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1 LITERATURA BRASILEIRA - VISÃO PANORÂMICA 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .................................................................................................... 2 1. VISÃO PANORÂMICA DA LITERATURA PORTUGUESA DO FINAL DO SÉCULO XIX ....................................................................................................................... 3 1.1-Realismo- Naturalismo ........................................................................................ 3 1.1.1-Contexto Histórico ........................................................................................ 3 1.1.2-Características do Realismo e do Naturalismo ............................................. 7 1.1.3Diferenças Entre Realismo e Naturalismo.................................................. 8 1.2-A Crítica Realista: Sílvio Romero, José Veríssimo. ......................................... 9 1.2.1-Sílvio Romero ........................................................................................... 9 1.2.2-José Veríssimo ....................................................................................... 11 2. SIMBOLISMO (1890-1915) ................................................................................. 13 2.1 Momentos Históricos ..................................................................................... 14 2.2 Características ............................................................................................... 17 2.3Alguns autores ................................................................................................ 18 2.3.1António Nobre .......................................................................................... 18 2.3.2Camilo de Almeida Pessanha .................................................................. 18 2.3.3Cruz e Souza ........................................................................................... 19 3. MODERNISMO: ORPHEU (1915-1927) ........................................................ 20 4. MODERNISMO: PRESENÇA (1927-1940) .................................................... 23 5. NEORREALISMO E TENDÊNCIAS ............................................................... 25 CONTEMPORÂNEAS (1939-atualidade): ............................................................... 25 5.1Características do neorrealismo ..................................................................... 26 6. EXISTENCIALISMO ....................................................................................... 28 6.1Características do existencialismo .................................................................. 29 6.2 Principais filósofos ...................................................................................... 30 7. SURREALISMO ............................................................................................. 31 REFERÊNCIAS: ...................................................................................................... 35 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho de um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de cursos de Graduação e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma entidade capaz de oferecer serviços educacionais em nível superior. O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na sua formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos científicos, técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade, transmitindo e propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de publicações e/ou outras normas de comunicação. Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura, de forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos de qualidade. 3 1. VISÃO PANORÂMICA DA LITERATURA PORTUGUESA DO FINAL DO SÉCULO XIX 1.1-Realismo- Naturalismo O Realismo e o Naturalismo surgiram inicialmente como uma reação aos excessos sentimentais do Romantismo, que já tinha saturado a cena artística europeia desde meados do século XIX. Em Portugal, o marco histórico que introduziu as ideias realistas-naturalistas foi chamado “Questão Coimbrã que, em 1865 opôs realista a românticos”. No Brasil, Realismo e Naturalismo tiveram trajetórias mais ou menos distintas: o primeiro iniciou-se com Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assim, publicado em 1881, e o segundo, no mesmo ano, com O Mulato, de Aluísio Azevedo. Panorama histórico e cultura Eça de Queirós: O crime do padre Amaro (1876); O primo Basílio (1878); O Maia (1887-88) Antero de Quental: Odes modernas (1865); Sonetos completos (1886). 1.1.1-Contexto Histórico A partir da segunda metade do século XIX, o ambiente sociocultural europeu apresenta significativas mudanças. A civilização europeia de característica burguesa, industrial e mecânica, começa a se firmar como a dominante no cenário político e econômico. As ideias de liberalismo e democracia ganham dimensões cada vez maiores. As ciências naturais desenvolvem-se e os métodos de experimentação e observação da realidade passam a ser encarados como os únicos capazes de explicar racionalmente o mundo físico. Neste período o método científico determinista e a absoluta confiança na capacidade do progresso científico dominam a cena. O desenvolvimento científico da época galvanizou a intelectualidade que, das cátedras universitárias aos bares boêmios, adere ao cientificismo e ao materialismo, opondo-se à metafísica, à religião e a tudo escapasse dos limites da matéria. 4 Algumas doutrinas científico-filosóficas da época deixaram marcas visíveis na produção literária. Hegel divulga a sua Dialética do Processo Racional, segundo a qual qualquer raciocínio pode ser lógico, desde que seja estruturado na trilogia sequencial “tese- antítese - síntese”. O Positivismo de Augusto Comte defendia a importância da Ciência para a sociedade humana. Ele concluía que a Teologia e a Metafísica poderiam ser abandonadas, já que a realidade é concreta, objetiva e lógica, o que permitia a análise lógica e experimental; mais ainda: tudo poderia ser explicado e entendido por todos. Calcado nessa teoria, Proudhon lançou as bases do pensamento socialista da igualdade. A publicação de A Origem das Espécies de Charles Darwin eliminou a aura de espiritualidade e misticismo que o idealismo romântico conferia ao ser humano, encarando- o como parte de uma grande cadeia alimentar, nivelando-o com outros seres vivos. O livro, que contou com a forte oposição da Igreja, teve um extraordinário sucesso de público, comprovando a curiosidade geral em torno do tema e das novas ideias evolucionistas. Mas a teoria