Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

<p>ECONOMIA BRASILEIRA</p><p>CONTEMPORÂNEA (SÉCULO</p><p>XX)</p><p>AULA 5</p><p>Prof.ª Rossandra Oliveira Maciel de Bitencourt</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Anteriormente em nossos estudos, nós nos aprofundamos na política</p><p>econômica brasileira, mas especificamente nos planos de governo que</p><p>marcaram os anos 1960 e 1970. Nesta abordagem, daremos maior ênfase à</p><p>esfera econômica, retomando as consequências advindas do Choque de</p><p>Petróleo, que culminou com a crise da dívida, com a hiperinflação e com a</p><p>desindustrialização da economia brasileira atribuindo aos anos 1980 o título de</p><p>“Década Perdida”. Bons estudos!</p><p>CONTEXTUALIZANDO</p><p>No início da década de 1970, os principais países produtores do Oriente</p><p>Médio, como Arábia Saudita, Irã, Iraque e Kuwait, começam a regular as</p><p>exportações do óleo às nações consumidoras. Mas o choque vem mesmo em</p><p>1973, por motivações políticas. Literalmente, o petróleo árabe vira arma contra</p><p>o mundo ocidental, principalmente os Estados Unidos e países europeus que</p><p>declararam apoio a Israel na Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão) contra Egito</p><p>e Síria. As retaliações causam pânico global: em 16 de outubro, as vendas para</p><p>os EUA, maiores importadores mundiais, e para a Europa são embargadas; a</p><p>produção sofre firme redução em tempos de alta demanda, forçando a alta no</p><p>preço do barril.</p><p>O governo norte-americano lança mão de controle sobre a oferta da</p><p>gasolina vendida no país. Cenas de motoristas em longas filas ilustram</p><p>dramaticamente a extensão do problema. "Ninguém está mais profundamente</p><p>consciente do que está em jogo: o petróleo e nossa posição estratégica",</p><p>declarou o presidente Richard Nixon, no dia do anúncio do embargo, que durou</p><p>até março de 19741.</p><p>1Continue a leitura em:</p><p>. Acesso</p><p>em: 25 jul. 2024.</p><p>3</p><p>TEMA 1 – CHOQUE DE PETRÓLEO</p><p>Crédito: Darunrat Wongsuvan/Shutterstock.</p><p>Conforme vimos anteriormente, o Choque do Petróleo de 1973 teve sérias</p><p>repercussões tanto na economia nacional quanto internacional. Enquanto o</p><p>período de 1945 a 1970 foi caracterizado por uma longa fase de prosperidade</p><p>global, com taxas médias de crescimento de 6% ao ano, os anos 1970 viram</p><p>muitos países lidando com a crise energética e suas consequências econômicas.</p><p>O choque de 1973 foi desencadeado pela decisão da Organização dos</p><p>Países Exportadores de Petróleo (OPEP) de aumentar significativamente os</p><p>preços do petróleo e restringir o fornecimento para os países que apoiaram Israel</p><p>durante a Guerra do Yom Kippur. O barril de petróleo subiu de US$ 2,90 para</p><p>US$ 11,65. Isso resultou em uma crise energética internacional. As economias</p><p>dependentes do petróleo passaram a enfrentar uma inflação galopante,</p><p>recessão econômica e desequilíbrios comerciais.</p><p>Após esse Choque, os países desenvolvidos passaram a reduzir as</p><p>importações de petróleo, ao mesmo tempo em que valorizavam suas moedas</p><p>para proteger suas balanças de pagamentos e buscavam fontes alternativas de</p><p>energia. O Brasil, temendo o desemprego, continuou a comprar petróleo a</p><p>preços elevados enquanto investia na produção de álcool como alternativa ao</p><p>combustível caro.</p><p>4</p><p>Saiba mais</p><p>O susto do Choque do Petróleo e os baixos preços do açúcar no mercado</p><p>internacional desembocam no Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool),</p><p>idealizado pelo físico José Walter Bautista Vidal e pelo engenheiro Urbano</p><p>Ernesto Stumpf. A política governamental é estabelecida em 14 de novembro de</p><p>1975 por meio do decreto 76.593.