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<p>ESTUDO DA POPULAÇÃO</p><p>E ESPAÇO</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Prezado aluno,</p><p>O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é</p><p>semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase</p><p>improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor</p><p>e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado.</p><p>O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e</p><p>todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em</p><p>perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento</p><p>que serão respondidas em tempo hábil.</p><p>Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da</p><p>nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à</p><p>execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da</p><p>semana e a hora que lhe convier para isso.</p><p>A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser</p><p>seguida e prazos definidos para as atividades.</p><p>Bons estudos!</p><p>INTRODUÇÃO A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO</p><p>Aspectos teóricos e metodológicos da geografia da população</p><p>Onde vivem as pessoas e por que vivem ali? Quantas e que tipo de pessoas vivem nas</p><p>diferentes partes do mundo?</p><p>Qual o sentido que têm estes padrões de distribuição por certas áreas? Estas questões</p><p>excitaram a curiosidade das pessoas pensantes desde há muito tempo. Hoje, quando as</p><p>viagens são muito mais frequentes e sabemos muito mais sobre o mundo e os povos do que</p><p>antes, é natural que estas perguntas se repitam com mais insistência. Devemos procurar as</p><p>respostas não só para satisfazer uma curiosidade casual, mas o que é muito mais importante,</p><p>para resolver problemas populacionais críticos – e também por causa da distribuição</p><p>estratégica que as respostas darão a questões científicas mais amplas. Se definirmos,</p><p>provisória, e algo imperfeitamente, a Geografia da População como a ciência que trata dos</p><p>aspectos espaciais da população, então não será difícil mostrar que sua investigação pode</p><p>fornecer fatos e ideias de grande importância tanto para o demógrafo – o estudioso da</p><p>natureza e do comportamento das populações – como para o geógrafo, o estudioso da</p><p>natureza dos lugares.</p><p>A Geografia da População pode ser definida com precisão como a ciência que trata dos</p><p>modos pelos quais o caráter geográfico dos lugares é formado por um conjunto de</p><p>fenômenos de população que varia no interior deles através do tempo e do espaço, na medida</p><p>em que seguem suas próprias leis de comportamento, agindo uns sobre os outros e</p><p>relacionando-se com numerosos fenômenos não demográficos. “Lugar”, neste contexto, pode</p><p>ser um território de qualquer extensão, desde alguns hectares até a superfície inteira da Terra.</p><p>Em termos mais breves, o geógrafo da população estuda os aspectos espaciais da população</p><p>no contexto da natureza global dos lugares.</p><p>O propósito essencial dessa matéria é bem mais amplo e profundo que a tarefa</p><p>elementar de estabelecer onde as pessoas vivem, seu número e tipo. Como em todos os demais</p><p>campos da Geografia, o mero “onde” das coisas não pode ser aceito como uma definição</p><p>suficiente do campo e do propósito da Geografia da População.</p><p>Entender o perfil da população de um país é fundamental par o delineamento de</p><p>políticas públicas nas áreas de saúde, educação, habitação e sistema previdenciário, bem como</p><p>para a elaboração de análises, estudos e prognósticos sobre o desenvolvimento demográfico e</p><p>socioeconômico da nação.</p><p>Para traçar esse perfil populacional, são realizados os censos demográficos, pesquisas</p><p>detalhadas e abrangentes por meio dos quais são levantados informações referentes ao</p><p>número total de habitantes, à distribuição da população pelo território, à porcentagem de</p><p>acesso da população aos serviços capazes de assegurar saúde e bem-estar, entre outros.</p><p>Graças a esse fluxo de informações, que foi se tornando mais complexo e rico nas</p><p>últimas décadas, passa a ser possível compreender os movimentos e processos estruturais da</p><p>sociedade. À medida que o tratamento de dados foi se especializando conceitual e</p><p>metodologicamente e que o progresso técnico criou ferramentas de tratamento e recuperação</p><p>de dados mais adequadas, tornou-se possível uma maior desagregação dos níveis de análise –</p><p>ou seja, um detalhamento mais preciso, que constitui uma ferramenta essencial à realização</p><p>de intervenções na forma de políticas públicas localizadas.</p><p>Um dos aspectos primordiais no estudo das populações é o estudo das dinâmicas</p><p>demográficas. Para isso, é preciso considerar o crescimento vegetativo, ou crescimento</p><p>natural da população. Este pode ser medido pela diferença entre a taxa de natalidade e a taxa</p><p>de mortalidade de determinada população. A taxa de natalidade geralmente é expressa pelo</p><p>número de nascimentos para cada mil habitantes, em determinado período; a taxa de</p><p>mortalidade, por sua vez, é expressa em número de óbitos para cada mil habitantes. Quanto</p><p>maior for a diferença entre essas taxas, com valores positivos em favor do contingentes de</p><p>nascimentos – ou seja, se nascerem mais pessoas do que morrerem –, maior será o crescimento</p><p>vegetativo da população.</p><p>A dinâmica demográfica também considera a taxa de fecundidade, que indica o número</p><p>médio de filhos por mulher em idade fértil numa dada população: se a taxa de fertilidade for</p><p>igual a 2,1, considera-se que houve reposição populacional; se for superior a esse número, a</p><p>população cresceu; e, se for inferior, a população diminuiu.</p><p>O estudo da população é fundamental para podermos verificar a realidade quantitativa</p><p>e qualitativa da mesma. Para governantes em especial, é de fundamental importância pois,</p><p>permite traçar planos e estratégias de atuação, além de poder desenvolver um planejamento</p><p>de interesse social.</p><p>A população deve ser entendida como um recurso na medida em que representa mão</p><p>de obra para o mercado de trabalho, soldados para a defesa nacional, dentre outras coisas.</p><p>O ramo do conhecimento que estuda a população chama-se Demografia, portanto o</p><p>profissional da área é o demógrafo.</p><p>Demo- povo; Grafia- estudo, ou seja, Demografia é o estudo do povo/população. A</p><p>demografia é um estudo que engloba desde estudos individuais e dependentes até projetos do</p><p>governo em relação à população, como o IDH. Ao definir sua política (governo) tem duas</p><p>opções: estimular ou dificultar novos nascimentos. Medidas como complementação salarial</p><p>para auxílio aos pais que têm mais filhos ou aumento de impostos para os jovens de uma certa</p><p>idade que ainda não tenham filhos, podem ser chamadas natalistas, pois estimulam o aumento</p><p>da taxa de natalidade. Por outro lado, quando o governo sobretaxa o imposto para pais que</p><p>têm mais filhos ou desenvolve políticas diretas de controle da natalidade como liberação do</p><p>aborto ou distribuição de anticoncepcionais, está optando por uma política antinatalista.</p><p>Os primeiros assentamentos humanos eram dependentes da proximidade de água e,</p><p>dependendo do estilo de vida daquele grupo, outros recursos naturais, tais como terras aráveis,</p><p>para a prática da agricultura e criação de animais herbívoros, e presença de populações de</p><p>animais selvagens para a caça. No entanto, graças a grande capacidade dos seres humanos de</p><p>alterar o seu próprio habitat através de métodos como a irrigação, o planejamento urbano, a</p><p>construção de abrigos, o transportes de suprimentos e pessoas, a fabricação de mercadorias, a</p><p>agricultura e a pecuária, a proximidade de assentamentos humanos a fontes de recursos</p><p>naturais tornou-se desnecessária e, em muitos lugares, esse fator já não é uma força motriz</p><p>no crescimento ou declínio de uma população. A maneira pela qual um habitat é alterado</p><p>muitas vezes é fator determinante na evolução demográfica humana.</p><p>A tecnologia permitiu ao homem colonizar todos os continentes e adaptar-se a</p><p>praticamente todos</p><p>tinha sempre que ser mantida ao nível dos meios de subsistência. Segundo o autor em</p><p>análise, o melhoramento da sociedade dependia do equilíbrio entre a população e os meios</p><p>de subsistência e desse modo tornava-se primordial compreender quais os fatores que</p><p>possibilitariam tal equilíbrio.</p><p>Tendo em vista os argumentos de Adam Smith, Hume e Wallace, Malthus elaborou o que</p><p>29</p><p>chamou de seus postulados. Na palavras de Malthus:</p><p>“creio que posso razoavelmente colocar dois postulados. Primeiro: que o alimento é</p><p>necessário à existência do homem. Segundo: que a paixão entre os sexos é necessária e</p><p>permanecerá aproximadamente em seu presente estado”.2</p><p>Uma vez aceitos os postulados acima como razoáveis, Malthus supôs que a capacidade de</p><p>crescimento da população é indefinidamente superior à capacidade da terra de produzir os</p><p>meios de subsistência necessários. Assim, Malthus apresenta suas principais idéias sobre o</p><p>princípio da população, segundo o qual “a população, quando não obstaculizada, aumenta</p><p>a uma razão geométrica. Os meios de subsistência aumentam apenas a uma razão</p><p>aritmética. Uma ligeira familiaridade com números mostrará a imensidade da primeira</p><p>capacidade comparativamente à segunda”.3</p><p>Desse modo, a discrepância entre os aumentos da população e dos víveres implicava em</p><p>obstáculo ao crescimento da população, que operaria constantemente e adviria da dificuldade</p><p>de manutenção da subsistência. Segundo Malthus, “essa desigualdade natural das duas</p><p>capacidades, da população e da produção da terra, e aquela grande lei de nossa natureza que</p><p>deve manter constantemente seus efeitos iguais, formam a grande dificuldade</p><p>2 Thomas Robert Malthus. “Crescimento demográfico e produção de alimentos: primeiras</p><p>proposições”, p. 56. In: SZMRECSÁNYI, Tamás. (org.) Thomas Robert Malthus. Coleção</p><p>Grandes Cientistas Sociais nº 24, São Paulo: Ática, 1982</p><p>3 Idem, p. 57.</p><p>que me parece insuperável no avanço da perfectibilidade da sociedade”.4 Nesse sentido, dado</p><p>o argumento contundente pode-se concluir contra a perfectibilidade da massa de seres</p><p>humanos.</p><p>Malthus entende que</p><p>num estado de grande igualdade e virtude, onde prevalecessem costumes puros e</p><p>simples e onde os meios de subsistência fossem tão abundantes que nenhum setor da</p><p>sociedade pudesse ter quaisquer temores acerca de prover amplamente uma família (...)</p><p>o aumento da espécie humana seria evidentemente muito maior do que qualquer</p><p>aumento até agora conhecido. 5</p><p>Os estudos de Malthus sobre a realidade dos Estados Unidos da América lhe trouxeram</p><p>elementos empíricos para suas teses sobre a população. Segundo ele “nos Estados Unidos da</p><p>América, (...) verificou-se que a população dobra a cada vinte e cinco anos. (...) Esta taxa de</p><p>30</p><p>crescimento (...) será tomada como nossa regra”. 6</p><p>E ao comparar tal taxa de crescimento populacional com o crescimento dos alimentos, por</p><p>exemplo, da Inglaterra, Malthus entendeu que “repartindo-se mais a terra e por grandes</p><p>encorajamentos à agricultura, o produto dessa ilha possa ser dobrado nos primeiros vinte e</p><p>cinco anos. (...) É impossível supor que o produto pudesse quadruplicar nos vinte e cinco</p><p>anos seguintes.” 7</p><p>Finalmente Malthus conclui que o aumento da espécie humana só poderia ser mantido</p><p>comensurável ao aumento dos meios de subsistência “pelo constante funcionamento da</p><p>possante lei da necessidade, que age como um obstáculo sobre o poder maior”.8</p><p>A discussão de Malthus sobre população alimentou seus argumentos acerca da polêmica lei de</p><p>amparos aos pobres de seu tempo. Nesse aspecto particular, há uma obsessão moral de</p><p>Malthus contra os costumes da classe operária, principalmente no que tange ao hábito de</p><p>tomar cerveja. Essas idéias de Malthus inspiraram muitos economistas conservadores</p><p>modernos na elaboração de suas teorias acerca da impossibilidade e</p><p>4 Idem, p. 58.</p><p>5 Idem, p. 59.</p><p>6 Idem, p. 59.</p><p>7 Idem, p. 59.</p><p>8 Idem, p. 61.</p><p>inutilidade de uma política de bem-estar social que tivesse no seu cerne a distribuição de</p><p>renda. Para que distribuir renda se os pobres amorais gastariam todo o acréscimo de renda em</p><p>futilidades, vícios e orgias. Seria melhor manter a renda concentrada pois pessoas frugais</p><p>iriam poupar o excedente que transformar-se-ia em investimentos e progresso geral da</p><p>sociedade. Nós na periferia brasileira conhecemos bem as teorias do crescimento do bolo.</p><p>Nesse aspecto, é relevante observarmos o tratamento dispensado por Malthus à questão da lei</p><p>dos pobres na Inglaterra, segundo o qual</p><p>a fim de remediar os freqüentes sofrimentos dos pobres têm sido instituídas leis</p><p>para impor sua assistência; e a Inglaterra distinguiu-se particularmente no</p><p>estabelecimento de um sistema geral desse tipo. É de se temer, todavia, que, embora</p><p>isto possa ter aliviado um pouco a intensidade da desgraça individual, tenha espalhado</p><p>o mal num âmbito muito maior.9</p><p>Segundo Malthus, se por uma subscrição dos ricos, os pobres passassem a receber uma</p><p>31</p><p>assistência um pouco maior, poder-se-ia imaginar que eles seriam capazes de viver melhor</p><p>com um nível de consumo de alimentos maior. Para Malthus esta seria uma conclusão</p><p>totalmente falsa na medida em que a elevação dos rendimentos dos pobres acarretaria um</p><p>aumento na demanda por víveres e conseqüentemente uma elevação nos preços dos alimentos.</p><p>Assim, o que parecia benefício aos pobres se transformaria em malefício para o conjunto da</p><p>sociedade.</p><p>Além disso, o aumento das “riquezas fantasiosas” criariam estímulo ao aumento da população.</p><p>O aumento do consumo somado ao aumento da população teria como conseqüência a fome.</p><p>Segundo Malthus, o mercado seria o indicador mais adequado para o estabelecimento dos</p><p>preços e principalmente para o preço da mão-de-obra. Assim, “o preço da mão-de-obra,</p><p>quando deixado encontrar seu nível natural, é um barômetro político dos mais importantes,</p><p>expressando a relação entre a oferta e a demanda de provisões, entre a quantidade a ser</p><p>consumida e o número de consumidores”.10</p><p>9 Thomas Robert Malthus. (1803) “Sobre as leis de amparo aos pobres”. In: SZMRECSÁNYI,</p><p>Tamás. (org.) (1982) Thomas Robert Malthus. Coleção Grandes Cientistas Sociais nº 24, São</p><p>Paulo: Editora Ática, p. 66.</p><p>10 Idem, p. 74.</p><p>32</p><p>A ajuda paroquial e quaisquer benefícios aos pobres decorrente das leis de amparo aos pobres</p><p>seriam prejudiciais a toda a sociedade também, pois ao distribuir parte da renda aos</p><p>necessitados, que logo consumiriam toda a ajuda, poderia provocar, além do aumento da</p><p>demanda, uma diminuição da poupança da sociedade, ou seja,</p><p>uma ascensão geral dos salários proporcional ao preço das provisões, ajudada por</p><p>subsídios paroquiais adequados aos despedidos, por impedir qualquer tipo de</p><p>poupança, causaria, da mesma maneira que um máximo, o consumo total em nove</p><p>meses de uma safra que deveria ter durado doze e, assim, produziria a fome.11</p><p>Desse modo, toda a ajuda aos pobres não passava de uma ilusão, pois sua conseqüência</p><p>inevitável seria o aumento da fome uma vez que além da elevação dos preços em função do</p><p>aumento da demanda, ainda teríamos, com a aceleração do consumo, a eliminação dos</p><p>estoques e de toda a produção de víveres antes mesmo que pudessem ser repostos no tempo e</p><p>assim teríamos a piora para o conjunto da população. Parece que Malthus entende que a</p><p>distribuição de renda conseqüente da ajuda aos pobres redundaria necessariamente em</p><p>malefício para o conjunto da sociedade e, portanto, todas as leis de amparo aos pobres</p><p>deveriam ser abolidas em benefício de todos.</p><p>Os argumentos de Malthus são contundentes e ganhou muitos adeptos. Para Malthus,</p><p>as leis inglesas de amparo aos pobres tendem a deprimir a condição geral dos pobres</p><p>das duas seguintes maneiras. Sua primeira tendência óbvia é aumentar a população</p><p>sem aumentar a comida para seu sustento. (...) Em segundo lugar, a quantidade de</p><p>provisões consumidas nas casas de trabalho por uma parte da sociedade</p><p>que não pode,</p><p>em geral, ser considerada como a mais valiosa diminui a porção que, de outra forma,</p><p>pertenceria a membros mais industriosos e valiosos e, assim, da mesma maneira,</p><p>força mais gente a se tornar dependente.12</p><p>Os pobres trabalhadores vivem o presente e nunca se preocupam em economizar e fazer</p><p>poupança. Com essa visão moral acerca dos pobres e com esse argumento Malthus</p><p>11 Idem, p. 76.</p><p>12 Idem, p. 77.</p><p>33</p><p>conclui que os trabalhadores, mesmo quando “têm oportunidade de economizar, raramente a</p><p>utilizam; mas, falando de maneira geral, tudo o que ganham acima de suas necessidades</p><p>presentes vai para a cervejaria”. 13 A única alternativa para se evitar o aumento da população</p><p>e o aumento da pobreza seria primeiro “a abolição gradual e muito gradual das leis de</p><p>amparo aos pobres.”14 (1803: 94); e segundo, “prudência no casamento, que é o único</p><p>meio moral de evitar um excesso de trabalhadores em relação à demanda.” 15</p><p>É evidente que a argumentação de Malthus não levava em consideração que o aumento da</p><p>oferta de alimentos poderia minimizar os efeitos deletérios das pressões de demanda</p><p>decorrentes do aumento da renda dos pobres. Tal aumento poderia advir tanto da introdução</p><p>de tecnologias modernas no campo como também pela própria elevação da taxa de lucro em</p><p>função da demanda reprimida decorrente do aumento da renda dos pobres. Mesmo assim, o</p><p>aumento da oferta de alimentos somente pode se transformar em realidade considerando o</p><p>médio e longo prazo.</p><p>2. As idéias de Karl Marx sobre a população:</p><p>Para Karl Heinrich Marx (1818 – 1883) a riqueza das sociedades onde rege a produção</p><p>capitalista configura-se em “imensa acumulação de mercadorias”. A mercadoria é uma coisa</p><p>que satisfaz necessidades humanas materiais e espirituais. Tais coisas úteis podem ser</p><p>consideradas sob duplo aspecto: segundo a qualidade e quantidade. A utilidade de uma coisa</p><p>faz dela valor-de-uso.</p><p>Como medir a grandeza do valor de uma mercadoria? Por meio da quantidade da substância</p><p>criadora de valor nela contida: o trabalho. A quantidade de trabalho abstrato, por sua vez,</p><p>mede-se pelo tempo de sua duração. Assim, para Marx, o valor é determinado pelo tempo de</p><p>trabalho abstrato, socialmente necessário para a produção e reprodução de uma mercadoria.</p><p>Deve-se considerar o grau social médio de destreza e intensidade do trabalho.</p><p>Assim, para Marx, quanto maior a produtividade do trabalho, tanto menor o tempo de</p><p>trabalho requerido para produzir uma mercadoria, e quanto menor a quantidade de trabalho</p><p>que nela se cristaliza, tanto menos seu valor. Assim, a grandeza do valor de uma</p><p>13 Idem, p. 78.</p><p>14 Idem, p. 94.</p><p>15 Idem, p. 96.</p><p>34</p><p>mercadoria varia na razão direta da quantidade, e na inversa da produtividade do trabalho que</p><p>nele se aplica.</p><p>A teoria do valor-trabalho de Marx possui uma singularidade. Partindo da idéia de que há</p><p>algo em comum em todas as mercadorias e esse “algo” é o trabalho social abstrato, a teoria do</p><p>valor de Marx caminhou para uma reflexão acerca do fetichismo da mercadoria, pois, para</p><p>Marx, na sociedade produtora de mercadorias, “a igualdade dos trabalhos humanos fica</p><p>dissimulada sob a forma da igualdade dos produtos do trabalho como valores”16, ou como</p><p>mercadorias que possuem valor.</p><p>Para Marx, uma relação social definida, estabelecida entre homens, assume a forma</p><p>fantasmagórica de uma relação entre coisas. “o que interessa aos que trocam os produtos é</p><p>saber quanto de outras mercadorias podem receber pela sua. Na medida em que costume fixa</p><p>essas proporções, parecem elas derivar da natureza dos produtos do trabalho.”17</p><p>O fetiche da mercadoria quer dizer que a “determinação da quantidade do valor pelo tempo de</p><p>trabalho é, por isso, um segredo oculto sob os movimentos visíveis dos valores relativos das</p><p>mercadorias.”18</p><p>A crítica da economia política de Smith e Ricardo aparece com nitidez quando Marx avança</p><p>em sua análise da determinação do valor e do fetiche da mercadoria. Segundo Marx, “só a</p><p>análise dos preços das mercadorias levava à determinação da magnitude do valor, só a</p><p>expressão comum, em dinheiro, das mercadorias induzia a estabelecer-se sua condição de</p><p>valor.”19 O dinheiro, por sua vez, é o equivalente geral, em valor, de todas as mercadorias, por</p><p>isso, “essa forma acabada do mundo das mercadorias, a forma dinheiro, que realmente</p><p>dissimula o caráter social dos trabalhos privados e, em conseqüência, as relações sociais entre</p><p>os produtores particulares, ao invés de pô-las em evidência.” 20</p><p>Marx entende que o comércio e o mercado mundiais inauguraram no século XVI a moderna</p><p>história do capital. O capital é uma relação social de dominação, onde o trabalho</p><p>16 Karl Marx. O capital: contribuição à crítica da economia política. Rio de Janeiro: Editora</p><p>Civilização Brasileira, 1980, p. 80.</p><p>17 Idem, p. 83.</p><p>18 Idem, p. 84</p><p>19 Idem, p. 84.</p><p>20 Idem, p. 84.</p><p>35</p><p>morto, realizado ou cristalizado nas mercadorias, se apodera do trabalho vivo, ou aquele que</p><p>está a produzir o valor.</p><p>A fórmula simples da circulação do capital, representada por M –D – M, onde a mercadoria é</p><p>trocada por dinheiro e este, por sua vez, trocado por outra mercadoria, possui uma forma mais</p><p>complexa ao lodo dela representado por D – M – D, onde o dinheiro que se movimenta e</p><p>desta vez como capital.</p><p>A fórmula geral da acumulação do capital, no entanto, é representada da seguinte maneira: D</p><p>– M – D`, onde (`) é a mais-valia ou o valor que é acrescido aos custos no processo de</p><p>produção. A mais-valia é o trabalho não pago, representado por aquela parte do valor das</p><p>mercadorias que excede o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção do valor</p><p>da própria força-de-trabalho. É preciso considerar que a força-de- trabalho é também uma</p><p>mercadoria, apesar de ser uma mercadoria especial cujo consumo do valor-de-uso significa a</p><p>própria produção do valor. Vamos supor que a jornada de trabalho seja de oito horas e o valor</p><p>da força-de-trabalho seja de quatro horas, isto significaria que a taxa de exploração,</p><p>representada pela divisão do trabalho excedente pelo trabalho necessário seria de 100%, ou</p><p>seja, seria de 4 horas. Este sobre-trabalho ou trabalho não pago é o excedente econômico</p><p>gerado pelos trabalhadores na atividade econômica social e apropriado pelos capitalistas, que</p><p>são os proprietários do capital e, portanto, das mercadorias ao final do processo de produção.</p><p>Segundo a lei do valor de Marx, somente o trabalho humano é capaz de produzir valor e nas</p><p>condições históricas do capital assume a forma de trabalho abstrato produtor de mercadorias.</p><p>A mais-valia, ou trabalho não pago, é a origem, portanto, do lucro, do juro e da renda da terra,</p><p>na medida em que para Marx o excedente econômico só pode advir da esfera da produção e,</p><p>portanto, não do comércio nem tão pouco da usura.</p><p>A mais-valia pode ser absoluta, se sua origem for a extensão da jornada de trabalho, ou pode</p><p>ser relativa, se nascer da redução do trabalho necessário. O trabalho necessário é aquele</p><p>relativo ao valor da mercadoria força-de-trabalho, isto é, o tempo que os trabalhadores</p><p>gastam para produzir o valor de si mesmos. Quando a produtividade geral da sociedade</p><p>aumenta, significa que os valores unitários das mercadorias diminuem. Isto ocorre também</p><p>com o valor da força-de-trabalho e uma vez que o trabalho necessário diminui, - mantendo-se</p><p>a mesma jornada de trabalho -, a parte representada pelo trabalho</p><p>36</p><p>excedente naturalmente cresce. Assim, para Marx, os capitalistas podem se apropriar de um</p><p>trabalho excedente maior em função dos investimentos recaírem relativamente mais em</p><p>tecnologia ou em capital constante do que em capital variável.</p><p>Ao transformar seu dinheiro em capital, o capitalista tem como custo o capital constante</p><p>(máquinas e matérias primas, por exemplo) e capital variável (a força-de- trabalho) e a relação</p><p>em valor dessas categorias é a chamada</p><p>composição orgânica do capital. Para Marx “a</p><p>acumulação do capital, vista de início como uma ampliação puramente quantitativa, realiza-</p><p>se, com contínua mudança qualitativa de sua composição, ocorrendo constante acréscimo de</p><p>sua parte constante às custas da parte variável”. 21</p><p>Este aumento constante da composição orgânica do capital ocorre que com o aumento do</p><p>capital global, cresce também sua parte variável, ou a força-de-trabalho, mas em proporção</p><p>cada vez menor. Sedo a procura de trabalho determinada pela magnitude do capital variável, ela</p><p>cai progressivamente com o aumento do capital global.</p><p>Sendo assim, a acumulação capitalista sempre produz uma população trabalhadora supérflua</p><p>relativamente, isto é, “que ultrapassa as necessidades médias da expansão do capital, tornando-</p><p>se, desse modo, excedente”. 22 Esta é a chamada lei da população peculiar ao modo de</p><p>produção capitalista. Esta “população supérflua” constitui o exército industrial de reserva que</p><p>pode ser flutuante (ligado ao ciclo), latente (relativo à penetração do capital no campo),</p><p>estagnada (o que hoje em dia chamamos de precarização do trabalho) e o mais profundo</p><p>sedimento, relacionado, por exemplo, à indigência. Por isso, conclui Marx, “a população</p><p>trabalhadora, ao produzir a acumulação do capital, produz, em proporções crescentes, os meios</p><p>que fazem dela, relativamente, uma população supérflua. Esta é a lei da população peculiar ao</p><p>modo de produção capitalista”.23</p><p>3. Considerações finais:</p><p>Malthus afirmou que a população, quando não contida por catástrofes naturais ou pela fome e</p><p>miséria, cresceria em progressão geométrica e os alimentos cresceriam, na melhor das</p><p>hipóteses, em progressão aritmética. O melhor remédio para o controle da</p><p>21 Idem, Livro I, vol. 2, p. 730.</p><p>22 Idem, p. 731.</p><p>23 Idem, p. 732.</p><p>37</p><p>37</p><p>explosão populacional, derivada das as pulsões humanas, seria o controle moral, a</p><p>contenção sexual e o adiamento dos casamentos.</p><p>Marx afirmou que, na medida em que aumenta a acumulação de capital, tem-se</p><p>concomitante aumento dos investimentos em capital constante (máquinas,</p><p>equipamentos, etc) relativamente maior do que em capital variável (salários) na medida em</p><p>que os capitalistas objetivam o lucro e buscam reduzir seus custos (salários) ou aumentar a</p><p>taxa de exploração da classe trabalhadora. No processo ocorre o permanente aumento da</p><p>composição orgânica do capital e a classe trabalhadora vai produzindo, a si mesma, como</p><p>classe supérflua. Isto significa que para Marx a acumulação de capital necessita cada vez</p><p>menos de trabalho vivo. O capital, que é uma relação social historicamente definida e</p><p>contraditória, cria uma população de acordo com suas necessidades.</p><p>É possível afirmar, à guisa de conclusão, que as teorias da população de Malthus e Marx</p><p>são diametralmente opostas. Na primeira, idealista, a dinâmica da população é</p><p>determinada subjetivamente sendo seus determinantes de caráter individual e</p><p>principalmente moral. Já na segunda, materialista, a dinâmica depende dos elementos do</p><p>processo histórico objetivo: a luta de classes, a produtividade do trabalho, a composição</p><p>orgânica do capital, a acumulação de capital e suas contradições.</p><p>4INTRODUÇÃO</p><p>1.1 TRÊS DEFINIÇÕES PARA DEMOGRAFIA</p><p>1) A palavra demografia foi usada pela 1ª vez em 1855 por um belga chamado Achille Guillard. Do</p><p>grego:</p><p>DÊMOS = POPULAÇÃO</p><p>GRÁPHEIN = ESCREVER / DESCREVER / ESTUDAR</p><p>Portanto, o objetivo da Demografia é analisar populações humanas e suas características gerais.</p><p>Quais aspectos da população são o campo de estudo da Demografia? A segunda definição é mais</p><p>específica.</p><p>2) Demografia formal é o estudo de populações humanas em um determinado momento com</p><p>relação ao tamanho, a distribuição e a estrutura da população. A demografia formal também</p><p>analisa as mudanças que ocorrem na população ao longo do tempo, principalmente o</p><p>crescimento populacional. A maior ou menor ocorrência de nascimentos, óbitos e migrações</p><p>são as causas básicas do crescimento populacional. Assim, há interesse em estudar dois tipos de</p><p>variáveis demográficas. Um grupo de variáveis descreve algumas características de interesse da</p><p>população. Referem-se a um determinado espaço geográfico e a um instante específico do</p><p>tempo, por isso, compõem a análise estática da população. São elas:</p><p>TAMANHO da população é simplesmente o número total de pessoas na população.</p><p>38</p><p>38</p><p>TAMANHO</p><p>DISTRIBUIÇÃO</p><p>ESTRUTURA</p><p>inter-</p><p>relação</p><p>NATALIDADE</p><p>MORTALIDADE</p><p>MIGRAÇÃO</p><p>DISTRIBUIÇÃO da população é o número de pessoas na população por unidade geográfica1 ou por</p><p>situação do domicílio (rural; urbano).</p><p>ESTRUTURA ou COMPOSIÇÃO da população é o número de pessoas na população por sexo</p><p>(masculino; feminino) e/ou por grupo de idade (em geral, de 5 em 5 anos).</p><p>As demais variáveis, NATALIDADE, MORTALIDADE e MIGRAÇÃO, referem-se a um</p><p>determinado espaço geográfico e a um determinado período de tempo. Fazem parte da dinâmica</p><p>demográfica e são descritas com detalhes em capítulos posteriores.</p><p>Na análise demográfica formal, também é estudada a inter-relação entre as variáveis da análise</p><p>estática e da dinâmica demográfica.</p><p>INTERRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS</p><p>1) Por um lado, a natalidade, a mortalidade e a migração são fatores que modificam a</p><p>população.</p><p>Exemplo: a manutenção de uma natalidade alta leva a uma população predominantemente jovem;</p><p>2) Por outro lado, esses fatores modificadores dependem fortemente dos aspectos gerais da</p><p>população.</p><p>Exemplo: em uma população velha morrem relativamente mais pessoas.</p><p>Análise Estática Dinâmica Populacional</p><p>1 Países, grandes regiões, unidades da federação, regiões metropolitanas e municípios são diferentes níveis de unidades geográficas.</p><p>3) Estudos Populacionais abrangem as variáveis demográficas e também características étnicas,</p><p>sociais e econômicas da população como desemprego, educação, saúde, etc. Portanto é um</p><p>campo multidisciplinar, compreendendo disciplinas como economia, sociologia, antropologia,</p><p>direito, política, epidemiologia, etc. O campo dos estudos populacionais se amplia a medida</p><p>que aumenta o interesse pelas causas e conseqüências da dinâmica demográfica. Neste contexto,</p><p>a estrutura da população, não se restringe apenas às variáveis sexo e grupo de idade. A</p><p>população pode ser classificada por características étnicas (raça/língua materna), sociais (estado</p><p>civil/estado marital/nível de escolaridade) e econômicas (renda/ocupação), como exemplos.</p><p>A disciplina de CE023 focaliza a análise demográfica formal, voltada mais para o desenvolvimento</p><p>de técnicas para descrever quantitativamente a análise estática e a dinâmica populacional.</p><p>1.2 DEFINIÇÕES PARA POPULAÇÃO</p><p>Em Demografia, população é o conjunto de habitantes em um certo espaço geográfico. É preciso</p><p>especificar quais pessoas são consideradas habitantes da área. Por exemplo, militares e diplomatas</p><p>que estão temporariamente ausentes, são habitantes do país de origem ou do país onde estão em</p><p>serviço? Estudantes que se mudam para a cidade onde fazem o curso, mas que voltam para casa nos</p><p>finais de semana e férias, são habitantes de que cidade?</p><p>39</p><p>39</p><p>De acordo com a condição da pessoa no domicílio, há duas formas de definir população.</p><p>- População presente: inclui todas as pessoas que estão, de fato, presentes no domicílio de</p><p>uma certa unidade geográfica. Todas as pessoas presentes, na data de referência2 do</p><p>levantamento de dados, são consideradas, independentemente de ser morador ou não no</p><p>domicílio, incluindo visitantes e turistas.