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veteriná riaFARMAC OLOGIAapos tila de Natália B ueno | @ natvet.s tudies Olá A P O S T I L A D E F A R M A C O L O G I A N A T Á L I A B U E N O Meu nome é Natália Bueno, sou a dona do @natvet.studies Sou estudante de medicina veterinária, do sexto período. E eu estou extremamente feliz pelo seu interesse nas minhas apostilas e na sua confiança por escolher meu material! Recomendo que você imprima o material, para facilitar o seu estudo. Se a apostila for útil para você, me mande uma mensagem, vou adorar saber sua opinião! Bons estudos ❤ 2 Sumário VIAS DE ADMINISTRAÇÃO E FORMAS FARMACÊUTICAS Oral Retal Intravenosa Intramuscular Subcutânea Transdérmica FARMACOCINÉTICA Absorção Disposição Distribuição Eliminação Metabolização Excreção 3 MECANISMO DE AÇÃO Potência Eficácia máxima Inclinação Variação biológica Sinergismo Antagonismo Farmacodinâmica Receptores Sinalização química Relação dose resposta Efeitos anormais aos medicamentos Interação medicamentosa EXERCÍCIOS & GABARITO Vias de administração e formas farmacêuticas efeito local ou sistêmico urgência da intervenção farmacológica duração do tratamento propriedades do fármaco a ser administrado propiciar estabilidade do princípio ativo promover a liberação adequada do princípio ativo no interior do organismo garantir a precisão da dose facilitar a administração Via de administração: consiste no modo como o fármaco é introduzido no organismo Fatores determinantes de escolha da via: Forma farmacêutica: forma final de apresentação de um fármaco (medicamento) princípio ativo + excipiente Funções: Excipiente: qualquer substância desprovida de atividade farmacológica que agrega funcionalidade às formas farmacêuticas → conservante, antioxidante, corante, flavorizante, aglutinante, diluente, desintegrante, solvente, etc. via enteral: sofre absorção em algum segmento do trato gastrointestinal 1. - oral - retal - sublingual 4 vantagens desvantagens via segura, conveniente e econômica possibilita a degradação do princípio ativo pela acidez/enzimas gástricas evita a elevação abrupta dos níveis sanguíneos do fármaco, reduzindo a incidência de efeitos adversos pode causar irritação da mucosa gástrica possibilita o uso de antídotos (carvão ativado) ou de lavagem gástrica, em caso de intoxicação propicia a degradação do princípio ativo pelo efeito de primeira passagem pelo fígado Efeito de primeira passagem ou eliminação pré-sistêmica: degradação do fármaco por enzimas hepáticas antes de atingir a circulação sistêmica → reduz a biodisponibilidade. Biodisponibilidade: é a porção do fármaco administrado que atinge a circulação sistêmica sob a forma não alterada. Indica a extensão e a taxa de absorção do fármaco. 2. via parenteral: o fármaco não sofre absorção no trato gastrointestinal - injetáveis: intravenosa, intramuscular e subcutânea - tópica e transdérmica ORAL veia porta-hepática fármaco fígado rede capilar circulação sistêmica sistema porta- hepático 5 não se pode macerar ou cortar, pois pode promover irritação gástrica ou degradação! formas farmacêuticas - líquidas: soluções, suspensões, emulsões e xapores - sólidas: pós e grânulos (ração), cápsulas, comprimidos e drágeas - pastas e géis formas de revestimento entérico: protegem o princípio ativo da degradação por ácido ou enzimas presentes no estômago. Evitam a irritação gástrica. vantagens: manutenção dos níveis plasmáticos e praticidade desvantagem: perda da flexibilidade na dosagem formas de liberação prolongada: aumentam o intervalo posológico e prolongam o efeito. São indicadas para princípios ativos com tempo de meia vida baixo (exemplo: morfina) cápsula drágea entérica cápsula de liberação prolongada matriz insolúvel tempo lib er aç ão d a dr og a no p la sm a 6 NÚCLEO princípio ativo CAMADA 2 gastro-resistente CAMADA 1 cor e proteção drágea cortada ao meio vantagens desvantagens protege parcialmente o fármaco do efeito de primeira passagem absorção errática e incompleta uso restrito em medicina veterinária pode causar irritação da mucosa retal vantagens desvantagens efeito praticamente imediato, não ocorre processo de absorção necessita de assepsia níveis plasmáticos previsíveis dificuldade de execução indicada para emergências médicas maior custo das preparações injetáveis permite a administração de grandes volumes efeitos adversos → flebites, infecções e trombose infusão contínua ou na forma de bolus (injeção aguda → via seringa) - Para ruminantes existem formulações orais de dose única, denominadas de bolo ou bólus, geralmente empregadas para administração de antiparasitários (por exemplo: ivermectina, fembendazol, etc) as quais liberam o medicamento por, aproximadamente, 140 dias ou mais RETAL formas farmacêuticas - líquidas: clister ou enema - sólidas: supositórios INTRAVENOSA formas farmacêuticas - soluções aquosas isotônicas, estéreis e apirogênicas Fármacos particulados e oleosos devem ser evitados na administração por via intravenosa pois podem causar embolia! 7 vantagens desvantagens absorção rápida e uniforme dor mais segura que a via intravenosa possibilidade de lesão de nervos, tecidos ou vasos sanguíneos proteção do efeito de primeira passagem - permite a administração de formas farmacêuticas de depósito - INTRAMUSCULAR formas farmacêuticas - soluções aquosas isotônicas, estéreis e apirogênicas - suspensões e emulsões vantagens desvantagens absorção constante para soluções e lenta para suspensões e pellets dor permite a administração de formas de depósito do fármaco necrose tecidual caso sejam administrados certas substâncias (exemplo: glicose) SUBCUTÂNEA formas farmacêuticas - líquidas: soluções e suspensões - sólidas: pellets vantagens desvantagens proporciona efeitos sistêmicos pela aplicação do fármaco na pele, por meio de um adesivo cutâneo alergia ao adesivo pode causar irritação local evita o efeito de primeira passagem e é + usada na oferta prolongada de fármacos o fármaco deve ser lipofílico (ou seja, lipossolúvel) TRANSDÉRMICA 8 tipo pour-on ou spot-on controle de ectoparasitas, em pequenos e grandes animais o medicamento é aplicado sobre o dorso (pour-on) ou cernelha (spot-on) do animal formas farmacêuticas - líquidas: soluções e emulsões - semi-sólidas: pomadas, cremes, loções e géis 9 Farmacocinética absorção liberação FÁRMACO LIVRE metabólitos excreção METABOLISMO O perfil farmacocinético é composto por quatro processos fundamentais: (a) absorção (quando a via de administração é extravascular (EV)); (b) distribuição; (c) biotransformação e; (d) excreção. A partir da compreensão desses eventos é possível estabelecer a relação cronológica da dose, forma farmacêutica, frequência, via de administração e a concentração sistêmica do fármaco, sendo que a farmacocinética clínica envolve a aplicação desses dados na terapia de pacientes. DOSE DO FÁRMACO COMPARTIMENTO CENTRAL fármaco ligado às proteínas LOCAL DE AÇÃO TERAPÊUTICA "receptores" ligado <-> livre RESERVATÓRIOS TECIDUAIS ligado <-> livre LOCAL DE AÇÃO INESPERADA ligado <-> livre depuração 