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<p>PROFESSORES</p><p>Me. Crístian Rodrigues Tenório</p><p>Me. Felipe Pereira de Melo</p><p>Criminologia</p><p>ACESSE AQUI O SEU</p><p>LIVRO NA VERSÃO</p><p>DIGITAL!</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15243</p><p>EXPEDIENTE</p><p>Coordenador(a) de Conteúdo</p><p>Renata Cristina Souza Chatalov</p><p>Projeto Gráfico e Capa</p><p>André Morais, Arthur Cantareli e</p><p>Matheus Silva</p><p>Editoração</p><p>Dario Mercado</p><p>Design Educacional</p><p>Vanessa Graciele Tiburcio</p><p>Curadoria</p><p>Carla Fernanda Marek</p><p>Revisão Textual</p><p>Gabriele Dassi</p><p>Ilustração</p><p>André Luis Azevedo da Silva</p><p>Fotos</p><p>Shutterstock</p><p>DIREÇÃO UNICESUMAR</p><p>NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA</p><p>Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia</p><p>Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de</p><p>Design Educacional Paula R. dos Santos Ferreira Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas</p><p>Thuinie M.Vilela Daros Head de Recursos Digitais e Multimídia Fernanda S. de Oliveira Mello Gerência de</p><p>Planejamento Jislaine C. da Silva Gerência de Design Educacional Guilherme G. Leal Clauman Gerência de Tecnologia</p><p>Educacional Marcio A. Wecker Gerência de Produção Digital e Recursos Educacionais Digitais Diogo R. Garcia</p><p>Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Supervisora de Design Educacional e Curadoria Indiara Beltrame</p><p>Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de</p><p>Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino</p><p>de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi</p><p>NEAD - Núcleo de Educação a Distância</p><p>Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná</p><p>www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360</p><p>Impresso por:</p><p>Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679</p><p>C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.</p><p>Núcleo de Educação a Distância. MELO, Felipe Pereira de;</p><p>TENÓRIO, Crístian Rodrigues.</p><p>Criminologia.Crístian Rodrigues Tenório. Felipe Pereira de</p><p>Melo.</p><p>Maringá - PR: Unicesumar, 2022. Reimpresso em 2023.</p><p>144 p.</p><p>ISBN 978-65-5615-993-5</p><p>“Graduação - EaD”.</p><p>1. Criminologia 2. Direito 3. Sistema Penitenciário. 4. EaD.</p><p>I. Título.</p><p>CDD - 22 ed. 345</p><p>FICHA CATALOGRÁFICA</p><p>02511245</p><p>Professor Me. Felipe Pereira de Melo</p><p>Doutorando em Engenharia e Gestão do Conhecimento</p><p>pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC (2022).</p><p>Mestre em Gestão do Conhecimento nas Organizações</p><p>pela Universidade Cesumar - UniCesumar (2021). Pesqui-</p><p>sador CAPES (2019-2021); Possui Especialização em Ges-</p><p>tão Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa</p><p>(UEPG) (2022). Especialização em Inteligência Competitiva</p><p>e Contrainteligência Corporativa pela Faculdade Unyleya</p><p>(2019). Especialização em Ciências Criminais pela Pontifí-</p><p>cia Universidade Católica de Minas Gerais; Especialização</p><p>em Inteligência Policial pela Faculdade Unyleya (2017);</p><p>Especialização em Neuropsicologia pela Faculdade Inter-</p><p>nacional de Curitiba. Possui graduação em Direito pelas</p><p>Faculdades Integradas Santa Cruz De Curitiba, graduação</p><p>em História pelo Centro Universitário Campos de Andra-</p><p>de. Graduando em Administração pelo Centro Universitá-</p><p>rio Ingá – Uningá (2021). Foi Policial Militar no Estado do</p><p>Paraná de 2010 a 2014. É Professor da Escola Superior</p><p>de Polícia Civil do Paraná desde o ano de 2017; professor</p><p>de Gestão da Informação do Ministério da Justiça e Se-</p><p>gurança Pública do curso de Unidades Especializadas de</p><p>Fronteira desde 2019. Foi orientador de pós-graduação da</p><p>UniCesumar (2021-2022). É professor de Direito da UniCe-</p><p>sumar desde o ano de 2021 e Investigador de Polícia pela</p><p>Polícia Civil do Paraná desde o ano de 2014.</p><p>Currículo lattes:</p><p>http://lattes.cnpq.br/8799481757900318</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15069</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11563</p><p>Crístian Rodrigues Tenório</p><p>Advogado e professor, entusiasta do diálogo entre Direito</p><p>e Sociedade através das artes, Crístian Rodrigues Tenório</p><p>(Maringá, 1977) é também músico (filiado à Ordem dos</p><p>Músicos do Brasil), toca piano (popular) e escaleta (solo</p><p>e de acompanhamento). Foi, durante muito tempo, crí-</p><p>tico de cinema da Rádio Universitária (106.9) e até hoje</p><p>escreve e participa de lives a respeito de cinema (even-</p><p>tualmente participa do podcast Ponto Cego). Além disso,</p><p>conserva, desde os tempos da juventude, o skate como</p><p>forma de prática desportiva e distração. Casado, mora</p><p>em Londrina atualmente, onde exerce a advocacia e a</p><p>docência superior – sem perder contato com quadras de</p><p>futsal e pistas de skate. E continua tocando músicas entre</p><p>uma leitura e outra.</p><p>Curriculo lates:</p><p>http://lattes.cnpq.br/8462242045198676</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15070</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/13168</p><p>Independentemente da localidade em que esteja, você, estudante, diariamente se de-</p><p>para com inúmeros acontecimentos nos quais são noticiadas a prática de crimes, seja</p><p>de furtos, de roubos, de homicídios, de estelionatos etc. Imediatamente, seu senso</p><p>moral reprova ou aceita tais violações, e fornece o julgamento dos acusados de forma</p><p>pessoal. Mas afinal de contas, por que alguém comete um crime?</p><p>Esta pergunta célebre traz em seu histórico a base do estudo da criminologia. Tal</p><p>questionamento criminológico influenciou na sistemática busca para estudar o com-</p><p>portamento da pessoa e do infrator. Ela trouxe ao debate a perspectiva de que o crime</p><p>não é um ente natural, e que o conceito de proibido é relativo e variável, a depender</p><p>da época, da cultura social, dentre outros.</p><p>Pare e pense comigo, matar é uma ação condenável aos olhos da sociedade? Pro-</p><p>vavelmente, com uma base jurídica mínima, você tenderá a responder “depende”. É</p><p>exatamente esta perspectiva que buscamos, afinal de contas, qual o contexto em que</p><p>estamos falando? Como se deu a ação? Estamos em estado de guerra? O próprio Esta-</p><p>do é quem realizou a ação? Repare que a provocação é despertar em você, estudante,</p><p>uma problemática em que as respostas não são meramente esboçadas, mas sim de</p><p>enorme complexidade variável.</p><p>Ao pensarmos em complexidade, estamos engajados na “teoria do pensamento com-</p><p>plexo” de Edgar Morin, na qual se procura compreender como um sistema transdisciplinar</p><p>dos fenômenos, abandonando por completo a concepção reducionista (MORIN, 2001).</p><p>No que diz respeito ao desenvolvimento histórico, Salo de Carvalho (2015) consi-</p><p>dera que as ciências criminais do final do Século XIX, de forma abrangente, foram as</p><p>responsáveis pelo surgimento da criminologia, à qual reivindicou para si a perspectiva</p><p>científica do estudo do crime e da criminalidade.</p><p>Dentre os inúmeros conceitos existentes para criminologia, Pablos de Molina (1990)</p><p>defende se tratar de uma ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa de estudar o</p><p>crime, o agressor, a vítima e o controle social do comportamento delitivo. Desta forma,</p><p>há um rompimento com o biologismo positivista, trazendo ao contexto a influência</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>sociológica do indivíduo, compreendendo de uma forma ampla e abrangente os fato-</p><p>res e condicionantes. Molina ainda considera que “O Direito Penal, assim entendido,</p><p>em suas relações com a criminologia, não só ‘delimita’ seu objeto, senão também que</p><p>‘limita’ as pretensões de qualquer política criminal de substrato empírico” (2002, p. 164).</p><p>Rogério Greco (2015), no que diz respeito ainda à conceituação, entende como um</p><p>instrumento de análise do comportamento delitivo, debruçando-se sobre suas origens,</p><p>motivos, a determinação sobre o quê, quando e como se punir, buscando soluções</p><p>para que a incidência de infrações penais diminua na sociedade. O autor defende ainda</p><p>que “O estudo do criminólogo, na verdade, não se limita ao comportamento delitivo</p><p>em si, visto que vai mais longe, procurando descobrir sua gênese, retrocedendo, como</p><p>um historiador do crime, em busca das suas possíveis causas.”</p><p>pela educação,</p><p>combate à fome e distribuição de renda não é de hoje, como se faz entender</p><p>sempre em períodos de eleição, nos discursos de programas de TV ou blogs na</p><p>internet de tendências populistas. Para se fixar à atualidade do pensamento de</p><p>Roberto Lyra, tudo pode se resumir da seguinte maneira:</p><p>45</p><p>a) Numa sociedade dividida entre classes a lei e a estrutura penal, policial, se</p><p>forma a partir da defesa e proteção de uma classe favorecida contra outra</p><p>ou outras menos privilegiadas;</p><p>b) As causas mais importantes da criminalidade são sociais;</p><p>c) Os delitos mais relevantes (importantes, que mais incomodam a sociedade)</p><p>não nascem a partir de falhas da sociedade, e, sim, da má organização desta;</p><p>d) A responsabilidade criminal deve se basear na periculosidade do indiví-</p><p>duo, não em sua condição social ou no próprio delito cometido;</p><p>e) As penas devem pressupor a defesa da sociedade e das pessoas. (VIANA,</p><p>2018, p. 128).</p><p>Os críticos ao pensamento de Lyra não primam por destacar as ideias, mas apenas</p><p>a matiz ideológica (socialista) da base e do miolo de seu pensamento. Ademais,</p><p>seu discurso criminológico se apresenta mais coerente, de fato, nos dias atuais,</p><p>com a virtualização do crime e da própria sociedade. Todavia, como já escreve-</p><p>ra Foucault, “a transformação do sistema penal não é apenas uma história dos</p><p>corpos, e sim, mais precisamente, de uma história das relações de poder político</p><p>e os corpos” (FOUCAULT, 2021, p. 280). Não se pode pensar criminologia, no</p><p>Brasil ou em qualquer lugar do mundo, apenas a partir das pessoas, mas se deve</p><p>considerar também as relações de poder.</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Título: Cidade de Deus</p><p>Ano: 2002</p><p>Sinopse: O filme, dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund, retra-</p><p>ta três décadas de crescimento da comunidade de Cidade de Deus</p><p>(RJ) através de personagens que enveredam pelo crime numa teia de ambi-</p><p>ção, lealdade e traições. A produção é célebre mundialmente e baseada no</p><p>livro de Paulo Lins.</p><p>Comentário: Para esta Unidade, é interessante assisti-lo por conta da visão</p><p>social de como, em meio a um mesmo ambiente, mulheres e homens cres-</p><p>cem aderindo à violência ou se afastando dela. Apesar das críticas à época</p><p>de glamourização do crime e da pobreza, o filme sempre é lembrado na lista</p><p>das produções mais importantes do cinema mundial no início do século XXI.</p><p>UNIDADE 2</p><p>UNIDADE 2</p><p>46</p><p>Há, no mundo moderno (há bastante tempo o problema/questão dos rótulos</p><p>sociais), símbolos (em discursos, usos de adjetivos) que resumem pessoas e seus</p><p>“papéis” na sociedade. Como é de se esperar, a complexidade do mundo não é</p><p>um fenômeno da internet ou somente do séc. XX. Desde a eletricidade e o motor</p><p>a vapor (séc. XIX), as ciências, a economia e as mudanças aceleraram no mundo,</p><p>e não dão demonstração de redução de velocidade. Qualquer sociedade diferen-</p><p>ciada encontrará formas distintas de cozinhar, expressar-se artisticamente, jogar,</p><p>vestir-se, enfim, agir (SCHECAIRA, 2020, p. 285).</p><p>Logo, por mais que a ansiedade pelas redes sociais exponha diversas socie-</p><p>dades dentro da uma mesma, o fenômeno de tribos urbanas, microculturas ou</p><p>subculturas já era percebido há pelo menos cinco décadas.</p><p>“ Já a partir da década de 80 do século XX, e mais pronunciadamente no</p><p>decênio posterior, verificar-se-á um processo acelerado de mudanças</p><p>que passa pela criação de um novo paradigma da sociedade. É o fenô-</p><p>meno da chamada globalização, que entra na pauta das grandes dis-</p><p>cussões sociais e culturais da atualidade. (SCHECAIRA, 2020, p. 277).</p><p>47</p><p>Nos anos de 1950, nos Estados Unidos, começaram estudos a respeito de como</p><p>a cultura ou fatores culturais influenciavam a juventude em direção à crimina-</p><p>lidade. Como no Brasil do séc. XXI, em que se observa uma constante patrulha</p><p>a vídeos de influencers de danças e músicas, 60 anos antes já se antevia que o</p><p>choque de gerações e culturas poderia render discussões sobre influência cultural</p><p>e crime, dado que “o choque entre a cultura e a estrutura social, que não fornecia</p><p>as condições de acesso aos bens sociais para todos, cria uma espécie de desilusão</p><p>em relação ao sistema de vida americano” (SCHECAIRA, 2020, p. 283).</p><p>Dos noticiários aos vídeos de WhatsApp, o conteúdo consumido pelo brasileiro</p><p>em relação a crimes (podcasts, séries, documentários, telenovelas) dá a impressão de</p><p>que se vive numa sociedade afogada em delitos para todos os lados. Por isso, a cultu-</p><p>ra, as subculturas e quaisquer manifestações de pensamento e arte – sem discussões</p><p>estéticas e de preferência –, não podem escapar da análise criminológica. Dado que:</p><p>“ Neste quadro, a criminologia parece não poder estar alheia a esta cul-</p><p>tura saturada de imagens do crime e do medo do crime. Se a mudança</p><p>nas formas das violências implica em mudança nos seus significados,</p><p>o olhar curioso do pesquisador deve suscitar alteração nos rumos</p><p>dos saberes que abordam tais fenômenos. (CARVALHO, 2018, p. 70)</p><p>As culturas do hip-hop, do funk, do próprio samba, manifestam uma realidade de</p><p>delitos, sonhos e vidas interrompidas em suas letras. As pessoas em geral apresen-</p><p>tam um preconceito com determinadas canções, danças e grupos, pois são direta-</p><p>mente ligadas a uma cultura de violência e crime – que se funde aos locais de mo-</p><p>radia, à cor da pele, às vestimentas, gerando um processo de rotulação e preconceito</p><p>difícil de ser desconstruído no imaginário popular corrente. Este fato faz com que:</p><p>“ Assim, a constituição das subculturas criminais representa a reação</p><p>necessária de algumas minorias altamente desfavorecidas diante</p><p>da exigência de sobreviver, de orientar-se dentro de uma estrutura</p><p>social, apesar das limitadíssimas possibilidades legítimas de atuar.</p><p>(SCHECAIRA, 2020, p. 284)</p><p>Não é apenas o videogame e os jogos on-line – a juventude é exposta como de-</p><p>linquente, e há um fascínio por parte da sociedade de não entender as razões que</p><p>UNIDADE 2</p><p>UNIDADE 2</p><p>48</p><p>levam jovens à criminalidade, mas apenas a exposição de suas vidas e corpos para</p><p>o escrutínio moral da sociedade. Os meios de comunicação neste campo têm um</p><p>grande contributo, ao que se destaca não apenas a TV e rádio convencionais, e,</p><p>hoje em dia, pouco acessados pela população mais jovem. Ainda podem ser adi-</p><p>cionados a essa conta a internet, redes sociais e canais de comunicação que agre-</p><p>gam fóruns; pessoas que se juntam em comunidades para troca de experiências, e,</p><p>muitas vezes, ataques a outras comunidades. Também os meios de comunicação</p><p>de massa, os efeitos envolventes e persuasivos de programas jornalísticos sobre</p><p>violência, filmes com muitas mortes e programas de TV e rádio com grande</p><p>realismo em mostrar a violência, podem fazer sentir sua influência no campo da</p><p>criminalidade juvenil (SCHECAIRA, 2020, p. 287).</p><p>Como se isto não bastasse, há quem fale em censura às artes. Mas, na verda-</p><p>de, uma ação efetiva que evitaria problemas futuros é a classificação etária para</p><p>shows, espetáculos, programas de TV, limitação de acessos à internet etc. Haja</p><p>vista que “os estudiosos estão de acordo em concluir que existem poucas dúvidas</p><p>de que a violência transmitida pela TV, principalmente por meio de filmes, seja</p><p>capaz de induzir a imitação da agressividade nas crianças e adolescentes, ainda</p><p>mais do que nos adultos” (SCHECAIRA, 2020, p. 287). Com isso, a proteção à</p><p>juventude é, sim, fator determinante para se baixar os índices de criminalidade</p><p>na sociedade, e uma das ações mais importantes é limitar o acesso a conteúdos</p><p>impróprios para o nível geral de maturidade de determinado público.</p><p>Nos anos 1980, os estudos de segurança pública apontavam preocupações</p><p>com gangues em bairros (não importando a classe econômica dos membros das</p><p>associações). Uma delinquência vazia, por assim dizer, que despertava precon-</p><p>ceitos (como o rock e o movimento punk em grandes cidades brasileiras) e ações</p><p>policiais em bairros onde havia reuniões desses grupos a noite. Fato que, embora</p><p>reunidos e praticando pequenos delitos, estes grupos pouco apresentavam uma</p><p>ameaça, de fato, à segurança pública.</p><p>O que se notava era que “muitas subtra-</p><p>ções de grupos juvenis, as chamadas gangues, nem sempre têm essa motivação</p><p>racional. Ao contrário, não têm qualquer motivação. São não utilitárias. Alguns</p><p>jovens furtam roupas que não serão vestidas e brinquedos que não serão usados.”</p><p>(SCHECAIRA, 2020, p. 288). Um desvio de comportamento passageiro e pouco</p><p>influente numa relação de criminalidade crescente em intensidade e volume.</p><p>Como tudo que impacta a sociedade é retratado ao sabor dos órgãos de im-</p><p>prensa, não demoraria para se notar uma criminalização de movimentos sociais,</p><p>49</p><p>de manifestações estudantis, de qualquer demanda da juventude que ganhasse</p><p>as ruas. Mesmo nos protestos de 2013 no Brasil, notou-se severa cobertura da</p><p>mídia contra grupos de jovens e líderes manifestantes, alçados ao estrelato por</p><p>contas em redes sociais, e prontamente colocados como inimigos da ordem, tudo</p><p>isto pois “no Brasil, muitos desses atos de protestos, aparentemente gratuitos,</p><p>apareceram com manifestações públicas de depredações do patrimônio públi-</p><p>co ou privado, na grande maioria das vezes por meio das chamadas pichações”</p><p>(SCHECAIRA, 2020, p. 294). Das pichações às destruições de pontos de ônibus,</p><p>em diversas épocas, tudo é colocado sob a mesma cobertura – de que há delitos</p><p>sem motivos e, se há protestos e razões para se protestar, tudo isso vem com in-</p><p>tentos criminosos. Isto não muda três realidades:</p><p>“ ·A juventude tem, por influências diversas, uma propensão a atos</p><p>delinquentes e, por isso mesmo, deve ser orientada.</p><p>·As influências de internet (por meio de desafios) se mostram mais</p><p>perigosas que exemplos de moda (como ícones de música ou filmes).</p><p>·Não importa a origem e condição social: as subculturas de classe média</p><p>também atingem jovens de estratos sociais intermediários da sociedade,</p><p>hedonistas e irresponsáveis, cujas tensões pessoais e familiares são pro-</p><p>jetadas para atos deliquenciais. (SCHECAIRA, 2020, p. 299).</p><p>O vazio de sentido e de oportunidades coloca toda a juventude a perigo. Contudo:</p><p>“ o combate a essa criminalidade não se pode fazer através dos meca-</p><p>nismos tradicionais de enfrentamento do crime. Primeiro porque a</p><p>ideia central dessa forma de prática delituosa tem certas particula-</p><p>ridades que são dessemelhantes de outras formas mais corriqueiras.</p><p>Ademais, algumas dessas manifestações não se combatem com a</p><p>pura repressão, mas sim com um processo de cooptação dos gru-</p><p>pos, envolvendo-os com o mercado de trabalho e com o acesso à</p><p>sociedade produtiva (é o caso dos grupos de pichadores nas grandes</p><p>cidades). (SCHECAIRA, 2020, p. 304)</p><p>UNIDADE 2</p><p>UNIDADE 2</p><p>50</p><p>Isto posto, o controle da criminalidade passa pelo processo de rotulação, ou labeling.</p><p>A sociedade com interesses diversos rotula inimigos. O jovem e sua falta de perspec-</p><p>tiva, como visto há pouco, o imigrante, a mulher, o homem de determinada cultura</p><p>etc. Conforme destacado anteriormente, as ideias de Lombroso frutificaram; e, do</p><p>campo da medicina, passaram pela economia e pelas artes, criando da sociedade o</p><p>rosto do delinquente no imaginário, o tipo de pessoa que traz o mal consigo.</p><p>A análise por rótulos, ou labeling approach, tenta entender como a sociedade</p><p>“cria crimes e criminosos”, haja vista que o “labeling approach: Trata-se de um</p><p>novo marco epistemológico no qual os principais questionamentos deslocam-se</p><p>do foco do delito e do infrator para a análise do sistema de controle social e do</p><p>que daí decorre” (MENDES, 2019, p. 45).</p><p>Com isso, temos no Brasil a noção de que a mídia e os discursos morais pre-</p><p>sentes nas plataformas de governo ou de candidatos, escolhem ameaças a serem</p><p>debeladas pelo Estado. E, assim, tem-se a ideia de que “crime é: é o resultado da</p><p>construção de um discurso mediante processos de interação que etiquetam com-</p><p>portamentos e os elegem como desviantes” (MENDES, 2019, p. 46). Por assim dizer,</p><p>crime é construção social, e combate ao crime, meramente ostensivo, é discurso</p><p>político, de dominação, dado que “o controle social é o controle é seletivo e discri-</p><p>minatório com a primazia do status sobre o merecimento” (MENDES, 2019, p. 47).</p><p>Antes que se encerre esta seção, é preciso compreender que não se trata de</p><p>um ataque à liberdade de expressão ou às artes, ao contrário. As artes são liber-</p><p>tadoras e formadoras de cidadania, que passam ao largo da criminalidade, já que</p><p>“uma obra de arte pode contribuir mais e melhor que mil frases nos trabalhos</p><p>pedagógicos de conscientização, sensibilização, etc., para solucionar nossos pro-</p><p>blemas concretos” (BERISTAIN, 2000, p. 22). Portanto, a música, séries, jogos, e</p><p>até mesmo a presença e serviço de influencers, são fatores de prevenção de crime,</p><p>de redução da criminalidade.</p><p>Junto aos conceitos de labeling, nos anos 1970, surgiu, também, a vitimologia.</p><p>O estudo profundo das relações e influências no comportamento de vítimas deu</p><p>uma melhor ilustração à criminologia moderna – embora a vitimologia seja pou-</p><p>co apreciada no Brasil, pois não se trata de assistencialismo ou simpatia (natural)</p><p>às vítimas. Esse braço da criminologia tende mais a compreensão e análise dos</p><p>lados de uma mesma história (o crime), para a prevenção.</p><p>Outra prova de que a vitimologia nasceu e cresce mais perto da criminologia</p><p>que do Direito Penal, oferece-nos o fato de que a reparação, tal e qual se concebe</p><p>51</p><p>e pratica o Direito Penal, tem muito castigo (perto da multa) para repreender e</p><p>sancionar o delinquente; por isso, se diz “aquele que fez, que pague”. Ao contrário,</p><p>os vitimólogos concebem a reparação, antes e sobretudo, para dar assistência à</p><p>vítima (BERISTAIN, 2000, p. 88).</p><p>Com isso, como adverte Juarez Cirino dos Santos, “o problema do crime apa-</p><p>rece como um problema científico, reduzido, em última instância, à ideologia do</p><p>perito ou do cientista” (SANTOS, 2001, p.49). A rotulação e a análise cultural,</p><p>bem como a colocação da vítima, muitas vezes, podem oferecer barreiras e não</p><p>soluções para os problemas sociais afetos a comportamentos desviantes.</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Título: Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à</p><p>Sociologia do Direito Penal</p><p>Editora: Revan</p><p>Ano: 2002</p><p>Sinopse: Neste clássico do direito contemporâneo, o autor Alessandro Ba-</p><p>ratta oferece ao leitor uma breve amostra de sua riqueza científica, filosófica</p><p>e política, apresentando uma teoria criminológica de maneira sistemática e</p><p>original. O professor confronta as aquisições das teorias sociológicas sobre</p><p>crime e controle social ,com os princípios da ideologia da defesa social, colo-</p><p>cando em pauta uma política criminal alternativa.</p><p>Comentário: Alessandro Baratta, uma das grandes autoridades mundiais em</p><p>criminologia, apresenta, nesta obra, uma nova perspectiva de crítica aos con-</p><p>ceitos de crime e sociedade a partir de análise sociológica. Conforme visto nes-</p><p>ta Unidade, há mais fatores que indicam a origem de comportamentos sociais</p><p>contrários à Lei e, com isso, o autor oferece uma perspectiva mais completa.</p><p>Um tema amplamente discutido pelas áreas do saber afetos à Sociedade, como</p><p>no caso a criminologia, são as perseguições. Atualmente, o Código Penal traz</p><p>em seu repertório legislativo o crime de perseguição, que atribui uma conduta</p><p>múltipla na forma de: perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio,</p><p>ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade</p><p>de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de</p><p>liberdade ou privacidade. (BRASIL, 2022, Art. 147 – A). As penas variam de seis</p><p>meses até dois anos.</p><p>UNIDADE 2</p><p>UNIDADE 2</p><p>52</p><p>Porém, a perseguição como conhecida hoje no meio penal, advém da observação</p><p>dos criminalistas do século XX para o XXI, na conduta conhecida como stalking, que</p><p>é enquadrado como: “uma modalidade de assédio moral mais grave, notadamente</p><p>porque se reveste de ilicitude penal.” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 265).</p><p>A perseguição causa mais que invasão, provoca na vítima sentimento de in-</p><p>segurança: “Geralmente ocasiona invasão de privacidade da vítima; reiteração</p><p>de atos; danos emocionais; danos a sua reputação; mudança de modo de vida e</p><p>restrição ao direito de ir e vir.” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 265.</p><p>As condutas são dolosas (ninguém persegue outra pessoa sem querer). Logo, é</p><p>preciso, para âmbito de prova (e culpabilidade), ter referências materiais (que cum-</p><p>pram a formalidade legal da prova. Penteado Filho (2020) exemplifica algumas con-</p><p>dutas em: “ligações no celular, ramalhetes de flores, mensagens amorosas, e-mails in-</p><p>desejáveis, espera na saída do trabalho etc.” (2020, p. 265). É preciso ter em mente que,</p><p>por ser uma conduta velha em um mundo moderno, a perseguição, como os exemplos</p><p>acima, deve deixar (e deixa) rastros: prints de tela, arquivos digitais em nuvem, tudo</p><p>pode corroborar para o reforço probatório. Mais que isso, indicam as dinâmicas da</p><p>sociedade que mescla realidades e sentimentos nas esferas virtuais e reais.</p><p>Não apenas nas relações afetivas (duradouras ou transitórias) se afigura o as-</p><p>sédio. Tema ainda em discussão no Brasil, há o assédio no ambiente de trabalho,</p><p>que efetivamente é chamado assédio moral. Segundo Penteado Filho (2020, p. 264)</p><p>“ é tema recorrente em criminologia, também chamado de</p><p>manipulação perversa ou terrorismo psicológico, expressões mais</p><p>comumente empregadas para sua definição. O termo em francês</p><p>é harcèlement moral; mobbing na Alemanha, na Itália e nos países</p><p>escandinavos. Na Inglaterra o termo preferido é bullying.</p><p>Frisa-se que o bullying já é combatido desde 1940 no Brasil: na forma dos crimes</p><p>contra a honra (especialmente a injúria: art. 140, Código Penal). Mas pensado</p><p>como uma conduta que afeta a infância e, como estudado recentemente, no am-</p><p>biente de trabalho, o bullying sai de sua esfera de perturbação da honra e ganha</p><p>reforço no pânico e exploração afetiva nos meios trabalhistas.</p><p>Com foco nisso, e ainda no setor trabalhista (ambiente de trabalho), o mob-</p><p>bing: “significa os atos e comportamentos provindos do patrão, gerente, superior</p><p>hierárquico ou dos colegas que traduzem uma atitude de contínua e ostensiva</p><p>53</p><p>perseguição que possa acarretar danos relevantes às condições físicas, psíquicas</p><p>e morais da vítima.” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 265).</p><p>O ambiente de trabalho e, até mesmo acadêmico, corporativo, não é exa-</p><p>tamente um cenário de concórdia. Entretanto, não se deve ignorar limites aos</p><p>conflitos interpessoais, ao que Penteado Filho, que escreve em detalhe sobre este</p><p>assunto da criminologia contemporânea, adiciona:</p><p>“ Existe conflito no local de trabalho entre colegas ou entre superior e</p><p>subordinado. O importunado é posto em condição de debilidade e in-</p><p>capacidade, sendo agredido direta ou indiretamente por uma ou mais</p><p>pessoas, de forma sistemática e contínua, geralmente por um período</p><p>de tempo relativamente longo. (PENTEADO FILHO, 2020, p. 264)</p><p>Já no plano da afetividade, a criminologia contemporânea (junto à antropologia,</p><p>sociologia e filosofia) apresentou estudos que renderam aos tipos penais (crimes</p><p>definidos na Lei) à proteção afetiva (em relações duradouras ou afetos transi-</p><p>tórios). O Código Penal traz o assédio moral como dano emocional dirigido</p><p>às mulheres. A situação da mulher na sociedade urgia que esta conduta fosse</p><p>tipificada. Na letra da Lei, a conduta ficou:</p><p>“ Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e</p><p>perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a</p><p>controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante</p><p>ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,</p><p>chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qual-</p><p>quer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e auto-</p><p>determinação: (BRASIL, 2022).</p><p>Entretanto, cada forma de assédio ou, mais especificamente de violência psicoló-</p><p>gica contra mulheres, é separada por condutas (oriundas de estrutura patriarcal</p><p>de dominação) tais como:</p><p>“ Cronofagia maligna, que se caracteriza pela destruição sistemática</p><p>do tempo da vítima, reiteradamente interrompida em seus afazeres</p><p>por perguntas banais e inoportunas, problemas sem solução e ques-</p><p>UNIDADE 2</p><p>UNIDADE 2</p><p>54</p><p>tões irrelevantes. Procura-se ocupar todos os espaços da vida da ví-</p><p>tima, que, a princípio, fica impressionada com a atenção dispensada,</p><p>mas depois se vê sufocada com as ações de assédio, experimentando</p><p>danos psicológicos (depressão, estresse, nervosismo etc.) e, não raro,</p><p>patrimoniais, pois acaba prejudicada em seus trabalhos habituais.</p><p>(PENTEADO FILHO, 2020, p. 266)</p><p>A pressão da própria sociedade (de performance e estética) é usada de forma</p><p>ampla como discurso de dominação e infringindo insegurança e sofrimento à ví-</p><p>tima. Além disso, a possessividade, catalogada pela criminologia contemporânea,</p><p>como o canibalismo de afetos, consiste na: “necessidade constante e exagerada de</p><p>expressar e receber palavras, gestos e contatos carinhosos ou amorosos em face</p><p>da vítima, onde quer que ela esteja. É uma variante da cronofagia.” (PENTEADO</p><p>FILHO, 2020, p. 266 – 267). A respeito deste discurso de agressão, prossegue:</p><p>“ o canibalismo afetivo seria uma espécie mais elaborada dessa for-</p><p>ma de assédio. Trata-se de uma espécie perigosa de assediador ,que</p><p>não raro perde o controle psicológico quando rechaçado em seus</p><p>impulsos. Essa modalidade de assédio afetivo acaba por constranger</p><p>em altos níveis a vítima, que, da mesma forma que na cronofagia,</p><p>tem grande potencial para desenvolver doenças psíquicas (depres-</p><p>são, síndrome do pânico, insônia etc.). Assim, o canibalismo afetivo</p><p>pode gerar verdadeiro desastre na vida da vítima, produzindo-lhe</p><p>lesões corporais, ofensas morais e até mesmo a morte.’ (PENTEADO</p><p>FILHO, 2020, p. 266 – 267)</p><p>Aos homens, há a conduta de vitimização para domínio dos afetos, a chamada</p><p>fragilidade afetiva:</p><p>“ que se caracteriza por lamentações e posturas de ofendido e traído,</p><p>quando a vítima do assédio afetivo (da cronofagia ou do caniba-</p><p>lismo) exige que sua intimidade seja preservada. O afetivamente</p><p>frágil, a partir do esboço de reação da vítima, coloca-se como se ele</p><p>próprio sofresse o processo de vitimização (falseia choros, depressão</p><p>etc.). Pode acrescer mais gravidade aos danos morais e patrimoniais</p><p>ocasionados à vítima. (PENTEADO FILHO, 2020, p. 267).</p><p>55</p><p>Diferentemente da passividade agressiva das lamentações, a chantagem afetiva já</p><p>se apresenta como conduta de poder, que deve ser percebida e combatida a partir</p><p>de “ameaças diretas ou indiretas de acabar com o relacionamento afetivo caso a ví-</p><p>tima não satisfaça determinados desejos, exigências ou condições. Na chantagem</p><p>afetiva verificamos um fenômeno inverso ao que ocorre em relação à cronofagia,</p><p>ao canibalismo afetivo e à fragilidade afetiva.” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 267).</p><p>É uma violência afetiva que se reflete no corpo, nas vontades, posto que:</p><p>“ a vítima acaba por ceder aos desejos do assediador quando chanta-</p><p>geada afetivamente. A chantagem afetiva causa profunda humilha-</p><p>ção; a vítima perde a dignidade e a autoestima. A maioria das exi-</p><p>gências ligadas à chantagem afetiva tem caráter sexual (exemplos: a</p><p>vítima é compelida a fazer sexo anal, sexo grupal, a se prostituir etc.).</p><p>Assim, ela se submete às taras do assediador por nutrir por ele uma</p><p>relação de dependência afetiva, ainda que de real afeto nada exista.</p><p>Acarreta responsabilidade civil por danos morais e materiais, além</p><p>da responsabilidade penal, nos casos de ameaça, constrangimento</p><p>ilegal, lesões corporais, crimes contra a vida e contra os costumes</p><p>(dignidade sexual). (PENTEADO FILHO, 2020, p. 267)</p><p>E, na modalidade das chantagens afetivas – menos violenta na imposição física,</p><p>há o abandono ou seu eterno anúncio:</p><p>“ que consiste nas mesmas práticas atribuídas àquela, mas dela se dife-</p><p>rencia porque as respostas exigidas da vítima são obscuras, aleatórias,</p><p>impossíveis. Enquanto na chantagem afetiva as exigências são cristali-</p><p>nas e delimitadas, na ameaça de abandono a vítima é cobrada insisten-</p><p>temente em relação a exigências que não consegue identificar. A vítima</p><p>não sabe o que</p><p>precisa ser feito para satisfazer seu algoz, em relação ao</p><p>qual sente dependência afetiva. Essa realidade gera um estado constan-</p><p>te de temor e impotência. (PENTEADO FILHO, 2020, p. 267)</p><p>O aproveitador, da família ou não, abusa da vítima que apresenta: “quadro de de-</p><p>pressão profunda, pânico, ansiedade generalizada etc. A exemplo da chantagem, há</p><p>UNIDADE 2</p><p>UNIDADE 2</p><p>56</p><p>responsabilidade civil por danos morais e materiais e penal, valendo ressaltar que a</p><p>probabilidade de ocorrer suicídio é ainda maior.” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 267)</p><p>Por fim, há a confusão afetiva que é:</p><p>“ caracterizada pela ocorrência aleatória de eventos que demonstram</p><p>amor e ódio, que se alternam sem qualquer razão ou explicação lógi-</p><p>ca. Também é comum a presença simultânea de amor e ódio, o que</p><p>constitui uma combinação paradoxal de ações enviadas por meio</p><p>de expressões verbais e físicas. (PENTEADO FILHO, 2020, p. 268).</p><p>A gravidade da confusão afetiva – e, por isso, a necessidade de rastreamento</p><p>de ocorrências, comunicados às autoridades, e, sobretudo, instrução às vítimas,</p><p>deve-se ao fato que quem sofre essa violência se encontra presa a uma relação</p><p>de abuso que fica: “correntando-lhe alto grau de probabilidade de violência físi-</p><p>ca. A responsabilidade civil delimita-se pelos danos psicológicos e patrimoniais</p><p>ocasionados pela confusão afetiva. A responsabilidade penal é fixada de acordo</p><p>com o delito praticado.” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 268). No caso, o delito é</p><p>o da violência psicológica contra a mulher, já mencionado.</p><p>Há a utopia afetiva que é norte de romantizações de relações que, em verdade,</p><p>não existem ou se apresentam de forma diferente de quem sente e vive. A utopia</p><p>afetiva: “possui uma diferença básica em relação às anteriores, pois o sentimento</p><p>de romance é unilateral (somente uma das partes se apaixona e cria uma fantasia</p><p>em torno de sua vítima).” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 268)</p><p>Assim, os temas contemporâneos da criminologia se ocupam da proteção e</p><p>atendimento de abusos nas dinâmicas de afeto em nossa sociedade. É vital que</p><p>a sociedade como um todo, e criminologistas ou especialistas em segurança, in-</p><p>formem, eduquem e mantenham os olhos abertos a essas práticas.</p><p>57</p><p>Ao se tratar da criminologia brasileira, é preciso recordar a atividade do começo</p><p>desta Unidade: muitos escolhem, ao ler o mapa da violência, os índices de cri-</p><p>mes contra mulheres no Brasil. Não é para menos: o Brasil é um dos países mais</p><p>violentos para mulheres. Uma sociedade insalubre para cidadãs. O ponto é que</p><p>quando se fala em feminismo, é preciso cuidado, pois “é bem verdade que uma</p><p>apelação indiscriminada do discurso feminista, como de outros discursos con-</p><p>tra discriminatórios, ao poder punitivo pode e forçá-lo” (PENTEADO FILHO,</p><p>2020, p.165).</p><p>A igualdade de direitos cai por terra, distante da realidade social. Não é dife-</p><p>rente com os direitos afetos às mulheres. Num ponto em que:</p><p>Leia atentamente o seguinte excerto de Nestor Sampaio Penteado Filho (PENTEADO FILHO,</p><p>2020, p. 165):</p><p>O crescimento populacional desordenado ou não planejado figura como fator delitó-</p><p>geno. O aumento das taxas criminais por áreas geográficas é proporcional ao cresci-</p><p>mento da respectiva densidade demográfica populacional, conforme estudos levados</p><p>a efeito pela Escola de Chicago. Assim, o crescimento desmedido da população de</p><p>dada área fortalece o índice de desempregados e de subempregados, desencadean-</p><p>do o fenômeno pelo qual se aumenta a criminalidade na exata medida em que as</p><p>condições econômicas aumentam a pobreza, incidindo aí a componente social.</p><p>Agora, faça uma reflexão acerca da leitura: qual a melhor forma de se refutar, ou seja, tirar da im-</p><p>portância o argumento das superpopulações vinculada sempre ao aumento da criminalidade?</p><p>Pense em dois ou três argumentos que possam rebater o pensamento acima. Vamos lá?</p><p>EXPLORANDO IDEIAS</p><p>UNIDADE 2</p><p>UNIDADE 2</p><p>58</p><p>“ Incontestavelmente a mulher é o “mais fraco”, no momento em que</p><p>é parte ofendida, ré ou condenada. De outra banda, se os direitos</p><p>fundamentais adquirem o papel de limites do direito penal nas so-</p><p>ciedades democráticas, resta saber, em relação às mulheres, quais</p><p>direitos seriam estes direitos fundamentais sob a perspectiva de</p><p>gênero (MENDES, 2019, p. 180)</p><p>No testemunho, os próprios delitos são sentidos de forma diferente quando a</p><p>vítima é mulher. A conduta dos agressores tende a ser secreta, furtiva, sem teste-</p><p>munhas, a depender da violência a ser praticada. E:</p><p>“ Tendo em vista a concepção de que os direitos fundamentais são</p><p>concebidos como aqueles que não estão dados à disponibilidade</p><p>política, ou à disponibilidade do mercado, e que, a universalidade</p><p>desses direitos, corresponde à indisponibilidade, a limites, a restri-</p><p>ções à legislação, e à reivindicação de leis de atuação, é possível traçar</p><p>a configuração de direitos fundamentais das mulheres, a partir do</p><p>princípio da dignidade da pessoa humana. (MENDES, 2019, p. 185)</p><p>Os direitos fundamentais das mulheres devem ser relevados – se não a outra ca-</p><p>tegoria, ao menos em análise, caso a caso, de forma diversa aos homens. A grande</p><p>dificuldade de base está no fato de que há um desejo de se combater crimes de</p><p>forma igualitária (ocorrem para todos da mesma forma), e a violência de gênero</p><p>é completamente distinta: da vítima ao modo como o delito é praticado, passando</p><p>pelo agressor e a recepção da própria sociedade, em muitos casos, ao delito.</p><p>“ Tomando a dignidade da pessoa humana como pano de fundo, pa-</p><p>rece-me que, tanto o direito à autodeterminação, quanto o direito à</p><p>proteção, se colocam como vetores estruturantes a partir dos quais</p><p>devem ser deduzidos os limites de atuação do direito penal especi-</p><p>ficamente nas situações que envolvem os direitos reprodutivos e a</p><p>violência de gênero. Ou, mais especificamente, o aborto e todas as</p><p>formas de violência física e sexual. (MENDES, 2019, p. 186)</p><p>O que a autora pontifica é que não há tratamento preventivo eficaz à violência de</p><p>gênero se os direitos fundamentais não contemplam essas distinções. Quando não</p><p>59</p><p>se faz distinções do ser feminino frente às agruras que socialmente enfrenta, não</p><p>há igualdade, não há análise competente aos delitos, não há, por fim, segurança.</p><p>“ Sim, as mulheres têm direitos fundamentais. E um deles é o de livre-</p><p>mente decidir sobre seu próprio corpo. Trata-se de um direito fun-</p><p>damental e exclusivo das mulheres. Um direito que expressa aquilo</p><p>que Stuart Mill chamava de “a soberania” de cada um para decidir</p><p>sobre a própria mente e o próprio corpo. (MENDES, 2019, p. 191)</p><p>Ao que se conclui que:</p><p>“ Liberdade, assim compreendida, adquire um relevo ainda maior na</p><p>perspectiva feminina, pois configura direito de autodeterminação</p><p>e autorrealização que consubstanciam o direito de decidir dado a</p><p>cada uma, sem imposições morais ou religiosas distanciadas da rea-</p><p>lidade vivida particularmente. (MENDES, 2019, p. 194)</p><p>O tema, por si mesmo delicado, é melhor abordado na perspectiva das mulheres,</p><p>daí a citação a de uma autora. No mais, embora haja uma universalidade formal nas</p><p>ciências, as questões femininas são melhor tratadas a partir das vozes das próprias</p><p>mulheres e de suas vivências. Esta seção serve apenas para reflexão geral – a espe-</p><p>cificidade do pensamento cabe a cada homem e mulher dentro de sua realidade.</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Neste vídeo, acompanhe uma exposição completa a respeito da igual-</p><p>dade de gênero dentro do foco feminista. A construção de controle</p><p>social e delitos no Brasil a partir das vidas e corpos femininos sob a</p><p>perspectiva completa e legítima de uma pesquisadora criminal. É só</p><p>acessar por meio do seu leitor de QR Code. Não perca essa oportuni-</p><p>dade de conhecimento, vamos nessa!</p><p>UNIDADE 2</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/13501</p><p>UNIDADE 2</p><p>60</p><p>Podemos concluir, então, que a criminologia brasileira enfrenta três grandes de-</p><p>safios: superar o racismo de seu início; se resolver com os movimentos culturais</p><p>- de minorias e etários; e a situação final da criminalidade na visão das mulheres.</p><p>No primeiro plano, o próprio desenvolvimento da criminologia no país fez</p><p>com que se olhasse para os fatores exógenos (economia, trabalho, educação, cul-</p><p>tura) como pontos de formação e tensão que empurravam cidadãos à vida de</p><p>crimes. Ainda assim, como há uma estrutura sociocultural de cunho racista no</p><p>Brasil, até este tempo difundida, mesmo que de forma velada, ideias de tendências</p><p>criminosas ou de vida dolente de pessoas que pertencem a outras raças – natu-</p><p>ralmente, indígenas e afrodescendentes são os mais visados.</p><p>No segundo plano, a juventude se firma via redes sociais para expressar suas</p><p>revoltas e inquietações. Da mesma sorte, real e virtualmente ainda fantasiam a</p><p>respeito do que ouvem e veem, enveredando, sob influência, ao crime. Mais que</p><p>isso, a cultura manifestada ainda é rotulada nas mídias, comprometendo muitas</p><p>vezes as análises e o relacionamento das pessoas exatamente se fechando para</p><p>demandas de movimentos sociais e de expressão da juventude. A criminalização</p><p>de seu modo de vida, roupas, letras e músicas, expressa o perigo dos rótulos –</p><p>prontamente usados como instrumentos de controle social, criando inimigos</p><p>públicos e suas variações.</p><p>O terceiro e derradeiro plano, o das mulheres, possui tons trágicos. O controle</p><p>sobre a vida, o corpo e os direitos das mulheres, levou a uma perversa distorção</p><p>dos direitos fundamentais, pensados de forma universal, todavia, na ótica mascu-</p><p>lina, desde o séc. XVIII. Com isso, a visão do crime, do criminoso, da relação do</p><p>crime com a sociedade e desta com aquela, são visões masculinas. Uma perspec-</p><p>tiva feminista é necessária – sob pena de se continuar a reprodução de injustiças e</p><p>crueldades, como contestar uma vítima de importunação sexual (Art. 215-A,CP)</p><p>em virtude da roupa que ela usava numa festa; ou de se duvidar do assédio ou da</p><p>violência sexual por falta de testemunhas.</p><p>Os desafios de maturidade e atualização da criminologia brasileira são estes</p><p>– e há outros mais! Entretanto, aqui, encontram-se condensados três pontos que,</p><p>mesmo com avanços de estudos e das próprias instituições de segurança pública,</p><p>ainda preocupam e contribuem para que os índices de violência do País nunca</p><p>fiquem abaixo do esperado ao nível de nossa própria civilização.</p><p>61</p><p>A complexidade da sociedade brasileira não permite uma visão rasa a respeito de</p><p>fatores criminológicos. Para além da distribuição de renda e das relações históricas</p><p>de exploração de camadas sociais, há mais elementos sociais – e, por isso mesmo,</p><p>culturais – que tornam o caminho ao crime sedutor para cidadãs e cidadãos no</p><p>país. Algo que vai além do que se costuma chamar em sociedade de “criação”. A</p><p>leitura de Alessandro Baratta permite olhar o Brasil e seus índices de delitos, por</p><p>novas lentes. A perspectiva de uma criminologia feminista e brasileira também.</p><p>Acesse o seu leitor de QR Code e venha ouvir a respeito</p><p>dos rótulos sociais associados à criminologia brasileira.</p><p>Neste áudio, o destaque é a chamada “guerra às drogas”</p><p>expedida pelo poder público brasileiro há décadas, e que</p><p>não produziu segurança alguma para a sociedade. Ouça e</p><p>reflita a respeito do tema.</p><p>UNIDADE 2</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11559</p><p>62</p><p>1. Crime e Cultura: Escreva um texto, de até 500 palavras, a respeito da influência</p><p>midiática sobre os jovens. Pegue uma canção, cuja letra incentiva um comportamento</p><p>festivo, ou um jogo on-line, e pesquise matérias jornalísticas a respeito da responsa-</p><p>bilidade do artista ou da empresa de videogames para o desvio de comportamento</p><p>(com tendência criminosa) no público (jovem).</p><p>2. Criminologia Feminista: Por qual razão se afirma que não se pode tratar assuntos</p><p>de criminalidade (dentro da criminologia) numa perspectiva universal (para homens</p><p>e mulheres)?</p><p>3. Introdução à Criminologia Brasileira: No início do séc. XX, as ideias de Hungria</p><p>refutavam parte das teorias raciais que aderiam à criminologia médica (e à nefro-</p><p>logia) – estes temas foram vistos na Unidade 01 e nesta Unidade. De que maneira</p><p>uma cidade pode ser organizada a ponto de reflexos de sua administração reduzirem</p><p>índices de violência? Responda (e pesquise) em até 100 palavras.</p><p>3Sistema Prisional</p><p>Brasileiro</p><p>Me. Crístian Rodrigues Tenório</p><p>O Sistema Prisional Brasileiro tem problemas que são arrastados por dé-</p><p>cadas. Para se ter uma ideia, pouco mudou no sistema prisional, embora</p><p>a própria percepção da utilidade e proveito das cadeias em parte do mun-</p><p>do mudou. O Brasil, como país em desenvolvimento, tenta acompanhar a</p><p>evolução do pensamento criminólogo do mundo, mas não consegue trazer</p><p>sequer ao século XXI uma parte considerável de suas unidades prisionais</p><p>– sempre aquém do que dita (como modelo) a Lei n° 7.210/1984 – a Lei de</p><p>Execução Penal. Não se pode exigir direitos e garantias constitucionais mo-</p><p>dernas com unidades de presídio medievais – nem se oferece um estudo</p><p>profundo e sério da criminologia dentro do cárcere, se há essa discrepância</p><p>de visão. Como conciliar e tomar proveito de pensamentos modernos com</p><p>condições extremamente insalubres e de isolamento? Como aplicar direitos</p><p>humanos a um sistema desumano? Este é o maior desafio de compreensão</p><p>do sistema carcerário como um todo.</p><p>UNIDADE 3</p><p>66</p><p>Desde muito, frequento o sistema prisional brasileiro. A frase pode ser lida com</p><p>ironia e com as tradicionais piadas, mas a verdade é que, desde estudante até</p><p>advogado, passei horas e horas dentro de carceragens e penitenciárias – à espera</p><p>de conversar com assistidos jurisdicionais. O tempo passa, e o sistema continua o</p><p>mesmo. O cheiro das penitenciárias é o mesmo. A umidade, o clima tenso, nunca</p><p>se alteram. Desde o advento da Constituição de 1988 (05 de outubro), a digni-</p><p>dade da pessoa humana norteia a aplicação das políticas públicas, mas pouco</p><p>se avançou no sistema prisional. Há, por isso mesmo, quem defenda a abolição</p><p>total das prisões, pois é notório sua falibilidade como instalação promotora da</p><p>ressocialização ou reinserção do ser humano criminoso de volta ao meio social.</p><p>Há uma distância, ou um abismo, grande entre a Lei e a realidade prisional. A</p><p>legislação que fomenta e regulariza de forma geral as prisões (a Lei de Execução</p><p>Penal Brasileira, Lei n.7.210 de 1984), em seus primeiros artigos, deixa ilustrado</p><p>que não deve haver distância ou isolamento dos presos com a sociedade. Isto quer</p><p>dizer, a vida do preso deve ser integrada à sociedade – a prisão não é um vale de</p><p>leprosos dos tempos bíblicos. No entanto, fatores econômicos, culturais, políticos,</p><p>sociológicos, alimentam o isolamento dos presos, a distância das pessoas com a</p><p>realidade das penitenciárias. Não se trata de se “adotar” um condenado, como</p><p>muitos de maneira desonesta criticam e tentam com absoluta falta de caráter e</p><p>preguiça mental esgotar o tema; e, sim, de se entender e pensar o sistema prisional</p><p>brasileiro com duas realidades em mente: a primeira, não é possível viver numa</p><p>sociedade sem prisões; a segunda, as prisões como estão não recuperam vidas</p><p>nem oferecem segurança aos livres. Perdemos todos com este estado de coisa.</p><p>Desta maneira, vamos pensar juntos: qual a origem e as bases do sistema prisional</p><p>brasileiro à luz da Criminologia (atual e brasileira)? Qual contribuição outros</p><p>saberes - tais como a filosofia, a estatística, a sociologia – podem acrescentar à</p><p>reflexão e ao debate do criminalista em formação? Como um debate maduro a</p><p>respeito das prisões, de seu proveito e do que realmente elas podem beneficiar a</p><p>sociedade pode ser feito de forma proativa?</p><p>Observe bem as informações no quadro a seguir. O sistema prisional brasileiro</p><p>registrou em 2021 os seguintes números (gerais) relacionando crimes e detidos:</p><p>67</p><p>CRIME HOMENS MULHERES</p><p>Furto/roubo/estelionato/receptação 282 mil 7 mil</p><p>Tráfico 200 mil 17 mil</p><p>Homicídio/lesões corporais 98 mil 3 mil</p><p>Dignidade sexual 39 mil 671</p><p>Paz pública 13 mil 452</p><p>Administração pública 1.484 59</p><p>Quadro 1: Relação entre homens e mulheres presos (condenados) no sistema carcerário brasileiro.</p><p>Fonte:</p><p>adaptado de Departamento Penitenciário Nacional (2021).</p><p>Isto demonstra que há mais gente presa no Brasil por tráfico de entorpecentes</p><p>do que por corrupção. Há mais gente presa por furto e roubo, do que por abusos</p><p>sexuais. Há mais gente presa por homicídio (consumado ou tentado) do que por</p><p>apologia ao crime (no caso, delito contra a paz pública).</p><p>Um preso custou quase 2.500 reais em dezembro de 2021, no Brasil, numa po-</p><p>pulação de quase 674 mil custodiados — 332 mil presos; 113 mil no semiaberto;</p><p>e 207 provisórios, ou seja, sem condenação (DEPARTAMENTO PENITENCIÁ-</p><p>RIO NACIONAL, 2021b), numa população de quase 674 mil custodiados – 332</p><p>mil presos; 113 mil no semiaberto; 207 provisórios, ou seja, sem condenação</p><p>(POWERBI, 2022). Há, portanto, gastos com pessoas presas em tempo integral,</p><p>pessoas que se recolhem ao fim do dia e pessoas que estão presas aguardando</p><p>decisão se poderão ou não responder às ações penais em liberdade.</p><p>A partir desses dados nacionais (retirados da página do INFOPEN), procure</p><p>os dados de seu Estado e os anote, comparando-os aos números absolutos da</p><p>realidade nacional. Com esses mesmos dados, procure relacionar (pesquisar)</p><p>a distribuição de renda em seu Estado (a média salarial de acordo com grau de</p><p>instrução dos cidadãos) e os delitos mais praticados no Estado.</p><p>Anote em seu diário de bordo se há relação dos delitos mais praticados com as</p><p>condenações e detenções (se aqueles que cometem os delitos se encontram, ainda que</p><p>provisoriamente, presos); e se há relação de delitos violentos ou sem violência (que</p><p>possibilitaria em responder ações penais em liberdade e, portanto, trazer economia</p><p>ao Poder Público) sem colocar em ameaça à sociedade. Registre os dados baseado</p><p>em números reais de sua região. Use dados oficiais disponíveis em sites de governos.</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 3</p><p>68</p><p>Em resumo: crie você mesmo uma tabela regional, a partir de dados nacionais, para</p><p>entender a aplicação de penas (em números absolutos) da sua região relacionados</p><p>aos delitos praticados de sua escolha – que mais lhe chame a atenção.</p><p>Após verificar os gastos e a relação de punibilidade de um Estado (com as</p><p>espécies de crimes selecionadas), é importante refletir no que fazer para a recupe-</p><p>ração do preso. A inserção social (o termo reinserção é combatido pela lógica que</p><p>ninguém é reinserido de um lugar que nunca esteve, no caso, a sociedade comum)</p><p>tem dependência com a personalidade de quem praticou delitos (e desses delitos</p><p>praticados). A recuperação de um indivíduo que pratica delitos sem violência</p><p>(como furtos, estelionatos, corrupção), é pensada de forma diferente da aplicada</p><p>para uma pessoa que praticou atos de violência (com fundo psicológico pesado).</p><p>Assim, os gastos com a recepção, manutenção e recuperação de um interno são</p><p>distintos, e deveriam ser distribuídos de acordo com o tempo de pena e a espécie</p><p>de delito (atos de violência) praticado pelo sujeito. Em outras palavras, a recupe-</p><p>ração de cada indivíduo há de ser diferente (e com isso, um custo diferenciado).</p><p>Se cada preso tivesse, dentro do orçamento do sistema carcerário, a real aten-</p><p>ção às necessidades de sua manutenção e recuperação, as chances de saída para</p><p>práticas de mais delitos seriam reduzidas. Lembrando que esta solução está sem-</p><p>pre em conflito com a ideia da sociedade (sempre alimentada pela mídia e por</p><p>discursos políticos), do terror e ódio que são devotados a toda e qualquer pessoa</p><p>dentro do sistema prisional brasileiro.</p><p>69</p><p>O sistema prisional brasileiro começou sua trajetória a partir da chegada dos</p><p>portugueses. Isto porque os habitantes originários não tinham a dimensão da</p><p>prisão, da penitenciária ou do cárcere – exceto, por sua cultura e civilização, para</p><p>a manutenção de cativos em rituais. Essencialmente, a história penal brasileira</p><p>começa em 1500, elementos pré-cabralinos, riquíssimos, não foram considerados</p><p>na formação da sociedade (em matéria criminal) que nos constitui atualmente.</p><p>Como recorda Albergaria, “Com a chegada oficial dos portugueses ao Brasil em</p><p>1500 por Pedro Alvares Cabral, diz-se que a primeira legislação brasileira foi</p><p>justamente as Ordenações Afonsinas, em primeiro plano, como norma jurídica</p><p>nas Ilhas de Vera Cruz” (ALBERGARIA, 2011, p. 129).</p><p>O sistema penal de cárcere, propriamente conhecido por nós, formou-se pos-</p><p>teriormente ao iluminismo europeu. Pensadores como Beccaria preconizavam</p><p>tratamento mais humano sem crueldades, visando uma recuperação dos internos</p><p>– e não mais o sentido de vingança . Posto que:</p><p>“ Pode-se afirmar que a sua obra de nítida conotação iluminista trans-</p><p>formou os paradigmas do Direito Penal. Aliás, ainda é um marco</p><p>importante (e atual) para os operadores do Direito Penal (ALBER-</p><p>GARIA, 2011, p. 162)</p><p>Não é exagero, é fato, os princípios penais na Constituição brasileira são oriundos</p><p>das obras iluministas, em especial de Beccaria. Isto quer dizer: as bases de nosso</p><p>sistema penal são pensamentos com mais de 250 anos.</p><p>Entretanto, a construção da noção de bandido, de polícia e de política de</p><p>combate ao crime, com penas de prisão, também advém da ideia burguesa de</p><p>segurança pública, como destaca Foucault, pois “A noção teórica de criminoso</p><p>como alguém que rompe o contrato social foi integrada a essa tática burguesa”</p><p>(FOUCAULT, 2015, p. 137). O autor continua em sua análise “O que transformou</p><p>o sistema penal na virada do século foi o ajuste do sistema judiciário a um me-</p><p>canismo de vigilância e controle, foi sua integração comum num aparato estatal</p><p>centralizado” (FOUCAULT, 2015, p. 235).</p><p>Tudo que nos formou como sistema penal, de penas e punições, veio do Ilu-</p><p>minismo, ou a partir deste. Os ideais constitucionais de dignidade da pessoa</p><p>humana, de sacralidade em termos gerais da vida, não importando de quem,</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 3</p><p>70</p><p>também vieram deste mesmo período e cultura e se fizeram como base de nossa</p><p>sociedade na Constituição.</p><p>O principal destes elementos, o direito à vida, toca a todas e a todos, livres e</p><p>presos, honestos ou criminosos. Afinal de contas: “O direito à vida exige a com-</p><p>preensão de temas importantes, tais como o aborto, a eutanásia, a pena de morte,</p><p>a tortura, a privacidade, a integridade física e moral” (FACHIN, 2012, p. 252). A</p><p>vida importa, ao menos nos ideais da Lei.</p><p>Mesmo as pessoas presas devem receber, e recebem, a proteção formal da</p><p>Lei, e a proteção efetiva do Estado – que mais a mais, fica sempre na restrição da</p><p>liberdade, e pouco na promoção verdadeira da saúde humana. Ainda assim, na</p><p>formalidade da Lei, “A integridade física e moral são duas dimensões relevantes</p><p>da vida humana. A pessoa destituída de sua liberdade mantém a titularidade dos</p><p>demais direitos” (FACHIN, 2012, p. 255).</p><p>Pouco importando o estado, como expresso em números no começo desta</p><p>Unidade, presos provisórios ou condenados em instância definitiva, todos detêm</p><p>a proteção física e moral na Lei, pois: “A proteção da integridade física e moral</p><p>dos condenados e presos provisórios está prevista na Lei 7.210, de 11 de julho de</p><p>1984” (FACHIN, 2012, p. 256).</p><p>Não se pode falar em direitos ou estado democrático de direito se as popu-</p><p>lações carcerárias não contarem com proteção do Estado. Haja vista, e isto será</p><p>repetido algumas vezes por aqui, o propósito das prisões não é vingança, mas sim,</p><p>uma tentativa formal de reencaminhar a vida de uma pessoa de comportamento</p><p>outrora desviante. Nisto, Guilherme de Souza Nucci recorda que, “Constituem,</p><p>em verdade, os mais absolutos, intocáveis e invioláveis direitos inerentes ao ser</p><p>humano, vivente em sociedade democrática e pluralista, harmônica e solidária,</p><p>regrada e disciplinada, voltada ao bem comum e à constituição e pujança do</p><p>Estado Democrático de Direito” (NUCCI, 2010, p. 75).</p><p>Portanto, pensar o sistema criminal nas penitenciárias é, sim, pensar a digni-</p><p>dade da pessoa humana. Coisa difícil de se fazer pela contaminação ideológica</p><p>e política ao tema. Discursos punitivistas, que em verdade expressam vingança,</p><p>são sedutores e mais fortes – refazendo</p><p>as pautas em redes sociais e na impren-</p><p>sa. Porém, a verdade é que, em sua modesta evolução – lembrando que, em sua</p><p>raiz, as questões penitenciárias pouco evoluíram – a humanidade ou o sentido</p><p>de proteção à pessoa humana deve ou deveria prevalecer. Ao que recorda Nucci:</p><p>71</p><p>“ Cuidar do tema humanidade pode simbolizar uma busca por pa-</p><p>râmetros ideais, desvinculados da realidade, em particular, pela</p><p>dificuldade de materialização da benevolência do sistema penal</p><p>diante do infrator. Por vezes, está-se diante de um paradoxo, donde</p><p>se extrai que a pena, pela sua própria natureza, é uma restrição à</p><p>liberdade, logo, um mal. Em decorrência disso, a aplicação da sanção</p><p>penal constitui ato de força contraposto ao mal gerado pelo crime.</p><p>Seria, na aparência, uma vindita oficializada. (NUCCI, 2010, p. 147).</p><p>Entretanto, como ressalta o autor acima, não há a ilusão de que o crime não seja</p><p>um mal – muito pelo contrário – que deva ser respondido com energia, mas com</p><p>medida, proporcionalidade e humanidade, a fim de que a própria sociedade per-</p><p>ceba que, longe da vingança, o que se busca é justiça, alguma reparação quando</p><p>possível e o resgate de vidas perdidas em comportamentos desviantes.</p><p>Ao contrário de tempos passados, o propósito da prisão não é mais o encar-</p><p>ceramento temporário para sala de espera de penas mais severas, como as de</p><p>execução. A partir do século XVIII, a prisão aparece, junto com as declarações</p><p>de direitos humanos, para dar nova perspectiva, burguesa e científica, urbana e</p><p>legal, ao cumprimento da lei. Desde sua gênese, a pena de prisão, a penitenciária,</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 3</p><p>72</p><p>deveria ser preenchida de propósito, e não somente se caracterizar pelo depósito</p><p>humano em isolamento.</p><p>Heleno Cláudio Fragoso recorda que “A prisão como pena é de aparecimento</p><p>tardio na história do direito penal. A aplicação de qualquer pena exige a detenção, por</p><p>um período mais ou menos longo, motivo pelo qual havia cárceres no antigo direito,</p><p>muito antes que a pena de detenção fosse introduzida” (FRAGOSO, 2003, p. 354).</p><p>Não bastasse apenas seu uso novo, era preciso sedimentar os processos, a Lei,</p><p>a fim de se garantir que quem sofresse o risco da acusação pudesse ter a chance</p><p>imaculada da defesa. Isto por si só é confissão histórica de que, mesmo em termos</p><p>humanitários, a prisão, a penitenciária, representa grave ofensa ao ser humano</p><p>(que, naturalmente, é recolhido por ter praticado grave ofensa a seu semelhante</p><p>e ao corpo social). Assim que “É certo que hoje se reconhece ser essa a feição</p><p>processual do devido processo legal, e para muitos autores, pode-se falar, como</p><p>no direito norte-americano, em devido processo material e substancial, que seria</p><p>o princípio da razoabilidade” (BEDÊ JÚNIOR; SENNA, 2009, p. 357).</p><p>A criminologia a isto também se propõe: a discutir as bases lógicas do encar-</p><p>ceramento, com a finalidade de que não se torne solução geral e discriminatória</p><p>como é, há muito percebido, seu uso no Brasil. Para tanto, a atenção já destacada,</p><p>e aqui novamente frisada, aos direitos individuais formais e materiais dos presos,</p><p>deve ser encarada com obstinada insistência, ao que, como diz André Estefam, “O</p><p>preso, seja definitivo ou provisório, conserva todos os direitos não atingidos pela</p><p>decisão judicial, notadamente o respeito à sua integridade física e moral, além</p><p>daqueles arrolados no art. 41 da LEP” (ESTEFAM, 2018, p. 385).</p><p>Sem a preservação de um mínimo de direitos, há crueldade que se reverte em</p><p>revoltas e mais criminalidade. O ressentimento, o sentimento de abandono, o des-</p><p>vio moral (que já destacamos nesta Unidade em atividade acima) são naturalmente</p><p>sentidos pelo caráter humano do apenado, que sabe, reconhece, que há elemento de</p><p>isolamento, de retribuição pelo mal causado, como destaca Nucci (2010, p. 158), “A</p><p>pena é a sanção penal destinada ao condenado, infrator da lei penal, cuja finalidade</p><p>é multifacetada, implicando retribuição e prevenção à pena prática do crime”.</p><p>Logo, a pena de prisão, as penitenciárias, já nascem fadadas a um viés negativo:</p><p>a negação da liberdade, a negação da privacidade, a negação das vontades gerais</p><p>do ser humano. Por isso mesmo, séria, grave, não deve, ou não deveria, ser usada</p><p>73</p><p>com frequência absurda a todo e qualquer caso de condenação ou suspeita de</p><p>prisão – exceto nos casos de perigo para pessoas e para a sociedade.</p><p>As teorias principais que formularam a ideia da prisão, ou da pena de prisão,</p><p>podem ser resumidas (pois o tema é amplo e longo) da seguinte maneira: tudo</p><p>começou com uma ideia geral de retribuição – de retorno. Um toma lá, dá cá</p><p>cármico de forma absoluta – ao mal do crime, o mal da pena:</p><p>“ Para as teorias absolutas, a finalidade da pena é eminentemente re-</p><p>tributiva. A pena atua como a contrapartida pelo mal cometido. Um</p><p>mecanismo necessário para reparar a ordem jurídica violada pelo</p><p>delinquente. Este quando pratica o ilícito penal, produz um mal</p><p>(injusto), reparado com a inflição de outro (justo). A vantagem das</p><p>teorias absolutas consiste em agregar à pena a ideia de retribuição, e</p><p>com isso, estabelecer que a sanção deve ser proporcional à gravidade</p><p>do fato. (ESTEFAM, 2018, p. 355).</p><p>Daí o nome de teorias absolutas, não se admitindo espaços suaves, não se admi-</p><p>tindo categorias de delitos – sendo o crime e o criminoso objetos a serem tratados</p><p>com justeza fria e imoderada.</p><p>Por isso mesmo, ao se pensar o crime e a pena numa relação de educação,</p><p>de prevenção pedagógica ao corpo social, as teorias de prevenção surgiram,</p><p>temperando com mais humanidade a ideia retributiva das penas. Ao que segue:</p><p>“ As teorias de prevenção subdividem-se em prevenção geral – in-</p><p>timidação dirigida a todo o corpo social por meio da ameaça da</p><p>pena – e de prevenção especial – intimidação para evitar que o de-</p><p>linquente, após ter cumprido a pena e sofrer suas consequências,</p><p>volte a praticar novos crimes. (ESTEFAM , 2018, p. 356).</p><p>A ideia se dividiu numa prevenção de cunho geral – para que toda a sociedade</p><p>que observaria o criminoso condenado e, com a dureza da pena que lhe fosse</p><p>aplicada, se conscientizasse a não seguir pelo mesmo caminho, afastando-se de</p><p>práticas desviantes definidas pelo poder da Lei – e uma prevenção especial posi-</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 3</p><p>74</p><p>tiva ao condenado na ideia que: “Trata-se do objetivo de, uma vez imposta a pena,</p><p>reeducar o condenado e promover sua reinserção social” (ESTEFAM, 2018, p. 358).</p><p>Estas considerações não são teoréticas. Não se encontram nos campos de um</p><p>livro (como é o caso), ou de um curso, mas sim, na Lei. A Lei de Execução Penal,</p><p>de 1984 e recém-reformada em parte (2019), diz que:</p><p>“ Deve-se assinalar que a Lei de Execução Penal atribui à pena, na fase</p><p>de seu cumprimento, um ideal ressocializador [...] A reintegração do</p><p>sentenciado à sociedade constitui, portanto, uma meta a se atingir;</p><p>não se pode, contudo, obrigar ninguém a se ressocializar – o que</p><p>a lei deve fazer e o Estado, por meio de ações concretas, buscar é</p><p>fornecer meios para que o executando tenha a opção – seu destino,</p><p>a ele somente caberá definir. (ESTEFAM, 2018, p. 358)</p><p>Notado bem no texto acima, a liberdade de escolha ainda existe. Não se trata de</p><p>cinismo do autor. O trabalho, o estudo e a conduta regrada, ainda fazem parte</p><p>da esfera de escolha do interno – nada lhe será imposto direta ou objetivamente.</p><p>Todo programa de trabalho, estudo, cursos e disciplina, até mesmo espiritual,</p><p>serão ofertados e farão parte de sua ficha de adequação social, de sua avaliação.</p><p>As raízes dessa abordagem comportamental são religiosas, datadas do protestan-</p><p>tismo norte-americano do final do séc. XVIII:</p><p>“ Em 1790, sob influência dos Quakers, constrói-se em Filadélfia a</p><p>prisão de Walnut, cujo regime se baseava na segregação e no silêncio.</p><p>Os condenados eram submetidos a um período inicial de isola-</p><p>mento, que subsistia durante todo o cumprimento da pena, para os</p><p>autores de crimes graves. Os autores de crimes sem gravidade po-</p><p>diam trabalhar em comum, durante o dia, em silêncio. O sistema do</p><p>completo isolamento foi introduzido nas novas prisões de Pittsburg</p><p>e Cherry Hill construídas em 1818 e 1829. (FRAGOSO, 2003, p. 355)</p><p>O que Fragoso destacou é que “O ideal da prisão era, assim, a vigilância e con-</p><p>trole total sobre a pessoa do preso” (FRAGOSO, 2003, p. 355), isto quer dizer, o</p><p>controle espiritual através da disciplina da oração e do trabalho – em silêncio. Da</p><p>reflexão. Da penitência – não à toa que até hoje presídios são conhecidos como</p><p>75</p><p>Na realidade, o velho mote de que prisões são escolas de crimes é o real. A ideia</p><p>de disciplina espiritual e reflexão, de aprendizado e humanização não passam de</p><p>quimeras. Horizontes artificiais e ideológicos que não possuem pessoal, dinheiro</p><p>e boa-vontade para realização. Ao que destaca Nucci, de fato “O aglomerado in-</p><p>salubre de presos demonstra a crueldade do sistema, devendo-se cumprir o dis-</p><p>posto na Constituição Federal, vale dizer, cabe ao Judiciário obstar essa situação,</p><p>contornando pelos meios possíveis e razoáveis a violação à lei e à Constituição</p><p>Federal” (NUCCI, 2010, p. 148).