</p><p>- População residente: inclui todas as pessoas que pertencem a uma certa unidade</p><p>geográfica, por cidadania ou por outro motivo que lhes dá o direito de serem moradores do</p><p>domicílio. Considera todos os residentes, estando presentes ou não no domicílio, na data de</p><p>referência do levantamento de dados.</p><p>A população</p><p>residente é um termo vago, que permite várias interpretações, já que não especifica os</p><p>critérios que levam a considerar uma pessoa como moradora do domicílio. Para obter alguma</p><p>compatibilidade, as Nações Unidas recomendam que cada país produza censos com um total</p><p>populacional que exclua militares estrangeiros e pessoal diplomata que atue no país e inclua pessoal</p><p>atuante no estrangeiro, como das forças armadas, marinha mercante e diplomatas. Nos censos</p><p>demográficos brasileiros, o IBGE, ultimamente, tem incluído na população residente todas as pessoas</p><p>que habitualmente moram no domicílio, mesmo estando ausente na data de referência do censo,</p><p>desde que o período de afastamento não seja superior a 12 meses.</p><p>1.3 EQUAÇÃO BÁSICA DA DEMOGRAFIA</p><p>Suponha uma população de uma determinada área geográfica. O tamanho da população, em qualquer</p><p>momento pode ser reproduzido pela equação</p><p>P t = P t0 + N − O + I − E</p><p>em que P t e P t0 são o total populacional no instante de tempo t e t0, respectivamente, sendo que t0 é</p><p>anterior a t; e N, O, I e E são o número de nascimentos, de óbitos, de imigrantes e de emigrantes no</p><p>2 Data de referência é uma data previamente definida, em que toda enumeração do levantamento de dados deve ser referida. Nos censos, o levantamento</p><p>de dados é feito em várias semanas ou meses, mas os resultados obtidos se referem a um único dia, a data de referência. Sendo assim, pessoas que</p><p>nasceram depois da data de referência não são incluídos no levantamento de dados e pessoas que faleceram após a data de referência devem ser</p><p>consideradas.</p><p>40</p><p>40</p><p>período entre t0 e t, respectivamente.</p><p>Parcelas da equação básica tem nomenclatura própria:</p><p>Crescimento vegetativo = N − O</p><p>Saldo migratório = I − E</p><p>Crescimento populacional = Pt − P</p><p>t</p><p>0</p><p>P t −</p><p>P t0</p><p>Pt −</p><p>P t0</p><p></p><p>Taxa de crescimento populacional =</p><p>P t0</p><p> 100 ou t + t0</p><p>O 2</p><p>100</p><p>em que</p><p>t + t0</p><p>P 2 é a população no meio do período t0 a t .</p><p>As taxas de crescimento vegetativo e de saldo migratório são obtidas similarmente, dividindo-se</p><p>por</p><p>P t0 ou</p><p>t + t0</p><p>P 2</p><p>Se for assumida uma população fechada, isto é, sem movimentos migratórios, onde supõe-se que</p><p>após a formação de uma população inicial em um passado longínquo, não tenha ocorrido entradas e</p><p>saídas de pessoas da área, a equação reduz-se a</p><p>P t = P t0 + N − O</p><p>Assim, a trajetória entre a população em t0 e a população em t é totalmente explicada pelos óbitos e</p><p>nascimentos ocorridos no período, dado que a população é fechada.</p><p>1.4 CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL</p><p>Em 2000, o mundo tinha 6,1 bilhões de habitantes. Nos últimos 50 anos, população mundial</p><p>multiplicou-se mais rapidamente que antes, e mais rapidamente do que crescerá no futuro.</p><p>Os antropologistas acreditam que a espécie humana data de, pelo menos, 3 milhões de anos e na</p><p>maior parte da nossa história, estes distantes ancestrais viveram uma existência precária como</p><p>caçadores e em bandos3. Este modo de vida manteve baixo o total populacional, provavelmente</p><p>menos de 10 milhões. No entanto, com a introdução da agricultura, as comunidades evoluíram,</p><p>podendo sustentar mais pessoas.</p><p>No ano 1 da era cristão, a população mundial expandiu-se para cerca de 300 milhões e continuou a</p><p>crescer a uma taxa moderada. Mas depois do início da Revolução Industrial no século 18, os padrões</p><p>elevados de subsistência e as áreas atingidas por fome e epidemias diminuíram, em algumas regiões.</p><p>A população então cresceu aceleradamente, decolando para 760 milhões em 1750 e atingiu 1 bilhão</p><p>ao redor do ano 1800.</p><p>A população mundial cresceu acelerado após a 2ª Guerra Mundial, quando a população das regiões</p><p>menos desenvolvidas começou a crescer dramaticamente. Durante o século 20, cada bilhão adicional</p><p>foi atingido em um curto período de tempo. A população humana entrou no século 20 com 1,6 bilhão</p><p>de pessoas e encerrou o século com 6,1 bilhões.</p><p>A população mundial cresceu de 2,5 bilhões em 1950 para 6,7 bilhões em 2008; e a proporção</p><p>vivendo nos países em desenvolvimento da África, da Ásia e da América Latina e o Caribe,</p><p>3 Segundo a Bíblia, são 6 mil anos, aproximadamente, de história humana e o homem foi criado perfeito mas foi degenerando-se após a entrada do</p><p>pecado.</p><p>41</p><p>41</p><p>expandiu de 68% para mais de 80%. Índia e China, com mais de um bilhão cada em 2008,</p><p>constituem certa de 37% do total. Projeções para 2050 mostram que este peso dos países em</p><p>desenvolvimento continuará. Para a população africana, atualmente crescendo mais rapidamente que</p><p>qualquer outra região, há uma projeção de compor 21% da população mundial em 2050, bem acima</p><p>dos 9% em 1950. A projeção para a parte vivendo nos países mais desenvolvidos cai de 18% em</p><p>2008 para menos de 14% em 2050. Como mostrado no Gráfico 1, o aumento da população nos países</p><p>mais desenvolvidos é já baixa comparada com os países menos desenvolvidos, e espera-se que</p><p>estabilize.</p><p>Gráfico 1 - Crescimento da população mundial, 1950 - 2050</p><p>Population (in billions)</p><p>Source: United Nations Population Division, World Population Prospects: The 2006 Revision. Copyright © 2008</p><p>POPULATION REFERENCE BUREAU</p><p>O crescimento dos últimos anos parece explosivo na linha histórica do tempo. O efeito total</p><p>deste crescimento sobre os padrões de subsistência, o uso de recursos e o ambiente continuará a</p><p>mudar a paisagem mundial por muito tempo.</p><p>1.5 TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA</p><p>Na década de 1940, formulou-se uma teoria populacional conhecida como transição demográfica,</p><p>estabelecendo que as populações tendem a passar por certas etapas de crescimento populacional, com</p><p>alterações nos níveis de mortalidade e natalidade. O processo de transição demográfica é a passagem</p><p>de uma situação de relativo equilíbrio (baixo crescimento) devido ao elevado nível da natalidade e</p><p>mortalidade para outra situação também de equilíbrio caracterizada por níveis substancialmente mais</p><p>baixos. Durante o processo de transição, há um aumento do tamanho da população, devido a uma</p><p>queda gradual das taxas de mortalidade acarretando uma explosão demográfica (surto de crescimento</p><p>populacional) que é limitado por uma posterior queda da natalidade. Desta forma na fase final da</p><p>transição observa-se um modelo de baixos níveis de mortalidade associadas a baixos níveis de</p><p>natalidade. Figura 1 a seguir, já clássica, esquematiza teoricamente esse processo. O instante t1</p><p>assinala a passagem da pré-transição para a abertura da transição; t2, a passagem desta fase para o</p><p>fechamento da transição e o instante t3, finalmente, a passagem para a pós-transição.</p><p>42</p><p>42</p><p>Figura 1 − Esquema teórico da transição demográfica</p><p>Séries históricas de vários países desenvolvidos mostram que a transição demográfica é uma síntese</p><p>histórica da dinâmica populacional, portanto, nestes países, deixou de ser teoria. Nesse sentido, o</p><p>caso inglês é exemplar (Figura 2).</p><p>Figura 2 − Transição demográfica na Inglaterra e Gales, 1700-1950</p><p>43</p><p>43</p><p>A transição em países de desenvolvimento capitalistas coincidiu cronologicamente com a</p><p>intensificação da industrialização e urbanização da sociedade (final do século XVIII até o início do</p><p>século XX). Os países mais desenvolvidos têm passado por várias décadas para a transição</p><p>completar-se. Já as regiões menos desenvolvidas a transição iniciou-se posteriormente, mas o</p><p>processo é relativamente mais rápido, comparado com os países desenvolvidos, e encontram-se entre</p><p>t2 e t3. A preocupação com o rápido declínio da mortalidade sem o acompanhamento da queda da</p><p>natalidade, justificaram as políticas de controle de natalidade na América Latina na década de 1970,</p><p>numa época de produção intensa e inovadora da Demografia nesta região.</p><p>No Brasil, a transição demográfica iniciou-se na década de 1940, quando deslancha um processo de</p><p>significativo declínio da mortalidade. O ritmo relativamente lento do crescimento populacional</p><p>brasileiro no período anterior é explicado pela combinação de elevadas taxas de natalidade (ausência</p><p>de métodos e práticas anticoncepcionais) e altas taxas de mortalidade principalmente a infantil,</p><p>decorrente sobretudo da precariedade das condições médico-hospitalares e higiênico-sanitárias, da</p><p>desnutrição, das doenças de massa, da diarréia infecciosa, das doenças respiratórias, etc. Essa</p><p>situação demográfica, caracterizada por elevadas taxas de natalidade e mortalidade (nascem muitos e</p><p>morrem muitos) e crescimento populacional relativamente baixo, é típico de países muito atrasados e</p><p>corresponde à fase pré-transição. No período Pós-Segunda Guerra Mundial, o Brasil ingressou na</p><p>transição demográfica, ou seja, na etapa de maior crescimento populacional. O explosivo crescimento</p><p>populacional ocorrido no período situado entre a década de 1940 e a de 1960 resultou da seguinte</p><p>combinação de variáveis demográficas: redução muito lenta da natalidade e a queda acentuada da</p><p>mortalidade. A Tabela 1 apresenta o total populacional do Brasil em todos os recenseamentos e as</p><p>duas contagens populacionais realizados no país.</p><p>Tabela 1</p><p>Em qualquer país, o crescimento populacional resulta de duas variáveis: o saldo das migrações</p><p>externas e o crescimento natural ou vegetativo da população. No caso do Brasil, apesar da imigração</p><p>ter contribuído de forma decisiva no aumento populacional, sem dúvida foi o crescimento vegetativo</p><p>o fator principal do aumento populacional. Se até a década de 1930 a imigração teve</p><p>44</p><p>44</p><p>participação importante no crescimento populacional, a partir de então, o crescimento populacional</p><p>passou a depender, quase exclusivamente, do crescimento vegetativo.</p><p>A partir do final da década de 1960, seguiu-se uma rápida queda da natalidade. No nordeste o início</p><p>da queda da natalidade foi posterior a outras regiões. A baixa da taxa de natalidade entre as décadas</p><p>de 1960 e 1980 – de cerca de 40 nascimentos por mil habitantes para 27 por mil – pode ser</p><p>considerada expressiva, tendo-se em conta a inexistência de qualquer ação governamental tanto na</p><p>área geral das políticas populacionais como, especificamente, na área do planejamento familiar. Entre</p><p>fins do século dezenove e 1940, nossa população aumentou cerca de 1,8% ao ano. A taxa subiu a</p><p>partir dos anos 1940, até atingir quase 3% ao ano, em 1960. Mas tornou-se declinante a partir dos</p><p>anos 1970 – da média de 2,48% naquela década para a de 1,93% nos anos 1980, de 1,63% nos 1990 e</p><p>de 1,5% a partir de 2000.</p><p>1.6 DESENVOLVIMENTO DA DEMOGRAFIA NO BRASIL</p><p>Os órgãos de planejamento produzem, analisam e divulgam informações para subsidiar o</p><p>planejamento do governo municipal, estadual e nacional. No Brasil, o primeiro órgão criado para</p><p>esse fim foi o da Diretoria Geral de Estatística, em 1870, que realizou os 1os censos nacionais. Em</p><p>1939 chega ao Brasil o italiano George Mortara, para trabalhar na comissão censitária que organizou</p><p>o censo demográfico de 1940. Desde 1940, os censos demográficos são realizados no início de cada</p><p>década e monitorados pelo IBGE, órgão que substituiu a Diretoria Geral de Estatística.</p><p>A seguir, é apresentada uma lista com alguns centros de estudos demográficos e órgãos de</p><p>planejamento nacionais e internacionais.</p><p>IUSSP (International Union for the Scientific Study of Population), promove estudo científicos de</p><p>demografia e de assuntos relacionados a população.</p><p>http://www.iussp.org/</p><p>Population Division - United Nations / Department of Economic and Social Affairs, é responsável</p><p>para a monitoração e a avaliação de áreas em larga escala referentes a população.</p><p>http://www.un.org/esa/population/unpop.htm</p><p>U.S. Census Bureau, serve como principal fonte de dados sobre o povo e a economia da nação</p><p>americana.</p><p>http://www.census.gov/</p><p>CELADE (Centro Latinoamericano y Caribeño de Demografía) - División de Población de la</p><p>CEPAL (Comisión Económica para América Latina), proporciona assistência técnica, capacitação e</p><p>informação em população nos países da região.</p><p>http://www.cepal.org/celade/</p><p>IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com sede no Rio de Janeiro, constitui-se no</p><p>principal provedor de dados e informações do país, que atendem às necessidades dos mais diversos</p><p>segmentos da sociedade civil, bem como dos órgãos das esferas governamentais federal, estadual e</p><p>municipal.</p><p>http://www.ibge.gov.br/</p><p>ENCE (Escola Nacional de Ciências Estatísticas), criada inicialmente para suprir a necessidade da</p><p>formação de Estatísticos para o IBGE. Tem formado bacharéis em Estatística e mestres em</p><p>Demografia.</p><p>http://www.ence.ibge.gov.br/</p><p>ABEP (Associação Brasileira de Estudos Populacionais)</p><p>http://www.abep.org.br/</p><p>IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com a atribuição de elaborar estudos, análises e</p><p>http://www.iussp.org/</p><p>http://www.un.org/esa/population/unpop.htm</p><p>http://www.un.org/esa/population/unpop.htm</p><p>http://www.cepal.org/celade/</p><p>http://www.un.org/esa/</p><p>http://www.un.org/esa/</p><p>http://www.un.org/esa/</p><p>45</p><p>45</p><p>pesquisas nas áreas econômica e social brasileiras, com sedes em Brasília e Rio de Janeiro.</p><p>http://www.ipea.gov.br/</p><p>CEDEPLAR (Centro de Desenvolvimento e Planejamento) é um órgão suplementar da UFMG que</p><p>abriga um programa de pesquisa e ensino de pós-graduação em Economia regional e urbana e em</p><p>Demografia. É também onde se encontra a sede da Associação Brasileira de Estudos Populacionais.</p><p>http://www.cedeplar.ufmg.br/</p><p>NEPO (Núcleo de Estudos Populacionais) é uma unidade de pesquisa interdisciplinar e</p><p>multidisciplinar na área de Demografia e Estudos de População da UNICAMP.</p><p>http://www.unicamp.br/nepo/</p><p>FUNDAJ (Fundação Joaquim Nabuco), em Recife, tem como missão produzir, acumular e difundir</p><p>conhecimentos; resgatar e preservar a memória; e promover atividades científicas e culturais, visando</p><p>à compreensão e ao desenvolvimento da sociedade brasileira, prioritariamente a do Norte e do</p><p>Nordeste do país.</p><p>http://www.fundaj.gov.br</p><p>IPARDES (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social), vinculado a Secretaria de</p><p>Planejamento do Paraná.</p><p>http://www.ipardes.gov.br/</p><p>IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) tem como atribuição "participar na</p><p>reformulação da política urbana municipal".</p><p>http://www.ippuc.org.br/</p><p>5</p><p>http://www.ipea.gov.br/</p><p>http://www.un.org/esa/</p><p>http://www.un.org/esa/</p><p>http://www.fundaj.gov.br/</p><p>http://www.un.org/esa/</p><p>http://www.ippuc.org.br/</p><p>5</p><p>5</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A população brasileira tem sofrido profundas transformações nas últimas três décadas, que terão enormes</p><p>repercussões em termos sociais e econômicos. Há uma certa dificuldade, por parte da sociedade brasileira,</p><p>até aquela com nível educacional mais elevado, em apreender estas mudanças e, inclusive, em aceitá-las</p><p>como reais.</p><p>Este trabalho tem por objetivo analisar a evolução do tamanho da população brasileira, de seu ritmo de</p><p>crescimento, de sua estrutura etária relativa entre 1940 e 1991, assim como apresentar sua trajetória</p><p>provável até 2020.</p><p>Dada a tendência do processo de declínio rápido e generalizado da fecundidade no Brasil e o que está</p><p>sucedendo nos países desenvolvidos e em alguns do Terceiro Mundo que iniciaram antes este processo, é</p><p>bastante realista supor-se que, ao final da segunda década do próximo século, a população do País deverá</p><p>apresentar níveis de fecundidade e mortalidade que, no longo prazo, lhe garantam taxas de crescimento</p><p>em torno de zero. Discute-se, então, quando se alcançaria a situação de população estacionária.</p><p>Esta análise foi elaborada com a preocupação de tornar mais claros alguns do elementos básicos da análise</p><p>demográfica, de tal modo a contribuir para uma melhor compreensão da nova dinâmica demográfica</p><p>brasileira.</p><p>QUEDA DA MORTALIDADE, ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO POPULACIONAL,</p><p>ESTRUTURA ETÁRIA ESTÁVEL -1940-1970</p><p>Entre 1940 e 1970 o Brasil experimentou um processo de rápido incremento</p><p>demográfico, em virtude de</p><p>seu alto crescimento vegetativo, não tendo as migrações internacionais exercido papel significativo. No</p><p>período, a população passou de 41 para 93 milhões de pessoas, com taxa média de crescimento de 2,8%</p><p>ao ano. Houve, inclusive, um aumento do ritmo de crescimento entre a década de quarenta e as duas</p><p>seguintes, quando a taxa média anual passou de 2,4% para 3,0% e 2,9%, respectivamente.</p><p>O aumento no ritmo de crescimento deveu-se exclusivamente ao declínio da mortalidade, com a esperança</p><p>de vida ao nascer passando de 44 para 54 anos entre as décadas quarenta e sessenta. Neste intervalo, a</p><p>fecundidade manteve-se em níveis altos, tendo a taxa de fecundidade total (TFT) decrescido apenas de 6,3</p><p>para 5,8 filhos por mulher. A evolução diferenciada da mortalidade e fecundidade fez com que a taxa bruta</p><p>de mortalidade (TBM) caísse muito mais rapidamente do que a taxa bruta de natalidade (TBN), o que</p><p>proporcionou, como conseqüência, uma ampliação significativa da taxa de crescimento corrente da</p><p>população.1</p><p>O rápido declínio da mortalidade nesse período não levou a uma mudança na distribuição etária da população</p><p>em direção a um maior envelhecimento relativo, como o chamado senso comum poderia levar a</p><p>1 CARVALHO, J.A.M. de. "O tamanho da população brasileira e sua distribuição etária: uma visão prospectiva", São Paulo : ABEP,</p><p>Anais V Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 1988.</p><p>6</p><p>6</p><p>crer. Ao se comparar a estrutura etária da população brasileira nos anos censitários de 1940, 1950, 1960 e</p><p>1970, observa-se uma distribuição muito semelhante, com aproximadamente 52% das pessoas abaixo de 20</p><p>anos e 3% acima dos 65. Tratava-se de uma população extremamente jovem.</p><p>Na realidade, a fecundidade é a grande definidora da estrutura etária, tendo a mortalidade apenas um papel</p><p>secundário. Inclusive, quando esta declina, leva, normalmente, a um pequeno rejuvenescimento da</p><p>população, pois, em sua trajetória de queda, são, geralmente, as taxas específicas de mortalidade (TEM) na</p><p>infância aquelas que experimentam decremento proporcional maior. Como conseqüência, são salvas mais</p><p>crianças do que adultos e idosos, o que tem um efeito sobre a distribuição etária semelhante ao de um</p><p>aumento da fecundidade, isto é, tornar a população mais jovem.</p><p>A situação da população brasileira nessas três décadas caracterizava-se pelo que se denomina em demografia</p><p>de quase-estabilidade: apesar do rápido declínio da mortalidade e do aumento no ritmo de crescimento,</p><p>não houve mudança significativa na estrutura etária relativa, pois a fecundidade manteve-se basicamente</p><p>constante.</p><p>Após três décadas de contínua queda da mortalidade, já não persistia dúvidas de que se tratava de um</p><p>fenômeno duradouro. No entanto, cria-se que, ao contrário do sucedido nos países desenvolvidos, o</p><p>declínio ocorrido no Brasil, como de resto em inúmeros outros subdesenvolvidos, era muito mais o</p><p>resultado de variáveis exógenas ao País, do que fruto de mudanças estruturais internas.</p><p>Nos países desenvolvidos, de modo geral, após um período de descenso da mortalidade, no qual a</p><p>fecundidade mantinha-se estável em níveis elevados, deu-se início ao declínio persistente da fecundidade, o</p><p>que levou como conseqüência, a queda significativa no ritmo de crescimento populacional. Encerrava- se,</p><p>assim, o processo da chamada transição demográfica.</p><p>Nos anos sessenta, diante da constatação do significativo aumento do ritmo de crescimento demográfico</p><p>nos países subdesenvolvidos, houve generalizada preocupação com tal situação, principalmente de parte</p><p>da opinião pública e governos do Primeiro Mundo e dos organismos internacionais. Afirmava-se que, ao</p><p>contrário do ocorrido nos países desenvolvidos, não haveria porquê esperar nos países pobres um declínio</p><p>natural da fecundidade que viesse diminuir as taxas de crescimento populacional. Nesses países, não se</p><p>completaria a transição demográfica! Haveria a chamada explosão populacional, que impediria o</p><p>desenvolvimento e causaria, mais cedo ou mais tarde, sérios problemas sociais e econômicos internos e</p><p>colocaria em risco a própria ordem internacional. Propugnava-se, então, por políticas oficiais de controle</p><p>da natalidade, como única forma de se evitar o rápido crescimento da população e, conseqüentemente,</p><p>possibilitar aos países subdesenvolvidos romper o círculo vicioso da pobreza. Estas eram as análises e</p><p>postulações básicas do neo-malthusianismo,2 que tiveram ampla acolhida em vários segmentos nos países</p><p>do Terceiro Mundo, inclusive o Brasil.</p><p>2 Como trabalho clássico dentro desta corrente, veja:</p><p>COALE, A.J., HOOVER, E.M. População e desenvolvimento econômico, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1966.</p><p>7</p><p>7</p><p>RÁPIDO DECLÍNIO DA FECUNDIDADE, QUEDA NO RITMO DE CRESCIMENTO DA</p><p>POPULAÇÃO, DESESTABILIZAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO ETÁRIA - 1970-1990</p><p>Quando foram conhecidos os resultados do Censo Demográfico de 1970, os dados indicavam, para o Brasil,</p><p>uma taxa anual de crescimento populacional de 2,9%, entre 1960 e 1970, no mesmo patamar daquela da</p><p>década de sessenta. Não houve maior surpresa, inclusive por parte dos que se posicionavam em campos</p><p>opostos no debate sobre o controle de natalidade. Não havia razão para se esperar, à luz das teorias existentes,</p><p>que houvesse declínio da fecundidade no País e, conseqüentemente, queda no ritmo de crescimento</p><p>demográfico. Do lado empírico, não se podia contar com os dados de registro de nascimentos, que, além da</p><p>má qualidade, não tinham sua publicação atualizada, e as estimativas indiretas baseadas no Censo de 1970</p><p>mostravam tendências divergentes, com crescimento da fecundidade em algumas regiões, as mais pobres, e</p><p>leve descenso em outras.3</p><p>As PNAD da década de setenta passaram a mostrar, com crescente evidência, que a fecundidade no País</p><p>estava em declínio, iniciando-se este processo pelas regiões mais desenvolvidas e grupos sociais de nível</p><p>mais alto e estendendo-se, paulatinamente, às demais regiões e camadas sociais, fenômeno este</p><p>amplamente confirmado pelos dados do Censo de 1980.4 A população enumerada foi de 119 milhões,</p><p>tendo a taxa anual de crescimento caído para 2,4%, devido ao declínio da fecundidade. A Tabela 1</p><p>apresenta as TFT das diversas regiões brasileiras em 1970 e 1980.</p><p>Com exceção do Nordeste Setentrional, que teve uma queda menor, 7%, mesmo assim não desprezível,</p><p>todas as outras 9 regiões experimentaram enormes quedas no nível da fecundidade em apenas 10 anos,</p><p>ultrapassando de 30% o declínio no Leste, Paraná, Extremo sul e Centro-Oeste. O Nordeste Central e o</p><p>Meridional, que em 1980 abrigavam 83% da população total da Macrorregião Nordeste, experimentaram</p><p>descensos surpreendentemente altos, de 26,6% e 18,4%, respectivamente.</p><p>No mesmo período, 1970/1980, o declínio da fecundidade rural foi também generalizado, com uma queda</p><p>média, em nível nacional, de 22,4%.5</p><p>O efeito mais evidente do declínio da fecundidade é a queda no ritmo de crescimento populacional. Já na</p><p>década de setenta, a taxa média anual de crescimento foi de 2,4%, contra 2,9% na década anterior. No</p><p>entanto, se a TFT caiu em 25,9%, conforme mostrado na Tabela 1, por que a taxa de crescimento não</p><p>declinou na mesma proporção, mas em apenas 14%? Primeiro, porque em uma população fechada, como</p><p>podia ser considerada a brasileira, a taxa de crescimento é a resultante da diferença entre a taxa bruta de</p><p>natalidade (TBN) e a taxa bruta de mortalidade (TBM). Na década de setenta, houve declínio de mortalidade</p><p>no País, que fez com que a TBM passasse, entre as décadas de sessenta e setenta, de 13 para 10%o,</p><p>contrabalançando, em parte, em termos de crescimento da população, o efeito do declínio da fecundidade.</p><p>Em segundo lugar, com a queda da fecundidade, o número anual de nascimentos vivos passou a ser, em</p><p>relação à população total, relativamente menor, o que fez com que se estreitasse a base da</p><p>3 CARVALHO, J.A.M.</p><p>de. Tendências regionais de fecundidade e mortalidade no Brasil, Belo Horizonte : CEDEPLAR/UFMG,</p><p>1974 (Monografia 8).</p><p>4 CARVALHO, J.A.M. de. "Evolução demográfica recente no Brasil". Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 10,</p><p>n. 2, ago./1980, p. 527-553 e MERRICK, T.W., BERQUÓ, E. The determinants of Brazil recent rapid fertility decline,</p><p>Washington : National Academy Press, 1983.</p><p>5 CARVALHO, J. A. M. de. Op. cit, 1988.</p><p>8</p><p>8</p><p>pirâmide etária (população abaixo de 10 anos) e aumentasse o peso relativo de todas as demais faixas</p><p>etárias, inclusive aquelas referentes às mulheres em idade reprodutiva. Como conseqüência, o número</p><p>anual de nascimentos, como proporção da população total, isto é, a TBN, decresceu menos do que os</p><p>25,9% de declínio da fecundidade. Esta é a razão porque a TBN entre as duas décadas caiu em apenas</p><p>17%, passando de 40,8 para 33,7%o.</p><p>A queda na proporção de crianças na população brasileira, como conseqüência do declínio da</p><p>fecundidade entre os anos sessenta e setenta, ficou patente nos resultados do Censo Demográfico de 1980. O</p><p>peso relativo das crianças abaixo de 5 anos, entre 1970 e 1980, caiu de 14,8 para 13,7%, e o da população</p><p>de 5 a 9 anos, de 14,4 para 12,6%. Iniciava-se, então, o processo de envelhecimento da população</p><p>brasileira, como conseqüência do declínio da fecundidade no País.</p><p>Os dados preliminares do Censo Demográfico de 1991 vieram confirmar a tendência do declínio da</p><p>fecundidade, com uma população enumerada de 147 milhões de pessoas e uma taxa média anual de</p><p>crescimento de 1,9%. Estes resultados causaram surpresa, pois, apesar do incessante esforço desenvolvido</p><p>pelos demógrafos no sentido de chamar a atenção para o rápido declínio da fecundidade no Brasil, ainda</p><p>persiste a convicção arraigada, mesmo entre os planejadores e os mais instruídos, de que este fenômeno se</p><p>limita às classes mais privilegiadas, tendo, portanto, pouco impacto sobre o crescimento da população.6</p><p>Entre 1980 e 1991, continuou o processo de envelhecimento da população, tendo a proporção de pessoas</p><p>abaixo de 15 anos passado de 38,8 para 35,0% e aquela acima de 65 anos, de 4,0 para 4,8%.</p><p>Como referido anteriormente, a queda na mortalidade a partir de 1940 teve, basicamente, como única</p><p>conseqüência o aumento significativo do ritmo de crescimento populacional, com efeitos desprezíveis</p><p>sobre a estrutura etária relativa. Já o declínio da fecundidade, além de causar queda na taxa de crescimento</p><p>demográfico, não é neutro em relação à distribuição etária. Conduz, necessariamente, a uma mudança</p><p>significativa na composição etária da população.</p><p>Há que se chamar a atenção, mais uma vez, para um fenômeno absolutamente importante para a</p><p>compreensão da dinâmica demográfica, que apresenta uma certa dificuldade de entendimento, cujo</p><p>desconhecimento pode levar a proposições de controle de natalidade, mesmo em uma situação de declínio</p><p>rápido e generalizado de fecundidade, como a brasileira. Trata-se daquilo que em demografia é</p><p>denominada de inércia do crescimento populacional.</p><p>Como a taxa de crescimento de uma população fechada é dada pela diferença entre as TBN e TBM, ela</p><p>depende não somente dos níveis correntes de fecundidade e mortalidade, que são definidos pelos conjuntos</p><p>das taxas específicas de fecundidade (TEF) e das taxas específicas de mortalidade (TEM), mas, também, da</p><p>distribuição etária da população. Em qualquer momento, a estrutura etária é a resultante da fecundidade e</p><p>mortalidade do passado, das 7 ou 8 décadas anteriores. Isto significa que a taxa corrente de crescimento</p><p>populacional é conseqüência das funções fecundidade e mortalidade correspondentes ao</p><p>6 Mesmo entre os demógrafos, o declínio da fecundidade nos anos oitenta foi maior do que o esperado. As projeções feitas para a</p><p>década apontavam números maiores do que o mostrado pelo Censo de 1991. Para 1990, a projeção feita pelo IBGE indicava 150,4</p><p>milhões e no IPLAN/IPEA 145,9 milhões, quando, tendo por base o Censo de 1991, em 1990 a população estava em torno de</p><p>144,8 milhões. Veja:</p><p>IBGE, Anuário estatístico do Brasil, 1987-1988, Rio de Janeiro : IBGE, 1988. CAMARANO, A. A., BELTRÃO, K.,</p><p>NEUPERT, R. Século XXI: a quantas andará e onde andará a população brasileira?, Brasília : IPEA, 1988.</p><p>9</p><p>9</p><p>passado (7 ou 8 décadas), que definem a estrutura etária relativa, e das funções de fecundidade e</p><p>mortalidade correntes.</p><p>Quando uma população experimenta durante décadas níveis de fecundidade altos e razoavelmente estáveis,</p><p>como foi o caso brasileiro até o final dos anos sessenta, estrutura-se uma distribuição etária relativa</p><p>basicamente constante e muito jovem. Esta distribuição etária, por si só, é favorável a um alto</p><p>crescimento demográfico. Isto porque contém, de um lado, grande proporção de jovens, o que deprime a</p><p>TBM, e, de outro, alto percentual de mulheres no período reprodutivo e, dentro deste, mais concentradas</p><p>nas idades mais férteis, o que favorece maiores TBN. Quando, em curto espaço de tempo, há uma</p><p>significativa queda de fecundidade, como sucedeu no Brasil entre o final da década de sessenta e 1990,</p><p>passam a conviver uma função de fecundidade de nível bem mais baixo e uma distribuição etária</p><p>construída, através do tempo, por funções de fecundidade de níveis bem mais altos. Esta contradição faz</p><p>com que a TBN decresça bem menos do que seria de se esperar pela simples análise da evolução da</p><p>fecundidade corrente. No entanto, o declínio da TBN, no princípio menor do que o da fecundidade, faz</p><p>com que comece a se estreitar a base da pirâmide etária, fenômeno este que, com o passar do tempo, tem</p><p>repercussões sobre toda a distribuição da população pelos diversos grupos etários.</p><p>É importante, aqui, introduzir o conceito de população estável. Dadas uma função fecundidade (conjunto</p><p>de TEF) e uma função mortalidade (conjunto de TEM), se elas são mantidas constantes, em uma população</p><p>fechada, qualquer que seja a distribuição etária inicial, necessariamente a população tenderá, no longo prazo,</p><p>a ter uma estrutura etária relativa constante e, por conseqüência, TBN, TBM e taxa de crescimento</p><p>constantes, transformando-se, então, em uma população estável.</p><p>Em qualquer momento, uma população tem uma função fecundidade e uma função mortalidade. Se elas são</p><p>conhecidas, pode-se calcular qual seria a taxa de crescimento e a estrutura etária da população estável por elas</p><p>definidas, a serem alcançadas no longo prazo, caso as funções sejam mantidas constantes. A taxa de</p><p>crescimento da população estável é chamada de taxa intrínseca de crescimento.</p><p>Quando apenas a função mortalidade varia no tempo, a estrutura etária real da população e sua taxa de</p><p>crescimento são muito semelhantes àquelas da população estável. Caracteriza-se, então, uma situação de</p><p>quase-estabilidade. Este foi o caso da população brasileira entre 1940 e 1970.</p><p>Com o significativo declínio da fecundidade no Brasil, passa-se a ter um distanciamento crescente entre a</p><p>distribuição etária real e aquela da população estável, sendo esta mais velha. A distribuição da população</p><p>estável indica qual será a tendência no futuro da distribuição real, se as funções de fecundidade e mortalidade</p><p>não mais se modificarem. Cada vez que houver modificação, automaticamente define-se uma outra</p><p>população estável.