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<p>PREFEITURA MUNICIPAL DE SEROPÉDICA</p><p>SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO</p><p>DEPARTAMENTO DE ENSINO – 2021</p><p>Coordenação de FILOSOFIA</p><p>CADERNO DE ATIVIDADES</p><p>DE FILOSOFIA</p><p>9º Ano do Ensino Fundamental</p><p>-</p><p>MÓDULOS I e II</p><p>Aula 01: O SUPER HOMEM DE</p><p>NIETZSCHE</p><p>Os super-heróis existem em todas as culturas,</p><p>das mais antigas às mais novas. O super-homem mais</p><p>famoso da idade moderna é o personagem fictício</p><p>criado pela dupla de autores de quadrinhos Joe Shuster</p><p>e Jerry Siegel. É um dos personagens da cultura pop</p><p>mais importantes, no entanto, não é deste super-homem</p><p>que vamos falar, mas sim, de um conceito desenvolvido</p><p>pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche.</p><p>Friedrich Wilhelm Nietzsche, nasceu no Reino da Prússia (atual Alemanha), em 1844. Foi filósofo,</p><p>filólogo, crítico cultural, poeta e compositor. Escreveu vários textos criticando a religião, a moral, a cultura</p><p>contemporânea, a filosofia e ciência, exibindo um gosto especial por escrever em forma de metáfora, ironia</p><p>e aforismo (frases curtas).</p><p>O fio condutor que nos permite compreender de forma mais fácil o pensamento de Nietzsche é a</p><p>“afirmação da vida”. O que seria essa afirmação da vida? Ele questiona toda e qualquer doutrina que esgote,</p><p>esvazie, subtraia a expansão das energias vitais (amor, paixão, desejos, vontades, etc.). Para ele a história</p><p>do pensamento humano é uma história da negação da vida, é a história de uma ilusão, é a história da</p><p>construção de um modelo de homem que jamais existiu e jamais existirá. Segundo ele, a imagem que o</p><p>homem construiu de si é muito superior ao que ele consegue ser. E que, na verdade, o homem corre atrás</p><p>de uma imagem que ele construiu de si e, confunde com aquilo que ele acredita ser.</p><p>Para ele, essa ideia que construímos de nós é fruto de uma imposição feita pelo pensamento de</p><p>Sócrates e Platão de que as coisas tenham que ter uma interpretação única da realidade, e principalmente</p><p>da ideia de que a razão é superior ao corpo. Ao contrário de seus contemporâneos que se perguntavam:</p><p>“isso é verdadeiro ou é falso? ”, Nietzsche se perguntava: “por que e para que a verdade? ”. De onde teria</p><p>surgido essa ideia de verdade? Para o Nietzsche, temos tanta dificuldade em lidar com a realidade como</p><p>ela é, com nossa finitude, temos tanto medo do desconhecido, que criamos a ideia de verdade; para ele,</p><p>esse é um conceito que cristaliza a vida e produz uma suposta segurança para existirmos.</p><p>Diante das negações e das idealizações que a sociedade constrói, Nietzsche sugere a superação</p><p>dessas imposições no presente, dia após dia. É neste contexto que surge a ideia do SUPER HOMEM. Esse</p><p>não tem nada a ver com o personagem dos quadrinhos; mas, o super-homem proposto por Nietzsche é o</p><p>ser humano que aceita a existência da morte, que tem consciência da sua finitude e se relaciona com ela,</p><p>que se reinventa ao invés que aceitar valores pré-estabelecidos, que tem coragem que viver cada segundo</p><p>de sua vida com o conflito que é a ESCOLHA de cada situação e não atribui isso a Deus e nem a moralidade</p><p>estabelecida, nem ao professor, nem ao pai, nem a cultura, nem ao passado. É aquele que reconhece o</p><p>instante supremo, o AGORA, e que é o seu gesto é quem determina esse momento. É a capacidade de se</p><p>reinventar, reler, revisitar, rever, reconstruir. O super-homem de Nietzsche não está pronto na verdade</p><p>cristalizada, mas em constante reinvenção de si, de superação; em busca de forças para existir no presente.</p><p>É aquele que tem consciência de que as ESCOLHAS, feitas no AGORA, são conflituosas e determinantes</p><p>do amanhã.