Prévia do material em texto
FRUTICULTURA SUBTROPICAL E TEMPERADA AULA 2 Profª Francelize Chiarotti 2 CONVERSA INICIAL Fruticultura subtropical Conhecer as características gerais que classificam as frutíferas em subtropicais proporcionam ao profissional ter referências para tomadas de decisão independentemente da região onde esteja atuando, uma vez que assim ele poderá avaliar quais tecnologias e manejos devem ser realizados e/ou adaptados para a frutífera em questão. Nesta etapa, vamos entender a importância da fruticultura subtropical e de que forma podemos desenvolvê-la de maneira assertiva, por meio de tomadas de decisão iniciais que serão cruciais para o planejamento e sucesso da produção. Há uma grande variedade de frutíferas para as diferentes classificações segundo o clima, sendo exemplos do clima subtropical: citros, goiaba, abacate, caqui, jabuticaba, figo e lichia, entre outras. TEMA 1 – FRUTÍFERAS DE CLIMA SUBTROPICAL As frutíferas de clima subtropical apresentam como características gerais: nem sempre ter hábito caducifólio; efetivar mais de um surto de crescimento; exibir menor resistência a baixas temperaturas, pouca necessidade de frio no período de inverno e exigência de temperatura média anual de 15 °C a 22 °C. Exemplos: citros, abacateiro, caqui, jabuticaba, goiaba, figo, lichia, entre outras. A seguir, serão descritos características e manejos gerais de algumas frutíferas de clima subtropical que possuem representatividade no setor, em nível nacional. 1.1 Citros Atualmente, o Brasil ocupa o primeiro lugar na produção mundial de frutos cítricos e de sucos processados, sendo responsável por mais de 30% da produção mundial. Isso se deve às condições favoráveis de clima e solo para a citricultura, sendo esse um mercado aberto e em expansão, com destaque para os frutos de mesa. A produção brasileira está bem distribuída por todo o país, com o Estado de São Paulo com maior participação. Outros estados vêm crescendo em importância no segmento. Na Associação Brasileira de Citros de Mesa (ABCM) há, atualmente, 90 associados, distribuídos em 6 estados: São 3 Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul (Oliveira, 2022). Apesar dos ótimos resultados, a cadeia de citros de mesa tem enfrentado diversos desafios nos últimos anos, dentre eles a questão climática, por conta de que, em anos secos, houve prejuízos no volume e qualidade das laranjas e questões com doenças como o greening. Além disso, a cada ano os supermercados e os consumidores estão mais exigentes, tanto em relação à rastreabilidade e certificações, mas também quanto ao padrão das frutas, variedades e sabores, o que leva, por exemplo, a um maior descarte de laranjas, reduzindo o volume das que atingem os padrões do segmento de mesa (Simoneti, 2022). A laranja (Figura 1), além de ser uma fruta de grande aceitação, é a mais consumida depois da banana, sendo hoje o Brasil o maior exportador mundial de seu suco pasteurizado e concentrado congelado, dando à laranja o maior valor de produção no agronegócio da fruticultura brasileira, levando em conta que a cada dez copos de suco de laranja consumidos no mundo, oito são dos brasileiros. Além da laranja, entre os citros há também a lima-ácida-tahiti, de casca verde, e o limão-siciliano, o de casca amarela (Simoneti, 2022). Figura 1 – Laranja (Citrus sinensis) Crédito: ABCDstock/Adobe Stock. 1.2 Goiaba A goiabeira (Figura 2), cientificamente conhecida como Psidium guajava, é uma árvore frutífera nativa das Américas Central e do Sul. É uma frutífera https://stock.adobe.com/contributor/203639713/abcdstock?load_type=author&prev_url=detail 4 cultivada em praticamente todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo e que vem ganhando espaço em todo o território nacional, com predominância nas Regiões Sudeste e Nordeste, mas também na Região Sul, principalmente no Rio Grande do Sul. É uma fruta altamente valorizada devido ao seu sabor característico e benefícios nutricionais, sendo rica em ácido ascórbico, mais conhecido como vitamina C (que, em altitudes mais elevadas, se apresenta em menor quantidade nos frutos), fibras e antioxidantes; e consumida tanto in natura como em produtos processados, como sucos, geleias e doces (Vilar, 2023). Figura 2 – Goiabeira Crédito: Elis Cora/Adobe Stock. 1.3 Abacate O abacate (Persea americana) (Figura 3) tem como origem o México e a América Central. No Brasil, a área plantada está em torno de 18 mil hectares, sendo São Paulo um dos principais produtores do país. Ser ele cultivado em quase todo o país propicia condições de produção o ano todo, tendo uma média de produtividade de 21 toneladas/hectare ao ano, de acordo, claro, com os manejos e condições edafoclimáticas. O Brasil ocupa a sexta colocação em produção mundial de abacate. Em 2019, o consumo per capita no país chegou a 900 g/ano. Em 2023, segundo informações da Associação Abacates do Brasil, de janeiro a maio de 2023, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) comercializou 27,6 mil toneladas de abacate nacional e https://stock.adobe.com/contributor/210439944/elis-cora?load_type=author&prev_url=detail 5 avocado, sendo os seus maiores produtores os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e o Distrito Federal (Avocado, 2024). A exportação do abacate vem rendendo bons lucros a produtores da Região Norte do Estado do Paraná. Atualmente, produtores de Nova América da Colina, Assaí e São Sebastião da Amoreira se dedicam ao plantio do avocado, também conhecido como abacate-hass. O avocado tem casca grossa e verde- escura e seu peso fica entre 200 g e 350 g, com mercado certo no exterior e preços de 50% a 100% superiores aos valores do abacate tropical (Avocado, 2024). O abacate apresenta caraterísticas benéficas à saúde, como presença de antioxidantes, vitaminas A, B e E, sendo ainda altamente energético e rico em lipídeos, com seu consumo in natura muito popularmente conhecido, sobretudo na culinária mexicana, vide o exemplo do guacamole. Além disso, além do fruto, as folhas são utilizadas de diversas formas, por exemplo, em produtos farmacêuticos, por causa de suas características diuréticas: a semente e a casca do abacate ostentam altos teores de compostos fenólicos e antioxidantes, e o óleo extraído da sua polpa é utilizado na indústria de cosméticos. Devido a todas essas características e sua alta aceitação nos mercados tanto nacional quanto internacional, a produção do abacate se tornou uma opção de cultivo valorizada em todo o país (Santarosa; Sant’Anna; Roussenq, 2023; Avocado, 2024). Figura 3 – Abacate Crédito: BlazingDesigns/Adobe Stock. https://stock.adobe.com/contributor/210819248/blazingdesigns?load_type=author&prev_url=detail 6 TEMA 2 – MANEJOS CULTURAIS No geral, os preparos de solo para as diferentes frutíferas englobam limpeza da área, subsolagem, gradagem, abertura de sulcos ou berços, correção de potencial hidrogeniônico (pH) e adubação de acordo com a análise de solo e a frutífera a ser implantada. Para as frutíferas de clima tropical as podas utilizadas são as de formação e de limpeza e/ou manutenção, além de desbrotas e desfolhas para melhorar a aeração entre ramos e aumentar a incidência de luz solar, o que vai afetar diretamente a qualidade final do fruto. Além disso, cada cultura poderá demandar manejos específicos. Dessa forma, é de suma importância averiguar o que há de mais atualizado em termos de desenvolvimento de tecnologias para a cultura escolhida. 