois dessa fase, os insetos adultos saem da planta</p><p>pelo ramo, em orifício aberto anteriormente pela larva. Em ataques severos,</p><p>observam-se várias larvas por planta, que causam várias perfurações nos ramos.</p><p>O adulto da broca do tronco mede em torno de 35 mm de comprimento por</p><p>10 mm de largura e possui coloração acinzentada, com duas manchas escuras</p><p>em cada élitro e suas antenas são mais compridas que o corpo. É uma praga</p><p>a b</p><p>c</p><p>Figura 68 – Galeria aberta no lenho de um ramo fino (diâmetro em torno de 10 mm) de citros</p><p>pela broca Diploschema rotundicolle (a); broca de espécie Diploschema rotundicolle no interior do</p><p>ramo (b); orifício aberto no ramo pela broca para eliminação da serragem e que permite localizar a</p><p>posição da larva no ramo e serragem fina expelida pela broca (c)</p><p>156</p><p>muito comum em pomares domésticos, principalmente naqueles abandonados,</p><p>em plantas depauperadas.</p><p>A fêmea faz pequenos orifícios na casca do tronco das plantas colocando os</p><p>ovos. Após a eclosão, as larvas abrem galerias na região subcortical (Figura 69</p><p>a), onde permanecem por cerca de três meses. A larva é de cor creme e, quando</p><p>completamente desenvolvida, mede cerca de 40 mm de comprimento e possui</p><p>11 segmentos (Figura 69 b). Com o tempo, a casca da planta se solta nos locais</p><p>onde a broca se alimentou (Figura 69 c), deixando cair serragem ao solo (Figura</p><p>69 d). Ao final do período larval, a broca abre um orifício no lenho, formando</p><p>uma câmara, onde se transforma em pupa.</p><p>O besouro Cratosomus reidi tem forma convexa, cor preta com faixas</p><p>amareladas no tórax e nos élitros. Mede de 22 a 25 mm de comprimento por 11 a</p><p>13 mm de largura. A oviposição ocorre preferencialmente no tronco das plantas,</p><p>no interior de um orifício</p><p>aberto pela fêmea. Após a eclosão, a larva penetra no</p><p>lenho, abrindo galerias. A transformação em pupa e, posteriormente, em adulto</p><p>também ocorre no interior da planta.</p><p>As brocas chegam a matar as plantas de citros, caso não haja inspeção</p><p>frequente no pomar, visando identificar plantas atacadas. O controle das brocas é</p><p>dificultado pelo fato de as larvas ficarem ocultas no interior dos ramos e troncos.</p><p>Várias medidas de controle podem ser adotadas. No caso da broca dos</p><p>ponteiros, a medida mais simples consiste em cortar os ramos em local abaixo</p><p>de onde ela se encontra. A broca do tronco é mais facilmente controlada antes</p><p>a b</p><p>c d</p><p>Figura 69 - Larva da broca do tronco (Macropophora accentifer) na região subcortical do tronco de</p><p>planta de citros (a); detalhe da broca do tronco, mostrando os 11 segmentos no seu corpo (b); cas-</p><p>ca solta do tronco no local de alimentação da broca e orifícios feitos pela larva para se transformar</p><p>em inseto adulto (c); serragem no solo, formada por fragmentos alongados de madeira, ao lado do</p><p>tronco de uma planta de citros, indicando a presença da broca do tronco (d)</p><p>157</p><p>da penetração no lenho das plantas. Para isso, basta remover a casca do tronco,</p><p>localizar as larvas, que ficam entre a casca e o lenho, e matá-las.</p><p>Quando as brocas já estão no interior dos ramos e/ou troncos, deve-se</p><p>localizar o orifício por onde a serragem está sendo expelida, pois isso indica</p><p>que elas estão próximas a esse local. Em seguida, pode ser utilizado um dos</p><p>seguintes métodos: aplicação de fosfeto de alumínio (Tabela 19) em pasta no</p><p>orifício, introdução de arame fino e flexível no orifício com o objetivo de matar a</p><p>larva; injeção de inseticida fosforado, gasolina ou querosene no orifício usando</p><p>seringa, tampando-o posteriormente com barro, cera, sabão.</p><p>O controle biológico também pode ser feito usando o fungo Metarhizium</p><p>anisopliae ou plantas armadilhas. No caso do Metarhizium, a forma mais prática é</p><p>inocular esporos do fungo nos orifícios, na forma de pó. Quanto ao uso de plantas</p><p>armadilhas, recomenda-se a espécie Cordia verbenacea, conhecida como erva</p><p>baleeira ou maria milagrosa para atrair os adultos de Cratossomus. O controle é</p><p>feito recolhendo-se os besouros, sobre as plantas, 2 a 3 vezes por semana.</p><p>• Lagarta Minadora dos citros (Phyllocnistis citrella)</p><p>Phyllocnistis citrella é um microlepidóptero, cujas lagartas atacam,</p><p>principalmente, folhas jovens dos citros, mas também frutos e ramos novos. A</p><p>incidência nos pomares intensifica-se a partir da primavera, que é a época de</p><p>brotação das plantas. Os maiores danos são causados em mudas, principalmente</p><p>nos viveiros localizados a céu aberto, em pomares jovens e em cultivares que</p><p>brotam com maior frequência. Nas plantas adultas, os danos são menores, mas</p><p>há evidências de que os danos causados pela lagarta nas folhas servem de</p><p>entrada para a bactéria causadora do cancro cítrico (Xanthomonas citri subsp.</p><p>citri).</p><p>A fêmea realiza a postura dos ovos nos primórdios foliares ou em folhas</p><p>pequenas, geralmente com comprimento inferior a três centímetros. Os ovos</p><p>são brancos, transparentes com formato de lente de relógio e diâmetro em torno</p><p>de 0,3 mm.</p><p>Após a eclosão do ovo, as lagartas, que são amarelas, rompem a cutícula</p><p>das folhas e iniciam a alimentação no mesofilo foliar, formando uma galeria,</p><p>que tem o formato de serpentina (Figura 70 a). A galeria fica restrita ao lado da</p><p>lâmina foliar em que a mariposa fez a postura, visto que a movimentação da</p><p>lagarta para o outro lado da folha é restringida pela nervura central. A galeria</p><p>termina na borda da folha, onde a lagarta se transforma em pupa (Figura 70 b).</p><p>Esporadicamente a minadora pode atacar ainda os frutos (Figura 70 c).</p><p>As inspeções visando definir o momento de controle devem ser iniciadas na</p><p>primavera. As unidades de amostragem são os talhões com 2000 plantas, das</p><p>quais devem ser amostradas 1% delas, de forma aleatória. Em cada planta devem</p><p>ser examinadas as folhas de três a cinco ramos novos, com folhas imaturas.</p><p>A presença das lagartas vivas nas folhas de cada ramo deve ser anotada.</p><p>O controle deve ser iniciado quando o talhão apresentar 10% de ramos com</p><p>larvas vivas, em pomares novos, e 30 dos ramos em pomares adultos. No</p><p>caso da presença de cancro cítrico na região e, principalmente, se o cancro já</p><p>foi constatado na propriedade, o controle deve ser mais rigoroso. O controle</p><p>químico deve ser feito com abamectina (Tabela 18) e óleo mineral a 0,25%.</p><p>A lagarta minadora tem um inimigo natural importante que é a microvespa</p><p>geniaspis citricola, que parasita os ovos e as larvas no primeiro estádio de</p><p>desenvolvimento. Ela foi introduzida no Brasil em 1998, proveniente da Flórida e</p><p>parece estar disseminada em todo o país.</p><p>158</p><p>• Mosca das frutas (Anastrepha spp.; Ceratitis capitata)</p><p>As moscas das frutas são pragas que atacam laranjas e tangerinas a partir</p><p>do início do amadurecimento dos frutos, quando os teores de sólidos solúveis</p><p>aumentam e a acidez reduz. A importância dessa praga advém do fato de que os</p><p>frutos atacados pelas larvas caem ao solo (Figura 71 a) e podem apodrecer, ainda</p><p>na planta, devido à penetração de fungos e outros insetos no orifício dos frutos.</p><p>Na ausência de controle da praga, os frutos caídos podem superar 50%</p><p>da quantidade produzida pela planta. Além desse prejuízo direto, também há</p><p>dificuldades de exportação dos frutos para consumo de mesa para países nos</p><p>quais a mosca das frutas é praga quarentenária.</p><p>O adulto da Anastrepha tem cor amarelada, mede em torno de 6,5 mm de</p><p>comprimento e apresenta manchas em forma de S e V invertido nas asas (Figura</p><p>71 b; 71 c). As larvas são de coloração branco-amarelada, afiladas na parte</p><p>anterior e truncadas e arredondada na parte posterior (Figuras 71 d, 71 e). Se</p><p>removidas dos frutos, dobram o corpo e saltam quando tocadas.</p><p>Após o período larval, as larvas deixam os frutos, caem e penetram no solo,</p><p>transformando-se em pupa, que é de coloração marrom escuro, formato oval</p><p>e mede cerca de 5 mm de comprimento (Figura 71 f ). Terminada essa fase,</p><p>emergem os adultos, que voltam a atacar os frutos dos citros e também de</p><p>outras espécies frutíferas que estiverem próximas ao pomar.</p><p>O adulto da mosca do mediterrâneo (Ceratitis capitata) é menor que o da</p><p>Anastrepha sp, medindo de 4 a 5 mm de comprimento e de 10 a 12 mm de</p><p>envergadura. A coloração é predominantemente amarelo escuro, os olhos</p><p>são grandes, de cor violeta, o tórax é preto na face superior, com desenhos</p><p>simétricos brancos. O abdômen é amarelo escuro com duas listras transversais</p><p>acinzentadas e amarelas. As patas são amareladas e as asas são transparentes,</p><p>com listras amarelas e manchas cinza e negras.