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<p>NÃO PODE FALTAR</p><p>CONTEXTUALIZAÇÃO: A TEOLOGIA CATÓLICA NO INÍCIO DO</p><p>PERÍODO MODERNO</p><p>Alessandro Bartz</p><p>Imprimir</p><p>CONVITE AO ESTUDO</p><p>O �m da Idade Medieval deu início à Idade Moderna, caracterizada pelo</p><p>surgimento de Estados independentes e soberanos em detrimento do poder</p><p>hierárquico da Igreja Medieval, que se enfraqueceu, ensejando nos poderes reais o</p><p>desejo de subverter a ordem de mando. Os diferentes Imperadores passaram a</p><p>desejar a emancipação do jugo eclesial; os reformadores, ao criticarem</p><p>veementemente a teologia católica, a riqueza e a estrutura politizada da cúria</p><p>papal, acabaram sendo instrumentos para os imperadores romperem com o</p><p>poderio de Roma. As respostas à crise da Igreja vieram após o escândalo das</p><p>indulgências e foram aceitas num mundo cansado da exploração</p><p>religiosa/comercial pela Cúria Romana. Os movimentos anteriores trazidos por</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Deseja ouvir este material?</p><p>Áudio disponível no material digital.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>ideias – Renascimento – ou por personagens pré-reformistas, lançaram</p><p>burburinhos nas camadas sociais concomitantemente ao desmonte do mundo</p><p>feudal e do capitalismo emergente, às descobertas de um Novo Mundo e às crises</p><p>com os camponeses assolados pelas guerras e pestes que agitavam o Velho</p><p>Mundo.</p><p>Num contexto em que a religião era um tema de vida ou de morte, ou seja, em que</p><p>a vida era regida por símbolos religiosos que sustentavam as relações sociais, foi</p><p>pela intervenção dos teólogos, em um movimento de dentro para fora, que a crise</p><p>irrompeu. As 95 teses de Lutero, publicadas em 31 de outubro de 1517, marcaram</p><p>o início da Reforma Protestante, o marco de novos tempos (Idade Moderna) e o �m</p><p>do modelo de Cristandade Medieval, que mergulhou a Europa Ocidental em</p><p>guerras religiosas que se estenderam por muito tempo.</p><p>Nesse sentido, vamos apresentar e debater as expressões religiosas que</p><p>transitavam entre a Idade Média e Moderna. Nesse período, fomos testemunhas</p><p>de atos de violência e intolerância religiosa, que muito se mantém em nosso</p><p>contexto atual, uma vez que as disputas pela visão de mundo nem sempre</p><p>ocorriam por meio do diálogo e do respeito, mas, sim, da imposição, das disputas e</p><p>do silenciamento do outro.</p><p>Os conteúdos que serão trabalhados nesta unidade são: o contexto anterior a</p><p>Reforma Protestante; o renascimento e os humanistas; a reforma gregoriana e o</p><p>cisma ocidental; as relações entre o Ocidente e Oriente; o �m do império bizantino</p><p>e a reconquista ibérica; a igreja e as monarquias europeias na América; o contexto</p><p>de Lutero, os aspectos históricos e sociais; as in�uências �losó�cas e teológicas; a</p><p>questão das indulgências dentro do sistema de penitência; e a crítica ao papado.</p><p>Nesse mesmo contexto, vamos aprofundar aspectos da teologia elaborada por</p><p>Lutero, a centralidade das escrituras e da fé, sua tradução da bíblia e a passagem</p><p>da justi�cação, sua concepção de liberdade cristã ou livre arbítrio, os debates</p><p>teológicos com seguidores e dissidentes e a excomunhão de Lutero por parte do</p><p>Papa Leão X.</p><p>É importante retomarmos a questão das ideias surgidas nesse contexto, pois os</p><p>movimentos ulteriores são decorrentes das ações tomadas nas décadas</p><p>posteriores a 1517. A paz de Augsburg (1555) marcaria um apaziguamento das</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>disputas no Sacro Império Germânico, porém diversos con�itos religiosos</p><p>seguiriam, especialmente na Inglaterra e na França.</p><p>Esse debate é importante para entendermos as raízes das diversas denominações</p><p>religiosas, suas bases confessionais presentes, hoje, nas igrejas e nas disputas pelo</p><p>campo religioso. Liberdade, centralidade da Bíblia, tradição, fé, justi�cação,</p><p>predestinação: todos esses temas foram exaustivamente debatidos e são vitais</p><p>para se compreender as bases teológicas de nossas crenças. Você será capaz de</p><p>identi�car as leituras e tensões em torno das bases da fé por meio de nossos</p><p>estudos.</p><p>PRATICAR PARA APRENDER</p><p>Em 12 de outubro de 1995, com o objetivo de criticar a idolatria, o então bispo da</p><p>Universal, Sérgio Von Helder, chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida ao</p><p>vivo pela televisão (FELTRIN, 2017). Esse episódio, que escandalizou o país,</p><p>demonstrou uma rivalidade entre protestantes e católicos, pelo menos em relação</p><p>a uma ala evangélica que condena o uso de imagens e símbolos.</p><p>A guerra santa que corria o país ultrapassou os enfrentamentos que ocorriam</p><p>dentro dos templos, foi às ruas e aos espaços públicos através da televisão e, hoje,</p><p>expressa-se, em grande parte, nos embates políticos: Escola sem Partido;</p><p>legislação sobre os direitos humanos; legislação sobre a defesa da vida etc. O</p><p>ataque à Igreja Católica por parte dos movimentos protestantes na América Latina</p><p>foi recorrente, o que evidenciou a crise da Igreja Ocidental, em grande parte,</p><p>sustentada pelas posições de ambos os grupos expressadas em documentos</p><p>dogmáticos, demonstrando o racha que se instalou após o período da Reforma, e</p><p>na resposta dada pelo Concílio de Trento, que reorganizou a Igreja Católica e</p><p>estabeleceu sua doutrina o�cial. Ambos os movimentos estavam bem</p><p>posicionados e em oposição.</p><p>Nesta seção, abordaremos o contexto pré-reforma, a teologia católica vigente, o</p><p>fortalecimento e a crise do papado, a reforma gregoriana, o cisma ocidental, a</p><p>monarquia presente no novo mundo, as relações com o Oriente e a reconquista do</p><p>território ibérico. Vamos identi�car o contexto histórico em que emergiu a</p><p>necessidade de fortalecimento da instituição papal e relacionar os poderes eclesial</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>e real durante o período da Idade Média para entender os movimentos político-</p><p>religiosos que antecederam e sucederam o período da Reforma Protestante e</p><p>Católica do século XVI.</p><p>No seu espaço de trabalho, o conhecimento dos movimentos religiosos que</p><p>surgiram antes e após a Reforma é condição para um posicionamento a respeito</p><p>das razões da existência de uma denominação religiosa cristã. Faz-se necessário,</p><p>então, conhecer essas instituições para expressar as ideias religiosas que</p><p>compõem as diferentes denominações concorrentes na sociedade brasileira. Num</p><p>contexto de diversidade religiosa, portanto, é preciso conhecer as raízes das</p><p>crenças.</p><p>Procuramos retratar a disputa de poder entre autoridades religiosas e laicas sobre</p><p>os destinos da Europa Ocidental entre os séculos X e XV, período chamado de</p><p>Baixa Idade Média, quando seus desdobramentos teóricos políticos e religiosos e o</p><p>sistema feudal demonstraram cansaço. Nessa transição para a Idade Moderna, a</p><p>luta pelo poder se dava diante de movimentos de contestação da autoridade da</p><p>Igreja sobre o Estado, a redescoberta e surgimento de novas ideias do período da</p><p>Antiguidade, as quais �caram adormecidas pelos séculos de controle dos</p><p>pensamentos pela autoridade eclesiástica. Paradoxalmente, muitos pensadores da</p><p>Antiguidade tiveram suas obras guardadas e preservadas por copistas que viviam</p><p>enclausurados em monastérios, e o mais importante deles, Aristóteles, chegou a</p><p>Europa Ocidental por meio dos mouros, por conta da ocupação das regiões da</p><p>Península Ibérica. A�rmamos que a crise que mudou o mundo na virada dos</p><p>séculos XV e XVI ocorreu, sobretudo, pela crise dos símbolos de segurança que</p><p>ameaçavam a perenidade da Igreja. Como veremos mais adiante, após a Guerra</p><p>dos Trinta Anos, o modelo de Cristandade erguido após a queda de Roma e que</p><p>vigorou por quase mil anos desmoronou. Destacamos que o modo de vida e o</p><p>con�ito entre os reis e imperadores com a Cúria e o Papado Romano tornaram o</p><p>papado vulnerável às críticas e aos questionamentos de diversas pessoas e dos</p><p>movimentos. Por outro lado, a Igreja expandiu seus domínios para além-mar e, sob</p><p>o regime do padroado, uniu-se ao Estado para garantir sua expansão missionária.</p><p>Já na conquista da América, o Estado passou a ter também o poder religioso, ou</p><p>seja, na frase dita por Jesus: “Dê a César o que é de Cesar e a Deus o que é de</p><p>Deus”, Deus e César (religião e Estado) se misturaram no período medieval.</p><p>do cristão diante do mundo em que vive?</p><p>2.  Fé e Ética em Ação. Qual é o sentido em realizar bons serviços às pessoas, às</p><p>comunidades?</p><p>3.  Fé é Amor em Ação. Identi�que ações institucionais em prol do bem comum</p><p>realizadas por instituições religiosas em seu contexto.</p><p>Justi�que suas respostas em um texto para ser apresentado durante a sua fala de</p><p>15 minutos relacionando os pontos apresentados: fé, liberdade e</p><p>responsabilidade; fé, ética e ação; fé, ação e amor.</p><p>A re�exão acadêmica por meio da leitura do pensamento legado e de</p><p>interpretações teológicas criadas no período da Reforma é fundamental para</p><p>aprofundar os conhecimentos e relacioná-los com as práticas atuais. Estude o</p><p>texto da seção e re�ita sobre a situação-problema. Não desista, pois, a cada dia,</p><p>você está desenvolvendo seu pensamento teológico.</p><p>CONCEITO-CHAVE</p><p>SOLA SCRIPTURA E SOLA FIDES</p><p>Em Lutero, vida e pensamento constituíam uma unidade. Sua teologia era</p><p>doutrinal e também um clamor pessoal diante de uma consciência inquieta. O</p><p>reformador pôs em xeque o evangelho com uma visão de Deus, da salvação e da</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>fé que ganhou contornos entre 1510 e 1520. Lutero, a partir de 1513, trabalhou</p><p>essencialmente nos comentários bíblicos, focando os Salmos, as Epístolas aos</p><p>Romanos, aos Gálatas e aos Hebreus. A partir de 1516, devido às disputas</p><p>acadêmicas, escreveu tratados teológicos, como As forças e a vontade do ser</p><p>humano sem a graça, Contra a Teologia Escolástica e O valor das indulgências, e</p><p>sentenças aprofundadas no Debate de Heidelberg (1518).</p><p>Para Mueller (2005), Lutero de�niu a teologia a partir de a�rmações chamadas de</p><p>“princípios exclusivos”: só Cristo, só a graça, só a fé, só a Escritura. A intenção era</p><p>recuperar a base da igreja cristã, e esses princípios deviam ser adotados</p><p>simultaneamente. O sola Christus (somente Cristo) é o conteúdo mediador da</p><p>salvação; a Escritura é o meio cognitivo pelo qual sabemos de Cristo e podemos ter</p><p>acesso à salvação; a graça é a forma pela qual a salvação nos é concedida; e a fé a</p><p>forma como a salvação é apreendida (MUELLER, 2005).</p><p>Ao fundamentar sua teologia na Bíblia em vez de se sustentar em �lósofos, Lutero</p><p>apoiou-se, em particular, em Santo Agostinho e, acima de tudo, nas Escrituras.</p><p>Segundo ele, para falar acerca das coisas de Deus, só era necessária a Palavra de</p><p>Deus. Ao mesmo tempo, Lutero teceu críticas ao papado e à Igreja Católica, que</p><p>defendia a primazia da tradição na interpretação das Escrituras.</p><p>A descoberta do Sola Scriptura, bandeira da Reforma, defende a exclusividade da</p><p>Bíblia para a teologia e a espiritualidade cristã. Lutero amarrou a exclusividade da</p><p>Bíblia com Jesus Cristo, que, para ele, é o princípio, o centro e o �m das Escrituras.</p><p>Tudo gira em torno de Cristo, sendo o centro e o alvo da interpretação bíblica.</p><p>Lutero chamou isso, em alemão, de was Christum treibet, que signi�ca “o que</p><p>propulsiona para Cristo” (MUELLER, 2005)</p><p>Lutero, ao ler a Bíblia, encontrou a passagem de Rm 3:28, que diz: “o homem é</p><p>justi�cado pela fé, independentemente das obras da lei.</p><p>Romanos 3:28”. (ARA, 1993). O sola �des é um pilar importante da teologia cristã. O</p><p>enunciado “somente pela fé” é o mais característico da Reforma. Lutero passou a</p><p>desconsiderar a fé da tradição escolástica e defendeu a fé como conhecimento da</p><p>salvação oculta em Cristo. A fé está determinada somente a Cristo, e a fé</p><p>evangélica é a fé em Cristo, �lho encarnado de Deus. O Cristo do testemunho</p><p>bíblico é a obra de Jesus pelos cristãos, e o que Jesus fez é o resumo do</p><p>testemunho bíblico, de modo que a insistência dos reformadores foi a depuração</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>da fé de todo resquício de capacidade ou obra humana. A fé salví�ca não é um</p><p>produto disponível na natureza humana, mas é um milagre trazido fora de nós,</p><p>sendo criação da graça. Assim como a ação de Deus é graça do começo ao �m,</p><p>também a fé é produto da graça de Deus.</p><p>No sermão das boas obras de 1520, Lutero diz que as obras são boas se praticadas</p><p>na fé. Para MUELLER (2005), a fé é uma atitude do crente que se sente con�ante</p><p>em Deus e aceito como �lho de Deus. A sua obra não ocorre no sentido de se</p><p>a�rmar diante de Deus para obter boas graças, mas situa-se como testemunho e</p><p>reconhecimento da liberdade que possui. Tudo o que o ser humano faz passa a ser</p><p>valorizado, consequentemente, a fé em Cristo é a primeira boa obra e constitui a</p><p>especi�cidade cristã.</p><p>Mais adiante, em outros escritos, como no Cativeiro Babilônico da Igreja, Lutero</p><p>relaciona a defesa dos sacramentos, que naquele momento eram três (Batismo,</p><p>Eucaristia e Penitência) e passaram a ser dois (Batismo e Eucaristia), como artigo</p><p>de fé na promessa de Cristo do perdão dos pecados e da vida eterna (LUTERO,</p><p>2000).</p><p>O VERNÁCULO E AS INTERPRETAÇÕES BÍBLICAS</p><p>A tradução da Bíblia para o alemão foi uma das obras-primas de Lutero e teve um</p><p>grande impacto na população protestante de língua alemã. Lutero não foi o</p><p>primeiro a traduzir a Bíblia para o alemão, pois dezoito outras edições foram</p><p>aparecendo entre 1466 e 1522, no entanto, a qualidade de seu texto se impôs</p><p>sobre todas as outras versões (LIENHARD, 1998).</p><p>Lutero havia traduzido diversas passagens antes de 2021. Sua teologia com ênfase</p><p>no sacerdócio universal de todos os crentes, que valorizava o lugar das pessoas</p><p>leigas, impunha-lhe a necessidade de por a Bíblia nas mãos do povo. Quando</p><p>esteve escondido no Castelo de Wartburgo, Lutero dedicou-se a traduzir o Novo</p><p>Testamento do grego e levou onze semanas para executar o trabalho. Em</p><p>setembro de 1522, a tradução foi apresentada. Para traduzir o Antigo Testamento,</p><p>já em Wittenberg, levou mais tempo e contou com o auxílio de hebraístas, como</p><p>Melanchthon. Entre 1523 e 1534, portanto, num período de doze anos, toda a</p><p>Bíblia foi traduzida para o alemão (LIENHARD, 1998).</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Para o Novo Testamento, Lutero contava com a segunda edição da versão grega de</p><p>1519 publicada por Erasmo. Para Linhardt (1998), Lutero não possuía tanto</p><p>conhecimento do grego e, provavelmente, utilizou a versão de Erasmo como</p><p>referência. Aliás, não é consenso identi�car uma versão de dependência da versão</p><p>utilizada por Lutero, embora não se ignore a qualidade do texto.</p><p>Vale a pena re�etir sobre os princípios aplicados na tradução realizada por Lutero.</p><p>No escrito Carta sobre a arte de traduzir, de 1530, o reformador lembra que o que</p><p>mais importa é reproduzir o sentido de uma passagem, sem dar preferência a uma</p><p>tradução literal. Para ele, “as palavras devem servir ao sentido e segui-lo”</p><p>(LIENHARD, 1998, p. 276). Essa postura permitiu a Lutero tomar algumas</p><p>liberdades em relação ao texto, como mudar o vocabulário para adaptá-lo à nova</p><p>sociedade.</p><p>Segundo Lienhard, para Lutero, o tradutor é um intérprete e a tradução deve ser</p><p>realizada com base no conjunto do testemunho bíblico e no contexto de uma</p><p>passagem. Lutero tinha o enfoque de traduzir o texto para o alemão e não para o</p><p>latim ou o grego, pois o que importava era como o alemão falaria no texto. Em</p><p>algumas passagens, Lutero manteve o sentido literal para conservar o sentido</p><p>original, pois “ora conservamos a letra sem tropeçar, ora reproduzimos apenas o</p><p>sentido”, escreveu (LIENHARD, 1998, p. 276); já em muitas ocasiões, buscou auxílio</p><p>de pessoas mais competentes ou realizou pesquisa conjunta.</p><p>Para Lienhard (1998, p. 276), de maneira notável, “Lutero saiu-se bem em</p><p>transcrever o texto bíblico na linguagem a mais quotidiana de seus</p><p>contemporâneos, sem sacri�car por isso a poesia e outras particularidades da</p><p>versão original”. A Bíblia de Lutero foi um sucesso editorial; a edição do Novo</p><p>Testamento teve uma tiragem de 3 mil exemplares e se esgotou em poucas</p><p>semanas. Curiosidade: o impressor Hans Lu�t enriqueceu nesse tempo, pois,</p><p>sozinho, vendeu, em cinquenta anos, cem mil exemplares da Bíblia inteira. Em</p><p>1535, um em cada setenta alemães, tinha uma propriedade do Novo Testamento.</p><p>REFLITA</p><p>A centralidade da Reforma é a autoridade</p><p>da Bíblia. A Bíblia era um</p><p>apêndice da vida religiosa medieval, somente a elite sabia ler o texto do</p><p>latim, e as interpretações se baseavam em comentários dos escolásticos.</p><p>Lutero e os reformadores buscaram traduzir a Bíblia para a linguagem do</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>seu povo, a �m de que cada um lesse e interpretasse conforme o sentido</p><p>do texto. A partir desse fundamento, surgiram questões como: qual é o</p><p>critério para interpretar o texto bíblico? Ainda muitos interpretaram os</p><p>textos ao seu prazer, conforme o momento. Uma chave interpretativa é o</p><p>que leva a Cristo. Conforme Lutero, o sentido do texto deve promover a</p><p>Cristo.</p><p>O LIVRE ARBÍTRIO</p><p>Um dos textos mais bonitos escritos por Lutero se chama Da liberdade Cristã, um</p><p>dos tratados fundamentais desse reformador (LUTERO, 2000). Escrito em 1520,</p><p>nesse texto, Lutero respondeu a questões sobre a liberdade cristã. Segundo ele: “O</p><p>cristão é um senhor libérrimo sobre tudo, a ninguém sujeito. O cristão é um servo</p><p>o�ciosíssimo de tudo, a todos sujeito” (LUTERO, 2000, p. 437).</p><p>De acordo com Lienhard (1998), na primeira parte do texto, ao retratar o cristão</p><p>interior, Lutero quer destacar que a liberdade cristã não depende de contingências</p><p>exteriores; ao contrário, a liberdade cristã depende da ação da palavra de Deus. A</p><p>palavra oferece Cristo ao ser humano, que o justi�ca, independentemente de suas</p><p>obras, de modo que a pessoa é justi�cada somente pela fé e por nenhuma obra. A</p><p>pessoa é submetida à ação da palavra, que revela a impotência de suas forças.</p><p>Diante disso, em humilhação, a pessoa passa a crer na promessa da salvação</p><p>gratuita, sendo transformada sem necessidade de viver sob o jugo da lei. Pela fé, o</p><p>ser humano presta o culto mais sublime a Deus, atribuindo-Lhe a veracidade, a</p><p>justiça e toda perfeição. Pela fé, há uma união da alma com Cristo, em que o</p><p>cristão recebe os dons concedidos por Ele. Lutero fala sobre a participação do</p><p>cristão nos ofícios de Cristo, logo, no seu reinado sobre todas as coisas, sendo, em</p><p>última análise, um reinado sobre a liberdade cristã.</p><p>Assim, também ocorre a participação no ofício sacerdotal. Para Lienhard (1998), a</p><p>segunda parte do texto trata do ser humano exterior, pois não há somente a fé e o</p><p>ser humano interior. Por meio do corpo, o ser humano se expõe à vida, e é preciso</p><p>cuidar de seu corpo com disciplina, trabalhos, vigílias e jejuns, a �m de que</p><p>obedeça à pessoa interior e à fé. Além disso, a fé deve estar na origem das obras,</p><p>pois, ao contrário, não são boas.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>A pessoa não deve viver somente para si, mas deve operar para todas as pessoas;</p><p>assim, a pessoa não pode estar ociosa e sem obra a favor do próximo. É necessário</p><p>que fale com as pessoas, aja e lide com elas, como Cristo. Pela fé, Deus deu ao ser</p><p>humano, por pura misericórdia, todas as riquezas da justiça e da salvação, de</p><p>forma que não necessita de mais nada a não ser da fé.</p><p>Assim, com dedicação espontânea, o ser humano se aproxima do próximo, como</p><p>um Cristo, pois nada tem a fazer que não seja necessário e salutar ao próximo.</p><p>Para Lienhard (1998), Lutero, não quer dizer com isso que as pessoas estão livres</p><p>da participação nas cerimônias e das missas religiosas, mas que estas possuem a</p><p>�nalidade de impedir as pessoas de se entregarem livremente aos vícios. As</p><p>cerimônias e missas são barreiras que desaparecerão no �nal dos tempos, quando</p><p>o ser humano estiver, de fato, livre dos vícios. Até lá, não se pode viver esta vida</p><p>sem cerimônias e obras, mas é preciso evitar conferir às obras a virtude de</p><p>justi�cação, pois, pela fé em Cristo, não somos livres das obras, mas do falso</p><p>conceito das obras, da presunção de uma justi�cação obtida por meio delas</p><p>(LUTERO, 2000; LIENHARD, 1998).</p><p>OS PRIMEIROS DEBATES TEOLÓGICOS E A EXCOMUNHÃO DE LUTERO</p><p>Após a publicação das 95 teses em 1517, os acontecimentos ocorreram</p><p>rapidamente, fazendo Lutero precisar de�nir sua teologia evangélica. Apoiado pelo</p><p>príncipe Frederico, o Sábio, o humanista Melanchthon e o teólogo Karstadt, Lutero</p><p>foi encorajado a expor sua teologia. Para Lienhard (1998), nesse tempo, Lutero já</p><p>tinha desenvolvido algumas fórmulas de interpretação da salvação por graça e fé,</p><p>mas não ainda a teoria da doutrina da justi�cação. Para ele, o ser humano é justo e</p><p>pecador ao mesmo tempo, justo pela graça que Deus imputa no ser humano e</p><p>pecador pelo que ele é.</p><p>Desse modo, o ser humano não se torna justo por si, mas pela e�cácia de Cristo,</p><p>que, em comunhão com ele, faz brotar as boas obras. Lutero se exprimiu com</p><p>clareza em relação à salvação, pois a fé confrontada com a dúvida e a tentação se</p><p>apega à promessa de Deus, mas as críticas endereçadas aos clérigos e à Igreja</p><p>institucional colocaram suas ideias em risco, sobretudo em relação aos seguintes</p><p>temas: maior centralização dos ganhos �nanceiros do que obediência a Deus e à</p><p>salvação dos �éis; transformação do culto e da piedade em mercado; qualidade</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>dos pregadores e sua inaptidão; má conduta dos sacerdotes; crítica a Roma por</p><p>manter os costumes pagãos e a depravação da Cúria; a vaidade das vestes e dos</p><p>cerimoniais.</p><p>Ainda, as visões de Lutero a respeito do evangelho, da Igreja e da fé são críticas à</p><p>igreja medieval e foram utilizadas por seus adversários para condenar seu</p><p>pensamento (LIENHARD, 1998).</p><p>ASSIMILE</p><p>Observe a fundamentação paulina da doutrina da justi�cação por graça e</p><p>fé: a justi�cação do pecador pela graça de Deus na fé foi destacada de</p><p>maneira especial no tempo da Reforma. Conforme o apóstolo Paulo, em</p><p>sua Carta aos Romanos, o Evangelho é o poder de Deus para a salvação do</p><p>ser humano caído sob o poder do pecado enquanto mensagem que</p><p>proclama a justiça de Deus de fé em fé e que presenteia com a justi�cação.</p><p>Jesus morreu e ressuscitou por causa de nossa justi�cação (Rm 4:25). O</p><p>justo viverá pela fé (Rm 1:16), de modo que a justiça de Deus é o poder Dele</p><p>sobre cada crente, bem como é a nossa justiça, pois, pela graça, somos</p><p>salvos mediante a fé, que não vem de nós, mas que é um dom de Deus (Ef.</p><p>2:8). A justi�cação é o perdão dos pecados e a libertação do poder do</p><p>pecado, da morte e da lei. Ela acolhe na comunhão com Deus e une com</p><p>Cristo. A vivência da fé provém da palavra de Cristo que atua no amor, fruto</p><p>do espírito. Por intermédio da obra de Cristo, há justi�cação que dá vida</p><p>para todos (Rm 5:18) (SCHAFER, 1999).</p><p>Ao mesmo tempo em que era citado formalmente por Roma para responder às</p><p>acusações de heresia, Lutero participou do famoso Debate de Heidelberg, em</p><p>1518, em que defendeu alguns pontos da teologia luterana. A partir de quarenta</p><p>teses, defendeu ideias que apontam que a lei pode levar o ser humano à justiça,</p><p>pois, sem a graça, a lei causa angústia e sofrimento, já pela fé em Cristo, cumprem-</p><p>se todos os mandamentos.</p><p>Lutero negou o valor religioso das obras dos seres humanos, o engano de con�ar</p><p>em criaturas, a possibilidade de o livre-arbítrio poder operar a salvação, a</p><p>impossibilidade de chegar à graça sem ter conhecimento do pecado, revelado na</p><p>lei. Nesse sentido, as teses 19 a 24 são as mais originais do debate ao opor duas</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>formas de se fazer teologia: uma teologia da glória, feita a partir das obras da</p><p>criação, e outra pela cruz, que leva a conhecer a Deus pela humildade, pelo</p><p>sofrimento e pela fraqueza (DREHER, 2004; LIENHARD, 1998).</p><p>No sofrimento, o ser humano se anula, reconhece sua fraqueza e passa a perceber</p><p>que tudo nele vem de Deus. Para Lienhard (1998), embora Lutero compreendesse</p><p>a humilhação como obra de Deus que se exerce na fé, nos escritos de 1520, a</p><p>morti�cação e a penitência preponderaram sobre a a�rmação alegre da</p><p>justi�cação pela fé.</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>A ênfase na gratuidade da salvação é mensagem signi�cativa e libertadora</p><p>numa sociedade competitiva como a de hoje, que pratica a exclusão social</p><p>de povos e indivíduos, valorizando mais o mercado do que a vida. A</p><p>doutrina da justi�cação valoriza o que nada possui,</p><p>pois, diante de Deus,</p><p>basta a fé em sua obra de salvação, diferentemente do plano gratuito da</p><p>salvação por meio da fé, sem necessidade de obras meritórias, que podem</p><p>ser interpretadas por acesso a bens materiais, posição social e funcional,</p><p>autoridade civil ou eclesiástica.</p><p>Em outro debate, ocorrido em Leipzig, em 1519, para se defender das 95 teses,</p><p>Lutero teve de ir além do ponto. Além de se defender de suas críticas às</p><p>autoridades escolásticas ao decidir interpretar as Escrituras por métodos já citados</p><p>e renunciar à escolástica (Aristóteles e Tomás de Aquino), o debate teve grande</p><p>importância para o seu desenvolvimento, pois, ali, expôs sua concepção evangélica</p><p>de Igreja publicamente, revelando que, em última análise, sua única autoridade em</p><p>questões de fé era a Escritura.</p><p>Naquele momento, re�etiram se o papado era uma instituição divina, o primado e</p><p>a autoridade dos concílios. Para Lutero, a igreja não precisava de um chefe terreno,</p><p>porque Cristo era sua cabeça e não o seu sucessor (Pedro); os concílios podiam</p><p>errar como na questão da condenação de Hus; a autoridade da Escritura foi</p><p>anteposta à autoridade da Igreja-instituição; e nenhum cristão poderia ser</p><p>constrangido a crer numa doutrina que não estivesse fundada sobre a Escritura</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>(LIENHARD, 1998). Ao a�rmar que o papado e os concílios da Igreja podiam</p><p>incorrer em erro, Lutero tornou sua reconciliação com Roma quase impossível, e,</p><p>de fato, isso levou à sua excomunhão (LINDBERG, 2001).</p><p>Em 1519, duas faculdades de teologia alemãs condenaram algumas teses de</p><p>Lutero encontradas em diversos escritos, como a�rmações de que nenhuma boa</p><p>obra é isenta do pecado, concentrando-se em concepções luteranas sobre o</p><p>sacramento da penitência, da indulgência, do tesouro da igreja e do purgatório.</p><p>Essas teses eram consideras divergentes em relação às posições dos concílios e</p><p>por enfraquecerem a autoridade papal. Além disso, questões sobre o pecado</p><p>original, o poder das chaves, a justi�cação pela fé e a rejeição de teorias sobre o</p><p>sacramento foram condenadas (LIENHARD, 1998).</p><p>A condenação de Lutero veio por meio da bula papal Exsurge Domine, de 15 de</p><p>junho de 1520. Com base em um relatório elaborado por Caetano, Accolti, Eck e</p><p>João, adversários de Lutero, a bula intitulada Levanta, ó Senhor, e julga tua própria</p><p>causa listou 41 erros nos escritos de Lutero. Suas teses eram consideras heréticas,</p><p>especialmente a tese luterana sobre o não livre arbítrio para colaborar com a</p><p>salvação.</p><p>Lutero teve 60 dias para se retratar na condição de sua memória ser apagada. Ele</p><p>recorreu a um Concílio da Igreja, contudo, a essa altura, as ideias de Lutero já</p><p>recebiam o apoio de boa parte da Alemanha: muitas vezes, a bula de condenação</p><p>era a�xada na parede e destruída por apoiadores da Reforma ou pelos</p><p>inquisidores, que, quando não encontravam os livros de Lutero para queimar,</p><p>queimavam apenas os escritos escolásticos.</p><p>Em 10 de dezembro de 1520, Lutero e outros colegas professores e estudantes da</p><p>Universidade de Wittenberg reuniram-se para um ritual de queimada de livros,</p><p>entre eles, a bula papal e uma cópia do Corpus iuris canônica, o fundamento</p><p>jurídico do corpo chrstianum medieval. Para Liendberg (2001), esse ato foi</p><p>revolucionário e comparável a queimar a Constituição dos Estados Unidos. Em 3 de</p><p>janeiro de 1521, a bula de excomunhão Decet Romanum Ponti�cem foi publicada e</p><p>a excomunhão foi de�nitiva.</p><p>Enquanto a situação se complicava na Alemanha, Lutero recebeu um salvo-</p><p>conduto para ir a Worms. Lutero poderia receber o mesmo destino de Hus (a</p><p>morte), mas decidiu ir mesmo assim. Diante do imperador Carlos V, dos príncipes e</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>dos senhores feudais, além de não obter atenção, foi intimado a se retratar de</p><p>seus escritos. Sua resposta foi memorável:</p><p>Ao �nal, o Edito de Worms, de maio de 1521, proscreveu Lutero e todos os que o</p><p>apoiaram. Todos os súditos foram proibidos de ter contato com Lutero, sob pena</p><p>de prisão; seus escritos foram condenados como heréticos e deveriam ser</p><p>queimados. Esse período foi o auge da Inquisição católica: Lutero foi condenado</p><p>pela Igreja e pelo Estado e era líder de um movimento religioso que havia se</p><p>tornado uma revolução. Ao voltar para Wittenberg, foi raptado por um príncipe</p><p>amigo e mantido em segredo em Wartburgo e sob custódia de proteção entre 1521</p><p>e 1522. Ali, além de ter se mantido em segurança, dedicou-se a traduzir o Novo</p><p>Testamento para o alemão.</p><p>No período da Reforma, questionaram profundamente os fundamentos da</p><p>teologia cristã. As questões levantadas por Lutero foram densas e colocaram em</p><p>jogo dimensões de fé e salvação, a autoridade das Escrituras, a liberdade cristã, a</p><p>obediência às autoridades eclesiásticas e o serviço cristão nas obras de caridade.</p><p>Livre de tudo e servo de todos, Lutero aprofundou o sentido ético cristão. Para ele,</p><p>o mundo era uma boa obra de Deus e deveria ser cuidado. Ao �nal de sua vida</p><p>teria dito: “Se soubesse que o mundo acabaria amanhã, ainda assim eu, hoje,</p><p>plantaria um pezinho de maçã”. Apesar das condições trágicas e da ruptura com a</p><p>Igreja Católica, que não era seu objetivo, Lutero pôde manter a esperança de uma</p><p>sociedade melhor, que precisava ser restaurada, a começar pela Igreja.</p><p>FAÇA VALER A PENA</p><p>A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pela razão manifesta [...], eu estou preso</p><p>pelas passagens da Escritura que citei e minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Eu não posso e não irei</p><p>retratar-me de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a própria consciência. Que Deus me ajude. Amém.</p><p>— (LUTERO, 1521, apud LINDBERG, 2001, p. 111).</p><p>“</p><p>Questão 1</p><p>Com toda a segurança do mundo, no castelo de Wartburgo, Lutero deu início à</p><p>tradução alemã do Novo Testamento. Após três meses de trabalho, a obra foi</p><p>entregue em setembro de 1522. Esse fato foi tão revolucionário quanto ter</p><p>queimado a bula papal e a lei canônica. O objetivo dele era que a Bíblia chegasse a</p><p>todos e que todos pudessem ler a Palavra de Deus como um estímulo à educação</p><p>pública.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Sobre a tradução da Bíblia para a língua do povo alemão, o objetivo de Lutero</p><p>consistia em:</p><p>a.  Demostrar que esse pensador cristão tinha conhecimento linguístico.</p><p>b.  Criar uma nova Igreja a partir de bases consideradas liberais.</p><p>c.  Disputar �éis com outras traduções da Bíblia, em especial a de Erasmo.</p><p>d.  Elaborar a doutrina do sacerdócio geral de todos os crentes.</p><p>e.  Utilizar somente a Bíblia para leitura e desconsiderar outros livros.</p><p>Questão 2</p><p>De acordo com Lienhard (1998), o senso de liberdade de Lutero �cou evidente na</p><p>tradução da Bíblia não “palavra por palavra”, mas no “sentido pelo sentido”. Assim,</p><p>acrescentou um “somente” na tradução de Rm 3:28, em que se lê que a pessoa é</p><p>justi�cada sem as obras da lei “somente” pela fé. Sua tradução tinha um objetivo</p><p>teológico. Ao traduzir a Bíblia, Lutero entendeu que o signi�cado da justi�cação</p><p>pela fé em Cristo, independentemente de qualquer obra da lei, é o ponto principal</p><p>da doutrina cristã, pois somente a fé justi�ca e não as obras.</p><p>Sobre a abordagem de Lutero em relação à tradução, é correto a�rmar:</p><p>a.  Lutero traduziu a Bíblia literalmente, palavra por palavra.</p><p>b.  Lutero traduziu a Bíblia buscando o sentido do texto.</p><p>c.  Lutero traduziu a Bíblia respeitando a tradução �dedigna do latim.</p><p>d.  Lutero traduziu a Bíblia do grego e hebraico para o inglês.</p><p>e.  Lutero traduziu a Bíblia sem nenhum conhecimento linguístico.</p><p>Questão 3</p><p>Uma série de acontecimentos levou à excomunhão de Martinho Lutero e de seus</p><p>seguidores.</p><p>A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pela razão manifesta [...], eu estou preso</p><p>pelas passagens da Escritura que citei e minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Eu não posso e não irei</p><p>retratar-me de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a própria consciência. Que Deus me ajude. Amém.</p><p>— (LINDBERG, 2001, p. 111)</p><p>“</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>De acordo com as informações apresentadas no quadro a seguir, faça a associação</p><p>entre os eventos que levaram à excomunhão de Lutero na Coluna A com seus</p><p>respectivos signi�cados, apresentados na Coluna B.</p><p>Quadro 1 | Eventos que levaram à excomunhão e seus signi�cados</p><p>Coluna A Coluna B</p><p>I. Debate de Leipzig –</p><p>1519.</p><p>1. Teve grande importância para o seu</p><p>desenvolvimento, pois, ali, publicamente, expôs sua</p><p>concepção evangélica de Igreja, revelando que, em</p><p>última análise, sua única autoridade em questões de</p><p>fé era a Escritura.</p><p>II. Publicação da bula</p><p>papal Exsurge Domine</p><p>– 1520.</p><p>2. Proscreveu Lutero e todos os que lhe apoiaram.</p><p>Todos os súditos foram proibidos de ter contato com</p><p>Lutero, sob pena de prisão. Seus escritos foram</p><p>condenados como heréticos e deveriam ser</p><p>queimados.</p><p>III. Publicação da bula</p><p>de excomunhão Decet</p><p>Romanum Ponti�cem –</p><p>1521</p><p>3. Em 3 de janeiro de 1521, a bula de excomunhão foi</p><p>publicada e a excomunhão foi de�nitiva.</p><p>IV. Edito de Worms –</p><p>1521.</p><p>4. Com base num relatório elaborado por Caetano,</p><p>Accolti, Eck e João, adversários de Lutero, a bula</p><p>intitulada Levanta, ó Senhor, e julga tua própria causa</p><p>listou 41 erros nos escritos de Lutero. Suas teses eram</p><p>consideras heréticas.</p><p>Fonte: elaborado pelo autor.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a associação CORRETA entre as colunas.</p><p>a.  I-4; II-3; III-2; IV-1.</p><p>b.  I-2; II-1; III-4; IV-3.</p><p>c.  I-4; II-1; III-2; IV-3.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>DREHER, M. A crise e a renovação da igreja no período da reforma. São</p><p>Leopoldo: Sinodal, 2004.</p><p>IECLB. Deus é castelo forte e bom – Grupo Anima. 2017. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3fOM3lj. Acesso em: 14 maio 2021.</p><p>LIENHARD, M. Martinho Lutero: tempo, vida e mensagem. São Leopoldo: Sinodal,</p><p>1998.</p><p>LINDBERG, C. As reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001.</p><p>LUTERO, M. Obras selecionadas: o programa da reforma. Escritos de 1520. 2. ed.</p><p>São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2000. v. 2.</p><p>MUELLER, E. R. Teologia cristã: em poucas palavras. São Paulo: Teológica; São</p><p>Leopoldo: Escola Superior de Teologia, 2005.</p><p>SCHAFER, H. A mensagem da justi�cação pela fé: uma introdução à sua</p><p>compreensão bíblico-reformatória. Blumenau: Otto Kuhr, 1999.</p><p>SOBRINO, J. Jesus, o libertador. Petrópolis: Vozes, 1994.</p><p>d.  I-3; II-4; III-2; IV-1.</p><p>e.  I-1; II-4; III-3; IV-2.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=ni3mn0Yt3WA</p><p>NÃO PODE FALTAR</p><p>JOÃO CALVINO E A REFORMA NA EUROPA CONTINENTAL</p><p>Alessandro Bartz</p><p>Imprimir</p><p>CONVITE AO ESTUDO</p><p>Nesta unidade, vamos abordar os desdobramentos das expressões religiosas e</p><p>teológicas surgidas com a Reforma Protestante do século XVI na Alemanha, com</p><p>Lutero. A Reforma se alastrou por toda a Europa, e suas celeumas foram levadas</p><p>para as novas colônias na América do Norte e Sul. Enquanto a América do Norte se</p><p>constituirá como local escolhido por movimentos religiosos perseguidos na</p><p>Inglaterra e outros países europeus, a América do Sul se constituirá como uma</p><p>nova Igreja, formada pelo catolicismo da Contrarreforma e seus movimentos de</p><p>defesa, como a Companhia de Jesus.</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Deseja ouvir este material?</p><p>Áudio disponível no material digital.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Vamos apresentar três expressões religiosas signi�cativas do século XVI: o</p><p>calvinismo e a Igreja Reformada, a Igreja da Inglaterra como igreja nacional e o</p><p>movimento de reorganização da Igreja católica por meio da Contrarreforma ou</p><p>Reforma Católica. Temos, então, o que se denominou uma fase de organização do</p><p>confessionalismo, um período de embate religioso marcado por diversos</p><p>encontros e desencontros, bem como de muita violência simbólica e física</p><p>praticada por indivíduos, pela Igreja e pelo Estado. A religião era o tema de vida ou</p><p>de morte no século XVI. Ao �nal deste século, tivemos algumas implicações para</p><p>um princípio de pluralismo religioso ou de tolerância religiosa que seguiu como</p><p>baliza da relação entre Igreja e Estado por toda a modernidade ocidental.</p><p>Os conteúdos abordados ajudarão você a avaliar as bases formativas do</p><p>pensamento teológico a partir da Reforma Protestante, em um contexto de</p><p>questionamento da liderança da Igreja Católica, traçando paralelos com as</p><p>transformações da liderança religiosa na modernidade. Com isso, almejamos que</p><p>você, como estudante de teologia e futuro pro�ssional, tenha as condições de</p><p>expressar as contribuições do debate �losó�co desse tempo histórico para a</p><p>construção política e econômica da civilização ocidental.</p><p>Entre os temas que serão trabalhados, destacamos, na Seção 1, o trabalho de João</p><p>Calvino: antecedentes biográ�cos, a ruptura com a Igreja na França, os aspectos</p><p>doutrinários da predestinação e a consolidação da Reforma na Suíça. Na Seção 2,</p><p>apresentaremos a organização da Igreja da Inglaterra (o anglicanismo):</p><p>precedentes da tensão Igreja x Estado – Thomas Becket; Henrique VIII e a criação</p><p>de uma igreja nacional; Thomas More e John Fisher – mártires católicos na</p><p>Reforma; os puritanos e a difusão da Reforma na América. Por �m, na Seção 3,</p><p>abordaremos os desdobramentos e a reorganização da Igreja Católica Romana:</p><p>Carlos V e a desagregação da Igreja, a catequização dos indígenas e o Concílio de</p><p>Trento: aspectos gerais, as guerras religiosas e a Noite de São Bartolomeu.</p><p>PRATICAR PARA APRENDER</p><p>Prezado estudante, as expressões religiosas surgidas no período da Reforma</p><p>Protestante in�uenciaram e in�uenciam as igrejas cristãs no mundo todo e estão</p><p>presentes nas igrejas do Brasil. Muitas dessas ideias vieram por meio de</p><p>missionários que chegaram em nosso país a partir do século XIX e ainda estão</p><p>presentes nos livros teológicos que adquirimos e utilizamos em nossos estudos.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Você já ouviu falar em predestinação, destino ou entende a compreensão teológica</p><p>presente na celebração da Ceia do Senhor/Eucaristia? Você sabe o motivo da</p><p>diferença entre a compreensão das igrejas luteranas, romana e reformadas? Sabe</p><p>que Calvino foi o líder da Igreja Reformada e conhece sua obra teológica? Sabe,</p><p>ainda, que ele, assim como Lutero, foi ameaçado de morte, precisou fugir, mas</p><p>também conviveu com grupos de perseguição religiosa?</p><p>Os movimentos religiosos ocorridos na França, na Suíça, na Inglaterra, nos Países</p><p>Baixos, na Alemanha e na Itália ao longo do século XVI têm muitas marcas na</p><p>organização das denominações religiosas do nosso país, e nós vamos identi�car</p><p>algumas dessas expressões religiosas.</p><p>O calvinismo foi a expressão religiosa em torno do qual se movimentaram as</p><p>grandes lutas políticas e culturais dos séculos XVI e XVII nos países capitalistas mais</p><p>desenvolvidos (WEBER, 2004). Foi Calvino quem formulou o dogma da</p><p>predestinação e o relacionou com a ideia de povo eleito. Apesar de o dogma</p><p>constituir-se num desdobramento da negação da participação humana na salvação</p><p>(luteranismo), acabou por dar causa a eventos histórico-culturais (WEBER, 2004).</p><p>Conforme o autor, o dogma da predestinação, somada a uma visão de mundo</p><p>religiosa marcada pela ética (ascese) de controle social da subjetividade, têm</p><p>relação com o “espírito do capitalismo”.</p><p>Você foi convidado a participar de um Simpósio Religioso sobre o desenvolvimento</p><p>do protestantismo na América do Norte e no Brasil. Em seu Simpósio Temático</p><p>(ST), você e outros estudiosos abordarão a importância do calvinismo para o</p><p>empreendedorismo, relacionando aspectos da doutrina com análise sociológica e</p><p>teológica.</p><p>Para a elaboração dessa atividade, você tem as seguintes orientações:</p><p>•  Estudar o livro A Ética protestante e o “Espírito” do capitalismo do sociólogo Max</p><p>Weber, em que o autor identi�ca algumas ideias importantes do calvinismo para o</p><p>desenvolvimento do capitalismo;</p><p>•  Compreender o dogma da predestinação a partir das teses elaboradas pela</p><p>Con�ssão de Westminster, de 1647:</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Após a organização do material, você deverá identi�car as consequências da</p><p>interpretação do dogma</p><p>da predestinação por parte dos calvinistas e realizar uma</p><p>apresentação organizada em três partes: 1 – A doutrina da predestinação; 2 – A</p><p>ética protestante do trabalho; e 3 – A reação do indivíduo diante da doutrina da</p><p>predestinação e a resposta pastoral da Igreja.</p><p>Nesta seção, você conhecerá aspectos biográ�cos do reformador João Calvino,</p><p>uma das referências teológicas mais importantes da teologia moderna, assim</p><p>como suas estratégias para a disseminação da Igreja Reformada no século XVI.</p><p>Aproveite para melhorar seus conhecimentos sobre a Reforma. Bons estudos!</p><p>CONCEITO-CHAVE</p><p>ANTECEDENTES BIOGRÁFICOS</p><p>João Calvino (Jean Cauvin 1509-1564) era 26 anos mais novo que Lutero e fez parte</p><p>da segunda geração de reformadores. Ele foi o reformador mais importante fora</p><p>da Alemanha e sua obra e personalidade o tornaram uma �gura proeminente da</p><p>Igreja cristã. João nasceu em Noyon, situada, aproximadamente, a 95 km de Paris.</p><p>Ele perdeu sua mãe aos 6 anos e foi criado pelo pai, secretário do bispo local,</p><p>conseguindo um benefício eclesiástico que subsidiou sua educação.</p><p>Aos 14 anos, Calvino iniciou os estudos em Paris, no Collège de la Marche, e,</p><p>depois, seguiu com estudos teológicos no Collége de Montaigu. Aos 18 anos,</p><p>recebeu o título de Mestre em Humanidades e se destacou pela habilidade</p><p>argumentativa em latim, pela dedicação religiosa e pela seriedade ética. Em 1532,</p><p>1) Da livre vontade: “O homem, por sua queda no estado de pecado, perdeu por inteiro</p><p>toda a capacidade de sua vontade para qualquer bem espiritual que o leve à salvação.</p><p>Tanto que um homem natural, estando totalmente afastado desse bem e morto no</p><p>pecado, não é capaz, por seu próprio esforço, de converter-se ou de preparar-se para</p><p>tanto”.</p><p>2) Do decreto eterno de Deus: “Por decreto de Deus, para a manifestação de Sua glória,</p><p>alguns homens [...] são predestinados à vida eterna, e outros preordenados à morte</p><p>eterna. Aqueles do gênero humano que estão predestinados à vida, Deus, antes de lançar</p><p>o fundamento do mundo [...] escolheu-os em Cristo para Sua eterna glória, por livre graça</p><p>e por amor. [...] Aprouve a Deus, segundo o desígnio insondável de Sua própria vontade,</p><p>pela qual Ele concede ou nega misericórdia como bem Lhe apraz, deixar de lado o resto</p><p>dos homens para a glória de Seu poder soberano sobre Suas criaturas, e ordená-los à</p><p>desonra e à ira por seus pecados, para louvor de Sua gloriosa justiça”. (WEBER, 2004, p. 91-</p><p>92)</p><p>— Autor da citação</p><p>“</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>em Bourges, formou-se também em Direito para agradar ao pai, uma vez que</p><p>poderia ter uma carreira melhor, e após a morte do pai, voltou a Paris para estudar</p><p>o humanismo (LINDBERG, 2001).</p><p>Segundo Lindberg (2001, p. 299), Calvino ofereceu poucas informações</p><p>autobiográ�cas sobre si; além disso, também temos poucas informações sobre sua</p><p>conversão ao protestantismo. Calvino compartilhava do anseio dos humanistas em</p><p>voltar ad fontes, retornar às origens da cultura, inclusive às Escrituras. Calvino</p><p>compartilhava com os humanistas evangélicos franceses o temor existencial e a</p><p>ansiedade espiritual diante da perseguição e aniquilação dos protestantes</p><p>franceses que haviam rompido com o catolicismo romano. Calvino tinha bom</p><p>apreço por Lutero, mas não sabia alemão; era um mestre nas línguas francesa,</p><p>latina, grega e hebraica. Sua conversão, portanto, ocorreu entre 1533-1534, sendo</p><p>uma conversão inesperada, como ele descreveu em seu Comentário dos Salmos</p><p>de 1557:</p><p>Para Calvino, sua conversão foi uma libertação, pela misericórdia de Deus, dos</p><p>fardos do confessionário e de uma piedade centrada em realizações, uma vez que</p><p>a Igreja Romana buscava, segundo ele, escravizar as consciências por meio da lei,</p><p>causando angústia, temor e incerteza quanto à salvação. Para ele, é por meio da</p><p>justi�cação pela fé que o cristão aprende a justiça de Cristo e aparece a Deus não</p><p>como um pecador, mas como justo, absolvido da culpa e tendo a con�rmação de</p><p>sua inocência. Calvino con�rmou sua conversão publicamente ao desistir dos</p><p>benefícios eclesiásticos em 1534, e foi uma atitude corajosa, pois muitos franceses</p><p>humanistas evangélicos permaneciam na Igreja Romana por medo de perseguição.</p><p>Calvino, contudo, não era monge, não era sacerdote e não tinha formação em</p><p>teologia; ele ocupava cargos de professor e pastor em Genebra, mas há dúvidas se</p><p>foi ordenado pastor. Para ele, seu ministério era apoiado por um chamado de</p><p>O que aconteceu, num primeiro momento, foi que, por meio de uma conversão inesperada, Deus domou, ao</p><p>ponto de poder ser ensinada, uma mente exageradamente obstinada para sua idade – pois eu me devotava de</p><p>modo tão forte às superstições do papado que nada menos do que isso poderia arrancar-me das</p><p>profundidades desse lamaçal (...) Antes que se passasse um ano, todos que ansiavam por uma doutrina mais</p><p>pura continuavam vindo para aprender de mim; logo de mim, um iniciante ainda, um recruta inexperiente.</p><p>— (CALVINO [s. d.] apud LINDBERG, 2001, p. 300-301)</p><p>“</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Deus, embora não tivesse a preparação formal em teologia, sendo um autodidata,</p><p>diferentemente de outros reformadores da primeira geração (LINDBERG, 2001, p.</p><p>301).</p><p>ASSIMILE</p><p>João Calvino se incumbiu de dar profundidade teológica aos pensamentos</p><p>reformadores do teólogo suíço Zwínglio (1484-1531), o principal líder da</p><p>Reforma Protestante na Suíça. Zwínglio defendia ideias semelhantes às de</p><p>Lutero: a exclusividade da fé; que as boas obras não garantiam a salvação;</p><p>que era direito dos �éis acessar a Bíblia; e que as Escrituras fossem mais</p><p>importantes para os sacerdotes. Além disso, ele questionava o celibato e o</p><p>perdão dos pecados pelos padres e não por Deus. Diferentemente de</p><p>Lutero, o reformador suíço pregava contra as imagens e o uso de música</p><p>nas celebrações; para ele, a presença de Cristo na Ceia era simbólica e não</p><p>real, como acreditavam católicos e luteranos (GONZÁLES, 1983).</p><p>Calvino precisou fugir da França para Genebra devido à perseguição do imperador</p><p>francês, Francisco I, que não tolerava movimentos reformatórios em seu território.</p><p>Na fuga, encontrou segurança na casa de um amigo, onde iniciou a escrita do livro</p><p>que se tornou a obra mais signi�cativa do protestantismo contido em um único</p><p>texto, as Institutas da religião cristã (LINDBERG, 2001). A primeira edição foi</p><p>publicada em 1532, em Basiléia, onde estava refugiado desde janeiro de 1535. A</p><p>obra foi concebida como um catecismo evangélico para a educação e a reforma</p><p>das igrejas e deu a Calvino uma reputação internacional, tendo se inspirado no</p><p>Catecismo Menor de Lutero (Institutio era sinônimo de Catechismus). A primeira</p><p>versão continha seis capítulos sobre a lei, o credo, o Pai-Nosso, os sacramentos do</p><p>batismo e a ceia do Senhor, uma exposição sobre a liberdade cristã e contra outros</p><p>sacramentos católico-romanos. Aos poucos, a obra foi ganhando volume e, em</p><p>1559, pouco antes de sua morte, a obra já continha 1500 páginas e diversas</p><p>traduções para várias línguas, incluindo o inglês moderno (LINDBERG, 2001).</p><p>A RUPTURA COM A IGREJA NA FRANÇA</p><p>A inserção do protestantismo na França foi marcada por violência de toda espécie.</p><p>Calvino atuou para encorajar e consolar os perseguidos pela coroa e pelo próprio</p><p>povo, os huguenotes (reformados), que eram pessoas que se entenderam como</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>povo eleito e disposto, em nome de Deus, ao castigo. Numa das cartas de Calvino à</p><p>Igreja de Paris, em 1557, o reformador escreveu: “Se Deus às vezes permite que se</p><p>derrame o sangue de seus �éis, também é verdade que recolhe uma a uma, com</p><p>cuidado, suas lágrimas preciosas” (CALVINO [s. d.] apud LINDBERG, 2001, p. 328).</p><p>O rei não tinha motivação para introduzir a Reforma na França. A coroa francesa</p><p>tinha privilégios em relação ao papado, que foi conquistado por meio de</p><p>concordatas assinadas pelo rei e o papa Leão X; o rei podia, por sua vez, nomear</p><p>bispos, arrecadar dízimos, entre outras coisas; e o clero era �el ao rei. Conforme</p><p>Lindberg (2001), Francisco</p><p>I não tinha razões pessoais para apoiar a Reforma como</p><p>Henrique VIII, nem tinha os sentimentos de ultraje dos governantes alemães por</p><p>conta dos desmandos �nanceiros do papado. Em 1521, os escritos de Lutero já</p><p>eram censurados em toda França, após a Universidade de Sorbonne ter</p><p>considerado o reformador um inimigo da Igreja de Cristo. Os próximos anos</p><p>presenciaram a condenação de reformadores e várias pessoas foram levadas à</p><p>fogueira por heresia, como Luís de Berquin, tradutor das obras de Lutero, que fora</p><p>queimado em 1525 (LINDBERG, 2001)</p><p>Francisco I era hostil a qualquer ação de Reforma, especialmente porque alguns</p><p>pregadores adotaram a iconoclastia e se entregaram à violência. A perseguição</p><p>levou Calvino e outros à clandestinidade, e o protestantismo, então, na França,</p><p>precisou levar uma existência secreta (LINDBERG, 2001).</p><p>A partir de 1530, a Reforma evangélica da Igreja francesa passou a ser executada</p><p>por meio de apoio externo, e quem a apoiou foi a Igreja Reformada de Genebra.</p><p>Calvino estabeleceu uma máquina de propaganda voltada para a França e, ainda,</p><p>enviou diversos pastores para as novas congregações evangélicas. O reinado de</p><p>Henrique II (1547-59) foi ainda mais severo.</p><p>Por meio de editos, Henrique decretou punições para as práticas chamadas de</p><p>heréticas, como comer carne durante a quaresma e participar de reuniões não</p><p>autorizadas, bem como instituiu la chambre ardente (a câmara ardente), um</p><p>tribunal especial para casos de heresia. Além disso, as penas para quem</p><p>disseminasse heresias era a morte cruel, como o esquartejamento. Lindberg (2001)</p><p>relata que o perigo de perder a vida era tanto que, antes mesmo de os pastores</p><p>saírem de Genebra, assinavam a transferência de suas propriedades para suas</p><p>famílias, pois não tinham exceptiva de retornar.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>Nessa época, tivemos algumas tentativas de incursão calvinista no Brasil.