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<p>Advocacia Ferraz FernandesA</p><p>EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CIVEL DE CARIACICA – COMARCA DA CAPITAL</p><p>MARIA ODETE DOS SANTOS, brasileira, solteira, empregada domestica, inscrita no RG 1.474.832 ES, CPF nº 043.662.687-01, residente na Avenida São Paulo, nº 324, Bairro Santo Antônio, Cariacica/ES, CEP: 29.146-805, vem por meio de seus advogados que esta ao final subscrevem, a presença de Vossa Excelência, propor ação de:</p><p>AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE CONTRATUAL C/C</p><p>REPETIÇÃO DO INDÉBITO, DEVOLUÇÃO DE QUANTIA PAGA</p><p>E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS</p><p>em face de SINDICATO NACIONAL DOS APOSENTADOS,PENSIONISTAS E IDOSOS DA FORCA SINDICAL (SINDNAPI), pessoa jurídica de direito público, inscrito no CNPJ sob o n° 04.040.532/0002-94, com sede em R. do Carmo, n° 171 - Centro Histórico de São Paulo, São Paulo - SP, 01019-900, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:</p><p>DOS FATOS</p><p>Inicialmente, é necessário esclarecer que a parte autora é pessoa idosa e aufere mensalmente benefício previdenciário pensão por morte, e, em razão de sua idade avançada e de sua condição de vulnerabilidade social, não possui acesso aos meios eletrônicos e, nesta condição, nunca acessou seu histórico de créditos junto à autarquia previdenciária. Importante frisar que para a parte autora, qualquer valor recebido é de extrema importância para sua subsistência. Sendo assim, os valores recebidos a título de PENSAO POR MORTE são imprescindíveis para que ela possa custear suas necessidades básicas</p><p>Contudo, mais recentemente, percebeu uma diminuição nos valores recebidos mensalmente, assim, ao procurar a Autarquia Previdenciária, verificou que desde 08/2021, a existência de um desconto a título de contribuição supostamente contratado junto à requerida, sob a rubrica “CONTRIB. SINDNAPI 0800 357 7777”, conforme extrato de pagamento em anexo</p><p>A empresa ré efetuou descontos no valor aproximado de 35,30, que já somam o montante de R$ 1.177,70 (mil cento e setenta e sete reais e setenta centavos).</p><p>A autora jamais teve qualquer tipo de contrato firmado com a empresa ré, ou sequer autorizou qualquer tipo de desconto fosse feito em seu benefício por pare deste.</p><p>Não tem nenhum conhecimento sobre o que se trata tal desconto. Ressalta-se que a quantia descontada indevidamente representa parcela significativa do benefício da parte requerente, impactando diretamente em sua qualidade de vida e no custeio de seus cuidados básicos.</p><p>Esta defesa tentou contato com a requerida porem não houve nenhum retorno.</p><p>Os descontos indevidos eram efetuados assim que entrava o valor de aposentadoria por idade, que por sinal, não é muito para a subsistência deste e ainda suportar tais descontos é inaceitável.</p><p>Pelo exposto, não restou outra alternativa a não ser ingressar com a presente ação.</p><p>DO DIREITO</p><p>Como é cediço, são pressupostos de um contrato a sua causa (atribuição jurídica do negócio) e seu motivo (razão interior), cujos elementos não se evidenciam quando uma das partes sequer tomou ciência do negócio, isto é, impossível falar em relação jurídica existente se uma das partes não manifestou vontade em contratar ou aquiesceu ao negócio entabulado. Inexistentes, portanto, relação jurídica entre o autor e o réu, decorrente da operação acima citada, posto que não foram fruto de sua vontade manifesta ou declarada, de modo que assim devem ser declaradas inexistentes por esse douto Juízo, como medida de justiça.</p><p>DA INEXISTÊNCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO</p><p>A autora não contratou ou autorizou qualquer tipo de desconto junto a empresa rá, quer seja pessoalmente, por telefone ou por qualquer interposta pessoa.</p><p>Dispõe o art. 19 do CPC, in verbis:</p><p>Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração:</p><p>I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica;</p><p>A relação jurídica é entendida como “aquela relação humana que o ordenamento jurídico acha de tal modo relevante, que lhe dá o prestígio de sua força coercitiva”, esses são os dizeres de Silvio Rodrigues, grande civilista contemporâneo.</p><p>Deste modo, é imperioso mencionar que, para o contrato ser perfeito e válido é necessário que ele passe por três etapas, quais sejam: existência, validade e eficácia. No que tange ao primeiro requisito, existem quatro elementos que o compõe, os quais devem ser observados de forma simultânea: manifestação de vontade, agente, objeto e forma.