</p><p>A Tabela 2 apresenta as estruturas etárias relativas do Brasil, a observada e aquela da população estável,</p><p>em 1970, 1980 e 1991, o que também é mostrado no Gráfico 1.</p><p>Há de se observar as estruturas e taxas de crescimento muito semelhantes das populações observada e</p><p>estável em 1970, assim como o crescente distanciamento em 1980 e, particularmente, em 1991. Apesar do</p><p>envelhecimento já observado entre os três censos, cresce a diferença entre as proporções observada e estável</p><p>nas idades jovens, no sentido de que a estável está apontando para uma população menos jovem, assim</p><p>como nas idades avançadas, com a estável</p><p>indicando uma população mais velha.</p><p>10</p><p>10</p><p>Entre 1980 e 1991, houve um declínio significativo na taxa observada de crescimento, da ordem de 21%.</p><p>No entanto, em termos de taxa intrínseca de crescimento, a queda relativa foi muito maior, de</p><p>aproximadamente 57%. Estas diferenças entre as taxas observada e intrínseca estão a mostrar o efeito da</p><p>inércia do crescimento populacional. Enquanto a estrutura etária relativa da população não for aquela da</p><p>população estável, haverá um crescimento observado diferente do estável. Se, após 1991, as funções de</p><p>fecundidade e de mortalidade não mais se modificarem, necessariamente a população brasileira tenderá a se</p><p>tornar estável, com a distribuição etária apresentada na Tabela 2 e taxa de crescimento de 0,9% ao ano.</p><p>A última coluna da Tabela 2 mostra as taxas médias anuais de crescimento em cada faixa etária, entre 1980</p><p>e 1991. Ficam patentes dois conjuntos bem diferentes: 1) aquele composto pelas gerações nascidas após</p><p>1965 (população abaixo de 25 anos em 1991) e, portanto, já no período de declínio da fecundidade, que</p><p>cresceram a taxas bem abaixo da média geral, tendo havido, inclusive, crescimento negativo entre as</p><p>crianças abaixo de 5 anos e 2) aquele referente aos grupos acima de 25 anos, que cresceram a taxas bem</p><p>maiores. É este padrão de taxas diferenciadas de crescimento, menores para a população jovem e maiores</p><p>para a adulta e idosa, que, necessariamente, produzem uma mudança na estrutura etária. À medida que as</p><p>gerações nascidas após o início do declínio de fecundidade passem a compor as faixas etárias mais velhas,</p><p>estes grupos apresentarão, também, menores taxas de crescimento.</p><p>Tornam-se claros, conforme os dados da Tabela 2, os efeitos, no curto e no longo prazos, do declínio da</p><p>fecundidade, ocorrido entre 1970 e 1991, sobre a estrutura etária da população e seu ritmo de crescimento.</p><p>No curto prazo - população observada - a proporção da população abaixo de 15 anos caiu de 42,6 para 35,0%,</p><p>uma queda relativa de 18%, e a taxa anual de crescimento passou de 2,8 para 1,9%, um declínio relativo de</p><p>30%. No longo prazo - população estável - a população até 15 anos passaria, necessariamente, para</p><p>27,1%, um declínio de 37%, e a taxa de crescimento, para 0,9%, uma queda de 68%.</p><p>Os dados referentes à população estável, 1991, apontam os limites da estrutura etária e taxa de</p><p>crescimento, a permanecerem as funções atuais de fecundidade e mortalidade. No entanto, a experiência</p><p>internacional, a trajetória seguida pela evolução da fecundidade no Brasil e os altos e crescentes níveis de</p><p>prevalência da anticoncepção e sua composição quanto aos métodos usados estão a apontar que a</p><p>fecundidade no País continuará a cair, tendendo rapidamente para valores em torno do nível de reposição.7</p><p>A TRAJETÓRIA PROVÁVEL DA POPULAÇÃO BRASILEIRA NAS PRÓXIMAS DÉCADAS -</p><p>1990-2020</p><p>Tendo em vista os dados preliminares do Censo Demográfico de 1991, fez-se uma projeção da população</p><p>brasileira, adotando-se, para o quinqüênio 1990-1995, funções de fecundidade e mortalidade compatíveis</p><p>com os resultados censitários.8 Foram fixadas para o período 2015-2020 funções que produzissem uma</p><p>taxa líquida de reprodução igual a 1,0. Conseqüentemente, pressupôs-se que, a partir de 2015, a população</p><p>brasileira terá uma taxa intrínseca de crescimento igual a zero, isto é, tenderá a uma população estável,</p><p>com crescimento nulo, o que corresponde a uma população estacionária.</p><p>7 Função fecundidade em nível de reposição é aquela que, combinada com uma dada função mortalidade, produz uma população estável</p><p>com crescimento zero, isto é, uma população estacionária.</p><p>8 As projeções foram realizadas por Cláudio Caetano Machado, doutorando em Demografia no CEDEPLAR/UFMG.</p><p>11</p><p>11</p><p>A Tabela 3 mostra as TFT e esperança de vida ao nascer das tabelas de sobrevivência usadas na projeção.</p><p>A população ajustada para 1 de setembro de 1990 e a projetada para os anos 2000, 2010 e 2020, assim</p><p>como as taxas médias de crescimento em cada grupo etário são apresentadas na Tabela 4.</p><p>Aceitas as hipóteses implícitas na projeção, a população brasileira passaria de 145 milhões, em 1990, para</p><p>211 milhões, em 2020. No ano 2000 alcançaria 169 milhões. Vale a pena ressaltar, aqui, que as projeções</p><p>oficiais brasileiras, realizadas no início dos anos 70, indicavam para o ano 2000 uma população total de 201</p><p>milhões.9 Obviamente, as 32 milhões de pessoas que, provavelmente, estarão "faltando" no ano 2000 serão</p><p>conseqüência do declínio da fecundidade entre 1970 e 2000. Teriam, então, idade abaixo de 30 anos.</p><p>A população abaixo de 15 anos não deverá crescer entre 1990 e 2020, sendo que seus grupos etários</p><p>componentes chegarão a apresentar, em alguns quinqüênios do período, taxas negativas de crescimento.</p><p>A população entre 15 e 65 anos crescerá acima da média global, no entanto a ritmo rapidamente</p><p>decrescente. Este descenso se dará porque crescentemente passarão a fazer parte dela gerações nascidas</p><p>após o declínio da fecundidade. Observe-se que, nas duas últimas décadas, os grupos etários quinqüenais</p><p>mais jovens entre as idades de 15 e 65 anos apresentarão taxas de crescimento muito baixas e até mesmo</p><p>negativas.</p><p>A população idosa, acima de 65 anos, crescerá, também, acima da média geral, porém a taxas crescentes.</p><p>No ano 2020 ainda farão parte dela somente gerações nascidas antes do início da queda da fecundidade.</p><p>A Tabela 5 e o Gráfico 2 apresentam a distribuição etária projetada para 2020, assim como da estável</p><p>correspondente às funções fecundidade e mortalidade hipotetizadas para o período 2015-2020.</p><p>Entre 1990 e 2020, deverá haver uma diminuição significativa, em termos relativos, da população jovem</p><p>abaixo de 15 anos, com queda de sua participação de 35,0 para 23,5% (um declínio de 33%). Por outro</p><p>lado, aumentarão os pesos relativos da população adulta, de 61,2 para 68,8% (aumento de 12%) e da</p><p>população idosa, de 4,8 para 7,7% (incremento de 60%).</p><p>Se se comparar a estrutura etária relativa da população estável de 1991, Tabela 2, com a daquela projetada</p><p>para 2020, pode-se observar que são razoavelmente semelhantes. No entanto, esta última é bem diferente da</p><p>estável de 2020, que é significativamente mais velha. Isto se dá porque na projeção trabalhou- se com a</p><p>hipótese de declínio da fecundidade entre 1990 e 2015-2020, quando se alcançaria o nível de reposição.</p><p>9 IBGE. Projeção da população brasileira, 1975-2000, Rio de Janeiro, 1974.</p><p>12</p><p>12</p><p>RUMO A UMA NOVA ESTABILIDADE</p><p>Ao se projetar a população, foram adotadas para 2015-2020 funções de fecundidade e mortalidade que</p><p>produzissem uma taxa líquida de reprodução unitária e, conseqüentemente, uma taxa intrínseca de</p><p>crescimento nula. Mantidas aquelas funções constantes a partir de 2020, a população brasileira, na</p><p>ausência de fluxos migratórios internacionais, tenderia no longo prazo a se estabilizar e a se tornar uma</p><p>população estacionária, quando então apresentaria a estrutura etária relativa mostrada na última coluna da</p><p>Tabela 5 e uma taxa de crescimento zero.</p><p>Cabe agora uma pergunta: quando a população se estabilizaria e qual seria o seu tamanho? Como se pode ver</p><p>na Tabela 6, a partir de 2020 a taxa de crescimento da população cairia rapidamente, para pouco mais de</p><p>0,5% ao ano entre 2020 e 2040, chegando, no meio do século, a taxas anuais em torno de 0,2%. Já em 2050,</p><p>a estrutura etária relativa, por faixas de idade, seria extremamente próxima daquela da estacionária (Tabela</p><p>5). A população abaixo de 15 anos corresponderia a 20,8%, contra 20,5 da estacionária; aquela entre 15 e</p><p>65 anos, a 65,0%, contra 64,2 da estacionária, e a idosa, a 14,2%, contra 15,3 da estacionária.</p><p>A partir de 2050 a população cresceria a ritmo absolutamente desprezível e se estacionaria abaixo de 250</p><p>milhões. Durante todo o século XXI a população passaria de 169 para 246 milhões, com um crescimento,</p><p>em</p><p>termos absolutos, menor do que o observado entre 1940 e 1980.</p><p>CONCLUSÃO</p><p>O rápido e generalizado declínio da fecundidade no Brasil constitui-se uma das mais importantes mudanças</p><p>estruturais da sociedade brasileira no final do século XX. O menor ritmo de crescimento da população e a</p><p>profunda modificação na estrutura etária, com rápido envelhecimento, têm e terão, obviamente,</p><p>profundas implicações sobre toda a vida social e econômica do País.</p><p>A trajetória, aqui delineada, da população nas próximas duas ou três décadas, pelo menos em suas linhas</p><p>gerais, não será, provavelmente, objeto de erros significativos de previsão, dada a consolidação, já</p><p>empiricamente constatada, do processo de queda da fecundidade e a tendência à convergência entre</p><p>regiões e grupos sociais.</p><p>A hipótese de se alcançar no final da segunda década do próximo século níveis de fecundidade e</p><p>mortalidade que levariam a população, no longo prazo, à condição de estacionária, é bastante realista e,</p><p>talvez, até conservadora. Já em 1970 as classes média alta e alta brasileiras se encontravam nesta</p><p>situação.10 Com certeza, quando se tornarem disponíveis os dados do questionário de amostra do Censo de</p><p>1991, será constatado que as populações das regiões mais desenvolvidas e aquelas correspondentes às</p><p>classes média e alta das demais regiões já têm níveis de fecundidade e mortalidade que definem uma taxa</p><p>líquida de reprodução em torno de um e, por conseguinte, uma taxa intrínseca de crescimento em torno de</p><p>zero.</p><p>10 WOOD, C.H., CARVALHO, J.A.M. de. The demography of inequality in Brazil, Cambridge : Cambridge University Press, 1983.</p><p>13</p><p>13</p><p>TABELA 1 BRASIL E REGIÕES</p><p>Taxa de Fecundidade Total - 1970 e 1980</p><p>Regiões 1970 1980 Variação</p><p>Amazônia 8,1 6,4 -21,0</p><p>Nordeste Setentrional 7,3 6,8 - 7,0</p><p>Nordeste Central 7,8 5,8 - 6,6</p><p>Nordeste Meridional 7,6 6,2 -18,4</p><p>Leste 6,5 4,3 -33,8</p><p>Rio de Janeiro 4,2 2,9 -27,5</p><p>São Paulo 4,2 3,2 -23,8</p><p>Paraná 6,5 4,1 -36,9</p><p>Extremo Sul 5,1 3,3 -35,3</p><p>Centro-Oeste 6,6 4,5 -31,8</p><p>Brasil 5,8 4,3 -25,9</p><p>Fonte: CARVALHO, J. A. M. de. O Tamanho da População Brasileira e sua distribuição etária: uma visão prospectiva. São</p><p>Paulo: ABEP, Anais V Encontro Nacional de Estudos Populacionais.</p><p>Nota: Divisão regional adotada pela Fundação IBGE na publicação das tabulações avançadas do Censo Demográfico de 1970:</p><p>Amazônia: Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima; Nordeste Setentrional: Maranhão e Piauí; Nordeste Central:</p><p>Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas; Nordeste Meridional Sergipe e Bahia; Leste: Minas Gerais e</p><p>Espírito Santo; Rio de Janeiro: Rio de Janeiro; São Paulo: São Paulo; Paraná: Paraná; Extremo Sul: Santa Catarina e Rio</p><p>Grande do Sul; Centro-oeste: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Distrito Federal e Tocantins.</p><p>TABELA 2 BRASIL</p><p>Distribuição Etária da População Observada e da Estável 1970, 1980 e 1991</p><p>Grupos de</p><p>Idade</p><p>1970</p><p>1980</p><p>1991</p><p>TC da</p><p>População</p><p>Observada</p><p>Observada Estável Observada Estável Observada Estável 1980/1991</p><p>00--04 15,5 16,6 14,3 13,6 11,6 9,5 -0,1</p><p>05--09 14,4 13,8 12,6 12,0 11,8 9,0 1,5</p><p>10--14 12,7 11,9 11,9 10,8 11,6 8,6 1,7</p><p>15--19 10,9 10,3 11,3 9,7 10,2 8,2 1,0</p><p>20--24 8,8 8,8 9,6 8,6 9,2 7,8 1,5</p><p>25--29 6,9 7,5 7,9 7,7 8,6 7,4 1,7</p><p>30--34 6,0 6,4 6,4 6,8 7,5 7,0 2,7</p><p>35--39 5,4 5,4 5,3 6,0 6,4 6,6 3,4</p><p>40--44 4,9 4,5 4,8 5,3 5,3 6,2 3,7</p><p>45--49 3,8 3,7 3,9 4,6 4,2 5,8 2,9</p><p>50--54 3,2 3,1 3,4 3,9 3,5 5,3 2,6</p><p>55--59 2,5 2,5 2,6 3,2 2,9 4,8 2,1</p><p>60--64 1,9 1,9 2,0 2,6 2,5 4,2 2,8</p><p>65--69 1,3 1,4 1,7 2,0 1,9 3,6 3,7</p><p>70 e + 1,8 2,1 2,3 3,2 2,9 6,2 2,9</p><p>Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1,9</p><p>TC (%) 2,8 2,7 2,4 2,1 1,9 0,9 1,9</p><p>Fonte: 1970 e 1980 - CARVALHO, op. cit. 1991</p><p>1991 - Censo Demográfico de 1991 - IBGE - Sinopse Preliminar do Censo Demográfico de 1991, DPE - DEPOP (dados</p><p>preliminares)</p><p>Notas: A população de 00--04 anos enumerada nos Censos de 1970, 1980 e 1991 foi aumentada em 5%. TC corresponde à taxa</p><p>média anual de crescimento intercensitária da população observada ou à taxa intrínseca, quando se tratar da população estável.</p><p>15</p><p>15</p><p>GRÁFICO 1</p><p>BRASIL, 1970-1991</p><p>Distribuição Etária Proporcional – Populações Observada e Estável</p><p>TABELA 3</p><p>BRASIL</p><p>Taxas de fecundidade total e esperança</p><p>de vida ao nascer adotadas para projeção - Ambos os sexos</p><p>Período TFT eoo</p><p>1990-1995 2,87 66,0</p><p>1995-2000 2,63 67,0</p><p>2000-2005 2,41 67,9</p><p>2005-2010 2,20 68,8</p><p>2010-2015 2,19 69,7</p><p>2015-2020 2,19 70,4</p><p>Fonte: Projeção de Cláudio Caetano Machado</p><p>TABELA 4 BRASIL</p><p>População Estimada em 1990 e População Projetada 2000, 2010 e 2020</p><p>Grupos de</p><p>Idade</p><p>1990 2000 2010 2020</p><p>Taxa média anual de crescimento</p><p>1990/2000 2000/2010 2010/2020</p><p>00--04 16043 17512 16466 16982 0,8 -0,6 0,3</p><p>05--09 17217 17041 17135 16479 -0,1 0,1 -0,4</p><p>10--14 16886 15732 17227 16245 -0,7 0,9 -0,6</p><p>15--19 14874 17096 16939 17046 1,4 -0,1 0,1</p><p>20--24 13384 16730 15609 17114 2,3 -0,7 0,9</p><p>25--29 12471 14679 16909 16786 0,7 1,4 -0,1</p><p>30--34 10914 13150 16489 15427 1,9 2,3 -0,1</p><p>35--39 9327 12182 14398 16645 2,7 1,7 1,5</p><p>40--44 7742 10569 12800 16123 3,2 1,9 2,3</p><p>45--49 6055 8918 11722 13934 4,0 2,8 1,7</p><p>50--54 5093 7264 9994 12193 3,6 3,2 2,0</p><p>16</p><p>16</p><p>55--59 4193 5515 8204 10889 2,8 4,1 2,9</p><p>60--64 3588 4425 6391 8916 2,1 3,7 3,4</p><p>65--69 2746 3395 4536 6871 2,1 2,9 4,2</p><p>70 e + 4261 5263 6656 9353 2,1 2,4 3,5</p><p>Total 144794 169471 191475 211003 1,6 1,2 1,0</p><p>00--14 50146 50285 50828 49706 0,0 0,1 -0,2</p><p>15--64 87641 110528 129455 145073 2,4 1,6 1,2</p><p>65 e + 7007 8658 11192 16224 2,1 2,6 3,8</p><p>Fonte: Projeção de Cláudio Caetano Machado.</p><p>17</p><p>17</p><p>TABELA 5</p><p>BRASIL</p><p>Distribuição Etária Relativa - 1991 e 2020</p><p>Grupos de Idade 1991</p><p>2020 Projetada Estável*</p><p>00--04 11,6** 8,0 6,9</p><p>05--09 11,8 7,8 6,8</p><p>10--14 11,6 7,7 6,8</p><p>15--19 10,2 8,1 6,8</p><p>20--24 9,2 8,1 6,8</p><p>25--29 8,6 8,0 6,7</p><p>30--34 7,5 7,3 6,7</p><p>35--39 6,4 8,0 6,6</p><p>40--44 5,3 7,6 6,5</p><p>45--49 4,2 6,6 6,4</p><p>50--54 3,5 5,8 6,2</p><p>55--59 2,9 5,2 6,0</p><p>60--64 2,5 4,2 5,6</p><p>65--69 1,9 3,3 5,0</p><p>70 e + 2,9 4,4 10,3</p><p>Total 100,0 100,0 100,0</p><p>00--14 35,0 23,5 20,5</p><p>15--64 60,2 68,8 64,2</p><p>65 e + 4,8 7,7 15,3</p><p>Fonte: 1991 - Censo Demográfico de 1991 - IBGE - Sinopse Preliminar do Censo Demográfico de 1991, DPE -</p><p>DEPOP (dados preliminares)</p><p>2020 - Projeção de Cláudio Caetano Machado.</p><p>* Trata-se de população estável com taxa de crescimento zero, isto é, de população estacionária.</p><p>** A população enumerada foi aumentada em 5%.</p><p>GRÁFICO 2</p><p>BRASIL</p><p>Estrutura Etária – 1991 e 2020</p><p>Fonte: 1991: Censo Demográfico (Dados</p><p>18</p><p>18</p><p>Preliminares) Projetada: Cláudio Caetano Machado</p><p>Estável: Cálculo do autor.</p><p>TABELA 6</p><p>BRASIL</p><p>População, Taxa Média Anual de Crescimento,</p><p>Estrutura Etária Relativa - 2020 2100</p><p>Fonte: Projeção de Cláudio Caetano Machado.</p><p>* Taxa média de crescimento entre 2000 e 2020</p><p>** menor do que 0,01%</p><p>MIGRAÇÃO NO MUNDO</p><p>O processo de migração internacional pode ser desencadeado por</p><p>diversos fatores: em consequência de desastres ambientais, guerras,</p><p>perseguições políticas, étnicas ou culturais, causas relacionadas a</p><p>estudos em busca de trabalho e melhores condições de vida, entre</p><p>outros. O principal motivo para esses fluxos migratórios internacionais</p><p>é o econômico, no qual as pessoas deixam seu país de origem</p><p>visando à obtenção de emprego e melhores perspectivas de vida em</p><p>Período</p><p>População</p><p>(milhares)</p><p>Taxa de</p><p>Crescimento no</p><p>Período</p><p>Estrutura Etária Relativa</p><p>00-14 15-64 65 e +</p><p>2020 211002 1,10* 23,5 68,7 7,7</p><p>2040 236884 0,58 21,3 66,7 12,0</p><p>2050 242700 0,24 20,8 65,0 14,2</p><p>2060 244926 0,09 20,6 64,7 14,7</p><p>2080 245880 0,02 20,5 64,4 15,1</p><p>2100 246109 0,00** 20,5 64,2 15,3</p><p>19</p><p>19</p><p>outras nações.</p><p>Conforme relatório de desenvolvimento humano de 2009, realizado</p><p>pelo Programa das</p><p>Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),</p><p>aproximadamente 195 milhões de pessoas moram fora de seus</p><p>países de origem, o equivalente a 3% da população mundial, sendo</p><p>que cerca de 60% desses imigrantes residem em países ricos e</p><p>industrializados. No entanto, em decorrência da estagnação</p><p>econômica oriunda de alguns países desenvolvidos, estima-se que</p><p>em 2010, 60% das migrações ocorram entre países em</p><p>desenvolvimento.</p><p>Os principais destinos da migração internacional são os países</p><p>industrializados, entre eles estão: Estados Unidos, Canadá, Japão,</p><p>Austrália e as nações da União Europeia. Os Estados Unidos</p><p>possuem o maior número de imigrantes internacionais – dos 195</p><p>milhões, 39 milhões residem naquele país.</p><p>A migração internacional promove uma série de problemas</p><p>socioeconômicos. Em face das medidas tomadas pela maioria dos</p><p>países desenvolvidos no intento de restringir a entrada de imigrantes,</p><p>o tráfico destes tem se intensificado bastante. No entanto, esses</p><p>mesmos países adotam ações seletivas, permitindo a entrada de</p><p>profissionais qualificados e provocando a ―fuga de cérebros‖ dos</p><p>países em desenvolvimento, ou seja, pessoas com aptidões técnicas</p><p>e dotadas de conhecimentos são bem-vindas.</p><p>Outra consequência é o fortalecimento da discriminação atribuída</p><p>aos imigrantes internacionais, processo denominado ―xenofobia‖.</p><p>Veja abaixo a lista:</p><p>10 países com maior fluxo de entrada</p><p>(imigrantes/1.000 pessoas)</p><p>1º Catar: 40, 62</p><p>2º Zimbabué: 23,77</p><p>3º Ilhas Virgens</p><p>Britânicas:</p><p>18,56 4º Ilhas</p><p>Turcas e</p><p>Caicos: 17,27</p><p>5º Emirados</p><p>Árabes Unidos:</p><p>16,82 6º</p><p>Singapura: 15,62</p><p>7º</p><p>Ilhas</p><p>Caym</p><p>an:</p><p>15,37</p><p>8º</p><p>Bahre</p><p>in:</p><p>14,74</p><p>20</p><p>20</p><p>9º São</p><p>Martin</p><p>ho:</p><p>14,24*</p><p>10º</p><p>Anguil</p><p>a:</p><p>12,97</p><p>* dado referente a 2008</p><p>10 países com maior fluxo de saída</p><p>(emigrantes/1.000 pessoas)</p><p>1º Ilhas Marianas</p><p>Setentrionais: 41,32</p><p>2º Jordânia: 33,42</p><p>3º Síria: 27,82</p><p>4º Micronésia: 20,97</p><p>5º Tonga: 17,90</p><p>6º Nauru: 15,04</p><p>7º Guiana: 12,78</p><p>8º Maldivas: 12,64</p><p>9º Líbano: 12,08</p><p>10º Somália: 12,62</p><p>21</p><p>21</p><p>Migrações Internacionais Contemporâneas</p><p>Roberto Marinucci1[1] Rosita Milesi2[2]</p><p>CSEM/IMDH</p><p>Introdução</p><p>As migrações internacionais, atualmente, constituem um espelho das assimetrias</p><p>das relações sócio-econômicas vigentes em nível planetário. São termômetros</p><p>que apontam as contradições das relações internacionais e da globalização</p><p>neoliberal.</p><p>Numa perspectiva sociológica, as migrações são percebidas sob a ótica</p><p>estruturalista como uma das conseqüências da crise neoliberal contemporânea.</p><p>No contexto do sistema econômico atual, verifica-se o crescimento econômico</p><p>sem o aumento da oferta de emprego. O desemprego passa a ser uma</p><p>característica estrutural do neoliberalismo, e as pessoas, então, migram em busca,</p><p>fundamentalmente, de trabalho. E isto se verifica tanto no plano interno como no</p><p>internacional. Sobre a lógica do progresso econômico e do desenvolvimento social</p><p>impera a lógica do lucro, onde todos os bens, objetos e valores são passíveis de</p><p>negociação, como as pessoas e até os seus órgãos, a educação, a sexualidade e,</p><p>inevitavelmente, os migrantes.</p><p>Tomando por base o referencial demográfico, tem-se que os deslocamentos</p><p>migratórios fazem parte da natureza humana, mas são estimulados, quando não</p><p>forçados, nos dias de hoje, pelo advento da tecnologia e pelo impacto da</p><p>problemática econômica, nesta lógica inversa de sua preponderância em relação</p><p>ao ser humao..</p><p>Na ótica jurídica, um olhar rápido sobre a regulamentação da matéria evidencia as</p><p>mudanças: No século XIX, muitos países não adotavam diferenças entre os</p><p>direitos dos nacionais e os dos estrangeiros. Assim, o código Civil holandês</p><p>(1839), o Código Civil chileno (1855), o Código Civil Argentino (1869) e o Código</p><p>Civil Italiano (1865) eram legislações que equiparavam direitos. Com as guerras</p><p>mundiais ocorridas nas décadas de ‘20 e ‘30 houve um retrocesso em relação à</p><p>compreensão dos direitos do migrante e muitos países estabeleceram restrições</p><p>aos direitos dos estrangeiros em suas legislações.</p><p>No Brasil, a Constituição de ‘343[3] e a de ‗374[4] refletem esta</p><p>tendência. A Constituição de ‗46 seguiu esta orientação de restrição aos direitos</p><p>dos estrangeiros,</p><p>1[1] Teólogo. Professor na Faculdade São Boaventura. Doutorando na PUC Seraficum, de Roma.</p><p>Pesquisador do Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios.</p><p>2[2] Religiosa Scalabriniana, advogada, Mestre em Migrações, Diretora do Instituto Migrações e Direitos</p><p>Humanos (IMDH).</p><p>3[3] A Constituição de 1934 é o ápice do refluxo getulista, com a instituição do sistema de cotas, além de vedar a</p><p>concentração de imigrantes em qualquer ponto do território nacional. Pelo sistema de cotas impedia-se que cada</p><p>corrente imigratória excedesse 2% do número total de nacionais daquele país que haviam entrado no Brasil</p><p>durante os últimos cinqüenta anos. Art. 121: ...§ 6º - A entrada de imigrantes no território nacional sofrerá as</p><p>restrições necessárias à garantia da integração étnica e capacidade física e civil do imigrante, não podendo,</p><p>porém, a corrente</p><p>22</p><p>22</p><p>consubstanciada em abundante legislação infraconstitucional. Com o fim da II</p><p>Guerra Mundial, o Brasil entra em um período de expansão. Flexibiliza-se a</p><p>política de imigração para poder buscar mão-de-obra especializada. Tal situação</p><p>configura-se no texto do Decreto-Lei no. 7.9675[5], de 18/09/1945, buscando aliar</p><p>aquela necessidade com a proteção do trabalhador brasileiro. Mas, por outro lado,</p><p>mantém uma postura racista, ao privilegiar a imigração européia.</p><p>Já a Constituição de 1988 abre-se para outra visão. Assegura caráter hegemônico</p><p>ao conceito de que os estrangeiros residentes no país estão em condição jurídica</p><p>paritária à dos brasileiros no que concerne à aquisição e gozo de direitos civis,</p><p>como afirma o art. 5º, caput6[6], que assegura a inviolabilidade do direito à vida, à</p><p>liberdade, à igualdade, à segurança7[7]. Contudo, o Brasil convive, ainda em</p><p>nossos dias, com um Estatuto do Estrangeiro superado, editado em plena vigência</p><p>do regime militar, a Lei 6815/80.</p><p>1. Conjuntura atual</p><p>1.1. O final do século XX e o começo do novo milênio estão</p><p>caracterizados por um clima de desilusão e desconfiança,</p><p>conseqüência de situações vividas e sofridas durante o século</p><p>findo. Apesar dos ideais libertários e igualitários do mundo</p><p>moderno, a humanidade conheceu os crimes hediondos de</p><p>Auschwitz, de Hiroshima, do campo de concentração de Gulag,</p><p>das ditaduras militares, da depredação do meio ambiente e do</p><p>empobrecimento dos povos do sul do mundo.</p><p>Esta sensação de desilusão foi impulsionada também pela conjuntura política. A</p><p>queda do muro de Berlin representou um golpe para os que acreditavam na</p><p>possibilidade de planejar sociedades igualitárias e justas. Sobrou a dura lei do</p><p>mercado, logo proclamada como única vencedora. Os falsos profetas</p><p>vaticinaram: é o</p><p>imigratória de cada país exceder, anualmente, o limite de dois por cento sobre o número total dos respectivos</p><p>nacionais fixados no Brasil durante os últimos cinqüenta anos. § 7º - É vedada a concentração de imigrantes em</p><p>qualquer ponto do território da União, devendo a lei regular a seleção, localização e assimilação do alienígena.</p><p>4[4] A Constituição de 1937 vem ampliar as proibições migratórias, fixando como competência exclusiva da União</p><p>legislar sobre migração, podendo, outrossim, limitar certas raças ou origens. O Decreto 383, de 1938, proíbe aos</p><p>estrangeiros exercerem atividades políticas no Brasil. Já às vésperas da II Guerra Mundial, Getúlio edita o</p><p>Decreto-Lei 406, de 4 de maio de 1938, consolidando toda a situação jurídica do estrangeiro em sua face</p><p>ditatorial, trazendo por completo a lista de pessoas que não mais seriam admitidas em solo brasileiro e deu ao</p><p>Governo o poder de limitar, por motivos econômicos e sociais, a entrada de indivíduos de determinadas raças ou</p><p>origens.</p><p>5[5] O Decreto-Lei parece,</p><p>os climas. Nas últimas décadas, os seres humanos têm explorado a</p><p>Antártida, as profundezas dos oceanos e o espaço exterior, embora a longo prazo a colonização</p><p>desses ambientes ainda seja inviável. Com uma população de mais de seis bilhões de</p><p>indivíduos, os seres humanos estão entre os mais numerosos grandes mamíferos do planeta. A</p><p>maioria dos seres humanos (65%) vive na Ásia.</p><p>Alguns conceitos demográficos são fundamentais para a análise da população, abaixo</p><p>iremos elencar alguns:</p><p>População absoluta: População absoluta (é o número total de habitantes de um lugar (país,</p><p>cidade, região, etc.). Quando um determinado lugar possui um grande número de habitantes,</p><p>dizemos que ele é populoso ou de grande população absoluta; quando possui um pequeno</p><p>número de habitantes, dizemos que é pouco populoso ou de pequena população absoluta.</p><p>No entanto, ao considerarmos a qualidade de vida da população, esses conceitos</p><p>devem ser interpretados com atenção. Um país não oferece melhores ou piores condições de</p><p>vida aos seus cidadãos simplesmente pelo fato de se apresentar pouco ou muito povoado. Os</p><p>Países Baixos, apesar de terem uma alta população relativa (430hab/km²), possuem estrutura</p><p>econômica e de serviços públicos que atende às necessidades dos seus cidadãos. Já o Brasil,</p><p>com uma baixa população relativa, tem muitos problemas na área social por causa da carência</p><p>de serviços públicos, de empregos com salários dignos, de habitação etc. Nesse contexto, em</p><p>última instância, o que conta é a análise das condições de existência da população, e não</p><p>apenas a análise demográfica desprendida da realidade.</p><p>A população mundial hoje é de cerca de 6.914.946.101. Os dez países mais populosos do</p><p>mundo são:</p><p>1º. China: 1.336.310.750 de habitantes</p><p>2º. Índia: 1.186.185.625</p><p>3º. Estados Unidos: 311.114.784</p><p>4º. Indonésia: 234.342.422</p><p>5º. Brasil: 190. 732.694</p><p>6º. Paquistão: 166.961.297</p><p>7º. Bangladesh: 161.317.625</p><p>8º. Nigéria: 151.478.125</p><p>9º. Rússia: 141.780.031</p><p>10º. Japão: 127.938.000</p><p>Densidade demográfica ou população relativa: corresponde a média de habitantes por</p><p>quilômetros quadrados. Podemos obtê-la através da divisão da população absoluta pela área.</p><p>Quando a população relativa de um local é numerosa dizemos que esse local é muito</p><p>povoado.</p><p>População</p><p>absoluta Área</p><p>Apesar de ser bastante difundida e utilizada, saber a densidade de um país é uma</p><p>informação bastante vaga. Por se tratar de uma média, a partir dela nada podemos concluir a</p><p>respeito da distribuição efetiva da população do país pelo território.</p><p>Superpovoamento: corresponde a um descompasso entre as condições socioeconômicas da</p><p>população e à área ocupada. Isso quer dizer que, superpovoamento não depende apenas da</p><p>densidade demográfica, mas principalmente das condições de vida da população. Alguns países</p><p>com grande densidade demográfica podem não ser considerados superpovoados, enquanto</p><p>outros com densidade baixa assim o podem ser classificados. Um país pode ser superpovoado</p><p>mesmo que apresente baixa densidade demográfica.</p><p>Os Países Baixos (386hab/km²), a Bélgica (336hab/km²) e o Japão (341hb/km²), apesar</p><p>de serem países densamente povoados, não são considerados superpovoados, visto que suas</p><p>populações apresentam elevado nível de desenvolvimento socioeconômico e de bem-estar</p><p>social, considerando a área ocupada. Em contrapartida, a Índia, que apresenta densidade</p><p>semelhante (312hab/km²), é um país superpovoado, em virtude do insuficiente nível de</p><p>desenvolvimento econômico e tecnológico de sua população.</p><p>Recenseamento ou censo: corresponde á coleta periódica de dados estatísticos dos</p><p>habitantes de um determinado local.</p><p>No Brasil os recenseamentos são feitos de 10 em 10 anos, o último foi feito em 2010,</p><p>pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), órgão estatal, apresentou uma</p><p>população de 190.732.694.</p><p>Taxa de natalidade: corresponde à relação entre o número de nascimentos ocorridos em um</p><p>ano e a população absoluta, o resultado em geral é expresso por mil.</p><p>N.º de nascimentos X 1000 = taxa de natalidade</p><p>População absoluta</p><p>Exemplo: se num país cuja população total é de 20 milhões de habitantes nasceram em um</p><p>ano 600 mil pessoas, temos:</p><p>600.000 x 1.000 = 30‰</p><p>20.000.000</p><p>Portanto, dizemos que a taxa de natalidade do país é de 30‰ (30 por 1.000), ou seja,</p><p>em um ano nasceram 30 crianças vivas para cada grupo de 1.000 habitantes.</p><p>A natalidade é ligada a vários fatores como, por exemplo, qualidade de vida da</p><p>população, ou ao fato de ser uma população rural ou urbana.</p><p>As taxas de natalidade no Brasil caíram muito nos últimos anos, isso se deve em</p><p>especial ao processo de urbanização que gerou transformações de ordem sócio-econômicas e</p><p>culturais na população brasileira.</p><p>Taxa de mortalidade: corresponde a relação entre o número de óbitos ocorridos em um ano e a</p><p>população absoluta, o resultado é expresso por mil.</p><p>N.º de óbitos X 1000 = taxa de mortalidade</p><p>População absoluta</p><p>Exemplo: se num país cuja população total é de 20 milhões de habitantes morreram em um</p><p>ano 300 mil pessoas, temos:</p><p>300.000 x 1.000 = 15‰</p><p>20.000.000</p><p>Assim, dizemos que a taxa de mortalidade do país é de 15‰ (15 por 1.000), ou seja,</p><p>em um ano morreram 15 habitantes para cada grupo de 1.000 habitantes.</p><p>Assim como a natalidade, a mortalidade está ligada em especial a qualidade de vida da</p><p>população analisada. Devemos observar que essa é a taxa de mortalidade geral e que, além</p><p>dela, existe a taxa de mortalidade infantil.</p><p>Mesmo prescindindo de variações sociais, nos países onde prevalecem camadas mais</p><p>jovens da população, esses índices têm significado bastante diferente. Uma maior população</p><p>jovem significa uma inflexão para baixo das taxas de mortalidade, frente a países onde a</p><p>população mais velha prevalece.</p><p>Predominância de população jovem é encontrada nos países menos desenvolvidos. Na</p><p>década de 1960, na América Latina, menores de 15 anos chegaram a ser de 45 a 50% do total</p><p>populacional.</p><p>Em Os Trabalhadores, Eric J. Hobsbawm, analisando o padrão de vida inglês de 1790 a</p><p>1850 utiliza as taxas de mortalidade como índice social. Embora com reservas, esse indicador</p><p>seria sensível aos padrões de vida da população. Portanto, revelaria, com sua queda, melhoras</p><p>nesse padrão, no começo da industrialização.