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<p>Manual de</p><p>Direito</p><p>PENAL</p><p>Parte Geral e</p><p>Parte Especial</p><p>JAMIL CHAIM ALVES</p><p>2024</p><p>5ª edição</p><p>Revista, atualizada</p><p>e ampliada</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 3JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 3 08/02/2024 14:10:5308/02/2024 14:10:53</p><p>Capítulo 1</p><p>NOÇÕES GERAIS</p><p>1. CONCEITO DE DIREITO PENAL</p><p>Direito Penal é o conjunto de normas limita-</p><p>doras do poder punitivo estatal, voltadas a disci-</p><p>plinar a proibição de determinados comportamen-</p><p>tos, estabelecendo as infrações penais (crimes ou</p><p>contravenções) e fixando as sanções respectivas</p><p>(penas e medidas de segurança).</p><p>Nos dizeres de Aníbal Bruno, “o conjunto das</p><p>normas jurídicas que regulam a atuação estatal</p><p>nesse combate contra o crime, através de medidas</p><p>aplicadas aos criminosos, é o Direito Penal. Nele</p><p>se definem os fatos puníveis e se cominam as</p><p>respectivas sanções – os dois grupos dos seus</p><p>componentes essenciais, tipos penais e sanções. É</p><p>um Direito que se distingue entre os outros pela</p><p>gravidade das sanções que impõe e a severidade</p><p>de sua estrutura, bem definida e rigorosamente</p><p>delimitada”1.</p><p>2. FUNÇÃO DO DIREITO PENAL</p><p>A missão do Direito Penal é a proteção de</p><p>bens jurídicos.</p><p>Entende-se por bem jurídico todo valor de</p><p>elevada importância para o homem e para a socie-</p><p>dade, imanente à existência e fruição da dignidade</p><p>da pessoa humana em seus diversos aspectos (vida,</p><p>liberdade, incolumidade física, segurança, patri-</p><p>mônio, meio ambiente etc.), devendo, portanto,</p><p>ser protegido pelo Direito.</p><p>A criminalização somente se justifica se tiver</p><p>por objetivo a tutela de um bem jurídico. Exemplo:</p><p>ao criminalizar o homicídio, busca-se proteger a</p><p>vida humana; a criminalização do furto visa à</p><p>tutela do patrimônio etc.</p><p>1. Direito penal: parte geral, t. 1, p. 11-12.</p><p>Porém, o Direito Penal não se presta a tutelar</p><p>todo e qualquer bem jurídico. Sendo a forma mais</p><p>violenta de interferência estatal na vida das pessoas,</p><p>somente pode invadir a esfera privada dos indi-</p><p>víduos para proteger os bens jurídicos mais rele-</p><p>vantes frente aos ataques mais graves, e somente</p><p>quando não puderem ser suficientemente tutelados</p><p>por outros instrumentos (princípio da intervenção</p><p>mínima).</p><p>Como ensina Claus Roxin, a proteção de bens</p><p>jurídicos não se realiza somente pelo Direito Penal,</p><p>devendo haver a cooperação de todo o ordenamento</p><p>jurídico para tanto. O Direito Penal é a última</p><p>entre todas as medidas protetoras a ser considerada,</p><p>somente podendo intervir quando faltarem outros</p><p>meios de solução social do problema, como as</p><p>sanções não penais. Onde bastem os meios do</p><p>direito civil ou do direito público, o direito penal</p><p>deve se retirar2.</p><p>Para a proteção de bens jurídicos, o Direito</p><p>Penal tem como instrumento as penas (sendo a</p><p>pena privativa de liberdade uma de suas notas</p><p>distintivas em relação aos demais ramos do Direi-</p><p>tos).</p><p>A pena, na visão aqui adotada, tem múltiplas</p><p>finalidades: busca evitar o cometimento de novos</p><p>delitos (finalidade preventiva), produzindo na</p><p>sociedade um efeito de intimidação e de comuni-</p><p>cação sobre a vigência das normas, além de segre-</p><p>gar e tentar ressocializar o infrator, evitando a</p><p>reincidência; e serve também como castigo, como</p><p>retribuição ao delito cometido (finalidade retri-</p><p>butiva), servindo inclusive para afastar a vingança</p><p>privada.</p><p>Além da proteção de bens jurídicos, o Direito</p><p>Penal também exerce a função de limitação do</p><p>2. Derecho penal: parte general. p. 28 e 65-66.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 89JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 89 08/02/2024 14:11:0008/02/2024 14:11:00</p><p>90</p><p>MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Geral e Parte Especial • Jamil Chaim Alves</p><p>poder punitivo, sendo uma garantia dos cidadãos</p><p>frente ao Estado.</p><p>O Direito Penal é um conjunto de princípios e</p><p>regras que devem ser fielmente respeitados para o</p><p>exercício do poder punitivo estatal. O legislador</p><p>somente deve utilizá-lo buscando a proteção de bens</p><p>jurídicos e como último recurso (ultima ratio); as</p><p>condutas incriminadas devem estar taxativamente</p><p>descritas em lei, anteriormente ao fato praticado</p><p>(legalidade); a severidade da pena deve ser propor-</p><p>cional à gravidade do delito (proporcionalidade); a</p><p>pena não pode passar da pessoa do delinquente</p><p>(responsabilidade pessoal) e não pode ser imposta</p><p>contra quem não agiu com dolo ou culpa (culpa-</p><p>bilidade); são vedadas sanções desumanas ou cruéis</p><p>(humanidade) etc.</p><p>3. BEM JURÍDICO</p><p>Conforme mencionado acima, bem jurídico é</p><p>todo valor de elevada importância para o homem</p><p>e para a sociedade, imanente à existência e fruição</p><p>da dignidade da pessoa humana em seus diversos</p><p>aspectos, devendo ser protegido pelo Direito.</p><p>Para Francisco de Assis Toledo, são bens jurí-</p><p>dicos os “valores ético-sociais que o direito seleciona,</p><p>com o objetivo de assegurar a paz social, e coloca</p><p>sob sua proteção para que não sejam expostos a</p><p>perigo de ataque ou a lesões efetivas”3.</p><p>Destaco as principais funções desempenhadas</p><p>pelo bem jurídico:</p><p>a) Função fundamentadora ou limitadora – O</p><p>bem jurídico confere fundamento e legitimidade ao</p><p>crime, ou seja, inexiste crime sem bem jurídico.</p><p>Por conta dessa função, veda-se a criminalização</p><p>de condutas que não atentem contra bens jurídicos;</p><p>b) Função individualizadora – A importância</p><p>do bem jurídico e a gravidade da lesão por ele</p><p>sofrida funcionam como critério de medição da</p><p>pena;</p><p>c) Função sistemática – Os tipos penais incri-</p><p>minadores são classificados e agrupados de acordo</p><p>com o bem jurídico tutelado (ex.: crimes contra a</p><p>pessoa, contra o patrimônio, contra a dignidade</p><p>sexual etc.);</p><p>3. Princípios básicos de direito penal: de acordo com a Lei n. 7209,</p><p>de 11-7-1984 e com a Constituição Federal de 1988, p. 18.</p><p>d) Função interpretativa ou teleológica – O</p><p>alcance e sentido do tipo penal deve ser interpretado</p><p>conforme o bem jurídico protegido4;</p><p>e) Função processual – O bem jurídico atingido</p><p>orienta a determinação da competência. Ex.: tra-</p><p>tando-se de crime contra trabalhador individual,</p><p>em princípio, a competência é da justiça estadual.</p><p>Porém, se houver lesão à organização do trabalho,</p><p>como um todo, a competência passa a ser da justiça</p><p>federal.</p><p>Fundamentadora</p><p>ou</p><p>limitadora</p><p>Individuali-</p><p>zadora</p><p>Sistemá�ca Processual</p><p>Interpreta�va</p><p>ou</p><p>teleológica</p><p>FUNÇÕES DO</p><p>BEM JURÍDICO</p><p>4. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO</p><p>PENAL</p><p>São características do Direito Penal:</p><p>a) Positivo – A existência e a coercibilidade do</p><p>direito penal pressupõem normas escritas prove-</p><p>nientes do Estado, opondo-se ao denominado direito</p><p>natural (princípios e regras inseparáveis da natureza</p><p>humana que antecedem a elaboração de regras</p><p>formais);</p><p>b) Autônomo – Trata-se de ramo autônomo do</p><p>Direito, regendo-se por normas próprias;</p><p>c) Público – O Direito Penal é um ramo do</p><p>Direito Público, pois sempre envolve a participação</p><p>do Estado, detentor exclusivo do direito de punir.</p><p>Além disso, somente o Estado pode estabelecer</p><p>crimes e cominar penas. É aplicado pelos órgãos</p><p>estatais e sempre no interesse coletivo;</p><p>d) Sancionatório – A pena e a medida de</p><p>segurança (espécies de sanção penal) são reações</p><p>do ordenamento positivo na luta contra a crimi-</p><p>nalidade;</p><p>e) Constitutivo – O caráter constitutivo do</p><p>direito penal resulta do princípio da reserva legal,</p><p>com a exigência de prévia definição dos crimes e</p><p>do estabelecimento das reações penais;</p><p>f) Valorativo – Suas normas são carregadas de</p><p>valores humanos e sociais;</p><p>g) Coercitivo – As normas jurídico-penais são</p><p>providas de reações (penas e medidas de segurança)</p><p>aplicadas àqueles que as desobedecem. A coerção</p><p>4. As primeiras quatro funções são também mencionadas por</p><p>Luiz Regis Prado (Bem jurídico e Constituição, p. 60-61).</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 90JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 90 08/02/2024 14:11:0108/02/2024 14:11:01</p><p>91</p><p>Cap. 1 • NOÇÕES GERAIS</p><p>Pa</p><p>rt</p><p>e</p><p>I –</p><p>In</p><p>tr</p><p>od</p><p>uç</p><p>ão</p><p>a</p><p>o</p><p>D</p><p>ire</p><p>ito</p><p>P</p><p>en</p><p>al</p><p>é a força que emana da soberania estatal, com a</p><p>capacidade de impor o respeito às normas legais</p><p>de buscar uma solu-</p><p>ção para o conflito entre si; e) a vítima não interessa</p><p>ao sistema penal – o ofendido tem lugar secundário</p><p>ou nenhum lugar; f) a pena não cumpre suas fina-</p><p>lidades – a pena não exerce a função preventiva (o</p><p>suposto efeito dissuasório da ameaça penal não se</p><p>realiza), nem ressocializa os condenados (basta-se</p><p>1. SHECAIRA. Criminologia, p. 366.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 109JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 109 08/02/2024 14:11:0308/02/2024 14:11:03</p><p>de</p><p>um modo geral5.</p><p>5. DENOMINAÇÃO: DIREITO CRIMINAL</p><p>OU DIREITO PENAL?</p><p>Indaga-se a diferença entre as expressões direito</p><p>criminal e direito penal.</p><p>O termo Direito Criminal sugere uma aborda-</p><p>gem mais voltada ao crime. Para alguns, é a melhor</p><p>designação, por ser mais ampla, abrangendo tanto</p><p>o delito quanto as suas consequências jurídicas.</p><p>Ademais, seria incorreto falar em Direito Penal,</p><p>pois as sanções compreendem não somente as penas,</p><p>mas também as medidas de segurança.