</p><p>Como pode ser observado, no caso em tela, há a ausência inequívoca da manifestação de vontade do autor, uma vez que este afirma não ter firmando verbal ou escrita qualquer contrato com os demandados. Deste modo, não existindo o elemento nuclear, qual seja a manifestação de vontade, infere-se que o negócio jurídico em comento não foi perfectibilizado, ou seja, não existe no plano jurídico, sendo necessário que sejam analisados quanto a sua validade e eficácia.</p><p>Nos dizeres de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (in GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil: contratos. v. IV, tomo 1: teoria geral – 2. ed. rev., atual. e refor. – São Paulo: Saraiva, 2006, p. 18):</p><p>“(...) sem querer humano, não há negócio jurídico e, não havendo negócio jurídico, não há que se falar em contrato.” Na mesma esteira, são as lições do professor Venosa (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 7. ed. – São Paulo: Atlas, 2007, v. 2, p. 402), para quem “(...) um contrato no qual a vontade não se manifestou gera, quando muito, mera aparência de negócio, porque terá havido, quiçá, simples aparência de vontade.”</p><p>No mesmo sentido a Jurisprudência deste Tribunal o unanime em declarar a inexistência do negócio quando o requerido não comprovar a realização do negócio através de contrato assinado a rogo, veja:</p><p>PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO MARANHÃO AGRAVO INTERNO: 0801676-91.2020.8.10.0034 AGRAVANTE: BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S/A ADVOGADO: FELIPE GAZOLA VIEIRA MARQUES (OAB/MA 11.442-A - OAB/MG 76.696) AGRAVADA: FRANCISCA DUARTE RIBEIRO ADVOGADOS (AS): ANA PIERINA CUNHA SOUSA (OAB/MA 16.495) LUIZ VALDEMIRO SOARES COSTA (OAB/MA 9.487 –A) RELATOR: DESEMBARGADOR LUIZ GONZAGA ALMEIDA FILHO EMENTA AGRAVO INTERNO. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. AÇÃO DECLARATÓRIA E INDENIZATÓRIA. APLICAÇÃO DE TESE FIRMADA EM IRDR. IMPOSSIBILIDADE DE JUNTADA DE DOCUMENTOS EM GRAU RECURSAL. NÃO COMPROVAÇÃO DA CONTRATAÇÃO. DEVER DO BANCO. DANO MORAL CONFIGURADO. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.</p><p>Tomando como base o que fora acima dito, foi possível entender que para haver validade e eficácia a relação jurídica deve contar com a manifestação de vontade das partes. Não sendo assim, a medida adequada a ser tomada a este respeito é a declaração da inexistência do negócio jurídico e dos débitos que supostamente existem em decorrência dele.</p><p>RESPONSABILIDADE DA REQUERIDA - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA</p><p>O art. 3º, § 2º, da Lei n. 8.078/90 – Código Defesa do Consumidor dispõe que, consumidor, para os efeitos deste código, é toda pessoa física ou jurídica que utiliza, como destinatário final de atividade bancária, financeira e de crédito. Sendo, deste modo, considerado como serviços, para fins consumeristas, aqueles prestados também pelas instituições bancárias. Senão vejamos:</p><p>Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.</p><p>§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.</p><p>Outrossim, é evidente que as atividades desenvolvidas por empresas como esta implicam em risco direto aos direitos de terceiros e em razão de dano é imperioso que este seja reparado independentemente de culpa da instituição,</p><p>conforme disposição do art. 927, § único do Código Civil:</p><p>Art. 927 – (...) Parágrafo único: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.</p><p>Diante do exposto, e considerando o texto legal, bem como o risco em decorrência da atividade desenvolvida pelo réu, constata-se que há a necessidade de responsabilização, bem como o dever de reparar os danos sofridos pela parte autora. Destaca-se ainda que como prestadores de serviços especialmente os contemplados no art. 3º, parágrafo segundo, da Lei n. 8.078/90, estão submetidos às disposições do Código de Defesa do Consumidor, que estabelece, em seu art. 6º, inc. VIII, a inversão do ônus probatório em favor da defesa da parte hipossuficiente da relação, que é o consumidor</p><p>É sabido que no caso em tela, a responsabilidade trata-se daquela chamada “objetiva”, conforme artigo 14 do CDC, não havendo necessidade alguma de comprovação de culpa, bastando tão somente a demonstração inequívoca do dano e do nexo de causalidade, o que ficou constatado nesta exordial, conforme os fatos e provas anexadas.</p><p>Desta forma, diante da hipossuficiência da autora, requer a aplicação da inversão do ônus da prova.</p><p>DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO</p><p>Conforme já fora exposto, a requerente é cobrada recorrentemente de maneira indevida, sendo que em nenhum momento foi autorizando a contratação e tampouco os descontos em seu benefício previdenciário.