</p><p>Uma delas ocorreu na Baía de Guanabara (1555-1560), onde o vice-</p><p>almirante francês, Villegaignon, mobilizou um grupo de calvinistas no</p><p>intuito de estabelecer a França Antártica. No �nal de 1555, ele chegou com</p><p>centenas de homens a Baía de Guanabara e, dois anos depois, outro grupo</p><p>de homens se somou ao grupo, entre eles, alguns calvinistas missionários</p><p>formados em Genebra e credenciados pelo próprio Calvino. Ali, no dia 10</p><p>de março de 1557, os pastores ordenados, Pierre Richier e Guillaume</p><p>Chartier, realizaram a primeira celebração protestante em terras brasileiras</p><p>(PRIORI; VENANCIO, 2010).</p><p>Não obstante a isso, a Igreja reformada cresceu e se espalhou por toda a França.</p><p>Em 1559, reuniu-se em sínodo e apresentou uma con�ssão de fé: a Con�ssão</p><p>Galicana. Em 1561, o Sínodo Nacional da França representava em torno de duas</p><p>mil congregações. Para Lindberg (2001), Calvino, ao dar legitimidade religiosa à</p><p>usura, permitiu que grupos sociais fossem atraídos ao calvinismo, como os</p><p>artesãos especializados, comerciantes independentes e negociantes da classe</p><p>média, incluindo banqueiros, o que levou, mais tarde, à associação entre a ética</p><p>protestante e o espírito do capitalismo (WEBER, 2004).</p><p>Outro grupo social signi�cativo para a Reforma foi a nobreza, como as casas de</p><p>Bourbon e Montmorency. Os Bourbon, por exemplo, estavam na linha direta para</p><p>o trono francês. A simpatia da nobreza permitiu que algumas famílias fossem</p><p>patronas da Igreja e muito in�uentes na corte e no poderio militar. Aliás, as</p><p>mulheres huguenotes organizaram a Igreja Reformada como um partido político</p><p>nacional; elas foram importantes para a intermediação e a negociação das facções</p><p>católicas e protestantes que se mostravam rivais na corte. Assim, Margarida d</p><p>´Angoulême e Jaqueline de Longwy, Joana d-Albret, mantiveram uma</p><p>correspondência intensa com Calvino. Joana criou um reino protestante em</p><p>Navarra, área da França que se tornou um bastião militar do movimento da</p><p>Reforma (LINDBERG, 2001).</p><p>Em 1561, Catarina de Médici, rainha-mãe, criou uma política de moderação em</p><p>relação aos protestantes, como a suspensão da perseguição, a liberdade de</p><p>prisioneiros huguenotes, a permissão de cultos e a designação de outros tutores</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>católicos mais liberais para o rei. Ao tempo que ocorria o Concílio de Trento,</p><p>Catarina convocou o Colóquio de Poissy, em 1561, que representou um</p><p>reconhecimento real signi�cativo da realidade e da expansão do protestantismo.</p><p>De acordo com Lindberg (2001), o colóquio foi o ponto mais signi�cativo alcançado</p><p>pela Reforma Protestante na França. Nesse colóquio, destacaram-se: Teodoro Beza</p><p>(1519-1605) pelo lado protestante, sendo ele um calvinista bem-sucedido de</p><p>Borgonha e discípulo de Calvino, e o jesuíta espanhol Diego Lainez pelo lado</p><p>católico-romano.</p><p>Beza defendeu as crenças calvinistas e os pontos de desacordo, como a autoridade</p><p>papal e a eucaristia, em que, para ele, o corpo de Cristo está tão longe do pão e do</p><p>vinho quanto o céu está longe da terra, resumindo a compreensão da presença de</p><p>Cristo na Ceia. Com isso, recebeu a forte reação condenatória dos bispos católicos,</p><p>uma vez que a discussão sobre a Eucaristia tocava toda a estrutura de poder da</p><p>Igreja Romana, e sua contestação promoveu ataques iconoclastas por toda a</p><p>Europa ocidental, profanando igrejas e objetos sagrados. De tal modo, Lainez</p><p>recomendou a Catarina aguardar as decisões do Concílio de Trento, que era</p><p>presidido pelo próprio papa. Por �m, o Colóquio de Poissy não conseguiu produzir</p><p>uma acomodação religiosa, mas preparou o caminho para o edito de tolerância de</p><p>1562, permitindo aos huguenotes alguma liberdade e a celebração de culto na</p><p>privação do lar — um divisor de águas para o protestantismo francês (LINDBERG,</p><p>2001).</p><p>ASPECTOS DOUTRINÁRIOS DA PREDESTINAÇÃO</p><p>O calvinismo carrega uma identi�cação muito forte com o dogma da</p><p>predestinação; ela está relacionada ao resultado da convicção da Reforma de que a</p><p>salvação ocorre somente pela graça. Calvino, contudo, acentuou a a�rmação de</p><p>Cristo aos discípulos quando disse: “Não fostes vós que me escolhestes a mim;</p><p>pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (João 15.16). A teoria da salvação</p><p>enquanto obra externa, isto é, que parte de Deus, acabou por trazer, como</p><p>consequência, alguma forma de eleição e predestinação. A partir disso, a teoria da</p><p>predestinação levou a fundo a concepção de que não existe mérito na salvação a</p><p>não ser a misericórdia de Deus (LINDBERG, 2001; DREHER, 2004).</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>A salvação é um resgate e não uma realização; consequentemente, a doutrina da</p><p>predestinação não se trata de uma sondagem do pensamento de Deus, mas uma</p><p>expressão de zelo e cuidado pastoral que deve ser analisada em dois níveis: em</p><p>primeiro lugar, um nível pessoal, sendo a proclamação da salvação como dom de</p><p>Deus que escolhe a pessoa apesar de suas dúvidas, descrença e outras</p><p>circunstâncias externas; o outro nível é comunitário e eclesial, em que há a</p><p>proclamação de que, apesar de todas as condições e dos acontecimentos, a Igreja</p><p>de Deus terá êxito. A teologia calvinista defendeu ser impossível identi�car os</p><p>eleitos, mas não negou a existência de alguns sinais. Ao buscar uma vida de</p><p>obediência a Deus, os sinais poderiam ser identi�cados pelos �éis.</p><p>Portanto, Cristo não morreu por toda a humanidade, mas pelos eleitos, apenas.</p><p>Para Lindberg (2001) essa mensagem deve ser compreendida, especialmente, no</p><p>contexto de sua elaboração (Sitz in Leben), uma vez que a Igreja reformada sofreu</p><p>perseguição. A mensagem tinha um sentido prático de fortalecer as comunidades</p><p>reformadas perseguidas na França. Para Calvino, a escolha de Deus pelo seu povo</p><p>é uma questão de con�ssão e adoração e não de especulação. Para ele, o universo</p><p>não é governado pelo destino ou pelo acaso, mas por Deus, que se revelou em</p><p>Cristo. Deus não é um tirano celestial, mas um pai amoroso (descrito por ele como</p><p>uma ama-de-leite), uma mãe que não pode esquecer sua criança e um pai que dá</p><p>coisas boas aos �lhos (LINDBERG, 2001).</p><p>Contudo, a história</p><p>do desenvolvimento da doutrina da predestinação foi cruel</p><p>com seu criador. Calvino não se deu conta de que a prova da eleição poderia</p><p>colocar em dúvida o que ele quis provar. Para ele, a predestinação era uma</p><p>garantia �nal de humildade e de segurança (LINDBERG, 2001), mas acabou por ser</p><p>uma forti�cação ine�ciente, como se viu ao longo do desenvolvimento da igreja</p><p>reformada na Inglaterra e nos Estados Unidos.</p><p>REFLITA</p><p>O dogma da predestinação não teve origem em Calvino; essa teoria do</p><p>“povo eleito” é um desdobramento da teologia do Antigo Testamento e que</p><p>passou pelos Pais da Igreja. Lutero, diferentemente de Calvino, não</p><p>priorizou essa teologia e se ateve mais a uma concepção penitencial e de</p><p>arrependimento dos pecados. Por outro lado, Calvino não mediu as</p><p>consequências práticas de um dogma que separa os salvos dos não salvos,</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>os eleitos e os descartados. E você, como avalia a teologia da</p><p>predestinação? Ao longo da história, o dogma da predestinação sofreu</p><p>algumas alterações, mas continuou sendo um ponto defendido pelas</p><p>igrejas que seguem o calvinismo. No Brasil, essa teoria chegou no século</p><p>XIX, por meio das missões de evangelização por parte de denominações</p><p>norte-americanas, em especial da Igreja Presbiteriana.</p><p>Além da predestinação, o calvinismo valorizava a fé de forma mais individual, uma</p><p>conduta de vida pura (sinais da predestinação), e o ascetismo se tornou uma</p><p>prática marcante para os movimentos posteriores da Reforma. Além disso, teologia</p><p>de Calvino foi marcada, também, por uma defesa da ideia de vocação/pro�ssão,</p><p>assim, o calvinismo criou princípios teológicos que resultaram numa grande</p><p>valorização do trabalho, pois, se praticar a vocação era exaltar a Deus, logo,</p><p>trabalhar exaustivamente era um ato de fé. Ao combater as restrições à usura,</p><p>Calvino abriu às portas da Igreja Reformada à burguesia e a riqueza passou a ser</p><p>sinônimo de benção de Deus.</p><p>A CONSOLIDAÇÃO DA REFORMA NA SUÍÇA</p><p>A Reforma Protestante na Suíça deve muito ao reformador antecessor de Calvino,</p><p>chamado Zwínglio. A exemplo de Lutero, na Alemanha, Zwínglio pretendeu</p><p>reformar a igreja medieval a partir da Suíça. A despeito de terem ideias</p><p>semelhantes, Lutero era, em primeiro lugar, um “teólogo”, já Zwínglio era um</p><p>“humanista”, e isso fazia-os divergirem em pontos centrais sobre a teologia</p><p>protestante. Para Lutero, o ser humano é pecador por inteiro e depende</p><p>exclusivamente da bondade de Deus (graça); para Zwínglio, por ter sido humanista,</p><p>o ser humano tem uma essência de bondade que o possibilita praticar o bem,</p><p>independentemente da atuação divina. A atuação de Zwínglio �cou reduzida à</p><p>Suíça e à Alemanha; com sua morte, seu movimento reformista só não</p><p>desapareceu devido à interveniência de Calvino (GONZÁLES, 1983).</p><p>A Suíça passou por uma guerra civil entre católicos e protestantes no �nal da</p><p>década de 1520, aliás, Zwínglio faleceu em combate, em 1531. Ao �nal, deu-se a</p><p>Paz de Kappel, um acordo de tolerância religiosa que permitiu o protestantismo na</p><p>Suíça. A popularização das ideias de Zwínglio alcançou a política local e incentivou</p><p>que a Câmara Municipal de Zurique, onde ele residia, destituísse a Igreja Católica e</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>tomasse o controle das questões eclesiásticas da cidade, e o reformador João</p><p>Calvino surgiu nesse contexto de tolerância e de entendimento sobre a presença</p><p>protestante (DREHER, 2004).</p><p>Diferentemente da França, portanto, a Reforma na Suíça já vinha sendo trabalhada</p><p>por outros reformadores, havendo o desejo político, também de Genebra, outra</p><p>cidade-estado, de seguir os passos de emancipação política, fato que foi percebido</p><p>pela coroa francesa e manteve o alerta para a possível subversão política entre os</p><p>protestantes. Genebra vinha buscando, desde o início do século XVI, a</p><p>independência da Casa de Savóia. Ao norte de Genebra, estavam os cantões suíços</p><p>de Friburgo (católico) e Berna (protestante), e ambos atuavam para atrair Genebra</p><p>para uma aliança suíça.</p><p>Em 1527, Genebra passou a ser governada por um Conselho dos Duzentos. Em</p><p>1536, uma assembleia geral de cidadãos optou por viver de acordo com o</p><p>evangelho e a palavra de Deus muito em razão do trabalho de Farel, líder</p><p>protestante. Calvino chegou a Genebra com 27 anos, no início da implementação</p><p>do mandato público em favor da Reforma, e suas primeiras tentativas de reforma</p><p>de Genebra fracassaram; os cidadãos não aceitavam a imposição da disciplina e a</p><p>uniformidade doutrinal proposta.</p><p>Em 1537, houve a recusa do Conselho da cidade em adotar a con�ssão de fé. Na</p><p>verdade, havia um con�ito político sobre a autoridade civil e religiosa da cidade. De</p><p>um lado, Calvino e Farel propunham o controle sobre tudo, já do outro, o conselho</p><p>se protegia da supervisão da moralidade por parte da Igreja. Por �m, em 1538,</p><p>após um con�ito em torno da prática litúrgica, Calvino foi expulso de Genebra,</p><p>uma vez que se recusava a aceitar o direito das autoridades civis de interferir na</p><p>liberdade pastoral (LINDBERG, 2001).</p><p>Calvino passou a residir em Estrasburgo, onde se casou com Idelette de Bure e</p><p>retrabalhou as Institutas. Em Genebra, por sua vez, após sua expulsão, houve uma</p><p>desordem na comunidade evangélica e a dissidência, na cidade, entre protestantes</p><p>e muitos católicos que nutriam o desejo de derrubar a reforma. Calvino foi</p><p>chamado de volta à cidade e, em 1541, passou a ser o servo de Genebra, pastor da</p><p>antiga catedral de São Pedro.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Nessa segunda passagem por Genebra (1541-1564), Calvino teve grande in�uência</p><p>na reorganização da congregação local e na política, obtendo sucesso ao</p><p>estabelecer regras para os jogos político e eclesiástico da cidade ao elaborar a</p><p>forma institucional e legal da Igreja. As ordenações eclesiásticas tornaram-se lei, e</p><p>diversos pacotes de leis e regulamentações foram sancionados referentes à justiça</p><p>e a cargos políticos, moldando a constituição da cidade.</p><p>As ordenações eclesiásticas organizaram o ministério da Igreja em quatro</p><p>categorias: os doutores, responsáveis pelo ensino da Escritura; os pastores,</p><p>responsáveis pela pregação da palavra de Deus, pelos sacramentos e pela</p><p>instrução; os diáconos, responsáveis pela supervisão da caridade e pela assistência</p><p>aos pobres e hospitais; e os presbíteros, homens leigos com a função de manter a</p><p>disciplina na comunidade (DREHER, 2004).</p><p>A cidade contava, ainda, com um Consistório, um tribunal eclesiástico e</p><p>disciplinador responsável pela supervisão da moralidade do povo da cidade e da</p><p>lei. O Consistório tinha poderes para excomungar quem tivesse falta grave, como</p><p>adultério, blasfêmia, vida de luxo, desrespeito à igreja e mau comportamento em</p><p>termos de fé (DREHER, 2004).</p><p>Genebra, por �m, tornou-se uma cidade que recebia muitos refugiados religiosos.</p><p>Conforme Lindberg (2001), entre 1550 e 1562, a cidade-estado recebeu em torno</p><p>de 7 mil imigrantes (a cidade tinha 10 mil habitantes). Os refugiados vinham da</p><p>França, de colônias inglesas e italianas, e quando retornavam aos seus locais, após</p><p>melhores condições legais para exercer a fé, acabavam por divulgar os feitos de</p><p>Calvino em Genebra, uma cidade considerada idílica. Calvino, ainda, contou com a</p><p>oposição, como no caso de Miguel Serveto (1511-53), que divergiu da teologia da</p><p>trindade, do batismo das crianças, do pecado original e da cristologia. Serveto</p><p>acabou preso, acusado de heresia, e sentenciado à morte na fogueira em 1553</p><p>(DREHER, 2004).</p><p>Temos, então, um exemplo da Inquisição protestante. De toda forma, a in�uência</p><p>de Calvino continuou crescendo, especialmente pelo atendimento aos refugiados e</p><p>pela recepção de estudantes na Academia de Genebra, criada por ele em 1559</p><p>(hoje, Universidade de Genebra), que se tornou a base para a formação de</p><p>protestantes como missionários para o trabalho em outros países, espraiando as</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>ideias do calvinismo por toda a Europa. Conforme Lindberg (2001), o calvinismo de</p><p>Genebra funcionou como o</p><p>centro de operações do movimento, um Vaticano</p><p>protestante.</p><p>Em 1565, após lutar para manter sua autoridade e pela reforma protestante,</p><p>obtendo respeito e liderança, Calvino faleceu com 55 anos. Conforme Lindberg</p><p>(2001), a seu pedido, foi sepultado num túmulo sem identi�cação. Assim como os</p><p>demais reformadores, não havia o interesse em fundar uma nova religião, mas,</p><p>sim, de devolver à Igreja seu único fundamento: a mensagem de salvação por meio</p><p>da graça e da fé em Jesus Cristo, nem que, por isso, fosse preciso pagar com a</p><p>própria vida. Calvino, assim como Lutero, morreu com a saúde debilitada.</p><p>FAÇA VALER A PENA</p><p>Questão 1</p><p>Calvino precisou fugir da França para Genebra devido à perseguição do imperador</p><p>francês, Francisco I, que não tolerava movimentos reformatórios em seu território.</p><p>Vivendo escondido, pôde iniciar a escrita do livro, num estilo de catecismo, que se</p><p>tornou a obra mais signi�cativa do protestantismo contido num único texto</p><p>Assinale a opção que apresenta corretamente o nome da mais importante obra</p><p>escrita por João Calvino.</p><p>a.  Catecismo Menor.</p><p>b.  Catecismo da Religião Cristã.</p><p>c.  Institutas Menor.</p><p>d.  Institutas da Religião Cristã.</p><p>e.  Institutas de Calvino.</p><p>Questão 2</p><p>Até 1520, na França do rei Francisco I, os reformadores humanistas estavam</p><p>protegidos da punição e da censura. O próprio rei era um entusiasta do</p><p>Renascimento e trabalhou para a tradução da Bíblia, instituiu o estudo dos</p><p>clássicos da Antiguidade e estabeleceu professores em Paris para ensinarem o</p><p>Humanismo. Isso foi um convite para a produção e a circulação de ideias</p><p>reformatórias.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Considerando as informações apresentadas, analise as a�rmativas a seguir sobre a</p><p>motivação da coroa para introduzir a Reforma na França:</p><p>I.  A coroa francesa tinha privilégios em relação ao papado conquistado por meio</p><p>de concordatas assinadas pelo rei e pelo papa Leão X.</p><p>II.  O rei francês, Francisco I, podia nomear bispos, arrecadar dízimos, entre outras</p><p>funções. O clero era �el ao rei.</p><p>III.  Francisco I tinha razões pessoais, assim como Henrique VIII, rei da Inglaterra,</p><p>que precisava da formalização da Igreja para se divorciar da esposa.</p><p>IV.  Francisco I nutria os mesmos sentimentos de ultraje dos governantes alemães</p><p>por conta dos desmandos �nanceiros do papado.</p><p>Considerando o contexto apresentado, é correto o que se a�rma em:</p><p>a.  I e II, apenas.</p><p>b.  I e III, apenas.</p><p>c.  I e IV, apenas.</p><p>d.  I, II e III, apenas.</p><p>e.  I, II, e IV, apenas.</p><p>Questão 3</p><p>O Colóquio de Poissy não conseguiu produzir uma “acomodação religiosa” na</p><p>França, porém preparou o caminho para o Edito de Tolerância de 1562, em que era</p><p>permitida aos huguenotes, reformados, alguma liberdade religiosa, como celebrar</p><p>culto na privação do lar na condição de não serem denunciados e acabarem preso</p><p>ou sentenciados à morte pela corte.</p><p>De acordo com as informações apresentadas no quadro a seguir, faça a associação</p><p>das ações na Coluna A com seus respectivos autores, apresentados na Coluna B.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Coluna A Coluna B</p><p>I. Jesuíta espanhol, atuou pelo lado</p><p>católico-romano. De tal modo,</p><p>recomendou a Catarina que</p><p>aguardasse as decisões do Concílio de</p><p>Trento, que era presidido pelo próprio</p><p>papa, antes de qualquer decisão em</p><p>relação aos protestantes.</p><p>1. Teodoro Beza.</p><p>II. Rainha-mãe, criou uma política de</p><p>moderação em relação aos</p><p>protestantes, como a suspensão da</p><p>perseguição, a liberdade de</p><p>prisioneiros huguenotes, a permissão</p><p>de cultos e a designação de outros</p><p>tutores católicos mais liberais para o</p><p>rei.</p><p>2. Diego Lainez.</p><p>III. Calvinista bem-sucedido de</p><p>Borgonha, discípulo de Calvino,</p><p>defendeu as crenças calvinistas e os</p><p>pontos de desacordo, como a</p><p>autoridade papal e a eucaristia, em</p><p>que, para ele, o corpo de Cristo está</p><p>tão longe do pão e do vinho quanto o</p><p>céu está longe da terra.</p><p>3. Colóquio de Poissy.</p><p>IV. Ao tempo que ocorria o Concílio de</p><p>Trento, representou um</p><p>reconhecimento real e signi�cativo da</p><p>realidade e da expansão do</p><p>protestantismo, sendo o ponto mais</p><p>signi�cativo alcançado pela Reforma</p><p>Protestante na França.</p><p>4. Catarina de Médici.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>DREHER, M. A crise e a renovação da igreja no período da reforma. São</p><p>Leopoldo: Sinodal, 2004.</p><p>GONZÁLES, J. L. A era dos altos ideais. São Paulo: Vida Nova, 1981.</p><p>LINDBERG, C. As reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001.</p><p>NASCIMENTO, J. As diferenças doutrinárias do calvinismo e do arminianismo.</p><p>Batista Pioneira, [S. l.], v. 8, n. 2, dez. 2019. Disponível em: https://bit.ly/2U9wE8c.</p><p>Acesso em: 3 jun. 2021.</p><p>PRIORI, M. D.; VENANCIO, R. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Planeta do</p><p>Brasil, 2010.</p><p>WEBER, M. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. Tradução de José</p><p>Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a associação CORRETA entre as colunas.</p><p>a. I-4; II-3; III-2; IV-1.</p><p>b. I-2; II-1; III-4; IV-3.</p><p>c. I-4; II-1; III-2; IV-3.</p><p>d. I-3; II-4; III-1; IV-2.</p><p>e. I-2; II-4; III-1; IV-3.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>http://revista.batistapioneira.edu.br/index.php/rbp/article/view/321/365</p><p>NÃO PODE FALTAR</p><p>A REFORMA NA INGLATERRA</p><p>Alessandro Bartz</p><p>Imprimir</p><p>PRATICAR PARA APRENDER</p><p>A Igreja Anglicana chegou ao Brasil no século XIX com a vinda da Corte Real</p><p>Portuguesa, uma vez que, já em 1808, os portos brasileiros haviam sido abertos</p><p>para a Inglaterra (Nações Amigas), que fazia oposição à França e ao temido</p><p>Napoleão Bonaparte. Com os portos, os ingleses tiveram liberdade para organizar</p><p>seus cultos, o que era proibido até então, e a Igreja Anglicana se fortaleceu devido</p><p>ao lugar que a Inglaterra ocupou no imperialismo ultramarino a partir do século</p><p>XVII.</p><p>Você sabia que a Igreja Anglicana foi criada pois o rei Henrique VIII queria se casar</p><p>com Ana Bolena e a Igreja Católica Romana, por meio do papado, não aceitou a</p><p>anulação de seu casamento anterior, isto é, o seu divórcio? É isso que a história</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Deseja ouvir este material?</p><p>Áudio disponível no material digital.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>conta. Contudo, como veremos aqui, há outros detalhes que precisam ser</p><p>observados, especialmente a velha e conhecida luta por poder, terras, bens e os</p><p>sentimentos de orgulho inglês que envolviam o individualismo, o anticlericalismo e</p><p>o apelo à monarquia. Até hoje (2021), a Inglaterra conta com uma monarca no</p><p>poder, a rainha Elizabeth II, e os ingleses vivem bem com essa organização do</p><p>Estado.</p><p>Vamos estudar a formação da Igreja Anglicana, em 1534, resultado de várias</p><p>forças, incluindo a incursão do protestantismo, as lutas anticlericais e o</p><p>fortalecimento do Absolutismo, isto é, o rei é o chefe do Estado e da Igreja.</p><p>Nesta seção, identi�caremos os desdobramentos do protestantismo e o início de</p><p>uma expressão religiosa cristã signi�cativa: o anglicanismo. As decisões tomadas</p><p>pelo rei de separar a Igreja tiveram um histórico que identi�caremos em Tomás</p><p>Becket, um mártir da Igreja Católica; além disso, vozes semelhantes surgiram no</p><p>século XVI com Thomas More e John Fischer, ambos sentenciados à morte por</p><p>contrariarem a vontade do Rei. As disputas, por sua vez, tiveram continuidade.</p><p>A Reforma Protestante rompeu a unidade da Igreja ocidental e fez surgir várias</p><p>Igrejas nacionais. Este foi o caso da Igreja Nacional da Inglaterra. De acordo com</p><p>Matos ([s. d.]), a Reforma demonstrou até que ponto a cumplicidade entre a Igreja</p><p>e o Estado não era sadia para a vida moral e espiritual da cristandade.</p><p>Para Matos ([s. d.]), a Igreja Católica Romana defendeu, por muito tempo, uma</p><p>teoria medieval de que a autoridade em questões referentes à Igreja e ao Estado,</p><p>em último caso, era dos papas. Entre os reformadores protestantes, as abordagens</p><p>eram distintas; conforme as instruções do reformador Martim Lutero sobre os dois</p><p>reinos, a maior parte dos estados luteranos optou por um sistema territorial em</p><p>que os príncipes também eram responsáveis por questões</p><p>eclesiais. Calvino, por</p><p>outro lado, procurou estabelecer uma distinção entre as esferas de ação do Estado</p><p>e da Igreja, pois, para ele, era dever do Estado manter a paz e proteger a Igreja</p><p>com base em normas bíblicas nas questões civis. Conforme Matos ([s. d.]), Genebra</p><p>e as Igrejas reformadas da Europa tentaram, em geral, seguir as suas ideias e</p><p>evitar uma dominação civil com leis próprias.</p><p>Entre os anabatistas e outros reformadores considerados “radicais”, pesou a</p><p>interpretação das Escrituras a partir de suas próprias experiências; em geral, a</p><p>proposta era separar totalmente a Igreja e o Estado. A partir disso, eles foram</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>perseguidos pelos grupos protestantes e católicos, pois eram considerados</p><p>hereges ou perigosos para a nação, o Estado e a religião. Entre os anabatistas,</p><p>identi�camos concepções sobre a Igreja e o Estado em outros movimentos</p><p>congêneres na Inglaterra do século XVII, como os batistas, quakers e</p><p>independentes (MATOS, [s. d.]).</p><p>Apesar de todo o movimento de contradição, algumas igrejas mantiveram a</p><p>comunhão com Roma por meio do papado, embora tenham buscado, aos poucos,</p><p>reivindicar graus de independência nacional, como foi o caso da Igreja da França.</p><p>As igrejas luterana, reformada e anglicana rejeitaram a autoridade papal, mas com</p><p>signi�cativas diferenças. Enquanto os luteranos e os anglicanos estavam inclinados</p><p>a deixar o poder civil governar a Igreja, os reformados (calvinistas) não</p><p>encontravam um modelo de consenso. Cada país adotou uma proposta, e, nesse</p><p>caso, a di�culdade em separar o que era Igreja e o que era Estado di�cultava o</p><p>entendimento das diferenças entre quem era membro da comunidade social e</p><p>quem era membro da Igreja. Para haver estabilidade política na nação, era</p><p>necessária a unidade religiosa (MATOS, [s. d.]).</p><p>Com base nesse cenário de relação entre Igreja e Estado no período da Reforma</p><p>Protestante e nas possibilidades de aprofundar a relação entre Igreja e Estado no</p><p>presente, você precisa traçar um comparativo entre os desdobramentos e as</p><p>cumplicidades entre a Igreja e o Estado e o poder real e o poder espiritual no</p><p>período da Reforma Protestante entre 1517 (Publicação das 95 teses) e 1648 (Paz</p><p>de Westfália), que marca o �m da Reforma.</p><p>O título do seu trabalho deve ser “Igreja e Estado no período da Reforma</p><p>Protestante (1517-1648)”. Nele, você deve apresentar como �cou a organização do</p><p>Estado e a relação da Igreja nas seguintes nações: Alemanha, Suíça, Inglaterra,</p><p>Escócia, França, Países Baixos, EUA.</p><p>A igreja anglicana está presente no Brasil desde o início do século XIX, logo, venha</p><p>conosco entender aspectos de sua história no contexto da Reforma Protestante.</p><p>CONCEITO-CHAVE</p><p>PRECEDENTES DA TENSÃO IGREJA X ESTADO: THOMAS BECKET</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Thomas Becket (1118-1170) foi chanceler da Inglaterra (1155-1162) e arcebispo de</p><p>Cantuária (1162-70) durante o reinado de Henrique II (1133-1189). De acordo com</p><p>Knowles (2021), sua carreira foi marcada por apoio e disputa com o rei,</p><p>terminando com o assassinato de Becket na Catedral de Cantuária. Henrique</p><p>pretendia reformar a relação com a Igreja Católica, e, por um tempo, Thomas foi</p><p>amigo do rei e o auxiliou na política de reunir todo o poder nas mãos da</p><p>monarquia, mesmo quando essa política ia contra as reivindicações da Igreja. Em</p><p>1162, com o apoio do rei, ele foi consagrado como Arcebispo de Cantuária, no</p><p>entanto, Becket decidiu mudar seu ponto de vista e seu modo de vida e adotou</p><p>veementemente o programa integral do papado, bem como a aplicação do direito</p><p>canônico. Os arcebispos ingleses se destacaram por implementar a Reforma</p><p>Gregoriana (às vezes, com sucesso parcial), no entanto, Henrique II queria o</p><p>controle estrito sobre a igreja e esperava, por meio da nomeação de Thomas</p><p>enquanto arcebispo, completar seu programa (KNOWLES, 2021).</p><p>O rei não esperava, mas Becket renunciou ao cargo e assumiu a função de</p><p>arquidiácono a serviço da Igreja Católica Romana. Conforme Knowles (2021),</p><p>Becket começou uma oposição à tentativa do rei em aumentar o imposto real, deu</p><p>ordem de excomunhão a pessoas ligadas ao rei e decidiu punir pessoas envolvidas</p><p>com fraude, os denominados “escrivães criminosos”, por meio de um colegiado de</p><p>bispos. Na Europa Ocidental, segundo Knowles (2021), os clérigos eram acusados</p><p>de privilegiar o julgamento perante o bispo, pois recebiam punições mais brandas</p><p>do que nos tribunais leigos. Em resumo, enquanto Thomas defendia o direito de os</p><p>escrivães serem julgados pelos bispos, por seu turno, o rei desejava que eles</p><p>fossem julgados por leigos, reconhecidamente mais severos nas suas sentenças.</p><p>A questão foi reunida em Conselho, mas se agravou quando o rei determinou, em</p><p>1164, as Constituições de Clarendon, em que estabeleceu 16 artigos que</p><p>rede�niam as relações Igreja-Estado na Inglaterra. De acordo com Knowles (2021),</p><p>esse documento a�rmava o direito do rei de punir criminosos, vedava a</p><p>excomunhão de funcionários da corte, a impossibilidade de apelação a Roma, dava</p><p>ao rei as receitas das igrejas vagas e, por �m, o poder de in�uenciar as eleições</p><p>episcopais. Para Knowles (2021), o papel da igreja sofria restrições profundas, uma</p><p>vez que estava proibida de excomungar, interditar e agir contra os leigos em</p><p>informações secretas. Essas leis eram consideradas antiquadas e, por isso, Thomas</p><p>Becket sustentou que as decisões acabavam por infringir a lei da Igreja.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>As relações entre Becket e Henrique azedaram de vez, sendo o arcebispo intimado</p><p>a julgamento, precisando refugiar-se na França com apoio parcial do papado. O</p><p>exílio de Becket durou até 1170; nesse tempo, algumas tentativas de reconciliação</p><p>entre as partes foram feitas, mas ela não foi possível, causando embaraço e divisão</p><p>entre os bispos católicos. Em 1169, o rei e o arcebispo se reuniram na França e o</p><p>clima foi de descon�ança mútua. Mesmo assim, Henrique alterou as Constituições</p><p>de Clarendon “virtualmente retirando a Inglaterra da obediência papal” (KNOWLES,</p><p>2021, [s. p.]).</p><p>Um ano depois, em 1170, o �lho do rei foi cororado arcebispo de York, o que</p><p>Becket considerou uma violação da proibição papal e do direito de o Arcebispo de</p><p>Cantuária coroar o rei; então, juntamente com o papa, excomungou todos os</p><p>envolvidos. Henrique, por sua vez, prevendo uma intervenção na Inglaterra,</p><p>assentiu que Becket voltasse à Inglaterra e reassumisse suas funções, assim como</p><p>concordou em devolver seus bens. Mesmo assim, conforme Knowles (2021, [s. p.]),</p><p>“nenhuma das partes se retirou de sua posição em relação às Constituições de</p><p>Clarendon”.</p><p>Ao retornar para sua casa, por �m, quatro cavaleiros importantes da corte</p><p>interpretaram que Henrique desejava a morte de Becket e seguiram até Cantuária</p><p>para matá-lo; “suas últimas palavras foram uma aceitação da morte em defesa da</p><p>Igreja de Cristo” (KNOWLES, 2021, p. 1). Para Knowles (2021, [s. p.]), “não se pode</p><p>duvidar de sua coragem e sinceridade, e na disputa entre a Igreja e o Estado, ele</p><p>deu sua vida pelo que considerava uma questão vital”. Posteriormente, a relação</p><p>entre o rei e a Igreja voltou a estremecer a Inglaterra no século XVI.</p><p>HENRIQUE VIII E A CRIAÇÃO DE UMA IGREJA NACIONAL</p><p>Henrique VIII (1491-1547) tornou-se rei em 1509 e pertencia à dinastia dos Tudor;</p><p>seu pai, Henrique VII (1457-1509), teve vitória na Guerra das Rosas (1455-1487),</p><p>uma guerra civil inglesa motivada pela sucessão ao trono. Henrique VIII foi</p><p>considerado pelo papa Leão X um defensor da fé, o que demonstra, num cenário</p><p>de irrupção da Reforma Protestante, o zelo pela fé católica, e, em particular, pela</p><p>defesa de sua visão de eucaristia e dos sacramentos (LINDBERG, 2001).</p><p>Para Lindberg (2001), Henrique VII, o pai, tinha um grande assunto a resolver e</p><p>precisou usar seu poder imperial para isso. Seu assunto não era de natureza</p><p>teológica, mas pessoal e política. Ele precisava dar estabilidade e poder à sua casa,</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>os Tudor, e procurou selar</p><p>uma aliança com a Espanha casando um dos seus</p><p>�lhos, Henrique VIII, com Catarina de Aragão (1485-1536), em 1509. Antes de</p><p>Henrique, contudo, Catarina foi casada com outro �lho de Henrique, Artur, que</p><p>faleceu pouco tempo depois do casamento. O casamento com Henrique VIII, por</p><p>sua vez, só foi permitido por meio de dispensa do papa Júlio II, pois era proibido</p><p>casamentos dentro de relações próximas (Levíticos 18:6-18). Catarina teve vários</p><p>�lhos, entretanto, somente Maria Tudor (1516-1558) sobreviveu.</p><p>Henrique, preocupado com uma nova guerra civil pela sucessão, queria um �lho</p><p>homem para sucedê-lo, mas Catarina, dada a sua idade, já não podia dar a ele</p><p>outro �lho. Henrique envolveu-se com Ana Bolena (1507-1536) e requereu ao papa</p><p>Clemente VII a anulação de seu casamento com Catarina, declarando ter sido um</p><p>casamento ilegítimo, uma vez que estava em pecado ao tomar a mulher do irmão,</p><p>conforme outra passagem de Levíticos (20:21). O papa tinha suas razões para não</p><p>atender ao pedido: a in�uência do papado perante a lei canônica (o papa anterior</p><p>já havia auxiliado Henrique no casamento anulando uma proibição bíblica) e um</p><p>aspecto pessoal: Catarina era sobrinha do imperador Carlos V, da Espanha, a quem</p><p>ele devia lealdade (DREHER, 1996).</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>O divórcio é uma questão religiosa polêmica. Vários países seguem a</p><p>legislação religiosa. No Brasil, o divórcio civil só foi permitido na década de</p><p>1970, no período militar, pois a Igreja Católica tinha um lobby forte junto ao</p><p>governo nacional e di�cultou a possibilidade de separação de acordo com o</p><p>código civil. Algumas igrejas protestantes aceitam o divórcio e permitem um</p><p>novo casamento com benção matrimonial, diferentemente da Igreja</p><p>Romana, que aceita o divórcio, mas cria entraves para a participação do</p><p>divorciado na Igreja, como a participação na eucaristia, e proíbe um novo</p><p>casamento. Muitas pessoas apelam ao papado em Roma e conseguem</p><p>anular o casamento.</p><p>Para Lindberg (2001), devido ao fracasso na tentativa de convencer o papa,</p><p>Henrique destituiu seu chanceler e o substituiu por Tomás More (1478-1535).</p><p>Porém, em 1533, a situação se alterou com a posse de Thomas Cranmer na função</p><p>de Arcebispo de Cantuária. Ele era professor em Cambridge e havia se convertido</p><p>ao protestantismo. Ao mesmo tempo, Tomas Cromwell (1485-1540), conselheiro</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>real, realizou o desejo do rei e apelou às universidades da Inglaterra para obter</p><p>uma decisão sobre o caso do casamento, bem como solicitou que a coroa</p><p>substituísse o papa como cabeça da Igreja da Inglaterra. Thomas Cromwell, por</p><p>�m, foi o responsável por elaborar a estratégia de anular o poder da Igreja Romana</p><p>sobre a Inglaterra, atendendo à demanda real de Henrique VIII por meio da</p><p>formulação de sucessivos atos parlamentares que deram legitimidade ao processo</p><p>de ruptura com o catolicismo. Esse processo de cisão entrou para a história com o</p><p>nome de Reforma Inglesa.</p><p>O tribunal inglês, assim, concordou com o divórcio em 1533, no entanto, um ano</p><p>depois, em 1534, por seu turno, o papa anulou o divórcio e excomungou o rei</p><p>inglês. Em 1534, Henrique replicou o Ato de Supremacia, designando o rei e seus</p><p>sucessores como “o único Cabeça Supremo na terra da Igreja da Inglaterra [...]</p><p>[incluindo] o pleno poder e autoridade [...] de visitar, reprimir, reti�car, reformar,</p><p>ordenar, corrigir, restringir e emendar todas [...] as heresias” (LINDBERG, 2001, p.</p><p>378). O rei recebeu, em 1534, o título de “Governador e Suprema Cabeça da Igreja”;</p><p>o Arcebispo de Cantuária foi estabelecido como titular da hierarquia eclesiástica; e</p><p>a Igreja da Inglaterra passou a ser uma Igreja Nacional.</p><p>Henrique precisava de mais ações para separar a Igreja inglesa do papado e sua</p><p>subjugação à coroa no parlamento. Ele apostou no crescimento da opinião política</p><p>antipapal e erastiana, pois precisava dar sustentação pública à autoridade do</p><p>Estado acima da autoridade da Igreja. Assim, a ruptura da Igreja com Roma, de</p><p>fato, ocorreu por meio de um juramento de lealdade da Igreja ao rei. Cranmer</p><p>anulou o primeiro casamento do rei, celebrou o novo casamento e, com o apoio do</p><p>Parlamento, que era composto por nacionalistas, aprovou as medidas adotadas.</p><p>ASSIMILE</p><p>O suíço Thomas Erastus (1524-83) foi o responsável pelo termo</p><p>erastianismo, isto é, “a ideia de que o estado tinha o direito de exercer</p><p>suprema autoridade sobre a igreja” em todas as questões (MATOS, [s. d., s.</p><p>p.]).</p><p>Conforme Lindberg (2001), o Ato de Supremacia foi um ato de rompimento</p><p>constitucional com o papado, porém não foi uma introdução do protestantismo na</p><p>Igreja da Inglaterra. Henrique encontrou apoio para seu anticlericalismo, mas</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>a�rmou o dogma católico, em 1539, por meio do Estatuto de Seis Artigos: a</p><p>manutenção da transubstanciação, a comunhão e uma só espécie para os leigos, o</p><p>celibato dos sacerdotes, os votos monásticos, a con�ssão e as missas privadas e</p><p>qualquer objeção ser considerada heresia, como a pena de morte.</p><p>O Parlamento, aos poucos, aprovou diversas leis de a�rmação de autonomia da</p><p>Igreja da Inglaterra, bem como a dissolução dos mosteiros, a transferência das</p><p>terras da Igreja para a nobreza e a suspensão do envio de impostos para o</p><p>imperador e para o papado. Henrique suprimiu os monastérios e combateu o</p><p>monarquismo.</p><p>Para Lindberg (2001), as esposas de Henrique VIII e seus �lhos foram importantes</p><p>para o desenvolvimento do protestantismo inglês. Henrique casou-se com Ana</p><p>Bolena, em 1533, que lhe deu a �lha Elisabete (1533-1603), mas não o sonhado</p><p>�lho homem. Ana foi importante para o rompimento com Roma e, por muito</p><p>tempo, foi uma defensora das concepções evangélicas junto ao rei e à corte. Após</p><p>a morte de Catarina, seu casamento foi anulado e ela foi decapitada, em 1536, sob</p><p>acusação de adultério. Henrique se casou novamente com Jane Seymour naquele</p><p>mesmo ano e, �nalmente, teve o �lho Eduardo (1537-1553), Jane perdeu a vida no</p><p>parto e Eduardo foi criado como um rei protestante. Em 1540, Henrique se casou</p><p>com Ana de Clèves e se divorciou cinco meses depois. Casou-se com Catarina</p><p>Howard, que foi decapitada dois anos depois, em 1542. Sua última esposa foi</p><p>Catarina Parr.</p><p>Após a morte do rei, reinou Eduardo VI, que ainda era menor de idade e teve a</p><p>assessoria de regentes protestantes, que aproveitaram para persuadir a Corte e</p><p>aprovar diversos pontos em direção à Reforma com o apoio e a aprovação do</p><p>Parlamento. Em 1549, o Parlamento aprovou o uso do Livro de Oração Comum, a</p><p>pedra de toque da identidade anglicana até o presente (LINDBERG, 2001). Ainda de</p><p>forte inspiração calvinista, a Reforma promoveu a substituição dos altares de</p><p>pedra por de madeira, a revogação do celibato clerical, a administração das duas</p><p>espécies na celebração da Ceia e outros assuntos. Eduardo reinou entre 1547 e</p><p>1553.</p><p>A sucessora de Eduardo foi Maria Tudor, que reinou entre 1553 e 1558. Ela</p><p>combateu o protestantismo e �cou conhecida como a “Rainha Sangrenta”, pois</p><p>mandou matar diversos protestantes, incluindo o protestante Tomas Cranmer.</p><p>Após sua morte, Elisabete reinou entre 1558 e 1603. Sob Elizabete, a Inglaterra se</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>tornou protestante, uma das principais nações europeias e um poder imperial</p><p>mundial (LINDBERG, 2001). Em seu período, católicos e calvinistas promoveram</p><p>pressão sobre a corte; Elizabeth, por sua vez, fez o Parlamento aprovar diversas</p><p>leis fundamentais, chamadas de “estabelecimento elizabetano”, sob as quais se</p><p>estruturou o anglicanismo como uma Igreja Católica e Protestante.</p><p>THOMAS MORE E JOHN FISHER: MÁRTIRES CATÓLICOS NA REFORMA</p><p>O rompimento do rei Henrique VIII com a Igreja Romana também produziu</p><p>mártires católicos.</p><p>Thomas More (1478-1535), um inglês humanista e estadista, foi chanceler da</p><p>Inglaterra entre 1529 e 1532. More era advogado e escritor. De acordo com</p><p>Marc'hadour (2021), suas atividades em várias empresas de Londres como</p><p>representante dos comerciantes con�rmaram sua competência em questões</p><p>O</p><p>confronto entre as duas realidades inaugurou o mundo moderno e a Igreja</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Moderna pós-reforma, e a relação entre os poderes espiritual e temporal entram</p><p>em choque. Os poderes que outrora se misturaram na Europa, misturaram-se na</p><p>América colonizada, e a insurgência de vozes dissonantes contestou o modelo</p><p>eclesial adotado, baseado na exploração de recursos, na aniquilação dos povos, da</p><p>cultura, dos valores e dos modos de vida.</p><p>A relação entre Estado e Igreja deve ser de colaboração e não de interferência.</p><p>Quando a Igreja quer controlar os programas de governo/Estado ou quando o</p><p>Estado quer interferir na Igreja, grupos são favorecidos em detrimento de outros.</p><p>Assim foi no século XIX, quando os protestantes que viviam no Brasil foram</p><p>perseguidos e sua religião tolerada, desde que não fosse pública.</p><p>As leis eram criadas para proteger o Império e a Igreja Católica, e como tem sido</p><p>nos últimos anos? Hoje, grupos evangélicos têm representação junto ao Estado,</p><p>mas os temas defendidos servem para toda a nação ou são de interesses</p><p>particulares? Pense nisso.</p><p>A teologia é a conjunção de razão e fé; não é uma dicotomia ou uma oposição;</p><p>trata-se de uma relação paradoxal. Entender as razões da fé que se manifesta na</p><p>comunidade e na vivência entre os indivíduos é uma oportunidade ímpar que a</p><p>instituição de ensino está lhe oferecendo. Aproveite a oportunidade dedicando-se</p><p>aos estudos!</p><p>CONCEITO-CHAVE</p><p>ANTECEDENTES: A REFORMA GREGORIANA E O CISMA DO OCIDENTE</p><p>Quando o cristianismo foi elevado à religião o�cial do Império Romano, em</p><p>meados do século IV, tinha uma função meramente eclesial, não competia com o</p><p>poder do imperador, o imperador não mandava na igreja e nem esta tinha algum</p><p>controle da política imperial. Com a mudança provocada pelas invasões bárbaras,</p><p>novas concepções surgiram, em especial, a germânica, em que rei era dono de</p><p>tudo: terras, pessoas e igreja.</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>O Papa Gelásio (492-496) procurou, teologicamente, equilibrar as forças</p><p>entre os poderes, valorizando a natureza da igreja ao destacar que ambas</p><p>as forças, poder temporal e espiritual, são instituições divinas. Ele escreveu</p><p>ao rei da época: “Duas são, augusto imperador, as (autoridades) pelas</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>quais, principalmente, este mundo é governado: a santa autoridade dos</p><p>bispos e o poder real. Destes ministérios o dos sacerdotes é de tanto maior</p><p>importância” (DREHER, 2001, p. 25). Outro exemplo dessa dominação</p><p>ocorreu quando o Rei Carlos Magno (768-814) se converteu ao cristianismo,</p><p>no século VIII, e todo o seu povo, forçosamente, também o fez. O</p><p>cristianismo se tornou um meio político para uma dominação mais</p><p>tranquila (DREHER, 2001).</p><p>Conforme Dreher (2001), a relação entre Estado e Igreja na Idade Média era de</p><p>dependência mútua. De um lado, a Igreja dependia da estrutura do Estado e,</p><p>portanto, do poder temporal; do outro, o Estado dependia da Igreja como suporte</p><p>e em virtude de fortalecer o poder espiritual sobre o povo. Papas e imperadores</p><p>disputavam o poder sobre os povos e as relações entre os poderes geravam</p><p>descontentamento. Por conta disso, o Papa Gregório VII instituiu uma reforma</p><p>(1073-1085), fortalecendo o poder papal ao estabelecer que era portador do poder</p><p>de Deus na terra. Segundo ele, o Papa não podia errar, tendo poder para depor</p><p>reis e imperadores! Assim, a legitimação teológica foi a de que a igreja detinha as</p><p>chaves do reino de Deus, o que conferia ao Papa poderes para tais pretensões</p><p>políticas. Num golpe político, Gregório VII depôs o rei Henrique IV (1056-1106),</p><p>con�rmando o poder papal sobre o poder real. Na proposta de reforma</p><p>gregoriana, houve a proibição do casamento de sacerdotes, que já existia no corpo</p><p>sacerdotal. A legitimação teológica era a de que os sacerdotes deviam seguir a vida</p><p>austera dos monastérios, segundo as normas monásticas, entre elas, a do celibato</p><p>(DREHER, 2001).</p><p>No Concílio de Latrão (1215), com participação de várias autoridades seculares e</p><p>religiosas, decisões com repercussões europeias fortaleceram o poderio da igreja</p><p>medieval no âmbito político: a consagração da hóstia só podia ser mediada pelo</p><p>sacerdote (aumentando o poder hierárquico) e a obrigatoriedade da con�ssão pelo</p><p>sacerdote permitia à Igreja conhecer os meandros políticos, evitando possíveis</p><p>heresias. Além de decisões de âmbito religioso (mas de alcance político), o Concílio</p><p>estabeleceu que determinados reis (súditos leais à igreja medieval) fossem</p><p>consagrados imperadores em posições estrategicamente importantes na Europa,</p><p>fortalecendo seu senhorio feudal. Por meio do uso habilidoso do direito romano, o</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>papado legitimou sua a�rmação do direito divino de coroar o imperador ocidental.</p><p>A teoria implícita era: se o Papa tinha o direito de coroar um imperador, então, ele</p><p>também tinha o direito de tirar-lhe a coroa (DREHER, 2001).</p><p>Uma vez alcançado, a igreja medieval procurou manter o poder político por meio</p><p>de alianças e da organização política. Um exemplo foi o Papa Bonifácio VIII (1294-</p><p>1303), que, como jurista, defendeu a igreja como uma teocracia, ou seja, uma</p><p>organização burocrática com uma e�ciente equipe de coletores �scais. Ele</p><p>promovia peregrinações a Roma, e o peregrino, após a jornada, podia adquirir</p><p>indulgências. Essa receita auxiliou no fortalecimento do poder papal sobre toda a</p><p>Europa.</p><p>Com tanto poder e dinheiro, alguns Papas ressentiram-se do voto de pobreza e</p><p>questionaram seu valor. O Papa Clemente VI, acostumado com luxo, arte e</p><p>frivolidades sociais, reclamou da austeridade da vida papal; sob seu ponti�cado, a</p><p>igreja medieval tornou-se o palco não apenas religioso, como também político,</p><p>artístico, cultural e, inevitavelmente, de corrupção.</p><p>Essa ideologia papal de controle político foi a pique com o surgimento de reis</p><p>nacionais cuja autoridade política, diferentemente da autoridade do imperador,</p><p>não dependia da coroação papal (LINDBERG, 2001, p. 58). João de Paris (1250-1306)</p><p>sustentou em Acerca do poder papal e real que o governo secular tinha suas raízes</p><p>na comunidade humana natural e que a autoridade real do papado não possuía</p><p>autoridade sobre os reis. Marsílio de Pádua (1275-1342) defendeu que o papado</p><p>estava destruindo a paz mundial e a solução era limitar sua autoridade por meio</p><p>de leis. Além de invocar o princípio do consentimento popular, Marsílio negou a</p><p>tese de que o papado fora estabelecido por Deus. A tese do consentimento</p><p>popular tinha como base a concepção de que a autoridade secular tinha as raízes</p><p>na comunidade humana natural e que essa autoridade não era derivada do</p><p>papado (DREHER, 2002, p. 98). Conforme Lindberg (2001, p. 59), as críticas não</p><p>pretendiam abolir o papado, mas reformá-lo e orientar a igreja segundo o modelo</p><p>da igreja antiga.</p><p>Essas relações entre o papado e os imperadores ocidentais levaram ao cisma</p><p>ocidental. Bonifácio VIII descobriu, no século XIV, que havia perdido o controle</p><p>político para reis nacionais cuja autoridade política não dependia da coroação</p><p>papal. O papado de Avignon era alheio aos cristãos de toda Europa, especialmente</p><p>pela mania de construir palácios e monumentos esplêndidos ao custo de taxas</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>altas cobradas dos �éis (LINDBERG, 2001). O papado desenvolvia mecanismos</p><p>administrativos e�cientes em coletar impostos, misturando benefícios</p><p>eclesiásticos, indulgências e política, bem como para a sua rede de padroado.</p><p>Brincava-se, na época, que Jesus dera a Pedro a ordem de apascentar as ovelhas e</p><p>não de tosquiá-las.</p><p>A sede do papado estava em Avignon, Itália, e havia muita aproximação com a</p><p>França. A crise de prestígio e autoridade levou ao apelo de levar o papado</p><p>novamente a Roma. Quando Gregório XI, que era a favor dessa ação, morreu, em</p><p>1378, romanos exigiram que o papado permanecesse em Roma. A escolha dos</p><p>cardeais se deu por Prignano, um notável administrador que se assumiu como</p><p>Urbano VI. Alguns cardeais alegaram que a eleição fora inválida,</p><p>comerciais e seus dons como intérprete e porta-voz. Em 1516, publicou o livro</p><p>Utopia.</p><p>Thomas pretendia implementar algumas das ideias políticas dos humanistas</p><p>cristãos. Entre 1515 e 1520, More fez campanha vigorosa pelo programa religioso e</p><p>cultural de Erasmo, no entanto, precisou atuar para atender aos caprichos de</p><p>Henrique. O rei buscava um argumento bíblico para fundamentar seu pedido de</p><p>divórcio de Catarina, que, segundo ele, não conseguiu produzir um herdeiro</p><p>homem, estando nula e, até mesmo, incestuosa, por causa de seu casamento</p><p>anterior com o falecido irmão. More realizou um longo estudo em que con�rmou</p><p>sua opinião de que Catarina era a verdadeira esposa do rei. Em 1529, enquanto</p><p>porta-voz do rei, abriu o Parlamento; já em 1531, anunciou as apreciações</p><p>favoráveis ao divórcio das universidades, mas não assinou a carta de 1530, “na</p><p>qual os nobres e prelados da Inglaterra pressionaram o papa a declarar o primeiro</p><p>casamento nulo”, bem como procurou renunciar à sua função “quando o clero</p><p>reconheceu o rei como seu chefe supremo” (MARC'HADOUR , 2021, [s. p.], tradução</p><p>nossa).</p><p>Após a decisão do Parlamento, More recusou-se a comparecer à coroação de Ana</p><p>Bolena. Em 13 de abril de 1534, devido a sua decisão, foi convocado a se explicar</p><p>aos comissários do rei para assentir sob juramento ao Ato de sucessão, que</p><p>declarou o casamento do rei com Catarina nulo e o de Ana válido. Conforme</p><p>Marc'hadour (2021, [s. p.], tradução nossa): “More estava disposto a fazer [a</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>anulação, n.a], reconhecendo que Ana era de fato rainha ungida. Mas ele recusou</p><p>o juramento ao Ato de sucessão porque implicava no repúdio da supremacia</p><p>papal”. Quatro dias depois, ele foi preso.</p><p>Thomas More foi julgado em 1º de julho de 1535, e mesmo negando as acusações,</p><p>foi sentenciado como “culpado”. Antes de morrer, More falou “em alívio de sua</p><p>consciência”. Para Marc'hadour (2021), a unidade da igreja foi o principal motivo de</p><p>seu martírio. Sua segunda objeção foi que “nenhum homem temporal pode ser a</p><p>cabeça da espiritualidade”. Assim como More, a mesma causa levou a outro</p><p>martírio: o de John Fischer.</p><p>John Fisher (1469-1535) foi um humanista inglês muito devotado à Igreja Católica</p><p>Romana e ao papado. Em 1504, foi nomeado chanceler de Cambridge e bispo de</p><p>Rochester.</p><p>Morrill (2001) argumenta que seus livros contra o luteranismo e suas doutrinas</p><p>deram-lhe uma reputação europeia como teólogo e reconhecimento pela Igreja</p><p>Romana. Na Câmara dos Lordes, Fischer atuou contra a interferência do Estado</p><p>nas questões da igreja e procurou pela reforma da Igreja; ele defendeu Catarina</p><p>em 1529 e lutou por sua defesa por meio de discursos e sermões. Além disso,</p><p>Fischer foi contrário à concessão do título de “Chefe Supremo da Igreja e do Clero</p><p>da Inglaterra” ao Rei Henrique VIII e à Lei da Supremacia. Em 1534, juntamente</p><p>com More, recusou-se a jurar a nova lei com base no fato de que, “embora</p><p>dispostos a aceitar a sucessão como um assunto apropriado para o Parlamento,</p><p>eles não podiam aceitar o resto da Lei, especialmente porque repudiava a</p><p>autoridade papal” (MARC'HADOUR, 2021, [s. p.], tradução nossa). Assim como</p><p>More, ele foi preso na Torre de Londres e já estava gravemente doente.</p><p>Ele resistiu ao rei Henrique, “recusando-se a reconhecer a supremacia real e a</p><p>abolição da jurisdição papal sobre a Igreja inglesa”. Na condição de cardeal, foi</p><p>engando pelo procurador-geral para que con�denciasse “que o rei não era e não</p><p>poderia ser o chefe supremo da Igreja da Inglaterra” (MORRILL, 2001, [s. p.]). Em</p><p>1535, após seu julgamento, foi condenado e executado.</p><p>OS PURITANOS E A DIFUSÃO DA REFORMA NA AMÉRICA</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Depois da morte de Elisabeth I, o trono da Inglaterra foi assumido por Jaime I</p><p>(1603-1625). De acordo com Dreher (1999), ele defendeu a monarquia e o</p><p>absolutismo como forma de governo. De educação presbiteriana e anglicana,</p><p>defendia que o poder espiritual não deveria interferir nos negócios do Estado.</p><p>Jaime I reprovou a constituição presbiteriana e proibiu e lutou contra as “seitas”</p><p>cristãs — grupos religiosos formados por pessoas puritanas.