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<p>DATA: 01/04/2024</p><p>DIREITO</p><p>EXECUÇÕES PENAIS</p><p>Prof.ª Jéssica Correia</p><p>UNIDADE 2</p><p>Execuções Penais</p><p>Objetivos desta aula:</p><p>Conhecer os direitos que o indivíduo preso tem enquanto estiver custodiado pelo Estado;</p><p>Demonstrar que, mesmo preso, o indivíduo continua sendo um cidadão e deve ter seus direitos constitucionais garantidos;</p><p>Apresentar os deveres do preso e as consequências pela sua indisciplina.</p><p>Vamos aos estudos!!!</p><p>ASSISTÊNCIA AO PRESO</p><p>A assistência é um direito do preso e do internado, e garanti-la é dever do Estado, como estabelece o artigo 10 da Lei de Execução Penal – LEP (n. 7.210/1984):</p><p>Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade.</p><p>Desta forma, o principal objetivo do direito de assistência é prevenir o cometimento de crimes, com o retorno harmônico do sentenciado ao convívio social.</p><p>O art. 11 da LEP traz um rol meramente exemplificativo, podendo sempre que possível, o Estado oferecer todo o dia de assistência ao sentenciado, de acordo com as suas necessidades.</p><p>ASSISTÊNCIA AO PRESO</p><p>Art. 11. A assistência será:</p><p>I - material;</p><p>II - à saúde;</p><p>III -jurídica;</p><p>IV - educacional;</p><p>V - social;</p><p>VI - religiosa.</p><p>A assistência aos condenados e aos internados é exigência básica para se conceber a pena e a medida de segurança como processo de diálogo entre os seus destinatários e a comunidade.</p><p>O dever estatal de fornecer assistência ao sentenciado decorre, principalmente, da dignidade da pessoa humana e da humanidade das penas.</p><p>ASSISTÊNCIA AO PRESO</p><p>O preso que se encontra sob a custódia do Estado passa a ser responsabilidade deste, de modo que, em uma sociedade tão desigual e com acentuadas condições de pobreza da população carcerária, não há como se esperar que o preso possa, por suas próprias forças, manter-se dignamente. Deixar o preso abandonado significa a institucionalização de penas desumanas e cruéis.</p><p>A falta de condições mínimas de aprisionamento já foi objeto de questionamento perante o STF, tendo-se decidido pela condenação do Estado ao pagamento de indenização à título de danos morais (STF - RExt nº 580.252).</p><p>Além disso, o STF reconheceu que os presos reclusos no Complexo do Curado em Pernambuco vivem em condições desumanas no cárcere, decidindo que as suas penas devem ser contadas em dobro, desde que não tenham sido acusados ou condenados por crimes contra a vida, integridade física ou dignidade sexual. (STF – HC nº 208.337 - https://www.conjur.com.br/dl/complexo-curado-decisao.pdf)</p><p>ASSISTÊNCIA AO PRESO</p><p>É importante estabelecermos que quando a lei se refere a presos, ela é aplicável tanto aos que cumprem execução provisória de pena quanto aos definitivos.</p><p>Os que cumprem execução provisória são aqueles condenados a pena privativa de liberdade que estavam presos provisoriamente no momento da sentença e cuja execução foi iniciada antes do trânsito em julgado pela defesa.</p><p>Os definitivos são condenados a pena privativa de liberdade com sentença transitada em julgado.</p><p>Além disso, internado é aquele que teve absolvição imprópria e, por isso, encontra-se submetido a medida de segurança, ou seja, internado em hospital de tratamento e custódia. Aplica-se a ele a assistência, inclusive quando estiver recolhido em estabelecimento prisional enquanto aguarda vaga para ser transferido ao hospital de tratamento e custódia.</p><p>ASSISTÊNCIA MATERIAL</p><p>A assistência material garante ao preso condições mínimas de aprisionamento, consistentes no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas.</p><p>Os estabelecimentos devem dispor de instalações e serviços que atendam aos presos nas suas necessidades pessoais, além de locais destinados à venda de produtos e objetos permitidos e não fornecidos pela Administração (LEP, art. 13).</p><p>Art. 12. A assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas.</p><p>Art. 13. O estabelecimento disporá de instalações e serviços que atendam aos presos nas suas necessidades pessoais, além de locais destinados à venda de produtos e objetos permitidos e não fornecidos pela Administração.