</p><p>A conduta do requerido admite a caracterização de falha na prestação do serviço, por não ter havido a vontade da parte requerente em firmar contrato com o mesmo, atraindo, por tanto, a inteligência dos arts. 14 e 42 do diploma Consumerista: Parágrafo único do artigo 42 do CDC:</p><p>O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.</p><p>Não obstante tais dispositivos, vejamos o que diz o Código Civil em vigência:</p><p>Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição.</p><p>Diante do exposto, Nobre Julgador, requer o autor a procedência da ação para condenação dos réus ao pagamento dobrado do valor descontado no importe de R$ 2.355,40 (dois mil trezentos e cinquenta e cinco reais e quarenta centavos) – valor já calculado em dobro), bem como aos que vierem a ocorrer até a data do cumprimento da decisão, corrigido monetariamente desde os desembolsos, e acrescido de juros de mora a contar do evento danoso, nos moldes da Súmula 54 do STJ.</p><p>DEVOLUÇÃO DE QUANTIA PAGA</p><p>Cumpre-se ressaltar em um primeiro momento, que todo e qualquer negócio jurídico deverá ser norteado pelo princípio da boa-fé, bem como, interpretados através do mesmo, conforme expresso no Código Civil:</p><p>Art. 113 - Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.</p><p>Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Logo, se demonstra imprescindível para exercer a autonomia do poder de contratar, a preservação da boa-fé entre o contratante e o contratado.</p><p>Vislumbra-se que se trata de uma culpa exclusiva das Empresas que auferiram lucros com os valores descontados. Neste caso a devolução dos valores pagos é de extrema necessidade uma vez que o autor, contra a sua vontade, efetuou os pagamentos ao Réu. Neste sentido, foi proferido o seguinte precedente jurisprudencial:</p><p>AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C.C. REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – Mensalidades referentes ao "Clubes/Associações Sudamerica" descontadas do benefício previdenciário da autora – Ausência de prova da contratação – Declaração de inexigibilidade do débito e determinação de devolução em dobro dos valores que são de rigor – Dano moral configurado – Montante fixado que merece ser majorado para R$ 10.000,00, dadas as particularidades do caso – Determinação de que, a partir do julgamento, como consequência prática e efetiva da solução proclamada, e independentemente do trânsito em julgado, sejam suspensos os descontos (caso a Instituição ainda não tenha assim procedido), diante do resultado da perícia, sob pena de multa diária, a contar da intimação, no valor de R$ 100,00 até o limite de R$ 10.000,00 – Recurso do banco corréu improvido, provido o da autora, com determinação. (TJ-SP - AC: 10006001120208260646 SP 1000600- 11.2020.8.26.0646, Relator: Lígia Araújo Bisogni, Data de Julgamento: 17/11/2021, 34ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 17/11/2021)</p><p>Dessa forma, pretende-se seja declarada a Rescisão Contratual, com a condenação dos Requeridos a restituir integralmente a quantia paga pelo Autor, em uma única parcela, cuja quanta deverá ser acrescida de juros e correção monetária desde o evento danoso.</p><p>DO DANO MORAL</p><p>Sem dúvida, diante das provas anexas ao feito, restou demonstrado que o demandado cometeu ato ilícito.</p><p>A situação vivenciada pelo autor ultrapassa o mero aborrecimento, ocasionando um abalo psicológico e privações de ordem material. Essa prática priva a aposentado de verba alimentar necessária ao seu sustento sem o seu consentimento.</p><p>Vejamos o que dispõe o Código Civil, em seu art. 186:</p><p>Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.</p><p>Imagine Excelência, uma pessoa que sobrevive com auxílio por invalidez, a qual possui uma renda fixa mensal no valor de um salário mínimo nacional, e que, com esse montante faz o que pode para manter suas contas em dia, adquirir seus medicamentos e alimentos, ser surpreendida com a redução dos seus rendimentos.</p><p>Além disso, a falta de eficiência para a solução do conflito somada à sensação de impotência, só gerou perturbação e desgaste emocional ao autor.</p><p>Diante disso, o art. 927 do Código Civil estabelece:</p><p>Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.</p><p>A lei consumerista adota a Teoria do Risco do Empreendimento, da qual deriva a responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços, independentemente de culpa, pelos riscos decorrentes de sua atividade lucrativa, bastando o consumidor demonstrar o ato lesivo perpetrado, o dano sofrido e o liame causal entre ambos. Assim dispõe o art. 14 do CDC:</p><p>Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.