</p><p>Hobsbawm reconhece que a variação do índice não é linear, da mesma forma que não</p><p>o é a dos padrões de vida. Em seu exemplo, as taxas de mortalidade caíram marcadamente</p><p>entre 1780 e 1810, subiram daí em diante até 1840, e voltaram a cair nas décadas de 1870 e</p><p>1880. No intervalo em que a mortalidade subiu, os problemas de desemprego teriam se</p><p>intensificado.</p><p>Crescimento vegetativo ou natural: corresponde a diferença entre a taxa de natalidade e a</p><p>taxa de mortalidade.</p><p>C.V. = natalidade - mortalidade.</p><p>Exemplo: se um país apresenta taxa de natalidade de 30‰ e taxa de mortalidade de 10‰,</p><p>seu crescimento vegetativo será de 20‰ (ou 2,0%).</p><p>C.V. = 30 – 20 = 10‰</p><p>Quando um local apresenta taxa de natalidade maior que a de mortalidade, a população</p><p>cresce, e vice-versa. Se duas taxas se igualarem, a população permanecerá estável,</p><p>apresentando crescimento zero ou nulo.</p><p>O crescimento vegetativo corresponde a única forma possível de crescimento ou</p><p>redução da população mundial, quando analisamos o crescimento de áreas específicas temos</p><p>que levar em consideração também as migrações.</p><p>O crescimento vegetativo brasileiro encontra-se em processo de diminuição, mas já foi</p><p>muito acentuado, em especial nas décadas de 50 à 70, em virtude especialmente da</p><p>industrialização.</p><p>Taxa de mortalidade infantil: consiste nas mortes de crianças durante o seu primeiro ano de</p><p>vida é a base para calcular a taxa de mortalidade infantil que consiste na mortalidade infantil</p><p>observada durante um ano, referida ao número de nascidos vivos do mesmo período.</p><p>Muitos autores consideram que a taxa de mortalidade infantil é especialmente</p><p>à primeira vista, um avanço ao afirmar ―Todo estrangeiro poderá entrar no Brasil,</p><p>desde que satisfaça as condições desta lei‖. Todavia, traz características racistas, quando privilegia a imigração</p><p>européia, ao dispor, no art. 2º, que seria atendida, na admissão de estrangeiros, a “necessidade de preservar e</p><p>desenvolver, na composição étnica da população, as características mais convenientes de sua ascendência</p><p>européia‖.</p><p>6[6] Art. 5º ―Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e</p><p>aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à</p><p>propriedade, nos termos seguintes:‖</p><p>7[7] Na visão de José Afonso da Silva, ao estrangeiro correspondem, igualmente, os direitos sociais,</p><p>especialmente os trabalhistas. Ao outorgar direitos aos trabalhadores urbanos e rurais, por certo aí a Constituição</p><p>alberga também o trabalhador estrangeiro residente no País, e assim se há de entender em relação aos outros</p><p>direitos sociais: seria contrário aos direitos fundamentais do ser humano negá-los aos estrangeiros residentes</p><p>aqui, afirma o professor. (Curso de Direitos Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2000. Pág. 195).</p><p>23</p><p>23</p><p>fim da história e da utopia; não precisa olhar mais para o horizonte, nem buscar</p><p>mais, pois o destino da humanidade já está traçado: é o caminho da globalização</p><p>neoliberal.</p><p>Desfrutando do barateamento e dos avanços tecnológicos no âmbito da</p><p>comunicação e dos transportes, este modelo de globalização garante mais direitos</p><p>aos capitais e às mercadorias que aos seres humanos. Com efeito, o que</p><p>caracterizaria a época atual, mais que uma ―globalização‖, seria uma verdadeira</p><p>―dualização‖ do planeta, estruturada de forma a enriquecer os mais ricos e</p><p>empobrecer os mais pobres. Estes, não raramente, são reificados ou</p><p>mercantilizados em vista da maximização do lucro, o grande móvel da nova ordem</p><p>internacional.</p><p>Nesta conjuntura, agravada com os atentados de 11 de setembro (EUA) as</p><p>migrações, que no passado eram vistas como um potencial de trazer novidades</p><p>enriquecedoras, agora são tidas como uma fonte de terrorismo, ameaça ao</p><p>emprego dos autóctones e à segurança dos Estados.</p><p>Por outro lado, a intensidade e a complexidade da mobilidade humana</p><p>contemporânea trazem sérias interrogações em relação a suas causas. Trata-</p><p>se de um fenômeno</p><p>―espontâneo‖ ou ―induzido‖? Estamos diante de migrações ―voluntárias‖ ou</p><p>―forçadas‖? Na realidade, tem-se a impressão de que a emigração maciça para os</p><p>países do Norte do Mundo, antes que conseqüência da livre escolha de</p><p>indivíduos, decorra diretamente da crise do atual modelo de globalização</p><p>neoliberal que concentra as riquezas e subordina o capital produtivo e gerador de</p><p>empregos ao capital especulativo.</p><p>A propósito, vale citar a afiramção de Roberto Kurz: ―É preciso deixar de dar</p><p>explicações do tipo „o ser humano sempre fez guerras e sempre migrou‟. Isto não</p><p>ajuda a compreender este fenômeno que é inédito e nunca ocorreu em tão alta</p><p>escala como agora. A migração não é nada novo na história da modernização,</p><p>mas, sim, há um erro na avaliação ao dizer que as pessoas migram livremente em</p><p>busca de melhores condições. É um processo coativo. Os pobres são livres</p><p>para vender sua mão de obra, porém fazem isto porque não têm condições para</p><p>controlar sua existência. A transformação da sociedade capitalista numa situação</p><p>mundial produziu uma sociedade de exclusão. O ser humano participa de um</p><p>sistema no qual vende abstratamente sua mão de obra e integra uma</p><p>engrenagem (montada) para produzir acumulação infinita de capital, ‖ afirma.</p><p>1.2. Essa realidade pode ser elucidada por meio de alguns</p><p>dados estatísticos. O relatório da FAO de 2003 sobre</p><p>Insegurança Alimentar8[8] mostra que entre 1995/97 e</p><p>1999/2001 houve um aumento em 18 milhões de pessoas que</p><p>sofrem fome crônica. Esses dados tornam praticamente inviável</p><p>o propósito, feito na Cúpula sobre Alimentação de 1996, de</p><p>reduzir pela metade o número de pessoas famintas até 2015.</p><p>Conforme o mesmo relatório, as regiões geográficas em que a</p><p>porcentagem de pessoas famintas é maior são: a África (com</p><p>exceção da África do Norte), a América Central, o Caribe e a</p><p>Ásia Meridional. No Dia Mundial da Alimentação, 17 de outubro</p><p>de 2004, a FAO denunciou que morre de fome uma pessoa a</p><p>cada quatro segundos: dos 842 milhões de seres humanos que</p><p>passam fome no mundo inteiro, 798 (sobre)vivem nos países em</p><p>desenvolvimento.</p><p>O décimo relatório anual da UNICEF, ―A situação Mundial da Infância -</p><p>24</p><p>24</p><p>2004‖9[9], revela que entre os 2,2 bilhões de crianças (até os 15 anos) que vivem</p><p>no mundo, 1,9 bilhões residem em países em desenvolvimento, sendo que um</p><p>bilhão delas subsistem na pobreza. Aproximadamente, uma em cada duas</p><p>crianças vive com alimentação não adequada, sem acesso à educação nem à</p><p>água potável. O relatório denuncia também o elevado número de crianças que</p><p>trabalham (180 milhões), morrem em conflitos bélicos (45% das vítimas), são</p><p>obrigadas a fugir de conflitos (20 milhões), são traficadas (1,2 milhões) e</p><p>exploradas sexualmente (2 milhões).</p><p>Estes dados tornam-se mais dramáticos ao constatar que a raiz da fome ―não é a</p><p>falta de alimentos, mas a falta de vontade política‖, como afirma Jacques Diouf,</p><p>Diretor Geral da FAO, no prólogo do supracitado relatório. Os fracassos das</p><p>cúpulas multilaterais sobre desenvolvimento sustentável (Johanesburgo) e</p><p>alimentação (Roma) revelam a pouca preocupação dos países mais ricos com a</p><p>―Auschwitz contemporânea‖ - a miséria e a exclusão da maioria da população</p><p>mundial - e a frágil e hedionda tentativa de resolver o ―problema‖ migratório</p><p>através de políticas excludentes.</p><p>1.3. Essa situação, já dramática, é ulteriormente agravada pelo</p><p>recrudescimento de políticas imperialistas e unilaterais,</p><p>ideologicamente legitimadas pelo combate ao terrorismo. De</p><p>fato, após os atentados de Nova Iorque, alastrou-se um clima de</p><p>desconfiança e suspeita em relação a todos os estrangeiros. Em</p><p>nome da defesa dos direitos humanos, implementam-se políticas</p><p>e legislações imigratórias cada vez mais rígidas, a ponto de</p><p>provocar reiteradas denúncias por parte de organizações</p><p>internacionais de promoção de direitos humanos.</p><p>A utilização indiscriminada da força bélica, mesmo sem o consentimento de</p><p>organismos multilaterais, torna cada vez mais difícil distinguir aquelas ações</p><p>realmente voltadas à luta contra o terrorismo e aquelas que, ao contrário, visam a</p><p>imposição dos interesses geopolíticos e econômicos de determinados países. Na</p><p>realidade, tem-se a impressão de que os acontecimentos do dia 11 de setembro</p><p>tenham apenas radicalizado e legitimado uma tendência pré-existente em</p><p>considerar o estrangeiro como uma ameaça - econômica e cultural - para os</p><p>países ocidentais.</p><p>Sinais de esperança</p><p>Não faltam, no meio de todas essas sombras, sinais de esperança. O Fórum</p><p>Social Mundial com seu lema ―Um outro mundo é possível‖, os generalizados</p><p>protestos, em 2004, contra a guerra no Iraque, a prática inserida e cotidiana de</p><p>movimentos populares pacifistas, ecológicos, contra o racismo, pela promoção da</p><p>mulher, contra o trabalho escravo, contra o tráfico e exploração de crianças e,</p><p>mais em geral, em prol dos direitos humanos, revelam a existência de uma rede</p><p>de resistências contra o atual modelo de globalização neoliberal. Muitos desses</p><p>movimentos populares estão se tornando verdadeiras caixas de ressonância do</p><p>clamor de milhões e milhões de empobrecidos e excluídos que com suas vidas</p><p>sofridas, seus corpos martirizados e seus corações feridos clamam por uma</p><p>sociedade planetária em que todos tenham reconhecidos e respeitados os direitos</p><p>de cidadania.10[10]</p><p>DIMENSÃO DO FENÔMENO</p><p>Migrações Internacionais</p><p>25</p><p>25</p><p>O World Economic and Social Survey 200411[11] aponta que 17512[12] milhões</p><p>de pessoas vivem fora do país em que nasceram. Isso significa que uma em cada</p><p>35 pessoas é migrante, o que corresponde a 2,9% da população mundial. A</p><p>intensidade do fenômeno pode ser elucidada levando em conta que, em 1910, o</p><p>número de emigrantes era de 33 milhões, ou seja, 2,1% da população planetária.</p><p>No que se refere à distribuição da população migrante, em 2002, a maior parte</p><p>vivia na Ásia (43,8 milhões), seguida pelos EUA e Canadá (40,8 milhões), Europa</p><p>ocidental (32,8 milhões) e a ex-União Soviética (29,5 milhões). Menor a presença</p><p>na África (16,3 milhões), América Latina (5,9 milhões) e Oceania (5,8 milhões).</p><p>A América do Norte passou por um relevante fluxo migratório nas últimas duas</p><p>décadas, sendo que atualmente incorpora 23% do total de migrantes mundiais. Já</p><p>na Europa, excluindo a ex-URSS, a porcentagem no total de migrantes</p><p>permaneceu estável entre 1960 e 2000 (em torno de 18%), mas houve um sensível</p><p>aumento da porcentagem em relação à população da região: passou-se de 3,3%,</p><p>em 1960, para 6,4%, em 2000.</p><p>Apesar da evolução e diversificação dos destinos, segundo o Informe, as</p><p>migrações internacionais continuam bastante concentradas, sendo que 75% do</p><p>total de migrantes estão em 28 países (em 1960, estavam em 22 países). Nos EUA</p><p>se encontra 20% do total (35 milhões), seguidos pela Rússia (13 milhões), a</p><p>Alemanha (7,3 milhões), a Ucrânia (6,9%), a França e a Índia (6,3 milhões cada).</p><p>O informe da ONU aponta também 16 países que nos 10 qüinqüênios - entre 1950</p><p>e 2000 - tiveram saldo migratório sempre negativo e 7 países que, nos mesmos</p><p>períodos, tiveram saldo migratório positivo. Os primeiros podem ser considerados</p><p>países de emigração (entre eles, México, Cuba, Bolívia, Colômbia, Bulgária,</p><p>Polônia, Bangladesh e Índia) e os segundos de imigração (EUA, França, Canadá,</p><p>Suécia, Israel, Austrália e Costa de Marfim). A maioria dos países, todavia,</p><p>intercala saldos negativos, positivos ou saldo zero. Os países que passaram por</p><p>três ou mais qüinqüênios com saldo migratório negativo são classificados como</p><p>países de emigração, como, por exemplo, Brasil.</p><p>Segundo o informe da ONU, 63% dos migrantes residem em países</p><p>desenvolvidos (110 milhões). Embora seja um fenômeno recente - a maioria dos</p><p>migrantes internacionais vivia em países em desenvolvimento nos levantamentos</p><p>de 1980 (52%), de 1970 (53%) e 1960 (58%) - não há dúvida de que os fluxos</p><p>migratórios das últimas duas décadas estão se direcionando preferencialmente</p><p>para os países economicamente mais ricos. Não é por acaso que a porcentagem</p><p>de migrantes nos países desenvolvidos passou de 3,4% para 8,7% da população.</p><p>11[11] O informe está disponível em: http://www.un.org/esa/analysis/wess/ Acessado em 10/12/2004</p><p>12[12] Migrações no Mundo 2005, relatório da OIM, analisa os efeitos da globalização, da liberalização comercial,</p><p>da integração econômica e a ampla brecha entre nações ricas e pobres, nos fluxos migratórios. Olha para o</p><p>impacto dos 185 milhões de migrantes e sua potencial contribuição para o desenvolvimento sócio econômico e</p><p>enriquecimento cultural tanto no próprio País quanto no exterior. E identifica as multidimensionais medidas de</p><p>administração necessárias por parte dos governos para uma otimização do retorno para ambos, migrantes e</p><p>sociedade e, ao mesmo tempo, minimizar os abusos associados à migração irregular. (Relatório da OIM, 2005).</p><p>http://www.un.org/esa/analysis/wess/</p><p>26</p><p>26</p><p>Cabe ressaltar, contudo, que os fluxos migratórios internacionais são complexos e</p><p>―voláteis‖, sendo bastante comum, por exemplo, a brusca inversão de saldos</p><p>migratórios ou a existência simultânea de uma forte emigração e imigração. Por</p><p>exemplo, dos EUA, o principal pólo de atração do mundo, saem anualmente 200</p><p>mil cidadãos.</p><p>Quanto à perspectiva de gênero, o Informe da ONU aponta uma substancial</p><p>igualdade da participação feminina e masculina nas migrações internacionais. As</p><p>mulheres, que eram 46,7% dos migrantes em 1960, atualmente perfazem 48,6%</p><p>do total. No entanto, o aumento da migração feminina não é universal nem</p><p>homogêneo. Na Ásia, por exemplo, as mulheres passaram de 46%, em 1960, para</p><p>43%, em 2000. Na África, embora em aumento, as mulheres migrantes perfazem</p><p>apenas 46,7% do total. Já houve um significativo aumento entre os anos 1960 e</p><p>2000: na América Latina, de 44,7% para 50,2%; na Oceania, de 44,4% para</p><p>50,5%; e, na Europa, de 48,5% para</p><p>51%.</p><p>No que diz respeito aos refugiados e desplazados, os últimos dados divulgados</p><p>pelo ACNUR referentes ao ano 2003, calculam em 17,1 milhões as pessoas sob o</p><p>cuidado da instituição, uma diminuição de 18% em relação ao ano anterior. Do</p><p>total, cerca de 9,6 milhões são refugiados reconhecidos, cujo número registrou</p><p>uma diminuição em todos as regiões, com exceção da África ocidental (+0,6%).</p><p>Ocorreu, entre 2002 e 2003, uma sensível diminuição de refugiados na Bósnia-</p><p>Herzegóvina (-108 mil), Serra Leoa, Croácia, Burundi, Somália e Timor Leste. Por</p><p>outro lado, aumentaram os refugiados do Sudão (+100 mil) e da Libéria. O</p><p>Paquistão é o principal lugar de acolhida, seguido pelo Irã, Alemanha, Tanzânia e</p><p>Estados Unidos.</p><p>Migrações Latino-americanas</p><p>De acordo com os dados da CEPAL contidos no "Panorama Social de América</p><p>Latina 2004"13[13], a maioria da população migrante presente na região é oriunda</p><p>da própria América Latina (58,7%), totalizando 2.700.000 pessoas. Isso constitui</p><p>uma novidade, pois em 1990, a porcentagem era de 48,8% e, em 1980, de 36,9%.</p><p>Entre as razões apontadas para o crescimento da emigração intra-regional,</p><p>sinalizam-se: a característica cultural, as raízes históricas comuns e a</p><p>complementaridade dos mercados laborais subjacentes aos intercâmbios</p><p>migratórios, além, claramente, da cessação das correntes imigratórias de</p><p>ultramar14[14].</p><p>Os dados da CEPAL confirmam também a intensidade do fluxo migratório dos</p><p>anos 90, cujo resultado é a presença de, no mínimo, de 20 milhões de latino-</p><p>americanos fora do país de nascimento. Entre eles, cerca de 15 milhões vivem nos</p><p>Estados Unidos, sendo a maioria formada por mexicanos (54%), cubanos,</p><p>dominicanos e salvadorenhos. Desde 1970, o número de latinos nos EUA quase</p><p>decuplicou. A população migrante indocumentada nos EUA é estimada em 7</p><p>milhões de pessoas, 70% das quais de origem mexicana. (O Censo de 2000</p><p>contabilizou 7 milhões de ilegais e outros 12 milhões de estrangeiros vivendo</p><p>legalmente no país.)</p><p>A CEPAL sinaliza também a presença de cerca de 3 milhões de latino-americanos</p><p>que escolheram viver em outros países, com preferência pelo Canadá, Japão,</p><p>Austrália, Israel e a União Européia. Entre eles há muitos que optaram por</p><p>retornar nos países de origem dos próprios familiares, freqüentemente após o</p><p>pedido de reconhecimento</p><p>13[13] COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE. Panorama Social de América Latina</p><p>27</p><p>27</p><p>2004.</p><p>Disponível em: http://www.eclac.cl</p><p>14[14] ―Até meados do século XX, a região foi cenário de uma intensa imigração ultramar, especialmente da</p><p>Europa (mais de 11 milhões de pessoas chegaram, a partir do início do séc. XIX (a maioria italianos, espanhóis</p><p>e portugueses)‖, p. 35.</p><p>da cidadania. Destaca-se também a presença de 840 mil latinos na Espanha que,</p><p>desta forma, se tornou o segundo pólo de atração da emigração latino-americana.</p><p>Quanto à perspectiva de gênero, o Informe relata que ―as tendências da</p><p>participação de mulheres sugerem uma feminização quantitativa, o que é uma</p><p>característica distintiva da migração latino-americana e caribenha, em</p><p>comparação com outras regiões do mundo‖. Na emigração para os EUA, verifica-</p><p>se uma alta porcentagem de mulheres entre os emigrantes sul-americanos. Entre</p><p>as causas apontadas destacam- se a demanda trabalhista, a reunificação familiar</p><p>e motivações individuais.</p><p>Um último dado quantitativo a ser realçado refere-se ao aumento das remessas</p><p>financeiras da região - cerca de US$ 34 bilhões. O Diretor do Fundo de Multilateral</p><p>Investimento do BID declarou em entrevista, em março de 200515[15]: “os dados</p><p>revelam as importantes</p><p>tendências nos mercados de trabalho mundiais”. E</p><p>ressaltou que "A importância destas remessas vai muito além dos indivíduos</p><p>que enviam US$</p><p>200 ou US$ 300 às suas famílias‖. Em alguns países da região, as remessas</p><p>equivalem a mais de 10% do PIB e a mais de 30% das exportações. Numa ótica</p><p>sócio- antropológica, esse fenômeno revela também a existência de ―comunidades</p><p>transnacionais‖, ou seja, comunidades formadas por migrantes que residem em</p><p>localidades diferentes, mas que mantém estreitas relações econômicas, culturais e</p><p>sociais.16[16]</p><p>Desafios e prioridades</p><p>O fenômeno migratório contemporâneo, por sua intensidade e diversificação,</p><p>torna-se cada vez mais complexo, principalmente no que se refere às causas que</p><p>o originam. Entre elas destacam-se as transformações ocasionadas pela</p><p>economia globalizada, como vimos anteriormente, as quais levam à exclusão</p><p>crescente dos povos, países e regiões e sua luta pela sobrevivência; a mudança</p><p>demográfica em curso nos países de primeira industrialização; o aumento das</p><p>desigualdades entre Norte e Sul no mundo; a existência de barreiras</p><p>protecionistas que não permitem aos países emergentes colocarem os próprios</p><p>produtos em condições competitivas nos mercados; a proliferação dos conflitos e</p><p>das guerras; o terrorismo; os movimentos marcados por questões étnico-</p><p>religiosas; a urbanização acelerada; a busca de novas condições de vida nos</p><p>países centrais, por trabalhadores da África, Ásia e América Latina; questões</p><p>ligadas ao narcotráfico, à violência e ao crime organizado; os movimentos</p><p>vinculados às safras agrícolas, aos grandes projetos da construção civil e aos</p><p>serviços em geral; as catástrofes naturais e situações ambientais.</p><p>Em todas as épocas, as migrações levantaram desafios para os países, para as</p><p>sociedades locais ou regionais e para a comunidade internacional. Mas, em cada</p><p>contexto histórico, esses desafios se configuraram de forma quantitativa e</p><p>qualitativamente diferenciada. Assinalamos, aqui, alguns desafios hodiernos que,</p><p>em nossa ótica, destacam-se pela urgência e gravidade.</p><p>15[15] Em relatório, divulgado em 22mar05, o BID aponta que os Países latino-americanos receberam as</p><p>seguintes remessas:: México: US$ 16,6 bilhões; Brasil: US$ 5,6 bilhões; Colômbia: US$ 3,8 bilhões;</p><p>Guatemala>: US$ 2,6 bilhões; El Salvador: US$ 2,5 bilhões; República Dominicana: US$ 2,4 bilhões; Equador:</p><p>http://www.eclac.cl/</p><p>28</p><p>28</p><p>US$ 1,7 bilhão; Peru: US$ 1,3 bilhão;; Honduras: US$ 1,1 bilhão; Nicarágua: US$ 810 milhões; Paraguai: US$</p><p>506 milhões; Bolívia: US$ 422 milhões; Costa Rica: US$ 306 milhões; Venezuela: US$ 259 milhões; Panamá:</p><p>US$ 231 milhões; Argentina: US$ 270 milhões; Uruguai: US$ 105 milhões.</p><p>16[16] Cf. SERRANO, Javier O. Acerca de las remesas de dinero que envían los migrantes: procesos de</p><p>intercambio social en contextos migratorios internacionales. In: Estudios Migratorios Latinoamericanos, XVII, n. 51,</p><p>agosto 2003, pp. 307-332.</p><p>Restrições nas políticas migratórias</p><p>A intensificação dos fluxos migratórios internacionais das últimas décadas</p><p>provocou o aumento do número de países orientados a regulamentar e até reduzir</p><p>a imigração. Os argumentos alegados não são novos: o medo de uma ―invasão</p><p>migratória‖, os riscos de desemprego para os trabalhadores autóctones, a perda</p><p>da identidade nacional e, até, o espetro do terrorismo. Não temos aqui o espaço</p><p>suficiente para avaliar a legitimidade desses argumentos. Entretanto, alguns</p><p>breves esclarecimentos são necessários. O supracitado Informe da Comissão</p><p>Mundial sobre a Dimensão Social da Globalização apresenta, de forma sucinta e</p><p>clara, as vantagens decorrentes do estabelecimento de um regime multilateral</p><p>para a mobilidade humana internacional:</p><p>A maioria dos países industrializados conta com uma população que</p><p>envelhece e tende a diminuir, enquanto que a maioria do país em</p><p>desenvolvimento conta com uma população jovem e crescente. Muitos</p><p>problemas derivados do envelhecimento da população, como são a diminuição</p><p>da população ativa ou as dificuldades pra financiar a seguridade social pelo</p><p>crescimento dos níveis de dependência, poderiam atenuar-se mediante um</p><p>incremento da imigração baseado no respeito dos direitos dos trabalhadores</p><p>migrantes. Em geral, a produtividade mundial da mão de obra aumentaria com</p><p>este processo, já que a migração seria de países com excedente laboral e</p><p>baixa produtividade a países com alta produtividade. Isto não só beneficiaria aos</p><p>próprios migrantes, como também a seus países de origem, graças ao envio de</p><p>remessas de divisas, à transferência de qualificações e ao estímulo da</p><p>atividade comercial que provocaria a diáspora. (…) Em resumo, ditos</p><p>movimentos da mão de obra podem resultar em benefícios mútuos para o Norte</p><p>e o Sul (n. 432).</p><p>Essas rápidas reflexões revelam a complexidade do fenômeno migratório e a</p><p>inconsistência da estigmatização dos migrantes como responsáveis pelas crises</p><p>sociais dos países de chegada. Para isso, devem ser questionadas também</p><p>aquelas análises dos fluxos migratórios Sul-Norte que interpretam a decisão de</p><p>emigrar como uma opção exclusiva e autônoma de indivíduos, isentando os países</p><p>de recepção de qualquer responsabilidade. Essas análises, ideológicas e</p><p>descontextualizadas, na realidade, omitem as influências que as dinâmicas</p><p>geopolíticas e econômicas planetárias exercem nos processos decisórios dos</p><p>emigrantes do Sul. De forma específica, encobrem as graves responsabilidades da</p><p>crise da globalização neoliberal, sustentada pelos países do Norte, no acirramento</p><p>do fenômeno migratório contemporâneo.17[17]</p><p>Acreditamos que as restrições das políticas migratórias tenham prioritariamente</p><p>uma finalidade simbólica: transformar os estrangeiros em ―bodes expiatórios‖,</p><p>encobrindo, desta forma, as reais causas das crises econômicas e/ou culturais</p><p>que atingem numerosos países do Norte.18[18] É evidente que essa vitimização</p><p>dos migrantes não resolve as crises, mas alimenta cada vez mais a espiral da</p><p>violência.</p><p>29</p><p>29</p><p>17[17] Cf. SASSEN, Saskia. Globalizzati e scontenti. Il destino delle minoranze nel nuovo ordine mondiale.</p><p>Milano: Il Saggiatore, 2002, pp. 38-40.</p><p>18[18] Sobre a questão do bode expiatório ver: GIRARD, René. O Bode expiatório. São Paulo, Paulus, 2004.</p><p>Diante das crescentes dimensões das migrações internacionais, particularmente</p><p>as latino-americanas, a CEPAL, em seu relatório já citado, expressa preocupação</p><p>pela falta de proteção dos emigrantes, principalmente daqueles mais vulneráveis:</p><p>A desproteção dos migrantes representa uma grande preocupação. A existência</p><p>de uma população imigrante em situação indocumentada – de magnitude</p><p>estimada em mais de 6 milhões de pessoas, concentradas nos Estados Unidos —,</p><p>as restrições à imigração por parte dos países desenvolvidos, com seu resultante</p><p>na vulnerabilidade de muitos imigrantes, atiçada pela indocumentação e a</p><p>operação de organizações dedicadas ao tráfico de pessoas, são situações que</p><p>impedem o exercício de seus direitos em forma plena, preocupações que para os</p><p>países da região desafiam a governabilidade.</p><p>Infelizmente, não existe hoje uma legislação internacional sólida sobre as</p><p>migrações internacionais. É o que constata o Informe ―Por uma globalização</p><p>justa: criar oportunidades para todos‖19[19], elaborado pela Comissão Mundial</p><p>sobre a Dimensão Social da Globalização: ―o maior vazio da atual estrutura</p><p>internacional da economia global é a ausência de um marco multilateral que regule</p><p>o movimento transfronteiriço de pessoas‖ (n. 428). Assim, ―enquanto que os</p><p>direitos relativos ao investimento estrangeiro foram se reforçando cada vez mais</p><p>nas regras estabelecidas para economia global, deu-se muito pouca atenção aos</p><p>direitos dos trabalhadores‖ (n. 431).</p><p>A migração clandestina e o tráfico humano</p><p>Outro desafio da mobilidade humana contemporânea é o aumento da migração</p><p>clandestina, que é diretamente relacionado às políticas migratórias restritivas.</p><p>Neste sentido, muito apropriadas as palavras de Mons. Stephen Fumio Hamao -</p><p>Presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes:</p><p>―...as rígidas leis da imigração, estabelecidas por muitos países receptores,</p><p>serviram, ao contrário, de fato, para estimular a migração irregular. Quando é difícil</p><p>atravessar uma fronteira legalmente, e existe uma necessidade impelente de fazê-</p><p>lo, tentam de fato a migração não autorizada. Quando as pessoas estão</p><p>despojadas de seus direitos, como os migrantes em situação irregular, é fácil</p><p>explorá-los e maltratá-los, e, ao mesmo tempo, obter benefícios econômicos à</p><p>custa delas..‖20[20]</p><p>Os migrantes em situação irregular vivem numa condição de extrema</p><p>vulnerabilidade. Estão facilmente sujeitos à extorsão, aos abusos e à exploração</p><p>por parte de empregadores, agentes de migração e burocratas corrompidos. Por</p><p>medo de serem descobertos e expulsos, eles sequer utilizam os serviços e</p><p>assistência a que têm direito, embora contribuam com seus trabalhos ao</p><p>enriquecimento dos países para onde migraram.</p><p>19[19] O Informe pode ser encontrado em: http://www.ilo.org/public/spanish/index.htm</p><p>20[20] HAMAO, Mons. Stephen Fumio. Notas de introducción Encuentro Continental organizado por el</p><p>http://www.ilo.org/public/spanish/index.htm</p><p>30</p><p>30</p><p>CELAM- SEPMOV Bogotá, Colombia (7-9 mayo 2003). Disponível em: http://www.vatican.va</p><p>http://www.vatican.va/</p><p>31</p><p>31</p><p>Na realidade, a acolhida de imigrantes nos países do Norte não responde a uma</p><p>opção axiológica, e sim puramente instrumental: oferece-lhes a possibilidade de</p><p>preencher vazios do mercado de trabalho, mas não de serem incluídos na</p><p>sociedade de chegada. Assim, apesar da retórica oficial, a presença de</p><p>clandestinos ―exploráveis‖ é tolerada desde que funcional ao crescimento das</p><p>economias. Isso representa um duro obstáculo para o reconhecimento pleno dos</p><p>direitos trabalhistas dos migrantes, inclusive pela ratificação da ―Convenção</p><p>internacional sobre a proteção dos direitos de todos os trabalhadores migrantes e</p><p>seus familiares‖21[21].</p><p>A restrição das políticas migratórias incentivou também a formação de</p><p>organizações destinadas a favorecer o ingresso, legal ou ilegal, de migrantes nos</p><p>países mais cobiçados (de certo modo, a atual novela ―América‖, também ilustra</p><p>esta realidade). O que torna mais dramático e urgente o desafio é que este tráfico</p><p>não se limita a contrabandear pessoas para os países de emigração (o assim</p><p>chamado smuggling), mas desenvolve um verdadeiro tráfico de pessoas</p><p>(traffincking) que é definido, de acordo com as Nações Unidas, como:</p><p>―...o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de</p><p>pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou outras formas de coação, ao</p><p>rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de</p><p>vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para</p><p>obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins</p><p>de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas</p><p>similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos.‖22[22]</p><p>Não deixa de ser uma nova forma de escravidão. Nos casos de aliciamento para</p><p>fins de exploração sexual, as vítimas são vendidas a donos de bordéis que</p><p>costumam confiscar seus documentos e, através de ameaças e outras formas de</p><p>violência, cobram o pagamento da dívida contraída pela viagem e pelas demais</p><p>despesas decorrentes da estadia no país de chegada. Numerosas organizações</p><p>mafiosas internacionais envolveram-se nesse negócio pela alta lucratividade que</p><p>produz.</p><p>No que se refere às raízes do fenômeno, antes de tudo, cabe sinalizar que o</p><p>proliferar do tráfico de pessoas constitui a resposta a uma demanda de corpos</p><p>para a exploração sexual ou para o trabalho escravo que aumenta cada vez</p><p>mais, sobretudo nos países do Norte ou desenvolvidos. Cresce cada vez mais o</p><p>turismo sexual. Para os que não podem ou não querem sair do país, promoveu-se</p><p>a importação de mulheres através do tráfico humano.</p><p>Em segundo lugar, as máfias exploram as condições dramáticas de vida que</p><p>assolam as populações dos países mais pobres. As falsas promessas dos</p><p>aliciadores encontram terreno fértil nos países e nas classes sociais que mais</p><p>sofrem pela falta de oportunidades e perspectivas para o futuro. Não raramente,</p><p>as vítimas dos aliciamentos desconfiam da veracidade das encantadoras</p><p>promessas dos algozes, mas preferem arriscar antes que permanecer nas</p><p>desumanas condições de vida em que se encontram.</p><p>Fica evidente, portanto, que a solução do problema não pode ser encontrada</p><p>apenas em medidas policias, mas, na criação de políticas públicas que visem à</p><p>superação das causas profundas do fenômeno, a saber, a procura por corpos a</p><p>serem explorados, sobretudo nos países desenvolvidos, e a vulnerabilidade</p><p>econômica e social dos países do Sul do mundo, lugar de origem da grande</p><p>maioria das vítimas.</p><p>21[21] Cf. Trabalhadores migrantes. Introdução ao conhecimento da ―Convenção internacional sobre a proteção</p><p>dos direitos de todos os trabalhadores migrantes e seus familiares‖. Brasília, CSEM, 1997.</p><p>22[22] Protocolo Adicional da ONU relativo ao Tráfico de Seres Humanos, assinado em Palermo em</p><p>15 de Dezembro de 2001.</p><p>32</p><p>32</p><p>A feminização da migração</p><p>Um espaço específico merece também o que hoje é definido de "feminização da</p><p>migração". Há autores que negam que exista, de fato, uma real predominância</p><p>feminina, em relação ao passado, nos fluxos migratórios atuais. Esta seria</p><p>apenas uma concessão feita à questão de gênero, muito em voga na</p><p>atualidade.23[23] Conforme o já citado Estudo Econômico e Social das Nações</p><p>Unidas, atualmente as mulheres representam 48,6% dos migrantes internacionais,</p><p>enquanto que em 1960 essa porcentagem era de 46,7%. Embora percentualmente</p><p>a mudança seja pouco relevante, não há dúvida de que existem transformações e</p><p>problemáticas específicas que atingem as mulheres migrantes.