</p><p>O país passa a ampliar a produção da matéria-prima e a converter carros</p><p>a gasolina em veículos alimentados pelo combustível vegetal. Em 1979, há um</p><p>novo choque. A paralisação da produção petrolífera do Irã, consequência da</p><p>Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Khomeini, provoca a segunda crise do</p><p>petróleo. O preço médio do barril explode, chegando a US$ 40. A nova crise é</p><p>parcialmente amortecida pelo Pró-Álcool, tecnologia genuinamente brasileira.</p><p>Leia mais em:</p><p>. Acesso em: 25 jul. 2024.</p><p>No cenário internacional, os EUA perderam temporariamente sua</p><p>liderança tecnológica e comercial e tiveram que apostar na manutenção da</p><p>hegemonia pelo poderio financeiro, ou seja, no poder do dólar como moeda de</p><p>reserva do sistema internacional. O instrumento central foi o aumento da taxa de</p><p>juros em 1979, o que obrigou os demais países a gerar superávits comerciais</p><p>para financiar os déficits da conta capital e a realização de políticas monetárias</p><p>restritivas para conter a absorção doméstica (Carneiro, 2002).</p><p>Nos anos seguintes, o crescimento do PIB brasileiro se manteve positivo,</p><p>embora muito abaixo da média de 9% observada durante os anos do Milagre</p><p>Econômico, de 1967 até o final de 1973. Em contrapartida, a dívida brasileira</p><p>começou a aumentar, de modo que, nos anos 1980, o país se depara com o</p><p>esgotamento de um padrão de dinamismo presente nos anos da industrialização</p><p>do pós-1930 (Carneiro, 2002).</p><p>Fica evidente, portanto, um contraste entre as décadas de 1970 e 1980.</p><p>Nos anos 1970, tivemos o intenso crescimento do Milagre Econômico (1970 –</p><p>1973), seguido por um longo período de desaceleração (1974 – 1980), mas ainda</p><p>com altas taxas de crescimento. Já nos anos 1980, pior do que a retração do</p><p>crescimento foi trajetória medíocre do investimento em clima de profunda</p><p>incerteza associada à aceleração inflacionária e ao aumento da dívida pública.</p><p>5</p><p>TEMA 2 – ACELERAÇÃO INFLACIONÁRIA E CRISE DA DÍVIDA</p><p>Crédito: Tanoy1412/Shutterstock.</p><p>O recrudescimento da inflação em meados dos anos 1970 foi puxado em</p><p>grande medida pela alta dos preços externos. Este choque de preços ocorre</p><p>quando a produção da indústria já se encontra em ritmo declinante de</p><p>crescimento. Em consequência, a necessidade de capital de giro das empresas</p><p>aumenta. Frente ao risco de uma paralização no ritmo dos negócios, impõe-se</p><p>uma expansão de crédito bancário comercial a fim de acompanhar a elevação</p><p>do nível de preços (Tavares; Belluzzo).</p><p>Em 1974, os mecanismos de realimentação financeira da inflação são</p><p>estéreis do ponto de vista do investimento e do consumo, ocasionando um</p><p>acúmulo de endividamento das empresas públicas, privadas e dos</p><p>consumidores. Essa engrenagem levou as empresas e as famílias a aceitarem</p><p>altos níveis de endividamento mediante a elevação nas taxas de juros. Essa</p><p>carga recaiu com ainda mais peso sobre os assalariados, as pequenas e médias</p><p>empresas.</p><p>Por outro lado, essa crise ocasionou a concentração do capital</p><p>fortalecendo as grandes empresas que já detinham poder no mercado. Os</p><p>grandes oligopólios associam seus interesses ao sistema financeiro em favor de</p><p>uma especulação generalizada que tem por base a alta taxa de juros e uma</p><p>correção inflacionária perversa. Até mesmo os títulos da dívida pública, em</p><p>particular as letras do Tesouro que deveriam regular a liquidez da economia,</p><p>terminaram por converter-se no principal objeto de especulação.</p><p>https://www.shutterstock.com/pt/g/Tanoy1412</p><p>6</p><p>Esse circuito especulativo além de alimentar a diferença de juros,</p><p>representa o mecanismo mais perverso de aceleração inflacionária, pois ao</p><p>estimar uma dada rentabilidade a partir de uma aplicação financeira, os agentes</p><p>calculam uma taxa de inflação futura, em geral superior à inflação corrente. Além</p><p>disso, as taxas de juros mais elevadas pressionam os custos das empresas, que</p><p>tendem a transferir essas pressões para os preços.