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01 Ebook Fernanda e Adriana 2021 gaio brandão

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<p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>1</p><p>EDUCAÇÃO POPULAR NAS CARTAS DO EDUCADOR</p><p>CARLOS RODRIGUES BRANDÃO:</p><p>CONTRIBUIÇÕES PARA A PEDAGOGIA LATINO-AMERICANA</p><p>Fernanda dos Santos Paulo</p><p>Adriana Gaio</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>2</p><p>NOTA: Dado o caráter interdisciplinar desta coletânea, os textos publicados respei-</p><p>tam as normas e técnicas bibliográficas utilizadas por cada autor. A responsabilidade</p><p>pelo conteúdo dos textos desta obra é dos respectivos autores e autoras, não signifi-</p><p>cando a concordância dos organizadores e da editora com as ideias publicadas.</p><p>© TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial,</p><p>por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos,</p><p>fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou</p><p>a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em</p><p>qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às</p><p>características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos é punível</p><p>como crime (art.184 e parágrafos do Código Penal), com pena de prisão e multa,</p><p>busca e apreensão e indenizações diversas (art. 101 a 110 da Lei 9.610, de</p><p>19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>3</p><p>Fernanda dos Santos Paulo</p><p>Adriana Gaio</p><p>EDUCAÇÃO POPULAR NAS CARTAS DO EDUCADOR</p><p>CARLOS RODRIGUES BRANDÃO:</p><p>CONTRIBUIÇÕES PARA A PEDAGOGIA LATINO-AMERICANA</p><p>Editora Livrologia</p><p>Chapecó-SC</p><p>2021</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>4</p><p>CONSELHO EDITORIAL INTERNACIONAL E NACIONAL</p><p>Jorge Alejandro Santos - Argentina</p><p>Francisco Javier de León Ramírez – México</p><p>Carelia Hidalgo López – Venezuela</p><p>Marta Teixeira – Canadá</p><p>Maria de Nazare Moura Björk – Suécia</p><p>Macarena EstebanIbáñez – Espanha</p><p>QuecoiSani – Guiné-Bissau</p><p>Ivo Dickmann - Unochapecó</p><p>Ivanio Dickmann - UCS</p><p>Viviane Bagiotto Botton – UERJ</p><p>Fernanda dos Santos Paulo – UNOESC</p><p>Cesar Ferreira da Silva – Unicamp</p><p>Tiago Ingrassia Pereira – UFFS</p><p>Carmem Regina Giongo – Feevale</p><p>Sebastião Monteiro Oliveira – UFRR</p><p>Adan Renê Pereira da Silva – UFAM</p><p>Inara Cavalcanti – UNIFAP</p><p>Ionara Cristina Albani - IFRS</p><p>Apoio: CNPq - Chamada MCTIC/CNPq Nº 28/2018 - Universal/Faixa A</p><p>FICHA CATALOGRÁFICA</p><p>P331e Paulo, Fernanda dos Santos.</p><p>Educação popular nas cartas do educador Carlos Rodrigues Brandão:</p><p>contribuições para a pedagogia latino-americana / Fernanda dos Santos</p><p>Paulo, Adriana Gaio. – Chapecó: Livrologia, 2021.</p><p>ISBN: 9786586218817</p><p>DOI: 10.52139/livrologia9786586218817</p><p>1. Educação popular. 2. Brandão, Carlos Rodrigues, 1940-. I. Gaio, Adriana. II.</p><p>Título.</p><p>2021-0171 CDD 370.1150981 (Edição 21)</p><p>Ficha catalográfica elaborada por Karina Ramos – CRB 14/1056</p><p>© 2021</p><p>Permitida a reprodução deste livro, sem fins comerciais,</p><p>desde que citada a fonte.</p><p>Impresso no Brasil</p><p>Esse livro passou pelo processo de revisão por pares</p><p>dentro das regras do Qualis Livros da CAPES</p><p>https://www.cblservicos.org.br/servicos/meus-livros/visualizar/?id=5edd191d-175c-ec11-8f8f-000d3a88d6b6</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>5</p><p>SUMÁRIO</p><p>Carta-Prefácio ............................................................................................. 7</p><p>Carta-Pedagógica de Carlos Rodrigues Brandão ........................................ 10</p><p>APRESENTAÇÃO .................................................................................. 15</p><p>CAPÍTULO - 1 ......................................................................................... 18</p><p>PRIMEIRAS PALAVRAS ....................................................................... 18</p><p>CAPÍTULO - 2 ......................................................................................... 28</p><p>CAMINHOS METODOLÓGICOS PERCORRIDOS ............................. 28</p><p>SISTEMATIZAÇÕES DE EXPERIÊNCIAS ........................................... 35</p><p>2.1 CARTAS COMO DOCUMENTOS: RECUPERAÇÃO DO</p><p>PROCESSO VIVIDO ............................................................................... 37</p><p>CAPÍTULO - 3 REVISÃO DE LITERATURA: ANÁLISECRÍTICA DA</p><p>PRODUÇÃO TEÓRICA ......................................................................... 46</p><p>3.1 REVISÃO DE LITERATURA: CONTEXTUALIZANDO OS</p><p>ACHADOS .............................................................................................. 48</p><p>CAPITULO 4 ........................................................................................... 58</p><p>HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO POPULAR NO BRASIL ......................... 58</p><p>4.1MAPEAMENTO DAS CARTAS DO ACERVO DO EDUCADOR</p><p>CARLOS RODRIGUES BRANDÃO: PRINCIPAIS INTELECTUAIS DA</p><p>EDUCAÇÃO POPULAR ........................................................................ 71</p><p>4.1.1 Educação Popular presente no Acervo de Cartas do educador Carlos</p><p>Rodrigues Brandão: principais temas e ideias ............................................ 88</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>6</p><p>CAPÍTULO 5 .......................................................................................... 114</p><p>A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO POPULAR E CONTRIBUIÇÕES PARA</p><p>A PEDAGOGIA LATINO-AMERICANA A PARTIR DAS CARTAS . 114</p><p>5.1 INDÍCIOS DE UMA PEDAGOGIA LATINO-AMERICANA NA</p><p>PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO POPULAR A PARTIR DAS CARTAS</p><p>PEDAGÓGICAS DE CARLOS RODRIGUES BRANDÃO ................. 120</p><p>5.1.1 Participação: Marcela Gajardo e Orlando Fals Borda ..................... 122</p><p>5.1.2 Socialismo democrático: pautas da Educação Popular. ................... 123</p><p>5.2 EDUCAÇÃO POPULAR E A PEDAGOGIA LATINO-</p><p>AMERICANA: MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA E ESPERANÇA 131</p><p>CONSIDERAÇÕES PARA CONTINUIDADE DOSDIÁLOGOS ........ 135</p><p>POSFÁCIO DE DANILO R. STRECK .................................................. 140</p><p>REFERÊNCIAS ...................................................................................... 143</p><p>SOBRE AS AUTORAS ........................................................................... 158</p><p>file:///C:/Users/Fernanda%20Paulo/Desktop/livro%20com%20adri/3%20livro%20FSP;%20AG%202021_miolo%20(1).docx%23_Toc89264342</p><p>file:///C:/Users/Fernanda%20Paulo/Desktop/livro%20com%20adri/3%20livro%20FSP;%20AG%202021_miolo%20(1).docx%23_Toc89264342</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>7</p><p>CARTA-PREFÁCIO</p><p>Breve carta para uma jovem pesquisadora (Adriana Gaio)</p><p>e para minha amiga e sua orientadora (Fernanda Paulo)</p><p>Olá, meninas, tudo bem? Participei da banca de dissertação da Adri,</p><p>participo do projeto de pesquisa com as Cartas de Brandão e acompanhei o</p><p>pós-doutorado de Fernanda. Assim, resolvi sistematizar o que li, acompa-</p><p>nhei e aprendi nessa carta pra vocês – e que bom saber que o resultado das</p><p>pesquisas resulta em um livro. Creio que assim sigo fiel ao movimento de</p><p>reinvenção do legado de Paulo Freire (um dos maiores escritores de cartas</p><p>pedagógicas) e parceiro do Carlos Rodrigues Brandão, mestre e amigo que</p><p>tenho tanta admiração.</p><p>Assim, penso que o trabalho que analisamos, e temos agora em</p><p>mãos como livro – resultado da versão final da dissertação em Educação, do</p><p>Programa de Pós-Graduação da UNOESC (universidade comunitária como</p><p>a Unochapecó) cumpre os requisitos solicitados pelo cânone da Academia: é</p><p>original, inédita (e viável), rigorosa, metodologicamente bem orientada e</p><p>com uma análise crítica das materialidades das cartas enviadas/recebidas</p><p>por Brandão (memória viva da Educação Popular latino-americana).</p><p>Além disso, conecta-se profundamente ao projeto aprovado junto ao</p><p>CNPq na chamada universal de 2018, que visava perscrutar as Cartas de</p><p>Brandão, dando uma contribuição</p><p>e de pes-</p><p>quisadores que estudam temas semelhantes aos nossos, os quais constam em</p><p>Bases de Dados, como é o caso da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações</p><p>e do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES. Em nosso caso, realiza-</p><p>mos uma revisão bibliográfica no banco de dados da Biblioteca Digital de</p><p>Teses e Dissertações.</p><p>3.1 REVISÃO DE LITERATURA: CONTEXTUALIZANDO OS</p><p>ACHADOS</p><p>A Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações nos apresenta</p><p>possibilidades de acesso a estudos e experiências sobre temas educacionais e</p><p>de outras áreas. Esse portal integra os sistemas de informação de pesquisas</p><p>existentes nas instituições de ensino e pesquisa do Brasil.</p><p>O interesse pela revisão de literatura, apresentado neste capítulo, versa</p><p>sobre o tema: História da Educação Popular. Serão expostos, em forma de</p><p>quadros (Apêndice C, GAIO, 2021), os resultados da investigação de caráter</p><p>bibliográfico realizada no primeiro semestre de 2020.</p><p>A Educação Popular é uma temática que surgiu no Brasil desde os anos</p><p>de 1920, mas pouco conhecida na área da educação. Entretanto, esse tema</p><p>está em expansão, sendo pesquisado em universidades, devido à sua impor-</p><p>tância histórica e metodológica. É um tema com várias definições e até am-</p><p>bíguo, no sentido de que os termos empregados são polissêmicos (PAULO,</p><p>2018). Alguns compreendem a Educação Popular como educação informal,</p><p>outros como educação para pobres, e há mais definições que merecem evi-</p><p>dência, como a de Paulo Freire (2013) e de Brandão (2006b). Na perspectiva</p><p>da práxis, ―a Educação Popular e mudança social andam juntas. [...]. A</p><p>Educação Popular buscava compreender bem juntos: o mundo do trabalho e</p><p>o mundo dos pensamentos escritos. [...] é aquilo que comumente denomi-</p><p>namos aproximação entre teoria e prática.‖ (FREIRE, 1989, p. 62).</p><p>Na compreensão dos sentidos e significados históricos, para Brandão</p><p>(2001), existem diferentes sentidos dados à expressão ―Educação Popular‖,</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>49</p><p>mas no Brasil e na América Latina se firmou como uma das concepções de</p><p>educação das classes populares.</p><p>Não há consenso sobre as definições, mas estudiosos de Paulo Freire e</p><p>da pedagogia crítica optam pela definição da Educação Popular como prá-</p><p>xis, não é só teoria e tampouco somente prática. Assim, com o objetivo de</p><p>clarificar as definições e compreender melhor a história da Educação Popu-</p><p>lar, buscamos encontrar aproximações e distanciamentos sobre os conceitos</p><p>de Educação Popular, e identificar aspectos históricos que venham contribuir</p><p>para essa pesquisa.</p><p>Concernente à Revisão de Literatura, mediante a busca de dissertações</p><p>e teses, produzimos alguns critérios de pesquisa avançada, os quais foram: 1)</p><p>descritor único: ―História da Educação Popular‖; 2) filtros por assunto e por</p><p>título; e, 3) Presença da expressão no resumo. Aplicados esses filtros, obti-</p><p>vemos 17 resultados, entre dissertações e teses. Na sequência, foi realizada a</p><p>leitura excludente dos trabalhos que não mencionaram a Educação Popular</p><p>no resumo. Após a análise dos mesmos, selecionamos 12 trabalhos. Os resul-</p><p>tados podem ser observados nos quadros 1 e 2 (Apêndice C, GAIO, 2021).</p><p>Dos trabalhos localizados, 4 são teses e 8 são dissertações. A análise das</p><p>dissertações e das teses foi desenvolvida em junho de 202016, em três fases:</p><p>1) Realizamos uma pré-análise (leitura prévia dos resumos e de alguns</p><p>capítulos);</p><p>2) Exploração do material localizado, observando os objetivos e os su-</p><p>jeitos participantes da pesquisa, as concepções de Educação Popular e as</p><p>referências bibliográficas das teses e dissertações.</p><p>3) Sistematização e interpretação da leitura dirigida das pesquisas.</p><p>No que se refere às regiões geográficas abarcadas nas pesquisas, obser-</p><p>vamos a abrangência de diferentes regiões do Brasil, como podemos verificar</p><p>na figura a seguir:</p><p>16 Para produção de artigo, posterior a defesa, desejamos atualizar a nossa pesquisa para 2020/2</p><p>e ano de 2021. Realizamos uma revisão sem recorte temporal, localizando uma pesquisa de</p><p>Fleuri (1988) e Christofoletti (1994). Observamos que em 2020/2 há mais uma pesquisa conten-</p><p>do o descritor ―História da Educação Popular‖: SCHLINDWEIN, Ian Gabriel Couto, A edu-</p><p>cação popular sob o céu da história: um estudo a partir da rememoração em Walter Benjamin.</p><p>2020. (188 p.) Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de</p><p>Educação, Campinas, SP.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>50</p><p>Figura 3-Localização geográfica</p><p>Fonte: elaborado pelas autoras.</p><p>Tratando-se das regiões com maior número de trabalhos (sudeste e sul),</p><p>os estados que apresentaram temas tratando da Educação Popular foram:</p><p>São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. No tocante aos temas rela-</p><p>cionados à Educação Popular e aos procedimentos metodológicos, temos os</p><p>seguintes tópicos a serem destacados:</p><p>a) Sistematização de Experiências.</p><p>b) Análise documental.</p><p>c) Pesquisa bibliográfica.</p><p>d) Pesquisa Qualitativa.</p><p>e) Pesquisa Quali-quantitativa.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>51</p><p>Com respeito aos participantes das pesquisas selecionadas, os estudos</p><p>contaram com:</p><p>a) 01 trabalho com a participação de alunos do ensino médio;</p><p>b) 01 trabalho com a participação de populações rurais;</p><p>c) 01 trabalho resultante de projetos comunitários;</p><p>d) 02 trabalhos com educadoras populares;</p><p>e) 03 trabalhos com a presença de comitês democráticos popu-</p><p>lares, movimentos e lutas sindicais, além de movimento educacional</p><p>latino-americano;</p><p>f) 03 trabalhos sobre o histórico da Educação Popular e sistematização</p><p>de experiências.</p><p>g) 01 trabalho sobre a Pedagogia Social.</p><p>Uma breve apresentação das doze pesquisas escolhidas, a partir de cri-</p><p>térios expostos anteriormente, demonstra alguns dos significados de Educa-</p><p>ção Popular:</p><p>1) Educação Popular como luta política. Educação Popular</p><p>como busca pelos direitos do povo e para o povo, em cooperação com os</p><p>Movimentos Sociais.</p><p>2) Educação Popular como processo de transformação social.</p><p>3) Construção do campo da Educação Popular no Brasil.</p><p>4) Histórico da Educação Popular no Brasil, ressaltando o</p><p>trabalho desenvolvido por Paulo Freire.</p><p>5) Constituição da Pedagogia Social como um subcampo da</p><p>educação no Brasil, seus fundamentos, origens e suas relações com a Educa-</p><p>ção Popular.</p><p>6) Experiências dos pioneiros e das pioneiras da Educação</p><p>Popular freiriana.</p><p>7) Educação Popular em Simón Rodríguez (1771-1854) e An-</p><p>tônio Carneiro Leão (1887-1966) - intelectuais da América Latina.</p><p>8) Relação da Educação Popular com o contexto sociopolíti-</p><p>co e econômico brasileiro das últimas décadas.</p><p>9) Educação Popular enquanto Movimento Social.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>52</p><p>10) Resgate das lutas, associando-as à história dos Movimentos</p><p>Sociais Populares e da Educação Popular no Brasil.</p><p>Destacamos que alguns dos livros de Carlos Rodrigues Brandão, inte-</p><p>lectual da Educação Popular, são utilizados como referência nas pesquisas</p><p>analisadas. Identificamos que, na história da Educação Popular apresentada</p><p>nas pesquisas, são citados os movimentos: Movimento de Cultura Popular</p><p>(MCP), Movimento de Educação de Base (MEB) e Centro Popular de Cultu-</p><p>ra (CPC).</p><p>No que se refere ao Brandão, enquanto sujeito participante de pesqui-</p><p>sas, Paulo (2018) e Martinello (2010) entrevistaram-no para as suas pesqui-</p><p>sas, sendo que a primeira uma tese, e a outra, uma dissertação. No caso de</p><p>Paulo (2018), o tema central era a Educação Popular; já em Martinello</p><p>(2010), a Educação Popular foi citada, porém o recorte temático é o campe-</p><p>sinato brasileiro.</p><p>Com relação à escolha de categorias que podem vir a contribuir para a</p><p>pesquisa, selecionamos as que pudessem responder questões referentes</p><p>às</p><p>características e definições de Educação Popular que ajudarão a compreen-</p><p>der sua história.</p><p>Verificamos que, em nível de Mestrado e Doutorado, há poucos estudos</p><p>sobre História da Educação Popular. No entanto, a nossa pesquisa pode</p><p>contribuir para a área da educação e, em especial, para essa temática. No</p><p>presente estudo, identificamos algumas demandas não exploradas pelas pes-</p><p>quisas analisadas, como a história da Educação Popular a partir de docu-</p><p>mentos, como é o caso das Cartas Pedagógicas.</p><p>Ressaltamos a contribuição de Paulo Freire e de outros intelectuais na</p><p>construção do campo da Educação Popular no Brasil, assim como as experi-</p><p>ências de outros intelectuais (pioneiros e de pioneiras da Educação Popular)</p><p>nas pesquisas. Percebemos que, ao longo da história, vem sofrendo mudan-</p><p>ças em seus fundamentos, origens e finalidades. Por isso, apresentamos,</p><p>anteriormente, os significados de Educação Popular localizados nestes traba-</p><p>lhos. A seguir, consta uma breve exposição das pesquisas analisadas.</p><p>Israel Soares de Sousa, em sua tese, defendida pela Universidade Fede-</p><p>ral da Paraíba, refletiu sobre o ensino da história e da Educação Popular</p><p>constituindo uma prática pedagógica em educação cidadã. Sua discussão foi</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>53</p><p>amplamente pesquisada em autores como: Paiva, Scocuglia, Souza, Beisie-</p><p>gel, Brandão, entre outros.</p><p>André Souza Martinello defendeu sua dissertação pela Universidade</p><p>Federal do Rio Grande do Sul, usando como fonte principal os escritos de</p><p>Carlos Rodrigues Brandão. Seu tema foi o desenvolvimento rural e o campe-</p><p>sinato brasileiro. Foram feitos estudos e reflexões sobre o trabalho de campo</p><p>realizado por Brandão.</p><p>Marcos Cesar de Oliveira Pinheiro, em sua tese, pela Universidade Fe-</p><p>deral do Rio de Janeiro, apresenta a resposta à pergunta ―o que é Educação</p><p>Popular?‖, guiado pelos estudos e pelas interpretações dos autores: Freire e</p><p>Nogueira, Paiva, Brandão, Machado, Mello e Streck.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo apresenta sua dissertação pela Universidade</p><p>Federal do Rio Grande do Sul, em 2013, que representa não somente uma</p><p>pesquisa, mas também sua caminhada nos movimentos populares. Na disser-</p><p>tação, constam autores que discutem sobre Educação Popular, movimento</p><p>popular e formação de educadores (as), tais como: Freire, Brandão, Paludo,</p><p>Frigotto, Zitkoski, entre outros.</p><p>Michelle Suelen Neves Gonçalves construiu sua dissertação, pela Uni-</p><p>versidade Federal do Pará, sobre a Educação Popular na América Latina no</p><p>século XIX, utilizando os textos de Simón Rodríguez (venezuelano) e Antô-</p><p>nio Carneiro Leão (brasileiro) para revisar o conceito de Educação Popular.</p><p>A pesquisa de Mariana Pasqual Marques, pela Pontifícia Universidade</p><p>Católica de São Paulo, está estruturada em uma análise do repertório da</p><p>Educação Popular, de 1960 a 1964, no Brasil. Nela, são apresentadas altera-</p><p>ções ocorridas no período de 1970 a 1980, somadas aos impasses a partir de</p><p>1990.</p><p>Elisabete de Lourdes Christofoletti, em sua dissertação, defendida pela</p><p>Universidade Estadual de Campinas, apresenta sua pesquisa como fruto do</p><p>processo vivido nos movimentos populares, através da retrospectiva encon-</p><p>trada nos trabalhos de autores como: Ana Maria Araújo Freire, Antônio</p><p>Merisse, Carlos H. Munoz, Carlos Rodrigues Brandão, Celso Rui Beisiegel,</p><p>Paulo Freire, Júlio Barreiro, Luiz Eduardo Wanderley, Miguel Arroyo, Mo-</p><p>acir Gadotti, Vanilda Pereira Paiva, Silvia Manfredi, entre outros, situando</p><p>historicamente os caminhos da Educação Popular.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>54</p><p>Erico Machado Ribas procura, em sua pesquisa, compreender o percur-</p><p>so histórico da pedagogia social articulada à Educação Popular no Brasil,</p><p>suas origens e suas relações. Faz uso do conceito de campo, de Pierre Bour-</p><p>dieu, e cita Brandão (RIBAS; SEVERO; RODRIGUES, 2014).</p><p>Fernanda dos Santos Paulo, em sua tese de doutoramento, de 2018,</p><p>descreve suas experiências como educadora popular, com enfoque na histó-</p><p>ria teórica/prática de quem viveu e vem vivendo a Educação Popular no</p><p>Brasil desde os tempos de Paulo Freire, analisando fontes primárias (cartas) e</p><p>secundárias (documentos publicados de Osmar Fávero), estudos bibliográfi-</p><p>cos e entrevistas com pioneiros da Educação popular freiriana, entre eles</p><p>Carlos Rodrigues Brandão.</p><p>Antônio Carlos Rodrigues, em sua dissertação, defendida em 2004,</p><p>apresentou um resgate histórico dos Colóquios de Educação Popular reali-</p><p>zados no Município de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Analisa o even-</p><p>to à luz dos movimentos sociais do país e da América Latina. O trabalho</p><p>assume a Educação Popular como uma teoria pedagógica que se comprome-</p><p>te com a classe que vive do trabalho. Fez uso de Brandão em suas análises.</p><p>Reinaldo Matias Fleuri faz críticas à extensão universitária de caráter</p><p>assistencialista, colocando que, no Brasil, as experiências se descomprome-</p><p>tem do seu compromisso social. Contudo, assinala que alguns setores de</p><p>universidades buscam inserir-se em processos de Educação Popular em diá-</p><p>logo com os movimentos populares. Sua tese traz reflexões de experiências</p><p>significativas realizadas na Universidade Metodista de Piracicaba (UNI-</p><p>MEP), a partir de 1978. Concluiu que as experiências de extensão universitá-</p><p>ria em Educação Popular, realizadas pela UNIMEP, abriram espaços para a</p><p>presença do movimento popular na universidade. O autor utiliza várias refe-</p><p>rências da Educação Popular, dentre elas artigos e livros de Brandão.</p><p>Sobre as pesquisas descritas, alguns apontamentos são importantes, e,</p><p>para tanto, elegemos 3 (três) dos estudos para expor, mediante nossos objeti-</p><p>vos e questões problematizadoras, onde nossa pesquisa se encontra inédita,</p><p>referindo-se à história da Educação Popular:</p><p>1) Atinente à Educação Popular latino-americana, na dissertação</p><p>de Gonçalves (2014), Simón Rodríguez (venezuelano) e Antô-</p><p>nio Carneiro Leão (brasileiro) são autores que apresentam con-</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>55</p><p>ceitos de Educação Popular que, embora se aproximem, não são</p><p>de mesmo significado de Paulo Freire e Brandão, que assumem</p><p>a Educação Popular libertadora enquanto práxis.</p><p>2) Marques (2008) investigou a construção do campo da Educação</p><p>Popular no Brasil, alicerçada em ONGs (movimentos de educa-</p><p>ção), através da atuação de militantes ao longo dos últimos qua-</p><p>renta anos no Brasil. A autora é uma educadora popular, tendo</p><p>atuação em Ongs e movimentos sociais no campo da Educação</p><p>Popular e direitos humanos. Esse trabalho cita os seguintes mo-</p><p>vimentos: 1) Movimento de Cultura e Educação Popular (1960-</p><p>1964); 2) Movimento de Educação Popular, Movimentos Popu-</p><p>lares e Comunidades Eclesiais de Base (1970-1980). Utiliza do-</p><p>cumentos e estudos pertinentes ao tema, porém não analisadas</p><p>cartas de primeira ou segunda mão.</p><p>3) Paulo (2018) estuda a história da Educação Popular no Brasil a</p><p>partir de pioneiros e pioneiros com atuação na universidade e</p><p>experiência de trabalho teórico-prático com Paulo Freire, além</p><p>de ter experiências com ele. Também, faz uso de cartas de</p><p>Brandão, mas apenas aquelas trocadas entre os pioneiros e pio-</p><p>neiras da Educação Popular freiriana (C. R. Brandão, O. Fáve-</p><p>ro, V. Paiva, C. Beisiegel, A. M. Saul, B.A.Andreola, Moacir</p><p>Gadotti). Apresenta um capítulo que trata dos sentidos e signifi-</p><p>cados da Educação Popular, abrangendo vários países, e não</p><p>apenas o contexto da América-latina.</p><p>Podemos ratificar a lacuna de estudos sobre a História da Educação</p><p>Popular no Brasil em pesquisa stricto sensu, sobretudo a partir de pesquisas de</p><p>documentos oriundos das décadas de 1960 a 1980. Porém, 12 trabalhos con-</p><p>firmam que, ao utilizarmos o tema da Educação Popular, o educador Carlos</p><p>Rodrigues Brandão é citado várias vezes como referencial acerca da temáti-</p><p>ca.</p><p>As pesquisas analisadas abrangeram parte da história da Educação Po-</p><p>pular, mas apenas uma tese trouxe algumas cartas de pioneiros e pioneiros</p><p>em tempos históricos. Esse trabalho é de Paulo (2018) – as demais pesquisas</p><p>discorrem sobre ideias, temas e sujeitos da história da Educação Popular,</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>56</p><p>como apontado anteriormente. Diante disso, essa pesquisa se torna inédita,</p><p>e, para uma síntese, apresentamos um desenho da categoria Educação Popu-</p><p>lar, localizada neste estudo de revisão bibliográfica:</p><p>Quadro 3-Educação Popular como categoria</p><p>Fonte: Elaborado pelas autoras</p><p>Com a análise de literatura, veio à tona a categoria Educação Popular</p><p>Transformadora, mas isso não nos surpreende, porque ela vem sendo utilizada</p><p>por vários autores, principalmente por Gadotti (2012). O que surge como</p><p>novidade é a Pedagogia Social como campo da Educação Popular – tema</p><p>que vem sendo discutido e analisado no Brasil, desde os anos de 2000 (MA-</p><p>CHADO, 2010). No entanto, esse não foi um tema discutido ou mencionado</p><p>nas cartas de Carlos Rodrigues Brandão entre os anos de 1964 e 1980.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>57</p><p>Síntese do Capítulo</p><p>Uma palavra</p><p>______________________________________________________</p><p>Uma frase</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>_______________________________________________________</p><p>Um parágrafo</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>58</p><p>CAPITULO 4</p><p>HISTÓRIA DA</p><p>EDUCAÇÃO POPULAR</p><p>NO BRASIL</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>59</p><p>―Portanto, a EP [Educação Popular] não está desvinculada da história das</p><p>pessoas, das relações econômicas, políticas e sociais da sociedade, tam-</p><p>pouco separada do contexto da exploração e opressão produzidas pelos</p><p>ideais do capitalismo. Além disso, ela presume participação popular, curi-</p><p>osidade, coragem e esperança.‖</p><p>(FernadaPaulo)</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>60</p><p>Neste capítulo, trataremos de referenciar históricos da Educação Popu-</p><p>lar juntamente às Cartas de Brandão para elucidar as ideias, os temas e os</p><p>sujeitos que contribuem para a história da Educação Popular e para a Peda-</p><p>gogia Latino-americana. Posteriormente, na seção secundária (4.1), daremos</p><p>início a uma espécie de mapeamento das cartas do acervo do educador Car-</p><p>los Rodrigues Brandão, apresentando alguns dos intelectuais da Educação</p><p>Popular, presentes nas correspondências. Por fim, na seção terciária (4.1.1),</p><p>apresentaremos os principais temas e ideias da Educação Popular Presente</p><p>no Acervo de Cartas do Educador Carlos Rodrigues Brandão.</p><p>Sobre o contexto histórico (fases e experiências de Educação Popular</p><p>no Brasil), apresentamos, no Anexo A (GAIO, 2021) um quadro elaborado</p><p>por Paulo (2018) e atualizado em 2021, que ajudará situar os contextos, os</p><p>sentidos e os significados. Nossa intenção com o presente estudo é apresen-</p><p>tar, brevemente, a história da Educação Popular, para que, a partir desta</p><p>pesquisa, possamos atualizá-la por meio das cartas de Brandão.</p><p>Falar de Educação Popular é reconhecer que, no Brasil, há diferentes</p><p>educações. Ou seja, ―a expressão popular na educação tem sentidos e signifi-</p><p>cados diferentes, e até contraditórios. Nem sempre o popular esteve atrelado</p><p>aos projetos emancipatórios enquanto resistência aos preceitos dominantes</p><p>presentes em nossa sociedade.‖ (PAULO, 2018, p. 131).</p><p>A trajetória da Educação Popular no Brasil já foi contada em muitas</p><p>dissertações, teses e livros, tais como Brandão (2006a; 2006b), Gadotti e</p><p>Torres (1994), Freire e Nogueira (2001), Paulo (2018), Paiva (1973), entre</p><p>outros. Nesta obra, traremos reflexões teórico-metodológicas a partir de</p><p>estudos bibliográficos, visando entender a expressão ―Educação Popular‖</p><p>nas cartas de Brandão, tema da nossa pesquisa. É interessante observarmos</p><p>que o uso da Educação Popular tem a ver com a construção de uma educa-</p><p>ção para o povo brasileiro.</p><p>O ―popular‖ não é tomado aqui somente como um adjetivo de teor ideológico,</p><p>mas consideramos as condições materiais concretas das pessoas. Seguidos cen-</p><p>sos nacionais do IBGE têm demonstrado que entre mendigos, desempregados</p><p>crônicos, famílias abaixo do nível social da pobreza segundo critérios da ONU,</p><p>trabalhadores submetidos a salários-mínimos, as pessoas populares somam cer-</p><p>ca de 2/3 das e dos brasileiros. (BRANDÃO; ASSUMPÇÃO, 2009, p.88).</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>61</p><p>Outrossim, diz respeito, segundo Paulo (2018), ao processo de luta pela</p><p>educação pública, com diferentes vertentes: marxista, liberal, entre outras.</p><p>Ainda em conformidade com Paulo (2018), a Educação Popular tem muitos</p><p>sentidos e significados, inclusive como sinônimo de educação pobre para</p><p>pobre. De acordo com Brandão (2007), não há uma forma única, nem um</p><p>único modelo de educação, pois:</p><p>A escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o</p><p>ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o seu</p><p>único praticante. Em mundos diversos, a educação existe diferente: em peque-</p><p>nas sociedades tribais de povos caçadores, agricultores ou pastores nômades;</p><p>em sociedades camponesas, em países desenvolvidos e industrializados; em</p><p>mundos sociais sem classes, de classes, com este ou aquele tipo de conflito en-</p><p>tre as suas classes; em tipos de sociedades e culturas sem Estado, com um Esta-</p><p>do em formação ou com ele consolidado entre e sobre as pessoas. (BRAN-</p><p>DÃO, 2007 p.09).</p><p>Um conceito ampliado de educação, semelhante ao exposto acima, sur-</p><p>ge no Brasil com Paulo Freire e com os Movimentos Populares, entre os</p><p>anos de 1950 e 1960. Nesses anos, a educação compreendida por intelectuais</p><p>progressistas é sinônima de prática social, a qual deve lutar por uma socie-</p><p>dade igualitária (BRANDÃO, 2007).</p><p>Nos anos sessenta, houve iniciativas do povo pelas tradições populares</p><p>e, posteriormente na América latina, existiram os primeiros movimentos</p><p>culturais centrados na vontade do saber, originando a Educação Popular a</p><p>partir da luta pela alfabetização de jovens e adultos e por uma escola pública</p><p>compatível com as necessidades do povo. Podemos constatar esse movimen-</p><p>to de Educação Popular no fragmento que segue:</p><p>El pensamiento de Paulo Freire llega a Colombia a finales de la década de los</p><p>60. Década marcada por el surgimiento del movimiento popular independiente</p><p>y revolucionario; por la figura de Camilo Torres y sutrabajo político y educati-</p><p>vo a través del periódico Frente Unido, por el asistencialismo de muchas insti-</p><p>tuciones y por el gobierno/régimen del Frente Nacional (1958-1970). Se habla-</p><p>ba entonces de educación liberadora17. (CENDALES; MEJÍA; MUÑOZ, 2013,</p><p>p. 32).</p><p>17Tradução livre: O pensamento de Paulo Freire chega à Colômbia no final dos anos 60. Década</p><p>marcada pela ascensão do movimento popular independente e revolucionário; pela figura de</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>62</p><p>Em outros países da América Latina, houve o movimento de Educação</p><p>Popular, e, conforme Paulo (2018), nem todos os sentidos e significados do</p><p>Popular na Educação são iguais. No caso do Brasil,</p><p>segundo Brandão:</p><p>Pois entre os últimos anos 50 e os primeiros da década inesquecível dos 60, ha-</p><p>víamos posto no chão das práticas várias pequenas sementes de um trabalho</p><p>generosamente político, realizado através da cultura e por meio, também, da</p><p>educação. A ênfase estava posta sobre o que, desde muito antes, em todo o</p><p>mundo, vinha sendo uma Educação de Adultos, transformada em pouco tempo</p><p>e em nosso meio em múltiplos projetos de Educação Popular. De uma maneira</p><p>mais motivada, em pequenos Trabalhos de Alfabetização Popular. Foi a esta</p><p>modalidade de vivência pedagógica, que envolvia então não apenas professores</p><p>de vocação e educadores de carreira, e que julgo ser conhecida o bastante para</p><p>ser de novo descrita aqui, que denominamos genericamente de Cultura Popu-</p><p>lar.</p><p>Conforme Brandão (2007), ninguém escapa da educação, em casa, na</p><p>rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolve-</p><p>mos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e</p><p>ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias mis-</p><p>turamos a vida com a educação.</p><p>Segundo Saviani (2013), na primeira república, a expressão Educação</p><p>Popular encontrava-se associada à instrução elementar que se buscava gene-</p><p>ralizar para toda a população de cada país, implantando escolas primárias,</p><p>pautadas no conceito de instrução pública. Para Paulo (2018, p.132):</p><p>Na história brasileira, é na primeira república que o termo da Educação Popu-</p><p>lar aparece enquanto luta pelo direito à educação escolar atrelada aos processos</p><p>emancipatórios. Francisco Mendes Pimentel, deputado mineiro do Partido Re-</p><p>publicano Mineiro, é quem propõe uma política de Educação Popular, defen-</p><p>dendo a instrução pública. [...]