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<p>LITERATURA MANUAL DO PROFESSOR</p><p>ACERTA ENEM MANUAL DO PROFESSOR LITERATURA Larissa Fonseca Rodrigues edição São Paulo / 2020 EDITORA</p><p>Copyright 2020 Título original da obra: MWC EDITORA Acerta mais ENEM: Literatura Av. Paulista, 37 4° andar Manual do Professor Cond. Parque Cultural Paulista edição / São Paulo, 2020 CEP 01311-000 São Paulo SP Brasil Edição CNPJ: 13.101.659/0001-86 Rodrigo Gonçalves Fone: (11) 2246.2848 comercial@mwceditora.com.br Assistência editorial Ferreira Luísa Félix Preparação e revisão Dayane Oliveira Jéssica Tayrine Produção gráfica Gilberto Melo Diagramação Alexandre Cavalcanti Fernando Galdino Gilberto Melo Wilker Mad Ilustração Lelo Alves Iconografia Anderson Figueiredo Projeto Gráfico Alexandre Cavalcanti Lopes Gilberto Melo Banco de imagens Shutterstock Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R614a Rodrigues, Larissa Fonseca 1.ed. Acerta mais ENEM: literatura: manual do professor / Larissa Fonseca Rodrigues; [editor] Rodrigo Gonçalves. 1.ed. São Paulo: MWC Editora, 2020. 248 20,5 x 27,5 cm. ISBN 978-65-5662-008-4 1. Literatura. 2. ENEM questões. 3. 4. Manual do professor. I. Gonçalves, Rodrigo. Na tentativa de cumprir todas as regulamentações determinadas CDD 420 pela legislação, realizamos todos os esforços para localizar os detentores dos direitos das imagens e textos contidos Índices para catálogo sistemático: nesta obra. No entanto, caso tenha havido alguma omissão 1. Literatura: manual do professor involuntária, a MWC Editora se compromete em corrigi-la na 2. ENEM: questões primeira oportunidade. 3. Vestibular Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode Bibliotecária responsável: Aline Graziele Benitez CRB-1/3129 ser reproduzida sem a permissão por escrito da editora.</p><p>Apresentação Prezado professor, Ao reconhecer a relevância de um material didático que sistematiza os conhecimentosrelacionados às competências e habilidades ao Exame Nacional do Ensino Médio Enem, a coleção Acerta Mais Enem foi elaborada para ser um suporte voltado a atender às necessidades de professores e estudantes do Ensino Médio. Os livros que compõem a coleção foram produzidos para apoiar o processo de preparação para as provas de cada área de conhecimento do Enem. Para isso, algumas estratégias foram adotadas. Em primeiro plano, os volumes, divididos por área de conhecimento, são subdivididos por componentes curriculares. Dessa forma, atende-se a um maior número de habilidades que podem ser desenvolvidas a partir das mediações pedagógicas realizadas pelos professores. Em relação aos recursos digitais, as videoaulas têm acesso facilitado via tecnologia QR Code, em que o estudante verifica a resolução das questões apresentadas nos livros. Já em relação ao manual do professor, é disponibilizado um quadro descritivo dos conteúdos, competências e habilidades para auxiliar no planejamento das aulas. É importante que o livro de redação é um volume único e foca no desenvolvimento da escrita do texto dissertativo-argumentativo explorando o processo de produção passo a passo. Em síntese, a etapa final da Educação Básica Ensino Médio deve concretizar um processo educativo pautado na formação integral, essencial à continuidade da vida escolar dos estudantes. Como consequência, a formação de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva será alcançada.</p><p>ENEM ENEM O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi instituído em 1998 como forma de o desenvol- vimento de competências por parte dos egressos do ensino médio e, consequentemente, orientar a criação de políticas públicas que pudessem resultar em melhores desempenhos. Foi a partir de 2009 que o Novo Enem passou a avalian jovens e adultos brasileiros como mecanismo único, alternativo ou complementar aos processos de seleção para o acesso ao ensino superior no Brasil. Por ser uma avaliação complexa, sustentada em eixos cognitivos o domínio de linguagens, a com- preensão de fenômenos, o enfrentamento de situações-problema, a construção de argumentação e a ela- boração de propostas os alunos/participantes precisam estar preparados para atender aos requisitos de cada prova. Os eixos cognitivos são assim caracterizados: I. Dominar linguagens (DL): dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e científica e das línguas espanhola e inglesa. II. Compreender fenômenos (CF): construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tec- nológica e das manifestações artísticas. III. Enfrentar situações-problema (SP): selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informa- ções representados de diferentes formas, para tomar decisões e situações-problema. IV. Construir argumentação (CA): informações, representadas em diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente. V. Elaborar propostas (EP): recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e conside- rando a diversidade sociocultural. Os eixos são os mesmos para as quatro áreas de conhecimento do ensino médio, que, de acordo com a Matriz de Referência do são: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação: referente aos componentes curriculares Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna (Inglês ou Espanhol), Literatura, Arte, Educação Física. Matemática e suas Tecnologias: referente ao componente curricular Matemática. Ciências da Natureza e suas Tecnologias: referente aos componentes curriculares Química, Física e Biologia. Ciências Humanas e suas Tecnologias: referente aos componentes curriculares Geografia, História, Filosofia e Sociologia. 1 Conjunto de competências e habilidades elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC) responsável pela aplicação a prova. 4 MANUAL DO PROFESSOR</p><p>ACERTA MAIS ENEM PRESSUPOSTOS Conectado à Matriz de Referência do Enem, o ACERTA MAIS ENEM foi concebido com o objetivo geral de aprimorar o conhecimento com base no desenvolvimento de competências e habilidades, como um esforço para que o processo de aprendizagem seja focado na preparação dos alunos para os desafios do mundo contemporâneo. Assim, é importante considerar que: Competência é capacidade de mobilizar, cognitivamente, recursos - saberes, habi- lidades e informações visando resolver uma situação complexa. É o aluno saber saber ou saber conhecer. As competências são constituídas de um conjunto de habilidades. Habilidade é a aplicação prática de alguma competência para resolver uma situa- ção complexa, estando associada ao saber Para o desenvolvimento das competências e habilidades de cada componente curricular, a coleção ACERTA MAIS ENEM foi dividida em três obras Ciências Humanas e Linguagens, Ciências da Natu- reza e Matemática, e Redação tendo, as duas primeiras, 3 volumes e, a última, um volume único: Ciências Humanas: referente aos componentes curriculares Geografia, História, Filosofia e So- ciologia; e Linguagens: referente à Literatura, Interpretação, Inglês, Espanhol, Arte, Educação Fí- sica Volume 1, volume 2 e volume 3. Ciências da Natureza: referente aos componentes curriculares Química, Física e Biologia; e Ma- temática: referente ao componente curricular Matemática Volume 1, volume 2 e volume 3. Redação: Volume único. No Enem, agrupamento em quatro áreas não implica ques- tões relativas a uma única disciplina. Assim, ao len um enunciado do Exame, não é possível que ele se refere apenas à litera- tura, à arte, ou à história, por exemplo. Essa estratégia evidencia que o conhecimento humano é historicamente adquirido e não se subdivide em "arquivos segmentados", devendo ser considerado MANUAL DO PROFESSOR 5</p><p>como uma ampla rede, mutável e heterogênea. Portanto, o conhecimento, no Exame, é apresentado de maneira interdisciplinar, apoiando a ideia de que apenas o conhecimento "enciclopédico" não é suficiente para que o aluno atinja uma boa nota. Nesse sentido, Blaise Pascal afirmou, no século XVII, uma premissa que ainda é válida: "Não se pode conhecer as partes sem conhecer o todo, nem conhecer todo sem conhecer as partes". Corroborando com a necessidade da interdisciplinaridade, Morin (2000) enfatiza que a aptidão do conhecimento é questão fundamental da educação e que, para torná-lo pertinente, é necessário tornar o contexto, o global, o multidimensional e completo evidentes: A esse problema universal confronta-se a educação do futuro, pois existe inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre, de um os saberes compartimenta- dos de outro, as realidades ou problemas cada vez mais transversais, multidi- globais e planetários (MORIN, 2000, p. Outra característica das questões do Enem é a contextualização, cujo objetivo é estabelecer associações entre conhecimento e o contexto de mundo que nos cerca, envolvendo aspectos sociais, políticos, culturais e científicos, sempre relacionados a problemas da realidade. Em relação à importância do contexto, Morin (2000) afirma que "O conhecimento das informações ou dos dados isolados é insuficiente. É preciso as informa- ções e os dados em seu contexto para que adquiram sentido" (p. 37). Em cada enunciado, as questões do Enem trazem uma situação-problema desafiadora e nitidamen- te ligada a um contexto. Para a resolução, o candidato deve apoiar-se nas informações contidas no pró- prio enunciado e em conhecimentos prévios. Por esse motivo, é muito importante uma leitura atenta do enunciado, uma vez que este pode apresentar as informações necessárias e suficientes para a resolução da questão, garantindo um bom desempenho. Assim, se pudéssemos indicar a principal competência para as provas do Enem seria a leitora, ou seja, a capacidade de compreender e interpretar o que foi lido. Para isso, deve-se considerar não apenas a leitura dos textos verbais, mas também dos textos multissemióticos ou multimodais que circulam em nossa sociedade, como mapas, diagramas, infográficos, tirinhas, charges, campanhas de publicidade etc. Ao realizar as provas do Enem, o aluno/participante receberá cinco notas diferentes, uma para cada área de conhecimento e uma para a redação. Não haverá peso diferente para cada uma dessas notas. No entanto, ao usarem as notas em seus respectivos processos seletivos, as instituições de ensino superior poderão conferir a elas pesos distintos, a fim de classificar os candidatos entre as carreiras concorridas. OBJETIVOS DA COLEÇÃO Por meio de atividades com grau de complexidade progressivo e adequado à série à qual se destina, a coleção ACERTA MAIS ENEM tem como objetivos específicos: Auxiliar na aprendizagem de conteúdos das quatros áreas de conhecimento previstas na Matriz de Referência do Enem. Contribuir com processo de desenvolvimento de competências e habilidades de diferentes áreas de conhecimento. Disponibilizar materiais digitais pedagógicos de cada componente curricular do ensino médio para alunos e professores. a aprendizagem por meio de simulados no modelo Enem, com correção baseada na Teo- ria de Resposta ao Item (TRI). 1 Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 3 ed. São Paulo: DF: 2000. 6 MANUAL DO PROFESSOR</p><p>Em Ciências Humanas, o objetivo é as aprendizagens nos componentes curriculares Filosofia, Geografia, História e Sociologia, propondo que os estudantes desenvolvam a capacidade de estabelecer diálogos entre indivíduos, grupos sociais e cidadãos de diversas nacionalidades, saberes e culturas dis- tintas elemento essencial para a aceitação da alteridade e a adoção de uma conduta ética em sociedade. Em Linguagens, o objetivo é ampliar as aprendizagens nos componentes Literatura, Interpretação, Língua Inglesa, Língua Espanhola, Arte e Educação Física, considerando a garantia dos direitos linguísti- aos diferentes povos e grupos sociais brasileiros. Para tanto, prevê que os estudantes desenvolvam competências e habilidades que lhes possibilitem mobilizar e articular, simultaneamente, conhecimentos desses componentes a dimensões socioemocionais, em situações de aprendizagem que lhes sejam signi- ficativas e relevantes para sua formação integral. Em Ciências da Natureza, é levado em consideração a interpretação e a aplicação de modelos ex- plicativos para fenômenos naturais e sistemas tecnológicos, aspectos fundamentais do fazer ampliando aprendizagens nos componentes curriculares Física, Química e Biologia. Em Matemática, o foco é a construção de uma visão integrada da Matemática, aplicada à reali- dade, em diferentes contextos, levando em consideração as vivências cotidianas dos estudantes do ensino médio a fim de promover ações que ampliem o letramento matemático. Além das áreas de conhecimento, tendo em vista a complexidade do ato de escrever e o peso que a Redação possui na média final do Exame, elaboramos o ACERTA MAIS ENEM Redação, um material que orienta o(a) candidato(a) a uma nota de excelência na produção textual, auxi- liando trabalho do professor em sala de aula. O livro é pautado nos referenciais teóricos da Matriz de Competências da Redação do Enem, com propostas de produção textual e temas de viés social e de interesse público. O objetivo é desenvolver as competências necessárias para a elaboração de um texto dissertativo-argumentativo, considerando o domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa; a compreensão da proposta de redação e a aplicação de conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolvimento do tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo- -argumentativo em prosa; a seleção, a relação, a organização e a interpretação de informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista; conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação; e a elaboração de proposta de intervenção que res- peite os direitos humanos. Para atingir tais objetivos, a coleção considera como ponto de partida os conhecimentos prévios dos estudantes, disponibilizando os conteúdos de forma no intuito de estabelecer um diálo- go entre aluno e professor para a sistematização dos conteúdos da aprendizagem. Dessa forma, o aluno se torna protagonista de sua própria aprendizagem, e desenvolve colaborativamente com os colegas, com os professores e com a comunidade. PLATAFORMA ON-LINE E APLICATIVO Acerta Mais Para complementar o trabalho do professor em sala de aula, a partir da concepção de todo o material pode ser acessado pelo aplicativo Acerta Mais, tornando o aprendizado disponível a qual- quer momento, e também pela plataforma on-line de acesso dinâmico e simples, que fornece banco de questões, videoaulas, correção personalizada de redação, simulados e muito mais. O projeto parte da revisão dos conhecimentos explorados pelo Enem, utilizando, para isso, a dis- cussão de teorias abordadas em diferentes componentes curriculares e a prática de exercícios em sala de aula, que demanda uma carga horária destinada para o projeto. Em consonância a isso, as videoau- las da plataforma e os simulados que os professores podem gerar para acompanhar a evolução e o desempenho da turma dão suporte extraclasse, contribuindo para os estudos diários dos estudantes. 2 Técnica que consiste em utilizar estratégias e recursos dos jogos digitais, criando uma dinâmica motivacional para pessoas e resolver problemas. MANUAL DO PROFESSOR 7</p><p>Em relação à Redação, as propostas de produção presentes no material estão alinhadas às da plata- forma on-line, com correção e envio de feedbacks individuais em até 5 dias Essa atividade otimiza tempo em sala de aula para o professor, que pode explorar as discussões temáticas sem a necessidade de detalhadamente as produções textuais realizadas pelos estudantes. A avaliação da aprendizagem é realizada pela aplicação de simulados impressos com 180 questões, no modelo Enem, com correção pela Teoria de Resposta ao Item (TRI), sendo distribuídas nas 4 áreas de conhecimento: 45 questões de Linguagens, 45 questões de Ciências Humanas, 45 questões de Ciências da Natureza e 45 questões de Matemática e redação. Em suma, a coleção ACERTA MAIS ENEM incentiva uma formação voltada ao pensamento crítico, à capacidade de formular hipóteses e solucionar problemas diversos, em face de realidades que estão em constante transformação. No final deste caderno, você encontrará um quadro designando as competências e habilidades que orientaram a seleção dos conteúdos das aulas dos três volumes do ACERTA MAIS ENEM. Você pode utilizá-lo para o planejamento pedagógico. Além disso, os gabaritos comentados das atividades também são disponibilizados para a consulta. 