</p><p>a</p><p>c</p><p>b</p><p>Figura 70 - Folha atacada pela lagarta minadora dos citros (Phyllocnistis citrella), com galeria em</p><p>forma de serpentina, prateada, devido à ausência de mesofilo sob a cutícula e lagarta de cor ama-</p><p>rela (seta) (a); Folha de citros, com galerias em forma de serpentina, escurecidas devido aos excre-</p><p>mentos da lagarta e borda da folha dobrada, para a transformação da lagarta em pupa (b); galerias</p><p>da lagarta minadora em laranja (c)</p><p>159</p><p>Existe preferência da mosca por frutos de diferentes variedades e espécies</p><p>de citros. No entanto, não são pragas de limas ácidas e limões, devido à acidez</p><p>elevada dos frutos. Em Viçosa-MG, os maiores índices de infestação de mosca</p><p>das frutas foram encontrados nas laranjas ‘Baianinha’ (2,15 pupários/fruto e 11,25</p><p>pupários/kg de fruto) e ‘Serra d´Água’ (1,97 pupário fruto e 13,24 pupários/kg de</p><p>fruto). Já os menores foram observados na mexerica ‘Rio’ (0,10 pupário/fruto e</p><p>1,11 pupário/kg de fruto) e tangerina ‘Poncã’ (0,12 pupário/fruto e 0,77 pupário/</p><p>kg de fruto) (Tabela 20). A única espécie de mosca encontrada nesses frutos foi</p><p>a Anastrepha fraterculus.</p><p>Tabela 20 - Massas média e total dos frutos (n = 60), número médio de pupá-</p><p>rios de mosca das frutas por fruto e número médio de pupários de mosca das</p><p>frutas por quilograma de fruto em diferentes</p><p>variedades de citros em Viçosa-</p><p>-MG</p><p>Variedades Massa Média (g) Massa Total (kg) Pupário/Fruto Pupário/kg</p><p>Laranja Kona</p><p>Laranja Serra d´Água</p><p>Laranja Baianinha</p><p>Laranja Pêra Rio</p><p>Laranja Campista</p><p>Laranja Lima</p><p>Laranja Kahilily White</p><p>Mexerica Rio</p><p>Tangerina Poncã</p><p>168,4</p><p>148,6</p><p>191,0</p><p>128,8</p><p>131,3</p><p>113,3</p><p>199,0</p><p>89,9</p><p>150,9</p><p>10,10</p><p>8,91</p><p>11,46</p><p>7,725</p><p>7,878</p><p>6,798</p><p>11,943</p><p>5,393</p><p>9,053</p><p>1,65</p><p>1,97</p><p>2,15</p><p>1,17</p><p>0,50</p><p>0,70</p><p>1,70</p><p>0,10</p><p>0,12</p><p>9,80</p><p>13,24</p><p>11,25</p><p>9,06</p><p>3,81</p><p>6,18</p><p>8,54</p><p>1,11</p><p>0,77</p><p>Além de inimigos naturais nativos, a vespa parasitoide Diachasmimorpha</p><p>longicaudata foi introduzida no Brasil em setembro de 1994, visando à</p><p>multiplicação em laboratórios e liberação nos pomares. A mosca das frutas</p><p>também pode ser controlada usando a Técnica do Inseto Estéril (TIE), que</p><p>consiste em liberar machos estéreis nos pomares, buscando o acasalamento</p><p>com as fêmeas selvagens, em competição com os machos normais, objetivando</p><p>reduzir a população de insetos.</p><p>Apesar dessas possibilidades, o controle químico ainda é necessário na</p><p>maioria dos pomares, cujo início é baseado em inspeções usando armadilhas</p><p>para capturar as moscas. Para a Anastrepha, são usadas armadilhas adquiridas</p><p>em lojas especializadas, denominadas McPhail ou que podem ser construídas</p><p>a partir de garrafas pet. Ambas tem a finalidade de receber as iscas atrativas e</p><p>capturar as moscas. Pela contagem do número de moscas mortas no interior</p><p>das armadilhas, decide-se o momento do controle. O número de armadilhas</p><p>recomendado por hectare é em torno de cinco, colocadas na altura de 1,5</p><p>metros do solo, nas bordas dos pomares, pelo fato de que as moscas que iniciam</p><p>o ataque aos frutos vêm de fora, de outras plantas frutíferas.</p><p>Como atrativo nessas armadilhas, há produtos específicos adquiridos no</p><p>mercado (a proteína hidrolisada de milho, por exemplo) ou caseiros, preparados</p><p>com suco de frutas ou melaço. A proteína hidrolisada é diluída em água a 5% e</p><p>o melaço a 7%. No caso de sucos, o usual é diluí-lo a 25% (uma parte de suco</p><p>e três de água). No Brasil, melaço de cana-de-açúcar e sucos de frutas são</p><p>atrativos empregados em muitas áreas frutícolas, em detrimento de proteínas</p><p>hidrolisadas, tanto para monitoramento como para o preparo de iscas tóxicas.</p><p>160</p><p>O nitrogênio amoniacal gasoso é uma das principais iscas das moscas das</p><p>frutas e é produzido pela decomposição dos atrativos proteicos. Para reduzir o</p><p>ritmo de decomposição dos atrativos visando prolongar sua efetividade, sem</p><p>necessidade de trocas frequentes, pode ser adicionado bórax a 4% na solução</p><p>da proteína hidrolisada. Ele aumenta a vida útil do atrativo no campo, devido ao</p><p>aumento do pH e redução da velocidade de liberação de amônia.</p><p>O controle da mosca das frutas é recomendado quando é encontrada a</p><p>média de uma ou mais moscas por armadilha, em avaliações semanais. Embora</p><p>seja o método mais usado, ele está sujeito a erros pelo fato de também serem</p><p>capturadas outras espécies de moscas das frutas, que não atacam as laranjas</p><p>e tangerinas, e que são contabilizadas na contagem. A separação visual das</p><p>diferentes espécies de mosca capturadas pelas armadilhas no campo é muito</p><p>difícil.</p><p>Existem recomendações para controle da mosca usando atra-</p><p>tivos comerciais. Nesse caso, a indicação é de 80 a 120 armadi-</p><p>lhas feitas com garrafas pet por hectare. São construídas com</p><p>quatro orifícios de 7 a 10 mm de diâmetro na parte central das</p><p>garrafas. Essa técnica é recomendada principalmente para a</p><p>produção orgânica.</p><p>Para captura somente da Ceratitis capitata deve ser usada a armadilha Jack-</p><p>son, com isca de feromônio sexual Trimedilure (Tabela 19), que atrai somente os</p><p>machos. O número varia de uma a três armadilhas por hectare, dependendo da</p><p>topografia. Em áreas irregulares, recomendam-se três armadilhas por hectare.</p><p>O nível de controle é de dois machos/armadilha/dia ou 14 machos/armadilha/</p><p>semana.</p><p>O controle químico das moscas das frutas é realizado com a aplicação de is-</p><p>cas tóxicas em pulverização, contendo inseticida (Tabela 18) mais atrativo como</p><p>proteína hidrolisada ou melaço, diluídos em água a 5% e 7%, respectivamente. A</p><p>aplicação pode ser feita em área total ou com jato direcionado à parte superior</p><p>da copa das árvores.</p><p>Õ</p><p>a b</p><p>161</p><p>• Mosca branca (Aleurothrixus floccosus - mosca branca cotonosa,</p><p>Dialeurodes citri - mosca branca dos citros, Parabemisia myricae - mosca</p><p>branca japonesa) e Aleurocanthus woglumi - mosca negra dos citros)</p><p>A mosca branca dos citros pertence à ordem Hemiptera, subordem Homop-</p><p>tera e família Aleyrodidae e, portanto, é um inseto sugador, embora receba o</p><p>nome de mosca. Ataca todas as variedades de citros e a presença nos pomares</p><p>é caracterizada por surtos populacionais que geralmente aparece em reboleiras.</p><p>As ninfas assemelham-se às das cochonilhas, apresentando um formato</p><p>achatado, movimentam-se temporariamente e depois ficam imóveis, aderidas à</p><p>lâmina foliar, sugando a seiva das folhas.</p><p>As moscas adultas da espécie Aleurothrixus floccosus medem em torno de 2,5</p><p>mm de comprimento e têm o corpo e as asas revestidas de cera de cor branca</p><p>leitosa. Vivem na epiderme inferior de folhas novas (Figura 72 a) e se movimen-</p><p>tam pouco, porém, o vento as arrasta facilmente - essa é a principal forma de dis-</p><p>seminação da praga. A postura dos ovos nas folhas, pelas fêmeas adultas, segue</p><p>um formato circular, geralmente com a presença da fêmea na parte central do</p><p>círculo (Figura 72 b).</p><p>A mosca negra dos citros foi detectada pela primeira vez no Brasil, em 2001,</p><p>no Pará. Atualmente, está disseminada em todo o país. Ataca preferencialmente</p><p>as brotações novas, na face inferior das folhas, na qual são observados os ovos,</p><p>ninfas, pupas e adultos.</p><p>Os ovos são dispostos em espiral (Figura 72 c), de cor creme e reniformes. As</p><p>ninfas são escuras e ficam bem negras, à medida que se transformam em pupas,</p><p>dc</p><p>e f</p><p>Figura 71 – Laranjas caídas ao solo devido ao ataque da mosca das frutas (a); mosca das frutas do</p><p>gênero Anastrepha em fruto de citros (b); detalhe adulto da Anastrepha sp, que possui cor amarela-</p><p>da, comprimento em torno de 6,5 mm de comprimento com manchas em forma de S e V invertido</p><p>nas asas (c); larva de Anastrepha sp, de coloração branco-amarelada, afiladas na parte anterior e</p><p>truncadas e arredondada na parte posterior (d); larvas de Anastrepha sp deixando o fruto e prestes</p><p>a cair ao solo para se transformarem em pupa (e); pupas de Anastrepha sp (f )</p><p>162</p><p>as quais apresentam cerdas cerosas esbranquiçadas ao redor do pupário. Nesse</p><p>último estágio, são providas de grandes espinhos. Os adultos têm asas negras</p><p>azuladas brilhantes e são pequenos, medindo em torno de 1,2 mm de compri-</p><p>mento (Figura 72 d). A mosca negra é uma das principais pragas da limeira ácida</p><p>‘Tahiti’ no norte de Minas Gerais, devido à rapidez de multiplicação do inseto e</p><p>à dificuldade de controle, principalmente pelos pequenos produtores, que não</p><p>dispõem dos equipamentos adequados.