</p><p>Historicamente, a presença feminina no âmbito da migração estava ligada,</p><p>predominantemente, à chamada "reunificação familiar". No entanto, nos últimos</p><p>anos, aumentou muito o número de mulheres que se deslocam sozinhas com um</p><p>projeto migratório meramente laboral. Na origem desta mudança deve ser</p><p>realçado o sensível aumento, nos países do Norte, da demanda de mão-de-obra</p><p>feminina para tarefas "domésticas", tanto de limpeza, quanto de cuidado com as</p><p>pessoas (crianças ou idosos).</p><p>Estes trabalhos domésticos, comumente, exigem mão-de-obra extremamente</p><p>flexível, principalmente em relação aos horários, o que, muitas vezes, dificulta a</p><p>integração da migrante na sociedade de chegada, além de tornar mais complexa a</p><p>reunificação familiar e a autonomia pessoal. Num interessante ensaio, Rhacel</p><p>Salazar Parreñas mostra como o atual processo de globalização reforça as</p><p>relações de desigualdade entre as mulheres, sendo que o reconhecimento de</p><p>determinados direitos por parte de alguns grupos ocorre em detrimento dos</p><p>direitos de outros:</p><p>Para livrar-se do peso do trabalho doméstico, as mulheres dependem da</p><p>comercialização deste trabalho e compram os serviços das mulheres mais pobres</p><p>a preço baixo. E em nossa sociedade globalizada, são as trabalhadoras</p><p>migrantes do Sul que estão liberando cada vez mais as mulheres do Norte desse</p><p>peso. Todavia, isso traz conseqüências significativas para a relação entre as</p><p>mulheres. O progresso de um grupo de mulheres dá-se às custas da desvantagem</p><p>de outro grupo de mulheres, porque, no processo de livrar outras mulheres desse</p><p>peso, às trabalhadoras domésticas migrantes do Sul comumente é negado o</p><p>direito de cuidar de sua própria família.24[24]</p><p>Cabe lembrar também o crescimento da presença feminina no universo dos</p><p>refugiados: de acordo com o ACNUR, crianças e mulheres perfazem cerca de 75%</p><p>do total. Muitas delas são vítimas de abusos sexuais, como no caso da Bósnia e</p><p>de Ruanda, onde o estupro tornou-se um objetivo deliberado</p><p>da guerra.25[25]</p><p>A abordagem das migrações na ótica de gênero revela a extrema vulnerabilidade</p><p>em que se defrontam as mulheres migrantes. Estamos de acordo com Graeme</p><p>Hogo quando afirma que "se o migrante está em situação dupla de insegurança</p><p>dado o seu status de migrante e ilegal, o aumento do número de mulheres</p><p>envolvidas nesse</p><p>23[23] Cf. LE BRAS, Hervé. El fin de las migraciones. In: Estudios migratorios latinoamericanos, 17/50 (abril -</p><p>2003) 13.</p><p>24[24] SALAZAR PARREÑAS, Rhacel. Entre as mulheres – Desigualdade de trabalho doméstico e de gênero</p><p>entre as mulheres na nova economia global. In: Concilium 298 – 2002/5, p. 29.</p><p>25[25] Cf. Il mondo delle donne rifugiate in cifre. In: Rifugiati 1 (2002) 7.</p><p>33</p><p>33</p><p>processo as expõem a uma situação de tripla insegurança por causa da questão</p><p>de gênero, havendo um risco ainda maior de exploração".26[26]</p><p>Os refugiados</p><p>O drama dos refugiados e refugiadas é sem dúvida um dos desafios mais urgentes</p><p>da conjuntura internacional. A realidade das pessoas coagidas a fugir da própria</p><p>terra porque perseguidas é tão dramática que pode ser, justamente, considerada a</p><p>―nossa Auschwitz‖27[27].</p><p>Em relação ao passado, há, pelo menos, três fatores que modificaram a</p><p>abordagem sobre a temática: o fim da guerra fria, os atentados do 11 de setembro</p><p>e o acirramento dos fluxos migratórios internacionais, sobretudo de migrações</p><p>forçadas. A queda do muro de Berlim reduziu as razões ideológicas que, durante a</p><p>guerra fria, estavam na origem do compromisso de alguns países em abrigar</p><p>refugiados e refugiadas. Por sua vez, os atentados às Torres Gêmeas de Nova</p><p>York, como acima já exposto, provocaram um endurecimento das políticas</p><p>imigratórias, despertando suspeitas generalizadas em relação a muitos</p><p>estrangeiros, inclusive aos solicitantes de proteção internacional. Finalmente, a</p><p>intensificação dos fluxos migratórios, além de exacerbar medos e preconceitos</p><p>xenófobos, contribuiu a dificultar os procedimentos de determinação da condição</p><p>de refugiados.</p><p>Nesse novo cenário verifica-se uma crescente aproximação, prática e teórica,</p><p>entre a condição dos migrantes ―econômicos‖ e aquela dos refugiados. Esta</p><p>aproximação pode ser comprovada por dois fatos. Por um lado, como afirmamos,</p><p>a imersão dos refugiados e refugiadas no meio da ingente massa de migrantes</p><p>econômicos dificulta o procedimento de identificação, induzindo muitos países a</p><p>―considerar como migrantes os solicitantes de asilo enquanto não provarem o</p><p>contrário‖28[28]. Por outro lado, o empobrecimento progressivo do Sul do mundo</p><p>gera migrações econômicas cada vez mais ―forçadas‖, sendo o drama humano</p><p>de muitos desses migrantes comparável àquele de refugiados e refugiadas. Em</p><p>síntese, no primeiro caso, a intensidade das migrações econômicas internacionais</p><p>acaba encobrindo ou, até, negando a existência de refugiados; no segundo, ao</p><p>contrário, a violência inerente a todo tipo de migração forçada leva a uma situação</p><p>onde o migrante pode ser caracterizado como um</p><p>―refugiado de fato‖.</p><p>Ao nosso ver, pode-se falar em aproximação, mas não em plena identificação</p><p>entre a condição do migrante econômico e aquela do refugiado. É importante</p><p>salvaguardar o específico de cada condição, sobretudo em vista da busca de</p><p>soluções apropriadas e douradoras. Por outro lado, seria extremamente perigoso</p><p>contrapor ou, simplesmente, isolar a proteção internacional dos refugiados e</p><p>refugiadas do compromisso pelos direitos dos migrantes, sob pena de criar uma</p><p>casta de privilegiados no meio de milhões de migrantes explorados e vitimizados.</p><p>Na realidade, a preservação dos instrumentos internacionais de proteção em</p><p>matéria de refugiados representa a contundente afirmação do direito universal à</p><p>vida e à segurança que todos os seres humanos têm.</p><p>26[26] Migrações internacionais não-documentadas. Uma tendência global crescente. In: Travessia XI/30</p><p>(janeiro- abril/98) 11.</p><p>27[27] MIETH, Dietmar. Homens em fuga. Considerações ético-sociais sobre a partilha de direitos e deveres. In:</p><p>Concilium 248 – 1993/4, p. 90.</p><p>28[28] CASTRO PITA, Ari. Direitos humanos e asilo. In: MILESI, Rosita (org.). Refugiados. Realidade e</p><p>perspectivas. São Paulo, Loyola/IMDH/CSEM, 2003, p.90.</p><p>34</p><p>34</p><p>Auspicia-se, nesse sentido, que a proteção internacional dos refugiados seja</p><p>abordada de forma inclusiva e abrangente, priorizando a superação das causas</p><p>do fenômeno. Há que se sublinhar, aqui, na afirmação do ―Plano de ação do</p><p>México‖ (2004) e insistir na sua efetivação: ―é necessário que os países de origem</p><p>dos refugiados, com a cooperação da comunidade internacional, continuem</p><p>realizando esforços para criar condições adequadas para o retorno com</p><p>segurança e dignidade de seus nacionais refugiados‖29[29]. Vale, no entanto, não</p><p>esquecer das responsabilidades que a própria comunidade internacional tem, por</p><p>ação ou omissão, na geração de graves crises humanitárias em vários</p><p>continentes. De forma específica, precisa claramente apontar aqueles países que,</p><p>de forma unilateral e, às vezes, contrariando explícitas resoluções da própria ONU,</p><p>geram ou mantêm situações de generalizada violação de direitos humanos.</p><p>Ademais, ao analisar as causas profundas das situações de ―violência</p><p>generalizada‖ ou de ―maciça violação dos direitos humanos‖, percebe-se que, na</p><p>maioria dos casos, são os mesmos fatores que provocam tanto o empobrecimento</p><p>do Sul do mundo, quanto as ondas de refugiados e desplazados. É da mesma</p><p>fonte que nasce o ―rio‖ de migrantes econômicos e o ―rio‖ de refugiados. É aqui,</p><p>ao nosso ver, que a questão do refúgio e da migração econômica convergem</p><p>mais. Os rios são diferentes, mas nascem da mesma fonte. E é por isso que</p><p>verdadeiras ―soluções douradoras‖ só podem ser encontradas na eliminação ou,</p><p>pelo menos, na forte redução das causas profundas que originam os fenômenos.</p><p>É só a partir desse pano de fundo que podem e devem ser abordadas as</p><p>perspicazes propostas do Plano de Ação do México30[30]: 1) o Programa de auto-</p><p>suficiência e integração ―Cidades solidárias‖, que busca uma maior integração dos</p><p>refugiados e refugiadas urbanos através de ―uma proteção mais efetiva que</p><p>abarque os direitos e obrigações sociais, econômicos e culturais do refugiado‖; 2)</p><p>o Programa integral</p><p>―Fronteiras solidárias‖, que responde à necessidade de individuar e socorrer</p><p>aqueles que requerem e merecem proteção internacional por meio de um</p><p>―desenvolvimento fronteiriço‖ promovido pela presença das instituições do Estado,</p><p>projetos concretos da comunidade internacional e o envolvimento das populações</p><p>locais; 3) o Programa Regional de ―Reassentamento solidário‖ para refugiados</p><p>latino-americanos, proposto em 2004 pelo Governo do Brasil e marcado ―pelos</p><p>princípios de solidariedade internacional e responsabilidade compartilhada‖. E, no</p><p>âmbito de toda esta ação, a sociedade civil é chamada a articular, integrar e</p><p>fortalecer as Redes de Proteção, para atuar no conjunto da estrutura tripartite –</p><p>Governo, ACNUR e sociedade civil – na efetivação de soluções duradouras.</p><p>Diálogo Inter-religoso e Inter-cultural</p><p>As migrações internacionais estão provocando a difusão do pluralismo religioso no</p><p>mundo inteiro. É cada vez mais difícil identificar países ou regiões geográficas</p><p>com</p><p>29[29] Plano de Ação do México ―Para Fortalecer a Proteção Internacional dos Refugiados na América</p><p>Latina‖. In: ACNUR – CPIDH – IMDH. Lei 9474/97 e Coletânea de Instrumentos de Proteção Internacional</p><p>dos Refugiados. Brasília, ACNUR, 2004, p. 104.</p><p>30[30] Ibidem, pp. 105-109.</p><p>35</p><p>35</p><p>determinadas religiões. Começa-se a falar em ―islamização da Europa‖, pois se</p><p>estima que, em 2020, o continente poderá contar com cerca de 20 milhões de</p><p>muçulmanos.31[31] Nos Estados Unidos a migração mais intensa provém da</p><p>América Latina e Caribe, ou seja, de países predominantemente católicos. Essa</p><p>migração trará conseqüências tanto religiosas quanto culturais: calcula-se, por</p><p>exemplo,</p><p>que em 2050, 53% dos católicos estadunidenses serão latinos, o que</p><p>poderá acarretar significativas mudanças no rosto do catolicismo do país.</p><p>A instrução Erga Migrantes Caritas Christi assim descreve os desafios inerentes</p><p>ao pluralismo religioso:</p><p>Encontramo-nos frente a um pluralismo cultural e religioso talvez jamais</p><p>experimentado assim conscientemente como agora. De um lado, se procede a</p><p>grandes passos rumo a uma abertura mundial, facilitada pela tecnologia e pelos</p><p>meios de comunicação – que chega a pôr em contato, ou coloca internos um ao</p><p>outro, universos culturais e religiosos tradicionalmente diferentes e estranhos</p><p>entre si –; do outro lado, renascem as exigências de identidade local, que</p><p>encontram na especificidade cultural de cada um o instrumento da própria</p><p>realização.32[32]</p><p>Não há dúvida de que o multiculturalismo e o pluralismo religioso sejam</p><p>fenômenos crescentes e, talvez, irreversíveis. A questão não é se aceitá-los ou</p><p>não, mas como lidar com eles. A presença do "outro", numa ótica intercultural,</p><p>pode gerar diálogo e enriquecimento recíproco; já, numa ótica etnocêntrica e</p><p>fundamentalista, gerará preconceitos e conflitos.</p><p>No que se refere à integração sócio-cultural dos migrantes, deve-se excluir tanto</p><p>―os modelos de assimilação, que tendem a fazer do diverso uma cópia de si</p><p>mesmo, como os modelos de marginalização, com atitudes que podem chegar até</p><p>às opções do apartheid‖33[33]. A integração deve ser abordada na ótica da</p><p>interação simétrica entre interlocutores em vista do enriquecimento recíproco.</p><p>Num mundo que vive o paradoxo de uma ―aldeia global‖ cada vez mais</p><p>―individualista‖, o desafio da alteridade - religiosa e cultural - tornou-se uma</p><p>prioridade absoluta, sobretudo no que concerne o dia-a-dia dos migrantes e</p><p>refugiados. Cabe às religiões</p><p>―haurir forças de suas próprias tradições espirituais e interagir com os processos</p><p>sociais, políticos e culturais a fim de criar maior solidariedade humana e harmonia</p><p>universal. É por isso que, embora afirmando a riqueza de cada tradição religiosa,</p><p>precisamos também destacar a importância do encontro das religiões para salvar</p><p>o mundo, a humanidade e a natureza".34[34]</p><p>Os Brasileiros no Exterior</p><p>O Brasil passou de País de imigração a País de emigração. O fluxo emigratório</p><p>teve início nos anos ‘80, tendo como causas centrais a falta de trabalho, de</p><p>perspectivas, de condições de sobrevivência e de um futuro melhor, bem como a</p><p>oferta de empregos e as perspectivas de melhores salários nos países do norte.</p><p>Em 2002, as estimativas do MRE já apontavam a existência de aproximadamente</p><p>2 milhões e meio de emigrantes brasileiros, dado este que hoje, sempre como</p><p>estimativa, supera os 3.000.000 de brasileiros emigrados.</p><p>31[31] KUSCHEL, Karl-Josef. Euro-Islã: desafio ou chance? In: Concilium 305 – 2004/2, p. 78.</p><p>32[32] Cf. PONTIFÍCIO CONSELHO DA PASTORAL PARA OS MIGRANTES E ITINERANTES. Erga Migrantes Caritas</p><p>Christi. São Paulo, Paulus, 2004, n. 35.</p><p>33[33] IDEM. A integração cultural. Mensagem para o Dia dos Migrantes e Refugiados –</p><p>2005. 34[34] WILFRED, Felix. As religiões em face da globalização. In: Concilium 293 –</p><p>2001/5, p. 43.</p><p>36</p><p>36</p><p>Esta realidade e a problemática situação vivida pelos brasileiros e brasileiras no</p><p>exterior levou um grupo de organizações, entre elas a Pastoral dos Brasileiros no</p><p>Exterior, da CNBB, a Procuradoria Geral da República e a Casa do Brasil em</p><p>Lisboa a realizar, em 2002, em Lisboa, o I Encontro de Brasileiros no Exterior. O</p><p>objetivo do encontro foi propor soluções e debater ―as expectativas dos</p><p>emigrantes no que se refere à atuação dos poderes Executivo, Judiciário e</p><p>Legislativo brasileiros, bem como a necessidade de implementação de possíveis</p><p>medidas protetivas aos cidadãos e cidadãs brasileiras no exterior, e de ações de</p><p>fomento das relações entre os emigrantes e a Nação brasileira”.</p><p>– Dos debates e discussões resultaram, em suma, as seguintes</p><p>propostas:formulação de políticas públicas para a emigração;</p><p>– criação de uma secretaria ou departamento para assuntos de</p><p>emigração;</p><p>– representação política para os emigrantes brasileiros;</p><p>– elaboração do estatuto do brasileiro no exterior, contemplando seus direitos e</p><p>deveres;</p><p>– fortalecimento da atuação dos consulados e embaixadas brasileiras;</p><p>– ampliação da dotação orçamentária para o atendimento do programa de</p><p>assistência aos brasileiros no exterior;</p><p>– melhoria dos serviços bancários e as condições para</p><p>remessas;</p><p>– auxílio e incentivo à formação de pequenos empresários;</p><p>– ampliação e efetivação dos acordos e negociações diplomáticos – garantia de</p><p>direitos fundamentais dos trabalhadores migrantes brasileiros, repatriação dos</p><p>brasileiros presos no exterior e exercício do voto a emigrantes brasileiros no</p><p>país de acolhimento;</p><p>– questões criminais relacionadas à emigração;</p><p>– criação de um call center para atendimentos e registros de casos envolvendo</p><p>brasileiros no exterior;</p><p>– Ø proposição de transcrição de registros civis consulares e do registro de</p><p>nascimento no exterior e acesso à informação;</p><p>– censo dos brasileiros emigrados.</p><p>Hoje, pode-se constatar alguns avanços, mas seguramente desproporcionais em</p><p>relação à necessidade e ao próprio crescimento da emigração. A situação de</p><p>migrantes indocumentados, a exploração a que são submetidos, as condições de</p><p>residência de muitos deles, a proteção dos direitos como trabalhadores, a questão</p><p>das remessas, entre outros, são temas ainda distantes de alcançarem um patamar</p><p>mínimo que assegure um pouco de tranqüilidade e de acesso aos direitos de</p><p>cidadania.</p><p>37</p><p>37</p><p>O depoimento de um missionário é revelador e ilustrativo:</p><p>―Todos estão lá devido à questão econômica, uma minoria dos jovens foi estudar.</p><p>Muitos perderam tudo, faliram. O processo de saída do Brasil até a entrada na</p><p>América é uma verdadeira Via Sacra. Muitos tentam entrar pelo México, onde</p><p>enfrentam prisões e têm que pagar muitos dólares para os atravessadores e a</p><p>imigração. Chegando lá, iniciam uma outra Via Sacra, com relação à moradia,</p><p>emprego, língua e a SAUDADE. Muitos deixam no Brasil a esposa ou o esposo,</p><p>filhos e pais. Estive com um casal muito jovem, que havia chegado há 6 meses.</p><p>Deixaram com os pais um bebê (...) e outro filho de 1 ano e meio... Por isso se</p><p>submetem a todo tipo de serviço: faxina, babá, construção civil, entrega de jornal</p><p>e pizza, etc., de domingo a domingo, várias horas por dia (...)”.35[35]</p><p>Uma nova Lei de Estrangeiros no Brasil</p><p>A situação do estrangeiro no Brasil ainda é regida pela Lei 6815, aprovada em</p><p>1980, em plena vigência do regime militar. Superada e desatualizada, não</p><p>corresponde às exigências de novo contexto migratório que caracteriza a</p><p>realidade atual.</p><p>Urge uma nova lei de estrangeiros ou, como preferimos dizer, lei de migrações no</p><p>Brasil. Barreto36[36], secretário geral do Ministério da Justiça afirma que “o</p><p>dinamismo dos movimentos migratórios faz com que o Estatuto do Estrangeiro,</p><p>editado em momento de exceção, necessite, há muito, de revisão”. E completa</p><p>sua reflexão com a máxima de que a lei sempre deve acompanhar o fato social.</p><p>Em outras palavras, a realidade tem a finalidade de alertar nossas mentes para as</p><p>demandas sociais e fazer evoluir o direito. Reafirma-se, pois, que o País reclama</p><p>uma lei mais dinâmica, voltada à nova conjuntura. Do contrário, diz Barreto, “ainda</p><p>continuaremos a tratar o estrangeiro como assunto de segurança nacional,</p><p>vinculação há muito desprezada pelo próprio Direito Internacional‖.</p><p>A mudança de perspectiva global no tratamento aos migrantes passa,</p><p>necessariamente, pela mudança legislativa interna de países, como o Brasil, que</p><p>consigam entender a problemática das migrações como uma realidade indiscutível</p><p>e desafiadora, mas que, além das questões meramente controladoras, policiais e</p><p>estatais, deve ser visto como uma questão social, sob o paradigma do respeito</p><p>aos direitos humanos em sua</p><p>totalidade.</p><p>Ao falarmos de estrangeiros, imigrantes ou emigrantes, a perspectiva de proteção</p><p>aos seus direitos pressupõe a compreensão do conceito de cidadão numa visão</p><p>de cidadania universal, que não está vinculada e nem é sinônimo de</p><p>nacionalidade. Por mais que as legislações e as posturas dos poderes constituídos</p><p>possam ser cada vez mais rígidas, o ser humano migra e é levado, quando não</p><p>forçado, a migrar. Esta mobilidade não justifica qualquer desrespeito aos direitos</p><p>humanos, anteriores a</p><p>35[35] Relatório da Missão de Pe. Eduardo Alencar Lustosa com os brasileiros e brasileiras imigrados na Califórnia –</p><p>USA (mímeo).</p><p>36[36] Luis Paulo Teles Ferreira Barreto é ex-Diretor do Departamento de Estrangeiros, do Ministério da</p><p>Justiça, e ocupa atualmente o cargo de secretário-geral do mesm</p><p>qualquer norma positiva ou fronteira geográfica e política e os direitos culturais</p><p>2</p><p>Página 2</p><p>e sociais, que não podem ser condicionados a um único fator, qual seja o da</p><p>nacionalidade. É certo que todos e todas nós sentimos orgulho da nossa</p><p>nacionalidade e dela nos advém direitos que desejamos exercer e obrigações a</p><p>cumprir. É, contudo, igualmente verdadeiro afirmar que esta – a nacionalidade -</p><p>não esgota, tampouco abarca toda a amplitude da dimensão do ser humano e</p><p>de sua dignidade a ser elevada aos patamares da proteção legal para</p><p>assegurar-lhe o respeito aos seus direitos, independentemente do local ou país</p><p>em que se encontre. São direitos de uma cidadania intrínseca ao ser humano –</p><p>uma cidadania universal - que não pode ser confinada a fronteiras legais</p><p>restritivas e obtusas, decorrentes de uma visão estereotipada ou parcial do</p><p>próprio ser humano.</p><p>Conclusão</p><p>As migrações podem contribuir positivamente para o futuro da humanidade e</p><p>para o desenvolvimento econômico e social dos países. O fenômeno das</p><p>migrações internacionais aponta para a necessidade de repensar-se o mundo</p><p>não com base na competitividade econômica e o fechamento das fronteiras,</p><p>mas, sim, na cidadania universal, na solidariedade e nas ações humanitárias.</p><p>Os países devem adotar políticas que contemplem e integrem o contributo</p><p>positivo do migrante, vendo, assim, as migrações como um ganho e não como</p><p>um problema.</p><p>As migrações são berços de inovações e transformações. Elas podem gerar</p><p>solidariedade ou discriminação; encontros ou choques; acolhida ou exclusão;</p><p>diálogo ou fundamentalismo. É dever da comunidade internacional e de cada</p><p>ser humano fazer com que o ―novo‖ trazido pelos migrantes seja fonte de</p><p>enriquecimento recíproco na construção de uma cultura de paz e justiça. É esse</p><p>o caminho para promover e alcançar a cidadania universal.</p><p>Estrutura Populacional e IDH</p><p>(in:</p><p>http://saberesnet.webnode.pt/disciplinas/geografia/a9%C2%BA</p><p>http://saberesnet.webnode.pt/disciplinas/geografia/a9%C2%BA%20ano)</p><p>http://saberesnet.webnode.pt/disciplinas/geografia/a9%C2%BA%20ano)</p><p>3</p><p>Página 3</p><p>(in: TERRA, Lygia & COELHO, Marcos. Geografia Geral – O espaço natural e socioeconômico. São Paulo, SP: Moderna, 2005.)</p><p>4</p><p>Página 4</p><p>(in: TERRA, Lygia & COELHO, Marcos. Geografia Geral – O espaço natural e socioeconômico. São Paulo, SP: Moderna, 2005.)</p><p>Países subdesenvolvidos industrializados</p><p>Passaram por um processo de industrialização, tendo diminuído suas taxas de</p><p>mortalidade, natalidade e crescimento vegetativo após 1970. Apresentam um</p><p>percentual de jovens (menos de 15 anos) próximo a 20% e o percentual de velhos</p><p>(mais de 60 anos) está entre 5% e 15%. Fazem parte desse grupo os Tigres</p><p>Asiáticos, China, Cuba e alguns países de economia de transição, como Armênia,</p><p>Moldova etc. Comparativamente aos países desenvolvidos com população</p><p>madura, esses países apresentam taxas percentuais menores de população idosa</p><p>e menor expectativa de vida.</p><p>Até a década de 1970 o Brasil era um país jovem, mas a partir da década de 1980</p><p>passou a fazer parte do regime demográfico maduro, pois a população brasileira</p><p>está envelhecendo, embora apresente expectativa de vida mais baixa do que a dos</p><p>países desse grupo e taxa de população jovem um pouco maior.</p><p>Regime demográfico de população envelhecida</p><p>É encontrado nos países desenvolvidos que já realizaram sua transição</p><p>demográfica, como, por exemplo, Alemanha, França, Reino Unido, Suécia e Japão,</p><p>que apresentam elevada expectativa de vida (em virtude de melhores condições</p><p>de vida), baixas taxas de natalidade e mortalidade e, consequentemente, baixo</p><p>crescimento vegetativo.</p><p>5</p><p>Página 5</p><p>(in: TERRA, Lygia & COELHO, Marcos. Geografia Geral – O espaço natural e socioeconômico. São Paulo, SP: Moderna, 2005.)</p><p>Estrutura Ocupacional</p><p>• População Economicamente Ativa (PEA): pessoas inseridas no mercado</p><p>de trabalho; inclusive os "desempregados", por estarem temporariamente</p><p>desocupados.</p><p>• População Economicamente Inativa (PEI): população não ativa, como os</p><p>jovens, os aposentados e os "subempregados" que complementam ou obtêm sua</p><p>renda na economia informal, sem participar diretamente do sistema tributário.</p><p>(in: TERRA, Lygia & COELHO, Marcos. Geografia Geral – O espaço natural e socioeconômico. São Paulo, SP: Moderna, 2005.)</p><p>6</p><p>Página 6</p><p>Nos países desenvolvidos existe concentração de trabalhadores no setor</p><p>terciário, que abrange a informática, a mídia, os serviços e o comércio em geral. O</p><p>setor primário perde cada vez mais funcionários para a mecanização do campo; e</p><p>o setor secundário está ocupando menor número de trabalhadores, devido ao uso</p><p>intensivo de máquinas e inclusive de robôs.</p><p>Nos países subdesenvolvidos industrializados existe um setor terciário</p><p>"inchado", caracterizado pela economia informal. Os países subdesenvolvidos não</p><p>industrializados ainda apresentam elevada população economicamente ativa no</p><p>setor primário.</p><p>Pelo menos, em um aspecto parece que os países ricos e pobres estão juntos: o</p><p>desemprego. No entanto, os fatores que levam ao desemprego nesses países são</p><p>diferentes.</p><p>Nos países ricos ocorreu uma intensa automatização, progressos tecnológicos e</p><p>transferência de indústrias para países subdesenvolvidos - processos que</p><p>eliminaram os empregos no setor secundário, que muitas vezes foram absorvidos</p><p>pelo setor terciário. Como isso nem sempre aconteceu, esses países enfrentam</p><p>um fato novo: as elevadas taxas de desemprego.</p><p>Na maior parte dos países subdesenvolvidos, o processo de urbanização não foi</p><p>acompanhado pela geração de empregos no setor industrial. Esse fato criou uma</p><p>grande massa de trabalhadores subempregados (não deixam de ser</p><p>desempregados), como os camelôs, os vendedores ambulantes, os guardadores de</p><p>vagas de carros ou os limpadores de pára-brisas.</p><p>Outra grave situação dos países subdesenvolvidos é a do desemprego</p><p>conjuntural, isto é, quando uma crise econômica implica a demissão de milhares</p><p>de trabalhadores. Apesar de formar o setor terciário, esses trabalhadores jamais</p><p>poderão ser comparados com os do setor terciário dos países ricos, pois a renda</p><p>ou salário, as oportunidades, as qualificações e os avanços tecnológicos dos países</p><p>em que vivem são extremamente menores.</p><p>CONJUNTURAL ESTRUTURAL</p><p>Também chamado de desemprego</p><p>cíclico, característico de períodos de</p><p>crise econômica, quando os bancos</p><p>retraem os créditos, desestimulando os</p><p>investimentos, e o poder de compra cai</p><p>em consequência da elevação dos</p><p>preços.</p><p>Característico de países subdesenvolvidos,</p><p>ligado às particularidades de sua economia.</p><p>Explica-se pelo excesso de mão-de-obra na</p><p>agricultura e pela insuficiência dos</p><p>equipamentos responsáveis pela geração</p><p>de empregos.</p><p>7</p><p>Página 7</p><p>Índice de Desenvolvimento Humano</p><p>Desde 1993,</p><p>o Programa das Nações unidas para o Desenvolvimento (Pnud)</p><p>publica anualmente o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o qual mede o</p><p>bem-estar das populações, juntando à renda indicadores da qualidade de vida em</p><p>cada nação. Essa qualidade de vida é medida pelo desempenho do país nas áreas</p><p>de saúde e educação. A média geométrica desses índices dá a cada país um</p><p>conceito de muito alto, alto, médio ou baixo desenvolvimento humano.</p><p>Em 2010, o Pnud modificou a metodologia de cálculo do IDH e revisou os valores</p><p>do passado, pelos novos critérios.</p><p>Veja abaixo os indicadores que entram atualmente nos cálculos.</p><p>Critérios</p><p>Baseia-se na</p><p>esperança de vida</p><p>ou expectativa de</p><p>vida. O Pnud</p><p>considera que um</p><p>indicador menor</p><p>igual a 20 anos é o</p><p>pior possível (valor</p><p>0 na escala). A</p><p>máxima – a melhor</p><p>possível – é de 83,2</p><p>anos (valor 1 na</p><p>escala)</p><p>Média de anos de</p><p>escolaridade dos</p><p>adultos e os anos</p><p>esperados para</p><p>uma criança na</p><p>idade que ela</p><p>entra na escola. O</p><p>valor mínimo para</p><p>os dois</p><p>indicadores é</p><p>zero. O máximo é</p><p>de 13,2 anos para</p><p>os adultos e 20,6</p><p>anos de</p><p>expectativa para</p><p>as crianças.</p><p>Calculado pela</p><p>Renda Nacional</p><p>Bruta per capita</p><p>em dólar PPC</p><p>(valor corrigido de</p><p>acordo com a</p><p>paridade de poder</p><p>de compra da</p><p>moeda de cada</p><p>país em</p><p>comparação ao</p><p>dólar). O valor</p><p>mínimo da escala</p><p>é US$163,00/ano</p><p>e o máximo</p><p>US$108.211,00.</p><p>Os 3 têm</p><p>peso igual</p><p>Brasil</p><p>72,5 anos</p><p>7,2 anos (adultos)</p><p>13,8 anos</p><p>(esperado)</p><p>US$ 10.607,00</p><p>/hab./ano</p><p>85º</p><p>(em 2013)</p><p>8</p><p>Página 8</p><p>MUITO ALTO IDH</p><p>1º Noruega 0,955</p><p>2º Austrália 0.938</p><p>3º Estados Unidos 0,937</p><p>4º Países Baixos 0,921</p><p>5º Alemanha 0,920</p><p>6º Nova Zelândia 0,919</p><p>7º Irlanda 0,916</p><p>8º Suécia 0,916</p><p>9º Suíça 0,913</p><p>10º Japão 0,912</p><p>11º Canadá 0,911</p><p>12º Coreia do Sul 0,909</p><p>16º Israel 0,900</p><p>20º França 0,893</p><p>40º Chile 0,819</p><p>43º Portugal 0,816</p><p>45º Argentina 0,811</p><p>47º Croácia 0,805</p><p>ALTO IDH</p><p>48º Bahrain 0,796</p><p>51º Uruguai 0,792</p><p>55º Rússia 0,788</p><p>57º Arábia Saudita 0,782</p><p>59º Cuba 0,780</p><p>61º México 0,775</p><p>64º Líbia 0,769</p><p>71º Venezuela 0,748</p><p>72º Líbano 0,745</p><p>76º Irã 0,742</p><p>77º Peru 0,741</p><p>78º Ucrânia 0,740</p><p>81º Bósnia e Herz. 0,735</p><p>84º Omã 0,731</p><p>85º Brasil 0,730</p><p>89º Equador 0,724</p><p>91º Colômbia 0,719</p><p>94º Tunísia 0,712</p><p>MÉDIO IDH</p><p>95º Tonga 0,710</p><p>100º Jordânia 0,700</p><p>101º China 0,699</p><p>103º Tailândia 0,690</p><p>105º Suriname 0,684</p><p>108º Bolívia 0,675</p><p>110º Palestina 0,670</p><p>111º Paraguai 0,669</p><p>112º Egito 0,662</p><p>116º Síria 0,648</p><p>118º Guiana 0,636</p><p>120º Honduras 0,632</p><p>121º Indonésia 0,629</p><p>123º África do Sul 0,629</p><p>131º Iraque 0,590</p><p>134º Timor-Leste 0,576</p><p>136º Índia 0,554</p><p>141º Suazilândia 0,536</p><p>BAIXO IDH</p><p>142º Congo 0,534</p><p>145º Quênia 0,319</p><p>146º Bangladesh 0,515</p><p>147º Paquistão 0,515</p><p>148º Angola 0,508</p><p>151º Madagascar 0,483</p><p>153º Nigéria 0,471</p><p>161º Haiti 0,456</p><p>168º Costa do Marfim 0,432</p><p>171º Sudão 0,414</p><p>173º Etiópia 0,396</p><p>175º Afeganistão 0,374</p><p>177º Serra Leoa 0,359</p><p>183º Burkina Faso 0,343</p><p>184º Chade 0,340</p><p>185º Moçambique 0,327</p><p>186º Rep. Dem. Congo 0,304</p><p>187º Níger 0,304</p><p>Confira o IDH de alguns países selecionados.</p><p>Mapa-mundi de acordo com o índice de Desenvolvimento Humano</p><p>(in: Pnud, 2012)</p><p>Página</p><p>10</p><p>10</p><p>2. CENSO E FONTES DE DADOS DEMOGRÁFICOS</p><p>Na análise demográfica, com relação a fonte de dados, deve-se saber:</p><p>1) onde e de que forma poderá encontrar os dados que precisa;</p><p>2) quais as instituições que produzem as informações.</p><p>Estar atento à qualidade dos dados, é outra preocupação nos estudos demográficos. Via de regra, o</p><p>demógrafo baseia-se em observações referentes a todo o universo estudado, mas ao mesmo tempo possui</p><p>pouco controle sobre a natureza da informação colocada à sua disposição. Esta informação é normalmente</p><p>distribuída por órgãos administrativos, com finalidades que, no mínimo, vão além do seu interesse</p><p>puramente científico. Uma das tarefas do demógrafo é tirar o melhor proveito do conjunto de dados, cuja</p><p>coleta foge do seu controle. A Demografia desenvolveu um arsenal de técnicas para avaliar a qualidade dos</p><p>dados.</p><p>Este texto visa orientar o usuário de dados demográficos quanto aos tipos de dados existentes e às</p><p>preocupações necessárias para sua utilização.</p><p>Embora os estudiosos da população façam uso, hoje em dia, de uma grande variedade de informações,</p><p>o dado, propriamente demográfico, pode ser classificado como uma estatística de ESTOQUE ou de FLUXO,</p><p>como descrito no Quadro 1.</p><p>Quadro 1 – Fontes e descrição dos principais dados demográficos</p><p>DADOS</p><p>DEMOGRÁFICOS</p><p>DESCRIÇÃO FONTE</p><p>UNIDADE DE</p><p>ENUMERAÇÃO</p><p>Estatística de</p><p>Estoque</p><p>Contagem da população em um</p><p>instante de tempo</p><p>(tamanho, distribuição e estrutura)</p><p>Censos Demográficos</p><p>Levantamentos</p><p>Amostrais Periódicos</p><p>Indivíduos</p><p>Estatística de Fluxo</p><p>(Eventos Vitais)</p><p>Contagem de eventos ao longo do</p><p>tempo</p><p>(nascimentos, óbitos e migração)</p><p>Registro Civil</p><p>Eventos</p><p>2.1 CENSO DEMOGRÁFICO</p><p>Apesar das desvantagens de alto custo, divulgação demorada e freqüência reduzida, e a despeito de</p><p>existirem hoje, várias alternativas de coleta de informações, o censo demográfico ainda é o principal</p><p>instrumento para obter dados sobre a população, principalmente nos países em desenvolvimento.