</p><p>Para além desse cenário, em 1979, explodiu a segunda crise internacional</p><p>do petróleo, provocando uma subida expressiva dos preços do produto. Os</p><p>Estados Unidos foram impactados diretamente devido à dependência do</p><p>petróleo importado e passaram a ter uma inflação considerável. Em resposta a</p><p>esse cenário, o Federal Reserve (banco central americano)</p><p>aumentou as taxas</p><p>de juros no país, afetando o mundo todo e provocando uma recessão</p><p>generalizada.</p><p>O aumento da dívida interna tão logo repercutiu na expansão da dívida</p><p>externa – a uma taxa de juros elevada – que funcionou como mecanismo de</p><p>reforço de crescimento desse circuito financeiro. A necessidade de auferir novos</p><p>recursos para pagar os juros das dívidas já contraídas obriga a manutenção de</p><p>taxas de juros internas muito elevadas para que empresas internacionais e</p><p>bancos brasileiros optassem por tomar dinheiro em grande volume no exterior.</p><p>Em meio a esse cenário, a hiperinflação se intensifica de forma grave,</p><p>segundo o IGP-DI, em 1993, a inflação chegou em 2.708 %, conforme demonstra</p><p>o gráfico a seguir.</p><p>Figura 1 – Inflação (1970 – 1995)</p><p>Fonte: IPEA Data, 2024.</p><p>15</p><p>515</p><p>1015</p><p>1515</p><p>2015</p><p>2515</p><p>3015</p><p>1970 1975 1980 1985 1990 1995</p><p>IGP-DI (%)</p><p>7</p><p>Conforme veremos na sequência de nossos estudos, na tentativa de</p><p>retomar o controle monetário, o Brasil teve quatro moedas diferentes. A</p><p>hiperinflação durou cerca de 15 anos, sendo solucionada com a implementação</p><p>do Plano Real em 1994. Em 1995, o IGP-DI cai para 14,78%.</p><p>TEMA 3 – QUEDA NO INVESTIMENTO E NA DINÂMICA PRODUTIVA</p><p>Crédito: SewCreamStudio/Shutterstock.</p><p>Em decorrência do Choque de Petróleo, da alta dos juros, da hiperinflação</p><p>e do aumento da dívida pública, não foi possível manter o padrão de dinamismo</p><p>que vinha sendo implementado na indústria brasileira. O expressivo envio de</p><p>recursos ao exterior, para o pagamento da dívida externa, demandava um</p><p>aumento das exportações que acompanhasse o mesmo ritmo, e isso de fato não</p><p>foi possível.</p><p>O bom desempenho das exportações dependia em grande medida da</p><p>renovação tecnológica do parque produtivo nacional. E essa performance só</p><p>seria possível com a preservação da taxa de investimento, o que não ocorreu.</p><p>Em parte pela incerteza dos empresários, mas o peso decisivo da queda de</p><p>investimento se deu pela política de ajuste fiscal imposta pelo Fundo Monetário</p><p>Internacional (FMI), criando obstáculos ao crescimento e intensificando a crise</p><p>financeira do setor público que se via obrigado a transferir grandes remessas de</p><p>recursos para o exterior. Além de não termos um padrão de crescimento</p><p>sustentado, nesse período houve uma redução da propensão média a consumir</p><p>(Carneiro, 2002).</p><p>https://www.shutterstock.com/pt/g/ThitareeS</p><p>8</p><p>Carneiro (2002) ressalta que o desempenho do investimento refletiu-se de</p><p>forma negativa no comportamento das atividades produtivas, o que se deve</p><p>também à insuficiência do estímulo das exportações para sustentação do</p><p>crescimento da economia brasileira. O decréscimo dos investimentos do setor</p><p>produtivo estatal, a insustentabilidade do gasto público e o baixo patamar de</p><p>investimentos privados marcaram a década de 1980.</p><p>A estagnação da produção da indústria de transformação contrasta com</p><p>a preservação do crescimento na agropecuária (mais nas lavouras que na</p><p>pecuária). Conforme veremos a seguir, esse foi um período em que a indústria</p><p>revelou um desempenho medíocre. Apenas a indústria extrativa mineral manteve</p><p>o mesmo ritmo da década anterior (pela substituição de importação do petróleo).</p><p>Os segmentos mais importantes permaneceram estagnados, inclusive a</p><p>construção civil em função dos cortes do governo em infraestrutura (Carneiro,</p><p>2002).