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ÉTICA E TÉCNICA NA FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO 
Publicado em CD, ISSN N° 1982-2944 - XI Colóquio Internacional de 
Psicossociologia e Sociologia clínica. FAFICH – UFMG, 2007. 
Autor: Jorge Franca de Oliveira. Professor da PUC Minas – Psicólogo Clínico – 
Mestre em Filosofia - FAFICH – UFMG – Doutorando em Letras – PUC Minas. 
e-mail: francaoliveira@uol.com.br 
 
Pensar em ética e técnica na formação do psicólogo é uma questão complexa, 
que demanda um trabalho de inteligência coletiva e muita pesquisa. A psicologia é 
diversa, ela se faz presente de muitas maneiras: clínica, social, educacional, 
organizacional, jurídica, hospitalar, esporte, trânsito, dentre outras. 
 O presente trabalho visa retomar a discussão, sobre ética e técnica na formação 
do psicólogo, a partir de algumas questões. O que é ética? Qual a relação entre ética e 
psicologia? Qual a importância da ética e da técnica na formação do psicólogo? 
 Para refletir sobre essas questões, iremos relacionar as definições de alma, ética 
e técnica tal como elaboradas por Aristóteles, com a razão e as características do ethos 
da modernidade tardia e a psicologia enquanto ciência humana. 
Ao retomar a máxima délfica “conheça-te a ti mesmo” Sócrates convida-nos a 
conhecer nossa interioridade, a refletir sobre a alma humana e a ação ética em relação a 
si mesmo e ao outro. Estava lançada a pedra fundamental da psicologia e da ética no 
mundo ocidental. Como escreve Lima Vaz, o termo ética, do grego ethos, significa 
abrigo, morada. Há nele duas dimensões: uma do singular relacionada com o modo 
como nossa razão lida com o pathos, com nossos desejos e que designa o nosso modo 
de ser, o nosso caráter; outra objetiva que diz respeito ao Outro, à interação 
intersubjetiva, o conviver com o outro, ao social, ao político, às tradições dos habitantes 
da comunidade, da polis. Na ética antiga, tal como proposta por Sócrates, Platão e 
Aristóteles, os modos de ser, de viver e de conviver tinham como finalidade a busca do 
bem e da justiça, do bem estar, da vida boa, para si mesmo, para o outro, para a 
comunidade, para a cidade. Minha concepção é que o bem e a justiça são crenças e 
desejos de felicidade, de realização de nossos projetos de vida subjetivo e objetivo, isto 
é, são da ordem do singular, do social e do político. 
Enquanto teoria ou ciência do comportamento moral humano, a ética nos 
possibilita refletir sobre os valores, os princípios, as normas relacionados com as 
crenças, desejos, sentimentos, ideologias de uma determinada sociedade e que são 
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colocados, para o agente moral, como devendo ser respeitados. No entanto, não se pode 
restringir à moral a regulação das ações humanas, pois essas são regidas também, como 
nos indica Vazquez, pela religião, pelo direito, pela política, pela ciência. Nessa 
perspectiva, a moral é uma lei universal, embora só se realize no singular, através do 
indivíduo concreto. A moral não é coercitiva, punitiva. Se assim fosse, não seria moral, 
e sim direito. Ninguém será preso por descumprir o preceito moral de amar aos pais, 
mas é passível de punição se agir com desonestidade. Não se deve, também, confundir 
moral cívica com moral religiosa. No mundo ocidental, a discussão sobre a moral 
começa uns cinco séculos, antes do início da religião cristã. Um ateu, embora não tenha 
uma religião, pode ser uma pessoa ética. 