</p><p>A falta de cuidado do Requerido ao invadir a esfera financeira da autora beira o inaceitável. Até porque, tendo em vista o porte gigantesco do Requerido, tem-se a expectativa de que jamais uma contratação será feita sem o devido cuidado do réu.</p><p>Ademais, diante do tipo de serviço que o demandado se compromete a prestar e da existência de um diploma legal que visa proteger o consumidor frente à discrepância de poder entre ele e o fornecedor de serviços, esperava-se do réu o resguardo dos seus clientes de possíveis ações como esta. E, então, assumir os riscos do negócio, pois o consumidor não pode ficar à mercê dessas práticas ilícitas e ser obrigado a arcar com os prejuízos delas decorrentes.</p><p>Corroborando com a pretensão autoral, o inciso X do art.</p><p>5º da Carta Magna assim estabelece:</p><p>Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)</p><p>X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;</p><p>Sendo assim, é previsto como ato ilícito aquele que cause dano, ainda que, exclusivamente moral, pois todo mal infligido ao estado ideal das pessoas, resultando mal-estar, desgostos, aflições, abalando o seu equilíbrio psíquico, constitui causa suficiente para a obrigação de reparar o dano moral.</p><p>Nestas circunstâncias, não sendo possível afastar o abalo moral sofrido e que vem sofrendo o autor, restando configurada a conduta ilícita, o nexo causal e os danos, é consequência o dever de indenizar.</p><p>Assim, merece a autora ser reparada pelo dano moral sofrido, haja vista que vem sido privado da totalidade de seu benefício previdenciário, o que lhe ocasionou transtornos e aborrecimentos que extrapolam os dissabores normais do cotidiano.</p><p>Trata-se de abuso de direitos e fere direitos constitucionais da pessoa e do consumidor, devendo tal prática ser coibida.</p><p>No caso em tela, o dano moral é in re ipsa, pois não restam dúvidas de que a autora teve sua moral e a sua dignidade atingida, sendo que não é fácil uma pessoa que sobrevive apenas com um salário mínimo e ainda lhe ser descontados valores de empréstimos que nunca solicitou, faltando muitas vezes, até mesmo alimentação adequada, tendo que chegar nessa fase da vida em que as necessidades aumentam ter que passar por situação humilhante como esta, de ter que ir por sua própria conta investigar as ilicitudes que realizaram em seu nome e em que suprimiram o seu dinheiro.</p><p>Dessa forma, frente a conduta do Requerido, deve este ser condenado em danos morais, devendo ser observados a reincidência da conduta, o poder econômico do banco, o tamanho de sua desídia e a falha de seu sistema de controle. Além de tudo, a indenização pelos danos morais sofridos deve observar o caráter educativo, não podendo ser em valor que não represente uma verdadeira e costumaz sanção ao réu, pois do contrário, continuará negligenciando com seus deveres.</p><p>Conforme entendimento jurisprudencial do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, a situação esgotante experimentada pelo autor é qualificada como dano moral in re ipsa e dá ensejo à reparação, bem como o quantum pleiteado encontra-se nos moldes dos julgados em casos análogos, senão vejamos:</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. DESCONTO INDEVIDO SOBRE PROVENTOS DE APOSENTADORIA. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. 1. Hipótese em que a parte autora sofreu descontos indevidos em seus proventos de aposentadoria, cuja ilegalidade dos restou reconhecida pela sentença. 2. Aquele que tem descontado indevidamente de seu benefício previdenciário valores referentes a serviço que não contratou sofre danos morais in re ipsa. 3. Valor da condenação fixado em R$ 8.000,00, face à observância dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade e da natureza jurídica da condenação. RECURSO PROVIDO. (Apelação Cível, Nº 70082353012, Nona Câmara Cível, Desembargador Tasso Caubi Soares Delabary, Julgado em: 29-08-2019).</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. DESCONTO INDEVIDO SOBRE PROVENTOS DE APOSENTADORIA. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. 1. Hipótese em que a parte autora sofreu descontos indevidos em seus proventos de aposentadoria, cuja ilegalidade dos restou reconhecida pela sentença. 2. Aquele que tem descontado indevidamente de seu benefício previdenciário valores referentes a serviço que não contratou sofre danos morais in re ipsa. 3. Valor da condenação fixado em R$ 8.000,00, face à observância dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade e da natureza jurídica da condenação. RECURSO PROVIDO. (Apelação Cível, Nº 70080207368, Nona Câmara Cível, Desembargador Tasso Caubi Soares Delabary, Julgado em: 08-08-2019).