</p><p>Os danos causados pelas moscas branca e negra são diretos e indiretos. A</p><p>frequente sucção da seiva das plantas pelos adultos e larvas enfraquecem os</p><p>brotos, podendo haver desfolha dos ramos. Como em todos os estágios evolu-</p><p>tivos os insetos secretam grande quantidade de honeydew, propicia o desenvol-</p><p>vimento de fungos saprófitas (Capnodium sp) formando a fumagina, que pode</p><p>cobrir as folhas e frutos, reduzindo a atividade fotossintética e a coloração dos</p><p>frutos.</p><p>O controle das moscas branca e negra deve ser feito após inspeções nos</p><p>pomares, observando a presença de fumagina e examinando a epiderme aba-</p><p>xial das folhas, procurando os insetos. No manejo integrado da mosca negra, o</p><p>fungo entomopatogênico Aschersonia aleyrodis Webber (Figura 72 e) destaca-se</p><p>como inimigo natural. A presença desse fungo alaranjado atacando colônias de</p><p>mosca negra é comum em épocas de alta umidade relativa do ar, embora o en-</p><p>tomopatógeno seja detectado o ano inteiro. O controle químico com inseticidas</p><p>registrados, como imidacloprido (neonicotinóide) e óleos de soja, milho,</p><p>o gênero Citrus é dividido em dois</p><p>subgêneros: Citrus e Papeda. O subgênero Citrus inclui 10 espécies, das quais</p><p>oito cultivadas, e o Papeda inclui seis espécies não cultivadas.</p><p>As oito espécies cultivadas do gênero Citrus são: Citrus sinensis (L.) Osbeck</p><p>(laranjas doces), Citrus aurantium L. (laranjas azedas), Citrus reticulata Blanco</p><p>(tangerinas), Citrus paradisi Macf (pomelos), Citrus aurantifolia (Christm.) Swing.</p><p>(limas ácidas), Citrus limon (L.) Burm (limões verdadeiros), Citrus medica L. (cidras)</p><p>e Citrus grandis, atualmente classificada como Citrus maxima (L.) Osbeck (toran-</p><p>jas).</p><p>Devido à facilidade de hibridação entre os Citrus e afins, existe um número</p><p>considerável de híbridos interespecíficos e intergenéricos, que são incomuns em</p><p>plantas de outros gêneros. Esses híbridos foram originados de hibridações natu-</p><p>rais ou obtidos em programas de melhoramento e são usados para a produção</p><p>de frutos ou como porta-enxertos, como é o caso dos citrangeiros e citrumelei-</p><p>ros.</p><p>Como exemplos de híbridos, podem ser citados os tangores (Citrus reticulata</p><p>Blanco x Citrus sinensis (L.) Osb.), tangeleiros (Citrus reticulata Blanco x Citrus</p><p>paradisi Macf.), citrangeiros (Citrus sinensis (L.) Osb. x Poncirus trifoliata (L.) Raf.)</p><p>citrumeleiros (Citrus paradisi Macf. x Poncirus trifoliata (L.) Raf.), orangeleiros</p><p>(Citrus paradisi Macf. x Citrus sinensis (L.) Osb.).</p><p>20</p><p>MORFOLOGIA</p><p>As plantas dos citros cultivadas comercialmente são compostas por dois ge-</p><p>nótipos, que unidos pela enxertia, formam duas partes: a superior, que inclui</p><p>parte do tronco, ramos, folhas e frutos, é denominada “copa”. Já a parte inferior,</p><p>que também é formada por parte do tronco, geralmente pelos primeiros 15 cen-</p><p>tímetros a partir do nível do solo e também pelas raízes, é denominada “porta-</p><p>-enxerto”.</p><p>Sementes de citros originam plantas que têm uma raiz pivotante caracte-</p><p>rística. Entretanto, em pomares comerciais, as raízes das plantas diferem desse</p><p>padrão, devido às podas efetuadas nas raízes durante o processo de produção</p><p>e plantio das mudas. Por isso, o sistema radicular é formado por algumas raízes</p><p>principais (geralmente duas a três), que fixam a planta ao solo e alcançam a pro-</p><p>fundidade de vários metros, dependendo do porta-enxerto e das características</p><p>do solo (Figura 1). A ramificação sucessiva origina raízes cada vez mais finas, até</p><p>formar as radicelas, que são as raízes responsáveis pela absorção de água e nu-</p><p>trientes.</p><p>O crescimento em profundidade das raízes é importante, pois a planta adul-</p><p>ta deve suportar todos os seus órgãos vegetativos, além da carga de frutos. En-</p><p>tretanto, o crescimento depende de vários fatores, como as espécies de copa e</p><p>porta-enxertos utilizados, idade da planta, carga de frutos, densidade de plantio,</p><p>clima, pragas, doenças, podas, métodos de cultivo, classe e fertilidade do solo e</p><p>quantidade e localização da umidade.</p><p>Entre os principais fatores que determinam o crescimento das raízes dos ci-</p><p>tros, está a textura do solo. Em solos argilosos, o crescimento das raízes é limi-</p><p>tado, tanto em profundidade como lateralmente, enquanto que, em solos de</p><p>04</p><p>Figura 1. Sistema radicular de laranjeira enxertada, mostrando</p><p>inexistência de uma raiz pivotante, em função do sistema usado</p><p>para a produção e plantio das mudas</p><p>21</p><p>textura média ou arenosos, o crescimento é mais pronunciado.</p><p>As radicelas dos citros se localizam, em sua maioria, na camada superficial</p><p>do solo, havendo várias pesquisas que apontam que cerca de 60% do sistema</p><p>radicular das plantas está na profundidade de 0−0,20 m, e 90% entre 0 e 0,40</p><p>m. Esse manejo da cultura é importante, principalmente no que diz respeito ao</p><p>uso de implementos que revolvem o solo, pois os implementos podem romper</p><p>raízes, favorecendo doenças e reduzindo o volume de raízes responsáveis pela</p><p>absorção de água e nutrientes. Além disso, o conhecimento da distribuição do</p><p>sistema radicular da cultura no solo permite aumentar a eficiência de várias prá-</p><p>ticas culturais, como adubação, irrigação e manejo do solo, visando ao controle</p><p>de plantas daninhas.</p><p>O tronco dos citros é ereto e cilíndrico, sendo que nas plantas</p><p>empregadas para o plantio de pomares comerciais, apresenta</p><p>altura variando entre 30 a 70 cm, dependendo da altura em</p><p>que foi feita a poda de formação da copa.</p><p>O tronco tem a função de sustentar a parte aérea da planta e conectá-la com</p><p>o sistema radicular, conduzindo água, nutrientes, produtos da fotossíntese e</p><p>hormônios. É nele que se encontra a região da enxertia. Em função das caracte-</p><p>rísticas genéticas do porta-enxerto e da copa, o diâmetro do tronco do cultivar</p><p>copa, na região da enxertia, pode ser semelhante, (Figura 2 a) menor (Figura 2</p><p>b) ou maior (Figura 2 c) que o diâmetro do tronco do porta-enxerto. A primeira</p><p>situação apresentada é considerada normal. As demais são descritas como sin-</p><p>tomas de incompatibilidade de enxertia, embora várias combinações de porta-</p><p>-enxerto/copa com essa característica sejam economicamente viáveis. Como</p><p>exemplo, há a enxertia de plantas do gênero Citrus, com exceção da laranjeira</p><p>‘Pêra’ e limões, sobre Poncirus trifoliata e seus híbridos, no quais o diâmetro do</p><p>porta-enxerto sempre é nitidamente superior ao do enxerto.</p><p>Como no tronco da planta estão os feixes vasculares que permitem o fluxo</p><p>de seiva das raízes para a copa e vice-versa, injúrias causadas por pragas, doen-</p><p>ças e danos mecânicos nessa parte podem trazer prejuízos ao crescimento, pro-</p><p>dução de frutos ou mesmo matar as plantas, como ocorre no caso da gomose</p><p>de Phytophthora.</p><p>A ramificação do caule principal origina várias brotações, cuja altura e ân-</p><p>Õ</p><p>Figura 2. (a) Diâmetro do porta-enxerto e da copa semelhantes (tan-</p><p>gerineira ‘Poncã’ enxertada em limoeiro Cravo); (b) diâmetro do porta-</p><p>-enxerto superior ao da copa (tangerineira ‘Poncã’ enxertada sobre ci-</p><p>trumeleiro ‘Swingle’); (c) diâmetro do porta-enxerto inferior ao da copa</p><p>(trifoliata ‘Flying Dragon’ enxertado sobre limoeiro Cravo)</p><p>a b c</p><p>22</p><p>gulo de inserção dependem da espécie e cultivar. Essas brotações vão originar</p><p>ramos que serão responsáveis pela sustentação de todos os demais da planta. A</p><p>partir dos ramos primários são formados os secundários e assim, sucessivamen-</p><p>te, até a formação dos ramos vegetativos e reprodutivos terminais. Plantas de</p><p>citros oriundas de semente (seedlings) apresentam um período juvenil relativa-</p><p>mente longo, variando de 4 a 8 anos a partir da germinação das sementes, cujo</p><p>tempo depende da espécie e da variedade. São mais curtos para tangerineiras,</p><p>intermediários para limoeiros e mais longos para laranjeiras. Plantas de citros</p><p>juvenis apresentam hábito de crescimento ereto, espinhos longos e, em grande</p><p>número (Figura 3 a), tendência a alternância de produção e distribuição desigual</p><p>dos frutos na copa, nos primeiros anos de produção.</p><p>Ramos jovens dos citros são de cor verde claro, apresentando quinas proemi-</p><p>nentes, devido a crescimentos desiguais, que se iniciam na base de cada pecíolo.