</p><p>DEFINIÇÕES DE CENSO</p><p>1) Consiste no levantamento de dados sobre todos os habitantes de uma área (cidade, província,</p><p>nação, etc).</p><p>2) Nações Unidas (1980) → é o processo total de coleta, processamento, avaliação, análise e</p><p>divulgação de dados demográficos, econômicos e sociais, referentes a todas as pessoas dentro</p><p>da área, em um momento específico do tempo.</p><p>Aprofundando a definição (2), foram especificados pelas Nações Unidas, critérios mínimos que um</p><p>levantamento da população deve satisfazer para que seja considerado um censo (RESUMO):</p><p>• Respaldo legal, com a especificação do propósito, dos fins, do orçamento, da administração,</p><p>das garantias legais quanto ao sigilo da informação e das demais obrigações da entidade</p><p>executora. Ao contrário do que acontece em outros tipos de levantamentos de dados, que não</p><p>podem obrigar o entrevistado a cooperar, o não fornecimento de informação à autoridade</p><p>censitária normalmente está sujeito a sanções legais.</p><p>Página</p><p>11</p><p>11</p><p>• Periodicidade definida, de preferência de cinco ou dez anos. Outros intervalos não são</p><p>aconselháveis, pois a população normalmente é agregada em grupos de idade de cinco ou dez</p><p>anos, de modo que intervalos não múltiplos de cinco dificultariam a comparação entre censos</p><p>sucessivos.</p><p>• Um tempo de referência predefinido, para garantir simultaneidade de todo levantamento.</p><p>Normalmente, o período de referência é da meia-noite de uma data determinada até a data</p><p>sucessiva. Mesmo que a contagem efetiva possa demorar várias semanas, ou até meses, toda</p><p>enumeração deve referir-se à situação existente na data de referência; assim, pessoas já</p><p>falecidas antes da chegada do recenseador, mas ainda vivas na data de referência devem ser</p><p>incluídas na contagem (desde que haja informantes para relatar); por outro lado, crianças</p><p>nascidas depois da data de referência não devem ser contadas. É recomendado que a mesma</p><p>data de referência deve ser mantida para censos sucessivos. Entretanto, esta data tende a</p><p>variar de um censo para outro.</p><p>• Uma referência territorial pré-fixada. Normalmente, esta referência abrange todo o Território</p><p>Nacional.</p><p>• Universalidade da enumeração de todos os habitantes dentro do território de referência,</p><p>seja pelo conceito de população residente ou população presente. Universalidade não implica</p><p>em ausência de erros de cobertura, pois nenhum censo é livre de omissões, mas significa o</p><p>propósito explícito de uma enumeração completa. O critério de universalidade não exclui a</p><p>possibilidade de amostragem, desde que as informações básicas sejam coletadas para o</p><p>conjunto da população.</p><p>• Enumeração individual de todas as pessoas. Este critério não foi satisfeito por muitos censos</p><p>da antigüidade, que geralmente se limitava à enumeração de lares. A responsabilidade direta</p><p>pelo preenchimento dos dados de cada pessoa pode ser do recenseador, através de</p><p>entrevistas individuais/informantes qualificados, ou pode ser do responsável pelo domicílio,</p><p>que devolve o questionário preenchido ao recenseador, inclusive via correio.</p><p>• Disponibilidade dos resultados dentro de prazos compatíveis com as aplicações previstas, para</p><p>evitar que os dados sejam publicados quando estes já perderam toda relevância do ponto de</p><p>vista do planejamento econômico e social.</p><p>HISTÓRIA DOS CENSOS</p><p>Devido à multiplicidade de critérios na definição de um censo, não é fácil afirmar com certeza, quando</p><p>o 1º censo foi realizado. Confúcio menciona em censo executado na China, durante o reinado do rei Yao, no</p><p>ano de 2238 a.C.</p><p>Há também os censos da Bíblia. Estão relatados censos do povo de Israel realizados por Moisés em</p><p>Números (dois censos) e por Davi em II Samuel. Em Lucas, é mencionado um decreto do imperador romano</p><p>convocando toda a população do império para recensear-se, cada um em sua própria cidade. Por isso José</p><p>saiu de Nazaré com Maria, sua esposa, que estava grávida e foi para Belém onde Jesus nasceu.</p><p>Os levantamentos populacionais da Sicília (1501) e de diversas outras regiões da Itália (anos próximos),</p><p>são algumas vezes apontados como os primeiros censos, no sentido pleno. Entretanto, a maioria dos</p><p>estudiosos considera o censo sueco (1749) como o 1º a satisfazer quase todos os critérios considerados</p><p>essenciais para um recenseamento moderno.</p><p>Desde 1980, não existe um país que nunca realizou um censo, embora alguns como o Afeganistão e a</p><p>Etiópia tivessem, somente uma experiência deste tipo; e em outros países como Angola, Butão, Camboja e</p><p>Coréia do Norte, a informação estava bastante desatualizada (Hakkert,1996).</p><p>Muito antes da era cristã, os impérios do Egito, da Babilônia, da China e Romano já executavam</p><p>contagens periódicas das suas populações, com finalidades militares e fiscais. Nestes censos</p><p>Página</p><p>12</p><p>12</p><p>antigos, só eram enumerados os chefes de famílias, proprietários de terras ou homens sujeitos ao</p><p>alistamento militar. O censo romano, por exemplo, foi realizado de cinco em cinco anos, durante quase oito</p><p>séculos.</p><p>CENSOS MODERNOS</p><p>As informações consideradas essenciais no levantamento demográfico são:</p><p>1) nome e sobrenome:</p><p>2) idade e sexo;</p><p>3) relação de parentesco com o responsável pelo domicílio ou pela família;</p><p>4) estado civil;</p><p>5) ocupação e outras características econômicas;</p><p>6) alfabetização e outras características educacionais;</p><p>7) lugar de nascimento e/ou nacionalidade;</p><p>8) residência habitual (para a contagem da população residente) e/ou lugar de enumeração</p><p>(para a contagem de população presente).</p><p>Menos freqüentes são os quesitos sobre religião, cor, etnia, renda e língua nativa/língua normalmente</p><p>falada. Alguns censos contêm quesitos sobre deficiências físicas ou mentais, orçamento familiar ou o</p><p>serviço militar. O conteúdo dos censos varia conforme a situação particular de cada país. Por exemplo, os</p><p>censos de países com minorias religiosas como a Itália, não levantam informação sobre este item. Como a</p><p>migração internacional tornou-se menos importante, a partir de 1930, o grau de detalhamento dos dados</p><p>sobre não natos nos censos brasileiros tem diminuído progressivamente. Com o desenvolvimento de</p><p>técnicas indiretas para estimação da fecundidade e mortalidade infanto-juvenil, a maioria dos países em</p><p>desenvolvimento, hoje em dia, coletam informações das mulheres sobre o número de filhos nascidos vivos</p><p>e de filhos sobreviventes.</p><p>Um censo não está completo até que toda informação coletada esteja disponível aos usuários e na</p><p>forma apropriada para as suas necessidades.</p><p>O censo moderno compreende basicamente três etapas:</p><p>• Pré-recenseamento: consiste na criação das condições necessárias para realizar o trabalho de</p><p>campo. Uma das atividades mais importantes nesta fase é o levantamento cartográfico,</p><p>que inclui mapas estatísticos municipais e de localidades, com setores censitários atualizados.</p><p>Um setor censitário é a unidade territorial de coleta de dados. Seu tamanho, segundo o</p><p>número de domicílios varia, sendo que precisa ser o mais homogêneo possível. O tamanho</p><p>depende se o setor é formado por domicílios urbanos ou rurais, como mostra o Quadro 2. É</p><p>necessário definir calendário, recrutar e treinar entrevistadores e outros recursos humanos,</p><p>definir o formato do futuro plano tabular e definir o próprio questionário. Esta última tarefa é</p><p>delicada, pois um único quesito adicional pode causar um grande aumento de custos, e por</p><p>outro lado, a omissão de um quesito essencial pode inviabilizar todo um trabalho de análise de</p><p>resultados.</p><p>Quadro 2 –Tamanho dos setores censitários, conforme IBGE</p><p>SETOR</p><p>CENSITÁRIO</p><p>NÚMERO DE LOCAIS</p><p>VISITADOS</p><p>VARIAÇÃO</p><p>PERÍODO</p><p>DE COLETA</p><p>Urbano 300 domicílios 250 a 350 30 dias</p><p>Rural</p><p>200 domicílios</p><p>ou 150 estabelecimentos</p><p>150 a 250</p><p>100 a 200</p><p>45 dias</p><p>60 dias</p><p>Especial</p><p>1 quartel, 1 hospital, 1 asilo, 1</p><p>orfanato, 1 prisão ou 1 hotel,</p><p>etc.</p><p>não definido</p><p>Página</p><p>13</p><p>13</p><p>• Recenseamento: consiste do trabalho de campo e sua supervisão. Uma boa supervisão é de</p><p>importância primordial para garantir a consistência dos critérios de um censo e para evitar</p><p>fraudes.</p><p>• Pós-recenseamento: os dados levantados no campo passam por uma revisão e crítica para</p><p>detectar inconsistências e omissões. Posteriormente, passa-se para o processamento e</p><p>divulgação dos dados.</p><p>A divulgação dos dados pode ser feita de várias maneiras:</p><p>●Os DADOS AGREGADOS estão disponíveis em tabelas convencionais ou especiais. A forma mais</p><p>tradicional, a de publicar tabelas convencionais, vem gradualmente perdendo importância,</p><p>uma vez que hoje existem alternativas mais baratas e mais eficientes. Apenas uma parte das</p><p>informações levantadas pode ser divulgada na forma tabular. A preparação do plano tabular é</p><p>uma atividade delicada, para que os resultados contenham o máximo de informação sem</p><p>tornarem-se excessivamente volumosos. A principal publicação internacional é o Demographic</p><p>Yearbook, de edição anual, também disponível na Internet4. Existe uma lista com links de</p><p>órgãos de estatísticas nacionais de países membros das Nações Unidas5. Para atender às</p><p>necessidades específicas dos usuários, as agências estatísticas governamentais</p><p>freqüentemente dispõem de serviços para a produção de tabelas especiais. Estes serviços, em</p><p>geral, são cobrados.</p><p>●Uma alternativa de divulgação é o fornecimento dos MICRODADOS, ou de uma amostra deles</p><p>em arquivos digitais. Microdados consistem no menor nível de desagregação dos dados de</p><p>uma pesquisa, retratando, na forma de códigos numéricos, o conteúdo dos questionários,</p><p>preservado o sigilo das informações Os microdados possibilitam aos usuários, com</p><p>conhecimento de linguagens de programação ou softwares de cálculo, criar suas próprias</p><p>tabelas de dados numéricos. Os produtos digitais são divulgados atualmente em CD-ROM.</p><p>AMOSTRAGEM NOS CENSOS</p><p>Parte dos resultados divulgados de um censo provêm de uma expansão amostral. Isto acontece por</p><p>alguns motivos:</p><p>a) Para evitar que um questionário excessivamente longo seja aplicado a toda população</p><p>recenseada. Na fase de recenseamento, uma amostra da população responde a um</p><p>questionário mais longo.</p><p>b) Para agilizar a publicação de, pelo menos, alguns resultados aproximados de interesse especial</p><p>dentro de um prazo mais curto. Feita na fase de pós-recenseamento, quando os questionários</p><p>já coletados são selecionados aleatoriamente. No Brasil, foram publicadas as Tabulações</p><p>Avançadas do Censo Demográfico, suspensas em 1991;</p><p>c) Um terceiro procedimento censitário que envolve o uso de amostras é a avaliação da</p><p>qualidade das informações de campo através de levantamento amostral realizado</p><p>imediatamente após</p><p>a aplicação do questionário, o chamado levantamento pós-censitário. O</p><p>grau de correspondência entre os dados levantados na amostragem e no recenseamento é</p><p>uma medida da qualidade da informação. O percentual de pessoas com registro na pesquisa</p><p>amostral que não podem ser encontradas no censo, é uma indicação do erro de cobertura.</p><p>EXPANSÃO DA AMOSTRA</p><p>É o processo de converter dos dados amostrais em estimativas referentes a população como um todo.</p><p>Possíveis procedimentos:</p><p>4 http://unstats.un.org/unsd/demographic/products/dyb/default.htm</p><p>5 http://unstats.un.org/unsd/methods/inter-natlinks/sd_natstat.htm</p><p>http://unstats.un.org/unsd/demographic/products/dyb/default.htm</p><p>http://unstats.un.org/unsd/methods/inter-natlinks/sd_natstat.htm</p><p>Página</p><p>14</p><p>14</p><p>● em uma situação hipotética, com uma amostra inteiramente representativa, deve-se apenas</p><p>multiplicar os resultados amostrais pelo inverso da fração amostral.</p><p>● uma solução convencional, é a estratificação, ou seja, usar um fator de expansão diferenciado</p><p>para cada estrato da população. Os estratos são definidos pela combinação das categorias das</p><p>variáveis para as quais se pretende manter a representatividade dos resultados. Isto pode ser</p><p>trabalhoso, pela complexidade das combinações.</p><p>● variantes do processo de estratificação. Para expansão dos dados coletados no questionário</p><p>amostra do censo demográfico brasileiro de 2000, por exemplo, os pesos iniciais (inverso da</p><p>fração amostral de domicílios) foram calibrados em relação a um conjunto de variáveis</p><p>auxiliares para as quais se conhecem os totais populacionais, já que tais variáveis auxiliares</p><p>foram levantadas pelo Questionário Básico. O cálculo dos pesos calibrados foi baseado no</p><p>método dos Mínimos Quadrados Generalizados com a imposição de limites nos pesos finais,</p><p>para evitar pesos muito pequenos ou muito grandes. O produto final da aplicação dessa</p><p>metodologia é um peso ajustado para cada um dos questionários da amostra, que é repetido</p><p>nos registros de cada pessoa moradora na unidade domiciliar.</p><p>2.2 REGISTRO CIVIL</p><p>Enquanto o censo demográfico consiste no levantamento de dados sobre todos os indivíduos de uma</p><p>população em momentos preestabelecidos, o registro civil visa acompanhar, ao longo do tempo, as</p><p>ocorrências de eventos de interesse.</p><p>Além de suas finalidades estatísticas, o registro civil cumpre uma função legal, uma vez que os eventos</p><p>registrados modificam a situação das pessoas perante leis que variam de um país para outro. Essas leis têm</p><p>uma maior especificidade e durabilidade do que a legislação referente aos censos. Por exemplo, a legislação</p><p>brasileira requer o registro de óbitos fetais, enquanto que tal exigência não existe em alguns países. Apesar</p><p>dessas diferenças legais, que dificultam a implementação de normas internacionais, as Nações Unidas têm</p><p>feito um certo esforço de padronização, publicando manuais técnicos e criando órgãos de assessoria e</p><p>apoio técnico aos governos nacionais.</p><p>DEFINIÇÃO DO REGISTRO CIVIL</p><p>Os registros de fatos vitais devem ser feitos em impressos oficiais específicos para cada tipo de evento,</p><p>e devem ser anotados em livros nos cartórios. Cada registro deve ser feito pelos interessados, às suas</p><p>custas (quando não houver lei que isenta pagamento), nos locais e prazos estabelecidos por lei. Apenas os</p><p>fatos assim registrados é que são contados oficialmente.</p><p>Segundo as definições das Nações Unidas, um sistema de estatísticas vitais ou registro civil, deve</p><p>compreender:</p><p>a) o registro oficial dos eventos vitais: óbitos, nascimentos, casamentos, divórcios e,</p><p>eventualmente, adoções, legitimações e mudanças de residência e de ocupação;</p><p>b) a contabilização destes registros em informes estatísticos;</p><p>c) a sistematização e consolidação das estatísticas;</p><p>d) a elaboração e divulgação periódica de relatórios estatísticos sobre os eventos registrados.</p><p>Os resultados do registro civil, na forma de dados agregados, podem ser divulgados pela publicação (em</p><p>papel ou Internet) de séries estatísticas, na forma de tabelas que atendem a necessidade da maioria dos</p><p>usuários.</p><p>HISTÓRIA DO REGISTRO CIVIL</p><p>Como a história dos censos, a do registro civil é antiga. A primeira menção de um sistema deste</p><p>Página</p><p>15</p><p>15</p><p>tipo data do segundo século a.C., na China. Durante o governo de Antoninos, em Roma, o registro de</p><p>nascimentos dentro do prazo de 30 dias era obrigatório no templo de Saturno, para toda a população livre.</p><p>Um outro sistema antigo, com um certo grau de eficácia, era o registro civil no Império Inca. Em 1532, a</p><p>Inglaterra estabeleceu a obrigatoriedade de registro de óbitos. Em 1538, uma lei civil obrigava a igreja</p><p>anglicana a manter registros semanais de casamentos, batismos e enterros, mas não se elaboravam</p><p>estatísticas para esses registros. Uma medida semelhante foi adotada pela igreja católica, no Concílio de</p><p>Trento, em 1563, quando passaram a ser obrigatórios o registro de nascimentos, óbitos e matrimônios pela</p><p>igreja.</p><p>O sistema de registros da igreja luterana na Suécia, estabelecido em 1608, e da igreja católica de</p><p>Quebec, instaurado em 1621, são freqüentemente considerados como as seqüências históricas mais longas</p><p>de registros ininterruptos de batismos, casamentos e enterros. No caso da Suécia, os registros encontram-se</p><p>compilados em séries estatísticas vitais desde 1748. Durante o século XVII, a responsabilidade pela</p><p>administração e pelo processamento do registro passou para o âmbito estatal em alguns lugares: Finlândia</p><p>(1628), Dinamarca (1646), Noruega (1685) e Suécia (1686).</p><p>Na opinião predominante, o primeiro sistema civil a publicar estatísticas de forma regular e periódica</p><p>foi o da Inglaterra, a partir de 1839, entretanto o registro dos eventos vitais só ficou obrigatório em 1874.</p><p>Nos Estados Unidos, a unificação do sistema nacional de estatísticas de mortalidade e natalidade só foi</p><p>alcançado em 1933, e as estatísticas de casamento na década de 1950.</p><p>Como estes exemplos mostram, a consolidação de um sistema nacional de registro civil padronizado</p><p>com níveis satisfatórios, é uma tarefa difícil, de longo prazo, que na maioria dos países, demorou</p><p>mais do que a execução periódica dos censos demográficos. O censo implica em um esforço periódico e</p><p>concentrado, mas a manutenção de um sistema de registro civil exige um grau muito elevado de</p><p>organização ao longo do tempo, em todos os níveis administrativos.</p><p>Se este sistema fosse de fato um registro contínuo, permanente e obrigatório dos fenômenos vitais e</p><p>suas características, nem haveria necessidade de censos. Na Holanda e na Suécia os registros dos fatos</p><p>vitais são atualizados diariamente.</p><p>2.3 LEVANTAMENTOS AMOSTRAIS PERIÓDICOS</p><p>O censo e o registro civil, não esgotam as necessidades de coleta de dados demográficos, por dois</p><p>motivos:</p><p>1) Nos países onde os censos são realizados de dez em dez anos, surge a necessidade de</p><p>acompanhar as características da população com base em informações mais atualizadas que os</p><p>censos.</p><p>2) Para conseguir informações mais detalhadas sobre cada área de estudo (saúde, planejamento</p><p>familiar, emprego, estrutura domiciliar, migração, etc.), é preciso realizar pesquisas específicas</p><p>para não complicar excessivamente os dados censitários.</p><p>As principais vantagens deste tipo de abordagem é que a) os entrevistadores podem ser selecionados e</p><p>treinados com maior rigor e b) o entrevistado não precisa responder a muitas outras questões, além</p><p>daquelas que formam o objetivo do levantamento. Por outro lado surgem problemas de falta de</p><p>representatividade e de maior variação aleatória, decorrentes do tamanho reduzido da amostra.</p><p>2.4 REGISTRO CONTÍNUO</p><p>É um sistema que reúne as características de um registro de estatísticas de estoque e de fluxo da</p><p>população. É bastante antigo, de origem oriental. O sistema japonês dos koseki, que foi estabelecido</p><p>Página</p><p>16</p><p>16</p><p>no ano 720 e melhorado em 1635, é geralmente considerado como o primeiro exemplo de um sistema</p><p>deste tipo.</p><p>sensível aos dramas sociais vividos pela população. Essa taxa é calculada multiplicando-se por</p><p>mil o número de crianças com menos de um ano, que morreram em determinado ano, e</p><p>dividindo pelo número de crianças nascidas vivas, nesse mesmo ano.</p><p>Mortalidade das crianças com menos de um ano x</p><p>1000 crianças nascidas vivas</p><p>Exemplo: se um país apresenta taxa de mortalidade infantil 10 mil e o nº de nascidos vivos foi</p><p>de 5 milhões, temos</p><p>10.000 x 1000 = 2‰</p><p>5.000.000</p><p>Portanto, dizemos que a taxa de mortalidade infantil nesse país é de 2‰ (2 por 1.000),</p><p>ou seja, em um ano a taxa de mortalidade infantil foi de 2 para cada grupo de 1.000 nascidas</p><p>vivas.</p><p>6. Suécia 80,9</p><p>7. Israel 80,7</p><p>8. França 80,7</p><p>9. Canadá 80,7</p><p>10. Itália 80,5</p><p>1. Japão 82,6</p><p>2. Islândia 81,8</p><p>3. Suíça 81,7</p><p>4. Austrália 81,2</p><p>5. Espanha 80,9</p><p>Taxa de fecundidade: corresponde a média de filhos por mulher na idade de reprodução. Essa</p><p>idade vai dos 15 aos 49 anos, o que faz com que em países como o Brasil, onde é comum</p><p>meninas abaixo dessa idade terem filhos, ela possa ficar um pouco distorcida.</p><p>Na década de 70 a taxa de fecundidade no Brasil era de 5,8 filhos por mulher, em 2009</p><p>esse número caiu para 1,94. Isso reflete a mudança que vem ocorrendo no Brasil em especial</p><p>com a urbanização e com a entrada da mulher no mercado de trabalho, que tem contribuído</p><p>com a redução significativa da taxa de natalidade e por consequência da taxa de fecundidade.</p><p>Expectativa de vida: corresponde a quantidade de anos que vive em média a população. Este</p><p>é um indicador muito utilizado para se verificar o nível de desenvolvimento dos países. A</p><p>expectativa de vida do mundo é de 67,2 anos.</p><p>No Brasil a expectativa de vida nas últimas décadas tem se ampliado. A expectativa</p><p>de vida do brasileiro é de 73, as mulheres viviam em média 77 anos, enquanto os homens</p><p>69,4 anos, esse aumento na expectativa também se deve a melhorias na qualidade médico</p><p>sanitária da população em virtude do processo de urbanização.</p><p>Os dez países de maior expectativa de vida são:</p><p>Crescimento da população</p><p>A população mundial conheceu ao longo da História períodos de brusco crescimento. A</p><p>revolução neolítica (10000-5000 a.C.), com o desenvolvimento da pecuária e da agricultura e a</p><p>passagem do nomadismo para a vida sedentária, elevou até 80 milhões o número de</p><p>habitantes. Desde o início do século XVIII, uma nova explosão demográfica, ligada à Revolução</p><p>Industrial, provocou um incremento no número de habitantes, até então desconhecido.</p><p>Desde a antiguidade, o crescimento populacional é tema de reflexão para muitos</p><p>estudiosos que se preocupam com o equilíbrio entre a organização da sociedade, a dinâmica</p><p>demográfica e exploração dos recursos naturais.</p><p>Na China, há mais de mil anos, textos apontavam as vantagens do que era considerada a</p><p>quantidade ideal de pessoas para manter um hipotético equilíbrio entre disponibilidade de</p><p>terras e a população local, indicando que o governo deveria incentivar as migrações de zonas</p><p>muito povoadas para outras com menor densidade de ocupação. Na Grécia antiga, Platão e</p><p>Aristóteles advertiram, como fez Malthus na Inglaterra muitos séculos depois, que seria</p><p>possível aumentar as áreas de cultivo na mesma velocidade do crescimento populacional, o</p><p>que tenderia a aumentar os níveis de pobreza e a escassez de alimentos ao longo das</p><p>sucessivas gerações.</p><p>Somente a partir do século XVIII, com o desenvolvimento do capitalismo, o crescimento</p><p>populacional passou a ser estudado como um fato positivo, uma vez que, quanto mais pessoas</p><p>houvesse, mais consumidores também haveria. Nessa época, foi publicada a primeira teoria</p><p>demográfica de grande repercussão, formulada pelo economista inglês Thomas Robert Malthus</p><p>(1766-1834).</p><p>Os historiadores calculam que no ano 1 da Era Cristã o número de habitantes de nosso</p><p>planeta era de aproximadamente 250 milhões. O número de 500 milhões de pessoas só foi</p><p>atingido em 1650; de 1 bilhão, em 1850; de 2,5 bilhões, em 1950; e de 5 bilhões, em 1987. Em</p><p>dezembro de 2002, a população da Terra pulou para cerca de 6,2 bilhões de pessoas. Em 2011 a</p><p>população corresponde a 6,9 bilhões de habitantes.</p><p>Como se vê, o ritmo de crescimento demográfico intensificou-se com o tempo, embora</p><p>recentemente venha declinando um pouco. Assim a população mundial, que chegou a levar</p><p>1650</p><p>anos para duplicar, dobrou novamente em apenas 37 anos – de 1950 a 1987. Alguns autores</p><p>chamam esse crescimento recente de “explosão demográfica”. Outros preferem falar em</p><p>“transição demográfica”.</p><p>Explosão demográfica é o aumento elevado e repentino da população de seres</p><p>humanos. É frequentemente associada a avanços tecnológicos, tendo a maior delas ocorrido</p><p>no século XX da era cristã.</p><p>O aumento brusco da população leva a um aumento também brusco do território</p><p>ocupado, e tem alguns efeitos ambientais e econômico-sociais catastróficos, daí a comparação</p><p>com uma explosão.</p><p>As explosões demográficas são observadas em duas situações:</p><p>• A introdução de novas tecnologias que reduzam a mortalidade (aumento na produção</p><p>de alimentos ou cura de doenças importantes);</p><p>• Em períodos de guerra ou grandes calamidades, em que a sobrevivência da sociedade</p><p>está ameaçada, registra-se importantes aumentos das taxas de natalidade. Neste caso, a</p><p>"explosão" também é chamada de baby boom.</p><p>Antes da Era Contemporânea, não era comum a contagem populacional, mas os</p><p>pesquisadores sabem com relativa certeza que houve algumas explosões demográficas em</p><p>certos pontos do globo:</p><p>• Com a Revolução Agrícola, na transição do período Paleolítico para o Neolítico(c. 8000</p><p>a.C.);</p><p>a descoberta da metalurgia, na Idade dos metais (c. 3500 a.C.), que deu início à Revolução</p><p>Urbana;</p><p>• Durante a Idade Média europeia (c. século XI), com a introdução de novas técnicas</p><p>agrícolas que sustentaram o revigoramento do comércio e das cidades.</p><p>Todas estas mudanças estão relacionadas ao aumento da produtividade agrícola, e</p><p>portanto à maior oferta de alimentos. É bem sabido que o ser humano, quando bem</p><p>alimentado, tem o sistema imunológico fortalecido, resistindo melhor a doenças e vivendo por</p><p>mais tempo. Como a taxa de natalidade, regida por outros fatores, se mantém estável, o</p><p>resultado é o aumento do número de seres humanos vivos.</p><p>Contudo, até o século XIX, a mortalidade ainda era extremamente elevada para os</p><p>padrões atuais, pois a humanidade não tinha recursos suficientes para combater grande</p><p>parte das doenças.</p><p>As grandes descobertas do século XX, como a penicilina, as vacinas, os antibióticos, a</p><p>assepsia das mãos e dos ferimentos, diminuíram bruscamente o índice de mortalidade.</p><p>Como a natalidade não foi reduzida, o resultado foi o aumento do crescimento vegetativo. Por</p><p>volta de 1930, a população mundial atinge 2 bilhões de pessoas, sendo 100 milhões na</p><p>Europa. Mais tarde, houve uma repetição do que ocorreu na Europa nos países</p><p>considerados subdesenvolvidos.</p><p>Estudar a população é imprescindível para compreender como os seres humanos e suas</p><p>atividades econômicas têm provocado profundas alterações no planeta. Emergem muitos</p><p>questionamentos sobre o crescimento desenfreado da população e sua distribuição irregular,</p><p>principalmente quanto aos problemas decorrentes das enormes desigualdades sociais.</p><p>Transição demográfica</p><p>Segundo a teoria da transição demográfica, o crescimento populacional se daria em</p><p>fases, o período anterior a transição ou pré-transicional, conhecido como regime demográfico</p><p>tradicional, seria aquele no qual as taxas de natalidade e mortalidade seriam elevadas, fazendo</p><p>com que o crescimento vegetativo fosse pequeno. A grande ruptura com esse período começa</p><p>a se dar nos países desenvolvidos com a Revolução industrial, já nos subdesenvolvidos isso</p><p>ocorre apenas em meados do século XX. O período posterior a transição ou pós-</p><p>transicional, chamado de regime demográfico moderno, se daria quando as taxas de</p><p>natalidade</p><p>No registro contínuo moderno, cada indivíduo, ao nascer ou ao entrar no país. é registrado em uma</p><p>ficha, contendo nome, sexo, data e lugar de nascimento, nacionalidade e filiação. As vezes, registram-se</p><p>também ocupação, religião e outros dados sócio-econômicos. Esta ficha é guardada na prefeitura mais</p><p>próxima da residência do indivíduo, e é continuamente atualizada por meio do registro civil de</p><p>casamentos, separações, filhos nascidos vivos, adoções e mudanças de endereço. Ao mudar-se para outra</p><p>comunidade, a pessoa deve obrigatoriamente informar à prefeitura para que sua ficha possa ser transferida</p><p>para outra prefeitura. No caso de óbito ou mudança para o exterior, a ficha é retirada do sistema e</p><p>transferida para um arquivo genealógico. As informações contidas no sistema são continuamente</p><p>verificadas por outras bases de dados (endereços posta na rede bancária, nas companhias de água e</p><p>energia, e na declaração do imposto de renda), e por levantamentos amostrais periódicos.</p><p>O uso principal do registro contínuo é administrativo, para a emissão de passaportes, carteiras de</p><p>motoristas, e para convocações de obrigações como alistamento militar e eleições. Quando bem</p><p>gerenciado, permite avaliar, em cada momento, a população em cada região administrativa e os fluxos</p><p>migratórios.</p><p>Em decorrência do seu alto custo e dificuldades operacionais, o registro contínuo tem sido usado</p><p>com maior sucesso em países relativamente pequenos.</p><p>FONTES NÃO CONVENCIONAIS</p><p>Nas seções anteriores foram apresentadas as fontes mais tradicionais e mais abrangentes de dados</p><p>demográficos. Nos últimos anos, as alternativas para a coleta de informação tem sido o objeto de uma</p><p>atenção renovada, na medida em que as fontes tradicionais, vêm sofrendo problemas e críticas.</p><p>A migração internacional poderia ser estudada, teoricamente, com a ajuda da documentação mantida</p><p>pela Polícia Federal. Os registros hospitalares poderiam ser utilizados em vários estudos de mortalidade e</p><p>natalidade. Existem fontes alternativas para dados de migração interna no Ministério do Interior. Nos</p><p>Estados Unidos, os registros da Receita Federal e Estadual, sobre impostos, bem como os cadastros de</p><p>autorizações para construção civil, já tornaram-se fontes valiosas para as estimações intercensitárias de</p><p>características da população em pequenas áreas. Para o estudo de migração interna, poderiam ser</p><p>aproveitados os registros das ligações e desligamentos domésticos das utilidades públicas e o fluxo de</p><p>passageiros transportados pelas companhias ou as remessas postais de dinheiro.</p><p>Como todas estas fontes são parciais e sujeitas a vícios, melhores resultados são obtidos quando são</p><p>usadas diversas fontes simultaneamente para estudar uma mesma variável demográfica.</p><p>ERROS EM FONTES DEMOGRÁFICAS</p><p>Nenhum sistema estatístico está inteiramente livre de distorções. No registro civil os erros são piores</p><p>em qualidade e quantidade que nos censos, tanto no Brasil como na maioria dos países.</p><p>ERROS MAIS COMUNS NO CENSO DEMOGRÁFICO</p><p>- Subenumeração → Este erro surge quando uma parcela da população não é contada, por:</p><p>● omissões na fase de organização do censo;</p><p>● omissões voluntárias devido a pessoa ter algum motivo para evitar a enumeração como</p><p>Página</p><p>17</p><p>17</p><p>imigrantes ilegais, indivíduos procurados pela justiça, etc.</p><p>Normalmente, erros deste tipo são detectados através de um levantamento pós-censitário, que serve</p><p>para avaliar a qualidade do censo e definir fatores de correção. Em um censo bem executado, a</p><p>subenumeração não deve passar de alguns pontos percentuais da população total, mas o erro pode ser</p><p>muito maior em certos subgrupos, como a população favelada. A subenumeração, por exemplo, do</p><p>censo dos Estados Unidos de 1970, foi estimada em 2,5% para toda a população, mas entre os homens</p><p>negros entre 25 e 29 anos, este número poderia ter chegado a 18,5%.</p><p>- Superenumeração → Surge quando certos indivíduos são enumerados mais de uma vez. Isso</p><p>pode ocorrer, as vezes, com uma operação prolongada de coleta de dados, mas pode</p><p>acontecer propositadamente. Por exemplo, quando as comunidades têm interesse em</p><p>aparecer com o maior número possível de habitantes, para reivindicar maiores recursos do</p><p>governo central. Os supervisores podem sofrer pressões para enumerar indivíduos não</p><p>residentes naquela área ou até para “inventar” domicílios não existentes. Um exemplo mais</p><p>recente de superenumeração ocorreu no censo brasileiro de 1991, quando o IBGE detectou,</p><p>durante a avaliação dos trabalhos de coleta, que ocorriam irregularidades evidentes nos</p><p>resultados das domicílios rurais de difícil acesso em alguns municípios do estado do Pará,</p><p>indicando que ocorreram tentativas de manipulação fraudulentas da informação. Depois de</p><p>um longo processo de correção, que causou vários meses de atraso no processo do censo,</p><p>ajustou-se a população desses municípios, de</p><p>666.225 para 433.867 habitantes.