</p><p>Os puritanos haviam crescido no seu governo; eles se voltavam contra a Igreja</p><p>anglicana e julgavam a Igreja como uma instituição que não correspondia à Bíblia.</p><p>A Bíblia e sua norma voltada à família, à pro�ssão, ao Estado e à relação do ser</p><p>humano para com Deus eram o centro de reivindicação dos puritanos, que eram</p><p>chamados dessa forma por se declararem puros, pessoas oriundas da baixa</p><p>nobreza. Eles contestavam os favorecimentos da corte e o desajuste �nanceiro,</p><p>bem como combatiam os resíduos de catolicismo que existiam na Igreja, pois</p><p>desejavam uma fé bíblica.</p><p>Quando o Estado apertou o cerco contra eles, os mais radicais decidiram emigrar</p><p>para uma terra que continuasse inglesa, mas não limitasse sua liberdade de fé, e</p><p>isso se deu ao mesmo tempo em que a Inglaterra se tornava uma potência</p><p>colonialista. Em 1620, partiu de Plymouth o navio que �cou conhecido sob o nome</p><p>de May�ower, em que 122 pessoas abandonaram a Inglaterra para viver em</p><p>liberdade religiosa e em obediência à fé. Dessas pessoas, 30 foram chamadas de</p><p>“pais peregrinos”. Eles elaboraram um documento no qual esboçaram a base de</p><p>sua futura comunidade e desembarcam na baía de Massachussets no dia 4 de</p><p>dezembro, data até hoje comemorada como Dia de Ação de Graças.</p><p>Por outro lado, conforme Dreher (1999), o puritanismo não foi só um movimento</p><p>inglês, ele herdou a convicção da predestinação e do povo eleito. Membros de</p><p>classe média, os puritanos transferiram para toda a nação o sentimento inglês de</p><p>povo eleito de Deus com a missão de conquistar o mundo. Tal sentimento chegou</p><p>aos Estados Unidos da América do Norte, e mesmo fragmentado em diversos</p><p>grupos e seitas, deu origem a “reavivamentos”. Esse é o caso de George Fox, um</p><p>sapateiro místico que deu origem ao movimento dos Quaker (quacre tem o sentido</p><p>de ‘tremedor’). Ele saia pelas ruas anunciando sua fé baseada nas revelações do</p><p>Espírito Santo, e o seu pensamento chegou às colônias inglesas por meio de Willian</p><p>Penn (1644-1718), que herdou uma herança dos pais e comprou, da coroa inglesa,</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>uma reserva de terras entre Connecticut e Maryland, onde fundou o Estado de</p><p>Pensilvânia e imprimiu os princípios quacres. Ele defendia a boa natureza humana,</p><p>um humanismo cristão.</p><p>REFLITA</p><p>O puritanismo tem uma tendência humanista, e desse humanismo, vem a</p><p>convicção de não poder existir classes sociais, de que todas as convicções</p><p>religiosas devem ser toleradas, de que a escravidão deve ser eliminada e a</p><p>contrariedade ao serviço militar. Esse paci�smo altruísta in�uenciou o livro</p><p>que preparou os EUA para o �m da escravidão: A cabana do Pai Tomás. Sua</p><p>autora, Harriet Beehcer-Stowe, era quacre (DREHER, 1999).</p><p>O puritanismo teve destaque na Inglaterra por meio de Oliver Cromwell, que lutou</p><p>pela concretização da santi�cação de toda a vida, conforme o calvinismo, e fez do</p><p>puritanismo um movimento reformatório no seio do povo inglês. Cromwell se opôs</p><p>ao Rei Carlos I por meio do Parlamento, e uma Guerra Civil teve início em 1642.</p><p>Carlos quis introduzir a constituição episcopal na Escócia — país que já havia</p><p>adotado o presbiterianismo como religião o�cial —, porém não teve êxito e, então,</p><p>invadiu a Irlanda (onde protestantes e católicos perderam a vida) para fazer frente</p><p>ao governo inglês.</p><p>A partir de 1643, o Parlamento passou a concentrar todo o poder e estabeleceu o</p><p>presbiterianismo como a religião o�cial da Inglaterra. Cromwell assumiu o</p><p>comando das milícias apoiadas pelo Parlamento, lutou contra o exército real entre</p><p>1644 e 1645 e venceu. Carlos I apostava na divisão do Parlamento e na �delidade</p><p>do povo inglês ao rei, e a divisão do parlamento era um fato, sobretudo pela</p><p>introdução do puritanismo.</p><p>Em 1648, Cromwell dissolveu o Parlamento e deu início a uma ditadura de</p><p>puritanos. Em 1653, Cromwell encontrou apoio nos independentes,</p><p>operou uma</p><p>limpeza no Parlamento e deu um golpe de Estado, estabelecendo uma ditadura</p><p>militar congregacional. Desse movimento, outros entusiastas surgiram, como</p><p>George Fox (1624-1691), e sua Sociedade de Amigos, os quacres. Em 1658, após</p><p>sua morte, a Igreja da Inglaterra (anglicana) voltou a ser do Estado.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Cronwell faleceu em 1660, porém seu �lho Richard não teve condições de segurar</p><p>o regime político implantado e o Parlamento voltou a funcionar normalmente.</p><p>Carlos II tornou-se então o rei inglês e após sua morte, em 1685, a sucessão foi</p><p>para seu irmão Jaime II. O episcopado foi restaurado, retomando a hegemonia</p><p>anglicana. Porém, quando se descobriu que Jaime II era católico, houve temor</p><p>político de uma nova tentativa de recatolização da Inglaterra. Foi solicitado a</p><p>Guilherme III de Orange (1650-1702) invadir o país e garantir o futuro do</p><p>protestantismo, o que ocorreu em 1688. No campo religioso, houve tolerância a</p><p>todas as con�ssões, menos à católica. O catolicismo irlandês foi reprimido e, nesse</p><p>tempo, o puritanismo perdeu relevância na Inglaterra.</p><p>O Rei Henrique VIII, por razões políticas, também procurou se manter</p><p>independente de Roma, assim como os príncipes alemães e os conselhos</p><p>municipais de Zurique e Genebra. Para ele, Roma era uma barreira para seus</p><p>anseios pessoais, como os impedimentos canônicos que o proibiam de se</p><p>divorciar. Desses acontecimentos, surgiu o anglicanismo como expressão religiosa</p><p>da Igreja da Inglaterra, uma Igreja Nacional surgida após a ruptura com a Igreja</p><p>Católica e o papado.</p><p>Em termos de teologia e organização, trata-se de um mix católico e reformado.</p><p>Para a elaboração teológica e eclesial da nova igreja anglicana, foram utilizados os</p><p>pensamentos de Lutero e de Calvino. A Igreja Anglicana está espalhada pelo</p><p>mundo, com sede na Inglaterra, tendo como liderança o arcebispado de</p><p>Cantuária.</p><p>FAÇA VALER A PENA</p><p>Questão 1</p><p>Thomas More (1478-1535) foi um inglês humanista, estadista, amigo de Erasmo de</p><p>Roterdã e, também, chanceler da Inglaterra entre 1529 e 1532. More era advogado</p><p>e escritor, e entre suas atividades, destacava-se a habilidade no comércio, a qual</p><p>permitiu que fosse lembrado para atuar como intérprete, porta-voz e, mais tarde,</p><p>como Primeiro-Ministro. Contudo, seu legado foi a escrita, em 1516, de um livro</p><p>fundamental para a compreensão do seu período histórico.</p><p>Quanto ao nome do livro escrito por Thomas More, pelo qual ele �cou conhecido, é</p><p>correto a�rmar que se trata da seguinte obra:</p><p>a. Esperança (a respeito da vida eterna e da salvação).</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>b. Liberdade (que trata da emancipação dos cativos).</p><p>c. Utopia (que discute a natureza humana).</p><p>d. Perseverança (em que defende a instituição do papado).</p><p>e. Amizade (um tratado sobre relações internacionais).</p><p>Questão 2</p><p>Em 1534, após o rei Henrique VIII ter obtido a permissão para se divorciar de</p><p>Catarina de Aragão e casar com Ana Bolena, o Parlamento inglês assentiu no</p><p>rompimento com a Igreja Católica Romana por meio do papado e no</p><p>estabelecimento de uma Igreja Nacional: a Igreja Anglicana. O rei seria, portanto, o</p><p>chefe do Estado e da Igreja da Inglaterra.</p><p>Tomando como referência seus conhecimentos sobre a criação da Igreja Anglicana,</p><p>julgue cada uma das alternativas a seguir como (V) Verdadeira ou (F) Falsa.</p><p>( ) Em 1534, Henrique replicou o Ato de Supremacia, designando o rei como o único</p><p>Cabeça Supremo na terra da Igreja da Inglaterra.</p><p>( ) Por meio do Ato de Supremacia, o Arcebispo de York foi estabelecido como</p><p>titular da hierarquia; surgia, assim, a Igreja da Inglaterra como Igreja Nacional.</p><p>( ) Henrique precisava de mais ações para separar a Igreja inglesa do papado e sua</p><p>subjugação à coroa no parlamento, para tanto, apostou na política antipapal e</p><p>erastiana.</p><p>( ) O Ato de Supremacia foi um ato de rompimento constitucional com o papado e,</p><p>por consequência, uma introdução do protestantismo na Igreja da Inglaterra.</p><p>( ) O Parlamento foi aprovando uma sucessão de leis de a�rmação da autonomia</p><p>da Igreja Inglesa, os mosteiros foram dissolvidos e as terras da Igreja sofreram</p><p>uma reforma agrária.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA.</p><p>a. V – V – F – F – V.</p><p>b. F – V – F – V – V.</p><p>c. V – F – V – F – F.</p><p>d. F – F – V – V – V.</p><p>e. V – F – V – F – V.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>CAMPOS, B. M. Puritanismo e a construção político-social da realidade. Revista</p><p>Pandora Brasil, [S. l.], n. 60, jan. 2014. Disponível em: https://bit.ly/3pYhVsI. Acesso</p><p>em: 4 jun. 2021.</p><p>CAVALCANTI, R. A reforma inglesa. 2011.  Disponível em: https://bit.ly/3gDiPpV.</p><p>Acesso em: 4 jun. 2021.</p><p>DREHER, M. N. A Igreja latino-americana no contexto mundial. 1. ed. São</p><p>Leopoldo: Sinodal, 1999. v. 4.</p><p>JOINVIX. Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. 2021. Disponível em:</p><p>https://www.ieab.org.br/. Acesso em: 4 jun. 2021.</p><p>Questão 3</p><p>Henrique VIII, preocupado em uma nova guerra civil pela sucessão, queria um �lho</p><p>homem para sucedê-lo, mas Catarina, dada a sua idade, já não podia dar a ele</p><p>outro �lho. Henrique envolveu-se com Ana Bolena e solicitou ao papa Clemente VII</p><p>a anulação de seu casamento com Catarina, alegando ter sido um casamento</p><p>ilegítimo, uma vez que estava em pecado ao tomar a mulher do irmão, conforme</p><p>passagem de Levítico (20.21).</p><p>Entre os motivos que levaram o papado a não autorizar o divórcio de Henrique VIII</p><p>e Catarina de Aragão, é correto destacarmos:</p><p>a.  A infalibilidade papal (o papa anterior já havia auxiliado Henrique no casamento anulando uma proibição</p><p>bíblica) e um aspecto pessoal, pois Catarina era sobrinha do imperador Carlos V, da Espanha, a quem ele</p><p>devia lealdade.</p><p>b.  A infalibilidade papal (o papa anterior já havia auxiliado Henrique no casamento anulando uma proibição</p><p>bíblica) e um aspecto moral, pois Catarina representava uma mulher honrada, e aprovar o divórcio seria um</p><p>desapreço às mulheres católicas.</p><p>c.  A legitimidade do papado quanto mantenedor da tradição cristã e dos bons costumes e um aspecto</p><p>pessoal, pois Catarina era sobrinha do imperador Carlos V, da Espanha, a quem ele devia lealdade.</p><p>d.  A infalibilidade papal (o papa anterior já havia auxiliado Henrique no casamento anulando uma proibição</p><p>bíblica) e um aspecto religioso, pois Catarina era, de fato, a Rainha da Inglaterra e Henrique precisava ser</p><p>detido.</p><p>e.  O poder da Igreja Católica sobre todos os nobres e imperadores, a impossibilidade de negociar um</p><p>princípio religioso e um aspecto pessoal, pois Catarina era sobrinha do imperador Carlos V, da Espanha, a</p><p>quem ele devia lealdade.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://bit.ly/3pYhVsI</p><p>https://www.ultimato.com.br/conteudo/a-reforma-inglesa</p><p>https://www.ieab.org.br/</p><p>KNOWLES, M. D. St. Thomas Becket: archbishop of Canterbury. 2021. Disponível</p><p>em: https://bit.ly/3zxsp6K. Acesso em: 4 jun. 2021.</p><p>LINDBERG, C. As reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001.</p><p>MARC'HADOUR, G. P. Thomas More: english humanist and statesman. 2021.</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3gAdbVH. Acesso em: 4 jun. 2021.</p><p>MATOS, A. S. de. Igreja e Estado: uma visão panorâmica. [s. d.]. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/2RVKme0. Acesso em 5 abr. 2021.</p><p>MORRILL, J. S. São João Fisher: english priest. 2021. Disponível</p><p>em: https://bit.ly/2SsT04b. Acesso em: 4 jun. 2021.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://www.britannica.com/biography/Saint-Thomas-Becket</p><p>https://www.britannica.com/biography/Thomas-More-English-humanist-and-statesman</p><p>https://cpaj.mackenzie.br/historia-da-igreja/igreja-e-estado-uma-visao-panoramica/</p><p>https://www.britannica.com/biography/Saint-John-Fisher</p><p>NÃO PODE FALTAR</p><p>A CONTRARREFORMA</p><p>Alessandro Bartz</p><p>Imprimir</p><p>PRATICAR PARA APRENDER</p><p>Nesta seção, vamos dar continuidade teórica aos acontecimentos relacionados à</p><p>Reforma Protestante, como as guerras religiosas, as perseguições em nome da fé,</p><p>a resposta católico-romana aos questionamentos teológicos por meio do Concílio</p><p>de Trento, sua resposta antiprotestante e a rea�rmação do dogma.</p><p>O</p><p>mundo político-religioso da Europa Ocidental foi transformado a partir de</p><p>questões políticas e religiosas e pelo uso de violência de todo tipo. A religião era a</p><p>causa da vida das pessoas e alimentava um desejo contraditório de eliminar o</p><p>divergente, considerado herege.</p><p>Além disso, vamos ver que, nesse tempo, nosso continente foi colonizado a partir</p><p>da vinda de portugueses e espanhóis para a América e América do Sul. Em São</p><p>Paulo, Maranhão, Pará e Bahia, diversas iniciativas de evangelização dos povos</p><p>originários foram utilizadas, inclusive para proteção dos indígenas diante da visão</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Deseja ouvir este material?</p><p>Áudio disponível no material digital.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>dos conquistadores e colonos que os viam como não humanos, passiveis de</p><p>exploração ou aniquilação. Entre os projetos mais frutíferos, tivemos as reduções</p><p>jesuíticas.</p><p>O cenário religioso europeu do século XVI foi marcado pela tensão entre os</p><p>católicos e protestantes luteranos, calvinistas (reformados e presbiterianos),</p><p>anabatistas e suas dissidências derivadas do puritanismo, que deu origem aos</p><p>congregacionais, batistas, quacres e metodistas. Cada denominação cristã se</p><p>de�nia como a única expressão verdadeira, e a convivência, por muito tempo, foi</p><p>algo impensável. A resposta, ao longo da história, para os con�itos entre os</p><p>cristãos foi a aceitação do pluralismo religioso, marco fundamental para a</p><p>tolerância religiosa e a cultura da paz entre as con�ssões de fé.</p><p>Nesse contexto de aprendizagem, precisamos falar, também, sobre um novo olhar</p><p>para o pluralismo eclesial, pois estamos falando de cristianismo e suas diferentes</p><p>versões. A reforma protestante foi um exemplo de di�culdade de convivência entre</p><p>propostas religiosas muito próximas. Assim como no século XVI e XVII, os séculos</p><p>XIX e XX também foram marcados pela intolerância e descon�ança entre as</p><p>denominações eclesiais. Conforme Wol� (2011), a situação atual de contínua</p><p>divisão entre as expressões do cristianismo não pode ser justi�cada simplesmente</p><p>pelas causas do passado; precisamos avaliar se os pressupostos que levaram à</p><p>separação ainda são válidos. Para o cristianismo de hoje, enquanto expressão de</p><p>fé dos cristãos, a superação da divisão exige que sejam identi�cas as razões</p><p>particulares das con�ssões de fé das igrejas e que esses fundamentos não sejam o</p><p>fator determinante das relações intereclesiais, pois “o determinante é o</p><p>Evangelho”, uma vez que o Evangelho tem uma força de união. Conforme Wol�:</p><p>Para isso, a partir de um contexto eclesial plural, defenda que nenhuma identidade</p><p>eclesial se constrói isolada, mas, sim, que se constitui e se con�gura na relação.</p><p>Para isso, utilize os seguintes pontos de apoio em seu estudo:</p><p>No contexto plural, a eclesiologia precisa ser corajosa e profética. Precisa dialogar com o fenômeno do</p><p>pluralismo eclesial, discernindo quando ele é fator e expressão da divisão e quando é expressão de</p><p>positivas perspectivas eclesiais diferenciadas do evangelho. Precisa detectar as interpelações à consciência</p><p>da Igreja, veri�cando nas suas manifestações multiformes indicativos de possibilidades para o diálogo.</p><p>— (WOLFF, 2011, p. 36, grifo nosso)</p><p>“</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>•  A originalidade da Igreja não é a unidade, mas a pluralidade. A meta da Igreja é a</p><p>unidade, já a �nalidade é buscar a perfeição do testemunho da vida cristã e</p><p>eclesial.</p><p>•  A natureza da experiência eclesial é plural. É preciso encontrar as diferenças que</p><p>se integram e quais as diferenças que expressam divisão na fé.</p><p>•  Negar a diferença não é ser uniforme; é preciso evitar toda conciliação fácil ou</p><p>concessão que negue as diferenças.</p><p>•  Pautar a diferença por meio de uma atitude de respeito. É preciso compreender</p><p>que mesmo não sendo possível compartilhar da mesma ideia, é preciso respeitar a</p><p>posição do outro.</p><p>•  Superar toda pretensão de superioridade. Na busca por união eclesial, é preciso</p><p>ter humildade.</p><p>O conhecimento é nossa riqueza. A história da teologia apresenta uma riqueza</p><p>enorme e seu conhecimento pode ser um guia para responder às questões de</p><p>nosso contexto de vida e de trabalho. Continue seus estudos e esteja capacitado</p><p>para responder às questões eclesiais da atualidade.</p><p>CONCEITO-CHAVE</p><p>CARLOS V E A DESAGREGAÇÃO DA IGREJA</p><p>Carlos V foi o imperador do Sacro Império Romano-Germânico entre 1519 e 1556 e</p><p>atuou para manter o domínio da casa dos Habsburgo sobre a Europa, bem como</p><p>evitar a divisão da Igreja. Ele lutou para manter seu império unido contra as forças</p><p>crescentes do protestantismo, que ganhava apoio de príncipes, reis e ducados.</p><p>Carlos teve problemas na Alemanha, após a Dieta de Worms, em 1520, depois de</p><p>decidir perseguir as ideias luteranas, além de ter tido problemas com o papado e</p><p>invadir Roma. A relação com o papa Clemente VII era boa, então, o imperador</p><p>sentiu-se em condições de resolver a disputa religiosa em território alemão, em</p><p>1530, por meio da Dieta de Augsburgo, solicitando aos protestantes que</p><p>apresentassem uma explicação de sua fé (LINDBERG, 2001). O eleitor da Saxônia,</p><p>em resposta, solicitou que os principais teólogos luteranos preparassem uma</p><p>síntese, que �cou conhecida como Confessio Augustana ou Con�ssão de</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Augsburgo, e o principal autor da con�ssão foi Melanchthon. Para Lindberg (2001),</p><p>Carlos não desejava arbitrar as facções, mas, sim, impor o catolicismo. Carlos</p><p>precisava lutar pela uni�cação do Império e, para ele, só havia uma religião.</p><p>Melanchthon, por seu turno, temia uma guerra civil na Alemanha e buscou a</p><p>diplomacia e transigir algumas posições evangélicas. Para tanto, ele defendeu a</p><p>con�ssão em 28 artigos e procurou adequar tanto o prefácio quanto a conclusão</p><p>da con�ssão com o objetivo de apaziguar os ânimos. Para Lindberg (2001), apesar</p><p>disso, várias autoridades alemãs assinaram a Con�ssão de Augsburgo, a�nal, era</p><p>melhor decair da graça do imperador do que da graça de Deus.</p><p>A con�ssão buscou defender a catolicidade do movimento, uma vez que não era o</p><p>objetivo separar a Igreja, muito menos afastar a fé católica ou instigar novas</p><p>doutrinas, manifestando, com isso, uma divisão contra as ideias anabatistas. Carlos</p><p>ouviu a leitura da Con�ssão e designou teólogos papais para refutá-la, bem como</p><p>solicitou aos protestantes que admitissem terem sido refutados. A resposta foi</p><p>uma apologia, porém a questão foi encerrada pelo imperador, que não aceitou a</p><p>resposta protestante.</p><p>A con�ssão de Augsburgo se tornou o documento fundamental das igrejas</p><p>luteranas. Carlos acabou assumindo o partido papal uma vez que Clemente não</p><p>queria uma reforma nem um concílio geral, desejava manter seus status quo papal</p><p>e, de preferência, o extermínio dos protestantes. Carlos não queria correr o risco</p><p>de ter uma Igreja Nacional da Alemanha, pois seu projeto de poder e manutenção</p><p>da casa de Habsburgo precisava de uma Igreja universal. A França já havia</p><p>negociado com o papado por meio de concordatas, já a Inglaterra se movia, em</p><p>1530, para uma igreja nacional. O futuro do Império estava a perigo (LINDBERG,</p><p>2001).</p><p>Os protestantes luteranos, prevendo o uso da força imperial, organizaram-se por</p><p>meio da Liga de Esmalcalda, uma federação militar liderada pela Saxônia Eleitoral e</p><p>por Hesse. A liga aceitou a Con�ssão de Augsburgo e se expandiu rapidamente. Em</p><p>1532, o imperador assegurou o apoio por meio de um armistício entre os dois</p><p>partidos religiosos, uma vez que precisava de apoio �nanceiro dos príncipes</p><p>alemães para uma iminente guerra contra os turcos. A “Pausa” durou em torno de</p><p>dez anos e favoreceu o crescimento protestante. O catolicismo manteve-se</p><p>apoiado nos territórios das casas de Habsburgo e de Wittelsbach. Até a Guerra de</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Esmalcalda, em 1546, o luteranismo havia ganhado o leste alemão e o norte da</p><p>Alemanha e se tornado uma ponte para a expansão luterana rumo às terras</p><p>escandinavas e sua in�uência na Inglaterra (LINDBERG, 2001).</p><p>Carlos tentou marcar</p><p>um Concílio da Igreja, mas não encontrou condições para sua</p><p>convocação, nem da parte do papado, nem da parte dos reis europeus, muito</p><p>menos dos protestantes luteranos. Carlos, então, buscou restaurar a unidade do</p><p>Império por meio de diálogos religiosos em forma de colóquio. Sempre que havia</p><p>alguma convergência em questões teológicas, mediante os colóquios, as fórmulas</p><p>teológicas eram rejeitadas por Roma ou por Lutero (LINDBERG, 2001).</p><p>Então, a partir de 1546, os acontecimentos rumaram para uma guerra do</p><p>imperador contra os luteranos numa tentativa de implementação do edito contra a</p><p>Saxônia e Hesse. Carlos, em 1547, conseguiu destruir a Liga; já em 1548, tentou um</p><p>acordo provisório até o Concílio de Trento terminar seus trabalhos, chamado de</p><p>Interim. Surgia, então, uma resistência à implantação de elementos da “velha fé”.</p><p>Em Magdeburgo, os protestantes organizaram uma resistência que serviu de</p><p>inspiração aos calvinistas na França, nos Países Baixos e na Inglaterra. O Interim</p><p>perdeu validade, pois o Concílio de Trento havia dado um golpe �nal nas</p><p>expectativas protestantes.</p><p>Carlos não tinha apoio do imperador Fernando, pois ambos tinham desavenças</p><p>quanto às sucessões das casas. Carlos foi banido da Alemanha e, então, em 1555,</p><p>na dieta de Augsburgo, o con�ito religioso foi resolvido, independentemente do</p><p>papado e do imperador. A paz de Augsburgo, em 1555, foi uma paz pública com</p><p>base na conciliação política, pois não era possível uma conciliação religiosa, e se</p><p>manteve, em território alemão, pelo menos até a Guerra dos 30 anos, a validade</p><p>provisória de um corpus Christianum, uma igreja e um império.</p><p>Não havia senso de tolerância, mas era preciso garantir os interesses e poderes</p><p>particulares dos príncipes protestantes e católicos. Quanto ao reconhecimento da</p><p>soberania dos príncipes sobre a religião, onde houvesse um governante, deveria</p><p>haver somente uma religião e o direto dos súditos de emigrarem caso não</p><p>estivessem dispostos a aceitar a religião do príncipe e outros assuntos (LINDBERG,</p><p>2001).</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>A ideia da verdade única cedeu espaço para um pluralismo mínimo e a existência</p><p>de dois partidos confessionais, logo, o imperador perdia o poder de ser o segundo</p><p>cabeça da igreja. Carlos perdeu poder e, em outubro de 1555, elegeu seu �lho</p><p>Filipe II como responsável pelos Países Baixos, bem como, em 1556, pela Espanha</p><p>e pela Sicília. O con�ito entre as casas de Habsburgo e Valois passou a ser o</p><p>con�ito entre a Espanha e a França. Carlos morreu em 1558 e Fernando I, da</p><p>Áustria, passou a ser o novo imperador (LINDBERG, 2001).</p><p>A CATEQUIZAÇÃO DOS INDÍGENAS</p><p>Conforme Dreher (1999, p. 57) a expansão dos Estados europeus, por</p><p>consequência, promoveu a expansão religiosa, e não foi diferente na América</p><p>Latina. A ideia de fundo não era missionária no sentido de conviver entre os povos,</p><p>mas de introduzir o cruci�xo num meio hostil. A “missão” acompanhou os ciclos</p><p>econômicos por meio do envio de missionários que acompanharam os</p><p>conquistadores ou os governadores. Assim, os jesuítas vieram com Tomé de Souza,</p><p>primeiro governador-geral do Brasil.</p><p>Para Dreher (1999), a evangelização ocorreu por meio da catequese e das</p><p>devoções. Enquanto a catequese estava sob a responsabilidade das ordens</p><p>religiosas, as devoções faziam parte do imaginário religioso dos colonizadores que</p><p>vieram por meio de gestos, promessas, imagens, culto doméstico, leitura da bíblia,</p><p>livros de oração e do entoar de cânticos. Da catequese, temos a construção de</p><p>igrejas, conventos, catedrais, colégios, seminários, devoção, capelas, ermidas.</p><p>REFLITA</p><p>O modelo de missão executado na América Latina é motivo de</p><p>questionamento pelos estudiosos da teologia. Conforme Dreher (1999), a</p><p>introdução do cristianismo foi hostil e foi diferente de outros modelos já</p><p>conhecidos pelos cristãos, como é o caso de Bonifácio, que decidiu viver</p><p>entre os povos a serem evangelizados, sendo que a evangelização ocorreu</p><p>também pelo exemplo de vida do missionário, que, muitas vezes, atuava</p><p>para proteger as pessoas dos colonizadores ou conquistadores. Claro,</p><p>modelos alternativos também existiram, como foi o caso do modelo</p><p>evangelizador conduzido pelos jesuítas.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>As ordens religiosas não foram criadas para promover a missão e sim a assistência</p><p>religiosa das famílias (DREHER, 1999). O envio de missionários franciscanos,</p><p>dominicanos, agostinianos, jesuítas e outros foi constante; as ordens atuaram na</p><p>catequização dos índios, e, nesse cenário, os jesuítas se destacaram.</p><p>Foi por meio de Inácio de Loyola e seus discípulos, a Companhia de Jesus, que</p><p>identi�camos um dos projetos mais emblemáticos na colonização da América do</p><p>Sul. Eles se dedicaram à pregação, ao ensino catequético, à con�ssão e ao serviço</p><p>diaconal, seguiram a expansão marítima europeia e puderam levar a fé a todos os</p><p>continentes. No continente sul-americano, os jesuítas procuraram converter os</p><p>indígenas ao cristianismo. Para isso, tentaram introduzir uma nova cultura aos</p><p>povos indígenas, pois, a partir disso, seria possível a adoção do cristianismo. Até o</p><p>século XVIII, no Brasil, as tentativas foram frustradas, pois o governo português</p><p>não conseguia controlar os colonizadores que vinham em busca de riquezas; já na</p><p>colônia espanhola, os jesuítas conseguiram concretizar seu projeto. A partir de</p><p>1550, a primeira potência a contratar seus serviços foi Portugal, depois a Espanha.</p><p>Nas colônias espanholas, havia um sistema de missão e colonização instituído, em</p><p>que a cristianização já era uma realidade nas chamadas altas culturas (México,</p><p>Quito, Peru, Nova Granada).</p><p>A companhia de Jesus teve, portanto, a tarefa de cristianizar os nativos. Os</p><p>indígenas cristianizados não tinham animais domésticos, instrumentos de ferro e</p><p>nem residência �xa, ou seja, eram nômades, caçadores, pescadores e alguns</p><p>praticavam o canibalismo. Os padres, porém, antes de cristianizá-los, precisavam</p><p>�xá-los na terra para, então, domesticá-los.</p><p>O primeiro campo experimental foi o Brasil. Pregando em guarani e tupi, os</p><p>jesuítas os converteram, batizaram e civilizaram, primeiro na costa e depois no</p><p>interior, embora, muitas vezes, o esforço tenha sido perdido por conta do</p><p>nomadismo.</p><p>Entre os jesuítas mais importantes, estava Manoel de Nóbrega, que identi�cou a</p><p>necessidade de sedentarização. Ele reuniu os batizados em aldeamentos �xos,</p><p>como a Maniçoba, em São Paulo, a primeira redução jesuítica. Para que os</p><p>aldeamentos tivessem sucesso, foi preciso afastar os colonos.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Na luta política, em 1547, a lei permitia que os colonos �zessem do indígena um</p><p>escravo, bem como assegurava aos jesuítas a proteção de todo indígena que</p><p>morava nas reduções, mas a lei não pôde ser praticada. Diversas guerras civis</p><p>ocorreram, entre os séculos XVI e XVII, em São Paulo e Maranhão, e os jesuítas</p><p>acabaram sendo expulsos desses locais. Em 1653, no Maranhão, Antônio Vieira</p><p>iniciou suas lutas contra os caçadores de escravos e �cou conhecido pelos seus</p><p>sermões. Mais tarde, ele conseguiu, aos jesuítas, a autoridade espiritual e temporal</p><p>sobre os indígenas não subjugados na Amazônia. Conforme Dreher (1999), os</p><p>indígenas se reuniam aos milhares nas aldeias dos padres jesuítas para fugir dos</p><p>caçadores de escravos.</p><p>O território, então, abria-se à colonização; os jesuítas foram expulsos de vez do</p><p>Brasil e suas atividades e obras foram atacadas. Mais tarde, puderam retornar ao</p><p>lado de outras ordens religiosas e não tiveram mais autoridade sobre as aldeias</p><p>indígenas.</p><p>Na área controlada pela Espanha, a cristianização foi diferente; os jesuítas</p><p>contaram com o apoio do Estado para dar seguimento ao projeto missionário e os</p><p>espanhóis tiveram in�uência de Las Casas, que atuou para que os indígenas</p><p>pudessem aceitar o cristianismo por meio da catequese e conquistou o direito de</p><p>não se odiar e iniciar uma guerra contra eles para escravizá-los a partir do</p><p>argumento de que não eram cristãos. O governo</p><p>espanhol orientou os</p><p>funcionários a buscar incentivar os indígenas por meios pací�cos a se tornarem</p><p>sedentários e a pedirem o batismo.</p><p>A cristianização só seria possível com a sedentarização, para isso, foram criadas</p><p>normas para os assentamentos indígenas, que eram regulados por legislação</p><p>própria, e as novas colônias previam espaço para os indígenas cultivarem a terra.</p><p>No Paraguai, os jesuítas deveriam reunir os indígenas, convertê-los e assumir o</p><p>poder temporal e espiritual em áreas missionárias ainda não colonizadas. Os</p><p>colonos espanhóis não podiam entrar nas áreas indígenas, logo, surgiu o trabalho</p><p>das reduções jesuíticas, que era um ideal organizacional e autossustentável, um</p><p>modelo econômico com arquitetura religiosa e de preservação da língua que �cou</p><p>conhecido como o “Estado jesuíta do Paraguai” (DREHER, 1999).</p><p>O CONCÍLIO DE TRENTO: ASPECTOS GERAIS</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Como reação aos diferentes desa�os dos séculos XV e XVI, a exemplo da Reforma</p><p>Protestante (1517), do cienti�cismo promovido pela Renascença (ex.: teoria</p><p>heliocêntrica), da emancipação de alguns reis do poder de Roma e da colonização</p><p>de novas colônias além-mar, a Igreja Católica iniciou este movimento também</p><p>conhecido como Contrarreforma (ou reforma-católica). Em 1545, na cidade de</p><p>Trento, um concílio foi convocado para deliberar sobre esses acontecimentos de</p><p>magnitude europeia (LINDBERG, 2001).</p><p>Para Dreher (2002), a expectativa de um Concílio Geral da Igreja era grande. Lutero</p><p>havia acentuado a teoria conciliarista, assim como as Dietas alemãs, e Carlos V</p><p>havia reclamado um Concílio para reuni�car a Igreja. O concílio era uma questão</p><p>eclesial e política, por isso, era temido por imperadores, como o imperador da</p><p>França Francisco I, e por Roma, uma vez que muitos se bene�ciavam dos direitos</p><p>adquiridos.</p><p>O papa Clemente VII (1523-1534) não teve a coragem de chamar um Concílio, uma</p><p>vez que temia o poder imperial. Paulo III (1534-1549) era mais político e via a</p><p>necessidade de reforma e concordou, em 1536, em convocar o concílio para a</p><p>cidade de Mântua. Assim, em 1537, teve início o Concílio, porém os protestantes se</p><p>negaram a participar, assim como a França, e uma nova convocação foi feita para</p><p>Trento em 1542. Trento pertencia ao reino alemão e correspondia às exigências</p><p>dos alemães, contudo, os franceses se negaram a participar e o concílio foi</p><p>suspenso. Em 1544, o Concílio foi convocado mais uma vez, tendo início em 3 de</p><p>dezembro de 1545. O direito a voto foi dado aos bispos e aos gerais das ordens,</p><p>�cando de fora os abades, teólogos universitários, leigos e reis. Conforme Dreher</p><p>(2002, p. 123), o imperador exigia a reforma e Roma queria a clareza dogmática,</p><p>frente a isso, houve um acordo: o concilio trataria do dogma e da reforma.</p><p>Entre 1545 e 1547, período denominado primeiro período conciliar, foi de�nida a</p><p>posição sobre o princípio formal da Reforma Protestante: a questão das Escrituras.</p><p>O concilio decidiu que a Escritura foi inspirada, bem como foi equiparada à</p><p>tradição apostólica oral. Fixou-se, então, o cânone bíblico e a Vulgata (latim) foi</p><p>reconhecida como texto autêntico. A edição do texto era de responsabilidade</p><p>papal e a Igreja foi declarada normativa para a interpretação da Bíblia. Tomás de</p><p>Aquino foi rea�rmado em sua teologia sobre o pecado original e houve rejeição de</p><p>formulações que buscavam a aproximação das ideias de Lutero ao tema. O concílio</p><p>também manteve os sete sacramentos e reassentou sua e�cácia ex opere operato.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Foi de�nida, então, a uniformização da liturgia, a negação do sacerdócio de todos</p><p>os crentes e a negação da liberdade cristã, pois a pessoa batizada tinha o</p><p>compromisso de cumprir todos os mandamentos eclesiais, a manutenção do</p><p>caráter sacri�cial da missa e a comunhão sob uma espécie. Por �m, o matrimônio</p><p>só teria validade se realizado pela Igreja, que poderia concordar com ele ou</p><p>impedi-lo, diante de testemunhas e de um sacerdote para realizar o consenso</p><p>matrimonial.</p><p>Em resumo, conforme Dreher (2002), o Concílio acentuou a graça dentro da</p><p>possibilidade de se rea�rmar o princípio da cooperação do ser humano com Deus.</p><p>Ainda houve a decisão de melhorar o ensino da Escritura nas escolas de catedrais,</p><p>formando-se melhor o clero, e foram publicados decretos contra a acumulação de</p><p>benefícios.</p><p>Diversos fatores impediram o concílio de continuar entre 1547 e 1560. Novamente,</p><p>o Concílio foi reconvocado para 1561 até 1563, o que se chamou de segundo</p><p>período conciliar. O papa Pio IV (1559-1565) identi�cou um perigo para o</p><p>ponti�cado e uma crise profunda por conta da possibilidade de restrição de</p><p>atuação do bispado, inclusive do papa, que teria sua jurisdição restrita à função de</p><p>bispo de Roma. Depois de muita negociação, as prerrogativas do papado</p><p>permaneceram, mas �xou-se a obrigatoriedade de o bispo residir em sua diocese e</p><p>de os sacerdotes ensinarem o catecismo. As medidas, em geral, recuperaram o</p><p>caráter ministerial da função sacerdotal e as indulgências foram mantidas, porém</p><p>foram proibidas aquelas em troca de dinheiro. O Concílio se encerrou em 1563, e,</p><p>para Dreher (2002), ele marcou o surgimento da Igreja Católica moderna — tão</p><p>distinta da igreja medieval e alvo de crítica dos reformadores protestantes. As</p><p>decisões antiprotestantes di�cultaram o reconhecimento de vários pontos que</p><p>tinham raízes na tradição cristã e vieram a ser reconhecidos somente no século XX</p><p>por meio do último concílio da Igreja Romana, o Concílio Vaticano II.</p><p>O Concílio de Trento atualizou a Inquisição (Tribunal do Santo Ofício), elaborou</p><p>uma lista de livros tidos como proibidos (Index Librorum Prohibitorum) e editou o</p><p>Catecismo Tridentino (que solidi�cava a doutrina católica). Com respeito às</p><p>colonizações, surgiram novas ordens, entre elas, a da Companhia de Jesus, que</p><p>tinha a incumbência de catequisar os povos do novo mundo.</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>O tribunal do Santo Ofício foi atualizado pelo Concílio de Trento e atuou</p><p>com intensidade no combate às heresias contra a Igreja Católica Apostólica</p><p>Romana, inclusive no Brasil. Atualmente, a Santa Inquisição se denomina</p><p>Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, os seus métodos de exame</p><p>doutrinário foram atualizados e o índice de livros proibidos foi revogado.</p><p>De acordo com Dreher (2002, p. 122), o Concílio de Trento teve uma importância</p><p>histórica fundamental e pode ser apresentado, resumidamente, da seguinte forma:</p><p>as formulações antiprotestantes sacramentaram por de�nitivo o cisma ocidental; a</p><p>Igreja Católica passou a ser uma Igreja confessional, pois adotou uma con�ssão de</p><p>fé própria (a Professio �dei Tridentinae), que deveria ser professada por todo</p><p>sacerdote católico-romano; deu aos seus adeptos uma doutrina clara; e lançou as</p><p>bases para uma Igreja universal, pois reformou a administração e a vida</p><p>eclesiástica.</p><p>As decisões de Trento tiveram de ser aplicadas pelos papas, o que se denominou</p><p>Contrarreforma. A autoridade do papado, que parecia estar em jogo, após o</p><p>Concílio, foi con�rmada, uma vez que o concílio solicitou ao papa a con�rmação de</p><p>suas decisões e a responsabilidade pela execução do programa (DREHER, 2002).</p><p>GUERRAS RELIGIOSAS E A NOITE DE SÃO BARTOLOMEU</p><p>As guerras religiosas entre católicos e protestantes estavam espalhadas por toda a</p><p>Europa Ocidental: Inglaterra, Escócia, Irlanda, Alemanha e Países Baixos. Se, na</p><p>Alemanha, o con�ito se transformou numa guerra civil, na França, a vida dos</p><p>protestantes, por pouco tempo, parecia melhorar após o Colóquio de Poissy e o</p><p>edito de tolerância de 1562, até que a situação se modi�cou (LINDBERG, 2001). A</p><p>rainha Catarina buscou a unidade da nação, temia por sua família e buscou apoiar</p><p>a facção católica. Sob a anuência do rei Bourbon, de Navarra, a tensão entre a</p><p>família Guise, os espanhóis e os huguenotes levou a uma guerra civil.</p><p>Em 1562, Guise atacou uma congregação de huguenotes de Vassy reunida em</p><p>culto. Ele matou 70 protestantes e feriu outros</p><p>tantos. A partir desse incidente,</p><p>outros massacres foram instigados e as guerras religiosas tiveram início. Os</p><p>huguenotes revidaram com armas e com a busca de apoio da Inglaterra, com isso,</p><p>perderam a imagem de perseguidos e de nacionalistas e foram acusados de</p><p>hereges e traidores.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>O ódio católico era intenso e Guise foi recebido em Paris como um herói. A</p><p>pregação insu�ava os católicos a eliminar os hereges e punha �m à tolerância. O</p><p>acontecimento mais cruel foi o derramamento de sangue ocorrido em 24 de</p><p>agosto de 1572, conhecido como o massacre do Dia de São Bartolomeu</p><p>(LINDBERG, 2001).</p><p>O cenário de acusação, violência, pânico e medo levou Catarina a suspeitar das</p><p>reais intensões de Coligny, in�uenciador huguenote junto ao rei. A família de Guisy</p><p>buscava vingança pela tentativa de seu assassinato. Coligny e seu grupo foram</p><p>massacrados após o casamento de Margarida de Valois, �lha de Catarina, e de</p><p>Henrique de Navarra, da linhagem real.</p><p>Para manter a paz, Carlos IX decidiu manter os huguenotes fora da cidade de Paris</p><p>por meio da força miliciana liderada por Marcel, católico fanático e homem de</p><p>Guise, com ordem para matar os hereges. Coligny e seus homens, então, foram</p><p>mortos, ainda enquanto dormiam, com práticas de horror patológico, tendo sido o</p><p>mais assustador ato do mundo cristão (LINDBERG, 2001). Uma selvageria</p><p>alimentada por ódio religioso se de�agrou e, aproximadamente, 6 mil pessoas</p><p>foram mortas em Paris e em outras cidades; já ao �m da violência, cerca de 20 mil</p><p>pessoas haviam sido assassinadas em toda a França.</p><p>Catarina e o rei tinham desencadeado o terrorismo de Estado. As guerras religiosas</p><p>foram uma cruzada contra a heresia. As pessoas tinham interesse nesses con�itos,</p><p>pois eram a base de preservação de sua ideia de sociedade e salvação. Os católicos</p><p>de Paris estavam atuando para livrar a comunidade da impureza ao ponto de</p><p>despejarem sua ira em pessoas que contestavam suas convicções religiosas</p><p>(LINDBERG, 2001).</p><p>ASSIMILE</p><p>O martírio de Coligny e as atrocidades do dia de São Bartolomeu são</p><p>memórias vivas da luta pela religião na França e na Europa. Os fatos foram</p><p>explorados pela posição católica como um alívio. Ao saber da ação da</p><p>política real, os protestantes lamentaram os fatos e não tomaram medidas</p><p>contra a França. Já a coroa �cou numa situação constrangedora ao precisar</p><p>se justi�car, pois o rei tinha o dever de manter a lei e proteger seus súditos</p><p>e não matá-los. Entre os protestantes, houve uma tentativa de exploração</p><p>dos massacres para terem apoio contra o catolicismo. Muitos protestantes</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>da região de Navarra e Condé optaram pelo catolicismo ao serem</p><p>confrontados com a opção entre a missa ou a morte. Por outro lado, alguns</p><p>príncipes retornaram ao calvinismo posteriormente (LINDBERG, 2001).</p><p>Os con�itos foram apaziguados com o edito de Nantes, que fez da Igreja Católica a</p><p>Igreja estatal o�cial em 1598 e pôs �m às guerras religiosas na França sob o lema</p><p>galicano de “um rei, uma lei, uma fé”. O edito de Nantes (1598) reconheceu o</p><p>protestantismo como estamento e paz religiosa (LINDBERG, 2001).</p><p>As guerras religiosas na Europa Ocidental decorrentes da Reforma Protestante</p><p>marcaram os con�itos entre duas facções (católicos e os protestantes), apesar de</p><p>comungarem uma mesma religião: o cristianismo. A con�guração da religião nesta</p><p>parte da Europa foi se de�nindo aos poucos, especialmente após a Guerra dos 30</p><p>anos cujo �m de boa parte dos con�itos se deu por meio do confessionalismo.</p><p>FAÇA VALER A PENA</p><p>Questão 1</p><p>As guerras religiosas entre católicos e protestantes estavam espalhadas por toda a</p><p>Europa Ocidental: Inglaterra, Escócia, Irlanda, Alemanha e Países Baixos. Se, na</p><p>Alemanha, o con�ito se transformou numa guerra civil, na França, a vida dos</p><p>protestantes parecia melhorar após o Colóquio de Poissy e o edito de tolerância de</p><p>1562, mas a situação se modi�cou de repente. A guerra religiosa na França foi</p><p>marcada por episódios de muita violência.</p><p>Assinale a opção que re�ete corretamente o nome do episódio que marcou a</p><p>história do con�ito religioso entre protestantes e católicos na França:</p><p>a.  Noite de São José.</p><p>b.  Noite de São Judas Tadeu.</p><p>c.  Noite de Catarina.</p><p>d.  Noite de São Bartolomeu.</p><p>e.  Noite de São Bento.</p><p>Questão 2</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>As decisões de Concílio de Trento, que se deu no século XVI, tiveram de ser</p><p>aplicadas pelos papas, movimento esse que se denominou Contrarreforma. O</p><p>Concílio de Trento teve uma importância histórica fundamental para a organização</p><p>eclesiástica da Igreja Católica e inaugurou a Igreja Católica Moderna. Por quase 400</p><p>anos, as decisões de Trento foram mantidas, e as atualizações teológicas foram</p><p>trabalhadas somente no Concílio Vaticano II, já na segunda metade do século XX.</p><p>Considerando as informações apresentadas sobre o Concílio de Trento, analise as</p><p>a�rmativas a seguir:</p><p>I. Com respeito às colonizações, surgiram novas ordens, entre elas, a da</p><p>Companhia de Jesus, que tinha a incumbência de catequizar os povos do novo</p><p>mundo.</p><p>II. A Igreja Católica passou a ser considerada a única Igreja existente, pois sua</p><p>con�ssão de fé, a Professio �dei Tridentinae, tornou-se a única con�ssão</p><p>verdadeira no Ocidente.</p><p>III. A autoridade do papado foi con�rmada, uma vez que o concílio solicitou ao</p><p>papa a con�rmação de suas decisões.</p><p>IV. Estabeleceu uma doutrina clara e lançou as bases para uma Igreja universal,</p><p>pois reformou a administração e a vida eclesiástica.</p><p>Considerando o contexto apresentado, é correto o que se a�rma em:</p><p>a.  II, apenas.</p><p>b.  I e IV, apenas.</p><p>c.  I, II e III, apenas.</p><p>d.  I, III e IV, apenas.</p><p>e.  II, III e IV, apenas.</p><p>Questão 3</p><p>Conforme Dreher (1999, p. 57) a expansão dos Estados europeus, por</p><p>consequência, promoveu a expansão religiosa, e não foi diferente na América</p><p>Latina. A ideia de fundo não era missionária, no sentido de conviver entre os</p><p>povos, mas de introduzir o cruci�xo num meio hostil. A “missão” acompanhou os</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BRAKEMEIER, G. A autocompreensão da igreja evangélica de con�ssão luterana no</p><p>Brasil (IECLB) em confronto com o pluralismo social e religioso. Teocomunicações,</p><p>Porto Alegre, v. 41, n. 1, p. 6-15, jan./jun. 2011. Disponível em: https://bit.ly/35okieJ.</p><p>Acesso em: 4 jun. 2021.</p><p>ciclos econômicos por meio do envio de missionários que acompanharam os</p><p>conquistadores ou os governadores. Entre os missionários, destacou-se a</p><p>Companhia de Jesus.</p><p>Considerando as informações apresentadas, analise as a�rmativas a seguir sobre</p><p>os jesuítas:</p><p>I. Foi por meio da Companhia de Jesus que identi�camos um dos projetos mais</p><p>emblemáticos na colonização da América do Sul. Ela se dedicou à pregação, ao</p><p>ensino catequético, à con�ssão e ao serviço diaconal.</p><p>II. No continente sul-americano, os jesuítas procuraram converter os indígenas ao</p><p>cristianismo. Para isso, introduziram o cristianismo à força, por meio da violência</p><p>física e simbólica. Não havia interesse em viver entre os povos.</p><p>III. O primeiro campo experimental no estrangeiro foi a Espanha. Os jesuítas</p><p>precisavam intervir a favor dos indígenas, para isso, pregaram em espanhol, única</p><p>língua aceita, convertendo-os, batizando e civilizando a seu modo.</p><p>IV. Na Espanha, os jesuítas contaram com o apoio do Estado para dar seguimento</p><p>ao projeto missionário. No Paraguai, surgiu o trabalho das reduções jesuíticas, um</p><p>ideal organizacional, autossustentável, um modelo econômico e de preservação da</p><p>língua.</p><p>Considerando o contexto apresentado, é correto o que se a�rma em:</p><p>a. II e III, apenas.</p><p>b. IV, apenas.</p><p>c. I e IV, apenas.</p><p>d. I, II e IV, apenas.</p><p>e. I, II e III, apenas.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/teo/article/view/9199</p><p>DREHER, M. N. A crise e a renovação da igreja no período da reforma. 3. ed. São</p><p>Leopoldo: Sinodal, 2001. v. 3.</p><p>DREHER, M. N. A igreja latino-americana no contexto mundial. 1. ed. São</p><p>Leopoldo:</p><p>Sinodal, 1999. v. 4.</p><p>FERDINANDY, M. de. Charles V: holy roman emperor. 2021. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3xjmzne. Acesso em: 4 jun. 2021.</p><p>HACKMANN, G. L. B. Autocompreensão da Igreja Católica Romana em relação ao</p><p>pluralismo social e religioso. Teocomunicações, Porto Alegre, v. 41, n. 1, p. 16-32,</p><p>jan./jun. 2011. Disponível em: https://bit.ly/2RYnCdn. Acesso em: 4 jun. 2021.</p><p>LINDBERG, C. As reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001.</p><p>PEREIRA, I. Dicionário grego-português e português-grego. 5. ed. Porto: Livraria</p><p>Apostolado da Imprensa, 1976.</p><p>SINNER, R. von. Ecumenismo. In: FILHO, F. B. (Org.). Dicionário brasileiro de</p><p>teologia. São Paulo: ASTE, 2008.</p><p>WOLFF, E. Divisões na igreja: desa�os para o ecumenismo hoje. Theologica</p><p>Xaveriana, Bogotá, v. 65, n. 180, jul./dez. 2015, p. 381-407. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3cMfSCC. Acesso em: 4 jun. 2021.</p><p>WOLFF, E. Possibilidades e limites de uma eclesiologia ecumênica – traços de um</p><p>caminho. Teocomunicação, Porto Alegre, v. 41, n. 1, p. 33-54, jan./jun. 2011.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://www.britannica.com/biography/Charles-V-Holy-Roman-emperor</p><p>https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/teo/article/view/9200</p><p>http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0120-36492015000200005</p><p>NÃO PODE FALTAR</p><p>O CRISTIANISMO PÓS-REFORMA</p><p>Gustavo Balbueno de Almeida</p><p>Imprimir</p><p>CONVITE AO ESTUDO</p><p>O período conhecido como “moderno”, em termos historiográ�cos, abrange os</p><p>anos passados entre 1453 (Queda de Constantinopla) e 1789 (Revolução Francesa).</p><p>Esses marcos temporais foram escolhidos a partir de eventos políticos e sociais,</p><p>deixando de se levar em conta outros fatores, como a economia, a cultura e a</p><p>religião. A verdade é que é bastante difícil conseguir determinar ao certo um</p><p>momento que pode ser de�nido como o início do período moderno,</p><p>principalmente se levarmos em conta que fatores da mentalidade medieval</p><p>existiam ainda no �m do século XVIII.</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Deseja ouvir este material?</p><p>Áudio disponível no material digital.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Porém, para a história da Teologia e da Igreja Católica, um evento iniciado em 1517</p><p>e que se estendeu pelos anos seguintes permite determinar com exatidão o</p><p>momento do �m da Igreja Medieval e o início da Igreja Moderna: a Reforma</p><p>Protestante. Esse evento teve consequências políticas e movimentou guerras pela</p><p>Europa ao longo do século XVI, incluindo motivações para a formação de nações,</p><p>como é o caso da Holanda calvinista, que se tornou independente da Espanha</p><p>católica.</p><p>A Igreja católica, que, rapidamente, perdeu a dominância religiosa em alguns</p><p>importantes reinos da Europa, respondeu com a realização do Concílio de Trento</p><p>cujas decisões �caram conhecidas como a Contrarreforma, que rede�niu e</p><p>fortaleceu os dogmas de fé a serem seguidos, respondendo aos anseios dos novos</p><p>tempos que surgiam e que se diferenciavam do passado medieval.</p><p>É possível a�rmar que a ação romana veio com certo atraso, visto que o desejo de</p><p>uma reforma em seu interior ocorria desde o século XIV e que a própria Reforma</p><p>Protestante foi consequência da demora da Igreja em estipular novos</p><p>comportamentos. Assim, as raízes da chamada Teologia Moderna foram edi�cadas</p><p>em Trento e serão o guia condutor das ações da Igreja até, pelo menos a</p><p>Revolução Francesa.</p><p>Compreender as ações da Igreja no período moderno é perceber que suas ações</p><p>se movem num contexto de avanços territoriais, principalmente na América recém-</p><p>descoberta pelos europeus e na Ásia.</p><p>Ao mesmo tempo, a Igreja vê seu poder diminuir na Europa em decorrência do</p><p>surgimento de novos grupos sociais, como os Estados Absolutistas e os intelectuais</p><p>que passarão a apresentar uma série de conhecimentos de caráter secular, ou</p><p>seja, sem o envolvimento da Igreja ou de temas religiosos nessa produção.</p><p>A primeira seção tratará do período posterior à Reforma, das controvérsias</p><p>teológicas que se instalaram entre os católicos e protestantes após o Concílio de</p><p>Trento, bem como da ascensão da Ciência Moderna, de caráter secular, e do</p><p>caminho levado pela ciência até se chegar a esse momento no século XVII. Você</p><p>verá, também, de que modo a aliança entre a Igreja e os países Ibéricos (Portugal e</p><p>Espanha), que saíram na frente da corrida marítima, viabilizaram a expansão do</p><p>Cristianismo para os demais países do globo.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Na segunda seção, você verá como ocorreu a relação entre a Igreja e o Oriente ao</p><p>longo do período moderno, com destaques especiais para o Extremo Oriente, que</p><p>só teve contato com os europeus a partir do século XVI. Será dado destaque,</p><p>também, à fundação da Companhia de Jesus, peça importante na engrenagem da</p><p>Igreja no processo de contato e de divulgação do catolicismo nos demais</p><p>continentes.</p><p>A terceira seção, por �m, trará as consequências do �m do período moderno para</p><p>a Igreja, com destaque especial para a secularização da sociedade europeia, as</p><p>críticas iluministas à Igreja e a consequência da Revolução Francesa para o �m do</p><p>mundo moderno. Serão analisadas, ainda, as relações Estado-Igreja nesse período,</p><p>bem como a Guerra da Vendeia, uma guerra civil ocorrida durante a Revolução</p><p>Francesa e que envolveu católicos e monarquistas afetados pela Revolução.</p><p>Bons estudos.</p><p>PRATICAR PARA APRENDER</p><p>Saudações! Nesta aula, você terá acesso a informações e análises que ampliarão</p><p>seus conhecimentos sobre como ocorreu o impacto da Contrarreforma no mundo</p><p>europeu do século XVI, bem como os caminhos percorridos pela Igreja Católica nos</p><p>primeiros momentos após o Concílio de Trento — marco inicial da Igreja Moderna,</p><p>que se via, nesse momento, vítima de uma ambiguidade. Por um lado, o</p><p>Cristianismo era espalhado pelos quatro cantos do mundo graças às ações de</p><p>espanhóis e portugueses, pioneiros das Eras dos descobrimentos, que chegavam a</p><p>locais até então desconhecidos pelos europeus, como a América e o Extremo</p><p>Oriente; por outro lado, surgiam novos grupos e atores sociais que diminuíam a</p><p>in�uência e o poder que a Igreja tinha acumulado desde o período medieval, sendo</p><p>eles, principalmente, os Estados Nacionais, os protestantes e os intelectuais.