O que Sócrates busca com sua ética é a felicidade como bem supremo da vida 
humana, é ter a alma boa. “A arte moral não é a arte de bem viver tendo em vista 
alcançar a felicidade, e sim a arte de ser feliz porque se vive bem.” (MARITAIN, 
1964:35). A ética socrática foi sendo aprimorada, primeiro por Platão, que a colocou 
como um bem transcendente; segundo por Aristóteles, que em sua Ética a Nicômaco 
escreve que a ética é imanente, isto é, está presente em nossas ações. Esse agir ético 
envolve deliberação e escolha, dos meios possíveis e legais para se conseguir uma 
finalidade. Para ser ético, não basta saber o que é o bem, é preciso que a ação seja 
virtuosa, isto é, boa e justa, tanto para si mesmo quanto para o outro. Nesse sentido, 
virtude não é o oposto de vício, que diz respeito ao excesso e à falta. A raiva é um 
sentimento, que quando manifestado sem reflexão, pode ser considerado um exemplo de 
vício. A virtude não seria reprimir a raiva, mas manifestá-la racionalmente, com a 
pessoa certa, no momento oportuno e na intensidade adequada. A injustiça é um vício 
da política, pois ser justo, não é ser bonzinho, mas distribuir bem as riquezas. Virtude é 
justa proporção, moderação. 
Sobre a alma humana, tomamos para nossa reflexão a definição dada por 
Aristóteles, de que ela é composta de duas funções irracionais, a vegetativa como 
principio vital responsável por nossas atividades biológicas: nutrição, crescimento, 
reprodução; a sensitiva pelo conhecimento sensível-sensorial; e uma racional pela 
atividade intelectual que: enquanto razão teorética visa a busca do conhecimento, a 
sapiência; enquanto prática, a sabedoria, a ação ética do agente e enquanto razão 
poiética, a técnica, o saber fazer. Em Aristóteles, as virtudes da razão estavam voltadas 
para o vínculo entre a razão teorética e a razão prática capazes de tornar o homem sábio. 
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Dentre vários modelos de pensamento ético da modernidade, retomaremos a 
afirmação kantiana de que na natureza há leis. Uma pedra quando lançada ao ar não 
escolhe se deve cair ou não. Na ética há deveres, cabendo ao sujeito decidir o que fazer. 
No entanto, Kant adverte que não basta perguntar se podemos agir desta ou daquela 
maneira, mas se devemos. 
A ética filosófica moderna aponta como características de nosso ethos atual: o 
niilismo, o individualismo, o narcisismo, o hedonismo, o utilitarismo, o pragmatismo, 
regidos pela racionalização tecno-científica, pelo mercado de capitais, pela 
globalização. 
O niilismo, escreve Volpi, “é hoje expressão do mal-estar de nossa cultura.” 
Sendo responsável, “no plano histórico e social,” pelo “desencanto e a fragmentação de 
nossa imagem do mundo,” e no filosófico, em relação à nossa “visão do mundo e dos 
valores últimos,” pela “corrosão das crenças e a difusão do relativismo e do 
cepticismo.” (1999:137). Nesse sentido, jacqueline Russ, aponta que o niilismo significa 
a perda das referencias e normas de obrigação, que está vinculado à idéia da morte de 
Deus e das ideologias, remetendo-nos a um vazio. 
O individualismo é dar ênfase ao individuo em detrimento do social. E “o que 
encontramos neste individualismo contemporâneo? As delicias do narcisismo bem mais 
que o acesso a uma autonomia, à explosão hedonista, mais que a conquista da 
liberdade.” (RUSS, p.15). 
O hedonismo dessa nossa modernidade tardia está atrelado à ordem do excesso 
de prazer, se distanciando daquele proposto por Epicuro, o do prazer sereno, fruto do 
logos filosófico. 