10 A absorção é um processo no qual um fármaco deixa seu local de administração e alcança o fluxo sanguíneo. Ela pode ser avaliada por quatro parâmetros farmacocinéticos obtidos a partir da construção de uma curva da concentração do fármaco pelo tempo: (a) constante de velocidade de absorção (ka); (b) concentração plasmática máxima (Cmax); (c) tempo para atingir a concentração plasmática máxima (tmax) e; (d) área sob a curva de concentração plasmática pelo tempo (ASC). A maior parte dos fatores que influenciam a amplitude e a velocidade de absorção dos fármacos ocorre na via oral. absorção absorção absorção vaso linfático Absorção 11 Tratando-se da via de administração intravenosa, não se deve considerar a absorção, uma vez que, neste caso, o fármaco é administradodiretamente na corrente sanguínea. tempo da concentração farmacológica tempo da concentração farmacológica máxima (pico) co nc en tr aç ão fa rm ac ol óg ic a no p la sm a tempo Veia porta Estômago para o Cólon Circulação sistêmica Administração oral do medicamento O efeito de primeiro passagem ocorre quando a droga é absorvida pelo trato gastrointestinal (do estômago até o cólon descendente) entrando na veia porta e fluindo até o fígado. Uma vez no fígado as drogas de rápida excreção são eliminadas do sangue antes de entrar na circulação sistêmica. As concentrações plasmáticas das drogas de rápida excreção podem não alcançar concentrações terapêuticas se a dose da droga não for aumentada para compensar o efeito de primeira passagem. A quantidade da droga removida pelo primeira passagem pelo fígado difere entre as espécies e as idades de acordo com a presença ou ausência de doenças. O efeito de primeira passagem pode ser evitado pela absorção transmucosa na cavidade oral ou absorção retal. 12 Efeito de primeira passagem Após a administração oral, a passagem da substância pelo trato digestório pode acarretar perda, principalmente pelo efeito de primeira passagem, que envolve vários fatores como a decomposição e metabolização enzimática do fármaco no lúmen gastrointestinal ou mesmo pelo metabolismo hepático, antes de sua absorção e ação farmacológica sistêmica. Nos casos em que essa perda é muito grande, observa-se que o medicamento necessita de doses orais superiores às intravenosas para alcançar o mesmo efeito terapêutico. O transporte de fármacos para o interior da membrana intestinal pode ocorrer por mecanismos ativos, via transportadores, ou de forma passiva através dos enterócitos (transcelular) ou de suas junções (paracelular). A passagem passiva de substâncias pelas membranas está diretamente relacionada ao pH, à capacidade de dissociação do fármaco, representada pelo seu cologaritmo (pKa) e ao coeficiente de lipossolubilidade. Isso ocorre porque a maioria dos fármacos são ácidos ou bases orgânicas fracas que se dissociam nos líquidos corporais de acordo com o pH do meio e o pKa. Após a dissociação, a forma não dissociada dos compostos, que possui carga neutra e é lipossolúvel, migra através das membranas, a favor de um gradiente de concentração até atingir o estado de equilíbrio entre os meios. Além disso, o tamanho das partículas também afeta a extensão e a velocidade de absorção de um fármaco sempre que este é transportado passivamente. Em relação às formas farmacêuticas sólidas, administradas por via oral, essas sofrem influência da velocidade e extensão de desintegração e dissolução dos compostos para que posteriormente possam ser transportadas. 13 transporte passivo transporte ativo transporte paracelular difusão simples difusão facilitada relacionados ao fármaco: solubilidade: para ser absorvido, o fármaco precisa ser minimamente solúvel em água e óleo coeficiente de partição O/A: deve apresentar um coeficiente adequado pKa: índice de ionização: ácidos e bases fortes ionizam e não são lipossolúveis forma farmacêutica e via de administração Existem também os transportadores de efluxo, que funcionam como barreira à absorção uma vez que carreiam os fármacos da membrana intestinal de volta para o lúmen. Fatores de variabilidade 1. a. b. c. d. 2. relacionados ao organismo receptor a. vascularização local b. área da superfície de absorção (quanto maior, mais rápida e eficiente é a absorção) c. pH regional d. motilidade do TGI (quanto mais rápido, menor absorção) e. tipos de sistema digestório f. momento de administração (plenitude ou vacuidade gástrica) → interação com alimentos ou medicamentos afetam absorção Disposição Após a administração IV ou a absorção, o fármaco se distribui de maneira irreversível, do fluxo sanguíneo para outros tecidos/compartimentos. Distribuição A disposição pode ser definida como todo processo cinético que ocorre com o fármaco após sua absorção sistêmica, quando a administração ocorre por via extravascular ou após a aplicação, nos casos em que a introdução foi IV. Pode-se dividi-la em dois eventos cinéticos distintos: a distribuição e a eliminação. 14 fármacos pouco lipossolúveis, por exemplo, possuem baixa capacidade de permear membranas biológicas, sofrendo assim restrições em sua distribuição. Já as substâncias muito lipossolúveis podem se acumular em regiões de tecido adiposo, prolongando a permanência do fármaco no organismo. A velocidade de transporte das substâncias para esses locais varia conforme a constante de velocidade de distribuição (Kd) e sofre interferência de fatores fisiológicos como a perfusão sanguínea e características da membrana, assim como das propriedades físico-químicas do fármaco. Quanto maior a afinidade e extensão de ligação do fármaco às proteínas plasmáticas, por exemplo, menor será seu acesso a outros compartimentos do organismo. Para quantificar o processo de distribuição de um fármaco, deve-se calcular seu volume aparente de distribuição (Vd) que é definido como a relação entre a concentração plasmática inicial (C) de uma substância, logo após sua distribuição e a dose total (dose) administrada. vd = dose C Vd alto: concentração sanguínea está diluída em função da distribuição do fármaco, provavelmente muito lipossolúvel, para outros compartimentos. Vd baixo: a quantidade no sangue permaneceu alta, o que caracteriza um fármaco hidrossolúvel O Vd influência na determinação do número de compartimentos para o perfil farmacocinético das substâncias. O compartimento central é composto pelos órgãos de alta perfusão sanguínea como o coração e pulmões. Em seguida, de acordo com a capacidade de dispersão dos fármacos, que depende de fatores como a lipossolubilidade, ligação às proteínas plasmáticas, tamanho da molécula e pKa, esses penetrarão nos compartimentos periféricos, ou seja, órgãos de menor perfusão sanguínea como a gordura e os músculos. Fatores de variabilidade 15 nas junções estreitadas duas células adjacentes fundem de modo que as células são fisicamente unidas e formam uma parede contínua que impede vários fármacos de entrar no cérebro grandes frestas permitem aos fármacos mover-se entre o sangue e o interstício do fígado junção estreitada célula endotelial cerebral fluxo sanguíneo regional e débito cardíaco1. A distribuição depende da irrigação do órgão. Aqueles mais irrigados terão distribuição do fármaco de maneira mais rápida e maior num primeiro momento, com equilíbrio estabelecido mais rápido. A concentração do fármaco no plasma é tipicamente utilizada para definir e monitorar seus níveis terapêuticos, já que é difícil medir-se nos órgãos. 