</p><p>Em um primeiro momento, você estudará a conjuntura histórica que marca a Baixa</p><p>Idade Média em seus avanços econômicos desde o renascimento urbano e</p><p>comercial, passando pela expansão comercial e pelas Cruzadas — fatos esses que</p><p>dão condições para o surgimento da Era dos Descobrimentos, momento no qual as</p><p>nações europeias, lideradas por Portugal, começam a desbravar outros</p><p>continentes pela via marítima, chegando a América, África e Ásia, dando início,</p><p>assim, ao fenômeno da globalização.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Em um segundo momento, analisaremos mais a fundo a aliança estabelecida entre</p><p>a Igreja e os países ibéricos, os motivos que levaram a essa aliança (a Reforma</p><p>Protestante e o fortalecimento dos estados, que limitavam o poder de ação da</p><p>Igreja) e suas consequências na presença do Padroado — a autorização papal para</p><p>que os Estados colonizadores representassem a Igreja nas terras coloniais, em</p><p>espacial, no continente americano.</p><p>Em um terceiro momento, por sua vez, nossos olhos se voltarão à situação da</p><p>Igreja na Europa, especialmente para a sua relação com os protestantes no campo</p><p>teológico; serão demarcadas as diferenças de doutrinas e interpretações após o</p><p>�m da Concílio de Trento em temas como os sacramentos, o pecado e a</p><p>interpretação da Bíblia.</p><p>Por �m, no último momento, veremos a relação da Igreja com os intelectuais</p><p>fundadores da chamada “Ciência Moderna”, a partir do século XVII, que tem origem</p><p>na Escolástica e passa pelo Renascimento — momentos em que a fé e a razão</p><p>ainda se misturavam. A Ciência Moderna, por sua vez, é a responsável pela</p><p>secularização, ou seja, a não in�uência de questões religiosas na elaboração do</p><p>conhecimento cientí�co.</p><p>Jorge é um aluno de teologia que se encontra no último ano do curso, momento</p><p>em que tem que dar início à preparação de seu trabalho de</p><p>conclusão de curso.</p><p>Em conversa com professores, ele foi orientado a escolher o tema a partir de</p><p>alguma disciplina com a qual teve a�nidade. Assim, ele decidiu apresentar algo</p><p>relativo à Teologia Moderna, em especial às ações realizadas pela Igreja Católica no</p><p>período. O professor da disciplina, então, pediu que ele entregasse três</p><p>�chamentos acerca dos contextos históricos que envolveram essa instituição no</p><p>período. Neles, deveriam ser tratados os con�itos com os grupos sociais</p><p>contrários, como os protestantes e os iluministas, sua relação com os cientistas</p><p>modernos e de que modo a Igreja foi afetada pela Revolução Francesa e pela</p><p>crescente secularização da sociedade, enfocando, ainda, o avanço do Cristianismo</p><p>nas Américas e na Ásia, que envolveu, também, a criação da Companhia de Jesus,</p><p>um grupo do clero regular responsável por boa parte da catequização. A partir</p><p>dessas dimensões, então, o aluno poderia se aprofundar nas questões teológicas</p><p>envolvidas no período.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>O primeiro �chamento determinado pelo professor visava a atender a duas</p><p>questões ambíguas que envolviam a Igreja na conjuntura histórica da</p><p>Contrarreforma: ao mesmo tempo em que ela se aproveitava dos momentos de</p><p>expansão marítima realizada pelas potências europeias para a expansão do</p><p>Cristianismo em novos continentes, especialmente o americano e o asiático, no</p><p>continente europeu ela passou a sofrer embates de grupos sociais nascentes,</p><p>como os reformadores e os intelectuais, que ocasionaram o nascimento da Ciência</p><p>Moderna.</p><p>Para contextualizar a sua aprendizagem, imagine que você é o acadêmico Jorge.</p><p>Partindo desse pressuposto, responda: como você responderia ao primeiro</p><p>�chamento exigido pelo professor-orientador?</p><p>Use como ponto de partida a resolução das seguintes questões:</p><p>•  Qual o contexto histórico que permitiu a expansão marítima europeia?</p><p>•  O que é o Padroado régio e por que Portugal e Espanha o receberam da Igreja?</p><p>•  Quais as principais diferenças teológicas que se estabeleceram entre os católicos</p><p>e os reformadores após o Concílio de Trento?</p><p>•  Como surgiu a Ciência Moderna e qual a relação dos cientistas com a Igreja</p><p>Católica?</p><p>Agora é sua hora de brilhar! Já ultrapassamos a metade de nosso curso e seu</p><p>esforço vem valendo a pena. Que estes novos conteúdos lhe permitam</p><p>compreender ainda mais a fundo a história da Teologia e da Igreja Católica no</p><p>período moderno e que lhe sejam úteis em sua caminhada.</p><p>CONCEITO-CHAVE</p><p>A GLOBALIZAÇÃO EM CURSO: NOVOS MUNDOS, NOVAS SOCIEDADES</p><p>Após séculos de uma economia estagnada após o �m do Império Romano, entre os</p><p>séculos V e X, aproximadamente, teve início, na Europa, um processo de</p><p>“renascimento econômico” ligado a um novo aumento populacional nas cidades,</p><p>bem como ao nascimento de uma classe social no meio urbano: a burguesia. O</p><p>enriquecimento desse grupo, por sua vez, crescia junto com o comércio que se</p><p>espalhava pelo continente. Entre os séculos X e XI, o comércio era realizado a um</p><p>nível local, nas vilas e cidades, nas pequenas feiras situadas nos muros dos</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>castelos dos senhores feudais (chamados de burgos, que dão origem ao nome</p><p>burguesia). Gradualmente, nos séculos seguintes, os contatos comerciais se</p><p>ampliaram, primeiro entre os comerciantes das cidades vizinhas e, depois, entre</p><p>comerciantes de locais diferentes. Algumas feiras, como Paris, tornaram-se ponto</p><p>de encontro de comerciantes de toda a Europa, que levavam produtos de sua</p><p>região para vender e compravam aqueles que não tinham onde viviam, vendendo</p><p>a preços altos em suas localidades (DOBB, 1983).</p><p>As Cruzadas, por sua vez, tiveram sua motivação no desejo religioso dos cristãos</p><p>em retomar Jerusalém dos turcos, e sua consequência foi a expansão comercial da</p><p>Europa para toda a região circundada pelo Mar Mediterrâneo, até então</p><p>frequentado, em maior quantidade, pelos árabes. Assim, as possibilidades</p><p>comerciais aumentaram a partir do contato com o Oriente cuja rota iniciava em</p><p>Constantinopla, capital do Império Bizantino. Nesse ponto da História, as cidades e</p><p>os reinos italianos, como Veneza, tornaram-se proeminentes por terem, em</p><p>Constantinopla, contatos que os demais reinos europeus não tinham (PIRRENE,</p><p>1982). O espírito das Cruzadas, que consistia no combate aos in�éis (não cristãos) e</p><p>na expansão da religião cristã, passou a justi�car as investidas da Europa cristã em</p><p>outros povos, independentemente de a motivação da investida ter sido religiosa ou</p><p>comercial.</p><p>Imbuído desses interesses, os portugueses expandiram-se no �nal do século XIV,</p><p>em que comerciantes buscavam metais preciosos, especialmente ouro e matérias-</p><p>primas em áreas distantes da Europa. Aliando-se à tecnologia náutica de italianos e</p><p>vikings, eles desenvolveram a caravela, principal meio de transporte marítimo de</p><p>longa distância no período. A ambição portuguesa era encontrar o caminho do</p><p>Oriente para comercializarem diretamente com os indianos (nome dado a todos os</p><p>moradores do Oriente), sem intermediação dos italianos, que elevavam muito o</p><p>preço dos produtos. A necessidade do comércio com as Índias se tornou urgente</p><p>após a Queda de Constantinopla, em 1453, momento em que os otomanos</p><p>impediram a passagem dos europeus pela rota tradicional que levava ao Oriente</p><p>(BOXER, 2008).</p><p>Assim, entre 1415 e 1498, Portugal realizou o contorno progressivo do continente</p><p>africano até a chegada nas Índias. As outras potências europeias (Inglaterra,</p><p>França, Holanda etc.), gradativamente, passaram, também, a montar suas</p><p>esquadras e a explorar o mundo para além da Europa, iniciando o processo que</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>desembocou na Globalização, ou seja, a integração entre todas as partes do</p><p>mundo em aspectos �nanceiros, culturais e políticos. Ainda que a dianteira nesse</p><p>processo de exploração tenha sido portuguesa, foram os espanhóis, em 1492, que</p><p>chegaram primeiro ao continente americano, até então desconhecido pelos</p><p>portugueses. As demais potências desenvolveram suas habilidades navais apenas</p><p>a partir do século XVI.</p><p>Pelos próximos séculos, os europeus colonizariam todo o continente americano e</p><p>estabeleceriam um contato intenso com os continentes africanos e asiáticos,</p><p>ultrapassando os interesses econômicos e sendo responsável por trocas culturais</p><p>entre europeus, americanos (também chamados de indígenas), africanos e</p><p>asiáticos. Desses, destacamos os contatos culturais entre europeus e indígenas</p><p>americanos por dois motivos: em primeiro lugar, esse continente foi conquistado</p><p>por inteiro pelos europeus; em segundo, tem-se, em grande parte do continente,</p><p>que pertencia à Espanha e Portugal, a marcante presença da Igreja Católica,</p><p>inclusive como parte ativa na colonização e também como legitimadora da</p><p>empreitada colonial.</p><p>PADROADO RÉGIO E CATEQUESE NAS MONARQUIAS IBÉRICAS</p><p>A chegada dos países Ibéricos na América (os espanhóis em 1492 e os portugueses</p><p>em 1500, na esquadra de Pedro Álvares Cabral) deve-se à sua dianteira nas</p><p>aventuras marítimas conhecidas como a “Era dos Descobrimentos”. Porém, uma</p><p>garantia de que esses lugares pertenceriam aos reinos, de fato, não ocorria apenas</p><p>pela posse. A diplomacia tal qual conhecemos hoje não existia, de forma que era</p><p>impossível às nações obterem o reconhecimento formal de posse dos demais</p><p>impérios europeus. Assim, a opção mais interessante para Portugal e Espanha era</p><p>apelar à autoridade papal e requerer ao chefe maior da Igreja o reconhecimento.</p><p>Essa apelação é fruto da tradição medieval de que as questões políticas eram parte</p><p>menor de toda a in�uência e importância religiosa. Em outras palavras, reconhecia-</p><p>se a supremacia política da Igreja sobre os reinos, conforme fora idealizada pelo</p><p>Papa Gregório VII, ainda no século XI, nas reformas gregorianas. O objetivo �nal da</p><p>Igreja em obter o poder político completo sobre a sociedade medieval não foi</p><p>atingido conforme Hilário Franco Júnior (2001), no entanto, a tradição de pedir</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>permissão</p><p>ao Papa quanto às ações de Estado manteve-se como uma das práticas</p><p>da Diplomacia, antes mesmo da existência dessa arte conforme a conhecemos</p><p>hoje.</p><p>Portugal já havia obtido do Papa Nicolau V, em 1454, antes da expansão marítima</p><p>espanhola), por meio da bula Romanus Pontifex, o direito à posse das terras</p><p>descobertas e que descobririam. Nesse período, Portugal tinha o Norte e o</p><p>Noroeste da África e a Ilha dos Açores sob seu domínio; em troca da autorização</p><p>papal, por sua vez, caberia aos lusitanos evangelizar os povos conquistados para</p><p>expandir o número de povos submetidos ao Cristianismo. A aliança, no entanto,</p><p>não era nova, pois, desde o século XI, Portugal baseava-se no espírito das Cruzadas</p><p>para expulsar os mouros de seus territórios. A guerra contra os árabes possibilitou</p><p>a construção da imagem dos reis portugueses como guerreiros e protetores da</p><p>cristandade, o que oportunizou, no século XV, a promulgação da bula Romanus</p><p>Pontifex (VAINFAS; SANTOS, 2014).</p><p>O ingresso da Espanha na corrida marítima levou a novos arranjos entre o Papado</p><p>e as demais nações. A chegada de Cristóvão Colombo ao continente americano,</p><p>em 1492, com o �nanciamento dos reis espanhóis, transformou o papel espanhol</p><p>na divisão de posse das terras a serem conquistadas no além-mar. Uma bula papal</p><p>de 1493, chamada Inter Coetera, delimitando a divisão espacial que caberia a cada</p><p>Império, foi contestada por Portugal, de forma que as próprias nações acertaram a</p><p>divisão no famoso Tratado de Tordesilhas, de 1494, reconhecido pelo Papa</p><p>Alexandre VI. Como nas demais bulas, o reconhecimento da soberania viria a partir</p><p>do compromisso com a evangelização dos povos encontrados.</p><p>Porém, cabe-nos dizer que os interesses da Igreja iam além da expansão do</p><p>Cristianismo em terras distantes. A aliança com Portugal e Espanha era uma</p><p>maneira de o papado se manter relevante como força política e cultural na Europa</p><p>e nas novas conquistas, haja vista que o reforço político e militar dos reis sobre</p><p>seus reinos, antes em mãos dos senhores feudais, provocou contestações quanto</p><p>ao poder da Igreja. Elas tiveram início na Questão das Investiduras, nos séculos XI e</p><p>XII, e continuou conforme os reis se fortaleciam e os Estados Nacionais passavam a</p><p>se formar. Dessa maneira, a tradição medieval de submissão da política à religião</p><p>se inverteu e a religião passou a ser uma parte das questões de Estado. Não à toa,</p><p>as demais potências europeias contestaram a validade do Tratado de Tordesilhas,</p><p>considerando insu�ciente o reconhecimento papal para garantir as posses aos</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>países ibéricos. O rei francês Francisco I, por exemplo, teria dito com ironia que</p><p>gostaria de ver a cláusula contida no testamento de Adão, o primeiro ser humano</p><p>que existiu, que o excluía da divisão do mundo (VAINFAS; SANTOS, 2014).</p><p>A Igreja, diante desses entraves, precisava mudar suas estratégias para continuar a</p><p>ter in�uência e poder na Europa. A instituição passava por outros problemas que</p><p>colocavam em dúvida sua importância, como a Reforma Protestante, ocorrida a</p><p>partir de 1517, e a di�culdade em responder às novas dúvidas e aos debates</p><p>criados pelos pensadores do Renascimento. Nesse sentido, a aliança com Espanha</p><p>e Portugal representou um dos pontos principais da renovação pretendida pela</p><p>Igreja; já a América (e o destino de seus nativos) era o que de mais valioso</p><p>poderiam compartilhar com ela.</p><p>Argumentando que não tinham renda nem estrutura humana para realizar a</p><p>catequização, os papas, ao longo do século XVI, concederam aos reis de Portugal e</p><p>Espanha o Padroado Régio, uma série de privilégios, direitos e deveres dado aos</p><p>Estados para catequizar os nativos das colônias mundo afora. Assim, o Estado teria</p><p>o poder religioso nos lugares, podendo criar bispados e nomear os bispos para as</p><p>localidades, além da posse dos dízimos. A única obediência que deviam à Igreja era</p><p>de caráter dogmática e moral, e essa aliança durou até o século XIX, quando as</p><p>colônias americanas se tornaram independentes (VAINFAS; SANTOS, 2014).</p><p>REFLITA</p><p>Um dos pilares da colonização europeia na América foi a catequização</p><p>indígena, fator que permitiu o apoio da Igreja. A visão europeia sobre os</p><p>nativos ignorava sua cultura e religião, o que ocorria pelo fato de as</p><p>representações culturais nativas serem vistas como primitivas e inferiores.</p><p>Isso levou os europeus a acreditarem que sua missão era salvar as almas</p><p>nativas apresentando a elas o Cristianismo, entendido como a religião</p><p>verdadeira. Para transplantar a cultura europeia para a América de maneira</p><p>completa, a catequese �cava atrelada também ao ensinamento do conceito</p><p>europeu de trabalho, que transformava o uso do trabalho indígena</p><p>semelhante à escravidão.</p><p>Baseando-se nessas informações, re�ita: é correta a imposição cultural e</p><p>religiosa de um povo a outro? Além disso, é correto considerar uma cultura</p><p>superiora à outra?</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Além de problemas políticos envolvendo nações europeias, o Papado se</p><p>preocupava com controvérsias teológicas que afetavam o mundo cristão após a</p><p>Reforma Protestante.</p><p>CONTROVÉRSIAS TEOLÓGICAS PÓS-REFORMA</p><p>A Contrarreforma, representada pelo Concílio de Trento, representa um ponto de</p><p>in�exão muito importante para a história da Igreja Católica, ao mesmo tempo em</p><p>que marca o �m da “Igreja Medieval”. O desejo de uma reforma dogmática à Igreja</p><p>existia desde o século XIV, momento em que as crises envolvendo o Papado</p><p>levaram os �éis, de maneira geral, a exigirem as alterações que apaziguassem a</p><p>instituição. Porém, ao mesmo tempo, a convocação do concílio não ocorreu</p><p>apenas em vista das exigências populares, pois, em 1517, teve início a Reforma</p><p>Protestante. Esse movimento foi motivado pela insatisfação com o comportamento</p><p>da Igreja e de seus representantes, tendo início com a ação de alguns padres.</p><p>Porém, em vez de reformar a Igreja, as ações acabaram por repartir a cristandade</p><p>ocidental em grupos distintos.</p><p>Assim, a Contrarreforma, como o próprio nome indica, apesar de representar o</p><p>movimento de mudança institucional tão desejado há séculos, de�niu-se</p><p>dogmaticamente tendo em seu horizonte a intenção de ser contrária às decisões</p><p>dos teólogos da Reforma, do mesmo modo que os reformadores se tornaram</p><p>contrários a Roma. Assim, algumas características que marcavam a Igreja Medieval,</p><p>como sua abertura a outras in�uências �losó�cas e intelectuais, desapareceram</p><p>após a Contrarreforma, que tornou a Igreja mais estreita.</p><p>A partir dessa re�exão, é importante conhecer as principais diferenças ou</p><p>controvérsias que identi�cam a teologia dos protestantes e dos católicos pós-</p><p>Concílio de Trento (TILLICH, 2000). A primeira delas refere-se à Bíblia, pois,</p><p>enquanto os católicos rea�rmam a autoridade dos livros do Antigo Testamento,</p><p>Martinho Lutero considerou parte desses livros apócrifos, ou seja, falsos ou</p><p>incoerentes com a doutrina cristã. Assim, a partir daquele momento histórico,</p><p>houve duas Bíblias diferentes: a romana e a protestante. Em relação à tradução da</p><p>Bíblia, a única reconhecida pela Igreja Católica era a de São Jerônimo entre os</p><p>séculos IV e V, conhecida como Vulgata; a tradução realizada por Erasmo de</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Rotterdam, por sua vez, não foi reconhecida pela Igreja romana. Em relação à</p><p>interpretação da Bíblia, os protestantes deixavam essa tarefa para as faculdades</p><p>de Teologia, enquanto os católicos reconheciam apenas a interpretação papal.</p><p>Essa orientação da Igreja fortaleceu a autoridade do Papado, a�nal, o papa era um</p><p>só e sua resposta era a �nal, enquanto as diferentes interpretações dos</p><p>professores protestantes abriam margem a diferentes usos da Bíblia,</p><p>enfraquecendo a autoridade professoral. Nas palavras de Lutero, essa supremacia</p><p>bíblica era conceituada como “Sola Scriptura”. Trinta anos após a morte do</p><p>primeiro reformador, os teólogos das diversas correntes abertas no luteranismo</p><p>estabeleceram a “Fórmula da Concordia”, que determina que, independentemente</p><p>da doutrina</p><p>seguida, ela deve obedecer às palavras da Escritura. O objetivo maior</p><p>das decisões, por sua vez, era tirar da mão da Igreja Católica o poder único sobre a</p><p>interpretação da escritura, a�nal, se a Bíblia era a autoridade máxima, pessoa</p><p>alguma poderia determinar o que deveria ou não ser seguido, e então, a partir</p><p>desse momento, as Escrituras estariam abertas à leitura e interpretação pessoal de</p><p>qualquer um (DIETZ, 2019).</p><p>No caso da Igreja Católica, ocorreu o aumento do poder papal, a�nal, o Papa era o</p><p>único que podia emitir interpretações da Bíblia. Ao mesmo tempo, o Pontí�ce não</p><p>podia ser deposto, criticado ou atacado, nem pela Bíblia, que ele mesmo</p><p>interpretava. O grande poder papal, na verdade, já era uma crítica dos</p><p>reformadores antes desse fortalecimento.</p><p>Assim como a interpretação papal, outro fator que tinha uma autoridade</p><p>semelhante era a Tradição. Esse conceito pode ser de�nido como a força que os</p><p>eventos e os ensinamentos que se seguiram com os apóstolos após a morte de</p><p>Cristo tiveram, bem como de outras lideranças da Igreja em períodos posteriores e</p><p>que também tiveram força doutrinária como fonte de Revelação divina. A�nal,</p><p>Jesus Cristo não deixou nenhum livro escrito e, para a Igreja, a palavra daqueles</p><p>que conviveram e escreveram sobre Cristo tinha força de lei e foi inspirada pela</p><p>divindade.</p><p>Enquanto isso, para os protestantes, a escritura era uma manifestação do Espírito</p><p>Santo, eliminando seu caráter humano e tradicional (no sentido de ser aceito por</p><p>várias gerações), o que se opõe à Tradição e a Sola Scriptura. No caso católico, a</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>junção do poder de interpretação papal com a Tradição permitiu que elas se</p><p>confundissem. Como não �cou de�nido o que seria a Tradição, ela �cou restrita à</p><p>decisão do próprio Papa (TILLICH, 2000).</p><p>Em relação ao pecado, enquanto os reformadores o consideram uma descrença ou</p><p>falta de Deus, os católicos o consideram atos contra a lei de Deus. Para os</p><p>católicos, os pecados podem ser perdoados a partir de uma penitência, já para os</p><p>protestantes, o pecado os separa de Deus, o que exige um esforço maior para o</p><p>extirpar, sendo necessária uma conversão completa: transformação do ser e</p><p>reunião com Deus. Os católicos também dividem os pecados entre veniais e</p><p>mortais, enquanto, para os protestantes, o conceito de pecado é um só.</p><p>A questão da justi�cação, por sua vez, é um dos pontos centrais que dividem os</p><p>reformadores e os contrarreformadores. É aceito por ambos os lados que a</p><p>justi�cação é dividida em fé, esperança e amor. Para os romanos, porém, a</p><p>justi�cação pode ser perdida por meio do pecado mortal, ainda que a fé</p><p>permaneça; já para os protestantes, quem permanece na fé jamais perde a sua</p><p>justi�cação. Esse conceito é chamado de sola �de ou a justi�cação somente pela fé.</p><p>Essa é uma das maiores questões que separam os dois ramos do Cristianismo em</p><p>termos teológicos, a�nal, a fé, vista como um ato intelectual, ou seja, um</p><p>reconhecimento racional, uma escolha do �el sobre a existência de Deus, passou a</p><p>ser vista pelos reformadores como um recebimento da graça de Deus. Para os</p><p>protestantes, o perdão divino pode apenas ser recebido sem que se faça nada</p><p>para isso, enquanto os romanos acreditam na cooperação com Deus para que o</p><p>perdão seja alcançado (TILLICH, 2000).</p><p>Por �m, destacamos entre as controvérsias a questão dos sacramentos. Esse foi o</p><p>ponto em que a Igreja mais manteve-se �rme sobre não realizar qualquer</p><p>alteração em relação às propostas reformistas. O Concílio �nal assim declara sobre</p><p>o assunto: “pelos sacramentos começa toda a justiça, e se já começou é</p><p>aumentada, e se foi perdida é restituída”. A função dos sacramentos é a função</p><p>religiosa da Igreja, por isso, eles se realizam e operam no interior dos �éis sem que</p><p>eles precisem buscar pelos sacramentos, o que con�ita, mais uma vez, com a</p><p>crença dos protestantes quanto à relação direta com Deus. Assim, não basta não</p><p>se opor ao sacramento, é preciso desejar o encontro com Deus.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Os sacramentos na Igreja Católica Romana são sete: o batismo, a con�rmação, a</p><p>eucaristia, a penitência, a unção dos enfermos, a ordem e o matrimônio. Eles são</p><p>tão importantes que não se permite dívida histórica, ou seja, se eles foram</p><p>determinadas ou não por Cristo, bem como não podem ser negados, sob ameaça</p><p>de expulsão da Igreja, e só eles levam à salvação, por isso, o batismo só é realizado</p><p>uma vez e vale para sempre. Diferentemente dos protestantes, o poder do batismo</p><p>para os romanos não acaba com o tempo; da mesma forma, nem todas as pessoas</p><p>são autorizadas a pregar, por isso os ordenados tinham o poder do sacramento e</p><p>nem mesmo os seus superiores poderiam retirá-lo. Enquanto isso, os protestantes</p><p>contam com dois sacramentos: o batismo e a santa ceia (eucaristia), que permite a</p><p>eles uma menor rigidez em relação a algumas possibilidades, como o sacerdócio</p><p>universal, que permite que qualquer indivíduo pregue e ensine sua doutrina</p><p>(TILLICH, 2000).</p><p>Além das controvérsias teológicas com os protestantes, por �m, a Igreja ainda</p><p>tinha de enfrentar outra força que atingia resultados e tirava parte de seu poder (já</p><p>menor em relação ao período medieval) e que exigia dela, mais uma vez, a</p><p>necessidade de se adaptar aos novos tempos: a ciência moderna.</p><p>A IGREJA CATÓLICA E A CIÊNCIA MODERNA</p><p>A sociedade moderna, que pertence ao período historiográ�co da Idade Moderna</p><p>(1453-1789), tornou-se muito distinta da sociedade medieval que a antecede. Uma</p><p>de suas principais diferenças é o maior índice de alfabetização que passou a</p><p>ocorrer no período moderno. Ainda que o número de pessoas alfabetizadas era</p><p>muito menor do que hoje, representou um avanço em relação à sociedade</p><p>medieval, e isso tem como resultado natural um aumento de obras escritas de</p><p>caráter �ccional, teológica e/ou cientí�ca. Lentamente, a produção escrita no</p><p>mundo ocidental deixou de ser proeminentemente realizada por membros da</p><p>Igreja para se tornar também obra de intelectuais sem vínculos com essa</p><p>instituição.</p><p>Cabe-nos lembrar que, durante o período medieval, grande parte da produção</p><p>escrita foi desenvolvida nos muros da Igreja por padres, monges etc.;</p><p>consequentemente, grande parte desse material se constitui de hagiogra�as (vidas</p><p>de santos) e tratados teológicos. A Igreja, portanto, era a grande detentora do</p><p>conhecimento no medievo, porém isso não signi�ca, como você já deve ter ouvido,</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>que a Igreja era contra a ciência ou a produção de obras não religiosas. A partir da</p><p>Escolástica, os ensinamentos de São Tomás de Aquino, por exemplo, colocaram</p><p>em um mesmo patamar a fé e a razão, bem como instigavam a crítica a todas as</p><p>informações, de forma que o encontro da existência de Deus se dava por meio de</p><p>termos e análises racionais (TILLICH, 2000).</p><p>Entre os séculos XV e XVI, por sua vez, ocorreu o Renascimento, que reaproximou o</p><p>Homem do mundo antigo e da produção, bem como dos modos de vida gregos e</p><p>romanos. De certa maneira, eles rejeitavam a Idade Média e o período de maior</p><p>domínio da Igreja Católica sobre a sociedade, visto por eles como período de</p><p>trevas. O período é conhecido por ter tirado Deus do centro do universo para</p><p>colocar o Homem (o Antropocentrismo); nesse sentido, a produção escrita buscou</p><p>na experimentação as explicações para os eventos, afastando-se das explicações</p><p>religiosas.</p><p>Ao mesmo tempo, em relação aos renascentistas, cabem duas informações</p><p>importantes: em primeiro lugar, apesar da busca por respostas nos campos não</p><p>religiosos, isso não queria dizer que eles eram contrários à Igreja. Lucién Febvre</p><p>(2009), importante historiador francês, argumenta que as estruturas mentais da</p><p>população do século XVI, em transição do medieval para o moderno, não</p><p>permitiam o ateísmo; a própria Igreja, nas pessoas de diversos Papas, �nanciava os</p><p>artistas. Esses pontí�ces são conhecidos como papas renascentistas e foram</p><p>responsáveis pela prática que continuou até depois da Reforma Protestante</p><p>devido à pressão</p><p>das ruas, logo, declararam o papado vago e elegeram o cardeal Roberto de</p><p>Genebra, que se assumiu como Clemente VII (1378-94). Urbano, por sua vez, não</p><p>aceitou a decisão e declarou a excomunhão de Clemente, que fez o mesmo. A</p><p>excomunhão entre papas durou anos, até 1417 (LINDBERG, 2000).</p><p>O colégio legítimo de cardeais elegeu dois Papas em poucos meses. Urbano VI e</p><p>seus sucessores �caram em Roma, Clemente VII e os seus residiram em Avignon.</p><p>A solução do cisma ocidental passou pelo conciliarismo. O primeiro concílio a tratar</p><p>do problema foi o Concílio de Pisa, em 1409, que decidiu depor os papas como</p><p>hereges e eleger o Papa Alexandre V (1409-10). Os Papas depostos não aceitaram a</p><p>decisão e, novamente, o assunto foi levado ao Concilio de Constança (1414-1417),</p><p>que tinha três questões a resolver: o cisma, a extirpação das heresias e a</p><p>reorganização da igreja. A participação do rei da Alemanha, Sigismundo, mais tarde</p><p>imperador, deu credibilidade ao concílio, que derrotou o sistema hierocrático</p><p>papal e impôs o conciliarismo. A partir dele e do Concílio de Basileia (1431-45), a</p><p>teoria conciliar passou a ser a doutrina o�cial da igreja. A ideia de fundo era tornar</p><p>o concílio uma assembleia em concordância com a lei, representando a igreja</p><p>universal cujo poder provinha diretamente de Cristo e cuja autoridade se estendia</p><p>a todos, inclusive ao Papa. O concílio destituiu os Papas e elegeu Martinho V,</p><p>colocando �m ao grande cisma ocidental (LINDBERG, 2001).</p><p>Em decorrência do Concílio de Constança, alguns acordos foram realizados por</p><p>meio de concordatas. Ao invés de uma comunidade cristã universal de nações,</p><p>optou-se por uma realidade de nações independentes e particulares. O papado</p><p>que reivindicava a soberania sobre todos os povos estava reduzido à condição de</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>um governo entre muitos governos nacionais e se ligava a eles de forma contratual</p><p>(LINDBERG, 2001). A reforma da Igreja �cou de lado, uma vez que, após os</p><p>concílios, Papas e antipapas gastaram energia em consolidar o patrimônio na</p><p>Itália.</p><p>O RENASCIMENTO E O DECLÍNIO DA CRISTANDADE MEDIEVAL</p><p>O período renascentista fez ressurgir a ideia do poder racional como contraponto</p><p>ao poder religioso. Os �lósofos gregos e romanos fomentavam que os ideais de</p><p>organização humana não deviam ser con�ados a um pensamento especulativo,</p><p>mas unicamente racional. Essas ideias, ao ressurgirem após o século XI, com o</p><p>aparecimento das universidades, alimentaram os ideais contrários ao poder</p><p>excêntrico da cúria da Igreja medieval, que defendia uma teocracia; movimentos</p><p>eclesiais alternativos e propostas reformadoras nasceram dentro e a partir desse</p><p>contexto histórico cultural (DREHER, 2002).</p><p>O renascimento nasceu na Itália, no século XV. Em muitos sentidos, era medieval,</p><p>estava voltado para o passado, especialmente à antiguidade clássica, e seus</p><p>modelos estavam no paganismo romano e grego. O renascimento passou a</p><p>desquali�car os séculos anteriores como inferiores, bem como a reverenciar os</p><p>séculos da ascensão greco-romana. Havia a busca pelo espírito da Antiguidade, um</p><p>interesse centrado no ser humano individual, autônomo e livre; o prazer e a glória</p><p>não eram mais condenáveis, a esperança para o além passou a ser menos</p><p>importante e, por meio da arte, da pintura, da arquitetura e da poesia, buscou-se</p><p>reproduzir a Antiguidade. Consequentemente, a Itália passou a ser o centro da</p><p>cultura ao longo dos séculos XIV e XV, muito em razão do desenvolvimento social e</p><p>econômico que lograra nos séculos anteriores.</p><p>O renascimento não foi um movimento oposto à Igreja; ao contrário disso, os</p><p>renascentistas buscaram sintonizar sua obra com a religião. Nas artes, as</p><p>temáticas bíblicas permaneceram dominantes; a literatura e as artes plásticas não</p><p>vieram para destruir a religião (DREHER, 2002).</p><p>A partir do �nal do século XV, o espírito renascentista chegou ao restante da</p><p>Europa. Na França, na Inglaterra, nos Países Baixos e na Alemanha �oresceu um</p><p>renascimento com características diferentes; o renascimento passou a ser</p><p>chamado de humanismo. A descoberta se deu na �lologia: o estudo de livros</p><p>antigos e seus ensinamentos, bem como o questionamento de verdades</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>inquestionáveis impulsionaram clamores de reforma da Igreja. O humanismo, em</p><p>grande parte, desembocou na teologia. Erasmo de Rotterdam (1466/69-1536) foi o</p><p>maior representante desse movimento; ele se orientou pela Bíblia e pelos pais da</p><p>igreja, Orígenes e Jerônimo, modelos da antiguidade cristã, buscando a �loso�a de</p><p>Cristo. As ideias de Erasmo e de tantos outros humanistas se espalharam graças à</p><p>imprensa: a descoberta de Gutenberg possibilitou a difusão de novas ideias e</p><p>novos ideais (DREHER, 2002).</p><p>Para Lindberg (2001), as �guras pessoais do papado renascentista criavam mais</p><p>disputas e problemas do que os resolviam. A imagem bíblica do pastor guiando o</p><p>rebanho contrastava com as �guras de Papas renascentistas que exploravam o</p><p>rebanho para sua promoção. O papado tornou-se uma corte renascentista italiana</p><p>cujos problemas eram locais e egoístas e não universais e pastorais.</p><p>Em síntese, o renascimento foi um vento renovador da cultura que soprou na</p><p>Europa entre os séculos XIV e XVI. Esse vento foi provocando mudanças até a Idade</p><p>Moderna, do século XV ao XVIII, soprando por todos os lados, in�uenciando a</p><p>produção cultural e artística, bem como as ciências. Lembremos que, na Idade</p><p>Média, a Igreja, o espírito e as danações eternas eram o centro das atenções, no</p><p>entanto, esse movimento fez uma retomada da cultura clássica tanto da Grécia</p><p>quanto de Roma. De origem burguesa, o renascimento pode ser considerado uma</p><p>das manifestações mais importantes da história do Ocidente que possibilitou, além</p><p>da renovação das artes e da ciência, um repensar do pensamento religioso –</p><p>escolástica – e uma nova visão do ser humano, sem a interferência direta da igreja.</p><p>AS RELAÇÕES OCIDENTE-ORIENTE: FIM DO IMPÉRIO BIZANTINO E A</p><p>RECONQUISTA IBÉRICA</p><p>No século XI, um con�ito envolveu a Igreja Católica e provocou o surgimento de</p><p>uma nova igreja com sede em Bizâncio, capital do império romano do Oriente, que</p><p>não fora desmantelado pelas invasões bárbaras — episódio que �cou conhecido</p><p>como Cisma do Oriente. No Oriente, a igreja tornou-se ortodoxa, pois era julgada</p><p>�el à tradição cristã. Bizâncio, que mais tarde passou a ser chamada de</p><p>Constantinopla e Istambul, preservou uma vertente da civilização cristã de idioma</p><p>grego e cultura peculiar, logo, vemos a constituição de uma cultura medieval</p><p>oriental, em que a religião ortodoxa foi uma de suas principais características. A</p><p>igreja de Santa So�a é o resultado arquitetônico e artístico do estilo bizantino e</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>que acabou in�uenciando, tempos depois, outras construções europeias. Aos</p><p>poucos, parte dos territórios do império foi perdida para os árabes, que</p><p>conquistaram a região da Mesopotâmia, Síria, Palestina e todo o norte africano e</p><p>sul da Península Ibérica. O enfraquecimento do império ocorreu com a perda de</p><p>controle do comércio com o Oriente. Na Baixa Idade Média, ele foi alvo da</p><p>expansão dos turcos-otomanos, já em 1453, foi dominado por eles. Esse período</p><p>foi chamado de Tomada de Constantinopla e coincide com a expansão marítima</p><p>europeia (DREHER, 2002).</p><p>Em 711, os árabes conquistaram a Península Ibérica, destruindo o Reino Visigodo e</p><p>quase toda a Espanha, que passou a ser in�uenciada pelo islão. A massa de</p><p>cristãos fora convertida ao islamismo; Abd ar Rahman III fundou o Emirado de</p><p>Córdoba e intitulou-se califa ao mesmo tempo em que começou as contraofensivas</p><p>em relação aos estados cristãos; por �m, conquistou Barcelona em 986. Os Estados</p><p>cristãos reuniram-se em torno do rei Sancho Garcés III de Navarra, Aragão e</p><p>Castela (1000-1035). Em 1063, um árabe fanático assassinou o rei Ramiro I, de</p><p>Aragão, o que levou os demais estados cristãos a reagir numa luta em forma de</p><p>cruzada (DREHER, 2002).</p><p>A partir do século</p><p>(as</p><p>pinturas na Capela Sistina, realizadas por Michelangelo, terminaram em 1538).</p><p>A segunda informação diz respeito à produção dos renascentistas. Se a ciência</p><p>existe desde o início do mundo (qualquer experimentação e análise de resultados</p><p>é considerada ciência), a ciência moderna tem início no �m do Renascimento; ela é</p><p>um período de transição entre o Renascimento e o Iluminismo cujos detalhes</p><p>veremos adiante.</p><p>Segundo Paolo Rossi (2001), a ciência moderna existiu, precisamente, entre o</p><p>tratado De Revolutionibus, de Nicolau Copérnico (1543), e a Ótica, de Isaac Newton</p><p>(1703). As obras da Ciência Moderna expandiram os conhecimentos desenvolvidos</p><p>pelos renascentistas, e suas explicações aprofundaram a diferença entre o</p><p>conhecimento religioso e o conhecimento empírico. Não à toa, a separação entre a</p><p>Teologia e a Filoso�a enquanto ciências autônomas ocorreu nesse período. Ainda</p><p>que a Bíblia se constituísse como uma base de conhecimento para os autores, foi</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>com a ciência moderna que ocorreu o processo de secularização do conhecimento,</p><p>ou seja, a produção cientí�ca deixou de passar obrigatoriamente pela Igreja. Um</p><p>dos principais nomes da ciência moderna, Francis Bacon, contrariou a teoria de</p><p>São Tomás e a�rmou que os estudos da natureza não permitem desvendar a</p><p>essência de Deus, ou seja, ocorre a separação total entre ciência e fé.</p><p>E para a Igreja Católica, qual o resultado do movimento? Como elencamos, houve a</p><p>perda de uma parcela de poder no �m do período medieval e início do período</p><p>moderno, porém essa perda não ocorreu sem resistência por parte da Igreja, pois,</p><p>até o período da Revolução Francesa (1789), ela exerceu poderes nos Estados</p><p>absolutistas europeus, visto que a aliança continuou até o �m do século XVIII. O</p><p>poder da Igreja contra os cientistas se deu, especialmente, a partir de duas</p><p>instituições: a censura e a Inquisição. A primeira permitia a proibição da publicação</p><p>das obras (o que levava vários autores a se autocensurarem nos escritos que</p><p>sabiam contrariar a visão da Igreja) e a segunda poderia considerar ideias como</p><p>subversivas e/ou heréticas, permitindo a prisão ou a morte dos autores. Giordano</p><p>Bruno morreu queimado, por exemplo, e Galileu Galilei foi condenado à prisão</p><p>perpétua (ROSSI, 2001).</p><p>ASSIMILE</p><p>Entre os pensadores renascentistas perseguidos pela Inquisição, o caso</p><p>mais grave foi o de Giordano Bruno, um teólogo, �lósofo e escritor italiano</p><p>nascido em 1548 e acusado de heresia em 1593. Giordano foi condenado à</p><p>morte em 1600 e considerado um dos mártires para a livre-ciência.</p><p>Foram duas ideias suas que desagradaram a Igreja: a primeira se referia à</p><p>continuidade das ideias de Nicolau Copérnico, o primeiro a dizer que a</p><p>Terra não ocupava um lugar especial no espaço e girava em torno do Sol, ao</p><p>contrário do que a Igreja acreditava. Giordano Bruno foi o primeiro a</p><p>teorizar que as estrelas eram outros sóis distantes que tinham seus</p><p>próprios planetas, aventando, também, a possibilidade de vida neles.</p><p>Já a segunda heresia de Bruno foi a negação de doutrinas católicas, como a</p><p>Trindade, a divindade de Cristo, a virgindade de Maria e a</p><p>transubstanciação.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Porém, ao mesmo tempo, a Igreja e os protestantes devem receber crédito pelo</p><p>grande estímulo à difusão da ciência moderna, principalmente por meio de</p><p>�nanciamentos aos cientistas e às universidades nas quais estudaram e</p><p>lecionaram.</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>Caso alguém lhe peça exemplo de uma das grandes diferenças entre a</p><p>Teologia católica e a protestante, você pode citar a relação de quem estaria</p><p>autorizado a interpretar a Bíblia segundo cada um dos ramos da religião</p><p>cristã. Enquanto os católicos mantiveram, após o Concílio de Trento, a</p><p>tradição de deixar a responsabilidade a cargo de seus ministros, como os</p><p>padres, bispos e os Papas, os protestantes defendem uma democratização</p><p>na capacidade de interpretá-la. Para os reformadores, a interpretação</p><p>deveria ser permitida a cada um, principalmente para a diminuição da</p><p>dependência do �el comum aos representantes de uma religião, como no</p><p>caso da Igreja Católica. Essas críticas estão representadas nos pré-</p><p>reformistas do século XIV, como John Hus, e se manterá nas tradições</p><p>reformadoras. Outras questões teológicas e doutrinárias como o conceito</p><p>de pecado e os sacramentos passam pela questão da interpretação bíblica,</p><p>sendo impossível compreender uma dessas questões sem levar em conta</p><p>esse ponto em comum.</p><p>Aqui, terminamos mais uma aula, na qual observamos os primeiros momentos da</p><p>Igreja Católica após o Concílio de Trento e suas consequências teológicas, como o</p><p>surgimento da ciência moderna e sua relação com a Igreja. Vimos, também, que,</p><p>apesar do enfrentamento dos outros grupos sociais e religiosos, o século XVI foi</p><p>também um momento de expansão do Cristianismo para áreas que passaram a se</p><p>conectar à Europa a partir dos descobrimentos. Até a próxima!</p><p>FAÇA A VALER A PENA</p><p>Questão 1</p><p>A Igreja Católica, ao �m do século XV, argumentou não ter condições �nanceiras de</p><p>realizar a catequização dos nativos na América, �cando a cargo dos portugueses e</p><p>espanhóis, chegados recentemente, essa tarefa. Além disso, o rei se tornou o</p><p>senhor máximo da Igreja nesses locais.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Com base nas a�rmações destacadas, assinale a alternativa que corresponde ao</p><p>nome dado à essa cessão da Igreja aos reis ibéricos:</p><p>a. Padroado Régio.</p><p>b. Liberdade Religiosa.</p><p>c. Papalidade Régia.</p><p>d. Capacidade Régia.</p><p>e. Paternidade Religiosa.</p><p>Questão 2</p><p>O conceito de ciência moderna é aplicado para os aproximados 160 anos que</p><p>separam a obra O Tratado de Revolutionibus, de Nicolau Copérnico (1543), e a</p><p>Ótica, de Isaac Newton (1703).</p><p>Em relação à ciência moderna, podemos a�rmar que foi nesse momento que:</p><p>a. As universidades surgiram para dar suporte aos intelectuais.</p><p>b. A Bíblia foi traduzida a todas as línguas europeias.</p><p>c. A tecnologia náutica evoluiu e permitiu a Era dos Descobrimentos.</p><p>d. Ela foi a responsável pela total secularização do conhecimento cientí�co.</p><p>e. A �loso�a e a teologia �nalmente tornaram-se disciplinas autônomas.</p><p>Questão 3</p><p>O período imediatamente posterior ao período da Reforma foi o momento da</p><p>Contrarreforma, quando a Igreja rea�rmou sua posição contrária àquelas</p><p>identi�cadas pelos reformadores. Assim, controvérsias marcaram a de�nição dos</p><p>espaços teológicos entre os romanos e os protestantes.</p><p>Em relação às controvérsias religiosas, analise as alternativas a seguir:</p><p>I.  Para buscar uma conciliação com os protestantes, a Igreja aceitou diminuir o</p><p>número dos seus sacramentos de sete para dois.</p><p>II.  Os protestantes, após sofrerem com os teólogos interpretando a Bíblia de</p><p>maneiras diferentes, tornaram como certo apenas a versão luterana.</p><p>III.  A Igreja rea�rmou como Bíblia o�cial a tradução da Vulgata de São Jerônimo</p><p>por considerar as traduções recentes (como a de Erasmo) muito críticas.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Considerando o contexto apresentado, é correto o que se a�rma em:</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BARROSO, M. A.; GOMES, C. M. V.; PASCHOALINO, P. Ciência e religião: uma</p><p>genealogia da modernidade. Mediação, [S. l.], ano 4, n. 9, jan./ago. 2019.</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3j7IWsb. Acesso em: 14 abr. 2021.</p><p>BOXER, C. O império marítimo português: 1415-1825. São Paulo: Companhia das</p><p>letras, 2008.</p><p>DIETZ, M. T. Sola Scriptura entre tradição e modernidade. Teocomunicação, Porto</p><p>Alegre, v. 49, n. 1, jan./jun. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3ql58jW. Acesso em:</p><p>14 maio 2021.</p><p>DOBB, M. A evolução do capitalismo. São Paulo: Abril Cultural, 1983.</p><p>FEBVRE, L. O problema da incredulidade no século XVI: a religião de Rabelais.</p><p>São Paulo: Companhia das Letras, 2009.</p><p>FRANCO JÚNIOR, H. A idade média: o nascimento do ocidente. 2. ed. São Paulo:</p><p>Brasiliense, 2001.</p><p>LIMA, L. L. da G. O padroado e a sustentação do clero no Brasil colonial. Saeculum</p><p>– Revista de História, João Pessoa, v. 30, jan./jun. 2014. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3gZk8Qk.</p><p>Acesso em: 14 maio 2021.</p><p>PIRENNE, H. A história econômica e social da idade média. São Paulo: Mestre</p><p>Jou, 1982.</p><p>ROSSI, P. O nascimento da ciência moderna na Europa. Florianópolis: EDUSC,</p><p>2001.</p><p>TILLICH, P. História do pensamento cristão. São Paulo: Aste, 2000.</p><p>a. I, apenas.</p><p>b. III, apenas.</p><p>c. I e II, apenas.</p><p>d. II e III, apenas.</p><p>e. I e III, apenas.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://bit.ly/3j7IWsb</p><p>https://bit.ly/3ql58jW</p><p>https://bit.ly/3gZk8Qk</p><p>VAINFAS, R.; SANTOS, G. S. dos. Igreja, Inquisição e religiosidades coloniais. In:</p><p>FRAGOSO, J.; GOUVEA, M. de F. Coleção o Brasil Colonial:1443-1580. Rio de</p><p>Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. v. 1.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>NÃO PODE FALTAR</p><p>RELAÇÕES RELIGIOSAS OCIDENTE-ORIENTE</p><p>Gustavo Balbueno de Almeida</p><p>Imprimir</p><p>PRATICAR PARA APRENDER</p><p>Saudações! O tema desta aula destaca as relações (sociais, culturais, religiosas)</p><p>entre o Ocidente (europeu) em expansão, e o continente asiático, chamado, aqui,</p><p>de Oriente, tendo como guia as práticas de catequese e a conversão</p><p>protagonizadas pelas ordens religiosas, em especial a Companhia de Jesus.</p><p>Essa ordem tinha uma criação mais recente, já no contexto da Reforma</p><p>Protestante, e trouxe algumas novidades nos métodos para a conversão,</p><p>permitindo à Companhia a liderança na relação com as novas culturas. Assim,</p><p>veremos os principais eventos que ocorreram no primeiro século após o</p><p>surgimento dos jesuítas, especialmente no continente asiático.</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Deseja ouvir este material?</p><p>Áudio disponível no material digital.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Em um primeiro momento, veremos como se deram as relações sociais entre o</p><p>Ocidente e o Oriente após o período do Cisma de 1054: como se “construíram” os</p><p>conceitos de “oriental” e “ocidental” e de “europeu” e “asiático” ainda no período</p><p>antigo, bem como em que as relações, ao longo de quase todo o período medieval,</p><p>foram pautadas a partir do Império Bizantino e, posteriormente, com o Império</p><p>Otomano. Nesse sentido, a chegada portuguesa ao Extremo Oriente através do</p><p>mar ampliou o próprio conceito de Oriente aos europeus, já que os orientais não</p><p>estavam mais situados próximo à região do Mar Mediterrâneo, apenas.</p><p>No segundo momento, veremos os detalhes do surgimento da Companhia de</p><p>Jesus, uma ordem religiosa que teve protagonismo na expansão cristã na região</p><p>asiática. O início de sua história confunde-se com a de seu fundador, Inácio de</p><p>Loyola, e de seu interesse em criar uma ordem que objetivaria a conversão dos</p><p>povos para além da Europa, num contexto de Contrarreforma, de modo a criar um</p><p>“exército” de �éis que pudesse resistir ao avanço protestante. Seu interesse de ir</p><p>até Jerusalém foi transformado pelas possibilidades de catequização nas novas</p><p>terras encontradas pelos europeus.</p><p>No terceiro momento, veremos como ocorreu esse processo de catequização na</p><p>Ásia, em especial na Índia, China e Japão. Nesse tópico, observaremos como os</p><p>esforços iniciais das demais ordens religiosas foram suplantadas pelo método</p><p>novo de catequização da Companhia de Jesus. Nós vamos ver, também, como os</p><p>contextos históricos e sociais eram usados estrategicamente pelos jesuítas para</p><p>ampliarem a quantidade de pessoas e territórios onde a conversão se efetivou.</p><p>Por �m, no último momento, veremos como, após o século inicial do processo de</p><p>catequização, gradativamente, os jesuítas passaram a sofrer perseguições nesses</p><p>locais, principalmente dos próprios imperadores chineses e japoneses, que</p><p>passaram a enxergar o processo de catequização como prejudicial às suas</p><p>estruturas sociais, culturais e religiosas.</p><p>Jorge é um aluno de teologia que se encontra no último ano do curso, momento</p><p>em que tem que dar início à preparação de seu trabalho de conclusão. Em</p><p>conversa com professores, ele foi orientado a escolher o tema a partir de alguma</p><p>disciplina com a qual teve a�nidade. Assim, ele decidiu apresentar algo relativo à</p><p>Teologia Moderna, em especial, as ações realizadas pela Igreja Católica. O</p><p>professor da disciplina, então, pediu que ele entregasse três �chamentos acerca</p><p>dos contextos históricos que envolveram essa instituição no período.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Nesses �chamentos, deveriam ser tratados os con�itos com os grupos sociais</p><p>contrários, como os protestantes e os iluministas, sua relação com os cientistas</p><p>modernos e de que modo a Igreja foi afetada pela Revolução Francesa e pela</p><p>crescente secularização da sociedade. Seria necessário, ainda, focar o avanço do</p><p>Cristianismo para as Américas e a Ásia, que envolveu, também, a criação da</p><p>Companhia de Jesus, um grupo do clero regular responsável por boa parte da</p><p>catequização. A partir dessas dimensões, o aluno poderia se aprofundar nas</p><p>questões teológicas que envolveram o período.</p><p>O segundo �chamento determinado pelo professor tem o objetivo de</p><p>compreender como se deu a relação religiosa entre o Ocidente e o Oriente,</p><p>destacando o movimento de catequização levado a cabo pelas ordens religiosas,</p><p>com atenção especial ao protagonismo adquirido pela Companhia de Jesus nesse</p><p>processo. Nesse �chamento, Jorge deve levar em conta os contextos históricos do</p><p>Oriente que permitiram a penetração dos jesuítas e do Cristianismo nesses locais,</p><p>bem como o processo de perseguição que os cristãos passaram a sofrer a partir do</p><p>século XVII. Para contextualizar a sua aprendizagem, imagine que você é o</p><p>acadêmico Jorge.</p><p>Partindo desse pressuposto, responda: como você responderia ao segundo</p><p>�chamento exigido pelo professor orientador? Use, como ponto de partida, a</p><p>resolução das seguintes questões:</p><p>1.  Qual o contexto histórico das relações entre Ocidente e Oriente após a</p><p>ocorrência do Cisma?</p><p>2.  Quais os detalhes do surgimento da Companhia de Jesus?</p><p>3.  Quais os principais detalhes do processo de catequização e conversão dos</p><p>asiáticos pelos membros das ordens religiosas, em especial, os jesuítas?</p><p>4.  Como ocorreu a perseguição aos cristãos na Ásia a partir do século XVII?</p><p>Agora, é com você! Esperamos que o material contribua para o seu avanço</p><p>intelectual na matéria e que você possa compreender todo o conteúdo sobre a</p><p>relação religiosa entre Ocidente e Oriente. Com esforço e dedicação, você terá</p><p>sucesso nessa empreitada.</p><p>CONCEITO-CHAVE</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>AS RELAÇÕES SOCIAIS APÓS O CISMA DO OCIDENTE</p><p>Antes de compreendermos como se deram as relações sociais entre Ocidente e</p><p>Oriente após o Cisma de 1054, cabe a nós compreendermos um pouco melhor o</p><p>que signi�cam os conceitos de “Ocidente” e “Oriente”, a�nal, essa separação do</p><p>mundo em duas partes não é algo natural e, sim, uma criação das pessoas que</p><p>viveram nessas duas regiões e que se relacionavam com pessoas do “outro” lado.</p><p>Ao mesmo tempo, assim como as relações sociais, a própria de�nição desses</p><p>conceitos alterou-se ao longo do tempo.</p><p>Observe que, até o século XVI, pelo menos, o Ocidente correspondia,</p><p>principalmente, ao continente Europeu, já o Oriente, ao continente Asiático. Nesse</p><p>sentido, pode-se a�rmar que a Ásia “nasceu” antes que a Europa. Segundo o</p><p>historiador François Hartog (2003), a criação cultural desse continente pode ser</p><p>atribuída aos gregos, identi�cando todas as terras a partir do Império Persa. Esse</p><p>Império, o maior desse tempo, tinha, em seu território, a atual região da Ásia</p><p>Menor (atual Turquia), que fazia fronteira com a região grega.</p><p>As vitórias gregas sobre esse Império nas Guerras Médicas, no século V a. C., não</p><p>passaram de pequenas derrotas para os persas. O historiador Norberto Guarinelo</p><p>(2014) a�rma que os persas viam os gregos como um pequeno povo que vivia na</p><p>periferia de seu Império. Porém, essas vitórias foram determinantes para que os</p><p>gregos pudessem se entender como uma sociedade própria, individualizada e</p><p>diferente dos demais povos. A vitória militar, nesse sentido, foi importante para a</p><p>Grécia Antiga, pois essa sociedade não se organizava como uma unidade territorial</p><p>naquele período histórico; na verdade, os gregos se estruturavam a</p><p>partir de</p><p>diversas cidades-estados autônomas ligadas entre si pela língua e pela religião.