filosófica que mais influência teve sobre as artes desse período foi o Determinismo de Hipólito Taine, que explicava todas as ocorrências humanas e sociais pelo condicionamento do indivíduo ao meio, à raça ou fato histórico. Por essas ideias, o homem é preso do ambiente em que vive ou viveu, ao qual se soma a hereditariedade. A partir daí, dimensiona-se o pessimismo de Schopenhauer, para quem o homem estava fadado à dor e ao sofrimento, já que a felicidade era sempre ilusória. Quando os novos ideais chegaram ao Brasil, criaram um frêmito nos meios artísticos, filosóficos e universitários. Nesse momento, alguns fatos estavam acontecendo e gerando alteração de ordem social, como a Abolição, a passagem da Monarquia à República,a chegada dos primeiros imigrantes europeus e a descoberta da Ciência pela burguesia, até então refratária a novidades. Com isso, as ideias positivas e deterministas não demoraram em seduzir um grande número de intelectuais e autores brasileiros. A realidade brasileira clamava por interpretações capazes de descobrir lhes o funcionamento contraditório de seus mecanismos fundadores. Sob uma capa de tranquilidade político-institucional, na qual os partidos funcionavam regularmente, encontrava-se um grande vazio ideológico, que tornava esses partidos indistintos entre si. 5 Ideologicamente, as elites brasileiras conseguiam a proeza de fazer conviver o ideário liberal com a defesa da Escravidão. Isso tudo criava uma tensão entre a aparência e a essência da vida nacional, que será abordada, por vezes abertamente, por vezes alegoricamente, pelos escritores do período. Aguçando nossa percepção rumo ao conhecimento acerca de mais um estilo de época, que perfizeram o cenário da Literatura Brasileira, compreenderemos, antes de tudo, que a segunda metade do século XIX foi o marco decisório para a implementação de toda uma corrente ideológica determinante nas produções artísticas da era em pauta. A Revolução Industrial, já em sua segunda fase, abriu caminhos para uma concepção humana: a estreita relação estabelecida entre o ser humano e a sociedade na qual se insere. Era notoriamente contrária à concepção romântica, cujo pressuposto voltava-se para a interiorização humana, levando-se em consideração seus aspectos subjetivos. Os avanços técnicos oriundos da Revolução resultaram, dentre outros fatores, no crescimento demográfico e, consequentemente, na “proliferação” de inúmeros problemas sociais, visto que tal classe contrapunha-se aos privilégios da burguesia, que desfrutava cada vez mais da ascensão econômica. Concomitante a isso, efervesciam as teorias científicas, nas quais a razão e a objetividade eram postas em primeiro plano, já não mais havia espaço para o sobrenatural ou a vontade subjetiva. A ciência, baseada em fatos concretos e experimentais, parecia revelar a explicação para todas as questões relacionadas ao cotidiano. Dentre tais correntes científicas emergiam importantes figuras, tais como: Augusto Comte (1789- 1857) e sua teoria condicionada ao Positivismo, cuja concepção se voltava para a constatação real e observação dos fatos por meio do experimentalismo. Comte acreditava que a finalidade do saber científico era a previsão – “saber para poder”-, como também expunha sua concepção de que uma organização que fosse formada pelos interesses coletivos poderia neutralizar os motivos de guerra e discórdia entre as nações. 6 Figura: 1 Augusto Comte (1789- 1857) Não deixando de mencionar Taine (1828-1893), que aplicou o método experimental ao comportamento do ser humano, sendo este considerado como produto da raça, do meio e do momento (contexto histórico), ora caracterizado pelo Determinismo. Charles Darwin com sua teoria evolucionista que enfatiza a competição entre as espécies, em que os organismos mais fracos tendem a serem eliminados pelos mais fortes e aptos. E, finalmente, tem-se o Marxismo, representado por Karl Marx e Friedrich Engels, que propunham uma revolução que instaurasse o comunismo em detrimento ao sistema capitalista. Mediante toda essa enumeração de fatos, resta-nos crer que a literatura não ficou aquém destes, uma vez que seus representantes partiram do pressuposto de que o indivíduo não se desvincula do meio em que vive. Sendo assim, os personagens realistas, em oposição aos românticos, são retratados segundo sua relação com o mundo que os cerca, convivendo em meio aos problemas cotidianos e rotineiros. Portanto, caracterizados conforme seu modo de ser e agir (alguns bons, corajosos, outros maus, covardes, e assim por diante). De modo a efetivarmos nossos conhecimentos em toda a sua plenitude, enfatizaremos sobre as características, os pressupostos ideológicos que nortearam toda a temática da era realista. 7 1.1.2-Características do Realismo e do Naturalismo Características do Realismo: As características do Realismo estão intimamente ligadas ao momento histórico em que se insere esse movimento literário, refletindo, dessa forma, a postura do Positivismo, do Socialismo e do Evolucionismo, com todas as suas variantes. Assim é que o objetivismo aparece como negação do subjetivismo romântico e nos mostra o homem voltado para aquilo que está diante e fora dele, o não-eu; o personalismo cede terreno ao Universalismo. O Materialismo leva à negação do sentimentalismo e da metafísica. O Nacionalismo e a volta ao passado histórico é deixado de lado; o Realismo só se preocupa com o presente, com o contemporâneo. • Veracidade: Despreza a imaginação romântica. • Contemporaneidade: Descreve a realidade, fala sobre o que está acontecendo de verdade. • Retrato fiel das personagens: Caráter, aspectos negativos da natureza humana. • Gosto pelos detalhes: Lentidão na narrativa. • Materialismo do amor: Mulher objeto de prazer/adultério. • Denúncia das injustiças sociais: mostra para toda a realidade dos fatos. • Determinismo e relação entre causa e efeito: O realista procurava uma explicação lógica para as atitudes das personagens, considerando a soma de fatores que justificasse suas ações. Na literatura naturalista, dava-se ênfase ao instinto, ao meio ambiente e à hereditariedade como forças determinantes do comportamento dos indivíduos. • Linguagem próxima à realidade: Simples, natural, clara e equilibrada. 