8 MANUAL DO PROFESSOR</p><p>ACERTA ENEM LITERATURA Obra concebida e produzida pela MVC Editora. edição João Pessoa / 2020 MVC EDITORA</p><p>Copyright 2020 Título original da obra: EDITORA Acerta mais ENEM: Ciências Humanas MWC EDITORA e Linguagens Volume 1 Av. Paulista, 37 4° andar edição / São Paulo, 2020 Cond. Parque Cultural Paulista CEP 01311-000 Edição São Paulo SP Brasil Rodrigo Gonçalves CNPJ: 13.101.659/0001-86 Fone: (11) 2246.2848 Assistência editorial comercial@mwceditora.com.br Ferreira Luísa Félix Preparação e revisão Dayane Oliveira Jéssica Tayrine Produção gráfica Gilberto Melo Diagramação Alexandre Cavalcanti Fernando Galdino Fernando Gabriel Gilberto Melo Wilker Mad Lelo Alves Iconografia Anderson Figueiredo Projeto Gráfico Alexandre Cavalcanti Caio Lopes Gilberto Melo Banco de imagens Shutterstock Na tentativa de cumprir todas as regulamentações determinadas pela legislação, realizamos todos os esforços para localizar os detentores dos direitos das imagens e textos contidos nesta obra. No entanto, caso tenha havido alguma omissão involuntária, a MWC Editora se compromete em corrigi-la na primeira oportunidade. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida sem a permissão por escrito da editora.</p><p>Mensagem Prezado estudante, Parafraseando Vinicius de Moraes, um livro sem apresentação é como um rio sem pontes, portanto, faz-se necessária essa breve, porém imprescindível introdução. Você está iniciando uma nova etapa do ciclo escolar: o Ensino Médio. Reconhece- mos os desafios da educação na sociedade atual e entendemos que a juventude vive hoje as transformações geradas por um mundo globalizado e impulsionado pelas tecnologias cada vez mais virtuais e impessoais. No entanto, convidamos você, com entusiasmo, a enfrentar os desafios que essa nova jornada apresenta, pois isso é necessário para o seu desenvolvimento não apenas como sujeito do saber, mas também como cidadão. Além disso, é nessa etapa que se vislumbra o Ensino Superior, principal objetivo para consolidar essa trajetória de sucesso. A coleção ACERTA MAIS ENEM irá auxiliá-lo nessa jornada. Sabe-se que hoje, no Brasil, a principal porta de entrada de estudantes con- cluintes do Ensino Médio para o nível superior de ensino é o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que avalia os conhecimentos dos candidatos em quatro áreas de conhecimento: Ciências Humanas e suas Tecnologias; Ciências da Nature- za e suas Matemática e suas Tecnologias e; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação. Considerando que em cada uma dessas áreas é requerido dos estudantes certas competências e habilidades que os tornam aptos para ingresso no Ensino Supe- rior, buscamos, de forma didática e objetiva, prepará-lo para uma compreensão interdisciplinar dos diferentes domínios e temáticas exigidas pelo Enem. Para tanto, nos valemos de resumos sucintos e completos dos conteúdos e de ques- tões práticas, no mesmo estilo da avaliação, associadas às tecnologias da plata- forma on-line e do App ACERTA MAIS, nos quais você encontrará videoaulas, simulados, correção de redações e muito mais. Pensando nas suas necessidades, nosso objetivo é oferecer um material de alta qualidade que contribua para o seu projeto de vida, suas metas e seus planos de estudos diários. Esperamos que você encontre no ACERTA MAIS ENEM o supor- te necessário para o desenvolvimento de suas atuais habilidades e das potenciais competências que você conquistará durante a sua formação no Ensino Médio. Lembre-se: com foco e perseverança, você pode conquistar todos os seus objetivos!</p><p>Sumário CONHEÇA ACERTA MAIS ENEM 14 VOLUME 1 AULA 01 O texto literário e suas funções 18 AULA 02 Gêneros literários 25 AULA 03 Quinhentismo ou literatura de informação e catequética 31 AULA 04 Barroco I (poesia) 37 AULA 05 Barroco II (prosa) 43 AULA 06 Arcadismo ou Neoclassicismo I 47 AULA 07 Arcadismo ou Neoclassicismo II 53 S VOLUME 2 AULA 01 A manifestação da literatura romântica 60 AULA 02 Romantismo: Poesia 67 AULA 03 Romantismo: Prosa 78 AULA 04 Realismo 88 S AULA 05 Realismo II 93 AULA 06 Naturalismo e Cientificismo 102 AULA 07 Parnasianismo 111 AULA 08 Simbolismo 116 VOLUME 3 AULA 01 Pré-Modernismo I: Prosa 124 AULA 02 Pré-Modernismo II: Poesia 132 AULA 03 Vanguardas europeias 138 AULA 04 A Semana de Arte Moderna no Brasil 147 AULA 05 fase do Modernismo no Brasil I (1922-1930) 155 AULA 06 fase do Modernismo no Brasil II (1922-1930) 164 AULA 07 fase do Modernismo no Brasil I: Poesia 170 AULA 08 fase do Modernismo no Brasil II: Prosa 178 AULA 09 fase do Modernismo no Brasil III: Prosa 185 AULA 10 fase do Modernismo no Brasil I: Prosa intimista e experimental 191 AULA 11 fase do Modernismo no Brasil II: os novos rumos da poesia 202 AULA 12 Pós-Modernismo I 209 AULA 13 Pós-Modernismo 216 GABARITO E COMENTÁRIOS QUADRO DESCRITIVO DE COMPETÊNCIAS E HABILIDADES 224 VOLUME 1 226 VOLUME 2 231 VOLUME 3 238</p><p>Sumário VOLUME 1 AULA 01 O texto literário e suas funções 172 AULA 02 Gêneros literários 179 AULA 03 Quinhentismo ou literatura de informação e catequética 185 AULA 04 Barroco I (poesia) 191 AULA 05 Barroco II (prosa) 197 AULA 06 Arcadismo ou Neoclassicismo I 201 AULA 07 Arcadismo ou Neoclassicismo II 207 VOLUME 2 AULA 01 A manifestação da literatura romântica 182 AULA 02 Romantismo: Poesia 189 AULA 03 Romantismo: Prosa 200 AULA 04 Realismo I 210 AULA 05 Realismo II 215 AULA 06 Naturalismo e Cientificismo 224 AULA 07 Parnasianismo 233 AULA 08 Simbolismo 238 VOLUME 3 AULA 01 Pré-Modernismo I: Prosa 202 AULA 02 Pré-Modernismo II: Poesia 210 AULA 03 Vanguardas europeias 216 AULA 04 A Semana de Arte Moderna no Brasil 225 AULA 05 fase do Modernismo no Brasil I (1922-1930) 233 AULA 06 fase do Modernismo no Brasil II (1922-1930) 242 AULA 07 fase do Modernismo no Brasil I: Poesia 248 AULA 08 fase do Modernismo no Brasil II: Prosa 256 AULA 09 fase do Modernismo no Brasil III: Prosa 263 AULA 10 fase do Modernismo no Brasil I: Prosa intimista e experimental 269 AULA 11 fase do Modernismo no Brasil II: os novos rumos da poesia 280 AULA 12 Pós-Modernismo I 287 AULA 13 Pós-Modernismo II 294</p><p>Conheça ACERTA MAIS ENEM Nosso material oferece uma abordagem atual dos temas exigidos do ENEM, a fim de que você possa enxergar o mundo de forma ampla e conectada. Conheça o ACERTA MAIS ENEM e tudo que ele oferece como solução educacional. LIVROS ACERTA O livro CIÊNCIAS HUMANAS E LINGUA- ENEM GENS e livro CIÊNCIAS DA NATUREZA E MATEMÁTICA organizam as aulas com os com- ponentes curriculares específicos de cada área de conhecimento, nas quais são apresentados os conceitos de cada assunto e sugeridas questões inéditas e de ENEMs anteriores. Nossa proposta é que você faça a leitura das temáticas e em seguida HUMANAS LINGUAGENS resolva questões relacionadas a fim de a sua aprendizagem. ACERTA ENEM ACERTA ENEM REDAÇÃO IZA CIÊNCIAS DA NATUREZA MATEMATICA Na seção QUESTÕES, assista, em vídeos, a resolução de algumas questões acessando-as por meio do QR Code. 14</p><p>PLATAFORMA ON-LINE Imagine ter em um único local tudo o que você precisa para o seu plano de estudos direcio- nado ao ENEM. Em nossa plataforma on-line, você Módulo 1 tem acesso a mais de 300 videoaulas ministradas por experientes professores que seguiram a se- ENEM quência de aulas dos livros que você tem em mãos. Você dispõe, ainda, da opção de gerar simulados com o banco de mais de 3000 questões gabarita- das e comentadas que preparamos para facilitan a sua rotina de aprendizagem. As videoaulas possuem a tradução em Libras como forma de inclusão para todos os estudantes. APP ACERTA MAIS E-mail Em tempos de redes sociais, em que todos Senha interagem sobre as diversas áreas da vida, o App Login ACERTA MAIS é um aplicativo que propõe a inte- ração entre diversos estudantes com o propósito de compartilhar dúvidas, assuntos e informações de forma rápida. Por meio do App, além de se co- com outros colegas, você pode assistir às videoaulas, gerar simulados e sua redação para correção, a fim de obter um feedback rápido e útil para o seu desenvolvimento. Todas as suas ações no App acumulam pon- tos para um ranking de competição com seus co- legas. Você pode, ainda, trocar os pontos acumu- lados com suas conquistas por prêmios em nossa loja virtual. Livros + Plataforma on-line e App: leia as aulas dos livros e acesse todo o conteúdo digital complementar oferecido. Utilize todos os recursos que o ACERTA MAIS ENEM oferece e tenha a certeza de ter em suas mãos um suporte necessário para uma aprendizagem para vida. 15</p><p>Acesse as videoaulas desta disciplina. LITERA</p><p>AULA 0 texto literário 01 e suas funções Não há indivíduo, em qualquer civilização, que balha com infinitas possibilidades de expressar-se, fa- não reconheça e vivencie fatos e manifestações literá- zendo com que a língua seja recriada, atribuindo novos rias, querendo ou não, conscientemente ou não. Isso sentidos aos termos. Observe o texto abaixo: significa que temos hoje no Brasil um fenômeno com- plexo: muita gente diz não gostar de ler, mas, no fun- Elogio da memória do, é difícil que não aprecia literatura, afinal, ela O funil da ampulheta constrói um conjunto amplo e diversificado de textos apressa, orais ou escritos, em diferentes registros linguísticos. a queda Da canção ao soneto; do cordel ao romance de da areia ideias; da crônica à anedota; do esquete de improviso à tragédia do conto popular aos trillers de fanta- Nisso imita o jogo sia que se tornam sucessos no cinema. Em todas essas manhoso manifestações, há a inevitável presença do que chama- de certos momentos mos literatura. que se vão embora Segundo Ezra Pound, literatura é linguagem car- Quando mais queríamos regada de significados. Dessa concepção, depreende-se que ficassem. que o texto literário é fruto de um apurado trabalho com José Paulo Paes a linguagem. Apesar de não necessariamente se distan- dos usos cotidianos que são feitos da mesma lingua- Ao observar a maneira como os versos foram gem, a literatura acaba sendo marcada por um aspecto dispostos no espaço da folha de papel, a imagem cons- de fruição e apreciação artísticas, necessárias também truída mentalmente é de uma ampulheta. Ou seja, a à vivência de outros textos de linguagens não verbais, maneira como os versos foram espalhados no poema, como a música, a pintura, a arquitetura e o cinema. As- se expandindo e afunilando, remete à forma da ampu- sim, podemos definir que o texto literário é formado por lheta, imagem que o poema traz como representação uma linguagem repleta de especificidades, entre as quais expressiva da memória e do tempo. Portanto, a ideia é estão a complexidade, a variabilidade, a conotação de que, assim como o funil da ampulheta retarda a des- (sentido figurado), a multissignificação e a liberdade de cida da areia contida nela, nós gostaríamos que certos criação. Segundo Antonio Candido, a função da literatu- momentos importantes de nossas vidas passassem de ra é organizar em palavras nosso caótico mundo interior. forma devagar. Assim escreve crítico: RECURSOS LINGUÍSTICOS E "A produção literária tira as palavras do nada e as dis- EXPRESSIVOS DO TEXTO LITERÁRIO como um todo articulado. organização da pa- lavra comunica-se ao nosso espírito e o leva, primeiro, A palavra-chave do ENEM é linguagem. Nesse a se organizar; em seguida, a organizar o caso, importa saber que a composição do texto literário CANDIDO, Vários escritos. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: recorre ao uso de inúmeros recursos que visam impac- Duas 1995. p. 246. tar o leitor-apreciador e, de certa forma, seu com- portamento. Mesmo antes de existir uma ciência chama- A linguagem da literatura, portanto, é predomi- da de literatura, já se estudava uma ou mais funções para nantemente conotativa, apresentando uma função ela, como sua capacidade de a realidade (mimesis) estética e não empregada no seu sentido real, utilitá- e o seu potencial de transformação do (catharsis). rio, referencial. Assim, a linguagem poética (pois assim existe ainda uma função poética, que deve ser chamada) da literatura, diferentemente da tem também uma dimensão lúdica e que se caracte- forma como as palavras são utilizadas no cotidiano, riza pelo uso de diferentes recursos de linguagem, produz novos significados, reinventando o sentido das como as figuras de linguagem, que interferem no sen- palavras, uma vez que o escritor, propositalmente, tra- tido das palavras. Podemos dizer que não haveria lite- 18 LINGUAGENS</p><p>ratura se não existisse esse trabalho de diferenciação LINGUAGEM DENOTATIVA, dos sentidos. De modo geral, o poeta costuma brincar CONOTATIVA E FIGURAS DE com as palavras levando-as ao máximo de significa- LINGUAGEM ção a partir de novas experiências, que vão do sonoro ao visual, criando, assim, relações surpreendentes e QUEBRA inusitadas. Nesse sentido, dizemos que a linguagem da literatura se caracteriza por apresentar uma fun- ção lúdica, como é o caso do poema abaixo, "rio: o de Arnaldo em que há várias significações, a partir das quais podemos sobre a vida, em uma completa interpretação filosófica sobre o No entanto, muito embora o elemento reflexivo faça parte do objetivo do poeta, o que enquanto Quando as palavras revelam seu sentido função da literatura, é a forma como a linguagem foi diato e dicionarizado. dizemos que elas estão em elaborada, por meio do jogo, da brincadeira, que é, an- sentido literal ou denotativo. De maneira geral, em tes de tudo, oferecido a nós, leitores. textos jornalísticos, científicos ou instrucionais, pre- domina o sentido denotativo. Já em textos rio: o in sobretudo os poéticos, como também em outras modalidades que recorrem à transmissão criativa de mensagens, como a propaganda, a anedota ou as histórias em quadrinhos, é comum que as palavras sejam exploradas em sentido que se altera conforme o contexto. Damos a isso o nome de sentido figurado ou conotativo. R R LINGUAGEM PODE SER DENOTATIVA CONOTATIVA APRESENTA SENTIDO NÃO FIGURADO SENTIDO FIGURADO Arnaldo. Como é que chama o nome disso: Antologia. São Paulo: 2006 é mais mais comum em comum O poema apresenta a forma visual da figura abstra- ta simbólica da mandala. Em seu sentido poético, meta- temos a imagem do rio com se fosse a vida em seu TEXTOS NÃO LITERÁRIOS TEXTOS LITERÁRIOS curso, ou seja, em movimento constante. É importante observar também que o fato de a palavra rio ser ir" ao contrário passa a impressão de que, assim como a o FIGURAS DE LINGUAGEM COMO RECURSOS rio não tem retorno, pois ninguém entra duas vezes no EXPRESSIVOS DO TEXTO LITERÁRIO mesmo rio, já que quando nele se entra novamente não se encontram as mesmas águas, e o próprio ser já se mo- Figuras de linguagem são recursos poéticos dificou. Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o usados na linguagem literária com o objetivo de tor- revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fru- as mensagens que emitimos mais expressivas e to da mudança, ou seja, do combate entre os contrários. significativas. Esses recursos podem os signi- Veja que a forma como o poema é colocado também se ficados das palavras de um enunciado, dando-lhes no- torna uma vez que o "rio" é colocado no espa- vos sentidos. A seguir, alguns dos casos mais comuns em círculo, em movimento, assim como a de figuras de linguagem. LINGUAGENS 19</p><p>Ato de repetir Metáfora: dois seres comparados implicitamente. Aliteração: sons de consoantes. Meu verso é volúpia ardente Vozes veludosas vozes Manuel Bandeira Volúpia dos vozes veladas Sinestesia: sensações relacionadas aos planos senso- Vagam nos velhos vórtices vorazes Dos vivas. vulcanizadas riais, sensações diferentes aproximadas. A branca dessa noite. Cruz e Sousa Assonância: sons de vogais. Catacrese: palavra utilizada na ausência de um termo Sou Ana específico. Da cama. da cana. sacana Beijei-a na do rosto. Sou Ana de Amsterdam Chico Buarque de Holanda Metonímia: substituição por meio de relação lógica. Passei meu dia dentro de um sapato. Paralelismo: estrutura de versos. Amou daquela vez como se fosse a última Prosopopeia ou personificação: atribuição da caracte- Beijou sua mulher como se fosse a última rística humana a animais e seres inanimados. E cada filho seu como se fosse único vento beija meus as ondas minhas pernas. Chico Buarque de Holanda Lulu Santos Anáfora: palavras no início dos versos. Onomatopeia: imitação gráfica de sons. Amor é fogo que arde sem se ver: É ferida que dói e não se sente: tique-taque não deixava escritor se concentrar em É um contentamento descontente; sua imaginação, som ecoava em sua mente dizendo-lhe É dor que desatina sem doer. que tempo passava. Luis Vaz de Camões Perífrase: exprime aquilo que poderia ser expresso por Polissíndeto: conjunções. um menor número de palavras. Trabalha e teima e lima, e sofre, e sua. rei do reggae (Bob Marley) espalhou uma mensagem de amor e paz enquanto esteve neste mundo. Olavo Bilac Pleonasmo: ideias. Ato de dialogar retoricamente E ali dançaram tanta dança. Ironia: crítica indireta. que a vizinhança toda despertou. Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de Chico Buarque de Holanda réis, nada menos... Machado de Assis Ato de inverter ou tornear o enunciado oposição de ideias. Anástrofe: inversão simples. Não existiria som se não houvesse silêncio. É a vaidade, Fábio, nesta Rosa Não haveria luz se não fosse a escuridão. Gregório de Matos Lulu Santos Hipérbato: inversão mais complexa. Paradoxo/oxímoro: ideias que se rejeitam; impossibili- Mostra patife da nobreza mapa. dade. (Ordem direta: patife mostra mapa da nobreza). Incêndio em mares de água disfarçado Gregório de Matos Rio de neve em fogo convertido. Gregório de Matos Ato de relacionar ou substituir uma palavra Hipérbole: exagero. por outra Pela lente do amor Comparação: dois seres com uma conjunção e um ele- Vejo tudo crescer mento explícito de comparação. Vejo a vida mil vezes melhor. Eu sou forte como metal. Gilberto Gil 20 LINGUAGENS</p><p>Eufemismo: suavização de ideias chocantes. um questionamento existencial, sem preocupação Quando a Indesejada das gentes chegar social. Encontrará lavrado campo, a casa limpa, B um forte compromisso político de engajamento e A mesa posta, ação social, por meio da metalinguagem. Com cada coisa em seu lugar. a tendência religiosa como saída para os problemas Manuel Bandeira políticos. Gradação: progressão de ideias. D um deslocamento da realidade humana, já que esse não guardes, que a madura idade não deve ser o papel da literatura. te converta essa flor, essa beleza, E a sugestão alienante de que a poesia, por seu cará- em terra, em em pó, em sombra, em nada. ter lúdico, deve se tornar isenta de envolvimento Gregório de Matos com as causas sociais. Apóstrofe: invocação de um ser inanimado QUESTÃO 2 (INÉDITA) mar quanto do teu sal São lágrimas de Portugal. Uma coisa é escrever como poeta, outra como his- Fernando Pessoa toriador: o poeta pode contar ou cantar não como foram, mas como deveriam ter sido, enquanto o his- toriador deve relatá-las não como deveriam ter sido, mas como foram sem acrescentar ou subtrair da ver- QUESTÕES dade o que quer que seja. Miguel de Cervantes, espanhol (1547 - 1616). QUESTÃO 1 (INÉDITA) Cervantes aponta para o papel da escrita, como ele- mento modelador do a partir de sua intencio- Meu povo, meu poema nalidade e do público que ele quer atingir, ou seja, o texto tem preocupação com o interlocutor ao qual Meu povo e meu poema crescem juntos como cresce no fruto se destina. Partindo dessa constatação, podemos a árvore nova concluir que a linguagem poética e literária, de acordo com o au- No povo meu poema vai nascendo tor, propõe-se a traduzir exemplo característico da como no canavial linguagem conotativa. nasce verde o açúcar o vocabulário bem adequado torna-se fundamental No povo meu poema está maduro para se conseguir uma boa comunicação, pois facili- como o sol ta a compreensão pelo receptor da mensagem. na garganta do futuro a linguagem utilizada pelos historiadores e pesqui- sadores não é capaz de traduzir exemplos comple- Meu povo em meu poema tos dos aspectos denotativos da língua. se reflete como a espiga se funde em terra fértil D a linguagem conhecida como "internetês", por seu estilo repleto de abreviações e por ser tão comum, Ao povo seu poema aqui devolvo já é aceito como norma pelos linguistas. menos como quem canta E em um processo de comunicação, o receptor deve do que planta adequar-se às proposituras do emissor de acordo Ferreira Gullar com a linguagem por ele descrita. Observando o papel desempenhado pelo texto literá- rio, podemos dizer que o poema de Ferreira traz como proposta temática LINGUAGENS 21</p><p>Trabalhando com recursos formais inspirados no Con- QUESTÃO 3 (INÉDITA) cretismo, o poema atinge uma expressividade que se caracteriza pela Explicação de poesia sem ninguém pedir Um trem-de-ferro é uma coisa A interrupção da fluência verbal, para testar os limi- tes da lógica racional. mecânica, mas atravessa a noite, a madrugada, o dia, atravessou minha vida, reestruturação formal da palavra, para provocar o virou só sentimento. estranhamento no leitor. Cacos para um vitral. Rio de Janeiro: Nos elementos dispersão das unidades verbais, para o expressivos. Nova Fronteira, 1980. sentido das lembranças. No poema, os elementos expressivos e linguísticos uti- D fragmentação da palavra, para o es- lizados pela autora sugerem treitamento das lembranças. E renovação das formas tradicionais, para propor um desencanto do eu lírico diante das adversida- uma nova vanguarda poética. des da a ideia de que o trem de ferro passou pela vida do eu lírico, deixando marcas traumáticas. QUESTÃO 5 (ENEM) que trem de ferro, por ser uma "coisa trouxe transformações na vida do eu lírico, marca- Logia e mitologia das pelo desejo de revolta. Meu coração D a falta de leveza do objeto mecânico visto que mar- de mil e novecentos e setenta e dois cou, negativamente, a vida do eu lírico. já não palpita fagueiro sabe que há morcegos de pesadas olheiras E a visão de que a expressão trem de ferro por ser que há cabras malignas que há conceituada, no primeiro verso, como uma coisa cardumes de hienas infiltradas mecânica, aponta para o sentido conotativo que a no vão da unha na alma expressão apresenta. um porco belicoso de e que sangra e ri QUESTÃO 4 (ENEM) e que sangra e ri a vida anoitece provisória da sua memória centuriões sentinelas do Oiapoque ao mil CACASO. Rio de Janeiro: 7 2002 e mui O título do poema explora a expressividade de termos tos que representam conflito do momento histórico vi- out vido pelo poeta na década de 1970. Nesse contexto, ros conclui-se que ros tos A o poeta utiliza uma série de metáforas zoológicas sol com significado impreciso. tos morcegos", "cabras" e "hienas" metaforizam as víti- mas do regime militar vigente. coa o "porco", animal difícil de domesticar, representa pou os movimentos de resistência. coa pag D poeta caracteriza o momento de opressão por amo meio de alegorias de forte poder de impacto. meu E "centuriões" e "sentinelas" simbolizam os agentes Arnaldo. 2 ou + corpos no mesmo que garantem a paz social experimentada. espaço. São Paulo: Perspectiva, 1998. 22 LINGUAGENS</p><p>QUESTÃO 6 (ENEM) Texto Poema tirado de uma notícia de jornal Canção do vento e da minha vida João Gostoso era carregador de feira livre e morava no vento varria as folhas, morro da Babilônia num sem vento varria os frutos, vento varria as flores... Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro E a minha vida ficava Bebeu Cada vez mais cheia Cantou De frutos, de flores, de folhas. Dançou [...] Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu O vento varria os sonhos afogado. E varria as amizades... Manuel Bandeira O vento varria as mulheres... E a minha vida ficava Disponível em: Cada vez mais cheia mbandeira.html. Acesso em: 13 set. 2018. De afetos e de mulheres. A partir da leitura dos textos e II, considera-se que O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... no texto a linguagem predominante é a literá- O vento varria tudo! ria, já que sua função é informar o leitor sobre um E a minha vida ficava acontecimento. Cada vez mais cheia os textos e têm como função principal informar De tudo. acerca de fatos reais, por meio do uso de uma lin- M. Poesia completa e prosa. guagem objetiva. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967. a linguagem não literária é predominante no texto Na estruturação do texto, destaca-se II, enquanto que, no texto I, predomina a linguagem literária. a construção de oposições semânticas. D o fato de apresentar elementos narrativos, carac- a apresentação de ideias de forma objetiva. terísticos de uma notícia, inclui a linguagem literá- ria como a linguagem predominante no texto II. emprego recorrente de figuras de linguagem, como o eufemismo. o texto é marcado pela presença da linguagem tendo em vista o valor subjetivo do uso D a repetição de sons e de construções sintáticas se- da linguagem. melhantes. E a inversão da ordem sintática das palavras. QUESTÃO 8 (INÉDITA) QUESTÃO 7 (INÉDITA) Manta que costura causos e histórias no sejo de uma família serve de metáfora da memória em obra escrita Texto por autora portuguesa. Polícia Civil termina inquérito e conclui que reitor da O que poderia valer mais do que a manta para aquela UFSC cometeu suicídio família? Quadros de pintores famosos? Joias de rainha? Palácios? Uma manta feita de centenas de retalhos de Luiz Carlos Cancellier de Olivo se jogou de escada de roupas velhas aquecia os pés das crianças e a memória shopping em Florianópolis no dia 2 de outubro. da que a cada quadrado apontado por seus netos Polícia Civil concluiu o inquérito sobre a morte do reitor resgatava de suas lembranças uma história. Histórias da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz fantasiosas como a do vestido com um bolso que abriga- Carlos Cancellier de Olivo, ocorrida no dia 2 de outubro va um gnomo comedor de biscoitos; histórias de traqui- em Florianópolis, e concluiu que ele cometeu suicídio. nagem como a do calção transformado em farrapos no documento foi entregue à Justiça na quarta-feira (25). dia em que o menino, que gostava de andar de bicicleta Disponível em: de olhos fechados. quebrou o braço; histórias de sauda- des, como o avental que carregou uma carta por mais de ghtml. Acesso em: 13 2018. um mês... Muitas histórias formavam aquela manta. Os LINGUAGENS 23</p><p>protagonistas eram pessoas da família, um tio. uma tia, é poesia digital, elaborada a partir da recombina- o a bisavó, ela mesma, os antigos donos das roupas. ção lógica de palavras e imagens, sendo a imagem Um dia, a avó morreu, e as tias passaram a disputar a um elemento de composição do texto verbal. manta, todas a queriam, mais do que aos quadros, joias D explora o componente sonoro das palavras por e palácios deixados por ela. Felizmente, as tias consegui- meio de palavras parecidas, combinando ilustra- ram chegan a um acordo, e a manta passou a ficar cada ções e caligrafia que lembram o grafite e a pichação. mês na casa de uma delas. E os retalhos, à medida que iam se acabando, eram substituídos por outros retalhos, E é fundamentalmente uma experiência que e novas e antigas histórias foram sendo incorporadas à pode prescindir da imagem, mudando de suporte e manta mais valiosa do mundo. podendo ser adaptado a novas linguagens. A Portuguesa. São Paulo, 76. 2012 (adaptado). QUESTÃO 10 (INÉDITA) A autora descreve a importância da manta para aquela família, ao que "novas e antigas histórias fo- o negócio ram sendo incorporadas à manta mais valiosa do mun- do". Essa valorização evidencia-se pela Grande sorriso do canino de ouro, o velho Abílio pro- às donas que se abastecem de pão e banana: oposição entre os objetos de valor, como joias, pa- Como é o negócio? lácios e quadros, e a velha manta. De cada três dá certo com uma. Ela sorri, não responde ou é uma promessa a recusa: descrição detalhada dos aspectos físicos da manta, Deus me livre, não! Hoje não... como con e tamanho dos retalhos. Abílio interpelou a velha: valorização da manta como objeto de herança fa- Como é o negócio? disputado por todos. Ela concordou e, que foi melhor, a filha também aceitou comparação entre a manta que protege do frio e a o trato. Com a dona Julietinha foi assim. Ele se chegou: D manta que aquecia os pés das crianças. Como é o negócio? Ela sorriu, olhinho Abílio espreitou o cometa E correlação entre os retalhos da manta e as muitas partir. Manhã cedinho saltou a cerca. Sinal combinado, histórias de tradição oral que os formavam. duas batidas na porta da cozinha. A dona saiu para o quintal, cuidadosa de não os filhos. Ele trazia a capa de viagem, estendida na grama orvalhada. QUESTÃO 9 (INÉDITA) Ovizinho espionou os dois, aprendeu sinal. Decidiu a proeza. No crepúsculo, pum-pum, duas pancadas fortes na porta. marido em viagem, mas não era dia do Desconfiada, a moça surgiu à janela e vizinho repetiu: Como é o negócio? Diante da recusa, ele Então você quer o velho e não o moço? Olhe que eu conto! TREVISAN. D. Mistérios de Curitiba. Rio de Janeiro: 1979 (fragmento). Quanto à abordagem do tema e aos recursos expressi- vos, essa crônica tem um caráter A filosófico, pois reflete sobre as mazelas sofridas pe- los vizinhos. Uma forte tendência da arte na atualidade é a fusão de lírico, pois relata com nostalgia o relacionamento linguagens, compondo modalidades artísticas mistas. da vizinhança. Nesse sentido, a experiência do poeta Pedro Gabriel irônico, pois apresenta com malícia a convivência é fundamentalmente um trabalho de artes plásti- entre vizinhos. cas, recompondo a linguagem do grafite e da picha- D ção, mudando apenas para o suporte do papel. crítico, pois deprecia o que acontece nas relações de vizinhança. é uma composição narrativa em prosa, de ficcional e retratando as fantasias do E pois expõe uma conduta a ser evitada na seu autor. relação entre vizinhos. 24 LINGUAGENS</p><p>AULA 02 Gêneros literários Os gêneros literários são, de modo geral, classifi- Sátira: poesia que se propõe a corrigir os defeitos hu- cados, desde a Antiguidade, em três grupos: narrativo manos, mostrando o ridículo de determinada situação. ou épico, lírico e dramático. Essa divisão partiu dos fi- Quanto ao aspecto formal, os poemas podem lósofos da Grécia antiga, Platão e Aristóteles, quando apresentar forma fixa ou livre. Entre os poemas de for- iniciaram estudos para o questionamento daquilo que ma fixa, o que resistiu ao tempo, sendo comum até nos representaria o literário e como essa representação se- dias atuais, foi o soneto. ria produzida. Essas três classificações básicas fixadas pela tradição englobam inúmeras categorias menores, Soneto: composição poética de 14 versos distribuídos comumente denominadas subgêneros. em dois quartetos e dois tercetos. Apresenta sempre a gênero lírico é composto, na maioria das vezes, mesma métrica usualmente, versos decassílabos ou de versos e explora a musicalidade das palavras. Entre- versos alexandrinos e rimas. Soneto significa "peque- tanto, os outros dois gêneros narrativo e dramático no som" e teria sido usado pela primeira vez por Jacopo também podem ser escritos dessa maneira, embora de Lentini, da Escola Siciliana (século XIII), e, mais tarde, na maioria dos casos se prefira a prosa. difundido por Petrarca (século XIV). Todas as modalidades literárias são influenciadas pelas personagens, pelo espaço e pelo tempo. Os gêne- GÊNERO DRAMÁTICO ros podem ser ficcionais ou não ficcionais. Os ficcionais Emgrego, dramático significa "ação". Os textos des- inventam um mundo no qual os acontecimentos ocor- se gênero são concebidos para a encenação de atores. rem coerentemente com o que se passa no enredo da Na antiguidade, os textos dramáticos podiam ser tragé- história; já os não ficcionais baseiam-se na realidade. dias ou comédias, conforme a intenção de fazer rin ou chorar, além do do protagonista, que podia ser GÊNERO LÍRICO virtuoso ou defeituoso. Essa classificação foi se amplian- Seu nome vem de lira, instrumento musical que do com o decorrer do tempo, ganhando outras temáti- acompanhava os cantos dos gregos. Por muito tempo, cas e formas de apresentação, como o auto, a farsa e a até o final da Idade Média, as poesias eram feitas para No Brasil, notabilizam-se a comédia de serem cantadas. Nas obras líricas, notamos o predomí- costumes, o teatro de revistas, o auto e experiências so- nio dos sentimentos, da emoção, o que as torna subje- ciais, como o teatro do oprimido. Atualmente, podemos tivas. eu lírico expõe o sentimento que emerge no encontrar, na literatura, os seguintes gêneros: poema. Pertencem ao gênero lírico os poemas em ge- Tragédia: representação de um fato trágico, compa- ral, destacando-se: decido, apto a suscitar compaixão e terror. Ode e hino: os dois nomes vêm da Grécia e signifi- Comédia: representação de um fato inspirado na cam canto. Ode é a poesia entusiástica, de exaltação. vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral Hino é a poesia destinada a glorificar a pátria ou dar criticando os costumes. louvores às divindades. Tragicomédia: mistura do trágico com o cômico. Origi- Elegia: é a poesia de "um canto lírico de tom tris- nalmente, significava a mistura do real com o imaginário. te". Fala de acontecimentos tristes ou da morte de alguém. O "Cântico do Calvário", de Fagundes Mistérios ou milagres: representações de trechos Varela, é, sem dúvida, a mais famosa elegia da li- bíblicos. teratura brasileira, inspirada na morte prematura Farsa: pequena peça teatral, de ridículo e de seu filho. caricatural, criticando a sociedade e seus costumes; Idílio e écloga: são poesias pastoris, bucólicas. A baseada no lema latino Ridendo mores (Rin- écloga difere do idílio por diálogo. do, castigam-se os costumes). Epitalâmio: poesia feita em homenagem às núpcias de alguém. LINGUAGENS 25</p><p>GÊNERO POÉTICO verso é a unidade básica dos poemas, mas convém perceben uma versificação tradicional e uma versificação moderna. Pela versificação tradicional, identificamos elementos importantes que conferem musicalidade, como rima, ritmo, métrica e estrofação. No século XX, disseminou-se o verso moderno, que se aproxima das estruturas frasais do nosso cotidiano. Po- demos, portanto, dizer que o verso moderno é conta- minado pela prosa. Destacam-se, assim, os