2. ligação do fármaco a proteínas plasmáticas Ligações fracas e reversíveis proporcionando equilíbrio entre a forma molecular e a iônica. A forma livre do fármaco é disponível para distribuição imediata, pois apresenta tamanho para filtração. 3. barreiras orgânicas: hematoencefálica, placentária… Podem prejudicar xenofármacos. tipental (pré-anestésico): acumula no tecido adiposo tetraciclina: ossos e dentes → afinidade por metais (Ca2+), causa manchas acinzentadas cloroquina: retina → afinidade por carreador de melanina (pigmentação retiniana → leva à cegueira) Para chegar ao cérebro, o fármaco precisa ser lipossolúvel. 4. deposição tecidual: afinidade por alguns tecidos a. b. c. 16 estrutura de capilares no fígado estrutura de um capilar cerebral membrana basal processo podal do astrócito fármaco célula endotelial junção com fenda membrana basal a) b) O metabolismo pode originar produtos farmacologicamente ativos, inativos ou mesmo potencialmente tóxicos, os quais, de maneira geral, são mais facilmente eliminados pelo organismo por possuir maior hidrossolubilidade. No processo de metabolização, o fármaco é submetido a reações químicas, geralmente catalisado por enzimas, econvertido em um ou mais metabólitos diferentes do original, que também podem ser metabolizados. As reações mais comuns do metabolismo de fármacos são classificadas como de fase I e de fase II. fármaco Eliminação A perda irreversível do fármaco do fluxo sanguíneo é denominada como eliminação e há dois processos que definem essa etapa cinética. No caso da metabolização, ou biotransformação, ocorre a conversão de uma espécie química em outra, já a excreção consiste na excreção irreversível do fármaco inalterado do organismo. Metabolização metabólito intermediário ativos tóxicos inativos (hidrossolúvel) A biotransformação ocorre principalmente no fígado, nos rins, nos pulmões e no tecido nervoso. Entre os fatores que podem influenciar no metabolismo dos fármacos estão as características da espécie animal, a idade, a raça e fatores genéticos, além da indução e da inibição enzimáticas. A indução enzimática é uma elevação dos níveis de enzimas (como o complexo citocromo P450) ou da velocidade dos processos enzimáticos, resultantes em um metabolismo acelerado do fármaco. Alguns fármacos têm a capacidade de aumentar a produção de enzimas ou de aumentar a velocidade de reação das enzimas. Como exemplo, podemos citar o fen 17 fenobarbital, um potente indutor que acelera o metabolismo de outros fármacos quando estes são administrados concomitantemente. A inibição enzimática caracteriza-se por uma queda na velocidade de biotransformação, resultando em efeitos farmacológicos prolongados e maior incidência de efeitos tóxicos do fármaco. Esta inibição em geral é competitiva. Pode ocorrer, por exemplo, entre duas ou mais drogas competindo pelo sítio ativo de uma mesma enzima. Os metabólitos são os produtos da reação de biotransformação de um fármaco. Estes possuem propriedades diferentes das drogas originais. Geralmente, apresentam atividade farmacológica reduzida e são compostos mais hidrofílicos, portanto, mais facilmente eliminados. Em alguns casos, podem apresentar alta atividade biológica ou propriedades tóxicas. etapas da biotransformação FASE I: oxidação + redução + hidrólise A biotransformação de fase I é catalizada pelos sistemas de citocromos P-450 e afins, levam a formação de metabólitos intermediários mediante reações metabólicas redutivas e oxidativas. Estas permitem posteriormente a conjugação dos metabólitos intermediários formados, aumentando assim sua polaridade, na chamada fase II. As reações adversas a drogas se relacionam com a presença de metabólitos intermediário na fase I convertem fármacos lipofílicos em moléculas mais polares e reativas introduzem ou desmascaram um grupo funcional polar, como -OH, -NH2 ou -SH → fundamental para que o fármaco passe para a fase II podem aumentar ou diminuir a atividade farmacológica, ou ainda não ter efeito sobre ela. Moléculas mais reativas, instáveis → aumenta a chance de entrar para a fase II FASE II: conjugação A biotransformação de fase II consiste em reações de conjugação, catalizadas por um conjunto de enzimas, a maioria delas localizadas no citosol. As reações consistem em unir um grupo polar de tamanho relativamente grande aos produtos das reações da fase I ou aos xenobióticos originais que contém os grupos funcionais apropriados para serem substratos das reações de conjugação. 18 complexação (junção) do produto da fase I ou do fármaco com uma substância endógena, originando metabólito polar e inativo (mais facilmente excretado do organismo) o grupo químico inserido pode ser glicuronil, sulfato, metil ou acetil (produzidas em grande quantidade pelo corpo). Os doadores dos grupos polares devem ter alta energia, já que as reações de conjugação não são termodinamicamente favoráveis. O resultado que se busca com estas reações é aumentar a solubilidade do xenobiótico em água. As reações de conjugação são: glicuronidação, sulfatação, aminoacidação, glutationização e metilação. oxidação, redução e/ou hidrólise (polar) produtos de conjugação (hidrossolúvel) fármaco (lipofílico) FASE I Após a Fase I, o fármaco pode ser ativado, permanecer inalterado ou, com mais frequência, inativado FASE II o fármaco conjugado geralmente é inativo alguns fármacos entram diretamente na Fase II de biotransformação 19 fármacos poluentes ambientais compostos químicos industriais alimentos Indução de enzimas microssomais (CYPS) ⬆da expressão de enzimas microssômicas (CYPS) aceleração da biotransformação ➡ maior eficiência tolerância farmacocinética ao indutor → redução do efeito em consequência da maior taxa de biotransformação. Ex: fenobarbital e carbamazepina. Não pode aumentar a dose → só aumenta a tolerância → rodízio de anticonvulsivante interações medicamentosas → rifampicina reduz a atividade anticoagulante da varfarina Consequências: Inibidores enzimáticos inibição enzimática reduz taxa de biotransformação prolonga a presença do fármaco ativo no organismo e eleva seus níveis plasmáticos → pode causar toxicidade inibidores da MAO → ex: tranilcipromina (antidepressivo) inibidores de colinesterases → fármacos, inseticidas ou armas químicas ex: cetoconazol → forma um firme complexo com a forma Fe3+ do ferro hermético do CYP3A4 idade: redução da taxa de biotransformação nos extremos da vida (relacionada com a redução da massa hepática, da atividade das enzimas + imaturidade do sistema enzimático nas primeiras semanas de vida) Inibidores de enzimas não microssômicas: Inibidores de enzimas microssômicas A inibição enzimática é fonte importante de interações de fármacos que