8 1.1.3Diferenças Entre Realismo e Naturalismo A aproximação dos termos Realismo e Naturalismo são muito comuns na história da literatura. Em muitos casos eles são usados até como sinónimos. Isso ocorre porque existem muitos pontos em comum entre o romance Realista e o Naturalista. Como exemplo pode-se citar o ataque à burguesia ao clero e à monarquia. As proximidades dessas estéticas são tantas, que, muitas vezes, é difícil classificarem um autor e, até mesmo uma obra, como pertencente a essa e àquela corrente literária. Um bom exemplo é o escritor português Eça de Queirós, considerado por muitos críticos literários como sendo Realista e, por outros, como Naturalista. Apesar de toda essa proximidade, é possível encontrar algumas diferenças entre a prosa Realista e a Naturalista. O Naturalismo é fortemente influenciado pela teoria evolucionista de Charles Darwin. Por isso, vê o homem sempre pelo lado patológico. Sob essa ótica o Homem comporta-se como um animal, ou seja, não usa a razão, pois os seus instintos naturais são mais fortes. Ainda sob esse ponto de vista, o comportamento humano nada mais é do que o reflexo do meio em que o homem vive (Esse meio é composto por educação, pressão social, o próprio meio ambiente etc.). Esse homem, que ainda é subjugado (dominado moralmente, reprimido, amansado domesticado) pelo fator hereditariedade físico, está preso a um destino que ele não consegue mudar. O Naturalismo aprofunda a visão científica do Realismo, pois acredita no princípio de que somente as leis da ciência são válidas, renegando assim, qualquer tipo de visão espiritualista. Dessa forma, acredita que o comportamento do homem pode ser explicado cientificamente. Então, o escritor naturalista observa o seu personagem muito de perto, buscando conhecer as causas desse comportamento para chegar ao conhecimento objetivo dos fatos e das situações. A temática também é um dos pontos em que há diferenças significativas entre o Naturalismo e o Realismo. Os autores Naturalistas, sempre por meio de uma análise rigorosa do meio social e de aspectos patológicos, trazem para sua obra temas como a miséria, a criminalidade e os problemas relacionados ao sexo como o adultério e o homossexualismo, tanto femininocomo masculino. Esses temas são abordados sempre por meio de personagens que representam os grupos marginalizados da sociedade. 9 Em face de tudo o que foi exposto pode-se dizer que todo o Naturalista é Realista, porém, nem todo o Realista é Naturalista. Pode-se dizer ainda que o Naturalismo é um prolongamento do Realismo, só que mais intenso em determinadas características. 1.2-A Crítica Realista: Sílvio Romero, José Veríssimo. Neste tópico estudaremos acerca de dois dos principais críticos da Literatura Brasileira do final do século XIX, começo do século XX: Sílvio Romero e José Veríssimo e por meio de suas obras teremos uma visão da época acerca da Literatura Brasileira. 1.2.1-Sílvio Romero Figura: 2 Escritor, político, historiador e folclorista brasileiro, Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero nasceu a 21 de Abril de 1851, em Lagarto, no Estado do Ceará (Brasil). Em 1863, partiu para o Rio de Janeiro, onde realizou os estudos preparatórios no Ateneu Fluminense. Em 1968, foi para Nordeste, matriculando-se na Faculdade de Direito do Recife, onde foi colega de Tobias Barreto e de Araripe Júnior. Nessa altura, para além de colaborar como ensaísta e poeta para jornais pernambucanos como A Crença, Americano, Correio de Pernambuco e Movimento, Sílvio Romero fundou um grupo de jovens intelectuais que procuravam renovar o pensamento filosófico brasileiro. 10 Licenciado em 1873, foi promotor da comarca de Estância (em Sergipe) e, um ano depois, a deputado pela Assembleia Provincial de Sergipe, renunciando logo ao cargo. Ainda, em 1873, defendeu a tese de doutoramento em Direito. Em 1875, foi para o Rio de Janeiro e, em seguida, foi designado juiz municipal de Parati. Em 1979, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, onde colaborou com vários jornais, como O Repórter, no qual cri ticou figuras políticas. No ano seguinte, obteve a cadeira de Filosofia no Colégio Pedro II com a tese Interpretação Filosófica dos Fatos Históricos e, em 1910, jubilou-se. Foi também docente na Faculdade Livre de Direito e na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Em 1898, foi eleito deputado federal por Sergipe. Evidenciou-se como relator do Projeto de Código Civil, defendendo, então, muitas das suas ideias filosóficas e, em 1911, foi para Minas Gerais, exercendo o cargo de Juiz de Fora. Sílvio Romero, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, escreveu vários livros dos quais se destacam: Cantos do Fim do Século (1878), Introdução à História da Literatura Brasileira (1882), Contos Populares do Brasil (1885), Etnografia Brasileira (1888), Ensaios de Filosofia do Direito (1895), Ensaios de Sociologia e Literatura (1901), Provocações e Debates (1910), entre outros. O escritor foi também um pesquisador bibliográfico sério e minucioso que contribuiu grandemente para a historiografia literária brasileira. Sílvio Romero, José Veríssimo e Araripe Júnior constituíram uma trindade crítica da época naturalista, marcada pelo evolucionismo e pela doutrina determinista de Taine. Para, além disso, foi precursor da sociologia brasileira, ao adotar o método monográfico de Frédéric Le-Play (1806- 1882), ao criticar o monocausalismo em ciências sociais e ao influenciar a sociologia de Francisco José de Oliveira Vianna (1883-1951). Sílvio Romero faleceu a 18 de Julho de 1914, no Rio de Janeiro. 11 1.2.2-José Veríssimo Figura: 3 José Veríssimo (J. V. Dias de Matos), jornalista, professor, educador, crítico e historiador literário, nasceu em Óbidos, PA, em 8 de abril de 1857, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 2 de dezembro de 1916. Compareceu a todas as reuniões preparatórias da instalação da Academia Brasileira de Letras. Escolheu por patrono João Francisco Lisboa, e é o fundador da Cadeira nº 18. Em 1880, viajou pela Europa. Em Lisboa, tomando parte de um Congresso Literário Internacional, defendeu brilhantemente os escritores brasileiros, que vinham sendo severamente censurados, vítimas de injúrias feitas pelos interessados na permanência do livro brasileiro na retaguarda da literatura no Brasil. Voltou à Europa em 1889, indo tomar parte, em Paris, no X Congresso de Antropologia e Arqueologia Pré-Histórica, quando fez uma comunicação sobre o homem de Marajó e a antiga história da civilização amazônica. Sobre a rica Amazônia são também os ensaios sociológicos que escreveu nessa época, Cenas da vida amazônica (1886) e A Amazônia (1892). De volta ao Pará, foi nomeado diretor da Instrução Pública (1880-91). Em 1891, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde retornou ao magistério, tendo sido professor na Escola Normal (atual Instituto da Educação) e no Ginásio Nacional (atual Colégio Pedro II), dos quais foi também diretor. Interrompera os seus