</p><p>ASSISTÊNCIA À SAÚDE</p><p>A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (CR, art. 196).</p><p>Portanto, a assistência à saúde do preso e do internado tem caráter preventivo e curativo, compreendendo atendimento médico, farmacêutico e odontológico.</p><p>Infelizmente é de notório conhecimento que a assistência à saúde deixa muito a desejar. As unidades prisionais estão impregnadas de doenças, os médicos não possuem um plano sério de carreira, as enfermarias não dispõem dos medicamentos básicos e não há qualquer tipo de política pública para reverter esse quadro.</p><p>ASSISTÊNCIA À SAÚDE</p><p>Enquanto os estabelecimentos prisionais não estiverem devidamente aparelhados para oferecer assistência médica e odontológica aos sentenciados, deverá ser acionada a rede pública de saúde, mediante autorização do diretor do estabelecimento e, em caso de omissão ou injusta denegação deste, mediante autorização do juiz competente.</p><p>Quando se fala em assistência à saúde, deve-se compreender saúde em sentido amplo, incluindo a saúde psicológica do preso. O STF já declarou o direito do preso de receber acompanhamento psicológico por profissional habilitado disponibilizado pelo Estado (STF – HC 106.477).</p><p>ASSISTÊNCIA À SAÚDE</p><p>Especial atenção deve ser reservada a mulher gestante ou lactante, mediante acompanhamento médico, principalmente no pré-natal e no pós-parto, extensivo ao recém-nascido. Não se pode olvidar que mesmo presa, a mulher gestante ou lactante continua gozando de todos os direitos e garantias previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente no que se refere ao direito à saúde.</p><p>Por isso, incumbe ao poder público garantir, à mulher gestante ou com filho na primeira infância que se encontrem sob custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino competente, visando ao desenvolvimento integral da criança (ECA, art. 8º, §10º).</p><p>ASSISTÊNCIA À SAÚDE</p><p>A Administração Penitenciária deve propiciar condições adequadas ao aleitamento materno aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade (ECA, art. 9º).</p><p>Em casos mais graves de insuficiência de estrutura mínima no estabelecimento prisional, é possível que seja pleiteada a concessão de prisão domiciliar humanitária para que o sentenciado possa dar continuidade ao tratamento ao lado de sua família. Nessas situações excepcionais, o cumprimento da pena em estabelecimento prisional perde qualquer finalidade, senão meramente retributiva, inviabilizando a prevenção de crimes e a harmônica reintegração do sentenciado à sociedade.</p><p>JURISPRUDÊNCIA</p><p>É admitida a concessão de prisão domiciliar humanitária ao condenado acometido de doença grave que necessite de tratamento médico que não possa ser oferecido no estabelecimento prisional ou em unidade hospitalar adequada. (STF – EP 1 PrisDom – AgR, Relator Min. Roberto Barroso).</p><p>ASSISTÊNCIA JURÍDICA</p><p>A assistência jurídica integral e gratuita aos sentenciados que não dispõem de recursos para constituir advogado vem do preceptivo contigo no art. 5º, inciso LXXIV da Constituição, segundo o qual “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.</p><p>Dentro dos estabelecimentos prisionais, a assistência jurídica se dá por meio de atendimento pessoal realizado pelos defensores públicos, palestras de educação em direitos, além da participação da defesa técnica em sindicância administrativas. Fora dos estabelecimentos prisionais, os sentenciados que cumprem pena em meio</p><p>aberto, os egressos e seus familiares podem procurar a Defensoria Pública para defesa e orientação processual.</p><p>ASSISTÊNCIA EDUCACIONAL</p><p>Atento à importância da educação, principalmente com vistas ao harmônico retorno do sentenciado à sociedade, a Lei de Execução Penal previu como direito do sentenciado a assistência educacional. Esse direito nada mais é do que desdobramento do art. 225, da Constituição, segundo o qual “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.</p><p>A assistência educacional compreende a instrução escolar (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e ensino superior) e a formação profissional do sentenciado.</p><p>ASSISTÊNCIA EDUCACIONAL</p><p>A Lei de Execução Penal determina que o “ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da Unidade Federativa” (LEP, art. 18). Quando a lei fala em ensino de 1º grau, refere-se à educação do ensino fundamental.