Prévia do material em texto
<p>introdução</p><p>A concepção de infância e adolescência no Brasil, em que todas as crianças e adolescentes são reconhecidos como “sujeitos de direitos e em condição peculiar de desenvolvimento”, acontece somente na redemocratização do país, em 1988, com a promulgação da Constituição Federal (CF). Contemporânea a outras normativas internacionais como a Convenção dos Direitos da Criança (1989), publicada pela ONU, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, apresenta sob a égide dessas normativas um novo posicionamento no ordenamento jurídico. Com o advento do ECA saímos de uma visão que criminalizava situações de vulnerabilidade psicossocial e socioeconômica das meninas, meninos e suas famílias e passamos a considerar que são seres em desenvolvimento e que necessitam de ações que favoreçam sua proteção integral. Na educação, se faz relevante a observação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação que estabelece – em seu artigo 12, VI – que todos os estabelecimentos de ensino deverão “articular-se com as famílias e comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola”. Ao tratar da promoção dos direitos de crianças e adolescentes, conhecer os territórios em que os estudantes estão inseridos é fundamental para estabelecer a adequada articulação entre projetos de vida, desenvolvimento e promoção dos direitos humanos.</p><p>Compreender as necessidades e conhecer os diferentes atores, que compõem a rede de proteção, contribui para que a escola exerça sua responsabilidade e exija das demais instituições que tem a responsabilidade de promover e defender os direitos das infâncias e juventudes a devida cooperação.</p><p>Fazer parte da Rede de Proteção não significa que a escola deve ser responsabilizada por todos os tipos de suporte e atendimentos que as crianças e adolescentes precisam, significa reconhecer que, enquanto instituição, a escola tem um papel nessa rede. E esse papel é, de modo geral, identificar indícios de que alguma violação está ocorrendo, e acionar as demais instituições que compõem a rede quando necessário.</p><p>Assim, o papel primordial da escola é o de garantir educação de qualidade para todas e todos e é, também, de contribuir para que os demais direitos das crianças e adolescentes que ali convivem diariamente, sejam garantidos.</p><p>O presente projeto de extensão foi aplicado na escola estadual Gilberto Alves coutinho, atendendo toda a comunidade escolar: pais , alunos e servidores da instituição. A culminância foi por meio de uma palestra com representantes do Conselho Tutelar para explanar o importante papel da sociedade e principalmente da escola na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes e construir um pensamento de cidadania, contribuindo para o conhecimento e exercício dos direitos de crianças adolescentes e jovens. E seus objetivos específicos são: disseminar os direitos da Criança e do Adolescente previstos no ECA; possibilitar a compreensão da concepção de proteção integral e as mudanças que ela trouxe para a garantia dos direitos da criança e do adolescente; contribuir com o desvendamento do que está posto no discurso midiático, principalmente no que se refere à criminalização juvenil; contribuir para a formação política das crianças, adolescentes e jovens das escolas públicas.</p><p>Metodologia</p><p>Para a realização prática do projeto na E.E. Gilberto Alves Coutinho, foi desenvolvida algumas oficinas de discussão com alunos e professores e utilizou-se os seguintes meios: audiovisuais, desenhos, dinâmicas, debates e outras atividades lúdicas. Encontros foram realizados antes da aplicação das oficinas, a fim de realizar-se discussões e elaboração de material didático e informativo. O objetivo das oficinas foi de forma geral, propor aos jovens, adolescentes e crianças um pensamento de cidadania, contribuindo para o conhecimento e exercício dos direitos dos mesmos. O grupo que desenvolveu a oficina foi composto por professoras, supervisoras e acadêmico. A oficina foi elaborada durante em um espaço de tempo de 1 hora e meia. A oficina iniciou-se com uma apresentação na qual foi feita uma exposição sobre o ECA. Por seguinte foi feita uma primeira dinâmica em grupo, intitulada “Nem tudo que parece é”. A turma foi dividida em dois grupos, formando de acordo com os temas situações como: diálogo, discussão, pegando emprestado, etc. Tais temas foram entregues para os alunos em um papel. O “Grupo 2”, recebeu as seguintes instruções: ao deveriam dar nome as “cenas” estáticas, identificando a que se referem. Após o “Grupo 2” dar a sua opinião do que pareciam ser tais situações encenadas, o “Grupo 1” revela qual era a cena que estavam encenando estaticamente. No encerramento da dinâmica, foi apontada a importância de sermos críticos ao assistirmos uma cena midiática. Sendo assim, destacou-se também a importância de sermos capazes de ver além do que nos é apresentado, sendo preciso investigar sobre o que nos é apresentado como “pronto”, antes de tomar como verdadeiro. A atividade seguinte da oficina foi a exibição de um vídeo produzido editado a partir do filme “Pixote: a lei do mais fraco” (1981). No vídeo foram compiladas partes do filme, com textos entre uma cena e outra, contextualizando o filme. Após a exibição do vídeo, foi feita uma segunda atividade com os alunos, baseada no filme exibido. A turma foi dividida em grupos e os oficineiros entregaram uma pergunta norteadora para cada grupo e fizeram a mediação do debate do grupo, que ao final apresentaram respostas para as questões propostas através de música, quadrinhos, debate e desenho. Foi feito também um breve fechamento da oficina, com a fala das professoras, encerrando a atividade e concluindo a proposta da oficina. O presente projeto de extensão é como uma ferramenta de aproximação das crianças de seus direitos, criou a possibilidade de identificação de violações, como: a violência estrutural, decorrentes de um sistema injusto e da ausência do Estado na garantia desses direitos; agressões, abusos e violências diversas. Além da possibilidade de identificação dessas violações, o projeto objetivou ainda a socialização de informações sobre o Sistema de Proteção de Direitos. Promoveu ainda a relação direta entre universidade e sociedade, oportunizou o exercício da prática profissional do academico. A avaliação deu-se juntamente com os estudantes, de acordo com cada grupo, utilizando estratégias como questionários, debates, análise do nível de interação e participação do grupo nas atividades lúdicas propostas.