</p><p>No Brasil, o encarceramento afronta a própria Constituição de 1988. Não houve</p><p>preparo nem cuidado para adequação dos estabelecimentos, nem planejamento</p><p>que prevenisse o hiperencarceramento, que constitui a atividade das forças públicas</p><p>de segurança (vide as primeiras reflexões desta Unidade). O próprio judiciário, de</p><p>número insuficiente, sofre ante o peso de suas obrigações legais, haja vista que:</p><p>penitenciárias. Isso gerou os sistemas prisionais que temos até os dias de hoje:</p><p>locais de isolamento, cuidado espiritual (em tese), respeito à integridade física (na</p><p>letra da Lei) e tempo de reflexão e melhoria humana para o condenado repensar</p><p>sua vida e conduta a ponto de ser reeducado, preparando-se para ser reintegrado,</p><p>no tempo justo, à sociedade.</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 3</p><p>76</p><p>“ A Lei de Execução Penal determina ao juiz das execuções e ao mem-</p><p>bro do Ministério Público o dever de efetuarem visitas mensais aos</p><p>estabelecimentos penais. Cuida-se de função absolutamente neces-</p><p>sária, que visa à fiscalização das condições internas de habitabilida-</p><p>de, salubridade, higiene, bem como ao fornecimento de informações</p><p>aos presos sobre sua execução. (ESTEFAM, 2018, p. 385)</p><p>Acrescente-se a isto o papel das Defensorias Públicas, que atuam como podem,</p><p>bem como a contribuição da Ordem dos Advogados do Brasil, que, por meio</p><p>de suas comissões, disponibilizam profissionais para atendimento e fiscalização</p><p>aos descumprimentos da Lei de Execução Penal e flagrantes abusos de direitos</p><p>praticados na vida dentro das Penitenciárias.</p><p>A solução para esta percepção, igualmente existe – em parte. Se não há gente</p><p>suficiente, ou dinheiro suficiente para cumprimento de condições de dignidade, o</p><p>melhor a se fazer é não se punir com prisões. Fato. Ao que André Stefan acertada-</p><p>mente destaca: “Muito embora todos os crimes sejam punidos com pena privativa</p><p>de liberdade [...] são poucos os casos em que o autor do fato efetivamente ficará</p><p>encarcerado, em face das inúmeras medidas alternativas à prisão previstas em</p><p>nosso ordenamento jurídico penal” (ESTEFAN,2018, p. 388).</p><p>Entretanto, conforme destacado no quadro 1, no começo desta Unidade, os</p><p>delitos que encarceram (tráfico de entorpecentes, por exemplo; ou homicídio,</p><p>tentado ou consumado) são altos no Brasil, a ponto de que pessoas que cometem</p><p>esses delitos fiquem presas aguardando julgamento. Esse fato acaba por criar o</p><p>engarrafamento ou superlotação dos presídios com os encarcerados por tráfico</p><p>ou provisórios em crimes de violência contra a pessoa humana.</p><p>Isso não altera a percepção de mais de quatro décadas de Fragoso, que afirma</p><p>que “A consequência natural da falência da prisão é o entendimento de que ela</p><p>deve ser usada o mesmo possível, como último recurso, no caso de delinquentes</p><p>perigosos, para os quais não haja outra solução” (FRAGOSO, 2003, p.358).</p><p>Logo, é um sistema pobre, viciado, abandonado, sem aplicação científica que</p><p>o valha, falido. Mesmo assim, o espírito da prevenção especial prevalece nos pro-</p><p>gramas de estudo e trabalho, sem distinção, aos apenados – apenas estribados na</p><p>liberdade incentivada ao preso e na boa vontade, quando há, dos convênios com</p><p>o Estado e a Sociedade. Assim:</p><p>77</p><p>“ O tratamento isonômico daquele que estuda com quem trabalha foi</p><p>o fundamento maior desse enunciado sumular. Nesse sentido, invo-</p><p>camos o profundo e corajoso magistério de Luiz Flávio Gomes, que</p><p>pontifica: Cuida-se desde logo, de um pensamento jurisprudencial</p><p>indiscutivelmente criminógeno, dotado de alta periculosidade para</p><p>a estabilidade social brasileira, na medida em que, não se incenti-</p><p>vando o trabalho (tão decantado pela doutrina cristã e pelas teorias</p><p>econômicas, sobretudo da modernidade, que tem em Max Weber</p><p>seu expoente proeminente), contribui inescapavelmente para a pro-</p><p>liferação da reincidência (e, portanto, da criminalidade e da inse-</p><p>gurança), trazendo alto conteúdo explosivo para a destruição da já</p><p>cambaleante ressolização. (BITENCOURT, 2016, p. 644).</p><p>A penitenciária nunca saiu do século XIX. Por melhor que fossem as intenções, a</p><p>ideia em si, por mais humanidade que haja, por mais disciplina moral que possa</p><p>ter, por mais que se tenha boa vontade do Estado e dos próprios internos, a res-</p><p>trição da liberdade custa ao corpo e à mente, daí a conclusão de que:</p><p>“ Como instituição total, A PRISÃO NECESSARIAMENTE DEFORMA</p><p>a personalidade, ajustando-a à subcultura prisional (prisonização). A</p><p>reunião coercitiva de pessoas do mesmo sexo numa ambiente fechado,</p><p>autoritário, opressivo e violento, corrompe e avilta. Os internos são sub-</p><p>metidos às leis da massa, ou seja, ao código dos presos, onde impera a</p><p>violência e dominação de uns sobre outros. (FRAGOSO, 2003, p.357)</p><p>É impossível isolar a prisão dos vícios da própria sociedade, bem como é</p><p>impossível exigir santidade e consciência de presos, quando a sociedade não</p><p>possui nem sãos nem santos. Fragoso, de maneira contundente, fecha a questão:</p><p>“ Chegamos, assim, a certas conclusões que já não são discutidas. A prisão</p><p>constitui realidade violenta, expressão de um sistema de justiça desigual</p><p>e opressivo, que funciona como realimentador. Serve apenas para refor-</p><p>çar valores negativos, proporcionando proteção ilusória. Quanto mais</p><p>graves são as penas e as medidas impostas aos delinquentes, maior é a</p><p>probabilidade de reincidência. (FRAGOSO, 2003, p. 357)</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 3</p><p>78</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Título: Estação Carandiru</p><p>Autor: Dráuzio Varella</p><p>Editora: Cia. das Letras</p><p>Sinopse: Anos antes da operação policial que culminou no chamado</p><p>massacre do Carandiru, um médico resolve, com seu tempo livre, promover aten-</p><p>dimento dentro da Penitenciária Estadual do Carandiru. Durante os anos, convive</p><p>com detentos e carcereiros e, com isso, divide dramas de algumas pessoas (seja</p><p>como interno ou como servidor público) que habitam o cárcere.</p><p>Comentário: Clássico da literatura jornalística e de crônica, Estação Carandiru já foi</p><p>adaptado para o cinema e é mundialmente conhecido. O panorama de vidas que, des-</p><p>de a epidemia de AIDS no Brasil até o massacre nos anos 1990, oferecem uma pers-</p><p>pectiva humanista. O autor jamais julga, mas igualmente não esconde as razões que</p><p>levaram cada interno cujas vidas descreve a estar no sistema carcerário. O interessan-</p><p>te é que, mesmo após décadas, o registro se mantém atual, dando a conclusão de que</p><p>pouca coisa foi alterada na vida dentro das prisões – bem como pouco se alterou nas</p><p>características gerais de sua população. Uma obra para se ler, reler e citar.</p><p>O Código Penal já estabelece tratamento diferenciado às mulheres – adotando-se</p><p>um critério biológico do que é uma mulher. A discussão mais a sério a respeito</p><p>do assunto se deu no século passado, ao que se observa que:</p><p>“ No primeiro congresso da ONU sobre prevenção de crimes e trata-</p><p>mento de presos de 1955, foram discutidas medidas a serem toma-</p><p>das em relação às pessoas condenadas que pudessem se harmonizar</p><p>com os demais conteúdos</p><p>normativos das Nações Unidas. Houve</p><p>Prender é adiar problemas maiores, mais graves, não é solução nem deve ser</p><p>tomado como regra geral. Atualmente, com trabalhos comunitários, monitora-</p><p>mentos eletrônicos de última geração, possibilidades de restrição da liberdade na</p><p>própria casa do apenado, fica insustentável a defesa do sistema prisional como</p><p>uso geral e indiscriminado aos delitos.</p><p>Para saber mais a respeito disso, é recomendável a leitura de Estação Carandi-</p><p>ru, justamente por quebrar o paradigma de que questões carcerárias são escritas</p><p>por juristas. O autor, no caso, é médico. Eis a indicação:</p><p>79</p><p>Esse fato corrobora com o dito ao final da Unidade 02 – assim como se deve</p><p>verificar a criminalidade das mulheres de forma diferente, a adoção de penas às</p><p>mulheres deve ser vista, estudada e aplicada de forma diversa. Em respeito à con-</p><p>dição física, biológica, mas também, às limitações que uma sociedade patriarcal</p><p>impõem às mulheres, limitando e relegando papéis sociais a estas que não cabem,</p><p>de forma discriminatória e perversa, a um homem.</p><p>A pobreza das encarceradas, bem como a solidão, fruto do abandono de seus</p><p>filhos, companheiras ou companheiros e da família, fizeram com que se revissem</p><p>o estado de execução de penas e condições para soluções além do encarceramento</p><p>para mulheres, ao que houve:</p><p>“ No ano de 2010, no mês de novembro, a Assembleia Geral das Na-</p><p>ções Unidas aprovou as chamadas Regras de Bangkok, na verdade</p><p>intituladas Regras das Nações Unidas para o tratamento das reclu-</p><p>sas e medidas não privativas de liberdade para mulheres delinquen-</p><p>tes [...] (OLIVEIRA; SANTOS, 2016, p. 46).</p><p>aprovação das regras em 1957 e formuladas as regras mínimas para pessoas</p><p>reclusas. (OLIVEIRA; SANTOS, 2016, p. 43).</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 3</p><p>80</p><p>A maternidade não pode ser dissociada da mulher ainda neste século, em termos</p><p>biológicos, logo, os direitos relacionados à maternidade devem ser respeitados</p><p>– produzindo-se um paradoxo cruel: dá-se o direito à maternidade a mulheres</p><p>encarceradas, encarcera-se crianças que nada cometeram de delituoso. Daí que:</p><p>“O ingresso da mulher no sistema prisional, assim como da criança, deve ser</p><p>cercado de cuidados e vigilância, com especial atenção para segurança, inserção</p><p>serena e recebimento de informações amplas” (OLIVEIRA; SANTOS, 2016, p. 48).</p><p>Os cuidados com a saúde feminina devem ser amplamente observados, a fim</p><p>de que não ocorram situações absurdas e terríveis, como a pobreza menstrual (a</p><p>falta de materiais de higiene essenciais para a saúde das mulheres). Com isso, “As</p><p>instalações devem contar com água abundante para higiene e toalhas sanitárias</p><p>a serem distribuídas, para complementar a limpeza regular, além disso, particular</p><p>atenção deve ser voltada às crianças, mulheres grávidas, em período de amamen-</p><p>tação e menstruação” (OLIVEIRA; SANTOS, 2016, p. 49).</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Título: Sem Pena</p><p>Ano: 2014</p><p>Sinopse: Dirigido por Eugênio Puppo, Sem Pena traz de forma seca o</p><p>cotidiano da vida nas prisões do Brasil. De forma direta, retrata como</p><p>são as vidas e os estigmas que os internos do sistema carcerário carregam,</p><p>sem colocar essas pessoas em condições de vítimas.</p><p>Comentário: Documentário essencial para quem deseja refletir e se apro-</p><p>fundar no tema do cárcere no Brasil. As condições do dia a dia em presí-</p><p>dios são colocadas pela perspectiva dos próprios internos, com comentários</p><p>de especialistas que corroboram a necessidade de revisão e refundação do</p><p>sistema carcerário. Questões como os processos morosos, as prisões sem</p><p>condenação e o tráfico de drogas dentro dos presídios são mostradas pelas</p><p>falas daqueles que se encontram inseridos no sistema.</p><p>81</p><p>Vale sempre lembrar, como no início desta Unidade, que o número de encarce-</p><p>radas é notadamente inferior em relação aos homens. Contudo, isso não quer</p><p>dizer que não haja problemas de investimentos e verbas para o amplo e legal</p><p>funcionamento de instalações penitenciárias para mulheres, respeitando-se suas</p><p>peculiaridades e dignidade humana, a ponto de que: “A regra de abertura do</p><p>capítulo fala das recomendações nutricionais e de atividade física, bem como</p><p>da necessidade de supervisão de um profissional da saúde, além da distribuição</p><p>gratuita de alimentos nutritivos” (OLIVEIRA; SANTOS, 2016, p. 56).</p><p>Assim, a situação criminal e carcerária feminina é diferente. Devendo ser</p><p>discutida com apreço às peculiaridades, mas se tendo em linha de conta o mesmo</p><p>que vale aos homens:</p><p>Sistema Prisional</p><p>Brasileiro</p><p>CARACTERÍSTICAS</p><p>Prisões são</p><p>necessárias</p><p>não há cenário social</p><p>em que estas</p><p>instituições deixem</p><p>de existir por</p><p>completo;</p><p>Prisões não podem</p><p>ser usadas de forma</p><p>geral e indiscriminada</p><p>é preciso sempre trabalhar</p><p>o sistema prisional como último</p><p>estágio, como solução</p><p>radical a problemas radicais</p><p>(como criminosos</p><p>contumazes, violentos,</p><p>sem controle);</p><p>Prisões requerem</p><p>um contato diferente</p><p>com a sociedade</p><p>a imagem das prisões</p><p>(muito além do</p><p>reconhecimento de sua</p><p>falência) devem ser</p><p>pensados e trabalhados com</p><p>urgência – isto é vital para a</p><p>sustentação da sociedade</p><p>como um todo, indo mais</p><p>longe que mormente</p><p>o sentido de prevenção</p><p>(não superado ainda).</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 3</p><p>82</p><p>Leia com atenção a seguinte frase de Michel Foucault: “se a lei precisa se preocupar acima de</p><p>tudo com a moralidade, e se esta é essencial à salvaguarda do Estado e ao exercício de sua sobera-</p><p>nia, é preciso uma instância que vigie, não a aplicação das leis, mas, antes desta, a moralidade dos</p><p>indivíduos.” (FOUCAULT, 2016, p. 102).</p><p>O texto reflete a necessidade de nossa sociedade ser constituída tendo em conta as punições:</p><p>a importância de um poder que venha a punir malfeitos a partir da (imposição) de uma estrutura</p><p>moral (ou moralizante).</p><p>A moralidade é um conceito difícil de se chegar nas políticas públicas – haja vista que num mun-</p><p>do plural (diverso) como o nosso, a moralidade apresenta uma variação para além das preferências</p><p>pessoais ou de grupos. Mesmo assim, pensando no sistema prisional brasileiro, é possível, dentro do</p><p>respeito aos direitos individuais e coletivos, chegar-se a parâmetros morais? Como isso poderia ser</p><p>feito sem ferir os direitos dos presos e de forma a, efetivamente, levar educação e bom convívio em</p><p>um ambiente carregado como é uma penitenciária?</p><p>Pensando nisso, construa um esboço de conduta (pode ser uma lista, de três a dez condutas) para</p><p>penitenciárias. Algo factível, que seja economicamente viável, como também possível dentro dos re-</p><p>cursos humanos do Estado (educadores, policiais, policiais penitenciários, profissionais de saúde etc.)</p><p>E, por fim, como ponto mais contundente, diante de uma proposta de melhoria ao sistema prisional</p><p>(em sua conduta moral), como apresentar isso à Sociedade? Isso porque é sabido – e desnecessário ser</p><p>exposto aqui – que, pela imprensa, redes sociais e discursos políticos, há uma má vontade e antipatia</p><p>nutrida todos os dias contra toda e qualquer proposta de melhoria da vida no cárcere. O fato acontece por</p><p>conta do sentimento de abandono e desprestígio das pessoas em geral (cidadãs e cidadãos livres, que não</p><p>praticam delitos em vivem à margem ou ao arrepio da lei) e que</p><p>se descrevem como representantes de um bem (enquanto,</p><p>por sentimento, não por racionalidade) excluem do próprio</p><p>tecido social pessoas que integram provisoriamente ou</p><p>de forma definitiva (por sentença) o sistema carcerário?</p><p>Como superar, com uma proposta moral para o bem da</p><p>sociedade, voltada ao sistema carcerário, o viés de supe-</p><p>rioridade moral e espiritual das pessoas livres (eleitores,</p><p>pagadores de impostos)?</p><p>Sendo assim, qual sua proposta de conduta moral</p><p>aos internos do sistema carcerário e, em poucas pala-</p><p>vras, como expor isto ao corpo social, longe dos tradi-</p><p>cionais discursos?</p><p>83</p><p>O sistema penal brasileiro ainda opera sob a perspectiva da recuperação do ser</p><p>humano. Suas bases ainda se encontram firmadas no pensamento da prevenção:</p><p>geral e especial. A prevenção geral, que serve à sociedade, passaria a sensação</p><p>de</p><p>controle e proteção a todos – que a punição, o isolamento, a aplicação de multas</p><p>e penas de serviço, disciplinam e afastam os ditos maus elementos da sociedade.</p><p>Mais que isso: sustenta uma função pedagógica. As pessoas, ao observarem o</p><p>destino de um condenado, inibiram-se em suas pulsões de violência e, dessa</p><p>maneira, não repetiriam a conduta delituosa. O molde social perfeito de pessoas</p><p>que não se deixam levar a comportamentos desviantes pelo exemplo aplicado a</p><p>seu semelhante, e a prevenção especial. Igualmente pedagógica, incidindo na vida</p><p>e no corpo do condenado. Oferecendo a esta pessoa tempo e disciplina, opor-</p><p>tunizando-lhe uma transformação aguda de comportamento, a ponto de nunca</p><p>mais causar o mal pelo qual a pena lhe foi, justamente, imposta.</p><p>O sistema carcerário brasileiro necessita de investimentos, mas é um dinheiro</p><p>visto como gasto desnecessário. O sistema penal é julgado a todo instante por</p><p>rótulos (como mencionados nas condutas na Unidade 02) que são colocados em</p><p>discursos midiáticos de viés político. Trata-se de dinheiro “jogado fora” pois vai</p><p>todo para uma estrutura que não salva vidas (não são hospitais para pessoas de</p><p>bem), não educam (não são escolas, universidades, bolsas de estudo e pesquisa</p><p>para cidadãos de bem). É, portanto, difícil a eleição de qualquer que seja o par-</p><p>lamentar ou executivo que se proponha, de forma séria, a rever o sistema, apli-</p><p>car-lhe soluções que não passem pelo simples recolhimento e isolamento social:</p><p>trata-se de dinheiro que seria gasto à toa, num discurso de que apenas “humanos</p><p>direitos merecem direitos humanos”.</p><p>As prisões brasileiras são depósitos de gente. A maioria do sistema carcerário</p><p>brasileiro, composto por homens, possui identificação pronta: cor, raça, classe so-</p><p>cial, condições socioculturais repetidas e específicas. Não se trata de uma pobreza</p><p>ou marginalização branca. Não se trata de um sistema de condenados: grande</p><p>é o número de encarcerados que aguardam seu julgamento. Logo, é um sistema</p><p>é subvertido que desde seu início: criado para dar segurança, não protege; ope-</p><p>rando para recuperar pessoas, não melhora em nada suas vidas nem lhes oferece</p><p>perspectivas dentro e fora de seus muros. O desafio de quem estuda criminologia,</p><p>qualquer que seja sua atividade corrente ou futura, é entender e melhorar este</p><p>aspecto perverso de nosso país.</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 3</p><p>84</p><p>O sistema carcerário brasileiro é ineficiente. Os problemas estão além dos muros</p><p>das prisões. A relação da população com o sistema prisional é fomentada por ig-</p><p>norância, preconceitos – oriundos do próprio aparelho estatal. Falta maturidade</p><p>e ciência para se discutir questões e propor soluções. Sendo assim, elabore um</p><p>programa (de cinco a dez passos) que pode ser da sociedade para o governo ou</p><p>do governo para a sociedade.</p><p>Prezados estudantes, os problemas que recaem sobre o</p><p>sistema prisional brasileiro são inúmeros: por isso mesmo</p><p>é fundamental conhecer o sistema por números. Quantos</p><p>são, quem são, como se dividem (por gênero, raça, delitos</p><p>praticados) e como as ações criminosas se manifestam</p><p>diferentes de região para região do país? Assim, nosso</p><p>podcast vai abordar o assunto com dados atuais da situ-</p><p>ação corrente na população carcerária. Ouça agora e reflita</p><p>a respeito do tema.</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Vídeo curto (e explicativo) do sistema carcerário brasileiro. Usando</p><p>recurso de narração e figuras, este vídeo de 2 minutos estabelece a</p><p>situação ainda corrente do sistema prisional brasileiro. Um resumo</p><p>de tudo que foi descrito e proposto nas partes desta Unidade. A atua-</p><p>lidade do tema e dos números apresentados persiste em meio aos</p><p>rótulos e pânico propagado pelas mídias (sociais ou de grande porte),</p><p>e o desafio é refletir com quais meios o Estado e a sociedade poderão</p><p>repensar e transformar o Sistema, de forma a não ser mais um moe-</p><p>dor de carne com implicações morais. Acesse o vídeo por meio do seu</p><p>leitor de QR Code e assista!</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11560</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14279</p><p>85</p><p>1. Como o ambiente da prisão se aplica e pode ser percebido como um grande pro-</p><p>blema no caso dos resultados de recuperação de uma pessoa a partir do sistema</p><p>carcerário? Quais elementos podem ser percebidos como formadores (ou deforma-</p><p>dores) de comportamentos num sistema que deveria reter e recuperar ao invés de</p><p>piorar o ser humano?</p><p>2. Quais fatores podem colocar em risco a ideia de sistema carcerário humanitário (ou</p><p>humanista) em nosso dias? Por que há a impressão de que o sistema (e seu pensa-</p><p>mento ou base) não condizem com a realidade?</p><p>3. De que maneira a situação da prisão de mulheres se difere das dos homens no Brasil?</p><p>Como combater problemas peculiares do encarceramento feminino sem provocar a</p><p>piora da situação que já existe?</p><p>4</p><p>Vitimologia</p><p>Me. Felipe Pereira de Melo</p><p>Conforme estudamos na Unidade 1, que trata necessariamente das</p><p>Escolas Criminológicas, a tríade que envolve a criminologia é composta</p><p>pelos estudos relacionados ao Autor, Vítima e ao Crime em si. Nesse</p><p>sentido, esta Unidade irá proporcionar maior compreensão da pers-</p><p>pectiva vitimológica, a relação entre diferentes conceitos, bem como o</p><p>estudo dos fatores de influência da vítima e sua relação com o crime.</p><p>Tais elementos se tornam imprescindíveis para uma compreensão</p><p>mais profunda do sistema penal.</p><p>UNIDADE 4</p><p>88</p><p>Não é incomum encontrarmos situações em que as vítimas procuram as unidades</p><p>policiais brasileiras relatando determinado crime, sendo que muitos destes crimes</p><p>acontecem devido à vítima ter tido uma grande influência, quase colaborativa,</p><p>sobre os acontecimentos. Dentre os casos mais conhecidos, podemos destacar</p><p>estelionatos, nos quais o autor, por vezes, utilizando-se de determinado ardil,</p><p>influencia a vítima a tomar determinado comportamento com a expectativa de</p><p>obter algum tipo de vantagem, como lucro rápido e fácil (golpe do paco, golpe</p><p>da joia, bilhete premiado, entre outros). Dessa forma, você já imaginou como a</p><p>vítima se sente quando percebe que foi ludibriada ou quando se dá conta de que</p><p>o seu comportamento foi motivador para determinado ilícito? Considerou de</p><p>que maneira podemos prestar o melhor atendimento nessas ocorrências?</p><p>As Escolas Criminológicas nos mostram que, durante a sua história, pouco se</p><p>preocupou com a influência das vítimas sobre os fatos, de modo que, conforme a</p><p>Escola Clássica, a racionalidade, responsabilidade e culpa do autor do crime eram</p><p>os elementos que compunham os significativos interesses, de modo que a vítima</p><p>possuía mera representação estatística. Ainda, a Escola Positiva procurou explicar</p><p>89</p><p>as condições delitivas exclusivamente sobre o autor, não carecendo de quaisquer</p><p>outros aprofundamentos. Dessa maneira, torna-se evidente que a Vitimologia é</p><p>um campo atual (com significativo desenvolvimento em meados do século XX),</p><p>tornando-se elemento de profunda influência no sistema penal.</p><p>Imagine uma situação hipotética: você, como policial atuante em uma de-</p><p>terminada comunidade, é acionado pelo centro de comunicações para apurar</p><p>a seguinte situação: Solicitante pede presença policial após ter sido vítima de</p><p>estelionato em agência bancária. No local, você e sua equipe percebem que se</p><p>trata de um idoso que, sem saber utilizar o terminal de autoatendimento (caixa</p><p>eletrônico), fora do horário de atendimento interno da agência, forneceu seu car-</p><p>tão e senha para o criminoso realizar a transação que esperava (saque), de modo</p><p>que constatou que o autor havia feito transferência de grande volume financeiro</p><p>sem que percebesse. Diante disso, e orientado pelas perspectivas estudadas, de</p><p>que forma você, policial, poderia atuar de maneira eficiente e eficaz? Pense a</p><p>respeito e registre em seu diário de bordo as possibilidades de atuação para essa</p><p>situação, desprendendo-se de julgamentos e rotulações, procurando mencionar</p><p>a importância da empatia, compreensão e escuta ativa para com a vítima. Além</p><p>disso, procure realizar uma pesquisa com seus colegas</p><p>(GRECO, 2015, p. 39).</p><p>Para iniciar nossa problematização do conteúdo, convidamos você, leitor(a), a</p><p>realizar uma breve busca nos noticiários de sua cidade sobre a superficialidade e o</p><p>sensacionalismo existentes ao se tratar do crime, criminoso, vítima e controle social.</p><p>Perceba os discursos inflamados que tratam das soluções simples para objetos de</p><p>tamanha complexidade. A perspectiva do senso comum irá propiciar maior reflexão</p><p>sobre nossos objetos de estudo.</p><p>Com base na pesquisa realizada, torna-se claro que problemas complexos envolvem</p><p>soluções complexas, perfazendo uma perspectiva sistêmica sobre o assunto. Ao se</p><p>pensar em sistemas, consideramos que, devido à infinidade de variáveis envolvidas,</p><p>configuram-se possibilidades infindáveis para discussão dos objetos de estudo.</p><p>Visando compreender a criminologia de forma linear, serão apresentadas as escolas</p><p>de pensamentos de forma pormenorizada, às quais, influenciadas pela necessidade</p><p>de mudança, ocupam-se no desenvolver de meios para a melhor compreensão dos</p><p>fenômenos da criminalidade, bem como da execução das sentenças. Ainda, será dis-</p><p>cutido sobre o atual cenário da criminologia e suas causas de criminalidade, o sistema</p><p>de justiça criminal brasileiro, faremos uma análise do sistema penitenciário brasileiro</p><p>e os métodos de ressocialização; serão problematizados os aspectos básicos sobre a</p><p>personalidade delinquente, a vitimologia e as modalidades de controle e pacificação</p><p>social; os modelos de processo penal e sua relação com a polícia, Ministério Público,</p><p>Poder Judiciário e defesa.</p><p>Perceber a complexidade existente no entendimento sobre a criminologia permitirá</p><p>que sua atuação profissional seja pautada em perspectivas mais profundas, especial-</p><p>mente no que se refere à compreensão do crime, criminoso, vítima e os controles</p><p>sociais existentes. Assim, esta disciplina irá contribuir significativamente para sua for-</p><p>mação e caminho que irá trilhar profissionalmente.</p><p>Para isso, caro estudante, saiba que você é o principal protagonista no processo</p><p>de aprendizagem, de modo que as questões e atividades propostas, bem como as</p><p>indicações de leituras e outras bibliografias presentes neste material, têm o objetivo</p><p>de explorar o conteúdo de forma mais profunda. Assim, desejamos a você, estudante,</p><p>uma ótima leitura e bons estudos.</p><p>IMERSÃO</p><p>RECURSOS DE</p><p>Ao longo do livro, você será convida-</p><p>do(a) a refletir, questionar e trans-</p><p>formar. Aproveite este momento.</p><p>PENSANDO JUNTOS</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Enquanto estuda, você pode aces-</p><p>sar conteúdos online que amplia-</p><p>ram a discussão sobre os assuntos</p><p>de maneira interativa usando a tec-</p><p>nologia a seu favor.</p><p>Sempre que encontrar esse ícone,</p><p>esteja conectado à internet e inicie</p><p>o aplicativo Unicesumar Experien-</p><p>ce. Aproxime seu dispositivo móvel</p><p>da página indicada e veja os recur-</p><p>sos em Realidade Aumentada. Ex-</p><p>plore as ferramentas do App para</p><p>saber das possibilidades de intera-</p><p>ção de cada objeto.</p><p>REALIDADE AUMENTADA</p><p>Uma dose extra de conhecimento</p><p>é sempre bem-vinda. Posicionando</p><p>seu leitor de QRCode sobre o códi-</p><p>go, você terá acesso aos vídeos que</p><p>complementam o assunto discutido.</p><p>PÍLULA DE APRENDIZAGEM</p><p>OLHAR CONCEITUAL</p><p>Neste elemento, você encontrará di-</p><p>versas informações que serão apre-</p><p>sentadas na forma de infográficos,</p><p>esquemas e fluxogramas os quais te</p><p>ajudarão no entendimento do con-</p><p>teúdo de forma rápida e clara</p><p>Professores especialistas e convi-</p><p>dados, ampliando as discussões</p><p>sobre os temas.</p><p>RODA DE CONVERSA</p><p>EXPLORANDO IDEIAS</p><p>Com este elemento, você terá a</p><p>oportunidade de explorar termos</p><p>e palavras-chave do assunto discu-</p><p>tido, de forma mais objetiva.</p><p>Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar</p><p>Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do</p><p>aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881</p><p>APRENDIZAGEM</p><p>CAMINHOS DE</p><p>1 2</p><p>3 4</p><p>5</p><p>ASPECTOS INICIAIS</p><p>DO CAMPO DA</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>– ESCOLAS</p><p>CIMINOLÓGICAS</p><p>11</p><p>CENA ATUAL DA</p><p>CRIMINOLOGIA</p><p>E CAUSAS DA</p><p>CRIMINALIDADE</p><p>39</p><p>65</p><p>SISTEMA</p><p>PRISIONAL</p><p>BRASILEIRO</p><p>87</p><p>VITIMOLOGIA</p><p>113</p><p>INSTITUIÇÕES:</p><p>PROCESSO PENAL</p><p>BRASILEIRO, POLÍCIA,</p><p>MINISTÉRIO PÚBLICO,</p><p>PODER JUDICIÁRIO E</p><p>ADVOCACIA.</p><p>1Aspectos Iniciais</p><p>do Campo da</p><p>Criminologia</p><p>– Escolas</p><p>Criminológicas</p><p>Me. Felipe Pereira de Melo</p><p>Caro(a) aluno(a), esta unidade traz em seu conteúdo a discussão so-</p><p>bre algumas das principais escolas criminológicas que influenciaram</p><p>o pensamento no mundo. Dentre elas, serão apresentadas a Escola</p><p>Clássica, a Escola Positiva, a Escola Italiana e a Escola Sociológica Ale-</p><p>mã. Neste sentido, a proposta é estabelecer os aspectos básicos e</p><p>essenciais para a compreensão da evolução criminológica no Brasil.</p><p>UNIDADE 1</p><p>12</p><p>Como forma de aproximar você, estudante, do contexto histórico, torna-se funda-</p><p>mental entender como era o Direito Penal Europeu em meados do Século XVIII</p><p>(berço dos primeiros estudos), sendo um momento no qual a repressão, incerteza</p><p>e a barbárie eram rotina – arbitrariedades e abusos eram permitidos durante o</p><p>processo penal em si. Você já imaginou viver em um momento em que não há o</p><p>respeito ao devido processo legal, em que se admitiam condenações com base em</p><p>acusações secretas, anônimas e sem a necessidade de qualquer base consistente?</p><p>Durante o contexto histórico, especialmente no Século XVIII, ainda havia a</p><p>parcialidade quanto à punição dos condenados por crimes, sobretudo por parte</p><p>dos juízes. Estes, variavam a pena de acordo com a vontade própria, ou com a clas-</p><p>se social do indivíduo julgado – elementos totalmente subjetivos. Eram comuns</p><p>as penas de morte com verdadeiros “shows” de atrocidades desumanas sobre o</p><p>condenado, sem qualquer distinção prática de acusado e condenado, independen-</p><p>temente de idade e sexo. Essas barbáries sociais foram elementos que trouxeram a</p><p>discussão para o início e desenvolvimento da criminologia no mundo.</p><p>Em uma situação hipotética, você, como policial atuante em uma determina-</p><p>da comunidade, é acionado pelo centro de comunicações para apurar a seguinte</p><p>situação: “Perturbação do sossego. Solicitante pede providências policiais a fim de</p><p>retirar morador de rua que está em frente ao seu comércio.” No local, você e sua</p><p>equipe percebem que o morador de rua estava apenas deitado sob a proteção da</p><p>marquise. Diante disso, e orientado pelas perspectivas estudadas, de que forma</p><p>você, policial, poderia atuar de uma maneira eficiente e eficaz? Pense a respeito</p><p>13</p><p>e registre em seu diário</p><p>de bordo as possibilida-</p><p>des de atuação para essa</p><p>situação.</p><p>Diante do contexto</p><p>estudado, é possível ve-</p><p>rificar que a prática de</p><p>punir se torna um dis-</p><p>curso latente ao longo</p><p>da história da humani-</p><p>dade. Dessa forma, vin-</p><p>gar a sociedade daqueles</p><p>que cometerem delitos é</p><p>um discurso que adqui-</p><p>re espaço, especialmente</p><p>com as falácias eleitorais</p><p>de “guerra ao crime” e</p><p>de “combate ao inimi-</p><p>go social”. Assim sendo,</p><p>pode-se considerar que</p><p>tal política de “encarce-</p><p>ramento em massa” é fo-</p><p>cada em atender apenas parte da sociedade? De que forma a “dignidade da pessoa</p><p>humana” deve ser norteadora das ações policiais?</p><p>Ao se pensar no termo criminologia, é comum relacioná-lo ao estudo do crime,</p><p>do comportamento delitivo, da vítima e do infrator, bem como à ressocialização.</p><p>Sua terminologia foi cunhada por Paul Topinard, em 1883, e aplicada por Rafaelle</p><p>Garofalo (1851-1934) em sua obra “Criminologia”, de 1885, a qual aperfeiçoou as</p><p>discussões cunhadas por pensadores como Cesare Lombroso (1835-1909).</p><p>Conforme Gonzaga (2020, p.13), o conceito mais conhecido advém de Edwin</p><p>H. Sutherland, que define criminologia como sendo “um conjunto de conheci-</p><p>mentos que estuda o fenômeno da criminalidade, a personalidade do delinquente,</p><p>sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo”. Peixoto (1953), de forma</p><p>breve e pontual, considera como sendo a ciência que estuda a criminalidade,</p><p>abordando as perspectivas dos crimes e criminosos.</p><p>UNICESUMAR</p><p>de profissão com a fina-</p><p>lidade de identificar as melhores práticas para a resolução do caso hipotético.</p><p>No atual contexto social, torna-se comum rotulações e julgamentos morais a</p><p>condenar a vítima como a principal responsável pelos atos criminosos. Um dos</p><p>exemplos é o Caso Mariana Ferrer, em que a vítima de estupro, durante seu</p><p>julgamento, foi humilhada e desrespeitada de modo público, ganhando reper-</p><p>cussão internacional pela forma como o judiciário brasileiro tratou a VÍTIMA.</p><p>Para acessar o vídeo na íntegra da audiência de Mariana</p><p>Ferrer em julgamento sobre estupro, acesse por meio do seu</p><p>leitor de QR Code.