. Nas primeiras décadas do século XXI, Roma-</p><p>nelli (1987) e Alves (2008) denunciam que Manoel Bomfim considerava que a</p><p>Camilo Torres e seu trabalho político e educacional para através do jornal United Front, pelo</p><p>bem-estar de muitas instituições e pelo governo / regime da Frente Nacional (1958-1970).</p><p>Falou-se então de Educação Libertadora.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>63</p><p>instrução popular não foi considerada um problema importante na Primeira</p><p>República, e que todas as reformas foram fracassadas em se tratando da Educa-</p><p>ção Popular. [...]. Manoel Bonfim acreditava que instrução popular e Educação</p><p>Popular eram sinônimas, sendo o termo popular compreendido como salvação</p><p>para os problemas daquela época, marcados pela inexistência de políticas edu-</p><p>cacionais de instrução pública.</p><p>Em uma concepção da pedagogia crítica, de acordo com Brandão</p><p>(1985, p.13):</p><p>Falar sobre Educação Popular é falar de uma educação que surge fora da escola</p><p>e da universidade, pois emerge com iniciativas das organizações populares. Po-</p><p>rém, as suas práticas e modo de ensinar tiveram tamanha repercussão que pas-</p><p>saram a fazer parte de diversos espaços de nossa sociedade, como escolas, uni-</p><p>versidades e grupos de pesquisa. Assim, ao olhar para a história da Educação</p><p>Popular e tentar reconstruir sua trajetória, é possível perceber que se trata de</p><p>uma tarefa bastante complexa, pois a mobilização em favor da educação do</p><p>povo brasileiro, ao longo da história de nosso país, faz parte e se ajusta à histó-</p><p>ria das mudanças no cenário político, econômico e das estruturas sociais.</p><p>Em consonância com Paulo (2018, p. 131),</p><p>[..] o significado do adjetivo popular refere-se à classe popular, ou seja, ao opri-</p><p>mido. Em outros escritos, Paulo Freire discute mais claramente o popular a par-</p><p>tir da realidade vivida pelos oprimidos, como é o caso do livro Ação cultural para</p><p>a liberdade (1981), em que a experiência da cultura do silêncio retrata a educação</p><p>bancária de invasão cultural, a qual é imposta pelos setores dominantes. Já em</p><p>Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em Processo (1978) e Educação e</p><p>Mudança (1979 a), o popular refere-se à participação política dos setores popula-</p><p>res a fim de desencadear mudanças sociais, as quais são opostas aos processos</p><p>de exclusão social.</p><p>Apropriarmo-nos da História da Educação Popular é reconhecer a pos-</p><p>sibilidade de uma educação, para o povo e com o povo, que lutou contra a</p><p>alienação e a dominação das classes populares. Na obra Educação na cidade</p><p>(FREIRE, 1991), Freire afirma que lutar pela Educação Popular significa</p><p>construir ferramentas e formas de implementar um sistema de participação</p><p>das classes populares na construção de uma escola e de uma sociedade ver-</p><p>dadeiramente democráticas.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>64</p><p>A Educação Popular que pretende libertar o homem deve ser um instrumento</p><p>que sirva ao trabalho político que semeia esta liberdade. Ela é a educação que</p><p>busca o compromisso de servir à prática política dos subalternos, como um es-</p><p>paço a serviço de pensar e instrumentalizar esta própria prática. Portanto, a</p><p>Educação Popular não deve possuir um projeto pedagógico próprio, definido</p><p>nos gabinetes do educador. Deve ser apenas uma das dimensões didáticas do</p><p>trabalho popular de esclarecer o seu próprio trabalho no dia a dia de quem afi-</p><p>nal o realiza. (BRANDÃO, 1982, p.21)</p><p>Entendermos o cenário da trajetória da Educação Popular é aproxi-</p><p>marmo-nos do longo período percorrido pelos movimentos históricos e polí-</p><p>ticos da construção de uma educação pública, não somente para elites. Daí</p><p>surge, sobretudo a partir da década de 1920, a discussão do Estado como</p><p>garantidor do direito à educação. Muitos governos criaram políticas que</p><p>incluíram as camadas populares nos bancos escolares (SAVIANI, 2013).</p><p>Segundo Brandão (2006b), o momento da luta pela escola pública foi influ-</p><p>enciado por ideais franceses e norte-americanos, e tinha seus fundamentos</p><p>em dois princípios: a educação escolar não era só um direito de todos os</p><p>cidadãos; e, o segundo, modificações fundamentais nas formas e na qualida-</p><p>de da participação de inúmeros brasileiros para a melhoria dos indicadores</p><p>de nossa situação de atraso e de pobreza, por meio da escola pública, laica e</p><p>gratuita. O movimento da época era a luta pelo acesso e a democratização</p><p>da educação para todos, devido à alta taxa de analfabetismo no país.</p><p>A Educação Popular no Brasil começa com a preocupação de escolarização,</p><p>mais precisamente, nos anos de 1920, trinta e um anos após o período republi-</p><p>cano ...o censo de 1920 mostrava a existência de 1.030.752 alunos matricula-</p><p>dos, com freqüência de 678.684, para uma população total do país de quase 30</p><p>milhões de habitantes, o que significa que – se considerarmos a população total</p><p>do país – o nível de atendimento escolar era quase o mesmo que em 1909</p><p>(1973, p. 84). O Movimento de luta pela democratização da escola pública se</p><p>articula para exigir o direito ao acesso à educação a todos os cidadãos, tendo</p><p>em vista o alto índice do analfabetismo. (BRANDÃO; ASSUMPÇÃO, 2009,</p><p>p.16).</p><p>Ao descrever o trabalho pedagógico dos primeiros missionários no Brasil,</p><p>o sociólogo e educador Fernando de Azevedo (1894-1974) associou o ensino</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>65</p><p>escolar que os jesuítas deram a crianças indígenas, mestiças e brancas com o</p><p>de uma Educação Popular no país.</p><p>Do período colonial até o final do século XIX, propostas ou experiências trata-</p><p>das como Educação Popular eram praticamente inexistentes, salvo atividades e</p><p>ações de cristianização praticadas por jesuítas e outros religiosos, com cunho</p><p>―educativo‖ e intuito de colonizar os indígenas e, posteriormente, os negros es-</p><p>cravizados. No entanto, em ambos os casos não se tratava de acesso ao sistema</p><p>formal de ensino, estando mais próximo de um processo de aculturação, prin-</p><p>cipalmente buscando a adoção da língua portuguesa e da religião cristã por par-</p><p>te destes povos explorados pelos colonizadores europeus. (PICCIN; BETTO,</p><p>2018, p.13).</p><p>Para Paulo, esse tipo de sentido ao popular é compreendido como ―edu-</p><p>cação popular, cristão-instrumental (2018, p.177, Grifos da autora).</p><p>No ano de 1930, a expansão da urbanização/industrialização fez com</p><p>que os donos das empresas construíssem escolas de alfabetização para os</p><p>funcionários, para que eles soubessem ler e escrever. Juntamente à necessi-</p><p>dade de escolarização dos trabalhadores, houve movimentos em prol da</p><p>valorização da cultura popular e de uma educação para o povo e pelo povo,</p><p>não como instrução somente. Um dos movimentos de luta em defesa da</p><p>educação dos trabalhadores foi o movimento anarquista (PAULO, 2013).</p><p>Importa salientarmos que, no início da década de 1900, surgiram os primei-</p><p>ros movimentos com características de sindicato no Brasil. Naquela época,</p><p>com a intenção de formação aos trabalhadores, esses movimentos desenvol-</p><p>veram uma metodologia chamada de Roda de Prosa, visando construir espa-</p><p>ços de conversas sobre a vida (futebol, família, trabalho etc.), até chegar nos</p><p>assuntos referentes à fábrica e à educação.</p><p>De acordo com Ferraro (2002), pesquisas apontavam que, nos anos de</p><p>1960, cerca de 40% da população brasileira era analfabeta. Nesse período, o</p><p>analfabeto não tinha direito ao voto, ou seja, metade da população brasileira</p><p>era impedida de participar das escolhas políticas. Nesse contexto, a alfabeti-</p><p>zação popular se tornou um instrumento de luta política e de busca de direi-</p><p>tos, tendo como ferramenta a popularização da cultura do próprio povo. Na</p><p>época, surgiram diversos movimentos favoráveis à Educação Popular. Na</p><p>carta de Brandão, escrita em 1980, verificamos o trabalho realizado pelo</p><p>Movimento de Educação de Base dos anos de 1960, através da ala progres-</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>66</p><p>sista da Igreja Católica. Eles desenvolviam atividades de Educação e alfabe-</p><p>tização Popular:</p><p>Figura 4 - Carta que Carlos Rodrigues Brandão recebeu em 1980.</p><p>Fonte:acervo de Cartas - Paulo e Brandão (documentos inéditos)</p><p>Na década de 1960, emerge fortemente a ideia de cultura popular, pela</p><p>valorização e pela promoção de uma cultura produzida pelo próprio povo e</p><p>não uma cultura que tem por objetivo perpetuar a dominação do povo. Co-</p><p>mo lemos no fragmento da carta acima, a Educação Popular de cunho críti-</p><p>co tem origem no trabalho realizado pelas pastorais e pelos Movimentos de</p><p>Educação de Base, espalhados pelo país. Identificamos que a cultura popular</p><p>era a base da Educação Popular, e que a escolarização popular estava asso-</p><p>ciada à politização (―uma arma de luta a mais‖).</p><p>Ou seja, na época citada, se fortaleceu a visão de que todos e todas pro-</p><p>duzem cultura, principalmente na interação um com o outro, no diálogo, e</p><p>aprendendo coletivamente. No livro Educação como prática da liberdade, Freire</p><p>(1967, p. 24) reafirma que ―o movimento de educação popular serviu [...]</p><p>muito mais à mobilização que à manipulação, que sempre criticou de manei-</p><p>ra bastante clara.‖. Assim, se pretendia que as classes populares produzissem</p><p>e tivessem acesso à cultura, mas sem ser através de uma cultura que repro-</p><p>duz a visão opressora, que fortalece a situação social de dominação e desi-</p><p>gualdade.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>67</p><p>[...] o MCP de Pernambuco desenvolveu suas atividades a partir de 1960. Entre</p><p>setembro de 1961 e fevereiro de 1963, realizou uma experiência de educação</p><p>pelo rádio, com recepção organizada em escolas experimentais, e para a qual</p><p>foi preparado o Livro de Leitura do MCP, transmitindo programas de alfabeti-</p><p>zação (50 a 60 minutos de aulas noturnas durante os dias úteis) e de educação</p><p>de base (10 a 20 minutos). Aos sábados e domingos eram feitas transmissões</p><p>musicais e teatrais por intermédio da Divisão do Teatro do MCP, ou levadas</p><p>ao ar as novelas gravadas pela SIRENA. (PAIVA, 1973, p. 238).</p><p>Nesse sentido, o que passa a ser defendido, a partir da criação dos cen-</p><p>tros de cultura, é a reinvenção da cultura a favor das classes populares, e não</p><p>como um mecanismo que as mantém em condição subalterna, nas palavras</p><p>de Brandão (2001). Ainda conforme Brandão (2001, p. 28), ―uma prática</p><p>cultural libertadora deveria envolver trabalho intelectual de reelaboração dos</p><p>elementos ideológicos da tradição de um povo.‖. Nasce o Centro Popular de</p><p>Cultura (CPC), 1961-1964, incentivando e valorizando a cultura a partir do</p><p>conhecimento por meio das experiências de trabalho com os saberes das</p><p>classes populares. Foi o primeiro movimento que produziu festas folclóricas,</p><p>oficinas de leitura, de teatro e de cinema. Para Vanilda Paiva (1973, p. 236),</p><p>neste tempo,</p><p>Os Movimentos de Cultura Popular que, em menor escala que os CPCs, tam-</p><p>bém se multiplicaram pelo país, se originaram no MCP de Recife, criado em</p><p>maio de 1960 e ligado à Prefeitura de Recife. O movimento nasceu da iniciativa</p><p>de estudantes universitários, artistas e intelectuais pernambucanos, que se alia-</p><p>ram ao esforço da prefeitura da capital no combate ao analfabetismo e elevação</p><p>do nível cultural do povo, buscando também aproximar a juventude e a intelec-</p><p>tualidade do povo.</p><p>Referente à citação de Paiva (1973) e as experiências de Educação Popu-</p><p>lar, observamos que os Movimentos de Cultura Popular são sujeitos impor-</p><p>tantes na história da Educação Popular. Em trocas de e-mail entre Fernanda</p><p>dos Santos Paulo e Carlos Rodrigues Brandão (2020b, p. 1), ele diz: ―Exis-</p><p>tem pelo menos umas 3 a 4 teses de doutorado sobre o MEB-Nacional (Os-</p><p>mar Fávero e Luiz Eduardo Wanderley) [...] teve Escolas Radiofônicas do</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>68</p><p>MEB dedicadas à alfabetização de adultos18.‖. Isto é, além dos relatos, al-</p><p>guns temas, experiências e ideias educacionais constam nas cartas de Carlos</p><p>Rodrigues Brandão. Abaixo, apresentamos uma correspondência que discor-</p><p>re a respeito de atividades realizadas por ele.</p><p>Figura 5 - Carta que Carlos Rodrigues Brandão recebeu em 1978.</p><p>Fonte:acervo de Cartas - Paulo e Brandão (documentos inéditos)</p><p>Considerando o contexto de intervenções militares da época, que res-</p><p>tringia os movimentos pela educação, tentando extinguir lutas pelas e das</p><p>classes populares, em conversa com Brandão, Paulo relata que ele dissera</p><p>que muitas cartas foram queimadas por conta das perseguições políticas,</p><p>como podemos conferir na sequência:</p><p>O MEB foi fechado em 1967, logo depois que Maria Alice e eu retornamos dos</p><p>estudos no CREFAL, no México. Foi encerrado pelo próprio D. Fernando,</p><p>bispo de Goiânia e grande amigo de Maria Alice até a sua morte (a dele). Hou-</p><p>ve acusações de que o MEB-GOIÁS estaria abrigando clandestinamente ações</p><p>de integrantes da Ação Popular. O que seria uma coisa boa! Ele foi fechado</p><p>por falta absoluta de trabalhos sob a ditadura militar, que chegou a Goiás em</p><p>1966. [...] Antes de o MEB-GOIÁS ser encerrado, a equipe passou dias e dias</p><p>queimando em fundos de quintais todo o material de anos e anos de trabalho</p><p>que poderia ser considerado subversivo e aprendido. (BRANDÃO, 2020b, p.</p><p>1. Grifos nossos).</p><p>18Os e-mails fazem parte da pesquisa da professora Fernanda Paulo, minha orientadora – proje-</p><p>to do qual faço parte. Por conta da pandemia do COVID-19, foi inviável a realização de entre-</p><p>vistas presenciais e de visitas na casa do educador Carlos Rodrigues Brandão.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>69</p><p>Outros movimentos buscam retomar a luta pela campanha de educação</p><p>de base feita pela igreja católica, sobretudo por iniciativa da Confederação</p><p>Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB). Conforme Brandão: ―Acredito até</p><p>hoje que o MEB foi o programa nacional de educação e alfabetização de</p><p>vocação freiriana mais completo e criativo entre todos.‖. (BRANDÃO,</p><p>2020b,</p><p>p. 1).</p><p>Na década de 1970, o trabalho realizado pelas Comunidades Eclesiais</p><p>de Bases (CEBs), ligado à igreja católica, tinha como bandeira de luta os</p><p>processos de libertação via trabalho popular, mediados por militantes, asso-</p><p>ciações de bairro e comunidades, clube de mães, intelectuais - estes em opo-</p><p>sição ao militarismo;esses sujeitos deliberaram um trabalho em prol da resis-</p><p>tência contra o regime militar e em defesa da sua queda, bem como estive-</p><p>ram presentes no processo de transição e de construção de um projeto demo-</p><p>crático no país.</p><p>Na década de 1980, Paulo Freire assumiu a secretaria da cidade de São</p><p>Paulo, como secretário de educação, criando o Movimento de Educação de</p><p>Jovens e Adultos (MOVA), na gestão da prefeita Luiza Erundina19. Foi a</p><p>primeira experiência de práticas pedagógicas após a ditadura militar onde as</p><p>classes populares participaram de forma democrática e participativa da alfa-</p><p>betização de adultos. Outras práticas foram realizadas em consonância com</p><p>experiências anteriores, tendo como base a educação libertadora:</p><p>Há várias experiências que buscaram e ainda buscam romper com a lógica do-</p><p>minante, mas aqui vamos destacar apenas as que se tornaram referências lati-</p><p>no-americanas por sua abrangência e por sua capilaridade em rede social: o</p><p>Movimento de Educação de Base (MEB), criado na década de 1960, que se in-</p><p>tegrou aos Movimentos de Cultura Popular; o Movimento de Alfabetização de</p><p>Adultos (Mova), criado em 1989; a Rede Educação Cidadã (Recid) e o MOVA-</p><p>Brasil, ambos criados em 2003. (PICCIN; BETTO, 2018, p.44).</p><p>19A prefeita é vinculada ao Partido dos Trabalhadores (PT), e, assim como Paulo Freire, foi um</p><p>dos primeiros membros filiados. Sobre essa filiação, sugerimos o documento intitulado ―Órgão</p><p>do Comitê Eleitoral Unificado do Partido dos Trabalhadores - São Paulo, outubro 1982‖, no</p><p>qual Freire diz que o PT tem como tarefa combater a visão elitista, presente inclusive na classe</p><p>trabalhadora. Afirma que a política não é e não deve ser um privilégio das classes dominantes.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>70</p><p>Para Freire, a Educação Popular é compromisso com a classe trabalha-</p><p>dora, isto é, ―estou convencido, e é óbvio o que vou dizer, de que adminis-</p><p>trações progressistas como as do PT não podem ficar distantes, frias, indife-</p><p>rentes à questão da Educação Popular.‖ (FREIRE, 1991, p.63, grifos nos-</p><p>sos). A acepção de Educação Popular libertadora, com a qual concordamos,</p><p>é:</p><p>Pela primeira vez surge a proposta de uma educação que é popular não porque</p><p>o seu trabalho se dirige a operários e camponeses prematuramente excluídos da</p><p>escola seriada, mas porque o que ela ―ensina‖ vincula-se organicamente à pos-</p><p>sibilidade de criação de um saber popular, por meio da conquista de uma edu-</p><p>cação de classe, instrumento de uma nova hegemonia. (BRANDÃO; AS-</p><p>SUMPÇÃO, 2009, p.32).</p><p>Esses projetos trouxeram a Educação Popular freiriana na pauta dos</p><p>governos populares. Era o Estado preocupado com políticas públicas estatais</p><p>com vistas à democratização do conhecimento por meio da educação como</p><p>direito.</p><p>[...] sustentamos nossos princípios político-pedagógicos sintetizados numa con-</p><p>cepção libertadora de educação, evidenciando o papel da educação na constru-</p><p>ção de um novo projeto histórico, a nossa teoria do conhecimento, que parte da</p><p>prática concreta na construção do saber, concebe o educando sujeito do conhe-</p><p>cimento e compreendendo a alfabetização não apenas como um processo lógi-</p><p>co, intelectual, mas também como um processo profundamente afetivo e social.</p><p>(BOFF, 2008, p. 63).</p><p>A Educação Popular crítica libertadora está presente na vida e na obra</p><p>de intelectuais como Paulo Freire e Carlos Rodrigues Brandão. Na presente</p><p>obra, identificaremos outros sujeitos que fazem parte da Educação Popular e</p><p>que trocavam cartas com Carlos Rodrigues Brandão, entre os anos de 1964 e</p><p>1980. Apresentaremos temáticas e ideias educacionais relacionadas à Educa-</p><p>ção Popular, que foram discutidas nestas correspondências, para darmos</p><p>visibilidade a uma história registrada em documentos, porém ainda não</p><p>publicada. Mediante estes estudos, perguntamo-nos como as cartas recebidas</p><p>e escritas por Brandão contribuem para a pedagogia latino-americana?</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>71</p><p>4.1MAPEAMENTO DAS CARTAS DO ACERVO DO EDUCADOR</p><p>CARLOS RODRIGUES BRANDÃO: PRINCIPAIS INTELECTUAIS DA</p><p>EDUCAÇÃO POPULAR</p><p>Esta seção secundária está composta pela apresentação de Carlos Ro-</p><p>drigues Brandão e por uma demonstração dos sujeitos presentes nas cartas</p><p>de seu acervo, bem como a descrição e a análise de conteúdos que constam</p><p>nas correspondências. Ademais, situamos as cartas de Brandão como Cartas</p><p>Pedagógicas – conceituando-as sob o olhar da Educação Popular. Conjun-</p><p>tamente, identificamos os principais temas e ideias presentes nas cartas, de</p><p>um modo geral.</p><p>Alguns destaques advindos do mapeamento são importantes para con-</p><p>textualizar esta seção e a posterior, bem como os demais capítulos. Desta-</p><p>camos que, no período histórico, de 1964 a 1980, ―os governos militares</p><p>pretenderam silenciar tudo o que existia ao redor de palavras tornada então</p><p>malditas, como ―Educação Popular‖ e ―Cultura Popular‖ (BRANDÃO,</p><p>1980, n. p). Percebemos a presença de uma fervorosa militância em municí-</p><p>pios brasileiros do centro oeste, sudeste e nordeste, onde intelectuais realiza-</p><p>vam trabalhos engajados em cursos e faculdades de educação, principalmen-</p><p>te trabalhando com o povo e para o povo na luta pela alfabetização popular e</p><p>religião popular.</p><p>Nas décadas de 1970 e 1980, vimos presente, através das cartas, a edu-</p><p>cação indígena e o negro como tema central de discussão, sobretudo a partir</p><p>de projetos populares de Educação Popular.</p><p>Inicialmente, apresentamos parte da trajetória do educador e pesquisa-</p><p>dor Carlos Rodrigues Brandão e sua defesa pela Educação Popular. Profes-</p><p>sor, psicólogo, poeta, antropólogo, mestre, doutor e pós-doutorado, conside-</p><p>ra-se um educador popular. Casado com Maria Alice, com quem troca cartas</p><p>até hoje. Esposo, pai e avô presente, além de ser um educador cercado de</p><p>amigos. Amigo dos movimentos sociais, e, no momento, faz parte do Institu-</p><p>to Paulo Freire e de outros movimentos populares. Em suas palavras:</p><p>Trabalhei no Movimento de Educação de Base. Tudo o que vivi e escrevi de-</p><p>pois sobre educação e movimentos populares vem destas primeiras experiências</p><p>com a cultura e a educação popular. Estudei Educação de Adultos no México,</p><p>em um instituto da UNESCO, em 1966. Vivi em Brasília e Goiânia, entre 1967</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>72</p><p>e 1975, trabalhando em movimentos sociais e como professor universitário, na</p><p>Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Tenho Mestrado em an-</p><p>tropologia social, na Universidade de Brasília. Ingressei na Universidade Esta-</p><p>dual de Campinas, em 1976 - aposentado como professor titular desde 1997,</p><p>mas continuei como professor colaborador voluntário. Fiz o doutorado em ci-</p><p>ências sociais na Universidade de São Paulo. Fui professor na Universidade Es-</p><p>tadual de Campinas. Realizei um programa de pós-doutorado na Itália (Uni-</p><p>versidade de Perugia) e na Espanha (Universidade de Santiago de Compostela).</p><p>Lecionei em universidades do Brasil e da Europa. Orientei várias teses e disser-</p><p>tações em Antropologia, na UNICAMP, e também no Programa de Pós-</p><p>Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Tenho livros</p><p>publicados nas áreas de antropologia, educação e literatura. Divido a minha</p><p>vida com uma presença de mais de 54 anos junto a associações e movimentos</p><p>ambientalistas e de frentes de lutas populares. (Depoimento para Fernanda</p><p>Paulo, 201820).</p><p>Ainda sobre Carlos Rodrigues Brandão:</p><p>Carlos Rodrigues Brandão, nascido em 14 de abril de 1940, no</p><p>Rio de Janeiro,</p><p>reconhecido pela participação militante nos movimentos de cultura popular a</p><p>partir dos anos de 1960, considera-se como educador popular e antropólogo.</p><p>Exerce a docência como profissão. Vem orientando trabalhos de mestrado e</p><p>doutorado nas pesquisas com ênfase em antropologia camponesa, antropologia</p><p>da religião, cultura popular, etnia e educação popular. Tem doutorado em Ci-</p><p>ências Sociais pela Universidade de São Paulo (1980), e atua como professor</p><p>universitário desde a década de 1970, tendo a Cultura e Educação Popular co-</p><p>mo temas de pesquisa. Estudou Educação de Adultos no México, em 1966,</p><p>sendo uma de suas áreas de estudo. (PAULO; ZITKOSKI, 2016, p. 49).</p><p>Brandão tem sido uma referência em cultura popular, em Educação</p><p>Popular, em pesquisa participante e em antropologia, sendo reconhecido</p><p>internacionalmente. Em nosso levantamento bibliográfico, observamos que</p><p>ele vem sendo inspiração para educadoras e educadores. Possui uma vasta</p><p>publicação na área da educação, sendo citado em artigos, dissertações e teses</p><p>(PAULO, 2018). O professor e educador popular:</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>73</p><p>Morou em vários estados do Brasil, como Brasília, Goiás e São Paulo e já tra-</p><p>balhou como professor universitário em várias universidades brasileiras, dentre</p><p>elas, na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e na Universidade</p><p>Estadual de Campinas, já aposentado desde a década de 1990. Seus textos são,</p><p>sobretudo, nas áreas de Antropologia e Educação, tendo dezenas de livros e ar-</p><p>tigos publicados acerca dos temas acima citados. Já no campo da Educação, a</p><p>ênfase de suas pesquisas e produções versa sobre Educação Popular. O educa-</p><p>dor carioca é, portanto, um andarilho do mundo e um militante apaixonado pe-</p><p>la escrita, pela poesia, pela música e pela Educação e Cultura Popular. (PAU-</p><p>LO; ZITKOSKI, 2016, p. 49).</p><p>Brandão estuda cultura e Educação Popular – sendo referência de mui-</p><p>tos pesquisadores e pesquisadoras brasileiras. Vimos, a partir de entrevistas e</p><p>depoimentos citados e por meio das Cartas Pedagógicas (acervo de Bran-</p><p>dão), que ele tem um trabalho que envolve educação e cultura popular, des-</p><p>de 1960. Iniciou um movimento de educação no país, e já andarilhou pelo</p><p>mundo falando de Educação Popular e de Pesquisa Participante. Suas raízes</p><p>no campo, na militância da Educação Popular, podem ser observadas no</p><p>trabalho no Movimento de Educação de Base (MEB). Nesse espaço, dirigiu</p><p>a Educação Popular basicamente, com educação de adultos em escolas radi-</p><p>ofônicas e atividades nas comunidades.</p><p>As suas produções sobre Educação Popular vêm contribuindo para en-</p><p>tendermos a educação que não separa a teoria da prática. A ação coletiva</p><p>junto a movimentos nas comunidades, para o educador, é instrumento de</p><p>lutas e de esperança, visando uma formação política com vistas à transfor-</p><p>mação social. Conforme Brandão (2006b, p. 41-46):</p><p>[...] não é uma variante ou um desdobramento da educação de adultos [...],</p><p>tampouco uma educação compensatória [...] ela emerge como um movimento</p><p>de trabalho político com as classes populares através da educação. [...] Tam-</p><p>bém, é considerada como um trabalho simbólico e político de transformação da</p><p>ordem social dominante [...]. Por isso, o lugar estratégico que funda a educação</p><p>popular é o dos movimentos e centros de cultura popular: movimentos de cul-</p><p>tura popular, centros populares de cultura, movimentos de educação de base,</p><p>ação popular.</p><p>Não é por acaso que localizamos nas cartas temas sobre Alfabetização,</p><p>Música, Poesia, Cultura, Movimento Popular e Arte como Movimentos de</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>74</p><p>Cultura Popular. Identificamos sujeitos de ações coletivas populares, como:</p><p>camponeses, operários, mulheres, indígenas e crianças. Nesse sentido, a</p><p>cultura popular:</p><p>Assume que a educação é um processo também cultural e de educação como</p><p>prática de liberdade que parte da realidade concreta enquanto compromisso</p><p>com a diversidade inserida em contextos sociopolíticos distintos. Tem a cultura</p><p>popular como ponto de partida, buscando valorizar os elementos importantes,</p><p>mas avançando para uma cultura orgânica de classe. Partir da realidade signifi-</p><p>ca também considerar a realidade concreta vivida em diferentes espaços e terri-</p><p>tórios geográficos, culturais, simbólicos, etc. A realidade e os sujeitos da ação</p><p>educativa estão localizados e constituídos pela pluralidade, pela diversidade e</p><p>por universos culturais multifacetários, com diferentes identidades e interesses e</p><p>os respectivos conflitos inerentes a essa realidade. A Educação Popular não</p><p>apenas reconhece essa alteridade, mas assume a afirmação das identidades e</p><p>das diferenças e as reconhece como componentes da própria diversidade socio-</p><p>cultural. (BRASIL, 2014, p.44).</p><p>As cartas recebidas de Brandão por Fernanda Paulo demonstram que,</p><p>desde 1960, temos registros de trabalhos de Educação Popular realizados por</p><p>sujeitos que, alguns, não constam nos livros da história da educação. As</p><p>Cartas possuem conteúdos importantes para a sistematização e a socializa-</p><p>ção dessas experiências. Os escritos possuem um conteúdo político e peda-</p><p>gógico, por isso são denominados por nós como cartas pedagógicas. Ou seja,</p><p>registros da caminhada e de percursos dedicados à educação popular, presen-</p><p>tes nessas cartas, nos permitem apresentar contribuições para a história da</p><p>Educação Popular e da Pedagogia Latino-americana. Em outras palavras:</p><p>A partir do mapeamento das cartas de Carlos Rodrigues Brandão tem sido pos-</p><p>sível identificar e analisar a história da educação popular em documentos inédi-</p><p>tos, as cartas. Estas são oriundas do acervo pessoal do educador Carlos Rodri-</p><p>gues Brandão, assentado em Poços de Caldas/Minas Gerais, e foram entregues</p><p>a mim em janeiro de 2019. São 488 cartas, as quais compõem nosso objeto de</p><p>estudo, possuindo relevância no campo histórico-educacional, mas nesse texto</p><p>apresentamos um breve estudo de 65 cartas, entre os anos de 1996 a 2001. Nos-</p><p>so estudo acerca do pensamento do educador Carlos Rodrigues Brandão medi-</p><p>ante cartas inéditas traz significativas contribuições para a Educação Popular,</p><p>sobretudo no atual contexto político-cultural do país; e 89 no cenário de transi-</p><p>ção histórica do país, desde os anos de 1960. (PAULO; DICKMANN, 2020a,</p><p>p.88).</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>75</p><p>Observamos que Portelli (1981, p. 104) já dizia que ―é impossível esgo-</p><p>tar toda a memória histórica de um único informante.‖.Podendo ser um dos</p><p>limites da nossa pesquisa. Contudo, temos as cartas escritas por Brandão e</p><p>dezenas de correspondências destinadas a ele. Diante disso, é inegável que as</p><p>ideias, os sujeitos, os temas e as experiências vividas por Carlos Rodrigues</p><p>Brandão, contidas nas Cartas, são instrumentos históricos de suma impor-</p><p>tância para a recuperação da nossa história.</p><p>Acerca dos intelectuais localizados nas cartas analisadas, os identifica-</p><p>mos como sujeitos diretos e indiretos. No primeiro caso, são aqueles que</p><p>trocaram cartas com Carlos Rodrigues Brandão, e, no segundo, sujeitos cita-</p><p>dos nas cartas recebidas ou escritas por ele. Nesta seção, apresentaremos os</p><p>sujeitos diretos (remetente e destinatário) das cartas. No Apêndice A (GAIO,</p><p>2021), é possível localizarmos o quadro de identificação de temas e sujeitos.</p><p>O intelectual mais presente nas cartas é Osmar Fávero. Temos cartas</p><p>para Paulo Freire, Nicole, Nazira Vargas, Roberto, Rubem Alves, Aldayr,</p><p>Miguel Arroyo e Bráulio do Nascimento – os mais presentes (entre 60 e 80).</p><p>Dentre esses intelectuais, destacaremos alguns; entre eles, os sujeitos diretos</p><p>(destinatários e remetentes) e indiretos (apenas citados com convivência com</p><p>Brandão):</p><p>a) Osmar Fávero/sujeito direto: reconhecido na literatura sobre Edu-</p><p>cação Popular.</p><p>Segundo Paulo (2018, p.68), ele é um dos pioneiros da Edu-</p><p>cação Popular freiriana.</p><p>Osmar Fávero nasceu em 1933, em São Paulo. Formou-se em Matemática, pe-</p><p>la Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1960. Depois, fez uma</p><p>especialização em alfabetização, Mestrado em Educação, pela Pontifícia Uni-</p><p>versidade Católica do Rio de Janeiro, tendo pesquisado a Educação de Adultos</p><p>em projetos rurais. Finalizou o curso em 1973. Em 1984, concluiu o Doutorado</p><p>em Filosofia da Educação, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,</p><p>tendo estudado ―Uma pedagogia da participação popular: análise da prática</p><p>educativa do MEB - Movimento de Educação de Base (1961-1966)‖.</p><p>Em uma rápida pesquisa na internet, sobre quem é Osmar Fávero, loca-</p><p>lizamos seu currículo, livros, artigos e sites que versam sobre a Educação de</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>76</p><p>Jovens e Adultos e a Educação Popular. Paulo (2018) lembra que o educador</p><p>foi ―um dos fundadores do Grupo de Trabalho denominado Educação Popu-</p><p>lar da Anped - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Edu-</p><p>cação [...]. Tem experiência na área de Educação, com ênfase na educação</p><p>de jovens e adultos e educação popular‖, acrescenta que ―Osmar Fávero é</p><p>uma referência importante para pesquisadores, estudantes e militantes de</p><p>projetos de educação com método e materiais didáticos que visam o processo</p><p>de conscientização.‖ (PAULO, 2018, p. 284). Uma das suas principais obras,</p><p>relacionada à Educação Popular, é Cultura Popular e educação popular –</p><p>memória dos anos 60. Nos últimos anos, dedica-se à memória da Educação</p><p>Popular a partir de documentos, como pode ser verificado em Paulo (2018).</p><p>A autora coloca que, na pesquisa de Osmar Fávero, a primeira fase da Edu-</p><p>cação Popular datada em meados dos anos de 1947 até 1967. Nos anos de</p><p>1960, como foi analisado nas cartas de Brandão, são marcantes os movimen-</p><p>tos de cultura e o Movimento de Cultura Popular (MCP), além do Centro</p><p>Popular de Cultura (CPC) e do Movimento de Educação de Base (MEB).</p><p>Também sinaliza o trabalho de Paulo Freire com Alfabetização popular, e,</p><p>igualmente, as ações do MEB com educação de adultos. Verificamos que a</p><p>Educação Popular era chamada de cultura popular, tendo, fortemente, a</p><p>característica do método popular de trabalho.</p><p>Figura 6-Osmar Fávero</p><p>Fonte: Fóruns Eja Brasil (2019).