leva a efeitos adversos. Fatores que afetam: 20 espécie animal - felinos: dificuldade na conjugação glicurônica (é a conjugação mais comum que ocorre nos ser humano) - cães: dificuldade nas reações de acetilação - suínos: dificuldade nas reações de sulfatação Excreção renal biliar pulmonar fecal A excreção/eliminação dos fármacos consiste na retirada dos mesmos do organismo, seja na forma inalterada ou na de metabólitos ativos e/ou inativos. Ela ocorre por diferentes vias e varia conforme as características físico-químicas da substância a ser excretada. Principais vias de excreção → quantidades significativas Os fatores que determinam a vida preponderante de excreção de fármacos são as propriedades físico-químicas e as vias de administração. O clearance ou depuração consiste na medida da capacidade do organismo em eliminar um fármaco. Esta medida é dada pela soma da capacidade de biotransformação de todos os órgãos metabolizados. Assim, se um fármaco é biotransformado nos rins, fígado e pulmões, o clearence total é a soma da capacidade metabolizadora de cada um desses órgãos, isto é, é a soma da capacidade metabolizadora de cada um desses órgãos. EXCREÇÃO RENAL salivar mamária sudorípara lacrimal Vias secundárias → quantidades mínimas A excreção renal constitui o principal processo de eliminação de medicamentos, principalmente os polares (hidrossolúveis) ou pouco lipossolúveis em pH fisiológico. Um fármaco alcalino é excretado mais rapidamente em uma urina ácida e fármacos ácidos em urina alcalina. 21 pKa da substância pH do meio excreção ácido ácido ↓ ácido básico ↑ básico básico ↓ básico ácido ↑ fármacos com peso molecular abaixo de 20kDa se difundem para o filtrado glomerular albumina plasmática (~68kDa) → fármacos ligados à proteínas ficam retidos no sangue a lipossolubilidade e o pH não influenciam a passagem dos fármacos para o filtrado glomerular. Contudo, variações na VFG (velocidade de filtração flomerular) e a ligação dos fármacos às proteínas afetam esse processo. 1. filtração glomerular A depuração renal de um medicamento é o resultado de três processos: (1) filtração glomerular; (2) secreção ativa nos túbulos proximais; e (3) reabsorção passiva da urina para o sangue ao longo de todo o túbulo renal. Ou seja: clearence renal = filtração + secreção - reabsorção Fármaco livre + Fármaco ligado a proteína Fármaco livre Cápsula de Bowwman Glomérulo Túbulo renal 22 mecanismosde transporte ativo para ânions (formas desprotonadas de ácidos fracos) e cátions (formas desprotonadas de bases fracas); sistema de transporte de baixa especificidade possibilita competição entre fármacos pelos transportadores em cada um deles → possibilita interação medicamentosa, fármacos interferindo na excreção do outro. 2. secreção tubular Drogas secretadas ativamente no túbulo proximal ácidos bases acetazolamida dopamina ácido úrico amilorida penicilina petidina probenicida histamina Penicilina: excretada praticamente in natura (farmacologicamente ativa) → mais tempo circulando no corpo = mais tempo fazendo efeito Probenicida: praticamente inerte. Utilizada conjuntamente com a penicilina. Saturação dos carreadores promove maior tempo da penicilina difundida pelo corpo. Aqueles dentro do mesmo grupo competem por carreadores. Pode levar ao acúmulo de algum fármaco, levando a toxicidade. Competição com intenção farmacológica: 3. Reabsorção tubular A concentração do filtrado glomerular ao nível do túbulo distal, cria um gradiente de concentração → filtrado concentrado = fármaco concentrado → facilitando assim a reabsorção para o sangue. A eliminação dos fármacos lipossolúveis é mínima, enquanto fármacos polares, cuja permeabilidade tubular é baixa, permanecem na luz do túbulo, tornando-se progressivamente mais concentrados à medida que a água é reabsorvida. O nível de ionização de muitos fármacos - ácidos ou bases fracas - é pH dependente e isso afeta sua eliminação renal. O efeito de aprisionamento iônico faz com que um fármaco alcalino seja excretado mais rapidamente em uma urina ácida e fármacos ácidos em urina alcalina. 23 O fármaco livre entra no filtrado glomerular Cápsula de Bowwman Secreção ativa do fármaco Reabsorção passiva de fármacos não ionizados e lipossolúveis, que foram concentrados no interior do lúmen em concentração maior do que a do espaço perivascular Na urina: fármaco ionizado insolúvel em lipídeos túbulo proximal alça de Henle túbulo distal túbulo coletor 24 EXCREÇÃO BILIAR se forem pouco lipossolúveis, são excretados pelas fezes se forem adequadamente lipossolúveis, são reabsorvidos, entrando para o ciclo entero-hepático → circulam mais tempo pelo organismo Já a excreção biliar é feita no caso das moléculas grandes, ou aquelas que mesmo depois de passadas pela metabolização continuam pouco hidrossolúveis. Fármacos secretados para a vesícula biliar podem ter dois destinos: Se o fármaco for adequadamente lipossolúvel ele será transferido via ducto biliar (juntamente com a bile) para o intestino delgado onde pode ser reabsorvido e completar o ciclo entero-hepático, entretanto, se for pouco lipossolúvel, irá permanecer no ambiente intestinal, e serão eliminados juntamente com as fezes. 25 circulação sistêmica fígado sistema porta-hepático absorção, metabolização e excreção da droga bile bile transporte ativo vesícula biliar difusão não iônica (passiva) intestino delgado metabolização da droga Mecanismo de ação das drogas Farmacodinâmica: estuda o que o organismo faz com a droga desde sua administração até sua eliminação, além disso o que a droga causa ao organismo, com enfoque no aspecto molecular. Fármacos de ação inespecífica (propriedades físico-químicas): agem alterando o pH (antiácidos), osmolaridade (manitol) ou quelando radicais livres → não interagem com alvo celular para exercer suas ações Fármacos de ação específica: interagem com "alvos específicos", muitas vezes chamados de receptores farmacológicos; A grande maioria das drogas exerce sua ação terapêutica através da interação com alvos específicos. 26 RECEPTORES alta potência especificidade química especificidade biológica Receptor farmacológico: macromoléculas (proteínas) ou partes de macromoléculas que possuem a capacidade de se ligar (reconhecer) a uma substância química e propagar um sinal gerado por esta ligação. De maneira mais simples → proteínas de membrana as quais substâncias regulatórias endógenas (hormônios, neurotransmissores, fatores de crescimento, autacóides, etc…) se ligam e modulam a atividade da célula-alvo. Existem três características que reforçam a existência dos receptores para a ocorrência das ligações: interação com enzimas → ex: ácido acetilsalicílico e ciclooxigenase - inibe enzima fosfolipase A2, responsável por degradar fosfolipídeos de membrana, gerando mediadores do processo inflamatório → efeito anti-inflamatório e antitérmico canais iônicos → ex: dihidropiridinas e canais de cálcio voltagem dependentes - inibem canais de cálcio transportadores de membrana → ex: antidepressivos e SERT ácidos nucleicos → ex: cisplatina e DNA - agentes quimioterápicos anti tumorais, impedem a replicação do DNA receptores para hormônios, neurotransmissores, fatores de crescimento, citocinas.. → receptores farmacológicos: reservado para estruturas evolutivamente selecionadas para participar dos processos de comunicação celular, sinalização química Os alvos proteícos para a ação de fármacos sobre as células podem ser, no geral, divididos em: 1. 