chamados verso livre (sem métrica) e verso branco (sem rima). A NARRATIVA ÉPICA CLÁSSICA A palavra épos vem do grego e significa "versos" e, portanto, o gênero épico é a narrativa em versos que A NARRATIVA MODERNA: A apresenta um episódio heroico da história de um povo. TRANSFORMAÇÃO DO ÉPICO EM Na estrutura épica, temos: "ROMANCE" 1. o narrador, que conta a história praticada por outros O termo narrar vem do latim narratio e significa no passado; ato de narrar acontecimentos reais ou fictícios. Na 2. a história, a sucessão de acontecimentos: as persona- Antiguidade Clássica, os padrões literários reconheci- gens em torno das quais giram os fatos; dos eram apenas o épico, o lírico e o dramático. Com 3. o tempo, geralmente apresentado no passado; e oes- o passar dos anos, surgiu dentro do gênero épico a paço, local onde se dá a ação das personagens. variante gênero narrativo, a qual apresentou concep- ções de prosa com características diferentes, o que Nesse gênero, geralmente, há a presença de figu- fez com que surgissem divisões de outros gêneros li- ras fantasiosas que ajudam ou atrapalham o curso dos terários dentro do estilo narrativo: romance, novela, acontecimentos. Quando as ações são narradas por conto, crônica e fábula. Porém, praticamente todas versos, há o poema épico ou epopeia. Dentre as princi- as obras narrativas possuem elementos estruturais e pais epopeias, temos a e a estilísticos em comum e devem responder a questio- As obras e Odisseia são atribuídas ao poeta namentos como: o onde? por greco-romano Homero, que teria vivido por volta do quê? Vejamos a seguir: século VIII a.C. A primeira compõe a história do último Narrador: é quem narra a história, podendo ser ano da Guerra de Troia entre gregos e troianos. Quan- onisciente na terceira pessoa, observador, tem do os troianos sequestraram a princesa Helena, os conhecimento da história e das personagens, ob- gregos articularam um plano para resgatá-la, por inter- serva e conta o que está acontecendo ou aconte- médio de um grande cavalo de madeira, chamado Troia, ceu; ou personagem em primeira pessoa; narra os que foi levado à cidade de mesmo nome. fatos à medida que acontecem e participa da his- Durante a madrugada, os soldados gregos, que tória, e não pode prever o que acontecerá com as estavam dentro daquele animal madeirado, atacaram demais personagens. a cidade. é dividida em 24 cantos e é composta de versos hexâmetros dactílicos (verso composto de seis sí- Tempo: é determinado momento em que as per- labas poéticas, com sílabas variadas em uma sílaba longa e sonagens vivenciam as suas experiências e ações. duas breves), formato tradicional do período épico grego. Pode ser cronológico (um dia, um mês, dois anos) ou Essa obra influenciou a era clássica na Grécia e também psicológico de quem narra, flashback feito no Império Romano, e permanece como uma das mais im- pelo narrador). portantes de toda a literatura mundial até os dias de hoje. Espaço: lugar onde as ações acontecem e se de- A segunda obra trata do retorno dos gregos, que senvolvem. estavam em Troia, de volta à Grécia, e é focada na his- tória de Ulisses, personagem principal de Odisseia. Du- Enredo: é a trama, que está envolvido na trama que rante a viagem, Ulisses passa por diversas aventuras e precisa ser resolvido, e a sua resolução, ou seja, todo enfrenta personagens mitológicas, como o Ciclope. enredo tem início, desenvolvimento, e desfecho. 26 LINGUAGENS</p><p>Personagens: por meio das personagens, seres da O texto acima aponta para os elementos estruturais do trama, encadeiam-se os fatos que geram conflitos e gênero dramático, ou seja, teatral. Nesse sentido, con- ações. À personagem principal dá-se o nome de pro- clui-se que nesse tipo de gênero: tagonista, e pode ser uma pessoa, um animal ou um objeto inanimado, como nas fábulas. Por ter um caráter cênico, não há certa rigorosida- de no tocante a seu imbricamento com outras for- O que vimos foram os recursos que os estilos nar- mas literárias, podendo originar-se, portanto, de rativos têm em agora vejamos cada um deles e vários gêneros textuais, como romances, poesias, suas características separadamente: crônicas, lendas, dentre outros. Romance: é uma narrativa longa, geralmente divi- Os recursos utilizados no momento da apresentação dida em capítulos. Possui personagens variadas em do espetáculo cênico, como a iluminação e o som, por torno das quais acontece a história principal e tam- exemplo, apresentam uma importância mínima no bém histórias paralelas a essa; pode es- processo de interação comunicativa teatral, já que a linguagem verbal se manifesta de maneira predomi- paço e tempo variados. nante, sendo elemento fulcral da comunicação cêni- Novela: é um módulo mais compilado do romance e ca, herança das civilizações clássicas que a adotavam também mais dinâmico. É dividida em episódios con- como ponto de interação com o público. tínuos e sem interrupções. O processo de construção do espetáculo teatral Conto: é uma narrativa curta que gira em torno de não se formaliza de maneira coletiva, e sim, indivi- dual, pois esse tipo de gênero mostra-se fechado um só conflito, com poucas personagens. em sua própria encenação. Crônica: é uma narrativa breve que tem por objetivo D Corpo, performance e outras formas de manifes- comentar algo do cotidiano; é um relato pessoal do tações gestuais não apresentam importância na autor sobre determinado fato do dia a dia. comunicação teatral, uma vez que a manifestação da linguagem verbal se sobressai como base do processo de interação cênica, ao longo de toda a QUESTÕES trajetória histórica do teatro. O cenógrafo, ao construir o espaço cênico onde será apresentada a peça teatral, o faz sem se preo- cupar em fazer relação com o tema a ser desenvol- QUESTÃO 1 (INÉDITA) vido pelos atores, no ato da interpretação. Gênero dramático é aquele em que o artista usa como QUESTÃO 2 (ENEM) intermediária entre si e o público a representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e dizer ação. A Teatro do Oprimido é um método teatral que siste- peça teatral é, pois, uma composição literária destinada matiza exercícios, jogos e técnicas teatrais elabora- à apresentação por atores em um palco, atuando e dia- das pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal, recen- logando entre si. O texto dramático é complementado temente falecido, que visa à desmecanização física e pela atuação dos atores no espetáculo teatral e possui intelectual de seus praticantes. Partindo do princípio uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presen- de que a linguagem teatral não deve ser diferenciada ça de personagens que devem estar ligados com lógica da que é usada cotidianamente pelo cidadão comum uns aos outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, (oprimido), ele propõe condições práticas para que o enredo), que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras oprimido se aproprie dos meios do fazer teatral e, as- de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade sim, amplie suas possibilidades de expressão. Nesse do efeito e segundo uma ordem composta de exposição, sentido, todos podem desenvolver essa linguagem e, conflito, complicação, e 3) pela situação consequentemente, fazer teatro. Trata-se de um tea- ou ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, tro em que o espectador é convidado a substituir o sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, protagonista e a condução ou mesmo o fim da ou seja, a ideia que o (dramaturgo) deseja ou história, conforme o olhar interpretativo e contex- sua interpretação real por meio da representação. tualizado do receptor. A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973 (adaptado). Companhia Teatro do Oprimido. Disponível em: www.ctorio.org.br. Acesso em: 01 jul. 2009 (adaptado). LINGUAGENS 27</p><p>Considerando-se as características do Teatro do Opri- A o texto perde suas características de gênero poéti- mido apresentadas, conclui-se que CO ao ser vulgarizado por histórias em quadrinhos. os textos são de gêneros diferentes porque, apesar esse modelo teatral é um método tradicional de fa- da intertextualidade, foram elaborados com finali- zer teatro que usa, nas suas ações cênicas, a lingua- dades distintas. gem rebuscada e hermética falada normalmente pelo cidadão comum. o texto pertence ao gênero literário, porque as es- colhas linguísticas o tornam uma réplica do texto I. a forma de recepção desse modelo teatral se desta- ca pela separação entre atores e público, na qual os D a escolha do tema, desenvolvido por frases seme- atores representam seus personagens e a plateia caracteriza-os como pertencentes ao mes- assiste passivamente ao espetáculo. mo gênero. sua linguagem teatral pode ser democratizada e E as linguagens que constroem significados nos dois apropriada pelo cidadão comum, no sentido de pro- textos permitem classificá-los como pertencentes porcionar-lhe autonomia crítica para compreensão ao mesmo gênero. e interpretação do mundo em que vive. D o convite ao espectador para substituir o prota- QUESTÃO 4 (INÉDITA) gonista e mudan o fim da história evidencia que a proposta de Boal se aproxima das regras do teatro Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula tradicional para a preparação de atores. disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes E a metodologia teatral do Teatro do Oprimido se- da pré-história havia a pré-história da pré-história e ha- gue a concepção do teatro clássico aristotélico, via o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, que visa à desautomação física e intelectual de mas sei que o universo jamais começou. seus praticantes. [...] Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta QUESTÃO 3 (ENEM) continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Texto Se esta história não existe, passará a existir. é No meio do caminho um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca No meio do caminho tinha uma pedra vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que Tinha uma pedra no meio do caminho andam por aí aos montes. Tinha uma pedra Como eu irei dizer agora, esta história será resultado No meio do caminho tinha uma pedra [...] de uma visão gradual há dois anos e meio venho aos C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro/ poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência São Paulo: 2000. (fragmento) de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como Texto II que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo como APOSTO FICAR a morte parece dizer sobre a vida porque preciso re- gistrar os fatos antecedentes. C. A hora da Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento). AZAR UMA CORTINA NO A narrativa acima se processa de modo a se perceber o ENROLAPO NUMA CORTINA NO UMA CORTINA NUNCA UMA estado interior do narrador, perdido em suas CORTINA NO PO Nesse sentido, a elaboração da VOZ narrativa traz certa peculiaridade porque narrador A não apresenta preocupação metalinguística, DAVIS. J. Garfield, um charme de gato Trad. da Agência Internacio- uma vez que o processo de construção da narra- nal Press. Porto Alegre: 2000. tiva não impõe relevância para a compreensão A comparação entre os recursos expressivos que cons- de sua história. tituem os dois textos revela que 28 LINGUAGENS</p><p>se apresenta distante dos acontecimentos por ele especiais que o eu poético muitas vezes é capaz de narrados, indiferente ao que a ação traz em sua captar e que registra em seus poemas. essência, assim como às personagens na tessitura D eu lírico se define a partir de si mesmo, deixando da narrativa. de lado a sua criação poética, já que um dia ele es- constrói um discurso que tem importância para o tará mudo. seguimento das ações, assim como a reflexão so- E No último terceto do soneto, primeiro verso, há bre questões existenciais que afligem o narrador. aliteração da oclusiva /k/, o que sugere o ritmo da D reflete sobre a dificuldade do processo de constru- batida do coração, quando eterniza a música, a can- ção da escrita em virtude da complexidade no que ção, enquanto a assonância da vogal /a/ sugere um se refere à escolha das palavras para a construção sentimento de tristeza do eu lírico. do texto. E sugere uma discussão de cunho filosófico e metafísi- QUESTÃO 6 (ENEM) CO, elementos pouco comuns em narrativas de ficção. Primeira lição QUESTÃO 5 (INÉDITA) Os gêneros de poesia são: lírico, satírico, didático, épico, ligeiro. Motivo gênero lírico compreende o lirismo. Eu canto porque o instante existe Lirismo é a tradução de um sentimento subjetivo, sin- e a minha vida está completa. cero e pessoal. Não sou alegre nem sou triste: É a linguagem do coração, do amor. sou poeta. O lirismo é assim denominado porque em outros tempos os versos sentimentais eram declamados ao som da lira. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. O lirismo pode ser: Atravesso noites e dias a) Elegíaco, quando trata de assuntos tristes, quase no vento. sempre a morte. b) Bucólico, quando versa sobre assuntos campestres. Se desmorono ou se edifico, c) Erótico, quando versa sobre o amor. se permaneço ou me desfaço, não sei, não sei. Não sei se fico lirismo elegíaco compreende a elegia, a nênia, a en- ou passo. decha, o epitáfio e o epicédio. Elegia é uma poesia que trata de assuntos tristes. Sei que canto. E a canção é tudo. é uma poesia em homenagem a uma pessoa morta. Tem sangue eterno a asa ritmada. Era declamada junto à fogueira onde o cadáver era E um dia sei que estarei mudo: incinerado. mais nada. Endecha é uma poesia que revela as dores do coração. Epitáfio um pequeno verso gravado em pedras tumulares. Cecília. Os melhores poemas de Cecília Meireles. 11. ed. São Paulo: 1999, p. 11. Epicédio é uma poesia onde o poeta relata a vida de uma pessoa morta. De acordo com a estrutura do poema acima, conclui- A. C. São Paulo. Companhia das 2013. -se que: No poema de Ana Cristina Cesar, a relação entre as de- A A terceira estrofe apresenta a predominância do finições apresentadas e o processo de construção do eufemismo, em virtude do jogo de ideias opostas texto indica que o(a) que se processa no discurso poético. Predominantemente lírico, o poema aponta para descritivo dos versos assinala uma concep- o uso do tempo presente e indica a valorização do ção irônica de lirismo. instante, do momento, pois o que importa é a pleni- tude da vida no agora. tom explicativo e contido constitui uma forma pe- de expressão poética. instante está relacionado apenas ao tempo cro- nológico, não tendo relação com as circunstâncias seleção e o recorte do tema revelam uma visão pes- simista da criação artística. LINGUAGENS 29</p><p>D enumeração de distintas manifestações líricas pro- Nesse trecho, o que caracteriza Lições de motim como duz um efeito de impessoalidade. texto teatral? E referência a gêneros poéticos clássicos expressa a adesão do eu lírico às tradições literárias. A tom melancólico presente na cena. As perguntas retóricas da personagem. A interferência do narrador no desfecho da cena. QUESTÃO 7 (INÉDITA) D uso de rubricas para construir a ação dramática. E As analogias sobre a solidão feitas pela per sonagem. correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: es- quenta e esfria, aperta e afrouxa, sossega e depois desinquieta. que ela quer da gente é coragem. QUESTÃO 9 (ENEM) J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. Segundo quadro Uma sala da prefeitura. ambiente é modesto. Durante a No romance Grande Sertão: Veredas, o protagonista Rio- mutação, ouve-se um dobrado e vivas a Odorico, "viva o pre- baldo narra sua trajetória de jagunço. A leitura do tre- feito" etc. Estão em cena Dorotéa, Juju, Dirceu, Dulcinéa, cho permite identificar que o desabafo de Riobaldo se vigário e Odorico. Este último, à janela, discursa. aproxima de um(a) ODORICO povo sucupirano! Agoramente já inves- diário, por trazer lembranças pessoais. tido no cargo de Prefeito, aqui estou para receber a B por uma lição de moral. confirmação, a ratificação, a autenticação e por que não dizer a sagração do povo que me elegeu. notícia, por informar sobre um acontecimento. Aplausos vêm de fora. D aforismo, por uma máxima em poucas palavras. ODORICO eu prometi que meu primeiro ato como E crônica, por tratar de fatos do cotidiano. prefeito seria ordenar a construção do cemitério. Aplausos, aos quais se incorporam as personagens em cena. QUESTÃO 8 (ENEM) ODORICO (continuando o discurso:) Botando de lado os entretantos e partindo pros finalmente, é uma Lições de motim alegria poder anunciar que prafrentemente vocês já poderão morrer descansados, tranquilos e descons- DONA COTINHA É claro! Só gosta de solidão quem trangidos, na certeza de que vão ser sepultados aqui nasceu pra ser solitário. Só o solitário gosta de solidão. mesmo, nesta terra morna e cheirosa de Sucupira. E Quem vive só e não gosta da solidão não é um quem votou em mim, basta dizer isso ao padre na hora rio, é só um desacompanhado. (A reflexão escorrega da extrema-unção, que tem enterro e cova de graça, lá pro fundo da alma.) Solidão é vocação, besta de conforme o prometido. quem pensa que é sina. Por isso, tem de ser valoriza- D. bem amado. Rio de Janeiro: 2012. da. E não é qualquer um que pode ser solitário, não. Ah, mas não é mesmo! É preciso ter competência pra gênero peça teatral tem o entretenimento como uma isso. (De pedagógica, volta-se para o homem.) de suas funções. Outra função relevante do gênero, ex- É como poesia, sabe, moço? Tem de ser recitada em plícita nesse trecho de bem amado, é alta, que é pra gente sentir o gosto. (FAZ UMA PAUSA.) Você gosta de poesia? (O HOMEM A criticar satiricamente comportamento de pes- SE DEBATER. A VELHA INTERROMPE O DISCURSO soas públicas. E VOLTA A LHE DAR AS COSTAS, COMO a escassez de recursos públicos nas pre- IMPASSÍVEL. HOMEM, MAIS UMA VEZ, CANSA- feituras do interior. DO, DESISTE.) Bem, como eu ia dizendo, pra viver a falta de domínio da língua padrão em bem com a solidão temos de ser proprietários dela e eventos sociais. não inquilinos, me entende? Quem é inquilino da soli- dão não passa de um abandonado. É isso D a preocupação da plateia com a expecta- tiva de vida dos cidadãos. H. Lições de motim. Goiânia: Kelps, 2010 (adaptado). E questionar o apoio irrestrito de agentes públicos aos gestores governamentais. 