2.1 Citros Na formação do pomar, a muda é um dos insumos mais importantes, sendo seu custo considerado baixo quando comparado à demanda de recursos necessários ao empreendimento. Ela está completamente relacionada ao sucesso da atividade.O custo da muda cítrica representa em torno de 17% do investimento de implantação, lembrando que mudas contaminadas por vírus, viroides, micoplasmas, gomoses e alguns nematoides manifestam-se, por vezes, apenas em plantas com mais de sete anos, ressaltando-se a importância da garantia da sanidade das mudas. Portanto, mudas certificadas, que estão dentro dos padrões da produção integrada de citros, irão garantir a genética e a qualidade fitossanitária (Oliveira et al., 2017). Quando falamos de mudas, buscam-se como características mais importantes: adequada combinação cultivar-copa e porta-enxerto, origem da semente do porta-enxerto e da borbulha da cultivar-copa, sanidade vegetal, morfologia da muda formada e qualidade do sistema radicular (Oliveira et al., 2017). Dentre as condições para a produção de mudas, estão: serem produzidas sobre bancadas, em ambiente protegido contra vetores de doenças (viveiros telados), em recipientes contendo substrato isento de patógenos e de propágulos de plantas daninhas, com sementes de porta-enxertos e de borbulhas de cultivares copa também certificados. O ambiente protegido é 7 exigido em função dos riscos elevados de clorose variegada dos citros (CVC), causada pela bactéria Xylella fastidiosa Wells et al., cancro cítrico (Xanthomonas axonopodis pv. citri), pinta-preta (Guignardia citricarpa Kiely), gomose (Phytophthora spp.) e, mais recentemente, huanglongbing (HLB, ex-greening), doença associada às bactérias Candidatus liberibacter spp. e a fitoplasmas do grupo IX (Oliveira et al., 2017). Devido à grande importância socioeconômica da citricultura, para garantir a segurança das mudas em todo o território nacional, atualmente, existem normas de produção e de comercialização de material de propagação de citros, para todas as espécies Citrus spp., Fortunella spp., Poncirus spp. e seus híbridos, assim como definições de padrões de identidade e de qualidade, tudo isso regido pela Instrução Normativa n. 48/2013 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa (Brasil, 2013). Por tal instrumento legal, não foi proibida a produção de mudas a campo, mas foi proibida a produção de mudas utilizando solo, o que, praticamente, inviabiliza o sistema de produção a céu aberto. No âmbito estadual, notadamente em estados onde a cultura dos citros é expressiva, como em São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul, também existem legislações locais (portarias, resoluções etc.) com critérios mais rigorosos do que a federal, objetivando uma qualificação ainda maior dos sistemas de produção de mudas. Além disso, o viveirista deve estar registrado como produtor de mudas no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem) e o viveiro, no Mapa. E, para o transporte das mudas, deve ser emitido o Certificado de Origem Fitossanitária (CFO) e uma permissão de trânsito (Leite Júnior et al., 2022). A propagação é realizada por enxertia, na qual os porta-enxertos devem ser enxertados quando apresentarem diâmetro mínimo de 5 mm na região da enxertia. A enxertia deve ser feita por borbulhia em T invertido, sendo fixada com fita plástica normal ou degradável. Essa fita degradável apresenta as vantagens de permitir a respiração do enxerto durante o pegamento, ser de fácil colocação e não necessitar ser removida, uma vez que se rompe com o desenvolvimento do enxerto (Oliveira, 2022). Dentre as cultivares copa comerciais no Brasil, temos: laranjas-doces (Citrus × sinensis (L.) Osbeck); tangerinas (C. reticulata Blanco); mexericas (C. deliciosa Tenore); tangores (C. sinensis (L.) Osbeck x C. reticulata Blanco); limões (C. × limon (L.) Burm. f.); e limas-ácidas como a tahiti (C. × latifolia 8 Tanaka). As laranjas-doces compreendem o grupo mais importante e são classificadas em quatro subgrupos, conforme suas características: comuns – iapar 73, pera, valência, natal, rubi, hamlin, westin, folha-murcha e outras; de umbigo – baia, baianinha, navelina e navelate; sanguíneas – moro, tarocco, sanguínea e outras; e de baixa acidez – lima, piralima e lima-verde (Leite Júnior et al., 2022). Assim como outras frutíferas, a citricultura é uma atividade de longo prazo e que pode ter uma vida útil de 15 a 25 anos, o que será determinado pela tecnologia adotada na implantação dos pomares e no manejo de solo, que possui grande influência sobre o potencial produtivo das plantas, sendo fundamental para o nível de lucratividade do empreendimento. Além das condições químicas, as condições físicas do solo, como a presença de compactação e adensamento, podem limitar o desenvolvimento normal das raízes, reduzindo a infiltração e o armazenamento de água no solo, causando aumento da erosão e redução da disponibilidade de água para as plantas cítricas. Portanto, na implantação dos pomares é preciso se atentar e se cuidar da cobertura vegetal do terreno, principalmente em áreas mais declivosas (Leite Júnior et al., 2022). Os manejos de poda de formação e de limpeza, condução, adubação, espaçamento, irrigação e adubação vão variar de acordo com a cultivar e a região onde será implantada a frutíferas e, ao receber as informações do local, o profissional deve averiguar quais as particularidades de manejo da cultivar a ser produzida e as condições de que o produtor dispõe. O manejo do solo utilizando práticas conservacionistas oferece benefícios químicos, físicos, biológicos e redução de custos. Com o pomar implantado, recomenda-se o uso de plantas de cobertura nas entrelinhas das plantas cítricas, que, juntamente com o terraceamento, quando necessário (de acordo com o declive), são as principais práticas conservacionistas para o controle da erosão e a melhoria da fertilidade do solo. Como opção de cobertura, pode-se utilizar a vegetação espontânea ou espécies com características desejáveis para a região a ser implantada – no Vale do Ribeira, no Paraná, usa-se, por exemplo, o calopogônio (Calopogonium mucunoides), o amendoim-forrageiro (Arachis pintoi) (Figura 3) e Brachiaria ruziziensis (Figura 4) (Leite Júnior et al., 2022). 