</p><p>Já no que se refere ao ensino médio (regular ou supletivo), com formação geral ou educação profissional de nível médio, deverá ser implantado nos presídios, em obediência ao preceito constitucional de sua universalização (LEP, art. 18-A).</p><p>O ensino ministrado aos sentenciados integrar-se-á ao sistema estadual e municipal de ensino e será mantido, administrativamente e financeiramente, com o apoio da União, não só com os recursos destinados à educação, mas pelo sistema estadual de justiça ou administração penitenciária (LEP, art. 18-A, §1º).</p><p>Além do mais, aos sentenciados deverão ser oferecidos cursos supletivos de educação de jovens adultos (LEP, art. 18-A, §2º).</p><p>ASSISTÊNCIA EDUCACIONAL</p><p>No que se refere ao ensino profissional, será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico. Em se tratando de sentenciada mulher, terá ensino profissional adequado à sua condição.</p><p>As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados. É por meio da educação que os sentenciados terão maiores chances de obter um emprego e se reinserir na sociedade.</p><p>Como forma de incentivo, a Lei de Execução Penal prevê a remição pelo estudo, cuja contagem é feita em razão de 1 dia de pena a cada 12 horas de frequência escolar divididas no mínimo em 3 dias. Essa redução pode ser ainda maior se o sentenciado concluir o ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior ou ainda de requalificação profissional, durante o cumprimento da pena, neste caso a remição será acrescida de um terço.</p><p>ASSISTÊNCIA SOCIAL</p><p>A assistência social é uma das principais ferramentas para se alcançar a harmônica reintegração do sentenciado à sociedade. Deve ser prestada por profissionais com formação em serviço social e se destina a atender não somente ao preso e egresso, mas também aos familiares destes. Podemos dizer que a assistência social é a ponte que liga o sentenciado à sociedade.</p><p>Nesse sentido, dispõe a LEP que “a assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade (LEP, art. 22).</p><p>A LEP elenca algumas incumbências da assistência social. Trata-se de rol meramente exemplificativo, haja vista que não é possível prever todas as situações da vida, mas serve de importante norte a ser seguido pelo sistema penitenciário:</p><p>ASSISTÊNCIA SOCIAL</p><p>Conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;</p><p>Relatar, por escrito, ao diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido;</p><p>Acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias;</p><p>Promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;</p><p>Promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;</p><p>ASSISTÊNCIA SOCIAL</p><p>Providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do seguro por acidente no trabalho;</p><p>Orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima.</p><p>ASSISTÊNCIA RELIGIOSA</p><p>Nada obstante a laicidade do Estado Brasileiro, a Lei de Execução Penal prevê a assistência religiosa, com liberdade de culto, como direito a ser prestado aos sentenciados. Trata-se de regulamentação à liberdade religiosa prevista na Constituição da República, segundo a qual “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias” (CR, art. 5º, inc. VI); “é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva” (CR, art. 5º, inc. VII).</p><p>A liberdade de crença também está prevista no art. 12.1, da Convenção Americana de Direitos Humanos.</p><p>ASSISTÊNCIA RELIGIOSA</p><p>Com o objetivo de viabilizar o exercício desse direito, os estabelecimentos prisionais deverão reservar local apropriado aos cultos religiosos.</p><p>Sendo a liberdade de crença religiosa um direito, nenhum sentenciado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa.</p><p>ASSISTÊNCIA AO EGRESSO</p><p>Para os fins da LEP, considera egresso o liberado definitivo, pelo prazo de 1 ano a contar da saída do estabelecimento e o liberado condicional, durante o período de prova.</p><p>A assistência ao egresso consiste na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade e na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de 2 meses, prorrogável por uma única vez, comprovado por declaração do assistente social, o empenho na obtenção de emprego.