</p><p>A política monetária conduzida nesse período também penalizou</p><p>significativamente o investimento produtivo, pois em meio à incerteza, a alta taxa</p><p>de juros atraía o capital do empresariado em um contexto de preferência pela</p><p>liquidez. Frente a uma remuneração garantida pelos títulos da dívida pública,</p><p>não fazia sentido para o empresário arriscar investir no aumento da formação</p><p>bruta de capital fixo (FBCF) sem saber se teria o retorno desse investimento no</p><p>curto prazo. O gráfico a seguir, demonstra a variação real anual do PIB em</p><p>FBCF.</p><p>Figura 2 – Variação real anual do PIB em FBCF</p><p>Fonte: IPEA Data, 2024.</p><p>-20</p><p>-15</p><p>-10</p><p>-5</p><p>0</p><p>5</p><p>10</p><p>15</p><p>20</p><p>25</p><p>1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984</p><p>PIB - Formação Bruta de Capital Fixo - variação real anual</p><p>PIB - formação bruta de capital fixo - variação real anual</p><p>9</p><p>Conforme demonstra o gráfico anterior, o PIB em FBCF que alcançou o</p><p>patamar de 21% em 1973 chegou em 1983 a -16%. A seguir, veremos como</p><p>essa queda no investimento promoveu a desindustrialização brasileira nos anos</p><p>1980.</p><p>TEMA 4 – DESINDUSTRIALIZAÇÃO PRECOCE</p><p>Crédito: FrankHH/Shutterstock.</p><p>Para compreender de forma mais ampla o conceito de</p><p>desindustrialização, vamos resgatar brevemente o conceito de desenvolvimento.</p><p>Este deriva de um longo período de crescimento econômico, com elevado</p><p>aumento da produtividade média capaz de acelerar a taxa de investimento e</p><p>diversificar a estrutura produtiva e do emprego. Esse processo intensifica a</p><p>industrialização e a urbanização para transformar as estruturas sociais e</p><p>políticas do país, alterando e modernizando os hábitos e costumes da sociedade.</p><p>Quando um país se desenvolve, mostra alguns indicadores econômicos</p><p>básicos que se aproximam daqueles já obtidos pelos demais desenvolvidos,</p><p>como o elevado nível da renda e a redução da participação do setor agrícola no</p><p>PIB e no emprego. Como consequência, o crescimento dos demais setores e da</p><p>urbanização obrigam a agricultura a crescer, diversificar e modernizar-se,</p><p>reduzindo a diferença de seus resultados em relação aos dos demais setores,</p><p>para, assim, proporcionar maior homogeneidade estrutural, econômica e social</p><p>(Cano, 2012).</p><p>https://www.shutterstock.com/g/FrankHH</p><p>10</p><p>Conforme Cano (2012) ressalta, se a industrialização não se diversificar,</p><p>a modernização tende a ficar estagnada ou dependente de grandes importações</p><p>de insumos modernos e de bens de capital. Logo, no plano ideal, a</p><p>industrialização precisa avançar e crescer mais que os outros setores, alterar</p><p>sua estrutura implantando os compartimentos de bens de capital e</p><p>intermediários, contribuindo, desta forma, para a diversificação da pauta</p><p>exportadora e, se possível, para a melhoria das contas externas.</p><p>Quando atinge sua maturidade, a indústria de transformação mostra uma</p><p>diversificada estrutura, na qual os bens de capital perfazem entre 30% e 40% de</p><p>seu produto. Essa transformação intensifica a urbanização, induzindo e exigindo</p><p>enorme crescimento e diversificação de serviços de toda a ordem: comércio,</p><p>transportes, finanças, saúde, educação e outros (Cano, 2012).</p><p>Essa foi a trajetória pela qual passou as economias desenvolvidas, com</p><p>ativo papel do Estado Nacional no processo de industrialização. É notável então</p><p>que mesmo as economias desenvolvidas passaram por seus processos de</p><p>desindustrialização. Porém, chegaram nesse estágio após um elevado grau de</p><p>desenvolvimento industrial e tecnológico:</p><p>Ao atingir um elevado padrão, a estrutura produtiva e a do emprego</p><p>passam a mover-se no sentido de expandir, modernizar e diversificar</p><p>ainda mais os serviços, mais que a agricultura e a indústria de</p><p>transformação, caindo o peso relativo da industrial, perdendo posição</p><p>para os serviços. Assim é que se deve entender por desindustrialização</p><p>em um sentido positivo ou normal. (Cano, 2012, p. 833)</p><p>Em outro extremo, a economia brasileira enfrentou a queda do</p><p>investimento na indústria, antes de atingir um maior estágio de maturidade. Com</p><p>baixa capacidade de competir internacionalmente, a desindustrialização ocorre</p><p>precocemente com início nos anos 1980 aumentando o hiato de</p><p>desenvolvimento tecnológico entre o Brasil e os países desenvolvidos.