</p><p>Todo esse discurso pode parecer que o ser humano tem que fazer o lhe dá na telha, expor suas</p><p>paixões, desejos, vontades, “chutar o pau da barraca”, sem se importar com quem está perto ou a quem vai</p><p>atingir. Mas não é assim! O que Nietzsche está propondo é um reconhecimento do que a história fez, de</p><p>como nos comportamos e o que isso faz com a gente. Uma reação a isso deve levantar em consideração</p><p>mil coisas, entre elas as contrarreações, as oportunidades, que existe um outro tão ou mais reativo que eu,</p><p>etc. A VIDA é justamente a mediação e coexistência e não atropelo um do outro. Isso seria regredir a pura</p><p>animalidade, assim como viver a realidade idealizada.</p><p>O Super-homem proposto por Nietzsche não é um ser de outro planeta, ao contrário. É um ser que</p><p>tem consciência de si, da história, do comportamento humano, das fragilidades humanas, da finitude</p><p>humana, da liberdade, das possibilidades que o ser humano tem e pode ser, das angústias provocadas</p><p>pelas incertezas e, principalmente, de um ser humano que se nega a viver em outro planeta (uma realidade</p><p>idealizada).</p><p>Tudo o que a realidade nos apresenta (educação, família, religião, política, economia, etc.) tem uma</p><p>intenção. Até est texto tem uma intenção! Quando essas intenções afirmam a vida elas são positivas; quando</p><p>elas manipulam e negam a vida é a hora de uma reação em favor da afirmação da vida. Reinventar-se não</p><p>significa jogar tudo fora, mas adquirir uma consciência de si e da realidade que o rodeia, para assim, ter</p><p>ferramentas necessárias para viver de forma mais autêntica a realidade. Viver não é uma tarefa fácil, mas é</p><p>belíssima quando vivida intensamente.</p><p>02</p><p>Lendo e Entendendo</p><p>1 - O que significa dizer que, para Nietzsche, o fio condutor do seu pensamento é a afirmação da</p><p>vida?</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>2 – Explique o que Nietzsche quer dizer com o conceito de Super-Homem?</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>3 - Você acredita que a moral (a cultura, a religião, a educação, a internet, etc.) podem criar uma</p><p>realidade muito mais IDEAL do que REAL, e nos “transformar” em marionetes, ou seja, em termos</p><p>uma vida mais fantasiosa que real? Comente sua resposta.</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>Aula 02: A VIDA QUE VALE A PENA</p><p>É muito comum ouvirmos as pessoas se queixando que a</p><p>vida não está boa. Vemos até mesmo situações extremas de</p><p>suicídio por conta das dores e desafios que a vida apresenta. Com</p><p>toda certeza até nós mesmos nos queixamos do peso do desafio</p><p>que é viver cada dia. Mas, qual seria a vida que importa, que vale</p><p>a pena? Existe uma receita? Se existisse uma receita valeria para todos? A reflexão sobre a vida boa, a vida</p><p>que vale a pena é um tema presente em toda a história.</p><p>Na mitologia grega, Ulisses, personagem emblemático de Homero,</p><p>em a Ilíada e na Odisseia, pode nos oferecer uma reflexão a respeito da</p><p>vida que vale a pena. Ulisses era um mortal, guerreiro, rei na Ilha de Ítaca,</p><p>esposo de Penélope e pai de Telêmaco. Quando o príncipe de Tróia seduz</p><p>Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta, este convoca todos os gregos para</p><p>uma guerra de vingança, motivada pelo ciúme. Ulisses foi convidado a</p><p>participar da guerra. Por muitos anos os espartanos estavam em vantagem</p><p>na guerra, porém, Ulisses teve a brilhante ideia conhecida como Cavalo de</p><p>Tróia. Os gregos presentearam os troianos com um cavalo de madeira cheio de soldados em seu interior.</p><p>Enquanto os troianos comemoravam a suposta rendição grega, estes saíram de dentro do cavalo e mataram</p><p>a todos.