</p><p>Por esse motivo, não se pode dizer que, uma vez que a Ásia já estava delimitada, a</p><p>Europa já havia sido “criada”: isso apenas ocorreu com o Império Romano, que</p><p>partiu da criação de uma cidade na Península Itálica no século VIII a.C. para</p><p>conquistar toda a região mediterrânea (o então chamado “mundo conhecido”),</p><p>incluindo parte do Oriente nesse processo. Após a crise do Império, nos séculos IV</p><p>e V d.C., a solução para a manutenção da civilização romana foi dividir os seus</p><p>territórios em duas partes, justamente nomeadas de “ocidental” e “oriental”.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Após a desagregação do Império Ocidental, por sua vez, cada vez mais se</p><p>aguçaram as diferentes entre um lado e outro. O Ocidente, que �cou com a sede</p><p>da Igreja, cada vez mais, adquiria traços das culturas franco-germânicas, enquanto</p><p>o Oriente assumia a cultura grega como sua, a ponto de trocar a língua latina pela</p><p>grega e o nome do Império para Bizantino. Ainda que os dois lados se sentissem</p><p>ligados pelo passado — no caso, o Ocidente era o remanescente da sede da Igreja</p><p>e os Bizantinos do Império Romano — cada vez mais, as trajetórias de ambos os</p><p>lugares se tornavam diversi�cados e peculiares (AMARAL, 2010).</p><p>Em 1453, os turcos otomanos colocaram um �m no Império Bizantino, que era o</p><p>ponto de sustentação do Cristianismo na região leste do Mar Mediterrâneo e parte</p><p>do continente asiático. A partir de então, na relação Ocidente-Oriente, o continente</p><p>asiático passou a ter uma signi�cação associada ao islamismo, entendida como</p><p>uma religião herege e que passou a ameaçar a Cristandade em seu próprio</p><p>território. Basta lembrarmos que, nesse sentido, o território otomano se estendia</p><p>até a Europa Oriental e, em algumas situações, os otomanos chegaram a realizar</p><p>cercos à cidade de Viena, capital da Áustria, que está localizada relativamente</p><p>próxima à Roma, local máximo do Cristianismo. A partir do século XVII, por �m,</p><p>iniciou-se o declínio dos con�itos entre cristãos e otomanos e o Império Otomano</p><p>deixou de ser um inimigo para se tornar um vizinho da Cristandade.</p><p>Perceba, assim, como foi mantida em destaque a relação entre o Ocidente e a</p><p>região mais próxima à Europa, não à toa, chamada de Oriente Próximo. Isso se deu</p><p>pois, basicamente, era essa a parte da Ásia conhecida pelos europeus. O restante</p><p>do imenso continente acabava por ser pouco explorado pelos ocidentais, seja por</p><p>di�culdades nas travessias e rotas, seja por desinteresse por parte de europeus.</p><p>Consequentemente, exemplos como o de Marco Polo, comerciante italiano que</p><p>viveu no Oriente, são casos excepcionais.</p><p>Assim, a relação entre o Extremo Oriente e o Ocidente ocorrerá apenas a partir do</p><p>século XVI, momento de início do processo de globalização. Porém, antes de</p><p>conferirmos como essa relação ocorreu no período moderno, devemos conhecer a</p><p>história da instituição de clero regular que ganhou uma grande proeminência na</p><p>realização da catequização para além do continente europeu: a Companhia de</p><p>Jesus.</p><p>O SURGIMENTO DOS JESUÍTAS</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>O século XVI pode ser considerado o da transição entre o pensamento medieval e</p><p>o moderno. Um período como esse, portanto, é repleto de contradição, em que</p><p>ideias medievais e ideias modernas convivem. Foi nesse século, também, que</p><p>surgiu uma ordem religiosa que se especializaria na conversão dos nativos em</p><p>terras distantes do continente europeu: a Companhia de Jesus, que é,</p><p>possivelmente, a primeira ordem inserida no pensamento católico da</p><p>Contrarreforma, pois um dos fatores que levaram à sua criação foi o combate às</p><p>ideias protestantes. Porém, para compreendermos melhor esse contexto,</p><p>acompanhemos a trajetória de seu fundador: Inácio de Loyola.</p><p>Inácio nasceu em Loyola, atual município de Azpeitia, na Espanha, no ano de 1491,</p><p>sob o nome de Iñigo Lopez de Oñaz y Loyola, �lho da pequena nobreza do local.</p><p>Em 1521, tornou-se um cavaleiro do Rei da Espanha e lutou contra os franceses no</p><p>cerco que estes �zeram à cidade de Pamplona. Nessa batalha, Iñigo recebeu um</p><p>tiro que acertou as duas pernas, impossibilitando-o de andar por alguns meses.</p><p>Durante sua recuperação, Iñigo passou a desenvolver um conjunto de “exercícios</p><p>espirituais” que aprendeu com os soldados. Esse conjunto foi inspirado na imitação</p><p>da vida de Jesus, algo popular na época, e tinha como objetivo formar uma legião</p><p>de soldados de Cristo, aperfeiçoando as almas na doutrina cristã para o combate</p><p>aos reformadores, e essa seria uma das bases do primeiro método pedagógico</p><p>jesuítico (HERNANDES, 2010).</p><p>Porém, Iñigo não era padre e não tinha o sacramento da Ordem para ensinar seus</p><p>exercícios, chegando a ser preso sob suspeita de misticismo. Assim, decidiu partir</p><p>para a Universidade de Paris para estudar as “coisas da fé”. Para ser aceito, Iñigo</p><p>não poderia realizar seus exercícios, pois, anteriormente, já havia convencido �lhos</p><p>de famílias ricas a tornarem-se mendicantes, sendo assim, considerado um</p><p>elemento agitador.</p><p>Em Paris, Iñigo recrutou os seus seis primeiros companheiros que, em 1534,</p><p>�zeram votos de ir a Jerusalém recuperá-la dos turcos por meio da catequese e da</p><p>conversão. Observe, portanto, que, inicialmente, a Companhia tinha um objetivo</p><p>cruzadístico e cavalheiresco, ainda conectado ao pensamento medieval, mesmo</p><p>que o movimento das Cruzadas já tivesse se encerrado há mais de um século e as</p><p>ordens de cavaleiros já estivessem em processo de extinção, sendo transformadas</p><p>em meras ordens de nobreza, sem a �nalidade guerreira que as caracterizava.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>A data em que esses jovens partiriam para Jerusalém havia sido determinada em</p><p>25 de janeiro de 1537, dia da conversão de São Paulo. Os sete pioneiros da Ordem</p><p>conseguiram �nanciamento do Papado para a ida a Jerusalém, porém,</p><p>encontraram esta cidade fechada a estrangeiros e conseguiram realizar a</p><p>catequização que intentavam (HERNANDES, 2010).</p><p>Nesse momento, o líder da Companhia, Iñigo, passou a assinar como Inácio, o</p><p>correspondente de seu nome em latim, língua o�cial da Igreja, e a se relacionar</p><p>com monarcas poderosos, como o espanhol Carlos V, a quem ele ensinou seus</p><p>exercícios espirituais. A própria Igreja e outras instituições, como a Universidade de</p><p>Paris, por sua vez, começaram a ter interesses políticos na Companhia e passaram</p><p>a cogitar a ida dos companheiros à Índia, pois acreditavam que os indianos seriam</p><p>mais fáceis de converter do que os árabes.</p><p>Essa proposta alterou, pela primeira vez, os objetivos da Ordem, levando-os de</p><p>Jerusalém até as Índias, ao mesmo tempo em que a catequização seria bené�ca a</p><p>Portugal, que já tinha uma rede comercial no Oriente (HERNANDES, 2010).</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>Caso alguém lhe pergunte acerca da forte relação entre a religião e a</p><p>expansão marítima, responda que há um consenso da historiogra�a acerca</p><p>da importância dos objetivos religiosos em aliança aos objetivos comerciais</p><p>e políticos das nações europeias. O historiador Ronald Raminelli, por</p><p>exemplo, utiliza a expressão “Império da fé” para identi�car essa aliança</p><p>entre os fatores acima apresentados. No caso português, em especial, com</p><p>quem a Companhia de Jesus teve uma íntima relação, um dos argumentos</p><p>utilizados para explicar o seu enfraquecimento colonial no Extremo Oriente</p><p>após o século XVII refere-se exatamente ao fracasso do projeto catequético,</p><p>como se os problemas enfrentados pelas Ordens religiosas tivessem</p><p>inviabilizado o fortalecimento dos laços comerciais e políticos. Já no caso do</p><p>Brasil, a colonização teria se efetivado devido ao sucesso da implantação do</p><p>catolicismo na América, seja na catequização indígena, seja no sucesso do</p><p>Padroado.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Como os membros da Ordem se negaram, em um primeiro momento, a ir para a</p><p>Índia, foi determinada a ida deles para as colônias portuguesas na América. A boa</p><p>relação dos jesuítas com o rei português D. João III, já no âmbito do Padroado</p><p>Régio, permitiu que, nesse reino, fosse instalada a primeira província ultramarina</p><p>(além-mar) da Companhia. Diversos jesuítas partiram para a colônia do Brasil e se</p><p>destacaram na evangelização dos indígenas, como os padres Manuel da Nóbrega e</p><p>José de Anchieta, aos quais é atribuída a fundação da vila de São Paulo. José de</p><p>Anchieta foi canonizado pela Igreja em 2014 (HERNANDES, 2010).</p><p>Vale destacarmos que a in�uência da Companhia foi tanta que seus clérigos se</p><p>tornaram confessores dos reis portugueses por muito tempo. Porém, a �m de que</p><p>pudessem ir a outras terras, foi necessária a instituição o�cial da Ordem com</p><p>autorização papal, o que aconteceu, en�m, em 27 de setembro de 1540, com a</p><p>assinatura da bula papal Regimini Militantes Ecclesiae, que o�cializou o nome</p><p>Companhia de Jesus. Inácio de Loyola foi escolhido o primeiro líder e ele mesmo</p><p>elaborou a constituição da Ordem continuamente entre 1541 até sua morte, em</p><p>1566 (HERNANDES, 2010).</p><p>A aprovação da Ordem permitiu não apenas a ida da Ordem à América como</p><p>animou seus membros a irem às Índias e, em seguida, ao Extremo-Oriente, como</p><p>veremos a seguir. A in�uência dos jesuítas se espalhou pela Europa católica de</p><p>forma que eles também puderam catequizar nas terras americanas da Espanha.</p><p>Vejamos, assim, como foi o processo da instalação das missões no continente</p><p>asiático a partir do século XVI.</p><p>MISSÕES E MISSIONÁRIOS NAS COLÔNIAS ASIÁTICAS</p><p>A ação catequética nas colônias asiáticas por grupos missionários se iniciou ainda</p><p>no século XV, em 1499, um ano após a inédita chegada de Vasco da Gama as Índias</p><p>pelo mar. Porém, isso não quer dizer que tenha sido a primeira vez que os cristãos</p><p>tenham atingido a Ásia Central e a China. Na verdade, desde o século VI, um grupo</p><p>de cristãos (chamados Nestorianos em homenagem a Nestório, seu líder),</p><p>considerado herético por Roma, espalhou-se pelos impérios persa, árabe, mongol</p><p>e chinês.</p><p>Em diversos períodos, a partir do século VI, os cristãos conseguiram exercer certa</p><p>in�uência em algumas cidades e impérios, sendo conhecidos como comerciantes e</p><p>eruditos (letrados). Ao chegarem no Oriente, os primeiros missionários</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>encontraram grupos de cristãos nestorianos, porém, em nenhum momento, esses</p><p>grupos tornaram-se mais importantes nesses lugares (SIMÕES, 2009).</p><p>Voltando-se às ações missionárias do século XVI, é possível a�rmar que, de 1499</p><p>até a chegada dos jesuítas na região, em 1542, deu-se a primeira fase das ações</p><p>missionárias. Os padres de diversas ordens religiosas, como os franciscanos,</p><p>dominicanos e agostinianos, costumavam ir até as Índias nos navios dos</p><p>comerciantes portugueses especialmente para manter a moral religiosa a bordo</p><p>das embarcações.</p><p>Porém, nessa primeira fase, veri�ca-se uma baixa efetividade na conversão das</p><p>almas. Os motivos para isso foram vários: desde uma maior preocupação de</p><p>alguns missionários com o enriquecimento a partir da realização de comércio — o</p><p>que era proibido — até a falta de recursos �nanceiros e de pessoal para a</p><p>realização da catequização, bem como a pouca vontade dos missionários em</p><p>aprender a língua local e tornar mais efetiva sua pregação e conhecer as crenças e</p><p>religiões locais (BORGES; COSTA, 2013).</p><p>Aos poucos, os padres da Companhia se apropriaram da estrutura já existente,</p><p>ainda que as demais Ordens tivessem continuado suas ações mesmo após a</p><p>chegada dos jesuítas, ao mesmo tempo em que levaram para a Ásia, bem como</p><p>levariam para a África e para a América, aquela que talvez tenha sido a maior</p><p>revolução implantada por eles no tocante à catequização: a regra de aprender a</p><p>língua dos nativos para convertê-los em seu idioma original e não esperar que os</p><p>nativos aprendessem as línguas europeias para compreenderem o evangelho. Não</p><p>à toa, os primeiros livros de temática cristã escritos em línguas tupi, chinesa e</p><p>japonesa, por exemplo, foram obras dos jesuítas.</p><p>Assim, gradualmente, os padres da Companhia espalharam-se por todo o território</p><p>da índia, buscando atingir não apenas a quantidade, mas a qualidade da</p><p>conversão, apostando na compreensão real do evangelho e não na repetição de</p><p>orações, apenas, bem como em uma conversão real e não só na realização do</p><p>batismo de nativos. A intenção era que os convertidos pudessem levar às suas</p><p>famílias e à vizinhança a palavra aprendida (BORGES; COSTA, 2013).</p><p>Na década de 1540, os jesuítas também chegaram a dois recantos ainda mais</p><p>distantes do continente asiático para além da Índia: na China e no Japão. Sua</p><p>chegada nesses lugares, por sua vez, ocorria conforme os próprios portugueses</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>realizavam sua expansão marítima, procurando expandir suas redes comerciais a</p><p>todos os lugares do globo. Em ambos os lugares, os jesuítas aplicaram uma mesma</p><p>estratégia, que foi a de compreender o grupo social de maior importância e</p><p>alcance para catequizá-los, de forma que isso pudesse facilitar a catequização dos</p><p>demais em um segundo momento. Isso ocorreu especialmente nesses dois</p><p>lugares, pois, neles, a sociedade era mais estruturada em classes sociais que a</p><p>Índia ou as nações indígenas brasileiras.</p><p>Na China, o estabelecimento dos jesuítas ocorreu, o�cialmente, em 1563, quando</p><p>estes se estabeleceram na cidade de Macau, uma colônia portuguesa no sul do</p><p>Império. Da década de 1560 até o início do século seguinte, gradativamente, eles</p><p>buscaram chegar à capital Pequim, que não permitia missionários. Para isso, eles</p><p>foram realizando, especialmente, a catequese dos funcionários letrados, que</p><p>tinham grande poder no Império, pois, a partir de suas conexões, seria possível</p><p>conseguir autorizações do Imperador para entrarem cada vez mais no interior do</p><p>Império. Essas autorizações, muitas vezes, eram negadas em um primeiro</p><p>momento.</p><p>A prática de aprender o idioma para realizar a conversão permitiu que alguns</p><p>jesuítas, como o italiano Matteo Ricci, ganhassem fama em todo o Império como</p><p>homens de letras, o que permitiu a aproximação com Pequim e com o Imperador</p><p>chinês. Em 1601, en�m, este permitiu o estabelecimento de Igrejas católicas em</p><p>Pequim, o que fortaleceu a missão católica na China e permitiu sua expansão para</p><p>diversas cidades e vilas no interior da China. Ao longo do século XVII, outras ordens</p><p>religiosas se juntaram aos jesuítas em Pequim, os quais deixaram Macau e as</p><p>demais áreas coloniais de missão após a expulsão da Companhia dos territórios</p><p>católicos em 1759 (SEABRA, 2011).</p><p>No Japão, por sua vez, a missão jesuíta teve início em 1549, momento em que as</p><p>ilhas japonesas passavam por um momento de grande instabilidade política, o que</p><p>proporcionou a fácil entrada no território. Os nobres japoneses aceitaram os</p><p>missionários pois eles serviriam de intermediários entre eles e os mercadores</p><p>portugueses, visto que, naquele momento, a circulação de riquezas pelo comércio</p><p>permitiria um fortalecimento desses nobres durante a guerra civil.</p><p>Ou seja, o interesse dos japoneses não estava, necessariamente, nos missionários,</p><p>mas no papel de intermediários no comércio, por isso, com autorização da</p><p>Companhia e do Império português, os jesuítas dedicavam-se ao comércio, que</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>sustentava as missões, e, gradativamente, convertiam os nobres e seus vassalos ao</p><p>Cristianismo. Dessa forma, como no caso chinês, os missionários aproveitavam da</p><p>estrutura social do lugar para converter as pessoas mais in�uentes, facilitando,</p><p>assim, uma conversão de um maior número de pessoas (RAMINELLI, 2010).</p><p>ASSIMILE</p><p>Ainda que a expressão “Idade Média” seja utilizada para identi�car,</p><p>principalmente, o período entre os séculos V e XV no continente europeu,</p><p>por motivos didáticos, costuma-se nomear o período de 1467 a 1568 no</p><p>Japão como a “Idade Média japonesa”. Nesse período, ocorreu um processo</p><p>de descentralização política quando um poder central, encabeçado por um</p><p>líder (no caso o Imperador), perdeu força e os poderes locais, abrangendo</p><p>uma cidade ou uma região um pouco maior, passaram a exercer esse</p><p>poder.</p><p>Foi nesse contexto de múltiplos poderes nas ilhas japonesas que os</p><p>jesuítas conseguiram levar a palavra cristã para essa sociedade.</p><p>Tendo acompanhado a saga dos missionários pela Ásia nos primeiros momentos</p><p>da aproximação entre a Ásia Oriental e a Europa, com especial ênfase no trabalho</p><p>dos jesuítas, vejamos os momentos de perseguição que eles sofreram nesses</p><p>locais, especialmente na China e na Índia.</p><p>PERSEGUIÇÕES RELIGIOSAS: CHINA E JAPÃO</p><p>Começamos a análise das perseguições religiosas pelo Japão. Como já vimos</p><p>anteriormente, a presença dos missionários nessas ilhas estava amplamente</p><p>relacionada ao comércio com os europeus. O historiador Ronald Raminelli a�rma</p><p>que estes só podiam ser aceitos no lugar pelo xogum (o equivalente ao Imperador</p><p>do lugar, que, mesmo enfraquecido, ainda tinha amplos poderes)</p><p>independentemente do fato de que diversos nobres, que também contavam com</p><p>grandes poderes no período, tenham sido cristianizados. Ou seja, estes nobres</p><p>cristãos ainda dependiam do Imperador para que os jesuítas pudessem entrar em</p><p>terras japonesas.</p><p>Esse íntimo contato dos missionários com os nobres levou alguns religiosos a</p><p>atuarem como poderosos, a ponto de o padre Gaspar Coelho, por exemplo, andar</p><p>em uma pequena galera (espécie de barco) com artilharia, característica dos</p><p>nobres, o que causou uma rejeição por parte dos religiosos. Esse excesso de poder</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>político levou o xogum Toyotomi Hideyoshi (1535-1598) a expulsar alguns padres e</p><p>alguns japoneses convertidos do país sob pena de morte (RAMINELLI, 2010). Vários</p><p>cristãos leigos e sacerdotes (jesuítas e franciscanos) foram mortos nesse período,</p><p>sendo particularmente lembrados os vinte e seis mártires de Nagasaki cruci�cados</p><p>em 1597.</p><p>Figura 3.1 | Monumento aos mártires do Japão</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Porém, a presença dos missionários continuou no Japão por mais um tempo,</p><p>sobretudo na região sul das ilhas, até que a crise política que possibilitou sua</p><p>entrada no país se resolvesse. Se até então o poder estava dividido na mão dos</p><p>vários nobres, semelhante ao período feudal na Europa, a partir do mandato de</p><p>Toyotomi Hideyoshi e de seu sucessor, Tokugawa Ieyasu, o poder voltou a se</p><p>concentrar nas mãos dos xoguns.</p><p>A nova centralização política japonesa, por sua vez, só foi possível graças ao seu</p><p>isolamento em relação às demais nações do mundo, que ocorreu do início do</p><p>século XVII até o ano de 1868. Nesse cenário, os missionários passaram a ser vistos</p><p>como espiões que catequizavam para acumular informações que seriam enviadas</p><p>à Europa para a realização de uma in�ltração política e militar no Japão. A</p><p>perseguição aos cristãos seria constante até a metade do século XVII, quando os</p><p>jesuítas foram expulsos em de�nitivo e a conversão ao cristianismo se tornou</p><p>proibida, sob pena de morte (RAMINELLI, 2010).</p><p>O caso chinês, por sua vez, ocorreu de maneira diferente, principalmente pelo</p><p>maior sucesso que os missionários tiveram nesse Império. A perseguição aos</p><p>católicos nesse país teve início a partir da “Controvérsia dos ritos da China”, nome</p><p>dado ao con�ito teológico entre os jesuítas e as demais ordens religiosas, no �m</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>do século XVII e no século XVIII. Uma das práticas mais características da</p><p>catequização jesuíta era a união das práticas religiosas locais com a doutrina cristã</p><p>(modelo largamente aplicado na América, por exemplo), que não era aceita pelas</p><p>demais ordens. Vale dizer que a fusão entre os ritos do confucionismo e budismo</p><p>local foi aplicada até ser proibida o�cialmente pelo Papa Bento XIV, em 1742</p><p>(SEABRA, 2011). As missões cristãs na China, por sua vez, foram proibidas ainda em</p><p>1721.</p><p>REFLITA</p><p>Uma das maiores novidades implantadas pelos jesuítas no século XVI foi a</p><p>utilização das próprias religiosidades locais para a realização da</p><p>catequização dos nativos para o cristianismo. Em geral, buscava-se algumas</p><p>similaridades entre as manifestações de ambas as religiões para introduzi-</p><p>los na religião cristã. Com base nessa a�rmação, re�ita: é uma atitude</p><p>correta ir a locais com manifestações religiosas estabelecidas e realizar um</p><p>processo de catequização e conversão em uma sociedade na qual</p><p>historicamente ela não pertence?</p><p>Gradativamente, as perseguições aumentaram ao longo do século XVIII, com a</p><p>proibição de missionários e da doutrina católica, inclusive sob pena de morte.</p><p>Porém, a intensidade das perseguições variava segundo a vontade de cada</p><p>Imperador e dos administradores regionais. Após a expulsão da Companhia, as</p><p>perseguições aumentaram ainda mais, provocando várias mortes e torturas aos</p><p>missionários.</p><p>ASSIMILE</p><p>A Igreja Católica passou a existir clandestinamente na China até o ano de</p><p>1846, quando o Imperador Daoguang devolveu os estabelecimentos e as</p><p>estruturas tomadas para a Igreja. Essa situação de estabilidade foi rompida</p><p>com a Revolução Comunista no século XX: em 1957, as autoridades</p><p>chinesas criaram a Associação Católica Patriótica Chinesa, uma instituição</p><p>tutelada pelo Estado e que controla suas atividades internas, como a</p><p>escolha de padres e bispos. Há um esforço de diálogo entre essa instituição</p><p>e a Igreja Romana, que é perseguida pelo regime chinês.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>E aqui concluímos mais um passo para um maior conhecimento sobre a História da</p><p>Igreja e a Teologia do período. Nesta seção, conferimos como ocorreu a relação</p><p>entre o Ocidente e o Oriente entre os séculos XI e XVI e de que modo as Grandes</p><p>Navegações expandiram o contato dos europeus com os asiáticos. Além disso,</p><p>vimos as características do surgimento da Companhia de Jesus e dos momentos de</p><p>sua expansão catequética em terras asiáticas, bem como dos momentos de</p><p>perseguição aos seus membros. Compreender esse contexto, portanto, é parte</p><p>importante para o entendimento da Teologia Moderna.</p><p>Até a próxima!</p><p>FAÇA A VALER A PENA</p><p>Questão 1</p><p>A expansão marítima europeia foi iniciada no século XV motivada, principalmente,</p><p>por motivos econômicos. Porém, a chegada das caravelas portuguesas na Ásia</p><p>permitiu que os missionários se deslocassem para esses lugares, iniciando, assim,</p><p>a catequese nesse continente.</p><p>Dos lugares asiáticos escolhidos como principais pelos missionários, podemos</p><p>identi�car os seguintes:</p><p>a. Japão, Índia e Oriente.</p><p>b. Angola, Filipinas e Mauritânia</p><p>c. China, Japão e Rússia.</p><p>d. Angola, Congo e Mauritânia.</p><p>e. Índia, China e Japão.</p><p>Questão 2</p><p>A Companhia de Jesus foi fundada em 1534, em Paris, e autorizada a funcionar</p><p>pelo Papado em 1540. Assim, sua criação já ocorreu em um período histórico em</p><p>que a Igreja já vivia o ambiente da Contrarreforma. Apesar disso, a Companhia</p><p>ainda apresentava característica das ordens religiosas medievais.</p><p>De acordo com o contexto, é correto a�rmar que a similaridade entre o</p><p>pensamento medieval e o dos jesuítas ocorria em função de:</p><p>a.  Uma forma de entender a ida a Jerusalém como uma cruzada para catequizar os árabes</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>b.  Uma forma de criar uma hierarquia de seus membros entre nobres e plebeus.</p><p>c.  Um desejo de formar um exército de Cristo para diminuir a in�uência protestante.</p><p>d.  Um desejo de obter a aprovação papal para funcionar como ordem de cavalaria.</p><p>e.  Uma estratégia desenvolvida para aprender as línguas orientais para a catequização.</p><p>Questão 3</p><p>A chegada dos comerciantes nas terras do Extremo Oriente, em especial na China</p><p>e no Japão, permitiu que os missionários iniciassem, nesses lugares, o processo de</p><p>catequização. Esse processo durou, ao menos, até o século XVIII.</p><p>Em relação à ação missionária no extremo oriente, analise as a�rmativas a seguir:</p><p>I. Essas ações ocorreram principalmente nas áreas de comércio, visto que os</p><p>únicos que aceitavam receber a catequização no Oriente eram os comerciantes.</p><p>II. As ações mencionadas tiveram um grande sucesso, a ponto de as duas nações</p><p>terem, hoje, uma maioria religiosa predominantemente católica.</p><p>III. Os jesuítas aproveitaram-se das estruturas sociais pré-existentes nos Impérios</p><p>para efetivar com maior sucesso o processo de catequização.</p><p>Considerando o contexto apresentado, é correto o que se a�rma em:</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BORGES, F. A. F.; COSTA, C. J. Jesuítas no Oriente no século XVI: o padroado</p><p>português no Estado da Índia. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA:</p><p>CONHECIMENTO HISTÓRICO E DIÁLOGO SOCIAL, 28., 2013, Natal. Anais [...]. Natal:</p><p>UFRN, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3j8LBBL. Acesso em: 17 maio 2021.</p><p>CANTOS, P. K.; COSTA, C. J. A Companhia de Jesus: regimentos e normas. Maringá:</p><p>UEM, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3gTv0AE. Acesso em: 17 maio 2021.</p><p>a. I, apenas.</p><p>b. III, apenas.</p><p>c. I e II, apenas.</p><p>d. II e III, apenas.</p><p>e. I e III, apenas.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://bit.ly/3j8LBBL</p><p>https://bit.ly/3gTv0AE</p><p>GOUVEIA, J. M. História concisa do Império Bizantino: das origens à queda de</p><p>Constantinopla. Lisboa: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016.</p><p>GUARINELLO, N. L. Ensaios sobre História Antiga. 2014. Tese (Livre docência em</p><p>História) — Faculdade de Filoso�a, Letras e Ciências Humanas, Universidade de</p><p>São Paulo, São Paulo, 2015.</p><p>HARTOG, F. Os antigos, o passado e o presente. Brasília: Editora UNB, 2003.</p><p>HERNANDES, P. R. A Companhia de Jesus no século XVI e o Brasil. Revista</p><p>HISTEDBR On-line, Campinas, n. 40, p. 222-244, dez. 2010. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3gQj1n3. Acesso em: 17 maio 2021.</p><p>HICHMEH, Y. S. S. O trauma católico no Japão do século XVII: a apostasia de Fabian</p><p>Fukan e a legitimação à perseguição nipônica ao cristianismo. In: SIMPÓSIO</p><p>NACIONAL DE HISTÓRIA: LUGARES DOS HISTORIADORES – VELHOS E NOVOS</p><p>DESAFIOS, 28., 2015, Florianópolis. Anais [...]. Florianópolis: UFSC, 2015. Disponível</p><p>em: https://bit.ly/3gRQWvE. Acesso em: 17 maio 2021.</p><p>RAMINELLI, R. Império da fé: ensaio sobre portugueses no Congo, Brasil e Japão. In:</p><p>FRAGOSO, J.; GOUVEA, M. de F.; BICALHO, M. F. O antigo regime nos trópicos: a</p><p>dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI a XVIII). Rio de Janeiro: Civilização</p><p>Brasileira, 2010.</p><p>SEABRA, L. D. Macau e os jesuítas na China (séculos XVI e XVII). História Unisinos,</p><p>São Leopoldo, v. 15, n. 3, p. 417-424, set./dez. 2011. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3j5wclP. Acesso em: 17 maio 2021.</p><p>SIMÕES, S. S. Bizâncio, Pérsia e Ásia Central: polos de difusão do Nestorianismo.</p><p>Revista Aedos, Porto Alegre, v. 2, n. 5, jul./dez. 2009. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3jafGBc. Acesso em: 17 maio 2021.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://bit.ly/3gQj1n3</p><p>https://bit.ly/3gRQWvE</p><p>https://bit.ly/3j5wclP</p><p>https://bit.ly/3jafGBc</p><p>NÃO PODE FALTAR</p><p>A REALIDADE TEOLÓGICA NO FIM DA ERA MODERNA</p><p>Gustavo Balbueno de Almeida</p><p>Imprimir</p><p>PRATICAR PARA APRENDER</p><p>Saudações! Os temas desta aula abarcam o período �nal da Idade Moderna,</p><p>especialmente os séculos XVII e XVIII, e o evento que dá início ao período</p><p>contemporâneo: a Revolução Francesa. O período é marcado pela intensi�cação da</p><p>separação entre Estado, ciência e outros campos políticos relativos à religião. Com</p><p>o avanço da ciência e o fortalecimento do Estado, a função social da Igreja perdeu</p><p>um pouco seu sentido na aliança com os Impérios, e essa aliança passou a ser</p><p>contestada da mesma forma que passou a haver uma desvinculação dos objetivos</p><p>da ciência com os religiosos. A radicalização desse movimento ocorreu com o</p><p>Iluminismo, que, pela primeira vez, de fato, sugeriu a separação do Estado e da</p><p>Igreja. A Revolução Francesa, ocorrida no �m do século XVIII, por sua vez, levou a</p><p>cabo a aplicação dessas ideias ao propor uma Constituição Civil para o Clero.</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Deseja ouvir este material?</p><p>Áudio disponível no material digital.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Num primeiro momento, você verá os detalhes do processo de secularização que</p><p>passou a ser efetivado a partir do século XVII, com destaque para a autonomização</p><p>da ciência em relação à religião e o fortalecimento do Estado Nacional cuja</p><p>apropriação de alguns serviços que antes eram oferecidos pela religião levou parte</p><p>da população a se desinteressar pela vida religiosa, já que a segurança oferecida</p><p>pelo Estado bastava.</p><p>Em um segundo momento, você verá como, a partir do século XVIII, a secularização</p><p>atingiu níveis mais extremos a partir das ideias anticlericais do Iluminismo. Esse</p><p>movimento criticou a aliança entre o Estado e a Igreja, enfatizando que a Igreja se</p><p>usava de superstições para dominar a população comum. Novos conceitos</p><p>introduzidos pelo pensamento iluminista, como a tolerância e a benevolência,</p><p>também ajudaram a introduzir novas maneiras de se ver o mundo sem a in�uência</p><p>clerical.</p><p>No terceiro momento, você vai conferir os efeitos diretos da Revolução Francesa</p><p>cujas motivações principais ligaram-se às ideias iluministas, como síntese do</p><p>descontentamento com o clima político da monarquia, e, posteriormente, à</p><p>Revolução, como um modelo de organização das instituições políticas. Entre os</p><p>instrumentos políticos criados na Revolução, está a Constituição Civil do Clero, que</p><p>buscou diminuir a in�uência da Igreja sobre a população da França, bem como</p><p>transformá-la em uma instituição civil, regulando, especialmente, a eleição de</p><p>bispos.</p><p>No último momento, re�etiremos sobre como o desenrolar da Revolução levou a</p><p>ações contrarrevolucionárias no interior da França em defesa da Igreja e da</p><p>Monarquia, especialmente na região de Vendeia, gerando uma guerra civil que</p><p>resultou em um massacre da população, ao mesmo tempo em que ajudou a</p><p>fortalecer a campanha da Revolução, que se expandiu para fora da França.</p><p>Jorge é um aluno de teologia que se encontra no último ano do curso, momento</p><p>em que tem que dar início à preparação de seu trabalho de conclusão de curso.</p><p>Em conversa com professores, ele foi orientado a escolher o tema a partir de</p><p>alguma disciplina com a qual teve a�nidade. Assim, ele decidiu apresentar algo</p><p>relativo à Teologia Moderna, em especial às ações realizadas pela Igreja Católica no</p><p>período. O professor da disciplina, então, pediu que ele entregasse três</p><p>�chamentos acerca dos contextos históricos que envolveram essa instituição no</p><p>período. Neles, deveriam ser tratados os con�itos com os grupos sociais</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>contrários, como os protestantes e os iluministas, sua relação com os cientistas</p><p>modernos e de que modo a Igreja foi afetada pela Revolução Francesa e pela</p><p>crescente secularização da sociedade, enfocando, ainda, o avanço do Cristianismo</p><p>nas Américas e na Ásia, que envolveu, também, a criação da Companhia de Jesus,</p><p>um grupo do clero regular responsável por boa parte da catequização. A partir</p><p>dessas dimensões, então, o aluno poderia se aprofundar nas questões teológicas</p><p>envolvidas no período.</p><p>O terceiro �chamento determinado pelo professor visava a compreender o que</p><p>ocorreu na história da Igreja ao �nal do período moderno, ressaltando os</p><p>movimentos que, gradativamente, foram os responsáveis pela diminuição do</p><p>poder e da in�uência da Igreja sobre os povos e os Estados. Ele deveria levar em</p><p>conta os processos conhecidos como secularização e iluminismo (em especial seu</p><p>caráter anticlerical) e as consequências da Revolução Francesa, como a</p><p>Constituição Civil do Clero e a Guerra da Vendeia, a reação camponesa contra as</p><p>investidas revolucionárias contra a Monarquia e a Igreja.</p><p>Agora é com você! Com esforço e dedicação mais esse passo para sua formação</p><p>será dado. Esperamos que o material seja de grande ajuda e que você compreenda</p><p>os anos �nais da História da Igreja no período moderno e os movimentos</p><p>fervilhantes que a levaram à Revolução Francesa. Bons estudos!</p><p>CONCEITO-CHAVE</p><p>A SECULARIZAÇÃO DA SOCIEDADE OCIDENTAL</p><p>O tema da secularização que passou a ocorrer na sociedade ocidental a partir do</p><p>século XVII ainda motiva diferentes interpretações por parte de teólogos e</p><p>historiadores. Pode-se de�nir o conceito de “secularização” como a transferência</p><p>do eixo de explicação social da religião para o ser humano, normalmente liderada</p><p>por intelectuais, em que as questões religiosas deixam de fazer parte da discussão</p><p>pública para se deslocar para o âmbito individual (SANTOS, 2014). Ao mesmo</p><p>tempo em que é impossível determinar uma data exata para seu início, não se</p><p>pode a�rmar, também, que esse processo de secularização já tenha terminado,</p><p>pois ele é afetado por diversas nuances ocorridas ao longo do tempo, mantendo-</p><p>se em constante transformação.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Os movimentos que passaram a incluir a razão nas explicações sobre o mundo</p><p>tiveram início com o pensamento escolástico, na Idade Média, passando pelo</p><p>antropocentrismo característico do Renascimento cultural. Porém, foi apenas no</p><p>século XVII, com o fortalecimento da Ciência Moderna, que o racionalismo e a</p><p>secularização tornaram-se uma discussão que incluiu a sociedade de maneira mais</p><p>profunda. Foi nesse momento que o “monopólio da cosmovisão” controlado pela</p><p>religião — que determinava o que era aceitável nos diversos campos sociais —</p><p>passou a ser contestado pelas explicações cientí�cas, que passaram a aparecer em</p><p>um um ritmo cada vez maior.</p><p>As teorias vigentes à época, se ainda não negavam a existência de Deus, passaram</p><p>a considerá-lo um ser que não interferia no mundo e, por isso, a religião não</p><p>deveria mais determinar as normas sociais. E a natureza, que, aos poucos, deixava</p><p>de ser compreendida como um dom de Deus, foi “liberada” para ser pesquisada,</p><p>explorada e desvendada. Ou seja, esses avanços na exploração sobre o mundo não</p><p>poderiam deixar de ter consequências para a religião. Se apenas a existência divina</p><p>não mais permitia a explicação das questões humanas, coube à razão buscar</p><p>resolvê-las.</p><p>A realidade foi explicada por meio de uma análise crítica e com experimentos</p><p>provados e comprovados cienti�camente; só assim, as explicações sobre a ordem</p><p>natural poderiam ser legitimadas. Nesse sentido, pelos séculos seguintes, a própria</p><p>ciência, gradualmente, tornou-se uma espécie de religião dos tempos modernos.</p><p>Os estudos sobre a religião, que, hoje, ocupam o campo das Ciências Humanas,</p><p>passaram a ser considerados não como ciência que explica todos os fenômenos,</p><p>mas, sim, como produtores de saberes especí�cos, como as demais áreas do</p><p>conhecimento, como a biologia e a física (SANTOS, 2014).</p><p>Além da ciência, outras transformações no mundo europeu vieram a permitir a</p><p>secularização. Um deles, por exemplo, foi o fortalecimento do Estado Moderno, o</p><p>qual, para impor seu modelo político de maior controle sobre a população,</p><p>centralizou, para si, algumas das funções que antes cabiam às instituições</p><p>religiosas, principalmente em relação àquelas que necessitavam do trabalho de</p><p>uma burocracia. O trabalho para o Estado na �gura dos funcionários públicos se</p><p>aperfeiçoou e aumentou em quantidade, o que contribuiu para o aumento da</p><p>secularização.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Esse tipo de trabalho, aliado ao aumento dos exércitos, garantiu maior segurança à</p><p>população, que deixou de se sentir vulnerável por todo o tempo, sendo, então,</p><p>sistematicamente obrigada a recorrer à religião quantas vezes fosse necessário</p><p>para obter o conforto existencial que a fé costuma disponibilizar (MONIZ, 2017).</p><p>O fortalecimento do Estado também ocorreu a partir da maior importância que se</p><p>passou a atribuir às instituições (como tribunais de justiça, de fazenda, entre</p><p>outras), que, muitas vezes, também ocupam espaços de poder que antes</p><p>pertenciam à Igreja. Nesse sentido, a perda da Igreja não se deu apenas no campo</p><p>espiritual, mas também no plano político, já que algumas funções que antes</p><p>pertenciam a ela, como a assistência social e a saúde, também passaram a ser</p><p>supridas pelo Estado.</p><p>Não havendo mais a necessidade de se recorrer à Igreja para a obtenção desses</p><p>serviços, muitas pessoas acabaram por se desligar da comunidade religiosa, visto</p><p>que as necessidades mundanas passaram a ser supridas pelo Estado. Essas</p><p>relações impessoais entre o cidadão e o Estado, em que as questões eram</p><p>resolvidas a partir de um “anonimato de papel” representado pela burocracia,</p><p>romperam o senso de “comunidade” e “fraternidade” na qual a religião se ancora</p><p>(MONIZ, 2017).</p><p>A impessoalidade burocrática que marcou o fortalecimento dos Estados Nacionais</p><p>entre os séculos XVI e XVIII também teve outro efeito que contribuiu para a</p><p>secularização, que foi o �m gradual da relação entre o Estado com alguma Igreja</p><p>especí�ca em detrimento de outras, como foi o caso da católica em países como</p><p>França, Espanha e Portugal e da Luterana na atual Alemanha. Isso porque ela</p><p>passou a ocorrer em um contexto de pluralismo religioso, e o Estado, ao ser</p><p>forçado a reconhecer uma igualdade legal entre seus cidadãos, teve de se tornar</p><p>neutro em relação às escolhas espirituais da população, o que implicou a não</p><p>relação com nenhuma instituição religiosa, a �m de que o favoritismo não</p><p>representasse um atentado contra a liberdade de escolha de seus cidadãos</p><p>(MONIZ, 2017).</p><p>Gradualmente, portanto, a Igreja Católica perdeu algumas de suas funções sociais</p><p>e a população passou a transformar suas práticas de religiosidade em um</p><p>fenômeno mais subjetivo e privado, ou seja, restrito ao interior das residências e</p><p>das Igrejas. Porém, de maneira quase contraditória, os valores continuaram sadios</p><p>nesse período, a ponto de eles se tornarem mais fortes do que eram antes, ainda</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>que ocupassem um menor espaço na sociedade. Nesse sentido, a secularização do</p><p>século XVII e XVIII, em poucos casos, representava um ateísmo, de fato. Esse</p><p>fenômeno de abandono da fé passou a ser mais signi�cativo a partir da</p><p>popularização do Iluminismo e seu pensamento anticlerical, no século XVIII, como</p><p>veremos agora.</p><p>O ANTICLERICALISMO ILUMINISTA</p><p>O Iluminismo foi um revolucionário movimento �losó�co surgido na Europa</p><p>Ocidental entre os séculos XVII e XVIII que impactou os diversos campos (político,</p><p>social, cultural, econômico e religioso) do continente nesse período. Por suas</p><p>características principais, podemos a�rmar que ele representou uma continuidade</p><p>dos movimentos do Renascimento dos séculos XV-XVI e da Revolução Cientí�ca do</p><p>século XVII, que deram origem à Ciência Moderna cujos detalhes já foram vistos</p><p>em outros momentos.</p><p>E quais as diferenças entre o Iluminismo e os dois movimentos que o precederam?</p><p>De maneira geral, pode-se dizer que o movimento iluminista levou a níveis mais</p><p>intensos a con�ança na ciência e na laicização (separação entre Estado e religião),</p><p>ampliando a secularização. Se até o século XVII, por exemplo, a ciência e a religião</p><p>ainda estavam ligadas, o avanço da ciência tornou a religião cada vez mais</p><p>autônoma em relação às expressões da fé.</p><p>Os �lósofos que se identi�cavam como iluministas aproveitaram-se dessa</p><p>contestação para propor uma separação radical entre os dois campos, ao mesmo</p><p>tempo em que elegeram a religião como a grande inimiga do desenvolvimento do</p><p>ser humano. Não à toa, o nome do movimento, “Iluminismo”, tinha como objetivo a</p><p>proposta da “luz” trazida pelo conhecimento cientí�co contra as “trevas” que a</p><p>religião representava.</p><p>A religião, portanto, era vista apenas como um refúgio de superstições e crenças</p><p>sobrenaturais que exercia um poder sobre as pessoas, impedindo-as de se</p><p>desenvolverem. Assim, a alternativa apresentada pelos iluministas contra essas</p><p>crenças era a razão, fundamento básico da ciência. A�nal, de acordo com suas</p><p>percepções, a evolução do pensamento se dava por meio de experimentos</p><p>cientí�cos que comprovassem a origem dos fenômenos até então vistos como algo</p><p>divino ou sobrenatural. Para os iluministas, em resumo, tudo era comprovável a</p><p>partir da ciência (FALCON, 1994).</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>O combate dos �lósofos das luzes, portanto, dava-se contra a religiosidade e,</p><p>principalmente, contra a própria Igreja Católica, pois ela usufruía de um poder</p><p>sobre os seus �éis ao se colocar como uma fonte de autoridade que controlava</p><p>suas vidas. Um exemplo disso foi a aliança que a Igreja manteve com os poderes</p><p>monárquicos desde o Império Romano, quando essa instituição</p><p>foi legitimada</p><p>como religião de Estado.</p><p>A divisão da sociedade em três grupos sociais (os que guerreavam, os que rezavam</p><p>e os que trabalhavam) dava à Igreja uma série de privilégios, como a</p><p>obrigatoriedade do pagamento do dízimo em diversos reinos, a isenção de</p><p>impostos e a participação direta de seus representantes nos conselhos de Estado.</p><p>A contrapartida da Igreja era o reconhecimento de que os reis e nobres</p><p>diferenciavam-se do restante da sociedade, formada por camponeses e plebeus,</p><p>por escolha divina. Assim, o povo �cava distante da tomada de decisões políticas</p><p>que afetavam suas próprias vidas.</p><p>Outro privilégio da Igreja Católica e que foi grandemente combatido pelos</p><p>Iluministas foi o direito de a instituição religiosa dispor de um tribunal próprio, no</p><p>qual julgava os crimes chamados religiosos como heresia e bruxaria. Desde o</p><p>período franco, no século VIII, que a aliança entre a Igreja e o Estado transformava</p><p>os crimes civis também em crimes religiosos e vice-versa. Portanto, a Igreja, em</p><p>seus tribunais religiosos, tinha o poder de vida e morte sobre os criminosos, e esse</p><p>tribunal �cou conhecido como Inquisição e foi fundado no século XII, ainda que</p><p>com um novo signi�cado a partir da Contrarreforma e do endurecimento</p><p>doutrinário e dogmático que a Igreja Católica passou a ter. Assim, as práticas de</p><p>perseguição se intensi�caram a partir do século XVI, tendo se espalhado, inclusive,</p><p>pelas colônias americanas e americanas de origem asiática até o século XVIII</p><p>(TODOROV, 2008).</p><p>As execuções públicas, normalmente pela fogueira, que, durante muito tempo,</p><p>foram vistas como espetáculos públicos, passaram, a partir do Iluminismo, a</p><p>causar repulsa nos espectadores devido à violência da cena. Essa oposição popular</p><p>aliada a duas outras causas foram responsáveis pelo �m da Inquisição.</p><p>A primeira dessas causas foi a própria posição do Estado, já mencionada</p><p>anteriormente, na direção da aceitação da pluralidade religiosa, que diminuiu a</p><p>in�uência das religiões o�ciais no comando e entregou ao Estado a</p><p>responsabilidade sobre o julgamento dos crimes religiosos. A segunda causa foi a</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>popularização do conceito iluminista de “tolerância” que pregava a aceitação dos</p><p>costumes e escolhas das demais pessoas, incluindo as pessoas religiosas. Ou seja,</p><p>passou a ser malvista a ideia de condenar alguém à morte apenas por</p><p>compartilhar uma religião diferente da que era aceita pelo Estado e legitimada a</p><p>partir da Igreja Católica (TODOROV, 2008).</p><p>O conceito iluminista de “benevolência”, por sua vez, tinha como objetivo alterar a</p><p>expressão cristã de caridade. Se, para os cristãos, a caridade era uma prática</p><p>obrigatória para com os menos favorecidos, como uma das condições para o</p><p>acesso ao paraíso, para os iluministas, ela era vista como uma maneira de fazer o</p><p>bem aos menos favorecidos sem qualquer contrapartida.</p><p>Nesse sentido, a caridade era vista não mais como uma ação religiosa, mas secular,</p><p>constituindo, assim, uma forma de os que tinham mais aliviar a miséria dos que</p><p>tinham menos, compensando o mundo pela sua própria riqueza. Um dos objetivos</p><p>da benevolência era tirar das mãos da Igreja suas ações de atendimento aos</p><p>necessitados e levá-los para outras instituições seculares (FALCON, 1994).</p><p>Porém, ao mesmo tempo, assim como no início do secularismo, o movimento</p><p>iluminista não pôde ser considerado como totalmente ateu, até porque os �lósofos</p><p>eram vários e de formações e nacionalidades diferentes. Havia os casos mais</p><p>extremos, por certo, como o caso da frase de Jean Meslier, também atribuída a</p><p>Voltaire e a Denis Diderot, que dizia: “O homem só será livre quando o último rei</p><p>for enforcado nas tripas do último padre”. Porém, a posição de grande parte dos</p><p>intelectuais remetia ao Deísmo, por exemplo, que defende a existência de Deus,</p><p>mas sem compromissos com qualquer religião, ou então, que o Deus de todas as</p><p>religiões era um só e que as pessoas adaptavam dogmas conforme suas</p><p>necessidades.</p><p>As ideias iluministas se espalharam pela Europa ao longo do século XVIII,</p><p>principalmente entre a classe média, porém as classes populares também tinham</p><p>acesso a várias de suas ideias por meio de pan�etos e leitura em voz alta pelas</p><p>calçadas das cidades. Essas ideias, por sua vez, foram uma das principais</p><p>in�uências para a Revolução Francesa, evento de extrema importância para a</p><p>história do Ocidente e que teve um grande impacto sobre a Igreja Católica.</p><p>A REVOLUÇÃO FRANCESA E A CONSTITUIÇÃO CIVIL DO CLERO</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>A Revolução Francesa teve seu marco inicial na tomada da prisão da Bastilha, uma</p><p>fortaleza parisiense, em 14 de julho de 1789. Ainda que haja uma data para o início</p><p>da Revolução, para o seu �m não há um consenso entre os historiadores, que</p><p>enfatizam datas entre 1799 e 1848. O período de constante ebulição política que a</p><p>Europa viveu em todo esse período já demonstra, no entanto, a importância da</p><p>Revolução para o mundo.</p><p>Podemos considerar a Revolução como o ponto �nal de um período secularizante,</p><p>laicizante e antropocêntrico que teve início no século XVI. Se seu ponto de partida,</p><p>porém, não foi, necessariamente, motivado pelo Iluminismo — movimento</p><p>�losó�co que foi uma síntese do que ocorreu desde o Renascimento —, foram</p><p>suas ideias que provocavam, na França, uma visão de que “algo precisava mudar”.</p><p>Além disso, as aplicações políticas propostas pelo Iluminismo foram largamente</p><p>usadas durante e posteriormente à Revolução. Apenas como exemplo, o livro do</p><p>�lósofo Jean-Jacques Rosseau, Do contrato Social, teve mais de trinta edições nos</p><p>dez anos a partir do início da Revolução (GRESPAN, 2003).</p><p>Portanto, se não foram as ideias iluministas que causaram o estopim da Revolução,</p><p>qual foi sua causa imediata? De forma simples, podemos dizer que foi a fome. A</p><p>França vinha passando por uma crise �nanceira de grandes proporções que, aliada</p><p>a dois anos de seca, não permitiu uma produção su�ciente de grãos para a</p><p>produção de pão (principal alimento dos franceses do período), subindo, assim, o</p><p>seu preço. O rei Luís XVI, então, pressionado, requisitou, em 1787, uma reunião</p><p>dos Três Estados para discutir o que poderia ser feito.</p><p>Os Três Estados se constituíam na tradição feudal de se dividir a sociedade nas três</p><p>ordens: a nobreza (que guerreava), o clero (que rezava) e o terceiro estado (que</p><p>trabalhava). Seguindo uma característica de reuniões anteriores, a nobreza se uniu</p><p>ao clero e ambos não abriram mão de seus privilégios (como a isenção do</p><p>pagamento de impostos, por exemplo), o que resultou no aumento de impostos a</p><p>serem pagos justamente pela população que passava fome (GRESPAN, 2003).</p><p>A pressão popular, descontente com as decisões, colocou �m à reunião dos três</p><p>estados e forçou o rei a aceitar a obediência a uma constituição (conjunto de leis)</p><p>que foi elaborada, já em 1789, pelos deputados que estiveram presente na reunião</p><p>dos Três Estados. Esse ato, por si só, já foi revolucionário, visto que, até então, os</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>reis governavam de maneira absoluta, ou seja, sem obedecer a qualquer lei ou</p><p>pessoa. Então, a partir disso, o rei continuou a governar, porém seu poder de</p><p>mando �cou restrito às leis constitucionais.</p><p>Assim, mesmo após a Tomada da Bastilha, fruto dos protestos nas ruas de Paris, o</p><p>objetivo não era destronar Luís XVI. Porém, os eventos que se sucederam,</p><p>incluindo uma tentativa de fuga do rei, com medo de seu destino, selaram sua</p><p>morte, em 1792, e o �m da Monarquia. Entre os anos de 1789 e 1799,</p><p>principalmente, houve inéditas formas de governo, muitas vezes com ampla</p><p>participação popular, a de�nir os rumos da Nação, principalmente a partir da</p><p>formação de comitês em que os temas eram amplamente debatidos (GRESPAN,</p><p>2003).</p><p>Para a Igreja Católica e as demais religiões, como o luteranismo, o calvinismo e o</p><p>judaísmo, que existiam na França e que, às vezes, sofriam perseguições dos</p><p>monarcas, a Revolução também trouxe consequências. Com exceção do período</p><p>de</p><p>1792 e 1793, conhecido como jacobino, em que as ideias anticlericais foram</p><p>levadas ao extremo e a Igreja foi extinta na França, momentos nos quais as</p><p>cerimônias eram realizadas de forma clandestina, a Igreja foi reconhecida pela</p><p>Revolução e até estimulada como necessária.</p><p>A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento de</p><p>extrema importância para a Revolução, contém dois artigos que garantem a</p><p>liberdade de religião, ainda que considerem que a religião católica, por ser a</p><p>predominante, tenha mais tolerância que as demais. Com o avanço das discussões</p><p>dos revolucionários e as criações de leis que separavam, depois de quase 1500</p><p>anos, a aliança o�cial entre o Estado e a Igreja Católica, por �m, foi tomada a</p><p>decisão de transformar a Igreja em um agente público a serviço do Estado. Tratava-</p><p>se de um documento conhecido como a Constituição Civil do Clero, que datou de</p><p>1790 com validade até 1795, quando foi proibida qualquer manutenção de cultos</p><p>pelo Estado.</p><p>Entre as principais novidades da Constituição Civil estava a rede�nição dos limites</p><p>dos bispados, que �caram subordinados aos territórios dos 83 departamentos</p><p>de�nidos pela Revolução, bem como a determinação da eleição dos bispos pelos</p><p>próprios cidadãos. Essa ação tirou uma das prerrogativas exclusivas do Papado,</p><p>que era a de nomear os bispos, e ainda hoje permanece. Naquele momento,</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>de�niu-se que a única condição para ser eleito era ter mais de quinze anos de</p><p>atuação como padre, quando este religioso, automaticamente, entraria nas listas</p><p>de votação (SABORIT, 2009).</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>Quando lhe perguntarem sobre a política na Revolução Francesa, responda</p><p>que ela aplicou na prática, pela primeira vez, alguns modelos políticos que</p><p>já haviam sido teorizados pelos iluministas e que serviu de modelo para a</p><p>política de diversos países do mundo ocidental que o utiliza até hoje. Ao</p><p>mesmo tempo, em outros momentos, ela levou ao extremo alguns</p><p>conceitos democráticos baseados em seu lema de “igualdade, liberdade e</p><p>fraternidade” e que levavam os cidadãos a escolher todos os seus</p><p>representantes no Estado, desde os legislativos até os religiosos, como no</p><p>caso dos bispos baseados na Constituição Civil.