2. 3. 4. 5. A ligação dos medicamentos aos receptores envolve todos os tipos de interação química conhecidos: as iônicas polares (íon-dipolo ou dipolo-dipolo), as de ponte de hidrogênio, as hidrofóbicas, as de van der Waals e as covalentes. Dependendo do tipo de ligação entre o receptor e o medicamento, a duração do efeito poderá ser fugaz ou prolongada. As reações do tipo covalente são muito difíceis de se desfazerem, portanto, uma vez estabelecida a ligação medicamento- receptor, esta será irreversível. Com frequência, um mesmo receptor pode ligar-se ao medicamento utilizando mais de um tipo de interação química! Os receptores estão associados a diferentes velocidades para a ocorrência de efeitos celulares. Estes podem ser rápidos (1), em milissegundos, acoplados diretamente a um canal iônico (chamados de ionotrópicos), ou lentos como os produzidos pelos diferentes hormônios, levando horas; existem aqueles intermediários (2), chamados de metabotrópicos, que levam segundos e dependem de segundos mensageiros para a transmissão de informações. 27 núcleo efeitos celulares fosforilação de proteína receptor ligado a canal iônico (ionotrópico) 28 1 2 3 4 receptores acoplados à proteína G (metabotrópicos) receptores ligados à quinase receptores nucleares transcrição gênica síntese de proteínas fosforilação de proteínas transcrição gênica síntese de proteínas efeitos celularesefeitos celularesefeitos celulares mudança do potencial de ação. Hiperpolarização ou despolarização. alteração da excitabilidade segundos mensageiros liberação de Ca2+ íons + ou - + ou - íons milissegundos segundos horas horas a dias velocidade para a ocorrência de efeitos celulares Tipos de receptores farmacológicos R: re ce pt or ; G : p ro te ín a; E : e nz im a Há também sistemas de transmissão multirregulados (3 e 4) que envolvem vários segundos mensageiros relacionados com inúmeras alterações celulares que levam horas e até dias para ocorrerem Tipo 1: canais iônicos ativados por ligantes São exemplos: o receptor colinérgico nicotínico, o receptor GABAérgico ou ainda os receptores glutamatérgicos (ionotrópicos). Para estes grupos de receptores, os canais iônicos se alteram quando da ligação do neurotransmissor ao receptor, provocando um aumento de permeabilidade de membrana celular a íons especificos, levando, portanto, a uma mudança do potencial elétrico das membranas celulares e da composição iônica intracelular. Os receptores desse tipo controlam os eventos sinápticos mais rápidos do sistema nervoso, nos quais um neurotransmissor age na membrana pós-sináptica de um nervo ou célula muscular e aumenta, de modo transitório, sua permeabilidade para certos íons. Tipo 2: receptores acoplados à proteína G A família dos receptores acoplados à proteína G (metabotrópicos) representa a maioria dos receptores conhecidos na atualidade. As proteínasG são os mensageiros entre os receptores e as enzimas responsáveis pelas mudanças no interior das células. Estas proteínas são compostas de três subunidades, denominadas α, β e γ (complexo αβγ), estando uma delas associada ao trifosfato de guanosina (GTP) e a porção β e γ não se dissocia. O acoplamento da subunidade α a um receptor ocupado por um agonista promove a troca do GDP ligado pelo GTP intracelular; o complexo α-GTP, então, se dissocia do receptor e do complexo βγ, interagindo com o alvo 1, que pode ser uma enzima ou canal iônico (proteína efetora) e causando o efeito celular. O complexo βγ também ativa uma proteína-alvo (alvo 2), que pode ser um canal iônico ou uma quinase. A atividade GTPase da subunidade α aumenta quando a proteína-alvo é ligada, resultando em hidrólise do GTP ligado para GDP, fazendo com que a subunidade α volte a se ligar com βγ, completando o ciclo. estado de repouso receptor inativo inativo inativo inativo receptor ocupado por um agonista GTP ativo ativo ativo ativo hidrolisado proteínas-alvo ativadas alvo 1 alvo 1 alvo 1 alvo 1 alvo 2 alvo 2 alvo 2 alvo 2 Gs: estimulante dos receptores de adenilato-ciclase Gi: inibidora dos receptores de adenilato-ciclase Existem vários tipos de proteína G, que interagem com diferentes receptores e controlam diferentes efetores, são exemplos: 29 receptores Go: relacionada aos canais iônicos Gq: ativadora da fosfolipase C Adenilato-ciclase/3'5'-monofosfato de adenosina cíclico (cAMP) Guanilato-ciclase/3'5'-monofosfato de guanosina cíclico (cGMP) Fosfolipase C/fosfato de inositol/diacilglicerol Fosfolipase A2/ácido araquidônico/eicosanoides Na regulação de canais iônicos A proteína G atua nos sistemas: proteínas G fosfolipase A2 fosfolipase C guanilato- ciclase adenilato- ciclase A. araquidônico IP3 DAG cGMP cAMP Eicosanoides [Ca]2+ proteinoquinases efeitos celulares (enzimas, proteínas transportadoras, etc) canais iônicos enzim as-alvo segundos m ensageiros Atuação da proteína G nos segundos mensageiros e nos efetores celulares Tipo 3: receptores ligados a quinases Esses receptores estão ligados à ação de vários fatores de crescimento e de hormônios como a insulina. 30 Eles operam via quinases e se autofosforilam; após a ligação agonista-receptor, estas fosforilações promovem a ativação de enzimas, acarretando em mudanças celulares. Tipo 4: receptores nucleares Hormônios esteroides e tireoidianos se utilizam destes receptores para a produção de respostas celulares, como a transcrição de genes selecionados que produzem proteínas específicas. Este tipo de receptor constitui-se de proteínas que, ao se ligarem ao hormônio, sofrem alteração constitucional que expõe um sítio de ligação com alta afinidade a determinadas regiões do DNA nuclear, conhecidas como regiões hormônio- responsivas. Logo após esta ligação verifica-se aumento na atividade da RNA polimerase e na produção de RNA mensageiro, com a resposta fisiológica final acarretando síntese de proteínas que leva aos efeitos celulares, em resposta à ligação do hormônio ao seu receptor específico; este processo ocorre em um período que varia de horas a dias. SINALIZAÇÃO QUÍMICA Endócrina: glândula que sintetiza e armazena um hormônio, o liberando na circulação sanguínea sobre condições controladas. O hormônio age em um sítio de localização distante daquele onde a glândula que o produziu está presente. Sinalização parácrina: célula secretória sintetiza e armazena alguma substância que é liberada sobre condições controladas e altera o funcionamento de uma célula adjacente que apresenta receptor próprio Sinalização autócrina: a substância liberada interage com receptores da própria célula produtora Sinalização por proteínas de membrana: organização das duas células 31 32 (c) sinalização autócrina chaves: o alvo se