</p><p>Outros preferem a expressão Direito Penal, por</p><p>colocar em destaque a punição. Alegam que uma</p><p>das características mais marcantes e diferenciadoras</p><p>do Direito Penal em relação a outros ramos do</p><p>Direito é justamente as sanções aplicáveis, notada-</p><p>mente a privativa de liberdade.</p><p>Na realidade, a distinção entre Direito Penal e</p><p>Direito Criminal é meramente terminológica, des-</p><p>provida de qualquer reflexo prático. Vale lembrar</p><p>que, no Brasil, já foram empregadas as duas desig-</p><p>nações (a exemplo do Código Criminal de 1830 e</p><p>do Código Penal de 1890).</p><p>Atualmente, o mais adequado é falar em Direito</p><p>Penal, pois é o termo adotado pelo legislador,</p><p>tanto no Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de</p><p>1940 (atual Código Penal), quanto na Constituição</p><p>Federal de 1988 (vide arts. 22, I; 62, § 2º, “b”</p><p>etc.).</p><p>6. CIÊNCIAS CRIMINAIS</p><p>É dominante a opinião de que o direito penal,</p><p>a criminologia e a política criminal constituem os</p><p>três pilares do sistema das ciências criminais, inse-</p><p>paráveis e interdependentes6.</p><p>Considero imprescindível acrescentar o direito</p><p>processual penal e a execução penal, sem os quais</p><p>não se concretiza o poder-dever punitivo em um</p><p>Estado Democrático de Direito.</p><p>5. DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral, p. 117-</p><p>121.</p><p>6. MOLINA, Antonio García-Plabos; GOMES, Luiz Flávio Gomes.</p><p>Criminologia, p. 154.</p><p>CIÊNCIAS</p><p>CRIMINAIS</p><p>Criminologia</p><p>Direito</p><p>penal</p><p>Execução</p><p>penal</p><p>Direito</p><p>processual</p><p>penal</p><p>Polí�ca</p><p>criminal</p><p>6.1. Criminologia</p><p>A criminologia é uma ciência empírica e inter-</p><p>disciplinar, voltada ao estudo crítico do delito</p><p>enquanto fenômeno social, da pessoa do delinquente</p><p>e da vítima, bem como do funcionamento e eficá-</p><p>cia dos programas de prevenção do crime e de</p><p>ressocialização do infrator.</p><p>É empírica porque baseada na observação e na</p><p>prática; interdisciplinar porque se conecta a diver-</p><p>sas outras disciplinas, como a sociologia, a antro-</p><p>pologia, a psicologia, a filosofia e o próprio direito.</p><p>O objeto de investigação da criminologia com-</p><p>preende as causas do delito, a personalidade e</p><p>motivação do delinquente, as características das</p><p>vítimas e os efeitos psicológicos que sofrem em</p><p>decorrência da infração penal, a eficácia das cri-</p><p>minalizações e dos métodos de punição e de res-</p><p>socialização etc.</p><p>As informações oriundas da pesquisa crimino-</p><p>lógica podem nortear as decisões tomadas pelos</p><p>Poderes Públicos no controle do delito, como aque-</p><p>las relacionadas à criminalização e descriminaliza-</p><p>ção, bem como às formas mais adequadas e efica-</p><p>zes de controle do crime e de reintegração social</p><p>dos sentenciados.</p><p>Infelizmente, como destaca Salo de Carvalho, o</p><p>desenvolvimento das ciências criminais foi carac-</p><p>terizado pela prevalência do saber dogmático e</p><p>formal, relegando ao posto de ciência auxiliar</p><p>qualquer saber diverso que ousasse investigar o</p><p>fenômeno crime. Verificou-se uma fragmentação</p><p>das disciplinas que compõem as ciências criminais,</p><p>gerando incapacidade de diálogo e de desenvolvi-</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 91JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 91 08/02/2024 14:11:0108/02/2024 14:11:01</p><p>92</p><p>MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Geral e Parte Especial • Jamil Chaim Alves</p><p>mento simétrico de institutos, além de inviabilizar</p><p>a diluição da crítica criminológica no interior das</p><p>disciplinas dogmáticas7.</p><p>6.2. Política criminal</p><p>Política criminal é o conjunto de estratégias,</p><p>programas e alternativas a serem adotadas pelos</p><p>Poderes Públicos no tocante ao controle do crime.</p><p>Na lição de Antonio García-Plabos Molina, a</p><p>política criminal oferece aos poderes públicos as</p><p>opções concretas mais adequadas para lidar com o</p><p>crime, servindo de ponte entre o Direito Penal e a</p><p>Criminologia. Enquanto a Criminologia reúne os</p><p>conhecimentos empíricos sobre o problema crimi-</p><p>nal, a Política Criminal transforma essa informação</p><p>sobre a realidade criminal em opções, alternativas</p><p>e programas assumíveis pelos poderes públicos. E</p><p>o Direito Penal, por sua vez, concretiza as opções</p><p>previamente adotadas em normas jurídicas gerais</p><p>e obrigatórias, com estrito respeito aos princípios</p><p>e garantias individuais. Representam, portanto, três</p><p>momentos inseparáveis da resposta social ao pro-</p><p>blema do crime: o momento explicativo-empírico</p><p>(Criminologia), o decisional (Política Criminal) e</p><p>o instrumental (Direito Penal)8.</p><p>A política criminal está disseminada pelos Pode-</p><p>res Legislativos, Executivo e Judiciário9.</p><p>O Poder Legislativo se vale da política criminal</p><p>ao elaborar leis para criminalizar ou descriminalizar</p><p>condutas, aumentar ou reduzir penas, estabelecer</p><p>requisitos mais rigorosos ou brandos para concessão</p><p>de benefícios em sede de execução penal etc.</p><p>O Poder Executivo, por sua vez, pode apresen-</p><p>tar projetos de leis penais ou ainda sancionar/vetar</p><p>os projetos do Legislativo. Um governo mais puni-</p><p>tivista buscará a aprovação de projetos voltados à</p><p>criminalização e maior rigor das punições; outro</p><p>com característica mais libertária buscará o oposto.</p><p>Inúmeros outros fatores também podem interferir</p><p>na tomada de decisões do Executivo, como a fina-</p><p>lidade de amainar os ânimos da sociedade, reduzir</p><p>a população carcerária etc.</p><p>Outro exemplo de como a política criminal</p><p>emana do Executivo é o decreto de indulto, conce-</p><p>dido pelo Presidente da República aos sentenciados</p><p>que preencham determinados requisitos, extinguido</p><p>ou abrandando suas penas etc. Conforme a conjec-</p><p>7. Antimanual de criminologia, p. 5 e 13.</p><p>8. Criminologia, p. 154-155.</p><p>9. Criminologia, p. 52-53.</p><p>tura, esse decreto pode abranger uma categoria</p><p>maior ou menor de sentenciados, concedendo-lhes</p><p>benefícios mais ou menos amplos.</p><p>Além disso, observa Sérgio Salomão Shecaira,</p><p>quando a Prefeitura, diante da ocorrência de estu-</p><p>pros em lugar mal iluminado, resolve instalar ali</p><p>postes de luz, está fazendo uma política criminal</p><p>preventiva. O Estado, ao adotar um sistema infor-</p><p>matizado de mapeamento da criminalidade, também</p><p>age conforme uma política criminal10.</p><p>O Poder Judiciário também faz política crimi-</p><p>nal, como se pode observar pela adoção de postu-</p><p>ras mais ou menos rigorosas, em um ou outro</p><p>momento.</p><p>Para ilustrar, até 1992 o STF considerou admis-</p><p>sível a vedação à progressão de regime em crimes</p><p>hediondos, vindo a decidir em 2006 que essa regra</p><p>era inconstitucional.</p><p>Outro exemplo: a Suprema Corte, durante muito</p><p>tempo, admitiu a execução provisória da pena</p><p>decorrente da condenação em segunda instância,</p><p>passando a rejeitá-la em 2009 e voltando a admi-</p><p>ti-la em 2016. Em 2019, voltou a considerar inad-</p><p>missível a execução provisória da pena como</p><p>decorrência automática da condenação em segunda</p><p>instância.</p><p>6.3. Direito processual penal</p><p>O Direito Penal traz a previsão de quais com-</p><p>portamentos humanos são considerados infrações</p><p>penais, além de estabelecer as sanções respectivas.</p><p>Para que a punição prevista em lei possa ser</p><p>efetivamente imposta a alguém no caso concreto, é</p><p>preciso que a persecução penal se desenvolva em</p><p>conformidade com uma série de princípios e regras</p><p>pré-estabelecidas (ex.: apresentação de acusação formal,</p><p>instauração de um processo presidido por um juiz</p><p>imparcial, realização de uma sequência ordenada de</p><p>atos em que as partes terão oportunidade de produ-</p><p>zir provas e impugnar aquelas trazidas pela parte</p><p>contrária etc.). Esse conjunto de normas compõe o</p><p>denominado Direito Processual Penal.</p><p>Nos dizeres de José Frederico Marques, Direito</p><p>Processual Penal “é o conjunto de princípios e</p><p>normas que regulam a aplicação jurisdicional do</p><p>Direito Penal,</p><p>bem como as atividades persecutórias</p><p>da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos</p><p>da função jurisdicional e respectivos auxiliares”11.</p><p>10. SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, p. 53.</p><p>11. Elementos de direito processual penal, p.20.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 92JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 92 08/02/2024 14:11:0108/02/2024 14:11:01</p><p>93</p><p>Cap. 1 • NOÇÕES GERAIS</p><p>Pa</p><p>rt</p><p>e</p><p>I –</p><p>In</p><p>tr</p><p>od</p><p>uç</p><p>ão</p><p>a</p><p>o</p><p>D</p><p>ire</p><p>ito</p><p>P</p><p>en</p><p>al</p><p>Existe uma clara relação de interdependência</p><p>entre o Direito Penal e o Direito Processual Penal:</p><p>a concretização do Direito Penal, por meio da</p><p>imposição de uma sanção, somente pode ocorrer</p><p>pela via processual; e a razão de existir do processo</p><p>penal é disciplinar a persecução penal, tornando</p><p>viável a aplicação concreta das normas penais, com</p><p>o reconhecimento da materialidade e autoria do</p><p>delito e aplicação da sanção.</p><p>Nesse sentido, leciona Aury Lopes Jr.:</p><p>O direito penal não tem realidade concreta fora do</p><p>processo penal, ou seja, não se efetiva senão pela via</p><p>processual. Quando alguém é vítima de um crime, a</p><p>pena não se concretiza, não se efetiva imediatamente.</p><p>Somente depois do processo penal teremos a possibi-</p><p>lidade de aplicação da pena e realização plena do</p><p>direito penal. Existe uma íntima e imprescindível</p><p>relação entre delito, pena e processo, de modo que são</p><p>complementares. Não existe delito sem pena, nem</p><p>pena sem delito e processo, nem processo penal senão</p><p>para determinar o delito e impor uma pena. Assim,</p><p>fica estabelecido o caráter instrumental do processo</p><p>penal com relação ao Direito Penal e à pena, pois o</p><p>processo penal é o caminho necessário para a pena12.