</p><p>Essas quinas originam uma seção, quando o ramo é cortado transversalmente</p><p>(Figura 3 b). Com o desenvolvimento, os ramos se tornam cilíndricos e com colo-</p><p>ração acinzentada ou castanha (Figura 3 c), sendo possível visualizar claramente</p><p>a separação entre os surtos de crescimento.</p><p>Nos citros, geralmente observa-se a ocorrência de ramos modificados (espi-</p><p>nhos), que se inserem nas axilas das folhas. A região do ramo onde se inserem</p><p>as folhas, gemas e espinhos recebe o nome de nó (Figura 3 d). A quantidade e</p><p>vigor dos espinhos dependem da espécie, cultivar, idade da planta e grau de</p><p>juvenilidade. Quanto mais juvenil, maior o número e vigor dos espinhos (Figura</p><p>3 a). Os espinhos dificultam a execução de determinadas práticas, tanto na fase</p><p>de produção das mudas quanto no campo, como a colheita dos frutos. A limeira</p><p>ácida ‘Galego’ (Citrus aurantifolia) é um cultivar que se caracteriza por apresentar</p><p>numerosos e agudos espinhos nas axilas das folhas, medindo em torno de 1 cm</p><p>de comprimento. A pulverização</p><p>girassol</p><p>e algodão são mencionados como eficientes para o controle de ninfas da mosca</p><p>negra.</p><p>dc</p><p>a b</p><p>163</p><p>• Formigas cortadeiras (Atta spp. e Acroyrmex spp.)</p><p>As formigas cortadeiras causam danos principalmente em pomares novos,</p><p>pelo fato de as plantas terem pequena área foliar, sistema radicular pouco desen-</p><p>volvido e baixa reserva de carboidratos. Devido a essas características, o corte de</p><p>todas as folhas das mudas (Figura 73 a) recém-plantadas pode causar a morte, o</p><p>que torna o controle das formigas nessa fase rigoroso. Deve ser iniciado alguns</p><p>meses antes do plantio, tanto na área do pomar, quanto em áreas vizinhas.</p><p>As folhas cortadas (Figura 73 b) são carregadas para os ninhos localizados no</p><p>interior do solo, onde as formigas cultivam fungos simbiontes, que são usados</p><p>para sua alimentação. Entre os gêneros de maior importância para os citros, que</p><p>são Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns), destaca-se o primeiro. Para fins de</p><p>diferenciação dos gêneros, as formigas operárias do gênero Atta são maiores e</p><p>apresentam três pares de espinhos no dorso do tórax e as do gênero Acromyrmex</p><p>são menores do que as saúvas, com quatro pares de espinhos no dorso do tórax.</p><p>O controle das formigas quenquéns é feito mediante a localização dos for-</p><p>migueiros, que devem ser destruídos com enxada, aplicando-se em seguida um</p><p>inseticida diluído em água. Também podem ser controladas com a aplicação de</p><p>formicidas em pó nos olheiros, usando polvilhadeiras ou ainda usando iscas gra-</p><p>nuladas, colocadas ao lado das trilhas nas quais se observa a movimentação das</p><p>formigas.</p><p>As saúvas são controladas usando iscas granuladas, formici-</p><p>das em pó ou diluídos em água ou com termonebulizadores</p><p>(Tabela 19). Quando o formigueiro é localizado, a aplicação de</p><p>formicida apresenta efeito mais rápido de controle, mas, mui-</p><p>tas vezes, os formigueiros não são localizados no campo. Nessa</p><p>situação, o uso de iscas granuladas é mais prático.</p><p>Iscas granuladas e inseticidas em pó são mais indicados para uso na época</p><p>seca do ano, enquanto os diluídos em água podem ser aplicados em qualquer</p><p>época. Formicidas em pó e diluídos devem ser aplicados diretamente nos olhei-</p><p>ros ativos, ou seja, naqueles onde se observa a movimentação das formigas.</p><p>e</p><p>Figura 72 – Mosca branca dos citros (Aleurothrixus floccosus) na epiderme abaxial das folhas (a);</p><p>detalhe de adultos e ovos da mosca branca, que são depositados em círculo na epiderme foliar</p><p>(b); ninfa, adultos e ovos da mosca negra dos citros, depositados em espiral nas folhas (c); detalhe</p><p>da mosca negra na epiderme adaxial de folha de lima Tahiti (d); fungo entomopatogênico de cor</p><p>laranja Aschersonia aleyrodis em colônia de mosca negra (e)</p><p>Õ</p><p>164</p><p>• Declínio lento dos citros (Tylenchulus semipenetrans)</p><p>Conforme o nome indica, os sintomas do declínio lento dos citros causado</p><p>pelo nematoide Tylenchulus semipenetrans se desenvolvem lentamente na</p><p>planta, geralmente visíveis depois de sete ou oito anos após o plantio das mudas.</p><p>Os sintomas iniciais são a redução do número e do tamanho dos frutos. Com a</p><p>evolução dos sintomas, nota-se falta de vigor nas plantas, redução da produção</p><p>e tamanho dos frutos e das folhas, podendo haver perda total da colheita, em</p><p>ataques severos. Embora raramente ocorra a morte da planta, a queda de folhas</p><p>e o secamento dos ramos superiores também são sintomas comuns.</p><p>Os sintomas de declínio lento podem variar, dependendo do nível de</p><p>infestação, idade e manejo das plantas. São mais evidentes em pomares mal</p><p>cuidados, com plantas estressadas por causa de deficiência hídrica ou qualquer</p><p>outro fator.</p><p>O nematoide Tylenchulus somente pode ser visto ao microscópio e apresenta</p><p>dimorfismo sexual. Apenas as fêmeas parasitam as plantas, apresentam um</p><p>estilete retrátil, provido de um canal interior, que é usado para alimentação.</p><p>A fêmea adulta apresenta o formato de um saco, com a extremidade anterior</p><p>alongada, que é introduzida no parênquima cortical das radicelas. A parte mais</p><p>dilatada do corpo permanece do lado de fora da raiz. Uma vez que se fixam nas</p><p>raizes, elas se tornam imóveis. Os ovos de Tylenchulus semipenetrans podem ficar</p><p>quiescentes por até 10 anos no solo e são transportados por enxurradas e água</p><p>de irrigação. O plantio de mudas infectadas também é uma importante forma de</p><p>disseminação do nematoide.</p><p>O declínio lento pode estar associado à presença de patógenos de solo,</p><p>como Phythopthora spp, causador da gomose dos citros, por favorecer a infecção</p><p>das raízes pelo patógeno.</p><p>O manejo do nematoide deve ser feito selecionando áreas livres, uso de</p><p>porta-enxertos resistentes (Poncirus trifoliata), tolerantes (citrumeleiro ‘Swingle’)</p><p>ou nematicidas, embora no site do Ministério da Agricultura (Agrofit) não conste</p><p>nematicidas registrados para o controle desse nematoide em citros.</p><p>Figura 73 – Mudas de citros recém-plantadas, cujas fo-</p><p>lhas foram todas cortadas por formigas saúva (a);</p><p>a</p><p>165</p><p>DISTÚRBIOS FISIOLÓGICOS DOS</p><p>FRUTOS</p><p>Os distúrbios fisiológicos abióticos são disfunções resultantes do mau fun-</p><p>cionamento dos processos fisiológicos que ocorrem nos tecidos dos frutos, de-</p><p>vido a estresses causados por fatores, como temperaturas e umidade relativas</p><p>muito altas ou muito baixas; intoxicação por agrotóxicos; falta ou excesso de</p><p>nutrientes, luz ou umidade do solo; poluição atmosférica; acidez ou alcalinidade</p><p>do solo, entre outros.</p><p>Nos frutos dos citros, os distúrbios fisiológicos podem ocorrer na casca, na</p><p>polpa ou em ambos. Os principais distúrbios que ocorrem na casca dos frutos</p><p>são queimadura de sol (sunburn), rachadura dos frutos (splitting), encrespamen-</p><p>to (creasing ou albedo breakdown), estufamento da casca (bufado, peel puffing),</p><p>e oleocelose (Oleocelosis). Na polpa, o distúrbio mais comum é a granulação e a</p><p>podridão estilar da lima ‘Tahiti’, que ocorre tanto na casca quanto na polpa.</p><p>1. QUEIMADURA DE SOL (SUNBURN)</p><p>Esse distúrbio é comum em regiões áridas e semiáridas (tropicais), como as</p><p>existentes no Norte de Minas Gerais, onde é comum a presença de frutos quei-</p><p>mados pelo sol nos pomares. As condições de intensidade luminosa muito alta,</p><p>associada aos ventos quentes e secos, favorecem o aparecimento do distúrbio.</p><p>A queimadura pode ocorrer nos frutos e também na casca dos</p><p>ramos. Os danos nos frutos acontecem quando permanecem</p><p>por longos períodos expostos à incidência de radiação solar</p><p>direta. A queimadura é pior nos cultivares que produzem fru-</p><p>tos na parte externa da copa e pouco protegidos por folhas.</p><p>O tangor ‘Murcote’ é um dos frutos cítricos mais suscetíveis à</p><p>queimadura, além da tangerina ‘Poncã’.</p><p>A queimadura ocorre com maior frequência em cultivares cujos frutos têm</p><p>casca fina, como também é o caso do tangor ‘Murcote’. Na face do fruto voltada</p><p>para o sol ocorrem desidratação e necrose dos tecidos, que adquirem coloração</p><p>escura (marrom ou preto) e são circundados por um halo amarelado (Figura 74</p><p>a). Além da casca, ocorre também o secamento da polpa, no local onde houve a</p><p>queimadura.</p><p>Para minimizar os efeitos ou reduzir incidência da queimadura, recomenda-</p><p>-se pintar frutos e caules das plantas jovens e recém-podadas, com tinta branca</p><p>à base de água (Figura 74 b).