</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>77</p><p>A respeito desses achados, identificamos semelhanças com os con-</p><p>teúdos das cartas que tratavam da Cultura popular, em algumas vezes acom-</p><p>panhados de um diálogo sobre o trabalho docente de ambos.</p><p>b) Júlio Barreiro/sujeito direto: ―Creio que na minha última carta eu</p><p>falava de um livro sobre Educação Popular, penso agora que a iniciativa de</p><p>vocês torna a minha ideia sem efeito. Ou, pelo menos, obriga a que ela seja</p><p>repensada e, quero saber se está prevista para algum ano próximo. Por aqui</p><p>voltamos a falar em ―trabalho com o povo‖ e em Educação Popular, como</p><p>nos anos de 1964. Queira Deus que tenhamos aprendido com as lições do</p><p>passado eagora medimos o tamanho de nossos gestos e os momentos de seus</p><p>limites. Paulo Freire está estes dias entre nós. Devo estar com ele quarta-</p><p>feira aqui na UNICAMP.” (fragmento da carta escrita por Brandão, 13 de</p><p>agosto de 1979).</p><p>c)</p><p>Figura 7- ―Carta de Júlio Barreiro para Brandão‖, de 1979.</p><p>Fonte: acervo pessoal de Paulo e Brandão</p><p>d) Marcos Arruda/sujeito direto: ―Os trabalhos de Educação Popular</p><p>multiplicam-se por aqui. As pessoas voltam de todos os cantos e há muita</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>78</p><p>coisa a fazer por aqui. Agora mesmo, estou editando um livro sobre A Ques-</p><p>tão Política da Educação Popular. Junto textos de Paulo Freire a Nazira</p><p>Vargas. Lá estamos oito de nós, um outro time de companheiros.‖ (fragmen-</p><p>to da carta escrita por Brandão, 2 de maio de 1980). Marcos Arruda é geólo-</p><p>go, economista e educador popular:</p><p>Educador formado em Economia e com doutorado em Educação pela Univer-</p><p>sidade Federal Fluminense. Estudioso do tema da Socioeconomia Solidária e</p><p>da cultura popular. Trabalhou com Paulo Freire no Instituto de Ação Cultural</p><p>– Idac, sendo referenciado, a esse respeito, em uma nota de rodapé nos livros:</p><p>Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em processo e em Por uma</p><p>pedagogia da pergunta. (PAULO, 2019b, p. 248).</p><p>Trabalha como educador na socioeconomia popular na perspectiva da</p><p>emancipação individual e coletiva das pessoas, mediante práticas educativas</p><p>solidárias e autogestionárias que venham a contribuir para a criação de um</p><p>modo de desenvolvimento alternativo, centrado na vida21.</p><p>Figura 8- Marcos Arruda</p><p>Fonte: Supren (2016).</p><p>21Conferir em: https://www.youtube.com/watch?v=TR5ktbQvR4w. Acesso. abril de 2021.</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=TR5ktbQvR4w</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>79</p><p>Para Marcos Arruda, a Cultura popular:</p><p>[...] foi o nome primeiro, a meu ver, que caracterizou todo o movimento de</p><p>múltiplas expressões culturais-artísticas promovidas pela UNE antes do golpe</p><p>de 1964. A educação popular surgiu neste contexto, e sintonizava com aquela</p><p>terminologia e conotação. O popular tinha a ver com o mundo do trabalho, dos</p><p>que vivem do seu trabalho e não de rendas do capital. Tinha a ver com os seto-</p><p>res pobres e oprimidos, excluídos do sistema educativo convencional, ou preca-</p><p>riamente integrados a ele. O ambiente cultural de origem do termo Educação</p><p>Popular era ligado à lógica do empoderamento daqueles atores sociais, portan-</p><p>to tratava-se de uma educação para a autogestão da luta de libertação do povo.</p><p>Fazia parte de um projeto político que visualizava o empoderamento para a</p><p>participação política do povo como Sujeito, não mais como objeto ou ator su-</p><p>balterno. Portanto, a cronologia do Carlos está correta: o conceito e a prática</p><p>da educação popular têm sua origem na década de 60, no caso do Brasil.</p><p>(BRANDÃO, 2015, p. 122).</p><p>e) Rubem Alves/sujeito indireto: ―Assim que recebi os seus livros</p><p>[Clodomir Monteiro], fiquei com um deles e entreguei o outro ao Rubem</p><p>Alves, que manda agradecer-lhe.‖ (fragmento de carta escrita por Brandão</p><p>para Clodomir, em junho de 1977). ―Faço tese de doutorado, como você.</p><p>Um ritual de passagem complicado e prolongado, e que, como diz o Rubem</p><p>Alves, só vale como carta de alforria. Quando você acaba, todo mundo para</p><p>de perguntar ―o que é que você está fazendo?‖ Mas acredite que consegui</p><p>fazer de minha tese alguma coisa que acabou me envolvendo a vida. Um</p><p>estudo sobre [...] religião e religiosidade popular [...].‖ (fragmento de carta</p><p>escrita por Brandão para companheiro, junho de 1977).</p><p>Rubem Alves (1933-2014), mineiro, teólogo, pastor, educador, psicana-</p><p>lista e escritor brasileiro, nos deixou livros de filosofia, de teologia e de histó-</p><p>rias infantis. Cursou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas, em</p><p>São Paulo, e mestrado em Teologia pela Union TheologicalSeminary. Es-</p><p>22Brandão criou um grupo de pessoas para dialogar sobre a questão advinda de Oscar JaraHolli-</p><p>day para ele: ―Enfin, elasuntoes que quiero saber a partir de cuándo aparece el uso del término</p><p>"Educación Popular". Paulo (2018) denomina esse diálogo como ―e-mail dialógico‖. Fernanda</p><p>Paulo (fernandaeja@yahoo.com.br) estava no grupo que iniciou com 8 integrantes: Oscar Jara,</p><p>Brandão, Osmar Fávero, Danilo Streck, Moacir Gadotti, Marcos Arruda, Eymard Vasconcelos,</p><p>Miguel Arroyo e Balduino Andreola. Depois, ingressaram outros educadores, como Marcos</p><p>Raul Mejia, Norma Mechi. A orientadora desta dissertação recuperou em seu e-mail os dados</p><p>para a nossa pesquisa.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>80</p><p>creveu sua tese de doutorado com o tema</p><p>―teologia da libertação‖. Seu traba-</p><p>lho esteve voltado aos oprimidos. Assim como outros educadores progressis-</p><p>tas, foi perseguido pelo regime militar, acusado de subversivo.</p><p>Nas cartas de Brandão, Rubem Alves é citado como amigo e compa-</p><p>nheiro de trabalhos populares. As ideias presentes são: trabalho e religiosi-</p><p>dade popular a favor dos oprimidos. Os temas trabalho, religiosidade e educação</p><p>estão presentes, ao lado de referência a outros sujeitos, presentes nas cartas</p><p>de Carlos Rodrigues Brandão. Muitas vezes, não há o nome do destinatário,</p><p>sendo mencionados como: velho companheiro, irmão e pastor. Em uma</p><p>carta para Joel (abril de 78), Brandão descreve alguns diálogos com Rubem</p><p>Alves sobre sua amizade, companheirismo, trabalho popular e projetos futu-</p><p>ros.</p><p>No fragmento abaixo, carta destinada ao ―companheiro‖, em 1978, cita</p><p>Rubem Alves, que acompanhava o seu trabalho e dos muitos encontros no</p><p>Brasil e na América Latina.</p><p>Figura 9 - ―Carta de Brandão para companheiro‖, em 1978.</p><p>Fonte: acervo pessoal de Paulo e Brandão.</p><p>f) Miguel Arroyo/sujeito direto: ―Os planos de vocês coincidem mui-</p><p>to com o que eu pensava desde o começo. Não pensemos em um curso ‗ge-</p><p>ral‘ sobre o problema. Pensemos em um trabalho da oficina. Vamos nos</p><p>colocar à volta de uma mesa e discutir questões concretas que saem uma</p><p>prática concreta. Vamos discuti-las de um ponto de vista da crítica da educa-</p><p>ção, logo, dos usos e dos limites políticos da educação.‖ (Fragmento da Car-</p><p>ta de Brandão para Arroyo, 1980).</p><p>Em consonância com Costa, Paulo e Tessaro (2021, p. 136):</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>81</p><p>Miguel Arroyo é um educador brasileiro, Professor Titular Emérito da Facul-</p><p>dade de Educação, da Universidade Federal de Minas Gerais, autor de um con-</p><p>junto de obras que dialogam com o universo educacional, as quais oferecem re-</p><p>flexão sobre diversos temas, como a administração escolar, as políticas educa-</p><p>cionais e a profissão docente. Apresenta uma discussão pautada no poder, na</p><p>participação (ARROYO, 1979) e na luta contra a desigualdade, em favor de</p><p>uma vida digna e justa para todos (ARROYO, 2017; ARROYO, 2012). Foi se-</p><p>cretário adjunto de educação em Belo Horizonte, onde coordenou a implanta-</p><p>ção da Escola Plural (ARROYO, 2000). Em sua extensa trajetória para uma</p><p>educação que reconhece seus sujeitos e lutas em defesa da democracia, em to-</p><p>das as suas etapas e modalidades, propõe que ―o ser humano se forma na luta</p><p>incessante pela própria humanização‖ (ibidem, p. 247). Essa proposta de edu-</p><p>cação converge com Brandão e com Freire – autores interlocutores de Arroyo.</p><p>Figura 10 - Miguel Arroyo</p><p>Fonte: Educação&Participação (2017).</p><p>Sabemos que Miguel Arroyo fala de educação de jovens e adultos, de</p><p>garantia de direitos, de Paulo Freire, de educação integral, de pedagogia</p><p>libertadora, da importância da experiência, da formação de professor, de</p><p>currículo e de identidades (crianças pobres, negras, etc.), entre outros temas.</p><p>Podemos averiguar o conteúdo da carta, que traz o saber de classe – conceito</p><p>discutido por Brandão (2006a e 2007). Brandão (2006b) fala do saber que</p><p>circula, que é um saber de coletivos.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>82</p><p>Figura 11- ―Carta de Brandão para Miguel Arroyo‖, em 1980.</p><p>Fonte: acervo pessoal de Paulo e Brandão.</p><p>Para Brandão (2006b, p. 51), ―A Educação Popular é, hoje, a possibili-</p><p>dade da prática regida pela diferença, desde que a sua razão tenha uma</p><p>mesma direção: o fortalecimento do poder popular, através da construção de</p><p>um saber de classe.‖ Na carta, observamos temas importantes acerca da</p><p>Educação Popular, cabendo o destaque para o trabalho de formação na</p><p>perspectiva da conscientização.</p><p>g) Paulo Freire/sujeito direto: O legado do educador Paulo Freire</p><p>(1921-1997), patrono da educação brasileira com reconhecimento internaci-</p><p>onal, dispensa apresentação do autor, mas citamos Gadotti (1996), para</p><p>quem deseja estudar a vida e obra do educador. Inicialmente, foi considera-</p><p>do importante pela criação de seu método de alfabetização; depois, pela</p><p>pedagogia do oprimido; sua vida e obra apresentam bases pedagógicas, polí-</p><p>tica e epistemológica de pedagogias libertadoras. Segundo Brandão (1984),</p><p>nos primeiros escritos de Paulo Freire, a Educação Popular é vista como</p><p>uma prática de liberdade em seu sentido político. A Educação Popular com</p><p>intencionalidades políticas e pensamento crítico marca a pedagogia de Paulo</p><p>Freire, pois suas reflexões teóricas e práticas estão comprometidas com a</p><p>causa dos oprimidos. É por isso que a radicalidade da Educação Popular tem</p><p>como base a perspectiva da libertação e da práxis. A construção do conhe-</p><p>cimento e a intervenção na realidade caminham juntas.</p><p>Nas correspondências de Brandão, Freire é citado 22 vezes, e, em feve-</p><p>reiro de 1980, escreveu uma carta para ele. Os assuntos abordados foram:</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>83</p><p>1) Convite recebido para substituir Freire no Conselho Mundial das</p><p>Igrejas e de que seus planos eram de ficar no Brasil</p><p>2) Relatou sobre o trabalho de Educação Popular na UNICAMP –</p><p>projeto de um mestrado em Educação Popular, cujo nome do Freire foi</p><p>mencionado pelo grupo.</p><p>O conteúdo dos itens 1 e 2 podem ser visualizados na imagem que se-</p><p>gue:</p><p>Figura 12 - ―Carta de Brandão para Paulo Freire‖, 1980.</p><p>Fonte: acervo pessoal de Paulo e Brandão.</p><p>Importa ressaltarmos que localizamos o que compreendemos por edu-</p><p>cador e por educadora popular ou intelectual engajado na perspectiva da</p><p>Educação Popular freiriana, nesta carta, quando Brandão escreve: ―[...] po-</p><p>deríamos compor uma equipe invejável entre teóricos e práticos da Educação</p><p>Popular, na UNICAMP.‖</p><p>Em 16 de junho de 1980, Brandão remeteu outra carta para Paulo Frei-</p><p>re, tratando dos temas:</p><p>1) Encaminhamento de texto prometido para Freire. Junto, canções de</p><p>militância.</p><p>2) Sobre o livro A Questão Política da Educação Popular (artigos, autores,</p><p>lançamento e conteúdo).</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>84</p><p>3) Relato do trabalho de Brandão com um grupo de animadores da</p><p>Diocese de Goiás, com Pós-alfabetização.</p><p>4) Acerca da notícia na folha de São Paulo, a notícia de seu prêmio na</p><p>Bélgica, que Freire receberia, e da felicidade dos amigos.</p><p>5) Da expectativa da sua chegada ao Brasil.</p><p>Figura 13 - ―Carta de Brandão para Paulo Freire‖, 1980.</p><p>Fonte: acervo pessoal de Paulo e Brandão.</p><p>Verificamos que as Cartas de Carlos Rodrigues Brandão, chamadas</p><p>aqui de pedagógicas, trazem contribuições para a história da Educação Po-</p><p>pular. As ideias, os sujeitos e os temas presentes revelam que pautas daquela</p><p>época ainda são emergentes, tais como: Educação Popular na universidade,</p><p>Educação Popular teórico-prática em todos os contextos educativos, e traba-</p><p>lhos de Educação Popular utilizando múltiplas linguagens são exemplos</p><p>pontuais. Como sabemos, escrever cartas está ligado à história da humani-</p><p>dade, se tornando uma tradição para contar, descrever, comunicar e infor-</p><p>mar, em diferentes culturas e povos, as pessoas; conforme Camini (2012,</p><p>p.35):</p><p>Em todos os tempos, entre diferentes povos, culturas e classes sociais, escrever</p><p>e receber cartas significou (e significa) um gesto amoroso e de gratidão entre as</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>85</p><p>pessoas. Isto é, escrever cartas sempre foi uma forma de se comunicar. De um</p><p>lado, as pessoas que escreviam, e, de outro, as que as recebiam e as liam, após</p><p>o tempo normal de sua espera. Eram cartas portadoras de notícias de pessoas</p><p>que desejavam comunicar-se com outras que viviam longas distâncias geográfi-</p><p>cas para lê-la, por mais de uma vez, buscando apreender a sua mensagem, mui-</p><p>tas vezes mais profunda que as próprias palavras, porque ―pensada‖ desde o</p><p>outro lado por uma pessoa que</p><p>desejava se comunicar e ser entendida. Estas</p><p>cartas, geralmente escritas a punho e a tinta, com letra compreensível, conti-</p><p>nham os traços da emoção e dos sentimentos que o escritor carregava, no mo-</p><p>mento de sua redação. Para escrevê-las, dedicava-se um tempo, um cuidado</p><p>com a escolha das palavras e com o tipo do papel e caneta.</p><p>Os escritos dessas cartas de Brandão instigam a preocupação e os desa-</p><p>fios com a Educação Popular. Observamos que todos estão interessados em</p><p>refletir acerca de temas educacionais contextualizados em uma realidade</p><p>cultural, política, econômica e histórica, que deve der levada em considera-</p><p>ção. Outro destaque é a preocupação dos sujeitos interlocutores de Brandão</p><p>e dele mesmo em construir caminhos para mudanças e transformação do</p><p>espaço vivido, de forma mais humanizadora - enfrentando as exclusões soci-</p><p>ais. As reflexões, fundadas em um pensamento crítico, mostram que a Edu-</p><p>cação Popular ainda permanece um tema atual, importante e necessário:</p><p>O diálogo e a reflexão a respeito dessas questões permanecem relevantes tam-</p><p>bém na atualidade, na medida em que compreendemos que a Educação Popu-</p><p>lar ainda não cumpriu a sua intenção: a de propiciar a humanização e a liberta-</p><p>ção dos sujeitos que sofrem com as opressões políticas, econômicas e culturais.</p><p>É essa proposta que nos motivou, e continua nos motivando, a realizar e conso-</p><p>lidar ações e procedimentos para fortalecer as iniciativas populares da socieda-</p><p>de civil, considerando a diversidade e a particularidade dos envolvidos, para</p><p>enfrentar as opressões e as restrições impostas pelo Estado brasileiro e pela es-</p><p>trutura e dinâmica da sociedade contemporânea. (BRANDÃO, 2009, p. 10-11).</p><p>Partimos de uma reflexão acerca do conhecimento emancipatório, e,</p><p>fazendo uma relação entre Educação Popular e conscientização, as cartas</p><p>apresentam lutas, trabalhos e projetos realizados ou a serem realizados, ca-</p><p>pazes de unir conhecimento e mudança de mundo; conforme Paulo e Dick-</p><p>mann (2020a, p. 24):</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>86</p><p>Transformação social: uma educação que convida a refletir sobre a realidade e</p><p>produzir mudanças com vistas à libertação/emancipação. O conhecimento</p><p>construído a partir do conhecimento historicamente produzido e os saberes po-</p><p>pulares, os quais resultam em uma prática social que se realiza em movimen-</p><p>to/processo, considerando que educar, pesquisar e aprender envolvem um sen-</p><p>tido profundo de compromisso com a vida.</p><p>E, sobre essa reflexão acerca da educação para a transformação social,</p><p>os autores citados colocam que:</p><p>As Cartas Pedagógicas revelam um pensamento dialógico que compreende a</p><p>educação como processo de humanização dos seres humanos. Para tanto, a</p><p>educação é teórica e prática, ocupando-se em resolver problemas da vida con-</p><p>creta dos oprimidos [...]. Ou seja, as Cartas Pedagógicas, mais que ferramenta</p><p>de comunicação, são um convite a uma Pedagogia Engajada ética e politica-</p><p>mente (PAULO; DICKMANN, 2020a, p. 24-25).</p><p>Em consonância com a ideia supracitada, Camini (2012, p.35) mencio-</p><p>na:</p><p>[...] uma carta só terá cunho pedagógico se seu conteúdo conseguir interagir</p><p>com o ser humano, comunicar o humano de si para o humano do outro, pro-</p><p>vocando este diálogo pedagógico. Sendo um pouco mais incisivo nesta refle-</p><p>xão, diríamos que uma Carta Pedagógica, necessariamente, precisa estar grávi-</p><p>da de pedagogia. Portar sangue, carne e osso pedagógicos.</p><p>Sendo considerada educativa por ser um recurso de comunicação</p><p>educacional que visa propor diálogo, que comunica entre seres humanos,</p><p>que consegue interagir com o outro, que proporciona conhecimento e intera-</p><p>ção (CAMINI, 2012). As cartas pedagógicas também têm um cunho social,</p><p>pois ―no âmbito da troca de informações e de saberes, as epístolas pressu-</p><p>põem mais diretamente uma relação entre o eu e o outro‖ (MORAES; PAI-</p><p>VA, 2018, p. 11).</p><p>E, com isso, as contribuições para a história da Educação Popular, a</p><p>partir das ideias e temas educacionais apresentados nas Cartas de Carlos</p><p>Rodrigues Brandão, escritas entre os anos de 1964 e 1980, estão nas pautas</p><p>da Educação Popular numa perspectiva de mudanças da nossa realidade,</p><p>que nos permitem construir um mundo mais humanizado. Para isso, é im-</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>87</p><p>possível uma transformação social com a perpetuação de pedagogias opres-</p><p>soras e manipuladoras (PAULO; DICKMANN, 2020a), as quais precisam</p><p>ser enfrentadas e substituídas, de modo consciente, participativo e crítico,</p><p>pela</p><p>[...] concepção de Educação Popular humanizadora, de Paulo Freire, [cuja]</p><p>epistemologia relacional implica respeitar e problematizar os saberes populares</p><p>advindos dos educandos, saberes construídos pela nossa experiência existen-</p><p>cial, numa dinâmica epistemológica que não só não anula, mas também não se</p><p>limita a esses saberes. Isto, a partir de Freire e Brandão, é a possibilidade de</p><p>produção de um saber relacional, coletivo, solidário e transformador. Uma</p><p>Carta Pedagógica, nos pressupostos da Educação Popular como humanização,</p><p>representa um escrito encharcado de engajamento político. Em outras palavras,</p><p>a Educação Popular tem como projeto uma educação humanizadora, cujo ho-</p><p>rizonte é uma sociedade emancipadora, (PAULO, 2020, p. 30-31).</p><p>Por meio das cartas, podemos visualizar o caminho percorrido pelo</p><p>professor Carlos Rodrigues Brandão, observando os cursos, as palestras, as</p><p>rodas de conversa, os encontros e as viagens realizadas pelo educador – qua-</p><p>se todas relacionadas à Educação Popular; mesmo quando não explicita a</p><p>expressão, conseguimos localizá-la nas ideias colocadas nas correspondên-</p><p>cias. Então, ao analisarmos as cartas, redigidas no período de 1964 a 1980, e</p><p>a relação do professor Carlos Rodrigues Brandão com a Educação Popular,</p><p>através de escritos datilografados, na sua maioria, identificamos que essas</p><p>cartas são pedagógicas.</p><p>Mas o que são Cartas Pedagógicas? Entendemos, por cartas peda-</p><p>gógicas aquelas que possuem cunho pedagógico, sendo dirigidas a diversas</p><p>pessoas, com diferentes finalidades (VIEIRA, 2018) e cujo princípio é políti-</p><p>co-educativo. Encontramos, nas Cartas de Brandão, diálogos que narram</p><p>experiências educativas a partir de práticas sociais, identificando pessoas que</p><p>atuam na educação, referências teóricas, projetos e problemas educacionais.</p><p>São 180 cartas, e, nelas, constatamos narrativas e reflexões fundamentadas</p><p>sobre um tema educativo. Em geral, localizamos trajetórias de educadores</p><p>que escreveram sobre suas atividades educativas. Apreciamos, nas cartas,</p><p>uma ligação entre o autor e o surgimento da Educação Popular nos tempos</p><p>em que eclodiram o Movimento de Educação de Base e o Movimento de</p><p>cultura popular.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>88</p><p>As cartas, entendidas como documentos, têm se tornado um instru-</p><p>mento de reflexão e de informações sobre a visão do autor e suas possíveis</p><p>ligações e contribuições para a história da Educação Popular. Também é</p><p>possível percebermos que a troca de cartas contém discussões relevantes</p><p>sobre a educação, especialmente a exemplo da preocupação com a educação</p><p>indígena, com o negro e as relações com o branco, assim como com o tema</p><p>da religiosidade popular.</p><p>Esses documentos também nos mostram uma forma de relembrar o</p><p>processo vivido e os registros dessa memória, sendo marcados por um en-</p><p>contro de ideias e de temas dialogados entre professores, alunos, estudiosos e</p><p>comunidades. A carta é um gênero textual que permitiu a comunicação entre</p><p>educadores, e torna-se pedagógica porque possui elementos que a caracteri-</p><p>zam como tal - características presentes em Paulo e Dickmann (2020a), Ca-</p><p>mini (2012) e Moraes e Paiva (2018).</p><p>A partir dos estudos com as cartas de Brandão, identificamos que</p><p>pesquisas documentais contribuem para aquilo que Boaventura de Sousa</p><p>Santos (2009)</p><p>importante para desvelar o que estava</p><p>guardado, revelar o não conhecido, publicizar os documentos que registram</p><p>diálogos que forjaram o que hoje chamamos de Educação Popular.</p><p>A originalidade do livro não está nas cartas, porque eles já existiam,</p><p>mas na forma como foram catalogadas, organizadas, analisadas. Ainda mais</p><p>nas sínteses, onde Adriana e Fernanda nos mostram de forma sintética os</p><p>grandes temas presentes nelas, produzindo ciência sobre a história da Educa-</p><p>ção Popular tomando como ponto de partida o discurso engajado dos sujei-</p><p>tos que produziram os encontros de formação, a alfabetização, as lideranças,</p><p>as entidades, as redes, as experiências esquecidas e as resistências necessá-</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>8</p><p>rias, entre tantas outras questões que emergiram da análise das cartas de</p><p>Brandão, remetendo ao inédito viável!</p><p>Debruçar-se sobre cartas escritas pelos sujeitos da Educação Popular</p><p>dos anos de 1960-1980 é produzir ciência nova, é fazer pesquisa arrojada,</p><p>rigorosamente amorosa e dialógica, redescobrindo e reinventando formas de</p><p>produzir conhecimento que dialogam por um lado com os princípios freiria-</p><p>nos da valorização do saber de experiência feito, do contexto concreto como</p><p>ponto de partida – fazendo o caminho, ou trânsito, como gostava Freire</p><p>nessa época, do senso comum a consciência filosófica-científica.</p><p>Uma carta como as analisadas nessa obra, podem ficar esquecidas</p><p>numa gaveta, contendo um conteúdo riquíssimo, registrando a gênese e o</p><p>desenvolvimento da Educação Popular, mostrando os sujeitos e ideias que</p><p>traduzem o tempo dos anos 1960-1980, mas também as lutas, a clandestini-</p><p>dade, as proibições, os cerceamentos, as censuras, os impedimentos... O que</p><p>esses sujeitos viveram devem servir de vitamina para nós, hoje em tempos</p><p>parecidos – mesmo que diferentes – precisamos tomar como ponto de parti-</p><p>da para nossa práxis de educadores/as, pesquisadores/as e produzir o novo,</p><p>sem ficar reproduzindo o produtivismo academicista, escrevendo sobre mais</p><p>do mesmo, sem inovação ou reinvenção.</p><p>Por isso, esse livro planta uma semente: produzir outros tipos de co-</p><p>nhecimento é possível. Podemos parar de usar a ciência positivista como</p><p>muleta para seguir produzindo academicamente. Precisamos avançar para a</p><p>invenção de um novo método, precisamos ousar como Freire e os pionei-</p><p>ros/as de 1960-1980.</p><p>Penso que temos que seguir as trilhas que esse livroabriu, avançar</p><p>nesse novo caminho com passos firmes e de mãos dadas, lançar redes nesse</p><p>mar que está a nossa frente, imenso, desconhecido, mas que se mostra aco-</p><p>lhedor, que aposta na amorosidade, na acolhida, na partilha, no diálogo, na</p><p>ternura, na intuição, na generosidade. Ou seja, que ultrapassa a impressão</p><p>dicotômica do ser humano somente racional, suprimindo a emoção, e incor-</p><p>pora o que já foi produzido pela Ecopedagogia de Cruz Prado e Gutiérrez;</p><p>do pensamento de Maturana (que dialogava com Freire por cartas com o</p><p>apoio do prof. Adriano Nogueira); da nova física quântica; da nova biologi-</p><p>amorfogenética que afirma que nossos genes são resultado da repetição dos</p><p>hábitos culturais (a genética é cultura repetida) ...</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>9</p><p>Enfim, meninas, acredito que a vantagem epistemológica dos opri-</p><p>midos afirmada por Freire, que redobra a dimensão ao tratar-se de mulheres</p><p>da classe trabalhadora, Adri e Fer, só podia surgir essa nova forma de pro-</p><p>duzir conhecimento do protagonismo dessas pesquisadoras, por terem a</p><p>vantagem de ver o que nós homens ainda não vemos, que a burguesia não</p><p>quer ver (mesmo sabendo que existe), e que a Academia possibilita resolver</p><p>isso dialeticamente, no relatório final da tua dissertação – que se tornou esse</p><p>livro.</p><p>Desejo que tenhamos mais obras como essa. Quero ler mais, e con-</p><p>vido a nos unir nessa luta/pesquisa.</p><p>Um grande abraço e força na luta!</p><p>Prof. Ivo.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>10</p><p>CARTA-PEDAGÓGICA DE CARLOS RODRIGUES BRANDÃO</p><p>Do que falavam as cartas?</p><p>Do que vale lê-las agora?</p><p>Era um tempo em que o instrumento mais moderno para além do lá-</p><p>pis e da caneta, era a máquina de escrever. Paulo Freire, por exemplo, prefe-</p><p>ria escrever cartas e livros ―a mão‖. Assim aconteceu com Pedagogia do</p><p>Oprimido.</p><p>E escrevíamos entre nós muitas cartas, em tempos anteriores ao xe-</p><p>rox, ao comutador e à internet. Longas cartas algumas delas. E cartas de</p><p>Paulo Freire acabaram se convertendo em livros: Cartas á Guiné Bissau, Cartas</p><p>aos coordenadores de círculos de cultura de São Tomé e Príncipe, Cartas a Cristina e,</p><p>depois, Pedagogia da Correspondência.</p><p>Era comum escrevermos então cartas ―à máquina‖, especialmente</p><p>quando se tinha uma letra deplorável, como a minha. E muitas vezes usá-</p><p>vamos folhas de ―papel carbono‖, para obtermos uma cópia única de nossas</p><p>cartas enviadas a uma outra pessoa. Guardei muitas delas assim.</p><p>Depois vieram os tempos escuros da ―ditadura militar‖. Me lembro de</p><p>documentários dos tempos do domínio nazista na Alemanha e de outras</p><p>ditaduras em outros países da Europa. Livros queimados nas ruas e nas pra-</p><p>ças, como se não bastassem as tantas fogueiras da Idade Média. Mas então,</p><p>entre abril de 1964 e os muitos anos ―militares‖, éramos nós quem queimá-</p><p>vamos livros, cartas, documentos ―suspeitos‖, programas de alfabetização de</p><p>adultos, fitas gravadas, fotografias. Enfim, tudo o que os donos provisórios</p><p>do poder pudessem considerar como ―material subversivo‖. Afinal os ―agen-</p><p>tes do SNI – Serviço Nacional de Informação – estavam por toda a parte. E</p><p>um simples exemplar de Pedagogia do Oprimido em sua casa ou na mochila</p><p>poderia ser motivo para uma detenção policial.</p><p>Queimei um número enorme de cartas de outras pessoas, ou escritas</p><p>por mim e opiadas com ―carbono‖. Algumas delas teria sido os mais precio-</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>11</p><p>sos documentos do que eu vivia então. E vi ao meu redor, por toda parte,</p><p>outras pessoas e coletivos de pessoas como eu fazendo o mesmo.</p><p>Restaram algumas cartas menos ―comprometedoras‖ e as que troca-</p><p>mos após o final do regime militar no Brasil. Preciosas cartas restantes, jus-</p><p>tamente as mais ―inofensivas‖ então.</p><p>Há toda uma história apagada, silenciada, destruída durante os longos</p><p>anos da ditadura militar. Não foi a primeira vez e nem foi apenas aqui no</p><p>Brasil. Pessoas companheiras em países como o Uruguai, a Argentina, o</p><p>Paraguai e o Chile passaram pelos mesmos perigos, as mesmas fogueiras e os</p><p>mesmos sofrimentos. Não será um exagero lembrar que à diferença de outras</p><p>vocações pedagógicas, aquilo q que viemos a dar o nome de Educação Popu-</p><p>lar foi algo ao longo que boa parte da América Latina, criado, partilhado,</p><p>difundido e praticado entre pessoas perseguidas, presas, torturadas, exiladas.</p><p>Quase dezesseis anos exilado fora do Brasil foi o preço pago por Paulo Freire</p><p>por pretender criar uma modalidade de educação que ao invés de se servir</p><p>interesseiramente do povo, viesse a se colocar em seu nome e a seu serviço.</p><p>As pessoas que já ―surgiram no mundo‖ depois dos avanços incríveis</p><p>na eletrônica, e que desde cedo são usuárias dos recursos abertos pela inter-</p><p>net, dificilmente poderão imaginar o que eram os rituais de uma simples</p><p>carta. Escolher o papel, decidir se ―escrita a mão‖ ou com ―máquina de es-</p><p>crever‖, escrever ou datilografar. Colocar a carta dentro de um envelope e</p><p>endereçar. Levar a carta ao correio. Escolher a modalidade do envio: ―carta</p><p>simples‖, ―expressa‖ ou ―registradas‖. Colar os selos, escolhidos quando</p><p>possível também por critérios estéticos. Enviar enfim a cara. E esperar dias,</p><p>às veze meses por uma resposta. Vivi esses rituais durante décadas em minha</p><p>vida. E muitas dentre as cartas preservadas e algumas das que estão neste</p><p>livro são o que sobrou de tantos e tantos envios e recebimentos.</p><p>Esta não é a primeira</p><p>chama de não desperdiçar a experiência. Brandão, ao registrar</p><p>sua trajetória dialogada, nos permite refletir sobre as diversas formas de re-</p><p>gistro de uma experiência pedagógica e de como ela pode se tornar publici-</p><p>zada como teoria.</p><p>4.1.1 Educação Popular presente no Acervo de Cartas do educador Carlos</p><p>Rodrigues Brandão: principais temas e ideias</p><p>Nesta seção, tomamos como referência o Quadro 1 (Presença de ideias</p><p>e temas da Educação Popular nas Cartas de Brandão). Selecionamos, então,</p><p>os temas mais frequentes. Em seguida, organizamos uma amostra, no qua-</p><p>dro 3, sobre os temas mais tratados nas cartas:</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>89</p><p>Quadro 4 - Catalogação dos Temas</p><p>Emissor Destinatário Data Tema abordado com relação à</p><p>metodologia</p><p>Osmar Fáve-</p><p>ro</p><p>Carlos, Maria Alice 22 /06/ 1967 Metodologia do MEB.</p><p>Carlos Ro-</p><p>drigues</p><p>Brandão</p><p>Meu velho e querido</p><p>mestre e pastor,</p><p>18/01/1980 Ministrando curso sobre metodolo-</p><p>gia de pesquisa em Goiás.</p><p>Carlos Ro-</p><p>drigues</p><p>Brandão</p><p>Paulo Freire 10/ 02/1980 Educação Popular teórico-prática</p><p>Carlos Ro-</p><p>drigues</p><p>Brandão</p><p>Marcos Arruda 02/05/1980 CEDI - trabalho popular.</p><p>Trabalho de Educação popular.</p><p>Pesquisa Participante.</p><p>Carlos Ro-</p><p>drigues</p><p>Brandão</p><p>Paulo Freire 16/06/1980 Pós-alfabetização e método Paulo</p><p>Freire</p><p>Osmar Fáve-</p><p>ro</p><p>Carlos Rodrigues</p><p>Brandão</p><p>20/08/1980 Trabalho do MEB e o projeto de um</p><p>escrito sobre Metodologia.</p><p>Carlos Ro-</p><p>drigues</p><p>Brandão</p><p>Nicole 08/11/1980 Trabalho e metodologia Educação</p><p>Popular.</p><p>Movimentos Populares e participa-</p><p>ção política.</p><p>Nicole Carlos Rodrigues</p><p>Brandão</p><p>29/11/1980 Agradecimentos sobre orientação</p><p>da observação participante com a</p><p>prática do caderno do campo.</p><p>Fonte: elaborado por Gaio e Paulo (2020).</p><p>Um tema presente nas cartas foi o método Paulo Freire ou o método de</p><p>levantamento com base na participação popular - discutido em muitos cur-</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>90</p><p>sos, entre amigos e em encontros da Educação Popular. Recordamos que</p><p>Freire foi citado dezenas de vezes nas correspondências de Brandão. Com</p><p>relação ao método, estão interligadas a observação e a pesquisa participante.</p><p>Essa conexão pode ser vista nas cartas trocadas entre Brandão e Nicole.</p><p>Figura 14 - Fragmento de Carta de Brandão para Nicole (querida irmã),</p><p>1980.</p><p>Fonte: acervo pessoal de Paulo e Brandão.