</p><p>6.4. Execução penal</p><p>A execução penal deixou de ser vista como mero</p><p>apêndice do Direito Penal ou do Direito Processual</p><p>Penal, sendo reconhecida hodiernamente sua auto-</p><p>nomia científica. Nos termos da própria Exposição</p><p>de Motivos do projeto que resultou na Lei 7.210/1984</p><p>(Lei de Execução Penal), “vencida a crença histórica</p><p>de que o direito regulador da execução é de índole</p><p>predominantemente administrativa, deve-se reco-</p><p>nhecer, em nome de sua própria autonomia, a</p><p>impossibilidade de sua inteira submissão aos domí-</p><p>nios do Direito Penal e do Direito Processual Penal”.</p><p>Assim, a execução penal é o ramo do Direito</p><p>destinado a regular e a concretizar as disposições</p><p>contidas na sentença penal condenatória ou abso-</p><p>lutória imprópria.</p><p>O poder-dever punitivo estatal não se esgota</p><p>com a prolação da sentença condenatória, sendo</p><p>necessária a efetivação das disposições contidas no</p><p>julgado. Não basta, por exemplo, o juiz aplicar uma</p><p>pena de 5 anos em regime fechado. É preciso que</p><p>o sentenciado seja recolhido ao estabelecimento</p><p>prisional adequado e cumpra essa sanção.</p><p>Existe, portanto, uma relação de dependência</p><p>recíproca entre o direito penal e a execução penal:</p><p>o direito penal, no âmbito de um Estado Democrá-</p><p>12. Direito Processual Penal, p. 34.</p><p>tico de Direito, não existiria sem a execução penal</p><p>para efetivar o conteúdo da condenação e regular</p><p>o seu cumprimento; a execução penal não teria</p><p>aplicabilidade se inexistente a decisão condenatória,</p><p>advinda da concretização das normas de direito</p><p>penal, instrumentalizadas pelo processo penal.</p><p>7. CLASSIFICAÇÕES</p><p>7.1. Direito penal objetivo e subjetivo</p><p>Direito penal objetivo é o conjunto de normas</p><p>jurídicas que estabelece as infrações penais e fixa</p><p>as sanções respectivas.</p><p>Direito penal subjetivo é o direito de punir (jus</p><p>puniendi) do Estado, que surge com a prática da</p><p>infração penal.</p><p>Essa classificação tem sido criticada por diversos</p><p>autores, que afirmam inexistir, propriamente, um</p><p>direito subjetivo de punir, que remete à ideia de</p><p>algo que seria exequível ou não, conforme critérios</p><p>discricionários. Há, na verdade, um poder-dever</p><p>de punir, sempre que o crime ocorre e é devida-</p><p>mente comprovado pelas vias legais13.</p><p>7.2. Direito penal material</p><p>(substantivo) e direito penal</p><p>formal (adjetivo)</p><p>Direito penal material (também chamado subs-</p><p>tantativo) é o conjunto de leis penais. Ou seja, é o</p><p>próprio Direito Penal.</p><p>Direito penal formal (também chamado adjetivo)</p><p>é denominação dada ao corpo de leis processuais</p><p>penais. É o Direito Processual Penal.</p><p>Trata-se de classificação ultrapassada, pois o</p><p>Direito Processual Penal atualmente é considerado</p><p>um ramo autônomo do Direito, não um acessório</p><p>do Direito Penal.</p><p>7.3. Direito penal comum e direito</p><p>penal especial</p><p>Direito penal comum é o conjunto de normas</p><p>presente no corpo do Código Penal, aplicável aos</p><p>crimes em geral.</p><p>Direito penal especial é o grupo de normas</p><p>penais presente em legislações especiais, voltado a</p><p>disciplinar cenários específicos, como a Lei de</p><p>Drogas, o Estatuto do Desarmamento, a Lei dos</p><p>Crimes Ambientais etc.</p><p>13. Por todos: NUCCI. Curso de Direito Penal, v. 1, p. 3.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 93JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 93 08/02/2024 14:11:0108/02/2024 14:11:01</p><p>94</p><p>MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Geral e Parte Especial • Jamil Chaim Alves</p><p>Contudo, essa classificação não é pacífica.</p><p>Para Cezar Roberto Bitencourt, o direito penal</p><p>comum é aquele aplicado pela Justiça comum,</p><p>enquanto o direito penal especial é incumbência</p><p>de algum ramo da Justiça especial (ex.: direito</p><p>penal militar e direito penal eleitoral)14.</p><p>Numa terceira visão, Cleber Masson afirma</p><p>que o direito penal comum é aquele aplicável,</p><p>indistintamente, a qualquer pessoa. Ex.: Código</p><p>Penal, Lei das Contravenções Penais e Lei de</p><p>Drogas. Já o direito penal especial tem aplicabi-</p><p>lidade somente a determinadas pessoas, que</p><p>preenchem certos requisitos previstos em lei. Ex.:</p><p>Código Penal Militar, Lei 1.079/1950 (crimes de</p><p>responsabilidade do Presidente da República,</p><p>Ministros de Estados, Ministros do STF, Procu-</p><p>rador-Geral da República, Governadores e Secre-</p><p>tários de Estado) e Decreto-lei 201/1967 (crimes</p><p>de responsabilidade de prefeitos)15.</p><p>7.4. Direito penal de emergência e</p><p>direito penal simbólico</p><p>Direito penal de emergência é aquele criado em</p><p>razão da ocorrência de algum acontecimento de</p><p>maior repercussão, para servir como resposta rápida</p><p>à sociedade. São leis penais editadas casuisticamente</p><p>e às pressas, geralmente de péssima qualidade.</p><p>Apresenta estreita ligação com o direito penal</p><p>simbólico, denominação conferida às leis penais</p><p>desprovidas de efetividade no tocante à proteção</p><p>14. Tratado de Direito Penal, parte geral, p. 49.</p><p>15. Direito penal: parte geral. v. 1, p. 12.</p><p>de bens jurídicos, editadas tão somente para trans-</p><p>mitir à opinião pública a aparência de que o legis-</p><p>lador é atuante e está tomando medidas contra a</p><p>criminalidade.</p><p>7.5. Direito penal promocional</p><p>O denominado direito penal promocional surge</p><p>nas hipóteses em que o Estado se utiliza das leis</p><p>penais para atingir finalidades políticas, como ins-</p><p>trumento de transformação social (função promo-</p><p>cional).</p><p>O emprego do Direito Penal para tal finalidade</p><p>desrespeita o princípio da intervenção mínima e,</p><p>geralmente, não se revela eficaz.</p><p>Ex.: buscando retirar os mendigos das ruas, o</p><p>Estado tornou contravenção penal a prática de</p><p>mendicância (art. 60 da LCP, revogado em 2009).</p><p>7.6. Direito penal subterrâneo e direito</p><p>penal paralelo</p><p>Direito penal subterrâneo é aquele realizado</p><p>pelas agências estatais de persecução penal, porém</p><p>atuando à margem da lei, de forma violenta e arbi-</p><p>trária (ex.: execução sumária, desaparecimentos,</p><p>tortura, sequestros, exploração da prostituição etc.).</p><p>O direito penal paralelo diz respeito ao poder</p><p>punitivo exercido por agências que não têm oficial-</p><p>mente essa finalidade. Ex.: banimento de atletas</p><p>por federações esportivas, internação forçada de</p><p>pacientes realizada por médicos etc.16.</p><p>16.	 As	duas	definições	são	apresentadas	por:	ZAFFARONI,	Eugenio</p><p>Raúl; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Derecho penal:</p><p>parte general, p. 25.</p><p>TABELAS RESUMO – INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL: NOÇÕES GERAIS</p><p>CONCEITO DE DIREITO PENAL</p><p>Conjunto de normas limitadoras do poder punitivo</p><p>estatal, voltadas a disciplinar a proibição de determinados comporta-</p><p>mentos, estabelecendo as infrações penais (crimes ou contravenções) e fixando as sanções respectivas (penas e medidas</p><p>de segurança).</p><p>FUNÇÃO DO DIREITO PENAL</p><p>   Proteção de bens jurídicos: A criminalização somente se justifica se tiver por objetivo a tutela de um bem jurídico.</p><p>Porém, o Direito Penal não se presta a tutelar todo e qualquer bem jurídico. Sendo a forma mais violenta de interfe-</p><p>rência estatal na vida das pessoas, o Direito Penal somente pode invadir a esfera privada dos indivíduos para proteger</p><p>os bens jurídicos mais relevantes frente aos ataques mais graves, e somente quando não puderem ser suficientemente</p><p>tutelados por outros instrumentos (princípio da intervenção mínima).</p><p>   Limitação do poder punitivo: O direito penal constitui um conjunto de princípios e regras que devem ser fielmente res-</p><p>peitados para o exercício do poder punitivo estatal.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 94JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 94 08/02/2024 14:11:0108/02/2024 14:11:01</p><p>95</p><p>Cap. 1 • NOÇÕES GERAIS</p><p>Pa</p><p>rt</p><p>e</p><p>I –</p><p>In</p><p>tr</p><p>od</p><p>uç</p><p>ão</p><p>a</p><p>o</p><p>D</p><p>ire</p><p>ito</p><p>P</p><p>en</p><p>al</p><p>BEM JURÍDICO</p><p>Todo valor de elevada importância para o homem e para a sociedade, imanente à dignidade da pessoa humana em seus</p><p>diversos aspectos (vida, liberdade, incolumidade física, segurança, patrimônio, meio ambiente etc.), devendo, portanto, ser</p><p>protegido pelo direito.</p><p>FUNÇÕES DO BEM JURÍDICO</p><p>Fundamentadora Ou</p><p>Limitadora</p><p>Confere fundamento e legitimidade ao crime (inexiste crime sem bem jurídico).</p><p>Individualizadora A importância do bem jurídico e a gravidade da lesão por ele sofrida funcionam como critério</p><p>de medição da pena.</p><p>Sistemática Os tipos penais incriminadores são agrupados de acordo com o bem jurídico tutelado (ex.: cri-</p><p>mes contra a pessoa, contra o patrimônio etc.).</p><p>Interpretativa Ou</p><p>Teleológica</p><p>O alcance e sentido do tipo penal deve ser interpretado conforme o bem jurídico protegido.</p><p>Processual O bem jurídico atingido orienta a determinação da competência.</p><p>CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL</p><p>Positivo A existência e a coercibilidade do direito penal pressupõem normas escritas provenientes do Estado.</p><p>Autônomo Trata-se de ramo autônomo do Direito, regendo-se por normas próprias.</p><p>Público</p><p>Ramo do Direito Público, pois sempre envolve a participação do Estado, detentor exclusivo do</p><p>direito de punir. Além disso, o Estado figura como sujeito passivo constante em todas as infra-</p><p>ções penais.</p><p>Sancionatório A pena e a medida de segurança são reações do ordenamento positivo na luta contra a crimi-</p><p>nalidade.