</p><p>Esse modelo instaurado pela Constituição Civil do Clero foi chamado de Igreja</p><p>Galicana, ou seja, uma Igreja que pertencia ao povo francês. Ela tinha a função de</p><p>despolitizar a religião, extinguindo implicações políticas dos �éis que se</p><p>declaravam “cristãos” ou “luteranos”, por exemplo. A Constituição Civil do Clero,</p><p>en�m, foi responsável pela secularização de grande parte dos bens da Igreja na</p><p>França, bem como pela diminuição do número de sacerdotes, o que,</p><p>consequentemente, diminuiu o poder da Igreja sobre suas áreas de atuação.</p><p>O Papa reagiu contra a Constituição em 1791 e vários padres foram deportados</p><p>pelo fato de não jurarem o texto constitucional, ou seja, não se comprometerem a</p><p>cumprir suas leis. Após a extinção da Constituição em 1795, houve uma tentativa</p><p>de recuperá-la a partir de 1801 até 1815, período em que Napoleão foi Imperador</p><p>e foi imposta à Igreja a obediência e a subordinação ao Império como garantia a</p><p>sua liberdade de funcionamento na França (SABORIT, 2009).</p><p>Porém, essas imposições de laicidade e subordinação não foram recebidas de</p><p>maneira especí�ca a todo o tempo. A prova disso foi o evento ocorrido na década</p><p>de 1790, conhecido como Guerra da Vendeia, cujos detalhes veremos agora.</p><p>A REAÇÃO POPULAR E A GUERRA DA VENDEIA</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Como você pode imaginar, um processo revolucionário, por mais sucesso que</p><p>tenha, não consegue ter o apoio completo de toda a população. Assim, se a</p><p>Revolução Francesa conseguiu implantar uma série de novidades no campo</p><p>político e social, servindo de in�uência em grande parte do mundo ocidental até os</p><p>nossos dias, também não contou com o apoio de todos os setores sociais, que ora</p><p>se identi�cavam com a Revolução, ora se opunha a ela. E, como já foi tratado, o</p><p>movimento que gerou a Revolução não teve a intenção de se radicalizar em um</p><p>primeiro momento, mas foi sendo levado a isso conforme os eventos foram</p><p>ocorrendo e que acabaram por exigir novas ações por parte dos líderes</p><p>revolucionários.</p><p>Esses líderes, em sua ampla maioria, ampararam-se nas ideias iluministas para</p><p>gerir o Estado após a concordância do rei em obedecer a uma constituição. Essas</p><p>ideias se espalharam pela França conforme a Revolução avançou, sem, contudo,</p><p>ser plenamente aceita por todas as pessoas. A maior di�culdade de aceitação se</p><p>deu, justamente, no seu caráter antimonárquico e anticlerical no campo. Os grupos</p><p>sociais que costumavam rejeitar essas ideias eram, principalmente, as pessoas de</p><p>áreas rurais e do interior do país cuja mentalidade estava muito mais ligada ao</p><p>mundo medieval do que ao mundo moderno, em que o Iluminismo estava entre</p><p>uma das principais características.</p><p>De uma maneira ambígua, ao mesmo tempo em que essas pessoas aproveitavam-</p><p>se da desapropriação das terras dos nobres, nas quais, muitas vezes, os próprios</p><p>camponeses trabalhavam, para tomar posse delas como proprietários, os mesmos</p><p>camponeses também rejeitavam as interferências que se faziam contra os poderes</p><p>do rei e da Igreja (HOBSBAWN, 2013).</p><p>Dessa maneira, levantes e manifestações camponesas ocorreram nos primeiros</p><p>anos da Revolução, porém, ainda se assemelhavam às revoltas do tipo medieval,</p><p>que, apesar de violentas, costumavam ser encaradas como manifestações de</p><p>insatisfação, principalmente quando se referiam ao aumento de impostos. A partir</p><p>do ano de 1792, porém, esses movimentos passaram a ser encarados como</p><p>“contrarrevolucionários”.</p><p>No plano político central, em Paris, o ano de 1792 pode ser considerado aquele no</p><p>qual a Revolução esteve o mais próximo de seu �m. Nesse momento, a Assembleia</p><p>Nacional, que foi fundada em 1789 e que seria a responsável por elaborar as leis</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>que regeriam o país, estava enfraquecida, ao mesmo tempo, ameaças estrangeiras</p><p>dos países europeus que não concordavam com o antimonarquismo da Revolução</p><p>estavam prestes a invadir a nação francesa (COGGIOLA, 2013).</p><p>Assim, um grupo especial de políticos que representaram o maior radicalismo das</p><p>ideias revolucionárias, chamados jacobinos, depuseram os girondinos, grupo então</p><p>no poder, fecharam a Assembleia e criaram a Convenção Nacional, em que não</p><p>mais um grupo grande de pessoas governaria, mas, sim, poucas pessoas do</p><p>partido jacobino. Foram eles que pediram o afastamento do rei Luís XVI do poder,</p><p>o que resultou em sua tentativa de fuga e consequente prisão e morte. Com a</p><p>notícia da prisão do rei aliada à supressão dos direitos cristãos, as revoltas</p><p>camponesas deixaram de lado seu caráter medieval para tornarem-se uma revolta</p><p>moderna, que foi encarada pelos jacobinos como contrarrevolucionária.</p><p>No departamento de Vendeia, ao sudeste da França, os camponeses, instigados</p><p>pela Igreja, a nobreza e os ingleses (também inimigos dos franceses) revoltaram-se,</p><p>dando origem à Guerra, ou Revolta de Vendeia. Ela se espalhou por diversos</p><p>departamentos vizinhos, como Nantes, e, pela sua extensão, os combates</p><p>adquiriram contorno de guerra civil. O con�ito durou de 1793 a 1796, com exceção</p><p>de um período de paz em 1795, resultando em, aproximadamente, 170 mil mortes.</p><p>O massacre dos camponeses fez alguns historiadores quali�carem o con�ito como</p><p>o primeiro genocídio do período moderno. Junto com as ameaças de invasões</p><p>estrangeiras, o enfrentamento à revolta permitiu um fortalecimento do Estado</p><p>revolucionário francês e sua vitória em diversas batalhas pelos próximos quase</p><p>vinte anos (COGGIOLA, 2013).</p><p>ASSIMILE</p><p>Foram os problemas internos, como o caso da Vendeia, e a ameaça externa</p><p>que a França sofria dos demais países ainda monárquicos que permitiram à</p><p>nação revolucionária a expansão de seus exércitos.</p><p>Amparado pela �loso�a dos novos tempos, em que qualquer um poderia se</p><p>destacar como militar (o que antes era permitido</p><p>apenas aos nobres),</p><p>surgiu a maior lenda do início do período contemporâneo: Napoleão</p><p>Bonaparte, que nasceu de família pobre e levou o exército a tantas vitórias</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>a ponto de tornar-se tão famoso que recebeu apoio de grande parte da</p><p>França para dar um golpe de Estado e tornar-se Imperador entre os anos</p><p>de 1804.</p><p>A Revolução teve um �m no século XIX, mas suas consequências ainda são visíveis</p><p>em nossos dias, não apenas na política, como na história da Igreja, que, ao �m dos</p><p>séculos de secularização e críticas, tornou-se outra a partir de 1815, com menos</p><p>poder e sem as tradicionais alianças com os Estados Ocidentais. Porém, ela foi uma</p><p>sobrevivente dos novos tempos que a aguardavam.</p><p>REFLITA</p><p>A separação da ciência e da religião católica teve seu início no século XVII</p><p>como parte do processo conhecido como secularização. Com a laicização</p><p>dos Estados a partir de �ns do século XVIII, a produção cientí�ca, en�m,</p><p>deixou de se preocupar com a opinião da Igreja, e muitas das pesquisas</p><p>atuais chocam-se com seus interesses, como os casos de pesquisa em</p><p>células-tronco, por exemplo.</p><p>Baseando-se nessa informação, re�ita: é correto, em nossos dias, deixar</p><p>que as considerações doutrinárias religiosas ponham limites ao avanço da</p><p>ciência?</p><p>E, aqui, concluímos mais um importante conteúdo para uma maior compreensão</p><p>da Teologia Moderna. Esse foi o momento �nal do período conhecido como</p><p>moderno e de sua transição para o período conhecido como contemporâneo, em</p><p>que a Igreja sofreu diversos reveses e perdas de in�uência e poder sobre as</p><p>pessoas e o Estado. A compreensão desse período permitirá que você entenda</p><p>mais facilmente a adaptação da Igreja aos novos tempos que o século XIX trouxe.</p><p>Até a próxima!</p><p>FAÇA A VALER A PENA</p><p>Questão 1</p><p>O século XVII conheceu a evolução de um processo de elaboração de saberes</p><p>iniciado no Renascimento e que consistia, basicamente, na separação do Estado e</p><p>da Ciência da Igreja, em prejuízo dessa última, que perdeu o oferecimento de</p><p>alguns serviços para as suas comunidades.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Marque a alternativa que identi�ca corretamente o nome desse processo:</p><p>a. Secularização.</p><p>b. Iluminismo.</p><p>c. Anticlericalismo.</p><p>d. Romantismo.</p><p>e. Renascimento.</p><p>Questão 2</p><p>Os anos de 1792 e 1793 foram importantes para a Revolução Francesa, consistindo</p><p>no momento de maior crise. No campo externo, houve ameaça de invasão das</p><p>potências estrangeiras que não gostavam do rumo que ela estava tomando; já no</p><p>campo interno, camponeses revoltados, provocaram guerras civis, como foi o caso</p><p>da Vendeia.</p><p>No campo político, a existência das ameaças externas e internas contra a</p><p>revolução teve como resultado a ascensão ao poder dos:</p><p>a.  Deputados, que, com a força da lei, puderam combater os inimigos ao reforçar benefícios aos revoltosos.</p><p>b.  Monarquistas, que aceitaram a missão de enfrentar as ameaças com a condição de que o rei fosse</p><p>libertado de sua prisão.</p><p>c.  Revolucionários, grupo dissidente dos primeiros líderes e que defendia a Revolução de maneira irrestrita,</p><p>enfrentando os inimigos.</p><p>d.  Iluministas, pensadores que apenas com a razão puderam reverter as crises políticas então existentes,</p><p>fortalecendo a Revolução.</p><p>e.  Jacobinos, de tendência radical, mas que foram os responsáveis pelo início da expansão externa da</p><p>Revolução e da ofensiva contra Vendeia.</p><p>Questão 3</p><p>A Filoso�a Iluminista representou uma revolução no interior da Idade Moderna,</p><p>pois foram os seus membros os primeiros a realizarem uma oposição explícita à</p><p>monarquia e à nobreza, bem como à Igreja Católica (e às demais religiões) e à</p><p>aliança entre essas instituições.</p><p>Em relação ao anticlericalismo iluminista, analise as alternativas a seguir:</p><p>I. Uma das críticas dos iluministas à Igreja era em relação ao respaldo divino que</p><p>ela dava à monarquia ao reconhecer no rei um escolhido por Deus para governar.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>II. O próprio nome do movimento vem da crítica à Igreja, pois eles consideravam</p><p>que o conhecimento iluminaria as trevas que a religião representava.</p><p>III. O Iluminismo pregava o �m das religiões em todas as circunstâncias e</p><p>propunham um culto civil que ensinasse não valores religiosos e sim políticos.</p><p>Considerando o contexto apresentado, é correto o que se a�rma em:</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>COGGIOLA, O. Novamente, a Revolução Francesa. Projeto História, São Paulo, v.</p><p>47, p. 281-322, ago. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3qolJn3. Acesso em: 17 maio</p><p>2021.</p><p>FALCON, F. J. C. Iluminismo. São Paulo: Ática, 1994. Série princípios.</p><p>GRESPAN, J. Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo: Contexto, 2003.</p><p>HOBSBAWM, E. J. A Era das revoluções (1789-1848). Rio de Janeiro: Paz e Terra,</p><p>2013.</p><p>MONIZ, J. B. As teorias da secularização e da individualização em análise</p><p>comparada. Estudos de Religião, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 3-33, maio/ago. 2017.</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3xP5EJH. Acesso em: 17 maio 2021.</p><p>RANQUETART JÚNIOR, C. Laicidade, laicismo e secularização: de�nindo e</p><p>esclarecendo conceitos. Revista Sociais e Humanas, [S. l.], v. 21, p. 67-75, 2008.</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3vVlO2N. Acesso em: 17 maio 2021.</p><p>SABORIT, I. T. As exigências revolucionárias da religião. Rio de Janeiro: Centro</p><p>Edelstein de Pesquisas Sociais, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3A4ZG9A. Acesso</p><p>em: 17 maio 2021.</p><p>SANTOS, R. B. Novas comunidades católicas: gênese, confrontos e desa�os</p><p>comunicativos na sociedade contemporânea. 2014. Dissertação (Mestrado em</p><p>Comunicação) — Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,</p><p>a. I, apenas.</p><p>b. III, apenas.</p><p>c. I e II, apenas.</p><p>d. II e III, apenas.</p><p>e. I e III, apenas.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://bit.ly/3qolJn3</p><p>https://bit.ly/3xP5EJH</p><p>https://bit.ly/3vVlO2N</p><p>https://bit.ly/3A4ZG9A</p><p>2014. Disponível em: https://bit.ly/3daeRUO. Acesso em: 17 maio 2021.</p><p>TODOROV, T. O espírito das luzes. São Paulo: Barcarolla, 2008.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://bit.ly/3daeRUO</p><p>NÃO PODE FALTAR</p><p>O CRISTIANISMO EM UM PERÍODO DE REVOLUÇÕES</p><p>Gustavo Balbueno de Almeida</p><p>Imprimir</p><p>CONVITE AO ESTUDO</p><p>A Igreja Católica, desde muito antes do período contemporâneo, que teve início a</p><p>partir da Revolução Francesa, que teve seu estopim em 1789, vinha sentindo uma</p><p>perda e a diminuição de seu poder junto aos Estados Nacionais europeus. Os</p><p>eventos que determinaram essa menor in�uência católica sobre a sociedade, de</p><p>maneira geral, foram aqueles que levaram à secularização, bem como ao próprio</p><p>fortalecimento dos Estados Nacionais. A Revolução Francesa, por �m, ao se apoiar</p><p>intelectualmente na �loso�a Iluminista, em parte com características anticlericais,</p><p>deu início, por sua vez, em grande parte do continente europeu, à laicização do</p><p>Estado, ou seja, a uma separação entre os interesses públicos e religiosos — e</p><p>estes �cariam cada vez mais restritos ao âmbito privado e particular de cada um.</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Deseja ouvir este material?</p><p>Áudio disponível no material digital.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Porém, podemos a�rmar que a Igreja não assistiu de maneira passiva ao</p><p>desenrolar de todos os eventos, a�nal, enquanto instituição, sua história sempre</p><p>foi marcada por uma grande capacidade de adaptação às transformações sociais</p><p>que a cercavam. Nesse sentido, ela caminhou mediante duas grandes linhas de</p><p>pensamento em relação ao que deveria ser sua estratégia de ação perante os</p><p>novos tempos. De um lado, um grupo conservador buscava manter a Igreja “dentro</p><p>de si mesma” para combater as “invenções” da modernidade, que aumentavam o</p><p>desinteresse em relação à Igreja, defendendo a centralização do poder nas mãos</p><p>papais (considerado infalível a partir do Concílio de 1870) e a uniformização das</p><p>práticas católicas em todo o mundo. Do outro lado, cristãos que aderiram a</p><p>algumas das ideias liberais buscavam trazer, ao seio da Igreja, uma conciliação com</p><p>a Ciência, de maneira que ela continuasse a se tornar uma instituição relevante no</p><p>mundo contemporâneo.</p><p>Entre a Revolução Francesa</p><p>XII, lutas internas entre facções mulçumanas debilitaram seu</p><p>poderio na zona espanhola. Personagens como El Cid são exemplos dessa luta por</p><p>reconquista (DREHER, 2002). A retomada teve sua culminância no século XIII, com</p><p>os reis de Castela, Aragão e Navarra, vencendo as forças mulçumanas, banindo-as</p><p>de volta ao norte da África. Alguns maometanos lograram acordos e �caram</p><p>submetidos ao poder dos reis ocidentais, ou seja, aos cristãos, e, por muito tempo,</p><p>a reconquista não fez progressos. A Igreja focou a retomada do Oriente por meio</p><p>das cruzadas, que representavam um esforço dos cristãos contra a força da fé</p><p>islâmica que se introduzia pelo sul da Europa. Em 1212, houve uma reviravolta</p><p>importante: os reis de Castela conquistaram Córdoba, então, os domínios no</p><p>século XIII por parte dos maometanos resumiam-se ao Reino de Granada quando</p><p>Sancho I conclui a conquista de Portugal. Castela reconquistou a Andaluzia, assim</p><p>como outros territórios foram sendo conquistados, como Baleares (1232) e</p><p>Valência (1238).</p><p>Dessa relação Oriente-Ocidente, foi possível descobrir o pensamento de Aristóteles</p><p>cuja introdução se deu por meio da Espanha, que fora dominada, por muitos</p><p>séculos, pelos árabes. O pensamento que sistematizou a teologia ocidental e</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>esteve presente durante a primeira metade da Idade Média era baseado no</p><p>pensamento �losó�co de Platão e Agostinho; só mais tarde, com essa descoberta</p><p>dos textos de Aristóteles, ele passou a fazer parte da visão do Ocidente (DREHER,</p><p>2002).</p><p>UM NOVO MUNDO: IGREJA E MONARQUIAS EUROPEIAS NA AMÉRICA</p><p>Em 1492, quando os cristãos da Península Ibérica chegaram ao Caribe por meio de</p><p>um empreendimento comercial, nasceu um processo de evangelização que</p><p>acompanhou a conquista da América. No entanto, para compreendermos esse</p><p>fato, precisamos entender três momentos: as Cruzadas, a Reforma do século XVI e</p><p>a economia do mercantilismo comercial (DREHER, 1999).</p><p>Na invasão da América, esteve presente o ideal de reconquista. Com a conquista</p><p>por parte dos ibéricos dos reinos islâmicos, como Granada, em 1492, os reis</p><p>católicos buscaram fortalecer a unidade interna do reino. Os judeus foram</p><p>expulsos da Espanha por decreto também nesse ano, e quando a Península Ibérica</p><p>terminou a reconquista de seu território na Europa, lançou a conquista da América.</p><p>A linguagem e o método foram os mesmos, como veremos agora.</p><p>Os espanhóis (e os portugueses depois) vieram à América com um espírito de</p><p>reconquista, uma marca profunda gerada pelas Cruzadas. A mentalidade dos</p><p>homens que aqui chegaram era de uma rivalidade entre cristãos e sarracenos e</p><p>calcada na intransigência religiosa. Aliás, a intransigência religiosa é a marca dos</p><p>movimentos missionários que aportaram na América Latina nos séculos</p><p>posteriores. O lema dos ibéricos era: acrescentar aos povos sua fé e destruir</p><p>aqueles que a querem controlar. Dreher chama isso de cruzada da evangelização</p><p>(1999), quando, da conquista das ilhas canárias, no século XV, os reis católicos</p><p>escreveram: “Enviamos certos capitães nossos e gentes para conquistar a Grã</p><p>Canária contra os canários in�éis, inimigos de nossa santa fé católica que nela</p><p>estão” (DREHER, 1999, p. 34).</p><p>Gomara, cronista espanhol, assim resumiu o espírito conquistador, liderado por</p><p>Hernan Córtes: “A causa principal que nos trouxe a estas partes é exaltar e pregar</p><p>a fé de Cristo, ainda que juntamente com ela nos tenham resultado honra e</p><p>proveito, que poucas vezes cabem em um saco” (DREHER, 1999, p. 34). . Vasco de</p><p>Quiroga, também no século XVI, escreveu que “vencido o monstro da idolatria,</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>plantaram por todas as partes, entre os aplausos e felizes augúrios da religião</p><p>cristã, o evangelho da vida, fazendo triunfar universalmente a bandeira da cruz”</p><p>(DREHER, 1999, p. 35).</p><p>Dreher comenta que o evangelho da vida era o patrocinador da morte. Havia uma</p><p>convicção herdada da Idade Média de que o Papa é o vigário universal de Cristo e</p><p>tem o poder sobre todos os povos, inclusive os in�éis (não cristãos).</p><p>O veículo utilizado para a conquista espiritual foi a Igreja Católica Apostólica</p><p>Romana, por meio da ação das ordens religiosas: dominicanos, franciscanos e</p><p>agostinianos — três ordens mendicantes medievais. O instrumento jurídico foi o</p><p>padroado. Portugal havia iniciado sua expansão marítima antes da Espanha e</p><p>obtivera privilégios papais para suas colônias. Bulas papais concederam bênçãos</p><p>aos navegadores e as conquistas da Ordem de Cristo. Reis portugueses após</p><p>conquistar as Ilhas Canárias, receberam o direito da investidura. O Papa Nicolau V</p><p>(1447-1455), por meio da bula Dum Diversas, autorizou, em 1452, que os reis</p><p>portugueses conquistassem os países dos in�éis e os escravizassem. Em outra</p><p>bula, Romanus Pontifex, em 1494, autorizou os reis portugueses a erguer igrejas,</p><p>capelas e a enviar missionários. Carlito III (1455-1458), em a bula Inter Coetera,</p><p>concedeu à coroa portuguesa não só o direito da investidura, mas também o</p><p>direto de legislar e julgar os assuntos que diziam respeito à Igreja em todos os</p><p>territórios descobertos ou que viessem a ser descobertos. Ao rei português, Grão-</p><p>mestre da Ordem de Cristo, foi concedido o poder de nomear para cargos</p><p>eclesiásticos e prebendas. Já no reino português, o rei era, de fato, Papa (DREHER,</p><p>1999). Esses direitos foram também concedidos aos reis espanhóis, e o controle do</p><p>Estado sobre a Igreja vigorou até meados do século XIX.</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>O padroado era o sistema que permitia à Igreja utilizar-se da estrutura do</p><p>Estado para administrar as atividades religiosas. Evangelização e</p><p>colonização se misturavam; a Igreja buscava privilégios junto ao Estado; e o</p><p>Estado era uma ferramenta da Igreja. Hoje, ainda, muitas autoridades</p><p>religiosas utilizam-se dos benefícios do Estado por meio da legislação de</p><p>isenção �scal ou da liberdade de culto para práticas escusas, como lavagem</p><p>de dinheiro e fraude. Como exemplo, podemos citar a Igreja El Rugido de</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Leon, da República Dominicana, em que pastores foram presos após</p><p>praticarem diversos golpes nos �éis, aproveitando-se da legislação do país</p><p>em relação às igrejas. (DREHER, 1999).</p><p>Em 1300, o Papa Bonifácio VIII disse: “É absolutamente necessário para a salvação</p><p>que todas as criaturas humanas estejam sob o pontí�ce romano” (BONIFÁCIO VIII,</p><p>1300 apud DREHER, 2002, p. 93s). Tratava-se de uma expansão da autoridade</p><p>papal para todos os povos. Esse espírito esteve na reconquista Ibérica, na</p><p>evangelização do Novo Mundo, no combate aos pré-reformadores e na luta contra</p><p>o poder dos imperadores. O �m da Idade Medieval deu início à Idade Moderna,</p><p>caracterizada pelo surgimento de Estados independentes e soberanos em</p><p>detrimento do poder hierárquico da Igreja Medieval (o papado), que se</p><p>enfraqueceu, ensejando, nos poderes reais, o desejo de subverter a ordem de</p><p>mando. Os diferentes Imperadores passaram a desejar se emancipar do jugo</p><p>eclesial, e os reformadores, ao criticarem veementemente a teologia católica, a</p><p>riqueza e a estrutura politizada da cúria papal, acabaram sendo instrumentos</p><p>(meios) para os imperadores romperem com o poderio de Roma.</p><p>FAÇA VALER A PENA</p><p>Questão 1</p><p>O Renascimento pode ser considerado uma das manifestações mais importantes</p><p>da história do Ocidente e possibilitou, além da renovação das artes e da ciência,</p><p>um novo pensamento religioso — escolástica — e uma nova visão do ser humano,</p><p>agora, sem a interferência direta da Igreja.</p><p>O Renascimento foi um movimento em favor da Igreja. Sobre esse movimento,</p><p>assinale a alternativa correta.</p><p>a.  Os renascentistas buscaram dissociar sua obra da religião, a �m de manter um pensamento</p><p>independente.</p><p>b.  Movimentos eclesiais alternativos e propostas reformadoras nasceram dentro e a partir desse contexto</p><p>histórico-cultural.</p><p>c.  O Renascimento permaneceu in�uente na Itália, ainda que tenha uma in�uência igualmente decisiva em</p><p>outros Estados.</p><p>d.  O papado, por meio de Alexandre e Júlio II, condenou</p><p>e o início do século XX, a visão conservadora conseguiu</p><p>se impor frente aos liberais por meio do ultramontanismo e das decisões do</p><p>Concílio Vaticano I (1870), que sintetizaram suas ideias, além do combate ao</p><p>modernismo. Porém, a partir de períodos anteriores à segunda metade do século</p><p>XX, a Igreja atentou-se, cada vez mais, às ideias de abertura não apenas às</p><p>contribuições cientí�cas e tecnológicas como também a uma aproximação e um</p><p>reconhecimento das demais linhas do cristianismo a partir do ecumenismo e do</p><p>Concílio do Vaticano II (1965), por exemplo.</p><p>Na primeira seção, serão abordados os primeiros movimentos surgidos nas Igrejas</p><p>ao buscarem respostas à modernidade, sejam nas conservadoras (no</p><p>ultramontanismo, no Syllabus e na tese da infalibilidade papal), sejam nas liberais</p><p>(a partir do modernismo e do movimento de Utrecht). Por �m, realizaremos um</p><p>panorama do desenvolvimento da Teologia na primeira metade do século XX e sua</p><p>relação com a �loso�a contemporânea, a �m de buscarmos uma reaproximação</p><p>da disciplina com as pessoas comuns. Na segunda seção, serão conferidos os</p><p>primeiros movimentos da Igreja em busca da reaproximação com as demais</p><p>dissidências a partir do movimento do ecumenismo e do Conselho Mundial de</p><p>Igrejas (CMI), por exemplo, além de uma discussão a respeito do sincretismo</p><p>religioso na América Latina. Na terceira seção, por �m, serão tratadas as questões</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>mais recentes que envolvem a disciplina a partir do Concílio de Vaticano II, da</p><p>Teologia da Libertação, bem como questões imediatas, como a preocupação com a</p><p>sustentabilidade e o meio ambiente e os constantes desa�os da secularização.</p><p>Bons estudos!</p><p>PRATICAR PARA APRENDER</p><p>Saudações! Esta seção trará a você informações acerca do impacto da Revolução</p><p>Francesa e do processo de laicização à Igreja Católica a partir do século XIX e suas</p><p>buscas por adaptar-se a esse período. Duas visões antagônicas conviveram e</p><p>buscaram apresentar soluções a esses impasses: a primeira, de caráter</p><p>conservador, tinha como objetivo livrar a Igreja das in�uências que a secularização</p><p>e a Revolução trouxeram ao mundo contemporâneo junto da laicização dos</p><p>poderes. O segundo movimento, por sua vez, compreendia a inevitabilidade do</p><p>avanço dos preceitos liberais e buscava inserir a Igreja nesse contexto, como uma</p><p>forma de torná-la necessária nesse novo mundo cada vez mais tomado pela</p><p>Ciência.</p><p>Como o pensamento conservador teve uma evidência maior no século XIX —</p><p>período que cobre predominantemente a seção — será dado um maior enfoque a</p><p>ele. Por �m, será realizado um pequeno panorama sobre as principais questões</p><p>que envolveram a Teologia na primeira metade do século XX.</p><p>Em um primeiro momento, você será apresentado ao sistema ultramontano, de</p><p>caráter conservador, que intentava “fechar a Igreja” em si mesma para combater as</p><p>novidades contemporâneas. Uma das maneiras propostas para isso foi uma maior</p><p>centralização dos poderes na mão do Papa, diminuindo o poder dos Concílios e,</p><p>também, uma tentativa de uniformização dos ritos religiosos em todo o mundo</p><p>para se colocar um �m nas práticas regionais, ocasionando, assim, uma</p><p>identi�cação do cristianismo em qualquer lugar do mundo.</p><p>Em um segundo momento será tratada a aplicação teológica dessas teorias</p><p>ultramontanas por meio do Syllabus errorum, uma carta que conteria todos os</p><p>erros cometidos contra a Igreja pelo homem moderno e que serviria de</p><p>sustentação ao Concílio Vaticano I, que trouxe a tese da infalibilidade papal, que foi</p><p>rejeitada por bispos liberais que formaram o movimento de Utrecht, distanciando-</p><p>se da Igreja Católica.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Em um terceiro momento, você verá o surgimento e a crise do Modernismo, um</p><p>movimento liberal que buscou aplicar o uso de outras ciências à Teologia, como a</p><p>crítica histórica e a psicologia, como um modo de renovar a Igreja em seu novo</p><p>lugar na modernidade. O movimento foi combatido e tornado proibido a partir de</p><p>1910.</p><p>Por �m, em um último momento, você verá um pequeno panorama da produção</p><p>teológica da primeira metade do século XX, em especial a francesa e a alemã, que</p><p>têm por grande característica uma tentativa de aproximar a disciplina da</p><p>população comum, considerada, então, muito afastada. Outra característica é um</p><p>diálogo intenso com �lósofos contemporâneos, em especial Immanuel Kant e</p><p>Martin Heidegger.</p><p>Alice tinha uma recente formação em Teologia e queria utilizar o seu diploma para</p><p>conseguir uma maior estabilidade �nanceira e pro�ssional. Em busca de</p><p>oportunidades, encontrou editais de �nanciamento de pesquisas �nanciadas por</p><p>instituições religiosas que aceitavam projetos ligados a sua formação. Assim, em</p><p>troca de um pagamento de uma bolsa de estudos com dezoito meses de duração,</p><p>ela apresentou um projeto de pesquisa propondo uma maior compreensão da</p><p>História e da Teologia da Igreja Católica nos dois últimos séculos. Para a realização</p><p>do projeto, ela dividiu a pesquisa em três grandes temas a serem tratados a cada</p><p>semestre.</p><p>Neles, deverão ser estudadas as maneiras buscadas pela Igreja Católica para</p><p>adaptar-se ao mundo contemporâneo pós-Revolução Francesa, momento a partir</p><p>do qual a secularização e a laicização minaram, em de�nitivo, a aliança entre a</p><p>Igreja e os Estados Nacionais europeus, os caminhos percorridos e as polêmicas</p><p>teológicas envolvidas. Alice deverá destacar, também, os movimentos no século XX</p><p>de aproximação da Igreja Romana aos demais grupos cristãos — católicos e</p><p>protestantes — bem como os desa�os recentes que permeiam a inserção da Igreja</p><p>em nosso mundo atual.</p><p>A primeira parte temática proposta por Alice visa a compreender as discussões</p><p>teológicas que nortearam a Igreja entre o século XIX e a primeira metade do século</p><p>XX, em especial duas correntes que se confrontavam e que apresentavam soluções</p><p>diferentes para o papel da Igreja na sociedade de então: o conservadorismo e o</p><p>liberalismo. O primeiro foi representado principalmente pelo Ultramontanismo,</p><p>tendo maior preponderância no século XIX, enquanto o segundo foi representado</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>pelo modernismo e passou a ser aceito com maior interesse a partir do �m do</p><p>século XIX e começo do século XX. Compreender melhor essas interpretações</p><p>teológicas permitirá a Alice entender as posições atuais da Igreja Católica.</p><p>Para contextualizar a sua aprendizagem, imagine que você é a proponente Alice.</p><p>Partindo desse pressuposto, responda: como você responderia à primeira parte da</p><p>proposta, que corresponde ao primeiro semestre de pesquisa?</p><p>Use como ponto de partida a resolução das seguintes questões:</p><p>•  O que foi o movimento ultramontano e como ele se encaixa na conjuntura</p><p>histórica do período?</p><p>•  O que foi o movimento de Oxford?</p><p>•  Quais as características do Syllabus e da infalibilidade papal?</p><p>•  O que foi o movimento de Utrecht?</p><p>•  Como ocorreu a crise do modernismo?</p><p>•  Quais são as principais características da Teologia durante a primeira metade do</p><p>século XX?</p><p>Agora é a sua vez! Estamos próximos do �m do nosso curso e seu esforço vem</p><p>valendo a pena. Que estes novos conteúdos lhe permitam compreender ainda</p><p>mais a fundo a história da Teologia e da Igreja Católica no período contemporâneo.</p><p>Desejamos, também, que estes referenciais de conhecimento lhe sejam úteis em</p><p>momentos futuros de sua caminhada.</p><p>CONCEITO-CHAVE</p><p>OS ULTRAMONTANOS E O MOVIMENTO DE OXFORD</p><p>O processo de laicização do Estado, que teve seus primeiros defensores na</p><p>secularização e que passou a ser idealizado no Iluminismo, passou a se tornar</p><p>realidade na Europa após a Revolução Francesa. Com períodos que oscilaram, em</p><p>toda a Europa no século XIX, entre momentos de laicidade e a volta de alianças</p><p>entre Estado e Igreja (que dependia, normalmente, dos regimes políticos que então</p><p>estavam instalados nas nações), o processo de laicidade, gradualmente, tornou-se</p><p>proeminente no mundo ocidental, e isso resultou numa grande perda do poder</p><p>que a Igreja manteve até o período moderno.</p><p>Como laicidade não signi�cava o �m</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>das religiões, mas a garantia da liberdade de culto sem a existência de uma religião</p><p>o�cial, esse processo também permitiu a expansão protestante em nações</p><p>tradicionalmente católicas.</p><p>Como você pode imaginar, todo esse processo não foi aceito sem resistência pela</p><p>Igreja e por parte de seus �éis. Nesse sentido, surgiu, no continente europeu, um</p><p>movimento conservador que recebeu o nome de “ultramontanismo” e que, de</p><p>certa maneira, tinha por objetivo pregar a volta da submissão dos poderes</p><p>temporais ao poder do Papa. A palavra “ultramontano” sempre foi utilizada nos</p><p>meios católicos com diferentes signi�cados, mas em latim signi�ca “além dos</p><p>montes”, remetendo, diretamente, à cadeia de montanha dos Alpes, que corta</p><p>parte das fronteiras italianas com a Europa Central. Como a autoridade papal,</p><p>normalmente, está situada em Roma, essa expressão passou a signi�car a</p><p>expansão de um maior poder do papa em relação às determinações dos concílios</p><p>e também nas matérias de disciplina e fé. O maior poder centrado nas mãos do</p><p>Papa, como já foi tratado, já vinha se anunciando desde a Contrarreforma, quando</p><p>passou a caber apenas a ele a interpretação da Bíblia e, também, a de�nição do</p><p>que é tradicional aos católicos (SANTIROCCHI, 2010, p. 24).</p><p>O Ultramontanismo do século XIX, por sua vez, visava a centralizar o poder de</p><p>decisão sobre todos os pontos da Igreja nas mãos dos papas, buscando</p><p>uniformizar as práticas eclesiásticas católicas em todos os lugares, não havendo</p><p>mais espaço para “adaptações” de religiosidades locais ao catolicismo. A proposta</p><p>de uniformização foi uma maneira encontrada pela Igreja para tentar se tornar</p><p>“universal”, objetivo visado por ela desde seu início. Porém, diferentemente do</p><p>período medieval, quando a universalidade se resumia ao poder político em todas</p><p>as nações, no século XIX, ela se remeteu à padronização dos ritos, que tornaria a</p><p>Igreja uma só, universal, e isso resultou no seu “fechamento” para o mundo</p><p>moderno (SANTIROCCHI, 2010, p. 25).</p><p>Nesse sentido, a universalidade visou a combater esse mundo moderno e todas as</p><p>suas representações, como as Igrejas nacionais (como o galicanismo, visto em</p><p>outro momento), o protestantismo, a maçonaria, os modelos políticos como o</p><p>liberalismo e o comunismo, o casamento civil, a liberdade de imprensa, entre</p><p>outros. Além disso, ela pretendia voltar a práticas do passado, como a prominência</p><p>da Escolástica e a volta das Ordens Religiosas, como a Companhia de Jesus. Essas</p><p>ideias ganharam grande apoio popular das pessoas simples, com destaque às</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>mulheres, e teve seus momentos de auge no papado de Pio IX cujos detalhes do</p><p>mandato e de sua famosa encíclica do Syllabus serão tratados a seguir</p><p>(SANTIROCHI, 2010, p. 25-26).</p><p>ASSIMILE</p><p>O século XIX, período no qual o ultramontanismo se desenvolveu, é</p><p>marcado pelo período de formação das pátrias. Esse conceito surgiu a</p><p>partir da Revolução Francesa e buscava distinguir uma nova maneira de se</p><p>pensar a identi�cação das pessoas com seu lugar de nascimento ou</p><p>moradia. Se antes a identi�cação dava-se com o reino, a monarquia ou o</p><p>fato de ser súdito de um rei, a partir do conceito de pátrias, as pessoas se</p><p>identi�cariam, a partir de então, com a república, com o fato de ter</p><p>costumes, língua e tradições em comum com milhares de pessoas.</p><p>Nesses locais, agora laicos, não cabia mais a identi�cação religiosa, pois a</p><p>aliança entre Igreja e Estado era uma característica do período monárquico,</p><p>então derrotado pela Revolução. Assim, o ultramontanismo buscava um</p><p>retorno a esse passado que havia desaparecido com as monarquias.</p><p>Em meados do século XIX, entre 1833 e 1845, também, ocorreu um movimento de</p><p>reaproximação entre a Igreja Anglicana e a Igreja Católica, conhecido como</p><p>Movimento de Oxford, uma vez que seus líderes eram professores dessa</p><p>universidade. E quais as características desse movimento em tempos de</p><p>di�culdades marcadas pela secularização e laicização?</p><p>A princípio, consistia em um movimento de retorno às fontes da Igreja, à Tradição</p><p>dos primeiros padres e à origem divina da Igreja, como uma maneira de a�rmar a</p><p>autonomia da Igreja frente ao Estado. Como já visto em momentos anteriores, a</p><p>Igreja Anglicana era controlada pelo Império Inglês.</p><p>O movimento teve início em 1833, quando o Estado Inglês decidiu abolir dez</p><p>dioceses anglicanas na Irlanda, o que foi encarado como uma interferência</p><p>excessiva do Estado na Igreja. Seus líderes, John Keble, Richard Proude e,</p><p>especialmente, John Henry Newman, publicaram pan�etos anônimos, chamados</p><p>Tracts for the times, com o objetivo de evidenciarem uma continuidade entre a</p><p>Comunhão Anglicana e o Início da Igreja Católica. De início antipapistas e em busca</p><p>de identi�cação com uma Igreja inicial que ainda não era romana e nem</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>protestante, aos poucos, essas lideranças foram percebendo que não havia</p><p>incompatibilidade entre os trinta e nove artigos do credo anglicano e as principais</p><p>leis católicas. Esses líderes, principalmente John Henry Newman, revisaram seu</p><p>antipapismo e aproximaram-se da Igreja Católica (TEIXEIRA, 2018, p. 1-2).</p><p>Ante a perseguição da maioria dos bispos anglicanos e de seus próprios colegas de</p><p>Universidade, John Henry Newman se recolheu à paróquia de Littleford e se</p><p>converteu ao catolicismo, ato que pôs �m ao movimento. Antes dele, algumas</p><p>pessoas já haviam se convertido, e após, tantas outras se converteram. Esse</p><p>movimento, por sua vez, foi responsável por uma maior convivência e um</p><p>avivamento da Igreja Católica em terras inglesas, além de um enriquecimento</p><p>cultural devido à publicação de textos antigos da literatura e da teologia cristã.</p><p>O SYLLABUS, A INFALIBILIDADE PAPAL E O MOVIMENTO DE UTRECHT</p><p>Como visto em momento anterior, o ultramontanismo, que nasceu ainda na</p><p>primeira metade do século XIX, teve seu momento de auge durante a segunda</p><p>metade do mesmo século, tendo como seus principais representantes os papas</p><p>Pio IX e Leão XIII cujos mandatos foram de 1846 a 1878, e de 1878 a 1903,</p><p>respectivamente. Foi com esses papas que se intensi�caram as decisões da Igreja</p><p>no combate ao liberalismo e demais “sintomas da modernidade”, que levavam a</p><p>uma completa laicização o mundo europeu. Nesse sentido, o ultramontanismo</p><p>guiou as políticas de ambos os papas, ainda que o papado de Pio IX tenha sido</p><p>marcado como o principal dessa reformulação política da Igreja.</p><p>No dia 9 de dezembro de 1864, Pio IX publicou um documento canônico, uma</p><p>encíclica chamada Quanta Cura, publicada em forma de livro, que expunha os</p><p>erros considerados graves pela Igreja cometidos pelos indivíduos da época</p><p>moderna. Em anexo a essa Encíclica, foi publicado um documento chamado</p><p>Syllabus Errorum com nove seções e oitenta decretos que resumiam os pontos da</p><p>Encíclica e que Pio IX teria como norte para seu mandato. Entre os principais</p><p>pontos abordados nesses documentos, estão a crítica ao racionalismo absoluto, a</p><p>incompatibilidade entre a razão e a fé, as relações entre o Estado e a Igreja e a</p><p>condenação da liberdade de culto (SILVA, 2020, p. 10).</p><p>Essas ideias abriram caminho para aquela que seria uma das principais discussões</p><p>que ocorreriam no Concílio convocado pelo próprio Pio IX na cidade do Vaticano e</p><p>que ocorreu entre 1869 e 1870: a tese da infalibilidade papal, que ia de encontro às</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>ideias ultramontanas e representava uma vitória desse movimento, visto que a</p><p>centralidade do poder nas mãos de um papa infalível (que não erraria) permitiria</p><p>um melhor enfrentamento contra os então considerados males do mundo</p><p>moderno.</p><p>Ao mesmo tempo, a tese da infabilidade buscava impor o poder, mesmo que</p><p>indireto, do Papa sobre as nações laicas, visto que uma decisão tomada pela</p><p>autoridade romana valeria para os indivíduos de todas as nacionalidades. Por �m,</p><p>a infalibilidade papal diminuía o poder dos bispos e dos próprios concílios, uma vez</p><p>que o papa</p><p>era supremo em relação às questões de moral e fé (SILVA, 2020, p. 11).</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>Caso lhe perguntem quais são os detalhes da tese da infalibilidade papal,</p><p>que é tida como um dogma da Igreja desde o Concílio de Vaticano I, em</p><p>1870, você pode responder que ela de�ne que o Papa, ao deliberar sobre</p><p>questões de fé e de moral, está amparado pelo Espírito Santo, o que,</p><p>automaticamente, exime-o do erro, por isso, ela deve ser seguida por todos</p><p>os católicos de maneira irrevogável. Os concílios, quando reunidos, também</p><p>compartilham desse caráter de infalibilidade. Entre 1870 e 1950, quando foi</p><p>utilizada pela última vez, nove deliberações papais foram tomadas a partir</p><p>da infalibilidade.</p><p>No entanto, as decisões do Concílio, principalmente as que se referiam à</p><p>infalibilidade papal, não tiveram uma concordância completa por parte dos bispos</p><p>que dele participaram. Um movimento liderado pelo teólogo e historiador Johann</p><p>Von Döllinger e que teve o apoio de diversos intelectuais e estadistas,</p><p>principalmente na Alemanha, foi desenvolvido em oposição a esse dogma, em</p><p>especial, bem como a outras posições ultramontanas.</p><p>Após a escrita de manifestos e outras cartas em 1870, no ano seguinte, foi</p><p>realizado um congresso em Munique, na Alemanha, e, no ano posterior, na cidade</p><p>de Colônia. Suas posições de�nitivas foram expostas após uma declaração em</p><p>Utrecht, na Holanda, em 1889, o que deu ao movimento o nome de “Movimento de</p><p>Utrecht”.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Essas determinações deram origem a um grupo que foi excomungado pela Igreja e</p><p>que são conhecidos como veterocatólicos, também conhecidos como velhos</p><p>católicos ou membros da Igreja Católica Antiga. Elas se tornaram independentes da</p><p>Igreja e se constituem como Igrejas Nacionais. Seu programa doutrinal, em linhas</p><p>gerais, defende a adesão à Antiga fé Católica pré-dogmática (o que exclui, por</p><p>consequência, a tese da infalibilidade papal), a recusa ao ultramontanismo, a</p><p>Companhia de Jesus e a defesa das Igrejas Nacionais, como a Anglicana, a</p><p>Jansenista (holandesa) e Russa. Alguns governos europeus que, então, estavam em</p><p>processo de uni�cação de seu território, como o prussiano, prontamente</p><p>reconheceram essas novas Igrejas e os postos dos seus membros cujo apoio</p><p>reforçava a própria causa nacional (TEIXEIRA, 2019, p. 2).</p><p>Ainda que vários dos veterocatólicos (como o próprio Döllinger) não se</p><p>identi�cassem como Cismáticos, grande parte de seus representantes foi</p><p>excomungada da Igreja, que, após um decreto da Inquisição em 1871 e um Breve</p><p>Papal em 1873, declarou que os veteroscatólicos não tinham ligação alguma com a</p><p>Igreja. Assim, a eles �caram inviabilizados o uso dos fundos econômicos ou dos</p><p>edifícios para cultos. O movimento, por sua vez, existe até hoje e, ainda que</p><p>autônomo, mantém um bom relacionamento com a Igreja Católica Romana.</p><p>A CRISE DO MODERNISMO</p><p>O termo “Modernismo” comporta, em si, uma série de signi�cados, conforme</p><p>de�nido por algumas das disciplinas que o estudam. De maneira geral, ele se</p><p>refere a movimentos que existiram entre o �nal do século XIX e o início do século</p><p>XX nas artes e na �loso�a, por exemplo. Para o nosso caso, estudaremos suas</p><p>implicações no campo teológico, em especial, o seu aparecimento no interior da</p><p>Igreja Católica. Esse movimento, surgido nas duas últimas décadas do século XIX,</p><p>teve gênese após a publicação da encíclica Quanta Cura e do Syllabus errorum, que</p><p>de�nia a posição da Igreja contra a modernidade e seus sintomas.</p><p>Essas publicações, por sua vez, não foram bem recebidas na totalidade da</p><p>Cristandade. Devido ao processo de secularização, acelerado pelas revoluções do</p><p>século XVIII e XIX, uma parte dos �éis entendia que algumas das ideias liberais e</p><p>revolucionárias deveriam ser incorporadas pela Igreja, como �zera nos séculos</p><p>iniciais, com a incorporação de traços da cultura greco-romana em seus dogmas.</p><p>Os adeptos a essas ideias foram chamados de católicos liberais.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Nesse sentido, as ideias liberais in�uenciaram os autores modernistas, que</p><p>queriam conciliar a Fé com a Ciência, mesmo quando esta contradizia a Tradição</p><p>Católica, num espírito retomado da Escolástica e chamado Neotomismo. Nesse</p><p>sentido, os modernistas defendiam submeter os dogmas às críticas históricas e</p><p>�losó�cas, bem como o uso da psicologia e da antropologia para detectar</p><p>sinceridade, ou manifestações de transtornos mentais nos sujeitos que</p><p>argumentavam ter tido contato com o sobrenatural. Umas das teorias modernistas</p><p>chamada “dogmatismo moral”, por exemplo, tendia a reduzir os dogmas cristãos</p><p>aos seus aspectos pragmáticos, ou seja, a �nalidade do dogma não é esclarecer ao</p><p>espírito, mas apenas guiar a conduta humana. Aplicando a crítica histórica à Bíblia,</p><p>por sua vez, seria possível estabelecer uma diferença ou oposição entre Jesus e</p><p>suas mensagens e a Igreja e seus dogmas. Assim, a partir dessas novas ideias e</p><p>doutrinas, os modernistas pretendiam “modernizar a Fé” ao dar novos sentidos aos</p><p>dogmas (FELÍCIO, 2002, p. 376).</p><p>O modernismo foi um movimento que partiu do seio da própria Igreja visando a</p><p>defendê-la, principalmente ao considerar perigoso seu posicionamento</p><p>conservador de “fechamento ao mundo”, que foi estabelecido pelo movimento</p><p>ultramontano. Ele foi encarado, por seus adeptos, como um movimento de</p><p>renascimento da Igreja, e o principal local onde o movimento se manifestou foi na</p><p>França, após a criação de institutos de ensinos católicos. Sua in�uência se</p><p>expandiu para a política, a partir de uma ligação entre o modernismo, a</p><p>democracia cristã e o desejo de reforma social. Na Itália e na Inglaterra, o</p><p>modernismo encontrou a política (FELÍCIO, 2002, p. 379).</p><p>REFLITA</p><p>A História da Igreja Católica é marcada por importantes processos de</p><p>adaptação a novas conjunturas históricas, ao mesmo tempo em que ela</p><p>mantém viva seus ritos, doutrinas e tradições milenares. O século XIX foi</p><p>um desses momentos em que a tradição e as novidades tiveram fortes</p><p>embates em sua teologia, e o caminho entre o conservadorismo e o</p><p>liberalismo foi cogitado pela instituição. Baseado nessas informações e no</p><p>conteúdo da aula, re�ita: você é a favor de uma maior manutenção de uma</p><p>tradição atrelada ao passado ou é a favor da abertura da religião às novas</p><p>questões que as conjunturas históricas trazem com o passar do tempo?</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Entre os principais nomes do Modernismo está Maurice Blondel cuja produção deu</p><p>início ao debate sobre a crítica histórica à Bíblia, que já foi mencionada</p><p>anteriormente, e cujo resultado foi a divulgação da encíclica Providentissimus</p><p>Deus, em 1893, por Leão XIII, um dos principais nomes do ultramontanismo. Nela,</p><p>o Papa criticou os racionalistas e indicou como a Bíblia deveria ser ensinada nos</p><p>seminários. Nos anos seguintes, revistas surgiram na França, como a revista dos</p><p>clérigos franceses e os Anais de Filoso�a Cristã, que expuseram o pensamento</p><p>modernista com obras de Auguste Sabatier, Eduard Le Roy, entre outros. Alguns</p><p>livros, por sua vez, foram colocados no Index da Igreja — lista de livros proibidos e</p><p>que atentam contra à Igreja. Outro importante nome, Alfred Loisy, publicou</p><p>diversos livros e escritos até ser excomungado, em 1908. Esse momento pode ser</p><p>considerado o início da crise do Modernismo (FELÍCIO, 2002, p. 381).</p><p>Em 1910, o papa Pio X publicou um motu proprio, um escrito pessoal que continha</p><p>uma espécie de juramento antimodernista. Além de criticar o movimento, mais</p><p>uma vez, eram indicadas maneiras de se ensinar o seminário levando em</p><p>consideração que a Ciência deveria ser estimulada, mas seguindo o Espírito da</p><p>Igreja. Ou seja, o ensino deveria ser controlado pela Igreja, visto que os cursos</p><p>seriam aprovados por superiores. Os professores dos seminários, por sua vez,</p><p>deveriam prestar um juramento antimodernista. A publicação deste motu próprio</p><p>marcou o �m do modernismo dentro da Igreja, ainda que, em períodos recentes,</p><p>algumas de suas ideias tenham sido trazidas às discussões teológicas</p><p>(FELÍCIO,</p><p>2002, p. 382).</p><p>O PENSAMENTO TEOLÓGICO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX</p><p>O pensamento teológico na primeira metade do século XX teve uma grande</p><p>in�uência dos teólogos franceses e alemães, a quem daremos um maior destaque,</p><p>ainda que, por certo, outros locais do mundo tenham desenvolvido suas teologias.</p><p>Outro ponto importante que marcou a produção desse período foi a grande</p><p>in�uência e o diálogo entre os teólogos com alguns �lósofos, como Immanuel Kant</p><p>(1770-1831) e Martin Heidegger (1899-1977). Nesse sentido, um dos objetivos da</p><p>teologia, principalmente da francesa, era aproximar teologia, homem concreto e o</p><p>mundo em que vivia. Além dessas in�uências, destacamos outras duas: a in�uência</p><p>do modernismo, já tratado anteriormente, e a obra de Karl Marx (1818-1886) cujos</p><p>maiores impactos serão tratados num momento posterior.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>A partir da in�uência de Kant, a teologia alemã, em parte protestante, viveu seu</p><p>momento de teologia liberal que, em muito, assemelhou-se ao modernismo</p><p>francês, que buscou transformar o cristianismo aceitável em um mundo cada vez</p><p>mais cientí�co. Alfred Harnack, por exemplo, buscou o verdadeiro cristianismo na</p><p>pregação de Jesus e em como ela se re�etiu na primeira geração de apóstolos,</p><p>pois, posteriormente, a partir do século II, passou a existir, gradativamente, uma</p><p>dogmatização realizada pela Igreja (COSTA, [s. d.], p. 6).</p><p>Por sua vez, uma dupla de teólogos, Rudolf Bultmann e Karl Barth, criticaram a</p><p>teologia liberal a ponto de a�rmarem que ela falaria de tudo, menos de Deus,</p><p>devido à excessiva crítica histórica aplicada à Bíblia. Barth buscava uma volta à</p><p>ideia original da Reforma Protestante fundada na razão e no saber baseado</p><p>exclusivamente na Palavra Divina. Para Bultmann, por sua vez, o ideal era uma</p><p>volta ao Jesus “original”, não miti�cado pelos evangelhos, o que pregou e morreu</p><p>na cruz e de quem pouco se sabe além disso. Assim, seria necessária uma</p><p>desmisti�cação do Evangelho para apresentá-lo em categorias técnicas e existência</p><p>ao povo do século XX (COSTA, [s. d.], p. 7).</p><p>Por �m, o teólogo católico Karl Harner realizou um debate em torno do</p><p>sobrenatural, em especial à capacidade humana em ser o receptor das revelações</p><p>divinas. Ele a�rmou que o homem é preparado para essa recepção e é isso que</p><p>nos torna humanos, pois Cristo, encarnado, realizaria a ideia do “Homem em si</p><p>mesmo”. Sua importância está especi�camente na in�uência “antropológica” em</p><p>sua obra, que focou especialmente o Homem e suas especi�cidades. Karl Harner,</p><p>além da importância de sua teologia, foi um dos principais nomes do Concílio</p><p>Vaticano II cujos detalhes serão tratados em um momento futuro.</p><p>Já os teólogos franceses foram motivados, especialmente, por uma preocupação</p><p>frente ao grande número de pessoas que se afastava gradualmente da Igreja. A</p><p>solução buscada, portanto, constituía em uma Teologia que se aproximava cada</p><p>vez mais da vida das pessoas e se distanciava de questões abstratas. Seu principal</p><p>movimento foi conhecido por “Nova Teologia”, que vigorou entre 1938 e 1946.</p><p>Entre as principais propostas do grupo estava um distanciamento do</p><p>“intelectualismo escolástico” e uma volta às fontes, ou seja, à Bíblia e à Patrística.</p><p>Esse movimento obteve um reconhecimento do Papa Pio XII, ainda que com certas</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>críticas. Esse grupo mostrou-se extremamente in�uente, a partir da organização de</p><p>revistas, colóquios e encontros. Vários de seus membros tiveram uma participação</p><p>importante no Concílio Vaticano II, convocado na década de 1960.</p><p>Aqui, terminamos mais uma aula em que pudemos observar os momentos da</p><p>Igreja Católica que marcaram os primeiros momentos da Igreja Católica após o</p><p>estopim da Revolução Francesa. Além disso, vimos que esse momento foi marcado</p><p>por visões contrastantes sobre os caminhos que essa instituição deveria tomar</p><p>entre o conservadorismo e o liberalismo. Até a próxima!</p><p>FAÇA VALER A PENA</p><p>Questão 1</p><p>Os católicos liberais eram aqueles que entendiam que algumas das ideias</p><p>desenvolvidas após a Revolução Francesa e amparadas pela secularização e</p><p>laicização deveriam ser incorporadas pela Igreja, tal como essa instituição já havia</p><p>realizado em momentos anteriores, principalmente em seu início, quando</p><p>incorporou traços da cultura greco-romana.