Na modernidade tardia, a razão dianoética e o homem sábio de Aristóteles, 
foram substituídos pela razão instrumental, isto é, pelo vínculo entre razão teorética e 
razão técnica, poiética, tão presente nas tecno-ciências fazendo com que o homem sábio 
cedesse o lugar ao homo faber. A ciência moderna rompeu com a razão prática por 
considerá-la um impedimento ao seu avanço, tal como ocorreu na idade média, quando 
essa estava vinculada à moral religiosa. Um modelo exemplar é a confirmação feita por 
Galileu de que terra gira, o que teve que ser desmentido pelo mesmo. O que não 
justifica o abandono da ética e da moral que não podem ser reduzidas a uma moral 
religiosa. O que seria corrigir um equívoco com outro. O que vigorou na ciência, desde 
então, é que ela é deve se preocupar com suas teorias e técnicas, em outras palavras, 
“ética é coisa de filósofos.” Ora, a ciênciatomou para si este modelo, por não 
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compreender a diferença entre agente moral e sujeito ético. O que não significa que 
nosso modo de pensar seja contrário à ciência moderna e adepto da tecnofobia, pois 
sabemos em nossa modernidade tardia, que a tecno-ciência, a tecnologia é capaz de 
proporcionar benefícios e também malefícios à humanidade. O risco que corremos é a 
de uma inversão de valores, fazer do ser humano não a finalidade, mas o meio, não 
sendo mais a máquina que serve ao homem, mas o oposto. 
 A discussão sobre o tema ética perpassa na atualidade todos os campos de 
conhecimento humano. Daí surgindo as diversas formas de racionalidades éticas. 
Concordamos com Lima Vaz que não há como discutir sobre os diversos modelos de 
pensamento ético sem refletir sobre os fundamentos da ética filosófica. 
 No campo cientifico, principalmente no que diz respeito à bioética é crescente a 
problemática ética: tanto no que diz respeito ao controle da reprodução: o que fazer com 
os embriões congelados; se a clonagem humana deve ou não ser realizada; o fato de 
alguns recém-nascidos terem “duas mães biológicas, uma ovular e outra uterina .” 
(RUSS, 1995:72). Quanto ao controle da hereditariedade e problemas do genoma: a 
possibilidade de modificação do material genético, a denominada terapia genética. Esses 
exemplos, juntamente com outros como: a violência familiar, a violência sexual contra 
crianças e adolescentes, o racismo, o sexismo, dentre outros, nos levam a interrogar a 
ética filosófica e a psicologia sobre a formação do psicólogo. 
 A psicologia no Brasil passa por um momento muito complexo, de expansão: ela 
não se restringe mais a uma clínica da interioridade ou voltada para a educação e as 
organizações, ela agora se volta também para uma clínica do social. Trata-se de outro 
modo de ver, de construção, de invenção de práticas psi para lidar com tais questões. 
Para isto não basta reproduzirmos conhecimento, é preciso investirmos em pesquisa. 
Isto não significa abandonar o conhecimento que já conquistamos, mas ir além. 
 A psicologia embora plural, nos permite apontar para algo em comum no ofício 
do psicólogo: o cuidado com o ser humano. Sobre o cuidado há uma fábula que foi 
conservada por Higino, que resumimos assim: com o barro retirado da Terra, Cuidado 
esculpiu o ser humano e pediu a Júpiter para insuflar neste, o espírito. No momento de 
escolher o nome, para a criatura, surgiu uma discussão sobre quem teria esse direito. 
Como não houve consenso entre eles, chamaram Saturno, o senhor do tempo, para 
resolver a questão e que foi decidida da seguinte forma, considerada justa: quando 
morrer a criatura, Júpiter receberá o espírito de volta e a Terra o corpo. Cuidado terá 
como tarefa acompanhar a criatura por todo tempo que ela viver. (BOFF, 2003). Assim, 
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fazendo uma analogia com esta fábula, podemos dizer que o cuidado aponta, no agir do 
psicólogo, em seu encontro dialogal com o outro, para a dimensão, conforme aponta 
Drawin, ética e, política intrínsecas às teorias e técnicas psicológicas, sem as quais, 
pensamos, corremos o risco de fazer uma ciência que desconsidere o ser humano em sua 
dignidade de sujeito e cidadão. 