</p><p>Vencida a guerra, começou a viagem de Ulisses de volta para Ítaca. Ulisses e seus homens</p><p>desembarcam na Ilha dos ciclopes, em busca de comida. Num confronto para fugir do domínio do ciclope</p><p>Polifemo, Ulisses o deixa cego. Com isso, Ulisses desperta a ira de Poseidon, pai do ciclope. Poseidon</p><p>tratou de tornar a viagem de Ulisses, de volta para Ítaca, um verdadeiro inferno. Em meio aos infortúnios,</p><p>Ulisses e sua tripulação foram feitos prisioneiros na ilha de Calypso. Ninfa e de renomada beleza, se</p><p>apaixonou por Ulisses e tentou convencê-lo a desistir da viagem de volta</p><p>a Ítaca. Apesar da hospitalidade,</p><p>Ulisses e seus marinheiros eram prisioneiros da ninfa Calypso. Entre troca do amor de Ulisses, Calypso</p><p>prometeu-lhe a imortalidade e a juventude eterna. Até os compatriotas de Ulisses tentaram convencê-lo a</p><p>ficar. E, Ulisses responde: “é preferível uma vida de mortal no lugar certo, que uma vida de deus no lugar</p><p>errado”. E retorna para Ítaca.</p><p>A resposta de Ulisses é o ponto central de nossa reflexão. Ulisses sugere que há um lugar (jeito)</p><p>certo de ser feliz, de fazer a vida valer a pena, que está ligado com nossa natureza humana, que tem a ver</p><p>com os talentos que desenvolvemos. Ou seja, no lugar errado, não tem nada que te faça feliz. Aqui, não</p><p>entenda lugar como sendo um espaço, mas sim um jeito de viver, de encarar a realidade. E nessa linha,</p><p>Aristóteles acrescenta que devemos buscar a excelência de si mesmo, de nossa natureza, potencializando</p><p>nossas capacidades (razão, dons, habilidades, etc.). A busca por essa excelência é a própria felicidade, o</p><p>que Aristóteles chamou de eudaimonia, que te a ver com plenitude, bem-estar.</p><p>03</p><p>Essa busca do nosso lugar no mundo, segundo a nossa natureza, não deve ser feita de qualquer</p><p>forma. Mas sim, pautada pelo exercício da nossa racionalidade e da virtude, e, em especial do equilíbrio. A</p><p>busca tem que ser equilibrada. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra. A justa medida é o caminho da</p><p>felicidade, é o que torna a vida exitosa, e o que faz a vida valer a pena. Aristóteles desenvolveu esse</p><p>pensamento numa obra dedicada a seu filho, Nicômaco, no qual ele busca levá-lo a ser um indivíduo ético.</p><p>Dessa forma, também podemos deduzir que o que faz a vida valer a pena é o exercício da ética.</p><p>A jornada de Ulissis nos convida a pensar no sentido que damos à nossa existência, aos nossos</p><p>sonhos, encantos, fraquezas, desafios, reflexões e descobertas. Ulisses é fiel à sua ao seu lugar no mundo,</p><p>ou seja, aos seus desejos, à aquilo que o faz feliz. Detalhe que não pode ser esquecido; em sua jornada,</p><p>Ulisses nunca está só, nos mostrando que a realização, a vida acontece em companhia dos demais.</p><p>Lendo e entendendo</p><p>1 – Já parou para fazer uma lista dos seus sonhos (bens, emprego, família, etc.). Faça uma lista dos</p><p>dez desejos mais importante, e que você considera fundamental para uma vida realizada.</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>2 - Quais os maiores desafios para a realização de cada um desses desejos?</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>Aula 03: A VIDA QUE VALE A PENA: AS ESCOLHAS QUE FAZEMOS</p><p>O tema da vida que vale a pena ser vivida nunca está fora de questão. Com toda certeza, essa é</p><p>uma pergunta que bate à nossa porta todos os dias pela manhã. Exceto, é claro, para pessoas extremamente</p><p>alienadas. As perguntas que envolvem essa temática as vezes nos amedrontam, as vezes impulsionam.</p><p>Na história da busca pela vida que vale a pena temos alguns exemplos interessantes e que nos</p><p>fazem refletir: Ulisses nos sugerindo</p><p>encontrar o nosso lugar na realidade,</p><p>e ao mesmo tempo, não trocar essa</p><p>felicidade por oportunidades</p><p>aparentemente incríveis, mas, que</p><p>não condizem com o “nosso lugar”.</p><p>Aristóteles nos encoraja na busca</p><p>pela excelência de quem somos; ser</p><p>e fazer bem, em equilíbrio com a realidade, aprendendo dia após dia. Agostinho, nos lembra que não</p><p>fazemos esse percurso de vida sozinhos, mas, compartilhamos a realidade, e nada mais gostoso que a</p><p>companhia de um amigo. Spinoza: a vida precisa ser potencializada, carregada; o combustível para essa</p><p>vida é a alegria do viver.