</p><p>A seguir, veremos com mais detalhes como se deu o processo de</p><p>desindustrialização precoce na economia brasileira.</p><p>11</p><p>TEMA 5 – A INDÚSTRIA BRASILEIRA APÓS UMA DÉCADA DE ESTAGNAÇÃO</p><p>Crédito: Tanita_St/Shutterstock.</p><p>Em 1890, quando a Inglaterra já concluía sua I Revolução Industrial, o</p><p>Brasil ainda se constituía em uma economia primário exportadora. Entre 1930 e</p><p>1980, o Brasil passou pela industrialização restringida e pesada, completando</p><p>então sua revolução industrial. Esse processo é considerado tardio, visto que em</p><p>1960 o mundo já estava iniciando a III Revolução Industrial pautado no</p><p>paradigma da tecnologia da informação e comunicação, com base na</p><p>microeletrônica.</p><p>De acordo com Suzigan (1992), ao final dos anos 1970, a estrutura</p><p>industrial brasileira apresentava elevados graus de integração setorial e de</p><p>diversificação da produção, porém, com insuficiente desenvolvimento</p><p>tecnológico e baixa qualificação nos recursos humanos. Entre 1980 – 1990,</p><p>momento em que o Brasil deveria iniciar sua terceira revolução, nossa economia</p><p>entra em recessão. O parque industrial estava montado, porém o que se fez foi</p><p>manter a obsolescência frente à queda no investimento público ocasionado pela</p><p>baixa arrecadação e pelas imposições do FMI:</p><p>O ajustamento imposto à indústria em função da crise do início da</p><p>década de 1980 interrompeu as tendências observadas até 1979-80 e</p><p>precipitou a perda de dinamismo do padrão de desenvolvimento</p><p>industrial anterior à crise. Alguma perda de dinamismo já era esperada</p><p>em face da finalização dos grandes blocos de investimentos iniciados</p><p>na segunda metades dos anos 1970 para ampliar a capacidade de</p><p>produção de insumos básicos e bens de capital. Mas o rigor das</p><p>políticas de ajustamento respondeu pela maior parte das mudanças</p><p>ocorridas a partir de 1981. (Suzigan, 1992, p. 91)</p><p>https://www.shutterstock.com/g/Tanita_St</p><p>12</p><p>O correto seria incorporar mudanças tecnológicas e organizacionais à</p><p>indústria já estabelecida e desenvolver mais indústrias com novas tecnologias,</p><p>porém a instabilidade macroeconômica com inflação acelerada e a inoperância</p><p>do Estado em termos de política industrial levou à estagnação da produção</p><p>industrial associada à desnacionalização da economia. Essa conduta aumentou</p><p>o hiato tecnológico da indústria brasileira em relação às principais economias</p><p>capitalistas (Suzigan, 1992).</p><p>Suzigan (1992) acrescenta que, com o fim dos grandes blocos de</p><p>investimento, a indústria deixou de gerar sua própria demanda interna, e a</p><p>produção passou a ser orientada para o mercado internacional. Com baixo</p><p>dinamismo interno, durante os anos 1980, reforçou-se a inserção internacional</p><p>da indústria brasileira com base nos segmentos do padrão anterior de</p><p>desenvolvimento e em produtos intensivos em recursos naturais, energia e mão</p><p>de obra barata. O aumento da ociosidade levou ao aumento dos custos</p><p>prejudicando a competitividade das indústrias brasileiras.</p><p>Conforme já analisamos aqui, a retração dos investimentos foi expressiva</p><p>nos anos 1980 levando à deterioração dos serviços de infraestrutura – energia,</p><p>transportes e comunicações. Indústria de bens de capital retraiu 26% e a</p><p>Formação Bruta de Capital Fixo caiu 18% entre 1980 – 1990. Antes da crise,</p><p>essa categoria liderava o crescimento (Suzigan, 1992).