trabalhos de sociologia e de história, ainda no Pará, para fixar-se na crítica e na história literária, atividade a que ele se dedicou mais intensamente no Rio de Janeiro. Criada a pasta da educação pública, logo após a proclamação da República, o seu primeiro ministro, Benjamin Constant, procedeu a reforma do sistema geral de ensino público. José Veríssimo discutiu, no Jornal do Brasil no primeiro semestre de 1892, as 12 reformas introduzidas, delas fazendo uma crítica magistral, que depois ele acresceu como Introdução da 2ª edição (1906) de seu livro A educação nacional. Referido sempre como o fundador da Revista Brasileira, José Veríssimo na verdade dirigiu a sua terceira fase. A terceira Revista Brasileira começa em 1895 e vai até 1889, completando vinte volumes em cinco anos. Veríssimo teve o dom de agremiar toda a literatura nacional na Revista. Prestigiada pelos mais eminentes amigos de José Veríssimo: Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Visconde de Taunay, Lúcio de Mendonça, entre outros. Em 1912, tendo a Academia aceitada a candidatura de Lauro Müller, ministro das Relações Exteriores, político e não homem de letras, e que foi eleito por 22 votos para a vaga do Barão do Rio Branco, derrotando o conde de Ramiz Galvão, Veríssimo sentiu desfazer-se a ilusão com que sonhara ao fundar-se uma instituição em que se recebessem exclusivamente expoentes da literatura e, desgostoso, afastou-se da Academia. Nunca mais manteve qualquer relação com a casa que ajudara a fundar. Como escritor, a sua obra é das mais notáveis, destacando-se os vários estudos sociológicos, históricos e econômicos sobre a Amazônia e as suas séries de história e crítica literárias. Na Introdução à sua História da literatura brasileira tem-se uma primeira revelação de todas as vicissitudes por que havia de passar uma literatura que se nutriu por muito tempo da tradição, do espírito e de fórmulas de outras literaturas, principalmente do que lhe vinha de Portugal e da França. José Veríssimo constitui com Araripe Júnior e Sílvio Romero a trindade crítica da era naturalista, influenciada pelo evolucionismo e pela doutrina determinista de Taine; mas seus pontos de vista e processos eram diferentes. Araripe Júnior, mais independente intelectualmente, com mais sensibilidade artística e mais estilo, mostrou até onde ia sua ligação com Taine, de cuja doutrina aceitava mais o fator meio, diferentemente de Sílvio Romero, que enfatizou a raça e foi um metodizador e um inovador, ao aplicar os seus doutrinas científicas a muitos dos fatos da nossa literatura, coordenando-os sobre uma base de doutrina social e demonstrando o que existia de mais ou menos organicamente ativo no desenvolvimento da nossa história literária. A crítica de José Veríssimo, por sua vez, é penetrada de um constante espírito de equilíbrio e de ordem, a que ele juntava, não raro, um pensamento filosófico e moral para enriquecê-la de uma autoridade maior, reforçando o crítico no educador. Fazia do 13 racionalismo lógico a sua força capital, achando que “criticar é compreender”,e não se enredar no cientificismo que tanto empolgou os outros críticos do seu tempo. Para ele, na crítica literária vê-se um pouco como na história: o livro, o “fato literário” em si, não é tudo para o crítico, e não basta realçar dele apenas o mais visível dos seus meios de expressão; é preciso alcançá-lo nas suas implicações menos aparentes de ordem filosófica, estética ou social, para bem situá-lo como razão de ser da literatura. Acima de tudo ressalta da sua obra o cunho nacionalista, que ele procurou rastrear desde o início da literatura brasileira, na obra de poetas e ficcionistas nos quais soube detectar o sentimento de brasilidade. Foi ele que, ao seu tempo, chegou à mais íntima comunicação com o espírito e a obra de Machado de Assis, notando o quanto ele trazia, pelo romance, pelo conto, pela própria poesia, de original e único para a literatura brasileira. 2. SIMBOLISMO (1890-1915) Na Europa, por volta de 1870, as ciências positivistas e materialistas vão perdendo terreno, vão se tornando impotentes. Surge, então, uma nova forma de encarar o mundo. Há uma conscientização de que o positivismo e o materialismo já não podem mais explicar os ―mistérios‖ da realidade. Ao lado dos valores materiais retornam as verdades espirituais adormecidas: a Fé, as verdades do sentimento e do inconsciente. A última década do século XIX caracteriza- se pelo triunfo do espiritualismo, do nacionalismo e do individualismo sobre o materialismo e o positivismo. O Simbolismo corresponde, na Arte, a este movimento de ideias que se opõe ao objetivismo realista. O Simbolismo, corrente literária (mais especificamente poética) que se afirma entre 1890 e 1915, definem-se por um conjunto de aspectos variáveis de autor para autor. Há quem defina o simbolismo como uma busca obstinada da verdade metafísica que tem como instrumento de descoberta o símbolo. Diz Mallarmé – mestre do Simbolismo francês – que os parnasianos buscam descrever as coisas, enquanto que o sonho está em sugeri-las. A visão simbolista consiste no envolvimento entre o eu e as coisas. Essa misteriosa relação entre o estado de espírito do poeta e o mundo não pode ser descrita, apenas sugerida. 14 Origem O Simbolismo nasceu na França e teve como os mais autênticos representantes Mallamé e Verlaine. Esses poetas abandonam os princípios da escola realista e parnasiana e dedicam-se ao ―culto do etéreo, do subjetivo, do obscuro, do vago, do sugestivo‖; rejeitam o mito da precisão descritiva; para eles, a palavra poética deve antes sugerir que dominar. Pré-simbolismo • Sob a influência de Baudelaire, a partir de 1866, é possível falar de um pré Simbolismo em Portugal: • Folhetins em prosa poética publicados por Eça de Queirós e depois reunidos sobre o título Prosa Bárbaro; • A poesia Responso (1874), de Cesário Verde; • Quatro sonetos de Gomes Leal, O visionário ou som e cor, no livro Claridades do Sul (1875); • As Líricas e Bucólicas (1884), de Antônio Feijó. Coube a Eugênio de Castro a introdução do Simbolismo em Portugal, com o lançamento de Oaristos – coletânea de poemas, prefaciado pelo autor. As primeiras manifestações em favor dessa nova corrente em Portugal ligam-se a duas revistas coimbrãs rivais: Os Insubmissos e Boêmia Nova (1889). O movimento simbolista estendeu-se até 1915, ano que marca o inicio do Modernismo em Portugal. 