</p><p>Todas essas lições parecem lindas e românticas, porém, não são tão simples NA PRÁTICA. A vida</p><p>é algo em trânsito, em movimento, feita de encontros e desencontros; cada instante é algo inédito, por mais</p><p>parecido que sejam com outro. A lição de Spinoza é uma lição de humildade diante da vida: nesses</p><p>encontros inéditos dessa vida em trânsito, precisamos nos aperfeiçoar a cada instante, nos reconhecer, nos</p><p>redescobrir, reinventar. O ontem não garante o hoje de forma absoluta, mas apenas nos coloca algumas</p><p>bases. Não podemos nos acomodar com a vitória de ontem, pois isso nos despreparada para enfrentar o</p><p>amanhã.</p><p>Demos mais um passo em nossa reflexão sobre a vida que vale a pena com Jean-Jacques</p><p>Rousseau. Filósofo, teórico político, escritor e compositor, nasceu em Genebra, em 28 de junho de 1712.</p><p>Para Rousseau, a felicidade do ser humano é algo distinto do resto da natureza, ou seja, segue uma lógica</p><p>diferenciada. Na natureza as coisas são como têm que ser; existe uma lógica de determinação; tudo é</p><p>necessariamente do jeito que é. A natureza humana é baseada numa lógica de ESCOLHAS. Em outras</p><p>palavras, a verdadeira felicidade humana está baseada em escolhas que fazemos, ou seja, no uso adequado</p><p>das liberdades. Na natureza tudo já traz respostas programadas; na vida humana, as respostas são</p><p>construídas, com base em escolhas.</p><p>Não estamos sozinhos no mundo, ao contrário, convivemos numa aldeia global, cada dia com</p><p>distâncias mais curtas. A forma como convivemos é baseada em escolhas estabelecidas pela cultura, que</p><p>04</p><p>por sua vez foi criada com base em escolhas. Algumas escolhas são mais racionais, outras mais emocionais,</p><p>outras mais científicas, filosóficas, aleatórias, etc. Mas, sempre em escolhas. E quando você não escolhe,</p><p>alguém escolhe por você. Assim, diante da pergunta: o que a vida precisa ter para valer a pena, Rousseau</p><p>diria: liberdade de escolha e fidelidade aos valores escolhidos.</p><p>O uso adequado da liberdade tem se tornado cada vez mais difícil e complexo, principalmente, no</p><p>mundo contemporâneo com uma diversidade cultural que extrapolam os limites de nossa compreensão. O</p><p>exercício da liberdade está diretamente ligado à reflexão ética, ou a promoção da vida. Poder tudo é a</p><p>capacidade física ou intelectual para fazer com que algo aconteça; agora, a escolha sobre o que é ou não</p><p>mais conveniente, isso sim é o exercício da liberdade. Quando fazemos algo que contraria nossa natureza</p><p>humana de liberdade, ou seja, não refletir, não escolher, não assumir riscos, não aceitar as consequências,</p><p>etc., estamos nos desumanizando.</p><p>Ulisses, Aristóteles, Agostinho, Spinoza, Rousseau (e tantos outros) nos oportunizam refletir sobre a</p><p>vida que vale a pena ser vivida, o que traz sabor à vida, etc. Diante de tantas perspectivas, poderia se ter a</p><p>pergunta: qual estaria certo? Poderia dizer que todos, afinal, nossa vida é melhor quando nos reconhecemos</p><p>como pertencentes a um lugar (nossa identidade); nossa vida é melhor quando explorarmos o que temos</p><p>de melhor e aperfeiçoamos; nossa vida é melhor quando compartilhamos com alguém nossos desafios e</p><p>conquistas; nossa vida é melhor quando nos alegremos, pois, essa alegria é combustível de vida; nossa</p><p>vida é melhor quando escolhemos com inteligência (liberdade) e fidelidade. E ainda, nossa vida é melhor</p><p>quando não nos alienamos e somos capazes de dar aquilo que é mais genuíno de nós mesmos, pois, não</p><p>há receita de felicidade.