</p><p>DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA</p><p>Registre-se a necessidade urgente do deferimento da tutela provisória de urgência, especialmente para o fim de que seja ordenada a imediata paralisação dos descontos no benefício previdenciário do autor, situação que, como já dito, vem causando sérios prejuízos a este.</p><p>Art. 300 do Código de Processo Civil:</p><p>A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.</p><p>§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia. Conforme fatos e documentos anexados, nota-se que ficara demasiadamente demonstrado todos os requisitos exigidos pelo art. 300 do CPC para o deferimento de medida liminar.</p><p>DA PROBABILIDADE DO DIREITO:</p><p>A existência do contrato com a descrição e valores dos débitos e sem a assinatura da requerente, bem como os descontos mensais realizados no benefício, são elementos que evidenciam a probabilidade do direito. Tais elementos evidenciam de forma contundente a probabilidade do direito aqui pleiteado, fazendo jus ao deferido da tutela de urgência.</p><p>DO PERIGO DE DANO OU RISCO DO RESULTADO ÚLTIL DO PROCESSO</p><p>Excelência, caso não seja deferido o pedido liminar de tutela de urgência, permanecendo a requerente na situação, ora narrada, esta suportará enorme prejuízo, dentre os quais se encontra o risco do seu próprio sustendo, e a impossibilidade de arcar com a compra de seus medicamentos, pois como já dito, este benéfico é direcionado para manter o sustento de seu lar e sua saúde. Os descontos sofridos tratam-se de desfalque muito grande, sendo que caso não seja cessado de imediato.</p><p>Os danos que a Requerente continuará experimentando são imensuráveis, posto afetar não só a sua esfera patrimonial, mas, sobretudo, a sua intimidade e dignidade, que serão vulneradas na medida em que não terá condições de usufruir uma existência minimamente digna, já que desfalcada dos poucos recursos que dispõe para fazer face as despesas e gastos inerentes a sua pessoa.</p><p>De mais a mais, nenhum prejuízo sofrerá a requerida com a concessão da tutela antecipatória pretendida, pois se, ao final, a decisão lhe for favorável, poderá perfeitamente retomar a cobrança das prestações alusivas ao citado contrato, de maneira que nada obsta à concessão da medida, pelo que, ante as razões e fundamentos expostos, mister seja ordenado por este juízo a imediata INTERRUPÇÃO DOS DESCONTOS.</p><p>DOS PEDIDOS</p><p>Pelo exposto, requer:</p><p>a) A total procedência da presente ação, para que seja declarada a inexistência do contratual entre a Requerente e a Requerida;</p><p>b) O deferimento da tutela provisória de urgência liminar, a fim de que seja determinado/ordenado a imediata interrupção dos descontos;</p><p>c) Condenar a Requerida a cancelar definitivamente os descontos mensais, referente ao contrato impugnado;</p><p>e) Condenar as Requeridas a devolução do valor retido na conta bancária da requerente no valor de R$ 1.177,70, bem como restituir, em dobro, os valores indevidamente descontados desde agosto/2022, valor este no importe de R$ 2.355,40 – valor já calculado em dobro), bem como aos que vierem a ocorrer até a data do cumprimento da decisão, corrigido monetariamente desde os desembolsos, e acrescido de juros de mora a contar do evento danoso, nos moldes da Súmula 54 do STJ;</p><p>f) A condenação das requeridas ao pagamento de indenização a título de danos morais, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais);</p><p>g) A inversão do ônus da prova, nos exatos termos do art. 6º;</p><p>h) Sejam as requeridas condenadas ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios equivalentes a 20%;</p><p>i) Seja promovida a citação da REQUERIDA para comparecer em audiência a ser designada, bem como apresentar defesa, caso queira;</p><p>j) Seja deferida a produção de todos</p><p>os meios de prova admitidos em direito, em especial o documental, o testemunhal, sem prejuízo de outras que se fizerem necessário à prova do direito autoral;</p><p>k) Seja deferido o benefício da assistência judiciária gratuita ao Requerente;</p><p>Dá-se à causa o valor de R$ 7.355,40 (sete mil trezentos e cinquenta e cinco reais e quarenta centavos).</p><p>Nesses termos, pede deferimento</p><p>Cariacica, 16 de setembro de 2024.</p><p>Alexandre Ferraz Fernandes Tais Pegorare Mascarenhas</p><p>OAB/ES 12.376 OAB/ES 23.328</p><p>Rua João Lopes Rogerio, nº 05, sala 02, Campo Grande, Cariacica – ES</p><p>Tel.: (27) 99805-5480/ 99838-8505 – Email: advocaciaferrazfernandes@gmail.com</p>