situa na mesma célula (d) sinalização por proteínas da membrana célula alvo adjacentecélula sinalizadora receptor sinal extracelular sinal de junção de membrana (a) sinalização endócrina vaso sanguíneo células alvo distantes secreção hormonal no sangue por uma glândula endócrina (b) sinalização parácrina célula secretora célula alvo adjacente 33 Relação dose resposta Para o melhor entendimento sobre a interação medicamento-receptor é necessário quantificar a concentração de um determinado medicamento e o efeito biológico que ele causa. Na grande maioria das substâncias com efeito farmacológico, a intensidade de efeito produzido pelo medicamento em geral depende da quantidade administrada; pode-se, portanto, expressar esta relação em termos de curva dose-resposta. Esta correlação entre a concentração de medicamento e seu efeito biológico pode ser adaptada ao estudo de receptores, uma vez que a resposta farmacológica é diretamente proporcional ao número de receptores com os quais este agente efetivamente interage e que o efeito máximo é alcançado quando todos os receptores estão ocupados. O termo agonista, em farmacologia, indica que uma determinada substância, ao ligar-se ao receptor, ativa-o, acarretando efeito faramológico; em oposição, o termo antagonismo refere-se a uma substância que, ao combinar-se com o receptor, não o ativa POTÊNCIA A potência de um medicamento está representada ao longo do eixo da concentração ou dose, isto é, quanto menor a concentração ou dose do medicamento necessária para desencadear determinado efeito (seja este mensurado in vivo ou in vitro), mais potente é este medicamento. dose (em escala logarítmica) potência variabilidade efeito máximo % d a in te ns id ad e do e fe ito inclinação A potência in vivo, é a dose administrada a um animal íntegro e sofre influência dos parâmetros farmacocinéticos como absorção, distribuição, biotransformação e excreção do medicamento, e parâmetros farmacodinâmicos, como a capacidade inerente de um medicamento de combinar-se com seus respectivos receptores. A potência in vitro, tem suas influências restringidas à capacidade do medicamento de se combinar com seus respectivos receptores. EFICÁCIA MÁXIMA A eficácia máxima (ou efeito máximo) é determinada por propriedades inerentes à ligação medicamento-receptor e ilustrada como um platô na curva dose-resposta. Os fatores que limitam a eficácia de um medicamento são normalmente o aparecimento de efeitos colaterais, ou seja, o agente terapêutico é eficaz para o tratamento de determinada enfermidade, porém a dose necessária para alcançar o efeito máximo (que é o desejado) é a mesma dose que acarreta efeitos tóxicos indesejáveis. INCLINAÇÃO A inclinação da curva dose/efeito reflete o mecanismo de ação de um agente terapêutico, bem como sua ligação com o receptor. Portanto medicamentos com mesmo mecanismo de ação não apresentam entre si diferenças significativas na inclinação de suas respectivas curvas e a existência de diferenças entre a inclinação das curvas de dois medicamentos indica que eles têm mecanismos de ação diversos. Grande inclinação na curva dose/resposta indica também que pequenas variações na dose levam a grandes variações na intensidade do efeito. VARIAÇÃO BIOLÓGICA Os indivíduos apresentam variabilidade na intensidade da resposta a um determinado 34 determinado medicamento, uma vez que nem todos indivíduos respondem com a mesma magnitude de resposta. Esta variação é representada como o limite de confiança da curva. Efeitos anormais aos medicamentos Alguns indivíduos apresentam reações exacerbadas, reduzidas ou mesmo diferentes a determinados medicamentos. Assim, tem-se: Hiper-reativo: apresenta reação a doses baixas (resposta exagerada) de determinado medicamento que não causam efeitos na grande maioria da população Hiporreativo: necessita de altas doses para desencadear determinado efeito farmacológico Tolerância ou hiporreatividade: baixa sensibilidade em questão resulta de uma exposição prévia ao medicamento (este causou alterações farmacocinéticas e/ou farmacodinâmicas, promovendo, com o decorrer do tempo, uma respostafarmacológica menor). Taquifilaxia ou dessensibilização: hiporreatividade que se desenvolve em alguns minutos Idiossincrasias ou efeito incomum: aparecimento de um efeito não esperado após uso de um medicamento e que ocorre em uma pequena porcentagem dos indivíduos. Supersensibilidade: aumento do efeito de um medicamento, sendo este causado pela elevação da sensibilidade de receptores sinápticos e que normalmente ocorre após bloqueio prolongado de receptores sinápticos ou ainda por denervação. Hipersensibilidade: efeito causado pelas reações alérgicas que têm como explicação a ligação antígeno-anticorpo, com consequente liberação de histamina. MECANISMOS ENVOLVIDOS NO FENÔMENO DE TOLERÂNCIA OU DESSENSIBILIZAÇÃO AOS MEDICAMENTOS 35 Os mecanismos que acarretam tolerância envolvem, na maioria das vezes: (a) alteração no número ou função dos receptores farmacológicos; (b) perda de receptores; (c) depleção dos mediadores; e (d) adaptação fisiológica A exposição prolongada a substâncias químicas agonistas pode acarretar diminuição gradativa no número de receptores expressos na superfície celular. Este processo é denominado também de regulação para baixo (down regulation), dessensibilização ou infrarregulação. Esta dessensibilização pode ocorrer em receptores diretamente acoplados a canais iônicos ou receptores acoplados a segundos mensageiros. Uma segunda forma de dessensibilização ocorre por desacoplamento entre o receptor e as proteínas G. O estudo sobre a regulação de receptores farmacológicos, após uso prolongado de determinados medicamentos, tem importância no entendimento de fenômenos que envolvem a tolerância e o desenvolvimento de supersensibilidade de receptores farmacológicos, e que podem acarretar insucesso no tratamento de doenças crônicas que necessitam de medicação continuada. Interação medicamentosa Muitas vezes faz-se necessária a utilização concomitante de mais de um medicamento, podendo ocorrer modificação do efeito de ambos ou de um deles quando associados. As interações dos medicamentos podem levar a aumento ou diminuição dos efeitos dos mesmos: sinergismo ou antagonismo. SINERGISMO sinergismo por adição: Denomina-se sinergismo o efeito de dois medicamentos ocorrendo na mesma direção. Este pode ser: 36 sinergismo por potenciação: O efeito combinado de dois ou mais medicamentos é igual à soma dos efeitos isolados de cada um deles. Este tipo de sinergismo é utilizado com fins terapêuticos. O efeito combinado de dois ou mais medicamentos é maior do que a soma dos efeitos isolados. Neste tipo de sinergismo é comum que as duas substâncias não atuem pelo mesmo mecanismo de ação. Neste caso, uma das substâncias potencializa a outra por interferir na sua biotransformação, distribuição ou excreção. Muitas vezes o agente potencializador, por si só, não apresenta efeito marcante. ANTAGONISMO Antagonismo farmacológico competitivo pleno reversível Antagonismo farmacológico competitivo parcial reversível A interação de dois medicamentos pode levar também a diminuição ou anulação completa dos efeitos de um deles. O antagonismo pode ser: farmacológico e não farmacológico. ANTAGONISMO FARMACOLÓGICO Antagonismo farmacológico competitivo pode ser classificado em: pleno (ou total) reversível, parcial reversível ou irreversível. O antagonista compete com o agonista pelos mesmos locais receptores, formando com o mesmo um complexo inativo. Desta forma, é respeitada a lei da ação das massas, isto é, aumentando-se a quantidade do agonista, na presença de um antagonista, o primeiro desloca o segundo do receptor. Representa uma situação particular de antagonismo farmacológico competitivo, com a diferença que os dois medicamentos utilizados são agonistas, porém com diferentes capacidades de desencadear efeitos farmacológicos, isto é, com diferentes atividades intrínsecas. Portanto, o agonista menos eficaz nesta situação experimental atua como antagonista parcial do agonista principal. 