</p><p>O movimento teológico que surgiu no seio da Igreja e que buscou incorporar essas</p><p>características nas suas discussões teológicas é conhecido como:</p><p>a. Ultramontanismo.</p><p>b. Modernismo.</p><p>c. Conservadorismo.</p><p>d. Movimento Laicizador.</p><p>e. Antiteologia.</p><p>Questão 2</p><p>Após o �m do Concílio Vaticano I, realizado em 1870, vários bispos descontentes</p><p>com seu resultado tornaram-se opositores da Igreja e de seu posicionamento</p><p>ultramontano. Devido a uma declaração dada na cidade de Utrecht, em que</p><p>�rmavam seu posicionamento, o grupo �cou conhecido como “Movimento de</p><p>Utrecht”.</p><p>A partir da informação apresentada, assinale a opção que corresponda</p><p>corretamente ao principal motivo que levou esses bispos a uma oposição à Igreja.</p><p>a.  A aprovação da canonização automática de todos os Papas que falecessem a partir da data do Concílio.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>COSTA, F. A Teologia do século XX e suas in�uências históricas. Revista de</p><p>Magistro de Filoso�a, Anápolis, ano 12, n. 26, 2019. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3gSCqnJ. Acesso em: 4 jun. 2021.</p><p>b.  A aprovação do “Catolicismo regional”, que permitia que os locais afastados de Roma realizassem suas</p><p>práticas religiosas de maneira livre.</p><p>c.  A aprovação de uma nova lista de erros cometidos pelo homem moderno que entrou na lista dos novos</p><p>pecados capitais.</p><p>d.  A aprovação da liberdade de culto mesmo nos territórios em que o catolicismo romano era</p><p>predominante.</p><p>e.  A aprovação da infalibilidade papal, que tornava o Papa impossibilitado de errar nas suas decisões.</p><p>Questão 3</p><p>O processo de secularização e laicização que se instaurou na Europa cristã a partir</p><p>da Revolução Francesa não foi bem aceito pela Igreja Católica. Assim, sua ala</p><p>conservadora fundou um movimento chamado de Ultramontanismo para se opor</p><p>a esses fenômenos.</p><p>Em relação às controvérsias religiosas desse tempo histórico, analise as a�rmativas</p><p>a seguir:</p><p>I.  O ultramontanismo objetivava aumentar o poder do Papa em relação aos</p><p>concílios nas matérias de disciplina e Fé.</p><p>II.  O ultramontanismo objetivava realizar novas alianças de igualdade de poder</p><p>com as novas nações laicas.</p><p>III.  O ultramontanismo objetivava permitir a in�uência das novas disciplinas</p><p>cientí�cas surgidas no século XIX nas discussões teológicas de sua religião.</p><p>Diante do contexto apresentado, é correto o que se a�rma em:</p><p>a. I, apenas.</p><p>b. III, apenas.</p><p>c. I e II, apenas.</p><p>d. II e III, apenas.</p><p>e. I e III, apenas.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>http://catolicadeanapolis.edu.br/revistamagistro/wp-content/uploads/2019/04/A-Teologia-do-S%C3%A9culo-XX-e-suas-Influ%C3%AAncias-Hist%C3%B3ricas.pdf</p><p>FELÍCIO, M. da R. Na viragem do século (XIX-XX) a crise modernista. Revista</p><p>Mathesis, Lisboa, n. 11, 2002. Disponível em: https://bit.ly/3j9xCM4. Acesso em: 4</p><p>jun. 2021.</p><p>MARINHO, M. B.; OLIVEIRA, G. C. de C. Ultramontanismo, reforma e romanização:</p><p>uma breve discussão conceitual. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE ESTUDOS DA</p><p>RELIGIÃO, 1., 2019, Goiás, Anais [...], Goiás: UEG, 2019. p. 1-11. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3qod1VN. Uma questão de revisão de conceitos: Romanização –</p><p>Ultramontanismo – Reforma. Revista Temporalidades, Belo Horizonte, v. 2, n. 2,</p><p>2010. Disponível em: https://bit.ly/3vTx2F0. Acesso em: 6 jun. 2021.</p><p>SILVA, I. P. O papado de Pio IX e a dinamização transcontinental do anticlericalismo</p><p>oitocentista: ecos no parlamento imperial brasileiro. Revista Almanack, São Paulo,</p><p>v. 1, n. 26, dez. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3qpWf8J.</p><p>TEIXEIRA, V. Cismas, reformas e divisões na igreja: a igreja vetero-católica. 2019.</p><p>Disponível em: https://bit.ly/2U4yE1C. Acesso em: 4 jun. 2021.</p><p>TEIXEIRA, V. O movimento de Oxford. 2018. Disponível</p><p>em https://bit.ly/3qpBmL5.</p><p>Acesso em: 4 jun. 2021.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://digitalis.uc.pt/pt-pt/node/106201?hdl=23689</p><p>https://www.anais.ueg.br/index.php/sner/article/view/13485.%20Acesso%20em:%204%20jun.%202021.%20SANTIROCCHI,%20%C3%8D.%20D</p><p>https://www.academia.edu/38539777/Uma_quest%C3%A3o_de_revis%C3%A3o_de_conceitos_Romaniza%C3%A7%C3%A3o_Ultramontanismo_Reforma</p><p>https://periodicos.unifesp.br/index.php/alm/article/view/9810.%20Acesso%20em:%204%20jun.%202021</p><p>https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/28820/1/Cismas%2C%20Reformas%20e%20Divis%C3%B5es%20na%20Igreja%20%E2%80%93%20CV.pdf</p><p>https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/27524/1/LXX%20Clarim%20VT%202018.pdf</p><p>NÃO PODE FALTAR</p><p>TEOLOGIA ECUMÊNICA</p><p>Gustavo Balbueno de Almeida</p><p>Imprimir</p><p>PRATICAR PARA APRENDER</p><p>Saudações! Esta seção tem como tema central o conceito de ecumenismo e</p><p>pretende tratar desde o seu surgimento, no século XIX, até suas questões mais</p><p>recentes, que giram em torno da busca por um maior diálogo tanto entre as Igrejas</p><p>cristãs das mais diferentes con�ssões quanto entre as cristãs com as demais</p><p>religiões. Há uma percepção atual que a paz mundial, entre outros fatores, passa</p><p>pela paz entre as instituições religiosas, de modo que o diálogo se mostra de</p><p>extrema importância.</p><p>Serão tratados todos os pontos que envolvem o ecumenismo, desde seus</p><p>antecedentes, passando pelas conferências que deram início a esse movimento e</p><p>pelas instituições que surgiram em decorrência do seu desenvolvimento, com um</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Deseja ouvir este material?</p><p>Áudio disponível no material digital.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>destaque especial ao Conselho Mundial das Igrejas. O diálogo com outras religiões</p><p>também será um tema a ser tratado, bem como o sincretismo religioso na América</p><p>Latina, em desenvolvimento desde o século XVI, a partir da chegada dos europeus</p><p>no continente.</p><p>No primeiro momento, veremos detalhes dos movimentos antecedentes ao</p><p>ecumenismo, principalmente fruto dos inconvenientes aos quais muitos</p><p>missionários protestantes passaram ao apresentar diferentes con�ssões aos</p><p>catequizados, o que causou uma grande confusão e perda de legitimidade às</p><p>missões. Esse grupo de cristãos juntou-se a grupos e lideranças de algumas Igrejas,</p><p>como a Anglicana, que sentiram a necessidade de buscar uma unidade entre as</p><p>diferentes Con�ssões surgidas desde o início do cristianismo.</p><p>No segundo momento, veremos como a ampliação do ecumenismo deu origem a</p><p>instituições e conferências que buscavam prestar apoio e ajuda às Igrejas cristãs</p><p>das mais diversas con�ssões nas suas missões, bem como organizar discussões</p><p>que passavam por questões gerais ao cristianismo sem o envolvimento de</p><p>doutrinas particulares. A partir da década de 1940, esses grupos passaram a se</p><p>reunir em um grupo, que foi nomeado Conselho Mundial das Igrejas, que, apesar</p><p>de não conter a participação direta da Igreja Católica, busca ultrapassar as</p><p>diferenças teológicas das diversas Con�ssões.</p><p>No terceiro momento, será tratado o diálogo não apenas entre os grupos cristãos,</p><p>mas também com as demais religiões, em especial com o judaísmo, o islamismo e</p><p>o budismo. A percepção é a de que o reconhecimento da pluralidade religiosa</p><p>permite uma aproximação e um melhor diálogo entre as religiões em busca de se</p><p>contribuir para a paz religiosa e mundial.</p><p>Num último momento, veremos detalhes no tocante ao sincretismo religioso na</p><p>América Latina, que existe, ao menos, desde a chegada dos espanhóis ao</p><p>continente no século XV. Esses sincretismos são frutos da junção das religiosidades</p><p>indígenas e africanas com o cristianismo. Elas existem até os nossos dias e se</p><p>manifestam em festas populares e religiões, como a umbanda e o candomblé.</p><p>Alice tinha uma recente formação em Teologia e queria utilizar o seu diploma para</p><p>conseguir uma maior estabilidade �nanceira e pro�ssional. Em busca de</p><p>oportunidades, encontrou editais de �nanciamento de pesquisas �nanciadas por</p><p>instituições religiosas que aceitavam projetos ligados a sua formação. Assim, em</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>troca de um pagamento de uma bolsa de estudos com dezoito meses de duração,</p><p>ela apresentou um projeto de pesquisa propondo uma maior compreensão da</p><p>História e da Teologia da Igreja Católica nos dois últimos séculos. Para a realização</p><p>do projeto, ela dividiu a pesquisa em três grandes temas a serem tratados a cada</p><p>semestre.</p><p>Neles, deverão ser estudadas as maneiras buscadas pela Igreja Católica para</p><p>adaptar-se ao mundo contemporâneo pós-Revolução Francesa, momento a partir</p><p>do qual a secularização e a laicização minaram, em de�nitivo, a aliança entre a</p><p>Igreja e os Estados Nacionais europeus, os caminhos percorridos e as polêmicas</p><p>teológicas envolvidas. Alice deverá destacar, também, os movimentos no século XX</p><p>de aproximação da Igreja Romana aos demais grupos cristãos — católicos e</p><p>protestantes — bem como os desa�os recentes que permeiam a inserção da Igreja</p><p>em nosso mundo atual.</p><p>A segunda parte temática proposta por Alice visa a compreender os principais</p><p>detalhes do conceito de ecumenismo desde seu surgimento, no século XIX, até as</p><p>questões atuais que marcam sua importância para as Igrejas Cristãs e demais</p><p>religiões. A trajetória do conceito deve ser marcada pelo conhecimento de seus</p><p>antecedentes, das instituições que buscavam a unidade cristã, como ele se</p><p>expandiu para um maior diálogo entre outras religiões e, por �m, apresentar um</p><p>pequeno panorama sobre o sincretismo religioso na América. Compreender essas</p><p>questões permitirá a Alice compreender melhor o panorama atual da Igreja</p><p>Católica e da Teologia Cristã.</p><p>Para contextualizar a sua aprendizagem, imagine que você é a proponente Alice.</p><p>Partindo desse pressuposto, responda: como você responderia à segunda parte da</p><p>proposta, que corresponde ao segundo semestre de pesquisa?</p><p>Use como ponto de partida a resolução das seguintes questões:</p><p>•  Quais são os fatos que antecedem ao movimento do ecumenismo?</p><p>•  Como se deu a fundação do Conselho Mundial das Igrejas? Qual o seu papel</p><p>atual para as Con�ssões cristãs?</p><p>•  Como se dá, atualmente, o diálogo inter-religioso? Qual a participação da Igreja</p><p>Católica nele?</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>•  Quais são as principais características do sincretismo religioso na América</p><p>Latina?</p><p>Agora é com você! O �m de nosso curso está se aproximando, então, com estudo e</p><p>disciplina você vai conseguir aproveitar o nosso material em sua completude.</p><p>Esperamos que ele possibilite a você conhecer mais a fundo as questões que</p><p>envolvem o ecumenismo. Até a próxima!.</p><p>CONCEITO-CHAVE</p><p>ANTECEDENTES DO MOVIMENTO ECUMÊNICO</p><p>Antes de compreendermos os detalhes dos eventos que antecederam o</p><p>movimento ecumênico, cabe conhecermos o próprio signi�cado desse conceito.</p><p>Essa necessidade se dá devido ao fato de que sua de�nição foi se modi�cando ao</p><p>longo dos séculos até chegar à de�nição atribuída no século XIX e que é utilizada</p><p>até hoje. Sua raiz etimológica vem do grego Oikos, que signi�ca casa, aldeia,</p><p>habitação; na sua origem, ela também signi�cava Oikouméne, ou seja, terra</p><p>habitada, mundo conhecido e civilizado, universo.</p><p>Os padres da Igreja, em seus primeiros tempos, utilizavam essa segunda expressão</p><p>para identi�car a “Igreja Universal”; já o Império Romano a utilizava em um sentido</p><p>político, para designar o próprio Império; por �m, quando a Igreja tornou-se a</p><p>religião o�cial do Império, Oikouméne passou a signi�car a Igreja Inteira. Ou seja,</p><p>na História Antiga, passando pelos gregos até o �m do Império Romano, essa</p><p>expressão teve três diferentes signi�cados: o geográ�co, o político e o eclesiástico</p><p>(BEATO, 2018, p. 7).</p><p>A partir da queda do Império Romano, em 476 d. C., o conceito desprendeu-se do</p><p>signi�cado político e passou a ter apenas o conceito eclesiástico. Os primeiros</p><p>concílios, conhecidos como primitivos, eram chamados, à época, de Concílios</p><p>ecumênicos; foi apenas no século XIX, por sua vez, que o conceito ganhou a</p><p>de�nição que nos faz sentido hoje em</p><p>dia e que remete a designações das relações</p><p>entre os cristãos divididos que buscam a unidade cristã por meio do diálogo.</p><p>E se o movimento ecumênico teve início o�cialmente no Conferência de</p><p>Edimburgo, em 1910, os eventos que levaram a sua ocorrência datam, ao menos,</p><p>do século anterior, momento em que a percepção de que era preciso reencontrar</p><p>a unidade da Igreja se tornou mais latentes aos cristãos das mais diferentes</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>con�ssões. Os cismas em relação à Igreja Católica original datam desde poucos</p><p>séculos de sua criação, desde casos menores, como é o caso dos Nestorianos, que</p><p>se espalharam pela Ásia, a casos de maior impacto, como o Cisma Oriental de 1054</p><p>e a Reforma Protestante, de 1517. Porém, principalmente a partir do surgimento</p><p>dos Reformadores até o século XIX, se não podemos atestar a existência de um</p><p>movimento ecumênico, podemos, ao menos, mencionar tentativas de</p><p>reaproximação que ocorreram entre membros dessas Igrejas. Um dos casos mais</p><p>simbólicos nesse sentido são as cartas trocadas entre o teólogo cristão Jaques</p><p>Bossuet e o �lósofo protestante Gottfrid Leibniz, no século XVII (BEATO, 2018, p. 9).</p><p>Porém, apenas no século XIX ocorreu uma organização que partiu de várias frentes</p><p>e que permitiu que o ecumenismo fosse chamado de “movimento”. Ela surgiu,</p><p>inicialmente, na religião protestante, que tinha uma maior consciência de sua</p><p>fragmentação. Em 1846, por exemplo, surgiu, em Londres, uma sociedade</p><p>interconfessional chamada Aliança Evangélica Universal, onde o termo</p><p>“ecumenismo” foi utilizado pela primeira vez no sentido moderno.</p><p>Outro grande grupo que permitiu o avanço do ecumenismo foi o estudantil.</p><p>Também em Londres, na década de 1840, surgiram as chamadas “sociedades da</p><p>juventude cristã”, das quais se destacou a União Cristã dos Jovens (YMCA). Nesse</p><p>sentido, destacou-se, também, o movimento pietista, no meio protestante, que</p><p>passou a redescobrir a centralidade da Bíblia como parte da renovação espiritual</p><p>que pretendiam. A partir desses grupos e dessas intenções em comum, passaram</p><p>a surgir, a partir da segunda metade do século XIX, encontros a nível internacional</p><p>compostos por membros de diversas con�ssões e congregações (BEATO, 2018, p.</p><p>10).</p><p>ASSIMILE</p><p>Caso alguém lhe pergunte o que foi o movimento pietista, responda que foi</p><p>um movimento luterano surgido no século XVII que tinha por principal</p><p>demanda as experiências individuais do adepto. Essas experiências</p><p>incluíam conversão pessoal, santi�cação, e uma abertura à expressão</p><p>religiosa das emoções. Seu líder-fundador foi Phillip Spener e o nome do</p><p>movimento vem de seu livro, Pia Desidéria, de 1675. Algumas de suas</p><p>ideias, como o conhecimento do cristianismo na prática, um sério estudo da</p><p>Bíblia em reuniões provadas e uma reestruturação dos cursos teológicos,</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>que deveriam ser voltados a uma vida mais devacional, exerceram</p><p>in�uência nos movimentos metodista, pentecostal, neopentecostal, entre</p><p>outros.</p><p>O aumento no número de missões religiosas no exterior, por sua vez, constitui um</p><p>dos mais importantes eventos que ajudam a explicar a popularização do</p><p>ecumenismo no �m do século XIX. Isso porque a realização dessas missões,</p><p>principalmente em áreas que estavam sendo colonizadas por europeus na Ásia e</p><p>África, movimento conhecido como Imperialismo, envolvia diferentes Con�ssões</p><p>cristãs, e a divisão dogmático/teológico acabavam por confundir os povos então</p><p>catequizados, prejudicando a e�cácia da catequização. A�nal, os diversos grupos</p><p>missionários, ao mesmo tempo em que pregavam a mesma religião, pregavam</p><p>diferenças doutrinais que não faziam sentido aos povos.</p><p>Assim, aos grupos cristãos, fazia-se necessária a busca por uma Unidade, que</p><p>passou a ser desenvolvida a partir do século XX e cujas características institucionais</p><p>serão vistas a partir de agora.</p><p>O CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS</p><p>O primeiro passo para a efetivação de um movimento ecumênico ocorreu no ano</p><p>de 1910, quando foi organizada, na cidade escocesa de Edimburgo, uma primeira</p><p>Conferência que congregou cristãos de diversas partes do mundo e de diversas</p><p>Con�ssões. Nesse primeiro momento, ainda era restrito ao universo protestante,</p><p>porém esse evento foi o responsável pelo desenvolvimento de outros, que, cada</p><p>vez mais, agregavam outras con�ssões, incluindo a Igreja Católica.</p><p>A primeira Con�ssão a considerar a importância de se buscar a Unidade com a</p><p>Igreja Católica foi a Igreja Anglicana, ainda na primeira metade do século XIX. Como</p><p>visto em um momento anterior, a aproximação de partes dos anglicanos com a</p><p>Igreja Romana, identi�cada como “Movimento de Oxford”, tornou essa relação</p><p>mais intensa que a das demais rami�cações protestantes. A�nal, como já visto,</p><p>havia o interesse, por parte do grupo de Oxford, pela volta dos ensinamentos dos</p><p>pais da Igreja, momento em que ainda não havia dogmatização da Igreja —</p><p>questões essas também responsáveis pela separação que ocorreu na Reforma</p><p>Protestante no século XVI.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Para o movimento de Oxford, por sua vez, essa união cristã só seria autêntica</p><p>quando a Igreja Anglicana se unisse não só à Católica Romana como também à</p><p>Ortodoxa. Para isso, foi criada, em 1857, a APUC (Associação para a Promoção da</p><p>União da Cristandade), porém foi condenada pela Igreja Católica em 1864 (BEATO,</p><p>2018, p. 12).</p><p>De qualquer maneira, essa busca pela unidade passou a se tornar cada vez mais</p><p>urgente a partir de então, o que motivou a criação de novas associações e,</p><p>principalmente, de diversas conferências e grandes congressos. Você viu</p><p>anteriormente o surgimento desse movimento nos grupos de estudantes e</p><p>juventude e dos encontros que eles passaram a organizar, o que, gradualmente,</p><p>também levou as lideranças das Igrejas a realizar movimentos parecidos. Além</p><p>disso, a transição entre o século XIX e o século XX foi marcada por uma aceleração</p><p>das tecnologias que permitiam uma maior agilidade nas comunicações e nas</p><p>viagens de longa distância, de forma que esses tipos de conferências, congressos,</p><p>feiras internacionais e grandes encontros tornaram-se cada vez mais comuns em</p><p>todas as áreas.</p><p>Assim, em Edimburgo, como já mencionado, foi realizada, em 1910, a Conferência</p><p>Missionária Mundial, considerada o marco inicial do ecumenismo moderno. Um de</p><p>seus principais mediadores foi John Mott, um leigo metodista americano que já</p><p>realizava encontros menores dessa natureza desde o �m do século XIX e que foi o</p><p>presidente da Conferência de Edimburgo. Os temas, que foram elaborados</p><p>previamente e enviados aos participantes faziam parte de assuntos gerais da</p><p>prática cristã nas missões e não de práticas dogmáticas das Igrejas, como “o</p><p>Evangelho em face do mundo não cristão” e “a Igreja e o campo missionário”. Esse</p><p>ponto foi um pedido dos anglicanos, que participaram e ressaltaram o</p><p>compromisso dos organizadores com a busca da unidade, visto que foram tratadas</p><p>questões comuns ao cristianismo de uma maneira geral (BEATO, 2018, p. 16).</p><p>Ao �m do Congresso, �cou determinado que haveria um “comitê de continuação”</p><p>que daria continuidade aos trabalhos iniciados em Edimburgo. Assim, pelas</p><p>próximas décadas, entre avanços e pausas motivadas pelas duas guerras</p><p>mundiais, que ocorreram de 1914 a 1918 e de 1939 a 1945, o comitê organizou</p><p>novas conferências e publicou revistas sobre o tema da união das Igrejas. Outros</p><p>dois movimentos iniciados em Edimburgo, chamados de “Vida e ação” e “Fé e</p><p>constituição”, deram continuidade às ações de auxílio às missões e missionários.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>A partir da década de 1930, percebeu-se uma necessidade de congregar ambos os</p><p>movimentos em apenas um de maior alcance, dando-lhe uma constituição</p><p>uniforme. Assim, em 1938, houve uma reunião na cidade de Utrecht, na Holanda,</p><p>em que sete líderes de cada movimento criaram o “Comitê dos 14”, que deu início</p><p>a essa junção. O início da Segunda Guerra Mundial veio a atrapalhar sua</p><p>continuidade e apenas em 1948, dez anos depois de</p><p>sua concepção, foi possível a</p><p>realização de sua primeira assembleia, na cidade de Amsterdã, na Holanda. Nessa</p><p>assembleia, por sua vez, foram de�nidas as constituições de�nitivas do que �caria</p><p>conhecido por Conselho Mundial das Igrejas (CMI).</p><p>O CMI não se constitui como uma Nova Igreja ou como uma Igreja do futuro; ela</p><p>apenas é uma instituição nascida da necessidade de união das Igrejas, como</p><p>defendido a partir do surgimento dessas questões no século XIX. A união</p><p>pretendida, por sua vez, deu-se devido ao reconhecimento, por parte da</p><p>instituição, de que Cristo instituiu uma Igreja, e sua existência é um indicativo da</p><p>desunião entre os cristãos e suas diversas Con�ssões. Por isso, a união se apoia no</p><p>Novo Testamento, por acreditar na unidade da Igreja, e busca trabalhar para</p><p>ultrapassar as diferenças teológicas entre as diferentes comunidades. Por sua</p><p>ligação com as missões desde o seu início, ela também tem por objetivo o auxílio a</p><p>elas em um campo além do teológico, como a realização de ajudas com assistência</p><p>médica às pessoas refugiadas e vítimas de violência contra os direitos humanos.</p><p>Por �m, a instituição também participa de discussões sobre Tratados de paz e o</p><p>desarmamento (BEATO, 2018, p. 23-26).</p><p>Atualmente, ela abrange grande parte das Igrejas reformistas, como as luteranas,</p><p>calvinistas, anglicanas, batistas, bem como Igrejas Ortodoxas. A Igreja Católica não</p><p>participa o�cialmente, porém mantém vínculos estreitos com a organização desde</p><p>o Concílio de Vaticano II (1965), quando foi criado um grupo de trabalho que reúne,</p><p>anualmente, lideranças das duas instituições. A Igreja Católica também mantém o</p><p>poder de voto em algumas comissões do CMI.</p><p>REFLITA</p><p>O Papa Francisco I tem atuado a favor do ecumenismo, considerado, por</p><p>ele, como um caminho irreversível. Além de colocar um protestante no</p><p>comando da �lial argentina do jornal o�cial do Vaticano, ele realizou um</p><p>encontro com um patriarca ortodoxo de Moscou. Porém, ao mesmo tempo,</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>a Igreja ainda não faz parte de instituições que buscam a unidade, como o</p><p>Conselho Mundial de Igreja. Baseado nessas informações e em seus</p><p>conhecimentos, re�ita: a Igreja Católica deveria requerer a entrada e se</p><p>tornar parte nessa instituição ou deveria manter a sua posição atual de</p><p>colaboradora?</p><p>O ECUMENISMO E O DISCURSO INTER-RELIGIOSO</p><p>O ecumenismo, como já vimos, adquiriu uma grande importância a partir do</p><p>século XIX, porém não apenas o conceito já era conhecido como as tentativas de</p><p>aproximação que ocorriam em momentos especiais da História Cristã. O diálogo</p><p>religioso, por sua vez, era um dos caminhos mais profícuos para essas tentativas</p><p>de reaproximação, porém, ao mesmo tempo, encontramos o diálogo em todos os</p><p>momentos da História Religiosa. A�nal, a própria convivência de pessoas com duas</p><p>diferentes religiões já pressupunha um diálogo entre elas sobre isso. Assim, devido</p><p>ao inevitável contato dos cristãos com outros povos, dos judeus aos muçulmanos e</p><p>budistas, ele se dava, e �cou retratado em diversos registros desde a História</p><p>Antiga, passando pela história medieval. É comum o relato de judeus e</p><p>muçulmanos que se tornaram cristãos e vice-versa. Outro movimento que</p><p>contribuía para esse diálogo foram as missões religiosas que se espalharam pela</p><p>Ásia e pela América.</p><p>O termo “diálogo”, por sua vez, é pensado em sua concepção moderna de</p><p>encontro construtivo entre duas partes. No caso religioso, esses diálogos são</p><p>desprovidos de considerações polêmicas ou tentativa de conversão do outro lado.</p><p>O diálogo passa pela busca da compreensão da fé do outro, buscando deixar de</p><p>lado a ideia, hoje considerada inválida por grande parte da Teologia, graças à</p><p>contribuição da Antropologia, de que havia superioridade de uma religião em</p><p>comparação com outra. A intenção, a partir de então, passou a ser a busca por</p><p>uma base comum que permita o desenvolvimento de um bem-estar e da paz das</p><p>sociedades como um todo (RODRIGUES, 2008, p. 60).</p><p>O conceito de diálogo, por sua vez, teve início a partir, aproximadamente, do �m</p><p>da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Dois anos depois, já se publicavam obras</p><p>para o melhoramento do diálogo teológico com os judeus e, em 1953, com os</p><p>islâmicos. Essa expansão se deve, além dos efeitos da guerra no mundo, à</p><p>popularização de uma disciplina acadêmica chamada “História das Religiões”,</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>surgida ao �nal do século XIX, que ajudou a aumentar o conhecimento de suas</p><p>características e, por consequência, a tolerância para com as diferenças de cada</p><p>religião.</p><p>Em relação à posição da Igreja Católica sobre o ecumenismo, o que se percebe é</p><p>um movimento de constante desconstrução de sua visão conservadora que teve</p><p>início ainda na contrarreforma e chegou ao seu auge com o ultramontanismo. No</p><p>início do século XX, por exemplo, foram publicados decretos que proibiam a</p><p>participação de católicos em encontros ecumênicos, e parte da Igreja não aceitava</p><p>que esta fosse colocada em posição de igualdade às demais con�ssões. A partir de</p><p>então, muitos avanços foram feitos em relação ao ecumenismo, principalmente</p><p>em relação à liberação para a participação nos congressos ecumênicos</p><p>(RODRIGUES, 2008/9, p. 19-20).</p><p>A partir do Concílio Vaticano II (1965) cujos detalhes veremos em um momento</p><p>posterior, a Igreja passou a se abrir de maneira mais constante ao diálogo com as</p><p>outras religiões e ao ecumenismo. Os Papas João Paulo II e Bento XVI, por exemplo,</p><p>investiram no diálogo com os judeus e com os islâmicos, e um importante ponto</p><p>destacado a partir do último concílio da Igreja foi a aceitação da contribuição da</p><p>teologia protestante quanto ao regresso à Bíblia e à Patrística, que permitiu um</p><p>maior diálogo teológico nesse sentido.</p><p>Além disso, para além da década de 1960, passou a existir, no seio da Igreja, a</p><p>percepção de que não se devia mais buscar o retorno dos cristãos não católicos</p><p>para a Igreja e, sim, adaptar-se à diversidade de con�ssões e ao pluralismo</p><p>religioso. A unidade, a partir de então, passou a ser uma responsabilidade a ser</p><p>alcançada nos tempos escatológicos.</p><p>Nesse sentido, coube à Igreja não mais pensar que as demais Con�ssões giravam a</p><p>sua volta como se fossem seus satélites, mas, sim, que ela, junto às demais</p><p>Con�ssões, eram satélites que giram ao redor de Cristo. Assim, todas as demais</p><p>con�ssões perderiam para a Igreja o caráter de “anti” Igreja. A recomendação</p><p>pedida por ela às demais con�ssões era que reavaliassem suas doutrinas à luz das</p><p>conjunturas históricas em que as separações ocorreram, como a própria Igreja</p><p>buscava fazer (RODRIGUES, 2008/9, p. 22).</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Frente a isso, a busca pelo ecumenismo ou pela unidade, passando pelo diálogo,</p><p>buscou alcançar a paz entre as religiões, considerada uma das condições para a</p><p>própria paz política no mundo, e isso passou não só pelo reconhecimento da</p><p>existência de outras religiões, negando-se a percepção de que apenas uma delas é</p><p>verdadeira e as demais falsas, porém, ao mesmo tempo, levou-se em consideração</p><p>a existência da “verdade” nas religiões, em que cada uma tem a sua verdade,</p><p>seguindo critérios especí�cos cujos valores éticos-universais devem ser</p><p>considerados para o encontro dessa paz (RODRIGUES, 2008, p. 23).</p><p>O SINCRETISMO RELIGIOSO NA AMÉRICA LATINA</p><p>A junção de dois ou mais cultos com a existência da reinterpretação de seus ritos</p><p>chama-se “sincretismo”. O estudo desse conceito surgiu no século XIX e, hoje,</p><p>entende-se que a própria Igreja Católica é um grande exemplo de religião sintética.</p><p>Porém, esse conceito em seu início era de difícil absorção, pois apreendia-se que</p><p>as trocas religiosas no movimento sincrético eram desiguais, o que podia gerar</p><p>preconceitos em relação à religião “menos importante” das duas ou, então, a não</p><p>aceitação do sincretismo por parte dos membros de algumas religiões que as</p><p>consideravam “puras”. Hoje, porém, o sincretismo é considerado por muitos como</p><p>indispensável para a caracterização de uma religião</p><p>(MARTINS, 2008, p. 3-4).</p><p>Na América Latina, em especial, podemos atestar que os principais sincretismos</p><p>ocorrem devido à colonização espanhola e portuguesa, principalmente. A�nal,</p><p>como já visto anteriormente, a própria colonização ibérica implicava a</p><p>catequização dos indígenas americanos. A própria religiosidade ibérica continha</p><p>seus sincretismos com os árabes que colonizaram essa península entre os séculos</p><p>VIII e XV. Em relação ao sincretismo dos cristãos com os americanos, por sua vez,</p><p>devemos levar em consideração a diversidade de culturas indígenas que havia no</p><p>continente, o que resultou em diferentes junções em cada região da América.</p><p>Por �m, há que se levar em conta, também, a inserção do africano como escravo</p><p>no continente, o que acrescentou, ainda, mais ritos e religiões para o processo de</p><p>sincretismo. Apenas a nível de exemplo, podemos tratar a relação dos indígenas</p><p>com os santos, que foi facilmente absorvida dos ensinamentos católicos, visto que</p><p>os próprios indígenas tinham sua própria relação de deuses, a qual os santos</p><p>foram acrescidos. Ou seja, a apreensão da hierarquia dos santos não ocorreu da</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>maneira como os espanhóis pretendiam e, sim, ocorreu um sincretismo a partir da</p><p>adoção indígena desses santos para sua própria religião (ASCANIO; FIGUEIROA;</p><p>BARRIENTOS, 2012, p. 22).</p><p>Cabe destacarmos também, como importante contribuinte para os sincretismos, a</p><p>presença dos missionários das diversas ordens religiosas, muitos dos quais vinham</p><p>com um fraco conhecimento teológico e não conseguiam argumentar o su�ciente</p><p>para angariar a con�ança dos indígenas. Assim, na expectativa de ganharem sua</p><p>con�ança, tais missionários acabavam por participar das festas indígenas, o que</p><p>deu origem a diversas festas populares pelo continente. Outro exemplo de</p><p>sincretismo nesse sentido são os curandeiros, que tinham o poder de curar</p><p>qualquer enfermidade e cuja capacidade curativa confundia-se com os milagres</p><p>cristãos (ASCANIO; FIGUEIROA; BARRIENTOS, 2012, p. 26).</p><p>O sincretismo cristão com as religiões africanas, por sua vez, ocorreu em locais</p><p>onde a chegada de escravos foi mais efetiva, como o Brasil, Cuba e outras ilhas do</p><p>Caribe. Por exemplo, a junção de elementos culturais yorubás com elementos</p><p>cristãos deu origem a um complexo sincretismo chamado “Santeria” ou “Regla de</p><p>Ocha”. A prática de equivaler santos cristãos com deuses yorubás também ocorreu</p><p>em Cuba, e esses sincretismos também foram comuns no Brasil, dando origem ao</p><p>Candomblé e a umbanda. Esses cultos, à diferença da catequização indígena, foi</p><p>uma maneira de “adaptar” os deuses africanos aos santos católicos para que as</p><p>práticas religiosas tradicionais pudessem continuar (ASCANIO; FIGUEIROA;</p><p>BARRIENTOS, 2012, p. 26).</p><p>ASSIMILE</p><p>O Brasil, em seus períodos coloniais e imperial (1500-1889) foi marcado</p><p>pela escravização de homens e mulheres africanos. Aqueles que optavam</p><p>pela fuga dessa condição acabava por se reunir em quilombos, locais nos</p><p>quais frequentavam, também, indígenas fugidos de condições semelhantes.</p><p>Esse encontro, por sua vez, deu origem a novos tipos de sincretismos, como</p><p>o chefe dos índios Mourixabas, que eram cultuados como os orixás</p><p>africanos, ou os rituais africanos gira e xirê, que foram incorporados pelos</p><p>indígenas.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Muitos desses casos, portanto, remetem, ainda, ao período colonial, um momento</p><p>que deu origem a sincretismos originais e que seguem existindo até hoje. Graças à</p><p>secularização e à laicização dos Estados, há uma maior tolerância a esses cultos,</p><p>que atraem, atualmente, um maior número de pessoas que no passado,</p><p>principalmente devido ao fato de que os tempos atuais assistem a um processo no</p><p>qual muitas pessoas veem-se “livres de religiões”. Ou seja, elas não se prendem a</p><p>nenhum culto em especial, podendo frequentar vários locais religiosos ao mesmo</p><p>tempo. As relações sincréticas entre católicos e protestantes não foram aqui</p><p>tratadas pois serão vistas em um momento posterior.</p><p>E aqui concluímos mais um passo para um maior conhecimento da História da</p><p>Igreja e da Teologia do período moderno. Nesta seção, conferimos com detalhes as</p><p>questões que envolvem o ecumenismo, desde seus antecedentes, passando pela</p><p>formação do Conselho Mundial das Igrejas, pelo discurso inter-religioso e o</p><p>sincretismo religioso na América Latina. Compreender esse contexto, por sua vez,</p><p>é importante para o conhecimento dos assuntos futuros. Até a próxima!</p><p>FAÇA VALER A PENA</p><p>Questão 1</p><p>O Sincretismo é o nome dado ao conceito que signi�ca realizar a junção de duas</p><p>religiões, reinterpretando suas doutrinas e criando uma religião original.</p><p>No caso da América Latina, pode-se a�rmar que o sincretismo religioso teve</p><p>origem a partir:</p><p>a.  Do ultramontanismo, que uniformizou todas as práticas religiosas no continente.</p><p>b.  Da chegada dos espanhóis e portugueses ao continente.</p><p>c.  Da realização de festas religiosas de cunho popular no continente.</p><p>d.  Da chegada dos escravos africanos ao continente.</p><p>e. Da chegada dos jesuítas e seus métodos de conversão ao continente</p><p>Questão 2</p><p>Os eventos que sucederam a Segunda Guerra Mundial e as contribuições</p><p>acadêmicas da disciplina da História das Religiões levaram a um aumento do</p><p>diálogo entre as principais religiões do mundo, bem como a um aumento no</p><p>diálogo interconfessional cristão.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>A partir da informação apresentada, assinale a opção com a de�nição correta do</p><p>conceito de “diálogo”.</p><p>a.  Trata-se de uma aproximação pací�ca em busca do entendimento religioso do outro e sem tentativa de</p><p>conversão de ambos os lados.</p><p>b.  Trata-se de conversas religiosas informais travadas entre os membros religiosos sem a intervenção</p><p>institucional religiosa.</p><p>c.  Menciona os tratados �rmados entre líderes religiosos e civis com o objetivo de alcançar a paz mundial</p><p>nos próximos anos.</p><p>d.  Diz respeito a “eventos religiosos” que envolvem o sincretismo religioso para a busca de novas religiões</p><p>com mais e�cácia.</p><p>e.  Menciona o órgão institucional �rmado pela Igreja Católica para diminuir seu envolvimento em guerras e</p><p>con�itos religiosos.</p><p>Questão 3</p><p>A ideia de congregar os movimentos “Fé e Constituição” e “Ordem e Vida”, que</p><p>surgiram em uma grande instituição de união das Igrejas em busca da Unidade,</p><p>teve início na década de 1930, mas apenas em 1948 pôde se efetivar sob o nome</p><p>de Conselho Mundial das Igrejas (CMI).</p><p>Em relação ao Conselho Mundial das Igrejas, analise as a�rmativas a seguir:</p><p>I.  A demora em sua criação se deveu à Segunda Guerra Mundial, ocorrida entre</p><p>1939 e 1945.</p><p>II.  O CMI caminha para sua dissolução, visto que a união completa das Igrejas</p><p>cristãs está em via de concretização.</p><p>III.  A Igreja Católica, apesar do íntimo relacionamento atual com o CMI,</p><p>o�cialmente, não faz parte dela.</p><p>É correto o que se a�rma em:</p><p>a. I, apenas.</p><p>b. III, apenas.</p><p>c. I e II, apenas.</p><p>d. II e III, apenas.</p><p>e. I e III, apenas.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>ARAÚJO, M. O vai e vem dos conceitos: de categoria analítica a categoria nativa e</p><p>vice-versa. O caso do Sincretismo. Debates do NER, Porto Alegre, ano 12, n. 19, p.</p><p>121-140, jan./jun. 2011. Disponível em: https://bit.ly/3xOkKz5. Acesso em: 7 jun.</p><p>2021.</p><p>ASCANIO, S. B.; FIGUEROA, B. E.; BARRIENTOS, J. M. L. Sincretismo religioso em</p><p>América Latina y su impacto em Colômbia. Ventana Teológica, [S. l.], ano 3, v. 3,</p><p>dez. 2012. Disponível em: https://bit.ly/3j6GUsh. Acesso em: 7 jun. 2021.</p><p>BEATO, A. F. G. A Igreja Católica e o movimento ecumênico: da Conferência de</p><p>Edimburgo ao II Concílio de Vaticano (1910-1965). Dissertação (Mestrado integrado</p><p>em Teologia) — Faculdade de Teologia, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa,</p><p>2018. Disponível em: https://bit.ly/3h3T7uZ. Acesso em: 7 jun. 2021.</p><p>MARTINS, A. C. B. Nas trilhas da pluralidade cultural: um estudo sobre o</p><p>sincretismo e a enculturação da fé. Revista Eletrônica das Faculdades de Santos</p><p>Dumont, Santos Dumont, v. 1, p. 1-15, 2008. Disponível</p><p>em: https://bit.ly/3h0gllL.</p><p>Acesso em: 7 jun. 2021.</p><p>RODRIGUES, M.A. Ecumenismo e diálogo inter-religioso. Algumas notas. Revista</p><p>Portuguesa de História, Coimbra, p. 45-70, set. 2008. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3qpK6Rp. Acesso em: 7 jun. 2021.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://www.seer.ufrgs.br/debatesdoner/article/view/19025/15045</p><p>https://www.unisbc.edu.co/wp-content/uploads/2020/05/VT03-DIC2012.pdf</p><p>https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/25681/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Final_AndreFilipeBeato.pdf</p><p>https://www.fsd.edu.br/wp-content/uploads/2019/12/artigo2.pdf</p><p>https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/11963/3/02%20-%20Manuel%20Augusto%20Rodrigues.pdf</p><p>NÃO PODE FALTAR</p><p>TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA</p><p>Gustavo Balbueno de Almeida</p><p>Imprimir</p><p>PRATICAR PARA APRENDER</p><p>Saudações! Esta seção tem como tema central apresentar algumas das principais</p><p>questões que envolvem a Teologia atualmente. Para isso, tem como marco inicial a</p><p>realização do Concílio Vaticano II, ocorrido entre os anos de 1962 e 1965, e se</p><p>estende pelas questões principais reunidas a partir dali. Além disso, o conteúdo</p><p>desta seção envolve não apenas as questões próprias da teologia, como a relação</p><p>entre católicos e protestantes e as di�culdades trazidas pela secularização atual,</p><p>mas também a contribuição dela para questões atuais da própria sociedade, como</p><p>problema ecológico e de desigualdade social.</p><p>Serão tratados os pontos que envolvem o Concílio Vaticano II desde sua</p><p>convocação até suas decisões, bem como as suas consequências para no novo</p><p>entendimento da sociedade atual com a qual a Igreja se propôs a cooperar. O</p><p>Concílio possibilitou o surgimento de teologias originais, como a Teologia da</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Deseja ouvir este material?</p><p>Áudio disponível no material digital.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Libertação e a ecoteologia, que procuram responder a problemas da sociedade</p><p>atual, e de�niu as posições da Igreja para se pensar a relação com as demais</p><p>Con�ssões cristãs e os desa�os da secularização.</p><p>Num primeiro momento, você verá os detalhes que envolveram o Concílio Vaticano</p><p>II, sua convocação, as oposições e seus resultados. Além disso, apontaremos uma</p><p>discussão a respeito da fundação da Revista Concilium, que age em defesa das</p><p>posições do concílio e busca realizar uma ponte entre Teologia e as demais</p><p>Ciências Humanas e Sociais.</p><p>Num segundo momento, você verá os detalhes em relação à Teologia da</p><p>Libertação, de inspiração marxista, que é uma resposta latino-americana ao</p><p>Concílio, adaptando suas decisões à realidade do continente conhecido por sua</p><p>miséria e desigualdade. Serão vistos, também, nesse momento, as ideias de</p><p>Leonardo Bo�, um de seus principais líderes.</p><p>Num terceiro momento, serão observadas as relações entre os católicos e</p><p>protestantes em nosso tempo, com destaque para a formação das Con�ssões</p><p>protestantes neopentecostais, que realizam sincretismos com a cultura popular</p><p>periférica, e as respostas católicas, principalmente relacionadas à Renovação</p><p>Carismática.</p><p>Num quarto momento, serão analisadas as questões que envolvem a Ecoteologia</p><p>— novo ramo da disciplina que surgiu a partir das percepções de que o ritmo</p><p>tecnológico do capitalismo atual está promovendo a destruição do planeta. Essa</p><p>área de estudo busca trazer as contribuições teológicas a essa questão.</p><p>Num quinto e último momento você verá os desa�os atuais da secularização à</p><p>Igreja Católica e às Igrejas de uma maneira geral. Esse processo possibilitou o</p><p>aparecimento de pessoas que não se identi�cam apenas com uma religião e</p><p>frequentam diversos locais, aumentando o sincretismo religioso.</p><p>Alice tinha uma recente formação em Teologia e queria utilizar o seu diploma para</p><p>conseguir uma maior estabilidade �nanceira e pro�ssional. Em busca de</p><p>oportunidades, encontrou editais de �nanciamento de pesquisas �nanciadas por</p><p>instituições religiosas que aceitavam projetos ligados a sua formação. Assim, em</p><p>troca de um pagamento de uma bolsa de estudos com dezoito meses de duração,</p><p>ela apresentou um projeto de pesquisa propondo uma maior compreensão da</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>História e da Teologia da Igreja Católica nos dois últimos séculos. Para a realização</p><p>do projeto, ela dividiu a pesquisa em três grandes temas a serem tratados a cada</p><p>semestre.</p><p>Neles, deverão ser estudadas as maneiras buscadas pela Igreja Católica para</p><p>adaptar-se ao mundo contemporâneo pós-Revolução Francesa, momento a partir</p><p>do qual a secularização e a laicização minaram, em de�nitivo, a aliança entre a</p><p>Igreja e os Estados Nacionais europeus, os caminhos percorridos e as polêmicas</p><p>teológicas envolvidas. Alice deverá destacar, também, os movimentos no século XX</p><p>de aproximação da Igreja Romana aos demais grupos cristãos — católicos e</p><p>protestantes — bem como os desa�os recentes que permeiam a inserção da Igreja</p><p>em nosso mundo atual.</p><p>A terceira parte temática proposta por Alice visa a compreender os principais</p><p>detalhes da Teologia no período contemporâneo, principalmente as questões</p><p>surgidas a partir da convocação do Concílio Vaticano II entre 1962 e 1965. Os</p><p>temas perpassam o contexto para a convocação do Concílio, suas decisões, a</p><p>criação da Revista Concilium e outras de suas consequências, como o surgimento</p><p>da Teologia da Libertação e da Ecoteologia, bem como a análise de questões</p><p>pontuais para a Igreja Católica, como a relação entre católicos e protestantes e as</p><p>di�culdades propostas pela secularização da sociedade. A compreensão dessas</p><p>questões permitem uma melhor compreensão do panorama atual da disciplina.</p><p>Para contextualizar a sua aprendizagem, imagine que você é a proponente Alice.</p><p>Partindo desse pressuposto, responda: como você responderia à terceira parte da</p><p>proposta, que corresponde ao terceiro semestre de pesquisa?</p><p>Use como ponto de partida a resolução das seguintes questões:</p><p>•  Quais são os detalhes que envolvem o Concílio Vaticano II?</p><p>•  Quais as principais premissas da Teologia da Libertação?</p><p>•  Como ocorrem, atualmente, as relações entre católicos e protestantes?</p><p>•  Qual o contexto de surgimento da Teologia ecológica? Quais suas principais</p><p>teorias? Quais são os principais desa�os atuais trazidos pela secularização?</p><p>Finalmente, chegamos ao �m de nosso curso. Esperamos que você tenha</p><p>adquirido o conhecimento necessário para compreender, com mais detalhes, a</p><p>História da Igreja e da teologia cristã no período moderno. Não se esqueça de</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>sempre buscar mais conhecimento em outras leituras referentes a essa e outras</p><p>disciplinas. Estude sempre! Até a próxima!</p><p>CONCEITO-CHAVE</p><p>O CONCÍLIO VATICANO II E A REVISTA CONCILUM</p><p>O Concílio Vaticano II, o último já convocado pela Igreja Católica e o primeiro após</p><p>o Vaticano I (1870), foi anunciado em janeiro de 1959 pelo Papa João XXIII e</p><p>inaugurado em outubro de 1962, contando com quatro reuniões e encerrando em</p><p>dezembro de 1965. Nesse período, o papado trocou de mãos, quando, após a</p><p>morte de João XXIII, Paulo VI assumiu o comando do bispado de Roma. Quanto ao</p><p>concílio, sua gestação foi longa, visto que dois antecessores de João XXIII, Pio XI e</p><p>Pio XII, cogitaram convocá-lo sem sucesso, devido a uma grande oposição na cúria</p><p>romana. O argumento utilizado pelos opositores foi que, a partir da de�nição</p><p>dogmática da infalibilidade papal, que, justamente, diminuía o poder dos concílios,</p><p>estes se tornaram desnecessários (MELO, 2013, p. 18).</p><p>Não conseguindo impedir a convocação do Concílio, coube aos opositores de</p><p>caráter conservador tentar neutralizar mudanças dogmáticas e doutrinárias</p><p>efetivas que pudessem ser aprovadas. Assim, organizaram documentos que</p><p>seguiam a linha conservadora do Concílio anterior, na esperança de que o Concílio</p><p>durasse pouco tempo e o status quo então vigente se mantivesse. Porém, no início</p><p>da primeira reunião, esses documentos foram rejeitados, novas comissões e novos</p><p>documentos foram elaborados e o tempo de duração do concílio se estendeu</p><p>pelos três anos.</p><p>Os conservadores estavam certos</p><p>em seus temores, a�nal, a grande marca do</p><p>Concílio é justamente a abertura da Igreja ao mundo moderno e sua adequação a</p><p>ele, como o caso do ecumenismo e do diálogo inter-religioso já vistos em outros</p><p>momentos. Em relação ao ecumenismo, as mostras de que a posição da Igreja no</p><p>Concílio era de aproximação surgiram ainda em 1960, com a criação do</p><p>Secretariado para a União dos Cristãos; ao mesmo tempo, ela se mostrava aberta</p><p>às questões colocadas pela Teologia surgida após o modernismo, como a “Nova</p><p>Teologia” francesa, que foi in�uente na primeira metade do século XX e que ia</p><p>contra toda a centralidade e o apego à Tradição que representou a resposta</p><p>conservadora e ultramontana contra a secularização da sociedade e a laicização</p><p>dos Estados.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Além disso, as decisões que deram novo protagonismo ao estudo da Bíblia e dos</p><p>primeiros Padres in�uenciaram essa Teologia mais liberal, tendo sido um</p><p>movimento que buscou voltar às chamadas fontes iniciais da Igreja (incluindo aí a</p><p>Patrística), momentos que antecederam a grande dogmatização a que passava a</p><p>Igreja após receber liberdade de culto no Império Romano (MELO, 2013, p. 23-24).</p><p>Entre as principais contribuições do Concílio, por sua vez, estão as quatro</p><p>constituições conciliares consideradas os documentos basilares do Vaticano. A</p><p>primeira delas é o Sacrosanctum Concilium, que procura tornar a Igreja mais</p><p>acessível e participativa em termos litúrgicos, como por exemplo, o retorno da</p><p>Vigília Pascal e das missas vespertinas, das orações comunitárias e das expressões</p><p>da piedade popular. A segunda delas é o Lumen Gentium ou Luz dos Povos, que</p><p>objetiva trazer para o seio da Igreja sua percepção mais como uma realidade de</p><p>ordem teologal ligada ao Mistério de Cristo que a uma instituição centralizada em</p><p>um grande centro de poder que se dirige a todos os grupos menores. Ou seja, o</p><p>poder de comunidade na Igreja valia mais do que um poder individual, o que ia de</p><p>encontro à centralização papal e à diminuição da reunião dos bispos aprovados no</p><p>Vaticano I (MELO, 2013, p. 28).</p><p>A terceira dessas constituições conciliares é a Dei Verbum (Palavra de Deus), que</p><p>teve a mais demorada redação �nal. Ela determinou os caminhos que permitiriam</p><p>um maior protagonismo da Bíblia e da revelação em contraponto à Tradição, que</p><p>continuou a ser vista como essencial, mas apenas se ligada à Bíblia, perdendo sua</p><p>força de poder individual. A quarta e última constituição é a Gaudium et Spes ou</p><p>Alegria e Esperança, que aliam a Igreja ao mundo contemporâneo e suas variadas</p><p>culturas, economias, histórias etc. (MELO, 2013, p. 30).</p><p>ASSIMILE</p><p>O Concílio Vaticano II apresenta uma especi�cidade em relação a todos os</p><p>anteriores, conforme estabelecido a partir do Concílio de Niceia, em 325 a.</p><p>C., que foi o de não condenar nenhuma heresia nem criar nenhum dogma</p><p>novo, determinação que, até então, consistia na função principal de um</p><p>concilio. Sua função principal, portanto, foi aproximar mais a sociedade</p><p>cristã e a Igreja Católica do mundo secular, visando, principalmente, à</p><p>atenção aos problemas econômicos e sociais do mundo.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Ao �m do Concílio, em 1965, por sua vez, um grupo de teólogos — com destaque</p><p>para Karl Rahner, Hans Kung, Edward Schillebeeckx e Yves Congar — concretizou</p><p>um plano de publicar uma revista teológica que ganhou o nome de Concilium, uma</p><p>óbvia referência ao Concílio que se encerrava. Ela tinha um caráter liberal e o</p><p>objetivo de corresponder às inovações no campo doutrinal trazidas pelo Vaticano</p><p>II, além de juntar a produção de intelectuais de várias disciplinas para além da</p><p>Teologia, como História, Filoso�a, Psicologia, entre outros de países e culturas</p><p>diferentes. Essas duas últimas características — o internacionalismo e a</p><p>interdisciplinaridade —a distinguiam das várias revistas então existentes</p><p>(CARVALHO, 2008, p. 114-117).</p><p>Sua primeira edição ocorreu ainda em 1965 e a revista continua em circulação até</p><p>os nossos dias, sendo traduzida para várias línguas, entre elas, o português. Pouco</p><p>após seu lançamento, a ala mais conservadora, que não se sentiu plenamente</p><p>satisfeita com o resultado do Concílio, lançou uma revista que faria uma</p><p>contrapartida à Concílium, chamada Comunium (CARVALHO, 2008, p. 116).</p><p>Em relação ao Concílio, como ele apresentou grandes novidades e alterações</p><p>doutrinais e litúrgicas, nem todas as suas decisões foram bem aceitas em âmbitos</p><p>mais locais ou regionais, bem como muitas delas ainda não foram implantadas de</p><p>todo, o que nos permite a�rmar que o Concílio Vaticano II ainda é um processo em</p><p>andamento. Vejamos, agora, um dos grupos que surgiram em consequência da</p><p>realização do Concílio: a Teologia da Libertação.</p><p>A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO</p><p>A Teologia da Libertação foi um movimento latino-americano surgido de maneira</p><p>quase imediata ao Concílio Vaticano II, a partir de um encontro realizado na cidade</p><p>colombiana de Medellín, em 1968, que tinha como objetivo situar as decisões do</p><p>Concílio às condições especí�cas da América Latina. O argumento que as</p><p>lideranças latino-americanas utilizaram foi que a constituição do Gaudium et Spes</p><p>tinha um caráter fortemente europeu e precisava ser adaptado. A�nal, a Europa</p><p>passava um período de melhorias nas condições de vida de sua população a níveis</p><p>econômicos e sociais ocorridos com a recuperação após a Segunda Guerra</p><p>Mundial.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>A América Latina, por sua vez, apresentava as características de seu histórico de</p><p>desigualdade social, miséria e opressão advindo dos governos militares que</p><p>estavam instalados no poder em vários países do continente. Após o Congresso de</p><p>Medellín, outros três congressos marcaram a continuidade do movimento: em</p><p>Puebla, no México (1979), em Santo Domingo, na República Dominicana (1992), e</p><p>em Aparecida, no Brasil (2007) (MELO, 2013, p. 32).</p><p>E no que se constitui a Teologia da Libertação? Basicamente, ela é uma corrente</p><p>teológica de inspiração marxista que defende que o Reino de Deus é a “justa</p><p>ordem temporal sócio-econômica”. Ou seja, para eles, a Teologia deveria se pautar</p><p>na luta pela reparação das misérias humanas e referir-se a Deus apenas depois.