9 Figura 3 – Amendoim-forrageiro Créditos: ฟ้า ใส/Adobe Stock. Figura 4 – Brachiaria Crédito: Thegot/Adobe Stock. 2.2 Goiaba Como para outras frutíferas, é essencial a realização de análise de solo da área para que se possa avaliar a necessidade de correção do pH, que, para a goiabeira, seria entre 5,5 e 6,5; e para que possa ser realizada a recomendação de adubação, de acordo com a cultivar e a produtividade esperadas. Quanto aos manejos de espaçamento, irrigação e podas, é https://stock.adobe.com/contributor/210407273/%E0%B8%9F%E0%B9%89%E0%B8%B2-%E0%B9%83%E0%B8%AA?load_type=author&prev_url=detail https://stock.adobe.com/contributor/206026097/thegot?load_type=author&prev_url=detail 10 necessário averiguar as particularidades, conforme a cultivar e o objetivo da produção (se in natura, de processamento, exportação etc.), uma vez que há muitas variedades de goiaba, algumas conhecidas por frutos grandes e suculentos e outras por seu sabor doce e aroma marcante (Vilar, 2023). É importante se adquirir as mudas de locais idôneos, para garantir o sucesso do plantio. As principais variedades de goiabas cultivadas no Brasil são de polpa vermelha: paluma, rica, cortibel, século XXI, pedro-sato, tailandesa. As de polpa branca compreendem o grupo cortibel, kumagai, branca-seleção-da- flórida e ogawa-branca. No Quadro 1 estão as principais características das variedades de goiaba cultivadas no Brasil (Vilar, 2023). Quadro 1 – Principais características das variedades de goiaba cultivadas no Brasil Variedade Cor da Polpa Tamanho Forma Paluma Vermelha Grande Periforme Pedro-sato Vermelha Grande Oblonga Ogawa 1 Branca Grande Oblonga Ogawa 2 Vermelha Grande Oblonga Ogawa 3 Rosada Grande Arredondada Rica Vermelha Média PeriformeSéculo XXI Vermelha Grande Arredondada Cortibel RG Vermelha Grande Oblonga Cortibel SLG Vermelha Grande Oblonga Fonte: Chiarotti, 2024. Como método de propagação, a propagação via semente é a mais comum à goiabeira. São obtidas, com isso, sementes de frutos maduros, saudáveis e de plantas produtivas. Outra forma é por estacas, que é uma técnica que permite a reprodução de plantas geneticamente idênticas à planta-mãe. Para isso, são coletadas estacas lenhosas de ramos saudáveis da goiabeira, com 20 a 30 centímetros de comprimento, e que são plantadas em substrato e umidade adequados. Também há uma técnica parecida com a de estacas, que é a estaquia, que consiste em se utilizar estacas mais jovens e flexíveis e que mantenham as características desejadas da planta-mãe. Quando as estacas desenvolvem raízes suficientes, elas se tornam mudas e estão aptas para serem plantadas. E ainda há a opção da enxertia, que combina um porta-enxerto 11 resistente a doenças e pragas com um enxerto de uma variedade desejada (Vilar, 2023). Como recomendação de adubação de plantio, recomenda-se aplicar 20 litros de esterco de curral, ou 4 litros de esterco de galinha bem curtidos, ou 1 kg de torta de mamona por cova, em mistura com 200 g de P20s e 3 g de Zn, misturando com a terra da superfície, 20 dias antes do plantio. São assim realizadas as podas de formação, manutenção e produção da goiabeira. A poda de formação é realizada nas fases iniciais, para estabelecer uma estrutura e copa adequadas. Para tanto, retiram-se ramos laterais inferiores e mantêm-se apenas os mais vigorosos e bem-posicionados. Nessa fase também se recomenda tutorar a planta, com amarrações dos ramos, para que não quebrem e também se direcione o seu desenvolvimento. A poda de manutenção é realizada ao longo do ciclo de vida das goiabeiras, visando à remoção de ramos mortos, doentes, danificados ou mal posicionados, contribuindo para manter o tamanho da copa (desponte dos ramos) e os impedimentos para penetração da luz solar. Já a poda de produção é realizada com o objetivo de estimular a frutificação e melhorar a qualidade dos frutos. Removem-se os ramos mais antigos e menos produtivos, favorecendo-se o surgimento de novos ramos vigorosos. Outro manejo cultural importante é o desbaste de frutos, que tem o intuito de remover os excessos de frutos para garantir um melhor desenvolvimento dos restantes (Vilar, 2023). No florescimento, as goiabeiras requerem clima ameno, com temperatura entre 20 °C e 30 °C, e exposição à luz solar por pelo menos 6 horas de luz direta por dia. Para a polinização, apesar de elas serem autopolinizadoras, a presença de abelhas e outros insetos é benéfica para aumentar a taxa de polinização. Tanto na fase de floração quanto na de frutificação a irrigação adequada é de suma importância (Vilar, 2023). 2.3 Abacate No caso do abacateiro, as cultivares são divididas em grupos de acordo com o horário de abertura dos estigmas e anteras. No grupo A, as flores abrem seus estigmas de manhã e suas anteras, apenas de tarde, no dia seguinte. Já nas cultivares do grupo B, os estigmas abrem após o meio-dia e se fecham ao 12 entardecer. Logo, ocorre a polinização cruzada, com a alternância dos dois grupos (Santarosa; Sant’Anna; Roussenq, 2023; Duarte, 1998). Como cultivares para o mercado interno têm-se: Simmonds (grupo A), Barbieri (B), Collinson (A), Quintal (B), Fortuna (A), Breda (A), Reis (B), Solano (B), Imperador (B), Ouro Verde (A) e Campinas (B). Já para o mercado externo e para a industrialização, existem as cultivares Tatuí (grupo B), Hass (A) e Wagner (A). Além disso, as cultivares Hass e Fuerte, por serem diferenciadas e, consequentemente, mais valorizadas, vêm sendo comercializadas, no mercado nacional, sob a denominação avocado (Santarosa; Sant’Anna; Roussenq, 2023; Duarte, 1998). A propagação pode ser realizada tanto via semente quanto na forma vegetativa, nos métodos de estaquia, enxertia, alporquia e cultivo de tecidos. Dentre esses, o mais utilizado é o da enxertia (Duarte, 1998). A partir da escolha da área, fazem-se os manejos de solo e a correção de pH, conforme a necessidade. Os berços para o plantio devem ser feitos nos espaçamentos recomendados, variando de 7 m x 9 m a 10 m x 12 m, sendo o espaçamento de 10 m x 10 m o mais empregado. Lembramos que se deve intercalar variedades do grupo A com variedades do grupo floral B, para garantia da polinização efetiva (Santarosa; Sant’Anna; Roussenq, 2023; Duarte, 1998). O abacateiro não precisa de poda de formação nem de produção, apenas é essencial se realizar podas e limpezas com o intuito de manter a condução e a arquitetura da planta mais equilibradas, além da retirada de ramos doentes e excessos de vegetação, para que a luz possa entrar. Nos primeiros dois, três anos, recomenda-se retirar as inflorescências para não estressarem