</p><p>A proposta deste texto é provocar uma reflexão e não apresentar uma receita. Tudo o que foi</p><p>apresentado tem o intuito de instigar, motivar uma reflexão, principalmente em nosso contexto atual de</p><p>pandemia, de inversão de valores, de argumentos falaciosos, de desvalorização da vida, etc. Pensar a vida</p><p>é essencial para que tenhamos mais vida e não sejamos marionetes ou que nossa vida seja abreviada.</p><p>Lendo e entendendo</p><p>1 - Certamente, as escolhas que fazemos possuem um papel fundamental na busca da felicidade. É</p><p>possível dizer que muitas vezes fazemos escolhas apenas levando em consideração as coisas</p><p>aparentes e sem se aprofundar? Explique.</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>2 - A partir da visão de Rousseau, a cultura é algo construído pelo ser humano, o modo de se viver e</p><p>o que fazer são escolhas humanas. Hoje, vemos tantas situações de vidas desvalorizadas, perdidas,</p><p>etc. Você acredita que a nossa liberdade de escolha pode construir um mundo onde todos sejam</p><p>valorizados? Comente.</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>Aula 04: POR UMA MORAL</p><p>SUSTENBTÁVEL E LIBERTADORA</p><p>São muitos os motivos que poderíamos citar para</p><p>justificarmos trazer o tema da moral, e</p><p>consequentemente da ética, para nossa reflexão. A</p><p>inversão de valores promotores da vida, temos visto a</p><p>intolerância em atuar em todos os seus formatos; da</p><p>vida tem sido banalizada, falta de empatia,</p><p>compaixão, etc.</p><p>Tratar o tema da moralidade acaba se</p><p>tornando algo complexo pela necessidade de trazermos para junto desta reflexão outros temas que</p><p>caminham lado a lado, tais: ética, a cultura, a história, a religiosidade, etc. Mas, nosso primeiro passo é</p><p>diferenciar o conceito de MORAL e ÉTICA, que muitas vezes são utilizados como sendo a mesma coisa. A</p><p>MORAL são os costumes, as regras, as leis que organizam e orientam os grupos sociais. Exemplo: o grupo</p><p>05</p><p>de amigos da escola, ainda que não seja formalizado, existe uma moral que organiza esse grupo; as leis do</p><p>Estado, de uma empresa, do condomínio, da igreja, as normas da escola, etc. Note que a moral tem um</p><p>caráter mais PARTICULAR. Já, a ÉTICA, é a capacidade de reflexão a respeito das ações morais, levando</p><p>em conta a vida, como referência, e por isso ela tende a uma visão mais UNIVERSAL.</p><p>Leis, hábitos, a cultura em geral, ao contrário do resto da natureza que está condicionada a ser o que</p><p>é, são construções humanas. Somos nós que construímos a cultura a partir daquilo que recebemos do</p><p>antepassados e com a visão que temos de futuro. Podemos concluir que aquilo que temos de bom é</p><p>construção nossa, mas, aquilo que temos de ruim, também é construção nossa. Por isso, o título desse</p><p>nosso encontro é por uma moral sustentável e libertadora. As leis e os costumes servem para cuidar do</p><p>grupo social, no entanto, essa ideia de cuidado muitas vezes é restrita, ferindo a muitos em nome do suposto</p><p>bem, que só atende aos interesses de uns poucos. Exemplo: a inquisição (guerra religiosa medieval), a</p><p>Escravidão, ideologias religiosas, sexuais e sociais contemporâneas.</p><p>É por esta característica da moral, ou seja, esse caráter mais particular, que o texto convoca nosso</p><p>senso ético a agir, a estar atento, ou seja, buscar uma moral sustentável. Quando falamos em</p><p>SUSTENTABILIDADE, logo direcionamos nosso olhar para o meio ambiente. Mas, o modo de agir, nosso</p><p>comportamento também é meio ambiente, afinal, a maneira como nos comportamos reflete a maneira como</p><p>nos relacionamos com o meio em que vivemos, seja com as demais pessoas ou os demais seres da</p><p>natureza. Podemos dizer que sustentabilidade é a forma como suprimos nossa necessidade, no presente,</p><p>sem comprometer as gerações futuras.