</p><p>Assim sendo, de que forma a dignidade da pessoa huma-</p><p>na deve ser elemento norteador no atendimento às vítimas?</p><p>Qual o papel da polícia no atendimento às vítimas de crimes</p><p>e contravenções penais?</p><p>UNIDADE 4</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14195</p><p>UNIDADE 4</p><p>90</p><p>A vitimologia é uma disciplina que visa o estudo da vítima, de suas características</p><p>e da relação que ela possui com o criminoso, de modo a compreender de que forma</p><p>está a vítima está relacionada ao crime em si. Conforme Burke (2019), a vitimolo-</p><p>gia é considerada uma ciência autônoma, voltada para o reconhecimento, tutela e</p><p>promoção dos direitos e garantias dos ofendidos decorrentes de algum ato ilícito,</p><p>por meio da criação de políticas públicas voltadas à dignidade das vítimas, com</p><p>objetivo de que possam reconstruir os bens penais violados com a infração penal.</p><p>Torna-se importante também definir o conceito de vítima, visando, assim,</p><p>que se considere os sujeitos da ação. Sumariva (2015) ecoa como sendo a vítima</p><p>a pessoa que sofre danos de ordem física, mental ou econômica, de modo que</p><p>perde seus direitos fundamentais por meio de ações ou omissões em violação</p><p>ao ordenamento jurídico, inclusive as que prescrevem abuso de poder. De modo</p><p>amplo, pode ser considerada como aquela que sofreu a ação delituosa por outro</p><p>agente. Evidentemente que, de forma lato, o conceito de vítima não se aplica</p><p>apenas a pessoas, mas corporações, comunidades, entidades, entre outros.</p><p>Ribeiro (2001) amplia a perspectiva no sentido de que vítima não é apenas</p><p>aquela que é sujeito passivo e, ou prejudicado por delito, mas corresponde a todo</p><p>agente que padece de um sofrimento (perspectiva de dor e emoção pelo senti-</p><p>mento de perda), o qual pode ter sido causado por fato humano ou natural.</p><p>91</p><p>Conforme a Declaração dos Princípios Fundamentais de Justiça Relativos às</p><p>Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder das Nações Unidas - ONU, tem-se</p><p>o conceito de vítima em seu Anexo como:</p><p>“ 1. Entendem-se por ‘vítimas’ as pessoas que, individual ou coleti-</p><p>vamente, tenham sofrido um prejuízo, nomeadamente um aten-</p><p>tado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de ordem</p><p>moral, uma perda material, ou um grave atentado aos seus direitos</p><p>fundamentais, como consequência de actos [sic] ou de omissões</p><p>violadores das leis penais em vigor num Estado membro, incluindo</p><p>as que proíbem o abuso de poder. 2. Uma pessoa pode ser conside-</p><p>rada como ‘vítima’, no quadro da presente Declaração, quer o autor</p><p>seja ou não identificado, preso, processado ou declarado culpado, e</p><p>quaisquer que sejam os laços de parentesco deste com a vítima. O</p><p>termo “vítima” inclui também, conforme o caso, a família próxima</p><p>ou as pessoas a cargo da vítima directa e as pessoas que tenham</p><p>sofrido um prejuízo ao intervirem para prestar assistência às vítimas</p><p>em situação de carência ou para impedir a vitimização (HUMAN</p><p>RIGHTS COMMITTEE - ONU, 1985, s.p.)</p><p>Conforme a doutrina majoritária, tem-se como pai da vitimologia o Professor</p><p>da Universidade Hebraica de Jerusalém Benjamin Mendelsohn, que, em 1947,</p><p>apresentou a conferência denominada Um novo horizonte na ciência biopsicos-</p><p>social - A vitimologia, em Bucareste. Tal conferência conceituou a vitimologia</p><p>como sendo a ciência que se ocupa da vítima e da vitimização, cujo objeto é a</p><p>existência de menos vítimas na sociedade, quando esta tiver real interesse nisso.</p><p>Destaca-se que, conforme Mendelsohn apud Penteado; Penteado Filho</p><p>(2021), as vítimas são divididas em três grupos:</p><p>■ Vítima Provocadora - considera-se como a que possui responsabilida-</p><p>de pelo resultado, subdividindo-se em provocadora direta, imprudente,</p><p>voluntária ou ignorante;</p><p>■ Vítima Agressora - possui participação consciente de modo a causar</p><p>a vontade criminosa no agente, dentre os exemplos mais consolidados,</p><p>tem-se a legítima defesa;</p><p>UNIDADE 4</p><p>UNIDADE 4</p><p>92</p><p>■ Vítima Inocente - tal classificação pode ser subdividida em completamente</p><p>inocente, sendo aquela que não possui nenhuma participação, de modo que</p><p>o criminoso seja o único culpado; e vítima menos culpada que o criminoso,</p><p>sendo aquela que contribui de alguma forma para o crime, por exemplo,</p><p>pessoa que frequenta locais perigosos se expondo a riscos desnecessários.</p><p>Deve-se salientar que Mendelson considera ainda as situações nas quais a vítima é a</p><p>única culpada, tendo seu comportamento imprudente ou negligente influenciando</p><p>no resultado. Como um dos exemplos clássicos, tem-se o sujeito inebriado por algu-</p><p>ma substância entorpecente que se lança ao trânsito movimentado de uma rodovia.</p><p>Cabe destacar que a vitimologia é dividida em três períodos. Vamos conhecer</p><p>cada um deles.</p><p>A Idade de Ouro da vítima é o período que consiste no momento histórico</p><p>pelo qual a vítima estava necessariamente no epicentro do fenômeno, de modo</p><p>que o dano causado, além de ser diretamente à vítima, também envolvia a socie-</p><p>dade. Nesse período, o critério de punição era retributivo em forma de “vingança”.</p><p>Considera-se que, desde o surgimento da civilização até a idade média, a idade de</p><p>ouro permitia que a coletividade pudesse se vingar sem limites, sendo, inclusive,</p><p>comum que os crimes, em geral, tivessem a condenação por suplícios e pena de</p><p>morte. No Brasil, as Ordenações Filipinas traziam condenações à morte mesmo</p><p>para crimes considerados “insignificantes”, visto que o crime era uma afronta à</p><p>sociedade e ao poder monárquico.</p><p>Outra perspectiva consistia na Lei de Talião, que se traduz na compensação ou</p><p>reciprocidade, na qual se tem como basilar a noção da proporcionalidade do “olho</p><p>por olho, dente por dente”, ou seja a medida da vingança deveria estar de forma pro-</p><p>porcional ao dano causado. Embora, originalmente advenha do código de Hamurabi</p><p>(Babilônia – 1170-1750 a.C.), foi utilizado por inúmeros outros povos, como os He-</p><p>breus. A exemplo, é possível encontrar no Antigo Testamento as seguintes inscrições:</p><p>93</p><p>Fonte: Bíblia - Velho testamento. Bíblia Online - Acesso em 03 Fev. 2022.</p><p>Em se tratando do direito germânico, há ainda a possibilidade dos “sistemas de</p><p>composição”, sendo o meio pelo qual admitia-se que o causador do dano pagasse</p><p>uma indenização à vítima, a fim de que ela desistisse do conflito.</p><p>É durante o período da idade média que houve a substituição da vingança pri-</p><p>vada pela noção da vingança pública, período que ficou conhecido como neutra-</p><p>lização da vítima, pois o poder, até então centralizado nas mãos da monarquia</p><p>(dividido apenas com a igreja), passa a ter o monarca como símbolo de justiça e</p><p>poder. É neste momento que a publicidade ganha espaço com incontáveis espetá-</p><p>culos de horror, conforme apresentado na Unidade 1. Assim, torna-se perceptível</p><p>que as vítimas renunciam do seu interesse pessoal em fazer vingança para con-</p><p>centrar no poder público seu interesse de que o autor seja punido (VIANA, 2021).</p><p>17 E quem matar alguém certa-</p><p>mente morrerá.</p><p>18 Mas quem matar um animal,</p><p>o restituirá, vida por vida.</p><p>19 Quando também alguém</p><p>desfigurar o seu próximo, como</p><p>ele fez, assim lhe será feito:</p><p>20 Quebradura por quebradura,</p><p>olho por olho, dente por dente;</p><p>como ele tiver desfigurado a al-</p><p>gum homem, assim se lhe fará.</p><p>21 Quem, pois, matar um ani-</p><p>mal, restitui-lo-á, mas quem</p><p>matar um homem será morto</p><p>(Levítico 24:17-21).</p><p>20 Para que os que ficarem o</p><p>ouçam e temam, e nunca mais</p><p>tornem a fazer tal mal no meio</p><p>de ti.</p><p>21 O teu olho não perdoará;</p><p>vida por vida, olho por olho,</p><p>dente por dente, mão por mão,</p><p>pé por pé (Deuteronômio 19:20-</p><p>21).</p><p>Deuteronômio 19:20,21</p><p>UNIDADE 4</p><p>UNIDADE 4</p><p>94</p><p>“ Com efeito, os sistemas legais de resposta punitiva (incluindo não</p><p>somente o Direito Penal, mas também – e por que não principal-</p><p>mente – o processo penal) foram decisivos para, aos poucos, a vítima</p><p>converter-se apenas em mero sujeito passivo do delito. Daí porque o</p><p>progresso do processo penal no modelo de justiça repressiva é um</p><p>dos principais responsáveis pelo paulatino processo de neutralização</p><p>da vítima no quadro do fenômeno criminal. (VIANA, 2021, p.165)</p><p>É evidente que a construção existente da vítima como sujeito passivo advém de</p><p>uma postura oriunda do pensamento de Rousseau - Do Contrato Social (1762),</p><p>no qual dispõe que a construção do social é derivada em renúncias pessoais em</p><p>prol da coletividade, além disso para que haja a justiça e a paz social, é necessário</p><p>igualar o poder entre fortes e fracos. Em outras palavras, Rousseau se preocupou</p><p>com a problemática de como preservar a liberdade natural do homem e, ao mes-</p><p>mo, tempo garantir a segurança e o bem-estar da sociedade. Assim, o contrato</p><p>social tem como propósito que haja a prevalência da soberania da sociedade,</p><p>política e da vontade social (coletivo).</p><p>Como exemplo ainda presente, temos um modelo vigente no qual as ações</p><p>penais em geral são públicas, de modo que são raras as ações penais privadas.</p><p>Dessa forma, a vítima assume um papel de pouca interferência, estando restrita</p><p>à representação, queixa-crime e assistência. Sendo assim, percebe-se que o Es-</p><p>tado, preocupado com a existência de “justiceiros”, procurou condenar de forma</p><p>a impedir que a vítima se torne o criminoso. A exemplo temos a previsão legal</p><p>no Código Penal Brasileiro em seu Art. 345 - Exercício arbitrário das próprias</p><p>razões, na qual considera:</p><p>“ Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer preten-</p><p>são, embora legítima, salvo quando a lei o permite:</p><p>Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena</p><p>correspondente à violência. Parágrafo único - Se não há emprego de</p><p>violência, somente se procede mediante queixa. (BRASIL, 1940, s.p.)</p><p>95</p><p>Embora a figura do justiceiro seja romantizada pela Cultura Pop, especialmente</p><p>quando percebemos sua menção nos quadrinhos da Marvel Comics, em que são</p><p>explorados as ideias fictícias do anti-herói Frank Castle, na prática, temos um</p><p>sistema penal que condena as ações e que busca no poder estatal a punição para</p><p>os crimes cometidos a fim de responsabilizar os autores. No dia a dia policial,</p><p>devemos ter o pleno cuidado para que esta perspectiva de vingança não seja ex-</p><p>teriorizada nas ações, compreendendo que o criminoso deve ser responsabilizado</p><p>pelo sistema judiciário na medida de sua culpabilidade, e que as ações policiais</p><p>devem ser sempre pautadas pelos princípios constitucionais.</p><p>Descrição da Imagem: A</p><p>imagem mostra a capa da</p><p>obra do Contrato Social</p><p>de Rousseau (1762), que</p><p>representa um importante</p><p>avanço na construção da</p><p>perspectiva social, sendo</p><p>um dos maiores marcos</p><p>do liberalismo político.</p><p>Figura 1 - Du Contract Social,</p><p>de Rousseau / Fonte: Pissurno</p><p>(2021, on-line).</p><p>UNIDADE 4</p><p>UNIDADE 4</p><p>96</p><p>“ O abandono da vítima do delito é um fato incontestável que se ma-</p><p>nifesta em todos os âmbitos: no Direito Penal (material e proces-</p><p>sual), na Política Criminal, na Política Social, nas próprias ciências</p><p>criminológicas. Desde o campo da Sociologia e da Psicologia social,</p><p>diversos autores, têm denunciado esse abandono: o Direito Penal</p><p>contemporâneo – advertem – acha-se unilateral e equivocadamente</p><p>voltado para a pessoa do infrator, relegando a vítima a uma posição</p><p>marginal, no âmbito da previsão social e do Direito civil material e</p><p>processual”. (GOMES; MOLINA, 2000, p.73)</p><p>No que se refere à fase do redescobrimento da vítima, pode-se afirmar que ela</p><p>se dá durante o período envolvendo a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).</p><p>Neste período, houve uma resposta ética e social aos fenômenos, subdividindo-se</p><p>em duas vertentes: a político-social, representada pela macrovitimização causa-</p><p>da pela massificação da criminalidade, que trouxe a necessidade de criação de</p><p>entidades de proteção aos interesses coletivos; e a acadêmica, em que, durante a</p><p>década de 70 (século XX), inúmeros eventos repercutiram a temática até a criação</p><p>da Sociedade Internacional de Vitimologia, em 1980 (VIANA, 2021).</p><p>Dentre os precursores do advento da vitimologia pode-se destacar Mendel-</p><p>son e Henting, cujas contribuições foram fundamentais para o desenvolvimento</p><p>dos problemas de pesquisa.</p><p>Hans Von Henting (1887-1974) inicia suas publicações com seu artigo deno-</p><p>minado “Observações sobre a interação entre autor e vítima”, entretanto é com sua</p><p>obra “O criminoso e sua vítima” (The Criminal and his victim – publicada em</p><p>1948) que ganhará repercussão de modo a questionar a participação da vítima</p><p>no processo de criminalização, não mais como sujeito passivo, mas sim como</p><p>sujeito ativo, assim como o criminoso. Dessa maneira, demonstrou-se que nem</p><p>sempre a vítima é completamente inocente, possuindo, em alguns casos, parcelas</p><p>de culpa. Segundo o autor, as vítimas podem ser classificadas em: Vítima isolada;</p><p>com ânimo de lucro; com ânsia de viver; agressiva; sem valor; vítima pelo estado</p><p>emocional; por mudança da fase de existência; perversa; alcoólatra; depressiva;</p><p>voluntária; indefesa; falsa; imune; reincidente; que se converte em autor; propen-</p><p>sa; resistente e vítima da natureza (PENTEADO; PENTEADO FILHO, 2021).</p><p>Benjamin Mendelsohn (1900 – 1998), considerado por parte da doutrina</p><p>como o “verdadeiro pai da vitimologia”, devido ao fato de ter sua primeira pu-</p><p>blicação em 1937, ganhou espaço e se consolidou por meio de suas obras The</p><p>97</p><p>Victimology (artigo escrito em 1956) e La Victimologie (obra mais importante</p><p>do autor, publicada em 1958). Sua classificação das vítimas, que se constituía</p><p>em vítima inocente; provocadora e agressora, trouxe significativa discussão no</p><p>âmbito acadêmico, tornando-se elemento que propiciou importantes avanços</p><p>na área criminológica.</p><p>Em se tratando dos processos de vitimização, deve-se iniciar a discussão con-</p><p>siderando que não é raro encontrarmos situações nas quais as vítimas se deparam</p><p>com inúmeras barreiras para exercerem seus direitos, sendo expostas a situações</p><p>vexatórias, de ridicularização ou de exposição desmedida. Assim, a própria escuta</p><p>da vítima deve ser pautada no compromisso de que haja um atendimento huma-</p><p>nizado por meio de escuta ativa, e na qual exista o pleno respeito por sua condição.</p><p>Com relação à vitimização primária, esta é entendida como a pessoa que sofreu</p><p>a ação direta ou indiretamente, sofrendo os efeitos do crime e trazendo impactos</p><p>profundos, sejam materiais, físicos ou psicológicos. Como exemplo podemos</p><p>citar a situação em que uma pessoa tem sua casa invadida e é feita refém pelos</p><p>criminosos. Tal ação traz mudanças significativas no comportamento da vítima,</p><p>com danos que podem permanecer de forma duradoura. Visando diminuir a</p><p>ação, faz-se necessário o desenvolvimento de políticas de segurança com base na</p><p>UNIDADE 4</p><p>UNIDADE 4</p><p>98</p><p>prevenção e repressão criminal objetivando trazer maior sensação de segurança</p><p>social (SUMARIVA, 2015; GONZAGA, 2021; VIANA, 2021).</p><p>No que se diz respeito à vitimização secundária, que é também denominada</p><p>como sobrevitimização, refere-se da condição decorrente do tratamento dado</p><p>pelas ações ou omissões das instâncias formais de controle social. Corresponde</p><p>ao sofrimento adicional causado à vítima pelos órgãos e instituições formais,</p><p>seja do Estado ou da sociedade (SUMARIVA, 2015; GONZAGA, 2021; VIANA,</p><p>2021). Como um dos exemplos que podemos citar, é a condição hipotética de</p><p>que a vítima de um crime solicita apoio policial de uma viatura de área, e, ao ser</p><p>atendida pelos policiais, tem a informação, de forma ríspida, de que deve procu-</p><p>rar uma delegacia para registrar o Boletim de Ocorrência, que é difícil achar os</p><p>criminosos</p><p>e que a região é assim mesmo. Logo, repare que o dano e sofrimento</p><p>que a vítima percebe é de total descaso para com a sua situação.</p><p>A vitimização terciária é consequência da falta de amparo dos órgãos</p><p>públicos e do Estado com relação à receptividade para com a vítima. A própria</p><p>pressão social existente faz com que a vítima se sinta culpada, ou incrédula, diante</p><p>do sistema jurídico, o que a leva a ter receio do julgamento social e deixe de co-</p><p>municar o crime ocorrido para as autoridades competentes, contribuindo para</p><p>a chamada cifra negra, ou seja, os dados criminais que não são contabilizados</p><p>devido à carência de informação e comunicação do crime (SUMARIVA, 2015;</p><p>GONZAGA, 2021; VIANA, 2021).</p><p>“ A fim de ilustrar tal espécie de vitimização, cumpre ressaltar o recen-</p><p>te episódio ocorrido no Rio de Janeiro, em que uma garota foi vítima</p><p>do chamado ‘estupro coletivo’, onde vários homens revezaram entre</p><p>si durante alguns dias mantendo relações sexuais forçadas com ela,</p><p>em típico caso de estupro. Após o ocorrido, foi comentário geral nas</p><p>redes sociais e na comunidade em que a vítima morava de que ela</p><p>teria sido parcialmente culpada pelo ocorrido, uma vez que já teria</p><p>feito tal prática anteriormente e não tinha reclamado na Polícia.</p><p>Ademais, ela também mantinha relacionamento amoroso com um</p><p>dos envolvidos e de forma sistemática frequentava bailes funk em</p><p>que tal prática era corriqueira. (GONZAGA, 2021, p.188-189)</p><p>99</p><p>Evidentemente que a conduta social reflete a condição absurda de considerar</p><p>determinado crime como algo natural devido à própria condição da vítima, de-</p><p>monstrando a barbárie e a carência de ação do poder público. Assim, cabe aos</p><p>policiais que realizam o primeiro atendimento, atuarem de forma a amenizar</p><p>a situação de insegurança e de dor, procurando trazer a resposta adequada ao</p><p>problema, orientados pela empatia (compreender o outro em suas emoções),</p><p>entretanto, sem tornar o problema da vítima como algo seu (pessoal).</p><p>A outra cifra que desperta, ainda mais, prejuízo social é a cifra dourada da</p><p>criminalidade, sendo esta vulgarmente conhecida como crimes de “colarinho</p><p>branco” – crimes praticados por aqueles que detêm o poder público e econômico,</p><p>estando, por vezes, impunes, devido à manutenção do poder entre sua própria</p><p>estrutura. Conforme Foucault (1978), em sua obra “Microfísica do poder”, a pró-</p><p>pria estrutura social permite e faz com que não haja inversão de tal, permitindo</p><p>que os dominadores mantenham sempre seu poder sobre os dominados, em</p><p>uma perspectiva de continuidade que perpassa pelos grupos em que se inserem.</p><p>Sumariva (2015) considera também que, devido ao processo emocional, a</p><p>vítima pode se tornar vítima de novo, em um processo denominado revitimiza-</p><p>ção. Este processo é dividido em: heterovitimização secundária – decorrente</p><p>da relação com outros agentes ou instituições; e, autovitimização secundária –</p><p>decorrente de situações em que a vítima tem consciência de sua parcela de culpa,</p><p>acentuando o sentimento autoimpositivo.</p><p>UNIDADE 4</p><p>UNIDADE 4</p><p>100</p><p>Outra modalidade que surge no campo da vitimologia, e que é campo fértil para</p><p>novas pesquisas, corresponde à vitimologia corporativa, na qual se procura</p><p>sistematizar os danos causados pelas organizações corporativas, não necessitan-</p><p>do explanações pontuais sobre as vítimas e processo de vitimização, mas sim, o</p><p>impacto gerado. Conforme Saad-Diniz (2019, p. 141):</p><p>“ O custo social da atividade empresarial, até então, estava reduzido</p><p>às estratégias de mitigação de riscos e responsabilidades, dizendo</p><p>muito pouco sobre o que efetivamente pode ser feito no sentido</p><p>negativo (redução de dano e compensação da vítima) e positivo</p><p>(estratégias de prevenção da vitimização corporativa)."</p><p>Segundo Gongaza (2020), a vitimologia corporativa tem como objetivo a com-</p><p>preensão dos participantes do cenário organizacional corporativo, tendo em vista</p><p>que é comum que os gestores destas organizações sejam expostos em escândalos</p><p>envolvendo as organizações, centrando nestes representantes a responsabilização</p><p>civil, administrativa e penal. Neste caso, a crítica recai na atribuição de culpa sob</p><p>o gestor, como o elemento que será “massacrado” em um espetáculo de punição,</p><p>em um sentido popular chamado “bode expiatório”. Assim, o campo de pesquisa</p><p>procura minimizar este comportamento de forma a expor a culpabilidade em</p><p>sua medida, conforme sua conduta, ligando-se diretamente aos mecanismos de</p><p>compliance e, em alguns casos, de governança corporativa.</p><p>Assim, de acordo com Saad-Diniz (2019), a responsabilidade penal empre-</p><p>sarial é pouco explorada a buscar a justiça econômica do grupo, sendo necessá-</p><p>rio que se realize uma revisão sobre a punição e legitimação empresarial, com-</p><p>preendendo a organização corporativa também como ofensora e como vítima,</p><p>superando a negligência existente no sistema de justiça criminal brasileiro. Neste</p><p>sentido, sua ação ou omissão podem constituir fatores de vitimização.</p><p>Conforme destacado, o campo da vitimologia corporativa traz uma proble-</p><p>mática que possibilita o ganho público, tendo em vista que estas grandes corpo-</p><p>rações exercem influência sobre o sistema político, econômico e social.</p><p>101</p><p>Outro elemento que se concentra como ciência autônoma, mas que deriva dos</p><p>estudos da vitimologia, é a vitimodogmática, compreendida a partir do olhar</p><p>dogmático ou normativo-axiológico e uma perspectiva do “dever-ser”. Assim, a</p><p>disciplina procura trazer a problemática sobre em que medida a vítima corres-</p><p>ponsável pode gerar algum tipo de repercussão sobre a valoração jurídico-penal</p><p>face ao comportamento do autor do crime. Conforme Oliveira Neto (2019, p. 32),</p><p>a principal diferença entre vitimologia e vitimodogmática é:</p><p>“ a) a vitimodogmática relaciona-se diretamente com a ciência do</p><p>direito penal, projetando seus esforços na teoria do delito ; b) a vi-</p><p>timologia, ao contrário, centra seu foco na vítima, pesquisando os</p><p>processos de vitimização e as possibilidades de assistência moral,</p><p>financeira e jurídica aos sujeitos vitimizados pelos delitos; c) ambas</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Você, aluno, está convidado a aprofundar seus conhecimentos na</p><p>perspectiva da Vitimologia Corporativa. Afinal, será que a vítima con-</p><p>siste apenas nos elementos humanos? Como funciona essa relação</p><p>com as pessoas jurídicas? Acompanhe essa importante discussão no</p><p>Webinar “Vitimologia corporativa e responsabilidade penal da empre-</p><p>sa”, com o palestrante Eduardo Saad-Diniz.</p><p>UNIDADE 4</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14191</p><p>UNIDADE 4</p><p>102</p><p>cuidam do papel que a vítima desempenha no bojo do fenômeno</p><p>criminal, mas apenas a vitimologia empenha-se para alcançar a des-</p><p>vitimização oriunda das instâncias de controle social (OLIVEIRA</p><p>NETO, 2019, p.32).</p><p>Desse modo, não significa que a vitimodogmática esteja meramente protegendo</p><p>o autor, mas sim, procura compreender a relação que a vítima possui com o caso</p><p>concreto, objetivando maior eficiência do sistema penal – afinal, o direito penal</p><p>possui seus próprios limites e se assegura de proteger os bens penalmente rele-</p><p>vantes, promovendo a segurança jurídica.</p><p>Segundo Marchioratto (1999), a vitimodogmática deve, objetivamente, ser</p><p>aplicada com disposições atenuatórias, tendo a extensão da própria responsabili-</p><p>dade do autor em casos mais extremos. Conforme previsto no Art. 59 do Código</p><p>Penal, tem-se que “O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta</p><p>social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequên-</p><p>cias do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme</p><p>seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”. Assim sendo,</p><p>percebe-se a influência que a vitimodogmática exerce sobre o sistema penal bra-</p><p>sileiro, sendo elemento que merece ser aprofundado perante a academia.</p><p>Conforme verificamos nesta Unidade, a vítima possui papel importante na cons-</p><p>trução do sistema jurídico brasileiro, sendo, muitas vezes, a principal responsável</p><p>pela comunicação do ocorrido. Torna-se evidente</p><p>que, ao efetuar o primeiro</p><p>contato com a vítima, após o crime, cabe às equipes policiais realizarem o aten-</p><p>103</p><p>dimento eficaz, compreendendo a sensível condição em que se está, bem como</p><p>a valiosa fonte de informações que representa.</p><p>Entretanto, é comum que muitos policiais, ainda que de forma bem inten-</p><p>cionada, acabem sugestionando e criando falsas memórias para a vítima, conta-</p><p>minando as informações obtidas e prejudicando toda investigação. Por exemplo,</p><p>mostrar a foto de possíveis suspeitos, perguntando se tem certeza que não é aquele</p><p>mostrado, pois é ele quem realiza assaltos na região etc. A sugestão é tão grande</p><p>que, na maior parte dos casos, a vítima acaba descrevendo o mostrado, durante</p><p>sua oitiva, levando a uma investigação viciada e prejudicada. Conforme Alves</p><p>e Lopes (2007, p. 1), as falsas memórias “ocorrem quando uma pessoa lembra</p><p>de eventos que não aconteceram, situações que nunca presenciou, lugares onde</p><p>nunca esteve, ou então, se lembra de maneira distorcida do que realmente houve” .</p><p>Segundo Guterres, Thomaz e Bulcão (2021), existem diversos fatores que in-</p><p>fluenciam na formação das falsas memórias, estando entre os principais o lapso</p><p>temporal entre ocorrência do fato e a coleta de informações (decurso do tempo),</p><p>o estado emocional sensível e a sugestionabilidade.</p><p>Dessa forma, é imprescindível coletar as informações da forma mais impar-</p><p>cial possível, não fazendo sugestões e propiciando que a vítima tenha um relato</p><p>livre. Assim, a investigação se torna mais promissora, impedindo que inocentes</p><p>sejam condenados por algo que não cometeram, minimizando as injustiças ainda</p><p>presentes em nossa realidade brasileira. Visando instrumentalizar a entrevista</p><p>adequada, tem-se o método PEACE como um dos mais efetivos no mundo.</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>O artigo “Os problemas decorrentes das falsas memórias para as en-</p><p>trevistas e interrogatórios policiais” (GUTERRES; THOMAZ; BULCÃO,</p><p>2021) trata de um dos pontos mais importantes na coleta de infor-</p><p>mações pelas unidades policiais, enfatizando os principais problemas</p><p>decorrentes das falsas memórias. É só clicar no play, vem?</p><p>Eysenck e Keane (2017) consideram que existem algumas formas de aumentar a uti-</p><p>lidade das informações obtidas, para tanto, deve-se ter cuidado especial na coleta</p><p>de informações, assim a exatidão ou não da memória de vítimas e testemunhas é de</p><p>fundamental importância. Logo, o testemunho ocular (que geralmente é o elemento</p><p>UNIDADE 4</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14192</p><p>UNIDADE 4</p><p>104</p><p>de maior influência para as polícias quando em atendimento de ocorrências), pode</p><p>ser distorcido por vieses de confirmação, ou seja a memória sofre influência com</p><p>base nas expectativas (anseios, paradigmas, preconceitos, entre outros) do observador.</p><p>“ A maioria dos esquemas das pessoas sobre roubos a bancos inclui in-</p><p>formações de que os assaltantes normalmente são do sexo masculino,</p><p>vestem disfarces e roupas escuras, exigem dinheiro e têm um carro com</p><p>um motorista para fuga (Tuckey & Brewer, 2003a). Tuckey e Brewer</p><p>mostraram a testemunhas um vídeo com simulação de um assalto a</p><p>banco seguido por um teste de memória. Conforme previsto pela teoria</p><p>de Barlett, as testemunhas recordaram mais informações relevantes</p><p>para o esquema de assalto a banco do que informações relevantes para</p><p>o assalto que assistiram (p. ex., a cor do carro de fuga). Tuckey e Bre-</p><p>wer(2003b) concentraram sua atenção em como as testemunhas recor-</p><p>davam informações ambíguas sobre um crime simulado. Por exemplo,</p><p>algumas testemunhas viram a cabeça de um dos assaltantes coberta por</p><p>uma balaclava (máscara de esqui), de modo que o sexo do assaltante</p><p>era ambíguo. As testemunhas preponderantemente interpretaram a</p><p>informação ambígua como sendo compatível com seu esquema para</p><p>assaltos a bancos. Dessa forma, a recordação delas foi sistematicamente</p><p>distorcida ao serem incluídas informações de seu esquema, muito em-</p><p>bora essas informações não correspondessem ao que as testemunhas</p><p>haviam observado. (EYSENCK; KEANE, 2017, p.321-322)</p><p>Nesse sentido, é adequado destacar o grau de sensibilidade que as unidades po-</p><p>liciais sofrem quando em atendimento de ocorrências. Cabe reforçar que o cui-</p><p>dado para não influenciar em falsas memórias, ou por meio de seus vieses de</p><p>confirmação, torna-se fundamental para a obtenção de informações de qualidade.</p><p>Ainda com todo este cuidado, é perceptível, conforme o exemplo destacado, que,</p><p>em muitos casos, as informações obtidas serão contraditórias entre vítimas e</p><p>testemunhas, pois existem inúmeras variáveis que podem influenciar (ansiedade,</p><p>depressão, medo, barreiras psicológicas, gatilhos psicológicos, entre outros).</p><p>105</p><p>Deve-se ter a clareza, na coleta de informações, que, de modo geral, existe algum</p><p>elemento0s e testemunhas, e que cabe à investigação tomar o cuidado necessário</p><p>para tentar identificar tais elementos. Sendo assim, é evidente que a coleta de</p><p>informações deve procurar seguir o máximo de imparcialidade possível, obten-</p><p>do no relato livre, por vezes, os elementos que se tornam mais imprescindíveis.</p><p>Inúmeras técnicas de entrevista foram desenvolvidas no mundo, sendo uma das</p><p>mais eficazes a do método PEACE, tendo em vista que foi inspirada no desen-</p><p>volvimento das entrevistas cognitivas.</p><p>O primeiro contato realizado entre as unidades policiais e a vítima pode auxiliar ou preju-</p><p>dicar todo o desenvolvimento das investigações. Assim, de que forma podemos atuar de</p><p>maneira efetiva e eficaz no atendimento às vítimas e testemunhas?</p><p>PENSANDO JUNTOS</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Conforme as Técnicas de Entrevista mais eficazes para o atendimen-</p><p>to policial, tem-se o método PEACE, desenvolvido no Reino Unido e</p><p>comumente utilizado por inúmeras polícias no mundo, por exemplo,</p><p>a Scotland Yard (Inglaterra), Politidirektoratet (Diretório Nacional de</p><p>Polícia Norueguesa), entre outros. Traz a perspectiva de que as en-</p><p>trevista devem seguir 5 passos básicos: Planning and preparation</p><p>(Planejamento e Preparação), Engage and Explain (Engajar e Explicar),</p><p>Account — Clarification and challenge (Relato e Clarificação), Closure</p><p>(Fechamento) and Evaluation (Avaliação) (MELO, 2020).</p><p>Saiba mais em Princípios sobre entrevistas eficazes para investigação e</p><p>coleta de informações. É só acessar por meio do seu leitor de QR Code.</p><p>UNIDADE 4</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14197</p><p>UNIDADE 4</p><p>106</p><p>Dentre os fatores que também acabam influenciando a vítima, tem-se como um</p><p>dos mais conhecidos a Síndrome de Estocolmo, termo denominado pelo Psi-</p><p>quiatra Nils Bejerot para nominar a reação que as vítimas de um assalto ao banco</p><p>Kreditbanken tiveram, evento este ocorrido em 1973, em Estocolmo, na Suécia.</p><p>O evento que durou seis dias, e manteve quatro funcionários reféns sob a</p><p>observação de dois assaltantes, dentro de um cofre de banco com explosivos</p><p>presos ao corpo, e sob ameaça de morte constante. Conforme Schmitt (2013), o</p><p>interessante é o fato de que as vítimas, após todos os dias de enclausuramento</p><p>resistiram ,ao resgate, considerando a culpa da polícia e não dos criminosos. Ain-</p><p>da, as vítimas se negaram a prestar qualquer depoimento contra os assaltantes,</p><p>chegando a defendê-los, inclusive com custas do processo judicial.</p><p>“ Quando uma pessoa passa por uma situação extremamente crítica</p><p>em que sua existência fica completamente à mercê de outra, que de-</p><p>tém o poder de vida ou de morte sobre ela, pode-se estabelecer um</p><p>tipo de relação dependente em que a vítima adere psicologicamente</p><p>ao agressor. Nesses casos, pode-se estabelecer uma espécie de amor</p><p>ou paixão que decorre de um processo inconsciente de preservação</p><p>cujo mecanismo mais evidente se expressa pela idealização e pela</p><p>identificação, notadamente pela identificação projetiva, através da</p><p>qual características da vítima são projetadas no agressor, com o fim de</p><p>manter o controle do outro, defender se dele e proteger-se de um mal</p><p>grave e inesperado que ele pode causar. (TRINDADE, 2010, p. 213)</p><p>Fabrique et al. (2007, p. 11), consideram a Síndrome</p><p>de Estocolmo como um “fenô-</p><p>meno psicológico paradoxal, em que um vínculo positivo entre refém e captor ocorre,</p><p>e que parece irracional frente à assustadora situação experimentada pela vítima, sen-</p><p>do, portanto, uma tentativa de sobrevivência do sujeito por meio da regressão do ego”.</p><p>Embora a Síndrome de Estocolmo seja constantemente utilizada em situa-</p><p>ções em que se há uma situação de sequestro, há inúmeros estudos no campo da</p><p>psicologia que revelam situações do próprio cotidiano, como o caso de violência</p><p>doméstica, em que tal pode acontecer.</p><p>107</p><p>Na série La Casa de Papel, há, em determinado episódio, uma situação em que,</p><p>durante um sequestro ao Banco da Espanha, determinada refém personagem (Mó-</p><p>nica Gaztambide), acaba tendo um relacionamento amoroso com um dos sequestra-</p><p>dores (Denver), passando com o tempo a colaborar com os criminosos e adquirindo</p><p>o codinome de “Estocolmo”. Tal representação estereotipada revela que a questão é</p><p>um tema que se mantém em constante interesse, até mesmo por não ser considerada</p><p>uma patologia, não sendo reconhecida pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de</p><p>Transtornos Mentais ou pela Classificação Internacional de Doenças (CID).