</p><p>Conforme Brandão (2006a, p. 40), o método era aplicado da seguinte</p><p>maneira:</p><p>1º) em uma comunidade comprometida com um trabalho de educação popular</p><p>existem um ou mais círculos formados ou em formação, com o seu grupo de</p><p>educandos e o seu animador (um agente de educação ―do programa‖ ou um</p><p>educador já alfabetizado, da própria comunidade); 2º) foi feito um primeiro</p><p>momento do trabalho de pesquisa de descoberta do universo vocabular e/ou</p><p>(hoje em dia, mais e do que ou) do universo temático; 3º) todo o material da</p><p>pesquisa feita dentro e fora da comunidade (mas sempre sobre ela e a partir de-</p><p>la) foi reunido, organizado, discutido, inclusive com a gente do lugar; 4º) o ins-</p><p>trumental do trabalho de alfabetização foi codificado, transformado em símbo-</p><p>los de uso no círculo de cultura: palavras geradoras, cartazes e fichas com as</p><p>palavras, desenhos e fonemas, fotos, anotações com dados, etc. (e, conforme o</p><p>caso, muitos etc. que cada equipe saberá obter e criar); 5º) a equipe de trabalho</p><p>e, sobretudo, os animadores de círculos de cultura estão não só familiarizados</p><p>com o método e o seu material específico para trabalho no lugar, com a sua</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>91</p><p>gente, mas também treinados sobre o método a ponto de sabê-lo usar, ao mes-</p><p>mo tempo, com eficiência autônoma e criatividade.</p><p>Em nossa análise, a base da discussão do método Paulo Freire ou do</p><p>método do trabalho popular é compromisso profissional dos educadores e</p><p>educadoras. Algumas passagens acerca do método nas Cartas Pedagógicas</p><p>de Brandão são:</p><p>Figura 15 - ―Carta de Brandão para Osmar Fávero‖ - 1976</p><p>Fonte: acervo pessoal de Paulo e Brandão.</p><p>Acima, o recorte apresentado trata do método por meio da necessidade</p><p>de estudos sobre métodos audiovisuais para alfabetização de adultos na</p><p>perspectiva de Paulo Freire. Sendo assim, vamos destacar outros temas e</p><p>ideias presentes nas cartas do educador.</p><p>Nas cartas de Carlos Rodrigues Brandão, é possível observarmos a pre-</p><p>sença da importância da Educação Popular, por meio da luta pelo saber</p><p>popular e cultura popular naquela época. Também, reconhecemos a contri-</p><p>buição de vários países da América Latina e de sujeitos, além de instituições,</p><p>que produziram conhecimento teórico e prático na e com a Educação Popu-</p><p>lar. O contato com as cartas demonstrou que as participações em seminários,</p><p>cursos e viagens do educador tratavam de experiências de trabalhos de Edu-</p><p>cação Popular em diversas áreas e países.</p><p>O mestrado em educação e a escola de educação da Universidade Esta-</p><p>dual de Campinas (UNICAMP) eram citados como precursores na busca</p><p>pela igualdade de direitos juntamente ao Instituto Superior de Estudos da</p><p>Religião (ISER). Nota-se que na região nordeste, mais precisamente na Ba-</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>92</p><p>hia/Salvador, havia encontros sobre a cultura popular, cujo significado era o</p><p>mesmo da Educação Popular.</p><p>A respeito de instituições que possuíam espaços para discussões sobre</p><p>Educação Popular e que constavam nas cartas analisadas, citamos a Pontifí-</p><p>cia Universidade Católica de São Paulo, onde acontecem palestras com alu-</p><p>nos do curso de filosofia e encontros de educação. Na UNICAMP, teses e</p><p>artigos foram produzidos por alunos sobre saber popular e educação popular.</p><p>Osmar Fávero e Celso Beisiegel são referências importantes que estudaram e</p><p>pesquisaram a Educação Popular nesse período (PAULO, 2018). Outro</p><p>achado é a localização da presença do educador e filósofo brasileiro Paulo</p><p>Freire na luta pela educação popular. Brandão, em uma das cartas, faz um</p><p>relato sobre um convite que recebeu de Paulo Freire para trabalhar com o</p><p>Conselho Mundial das Igrejas (CMI).</p><p>O tema “trabalho popular‖ foi muito utilizado nos anos de 1960 a</p><p>1980, sobretudo na Educação Popular. Conforme Freire (1987), Brandão</p><p>(1981), Fávero (2006) e Paludo (2018), a metodologia do trabalho popular é</p><p>um desdobramento das ações realizadas junto à classe trabalhadora, princi-</p><p>palmente com aqueles(as) que estão em situação de exclusão social. Essa</p><p>metodologia segue os princípios da Educação Popular constituídos pelo</p><p>processo de formação conscientizadora, os quais são: participação, politici-</p><p>dade, diálogo, autonomia, liberdade, respeito, solidariedade, ética, compro-</p><p>metimento e práxis.</p><p>Observamos, por meio dos estudos das Cartas de Carlos Rodrigues</p><p>Brandão, que o educador possui um vínculo com o Movimento de Educação</p><p>de Base (MEB), o qual desenvolvia metodologias críticas e participativas,</p><p>que, mais tarde, foram reconhecidas como Educação Popular. Nas palavras</p><p>de Osmar Fávero (2006, p. 200):</p><p>Para apoiar o Programa de 1965, os manuais preparados anteriormente para</p><p>uso dos professores e produtores de programas radiofônicos foram refeitos.</p><p>Conservou-se o essencial da fundamentação do conjunto didático viver é lutar</p><p>e planejou-se o lançamento das bases teórico-metodológicas para uma análise</p><p>mais aprofundada da realidade brasileira. [...] Promoção Humana, subdividi-</p><p>da em: conscientização (o homem, o trabalho, comunicação, condicionamen-</p><p>tos culturais, meios de realização do homem como pessoa, na família e na soci-</p><p>edade); e organização (função social do trabalho, associativismo, cooperação</p><p>econômica, ação política).</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>93</p><p>A questão metodológica da Educação Popular aproxima-se da perspec-</p><p>tiva de Freire, especialmente a partir</p><p>da Pedagogia do oprimido (FREIRE,</p><p>1987), e, mais tarde, o autor ressalta a metodologia dialógica como opção</p><p>teórica e prática a ser realizada em diferentes contextos educativos. Essa</p><p>abordagem crítica e politizada consta no livro Política e educação (FREIRE,</p><p>1993). Podemos citar algumas experiências que desenvolveram atividades</p><p>políticas e educativas com metodologias da Educação Popular. Paulo (2018)</p><p>apresenta uma breve trajetória da Educação Popular através de fases históri-</p><p>cas. Em seu entendimento, os movimentos que marcaram a Educação Popu-</p><p>lar freiriana (tendo como base a conscientização ético-política) são:</p><p>Entre 1959 e 1964: 1) Movimentos de reformas de base; 2) Educação Popular:</p><p>Alfabetização de Adultos. 3) Educação e Cultura Popular: Teatro, música, mís-</p><p>tica, etc. 4) Projeto Nacional de Educação Popular de alfabetização. Após 1964</p><p>até 1979 1) Comunidades Eclesiais; 2) Teologia da Libertação; 3) O jornal Pas-</p><p>quim se destaca como alternativo ao modelo autoritário. (Ver ANEXO); 4) Di-</p><p>tadura militar: prisões, exílio, censura, perseguição, repressão, etc.; 5) Ação</p><p>Popular, MEB e movimentos contrários à ditadura. Década de 1980: 1) EP:</p><p>Redemocratização e a militância nos Movimentos Sociais. Exemplos: Campa-</p><p>nha Diretas Já, mobilização pela Constituição Cidadã, de 1988, etc.; 2) Educa-</p><p>ção Popular na escola pública e na discussão de projeto de Partido; 3) Estado e</p><p>Educação popular (gestões do PT); 4) EP e MST: Ocupações e resistência no</p><p>campo e na cidade; 5) EP: A luta por direitos sociais básicos através de movi-</p><p>mentos populares; 6) EP: Criação da CUT - Central Única dos Trabalhadores -</p><p>e a retomada da formação política e reconhecimento do trabalhador enquanto</p><p>classe trabalhadora; 7) EP e a igreja Católica: Comissão Pastoral da Terra; 8)</p><p>EP na universidade; 9) Retorno do Freire e outros companheiros/as do exílio.</p><p>(PAULO, 2020b, p. 251-252).</p><p>Esses movimentos de Educação Popular revelam que o trabalho popu-</p><p>lar realizado pressupunha a conscientização no sentido de construir critica-</p><p>mente, e de modo politizador, o saber de classe. Para Brandão (2006b), a</p><p>Educação Popular tem pelo menos quatro sentidos, sendo que dois deles se</p><p>aproximam da perspectiva do trabalho popular, a saber:educação das classes</p><p>populares e da sociedade igualitária.</p><p>Pessoas, dessas épocas, conforme Paulo (2018), estavam comprometi-</p><p>das com trabalhos de Educação Popular, e, por isso, se indagavam a respeito</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>94</p><p>da questão da metodologia, pois buscavam uma educação problematizadora.</p><p>Isto é, uma prática educativa questionadora e reflexiva acerca da realidade</p><p>social, e que possibilitasse, dessa forma, a participação, a mobilização e um</p><p>plano político de intervenção. Paulo (2018, p. 46) discorre sobre essas rela-</p><p>ções com base na Educação Popular e nas Pesquisas Participativas, como</p><p>podemos observar a seguir:</p><p>Nos anos 60, vai surgir pesquisa participante, eu até costumo dizer que foram as</p><p>três experiências latino-americanas, basicamente, que acabaram repercutindo no</p><p>mundo inteiro, a educação popular, nos anos 60, a teologia da libertação, 60,70, e</p><p>a pesquisa participante; ainda agora eu estou vindo da Colômbia, do encontro in-</p><p>ternacional de pesquisa participante. (Entrevista, 2015 – grifo nosso).</p><p>A citação acima é parte da entrevista realizada por Paulo (2018) com</p><p>Carlos Rodrigues Brandão, em decorrência de sua tese sobre Educação Po-</p><p>pular freiriana e a Universidade. Conferimos a relação da metodologia da</p><p>Educação Popular na sua história com os temas e ideias educacionais escri-</p><p>tas nas cartas de Brandão.</p><p>Identificamos sujeitos (Quadro 2) que trocavam cartas com Carlos Ro-</p><p>drigues Brandão entre os anos de 1960 e 1980, nas quais a relação entre</p><p>Educação Popular e metodologia se fazia presente. Esses temas, em especial</p><p>das pesquisas participativas, têm sido pauta das discussões sobre as bases</p><p>teóricas da pedagogia latino-americana. A Educação Popular é uma dessas</p><p>bases, como vimos em sujeitos como Carlos Rodrigues Brandão, Osmar</p><p>Fávero e Marcos Arruda.</p><p>Dentre as temáticas da Educação Popular discutidas nas cartas de Car-</p><p>los Rodrigues Brandão, as metodologias participativas e o trabalho popular</p><p>ganham destaque. Os sujeitos que discutiram Educação Popular nos anos de</p><p>1964 a 1980 são diversos, homens e mulheres vinculados aos Movimentos</p><p>Populares, à ala progressista da Igreja Católica, educadores da escola públi-</p><p>ca, professores universitários, pesquisadores, familiares, amigos, alunos,</p><p>entre outros.</p><p>Um exemplo é a carta de Brandão para seu amigo Marcos Arruda, es-</p><p>crita em 1980, tratando de vários assuntos, dentre eles, destacam-se ―os tra-</p><p>balhos de Educação Popular multiplicam-se por aqui. [...] Agora mesmo</p><p>estou editando um livro sobre ―A Questão Política da Educação Popular‖.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>95</p><p>Junto aos textos de Paulo Freire e Nazira Vargas. Lá estamos oito de nós,</p><p>um outro time de companheiros.‖ (Carta de Brandão).</p><p>No livro citado, A Questão Política da Educação Popular (BRANDÃO,</p><p>1980), os companheiros são: Paulo Freire, Luís Eduardo, Aída, Bezerra,</p><p>Vanilda Paiva e Brandão, conforme localizamos na carta de Brandão, escrita</p><p>para ―Querida Aldayr‖.</p><p>A publicação do livro ―A questão da educação política da Educação Popu-</p><p>lar”, em sete artigos, ocorreu na mesma época do retorno de Paulo Freire do</p><p>exílio. O livro também apresenta quatro cartas que contemplam a escrita dos</p><p>Círculos de Cultura de São Tomé e Príncipe, onde a política da educação</p><p>política popular é literalmente exposta em trabalhos de alfabetização e pós-</p><p>alfabetização, escritos por Paulo Freire.</p><p>Dos autores do livro, três deles pertencem ao Movimento de Educação</p><p>de Base, estando, entre eles, Bezerra, cujo texto reconstrói práticas anteriores</p><p>e faz críticas às práticas anteriores de educação popular. Luís Eduardo Wan-</p><p>derley foi da Equipe Nacional do MEB, e discutiu e avaliou as condições</p><p>concretas de uma educação popular democratizada.</p><p>Silvia Manfredi, Vanilda Paiva e Pedro Garcia participaram de traba-</p><p>lhos na Educação Popular, quando estudantes. Sílvia pesquisa problemas</p><p>teóricos e metodológicos da educação popular. Vanilda discute qual o alcan-</p><p>ce da educação estendida pelo estado às classes subalternas. Pedro Garcia</p><p>estuda o saber popular como matéria prima da Educação Popular. Carlos</p><p>Rodrigues Brandão, também autor do artigo A cultura do povo e a Educação</p><p>Popular: Sete canções de militância pedagógica, acompanhado de enunciados de</p><p>início e notas ao final, fala da Cultura Popular como conhecimento intelec-</p><p>tual do povo.</p><p>Outros apontamentos são de suma importância, os quais são:</p><p>Década de 1960: temos 59 cartas, e em nenhuma delas encontramos a ex-</p><p>pressão Educação Popular (ver quadro 1), mas identificamos aquilo que</p><p>Brandão vem afirmando ―o que hoje chamamos de educação popular era o</p><p>que chamávamos nos anos de 1960 de Cultura Popular.‖ (PAULO, 2018, p.</p><p>82). Contudo, nos deparamos com a Educação de Adultos na perspectiva da</p><p>libertação, com o que, mais tarde, Brandão e outros pioneiros da Educação</p><p>Popular vieram a chamar de Educação Popular. Inclusive, a Educação de</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>96</p><p>Adultos, em sua constituição teórico-prática, é o tema que mais dialogou no</p><p>contexto Latino-americano e ali estava a base da Educação Popular: meto-</p><p>dologias participativas, educação conscientizadora e projeto libertador das</p><p>amarras do sistema ditatório, antidemocrático e capitalista. O Movimento de</p><p>Educação de Base (MEB) destaca-se nas cartas desse período. De ―responsa-</p><p>bilidade do Episcopado Brasileiro, através de sua entidade representativa, a</p><p>Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi criado no início da</p><p>década de 1960‖, ele ―direcionou suas atividades para desencadear processos</p><p>de autoconscientização</p><p>das massas, transformando decisivamente a realida-</p><p>de social com ações educativas e diretas nas comunidades rurais.‖ (SPIGO-</p><p>LON; SILVA, 2021, p. 141).</p><p>Conceito de Libertação presente desde os anos de 1960 nas cartas de Bran-</p><p>dão: Evidencia-se a Teologia da Libertação, influenciando o conceito de</p><p>libertação articulado ao de Educação Popular. Marca a influência direta do</p><p>Concilio Vaticano II, Concílio da Igreja Católica, foi de 1962, com Papa</p><p>João XXIII, até 1965, já sob o papado de Paulo VI. Para Paulo (2018, p. 60-</p><p>61):</p><p>Para compreender esse conceito, é necessário ir ao documento produzido na II</p><p>Conferência Episcopal Latino Americana, realizada em Medellín/Colômbia,</p><p>em 1968. O Documento de Medellín faz referência aos documentos do Concí-</p><p>lio Vaticano II (1962-1965); neles, é possível relacionar as concepções da Teo-</p><p>logia da Libertação. A educação libertadora contribuiria, nesse viés, para a de-</p><p>salienação do povo, a partir de uma visão teológica da igreja, a qual faz a op-</p><p>ção pelos pobres. A prática dessa nova visão passava pela ‗tarefa de educar‘ a</p><p>partir da leitura da realidade social opressora, acreditando e apostando na luta</p><p>que não separava a educação da religiosidade, na busca pela transformação so-</p><p>cial.</p><p>O Documento de Medelim23 é resultado da renovação específica da</p><p>Igreja na América Latina. Já a teologia da Libertação tem início a partir de</p><p>23Medelimé resultado e adaptação da Igreja da América Latina ao VII. A Igreja Católica inicia</p><p>uma caminhada de renovação no Concílio Vaticano II. Ou seja, ―A Igreja assume de forma</p><p>clara o trabalho de inserção nas comunidades pobres. A educação passa a ser pensada numa</p><p>perspectiva libertadora e há a inserção dos religiosos nas comunidades de base.‖( SIQUEIRA,</p><p>BAPTISTA e SILVA (2018, 648).</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>97</p><p>ênfases desse documento. Assim sendo, a autora afirma que a ―Educação</p><p>Popular com base teórica-crítica na concepção de educação libertadora e</p><p>transformadora‖ (PAULO, 2018, p. 60) perpassa pela Teologia da Liberta-</p><p>ção.</p><p>Das 56 cartas na década de 1970: já encontramos A Educação Popular,</p><p>mesmo timidamente. Contudo, em 21 destas cartas, verificamos a presença</p><p>de ideias e temas da Educação Popular. Um exemplo pontual é, novamente,</p><p>a Educação de Adultos com sentido de Educação Popular. Em uma carta de</p><p>7 de setembro de 1976, para Jether (não tem o nome do destinatário), falan-</p><p>do da tradução para o português do livro de Júlio Barreiro, “Educación</p><p>popular y proceso de conscientização” (1979), está explícito o compromisso</p><p>social, a luta pela mudança e transformação (PAULO, 2018). Sobre Júlio</p><p>Barreiro e a relação com Brandão, indicamos o verbete de Souza, Ribeiro e</p><p>Pereira (2021). Lá, encontramos a contextualização da obra referida. Em</p><p>síntese, ―o pseudônimo Júlio Barreiro nasceu de uma escolha coletiva[...], o</p><p>pseudônimo é uma expressão de resistência subversiva à ditadura militar,</p><p>operante na época em nossa América Latina.‖ (SOUZA; RIBEIRO; PE-</p><p>REIRA, 2021, p. 112).</p><p>Décadas de 1970 a 1980: o Centro Ecumênico de Documentação e Infor-</p><p>mação (CEDI) aparece em várias das cartas associado a publicações na ―re-</p><p>vista Tempo e Presença, Publicação mensal do CEDI‖ (PAULO, 2021, p.</p><p>47). Também</p><p>O CEDI realizava cursos na área da educação, como para a Educação de Adul-</p><p>tos e sobre escolarização popular. [...] encontramos a temática sobre igreja po-</p><p>pular. Esses temas são abordados nas cartas de Brandão. Importante destacar</p><p>que Brandão realizou trabalhos de assessoria em entidades como o CEDI,</p><p>NOVA, IDAC e MEB. (PAULO, 2021, p. 48).</p><p>Década de 1980 – É o período que mais localizamos a expressão Educação</p><p>Popular, como pode ser constatado no quadro abaixo:</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>98</p><p>Quadro 5 – Expressão Educação Popular nas Cartas</p><p>Educação</p><p>Popular</p><p>1964-1980</p><p>Destinatário Emissor Texto</p><p>17/07/1980 Nicole, minha</p><p>doce irmã</p><p>Brandão Ouvi de longe alguma referência a trabalhos de</p><p>Educação popular e, como essa tem sido minha</p><p>área, alguém disse que eu podaria ser chamado</p><p>até lá. Se for, estarei pronto, creia, e a alegria de</p><p>revê-la lá novamente. Pra todo lado há solicita-</p><p>ções agora sobre Educação Popular e Alfabeti-</p><p>zação Popular. De repente, o povo reaprende a</p><p>incorporar o "ler e escrever" em sua própria luta</p><p>pela libertação.</p><p>14/09/1980 Paulo Freire Brandão Sobre o futuro. De Goiânia mesmo encaminhei</p><p>um relatório de trabalhos e um projeto de ativi-</p><p>dades do CEDI na área da pastoral rural. Enca-</p><p>minhei também um projeto de trabalhos sobre</p><p>saúde como forma de Educação Popular;</p><p>13/10/1980 Brandão Irmão Fico contente com a segunda edição (que ainda</p><p>não recebi) da "Questão política da Educação</p><p>Popular" - nada como estar em boa companhia.</p><p>E ainda por cima ser vertido para o espanhol...</p><p>mamãe ficará muito orgulhosa.</p><p>02/08/1980 Yeda Brandão Ando pronto pra colaborar com vocês aí. Falei</p><p>com o Aidenor. Aviso o que é preciso e eu cum-</p><p>pro. Segue um longo poema, crônica, que andei</p><p>escrevendo por aqui. Segue também um livro de</p><p>educação popular. Mas nele tem um poema.</p><p>Leia, e a Marietn de Mossnmedes.</p><p>20 do agosto</p><p>do 1980</p><p>Miguel Arro-</p><p>yo, Sonia e</p><p>Felipe</p><p>Brandão A Questão Política da Educação Popular (Brasi-</p><p>liense); Júlio Barreiro (finalmente em Português)</p><p>Educação Popular e Conscientização? Equipe</p><p>do Idac - Vivendo e Aprendendo (O do Júlio é da</p><p>Vozes e o do Idac da Brasiliense. Mando pra</p><p>vocês dois exemplares do Cadernos do CEDES.</p><p>Reparem um artigo meu onde trabalho com a</p><p>ideia de educação de classe por oposição não só</p><p>da Educação do Sistema (a escola capitalista),</p><p>mas a própria Educação Popular. Creio que</p><p>podemos trabalhar em cima de categorias como:</p><p>prática de classe, educação de classe, saber de</p><p>classe, trabalho.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>99</p><p>16 de junho</p><p>de 1980</p><p>Paulo Freire,</p><p>mestre e amigo</p><p>Brandão Este poema faz parte de nosso livro A Questão</p><p>Política da Educação Popular. A Brasiliense vai</p><p>lançá-lo nas ruas ainda nesta semana. Ficou</p><p>muito sério e muito bonito. São sete artigos de</p><p>sete de nós. Começa com um prefacio de um</p><p>lavrador mineiro e termina com as suas 4 cartas</p><p>aos animadores de São Tomé e Príncipe. O livro</p><p>vai ser lançado na SDPC, onde espero vê-lo,</p><p>quem sabe? com calma e vagar.</p><p>8 de novem-</p><p>bro de 1980</p><p>Nicole, minha</p><p>doce irmã</p><p>Brandão Por aqui há uma redescoberta da Educação</p><p>Popular. Na verdade, o pessoal do Sul não está</p><p>descobrindo nada demais. O que tem sido cha-</p><p>mado de Educação Popular a Igreja já fazia em</p><p>1962 no MEB, ou fazia, como Pastoral Popular,</p><p>em tantas dioceses, em tantos cantos, junto com</p><p>o povo.</p><p>[...] em janeiro ainda vamos ter três dias de</p><p>estudos para pensarmos o trabalho de Educação</p><p>Popular na Diocese.</p><p>01 de maio</p><p>de 1980</p><p>Queridas</p><p>professoras</p><p>Brandão Na educação muita coisa acontecendo. O pessoal</p><p>do CEDES criou um grupo de Educação Popu-</p><p>lar. Eu preparo um livro para ser editado pela</p><p>brasiliense até julho. Coisa fina, com 8 autores.</p><p>Gente do nosso grupo quer começar consigo</p><p>(mesmo sem verba ainda) una parte da pesquisa</p><p>de saber popular. Acabo de acertar em Goiás</p><p>uma pesquisa participante na área da educação.</p><p>18 de janeiro</p><p>de 1980</p><p>Meu velho e</p><p>querido mestre</p><p>e pastor,</p><p>Brandão Eu tenho muita vontade de viver uma experiên-</p><p>cia "de mundo", entrar em lugar do Paulo Freire</p><p>e para trabalhar com Educação Popular é algo</p><p>que me motiva muito mesmo. Mas há muito a</p><p>conversar ainda. Qual o lugar onde eu seria mais</p><p>útil agora?</p><p>17 de janeiro</p><p>de 1980</p><p>Meu amigo</p><p>Jether</p><p>Brandão O RELATO DE 0 MEIO GRITO - Paulo escre-</p><p>veu um longo relato explicando o que foi a pes-</p><p>quisa e como ela foi feita, desde o trabalho ante-</p><p>rior da equipe de pesquisa. Ficou muito bom e</p><p>muito útil. Neide vai escrever um texto sobre</p><p>a</p><p>pesquisa participante, do ponto de vista da</p><p>Antropologia Social. Eu vou escrever um outro,</p><p>falando de pesquisa-participante como uma</p><p>forma de Educação Popular. Deverá ser publica-</p><p>do como um futuro Caderno do CEDI</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>100</p><p>10 de maio</p><p>de 1980</p><p>Paulo, compa-</p><p>nheiro.</p><p>(Freire)</p><p>Brandão Falei com o pessoal do NOVA, no Rio de Janei-</p><p>ro. Eles me haviam convidado para um pequeno</p><p>encontro interno sobre Educação Popular. Coisa</p><p>que fazem todos os anos. Haviam dado a liber-</p><p>dade para que eu escolhesse um outro convidado.</p><p>Indiquei o seu nome e ele foi muito bem aceito. É</p><p>o pessoal do NOVA que escreve os textos de</p><p>Educação Popular que o CEDI que publica. Este</p><p>é um encontro de umas 15 a 20 pessoas por 2</p><p>dias. Vai ser em 12 e 13 de junho, no Rio. Eles</p><p>confirmaram o convite a você pedindo que você</p><p>entre em contato com eles. [...]</p><p>Entreguei na Brasiliense um livro sobre Educa-</p><p>ção Popular. Uma coletânea de textos de 9</p><p>autores. Começa com um prefácio de um lavra-</p><p>dor [...]. O diretor o encomendou um pequeno</p><p>livro chamado Que é Educação? pra jovens.</p><p>Fiquei entusiasmado e devo fazê-lo até setembro.</p><p>29 de janeiro</p><p>79</p><p>Pedro, irmão Brandão Ha promessas de uma volta a dedicação aos</p><p>estudos e trabalhos de Educação Popular a quem</p><p>tenho sido fiel há l6 anos e para onde quero</p><p>voltar de corpo e alma. Com a poesia e muito</p><p>mais do que com a antropologia acadêmica -</p><p>seria o meu modo de fazer alguma coisa.</p><p>13 de agosto</p><p>de 1979</p><p>Júlio Barreiro,</p><p>amigo</p><p>Brandão Eva viu a Luta acaba de sair aqui no Brasil em</p><p>Educação e Sociedade (nº 3). Se interessa a</p><p>vocês, posso enviar um número da revista. Eu</p><p>fico feliz de saber que ela acompanha os profetas</p><p>o se veste de espanhol, o que é como ganhar uma</p><p>outra vida.</p><p>Creio que em minha última carta eu falava de um</p><p>livro sobre Educação Popular. Penso agora que a</p><p>iniciativa de vocês torna a minha ideia sem</p><p>efeito. Ou, pelo menos, obriga a que ela seja</p><p>repensada e, quero saber se prevista para algum</p><p>ano próximo. Por aqui voltamos a falar em</p><p>―trabalho com o povo‖ e em Educação Popular</p><p>como nos idos de 1964* Queira Deus que tenha-</p><p>mos aprendido com as lições do passado e sai-</p><p>bamos agora medir o tamanho de nossos gestos e</p><p>os momentos de seus limites. Paulo Freire está</p><p>estes dias entre nós. Devo estar com ele quarta-</p><p>feira aqui na UNICAMP.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>101</p><p>14 de março</p><p>de 1978</p><p>Prezado com-</p><p>panheiro</p><p>Brandão O meu lado mais verdadeiro fazendo o trabalho</p><p>de que o Rubem deve ter contado a você. Muitos</p><p>encontros no Brasil e na América Latina. Depois,</p><p>um livro, dizem os amigos que o melhor. Dizem</p><p>os mais radicais que o único bom (procure Júlio</p><p>Barreiro, Educação Popular e o Processo de</p><p>Conscientização, Siglo XXI). O outro lado</p><p>dividia-se entre um professor ocupado e um</p><p>psicólogo que nunca gostou de ser. Finalmente, o</p><p>mestrado. De algum modo, a redescoberta de</p><p>sinais e verdades.</p><p>21 de março</p><p>de 1977</p><p>Prezado Ro-</p><p>berto</p><p>Brandão Devo estar em julho na reunião da SBPC. É</p><p>possível que participe de uma Mesa Redonda</p><p>sobre Educação Popular.</p><p>14 de outu-</p><p>bro de 1980</p><p>Brandão Vanilda E Campinas como vai? Agora com o Paulo</p><p>Freire aí pode-se pensar mais realisticamente no</p><p>tal mestrado em Educação Popular. Quanto a</p><p>mim, sigo aguardando o contrato. Se sair no</p><p>começo de novembro, como espero, estarei por aí</p><p>dentro de umas 3 semanas.</p><p>2 de maio de</p><p>1980</p><p>Marcos Arru-</p><p>da,</p><p>Brandão Os trabalhos de Educação Popular multiplicam-</p><p>se por aqui. As pessoas voltam de todos os cantos</p><p>e há muita coisa a fazer por aqui. Agora mesmo</p><p>estou editando um livro sobre A Questão Políti-</p><p>ca da Educação Popular. Junto textos de Paulo</p><p>Freire a Nazira Vargas. Lá estamos oito de nós,</p><p>um outro time de companheiros.</p><p>10 de feve-</p><p>reiro de</p><p>1980</p><p>Prezado Paulo</p><p>Freire</p><p>Brandão Estávamos combinando uma "concentração‖ em</p><p>Educação Popular ou em Sociologia da Educa-</p><p>ção para o mestrado. Falamos muito em seu</p><p>nome. Concluímos que, a partir de julho deste</p><p>ano, poderíamos compor uma equipe invejável</p><p>entre teóricos e práticos da Educação Popular, na</p><p>UNICAMP.</p><p>Fonte: Fernanda dos Santos Paulo, pesquisa Pós-doutorado, 2020.</p><p>Observamos, nesse quadro, as presenças explícitas da Educação Popu-</p><p>lar, como pode ser constatado no seguinte mapa temático:</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>102</p><p>Figura 16- Mapa Temático</p><p>Fonte: elaborado pelas autoras.</p><p>Nos anos de 1980, aparecem sujeitos da Educação Popular (pessoas e</p><p>instituições). No caso das pessoas, podem ser observadas no quadro 4. Já as</p><p>instituições, podem ser observadas na imagem ―mapa conceitual‖. Concer-</p><p>nente às instituições nesse período, se sobressaíram CEDI, MEB, IDAC,</p><p>CEDES, NOVA, UNICAMP e Pastoral popular. Apresentaremos, breve-</p><p>mente, o lugar que ocupam as instituições que se fizeram presentes, no ano</p><p>de 1980, em correspondências nas quais a Educação Popular apareceu expli-</p><p>citamente:</p><p>CENTRO ECUMÊNICO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO</p><p>(CEDI): ―Em 1974, nasceu o Centro Ecumênico de Documentação e Infor-</p><p>mação (CEDI), oriundo do Centro Evangélico de Informação (CEI) já exis-</p><p>tente desde os anos de 1960.‖ (PAULO, 2021, p.47); cabe ressaltar que:</p><p>O CEDI realizava cursos na área da educação, como para a Educação</p><p>de Adultos e sobre escolarização popular. Também encontramos a te-</p><p>mática sobre igreja popular. Esses temas são abordados nas cartas de</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>103</p><p>Brandão. Importante destacar que Brandão realizou trabalhos de asses-</p><p>soria em entidades como o CEDI, NOVA, IDAC e MEB. (PAULO,</p><p>2021, p.48).</p><p>Destacam-se os dois primeiros cadernos de Educação Popular I e II, or-</p><p>ganizados pelo Nova – pesquisa, avaliação e assessoria.</p><p>MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE (MEB): Segundo Spigolon e</p><p>Silva (2021, p. 141):</p><p>Foi instituído em março de 1961, pelo Decreto presidencial nº 50.370/1961,</p><p>que assegurou seu funcionamento com recursos financeiros do governo federal</p><p>para ―[...] ministrar educação de base [...] através de programas radiofônicos</p><p>[...] por meio de alfabetização de adultos em massa, cujos objetivos previam</p><p>[...] iniciação democrática e a formação profissional. Nesse período, com a</p><p>maioria da população vivendo no meio rural, o MEB direcionou suas ativida-</p><p>des para desencadear processos de autoconscientização das massas, transfor-</p><p>mando decisivamente a realidade social com ações educativas e diretas nas</p><p>comunidades rurais.</p><p>INSTITUTO DE AÇÃO CULTURAL (IDAC): Freire estava envolvido</p><p>em</p><p>Genebra, na Suíça (1971 a 1980), com a agenda no Conselho Mundial de Igre-</p><p>jas (CMI), com a criação do Instituto de Ação Cultural (IDAC), que ressignifi-</p><p>cou a ação política-filosófica da educação a partir da experiência do exílio e</p><p>mediou a inserção político-pedagógica na Itália, na Suíça e em África. (SPI-</p><p>GOLON, 2021, p. 66).</p><p>CENTRO DE ESTUDOS EDUCAÇÃO E SOCIEDADE (CEDES): sur-</p><p>giu em 1979, em Campinas (SP), como resultado de um trabalho de alguns</p><p>educadores preocupados com a reflexão e a ação ligadas às relações da edu-</p><p>cação com a sociedade. A partir daí, criou a revista Educação & Sociedade,</p><p>e atualmente edita também os Cadernos CEDES24. Na tese de Paulo (2018),</p><p>podemos encontrar documentos em jornais, fotos e revista que trataram do</p><p>CEDES e a presença da Educação Popular. Uma foto de ―MaurícioTratem-</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>104</p><p>berg, Paulo Freire, Carlos Brandão, Moacir Gadotti, na Faculdade de Edu-</p><p>cação da UNICAMP, depois da reunião em que criamos o CEDES – Centro</p><p>de Estudos de Educação e Sociedade (1980 ou 1981).‖ (PAULO, 2018, p.</p><p>188-225).</p><p>NOVA – PESQUISA, ASSESSORIA E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO:</p><p>Um grupo de profissionais militantes</p><p>(Aída Bezerra, Beatriz Costa, Letícia</p><p>Cotrim, Evandro Sales), reuniu-se, em 1972, e criou a instituição como espa-</p><p>ço de mobilização e de trabalho social (assessoria, cursos e produção de</p><p>textos sobre as experiências dos agentes populares) com apoio dos católicos</p><p>populares. Criaram os Cadernos de Educação Popular, a partir de 1981. Para</p><p>Paulo (2021, apud FÁVERO; MOTTA, 2015, p. 48):</p><p>Conforme Fávero e Motta (2015), o CEI e o CEDI publicaram muitos materi-</p><p>ais críticos sobre o contexto político brasileiro, articulando aos movimentos so-</p><p>ciais e o compromisso das igrejas com a justiça social. Também - destaca-se a</p><p>publicação de dois suplementos sobre educação popular, em 1977 e 1978, com</p><p>textos teóricos de fundamental importância, produzidos pela equipe do Nova –</p><p>Pesquisa e Avaliação em Educação.</p><p>Como vimos, as instituições trabalhavam em rede, estando interconec-</p><p>tadas.</p><p>UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP): A univer-</p><p>sidade está presente na vida e na obra de Brandão, em diferentes contextos,</p><p>como explicita Paulo (2021, p. 193): ―Brandão trabalhou na Unicamp, e, em</p><p>muitas cartas, a universidade é citada. Entre os anos de 1964 e 1980, a insti-</p><p>tuição foi citada 159 vezes nas cartas de Brandão. Entre 1981 e 1995, a</p><p>UNICAMP foi mencionada, nessas correspondências, 165 vezes.‖. Ainda</p><p>podemos verificar que</p><p>Um outro destaque, localizado nas catas de Brandão referindo-se a Unicamp, é</p><p>sobre o retorno do Paulo Freire ao Brasil, que iria trabalhar na PUC de São</p><p>Paulo e na Unicamp. Destacamos que Brandão reporta-se ao trabalho de Edu-</p><p>cação Popular que poderiam desenvolver na universidade. Sobre isso, locali-</p><p>zamos no Jornal da Educação do CEDES uma notícia que ratifica o que se dis-</p><p>cutia nas cartas de Brandão. (PAULO, 2021, p.194).</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>105</p><p>PASTORAL POPULAR: De acordo com Perani (1989, p. 14):</p><p>A Pastoral Popular situa-se como uma das presenças no grande mundo dos</p><p>movimentos sociais. Deu, está dando e continuará a dar sua contribuição para</p><p>o objetivo comum de uma sociedade nova, baseada sobre relações de justiça e</p><p>fraternidade. [...] Tem, também, sua especificidade no sentido de que se trata</p><p>de um trabalho de Igreja.</p><p>O mesmo autor relaciona a pastoral com a dimensão educativa, isto é:</p><p>Um outro aspecto é o nível muito acadêmico de vários cursos de formação ofe-</p><p>recidos pela pastoral e a absolutização da lógica do pensamento científico. Se-</p><p>ria importante abrir espaços maiores para a rica experiência da Educação Po-</p><p>pular dos últimos anos no Brasil, e para a emergência e desenvolvimento das</p><p>"lógicas" do pensamento popular, de suas informações e pontos de vista, de</p><p>seus sentimentos e emoções, de seus sonhos, frustrações e aspirações. (PERA-</p><p>NI, 1989, p. 19. Grifo nosso.).</p><p>Referente aos temas e ideias da figura 16, faremos referências analíticas:</p><p>TRABALHO E SAÚDE: como observamos, as 41 cartas do ano de 1980</p><p>analisadas trazem temas que se repetem e que estão interligados com os anos</p><p>de 1960 e 1970. Um exemplo é o projeto Meio Grito:</p><p>Nos Cadernos do CEDI, de nº 3, sobre O Meio Grito: pesquisa sobre a saúde</p><p>do povo foi feita por pessoas dele e do setor de saúde da Igreja de Goiás, com a</p><p>colaboração de alguns assessores do CEDI – Centro Ecumênico de Documen-</p><p>tação e Informação, Rio de Janeiro (CENTRO ECUMÊNICO DE DOCU-</p><p>MENTAÇÃO E INFORMAÇÃO, 1980, p. 2); contando com 21 pessoas en-</p><p>volvidas, dentre elas, encontramos nas cartas de Brandão: Totó (lavrador, pes-</p><p>quisador na Gameleira -Itapuranga), Paulo (médico, Ceres, da Coordenação de</p><p>Saúde, assessoria interna), Ozelita (lavadeira, pesquisadora em Britânia), Neide</p><p>(antropóloga, Rio de Janeiro, assessoria do CEDI) e Adauto (lavrador, pesqui-</p><p>sador em Novo Brasil). (PAULO, 2021, p. 134).