</p><p>Sem sombra de dúvidas, podemos afirmar que o ser humano, em sua história de “progresso” buscou</p><p>uma estabilidade, um conforto, uma comodidade. E muitas vezes não se preocupou com os custos desse</p><p>conforto a longo prazo, e mais, quem pagaria essa conta. Com os nossos hábitos, leis e crenças não é</p><p>diferente! A longo prazo, em sem uma manutenção ou reflexão, algumas práticas pontuais se tornam</p><p>ideologias rígidas, excludentes, manipuladoras, torturadoras. O machismo e o racismo são bons exemplos,</p><p>de como o comportamento de um tempo, definiu o jeito de pensar de outro, trazendo tantos danos. Ninguém</p><p>nasce odiando ninguém! Nosso comportamento vai sendo modelado a partir das referências que temos ao</p><p>nosso redor. E, muitas vezes, nosso comportamento, exclui, fere, aprisiona e até mata; algumas vezes direta</p><p>e outras vezes indiretamente.</p><p>O acúmulo dessas práticas discriminatórias, junto</p><p>ao fechamento pessoal, gera as INTOLERÂNCIAS. E</p><p>não precisamos de muita força para buscarmos</p><p>exemplos, basta ligar a televisão, acessar as redes</p><p>sociais, ou estar 15 minutos na rua. São muitos os</p><p>exemplos que revelam o egoísmo, o individualismo, a</p><p>ignorância, etc. Perceber e não ignorar que existe um</p><p>outro com sentimentos, história, vontades, sonhos e</p><p>liberdade, assim como cada um de nós é fundamental</p><p>para reverter o crescimento das intolerâncias. O outro é</p><p>um espelho de nós. Em filosofia, chamamos isso de</p><p>ALTERIDADE, que é a ideia de que vivemos uma relação de interdependência, ou seja, o “eu” depende do</p><p>outro. Pode também se dizer que a alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação</p><p>interpessoal (relação com grupos, família, trabalho, lazer e a relação que temos com os outros, etc.), com</p><p>consideração, identificação e diálogo. E essa relação não significa que somos obrigados a concordar com</p><p>tudo, mas sim, respeitar o direito de escolha do outro.</p><p>A busca pela afirmação da vida passa pela busca de</p><p>uma moral sustentável e libertadora. Sustentável, pois,</p><p>precisamos ter em mente que estamos sempre em relação com</p><p>o outro e o outro tem o direito de não querer, de exercer sua</p><p>diferença; ele tem o direito ser quem ele é; libertadora, pois ela</p><p>precisa tocar a cada um de nós para que, não só respeitemos</p><p>o diferente, mas sim, que desejemos que exista o diferente,</p><p>pois ele é necessário e é a nossa riqueza, nosso crescimento</p><p>enquanto ser humano. Isso, seria, nas palavras do filósofo</p><p>Leandro Karnal, a TOLERÂNCIA ATIVA. Mas, para se atingir</p><p>esse nível de maturidade ética, precisamos, para usarmos as</p><p>palavras de Nietzsche, resgatar o super-homem que existe</p><p>dentro de nós; que não se trata de um personagem de outro</p><p>planeta, mas sim, um ser que tem consciência de si, da história,</p><p>do comportamento humano, das fragilidades humanas, da</p><p>finitude humana, da liberdade, das possibilidades que o ser</p><p>06</p><p>humano tem e pode ser, das angústias provocadas pelas incertezas e, principalmente, de um ser humano</p><p>que se nega a viver em outro planeta (uma realidade idealizada).</p><p>E, finalizamos este encontro reafirmando que, a moral é uma construção humana, ou seja, é fruto de</p><p>escolha. Nós a construímos; nós a praticamos; nós podemos repensá-la. A reflexão ética está aí para que</p><p>possamos repensar nossas ações morais. Mas, até isso, refletir ou não, também é um hábito moral; é uma</p><p>escolha.</p><p>Lendo e entendendo</p><p>1 - Qual a diferença entre Moral e Ética?</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>2 - O que seria uma moral sustentável e libertadora?</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>3 - O texto defende que nossas ações são fruto de escolhas. É possível dizer que uma</p><p>mudança de comportamento da sociedade mundial poderia mudar todo este cenário de</p><p>tragédia que vivemos (fome, morte, doença, destruição, etc.)? Comente sua resposta.</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________</p><p>07</p>