2.1 Momentos Históricos O simbolismo dividiu com aquele estilo o espaço cultural europeu entre o final do século XIX e o início do século XX. O período que vai de 1890 a 1915 é marcado por inúmeras tendências literárias e filosóficas, representando, no geral, a superação das teses centrais divulgadas pela geração de 70. Aliás, muitos autores realistas já não endossam mais aquelas ideias radicais , como se pode ver pelo modo como Antero de Quental e Eça 15 de Queirós , por exemplo, reveem suas posições intelectuais. Surgem movimentos renovadores de cunho antimaterialista e antipositivista. A filosofia do espírito ressurge e ideias nacionalistas começam a ganhar terreno na literatura. Cumpre destacar que a agitação política contra a monarquia tornava-se cada vez mais intensa, vindo a culminar , em 1910 , com a instauração da república. O movimento nacionalista vinha, pois, fomentar a exaltação de valores nacionais e, se por vezes pecou por um sentimentalismo excessivo, constituiu um fator importante na restauração psicológica de uma sociedade em crise. Sobre essa renovação espiritual, assim se manifesta o crítico Antônio Soares Amora: “O movimento de reabilitação do” espírito foi mais longo; sem cogitar de p6or em dúvida as verdades e as possibilidades cognoscentes das ciências positivas, no que respeita a matéria, impôs a convicção de que as verdades sobre o mundo exterior, afirmadas por todas as manifestações da espiritualidade do homem, não são menos verdades que as apura a inteligência com métodos científicos. Deste modo, reabilitaram-se as verdades do idealismo, as verdades morais e sentimentos, as verdades da imaginação, as verdades do subconsciente, enfim, as verdades da alma, que nos dão a realidade objetiva com uma natureza e com uma significação muito diferente de tudo o que nos oferece o racionalismo científico e materialista. ‖. A esse ressurgir da filosofia do espírito e do nacionalismo, se junta à reação ao Realismo com a proposta de uma literatura mais c\voltada para as forças interiores do homem, para sua dimensão psicológica e transcendental, beirando o místico e o irracional. Essa tendência literária recebeu influência direta do Simbolismo francês, que em 1886 já lançara suas bases. Contudo, vemos que, em Portugal, esse período de 1890 a 1915, ainda que receba o nome geral de Simbolismo, está longe de esgotar-se apenas nessa direção. Para melhor o compreendermos, temos que ter presente a de intermediários para as novas posições que serão assumidas a partir da década de 20, inaugurando o Modernismo. No Brasil, esse início se seu com a publicação, no mesmo ano (1893), dos livros Missal e Broqueis, de autoria de Cruz e Souza, nosso melhor poeta simbolista. Nos dois países (Portugal / Brasil), considera-se geralmente que o início dos respectivos movimentos modernistas representou o surgimento de novas alternativas literárias: 1915, em Portugal e 1922, no Brasil. a crítica literária brasileira por vezes opta 16 pela escolha do ano de 1902 para demarcar o fim da era parnasiano-simbolista, porque foi então que se deu a publicação do livro Os sertões, de Euclides da Cunha, representativo de uma nova preocupação social que, ausente nos estilos anteriores, passaria a dominar a literatura nacional. A Poesia Contrariamente aos preceitos realistas, a poesia do Simbolismo valorizou o subjetivismo e o inconsciente, tornando-se um meio de sondagem do mundo interior do "eu" lírico. Essa introspecção gerou caminhos diversos nos muitos poetas simbolistas, levando tanto a um intimismo saudosista, à expressão dos desencontros da vida como à angústia diante do destino e da morte. Na linguagem, os simbolistas abandonaram o vocabulário filosófico dos realistas e utilizaram-se abundantemente das metáforas inusitadas, dos termos “sugestivos, das analogias, das sinestesias”. Ao tom incisivo do Realismo opuseram a musicalidade, mais adequada à expressão dos vários matizes da vida psicológica. Essas características subjetivas, que, por vezes, deságuam num sentimentalismo de mau gosto, marcaram também a prosa da época. Dentre os numerosos poetas de tendências simbolistas, devem ser mencionados Camilo Pessanha, Eugênio de Castro (cuja obra O aristos assinala , em 1890 , o início do Simbolismo português), Antônio Nobre, Florbela Espanca e Teixeira de Pascoaes. A prosa de ficção Embora as características típicas do Simbolismo privilegiassem a poesia como meio de expressãomais adequado, a prosa também foi bastante cultivada nesse período e, ainda que com menor intensidade, revela influências do subjetivismo e do espiritualismo dominante nos poetas. Sem deixar de considerar o contexto social, os ficcionistas, entretanto, analisaram suas personagens de modo bem mais pessoal e introspectivo do que o fizeram os realistas. Mergulhando no interior do ser humano, daí extraiu dramas de consciência e angústias existenciais que geraram páginas de grande densidade psicológica, traço que vai influenciar a geração dos prosadores modernos. A linguagem ganha em plasticidade e, não raro, os limites entre prosa e poesia não serão facilmente identificados em obras de autores dessa época, dentre os quais merecem citação Raul Brandão, Teixeira Gomes, Carlos Malheiro Dias, Antero de Figueiredo, entre outros. 17 Outros gêneros O teatro não acompanhou a riqueza da prosa e da poesia, e daqueles que se dedicaram a escrever obras para o palco, o único que se tornou mais conhecido foi Júlio Dantas (1876-1962) e, mesmo assim, em função apenas de uma obra sentimental: A Ceia dos cardeais, de 1902. Por outro lado, a cultura portuguesa viu-se enriquecida com o surgimento de uma geração de críticos e historiadores importantes, como Antônio Sérgio e Fidelino de Figueiredo. 2.2 Características A literatura simbolista surgiu, em parte, como reação ao espírito racionalista e cientificista do Realismo-Naturalismo e do Parnasianismo. Nesse sentido, seguindo correntes filosóficas e artísticas de sua época, negou o poder absoluto de explicação do mundo que se atribuía àquele espírito, fundamentando sua arte na rejeição do racionalismo e do cientificismo. O espiritismo funcionava, assim, como forma de abordagem de um mundo que se supunha existir para além da realidade visível e concreta. No Brasil, o vocabulário litúrgico (isto é, repleto de referências a celebrações religiosas) foi largamente usado como expressão dessa espiritualidade. Os objetos, as figuras humanas, enfim toda a realidade era focalizada através de imagens vagas e imprecisas, que propositadamente dificultavam sua compreensão e interpretação. A inovação na combinação de expressões conhecidas conduziu naturalmente os simbolistas à criação de neologismos, isto é, novas palavras. Os procedimentos técnicos mais ligados ao Simbolismo são a sinestesia e a musicalidade. A sinestesia corresponde à mistura de sensações, provocada exatamente para acionar no leitor uma série de sentidos: “Tardes como músicas de violinos (Emiliano Perneta)”. 