</p><p>Nos anos anteriores, com o trabalho de Rádio comunitária, cultura po-</p><p>pular, do MEB, dos direitos sociais, da alfabetização de adultos, da pesquisa</p><p>popular, do desenvolvimento comunitário socioeconômico, do uso da lin-</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>106</p><p>guagem popular, via trabalho popular comunitário, com a participação do</p><p>povo, a saúde foi um tema discutido/pautado. O trabalho, nas cartas de</p><p>Brandão, é o trabalho concreto realizado com as pessoas e de Educação</p><p>Popular.</p><p>Na década de 1960, surgiu a ideia de Educação Popular crítica, huma-</p><p>nizadora e subversiva, mas o nome cunhado era Cultura Popular ou educa-</p><p>ção libertadora. Essa ideia de Educação Popular libertadora buscava romper</p><p>práticas educativas mecanicistas e autoritárias, apresentando um trabalho</p><p>popular com pesquisas participativas que visavam a participação na luta por</p><p>direitos sociais. Um dos direitos era a saúde, mas, nas cartas de Brandão,</p><p>verificamos que outras áreas se articulavam: educação, moradia, poesia e</p><p>arte, entre outros. Com isso, afirmamos que a Educação Popular a partir das</p><p>Cartas de Brandão é intersetorial. A intersetorialidade na Educação Popu-</p><p>lar é característica desde os anos de 1960, com o trabalho de educação de</p><p>adultos. Tratavam do trabalho de Educação Popular em rede conectiva des-</p><p>de a gestão dos projetos, dos programas e das políticas. A integração de faze-</p><p>res e de saberes se construía na luta por intervenção no enfrentamento dos</p><p>problemas sociais. No livro À sombra desta mangueira (1995), Freire trabalha a</p><p>intervenção como política, democrática e esperançosa, e, assim, pontua que</p><p>a mobilização popular e a organização das pessoas para intervir na realidade</p><p>tem de ser participativa enquanto sujeitos de mudança e não objetos de</p><p>mandatários. Por isso, o conjunto de mudanças não vai ocorrer apenas com</p><p>o saber técnico, mas sim com os múltiplos saberes e pessoas diversas, não</p><p>antagônicas, como explicita Paulo (2021b) no verbete ―Meio Grito‖, no livro</p><p>Arqueologia nas cartas de Carlos Rodrigues Brandão: contribuições para a</p><p>Educação Popular.</p><p>UNIVERSIDADE, ESTUDOS, LIVROS E MESAS REDONDAS: nas</p><p>cartas, evidenciamos a presença da Educação Popular em estudos científicos,</p><p>na universidade e em cadernos específicos sobre o assunto. Para exemplifi-</p><p>car, citamos um trecho da Carta de Vanilda Paiva para Brandão, escrita no</p><p>dia 14 de outubro de 1980: ―agora com o Paulo Freire aí pode-se pensar mais</p><p>realisticamente no tal mestrado em Educação Popular‖. Assim como essa</p><p>passagem demonstra a pauta da Educação Popular na universidade, verifi-</p><p>camos que Brandão escrevia livro sobre Educação Popular, dialogando com</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>107</p><p>pessoas e instituições e, até mesmo, convidando amigos e amigas para a</p><p>autoria coletiva. As conexões entre os temas podem ser conferidas no Qua-</p><p>dro 5 – Expressão Educação Popular nas Cartas.</p><p>ALFABETIZAÇÃO POPULAR, EDUCAÇÃO DE CLASSE E LIBER-</p><p>TAÇÃO: nos estudos das correspondências de Brandão, observamos que a</p><p>educação de adultos é uma temática presente desde os anos de 1960. Entre-</p><p>tanto, no ano de 1980, associa-se a Educação Popular aos temas alfabetiza-</p><p>ção, educação de classe e libertação. Educação de Classe e Educação Liber-</p><p>tadora são citadas por Brandão desde antes de ―Educação Popular e consci-</p><p>entização‖, escrito nos primeiros anos de 1970. Mas, é salutar retomar pas-</p><p>sagens desse livro, reconhecido na América Latina como significativa refe-</p><p>rência de Educação Popular:</p><p>Educação Popular e conscientização, de Carlos Rodrigues Brandão, que leva o</p><p>nome de Júlio Barreiro, seu amigo. O livro foi publicado, primeiramente, na</p><p>Argentina (em espanhol), e editado anos depois no Brasil. Esse livro foi escrito</p><p>originalmente em português, no período do governo militar, que considerava os</p><p>movimentos de educação Popular como subversivos. Na obra, localizamos o</p><p>resultado de um trabalho prático e teórico que contribui para discutirmos a</p><p>concepção de Educação Popular latino-americana. Numa visita ao sumário,</p><p>encontramos um capítulo que versa acerca</p><p>de alguns pressupostos necessários</p><p>da Educação Popular numa dimensão política do trabalho educativo. Ao folhar</p><p>as páginas do livro, constatamos a opção teórica à qual o autor se filia, sobre-</p><p>tudo no vínculo entre conscientização e a Educação Popular. (PAULO, 2018,</p><p>p. 81).</p><p>Libertação é um conceito importante na Educação Popular, que pode</p><p>ser confirmado na carta ―Pra todo lado há solicitações agora sobre Educação Popu-</p><p>lar e Alfabetização Popular. De repente o povo reaprende a incorpora o "ler e escrever"</p><p>em sua própria luta pela libertação.‖ (Carta para Nicole, minha doce irmã,</p><p>1980). Em Paulo, a partir dos pioneiros e das pioneiras da Educação Popular</p><p>freiriana, dos quais Brandão faz parte:</p><p>A compreensão de universidade na práxis educativa desses educadores e edu-</p><p>cadoras é advinda das experiências de luta, resistências, transgressões e rebeldi-</p><p>as. Eles e elas vêm construindo, a partir da práxis, orientada pelas experiências-</p><p>mundo e pelos seus que fazeres engajados, experiências na universidade relaci-</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>108</p><p>onadas a um projeto de libertação na perspectiva da pedagogia crítica. (PAU-</p><p>LO, 2018, p.10).</p><p>A mesma autora posiciona-se na ―concepção da Educação Popular li-</p><p>bertadora, amparada por um novo ethos cultural, o da libertação‖ (PAULO,</p><p>2018, p.55), onde os educadores e educadoras progressistas apresentam suas</p><p>bases conceituais. A nossa síntese é a de que a Educação Popular nas cartas</p><p>de Brandão (quadro 1) tem voz, cor, classe e trabalho popular educativo-</p><p>conscientizador.</p><p>PESQUISA PARTICIPANTE, POESIA POPULAR E PAULO FREIRE:</p><p>foi comum encontrar o papel pedagógico da música e da poesia popular no</p><p>trabalho com a Educação Popular, bem como identificar esse trabalho com o</p><p>povo assinando as pesquisas participantes. Paulo Freire é mencionado pela</p><p>sua proposta de educação libertadora e transformadora como base da pesqui-</p><p>sa participante. Igualmente, a pesquisa participante, realizada com título ―O</p><p>Meio Grito‖ (PAULO, 2021b), é referenciada como uma experiência de</p><p>participação popular. Sobre a presença de Paulo Freire nas cartas, vejamos:</p><p>A educação em Paulo Freire está comprometida com a justiça social/ humani-</p><p>zação e emancipação humana. Existe uma aproximação de Brandão com Pau-</p><p>lo Freire para além das correspondências analisadas, mas aqui citarei as corres-</p><p>pondências remetidas ao Freire. Primeiro, vou destacar que nas Cartas entre</p><p>1964 e o ano de 1980 temos 22 vezes o nome ―Paulo Freire‖, abordando os se-</p><p>guintes temas: 1) Conselho Mundial de Igrejas e Paulo Freire – convite feito ao</p><p>Brandão para trabalhar em Genebra. 2) Participação dos dois no encontro na-</p><p>cional de supervisores educacionais em Goiânia. 3) Publicação de livros e ma-</p><p>teriais de Educação Popular. 4) Conversas com Paulo Freire, em São Paulo e</p><p>no Rio de janeiro. 5) Trabalhar com Freire no seu retorno ao Brasil (pós-exílio</p><p>de Freire). 6) Sobre Paulo Freire na Unicamp e contratação na PUC de São</p><p>Paulo. 7) Um projeto de Brandão de realizar uma pesquisa de Educação Popu-</p><p>lar com Freire sobre pesquisa com o povo, recuperando experiências do CEDI,</p><p>entre outras. 8) Brandão ir para Europa assumir o lugar de Freire a convite que</p><p>lhe foi feito. Precisava conversar com Freire e pessoal do CEDI sobre a propos-</p><p>ta. 9) Brandão dizendo que visitaria Paulo Freire na casa de Francisco Weffort.</p><p>10) Brandão falando que se fosse para a Europa, assumir o lugar de Freire, de-</p><p>sejava (e muito) realizar um trabalho de Educação popular. 11) Brandão, em</p><p>uma carta ao velho amigo pastor (sem nome), pede que agradeça ao Freire so-</p><p>bre a proposta de trabalho na Europa e da possibilidade de experiência de</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>109</p><p>mundo. 12) Sobre formação de pós-alfabetização utilizando Paulo Freire.</p><p>Brandão expressa que esse referencial é importante e necessário. 13) Em uma</p><p>carta de Brandão para Júlio Barreiro, de 1979, cita que Freire estaria indo reali-</p><p>zar uma atividade na Unicamp, e que estaria com ele. 14) Júlio Barreiro, desti-</p><p>nando uma correspondência ao Brandão (1979), versa sobre produções de Edu-</p><p>cação Popular e de Paulo Freire. 15) Acerca da revista Estudos Universitários</p><p>dedicada ao método Paulo Freire. Encontro uma correspondência de Brandão</p><p>para Freire (junho de 1980), cujos assuntos principais são: a organização do li-</p><p>vro ―A Questão Política da Educação Popular‖; a expectativa do retorno do</p><p>Freire ao Brasil, que estava por chegar; e o relato de Brandão sobre um traba-</p><p>lho que estava realizando na casa dele com um grupo de animadores da Dioce-</p><p>se de Goiás. (PAULO, 2021b, p. 162-163).</p><p>Com isso, validamos que a Educação Popular, nas Cartas de Carlos</p><p>Rodrigues Brandão, reafirma a sua base teórica presente em seus livros, mas</p><p>traz sujeitos e assuntos ainda não publicizados (Quadros 1, 3 e 4). Autenti-</p><p>camos os temas em conexões, pois as temáticas: a) trabalho e saúde; b) uni-</p><p>versidade, estudos, livros e mesas redondas; c) alfabetização popular, educa-</p><p>ção de classe e libertação; e d) pesquisa participante, poesia popular e Paulo</p><p>Freire se interligam. Chama a atenção essa conectividade temática da Edu-</p><p>cação Popular em que o conceito balizador é o de libertação. Freire, em</p><p>Pedagogia do Oprimido, vai colocar que a libertação é uma luta que vai se</p><p>dar de modo corajoso, dialógico e comprometido com a transformação soci-</p><p>al. Ele coloca o diálogo como princípio da libertação. Se retornarmos ao</p><p>quadro 1 (Presença de ideias e temas da Educação Popular - década de</p><p>1960), teremos a participação do povo presente nas cartas. Junto, encontra-</p><p>mos participação em diferentes contextos e de diferentes formas. Cabe frisar</p><p>o trabalho popular na América Latina com alfabetização de adultos, com</p><p>poema popular, com desenvolvimento comunitário socioeconômico e pes-</p><p>quisa popular, respeitando a linguagem popular mediante a participação do</p><p>povo. Ainda, encontramos o trabalho do MEB, das rádios comunitárias e o</p><p>diálogo como palavração. Seguindo a década de 1970, os temas dos anos de</p><p>1960 permanecem, e outros surgem, como Educação Popular abrangendo</p><p>literatura popular, Poema popular e político, arte popular, religião popular,</p><p>música popular, cultura popular, catolicismo popular, saúde popular, saberes</p><p>populares, entre outros temas, como Mudança Social, Conscientização,</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>110</p><p>Educação de classe, Educação do sistema, identidade étnica, negro no Brasil,</p><p>lutas, limites Políticos da Educação, entre outros.</p><p>Esses temas estão mediados pela Educação Libertadora, que pressupõe</p><p>palavração (FREIRE,1987). Na Pedagogia do oprimido (FREIRE, 1987), Frei-</p><p>re diz que é pelo diálogo que as pessoas se organizarão para a conquista de</p><p>sua libertação. Esse diálogo é crítico e problematizador.</p><p>Assim, a contextualização dos temas, das ideias e dos sujeitos contribu-</p><p>em para as categorias de análise: historicidade, totalidade, mediações e de-</p><p>terminações, apresentadas no nosso segundo capítulo. Buscamos realizar um</p><p>estudo das Cartas Pedagógicas de Bandão, na sua totalidade, contextuali-</p><p>zando-as e respeitando as categorias teóricas/práticas de análise: historicida-</p><p>de, mediações e totalidade. Uma outra categoria mencionada por nós foi a de-</p><p>terminação, que a entendemos como a realidade social que se insere nos nos-</p><p>sos estudos – a qual é uma realidade determinada pelo contexto político,</p><p>cultural, social, educacional e religioso da época. Porém, cabe ressaltar que a</p><p>categoria marxista ―determinação‖ foi questionada por Freire, em Pedagogia</p><p>da Autonomia, que nos ajuda a realizar uma leitura crítica a partir do traba-</p><p>lho de Educação Popular realizado pelos seus pioneiros e pioneiras no perí-</p><p>odo de ditadura, sobretudo através das instituições acima citadas. Para Frei-</p><p>re, somos condicionados e conscientes disso, podemos mudar a nossa reali-</p><p>dade.</p><p>Se considerarmos que estamos determinados, não nos reconhecería-</p><p>mos como sujeitos em mudança, para o educador. Para melhor clarificar, a</p><p>categoria mediação nos é cara, pois, se observarmos a figura 16 (Mapa Temá-</p><p>tico), a categoria mediação é fundamental para ratificarmos que Carlos Ro-</p><p>drigues Brandão é um intelectual conectivo (PAULO, 2018). As cartas peda-</p><p>gógicas estabeleceram as conexões entre os diferentes aspectos que caracteri-</p><p>zam aquela realidade: tempo (1960 a 1980), sujeitos (pessoas e instituições) e</p><p>o espaço (Brasil, em diálogo com outros países).</p><p>A leitura crítica das cartas pedagógicas a partir da categoria totalidade</p><p>só é possível mediante as mediações, pelas quais as partes estão relacionadas</p><p>(Quadro 1) em uma série de determinações e condicionamentos. Uma de-</p><p>terminação era o contexto de ditadura, que proibiu, por exemplo, o livro de</p><p>autoria do Brandão Educação Popular e Conscientização de ser publicado, por</p><p>ser considerado subversivo (PAULO, 2018). O condicionamento histórico</p><p>possibilitou as brechas rebeldes, as de buscar alternativas possíveis. Vimos</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>111</p><p>asinstituições citadas e o trabalho que se realizava via MEB e a ala progres-</p><p>sista da igreja católica. Essas instituições e pessoas, pela história presente nas</p><p>cartas, comprovam que nenhuma realidade é determinada. Elas estiveram</p><p>condicionadas ao período ditatorial, mas, no silêncio imposto formalmente,</p><p>gritavam às escondidas, subvertendo o modelo autoritário e antidemocrático</p><p>da época.</p><p>Diante de todas as análises realizadas, a Educação Popular libertado-</p><p>ra/transformadora é subversiva, rebelde e transgressora. Mesmo com as</p><p>contradições presentes, como a de se calar perante o governo ditador que</p><p>proíbe publicações de livro e apreende a Cartilha do MEB (contexto de per-</p><p>seguição/polícia/delegacia) – visto que, na Educação Popular, nega-se a</p><p>educação silenciosa e imobilizadora – os educadores e educadoras se ―cala-</p><p>ram‖ para não morrerem. Do outro lado, clandestinamente, estiveram lu-</p><p>tando pela retomada da democracia via Educação Popular. As Cartas Peda-</p><p>gógicas de Brandão são resistências políticas, muitas delas foram queima-</p><p>das por conta da ditadura militar, das quais a cinza levou de nós parte da</p><p>história (registrada) da Educação Popular, que, aos poucos, está sendo recu-</p><p>perada por meio de projetos de pesquisas que buscam a descrição de memó-</p><p>rias vivas, via depoimentos orais de pessoas com trajetória na Educação</p><p>Popular no período duro da ditadura civil militar brasileira. Outro exemplo</p><p>são as lives que estão ocorrendo sobre o tema que Brandão tem participado,</p><p>e, nelas, conta histórias que não encontramos nos livros. Por questão do</p><p>nosso tempo de pesquisa e recorte temático, não conseguimos desdobrar a</p><p>pesquisa para a recuperação das memórias vivas da Educação Popular que</p><p>estavam nas cartas queimadas de Brandão.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>112</p><p>Síntese do Capítulo</p><p>Uma palavra</p><p>______________________________________________________</p><p>Uma frase</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>_______________________________________________________</p><p>Um parágrafo</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>113</p><p>“Nesse sentido, esta pesquisa nasceu e se desenvolveu a partir de uma</p><p>intensa curiosidade epistemológica‟, advinda das „situações-limites‟ as</p><p>quais, enquanto educadores (as) populares, temos enfrentado, principal-</p><p>mente no que concerne às lutas pelo direito à formação em EP [Educação</p><p>Popular]”.</p><p>(Fernanda Paulo, 2019; 2013)</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>114</p><p>CAPÍTULO 5</p><p>A HISTÓRIA DA</p><p>EDUCAÇÃO POPULAR E</p><p>CONTRIBUIÇÕES PARA A</p><p>PEDAGOGIA LATINO-</p><p>AMERICANA A PARTIR</p><p>DAS CARTAS</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>115</p><p>Neste capítulo, vamos apresentar o que entendemos por pedagogia, ini-</p><p>ciando com a reprodução do quadro construído por Paulo (2020b), baseadas</p><p>no livro de Ghiraldelli Junior (2006). Depois, apontaremos indícios de uma</p><p>Pedagogia Latino-Americana na perspectiva da Educação Popular, por meio</p><p>das Cartas Pedagógicas de Carlos Rodrigues Brandão.</p><p>Figura 17 - Entendimentos sobre o que é Pedagogia</p><p>Fonte: elaborado por Paulo (2020b).</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>116</p><p>Em sua análise acerca dos autores e das compreensões sobre pedagogia,</p><p>Paulo (2020b) destaca que:</p><p>1- Pedagogias e Educação Popular – Dentre os autores que refletiram</p><p>sobre o tema, o que mais se aproxima da concepção de Educação Popular é</p><p>o pensamento de John Dewey. Com o início do movimento de defesa da</p><p>educação pública no Brasil, a Educação Popular era utilizada enquanto aces-</p><p>so da classe popular na escola (PAULO, 2018), e John Dewey foi uma das</p><p>bases teóricas que representou a necessidade de uma Escola Nova com pen-</p><p>samento pedagógico progressista (PAULO, 2020b).</p><p>Destacamos que John Dewey, citado por Freire, atuou, a partir do livro</p><p>―Democracia e educação‖, na defesa da educação e de país democráticos.</p><p>Isto é,</p><p>[...] Paulo Freire, balizado pela educação progressista libertadora (diferente da</p><p>educação progressista renovada de uma tendência liberal, de Dewey) represen-</p><p>ta uma educação conscientizadora, problematizadora da realidade e a luta pela</p><p>transformação radical da sociedade capitalista em uma socialista. (PAULO,</p><p>2020b, p. 30- 31).</p><p>2- Pedagogia socialista de Freire – Segundo Paulo (2020b, p. 31):</p><p>O socialismo democrático de Freire dialoga com a perspectiva de Dewey, que é</p><p>uma referência presente em três de seus livros: Educação como Prática da Li-</p><p>berdade, essa escola chamada vida e Educação e atualidade brasileira. Nessas</p><p>obras, Freire utilizou como referência bibliográfica o livro Democracia e Edu-</p><p>cação.</p><p>Vejamos que Freire dialoga com Dewey em seus primeiros escritos; de-</p><p>pois, na Pedagogia do Oprimido, verificamos autores da pedagogia crítica,</p><p>sendo Marx o mais citado no livro25. Ainda, para Paulo (2020b, p. 31), Frei-</p><p>25Informação advinda do curso de extensão que participei: ―influência da filosofia na pedago-</p><p>gia de Paulo Freire: pedagogia de Paulo Freire e a sua concepção de ser humano - diálogo</p><p>entre o marxismo e a fenomenologia”, ministrado por minha orientadora, pelo Centro Univer-</p><p>sitário Internacional (UNINTER), com carga horária de 12 horas, nas datas de 23 e 24 de outu-</p><p>bro de 2020. Também tem o livro de PITANO, S. C.; STRECK, D. R.; MORETTI, C. Z. (org.).</p><p>Paulo Freire: uma arqueologia bibliográfica. 1.ed. Curitiba: Appris, 2019.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>117</p><p>re, no livro Pedagogia da Esperança (1994), nos oferece uma importante refe-</p><p>rência da relação da pedagogia com a educação popular e o socialismo. Se-</p><p>gundo Freire (1994, p. 27), ―prescindiremos da luta, do empenho para a</p><p>criação do socialismo democrático, enquanto empreitada histórica.‖. Para</p><p>Paludo (2019, p. 405) ―[...] a perspectiva econômica, política, social e educa-</p><p>tiva de Freire não se confunde com os preceitos liberais e neoliberais e se</p><p>associa a um socialismo democrático.‖. Freire</p><p>(2015, p. 37) tece críticas ao</p><p>―dogmatismo do socialismo autoritário‖ e reafirma a sua defesa pelo ―socia-</p><p>lismo realmente democrático‖ (FREIRE, 1995, p. 38.). Florestan Fernandes,</p><p>por exemplo, é citado por Freire em sua tese, especialmente em suas refle-</p><p>xões sobre a democracia e defesa do socialismo. Freire continuou nessa luta,</p><p>embasando-se em um projeto de socialismo democrático, em tempos de</p><p>constituinte (1986), da fundação do Partido dos Trabalhadores e da sua ges-</p><p>tão enquanto secretário de educação. Não foi diferente em Brandão, pois ele</p><p>cita Florestan Fernandes em várias cartas, como consta no livro ―Arqueolo-</p><p>gia nas cartas de Carlos Rodrigues Brandão: contribuições para a Educação</p><p>Popular‖, organizado por Paulo e Dickmann (2021). Ambos defendem uma</p><p>Pedagogia socialista democrática, apresentando asComunidades Eclesiais, a</p><p>Teologia da Libertação, o jornal Pasquim, a Ação Popular, o MEB, o MCP,</p><p>pesquisa participante e outros movimentos contrários à ditadura como expe-</p><p>riências democráticas e de Educação Popular. No século XXI, as experiên-</p><p>cias de Pesquisas Participativas em diferentes contextos educativos e dos</p><p>movimentos sociais contemporâneos (como o movimento feminista campo-</p><p>nês, movimento de educadores/as populares, entre outros,) vêm recuperan-</p><p>do a Educação Popular freiriana.</p><p>Para uma retomada dos dois apontamentos, o primeiro contribui para o</p><p>desdobramento do item 2, isto é, queremos retomar a origem do socialismo</p><p>democrático em Freire, que dialogou com John Dewey e Karl Marx:</p><p>Foi Anísio Teixeira quem introduziu o pensamento de Dewey no Brasil. Evi-</p><p>dentemente, Paulo Freire vai muito além do pensamento liberal de Dewey, na</p><p>direção de uma educação emancipadora e comprometida com um projeto de</p><p>sociedade de iguais e diferentes, como ele desenvolveria na sua Pedagogia do</p><p>oprimido, distanciando-se dele, sem negar a sua importância na defesa da edu-</p><p>cação democrática. (GADOTTI, 2019, p.17)</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>118</p><p>Em consonância com os estudos de Sandro de Castro Pitano, Danilo</p><p>Romeu Streck e Cheron Zanini Moretti (2019, p. 13), discorrem sobre as</p><p>referências utilizadas por Freire:</p><p>O mais recorrente, dentro dos critérios anteriormente apresentados, é Karl</p><p>Marx, citado em 22 obras (é importante mencionar que optamos por apresentá-</p><p>lo junto com Friedrich Engels), seguido de Amílcar Cabral, citado em 14 obras;</p><p>Frantz Fanon, Jean Piaget, Albert Memmi e Antonio Gramsci, citados em 10</p><p>obras cada um.</p><p>Queremos dizer que nossa metodologia de análise documental, emba-</p><p>sada pela pedagogia crítica de Paulo Freire, precisa ser compreendida através</p><p>das suas referências e suas raízes epistemológicas – sendo ele um dos autores</p><p>da Educação Popular no Brasil. Diante do exposto, partimos de um rastro</p><p>localizado nas obras de Freire para inferir que a Educação Popular e a Peda-</p><p>gogia Latino-americana bebem do socialismo democrático26.</p><p>Florestan Fernandes (1989, n. p), em ―Democracia e Socialismo27‖, es-</p><p>creveu: ―tanto Rosa quanto Gramsci julgavam que a estatização e a sociali-</p><p>zação dos meios de produção conduziriam aos ideais democráticos e iguali-</p><p>tários do socialismo e do comunismo‖. Vimos na Pedagogia de Paulo Freire</p><p>essas ideias.</p><p>Sobre pesquisas recentes, no Brasil, que possam contribuir com nossos</p><p>estudos, ressaltamos os livros Fontes da pedagogia latino-americana I (2010) e II</p><p>(2019). Também, em uma pesquisa sobre produções de teses e dissertações a</p><p>partir do portal da Biblioteca de Teses e Dissertações (BDTD)28, sem um</p><p>26 Sobre isso, Paludo afirma: ―Com efeito, o conjunto da obra freiriana mostra sua condição de</p><p>crítico do capitalismo. Ele também se opõe ao neoliberalismo como modelo econômico e ao</p><p>conservadorismo comoideologia política. Assim, ao criticar o socialismo realista como autoritá-</p><p>rio, Freire (1995) também critica o capitalismo como não sendo o futuro radiante a que já che-</p><p>gamos (1992). Ele acredita na possibilidade da construção de um socialismo democrático.‖</p><p>(2019, p. 403).</p><p>27 Texto sem paginação e sem ano da reprodução do texto, que conta com uma nota de rodapé</p><p>que explicita: ―Este texto, pertencente ao arquivo de Florestan Fernandes, foi escrito em fins</p><p>1989‖. Disponível em:</p><p>https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/artigo153_Florestan.pdf</p><p>Acesso: 15 de jun. 2021.</p><p>28 Disponível em: https://bdtd.ibict.br/. Último acesso em maio de 2021.</p><p>https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/artigo153_Florestan.pdf</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>119</p><p>recorte temporal delimitado, com o critério de pesquisas apresentadas na</p><p>área da educação e defendidas em Programas de Pós-Graduação em Educa-</p><p>ção, selecionamos estudos que se referem à pedagogia latino-americana.</p><p>Moretti (2008) e Lodi (2019) apresentam suas dissertações, orientadas pelo</p><p>professor Danilo Streck, referência importante para nossos estudos.</p><p>Moretti (2008) apresenta uma dissertação com grandes aproximações</p><p>teóricas relacionadas à nossa pesquisa. Na pesquisa da autora, a insurgência</p><p>como princípio educativo da pedagogia latino-americana faz parte de um</p><p>movimento de resistência, apontando os espaços dos movimentos sociais</p><p>como espaço de processo de luta social e política. Indica, também, a impor-</p><p>tância de um programa (demandas e pautas de lutas intencionadas a partir</p><p>do diálogo com as demandas e as necessidades locais). A pedagogia latino-</p><p>americana se constitui a partir das muitas pedagogias, conforme Moretti</p><p>(2008). Cabem nelas a esperança, a dignidade, a liberdade, a autonomia, a</p><p>resistência e a insurgência.</p><p>Se observarmos o Quadro 1 (Presença de ideias e temas da Educação</p><p>Popular), podemos aferir semelhanças entre os temas tratados nas Cartas de</p><p>Brandão e o que Cheron (2008) apresenta como princípio educativo da pe-</p><p>dagogia latino-americana, o movimento de resistência.</p><p>Lodi (2019) aborda a pedagogia latino-americana a partir da poetisa e</p><p>professora Salomé Ureña de Henríquez (1850-1897), uma educadora que</p><p>apresenta escritos que anunciam e denunciam os conflitos internos de sua</p><p>pátria e seu anseio de um mundo melhor em seu país, cuja libertação do</p><p>povo oprimido era a luta prioritária. Em seu trabalho, Lodi revela as lutas de</p><p>Salomé Ureña acerca da necessidade de uma educação latino-americana que</p><p>significava a justiça social, principalmente, na busca pelo direito à educação</p><p>de mulheres dominicanas. Aqui, identificamos a Educação Popular feminis-</p><p>ta – não discutida, explicitamente, entre os anos de 1960 e 1980, nas Cartas</p><p>de Brandão, mas presente em algumas cartas. Outra aproximação ente Lodi</p><p>(2019) e o nosso trabalho de investigação é que encontramos nessa disserta-</p><p>ção a importância do poder da palavra como processo de libertação.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>120</p><p>5.1 INDÍCIOS DE UMA PEDAGOGIA LATINO-AMERICANA NA</p><p>PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO POPULAR A PARTIR DAS CARTAS</p><p>PEDAGÓGICAS DE CARLOS RODRIGUES BRANDÃO</p><p>Em conformidade com Chartier (2009), a história é uma ciência que ar-</p><p>ticula diferentes tempos, e, em nosso estudo, não esquecemos que as relações</p><p>temporais nas cartas são construções produzidas pelos sujeitos que trocaram</p><p>correspondências com Brandão. Desse modo, interpretamos o conteúdo das</p><p>correspondências atribuindo sentidos, ressignificando, assim, o passado, para</p><p>identificar contribuições da história da Educação Popular para uma Peda-</p><p>gogia Latino-americana.</p><p>Em nossa revisão de literatura, observamos que os conceitos de Educa-</p><p>ção Popular que localizamos são identificados, em sua maioria, nas cartas de</p><p>Brandão, tal como luta política, como processo de transformação social,</p><p>como campo de atuação, como experiência de educação e enquanto Movi-</p><p>mento Social.</p><p>Ainda no capítulo 3, embora tenhamos verificado lacunas de estudos</p><p>sobre a História da Educação Popular no Brasil em pesquisas stricto sensu,</p><p>encontramos, nos 12 trabalhos que versavam sobre a Educação Popular, tem</p><p>a referência a Carlos Rodrigues Brandão. Além de ser um dos ―intelectuais</p><p>engajados/as da Educação Popular” (PAULO, 2018) é também um educa-</p><p>dor conectivo.</p><p>A análise das cartas Pedagógicas nos permite afirmar que Carlos Rodri-</p><p>gues Brandão é um intelectual conectivo (MAFRA, 2017; PAULO, 2018;</p><p>PAULO, ZITKOSKI, 2016). Por meio das correspondências, observamos,</p><p>através da Recuperação do processo vivido e da reflexão de fundo (HOLLI-</p><p>DAY, 2006), que a participação é um conceito presente nas correspondên-</p><p>cias, no que se refere ao tema da Educação Popular; além disso, a troca de</p><p>cartas entre os interlocutores de Brandão pressupunha a escrita como forma</p><p>de registro de vozes, ideias e projetos. Um exemplo é a quantidade de cartas</p><p>trocadas entre Brandão e Osmar Fávero; entre idas e vindas, podemos anun-</p><p>ciar que um dos pontos de chegada da Sistematização de Experiências é que</p><p>a Carta Pedagógica foi um instrumento metodológico da Educação Popular,</p><p>mesmo que isso não tenha sido reconhecido por eles na época.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>121</p><p>Nesse sentido, a troca de Cartas Pedagógicas, como instrumento me-</p><p>todológico da Educação Popular, é uma forma de promoção da participa-</p><p>ção. Foi no processo de reconstrução da história da Educação Popular, por</p><p>meio das correspondências de Brandão, e na organização das informações</p><p>que reconhecemos que o conteúdo que estava ali foi vivenciado por diferen-</p><p>tes sujeitos, que traziam, pela escrita, ensinamentos e aprendizagens da prá-</p><p>tica de Educação Popular. As Cartas Pedagógicas, como uma pedagogia da</p><p>participação Popular (FÁVERO, 2006), eram uma forma de resistência</p><p>política e de esperança de construção de um projeto de país democrático.</p><p>Outra característica localizada nas Cartas Pedagógicas é a capacidade</p><p>com que Brandão e seus sujeitos interlocutores tinham de intervenção e de</p><p>criação de alternativas mediante o contexto da ditadura militar. Sobre esse</p><p>período, Paulo (2018, p. 251) coloca que a terceira fase da Educação Popular</p><p>no Brasil (após abril de 1964 até 1979) foi marcada por:</p><p>1. Comunidades Eclesiais;</p><p>2. Teologia da Libertação;</p><p>3. O jornal Pasquim se destaca como alternativo ao modelo autoritá-</p><p>rio.</p><p>4. Ditadura militar: prisões, exílio, censura, perseguição, repressão,</p><p>etc.</p><p>5. Ação Popular, MEB e movimentos contrários à ditadura.</p><p>Queremos dizer que há uma ―pedagogia da participação Popular‖ pre-</p><p>sente nas Cartas Pedagógicas, as quais estão marcadas por histórias de práti-</p><p>cas educativas interventivas ―que, coerente com o ser que estamos sendo,</p><p>desafia a nossa curiosidade crítica e estimula o nosso papel de sujeito do</p><p>conhecimento e da reinvenção do mundo (FREIRE, 1996, p. 124). Freire</p><p>contribuiu para a nossa identificação dos temas e das ideias da Educação</p><p>Popular trabalhadas nas cartas de Carlos Rodrigues Brandão entre os anos</p><p>de 1964 e 1980 e a relação direta com a constituição de uma Pedagogia Lati-</p><p>no-americana a partir da Educação Popular.</p><p>Esperança e participação estão presentes nas Cartas Pedagógicas de</p><p>Brandão – um intelectual conectivo – sobretudo nas que tratam da Educação</p><p>Popular. Desse modo, as Cartas Pedagógicas são uma espécie de ―andari-</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>122</p><p>lhagens‖ da Educação Popular. Era por meio delas que ideias, temas e sujei-</p><p>tos discutiam a Educação Popular, constituindo-se, a partir da nossa pesqui-</p><p>sa, como parte da história da Educação Popular brasileira.</p><p>5.1.1 Participação: Marcela Gajardo e Orlando Fals Borda</p><p>Observamos, nas cartas de Carlos Rodrigues Brandão, que Marcela Ga-</p><p>jardo e Orlando Fals Borda trocaram cartas com ele. Identificamos a Educa-</p><p>ção Popular e a Pesquisa Participante como temáticas tratadas (PAULO,</p><p>2020a). Esses dois autores compõem o quadro de educadores e educadoras</p><p>que versam sobre a Educação Popular no contexto latino-americano. Encon-</p><p>tramos nessas cartas práticas de Educação Popular enquanto resistência</p><p>política e de esperança da retomada de um projeto de educação democrática.</p><p>Insere-se, como pano de fundo, o conceito de participação e de ciência cons-</p><p>truída em diálogo com saberes populares. Outros temas tratados foram:</p><p>Em uma das cartas de Carlos Rodrigues Brandão, ele escreve para Marcela</p><p>Gajardo, perguntando quando ela viria para o Brasil encontrar Paulo Freire;</p><p>indica que ela não deixe de fazer o livro do IDAC, expondo que é um convite</p><p>irrefutável, vindo de ClaudiusCeccon. Na atualidade, segue como diretor do</p><p>Cecip, escrevendo, fazendo ilustrações para livros infantis, charges, tendo sua</p><p>vida atrelada a projetos de inclusão digital de escolas públicas, educação e ci-</p><p>dadania. (PESCADOR, 2021, p. 50. Grifos nossos).