</p><p>Na missão de proporcionar a reintegração do sentenciado à sociedade, cabe ao serviço de assistência social colaborar com o egresso na obtenção de trabalho.</p><p>ASSISTA</p><p>Sobre o direito dos presos e seu dia a dia nos estabelecimentos penais, indicamos que você assista ao documentário Sem pena, que retrata como as penas são executadas e qual é a real situação dos presídios no Brasil.</p><p>DIREITOS E DEVERES DO PRESO</p><p>DEVERES DOS PRESOS</p><p>Em respeito ai princípio da estrita legalidade penal (CR, art. 5º, inc. XXXIX), o sentenciado só está sujeito aos deveres previstos em lei, sob pena de sofrer excesso de execução.</p><p>A LEP elencou 10 deveres, que também se aplicam aos presos provisórios naquilo que for compatível (LEP, art. 39):</p><p>Comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;</p><p>Obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;</p><p>Urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;</p><p>Conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina;</p><p>Execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;</p><p>Submissão à sanção disciplinar imposta;</p><p>Indenização à vítima ou aos seus sucessores;</p><p>DIREITOS E DEVERES DO PRESO</p><p>Indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;</p><p>Higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;</p><p>Conservação dos objetos de uso pessoal.</p><p>Preso provisório</p><p>O artigo 39, parágrafo único da LEP (BRASIL, 1984) determina que as obrigações sejam aplicadas ao preso provisório, no que couber. Por isso, o preso provisório deve respeitar as obrigações, exceto as que advêm exclusivamente da condenação, como o cumprimento fiel da sentença (inciso I, segunda parte), à execução do trabalho (inciso V) e às indenizações previstas à vítima, sucessores e ao Estado (incisos VII e VIII).</p><p>DIREITOS E DEVERES DO PRESO</p><p>DIREITOS DOS PRESOS</p><p>O artigo 40 da LEP (BRASIL, 1984) determina que se impõe “a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e dos presos provisórios”, direito que se destaca por ser um dos mais importantes, e os demais derivam-se dele. O respeito à integridade</p><p>física e moral dos condenados é também uma garantia constitucional prevista no artigo 5º, inciso XLIX da Constituição Federal de 1988.</p><p>O rol do artigo 41 da LEP (BRASIL, 1984) é apenas exemplificativo; afinal, além desses, segundo o artigo 3º, todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei são mantidos. Por isso, é certo afirmar que o preso tem direito a tudo aquilo que não lhe for restrito por conta da sua condição de segregado:</p><p>I. Alimentação suficiente e vestuário: Sobre esse direito já mencionamos anteriormente, porém cumpre reforçar que a alimentação deve ser adequada e suprir as necessidades fisiológicas do apenado, e o vestuário deve ser adequado ao clima e dentro dos padrões de normalidade;</p><p>DIREITOS E DEVERES DO PRESO</p><p>DIREITOS DOS PRESOS</p><p>II. Atribuição de trabalho e sua remuneração: Como vimos, o trabalho é um dos meios de ressocialização do preso, sendo não apenas sua obrigação, mas também um direito. Além disso, por meio do trabalho, é possível a redução da pena do condenado, por meio do instituto da remição, conforme artigos 126 a 130 da LEP (BRASIL, 1984). É da remuneração do trabalho que se constitui o pecúlio que, depositado em caderneta de poupança, será entregue ao preso quando posto em liberdade, conforme artigo 29, § 2º da LEP (BRASIL, 1984);</p><p>III. Previdência Social: O preso possui direito à Previdência Social. Caso ele esteja de acordo com as regras de recolhimento de contribuições e idade, ele terá direito, inclusive, à aposentadoria. Nesse direito, inclui-se o auxílio-reclusão, que é um benefício concedido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) aos dependentes de pessoas presas – cônjuge ou companheiro(a), filho(a) ou equiparado (tutelado ou enteado), pais e irmãos –, desde que o preso tenha contribuído para a previdência, estivesse em condição de segurado quando foi preso e preencha os requisitos para tal;</p><p>DIREITOS E DEVERES DO PRESO</p><p>DIREITOS DOS PRESOS</p><p>IV. Constituição de pecúlio: Como mencionado anteriormente, é uma verba depositada em caderneta de poupança a partir da