as plantas, já que o foco, nessa fase, é o enraizamento e formação da copa (Santarosa; Sant’Anna; Roussenq, 2023; Duarte, 1998). TEMA 3 – DOENÇAS 3.1 Citros A cultura de citros tem grande relevância tanto em nível nacional quanto internacional. Dessa maneira, é de extrema importância se estar atento a sintomas e sinais de doenças que possam prejudicar desde uma safra até mesmo as exportações, visto que existem exigências mais rígidas para se poder comercializá-los para fora do país. 13 Dentre as doenças mais relevantes que afligem os citros, estão: [...] as causadas por fungos, incluindo a gomose (Phytophthora parasitica e Phytophthora citrophthora), rubelose (Corticium salmonicolor), verrugose (Sphaceloma fawceti e Sphaceloma australis), melanose (Diaporthe citri), pinta-preta (Guignardia citricarpa), estrelinha ou queda de frutos jovens (Colletotrichum acutatum), podridão negra (Alternaria citri), e por vírus e viróides como a leprose (Citrus leprosis virus C), tristeza (Citrus tristeza vírus), sorose (complexo de vírus), exocorte (Citrus exocortis viroid, CEVd) e a cachexia ou xiloporose (Hop stunt viroid, HSVd). Da mesma maneira que as pragas, as doenças também exigem medidas específicas de monitoramento, prevenção e controle para cada uma delas. Como exemplo: Pinta-preta, causada pelo fungo G. citricarpa, que se dissemina com muita facilidade dentro e entre os pomares. É considerada uma das doenças mais importantes para a citricultura brasileira e mundial. Os maiores prejuízos ocorrem em pomares mais velhos de cultivares de maturação tardia, principalmente em plantas malnutridas. Além disso, é considerada uma praga quarentenária A2, havendo restrições para comercialização de frutos. Como medidas preventivas de controle são recomendadas a remoção de frutos temporões infectados, recobrimento das folhas infectadas caídas ao solo com mato existente no pomar, para impedir a disseminação de esporos do fungo e evitar a utilização de material de colheita de propriedades onde há ocorrência da doença. O controle químico deve ser feito por meio de pulverizações com fungicidas a partir da queda das pétalas das flores até o final do período chuvoso (março/abril), totalizando de quatro a seis pulverizações por ano. As espécies de nematoides patogênicas aos citros Tylenchulus semipenetrans e Pratylenchus jaheni também estão presentes em pomares no Vale do Ribeira paranaense. Estes nematoides parasitam o sistema radicular das plantas cítricas, diminuindo a produtividade e a vida útil dos pomares. A produção de mudas a partir de substrato esterilizado, sem contato com o solo, é uma das principais medidas para conter a sua disseminação. As áreas positivas para a ocorrência destes nematoides devem ser devidamente manejadas previamente à implantação dos pomares com o uso de plantas de cobertura não suscetíveis, como a Crotalaria spectabilis. A clorose variegada dos citros (CVC), também conhecida como “amarelinho”, é uma doençacausada pela bactéria Xylella fastidiosa subsp. pauca, que afeta todas as variedades comerciais de citros, sendo que as laranjas são as mais suscetíveis. A bactéria obstrui os vasos do xilema, que são responsáveis pelo transporte de água e nutrientes da raiz para a copa das plantas. A bactéria da CVC é transmitida por diversas cigarrinhas que se alimentam no xilema das plantas cítricas. Como ainda não há um método de controlar a Xylella fastidiosa subsp. pauca, a principal medida de controle da CVC é o manejo da doença, baseado em três estratégias: Utilização de mudas sadias; Poda de ramos com sintomas iniciais em plantas com mais de dois anos e erradicação de plantas mais novas; e, Controle das cigarrinhas por meio da aplicação periódica de inseticidas. (Leite Júnior et al., 2022) O cancro cítrico já dizimou diversos hectares de produção no país; logo, é uma doença que exige atenção, pelo seu grau de severidade e pelos enormes prejuízos que causa. O cancro cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas citri subsp. citri, pode afetar todas as espécies e variedades de citros de importância 14 comercial. Originária da Ásia, onde está presente endemicamente em todos os países produtores de citros, foi constatado pela primeira vez no Brasil em 1957, nos Estados de São Paulo e Paraná. A importância da doença está relacionada à desfolha de plantas, à depreciação da qualidade dos frutos pela presença de lesões, à redução na produção pela queda prematura de frutos e à restrição na comercialização da produção para áreas livres da doença, pois é uma praga quarentenária. O controle do cancro cítrico envolve diversas medidas como: Produção e plantio de mudas sadias; Saneamento da área de plantio; Utilização de quebra-vento; Adoção de cultivares menos suscetíveis; Controle da larva minadora dos citros; Pulverizações com bactericidas desde a queda das pétalas até o final das chuvas (março/abril); e, Utilização de indutores de resistência. O Huanglongbing (HLB) ou “greening”, causado por ‘Candidatus Liberibacter spp.’, foi relatado pela primeira vez na Ásia há mais de 100 anos. No Brasil, foi identificado em 2004 nas regiões Centro e Leste do Estado de São Paulo. Atualmente, está presente em todas as regiões citrícolas paulistas e pomares de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná, além de Argentina e Paraguai, na América do Sul, em quase todos os países da América Central e Caribe, e no México e Estados Unidos, na América do Norte. Todas as espécies e variedades cítricas são suscetíveis ao HLB, sendo que as tangerinas, como a Ponkan, são altamente suscetíveis. Os pomares com alta incidência da doença e sem o adequado controle do inseto vetor representam uma séria ameaça aos pomares vizinhos, porque as plantas doentes servem como fonte da bactéria, que será adquirida pelo psilídeo (pulgão) ao se alimentar ou se reproduzir nelas. Ao se alimentarem em plantas sadias, os insetos disseminam a bactéria pelo próprio pomar e para outras propriedades da região. As bactérias do HLB são transmitidas pelo psilídeo Diaphorina citri, muito frequente nos pomares nas épocas de brotação das plantas. O controle do HLB exige o plantio de mudas sadias, a eliminação das plantas doentes e o controle do psilídeo por meio da aplicação de inseticidas sistêmicos e de contato, em intervalos de 14 a 28 dias. O manejo regional do HLB tem sido feito de forma coordenada e simultânea por produtores de uma mesma região geográfica, seguindo alertas fitossanitários. O controle biológico do psilídeo também tem sido implementado por meio da liberação massal de Tamarixia radiata. (Leite Júnior et al., 2022) 3.2 Goiaba As goiabeiras estão sujeitas a diversas doenças que comprometem seu desenvolvimento e reduzem a produção. Algumas das doenças mais comuns são: • Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides): afeta os frutos das goiabeiras, causando manchas escuras e podridão. Para seu controle, é preciso realizar uma poda adequada, para garantir uma boa circulação de ar entre os ramos e frutos, além de aplicar fungicidas específicos, seguindo as recomendações dos fabricantes (Vilar, 2023). • Murcha-de-fusarium (Fusarium spp.): doença causada por fungos que afetam o sistema vascular. Para prevenir sua disseminação, é importante utilizar sementes e mudas certificadas, provenientes de fontes confiáveis. 