</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Título: Suíte Francesa</p><p>Ano: 2014</p><p>Sinopse: Se a Segunda Guerra Mundial segue despertando o interes-</p><p>se de roteiristas e cineastas, o mesmo não pode ser dito sobre alguns</p><p>dos filmes que chegam aos cinemas. Apesar de abordarem os diferentes</p><p>aspectos da tragédia provocada pelo conflito, são as narrativas mais próxi-</p><p>mas do realismo aquelas que chamam a atenção em detrimento de outras</p><p>que tendem a romantizar excessivamente o que, para muitos, é mesmo in-</p><p>dizível e irrepresentável. Este é o caso de Suíte Francesa, título centrado no</p><p>romance impossível entre uma musicista local e um oficial alemão durante a</p><p>ocupação nazista na França.</p><p>Comentário: O filme retrata um exemplo de Síndrome de Estocolmo, no</p><p>qual a vítima acaba criando laços afetivos com o seu inimigo. Mesmo se tra-</p><p>tando de um romance baseado na obra de Irène Némirovsky é uma excelen-</p><p>te forma de exemplificar o assunto.</p><p>Assim, cabe a você, Gestor de Segurança Pública, tomar um cuidado ainda maior</p><p>na obtenção de informações de vítimas que podem estar “estocolmizadas”, tendo</p><p>em vista que a “verdade” da vítima pode não ser fidedigna. Neste caso, é preciso</p><p>observar com máximo cuidado e atenção, evitando qualquer pré-julgamento,</p><p>contando com o apoio, sempre que possível, de psicólogos que possam realizar</p><p>avaliação e atendimento conforme o caso concreto.</p><p>UNIDADE 4</p><p>UNIDADE 4</p><p>108</p><p>Você, pode perceber a influência da vítima na gênese dos crimes, dessa forma,</p><p>cabe destacar que é fundamental se manter imparcial de acordo com o caso ob-</p><p>servado, uma vez que a própria memória da vítima pode estar comprometida.</p><p>Assim, a entrevista com vítimas e testemunhas, deve sempre ser realizada com</p><p>cautela, a fim de que a coleta de informações não seja contaminada com vieses de</p><p>confirmação e/ou falsas memórias. Ainda, cabe destacar que no dia a dia policial</p><p>a coleta de informações, por meio das entrevistas, é a forma mais comum, seja</p><p>na confecção de Boletins de Ocorrência, no levantamento operacional, ou ainda</p><p>no desenvolvimento de ações estratégicas.</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Título: Vitimologia: Manual da Vítima Penal</p><p>Autor: Anderson Burke</p><p>Editora: JusPODIVM</p><p>Sinopse: O primeiro passo que se deve tomar antes da tomada de</p><p>qualquer discussão e detalhamento sobre a vitimologia, é compreender o</p><p>objeto sobre o qual ela se opera e é movida constantemente ao encontro.</p><p>Quando se fala em vitimologia, rapidamente se chega à figura da vítima, o</p><p>que é extraído a partir de uma leitura lógica e literal sobre a palavra que se</p><p>apresenta. A grande questão é conceituar de modo adequado no sentido</p><p>que nos interessa para o deslinde da presente obra.</p><p>Comentário: Obra completa que permite maior aprofundamento na temática.</p><p>Neste Podcast, iremos discutir sobre a importância de se</p><p>entrevistar as vítimas de forma efetiva e eficaz, assim, será</p><p>apresentado o método PEACE - Planning and Preparation</p><p>(Planejamento e Preparação), Engage and Explain (Engajar</p><p>e Explicar), Account (Relato), Closure (Fechamento) e Eval-</p><p>uation (Avaliação), bem como a importância da Entrevista</p><p>Cognitiva.</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11561</p><p>109</p><p>1. “A importância em estudar vitimologia está em analisar a vítima em face a sua relação</p><p>com o criminoso, para ao final aferir o dolo e a culpa deste, bem como a respon-</p><p>sabilidade da vítima ou sua contribuição involuntária para o evento delituoso. Isso</p><p>repercutirá na adequação típica e na aplicação da pena. Também os estudos da</p><p>vitimologia contribuem sobremaneira à compreensão do fenômeno da criminalidade,</p><p>direcionando assim para o seu enfrentamento a partir do enfoque observado sobre</p><p>a vítima atingida e os danos produzidos”. (SUMARIVA, 2015, p. 95)</p><p>Diante do contexto, considere as afirmativas acerca da classificação das vítimas se-</p><p>gundo Mendelsohn:</p><p>I - Vítima Provocadora: é aquela que possui responsabilidade pelo resultado,</p><p>subdividindo-se em provocadora direta, imprudente, voluntária ou ignorante.</p><p>II - Vítima Agressora: possui participação consciente de modo a causar a vontade</p><p>criminosa no agente.</p><p>III - Vítima Inocente: tal classificação pode ser subdividida em completamente ino-</p><p>cente, sendo aquela que não possui nenhuma participação, de modo que o</p><p>criminoso seja o único culpado; e vítima menos culpada que o criminoso, sendo</p><p>aquela que contribui de alguma forma para o crime.</p><p>IV - Vítima indireta: é o sofrimento da vítima e de pessoas intimamente ligadas ao</p><p>crime por meio heterovitimização sofrida pelo agressor.</p><p>Com base nas afirmativas, pode se considerar que</p><p>a) Somente as afirmativas I e III estão corretas.</p><p>b) Somente as afirmativas II e IV estão corretas.</p><p>c) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.</p><p>d) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.</p><p>e) Nenhuma das afirmativas está correta.</p><p>110</p><p>2. “A vitimologia é uma disciplina que tem por objeto o estudo da vítima e sua persona-</p><p>lidade, de suas características, de suas relações com o delinquente e do papel que</p><p>assumiu na gênese do delito. Em outras palavras, seria o comportamento da vítima</p><p>na origem do crime e do criminoso”. (GONZAGA, 2021, p.181).</p><p>De acordo com a evolução histórica da vitimologia, considere as afirmativas:</p><p>I - Idade de ouro: a vítima era considerada protagonista de modo a viabilizar a vin-</p><p>gança privada, também denominada vingança de sangue.</p><p>II - Suavização: processo no qual verifica-se a sensibilidade da vítima face a sua</p><p>relação com o criminoso, permitindo que o ente estatal atue em benefício social.</p><p>III - Neutralização: monopólio da jurisdição e do poder punitivo nas mãos do Estado,</p><p>de modo que a vítima é colocada em segundo plano.</p><p>IV - Revalorização: também denominada fase do redescobrimento da vítima, tem-se</p><p>que esta se dá durante o período envolvendo a segunda guerra mundial (1939-</p><p>1945), na qual houve uma resposta ética e social aos fenômenos vividos, trazendo</p><p>com que a vítima tenha maior participação no processo penal.</p><p>Com base nas afirmativas, pode se considerar que:</p><p>a) Somente as afirmativas I e III estão corretas;</p><p>b) Somente as afirmativas II e IV estão corretas;</p><p>c) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas;</p><p>d) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas;</p><p>e) Nenhuma das afirmativas está correta;</p><p>111</p><p>3. “A legislação penal e processual penal brasileira emprega os termos ‘vítima’, ‘ofendido’</p><p>e ‘lesado’ indistintamente, por vezes até como sinônimos. Porém, entende-se que a</p><p>palavra ‘vítima’ tem cabimento específico nos crimes contra a pessoa; ‘ofendido’ de-</p><p>signa aquele que sofreu delitos contra a honra e ‘lesado’ alcança as pessoas que so-</p><p>freram ataques a seu patrimônio”. (PENTEADO; PENTEADO FILHO, 2021, p. 114-115).</p><p>Assim, considerando as afirmativas, de acordo com a criminologia, a vitimização é</p><p>classificada em:</p><p>I - Vitimização primária: também denominada sobrevitimização, possui sofrimento</p><p>adicional.</p><p>II - Vitimização secundária: aquela provocada pelo cometimento do crime de modo</p><p>direto à vítima.</p><p>III - Vitimização terciária: é aquela que corresponde aos danos à vítima decorren-</p><p>tes do crime e pelo sofrimento adicional causado pela dinâmica do sistema de</p><p>justiça criminal.</p><p>IV - Vitimização quaternária: também chamada de utópica ou de cifra negra, não é</p><p>amparada pelo Estado ,de modo a favorecer a justiça retributiva.</p><p>Com base nas afirmativas, pode se considerar que:</p><p>a) Somente as afirmativas I e III estão corretas;</p><p>b) Somente as afirmativas II e IV estão corretas;</p><p>c) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas;</p><p>d) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas;</p><p>e) Nenhuma das afirmativas está correta;</p><p>5Instituições:</p><p>Processo Penal</p><p>Brasileiro, Polícia,</p><p>Ministério Público,</p><p>Poder Judiciário e</p><p>Advocacia</p><p>Me. Crístian Rodrigues Tenório</p><p>Uma das bases da cidadania é conhecer a estrutura do Estado que</p><p>todos governam. Não se trata de mera formalidade pedagógica, mas</p><p>sim, um dos alicerces para a constituição de uma população enrique-</p><p>cida em seu senso crítico. De nada valem as reclamações genéricas</p><p>acerca do papel das Instituições oficiais (e sua operância), se não forem</p><p>construídas de forma qualificada: saber o que se critica, conhecer o</p><p>que ou quem se crítica dentro das limitações legais de cada ator insti-</p><p>tucional. Ao criminologista, ou ao especialista em segurança, cabe algo</p><p>mais complexo: conhecer, em sua base, todas as instituições ou atores</p><p>institucionais que fazem parte do complexo jogo social – de preven-</p><p>ção, proteção à população e combate ao crime. Logo, é fundamental</p><p>possuir, como se verá a seguir, ao menos as noções elementares dos</p><p>papéis formais e institucionais da estrutura legal e do aparelho estatal</p><p>que se mobilizam na segurança pública.</p><p>UNIDADE 5</p><p>114</p><p>As homenagens às instituições são comuns nos discursos. Outro pensamento</p><p>corriqueiro é o de que a saúde de um país se mede pela saúde de suas institui-</p><p>ções. Com isso, pode-se ter a ideia que as instituições são princípios (na lei, por</p><p>exemplo), e órgãos da administração pública que personificam objetivos do ente</p><p>político e jurídico (o Estado).</p><p>As Instituições governam por meio de seus titulares, pessoas do povo eleitas ou</p><p>admitidas por via de nomeação ou aprovação em concurso público próprio. Não</p><p>se fala em um Estado sem se falar de suas instituições – para o bem ou para o mal.</p><p>Logo, não se pode falar da segurança pública sem se falar abertamente das insti-</p><p>tuições que cuidam, direta ou indiretamente, desse aspecto da vida em sociedade.</p><p>De certa forma, na Unidade 3, tratou-se do cárcere, das instituições prisionais</p><p>– braço da segurança pública que tem, como visto, por objetivo a manutenção da</p><p>segurança por meio da detenção, reclusão de pessoas condenadas para garantir</p><p>que não mais venham a delinquir – e que paguem pelo mal feito praticado. Agora,</p><p>é o momento de entender algumas instituições que participam de forma direta</p><p>na construção da segurança pública: o processo penal, a polícia (e seu papel cons-</p><p>titucional), o Ministério Público e a Advocacia – todos dentro de seus limites e</p><p>previsões constitucionais.</p><p>Entender os elementos-base dessas instituições auxilia a todos na cons-</p><p>trução de um pensamento proativo para melhoria das condições so-</p><p>ciais – no caminho de se entender o crime, como ele afeta a</p><p>comunidade e como usar ferramentas visando a re-</p><p>dução dos danos causados por ele. Salien-</p><p>tando que essas instituições são</p><p>umbilicalmente ligadas às</p><p>115</p><p>funções do poder do Estado: o judiciário ao judiciário, Ministério Público (dentro</p><p>de suas particularidades) e polícias, ao executivo. Existe um limite ético para essas</p><p>instituições quanto a colaborações e contatos? O processo penal (vivido e aplicado</p><p>pelo Judiciário e pelo Executivo) tem sua origem pelo Legislativo e pela advocacia,</p><p>que ora frequenta cada um desses poderes em seus deveres de representação. Assim,</p><p>instituições e poderes são unidas, e sua compreensão ajuda no aperfeiçoamento delas</p><p>para a melhoria social como um todo.</p><p>Uma problematização interessante está no papel da advocacia e sua relação</p><p>com as consequências da criminalidade. É muito comum na mídia (noticiários,</p><p>comentaristas de internet, filmes, peças etc.) uma visão caricata, engraçada e redu-</p><p>cionista da advocacia – como sendo uma atividade ligada à defesa inescrupulosa</p><p>de “bandidos”. Nada mais falso. O verdadeiro papel da advocacia em relação aos</p><p>crimes está na constituição de acompanhamento (administrativo, nas delegacias</p><p>e processual junto às cortes) das ações do Estado contra a liberdade. A formação</p><p>de um advogado é coisa séria – fato que comprova, é que essa é uma profissão</p><p>sonhada por muitos, que acarreta na formação e diplomação de vários, mas com</p><p>sucesso de pouquíssimos, dado seu caráter intelectual, analítico e cultural mais</p><p>profundo que o senso comum e as facilidades de formação (e informação) de</p><p>nossos dias. Dessa forma, pode-se dizer que mercantilização involuntária da advo-</p><p>cacia é realmente um problema ou uma tendência irreversível a partir do séc. XXI?</p><p>Soma-se a isso o fato de que boa parte da comunidade jurídica (por assim</p><p>dizer) é formada por estudantes nas faculdades e formados que não conseguem</p><p>colocação profissional (por não passarem nos quadros da Ordem dos Advogados</p><p>do Brasil ou, uma vez aprovados, não se interessarem pela carreira – visando con-</p><p>cursos públicos). O fato é que vozes e mais vozes ecoam nos meios digitais propon-</p><p>do e vendendo imagens distorcidas da advocacia e dos advogados. Qual realmente</p><p>deve ser a imagem (social) da advocacia e de seus executores/praticantes?</p><p>Com tudo isso, é difícil formular uma imagem real do que é o exercício da</p><p>advocacia em geral e da advocacia criminal em específico. Contudo, é possível,</p><p>através de questionamentos, chegar-se a uma ideia: como a advocacia realmente</p><p>pode contribuir para a maturidade das Instituições? Um dos caminhos mais inte-</p><p>ressantes é o estudo e a leitura do Estatuto da Advocacia, Lei n. 8.906 de 1994 em</p><p>seus primeiros artigos. Em resumo, explica-se ali o que faz um advogado e qual</p><p>o alcance de sua atuação intelectual. Mas, para tanto, e para uma reflexão mais</p><p>aguda, nada melhor que citar o dispositivo constitucional que define a advocacia:</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 5</p><p>116</p><p>Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável</p><p>por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei. Mas</p><p>qual o alcance/limite desta inviolabilidade em termos gerais?</p><p>Leia com atenção o parágrafo destacado da página do Observatório do Ter-</p><p>ceiro Setor do Brasil:</p><p>“ Em 2019, mais de 26% das cidades brasileiras não tinham nenhum</p><p>tipo de delegacia. O número só aumenta: em 2014, as cidades sem</p><p>delegacia eram 23% do total de 5,5 mil cidades do país. A ausência</p><p>das delegacias é maior em alguns estados, como o Piauí, onde, a cada</p><p>vinte municípios, quinze não têm delegacia. Se a Polícia Civil não</p><p>alcança todo o país, o atendimento especializado de polícia passa</p><p>ainda mais longe. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia</p><p>e Estatística (IBGE), apenas 7% das cidades brasileiras têm delega-</p><p>cias de atendimento à mulher, que atendem vítimas de crimes de</p><p>abuso sexual e violência doméstica. Neste mesmo quadro, vem cres-</p><p>cendo o número de municípios que contam com a própria Guarda</p><p>Municipal para atividades de policiamento. O número de cidades</p><p>sem nenhuma delegacia saltou de 1.280, em 2014, para 1.464, em</p><p>2019. (BRASIL, 2021).</p><p>Com base nessas informações, convido você, aluno, a colocar a mão na massa e</p><p>se envolver nessa temática junto comigo. Peço que pesquise, ante o texto lido, se</p><p>há, de fato, um crescimento e expansão de guardas municipais (em sua cidade),</p><p>e se em sua cidade há: 1. Delegacia de polícia; 2. Delegacias (especializadas, a</p><p>depender da região que você vive); 3. Se há necessidade de instalar ou ampliar</p><p>delegacias (força policial em sua região) de acordo com o número de</p><p>delitos</p><p>(Unidade 02) que ocorrem em maior número em sua cidade. Registre e anote os</p><p>resultados de sua busca no diário de bordo disponível a seguir.</p><p>Na sequência, analise se, à luz da expansão ou não das guardas, o número de pri-</p><p>sões e ações penais – processos – aumentou: e em quais delitos? Qual o papel, ao final,</p><p>do Ministério Público (titular das ações penais que representam a toda sociedade) na</p><p>eficiência da aplicação da Lei e na redução da criminalidade? Para tanto, considere:</p><p>O Ministério Público, a princípio braço do Poder Executivo – com total inde-</p><p>pendência de ação, formação, orçamento e atuação – possui funções. Estas funções,</p><p>tanto na esfera Federal quanto para os Estados – não há MP municipal, este papel,</p><p>117</p><p>quando muito fica reduzido em ações civis e constitucionais das</p><p>procuradorias municipais – estão previstas na Constituição Fede-</p><p>ral. Assim, acesse a Constituição Federal, por meio do QR Code, e</p><p>encontre as descrições das funções do Ministério Público.</p><p>Selecione cinco funções de destaque e resuma seus destaques</p><p>no quadro a seguir:</p><p>Artigo na Constituição Função do MP O que faz</p><p>Quadro 1 - Funções Constitucionais Do Ministério Público.</p><p>Atualmente, a era em que vivemos se pauta – de forma correta – por iniciativas</p><p>de inclusão. A inclusão é um movimento de se colocar nas Instituições pessoas</p><p>que representem a proporção de seus grupos na população. De forma simples: se</p><p>há mais mulheres que homens no Brasil, não há razão para em nossos dias que a</p><p>representação legislativa (Câmara dos Deputados, Senado Federal, Assembleias</p><p>Legislativas dos Estados e do Distrito Federal, Câmara de Vereadores) seja com-</p><p>posta por uma maioria brutal de homens.</p><p>Pensando nisso, analise e monitore dados oficiais – ao especialista em se-</p><p>gurança ou ao criminologista é essencial o conhecimento e a leitura de índices</p><p>reais (atualizados). Atente-se para as fontes: a princípio, os números/indicadores</p><p>oficiais são o ponto de partida, mas apenas de partida. Há, como em todas as áreas</p><p>do conhecimento, divergência de dados (e de metodologias de pesquisa), assim,</p><p>há igualmente dados da sociedade – a partir de fontes e metodologias que não</p><p>são adotadas pelos órgãos oficiais – isto acontece. Assim, o ideal é ler e confrontar</p><p>dados (e conhecer suas fontes e metodologias).</p><p>UNICESUMAR</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm</p><p>UNIDADE 5</p><p>118</p><p>As forças de segurança não podem ser desvinculadas do estado democrático de</p><p>direito. É fundamental encarar o papel das polícias como elementares na garantia</p><p>dos direitos constitucionais dos cidadãos. As ações institucionais e a aplicação</p><p>da Lei devem contemplar o exercício de direitos fundamentais de primeira di-</p><p>mensão: “vinculados ao princípio da liberdade.” (FACHIN, 2012, p. 224). Sem</p><p>isso, torna-se difícil encarar o papel das polícias como promotoras da justiça e</p><p>pacificadoras - até porque são contidas nas dimensões dos direitos fundamentais</p><p>em seu cúmulo: direitos fundamentais de primeira dimensão [...] vinculados ao</p><p>princípio da liberdade” (FACHIN, 2012, p. 224).</p><p>Com isso, as garantias da liberdade devem encontrar defesa nas instituições,</p><p>mesmo nas polícias. As polícias, especialmente a polícia civil, fazem parte das</p><p>forças que têm o primeiro contato com o crime e que tecem os documentos</p><p>que comporão o inquérito policial base da acusação a qualquer cidadão. Inves-</p><p>tigar, indiciar e até prender, são tarefas que devem sempre primar pelo respeito</p><p>à dignidade humana. A polícia atua, mas “não tem exclusividade ou monopólio</p><p>na investigação criminal”. (NICOLITT, 2010, p. 74|). Atua na lei, divide poderes,</p><p>sem, contudo, demonstrar fraqueza.</p><p>119</p><p>Sem uma atuação presente e consciente das polícias, há o risco de que o</p><p>mau funcionamento institucional se reverta em situações de injustiças que são</p><p>inaceitáveis. As polícias são, portanto, instituições constitucionais garantidoras</p><p>da paz, da ordem e dos direitos dos cidadãos – direitos que incluem a garantia de</p><p>que provas contra suas pessoas sejam lícitas, posto que “qualquer prova colhida</p><p>ou produzida com violações a regras, de direito material ou de direito processual,</p><p>são inadmissíveis no processo” (NICOLITT, 2010, p. 62).</p><p>Daí a visão de que as forças de segurança não podem ser reduzidas à opressão</p><p>e violência de operações que, muitas vezes, revelam-se necessárias – todas elas</p><p>com risco calculado. E mesmo que haja esse tipo de operação, o cidadão pode</p><p>contestar usando os meios próprios, sem usar de malha as palavras contra as ins-</p><p>tituições policiais, até porque qualquer pessoa deve ser tratada como inocente até</p><p>que se produza e haja convencimento do contrário. Nesse sentido, “o princípio da</p><p>presunção de inocência atua em dimensões distintas [...] atua como uma regra de</p><p>tratamento; assim, embora recaia sobre o imputado suspeitas de prática criminosa,</p><p>no curso do processo deve ele ser tratado como inocente” (NICOLITT, 2010, p. 60).</p><p>Para sempre preservar direitos e garantias, o diálogo institucional entre polícia,</p><p>Ministério Público e advocacia é necessário. Sem esse diálogo, torna-se impossível</p><p>a atuação de todos. Percebe-se, portanto, uma relação de interdependência insti-</p><p>tucional que possibilita a construção do cenário de segurança pública no Brasil.</p><p>As polícias como instituições encontram-se submissas à lei. É impossível falar em</p><p>polícia e legalidade sem mencionar as bases do Estado democrático de direito. Todo</p><p>procedimento investigatório da polícia ou suas operações ostensivas estão baseadas</p><p>nos princípios constitucionais de respeito à liberdade e à dignidade da pessoa huma-</p><p>na. Nicolitt (2010) ressalta que, por vezes, a terminologia referente às forças públicas</p><p>de segurança atrapalha a imagem e o papel dessas instituições, ao que:</p><p>“ Primeiramente devemos destacar a infelicidade do termo polícia</p><p>judiciária, que se incorporou à nossa tradição. No sistema portu-</p><p>guês, no qual o Ministério Público, destinatário da atividade policial</p><p>integra o Poder Judiciário, faz sentido falar em polícia judiciária,</p><p>vez que a atividade desta é diretamente ligada àquele poder. No</p><p>caso brasileiro isso não faz o menor sentido, pois a atividade inves-</p><p>tigatória não se destina ao judiciário por não integrar o Ministério</p><p>Público. (NICOLITT, 2010, p. 71-72)</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 5</p><p>120</p><p>A Constituição traz a expressão acima criticada, e isso não retira a força institu-</p><p>cional. Existem ocasiões em que as operações policiais, pelo risco que ensejam,</p><p>resultam em dados letais. Este não é o objetivo do trabalho policial, não é preciso</p><p>ser criminalista para concluir isso, basta ler a Constituição Federal. Contudo, a</p><p>atividade policial é contemplada – como qualquer cidadão, frisa-se – “na inexi-</p><p>gibilidade de conduta diversa no excesso intensivo escusável da legítima defesa,</p><p>ou seja, quando o excesso deriva de escusável medo, surpresa ou perturbação de</p><p>ânimo em face de situação” (FRAGOSO, 2003, p. 263).</p><p>Embora o trabalho policial não seja culpar, matar, maltratar pessoas, os ris-</p><p>cos operacionais, a depender do tempo, do local e das condições culturais de</p><p>um evento, bem como do mundo de pessoas, torna o trabalho perigoso, nocivo,</p><p>e que fica à margem das garantias constitucionais. A importância da limitação</p><p>da atuação policial respeitando princípios constitucionais é fundamental, haja</p><p>vista que o trabalho policial, por excelência, é um trabalho tenso. Admite-se isso</p><p>no uso da legítima defesa que “contém como elemento normativo a moderação</p><p>que se exige quando do uso de meios necessários’. A reação defensiva deve ser</p><p>objetivamente proporcional à agressão injusta” (GALVÃO, 2013, p. 389).</p><p>O Ministério Público, instituição histórica presente no Brasil, figura como</p><p>fiscal da lei. Sua atuação se reverte em fiscalizar, exercer controle externo dentro</p><p>da administração pública e em vários setores da sociedade. O órgão opera como</p><p>se fosse uma grande ouvidoria que promove e coordena as investigações admi-</p><p>nistrativas, garantindo</p><p>que respeitem os princípios legais e sejam capazes de levar</p><p>a acusação adiante, caso haja necessidade, na medida da culpabilidade de cada</p><p>pessoa/ente. “É justamente a imparcialidade da atuação do Ministério Público no</p><p>processo penal que costuma ser responsável por certa perplexidade doutrinária</p><p>acerca do conceito de parte da doutrina processual penal” (PACELLI, 2016, p.</p><p>449), pois, nessa visão, o MP é uma parte imparcial.</p><p>Isso se dá porque – pensado institucionalmente – o Ministério Público acu-</p><p>mula funções de fiscal da lei e de órgão acusador, um papel, hoje em dia, educador.</p><p>Vários ministérios públicos do Distrito Federal e estados possuem fundações</p><p>educacionais e fundações escola que levam informação às pessoas, além de di-</p><p>recionarem, em atividade junto à Ordem dos Advogados do Brasil, defensorias</p><p>públicas e judiciário, para que cada cidadão possa exercer seu papel de fiscal, não</p><p>só da lei, mas também dos abusos que possam ser praticados por agentes públicos.</p><p>Sem essa atuação pedagógica, o papel institucional do Ministério Público seria</p><p>121</p><p>incompleto. Seu papel no processo penal se dá concomitante ou posterior ao</p><p>papel da polícia. “Ao contrário de certos posicionamentos que ainda se encontram</p><p>na prática judiciária, o MP não é órgão de acusação, mas órgão legitimado para</p><p>a acusação, nas ações penais públicas.” (PACELLI, 2016, p. 460).</p><p>Quando há um crime, ou há a suspeita de um delito, a polícia investiga e comunica</p><p>ao Ministério Público, bem como ao Judiciário. A partir dessa comunicação, iniciam</p><p>as ações penais públicas, que deverão ter o MP como órgão de função acusadora, reu-</p><p>nindo todas as provas e conclusões do inquérito policial, e os convertendo na peça de</p><p>acusação, transformando suspeitos e indicados em réus. “Como a regra é a iniciativa</p><p>da ação penal a cargo do Estado, também a fase pré-processual da persecução penal,</p><p>nos crimes comuns, é atribuída a órgãos estatais” (PACELLI, 2016, p. 58).</p><p>Não se trata de um papel inquisitório puro, de acusações mal pensadas e</p><p>desequilibradas, mas sim de uma ação despersonalizada, técnica, desprovida de</p><p>paixões, simpatias e antipatias: tudo deve ser executado de forma ordeira e insti-</p><p>tucional, respeitando-se princípios constitucionais penais. “Tratando-se de ação</p><p>penal pública, na qual, tal como ocorre com a jurisdição, a processualização da</p><p>persecução penal é monopolizada, o inquérito policial deve ser instaurado de</p><p>ofício pela autoridade policial.” (PACELLI, 2016, p. 59). O que chega, portanto, às</p><p>mãos do MP, já é fruto de trabalho legal apurado.</p><p>O Ministério Público trabalha coordenando operações e</p><p>investigações. Nos últimos anos, no Brasil, o seu papel pas-</p><p>sou de meramente institucional a destaque principal como</p><p>instituição de combate à corrupção, com vários nomes de</p><p>seus quadros na condição de celebridades nacionais. Há que</p><p>se pensar se há ética nesses destaques. “A Súmula 234 do STJ</p><p>estabelece que ‘a participação de membro do Ministério</p><p>Público na fase investigativa criminal não acarreta o seu</p><p>impedimento ou suspeição para o oferecimento da de-</p><p>núncia’’ (BADARÓ, 2014, p. 196).</p><p>O fato é que, grosso modo, nisto não há nenhuma ir-</p><p>regularidade, haja vista que a liberdade de expressão e</p><p>de informação exercida pela imprensa em geral e pelas</p><p>pessoas, especificamente em suas redes</p><p>sociais, pode destacar o trabalho do Mi-</p><p>nistério Público em seus princípios insti-</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 5</p><p>122</p><p>tucionais – sendo focado na sua atuação como órgão e não em função (de destaque</p><p>imoderado) das pessoas que integram seus cargos. Os órgãos de Estado (como forma</p><p>de controle interno) têm, cada qual em suas características e necessidade, códigos</p><p>de ética e corregedorias – que podem e devem ser acionadas, caso as exposições da</p><p>imprensa se transformem em autopromoção. Para tanto, vale conhecer o Conselho</p><p>Nacional do Ministério Público.</p><p>É importante e vital para democracia que o exercício do Ministério Público</p><p>seja feito pensando como órgão, na instituição e sua missão, e não na mera</p><p>promoção e exposição de proveito pessoal de seus integrantes. Isso, contudo,</p><p>não quer dizer que membros do Ministério Público não mereçam destaques. A</p><p>atuação do Ministério Público, no âmbito do crime (nas ações penais), é uma</p><p>advocacia de acusação. Daí sua importância ser extrema, haja vista que, no final</p><p>das contas, é este órgão – através de seus membros – que oferece condições à</p><p>acusação para ser apreciada pelo Poder Judiciário. Daí se vê:</p><p>“ na ação penal condenatória há entender-se: a existência de um fato</p><p>(materialidade; ser este fato imputável ao acusado (autoria); cons-</p><p>tituir este fato uma ação típica, ilícita e culpável (a materialidade</p><p>normativa, ou, em uma palavra, o crime na sua definição dogmática;</p><p>não se encontrar extinta a punibilidade. (PACELLI, 2016, p. 108).</p><p>Com isso, sua atuação não pode ser medida por ambições pessoais, e sim uma</p><p>por uma visão despersonalizada e institucional, a saber que sua peça de acusação</p><p>pode ser negada pelo juízo criminal, podendo, no final das contas, convencer o</p><p>juiz de que não haja crime ou de que não haja culpabilidade pelas pessoas acusa-</p><p>das. Uma consequência que, ante exposições midiáticas desmedidas, pode gerar</p><p>cenários de injustiças e condenações antecipadas de pessoas que sequer respon-</p><p>derão, de fato, a um processo. É preciso haver interesse (público e legal) de agir: “a</p><p>necessidade de escolha jurisdicional para a composição do conflito surgido entre</p><p>quem alega ser titular de um direito oponível a outro” (PACELLI, 2016, p. 108).</p><p>O judiciário é a base, a terra na qual a ação penal é plantada. O inquérito po-</p><p>licial, papel da polícia científica civil ou federal, é a semente o Ministério Público</p><p>é o lavrador que planta essa semente na Terra que é o poder judiciário embora</p><p>esta figura de linguagem romântica retrata e descreve de maneira simples os</p><p>papéis já falados, o judiciário se vê como a terra porque é a base na qual tudo se</p><p>123</p><p>resolverá: “O poder punitivo, assim, não é exercido no interior do judiciário, mas</p><p>pelos aparatos da burocracia administrativa que condicionam a criminalização e</p><p>a punição (agências de punitividade)” (CARVALHO, 2015, p. 288)</p><p>É no judiciário que a culpabilidade das pessoas será medida. É no judiciário,</p><p>por meio de movimentações que os princípios penais, tanto para a acusação</p><p>quanto para defesa, ganharão vida, é no judiciário que a defesa exercida pela</p><p>advocacia pública ou pela advocacia privada se valerá dos princípios penais de</p><p>defesa dos pontos contraditórios e ampla defesa. É também por meio do Judiciá-</p><p>rio que haverá análise de matéria e análise de formalidades dentro do processo</p><p>penal. Não apenas em questões de mente sã, mas também é pelo judiciário que</p><p>passam casos que envolvem condutas criminosas de pessoas que não apresentam</p><p>processo mental padronizado, ao que destaca Carvalho (2015, p. 324):</p><p>“ A inversão que se pode projetar nas práticas jurídicas, sobretudo nas</p><p>jurídico-penais punitivas, é a da substituição do modelo centrado</p><p>no monólogo judiciário, no qual o inquisidor toma para si a capaci-</p><p>dade de fala dos demais atores e impõe sua verdade, por modelo que</p><p>reconhece a diferença e que possibilite ao paciente sentir-se sujeito,</p><p>e não apenas objeto do tratamento.</p><p>De volta às funções do judiciário: em primeiro lugar, a análise de matérias diz</p><p>respeito ao crime: quem o praticou e em quais condições. Qual foi o tempo, o</p><p>local, e quais documentos e provas convenceram, uma vez reunidos pelo inqué-</p><p>rito policial pelo Ministério Público o judiciário da condenação de uma pessoa.</p><p>Já o lado processual implicará nas datas, na organização das audiências, na</p><p>recepção dos documentos, das testemunhas, na impugnação, ou seja, no questio-</p><p>namento das provas e principalmente no exame da matéria que dará como resul-</p><p>tado a sentença final diante desta organização. Cabe ao judiciário se dividir em</p><p>instâncias, por isso uma matéria criminal não pode ser analisada uma única vez.</p><p>É preciso, em nome da ampla defesa</p><p>e do senso de justiça, o benefício da dúvi-</p><p>da em relação a quem fez ou cometeu um crime. Os criminologistas e especialistas</p><p>em segurança pública que estudam de fato a matéria não veem com maus olhos</p><p>o número, por exemplo, de recursos judiciais. Não é o número de recursos que</p><p>é ruim, mas sim o tempo que se leva para apreciar as matérias. Toda e qualquer</p><p>pessoa que critica o número de recursos, as oportunidades de defesa da lei do</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 5</p><p>124</p><p>processo penal, expressos no judiciário demonstra um discurso político, e não</p><p>um discurso científico. O judiciário deve fazer as coisas técnicas sem paixões.</p><p>Três Instâncias do judiciário são importantes e necessitam de destaques. A</p><p>primeira, é onde ocorre o exame criminal dos fatos, na chamada primeira instân-</p><p>cia (juízo a quo) que vem a ser, em relação com a defesa, o mais direto, isto porque</p><p>ocorre exatamente no local onde aconteceu o crime ou onde moram as vítimas.</p><p>A segunda instância (juízo ad quem), são cortes formadas (e de decisões fun-</p><p>dadas) não mais a partir do entendimento de uma única pessoa, o Juiz de Direito,</p><p>mas sim, de um colegiado (por um conjunto de juízes de origens diferentes em suas</p><p>nomeações), na composição do Tribunal de Justiça. Lá, reunidos em uma câmara</p><p>criminal, analisam aspectos novos, se for o caso, ou aspectos formais como prazos não</p><p>cumpridos, irregularidades da diligência no inquérito policial ou a não inclusão de</p><p>pessoas no rol dos culpados entre aqueles que foram acusados pelo Ministério Público.