</p><p>Sobre um dos educadores pouco visibilizados na história da Educação</p><p>Popular no Brasil, citado por Brandão em uma Carta destinada a Marcela</p><p>Gajardo, ressaltamos Jomard Muniz de Brito:</p><p>[...] nasceu na cidade do Recife, em abril de 1937. Professor, poeta, cineasta,</p><p>músico e filósofo, formado em filosofia pela Universidade do Recife, atual</p><p>UFPE. Foi um dos integrantes do Serviço de Extensão Cultural (SEC) na equi-</p><p>pe inicial do Sistema Paulo Freire. O texto publicado e mais conhecido por</p><p>quem estuda a história da Educação Popular é de 1963, e consta na revista Es-</p><p>tudos Universitários. O título do artigo é Educação de Adultos e Unificação da Cultu-</p><p>ra. O conteúdo do texto trata das ideologias, formação em grupos, educação de</p><p>adultos, democratização da cultura e leitura de mundo. Inclusive, Paulo Frei-</p><p>re faz referência desse artigo no livro Educação como prática da liberdade (1967) e</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>123</p><p>em Educaçãoe mudança (1976). Na catalogação das Cartas de Carlos Rodrigues</p><p>Brandão, encontramos Jomard Muniz de Brito citado duas vezes: 1) Carta des-</p><p>tinada a MarcellaGajardo; 2) Carta destinada a Paulo Freire. Nas cartas, os</p><p>temas tratados são: trabalho popular, trabalho da equipe Paulo Freire, poemas</p><p>políticos, material do MCP do Recife ao MEB, e artigo na Revista Estudos</p><p>Universitários. (PAULO, 2021b, p. 102-103. Grifos nossos).</p><p>Encontramos o conceito de participação nos assuntos concernentes ao</p><p>trabalho popular, na proposta de Educação de Paulo Freire e da necessidade</p><p>de democratização da educação e da cultura. Juntamente, estava presente o</p><p>tema da pesquisa do universo vocabular (FREIRE, 1987), construída com as</p><p>pessoas. Para Freire (1987; 1996), os homens e as mulheres são sujeitos de</p><p>compromisso político e social. Ele coloca o compromisso com o mundo</p><p>humanizado, que significa compromisso histórico com a transformação</p><p>concreta da realidade, o qual se corporifica no engajamento político de edu-</p><p>cadores e educadoras.</p><p>5.1.2 Socialismo democrático: pautas da Educação Popular.</p><p>Uma das identificações entre o conteúdo das cartas de Brandão e a</p><p>compreensão de pedagogia latino-americana com base na Educação Popular</p><p>freiriana é: ―o projeto popular de educação, que pressupunha uma sociedade</p><p>mais justa, é o que aproxima a pedagogia socialista com a Educação Popu-</p><p>lar, cuja formação política em espaços coletivos tem como horizonte a</p><p>emancipação humana‖ (PAULO, 2020a, p.27). Em 1980, em uma Carta</p><p>escrita por Brandão para Paulo (velho amigo), localizamos a referência às</p><p>mulheres como objeto do capitalismo patriarcal. Vejamos o fragmento:</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>124</p><p>Figura 18- Carta Campinas (antiga Vila de São Carlos), 14 de janeiro de</p><p>1980.</p><p>Fonte: Acervo Brandão.</p><p>A carta trata de trabalhos de Educação Popular realizados por Brandão</p><p>e relatados para Paulo, que não é o Freire, mas sim um companheiro do</p><p>projeto Meio Grito. Nela, ele conta sobre a</p><p>necessidade de financiamento</p><p>para um projeto sobre migrações. Relata que o valor necessitado para o pro-</p><p>jeto de pesquisa era gasto por homens capitalistas. Partindo da dissertação de</p><p>Lodi (2019), os pressupostos da Educação Popular estão comprometidos</p><p>com ações libertadoras, contra todo tipo de opressão. Também, o poder da</p><p>palavra escrita na carta supracitada demonstra a preocupação de Brandão</p><p>com uma linguagem inclusiva de gênero. Ainda, em consonância com Bran-</p><p>dão (1980, p.63), a ―educação feita de acordo com os interesses das classes</p><p>populares‖ – o que está explícito nessa correspondência e nas demais anali-</p><p>sadas. Temos aqui conceitos do Socialismo democrático: classe popular,</p><p>participação, projeto de sociedade não capitalista, linguagem inclusiva e</p><p>políticas sociais.</p><p>Sobre a Educação libertadora, transformadora/emancipatória, no diá-</p><p>logo com as mulheres, mesmo que na carta não trate de temas específicos da</p><p>Educação Popular feminista, vimos aproximações entre a proposta política e</p><p>pedagógica da Educação Popular com os feminismos – apontados por Mo-</p><p>retti (2008). A autora apresenta que a pedagogia latino-americana se consti-</p><p>tui a partir das muitas pedagogias, portanto, para nós, a Educação Popular</p><p>feminista faz parte dessas novas pedagogias, compondo o que chamamos de</p><p>Pedagogia Latino-Americana com base na Educação Popular freiriana.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>125</p><p>Figura 19 - Educação Popular freiriana</p><p>Fonte: das autoras (2021).</p><p>A exemplo dessa carta (figura 18) e da categorização dos significados de</p><p>Educação Popular que identificamos nas demais correspondências, verifica-</p><p>mos que existe uma escrita pautada por movimentos de resistências (figura</p><p>19) – pressuposto da Educação Popular freiriana (PAULO, 2018). Além</p><p>disso, visualizamos, nas Cartas Pedagógicas, somadas às referências da Pe-</p><p>dagogia Latino-americana na perspectiva da Educação Popular, a importân-</p><p>cia da experiência (relatada, registrada e refletida).</p><p>Oscar Jara Holliday (2006) nos ajuda nesse ponto com sua proposta</p><p>metodológica de Sistematização de Experiências, e Josso (2004), compreen-</p><p>dendo que a experiência é formativa, ou seja, os conjuntos de experiências</p><p>relatadas nas correspondências, ao serem analisados, fazem parte de um</p><p>―itinerário de vida‖, enquanto ―experiências formadoras‖. Identificamos, à</p><p>luz dessa autora, que as Cartas Pedagógicas trazem para nós um olhar para o</p><p>presente ―articulado com o passado e com o futuro, que começa, de fato, [...]</p><p>que orienta a continuação da sua história com uma consciência reforçada</p><p>dos seus recursos e fragilidades, das suas valorizações e representações, das</p><p>suas expectativas, dos seus desejos e projetos.‖ (JOSSO, 2004, p.60-61).</p><p>Em nosso presente, sobretudo após o centenário de Paulo Freire reali-</p><p>zado em 2021 e os 50 anos de Pedagogia do Oprimido (1968 – 2018), a Edu-</p><p>cação Popular é tema pautado no seu contexto político, metodológico e his-</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>126</p><p>tórico atual – tempos de lutas para garantir a continuidade das conquistas</p><p>sociais e políticas que, com o atual presidente do Brasil (Jair Bolsonaro),</p><p>estão em duras disputas. Vivemos um Brasil de golpes e de retrocessos quan-</p><p>to à agenda da educação brasileira.</p><p>As Cartas Pedagógicas de Brandão possibilitam a recuperação de uma</p><p>história (passado) ainda não registrada por outros/as pesquisadores/as e nos</p><p>orienta para prosseguirmos na perspectiva da Educação Popular freiriana.</p><p>Vimos que a luta contra as opressões, golpes e ditaduras estiveram presentes</p><p>nas Cartas de Brandão durante as décadas de 60 e 80.</p><p>Observamos que os pensadores e pensadoras da América Latina busca-</p><p>ram trazer respostas decoloniais ao processo pedagógico, de construção do</p><p>conhecimento na acepção de Educação Popular freiriana. Streck, Moretti e</p><p>Adams (2019) e Streck (2010) contribuem para a recuperação das fontes</p><p>sobre a educação popular na América Latina. Porém, cabe frisar que nem</p><p>todos os sentidos e significados do popular são os mesmos de Brandão e</p><p>Freire, como podemos verificar com Paulo (2018; 2020a), sendo que os que</p><p>se aproximam com a Educação Popular freiriana são:</p><p>Quadro 6 - Pensadores Latino-americanos e a Educação Popular</p><p>Aníbal</p><p>Quijano</p><p>Teoria crítica decolonial.</p><p>Modernidade – colonialidade - raça:</p><p>colonialidade do poder, globaliza-</p><p>ção, eurocentrismo e a colonialida-</p><p>de.</p><p>José Martí</p><p>Teoria crítica. Pedagogia</p><p>Revolucionária.</p><p>Denunciava os interesses dos Esta-</p><p>dos Unidos no processo de coloni-</p><p>zação (expansão econômica sobre a</p><p>América Latina). Buscava unidade</p><p>social e política para os fins revolu-</p><p>cionários.</p><p>Paulo</p><p>Reglus</p><p>Neves</p><p>Freire</p><p>Pedagogia da Libertação.</p><p>Teoria crítica.</p><p>Educação como Prática da Liber-</p><p>dade, educação conscientizadora,</p><p>Dialogicidade, Transformação</p><p>social e humanização.</p><p>Enrique</p><p>Dussel</p><p>Teoria crítica. Filosofia da</p><p>Libertação desde a América</p><p>Latina.</p><p>Faz crítica ao pensamento do centro</p><p>– especialmente o europeu. Enfatiza</p><p>a necessidade de práticas de liberta-</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>127</p><p>ção do oprimido latino-americano.</p><p>Frantz Fa-</p><p>non</p><p>Teoria crítica. Pedagogia de</p><p>descolonização via solidarie-</p><p>dade e libertação.</p><p>Eurocentrismo/visão de mundo</p><p>branca. Solidariedade e Libertação.</p><p>Carlos Ro-</p><p>drigues</p><p>Brandão</p><p>Teoria crítica. Pedagogia da</p><p>Educação Popular.</p><p>Educação Popular – pesquisa parti-</p><p>cipante e Teologia da Libertação.</p><p>Orlando</p><p>Fals Borda</p><p>Teoria Crítica decolonial.</p><p>A Investigação-ação Participativa e</p><p>a Educação Popular. Educação</p><p>Popular Latino Americana com</p><p>uma ciência/pedagogia não eu-</p><p>rocêntrica.</p><p>Fonte: elaborado por Paulo (2020a).</p><p>Salientamos dois temas pedagógicos e metodológicos decoloniais, pre-</p><p>sentes nas Cartas Pedagógicas, os quais são: a Pesquisa Participante e a Teo-</p><p>logia da Libertação. As temáticas foram discutidas por vários interlocutores</p><p>de Brandão e pensadores latino-americanos (Quadro 6). Percebemos que o</p><p>conceito de libertação é o fio condutor dos dois temas, sendo as experiências</p><p>das Comunidades Eclesiais de Base e os Círculos de Culturas a representa-</p><p>ção do que chamamos de Educação Popular freiriana - indícios de uma pe-</p><p>dagogia latino-americana. Fica evidente, nas cartas analisadas, a importân-</p><p>cia dos oprimidos na construção dialógica do seu processo de libertação,</p><p>mediante uma pedagogia da luta, da resistência, da conscientização e da</p><p>emancipação. Destacamos, além da Teologia da Libertação, à luz do quadro</p><p>6, a Pedagogia e a Filosofia da Libertação – ambas apresentavam a partici-</p><p>pação popular como horizonte de uma educação política para a conscienti-</p><p>zação - enquanto práxis revolucionária de resistência.</p><p>Os sete autores são referências que dialogam com as temáticas da Edu-</p><p>cação Popular discutidas nas cartas de Carlos Rodrigues Brandão. Muitos</p><p>dos temas são atuais, como a importância de uma Pedagogia da participação</p><p>Popular e da democracia. As ideias educacionais presentes nas Cartas Peda-</p><p>gógicas contribuem para as discussões sobre Pedagogia latino-americana,</p><p>como podemos conferir a seguir:</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>128</p><p>O quarto tronco desta história da educação popular envolve projetos educativos</p><p>diversos ao serviço dos grupos mais desprotegidos da sociedade. Neste sentido,</p><p>Mejía cita o Padre José MaríaVélaz e seu intento de construir uma escola a par-</p><p>tir da educação popular integral, que encontra expressão no Movimento Fé e</p><p>Alegria, fundado em 1956, e ainda atuante. Esta Educação Popular integral</p><p>trabalha com as seguintes ideias: a) a educação visa romper as correntes mais</p><p>fortes da opressão popular mediante uma educação cada vez mais ampla e qua-</p><p>lificada; b) a democracia educativa tem que preceder a democracia econômica e</p><p>social; c) depois de tanta luta não podemos nos resignar a viver</p><p>vez e que eu sou desafiado a escrever o prefácio</p><p>de um livro do qual eu sou um dos personagens. É, na verdade, uma estra-</p><p>nha experiência. Mas convenhamos que é desde estranhas experiências que</p><p>vivemos os nossos grandes aprendizados.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador Carlos Rodrigues Bran-</p><p>dão:Contribuições para a Pedagogia Latinoamericana é um livro que sucede um</p><p>outro trabalho que possui também cartas como algo mais do que apenas um</p><p>―objeto de pesquisa‖. E sendo eu o emissário da maior parte das cartas deste</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>12</p><p>livro, devo antecipar que na verdade o seu protagonista principal não sou eu.</p><p>É o professor e educador Paulo Freire. É desde a sua obra inapagável e desde</p><p>o seu legado, neste ano em que no mundo inteiro nos reunimos para celebrar</p><p>―Os 100 anos de Paulo Freire‖ que minhas cartas foram escritas e o que se</p><p>trabalha neste livro de Fernanda e Adriana foi pesquisado criteriosamente e</p><p>foi escrito. Assim, saibamos que este é um livro a respeito do legado de Pau-</p><p>lo Freire, através – também – de algumas cartas de Carlos Rodrigues Bran-</p><p>dão. Assim, este é um livro... ―através de‖.</p><p>De meus anos de convivência com Paulo Freire, posso acreditar que</p><p>ele sempre me pareceu gostar mais de falar ao redor de um círculo para um</p><p>grupo de pessoas do que de dar aulas em uma sala, para uma turma de alu-</p><p>nos (expressão que ele sempre evitava). E penso que ele gostava mais de</p><p>escrever carta do que de escrever artigos ou capítulos de livros.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo e Adriana Gaio apresentam uma obra que</p><p>―origina-se da necessidade e importância de conhecermos uma parte da his-</p><p>tória da Educação Popular ainda não pesquisada – presentes em documentos</p><p>como Cartas/correspondências – as quais denominamos como ― Cartas</p><p>Pedagógicas. Identificamos e analisamos a Educação Popular presente no</p><p>acervo de cartas do educador Carlos Rodrigues Brandão, apresentando te-</p><p>mas, ideias e sujeitos presentes em correspondências datadas entre 1964 e</p><p>1980.‖ O livro é uma verdadeira Arqueologia nas minhas cartas. A obra é</p><p>resultado do projeto vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas interinstitu-</p><p>cional ―Paulo Freire e Educação Popular‖, constituído a partir da Associa-</p><p>ção de Educadores Populares de Porto Alegre (AEPPA) e Movimento e</p><p>Educação Popular (MEP), da pesquisa do CNPq, da pesquisa de Mestrado</p><p>de Adriana e do Pós-doc de Fernanda. O livro de vocês está de fato... Anto-</p><p>lógico!</p><p>Quero dizer que nada que parece ―meu‖ é de verdade meu. Apenas</p><p>passa por mim e flui entre nós. E este é o valor de quem somos. Como uma</p><p>pessoa no mundo universitário há 60 anos, sempre gosto de dizer que os</p><p>nossos currículos ―lattes‖ ou ―vitae‖ deveria ser escritos de uma outra ma-</p><p>neira. Não tanto a coleção biográfica do ―quem somos e do que realizamos‖,</p><p>mas a memória de através de quem e do que acabamos sendo quem proviso-</p><p>riamente somos e logramos junto e através de outras pessoas, ―produzir‖ ou</p><p>realizar o que ilusoriamente imaginamos ser ―o que eu fiz‖.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>13</p><p>Escrever um livro não é uma tarefa individual, pois em nossa escrita es-</p><p>tamos acompanhados de muitas mulheres e muitos homens que escre-</p><p>veram sobre temas que compõem nosso arcabouço teórico, e muitos/as</p><p>deles/as passam a ser nossos companheiros de vida, não apenas de es-</p><p>tudos ou de uma lista de referências bibliográficas</p><p>Quero contar queem 27 de abril de 1981 escrevi uma carta a Paulo</p><p>Freire. Era uma carta muito simples, e nela eu prestava contas de um livro</p><p>que coordenei e de que ele participou. Também tecia alguns comentários</p><p>sobre alguns livros que iríamos construir juntos, como de fato aconteceu: O</p><p>educador, vida e morte; Pesquisa participante; A questão política da educação popu-</p><p>lar. Em um parágrafo da primeira página da carta (ela tem três páginas, pois</p><p>naqueles tempos escrevíamos a mão ou a máquina de escrever... e escrevía-</p><p>mos longas cartas) eu digo o seguinte:</p><p>Ando muito preocupado em colocar em mãos das pessoas os textos de</p><p>que elas sentem necessidade para fazerem o seu trabalho com o povo.</p><p>Andamos todos muito impressionados com a deficiência de pessoal pre-</p><p>parado para trabalhos de educação popular. Alguma coisa precisa ser</p><p>feita com muita urgência, e isso não é só publicar não. É colocar as pes-</p><p>soas na prática, na práxis, na vida direta das questões e dos problemas.</p><p>Mas no parágrafo final da carta mudo de tom e concluo desta for-</p><p>ma:</p><p>Paulo, onde é que anda o tempo de a gente parar e viver um pouco da</p><p>vida entre os amigos? Às vezes parece que isso ficou muito longe. A in-</p><p>tensidade das solicitações e dos trabalhos de agora às vezes parece maior</p><p>do que nos nossos começos de 1960. Ou será que nós é que andamos nos</p><p>cansando?</p><p>E, no entanto, quase tudo está ainda por fazer. Será que algum cansaço</p><p>pode ser maior do que a fé e a esperança?</p><p>Um abraço arrochado. Até Mossoró, com Carne de Sol e o próprio sol</p><p>do Nordeste.Carlos.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>14</p><p>Vejam que as minhas preocupações foram escritas há 35 anos. Paulo</p><p>nos deixou faz tempo, mas continua presente e vivo! E depois de tantos anos</p><p>acho que eu continuo fazendo para mim e pra toda a gente as mesmas per-</p><p>guntas.</p><p>Um abraço, novembro de 2021.</p><p>Carlos Brandão</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>15</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Escrever um livro não é uma tarefa individual, pois em nossa escrita</p><p>estamos acompanhados de muitas mulheres e muitos homens que escreve-</p><p>ram sobre temas que compõem nosso arcabouço teórico, e mutos/as de-</p><p>les/as passam a ser nossos companheiros de vida, não apenas de estudos ou</p><p>de uma lista de referências bibliográficas.</p><p>Ao ler esse livro você, caro/a leitor/a, estará conhecendo um pouco</p><p>mais de nós, não apenas sobre as autoras, mas igualmente acerca de quem</p><p>está conosco. Um dos sujeitos presentes e protagonista do nosso livro e das</p><p>nossas pesquisas é o educador popular Carlos Rodrigues Brandão. Contudo,</p><p>como dissemos, anteriormente, o presente livro é fruto de um trabalho cole-</p><p>tivo que conta com a participação de mais de sessenta pesquisadores e pes-</p><p>quisadoras do Brasil, podendo ser constatado no livro intitulado ―Arqueolo-</p><p>gia nas cartas de Carlos Rodrigues Brandão: contribuições para a Educa-</p><p>ção Popular‖ e ―Cartas pedagógicas: tópicos epistêmico-metodológicos na</p><p>educação popular.”</p><p>O livro resulta do projeto de pesquisa financiada pelo CNPq através da</p><p>Chamada MCTIC/CNPq Nº 28/2018, intitulado como: ―Memória e Histó-</p><p>ria da Educação Popular a partir do levantamento e catalogação das cartas</p><p>de Carlos Rodrigues Brandão: contribuições para a Pedagogia Latino-</p><p>americana.‖ O projeto é coordenado pela professora Fernanda dos Santos</p><p>Paulo, educadora popular e professora do Programa de pós-graduações stricto</p><p>sensu em Educação (Mestrado e Doutorado) da Universidade do Oeste de</p><p>Santa Catarina: PPGEd/Unoesc. Compõe, igualmente, a pesquisa de Pós</p><p>doutoramento de Fernanda Paulo, sob supervisão de Danilo R. Streck, reali-</p><p>zada na Unisinos.</p><p>Este livro, no entanto, é resultado dessas pesquisas e, do mesmo modo,</p><p>vincula-se ao Grupo de Estudos e Pesquisas ―Paulo Freire e Educação Po-</p><p>pular‖ interinstitucional, constituido a partir da Associação de Educadores</p><p>Populares de Porto Alegre (AEPPA) e Movimento de Educação Popular</p><p>(MEP), o qual congrega dezenas de educadores/as com interesse em pesqui-</p><p>sas sobre Educação Popular em diferentes contextos educativos. A publica-</p><p>ção dessa obra origina-se da necessidade e importância de conhecermos uma</p><p>parte da história da Educação Popular ainda não pesquisada – presentes em</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>16</p><p>documentos como Cartas/correspondências – as quais denominamos como</p><p>―Cartas Pedagógicas”. Identificamos e analisamos a Educação Popular</p><p>presente no</p><p>em uma justiça</p><p>média. Há que lutar pela justiça integral; d) Fé e Alegria nasceu para impulsio-</p><p>nar a mudança social por meio da educação popular integral. (MOTA NETO;</p><p>STRECK, 2019, p. 211).</p><p>Embora a instituição ―Fé e Alegria‖ não faça presença nas correspon-</p><p>dências dos anos analisados, localizamos temas convergentes (Quadro 1) –</p><p>entre eles, destacamos a Educação Popular integral. Baseada na perspectiva</p><p>da Educação Popular libertadora, base de Brandão (PAULO, 2020a), temos</p><p>a pedagogia emancipatória, usada como libertação política e social, com-</p><p>prometida com a formação integral do ser humano (RIBEIRO; BARBOSA,</p><p>2020).</p><p>Por isso, encontramos nas cartas de Brandão a compreensão de forma-</p><p>ção pedagógica integral (acepção da Educação Popular freiriana), a qual</p><p>precisa ser crítica, criativa, engajada com a prática e, sobretudo, construída</p><p>com as pessoas e no cotidiano dos sujeitos – característica da Pedagogia</p><p>Latino-americana na perspectiva da Educação Popular. A produção e a soci-</p><p>alização do conhecimento, na Educação Popular freiriana, deveria estar a</p><p>serviço da construção de uma ciência biófila - o que Freire chama na Peda-</p><p>gogia do Oprimido. É o que encontramos nas cartas de Brandão, principal-</p><p>mente nas questões relacionadas à Pesquisa Participante, à luta pela demo-</p><p>cracia, pela participação e pela liberdade, enquanto composição de uma ética</p><p>para a humanização como caminho para a transformação da realidade</p><p>(FREIRE, 2000b), necessitando de uma formação e de transformação social.</p><p>Educação Popular freiriana busca a transformação da realidade, refere-</p><p>se à reconstrução de um paradigma que contemple as diferentes realidades:</p><p>feminismos, raças, etnias, culturas, educações críticas; enfim, que se preocu-</p><p>pe com os processos e com as transformações da realidade que envolve a</p><p>pedagogia crítica. Por isso,</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>129</p><p>O resgate de fontes pedagógicas parte exatamente do esforço de reconhecer es-</p><p>sas experiências e conhecimentos considerados inferiores como resistências que</p><p>se propõem a superar a colonialidade do conhecimento e do poder. O controle</p><p>do conhecimento e da subjetividade fez submergir o seu contrário. O expansio-</p><p>nismo moderno/colonial com as diversas formas de dominação impôs uma</p><p>cultura do silêncio, reforçada pela verticalidade, o monólogo e uma metodolo-</p><p>gia universalizante. A educação libertadora está comprometida com as dinâmi-</p><p>cas presentes em diálogos que se produzem nas relações horizontais; para além</p><p>de dizer o mundo desde seu ponto de vista (individual ou coletivo), sua impli-</p><p>cação está na práxis social construída. A palavra dita, como insistia Paulo Frei-</p><p>re, é também palavra-ação. A pedagogia latino-americana está comprometida</p><p>com a construção de metodologias próprias, "emparelhadas" com o outro e</p><p>com a outra no processo de busca do inédito viável. (MORETTI, 2010, p.45).</p><p>Numa reflexão sobre a Pedagogia Latino-americana na perspectiva da</p><p>Educação Popular libertadora (Figura 19), desde as cartas de Carlos Rodri-</p><p>gues Brandão, a Teologia da libertação, a Pesquisa Participante, Educação</p><p>Popular e trabalho popular são marcas de um intelectual conectivo mediado</p><p>por relações estabelecidas por solidariedade e compromisso ético-político.</p><p>Consoante à Teologia da libertação, Boff (2008) coloca que o discurso</p><p>religioso se interliga com o analítico e pedagógico. Enfatiza que ―Paulo Frei-</p><p>re, desde o início, foi e é considerado um dos fundadores da Teologia da</p><p>Libertação.‖ (BOFF, 2008, p.17). Segundo Brandão, referindo-se à sua atua-</p><p>ção na década de 1960 (1983, p. 202):</p><p>Logo depois ingressei como um dos participantes da ―equipe de filosofia‖ da</p><p>Juventude Universitária Católica, a JUC. A JUC daquele tempo tinha pessoas</p><p>como Betinho, frei Betto; e outras pessoas que depois se tornaram muito co-</p><p>nhecidas. Eu sou da geração de toda esta gente: Marcos Arruda, Leonardo</p><p>Boff, um pouco mais velho, Paulo Freire (que nunca foi de Ação Católica e que</p><p>eu iria encontrar depois, na militância da educação popular). E, em 1962, no</p><p>ano seguinte, eu resolvi que não ia ficar em Filosofia, pois desde meu ingresso</p><p>na JUC eu me imaginava em uma profissão mais próxima ao ―social‖.</p><p>Vejamos que Brandão tem uma relação com a Teologia da Libertação,</p><p>Pesquisas Participantes e Educação Popular - cuja compreensão é a de que a</p><p>educação libertadora requer participação e formação para um conhecimento</p><p>libertador das opressões características de sociedades capitalistas. A pedago-</p><p>gia da Educação Popular visa propor conhecimento libertador – mais que</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>130</p><p>um saber sobre os direitos e deveres enquanto cidadão participante de uma</p><p>sociedade – requer produção do conhecimento conscientiza-</p><p>dor/emancipatório. Brandão coloca que sua relação com o MEB está atrela-</p><p>da à Educação Popular libertadora, isto é:</p><p>É através deste trabalho, que me carrega do ―mundo universitário‖ para o</p><p>―mundo da educação popular‖, que eu entro na educação. Ingresso no univer-</p><p>so da educação popular, que vai nascer para mim no MEB. (BRANDÃO,</p><p>1983, p. 205).</p><p>Sobre isso, esclarece Brandão (1983, p. 206):</p><p>Desde o começo os movimentos de cultura popular não são experiências ape-</p><p>nas no campo da educação. Tanto assim que a própria expressão: ―educação</p><p>popular‖ vai aparecer bem mais tarde. E ela vem, como as experiências pionei-</p><p>ras de cultura popular, em boa medida ―do campo para a cidade‖. Naquele</p><p>tempo, quando se perguntava a um cantor, a um ―poeta engajado‖, a um mili-</p><p>tante do Partido Comunista, da JUC, ou da Ação Popular, o que ele fazia, era</p><p>costume a resposta: ―eu estou militando com cultura popular.</p><p>Nas cartas, o MEB compõe a trajetória de Brandão e a influência das</p><p>ideias do catolicismo popular. Segundo Beatriz Costa ([entre 1970 e 1980], p.</p><p>3), ―a pastoral popular expressa hoje, por parte de muitos agentes de pasto-</p><p>ral, uma opção de unir-se aos setores populares para reforçar o processo de</p><p>transformação social.‖. No caderno “Pastoral popular: notas para um debate”,</p><p>há um artigo constituído por depoimentos de agentes que falam da Educação</p><p>Popular – um deles (Carlos) relata que: ―o trabalho de Educação Popular</p><p>não é desligado da análise ou da leitura de conjuntura global e local que se</p><p>faz. É essa visão de conjuntura que determina a prática educativa a ser de-</p><p>senvolvida‖ (COSTA, [entre 1970 e 1980], p. 27). Temos assuntos interes-</p><p>santes sobre a temática neste caderno (CEDI:1) e convergem com os temas e</p><p>ideias educacionais trabalhados nas cartas de Brandão e a relação direta com</p><p>a Educação Popular. Com relação à Educação Popular e Brandão, ele mes-</p><p>mo diz que foi um ―estudante e militante‖, e considera-se um educador po-</p><p>pular com militância na Educação Popular (PAULO, 2018), demonstrando</p><p>ter uma trajetória de intelectual conectivo e comprometido, perpassando</p><p>pelo quefazer radical, embasado pela práxis social transformadora.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>131</p><p>A Pedagogia Latino-americana na perspectiva da Educação Popular</p><p>(constituídas por educações críticas) tem um papel fundamental na tarefa de</p><p>transformação das pessoas para transformar a sociedade. Com base na Edu-</p><p>cação Popular freiriana, a ciência biófila – oposta à educação bancária, tec-</p><p>nicista e neotecnicistas, que se baseia pela cultura da dominação e é desu-</p><p>manizadora (uma ciência necrófila) – sustenta a Pedagogia Latino-</p><p>americana.</p><p>5.2 EDUCAÇÃO POPULAR E A PEDAGOGIA LATINO-</p><p>AMERICANA: MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA E ESPERANÇA</p><p>Dos indícios de uma Pedagogia Latino-Americana na perspectiva da</p><p>Educação Popular freiriana apresentados nas seções anteriores, destacam-se:</p><p>1) Cartas Pedagógicas de Brandão e encontros entre o passado e o presen-</p><p>te: Documentos históricos e políticos que trazem contribuições para a</p><p>Educação Popular e a Pedagogia Latino-americana, sobretudo</p><p>desde as</p><p>experiências do passado (quadro 1) e projetos ainda atuais, tais como: a)</p><p>a luta esperançosa e engajada por uma educação e sociedade democráti-</p><p>ca e socialista; b) a Educação para o desenvolvimento comunitário, que</p><p>contemple metodologias participativas e trabalho popular de conscienti-</p><p>zação; e, c) o Socialismo democrático, que se apresenta como base políti-</p><p>ca da Educação Popular.</p><p>2) Educação Popular das décadas de 1960 a 1980: No século XXI, retoma-</p><p>se as ideias, temas e experiências, tais como: pesquisa popular, luta pelos</p><p>direitos sociais, trabalho popular de base, movimentos sociais em defesa</p><p>da democracia, saúde, cultura e educação popular, trabalho como princí-</p><p>pio educativo, extensão universitária, escola popular, educação indígena,</p><p>educação camponesa, educação do negro, educação da mulher, religião</p><p>popular/teologia da libertação, educação de adultos participativa e dia-</p><p>lógica.</p><p>3) Experiência(s) contemporânea(s) da Pedagogia Latino-Americana: O</p><p>Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe (CEAAL) -</p><p>reconhecido como Movimento Social de Educação Popular desde a dé-</p><p>cada de 70, ―do qual Paulo Freire foi um dos fundadores e seu primeiro</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>132</p><p>presidente29‖ - representa um espaço que viabiliza as andarilhagens da</p><p>Educação Popular. No estatuto do CEAAL30, temos a seguinte informa-</p><p>ção: ―Somos um movimento de Educação Popular que, atuando em rede,</p><p>atua e acompanha os processos de transformação educacional, social, po-</p><p>lítica, cultural e econômica das sociedades da América Latina e do Cari-</p><p>be, em contextos locais, nacionais e regionais, em diálogo com o mun-</p><p>do‖. Traz dezenas de temas da Educação Popular, dentre eles, a justiça</p><p>social, a democracia, os direitos humanos, a igualdade de gênero, a inter-</p><p>culturalidade crítica e a opção por um projeto societário emancipatório.</p><p>4) As novas pedagogias enquanto resistência política e deesperança:</p><p>Apresentamos parte da história da Educação Popular no Brasil, desde o</p><p>olhar analítico advindo de Cartas Pedagógicas. Citamos algumas das</p><p>ideias e temas identificados que contêm discussões sobre a educação, os</p><p>quais corroboram para o que vamos denominar como Educação Popular</p><p>decolonial (religiosidade popular, cultura popular, literatura popular, tea-</p><p>tro popular, arte popular) e Educação Popular multicultural (educação</p><p>indígena, com o negro, das mulheres e dos pobres). Essas categorias</p><p>emergentes não foram descobertas inéditas, pois, na última década, esse</p><p>tema tem sido recorrente. O que é inovador é a nossa defesa de que essas</p><p>categorias emergentes não são fenômenos novos, elas originam-se na dé-</p><p>cada de 1960.</p><p>Sobre essas categorias (Educação Popular decolonial e Educação Popu-</p><p>lar multicultural), fundamentando-nos em Catherine Walsh (2006; 2009) e</p><p>Freire (2013), destacamos:</p><p>1. Educação Popular decolonial: ―Walsh, na perspectiva de uma edu-</p><p>cação popular decolonial, sinaliza não haver um caminho para a transfor-</p><p>29 Afirmação de SelvinoHeck: Membro de CEAAL Brasil, em nome do CAMP (Centro de</p><p>Assessoria Multiprofissional). Disponível em: https://sul21.com.br/colunasselvino-</p><p>heck/2019/10/freireando-porto-alegre/. Acesso 02/09/2021.</p><p>30 Retirado de um documento referente ao Estatuto do CEAAL – a ser aprovado em assembléia,</p><p>ainda neste ano ( 2021). O documento nãoestá publicado e tivemos acesso ao mesmo por conta</p><p>da Associação de Educadores Populares de Porto Alegre ( AEPPA), movimento que é associa-</p><p>do ao CEAAL e que eu faço parte do Grupo de estudos Paulo Freire e Educação Popular.</p><p>https://sul21.com.br/colunasselvino-heck/2019/10/freireando-porto-alegre/</p><p>https://sul21.com.br/colunasselvino-heck/2019/10/freireando-porto-alegre/</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>133</p><p>mação social sem criticidade‖ (SANTOS, 2019, p.33). Em Cartas à Guiné-</p><p>Bissau, encontramos críticas à educação e sociedade colonial.</p><p>2. Educação Popular multicultural:Walsh (2006; 2009) apresenta uma</p><p>concepção de interculturalidade crítica. Referente a isso, Freire coloca que a</p><p>―multiculturalidade jamais estará pronta e acabada‖. ( FREIRE, 2013,</p><p>p.156).</p><p>No quadro 5 (Aníbal Quijano e Orlando Fals Borda) e no Anexo A31</p><p>(PAULO, 2020), é possível identificar a Educação Popular decolonial. Ve-</p><p>jamos que Paulo (2020) apresenta a Educação Popular decolonial como</p><p>fenômeno desta década (século XXI). Entendemos que esse é um tema que</p><p>vem sendo deveras trabalhado nos últimos dez anos, sobretudo, utilizando</p><p>essa expressão (Educação Popular decolonial). Todavia, através das análises</p><p>das cartas, defendemos que a essência da Educação Popular decolonial é</p><p>oriunda da década de 1960.</p><p>Nas palavras de Dickmann (2021) e Paulo (2021, p. 11), a ―Reinvenção</p><p>é um conceito tão importante nas obras de Paulo Freire que consta desde a</p><p>sua tese intitulada como Educação e atualidade brasileira (1959) até o livro</p><p>Pedagogia da autonomia (1996)‖, em que podemos confirmar que as cartas</p><p>identificadas como Pedagógicas assumem ―a luta pela construção do inédito</p><p>viável‖. (FREITAS, 2001, p. 98). O inédito viável em Paulo Freire (1987)</p><p>retrata a palavração, resistência política, esperança e práxis educativa.