15 Além disso, o manejo adequado da irrigação e a rotação de culturas também são medidas preventivas eficazes (Vilar, 2023). • Verrugose (Pseudocercospora psidii): é uma doença causada por um fungo que afeta as folhas, causando manchas esbranquiçadas e deformações. Para o seu controle, é recomendado o uso de fungicidas específicos, aplicados de acordo com as recomendações dos fabricantes, além de eliminação de folhas infectadas e a limpeza da área ao redor das goiabeiras, que são de extrema importância (Vilar, 2023). 3.3 Abacate Apesar de não ser alvo de um grande número de doenças severas, a cultura do abacateiro sofre com algumas doenças que são comuns também a outras culturas, como podridão de raízes, verrugose, antracnose, oídio e cercosporiose. Entre as características dessas doenças e de seu controle estão: Podridão das raízes – provocada pelo fungo Phytophthora cinnamomi Rand, que destrói o sistema radicular matando o abacateiro. A planta atacada exibe uma exsudação branca cristalina na casca do tronco, próxima às fendas enegrecidas. A única medida preventiva é a de evitar os solos pesados e mal drenados, ou seja, realizando técnicas de manejo de solo que favoreçam aeração e drenagem vão ajudar muito na prevenção. Antracnose – provocada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides, ataca frutos, folhas e ramos, aparecendo sob a forma de manchas pardas e escuras, prejudica a polinização e provoca a queda dos frutos. O controle é feito com calda bordalesa ou fungicidas à base de cobre. Verrugose – causada pelo fungo Sphaceloma persea, é numa das principais doenças do abacateiro, atacando, folhas e frutos novos. As variedades pertencentes à raça Antilhana são mais resistentes. Os sintomas surgem no limbo ou na nervura. As manchas são de cor parda e quando em grande número, deformam e causam rompimentos do limbo foliar, daí constitui-se uma doença importante nos viveiros por afetar o desenvolvimento inicial da planta. As lesões que se formam nos frutinhos durante o seu desenvolvimento, resultam em cicatrizes de cor parda que se distribuem no sentido longitudinal. O controle é feito com calda bordalesa ou fungicidas cúpricos. A primeira aplicação deve ser feita no início do período de vegetação, devendo ser seguida de duas ou três outras durante o ano. Oídio – causado pelo fungo Oídium perseae Noack, que ataca preferencialmente flores e folhas. Nas flores provoca redução da polinização e queda dos frutos. Nas folhas os sintomas são reconhecidos por manchas arredondadas, cloróticas, com pequenas áreas pardas na face superior e manchas escuras mal definidas na inferior. Em folhas novas verifica-se na superfície inferior manchas com leve massa branca constituindo as frutificações do fungo. O controle é feito com enxofre pó molhável, calda sulfo-cálcica ou outros produtos registrados. Cercosporiose – tem como agente causal o fungo Cercospora purpurea, cujo fungo provoca danos nos frutos, folhas e ramos. Os 16 frutos atacados caem, principalmente quando a infecção atinge o pedúnculo. As variedades mais tardias são mais susceptíveis e entre estas, a variedade Wagner. O controle é o mesmo indicado para a verrugose. Podridão dos frutos – os agentes responsáveis pelo apodrecimento dos frutos são os fungos Diplodia natalensis, Hendersonia sp, Rhizopus nigricans, causadores de podridões pretas, verdes e vermelhas dos frutos. A infecção ocorre normalmente quando os frutos se encontram ainda em estágio de desenvolvimento. (Duarte, 1998) TEMA 4 – PRAGAS 4.1 Citros Da mesmaforma que em relação às doenças, o controle de pragas, na citricultura, tem grande relevância, já que ela envolve produtos feitos para exportação, que devem seguir regras fitossanitárias para segurança tanto do Brasil quanto dos países que irão receber os frutos e/ou produtos. Dentre as pragas mais relevantes, estão: Ácaros da falsa ferrugem (Plyllocoptruta oleivora) e da leprose (Brevipalpus phoenicis), cochonilhas escama farinha (Unaspis citri e Pinnaspis aspiditrae), cabeça de prego (Crysomphalus fícus), cochonilha verde (Coccus viridis) e ortézia dos citros (Orthezia praelonga); o minador asiático dos citros (Phyllocnistis citrela), brocas (Cratossomus flavofasciatus, por exemplo), moscas das frutas (Anastrepha fraterculus e Ceratitis capitata), mosca branca (Aleurothrixus floccosus), pulgões (Toxoptera citricidus, por exemplo), diversas espécies de cigarrinhas de xilema associadas à CVC (superior a 11 espécies) e o bicho furão dos citros (Ecdytolopha aurantiana), entre outras pragas de menor expressão. Cada uma dessas pragas exige medidas específicas de monitoramento, prevenção e controle. Por exemplo, o ácaro da leprose transmite o vírus Citrus leprosis virus C (CiLV-C) agente causal da leprose e ataca folhas, ramos e frutos, principalmente em laranjas, provocando lesões extensas e profundas. Atualmente, essa praga não traz maiores preocupações para a região devido ao predomínio de cultivo de tangerinas, que tem boa tolerância à leprose. Os maiores prejuízos relacionados às pragas no cultivo de tangerinas devem-se ao ataque de moscas das frutas, que além de provocarem danos diretos à produção, também provocam prejuízos à imagem do produto da região no mercado consumidor e sua consequente depreciação. A mosca negra (Aleurocanthus woglum) é originária da Ásia e causa danos diretos e indiretos aos citros, prejudicando o desenvolvimento e a produção das plantas. Pode infestar mais de 300 espécies de plantas e atualmente está disseminada em vários estados brasileiros. (Simoneti, 2022) Conforme Instrução Normativa n. 38/2018, do Mapa, contra pragas quarentenárias que afetam a citricultura, tais como HLB, pinta preta, cancro cítrico e ácaro hindustânico, existem o controle de trânsito de vegetais e seus produtos; a exigência de atestados de sanidade vegetal, como CFO ou Certificado Fitossanitário de Origem Consolidado (Cfoc) e Exigência de 17 Permissão de Trânsito de Vegetais (PTV), documento fitossanitário emitido para se acompanhar o trânsito de partida de plantas, partes de vegetais ou produtos de origem vegetal, de acordo com as normas de defesa sanitária vegetal, e, para subsidiá-lo, conforme o caso, a emissão do Certificado Fitossanitário (CF) e do Certificado Fitossanitário de Reexportação (CFR), com declaração adicional do Mapa (Simoneti, 2022). Além disso, a legislação fitossanitária relacionada às pragas quarentenárias de citros é composta pelos seguintes documentos: 1. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 21, de 25 de abril de 2018. Institui, em todo o território nacional, os critérios e procedimentos para o estabelecimento e manutenção do status fitossanitário relativo à praga denominada Cancro Cítrico (Xanthomonas citri subsp. citri). 2. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 3, de 8 jan. 2008. Aprova os critérios e procedimentos para aplicação das medidas integradas em um enfoque de sistemas para o manejo de risco – SMR da praga Mancha Preta ou Pinta-Preta dos Citros (MPC) Guignardia citricarpa Kiely (Phyllosticta citricarpa Van der Aa) em espécies do gênero Citrus. 3. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 38, de 1 de outubro de 2018. Pragas Quarentenárias Presentes – PQP. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, n. 190, p. 14, 2 out. 2018. 4. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria nº 317, de 21 de maio de 2021. Institui o Programa Nacional de Prevenção e Controle à doença denominada Huanglongbing (HLB) – PNCHLB, e dá outras providências. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, n. 97, p. 17, 21 maio 2021. 5. PARANÁ. Secretaria da Agricultura e Abastecimento. Portaria n. 359, de 21 de novembro de 2019. Dispõe sobre o estabelecimento de procedimentos para a produção e a comercialização de mudas e de material de propagação de citros no estado do Paraná. Curitiba: ADAPAR, 2019. 6. PARANÁ. Secretaria da Agricultura e Abastecimento. Portaria nº 139, de 23 de junho de 2022. Estabelece as cultivares de citros permitidas para a produção, comércio, plantio e cultivo no Estado do Paraná. Diário Oficial Paraná, Curitiba, PR, n. 11207, p. 85, maio 2022. (Simoneti, 2022) A mosca-das-frutas é uma das principais pragas, na fruticultura mundial. No Brasil, as mais importantes compreendem várias espécies do gênero Anastrepha e Ceratitis capitata (Figura 6). Essas pragas causam danos diretos à produção de frutos, já que suas larvas se alimentam da polpa desses frutos, deixando-os inviáveis tanto para consumo in natura quanto para industrialização; e danos indiretos, dadas às barreiras quarentenárias impostas por países importadores de frutos frescos quando as descobrem. Seu controle pode ser realizado com auxílio de produtos químicos, porém a realização do monitoramento por meio de armadilhas mais elaboradas ou feitas com garrafa 18 de plietileno tereftalato (PET), como nas Figuras 7 e 8, respectivamente, tem resultados excelentes, uma vez que acabam por fazer um controle massal da praga. Figura 6 – Mosca-das-frutas: Ceratitis capitata Crédito: Tomasz Kle/Shutterstock. Figura 7 – Exemplo de armadilha de monitoramento e controle massal de mosca- das-frutas Crédito: Laura Primo/Adobe Stock. https://stock.adobe.com/contributor/207352520/tomasz?load_type=author&prev_url=detail https://stock.adobe.com/contributor/203473526/laura-primo?load_type=author&prev_url=detail 19 Figura 8 – Exemplo de armadilha de monitoramento e controle massal de mosca- das-frutas feita com garrafa PET Crédito: Laura Primo/Adobe Stock. 4.2 Goiaba Como pragas que atingem essa cultura, podemos listar: • Mosca-das-frutas (Anastrepha spp.) – é uma praga que afeta os frutos das goiabeiras, causando danos na forma de oviposição e infestação. Para o seu controle, são recomendadas medidas preventivas como a instalação de armadilhas atrativas e a realização de monitoramento constante. Além disso, o uso de iscas tóxicas e a aplicação de inseticidas específicos podem ser necessários, em casos de infestações severas. • Cochonilha (Planococcus citri) – é uma praga sugadora que afeta os ramos e frutos das goiabeiras, causando enfraquecimento das plantas e https://stock.adobe.com/contributor/203473526/laura-primo?load_type=author&prev_url=detail 20 deformações nos frutos. Para o seu controle, é importante se realizar uma inspeção regular das plantas e, em caso de infestação, se utilizar inseticidas específicos ou se adotar medidas de controle biológico como a introdução de predadores naturais. • Broca-dos-ramos (Phycita spp.) – é uma praga que causa danos nos ramos das goiabeiras, comprometendo seu desenvolvimento e afetando a produção de frutos. Para o seu controle, é recomendado se realizar podas sanitárias, removendo-se e destruindo-se os ramos infestados. Além disso, a aplicação de inseticidas específicos pode ser necessária, seguindo as recomendações dos fabricantes (Vilar, 2023). 4.3 Abacate Como pragas que assolam essa cultura, podemos citar: • Vaquinha (Costalimaita ferruginea): pequeno besouro amarelado que devora as folhas, deixando-as perfuradas ou rendilhadas quando o ataque é intenso, prejudicando o desenvolvimento das plantas. O seu controle pode ser feito por polvilhamento ou pulverização, quando houver incidênciada praga, utilizando-se inseticidas fosforados ou carbamatos (Duarte, 1998). • Lagarta-do-fruto (Stenoma catenifer): praga específica do abacateiro. A mariposa possui asas de cor palha, com pontos cinzentos escuros. A lagarta é branca, com cabeça preta, e ataca a polpa e as sementes. Os frutos atacados caem. O combate é feito com produtos registrados (Duarte, 1998). • Lagarta-das-folhas (Papilio scamander scamander): o adulto é uma borboleta de coloração preta, que tem nas asas anteriores uma faixa amarela e, nas asas posteriores, uma mancha amarelada. A lagarta inicialmente é branca e posteriormente verde, com duas listras pardas no abdômen. O ciclo larval é de 30 dias. O seu controle é semelhante ao indicado para a lagarta-do-fruto (Duarte, 1998). • Coleobrocas (Apate terebrans): besouro de cor preta, que mede 2,5 cm de comprimento. Suas larvas são de cor branca e abrem galerias nos ramos e troncos; e, dentro das galerias, permanecem as larvas e os adultos. Os ramos atacados secam (Duarte, 1998). 