</p><p>- Classificação errônea → Os censos estão sujeitos a erros de classificação, ou seja, informação</p><p>errônea. Os erros podem ser acidentais ou propositais. Por exemplo, no caso de omissão de</p><p>filhos tidos por mães solteiras ou a má declaração da renda ou da idade. A má declaração de</p><p>idade é um erro de especial importância, principalmente nas populações com baixo nível de</p><p>instrução. A relevância desse tipo de erro também está na relativa facilidade de ser detectado,</p><p>razão pela qual muitas vezes, a qualidade da informação etária é usada como índice para</p><p>caracterizar a qualidade da informação de todo o censo.</p><p>ERROS MAIS COMUNS NO REGISTRO CIVIL</p><p>1) Subregistro → Até hoje, o registro caracteriza-se por um “déficit” considerável, principalmente</p><p>dos nascimentos. Geralmente, não se trata de omissões definitivas mas de registros atrasados.</p><p>Grande parte dos registros, principalmente os de nascimento, é realizado com atrasos muito</p><p>maiores que os previstos na lei; esses registros tardios, em geral, só são feitos quando se</p><p>apresenta alguma necessidade prática para obter um documento oficial. O registro de</p><p>óbitos, que é um pré-requisito para a realização do enterro, deve ser efetuado, a princípio, 24</p><p>horas depois do ocorrido. Entretanto, a lei prevê motivos diversos para o atraso, pelos quais</p><p>este prazo pode ser estendido para 3 meses. No Brasil, o problema de atrasos no registro de</p><p>óbitos é menos acentuado, devido à obrigatoriedade do atestado de óbito para o enterro.</p><p>Mesmo assim, existem cemitérios clandestinos, principalmente em áreas rurais. Em algumas</p><p>regiões do país, os donos de cemitérios, por motivos econômicos, também acabam realizando</p><p>enterros sem exigir a apresentação do atestado.</p><p>2) Classificação errônea → Também merece atenção a qualidade da classificação dos eventos.</p><p>Por exemplo, a idade da mãe do recém nascido, um dado essencial para elaboração de certos</p><p>indicadores demográficos, freqüentemente não é registrada com a informação correta; outro</p><p>exemplo é a difícil classificação de nascido vivo. Por causa dessa dificuldade, muitas crianças</p><p>que nasceram vivas e morreram a seguir são registradas como nascidos mortos,</p><p>provocando uma diminuição da mortalidade infantil. Outro problema surge com relação à</p><p>questão de onde os eventos são registrados, que por lei, devem ser registrados no cartório</p><p>mais próximo do lugar de ocorrência, mas esta exigência nem sempre é respeitada. O</p><p>Página</p><p>18</p><p>18</p><p>cumprimento desta lei inflaciona</p><p>artificialmente o número de nascimento e óbitos em locais e municípios com maior concentração de</p><p>hospitais e maternidades. Para a comparação de pequenas áreas geográficas é preciso reclassificar os</p><p>nascimentos por local de residência da mãe e os óbitos por local de residência do falecido. Atualmente</p><p>as estatísticas são divulgadas por esta reclassificação, mas antes da década de 1970, estão disponíveis</p><p>apenas por local de ocorrência.</p><p>A função administrativa da certidão de nascimento faz com que as estatísticas também tenham, em</p><p>menor grau, o superregistro. Este surge principalmente</p><p>no caso de adultos, que perderam o documento</p><p>original. Quando apresenta-se a necessidade de apresentar este documento para alguma finalidade</p><p>legal, é mais prático, normalmente, fazer um novo registro do que obter uma 2ª via da certidão pelo</p><p>cartório onde se realizou o 1º registro, principalmente quando este cartório encontra-se longe da</p><p>residência atual do indivíduo. A falta de uma coordenação nacional na emissão de certidões faz com</p><p>que não haja meios de evitar esses registros duplos.</p><p>FONTE DE DADOS DEMOGRÁFICOS NO BRASIL</p><p>CENSO DEMOGRÁFICO</p><p>A população brasileira vem sendo avaliada sistematicamente, a cada início de década, por meio de</p><p>censos demográficos, realizados pelo IBGE, desde 1940 até o mais atual, em 2000.</p><p>Recenseamentos gerais anteriores, ocorreram em 1872, 1890, 1900 e 1920, realizados pela Diretoria</p><p>Geral de Estatística. Existem censos “parciais” mais antigos.</p><p>Em 1996 realizou-se pela primeira vez, uma contagem populacional: uma operação censitária com</p><p>questionário mais simples.</p><p>Os censos brasileiros têm variado em qualidade e propósito. A Diretoria Geral de Estatística criada em</p><p>1872 foi, formalmente, o órgão encarregado da organização decenal de um recenseamento geral em todo</p><p>o território nacional, mas esta periodicidade só foi alcançada a partir de 1940, o mesmo ano que o Brasil</p><p>adotou os padrões internacionais das Nações Unidas e quando a execução dos censos passou a ser do IBGE,</p><p>órgão sucessor da extinta Diretoria Geral de Estatística. O Brasil realizou censos decenais a partir de 1940,</p><p>mas o censo de 1990 atrasou um ano, rompendo assim a seqüência histórica.</p><p>O padrão de qualidade dos censos melhorou muito em 1940, devido, em grande medida, ao</p><p>desempenho pessoal de Giorgio Mortara, italiano que chefiou a execução do censo. A partir de 1920 foram</p><p>introduzidos os censos econômicos: agropecuário, industrial, comercial e de serviços.</p><p>O volume de informações levantadas nos censos demográficos tem aumentado com o tempo.</p><p>Neste sentido, o de 2000 foi o censo mais completo, já realizado no Brasil.</p><p>O Brasil tem mantido um certo rigor na manutenção da data de referência: da noite de 31 de agosto</p><p>para 1o de setembro. No entanto, no censo de 1950, a data de referência foi da noite de 30 de junho para 1o</p><p>de julho e o de 2000 foi da noite de 31 de julho para 1o de agosto.</p><p>Desde 1940 os censos seguem tanto o conceito de população presente como de população residente.</p><p>Desde 1960, têm sido aplicados dois modelos de questionário: um questionário básico aplicado em todos</p><p>os domicílios não selecionados para a amostra, que contém perguntas sobre as características básicas do</p><p>domicílio e dos seus moradores e um questionário amostra aplicado em cada domicílio selecionado para a</p><p>amostra, que além das perguntas do questionário base, contém outras mais detalhadas, a respeito do</p><p>domicílio e de seus moradores. Em 1960 foi aplicado um questionário amostra em ¼ dos domicílios</p><p>selecionados aleatoriamente; em 1991 e 2000 os critérios mudaram: nos municípios com até 15 mil</p><p>habitantes foi selecionado 20% de cada setor censitário</p><p>Página</p><p>19</p><p>19</p><p>(um em cada 5 domicílios) e nos municípios acima de 15 mil habitantes a proporção foi de 10% do setor</p><p>censitário (um em cada 10 domicílios).</p><p>Formas de divulgação</p><p>Os resultados dos censos são divulgados na forma de tabelas convencionais. Os resultados dos dados</p><p>agregados estão divulgados na Internet e dos registros estão em cd-rom. Tabelas específicas com</p><p>resultados que não foram publicados, são fornecidas pelo IBGE, contra um pagamento. Em 1978, o IBGE</p><p>disponibilizou uma fita magnética com uma amostra de 1% de todos os registros do censo demográfico de</p><p>1970. Para o censo de 1980, foi produzida uma fita magnética com uma amostra de 3% da população, em</p><p>1982, e mais tarde tornou-se possível ter acesso a uma fita com uma amostra de 25% de todos os</p><p>questionários. Os registros dos censos de 1991 e 2000 estão disponíveis em cd-rom por UF, e pelo site</p><p>do IBGE, é possível visualizar algumas tabelas dos censos ou, mesmo construí-las com a base de dados</p><p>(SIDRA), além da forma tradicional de publicação de tabelas e de microdados em arquivos digitais. Através</p><p>da "Série Relatórios Metodológicos", o IBGE documenta e divulga as metodologias empregadas nas diversas</p><p>fases do planejamento e execução de suas pesquisas. A metodologia do censo de 2000 está disponível em:</p><p>http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/metodologia/</p><p>Deve-se sempre estar atento para alterações que ocorreram ao longo dos últimos censos como:</p><p>– mudanças de limites geográficos e criação, desmembramento ou desaparecimento de</p><p>municípios, distritos, territórios e estados</p><p>– para as alterações de critério das definições e conceitos das variáveis que se pretende</p><p>analisar, como a alteração da classificação dos domicílios em rurais e urbanos</p><p>– alteração da forma de declaração de idade</p><p>– para as alterações nas formas de divulgação dos dados nas tabelas</p><p>– enfim, é necessário estar atento a todas as fases: desde a orientação sobre a coleta das</p><p>informações até a divulgação dos dados recenseados</p><p>REGISTRO CIVIL</p><p>Embora no Brasil já existisse o registro administrativo da igreja católica, o registro civil de pessoas</p><p>naturais só foi criado em 1888. Até então, a responsabilidade da Diretoria Geral de Estatísticas tinha</p><p>limitado-se à sistematização e divulgação dos dados coletados pela igreja e a regulamentação dos óbitos e</p><p>casamentos daqueles que não professavam a fé católica. Mesmo depois da secularização, demorou para</p><p>que a população fosse conscientizada da necessidade do registro. Até a poucas décadas atrás, o número de</p><p>batismos registrados pela igreja costumava superar o número de nascimentos constatado pelo sistema</p><p>oficial.</p><p>Na maioria dos países, o registro civil é administrado pelas prefeituras, sob a jurisdição do Ministério do</p><p>Interior ou do órgão central de estatísticas. O Brasil é um dos raros países em que o registro civil pertence</p><p>ao Poder Judiciário, que controla as concessões dos cartórios, cuja gestão é privada e tem fins lucrativos.</p><p>Até 1972, a atuação dos cartórios era regida por normas legais que variavam de um estado para outro, sob</p><p>a responsabilidade do Serviço de Estatística Demográfica, Moral e Política, pertencente ao Ministério da</p><p>Justiça. Este modo de organização atendia muito mais aos fins jurídico-administrativos do registro, do que</p><p>aos da sua utilização na compilação de estatísticas vitais.</p><p>Pela legislação de hoje, o registro civil de pessoas naturais abrange o registro de nascimentos,</p><p>casamentos, óbitos, interdições, emancipações, opções de nacionalidade e as sentenças que definem a</p><p>legitimação adotiva, o anulamento de casamentos, os atos judiciais referentes a legitimidade ou</p><p>ilegitimidade de filhos e as alterações de nomes. Os cartórios são obrigados a preencher os “mapas”, que</p><p>são relatórios sobre o movimento do registro civil, com informações padronizadas.</p><p>http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/metodologia/</p><p>20</p><p>Existem mapas específicos para cada tipo de evento.</p><p>Há falhas qualitativas no Registro Civil brasileiro devido: a distância geográfica de muitos cartórios; o</p><p>custo monetário dos registros, que varia regionalmente (apesar do decreto presidencial de 1996 sobre a</p><p>gratuidade destes serviços); a falta de utilidade desses documentos e; a falta de informação sobre a</p><p>obrigatoriedade do registro, para grande parte da população brasileira.</p><p>O Sistema Nacional de Estatísticas Vitais, com uma coleta padronizada através de formulários</p><p>específicos, só se constituiu quando a responsabilidade das estatísticas passou para o IBGE, em 1972.</p><p>Diferente da administração dos censos, que desde o início foi atribuída a um órgão estatal, o registro civil</p><p>por muito tempo não foi sujeito a uma administração centralizada. Esta falta de coordenação é um dos</p><p>motivos pelos quais, até hoje, as estatísticas do registro civil no Brasil não alcançaram o padrão</p><p>de</p><p>qualidade dos censos.</p><p>Nas estatísticas do registro civil são apresentadas informações sobre os fatos vitais ocorridos no país,</p><p>reunindo a totalidade dos registros de nascidos vivos, óbitos e óbitos fetais, bem como sobre os</p><p>casamentos, informados pelos Cartórios de Registro Civil de Pessoas Naturais, além de informações sobre as</p><p>separações judiciais e divórcios declarados pelas Varas de Família, Foros ou Varas Cíveis.</p><p>A primeira publicação das estatísticas do Registro Civil no Brasil data de 1894, mas só cobria uma</p><p>pequena parte do território nacional. A omissão naquela época era muito elevada, de modo que os dados</p><p>publicados representavam apenas 20% dos nascimentos e 25% dos óbitos ocorridos no país. A publicação</p><p>foi interrompida entre 1900 e 1932, quando a Diretoria Geral de Estatísticas foi extinta e passou a</p><p>responsabilidade para o Serviço de Estatística Demográfica, Moral e Política. Este órgão só retomou a</p><p>publicação dos dados em 1963, quando iniciou-se a série Registro Civil do Brasil, com as informações</p><p>relativas ao ano de 1959. A série foi novamente interrompida em 1966, com a publicação dos dados</p><p>referentes a 1965. Depois de alguns anos de indefinição de responsabilidades, a atribuição de apurar as</p><p>estatísticas vitais passou para o IBGE em 1972. Em 1975, o IBGE reiniciou a publicação da série Registro Civil</p><p>do Brasil, com a divulgação dos dados preliminares do período de 1974 a 1967, concluída em 1979. Neste</p><p>ano iniciou-se a publicação dos dados definitivos referentes aos mesmos anos, com a série Estatísticas do</p><p>Registro Civil. As publicações mais recentes são acompanhadas de CD-ROM contendo as mesmas</p><p>informações, e no portal do IBGE na Internet contém a série histórica das estatísticas vitais levantadas a</p><p>partir de 1984 (http://www.sidra.ibge.gov.br/). Nas estatísticas do Registro Civil de 2007 destaca-se, a</p><p>inclusão dos registros de separações e de divórcios realizados nos Tabelionatos de Notas. Esses</p><p>estabelecimentos se tornaram informantes do IBGE, a partir de 2007, em decorrência de legislação,</p><p>sancionada neste mesmo ano, que permite aos cônjuges sem filhos menores ou incapazes dissolver seus</p><p>casamentos através da lavratura de escritura pública. Desta forma, as estatísticas de separações e de</p><p>divórcios consensuais ora divulgadas reproduzem os dados oriundos de sentenças judiciais bem como os</p><p>registros administrativos lavrados pelos notários.</p><p>As estatísticas do registro civil constituem importante instrumento para o acompanhamento da</p><p>evolução da população brasileira, o monitoramento do exercício da cidadania e a implementação de</p><p>políticas públicas. Mesmo assim, para atender melhor a área da saúde, especificamente com relação as</p><p>estatísticas de óbitos e nascimentos vivos, há a necessidade de informações mais extensas que aquelas</p><p>coletadas pelo IBGE, principalmente no que se refere a causa do óbito e situação da mãe e da criança à</p><p>época do nascimento. Assim o Brasil tem duas fontes de dados bem distintas para mortalidade e</p><p>natalidade. Além das estatísticas do registro de óbitos e nascimentos fornecidas pelo IBGE, o Ministério da</p><p>Saúde mantém o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), desde 1975, e o Sistema de Informação</p><p>sobre nascidos vivos (SINASC), desde 1990, e publica anualmente as séries Estatísticas de Mortalidade e</p><p>Estatísticas de Nascidos Vivos e podem ser acessados em http://www.datasus.gov.br/.</p><p>http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/metodologia/metodologiacenso2000.pdf</p><p>http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/metodologia/metodologiacenso2000.pdf</p><p>e mortalidade baixassem. Devido ao fato de que as taxas de mortalidade caem</p><p>primeiro que as de natalidade, durante a transição viver-se-ia um período de intenso</p><p>crescimento populacional, chamado de explosão demográfica, processo pelo qual passam</p><p>ainda hoje vários países subdesenvolvidos.</p><p>A tendência é que a população mundial cessará de crescer acentuadamente somente</p><p>por volta do ano 2050. Esse fato decorre da transição demográfica. No período ou ciclo de</p><p>transição demográfica, o crescimento da população passa por três fases fundamentais. Os</p><p>países desenvolvidos já realizaram sua transição demográfica, estando, portanto, na terceira</p><p>fase, ao passo que os subdesenvolvidos, a grande maioria, só deverão completá-la por volta</p><p>do ano 2050 ou até mais tarde.</p><p>Primeira fase ou fase do crescimento lento: Dos primórdios da humanidade até o final do século</p><p>XVIII, aproximadamente, embora a natalidade tenha sido elevada, a taxa de mortalidade</p><p>também era bastante alta, o que explica o baixo índice de crescimento demográfico desse</p><p>período. A expectativa ou esperança de vida, portanto, era baixa. A elevada mortalidade era</p><p>decorrente principalmente das precárias condições higiênico-sanitárias, das epidemias, das</p><p>guerras, da fome, etc.</p><p>Segunda fase ou crescimento rápido: Caracterizada por elevadas taxas de natalidade e baixas</p><p>taxas de mortalidade, nesta fase ocorre grande crescimento da população. Atualmente, a</p><p>maioria dos países subdesenvolvidos encontram-se nessa fase.</p><p>Na Europa ocidental, o sucesso da Revolução Industrial contribuiu para a melhoria das</p><p>condições higiênico-sanitárias, médico-hospitalares e alimentares e no combate às epidemias,</p><p>reduzindo a mortalidade de forma gradativa. Entretanto, a natalidade permaneceu elevada</p><p>durante quase todo o século XIX, o que explica o grande crescimento populacional da Europa</p><p>nesse período.</p><p>Após a Segunda Guerra Mundial o mundo assistiu a mais espetacular explosão demográfica de</p><p>todos os tempos, em apenas 55 anos, a população mundial que era de cerca de 2,2 bilhões de</p><p>habitantes, pulou para mais de 6 bilhões.</p><p>Terceira fase ou fase de baixíssimo crescimento demográfico ou estagnação: Nessa fase</p><p>caracterizada pela ocorrência de baixas taxas de natalidade e de mortalidade, resultando em</p><p>baixíssimo crescimento e até mesmo em estagnação do crescimento populacional, a transição</p><p>demográfica encontra-se concluída. Atualmente estão nessa fase os países desenvolvidos, a</p><p>maior parte deles com taxas de crescimento muito baixas, geralmente inferiores a 1%, nulas</p><p>e até negativas.</p><p>Nos países subdesenvolvidos tem ocorrido uma transformação na estrutura familiar, na</p><p>qual vários fatores contribuem para que as mulheres tenham menos filhos.</p><p>O crescimento futuro da população é difícil de prever. As taxas de natalidade estão a</p><p>diminuir em geral, mas variam muito entre países desenvolvidos e países em</p><p>desenvolvimento. As taxas de mortalidade podem mudar inesperadamente devido a</p><p>doenças, guerras e catástrofes, ou avanços na medicina.</p><p>Para tentar conter o elevado aumento populacional já estão tomadas e estudadas certas</p><p>medidas. É necessária a expansão de serviços de alta qualidade de planejamento familiar e</p><p>saúde reprodutiva. As gravidezes indesejadas ocorrem quando os casais que não querem ter</p><p>uma gravidez não usam nenhum método para regular eficazmente a fertilidade. Uma das</p><p>prioridades de vários governos dos países em vias de desenvolvimento deve ser oferecer aos</p><p>casais e a pessoas individuais serviços apropriados para evitar tais gravidezes.</p><p>Deve-se também divulgar mais informação sobre planejamento familiar e aumentar as</p><p>alternativas de métodos anticoncepcionais, nos casos em que tal seja legal.</p><p>É também muito importante a consciencialização do público sobre os meios existentes</p><p>para a regulação da fertilidade e o seu valor, da importância da responsabilidade e da</p><p>segurança na prática de relações sexuais e a localização dos serviços. Deverão ser criadas</p><p>condições favoráveis para várias famílias pequenas.</p><p>Importa também aumentar a escolaridade, especialmente entre as adolescentes.</p><p>Melhorias na situação econômica, social e jurídica das jovens e das mulheres poderão contribuir</p><p>para aumentar o seu poder de negociação, conferindo-lhes uma voz mais forte nas decisões</p><p>relacionadas com os aspectos reprodutivos e produtivos da família.</p><p>Distribuição geográfica da população</p><p>A desigual distribuição da população explica-se pela conjugação de fatores (naturais,</p><p>históricos e socioeconômicos) que favorecem ou restringem a ocupação dos territórios. Fatores</p><p>físicos ou naturais: áreas favoráveis à ocupação humana, chamadas de ecúmenas, e áreas</p><p>desfavoráveis à concentração populacionais, anecúmenas. Entre as áreas mais favoráveis</p><p>estão, por exemplo, as planícies (concentrando mais da metade da população mundial);</p><p>Fatores históricos e econômicos: a expansão colonizadora do século XVI, a Revolução</p><p>Industrial na segunda metade do século XVIII, promoveram grande urbanização nestas áreas.</p><p>O ecúmeno não seria explicado apenas por fatores naturais, mas também históricos.</p><p>Ele se deveria, no interior do meio geográfico, como obra humana. Neste sentido, o</p><p>desenvolvimento da civilização industrial, permitindo uma produção crescente, seria fator de</p><p>acréscimo da habitabilidade do globo. (Sujeito a contradições em face da concentração dos</p><p>lucros, que tem como consequência reduzir o acréscimo paralelo da população. Trata-se da</p><p>questão da superpopulação e do desemprego.</p><p>Podemos dizer que atualmente a distribuição desigual da população pela superfície do</p><p>planeta depende muito mais de fatores históricos e econômicos do que dos fatores naturais. A</p><p>modernização e a revolução tecnicocientífica permitiram superar grande parte das limitações</p><p>naturais, levando a humanidade a conquistar espaço antes inabitáveis.</p><p>Se a população dispõe de técnicas suficientes para superar as adversidades</p><p>apresentadas pelo ambiente, a influência dos fatores naturais tende a diminuir. Assim, mesmo</p><p>áreas de difícil ocupação (desérticas, com relevo montanhoso, etc.) são integradas ao processo</p><p>produtivo, atraindo população e investimentos em infraestrutura. Além disso, o grande</p><p>crescimento da</p><p>população em países subdesenvolvidos torna algumas dessas regiões as mais altas densidades</p><p>populacionais do planeta.</p><p>As atividades econômicas podem acarretar maior ou menor concentração</p><p>populacional. Por exemplo, as atividades industriais costumam ser responsáveis por grandes</p><p>concentrações populacionais.</p><p>As áreas de agricultura com mecanização intensa e de pecuária extensiva, apresentam</p><p>baixas densidades, pois essas atividades requerem pequena quantidade de mão-de-obra por</p><p>área.</p><p>Há desigualdades na ocupação dos continentes. Até meados do século XX, por volta</p><p>de 2/3 dos habitantes da Terra estariam concentrados em 1/7 da superfície do globo. Apesar da</p><p>variação dos dados a respeito desta desigualdade, era unânime sua concentração na Europa,</p><p>China e Índia.</p><p>Calcula-se que no início deste século XXI, a cada ano, mais de 80 milhões de pessoas</p><p>passam a habitar a Terra, uma população equivalente à da Alemanha. A maioria será pobre e</p><p>viverá principalmente na África, na Ásia ou na América Latina. São nessas regiões que estão</p><p>situados os países de maior crescimento demográfico do mundo.</p><p>A distribuição da população mundial ocorre de forma desigual, havendo grande</p><p>diferença no contingente populacional dos continentes. Veja a população referente a cada um</p><p>deles:</p><p>África: 1,008 bilhões de habitantes</p><p>América: 925,2 milhões de habitantes</p><p>Antártica: 4 mil habitantes (no verão) e 900 habitantes (no inverno)</p><p>Ásia: 4,115 bilhões de habitantes</p><p>Europa: 749,0 milhões de habitantes</p><p>Oceania: 36,6 milhões de habitantes</p><p>Portanto, o continente com maior concentração populacional é a Ásia (4,1 bilhões de</p><p>habitantes), correspondendo cerca de 65% da população mundial.</p><p>A África é o segundo continente mais populoso, tal fato se</p><p>deve ao alto índice de</p><p>crescimento populacional dos países que a integram (2,1% ao ano). Sua população só não é</p><p>maior em virtude da baixa expectativa de vida, caracterizada como a menor do planeta. De</p><p>acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 21% da população</p><p>mundial habitará a África em 2050.</p><p>A Europa, que já representou 21% dos habitantes da Terra, atualmente, possui apenas</p><p>10,7%, sendo que a tendência é diminuir a cada ano, pois o continente já apresenta taxa de</p><p>crescimento populacional negativo.</p><p>A América, por sua vez, apresenta crescimento populacional de 1% ao ano, sendo que</p><p>essa taxa é maior se considerarmos apenas os países latino-americanos. Os Estados Unidos e o</p><p>Canadá possuem crescimento populacional de 0,9%.</p><p>As Teorias Demográficas</p><p>Thomas Robert Malthus publicou na Inglaterra seu Primer Ensayo Sobre La Población (O</p><p>Ensaio sobre o Princípio de População), no ano de 1798, e esta obra tornou-se uma referência</p><p>para o estudo da demografia no século XIX. Em sua essência o texto tinha como preceito o</p><p>fato de que a produção de alimentos crescia em Progressão Aritmética (PA), ou seja, (2,4,6,8...)</p><p>e a população mundial crescia em Progressão Geométrica (PG), ou seja (2,4,8,16,32...). Sabe-</p><p>se que</p><p>o crescimento em PG é muito mais rápido que o em PA, portanto, para Malthus, tal</p><p>tendência demográfica seria responsável pela situação de fome de parte da</p><p>população. No entanto tais preceitos são absolutamente falsos e a teoria do</p><p>economista, portanto, também o é.</p><p>Crendo na exatidão de seus preceitos, o também religioso apresentou o</p><p>problema à sociedade em sua obra e nela também propôs soluções. Dentre elas</p><p>destacam-se várias formas de controle da natalidade como a abstinência sexual, o</p><p>casamento tardio (pressupõe-se o sexo liberado apenas após o matrimônio) e o</p><p>celibato. Nota-se que todas as propostas são permeadas de alguma forma por um</p><p>caráter religioso que Malthus impôs ao seu discurso pretensamente científico. Cabe</p><p>considerar que além dos crescimentos da produção de alimentos e populacional não</p><p>ocorrerem em PA e PG respectivamente, a teoria malthusiana não vislumbrou as</p><p>transformações intensas que o processo de produção agrícola sofreu e que elevaram</p><p>sua produtividade. Hoje o mundo produz alimentos suficientes para alimentar quase</p><p>o dobro da população mundial, e a fome persiste. Onde está o erro?</p><p>Na distribuição desigual, é claro.</p><p>Malthus, em sua primeira versão do princípio de população, polemiza com os</p><p>chamados socialistas utópicos – Condorcet, Godwin, Wallace – cujas obras, de modo</p><p>geral, propunham uma sociedade igualitária como alternativa à situação de miséria</p><p>vivida. Segundo ele, a causa verdadeira dessa miséria humana não era a sociedade</p><p>dividida entre proprietários e trabalhadores, entre ricos e pobres. A miséria seria, na</p><p>verdade, um obstáculo positivo, que atuou ao longo de toda a história humana,</p><p>para reequilibrar a desproporção natural entre a multiplicação dos homens – o</p><p>crescimento populacional – e a produção dos meios de subsistência – a produção</p><p>de alimentos.</p><p>Por trás dessa constatação estaria uma lei natural: a do crescimento da</p><p>população num ritmo geométrico e dos produtos de subsistência num ritmo</p><p>aritmético.</p><p>A miséria e o vício são obstáculos positivos ao crescimento da população.</p><p>Eles reequilibram duas forças tão desiguais.</p><p>Em outras palavras, o crescimento natural da população, que é determinado</p><p>pela paixão entre os sexos, excede a capacidade da terra para produzir alimentos</p><p>para o homem. A dificuldade da subsistência exerce uma forte e constante pressão</p><p>restritiva, sentida em um amplo setor da humanidade: os mais pobres ficam com a</p><p>pior parte e a menor parte, convivendo com a fome e a miséria.</p><p>A miséria para Malthus, é, portanto, necessária. Ela aparece na fome, no</p><p>desemprego, no rebaixamento dos salários; então, ela mata, ela faz adoecer, ela</p><p>reduz o número de matrimônios, pois será mais difícil sustentar os filhos (obstáculo</p><p>preventivo ou “obrigação moral”). Por outro lado, ela incita os cultivadores a</p><p>aumentar o emprego da mão-de-obra disponível, a abrir novas terras ao cultivo, a re-</p><p>harmonizar a relação população/recursos.</p><p>Ao se ampliarem os meios de subsistência, invariavelmente a população</p><p>volta a crescer, e, assim, os pobres vivem um perpétuo movimento oscilatório entre</p><p>progresso e retrocesso da felicidade humana.</p><p>Uma sociedade igualitária estimularia nascimentos, dessa forma estendendo a</p><p>todos a pobreza. A luta pela sobrevivência, nessas condições, faria triunfar o egoísmo.</p><p>Malthus discorda, inclusive, da assistência do Estado aos pobres, considerando-a</p><p>nefasta, porque diminuindo a miséria a curto prazo, favorece o casamento e a</p><p>procriação dos indigentes.</p><p>Já no século XX o fenômeno da explosão demográfica contribuiu para que</p><p>surgissem novas teorias relacionadas ao crescimento populacional. As primeiras</p><p>teorias associavam o crescimento demográfico à questão do desenvolvimento e</p><p>propunham soluções antinatalistas para os problemas econômicos enfrentados</p><p>pelos países subdesenvolvidos. Ficaram conhecidas</p><p>15</p><p>como teorias neomalthusianas, por serem catastrofistas e por apontarem o controle</p><p>populacional como única saída. Mas, ao contrário de Malthus, os neomalthusianos eram</p><p>favoráveis ao uso de métodos anticoncepcionais e propunham a sua difusão em massa nos</p><p>países do mundo subdesenvolvido.</p><p>Com intuito de justificar a desigualdade da Divisão Internacional do Trabalho (DIT). Na</p><p>DIT Clássica os países centrais exportavam produtos industrializados para os países periféricos e</p><p>recebiam matérias-primas destes. A enorme diferença no valor das produções desses dois</p><p>grupos de países manteve as riquezas concentradas nos países industrializados e altamente</p><p>desenvolvidos. A relação comercial dos países periféricos é desvantajosa, pois eles compram</p><p>produtos caros e vendem produtos baratos e essa situação limita as possibilidades de</p><p>desenvolvimento desses países. Para mascarar esse processo é que surge a Teoria</p><p>Neomalthusiana.</p><p>Ela afirma que os países periféricos são pobres, pois sua população é muito grande e</p><p>consome seus escassos recursos. É fácil acreditar nessa ideia quando se compara o Reino</p><p>Unido ou a Alemanha com a China ou com a Índia. Os países europeus altamente</p><p>desenvolvidos possuem populações muito menores do que a destes países asiáticos, que</p><p>apresentam quadros sociais péssimos com altos níveis de pobreza. Mas se compararmos Brasil</p><p>e Estados Unidos, vemos que o nível de desenvolvimento norte-americano é maior e sua</p><p>população também. Ou seja, o problema não está no tamanho da população brasileira e sim na</p><p>desigualdade, no abismo econômico que separa esses dois países.</p><p>É semelhante ao que se diz das famílias pobres com muitos filhos. Se uma família tem</p><p>renda média de um salário mínimo e é formada por dez filhos, a família é pobre. E se uma</p><p>família com a mesma renda tiver apenas um filho? Será pobre também, pois um salário mínimo</p><p>é pouco para a sobrevivência de uma pessoa, quanto mais de uma família com pai, mãe e um</p><p>filho. O problema é ter muitos filhos? Não. O problema é a família não ter acesso a renda. É</p><p>claro que as condições de vida tendem a piorar com mais pessoas, mas, se for atingido um certo</p><p>ponto de pobreza, não faz diferença se há um filho ou dez. Todos terão condições péssimas de</p><p>sobrevivência. A única diferença é que temos mais pessoas sofrendo pela miséria.</p><p>O discurso neomalthusiano impõe aos países pobres a culpa pela própria pobreza e</p><p>esconde os limites impostos pela DIT injusta ao desenvolvimento deles. E ainda propõe um forte</p><p>controle de natalidade, o que estimulou, inclusive, o envio de equipes técnicas preparadas para</p><p>ensinar o planejamento familiar e praticar cirurgias de esterilização feminina. Sabe-se que em</p><p>alguns casos tais cirurgias eram feitas sem o consentimento das pessoas, das famílias. Algo</p><p>imposto, violando as liberdades pessoais e o direito de escolha.</p><p>É para criticar essa visão</p><p>neomalthusiana e suas recomendações que surge a teoria reformista, cujo preceito principal é a</p><p>ideia de que a DIT injusta é responsável pelo subdesenvolvimento.