</p><p>Cabe lembrarmos aqui que a �loso�a elaborada por Karl Marx (1818-1883) era</p><p>calcada nas lutas dos trabalhadores e das classes sociais de baixa renda pela</p><p>sobrevivência e contra a exploração de seu trabalho por patrões donos das</p><p>indústrias. Assim, a Teologia da Libertação traz essa perspectiva de luta para a</p><p>elaboração de suas diretrizes (COSTA, p. 15).</p><p>Os principais nomes desse movimento foram, entre outros, Gustavo Gutierrez,</p><p>Carlos Palácios, Benedito Ferraro, e o brasileiro Leonardo Bo�, a quem</p><p>dedicaremos uma atenção especial. Esse teólogo foi de grande importância não só</p><p>para a Teologia da Libertação, mas para a Teologia brasileira. Por muitos anos, ele</p><p>foi um dos membros editoriais da Revista Concilium, momento no qual a revista</p><p>dedicou-se a alguns temas defendidos pela Libertação, como a Teologia Feminista</p><p>(CARVALHO, 2008, p. 120).</p><p>Na sua teologia, por sua vez, a obra Jesus Cristo Libertador, de 1972, ganha</p><p>destaque, uma vez que ele busca o chamado Jesus Cristo “humano” no mundo dos</p><p>pobres e oprimidos, em uma analogia clara entre Jesus e um cidadão comum da</p><p>América Latina. Para Bo�, Jesus primeiro anunciou um mundo utópico, livre das</p><p>explorações, para depois tratar do mundo da Igreja. A escolha pelo Jesus histórico</p><p>representou a opção pela interpretação de uma Igreja que surgiu “de baixo”, a</p><p>partir dos pobres e dos marginalizados, posição em que se encontra a mulher,</p><p>aliás, em quase todas as sociedades desde o início do catolicismo (COSTA, 2019).</p><p>A Teologia da Libertação sofreu oposição não apenas por parte da Igreja como</p><p>também pelos governos ditatoriais na América Latina. Sua opção pelo marxismo</p><p>em diversos momentos chocou-se com as ideologias conservadoras que estavam</p><p>no poder e cujos padres e outros adeptos a ela foram presos e torturados. A queda</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a arte nascida por meio das ideais renascentistas.</p><p>e.  É ausente a in�uência do Renascimento sobre a reforma da Igreja no século XVI.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Questão 2</p><p>João de Paris (1250-1306) e Marsílio de Pádua (1275-1342) defenderam que o</p><p>papado estava destruindo a paz mundial e que a solução era limitar sua</p><p>autoridade por meio de leis. As críticas não pretendiam abolir o papado, mas, sim,</p><p>reformá-lo e orientar a Igreja ao modelo da Igreja antiga. Essas relações entre o</p><p>papado e os imperadores ocidentais levaram ao cisma ocidental cuja solução</p><p>passou pelo conciliarismo.</p><p>Sobre o cisma ocidental e o conciliarismo, indique a alternativa correta.</p><p>a.  A solução do cisma ocidental veio por meio do conciliarismo — movimento que de�niu o Concílio como</p><p>autoridade acima do papado.</p><p>b.  O cisma ocidental aumentou o prestígio do papado, uma vez que demandou a aliança com os califados</p><p>ocidentais.</p><p>c.  As disputas que levaram ao cisma ocidental se deram devido aos territórios ocupados pela cristandade.</p><p>d.  A crise gerada pelo cisma ocidental ampliou a autoridade da Igreja, aumentando o prestígio da</p><p>instituição.</p><p>e.  O Papa passou a ter sua autoridade questionada intensamente após o Concilio de Constança.</p><p>Questão 3</p><p>Texto-base:</p><p>Em 1492, os cristãos da Península Ibérica chegaram ao Caribe por meio de um</p><p>empreendimento comercial. Deste então, nasceu um processo de evangelização</p><p>que acompanhou a conquista da América.</p><p>Enunciado:</p><p>Sobre o processo de evangelização da América e a intolerância religiosa, indique a</p><p>alternativa correta.</p><p>a.  Na conquista da América, esteve presente o ideal missionário de convidar as pessoas a conhecerem a fé</p><p>cristã.</p><p>b.  Quando a Península Ibérica terminou a reconquista de seu território na Europa, lançou a conquista da</p><p>Ásia.</p><p>c.  Os espanhóis e, em seguida, os portugueses vieram à América com um espírito missionário de respeitar</p><p>as diferenças entre os povos.</p><p>d.  O lema dos ibéricos era: acrescentar aos povos sua fé e respeitar aqueles que pensam diferente.</p><p>e.  A mentalidade dos homens que chegaram era de uma rivalidade entre cristãos e sarracenos e calcada na</p><p>intransigência religiosa.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BARROS, J. D. Cristianismo e política na Idade Média: relações entre papado e</p><p>império. Horizonte - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, Belo</p><p>Horizonte, v. 7, n. 15, p. 53-72, dez. 2009.</p><p>DREHER, M. N. A crise e a renovação da igreja no período da reforma. 3. ed. São</p><p>Leopoldo: Sinodal, 2001. v. 3.</p><p>DREHER, M. N. A igreja latino-americana no contexto mundial. 1. ed. São</p><p>Leopoldo: Sinodal, 1999. v. 4.</p><p>DREHER, M. N. A igreja no mundo medieval. 4. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2002. v.</p><p>2.</p><p>EDITORA SARAIVA. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada</p><p>em 5 de outubro de 1988. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. 168 p. (Série Legislação</p><p>Brasileira).</p><p>FELTREN, R. Pastor chutou imagem da Santa em 1995 e causou revolta no país.</p><p>2017. Disponível em: https://bit.ly/3bVBOL2.htm. Acesso em: 14 maio. 2021</p><p>LINDBERG, C. As reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001.</p><p>OLIVEIRA, R. S. de; LULIANELLI, J. A. S. Liberdade de expressão, culto e religião. In:</p><p>MOVIMENTO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS et al. Direitos humanos no</p><p>Brasil 3: diagnósticos e perspectivas. Passo Fundo: IFIBE, 2012. Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3p4ww5r. Acesso em: 14 maio. 2021.</p><p>TILLICH, P. História do pensamento cristão. São Paulo: ASTE, 2004.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://www.uol.com.br/splash/noticias/ooops/2017/09/11/pastor-chutou-imagem-da-santa-em-1995-e-causou-revolta-no-pais</p><p>https://cdhpf.org.br/wp-content/uploads/2016/12/diagnosticos_perspectivas.pdf</p><p>NÃO PODE FALTAR</p><p>A TEOLOGIA DE MARTINHO LUTERO</p><p>Alessandro Bartz</p><p>Imprimir</p><p>PRATICAR PARA APRENDER</p><p>Você já ouviu falar sobre a publicação das 95 teses? Nesta seção de estudos, você</p><p>compreenderá o contexto que levou Martinho Lutero a um ato extremo que</p><p>colocou sua vida em risco. Assim ocorre conosco, não é? Quando vivenciamos</p><p>situações de mau uso da fé, somos compelidos a nos manifestarmos.</p><p>Para compreendermos esse contexto, vamos estudar os fatores sociais, políticos,</p><p>econômicos e culturais que permitiram a publicação das 95 teses num contexto de</p><p>exploração da fé e com base no mau uso das indulgências em favor do perdão dos</p><p>pecados. Além disso, veremos a crítica e a reação do papado, bem como os</p><p>desdobramentos que levaram à Reforma Protestante a partir de 1517.</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Deseja ouvir este material?</p><p>Áudio disponível no material digital.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Antes de Lutero, outros personagens contestaram as decisões da Igreja e foram</p><p>excomungados ou martirizados, e ainda na época de Lutero, Erasmo lançou novas</p><p>luzes sobre a teologia a partir da leitura das fontes antigas da fé, especialmente da</p><p>Bíblia.</p><p>Ainda hoje, presenciamos, no Brasil, muita fé e pouco discernimento a respeito da</p><p>Reforma Protestante. Poucas pessoas conhecem ou reconhecem as ideias que</p><p>nasceram desse movimento que mudou o mundo ocidental para sempre, e</p><p>entendemos que a instrução teológica carece de maior alcance. Contamos com</p><p>você para fazer a diferença e mudar esse cenário.</p><p>O contexto de aprendizagem desta seção expõe a crítica ao uso das indulgências</p><p>para �ns de comércio dos bens de salvação, o que levou à publicação das 95 teses,</p><p>em 1517, por Martim Lutero. A publicação dessas teses assinala, portanto, o início</p><p>da Reforma de e todas as suas consequências e derivações sociais e históricas não</p><p>apenas para o Cristianismo, mas para a sociedade contemporânea.</p><p>Desse modo, você, enquanto estudante focado em temáticas ligadas à Teologia</p><p>Moderna, deve compreender e analisar situações recorrentes no campo religioso</p><p>na atualidade, transpondo os referenciais das Teses de Lutero para o tempo</p><p>presente, em um exercício de interpretação histórica que ajudará você a</p><p>compreender elementos subjetivos da espiritualidade individual e que se traduzem</p><p>em gestos e atos ligados às comunidades de fé e igrejas que congregam esses</p><p>indivíduos em torno de causas comuns e de vivências da realidade</p><p>religiosa/institucional.</p><p>Nesse sentido, coloque-se na condição de um teólogo que atua e desenvolve</p><p>estudos e re�exões a respeito das dimensões do diálogo inter-religioso e das</p><p>expressões contemporâneas de fé no âmbito do cristianismo no Brasil.</p><p>Você foi convidado a apresentar seus pontos de vista a respeito da realidade</p><p>religiosa do país em uma importante publicação internacional cujo enfoque</p><p>cientí�co é a atualização das discussões das Teses de Lutero. Você deve</p><p>desenvolver um estudo, preferencialmente com a colaboração de outros colegas, a</p><p>respeito da viabilidade e aplicação da análise de Lutero à realidade do século XXI e</p><p>sob diferentes aplicações sociais.</p><p>Desse modo, você desenvolverá sua re�exão pautando-se nos passos a seguir:</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>1. Retome as re�exões de Lutero acerca dos problemas sociais que afetavam o</p><p>Cristianismo de seu tempo; observe, em particular, as Teses 27 e 28:</p><p>2. A partir das teses mencionadas, faça a sua transposição ao tempo presente,</p><p>identi�cando contextos e situações em que a dimensão da simonia (a compra</p><p>de favores divinos) denunciada por Lutero pode ser observada. Justi�que seu</p><p>ponto de vista.</p><p>3. De acordo com seu ponto de vista (e do grupo, se for pertinente), as</p><p>abordagens de Lutero, que deram origem à Reforma, mostram-se efetivas para</p><p>a construção, no mundo atual, de uma comunidade de fé absolutamente livre</p><p>das contradições que permeavam o Cristianismo, como observamos nas Teses</p><p>27 e 28? Justi�que sua resposta.</p><p>Convidamos você ao estudo, a �m de que possa alcançar maior clareza sobre suas</p><p>crenças, atuar em seu contexto e possibilitar a outros indivíduos de sua</p><p>comunidade o aprofundamento e o discernimento necessários para uma visão</p><p>mais próxima do signi�cado dos personagens e dos textos que inspiram e</p><p>fundamentam a visão de fé dos cristãos.</p><p>CONCEITO-CHAVE</p><p>LUTERO E SUA ÉPOCA HISTÓRICA</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>da União Soviética e a crise do socialismo no mundo ao �nal da década de 1980</p><p>diminuíram o impacto das ideias libertadoras e novas propostas espirituais</p><p>passaram a tomar parte do espaço, porém ela ainda serve de inspiração para parte</p><p>da população e da Teologia Latino-Americana.</p><p>AS NOVAS COMUNIDADES RELIGIOSAS CATÓLICAS E PROTESTANTES</p><p>O século XXI apresenta uma sociedade cada vez mais pluralizada em termos</p><p>religiosos e marcada pela ambiguidade religiosa e pelo sincretismo. Isso não pode</p><p>deixar de afetar a sociedade cristã, uma das três mais populosas do mundo e, de</p><p>longe, a mais popular do Ocidente, e podemos utilizar o Brasil como exemplo: em</p><p>uma pesquisa realizada no país no início do século, frente a 35 mil respostas,</p><p>houve a necessidade de se realizar 120 diferentes classi�cações para aquelas</p><p>referentes à seguinte pergunta: “Qual religião ou culto você professa?”.</p><p>Aproximadamente, 50% dos que se identi�caram católicos aceitavam a doutrina</p><p>espírita, e apenas 15% aceitavam as normas da ética sexual da Igreja (RODRÍGUEZ,</p><p>2011, p. 202).</p><p>Por certo que, de todas essas comunidades, apenas uma parte se constitui de</p><p>religiões originais, sincréticas ou que se diferem do cristianismo. Grande parte</p><p>delas são rami�cações do catolicismo, seja no campo católico ou protestante, as</p><p>chamadas Con�ssões ou Denominações. Nesse sentido, é possível perceber, ao</p><p>menos no Brasil, um deslocamento da crença católica para outras denominações</p><p>confessionais, religiosas ou, até, para a ausência de religião. Em 1940, a</p><p>porcentagem católica no país era de 95,2%; em 2000, ela caiu para 73,57%; já em</p><p>2010, o índice era de 61%. Quanto aos evangélicos, 25% (destes, 19% pentecostais),</p><p>e 14% se declararam sem religião (RODRÍGUEZ, 2011, p. 202).</p><p>Esses dados tornam a América Latina o local em que se veri�ca a maior perda de</p><p>�éis a nível mundial, ao lado da Europa. Em 1994, aproximadamente, quatrocentos</p><p>católicos passavam para grupos evangélicos por hora no mundo. Uma avaliação</p><p>das causas mostrou que o motivo era mais interno que externo, uma vez que a</p><p>Igreja não proporcionava aos �éis as respostas às suas perguntas. Essa queda no</p><p>número de católicos veio a fortalecer, primordialmente, os grupos protestantes</p><p>pentecostais, que vêm crescendo de maneira silenciosa desde a década de 1990 e</p><p>que, segundo interpretações mais fatalistas, pode representar, futuramente, um</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>novo cisma entre os cristãos (o que desconsideraria todo o esforço ecumênico já</p><p>visto anteriormente) ou o sinal de uma revolução cultural de efeitos mais</p><p>duradouros que uma revolução de caráter político (RODRÍGUEZ, 2011).</p><p>O Neopentecostalismo, portanto, é um movimento recente no continente (data da</p><p>década de 1970) e apresenta um caráter plural em sua teologia, liturgia e</p><p>administração. Seu caráter é sincrético e apresenta uma sobreposição de diversos</p><p>elementos, como emoção, curas e exorcismos tirados de diferentes con�ssões. Por</p><p>ser fruto, em parte, da expansão urbana e do êxodo rural, seu público-alvo</p><p>costuma ser a população citadina e residente em locais mais periféricos. Isso</p><p>signi�ca que o movimento neopentecostal não se apresenta como uma renovação</p><p>do protestantismo nem como uma reforma do cristianismo, mas como uma nova</p><p>representação popular da religião cristã. Além disso, outra característica do</p><p>neopentecostalismo é sua apropriação dos meios de comunicação, como canais de</p><p>televisão e de rádio (RODRÍGUEZ, 2011).</p><p>Da parte católica, movimentos de renovação vêm ocorrendo desde o Concílio</p><p>Vaticano II como consequência de suas decisões. O papado de João Paulo II, em</p><p>especial, estimulou esses movimentos cujo surgimento é considerado um “Novo</p><p>Pentecostes”. Alguns deles são os de renovação do laicato, desenvolvidos no início</p><p>do século XX, como a Juventude Operária Católica, a Ação Católica, entre outros</p><p>movimentos litúrgicos, catequéticos, ecumênicos etc. Entre os novos movimentos,</p><p>surgidos após a década de 1960, destaca-se a Renovação Carismática com</p><p>inspirações neopentecostais, que tem como público-alvo as pessoas de classe</p><p>média, como pro�ssionais liberais, funcionários públicos e universitários,</p><p>colocando-os, por vezes, em oposição às Comunidades Eclesiais de Base, que têm</p><p>um caráter mais voltado aos pobres (GOMES, 2008, p. 74).</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>Caso alguém lhe pergunte o que é o movimento da Renovação Carismática,</p><p>responda que se trata de um movimento que surgiu nos Estados Unidos, na</p><p>década de 1960, e que se utiliza do ecumenismo para inserir elementos</p><p>neopentecostais em sua visão de catolicismo. O movimento tem como</p><p>objetivo, entre outros, evitar o aumento da evasão dos �éis e recuperar</p><p>práticas atribuídas à Igreja primitiva e que consta no livro Ato dos</p><p>Apóstolos, como a oração espontânea.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Vejamos, agora, outra questão atual e que tem gerado preocupação na área da</p><p>Teologia: a questão ecológica e ambiental.</p><p>A TEOLOGIA ECOLÓGICA E OS APELOS DA SUSTENTABILIDADE</p><p>Desde a segunda metade do século XX (pelo menos), o planeta Terra vem</p><p>passando por um processo de crise ecológica causado, em sua maioria, pelos</p><p>gases carbônicos emitidos pelas indústrias em meio ao progresso cientí�co,</p><p>tecnológico e industrial. Diversas organizações e grupos de liderança política e</p><p>cientí�ca se mobilizam para encontrar caminhos que levem o mundo a controlar</p><p>essas emissões e a desenvolver-se de forma equilibrada, promovendo qualidade</p><p>de vida à população e menos danos ao planeta. Em meio à participação das mais</p><p>diversas disciplinas, alguns teólogos também se sentiram sensibilizados e criaram</p><p>uma nova categoria da disciplina, que recebeu o nome de “Ecoteologia”.</p><p>Um importante nome da Ecoteologia é o brasileiro Leonardo Bo�, de quem já</p><p>falamos anteriormente. Ele, a partir dos anos 1980, também passou a se dedicar</p><p>aos temas da Trindade e aos problemas ecológicos. Para ele, a criação do mundo,</p><p>iniciada há 13,7 bilhões de anos, ainda continua e o seu �m é a consumação com</p><p>Deus. Assim, ele considera que o modelo surgido com a Revolução Cientí�ca, no</p><p>século XVI, que promovia o desrespeito à Terra e seus ecossistemas, deve ser</p><p>substituído por outro, chamado por ele de “ecozóico”.</p><p>Esse modelo se fundamenta no cuidado e não na dominação, bem como no</p><p>respeito pela vida, nos direitos e na dignidade de cada ser e não na exploração</p><p>descontrolada de seus recursos. Dessa maneira, ele contraria a teoria de Charles</p><p>Darwin e alega que o que possibilitou o desenvolvimento da vida não foi a</p><p>sobrevivência do mais forte, mas, sim, a solidariedade e a comunhão dos seres. O</p><p>homem que explora os recursos naturais de forma incontrolável não está sendo</p><p>solidário com a Terra (PORTO, 2018, p. 66).</p><p>Por �m, destacamos, também, o chamado “Ecofeminismo” — vertente teológica</p><p>que relaciona a crise ecológica a outras crises do mundo. Nesse sentido, ele</p><p>destaca que a ideologia patriarcal encara o planeta Terra como uma fêmea. Ou</p><p>seja, a natureza é inferior aos homens, o que permite sua exploração sem maiores</p><p>prejuízos. A Ecoteologia procura, assim, introduzir um tipo de epistemologia que</p><p>conecte o ser humano novamente à Terra e ao Cosmos. Também utilizando-se da</p><p>Trindade, esse ramo teológico propõe alterar o conceito de Reino de Deus, que</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>pressupõe um rei poderoso que reina distante, para o Corpo de Deus, que nos</p><p>aproxima de um Deus amoroso e nos estimula a cuidar do ambiente. Ser cristão,</p><p>portanto, é opor-se e buscar alternativas ao aquecimento global (PORTO, 2018, p.</p><p>66).</p><p>Essas são algumas tendências dessa nova vertente teológica que ganhará</p><p>importância à medida que os problemas ambientais aumentarem, o que parece</p><p>ser uma realidade em nosso momento atual. Vejamos, em um último momento, a</p><p>questão da secularização em nossos tempos e os desa�os que ela impõe à</p><p>Teologia.</p><p>OS DESAFIOS DA SECULARIZAÇÃO DA SOCIEDADE</p><p>Mesmo os movimentos mais radicais em seus anticlericalismos ao longo dos</p><p>últimos séculos propuseram</p><p>E SOCIAL</p><p>A reforma do século XVI deve ser vista como um período entre a Idade Média e a</p><p>Idade Moderna. Vários sentimentos provocaram os movimentos que deram</p><p>origem à reforma da Igreja. Os desdobramentos da Idade Média tardia</p><p>representaram tanto um limiar como um ponto de apoio para as Reformas do</p><p>século XVI (LINDBERG, 2001)</p><p>É preciso caracterizar o período medieval tardio como o período de uma grande</p><p>crise. A crise de símbolos de segurança, da base sagrada de existência, foi</p><p>crescendo a partir de um acúmulo de eventos e desdobramentos. A combinação</p><p>de fatores levou à crise da ideia de comunidade política cristã, o corpus</p><p>Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se</p><p>vai do purgatório. Certo é que, no momento em que a moeda soa na caixa, vem lucro, e o amor ao dinheiro</p><p>cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de</p><p>Deus.</p><p>— LUTERO, 1517 apud CULTURA BRASILEIRA [s. d., s. p]</p><p>“ 0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>christianum, e seu gerente, a Igreja. Nessa época não havia divisão entre religião e</p><p>vida, portanto, as catástrofes como fome e praga, as mudanças na economia e o</p><p>desenvolvimento urbano, a incerteza religiosa decorrente do cisma e a corrupção</p><p>na igreja levaram ao questionamento da visão da Igreja como centro do mundo</p><p>(LINDBERG, 2001).</p><p>A cidade da Idade Média Tardia era o foco e a sede da mudança. Conforme</p><p>Lindberg (2001), a reforma alemã foi um acontecimento urbano, literário,</p><p>tecnológico e oratório.</p><p>As cidades eram sede de novas ideias; além da comunicação, ampliava-se a</p><p>educação leiga. As vésperas da reforma, o número de universidades aumentou de</p><p>20 a 70, devido ao empenho de monarcas, príncipes e mercadores ricos. A</p><p>tecnologia de impressão permitiu a difusão de novas ideias com rapidez e</p><p>segurança. No período de 40 anos, entre 1460 e 1500, foram impressos mais livros</p><p>do que haviam sido produzidos pelos escribas e monges durante a Idade Média</p><p>(LINDBERG, 2001). Ao mesmo tempo, tensões sociais cresciam com o novo espírito</p><p>de empreendimento, com as contabilizações e o acúmulo. A concentração da</p><p>riqueza, o lucro e a exploração foram objetos de crítica pelos reformadores.</p><p>Para Lindberg (2001), devemos ter cautela ao isolar o tempo de seu personagem.</p><p>Lutero foi um monge e reformador da Igreja, logo, é preciso tentar enquadrar seu</p><p>pensamento teológico num contexto político-social, cultural, eclesial e teológico do</p><p>início do século XVI, em especial, no espaço em que o movimento luterano se</p><p>desenvolveu dentro do Sacro Império Romano da Nação Alemã, formado por 350</p><p>entidades maiores ou menores, tendo a sua frente um imperador eleito, que</p><p>decidia juntamente com uma Dieta.</p><p>ATENÇÃO</p><p>Dieta, em alemão, Reichstag, era como se chamavam as reuniões em forma</p><p>de assembleia do Sacro Império Romano Germânico. As decisões tomadas</p><p>nessas assembleias eram deliberativas e de alcance em todo o Império.</p><p>Lutero precisou se explicar em várias Dietas: Worms (1521), Espira (1526),</p><p>Augsburgo (1529). Foi pela Dieta de Worms que Lutero foi condenado</p><p>também pelo Império.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Lutero nasceu no Condado de Mans�eld e passou boa parte de sua vida em</p><p>Wittenberg, uma cidade da Saxônia, com 2 mil habitantes. Em 1502, o príncipe quis</p><p>aumentar seu prestígio e criou uma universidade. Sua família era de origem</p><p>camponesa, mas atuava com mineração. O pai de Lutero conseguiu relativo bem-</p><p>estar após di�culdades �nanceiras. A vida dos camponeses da região de Mans�eld</p><p>era menos desfavorecida, mas ao sul e sudoeste da Alemanha ainda vigorava o</p><p>regime de servidão, o que os levava a uma situação bem precária. Lutero conviveu</p><p>com famílias mais abastadas, logo, seu pai se tornou uma liderança administrativa</p><p>do local. Além disso, seu pai acreditava que Lutero deveria estudar Direito, pois era</p><p>a carreira que possibilitaria a ele uma ascensão social para atuar na administração</p><p>do principado. Lutero teve uma boa educação e, mais tarde, em 1530, exortou os</p><p>pais para que enviassem os �lhos à escola, inclusive as meninas.</p><p>Na Alemanha de Lutero, vigorava a vitalidade da devotio moderna, na expressão</p><p>da Imitação de Jesus Cristo de Tomás de Kempis. Em uma escola mantida pelos</p><p>irmãos, defendia-se a imitação de Cristo e a humildade, o exame da consciência, a</p><p>leitura da bíblia e a oração.</p><p>ASSIMILE</p><p>Devotio Moderna – expressão espiritual que iniciou no séc. XIV, na Holanda,</p><p>sendo inspirada em Agostinho, que acentuou a preeminência da caridade,</p><p>simpli�cou o esforço meditativo e as práticas ascéticas. Essa expressão</p><p>invadiu os mosteiros e se irradiou entre os religiosos. Para uma maior</p><p>aceitação dos seus princípios, contribuíram, principalmente, a publicação</p><p>das obras “Imitação de Cristo”, de Tomás Kempis, escrito no séc. XV, e</p><p>“Exercícios Espirituais” de Inácio de Loiola, escrito no séc. XVI.</p><p>Ainda havia um interesse maior pela Bíblia, especialmente pelo alcance após a</p><p>invenção da imprensa. Além disso, a pregação por meio da elevação da hóstia era</p><p>recebida como graça particular; as missas encomendas para vivos ou mortos ou</p><p>para a proteção de enfermidade e outros males era recorrente; a recepção do</p><p>Cristo sofredor, a veneração das cinco chagas e do sangue de Cristo era</p><p>desmesuradamente importante, assim como o culto à Virgem, as recitações e o</p><p>culto aos santos. Em termos sociológicos, é possível falar em uma coisi�cação da</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>religião, uma vez que a graça se ligava a objetos como relíquias e as indulgências</p><p>contabilizavam a graça e a levava a um nível de comércio. Para Lienhard (1998), no</p><p>início do século XVI:</p><p>Por certo, foi a relação entre política e piedade que alterou o cenário do século XVI.</p><p>Lutero, apesar de manifestar contrariedade à autoridade do papado, tinha bons</p><p>olhos em relação à autoridade secular. Lutero, além de defender a separação entre</p><p>os poderes, manifestava con�ança e exortava a obediência à autoridade laica. Em</p><p>termos políticos, ele era protegido pelas autoridades locais e teve contato com</p><p>Carlos V (1519-1556) cujo período de reinado coincidiu com o período de atividade</p><p>de Lutero. Carlos era temido pelo rei da França e pelo papado, devido à extensão</p><p>de seus territórios (Espanha, Áustria, Nápoles, Países Baixos).</p><p>Segundo Lindberg, (2001), Carlos vinha de um berço espanhol e francês e pouco</p><p>conhecia a língua e a mentalidade dos alemães, tampouco entendia os</p><p>questionamentos de Lutero. Contudo, defendia a unidade do império e soube</p><p>defendê-lo diante do papado. Mais tarde, não conseguiu manter a divisão de seu</p><p>território, ainda mais com os con�itos entre protestantes e católicos. Para Dreher</p><p>(2004), os acontecimentos em torno da morte de Maximiliano I e a luta entre Carlos</p><p>V e Francisco I pelo poder da Europa bene�ciaram muito a expansão da Reforma,</p><p>sobretudo pelo apoio do papado a Francisco l. Lutero era um defensor da função</p><p>do imperador; além disso, acabou defendendo seu cargo em casos de</p><p>questionamento (LINDBERG, 2001).</p><p>INFLUÊNCIAS REFORMISTAS: JAN HUSS, DUNS SCOTUS E ERASMO</p><p>Os caminhos e descaminhos da Igreja medieval levaram-na a um impasse teológico</p><p>e eclesial. Dois aspectos – sola scriptura e sola Christus – podem ser encontrados</p><p>nos movimentos de reforma que surgiram nos séculos XIV e XV, que antecederam</p><p>a grande reforma protestante do século subsequente.</p><p>[...] a espera de uma reforma estava sempre viva. Em certos meios da Igreja, um retorno tímido mas real e</p><p>Tomás de Aquino, para além dos desenvolvimentos ulteriores da escolástica, tinha valor de Reforma. O</p><p>humanismo cristão era mais radical e visava a volta aos Pais da Igreja e à Bíblia. Ao mesmo tempo procurava</p><p>pôr em prática uma nova pedagogia e uma renovação moral dos clérigos e dos leigos.</p><p>— (LIENHARD, 1998, p. 28)</p><p>“</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>João Wycli�e (1328-1384) criticou o argumento teológico relacionado ao senhorio</p><p>de Deus sobre a terra mediante o Estado (poder real) e a Igreja (poder</p><p>papal),</p><p>ambos, em última análise, deviam se submeter às sagradas escrituras (GONZALES,</p><p>1981). A partir da ideia de que a Bíblia tinha poder acima dos dois (temporal e</p><p>religioso), melhor seria traduzi-la para o vernáculo de cada cultura. Os inimigos de</p><p>Wycli�e denominaram seus seguidores de lolardos (murmuradores). Após a morte</p><p>de Wycli�e, a Bíblia foi traduzida para o inglês. O movimento, pautado por ela,</p><p>seguia tais regras: a Bíblia tinha de ser traduzida ao vernáculo de sua cultura; não</p><p>havia distinção entre clero e leigos; a função sacerdotal tinha de ser apenas pregar,</p><p>sendo proibido assumir cargos públicos; e não havia voto de celibato para</p><p>sacerdotes. A repressão não se fez esperar. Até meados do século XV, o</p><p>movimento já havia sido desbaratado, mas as ideias de Wycli�e ecoaram pelos</p><p>decênios seguintes (GONZALES, 1981).</p><p>Ao contrário de Wycli�e, João Huss (1369-1415) morreu nas mãos da inquisição.</p><p>Estimulado pelas ideias de Wycli�e (Inglaterra), o discurso de Huss (Praga – atual</p><p>República Checa) girava quanto à necessidade de desobedecer ao poder papal.</p><p>Após um processo de três dias, foi sentenciado à morte na fogueira (GONZALES,</p><p>1981). O movimento, contudo, �oresceu, estruturando-se a partir de quatro artigos</p><p>balizadores: a palavra de Deus deveria ser pregada livremente; a Ceia deveria ser</p><p>oferecida nas duas espécies; o clero deveria ser privado de riquezas; e os pecados</p><p>deveriam ser punidos, principalmente o da simonia (compra de favores divinos ou</p><p>eclesiais).</p><p>Outro semeador de ideias que seriam absorvidas pela Reforma, segundo</p><p>Honnefelder (2019), foi o franciscano João Duns Scotus (1265/1266-1308). Scotus</p><p>dedicou uma atenção especial à relação de Deus para com o ser humano pecador</p><p>e desenvolveu uma nova estrutura conceitual para entender a atividade salví�ca de</p><p>Deus. Em sua teologia, havia um retorno às fontes da fé. Para ele, a atividade de</p><p>Deus é a aceitação do pecador pela misericórdia de Deus. Scotus defendia a</p><p>justi�cação como aceitação divina.</p><p>Para Honnefelder (2019), as ações de Deus em relação às pessoas têm de ser</p><p>compreendidas como atividades cuja origem provém da graça imerecida. Assim, a</p><p>justi�cação é um evento que parte de Deus; a aceitação do pecador consiste na</p><p>justi�cação, por Deus, do ser humano pecador, bem como na recompensa, por</p><p>Deus, dos atos meritórios do ser humano com a felicidade eterna. Na perspectiva</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>de Scotus, a aceitação de Deus, portanto, torna-se e�caz apenas se ela é</p><p>livremente aceita pela pessoa humana. A aceitação divina do pecador é entendida,</p><p>primariamente, como remissão dos seus pecados. A ideia de que, de acordo com</p><p>Scotus, o Deus soberano pode recompensar o pecador sem atos meritórios mostra</p><p>claramente a convicção de que a justi�cação do pecador tem de ser entendida</p><p>como uma aceitação cuja origem é a irrestrita misericórdia de Deus. A visão de</p><p>Scotus sobre a salvação não é somente teocêntrica, mas também cristocêntrica.</p><p>Outro interlocutor de Lutero foi Desidério Erasmo (1466-1536), um humanista</p><p>católico apontado por seus contemporâneos como precursor da Reforma</p><p>Protestante. Contudo, tanto os protestantes quanto os católicos o rejeitaram. Foi</p><p>rejeitado pelos protestantes por não tomar lado dos evangélicos; pelos católicos,</p><p>por suas ideias anticlericais e sua visão do Evangelho. Erasmo �cou limitado ao</p><p>humanismo renascentista.</p><p>Você deve estar se perguntando: em quais aspectos a obra literária de Erasmo</p><p>contribuiu para a ampla aceitação das ideias de Lutero? Para Siepierski (2016),</p><p>Erasmo antecipou conceitos de individualismo religioso, a concepção de que a</p><p>religião verdadeira é aquela que consiste na devoção interior e não em símbolos</p><p>externos de cerimônias e rituais. Também está presente em Erasmo um</p><p>anticlericalismo na forma de uma crítica mordaz da vida religiosa de seu tempo e,</p><p>mais especi�camente, da hierarquia eclesiástica, particularmente da cúria romana.</p><p>De acordo com SIEPIERSKI (2016), as obras de Lutero e Erasmo foram geradas no</p><p>mesmo contexto, tiveram temas e pessoas em comum e buscaram o mesmo</p><p>objetivo, isto é, a reforma da Igreja, embora tenham chegado a resultados</p><p>distintos.</p><p>As convergências entre Lutero e Erasmo eram evidentes e aproximavam o</p><p>humanismo e o movimento evangélico. Eles compartilhavam as edições dos</p><p>autores antigos, em especial de Santo Agostinho. A versão grega do Novo</p><p>Testamento que Erasmo estabeleceu ajudou Lutero na tradução da Bíblia. Além</p><p>disso, o empenho dos humanistas em favor das línguas antigas, as críticas aos</p><p>abusos e a distância que observavam em relação à escolástica foram pontos</p><p>decisivos para o pensamento de Lutero. Assim como ele, Erasmo e os humanistas</p><p>alemães desejavam a reforma da Igreja.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Lutero se distanciou de Erasmo acerca da compreensão da justiça das obras e</p><p>acusou Erasmo de favorecer as coisas humanas em detrimento das divinas. Por</p><p>outro lado, Erasmo acompanhou o trabalho das 95 teses, reconheceu sua</p><p>importância e advertiu a Lutero que não era conveniente criticar abertamente a</p><p>monarquia do papado. Erasmo não tomou partido da Reforma, e sobre a liberdade</p><p>cristã, Erasmo e Lutero travaram um lindo debate, que veremos na terceira seção.</p><p>A CONTROVÉRSIA DAS INDULGÊNCIAS</p><p>O �nal da Idade Média apresentou um cenário apocalíptico. Além da fome e</p><p>miséria, o povo enfrentou diversas pestes que propiciaram um novo cenário para</p><p>as questões da vida e da morte, do aqui e do além. A descoberta da morte do eu,</p><p>do corpo, foi contemporânea do desenvolvimento de novas práticas funerais e da</p><p>escrita de testamentos pela Igreja. A igreja, na hierarquia de contribuições, pesou o</p><p>preço da passagem deste mundo para o outro criando fundos em favor próprio</p><p>após a morte, bem como substituiu, aos poucos, a ênfase na caridade para com os</p><p>pobres. Fala-se em matemática da salvação e mentalidade contábil. O catolicismo</p><p>do �nal da Idade Média era, em grande parte, um culto dos vivos a serviço dos</p><p>mortos. Nesse período, desenvolveu-se a ritualização da missa dos mortos e a</p><p>doutrina do purgatório, um lugar para aqueles que foram arrebatados da vida sem</p><p>terem tido tempo para remendar seus erros ou preparar-se para a morte</p><p>(LINDBERG, 2001). O purgatório era uma oportunidade para se livrar do fogo do</p><p>inverno, um período de puri�cação das ofensas cometidas na vida, bem como uma</p><p>possibilidade de bene�ciar-se de orações e intercessões representadas pelas</p><p>missas e indulgências compradas pelos vivos.</p><p>Para Lindberg (2001, p. 95), “é impossível exagerar o signi�cado da penitência para</p><p>a vida e religião medievais”. O termo deriva-se do latim poena, que signi�ca não só</p><p>punição, mas também compensação, satisfação, expiação e penalidade; está</p><p>dentro do sistema teológico desenvolvido por e pós Agostinho, da necessidade de</p><p>punição dos pecados aqui ou no além. Aos poucos, as imposições penitenciais,</p><p>devido às condições sociais em transformação, �caram difíceis de ser cumpridas e</p><p>a satisfação foi sendo trocada por dinheiro. A indulgência se valia do Tesouro da</p><p>Igreja para pagar a dívida do penitente que tinha a obrigação de pagar a penitência</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>com obras de satisfação. Para o autor Lindberg, no �nal da Idade Média, a</p><p>penitência estava se tornando um instrumento de abuso para o exercício do</p><p>controle social pelo clero a para o aumento de receitas.</p><p>No contexto de Lutero, o sentido da indulgência de remissão pela igreja de uma</p><p>penalidade temporal por conta do pecado recebeu o sentido de um bilhete de</p><p>entrada no céu.</p><p>EXEMPLIFICANDO</p><p>Por exemplo, um dos vendedores mais conhecidos, chamado Tetzel, a</p><p>quem Lutero acatou, oferecia acesso direto ao céu mesmo para aqueles</p><p>que já estavam mortos ou no purgatório. Ele dizia: “no momento em que o</p><p>dinheiro na caixa tinir, do purgatório ao céu saltará a alma a seguir”. E você</p><p>estudante, compraria um produto desses? Multidões de pessoas da época</p><p>acreditavam poder comprar a salvação. As penitências eram a compra do</p><p>paraíso, um bingo do século XVI, o comércio religioso que negociava os</p><p>bens de salvação.</p><p>Lutero reagiu consternado com as pessoas que recusaram a con�ssão, a</p><p>penitência e a missa, porque já tinham comprado o bilhete para o céu, tinha a</p><p>obrigação de preveni-los contra ciladas espirituais.</p><p>Esse é o contexto imediato da escrita das Noventa e Cinco teses de 31 de outubro</p><p>de 1517, data que assinala o início da Reforma. As 95 teses eram uma proposta</p><p>acadêmica nascida para um debate universitário. Escritas em latim, língua que os</p><p>habilitantes de Wittenberg não sabiam ler, a imagem popular de Lutero como um</p><p>jovem irado que a�xou teses na porta da igreja à base de pancadas tem mais uma</p><p>conotação �ccional do que real. Mesmo assim, como esse documento acabou</p><p>causando tanto celeuma? O resultado foi uma explosão, pois tocou, ainda sem</p><p>saber, na autoridade papal e no con�ito político e eclesiástico de grande</p><p>abrangência.</p><p>REFLITA</p><p>O movimento da Reforma ocasionou a ruptura da Igreja Cristã do Ocidente,</p><p>dividindo, a partir de então, o universo cristão europeu entre protestantes e</p><p>católicos. Além de Lutero, Zwínglio, Calvino e Wesley atuaram para a</p><p>expansão do movimento. Hoje, existem milhares de igrejas espalhadas por</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>todo o planeta. O Brasil é um país que cria dezenas de igrejas por dia; será</p><p>que o resultado da Reforma foi criar a divisão entre os cristãos agrupados</p><p>em tantas igrejas?</p><p>A CRÍTICA AO PAPADO</p><p>As teses de Lutero levantaram uma série de questões concernentes ao papa: por</p><p>que ele não esvazia o purgatório por amor em vez de fazê-lo por dinheiro? Por que</p><p>não constrói a Basílica de São Pedro com seu próprio dinheiro? Para Lutero, o</p><p>verdadeiro tesouro da Igreja é o Evangelho.</p><p>As 95 teses foram levadas até o Papa, inclusive para surpresa de Lutero, e vários</p><p>teólogos trataram de responder às questões levantadas. Para Priérias, um papista</p><p>anticonciliarista, a defesa do papado e da Igreja Romana estava acima de qualquer</p><p>suspeita, e quem ousasse criticar seria logo tratado como herege. Outros teólogos</p><p>católicos, como Caetano e Eck, continuaram a defesa da Igreja com mais</p><p>profundidade. Lutero estava disposto a ir até o �m; segundo ele, é pelo viver e, na</p><p>verdade, pelo morrer e ser condenado, que alguém se torna teólogo.</p><p>Nos anos seguintes, entre 1518-1520, Lutero acabou por reconhecer que as</p><p>indulgências não poderiam ser objeto de reforma sem levar em consideração o</p><p>contexto e a autocompreensão da teologia da Igreja. Assim, para Lindberg (2001), a</p><p>questão original da Reforma parece ter sido a questão da autoridade papal e não o</p><p>tema da justi�cação.</p><p>A crítica de Lutero às indulgências e à vida cristã em geral não suscitou um</p><p>problema como a crítica da autoridade da Igreja, do papado e dos sacramentos.</p><p>Lutero foi acusado por seus opositores de retomar a heresia de João Hus.</p><p>Tanto nas 95 teses quanto em outros escritos, como o Manifesto à Nobreza Cristã</p><p>da Nação Alemã e Do Cativeiro Babilônico da Igreja, ressoam as críticas ao papado</p><p>(LIENHARD, 1998). Ele evocou, igualmente, a necessidade de reforma da Cúria</p><p>Romana, que, em sua visão, não tinha capacidade de entender a Palavra de Deus.</p><p>Lutero chegou a relacionar o papa Leão X a um anticristo. Entre 1518 e 1522,</p><p>Lutero se mostrou dividido quanto a uma reforma da Igreja, pois Roma se recusava</p><p>a se movimentar. Ele defendia uma igreja que renunciasse ao poder e se tornasse</p><p>simples no seu estilo de vida e na presença das pessoas, dando lugar à Palavra, em</p><p>sua autoridade e ação.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>No texto Manifesto à Nobreza Cristã da Nação Alemã, Lutero defendia a quebra de</p><p>três muralhas (LIENHARD, 1998). A primeira consistia na distinção estabelecida</p><p>entre estado eclesiástico e estado laico. As diferenças para ele eram de função e</p><p>não de ordem ontológica. Os cristãos em conjunto formavam o estado eclesiástico</p><p>e o povo cristão; dessas pessoas, eram eleitas pessoas para funções ministeriais e</p><p>outras para funções temporais. A segunda muralha apontava que os religiosos</p><p>romanos eram os mestres exclusivos da escritura, fazendo crer que o Papa não</p><p>podia errar em questão de fé, sendo ele bom ou mau. Para Lutero, todos os</p><p>cristãos são sacerdotes tendo uma só fé, e tem o discernimento de julgar o que é</p><p>correto ou não. Por �m, na terceira muralha, competia somente ao Papa o direito</p><p>de convocar ou de con�rmar um concílio. Para Lutero, baseado em sua doutrina</p><p>do sacerdócio geral de todos os crentes, se houvesse a necessidade e o papado</p><p>estivesse em escândalo, todos deveriam contribuir para um concílio livre, inclusive</p><p>o poder civil.</p><p>Para Lutero, na Igreja, a autoridade primeira e fundamental pertence a Cristo.</p><p>Porém, uma vez que a Igreja também é uma sociedade humana, é colocada em</p><p>questão a autoridade humana. No Manifesto, Lutero reclamou dos abusos na vida</p><p>concreta da Igreja, especialmente os �nanceiros, que deveriam ser da autoridade</p><p>civil. Diante do cenário de caos e da objeção da Igreja em agir, Lutero compele os</p><p>cristãos a chamar um Concílio (LIENHARD, 1998), uma vez que rejeitava as</p><p>pretensões teocráticas do papado e defendia que se limitasse à jurisdição</p><p>eclesiástica. O Papa não deveria ter poder sobre o imperador, mas tão somente a</p><p>função de ungi-lo.</p><p>Na sequência, Lutero exigiu que o papado renunciasse as suas posses e</p><p>pretensões territoriais na Itália; desaconselhou as peregrinações a Roma e invocou</p><p>um ditado bastante conhecido: quanto mais próximo de Roma, piores os cristãos.</p><p>Para Lienhard (1998), as acusações de Lutero eram justas, embora tenha tocado</p><p>em aspectos discutíveis e vulneráveis, como a piedade e a organização canônica</p><p>romana da época. Lutero, por outro lado, não atacou os fundamentos da</p><p>organização eclesiástica romana e não rejeitou o culto, mas propôs sua reforma,</p><p>rejeitou alguns elementos, como o caráter sacri�cial da missa, e defendeu a</p><p>comunhão em duas espécies.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>Consideramos que a relação exposta entre os fatores que contestaram o discurso</p><p>e a prática eclesial por parte de diversas pessoas, como Hus, Erasmo e Lutero, bem</p><p>como os desdobramentos da crise do papado com o poder temporal permitiram</p><p>que a questão das indulgências e a crítica ao papado fossem o estopim para uma</p><p>reforma iniciada em 1517 por meio da publicação das 95 teses.</p><p>FAÇA VALER A PENA</p><p>Questão 1</p><p>Para Lindberg (2001, p. 95), “é impossível exagerar o signi�cado da penitência para</p><p>a vida e religião medievais”. Desse modo, conforme a abordagem do autor, o</p><p>catolicismo do �nal da Idade Média era, em grande parte, um culto dos vivos a</p><p>serviço dos mortos pautado na penitência como prática de fé.</p><p>Sobre o sistema de penitência e a crise que levou à Reforma, assinale a questão</p><p>correta:</p><p>a.  O termo penitência signi�ca a compra do perdão dos pecados. Por meio do uso do Tesouro da Igreja, as</p><p>pessoas podiam comprar a salvação.</p><p>b.  Está dentro do sistema teológico desenvolvido por Lutero para lidar com a pressão das pessoas que</p><p>precisavam ser punidas pelos pecados.</p><p>c.  As imposições penitenciais eram difíceis de ser cumpridas devido à falta de relevância da penitência na</p><p>concepção religiosa da pessoa medieval.</p><p>d.  A única forma de pagar uma penitência era por meio de dinheiro, não havia a possibilidade de pegar com</p><p>os bens.</p><p>e.  A penitência estava se tornando um instrumento de abuso para o exercício do controle social pelo clero e</p><p>o aumento de receitas.</p><p>Questão 2</p><p>Outros teólogos católicos como Caetano e Eck continuaram a defesa da igreja com</p><p>mais profundidade. Lutero estava disposto a ir até o �m; segundo ele, é pelo viver</p><p>e, na verdade, pelo morrer e ser condenado que alguém se torna teólogo. Nos</p><p>anos seguintes, entre 1518-1520, Lutero acabou por reconhecer que as</p><p>indulgências não poderiam ser objeto de reforma sem levar em consideração o</p><p>contexto e a autocompreensão da teologia da Igreja.</p><p>De acordo com o texto-base, é correto a�rmar que a questão que desencadeou a</p><p>Reforma tem como tema:</p><p>a.  A justi�cação</p><p>por graça e fé.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALMEIDA, R. de. A expansão pentecostal: circulação e �exibilidade. In: TEIXEIRA, F.;</p><p>MENEZES, R. (Orgs.). As religiões no Brasil: continuidades e rupturas. Petrópolis:</p><p>Vozes, 2006.</p><p>CULTURA BRASILEIRA. As 95 teses a�xadas por Martinho Lutero na Abadia de</p><p>Westminster a 31 de outubro de 1517, fundamentalmente “contra o comércio</p><p>das indulgências”. [s. d.]. Disponível em: https://bit.ly/3oV0F7a. Acesso em: 14</p><p>maio 2021.</p><p>DREHER, N. M. A crise e a renovação da igreja no período da reforma. São</p><p>Leopoldo: Sinodal, 2004.</p><p>b.  A autoridade papal.</p><p>c.  As indulgências.</p><p>d.  A disputa ideológica pela verdade.</p><p>e.  A crítica aos imperadores.</p><p>Questão 3</p><p>Erasmo antecipou conceitos de individualismo religioso: a concepção de que a</p><p>religião verdadeira é aquela que consiste na devoção interior e não em símbolos</p><p>externos de cerimonias e rituais. Também está presente em Erasmo um</p><p>anticlericalismo na forma de uma crítica mordaz da vida religiosa de seu tempo e,</p><p>mais especi�camente, da hierarquia eclesiástica, particularmente da cúria romana.</p><p>Sobre a relação entre as obras de Erasmo e Lutero, marque a questão correta:</p><p>a.  Lutero concordou com a compreensão de Erasmo sobre a justiça das obras e o favorecimento das coisas</p><p>humanas em detrimento das divinas.</p><p>b.  Erasmo atacou o trabalho das 95 teses e advertiu Lutero de que não era conveniente criticar</p><p>abertamente a monarquia do papado</p><p>c.  A versão grega do Novo Testamento que Erasmo estabeleceu foi rejeitada por Lutero na tradução da</p><p>Bíblia.</p><p>d.  Assim como Lutero, Erasmo e os humanistas alemães desejavam a reforma da igreja.</p><p>e.  As divergências entre Lutero e Erasmo eram evidentes, uma vez que o humanismo e o movimento</p><p>evangélico eram de oposição.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_martinho_lutero_95teses.pdf</p><p>FILHO, W. R. Brasil abriu 25 novas igrejas por dia nos últimos anos, segundo</p><p>dados da Receita. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3yDRADX. Acesso em: 15</p><p>maio 2021.</p><p>G1. Fiéis da Igreja Universal contam que foram pressionados a fazer doações.</p><p>2009. Disponível em: https://glo.bo/34l9M7w.html. Acesso em: 15 maio. 2021.</p><p>GONZALES, J. L. A era dos altos ideais. São Paulo: Vida Nova, 1981.</p><p>HONNEFELDER, L. A aceitação do ser humano por Deus: a doutrina da justi�cação</p><p>em João Duns Scotus com um olhar para Martim Lutero. Teocomunicação, Porto</p><p>Alegre, v. 49, n. 1, jan./jun. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3wuyi1Y. Acesso em:</p><p>14 maio 2021.</p><p>KRÄMER, K. Martinho Lutero, o monge que revolucionou o mundo. 2016.</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3fLmO3n. Acesso em: 15 maio 2021.</p><p>LIENHARD, M. Martim Lutero: tempo, vida e mensagem. São Leopoldo: Sinodal,</p><p>1998.</p><p>LINDBERG, C. As reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001.</p><p>PRANDI, J. R. Novo mapa religioso brasileiro. Algumas características. IHU Online –</p><p>Revista do Instituto Humanitas Unisinos, [S. l.], ano 12, n. 400, ago. 2012.</p><p>Disponível em: https://bit.ly/3bYGpMm. Acesso em: 14 fev. 2021.</p><p>SIEPIERSKI, P. D. Erasmo botou o ovo que Lutero chocou: a contribuição da obra</p><p>literária de Erasmo de Roterdã ao início da Reforma Protestante. Plura – Revista</p><p>de Estudos de Religião, Mato Grosso do Sul, v. 7, n. 1, p. 268-291, jan./jun. 2016.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>https://noticias.gospelmais.com.br/brasil-abriu-25-novas-igrejas-por-dia-108700.html</p><p>http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1269108-5598,00-FIEIS+DA+IGREJA+UNIVERSAL+CONTAM+QUE+FORAM+PRESSIONADOS+A+FAZER+DOACOES</p><p>https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/teo/article/view/34705/18923</p><p>https://www.dw.com/pt-br/martinho-lutero-o-monge-que-revolucionou-o-mundo/a-36213487</p><p>http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4587&secao=400</p><p>NÃO PODE FALTAR</p><p>AS 95 TESES</p><p>Alessandro Bartz</p><p>Imprimir</p><p>PRATICAR PARA APRENDER</p><p>Quanto você vale? Você vale o que come, o que veste, o que possui? São essas</p><p>questões que permeiam o mundo de hoje. Ainda, conforme o tipo de trabalho que</p><p>você exerce, você é mais ou menos valorizado. Como veremos nesta seção, a</p><p>mensagem da Reforma valorizou a fé e a vocação, trazendo novas luzes para a</p><p>interpretação da doutrina da salvação e da justi�cação, em que a salvação se dá</p><p>pela fé em Cristo e não pelas obras da lei. Ainda, o trabalho mais simples foi</p><p>revalorizado como um serviço praticado para Cristo.</p><p>No mundo de hoje, para ser aceito na sociedade (e por que não na igreja), é</p><p>preciso demonstrar o sucesso individual, ter posses, boa família, posição social,</p><p>bom emprego. Essas condições impostas no cenário eclesial que vivenciamos</p><p>Fonte: Shutterstock.</p><p>Deseja ouvir este material?</p><p>Áudio disponível no material digital.</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>oferecem sinais de que a pessoa foi escolhida ou eleita por Deus em seu plano de</p><p>salvação, mas é preciso se esforçar ao máximo para ser quali�cado como uma</p><p>pessoa próspera. Você concorda com esse pensamento?</p><p>Certamente, essas questões também foram importantes no período da Reforma.</p><p>Lutero gastou muito tempo tentando ser perfeito e agradar a Deus; ele tinha medo</p><p>de errar e não conseguia ser santo, pois, por mais que tentasse, via-se em pecado.</p><p>Sua doutrina, a partir da interpretação bíblica, centro de sua pesquisa, trouxe alívio</p><p>à sua consciência e destacou a justiça de Deus gratuita, dada ao ser humano por</p><p>meio de Cristo, pela fé.</p><p>A partir do Debate de Heidelberg, Lutero pôde explicar sua teologia. Nas teses,</p><p>conforme Dreher (2004), Lutero prova que o ser humano não tem o direito de se</p><p>basear em suas realizações éticas como uma oportunidade de justi�cação diante</p><p>de Deus, bem como não pode se preparar para a graça, mas deixar de con�ar em</p><p>si próprio e colocar sua con�ança integralmente em Cristo. Lutero retoma a</p><p>teologia da cruz, uma expressão da doutrina da justi�cação. Cristo salva o</p><p>condenado e não o justo. Deus pode ser encontrado somente na cruz do seu �lho</p><p>e não no ser humano.</p><p>Assim como Lutero precisou dar explicações sobre seu modo de ver a teologia e</p><p>buscou se apoiar nas Escrituras e na razão, você também precisará articular tudo o</p><p>que você acredita, fundamentando e identi�cando, a partir de uma interpretação</p><p>bíblica, elementos de razoabilidade para defender suas crenças e visão de mundo.</p><p>Com base nesse contexto de aprendizagem, entendemos que a liberdade cristã</p><p>defende o lugar da liberdade para a salvação e da liberdade para a ação. A</p><p>liberdade cristã tem uma dimensão ética. No contexto em que vivemos, a ação</p><p>cristã em forma de boas atitudes é importante para a convivência urbana. Nesse</p><p>sentido, propomos o exercício a seguir.</p><p>Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você, como teólogo, foi</p><p>convidado a participar do Fórum Municipal para o Desenvolvimento da Cidade –</p><p>FMDC. O Fórum é uma iniciativa da prefeitura municipal, da câmara de vereadores,</p><p>da associação comercial e de diversas entidades públicas e privadas, incluindo as</p><p>principais igrejas presentes na cidade. No terceiro dia do FMDC, houve um debate</p><p>0</p><p>V</p><p>e</p><p>r</p><p>a</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>çõ</p><p>e</p><p>s</p><p>entre diferentes representantes de igrejas, incluindo você, sobre religião e cidade.</p><p>A questão apresentada à sua mesa de trabalho foi: a�nal, o que a igreja tem a ver</p><p>com a cidade?</p><p>Dias antes do evento, a secretaria executiva do FMDC informou por e-mail uma</p><p>proposta de divisão dos subtemas. Nessa proposta, você discorrerá, por 15</p><p>minutos, sobre o tema “A cidade e a liberdade cristã”. Para orientar a sua fala, você</p><p>deve construir um breve texto argumentativo orientando-se pelo seguinte</p><p>pensamento elaborado pelo reformador Martinho Lutero: “O cristão é um senhor</p><p>libérrimo sobre tudo, a ninguém sujeito. O cristão é um servo o�ciosíssimo de</p><p>tudo, a todos sujeito” (LUTERO, 2000, p.437.</p><p>A partir dessa frase, você pode se fazer os seguintes questionamentos:</p><p>1.  Fé é liberdade com responsabilidade: livres para tudo, mas servos uns dos</p><p>outros. Liberdade para quê? Servir a si mesmo ou ao próximo? Qual a</p><p>responsabilidade</p>

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