</p><p>31 O anexo encontra-se na Dissertação de Gaio (2021).</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>134</p><p>Síntese do Capítulo</p><p>Uma palavra</p><p>______________________________________________________</p><p>Uma frase</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>_______________________________________________________</p><p>Um parágrafo</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>135</p><p>CONSIDERAÇÕES PARA</p><p>CONTINUIDADE DOS</p><p>DIÁLOGOS</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>136</p><p>O caminho percorrido na elaboração deste livro advém da análise de</p><p>Cartas Pedagógicas de Carlos Rodrigues Brandão, entre os anos de 1964 e</p><p>1980, e suas relações com a Educação Popular. Diante disso, as categorias</p><p>historicidade, mediações e determinações contribuíram para a compreensão</p><p>de que a Educação Popular presente nas cartas (temas, ideias e sujeitos) pos-</p><p>sui conteúdo produzido por pessoas e tempos de determinado contexto his-</p><p>tórico, cultural, político, e apresentam pautas coletivas.</p><p>A Sistematização de Experiências de Educação Popular, através de</p><p>análise documental de cartas inéditas (documento de primeira mão), consti-</p><p>tuiu-se como uma das formas de reinventar a pedagogia freiriana (ANDRE-</p><p>OLA, 1993; DICKMANN, 2021). A recuperação do processo vivido contri-</p><p>buiu para apresentarmos temas (quadro 1) e sujeitos que trocaram cartas</p><p>com Brandão (capítulo 4).</p><p>Osmar Fávero foi o intelectual que mais trocou cartas com Brandão, e</p><p>foi o mais citado. Um dos livros que ele escreveu versa sobre a pedagogia da</p><p>participação popular e a prática educativa do Movimento de Educação de</p><p>Base: nessa obra, a Educação Popular está presente; além disso, parte do</p><p>conteúdo que consta na publicação está presente nas cartas trocadas ente</p><p>Brandão e Osmar, com destaque para os conceitos de diálogo e participação</p><p>enquanto princípio educativo da Educação Popular.</p><p>O aporte teórico desta investigação é originário dos estudos sobre</p><p>Edu-</p><p>cação Popular, principalmente em Andreola (2001), Barreiro (1980), Boff</p><p>(2008), Brandão (1980; 1982), Fávero (2006), Freire (1980, 1987, 1991),</p><p>Gadotti (2019), Holliday (2014), Paiva (1973), Streck (2010), Torres (1997),</p><p>entre outros. Com base na revisão de literatura, constatamos a carência de</p><p>estudos documentais que abordam a história da Educação Popular, princi-</p><p>palmente em se tratando de correspondências/cartas. Nossas pesquisas,</p><p>estudos e militância indicam o uso de Cartas Pedagógicas como intrumento</p><p>de coleta de dados, na perspectiva das Pesquisas Participativas, fundamen-</p><p>tadas pela Educação Popular.</p><p>Destacamos que a Educação Popular, na revisão de literatura, se apre-</p><p>sentou como campo de atuação (movimento social, universidade, escola,</p><p>pedagogia social) e como base teórica de pioneiros/as da educação do Brasil</p><p>e América Latina – contribuindo para reflexões do contexto social, político e</p><p>econômico da sociedade. Igualmente, enquanto luta política e transformação</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>137</p><p>social. Dessas acepções, emergiu a categoria Educação Popular Transforma-</p><p>dora – um conceito assumido, teórico-prático, pelos intelectuais engajados</p><p>da Educação Popular freiriana (PAULO, 2018). Identificamos categorias da</p><p>Educação Popular que contemplam o que chamamos de freiriana – que se</p><p>constituem como base para uma Pedagogia latino-americana (figura 19) e</p><p>estão em consonância com o quadro que consta no Anexo A (compreensão</p><p>de Educação Popular, em Gaio, 2021 e Paulo, 2018).</p><p>Referente às temáticas da Educação Popular que foram discutidas nas</p><p>cartas de Carlos Rodrigues Brandão (1964-1980), observamos temas atuais</p><p>de âmbito geral, como a importância de uma Pedagogia da Participação</p><p>Popular e da luta esperançosa e permanente pela democracia a partir dos</p><p>movimentos sociais populares. Outros temas específicos, a saber: defesa</p><p>pelos direitos sociais, incluindo a educação e suas modalidades, como por</p><p>exemplo, a educação de adultos, a educação indígena, educação camponesa,</p><p>etc.</p><p>Através das Cartas Pedagógicas, presenciamos encontros entre o pas-</p><p>sado e o presente da Educação Popular – sendo que aluta esperançosa, con-</p><p>tínua e engajada pelo socialismo democrático permanece sendo fundamento</p><p>político e ético de educadores progressistas (FREIRE, 2013).</p><p>Constatamos que a Educação Popular é carregada de ―memória de</p><p>muitas tramas, o corpo molhado de nossa história, de nossa cultura‖</p><p>(FREIRE, 2013, p. 17). No entanto, uma das características dos/as pionei-</p><p>ros/as da Educação Popular freiriana, como é o caso de Brandão, é o traba-</p><p>lho coletivo, participativo, dialógico e solidário32 (PAULO, 2018), e esses</p><p>princípios políticos e pedagógicos constituem o que observamos, analisamos</p><p>nas cartas, e denominamos de Educação Popular decolonial e multicultural</p><p>– concepção de uma Pedagogia latino-americana. Essa, influenciada pelas</p><p>raízes epistemológicas de Paulo Freire e pela pedagogia emancipató-</p><p>ria/libertadora da Educação Popular, como vimos nos capítulos 2 (caminho</p><p>32 Para Paulo ―Outra característica da Educação Popular é a solidariedade na partilha de sabe-</p><p>res, apresentando-se como um movimento de educação que valoriza o trabalho coletivo, a</p><p>socialização de experiências e saberes e a construção de novos saberes a partir de uma Pedago-</p><p>gia Engajada. (PAULO, 2020a, p. (31).</p><p>Fernanda Paulo</p><p>Destacar</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>138</p><p>metodológico), 3 (Educação Popular como categoria, no quadro 3), 4.1 (ma-</p><p>peamento das cartas) e 5 (história da Educação Popular e contribuições para</p><p>a Pedagogia latino-americana a partir das cartas).</p><p>Comprovamos e reconhecemos que cartas Pedagógicas apresentam</p><p>contribuições para a história da Educação Popular e para a Pedagogia latino-</p><p>americana, especialmente em tempos de políticas e projetos educacionais</p><p>neoliberais e ultraneoconservadores. Ao identificarmos a Educação Popular</p><p>decolonial e multicultural, vislumbramos a utopia freiriana (FREIRE 1987;</p><p>2013), que pressupõe uma mudança radical no projeto de educação em dife-</p><p>rentes contextos. Queremos ratificar que a Educação Popular decolonial e</p><p>multicultural, identificada nas correspondências, demonstra que as teorias e</p><p>as práticas educativas de Brandão e seus interlocutores estimulam ―a solida-</p><p>riedade social e não o individualismo, o trabalho baseado na ajuda mútua, a</p><p>criatividade, a unidade entre o trabalho manual e o trabalho intelectual‖</p><p>(FREIRE, 1980, p. 43). Essas acepções constam explícitas nas nossas análi-</p><p>ses, e simbolizam os desdobramentos da Educação Popular libertadora,</p><p>transformadora, emancipatória e crítica.</p><p>As vivências e as narrativas encontradas nas cartas são contribuições</p><p>para a continuidade da história teórico-prática da Educação Popular e para a</p><p>pedagogia Latino-americana. Um exemplo de movimento social Latino-</p><p>Americano é o Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe</p><p>– cujo atual presidente do CEAAL, Oscar Jara, tem reconhecido as cartas de</p><p>Brandão como importantes documentos da história da Educação Popular -</p><p>especialmente do Brasil, em diálogo com outros países. Essa aclamação está</p><p>registrada em ―Carta convite a leitura”, no livro organizado por Lima,</p><p>Paulo e Tessaro (2020 a). Levando em consideração as 181 cartas e as 94</p><p>analisadas por conta dos critérios estabelecidos no capítulo 1, identificamos a</p><p>demanda de aprofundamento dos estudos, tendo como horizonte o arquivo</p><p>de Cartas de Carlos Rodrigues Brandão. Um tema que merece aprofunda-</p><p>mento são as experiências de Educação Popular em outros países (França,</p><p>Argentina, México, Chile, Inglaterra, etc.), localizadas em cartas escritas em</p><p>língua estrangeira – demonstrando que Brandão, assim como Paulo Freire,</p><p>andarilhou pelo mundo a partir da Educação Popular – sendo considerado</p><p>um intelectual conectivo.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>139</p><p>A finalização deste estudo dá-se em um tempo marcado por grandes</p><p>crises políticas, sociais, educacionais, humanitárias e econômicas - agravan-</p><p>do-se por conta da pandemia pelo Covid-19. Nesse sentido, a História da</p><p>Educação Popular encontrada nas Cartas Pedagógicas demonstra a impor-</p><p>tância da Educação Popular freiriana e seus desdobramentos (Educação</p><p>Popular decolonial e multicultural) enquanto instrumento de lutas, de prá-</p><p>xis pedagógica e de renovação da esperança.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>140</p><p>POSFÁCIO</p><p>Caras Fernanda e Adriana,</p><p>O trabalho, que acabo de ler, deixa a bola quicando para a escrita</p><p>de uma carta que dirijo a vocês, mas que desejo compartilhar com todas as</p><p>leitoras e leitores do livro Educação popular nas cartas do educador Carlos Rodri-</p><p>gues Brandão: contribuições para uma pedagogia latino-americana. As primeiras</p><p>palavras não poderiam ser senão de gratidão. A vocês que fizeram um es-</p><p>plêndido trabalho de garimpagem em cartas de Carlos (vou tomar a liberda-</p><p>de de usar o prenome porque é assim que amigos e companheiros costumam</p><p>se tratar em cartas) que revelam uma faceta pouco explorada da educação</p><p>popular. Ao Carlos por abrir seus arquivos para tornar público um acervo</p><p>que compreende uma memória viva imprescindível para seguir reinventando</p><p>a educação a partir de princípios e práticas que hoje constituem o que cha-</p><p>mamos de educação popular.</p><p>O livro surge, não por acaso, no centenário do nascimento de Pau-</p><p>lo Freire. Nesse sentido, é também uma homenagem a ele, que ao longo de</p><p>todo o texto recebe uma atenção especial. O centenário mostra o vigor da</p><p>obra de Paulo Freire na constituição de uma pedagogia latino-americana,</p><p>como revelam as incontáveis livesem torno de sua vida e obra realizadas</p><p>nesse ano de pandemia. Paulo Freire sintetiza, como vocês mostram, o mo-</p><p>vimento pedagógico que se entende por educação</p><p>popular, que muitos hoje</p><p>preferem identificar com o plural para expressar a diversidade de práticas e</p><p>de teorizações. Paulo Freire ocupa um importante lugar em quase todas elas,</p><p>servindo de referência ou de parâmetro para responder a outras e novas exi-</p><p>gências da realidade.</p><p>Mas o livro de vocês mostra também que a educação popular não</p><p>resulta do trabalho ou da cabeça de uma pessoa. Trata-se da ação de uma</p><p>rede colaborativa entre movimentos sociais, entidades religiosas, projetos de</p><p>educação de adultos, entre muitos outros. As cartas revelam esta intensa</p><p>mobilização que contava com a participação de educadores/educadoras e</p><p>intelectuais, como Osmar Fávero, Miguel Arroyo e Marcos Arruda, entre</p><p>centenas de outros e outras que no anonimato fizeram a educação popular,</p><p>Fernanda Paulo</p><p>Destacar</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>141</p><p>em especial as mulheres também aqui muito invisibilizadas. As cartas reve-</p><p>lam a tecitura do movimento, que criava novos braços enquanto se enraizava</p><p>em contextos diferentes.</p><p>Carlos teve um papel destacado nessa construção. As cartas mos-</p><p>tram um educador engajado, como se dizia naquele tempo, sempre muito</p><p>atento para o que estava acontecendo. Vocês destacam com razão o caráter</p><p>conectivo do Carlos, articulando aqui e ali, não só através da escrita, mas</p><p>também através da presença física que era e continua sendo um encontro</p><p>prazeroso e de profundas aprendizagens pela sua capacidade de escuta, de</p><p>diálogo e de comprometimento com o que atualmente se traduz como justiça</p><p>socioambiental. Para isso contribui sua formação multidisciplinar, mas so-</p><p>bretudo seu olhar de antropólogo, que enxerga na cultura a pulsação da vida</p><p>em sua beleza, diversidade e generosa capacidade de resistência, luta e rein-</p><p>venção. Fernanda e Adriana, através da figura do Carlos, vocês penetram</p><p>nos bastidores da educação popular e encontram pessoas que amam, feste-</p><p>jam, vibram e sofrem com seu trabalho. A educação popular, seja qual for a</p><p>sua expressão, se funda nessa experiência de humanidade, sem a qual vira</p><p>letra morta em manuais ou prática a longo prazo inconsequente.</p><p>Quero ainda chamar atenção para as leitoras e leitores que eu achei</p><p>muito importante que vocês colocaram as cartas dentro de uma moldura</p><p>investigativa, sem perder de vista o tom comemorativo das memórias. Como</p><p>educador e pesquisador, aprendo com vocês a ver as cartas (pedagógicas)</p><p>como um documento muito especial paracompreender os momentos fundan-</p><p>tes de uma práxis. Quando não se escrevem mais cartas, teremos que apren-</p><p>der a fazer isso a partir dos grupos de whatsapp, facebooke outras plataformas</p><p>digitais, com um número maior de interlocutores e com outros estilos de</p><p>comunicação. O fato é que a rede continua sendo tramada com velhos e</p><p>novos fios.</p><p>E aqui entra a sistematização de experiências como uma metodo-</p><p>logia afinada com a educação popular. O exercício feito por vocês evidencia</p><p>que a sistematização de experiências não se reduz a um conjunto de técnicas</p><p>ou que ela não é compatível com suposto rigor acadêmico. No caso, são as</p><p>experiências expressas através da troca de carta entre companheiros de uma</p><p>jornada que aprendiam enquanto escreviam e com as quais continuamos</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>142</p><p>aprendendo quando as lemos. Por isso é justo que sejam adjetivadas como</p><p>pedagógicas.</p><p>Fernanda e Adriana, vocês nos ajudam a ver a força renovadora</p><p>do companheirismo em tempos difíceis, como foram esses abrangidos pelas</p><p>cartas e que infelizmente ainda não acabaram. Continuem vasculhando os</p><p>baús!</p><p>Um abraço amigo</p><p>Danilo R. Streck</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>143</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ANDREOLA, B. A. O processo do conhecimento em Paulo Freire. Educa-</p><p>ção e Realidade, Porto Alegre, v. 18, n. 1, jan./jun., 1993.</p><p>ANDREOLA, B. A. Ética e solidariedade planetária.Estudos Teológicos, 41</p><p>(2): 18-38, 2001.</p><p>ANDREOLA, B. A. Emotividade Versus Razão: Por uma Pedagogia do</p><p>Coração. 2018. Tese (Pós-doutorado em Educação) – Programa de Pós-</p><p>graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto</p><p>Alegre, 2018. p. 209.</p><p>BARREIRO, J. Educação popular e conscientização. Tradução de Carlos</p><p>Rodrigues Brandão. Petrópolis: Vozes, 1980.</p><p>BARREIRO, J. Educación popular y proceso de conscientización. 6.ed.</p><p>Mexico: Editoral Siglo XXI, 1979.</p><p>BOFF, L. Pedagogia do oprimido e teologia da libertação. In: GADOTTI,</p><p>M. (ed.). 40 olhares sobre os 40 anos da pedagogia do oprimido. 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Conferên-</p><p>ciaapresentada no Seminário ―Interculturalidad y Educación Intercultural‖,</p><p>Instituto Internacional de Integración del Convenio Andrés Bello, La Paz, 9-</p><p>11 de março de 2009. Disponível em:</p><p>https://www.google.com/search?ei=58ZvXbqhDde5OUPhtOsgAY&q=</p><p>https://www.google.com/search?ei=58ZvXbqhDde5OUPhtOsgAY&q</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>158</p><p>SOBRE AS AUTORAS</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>159</p><p>FERNANDA PAULO</p><p>Doutora em Educação (2018), no Programa de Educação da Universidade</p><p>do Vale do Rio dos Sinos e Mestra em educação pelo Programa de Educação</p><p>da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em</p><p>Educação Popular e Movimentos Sociais. Graduação em Pedagogia e Filo-</p><p>sofia. Militante do Movimento de Educação Popular, da Associação de</p><p>Educadores populares de Porto Alegre (AEPPA) e do Fórum de Educação</p><p>de Jovens e Adultos do Rio Grande do Sul (FEJARS). Atualmente é profes-</p><p>sora-pesquisadora permanente dos Cursos de Mestrado e Doutorado do</p><p>Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Oeste de</p><p>Santa Catarina (UNOESC). Pesquisa Educação Popular nas suas diferentes</p><p>dimensões (histórica, filosófica, epistemológica e política) e em contextos</p><p>escolares e não escolares. Participa da Rede Nacional de Cidades que Edu-</p><p>cam. Membro do Fórum Estadual Popular de Educação do RSe compõem a</p><p>colegiada da CONAPE/RS 2022.</p><p>ADRIANA GAIO</p><p>Mestre em Educação. Possui Licenciatura em Geografia e em Pedago-</p><p>gia.Atualmente é professora do Estadode Santa Catarina. Tem experiência na</p><p>área de Geografia, com interesse em pesquisar relacionadas à Educação Ambi-</p><p>ental e processos de ensino-Aprendizagem. Desde o Mestrado tem interessenos</p><p>estudos acerca dos Direitos Humanos, Relações Étnico-Raciais e Educação</p><p>Popular, em especial no contexto da escola. Participa do Grupo de Estudos e</p><p>Pesquisa Paulo Freire e Educação Popular interinstitucional. Realizou o curso de</p><p>Mestrado em Educação no Programa de Pós-graduação em Educação da Uni-</p><p>versidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) sob orientação de Fernanda</p><p>Paulo. Participou de atividades formativas realizadas pelo Movimento de Edu-</p><p>cação Popular do RS e pela Associação de Educadores Populares de Porto</p><p>Alegre (AEPPA), bem como de cursos acerca da Pedagogia freiriana durantes</p><p>os anos de 2019 a 2021.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>160</p><p>Editora Livrologia</p><p>www.livrologia.com.br</p><p>Título Educação popular nas cartas do educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão: contribuições</p><p>para a pedagogia latino-americana</p><p>Autoria Fernanda dos Santos Paulo</p><p>Adriana Gaio</p><p>Assistente Editorial Nicole Brutti</p><p>Bibliotecária Karina Ramos</p><p>Projeto Gráfico Ivo Dickmann</p><p>Capa Ivanio Dickmann</p><p>Foto da Capa César Ferreira da Silva</p><p>Diagramação Ivo Dickmann</p><p>Preparação dos Originais Ivo Dickmann</p><p>Revisão Fernanda dos Santos Paulo</p><p>Formato 16 cm x 23 cm</p><p>Tipologia Calisto MT, entre 8 e 20 pontos</p><p>Papel Capa: Supremo 280 g/m2</p><p>Miolo: Pólen Soft 80 g/m2</p><p>Número de Páginas 162</p><p>Publicação 2021</p><p>Impressão e Acabamento META – Cotia – SP</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>161</p><p>Queridos leitores e queridas leitoras:</p><p>Esperamos que esse livro tenha sido útil para você</p><p>e seu campo de leitura, interesse, estudo e pesquisa.</p><p>Se ficou alguma dúvida ou tem alguma sugestão para nós,</p><p>Por favor, compartilhe conosco pelo e-mail:</p><p>livrologia@livrologia.com.br</p><p>PUBLIQUE CONOSCO VOCÊ TAMBÉM</p><p>www.livrologia.com.br</p><p>Trabalhos de Conclusão de Curso</p><p>Dissertações de Mestrado</p><p>Teses de Doutorado</p><p>Grupos de Estudo e Pesquisa</p><p>Coletâneas de Artigos</p><p>EDITORA LIVROLOGIA</p><p>Rua São Lucas, 98 E</p><p>Bairro Centro - Chapecó-SC</p><p>CEP: 89.814-237</p><p>livrologia@livrologia.com.br</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>162</p><p>acervo de cartas do educador Carlos Rodrigues Brandão, apre-</p><p>sentando temas, ideias e sujeitos presentes em correspondências datadas</p><p>entre 1964 e 1980. Outro objetivo foi às contribuições das Cartas Pedagógi-</p><p>cas para a história da Educação Popular e para a Pedagogia Latino-</p><p>americana. À luz da pedagogia crítica, nos perguntamos: a partir das ideias e</p><p>dos temas educacionais apresentados nas Cartas de Carlos Rodrigues Bran-</p><p>dão, escritas entre os anos de 1964 e 1980, quais as contribuições para a his-</p><p>tória da Educação Popular e para uma Pedagogia latino-americana? A inves-</p><p>tigação, de abordagem qualitativa e com análise documental a partir das</p><p>cartas inéditas (documento de primeira mão), constitui-se como contributo</p><p>de Sistematização de Experiências da Educação Popular. O aporte teórico</p><p>deste estudo traz reflexões e aproximações sobre Educação Popular, Cartas</p><p>Pedagógicas e Pedagogia latino-americana. Quanto à fundamentação teóri-</p><p>ca, foram utilizados vários autores, entre eles: Jara (2006; 2007), Paulo</p><p>(2013; 2018), Camini (2012), Freire (1987; 1994), Brandão (2006), Paulo e</p><p>Dickmann (2020), Paulo e Dickmann (2021).</p><p>Para a sistematização dos temas, ideias e sujeitos que trocaram cartas</p><p>com Brandão, os dados coletados foram organizados em tabelas e quadros.</p><p>Constatamos que as Cartas Pedagógicas do educador Carlos Rodrigues</p><p>Brandão nos permitem revelar a transcendência da Educação Popular freiri-</p><p>ana, identificando seus desdobramentos, que embasam e dão visibilidade</p><p>para a pedagogia latino-americana: Educação Popular decolonial e Educa-</p><p>ção Popular multicultural. Dos indícios de uma Pedagogia Latino-</p><p>Americana, na perspectiva da Educação Popular freiriana, apresentados nas</p><p>seções anteriores, destacam-se: 1) Cartas Pedagógicas de Brandão e encon-</p><p>tros entre o passado e o presente; 2) Educação Popular das décadas de 1960</p><p>a 1980: 3) Experiência(s) contemporânea(s) da Pedagogia Latino-</p><p>Americana; 4) As novas pedagogias enquanto resistência política e de espe-</p><p>rança. As ideias e os temas encontrados, nos registros do acervo pessoal,</p><p>possuem uma relevância histórica e política para a formação docente, para</p><p>as reflexões sobre Educação Popular, também para pesquisas em cursos de</p><p>stricto sensu em educação, e para futuras investigações.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>17</p><p>Assim, desejamos que esse livro possa contribuir para os estudos e con-</p><p>tinuidades de pesquisas, especialmente sobre a História da Educação Popu-</p><p>lar no Brasil - conectada com a história da Educação Popular latino-</p><p>americana – e, acerca de pesquisas com Cartas/correspondências, em espe-</p><p>cial as Cartas Pedagógicas.</p><p>Fernanda Paulo e Adriana Gaio</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>18</p><p>CAPÍTULO - 1</p><p>PRIMEIRAS PALAVRAS</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>19</p><p>Sou de um tempo em que nos escrevíamos</p><p>cartas. E quando digo cartas estou falando</p><p>de ―cartas de verdade. Uma carta de menos</p><p>de uma página escrita com ―máquina de es-</p><p>crever, para pedir uma simples informação,</p><p>ou fazer um breve comunicado, que não ti-</p><p>vesse pelo menos uma página inteira em</p><p>―espaço um, seria considerada um desres-</p><p>peito a quem fosse dirigida. [...] Mesmo</p><p>que fosse algo como ―um bilhete, as nossas</p><p>cartas de então eram as nossas conversas</p><p>por escrito. Eram longas confidências pes-</p><p>soais. Eram momentos de dizer a um alguém</p><p>algo sobre nossa filosofia de vida, nossas</p><p>ideais sobre o presente e nossos ideais</p><p>para o futuro. Veja os livros que contém</p><p>cartas de Paulo Freire, quando já no exí-</p><p>lio.</p><p>(Carlos Rodrigues Brandão)</p><p>Fonte:Cartas pedagógicas: tópicos epistêmico-</p><p>metodológicos na educação popular, 2020.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>20</p><p>Esta obra, parte do Projeto de Pesquisa, financiado pelo Conselho Naci-</p><p>onal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) intitulado como:</p><p>Memória e História da Educação Popular a partir do levantamento e catalogação das</p><p>cartas de Carlos Rodrigues Brandão (1964 a 1980): contribuições para a Pedagogia</p><p>Latino- Americana, coordenado pela professora - doutora Fernanda dos San-</p><p>tos Paulo – também resulta das pesquisas de mestrado de Adriana Gaio e do</p><p>pós-doutorado de Fernanda Paulo. No Programa de Pós Graduação em</p><p>Educação (PPGEd) da UNOESC, realizamos Grupos de Estudos e trabal-</p><p>gos, Seminários Temáticos, aprofundando o tema sobre Educação Popular e</p><p>seus desdobramentos. Nesse livro o recorte do tema é a identificação e análi-</p><p>sedas ideias, dos temas e dos sujeitos presentes nas cartas de Carlos Rodri-</p><p>gues Brandão e as possíveis contribuições para a história da Educação Popu-</p><p>lar e da Pedagogia Latino-americana.</p><p>As cartas de Carlos Rodrigues Brandão apresentam conteúdo político-</p><p>pedagógico, elas são trocadas por pensadores de renome no Brasil, o que</p><p>também representa uma contribuição para os impasses e retrocessos que</p><p>vivemos na atualidade desde a educação básica.</p><p>Outras dimensões que justificam a escrita do livro e a socialização do</p><p>mesmo, de forma gratuita na modalidade E-book, são:</p><p>1) As pesquisas documentais contribuem para o que Boaventura de Sousa</p><p>Santos (2009) chama de não desperdiçar a experiência – pouco explorados</p><p>em pesquisas;</p><p>2) A Sistematização de Experiências utilizando documentos como objeto</p><p>de análise – ainda não havíamos encontrados pesquisas de Mestrado e Dou-</p><p>torado utilizando apenas esse recurso metodológico.</p><p>3) A defesa do nosso Grupo de Estudos, orientados por Fernanda Paulo,</p><p>do uso de Cartas Pedagógicas como instrumento metodológico de Pesquisas</p><p>Participativas da Educação Popular.</p><p>A recuperação do processo vivido, a partir de cartas via Sistematização</p><p>de Experiências, é algo inédito e não localizamos o uso dessa metodologia</p><p>com análise de documentos. Sendo assim, essa publicação se apresenta como</p><p>inédita, pois reinventa a proposta metodológica apresentada por Oscar Jara.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>21</p><p>Também constatamos que a Carta Pedagógica foi um instrumento metodo-</p><p>lógico da Educação Popular (acrescentamos de uma pedagogia de participa-</p><p>ção1 e de solidariedade2), mesmo que isso não tenha sido reconhecido por</p><p>eles e por elas na época. Importante destacar que Paulo Freire trocou corres-</p><p>pondências para problematizar e socializar experiências de Educação Popu-</p><p>lar – as quais podem ser verificadas em alguns dos seus livros. Brandão tro-</p><p>cou cartas com vários sujeitos, em especial no período do exílio (PAULO,</p><p>2018; PAULO; DICKMANN, 2020a), um dos sujeitos foi Paulo Freire –</p><p>mas essa carta não foi analisada porque não contempla o nosso recorte tem-</p><p>poral.</p><p>A análise de Cartas Pedagógicas, a partir da Sistematização de Experiên-</p><p>cias, não tinha sido, ainda, utilizada em pesquisas acadêmicas, mas, na his-</p><p>tória da Educação Popular, tanto Freire quanto Brandão utilizaram corres-</p><p>pondências como resistência política e pedagógica.</p><p>No total, estudamos 181 cartas, e, dessas, 94 apresentam temas da Edu-</p><p>cação Popular de modo explícito e implícito nos textos. Acreditamos que</p><p>essa pesquisa contribuirá para a história da educação, em especial no campo</p><p>da Educação Popular, uma vez que examinamos centenas de cartas inéditas,</p><p>ou seja, ainda não pesquisadas e analisadas na universidade (PAULO,</p><p>2018).</p><p>Desenvolvemos uma metodologia de análise documental embasada no</p><p>referencial crítico, inspirada na pedagogia crítica e em Paulo Freire. Espera-</p><p>mos que essa pesquisa, sob a perspectiva de análise crítica, venha a contribu-</p><p>ir para a continuidade da história da Educação Popular e da Pedagogia Lati-</p><p>no-americana. Os objetivos da pesquisa que realizamos foram:</p><p>a) Objetivo Geral:</p><p>Investigar as ideias, temas e sujeitos presentes nas cartas de Carlos Rodri-</p><p>gues Brandão que possam contribuir para a história da Educação Popular e</p><p>para a Pedagogia Latino-americana.</p><p>1 Conferir em Fávero (2006, p.209): ―O diálogo era um dos temas presentes em quase todos os</p><p>momentos de educação popular no período, principalmente no MEB e no grupo que iniciara o</p><p>trabalho com Paulo Freire‖.</p><p>2 Vale conferir Andreola (2001), que, inspirado em Freire, argumenta sobre a ética da solidarie-</p><p>dade humana.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>22</p><p>b) Objetivos Específicos:</p><p>1. Identificar os temas e ideias educacionais abordados nas cartas de</p><p>Carlos Rodrigues Brandão, entre os anos de 1964 e 1980, e suas relações</p><p>com a Educação Popular.</p><p>2. Indicar os sujeitos que trocaram cartas com Carlos Rodrigues Bran-</p><p>dão entre os anos de 1964 e 1980.</p><p>3. Apresentar as contribuições, presentes nas cartas, para a Pedagogia</p><p>latino-americana a partir da Educação Popular.</p><p>Com relação às questões problematizadoras, que emergiram a partir da</p><p>escolha do tema de pesquisa, destacam-se:</p><p>1. Quais temáticas da Educação Popular foram discutidas nas cartas de</p><p>Carlos Rodrigues Brandão? Elas ainda são atuais?</p><p>2. Quais são as ideias educacionais presentes nessas cartas e quem são</p><p>os sujeitos que discutiram Educação Popular entre os anos de 1964 e 1980?</p><p>3. De que maneira essas cartas podem contribuir para a história da</p><p>Educação Popular e para a Pedagogia latino-americana?</p><p>Diante das questões acima, redigimos o seguinte problema de pesquisa: a</p><p>partir das ideias e temas educacionais apresentados nas Cartas de Carlos Rodrigues</p><p>Brandão, escritas entre os anos de 1964 e 1980, quais as contribuições para a história</p><p>da Educação Popular e para uma Pedagogia latino-americana?</p><p>O arquivo de Cartas de Carlos Rodrigues Brandão, entre os anos de 1964</p><p>e 1980, está assim organizado: 59 cartas entre 1964 e 1969; 56 cartas na</p><p>década de 1970; e 66 cartas no ano de 1980. Selecionamos apenas as cartas</p><p>escritas em língua portuguesa3 e aquelas que, explícita ou implicitamente4,</p><p>possuíam discussões sobre ―Educação Popular‖. Então, das 181 cartas, fo-</p><p>ram selecionadas 94 para análise.</p><p>3Há cartas em espanhol, em inglês e em francês. Muitas escritas à mão. Vamos utilizá-las para</p><p>pesquisas posteriores.</p><p>4 Fernanda Paulo (2018) traz expressões utilizadas como sinônimas de Educação Popular: educação</p><p>crítica libertadora, cultura popular, educação humanizadora, educação revolucionária.</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>23</p><p>Quadro 1 - Presença de ideias e temas da Educação Popular</p><p>Cartas/</p><p>tempo</p><p>Presença de ideias e temas da Educação Popular Nº de cartas</p><p>identificadas</p><p>Década</p><p>de 1960</p><p>Rádio comunitária, cultura popular, poema popu-</p><p>lar, MEB, práxis, diálogo/palavração, conscienti-</p><p>zação, IBRA, CELUSA, direitos sociais, alfabeti-</p><p>zação de adultos, pesquisa popular, desenvolvi-</p><p>mento comunitário socioeconômico, CEFRAL,</p><p>linguagem popular, revista práxis, educação indí-</p><p>gena, educação camponesa, trabalho popular na</p><p>América Latina, serviço comunitário, metodolo-</p><p>gia, IRA, INDA, COC, ditadu-</p><p>ra/polícia/delegacia, participação do povo, edu-</p><p>cação de adultos.</p><p>32</p><p>Década</p><p>de 1970</p><p>Poema, revista práxis, MEB, educação de adultos,</p><p>educação indígena, literatura popular, arte popu-</p><p>lar, Educação Popular, CEDI, FUNARTE, reli-</p><p>gião popular, cultura popular, mudança social,</p><p>negro no Brasil,lutas, saúde, CEDI, poemas polí-</p><p>ticos, música popular, seminários sobre pesquisa</p><p>de saúde popular, NOVA, folclore, extensão uni-</p><p>versitária, catolicismo popular, pesquisa antropo-</p><p>lógica, IBRA, religiosidade, Trabalho com os</p><p>grupos religiosos, Rituais católicos populares,</p><p>Mudança social, Seminário sobre pesquisa de</p><p>saúde popular, Grupos de estudo sobre a educação</p><p>de adultos, alfabetização popular, terra, violência,</p><p>miséria, Levantamento sócio religioso e cultural,</p><p>Apostilas de Educação Popular, Trabalho de mu-</p><p>lher, Teóricos e práticos da Educação Popular, A</p><p>questão política da Educação Popular, Pós-</p><p>alfabetização, Livro sobre Educação Popular,</p><p>saber de classe, Educação Popular como nos idos</p><p>de 1964, Religião Popular no Brasil, Trabalho com</p><p>21</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>24</p><p>o Povo, Educação e Cultura Popular, limites Polí-</p><p>ticos da Educação, Problema Formal da Educação</p><p>Classe-saber, saberes populares, Questões do uso</p><p>político do saber, Conscientização, Educação de</p><p>classe, Educação do sistema, identidade étnica em</p><p>Goiás.</p><p>1980 Paulo Freire, Meio Grito, pesquisa com o povo,</p><p>Gadotti, CEDI, pesquisa participante, saber de</p><p>classe, saber popular, trabalho pedagógico, traba-</p><p>lho de alfabetização, escolarização popular, cultu-</p><p>ra popular, religiosidade popular, treino em alfabe-</p><p>tização, métodoPaulo Freire, formação de Educa-</p><p>dores Populares, pesquisa participante em Educa-</p><p>ção Popular, catolicismo popular, conceitos e</p><p>objetivos da Educação Popular, Saúde como uma</p><p>forma de Educação Popular, lutas políticas, iden-</p><p>tidade e etnicidade no México, as lutas do povo, a</p><p>questão da Terra, o trabalho operário, o índio, a</p><p>esperança de um outro mundo, ecumenismo po-</p><p>pular, teóricos e práticos da Educação Popular,</p><p>questão política da Educação Popular, poesia</p><p>popular, pós-alfabetização.</p><p>41</p><p>TOTAL 94</p><p>Fonte: Dados da pesquisa.</p><p>Assim sendo, o livro está organizado em cinco capítulos. No primeiro,</p><p>são expostos elementos gerais que caracterizam o tema da nossa pesquisa e</p><p>sua relação com as autoras. No segundo capítulo, apresentamos o caminho</p><p>metodológico percorrido para a realização desta pesquisa. Já no terceiro</p><p>capítulo, apresentamos o levantamento bibliográfico sobre a temática abor-</p><p>dada. No quarto capítulo, também de fundamentação teórica, é explanada a</p><p>História da Educação Popular, dialogando com o resultado da pesquisa.