</p><p>Constitutivo Resulta do princípio da reserva legal, com a exigência de prévia definição dos crimes e do esta-</p><p>belecimento das reações penais.</p><p>Valorativo Suas normas são carregadas de valores humanos e sociais.</p><p>Coercitivo As normas jurídico-penais são providas de reações (penas e medidas de segurança) contra aque-</p><p>les que as desobedecem.</p><p>DENOMINAÇÃO</p><p>DIREITO CRIMINAL DIREITO PENAL</p><p>Este termo sugere uma abordagem mais voltada ao crime. Para</p><p>alguns, é a melhor designação, por ser mais ampla (abrange tanto</p><p>o delito quanto as suas consequências jurídicas) e porque seria</p><p>incorreto falar em Direito Penal, pois as sanções compreendem</p><p>não só penas, mas também medidas de segurança.</p><p>É a expressão preferida por parte da doutrina, por colocar em</p><p>destaque a punição, sendo esta uma das características mais mar-</p><p>cantes do Direito Penal. Embora não haja reflexo prático, o mais</p><p>adequado é falar em direito penal, termo adotado pelo legislador,</p><p>tanto no Código Penal, quanto na Constituição Federal.</p><p>CIÊNCIAS CRIMINAIS</p><p>Direito Penal</p><p>Conjunto de normas limitadoras do poder punitivo, voltadas a disciplinar determinados</p><p>comportamentos, estabelecendo as infrações penais e fixando as sanções respectivas.</p><p>Criminologia</p><p>Ciência empírica e interdisciplinar, voltada ao estudo crítico do delito enquanto fenô-</p><p>meno social, da pessoa do delinquente e da vítima, bem como do funcionamento</p><p>e eficácia dos programas de prevenção do crime e de ressocialização do infrator.</p><p>Política Criminal</p><p>Conjunto de estratégias, programas e alternativas a ser adotado pelos Poderes Públi-</p><p>cos no tocante ao controle do crime.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 95JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 95 08/02/2024 14:11:0108/02/2024 14:11:01</p><p>96</p><p>MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Geral e Parte Especial • Jamil Chaim Alves</p><p>Direito Processual Penal</p><p>Conjunto de normas a ser observado para que a punição prevista em lei possa ser</p><p>efetivamente imposta a alguém no caso concreto. Regula as atividades persecutó-</p><p>rias e a aplicação jurisdicional do Direito Penal.</p><p>Execução Penal</p><p>Ramo do Direito destinado a regular e a concretizar as disposições contidas na sen-</p><p>tença penal condenatória ou absolutória imprópria.</p><p>CLASSIFICAÇÕES</p><p>Direito Penal Objetivo Direito Penal Subjetivo</p><p>Conjunto de normas jurídicas que estabelece as infrações</p><p>penais e fixa as sanções respectivas.</p><p>Direito de punir ( jus puniendi) do Estado, que surge com a</p><p>prática da infração penal.</p><p>Obs.: Essa classificação tem sido criticada, tendo em vista que inexistiria um direito subjetivo de punir, mas sim um poder-</p><p>-dever de punir, sempre que o crime ocorre e é devidamente comprovado pelas vias legais.</p><p>DIREITO PENAL MATERIAL OU SUBSTANTIVO DIREITO PENAL FORMAL OU ADJETIVO</p><p>Direito Penal Direito Processual Penal</p><p>Obs.: classificação ultrapassada, pois o Direito Processual Penal atualmente é considerado ramo autônomo do Direito, não</p><p>um acessório do Direito Penal.</p><p>DIREITO PENAL COMUM DIREITO PENAL ESPECIAL</p><p>Conjunto de normas presente no corpo do Código Penal, apli-</p><p>cável aos crimes em geral.</p><p>Normas penais presente em legislações especiais (ex.: Lei de</p><p>Drogas, Estatuto do Desarmamento etc.).</p><p>Obs.: essa nomenclatura não é pacífica. Para Bitencourt, o direito penal comum é aquele aplicado pela Justiça comum,</p><p>enquanto o direito penal especial é incumbência de algum ramo da Justiça especial (ex.: direito penal militar e direito penal</p><p>eleitoral). Para Masson, direito penal comum é aquele aplicável a qualquer pessoa (ex.: Código Penal), enquanto o direito</p><p>penal especial é aplicável somente a determinadas pessoas, que preenchem certos requisitos (ex.: Código Penal Militar).</p><p>DIREITO PENAL DE EMERGÊNCIA</p><p>É aquele criado em razão da ocorrência de algum acontecimento de maior repercussão, para servir como resposta rápida</p><p>à sociedade. Leis penais editadas casuisticamente e às pressas, geralmente de péssima qualidade.</p><p>DIREITO PENAL SIMBÓLICO</p><p>Refere-se às leis penais desprovidas de efetividade no tocante à proteção de bens jurídicos, editadas tão somente para</p><p>transmitir à opinião pública a aparência de que o legislador é atuante e está tomando medidas contra a criminalidade.</p><p>DIREITO PENAL PROMOCIONAL</p><p>Consiste na utilização das leis penais para atingir finalidades políticas, como instrumento de transformação social (função</p><p>promocional). Ofende o princípio da intervenção mínima e, geralmente, não se revela eficaz.</p><p>DIREITO PENAL SUBTERRÂNEO</p><p>É aquele realizado pelas agências estatais de persecução penal, porém atuando à margem da lei, de forma violenta e arbi-</p><p>trária (ex.: execução sumária, desaparecimentos, tortura, sequestros).</p><p>DIREITO PENAL PARALELO</p><p>Diz respeito ao poder punitivo exercido por agências que não têm oficialmente essa finalidade. Ex.: banimento de atletas</p><p>por federações esportivas.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 96JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 96 08/02/2024 14:11:0108/02/2024 14:11:01</p><p>Capítulo 2</p><p>EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL</p><p>1. TEMPOS PRIMITIVOS</p><p>O homem é dotado de um instinto gregário, que o leva a viver em sociedade. E desde os primórdios,</p><p>à medida que os homens se agruparam e passaram a conviver, surgiram regras de comportamento, sendo</p><p>aplicadas sanções àqueles que as violassem.</p><p>No início, o crime era considerado um atentado contra os deuses. Cultuavam-se os totens, grandes está-</p><p>tuas em forma</p><p>de animais ou vegetais, considerados protetores do grupo. Os fenômenos da natureza, como</p><p>a chuva e os trovões, eram vistos como reações sobrenaturais provocadas por essas divindades em razão da</p><p>transgressão de algum tabu (vingança divina). As punições tinham o objetivo de aplacar a cólera divina.</p><p>Posteriormente, evoluiu-se para a vingança privada, que podia tanto envolver um indivíduo quanto</p><p>o seu grupo social.</p><p>Nesta fase, anterior à fundação do Estado, as punições podiam ser fruto de reação da comunidade</p><p>contra o membro que violou alguma regra (o infrator era punido com a perda da paz, ficando à mercê</p><p>das forças hostis da natureza ou de outros grupos) ou da reação de uma tribo contra outra (a lesão de</p><p>um membro de uma tribo por um membro de outra ensejava a vingança de sangue, exercida entre as</p><p>tribos, como vingança coletiva).</p><p>Com o passar do tempo, surge a chamada lei de talião (do latim talis = tal, tal qual), conhecida como</p><p>“olho por olho, dente por dente”, que determinava uma reação proporcional ao mal praticado. Apesar da</p><p>brutalidade das sanções, a lei do talião representou um avanço no direito penal, justamente por buscar</p><p>um equilíbrio entre a gravidade do fato e a severidade da punição. A lei do talião foi adotada no Código</p><p>de Hamurábi (Babilônia), no Êxodo (hebreus) e na Lei das XII Tábuas (romanos).</p><p>O Código de Hamurábi foi desenvolvido durante o reinado</p><p>de Hamurabi (1792-1750 a.C.).</p><p>Em 1901, na região da antiga Mesopotâmia (correspondente</p><p>à cidade de Susa, no sudoeste do Irã), uma expedição</p><p>francesa encontrou o monumento monolítico talhado em</p><p>rocha de diorito (foto da esquerda).</p><p>Nele, estão gravados os artigos do Código (foto acima),</p><p>descrevendo casos que serviam como modelos a serem apli-</p><p>cados em questões semelhantes. No tocante às penas, o Código</p><p>adotou o princípio de Talião (“olho por olho, dente por dente”).</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 97JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 97 08/02/2024 14:11:0208/02/2024 14:11:02</p><p>98</p><p>MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Geral e Parte Especial • Jamil Chaim Alves</p><p>Em seguida, a evolução ocorre no sentido de</p><p>restringir a vingança privada, que passa a ser limi-</p><p>tada pelo talião e pela composição com a vítima</p><p>(denominada preço da paz).</p><p>Esta composição, inicialmente voluntária, passa</p><p>a ser imposta pelo Estado e, posteriormente, abolida,</p><p>passando as penas a serem exclusivamente públi-</p><p>cas.</p><p>2. DIREITO GREGO</p><p>Na Grécia antiga (época lendária), o crime e a</p><p>pena continuaram a possuir cunho religioso. Havia</p><p>o predomínio da vingança privada, que não se</p><p>limitava ao delinquente, mas a toda sua família.</p><p>Esta concepção começou a se modificar por meio</p><p>da contribuição de pensadores e filósofos, que</p><p>desenvolveram o estudo da ciência política. Pode-se</p><p>mencionar os nomes de Sócrates, Platão, Aristóteles</p><p>e Protágoras.</p><p>O direito penal grego evolui então para um</p><p>período político (época histórica), assentando-se a</p><p>pena não mais sobre fundamento religiosos, mas</p><p>sobre bases morais e civis.</p><p>3. DIREITO ROMANO</p><p>Nos primórdios de Roma, as sanções tinham</p><p>por fundamento a religião, resultando quase sempre</p><p>no sacrifício do autor do delito, de forma cruel.</p><p>Destacava-se a figura do chefe da família (pater</p><p>familias), que possuía amplos poderes e aplicava as</p><p>punições ao seu grupo conforme seu próprio arbí-</p><p>trio.</p><p>No período do Reinado (753 a.C.), a punição</p><p>manteve seu caráter sagrado, mas começa a se</p><p>firmar o período da vingança pública, fundamentado</p><p>no direito civil.</p><p>A efetiva laicização do Direito ocorre com a Lei</p><p>das XII Tábuas, primeiro código romano escrito</p><p>(século V a.C.). Os delitos foram divididos em</p><p>públicos (violavam interesses coletivos, como a</p><p>traição e o homicídio) e privados (atingiam inte-</p><p>resses particulares). Os primeiros acarretavam</p><p>persecução pública e recebiam sanções a cargo do</p><p>Estado, representado pelo magistrado, enquanto os</p><p>últimos autorizavam uma reação privada, na qual</p><p>a interferência estatal se restringia a regular seu</p><p>exercício. E, a partir de 200 a.C., proíbe-se defini-</p><p>tivamente a vingança privada.