</p><p>14</p><p>Õ</p><p>166</p><p>2. RACHADURA DOS FRUTOS (SPLITTING)</p><p>O sintoma inicial desse distúrbio é uma pequena fissura na zona estilar do</p><p>fruto, que progride em sentido longitudinal, podendo alcança-lo todo. Está re-</p><p>lacionada à incapacidade da casca dos frutos de algumas variedades de acom-</p><p>panhar o desenvolvimento da polpa. O fluxo de seiva para o interior do fruto</p><p>provoca sua expansão pressionando a casca, que rompe nos pontos menos re-</p><p>sistentes, como a região estilar, onde a casca dos frutos é mais fina.</p><p>Normalmente, a rachadura ocorre antes do amadurecimento dos frutos, com</p><p>a exposição dos gomos e das vesículas de suco (Figura 75). Os frutos ficam im-</p><p>próprios para o consumo devido ao aspecto e ao apodrecimento causado por</p><p>fungos, como os mofos verde e azul, provocados por Penicillium.</p><p>Embora a causa exata seja desconhecida,</p><p>de ácido giberélico em porta-enxertos de citros</p><p>pode induzir ao surgimento de folhas e brotações em espinhos, que se transfor-</p><p>mam em ramos vegetativos. Esse fato foi observado em porta-enxertos de limo-</p><p>eiro ‘Volcameriano’, pulverizados com ácido giberélico aplicado na concentração</p><p>de 20 g do ingrediente ativo por litro.</p><p>As folhas dos citros são de cor verdes claro quando novas e verdes escuras</p><p>quando amadurecem. Com exceção do Poncirus trifoliata, cujas plantas são ca-</p><p>ducifólias, os citros são plantas perenifólias, portanto, não se adaptam a regiões</p><p>com inverno rigoroso.</p><p>Existe uma variabilidade considerável entre espécies e cultivares de citros</p><p>quanto à forma e tamanho das folhas (Figura 3 e), que são aparentemente sim-</p><p>ples, mas botanicamente são consideradas folhas compostas unifoliadas que</p><p>perderam os folíolos durante a evolução das espécies. Na maioria das espécies</p><p>de Citrus, o pecíolo das folhas é alado, cuja presença é útil na taxonomia de es-</p><p>pécies e reconhecimento de cultivares. Por exemplo, em folhas de pomeleiros</p><p>e toranjeiras, as asas são proeminentes e nas laranjeiras elas são pequenas e</p><p>ausentes nos limoeiros (Figura 3 f ). Plantas de Poncirus trifoliata e híbridos têm</p><p>folhas compostas por três folíolos, tornando fácil sua identificação em viveiros e</p><p>nos campos de produção de sementes de porta-enxertos (Figura 3 e).</p><p>As folhas dos citros são distribuídas em espiral em torno do caule, cuja di-</p><p>reção é revertida a cada fluxo. A filotaxia é 3/8 para a maioria das espécies, en-</p><p>tretanto, as toranjas e pomelos apresentam filotaxia de 2/5. A distribuição das</p><p>folhas nos ramos é importante para que haja melhor captação da luz solar inci-</p><p>dente.</p><p>23</p><p>As flores dos citros são hermafroditas, entretanto há espécies como Citrus</p><p>medica (cidra) e Citrus limon (limões), que produzem flores masculinas devido</p><p>ao abortamento do pistilo (Figura 4 a). Têm de três a cinco sépalas de coloração</p><p>verde, de três a cinco pétalas de cor branca ou púrpura (limões, cidras), sendo</p><p>que cinco é o número mais comum para ambas (Figura 4 b). Os estames variam</p><p>entre 20 e 40, soldados pela base em grupos de três a quatro (Figura 4 c). As</p><p>anteras apresentam grãos de pólen amarelos brilhantes, que são transportados</p><p>por insetos, principalmente abelhas. Há cultivares que são estéreis, como a li-</p><p>meira ‘Tahiti’, cujas flores não produzem pólen e laranjeiras de umbigo (‘Bahia’),</p><p>cuja produção de pólen é muito pequena. O pistilo é formado pela união de</p><p>vários carpelos, com o ovário situando-se na sua base e o estigma no seu ápi-</p><p>ce. Durante certo período, o estigma apresenta um fluido viscoso no seu ápice</p><p>para facilitar a aderência, hidratação e germinação dos grãos de pólen (Figura 4</p><p>d). Há diversos cultivares que apresentam esterilidade feminina, por defeito na</p><p>formação do saco embrionário, sendo relatada sua presença em cultivares de</p><p>tangerineiras do grupo das satsumas e nas laranjeiras de umbigo.</p><p>Figura 3. (a) Ramos de citros de planta juvenil, com espinhos longos; (b) ramo jovem de laranjeira,</p><p>com quinas proeminentes devido ao crescimento desigual que se inicia na base de cada pecíolo.</p><p>Essas quinas originam uma seção triangular quando o ramo é cortado transversalmente; (c) ramo</p><p>maduro de laranjeira com caule cilíndrico e folhas de cor verde escuro; (d) nó, formado pelo con-</p><p>junto de gema, espinho, e folhas; (e) folhas de citros com diversos tamanhos, formatos e caracte-</p><p>rísticas das asas no pecíolo; (f ) ramo novo de citros, mostrando a distribuição das folhas</p><p>a b</p><p>c d</p><p>e f</p><p>24</p><p>Figura 4 – (a) Flor estaminada de limoeiro (Citrus limon), com as pétalas púrpu-</p><p>ras do lado externo; (b) flor de Poncirus trifoliata, com cinco pétalas brancas; (c)</p><p>flor de laranjeira mostrando os estames em grupos de três, soldados pela base;</p><p>(d) detalhe das anteras de coloração amarela e ápice do estigma, mostrando a</p><p>presença de líquido viscoso que favorece a adesão dos grãos de pólen</p><p>Os frutos são classificados como hesperídios, um tipo especial de baga, for-</p><p>mada pelo epicarpo ou flavedo (parte externa, pigmentada), pelo mesocarpo ou</p><p>albedo (tecido normalmente branco, esponjoso), que praticamente não existe</p><p>em tangerinas maduras, e pelo endocarpo (gomos ou segmentos) (Figura 5). A</p><p>casca dos frutos é formada pelo exocarpo e o mesocarpo.</p><p>O flavedo (Figura 5 a) é glabro em todas as espécies cítricas, com exceção</p><p>dos frutos de Poncirus trifoliata, que são pubescentes. O flavedo é formado por</p><p>algumas camadas de células parenquimáticas, com formato tabular, compactas</p><p>e cobertas pela cutícula. Abaixo dessas células, estão algumas camadas de cé-</p><p>lulas globosas. Nelas se observa a presença de glândulas de óleo essencial, cuja</p><p>composição química é complexa. Podem existir mais de 300 componentes quí-</p><p>micos diferentes, cuja maioria é volátil, são responsáveis pelo aroma da casca</p><p>dos frutos. São utilizados na indústria química, perfumaria, alimentos, produtos</p><p>de limpeza e medicamentos. A composição dos óleos essenciais, também pre-</p><p>sentes nas folhas, depende da espécie, da variedade e de fatores climáticos. Nos</p><p>frutos imaturos, o flavedo contém cloroplastos e estômatos funcionais, o que</p><p>lhes confere certa capacidade fotossintética.</p><p>Durante a maturação dos frutos, os cloroplastos são gradualmente transfor-</p><p>mados em cromoplastos, ricos em carotenoides, que são responsáveis pela co-</p><p>loração amarela ou laranja dos frutos. As laranjas sanguíneas apresentam outros</p><p>pigmentos, como as antocianinas, que são responsáveis pela coloração averme-</p><p>lhada do suco e, às vezes, da casca. A elas são atribuídas propriedades medi-</p><p>cinais, como ação anti-inflamatória, hormonal, anti-hemorrágica, antialérgica e</p><p>anticancerígena.</p><p>O mesocarpo (albedo) é de cor branca, cuja espessura e consistência variam</p><p>de acordo com a idade dos frutos e com a espécie (Figura 5 b). Na fase inicial do</p><p>crescimento dos frutos (divisão celular), as células estão intimamente ligadas en-</p><p>a b</p><p>c d</p><p>25</p><p>tre si, formando um tecido compacto e o albedo é espesso. Na fase de expansão</p><p>celular, inicia-se a formação de espaços celulares, que vão aumentando com a</p><p>idade dos frutos. Em frutos maduros, o albedo é formado por células grandes,</p><p>com grandes espaços intercelulares, que tornam o tecido esponjoso. Nessa fase,</p><p>o albedo é mais fino devido ao aumento do volume de suco nas vesículas, que</p><p>pressiona a casca de dentro para fora, tornando-a mais lisa e fina.</p><p>Quanto à variação das características do albedo em função da espécie, cons-</p><p>tata-se que é bastante espesso e compacto nas cidras (Citrus medica), espesso e</p><p>esponjoso nas toranjas (Citrus grandis), chegando a medir de 2 a 3 centímetros,</p><p>intermediário em laranjas (Citrus sinensis), fino em limas ácidas e doces (Citrus</p><p>aurantifolia), e praticamente ausente em frutos de algumas variedades de tan-</p><p>gerineiras (Citrus reticulata) (Figura 5 c).</p><p>As vesículas de suco são estruturas multicelulares alongadas, que estão</p><p>unidas à região dorsal do gomo por filamentos denominados pedicelos, cujo</p><p>comprimento varia em função da localização da vesícula no gomo. São drenos</p><p>terminais, cujo desenvolvimento é complexo. Não estão conectadas ao sistema</p><p>vascular, portanto, a água e sólidos solúveis, necessários ao seu enchimento,</p><p>que são levados por transporte não vascular (célula a célula), via simplasto pelos</p><p>plasmodesmos ou via apoplasto.</p><p>Em alguns cultivares de citros (laranjas de Umbigo) ocorre a formação de</p><p>um segundo grupo de carpelos localizado na extremidade estilar, formando um</p><p>fruto secundário denominado “umbigo”, que pode estar oculto pela casca ou</p><p>mesmo formar uma protuberância externa (Figuras 5 d e 5 e).