30 LINGUAGENS</p><p>AULA Quinhentismo ou literatura 03 de informação e catequética A produção literária em terras brasileiras tem iní- Como a prioridade da colonização portuguesa cio em 1500, com a chegada dos portugueses no Brasil. era a exploração material e a expansão religiosa, a Não se pode falar em um período anterior a esse de li- quase totalidade de escritos do século XVI no Brasil teratura brasileira, uma vez que as populações nativas foi generalizada no termo literatura informativa, que não dominavam a linguagem escrita. Por essa razão, se concentrava em relatos de viajantes e cartas de je- de uma produção literária no Brasil, nos primór- O foco desses textos era a descrição das rique- dios do século XVI, é de escritos feitos por explo- zas naturais e potenciais da terra, gerando uma forte radores europeus que aqui estiveram, registrando suas imagem de "país do futuro" e "gigante pela própria na- impressões sobre a terra recém-descoberta. tureza" nas gerações posteriores. Mesmo que sejam diários e documentos históricos, elemento indígena também foi muito ressalta- essa produção representa as primeiras manifestações es- do no quinhentismo, principalmente pelo choque cultu- critas em território brasileiro. Como sabemos, os primeiros ral que se registrava, sobretudo, no que dizia respeito à anos da colonização ortuguesa em terras brasileiras foram catequese, em que vários aspectos culturais dos povos marcados pela ausência quase absoluta de criação literária originais foram fortemente desconsiderados em nome na colônia, pois o propósito dos navegadores era registrar, de uma hegemonia europeia. Quanto à participação de- e documentar o que por aqui observavam. cisiva dos índios nas guerras de consolidação territorial ou como mão de obra escrava, há poucos registros nos A PRODUÇÃO LITERÁRIA DO BRASIL textos do século XVI. COLONIAL AS PRIMEIRAS VISÕES SOBRE A A existência de períodos literários sempre foi de TERRA E HABITANTE NATIVO fundamental importância para a representação dos tumes e hábitos de uma sociedade, focalizando linguagem, O quinhentismo, fase da literatura brasileira do cultura e ideias do Assim, os diferentes século XVI, é denominado dessa maneira pelo fato de as movimentos e períodos literários também nos ajuda a en- manifestações literárias se iniciarem no ano de 1500, tender cada uma das eras da nossa sociedade. época da colonização portuguesa no Brasil. Assim, a literatura no Brasil nasceu e se desenvolveu como re- PAINEL HISTÓRICO-LITERÁRIO BRASILEIRO flexo da literatura portuguesa. Somente em meados do Estilo de época Panorama Panorama Datas século XVIII começa-se a sentir, nos poetas brasileiros, ou escolas literárias mundial brasileiro algo que os distingue. Quinhetismo: séc denomi- nação genérica de um conjunto Grandes Literatura de textos sobre Brasil, que Navegações Informativa 1500 evidenciam a condição Companhia de Literatura dos QUINHENTISMO (1500-1601): A brasileira de terra nova a ser Jesus conquistada. CHEGADA DOS COLONIZADORES Seicentismo ou Barroco: o E CRONISTAS ESTRANGEIROS E A Barroco literário brasileiro Contrarreforma Invasão desenvolveu-se na Portugal sob holandesa 1601 LITERATURA SOBRE BRASIL tendo como pano de fundo a domínio espanhol Grupo Bajano economia açucareira Diversos viajantes europeus que estiveram no Iluminismo Setecentismo ou Arcadismo: Revolução país durante a colonização do Brasil, no século XVI, Os principais autores estive- Ciclo da Industrial ram ligados ao movimento da Mineração Revolução registraram suas observações sobre a terra. Fizeram- em Minas Ge- Inconfidência 1768 Fracesa rais. Teve como pano de fundo Mineira -no por obrigação profissional ou motivos pessoais. Independêcnia a economia ligada à exploração Grupo Mineiro dos Estados Assim, seus textos são basicamente depoimentos e de ouro e pedras preciosas. Unidos relatos de viagem, com a finalidade de apresentar aos Período de transição: Pode-se afirmar que a turbulência Corte Portu- compatriotas um panorama do Novo Mundo. Sob a dos acontecimentos políticos Guerra guesa no RJ 1808 forma de cartas, diários, tratados ou crônicas, esses dominou a cena aponto de não Napoleônica Independência se encontrar uma única obra Regências textos informativos foram escritos principalmente por literária significativa. LINGUAGENS 31</p><p>portugueses e compõem o chamado Período de Infor- mação, Literatura de Informação ou Literatura Colo- QUESTÕES nial. O primeiro texto da época é a célebre "Carta de achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, D. Manuel I, escrita entre abril e maio de 1500, quando a frota de Cabral se preparava para dei- QUESTÃO 1 (ENEM) xar o Brasil, seguindo em direção à Missionários também estiveram no Brasil, a partir do primei- Texto ro Governo-geral. Seu objetivo principal era catequizar os indígenas que aqui habitavam, convertendo-os ao Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e cristianismo, mas seu trabalho acabou ultrapassando daí a pouco começaram a mais. E parece-me que vi- os limites religiosos e interferiu em diversos aspectos riam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos da vida colonial, particularmente com a criação de es- e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que colas. Todos esses textos apresentam aspectos literá- todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa rios e informativos, deslumbramento e fantasia em que lhes davam. [...]. Andavam todos tão bem-dispos- relação à terra, visão etnocêntrica do colonizador, tos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que perplexidade e choque cultural, sentimento nativista muito agradavam. e influência em estilos posteriores. S. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: (fragmento). A LITERATURA DE CATEQUESE Texto A chamada literatura de catequese, mais conhe- cida como literatura dos também fez parte da literatura quinhentista no Brasil. Possui caráter pu- ramente religioso e foi explorada pelos mem- bros da Companhia de Jesus que aqui desembarcaram com a intenção de os aborígenes nativos de nossa terra. A ideia central era obter mais fiéis para a Igreja Católica, uma vez que na Europa aumentava o número de adeptos à Reforma Protestante (1517). Esses religiosos, em suas missões catequéticas, eram encarregados de conduzir os indígenas dentro de uma perspectiva etnocêntrica, impondo a estes um proces- de aculturação religiosa, sempre buscando condu- zi-los para o pensamento eurocêntrico do que deveria ser tido como "certo", principalmente no que tange aos aspectos da religião cristã. Essa produção literária ti- nha o objetivo de informar aos nobres portugueses e ao rei sobre a nova terra. Isso incluía não somente as descrições do local, mas também dos sujeitos, como sua aparência, estrutura social, rituais etc. CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA DOS C. descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre tela. JESUÍTAS 199x169cm. Acesso em: 12 Jun. 2013 Literatura de caráter documental e religioso. Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta Crônicas históricas, de viagens, teatro pedagógico e de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam poesia didática. a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que Textos informativos e descritivos. Linguagem simples. a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portu- Temas cotidianos e religiosos pautados na funda- gueses em terras brasileiras e preocupa-se apenas mentação religiosa cristã. com a estética literária. 32 LINGUAGENS</p><p>a tela de Portinari retrata indígenas nus com cor- to que não têm nem entendem crença alguma, segundo pos pintados, cuja grande significação é a afirma- as aparências. portanto, se os degredados que aqui ção da arte acadêmica brasileira e a contestação de hão de ficar aprenderem bem a sua fala e eles a nossa, uma linguagem moderna. não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa a carta, como testemunho mos- Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa tra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E dos nativos. imprimir-se-á facilmente neles todo e qualquer cunho D as duas produções, embora usem linguagens dife- que lhes quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes rentes verbal e não verbal cumprem a mesma deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E função social e artística. o fato de Ele nos haver até aqui trazido, creio que não o foi sem causa. E portanto, Vossa Alteza, que tanto de- E a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um mes- seja acrescentar à santa fé católica, deve cuidar da sal- mo momento histórico, retratando a colonização. vação deles. E aprazerá Deus que com pouco trabalho seja assim. [...] Eles não lavram nem criam. Não há aqui boi ou vaca, QUESTÃO 2 (INÉDITA) cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao convívio com o homem. E A língua de que usam, por toda a costa, carece de não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, três letras; convém a saber, não se acha nela nem e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores nem coisa digna de espanto, porque assim não de si deitam. E com isto andam tais e tão rijos e tão têm Fé, nem Lei, nem Rei, e essa maneira vivem de- nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e sordenadamente, sem terem, além disto, conta, nem legumes comemos. peso, nem medida. Silvio. A carta de Pero Vaz de Caminha. M. A primeira história do Brasil. Rio de Janeiro: Porto Alegre: L&PM, 1996. Editora ZAHAR, De acordo com o texto conclui-se que cronista Pero de Magalhães Gândavo faz referência a ausência de determinadas letras no idioma dos nati- o documento acima transcrito aponta para uma vos por ele observado, a saber as letras L e R. Essa linguagem formal devido ao destinatário e, a partir percepção do colonizador aponta para de uma visão etnocêntrica do colonizador, mostra a necessidade urgente de converter os nativos ao A uma falta de conhecimento dos aspectos sociocul- catolicismo, diante da crise religiosa existente na- turais dos nativos por parte dos europeus. quele momento na Europa. a pouca inteligência dos colonizadores em não ter há um menosprezo total ao estilo de vida do abo- facilidade de experimentar o aprendizado da língua rígene, por ele ser completamente desapegado a indígena. bens materiais. a facilidade de dominação dos índios, por parte dos há, claramente, uma visão afetiva por parte do portugueses, durante a fase inicial da colonização. colonizador em relação ao povo indígena, princi- palmente no que se refere à valorização de suas D a desorganização social das tribos brasileiras, que não crenças, como se pode perceber na passagem "Pa- apresentavam uma gramática da língua indígena. rece-me gente de tal inocência que, se nós entendêsse- E uma superposição cultural e linguística da socieda- mos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto de europeia com relação à indígena. que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências." D ao exaltar o cultivo da flora por parte dos nativos, o QUESTÃO 3 (INÉDITA) colonizador, Caminha, constrói uma farta adjetiva- ção, como forma de valorizar os hábitos agrícolas E naquilo sempre mais me convenço que são como aves dos aborígenes. ou animais montesinhos, aos quais faz o an melhor pena e E o julgamento feito sobre os nativos, por parte do melhor cabelo que aos mansos, porque os seus corpos são escrivão, aponta para uma análise científica que fa- tão limpos, tão gordos e formosos, a não mais poder. [...] vorece o estudo que o colonizador tem da terra e Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendês- de seus habitantes. semos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, vis- LINGUAGENS 33</p><p>QUESTÃO 4 (INÉDITA) atingir as crianças indígenas, num processo de di- vulgação das ideias antropocêntricas. O fragmento abaixo faz parte da obra Auto de São E buscando uma libertação da influência religiosa Lourenço, de Padre Anchieta, e se trata do quinto dos o auto representa uma revolta dos ato, momento em que apresenta doze crianças na meninos índios em torno do que eles chamavam de doutrinação religiosa. procissão de São Lourenço. Assim como os outros autos de José de Anchieta, este também tem como objetivo a dilatação da fé entre os nativos indí- QUESTÃO 5 (ENEM) genas, empreendida pelos no Brasil durante o processo de colonização. Leia as estrofes abaixo e faça o que se pede. Nós confiamos em ti Lourenço santificado, que nos guardes preservados dos inimigos aqui Dos vícios já desligados nos pajés não crendo nem suas danças rituais, nem seus mágicos cuidados. [...] Em tuas mãos depositamos nosso destino Em teu amor confiamos e uns aos outros nos amamos para todo o sempre. Amém. ANCHIETA, José de. auto de São Lourenço [tradução e adaptação de Walmir Ayala] Rio de Janeiro: Ediouro[s.d.]p. 110 Considerando as estrofes acima, pronunciadas pelos meninos índios em procissão, infere-se que A. Indio Tapuia (1610 1666). ao fazer referência às danças, rituais e magias, Disponível em: www.diaadia.pr.gov.br. Acesso em: 9 Jul. 2009 praticadas pelos chefes religiosos, típicas da cul- tura indígena, concretiza-se uma afirmação da A feição deles é serem pardos, maneira d'avermelhados. cultura e dos valores dos aborígenes na letra do de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam auto jesuítico. sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa a partir de um processo de dominação cultural, so- cobrir, nem suas vergonhas. E estão acerca dis- bretudo do ponto de vista religioso, representada so com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. pela presença das crianças, percebe-se, na letra do CAMINHA, P.V.A carta. auto, o empenho das instituições católicas, como a Disponível em: www.dominiopublico.gov.br Acesso em: 12 ago. 2009. Companhia de Jesus, em empreender o trabalho de catequização, de suma importância para os ob- Ao se estabelecer uma relação entre a obra de Eckhout jetivos da Coroa Portuguesa em terras brasileiras. e o trecho do texto de Caminha, conclui-se que o texto de Anchieta faz parte da chamada Literatu- A a pintura e o texto têm uma característica em co- ra de Informação, do período quinhentista, que ti- que é o habitante das terras que nha como propósito informar à Coroa Portuguesa sofreriam processo colonizador. sobre os trabalhos catequéticos no Brasil. ambos se identificam pelas características estéti- D apresentando uma forte influência da dramartur- cas marcantes, como tristeza e melancolia, do mo- gia renascentista, o auto de Padre Anchieta busca vimento romântico das artes plásticas. 