21 • Acanthoderes jaspidae: da família Cerambicidae, besouro de cor acinzentada com pontuações pardas sobre os élitros, mede 2,5 cm de comprimento. O ramo, onde a fêmea deposita os ovos, sofre uma incisão anelar logo abaixo da postura. Essa incisão precipita a seca e a queda do ramo e, sobre o ramo seco, as larvas completam o seu desenvolvimento. O seu combate é feito eliminando-se e queimando-se os ramos secos e/ou pulverizando-se previamente os ramos com produtos registrados (Duarte, 1998). • Cochonilhas (Protopulvinaria longivalvata): da família Coccidae, é uma cochonilha desprovida de carapaça e de coloração vermelho-castanha, que se encontra na página inferior da folha. • Aspidiotus destructor: da família Diaspididae, essa cochonilha é provida de carapaça de coloração amarela e ataca folhas e frutos. As cochonilhas causam danos às plantas pela inoculação de substâncias tóxicas e pela sucção de seivas das folhas. Elas excretam substâncias açucaradas que atraem as formigas e servem de meio de cultura para a propagação do fungo da fumagina (Capnodium spp.). O seu controle é feito com produtos registrados, pulverização com óleo mineral emulsionável ou miscível a 1%, juntamente com um inseticida fosforado ou não. Deve-se fazer duas aplicações espaçadas de 20 dias, quando se emprega apenas óleo (Duarte, 1998). É de suma importância se verificar as legislações da região onde está sendo realizada a produção e se adequar o uso de controle químico, biológico e/ou massal de acordo com as condições apresentadas, tanto do produtor como da região. TEMA 5 – COLHEITA E PÓS-COLHEITA Para determinar o ponto de colheita, deve-se levar em consideração a distância e a que mercado se destina a fruta. Considera-se de maneira generalizada que os frutos devam ser colhidos mais imaturos quanto mais distante estiver o mercado consumidor, mas, de preferência, após se atingir a maturidade fisiológica. Por sua vez, é a comercialização o canal que, em seus vários níveis, levará o produto até o consumidor, e esse produto terá o seu valor baseado no estado em que se encontrar, quanto ao aspecto e à qualidade. É 22 devido às condições precárias de colheita, transporte e embalagens das bananas que a produção nacional sofre pesadas perdas. As causas das perdas pós-colheita podem ser assim classificadas, de acordo com Chitarra e Chitarra (1990): a. fisiológicas – perdas consideradas inevitáveis e decorrentes de fatores endógenos; b. mecânicas – ferimentos ou amassamentos, ocorridos nos frutos, que irão provocar aumento nas taxas de respiração e de transpiração, incrementando as perdas fisiológicas; c. microbiológicas – ataques por microrganismos; no caso dos citros, fungos que atuam na pré e pós-colheita são, certamente, uma das maiores causas de perdas; também injúrias mecânicas e ataques de pragas aumentam a predisposição dos frutos aos microrganismos. 5.1 Citros No caso dos frutos cítricos e da grande maioria das espécies frutíferas, a qualidade depende de uma série de fatores relacionados às suas condições intrínsecas e às manipulações que tenham sofrido. Dentre elas, a qualidade dos frutos no momento da colheita representa sua qualidade potencial, com base em que tal qualidade poderá ser mantida ou deteriorada, dependendo, em grande parte, dos tratamentos que eles venham a receber (Simoneti, 2022). Cuidados básicos no ato da colheita em si devem também ser levados em conta, como os seguintes: condições climáticas – a colheita em dias de chuva ou ambiente com alta umidade relativa deve ser evitada, uma vez que o fruto estará em estado de turgescência, o que poderá provocar danos em sua casca, deixando-o suscetível a ataques fúngicos; material de colheita – as sacolas ou caixas de colheita devem estar em bom estado de conservação e limpas, de modo a evitar que saliências possam machucar os frutos; métodos de colheita – na colheita com tesoura, o corte deve ser rente ao fruto, para evitar que o excesso de pedúnculo danifique outros frutos; na colheita por torção, devem ser evitados os golpes ou pressões excessivas; acondicionamento dos frutos – devem-se evitar golpes durante o acondicionamento nas caixas ou amassamentos por pressão das camadas superiores; não se recomenda o enchimento excessivo das caixas; treinamento dos colhedores – somente colhedores bem treinados sabem tomar os devidos cuidados durante as fases de colheita e acondicionamento, sendo, portanto, necessário oferecer constante treinamento sobre os métodos de colheita. É no processamento no packing house que o fruto recebe a maior parte dos tratamentos, objetivando sua homogeneização e melhoria na aparência, tornando-o mais atrativo ao consumidor. Para minimizar tais danos, as máquinas do packing house devem ser bem dimensionadas, para os diferentes tipos de frutos a serem processados. É sabido que 23 tangerinas, laranjas e limões possuem diferentes sensibilidades aos processos usuais. A higiene do packing house é um tema muitas vezes desprezado pelos empresários do setor, mas fundamental na redução das perdas no processo de comercialização. O local deve ser planejado para que a “área suja”, ou seja, recepção, lavagem, seleção e descarte dos frutos seja fisicamente separada das demais áreas, principalmente da embalagem e da expedição. O local do processo deve também ser protegido de insetos, pássaros, poeira e qualquer outro tipo de contaminante. Eliminação dos frutos podres e fora de especificação deve ser feita constantemente, para evitar a contaminação dos frutos sadios. Maquinários, os equipamentos e o piso do local de trabalho devem ser constantemente limpos e desinfetados. Uso de uniformes pelos funcionários também deve ser adotado. (Simoneti, 2022) A maturidade das laranjas ocorre cerca de 6-12 ou 14 meses após a floração, a depender da cultivar e das condições, e podem ser colhidas num período de 2-3 meses. Para as empresas produtoras de suco, há características específicas como açúcares ácidos e essências para comprar as frutas. Isso faz com que os produtores utilizem equipamentos para medir esses parâmetros (Simoneti, 2022). A tangerina-ponkan necessita ser colhida em estágio adequado de maturação, que ocorre quando o conteúdo de açúcares e ácidos, bem como o volume de suco, apresentam composição desejável, sendo o ponto de colheita ideal aquele com teores de sólidos solúveis de 9º Brix, ratio (relação entre sólidos solúveis e acidez titulável) igual a 9,5 e mínimo de 35% de suco. No aspecto visual, o início da colheita deve ser efetuado quando o fruto começa a mudar de cor, passando do verde para a cor amarelo-alaranjada. No Quadro 2 estão as características de ponto de colheita de laranjeiras, tangerinas e lima-ácida (Simoneti, 2022). Quadro 2 – Características de ponto de colheita de laranjeiras, tangerinas e limas-ácidasLaranjeiras e tangerinas Lima-ácida-tahiti (limão) Mínimo de suco: 35%-45% sólido Mínimo de suco: 40% Solúveis (SST): 9-10 ºBrix Perda da rugosidade da casca Relação SST/ATT – ratio: 8,5 - 10 Cor verde-escura > verde-clara Fonte: Chiarotti, 2024. Como sequência de atividades no pós-colheita, temos: recepção e lavagem, seleção, classificação, transporte, embalagem e armazenamento: 24 Recepção e Lavagem – Identificar e registrar os frutos conforme a origem (rastreabilidade do produto); Equipamentos: É obrigatório a higienização antes e depois do manuseio; Lavar os frutos com produtos neutros e em conformidade com a legislação vigente. Seleção: separar os frutos danificados