37 Antagonismo farmacológico irreversível Antagonismo farmacológico não competitivo Antagonismo farmacocinético ou disposicional: Antagonismo fisiológico ou funcional Antagonismo químico ou antidotismo Ocorre quando o antagonista se dissocia muito lentamente ou não se dissocia, dos receptores. Portanto, mesmo aumentando a concentração do agonista na presença do antagonista, não é possível alcançar o efeito máximo. O antagonista bloqueia algum ponto importante da cadeia de eventos que levaria à resposta desencadeada pelo agonista. Esta alteração ocorre por influência da atuação do antagonista não competitivo em um local alostérico diferente do local de ligação do agonista; portanto, não é possível desfazer o bloqueio quando se aumenta a concentração do agonista. ANTAGONISMO NÃO FARMACOLÓGICO Não há o envolvimento direto do antagonista com um receptor; pode ser classificado em: farmacocinético (ou disposicional), fisiológico (ou funcional) e químico (ou antidodismo). Neste tipo de antagonismo, uma substância química (medicamento) reduz efetivamente a concentração plasmática de outra administrada a um animal. Esta redução pode ocorrer por vários motivos, exemplificados a seguir: → a velocidade de biotransformação do medicamento pode estar aumentada → a velocidade de absorção ou a quantidade do medicamento ativo no trato gastrointestinal pode estar reduzida → a velocidade de excreção renal pode estar aumentada Ocorre quando os dois agonistas interagem em sistemas de receptores independentes, porém produzindo efeitos opostos que se anulam. Neste tipo de antagonismo, as duas substâncias não reagem com os receptores do organismo, mas sim reagem quimicamente, em solução, entre si se antagonizando. 38 ANTAGONISTAS antagonistas farmacológicos antagonistas não farmacológicos não há ligação com o receptor antagonismo farmacológico competitivo (ligação com o receptor) ligação com sítio alostérico presente no receptor ou bloqueio em algum ponto da cadeia de eventos desencadeada pela ligação do agonista ao receptor pleno ou total reversível parcial reversível irreversível antagonismo farmacológico não competitivo antagonismo farmacocinético ou disposicional antagonismo fisiológico ou funcional antagonismo químico ou antidotismo Classificação dos diferentes tipos de antagonistas farmacológicos e não farmacológicos Anotações 39 Exercícios 1) São considerados alvos para a ação dos medicamentos: a) enzimas, moléculas transportadoras e receptores celulares b) receptores celulares, moléculas transportadoras e agonistas nucleares c) proteínas nucleares, transportadores de membrana e sinapses d) enzimas transmembranares, receptores de membrana e agonistas celulares 2) Como as vias de administração podem ser classificadas? 3) Correlacione o grau de ionização com o nível de absorção dos fármacos por meio da via oral. 4) Por que fármacos administrados pela via oral apresentam uma baixa biodisponibilidade? 5) Quais fatores influenciam a absorção do fármaco pela via oral? 6) Por que substâncias insolúveis e oleosas não podem ser administradas através da via intravenosa? 7) Qual das seguintes características dos fármacos facilita seu transporte através das membranas biológicas? a) fármaco de grande tamanho molecular b) fármaco ionizado c) pequeno gradiente de difusão para o fármaco d) fármaco hidrofílico e) fármaco não-polar 40 8) Sabe-se que a alcalinização da urina é um processo útil no caso de intoxicação por fenobarbital (caráter ácido). Isso explica-se pelo fato que: a) a alcalinização promove aumento de enzimas microssomais hepáticas favorecendo a degradação do fármaco e sua eliminação mais rápida b) a alcalinização torna o fenobarbital mais hidrossolúvel e consequentemente facilita sua excreção c) a alcalinização impede a ionização do fenobarbital, uma vez que esse fármaco possui caráter ácido. Uma vez não ionizado ele é excretado mais rapidamente. d) a alcalinização aumenta o caráter lipofílico do fenobarbitalfazendo com que seja metabolizado mais rapidamente pelas enzimas microssomais hepáticas e) de nada adianta alcalinizar a urina em casos de intoxicação por fenobarbital. Seria mais efetivo acidificá-la. 9) As moléculas dos fármacos são pequenas e geralmente são ácidos fracos e bases fracas, sendo que a extensão da ionização dessas moléculas é determinada pelo próprio pKa da substância e pelo pH do meio. Em relação a esse assunto é incorreto afirmar: a) as moléculas dos medicamentos tendem a ser ionizadas em fluidos de pH oposto ao delas, dificultando a absorção das mesmas b) tanto para fármacos ácidos fracos quanto para fármacos básicos fracos, a espécie ionizada apresenta uma solubilidade lipídica muito baixa, ou seja, é pouco lipossolúvel c) a acidificação da urina retarda a eliminação de bases fracas e acelera a de fármacos ácidos fracos. d) em um caso de superdosagem de aspirina (ácido fraco), deve-se buscar métodos de alcalinização da urina, para que ela seja eliminada mais facilmente e) em um caso de envenenamento por estricnina (base fraca), deve-se buscar métodos de acidificação da urina, para retardar a absorção do fármaco 10) Alguns fármacos eliminados na bile podem cair no intestino e serem novamente absorvidos. Esse fenômeno denomina-se: a) metabolismo de primeira passagem b) ciclo colédoco intestinal 41 c) ciclo hepato-biliar d) ciclo êntero-hepático e) metabolismo de segunda passagem 11) Os fármacos distribuem-se no corpo com base em um modelo de quatro compartimentos e no volume de distribuição de cada fármaco. Qual das seguintes afirmações é correta no que concerne à relação entre a administração de um fármaco e a sua distribuição? a) os fármacos que exibem alta ligação às proteínas plasmáticas tendem a distribuir-se rapidamente no compartimento muscular rico em proteína após sua administração intravenosa b) os fármacos que apresentam um grande volume de distribuição tendem a se distribuir em todos os compartimentos após sua administração c) os fármacos tendem a distribuir-se rapidamente no compartimento de tecido adiposo, em