</p><p>Durante o Império, ocorre novamente o recru-</p><p>descimento das sanções, voltando-se a aplicar a</p><p>pena de morte e criando-se novos tipos de punição.</p><p>Como observam Pierangeli e Zaffaroni, o</p><p>império foi corrompendo as instituições republi-</p><p>canas e os crimes contra a majestade foram sendo</p><p>ampliados cada vez mais. “O direito penal romano</p><p>mostra uma luta que seguirá ao longo de toda a</p><p>história de nossa legislação: o direito penal repu-</p><p>blicano contra o direito penal imperialista e</p><p>vice-versa”1.</p><p>4. DIREITO GERMÂNICO</p><p>Na época primitiva, não havia leis escritas, sendo</p><p>o direito consuetudinário. O ordenamento era visto</p><p>como uma ordem de paz.</p><p>Havia duas categorias de delitos: públicos e</p><p>privados. Em caso de ofensa pública, era aplicada</p><p>ao ofensor a perda da paz (Friedlosigkeit), que o</p><p>excluía do grupo familiar, equiparando-o aos animais</p><p>do campo. O ofensor também podia ser morto por</p><p>qualquer pessoa. Nos delitos privados, tinha lugar</p><p>a Faida ( feithu), em que o ofensor era entregue à</p><p>vítima ou seus parentes (sippe) para que estes exer-</p><p>cessem a vingança, considerada não somente um</p><p>direito, mas um dever.</p><p>A partir de 481 d.C., inicia-se a monarquia</p><p>franca, surgindo um Estado unitário. Com o for-</p><p>talecimento do poder estatal, a vingança de sangue</p><p>(Blutrache) dá lugar à composição voluntária (Veh-</p><p>geld), em que o ofensor pagava certa quantia para</p><p>compensar o prejuízo causado pelo delito.</p><p>Em relação ao processo, vigoravam as ordálias</p><p>ou juízos de Deus, provações cruéis que quase</p><p>sempre tinham desfecho terrível para o suspeito.</p><p>5. DIREITO CANÔNICO</p><p>O direito penal canônico (ordenamento jurídico</p><p>da Igreja Católica Apostólica Romana) teve sua</p><p>primeira consolidação por volta do ano 1140.</p><p>Em sua origem, era aplicável somente a pessoas</p><p>sujeitas à disciplina religiosa. Contudo, com o cres-</p><p>cimento da influência da Igreja sobre o Estado, foi</p><p>se estendendo a todas as pessoas.</p><p>O direito canônico dividia os crimes em três</p><p>espécies:</p><p>a) delicta eclesiastica – Ofendiam o direito</p><p>divino e eram castigados com penitências. Eram de</p><p>competência exclusiva dos tribunais eclesiásticos;</p><p>1. Manual de Direito Penal Brasileiro, volume 1: parte geral, p.</p><p>164-165.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 98JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 98 08/02/2024 14:11:0208/02/2024 14:11:02</p><p>99</p><p>Cap. 2 • EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL</p><p>Pa</p><p>rt</p><p>e</p><p>I –</p><p>In</p><p>tr</p><p>od</p><p>uç</p><p>ão</p><p>a</p><p>o</p><p>D</p><p>ire</p><p>ito</p><p>P</p><p>en</p><p>al</p><p>b) delicta mera secularia – Atentavam contra</p><p>a ordem jurídica laica e eram punidos com penas</p><p>comuns. A competência para julgamento era dos</p><p>tribunais do Estado. Eventualmente, recebiam puni-</p><p>ção eclesiástica com as poene medicinales, que</p><p>visavam a emenda do delinquente;</p><p>c) delicta mixta – Atentavam tanto contra a</p><p>ordem divina quanto contra a humana, e poderiam</p><p>ser julgados tanto pelos tribunais do Estado quanto</p><p>pela Igreja que, neste caso, também aplicava penas</p><p>(poene vindicativae).</p><p>Apesar das críticas que recebe, a influência do</p><p>direito canônico é considerada benéfica, por pro-</p><p>clamar a igualdade dos homens e por contribuir</p><p>por humanizar a repressão aos delitos, opondo-se</p><p>às atrocidades e às ordálias, aplicadas até então.</p><p>6. PERÍODO HUMANITÁRIO</p><p>No final do século XVIII, verifica-se uma ten-</p><p>dência de reforma nas leis e na administração da</p><p>justiça, propiciada por um extraordinário movimento</p><p>de ideias, ao qual se denominou Iluminismo.</p><p>Importante contribuição para o movimento</p><p>iluminista adveio primeiramente de filósofos que</p><p>iniciaram a luta pela racionalidade da pena, dentre</p><p>os quais é possível citar Hugo Grotius. Também</p><p>merecem destaque, entre outros, Hobbes, Spinoza,</p><p>Locke, Puffendorf, Thomasius e Wolff, jusnatura-</p><p>listas que buscaram fundamentar o Estado na razão.</p><p>Verdadeiro marco do direito penal ocorre em</p><p>1764, com a publicação, em Milão, da obra “Dos</p><p>delitos e das penas”, de Cesare Bonesana, o Mar-</p><p>quês de Beccaria. A obra</p><p>constitui um libelo con-</p><p>tra a pena de morte e as arbitrariedades da época,</p><p>pregando a humanização das penas. Sintetizamos</p><p>suas principais ideias: igualdade de todos perante</p><p>a lei; legalidade estrita (somente as leis, emanadas</p><p>do legislador, podem estabelecer delitos e fixar</p><p>penas); leis claras e escritas; separação das funções</p><p>estatais; proporcionalidade das penas (a severidade</p><p>da punição deve ser proporcional à gravidade do</p><p>delito); humanidade das penas (abolindo-se a pena</p><p>de morte e a tortura); personalidade das penas (a</p><p>sanção não deve passar da pessoa do delinquente);</p><p>infalibilidade na aplicação das penas (a perspectiva</p><p>de um castigo moderado, mas inevitável, causa</p><p>impressão mais forte do que o vago temor de um</p><p>suplício terrível, em relação ao qual se apresenta</p><p>alguma esperança de impunidade).</p><p>Outros pensadores que tiveram notável partici-</p><p>pação na reforma do sistema punitivo foram Char-</p><p>les-Louis De Secondat (Barão de Montesquieu),</p><p>François Marie Arouet Voltaire, John Howard,</p><p>Jeremy Bentham e Denis Diderot.</p><p>7. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO</p><p>DIREITO PENAL BRASILEIRO</p><p>7.1. Ordenações do Reino de Portugal</p><p>O período abrange as Ordenações Afonsinas, as</p><p>Ordenações Manuelinas e as Ordenação Filipinas.</p><p>Ordenações Afonsinas – Foram promulgadas</p><p>em 1446, por D. Afonso V, contendo elementos de</p><p>Direito Canônico, Direito Germânico e de Direito</p><p>Romano. Era o regime jurídico vigente em Portugal,</p><p>aqui também aplicado no início da colonização.</p><p>Não existiam os princípios penais e processuais</p><p>penais, sendo previstas sanções cruéis, quando não</p><p>a pena capital, para a maior parte das infrações.</p><p>Ordenações Manuelinas – Editadas em 1514,</p><p>por D. Manuel. Não se distanciavam das Ordenações</p><p>Afonsinas, sendo marcadas pela crueldade de suas</p><p>punições.</p><p>Ordenações Filipinas – Entraram em vigor em</p><p>1603, pelas mãos de D. Filipe II. A matéria penal</p><p>estava disciplinada no livro V. Ainda não eram</p><p>conhecidos, à época, os princípios de direitos penal,</p><p>tais como legalidade, proporcionalidade e dignidade</p><p>da pessoa humana. Era um ordenamento excessi-</p><p>vamente rigoroso, cominando para a maior parte</p><p>dos delitos a pena de morte, inclusive mediante</p><p>tortura. Além da pena capital, previa outras sanções</p><p>graves, como os açoites e o corte de membro.</p><p>Segundo Heleno Cláudio Fragoso:</p><p>a legislação penal do Livro V era realmente terrível, o</p><p>que não constitui privilégio seu, pois era assim toda a</p><p>legislação penal de sua época. A morte era a pena</p><p>comum e se aplicava a grande número de delitos, sendo</p><p>executada muitas vezes com requintes de crueldade.</p><p>(...) Havia ainda penas infamantes, mutilações, confisco</p><p>de bens e degredo. As penas dependiam da condição</p><p>dos réus e empregava-se amplamente a tortura, (...) sem</p><p>haver proporção entre as penas e os delitos (...)2.</p><p>7.2. Código Criminal de 1830</p><p>Proclamada a Independência do Brasil, o impe-</p><p>rador D. Pedro I incumbiu os penalistas Bernardo</p><p>Pereira de Vasconcelos e José Clemente Pereira,</p><p>então deputados, da elaboração de um projeto de</p><p>2. Lições de direito penal: parte geral, p. 70-71.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 99JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 99 08/02/2024 14:11:0208/02/2024 14:11:02</p><p>100</p><p>MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Geral e Parte Especial • Jamil Chaim Alves</p><p>Código Penal. Cada um deles apresentou um projeto</p><p>diferente, ambos muito elogiados.</p><p>Em 31 de agosto de 1829, uma Comissão bila-</p><p>teral formada para examinar os projetos apresentou</p><p>o resultado do seu trabalho, assinalando a adoção</p><p>do projeto de Vasconcelos como base, mas sem</p><p>desconsiderar o projeto de Clemente Pereira.</p><p>Organizou-se outra Comissão na Câmara dos</p><p>Deputados, com a finalidade de dar redação defi-</p><p>nitiva ao projeto, o que ocorreu em 19 de outubro</p><p>de 1830.</p><p>Em 16 de dezembro de 1830, após aprovação pela</p><p>Câmara e pelo Senado, foi promulgado o Código</p><p>Criminal, sob a égide da Constituição de 1824, que,</p><p>por sua vez, foi influenciada pela Revolução Francesa.</p><p>O Código Imperial foi um diploma bastante</p><p>aplaudido. Adotou os postulados da escola clássica</p><p>de direito penal e contemplou diversos princípios</p><p>de direito penal, tais como a legalidade e a irre-</p><p>troatividade da lei penal.</p><p>A pena de prisão, que não era prevista nas</p><p>Ordenações Filipinas, foi cominada para quase todos</p><p>os crimes, havendo duas espécies: a prisão simples,</p><p>na qual os réus deveriam permanecer reclusos nos</p><p>presídios; e também a pena de prisão com trabalho,</p><p>na qual os condenados deveriam diariamente rea-</p><p>lizar trabalhos dentro do recinto das prisões.</p><p>Dentre as várias inovações trazidas pelo Código</p><p>de 1830, merece destaque a criação do dia-multa</p><p>rendimento. É neste diploma que a multa aparece</p><p>sob a forma de dias-multa, em razão da busca por</p><p>uma sanção que se adequasse à capacidade econô-</p><p>mica do condenado.</p><p>A principal crítica feita a este diploma diz res-</p><p>peito à manutenção da pena de morte, dos açoites</p><p>e da pena de galés.