mecanicamente, verdes e maduros do restante dos frutos. Classificação: os frutos de tangerinas, laranjas e limas-ácidas são classificadas em escala visual conforme a cor da casca, o diâmetro, defeitos e manchas, pois esse conjunto de fatores são determinantes no preço de prateleira. Transporte – Utilizar veículo adequado; Acondicionar os frutos em caixas preferencialmente de plástico e higienizadas; Transportar em horários de temperatura mais amena; E nunca transportar com frutos contaminados. As embalagens e a rotulagem destas devem seguir as recomendações da Instrução Normativa Conjunta Sarc/Anvisa/Inmetro/009. Podem ser recicláveis ou retornáveis. Neste último caso devem ser limpas e desinfectadas a cada utilização. No caso de comercialização em sacos, estes devem ser acondicionados em embalagens que atendam aos requisitos de paletização. As embalagens devem ser armazenadas, obrigatoriamente, em locais protegidos da entrada de pragas e outros animais, guardando-se as novas em local separado das usadas. O rótulo deve estar visível ao comprador, mesmo quando as embalagens estiverem paletizadas, empilhadas ou em exposição. Armazenamento – As condições dependem: da variedade, do local de cultivo e do estádio de maturação do fruto. Tratamentos fitossanitários, filmes plásticos e cera auxiliam no prolongamento da vida útil pós-colheita dessas frutas. (Oliveira, 2022) No Quadro 3, pode-se visualizar os parâmetros para o armazenamento dos frutos. Quadro 3 – Parâmetros de armazenamento dos frutos Citros Temperatura (°C) Umidade relativa (%) Período Laranja 5 90-95 Dois meses Tangerina 5 90-95 Quatro semanas Lima ácida “Tahiti” 10 90-95 Quatro semanas Fonte: Chiarotti, 2024. 5.2 Goiaba A determinação do ponto de colheita ideal garante que os frutos sejam colhidos no momento correto e em sua qualidade final. As goiabas apresentam cor amarelo-esverdeada, com polpa macia ao toque quando estão prontas para serem colhidas. Outro indicativo é o aroma característico, além das particularidades de cada cultivar e objetivo final da produção, que pode ser in natura ou para processamento, por exemplo. A colheita das goiabas pode ser realizada manualmente ou com o auxílio de ferramentas adequadas, como tesouras de poda. Ao colher as goiabas 25 manualmente, segure o fruto com cuidado para evitar danos à casca e ao pedúnculo. Corte o pedúnculo com uma tesoura limpa e afiada, deixando uma pequena parte do pedúnculo intacta, para melhor conservação pós-colheita (Vilar, 2023). Como cuidados pós-colheita, é importante tomar medidas adequadas para preservar a qualidade das goiabas. Dentre eles, evite deixar os frutos expostos ao sol por longos períodos e manipule-os com cuidado para evitar danos físicos. Realize uma seleção dos frutos colhidos, descartando aqueles que estejam danificados ou em estado de deterioração avançado. Uma forma de prolongar a vida útil das goiabas é armazená-las. As goiabas maduras podem ser armazenadas em temperatura ambiente por alguns dias, desde que estejam em local fresco e arejado; ou ainda, de modo prolongado, em temperaturas entre 10 °C e 12 °C, com umidade relativa de 85% a 90% (Vilar, 2023). Para embalagem e transporte, procure utilizar caixas ou bandejas adequadas, que permitam uma boa ventilação dos frutos, além de evitar empilhar as goiabas, evitando danos por pressão. Durante o transporte, essas caixas e bandejas acabam por proteger os frutos contra impactos e oscilações de temperatura, preservando sua qualidade (Vilar, 2023). 5.3 Abacate Cabe ressaltar que o ponto de colheita dos frutos é anterior ao seu amadurecimento: na fase pré-climatérica, de forma manual, deve-se retirá-los da árvore e deixá-los em pedúnculo entre 0,8 e 1 centímetro. O ponto de colheita pode ser determinado pela alteração da cor da casca, de verde para amarelo- esverdeada, com aumento do teor de óleo da polpa, menor aderência do pedúnculo e menor resistência da polpa. No mercado interno, o sistema utilizado é o de caixas tipo de querosene, com 28 cm x 40 cm x 60 cm, e que comportam desde 35 frutos grandes até 90 frutos pequenos. As embalagens para exportação requerem maiores cuidados como, conforme Duarte (1998): a. uniformidade da remessa; b. frutos de tamanho padrão; 26 c. caixas contendo 12 frutos em uma única camada (as caixas podem ser de papelão ou de madeira, com 2 a 3 fileiras de frutos, e cada fruto deve ser envolto em papel de seda branco ou polietileno). Para a conservação dos frutos, a duração vai depender do seu estágio de desenvolvimento, da variedade, da época de colheita e das condições de transporte. Em câmaras frigoríficas a 12 °C, eles mantêm-se no estágio pré- climatérico por 12 dias, ao passo que, quando envoltos em sacos plásticos, esse período pode-se prolongar por 21 dias. Se for utilizado o saco de polietileno, ele não deve ser muito espesso, pois isso pode danificar o fruto, apresentando manchas pardas na casca, polpa com coloração acinzentada e odor de fermentação (Duarte, 1998). FINALIZANDO Dada a importância dessas frutíferas, cabe ao profissional da área da fruticultura qualificar-se na implantação, manejo e comercialização dos frutos obtidos do cultivo delas. É relevante ressaltar que os pomares devem ser formados de variedades bem definidas, portadoras de características agronômicas e tecnológicas adequadas à finalidade a que se destinam. 27 REFERÊNCIAS AVOCADO produzido no Paraná ganha o mercado europeu. IDR-Paraná, 14 fev. 2024. Disponível em: . Acesso em: 1 jul. 2024. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n. 48, de 24 de setembro de 2013. Diário Oficial da União, Brasília, 25 set. 2013. CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio. Lavras: Esal/Faepe, 1990. 320 p. DUARTE, O. R. A cultura do abacateiro. Boa Vista: Embrapa Cpaf Roraima, 1998. 14 p. (Embrapa Cpaf Roraima, Circular Técnica n. 4). Disponivel em: . Acesso em 1 jul. 2024. LEITE JÚNIOR, R. P. et al. Citricultura no Vale do Ribeira Paranaense: riscos e oportunidades. Londrina: IDR-Paraná, 2022. 32 p. (Informe Técnico, n. 1). Disponível em: . Acesso em: 1 jul. 2024. OLIVEIRA, A. J. E. S. Cartilha de citros. Manaus: Idam; Secretaria de Produção Rural, 2022. Disponível em: . Acesso em: 1 jul. 2024. OLIVEIRA, R. P. et al. Produção de mudas de citros em ambiente protegido. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2017. 39 p. (Documentos). SANTAROSA, P. H.; SANT’ANNA, C. Q. S. S.; ROUSSENQ, M. Panorama do cultivo de abacate. Campo & Negócios Online, 21 jul. 2023. Disponível em: . Acesso em: 1 jul. 2024. SIMONETI, A. C. Espaço HF: Desafios da cadeia de citros de mesa noBrasil. HF Brasil, 17 jun. 2022. Disponível em: . Acesso em: 1 jul. 2024. 28 VILAR, D. Cultivo de goiaba. Portal Agriconline, 30 jun. 2023. Disponível em: . Acesso em: 1 jul. 2024.