 No entanto, observamos numa primeira aproximação que, no imaginário sócio-
discursivo dos cursos de psicologia, no ensino de suas disciplinas a ênfase recai sobre o 
conteúdo teórico e técnico, desconsiderando a dimensão ética e política, que lhe são 
pertinentes ou então reduzindo a ação ética do psicólogo ao seu código de ética. Nesse 
sentido, a ciência psicologia tem como meta a busca do conhecimento teórico e técnico, 
nos termos de Aristóteles, razão teorética e razão técnica. Ao agir assim, as escolas de 
psicologia excluem, da formação do psicólogo, a razão prática, o saber ético e político, 
que nos possibilita uma reflexão sobre o nosso modo de ser, viver e conviver como 
sujeitos, profissionais e cidadãos. Mas e o código de ética? Não seria ele suficiente para 
o psicólogo lidar com as questões inerentes ao seu agir profissional? Não basta cumprir 
o que ali está estabelecido? Ora, o código de ética não é ético, ele é da ordem do direito, 
da coerção. Trata-se de deontologia, de deveres profissionais a serem cumpridos. Suas 
normas são da ordem da heteronomia e não exige uma convicção pessoal. O código tem 
uma importante função que é regular as ações de profissionais de determinada categoria 
e defender a sociedade, mas ele não substitui a capacidade reflexiva do sujeito. 
Podemos fundamentar o código na razão ética, mas não reduzir a ética a um código. 
Isso significa que nem toda lei, regra ou moral é ética. Tornar-se um sujeito ético faz 
parte de uma estilística existencial, nos termos de Foucault, de uma prática de si, pois a 
ação moral não diz respeito somente ao real, mas também à constituição de si enquanto 
sujeito moral. Ora, uma coisa é o indivíduo, por temer uma punição, fazer com que suas 
ações correspondam a uma norma moral ou um código de ética, outra, é ele chamar para 
si a responsabilidade de suas ações tomando como valor a dignidade humana ou como 
aponta Hans Jonas, que essas ações tenham a responsabilidade, não só para consigo 
mesmo e com geração atual, mas com as gerações futuras. 
 Essas reflexões nos levam a colocar algumas questões. Pode o psicólogo exercer 
a ciência psicologia baseado exclusivamente em suas teorias e técnicas? Seria a razão 
instrumental suficiente para possibilitá-lo clinicar, num sentido amplo, de colocar-se ao 
lado do leito, para cuidar das paixões da alma, dos conflitos psíquicos e sociais da 
existência humana, para lidar com as transformações subjetivas e sociais de nosso 
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tempo? Seria possível exercer a ciência psicologia desconsiderando a razão ética? E 
quais seriam as conseqüências? E qual seria a ética capaz de fato e de direito de 
responder aos desafios de nossa modernidade tardia? 
 
 
Referência bibliográfica 
BOOF. Leonardo. Ética e moral. Rio de Janeiro; Vozes, 2003. 
DRAWIN, C. Ética e psicologia: por uma demarcação filosófica. In: Revista Psicologia 
 Ciência e Profissão. Brasília, 1987. 
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade. V.3. Rio de Janeiro: Graal, 1985. 
JONAS, Hans. Le principe responsabilité. Paris: Flamarion, 1990. 
MARITAIN, Jacques. A filosofia moral: exame histórico e crítico dos grandes sistemas. 
 Rio de Janeiro: Agir, 1964. 
REALE, Giovanni. História da filosofia. Vol. I. São Paulo; Paulus, 1990. 
RUSS, Jacqueline. Pensamento ético contemporâneo. São Paulo: Paulus, 1999. 
VAZ, Henrique C. Lima. Escritos de filosofia IV. São Paulo: Loyola, 1999. 
VÁZQUES, A. Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. 
VOLPI, Franco. O niilismo. São Paulo: Loyola, 1999.

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