34 LINGUAGENS</p><p>o na pintura, foi fiel ao seu objeto, represen- todo pintado e manchado de preto. Os homens usavam tando-o de maneira ao passo que o texto é o cabelo cortado na frente à maneira de coroa de frade apenas fantasioso. e comprido atrás, aparado em torno do pescoço como D o texto e a pintura são baseados no contraste entre entre nós as pessoas que usam cabeleira. Ainda mais: a cultura europeia e a cultura indígena. todos tinham o lábio inferior furado ou fendido e cada E há forte direcionamento religioso no texto e na pin- qual trazia no beiço uma pedra verde e polida, como que tura, uma vez que o índio representado é objeto da engastada, do tamanho de uma moeda e podia ser tirada catequização jesuítica. ou colocada, como bem entendiam. LÉRY. Jean de. Viagem à Terra do Biblioteca do Exército 1961. QUESTÃO 6 (INÉDITA) Muitos foram os viajantes, pesquisadores, missionários que estiveram em terras brasileiras recém-descober- tas. Entre eles, o escritor e missionário Jean de Léry. VAMOS ARMAS! DOMINAR Seu livro, ao qual pertence o fragmento acima, é exem- NOVO plo de uma produção textual da época, caracterizada A pelo diário de bordo com a descrição de momentos vi- vidos durante o traslado Europa terras de América. pela preocupação com a descrição minuciosa, ao gosto do cientificismo da época do Renascimento. pela descrição dos indígenas como seres passíveis da conversão religiosa. D pelo exercício geográfico na descrição do espaço A Caravela. Belo Horizonte: Crisálida, 2000. p. 11. físico e dos seres que nele habitam. E A tira acima está relacionada à chegada e presença do pelo encantamento e descrição subjetiva dos indí- genas, motivando as narrativas fantásticas sobre o colonizador na América. Nos textos dos dois últimos "gentio". quadrinhos, o autor consegue um efeito de sentido A opondo fé e estratégia de guerra na tentativa de QUESTÃO 8 (INÉDITA) conquista do "novo mundo". estreitando ideias opostas na troca de um único fone- ma sem, no entanto, promover mudança de sentido. sugerindo, na diferença de pronúncia, a distinção QUE VOCES TRAZEM FE, ESPERANCA PARA E CONHECIMENTO! significativa entre palavras. D evidenciando, na troca de um único fonema, as for- mas distintas de colonização da América. E privilegiando a linguagem não verbal em detrimen- to dos significados e formas das palavras. ESTRANHO... JURAVA QUE ERA QUESTÃO 7 (INÉDITA) T MIGANGAS, DOENÇAS E CACHACA.. Seis homens e uma mulher não hesitaram em vin visi- tar-nos no navio para vê-lo e dar-nos as boas-vindas. Como eram os primeiros selvagens que eu via de perto, é natural que os observasse atentamente e embora os descreva minuciosamente noutro lugar, quero desde já dizer alguma coisa a seu respeito. Tanto os homens como A tira acima reproduz o encontro do branco europeu e as mulheres estavam tão nus como ao do ventre colonizador com indígenas, notadamente à época do materno, mas para parecer mais garridos tinham o corpo descobrimento do Brasil. Nesse gênero textual, são co- LINGUAGENS 35</p><p>muns flagrantes cômicos que surpreendem pelo seu ca- E Caminha coloca-se como narrador em pessoa, crítico e anedótico. Assim, é natural que revelando o objetivo de prestar conta do ocorrido, além de enfatizar que será fiel aos fatos, sem acres- da tira vale-se, do primeiro ao último quadrinho centar ou tirar nada. de uma ingenuidade por parte da figura do indígena. areflexão final do quadrinho acaba por a promes- QUESTÃO 10 (INÉDITA) sa idealizada, promovida pelo colonizador ao selvagem. o diálogo na tirinha reflete conceitos bem ao tempo E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, do encontro histórico retratado, haja vista o pensa- não lhes falece outra coisa para ser toda do que mento final do indígena. entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que D o índio mostrado na tira corresponde à imagem nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a descrita pelos viajantes e colonizadores, que escre- todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem veram sobre o Brasil em 1500. creio que, se Vossa Alteza aqui quem entre eles o humor da tira está necessariamente no espanto do mais ande, que todos serão tornados e conver- E colonizador diante do que o índio enuncia ao final. tidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; por- que já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pe- QUESTÃO 9 (INÉDITA) los dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram. Senhor: Trecho da carta de Pero Vaz de Caminha In: F.: R. História moderna através de textos. Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os São Paulo: Contexto, 2001. outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do acha- mento desta vossa terra nova, que ora nesta navegação Além de informar a Dom Manuel I sobre as terras en- se achou, não deixarei também de dar disso minha conta contradas, outros objetivos podem ser ressaltados na a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que carta de Pero Vaz de No trecho acima, para o bem contar e falar o saiba pion que todos fazer. Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa von- A os índios são caracterizados por Caminha como tade, e creia bem por certo que, para aformosean nem afear, selvagens, o que dificultaria a manipulação por não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu. meio da catequese. Trecho da carta de Pero Vaz de Caminha In: A.; Caminha ressalta o fato de que os índios não pos- BERUTTI, R. História moderna através de textos. suem uma religião, o que geraria neles o desinte- São Paulo: 2001. resse em aderir ao que estava sendo imposto pe- O texto acima é o início da carta escrita por Pero Vaz los colonos. de Caminha e enviada a Dom Manuel I, para informar percebe-se a intenção dos portugueses em colo- sobre as terras encontradas. Redigida em 1° de maio nizar os índios por meio da imposição da religião de 1500, a carta é considerada o primeiro documento católica. produzido no Brasil. Sobre texto e o contexto em que D ao mencionar a necessidade de que Dom Manuel foi escrito, é sabido que envie um padre para batizar os índios, Caminha deixa claro que os colonos têm como única missão detém-se apenas a documentar a composição física salvar os índios por meio da catequese. do território, narrando o episódio do desembarque dos portugueses na praia. E compreende-se que, tendo como objetivo maior a catequização, os colonos apresentam a cultura eu- por ser um gênero de cunho pessoal, a carta não ropeia de forma pacífica e despretensiosa. pode ser considerada para tratar da compreensão da formação da sociedade brasileira. há uma rápida descrição dos nativos, sem que seja possível a compreensão detalhada da aparência ou comportamento. D Caminha apresenta um estilo de escrita formal e cerimonioso, afastando-se totalmente dos fatos que está narrando. 36 LINGUAGENS</p><p>AULA 04 Barroco (poesia) O movimento que vamos ver agora rendeu à cul- Nesse período, as temáticas das obras literárias tura ocidental algumas das mais belas obras de arte, do Barroco foram marcadas pela angústia, dúvida, tanto plásticas quanto musicais e literárias. É o Barro- incerteza, sentidas pelo sujeito atormentado e divi- CO. A arte barroca é a expressão artística do ser huma- dido entre o mundo material, antropocêntrico, e o no no século XVII e representa, esteticamente, a dúvi- mundo espiritual, teocêntrico. Não se trata da reli- da, a angústia e as incertezas daquele tempo. giosidade apenas, mas das imagens de sofrimento da No século XVI, a Reforma Protestante ocasionou vida de Cristo, da culpa pelos pecados, do desejo de a debandada de muitos fiéis da Igreja católica, que rea- aproveitar intensamente a vida e, ao mesmo tempo, giu a essa perda tomando medidas enérgicas, como o sentir necessidade de salvar a alma, de pedir perdão ressurgimento da Inquisição. Esta poderia condenar à pelos pecados cometidos. Em termos de linguagem, morte aqueles que fossem acusados de heresia, e criou toda essa confusão resulta em uma arte rebuscada, uma lista de livros proibidos aos católicos (Index Libro- tortuosa, de difícil compreensão. assim como na rum Prohibitorum). Nesse contexto, artistas e intelec- arquitetura, na pintura e na música, a arte barroca tuais viram-se divididos entre a visão antropocêntri- foi marcada pelo excesso de detalhes, pelo acúmulo ca da existência, herança do Renascimento, e a visão de elementos que atordoam a percepção do sujeito teocêntrica, imposta pelos instrumentos da Contrar- e pelo jogo de contrastes. Na literatura, os textos se reforma. Ou seja, essas pessoas precisariam conciliar, caracterizam pelo excesso de figuras de linguagem, a fundir, na sua arte e nos seus estudos, duas perspecti- forma tortuosa, poluída e indireta de externalizar algo vas que pareciam inconciliáveis. que poderia ser dito de maneira simples e direta. Em resumo: a complexidade de sentimentos que observa- mos no conteúdo dos textos gera uma linguagem con- fusa, prolixa e rebuscada. SÍNTESE HISTÓRICA DO BARROCO Depois de várias reformas religiosas acontecerem no mundo, como a Reforma Protestante e a Revolta de Henrique VIII, a Igreja católica precisava retomar a força que tinha. Devido a isso, entre 1545 e 1563 ocorreu o Concílio de Trento, um processo de Con- trarreforma a esses movimentos. Crises religiosas: alteração de valores surgida com o fim do Renascimento. Teocentrismo versus antropocentrismo. Reforma Protestante e combate à Igreja católica. Contrarreforma e implantação da "Doutrina do Terror". Ressurgimento do Tribunal da Santa Inquisição. movimento surgiu como uma forma de às tendências humanistas, tentando reencontran a tradição cristã. Mestre Assunção de Nossa Senhora, 1823. Detalhe da obra no teto da Igreja de São Francisco de Assis (Ouro MG) LINGUAGENS 37</p><p>SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS DO Uso de comparações, paradoxos, oxímoros, BARROCO quiasmos, inversões drásticas nas frases, comparações audazes, estabelecendo uma forma contraditória, dile- mática, exacerbada, por vezes incompreensível; lingua- gem bizarra, de forte jogo verbal. Conflito carne espírito, que se processa por meio da tentativa de materializar o espírito ou espiritualizar a matéria. A mulher aparece como elemento motriz desse conflito. ALEIJADINHO. Jesus carregando a 1796-1799 Principais autores: Gregório de Matos e Padre An- CARAVAGGIO. A incredulidade de São Tomé, 1601-1603 tônio Período pós-renascimento (ideologia antropo- É necessário, porém, atentar para uma produção cêntrica e racionalista), em que a alteração de valores paralela que vinha da e que foi produ- se fez presente com a criação da Contrarreforma e a zida de forma original na colônia. Esse tipo de produção instauração da Companhia de Jesus. será observado na poética de Gregório de Matos, poe- Arte que procurava os dilemas do ser hu- ta baiano, que aponta para a ironia de todos os aspec- mano em crise espiritual. A volta à religiosidade na tos da vida colonial, principalmente os portugueses. É tentativa de eliminar a perspectiva renascentista, considerada a primeira poesia efetivamente brasileira criando assim uma busca de equilíbrio entre discre- e a primeira veia de caráter satírico de nossa literatura. pâncias ideológicas. A POESIA LÍRICA E SATÍRICA DO BARROCO É necessário as formas diferentes de BRASILEIRO atuação da arte barroca em países católicos e países protestantes. No primeiro caso, percebemos uma o "boca do inferno": entre a lira e a sátira conotação extremamente no segundo, to- Nascido na Bahia, Gregório de Matos estudou no ma-se uma direção burguesa e secular. Colégio dos formando-se em Direito, em Por- A arte de expressão da Contrarreforma. tugal, para onde foi pouco tempo após terminar os estu- dos secundários. Foi o precursor do soneto na literatura Conflito entre corpo e alma, entre os prazeres mun- brasileira, destacando-se como poeta lírico e satírico. danos e as exigências da alma. Não pode Também cultivou poemas de temática erótica e religiosa. ao carpe diem renascentista, todavia não consegue Suas poesias líricas trazem a temática do homem alcançar a tranquilidade para agir assim, pois a filo- dividido, angustiado, como bem atesta a poesia bar- sofia da Contrarreforma, antiterrena, teocêntrica, roca europeia. Nesse sentido, seus temas apontam medieval, fustiga cérebro do ser humano da épo- para a reflexão existencial, em versos que discutem a ca, oprimindo seu coração. passagem do tempo, para uma poesia marcadamente Profunda angústia existencial, que se configura por amorosa, em que a mulher surge com a dualidade de meio da busca da salvação pelo arrependimento, anjo e além de versos de cunho religioso, criando uma linguagem fortemente marcada pelo re- em que o poeta, arrependido, busca a salvação dian- buscamento e pela ornamentação formal e vocabular. te de Deus, mesmo consciente de que é um pecador. É a presença da chamada dialética, fazendo com que Assim, a sua temática lírica é marcada pelo dualismo o artista se lance aos prazeres mais radicais e em se- do Barroco, em que os valores mundanos se fundem guida se sinta culpado; o mundo, no entanto, por ser a uma forte religiosidade, marca constante em seus palpitante, leva-o novamente aos pecados da carne. versos. De modo geral, seus poemas apresentam uma predominância da linguagem cultista, assim como a Temática da passagem do tempo - a alegria da exis- temática da infinitude das coisas terrenas aparece tência, a preparação para a morte e o consequente com frequência. julgamento O tempo, nessas obras, é veloz e Por outro lado, seus versos também trazem uma avassalador, destruindo tudo com sua passagem. sátira mordaz da sociedade da época, atacando os po- Forma tumultuosa que destrói a harmonia clássica, derosos a partir de uma poesia fortemente explosiva e criando uma postura conturbada, traduzindo a oposi- agressiva, o que lhe valeu a alcunha de Boca do Inferno. ção entre os princípios renascentistas e a ética cristã, Ridicularizava e criticava os vícios e as mazelas de sua entre a lascívia dos novos tempos e a tradição medieval. época, mostrando desmandos e torpezas dos coloni- 38 LINGUAGENS</p><p>zadores e homens públicos da Bahia, políticos a O soneto de Gregório de Matos aproxima-se tematica- Igreja católica, a nobreza, padres, comerciantes mer- mente da citação: cantilistas, enfim, ninguém escapava de sua pena feri- nem mesmo os mulatos com suas Boêmio, A "Nada é duradouro como a mudança." (Ludwig Bör- Gregório de Matos vivia em grupos de amigos a tocar ne, 1786-1837) viola e recitar poesias, e tais companheiros podiam B "Não se deve indagan sobre tudo: é melhor que também ser autores e versar com ele. muitas coisas permaneçam ocultas." (Sófocles, 496-406 a.C.) "Nada é mais forte que o hábito." (Ovídio, 43 a.C.- Gregório de Matos 17 d.C.) É o principal poeta barro- D "A estrada do excesso conduz ao palácio da sabedo- CO brasileiro: ria." (William Blake, 1757-1827) Um dos fundadores da E "Todos julgam segundo a aparência, ninguém se- poesia lírica e gundo a essência." (Friedrich Schiller, 1759-1805) Foi irreverente ao os valores afalsamoral da sociedade TEXTO PARA AS QUESTÕES 2 E Denunciou as contradi- ções da sociedade baiana e criticou os mais diversos Leia com atenção o soneto abaixo, do poeta barroco grupos: governantes, fidal- Gregório de Matos e em seguida responda às ques- gos, comerciantes, escravos tões 2 e 3. Às vezes, usou linguagem de baixo Basicamente, Gregório segue três linhas: lírica, re- O todo sem a parte não é todo. ligiosa e satírica. A parte sem o todo não é parte. cultismo (gongorismo) é em suas pro- Mas se a parte o faz todo, sendo parte, duções. Não se diga que é parte, sendo todo. Em todo o Sacramento está Deus todo, E todo assiste inteiro em qualquer parte, Efeito em partes todo em toda a parte, Em qualquer parte, sempre fica todo. QUESTÕES O braço de Jesus não seja parte, Pois que feito Jesus em partes todo, Assiste cada parte em sua parte. QUESTÃO 1 (UNESP) Não se sabendo parte deste todo, Um braço que lhe acharam, sendo parte, Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Não diz as partes todas deste Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. QUESTÃO 2 (INÉDITA) Porém, se acaba Sol, por que nascia? A partir da leitura do poema, observando seus aspectos Se é tão formosa a Luz, por que não dura? formais e temáticos que o filiam à estética barroca do Como a beleza assim se transfigura? século XVII, no Brasil, conclui-se que Como o gosto da pena assim se fia? trata-se de um texto predominantemente cultista, Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, por um interminável jogo de palavras Na formosura não se dê constância, em torno da diferença entre "parte" e "todo" do sa- cramento divino. E na alegria sinta-se tristeza. B o poeta faz uma alusão à ideia do pecado e da salva- Começa o mundo enfim pela ignorância, ção, característica marcante na poesia barroca do E tem qualquer dos bens por natureza século XVII. A firmeza somente na inconstância. LINGUAGENS 39</p><p>a argumentação utilizada pelo poeta ao longo do so- XVII e XVIII. Ao a censura da moral, percebe-se neto desfaz o ideal religioso marcado pelo culto divi- que, a partir das palavras relacionadas abaixo de cada tre- no em torno da representação e do símbolo religioso. cho, a relação mais coerente entre texto e sentido é: D por meio do jogo de ideias, o poeta elabora um ra- ciocínio lógico com o intuito de mostrar a fé repre- A "[...] Estupendas usuras nos mercados, sentada pela busca sacramental do símbolo divino Todos, os que não furtam, muito pobres [...]" na terra. Trapaça E trata-se de um texto religioso do poeta, em que ele "[...] A cada canto um grande conselheiro, se volta para a angústia diante do pecado, buscan- Que nos quer governar a cabana, e vinha [...]" do a salvação pelo arrependimento. Corrupção "[...] Muitos Mulatos desavergonhados, QUESTÃO 3 (INÉDITA) Trazidos pelos pés os homens nobres [...]" Traição A ideia abordada pelo poeta na terceira estrofe pode D "[...] Não sabem governar sua cozinha, ser sintetizada no seguinte item: E podem governar o mundo inteiro.