teoria do domínio do fato

Prévia do material em texto

<p>UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA</p><p>CURSO DE DIREITO</p><p>JAMILI PEREIRA DE JESUS SILVA</p><p>MANOEL RIBEIRO DO CARMO</p><p>TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO</p><p>BOA VISTA – RR</p><p>2024</p><p>Teoria do Domínio do Fato</p><p>A Teoria do Domínio do Fato é um conceito jurídico utilizado para determinar a</p><p>responsabilidade penal de indivíduos que, embora não tenham participado diretamente</p><p>da execução de um crime, detinham controle ou domínio sobre a situação em que o delito</p><p>ocorreu. Essa teoria foi desenvolvida pelo jurista alemão Claus Roxin e tem sido</p><p>amplamente aplicada em sistemas jurídicos ao redor do mundo. O cerne da Teoria do</p><p>Domínio do Fato reside na ideia de que, em certas circunstâncias, uma pessoa pode ser</p><p>responsabilizada por um crime cometido por outra, mesmo que não tenha desempenhado</p><p>um papel direto na sua execução. Isso ocorre quando a pessoa possui controle sobre a</p><p>situação na qual o crime é cometido, seja porque ocupava uma posição de autoridade ou</p><p>porque tinha o poder de evitar a ocorrência do crime e não o fez.</p><p>Existem duas formas principais de aplicação da Teoria do Domínio do Fato:</p><p>Domínio do Fato Direto: Refere-se aos casos em que o autor material do crime age sob as</p><p>ordens ou instruções diretas da pessoa que detém o domínio sobre a situação. Nesses</p><p>casos, o autor material é considerado um instrumento da vontade do agente dominante,</p><p>que assume a responsabilidade pelo crime.</p><p>Domínio do Fato Indireto: Aplica-se quando o autor material age sem instruções diretas</p><p>da pessoa que detém o domínio sobre a situação, mas em conformidade com a sua</p><p>vontade ou interesse. Aqui, a pessoa que detém o domínio é responsabilizada por ter</p><p>criado as condições ou incentivado a prática do crime.</p><p>Um exemplo prático da aplicação da Teoria do Domínio do Fato é quando um chefe de</p><p>uma organização criminosa é responsabilizado pelos crimes cometidos por seus</p><p>subordinados, mesmo que ele não tenha participado diretamente das atividades</p><p>criminosas. Se for demonstrado que o chefe tinha controle sobre as atividades da</p><p>organização e que os crimes foram cometidos no interesse ou para benefício da</p><p>organização, ele pode ser considerado responsável pelos delitos. Essa teoria tem sido</p><p>aplicada em diversos contextos jurídicos, incluindo casos de crimes de guerra, crimes</p><p>contra a humanidade, corrupção e crimes empresariais. Seu objetivo principal é assegurar</p><p>que aqueles que detêm o verdadeiro poder e controle sobre uma situação não possam se</p><p>esquivar da responsabilidade penal simplesmente porque não executaram diretamente o</p><p>crime.</p><p>Um caso emblemático que exemplifica a aplicação da Teoria do Domínio do Fato no Brasil</p><p>é o julgamento do Mensalão, que ocorreu no Supremo Tribunal Federal (STF). Nesse</p><p>julgamento, vários réus foram acusados de participar de um esquema de corrupção</p><p>envolvendo pagamento de propina a parlamentares em troca de apoio político ao governo</p><p>federal durante o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.</p><p>Um dos réus mais destacados no caso foi o então ministro da Casa Civil, José Dirceu.</p><p>Embora não tenha sido comprovado que Dirceu tenha participado diretamente dos atos</p><p>de corrupção, a acusação sustentou que ele detinha o controle e a liderança sobre o</p><p>esquema, sendo responsável por coordenar as atividades ilícitas.</p><p>Ementa:</p><p>EMENTA: AÇÃO PENAL 470. CORRUPÇÃO ATIVA, FORMAÇÃO DE QUADRILHA E</p><p>LAVAGEM DE DINHEIRO. MENSALÃO. TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO.</p><p>CONDENAÇÃO DE JOSÉ DIRCEU MANTIDA. 1. A Teoria do Domínio do Fato é</p><p>aplicável quando há elementos probatórios que demonstram que o réu detinha o controle</p><p>ou a direção do fato criminoso, ainda que não tenha participado diretamente da sua</p><p>execução. 2. No caso dos autos, as provas produzidas durante o processo indicam que</p><p>José Dirceu, na condição de ministro da Casa Civil à época dos fatos, tinha o comando e</p><p>a liderança sobre o esquema de corrupção conhecido como Mensalão, sendo responsável</p><p>por coordenar as atividades ilícitas. 3. Assim, considerando a aplicação da Teoria do</p><p>Domínio do Fato e a existência de elementos probatórios suficientes da participação do</p><p>réu no crime, a condenação é mantida. 4. Recurso de apelação criminal desprovido.</p><p>Detalhes do Processo:</p><p>- Número do Julgado: Ação Penal 470 (Mensalão)</p><p>- Tribunal: Supremo Tribunal Federal (STF)</p><p>- Réu: José Dirceu</p><p>- Crimes: Corrupção Ativa, Formação de Quadrilha e Lavagem de Dinheiro</p><p>- Data do Julgamento: Julgamento ocorreu entre 2007 e 2012</p><p>- Resultado: Condenação de José Dirceu com base na Teoria do Domínio do Fato, por</p><p>exercer controle e liderança sobre o esquema de corrupção conhecido como Mensalão,</p><p>apesar de não participar diretamente da sua execução.</p><p>Esse caso ilustra como a Teoria do Domínio do Fato foi aplicada para responsabilizar um</p><p>indivíduo que detinha controle sobre um esquema criminoso, mesmo sem participar</p><p>diretamente das atividades ilícitas.</p>