virtude de sua maior capacidade de captação e ligação dos fármacos d) os fármacos que penetram no compartimento altamente vascular após sua administração tendem a permanecer neste compartimento e redistribuem-se lentamente para outros compartimentos. e) os fármacos que apresentam um pequeno volume de distribuição tendem a atravessar rapidamente a BHE. 12) Assinale a alternativa errada em relação a administração de fármacos: a) a absorção é um processo fisiológico através do qual uma substância administrada do exterior chega até a corrente circulatória, passando através das barreiras fisiológicas, b)os aspectos a considerar na escolha da via de administração incluem aspecto dependente do paciente (espécie, idade, raça, sexo, estado físico), o fármaco utilizado, a velocidade de absorção da via, a contenção do paciente, o objetivo terapêutico, a absorção por via transplacentária em pacientes gestantes e a forma de eliminação do fármaco. c) todo fármaco terá que chegar à circulação sistêmica para poder exercer efeito sistêmico. d) todos os fármacos administrados por via oral sofrem efeito de primeira passagem 42 13) Se entende por farmacodinâmica: a) o estudo do movimento do medicamento no organismo vivo b) o estudo dos efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e seus mecanismos de ação c) o estudo da absorção do medicamento d) o estudo da excreção do medicamento 14) São alvos de ligação de um medicamento no organismo animal: a) somente enzimas b) glicose e aminoácidos c) enzimas, moléculas transportadoras, canais iônicos, receptores de neurotransmissores e ácidos nucleicos d) somente receptores de neurotransmissores 15) O antagonismo não farmacológico pode ser dividido em: a) farmacocinético, fisiológico e químico b) reversível, irreversível e alostérico c) irreversível, reversível e fisiológico d) químico, alostérico e fisiológico 16) Quando uma droga afeta a absorção, metabolismo ou excreção da outra, ela é um: a) agonista químico b) agonista farmacocinético c) antagonista químico d) antagonista farmacocinético e) todas estão corretas 17) São aspectos estudados na farmacodinâmica, EXCETO: a) efeitos bioquímicos e fisiológicos das drogas e seus mecanismos de ação b) dinâmica das drogas no organismo 43 c) absorção, distribuição e eliminação das drogas d) os receptores farmacológicos e) mecanismos de ação das drogas 18) Na relação dose x resposta, existem fármacos agonistas e antagonistas, defina cada um e exemplifique. 19) Marque verdadeiro ou falso nas seguintes afirmações: ( ) a via subcutânea possibilita a administração de grandes volumes de medicamentos ( ) a via intramuscular possui rápida absorção ( ) a via sublingual permite uma rápida absorção de fármacos ( ) a via endovenosa, comparada com as outras vias de administração parenteral, obtêm as maiores taxas de absorção de fármacos ( ) na via subcutânea, ocorre a administração de medicamentos no tecido adiposo, uma região que suporta a administração de diversas preparações farmacêuticas, como soluções, suspensões e implantes sólidos ( ) a via intravenosa, possui rápido efeito por sua capacidade de rápida absorção e possibilita administração de grandes volumes 20) São exemplos de antagonista fisiológicos: a) acetilcolina e glucagon b) insulina e glucagon c) adrenalina e noroadrenalina d) acetilcolina e epinefrina e) todas estão corretas 44 Notas: 45 Anotações Data: Anotações Notas: Data: 46 Gabarito 1) a 2) Podemos classifica-las como enteral, parenteral ou tópica a depender do efeito que queremos que o fármaco exerça no organismo. Podendo ter um efeito sistêmico ou local. 3) A maioria dos fármacos são ácidos ou bases fracas orgânicas, ou seja, em meio aquoso os mesmos tendem a se ionizar tornado-se assim, hidrossolúveis. Sabe-se que, por ser uma via enteral, para o fármaco alcançar a circulação sistêmica e chegar em seu local de ação o mesmo precisará ser absorvido pelo TGI através dos enterócitos. As moléculas não ionizadas são mais lipossolúveis e podem difundir-se facilmente pela membrana celular. Já as moléculas ionizadas em geral são menos capazes de penetrar na membrana lipídica porque são pouco lipossolúveis e sua transferência depende da permeabilidade da membrana, que é determinada por sua resistência elétrica. 4) Os fármacos presentes no TGI podem ser metabolizados por enzimas da flora ou mucosa intestinal ou do fígado, antes que possam alcançar a circulação sistêmica. Esse fenômeno é chamado de metabolismo pré-sistêmico/1º passagem. 5) Área disponível à absorção, fluxo sanguíneo na superfície absortiva, estado físico (solução, suspensão ou preparação sólida), hidrossolubilidade do fármaco e concentração no local de absorção 6) Porque podem causar precipitação no sangue ou/e hemólise de eritrócitos. 7) e 8) b 47 Fármaco ácido em ambiente básico permanece na sua forma ionizada (polar) que é menos lipossolúvel. Fármaco ácido em ambiente ácido permanece na sua forma não ionizada (apolar) que é mais lipossolúvel Na excreção: fármacos lipossolúveis - apolares/não ionizados - possuem excreção retardada, pois voltam para a circulação até perder a lipossolubilidade Na absorção: fármacos lipossolúveis - apolares/não ionizados - possuem absorção acelerada, pois penetram nas barreiras mais facilmente Lembre-se: O fenobarbital é de caráter ácido e é um indutor enzimático que aumenta a atividade das enzimas microssomais hepáticas, aumentando a biotransformação e diminuindo a meia vida dos fármacos que são metabolizados por elas. 9) c a acidificação da urina acelera a eliminação de bases fracas (base em meio ácido permanece em sua forma ionizada ou polar que é menos lipossolúvel) e retarda a de ácidos fracos (ácido em meio ácido permanece em sua forma não ionizada - apolar, que é mais lipossolúvel, assim voltando para a circulação sanguínea). 10) d 11) b Fármacos que possuem alta ligação às proteínas plasmáticas sedistribuem lentamente (lenta biotransformação), pois terão que se desligarem para se tornarem a parte farmacologicamente ativa (fármaco não ligado/livre). Os fármacos tendem a se distribuirem lentamente no tecido adiposo, devido ao baixo fluxo sanguíneo, principalmente em pacientes obesos. Fármacos que penetram no compartimento altamente vascular tendem a sair deste compartimento e se distribuirem rapidamente. Os fármacos que apresentam alta lipossolubilidade tendem a atravessa rapidamente a barreira hematoencefálica. 12) d 13) b 14) c 15)a 48 16) d 17) c 18) Fármacos que se ligam a receptores fisiológicos e simulam os efeitos dos reguladores endógenos são chamados de agonistas. Fármacos que bloqueiam ou reduzem a ação de um agonista são chamados de antagonistas. 19) F/D/V/F/V/V 20) b 49 Referências SPINOSA, H.S.; GÓRNIAK, S.L.; BERNARDI, M.M. Farmacologia aplicada à medicina veterinária. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. MADDISON, Stephen W. Page; CHURCH, David B. Farmacologia clínica de pequenos animais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. KATSURA, T.; INUI, K. 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