[...]" braço de Jesus não representa o todo, uma vez Infâmia que a parte só mostra um pedaço da fé. E "[...] Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, Jesus, ao ser representado pela parte, adquire va- Para a levar à Praça, e ao de todo, pois se resume em símbolo desse todo. Desonestidade Por assistir cada parte em sua parte, Jesus não pode ser feito em partes, uma vez que deve repre- QUESTÃO 5 (ENEM) sentar o todo. D Cada parte de Cristo é representado pelo todo. Quando Deus redimiu da tirania Da mão do Faraó endurecido E braço de Jesus somente pode representar uma parte de seu todo. Povo Hebreu amado, e esclarecido, Páscoa ficou da redenção o dia. QUESTÃO 4 (INÉDITA) Páscoa de flores, dia de alegria Povo foi tão afligido dia, em que por Deus foi redimido; A cada canto um grande conselheiro, Ergo sois Senhor, Deus da Bahia. Que nos quer governar a cabana, e vinha, Não sabem governar sua cozinha, Pois mandado pela alta Majestade E podem governar o mundo inteiro. Nos remiu de tão triste cativeiro, Nos livrou de tão vil calamidade. Em cada porta um frequentado olheiro, Quem pode ser senão um verdadeiro Que a vida do vizinho, e da vizinha Deus, que veio desta cidade Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, Faraó do povo brasileiro. Para a levar à Praça, e ao Terreiro. D. Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006. Muitos Mulatos desavergonhados, Trazidos pelos pés os homens nobres, Com uma elaboração de linguagem e uma visão de Posta nas palmas toda a picardia. mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por Estupendas usuras nos mercados, Todos, os que não furtam, muito pobres, visão cética sobre as relações sociais. E eis aqui a cidade da Bahia. preocupação com a identidade brasileira. Gregório de Matos crítica velada à forma de governo vigente. texto acima foi escrito no período colonial de nossa his- D reflexão sobre os dogmas do cristianismo. tória literária e versa sobre a realidade baiana dos séculos E questionamento das práticas pagãs na Bahia. 40 LINGUAGENS</p><p>QUESTÃO 6 (INÉDITA) Esse poema de Gregório de Matos é exemplo da poesia lírico-religiosa do poeta Diante da imagem do Cristo crucificado, o eu lírico revela Anjo no nome, Angélica na cara Isso é ser flor, e Anjo juntamente A medo da morte. Ser Angélica flor, e Anjo florente ironia com as imagens da fé católica. Em quem, se não em vós se uniformara? preocupação com a rápida passagem do tempo. Quem veria uma flor, que a não cortara D indiferença. De verde pé, de rama florescente? E quem um Anjo vira tão luzente E sentimento de misericórdia. Que por seu Deus, o não idolatrara? Se como Anjo sois dos meus altares QUESTÃO 8 (INÉDITA) Fôreis o meu custódio, e minha guarda Livrara eu de diabólicos azares em firme coração nascido! Mas vejo, que tão bela, e tão galharda Pranto por belos olhos derramado! Posto que os Anjos nunca dão pesares Incêndio em mares de água disfarçado! Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda Rio de neve em fogo convertido! Gregório de Matos Tu, que em um peito abrasas escondido, A poesia lírica de Gregório celebrou os amores vividos Tu, que em um rosto corres desatado, pelo poeta baiano como apresentado no poema, em que Quando fogo em cristais aprisionado, o eu lírico Quando cristal em chamas derretido. compara a amada a uma flor e a um anjo. Se és fogo como passas brandamente? Se és como queimas com porfia? declara, sem qualquer eroticidade, seu amor por Mas ai! Que andou Amor em ti prudente. uma santa. em favor de um amor puro, procura não discutir o Pois para temperar a tirania, amor carnal. Como quis, que aqui fosse a neve ardente, D foge ao materialismo amoroso e demonstra apenas Permitiu, parecesse a chama fria. o exercício da fé. Gregório de Matos E ao citar a assemelha-a a uma santa. soneto de Gregório de Matos acima compõe-se de um claro jogo de palavras muito comum no exercício QUESTÃO 7 (INÉDITA) da poesia barroca. Dessa forma, na associação suges- tiva entre ideias distintas como em "neve ardente" ou A vós correndo vou, braços sagrados, "chama fria", tem-se Nessa cruz sacrossanta descobertos Que, para receber-me, estais abertos, uma ironia. por não castigar-me, estais cravados. um paradoxo. uma A vós, divinos olhos, eclipsados De tanto sangue e lágrimas abertos, D uma hipérbole. Pois, para perdoar-me, estais despertos, um E, por não condenar-me, estais fechados. A vós, pregados pés, por não deixar-me, QUESTÃO 9 (INÉDITA) A sangue vertido, para ungir-me, A cabeça baixa, p'ra chamar-me. Lisonjeia outra vez impaciente a retenção de sua mes- ma desgraça... A lado patente, quero unir-me, Discreta e Maria, A vós, cravos preciosos, quero atar-me, Enquanto estamos vendo claramente Para ficar unido, atado e firme. Na vossa ardente vista o sol ardente, Gregório de Matos E na rosada face a Aurora fria: LINGUAGENS 41</p><p>Enquanto pois produz, enquanto cria Gregório de Matos Guerra, também conhecido como Essa esfera gentil, mina excelente Boca do Inferno, é considerado o maior poeta barroco No cabelo o metal mais reluzente, e um grande poeta satírico da literatura. Ao longo do E na boca a mais pedraria: soneto A Jesus Cristo Nosso Senhor percebe-se o uso de um vocabulário rebuscado, acompanhado do jogo de Gozai, gozai da flor da formosura, palavras. Quanto à temática, é perpassada Antes que o frio da madura idade Tronco deixe despido, que é verdura. pela valorização das ações terrenas. Que passado o Zenith da mocidade, B pela ideia de efemeridade da vida humana. Sem a noite encontrar da sepultura, É cada dia ocaso de beldade. pelo contraste pecado X arrependimento. Gregório de Matos D pelo ideal antropocêntrico. E a exaltação da figura divina. Barroco é um movimento complexo, considerado como a arte dos contrastes. O poema de Gregório de Matos, que revela características do Barroco brasilei- QUESTÃO 11 (UFPB ADAPTADA) ro, é uma espécie de tradução livre de um poema de Luís de Góngora, importante poeta espanhol do sécu- Soneto lo XVII. Fruto de sua época, o poema de Gregório de Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Matos destaca Quem mais limpo se faz, tem mais Com sua língua ao nobre o vil decepa: a regular alternância temática entre versos pares O Velhaco maior sempre tem capa. e Mostra o patife da nobreza o mapa: o contraste entre a beleza física da mulher e a reli- giosidade do poeta. Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos pode, mais increpa: o pesar pela transitoriedade da juventude e a cer- Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. teza da morte ou da velhice. D o uso de antíteses para distinguir o que é terreno e A flor baixa se inculca por Tulipa; que é espiritual na mulher. Bengala hoje na mão, ontem garlopa: E a concepção de amor que se transforma em tor- Mais isento se mostra o que mais chupa. mento da alma e do corpo do eu lírico. Para a tropa do trapo vazo a tripa, E mais não digo, porque a Musa topa. QUESTÃO 10 (INÉDITA) Em apa, epa, ipa, opa, upa. Gregório Poemas São A Jesus Cristo Nosso Senhor Paulo: Martin Claret, 2004, 55-56. Pequei, mas não porque hei pecado, Em relação aos elementos satíricos, presentes no texto, Da vossa alta clemência me despido; conclui-se que: Antes, quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. A O texto não apresenta conteúdo moralista, apesar de fazer referência às partes baixas do corpo. Se basta a vos tanto pecado, O verso "Para a tropa do trapo vazo a tripa" tra- A abrandar-vos sobeja um só gemido: duz o aspecto grotesco que fere os princípios Que a mesma culpa, que vos há ofendido, próprios da Vos tem para o perdão lisonjeado. A repetição de fonemas idênticos no verso "Para Se uma ovelha perdida já cobrada, a tropa do trapo vazo a tripa" traduz os ruídos in- Glória tal e prazer tão repentino testinais e, por isso, pode ser caracterizada como Vos deu, como afirmais na Sacra História: exemplo de sinestesia. Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, D O verso "Em apa, epa, ipa, opa, upa" substitui pala- e não queirais, Divino, vras obscenas que são permitidas pela Musa. Perder na vossa ovelha a vossa glória. E A referência às partes baixas do corpo coaduna Gregório de Matos com os princípios da sátira por utilizar um vocabu- lário vulgar. 42 LINGUAGENS</p><p>AULA 05 Barroco II (prosa) Responsável pelo desenvolvimento da prosa no Navegava Alexandre Magno em sua poderosa armada período Barroco, Padre Antônio Vieira nasceu em Lis- pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia, e como fosse boa, em 1608, e morreu na Bahia, em 1697. Veio para trazido à sua presença um pirata que por ali andava o Brasil muito novo, aos sete anos de idade, entrando roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexan- para a Companhia de Jesus. Como escritor barroco, dre de andar em tão mau ofício. Porém, ele que não embora seguindo os preceitos defendidos pela Con- era medroso nem lerdo, respondeu assim: trarreforma Protestante, engajou-se na luta em de- Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, fesa dos índios, dos judeus (aos novos cristãos que sou ladrão, e porque roubais em uma armada, sois em sua maioria eram judeus que se converteram ao imperador? Assim é. o roubar pouco é culpa, o roubar catolicismo e que se instalaram em terras tupiniquins), muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os entre outros, tendo sido condenado pela Inquisição, o piratas, o roubar com muitos faz os Alexandres. Se o que lhe rendeu uma prisão de dois anos. Atacou o des- rei da Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que fazem potismo imposto pelos colonos portugueses, em seus o ladrão e o pirata, o ladrão, o pirata e o rei, todos têm sermões, abordando, de maneira crítica, a ação nega- o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. tiva que os ideais protestantistas exerciam em nossa Fragmento do "Sermão do bom de Pe. Antônio Vieira terra, sobretudo apontando as falhas dos pregadores que não desenvolviam o papel de catequizadores, dei- xando de lado o processo de evangelização. Criticou os SERMÕES DE PADRE VIEIRA também a Inquisição, ou seja, fez ataques severos à própria atuação da Igreja católica. Em defesa dos in- Padre Vieira escreveu, aproximadamente, 200 dígenas, no que se refere à forma como os colonos todos estruturados a partir de uma grandio- agiam sobre eles, no processo de con- sa retórica, que prima pelo raciocínio lógico, em estilo denou a violência vivida por esses nativos. conceptista, ou seja, formados por um encadeamento lógico de ideias e conceitos. Apresentam três partes em suas estruturas, a saber: 1. Intróito ou exórdio: apresentação, introdução do assunto. 2. Desenvolvimento ou argumento: defesa de uma ideia com base na argumentação. 3. Peroração: parte final, conclusão. Ele apresentou excepcional domínio da língua lusitana, mesmo antes de surgir uma língua própria no Brasil. Seus temas estão relacionados à história e à política, apresentando diversos recursos expressivos e linguísticos alicerçados em forte argumentação. Em um de seus sermões mais conhecidos, o "Sermão de Santo Antônio aos peixes", o sermonis- ta denuncia a exploração dos grandes senhores do poder sobre os pequenos e humildes, conforme frag- mento abaixo: Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os prega- dores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra Charles. o Padre Antônio Vieira, 1839 porque quer que façam na terra o que faz o sal. o LINGUAGENS 43</p><p>efeito do sal é impedir a mas quando a [...] enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam. Uma pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal só cousa pudera desconsolar o Pregador, que é serem não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é gente os peixes que se não há-de converter. Mas esta porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a dor é tão ordinária que já pelo costume quase se não verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa sente [...] Suposto isto, para que procedamos com clare- salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que za, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no lhes dão, a não querem receber. primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios. [...] SERMÃO DA SEXAGÉSIMA (1655) Além desses muitos outros foram escri- Sermão da Sexagésima está dividido em dez tos e proferidos por Padre Vieira, todos voltados para a partes e versa sobre a arte de pregar. O autor de- reflexão sobre questões ligadas à Igreja e a outros pro- nuncia a falta de uma pregação atacando a blemas sociais. má atuação dos pregadores. Para tal, Vieira defende que a palavra de Deus deve ser comparada a uma se- mente a ser semeada. Porém, aqueles que deveriam a palavra de Deus acabam por QUESTÕES -la, impossibilitando que essa palavra gere frutos no plano terreno. Nesse sentido, conclui que a respon- sabilidade disso é unicamente dos pregadores, pois QUESTÃO 1 (ENEM) não cumprem sua função de forma correta. Leia um trecho do sermão: Ecce qui seminat, Diz Cristo que "saiu o pregador evangélico a semear" a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de Deus não só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: porque no dia da messe hão-nos de medir a semeadura e hão- -nos de contar os passos. [...] Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à à China, ao os que semeiam sem sair são os que se contentam com pregar na Pá- tria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semea- dura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah, Dia do Juízo! Ah, pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: semi- nare. [...] Ora, suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender a falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do ou por parte de Deus? [...] SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO (1654) Nesse sermão, com o intuito de fazer uma crítica às mazelas e aos vícios dos colonos portugueses, no que se refere à exploração, escravização e maus tratos aplicados aos nativos indígenas, o padre utiliza a Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas imagem do peixe para uma alegoria. vestes e nas feições, a escultura barroca no Brasil tem forte influência do rococó europeu e está representada 44 LINGUAGENS</p><p>aqui por um dos profetas do pátio do Santuário do Bom QUESTÃO 2 (UFPB) Jesus de Matosinho, em Congonhas (MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho. Profundamente reli- Como se pode perceber, o texto alude ao filho de Deus giosa, sua obra revela cuja missão: liberdade, representando a vida de mineiros à pro- Restringia-se à atividade de pastor, uma vez cura da salvação. que, vivendo no campo, precisava alimentar credibilidade, atendendo a encomendas dos no- ovelhas e cordeiros. bres de Minas Gerais. Voltava-se apenas para a cura de enfermos que lhe simplicidade, demonstrando compromisso com a pediam socorro. contemplação do divino. Limitava-se ao ensino de crianças, de jovens e D personalidade, modelando uma imagem sacra com de adultos. feições populares. D Resumia-se à cura das almas, catequizando os cristãos. E singularidade, esculpindo personalidades do reina- E Direcionava-se para a salvação do mundo, exercen- do nas obras divinas. do, por papel de catequizador, de médico e de vigia dos homens. TEXTO PARA AS QUESTÕES 2 A 4 QUESTÃO 3 (UFPB) Veio o Filho de Deus do céu à terra a salvar o mundo; e sempre andava acompanhado, e seguido dos mesmos No fragmento "[...] e quem era aqui que servia, ou era homens a quem veio salvar. Seguiam-no os Apóstolos, servido?" (1° parágrafo), a indagação tem propósito de: que eram doze; seguiam-no os Discípulos, que eram setenta e seguiam-no as turbas, que eram muitos a ideia de servidão dos discípulos. milhares: e quem era aqui o que servia, ou era servido? O mesmo o disse: [...]