18 A musicalidade é obtida com a exploração da camada sonora dos vocábulos. A poesia desenvolveu, desde o final da época trovadoresca, formas particulares de obtenção da sonoridade, que sempre foram utilizadas. A musicalidade está presente na estética simbolista em dois procedimentos básicos: a aliteração (repetição de consoantes: “Fujamos flor! à flor destes floridos fenos. Eugênio de Castro”). E a assonância (repetição de vogais: "amarguras do fundo das sepulturas"- Cruz e Souza). 2.3Alguns autores 2.3.1António Nobre António Pereira Nobre (Porto, 16 de Agosto de 1867 — Foz do Douro, 18 de Março de 1900), mais conhecido como António Nobre, foi um poeta português cuja obra se insere nas correntes ultrarromânticas, simbolista, decadentista e saudosista (interessada na ressurgência dos valores pátrios) da geração finissecular do século XIX português. A sua principal obra, Só (Paris, 1892), é marcada pela lamentação e nostalgia, imbuída de subjetivismo, mas simultaneamente suavizada pela presença de um fio de auto ironia e com a rotura com a estrutura formal do género poético em que se insere traduzida na utilização do discurso coloquial e na diversificação estrófica e rítmica dos poemas. Apesar de a sua produção poética mostrar uma clara influência de Almeida Garrett e de Júlio Dinis, ela insere-se decididamente nos cânones do simbolismo francês. A sua principal contribuição para o simbolismo lusófono foi a introdução da alternância entre o vocabulário refinado dos simbolistas e outro mais coloquial, reflexo da sua infância junto do povo nortenho. Faleceu com apenas 33 anos de idade, após uma prolongada luta contra a tuberculose pulmonar. 2.3.2Camilo de Almeida Pessanha Nasceu no dia 7 de setembro de 1867 na cidade de Coimbra em Portugal. Após formar-se em Direito foi para Macau, na China, onde exerceu a função de Professor. Acometido de Tuberculose e, segundo alguns estudiosos, viciado em ópio, o que contribuía 19 para o agravamento da doença, retornou várias vezes para Portugal para tratar da sua saúde. Essas viagens de pouco valeram, uma vez que o poeta faleceu em 1º de março de 1926 em Macau. Camilo Pessanha que é, sem sombra de dúvidas, o maior e mais autêntico poeta Simbolista português foi fortemente influenciado pela poesia do poeta francês Verlaine. Sua poesia, que influenciou vários poetas modernistas, como por exemplo, Fernando Pessoa, mostra o mundo sob a ótica da ilusão, da dor e do pessimismo. O exílio do mundo e a desilusão em relação à Pátria também estão presentes em sua obra e passam a impressão de desintegração do seu ser. A sua obra mais famosa é " Clepsidra", relógio de água, que contém poemas com musicalidade marcante e temas até certo ponto dramáticos. 2.3.3Cruz e Souza João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Filho de escravos alforriados pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa, seria acolhido pelo Marechal e sua esposa como o filho que não tinham. Foi educado na melhor escola secundária da região, mas com a morte dos protetores foi obrigado a largar os estudos e trabalhar. Sofre uma série de perseguições raciais, culminando com a proibição de assumir o cargo de promotor público em Laguna, por ser negro. Em 1890 vai para o Rio de Janeiro, onde entra em contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Colabora em alguns jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de Missal e Broquéis (1893), só consegue arrumar um emprego miserável na Estrada de Ferro Central. Casa-se com Gavita, também negra, com quem tem quatro filhos, dois dos quais vêm a falecer. Sua mulher enlouquece e passa vários períodos em hospitais psiquiátricos. O poeta contrai tuberculose e vai para a cidade mineira de Sítio se tratar. Morre aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão. 20 3. MODERNISMO: ORPHEU (1915-1927) Assim como o modernismo no Brasil, o modernismo em Portugal foi fruto das novas concepções estéticas que circulavam na Europa no início do século XX. Irreverente, contestador e anárquico, romperam com os padrões até então vigentes ao propor uma nova linguagem, absolutamente diferente daquela adotada pelos poetas românticos e simbolistas. Estendeu-se até o final do Estado Novo, na década de 70, e contou com importantes nomes, entre eles Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Irene Lisboa, Miguel Torga, entre outros, que representaram as quatro vertentes do modernismo: o Orfismo, o Presencialismo, o Neorrealismo e o Surrealismo. Orfismo (1915-1927): corresponde à primeira fase do modernismo português. Recebeu esse nome por causa da revista Orpheu, primeiro publicação a divulgar os ideais modernistas e as tendências culturais que circulavam na Europa no início do século XX. Foi fundada em 1915 por um grupo de escritores e artistas plásticos, entre eles Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal, Luís de Montalvor, Almada Negreiros e o brasileiro Ronald de Carvalho. Os orfistas tinham como objetivo chocar a burguesia ao apresentar uma poesia livre da métrica e inserir a literatura portuguesa no contexto cultural europeu, que àquela época estava sob forte influência das tendências futuristas.Embora tenha desaparecido precocemente (foram publicadas apenas duas edições), a revista Orpheu deixou uma enorme herança cultural, influenciando novos artistas, assim como o surgimento de novas publicações. 21 Figura: 4 Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros foram os principais representantes do Orfismo, primeira fase do modernismo português. Presencialismo ou Presencismo (1927–1940): O segundo momento modernista recebeu esse nome por causa da revista literária Presença, cujo primeiro exemplar foi publicado no ano de 1927. Fortemente influenciada pela revista Orpheu, a publicação foi a principal responsável por divulgar e dar continuidade às ideias modernistas, embora seus representantes tenham defendido uma literatura mais intimista, voltada para a introspecção e para o experimentalismo. O grupo encerrou suas atividades no ano de 1940, quando o mundo ainda vivia sob as tensões provocadas pela Segunda Guerra Mundial. Seus principais representantes foram José Régio, Adolfo Rocha, João Gaspar Simões, Miguel Torga, Irene Lisboa, entre outros. 