remuneração do trabalho do preso, conforme art. 29, § 2º da LEP (BRASIL, 1984), a qual lhe será entregue futuramente, quando em liberdade. É possível receber valores também por meio de vale postal, enviado por pessoa devidamente cadastrada no rol de visitas do preso;</p><p>V. Proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação: Segundo dispõe o artigo 33 da LEP (BRASIL, 1984), o trabalho será realizado em jornada não inferior a seis nem superior a oito horas, com descanso aos domingos e feriados. Por isso, nos horários livres e para se evitar o ócio, é um direito do preso que tenha atividades recreativas que contribuam para a manutenção da disciplina interna e para o processo de ressocialização;</p><p>DIREITOS E DEVERES DO PRESO</p><p>DIREITOS DOS PRESOS</p><p>VI. Exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena: Cabe ao Estado proporcionar ao indivíduo que ingressa no estabelecimento prisional continuar as atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas que exercia quando estava solto;</p><p>VII. Assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa: Comentamos no tópico anterior, de modo exaustivo, como se dá cada uma delas;</p><p>VIII. Proteção contra qualquer forma de sensacionalismo: A proteção à imagem do preso lhe é assegurada tanto pela Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XLIX, que lhe assegura o direito à intangibilidade de sua integridade física e moral (BRASIL, 1988), quanto na legislação infraconstitucional, dispondo o artigo 40 da LEP (BRASIL, 1984) e o artigo 38 do CP (BRASIL, 1940) sobre a necessidade de ser respeitada a integridade física e moral dos condenados e presos provisórios;</p><p>DIREITOS E DEVERES DO PRESO</p><p>DIREITOS DOS PRESOS</p><p>IX. Entrevista pessoal e reservada com o advogado: Trata-se de um direito que decorre do direito à ampla defesa, assegurado no artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal e reforçado pelo artigo 7º, inciso III da Lei n. 8.906/1994 – Estatuto da Advocacia, que assegura esse direito ao advogado. Esse contato deve ser pessoal e reservado, de modo que essas conversas sejam sigilosas e não sofram interceptações ou interferência de terceiros por qualquer modo, a menos que seja para proteção do advogado;</p><p>X. Visita de cônjuge, companheiro(a), parentes e amigos em dias determinados: A manutenção dos laços familiares, sociais e afetivos é uma importante aliada à reabilitação do apenado, de modo que o preso tem direito a visitação. Cabe à administração penitenciária regulamentá-la, estabelecendo critérios e requisitos, bem como dias e horários de sua realização. Está incluído aqui o direito à visita íntima do preso.</p><p>XI. Chamamento nominal: O preso deve ser tratado pelo próprio nome, sendo proibida a sua designação por meio de números, alcunhas ou qualquer outra forma de denominação;</p><p>DIREITOS E DEVERES DO PRESO</p><p>DIREITOS DOS PRESOS</p><p>XII. Igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena: Trata-se de um direito que decorre do princípio da isonomia. É vedado o tratamento discriminatório por motivo de raça, convicção política, orientação sexual, condição econômica, crença religiosa ou qualquer outro. Contudo, o direito é relativizado quando não há igualdade de situações, de modo a atender às exigências da individualização da pena, conforme artigo 5º da LEP (BRASIL, 1984);</p><p>XIII. Audiência especial com o diretor do estabelecimento: O recluso tem o direito de ter contato direto com o diretor do estabelecimento prisional, para que possa lhe apresentar reclamações, comunicações, postulações, sugestões etc., servindo este como um importante instrumento para se evitar motins e rebeliões.</p><p>DIREITOS E DEVERES DO PRESO</p><p>DIREITOS DOS PRESOS</p><p>XIV. Representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito: Esse direito encontra ressonância no artigo 5º, inciso XXXIV da Constituição Federal, que define que “a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa dos direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder” (BRASIL, 1988). Desse modo, o preso pode representar ou peticionar diretamente ao Poder Judiciário ou a outros órgãos públicos, visando apresentar reclamações ou realizar postulações em defesa de seu direito;</p><p>XV. Contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes;</p><p>XVI. Atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente: Essa previsão legal é muito importante, pois o cálculo da pena pode sofrer diversas alterações, seja pela unificação de penas, pelo reconhecimento de crime continuado ou concurso formal ou, ainda, pela remição de pena.