</p><p>7.3. Código Penal de 1890</p><p>A abolição da escravidão, em 13 de maio de 1888,</p><p>trouxe a necessidade de adaptar o Código Criminal</p><p>de 1830 à nova realidade. Foi então que o deputado</p><p>João Vieira De Araújo apresentou ao Ministro da</p><p>Justiça um anteprojeto de revisão do Código Criminal.</p><p>Para analisá-lo, foi indicada uma Comissão</p><p>formada por João Batista Pereira (relator), Visconde</p><p>de Assis Martins e José Rodrigues Torres Neto. Em</p><p>10 de outubro de 1889, esta Comissão recomendou</p><p>a completa reforma da legislação penal, e não uma</p><p>simples revisão.</p><p>Diante disso, o Ministro dos Negócios e da</p><p>Justiça, Cândido de Oliveira, incumbiu João Batista</p><p>Pereira do projeto. Porém, com a Proclamação da</p><p>República, em 15 de novembro de 1889, seu traba-</p><p>lho foi interrompido.</p><p>O Ministro da Justiça do Governo Provisório,</p><p>Campos Salles, novamente solicitou a elaboração</p><p>do projeto a Pereira, que terminou seu trabalho em</p><p>pouco mais de três meses.</p><p>O projeto foi então submetido a exame de uma</p><p>Comissão integrada por José Júlio de Albuquerque</p><p>Barros, Francisco de Paula Belfort Duarte e Luís</p><p>Antonio dos Santos Werneck. Esta Comissão ado-</p><p>tou o projeto quase na íntegra, sendo que em 11</p><p>de outubro de 1890, o Decreto 847 mandou execu-</p><p>tar o novo Código.</p><p>O diploma apresentava graves defeitos e defi-</p><p>ciências. Conforme magistério de Heleno Cláudio</p><p>Fragoso, “o Código Penal de 1890 apresentava</p><p>graves defeitos de técnica, aparecendo atrasado em</p><p>relação à ciência de seu tempo. Foi, por isso mesmo,</p><p>objeto de críticas demolidoras, que muito contri-</p><p>buíram para abalar o seu prestígio e dificultar sua</p><p>aplicação”3.</p><p>Todavia, este diploma trouxe alguns avanços,</p><p>podendo-se destacar a consagração do princípio da</p><p>dignidade humana (art. 44) e a abolição da pena</p><p>de morte. Ademais, agasalhou o instituto do livra-</p><p>mento condicional e fez referência a penitenciárias</p><p>agrícolas (art. 48).</p><p>7.4. Consolidação das Leis Penais de</p><p>1932</p><p>Com o passar do tempo, numerosas leis foram</p><p>editadas com o fim de corrigir as falhas do Código</p><p>de 1890, tornando extremamente difícil sua consulta.</p><p>Vicente Piragibe, em primoroso estudo, reuniu</p><p>tais disposições, resultando deste trabalho a Con-</p><p>solidação das Leis Penais, adotada pelo Governo</p><p>republicano por meio do Decreto 22.213, de 14 de</p><p>dezembro de 1932. A Consolidação não foi um</p><p>Código novo, mas sim uma coletânea da legislação</p><p>vigente à época.</p><p>7.5. Código Penal de 1940</p><p>Com a instalação do regime ditatorial, em 10</p><p>de novembro de 1937, o Ministro da Justiça Fran-</p><p>cisco Campos incumbiu Alcântara Machado da</p><p>redação de um anteprojeto de Código Penal.</p><p>3. Lições de direito penal: parte geral, p. 74.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 100JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 100 08/02/2024 14:11:0208/02/2024 14:11:02</p><p>101</p><p>Cap. 2 • EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL</p><p>Pa</p><p>rt</p><p>e</p><p>I –</p><p>In</p><p>tr</p><p>od</p><p>uç</p><p>ão</p><p>a</p><p>o</p><p>D</p><p>ire</p><p>ito</p><p>P</p><p>en</p><p>al</p><p>Em maio de 1938, Alcântara Machado entregou</p><p>ao governo um anteprojeto da Parte Geral do Código</p><p>Penal e, em abril de 1940, o projeto definitivo.</p><p>O trabalho foi submetido a uma</p><p>comissão revi-</p><p>sora formada por Nélson Hungria, Roberto Lyra,</p><p>Vieira Braga e Narcélio de Queiroz, com a partici-</p><p>pação de Antonio Jose da Costa e Silva e sob a</p><p>presidência do Ministro Francisco Campos.</p><p>Em 7 de dezembro de 1940, o presidente Getú-</p><p>lio Vargas sanciona o Decreto-lei 2848 (que insti-</p><p>tui o Código Penal), entrando em vigor em 1º de</p><p>janeiro de 1942.</p><p>O Código manteve a pena privativa de liberdade</p><p>como forma de punição por excelência. A importante</p><p>matéria referente ao cumprimento das penas de</p><p>prisão, especialmente quanto à legalidade, huma-</p><p>nidade, personalidade e outros princípios relevantes,</p><p>foi descurada pelo legislador de 1940, com sacrifí-</p><p>cio da perspectiva de ressocialização do delinquente</p><p>e do processo de integração que ele deve manter</p><p>com a sociedade”4.</p><p>Previa o Código de 1940, na sua redação origi-</p><p>nal, duas espécies de penas: principais (artigo 28)</p><p>– reclusão, detenção e multa – e acessórias (artigo</p><p>67) – perda da função pública, eletiva ou de nomea-</p><p>ção, interdições de direitos e publicação da sentença.</p><p>Não contemplava penas alternativas.</p><p>7.6. Código Penal de 1969</p><p>Atendendo ao clamor revisionista e considerando</p><p>as profundas modificações pelas quais passava a</p><p>sociedade brasileira, resolveu o Governo Jânio</p><p>Quadros elaborar um novo diploma penal.</p><p>Nélson Hungria, que foi incumbido de redigir</p><p>o texto básico, apresentou seu anteprojeto em</p><p>1963.</p><p>Em 1964, o ministro da justiça, Milton Campos,</p><p>designou uma comissão revisora, da qual fizeram</p><p>parte, além de Nélson Hungria – próprio autor do</p><p>anteprojeto –, Roberto Lyra e Hélio Tornaghi.</p><p>Com as mudanças ocorridas no poder em 31 de</p><p>março de 1964, a revisão se atrasou, até que em 9</p><p>de fevereiro de 1965, o próprio ministro Milton</p><p>Campos dissolveu a comissão e formou outra,</p><p>composta por Nélson Hungria, Hélio Tornaghi e</p><p>Heleno Cláudio Fragoso, entregando a Aníbal Bruno</p><p>a presidência.</p><p>O anteprojeto foi submetido a nova revisão,</p><p>agora constituída por Heleno Cláudio Fragoso,</p><p>Benjamin de Moraes Filho e Ivo D Áquino, e pro-</p><p>mulgado pelo Decreto nº 1004 de 21 de outubro de</p><p>1969, baixado pela Junta Militar, no exercício da</p><p>Presidência da República.</p><p>Estabelecia o novo diploma uma vacatio de</p><p>poucos meses, prazo que foi sucessivamente pror-</p><p>rogado. Nesse período, o novo Código sofreu pro-</p><p>fundas alterações determinadas pela Lei nº 6016/73,</p><p>até que o governo Geisel decidiu revogá-lo defini-</p><p>tivamente em 1978, através da Lei nº 6578, sem</p><p>vigorar um dia sequer.</p><p>Continua vigorando até os dias atuais o Código</p><p>de 1940, cuja parte geral seria profundamente alte-</p><p>rada pela Lei 7.209, de 11 de julho de 1984. É de se</p><p>ressaltar que as modificações trazidas nesta reforma</p><p>foram notoriamente inspiradas no Código Penal de</p><p>1969, ou seja, no projeto de Nélson Hungria.</p><p>TABELAS RESUMO – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL4</p><p>EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL</p><p>Tempos Primitivos</p><p>No início, o crime era considerado um atentado contra os deuses. Os fenômenos da natureza</p><p>eram vistos como reações sobrenaturais provocadas por essas divindades em razão da transgres-</p><p>são de algum tabu (vingança divina). As punições tinham o objetivo de aplacar a cólera divina.</p><p>Posteriormente, evoluiu-se para a vingança privada, que podia tanto envolver um indivíduo quanto</p><p>o seu grupo social.</p><p>Surge a chamada lei de talião (“olho por olho, dente por dente”), que determinava uma reação</p><p>proporcional ao mal praticado.</p><p>Em seguida, a evolução ocorre no sentido de restringir a vingança privada, que passa a ser limi-</p><p>tada pelo talião e pela composição com a vítima (denominada preço da paz).</p><p>Esta composição, inicialmente voluntária, passa a ser imposta pelo Estado e, posteriormente, abo-</p><p>lida, passando as penas a serem exclusivamente públicas.</p><p>4. DOTTI. Curso de direito penal: parte geral, p. 279.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 101JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 101 08/02/2024 14:11:0208/02/2024 14:11:02</p><p>102</p><p>MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Geral e Parte Especial • Jamil Chaim Alves</p><p>Direito Grego</p><p>Na Grécia antiga (época lendária), o crime e a pena continuaram a possuir cunho religioso. Havia</p><p>o predomínio da vingança privada. Esta concepção começou a se modificar por meio da contri-</p><p>buição de pensadores e filósofos, que desenvolveram o estudo da ciência política (Sócrates, Pla-</p><p>tão, Aristóteles e Protágoras).</p><p>O direito penal grego evolui para um período político (época histórica), assentando-se a pena não</p><p>mais sobre fundamento religiosos, mas sobre bases morais e civis.</p><p>Direito Romano</p><p>Nos primórdios de Roma, as sanções tinham por fundamento a religião, resultando quase sem-</p><p>pre no sacrifício do autor do delito. Destacava-se a figura do chefe da família (pater familias),</p><p>que possuía amplos poderes e aplicava as punições ao seu grupo conforme seu próprio arbítrio.</p><p>No período do Reinado (753 a.C.), a punição manteve seu caráter sagrado, mas começa a se fir-</p><p>mar o período da vingança pública.</p><p>A laicização do Direito ocorre com a Lei das XII Tábuas (século V a.C.). Os delitos foram divididos</p><p>em públicos (acarretavam persecução pública e recebiam sanções a cargo do Estado) e privados</p><p>(autorizavam uma reação privada, na qual a interferência estatal se restringia a regular seu exer-</p><p>cício). A partir de 200 a.C., proíbe-se definitivamente a vingança privada.</p><p>Durante o Império, ocorre novamente o recrudescimento das sanções, voltando-se a aplicar a</p><p>pena de morte e criando-se novos tipos de punição.</p><p>Direito Germânico</p><p>Na época primitiva, não havia leis escritas, sendo o direito consuetudinário. Havia duas catego-</p><p>rias de delitos, públicos (aplicava-se ao ofensor a perda da paz, que o excluía do grupo familiar,</p><p>equiparando-o aos animais do campo e podendo ser morto por qualquer pessoa) e privados (o</p><p>ofensor era entregue à vítima ou seus parentes, para exercerem a vingança).</p><p>A partir de 481 d.C., inicia-se a monarquia franca, surgindo um Estado unitário. Com o forta-</p><p>lecimento do poder estatal, a vingança de sangue dá lugar à composição voluntária, em que o</p><p>ofensor pagava certa quantia para compensar o prejuízo causado pelo delito. Em relação ao pro-</p><p>cesso, vigoravam as ordálias ou juízos de Deus, provações cruéis que quase sempre tinham des-</p><p>fecho terrível para o suspeito.