</p><p>a</p><p>b</p><p>c d</p><p>26</p><p>Os carpelos, que são considerados folhas modificadas, orientadas vertical-</p><p>mente, com suas margens curvadas para o eixo central, formam os lóculos ou</p><p>gomos dos frutos. O número de carpelos nos frutos dos citros varia de acordo</p><p>com os gêneros. No gênero Fortunella, eles variam de três a sete, enquanto nos</p><p>gêneros Citrus e Poncirus, o número mais comum de carpelos</p><p>está entre oito a</p><p>doze.</p><p>Em cada carpelo, existem duas fileiras, contendo de quatro a seis óvulos</p><p>cada, que irão originar as sementes, que são, geralmente, de cor creme, forma</p><p>irregular, fusiformes ou pontiagudas. Quando desenvolvidas, as sementes são</p><p>coriáceas e escorregadias.</p><p>O número de sementes nos frutos varia consideravelmente (Figuras 5 a, 5 b e</p><p>5 c). Há desde cultivares sem sementes, cujos frutos são formados por parteno-</p><p>carpia, até cultivares com número superior a 40 sementes por fruto. A ausência</p><p>de sementes é uma característica desejável para cultivares cujos frutos são con-</p><p>sumidos in natura. Ela pode ser ocasionada por autoincompatibilidade (falta de</p><p>formação de em briões após autopolinização, embora os gametas sejam funcio-</p><p>nais), esterilidade masculina (problemas no desenvolvimento do pólen ou dos</p><p>estames) e ou feminina (comprometimento da viabilidade do saco embrionário</p><p>ou do pistilo). Cultivares triploides, como a limeira ácida ‘Tahiti’, não produzem</p><p>sementes devido à irregularidade na meiose.</p><p>Na reprodução por sementes, os citros produzem dois tipos de</p><p>embriões: o sexual (oriundo da fecundação) e os nucelares ou</p><p>apomíticos, que se originam das células não fertilizadas do te-</p><p>cido nucelar. Esses embriões originam plantas que têm o mes-</p><p>mo genótipo da planta-mãe. Em uma mesma semente de ci-</p><p>tros, podem ser encontrados vários embriões. Geralmente, um</p><p>deles é resultante da fecundação do óvulo, cuja informação ge-</p><p>nética depende dos genitores, e os demais são geneticamente</p><p>iguais à planta produtora da semente (planta-mãe).</p><p>A poliembrionia é um dos principais obstáculos para o melhoramento dos</p><p>citros usando métodos convencionais, em função da dificuldade de separação</p><p>Õ</p><p>Figura 5 – (a) Corte transversal da laranja ‘Serra d’Água’, indicando</p><p>suas principais estruturas; (b) frutos de lima doce, com diversos</p><p>estádios de desenvolvimento, mostrando os aumentos ocorridos</p><p>na razão endocarpo/casca; (c) tangerina mostrando a ausência de</p><p>albedo; (d) parte interna do umbigo de laranja ‘Bahia’ com vesícu-</p><p>las de suco no interior; (e) laranjas ‘Bahia’ provenientes da mesma</p><p>planta, mostrando umbigos com diferentes tamanhos</p><p>e</p><p>27</p><p>das plantas oriundas de embriões sexuais e nucelares. A maior parte das espé-</p><p>cies de citros é poliembriônica. Entretanto, há espécies monoembriônicas, como</p><p>a cidreira (Citrus medica), toranjeira (Citrus maxima), limoeiros (Citrus limon) e</p><p>tangerinas do grupo das clementinas (Citrus clementina).</p><p>Os embriões zigóticos têm maior dificuldade de sobrevivência, por causa da</p><p>competição por espaço e nutrientes que existe entre eles e os embriões nucela-</p><p>res. Geralmente, quanto maior o número de embriões por semente, menor é o</p><p>tamanho e a sobrevivência do embrião sexual. Os embriões nucelares limitam a</p><p>variabilidade genética existente na progênie de um cruzamento qualquer, o que</p><p>reduz a probabilidade de obtenção de novos genótipos.</p><p>28</p><p>DESENVOLVIMENTO DA PLANTA E</p><p>DO FRUTO</p><p>1. PLANTA</p><p>O ciclo de vida de uma planta de citros utilizada comercialmente pode ser</p><p>dividido em três diferentes fases, cuja duração depende de vários fatores como</p><p>cultivar copa e porta-enxerto, clima, solo, tratos culturais e incidência de pragas</p><p>e doenças.</p><p>As fases são:</p><p>• Propagação - É a fase compreendida entre a semeadura dos porta-enxer-</p><p>tos e o momento em que as mudas estão com o desenvolvimento adequado</p><p>para serem plantadas no campo. O período de produção da muda varia em fun-</p><p>ção do sistema usado (céu aberto ou em ambiente protegido), do porta-enxerto</p><p>e dos tratos culturais, principalmente adubação, irrigação e controle de pragas</p><p>e doenças.</p><p>• Formação da Planta - é a fase em que a planta apresenta crescimento ati-</p><p>vo, formando toda a sua estrutura vegetativa (raízes, tronco, ramos e folhas) para</p><p>sustentar a produção futura. A produção é muito pequena ou nula no primeiro</p><p>ano após o plantio, porém aumenta gradativamente à medida que a planta vai</p><p>envelhecendo. Nessa fase, os recursos gerados com a venda dos frutos são in-</p><p>feriores aos custos de produção. Portanto, é necessário que o produtor possua</p><p>reservas de recursos suficientes para realizar os tratos culturais necessários. A</p><p>duração média dessa fase é de quatro a cinco anos.</p><p>• Produção - Inicia-se a partir dos cinco anos. A produção máxima de fru-</p><p>tos pelas plantas é alcançada aos oito a dez anos após o plantio, mantendo-</p><p>-se estável por vários anos. Nesse período, o crescimento vegetativo da planta</p><p>é pequeno, havendo apenas a substituição de folhas que caem e de ramos que</p><p>eventualmente secam. Os pomares de citros, quando bem manejados, apresen-</p><p>tam potencial para produzir comercialmente durante mais de 30 anos. Poste-</p><p>riormente, entram na fase de senescência, na qual a produção e, consequente-</p><p>mente, os lucros advindos dela decrescem gradualmente. Entretanto, devido ao</p><p>manejo inadequado e, principalmente, à alta incidência de doenças e pragas, os</p><p>pomares em algumas regiões do Brasil têm sido renovados com idade em torno</p><p>de 20 anos ou menos.</p><p>O desenvolvimento dos ramos dos citros sofre influência acentuada do cli-</p><p>ma, principalmente da temperatura e da umidade. O crescimento normalmente</p><p>ocorre em dois surtos anuais bem definidos nas regiões de clima frio, enquanto</p><p>nas regiões mais quentes, de clima tropical ou subtropical úmido, podem ocor-</p><p>rer de três a cinco surtos.</p><p>O surto de crescimento mais importante ocorre na primavera, quando a</p><p>planta emite ramos vegetativos e reprodutivos (Figura 6 a).</p><p>05</p><p>29</p><p>Os brotos dos citros são classificados de acordo com a presença ou não de</p><p>flores nos ramos e com o número de flores e folhas presentes:</p><p>- broto vegetativo (Figura 6 b – 1),</p><p>- broto reprodutivo unifloral com folhas (Figura 6 b - 2),</p><p>- broto reprodutivo multifloral com folhas (Figura 6 b - 3),</p><p>- broto reprodutivo unifloral sem folhas (Figura 6 b - 4),</p><p>- broto reprodutivo multifloral sem folhas (Figura 6 b - 5).</p><p>Os demais surtos de crescimento ocorrem no verão e outono, quando os</p><p>ramos geralmente são mais longos, mais vigorosos, com folhas maiores e entre-</p><p>nós mais compridos e não produzem flores, a não ser que condições climáticas</p><p>indutivas ao florescimento ocorram antes da brotação das plantas. As flores dos</p><p>citros originam-se de gemas presentes nas brotações novas, que, por sua vez,</p><p>são originadas de gemas presentes em ramos provenientes dos surtos ou fluxos</p><p>de crescimento do ano anterior. Percebe-se, portanto, que somente ramos ma-</p><p>duros, porém, com idade inferior a um ano, têm capacidade de emitir brotações</p><p>reprodutivas. Por isso, a produção dos citros está concentrada na parte externa</p><p>da copa.</p><p>O florescimento principal dos citros ocorre no início da primavera (agosto</p><p>- setembro no hemisfério Sul e final de março a início de maio no hemisfério</p><p>Norte). No entanto, algumas espécies e cultivares florescem várias vezes durante</p><p>o ano, como a cidreira, os limoeiros verdadeiros, a limeira ácida ‘Tahiti’ e algumas</p><p>laranjeiras, como a ‘Pêra Rio’.</p><p>Uma planta de citros adulta produz elevado número de flores, podendo</p><p>alcançar mais de 100.000 unidades. Mas o número de frutos produzidos pela</p><p>planta é baixo, quando comparado ao número de flores, podendo oscilar entre</p><p>0,1 a 15% do total de flores produzidas. Essa variação depende da idade das</p><p>plantas, manejo do pomar, pragas, doenças e uso de técnicas para aumentar o</p><p>vingamento, como anelamento de troncos e ramos. Geralmente, o vingamento</p><p>de frutos é maior em plantas mais novas, durante a fase de formação do que em</p><p>plantas mais velhas, que já estão na fase de produção.