22 Figura: 5 José Régio, Miguel Torga e Irene Lisboa foram os principais representantes do Presencialismo, segunda fase do modernismo português. Neorrealismo (1940-1974): surgiu em um conturbado contexto histórico-social. A Europa sofria com as consequências de uma forte crise econômica, com a tirania de regimes totalitários e também com a constante tensão provocada pela Segunda Guerra Mundial. Seus principais representantes foram Alves Redol, Manuel da Fonseca, Afonso Ribeiro, Joaquim Namorado, Mário Dionísio, Vergílio Ferreira, Fernando Namora, Mário Braga, Soeiro Pereira Gomes ou Carlos de Oliveira, entre outros. O neorrealismo teceu duras críticas ao individualismo e ao esteticismo — temas caros ao Presencialismo — e divulgou na literatura o pensamento marxista e a forte rejeição ao socialismo utópico. As revistas Seara Nova, Sol Nascente e o Diabo foram responsáveis por divulgar a estética neorrealista em Portugal. 23 Figura: 6 Alves Redol, Vergílio Ferreira e Fernando Namora estão entre os principais representantes do Neorrealismo português. 4. MODERNISMO: PRESENÇA (1927-1940) O Presencismo, movimento literário português cuja designação e ideário estão vinculados à revista Presença, foi fundado em Coimbra pelos então estudantes José Régio, João Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca e Adolfo Correia da Rocha. Posteriormente, outros nomes juntaram-se ao grupo, entre eles o escritor Adolfo Casais Monteiro, que, após a saída de Fonseca e Rocha (que então passaria a utilizar o pseudônimo de Miguel Torga), passou a integrar o corpo diretivo da revista. Ao apresentar o propósito de isenção ideológica e aceitar em suas colunas colaboradoras de qualquer credo político, religioso e moral, a revista Presença gerou polêmica, pois, de acordo com intelectuais contrários à estética do Presencismo, tal atitude significava um retrocesso em relação ao modernismo órfico, cuja principal característica era a defesa de uma arte engajada. Os presencistas defendiam um ideal de arte que muito lembrava a “arte pela arte”, conceito primordial da literatura produzida no século XIX. Contraditoriamente, buscavam atrelar o seu ideário às linhas avançadas da modernidade, espelhando-se nas correntes revolucionárias que eclodiram na Europa após a Primeira Guerra Mundial. 24 Nomes como Proust, Max Jacob, André Breton, Reverdy, Jean Cocteau, André Gide, Dostoiévski, entre outros, influenciaram a criação de uma literatura introspectiva e intimista, próxima das teorias do inconsciente humano defendidas por Sigmund Freud e distante da literatura de ênfase social que tanto norteou a estética orfista. Esse distanciamento rendeu ao Presencismo o incômodo rótulo de “literatura alienada”, alheia à crise política, social e econômica enfrentada pela Europa àquela época. Identidade Matei a lua e o luar difuso. Quero os versos de ferro e de cimento. E em vez de rimas, uso As consonâncias que há no sofrimento. Universal e aberto, o meu instinto acode A todo o coração que se debate aflito. E luta como sabe e como pode: Dá beleza e sentido a cada grito. Mas como as inscrições nas penedias Têm maior duração, Gasto as horas e os dias A endurecer a forma da emoção. Miguel Torga O Presencismo associou-se a uma concepção de arte metafísica e abstrata na qual a subjetividade era mais importante do que a verdade objetiva ou racional, esse último conceito presente na literatura orfista. Guardadas as diferenças ideológicas, os escritores presencistas reconheciam a importância do Orfismo para a ampliação do panorama cultural português e para a ruptura definitiva com a tradição simbolista vigente. Divulgar as conquistas da primeira geração e consolidar o modernismo em Portugal foi a principal contribuição do Presencismo, estética que vigorou até o ano de 1940, mesmo ano em que a revista Presença deixou de circular e no mesmo momento em que o Neorrealismo ganhou lugar no gosto do público. 25 Figura: 7 Primeira edição da revista Presença, fundada em Coimbra e publicada no dia 10 de março de 1927. 5. NEORREALISMO E TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS (1939-atualidade): O Neorrealismo (novo realismo) designa uma corrente artística moderna de vanguarda, que surgiu nas primeiras décadas do século XX nas áreas da pintura, literatura, música e cinema. Corrente ideológica das artes com influência socialista, comunista e marxista, o Neorrealismo ocorreu em diversos países europeus, bem como teve influência no Brasil. Seu nome já indica sua principal caraterística, ou seja, o realismo. Dessa maneira, os artistas neorrealistas estavam empenhados em criar uma arte voltada para a realidade, e, portanto, às questões sociais, culturais, políticas e econômicas pelo qual passava a sociedade. 26 O termo “Realismo Social” foi proferido pela primeira vez, pelo escritor e ativista russo Máximo Gorki (1868-1936) em 1934, durante o “Primeiro Congresso dos Escritores Soviéticos”. 5.1Características do neorrealismo Veja abaixo as principais características da arte neorrealista: • Anticapitalismo, marxismo e psicanálise; • Realismo social; • Arte de vanguarda; • Temática social, econômica, histórica e regional; • Luta de classes (burguesia e proletariado); • Estilo como elemento estético; • Objetividade e simplicidade; • Linguagem popular, coloquial e regional; • Repúdio às formas tradicionais; • Vulgarização de personagens. Neorrealismo Francês 27 Figura: 8 Cena do filme A Grande Ilusão (1937) de Jean Renoir Chamado de "Realismo Poético", esse estilo artístico foi destaque no cinema francês a partir de 1930. Os cineastas estavam inclinados em criar produções inovadoras calcadas em temas sociais e humanos, cujas obras estavam repletas de sátiras, humor e o pessimismo gerado no período entre as duas grandes guerras. O Realismo Poético representou um movimento de vanguarda, crítico e revolucionário, o qual procurava denunciar os conflitos e as desigualdades sociais vigentes. Com isso, o cinema francês adquire uma abordagem distinta durante os anos 30 e 40, com a inclusão de gravações fora dos estúdios que apresentavam histórias com personagens de classe populares. Os diretores franceses mais importantes do realismo poético foram: • René Clair e a obra “Sob os telhados de Paris” (1930); • Jean Vigo e sua película “O Atalante” (1934); • Julien Duvivier e o filme “O Demônio da Algéria” (1937); • Jean Renoir com “A Grande Ilusão” (1937); 28 • Marcel Carné e a obra “O Boulevard do Crime” (1945). Neorrealismo Italiano Inspirado no Realismo Poético francês, o neorrealismo italiano representou um movimento cultural e artístico que despontou na décadade 40 na Itália, mais precisamente após a segunda guerra mundial (1945). O país passava por uma grande crise após a grande guerra mediada pela desestruturação social, política e econômica. Diante disso, o neorrealismo italiano buscou na simplicidade uma estética e técnicas cinematográficas inovadoras. Explorou temas cotidianos, da realidade social e econômica por meio de diversas criações cinematográficas, inclusive do gênero documental (documentários). Merecem destaque os diretores de cinema: • Roberto Rosselini e seu filme “Roma, Cidade Aberta” (1945); • Vittorio De Sica e sua película “Ladrões de Bicicleta” (1948); • Luchino Visconti com o filme “A Terra Treme” (1948). 