</p><p>Direito Canônico</p><p>Ordenamento jurídico da Igreja Católica Apostólica Romana, teve sua primeira consolidação por</p><p>volta do ano 1140. Em sua origem, era aplicável somente a pessoas sujeitas à disciplina religiosa.</p><p>Com o crescimento da influência da Igreja sobre o Estado, foi se estendendo a todas as pessoas. O</p><p>direito canônico dividia os crimes em três espécies: delicta eclesiástica (ofendiam o direito divino</p><p>e eram castigados com penitências; de competência exclusiva dos tribunais eclesiásticos); delicta</p><p>mera secularia (atentavam contra a ordem jurídica laica e eram punidos com penas comuns; de</p><p>competência dos tribunais do Estado, em regra); delicta mixta (atentavam tanto contra a ordem</p><p>divina quanto contra a humana, e poderiam ser julgados tanto pelos tribunais do Estado quanto</p><p>pela Igreja que, neste caso, também aplicava penas).</p><p>Período Humanitário</p><p>No final do século XVIII, verifica-se uma tendência de reforma nas leis e na administração da jus-</p><p>tiça, propiciada por um extraordinário movimento de ideias, ao qual se denominou Iluminismo.</p><p>Verdadeiro marco do direito penal ocorre em 1764, com a publicação, em Milão, da obra “Dos</p><p>delitos e das penas”, de Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria. A obra constitui um libelo con-</p><p>tra a pena de morte e as arbitrariedades da época, pregando a humanização das penas.</p><p>EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO</p><p>Ordenações do Reino</p><p>de Portugal</p><p>Ordenações Afonsinas – Promulgadas em 1446, por D. Afonso V, constituíam o regime jurídico</p><p>vigente em Portugal, aqui também aplicado no início da colonização. Não existiam os princípios</p><p>penais e processuais penais, sendo previstas sanções cruéis, quando não a pena capital, para a</p><p>maior parte das infrações.</p><p>Ordenações Manuelinas – Editadas</p><p>em 1514, por D. Manuel. Não se distanciavam das Ordenações</p><p>Afonsinas, sendo marcadas pela crueldade de suas punições.</p><p>Ordenações Filipinas – Entraram em vigor em 1603, pelas mãos de D. Filipe II. A matéria penal</p><p>estava disciplinada no livro V. Ainda não eram conhecidos, à época, os princípios de direitos penal.</p><p>Era um ordenamento excessivamente rigoroso, cominando para a maior parte dos delitos a pena</p><p>de morte, inclusive mediante tortura, além de açoites e o corte de membros.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 102JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 102 08/02/2024 14:11:0208/02/2024 14:11:02</p><p>103</p><p>Cap. 2 • EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL</p><p>Pa</p><p>rt</p><p>e</p><p>I –</p><p>In</p><p>tr</p><p>od</p><p>uç</p><p>ão</p><p>a</p><p>o</p><p>D</p><p>ire</p><p>ito</p><p>P</p><p>en</p><p>al</p><p>Código Criminal de</p><p>1830</p><p>Foi um diploma bastante aplaudido. Adotou os postulados da escola clássica de direito penal e</p><p>contemplou diversos princípios de direito penal, tais como a legalidade e a irretroatividade da</p><p>lei penal. A pena de prisão, que não era prevista nas Ordenações Filipinas, foi cominada para</p><p>quase todos os crimes. Dentre as várias inovações trazidas pelo Código de 1830, merece desta-</p><p>que a criação do dia-multa rendimento.</p><p>A principal crítica feita a este diploma diz respeito à manutenção da pena de morte, dos açoi-</p><p>tes e da pena de galés.</p><p>Código Penal de 1890</p><p>O diploma apresentava graves defeitos e deficiências, sendo bastante criticado. Todavia, trouxe</p><p>alguns avanços, podendo-se destacar a consagração do princípio da dignidade humana e a abo-</p><p>lição da pena de morte. Ademais, agasalhou o instituto do livramento condicional e fez referên-</p><p>cia a penitenciárias agrícolas.</p><p>Consolidação das Leis</p><p>Penais de 1932</p><p>Com o passar do tempo, numerosas leis foram editadas com o fim de corrigir as falhas do Código</p><p>de 1890, tornando extremamente difícil sua consulta. Vicente Piragibe reuniu tais disposições,</p><p>resultando deste trabalho a Consolidação das Leis Penais, adotada pelo Governo republicano por</p><p>meio do Decreto 22.213, de 14 de dezembro de 1932. Não foi um Código novo, mas sim uma</p><p>coletânea da legislação vigente à época.</p><p>Código Penal de 1940</p><p>Manteve a pena privativa de liberdade como forma de punição por excelência. Previa o Código</p><p>de 1940, na sua redação original, duas espécies de penas: principais (reclusão, detenção e multa)</p><p>e acessórias (perda da função pública, eletiva ou de nomeação, interdições de direitos e publica-</p><p>ção da sentença). Não contemplava penas alternativas.</p><p>É o diploma utilizado até hoje, embora tenha passado por diversas alterações. A maior delas</p><p>ocorreu em 11 de julho de 1984, com a aprovação da Lei 7.209, que modificou profundamente</p><p>a parte geral do Código Penal.</p><p>Continua vigorando até os dias atuais, embora a parte geral tenha sido alterada pela Lei 7.209/</p><p>1984. As modificações trazidas nesta reforma foram notoriamente inspiradas no Código Penal de</p><p>1969 (projeto de Nélson Hungria que nunca chegou a entrar em vigor).</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 103JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 103 08/02/2024 14:11:0208/02/2024 14:11:02</p><p>Capítulo 3</p><p>ESCOLAS PENAIS</p><p>As denominadas “escolas penais” foram corren-</p><p>tes de pensamento surgidas ao longo da história,</p><p>cada qual apresentando uma forma particular de</p><p>compreender e investigar o delito, o criminoso e a</p><p>sanção.</p><p>1. ESCOLA CLÁSSICA</p><p>Os ideais consagrados pelo Iluminismo, crista-</p><p>lizados na obra do Marquês de Beccaria, “Dos</p><p>Delitos e das Penas” (1764), serviram de fundamento</p><p>à chamada Escola Clássica, nome dado pelos posi-</p><p>tivistas com sentido pejorativo.</p><p>A Escola Clássica teve dois grandes períodos1:</p><p>a) teórico-filosófico – sob a influência do Ilu-</p><p>minismo, de cunho nitidamente utilitarista, preten-</p><p>deu adotar um Direito Penal fundamentado na</p><p>necessidade social. Este período, iniciado com</p><p>Beccaria, foi representado por Gaetano Filangieri,</p><p>Domenico Romagnosi e Giovanni Carmignani;</p><p>b) ético-jurídico – é o período em que a meta-</p><p>física jusnaturalista passa a dominar o Direito Penal.</p><p>Acentua-se a exigência ética de retribuição, repre-</p><p>sentada pela sanção penal. Os principais nomes</p><p>desta fase foram Francesco Carrara, Pelegrino Rossi</p><p>e Enrico Pessina.</p><p>De modo geral, os maiores expoentes da Escola</p><p>Clássica foram Beccaria e Carrara. O primeiro foi</p><p>o precursor do Direito Penal liberal, enquanto o</p><p>segundo foi o criador da dogmática penal. Na ver-</p><p>dade, Carrara é quem simboliza a expressão defi-</p><p>nitiva da Escola Clássica, eternizando sua identifi-</p><p>cação como a “Escola Clássica de Carrara”.</p><p>Entre os postulados da Escola Clássica, pode-se</p><p>destacar: o crime é um ente jurídico, pois consiste</p><p>na violação do direito; a responsabilidade penal se</p><p>funda no livre-arbítrio, ou seja, o homem é livre</p><p>1. BITENCOURT. Tratado de Direito Penal, v. 1, p. 111.</p><p>para escolher qualquer caminho (inclusive o do</p><p>crime), enfrentando as consequências de seus atos;</p><p>a pena é uma forma de retribuição pelo crime</p><p>cometido, tendo o sentido de expiação e restabele-</p><p>cimento do equilíbrio do sistema, violado pelo delito</p><p>(inspiração em Kant e Hegel); método racionalista</p><p>e dedutivo (lógico), pois o Direito é considerado</p><p>uma ciência.</p><p>2. ESCOLA POSITIVA</p><p>A Escola Positiva surge no final do século XIX,</p><p>época de predomínio do pensamento positivista. O</p><p>início desta fase ocorre com a publicação de “O</p><p>Homem Delinquente” (1876), de Cesare Lombroso.</p><p>As teorias evolucionistas de Darwin e Lamarck</p><p>eram expressão das ideias dominantes. Além destes,</p><p>esta escola sofreu influência da doutrina materialista</p><p>(Buchner, Haeckel e Molenschott), sociológica</p><p>(Comte, Spencer, Ardigó e Wundt), frenológica</p><p>(Gall), fisionômica (Lavater) e ainda dos estudos de</p><p>Villari e Cattaneo2.</p><p>A Escola Positiva contrapôs, ao individualismo</p><p>abstrato da Escola Clássica, a necessidade de defesa</p><p>do organismo social contra a ação do delinquente,</p><p>priorizando os interesses sociais. A ideia de resso-</p><p>cialização do delinquente foi relegada a segundo</p><p>plano e a aplicação da pena passou a ser vista como</p><p>reação do corpo social contra a atividade anormal</p><p>dos indivíduos. A pena perde seu tradicional cará-</p><p>ter vindicativo-retributivo, reduzindo-se a um</p><p>provimento utilitarista; seus fundamentos não são</p><p>a natureza e a gravidade do crime, mas a persona-</p><p>lidade do réu, sua capacidade de adaptação e espe-</p><p>cialmente sua periculosidade3.</p><p>2. BITENCOURT; PRADO. Elementos de direito penal, p. 31.</p><p>3. COSTA, Fausto. El delito y la pena em la historia de la filosofia,</p><p>p. 153.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 104JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 104 08/02/2024 14:11:0208/02/2024 14:11:02</p><p>105</p><p>Cap. 3 • ESCOLAS PENAIS</p><p>Pa</p><p>rt</p><p>e</p><p>I –</p><p>In</p><p>tr</p><p>od</p><p>uç</p><p>ão</p><p>a</p><p>o</p><p>D</p><p>ire</p><p>ito</p><p>P</p><p>en</p><p>al</p><p>Nos dizeres de Fragoso, “o movimento positivista</p><p>[...] tem por base a ineficácia do sistema penal</p><p>clássico, como meio de repressão à criminalidade,</p><p>defendendo a substituição do princípio da retribui-</p><p>ção (fundado no livre-arbítrio), por um sistema de</p><p>prevenção especial, com base no estudo antropoló-</p><p>gico do homem delinquente e do crime como fato</p><p>social, retornando à ideia de defesa social acentuada</p><p>à época do Iluminismo”4.