</p><p>A necessidade de polinização e fecundação para que ocorra a fixação dos</p><p>frutos dos citros é variável, dependendo do cultivar em questão. Flores dos cul-</p><p>a b</p><p>1</p><p>2</p><p>43</p><p>5</p><p>Figura 6 - Laranjeira durante brotação de primavera, emitindo ramos reprodutivos (ramos com flo-</p><p>res) e ramos apenas vegetativos (a); Tipos de brotações dos citros (b): broto vegetativo (1), broto</p><p>reprodutivo unifloral com folhas (2), broto reprodutivo multifloral com folhas (3) broto</p><p>reproduti-</p><p>vo unifloral sem folhas, (4) broto reprodutivo multifloral sem folhas (5).</p><p>30</p><p>tivares de citros, cujos frutos produzem muitas sementes, necessitam ser polini-</p><p>zadas e fecundadas para a produção de frutos. Entretanto, existem variedades</p><p>partenocárpicas, que não necessitam polinização e fecundação para que produ-</p><p>zam frutos. Ainda existem aquelas que necessitam apenas da polinização, mas</p><p>não da fecundação para que haja o desenvolvimento dos frutos. A polinização</p><p>é efetuada por insetos, principalmente abelhas, que são atraídas pela fragrância</p><p>liberada por elas.</p><p>Durante o florescimento e frutificação, ocorre queda acentuada de flores e</p><p>frutos em vários estádios de desenvolvimento (Figura 7 a). Nas flores remanes-</p><p>centes, as pétalas caem ao mesmo tempo em que o ovário inicia o seu desenvol-</p><p>vimento. Os pequenos frutos no início do desenvolvimento que estão propen-</p><p>sos a “vingar” apresentam coloração verde escura e são brilhantes, enquanto os</p><p>que irão cair ficam amarelados (Figura 7 b).</p><p>2. FRUTO</p><p>O crescimento dos frutos dos citros é do tipo sigmoidal simples, podendo</p><p>ser dividido em três fases - embora não seja possível distinguir claramente o tér-</p><p>mino de uma fase e o início da subsequente. Elas são denominadas de fase I (di-</p><p>visão celular), II (expansão celular) e III (amadurecimento dos frutos). A duração</p><p>de cada fase depende da espécie de citros e das condições climáticas. Em Viçosa</p><p>(MG), o desenvolvimento de tangerinas ‘Poncã’ a partir de cinco milímetros de</p><p>diâmetro até a colheita dos frutos, realizada quando com valor médio de sólidos</p><p>solúveis totais de 11,1 e acidez total titulável de 0,5 durou 276 dias (9,2 meses)</p><p>(Figura 8).</p><p>- Fase I: começa logo após o florescimento, antes da queda das pétalas, o au-</p><p>mento em tamanho dos frutos é pequeno, restrito praticamente à casca. A divi-</p><p>são celular, porém, é intensa. Na fase I são formadas praticamente todas as célu-</p><p>las do fruto, cuja expansão na fase subsequente será responsável pelo tamanho</p><p>final dos frutos. Sua duração é de 1,0 a 1,5 meses após a antese, dependendo das</p><p>condições climáticas e do cultivar, podendo ir até o período de queda fisiológica</p><p>dos frutos (“queda de junho”, no hemisfério Norte, ou “queda de novembro”, no</p><p>hemisfério Sul).</p><p>- Fase II: a espessura da casca diminui e o albedo se torna mais fino, com o</p><p>aumento do conteúdo de suco nas vesículas, resultando em aumento de volume</p><p>do endocarpo, que exerce pressão de dentro para fora sobre a casca, “esticando-</p><p>-a”. Durante essa fase, o volume celular pode aumentar centenas de vezes.</p><p>Sua duração varia de acordo com as espécies e cultivares, a temperatura e</p><p>Figura 7 - Frutinhos abscindidos de lima ácida Tahiti com diferentes tamanhos (a); frutos no início</p><p>do desenvolvimento que estão propensos a “vingar” têm coloração verde escura e são brilhantes,</p><p>enquanto os que irão cair ficam amarelados (b). Viçosa – MG</p><p>a b</p><p>31</p><p>a umidade, indo de dois até 10 meses. Ela determina a época de colheita dos</p><p>frutos, e é maior nas variedades tardias; intermediária nas variedades da estação,</p><p>e menor nas precoces. Em locais de clima subtropical, em que as temperaturas</p><p>durante o inverno são mais baixas, a duração da fase II é maior do que nas re-</p><p>giões tropicais. É por essa razão que os frutos de um mesmo cultivar de citros,</p><p>plantado, por exemplo, na região Norte de Minas Gerais, são colhidos mais cedo</p><p>do que os do mesmo cultivar, cujas plantas se desenvolveram na região Sul do</p><p>estado. À medida que as vesículas de suco absorvem água, elas crescem pro-</p><p>gressivamente, ocupando as cavidades dos lóculos, enquanto o albedo se torna</p><p>mais fino. O volume de suco alcança o máximo no final dessa fase, quando tam-</p><p>bém tem início o acúmulo de açúcares. A fase II termina com o início do amadu-</p><p>recimento dos frutos.</p><p>- Fase III: é a fase de amadurecimento dos frutos, na qual praticamente não</p><p>há crescimento do endocarpo. Entretanto, nesta fase ainda pode haver pequeno</p><p>crescimento da casca em algumas tangerinas, como satsumas e ‘Poncã’, em</p><p>detrimento do endocarpo, o que resulta na separação da casca do endocarpo,</p><p>gerando espaços vazios, prejudicando a aparência dos frutos e aumentando</p><p>a suscetibilidade a danos por compressão. Essa desordem é conhecida como</p><p>puffing (inglês), bufado (espanhol) ou estufamento dos frutos.</p><p>Durante a fase III ocorre principalmente o aumento do conteúdo de sólidos</p><p>solúveis; redução da acidez do suco; aumento no Índice de Maturação (Figura 9)</p><p>e alteração na cor da casca, que se torna laranja ou amarela, dependendo do cul-</p><p>tivar e do clima. Em regiões onde ocorrem temperaturas elevadas durante a fase</p><p>de amadurecimento, a casca dos frutos pode permanecer verde ou esverdeada,</p><p>mesmo quando ele está internamente apto para o consumo.</p><p>Figura 8 - Crescimento de tangerinas ‘Poncã’ a</p><p>partir de cinco milímetros de diâmetro até a co-</p><p>lheita dos frutos, que ocorreu quando estavam</p><p>com valor médio de teores de sólidos solúveis</p><p>totais de 11, 1 e acidez total titulável de 0,5. Vi-</p><p>çosa – MG.</p><p>32</p><p>3. PRINCIPAIS FATORES QUE AFETAM O CRESCIMENTO DOS FRUTOS</p><p>O crescimento dos frutos depende de fatores que podem atuar isoladamen-</p><p>te ou em conjunto. Considerando apenas os fatores endógenos, ou inerentes à</p><p>planta, o crescimento dos frutos é influenciado principalmente pela genética,</p><p>tipo de inflorescência, área foliar, número de flores e de frutos presentes na plan-</p><p>ta, disponibilidade de carboidratos e hormônios.</p><p>a) Tipo de inflorescência e área foliar</p><p>Brotações com maior relação folha/fruto, como é o caso das inflorescências</p><p>com folhas, geralmente apresentam maior fixação de frutos, taxa inicial de cres-</p><p>cimento e tamanho final de frutos. Isso ocorre provavelmente, porque as inflo-</p><p>rescências com folhas têm maior disponibilidade de carboidratos, maior força de</p><p>dreno e melhor conexão vascular com o fruto, em decorrência da maior produ-</p><p>ção de hormônios pelas folhas.</p><p>Geralmente, o tamanho da área fotossintética disponível para o crescimento</p><p>de cada fruto é o principal fator na determinação de seu tamanho, embora a área</p><p>ideal de folhas para o crescimento dos frutos, para o mesmo cultivar não seja</p><p>fixa. Ela pode variar de acordo com a idade da planta e as condições ambientais.</p><p>A influência do número de folhas disponíveis por fruto é exemplificada na</p><p>Figura 10, que mostra o efeito de várias relações folha/fruto (controle, 10, 20,</p><p>30 e 40 folhas por ramo) sobre o crescimento dos frutos de laranjeira ‘Salustia-</p><p>na’, situados em ramos que foram anelados quando os frutos tinham o tamanho</p><p>médio de 30 mm. No tratamento controle, ou testemunha, o número natural de</p><p>folhas por ramo foi mantido acima de 40. Observa-se que o diâmetro equatorial</p><p>e massa fresca dos frutos foram maiores na medida em que houve aumento do</p><p>número de folhas por ramo, provavelmente devido à maior disponibilidade de</p><p>carboidratos e de minerais. Nessa etapa, 30 folhas por fruto foram suficientes</p><p>Figura 9 - Evolução dos teores de suco (%) teores de sólidos solúveis (SST), acidez titulável (AT) e</p><p>Índice de Maturação (Relação brix/acidez) de quatro cultivares de laranjeiras em Viçosa – Minas</p><p>Gerais, no período entre 27 de abril a 31 de agosto de 2007</p><p>33</p><p>para garantir o seu crescimento. Isso porque as curvas para 30 e 40 folhas estão</p><p>muito próximas, tanto para o diâmetro quanto para a massa dos frutos.</p><p>b) Número de flores</p><p>O número médio de flores emitidas por planta de citros é alto, se comparado</p><p>com o de frutos que a planta pode manter até a maturação. Portanto, a per-</p><p>centagem de flores que vinga é muito baixa (Figura 11), podendo ser inferior a</p><p>0,2%. No exemplo ilustrado na Figura 11, em pomar de limeira ‘Tahiti’ não irriga-</p><p>do, o percentual de frutos colhidos foi de 2,95%. Nesse caso, a fixação dos frutos</p><p>pode ser considerada alta porque as plantas de ‘Tahiti’ eram jovens. É conhecido</p><p>que, em plantas jovens, a percentagem de fixação dos frutos é maior de que em</p><p>plantas mais velhas, devido, principalmente ao número muito menor de flores</p><p>produzidas nas</p><p>plantas jovens.