</p><p>Nesse ponto, é importante destacar que as formalidades e os prazos acarretam</p><p>em nulidades que, se forem decretadas a partir da segunda instância, podem fazer</p><p>com que o inquérito policial ou a acusação promovida pelo Ministério Público</p><p>retornem ao estado inicial, perdendo-se todo trabalho ou parte dele já feitos.</p><p>125</p><p>Já a instância superior, ou terceira instância, é feita Superior Tribunal de Justiça, o</p><p>STJ. Ali, em sede de recursos especiais e análises técnicas de formalidades documen-</p><p>tais, e em meio a descumprimentos de ações do processo penal brasileiro, é possível</p><p>alterações de julgamento de mérito ou o retorno desses julgamentos ao juiz de pri-</p><p>meira instância.</p><p>Uma outra corte é importante destacar: o Supremo Tribunal Federal. O papel</p><p>do STF cresceu nos últimos 30 anos dado à inércia do Poder Legislativo em resolver</p><p>questões de atualizações legislativas. O papel desta corte se mantém com base na</p><p>Constituição (suas competências) de acordo com artigo: Art. 102. Compete ao Su-</p><p>premo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição. (BRASIL, 1988).</p><p>Embora combatida, a atuação do Supremo Tribunal Federal tem sustentado a</p><p>importância da Constituição Brasileira, mesmo que em meio a ataques às garantias</p><p>da Lei Maior. Lá, agentes políticos e seus associados são julgados – daí o destaque</p><p>midiático, dado aos crimes de colarinho-branco. As reservas a estes crimes e seus</p><p>agentes devem existir, como ressalta Shecaira: “O crime do colarinho-branco é, pois,</p><p>analisado em sua essência, traduzindo inúmeras contribuições que põem por terra</p><p>muitos preconceitos em relação aos autores dos delitos.” (SHECAIRA, 2020, p. 410).</p><p>Em suma, o Supremo Tribunal Federal cumpre seu papel de Guardião da</p><p>Constituição, os demais poderes, Legislativo e Executivo é que não cumprem</p><p>de maneira rápida seus papéis de atualizadores, mediadores dos interesses da</p><p>sociedade brasileira. Por isso é preciso reconsiderar todo e qualquer ataque ao</p><p>Supremo Tribunal Federal e ao seu ativismo, por assim dizer. Se há ativismo de</p><p>um lado, é porque sobra inatividade de outros.</p><p>Assim, o judiciário diz o direito, intervindo na liberdade (em sua garantia ou</p><p>em sua perda) em casos e entendimentos vários. Por isso, por esta gerência e regu-</p><p>lação (pela lei) sobre a liberdade de todos, é vital uma compreensão fundamental</p><p>de atuação do judiciário, que deve ser matéria de interesse para especialistas em</p><p>segurança pública e em criminologia: lá, no judiciário, que se chega ao fim as</p><p>estatísticas; é lá, no judiciário, que se encerram os dramas humanos em meio as</p><p>suas decisões. É pelo judiciário que há a revolta ou a conformidade; o consolo</p><p>ou o desespero diante das sentenças judiciais.</p><p>A instituição judiciária não pode ficar isolada em um monte, por isso ela</p><p>deve dialogar com outras instituições, com as polícias, com as forças públicas de</p><p>segurança, com Ministério Público, com as defensorias públicas e a advocacia. A</p><p>integração do diálogo entre essas instituições, em comissões próprias, em setores</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 5</p><p>126</p><p>próprios, sinalizam a maturidade democrática que toda sociedade saudável ne-</p><p>cessita, sem vaidades, na qual só se pode perceber benefícios à toda a comunidade.</p><p>Advocacia é uma atividade constitucionalmente prevista. O artigo 133 da</p><p>Constituição Federal traz em sua redação: “O advogado é indispensável à admi-</p><p>nistração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício</p><p>da profissão, nos limites da lei” (BRASIL, 1988).</p><p>Sem a advocacia, é impossível se pensar no estado democrático e de direito.</p><p>A profissão de advogado é diferente da ideia que as pessoas têm. Embora for-</p><p>mado numa faculdade de direito, o advogado se diferencia do pesquisador, do</p><p>filósofo do direito e do bacharel em direito, que visa concursos públicos, porque</p><p>o advogado, na essência de sua profissão, contesta a todo instante e de maneira</p><p>respeitosa o funcionamento das instituições e o funcionamento da sociedade na</p><p>vida de seus clientes. “A advocacia é, por isso, ao mesmo tempo, arte e política,</p><p>ética e ação.” (COUTURE, 1999, p. 10).</p><p>O advogado não é um profissional que duvida de tudo, mas que bota em</p><p>dúvida e pede esclarecimentos na condução dos negócios da vida. A profissão</p><p>de advogado é regulada pela Ordem dos Advogados do Brasil.</p><p>“ A OAB, dotada de personalidade jurídica e forma federativa, exerce</p><p>uma serviço público, tendo como finalidades, entre outras, a de de-</p><p>fender a Constituição Federal, a ordem jurídica do Estado democrá-</p><p>tico de direito, os direitos humanos, a justiça social, e pugnar pela boa</p><p>aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aper-</p><p>feiçoamento da cultura e das instituições.” (JULIÃO, 2015, p. 104).</p><p>O ingresso na ordem possibilita que advogadas e advogados atuem como conse-</p><p>lheiros, como gerentes jurídicos, estrategistas, e na militância junto aos tribunais</p><p>defendendo, dentro da lei, os interesses de seus clientes. Os requisitos para a</p><p>inscrição junto à OAB são: “capacidade civil; diploma ou certidão de graduação</p><p>em curso de direito, título de eleitor e quitação de serviço militar (aos homens),</p><p>aprovação no exame de ordem.” (JULIÃO, 2015, p. 12)</p><p>127</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Título: O Dever do Advogado</p><p>Autor: Rui Barbosa</p><p>Editora: Edipro de Bolso</p><p>Sinopse: Em uma carta a um antigo aluno, Rui Barbosa disserta a</p><p>respeito do dever do advogado de defesa. Em resumo, igual ao comando do</p><p>Código de Ética (2015) da Advocacia, não importa o crime ou o criminoso,</p><p>mas o estado democrático de direito e o império da lei que importam na</p><p>atividade de defesa. As simpatias, antipatias ou indiferenças do advogado ao</p><p>crime ou ao criminoso, pouco importam.</p><p>Comentário: Carta escrita no início do século XX, o texto é uma resposta a</p><p>uma indagação feita a Rui Barbosa. O caso era de um crime praticado por</p><p>um homem que era inimigo político de um renomado advogado (ambos fo-</p><p>ram amigos de infância, as preferências políticas e vida profissional não ape-</p><p>nas os separaram como os tornaram inimigos). Ante a prisão e o processo,</p><p>o ex-amigo procurou o advogado e lhe solicitou ajuda (serviços). Com dores</p><p>morais, o advogado escreve a Rui Barbosa pedindo conselho. O texto é o</p><p>conselho que incorpora o espírito democrático e institucional do papel da</p><p>advocacia de defesa.</p><p>“ Cuidar do tema humanidade pode simbolizar uma busca por parâ-</p><p>metros ideias, desvinculados da realidade, em particular, pela difi-</p><p>culdade de materialização da benevolência do sistema penal diante</p><p>do infrator. Por vezes, está-se diante de um paradoxo, de onde se</p><p>extrai que a pena, pela sua própria natureza, é uma restrição à li-</p><p>berdade, logo, um mal. Em decorrência disso, a aplicação da sanção</p><p>penal constitui ato de força contraposto ao mal gerado pelo crime.</p><p>Seria, na aparência, uma vindita oficializada. (NUCCI, 2010, p. 147).</p><p>Para criminologistas e especialistas em segurança pública, a atuação das advoga-</p><p>das e dos advogados é fundamental porque, na prática, na vivência, tudo aquilo</p><p>que fazem se reflete em relação às experiências sociais causadas pelo machismo,</p><p>pelo racismo já destacado na Unidade 2; pelo desnível social e econômico entre</p><p>pessoas no mesmo país e na mesma sociedade; e, muitas vezes, pela má aplicação</p><p>dos recursos públicos nas forças públicas de segurança e nas demais instituições</p><p>que cuidam da vida. Couture (1999, p. 11) destaca que “como ética, a advocacia</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 5</p><p>128</p><p>é um exercício constante da virtude. A tentação passa sete vezes por dia ao ad-</p><p>vogado. Este pode fazer de sua missão, como já dito, a mais nobre de todas as</p><p>profissões, ou o mais vil de todos os ofícios.”</p><p>A advocacia criminal joga dentro das linhas do processo penal. Os princípios</p><p>de processo penal, especialmente da ampla defesa da legalidade, são fundamentais</p><p>na atuação dos advogados. Para criar a criminologia, a advocacia criminal é</p><p>ferramenta de fiscalização social de controle externo de melhor funcionamento</p><p>e aprimoramento das demais instituições como polícias, ministério público e</p><p>judiciário. Ao advogado, contra essas instituições e a favor dos clientes, há a</p><p>proteção e dever de sigilo: dever perpétuo do advogado, do qual nunca se liberta,</p><p>nem menos se for autorizado pelo cliente.” (JULIÃO, 2015, p. 82).</p><p>Imperiosa a defesa da advocacia e inaceitável o retrato avisam, como já men-</p><p>cionados acima neste texto do tratamento que é concedido pela mídia a advoca-</p><p>cia, tem-se a ideia de que a advocacia criminal é uma função básica de mentiras</p><p>para escutar ou inocentar criminosos.</p><p>“ [...] o cliente, quando for passar poderes de representação processual,</p><p>deve discriminar na referida procuração não só apenas os advogados</p><p>que possuem amplos poderes de representação para agir no Foro ge-</p><p>ral, bem como eventuais poderes especiais que deve ser expressamen-</p><p>te consignados no instrumento do mandato. (JULIÃO, 2015, p. 47).</p><p>Nada mais falso que isto, posto que “a advocacia é cética e investigadora. O advogado</p><p>ao aconselhar, ao orientar a conduta alheia, ao assumir a defesa, começa por investigar</p><p>os fatos e por decidir livremente sobre sua própria conduta.” (COUTURE, 1999, p. 46).</p><p>Muitos criminologistas advêm das escolas de direito, da atuação na advocacia</p><p>criminal. Essa vivência, valendo-se dos princípios da defesa, traz aos profissionais</p><p>uma visão social diferenciada, na qual se testemunha não apenas as razões do</p><p>cometimento de crimes, mas, às vezes, as razões distorcidas da punição a esses</p><p>mesmos criminosos. “É certo que hoje se reconhece ser essa a feição processual</p><p>do devido processo legal, e para muitos autores, pode-se falar, como no direito</p><p>norte-americano, em devido processo material e substancial, que seria o princípio</p><p>da razoabilidade” (BEDÊ JUNIOR e SENNA, 2009, p. 357).</p><p>A advocacia questionadora é fundamental para que as garantias constitucio-</p><p>nais e a liberdade do estado de direito sejam exercidas. A importância do diálogo</p><p>129</p><p>entre instituições só é mantido na atividade da advocacia: é o advogado que</p><p>frequenta delegacias, que frequenta o fórum, que frequenta a casa das pessoas, os</p><p>hospitais, e mesmo os escritórios do Ministério Público e das próprias defensorias</p><p>públicas. “A prisão como pena é de aparecimento tardio na história do direito</p><p>penal. A aplicação de qualquer pena exige a detenção, por um período mais ou</p><p>menos longo, motivo pelo qual havia cárceres no antigo direito, muito antes que</p><p>a pena de detenção fosse introduzida” (FRAGOSO, 2003, p. 354)</p><p>Com seu papel, a advocacia criminal oferece conforto ao assistido e a sua família ,e</p><p>conforto às famílias das vítimas quando sua atuação é de assessorar desde o inquérito</p><p>policial até a sentença condenatória, além de prover segurança a toda a sociedade</p><p>na fiscalização de forma independente de culpa, à prática do direito e dos direitos</p><p>individuais e coletivos serem respeitados. Nas palavras de Couture (1999, pl. 47), “se</p><p>o defensor permanecesse cético e vacilante depois de haver aceito a defesa, deixaria</p><p>de ser um defensor. A luta judiciária é uma luta de afirmações e não de vacilações.”</p><p>No combate aos abusos e defesa da vida e dos direitos (também no plano</p><p>dos processos criminais - especialmente de natureza política), há o exemplo de</p><p>vida e obra na advocacia testemunhado pelos feitos de Heráclito Sobral Pinto.</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Título: Sobral Pinto: o homem que não tinha preço</p><p>Ano: 2012</p><p>Sinopse: Documentário que lança luzes sobre a vida de Heráclito So-</p><p>bral Pinto, um dos maiores advogados de defesa do Brasil (século XX).</p><p>Com depoimentos de amigos e parentes – e imagens de arquivo – se monta</p><p>um mosaico da história do Brasil contemporâneo a partir da atuação de So-</p><p>bral Pinto em demandas jurídicas polêmicas.</p><p>Comentário: Dirigido por Paula Fiuza, trata-se de um retrato pessoal que re-</p><p>flete o papel institucional do devido processo legal (penal) e da advocacia de</p><p>defesa em tempos comuns e tempos difíceis. A diretora, que conviveu com o</p><p>retratado, revela áudios de tribunais militares que revelaram para a história,</p><p>a força da atuação do advogado em busca de justiça e das defesas de direitos</p><p>fundamentais para a preservação das instituições e da própria sociedade.</p><p>Leia com atenção ao excerto de Eugênio Pacelli:</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 5</p><p>130</p><p>“ Embora ainda haja defensores da ideia de que a ampla defesa ver a ser</p><p>apenas o outro lado ou a outra medida do contraditório, é bem de ver</p><p>que semelhante argumentação peca até mesmo pela base. É que, da pers-</p><p>pectiva da teoria do processo, o contraditório não pode ir além da ga-</p><p>rantia de participação, isto é, a garantia de a parte poder impugnar – no</p><p>processo penal, sobretudo a defesa – toda e qualquer alegação contrária</p><p>a seu interesse, sem, todavia, maiores indagações acerca da concreta efe-</p><p>tividade com que se exerce aludida impugnação. (PACELLI, 2016, p. 44)</p><p>O texto tenta diferenciar um princípio do processo penal (ampla defesa) do contra-</p><p>ditório, outro princípio importante na constituição de um processo penal seguro,</p><p>justo e em sintonia com o estado democrático de direito. Com efeito, a diferença (de</p><p>grau ou força) desses dois princípios é fundamental para o conhecimento de um</p><p>criminologista ou de um especialista em segurança pública. Afinal, como visto na</p><p>Unidade 03, o sistema penitenciário carcerário receberá pessoas que foram conde-</p><p>nadas após um processo penal (no qual lhe foi ofertada oportunidades de defesa).</p><p>Pensando nisso, construa um esboço resu-</p><p>mindo (podendo ser em dois quadros) qual a</p><p>distinção entre o princípio da ampla defesa ao</p><p>princípio do contraditório. Pesquise na internet,</p><p>em vídeos e em leituras bibliográficas (estas for-</p><p>temente recomendadas) e resuma quais pontos</p><p>os princípios têm em comum (a aplicação, por</p><p>exemplo) e suas diferenças.</p><p>Tenha em mente que esses princípios estão</p><p>presentes nas instituições do Processo Penal,</p><p>são observados pelas polícias, desde o momento</p><p>das prisões até o inquérito policial, e são base da</p><p>atuação das defesas criminais (sendo mediadas</p><p>e aplicadas pelo Judiciário). Logo, são princípios</p><p>que tocam a vida das instituições vistas nesta</p><p>Unidade. Resuma os destaques dos princípios</p><p>em uma página.</p><p>131</p><p>Há uma polêmica suscitada pela advocacia brasileira: a estreita ligação entre judiciário e</p><p>Ministério Público (MP). Na maioria das cidades, os gabinetes são próximos – no mesmo</p><p>prédio. Em sala de audiência, diferentemente de outros países, promotores se sentam</p><p>ao lado dos juízes – o espaço dos advogados é abaixo e em frente às duas autoridades.</p><p>Esta distribuição</p><p>UNIDADE 1</p><p>14</p><p>Destaca-se que é Garofalo (1885) o responsável por fazer a criminologia se tornar</p><p>uma ciência autônoma, trazendo discussões mais profundas sobre os fenômenos</p><p>que estão ligados à criminalidade. Em sua essência, trata-se de uma ciência multi-</p><p>disciplinar envolvendo Sociologia, Psicologia, Direito, Medicina Legal, entre outras.</p><p>Conforme Penteado e Penteado Filho (2021), atualmente, o objeto da criminologia</p><p>se ocupa de quatro vertentes, sendo elas: delito, delinquente, vítima e controle social.</p><p>Ainda se pode considerar que a própria criminalidade exerce fascínio sobre</p><p>grande parte da população, levando ao que é válido denominar como “crimino-</p><p>logia cultural”. É possível verificar o apelo midiático e sua manifestação artística</p><p>em inúmeros filmes e séries que trazem a representação de condutas criminosas</p><p>em sua plena forma, criando um imaginário de que assim se obtém o desejado de</p><p>forma “fácil” e vantajosa; seja ao tratar de criminosos em série, gangsters, trafican-</p><p>tes, entre outros. Para exemplificar, a própria série espanhola “La Casa de Papel”,</p><p>à qual retrata um roubo à Casa da Moeda da Espanha, está em sua 5ª temporada</p><p>e já ultrapassou a marca de 34 milhões de contas espectadoras, trazendo um</p><p>recorde que ainda tende a render novos índices no futuro.</p><p>Desta forma, visando compreender de maneira mais profunda os aspectos</p><p>da criminalidade, o presente capítulo tem como objetivo trazer à discussão os</p><p>elementos correspondentes às Escolas Criminológicas. Iremos explorá-las para</p><p>que você, leitor, compreenda as perspectivas clássica, positiva e outras escolas</p><p>criminológicas que influenciaram na construção dos estudos em criminologia.</p><p>Quando pensamos na perspectiva de desenvolvimento da Escola Clássica,</p><p>é imprescindível contextualizar o momento histórico. É importante salientar</p><p>que o crime sempre foi objeto de discussão durante a história da humanidade,</p><p>especialmente quando o assunto é encontrar maneiras de coibi-lo. Neste sentido,</p><p>a aplicação do castigo e da punição foi palco de punir o criminoso.</p><p>Foucault (2013), embora contemporâneo, traz alguns elementos importan-</p><p>tíssimos para a compreensão do período histórico em sua obra “Vigiar e Punir”</p><p>(1975), na qual discutiu os métodos e modos de tormentos vivenciados por con-</p><p>denados na França durante o Século XVIII e XIX. O autor demonstrou que os</p><p>suplícios vivenciados se tratavam de “mil mortes”, em uma perspectiva de que</p><p>o corpo, alvo dos flagelos, deve ser punido e castigado, não apenas em caráter</p><p>retributivo, mas sim em um soar de vingança pelo imperativo real.</p><p>15</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Título: Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão (Surveiller et Punir: Nais-</p><p>sance de la prison).</p><p>Autor: Michel Foucault</p><p>Editora: Vozes</p><p>Sinopse: Publicado originalmente em 1975 e tido como uma obra que al-</p><p>terou o modo de pensar e fazer política social no mundo ocidental. Só foi</p><p>traduzido e publicado no Brasil em 1987.</p><p>Comentário: Corresponde a um estudo dos mecanismos sociais que leva-</p><p>ram à construção e desenvolvimento do sistema punitivo no mundo. Embo-</p><p>ra baseado em documentos históricos franceses, torna-se verdadeiro mar-</p><p>co para o entendimento sobre os sistemas de vigilância e punição, em uma</p><p>perspectiva de constante observação social.</p><p>Embora Foucalt (2013) tenha focado em um recorte histórico, os abusos come-</p><p>tidos pelo ente estatal trouxeram inúmeras máculas e barbáries quando em suas</p><p>condenações, fazendo com que as penas fossem verdadeiros suplícios.</p><p>O suplício era uma espécie de ritual político que foi instituído com base em</p><p>uma política do medo. Muito além do crime ser uma punição pelo dano social da</p><p>ação, ele era considerado uma afronta direta ao poder do “Príncipe” e do Estado</p><p>monárquico. No decorrer do período, o iluminismo, com a busca pelos direitos</p><p>fundamentais, passou a reprovar as barbáries, desqualificando tais tormentos.</p><p>Nos momentos que antecederam a Revolução Francesa (1789), o desconten-</p><p>tamento foi latente. A população buscou o enfrentamento aos privilégios e ao</p><p>poder, sendo notável a solidariedade para com a camada mais baixa da população.</p><p>Ainda nessa sequência, o avanço social permitiu que o processo, face ao inquérito,</p><p>deixasse de ser um modelo inquisitivo de busca pela verdade pelo suplício, para</p><p>o confronto intelectual entre criminoso e inquisidor.</p><p>O antigo sistema monárquico tornava o corpo do condenado como um bem,</p><p>pois permitia ao Estado que imprimisse suas marcas no criminoso. Com a refor-</p><p>ma, esse mesmo corpo passou a ser um bem social de apropriação coletiva e útil,</p><p>fazendo com que as obras públicas tornassem seu castigo visível e controlável.</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 1</p><p>16</p><p>É perceptível que, no decorrer dos anos, o corpo supliciado dá lugar a uma pu-</p><p>nição da “alma”, ou, como define Foucault, “à expiação que tripudia sobre o corpo</p><p>deve suceder um castigo que atue, profundamente sobre o coração, o intelecto, a</p><p>vontade, as disposições” (2013, p.21). Assim, é a condenação que marcará o delin-</p><p>quente, uma marca que não se apresenta de forma física, mas sim moral e social.</p><p>Outro ponto a ser destacado como característica do processo penal da época,</p><p>é que, mesmo que devesse ser apresentada diante de outras provas, a confissão</p><p>era considerada a maior delas – e ainda que o processo fosse sigiloso, por muitas</p><p>vezes a confissão acabava por ser manipulada.</p><p>“ Em uma análise singular, do ponto de vista da Escola de Frankfurt,</p><p>Rusche e Kircjheimer estabeleceram uma relação entre os vários</p><p>regimes punitivos e os sistemas de produção, um modo pelo qual</p><p>se gerava mão de obra suplementar – “uma escravidão civil”.</p><p>Foucault (2013) descreve que o protesto contra os suplícios é encontrado em toda</p><p>parte na segunda metade do séculoXVIII. Durante o período iluminista, essa tratati-</p><p>va não era apenas no que diz respeito aos abusos dos suplícios, mas como um limite</p><p>de direito, um obstáculo ao poder de punir do Estado, sendo que dentre os grandes</p><p>reformadores estão: Beccaria, Servan, Dupaty, Duport, Pastoret, Target e Bergasse.</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Título: [O Conde de Monte Cristo]</p><p>Ano: [2002]</p><p>Sinopse: [O Conde de Monte Cristo (The Count of Monte Cristo) é</p><p>uma clássica história, escrita por Alexandre Dumas, sobre um jovem</p><p>inocente que, erroneamente, mas deliberadamente, é preso, e de sua bri-</p><p>lhante estratégia para se vingar daqueles que o traíram. O jovem e deste-</p><p>mido marinheiro Edmond Dantes é um rapaz honesto e sincero, cuja vida</p><p>pacífica e planos são abruptamente destruídos quando Fernand, seu melhor</p><p>amigo, e com grande poder de influência, o trai. Com uma sentença fraudu-</p><p>lenta para cumprir na infame prisão da ilha do Castelo de If, Edmond se vê</p><p>aprisionado em um pesadelo que dura 13 anos.]</p><p>17</p><p>Em meio às muitas concepções que se estabeleceram, uma das que teve maior</p><p>destaque foi a que trata do comedimento das violências como sendo a mais eficaz,</p><p>visto que é a própria miséria que força o maior número de indivíduos a delinquir.</p><p>A ideia é “fazer da punição e da repressão das ilegalidades uma função regular,</p><p>coextensiva à sociedade; não punir menos, mas punir melhor [...] punir com</p><p>mais universalidade e necessidade” (FOUCAULT, 2013, p.79). Não se tratava da</p><p>mera violência, mas sim de uma nova economia do poder de punir, assegurando</p><p>melhor distribuição e dissociando-se do poder arbitrário monárquico.</p><p>Outro ponto que merece especial destaque é o fator dos privilégios sociais, os</p><p>quais, independentemente de “classe”, provocavam sempre a sublevação e defesa.</p><p>As inúmeras dificuldades sociais traziam em seu escopo uma forma de aceita-</p><p>ção social pelos menos favorecidos e infortunados, visto que suas ações estavam</p><p>ligadas à própria sobrevivência.</p><p>Se a aceitação social acontecia até mesmo por parte da burguesia em ascensão,</p><p>já não suportava quando os “abusos” estavam ferindo seu direito de propriedade.</p><p>Com o passar do tempo, a expansão dos direitos de propriedade fez com que a</p><p>ilegalidade necessitasse de uma repressão rigorosa. Assim sendo, era fundamental</p><p>UNICESUMAR</p><p>espacial é vista como resquício de um autoritarismo que não mais cabe nas</p><p>relações institucionais. Pela Lei, não há hierarquia entre promotores, advogados e juízes, po-</p><p>rém nas salas de audiência, não apenas há hierarquia como é arquitetonicamente denunciada.</p><p>Alguns profissionais da área não veem nisso polêmica alguma. Na visão de defensores do</p><p>MP, a posição ou aproximação geográfica ou predial nada influencia o papel do judiciá-</p><p>rio e, especialmente, na competência pessoal e técnica do Ministério Público. Há que ter</p><p>razão um lado. De qualquer forma, em uma República, a paridade ou igualdade entre ins-</p><p>tituições é fundamental, tanto na atuação quanto nos símbolos, para que haja confiança</p><p>em seus desempenhos e que em nada sejam colocadas sombras nessas relações.</p><p>EXPLORANDO IDEIAS</p><p>Faça uma leitura a respeito do tema: a ligação</p><p>entre MP e Judiciário e encontre, sob a ótica da</p><p>criminologia, pontos obscuros que vão além da</p><p>posição das instituições em sala de audiência.</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 5</p><p>132</p><p>As forças de segurança desempenham papel fundamental na preservação da</p><p>comunidade. Suas funções são divididas (historicamente) e, portanto, aceitas</p><p>de maneira cultural. Há, contudo, quem propague e entenda que deveria haver</p><p>uma fusão (das forças militares em sua maioria de contingente) com a divisão</p><p>de polícia civil (científica). A aplicação de uma desmilitarização da polícia é vista</p><p>com simpatia por uma maioria de estudiosos e a minoria da população. O debate</p><p>não existe, isso porque, antes de se posicionar, é preciso informações melhores</p><p>de desempenho, aplicação de recursos, e, até mesmo, se for o caso, dos níveis de</p><p>letalidade de ações. Todas estas informações existem, porém, são usadas de forma</p><p>política ou mal aproveitadas no âmbito, por exemplo, da imprensa – através dos</p><p>programas de televisão focados em crimes. Logo, o primeiro problema, antes de</p><p>qualquer lado da questão, está na busca de informações e num melhor conheci-</p><p>mento da constituição e atuação das forças de segurança em nosso país.</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Te convido a dar o play neste vídeo curto (e explicativo) do que é a De-</p><p>fensoria Pública, e que mostra como usar seus recursos. O defensor</p><p>público explica o papel de atuação desta instituição que incorpora de</p><p>forma geral a advocacia de defesa limitada a quem não possui recursos</p><p>de bancar honorários advocatícios e custas processuais. As defensorias</p><p>(instituições de previsão Constitucional) são fundamentais na defesa dos</p><p>direitos e diálogos entre poderes e pessoas. O depoimento dá uma visão</p><p>geral e cristalina deste importante Instituto. É só clicar no play, vem!</p><p>O crime não é visto como um fato da sociedade. Vende</p><p>mais, dá mais “likes” e audiência, uma visão espetaculariza-</p><p>da dos delitos (e de seu combate). O próprio uso do verbo</p><p>combater, em referência aos crimes, entrega à sociedade</p><p>como um todo a sensação de uma guerra – e se há uma</p><p>guerra, há lados; havendo lados, há narrativas, e toda nar-</p><p>rativa tende a colocar pessoas como vilãs e outras como</p><p>virtuosas. A partir disto, o papel institucional do Ministério</p><p>Público é, por vezes, difundido na imprensa como heroico</p><p>– e a advocacia de defesa, com suas garantias, tende a ser</p><p>demonizada. O podcast a seguir tenta ressaltar os papéis</p><p>institucionais tanto da acusação como da defesa, sem as</p><p>paixões e cores que a mídia tende a aplicar. Ouça em (link</p><p>disponível) e reflita.</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14278</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11562</p><p>133</p><p>O papel de um diálogo institucional (por mais gasto que esteja o termo) entre</p><p>judiciário, legislativo, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil e a socie-</p><p>dade civil organizada é fundamental. A estrutura das forças públicas pode e deve ser</p><p>alterada (não em sua essência) de tempos em tempos. É histórico e saudável a uma</p><p>sociedade a revisão estrutural de suas instituições – e isso pode, e deve, ser pensado</p><p>para as polícias. O problema é que a mudança promovida por uma desmilitarização</p><p>envolve um esforço de transição nunca feito no país: ao legislativo federal, a alteração</p><p>da Constituição e toda uma legislação de transição; às OAB e sociedade, a partici-</p><p>pação na forma de controle social (externo e participativo em debates e consultas</p><p>públicas); ao judiciário, a garantia do direito adquirido dos oficiais e soldados já cir-</p><p>cunscritos que não devem ser defenestrados da estrutura militar e plantados noutra</p><p>organização – o que afrontaria princípio básico da Constituição (a observância ao</p><p>ato jurídico perfeito). Essas são reflexões válidas à luz do que foi lido nesta unidade.</p><p>UNICESUMAR</p><p>134</p><p>1. O que pode fazer um advogado (defensor) se o cliente (assistido jurisdicional) não</p><p>concordar com a linha de defesa em sua atuação? Embora a pergunta seja simples,</p><p>é preciso refletir no início qual o papel da advocacia de defesa e como a comunidade</p><p>em geral encara o papel (na maioria das vezes estereotipado) do advogado de defesa</p><p>ou do defensor público. O que fazer, na condição de criminologista ou especialista em</p><p>segurança pública, uma vez questionado a este assunto que parece nivelar a relação</p><p>advogado-cliente a uma relação de consumo?</p><p>2. Mesmo havendo liberdade de expressão e de informação, em alguns casos, há a</p><p>vedação de informações da prisão ou pessoas envolvidas em ações policiais ou ações</p><p>penais (processos criminais correndo em segredo de justiça). Contudo, a cobertura de</p><p>imprensa (em seus vários níveis de manifestações) monta narrações que promovem</p><p>nomes de integrantes de forças de segurança, Ministério Público e procuradorias à</p><p>condição de celebridades. Há algum limite ante a esta forma de exposição?</p><p>3. De que forma o Ministério Público pode atuar na redução da criminalidade para além</p><p>de suas funções e prerrogativas na lei?</p><p>135</p><p>UNIDADE 1</p><p>BARATTA, A. Criminologia crítica e crítica do Direito Penal: introdução à sociologia do Direi-</p><p>to Penal. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2002.</p><p>BECCARIA, C. Dos delitos e das penas. Edição Original 1763. São Paulo: Martin Claret, 2005.</p><p>BITENCOURT, C. R. Tratado de Direito Penal: parte geral I. São Paulo: Saraiva, 2011.</p><p>BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: http://</p><p>www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 26 nov. 2021.</p><p>CARNEVALE, E. Uma terza scuola di Diritto Penale. Roma: Mantellate, 1891.</p><p>CARVALHO, S. de. Antimanual de Criminologia. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.</p><p>FARIA, T. D. Oxalá, conhecêssemos Nina Rodrigues. In: AUGUSTO DE SÁ, A.; TANGERINO, D. de</p><p>P. C.; SHECAIRA, S. S. Criminologia no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.</p><p>FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. 41. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2013.</p><p>GONZAGA, C. Manual de Criminologia. 2. ed. São Paulo, 2020.</p><p>GRECO, R. Curso de Direito Penal: parte geral. 17. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2015. v. 1.</p><p>LOMBROSO, C. O Homem Delinquente. 2. ed. traduzida. Porto Alegre. Ricardo Lenz, 2001".</p><p>link do livro: "https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5571686/mod_folder/content/0/LOM-</p><p>BROSO.pdf?forcedownload=1</p><p>MORIN, E. Os desafios da complexidade. In: MORIN, E. (org.). A religação dos saberes: o desa-</p><p>fio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 559-567.</p><p>PEIXOTO, A. Criminologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1953.</p><p>PENTEADO, N. S.; PENTEADO FILHO, N. S. Manual Esquemático de Criminologia. 11. ed. São Pau-</p><p>lo: Saraiva, 2021.</p><p>SCHECARIA, S. S. Criminologia. 4. ed. São Paulo: Revista dos tribunais, 2012.</p><p>SUMARIVA, P. Criminologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Impetus, 2015</p><p>VIANA, E. Criminologia. 9. ed. Salvador: Juspodivm, 2021.</p><p>WHEN IN TURIN. Turin’s hidden gems: the museum of criminal anthropology. 12 sept.</p><p>2016. Disponível em: https://wheninturin.com/2016/09/12/turins-hidden-gems-the-mu-</p><p>seum-of-criminal-anthropology/. Acesso em: 29 jun. 2022.</p><p>136</p><p>Referências on-line:</p><p>1Em: https://ia800306.us.archive.org/BookReader/BookReaderImages.php?zip=/17/items/socio-</p><p>logiacrimin00ferr/sociologiacrimin00ferr_jp2.zip&file=sociologiacrimin00ferr_jp2/sociologiacri-</p><p>min00ferr_0011.jp2&id=sociologiacrimin00ferr&scale=8&rotate=0. Acesso em: 29 jun. 2022.</p><p>2Em: https://media.dwds.de/dta/images/liszt_reichsstrafrecht_1881/liszt_reichsstra-</p><p>frecht_1881_0007_400px.jpg. Acesso em: 29 jun. 2022.</p><p>UNIDADE 2</p><p>BERISTAIN, A. Nova criminologia à luz do direito penal e da vitimologia. São Paulo: Impren-</p><p>sa Oficial do Estado, 2000.</p><p>BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: http://</p><p>www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm</p><p>CARVALHO, S. de. Antimanual de criminologia. 6. Ed. São Paulo: Saraiva, 2015.</p><p>CERQUEIRA, D.; FERREIRA, H.; BUENO, S. (coord.). Atlas da Violência 2021. São Paulo: FBSP, 2021.</p><p>Disponível em https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes. Acesso em: 29 jun. 2022.</p><p>FOCAULT, M. A sociedade punitIva. São Paulo: Folha, 2021.</p><p>MENDES, S. da R. Criminologia feminista: novos paradigmas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.</p><p>PENTEADO FILHO, N. S. Manual esquemático de criminologia. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.</p><p>SANTOS, J. C. dos. A criminologia da repressão: crítica à criminologia positivista. 2. ed. São</p><p>Paulo: Tirant lo Blanche, 2019.</p><p>SHECAIRA, S. S. Criminologia. 8. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020.</p><p>VIANA, E. Criminologia. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2018.</p><p>UNIDADE 3</p><p>ALBERGARIA, B. Histórias do Direito: evolução das leis, fatos e pensamentos. São Paulo: Atlas,</p><p>2012.