</p><p>Suas principais características são: a) o Direito</p><p>Penal é produto social, criação do homem; b) a</p><p>responsabilidade penal se fundamenta na respon-</p><p>sabilidade social, derivada do determinismo (vida</p><p>em sociedade); c) o delito é fenômeno natural e</p><p>social (fatores individuais, físicos e sociais); d) a</p><p>pena é um meio de defesa social, com função pre-</p><p>ventiva; e) o método é o indutivo experimental; f)</p><p>os objetos de estudo do Direito Penal são o crime,</p><p>o delinquente, a pena e o processo; g) busca subs-</p><p>tituir a pena por medidas de segurança5.</p><p>A Escola Positiva apresenta três fases, cada qual</p><p>com sua característica predominante e seu expoente</p><p>máximo:</p><p>a) Fase antropológica – Cesare Lombroso (“O</p><p>Homem Delinquente”, 1876) iniciou a aplicação do</p><p>método experimental no estudo da criminalidade.</p><p>Além disso, desenvolveu a teoria do criminoso nato,</p><p>defendendo que o criminoso</p><p>estaria pré-determinado</p><p>à prática de infrações penais por razões antropo-</p><p>lógicas, nele presentes de modo atávico6. Lombroso</p><p>teve o mérito de fundar a Antropologia Criminal,</p><p>buscando uma explicação causal do comportamento</p><p>antissocial do criminoso por meio do estudo antro-</p><p>pológico;</p><p>b) Fase sociológica – Enrico Ferri (“Sociologia</p><p>Criminal”, 1892) negava a ideia de livre arbítrio e</p><p>da responsabilidade moral do agente, sustentando</p><p>uma responsabilidade social. Para ele, “todo homem</p><p>é sempre responsável por qualquer ação antijurídica</p><p>realizada por ele, unicamente porque e enquanto</p><p>vive em sociedade”7. Fundamentava a punição na</p><p>defesa social, tendo por finalidade primordial a</p><p>prevenção de novos crimes;</p><p>c) Fase jurídica – Raffaele Garofalo (“Crimi-</p><p>nologia”, 1885) deu sistematização jurídica à Escola</p><p>Positiva, estabelecendo, basicamente, os seguintes</p><p>princípios: “a) a periculosidade como fundamento</p><p>4. Lições de direito penal: parte geral, p. 56.</p><p>5. PRADO. Tratado de Direito Penal: parte geral: volume I, p. 75.</p><p>6. O termo atavismo consiste na hereditariedade biológica de</p><p>características	psicológicas.</p><p>7. Princípios de direito criminal: o criminoso e o crime, p. 282.</p><p>da responsabilidade do delinquente; b) a preven-</p><p>ção especial como fim da pena, que, aliás, é uma</p><p>característica comum da corrente positivista; c)</p><p>fundamentou o direito de punir sobre a teoria</p><p>da Defesa Social, deixando, por isso, em segundo</p><p>plano os objetivos reabilitadores; d) formulou</p><p>uma definição sociológica do crime natural, uma</p><p>vez que pretendia superar a noção jurídica. A</p><p>importância do conceito natural de delito residia</p><p>em permitir ao cientista criminólogo a possibi-</p><p>lidade de identificar a conduta que lhe interessasse</p><p>mais”8.</p><p>3. TERCEIRA ESCOLA</p><p>A chamada Terceira Escola (Terza Scuola Italiana,</p><p>também conhecida como Escola Crítica), teve como</p><p>expoentes Emanuele Carnevale, Bernardino Ali-</p><p>mena e Giuseppe Impallomeni. Seu marco inicial</p><p>ocorreu em 1891, com a publicação do artigo Una</p><p>terza scuola di Diritto Penale in Italia, de Emanuele</p><p>Carnevale.</p><p>A Terza Scuola teve posição intermediária em</p><p>relação às predecessoras, apresentando as seguintes</p><p>características: a) a responsabilidade penal é baseada</p><p>na imputabilidade moral, sem o livre-arbítrio, que</p><p>é substituído pelo determinismo psicológico: o</p><p>homem está determinado pelo motivo mais forte,</p><p>sendo imputável quem tiver capacidade de se deixar</p><p>levar pelos motivos. Aos que não possuem tal capa-</p><p>cidade, deve ser aplicada medida de segurança e</p><p>não pena; b) o crime é contemplado no seu aspecto</p><p>real, como um fenômeno social e individual; c) a</p><p>pena tem função defensiva ou preservadora da</p><p>sociedade9.</p><p>4. ESCOLA MODERNA ALEMÃ</p><p>A Escola Moderna Alemã (Paul Anselm von</p><p>Feuerbach, Franz Von Liszt, Van Hamel e Adolphe</p><p>Prins) também buscou conciliar postulados da</p><p>Escola Clássica e da Escola Positiva.</p><p>As principais características dessa escola são:</p><p>a) distinção entre o Direito Penal e as demais ciên-</p><p>cias criminais (como a Criminologia, a Sociologia</p><p>e a Antropologia), adotando-se para o Direito Penal</p><p>o método lógico-abstrato e para as outras o método</p><p>indutivo-experimental; b) o delito é considerado,</p><p>ao mesmo tempo, um fato jurídico e um fenômeno</p><p>humano-social; c) aplicação de pena aos imputáveis</p><p>8. BITENCOURT. Tratado de Direito Penal, v. 1, p. 117.</p><p>9. PRADO. Tratado de Direito Penal, v. 1, p. 176.</p><p>JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 105JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 105 08/02/2024 14:11:0208/02/2024 14:11:02</p><p>106</p><p>MANUAL DE DIREITO PENAL – Parte Geral e Parte Especial • Jamil Chaim Alves</p><p>e de medidas de segurança aos inimputáveis, como</p><p>um duplo meio de luta contra o delito; d) função</p><p>finalística da pena – mesmo sem perder o caráter</p><p>retributivo, prioriza a finalidade preventiva da</p><p>sanção, particularmente a prevenção especial, orien-</p><p>tada conforme a personalidade do delinquente; e)</p><p>desenvolvimento da política criminal10.</p><p>5. ESCOLA TÉCNICO-JURÍDICA</p><p>A Escola Técnico-jurídica, surgida em 1905, teve</p><p>como principais representantes Arturo Rocco, Karl</p><p>Binding e Vincenzo Manzini.</p><p>Em contraposição à grande preocupação da Escola</p><p>Positiva com aspectos sociológicos e antropológicos</p><p>do delito, pregava que o Direito Penal não poderia</p><p>ser confundido com essas ciências causal-explicati-</p><p>vas. Enquanto ciência normativa, deveria ser com-</p><p>preendido sob um ponto de vista jurídico.</p><p>Nessa ótica, o objeto da ciência penal se restrin-</p><p>giria ao ordenamento jurídico positivo, e o trabalho</p><p>do penalista consistiria em interpretar o texto legal,</p><p>limitado ao aspecto gramatical (exegese); ordenar</p><p>sistematicamente o seu conteúdo e dele extrair</p><p>princípios e critérios de interpretação e integração</p><p>(dogmática); e, por fim, propor reformas, caso a lei</p><p>se mostre deficiente (crítica).</p><p>Pode-se apontar como as principais caracterís-</p><p>ticas da Escola Técnico-Jurídica: a) o delito é pura</p><p>relação jurídica, de conteúdo individual e social; b)</p><p>a pena constitui uma reação e uma consequência</p><p>do crime (tutela jurídica), com função preventiva</p><p>geral e especial, aplicável aos imputáveis; c) a medida</p><p>de segurança – preventiva —, é aplicável aos inim-</p><p>putáveis; d) a responsabilidade é moral (vontade</p><p>livre); e) o método utilizado é técnico-jurídico; e f)</p><p>rejeição ao emprego da filosofia no campo penal11.</p><p>6. ESCOLA CORRECIONALISTA</p><p>A Escola Correcionalista surge na Alemanha,</p><p>em 1839, com a publicação da obra “Comentatio na</p><p>poena malum esse debeat”, de Karl David August</p><p>Röeder. O autor defende que a pena tem finalidade</p><p>reeducativa, sem o objetivo de castigo ou vingança.</p><p>Por essa razão, poderia ser aplicada sem prazo</p><p>determinado, cessando quando se tornasse desne-</p><p>cessária.</p><p>Pedro Dorado Montero, inspirado em Röeder,</p><p>difundiu a teoria na Europa, propondo a implan-</p><p>10. PRADO. Tratado de Direito Penal, v. 1, p. 77.</p><p>11. PRADO. Tratado de Direito Penal, v. 1, p. 79.</p><p>tação de métodos corretivos e tutelares para lidar</p><p>com o delinquente, retirando da pena o caráter de</p><p>castigo. Na mesma esteira de pensamento se funda</p><p>a doutrina de Concepción Arenal, que entendia</p><p>não haver criminosos incorrigíveis, somente</p><p>incorrigidos.</p><p>As principais características da escola corre-</p><p>cionalista são: a) o delinquente é visto como um</p><p>ser incapaz para o Direito, um ser limitado por</p><p>uma anomalia da vontade, e que portanto precisa</p><p>de ajuda; b) a sanção penal representa um bem,</p><p>podendo ser indeterminada (sem prazo de dura-</p><p>ção); c) o arbítrio judicial deve ser ampliado no</p><p>que se refere à individualização da pena; d) a</p><p>função penal deve ser vista como preventiva e de</p><p>tutela social; e) a responsabilidade penal deve ser</p><p>entendida como responsabilidade coletiva, solidá-</p><p>ria e difusa12.</p><p>Esta doutrina é considerada o sustentáculo da</p><p>teoria socializadora da pena, que viria a se consolidar</p><p>com a vertente humanitária da Nova Defesa Social.</p><p>7. DEFESA SOCIAL</p><p>A Escola da Nova Defesa Social teve início em</p><p>1945, sendo intitulada inicialmente Defesa Social,</p><p>com a doutrina de Filippo Gramatica.</p><p>Almejava a supressão do direito penal, da res-</p><p>ponsabilidade penal, da pena e do sistema tradicio-</p><p>nal de processo penal, propugnando a ressocializa-</p><p>ção do delinquente. O Direito Penal deveria ser</p><p>substituído por um direito de defesa social, cuja</p><p>finalidade seria adaptar o indivíduo à ordem social</p><p>e não a sanção de seus atos.</p><p>Posteriormente, surge uma doutrina mais mode-</p><p>rada, denominada Nova Ordem Social, nome</p><p>retirado do livro homônimo de Marc Ancel, publi-</p><p>cado em 1954.</p><p>As ideias fundamentais da Nova Ordem Social</p><p>estão compiladas no chamado Programa Mínimo,</p><p>estabelecido pela Sociedade Internacional de Defesa</p><p>Social, fundada em 1949. Seus principais postulados</p><p>são: a) realizar um exame crítico das instituições</p><p>vigentes, com o fim de melhorar e humanizar a</p><p>ação punitiva, seja para reformar ou para abolir as</p><p>instituições; b) vincular todos os ramos do conhe-</p><p>cimento capazes de contribuir para a visão completa</p><p>do fenômeno criminal; c) construir um</p>de buscar uma solu-
ção para o conflito entre si; e) a vítima não interessa 
ao sistema penal – o ofendido tem lugar secundário 
ou nenhum lugar; f) a pena não cumpre suas fina-
lidades – a pena não exerce a função preventiva (o 
suposto efeito dissuasório da ameaça penal não se 
realiza), nem ressocializa os condenados (basta-se 
1. SHECAIRA. Criminologia, p. 366.
JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 109JUS3135-Alves-Manual Dir Penal-PGPE-5ed.indb 109 08/02/2024 14:11:0308/02/2024 14:11:03

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