</p><p>Frutos Colhidos</p><p>Botões florais</p><p>caídos</p><p>Flores caídas</p><p>Frutos caídos</p><p>2,95% 2%</p><p>49,71% 45,41%</p><p>Figura 10 - Efeito da relação folhas/frutos sobre o diâmetro dos frutos (mm), situados em ramos</p><p>anelados de laranjeira ‘Salustiana’. No tratamento controle, o número natural de folhas presentes</p><p>por ramo foi mantido acima de 40 folhas. Valencia – Espanha</p><p>Figura 11 - Percentagem de estruturas reprodutivas (botões florais, flores e frutos) caídas</p><p>durante o período de florescimento e frutificação e percentagem de frutos colhidos em</p><p>plantas de limeira ácida ‘Tahiti’ com cinco anos de idade. Viçosa – MG</p><p>34</p><p>Apesar da baixa fixação de flores e frutos nos citros, a produção das plantas</p><p>geralmente é alta, devido ao número elevado de flores produzidas, que pode ser</p><p>superior a 100.000 em plantas adultas. Somente em situações particulares, como</p><p>no caso de plantas novas e também em cultivares que apresentam alternância</p><p>de produção, nos anos de baixo florescimento, o pequeno número de flores pro-</p><p>duzidas pode reduzir a produção.</p><p>Há um equilíbrio entre a produção de flores e o número de frutos produ-</p><p>zidos para a maioria das espécies e cultivares de citros. A exceção são alguns</p><p>cultivares de tangerineiras, que produzem grande número de frutos, causando</p><p>o esgotamento de suas reservas nutricionais e, consequentemente, resultando</p><p>em produção de frutos de tamanho pequeno e em produção alternante na safra</p><p>seguinte à que ocorreu a produção excessiva. Esse fenômeno ocorre com frequ-</p><p>ência com a Poncã, que é a principal tangerineira cultivada no Brasil.</p><p>Nos demais cultivares, quando a produção de flores é elevada, o vingamento</p><p>é menor, indicando a existência de um mecanismo de compensação, que equili-</p><p>bra o número de frutos produzidos pela planta, de acordo com a capacidade de</p><p>fornecimento de metabólitos para evitar o esgotamento das reservas, garantin-</p><p>do o crescimento, floração e produção no ano seguinte.</p><p>c) Número de frutos</p><p>Durante o desenvolvimento, a competição entre flores e frutos por água, ele-</p><p>mentos minerais e carboidratos resulta em correlação negativa entre o número</p><p>de frutos por planta e o seu tamanho na colheita, ou seja, quanto menor o nú-</p><p>mero de frutos por planta, maior o tamanho individual de cada um deles. Entre-</p><p>tanto, essa correlação somente é significativa até determinado número de frutos</p><p>por planta, que é variável de acordo com cada cultivar e com o ambiente. Acima</p><p>desse número limite de frutos por planta, o tamanho final é pouco influenciado</p><p>pelo seu número na planta; ou seja, alcançam um tamanho mínimo, indepen-</p><p>dentemente do número de frutos presentes na planta.</p><p>O conhecimento dessa relação é fundamental para o emprego de técnicas</p><p>que visam aumentar o tamanho dos frutos de diversos cultivares de tangerinei-</p><p>ras e reduzir a alternância de produção. Práticas culturais, como o anelamento</p><p>dos ramos e desbaste de frutos, visam basicamente aumentar a disponibilida-</p><p>de de carboidratos e reduzir a competição entre os frutos, o que normalmente</p><p>resulta em aumento no tamanho dos frutos. Quanto foi realizado o anelamen-</p><p>to em troncos de limeiras ‘Tahiti’ com quatro anos de idade, constatou-se que</p><p>houve aumento no número de frutos por planta e redução na massa média dos</p><p>frutos, quando comparado com a incisão anelar e com a testemunha (Figura 12).</p><p>N</p><p>úm</p><p>er</p><p>o</p><p>de</p><p>fr</p><p>ut</p><p>os</p><p>p</p><p>or</p><p>p</p><p>la</p><p>nt</p><p>a</p><p>Técnica de interrupção do floema</p><p>Massa média dos frutosFrutos/ planta</p><p>0</p><p>84</p><p>Anelamento M</p><p>as</p><p>sa</p><p>m</p><p>éd</p><p>ia</p><p>p</p><p>or</p><p>fr</p><p>ut</p><p>o</p><p>(g</p><p>)</p><p>200</p><p>400</p><p>600</p><p>800</p><p>1000</p><p>82</p><p>80</p><p>78</p><p>76</p><p>74</p><p>72</p><p>70</p><p>68</p><p>66</p><p>Incisão Testemunha</p><p>Figura 12 - Valores médios do número de frutos colhidos por planta e</p><p>da massa média dos Frutos de limeiras ácidas ‘Tahiti’ com quatro anos</p><p>de idade, submetidas ao anelamento e incisão anelar no tronco. Viçosa</p><p>– MG</p><p>35</p><p>d) Carboidratos</p><p>Os frutos em franco desenvolvimento são os drenos mais fortes nas plantas</p><p>dos citros. O crescimento dos frutos depende, basicamente, da disponibilidade</p><p>de água, minerais, carboidratos e hormônios. A mobilização de carboidratos dos</p><p>órgãos de armazenamento para as inflorescências é fundamental para que ocor-</p><p>ra fixação satisfatória e o desenvolvimento normal dos frutos.</p><p>A desfolha das plantas realizada ao final da fase I de crescimento dos frutos</p><p>e início da fase II, momento em que há aumento significativo da demanda dos</p><p>frutos por carboidratos e minerais, causa interrupção do crescimento e poste-</p><p>riormente a abscisão dos frutos. Quando é realizada após a queda fisiológica</p><p>(june drop), a desfolha somente paralisa o crescimento dos frutos, mas não causa</p><p>abscisão.</p><p>A variação sazonal do teor de amido nas folhas e no lenho maduro indica</p><p>que ele se acumula durante o repouso do inverno. Na primavera, as reservas de</p><p>amido diminuem em função do transporte para as brotações vegetativas e re-</p><p>produtivas em formação, iniciando, neste momento, forte competição entre os</p><p>órgãos em desenvolvimento.</p><p>As reservas de amido nas folhas dependem da área foliar disponível por fruto</p><p>e do seu estádio de desenvolvimento. Em avaliações realizadas durante 42 dias,</p><p>em folhas de laranjeira ‘Salustiana’, situadas em ramos com diversas relações fo-</p><p>lhas/fruto, constatou-se que houve redução nas reservas de amido nas folhas,</p><p>considerando as avaliações inicial e final, além das reservas serem maiores nas</p><p>folhas situadas nos ramos com maior número de folhas (Figura 13).</p><p>e) Hormônios</p><p>As giberelinas, citocininas e auxinas participam do processo reprodutivo dos</p><p>citros. Entretanto, as giberelinas são as mais relacionadas à fixação e ao desen-</p><p>volvimento dos frutos. A aplicação de ácido giberélico no momento da antese</p><p>promove a divisão celular e estimula o transporte de minerais e fotoassimilados</p><p>até os ovários. Em alguns cultivares autoincompatíveis, como as tangerineiras</p><p>do grupo das clementinas, a aplicação de giberelinas compensa a ausência de</p><p>Figura 12 - Valores médios do número de frutos colhidos</p><p>por planta e da massa média dos Frutos de limeiras ácidas</p><p>‘Tahiti’ com quatro anos de idade, submetidas ao anela-</p><p>mento e incisão anelar no tronco. Viçosa – MG</p><p>36</p><p>autofecundação, aumentando a fixação e o desenvolvimento dos frutos.</p><p>Em cultivares polispérmicos (aqueles cujos frutos apresentam muitas se-</p><p>mentes), o desenvolvimento dos frutos está relacionado à presença de semen-</p><p>tes, que por sua vez depende da polinização. Normalmente, plantas desses culti-</p><p>vares têm maior fixação de frutos, porque a polinização e as sementes estimulam</p><p>a síntese de hormônios nos ovários em desenvolvimento, principalmente de gi-</p><p>berelinas, que evitam a queda de flores e frutos na fase inicial de crescimento.</p><p>Esse fato ocorre com a tangerineira ‘Dancy’, tangoreira ‘Murcotte’, tangerineira</p><p>‘Poncã’ e mexeriqueira ‘Rio’, que produzem muitas sementes e apresentam alta</p><p>fixação de frutos.</p><p>A aplicação exógena de giberelinas em ovários não polinizados de cultiva-</p><p>res polispérmicos aumenta a fixação, reforçando a importância da polinização e</p><p>das sementes nesses processos. Em cultivares partenocárpicos, como a laranjeira</p><p>‘Bahia’, as paredes do ovário são apontadas como as responsáveis pela produção</p><p>de hormônios, porém, em concentrações muito baixas, explicando a menor fixa-</p><p>ção de frutos observada em plantas desse cultivar.</p><p>4. ABSCISÃO DOS FRUTOS</p><p>A abscisão consiste no desprendimento de frutos, flores e folhas da planta. É</p><p>controlada por hormônios, principalmente o etileno, auxinas, ácido abscísico e</p><p>pela atividade de enzimas de degradação da parede celular e por vários agentes</p><p>bióticos e abióticos.</p><p>Nos frutos dos citros, existem duas zonas de abscisão: uma na união do ramo</p><p>ao pedúnculo e outra na região do cálice ou disco floral (Figura 14), formadas</p><p>por camadas de células parenquimáticas de paredes finas e praticamente sem</p><p>lignina e suberina.</p><p>Durante o primeiro mês após a antese, a abscisão ocorre principalmente na</p><p>região compreendida entre o pedúnculo e o ramo, mas, com o crescimento dos</p><p>frutos, há aumento progressivo de abscisão na região compreendida</p>

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