</p><p>BEDÊ JÚNIOR, A. B.; SENNA, G. Princípios do Processo Penal: entre o garantismo e a efetivida-</p><p>de da sanção. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.</p><p>BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.</p><p>BITTENCOURT, J. V. Penitenciária: estágio para o inferno. Curitiba: Máximus, 2012.</p><p>137</p><p>DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL. Quantidade de Incidências por Tipo Penal: pe-</p><p>ríodo de janeiro a junho de 2021. 2021a. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=ey-</p><p>JrIjoiMzRlNjZhZDAtMGJjMi00NzE0LTllMmUtYWY1NTAxMjQzNzVlIiwidCI6ImViMDkwNDIwLT-</p><p>Q0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em: 29 jun. 2022.</p><p>DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL. Presos em Unidades Prisionais no Brasil: período</p><p>de janeiro a junho de 2021. 2021b. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoi-</p><p>YWIxYjI3MTktNDZiZi00YjVhLWFjN2EtMDM2NDdhZDM5NjE2IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NG-</p><p>MtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em: 20 jun. de 2022.</p><p>ESTEFAM, A. Direito Penal: parte geral. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.</p><p>FACHIN, Z. Curso de Direito Constitucional. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.</p><p>FOUCAULT, M. A sociedade punitiva. São Paulo: Martins Fontes, 2015.</p><p>FRAGOSO, H. C. Lições de Direito Penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003.</p><p>OLIVEIRA, J. S.; SANTOS, D. P. Execução penal e os direitos da mulher e da família. Curitiba:</p><p>Prismas, 2016.</p><p>NUCCI, G. de S. Princípios constitucionais penais e processuais penais. São Paulo: Revista</p><p>dos Tribunais, 2010.</p><p>VARELLA, D. Carcereiros. São Paulo: Cia das Letras, 2012.</p><p>UNIDADE 4</p><p>ALVES, C. M.; LOPES, J. Falsas Memórias: questões teórico-metodológicas. Paidéia, v. 17, n.</p><p>36, p. 45-46, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/paideia/v17n36/v17n36a05.pdf.</p><p>Acesso em: 29 jun. 2022.</p><p>BÍBLIA, Português. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de</p><p>Almeida. Barueri: Sociedade Bíblia do Brasil, 2004.</p><p>BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: http://</p><p>www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 26 nov. 2021.</p><p>BURKE, A. Vitimologia: manual da vítima penal. Salvador: Juspodivm, 2019.</p><p>EYSENCK, M. W.; KEANE, M. T. Manual de Psicologia Cognitiva. 7. ed. Porto Alegre: Artmed,</p><p>2017.</p><p>FABRIQUE, N. et al. Understanding Stockholm Syndrome. FBI Law Enforcement Bulletin, v.</p><p>76, p.10-15, 2007.</p><p>FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 1. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2021.</p><p>GOMES, L. F.; MOLINA, A. G. P. de. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.</p><p>138</p><p>GONZAGA, C. Manual de Criminologia. 2. ed. São Paulo, 2020.</p><p>GUTERRES, C. S.; THOMAZ, E. R. T.; BULCÃO, P. C. de. B. Os problemas decorrentes das falsas</p><p>memórias para as entrevistas e interrogatórios policiais. Revista da Escola Superior de Polí-</p><p>cia Civil, v. 3, 2021. Disponível em: https://www.escola.pc.pr.gov.br/Pagina/Revista-da-Escola-</p><p>-Superior-da-Policia-Civil-v3-2021. Acesso em: 29 jun. 2022.</p><p>HUMAN RIGHTS COMMITTEE; CCPR, UN Doc. Declaração dos Princípios Básicos de Justiça</p><p>Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder, adotada pela Assembléia Geral</p><p>das Nações Unidas na sua resolução 40/34. 29 nov. 1985. 2014.[GD3]</p><p>MARCHIORATTO, L. F. B. Vitimodogmática e a Vitimologia e o Novo Direito Penal Contemporâ-</p><p>neo. Revista de Ciências Jurídicas e Sociais, v. 2, n. 1, 1999.</p><p>MELO, F. P. de. Técnicas de Entrevista e Interrogatório. Curitiba: Contentus, 2020.</p><p>MENDELSOHN apud PENTEADO; PENTEADO FILHO, 2021</p><p>OLIVEIRA NETO, E. S. de. Vitimodogmática e limitação da responsabilidade penal nas</p><p>ações arriscadas da vítima. 2019. 276 f. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade Federal</p><p>de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019.</p><p>PENTEADO, N. S.; PENTEADO FILHO, N. S. Manual Esquemático de Criminologia. 11. ed. São</p><p>Paulo: Saraiva, 2021.</p><p>PISSURNO, F. P. O Contrato Social. InfoEscola, [2022]. Disponível em: https://www.infoescola.</p><p>com/livros/o-contrato-social/. Acesso em: 29 jun. 2022.</p><p>RIBEIRO, L. R. P. Vitimologia. MPSP, n. 7, abr./maio 2001. Disponível em: https://www.google.com/</p><p>url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwjG9vDH0Ob1AhXtqpUCHeBgAm-</p><p>0QFnoECA8QAw&url=http%3A%2F%2Fwww.mpsp.mp.br%2Fportal%2Fpage%2Fportal%2Fdocu-</p><p>mentacao_e_divulgacao%2Fdoc_biblioteca%2Fbibli_servicos_produtos%2Fbibli_boletim%2Fbibli_</p><p>bol_2006%2FRDP_07_30.pdf&usg=AOvVaw32Y2NG5qmNUXiye1HdZjvu. Acesso em: 29 jun. 2022.</p><p>ROUSSEAU, J. J. Do contrato social ou princípios do Direito Político. São Paulo: Companhia</p><p>das Letras, 2011.</p><p>SAAD-DINIZ, E. Vitimologia corporativa. São Paulo: Tirant lo Blanch, 2019.</p><p>SCHMITT, L. S. Sequestro e Síndrome de Estocolmo: cativeiro, trauma e tradução. 2013. 121</p><p>f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2013.</p><p>Disponível em: http://repositorio.uem.br:8080/jspui/handle/1/6145. Acesso em: 29 jun. 2022.</p><p>SUMARIVA, P. Criminologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Impetus, 2015.</p><p>TRINDADE, J. Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito. 4. ed. Porto Alegre:</p><p>Livraria do Advogado, 2010.</p><p>VIANA, E. Criminologia. 9. ed. Salvador: Juspodivm, 2021.</p><p>139</p><p>UNIDADE 5</p><p>BADARÓ, G. Processo penal. Rio de Janeiro: Campus jurídico, 2014.</p><p>BEDÊ JÚNIOR, A. B.; SENNA, G. Princípios do Processo Penal: entre o garantismo e a efetivida-</p><p>de da sanção. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009</p><p>BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm</p><p>BRASIL. Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994. Estatuto da Advocacia. Disponível em: http://www.</p><p>planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm</p><p>CARVALHO, S. de. Antimanual de criminologia. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.</p><p>COUTURE, E. Os mandamentos do advogado. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1999.</p><p>FACHIN, Z. Curso de Direito Constitucional. 5. ed. Rio de janeiro: Forense, 2012.</p><p>FRAGOSO, H. C. Lições de Direito Penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003.</p><p>GALVÃO, F. Direito Penal: parte geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.</p><p>JULIÃO, R. de F. Ética e estatuto da advocacia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015.</p><p>PACELLI, E. Curso de Processo Penal. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2016.</p><p>NICOLITT, A. Manual de Processo Penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus Jurídico, 2010.</p><p>NUCCI, G. de S. Princípios constitucionais penais e processuais penais. São Paulo: Revista</p><p>dos Tribunais, 2010.</p><p>SHECAIRA, S. S. Criminologia. 8. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020.</p><p>Referências on-line:</p><p>https://www.cnj.jus.br/tribunais-superiores-quais-sao-o-que-fazem/.</p><p>Acesso em 08/07/2022</p><p>140</p><p>UNIDADE 1</p><p>1. A. O positivismo criminológico afirma que o comportamento do gênero humano era</p><p>determinado pelos caracteres físicos – explicados pela fisionomia do indivíduo. O cri-</p><p>me era um fenômeno biológico, e não um ente jurídico como afirmavam os clássicos.</p><p>2. D. A Escola Clássica condenava a prática das penas desumanas e cruéis, questionava</p><p>as acusações secretas e defendia que as leis fossem claras e objetivas, a fim de que</p><p>houvesse mais justiça no processo penal.</p><p>3. C. Para a Escola Clássica, a responsabilidade penal é lastreada na imputabilidade</p><p>moral e no livre arbítrio humano; O positivismo criminológico caracterizou-se, dentre</p><p>os principais aspectos, pela negação do livre arbítrio e pela crença no determinismo,</p><p>assim como pela adoção do método empírico-indutivo.</p><p>UNIDADE 2</p><p>1. Crime e Cultura: Conforme vimos nesta unidade, não se trata de censura, mas é</p><p>preciso regulamentação por parte da lei e da sociedade a respeito dos acessos dos</p><p>jovens a matérias de entretenimento e esportes (no caso e-games). A faixa-etária deve</p><p>ser respeitada, dando a cada indivíduo liberdade, mas também proteção da perso-</p><p>nalidade - e com isso, garantindo-se na Sociedade, uma redução em crimes violentos</p><p>inspirados por obras de ficção ou esportes.</p><p>2. Criminologia feminista a contragosto da igualdade, como já fora citado nesta unida-</p><p>de: “Liberdade, assim compreendida, adquire um relevo ainda maior na perspectiva</p><p>feminina, pois configura direito de autodeterminação e autorrealização que consubs-</p><p>tanciam o direito de decidir dado a cada uma, sem imposições morais ou religiosas</p><p>distanciadas da realidade vivida particularmente” (MENDES, 2019, p. 194). Logo, é</p><p>melhor pensar o crime que afeta a vida das mulheres na perspectiva de seus corpos</p><p>e suas vidas do que em fatores generalizantes.</p><p>MENDES, S. da R. Criminologia feminista: novos paradigmas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.</p><p>3. Introdução à criminologia brasileira: Uma cidade pode, através das suas Secretarias</p><p>Municipais, promover educação e cultura fora das escolas. Palestras, cursos gratuitos,</p><p>convênios com a sociedade civil – há várias maneiras para que a gestão pública atue</p><p>junto à sociedade na promoção cultural e educacional, não importando o nível, a fim</p><p>de garantir mais inserção na vida da cidade e menor evasão (culminando em maior</p><p>risco de comportamentos desviantes).</p><p>141</p><p>UNIDADE 3</p><p>1. Os sistemas carcerários brasileiros ainda reproduzem muito da filosofia da pena do</p><p>“ora e trabalha”, de fins do séc. XIX nos EUA. Com isso, a aplicação moral (assunto de</p><p>atividade no início desta Unidade) é um tema que não pode ser descartado, haja vista</p><p>que, para boa parte da sociedade, os desvios morais (comportamentos desviantes, vide</p><p>Unidade 02 criminalidade e cultura) ainda constituem o imaginário social do criminoso.</p><p>Porém, “a reunião coercitiva de pessoas do mesmo sexo numa ambiente fechado,</p><p>autoritário, opressivo e violento, corrompe e avilta. Os internos são submetidos às</p><p>leis da massa, ou seja, ao código dos presos, onde impera a violência e dominação</p><p>de uns sobre outros” (FRAGOSO, 2003, p. 357).</p><p>FRAGOSO, H. C. Lições de Direito Penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003.</p><p>2. Um dos problemas mais graves do sistema prisional brasileiro é a falta de propósito.</p><p>Baseado em ideias fundadas na Constituição Federal – frutos de um humanismo</p><p>bicentenário – o sistema prisional não encontra apoio ou respaldo político e da po-</p><p>pulação. Discursos políticos raivosos com soluções simplistas ,e o fomento midiático</p><p>de ódio (na construção da imagem de um inimigo (rótulo) da sociedade, contribuem</p><p>para um afastamento de defesa de todo o corpo social do sistema prisional. As es-</p><p>colas de crimes, como são conhecidas as prisões no Brasil, impõe-se como realidade</p><p>quase irreversível – e somente o esforço individual (a conversão, a mudança de vida) é</p><p>aceito – não há políticas práticas de educação e recolocação do interno na sociedade.</p><p>3. A situação carcerária feminina se mantém problemática porque carece de investi-</p><p>mentos. A pobreza menstrual é uma situação vivida em presídios de todo país, assim</p><p>como a maternidade no cárcere, que se coloca na vida da interna como uma dupla</p><p>condenação atingindo também a vida de uma criança. O problema se relaciona com</p><p>os caminhos do crime: em geral, mulheres cometem menos crimes que os homens –</p><p>e por razões diversas destes. Logo, sem uma análise correta e humana da condição</p><p>feminina na sociedade, e do que leva mulheres aos delitos (especialmente aos crimes</p><p>de tráfico e contra o patrimônio), a recuperação de vidas dessas pessoas, bem como</p><p>a paz social, ficam em parte comprometidas.</p><p>142</p><p>UNIDADE 4</p><p>1. D. Conforme disposto nesta unidade, Mendelsohn em sua obra The Victimology (arti-</p><p>go escrito em 1956) e La Victimologie (obra mais importante do autor, publicada em</p><p>1958). Sua classificação das vítimas em: vítimas inocentes; provocadora e agressora,</p><p>trouxeram significativa discussão no âmbito acadêmico, tornando-se elemento que</p><p>propiciou significativos avanços na área criminológica.</p><p>2. C. Somente as alternativas I, III e IV estão corretas; Com base no conteúdo estudado</p><p>no decorrer da disciplina, a doutrina majoritária considera que o período histórico da</p><p>vitimologia é dividido em três fases: Idade de Ouro da vítima: o período denominado</p><p>consiste no momento histórico pelo qual a vítima estava necessariamente no epicentro</p><p>do fenômeno, de modo que o dano causado, além de ser diretamente à vítima, também</p><p>envolvia a sociedade, dessa maneira, o critério de punição era retributivo em forma de</p><p>“vingança”. O período que ficou conhecido como neutralização da vítima, pois o poder,</p><p>então centralizado nas mãos da monarquia (dividido apenas com a igreja), passa a ter o</p><p>monarca como símbolo de justiça e poder. No tocante à fase do redescobrimento da</p><p>vítima, tem-se que esta se dá durante o período envolvendo A Segunda Guerra Mundial</p><p>(1939-1945), na qual houve uma resposta ética e social aos fenômenos.</p><p>3. E. Nenhuma das alternativas está correta. Conforme Penteado; Penteado Filho (2021,</p><p>p.115) tem-se: “Vitimização primária: é normalmente entendida como aquela provocada</p><p>pelo cometimento do crime, pela conduta violadora dos direitos da vítima - pode causar</p><p>danos variados, materiais, físicos, psicológicos, de acordo com a natureza da infração,</p><p>a personalidade da vítima, sua relação com o agente violador, a extensão do dano, etc.</p><p>Então, é aquela que corresponde aos danos à vítima decorrentes do crime. Vitimização</p><p>secundária: ou sobrevitimização; entende-se ser aquela causada pelas instâncias for-</p><p>mais de controle social, no decorrer do processo de registro e apuração do crime, com</p><p>o sofrimento adicional causado pela dinâmica do sistema de justiça criminal (inquérito</p><p>policial e processo penal). Vitimização terciária: falta de amparo dos órgãos públicos</p><p>às vítimas; nesse contexto, a própria sociedade não acolhe a vítima, e muitas vezes a</p><p>incentiva a não denunciar o delito às autoridades, ocorrendo o que se chama de cifra</p><p>negra (quantidade de crimes que não chegam ao conhecimento do Estado).”</p><p>PENTEADO, N. S.; PENTEADO FILHO, N. S. Manual Esquemático de Criminologia. 11. ed.</p><p>São Paulo, 2021.</p><p>UNIDADE 5</p><p>1. A advocacia, já dizia Sobral Pinto, não é para covardes. O advogado, protegido pelo</p><p>estatuto da advocacia, goza de independência intelectual e de consciência, assim, não</p><p>é porque blogs, Youtube, Instagram ou o primo do cliente viu, falou ou faz uma defesa</p><p>de um jeito, que este profissional deve se dobrar às vontades do cliente e a sua visão</p><p>de mundo. Estudo, conversa, informação, sim; meros convencimentos e achismos,</p><p>são por conta e risco do cliente e não devem pautar a atuação profissional. Um bom</p><p>advogado justifica suas opiniões, as confronta, sem ceder às paixões.</p><p>2. A segurança pública não deve apenas pensar o crime, mas as agitações sociais. Certos</p><p>delitos provocam uma comoção/revolta social tão grande que podem levar a distúrbios</p><p>e destruições</p><p>pontuais (bem como mortes que podem, adiante, revelarem-se trági-</p><p>cas). O pensamento institucional da segurança pública, com isso, deve focar no bem</p><p>comum. É certo que o direito à informação deve ser disposto a todas as pessoas, mas</p><p>é preciso sempre criticar e decidir qual o alcance e utilidade deste direito. Um caso</p><p>de grande repercussão não pode, pelo bem da investigação, no interesse da Justiça e</p><p>pela segurança dos agentes públicos ser divulgado e acompanhado em seus mínimos</p><p>detalhes. Nomes, fatos e locais devem ser publicados após um filtro de relevância e</p><p>consequências. Assim, o bem comum, da paz social e dos interesses institucionais,</p><p>deve se sobrepor ao direito individual de mera curiosidade e celebridade em nome</p><p>de um furo de reportagem, seja em blog, live ou na imprensa em geral.</p><p>3. Esta questão envolve o papel institucional do MP (e de qualquer órgão da administra-</p><p>ção pública). A atuação de um órgão vai além de suas prerrogativas na lei: deve ser</p><p>integradora, social junto à comunidade. Assim, o MP já faz – e muito – doando livros</p><p>a escolas e presídios, montando cursos presenciais e virtuais abertos a toda comuni-</p><p>dade. Reforçando a pesquisa nas suas fundações escolas (formadoras de estudantes</p><p>que pretendem prestar concurso de ingresso às carreiras do MP). Na verdade, o MP</p><p>é um órgão com mais visão institucional que atua no Brasil do século XXI.</p><p>Marcador 6</p><p>_gjdgxs</p><p>_30j0zll</p><p>Marcador 9</p><p>Aspectos Iniciais do Campo da Criminologia – Escolas Criminológicas</p><p>Cena atual da Criminologia e Causas da Criminalidade</p><p>Sistema Prisional Brasileiro</p><p>Vitimologia</p><p>Instituições: Processo Penal Brasileiro, Polícia, Ministério Público, Poder Judiciário e Advocacia.</p><p>_gjdgxs</p><p>_1fob9te</p><p>_2et92p0</p><p>_Hlk106779485</p><p>_30j0zll</p><p>_1fob9te</p><p>_3znysh7</p><p>_2et92p0</p><p>Button 16:</p><p>Página 9:</p><p>Botão 26:</p><p>Botão 23:</p><p>Botão 21:</p><p>Botão 22:</p><p>Botão 24:</p><p>Botão 25:</p><p>Button 24:</p><p>UNIDADE 1</p><p>18</p><p>controlar e codificar todas as ações ilícitas para que elas fossem definidas e puni-</p><p>das. Se, por um lado, os menos favorecidos eram punidos por sua ilegalidade mais</p><p>acessível, a burguesia se ateve à ilegalidade de direitos, criando a possibilidade de</p><p>desviar seus próprios regulamentos e suas próprias leis.</p><p>Neste sentido, pode-se afirmar que a Escola Clássica se tratou de um movi-</p><p>mento inspirado pelos preceitos iluministas, em uma perspectiva de humanizar</p><p>as ciências penais. Destaca-se que o iluminismo, em síntese, foi um movimento</p><p>político e filosófico, também denominado como “século das luzes”, que trouxe a</p><p>perspectiva do uso da razão como a maior fonte de autoridade, defendendo ideais</p><p>sociais como a liberdade, fraternidade, separação do Estado/Igreja, da ampliação</p><p>do pensamento crítico, entre outros.</p><p>Dentre os principais pensadores da Escola Clássica, destaca-se Cesare Bonesana</p><p>(1738-1794), marquês de Beccaria, que, em sua obra “Dos delitos e das penas” (1764)</p><p>procurou trazer à discussão a concepção de pena, insurgindo contra as penas de-</p><p>sumanas, degradantes, vingativas e, especialmente, contra os julgamentos secretos,</p><p>defendendo que a publicidade é um elemento indispensável, assim como a presteza</p><p>das penas. O pensador ainda se posicionou contra a pena de morte e insurgiu a fim</p><p>de que existisse proporcionalidade entre a punição e o crime cometido. Dentre os</p><p>pensadores, tem-se também Francesco Carrara, considerado como um dos maiores</p><p>penalistas que já se existiu, e que propunha que o crime é composto de força física</p><p>e força moral, sendo que tais direitos devem ser equilibrados pelo Estado. Carrara</p><p>defendeu que o crime só existe quando se trata de um conflito com a lei, em um</p><p>entendimento de que o criminoso rompe com o “contrato social”.</p><p>A visão contratualista parte do pensamento de Rousseau que, em sua obra</p><p>“Do Contrato Social” (1762), trata que o Estado surge por meio de um grande</p><p>acordo entre os homens, no sentido de que para se viver em sociedade é cedida</p><p>parte da liberdade e dos direitos de um indivíduo em benefício da segurança</p><p>coletiva. Como uma simbiose, a transformação do criminoso é dissociada, pas-</p><p>sando-se para o indivíduo um ser juridicamente paradoxal, afinal, este rompia</p><p>o “contrato social”, tornando-se inimigo de toda a sociedade; assim, toda a so-</p><p>ciedade está presente na menor punição. Muda-se a concepção de inimigo do</p><p>poder soberano, para o inimigo social. Ainda, não bastava apenas punir, mas sim</p><p>encontrar a proporção entre a qualidade do delito e a influência do pacto violado.</p><p>19</p><p>Gonzaga (2020) considera que a perspectiva do princípio da legalidade, “nul-</p><p>lum crimen, nulla poena sine praevia lege” (nulo o crime e nula a pena sem lei</p><p>anterior que o defina), tornou-se uma das maiores contribuições da Escola Clás-</p><p>sica, vindo a enfrentar as condenações injustas e abusivas cometidas pelo Estado</p><p>durante o período absolutista.</p><p>Como uma busca incessante pela “verdade real”, esta só pode ser admitida depois</p><p>de comprovada, mantendo-se o réu inocente até prova em contrário, o chamado “Prin-</p><p>cípio do Favor Rei”. Neste processo de avaliação das penas, a própria Constituinte de</p><p>1791 analisava que as penas comuns deviam ser de no máximo de 20 anos, sendo que</p><p>a prisão perpétua era considera inútil, uma vez que, como não há esperança de sua</p><p>reinserção, o indivíduo tenderá a lutar de todas as formas para rompê-la.</p><p>De forma singular, os centros de contenção dos indivíduos iniciavam um</p><p>processo de aproximação com o próprio corpo social, fazendo com que estruturas</p><p>concretas manifestassem uma nova física do poder de punir: “a duração da pena</p><p>só tem sentido em relação a uma possível correção, e uma utilização econômica</p><p>dos criminosos corrigidos” (FOUCAULT, 2013, p.118). Desta forma, a prisão</p><p>começava a se parecer com o modelo fabril, e, dessa forma, passou a tornar o sen-</p><p>timento de isolamento um modelo pelo qual pode redescobrir sua consciência.</p><p>Embora a condenação e motivação fossem de conhecimento de todos, a exe-</p><p>cução da pena deve ser realizada em segredo, um processo de transformação</p><p>entre o apenado e seus agentes, permitindo que o aparelho punitivo se modifique,</p><p>então, em um transformador de “espíritos”.</p><p>Conforme Viana (2021), a Escola Clássica compreende duas ideias centrais, as</p><p>quais compreendem que o objetivo das ciências criminais é prevenir a possibilidade</p><p>de que existam abusos por parte das autoridades que representam o poder; e que o</p><p>crime é uma identidade de direito, e não somente de fato, visto que a norma penal</p><p>se realizará com base nos comportamentos humanos existentes no meio social.</p><p>Conforme Penteado e Penteado Filho (2021, p.37) os princípios fundamentais</p><p>da Escola Clássica são:</p><p>a) o crime é um ente jurídico; não é uma ação, mas sim uma infração (Carrara).</p><p>b) a punibilidade deve ser baseada no livre-arbítrio.</p><p>c) a pena deve ter nítido caráter de retribuição pela culpa moral do delin-</p><p>quente (maldade), de modo a prevenir o delito com certeza, rapidez e</p><p>severidade e a restaurar a ordem externa social;</p><p>d) método e raciocínio lógico-dedutivo.</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 1</p><p>20</p><p>Nesse sentido, para a Escola Clássica, o ser humano (livre e racional) conside-</p><p>ra o cálculo de benefícios e prejuízos esperados de forma que, se os prejuízos</p><p>são superiores aos benefícios, a tendência de evitar o cometimento da conduta</p><p>se torna mais latente. Ou seja, embora possua o livre arbítrio para definir suas</p><p>ações, torna-se responsável pelos seus atos, sendo responsabilizado legalmente</p><p>por suas condutas criminosas. Assim, as principais contribuições foram no sen-</p><p>tido de trazer a humanização, considerando o ser humano como objeto central;</p><p>o desenvolvimento de uma perspectiva científica da ciência penal; o início da</p><p>Criminologia em construção de uma política criminal justa, que incorresse sem</p><p>abusos e/ou qualquer tipo de atrocidades.</p><p>Tendo em conta o desenvolvimento do sistema punitivo, você considera que o aparelho</p><p>repressor estatal promove um sistema de manutenção de disciplina e de manutenção do</p><p>poder estrutural?</p><p>PENSANDO JUNTOS</p><p>Ao se pensar no desenvolvimento da Escola Positiva, cabe destacar que esta</p><p>se desenvolveu com base nas lacunas deixadas pela Escola Clássica, visto que as</p><p>concepções não foram suficientes para diminuir de forma eficiente o fenômeno</p><p>da criminalidade. Conforme Viana (2021), houve ainda a aplicação do método</p><p>de observação, a fim de que se pudesse estudar o homem; o desenvolvimento de</p><p>estudos de fenômenos sociais, nos quais se destacou Adolphe Quetelet, o qual,</p><p>com base em concepções</p><p>estatísticas, demonstrava</p><p>regularidade e uniformi-</p><p>dade em determinados</p><p>crimes; e concepções</p><p>ideológicas que reco-</p><p>nheciam que a proteção</p><p>ao direito dos indivíduos</p><p>havia sacrificado interes-</p><p>ses do coletivo. Segundo</p><p>Quetelet, em sua obra</p><p>“Física social” (1835), o</p><p>21</p><p>crime é um fenômeno social; os crimes são cometidos de forma anual com in-</p><p>tensa precisão; e existem condicionantes para a prática delitiva, por exemplo, a</p><p>miséria, o analfabetismo, o clima (teoria das leis térmicas), entre outros.</p><p>Deve-se destacar que a concepção de positivismo advém da corrente de pensa-</p><p>mento filosófico surgida na Europa entre os Séculos XIX e XX, de modo que, con-</p><p>forme Augusto Comte (considerado o “pai” do positivismo), o conhecimento cien-</p><p>tífico deve ser o único considerado como verdadeiro, válido e autêntico, visto que</p><p>concepções metafísicas e teológicas são frágeis e questionáveis. Assim, o positivismo</p><p>desconsidera quaisquer outras teorias científicas que não possam ser comprovadas de</p><p>forma científica. Na obra Apelo aos Conservadores (1855), Comte define a concepção</p><p>de “positivo” com acepções do: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático.</p><p>Dessa forma, cabe destacar que essa corrente filosófica busca a cientificida-</p><p>de nos diversos elementos que compõem as estruturas, adentrando, assim, nos</p><p>meandros de “por que” o crime ocorre. Frisa-se, que embora seja uma das escolas</p><p>criminológicas</p><p>que possui uma infindável quantidade de críticas, especialmente</p><p>quando observada com base em nossa ótica atual e com repertório de conhe-</p><p>cimentos infindáveis, para a época, tratou-se de verdadeira reforma embasada</p><p>em uma corrente de pensamentos que emergia em busca da “verdade científica”.</p><p>Conforme Gonzaga (2021), enquanto a Escola Clássica trazia em seu bojo a utili-</p><p>zação do método dedutivo (lógico-abstrato), a Escola Positiva firmou-se no método</p><p>indutivo de observação dos fatos (também denominado como empírico). Esta utiliza</p><p>dados com o objetivo de compreender não somente os casos que se observa, mas tam-</p><p>bém os que com ele possuem relação e semelhança, de forma a criar a concepção de</p><p>paradigma etiológico, ou seja, a criminologia deve trazer a explicação para as causas</p><p>que envolvam o crime, de modo a permitir que se criem soluções para combatê-lo.</p><p>Dentre os principais pensadores da Escola Positiva destacam-se: Cesare</p><p>Lombroso (Figura 2) (cuja concepção envolve concepções antropobiológicas),</p><p>Enrico Ferri (concepção sociológica) e Raffaele Garofalo (concepção jurídica),</p><p>formando o que alguns autores denominam como a trindade da criminologia</p><p>positiva. Entretanto, destacam-se também: Giulio Fioretti, Scipio Sighele, Dorado</p><p>Montero e Bernaldo de Quirós. No Brasil, tem-se ainda Raimundo Nina Rodri-</p><p>gues, fundador da antropologia criminal brasileira. A participação de Rodrigues</p><p>foi imprescindível na construção da Justiça Penal no Brasil, tendo em sua obra,</p><p>“As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil”, inúmeras considerações</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 1</p><p>22</p><p>Descrição da Imagem: Representação de parte do acervo do Museu de Antropologia Criminal de Cesare</p><p>Lombroso. Na imagem, há um balcão expositor, sendo que na parte superior da imagem é possível per-</p><p>ceber diversas representações de cabeças humanas; na parte inferior da imagem, há dezenas de crânios</p><p>humanos dispostos de forma frontal.</p><p>Figura 1 - O museu da antropologia criminal / Fonte: When in Turin (2016, on-line).</p><p>Lombroso (1835-1909), em sua concepção antrobiológica, (há correntes que</p><p>sustentam se tratar de uma concepção somente antropológica), ganhou repercus-</p><p>são com sua obra denominada “O homem delinquente” (1876), em que destacou</p><p>que há fatores biológicos que devem ser levados em consideração ao se estudar</p><p>o crime e o criminoso, especialmente conforme seus estudos voltados à antro-</p><p>pometria e fisionomia de criminosos.</p><p>críticas ao Código Penal (1894) (FARIA, 2010). Além de Rodrigues, também há</p><p>o brasileiro Francisco José Viveiros de Castro, estudioso da antropologia cri-</p><p>minal e considerado, na época, como um dos maiores estudiosos em crimes de</p><p>sexualidade.</p><p>23</p><p>Segundo Viana (2021, p. 65), o sistema lombrosiano está pautado em três teses,</p><p>sendo: “I - O criminoso diferencia-se dos não criminosos por meio de um sem-</p><p>-número de sinais físicos e psíquicos; II - O criminoso é uma variante da espécie</p><p>humana, um ser atávico (= uma degeneração); III - Essa variação é (pode ser)</p><p>transmitida hereditariamente”.</p><p>Cabe salientar que os princípios expostos correspondem à primeira fase do</p><p>pensamento Lombrosiano, o qual, por meio do aprofundamento de suas pes-</p><p>quisas, estabelece novas concepções, inclusive sobre o momento social no crime.</p><p>Foi no Manicômio de Pésaro, em 1871, que Lombroso obteve as amostras para</p><p>suas pesquisas e desenvolvimento dos estudos científicos – posteriormente, comparou</p><p>a pesquisa coletada com os dados estatísticos da criminalidade. Para tanto, sua grande</p><p>dimensão no campo da pesquisa, encontrou uma nova percepção ao se utilizar o</p><p>Descrição da Imagem: A</p><p>figura apresenta uma es-</p><p>cultura em rocha de cor</p><p>cinza, representando Lom-</p><p>broso com a mão direita</p><p>sob um crânio (também</p><p>esculpido em rocha). Ao</p><p>fundo, há uma vegetação</p><p>pertencente ao ambiente</p><p>em que a escultura está</p><p>inserida.</p><p>Figura 2– Monumento a</p><p>Lombroso - Verona, Itália</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 1</p><p>24</p><p>método empírico-indutivo, também denominado indutivo-experimental, verdadeira</p><p>revolução no campo científico criminal (PENTEADO; PENTEADO FILHO, 2021).</p><p>As características e os aspectos biológicos permitiram que se formasse a</p><p>concepção de “criminoso nato”, conceito, este, exposto na mesma obra (Homem</p><p>Delinquente - 1876). Assim, de acordo com o determinismo, tais pessoas que</p><p>possuem certas características “fronte fugidia, zigomas salientes, lábios grossos,</p><p>mãos grandes, orelhas grandes, insensibilidade à dor, vaidade, crueldade e ten-</p><p>dência à tatuagem denotam a pessoa do criminoso” (GONZAGA, 2021, p. 46).</p><p>Incluía-se também neste modelo aqueles que sofriam de epilepsia, de modo que</p><p>todos os que possuíam tais características deveriam ser retiradas previamente</p><p>do convívio social, evitando, assim, o cometimento de crimes. Dessa maneira,</p><p>a liberdade humana correspondia a uma mera ficção, uma alegoria que não se</p><p>concretizava, visto que sua carga genética impossibilitaria o ser humano de lutar</p><p>contra sua predisposição para o crime.</p><p>“ Essa concepção de “criminoso nato” pode ser vista como uma se-</p><p>mente para os estudos do chamado Direito Penal do Autor (ex-</p><p>pressão valorizada na primeira metade do século XX, por meio da</p><p>Escola Neokantista de Mezger), que leva em consideração certas</p><p>características pessoais para eleger alguém como criminoso, como</p><p>é o caso de analisar-se a cor da pessoa. Casos de aplicação do Direito</p><p>Penal de Autor no Brasil é muito comum, infelizmente, a começar</p><p>pela população carcerária composta em sua maioria de pessoas de</p><p>cor negra, ocorrendo de o próprio sistema penal ser estigmatizante</p><p>e discriminatório. (GONZAGA, 2021, p.47)</p><p>O fato de explorar essa perspectiva determinista trouxe infinidades de críticas</p><p>para Lombroso, de modo a que o próprio Direito Penal passou a considerar o</p><p>ato criminoso e não a mera concepção estereotipada. Embora o próprio método</p><p>utilizado tenha sido alvo de revisões e contestações, visto que o tratamento dos</p><p>dados era superficial, o que acabava contaminando as amostras obtidas, sua teoria</p><p>alavancou uma profunda popularidade, visto que a própria sociedade (precon-</p><p>ceituosa) selecionava e eliminava os que estavam fora dos “padrões”.</p><p>Há de se questionar que, ainda hoje, em nossa sociedade, é comum escutarmos</p><p>expressões como: “ele tinha cara de bandido”, “dava pra perceber que ele era crimi-</p><p>noso só pelo jeito dele”, entre outras sentenças, de modo a favorecer rotulações e</p><p>25</p><p>imposições totalmente seletivas, rotuladoras e preconceituosas. Assim, a mudança</p><p>paradigmática é um dos fatores que merece especial atenção, orientados pelo prin-</p><p>cípio básico de que “todos são inocentes, até que se prove o contrário”. A construção</p><p>de uma sociedade mais justa e humana depende de cada um de nós, e você, futuro</p><p>Gestor de Segurança Pública, tem um papel fundamental nesse contexto.</p><p>Enrico Ferri (1856-1929), além de ser apontado como discípulo de Lombroso,</p><p>é considerado o “pai” da Sociologia Criminal, conforme Sumariva (2015). Ferri</p><p>defendia a premissa de que a pena não passava de um resultado do determinis-</p><p>mo, o qual levava o organismo social a defender-se, expelindo aquele que estava</p><p>determinado a delinquir. Ainda, segundo o autor, Ferri classificou os criminosos</p><p>em: natos, loucos, passionais, ocasionais e habituais. Destaca-se que, segundo a</p><p>perspectiva de Ferri, tudo deveria ser realizado a fim de se evitar a criminalidade,</p><p>tomando as medidas necessárias para sua consecução.