</p><p>Em suma, o autor observa que, nos anos 1990, a indústria operava com</p><p>equipamentos e instalações tecnologicamente desfasados; apresentava um</p><p>nível extremamente baixo em gasto com Pesquisa e Desenvolvimento (PeD);</p><p>apresentava deficiência em termos de controle de qualidade; estava atrasada na</p><p>difusão de inovações gerenciais; sofria com relações conflituosas entre</p><p>produtores e fornecedores; manifestava precariedade no padrão de relações</p><p>trabalhistas.</p><p>Por fim, cabe acrescentar que uma das consequências mais perversas da</p><p>instabilidade macroeconômica dos anos 1980 foi o enfraquecimento do esforço</p><p>de desenvolvimento científico e tecnológico, penalizando em grandes</p><p>proporções a formação de recursos humanos do país.</p><p>13</p><p>TROCANDO IDEIAS</p><p>Estamos chegando ao final desta abordagem, e agora convidamos você</p><p>a ler na íntegra o artigo intitulado “A desindustrialização no Brasil”, publicado em</p><p>2012 por Wilson Cano na Revista Economia e Sociedade2.</p><p>Com base na abordagem feita pelo autor, responda às seguintes</p><p>perguntas: seria possível, hoje, revertermos esse quadro de desindustrialização</p><p>no Brasil? Que tipo de política pública deveria ser implementada nesse intuito?</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Conforme vimos, a década de 1980 foi marcada pelo baixo dinamismo</p><p>produtivo e pela queda no investimento. Explique por que a política de ajuste</p><p>fiscal imposta pelo Fundo Monetário Internacional nesse período criou ainda</p><p>mais obstáculos ao crescimento do país.</p><p>O gabarito pode ser encontrado após as referências.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Estudamos as especificidades macroeconômicas que marcaram em</p><p>especial os 1980, ficando conhecida como a “Década Perdida”. Perdida porque</p><p>não se viu mais o dinamismo que se tinha até então, porque muitas pessoas</p><p>perderam seus empregos e viram suas expectativas frustradas mediante uma</p><p>hiperinflação que reproduziu ainda mais a concentração de renda e a</p><p>desigualdade social que já marcara o país.</p><p>O Choque do Petróleo que tão logo refletiu no aumento da taxa de juros</p><p>norte americana expandiu a dívida externa brasileira para um patamar sem</p><p>precedentes. Refém do FMI, o governo brasileiro implementou uma política de</p><p>ajuste fiscal cortando os investimentos e em consequência interrompendo</p><p>precocemente um padrão de industrialização sem que estivéssemos preparados</p><p>para isso. O sucateamento da infraestrutura instalada, a quebra dos elos</p><p>produtivos que vinham sendo construídos, a precariedade e a baixa</p><p>competitividade externa constituem o saldo da indústria brasileira após uma</p><p>década de estagnação.</p><p>2 Disponível em:</p><p>. Acesso em:</p><p>25 jul. 2024.</p><p>14</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>CANO, W. A desindustrialização no Brasil. Economia e Sociedade, Campinas,</p><p>v. 21, n. 4, p. 831-851, 2012. Disponível em:</p><p>.</p><p>Acesso em: 25 jul. 2024.</p><p>CARNEIRO, R. Desenvolvimento em crise: a economia brasileira no último</p><p>quarto do século XX. Campinas: IE/Unicamp; São Paulo: Editora da Unesp,</p><p>2002.</p><p>IPEA. História: Petróleo. Desafios do Desenvolvimento, 2010. Ano 7, ed. 59,</p><p>mar. 2010. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 25 jul. 2024.</p><p>IPEA DATA. . Acesso em: 25 jul.</p><p>2024.</p><p>SUZIGAN, W. A Indústria Brasileira após uma década de estagnação: Questões</p><p>para Política Industrial. Economia e Sociedade, v. 1, n 1. Campinas, 1992.</p><p>Disponível em:</p><p>. Acesso em: 25 jul. 2024.</p><p>15</p><p>GABARITO</p><p>Porque as medidas de ajuste fiscal derrubaram a taxa de investimento. O</p><p>bom desempenho das exportações dependia da renovação tecnológica do</p><p>parque produtivo nacional e essa performance só seria possível com a</p><p>preservação da taxa de investimento, o que não ocorreu. Para além na redução</p><p>no nível do investimento privado, o setor público também reduziu o gasto em</p><p>buscar de sustentar superávits primários para cumprir as exigências do FMI.</p>

Mais conteúdos dessa disciplina