. Eu não vim a ser servido, Definir a função dos apóstolos em relação ao Senhor. senão a servir. E todos estes que me seguem e me as- Afirmar que o Senhor veio à Terra para servir e sistem, todos estes que eu vim buscar, e me buscam, eu ser servido. sou que os sirvo a e não eles a mim. D Solicitar ao público uma resposta imediata. Era Cristo mestre, era médico, era pastor, como ele E o questionamento acerca da missão do disse muitas vezes. E estes mesmos são os ofícios em Senhor na Terra. que servem aos gentios e cristãos aqueles ministros do Evangelho. São mestres porque catequizam e ensinam a grandes e pequenos, e não uma, senão duas vezes no QUESTÃO 4 (UFPB) dia; e quando o mestre está na aula ou na escola. não são os discípulos os que servem ao mestre, senão Com base na declaração do Senhor, "Eu não vim a ser mestre aos São médicos porque não só lhes servido, senão a (1° parágrafo), conclui-se que Ele: curam as almas, senão também os corpos, fazendo-lhes comer e os medicamentos e aplicando-lhes por suas Dispensava qualquer ajuda dos seus discípulos. próprias mãos às chagas, ou às doenças, por asquero- Reconhecia o seu poder, colocando-se acima de sas que sejam, e quando o médico cura os enfermos, ou seus discípulos. cura deles, não são os enfermos os que servem médi- CO, senão o médico aos enfermos. São pastores porque Admitia ser servido, uma vez que era Filho de Deus. têm cuidado de dar o pasto às ovelhas e a criação aos D Viera ao mundo para se doar aos homens, e não cordeiros, vigiando sobre todo o rebanho de dia e de para receber favores. noite: e quando o pastor assim o faz, e nisso se desve- E Sabia que os homens não tinham nada para ofe- la, não são as ovelhas as que servem ao pastor, senão o recer-lhe. pastor às ovelhas. Mas porque isto não serve aos lobos, por isso dizem que os pastores se servem. VIEIRA, Padre Sermões Sermão da Epifania ou do Evangelho VI. Org. e Coord. José Verdasca. São Paulo: Martin Claret, 2006. p. LINGUAGENS 45</p><p>QUESTÃO 5 (INÉDITA) pelos pregadores em geral, que de nada servia, ao contrário do estilo conceptista, que estava emba- sado na persuasão. SERMÃO DA SEXAGÉSIMA (excerto) E a pouca importância que tem sermão, no processo de conversão dos pecadores, uma vez Será por ventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? que esse tipo de texto em nada acrescenta, já que Um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo sua linguagem é bastante rebuscada e distante da tão encontrado a toda arte e a toda natureza? Boa razão realidade dos povos cristãos. é também esta. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso, Cristo comparou o pregar ao semear. QUESTÃO 6 (ENEM) Compara Cristo pregar ao semear, porque o é uma arte que tem mais de natureza que de arte. Já que falo contra os estilos modernos, quero alegan Em um engenho sois de Cristo crucificado por mim o estilo do mais antigo pregador que houve porque padeceis em um modo muito semelhante que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua no Mundo. E qual foi ele? O mais antigo pregador que paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros, e a houve no Mundo foi o Céu. Suposto que Céu é pre- gador, deve ter sermões e deve ter palavras. E quais vossa em um engenho é de três. Também ali não falta- são estes sermões e estas palavras do Céu? As pala- ram as canas, porque duas vezes entraram na Paixão: uma vez servindo para o cetro de escárnio, e outra vez vras são as estrelas, os sermões são a composição, a a harmonia e o curso delas. O pregar há de para a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cris- to parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia sem ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. azuleja. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e como os pregadores fazem o sermão em xadrez de famintos; Cristo em tudo maltratado, e maltratados palavras. Se de uma parte está brando, de outra há de em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os estar negro; se de uma parte está dia, de outra há de noite? Se de uma parte dizem luz, da outra hão nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imi- de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da ou- tação, que, se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio. tra hão de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar A. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951 (adaptado). sempre em fronteira com o seu contrário? Mas dir-me-eis: Padre, os pregadores de hoje não pre- O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabele- gam do Evangelho, não pregam das Sagradas Escritu- ce uma relação entre a Paixão de Cristo e ras? Pois como não pregam a palavra de Deus? Esse é o mal. Pregam palavras de Deus, mas não pregam a a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos Palavra de Deus. brasileiros. VIEIRA A. Tomo XI. Porto: Lello & 1951 a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana. Pode-se perceben que a intenção do autor nesse texto foi o sofrimento dos na conversão dos ame- valorizan o estilo usado pelos pregadores nas igre- ríndios. jas naquela época, pelo fato de não se apresentar D papel dos senhores na administração dos engenhos. dificultoso e nem mesmo afetado. E o trabalho dos escravos na produção de açúcar. atacar duramente os pregadores conceptistas, de- vido ao estilo pomposo, de difícil acesso, e aos exa- geros da ornamentação. que os exemplos ensinados por Cristo não coadunam com estilo de pregação, pois ambos são completamente incompatíveis, do ponto de vis- ta temático. D fazer alusão à Parábola do semeador, retirada do Evangelho de Lucas, para assim criticar o estilo dos religiosos, pomposo e dificultoso. O sermo- nista faz severas críticas ao estilo cultista, usado 46 LINGUAGENS</p><p>AULA Arcadismo ou 06 Neoclassicismo I pensamento, atacaram de forma constante o Absolu- tismo exercido pelos monarcas, assim como a Igreja, que também era apoiada e apoiava o mandonismo dos reis. Dessa forma, esses filósofos defenderam as prá- ticas mercantilistas e o direito ao livre mercado. Assim como as confusões do século XVII gera- ram uma literatura rebuscada e truncada, o racio- nalismo do século XVIII fez renascer uma literatura mais objetiva, direta e de ideias mais claras e sim- ples. Esse retorno à racionalidade do Renascimento pode ser observado em diversas formas de arte do período neoclássico. A poesia do século XVIII, denominada poesia árcade ou neoclássica, valorizava a simplicidade e o Nicolas. o balanço, 1730 contato constante com a natureza, na busca da paz e O Arcadismo surgiu em 1756 com a fundação da do equilíbrio. Para os poetas desse período, a nature- Arcádia Lusitana: movimento de reação ao Barroco. za se configurava como espaço de prazer, felicidade e Procurando restauran o equilíbrio na arte, o Neoclas- harmonia. Por isso, é comum encontrarmos nas poe- sicismo (como era também chamado) valorizava a har- sias desses autores referências a lugares bucólicos, monia e a simplicidade como elementos importantes campestres, em contraste com o avanço trazido pela na literatura da época, sendo uma tentativa de romper Revolução Industrial. com os rebuscamentos barrocos, assim como se opon aos ideais contrarreformistas da Igreja Católica. Assim, os poeta árcades basearam-se nos preceitos galgados no UM POUCO DE HISTÓRIA No século XVIII, toda confusão e dúvida que marcaram o ser humano no século anterior caíram por terra. A fase mais violenta da Contrarreforma parecia ter chegado ao fim. Por outro lado, o pensamento ra- cional, os estudos científicos, a ideia de que a existên- cia e a natureza podem ser compreendidas e domina- das ganham força. A racionalidade voltou a ficar em alta. Importantes cientistas e filósofos destacaram-se nesse período, como o físico Isaac Newton e os pen- sadores Descartes, Rousseau e Voltaire, filósofos iluministas. Estamos, afinal, vivendo um século dedi- cado ao mundo das ideias e do pensamento lúcido e organizado. O Século das Luzes, como ficou conheci- do, ou o período iluminista, movimento bastante inte- lectualizado, foi responsável pela base epistemológica do período conhecido como Idade Os devido ao seu caráter racionalista e de busca de valorização da liberdade de expressão e François. Um outono pastoral, 1749 LINGUAGENS 47</p><p>É por essas questões que a arte do século XVIII No Brasil, a produção literária do Arcadismo esteve se parece com a do Renascimento. Princípios clássicos nas mãos de poetas mineiros, sendo o próprio Tomás An- como equilíbrio, clareza, organização do pensamento, tônio Gonzaga um deles. Se a produção literária do século observação da natureza como medida e modelo a ser XVII, a do Barroco, esteve ligada ao Nordeste, principal- imitado voltam às artes no Século das Luzes. A natu- mente à Bahia e a Pernambuco, a do século XVIII estava, reza é o grande elemento, e cabe ao ser humano estar agora, em outro centro econômico: as cidades mineiras, nela, e entendê-la. erguidas sobre a exploração do ouro e das riquezas mi- Por outro lado, é preciso lembrar que esse é um neiras. O que não se pode esquecer é que esse cenário é século de construção de ideias e ideais políticos im- também de jovens inspirados pelas ideias pela portantes para a burguesia. É o século em que ocorre a Independência dos Estados Unidos e a consequente afir- Revolução Francesa, em 1789, cujo lema é "Liberdade, mação de direitos igualitários e construção do conceito Igualdade e Fraternidade". Esses ideais dependem de de cidadania. Eles se interessavam pela possibilidade de um mundo mais justo e igualitário. Nesse contexto, a independência do Brasil, construindo, como já estudado, literatura ganha status de propaganda política. Ela pode movimento da Inconfidência Mineira, que foi abortado ajudar a construir um mundo com valores mais finca- pelo governo em 1789. Nesse movimento participaram dos na simplicidade e menos voltados para a ostenta- importantes nomes do Arcadismo brasileiro, como Tomás ção e à riqueza, como queriam os nobres. Arcadismo, portanto, entra para a história da Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa. Literatura como o movimento de divulgação da sim- CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO OU plicidade junto à natureza. Os escritores promoviam, NEOCLASSICISMO ao longo dos versos, a descrição de cenários típicos da vida pastoril. Fingiam-se pastores cercados de ambien- O Arcadismo aborda uma forma de literatura mais tes bucólicos (naturais e harmônicos, tranquilos), eram simples, opondo-se aos exageros e rebuscamentos defensores do mundo rural, não urbano (fugere urbem), do Barroco, manifestado pela expressão latina inuti- e estavam cheios de amor e zelo pelas coisas simples lia truncat, que significa "cortar o inútil". da vida (aurea mediocritas), inspirados por modelos do As situações mais frequentes apresentam um pastor mundo clássico, greco-romano. abandonado pela amada, triste e queixoso. É a aurea mediocritas ("mediocridade que simboliza a ARCADISMO NO BRASIL valorização das coisas cotidianas, baseadas na razão. Os seus autores acreditavam que a arte era uma có- Contexto histórico pia da natureza, refletida por meio da tradição clássi- ca. Por isso há a presença da mitologia além do Decorrência da atividade mineradora: uso de expressões advindas do latim. enriquecimento das cidades. Inspirados na frase do escritor latino Horácio, fugere Surgimento de novasclasses: profissionais liberais rompimento com o dualismo urbem (fugir da cidade), e imbuídos da teoria do "bom senhor/escravo. selvagem", de Jean-Jacques Rousseau, os autores árcades voltam-se para a natureza em busca de uma Relação com a inconfidência mineira: necessidade de independência. vida simples, bucólica, pastoril, do locus amoenus (lu- gar ameno), do refúgio campestre em oposição aos centros urbanos dominados pelo Antigo Regime, pelo absolutismo Observe os versos iniciais das liras de Marília de Utilizavam também o fingimento poético, fato que Dirceu, escritos por Tomás Antônio Gonzaga. transparece no uso dos pseudônimos pastoris como forma de um quadro idealizado da vida simples Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, e aprazível. Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d'expressões grosseiro, Diante da efemeridade da vida, defendem o carpe diem, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. pelo qual o pastor, ciente da brevidade do tempo, con- Tenho próprio casal, e nele assisto; vida sua amada a aproveitar o momento presente. Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Valorização da vida no campo (bucolismo). Das brancas ovelhinhas tiro o Objetividade. E mais as finas de que me visto. Graças, Marília bela, Idealização da mulher amada. Graças à minha Estrela! 48 LINGUAGENS</p><p>AUTORES DO ARCADISMO: os Essa obra se divide oficialmente em duas partes; POETAS INCONFIDENTES embora haja uma terceira, sua autenticidade é con- testada por alguns críticos. Para além de uma declara- CLÁUDIO MANOEL DA COSTA (1729 1789): ção de amon à sua amada Marília, os versos fazem um GLAUCESTE (PSEUDÔNIMO) elogio à vida bucólica ao mesmo tempo que criticam a rotina citadina, apresentando características pastoris, que viriam a ser o ideal burguês de vida na época, o bucolismo, a simplicidade. Além de Marília de Dirceu, livro mais conhecido desse autor, Tomás Antônio Gonzaga também escre- veu versos satíricos em sua célebre obra Cartas Chile- nas, na qual atacava as arbitrariedades do governador de Minas Gerais daquele período. QUESTÕES Em sua fase inicial, o autor apresentou reflexões morais, dando destaque às contradições da vida, com TEXTO PARA AS QUESTÕES 1E2 forte inspiração nos modelos barrocos. Já em sua fase madura, chamada de fase neoclássica, sua poesia é Torno a ver-vos, ó montes; o destino manifestada a partir de uma temática bucólica e pas- Aqui me torna a nestes outeiros, toril, em que a natureza é relatada como cenário ideal Onde um tempo os gabões deixei grosseiros para o refúgio do pastor, que, vivendo longe dos cen- Pelo traje da Corte, rico e fino. tros urbanos, passa a sobre as angústias e o sofrimento amoroso. Aqui estou entre Almendro, entre Corino, A temática campestre desse autor é mostrada Os meus fiéis, meus doces companheiros, com certo formalismo dos poetas clássicos por Vendo correr os míseros vaqueiros exemplo, com o uso do soneto além de fortes Atrás de seu cansado desatino. reflexões sobre a vida, a morte, a moral, a ética e o amor. Se o bem desta choupana pode tanto, TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA (1744 1810) Que chega a mais preço, e mais valia Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto, Aqui descanse a louca fantasia, E o que até agora se tornava em pranto Se converta em afetos de alegria. Cláudio Manoel da. In: Domício Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, p. verso do soneto de Cláudio Manoel da Costa em que poeta se dirige ao seu interlocutor é: "Torno a ver-vos, ó montes; o destino" (v.1). B "Aqui estou entre Almendro, entre Corino," (v.5). Tomás Antônio Gonzaga é o autor da obra Marília "Os meus fiéis, meus doces companheiros," (v.6). de Dirceu, considerada a sua melhor e uma das mais im- D "Vendo correr os míseros vaqueiros" (v.7). portantes do Arcadismo brasileiro. Com forte influên- E "Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto," (v.11). cia autobiográfica, os versos de Marília de Dirceu fazem referência ao amor proibido entre Maria Joaquina Do- roteia Seixas e o próprio poeta, que se vê refletido nos versos como o pastor LINGUAGENS 49</p><p>No soneto de Cláudio Manuel da Costa, a contempla- QUESTÃO 2 (ENEM ADAPTADA) ção da paisagem permite ao eu lírico uma reflexão em que transparece uma Considerando soneto de Cláudio Manoel da Costa e os elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro, A angústia provocada pela sensação de solidão. pode-se concluir, acerca da relação entre o poema e o resignação diante das mudanças do meio ambiente. momento histórico de sua produção, que: dúvida existencial em face do espaço desconhecido. A Os "montes" e mencionados na primei- D intenção de recriar o passado por meio da paisagem. ra estrofe, são imagens relacionadas à ou seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com traje E empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da "rico e fino". A oposição entre a Colônia e a como QUESTÃO 4 (INÉDITA) núcleo do poema, revela uma contradição viven- ciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do Entre as imagens que seguem, a única que foge ao espí- mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da rito da cultura neoclássica do século XVIII é: terra da bucolismo presente nas imagens do poema é A elemento estético do Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta árcade em realizar uma re- presentação literária realista da vida nacional. D A relação de vantagem da "choupana" sobre a "Ci- dade", na terceira estrofe, é formulação literária que reproduz a condição histórica paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a E A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil Colônia está representada esteticamen- te no poema pela referência, na última estrofe, à transformação do pranto em alegria. QUESTÃO 3 (ENEM) SONETO VII Onde estou? Este sítio desconheço: Quem fez tão diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado; E em contemplá-lo tímido esmoreço. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado: Ali em vale um monte está mudado: by Quanto pode dos anos o progresso! Árvores aqui vi tão Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era; Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera! 50 LINGUAGENS</p>