6. EXISTENCIALISMO O existencialismo popularizou-se após a Segunda Grande Guerra. É no contexto de uma Paris destruída que essa corrente de pensamento foi associada ao nome de Jean- Paul Sartre. Trata-se de um equívoco, entretanto, assumir que esse pensador é o inaugurador desse novo olhar sobre o mundo e o ser humano. A fonte de inspiração da existência como problema filosófico encontra-se em Martin Heidegger, que por sua vez, foi influenciado por Friedrich Nietzsche e Soren Kierkegaard. Embora esses pensadores tenham elaborado explicações distintas, suas reflexões iniciaram-se baseadas no ser humano em sua concretude. Maurice Merleau-Ponty, por exemplo, enfatizou a centralidade do corpo em Fenomenologia da percepção (1945), sendo sua ausência inconcebível. Nessa obra, as 29 questões foram pensadas com base na vida em seus aspectos concretos, e temas como a angústia, a responsabilidade e a liberdade começaram a ser enfatizados. Figura: 9 Jean-Paul Sartre é um dos nomes mais famosos do existencialismo. 6.1Características do existencialismo A base da proposta existencialista é analisar o ser humano em seu todo e não dividido em aspectos internos (sua mente, cognição e sentimentos) e externos (seu corpo, comportamento e ações). Embora tenhamos semelhanças com outros seres e alguns objetos, a consciência que temos das nossas ações e do mundo ao nosso redor é peculiar. Não poderíamos, assim, tentar entender o ser humano do mesmo modo que compreendemos os demais seres e objetos do mundo. A existência não é algo que se possa meramente classificar ou mensurar, pois é um desdobramento ou acontecimento que não se deixa compreender a não ser sendo um indivíduo. Encontramo-nos em uma situação na qual o que somos não está predeterminado, mas é antes resultado das nossas ações. Coloca-se em questão, assim, o propósito do ser humano em um mundo que não é como deseja ou tenha escolhido. Essa situação, que consiste geralmente na percepção de uma limitação, é o que gera o sentimento de ansiedade. As ações passam a ser entendidas como resultados 30 unicamente de escolhas e não como reações ou reflexos das situações nas quais alguém se encontra. 6.2 Principais filósofos A radicalidade da tomada de consciência de si e do mundo é um dos principais motivos pelo qual o existencialismo continua sendo uma corrente de pensamento relevante e que possibilitou desdobramentos em muitas áreas do conhecimento. Soren Kierkegaard é apontado por muitos como o primeiro filósofo a colocar o indivíduo como ser singular no centro da reflexão filosófica. Essa temática surge em suas abordagens do conflito entre questões morais e religiosas, nas quais usa frequentemente a figura do personagem bíblico Abraão, indicando limitações nas perspectivas racionalistas em oferecer respostas. Figura: 10 Soren Kierkegaard é visto como o precursor do existencialismo. 31 Martin Heidegger reorientou a visão contemporânea sobre o problema do ser ao propor que a pergunta pelo ser só pode ser colocada por dasein (o “ser-aí”) ou o homem que existe no mundo. Só o ser humano existe efetivamente, uma vez que os demais seres e objetos apenas são. É a investigação sobre essa pergunta que evidencia o caráter existencialista de seu pensamento em Ser e tempo (1927). Sartre é mundialmente conhecido por sua afirmação de que a existência precede a essência, significando que só se pode entender o ser humano com base em suas ações no mundo. Conhecido por uma conferência intitulada O existencialismo é um humanismo (1946), que continha noções posteriormente revisadas e abandonadas, sua grande obra é O ser e o nada, publicada em 1943. 7. SURREALISMO O surrealismo foi um movimento artístico e literário nascido em Paris na década de 1920, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo no período entre as duas grandes Guerras Mundiais. Fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas do psicólogo Sigmund Freud (1856-1939), o surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa. Um dos seus objetivos foi produzir uma arte que, segundo o movimento, estava sendo destruída pelo racionalismo. O poeta e crítico André Breton (1896- 1966) era o principal líder e mentor deste movimento. Encontramos artistas como: René Magritte, Salvador Dalí, Miro, Max Ernest. Características - Influência da arte metafísica de Giorgio de Chirico, em que sombras são projetadas dentro da pintura provenientes de objetos externos; 32 Figura: 11 Giorgio de chirico - Onirismo e exploração do imaginário (onirismo = sonhos). Salvador Dalí foi o pioneiro em pintura onírica, tornando um processo marcante no surrealismo; Figura: 12 Salvador Dalí - Automatismo psíquico (inspiração nos processos do inconsciente, com menos racionalidade); 33 - Atmosfera de estranhamento, cenas pictóricas que não são retiradas do mundo “real” de observações, mas sim dos sonhos ou de processos internos; Figura: 13 Salvador Dalí - Cenas envolvendo fetiches e desejos voltados a impulsos primitivos (sexo, violência e morte); - Realizavam experiências de alteração da percepção com drogas, hipnoses, sessões espíritas; Figura: 14 Rene Magritte - Simultaneidade da forma, formas híbridas e muitas vezes formas com mais de uma imagem; - Influenciados pelas teorias freudianas sobre o inconsciente; 34 Figura: 15 “Persistência da memória“ (Salvador Dalí) - Pintada em 2 horas. Dalí se inspirou ao ver um queijo derretendo na mesa. A obra Persistência da memória, com os famosos relógios derretidos, representa a teoria do universo curvo de Einstein no qual o tempo é relativo. Ela mostra a passagem do tempo, os medos internos de Dalí como o seu temor pelas formigas, por exemplo, elementos retirados predominantemente de um medo e reflexão interna. 35 REFERÊNCIAS: BELLEZI, Clenir. O Pré-Modernismo. São Paulo Escala, 2005. BUENO, Alexei. O Pré-Modernismo. São Paulo, Global, 2006. MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira: O Simbolismo [Notadamente a segunda parte: Bélle Époque].SãoPaulo,Cultrix,vol.3,1985. ORTEGA Y GASSET, José. Meditação da técnica. Tradução de Luís Washington Vita. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1963. SEVCENKO, Nicolau. Literatura Como Missão. São Paulo, Cia das Letras, 2003.