</p><p>Não destinamos um capítulo apenas para análise das cartas, ou seja,</p><p>dos dados empíricos. A opção por esse caminho decorre da nossa metodolo-</p><p>gia, da pedagogia crítica inspirada em Paulo Freire (PAULO, 2013). No</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>25</p><p>quinto capítulo, apresentamos e analisamos as ideias, os temas e os sujeitos</p><p>presentes nas cartas de Carlos Rodrigues Brandão que contribuem para a</p><p>história da Educação Popular e Pedagogia Latino-americana.</p><p>Finalmente, na última seção, apresentamos os apontamentos finais,</p><p>constituídos por aspectos emergentes e por lacunas encontradas no desen-</p><p>volvimento da pesquisa realizada entre os anos de 2018-2021. Para cada</p><p>parte do livro apresentamos um espaço denominado ―Pausa Pedagógica‖,</p><p>inspirado em Ivo Dickmann e Ivanio Dickmann (2019) – destinada ao leitor</p><p>e leitora para anotações e diálogos conosco. Para os autores ―A Pausa Peda-</p><p>gógica é um breve momento onde você deve parar, pensar e anotar as primei-</p><p>ras aprendizagens que o texto te proporcionou.‖, seguem explicando a ori-</p><p>gem do termo: ―A título de registro e gratidão queremos dizer pausa peda-</p><p>gógica não é uma invenção nossa. Tivemos contato com ela há alguns anos</p><p>através da educadora popular Helena Bins, num curso [...] desenvolvido pelo</p><p>CAMP de Porto Alegre, em 2006. (DICKMANN; DICKMANN, 2019,</p><p>p.12).</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>26</p><p>Síntese do Capítulo</p><p>Uma palavra</p><p>______________________________________________________</p><p>Uma frase</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>_______________________________________________________</p><p>Um parágrafo</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>27</p><p>―Tanto Brandão como Paulo Freire, autores a quem nos filiamos na con-</p><p>cepção de Educação Popular, possuem na sua trajetória teórico-prática</p><p>Cartas Pedagógicas que estabelecem diálogo com autores de-coloniais.</p><p>Interessante que, ao revisitarmos os livros Cartas a Guiné- Bissau e Dialo-</p><p>gando com a própria história, localizamos importantes narrativas, que nos</p><p>orientam nas reflexões epistêmicas e metodológicas da Educação Popular,</p><p>Pedagogia Latino-americana e suas relações com as Cartas Pedagógi-</p><p>cas.De partida, dois fundamentos epistêmico-metodológicos se fazem</p><p>presentes nas cartas, ambos coerentes com a concepção de Educação Po-</p><p>pular: a dialogicidade eaparticipação5.‖</p><p>(Fernada Paulo e Ivo Dickmann)</p><p>5 Cartas pedagógicas: tópicos epistêmico-metodológicos na educação</p><p>popular. 1. ed. – Chapecó: Livrologia, 2020. (Coleção Paulo Freire; v. 2). Fernanda dos Santos</p><p>Paulo, Ivo Dickmann (organizadores)</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>28</p><p>CAPÍTULO - 2</p><p>CAMINHOS</p><p>METODOLÓGICOS</p><p>PERCORRIDOS</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>29</p><p>“A nossa intenção sempre foi a de estar utilizando instrumentos de pesqui-</p><p>sas coerentes com a Educação Popular (EP) e, com isso, na medida em que</p><p>íamos realizando o estudo, também aprendíamos que na Pesquisa Partici-</p><p>pante (PP) não havia receitas e que se aprendia praticando-a6.”.</p><p>(Fernanda Paulo).</p><p>6PAULO, Fernanda dos Santos. Memórias e trajetórias: sistematização de experiências de</p><p>educação popular e de movimentos sociais. l.ed. - São Paulo: Diálogo Freiriano, 2019.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>30</p><p>Na pesquisa qualitativa, fatos e fenômenos são relevantes, e, nesse senti-</p><p>do, Minayo (2001, p. 21) conceitua a pesquisa qualitativa como:</p><p>[...] responde a questões muito particulares. Ela ocupa, nas ci-</p><p>ências sociais, um nível de realidade que não pode ou não de-</p><p>veria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos</p><p>significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos va-</p><p>lores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é</p><p>entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser hu-</p><p>mano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que</p><p>faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade</p><p>vivida e partilhada com seus semelhantes</p><p>Freire (1981) declara que em Educação Popular pressupõem-se reinven-</p><p>ções metodológicas, colocando em prática métodos em que pessoas não</p><p>sejam meros objetos. No entanto, a categoria historicidade, atrelada à curiosi-</p><p>dade epistemológica, contribui para pesquisas qualitativas, com interpretações</p><p>reflexivas em relação à produção do conhecimento, partindo de uma visão</p><p>dialógica. Nesse sentido, pesquisas qualitativas, com referencial da pedago-</p><p>gia crítica, são coerentes com o pensamento de Paulo Freire.</p><p>Em vista disso, nos utilizaremos das contribuições da pedagogia crítica</p><p>de Paulo Freire, a qual dialoga com os seguintes pensamentos: o marxismo,</p><p>a fenomenologia crítica e o existencialismo cristão (PAULO, 2018). Concor-</p><p>dam com essa análise acerca do pensamento filosófico de Paulo Freire auto-</p><p>res como Torres (1997), Gadotti (1996) e Brutscher (2005).</p><p>No que se refere ao pensamento marxista, Paulo (2018, p. 168) afirma</p><p>que:</p><p>Pensamento Marxista: Em síntese, tomamos a linha mestra das</p><p>obras de Paulo Freire, que postula as dimensões política da</p><p>educação e educativa do trabalho. Encontramos em diversas</p><p>obras do educador categorias do referencial marxista, e uma de-</p><p>las é a de trabalho e a de totalidade, as quais utilizaremos nas</p><p>análises dessa pesquisa. Evidenciamos também, presente em</p><p>suas obras, o imperativo de problematizar o contexto social e</p><p>político da realidade brasileira, no qual o ser humano vive o</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>31</p><p>dramatismo do condicionamento econômico da infraestrutura</p><p>no condicionamento ideológico da superestrutura. Freire, con-</p><p>testando a educação e a política a serviço dos opressores, colo-</p><p>ca a necessidade de pensá-las a partir da perspectiva das classes</p><p>populares. Sendo assim, dessa influência, destacamos: huma-</p><p>nismo concreto, pensamento político socialista, fenômeno da</p><p>massificação e análise sobre a coisificação. Marx, Gramsci,</p><p>Marcuse, Kosik e Fromm foram alguns dos pensadores que te-</p><p>riam influenciado Freire. (Grifo nosso).</p><p>No tocante à fenomenologia, constatamos:</p><p>Pensamento da Fenomenologia: No livro ‗Professora sim, tia</p><p>não: cartas a quem ousa ensinar‘, contamos com uma passa-</p><p>gem do texto que coloca a necessidade de realizar, de forma</p><p>crítica, a leitura da palavra, do mundo e de contexto, como um</p><p>instrumento de organização política da classe popular, ou seja,</p><p>através do processo de consciência crítica e educação proble-</p><p>matizadora, o ser humano constrói sua consciência como in-</p><p>tencionalidade. Destacam-se nesse processo: a conscientização,</p><p>a revolução cultural, a educação como ação cultural, o ser no</p><p>mundo, a experiência e o mundo vivido. Entre os pensadores</p><p>que teriam influenciado Freire estão Edmundo Husserl e Mer-</p><p>leau-Ponty. (PAULO, 2018, p. 168).</p><p>Além desses, identificamos outros teóricos presentes nas obras de Freire</p><p>em um estudo realizado e publicado no livro: Paulo Freire: uma arqueologia</p><p>bibliográfica (PITANO; STRECK; MORETTI, 2019). Esse trabalho foi resul-</p><p>tado do projeto de pós-doutorado de Sandro de Castro Pitano (2017), deno-</p><p>minado ―Articulações teóricas e metodológicas do pensamento de Paulo</p><p>Freire: diálogos explícitos, implícitos e possíveis‖, contando com a participa-</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>32</p><p>ção de mais de 70 pesquisadores e pesquisadoras que estudam o pensamento</p><p>e a obra de Paulo Freire7.</p><p>Paulo (2013) revela as influências teóricas e metodológicas de Paulo</p><p>Freire, apontando que a filosofia freiriana é embasada pelo pensamento exis-</p><p>tencial, fenomenológico, marxista e hegeliano8. Na sua tese, qualifica o exis-</p><p>tencialismo como cristão e destaca o personalismo de Mounier9 – um desdo-</p><p>bramento da dissertação, em que discute o pensamento cristão progressista</p><p>presente nos livros de Paulo Freire (PAULO, 2018). Com relação ao existen-</p><p>cialismo:</p><p>Pensamento Existencial: O ser humano ―existe no e com o</p><p>mundo‖ (1981, p.53), compreendido enquanto um ser em cons-</p><p>trução, destacando-se, conforme esse autor, no método Paulo</p><p>Freire, o conceito antropológico de cultura e o de liberdade.</p><p>Alguns dos pensadores que teriam influenciado Freire foram:</p><p>Heidegger (estar no mundo), Mounier (ser com os outros), Ga-</p><p>briel Marcel e Sartre (ser humano nunca é fim). (PAULO,</p><p>2018, p. 167-168).</p><p>Nosso embasamento teórico-metodológico, inspirado em Paulo Freire,</p><p>sustentará nossas análises – as quais fazem um diálogo entre as correntes</p><p>explicitadas anteriormente – constituindo a Pedagogia crítica. Para a realiza-</p><p>ção da coleta de dados, utilizaremos a análise de documentos a partir da</p><p>Sistematização de Experiências explicitada por Oscar Jara Holliday (2006).</p><p>7No segundo semestre de 2020 participei de um curso de extensão denominado ―Influências da</p><p>Filosofia na Pedagogia de Paulo Freire‖, oferecido pela UNINTER e ministrado pela professora</p><p>Drª Fernanda Paulo, cujo conteúdo tratou destas influências.</p><p>8 Brutscher (2005) expõe as raízes epistemológicas de Freire: mostra que Hegel, Marx e Husserl</p><p>foram inspirações de Freire. Em seu livro, encontramos o método dialético e histórico, o méto-</p><p>do ver-julgar-agir e o método fenomenológico, que congregam a dialética freireana. No prefácio</p><p>desta obra, encontramos a seguinte declaração: "Paulo Freire inspira-se na dialética hegeliana</p><p>do Escravo Senhor, mas ele a historiciza e tira daí as consequências para uma educação como</p><p>conscientização e emancipação" (GADOTTI, 2005, p.9).</p><p>9 Diz Balduino Andreola: ―Paulo Freire conclui Pedagogia do oprimido proclamando sua ―fé nos</p><p>homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil amar‖. Nesse horizonte, por ele</p><p>vislumbrado, a ciência e a práxis humana atingem seus limites. O compromisso meramente</p><p>político é insuficiente. Cabe avançar nos horizontes da transcendência e da fé. Sem uma ética do</p><p>amor e do perdão, a reconciliação e a solidariedade humana parecem quimera vã. São perspec-</p><p>tivas que transitou Mounier e transitam hoje pensadores como Paul Ricoeur‖ (2001, p. 18).</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>33</p><p>Conforme Chartier (2001), os documentos não são transparentes, inocentes,</p><p>neutros, e não traduzem uma verdade e um significado por si só. Eles carre-</p><p>gam um conteúdo produzido por pessoas em determinado contexto históri-</p><p>co, cultural, político, e apresentam determinados interesses.</p><p>Com a Sistematização de Experiências, de Oscar Jara Holliday (2006;</p><p>2012), utilizando-nos da análise documental a partir de cartas inéditas (do-</p><p>cumento de primeira mão), nos é possível a busca por contribuições para o</p><p>trabalho com informações e questões presentes no objeto de estudo, ―que</p><p>ainda não receberam tratamento analítico por nenhum autor.‖ (HELDER,</p><p>2006, p.1). Em uma primeira observação, identificamos que essas cartas são</p><p>pedagógicas (CAMINI, 2012; FREIRE, 1994; PAULO; DICKMANN,</p><p>2020), pois revelam temas pedagógicos, intencionalidades e objetivos explíci-</p><p>tos concernentes a assuntos educacionais.</p><p>Acreditamos que as categorias marxistas historicidade, mediações e deter-</p><p>minações contribuem para o trabalho que desejamos realizar. Esse esforço de</p><p>dialogar com as perspectivas filosóficas de Paulo Freire perpassa pelo mar-</p><p>xismo, mas não se encerra nele. Isto é, o personalismo de Emmanuel Mou-</p><p>nier, em obras de Paulo Freire, contribui para a compreensão de ser humano</p><p>como pessoa – categoria importante para análise, pois, assim como Paulo</p><p>(2018) constatou, a Educação Popular se faz presente, nas instituições, a</p><p>partir de sujeitos individuais, que vão constituindo redes de intelectuais que</p><p>pesquisam e/ou estudam o tema (sujeitos coletivos). Ao longo do processo</p><p>de leitura das cartas do acervo pessoal de Brandão, observamos que ele cons-</p><p>tituiu uma rede de amigos que, mediante trocas de cartas, construíam proje-</p><p>tos, discutiam temas e narravam suas experiências. Ademais, havia a discus-</p><p>são sobre a necessidade de não separar o fazer do saber e a linguagem do</p><p>mundo. Na Pedagogia do Oprimido, observamos a presença do personalis-</p><p>mo:</p><p>Ninguém pode ser, autenticamente, proibindo que os outros se-</p><p>jam. Esta é uma exigência radical. O ser mais que se busque no</p><p>individualismo conduz ao ter mais egoísta, forma de ser menos.</p><p>De desumanização. Não que não seja fundamental – repitamos</p><p>– ter para ser. Precisamente porque é, não pode o ter de alguns</p><p>converter-se na obstaculização ao ter dos demais, robustecendo</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>34</p><p>o poder dos primeiros, com o qual esmagam os segundos, na</p><p>sua escassez de poder. (FREIRE, 1987, p. 43).</p><p>A concepção de sujeito/pessoa/ser humano, apresentada acima, é fun-</p><p>damental para a compreensão da nossa opção teórico-metodológica, sobre-</p><p>tudo porque objetivamos perquirir as ideias, os temas e os sujeitos presentes</p><p>nas cartas de Carlos Rodrigues Brandão (sujeito direto da nossa pesquisa)</p><p>que possam contribuir para história da Educação Popular e da Pedagogia</p><p>Latino-americana. A fundamentação ontológica presente em Paulo Freire</p><p>(1987), o ser mais para a humanização, compõe a acepção de ser humano que</p><p>busca a construção de projetos históricos de libertação – o que significa que</p><p>somos homens e mulheres em movimento (vir a ser), que, reconhecedores de</p><p>nossos condicionamentos, lutamos contra todas as formas de opressão.</p><p>A concepção de ser humano personalista não está em desacordo com a</p><p>concepção marxista de ser humano, a qual entende que somos sujeitos histó-</p><p>ricos inconclusos, pois estamos:</p><p>[...] sendo, como seres inacabados, inconclusos, em e com uma</p><p>realidade, que sendo histórica também, é igualmente inacaba-</p><p>da. Na verdade, diferentemente dos outros animais, que são</p><p>apenas inacabados, mas não são históricos, os homens se sa-</p><p>bem inacabados. Têm a consciência de sua inconclusão.</p><p>(FREIRE, 1987, p. 42).</p><p>Compreendemos que para Freire (1987) o ser humano, na sua incom-</p><p>pletude, pode - por meio de processos educativos críticos e emancipatórios -</p><p>libertar-se das amarras do sistema opressor-alienante e alienador. Daí a im-</p><p>portância de Freire (1987, p. 42), com o seu entendimento de que ―a educa-</p><p>ção se refaz constantemente na práxis. Para ser tem que estar sendo.‖, inspi-</p><p>rado por um viés marxista, como, por exemplo, pela obra: Filosofia da prá-</p><p>xis, de Sánchez Vázquez (1997).</p><p>Já no tocante à fenomenologia, nos livros de Paulo Freire (fenomenolo-</p><p>gia dialética), a descrição interpretativa dos fenômenos pode nos ajudar a</p><p>compreender as intencionalidades presentes no objeto de estudo, nas rela-</p><p>ções de subjetividade e objetividade:</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>35</p><p>Enquanto ser humano, jamais aceitei que minha presença e</p><p>minha passagem por ele fossem pré-estabelecidas. A minha</p><p>compreensão das relações entre subjetividade e objetividade,</p><p>consciência e mundo, prática e teoria foi sempre dialética e não</p><p>mecânica. (FREIRE, 2000a, p. 89).</p><p>Trabalhar com as cartas de Carlos Rodrigues Brandão, com base nessa</p><p>perspectiva freiriana, é tomar uma posição frente às nossas escolhas. Primei-</p><p>ro, acreditamos que Paulo Freire contribui com estudos metodológicos10</p><p>(FREIRE, 1987; PAULO, 2018). Segundo, as suas inspirações filosóficas</p><p>não são antagônicas, isto é, podemos afirmar que existe na pedagogia freiri-</p><p>ana uma possibilidade de pensarmos uma Pedagogia Latino-americana em</p><p>uma perspectiva crítica, sem dogmatismos. Diante das opções, estamos asse-</p><p>guradas da importância das categorias historicidade, mediações11 e determinações</p><p>em nossas análises.</p><p>Decorrente da possibilidade de uma Pedagogia Latino-americana inspi-</p><p>rada na Educação Popular, Brandão (2006a) apresenta a pesquisa participan-</p><p>te como uma proposta, autenticamente, latino-americana12.</p><p>Expostos os posicionamentos metodológicos, as cartas de Carlos Rodri-</p><p>gues Brandão possuem conteúdos, que não tinham sido analisados ainda,</p><p>advindos de experiências vividas entre intelectuais13.</p><p>SISTEMATIZAÇÕES DE EXPERIÊNCIAS</p><p>O autor principal da Sistematização de Experiências é Oscar Jara Hol-</p><p>liday (2012), e incluímos algumas reflexões em torno da obra ―Educação</p><p>Popular e pesquisas participativas‖ (LIMA; PAULO; TESSARO, 2020).</p><p>10 Na tese de Fernanda Paulo (2018), ela apresenta a análise a partir da Pedagogia do Oprimido,</p><p>cuja dimensão é o olhar para a totalidade por meio da codificação-decodificação.</p><p>11 Encontramos na obra Pedagogia e conflito a argumentação sobre o conhecimento enquanto</p><p>mediação da relação educador-educando. Identificamos que esse conhecimento, construído via</p><p>mediação, é uma possibilidade da edificação do caminho de libertação em Freire.</p><p>12Conferir no Verbete escrito por Brandão, denominado: Pesquisa Participante/Investigação-Ação-</p><p>Participativa, localizado no Dicionário Paulo Freire.</p><p>13 No livro Cartas a Guiné-Bissau (1978), na Carta 11, encontramos Gramsci, citado ao tratar do</p><p>papel dos intelectuais no processo revolucionário – intelectuais que trabalham com e não para o</p><p>povo.</p><p>Educação Popular nas Cartas</p><p>do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>36</p><p>Para Oscar Jara Holliday (2006, p. 21), as experiências são “carregadas de</p><p>uma enorme riqueza acumulada de elementos que, em cada caso, represen-</p><p>tam processos inéditos e irrepetíveis. É por isso que é tão apaixonante a tare-</p><p>fa de compreendê-las, extrair seus ensinamentos e comunicá-los‖.</p><p>Desse modo, a pesquisa com Sistematização de Experiências tem uma</p><p>proposta em cinco tempos (HOLLIDAY, 2012; HOLLIDAY, 2014):</p><p>1. O ponto de partida: ter participado da Experiência e possuir registro</p><p>dela.</p><p>2. As perguntas iniciais: questões problematizadoras.</p><p>3. Recuperação do processo vivido: reconstruir a história e organizar a</p><p>informação.</p><p>4. A reflexão de fundo: analisar, sintetizar e interpretar, criticamente, o</p><p>processo.</p><p>5. Os pontos de chegada: formular conclusões e socializações.</p><p>Nesses pontos, cabe ressaltar que fazemos parte das experiências a par-</p><p>tir do projeto de Pesquisa sobre Educação Popular, citado anteriormente. Na</p><p>inserção na pesquisa do CNPq, apresentamos trabalhos em Seminários de</p><p>Educação e escrevemos artigos e capítulos de livros sobre o tema. Além de</p><p>lives.</p><p>No segundo tempo construímos questões problematizadoras a partir do</p><p>acervo de cartas.</p><p>No tempo seguinte (recuperação do processo vivido): realizamos um</p><p>trabalho de sistematização das cartas por meio de tabelas e de quadros temá-</p><p>ticos que identificassem os temas, as ideias e os sujeitos em correspondências</p><p>datadas entre 1964 e 1980.</p><p>Em relação à reflexão de fundo, construímos tabelas para contribuir na</p><p>sistematização, na análise e na interpretação dos documentos (cartas). Refe-</p><p>rente aos pontos de chegada, a publicação deste livro é parte da divulgação</p><p>da nossa.</p><p>Para Oscar Jara Holliday (2012, p. 33), a Sistematização de Experiên-</p><p>cias é uma proposta ―enraizada na história latino-americana‖. E, nesse sen-</p><p>tido, reconhecer que a Sistematização de Experiências é considerada uma</p><p>ruptura metodológica, como trabalhamos no Seminário Temático: Educação</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>37</p><p>Popular e Metodologias Participativas, oferecido pelo Programa de Pós-</p><p>Graduação em Educação da UNOESC, por uma das autoras dessa obra</p><p>[professora Fernanda dos Santos Paulo], no primeiro semestre de 2020. Rup-</p><p>tura porque apresenta uma proposta metodológica embasada na pedagogia</p><p>de Paulo Freire e nas experiências de pesquisas participativas.</p><p>Estudamos, concomitantemente, o Seminário Temático: Paulo Freire e a</p><p>Educação na Atualidade, com a mesma professora citada no parágrafo anteri-</p><p>or, que situou as obras de Paulo Freire como autor referência desta disserta-</p><p>ção, incluindo-o no aporte metodológico, pois ele possui livros que tratam da</p><p>Sistematização de Experiências, tais como: Pedagogia da esperança: um reencon-</p><p>tro com a pedagogia do oprimido (2013), Pedagogia do oprimido (1987) e Cartas à</p><p>Guiné-Bissau: registros de uma experiência em processo (1978).</p><p>Em 2021, realizamos o Seminário História da Educação Popular a partir de</p><p>Cartas Pedagógicas, ministrado por Fernanda dos Santo Paulo. Também jun-</p><p>tas escremos um artigo sobre Cartas Pedagógicas e a Educação Popular, para</p><p>um livro organizado pela professora coordenadora desta pesquisa, com o</p><p>seguinte título: ―A História da Educação Popular no Brasil: uma conversa a</p><p>partir de Paulo Freire e Carlos Rodrigues Brandão‖.</p><p>2.1 CARTAS COMO DOCUMENTOS: RECUPERAÇÃO DO PRO-</p><p>CESSO VIVIDO</p><p>Primeiro, compreendemos que as cartas são documentos históricos e</p><p>importantes para recuperação de processos vividos na Educação Popular. E,</p><p>para manter a história em movimento, realizamos sistematizações desses</p><p>documentos, buscando conhecer quem são os sujeitos identificados nas car-</p><p>tas, pois este passado (correspondências de 1964 a 1980) constitui uma histó-</p><p>ria invisibilizada nas produções bibliográficas acerca do tema ―Educação</p><p>Popular‖.</p><p>Hobsbawm (1998, p. 13) diz que uma das características ―do final do</p><p>século XX é o presente contínuo, abandonando o passado, ou a destruição</p><p>do passado.‖. Nós queremos dar visibilidade às experiências de Educação</p><p>Popular, aos sujeitos e às ideias que se apresentam nesses documentos histó-</p><p>ricos, as cartas (1960 a 1980).</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>38</p><p>Sabemos, por meio de pesquisas realizadas através do Grupo de Estu-</p><p>dos e Pesquisa Paulo Freire e Educação Popular, que a Educação Popular ainda</p><p>ocupa lugar de menor privilégio nos cursos de formação docente, sendo que</p><p>quando discutido, normalmente, é em componentes curriculares voltados à</p><p>Educação de Jovens e Adultos.</p><p>É diante dessas reflexões que identificar e analisar as ideias, os temas e</p><p>os sujeitos presentes nas cartas de Carlos Rodrigues Brandão e as possíveis</p><p>contribuições para história da Educação Popular e da Pedagogia Latino-</p><p>americana se tornam um desafio interessante e provocativo. Isso porque a</p><p>recuperação do processo vivido, a partir de cartas via Sistematização de Ex-</p><p>periências, é algo inédito. Isto é, não localizamos o uso desta metodologia</p><p>com análise de documentos. Parece-nos que esta é a primeira pesquisa que</p><p>reinventa a proposta metodológica apresentada por Oscar Jara. Outro ponto</p><p>é que adjetivamos as cartas de Carlos Rodrigues Brandão como pedagógicas,</p><p>pois encontramos, nelas, conteúdo educativo-pedagógico. Concernente às</p><p>Cartas Pedagógicas, buscamos em Freitas (2020), Ivanio Dickmann (2020)</p><p>e Paulo (2020a) as suas características, as quais são:</p><p>1. Narrativa de situações observadas e/ou vivenciadas.</p><p>2. Questionamento problematizador.</p><p>3. Dialogicidade e participação como princípios.</p><p>4. Relações teórico-práticas.</p><p>5. Intencionalidade educativa.</p><p>6. Concepção epistemológica, metodológica, política, ontológica e pe-</p><p>dagógica.</p><p>7. Dimensão da Reflexão pessoal e conceitual.</p><p>Alusivo às Cartas Pedagógicas, no Brasil, quem têm discutido do ponto</p><p>de vista teórico são: Isabela Camini (2012), Ana Lúcia Souza de Freitas</p><p>(2020), Fernanda dos Santos Paulo (2013; 2018; 2019a; 2019b; 2019c; 2020)</p><p>e Ivo Dickmann (2020) e Ivanio Dickmann. Em termos gerais, tratando de</p><p>cartas, temos Freire (1977, 1993, 2000a; 2000b, 2003). No caso da Ana Lú-</p><p>cia Souza de Freitas, participamos - enquanto grupo de orientandos/as da</p><p>professora Fernanda Paulo - de duas atividades remotas (lives) sobre Cartas</p><p>Pedagógicas, as quais foram: 1) Aula aberta das Leituras Dirigidas sobre</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>39</p><p>Cartas Pedagógicas, promovida com as orientandas da professora Ana Cris-</p><p>tina Rodrigues, da Unipampa de Jaguarão, RS; e, 2) Cartas Pedagógicas:</p><p>experiências de Reinvenção na formação com educadores/as, promovida</p><p>pelo XXII Fórum de Leituras e Estudos Paulo Freire, pelo Programa de Pós-</p><p>graduação em Educação, da Universidade da Fronteira Sul (UFFS),campus</p><p>Erechim. Além disso, Fernanda Paulo compôs a lista de convidados para</p><p>entrevistas da Semana Paulo Freire de 2021, organizados pelos irmãos Ivânio e</p><p>Ivo Dickmann. Fernanda Paulo participou da atividade do dia 22/09/2021 –</p><p>com o tema ―Cartas Pedagógicas‖, entrevista disponível em:</p><p>https://youtu.be/Hxq6XQoZ9Lo. Na atividade são expostas as carcteristi-</p><p>cas de uma Carta Pedagógica.</p><p>Diante das características de uma Carta Pedagógica apresentadas, ratifi-</p><p>camos que as cartas de Brandão são pedagógicas.Em nossa pesquisa utiliza-</p><p>da as Cartas de Brandão como como documento histórico, enquanto ins-</p><p>trumento de recuperação da história da Educação Popular.Sugerimos o uso</p><p>de Cartas Pedagógicas como instrumento metodológico de pesquisas par-</p><p>ticipativas(PAULO, 2018; 2020),como documento histórico de recupera-</p><p>ção de experiências,enquanto“Metodologia de avaliação de caráter parti-</p><p>cipativo” (THIOLLENT, 1986, p. 90), como metodologia de ensino-</p><p>aprendizagem e como instrumento de atividades de dinâmicas de trabalho-</p><p>popular seja em contextos não escolares ou escolares.</p><p>No livro Cartas</p><p>Pedagógicas: tópicos epistêmico-metodológicos na Educação Po-</p><p>pular (PAULO; DICKMANN, 2020a), localizamos textos que contribuem</p><p>para reafirmarmos o pedagógico nas cartas de Brandão.</p><p>Quadro 2 - Capítulos sobre Cartas</p><p>TÍTULO AUTORES/AS</p><p>Carta-Prefácio - Uma carta sobre</p><p>cartas</p><p>Carlos Rodrigues Brandão (2020a)</p><p>Cartas pedagógicas: registro e me-</p><p>mória na Educação Popular</p><p>Fernanda dos Santos Paulo e Ivo</p><p>Dickmann (2020b)</p><p>Educação Popular como humaniza-</p><p>ção</p><p>Fernanda dos Santos Paulo (2020b)</p><p>https://youtu.be/Hxq6XQoZ9Lo</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>40</p><p>As dez características de uma carta</p><p>pedagógica</p><p>Ivanio Dickmann (2020)</p><p>Educação Popular nas cartas de</p><p>Carlos Rodrigues Brandão: temas,</p><p>ideias e sujeitos</p><p>Adriana Gaio e Fernanda dos Santos</p><p>Paulo (2020)</p><p>Cartas de Carlos Rodrigues Brandão</p><p>e a educação não escolar</p><p>Fernanda dos Santos Paulo e Marcia</p><p>Selau dos Santos (2020)</p><p>Fonte: das autoras.</p><p>Em nosso texto (PAULO; GAIO, 2020), tratamos das principais questões</p><p>presentes nas cartas e suas temáticas centrais, bem como os sujeitos com</p><p>quem Brandão se relacionava, organizadas em quadros sinóticos. Os qua-</p><p>dros fazem parte da Sistematização de Experiências e da organização dos</p><p>dados coletados. Não realizamos a análise das correspondências, pois é uma</p><p>tarefa da dissertação. Nosso texto foi escrito em forma de carta, como pode</p><p>ser verificado na sequência:</p><p>Essa carta é o relato de como estamos procedendo com os nos-</p><p>sos estudos. Primeiramente, já de ponto de partida, destacamos</p><p>que as cartas documentais do acervo pessoal de Carlos Rodri-</p><p>gues Brandão demonstram que a história da Educação Popular</p><p>foi escrita e realizada por uma diversidade de pessoas, e muitas</p><p>delas ainda estão invisibilizadas na pedagogia latino-</p><p>americana. (GAIO; PAULO, 2020, p.73).</p><p>Ou seja, estamos trabalhando com a concepção de Cartas Pedagógicas</p><p>desde o primeiro contato com as Cartas de Brandão, em 2019. Em 2020,</p><p>retomei carta por carta para a construção dos quadros de Sistematização e</p><p>catalogação. A primeira carta que analisei foi destinada a Osmar Fávero,</p><p>grande amigo de Brandão, datada em 1976. Na carta, observei o diálogo de</p><p>Brandão com os seguintes sujeitos: Florestan Fernandes, Frei Laudovico,</p><p>Bráulio do Nascimento, Luís Eduardo Vanderlei, Porcharde e Dermeval</p><p>Saviani.</p><p>Constatei que o tema trabalho-educação foi ênfase no conteúdo da carta,</p><p>tratando de experiências pessoais dos sujeitos citados. Havia questionamen-</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>41</p><p>tos em relação à situação das universidades e a necessidade de contatos para</p><p>colaborar com amigos intelectuais que estavam desempregados. Além disso,</p><p>destaca-se a intencionalidade educativa nas cartas, sobretudo a partir da</p><p>necessidade de articulações para construção de projetos de pesquisa.</p><p>Com a leitura dessa correspondência, notamos as relações teórico-</p><p>práticas narradas por Brandão para Osmar Fávero. Outras características de</p><p>Cartas Pedagógicas podem ser localizadas no documento. Paulo (2018) pon-</p><p>tua que uma das características dos pioneiros/as da Educação Popular freiri-</p><p>ana é a solidariedade. Nessa carta, é visível a dimensão da solidariedade</p><p>presente, um dos atributos da Educação Popular e da trajetória de Brandão,</p><p>como avistaremos no decorrer do livro. As categorias historicidade, mediações</p><p>e determinações estão presentes na recuperação do processo vivido, registrado</p><p>em carta.</p><p>A recuperação do processo vivido, mediante análise e identificação das</p><p>ideias, dos temas e dos sujeitos presentes nas cartas de Carlos Rodrigues</p><p>Brandão, deu-se por meio dos seguintes procedimentos:</p><p>1. Leitura das Cartas.</p><p>2. Organização das Cartas por ano.</p><p>3. Construção das tabelas e quadros de Sistematização e catalogação.</p><p>4. Análise das cartas mediante a pedagogia crítica de Paulo Freire14.</p><p>5. Sistematização em forma de texto.</p><p>As tabelas foram organizadas de dois modos:</p><p>1) Tabelas de Sistematização, com as seguintes informações (Apêndi-</p><p>ce A: GAIO, 2021):</p><p>a) Data.</p><p>b) Tema e ideias.</p><p>c) Destinatário/sujeitos diretos.</p><p>d) Sujeitos citados.</p><p>14 Após a construção das tabelas com temas e ideias, organizamos um quadro com os sujeitos,</p><p>excertos das falas e categorias que apareceram. Depois, identificamos categorias emergentes a</p><p>partir do quadro 1- apresentando-as no capítulo 5º.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>42</p><p>e) Instituições citadas.</p><p>f) Cidades, estados, países citados.</p><p>g) Outras questões.</p><p>2) Tabela de Catalogação, com os seguintes dados (Apêndice B,</p><p>GAIO, 2021):</p><p>a) Designação da natureza do documento.</p><p>b) Data (ano-mês-dia).</p><p>c) Local de proveniência da carta.</p><p>d) Nome da pessoa a quem se dirige.</p><p>e) Nome do autor da carta.</p><p>Como modo de demonstração da nossa pesquisa, apresentamos um</p><p>―desenho‖ do nosso percurso metodológico:</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>43</p><p>Figura 2 - Sistematização de Experiências, de Cartas Pedagógicas entre 1964</p><p>e 1980.</p><p>Fonte: elaborado pelas autoras.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>44</p><p>Síntese do Capítulo</p><p>Uma palavra</p><p>______________________________________________________</p><p>Uma frase</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>___________________________________________________________</p><p>_______________________________________________________</p><p>Um parágrafo</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>45</p><p>―Oscar Jara (2001), nos provoca a pensar em como se pode fazer asistema-</p><p>tização de experiências nos colocando que não existe um receituário,mas</p><p>algumas propostas que podem contribuir para a realização desse registro-</p><p>teórico-prático. Para ele, existem aspectos que colaboram para o registro</p><p>dasexperiências e um deles é o da necessidade do sujeito que escreve e</p><p>pesquisa terparticipado da experiência, fazendo um recorte daquilo que se</p><p>quersistematizar.”</p><p>( Fernanda Paulo, 2019)</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>46</p><p>CAPÍTULO - 3</p><p>REVISÃO DE</p><p>LITERATURA: ANÁLISE</p><p>CRÍTICA DA PRODUÇÃO</p><p>TEÓRICA</p><p>Fernanda dos Santos Paulo & Adriana Gaio</p><p>47</p><p>História da Educação Popular</p><p>―Assim, almejamos, por meio do breve levantamento de materiais sobre</p><p>essa temática, possuir elementos políticos e teóricos que nos fortaleçam</p><p>para permanecer na luta pela EP [Educação Popular], acreditando na</p><p>possibilidade de construirmos uma nova pedagogia dialógica e popular</p><p>[...]15‖.</p><p>(Fernanda Paulo, 2013).</p><p>15PAULO, Fernanda dos Santos. A Formação do (as) Educadores (as) Populares a partir da</p><p>Práxis: Um estudo de caso da AEPPA. 2013. 273 f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-</p><p>Graduação em Educação.Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.</p><p>Educação Popular nas Cartas do Educador</p><p>Carlos Rodrigues Brandão</p><p>48</p><p>Neste capítulo apresentaremos reflexões advindas da análise de literatura.</p><p>A revisão de literatura é de suma importância para trabalhos realizados em</p><p>nível de mestrado e de doutorado, principalmente porque contribui na indi-</p><p>cação de produções acadêmicas realizadas na área de investigação</p>

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