</p><p>Resulatdos</p><p>A oficina pedagógica foi desenvolvida na escola Estadual Gilberto Alves Coutinho . Ao adentrarmos na classe nos deparamos para uma reflexão, que a metodologia seria de grande utilidade para a escola, pois a realização da oficina foi adequada de acordo com as especificidades do grupo de alunos, considerando as diferentes faixas etárias, e tendo como princípio o caráter lúdico-pedagógico. Feitas as dinâmicas e leituras explicativas, percebemos que a ação neste grupo durante a apresentação das oficinas, possibilitou uma maior reflexão e um despertamento em torno da visibilidade conveniente que a escola passa. Foi possível perceber a falta de oportunidade igualitária para os jovens e a ausência de garantia de direitos em diversos aspectos dentro da comunidade onde residem. Num contexto da invisibilidade social as crianças adolescentes que freqüentam a referida escola, são jovens que tentam ganhar sua visibilidade através de várias formas e assim, sair do anonimato quando estão em situações limites. Observou-se a importância de nos aproximarmos deste espaço, contribuindo com a escola, contribuindo na compreensão do papel de sujeito e fortalecendo a atuação escolar, na direção da construção de políticas sociais destinadas às crianças e adolescentes, pautadas nos direitos sociais, na democracia e na transparência. Essa experiência demonstra a necessidade e a importância da participação da sociedade civil, além, de estreitar a relação entre a universidade e escola. As diversas atividades em que</p><p>estive envolvido propiciaram o desenvolvimentos de elementos como a iniciativa, a proposição e a criatividade, tanto para a identificação da demanda, quanto nas propostas de atividades, seu planejamento, execução e avaliação. Para efeito analítico, entre erros e acertos, é necessário uma reformulação das forma que vem se tratando por vezes alunos, muitas vezes tidos como “problemáticos”. A função da escola, é ensinar, educar, e não impor, nem julgar o comportamento dos alunos, mas sim compreender sua dificuldades e quando necessário, propor as intervenções adequadas, auxilia-los, para que eles desenvolvam conhecimento, e quando necessário, propor encaminhamentos. A escola, instância concretizadora da política de educação, também se constitui em espaço social integrante do Sistema de Garantia de Direitos – um importante sujeito coletivo na garantia e defesa dos direitos humanos. Enquanto equipamento da política pública de educação, a escola tem papel fundamental na luta e combate a essas diferentes formas de violações de direitos, na medida que integra às redes locais e se encontra próxima à comunidade. E, por meio da comunidade educativa (professores, demais funcionários e os próprios estudantes) é possível identificar possíveis casos de violação de direitos contra crianças e adolescentes. No entanto, essas instâncias de atuação somente terão efetividade na medida em que o Estado assuma sua responsabilidade na condição de assegurar os direitos constitucionais e infraconstitucionais violados, desenvolvendo políticas públicas que contemplem a sua apreensão. Evidencia-se aqui a necessidade de uma política articulada, que conte com ações eficazes, diante da necessidade de enfrentar tantas vulnerabilidades encontradas na realidade de diversas crianças e adolescentes.</p><p>Considerações finais</p><p>Tomando como referência os marcos históricos e legais aqui pontuados, que constituem-se no aparato fundamental da garantia dos diversos direitos que devem ser alvo de proteção prioritariamente pelo Estado, pela família - a fim de garantir uma existência digna e o desenvolvimento pleno da criança e adolescente, pode-se dizer que o debate dos direitos, voltados à reflexão crítica das questões que envolvem atualmente a infância e a juventude é extremamente pertinente, urgente e necessário. E, as atividades que foram desenvolvidas por meio desta extensão estão em processo de construção, buscou-se uma articulação entre universidade e sociedade, a partir da dimensão educativa do exercício profissional do acadêmico no futuro. Pretendeu disseminar a cultura de direitos através de oficinas realizadas na escola , contando com a participação de estudantes e demais membros participantes de núcleo escolar. A realização da oficina, proporcionou a concretização (embora momentânea) das três dimensões implícitas na atividade universitária, ou seja: a possibilidade a aprimorar os conhecimentos então acessados via ensino, no desenvolvimento, por parte dos acadêmicos, de atividades propostas no projeto junto ao publico alvo, impulsionado o desencadeamento de outras atividades de pesquisa e extensão que fortalecendo os objetivos do projeto.</p><p>Na perspectiva, de formação dos sujeitos em sentido amplo, levando em conta as peculiaridades dos distintos momentos histórico sociais, também é reafirmada na Lei de Diretrizes e Bases – LDB (Lei 9.396/1996) em que a educação é definida como um somatório de processos formativos que ocorrem na sociedade e se desenvolvem de acordo com a relação do educando com esta, portanto uma educação que realmente contribua para construção plena dos sujeitos. Vale ressaltar que a concepção de educação que baliza o trabalho respalda-se no projeto ético político da profissão, este por sua vez tem suas determinações vinculadas com teoria social crítica, portanto, compreendendo-a como direito social e como prática emancipatória. A educação, como sublinha István Mészaros (2005), é elemento fundamental na construção de uma sociedade justa e igualitária, e fundamental também nas disputas sociais e históricas.</p><p>Referencias</p><p>BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 2013. 7</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 2012.</p><p>BRASIL. Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1979. Institui o Código de Menores. Brasília: Ministério da Justiça, 1979. Disponível em: . Acesso em: 05 set. 2024. BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. “ECA”. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, 16 jul. 1990.</p><p>MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005.</p>