</p><p>“ Nato era o criminoso conforme a classificação de Lombroso. Ca-</p><p>racterizava-se por impulsividade ínsita que fazia com que o agente</p><p>que cometesse o crime por motivos absolutamente desproporcionais</p><p>à gravidade do delito. Eram precoces e incorrigíveis, com grande</p><p>tendência à reincidência. O louco é levado ao crime não somente</p><p>pela enfermidade mental, mas também pela atrofia do senso moral,</p><p>que é sempre a condição decisiva na gênese da delinquência. O</p><p>delinquente habitual preenche um perfil urbano. É a descrição da-</p><p>quele que nascido e crescido num ambiente de miséria moral e mate-</p><p>rial</p><p>começa, desde novo, com leves faltas (pichações, furtos pequenos</p><p>e crimes de dano) até uma escalada obstinada no crime, culminando</p><p>com graves violações aos bens jurídicos, como homicídios e roubos</p><p>com armas de fogo. Pessoa de grave periculosidade e fraca readap-</p><p>tabilidade, preenche um perfil que se amolda, em grande parte, ao</p><p>perfil de criminosos mais perigosos. O delinquente ocasional está</p><p>condicionado por uma forte influência de circunstâncias ambientais:</p><p>injusta provocação, necessidades familiares ou pessoais, facilidade</p><p>de execução e comoção pública; não havendo sem tais circunstân-</p><p>cias atividade delituosa que impedisse o agente ao crime. [...] Por</p><p>derradeiro, encontra-se o criminoso passional, categoria que inclui</p><p>os criminosos que praticam crimes impelidos por paixões pessoais,</p><p>bem como políticas e sociais. (GONZAGA, 2021, p. 49)</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 1</p><p>26</p><p>Ferri, negou a concepção do livre arbítrio, reafirmando que se tratava de uma</p><p>ficção no que diz respeito à imputabilidade. Desse modo, a razão de punir é a</p><p>defesa social, de modo que a responsabilidade social deve substituir a respon-</p><p>sabilidade moral (PENTEADO; PENTEADO FILHO, 2021). Ainda, conforme</p><p>a premissa conhecida como Lei da Saturação, o nível da criminalidade possui</p><p>uma determinação temporal pelas diferentes condições do meio físico e social,</p><p>em uma combinação com tendências individuais e impulsos ocasionais.</p><p>Descrição da Imagem: Representação da capa de um livro em tom amarelado, traz o nome do autor</p><p>na parte superior, o título “SOCIOLOGIA CRIMINALE” ao centro, em caixa alta e negritado. No centro da</p><p>imagem, há a informação de quarta edição com um brasão da editora em que foi publicado, na parte</p><p>inferior mais detalhes da editora e edição.</p><p>Figura 3 - Sociologia Criminal de Enrico Ferri</p><p>Fonte: Internet Archive ([2022], on-line)¹.</p><p>27</p><p>Além de se preocupar também com a discussão acerca dos criminosos involuntá-</p><p>rios (culposos), Ferri considerava que eles deveriam passar por uma análise mais</p><p>detalhada, a fim que se obtivesse uma justiça adequada. Os fatores sociológicos</p><p>defendidos por Ferri incorporaram uma premissa de enfrentamento por medi-</p><p>das preventivas de defesa social. Segundo Viana (2021), o estudioso enumerou</p><p>quatro espécies de meios de combate à criminalidade: preventivos, reparatórios,</p><p>repressivos e excluidores. Tais substitutivos penais por uma série de medidas</p><p>a serem tomadas, sejam de ordem econômica, educacional, religiosa, política,</p><p>entre outras. Assim, “a razão e o fundamento da reação punitiva, portanto, deixa</p><p>de ser mera retribuição para fundar-se em uma exigência de defesa social, que</p><p>se promove, principal e eficazmente, pelos meios de prevenção e ajusta o crimi-</p><p>noso às condições de convivência” (VIANA, 2021, p. 81). Como um exemplo</p><p>claro, temos na concepção do atual ordenamento jurídico o conceito de perigo e</p><p>de medidas de segurança. Destaca-se que, com base na perspectiva sociológica,</p><p>inúmeros estudos aperfeiçoaram a concepção, de modo a permitir que a teoria</p><p>da responsabilidade social proporcionasse inúmeros desdobramentos futuros.</p><p>Outro expoente, que fecha a “tríplice” Escola Positiva Criminológica, foi com-</p><p>posta por Raffaele Garofalo (1852-1934). Considerado o primeiro a utilizar o</p><p>termo Criminologia, a Garofalo foi atribuído o título de positivista moderado.</p><p>Seu livro, “Criminologia”, de 1885, teve uma exponencial contribuição para nor-</p><p>matizar as ideias positivistas em fórmulas jurídicas.</p><p>Conforme Gonzaga (2021), Garofalo buscou entender o crime como algo</p><p>natural da sociedade, possuidor de características que são prejudiciais que permi-</p><p>tem o surgimento do fenômeno criminoso. Assim, o crime se apresenta quando</p><p>há carência de probidade, no sentido do respeito aos direitos alheios e piedade,</p><p>característica, esta, de se compadecer dos demais.</p><p>Garofalo classificou os delinquentes em: assassinos, violentos, ladrões e lasci-</p><p>vos. Em sua perspectiva, considerava que a pena devesse possuir rigor suficiente a</p><p>fim de extirpar as condutas criminosas, em um processo cuja analogia se compara</p><p>a de uma seleção natural – assim, o estado assume a responsabilidade de elimi-</p><p>nação dos potenciais danos. Dessa maneira, percebe-se que, em sua matriz, está</p><p>condicionado que que a pena de morte é fator aceitável, da mesma forma como</p><p>as penas de servidão e de caráter perpétuo.</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 1</p><p>28</p><p>Viana (2021), afirma que é Garofalo o responsável pela essência ideológica do</p><p>positivismo por meio do desenvolvimento do conceito de temibilità (temibilida-</p><p>de), também denominado como periculosidade, com base nas responsabilidades</p><p>do criminoso. Tal concepção serviu para considerar a proporção de perversidade</p><p>temível, ou seja, da quantidade de mal que poderia ser causado pelo criminoso.</p><p>“ A criminologia positivista e, em boa parte, a criminologia liberal con-</p><p>temporânea tomam por empréstimo do direito penal e dos juristas</p><p>[...] as suas definições de comportamento criminoso, e estudam este</p><p>comportamento criminoso, e estudando este comportamento como</p><p>se sua qualidade criminal existisse objetivamente. Do mesmo modo</p><p>e ao mesmo tempo, tomam por evidente que as normas e os valores</p><p>sociais que os indivíduos transgridem ou dos quais desviam, são uni-</p><p>versalmente compartilhados, válidos a nível intersubjetivo, racionais,</p><p>presentes em todos os indivíduos, imutáveis etc. (BARATA, 2002, p. 87).</p><p>Dentre suas contribuições criminológicas, Garofalo realizou inúmeras análises</p><p>que objetivavam identificar o conceito de delito natural, de modo que tal conduta</p><p>era alvo de repulsa social e punível em todos os períodos e lugares. Assim, em suas</p><p>conclusões, o parricídio, o assassinato com intuito de roubo e o homicídio (mera</p><p>brutalidade), são elementos que são condenáveis de forma ampla e genérica, não</p><p>vinculado às construções sociais ou políticas (SUMARIVA, 2015).</p><p>Destaca-se ainda que, em sua obra, “La Criminologie” (1885), Garofalo traz</p><p>a perspectiva da indenização pelos danos causados pelo autor do crime, como</p><p>uma maneira de “reparação” pelos danos moral e material causados, tanto para</p><p>a vítima quanto ao próprio Estado. Essa reparação também deveria considerar a</p><p>condição econômica do autor para a fixação do valor a ser pago da multa.</p><p>Durante o período histórico, não foram apenas as Escolas Clássica e Positivista</p><p>que trouxeram contribuições para a criminologia, mas foram estas correntes de</p><p>pensamento que se propuseram a desenvolver novas concepções acerca do crime</p><p>e do criminoso. Por isso, a partir desta etapa, também serão apresentadas algumas</p><p>das escolas mais conhecidas na historiografia.</p><p>A terceira escola, também conhecida como Escola Italiana, Eclética ou In-</p><p>termediária, teve origem no Século XX. Essa escola conciliar preceitos clássicos e</p><p>positivistas, e, embora não tivessem um posicionamento específico, lançou inúmeras</p><p>29</p><p>discussões ao campo da criminologia. Dentre os principais pensadores, destacam-se</p><p>Bernardino Alimena, Juan B. Impallomeni e Emmanuele Carnevale (SUMARIVA,</p><p>2015). O nome Terza Scuola (Terceira Escola) advém de um artigo intitulado “Una</p><p>terza scuola di Diritto Penale in Italia”, publicado em 1892 por Carnevale.</p><p>Descrição da Imagem: Representação</p><p>da Terceira Escola criminológica, edição</p><p>de 1891. Imagem em preto e branco, na</p><p>parte superior traz o título “Una Terza</p><p>Scuola de DIRITTO PENALE”, com a au-</p><p>toria logo abaixo. Na parte inferior, há</p><p>dados da editora e ano de publicação.</p><p>Ainda é possível perceber a represen-</p><p>tação de que a imagem foi obtida da</p><p>obra original disposta na Universidade</p><p>de Harvard e digitalizada pelo Google.</p><p>Conforme Penteado e Penteado Filho (2021, p. 44) a terceira escola fixou os se-</p><p>guintes postulados:</p><p>“ a) distinção entre imputáveis e inimputáveis; b) responsabilidade</p><p>moral baseada no determinismo (quem não tiver a capacidade de</p><p>se levar pelos motivos, deverá receber uma medida de segurança;</p><p>c) crime como fenômeno social e individual; d) pena com caráter</p><p>aflitivo, cuja finalidade é a defesa social.”.</p><p>Figura 4 - Terza Scuola - Carnevale</p><p>Fonte: Carnevale (1891, [s. p.]).</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 1</p><p>30</p><p>Assim, a referida escola, tinha como proposta uma distinção clara entre os indiví-</p><p>duos que são imputáveis e inimputáveis (seguindo a concepção de Ferri), e, dessa</p><p>forma, sujeitando que a pena criminal deveria ser adstrita aos imputáveis, enquan-</p><p>to que aos inimputáveis, cabe a medida de segurança. O próprio Código Penal</p><p>brasileiro (1940) traz a observação quanto aos inimputáveis em seu conteúdo:</p><p>“ Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou de-</p><p>senvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da</p><p>ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilí-</p><p>cito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.</p><p>(BRASIL, Decreto Lei 2848 de 1940, s.p.)</p><p>Desse modo, ao se pensar na responsabilidade moral, a Terza Escuola segue os</p><p>preceitos de Garofalo em uma perspectiva de que o criminoso carece do senso</p><p>de moral, sendo um indivíduo que não consegue adaptar-se às normas sociais.</p><p>Assim, quando analisado de uma perspectiva social e individual, o crime é ine-</p><p>rente ao homem, mas sofre inúmeras influências sociais para sua consecução.</p><p>Conforme Gonzaga (2021), a Terceira Escola tratava a pena como sendo um</p><p>elemento de caráter aflitivo, com objetivo somente da defesa social. Assim sendo, não</p><p>houve qualquer preocupação com o caráter ressocializador, de modo que a pena de-</p><p>veria ser aplicada de forma retributiva, a fim de compensar o mal causado pelo crime</p><p>Segundo Ferri apud Viana (2021, p. 96), “tratava-se de uma mescla de con-</p><p>clusões contraditórias entre si, esquecendo-se de que a divergência entre as duas</p><p>grandes escolas não está nas conclusões ou nas propostas, mas sim no método</p><p>de investigação científica”. Assim, de um lado se tinha um método realista e abs-</p><p>trato, e, por outro, um modelo empírico, fazendo com que tais contradições se</p><p>tornassem um elemento de inúmeras críticas aos postulados.</p><p>A Escola Sociológica Alemã, denominada como Escola de Marburgo,</p><p>Moderna, Nova Escola ou Escola de Política Criminal, possuía um posi-</p><p>cionamento a favor da investigação sociológica. Durante o período do Século</p><p>XX, a Alemanha vivia um momento em que as aspirações filosóficas e políticas</p><p>voltavam para o purismo da ciência penal, de modo a se tornare latente a razão</p><p>abstrata, formal e dedutiva (VIANA, 2021).</p><p>31</p><p>Dentre os exponenciais da Escola Alemã estão Franz Von Liszt (Franz Eduard</p><p>Ritter von Liszt, 1851 – 1919), que, em, 1882 propôs uma nova concepção, “A</p><p>ideia de fim no Direito Penal”, a qual foi chamada de Programa de Marburgo. Tal</p><p>perspectiva proporcionou uma revolução na ciência penal, com a finalidade de</p><p>procurar um sentido mais amplo à norma.</p><p>Descrição da Imagem: Repre-</p><p>sentação do Tratado de Direito</p><p>Penal Alemão de Liszt, edição</p><p>de 1881. A imagem traz a capa</p><p>de um livro em tom amarelado,</p><p>com o título na parte superior,</p><p>em caixa alta e negritado, “Das</p><p>Deutsches Reichsstrafrecht”,</p><p>em alemão. Na parte central, há</p><p>a descrição do autor, e abaixo</p><p>os dados da editora contendo</p><p>o ano de publicação.</p><p>Liszt considerava que a pena justa é aquela necessária para atingir seu determi-</p><p>nado fim a que se destina. Assim, buscou neutralizar os aspectos do livre-arbítrio</p><p>e do determinismo, permitindo que as penas tivessem um caráter intimidativo,</p><p>ou seja, visando que exista uma ordem social por meio do receio de ser punido.</p><p>Desse modo, não se trata apenas da quantidade de pena a ser arbitrada, mas sim</p><p>que esta seja concretizada, demonstrando que o Estado é eficaz.</p><p>Figura 5 - Tratado de Direito Penal</p><p>Alemão / Fonte: DWDS ([2022], on-</p><p>-line)"2".</p><p>UNICESUMAR</p><p>UNIDADE 1</p><p>32</p><p>“ A cominação penal, ao advertir e intimidar, mostra ao cidadão de</p><p>intenções retas, da forma mais expressiva, o valor que o Estado liga</p><p>aos seus preceitos; aos homens dotados de sentimentos menos apu-</p><p>rados põe em perspectiva um mal, cuja representação deve servir</p><p>como contrapeso às tendências criminosas. Contudo, a totalidade</p><p>da força da pena é alcançada com a execução. Na manutenção da</p><p>vontade da ordem jurídica, a execução penal atua: a) na coletividade,</p><p>pela força intimidativa que refreia as tendências criminosas e tam-</p><p>bém porque, mantendo o direito, firma e fortalece o sentimento dos</p><p>cidadãos; b) sobre o ofendido porque, além disso, proporciona a sa-</p><p>tisfação de que o ato não escapará a punição. (VIANA, 2021, p.107)</p><p>Bitencourt (2011) considera que, dentre as principais características da Escola</p><p>Alemã, tem-se: I - A adoção do método lógico-abstrato (relativo ao Direito Penal)</p><p>e indutivo-experimental (que pressupunha às demais ciências criminais); II - a</p><p>distinção entre imputáveis e inimputáveis por meio da função duplo-binária da</p><p>pena; III - A concepção de que o crime é um fenômeno humano-social e fato</p><p>jurídico; IV - A função finalística da pena; e V - A eliminação ou substituição</p><p>das penas privativas de liberdade de curta duração, de modo a permitir que estas</p><p>sejam substituídas por uma política criminal mais liberal.</p><p>Frisa-se que Liszt não admitia que existisse um perfil específico de delinquen-</p><p>te, conforme considerava Lombroso. Ele considerava a elevação do fato social,</p><p>aproximando-se das concepções de Ferri, assim, a sociedade não só devolve como</p><p>produz criminalidade. Desse modo, Liszt procurou conciliar um sistema comple-</p><p>to entre as causas do crime, as estratégias político-criminais e a própria perspec-</p><p>tiva da finalidade da imposição das penas e do sistema punitivo (VIANA, 2021).</p><p>A Escola Alemã ainda procurou realizar a adoção de medidas e providências de</p><p>ordem prática com ênfase na repressão e prevenção do delito, obtendo êxito ao</p><p>introduzir diversos institutos nas legislações penais pelo mundo.</p><p>Conforme foi possível perceber no decorrer do capítulo, os avanços das Escolas</p><p>Criminológicas permitiram ampliar as concepções referentes ao crime e ao crimi-</p><p>noso, de modo que a Escola Clássica considerava que as características distintivas se</p><p>estabelecem na razão e na inteligência. Neste sentido, ao determinar o homem como</p><p>centro da responsabilidade, a escola definia que ele é o responsável pelo seu destino e,</p><p>que, assim, possuía o livre arbítrio para escolher sua conduta e seu modo de agir. Logo,</p><p>considerava que o homem é capaz de calcular os riscos e benefícios de suas ações.</p><p>33</p><p>Já a Escola Positiva Criminológica rompeu com a definição do homem racio-</p><p>nal, partindo para a concepção antropobiológica, ao estabelecer que o homem</p><p>é condicionado às ações por meio de sua natureza corporal, psíquica e social.</p><p>Seguindo esse pensamento, compreender a complexidade destes fatores se tornou</p><p>verdadeiro objeto por parte dos pesquisadores.</p><p>Conforme Viana (2021), enquanto a Escola Clássica olhava para os aspectos</p><p>históricos, para o fato e para a responsabilidade, a Escola Positiva evidenciou seu</p><p>foco no futuro, em uma relação de autor e periculosidade. Considera-se ainda que o</p><p>fator envolvendo tal periculosidade e o risco social que o delinquente representava</p><p>serviram de corolário para o aprimoramento da concepção de prisão, como sendo</p><p>um local a fim de cercear o possível risco que o delinquente poderia fornecer.</p><p>Destaca-se que o conceito moderno de prisão surgiu no fim do século XVIII</p><p>e início do século XIX, em uma sistemática de humanização, fixando os indiví-</p><p>duos, distribuindo-os espacialmente, classificando-os e mantendo-os em uma</p><p>visibilidade constante, para que, assim, fossem registrados e categorizados. Dentre</p><p>seus princípios originários, encontrava-se o isolamento, como causa de gerir no</p><p>indivíduo o encontro apenas com o poder que se exerce.</p><p>Foucault, em seu estudo da microfísica do poder, revela que o poder exercido sobre o</p><p>apenado não o considera como uma propriedade, mas sim como uma estratégia. Não se</p><p>trata de um mero privilégio adquirido por classes dominantes, mas que, por meio da es-</p><p>trutura criada, reconduz pelos próprios dominados. Além disso, Foucault “estuda o poder</p><p>como tendo existência própria e formas</p><p>específicas no nível mais elementar” (FOUCAULT,</p><p>2015, p.17). Dessa forma, compreender os elementos sociais com a relação do poder de</p><p>punir traz profunda reflexão sobre as perspectivas vivenciadas e sua relação com a com-</p><p>plexidade estrutural.</p><p>EXPLORANDO IDEIAS</p><p>Neste Podcast, iremos discutir sobre como os aspectos</p><p>antropobiológicos ainda fazem parte do discurso de</p><p>segregação e preconceito existentes nas sociedades con-</p><p>temporâneas. Ainda será discutida a obra “O Direito Penal</p><p>do inimigo” de Günther Jakobs, e sua influência na política</p><p>norte americana.</p><p>UNICESUMAR</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11558</p><p>UNIDADE 1</p><p>34</p><p>NOVAS DESCOBERTAS</p><p>Título: O Inimigo no Direito Penal</p><p>Autor: Eugenio Raúl Zaffaroni</p><p>Editora: Revan</p><p>Ano: 2013</p><p>Sinopse: Nesta obra, Zaffaroni trabalha com maestria o conceito de inimi-</p><p>go, trazendo o desenvolvimento histórico de sua influência no direito penal.</p><p>Desde os hostis no direito romano, a ideia de um inimigo do Estado serviu</p><p>como fundamento para a expansão e rigor do poder punitivo.</p><p>Assim, o desenvolvimento das Escolas criminológicas possibilitou inúmeros</p><p>avanços que buscavam o objetivo de compreender a dinâmica relação entre o</p><p>crime e o criminoso, em uma construção multidisciplinar, cujo foco esteve ligado</p><p>a uma perspectiva de proteção social.</p><p>A partir da construção do pensamento criminológico, torna-se mais fácil a</p><p>compreensão da implementação de políticas públicas de Segurança Pública, e,</p><p>mais do que isso, possibilita que você, Gestor de Segurança Pública, tenha maior</p><p>compreensão dos inúmeros elementos que compõem a sociedade brasileira em</p><p>seu contexto de complexidade. Ou seja, não é apenas com extremismos e respos-</p><p>tas simples que se resolvem problemas complexos.</p><p>35</p><p>1. “Sobre sua conduta social nada se sabe. Seguramente integrante do grupo crimi-</p><p>noso, em razão da sua raça, agia de forma extremamente discreta os delitos e o</p><p>seu comportamento, juntamente com os demais, causavam o desassossego e a</p><p>desesperança da população, pelo que deve ser valorada negativamente”. Fonte: Juíza</p><p>Inês Marchalek Zarpelon, página 107, de sua sentença condenatória no Processo</p><p>0017441-07.2018.8.16.0013.</p><p>Com base no conteúdo citado, verifica-se que, visando fundamentar a decisão de</p><p>sentença, a Magistrada utiliza a expressão “raça” de forma deliberada, apresentando</p><p>um olhar discriminatório sob as características físicas do acusado. Diante dos con-</p><p>teúdos estudados, a corrente criminológica que defende que o comportamento do</p><p>gênero humano é determinado pelas características corresponde à/ao:</p><p>a) Positivismo criminológico.</p><p>b) Escola de Chicago.</p><p>c) Escola Clássica.</p><p>d) Escola Estrutural funcionalista.</p><p>e) Escola Psicológica criminal.</p><p>2. “A primeira consequência desses princípios é que só as leis podem fixar as penas de</p><p>cada delito e que o direito de fazer leis penais não pode residir senão na pessoa do</p><p>legislador, que representa toda a sociedade unida por um contrato social.</p><p>Ora, o magistrado, que também faz parte da sociedade, não pode com justiça infligir</p><p>a outro membro dessa sociedade uma pena que não seja estatuída pela lei; e, do</p><p>momento em que o juiz é mais severo do que a lei, ele é injusto, pois acrescenta um</p><p>castigo novo ao que já está determinado. Segue-se que nenhum magistrado pode,</p><p>mesmo sob o pretexto do bem público, aumentar a pena pronunciada contra o crime</p><p>de um cidadão.</p><p>A segunda consequência é que o soberano, que representa a própria sociedade, só</p><p>pode fazer leis gerais, às quais todos devem submeter-se; não lhe compete, porém,</p><p>julgar se alguém violou essas leis.</p><p>Com efeito, no caso de um delito, há duas partes: o soberano, que afirma que o</p><p>contrato social foi violado, e o acusado, que nega essa violação. É preciso, pois, que</p><p>haja entre ambos um terceiro que decida a contestação. Esse terceiro é o magistrado,</p><p>cujas sentenças devem ser sem apelo e que deve simplesmente pronunciar se há</p><p>um delito ou se não há.</p><p>36</p><p>Em terceiro lugar, mesmo que a atrocidade das mesmas não fosse reprovada pela</p><p>filosofia, mãe das virtudes benéficas e, por essa razão, esclarecida, que prefere gover-</p><p>nar homens felizes e livres a dominar covardemente um rebanho de tímidos escravos;</p><p>mesmo que os castigos cruéis não se opusessem diretamente ao bem público e ao</p><p>fim que se lhes atribui, o de impedir os crimes, bastará provar que essa crueldade é</p><p>inútil, para que se deva considerá-la como odiosa, revoltante, contrária a toda justiça</p><p>e à própria natureza do contrato social.” (BECCARIA, 2005, p.20-21)</p><p>Diante dos conteúdos estudados referente à Escola Clássica, assinale a alternativa</p><p>correta.</p><p>a) Objetivava a construção do conhecimento com base nas perspectivas teocráticas.</p><p>b) Considerava o Soberano como o elemento de representação da divindade, afir-</p><p>mando que o sagrado não deve ser questionado pelos homens.</p><p>c) Considerava que os elementos antropobiológicos é que definiam as caracterís-</p><p>ticas do criminoso.</p><p>d) Condenava a prática das penas desumanas e cruéis, questionava as acusações</p><p>secretas e defendia que as leis fossem claras e objetivas, a fim de que houvesse</p><p>maior justiça no processo penal.</p><p>e) Objetivava a construção de um saber pautado nas convicções clássicas filosóficas</p><p>pré-socráticas; sua participação recebia o apoio e aliança com a monarquia e o</p><p>clero.</p><p>37</p><p>3. “O criminoso é um ser histórico, real, complexo e enigmático, um ser absolutamente nor-</p><p>mal, pode estar sujeito às influências do meio (não determinismos). E arremata dizendo:</p><p>as diferentes perspectivas não se excluem; antes, contemplam-se e permitem um grande</p><p>mosaico sobre o qual se assenta o direito penal atual.” (SCHECARIA, 2012, p. 46).</p><p>Diante dos conteúdos estudados acerca das Escolas Criminológicas (Clássica, Positiva,</p><p>Eclética e Alemã), considere as afirmativas:</p><p>I - Para a Escola Clássica, a responsabilidade penal é lastreada na imputabilidade</p><p>moral e no livre arbítrio humano.</p><p>II - A Escola Alemã nasceu com as premissas postuladas durante o Século XV, com</p><p>a Escola Positiva, mas ganhou contornos mais precisos com a Escola Italiana.</p><p>III - A Escola Positiva não considerou o conceito de pena como um meio de defesa</p><p>social, conceito este que é próprio da Escola Italiana.</p><p>IV - O positivismo criminológico caracterizou-se, dentre os principais aspectos, pela</p><p>negação do livre arbítrio e pela crença no determinismo, assim como pela adoção</p><p>do método empírico-indutivo.</p><p>Com base nas afirmativas, pode-se considerar que:</p><p>a) Somente as alternativas I e III estão corretas.</p><p>b) Somente as alternativas II e IV estão corretas.</p><p>c) Somente as alternativas I e IV estão corretas.</p><p>d) Somente as alternativas II e III estão corretas.</p><p>e) Nenhuma das alternativas está correta.</p><p>2Cena atual da</p><p>Criminologia</p><p>e Causas da</p><p>Criminalidade</p><p>Me. Crístian Rodrigues Tenório</p><p>Nesta Unidade, você terá o contato e a chance de refletir a respeito</p><p>das escolas criminológicas no Brasil (do final do século XX aos dias</p><p>atuais). Para além dos conceitos, esta Unidade se posiciona além dos</p><p>meros discursos resumidos sobre crimes e sociedade brasileira. Esta</p><p>é a chance de ler e refletir dentro da realidade posta sob a ótica de</p><p>autoras e autores que, de suas diversas fontes, pensaram e pensam</p><p>no problema da criminalidade e seus reflexos para a vida de todos</p><p>no País.</p><p>UNIDADE 2</p><p>40</p><p>As atividades criminosas em geral acompanham a vida da sociedade desde antes</p><p>dos registros históricos modernos. Como visto na Unidade 1, a Criminologia e</p><p>suas escolas estudam ,há mais de dois séculos, como se chegar a uma compreen-</p><p>são – e, desse modo, à prevenção – dos ataques aos bens da vida (de pessoas</p><p>físicas e jurídicas). Mas como questionar as razões e bases da formação criminosa</p><p>de cidadãos na sociedade brasileira? De que maneira a sociedade informática,</p><p>igualitária e de tráfego imediato de informações não consegue compreender as</p><p>razões de como as pessoas cometem delitos? Por que certos crimes ocorrem</p><p>com frequência maior em determinados lugares, ou contra um grupo, ou grupos,</p><p>específicos</p><p>de pessoas? Como evitar o caos do descontrole?</p><p>De acordo com o Atlas da Violência no Brasil (2021), as causas mais preocu-</p><p>pantes de delitos no país são justamente aquelas que envolvem atos de agressão</p><p>contra a vida ou contra a integridade física de seres humanos. São violências</p><p>cometidas na forma de homicídios (consumados ou tentados) contra a juventu-</p><p>de; violência contra a mulher; homicídios de mulheres negras e não negras no</p><p>Brasil; homicídios de mulheres nas residências e por armas de fogo; violência</p><p>41</p><p>contra pessoas negras; violência contra a população LGBTQI+; violência contra</p><p>pessoas com deficiência; violência contra indígenas.</p><p>A criminologia brasileira contemporânea estuda as bases dessas violações à</p><p>personalidade e ao próprio existir. Daí, a razão de, sempre com método respalda-</p><p>do em dados socioeconômicos e demográficos, explorar o tema propondo uma</p><p>radiografia da violência, e luzes para sua redução drástica.</p><p>Veja estes números de violência percebidos no Brasil (antes da pandemia, e</p><p>seus períodos variados de região para região, de circulação restrita às pessoas):</p><p>de acordo com o Ministério da Saúde (SIM/MS), houve 45.503 homicídios no</p><p>Brasil (em 2019), “o que corresponde a uma taxa de 21,7 mortes por 100 mil ha-</p><p>bitantes. Situando esse valor em um quadro de crescimento dos homicídios de</p><p>1979 a 2017, o número é inferior ao encontrado para todos os anos desde 1995.”</p><p>(CERQUEIRA; FERREIRA; BUENO, 2021, p. 11)</p><p>Os números variam, há fases em que os delitos aparentam queda, e outros pe-</p><p>ríodos em que há uma aparente explosão de ocorrências (mais notadamente as de</p><p>violência). Um agravante que intensifica o problema, é que não há confiabilidade</p><p>em quaisquer dados relacionados ao tema no Brasil. O próprio Atlas da Violência</p><p>ratifica este cuidado quando estabelece que: a queda no número de homicídios</p><p>observada entre 2018 e 2019 de 22,1%, segundo os registros oficiais do (SIM/MS</p><p>– Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde), deve ser</p><p>vista com grande cautela em função da deterioração na qualidade dos registros</p><p>oficiais (CERQUEIRA; FERREIRA; BUENO, 2021).</p><p>Assim, pesquise índices de violência por Estados e Diatrito Federal. Perceba</p><p>a separação que há, no caso de delitos contra a vida, de diferentes pessoas (por</p><p>gênero, raça, condição econômica), e, mesmo com dados insuficientes, é possível</p><p>de se chegar a uma ideia de que todos estamos vivendo em uma sociedade na qual</p><p>há crimes e a violência impera. Anote em seu Diário de Bordo qual estatística (ou</p><p>quais) orientaram sua atividade.</p><p>Além disso, resuma por escrito os números apre-</p><p>sentados no relatório a seguir. Para isso, você deve</p><p>acessá-lo por meio do seu leitor de QR Code.</p><p>Por fim, selecione uma categoria e destaque, por</p><p>escrito, qual delito e qual público lhe chamou mais</p><p>UNIDADE 2</p><p>https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/13500</p><p>UNIDADE 2</p><p>42</p><p>a atenção. A partir disso, procure colocar três razões para a violência no Brasil</p><p>contra este grupo por você selecionado.</p><p>Agora, reflita e coloque em um texto quais os desafios, tanto no campo das</p><p>políticas públicas quanto na esfera da sociedade civil, e quais as contribuições</p><p>individuais dos cidadãos para dar início a soluções efetivas aos delitos que mais</p><p>chocam a sociedade brasileira – sem passar pelas soluções fáceis e ineficazes</p><p>vendidas na esfera política.</p><p>DIÁRIO DE BORDO</p><p>43</p><p>A criminologia brasileira teve seu início no século XIX, a partir das teorias dos</p><p>pensadores italianos. A ideia era de se distanciar de pensadores do século anterior,</p><p>criticados como metafísicos e, por isso, de visão pouco proveitosa para a análise</p><p>e compreensão dos fatores e influências do comportamento humano nos delitos.</p><p>Para isso, abraçaram como exemplo o pensador Viveiros de Castro, ligado ao posi-</p><p>tivismo (VIANA, 2018, p. 117). Antes disso, as sociedades europeias procuravam o</p><p>ataque mais às falhas morais que às condutas criminosas (FOCAULT, 2021, p. 123)</p><p>De volta ao Brasil do séc. XIX, Viveiros enaltecia, como os métodos e a ideia</p><p>de organização em Cesare Lombroso eram típicos de sua época (VIANA, 2018, p.</p><p>118). Para relembrar, Lombroso, médico italiano já mencionado na Unidade 01,</p><p>aplicou à criminologia ideias de que tendências naturais ao crime nos indivíduos</p><p>poderiam ser identificadas a partir de suas características físicas. A criminologia</p><p>brasileira, em sua gênese, não escapou dessa visão.</p><p>Uma prova histórica que pensadores tendem a apagar é a de que, por seguirem</p><p>Lombroso e outros autores europeus, a visão racista da criminologia era evidente</p><p>e ilustrada. Raimundo Nina Rodrigues, autor do século XIX, pouco posterior a</p><p>Viveiros de Castro, nunca demonstrou pudor ao atrelar à raça dos descendentes</p><p>trazidos à força da África uma inferioridade moral que comprometia a raça bra-</p><p>sileira e a sociedade (VIANA, 2018, p. 120).</p><p>Assim, não se pode apagar da memória nem da História que a criminologia</p><p>brasileira nasceu, sim, de conceitos de nefrologia que eram amplamente racistas.</p><p>Para não se dizer que não havia resistência a essas ideias, o jurista Tobias Barreto</p><p>foi o primeiro e mais destacado à sua época combatente das teses de Lombroso</p><p>no Brasil (VIANA, 2018, p. 120). Para ele, de forma breve, os fatores que levavam</p><p>à criminalidade nada tinham a ver com as condições de raça ou condições mé-</p><p>dicas, mas sim, pelos vícios da organização social, pela má distribuição de renda</p><p>e remuneração salarial (VIANA, 2018, p. 140).</p><p>Nelson Hungria, reputado como um dos maiores penalistas brasileiros, já</p><p>no século XX e em plena República, criticava parte das ideias lombrosianas de</p><p>separação de categorias de pessoas delinquentes em geral; e, em específico, como</p><p>fora fixado por Nina Rodrigues, ressaltando, a tendência maior de indivíduos</p><p>pardos ou negros para a prática delituosa no Brasil – maior que as tendências de</p><p>pessoas caucasianas (VIANA, 2018, p. 123). Hungria destaca como base para esse</p><p>argumento o abandono social e econômico desde a abolição, ou seja, apesar de</p><p>brasileiras e brasileiros terem parado de ser explorados e mortos em condições</p><p>UNIDADE 2</p><p>UNIDADE 2</p><p>44</p><p>de mercadoria, estes não foram compensados, amparados e recepcionados na</p><p>sociedade. Daí, a causa de uma maior incidência ao crime por uma categoria de</p><p>pessoas em detrimento de outras (VIANA, 2018, p. 122).</p><p>Com isso, é necessário mostrar que, se atualmente a criminologia brasileira des-</p><p>taca e combate tendências racistas nas análises de comportamento e nas propostas</p><p>de políticas públicas, é porque a própria criminologia brasileira nasceu de conceitos</p><p>racistas prementes entre os séculos XIX e XX. Desde aqueles tempos, havia combate</p><p>no campo das ideias contra qualquer forma médica, técnica ou jurídica de racismo.</p><p>As Leis Penais e medidas de justiça e segurança não eram apenas raciais. À</p><p>medida que o século XIX avançava para o XX, outras figuras sociais foram tidas</p><p>como propensas à criminalidade: os trabalhadores nas cidades, que eram retratados</p><p>como “foco permanente e cotidiano de imoralidade” (FOUCAULT, 2021, p. 192).</p><p>De volta a Nelson Hungria, em seu tempo, o tecnicismo jurídico era forte,</p><p>daí que não havia compreensão de assuntos penais fora das Lei Penais – o que</p><p>hoje é considerado arrogância e anticiência. Em uma segunda fase (final) de sua</p><p>carreira, esses conceitos herméticos (fechados) e exclusivos do direito, foram</p><p>revistos (VIANA, 2018, p. 126).</p><p>A incidência da Sociologia (e das estatísticas posteriormente), bem como da</p><p>análise cultural e estrutural do país para tentar entender o fenômeno crimino-</p><p>lógico, começaria no início do século XX no Brasil com Roberto Lyra. As causas</p><p>econômicas (pobreza versus riqueza) e socioculturais (educação de qualidade</p><p>versus analfabetismo) que afetavam as vidas dos brasileiros desde a infância,</p><p>contribuíam, ora como causas, ora como concausas, para os fatores criminais</p><p>impulsionarem delitos e insegurança (VIANA, 2018, p. 127). Como se nota, todo</p><p>discurso a respeito de pobreza e crime, de prevenção aos delitos</p>

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