</p><p>Os argumentos convincentes dos neomalthusianos foram desfeitos pela dinâmica</p><p>demográfica real. Os países que tiveram quedas acentuadas em suas taxas de natalidade foram</p><p>aqueles cujas conquistas econômicas estenderam-se à maioria dos habitantes, na forma de</p><p>maior renda e melhoria do padrão cultural. A história comprovou que havia uma inversão no</p><p>pensamento neomalthusiano. A redução do crescimento populacional não é o ponto de partida</p><p>para a conquista do desenvolvimento social e econômico, mas o ponto de chegada.</p><p>Essa dinâmica demográfica já havia sido apontada pelos reformistas, que destacavam as</p><p>conquistas socioeconômicas como responsáveis pela redução das taxas de crescimento</p><p>populacional. Para os reformistas, uma melhor distribuição de renda e o maior acesso à</p><p>cultura e à educação podem modificar os padrões de crescimento e promover a melhoria da</p><p>qualidade de vida das pessoas.</p><p>16</p><p>Outra visão antinatalista surgiu com alguns ecologistas já no final da década de 1960, com a</p><p>publicação do livro A bomba populacional de Paul Ehrlich. Mas esses ecologistas não se limitaram à</p><p>questão demográfica para discutir as ameaças dos problemas ambientais. Ressaltaram o papel</p><p>negativo do consumismo da população dos países desenvolvidos e, portanto, a necessidade de</p><p>transformação do modelo econômico do mundo atual.</p><p>No final dos anos sessenta, paralelamente à emergência da ecodiplomacia, que visa discutir</p><p>entre os países as questões de caráter ambiental, surge o Ecomalthusianismo. Essa teoria foi defendida</p><p>pelo Clube de Roma, formado por cientistas, economistas e funcionários governamentais de alto</p><p>escalão, e baseia-se na ideia de que o sistema global é formado por recursos finitos em acelerado</p><p>processo de desgaste diante do crescimento populacional e das demandas produtivas do mundo</p><p>contemporâneo. A lógica é que quanto maior é a população, maior o consumo dos recursos naturais.</p><p>Tendo em vista tal lógica, o Clube de Roma propôs o controle da natalidade nos países de maior</p><p>crescimento populacional - leia-se países da América Latina, África e Ásia. Além disso, propôs uma</p><p>mudança estrutural da economia que deveria passar de uma economia de produção para uma</p><p>economia de serviços. E é exatamente quando recomenda o controle da natalidade nos países</p><p>pobres que a teoria perde sua lógica, pois deve-se considerar as desigualdades no padrão de consumo</p><p>entre os países centrais e os periféricos.</p><p>Tomemos por exemplo a questão da água, que é um recurso estratégico. A Organização</p><p>Mundial de Saúde recomenda o consumo diário de 80 litros por pessoa/dia para ingestão, higiene</p><p>pessoal e doméstica, e para o preparo de alimentos. No Quênia o consumo médio é de 5 litros por</p><p>pessoa/dia, a mesma média de água utilizada diariamente pelos norte-americanos para lavar carros e</p><p>regar jardins. Sabe-se que o crescimento vegetativo da população do Quênia é bem maior do que o</p><p>dos Estados Unidos, mas será que foi esse crescimento que gerou tamanha diferença no consumo de</p><p>água entre os dois países?</p><p>Não. A infraestrutura implementada e o desperdício norte-americano é que elevam o consumo</p><p>por pessoa/dia de sua população. Portanto não é necessário controlar a natalidade no Quênia, pois não</p><p>é lá que está o consumo excedente. Deve-se reduzir, todavia, o desperdício da sociedade norte-</p><p>americana. Mais uma vez o problema não é demográfico.</p><p>Ou seja: Malthusianismo, Neomalthusianismo e Ecomalthusianismo são teorias demográficas</p><p>que impõem as responsabilidades sobre a fome, o subdesenvolvimento e o desastre ambiental</p><p>mundial, respectivamente, sobre as famílias e países pobres, e defendem que são estes que devem</p><p>controlar suas taxas de natalidade. No entanto, esquecem-se de avaliar a desigualdade existente na</p><p>distribuição dos recursos alimentares, financeiros e no consumo dos recursos naturais, que é alto nos</p><p>países centrais e limitado nos países periféricos. A questão resolve-se, portanto, ao se compreender</p><p>que é a distribuição desigual dos recursos que gera tais diferenças entre os países.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>DAMIANI, AMÉLIA LUISA. População e Geografia. São Paulo: Contexto, 1991. ZELINSKY, WILBUR.</p><p>Introdução à Geografia da População. São Paulo: Zahar, 1969. GEORGE, PIERRE. Geografia da</p><p>População. São Paulo: Bertrand Brasil, 1991.</p><p>PACHECO, M. V. Explosão demográfica e crescimento do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.</p><p>17</p><p>1. BIOGRAFIA</p><p>Thomas Robert Malthus nasceu a 14 de Fevereiro de 1766 em Rookery, perto de</p><p>Guildford, (Surrey), falecendo a 23 de Dezembro de 1834 em Bath.</p><p>Era o penúltimo dos sete filhos (dois rapazes e cinco raparigas) de Daniel e Henrietta</p><p>Malthus. Seu pai era amigo de grandes personagens daquela época como o filósofo</p><p>escocês David Hume e do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau. Além disso, era um</p><p>profundo admirador de Condorcet e de Godwin.</p><p>Foi um demógrafo e economista inglês, famoso sobretudo pelas suas perspectivas</p><p>pessimistas mas muito influentes. Apesar de ser assumido popularmente que as suas</p><p>teses pessimistas deram à Economia a alcunha da ciência lúgubre (dismal science), a</p><p>frase foi na verdade cunhada pelo historiador racista Thomas Carlyle em</p><p>referência a um ensaio contra a escravatura escrito por John Stuart Mill.</p><p>Malthus era filho de um culto proprietário de terras, tendo terminado os estudos em</p><p>Cambridge e tornou-se pastor anglicano em 1797.</p><p>Dois anos depois, iniciou uma longa viagem de estudos pela Europa. Em 1805 foi</p><p>nomeado professor de história e de economia política em um colégio da Companhia</p><p>das Índias, em Haileybury.</p><p>Figura 1: Thomas Robert Malthus</p><p>18</p><p>Sua fama decorre dos estudos sobre a população, contidos em dois livros conhecidos</p><p>como Primeiro ensaio e Segundo ensaio:</p><p>• "Um ensaio sobre o princípio da população na medida em que afecta o melhoramento</p><p>do futuro da sociedade, com notas sobre as especulações de Mr. Godwin, M.</p><p>Condorcet e outros escritores" (1798) .</p><p>• "Um ensaio sobre o princípio da população ou uma visão de seus efeitos passados e</p><p>presentes na felicidade humana, com uma investigação das nossas expectativas</p><p>quanto à remoção ou mitigação futura dos males que ocasiona" (1803).</p><p>Em 1804, Malthus casou-se com 39 anos de idade com sua prima Harriet Eckersall,</p><p>tendo posteriormente 3 filhos. Em 1805, foi nomeado o primeiro professor de</p><p>Economia Política no Colégio da Índia Oriental (East India College).</p><p>Suas obras influenciaram vários campos do pensamento e forneceram a chave para</p><p>as teorias evolucionistas de Darwin e Wallace. Os economistas clássicos como David</p><p>Ricardo, incorporaram o princípio da população às suas próprias teorias, supondo que</p><p>a oferta de força de trabalho era inexaurível, podendo ser limitada apenas pelo fundo</p><p>de salários.</p><p>Seus dois ensaios estão permeados de conceitos cristãos, como os de mal, salvação e</p><p>condenação.</p><p>Outras das obras que ele escreveu foi Princípios de economia política (1820) e</p><p>Definições em economia política (1827).</p><p>Em suas obras económicas, Malthus demonstrou que o nível de actividade em uma</p><p>economia capitalista depende da demanda efectiva, o que constituía, a seus olhos,</p><p>uma justificativa para os esbanjamentos praticados pelos ricos. A ideia da importância</p><p>da demanda efectiva seria depois retomada por Keynes.</p><p>Thomas Malthus representou o paradigma de uma visão que ignora ou rebaixa os</p><p>benefícios da industrialização ou do progresso tecnológico. Ernest Gellner afirmou em</p><p>Pós-modernismo, razão e religião: "Previamente, a Humanidade agrária vivia num</p><p>mundo Malthusiano no qual a escassez de recursos em geral condenava o homem a</p><p>apertadas formas sociais autoritárias, à dominação por tiranos,</p><p>primos ou ambos".</p><p>Para ele, a diferença entre as classes sociais era uma consequência inevitável. A</p><p>pobreza e o sofrimento eram o destino para a grande maioria das pessoas, ou seja, na</p><p>maneira de pensar de Malthus os futuros insucessos económicos eram destinadas a</p><p>um grande aglomerado da população, e contra isso não havia muito a fazer.</p><p>Na história do pensamento económico, poucos economistas chegaram a suscitar</p><p>tantas controvérsias como o economista inglês Thomas Robert Malthus. Até hoje, 230</p><p>anos após o seu nascimento, nenhum estudante, professor, economista ou leitos</p><p>19</p><p>consegue manter-se neutro, perante seus livros e panfletos publicados no final do</p><p>século XVIII e principalmente no início do século XIX.</p><p>2. THOMAS MALTHUS E A TEORIA MALTHUSIANA</p><p>O livro do socialista inglês William Godwin, An Enquiry Concerning The Principles of</p><p>Political Justice and Its Influence on General Virtue and Happiness (Um Inquérito</p><p>Concernente aos Princípios da Justiça Política e Sua Influência sobre a felicidade e a</p><p>Virtude em Geral), provocou um grande impacto na vida do jovem Malthus em 1793.</p><p>Após vários debates sobre o livro de Godwin e suas ideias (tais como: no futuro não</p><p>haverá mais um punhado de ricos e uma multidão de pobres; não haverá mais Guerras</p><p>assim como doenças; o homem não se angustiará nem mais viverá melancolicamente;</p><p>não haverá necessidade, nem da administração da justiça, nem de governo) Malthus</p><p>decidiu escrever sua própria visão sobre o futuro da humanidade e o crescimento</p><p>populacional.</p><p>Em 1798, Malthus escreveu e publicou, sob anonimato, o seu célebre livro, An Essay</p><p>on the Principle of Population, as It affects the Future Improvement of Society: with</p><p>Remarks on the Speculations of Mr. Godwin, M. Condorcet and Other Writers (Um</p><p>Ensaio sobre o Princípio da População que Afectam o Melhoramento Futuro da</p><p>Sociedade: com Observações sobre as Especulações do Senhor Godwin, Monsieur</p><p>Condorcet e Outros Escritores), uma obra essencialmente polémica, dirigida os</p><p>autores e as ideias utópicas oriundas da Revolução Francesa.</p><p>A perfectibilidade do homem e da sociedade tinham o incondicional apoio do</p><p>advogado Daniel Malthus, cujas discussões entre pai e filho acabaram desencadeando</p><p>na elaboração das observações de Malthus em amor à verdade.</p><p>Segundo Thomas Malthus, pode-se considerar dois postulados, sendo o primeiro que</p><p>o alimento é necessário à existência do homem, e o segundo que a paixão entre os</p><p>sexos é necessária e permanecerá aproximadamente em seu presente estado.</p><p>Supondo, então, podemos dizer que a capacidade de crescimento da população é</p><p>indefinidamente maior que a capacidade da terra de produzir meios de subsistência</p><p>para o homem.</p><p>Na perspectiva de Malthus, existiam dois tipos de obstáculos:</p><p>• Obstáculos positivos (A Fome, a Desnutrição, as Epidemias, Doenças, as Pragas, as</p><p>Guerras etc.) no sentido de aumentar a taxa de mortalidade;</p><p>• Obstáculos preventivos (as Práticas Anticoncepcionais Voluntárias) no sentido de</p><p>reduzir a taxa de natalidade.</p><p>O crescimento da população, os meios de subsistência e as causas da pobreza em</p><p>plena Revolução Industrial são os problemas centrais analisados pelo economista</p><p>clássico Thomas Robert Malthus. Segundo Malthus: ''Pode-se seguramente declarar</p><p>que, se não for a população contida por freio algum, irá ela dobrando de 25 em 25</p><p>20</p><p>Figura 2: Representação Gráfica da Teoria Malthusiana.</p><p>anos, ou crescerá em progressão geométrica (1,2,4,8,16,32,64,128,256,512,...). Pode-</p><p>se afirmar, dadas as actuais condições médias da terra, que os meios de subsistência,</p><p>nas mais favoráveis circunstâncias, só poderiam aumentar, no</p><p>máximo, em progressão aritmética (1,2,3,4,5,6,7,8,9,10) ‘‘. Segundo o</p><p>economista clássico Malthus, ''…o poder da população é tão superior ao poder do</p><p>planeta de fornecer subsistência ao homem que, de uma maneira ou de outra, a morte</p><p>prematura acaba visitando a raça humana.</p><p>Assim, Malthus concluiu que o ritmo de crescimento populacional seria mais acelerado</p><p>do que o ritmo de crescimento de alimentos (progressão geométrica versus progressão</p><p>aritmética). Além disso, chegou à conclusão que no futuro as possibilidades de</p><p>aumento da área cultivada estariam esgotadas, pois todos os continentes estariam</p><p>completamente ocupados pela agropecuária e, no entanto, a população mundial</p><p>continuaria a crescer.</p><p>Os vícios humanos são os agentes activos da desaprovação. São eles os precursores</p><p>do grande exército da destruição e em geral acabam fazendo o serviço macabro por si</p><p>sós. Mas, se não consegue vencer a guerra da exterminação, as epidemias, pestes e</p><p>pragas avançam e ceifam a vida de dezenas de milhares de pessoas.</p><p>Se por fim a situação não estiver concluída, surge uma gigantesca e inevitável onda de</p><p>fome que, com um poderoso sopro, nivela novamente a população e os alimentos do</p><p>planeta. ''A relação entre fome e população é analisada por Malthus através da</p><p>superpopulação que gera a fome. A principal consequência do Ensaio foi destruir o</p><p>optimismo exagerado de William Godwin e do economista escocês Adam Smith.</p><p>Malthus, viaja de 1799 a 1802 pela Europa e se consagra no estudo da população em</p><p>21</p><p>diversos países para um aprofundamento das situações nesses países.</p><p>Em 1803, a segunda edição agora com o seu nome, An Essay on the Principle of</p><p>Population; or a View of Its Past and Present Effects on Human Happiness; with na</p><p>Inquiry into our Prospects Respecting the Future Removal of Mitigations of the Evils</p><p>which It Occasions (Um Ensaio sobre o Princípio da População; ou uma Visão de Seus</p><p>Efeitos Passados e Presentes sobre a Felicidade Humana; com uma Investigação</p><p>sobre nossas Perspectivas em Relação a Futura Eliminação de Mitigações dos Males</p><p>pelas Oportunidades), Malthus era contra a intervenção do Estado, principalmente sob</p><p>a forma de auxílio material prestado ao homem inapto a ganhar o suficiente para a</p><p>manutenção de uma família. Malthus julga tal intervenção inútil e mesmo perniciosa</p><p>para a sociedade, ou seja, considerava contra a Lei dos Pobres (Poor Law), cuja</p><p>aplicação levava o Estado a prover as necessidades humanas vitais da população</p><p>pobre da Ilha, afim de remediar seus sofrimentos em paróquias mal administradas. As</p><p>leis inglesas de amparo aos pobres têm contribuído para empobrecer aquela classe de</p><p>gente cuja única posse é o seu trabalho.</p><p>No ano de 1815, Malthus escreve um panfleto intitulado Grounds of an opinion on the</p><p>policy of restricting the importation of foreign corn (Bases para uma opinião sobre a</p><p>política de restrição à importação de trigo estrangeiro). Malthus era favorável ao</p><p>protencionismo (tarifas sobre os cereais importados) e defensor dos proprietários de</p><p>terras produtivas, capazes de assegurar meios de subsistência para a população</p><p>inglesa, mostrando assim que a Inglaterra deveria estimular a produção interna de</p><p>trigo. Invés, o economista inglês David Ricardo defendia a liberação das importações</p><p>de cereais, afim de reduzir os preços internos, mas o trigo importado não tinha a</p><p>finalidade de alimentar os pobres.</p><p>Ambos economistas analisaram a existência da renda diferencial (a renda será menor</p><p>na terra menos fértil e maior na mais fértil) e a influência das Leis do Trigo (Corn</p><p>Laws). Malthus e Ricardo acabaram por trocar 167 cartas discutindo esta</p><p>problemática.</p><p>Em 1820, Malthus escreve um livro intitulado Principles of Political Economy,</p><p>Considered with a View to Their Pratical Aplicattion. Este livro visou a sua aplicação</p><p>prática, entre os economistas clássicos somente Malthus não aceitou a Lei de Say</p><p>(Say's Law), ou seja toda oferta cria sua própria demanda. Esta Lei consiste na relação</p><p>económica que exprime a teoria macroeconómica da Economia clássica e que Batiste</p><p>Say defendeu em 1803 e em que a oferta cria a sua própria procura. Segundo Batiste</p><p>Say, como o poder de compra era igual ao rendimento</p><p>e produção totais, era</p><p>impossível existir excesso de procura ou de oferta. Simplificando, afirmava-se que</p><p>uma unidade monetária adicional de rendimentos era totalmente gasta (a propensão</p><p>marginal a consumir era de 1). Sustentava-se que os preços e os salários eliminam</p><p>qualquer excesso de oferta ou de procura e restabelecem o pleno emprego. A Lei de</p><p>Say é um dos principais pontos de divergência entre Malthus e Ricardo David, este</p><p>22</p><p>último aceitando e Thomas Robert Malthus rejeitando.</p><p>Cerca de cem anos depois, o economista inglês John Maynard Keynes retomará as</p><p>ideias originais de Malthus e as desenvolverá, mostrando as falhas da argumentação</p><p>de Ricardo. Thomas Malthus tentou convencer David Ricardo, mas sem êxito, de que</p><p>a</p><p>procura efectiva (volume do dispêndio em bens de consumo mais o</p><p>dispêndio em bens de investimento) poderia ser deficiente e causar</p><p>desemprego geral involuntário. Não é de qualquer maneira que Keynes</p><p>não poupa elogios à figura de Thomas Robert Malthus: ''Se somente</p><p>Malthus, em vez de Ricardo, tivesse sido o ramo originário da ciência</p><p>económica do século XIX, quão mais sábio e mais rico seria o mundo! ”.</p><p>O grande mérito de Malthus foi ter chamado a atenção para a</p><p>importância da demanda efectiva na determinação do nível de emprego</p><p>e de renda. O economista clássico Malthus afirmou: “é um erro muito</p><p>grave considerar ponto pacífico que a humanidade produzirá e</p><p>consumirá tudo o que produzir e consumir, e que nunca preferirá a</p><p>indolência às recompensas do trabalho”.</p><p>Contrariando os economistas adeptos ao regime de laissez-faire,</p><p>Malthus foi praticamente o único economista clássico a recomendar</p><p>maior intervenção do Estado na economia, afim de reduzir as taxas de</p><p>desemprego na Europa por meio de obras públicas. A teoria do valor-</p><p>trabalho baseada nos custos de produção (o custo de reproduzir, treinar</p><p>e manter a mão-de-obra) foi abandonada para justificar a realidade da</p><p>escassez da terra. Os custos de produção incluem os pagamentos de</p><p>rendas como salários na dependência da lei da oferta e da procura. O</p><p>equilíbrio Malthusiano se dá quando o salário tiver caído ao nível de</p><p>subsistência, abaixo da qual a oferta de mão-de- obra não irá reproduzir-</p><p>se. O valor de qualquer bem é a sua capacidade de ser utilizado</p><p>sobretudo de ser trocado por outros bens. Dois artigos, como trigo e</p><p>sapatos, terão custos de mão-de-obra iguais por unidade, todavia a</p><p>produção de trigo exige maior custo de terra por unidade, logo os bens</p><p>serão vendidos com preços diferentes no mercado.</p><p>Malthus analisou os censos demográficos americanos de 1800, 1810 e</p><p>1820 e o número de emigrantes da Inglaterra, Irlanda e Escócia para os</p><p>estados Unidos no período 1812- 1821. A Teoria da População baseia-</p><p>se na lei dos rendimentos decrescentes (law of diminishing returns), ou</p><p>seja, à</p><p>quantidades de factores variáveis, partindo do princípio que a de outros</p><p>factores se mantêm constantes, as taxas crescentes, a produção total</p><p>medida que se empregam mais</p><p>23</p><p>Figura 3: Teoria de Malthus.</p><p>aumenta, depois as taxas decrescentes, a produção total diminui em</p><p>terras férteis disponíveis. A produção de bens alimentares tende a não</p><p>aumentar ao mesmo ritmo da taxa de crescimento geométrica da</p><p>população. De acordo com Malthus, as técnicas e práticas agrícolas não</p><p>modificariam a acção plena da lei dos rendimentos decrescentes.</p><p>Apesar de tudo, nos Estados Unidos, ocorreu o aspecto inverso da lei,</p><p>abertura de novas terras, com um vasto aumento da população e com</p><p>progresso tecnológico, aumentando a produção agrícola. A interpretação</p><p>malthusiana da lei dos rendimentos decrescentes influenciou Ricardo e</p><p>fez com que economia passasse a ser designada como a “Ciência</p><p>Sombria”.</p><p>O objectivo principal da Teoria da População era substituir os obstáculos</p><p>positivos (guerras, pobreza, etc.) pela restrição moral (moral restraint).</p><p>Seu terceiro obstáculo é peculiar ao homem e resulta das suas</p><p>faculdades superiores de raciocínio, que lhe permitem calcular as</p><p>consequências.</p><p>A “queda progressiva do salário real da mão-de-obra reduz o bem-estar</p><p>da população”. Para amenizar esse problema, Malthus recomendava o</p><p>controle de natalidade através da abstinência sexual, ou seja, o homem</p><p>não deve casar antes de possuir condições económicas para sustentar a</p><p>sua família.</p><p>Assim, Malthus exerceu, através da sua Teoria da População, uma</p><p>profunda influência sobre a orientação científica da escola Clássica, que</p><p>antes dele foi, com Adam Smith, liberal e optimista, e se tornará, com ele</p><p>e depois dele, pessimista e liberal. Malthus e Smith entendem que as leis</p><p>24</p><p>naturais, deixadas sem controlo, trariam consequências maléficas à</p><p>humanidade.</p><p>As ideias de Richard Cantillon, David Hume, Mirabeau e outros escritores</p><p>sobre o crescimento da população não haviam produzido qualquer</p><p>influência duradoura e sobretudo eram ideias desconhecidas para a</p><p>maioria dos leitores. Malthus escreveu uma Teoria da População capaz</p><p>de influenciar os leitores do Velho Mundo, como também, do Novo</p><p>Mundo e posteriormente os seus descendentes sobre os grandes</p><p>problemas sociais da humanidade. Segundo Malthus, a chave do</p><p>desenvolvimento económico residia no controle de natalidade. As</p><p>previsões imperfeitas de Malthus geraram os pensamentos dos</p><p>neomalthusianos.</p><p>O quadro socio-económico mundial do período após a Segunda Guerra</p><p>Mundial, marcado por taxas de crescimento demográfico bastante</p><p>elevadas no Terceiro Mundo, juntamente com a situação de fome e</p><p>miséria, ressuscitaram as ideias de Malthus. Os neomalthusianos ou</p><p>alarmistas, temerosos diante desse quadro assustador do Terceiro</p><p>Mundo, passam a responsabilizar os países subdesenvolvidos e o</p><p>elevado crescimento demográfico como os culpados pelo sucedido</p><p>quadro de horror.</p><p>Para os neomalthusianos a solução estava na implantação de políticas</p><p>oficiais de controlo de natalidade mediante o emprego de pílulas</p><p>anticoncepcionais, abortos, amarramento das trompas, vasectomia, etc.</p><p>Apesar de vários países terem adoptado essas medidas, a situação de</p><p>fome e miséria continua existindo.</p><p>A explosão demográfica nos países subdesenvolvidos, acompanhada da</p><p>escassez de alimentos e suas consequências catastróficas, provocou</p><p>uma tendência internacional do uso do planeamento familiar (distribuição</p><p>gratuitas de pílulas anticoncepcionais, de preservativos, entre outros</p><p>meios contraceptivos).</p><p>A pobreza nas Grandes Cidades tem alarmado desde então Malthus,</p><p>chegando ele a afirmar: “Sabe-se que as grandes cidades são</p><p>desfavoráveis à saúde, e particularmente, à saúde das crianças novas”.</p><p>Além dele alarmou os neomalthusianos (Charles Bradlaugh, Annie</p><p>Besant, W.Friedrich etc.), assim como também os ecomalthusianos.</p><p>Estes defendem grandes investimentos em educação, saúde e infra-</p><p>estrutura urbana para resolver os problemas demográficos, ambientais e</p><p>sociais, e sobretudo para melhorar a qualidade de vida da</p><p>população nas grandes cidades.</p><p>25</p><p>Contudo, a catástrofe malthusiana acabou por ocorrer na Irlanda com a</p><p>fome provocada pela escassez de batatas no século XIX. E no século</p><p>XX, novas catástrofes malthusianas ocorreram na Etiópia e Somália.</p><p>Felizmente, as profecias de Malthus ainda estão longe de se</p><p>concretizarem nos países desenvolvidos, houve um aumento</p><p>populacional, mas também houve aumento da produção, devido aos</p><p>avanços na tecnologia e na medicina nos últimos dois séculos.</p><p>Entretanto, o aspecto Malthusiano ainda amedronta os países</p><p>subdesenvolvidos da África (são 2.250.000 mortos em guerras civis), da</p><p>Ásia (71,4% da população vive abaixo da linha de pobreza) e da América</p><p>do Sul (estimou-se mais de 349 milhões de habitantes no ano 2000).</p><p>3. AS PRINCIPAIS FALHAS NA TEORIA DE MALTHUS</p><p>As principais</p><p>falhas na teoria Malthusiana são:</p><p>• Corresponde a uma teoria preconceituosa, onde só é permitido o</p><p>relacionamento sexual a quem possua dinheiro.</p><p>• Malthus não levou em consideração o avanço tecnológico do homem no</p><p>sector agrícola, como por exemplo: mecanização, irrigação,</p><p>melhoramento genético e etc.</p><p>• A população do planeta afinal não duplicou a cada 25 anos, e a produção</p><p>de alimentos se acelerou foi graças ao desenvolvimento tecnológico.</p><p>Essa teoria, quando foi elaborada, parecia muito consistente. Os erros de</p><p>previsão estão ligados principalmente às limitações da época para a</p><p>colecta de dados, já que Malthus tirou suas conclusões partindo da</p><p>observação do comportamento demográfico em uma determinada região,</p><p>com população predominantemente rural, e as considerou válidas para</p><p>todo o planeta no transcorrer da história, sem considerar os progressos</p><p>técnicos advindos da natural evolução humana. Não previu os efeitos</p><p>decorrentes da urbanização na evolução demográfica e do progresso</p><p>tecnológico aplicado à agricultura.</p><p>4. A TEORIA DE MALTHUS E A ACTUALIDADE</p><p>Na actualidade a realidade económica e social da Comunidade</p><p>Internacional colocam em evidência aspectos consideráveis das leis</p><p>básicas da sobrevivência revistas nos princípios defendidos por Thomas</p><p>Malthus.</p><p>A sua perspectiva sobre o futuro da humanidade reflecte-se de uma</p><p>forma ou de outra nos mais diversos aspectos do quotidiano, nos</p><p>acontecimentos mais recentes com impacto global.</p><p>26</p><p>Apesar de tudo, não nos vamos limitar obviamente ao princípio mais</p><p>elementar da teoria de Malthus de que a produção de meios de</p><p>subsistência pode ser consideravelmente inferior ao acentuado</p><p>crescimento da população.</p><p>Este é apenas um ponto de partida para o retrocesso que preferimos</p><p>chamar de “desenvolvimento desajustado e incompatível com os</p><p>recursos que a natureza nos oferece”.</p><p>Com o passar dos anos ocorreram importantes progressos no campo da</p><p>ciência que nos permitem produzir alimentos em larga escala, travar</p><p>epidemias e melhorar as condições de vida. O que acontece é que os</p><p>recursos não são distribuídos eficazmente, culpa das assimetrias</p><p>existentes consequência das más gestões políticas num mundo cada vez</p><p>mais complexo e desequilibrado.</p><p>Vejamos que os problemas como a fome, a desnutrição, as epidemias e</p><p>as guerras deixaram de afectar somente os países do terceiro mundo ou</p><p>em vias de</p><p>desenvolvimento. Os países desenvolvidos por exemplo ao receberem</p><p>imigrantes, ao entrarem em situações de crise económica e consequente</p><p>desemprego herdam estes problemas. A forma de controlar esta situação</p><p>é cada vez mais complexa e acentuada pelo fenómeno crescente e</p><p>irreversível da globalização. Por consequente, os problemas de uns</p><p>tornaram-se nos problemas de todos.</p><p>A globalização obtém o reverso da medalha quando existem países que</p><p>se acomodam ás normas das organizações a que pertencem e deixam de</p><p>produzir, deixam de ser competitivos e de serem auto-suficientes em</p><p>áreas elementares. É claro que não podemos sobreviver sozinhos num</p><p>mundo cada vez mais competitivo, mas podemos optar por uma via de</p><p>proteccionismo cauteloso sem deixar de competir no mercado</p><p>internacional.</p><p>27</p><p>Tal como os neomalthusianos e ecomalthusianos defendo assim um</p><p>desenvolvimento sustentado, equilibrado e com algum proteccionismo</p><p>alimentado pela produção de subsistência e a produção competitiva.</p><p>Enquanto não nos consciencializarmos de que os recursos naturais não</p><p>são fontes inesgotáveis, que não basta equilibrar o crescimento da</p><p>população através do planeamento familiar ou das epidemias, guerras e</p><p>catástrofes naturais, e que enquanto existir uma minoria que se apodera</p><p>e controla a maior parte dos recursos, que não sabe ou não quer</p><p>distribui-los, que não sabe como os compensar, preservar ou equacionar</p><p>alternativas temos o mundo em perigo. Os recursos nunca vão ser</p><p>suficientes para a humanidade como podemos ver no lado mais perverso</p><p>da teoria Malthusiana.</p><p>Desde que Malthus apresentou sua teoria, são comuns os discursos que</p><p>relacionam de forma simplista a ocorrência da fome no planeta ao</p><p>crescimento populacional. A fome que castiga mais da metade da</p><p>população mundial é resultado da má distribuição da renda e não da</p><p>carência na produção de alimentos. Nos primeiros anos do século XXI, a</p><p>produção agropecuária mundial era suficiente para alimentar cerca de 9</p><p>biliões de pessoas, enquanto a população do planeta era pouco superior</p><p>a 6 biliões. A fome existe porque as pessoas não possuem o dinheiro</p><p>necessário para suprir suas</p><p>necessidades básicas, fenómeno este facilmente observável no Brasil,</p><p>onde, apesar do enorme volume de alimentos exportados e de as</p><p>prateleiras dos supermercados estarem sempre lotadas, a panela de</p><p>muitos trabalhadores permanece vazia ou sua alimentação é muito mal</p><p>balanceada.</p><p>Duas teorias da população no pensamento clássico: Karl Marx e Thomas Malthus</p><p>Prof. Dr. Adilson Marques Gennari1</p><p>1. Introdução:</p><p>Entre várias teorias que abordam a questão da reprodução da população humana em</p><p>sociedade, seus determinantes e conseqüências, duas chamam a atenção, tanto pelo poder</p><p>persuasivo, quanto pela aceitação geral como pressuposto de várias correntes de pensamento,</p><p>passando pelas mais variadas áreas das ciências sociais e biológicas. As influências são</p><p>fantásticas nas ciências sociais principalmente na economia e na sociologia. Mais</p><p>recentemente as chamadas ciências ambientais foram muito influenciadas e algumas de suas</p><p>Figura 4: Nesta foto, crianças vasculham no lixo em busca de alimentos e/ou objectos que</p><p>possam vender por uns míseros trocados.</p><p>28</p><p>áreas aceitaram quase que como verdade universal os pressupostos da teoria da população de</p><p>Malthus.</p><p>Tudo isso torna socialmente relevante uma visita aos elementos centrais das teorias de dois</p><p>clássicos do pensamento universal sobre o assunto. Assim, nosso objetivo nesse ensaio é</p><p>apresentar, ainda que sumariamente, alguns elementos das contribuições clássicas do</p><p>pensamento sobre população do economista político inglês Thomas Malthus e do filósofo e</p><p>economista alemão Karl Marx. Ambas as teorias são tanto polêmicas quanto inspiradoras e</p><p>iluminam os estudos e debates até os dias que correm. É interessante notar desde logo que se</p><p>trata de duas teorias heuristicamente, metodologicamente e filosoficamente opostas. De um</p><p>lado temos a reflexão subjetivista e idealista de um economista e sacerdote cristão,</p><p>representante de uma importante fração da classe dominante, e de outro lado, a reflexão</p><p>objetivista e materiaslista de um filósofo maldito em seu tempo e considerado representante</p><p>do proletariado ou da classe oprimida.</p><p>2 As idéias de Thomas Robert Malthus sobre a população:</p><p>Thomas Robert Malthus (1776- 1834) desenvolveu suas reflexões numa época de grandes</p><p>transformações econômicas e sociais. Basta dizer que ele foi contemporâneo, como Ricardo,</p><p>dos desdobramentos da revolução industrial inglesa. Naquele contexto, a jornada de trabalho</p><p>das crianças inglesas durava de 14 a 18 horas com direito a parcos vinte</p><p>1 Professor do Programa de Pós-Graduação em Economia/UNESP e do Departamento de Economia da</p><p>UNESP Campus de Araraquara. Coordenador do Grupo de Pesquisa em História Econômica e Social</p><p>Contemporânea - GPHEC.</p><p>minutos para a refeição. Os protestos e motins se alastraram por toda a primeira metade do</p><p>século XIX. Naquele contexto, Malthus reservou para si a tarefa de refletir sobre como</p><p>melhorar a sociedade e assim colocou no centro de suas preocupações a questão da</p><p>reprodução da população e da possibilidade de crise de superprodução na sociedade</p><p>contemporânea, tornando-se assim referência clássica obrigatória nos estudos de população e</p><p>da dinâmica do capitalista até os dias que correm.</p><p>Um pressuposto importante da elaboração malthusiana sobre a população é que a população</p>