</p><p>DISCIPLINA PRISIONAL</p><p>Segundo o artigo 44 da LEP (BRASIL, 1984), a disciplina consiste na obediência às normas disciplinares do estabelecimento, bem com o cumprimento dos deveres estipulados no artigo 39. A disciplina deve ser observada nos condenados à pena privativa de liberdade e à pena restritiva de direitos e nos presos provisórios (artigo 44, parágrafo único).</p><p>Do respeito à legalidade</p><p>Importante destacarmos aqui que o princípio da legalidade deve ser respeitado inclusive no momento da execução da pena. Especificamente no detalhamento de quais serão as faltas disciplinares e quais serão as consequências, o juiz e o diretor do estabelecimento prisional devem ater-se à lei, sendo-lhes vedada pelo princípio da legalidade a criação de faltas e punições para além do que a lei dispõe.</p><p>DISCIPLINA PRISIONAL</p><p>Do respeito à legalidade</p><p>Além disso, por inteligência do artigo 49 da LEP (BRASIL, 1984), em relação às faltas médias e leves, compete aos estados estipulá-las por meio de leis estaduais; as graves, por sua vez, são competência da União, podendo ser estipuladas por lei federal de hierarquia</p><p>igual ou superior à LEP.</p><p>Também é vedada a estipulação de faltas por meio de resolução ou portaria da administração penitenciária estadual ou federal, pois não compete a ela legislar sobre esse assunto, conforme entendimento da maior parte da doutrina.</p><p>Proibição de cela escura e de imposição de sanções coletivas (art. 45, §§ 2º e 3º da LEP)</p><p>O § 2º do artigo 45 da LEP veda que o apenado seja colocado em cela escura, conhecida popularmente como a solitária, que era um lugar completamente insalubre, sem luz ou ventilação. Contudo, é permitida, conforme artigo 52, inciso II da LEP (BRASIL, 1984), a colocação do preso em cela individual, desde que resguardada a dignidade da pessoa, e a cela siga todas as recomendações que já vimos.</p><p>DISCIPLINA PRISIONAL</p><p>Proibição de cela escura e de imposição de sanções coletivas (art. 45, §§ 2º e 3º da LEP)</p><p>Quanto à imposição de sanções coletivas – § 3º, artigo 45 da LEP (BRASIL, 1984) –, esta é vedada, ou seja, não se pode sancionar todos os indivíduos de uma cela, por exemplo, em que ocorra alguma infração disciplinar, sem que se saiba a exata participação de cada um, por força do impedimento à responsabilização penal objetiva e ao princípio da individualização das penas.</p><p>Faltas disciplinares</p><p>As faltas disciplinares são classificadas em leves, médias e graves, conforme artigo 49, caput, da LEP (BRASIL, 1984). As faltas médias ou leves são definidas pela legislação estadual, desde que se trate, evidentemente, de penitenciária estadual; caso seja presídio federal, a definição dessas faltas compete à legislação federal. As faltas graves já estão definidas na LEP, nos artigos 50 a 52, sendo possível o estabelecimento de outras por legislação federal de igual ou superior hierarquia (BRASIL, 1984).</p><p>DISCIPLINA PRISIONAL</p><p>Faltas disciplinares</p><p>Segundo determina o parágrafo único do artigo 49 da LEP, a tentativa é punida com a sanção correspondente à falta consumada (BRASIL, 1984). Embora haja divergências na doutrina, a jurisprudência tem seguido no sentido da legalidade de tal dispositivo. As faltas graves que podem ser cometidas pelo condenado à pena privativa de liberdade estão previstas no rol do artigo 50 da LEP. este rol é taxativo, não podendo ser ampliado por outros atos normativos, como resoluções, portarias, decretos etc. (BRASIL, 1984). São elas:</p><p>Incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;</p><p>Fugir;</p><p>Possuir indevidamente um instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem;</p><p>Provocar acidente de trabalho;</p><p>Descumprir, no regime aberto, as condições impostas;</p><p>Inobservar os deveres previstos nos incisos II e V do art. 39 desta lei (LEP);</p><p>Tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo;</p><p>Recusar submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético.</p><p>SANÇÕES E RECOMPENSAS</p><p>As sanções disciplinares consistem em:</p><p>I. Advertência verbal: É uma repreensão ao condenado. Para ser aplicada, deve haver ato motivado do próprio diretor do estabelecimento (artigo 54, caput, da LEP) e constará em seu prontuário, o que afetará a concessão de benefícios (BRASIL, 1984);</p><p>II. Repreensão: É semelhante à anterior, porém deve ser feita por escrito, e não verbalmente;</p><p>III. Suspensão ou restrição de direitos: Podem ser suspensos ou restringidos, como penalidade disciplinar, os direitos à proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, descanso e recreação; à visita do cônjuge, companheira(o), parentes e amigos em dias determinados; e ao contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, leitura e outros meios de informação. Essa penalidade é aplicada às faltas disciplinares de natureza grave (artigo 57, parágrafo único da LEP). Será aplicada por ato motivado do diretor do estabelecimento e não poderá exceder 30 dias, exceto na hipótese de ser consequência de inserção do condenado no regime disciplinar diferenciado, conforme artigo 58 (BRASIL, 1984);</p><p>SANÇÕES E RECOMPENSAS</p><p>As sanções disciplinares consistem em:</p><p>IV. Isolamento na própria cela ou em local adequado: É aplicado às faltas graves (artigo 57, parágrafo único da LEP). Contudo, a cela deve contar com aparelho sanitário e lavatório, além de condições salubres e área mínima de 6 m². Sua aplicação deve ser sempre comunicada ao juiz da execução (artigo 58, parágrafo único). Será aplicada, também, por ato motivado do diretor do presídio pelo prazo máximo de 30 dias, exceto na hipótese de ser consequência de inserção do condenado no regime disciplinar diferenciado, ainda conforme artigo 58 (BRASIL, 1984);</p><p>SANÇÕES E RECOMPENSAS</p><p>Recompensas</p><p>O artigo 55 da LEP dispõe que “as recompensas têm em vista o bom comportamento reconhecido em favor do condenado, de sua colaboração com a disciplina e de sua dedicação ao trabalho” (BRASIL, 1984). Esse é um meio de estimular o apenado a conservar-se com bom comportamento, a agir com retidão no exercício da atividade laboral e a obedecer aos deveres que lhe são impostos pela Lei. São elas, conforme o artigo 56 da LEP (BRASIL, 1984):</p><p>I. Elogio: É praticado verbalmente, em reconhecimento da boa conduta do apenado. Nada impede que seja anotado no prontuário do preso, a fi m de balizar a análise de seu mérito;</p><p>II. Concessão de regalias: Não pode ser concedido de maneira discricionária. Segundo o artigo 56, parágrafo único, “a legislação local e os regulamentos estabelecerão a natureza e a forma de concessão de regalias” (BRASIL, 1984). São privilégios concedidos a alguns apenados em detrimento de outros, por conta de seu comportamento, disciplina e trabalho.</p><p>PROCEDIMENTO DISCIPLINAR</p><p>O artigo 54, caput, da LEP, estabelece que a aplicação das sanções disciplinares previstas no artigo 53, incisos I a IV, compete ao diretor do estabelecimento prisional, exigindo-se, para esse fim, ato motivado seu.</p><p>Já a sanção disposta no artigo 53, inciso V, condiciona-se à decisão fundamentada do juiz competente. A aplicação dessas sanções deve obedecer às instruções do artigo 59. Assim, deve ser precedida de procedimento administrativo disciplinar prévio, instaurado no âmbito da casa prisional, em que seja assegurado ao preso o direito de defesa, sendo atribuição da autoridade administrativa instaurar procedimento administrativo disciplinar para apuração da falta cometida durante a execução penal, conforme artigos 47 e 48 (BRASIL, 1984).</p><p>Sobre a necessidade de defesa técnica no curso do procedimento administrativo disciplinar, a doutrina majoritária, bem como o STJ (BRASIL, 2013), entende que, se for para apuração de falta grave, o apenado deve ser assistido por defensor técnico, não admitindo-se que tal função fique a cargo de quem não seja advogado. Assim, a presença de advogado é indispensável, sob pena de nulidade por afrontamento às garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório.</p><p>PROCEDIMENTO DISCIPLINAR</p><p>Depois de instaurado, o procedimento administrativo disciplinar no estabelecimento prisional pode ter os seguintes resultados:</p><p>1. Não reconhecer a prática de falta disciplinar ou não ter sua autoria apurada: Trata-se de um caso em que nenhuma sanção disciplinar será imposta;</p><p>2. Reconhecer a prática de falta disciplinar de natureza leve ou média: Com fundamento nos artigos 47 e 54, caput, da LEP, o diretor do estabelecimento, no uso do seu poder disciplinar, aplicará a sanção cabível, que poderá ser a advertência verbal ou a repreensão (artigo 53, incisos I e II, da LEP);</p><p>3. Reconhecer a prática de falta disciplinar de natureza grave: Nesse caso, o diretor do estabelecimento aplicará a sanção disciplinar de suspensão ou restrição de direitos ou isolamento em cela individual (artigo 53, incisos III e IV, da LEP), com base no poder conferido nos artigos 47 e 54, caput, da LEP. Além disso, competirá ao diretor representar perante o juízo das execuções penais com efeito de regressão de regime (artigo 118, inciso I, da LEP), revogação de saídas temporárias (artigo 125 da LEP) e perda</p><p>de dias remidos (artigo 127 da LEP).</p><p>AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA</p><p>As autorizações de saídas são mais um dos mecanismos que a Lei de Execução Penal – LEP utiliza para a ressocialização dos presos. Elas estão previstas nos artigos 120 a 125 da Lei e dispõem sobre a oportunidade de o sentenciado sair por certo período enquanto cumpre sua pena em regime fechado ou semiaberto (BRASIL, 1984).</p><p>1. Saídas extraordinárias</p><p>A permissão de saída tem natureza humanitária e pode ser concedida de forma administrativa, após análise do diretor do estabelecimento em que o indivíduo estiver preso. Tanto os presos em regimes fechado e semiaberto quanto os presos provisórios podem requerer a saída extraordinária, que será deferida somente mediante escolta.</p><p>É permitido ao executado requerer essa permissão de saída apenas nas hipóteses taxativas do artigo 120 da LEP, quais sejam: a) falecimento ou doença grave do cônjuge, companheiro(a), ascendente, descendente ou irmão; b) necessidade de tratamento médico, quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária, conforme artigo 14, § 2º da LEP.</p><p>AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA</p><p>2. Saídas Temporárias</p><p>Diferentemente da saída extraordinária, na saída temporária, somente ao juiz da execução compete concedê-la, depois de ouvido o membro do Ministério Público e a direção do estabelecimento penal.</p><p>Essa saída é permitida somente para presos em regime semiaberto, desde que de acordo com as seguintes situações, taxativamente listadas no artigo 123 da LEP: a) visita à família; b) frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do Ensino Médio ou Superior, na comarca do juízo da execução; e c) participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social.</p><p>São requisitos para a autorização judicial para a saída temporária: a) comportamento adequado; b) cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se reincidente; e c) compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.</p><p>AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA</p><p>2. Saídas Temporárias</p><p>A saída temporária tem tempo determinado, diferentemente da permissão de saída. Por isso, pode ser concedida por prazo não superior a sete dias. É possível a concessão de saída temporária até o limite de cinco vezes em um ano.</p><p>Segundo o artigo 125 da LEP (BRASIL, 1984), o benefício será revogado automaticamente se o executado praticar fato definido como crime doloso, for punido por falta grave, desatender às condições impostas na autorização ou revelar baixo grau de aproveitamento do curso que frequentar, quando a autorização objetivar esse tipo de atividade. A doutrina entende que essa revogação automática não viola a ampla defesa e o contraditório.</p><p>OBRIGADA E ATÉ A PRÓXIMA AULA!</p><p>image1.png</p><p>image2.png</p><p>image3.png</p><p>image4.png</p><p>image5.png</p><p>image6.png</p><p>image7.png</p><p>image8.jpg</p><p>image9.jpg</p><p>image10.jpeg</p><p>image11.jpg</p><p>image12.jpeg</p><p>image13.jpg</p><p>image14.jpeg</p><p>image15.jpeg</p><p>image16.jpg</p><p>image17.jpg</p><p>image18.jpg</p><p>image19.jpg</p><p>image20.png</p><p>image21.png</p><p>image22.jpg</p><p>image23.png</p><p>image24.png</p><p>image25.png</p>